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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA PERSPECTIVA PSICOMOTORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Giselle Mello dos Santos ORIENTADOR: Profa. Me. Fátima Alves Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA PERSPECTIVA PSICOMOTORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Giselle Mello dos Santos

ORIENTADOR:

Profa. Me. Fátima Alves

Rio de Janeiro 2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA PERSPECTIVA PSICOMOTORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade. Por: Giselle Mello dos Santos

Rio de Janeiro 2015

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AGRADECIMENTOS

A minha família, em especial a minha mãe que sempre acreditou em mim, ao meu pai que me incentiva a sempre dar o meu máximo e ao meu irmão que está sempre ao meu lado.

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DEDICATÓRIA Dedico a minha família, pela compreensão e paciência. Aos meus amigos, em especial a Gabriela Dufan, que me acompanhou e me incentivou todo o curso. A minha orientadora, Fátima Alves, pela paciência e por acreditar em mim.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico, tem por objetivo, analisar o que

representa o brincar para crianças pequenas, compreender os desafios que

envolvem o brincar na educação infantil, refletir sobre a importância do lúdico

como facilitador do processo de ensino-aprendizagem, visando analisar a “A

IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA PERSPECTIVA PSICOMOTORA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL”. Constata-se que ao longo de muitos anos já se ouvia

falar da criança pequena, repleta de potencialidades, e pesquisas validaram

essa afirmação. Grandes teóricos como Comenio (1954), Froebel (1852),

Decroly (1928), Pestalozzi (1827), entre outros, contribuíram com suas

pesquisas a respeito do comportamento infantil. A apropriação das teorias

desses autores pelas instituições de educação infantil envolveu um longo

processo. Seus modelos pedagógicos, inicialmente voltados para uma visão

assistencialista da educação, aos poucos, foram sendo utilizados para compor

o plano político pedagógico das instituições de educação. Particularmente, o

mesmo enfatiza os elementos que compõem o brincar no ensino-aprendizagem

como um caminho a ser percorrido. Pois, o brincar enquanto promotor da

capacidade e potencialidade da criança, deve ocupar um lugar especial na

prática pedagógica, tendo como espaço privilegiado a sala de aula. Por fim,

uma análise do brincar e as contribuições da psicomotricidade, permitiu

concluir que, enquanto professores, devemos explorar as potencialidades da

criança, afim de que se possa desenvolver seus aspectos cognitivos,

emocionais, motor e psicomotor.

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METODOLOGIA

Este estudo será baseado em uma pesquisa bibliográfica através da

análise de livros e documentos sobre o Brincar, a Educação Infantil e a

Psicomotricidade.

O estudo se concentrará no segmento da Educação Infantil, que engloba

crianças de 4 meses à 5 anos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Uma Breve História sobre a Educação Infantil 09

CAPÍTULO II

O surgimento do Brincar 26

CAPÍTULO III

As contribuições do Brincar na perspectiva psicomotora 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS 42

BIBLIOGRAFIA 44

WEBGRAFIA 46

ÍNDICE DE FIGURAS 47

ÍNDICE 48

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo principal, desenvolver uma

análise crítica e reflexiva quanto à importância da Psicomotricidade durante a

Educação Infantil, através da relação entre o desenvolvimento psicomotor e as

aquisições básicas para as aprendizagens dessa faixa etária, além de analisar

o brincar como um elemento importante a ser considerado na Educação

Infantil, já que proporciona à criança uma aprendizagem lúdica, onde a mesma

pode desenvolver inúmeras habilidades psicomotoras, dentre elas estão a

memorização, a imitação e a imaginação.

A proposta desse trabalho sobre a importância do brincar na perspectiva

psicomotora na educação infantil valida questões fundamentais para o

desenvolvimento humano, pois através do brincar a criança irá se desenvolver

permeada por relações cotidianas, e assim construirá sua própria identidade, a

imagem de si e do mundo que a cerca.

O estudo aqui citado foi divido em três capítulos. No primeiro capítulo:

“Uma Breve História sobre a Educação Infantil”, foi apresentado através da

história, o surgimento do conceito de infância, a criação dos jardins-de-infância,

pareceres de grandes teóricos que dizem respeito a importância do olhar para

a criança pequena como um sujeito aprendente, que já traz consigo desde a

mais tenra infância muitas possibilidades, pois a criança é um indivíduo dotado

de capacidades e que necessita de um ambiente favorável, acolhedor e

construtivo para se desenvolver de maneira saudável e a educação infantil nos

dias atuais, onde o maior desafio se encontra na estimulação da criança na

Educação Infantil sem que haja a perda da ludicidade, levando à criança

atividades pertinentes e prazerosas, respeitando sempre as características

individuais de cada criança e possibilitando que ela compreenda o seu corpo e

as diversas formas de se expressar por meio dele, localizando-se no tempo e

espaço. No segundo capítulo: “O surgimento do Brincar”, objetivou-se a dar

ênfase ao surgimento do brincar, sua importância para o desenvolvimento, pois

acredita-se que através da brincadeira a criança aprende novos conceitos,

adquire informações e tem um crescimento saudável, além de pareceres de

teóricos como Vygotsky, Wallon e Piaget e a importância do brinquedo e do

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jogo para o desenvolvimento infantil, pois possibilitam aprendizados

fundamentais para a formação da criança, em todas as etapas de sua vida,

além de desenvolver capacidades à sua futura atuação profissional, tais como

atenção, concentração e outras habilidades psicomotoras. Por fim, no terceiro

capítulo: “As contribuições do Brincar na perspectiva psicomotora”, analisou-se

o desenvolvimento da criança através de um olhar voltado para a

psicomotricidade, como uma forma de contribuir no desenvolvimento da

criança, por meio de atividades motoras, cognitivas e socioafetivas,

indispensáveis à formação, finalizando com uma reflexão a respeito do papel

do professor frente ao desenvolvimento psicomotor, ressaltando sua

importância em assumir o papel de facilitador, onde possibilitará à criança,

situações e estímulos diversos, com experiências concretas e vivenciadas com

o corpo por inteiro, trazendo a psicomotricidade sob um olhar pedagógico.

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CAPÍTULO I

UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL

Este capítulo tem como por objetivo relatar um pouco sobre a história da

Educação Infantil e o conceito de infância, o que possibilita compreender sua

responsabilidade e importância.

Falar da creche ou da educação infantil é muito mais do que falar de uma instituição, de suas qualidades e defeitos, da sua necessidade social ou da sua importância educacional. É falar da criança. De um ser humano, pequenino, mas exuberante de vida. (DIDONET, 2001).

Historicamente, era de responsabilidade exclusiva da família a educação

da criança, pois era através do convívio com adultos e outras crianças que ela

se inseria nas tradições aprendendo as regras e normas da sua cultura.

Muitos foram os caminhos e olhares para Educação Infantil ao longo dos

anos. Durante séculos, na Europa, o cuidado e a atenção à criança pequena

eram de responsabilidade familiar, particularmente da mãe e de outras

mulheres. A criança era vista como um mini-adulto, que vivia imersa no

cotidiano familiar a qual estava inserida. Assim que estivesse liberta de sua

dependência física, como amamentação, alimentação e locomoção, passava a

ajudar nas atividades domésticas. Nas classes sociais mais privilegiadas era

considerado um objeto divino, cuja transformação em adulto era de

responsabilidade direta também da família. (OLIVEIRA, 2002)

Com o Renascimento, o desenvolvimento Científico e a expansão

comercial, o olhar para a arte, muda a visão de criança e como a mesma

deveria ser educada. Erasmo (1465-1530) e Montaigne (1483-1553) defendem

que a educação deveria respeitar a natureza infantil, estimular a atividade da

criança e associar o jogo à aprendizagem.

A Revolução Industrial trouxe mais discussões a respeito da

escolaridade obrigatória. Nos séculos XVIII e XIX reconhece-se a Educação,

como importante ferramenta para o desenvolvimento social: a criança passou a

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ser o centro de interesse educativo dos adultos, tornando a escola,

fundamental. (OLIVEIRA, 2002)

De acordo com as pesquisas de Zilma Oliveira (2002)1, no Brasil, não foi

diferente. Até meados do século XIX, o atendimento de crianças pequenas em

instituições, não existia. A maioria da população residia no meio rural e as

famílias de fazendeiros assumiam o cuidado das inúmeras crianças órfãs ou

abandonadas, geralmente frutos da exploração sexual da mulher negra e índia

pelo senhor branco.

Na área urbana, uma das instituições mais duradouras de atendimento à

criança, que teve seu início antes da criação das creches, foi a roda dos

expostos ou roda dos excluídos, onde bebês abandonados pelas mães e

alguns filhos ilegítimos de moças pertencentes à família com prestígio social,

eram recolhidos pela rodeira e sua identidade seguia preservada. A roda dos

expostos foi, por mais de um século, a única instituição de assistência à criança

abandonada no Brasil. Somente no século XX que o sistema da roda dos

expostos foi extinguido (MARCÍLIO, 1997).

Figura: A roda na Rua de Santa Teresa, em desenho de Thomas

Ewbank(1845).http://diretoriomonarquicodobrasil.blogspot.com.br/2009/08/roda.

html

1 Levanta a discussão sobre os elementos para consolidar uma proposta pedagógica para as instituições de Educação Infantil, que leve em conta o desenvolvimento das crianças e o contato com as famílias. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/biblioteca-virtual/educacao-infantil-fundamentos-metodos-zilma-ramos-626381.shtml

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Com a abolição da escravatura, a expansão industrial e a participação

da mulher no mercado de trabalho, surgem de forma mais significativa, as

creches e os jardins de infância, instituições essas, não criadas pelo poder

publico, mas exclusivamente pela filantropia, com a finalidade de auxiliar as

mulheres que trabalhavam fora de casa, as viúvas desamparadas e os órfãos

abandonados por mães solteiras, já que, segundo RIZZO (2003, p. 37) essas

crianças “eram sempre filhos de mulheres da corte, pois somente esses tinham

do que se envergonhar e motivo para se descartar um filho indesejado”.

As instituições educacionais eram lugar de guarda e atendimento às

crianças durante o trabalho das mães. Durante algum tempo, predominou a

visão da creche como fonte de educação para a família de baixa renda, nos

cuidados à criança pequena. Essa visão bastante assistencialista da Educação

ganhou força pela crença de que tais famílias não tinham condições de

fornecer as suas crianças os cuidados básicos de alimentação, saúde, ensino

moral e hábitos de comportamento.

Enquanto para as famílias mais abastadas pagavam uma babá, as pobres se viam na contingência de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa instituição que deles cuidasse. Para os filhos das mulheres trabalhadoras, a creche tinha que ser de tempo integral; para os filhos de operárias de baixa renda, tinha que ser gratuita ou cobrar muito pouco; ou para cuidar da criança enquanto a mãe estava trabalhando fora de casa, tinha que zelar pela saúde, ensinar hábitos de higiene e alimentar a criança. A educação permanecia assunto de família. Essa origem determinou a associação creche, criança pobre e o caráter assistencial da creche. (DIDONET, 2001, p. 13).

As mulheres, operárias, passaram a reivindicar a criação de creches,

escolas maternais e parques infantis para os donos de indústrias. Essas

reivindicações, aos poucos foram sendo canalizadas para o Estado e órgãos

governamentais.

Os donos das fábricas, procurando diminuir a força dos movimentos

operários, foram concedendo certos benefícios sociais e propondo novas

formas de disciplinar seus trabalhadores. Eles buscavam o controle do

comportamento dos operários, dentro e fora da fábrica. Com isso, vão sendo

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criadas vilas operárias, clubes esportivos e também creches e escolas

maternais para os filhos dos operários.

O fato dos filhos das operárias estarem sendo atendidos em creches,

escolas maternais e jardins de infância montadas pelas fábricas, passou a ser

reconhecido por alguns empresários como vantajoso, pois mais satisfeitas, as

mães operárias produziam melhor. (OLIVEIRA, 1992, p. 18)

A criação dos jardins-de-infância marca uma nova concepção no

atendimento à educação infantil. Friedrich Wilhelm August Froebel (1782-

1852), Educador germânico nascido na cidade alemã de Oberweissbach,

defensor da liberdade na educação, inaugura o primeiro kindergarten no

começo da década de 1840, na Alemanha e, com ele, marca a educação da

criança pequena como o projeto pedagógico mais significativo da sua história.

Froebel defendia não só uma concepção pedagógica e um tipo de instituição,

mas, também, uma reforma de educação da criança pequena, atingindo assim,

a estrutura familiar e os cuidados tradicionalmente dedicados à infância. Os

ideais froebelianos tinham como intenção rediscutir as formas de cuidados

dedicadas às crianças. Froebel defendia uma pedagogia que valorizasse a

infância no seu aspecto integral, calcada nos ideais de liberdade e respeito

defendidos por Rousseau. Esses ideais se referem ao que compreendemos

como teoria inatista ou naturalista. Esta teoria defende que a natureza é o

único fator responsável pela transformação do individuo, implicando assim um

pré-determinismo genético. Dentro desta concepção, a criança é uma semente

que contém todo potencial do bom “vir-a-ser”, onde ao educador cabe preparar

o “terreno” utilizando “ferramentas” que favoreçam o desabrochar dessa

criança.

Tais ideais representavam, no período em que surgiu, o rompimento

com padrões tradicionais assistencialistas que objetivavam apenas privar a

sociedade dos índices alarmantes de mortalidade infantil.

A realização das propostas froebelianas se comprometeu, também, com

a ideologia dominante da época, uma vez que as sociedades froebelianas

européias mantinham dois tipos de jardins-de-infância: os free-kindergartens,

denominação dos jardins-de-infância gratuitos, endereçados aos pobres, e, os

simplesmente, kindergarten, que atendiam as crianças da elite.

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1.1 - A Infância e seus teóricos:

Há muitos anos já se pensava na criança pequena como um ser

merecedor de respeito e cuidados. Para melhores efeitos de compreensão

sobre o assunto tratado nesta pesquisa, torna-se imprescindível falarmos sobre

alguns teóricos que contribuíram, e contribuem até hoje, para a Educação, em

especial para a Educação Infantil. Suas idéias também contribuíram para que a

criança tivesse um lugar privilegiado na família, escola, considerando suas

especificidades. São eles:

COMÊNIO (1592-1670), educador e bispo protestante checo, já em 1637

elaborou um plano de escola Maternal em que recomendava o uso de materiais

audiovisuais, como livro de imagens para educar crianças pequenas. Sua

importância decorre de ser o autor da Didática Magna2, sendo o primeiro

educador, no Ocidente, a interessar-se na relação ensino/aprendizagem,

levando em conta haver diferença entre o ensinar e o aprender. Salientava a

importância da educação formal de crianças pequenas e preconizou a criação

de escolas maternais, pois teriam, desde cedo, a oportunidade de adquirir as

noções elementares do que deveriam aprofundar mais tarde. A educação

deveria começar pelos sentidos, pois as experiências sensoriais obtidas por

meio dos objetos seriam internalizadas e, mais tarde, interpretadas pela razão.

Compreensão, retenção e práticas consistiam a base de seu método didático e,

por eles se chegaria às três qualidades: erudição, virtude e religião,

correspondendo às três faculdades necessárias - intelecto, vontade e memória.

O filósofo tcheco combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de "tudo

para todos" e foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos

da criança. (COMÊNIO, 1954)

De acordo com Oliveira (2002), ROUSSEAU (1712-1778), revolucionou

a educação de seu tempo ao afirmar que a criança tinha valor em si mesmo,

que a infância não era apenas uma via de acesso para a preparação para a

vida adulta. Para ele, a criança devia ser educada, sobretudo em liberdade e 2 Didactica magna ou Didática Magna, também conhecido por Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos é um livro de Comenius publicado em 1649. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Didactica_magna

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viver cada fase da infância na plenitude de seus sentidos – mesmo porque,

segundo seu entendimento, até os 12 anos o ser humano é praticamente só

sentidos, emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda se forma. Liberdade

não significa a realização de seus impulsos e desejos, mas uma dependência

das coisas em oposição à dependência da vontade dos adultos. (ROUSSEAU,

1968).

PESTALOZZI (1746-1827) considerava que a força vital da educação

estaria na bondade e no amor, tal como na família, e sustentava que a

educação deveria cuidar do desenvolvimento afetivo das crianças desde o

nascimento. As idéias de Rousseau abriram caminhos para suas concepções

que também defendiam a idéia de que educar deveria ocorrer em um ambiente

mais natural possível, num clima de disciplina estrita mas amorosa. A escola

idealizada por Pestalozzi deveria ser não só uma extensão do lar, como

inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e

afeto. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, o pensador suíço não

concordava totalmente com o elogio da razão humana. Para ele, só o amor

tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral isto é,

encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá

liberdade. Difundiu as escolas infantis por toda Itália, apoiado por católicos

progressistas. (FERRARI, 2008)

FROEBEL (1782-1852) levou adiante as ideias de Pestalozzi. Foi um

dos primeiros educadores a considerar o início da infância como uma fase de

importância decisiva na formação das pessoas – idéia hoje consagrada pela

psicologia, ciência da qual foi precursor. Froebel viveu em uma época de

mudança de concepções sobre as crianças e esteve à frente desse processo

na área pedagógica, como fundador dos jardins-de-infância, destinado aos com

outros pensadores de seu tempo: o de que a criança é como uma planta em

sua fase de formação, exigindo cuidados periódicos para que cresça de

maneira saudável. Outra grande contribuição de Froebel foi acreditar na

brincadeira como estratégia de aprendizagem. Para ele, as brincadeiras são o

primeiro recurso no caminho da aprendizagem. Não são apenas diversão, mas

um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de

entendê-lo. (FERRARI, 2008)

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DECROLY (1871-1932), médico belga, ressaltou que a criança deve

solucionar os problemas e viver os momentos de existência infantil plenamente:

esse é o destaque que colocou na educação infantil, compreendendo as

condições do desenvolvimento infantil e não a preparação para a vida adulta,

como era o pensamento educacional em vigor, na sua época. Defendia o

ensino voltado para o intelecto. Ajustou a escola à psicologia da criança,

transformando o ensino. Preocupava-se com o domínio dos conteúdos pelas

crianças e via a possibilidade de encadeá-los em rede, respeitando as faixas

de idade dos estudantes. Eles também foram concebidos com base nas etapas

da evolução neurológica infantil e na convicção de que as crianças entram na

escola dotada de condições biológicas suficientes para procurar e desenvolver

os conhecimentos de seu interesse. Segundo o autor, a criança tem espírito de

observação; basta não matá-lo. (Decroly, 1928) Nos centros de interesse, a

criança passava por três momentos: o da observação, o da associação e o da

expressão. A duração dos centros de interesse podia variar muito, até meses,

sendo, portanto, flexível, por motivo da riqueza dos conhecimentos a serem

trabalhados. É conhecido ainda por defender rigorosa observação dos alunos a

fim de poder classificá-los e distribuí-los em turmas homogêneas. (FERRARI,

2008)

MARIA MONTESSORI (1879-1952) foi a primeira mulher a se formar em

medicina em seu país, também pioneira no campo pedagógico ao dar mais

ênfase à atuação do aluno do que ao papel do professor como fonte de

conhecimento. Percebeu que já nascemos com a capacidade de ensinar a nós

mesmos, se nos forem dadas as condições. Individualidade, atividade e

liberdade do aluno são as bases da teoria, com ênfase para o conceito de

indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto do ensino. Montessori

defendia uma concepção de educação que se estende além dos limites do

acúmulo de informações. O objetivo da escola é a formação integral do jovem,

uma "educação para a vida". A filosofia e os métodos elaborados pela médica

italiana procuram desenvolver o potencial criativo desde a primeira infância,

associando-o à vontade de aprender – conceito que ela considerava inerente a

todos os seres humanos.

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Maria Montessori acreditava que nem a educação nem a vida deveriam

se limitar às conquistas materiais. Os objetivos individuais mais importantes

seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante e

nutrir paz e densidade interiores para ter capacidade de amar. A educadora

acreditava que esses seriam os fundamentos de quaisquer comunidades

pacíficas, constituídas de indivíduos independentes e responsáveis. A meta

coletiva é vista até hoje por seus adeptos como a finalidade maior da educação

montessoriana. (FERRARI, 2008)

VYGOTSKY (1896-1934) trouxe inúmeras contribuições para a

educação. Sua obra ainda está em pleno processo de descoberta e debate em

vários pontos do mundo, incluindo o Brasil. Apesar do curto tempo de vida, a

parte mais conhecida da extensa obra traz a ideia de que a criança é

introduzida na cultura por parceiros mais experientes. As relações sociais são

preponderantes, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu

pensamento é chamada de sociointeracionismo. "Na ausência do outro, o

homem não se constrói homem" (Vygotsky, 1930), escreveu o psicólogo. Ele

rejeitava tanto as teorias inatistas, segundo as quais o ser humano já carrega

ao nascer as características que desenvolverá ao longo da vida, quanto as

empiristas e comportamentais, que vêem o ser humano como um produto dos

estímulos externos. Para Vygotsky, a formação se dá numa relação dialética

entre o sujeito e a sociedade a seu redor - ou seja, o homem modifica o

ambiente e o ambiente modifica o homem. Essa relação não é passível de

muita generalização; o que interessa para a teoria de Vygotsky é a interação

que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a chamada

experiência pessoalmente significativa. Em suas obras encontramos

importantes conceitos que se tornaram incontornáveis na área do

desenvolvimento da aprendizagem. Um dos conceitos mais importantes é o de

Zona de desenvolvimento proximal, que se relaciona com a diferença entre o

que a criança consegue realizar sozinha e aquilo que, embora não consiga

realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer com a ajuda de uma pessoa mais

experiente. A Zona de Desenvolvimento Proximal é, portanto, tudo o que a

criança pode adquirir em termos intelectuais quando lhe é dado o suporte

educacional devido. Surge da ênfase no social uma oposição teórica em

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relação ao biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), que também se dedicou ao

tema da evolução da capacidade de aquisição de conhecimento pelo ser

humano e chegou a conclusões que atribuem bem mais importância aos

processos internos do que aos interpessoais. Vygotsky, que, embora

discordasse de Piaget, admirava seu trabalho, publicou críticas ao suíço em

1932. Piaget só tomaria contato com elas nos anos 1960 e lamentou não ter

podido conhecer Vygotsky em vida. (FERRARI, 2008)

PIAGET (1896-1980), cientista suíço, foi um dos pensadores mais

influentes da Educação. Sua atualidade e repercussão na sala de aula devem-

se, principalmente, ao incessante trabalho em compreender como se

desenvolve a inteligência humana. Entre estudos e pesquisas, um conceito

perpassa toda a sua obra: a ideia do sujeito epistêmico. Segundo Piaget, esse

"sujeito" expressa aspectos presentes em todas as pessoas. Suas

características conferem a todos nós a possibilidade de construir

conhecimento, desde o aprendizado das primeiras letras na alfabetização até a

estruturação das mais sofisticadas teorias científicas. Traz a idéia que o

conhecimento cognitivo é um processo de sucessivas mudanças qualitativas e

quantitativas das estruturas cognitivas derivando cada estrutura de estruturas

precedentes. Ou seja, o indivíduo constrói e reconstrói continuamente as

estruturas que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio. Denomina os

estágios de desenvolvimento mental como: sensório-motor, pré-operatório,

operatório concreto, operatório formal. (FERRARI, 2008)

WALLON (1879-1962), médico, psicólogo e filósofo, mostrou que as

crianças têm também corpo e emoções, além de uma cabeça para pensar.

Pioneiro ao tratar das emoções em sala de aula, fundamentou suas idéias em

quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o

movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Militante

apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é

sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, "a própria negação do ensino".

As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da

pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas

vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante

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e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.

(FERRARI, 2008)

FREINET (1896-1966), professor francês que defendia uma Pedagogia

Interdisciplinar. Propôs a integração do jogo com o trabalho na atividade

escolar. Desenvolveu propostas hoje comuns, como as aulas-passeio e o jornal

de classe, e criou um projeto de escola popular, moderna e democrática.

Freinet sempre acreditou que é preciso transformar a escola por dentro, pois é

exatamente ali que se manifestam as contradições sociais. Outras propostas se

somaram às contribuições de Freinet, que além das aulas-passeio e o jornal de

classe, sugeriu diferentes técnicas pedagógicas: desenho livre, texto livre,

correspondência, jornal, diário individual e coletivo, dicionário, entre outras. Os

conceitos chaves de sua teoria são: o trabalho, a livre expressão, a

experimentação e o exercício da vivência cooperativa. (FERRARI, 2008)

EMÍLIA FERREIRO estudou e trabalhou com Piaget e se tornou uma

espécie de referência para o ensino brasileiro e seu nome passou a ser ligado

ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a que

chegou o biólogo suíço na investigação dos processos de aquisição e

elaboração de conhecimento pela criança. As pesquisas de Emilia Ferreiro

concentram o foco nos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à

escrita. Tanto as descobertas de Piaget como as de Emilia levam à conclusão

de que as crianças têm um papel ativo no aprendizado. Elas constroem o

próprio conhecimento – daí a palavra construtivismo. A principal implicação

dessa conclusão para a prática escolar é transferir o foco da escola – e da

alfabetização em particular – do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende,

ou seja, o aluno. As pesquisas de Ferreiro evidenciaram que as crianças muito

antes de entrar para escola pensam sobre a leitura e a escrita e formulam

hipóteses a respeito. Essas hipóteses são trabalhadas através da construção

de princípios organizadores, resultados não só de vivências externas mas

também por um processo interno. Afirma também como a criança assimila

seletivamente as informações disponíveis e como interpreta textos escritos

antes de compreender a relação entre as letras e os sons da linguagem.

(FERREIRO, 1982)

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Enfim, é fato que esses grandes teóricos supracitados são a essência da

educação que vivenciamos hoje. Vale ressaltar que a história de outros como

Constance Kamii, Dewey, Paulo Freire, Dolto, Wiinicott, entre outros, que tanto

contribuíram para o pensar relacionado a criança pequena, seja em relação a

aspectos emocionais, cognitivos, relacionais, também fizeram a diferença no

percurso da história.

1.2- A Educação Infantil no Brasil:

No Brasil, o primeiro jardim-de-infância foi fundado em 1875, no Colégio

Menezes Vieira, no Rio de Janeiro e, o segundo, o da Escola Americana criado

em 1877, na cidade de São Paulo, funcionando, ambos como típicos jardins-

de-infância para as crianças da elite.

Figura: Creche do século XIX.

http://sapem1b.zip.net/arch2012-06-03_2012-06-09.html

No ano de 1909, surge um movimento ligado à educação através de

Maria Montessori3, médica e de formação católica, seu método baseava-se na

preocupação com a formação do espírito. A partir desse método, ela cria a

escola do silêncio, onde se destacava a disciplina e à introspecção. A 3 Os princípios fundamentais do sistema Montessori são: a atividade, a individualidade e a liberdade. Assim, na sala de aula, a criança era livre para agir sobre os objetos sujeitos à sua ação, mas estes já estavam preestabelecidos, como os conjuntos de jogos e outros materiais que desenvolveu. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_Montessori

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preocupação não era centrada na criança e sim nos objetivos das atividades e

nos materiais específicos.

Ocorreu em 1922, no Rio de Janeiro, o primeiro Congresso Brasileiro

de Proteção à Infância, no qual foram abordados temas como a educação

moral e higiênica e o aprimoramento da raça, com ênfase no papel da mulher

como cuidadora.

Em 1923, a primeira regulamentação sobre o trabalho da mulher previa

a instalação de creches e salas de amamentação, próximas ao ambiente de

trabalho e estabelecimentos comerciais e industriais.

Em 1924, educadores interessados no movimento das Escolas Novas

fundaram a Associação Brasileira de Educação.

Quanto à participação do poder judiciário na regulamentação de leis

que amparassem à infância, aconteceu em 1927, quando foi elaborado o

primeiro Código de Menores, cujo objetivo era tornar legítimas as leis de

assistência e proteção aos menores de 18 anos, abandonados e delinqüentes.

Até a década de 50, poucas eram as creches existentes. As que

existiam eram de responsabilidade de entidades filantrópicas pertencentes a

leigos e religiosos. Posteriormente, essas entidades passaram a receber ajuda

governamental. O trabalho assistencial era maior objetivo do trabalho na

creche. A preocupação era alimentar, cuidar da higiene, da segurança física,

não priorizando o desenvolvimento cognitivo, intelectual e afetivo da criança.

(OLIVEIRA, 2002)

Finalmente, em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional4 inclui a educação pré-primária no sistema de ensino, estabelecendo

que:

Art. 23 - “A educação pré-primária destina-se aos menores de 7 anos, e será ministrada em escolas maternais ou jardins de infância”. Art. 24 - “As empresas que tenham a seu serviço, mães de menores de 7 anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou com cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária.” (BRASIL, 1961)

4 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4024.htm

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No ano de 1971, a Educação infantil alcança outra conquista com a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 56925 dispõe que:

“Os sistemas velarão para que as crianças de idade inferior a 7 anos recebam educação em escolas maternais, jardins de infância ou instituições equivalentes.” (BRASIL, 1971)

Um cenário diferente estava se formando, creches e pré-escolas agora

eram defendidas por diferentes setores sociais. Era fato o crescimento do

operariado, a entrada das mulheres de classe média no mercado de trabalho e

a redução de espaços às brincadeiras infantis por conta da proliferação de

prédios com apartamentos residenciais no lugar de casas.

Criou-se a Educação Compensatória, como estratégia para nivelar as

precondições de aprendizagem pela via da compensação das desvantagens

das crianças carentes. A educação compensatória compreende um conjunto de

programas destinados a compensar deficiências relacionadas à saúde,

nutrição, emocionais, familiares, etc. Essa proposta visava à estimulação

precoce e ao preparo para a alfabetização, mantendo, no entanto, as práticas

educativas geradas por uma visão assistencialista da educação e do ensino.

No inicio da década de 80, muitos foram os questionamentos entorno dos

programas de caráter compensatório e da privação cultural na pré-escola.

Acreditavam que as crianças das classes populares não estavam sendo

efetivamente beneficiadas por esses programas. Pelo contrário, estavam

servindo apenas para uma discriminação e marginalização ainda maior delas.

Em 1988, a Constituição Federal coloca a Educação Infantil como um

dever do Estado, definindo-a também como um direito da criança e uma opção

da família. (OLIVEIRA, 2002). Foi então que, através de congressos, da

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd)6 e

da Constituição de 1988, a educação pré-escolar passa a ser vista como 5 Disponível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/128525/lei-de-diretrizes-e-base-de-1971-lei-5692-71 6 Sociedade civil sem fins lucrativos que reúne sócios institucionais (os Programas de Pós-Graduação em Educação) e sócios individuais (professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação em Educação). A finalidade da ANPEd é o fortalecimento da pós-graduação e da pesquisa na área da Educação no Brasil. http://www.anped.org.br/

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necessária e de direito de todos, além de ser dever do Estado e devendo ser

integrada ao sistema de ensino (tanto creches como escolas). A partir daí,

tanto a creche quanto a pré-escola são incluídas na política educacional,

seguindo uma concepção pedagógica, complementando a ação familiar, e não

mais assistencialista, passando a ser um dever do Estado e direito da criança.

Esta perspectiva pedagógica vê a criança como um ser social, histórico,

pertencente a uma determinada classe social e cultural. Ela desmascara a

educação compensatória, que delega à escola a responsabilidade de resolver

os problemas da miséria. A Constituição, segundo Leite Filho “foi um marco

decisivo na afirmação dos direitos da criança no Brasil” (2001, p. 31). Foi a

partir da Constituição que a criança de zero a seis anos7 passa a ser

compreendida como um sujeito de direitos.

Logo após a aprovação da Constituição de 1988, foi aprovado o Estatuto

da Criança e do Adolescente8 - Lei 8.069/90, onde, de acordo com seu artigo

3º: a criança e o adolescente devem ter assegurados os direitos fundamentais

inerentes à pessoa humana, para que seja possível, desse modo, ter acesso às

oportunidades de “[...] desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,

em condições de liberdade e dignidade” (BRASIL, 1994ª). Essa Lei é mais do

que um simples instrumento jurídico, pois:

Inseriu as crianças e adolescentes no mundo dos direitos humanos. O ECA estabeleceu um sistema de elaboração e fiscalização de políticas públicas voltadas para a infância, tentando com isso impedir desmandos, desvios de verbas e violações dos direitos das crianças. Serviu ainda como base para a construção de uma nova forma de olhar para a criança: uma criança com direitos de ser criança. Direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer, direito de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar. Isso quer dizer que são atores do próprio desenvolvimento. (FERREIRA, 2000: 184)

7 Considerando a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que determinou que o Ensino Fundamental no Brasil passaria a ter duração de nove anos, iniciando-se aos seis anos de idade, a educação infantil, a partir dessa data, corresponde à faixa etária de zero a cinco anos de idade e não mais até aos seis anos. 8 O presente documento contém 267 capítulos e dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente no Brasil.

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Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, os municípios

passaram a ser os responsáveis pela infância e pela adolescência, criando as

diretrizes municipais de atendimento aos direitos da criança e do adolescente e

do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, criando o

Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho

Tutelar dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Finalmente, dando a devida importância a esse segmento de Ensino, é

promulgada em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº

9394 estabelecendo que:

Art. 29 - “A Educação Infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral das crianças até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual, e social, complementando a ação da família e da comunidade.”

Art. 21 – “A educação escolar compõe-se de: I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – educação superior”

A lei afirma sobre a importância da Educação Infantil para o sistema

de Ensino, pois inseriu a educação infantil como primeira etapa da Educação

Básica. Essa Lei determina que a finalidade da educação infantil é promover o

desenvolvimento integral da criança até os 6 anos de idade, complementando a

ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). E assim, reconhecendo seu

papel para o desenvolvimento infantil e da educação.

Em 1998 foi formulado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC)9 o

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, com o objetivo de

oferecer subsídios pedagógicos para a reflexão e orientação na concepção de

currículos. O Referencial visa contribuir para o planejamento, desenvolvimento

e avaliação de práticas educativas, além da construção de propostas

9 http://portal.mec.gov.br/

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pedagógicas que respondam às necessidades das crianças e de seus

familiares. (RCNEI, 1998)10

Concluindo, a Educação Infantil, além de ser considerada a primeira

etapa da Educação Básica, é um direito da criança e tem como objetivo

proporcionar condições adequadas para o desenvolvimento físico, motor,

emocional, social, intelectual, ou seja, tem papel fundamental na construção do

ser humano. Vai muito além da visão assistencialista e higienista que fez parte

de sua história. Seu maior objetivo é o desenvolvimento integral da criança. De

acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil nossa

missão é Educar e Educar significa:

“Propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.” (RCNEI , 1998, p.23)

10 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf

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CAPÍTULO II

O SURGIMENTO DO BRINCAR

Este capítulo tem como objetivo apresentar o surgimento do brincar

através da história. Muitos pesquisadores ainda procuram incessantemente

pela origem do ato de brincar. O que eles têm conseguido através dos anos é

encontrar brinquedos antigos expondo-os em museus e apresentações ao

redor do mundo.

Se perguntar a qualquer pessoa sobre quando ela começou a brincar,

certamente não terá uma resposta objetiva e precisa. Fato é que o ser humano

sempre brincou, não importa a cultura, a região onde vive ou o ano em que

nasceu. A brincadeira sempre fez e fará parte de nossa história.

Figura: Brincadeira de Roda (1900)

http://lealevalerosa.blogspot.com.br/2010/05/as-pessoas-de-porto-alegre.html

Acredita-se que o brincar existe desde o surgimento do homem, pois

com qualquer objeto pode-se inventar uma brincadeira, pode-se criar um

brinquedo, desde um simples cabo de madeira, que se pode fazer de cavalo,

como uma folha, uma pedrinha que se pode inventar diferentes brinquedos,

dependendo da imaginação de cada um.

Ainda que muitas vezes uma brincadeira seja característica de um

determinado povo, peculiar a uma determinada cultura, certas formas de

brincar são reconhecidamente universais. A tradicionalidade e universalidade

das brincadeiras ocorrem porque muitas, ainda hoje, ocorrem do mesmo jeito

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de quando foram criadas. Transmitidas de geração em geração, de país para

país, recebem muitas vezes, modificações que respeitam as características

fundamentais originam outras brincadeiras.

Os tipos de brincadeiras utilizados retratam a cultura de diversas

sociedades e diferentes momentos históricos, demonstrando o tipo de relações

sociais, a forma educacional, a importância que se dedica à infância e o papel

das crianças em determinadas épocas.

Figura: A origem das brincadeiras infantis

http://www.cantinhodaeducacaoinfantil.com.br/2008/04/brincadeiras-infantis-e-

as-sua-origens.html

2.1 – O Brincar.

“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou adulto fruem de sua liberdade de criação. As brincadeiras servem de elo entre, por um lado, a relação do indivíduo com a realidade interior, e por outro lado, a relação do indivíduo com a realidade externa ou compartilhada.” (D. W. Winnicott)

Brincar, brincadeira, brinquedo e jogo. Serão sinônimos?

Brincar é uma linguagem, uma atividade espontânea, acessível a todo

ser humano, é nossa primeira forma de cultura.

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Segundo Maluf (2003), brincar é:

• Um ato instintivo voluntário;

• Uma atividade exploratória;

• Uma forma de comunicação e expressão, associando pensamento e

ação;

• Um meio de aprender a viver e não um mero passatempo;

• Uma forma de auxiliar às crianças no seu desenvolvimento físico,

mental, emocional e social.

Brincar é uma atividade livre, imprevisível e espontânea. Brincando, a

criança age como se estivesse em outro tempo e lugar, embora esteja

inteiramente conectado com a realidade.

As crianças não brincam do mesmo modo, algumas demoram mais

tempo para entrar na brincadeira, enquanto outras demoram mais a sair dela. A

escolha que as crianças fazem a respeito dos objetos, espaços e

companheiros de brincadeiras é um meio fundamental de acesso ao seu

universo mental. Suas escolhas contam muito dos seus desejos, medos,

capacidades e potencialidades.

A brincadeira é tão importante para o desenvolvimento humano que até

mesmo quando ocorrem brigas ela contribui para o crescimento e a

aprendizagem.

O brincar é de extrema importância, pois incentiva a utilização de jogos e

brincadeiras. Existe, necessariamente, participação e empenho – com ou sem

brinquedo -, sendo uma forma de desenvolver a capacidade de manter-se vivo

e participante.

Winnicott (1965) “coloca o brincar como uma área intermediária de

experimentação para a qual contribuem a realidade interna e externa”. Ou seja,

a criança pode relacionar questões internas com a realidade externa e assim,

tornar-se capaz de participar seu contexto e perceber-se como um ser no

mundo.

Maria Alice Setúbal (1987) afirma que podemos identificar o brincar em

dois momentos:

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1- nas brincadeiras tradicionais, momento em que o individuo se insere

na memória coletiva;

2- na história de vida própria do individuo, que recorre às suas

experiências no momento de brincar.

Para Bruner (1986), a brincadeira da criança aparece como um processo

relacionado a comportamentos naturais e sociais.

O brincar está associado à natureza infantil social da criança; é uma

forma de linguagem própria da infância, pois absorve em si a necessidade de

comunicar e compartilhar de uma vida simbólica com outros (crianças e

adultos).

Para Brougère (1999), na brincadeira de faz-de-conta se estabelece uma

forma de comunicação que pressupõe um aprendizado, com consequência

sobre outros aprendizados, pois ele permite desenvolver um melhor domínio

sobre a comunicação, abrindo possibilidades para a criança entrar num mundo

de comunicações complexas, distinguindo realidade, invenção, imaginação,

etc. E, ainda, afirma que a brincadeira implica tomar decisões, mesmo que

simples, como a risada de um bebê sinalizando sua aprovação em relação à

brincadeira da mãe. Decidir brincar é aceitar uma proposta, seja ela vinda de

um parceiro, de uma brincadeira ou de um jogo com regras preestabelecidas.

É fundamental para uma criança brincar, pois ela irá se desenvolver

permeada por relações do cotidiano, e assim vai construindo sua identidade, a

sua própria imagem e do mundo que a cerca. Acredita-se que através do

brincar a criança se prepara para aprender, pois brincando ela aprende novos

conceitos, adquire informações e tem um crescimento saudável. Todo

aprendizado que o brincar possibilita é fundamental para a formação da

criança, em todas as etapas da sua vida, pois desenvolvem capacidades

indispensáveis à sua futura atuação profissional, tais como atenção,

concentração e outras habilidades psicomotoras.

2.2 – O Brincar para Vygotsky:

Na perspectiva de Vygotsky (1989), que concebe o mundo como

resultado de processos histórico-culturais que alteram, não só o modo de vida

da sociedade, mas também o modo de pensar do homem, as brincadeiras são

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resultados de processos sociais. Ou seja, o brincar é uma atividade

sociocultural livre e origina-se nos valores, hábitos e normas de uma

determinada sociedade. Sua natureza é sociocultural, na medida em que as

crianças brincam com aquilo que elas já sabem ou imaginam que sabem sobre

as formas de relacionar-se, de amar ou odiar, de viver em grupos ou sozinhas,

de trabalhar, etc. Desse modo, de acordo com autor, a brincadeira, é atividade

de suma importância, pois favorece a socialização do individuo e promove as

mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico e na personalidade

da criança. O brincar fica identificado por Vygotsky como um mundo ilusório e

imaginário no qual a criança realiza seus anseios no momento em que quiser.

No brincar, a criança consegue separar pensamento (significado de uma

palavra) de objetos, e a ação surge das idéias, não das coisas. Isso representa

uma grande evolução na maturidade da criança.

“A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação aquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê”. (VYGOTSKY, 1998, p. 127)

Com isso, é possível entender que o brincar auxilia a criança no

processo de aprendizagem. Ele vai proporcionar situações imaginárias sem

que ocorra o desenvolvimento cognitivo e irá proporcionar, também, fácil

interação com as pessoas, as quais contribuirão para um acréscimo de

conhecimento.

2. 3 – O Brincar para Wallon:

Para Wallon o desenvolvimento infantil se dá através de uma interação

entre ambientes físicos e sociais, nos quais as pessoas envolvidas incentivam

a criança à participar de diversas atividades que levam a um saber construído

pela cultura e modificando-se através de suas necessidades biológicas e

psicossociais.

O brincar permite a criação de uma nova relação entre situações do

pensamento e situações reais. A brincadeira contribui para o processo de

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socialização das crianças, oferecendo-lhes oportunidades de realizar atividades

coletivas livremente, além de ter efeitos positivos para o processo de

aprendizagem e estimular o desenvolvimento de habilidades básicas e

aquisição de novos conhecimentos.

Em sua teoria, Wallon mostra que é a quantidade de atividades lúdicas

que proporcionarão o progresso do desenvolvimento infantil, e diante do

resultado, tem-se a impressão que a criança internalizou por completo o

aprendizado, mas, ela só comprova seu progresso através dos detalhes.

2. 3 - O Brincar para Piaget:

A partir dos estudos da epistemologia genética de Piaget (1978), é pela

brincadeira e pela imitação que se dá o desenvolvimento cognitivo e a

aprendizagem da criança, que obedece a estágios estruturais, no qual a

imaginação criadora surge em forma de jogo, instrumento preliminar de

pensamento e enfrentamento da realidade.

Segundo Piaget, a assimilação é o processo de incorporação de novas

experiências ou informações que chegam à criança. Já a acomodação é o

processo de modificação de suas idéias ou estratégias em função de uma nova

experiência.

No decorrer da assimilação e da acomodação podemos considerar a

atividade lúdica como uma ferramenta integradora no desenvolvimento do

conhecimento. A atividade permite a criança expressar e compreender melhor

o mundo que se apresenta a ela. Assim, o brincar é uma forma importante de

intervenção no campo da saúde mental, contribuindo de maneira significativa

para o desenvolvimento da cognição, da linguagem, da área motora e da área

social da criança.

De acordo com Piaget, o brincar estimula a representação da realidade,

pois ao representá-la a criança estará vivendo algo ou alguma situação remota

e irreal naquele momento. Um exemplo disso é o fato de que, ao brincar de

casinha, ao representar o pai, a mãe, a filha, a criança vai reproduzir diálogos

que presenciou. Vai repetir o modo pelo qual os adultos ali representados a

tratam e como conversam com ela.

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Walter Benjamin (1984) afirma que a repetição é a lei fundamental na

brincadeira. A criança não quer mais só ouvir as mesmas histórias, mas

também vivenciar novamente experiências, e isso lhe dá um grande prazer.

O brincar não pode ser considerado apenas como uma imitação da vida

adulta, pois em cada fazer novamente a criança pode encontrar novos

significados da sua experiência relacionada com seu contexto e coloca-se

como agente de sua história que aceita uma realidade ou confronta, manipula e

a transforma. As crianças se divertem e compartilham a alegria de sua infância

a seu próprio modo.

2.5- O Brinquedo e o Jogo:

“admite-se que o brinquedo represente certas realidades. Uma representação é algo presente no lugar de algo. Representar é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação, mesmo em sua ausência. O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los.” [Kishimoto, org. (199, p. 18)]

O brinquedo trata-se, antes de tudo, de um objeto que a criança

manipula livremente, sem estar condicionando às regras ou a princípios de

utilização de outra natureza. (BROUGÈRE, 2010)

Segundo Kishimoto (1994), o brinquedo “é entendido como objeto,

suporte da brincadeira”.

Para Walter Benjamin (1984) “o brinquedo sempre foi e sempre será um

objeto criado pelo adulto para a criança”. Mesmo os brinquedos antigos como a

bola, a pipa, desenvolveram as fantasias infantis.

Os brinquedos surgiram nas oficinas dos artesãos que só podiam

fabricar produtos dos seu ramo. Segundo Benjamin (1984), “serviam de alegria

para as crianças”.

Vygotsky (1984) diz que “o brinquedo tem um papel importante, aquele

de preencher uma atividade básica da criança, ou seja, ele é um motivo para a

ação”.

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Segundo Vygotsky (1998), para entendermos o desenvolvimento da

criança, é necessário levar em consideração suas necessidades e os

incentivos que são eficazes para colocá-las em ação. O seu avanço está ligado

a uma mudança nas motivações e incentivos, por exemplo: aquilo que é de

interesse para um bebê não é o mesmo para uma criança um pouco maior.

“o brinquedo não é o aspecto predominante da infância, mas é um fator muito importante do desenvolvimento... No brinquedo a ação está subordinada ao significado: já na vida real, obviamente, a ação domina o significado. Portanto, é absolutamente incorreto considerar o brinquedo como um protótipo e forma predominante da atividade do dia-a-dia da criança”. (VYGOTSKY, 1991, p. 116)

A criança satisfaz certas necessidades no brinquedo, mas essas

necessidades vão evoluindo no decorrer do desenvolvimento. Assim, como as

necessidades das crianças vão mudando, é fundamental conhecê-las para

compreender a singularidade do brinquedo como uma forma de atividade.

Pode-se dizer que o brinquedo é uma recordação concreta de situações já

vividas, mais até do que a imaginação. De acordo com a maneira de brincar ela

percebe qual é a forma para conseguir alcançar seus objetivos.

O brinquedo estimula a brincadeira ao abrir possibilidades de ações

coerentes com a representação: pelo fato de representar um bebê, uma

boneca-bebê desperta atos de carinho, de troca de roupa, de dar banho e o

conjunto de atos ligados à maternidade. Porém, não existe no brinquedo uma

função de maternidade; há uma representação que convida a essa atividade

num fundo de significação (bebê) dada ao objeto num meio social de

referência. (BROUGÈRE, 2010)

O brinquedo nada mais é do que um meio de demonstrar as emoções e

criações da criança. Pelo brinquedo, pode-se perceber a diferença do modo de

agir e pensar de uma criança com o modo de agir e pensar de um adulto. Isso

acontece quando as crianças, por exemplo, desconsideram brinquedos mais

caros e sofisticados e se apegam a outros simples, e que às vezes elas

mesmas fabricam.

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Segundo Maluf (2003), o brinquedo não é apenas um objeto que as

crianças usam para se divertirem e ocuparem o seu tempo, mas é um objeto

capaz de ensiná-las e torná-las felizes ao mesmo tempo.

Kishimoto (1997) faz uma distinção entre jogo, brinquedo e brincadeira.

Para ela, o jogo pode ser entendido como:

• Resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto

social – depende da linguagem, das concepções de jogo, enquanto fato

social, o jogo assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe

atribui.

• Sistema de regras – permite identificar uma estrutura seqüencial que

especifica sua modalidade. Quando se joga, está executando as regras

do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma atividade lúdica.

• Objeto – o jogo enquanto objeto.

Esses três aspectos permitem diferenciar significados atribuídos ao jogo

por culturas diferentes. O papel do jogo se modifica de acordo com o contexto

histórico-cultural das sociedades.

Para Fromberg (apud Kishimoto, idem) o jogo infantil inclui as

características: Simbolismo (representa a realidade e atitudes), significação

(permite relacionar ou expressar experiências), atividade (a criança faz coisas),

voluntário ou intrinsecamente motivado (incorporar motivos e interesses),

regrado (sujeito a regras implícitas ou explícitas) e episódico (metas

desenvolvidas espontaneamente). Se a atividade não for de livre escolha e seu

desenvolvimento não depender da própria criança, não será jogo, mas

“trabalho”.

O jogo cria uma situação de regras que proporcionam uma zona de

desenvolvimento proximal11 na criança. Assim “comporta-se de forma mais

avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar

objeto e significado”. (OLIVEIRA, 1999, p. 67)

Nem sempre a brincadeira é só prazer, pode-se verificar isso quando

uma criança entra em uma disputa e não consegue vencer: a derrota é um 11 Zona de desenvolvimento proximal – ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se determina através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. [(Vygotsky, 1991, pg. 97)]

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processo doloroso. O esforço realizado pode também fazer com que ela

experimente sensações que não lhe trazem o prazer. Quando as regras

assumem papel fundamental no jogo, vemos então que a tensão aumenta na

brincadeira.

A ação, durante o movimento do jogo, provoca espontaneidade. Isto

causa estimulação suficiente para que a criança transcenda a si mesma. Dessa

experiência surge a criança ativa e participativa dentro de um ambiente. Os

jogos proporcionam a criança adquirir o domínio da comunicação com os

outros.

Wallon (1981) compreende que as etapas do desenvolvimento

evidenciam atividades em que as crianças buscam tirar proveito de tudo. Os

jogos comprovam as múltiplas experiências vividas pelas crianças, como:

memorização, enumeração, socialização, articulação, sensoriais, entre outras.

Piaget (1976) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das

atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de alívio

ou diversão para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e

enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele afirma:

“o jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil”. (PIAGET, 1976, p. 160)

O jogar é essencial para que a criança manifeste sua criatividade,

utilizando suas potencialidades de maneira integral. Somente sendo criativo

que a criança descobre seu próprio eu.

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Figura: Crianças desenvolvendo habilidades cognitiva, emocional, social

e ética por meio de jogos de raciocínio.

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brincando/aHR0cHM6Ly90dWxpcGFiYWJ5LmZpbGVzLndvcmRwcmVzcy5jb20

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Atualmente vivemos em uma era em que a tecnologia se faz muito

presente no nosso cotidiano, a chamada Era da tecnologia ou da informação.

As concepções a respeito do homem e da sociedade se modificam e

consequentemente nossa maneira de ver o mundo, interagir, relacionar, brincar

e aprender também passam por essa transformação. Para maior compreensão

sobre o assunto pesquisado, se faz necessário abordar sobre o uso das

tecnologias no brincar e como isso influencia na educação infantil, que veremos

a seguir.

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CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA PERSPECTIVA PSICOMOTORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

“Desde o nascimento a criança já brinca (ou talvez até brinque antes de nascer, dentro do útero). Os pais serão os seus primeiros brinquedos, pois é para eles que vai olhar e sorrir”. (Jorge Montado)

Partindo desta declaração podemos perceber que, desde o nascimento,

o brincar faz parte de nossa vida e do nosso desenvolvimento pessoal, físico e

intelectual. Não só no cotidiano dentro de nossas casas, mas também na vida

escolar, nos deparamos com atividades recreativas que não somente nos

divertem, mas também nos propiciam maior interação com outras pessoas e a

aprendizagem de novos conceitos, atitudes e conhecimentos.

Para Santos (2000, p. 18), tanto Piaget, como Wallon, Vygotsky e outros,

atribuíram ao brincar da criança um papel decisivo na evolução dos processos

de desenvolvimento humano, como maturação e aprendizagem, embora com

enfoques diferentes.

É importante ressaltar a contribuição dos jogos e das brincadeiras para o

desenvolvimento psicomotor, pois desenvolve a motricidade fina e ampla, bem

como habilidades do pensamento, como a imaginação, interpretação,

criatividade, tomada de decisão, levantamento de hipóteses, memória, que

ocorrem quando jogam, quando obedecem ás regras. Porém, se faz necessário

que o professor seja um intermediário e conheça o sentido do jogo para que

obtenham um melhor desenvolvimento das habilidades da criança.

O papel do professor é fundamental no desenvolvimento psicomotor,

pois é na infância que a criança começa a desenvolver noções de limite,

respeito e disciplina. Devido a isso, há cada vez mais uma preocupação em

desenvolver jogos e brincadeiras que estimulem a percepção e o raciocínio

dentro do universo da ludicidade.

É notório que as brincadeiras e os jogos contribuem de modo saudável

para o desenvolvimento cognitivo, motor, social, mora, afetivo e lingüístico,

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também auxilia no estímulo da imaginação, criatividade, sonhos, fantasias.

Mas, além disso, os jogos contribuem na formação do caráter da criança, pois

influencia diretamente na obtenção de valores morais, como afirma Chateau

(1954, p. 23) “Através do jogo, a criança conquista essa autonomia, essa

personalidade, e mesmo aqueles esquemas práticos necessários a vida

adulta.” Pois, é através das regras do jogo, que as crianças são orientadas a

ter uma postura diante de um adversário e o não cumprimento dessas regras

pode atingir seus valores morais como a ética, honestidade, entre outros, nada

melhor para exercitar valores morais como atividades lúdicas.

A educação psicomotora proporciona também o desenvolvimento do

esquema corporal, pois segundo Alves (2012, p. 56) “é por meio do corpo que

a criança vai descobrir o mundo, experimentar sensações e situações,

expressar-se, perceber-se e perceber as coisas que a cercam”. Assim, a

criança cria noções de tempo – espaço, ritmo, além de aspectos afetivos.

Trabalhar a afetividade da criança é de suma importância para o

desenvolvimento de seu esquema corporal, pois a falta de afetividade pode

acarretar o sentimento de insegurança e uma série de reações negativas como

agressividade, falta de interesse, além de problemas motores que serão

manifestados através do próprio comportamento. Ao brincar, a criança

desenvolve seu processo de adaptação a realidade, aprendendo a lidar de

forma cada vez mais intencional com seu corpo.

A psicomotricidade está presente e tem um papel fundamental no

desenvolvimento da criança. É no brincar que a criança não só desenvolve a

imaginação, como também fundamenta afetos, elabora conflitos e ansiedades,

explora habilidades e, á medida que assume diversos papéis, gera

competências cognitivas e interativas. Com isso, o desenvolvimento da

psicomotricidade ocorre de forma natural, simples e agradável.

Segundo Winnicott (1982): a criança adquire experiência brincando. A

brincadeira é uma parcela importante da sua vida. As experiências tanto

externas como internas podem ser férteis para o adulto, mas para a criança

essa riqueza encontra-se principalmente na brincadeira e na fantasia. Tal como

as personalidades dos adultos se desenvolve através de suas experiências de

vida, assim as crianças evoluem por intermédio de suas próprias brincadeiras e

das invenções de brincadeiras feitas por outras crianças e por adultos. Ao

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enriquecerem-se, as crianças ampliam gradualmente sua capacidade de

enxergar a riqueza do mundo externamente real. A brincadeira é a prova

evidente e constante da capacidade criadora, que quer dizer vivencia.

(WINNICOTT, 1982, P. 163)

3.1- Jogos Eletrônicos e Educação.

Vivemos sob o impacto das novas tecnologias, causadoras de inúmeras

mudanças na sociedade, nas relações pessoais e também na educação. As

crianças de hoje tem acesso as mesmas informações que o seu professor.

Para Lyotard (1998) a diferença entre o professor e o aluno não está na

quantidade de informação, mas no modo como utilizar a informação.

Por sua vez, o professor também precisa estar por dentro dos novos

espaços de aprendizagem que estão surgindo na sociedade atual, novos

ambientes começam a se consolidar, novas formas de acesso ao

conhecimento estão surgindo nos ambientes virtuais, novas formas de se

relacionar estão acontecendo nos jogos eletrônicos. Este vem despertando o

interesse das crianças, que passam horas em frente ao computador jogando

esses games.

Existem muitos elementos que podem estimular o aprendizado, alguns

ensinam a criança distinguir cores, outras, a treinar a sua memória, sua

agilidade, seu reflexo e etc. Os jogos eletrônicos destinados ao aprendizado

costumam levar ao jogador lições que lhe serão úteis para compreender um

pouco mais do mundo que está ao seu redor, afinal de contas, é com este

intuito que tais jogos são desenvolvidos, para entreter e também para ajudar na

educação e na formação infantil o que é muito importante.

Quando se cria um jogo eletrônico ele já tem pré-definidos objetivos que

deverão ser alcançados pela criança a partir de sua subjetividade. Esse jogo

pode ter em si diversas funções, sejam elas no ganho de coordenação motora,

raciocínio lógico, capacidade de memorização, na criatividade ou até mesmo

na improvisação. Sendo assim, todo jogo tem um tipo de aprendizagem, até

mesmo os jogos de luta de guerra, que são tão discriminados por

apresentarem cenas de violência, podem proporcionar o manuseio dos

aparelhos de guerra, o que não deixa de ser uma aprendizagem. Basta saber a

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qual realidade se deseja retratar através dos jogos, e ele poderá aproximar

essa realidade para cada criança/jogador. O jogo tem em si o poder de ser

memorizado logo na primeira vez ao ser jogado, onde quanto mais se avança

mais difícil fica. São inúmeras etapas e obstáculos a serem passados e níveis a

serem vencidos, desta forma se for um jogo medieval, a criança/jogador deverá

se informar sobre o que acontecerá dali para frente, para que não perca mais

naquela fase. Ao final do jogo, ele já deverá ter aprendido algo sobre a idade

média e assim sucessivamente. O que consequentemente, ocorrerá também

com os demais jogos, os objetivos só serão alcançados pelo processo de

busca do conhecimento sobre determinado assunto, podendo fazer parte de

qualquer matéria.

Os jogos eletrônicos proporcionam uma forma mais fácil de aprender,

pois eles permitem a existência da interação com o jogador, portanto para que

o jogo aconteça o jogador deverá pensar rápido e agir ao mesmo tempo, onde

desenvolverá uma habilidade de leitura e compreensão (quando se usa games

para promover a leitura, usando paralelos entre os jogos e os livros, por

exemplo: O Senhor dos Anéis), a observação, pois a maioria dos jogos exige

que o jogador seja capaz de discriminar na tela os inúmeros objetos,

reconhecendo cada um deles e traçando possíveis trajetórias. Essa habilidade

é bastante usada enquanto se joga, pensamento lógico (jogos eletrônicos

ajudam a pensar em como resolver problemas, propor estratégias, organizar

elementos e antecipar resultados) e a colocará em prática. O que fará com que

aquele aprendizado não passe despercebido, onde logo que se depare com a

mesma situação não pensará duas vezes para colocá-lo em prática

novamente.

No que tange a educação, os jogos eletrônicos criam um ambiente

estimulante e criativo para as crianças.

Qual seria então, o papel do professor perante as novas tecnologias?

Os professores estão começando a se aproximar das novas tecnologias

através do uso do computador, da internet, dos cursos de educação a distância

e etc., mas ainda há muito para se descobrir e conhecer. O universo dos jogos

eletrônicos é um desses locais que precisa ser mais familiar aos educadores,

pois, para muitos dos seus alunos, já o é e, se aproximar desse universo é

também se aproximar mais dos alunos.

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De acordo com ALVES (2005), É importante compreender essa

linguagem que emerge das diferentes telas - do computador, do celular, entre

outras - pois do contrário, essa relação dialógica que deve permear todas as

interações, principalmente as pedagógicas, pode distanciar os alunos não só

dos professores, mas também da escola.

Sendo assim, é de suma importância que os professores e a escola se

aproximem dessas novas formas de aprender, desses novos espaços de

aprendizagem que estão surgindo na sociedade atual, ressignificando e

contextualizando a sua prática, aproximando-se dessa forma do contexto em

que vivem os alunos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho visou apresentar algumas considerações e

observações no que diz respeito ao brincar e suas contribuições psicomotoras

na educação infantil. Demonstrou que é possível contribuir com o

desenvolvimento psicomotor das crianças através da aplicação de jogos e

brincadeiras desde que tenha bem definidos os objetivos a serem alcançados.

Aqui foram relacionados alguns aspectos importantes e teorias dos mais

variados autores, sejam eles tradicionais ou contemporâneos.

O brincar não significa apenas um ato de recreação, mas dele se

representa a forma mais completa que a criança possui para se comunicar

consigo mesma e com o mundo. É a partir da brincadeira que a criança

aprende o que mais ninguém pode lhe ensinar, pois é brincando que a criança

exercita suas potencialidades, provocando o funcionamento do pensamento,

adquirindo conhecimentos, desenvolvendo a sociabilidade, ou seja, no brincar

a criança se desenvolve intelectualmente, socialmente e emocionalmente.

A brincadeira pode reunir valores morais e culturais, que podem

promover na criança a auto-estima e a cooperação, já que o lúdico encaminha

à imaginação, fantasia, criatividade e também na aquisição de um senso

crítico, entre outros fatores que auxiliam na construção de suas vidas, como

criança e, futuramente, como adulto.

Com o avanço da tecnologia a sociedade passa por uma transformação

e o brincar também. Inseridas nesse mundo digital, as crianças recriam o seu

modo de brincar e suas brincadeiras. As crianças de hoje vivem em uma

cultura de rede e por isso, sua cultura lúdica deve ser entendida dentro da qual

está inserida.

Na relação com os jogos eletrônicos, as crianças não são passivas, pois

elas recebem constantemente informações e conteúdos através dos jogos.

São muitos os desafios na área educacional, por isso, é de suma

importância que os profissionais dessa área tenham uma formação contínua e

especializada, pois suas ações refletem diretamente nas conquistas de cada

criança. Cabe ao professor organizar um trabalho voltado para a cultura lúdica

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da criança, fazendo com que a mesma sinta prazer em desenvolver as

atividades sugeridas.

Ao concluir esse trabalho, não me restam dúvidas, de que o brincar em

toda a sua essência, garante uma aprendizagem escolar muito significativa,

pois proporciona à criança sentimentos de prazer, autonomia, estimula a

curiosidade, a autoconfiança, além de potencializar seu desenvolvimento,

visando sempre o desenvolvimento psicomotor da criança, já que brincando ela

aprende a conhecer, a fazer, a conviver e, sobretudo, aprende a ser.

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BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – A roda da rua de Santa Teresa 11

Figura 2 – Creche do século XIX 20

Figura 3 – Brincadeira de Roda 26

Figura 4 – A origem das brincadeiras infantis 27

Figura 5 – Crianças desenvolvendo habilidades cognitiva, emocional, social e

ética por meio de jogos de raciocínio. 36

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL 10

1.1. A INFÂNCIA E SEUS TEÓRICOS 14

1.2. A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL 20

CAPÍTULO II O SURGIMENTO DO BRINCAR 26 2.1. O BRINCAR 27 2.2. O BRINCAR PARA VYGOTSKY 29 2.3. O BRINCAR PARA WALLON 30 2.4. O BRINCAR PARA PIAGET 31 2.5. O BRINQUEDO E O JOGO 32

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA PERSPECTIVA PSICOMOTORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 37

3.1. JOGOS ELETRÔNICOS E A EDUCAÇÃO 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS 42 BIBLIOGRAFIA 44 WEBGRAFIA 46 ÍNDICE DE FIGURAS 47 ÍNDICE 48