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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU GUARDA COMPARTILHADA: O PAPEL DA MEDIAÇÃO NO CONFLITO FAMILIAR Raíssa Carvalho Vignoli Rio de Janeiro 2017 ORIENTADOR: Prof. William Rocha DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM DOCUMENTO … · À minha mãe Cláudia, que é uma mulher maravilhosa na qual tenho uma admiração e um amor inenarrável e que é meu porto seguro

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

GUARDA COMPARTILHADA: O PAPEL DA MEDIAÇÃO

NO CONFLITO FAMILIAR

Raíssa Carvalho Vignoli

Rio de Janeiro 2017

ORIENTADOR:

Prof. William Rocha

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

GUARDA COMPARTILHADA: O PAPEL DA MEDIAÇÃO

NO CONFLITO FAMILIAR

Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Mediação de Conflitos com Ênfase em Família. Por: Raíssa Carvalho Vignoli

Rio de Janeiro 2017

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AGRADECIMENTOS

À Deus por ter me abençoado e permitido a minha

vitória. Aos meus pais, familiares e amigos que

sempre estiveram ao meu lado dando todo o poio

necessário, e a minha colega de classe, Raphaela,

que partilhou desse momento comigo, me auxiliando

quando necessário.

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DEDICATÓRIA

À minha mãe Cláudia, que é uma mulher

maravilhosa na qual tenho uma admiração e um

amor inenarrável e que é meu porto seguro. Ao meu

pai Francisco, que sempre se empenhou para me dar

a melhor educação para me transformar em uma

pessoa de sucesso.

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo realizar um estudo sobre as

relações familiares e seus conflitos relacionados à separação e disputa pela

guarda dos filhos, focalizando na mediação familiar como instrumento para

solucionar o conflito a fim de promover uma melhora na comunicação e relação

da família. Trata-se de uma pesquisa que visa auxiliar os casais em processo

de separação, compreendendo os conflitos e evidenciando a importância da

convivência da criança com ambos os pais.

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METODOLOGIA

O estudo terá como suporte a pesquisa de livros, sites da Internet, bem

como o exame das normas legais vigentes sobre o tema, tais como a

Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil.

Serão utilizados como principais autores: William Ury, Roger Fisher,

Denise Maria Perissini, dentre outros.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Instituição Família e suas transformações 11

CAPÍTULO II

Guarda Compartilhada 18

CAPÍTULO III

Mediação 28

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 40

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INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, a família vem sofrendo frequentes transformações

por conta dos fatores culturais, sociais e econômicos. Como consequência

dessas transformações, surgem novos conflitos no âmbito familiar.

O conflito é algo que está presente em toda e qualquer relação. Fazem

partem do cotidiano, principalmente nas relações familiares, uma vez que

conviver com pessoas com diferentes pensamentos, crenças, temperamentos,

idade etc. é algo que demanda paciência, sabedoria e compreensão.

Todo mundo passa por dificuldades e problemas em seus

relacionamentos, e não sabendo lidar com eles, podem gerar mudanças

significativas e, nem sempre agradáveis como, por exemplo, a separação.

A separação é, na maioria das vezes, um processo complicado, difícil e

sofrido envolvendo toda a família, principalmente os filhos, mesmo quando os

pais mantêm um relacionamento amigável.

Na separação mais dolorosa, ficando ressentimentos, mágoas, raiva

e/ou qualquer outro sentimento negativo em relação ao outro. Esses

sentimentos e hostilidades geram grandes transtornos e podem ser muito

prejudicial à criança.

Quando acontece o rompimento de uma relação, indica que algo não

está funcionando mais, só que é preciso entender que o que não dá mais certo

é a relação homem-mulher como casal, e não de pai e mãe, pois não existe ex-

pai ou ex-mãe, portanto, seus deveres com seus filhos continuam iguais

mesmo que não sejam mais marido e mulher, e os conflitos existentes não

podem ser passados para os filhos.

Normalmente as pessoas querem achar um culpado para o problema, e

é sempre o “outro”, nunca ela mesma. Ficam se vitimizando, sendo egoístas,

mesquinhas e infantis, não conseguem se conectar com o outro, não sabem

dosar a consequência das suas decisões. Decisões estas que podem

prejudicar o desenvolvimento psíquico e emocional da criança.

É sabido que dificultar o acesso e o contato da criança com o genitor,

ficar falando mal e/ou colocando-o contra o ex-parceiro, dentre outras coisas, é

cometer alienação parental, que prejudica o relacionamento afetivo com o pai

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ou mãe e suas respectivas famílias, tirando o direito da criança de uma

convivência familiar saudável. E vale ressaltar, que quem comete alienação

parental está sujeito à multa ou perda da guarda da criança.

Os conflitos conjugais surgem quando há um desacordo e/ou

incompatibilidade em alguma questão, e as pessoas não possuem habilidade

para lidar com ele de forma ponderada.

É preciso aprender a lidar com as adversidades e mudanças de uma

forma madura, saudável e equilibrada, contribuindo para um bom

desenvolvimento da criança e da integridade moral deles.

O convite da mediação é cada um pensar no outro, abrindo um espaço

para iniciar o processo de transformação, pois a mediação privilegia a

desconstrução do conflito e a consequente restauração da convivência pacífica

entre pessoas, facilitando a conversação, praticando o exercício do escuta e

objetivando um progresso na comunicação.

Fazendo o empoderamento e a revalorização, as pessoas se sentem

confortáveis e se tornam capazes de se colocar no lugar do outro, colaborando

melhor com a mediação, sendo possível assim, identificar os reais interesses e

necessidades em comum.

O objetivo da mediação nada mais é, do que a facilitar o dialogo. É

propiciar as partes um momento de reflexão e aprendizagem, para que possam

reestabelecer a comunicação e através da melhoria da comunicação, encontrar

uma solução que seja adequada e conveniente para ambas as partes.

A escolha do tema foi devida à relevância do assunto para a sociedade

na atualidade, visto que, uma conjugabilidade mal resolvida pode interferir no

exercício da parentalidade pós-separação e prejudicar a educação, o bem estar

e o desenvolvimento da criança.

No capítulo I busquei compreender e conceituar a história da família no

Brasil do século XVIII até os tempos atuais, destacado a influência do

patriarcado na construção da família, assim como a história da construção da

infância e seu papel na família. Finalizarei falando sobre a formação e evolução

dos conflitos familiares.

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No capítulo II discutirei a problemática da guarda compartilhada, falando

de sua evolução histórica, os problemas relacionados à guarda e a sua

importância para o convívio familiar.

Por fim, no capítulo III abordarei a questão da mediação como solução

para a reconstrução das relacões familiares. Compreendendo a sua origem,

princípios éticos, etapas do processo e o resultado gerado.

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CAPÍTULO I

INSTITUIÇÃO FAMÍLIA E SUAS TRANFORMAÇÕES

1.1. A evolução do modelo da família

Conceituar a instituição social da família requer recuperar uma

complexidade de questões vivenciadas na sociedade moderna, fazendo da

temática um debate muito amplo.

Entendeu-se por um período na história, que a família estava

relacionada, apenas ao conceito da moral, dos bons costumes, criando

conceito ao senso comum. Neste sentido, ao longo da história, a ênfase era

dada ao modelo de família nuclear, considerada como aquela composta pelo

pai, mãe e filhos; tendo suas raízes de análise mais propriamente a partir do

século XVIII.

Vemos que historicamente, quando se começou a pensar no conceito de

família, o modelo preponderante era o modelo de família patriarcal,

predominante até a década de 1930. A família patriarcal é associada a um tipo

de estrutura familiar extensa, ou seja, formada não somente por marido, mulher

e filho, formada também por parentes próximos como, avós, tios, primos,

irmãos, cunhados, padrinhos, afilhados, etc., assim como agregados e

escravos.

Nesse modelo de família, o homem era o chefe da família e tinha

autoridade e poder absoluto; as mulheres e crianças eram subjugadas a

condição de submissão, colocando-os em posicionamento subalterno nas

relações familiares. Como diz no art. 379 do Código Civil de 1916: “Os filhos

legítimos, ou legitimados, os legalmente reconhecidos e os adotivos estão

sujeitos ao pátrio poder, enquanto menores”.

Os casamentos eram realizados por questões financeiras, por

conveniência entre parentes ou pessoas que desejassem firmar uma aliança

matrimonial. A mulher era proibida de estudar e trabalhar sem o consentimento

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do marido. Segundo Ortner, “As mulheres estavam destinadas ao papel

reprodutor e da procriação”. (1974, p. 69)

A lei nº 3.071 de 1º de janeiro de 1926, que promulgou o Código Civil

brasileiro garantia o pátrio poder, sendo a mulher submissa do esposo e

apenas uma colaboradora. Vejamos o art. 233 e 240 do Código Civil de 1916:

Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos. [...] Art. 240. A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira, consorte e colaboradora do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta.

Apenas em algumas situações a mãe poderia desempenhar o papel de

chefe de família, vejamos:

Art. 382. Dissolvido o casamento pela morte de um dos cônjuges, o pátrio poder compete ao cônjuge sobrevivente. Art. 383. O filho ilegítimo não reconhecido pelo pai fica sob poder materno. Se, porém, a mãe não for conhecida, ou capaz de exercer o pátrio poder, dar-se-á tutor ao menor.

O desenvolvimento da família foi evidente e com o passar do tempo, foi

preciso formular leis para estruturar a sociedade familiar. A Constituição

Federal de 1988 veio para estabelecer a igualdade de direitos e deveres para

homens e mulheres, conforme vemos em seu art. 5º e art. 226 § 5º:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos seguintes termos: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. Art. 226 § 5º: Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente também trouxe

transformações para a família. Evidencia em seu art. 21 e 22 que:

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Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse deles, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Parágrafo único: A mãe e o pai, ou responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhado no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei.

Com a chegada do novo Código Civil (2002), o Pátrio Poder passou a

ser oficialmente chamado de Poder Familiar, ou seja, antes o pai era o único

que tinha poder sobre os filhos, agora a responsabilidade e o poder sobre a

família passa a ser de ambos. Como afirma os artigos 1.565, 1.566 e 1.567 do

Código Civil de 2002:

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. §2º O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: IV – sustento, guarda e educação dos filhos. Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.

Outro ponto fundamental para a transformação no modelo de família foi

o movimento feminista, que trouxe muitas conquistas no que diz respeito aos

direitos e proteção da mulher, a igualdade de gênero e muitos outros

progressos.

Há ainda a revolução sexual de 1960, que proporcionou até os nos 70

uma mudança no paradigma sexual. Acabam definitivamente relações

baseadas nas questões de ordem econômica, e predominam as relações

baseadas no amor e no afeto.

O vínculo entre pais e filhos passa a ser não só uma questão biológica, e

sim afetiva. A família tem um poder insubstituível para a base de conceitos de

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um ser humano, por isso é o melhor lugar para que uma pessoa possa crescer

e se desenvolver em suas competências.

Como podemos perceber, a família passou por consideráveis

transformações, tanto na sua composição, quanto na sua finalidade. Porém,

apesar das mudanças nas relações familiares, ainda existem famílias que

carregam resquícios da família tradicional, tendo o seu cunho machista, onde a

sexualidade da mulher é reprimida, e fica sendo “obrigada” a ser submissa aos

homens.

1.2. A história da construção da infância e seu papel na

família

Na Idade Média, as crianças eram vistas como miniaturas de adultos, só

eram diferenciadas no tamanho e na força, quanto ao resto, eram tratadas

exatamente iguais, ficando assim, mais expostas à violência dos mais velhos.

Ela tem tudo o que o adulto tem, ela pode tudo o que o adulto pode. Seu único defeito é ser pequena. Vamos então propiciar o seu crescimento, vestindo-a como adulto, exigindo dela comportamento de adulto, forçando-a a crescer, terminando assim o mais breve possível com o mal de ser criança. (ÁRIES, 1986, p. 10).

As relações familiares propostos pelo modelo de familiar existente

naquele período eram diferentes das relações familiares que temos hoje, estas

famílias tinham uma ideia díspar do que era a criança e de como deveria ser a

infância. “O conceito de infância é fruto de uma construção social, porém,

percebe-se que sempre houve criança, mas nem sempre infância”. (AHMAD,

2009).

A idealização da infância ia até os sete anos de idade, se transformando

em seguida em um homem, pulando pela fase da juventude. O primeiro

surgimento do sentimento de infância (paparicação) surgiu entre nos séculos

XV e XVI, com o convívio familiar. A partir do século XVII começou ao surgir

um respeito pela vida da criança, que sai do anonimato e fortalece o convívio

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familiar. Surge o segundo sentimento relacionado à infância, a fragilidade e a

inocência.

Antes vistas apenas como seres biológicos, as crianças agora já haviam

ganhado um espaço na sociedade, a partir das ideias de proteção e

dependência. Já a adolescência só surge como categoria social a partir da

Revolução Industrial, até o século XVIII essa fase era confundida com a

infância.

Em 1789, a Revolução Francesa caracterizou uma mudança não

somente na função do Estado, mas também no papel deste para com os

interesses pela criança. Em outras palavras, a concepção deste público mudou,

agora são reconhecidos em sua particularidade. Segundo Levin (1997), “os

governos começaram a se preocupar com o bem-estar e com a educação das

crianças”.

No século XIX, a formação de políticas sociais para a infância inicia-se

como uma questão de ordem pública, ligada as questões como do abandono e

da pobreza. Estas crianças que eram em sua maioria filhos bastardos e

ficavam abandonados nas ruas, começaram a ser levados para asilos de

meninos desvalidos, que foi criado em 1871, já as meninas eram abrigadas na

Santa Casa desde 1740.

No final do século XX, as crianças e os adolescentes ganham destaque

pela luta dos direitos especiais, principalmente contra os diversos tipos de

exploração. No Brasil isso foi possível em decorrência da promulgação do

Código de Menores em 1979, que tinha como objetivo proteger o “menor” em

“situação irregular.

Com a Constituição Federal de 1988, foi dado o passo inicial para que

as crianças e adolescentes deixasse de ser visto como indivíduos sem direitos

e passassem a serem vistos como sujeitos de direito. Nesta época foi aprovado

o artigo 227 da Constituição:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à

criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade,

o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,

à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

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liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de

colocá-los a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

(BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, 1988).

A Constituição de 88 ou Constituição Cidadã vem como suporte para a

criação da doutrina da proteção integral, instituída com a criação do Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), disposta na Lei 8.069 de julho de 1990, como

afirma em seu art. 1º: “Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao

adolescente”.

1.3. Composição dos conflitos familiares

A família é o núcleo da formação e desenvolvimento emocional do

indivíduo. É a partir dela que o indivíduo dará os primeiros passos como

cidadão, aprendendo valores éticos e morais, essenciais para a sua

sobrevivência.

De acordo com a Organização das Nações Unidas - ONU (1994),

“família é gente com quem se conta”. No dicionário, a palavra família possui

vários significados. “Grupos de pessoas que possuem relação de parentesco e

habitam o mesmo lugar”, “Pessoas cujas relações foram estabelecidas pelo

casamento, por filiação ou pelo processo de adoção”, etc.

A maioria das pessoas sonha em formar uma família quando se tornam

um adulto. Elas se apaixonam, namoram, casam e têm filhos, formam a família

que tanto desejaram. Só que nem sempre os relacionamentos dão certo “até o

fim”.

Se relacionar com o outro não é tão simples quanto parece. É uma

pessoa totalmente diferente de você, com outra criação, outros costumes, outra

personalidade, outros gostos; logo, em algum momento vão discordar em

algum quesito. A questão é saber lidar com a diferença do outro e não permitir

que isso se torne um problema para o relacionamento.

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O conflito surge quando o casal não sabe lidar com diferença do outro.

Acabam brigando e não chegando a um senso comum, acham que para

“vencer” a briga o outro precisa perder.

Para Barbosa, se o casamento foi feito para “durar até que a morte os

separe”, e no caso, não houve morte, então o motivo do rompimento da relação

é “culpa” de alguém, e de preferência, que seja do outro.

Quando acontece essa ruptura, o casal vivencia emoções contraditórias,

ficando ressentimentos, mágoas, raiva, dor, insegurança, frustação e/ou outros

sentimentos negativos em relação ao outro. O problema é que o casal

inundado nessas emoções acaba se esquecendo dos filhos e não percebem o

quanto é prejudicial para a formação e desenvolvimento deles.

O casal confunde seus interesses com os interesses da criança,

acreditam estar fazendo algo “em nome dos filhos” ou “por causa dos filhos”,

quando na verdade são eles que querem as coisas. Cada um no seu interesse

induz a criança a fazer algo pra eles, colocando até os filhos contra um dos

pais, e isso inclusive, corresponde à Síndrome da Alienação Parental (que será

vista no próximo capítulo).

É preciso saber que atacar o outro e usar o filho como escudo, vai

intensificar o problema. Tem que ter sabedoria para evitar que as atitudes

infantis e desequilibradas prejudiquem o desenvolvimento e bem estar dos

filhos.

Como diz Ury (p.62): “A vida é breve demais para esses conflitos

destrutivos que consomem as pessoas e suas famílias com estresse, tensão e

uma enorme perda de recursos”.

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CAPÍTULO II

GUARDA COMPARTILHADA

2.1 Conceito e Evolução Histórica

A Guarda Compartilhada é uma modalidade de guarda de filhos menores de 18 (dezoito) anos completos não emancipados, ou maiores impossibilitados de exercer atos da vida civil enquanto durar tal condição, que vem crescendo nos últimos tempos, como a maneira mais evoluída e equilibrada de manter os vínculos parentais com os filhos após o rompimento conjugal (separação, divórcio, dissolução de união estável). (SILVA 2016, p. 131)

Como em meados do século XIX ainda predominava o poder patriarcal,

ou seja, todo o poder era concedido somente ao pai, a guarda dos filhos

também era exclusividade deles.

Com as modificações ocorridas no século XX no que diz respeito aos

papéis parentais, foi primordial a adaptação aos novos anseios sociais, onde a

mulher reingressa no trabalho e o homem participa ativamente da criação dos

filhos.

Com as mudanças na estrutura familiar, a mulher se torna capaz de

exercer as atividades da vida civil, já que o homem passa a maior parte do

tempo fora por causa do trabalho, fazendo com que, em caso de separação, a

mulher seja a mais adequada à guarda dos filhos.

A guarda compartilhada surgiu para ambos os pais terem igualdade na

criação e educação dos filhos, ou seja, acabar com a guarda unilateral, no qual

nesta, a mãe era a única guardiã dos filhos e decidia sobre a vida da criança.

Para Neiva (2002):

A guarda compartilhada almeja assegurar o interesse do menor, com o fim de protegê-lo, e permitir o seu desenvolvimento e a sua estabilidade emocional, tornando-o apto à formação equilibrada de sua personalidade. Busca-se

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diversificar as influências que atuam amiúde na criança, ampliando o seu espectro de desenvolvimento físico e moral, a qualidade de suas relações afetivas e a sua inserção no grupo social. Busca-se, com efeito, a completa e a eficiente formação sócio-psicológica, ambiental, afetiva, espiritual e educacional do menor cuja guarda se compartilha.

Foi na década de 60, na Inglaterra, que começou a guarda

compartilhada, onde a responsabilidade pelo desenvolvimento dos filhos foi

dividida igualmente entre os pais.

Tais precedentes foram reproduzidos na França, em Portugal e

Espanha. Após se propagar nos países da Europa, a guarda compartilhada

chegou às Américas, sendo aplicadas no Canadá, Argentina, Uruguai e

principalmente nos Estados Unidos, que foi o país que mais se empenhou a

este estudo.

No Brasil, a Guarda Compartilhada foi instituída pela lei 11.698/08,

publicada em 13 de junho de 2008 (que fez alterações nos arts. 1.583 e 1.584

do Código Civil de 2002), porém não foi completamente legitimada. Somente

na Lei 13.058 de dezembro de 2014 que é regulamentada a aplicação da

Guarda Compartilhada, como a forma “branda” de convivência da criança com

ambos os pais.

Esse tipo de guarda é o mais evoluído e, por isso, exige uma grande

responsabilidade e maturidade dos pais para deixarem as desavenças e

ressentimentos de lado, e focalizarem somente no verdadeiro interesse dos

filhos.

Pais com a Guarda Compartilhada escolhem e decidem juntos todas as

questões referente à educação e criação dos filhos, aumentando o grau de

afinidade e afetividade da criança com o(a) genitor(a), trazendo

conseqüentemente, benefícios para a formação

A Guarda Compartilhada nada mais é do que o compartilhamento

solidário da responsabilidade parental, no qual os genitores compartilham as

decisões da vida da criança, e não o seu tempo. E tem como princípio o melhor

interesse dos filhos e a igualdade no exercício da parentalidade. É uma forma

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de minimizar os conflitos relativos à guarda nos casos de pais separados,

fazendo com que ambos os genitores participem totalmente da vida dos filhos.

2.2 Modalidades de Guarda

2.2.1. Guarda Unilateral

A Guarda Única sempre foi o modelo de guarda mais tradicional, no qual

(normalmente) a mãe é a detentora exclusiva da guarda dos filhos. Prevista no

art. 1.583 § 2º do Código Civil, “A guarda unilateral será atribuída ao genitor

que revele melhores condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão

para propiciar aos filhos [...]”.

Vale ressaltar que o detentor da guarda não será aquele que possui

melhor condição financeira, e sim o que tiver melhor condição de prestar

assistência moral, material e ética e dar uma boa educação.

Nesse modelo o genitor que obtiver da guarda é o único responsável

pelas decisões sobre a vida da criança, o outro irá apenas supervisionar. Um

genitor terá a guarda física e o outro terá apenas o direito de visitar em datas

pré-determinadas. Com isso, vale a reflexão da autora Silva (2016):

Uma vez que o caráter de uma pessoa se estrutura pelos exemplos que recebe das figuras parentais e das pessoas à sua volta, pergunta-se: como um pai pode apresentar modelos para um filho, se o período de encontro entre ambos se restringe a algumas horas, ou a finais de semana alternados?

Com as mudanças ocorridas nas relações familiares, esse tipo de

guarda não é muito aconselhado, só será fixada quando não for possível

aplicar a guarda compartilhada, pois limita o contato da criança com um dos

genitores (normalmente o pai), prejudicando o desenvolvimento saudável dos

filhos.

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2.2.2. Guarda Alternada

A Guarda Alternada é o modo que proporciona ambos os pais ficarem

mais tempo com os filhos. Os genitores terão a guarda física, alternadamente,

por um tempo determinado, podendo ser uma semana, um mês, um ano, ou

até alternando em um mesmo dia.

Nesta modalidade de guarda a criança não tem um lar definitivo, nem

hábitos estabelecidos devido à oscilação da sua rotina, cada dia e/ou período

em uma casa diferente, comprometendo sua saúde emocional e psíquica.

Esse tipo de guarda é prejudicial à formação dos filhos uma vez que

contradiz o princípio da continuidade do lar, causando danos à estabilização

dos hábitos, valores, padrões de vida e formação da personalidade.

De acordo com Silva (2016, p. 159), com essa inconstância de moradia

a criança fica confusa diante de duas orientações diferentes (materna e

paterna) que são, muitas vezes, conflitantes, pois enquanto a criança está

convivendo com o pai, ele determina hábitos e rotinas; quando está com a

mãe, a mesma determina outras regras, podendo assim, causar conflito interno

na prole.

Do ponto de vista de muitos especialistas, os malefícios da guarda

alternada são evidentes, pois dessa forma a criança pode desenvolver

descompensações e influenciar no surgimento de adultos com dupla

personalidade.

2.2.3. Guarda Compartilhada

Já a Guarda Compartilhada é a modalidade em que um dos pais detém

a guarda física, enquanto compartilham a guarda jurídica. Ambos os genitores

participam igualmente da formação dos filhos. De acordo com Silva (2016),

esse modelo segue o princípio da interação dos membros da família, onde eles

fazem divisão de tarefas e dividem as responsabilidades e deveres.

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A Guarda compartilhada é uma modalidade de guarda de filhos menores de 18 (dezoito) anos completos não emancipados, ou maiores impossibilitados de exercer atos da vida civil enquanto durar tal condição, que vem crescendo nos últimos tempos, como a maneira mais evoluída e equilibrada de manter os vínculos parentais com os filhos após o rompimento conjugal (separação, divórcio, dissolução de união estável). (SILVA, 2016, p.131)

Diferentemente da Guarda Alternada, a Guarda Compartilhada está

prevista no ordenamento jurídico. E de acordo com Epagnol (2003):

A guarda compartilhada de filhos menores é o instituo que visa a participação em nível de igualdade dos genitores nas decisões que se relacionam aos filhos, é a contribuição justa dos pais, na educação e formação,saúde moral e espiritual dos filhos, até que atinjam, a capacidade plena, em caso de ruptura da sociedade familiar, sem detrimento, ou privilégio de nenhuma das partes. (...)

De acordo com Silva (2016, p.162), na Guarda Compartilhada o que se

“compartilha” não é a posse, e sim a responsabilidade com o desenvolvimento

e bem estar dos filhos, decidindo juntos as questões sobre saúde, religião,

educação, lazer, etc.

Para que a Guarda Compartilhada atinja seu propósito, é necessário que

os genitores possuam um bom relacionamento, para que consigam tomar as

melhores decisões para os filhos.

2.3 Os Conflitos de Guarda e a Síndrome da Alienação

Parental

No Brasil, a Lei de Alienação Parental, Lei n. 12.318/2010, estabelece

em seu art. 2º, o que é ato de alienação parental:

Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida

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ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie o genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. [...]

A definição da Síndrome de Alienação Parental pelo psiquiatra norte-

americano Gardner, Richard A. é:

A síndrome de alienação parental (SAP) é uma disfunção que

surge primeiro no contexto das disputas de guarda. Sua

primeira manifestação é a campanha que se faz para denegrir

um dos pais, uma campanha sem nenhuma justificativa. É

resultante da combinação de doutrinações programadas de um

dos pais (lavagem cerebral) e as próprias contribuições da

criança para a vilificação do pai alvo.

A Síndrome de Alienação Parental acontece quando um casal se separa

e o genitor guardião (normalmente a mãe) impossibilita ou dificulta o acesso do

genitor não guardião (geralmente o pai) aos filhos, simplesmente por

implicância e/ou pirraça.

Como especifica o parágrafo único do art. 2º da Lei de Alienação

Parental, é considerado alienação parental atitudes como: realizar campanha

de desqualificação da conduta de um dos genitores, dificultar o exercício da

autoridade parental, dificultar contato da criança com o genitor, omitir

informações relevantes sobre a criança, apresentar falsa denúncia contra o

genitor para dificultar a convivência deles com a criança e mudar o domicílio

para local distante, sem justificativa.

Em virtude de certa dificuldade para “digerir” a separação, é

desencadeado um processo de vingança e desvalorização de um dos cônjuges

para com o outro. Devido à esses sentimentos e mágoas, um dos genitores usa

a criança para tentar afetar o outro, sem perceber o prejuízo que está causado

no psicológico dos próprios filhos.

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A criança, inocente, é induzida a rejeitar o outro genitor sem motivo

plausível e, consequentemente, acaba guardando sentimentos ruins como

raiva e ódio pelo genitor alienado, não gostando de estar perto, não querendo

dar atenção e se tornando agressiva com o genitor e sua família.

O genitor alienante interfere nas visitas, minimizando o tempo da criança

com o outro genitor, toma decisões importantes sem comunicar o outro, faz

com que a criança se torne uma espiã da vida do outro, emite falsas acusações

sobre o genitor alienado, dentre outras atitudes que afastam os filhos de seu

outro genitor.

O alienador denigre a imagem do genitor alienado e manipula

emocionalmente a criança, fazendo inclusive, com que os filhos reproduzam

falas para fundamentar a necessidade do afastamento do pai. O objetivo é

fazer com que o genitor alienado seja excluído definitivamente da vida dos

filhos.

O genitor alienado, que a criança aprende a odiar por influência do genitor alienador, passa a ser um estranho para ela; enquanto isso, configura-se como modelo o genitor alienador, patológico, mal-adaptado e possuidor de disfunção. A partir daí, a criança tende a reproduzir a mesma patologia psicológica eu o genitor alienador, e á sua própria contribuição para a destruição do vínculo. (SILVA, 2016, p.226)

Vale destacar que existe uma diferença entre Alienação Parental (AP) e

Síndrome de Alienação Parental (SAP). A alienação é o ato de induzir a rejeitar

o pai/mãe-alvo. A Síndrome de Alienação Parental é o conjunto de sintomas

que a criança pode vir ou não a apresentar, decorrente dos atos de Alienação

Parental.

As crianças vítimas da Síndrome de Alienação Parental estão mais

propensas a ter: medo, insegurança, baixa autoestima, tristeza, hostilidade,

comportamento agressivo, tendência a se isolar, falta de organização,

depressão, transtornos de identidade e imagem, dupla personalidade, consumo

de álcool ou drogas, dentre outros problemas psiquiátricos.

A SAP é um excelente exemplo de uma desordem na qual a saúde mental e os profissionais jurídicos têm de colaborar

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porque estas crianças precisam ser ajudadas. Nem uma nem outra disciplina odem ajudar isoladamente as crianças se a participação mútua. Os profissionais da saúde mental precisam do poder do tribuna para colocar em prática as suas recomendações e o tribunal precisa dos profissionais de saúde mental para conduzir a terapia apropriada. (SILVA, 2016, p. 230)

Inserir a alienação parental em uma criança é considerado

comportamento abusivo pelos estudiosos do tema. Além da criança, o genitor

alienado, a família e os amigos também são afetados. E a síndrome uma vez

instalada, faz com que o menor, quando adulto, tenha complexo de culpa por

ter sido cúmplice da injustiça cometida contra o genitor alienado. Por outro

lado, o genitor alienador passa a ter papel de único modelo para a criança, que

no futuro, está propenso a repetir o mesmo comportamento.

Importante ressaltar que para que se configure a Síndrome de Alienação

Parental, é preciso identificar com certeza que o genitor alienado não mereça,

de jeito nenhum, essas acusações e a rejeição da criança por meio de

comportamentos tão desprezíveis.

2.4 Os benefícios da Guarda Compartilhada para o convívio

familiar

O ponto mais importante desse modelo de guarda, é que permite que

mesmo com a separação dos pais, a criança continue convivendo com os

genitores, o que é fundamental para o bom desenvolvimento dela. Como

menciona Silva (2016):

Os primeiros anos de vida são de fundamental importância na construção da identidade do ser humano. Ao nascer, o bebê não tem ainda uma forma psicológica definida, nem uma auto-imagem formada. A mãe e o pai vão funcionar como elementos auxiliares neste “parto psicológico. [...]”

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Esse modelo permite que a criança conviva com os pais de uma forma

semelhante a anterior a separação, evitando assim, traumas e outros impactos

negativos.

Crianças que crescem sem a presença de um dos pais, têm uma maior

tendência a ter queda no rendimento escolar, dificuldade de relacionamento,

gravidez precoce, dependência de drogas, depressão, entre outros.

A ausência da figura paterna pode gerar conflitos familiares que poderão

refletir externamente na relação da criança com o mundo. O pai presente e

participante, na vida da criança, desenvolve limites internos e controles que

servirão de proteção ainda que na vida adulta.

Diminuir os conflitos de lealdade os quais podem ser resumidamente traduzidos como sendo a necessidade da criança ou adolescente de escolher, defender, tomar partido de um dos pais em detrimento do outro. Quando estes sentimentos estão presentes na criança, entende que a ligação, interesse, carinho, afeto, necessidade de convivência e apoio a um dos pais, significa deslealdade e traição ao outro. As consequências emocionais são muito sérias e a criança pode isolar-se, afastando-se de ambos os pais, inclusive daquele que teme estar traindo e magoando. (MOTA)

Outro ponto considerado fundamental nesse modelo é a respeito da

residência fixa. Quando a criança alterna a moradia, ela tem dificuldades de

criar laços e de seguir regras, o que é totalmente danoso para o crescimento e

desenvolvimento psíquico da criança.

Dentre outros aspectos positivos temos: a maior responsabilização dos

genitores ao atendimento e necessidade dos filhos, maior intervenção do pai e

da mãe no desenvolvimento físico e mental das crianças, menos atrito entre os

ex-cônjuges, pois deverão se unir para melhor atender as necessidades dos

filhos, etc.

A criança não precisa escolher com qual dos pais ela vai ficar, sendo

obrigada a preferir um e acabar magoando o outro, o que é um esgotamento

emocional enorme que afeta totalmente o psicológico da criança, ela percebe

que ambos estão se dedicando em prol do seu bem estar.

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A Guarda Compartilhada tenta trazer uma cultura de paz, buscando

reduzir o impacto negativo que a separação dos pais provoca nos filhos,

minimizando os efeitos patológicos dos conflitos vivenciados.

A decisão da guarda compartilhada pelo juiz é sempre visando o melhor

interesse do menor que é dependente dos pais e necessita de cuidados,

principalmente por ser a parte mais frágil da relação familiar.

Deve-se sempre incentivar o vínculo entre pais e filhos, evitando a

exclusão de um dos pais na vida da prole. Assim, a criança terá a segurança e

certeza de que não foi negligenciada após a separação dos pais.

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CAPÍTULO III

MEDIAÇÃO

3.1 Conceito e origem da Mediação

A mediação é um processo voluntário de resolução de conflitos, no qual

duas partes recorrem a uma terceira pessoa imparcial, o mediador, para

auxiliar nas questões que geraram o conflito.

Mediação é um eficaz instrumento de pacificação social e

democratização do acesso à justiça. Tem uma duração variável dependendo

do tipo e complexidade dos temas e da reação entre as partes, mas é mais

rápido que o processo judicial, possibilitando uma solução de litígio em menos

de três meses, e tem um custo significativamente mais baixo.

Conforme estabelece o Regulamento de Mediação do Conselho

Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem – CONIMA (2011):

A mediação é um Processo não-adversarial e voluntário de

resolução de controvérsias por intermédio do qual duas ou

mais pessoas, físicas ou jurídicas, buscam obter uma solução

consensual que possibilite preservar o relacionamento entre

elas.

Todos os assuntos discutidos e revelados serão protegidos pela política

do sigilo e da confidencialidade. Somente em casos de delito, que os

mediadores ficam dispensados de manter o sigilo, mas isso é acordado e

informado às partes antes do início da mediação.

De acordo com Christoper Moore (1998 p.32-34), a mediação já era

praticada para tratar os litígios bíblicos, especialmente nas comunidades

judaicas, mas somente depois disso que seu uso se propagou para outras

culturas. Segundo o autor, “foi nos últimos 25 anos que a mediação se

expandiu exponencialmente no mundo, ganhando espaço e tornando-se

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reconhecida como meio de tratamento de litígios alternativo às práticas

judiciais”.

Na Antiguidade, a mediação era conhecida na Grécia, foi utilizada na

China e também pela Civilização Romana. (CENTRO BRASLEIRO DE

MEDIAÇÃO, 2011).

Com a emigração dos chineses para os Estados Unidos e para a

Europa, a mediação vai ganhando espaço e força nos Estados Unidos, e mais

tarde, vai se expandindo para o Canadá e Europa.

No Reino Unido a mediação familiar começou em 1976. Na França teve

início nos anos 80. Nos anos 90 foi na Holanda e na Austrália. Nos países da

América Latina, a Argentina se sobressai, já que a aplicação da mediação é

ministrada há anos nas universidades e tem legislação da profissão do

mediador.

Já no Brasil, a mediação é vista nos anos 90 a partir dos conflitos

trabalhistas, diante da dificuldade do acesso à Justiça e a ineficácia da

resolução pacífica dos conflitos. No entanto, ainda há poucos resultados em

termos de legislação.

De acordo com o manual do Conselho Nacional de Justiça – CNJ

(2016): “Mediação pode ser definida como uma negociação facilitada ou

catalisada por um terceiro”.

A mediação nada mais é do que a facilitação de conversação. É vista

como uma oportunidade de mudanças, de desenvolvimento pessoas e na

relação com o outro. Privilegia a desconstrução do conflito e a consequente

restauração da convivência pacífica entre as pessoas.

No sentido mais amplo, a mediação é uma negociação, e negociar é

desenvolver qualquer comunicação interpessoal em mão dupla, na tentativa de

chegar a um acordo entre as partes.

“A negociação é um meio básico de conseguir o que se quer de

outrem. É uma comunicação bidirecional concebida para

chegar a um acordo, quando você e o outro lado têm alguns

interesses em comum e outros opostos”. (FISHER e URY)

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3.2 Princípios Éticos da Mediação

A mediação dispõe de princípios que são essenciais para que ocorra

uma mediação bem sucedida. Como afirma Roger Fisher (1994), “A

negociação baseada em princípios produz acordos sensatos amistosa e

eficientemente”. Sendo assim, temos os seguintes princípios:

Autonomia da vontade – Significa garantir a voluntariedade para que as

pessoas optem por participar ou não do processo, podendo interrompê-lo a

qualquer tempo; e autodeterminação: poder que as pessoas têm de gerir seu

próprio conflito, bem como de tomar suas próprias decisões, durante ou ao final

do processo.

Imparcialidade – O mediador deverá compreender a realidade dos mediandos,

sem permitir que preconceitos, valores pessoais ou preferências interfiram na

sua condução.

Igualdade – A mediação deverá propiciar o tratamento oferecendo iguais

oportunidades para cada mediando.

Informalidade - A mediação destaca-se pela informalidade, pois não existem

regras pré-estabelecidas para a condução do procedimento. Entendendo-se

como tal, a flexibilidade no desenvolvimento de seu processo, levando em

consideração a complexidade inerente ao conflito e a individualidade dos

mediandos.

Respeito – O mediador deverá agir com sensibilidade, solidariedade,

cooperação, bom senso e humildade para com os mediandos.

Participação do terceiro imparcial - Ser imparcial é uma condição basilar

para ser mediador, portanto este, em relação às partes, deverá agir de forma

equidistante. Ele ouvirá os conflitantes e não representará nenhum deles. Para

poder realizar o seu trabalho não deverá se deixar influenciar por seus valores

ou preconceitos.

Independência - A mediação deverá assegurar a independência de todos os

que dela participam. Isso significa evitar qualquer imposição alheia ao

processo, de quem quer que seja e vedar a sua realização, quando se verificar

a existência de qualquer vínculo anterior dos mediandos com o mediador.

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Não competitividade - Na mediação não se busca a competição, para que

uma parte seja ganhadora e a outra perdedora, mas que ambas, através da

cooperação e comunicação eficientes possam ceder um pouco e ganharem de

alguma forma. O clima de disputa deve ser substituído por uma conduta onde

todos os participantes promovam esforços para solucionar o problema

existente e não simplesmente discutir, questionar e impor a sua posição.

Competência – Deverá ser realizada por mediador que tenha plena convicção

de suas qualificações para conduzir o processo.

Confidencialidade – A mediação deverá ser confidencial sobre todas as

informações, fatos, relatos, situações, propostas e documentos trazidos

durante o processo, sendo vedado qualquer uso para proveito pessoal ou de

terceiros alheios ao processo. Salvo em limites estabelecidos e que foram

expressos no Termo de Compromisso de Mediação.

Diligência – A mediação deve ser pautada pelo cuidado do mediador para a

observância de todos os seus princípios, assegurando, assim, a qualidade e

credibilidade do processo, assim como a excelência dos serviços prestados.

Transparência – A mediação deverá ser conduzida de maneira que garanta a

transmissão, pelo mediador, informações de maneira clara e objetiva, sobre

todo o processo, seus alcances e limites.

3.3 Características da Mediação

Voluntariedade - Manifesta-se no aspecto de serem as partes livres para

escolherem a mediação como forma de lidar com o conflito, bem como de optar

pela continuidade ou desistência do procedimento a qualquer momento.

Decorre também das partes poderem indicar ou aceitar o mediador.

Confidencialidade - Determina que as partes não tenham conhecimento das

informações desvendadas pelo mediador, assim como a promessa de que os

fatos revelados estão cobertos pelo sigilo profissional. O clima de respeito e

confiança, necessário ao diálogo, deverá embasar as negociações e o que for

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tratado na sessão de mediação não poderá ser posteriormente utilizado ou

divulgado, salvo por acordo entre as partes.

Informalidade / Oralidade – A mediação possui um procedimento informal,

simples, no qual é valorizada a oralidade, ou seja, as intervenções são feitas

através do diálogo.

Flexibilidade - É preciso flexibilidade no processo de mediação visto que ela

não se desenvolve mediante um procedimento rígido, Ressalvados alguns

princípios básicos, o mediador possui uma margem de liberdade ampla para

ditar as regras do processo, ele pode definir o cronograma, o local e tipo de

reunião, valendo-se de sua experiência, atentando as peculiaridades do conflito

e das partes.

Participação ativa - Esta característica demonstra a capacidade das partes de

realizarem o acordo sem incumbir a responsabilidade da tomada de decisões

ao mediador. As partes decidem por sua própria consciência e vontade e esta

autonomia das decisões possibilita a busca de uma forma de autocomposição

para solução dos seus conflitos.

3.4 A Mediação como instrumento de pacificação de conflitos

Se existe conflito, significa que existe algo em comum (para disputar); “o

outro tem algo importante que eu quero e só ele pode me dar”. Esses conflitos

se dão por falta de comunicação, e sem comunicação, não há negociação.

Geralmente os conflitos são vistos como algo ruim, negativo, onde há

sempre uma perda para alguém. Entretanto, ele é essencial e faz parte de ser

humano. É um convite para encontrar o equilíbrio da relação.

A Teoria do Conflito nos faz refletir sobre a necessidade de utilizar as

situações de conflito como uma oportunidade de aprendizado, crescimento e

geração de ganhos mútuos.

Segundo Braganholo (2005),

O processo de mediação pode ser uma maneira de aproximar

as partes para discutir questões de interesse mútuo ou não,

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observando e mediando pontos de vista convergentes e

divergentes. Dessa forma, é possível iniciar uma batalha contra

os conflitos em questão, e então, discutir as razões e motivos

que interferem nas decisões dos envolvidos.

As partes do conflito precisam resolver questões complexas

instauradas muito além do aspecto unicamente legal. E a

mediação e uma forma de possibilitar momentos de

comunicação entre o casal resolvendo questões emocionais

que possibilitem uma separação ou divórcio baseado no bom

senso, e não na vingança pessoal.

Antes de tudo, a mediação dos conflitos familiares é uma

oportunidade para o crescimento e a transformação dos

indivíduos. E o mais importante: um crescimento que

pressupões desenvolvimento da capacidade, como pessoa

humana, para expressar e fortalecera capacidade de uma

preocupação pelos outros. Essa situação é muito difícil de

ocorrer, num processo de rompimento conjugal de união

estável, separação ou divórcio, no atual sistema jurídico

brasileiro, que não respeita a complexidade existente em

relacionamentos que envolvem vínculos afetivos.

Cada parte tem a sua visão, sua história, sua verdade; nela, é sempre a

vítima e o outro é o vilão. É muito mais fácil culpar o outro pelo erro, atribuir a

culpa a alguém nos faz sentir inocentes, afinal, nós é que fomos injustiçados.

Em seu livro Como chegar ao Sim com você mesmo, William Ury fala

sobre o jogo da culpa: “[...] os custos dos jogos de culpa são enormes. Agrava

as divergências e dificulta a conciliação, sem necessidade. Envenena as

relações e desperdiça tempo e energia inestimáveis”.

Ury (2015) afirma que se quisermos resolver o nosso problema com o

outro, mesmo que seja uma situação muito difícil, precisamos encontrar uma

forma de sair desse ciclo vicioso de culpar o outro, assumir a própria

responsabilidade e recuperar o poder para mudar a situação.

Normalmente as partes chegam à mediação “em guerra”, como rivais, não

conseguem e não querem se ouvir, não são capazes de se colocar no lugar do

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outro para tentar entender o lado dele. O objetivo deles é simplesmente ganhar

essa “guerra”, sem se importar com o outro lado.

A pessoa não estabelece conexão com o que ela faz e o que isso causa

no outro. Não tem controle sobre si próprio, mas quer corrigir a atitude do outro.

Para isso, é preciso ter uma visão sistêmica (visão de um todo).

A mediação auxilia as pessoas a mudarem a maneira de lidar com as

diferenças, estimulando a abordagem ganha-ganha, e dando fim a ideia de que

para um ganhar o outro precisa perder. Como afirma Ury (p. 207), “[...]

abandonar a mentalidade ganha-perde, que com tanta frequência nos impede

de alcançar soluções mutuamente satisfatórias”.

O mediador será o condutor do processo, ele não vai opinar e nem

julgar, vai apenas auxiliar para melhorar a comunicação entre as partes e

assim, fazer com que elas conversem e se entendam sozinhos, sem precisar

mais do mediador. Como salienta Lília Sales (2003, p. 47):

Mediação não é um processo impositivo e o mediador não tem

poder decisão. As partes é que decidirão todos os aspectos do

problema, sem intervenção do mediador, no sentido de induzir

as respostas ou decisões, mantendo a autonomia e controle

das decisões relacionadas ao conflito. O mediador facilita a

comunicação, estimula o diálogo, auxilia na resolução de

conflitos, mas não os decide.

Através da melhoria na comunicação, facilitado pelo mediador, as partes

estarão em clima de maior conforto e assim será mais fácil identificar os

interesses e necessidades, frequentemente comuns.

O objetivo da mediação não é, exatamente, chegar a um acordo, e sim

fazer com que as partes entendam a importância da escuta ativa, para que

pensem e se coloquem no lugar do outro, para assim, conseguir modificar a

relação.

Na mediação é priorizada a desconstrução do conflito, ou seja, ir para os

reais interesses de cada um, atendendo suas necessidades e trabalhando no

motivo que provocou o desentendimento para que essa situação não se repita

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futuramente, com isso, consequentemente, há uma melhoria na convivência

entre as pessoas.

A mediação é trabalhada com a abordagem sistêmica, com os aspectos

relacionais e empoderamento das partes. E enfatiza a importância da

revalorização e do reconhecimento das partes.

Com a revalorização, é sinalizado o que já existe, apenas é colocado em

evidência, mostra o potencial que a pessoa apresenta através do seu próprio

discurso, e através dessa potencialidade ele se sente seguro e capaz de tomar

decisões. Se sentir dessa forma, significa que já houve uma transformação

pessoal.

Com o reconhecimento, as pessoas se colocam no lugar do outro e ficam

mais sensíveis para compreender a outra parte. O aprendizado proporciona

mudanças que atingem diversas áreas da vida das pessoas.

O mediador vai trabalhar separando as pessoas do problema e

elaborando perguntas reflexivas, com o intuito de fazer as partes analisarem

suas atitudes e comportamentos em relação a si mesmo e em relação ao outro.

Na mediação tem que ser aproveitado todas as partes do discurso, até

mesmo quando em pequenas falas, as pessoas conseguem fazer o

reconhecimento “sem querer”, mesmo que esse reconhecimento tenha vindo

junto com uma reclamação primeiro, e assim, aproveitando para fazer o

empoderamento.

Empoderar não é dizer a sua opinião, é pegar o que a pessoa fala e usar

a favor dela, mostrar pra ela que ela pode, tem poder pra isso, e que apenas

não estava conseguindo enxergar isso sozinha.

De acordo com o Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem, algumas

das vantagens da prática da mediação é que evita gastos de recursos e tempo

e possibilita soluções criativas, desenvolvidas e realizadas pelas próprias

partes, permite a conservação de um clima favorável e viabiliza o controle do

resultado pelas partes, evitando que a solução seja determinada por um

terceiro, alheio e estranho a elas.

No caso da mediação familiar para casos de separação, divórcio e guarda

dos filhos, como focaliza o tema deste trabalho, a mediação precisa ter foco

nas necessidades das crianças, na necessidade de ambos os genitores, nos

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novos papéis parentais e no auxilio dos pais para tomar as melhores decisões

sobre o futuro dos filhos.

Com o auxilio do mediador, os pais devem ser educados para perceber

a real necessidade dos filhos e assim, prover o que for fundamental para o

desenvolvimento e crescimento das crianças.

Na mediação os genitores terão espaço para poder analisar

conjuntamente todos os fatores que contribuíram para o início do conflito. Vai

ser um espaço para escutar as atribuições feitas que levaram a atitudes e

tomadas de ação.

Através da mediação as partes podem ir para além do que elas querem e

imaginam e, às vezes, uma única mudança na visão e no comportamento pode

mudar radicalmente a vida de uma pessoa.

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CONCLUSÃO

O processo de separação é algo que, na maioria das vezes, é doloroso,

principalmente para os filhos, pois são seres inocentes, indefesos e que muitas

das vezes, são usados por um dos genitores para ferir e atacar o outro genitor.

O objetivo da mediação não é determinar a precisão dos fatos que

provocaram um conflito, e sim tentar articular e equilibrar as diferentes

percepções dos fatos.

Em razão das transformações significativas na história da família e,

principalmente, no papel da mulher na família, podemos ver a modificação e

consequência nos relacionamentos familiares. Com isso, faz-se necessário a

atualização dos meios de solução de conflitos.

Sabemos que o conflito é inerente a toda e qualquer relação humana e

que faz parte lidar as diversas situações difíceis, o diferencial está na forma

que enfrentamos os problemas.

O conflito, se abordado de forma apropriada pode ser um importante

meio de conhecimento, amadurecimento e aproximação de seres humanos. Ao

mesmo tempo, o conflito quando conduzido corretamente pode impulsionar

relevantes alterações quanto à ética e à responsabilidade profissional.

Com a mediação, é possível mudar a percepção dos fatos, e

consequentemente, aprender a assumir a responsabilidade pelas

circunstâncias e não mais culpabilizar o outro por tudo de ruim que acontece.

Ademais, vale ressaltar que o resultado da mediação é sempre positivo,

mesmo que as partes não tenham chegado a um acordo, pois pela forma que o

processo é conduzido, as pessoas aprendem a enfrentar os seus próprios

problemas, e a relação dos indivíduos é tratada, fazendo com que seja evitado

um novo conflito futuramente.

Portanto, conclui-se que a mediação é um instrumento eficaz e possui

vantagens em termos tanto práticos, como pessoais e relacionais, pois ao

mesmo tempo que possui um custo baixo e tempo reduzido na resolução do

conflito, permite a melhoria do relacionamento entre as partes, reduz o

desgaste emocional, promove um ambiente de colaboração do tratamento do

problema entre as partes e possibilita uma efetiva reparação pessoal.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT. Referências Bibliográficas. Rio de Janeiro, 2001

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Instituição da Família e suas Transformações 11

1.1. A influência do patriarcado na Construção da Família 11

1.2. A História da Construção da Infância e seu papel na família 14

1.3. Composição dos conflitos familiares 16

CAPÍTULO II

Guarda Compartilhada 18

2.1. Conceito e evolução histórica 18

2.2. Modalidades de Guarda 20

2.2.1 Guarda Única 20

2.2.2 Guarda Alternada 21

2.2.3 Guarda Compartilhada 21

2.3. Os Conflitos de Guarda e a Síndrome da Alienação Parental 22

2.4. A importância da Guarda Compartilhada pro convívio familiar 25

CAPÍTULO III

Mediação 28

3.1. Conceito e origem da Mediação 28

3.2. Princípios Éticos da Mediação 30

3.3. Características da Mediação 31

3.4. A mediação como instrumento de pacificação de conflitos 32

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 38