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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO PROCESSO TRABALHISTA
AUTOR
RAFAEL GARCIA CARVALHO
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO PROCESSO TRABALHISTA
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil. Por: Rafael Garcia Carvalho.
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Dedico o presente trabalho aos meus familiares que são, sem dúvida, minhas verdadeiras inspirações.
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RESUMO
A aplicação da prescrição intercorrente no processo do trabalho é uma das discussões mais antigas no ordenamento jurídico brasileiro, tendo alguns Tribunais se posicionados de maneira completamente divergentes. O conceito de prescrição, suas características e finalidade, bem como, sua natureza jurídica devem ser observadas para análise do assunto. A corrente que entende ser aplicável a prescrição intercorrente extraiu do texto consolidado das leis trabalhistas a previsão de aplicação do instituto no processo do trabalho, bem como alguns dos fundamentos da prescrição ,que sejam a segurança jurídica e paz social. Os estudiosos contrários a esse entendimento, observam, principalmente a natureza dos créditos trabalhistas, que na maioria dos casos, está em discussão. Assim, observando esse requisito e amparado pela previsão legal, o juiz deverá, mesmo a revelia do credor, dar andamento ao feito para que o crédito seja efetivado com o pagamento, evitando uma duração longa e sem efetividade, o que vai contrário aos princípios norteadores do direito do trabalho e as características desse direito, que como assevera o texto consolidado, deverá buscar, quando omisso ou não contrário aos seus princípios, o preenchimento de suas arestas no direito comum e no direito processual comum.
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METODOLOGIA
O presente trabalho é constituído de diversas fontes de estudo sobre a
aplicação ou não da prescrição intercorrente no processo de execução trabalhista.
O trabalho teve como fontes de estudos, para elaboração e
desenvolvimento desta análise, a pesquisa bibliográfica, como fonte principal,
buscando conceito e posicionamento dos operadores do Direito quanto à
prescrição intercorrente e sua aplicação subsidiária no Processo do Trabalho na
fase executória, disposições constitucionais, para o melhor desenvolvimento dos
objetivos deste trabalho.
Complementando o estudo acerca do tema, há conteúdos
jurisprudenciais, analisando o posicionamento de nossos julgadores, através de
sites dos órgãos da justiça brasileira; apresentamos também artigos jurídicos
buscados de sites especializados tendo como expressões de busca “prescrição
intercorrente”, “processo trabalhista”, “Direito Processual Comum aplicado
subsidiariamente no Processo do Trabalho”.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9
CAPÍTULO I
CONCEITO DE PRESCRIÇÃO........................................................................... 11
1.1 – ORIGEM DA PRESCRIÇÃO...................................................................... 11
1.2 – CONCEITO DE PRESCRIÇÃO.................................................................. 12
1.3 – NATUREZA DA PRESCRIÇÃO.................................................................. 15
1.4 – REQUISITOS DA PRESCRIÇÃO............................................................... 17
1.5 – IMPEDIMENTO, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO..... 20
1.6 – ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO.................................................................... 23
1.7 – DIREITOS IMPRESCRITÍVEIS.................................................................... 24
1.8 – PRAZOS PRESCRICIONAIS...................................................................... 25
CAPÍTULO II
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE...................................................................... 27
2.1 - CONCEITO................................................................................................... 27
CAPÍTULO III
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO PROCESSO
TRABALHISTA..................................................................................................... 32
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3.1 – IMPULSO DE OFÍCIO NA EXECUÇÃO TRABALHISTA.......................... 32
3.2 – A SÚMULA 114 DO TST............................................................................ 34
3.3 – A PRESCRIÇÃO COMO MATÉRIA DE EMBARGOS............................... 37
3.4 – A SÚMULA 327 DO STF............................................................................ 38
CONCLUSÃO...................................................................................................... 41
BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 44
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca analisar a aplicação da prescrição
intercorrente na justiça do trabalho, tendo em vista a ferrenha controvérsia
existente entre os Tribunais e a doutrina contemporânea.
O estudo busca explorar os elementos principais utilizados pelas
correntes doutrinárias para defenderem seus posicionamentos no que tange a
prescrição intercorrente e o processo trabalhista e a interpretação dos Tribunais
sobre o dito assunto.
Precedendo esta monografia, a pesquisa partiu de uma análise das
questões primordiais para a exploração do tema principal.
Nesse sentido buscou analisar a origem e conceitos de prescrição;
suas peculiaridades, requisitos e formas, analisando, ainda, o conceito de
prescrição intercorrente no ordenamento jurídico pátrio, e os elementos básicos
que sustentam as opiniões divergentes sobre o tema principal. Isso porque, a
discussão central, sobre a prescrição intercorrente e o processo trabalhista é de
suma importância para a sociedade brasileira, tendo em vista o grande aumento
de ações trabalhistas.
A discussão possui relevância não apenas para os operadores do
Direito, mas à sociedade de uma maneira geral. A segurança jurídica é algo
imprescindível para uma sociedade soberana e democrática.
Com o aumento das demandas judiciais trabalhistas; bem como, a
peculiaridade dos créditos, em sua maioria, ali envolvidos, uma padronização, ou
um entendimento sedimentado, traria ao processo um equilíbrio maior, e assim,
os objetivos da justiça especializada do trabalho podem ser aplicados com uma
maior segurança.
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Com o objetivo de elucidar sucintamente a discussão sobre a aplicação
da prescrição intercorrente no processo do trabalho, a presente monografia
busca, basicamente, analisar os fundamentos que norteiam as diversificadas
opiniões sobre o tema.
Para tanto o trabalho aborda os conceitos de prescrição, propriamente
dita e intercorrente; origem desses institutos; a aplicação no direito comum;
requisitos para sua aplicação; os fundamentos de doutrina a favor da aplicação da
prescrição intercorrente no processo do trabalho, bem como, os fundamentos que
norteiam a doutrina contrária.
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CAPÍTULO I
CONCEITO DE PRESCRIÇÃO
1.1 – ORIGEM DA PRESCRIÇÃO
Para estudarmos o instituto da prescrição, analisaremos um breve
histórico sobre o tema, buscando demonstrar a origem da prescrição e sua
finalidade inicial.
O instituto da prescrição não pode ser considerado novo no
ordenamento jurídico. Isto porque, foi observado no Direito romano a partir do
desenvolvimento da sociedade.
Com o crescimento das ações, inclusive, com a criação de novas,
tornou-se necessário àqueles que tinham como atribuição exercer a função do
Estado juiz delimitar o tempo para o seu exercício.
Para tanto, naquela época do direito romano, cabia ao pretor estipular
um termo inicial, introdutório, denominado de praescriptio para que o juiz
observasse o respeito ao limite de tempo para a demanda da ação; inclusive,
absolvendo o réu, caso o prazo estivesse extinto.
Melhor elucidando o tema nos ensina Ari Pedro Lorenzeti ao afirmar
(LORENZETI, 2009, p.19):
A praescriptio referia-se, assim, ao que era escrito antes: prae (antes) mais scriptio (escrito). Com o tempo, dessa simples posição topográfica, o termo passou a significar por extensão, a matéria contida na parte preliminar da fórmula, adquirindo a nova acepção de extinção da ação por não ter sido exercida no devido prazo, em regra, de um ano. O desaparecimento das ações perpétuas, a partir da Constituição Teodosiana (424 d. C.), contribuiu para que se firmasse esse novo sentido.
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O presente trabalho pode verificar, assim, que o instituto da prescrição
teve sua origem no Direito romano com o objetivo de limitar a pretensão autoral
ao lapso temporal determinado em Lei. Com isso, o réu não ficaria mais a mercê
da vontade autoral, que se não demonstrada a tempo, tornaria sem efeito o direito
autoral.
1.2 – CONCEITO DE PRESCRIÇÃO
Após uma singela análise sobre a origem da prescrição, passemos a
verificar o conceito, ou os conceitos de prescrição entabulados no ordenamento
jurídico brasileiro.
Inicialmente, temos que destacar o efeito do tempo na vida humana. O
tempo tem domínio sobre o homem em sua vida privada, relação social e,
também, em seus direitos. No que concerne a esses últimos, o tempo determina o
nascimento, uma condição, uma vontade e a extinção. Especialmente quanto ao
instituto da prescrição, o tempo terá papel fundamental para que seja apurada a
sua ocorrência.
O ordenamento jurídico pátrio ao definir a prescrição destaca a inércia
do credor, para propor uma ação e, assim, viabilizar o seu direito.
Nesse sentido conceitua Fábio Vieira Figueiredo em sua obra: A
prescrição é a perda do direito de ingresso de ação, atribuída a um outro direito e
de toda a sua capacidade defensiva, como conseqüência pela não utilização
dessa capacidade durante determinado tempo. (FIGUEIREDO, 2009, p. 52)
A pesquisa pode verificar que o tempo é um elemento essencial para
que possa ocorrer a prescrição; e o que irá diferenciar esse instituto de outros,
que de igual sorte também surgem em virtude do tempo, serão os demais
elementos que o compõem.
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Esse é o entendimento no ordenamento jurídico brasileiro para a
importância do tempo no conceito de prescrição.
Pois bem, o tempo é um elemento norteador do surgimento da
prescrição. Porém outros aspectos devem ser analisados sobre o instituto da
prescrição para definição de um conceito.
A prescrição afeta diretamente a pretensão de um sujeito, titular de um
direito subjetivo, de propor uma determinada ação específica, tendo em vista que
o titular desse direito não observou o limite legal para a propositura dessa ação e
assim, sucumbiu ao lapso temporal.
Os doutrinadores pátrios brilhantemente definem de várias maneiras o
instituto da prescrição, entretanto, podemos apurar que há pequenas divergências
no que tange ao que está prescrito.
Nesse sentido, observa-se a definição de prescrição por Orlando
Gomes ao afirmar que a prescrição é o modo pelo qual um direito se extingue
pela inércia de seu titular, durante certo lapso de tempo, que fica privado da ação
própria para assegurá-lo (GOMES, 2002, p. 375). Verificamos que no
entendimento do citado mestre, haverá a extinção de um direito pela inércia de
seu titular.
Vale esclarecer que o direito perdido não se trata do direito subjetivo
em si, mas sim de sua eficácia no tempo e espaço, tendo em vista que o que se
extingue é a pretensão de exercício desse direito. Essa idéia encontra-se
positivada no Código Civil brasileiro em seu artigo 189, nos seguintes termos:
Art. 189 Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos que aludem os arts. 205 e 206.
Sedimentando esse conceito a doutrina segue o mesmo raciocínio,
conforme vaticina Pontes de Miranda (MIRANDA, 2000, p. 53):
No Código Civil brasileiro e na ciência jurídica, escoimada de teorias generalizantes, prescrição é a exceção, que
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alguém tem, contra o que não exerceu, durante certo tempo, que alguma regra jurídica fixa, a sua pretensão ou ação. Serve à segurança e à paz públicas, para limite temporal à eficácia das pretensões e das ações. A perda ou destruição das provas exporia os que desde muito se sentem seguros, em paz, e confiantes no mundo jurídico, a verem levantarem-se — contra o seu direito, ou contra o que têm por seu direito — pretensões ou ações ignoradas ou tidas por ilevantáveis.
Pode-se vislumbrar, ainda esse conceito nos ensinamentos de Ari
Pedro Lorenzetti que afirma (LORENZETTI, 2009,p. 21):
Preferimos, pois, aproveitar apenas a primeira parte do conceito formulado por Álvares da Silva, dando-lhe, porém, novos contornos, a partir da lição de Câmara Leal. Pode-se dizer, assim, que a prescrição é a perda da prerrogativa de exigir o cumprimento de uma obrigação, por não tê-lo feito o credor no prazo fixado em Lei. O mesmo conceito poderia ser expresso, ainda, nos seguintes termos: prescrição é a perda da eficácia da pretensão, por não ter sido exercida no prazo legal.
Destaca-se, também, os preceitos do Professor Fredie Didier Jr. que
leciona: a prescrição é o encobrimento (ou a extinção, na letra do art. 189 do CC)
da eficácia de determinada pretensão (perda de efetivar o direito a uma
prestação), por não ter sido exercitada no prazo legal (DIDIER, 2009, p. 288).
Sedimentando esse pensamento leciona Sérgio Pinto Martins ao
explanar (MARTINS, 2009, p. 673):
Representa a prescrição um fenômeno extintivo de uma ação ajuizável em razão da inércia de seu titular durante determinado espaço de tempo que a lei estabeleceu para esse fim. Tem a prescrição um interesse público visando à harmonia social e o equilíbrio das relações jurídicas, tuteladas pela ordem pública.
Como visto a inércia momentânea do titular de um direito, continuando
assim, por um determinado lapso temporal, definido em Lei, não havendo causas
impeditivas, suspensivas ou interruptivas, acarretará na extinção da pretensão de
mover a ação pertinente, tendo em vista o surgimento da prescrição, aplicando-
se, assim, seus efeitos.
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1.3 – NATUREZA DA PRESCRIÇÃO
Outro aspecto bastante peculiar do instituto da prescrição remete à
discussão quanto ao direito pertencente. Isto porque a Lei não classifica esse
instituto como de natureza material ou processual, cabendo aos doutrinadores
essa classificação.
Para tanto, se pode verificar que a inércia do titular de um direito por
um tempo maior que o limite legal terá como conseqüência punitiva a prescrição.
Esse limite estabelecido por Lei tem por finalidade garantir a segurança
jurídica e a paz social. O intuito de se estabelecer um determinado prazo para que
seja exercida a pretensão de um direito é garantir que não se estabeleça uma
perpetuação desse direito (RODRIGUES, 2002, p. 327):
Sem a prescrição, o devedor deveria guardar todos os recibos de quaisquer importâncias pagas; caso contrário, a qualquer tempo, ser-lhe-ia exigido novo pagamento, que ele só ilidiria mediante a exibição de quitação. Sem a prescrição, a pessoa deveria manter-se em estado de intranquila atenção, receando sempre um litígio baseado em relações de há muito transcorridas, de prova custosa e difícil, porque não só a documentação de sua constituição poderia haver-se extraviado, como a própria memória da maneira como se estabeleceu estaria perdida.
Com efeito, mister que as relações jurídicas se consolidem no tempo. Há um interesse social em que situações de fato que o tempo consagrou adquiram juridicidade, para que sobre a comunidade não paire, indefinidamente, a ameaça de desiquilíbrio representada pela demanda.
Dessa forma, quando um sujeito titular de um direito subjetivo deixa de
exercer a pretensão de mover a ação competente ele será punido com a perda da
eficácia desse direito, através da prescrição. Nesse sentido nos ensina Maria
Helena Diniz (DINIZ, 2007, p. 383):
A violação do direito subjetivo cria, para o seu titular, a pretensão, ou seja, o poder de fazer valer em juízo, por meio de uma ação (em sentido material), a prestação devida, o cumprimento na norma legal ou contratual infringida ou a reparação do mal causado, dentro de um prazo legal (arts. 205 e 206 do CPC). O titular da pretensão jurídica terá prazo para propor a ação que se inicia (dies a quo) no momento em que
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sofrer a violação do direito subjetivo. Se o titular deixar escoar tal lapso temporal, sua inércia dará origem a uma sanção adveniente, que é a prescrição.
Verifica-se que a punição atingirá a pretensão de propositura de ação
do titular de um direito subjetivo e não o direito em si.
No mesmo sentido no ensina Fredie Didier (DIDIER, 2009, p. 288):
Demais disso, a prescrição e a decadência são institutos de direito substantivo, enquanto preclusão é instituto de direito processual. A prescrição e a decadência ocorrem extraprocessualmente – malgrado sejam ambas reconhecidas, no mais das vezes, dentro de um processo –, e suas finalidades projetam-se, também fora do processo: visam à paz e a harmonia sociais, bem como a segurança das relações jurídicas.
Dessa forma a doutrina entende que se a pretensão é atingida, mas o
direito subjetivo permanece, tendo em vista a violação legal ou contratual já
ocorrida, o instituto da prescrição seguirá a natureza do direito subjetivo violado,
ou seja, direito material.
Outro aspecto que alicerça o entendimento dos doutrinadores pátrios
refere-se ao fato de que o reconhecimento de um direito como prescrito interfere
diretamente na lide. Diante disso, haverá a extinção do processo com resolução
de mérito.
Se fosse a prescrição instituto de direito processual deveria ser argüida
como preliminar de mérito como ocorre com as condições da ação, e assim
consequentemente a extinção do processo sem resolução de mérito, o que não
ocorre.
Nesse sentido nos ensina o mestre Elpídio Donizetti em sua obra
(DONIZETTI, 2005, p. 154):
O fato é que reconhecida a prescrição ou a decadência, a conseqüência será a rejeição do pedido formulado pelo autor. A sentença porá fim ao processo com julgamento de mérito, impedindo a propositura de outra demanda com base no mesmo fundamento.
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Por isso podemos concluir que o instituto da prescrição é instituto de
direito material e não de direito processual.
1.4 – REQUISITOS DA PRESCRIÇÃO
Além das questões analisadas quanto ao conceito de prescrição,
devemos verificar os requisitos para ocorrência da prescrição de acordo com o
ordenamento brasileiro.
A pesquisa verifica que, de acordo com o conceito de prescrição
entabulado no ordenamento jurídico pátrio, inicialmente, temos que apurar a
existência de um sujeito e um direito subjetivo.
Não há que se falar em prescrição se não houver a violação de uma
Lei ou contrato em uma relação jurídica. Essa violação será contra um sujeito que
passará a ter um direito violado. A partir dessa violação, o sujeito terá a faculdade
de exigir o cumprimento do que estaria disposto em Lei ou no contrato, através de
uma ação judicial competente e compatível com o seu direito.
Essa faculdade de exigir é o que a doutrina define como pretensão.
Aliás, como já exposto, será a pretensão que se extinguirá como efeito da
prescrição (FIGUEIREDO, 2009, p. 53).
Alguns doutrinadores, todavia, não mencionam como requisito inicial,
ou o requisito que surge com a violação legal ou contratual, a pretensão.
Entendem que será a existência de uma ação compatível a exigir o cumprimento
de um direito violado. Segundo Maria Helena Diniz o titular da pretensão terá o
prazo legal para propositura da ação a partir do momento que sofrer a violação do
direito subjetivo (DINIZ, 2006 ,p. 383).
Ou seja, será a existência de uma ação – cujo sujeito titular de uma
pretensão se utilizará para satisfazer o seu direito subjetivo violado – que
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predominará com requisito inicial para que se possa verificar a ocorrência de
prescrição.
Outro ponto, talvez o mais importante dos requisitos da prescrição, é a
inércia. Como vimos o tempo é determinante para o direito, especificamente
quanto à prescrição.
Entretanto, não será o tempo em si o elemento essencial para
ocorrência da prescrição, mas sim a inércia do titular de um direito subjetivo
durante determinado lapso temporal.
Como visto, diante de um sujeito com uma pretensão de exercício de
uma ação competente para sanar, ou melhor explanando, reparar o dano
causado, há um lapso temporal, um prazo definido em Lei para exercitar essa
pretensão. Há um prazo para propositura dessa ação competente.
O que irá determinar ou não a ocorrência da prescrição dessa
pretensão, ou como alguns doutrinadores explanam, a pretensão de exercitar a
ação, será a inércia do sujeito pelo prazo definido em Lei e assim ensina Valentin
Carrion: o termo inicial da prescrição se dá no momento em que o credor toma
conhecimento da violação de seu direito e, sendo exigível o comportamento do
devedor, aquele permanece omisso (CARRION, 2006 p. 75).
Ratificando esse entendimento nos ensina Câmara Leal que:
prescrição é a extinção de uma ação ajuizável em virtude da inércia de seu titular
durante um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu
curso (LEAL Apud LORENZETTI, 2009, p. 20).
Desta forma o estudo pode apurar que a inércia do sujeito que teve seu
direito subjetivo violado é uma dos requisitos necessários para que seja detectada
a prescrição de sua pretensão.
Outro requisito importante para que se apure a prescrição, em seu
conceito, é a continuidade da inércia do sujeito pelo lapso temporal previsto em
Lei.
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Não basta, apenas, que o credor se quede inerte momentaneamente.
Pois, esse deverá permanecer inerte durante o prazo fixado em Lei. Esse prazo
será variável dependendo de cada caso. Não há um lapso temporal único para
todos os direitos subjetivos violados.
O código civil brasileiro estipula diversos prazos prescricionais,
tomando como prazo comum, para as causas não especificadas em Lei, o
período de 10 anos de inércia do titular de um direito subjetivo como disposto em
seu artigo 205 nos seguintes termos:
Art. 205 A prescrição ocorre em dez anos quando a Lei não lhe haja fixado prazo menor.
Esse lapso temporal é genérico, para as causas gerais que não
possuem um prazo especial definido por uma Lei. Assim, apenas para tomarmos
por base, vimos que a Lei determinou o prazo de dez anos como lapso temporal
para continuidade da inércia do sujeito detentor do direito subjetivo, afim de que
se verifique a ocorrência da prescrição.
Sob uma melhor ótica nos ensina Fábio Figueiredo: ou seja, sempre
que o titular de um direito for inerte e não procurar a tutela no prazo prescricional
fixado por Lei perderá o direito de cobrar judicialmente seu direito (FIGUEIREDO,
2009, p. 52).
Portanto, a continuidade da inércia do credor – sujeito detentor de uma
pretensão de exigir em juízo, por meio de uma ação – durante o lapso temporal
determinado para o caso, ou, não existindo o prazo de dez anos, é um dos
requisitos para a ocorrência da prescrição.
Por fim, porém, não menos importante, a pesquisa analisa outro
requisito para que ocorra a prescrição. Trata-se da ocorrência das causas que a
Lei confira valor impeditivo, suspensivo ou interruptivo da prescrição, porém, tais
requisitos serão abordados em tópico próprio.
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1.5 – IMPEDIMENTO, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO
O impedimento da prescrição ocorrerá quando um fato impossibilitar o
início da contagem do prazo prescricional, ou seja, quando o fator impeditivo
impossibilitar que mesmo diante da inércia e da continuidade dessa, não se possa
contabilizar o prazo definido em Lei para o exercício da pretensão de exigir por
meio de ação a reparação ao dano sofrido.
Já a suspensão da prescrição, ou melhor explanando, a suspensão do
prazo prescricional, ocorrerá quando um fato suspensivo ocorrer quando já
iniciada a sua contagem. Ou seja, se o sujeito – detentor de uma pretensão – se
quedar inerte e assim permanecer, desde a ocorrência do fato violador do direito
subjetivo o prazo prescricional estará em curso. Porém, ocorrendo umas das
causas suspensivas desse prazo o mesmo será suspenso, e após cessar esse
fato voltará a contagem a fluir a partir do momento da suspensão, restando
apenas, o saldo remanescente desse prazo.
Dessa maneira nos ensina Fábio Figueiredo (FIGUEIREDO, 2009, p.
54):
O impedimento da prescrição é o obstáculo ao decurso do prazo prescricional, ou seja, o impedimento obsta ao início da fluência do prazo. Contudo, pode ocorrer que um fato com valor impeditivo surja depois do início da fluência do prazo; neste caso, dá-se a suspensão. Desse modo, quando o fato é impeditivo (por não ter ainda iniciado o decurso do prazo prescricional), o prazo não começa a fluir; quando o fato é suspensivo (pois já iniciado o lapso temporal de prescrição), o prazo prescricional volta ao momento em que parou, quando cessar a causa de suspensão. São, desse modo, casos de impedimento ou suspensão da prescrição, consoante já tenha iniciado ou não o decurso do lapso temporal prescricional.
A lei especifica quais os fatos que originam o impedimento e a
suspensão da prescrição conforme entabulado nos artigos 197, 198 e 199 do
Código Civil, nos seguintes termos:
Art. 197 Não corre a prescrição: I – entre os cônjuges na constância da sociedade
conjugal;
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II – entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar;
III – entre tutelados ou curatelados e seus tutores e curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198 Também não ocorre a prescrição: I – contra os incapazes que trata o art. 3º; II – contra os ausentes do País em serviço público da
União, dos Estados ou Municípios; III – contra os que se acharem servindo nas Forças
Armadas, em tempo de guerra. Art. 199 Não ocorre igualmente a prescrição: I – pendendo condição suspensiva; II – não estando vencido o prazo; III – pendendo ação de evicção.
Assim, pode-se verificar que as causas impeditivas e suspensivas
serão as mesmas, diferenciando-se apenas que as causas impeditivas não darão
início a contagem do lapso temporal da prescrição; enquanto a suspensão
ocorrerá após iniciado o decurso desse prazo, ressaltando-se que após cessada a
causa que motivou a suspensão o prazo retornará sua contagem a partir do
momento que restou suspenso.
Outra causa a ser analisada serão os fatos que ensejam a interrupção
da prescrição. Da mesma maneira que a suspensão, a interrupção irá ocorrer
após iniciado a contagem do lapso temporal para a ocorrência prescrição.
A doutrina assim entende sobre o tema: a interrupção da prescrição é
disciplinada pelo art. 202 do CC. Na interrupção, o prazo que já começou a fluir
volta do começo. Desse modo, inutiliza-se todo o tempo prescricional decorrido
(FIGUEIREDO, 2009, p. 54).
Nesse sentido a jurisprudência tem-se posicionado sobre o assunto,
conforme ementa do Superior Tribunal de Justiça, nos termos que seguem:
PROCESSUAL CIVIL – PRESCRIÇÃO TOTAL CARACTERIZADA – PRECEDENTES – SÚMULA 83/STJ – REEXAME DE PROVAS – SÚMULA 7/STJ. 1. Informações confirmadas pelo Tribunal de origem evidenciam que a execução fiscal se encontrava prescrita, pois restou ultrapassado o prazo de cinco anos estabelecido no artigo 174 do CTN. 2. A aplicação da redação original do art. 174 do CTN deve-se ao fato de que a ação foi ajuizada antes da vigência da Lei Complementar n. 118/2005. Assim, a interrupção da prescrição ocorreria somente à
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vista da efetivação da citação pessoal do devedor, não do despacho do juiz que ordenou a citação. Precedentes do STJ. 3. O Tribunal a quo decidiu de acordo com jurisprudência desta Corte, de modo que se aplica, à espécie, o enunciado da Súmula 83/STJ. 4. Qualquer análise sobre a alegação de que a demora na citação do executado decorreu de mecanismos inerentes ao Judiciário (Súmula 106/STJ) demanda reexame do material fático-probatório dos autos, o que é defeso na via especial, nos termos da Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. (STJ, 2ª Turma; Relator: Ministro Humberto Martins; AgRg no Ag 1268706; DJe 31/05/2010).
Verifica-se que o prazo interrompido devolverá na íntegra o lapso
temporal para ocorrência da prescrição, destacando-se que a interrupção
somente poderá ocorrer uma única vez, como disposto no artigo 202 do Código
Civil
Art. 202 A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma única vez, dar-se-á:
I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II – por protesto, nas condições do inciso antecedente; III – por protesto cambial; IV – pela apresentação do título de crédito em juízo de
inventário ou em concurso de credores; V – por qualquer ato judicial que constitua em mora o
devedor; VI – por qualquer ato inequívoco, ainda que
extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
No mesmo sentido nos ensina o Ministro Maurício Godinho Delgado
em sua obra (DELGADO, 2007, p. 258):
As causas interruptivas, portanto, consubstanciam atos ocorridos em decorrência da explícita ação da parte beneficiada pela interrupção prescricional. Por essa razão, em face de mostrar-se o titular do direito alerta e interessado na preservação de seu direito, a legislação confere largo efeito á conduta interruptiva, restituindo ao credor, por inteiro, o prazo prescricional em curso. A contagem de prazo recomeça, assim, de maneira geral, desde a data de interrupção.
A pesquisa apurou, assim, que a interrupção da prescrição é um ato de
provocação do próprio sujeito detentor de uma pretensão, ou acionalidade, e, da
mesma forma que a suspensão ocorrerá após iniciado o decurso do lapso
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temporal previsto em Lei; todavia, assim como o impedimento, a interrupção
salvaguardará o prazo integral para apurar nova ocorrência de prescrição.
1.6 – ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO
Dentro do conceito de prescrição, devemos analisar, também, os tipos
de prescrição entabulados no ordenamento jurídico pátrio.
Os doutrinadores definem singelamente a prescrição como uma pena,
uma forma de punição. Como já analisado a prescrição tem como fundamento
garantir a segurança jurídica e a paz social.
Desta feita, a extinção de poder exercitar, através de uma ação judicial,
a pretensão de reparar um dano sofrido é uma forma de penalizar o sujeito
detentor de um direito subjetivo que se descuidou, adormeceu no tempo deixando
em curso seu prazo expirar-se. Nesse sentido surge o entendimento que um dos
tipos de prescrição será a extintiva.
Extintiva, pois, como mencionado extinguirá a pretensão de um sujeito
quanto ao seu direito subjetivo, é a prescrição propriamente dita, e assim nos
ensina o André Luiz Almeida (ALMEIDA, 2008, p. 253):
Instituto de direito material, a prescrição pode ser vista sobre dois ângulos: I – prescrição aquisitiva; II – prescrição extintiva. A primeira sobreleva a força que cria, de que é exemplo a usucapião. Na segunda, ao revés, a força que elimina, que extingue.
Dessa forma, vislumbramos que, haja vista a idéia consagrada pela
doutrina majoritária de que a prescrição tem por finalidade aplicar uma pena
extinguindo o direito acionário do sujeito detentor de um direito subjetivo, tendo
em vista sua inércia, resta, assim, classificada como prescrição extintiva.
24
Há, ainda, doutrinadores que sustentam uma segunda espécie de
prescrição. Trata-se da prescrição aquisitiva. Tal instituto se verifica nos direitos
reais.
Quando alguém, tendo em vista o decurso de um lapso temporal,
também previsto em Lei, adquire o direito real de um bem, haja vista a ocorrência
de usucapião, estaria, assim, se beneficiando da prescrição aquisitiva. Aquisitiva
para quem adquire o direito real, respeitando o lapso temporal e não para quem
perdeu a propriedade do bem por sua própria negligência.
A doutrina fomenta esse entendimento quando assevera: no entanto a
prescrição também poderá ser aquisitiva. Nessa hipótese, a inércia e o lapso
temporal fazem que seja adquirido um determinado direito. É o direito à usucapião
(FIGUEIREDO, 2009, p. 52).
Assim, verificamos a existência de dois tipos de prescrição no
ordenamento jurídico pátrio. A prescrição extintiva, propriamente dita; e a
prescrição aquisitiva, a usucapião.
1.7 – DIREITOS IMPRESCRITÍVEIS
Por certo não poderíamos abordar o tema prescrição, sem analisarmos
os direitos imprescritíveis, ou seja, aqueles que não estão sujeitos a prescrição.
A doutrina elenca alguns dos direitos que não estão sujeitos a
prescrição, assim, portanto, imprescritíveis. A razão para que tais direitos estejam
imunes aos efeitos da prescrição é simples, a peculiaridade da pretensão.
Não existe um rol taxativo ou até mesmo exemplificativo desses
direitos imprescritíveis. A análise dependerá, como dito, da peculiaridade do caso.
Por certo é que a majoritária doutrina afirma serem imprescritíveis os direitos à
personalidade. Desta forma, por exemplo, o sujeito poderá a qualquer tempo
requerer sua nacionalidade.
25
As ações de estado também não estão sujeitas a prescrição. Assim, a
qualquer tempo poderá ser requerida a separação judicial; ou a investigação de
paternidade.
Nesse sentido alguns doutrinadores comentam o assunto
(FIGUEIREDO, 2009, p. 53):
Há pretensões que, dadas as suas peculiaridades, são insuscetíveis de prescrição. São, portanto, imprescritíveis:
1 – direitos de personalidade; 2 – direitos relativos ao estado do indivíduo (o estado
de filiação, a qualidade de cidadania, a dondição conjugal); 3 – direitos referentes aos bens públicos; 4 – pretensão de haver bens confiados à guarda; 5 – pretensão destinada a anular inscrição do nome
empresarial feita com violação de lei ou contrato (art. 1.167 do CC).
Ainda, temos o posicionamento de Sílvio Venosa (VENOSA, 2004, p.
635):
Também são imprescritíveis os denominados direitos facultativos ou protestativos, como é o caso de o condômino exigir a divisão da coisa comum ou pedir sua venda; a faculdade de se pedir a meação do muro divisório entre vizinhos. Trata-se de ações de exercício facultativo, que persiste enquanto persistir a situação jurídica.
Verificamos que não há um rol legal de direitos imprescritíveis, porém,
a doutrina se encarrega de apurar esses direitos, tendo em vista que a natureza
dos mesmos segue contrariamente aos fundamentos da própria prescrição, como
a paz social e segurança jurídica.
1.8 – PRAZOS PRESCRICIONAIS
Outro ponto a ser analisado, no que tange a prescrição, são os prazos
entabulados por Lei.
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Como vimos, o tempo terá um papel preponderante na análise dos
efeitos da prescrição. Entretanto, para cada direito subjetivo, haverá uma ação
correspondente e para tanto, um lapso temporal, definido em Lei. O artigo 205 do
Código Civil estabelece a prescrição máxima no direito brasileiro, nos seguintes
termos:
Art. 205 A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
Podemos verificar que o legislador estabeleceu um teto máximo de dez
anos como lapso temporal para a prescrição. Determinou, ainda, que a Lei
determinasse os prazos prescricionais de acordo com o direito envolvido. O
próprio Código Civil em seu artigo 206 se encarregou de determinar prazos
específicos para casos distintos.
O direito comum assim estabeleceu os prazos prescricionais nos
citados artigos (FIGUEIREDO, 2009, p. 53).
27
CAPÍTULO II
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE
2.1 – CONCEITO
Passa-se agora a analisar o conceito de prescrição intercorrente
adotado no ordenamento jurídico brasileiro, segundo o entendimento de nossos
doutrinadores, bem como, de nossos Tribunais.
Como visto a prescrição, em sua espécie extintiva, propriamente dita, é
uma pena que causa ao penalizado a perda de exercício de ação devido sua
inércia momentânea e continuada após o conhecimento da violação de Lei ou
contrato.
A prescrição intercorrente, assim como a prescrição propriamente dita
também irá penalizar o sujeito que adormeceu, que se quedou inerte quando, em
verdade, deveria exercitar a sua pretensão.
Porém, a prescrição intercorrente possui algumas peculiaridades em
relação a prescrição propriamente dita, pois, inicialmente a prescrição
intercorrente se dá no curso de um processo. A questão encontra algumas
divergências quanto a ocorrência em qualquer dos processos, seja na fase
cognitiva, seja na fase executória.
Na posição de Sérgio Pinto Martins a prescrição intercorrente ocorrerá,
apenas no processo de execução, não havendo prescrição intercorrente no
processo de conhecimento, e assim vaticina: a prescrição intercorrente é a que
ocorre no curso da execução, depois do trânsito em julgado. A prescrição
intercorrente evita a perpetuação da execução (MARTINS, 2008, p. 78).
28
Para o citado doutrinador, somente após iniciada a fase executória
poderia se operar a prescrição intercorrente, com intuito de evitar que a execução
se torne perpétua.
Corroborando com esse entendimento Ísis de Almeida define a
prescrição intercorrente como aquela que vai fulminar a execução durante a sua
tramitação (ALMEIDA, 1998, p. 441).
De maneira divergente, outros doutrinadores se posicionam no sentido
de que a prescrição intercorrente poderá ocorrer no curso do processo, seja de
conhecimento ou de execução.
Nesse sentido afirma Delgado (DELGADO, 2007, p.280):
Intercorrente é a prescrição que flui durante o desenrolar do processo. Proposta a ação, interrompe-se prazo prescritivo; logo a seguir, ele volta a correr, de seu início, podendo consumar-se até mesmo antes que o processo termine. O critério intercorrente tem sido muito importante no cotidiano do Direito Penal, por exemplo.
Corroborando com esse entendimento (CARRION, 2006, p. 84):
Paralisada a ação no processo de cognição ou no da execução por culpa do autor, por mais de dois anos, opera-se a chamada prescrição intercorrente; mesmo que caiba ao juiz velar pelo andamento do processo (CLT, art. 765), a parte não perde, por isso, a iniciativa.
Pode-se apurar que após iniciado a ação e deixando o autor, por sua
exclusiva culpa ou desinteresse, de dar prosseguimento a essa, seja na fase
cognitiva, seja na fase executória, ocorrerá a prescrição intercorrente.
Outra peculiaridade da prescrição intercorrente refere-se ao fato de que
na prescrição intercorrente não se aplica a disposição de interrupção única.
Dispõe o parágrafo único do artigo 202 do Código Civil, nos termos seguintes:
Art. 202, Parágrafo Único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.
29
Isso porque o termo inicial da prescrição intercorrente se renovará
diante de outros atos do Juízo ou da parte adversa. Dessa forma, todo ato que
enseja a motivação, a movimentação do autor, ou credor, será ponto inicial para a
ocorrência da prescrição intercorrente. E assim, consequentemente, a
manifestação correspondente do autor ou credor interromperá o curso do prazo
prescricional.
Nesse sentido diz Maria Helena Diniz que o parágrafo único do artigo
202 do Código Civil não constava presente no texto original do projeto, tendo sido
acrescentado pela Câmara de Deputados sob o argumento de ser uma disposição
necessária uma vez que os credores não possuíam armas diante das medidas
protelatórias dos devedores no curso da ação de cobrança (DINIZ, Apud, FIÚZA,
2002, p. 199).
Logo, verifica-se que a prescrição intercorrente não está submetida à
interrupção única, que ocorre com a prescrição propriamente dita, tendo em vista
que os atos dependentes de motivação do autor ou credor não são únicos, assim
como os atos correspondentes que interromperão o lapso temporal da prescrição
intercorrente.
De maneira distinta, não de pode afirmar que a prescrição intercorrente
não admite as modalidades de impedimento e suspensão.
A jurisprudência também se manifestou sobre o tema e proferiu, desta
forma, o Supremo Tribunal Federal súmula de número 150 que assim dispôs que
a execução irá prescrever no mesmo prazo prescrição da ação.
Mais a frente a Suprema Corte sedimentou esse entendimento,
aplicando-se por analogia, formulando a súmula de número 264 que determina
que a prescrição intercorrente será verificada na paralisação da ação rescisória
por mais de cinco anos.
Deve-se ratificar, entretanto, que a prescrição intercorrente será
operada na fase de cognição ou execução diante da paralisação do processo por
culpa do autor ou credor. Como visto, o legislador não pretende punir o autor pela
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simples mora processual, mas sim, possui o intuito de evitar que a execução se
opere de forma eterna, causando verdadeira insegurança jurídica.
Nesse sentido afirma Alice Monteiro de Barros que a prescrição
intercorrente se opera durante a tramitação do feito na justiça paralisado por
negligência do autor na prática de atos de sua responsabilidade (BARROS, 2010,
p. 994).
O Superior tribunal de justiça também se posicionou nesse sentido:
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE – ocorre a prescrição, uma vez paralisado o processo, pelo prazo previsto em lei, aguardando providência do credor (STJ, 3ª Turma; Relator: Ministro Eduardo Ribeiro; Resp 149932-SP; DJ 09/12/1997).
Como pode-se verificar o autor deverá dar causa a paralisação
processual, permanecendo inerte momentânea e continuamente com intuito de
procrastinar o andamento do feito em prejuízo, assim, da segurança jurídica e da
paz social, fundamentos básicos da prescrição propriamente dita e, também, da
prescrição intercorrente.
Aspecto a ser observado refere-se ao entabulado pelo Código de
Processo Civil, referente à suspensão da execução, disposta nos artigos 265 e
791 do referido diploma legal.
A doutrina leciona sobre o tema (DIDIER, 2009, p. 331):
Por aí se vê que, enquanto a suspensão do procedimento pelo art. 265, II (aplicável à execução por força da remissão feita pelo art. 791, II) sujeita-se a um prazo máximo de 6 (seis) meses, não há prazo para a suspensão da execução senão aquele que for fixado pelo exeqüente para o cumprimento voluntário da obrigação pelo executado (CPC, art. 792), podendo, ao que tudo indica, esse prazo ser, até mesmo, superior a 6 (seis) meses.
Todavia, a suspensão poderá ser operada por conta do exeqüente,
hipótese que entende os Tribunais Superiores que o decurso do prazo sem a
manifestação do interessado incidirá a prescrição intercorrente. Assim julgou o
Superior Tribunal de Justiça:
31
AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. ART. 544, CPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. SUSPENSÃO A PEDIDO DA EXEQUENTE. ARQUIVAMENTO PROVISÓRIO. DECRETAÇÃO DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DA FAZENDA. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. OMISSÃO – ART. 535, CPC. INOCORRÊNCIA. 1. A prescrição intercorrente conta-se a partir do arquivamento provisório da execução fiscal, após o período de suspensão do § 2º do art. 40 da LEF, sendo desnecessária a intimação da Fazenda diante da suspensão por ela requerida. (Precedentes: REsp 1081989/PR, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJ 23/09/2009; AgRg no Ag 1.107.500/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJ 27/5/2009; AgRg no REsp 1.015.002/SC, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ 30/3/2009; AgRg no REsp 1.081.993/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 18/12/2008, DJe 16/2/2009). 2. Nesse sentido, o precedente (STJ, 1ª Turma; Relator: Ministro Luiz Fux; AgRg no Ag 1274517-MG; DJ 01/07/2010).
Podemos apurar que a prescrição intercorrente ocorrerá no decurso do
processo de cognitivo ou executório com a inércia do credor ou autor diante de
um ato ou provocação a que deverá responder ou manifestar-se, no decurso
temporal fixado em Lei.
Ressaltando-se, ainda, que a suspensão da execução, prevista em Lei,
se operada por iniciativa do credor, e não respeitado o prazo fixado em Lei, dará
ensejo a ocorrência da prescrição intercorrente, como medida punitiva e garantia
da segurança jurídica e fidelidade processual.
32
CAPÍTULO III
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO PROCESSO
TRABALHISTA
3.1 – IMPULSO DE OFÍCIO NA EXECUÇÃO TRABALHISTA
A presente pesquisa analisou, diga-se tema principal deste estudo a
aplicação da prescrição intercorrente nos processos trabalhistas.
Inicialmente vale destacar que, assim como ocorre na prescrição,
propriamente dita, onde alguns direitos não são passíveis de serem considerados
prescritos, de igual sorte, algumas ações também não poderão serem extintas em
virtude da prescrição intercorrente.
Assim, não poderá ocorrer a prescrição intercorrente nas referidas
ações que possuem natureza potestativa, vez que não obrigam o réu a obrigação
de fazer, não fazer ou pagar.
A discussão sobre a aplicabilidade da prescrição intercorrente no
processo trabalhista é extensa e agrega argumentos substanciais de ambos os
lados que fazem doutrinadores, magistrados, operadores do direito e estudantes a
discutirem o assunto sob fortes argumentos.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dispôs em seu bojo a
possibilidade do Juiz ex officio impulsionar o andamento da execução trabalhista,
e assim vaticina o artigo 878 da CLT, nos seguintes termos:
Art. 818 A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo próprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.
A lei conferiu ao Juiz competente para processar a execução
trabalhista a legitimidade, a mesma conferida ao exeqüente, para impulsionar o
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andamento da execução, independente da vontade, ou melhor elucidado, da
manifestação do credor.
De igual sorte a Consolidação das Leis Trabalhistas dispôs que cabe
ao juiz direcionar o andamento do processo garantindo a sua celeridade, tendo
em vista a natureza dos créditos trabalhistas. Nesse sentido o texto consolidado
em seu artigo 765 dispôs:
Art. 765 Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.
A doutrina reconhece esse instituto e assim elucida Carlos Henrique
Bezerra Leite: O § 5º do art. 475-J do CPC prevê que não sendo requerida a
execução no prazo de seis meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo
de seu desarquivamento a pedido da parte. E continua o doutrinador: Parece-nos
que tal norma não se aplica ao processo do trabalho, tendo em vista que o art.
878 da CLT prescreve que a execução pode ser promovida tanto pelo interessado
quanto pelo próprio juiz, de ofício (LEITE, 2007, p. 887).
E assim conclui: Ora, se o próprio juiz do trabalho pode promover a
execução (trabalhista e previdenciária), então não poderá ele mandar arquivar os
autos no caso de a parte não requerer a execução (LEITE, 2007, p. 887).
Tendo em vista a liberdade garantida ao Juiz do Trabalho para
assegurar a efetividade do processo trabalhista, a doutrina, em sua parte, entende
que a aplicação da prescrição intercorrente ao processo trabalhista violaria os
princípios básicos norteadores desse direito, bem como, estaria na contramão do
disposto na Consolidação das Leis Trabalhistas.
Isto porque como apontado pelo presente estudo, o Juiz de ofício,
poderá dar andamento ao processo de execução, não havendo, assim, a
possibilidade de ocorrer a prescrição intercorrente.
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Esse tem sido um dos argumentos utilizados tanto pela doutrina, como
pela jurisprudência para inviabilizar a possibilidade de aplicação da prescrição
intercorrente no processo trabalhista e, assim, se posiciona o Colendo Tribunal
Superior do Trabalho em seu julgamento:
RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INAPLICABILIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO. A ausência de bem do executado, a possibilitar o pagamento ao exeqüente dos valores devidos, por força de decisão transitada em julgado, não pode impedir o impulso oficial a ser dado nesta fase processual. Não se depreende daí inércia do titular do direito, ainda que de seis anos o interstício entre a data do último ato no processo. A coisa julgada deve ser respeitada, procedendo-se a busca de bens do devedor até o cumprimento da res judicata , sob pena de se prestigiar o devedor. Recurso de revista conhecido e provido. (TST, 6ª Turma; Relator: Ministro Aloysio Corrêa da Veiga; RR 275840-51.1996.5.02.0241; DEJT 28/06/2010).
Alguns doutrinadores, entretanto, se mostram contrários ao
fundamento de que o impulso de ofício pelo Juiz do trabalho impediria a aplicação
da prescrição intercorrente no processo trabalhista, como bem fundamenta
Bezerra Leite (LEITE, 2007, p. 505):
E nem se argumente com violação ao art. 878 da CLT, pois a execução trabalhista pode ser ex officio, mas a liquidação por artigos depende da iniciativa da parte. Ora, sem título executivo líquido e certo, não há como ser promovida a execução.
Assim, há severas discussões sobre a aplicação do artigo 878 da
Consolidação das Leis Trabalhistas como pilar garantidor da inaplicabilidade da
prescrição intercorrente no processo do trabalho.
3.2 – A SÚMULA 114 DO TST
Outro ponto, talvez o com maior importância para os que sustentam a
inaplicabilidade da prescrição intercorrente na justiça do trabalho, refere-se ao
Enunciado 114 editado pelo Tribunal Superior do Trabalho.
35
A decisão emanada pela Corte Superior Trabalhista teve como base os
princípios norteadores do Direito do trabalho que visam assegurar a proteção do
trabalhador, que frisa-se, é a parte mais frágil da relação jurídica laboral.
Não bastasse isso, deve ser observada, também, a natureza jurídica
dos créditos trabalhistas. Esses possuem caráter alimentar, logo são privilegiados
em relação aos demais créditos.
Assim nos ensina Francisco Antônio de Oliveira ao afirmar que
(OLIVEIRA, 1999, p. 226):
É bem de ver que os créditos trabalhistas gozam de proteção especial, chamados por alguns até de superprivilegiados, sobrepondo-se até mesmo aos créditos hipotecários. Estão garantidos, em primeiro lugar, pelo conjunto de bens móveis e imóveis que formam o patrimônio da empresa e/ou do empregador (art. 2º da CLT).
Com base nesses fundamentos o Tribunal Superior do Trabalho
proferiu o enunciado 114.
A idéia norteada pelo referido enunciado origina-se da intenção do
julgador de proteger a aplicação efetiva da pretensão do exeqüente, que possui
direito privilegiado, tendo em vista a natureza jurídica do crédito a sua mercê, bem
como, manter um equilíbrio entre a subsidiariedade aplicada ao processo do
trabalho e sua autonomia em relação ao demais ramos jurídicos.
Devendo prevalecer, também, a idéia, segundo a Corte Superior, de
que o legislador conferiu ao magistrado poderes de dar prosseguimento ao feito
executório para evitar prejuízos ao credor, hipossuficiente na relação jurídica
laboral outrora existente.
O presente estudo, assim, pode vislumbrar a idéia central enraizada no
entendimento enunciado pelo Tribunal Superior do Trabalho; sendo esse um dos
principais pilares que sustentam a doutrina contrária da aplicação da prescrição
intercorrente na justiça do trabalho e que vem sedimentando muitas decisões
proferidas nos Tribunais nessa justiça especializada.
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Não são poucos os argumentos que servem de embasamento para os
doutrinadores e pensadores contrários a aplicação da prescrição intercorrente no
processo trabalhista.
Outra razão que serve de base para essa idéia encontra-se
fundamentada na Lei de Execuções fiscais.
Na referida Lei nº 6830/1980 dispõe o artigo 40 será suspensa a
execução, por decisão judicial, quando não forem encontrados bens do executado
que viabilize e satisfaça a pretensão do exeqüente. Dessa forma, garantirá ao
exeqüente uma expectativa de efetividade de sua pretensão, uma vez que o
executado poderá futuramente adquirir bens que satisfaçam o crédito. O citado
artigo visa também, preservar o direito do exeqüente quando o devedor estiver
ausente, ou não for localizado. Assim ficou disposto:
Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.
O artigo determinou, ainda, que o prazo para a suspensão da execução
será de um ano; e não sendo localizados bens que satisfaçam a pretensão do
exeqüente, ou não seja o devedor localizado, os autos serão encaminhados ao
arquivo.
Porém, garantiu, também, o artigo em referência que a qualquer tempo,
sendo localizado o devedor ou encontrado bens que garantam a satisfação
executada, os autos serão desarquivados e o processo retomará o seu curso
normalmente.
Somando-se isso ao fato de que o juiz poderá dar andamento a
execução de ofício, não seria possível a aplicação da prescrição intercorrente no
processo trabalhista, tendo a corrente doutrinária contrária a aplicação da
prescrição intercorrente no processo do trabalho observado esses fatores.
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3.3 – A PRESCRIÇÃO COMO MATÉRIA DE EMBARGOS
A discussão sobre a aplicação da prescrição intercorrente no processo
do trabalho é vasta e está longe de encontrar um entendimento único.
Alguns fundamentos tornam-se elementares para a doutrina na defesa
de seus entendimentos, e no objeto do presente estudo, a aplicação da prescrição
intercorrente no processo do trabalho.
A doutrina que assevera ser consideravelmente possível aplicar no
processo do trabalho a prescrição intercorrente utiliza como um de seus
elementos de fundamentação a própria Consolidação das Leis Trabalhistas.
Dispõe o artigo 884 do texto consolidado, em seu parágrafo primeiro,
que em sede de embargos à execução, poderá o embargante alegar como
matéria de defesa a prescrição da dívida, nos seguintes termos:
Art. 884, §1º A matéria de defesa será restrita às alegações de cumprimento da decisão ou do acordo, quitação ou prescrição da dívida.
Nesse sentido, no entendimento de Sérgio Pinto Martins, a prescrição
que menciona o artigo 884, §1º é a prescrição intercorrente, e assim, estando a
matéria regulada pela Consolidação das Leis Trabalhistas, não haveria como
aplicar-se, de forma subsidiária a Lei 6830/80 (MARTINS, 2008, p. 78).
Ademais, a própria Corte Superior de pronunciou ao emanar o
enunciado 153, no sentido de que a prescrição, essa se diga, a propriamente dita,
só pode ser alegada na instância ordinária.
Convalidando esse entendimento vaticina Carrion (CARRION, 2006, p.
83):
A prescrição pode ser alegada em qualquer instância (CC, art. 193), inclusive, portanto, perante a segunda quando do recurso (nas reclamações trabalhistas, nos Tribunais Regionais, ainda que não argüida na primeira); também em contra-razões, desde que se dê oportunidade à parte contrária para responder,
38
mas não da tribuna, em sustentação oral, quando já houve preclusão, porque impede à parte contrária de defender-se; não pode ser argüida em recurso de revista ou extraordinário, pois neles o STF e o TST são graus de jurisdição e não terceira instância.
Dessa forma tendo em vista a previsão legal contida na Consolidação
das Leis Trabalhistas, a manifestação dos Tribunais, a natureza de ordem pública
da prescrição, a doutrina defende que é completamente cabível na justiça do
trabalho a aplicação da prescrição intercorrente, não havendo razão para
aplicação subsidiária de qualquer norma legal, tendo em vista que não há
omissão da Lei trabalhista especializada, bem como, não vai a prescrição
intercorrente contra os princípios norteadores do Direito do Trabalho.
3.4 – A SÚMULA 327 DO STF
A corrente encontra, também, respaldos na posição do Supremo
Tribunal Federal, pois, entendeu a suprema Corte, através da súmula 327, que a
prescrição intercorrente é admitida no direito do trabalho.
Nesse sentido, posicionam alguns doutrinadores afirmando que a
prescrição intercorrente é aplicável ao processo do trabalho. Entretanto, não é
apenas o simples posicionamento do Supremo tribunal Federal que norteia a idéia
desses pensadores.
A doutrina entende que a prescrição intercorrente será aplicável ao
processo do trabalho quando a paralisação processual se der por culpa do autor
ou exeqüente, pelo prazo definido em Lei (CARRION, 2006, p. 84).
Paralisada a ação no processo de cognição ou de execução no da execução por culpa do autor, por mais de dois anos, opera-se a chamada prescrição intercorrente; mesmo que caiba ao juiz velar pelo andamento do processo (CLT, art. 765), a parte não perde por isso a iniciativa; sugerir que o juiz prossiga à revelia do autor, quando este não cumpre os atos que lhe forem determinados, é como remédio que mata o enfermo.
39
Assim, inobstante a previsão legal para que o juiz impulsione o
processo, determinados atos serão exclusivos das partes. E quando o autor ou
exeqüente deixar de manifestar, em um ato de sua exclusividade, será operada a
prescrição intercorrente (PINTO, 2002, p. 482).
o próprio legislador restringiu a regra relativa ao impulso inicial na execução (CLT, art. 878) aos casos de dissídios de alçada exclusiva das juntas e àqueles em que os empregados e empregadores (ou seja, os autores da ação, futuros exeqüentes da sentença) reclamarem pessoalmente (Lei n. 5.584/70, art. 4º)”. “Por isso, entendemos que o juiz do trabalho deve declarar a prescrição intercorrente quando, na execução, o advogado do exequente haja provocado, por simples inércia, a paralisação do fluxo processual, além do prazo de tolerância para os efeitos da preclusão máxima.
Corroborando com esse entendimento vaticina Maurício Godinho
Delgado em sua obra (DELGADO, 2007, p. 281):
Contudo, há uma situação que torna viável, do ponto de vista jurídico, a decretação da prescrição intercorrente na fase executória do processo do trabalho – situação que permite harmonizar, assim, os dois verbetes de súmula acima especificados (Súmula 327, STF e Súmula 114, TST). Trata-se da omissão reiterada do exeqüente no processo, em que ele abandona de fato a execução, por um prazo superior a dois anos, deixando de praticar, por exclusiva omissão sua, atos que tornem fisicamente possível a continuidade do processo.
O Doutor Carlos Henrique Bezerra Leite define:
De nossa parte, pensamos ser aplicável a prescrição intercorrente no processo do trabalho, como aliás, prevê o art. 884, §1º, da CLT, que consagra a prescrição como “matéria de defesa” nos embargos à execução. Ora, tal prescrição só pode ser a intercorrente, pois seria inadmissível argüir prescrição sobre pretensão que já consta da coisa julgada.
Portanto, o entendimento da corrente favorável a aplicação da
prescrição intercorrente no processo do trabalho, toma por base os preceitos da
inércia do autor ou exeqüente em atos de sua exclusiva manifestação, por um
período superior ao determinado em Lei. Um exemplo adotado por boa parte da
doutrina refere-se aos cálculos quando a liquidação se der por artigos, o que
inviabilizará o impulso do processo, de ofício, pelo Juiz (GIGLIO, 1994, p. 523).
40
O presente estudo verifica que a prescrição intercorrente no processo
do trabalho será aplicável, desde que o autor deixe de manifestar-se, em ato de
sua exclusividade, e assim permaneça inerte, pelo lapso temporal de dois anos.
41
CONCLUSÃO
Na conclusão do presente trabalho, relembramos que o objetivo central
era analisar a aplicação da prescrição intercorrente no processo do trabalho. Para
tanto, a pesquisa analisou o conceito de prescrição, a definição de prescrição
intercorrente e a aplicação no processo trabalhista.
A pesquisa analisou inicialmente o conceito originário de prescrição, a
etimologia da palavra, o significado inicial, bem como, a intenção de criação do
instituto prescrição no ordenamento jurídico.
Observou, ainda, o conceito de prescrição, adotado pela doutrina e
jurisprudência brasileira, confrontando entendimentos diversos sobre o tema,
corroborando com os maiores estudiosos do assunto, e suas definições,
concluindo que, atualmente, a prescrição é definida como um instituto de
penalização que impossibilita a eficácia da pretensão acionária de um sujeito,
tendo em vista que o mesmo deixou de exercitar uma ação, por sua inércia.
O trabalho analisou, também, os requisitos que são apontados pela
doutrina e jurisprudência nacional, para que se verifique a ocorrência da
prescrição. Assim, pode-se concluir que para que haja a ocorrência da prescrição,
se faz necessário a presença de um direito, determinado em Lei ou contrato,
subjetivo violado; a inércia momentânea do titular desse direito; a continuidade da
inércia desse titular, por um lapso temporal, que, deveras, estará definido em Lei;
e a ausência de causas que impeçam, suspendam, ou interrompam a prescrição,
conforme determinação legal.
A pesquisa abordou, de igual sorte, os tipos de prescrição apontados
no ordenamento jurídico brasileiro, com as definições de grandes doutrinadores e
estudiosos. Concluiu pela existência de dois tipos de prescrição existentes, que
sejam, a prescrição extintiva, modalidade que encontra-se pacificada no entender
geral, e a prescrição aquisitiva, que encontra, no cenário nacional, alguma
divergência quanto à sua existência e classificação como modalidade de
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prescrição, uma vez que, a prescrição não admitiria uma modalidade de
aquisição, tendo em vista tratar-se de uma pena àquele que deixa de vigiar o seu
direito.
Analisou-se as causas de impedimento, suspensão e interrupção da
prescrição. Concluímos, pois, que as causas de impedimento e suspensão se
equivalem, diferenciando-se, apenas, pelo fato de que no impedimento o prazo
prescricional, sequer, irá começar a fluir. Já na suspensão, o prazo teve início e,
posteriormente, observou-se uma das causas, previstas em Lei, que impedem ou
suspendem a prescrição. Ainda, que no que tange ao lapso temporal, esse, após
cessar a causa que impediu ou suspendeu a prescrição se iniciará, no caso do
impedimento ou voltará a correr de onde foi suspenso, no caso da suspensão.
Quanto a interrupção, possui causas distintas do impedimento e da suspensão,
porém seguirá nos mesmos moldes da suspensão, ou seja, após cessar a causa
que interrompeu o lapso temporal o prazo começará a correr. A diferença, quanto
a isso, será que na interrupção, o lapso temporal, previsto em Lei, será devolvido
na sua integralidade, bem como, que somente poderá ocorrer a interrupção uma
única vez.
A pesquisa observou, também, os direitos imprescritíveis, que segundo
alguns doutrinadores, são direitos que não admitem a pena da prescrição, por
inércia de seu titular, tendo em vista que são direitos que relacionam-se com o
estado da pessoa, sua personalidade.
Quanto aos prazos prescricionais, o presente estudo abordou aqueles
previstos no direito comum, ou seja, contidos no Código Civil brasileiro e adotado
como base para outros ramos do direito. Verificou-se, também, que atualmente, o
prazo máximo para ocorrência da prescrição é dez anos, devendo a Lei estipular
prazo menores para casos específicos.
Foi apurado, também, o conceito de prescrição intercorrente apontado
no ordenamento jurídico brasileiro, tendo o trabalho concluído que a prescrição
intercorrente é aquela que se dá no curso de uma ação já ajuizada, ou seja, o
sujeito possuidor de um direito subjetivo exercitou sua pretensão, ajuizando a
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ação competente, porém, por sua inércia, deixou de dar andamento ao processo,
por um prazo fixado em Lei, assim como na prescrição propriamente dita. O
instituto visa assegurar a paz social, a segurança jurídica, evitando que o credor
fique eternamente com o devedor a sua mercê, sem efetivamente cobrar o seu
direito.
Por fim, a pesquisa analisou a aplicação da prescrição intercorrente no
processo do trabalho, com as divergentes correntes doutrinárias e os divergentes
posicionamentos dos Tribunais, tendo em vista os fundamentos do direito especial
do trabalho e a previsão exposta no próprio instituto legal que ampara a
especializada.
Assim, o trabalho concluiu que a aplicação prescrição intercorrente no
processo do trabalho está longe de ser algo pacífico, pois como asseveram os
críticos da aplicação, os créditos trabalhistas possuem natureza alimentar, não
podendo os credores deixar de usufruí-los, e, assim, determinou a legislação
trabalhista quando assegurou o impulso de ofício da execução, bem como deu
poderes ao juiz para que este dê célere andamento do processo. Em
contrapartida, os defensores da aplicação da prescrição intercorrente no processo
do trabalho, afirmam que a Lei especial trabalhista prevê a aplicação do instituto
ao assegurar ao executado, como meio de defesa, em sede de embargos à
execução, a argüição da prescrição, bem como entendeu o Supremo Tribunal
Federal, que possui como característica principal, assegurar o cumprimento das
disposições constitucionais.
A presente pesquisa concluiu que tendo em vista a natureza dos
créditos trabalhistas; a hipossuficiência dos credores, na sua maioria os
empregados; a possibilidade do juiz impulsionar o processo trabalhista, não seria
aplicável ao processo do trabalho a prescrição intercorrente, como apontado pela
corrente que tem como carro chefe a Súmula 114 do Tribunal Superior do
Trabalho.
44
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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. v. 1. 4. ed. São Paulo: Atlas,
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ÍNDICE
RESUMO............................................................................................................... 5
METODOLOGIA.................................................................................................... 6
SUMÁRIO.............................................................................................................. 7
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9
CAPÍTULO I
CONCEITO DE PRESCRIÇÃO........................................................................... 11
1.1 – ORIGEM DA PRESCRIÇÃO...................................................................... 11
1.2 – CONCEITO DE PRESCRIÇÃO.................................................................. 12
1.3 – NATUREZA DA PRESCRIÇÃO................................................................. 15
1.4 – REQUISITOS DA PRESCRIÇÃO............................................................... 17
1.5 – IMPEDIMENTO, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO.... 20
1.6 – ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO................................................................... 23
1.7 – DIREITOS IMPRESCRITÍVEIS................................................................... 24
1.8 – PRAZOS PRESCRICIONAIS..................................................................... 25
CAPÍTULO II
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE..................................................................... 27
2.1 – CONCEITO................................................................................................. 27
CAPÍTULO III
A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO PROCESSO
TRABALHISTA................................................................................................... 32
3.1 – IMPULSO DE OFÍCIO NA EXECUÇÃO TRABALHISTA.......................... 32
3.2 – A SÚMULA 114 DO TST............................................................................ 34
3.3 – A PRESCRIÇÃO COMO MATÉRIA DE EMBARGOS............................... 37
3.4 – A SÚMULA 327 DO STF............................................................................ 38
CONCLUSÃO...................................................................................................... 41
BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 44