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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS - GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM. Thaís de Fátima Bittencourt Barreto de Souza Orientadora Profª . Dayse Serra Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS - GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM.

Thaís de Fátima Bittencourt Barreto de Souza

Orientadora Profª . Dayse Serra

Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM.

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia Por:.Thaís de Fátima Bittencourt Barreto de Souza.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus que sempre me deu força quando eu pedi e

me acudiu nos momentos mais difíceis da minha vida.

Aos meus pais que me apoiaram em todos os momentos de minha trajetória

contribuindo para que eu chegasse ao final dessa jornada.

Aos meus amigos, que ao longo desse tempo me deram forças, acreditando na

minha vitória e peço desculpas pela minha ausência em diversos momentos da

vida.

Aos meus professores, pelo profissionalismo e carinho em momentos tão

especiais, possibilitando que o meu amor pela educação crescesse ainda mais.

A todas as minhas amigas do curso, que estiveram junto comigo durante todo o

tempo e viraram grandes amigas para a vida toda.

Às minhas amigas de infância que sempre me auxiliaram no que foi preciso.

Deixo aqui o meu muito obrigado, pela presença de todos que juntos

participaram desta caminhada da minha vida!

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DEDICATÓRIA

Aos meus familiares e amigos.

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RESUMO

Esse trabalho tem como objetivo avaliar a importância do acompanhamento da família durante o processo educacional. Identificando o papel da família e da escola e sua interferência na aprendizagem. Partindo do pressuposto de que a aceitação por parte da família e o apoio que esta fornece a escola, realizando um trabalho único, onde as duas pensam em conjunto soluções para o possível problema. Torna assim o trabalho com esses alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem mais eficaz. Neste trabalho podemos observar a importância das relações entre a família e a escola. A pesquisa contribui para entendermos o significado dessas instituições na formação de um individuo e os impactos positivos na aprendizagem.

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METODOLOGIA

A metodologia apresentada é uma pesquisa de revisão bibliográfica,

utilizando como principais fontes materiais publicado por autores como:

ARANHA, Maria Lúcia; FARIA, Filho; ARIÈS, Philippe, CARVALHO, Maria do

Carmo, entre outros.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I AS VISÕES HISTÓRICAS SOBRE O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM 14 CAPÍTULO II A ESCOLA:SURGIMENTO E SUAS VISÕES HISTÓRICAS 20 CAPÍTULO III A FAMÍLIA, A ESCOLA E A APRENDIZAGEM 30 CONCLUSÃO 37 ÍNDICE 43

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INTRODUÇÃO

A escolha desse tema deu-se a partir da minha experiência como

professora de uma escola de classe média baixa, onde atuei junto a uma

mesma turma por três anos.

O trabalho começou na turma do jardim III da educação infantil e seguiu

até o segundo ano do ensino fundamental.

Durante esses três anos notei que a grande maioria das famílias não

mostrava interesse nos assuntos escolares, e principalmente quando estes

viam seguidos de queixas e de observações feitas pelo corpo docente da

escola, a cerca de alguma questão especifica do aluno.

Muitas das vezes essa relação das famílias com a escola parecia mais

um confronto de duas instituições que aparentemente mostravam-se quererem

atingir objetivos diferentes, do que duas instituições com o mesmo objetivo.

Observei durante esse período que o problema tornava-se mais grave,

quando surgia por parte da escola algum questionamento ou até mesmo

desconfianças em relação às dificuldades de aprendizado apresentada por

determinados alunos.

Nesse momento observávamos quatro tipos mais comuns de atitudes

adotadas pelas famílias.

A primeira atitude é daquela família que sabe que há algo errado,

diferente, mas apesar da sua desconfiança ser praticamente a mesma da

escola, para não aceitar qualquer coisa que fuja dos padrões ditos normais,

julga ser algo passageiro, momentâneo ou até mesmo sem importância,

utilizando-se de frases como “Deve ser da idade”, “Não é todo hora que ele

apresenta esse comportamento”, ”Daqui a pouco ele cresce e isso muda”.

A outra atitude que as famílias também apresentam é aquela que finge

desconhecer o assunto, que diz que nunca percebeu nada e que em algumas

vezes pode realmente acontecer da família nunca ter notado nada de diferente,

dependendo do contexto no qual esteja inserida, mas mesmo sendo sinalizada

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foge totalmente, com frases do tipo “Em casa ele não faz isso”, “Estou

surpresa”. E essas nunca mais voltam a falar sobre o assunto.

E temos ainda a terceira atitude de famílias que já cientes ou

suspeitando o assunto da conversa não comparecem a escola e não permitem

nenhum inicio de conversa sobre o assunto e agem com muita naturalidade,

como se nada estivesse acontecendo. Essas geralmente iniciam as conversas

elogiando muito os filhos, destacando e enaltecendo os pontos positivos.

Os motivos quando são desconhecidos e quando não são aceitos pelas

famílias, tornam se um duelo, entre as intervenções que a escola tenta realizar

e a continuidade do trabalho paralelo que deveria ser realizado, pois o trabalho

da escola fica restrito, a escola consegue realizar um trabalho até um

determinado ponto, pois necessita de um apoio, na maioria das vezes essas

intervenções ficam congeladas, pois a família quando não aceita a situação ou

até mesmo aquela que concorda com tudo o que a escola relata, mais não

procura um especialista e não entra no processo para facilitar a vida escolar

desses alunos, quando a família não busca ajuda, torna o trabalho muito mais

difícil e impede grandes ganhos para a vida desses sujeitos.

A escola encontra-se com dois papéis importantes e até decisivos na

vida desses indivíduos.

O primeiro seria o de identificar o problema e em seguida tentar trazer a

família para que esta tome conhecimento da dificuldade.

E o segundo seria, ao ser apontando pela escola a necessidade de um

acompanhamento paralelo ao trabalho realizado pela escola, que essa família

compreenda e aceite essa necessidade e realmente vá buscar junto aos

profissionais a ajuda necessária.

A ausência da família na escola é um fator muito comum, principalmente

nos dias atuais, onde todos estão inseridos no mercado de trabalho e muitas

vezes não dispõe do tempo necessário para estar envolvido em todas as

situações que o processo escolar necessita.

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Em minha experiência como professora o contato que tive com os

familiares dos meus alunos geralmente se davam através de bilhetes via

agendas escolares. Os momentos em que via a presença de alguns

responsáveis que não necessariamente eram os pais, e não eram todos e nem

muitos, era no horário de entrada e saída da escola e em algumas festas,

momentos esses tão rápidos que nenhum contato era feito.

As reuniões pedagógicas eram fracassadas, o número de

comparecimento era mínimo. Muitos desses alunos hoje continuam na escola,

porém, o contato entre família e escola ainda é muito pequeno nesse

estabelecimento de ensino.

A quarta família divide-se em dois grupos o primeiro e geral grupo é

aquele que ciente do problema busca junto à escola meios para minimizar a

situação, busca auxilio de profissionais, acompanha o trabalho e segue as

orientações recebidas. Porém esse modelo é o mais difícil de ser encontrado e

o segundo grupo é aquele que sabendo de toda situação fica pulando de

tratamento em tratamento, tentando de tudo e não seguindo nenhum caminho

até o fim.

Após tantas observações percebemos que para que haja um trabalho

efetivamente satisfatório é necessário que essas duas instituições família e

escola estejam caminhando lado a lado e que acreditem uma na outra.

]E que cabe a escola criar essa parceria, pois a partir do momento em

que a família escolhe uma escola especifica, dentre muitas existentes para seu

filho, a escola nesse momento precisa estabelecer a relação de confiança para

que essa família ao ser chamada na escola, compareça e acredite que todas

as orientações recebidas são reais e necessárias, visando sempre o bem estar

e buscando o melhor para seu aluno.

Pois além de importante o trabalho de acolhimento às famílias realizado

pela escola é extremamente necessário. Desde o primeiro contato com a

família a escola deve mostrar-se parceira.

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A postura da escola é que deve fazer a diferença, para que tenha pais

que acreditem no trabalho realizado pela escola e que confiem nele e essa

relação positiva precisa ser construída partindo sempre da escola.

O conflito surge quando percebemos que ainda hoje existem idéias nos

dias atuais de séculos passados, que os pais procuraram escolas para a

educação dos filhos e que esta deve fazer a sua parte e ponto final sem pedir

qualquer tipo de ajuda e dar conta de todas as questões que o processo

educacional envolve.

O que nos leva a pensar que quando encaminhamos uma criança à

escola o pensamento existente por parte das famílias é que essa criança irá à

escola aprender tudo aquilo que a família não der conta de transmitir, pois

sabemos que no mundo atual os conhecimentos são diversos.

Esse pensamento por parte das famílias torna-se um confronto com a

escola a partir do momento em que a escola também necessita do auxilio da

família e que as duas deveriam trabalhar em conjunto e não separadamente.

Os pais não querem que a escola faça apenas o papel de instruir seus

filhos. Eles esperam que ela os eduque de forma integral. O fato é que a escola

ao longo do tempo tornou-se mais do que uma simples instituição de apoio á

família.

A expressão utilizada por muito tempo de que “a escola é o segundo lar”

não cabe mais, pois a escola foi mostrando o seu caráter cientifico em

oposição ao senso comum trazido pelos saberes domésticos.

Esse pensamento que as famílias trazem a respeito da escola ganha um

peso muito maior quando esse processo de ensino e aprendizagem necessita

de algum auxilio, ou não acontece de maneira natural e tranqüila, quando

apenas os muros da escola não dão conta, dando margem para muitos

questionamentos.

Todas essas questões das atitudes adotadas pelas famílias que

presenciei em relação à escola me levaram ao questionamento de como se

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manteve ao longo do tempo essa relação tão importante entre família e escola

e como essa questão interferia na aprendizagem dos alunos.

Na década de 90, muitas discussões e debates foram sendo realizados

relativos a esse tema; família e escola, duas instituições que formam e moldam

o ser humano, portanto, duas instituições de caráter educacional.

O estudo tem como objetivo de avaliar a importância do

acompanhamento da família durante o processo educacional, identificando o

papel da família e da escola e sua interferência na aprendizagem.

E assim levantando um questionamento pra proceder a um diagnostico

de como as famílias reagem e auxiliam seus filhos, quando a escola detecta

que estes apresentam dificuldades na aprendizagem?

Acreditando que a aceitação por parte da família e o apoio que esta

fornece a escola, realizando um trabalho único, onde as duas pensam em

conjunto soluções para o possível problema. Tornando assim o trabalho com

esses alunos com dificuldade mais eficaz

Em relação ao processo de investigação o estudo se organiza por

pesquisa de caráter bibliográfico que aborda os aspectos teóricos.

O estudo se organiza a partir de três capítulos.

O primeiro capítulo define alguns conceitos básicos como, o que é

família? As visões históricas sobre o papel da família no processo de

aprendizagem, pois tudo sempre se transforma e modifica e com a família e

seu pensamento e até mesmo sua formação não foi diferente. Analisaremos

essas mudanças, o seu perfil atual e como está família está dentro da escola.

O segundo capítulo estuda a escola, seu desenvolvimento e de que

maneira esta enxerga seus alunos na sociedade atual, suas contribuições na

formação dos indivíduos e como se dá o seu trabalho, a sua real função e

postura diante desse desafio de proporcionar um ambiente de trocas de

conhecimento de socialização das informações em prol de um objetivo comum

e de interesse de todos os indivíduos que trazem consigo suas singularidades.

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O terceiro capítulo analisa as mudanças, as parcerias estabelecidas

entre a família, à escola e a aprendizagem e as vivências ocorridas dentro

dessa organização com interferência direta na aprendizagem.

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CAPÍTULO I

AS VISÕES HISTÓRICAS SOBRE O PAPEL DA FAMÍLIA

NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM.

Este capítulo aborda a história da família e o papel que ela vem

desempenhando na educação de seus filhos, a base deste estudo está na

investigação das relações entre o envolvimento da família com a vida escolar e

a aprendizagem e como isso ocorreu ao longo da história, pois essas duas

instituições estiveram na história caminhando e modificando-se

gradativamente.

A família espelha os problemas da sociedade bem como a presença ou

ausência de valores nos diversos contextos humanos (escola, grupo de pares,

associações) e desse modo é importante pesquisar sua relação com o

desempenho escolar.

Em nossa sociedade podemos observar uma série de mudanças na

instituição familiar. As mudanças na família afetam a sociedade como um todo

e, principalmente, a educação dos filhos, refletindo também sobre as atividades

desenvolvidas pela escola. Tendo essa questão como pano de fundo, iremos

discutir os novos contornos que a relação família-escola pode tomar no

contexto da educação formal.

1.1 A HISTÓRIA DA FAMILIA E SUAS MUDANÇAS:

Segundo o minidicionário família é 1.núcleo parental, formado por pai,

mãe e filhos; 2. pessoa do mesmo sangue, parentela; 3.linhagem, estirpe;

4.grupo de gêneros de animais ou plantas com caracteres comuns; 5. conjunto

de tipos com as mesmas características básicas.

A família é o primeiro grupo social no qual qualquer ser ao nascer

encontra-se inserido e é através desse grupo que o mundo começa a ser

construído.

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Segundo Aranha (1996), de certa forma, pode-se falar de educação em

relação a certos animais, que ensinam os filhotes recém-nascidos a se

adaptarem ao meio mais rapidamente do que o permitiriam seus

condicionamentos genéticos. Mas é na espécie humana que se efetua um

longo e complexo processo educativo, sem o qual o indivíduo não poderia

sobreviver numa sociedade que transformou radicalmente as condições

naturais de vida e que exige dele comportamentos muito superior, àqueles que

são determinados pelos instintos.

E continua a aprendizagem elementar é oferecida pela família. A

instituição familiar pode apresentar formas muito diversa, de acordo com a

sociedade em que esteja inserida, e a educação, no seio familiar irá depender

muito deste fator. É possível dizer, porém, que, em quantas sociedades

humanas existam ou tenha existido, o núcleo familiar sempre foi o primeiro

passo, de incalculável importância em direção à socialização da criança, ou

seja, na transformação de um ser que ao nascer é regulado pelos instintos em

membro participante de uma comunidade.

A relação familiar se reduz, em alguns casos, ao contato entre mãe e

filho, mas, em geral, a família forma um grupo mais complexo, e pode chegar a

ser muito numeroso. Habitualmente, o pai, a mãe e os demais parentes

desempenham papéis diferentes, e a missão educadora de cada um fica

contido dentro de certos limites.

No período da monarquia vamos encontrar o modelo de família

conhecido como patriarcal.

Segundo Freyre (1980), a família era tudo, nada menos. Seguindo a

tradição da época em que os portugueses se instalaram no Brasil, a família não

se compunha apenas de marido, mulher e filhos. Era um verdadeiro clã,

incluindo as esposas, eventuais (e disfarçadas) concubinas, filhos, parentes,

padrinhos, afilhados, amigos, dependentes e ex-escravos. Uma imensa legião

de agregados submetidos à autoridade indiscutível que emanava da temida e

venerada figura do patriarca. Temida, porque possuía o direito de controlar a

vida e as propriedades de sua mulher e filhos; venerada, porque o patriarca

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encarnava, no coração e na mente de seus comandados, todas as virtudes e

qualidades possíveis a um ser humano.

A unidade da família devia ser preservada a todo custo, e, por isso, eram

comuns os casamentos entre parentes. A fortuna do clã e suas propriedades

se mantinham assim indivisíveis sob a chefia do patriarca. Portanto a educação

deveria ser apenas para socializar.

A família no Brasil Império preocupava-se mais com a vida social do que

com os filhos e sua educação, essa família que digo se trata da família da elite,

pois os que não faziam parte da corte, não tinham acesso à educação.

(CUNHA, 1995)

Nesse período ainda encontraremos traços da família patriarcal e a

presença masculina, como sinônimo de ordem e respeito.

“E a família patriarcal era o mundo do homem por excelência. Crianças e mulheres não passavam de seres insignificantes e amedrontados, cuja maior aspiração era as boas graças do patriarca. A situação de mando masculino era de tal natureza que os varões não reconheciam sequer a autoridade religiosa dos padres. Assistiam à missa, sem a menor manifestação daquela humildade cristã do crente (própria, aliás, das mulheres), assumindo sempre ares de proprietário da capela, protetor da religião, bom contribuinte da Igreja. Jamais um orgulhoso varão se dignaria de beijar as mãos de um clérigo, como o faziam sua esposa e filhas. Nesse universo masculino, os filhos mais velhos também desfrutavam imensos privilégios, especialmente em relação a seus irmãos. E os homens em geral dispunham de infinitas regalias, a começar pela dupla moral vigente, que lhes permitia aventuras com criadas e ex-escravas, desde que fosse guardada certa discrição, enquanto que às mulheres tudo era proibido, desde que não se destinasse à procriação. Por mais enaltecido que fosse o papel de mãe, um obscuro destino esperava as mulheres. Uma senhora de elite, envolta numa aura de castidade e resignação, devia procriar e obedecer. Com os filhos mantinha poucos contatos, uma vez que os confiava aos cuidados de amas-de-leite, preceptoras e governantas. Sobravam-lhe as amenidades, as parcas leituras e a supervisão dos trabalhos domésticos. Até mesmo as linhas de parentesco, tão caras à sociedade patriarcal, só se tomavam "efetivas" quando provinham do homem. Desse modo, a mulher perdia a consangüinidade de sua própria família de origem, para adotar a do esposo. “(CIVITA, 1900, p. 34)”.

As discussões mais recentes sobre educação e família vão aparecer a

partir do período Republicano, no século XIX, já nas últimas décadas

começava a surgir um novo modelo de família.

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Segundo Civita (1930), nos primeiros anos da República, a família

patriarcal começa a mostrar sinais de fraqueza. Não que ela fosse incompatível

com o novo regime. São as cidades, as novas profissões, a luz elétrica, os

bondes, os imigrantes, as lojas comerciais, as indústrias, e assim ameaçavam

o poder do patriarca. Antes ele podia manter seu extenso clã no mais completo

isolamento. Seus agregados, famílias inteiras submetidas a ele, podiam ser

ricos ou pobres, não importava, pois eram todos igualmente da grande Família.

Trabalhavam em suas terras e obedeciam. Pouco a pouco, o patriarca é

obrigado a se relacionar com os outrora indesejáveis elementos "de fora". Os

filhos serão matriculados na Faculdade de Direito. Um dia, toma-se mais

conveniente que seu primogênito se case, não mais com aquela obscura

priminha remediada, mas com a filha de um riquíssimo banqueiro da capital.

Ele próprio é forçado a ampliar seus negócios nos centros urbanos, para que

seu patrimônio não sucumba à nova maré do progresso. Chega também o

momento de abandonar a casa-grande e se mudar para um palacete na

Capital. Talvez seja possível levar junto um parente ou outro, mas o grosso dos

leais agregados fica por lá mesmo. E se tornam os "primos pobres" do interior,

que, com o tempo, serão cada vez mais pobres e menos primos.

1.2 A FAMÍLIA ATUALMENTE:

Embora a cada momento histórico corresponda um modelo de família

preponderante, ele não é único, ou seja, junto aos modelos dominantes de

cada época, existiam outros, com menor expressão social, uma tendência não

eliminava imediatamente a outra.

Nos últimos vinte anos, várias mudanças ocorridas no plano sócio-

político-econômico relacionado ao processo de globalização da economia

capitalista vêm interferindo na dinâmica e estrutura familiar e possibilitando

mudanças em seu padrão tradicional de organização. Conforme Pereira (1995).

A aparente desorganização da família é um dos aspectos da

reestruturação que ela vem sofrendo, a qual se, por um lado, pode causar

problemas, pode, por outro, apresentar soluções. Trata-se, pois, de um

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processo contraditório que, ao mesmo tempo em que abala o sentimento de

segurança das pessoas, com a falta ou diminuição da solidariedade familiar,

proporciona também a possibilidade de emancipação de segmentos

tradicionalmente aprisionados no espaço restritivo de muitas sociedades

conjugais opressoras... Com ele, também, os papéis sociais atribuídos

diferenciadamente ao homem e à mulher tendem a desaparecer não só no lar,

mas também no trabalho, na rua, no lazer e em outras esferas da atividade

humana. (Pereira 1995)

Atualmente encontramos muitos tipos de formação de famílias. A família

antes conjugal ou nuclear agora apresenta uma estrutura monoparental ou de

pais únicos, se forma devido os divórcios, óbitos, abandono do lar, ilegitimidade

ou adoção de crianças por uma só pessoa. Um outro tipo de família que tem

chamado atenção são as famílias denominadas de ampliadas ou

consangüíneas, formando-se através de parentes diretos ou colaterais. Não

podemos esquecer as famílias formadas por homossexuais e as famílias

comunitárias onde a responsabilidade não é somente dos pais, mas de todo e

qualquer membro adulto.

Conforme esclarece Campos (1983):

A palavra família, na sociedade ocidental contemporânea tem ainda para a maioria das pessoas, conotação altamente impregnada de carga afetiva. Os apologistas do ambiente da família como ideal para a educação dos filhos, geralmente evidenciam o calor materno e o amor como contribuição para o estabelecimento do elo afetivo mãe-filho, inexistente no caso de crianças institucionalizadas. (CAMPOS, 1983,p.19)

Segundo Campos (1983) a história da família brasileira nos mostra que

não existe um único modelo de família e sim muitos modelos familiares, com

algumas características em comum, mas sempre com uma singularidade,

demonstrando que cada família possui identidade própria e sentimentos que

pertencem a qualquer grupo humano como amor, ódio, ciúme, inveja e outros.

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E ainda temos as famílias que possuem crianças com necessidades

especiais, estas possuem visões e interesses bem diferentes das demais

famílias essas enfrentam inúmeros desafios e situações difíceis, circunstâncias

que outras famílias nunca se depararão.

Uma família ao receber o impacto de uma criança com necessidades

especiais pode sofrer grandes frustrações.

Enquanto algumas famílias são capazes de ser bem sucedidas ao

proceder à necessária adaptação, revelando-se consideravelmente realistas,

outras se encontram menos preparadas para aceitar o desafio que uma criança

deficiente representa para a família (Nielsen, 1999).

Todas as famílias passam por uma série de tensos períodos de

transição. O nascimento de um novo filho, a entrada na escola, a adolescência

das gerações mais novas, são todos os períodos de tensão. No entanto, nas

famílias onde há uma criança com "limitações" a tensão durante esses

períodos pode chegar a ser especialmente aguda.

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CAPÌTULO II

A ESCOLA:SURGIMENTO E SUAS VISÕES

HISTÓRICAS.

Este capítulo aborda como a instituição escolar foi construída e todos os

elementos que compõe esse perfil de instituição.

Em determinado momento a sociedade percebeu a necessidade de um

local onde a educação fosse transmitida de maneira formal e sistemática.

Veremos que tipo de visão educacional estava presente em cada época e o

valor que a educação recebia a partir de conceitos formulados pela família.

2.1 A ESCOLA NO BRASIL.

No Brasil antes de ser colonizado, a educação era difusa, pois nas

comunidades tribais as crianças aprendiam imitando os gestos dos adultos,

todo conhecimento era passado sempre do mais velho para os mais novos, o

pai ensinava o filho a sobreviver, sem que houvesse alguém em especial para

realizar a tarefa de ensinar, essa se dava no seio da família e na experiência

dos mais velhos. A família e a comunidade estavam ligadas diretamente à

formação do individuo sendo responsável por todo ensino (NÓBREGA, 1988).

Com o inicio da colonização a educação começa a ser realizada pela

catequese, a educação sai do ambiente familiar e passa a ser ministrada pela

igreja e segundo seus interesses da época, facilitando assim a dominação da

metrópole, pois a educação passa a ter papel principal na colonização, é a

primeira vez que a educação vai ser usada para interesses de classes. A

educação passa a ter um responsável, apenas os jesuítas ministravam aulas,

fugindo do antigo ambiente familiar. Após um tempo os próprios jesuítas vão

julgar desnecessárias as aulas para os índios e vão se voltar para os filhos da

elite, crianças essas que antes não estudavam. O papel do colégio dos jesuítas

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era educar para socializar e não para refletir sobre essa sociedade. A

educação ainda ocorria de maneira informal, pois as famílias eram numerosas

e o índice de mortalidade infantil era altíssimo (NÓBREGA, 1988).

Segundo Cunha (1995) em 1.759 com a Reforma Pombalina os jesuítas

são expulsos e o estado passa a intervir na educação. O Brasil na era

Pombalina persiste no panorama do analfabetismo e do ensino precário,

agravado pela democracia da reforma pombalina. A educação está à deriva e

esse período é caracterizado pelas aulas régias, assim denominadas por que

era o rei que fazia o concurso e dava a licenciatura, era ele quem dizia quem

estava apto para ministrar as aulas, estas não tinham um local próprio e o

conteúdo era escolhido pelo aluno. Meninos e meninas não estudavam juntos.

Somente as famílias ricas tinham acesso à educação.

Sendo assim no Brasil Império onde o país passa por uma

transformação na economia, a educação também sofre as suas modificações

passando a ter um ensino irregular, fragmentado e como na primeira

constituição de 1824 quase não se falava da educação vem o ato de 34,

conhecido como o golpe de misericórdia que prejudicou de uma vez a

educação brasileira. Surgindo de uma emenda à Constituição. Essa reforma

descentraliza o ensino, atribuindo à Coroa a função de promover e

regulamentar o ensino superior, enquanto que as províncias são destinadas à

escola elementar e a secundária. A educação da elite fica a cargo do poder

central e a do povo confinada às províncias, surgindo à dualidade no ensino.

Com a Proclamação da República, a abolição dos escravos, a sociedade

muda, a urbanização e a modernização do país constituem terreno fértil para a

proliferação do modelo de família nuclear burguesa, originário da Europa.

(HAHNER, 1990).

Segundo Cunha (1995) a educação passa por uma série de mudanças

surgem às conferências, manifestos, surgem outras constituições, a educação

começa a se popularizar, mas as famílias ainda não dão a devida importância

porque o ensino só passa a ser obrigatório na LDB de 5692/71 que pregava

oportunidades para todos, já que na LDB de 61 prévia somente o ensino

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primário obrigatório com exceções de pobreza, falta de escola, matrículas

encerradas e anomalia da criança. Só a partir desse marco a educação passa

a ser direito da criança e dever do Estado.

As famílias então matriculam seus filhos não por uma consciência, mas

sim por uma obrigação, não dando nenhum valor a educação. A família perde

seu papel e começa a atribuir algumas funções a escola, começando o atrito

entre essas duas instituições a se formar.

A escola julga a família incompetente, pois não ensina com ciência, não

tem saber cientifico. A família deveria apenas educar e a escola instruir. A falta

de tempo dá família é outro fator.

A escola seria o caminho para modernizar o Brasil.

No campo da educacional só vão chegar às universidades os filhos da

elite, pois para os outros que necessitam de uma formação mais rápida para

entrar no mercado de trabalho surgem às escolas técnicas.

A escola regular para os alunos com necessidades educacionais

especiais podemos dizer que é uma novidade e faz parte das mudanças

ocorridas na escola, pois essa clientela estava bem longe do ambiente

educacional, pois até mesmo as escolas especiais demoraram a surgir.

Antes a educação especial era o ramo da Educação, que se ocupava do

atendimento e da educação de pessoas com deficiência em instituições

especializadas, tais como escola para surdos, escola para cegos ou escolas

para atender pessoas com deficência mental.

A educação especial realiza-se fora do sistema regular de ensino. Nesta

abordagem, as demais necessidades educativas especiais que não se

classificam como deficiência não estão incluídas.

Porém a escola para todos tem entrado em pauta nas últimas duas

décadas.Transformando mais uma vez as nossas instituições escolares, onde

todo e qualquer individuo independente de sua dificuldade possui o direito de

estar inserido no ensino regular.

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2.2 A FAMÍLIA DENTRO DA ESCOLA:

Com tantas modificações como a escola deve agir, já que nela

encontramos todos os tipos de formação familiar e todos os tipos de alunos os

que possuem as necessidades especiais e alunos que não necessitam, cada

família com hábitos e costumes próprios, como inserir todas essas famílias em

um único local e atender a todas de maneira igual e de forma que todas fiquem

satisfeitas.

A escola necessita saber de que é uma instituição que complementa a

família, e que ambos precisa ser um lugar agradável e afetivo para os

alunos/filhos. Os pais e a escola devem ter princípios muito próximos para o

benefício do filho/aluno (TIBA, 1996, p.140).

A escola fica entre a família e a sociedade. Tanto a família como a

sociedade cobra muito da escola. E a família de alunos com necessidades

especiais ao inseri-los no ensino regular buscam uma normalidade, muitas

querem que seus filhos façam o que todos fazem até mesmo com desempenho

igual o que torna às vezes a relação da família com a escola mais complicada.

Normalmente a família quer uma escola que eduque seus filhos naquilo

que ela se julga incapaz, a família quer também que a escola prepare seus

filhos para eles obterem êxito profissional e financeiro e é claro entrarem numa

boa universidade.

“A sociedade procura ter na escola uma instituição normativa que trate de transmitir a cultura, incluindo além dos conteúdos acadêmicos, os elementos éticos e estruturais. É a partir daí que se constrói o currículo manifesto (escrito em seus estatutos) e o currículo latente (o dia-a-dia)”. (Outeiral apud Siqueira, 2002, p.01).

Embora bem delimitadas as diferenças entre casa e escola, passou-se a

buscar mais o apoio da escola, entendendo-se a eficácia da ação

normalizadora sobre crianças e jovens quando respaldadas pelo conhecimento

e aquiescência da família.

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Por muitos motivos já citados anteriormente a presença da família dentro

da escola é muito escassa, para diminuir essa distancia foi criado no dia 13 de

novembro o dia da família na escola.

Até mesmo as famílias dos alunos com necessidades especiais tornam-

se receosas com o chamado da escola, pois ao menor sinal essa já julga a

postura da escola como preconceituosa ou até mesmo insatisfeita de ter o

aluno em seu ambiente.

O processo de socialização torna-se bastante expressivo dentro do

processo de ensino aprendizagem através de aspectos como: imitação,

identificação e mais um conjunto de características determinadas pelo contexto

familiar, que irão interagir no desenvolvimento da criança dentro da instituição

escolar e com os alunos com necessidades especiais não é diferente, muitas

vezes esses chegam ao ambiente escolar cercados de preconceitos que a

própria família criou, tornando assim uma das funções da escola socializadora

muito mais difícil com esses alunos.

De uma maneira geral, sobre a família e educação, afirma Nérici (1972):

“A educação deve orientar a formação do homem para ele poder ser o que é da melhor forma possível, sem mistificações, sem deformações, em sentido de aceitação social.

Assim, a ação educativa deve incidir sobre a realidade pessoal do educando, tendo em vista explicitar suas possibilidades, em função das autênticas necessidades das pessoas e da sociedade (...). A influência da Família, no entanto, é básica e fundamental no processo educativo do imaturo e nenhuma outra instituição está em condições de substituí-la. (...) A educação para ser autêntica, tem de descer à individualização, à apreensão da essência humana de cada educando, em busca de suas fraquezas e temores, de suas fortalezas e aspirações. (...) O processo educativo deve conduzir à responsabilidade, liberdade, crítica e participação. Educar, não como sinônimo de instruir, mas de formar, de ter consciência de seus próprios atos. “De modo geral, instruir é dizer o que uma coisa é, e educar e dar o sentido moral e social do uso desta coisa”. (p.12).

“Serão despedidos ou a escola irá decair muito rapidamente”. (p.126).

Percebemos atualmente que a escola não pode viver sem a família e a

família não pode viver sem a escola, pois uma depende da outra para alcançar

seu maior objetivo, seja que escola for e que família for.

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Conforme o Art.53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), A

criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa. Seja essa criança uma criança com

necessidades especiais ou não, todas as crianças possuem os mesmos

direitos.

A escola necessita saber de que é uma instituição que complementa a

família, e que ambos precisa ser um lugar agradável e afetivo para os

alunos/filhos. Os pais e a escola devem ter princípios muito próximos para o

benefício do filho/aluno (TIBA, 1996, p.140). Tal parceria implica em colocar-se

no lugar do outro, e não apenas enquanto troca de favores, mas cooperando:

supor afetos, permitir escolhas e desejos, para que a criança desenvolva-se

integralmente.

Se o educando/filho não cumpre as regras da escola porque os pais o

acobertam e discordam da escola, a criança aproveita destas divergências

conquistando o que desejava. Percebemos essa postura em muitos pais e

quando seus filhos possuem alguma dificuldade especifica esse problema se

agrava.

Pensar na parceria família/escola requer então aos professores

inicialmente, uma tomada de consciência de que, as reuniões baseadas em

temas teóricos e abstratos, reuniões para chamar a atenção dos pais sobre a

lista de problemas dos filhos, sobre suas péssimas notas, reuniões muito

extensas, sem planejamento adequado, onde só o professor pode falar, não

têm proporcionado sequer a abertura para o iniciar de uma proposta de

parceria, pois os pais faltam às reuniões, conversam paralelamente, parecem

de fato não se interessar pela vida escolar das crianças.

Portanto a construção dessa parceria é função inicial dos professores,

pois transferir essa função à família somente reforça sentimentos de

ansiedade, vergonha e incapacidade aos pais, uma vez que não são eles os

especialistas em educação, não entendem de psicologia, desconhecem a

didática, a sociologia, enfim, os resultados desta postura já se conhecem muito

bem: o afastamento da família como podemos conferir em nossas escolas

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cotidianamente.

As famílias não se encontram preparadas sequer para enfrentar, quanto

mais para solucionar os problemas que os educadores de seus filhos lhes

entregam ou transferem nas reuniões de pais, que não deveriam servir para

esse tipo de discussão, esses momentos deveriam existir apenas para falar do

trabalho realizado pela escola que muitos responsáveis desconhecem.

Como Tiba (2002, p. 67), Faz parte do instinto de perpetuação os pais

cuidarem dos filhos, mas é a educação que os qualifica como seres civilizados.

Atualmente nas escolas e em casa, os pais/educadores não sabem mais como

fazer para que as crianças sejam disciplinadas e transferem esse dever antes

único do ambiente familiar para a escola. Lembrando que com os filhos/alunos

com necessidades especiais não acontece diferente.

2.3 A FAMÍLIA, A ESCOLA E O ALUNO COM NECESSIDADES

EDUCACIONAIS ESPECIAIS.

O ingresso da criança na escola cabe a responsabilidade de cada

família, seja essa criança considerada com o seu desenvolvimento normal ou

necessitando de ajustes especiais.

Com as demandas crescentes em relação ao avanço da população

feminina inserida no mercado de trabalho e a importância de outras pessoas

qualificadas na formação desses novos cidadãos cada vez mais cedo as

crianças estão conhecendo esse novo espaço que é a escola, e maior é a

necessidade da família em inseri-los neste ambiente.

Muitos são os motivos familiares, porém quando falamos de alunos com

necessidades especiais percebemos em muitas famílias a esperança de uma

educação formal para estes alunos, que antes da lei ficavam excluídos desse

ambiente.

Tanto para os pais quanto para as crianças esse é um momento decisivo

e de grandes expectativas, pois é o momento que a criança passa a tornar-se

cada vez mais independente e os pais cada vez mais inseguros, por parecerem

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que seus filhos cresceram e já não dependem tanto, os deixando cada vez

mais longe.

É importante que cada família ao escolher uma instituição vá preparando

seus filhos e já tomarem consciência do que estão planejando para que a

criança ao ter o primeiro contato com esse novo espaço já sinta-se segura

através de seus pais, assim como a importância que é dada na escolha de um

profissional qualificado é de grande importância o espaço estar de acordo com

as necessidades apresentadas pelas crianças.

A criança ao ingressar na creche ou pré-escola ou até mesmo já nas

séries iniciais do ensino fundamental passa a ter contato com novas culturas

que não fazem parte da sua, aprende a reconhecer o outro e a dividir seus

espaços com estes. A escola necessita ter conhecimentos para tornar esse

momento agradável e menos dolorido para ambas as partes, conquistando a

confiança desde esse momento.

Atualmente temos como um dos novos paradigmas da educação

brasileira, legalmente amparado pela Lei nº 9394/96, o qual delega à família, à

escola e à sociedade o compromisso para a efetivação de uma proposta de

escola para todos. Atendendo a todas as pessoas com necessidades

educacionais especiais, como vimos anteriormente.

As Necessidades Educacionais Especiais são necessidades que se

relacionam àqueles alunos que apresentam capacidade ou dificuldade elevada

em sua aprendizagem. Não significa que estes alunos tenham,

necessariamente, alguma deficiência vinculada, mas também são os alunos

que passam a ser especiais quando apresentam necessidades educativas

especiais em um dado momento de sua escolaridade.

De acordo com a Declaração de Salamanca (1994, p.15):

(...) a expressão ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a

todas as crianças e jovens cujas carências se relacionam a

deficiências ou dificuldades escolares. (...) Neste conceito, terão que

se incluir crianças com deficiência ou superdotados, crianças de rua

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ou crianças que trabalham, crianças de populações remotas ou

nômades, crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e

crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais.

Esses alunos hoje estão nas escolas regulares e suas famílias estão em

contato com todo o processo educacional.

Como vimos ao longo do texto à instituição familiar passou por uma série

de transformações desde seus valores até mesmo a sua formação. E temos

muitas famílias que possuem pessoas com necessidades educacionais

especiais e essas também sofreram com as mudanças ocorridas na sociedade

como um todo.

Antes as famílias tinham vergonha de seus parentes, cujo necessitavam

de adaptações e cuidados diferenciados, esses eram banidos da sociedade

através da morte, hoje através da escola essas famílias não deixam mais seus

entes alheios ao mundo social e ao mundo do conhecimento, procurando

inseri-los no mundo através da escola, porém muitas discussões acerca desse

assunto vêm ocorrendo, pois o fato não se trata somente da inclusão desses

alunos. Trata-se também do acolhimento e amparo que essas famílias

necessitam e que muitas vezes a escola não percebe, até mesmo por ser um

fato novo.

No entanto ainda assim a família é a principal responsável pelas ações

do seu filho com necessidades especiais. É ela que lhe oferece a primeira

formação. Na integração/inclusão escolar, o aluno, com a orientação dos

profissionais e da família, poderá adquirir competência profissional e pessoal.

Porém escola, como uma instituição mediadora na construção do

conhecimento, tendo como objetivo levar cultura para um número cada vez

maior de pessoas, leva para si uma gama de responsabilidade muito grande.

"É através da escola que a sociedade adquire, fundamenta e modifica

conceitos de participação, colaboração e adaptação. Embora outras instituições

como família ou igreja tenha papel muito importante, é da escola a maior

parcela" Mello in MANTOAN (1997, p.13).

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Também a declaração de Salamanca na Espanha em 1994 que se apóia

na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU em 1948 explicita a

compreensão de que todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças

independentemente de qualquer condição e ainda enfatiza que a escola tem de

encontrar maneiras de educar com êxito todas as crianças, inclusive aquelas

com deficiências graves (Kassar, 2005).

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CAPÌTULO III

A FAMÍLIA, A ESCOLA E A APRENDIZAGEM.

Neste capitulo iremos abordar como ocorre a aprendizagem

baseada numa perspectiva de que a escola e a família duas instituições de

caráter formador, já citado anteriormente, podem e contribuem para um melhor

aprendizado quando trabalham juntas, pelo mesmo objetivo.

Enfatizando questões de como cada uma dessas instituições contribuem

para o rendimento escolar dos alunos e suas experiências, levando –nos a

refletir sobre as atividades desenvolvidas pela escola, para que essas duas

instituições se aproximem e trabalhem em conjunto e até mesmo como é

realizado e observado esse trabalho.

3.1 A PARCERIA DA ESCOLA COM A FAMÍLIA:

A nossa sociedade reserva um papel crucial para a família em relação à

proteção, afetividade e educação. O dever da família com o processo de

escolaridade e a importância da sua presença no contexto escolar é

publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do Ministério

da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:

-Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1º, 2º, 6º e

12.

-Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei nº 10172/2007), que

define como uma de suas diretrizes a implantação de conselhos escolares e

outras formas de participação da comunidade escolar (composta também pela

família) e local na melhoria do funcionamento das instituições de educação e

no enriquecimento das oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos.

Diante de tal afirmação percebemos que a parceria entre escola e

família é fator crucial na formação dos alunos, sendo mais um pilar para o

desenvolvimento e para a aprendizagem. A família deve participar ativamente

da vida escolar de seus filhos.

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É preciso ter clareza do que entendemos por participar. Será que é estar

presente nas reuniões para ouvir informações burocráticas e queixas referentes

ao mau comportamento dos alunos? Será que é ter acesso a decisões

previamente estabelecidas? Será que é ajudar a organizar a festa junina da

escola? Será que é poder ouvir e falar? Será que é a possibilidade de uma

ação coletivamente construída por todas as partes envolvidas no processo

ensino-aprendizagem, na qual se compartilhar eqüitativamente, resguardadas

as particularidades dos sujeitos envolvidos, a possibilidade de planejar, decidir

e agir?

Enfim, muitos podem ser os significados da palavra participar. É preciso

que conheçamos as razões pelas quais as famílias não têm correspondido ao

que os educadores esperam enquanto sua participação na escola.

Para tal, precisam se despir da postura de juízes que condenam sem

conhecer as razões e incorporarem o espírito investigador que busca as

causas para o desconhecido e fornecer todas as situações para que essa

parceria ocorra de maneira agradável para ambas as instituições.

É muito importante para o professor proporcionar na escola um ambiente

onde a família possa se sentir segura, apoiada e principalmente compreendida

e se tratando das famílias com filhos com necessidades especiais esse

ambiente deve ser duplamente repensado.

E por outro lado o aluno precisa ser visto na sua globalidade, pois

quando ele ingressa no sistema escolar, ele não deixa de ser filho, irmão,

amigo, e trás consigo todas essas marcas, características, manias e posições

da sociedade em que vive, e é no ambiente escolar que ele irá desenvolver

muitas de suas potencialidades de socialização se em seu ambiente ele não

possui meios para que sua socialização ocorra essa se dará dentro da escola.

A necessidade de se construir uma parceria entre escola e família, deve

ser para planejar, estabelecer compromissos e acordos mínimos para que o

aluno/filho tenha uma educação com qualidade, tanto em casa quanto na

escola, para que a escola faça sentido em sua vida que seja algo dentro da sua

rotina, normal e não algo distante que nem os seus próprios pais entendem.

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Aí entra a parceria família e escola. Uma conversa franca dos

professores com os pais, em reuniões simples, organizadas, onde é permitido

aos pais falarem e opinarem sobre todos os assuntos, será de grande valia na

tentativa de entender melhor os filhos/alunos.

A construção desta parceria deveria partir dos professores, visando,

com a proximidade dos pais na escola, que a família esteja cada vez mais

preparada para ajudar seus filhos.

Segundo Paro (2000), pesquisador que realizou um estudo sobre o

papel da família no desenvolvimento escolar de alunos do ensino fundamental,

o distanciamento entre escola e família não deveria ser tão grande, pois para

ele, a escola não assimilou quase nada de todo o progresso da psicologia da

educação e da didática, utilizando métodos de ensino muito próximos e

idênticos aos do senso comum predominantes nas relações familiares.(p.16).

O autor se remete ao fato de que, a atual escola dos filhos, é bastante

parecida com a escola que os pais freqüentaram, e por isso, estes últimos não

deveriam sentir-se tão distanciados do sistema educacional, e também o

professor, embora admita a necessidade da participação dos pais na escola,

não sabe bem como encaminhá-la.

“Quanto à falta de um necessário conhecimento e habilidade

dos pais para incentivarem e influenciarem positivamente os filhos a

respeito de bons hábitos de estudo e valorização do saber, o que se

constata é que os professores, por si, não têm a iniciativa de um

trabalho a esse respeito junto aos pais e mães. Mesmo aqueles que

mais enfaticamente afirmam constatar um maior preparo dos pais

para ajudarem seus filhos em casa se mostram omissos no tocante à

orientação que eles poderiam oferecer, especialmente nas reuniões

de pais, que é quando há um encontro que se poderia considerar

propício para isso” . (Paro, 2000, p.65)

Nas palavras de Paro; “parece haver, por um lado, uma incapacidade de

compreensão por parte dos pais, daquilo que é transmitido na escola; por outro

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lado, uma falta de habilidade dos professores para promoverem essa

comunicação”. (p.68).

E percebemos essa dificuldade no diálogo quando surgem alguns

questionamentos de ambas as partes.

3.2 AS VIVÊNCIAS DA ESCOLA E DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM:

Relacionados os sustentáculos formais da relação

família/escola/educação é importante pontuar ainda alguns aspectos.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a família independente do

modelo como se apresente, pode ser um espaço de afetividade e de segurança

já descrito anteriormente, mas também de medos, incertezas, rejeições,

preconceitos e até de violência.

Assim, é fundamental que conheçamos os alunos e as famílias com as

quais iremos lidar. Quais são suas dificuldades, seus planos, seus medos e

anseios?

Enfim, que características e particularidades marcam a trajetória de cada

família e conseqüentemente, do aluno a quem iremos atender. Estas

informações são dados preciosos para que os professores possam avaliar o

êxito de suas ações enquanto educadores, identificar demandas e construir

propostas educacionais compatíveis com a realidade de cada um inserido no

processo.

Em segundo lugar, na relação família/educadores, um sujeito sempre

espera algo do outro. E para que isto de fato ocorra é preciso que escola e

família sejam capazes de construírem coletivamente uma relação de diálogo

mútuo, onde cada parte envolvida tenha o seu momento de fala, mas também

de escuta, onde exista uma efetiva troca de saberes.

A capacidade de comunicação exige a compreensão da mensagem que

o outro quer transmitir e para tal faz-se necessário o desejo de querer escutar o

outro, a atenção às idéias emitidas e a flexibilidade para recebermos idéias que

podem ser diferentes das nossas. (PARO,2000)

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Paro (2000), afirma o importante papel da família no desempenho

escolar dos filhos, e ainda conclui que há uma ligação interdependente entre as

condições sociais da origem das famílias e a maneira que se relacionam com

as instituições escolares, além do fato de que, transformações visíveis pelas

quais passam ultimamente, tanto as instituições escolares quanto às

instituições familiares, naquilo que diz respeito às suas estruturas e dinâmicas

internas, são reveladores de uma tendência crescente de conexão entre os

territórios: família e escola.

Portanto, tais pesquisas vêm, primeiramente, oferecer contribuições

imprescindíveis para o repensar desta complexa ligação, mas elas também

reafirmam com dados semelhantes, uma conclusão de senso-comum, colhida

dos discursos da grande maioria dos professores, sejam da educação infantil,

do ensino fundamental, ou do ensino médio: o fato da família não ir bem,

influencia negativamente o desenvolvimento escolar dos filhos.

Tais constatações se explicitam em verbalizações como: “os pais dos

alunos com dificuldades de aprendizagens, são exatamente aqueles que não

comparecem às reuniões”; “eu sei que as reuniões de pais nem sempre são

agradáveis, mas temos que lhes contar a realidade sobre seus filhos”; “como o

aluno pode ir bem na escola, se seu pai bebe, se sua mãe o abandonou?”; “eu

mando lições, e pesquisas para casa, e o menino vem me dizendo que seu pai

ou mãe não teve tempo de ajudá-lo”.

Mas e quanto aos pais, quais seriam os seus pensamentos? Caso as

perguntas acima anotadas, fossem a eles dirigidas, como as responderiam?

Em sua pesquisa, Sá (2001) aponta a existência de uma “duplicidade

discursiva”, a família demonstra que possui preocupação e desejo de envolver-

se com os assuntos escolares; por outro lado, os discursos dos educadores

demonstram o interesse na participação dos pais em situações que acontecem

fora dos muros da escola, como o auxílio nas tarefas de casa.

Temerosos de que estes últimos, ao obterem uma ampliação de poder

frente à gestão escolar, terminem por invadir áreas que segundo eles não lhes

pertencem como, por exemplo: avaliação dos professores, definição de

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calendário e currículos escolares, entre outros, os professores acabam

ofertando possibilidades de participações restritivas, ou exigem um

conhecimento que os pais não possuem, acabando por afastar a família que,

nas palavras do autor “... ao recusarem as ofertas participativas que lhe são

proporcionadas, arriscam-se a ser etiquetados como pais negligentes, inaptos

e irresponsáveis, a quem pode facilmente ser imputada à culpa pelos eventuais

insucessos dos seus educandos.” (p.97).

A pesquisa de Paro (2000), se remete a resultados bem parecidos,

quando analisa o discurso dos professores e dos pais, principalmente naquilo

que se refere à continuidade e descontinuidade da educação.

O autor afirma que os professores pretendem que a família dê

continuidade à educação oferecida na escola, principalmente auxiliando as

crianças nos deveres escolares, o que ele denomina como “uma continuidade

de mão única”, enquanto os pais, embora cheguem a conceber a escola como

‘segunda família’, vivenciam “a timidez diante dos professores, o medo da

reprovação dos filhos e a distância que sentem da cultura da escola...” (p.33).

Por outro lado a família acredita que a escola deve compreender a sua

falta de tempo e não passar tantos deveres, que esses devem ser feitos na

escola que é lugar de estudar, pois é lá também que os alunos irão tirar suas

dúvidas.

Porém todas essas vivências experiências servem para entendermos

melhor como se dá essa relação e essa parceria, como é difícil conseguir unir

essas duas instituições.

A aprendizagem dos alunos com necessidades especiais muito irá

depender dessa relação positiva que a família estabelece com a escola, a

família necessita acreditar neste novo modelo pedagógico da educação, onde

a valorização da individualidade é fundamental, valorizando o convívio entre os

corpos diferentes, acreditando no aprendizado não só de conteúdos, mas de

valores sociais e humanos, de construção de conhecimento individual e

coletivo, estabelecendo o diálogo constante entre professor-aluno, aluno-aluno

e de todos com o ambiente escolar e social.

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Uma das funções da escola é possibilitar à criança perceber-se de

maneira diferente da qual é reconhecida na estrutura familiar. Nesse sentido,

ela tem a obrigação de exercer sua função libertadora. E com o aluno com

necessidades especiais esse trabalho é muito mais visível, pois o professor irá

mostrar e trabalhar todas as possibilidades do aluno, mostrando que ele é

capaz.

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CONCLUSÃO

Com a pesquisa percebemos como é importante a presença da família

na escola, mas não é somente a presença da família e sim a presença de uma

família consciente de todas as possibilidades de seu filho.

E como segundo alguns autores essa presença irá influenciar na

aprendizagem, a pesquisa revela também que por conta de fatores históricos e

até de valores agregados a essas instituições em nossa sociedade, o

desempenho de alguns alunos serão altamente influenciados.

Dependendo de uma série de fatores iremos encontrar modelos de

escolas e de famílias bem distintas, porém o professor necessita conhecer

essas características e particularidades para melhor atender seus alunos.

Outro aspecto importante desta pesquisa trata – se de romper com

aquela visão materna de que a mãe é responsável pela vida escolar de seus

filhos, não propondo atividades que envolvam a totalidade da constituição

familiar, como pais, irmãos e demais familiares quais sejam os responsáveis

desse aluno.

Podemos ver que ao invés da família ser chamada ou convocada na

escola apenas quando as coisas não andam bem, quando as notas estão

baixas, ou quando se precisa de uma ajuda pontual; ela deve ser vista de

forma participativa, uma co-autora do processo educativo escolar e,

conseqüentemente, se envolver mais diretamente na concretização do mesmo.

E que essa relação família – escola é de extrema importância na

construção da identidade e autonomia do aluno, a partir do momento em que o

acompanhamento desta, durante o processo educacional, leva a aquisição de

segurança por parte dos filhos, que se sentem duplamente amparados, ora

pelo professor ora pelos pais, o que irá incorrer no favorecimento do processo

ensino-aprendizagem, questão principal desta pesquisa em relação aos alunos

com necessidades especiais.

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Deve haver também incentivo e treinamento para os professores que

são a parte fundamental do processo de ensino-aprendizagem. Esse

profissional é o responsável pelas interações que ocorrem entre professor,

aluno e objeto do conhecimento. Acredita-se que toda mudança educacional

que não tem a participação efetiva do professor em conjunto com a família

esteja fadada ao fracasso.

Acredita-se que todos os alunos merecem ter uma educação de

qualidade e todos devem estar junto neste processo.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

AS VISÕES HISTÓRICAS SOBRE O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM 14

1.1 A história da família e suas mudanças: 14

2.2 A família atualmente: 17

CAPÌTULO II

A ESCOLA: SURGIMENTO E SUAS VISÕES HISTÓRICAS 20

2.1 – A escola no Brasil 20 2.2 – A família dentro da escola 23

2.3 - A família, a escola e o aluno com necessidades educacionais

especiais. 26

CAPÌTULO III A FAMÍLIA, A ESCOLA E A APRENDIZAGEM 30 3.1 - A parceria da família com a escola 30

3.2 – As vivências da família e da escola na aprendizagem 33

CONCLUSÃO 37

ÍNDICE 43

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