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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O ATENDIMENTO AO ALUNO PORTADOR DE
CONDUTAS TÍPICAS DE SÍNDROMES (CT) NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DA CIDADE DO RJ
Por
Fernanda da Silva de Barcellos
Professora-orientadora: Diva Nereida Maranhão
Rio de Janeiro
2003
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O ATENDIMENTO AO ALUNO PORTADOR DE
CONDUTAS TÍPICAS DE SÍNDROMES (CT) NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DA CIDADE DO RJ
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para
a conclusão do Curso de Pós-Graduação
“Lato Sensu” em Psicopedagogia.
Por: Fernanda da Silva de Barcellos
OBJETIVOS:
Apresentar aos profissionais interessados
na área de educação especial o
atendimento pedagógico realizado pela
prefeitura da cidade do RJ com os alunos
da classe especial de CT. Objetiva-se
desmistificar muitas crenças e dúvidas
sobre questões pedagógicas necessárias
ao atendimento e ao desenvolvimento
destes alunos.
3
AGRADECIMENTOS
A toda equipe do Instituto Helena Antipoff da
área específica de CT, corpo docente do
Projeto “A Vez do Mestre”, a professora Diva
Nereida Maranhão pela orientação. Aos meus
alunos, minha fonte de inspiração, a minha
irmã Renata pela ajuda na revisão dos textos
e a Deus por me conceder mais essa
conquista.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia ao meu noivo Fábio,
que tanto me deu apoio e força para não
desistir como também teve muita paciência
comigo devido a minha ansiedade durante a
confecção desta monografia. E as pessoas
que acreditam no meu trabalho, confiando
seus filhos a mim durante um ano inteiro.
5
RESUMO
A presente monografia cujo objeto de estudo é o aluno portador de
condutas típicas de síndromes (CT) tem por objetivo mostrar como é o
atendimento do aluno com tal característica nas escolas municipais da cidade
do RJ. Para tal, foram adotadas as seguintes metodologias: a bibliográfica, com
documentos do Instituto Helena Antipoff e outros, e a de observação do objeto
de estudo (desse alunado em sala de aula). Então, a partir dessas
metodologias adotadas, foi possível apresentar não só um breve histórico a
respeito do assunto como também relatar como se dá o fazer pedagógico
apontando assim o papel do professor e da família para o desenvolvimento das
habilidades do aluno portador de condutas típicas de síndromes.
6
METODOLOGIA
As metodologias utilizadas para a elaboração desta monografia foram
a bibliográfica, já que utilizamos um grande número de documentos específicos
da área escolhida para aprofundamento: os do IHA (Instituto Helena Antipoff),
bem como alguns livros que abordam temas ligados diretamente à questão; e a
de observação do objeto de estudo já que trabalhamos há três anos com este
tipo de alunos.
Então, usaremos estes dois métodos conjuntamente com o objetivo
de não só informar sobre o tema num caráter apenas informativo de técnicas,
mas também deixar claro para aqueles que não acreditam na resposta
pedagógica de alunos especiais portadores de condutas típicas de síndromes
que na maior parte das vezes através de estímulos esses são capazes de dar
algum tipo, mesmo que pequeno e depois de muito tempo, de feedback.
7
SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................................08
CAPÍTULO I
HISTÓRICO DO ATENDIMENTO .....................................................................10
CAPÍTULO II
O PONTO DE PARTIDA DO ATENDIMENTO DA CE/ CT ...............................18
CAPÍTULO III
OS PROCEDIMENTOS DO ATENDIMENTO....................................................21
CAPÍTULO IV
A SUPERVISÃO CONTÍNUA DOS ALUNOS E PROFESSORES DA CE/CT...29
CAPÍTULO V
O FAZER PEDAGÓGICO NAS CE/CTs ............................................................32
CAPÍTULO VI
A AVALIAÇÃO DOS ALUNOS DA CE/CT..........................................................37
CAPÍTULO VII
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO DO ALUNO PORTADOR
DE CT.................................................................................................................40
CONCLUSÃO ....................................................................................................43
ANEXOS.............................................................................................................44
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................46
ÍNDICE................................................................................................................49
FOLHA DE AVALIAÇÃO ...................................................................................51
8
INTRODUÇÃO
A presente monografia é uma apresentação às pessoas interessadas
em educação especial e às pessoas que desenvolvem formalmente ou
informalmente algum trabalho com essa clientela (professores, psicólogos,
psicanalistas, psiquiatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais, pais, responsáveis etc) que tem curiosidade para saber como é
realizado o atendimento pedagógico às crianças-alunos nas escolas municipais
da cidade do RJ.
Para apresentar este tipo de trabalho foi formulada a seguinte
hipótese: os alunos de condutas típicas de síndromes, daqui para frente CT,
quando estimulados desenvolvem habilidades. Gostaríamos desde já de deixar
claro que se deve sempre acreditar no potencial dos seres humanos, sejam
eles “normais” ou especiais, pois através de estimulações são capazes de
melhorar, principalmente, no que se refere à socialização e conseqüentemente
a sua qualidade de vida e a de quem o acompanha (sejam seus genitores ou
não).
Optamos por abranger apenas a área de CT por termos consciência
de que há um grande mito em relação as crianças portadoras de quadros
psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos “que ocasionam atrasos no
desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social, em grau que requeira
atendimento educacional especializado” (Política Nacional de Educação
Especial, 1994), tais como: transtorno desafiador opositivo, síndrome de
autismo, síndrome de Rett, transtorno degenerativo da infância, síndrome de
asperger, psicóticos, síndrome de West, síndrome de Lennox-Gastaut,
síndrome do X-frágil, transtorno de déficit de atenção e do comportamento
disruptivo e síndromes de conduta.
9
Não é nosso objetivo descrever as características de cada síndrome
ou transtorno relatados e sim descrever como é realizado o trabalho, desde o
primeiro contato até seu acompanhamento pedagógico em classes, a fim de
mostrar que apesar de toda a complicação patológica que o indivíduo possa ter,
a partir do momento que ele passa a ser estimulado por vários profissionais da
saúde, da educação e do apoio familiar, será capaz de em curto ou longo prazo
dar respostas sejam pequenas ou grandes, mais respostas.
10
CAPÍTULO I
HISTÓRICO DO ATENDIMENTO
“A mente que se abre a uma nova idéia
jamais voltará ao tamanho normal”.
Albert Einstein
11
O atendimento ao longo do tempo
Assim como a psiquiatria infantil, o atendimento pedagógico dos alunos
portadores de CT, tem uma história recente que foi demarcada pelos movimentos
filosóficos que acompanham toda trajetória da saúde mental.
Michel Foucault (1869) relata esse processo em seu livro intitulado A
história da loucura na Idade Clássica, onde acompanhamos a evolução da
concepção da doença mental. Na época em que a humanidade desconhecia a
ciência, tudo era explicado através de idéias ligadas a práticas de magia e
religião, ou seja, nessa época a doença mental era explicada por essa teoria,
onde a loucura era vista como uma imposição divina, uma interferência dos
deuses, e o doente mental era percebido pela sociedade como um portador ou
interprete da vontade divina, um castigado pelos deuses ou até um
endemoninhado.
Com o passar do tempo esse conceito foi se modificando e na Grécia
antiga, esses distúrbios mentais eram encarados como sobrenaturais e assim
começam a buscar causas somáticas, que se originariam de desequilíbrio
interno.
Mas foi graças aos romanos que surgiu uma concepção diferenciada
em relação aos doentes mentais e assim também algumas leis que mostravam
claramente que um doente mental por sua condição não poderia ser julgado
como um indivíduo chamado normal. O conceito surgido é de que a doença
mental emergia de uma doutrina de temperamentos, ou seja, do estado de humor
do paciente. Destacamos, nessa época, São Tomas de Aquino. Para ele, a causa
e o tratamento da doença mental dependiam da influência dos astros e do poder
maléfico dos demônios. É importante ressaltar também que foi autor desta
12
expressão “de lua” (ainda hoje muito utilizada por nós) para designar quem muda
constantemente de humor.
Devido ao pensamento religioso vigente e dominante da época, no que
se refere à possessão da mente por um espírito maligno, sendo ele responsável
pelos distúrbios mentais, o estudo das doenças mentais sofreu um atraso. Dessa
forma, todos os trabalhos que estavam sendo realizados durante o governo do
imperador romano Justiniano, que dava direito aos portadores de doenças
mentais a tratamento junto com os outros enfermos, em instituições próprias,
foram abandonados. Voltando-se assim a concepção inicial.
Iniciou então um novo processo: o capitalismo, nova ordem econômica,
que, devido ao mundo racionalista transformou a doença mental em um tipo de
“lepra” contra a qual era necessário se defender e se cuidar. Isso porque na
época em questão se alastravam as epidemias como a peste negra. Começaram
assim a achar que além das pessoas com algum tipo de epidemia, os loucos
também se tornavam uma ameaça, um novo tipo de ameaça à população.
Optaram como forma de resolução deste problema isolar todos os
seres que fossem considerados “improdutivos”, conceito, aliás, que ainda perdura
até nossos dias por muitas pessoas em nossa sociedade. Esta exclusão massiva
que se iniciou no período medieval continuou até a metade do século XVII, pois
segundo os burgueses os loucos também representavam uma ameaça a eles.
Em 1656, foi fundado em Paris o primeiro hospital geral que ao invés
de prestar atendimento aos loucos, se dedicava mais em castigá-los, pois a
internação era uma grande punição a esses indivíduos tratados até então como
perigosos. Com isso o Estado assumiu o controle e a administração da miséria,
ampliando a rede de hospitais-prisão. Nesse momento a loucura perdeu o seu
conteúdo sacro e passou a ser sujeita ao tratamento moral ou até mesmo em
questão de polícia.
13
Mais foi em 1789, no final do século XVIII, na Europa Ocidental época,
em que o absolutismo, período marcado pelo domínio do rei, que tomava
decisões sem levar em consideração as necessidades do povo entra em falência
dando espaço as idéias mais liberais e libertadoras de cidadania e da valorização
do homem, que surgiu um jovem médico chamado Phillipe Pinel, que libertou dos
porões dos hospitais aqueles portadores de alienação mental que haviam sido
condenados ao isolamento pela ignorância social. E a partir desse momento
houve uma grande mudança na estrutura do pensamento do povo em relação
aos doentes mentais, pois foi apresentada por Pinel uma proposta mais
humanitária para tratá-los.
Algum tempo depois os doentes mentais começaram a receber
tratamento de forma que eram agrupados sem levar em consideração a sua
diversidade, ou seja, o tratamento era indiferenciado. Surge então a assistência
psiquiátrica infantil que se dedicava, sobretudo a guarda de crianças desviantes,
e essa assistência consistiu também no ensino (a princípio dos indivíduos rudes
ou com estados deficitários sensoriais) utilizando metodologia específica.
Então a partir desse movimento médico iniciado no final do século
XVIII, surgiu no século XIX a escolarização, que era oferecida por instituições,
que ficaram responsáveis pela educação de cegos, retardados e surdos. Mas
com um adendo: nessa época apesar de ter sido iniciado esse movimento que
mais tarde vai se desenvolver e chegar nos modelos atuais, destacamos que
este espaço especializado devido a sua dinâmica de atendimento feita de acordo
com as regras e preceitos estabelecidos socialmente foi se transformando num
espaço de segregação destes indivíduos, pois muitas vezes consideraram
retardadas crianças na verdade psicóticas, e também houve casos de indivíduos
deficitários de alguma forma se “psicotizarem” nestes locais. Na verdade, como
todo início de um modelo novo totalmente distinto dos já existentes, e também
devido às características científicas da época, era de se imaginar que problemas
existiriam. Contudo, o mais importante é que foi nesse momento que começaram
14
a tratar pedagogicamente os indivíduos portadores de algum tipo de doença
mental.
E é com esse tipo de concepção e tratamento que chegamos ao século
XX. Século esse riquíssimo, pois é logo no seu início que surgem os primeiros
centros de orientação infantil organizados por médicos, psicólogos e assistentes
sociais, que se organizavam em equipes, atuando paralelamente, com os
educadores. Assim todos esses profissionais ultrapassaram as noções do
simples atraso intelectual, tomando consciência das modificações do
comportamento infantil. Através da parceria de todos esses profissionais é que foi
possível a elaboração de métodos educativos apropriados a essa clientela.
Foi nessa época também que foram organizados os primeiros grupos
de pais de alunos, que devido aos contatos freqüentes com esses profissionais,
tornaram-se fundamentais para o desenvolvimento da criança, trabalhando de
acordo com as reais necessidades delas e também informalmente como apoio a
esses pais que como sabemos, necessitam de ajuda para não perderem as
esperanças dando continuidade ao trabalho realizado nas instituições. É evidente
que nem todos pensam assim, mas a relação desse alunado com seus familiares
será mais desenvolvida no capítulo A importância da família no atendimento do
aluno CT.
Continuando a seqüência histórica, destacamos o ano de 1966, onde
na Universidade da Carolina do Norte nos Estados Unidos, o Programa TEACCH
(Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits Relacionados a
Comunicação), surge na escola de medicina divisão de psiquiatria, através de um
projeto de pesquisa que procurou questionar a prática clínica daquela época
onde se acreditava que o autismo deveria ser tratado através de princípios da
psicanálise. O programa envolve as esferas de atendimento educacional e clínico
em uma prática predominantemente psicopedagógica opondo-se à prática
psicanalítica.
15
Esse projeto teve uma grande importância, pois foi a partir dele que
surgiram as classes especiais. O médico responsável por este projeto de
atendimento as inclui fazendo com que freqüentem classes especiais em escolas
regulares, em turmas compostas de quatro a seis alunos e um professor auxiliar
e assim as crianças eram inseridas nas atividades das turmas regulares. Surge
também, para estes pesquisadores o caso referente aos pais que de acordo com
a idéia clássica seriam os causadores da doença e por isso deveriam ficar fora
do processo terapêutico da criança, mas eram encaminhados a terapia (modelo
psicanalítico).
Hoje este programa é aplicado em todas as escolas do Estado da
Carolina do Norte, além de outros paises como Bélgica, Inglaterra, Japão,
Austrália, Israel e na maior parte dos estados brasileiros.
Aqui no Brasil, este programa se iniciou em março de 1991, no Centro
TEACCH Novo Horizonte em Porto Alegre, Rio Grande do Sul e sua utilização foi
sendo ampliada para outros estados como: Minas Gerais, Goiás (Brasília),
Ceará, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.
Houve um determinado momento em que não se pensava em atender
os alunos com distúrbios emocionais graves em sala de aula e com a evolução
da Filosofia da Educação, os responsáveis por esses tipos de alunos começaram
a procurar algumas escolas especiais que ofereciam atendimento terapêutico
isolado.
Foi nos anos 80, que devido a intenção de resgatar o papel da escola
como proposta pedagógica voltada para o alunado, que o Município do RJ
promoveu no período formal de matrícula a prioridade para o portador de
deficiência, onde houve uma emersão de movimento social em que foram criadas
várias associações e o Conselho da Pessoa Portadora de Deficiência.
16
Embora tenha iniciado todo esse processo de absorção de crianças
portadoras de deficiências e o acompanhamento nas escolas tivessem
funcionando na tentativa da diminuição da segregação imposta pelas práticas
pedagógicas calcadas na eficiência de um ensino para a manutenção da situação
social vigente, os profissionais do Instituto Helena Antipoff, daqui por diante IHA,
realizavam várias discussões a fim de criar projetos que viabilizassem o
atendimento das crianças que não se enquadravam nas alternativas já
existentes, dentre eles, os portadores de distúrbio emocional grave, fazendo
surgir então o projeto de autismo.
Este projeto elaborado e coordenado pelas PATES (professor de apoio
técnico) Eliana Maria da Costa Hernandes e Maria Cristina Coutinho da Silva foi
autorizado em dezembro de 1992, pela Secretaria Municipal de Educação, para
iniciar no ano seguinte com o nome de Programa de atendimento à pessoa
portadora de síndrome do autismo e/ou síndromes correlatas, atendendo a
crianças na faixa etária de 06 a 10 anos.
Iniciou-se uma divulgação frente aos 24 E-DECs (Distritos de
Educação e Cultura), hoje 10 E-CREs (Coordenadorias Regionais de Educação),
onde o 13º DEC se mostrou receptivo à idéia, várias reuniões foram realizadas
para formalizar a abertura de duas classes iniciadas em 08/02/1993, na Escola
Municipal Félix Pacheco, escolhida por oferecer condições mínimas
indispensáveis, como: proximidade às residências de uma parcela da população
alvo; localização de fácil acesso e disponibilidade por parte da direção quanto ao
espaço oferecido, sendo este amplo, arejado, claro e em nível plano.
Essas turmas foram montadas com 12 alunos já freqüentantes das
classes especiais de retardo mental e escolas especiais. Ao final desse ano
letivo, de 1993 detectou-se que duas crianças chegaram semi-alfabetizadas e
puderam participar de uma troca na classe de alfabetização e cinco
desenvolveram a linguagem como forma de comunicação. É importante ressaltar
17
que todos que desenvolveram o aprendizado nesse contexto escolar
apropriaram-se das regras apresentadas pelo mesmo.
No ano seguinte, 1994, foram traçados planos para a ampliação das
novas classes apresentando estratégias de ações voltadas para o atendimento
das crianças e adolescentes, com a elaboração de um documento estabelecendo
–se assim uma parceria entre a educação e a saúde.
O trabalho educacional até hoje para os portadores de CTs, tanto no
mundo quanto em boa parte do Brasil, ainda utiliza um modelo clínico baseado
na teoria comportamental, onde a entrada desses portadores na escola se dá
com o objetivo de socialização e é centrado no comportamento, fazendo com que
a educação traga para a sua prática o modelo clínico centrado no estímulo-
resposta, no reforço, para que seja alcançado seu objetivo maior, a extinção de
comportamentos indesejáveis, ou seja, aqueles não aceitos socialmente.
Para finalizar, hoje em dia o Município do RJ tem 124 classes especiais
de CT compostas por cinco alunos no máximo que podem ser inicialmente
atendidos individualmente em horário reduzido e gradativamente esses horários
se ampliam até que permaneçam as quatro horas e meia e possam ser formadas
duplas, trios etc; até que seja constituído o grupo com os cinco alunos ou que
algum desses seja inserido em classes regulares. Nessas classes, os alunos são
atendidos por professores itinerantes que têm função de auxiliarem o professor e
o aluno a se adequar à estrutura do ensino, dentre outras que explanaremos
mais adiante.
18
CAPÍTULO II
O PONTO DE PARTIDA DO ATENDIMENTO DA
CLASSE ESPECIAL DE CT
19
O início do atendimento da CE/CT
Na maior parte dos casos, os alunos atendidos pelas classes
especiais, daqui por diante CE, de CT são oriundos de encaminhamentos feitos
pelos médicos, psicólogos, psiquiatras, neurologistas devido ao problema
patológico da criança, uma vez que também há muitos casos em que a criança é
matriculada normalmente nas escolas regulares, já que a Constituição da
República, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Plano Decenal
de Educação para todos do MEC e o Estatuto da Criança e do Adolescente, a
garante, sendo assim agrupadas em turmas regulares e após algum tempo, ou
mesmo, como na maioria dos casos, imediatamente começam a demonstrar
características inapropriadas em relação à socialização, problemas de
comunicação, comportamento estranho e estereotipado e que não conseguem se
desenvolver como os demais.
O que fazer?
No caso dos alunos com laudo médico, os pais ou responsáveis são
encaminhados a CRE mais próxima de sua residência e lá a equipe de Educação
Especial avaliará a criança e já a encaixará em uma escola e classe própria,
tentando sempre que possível matriculá-la mais próximo aonde mora.
Mas quando o aluno é matriculado em classes regulares e o professor
ou professores detectam características como as citadas acima, primeiramente
devem comunicar a direção e coordenação pedagógica que providenciarão um
relatório de observação inicial fornecido pelo IHA para ser preenchido
descrevendo todas as observações realizadas em relação às condutas desse
aluno, tais como: se escreve, se compreende a linguagem oral, se oraliza, como
se comporta no grupo, seus interesses, se entende ordens e as executa, se tem
20
iniciativa, se demonstra sentimentos, dentre outras, e encaminhá-lo a equipe do
IHA da CRE a qual a escola pertence.
A partir desse procedimento, a equipe do IHA da CRE marcará um dia
para fazer a avaliação desse aluno na U.E, onde seu responsável deverá estar
presente e deve portar um laudo médico para que assim, dependendo do caso,
esse aluno seja o mais rapidamente remanejado para uma escola ou classe
especial.
Depois que o aluno foi remanejado ou matriculado em uma CE própria,
inicia o trabalho árduo, instigante, mas ao mesmo tempo quase sempre
estimulador do professor da CE/CT, que dentre várias características, uma delas
é inerente a esses professores: a força interior e criatividade sem limites, pois
sem esses atributos básicos, os professores não poderiam permanecer nesse
atendimento pelo fato de freqüentemente haver desânimo devido esse alunado
ser muito inconstante e desafiador.
Portanto, o professor de CE/CT tem que ser um guerreiro incondicional
sempre.
21
CAPÍTULO III
OS PROCEDIMENTOS DO ATENDIMENTO
22
O passo a passo do atendimento
Agora que o aluno já está matriculado numa CE/CT, inicia a incessante
jornada de erros e acertos para que o caminho seja trilhado da melhor forma.
O início do ano letivo numa CE difere um pouco das classes regulares.
Nesse tipo de classe, a primeira semana do ano letivo é destinada à organização
do espaço que é muito importante, desde a escolha dos móveis até a sua
disposição, pois as salas têm que ser organizadas de forma a se constituir um
ambiente próprio e adequado ao processo ensino-aprendizagem; e realização
das entrevistas com os responsáveis, onde nela procura-se ter o cuidado de
extrair o maior número de informações possíveis para que assim, através do
histórico da criança, se possa esboçar alguns roteiros, métodos, instrumentos
pedagógicos necessários.
No que se refere à entrevista, ela é composta de: histórico de vida
deste aluno, relacionamento social, familiar, preferências, nível de
independência, medicamentos dos quais faz uso e seus efeitos,
acompanhamento médico, atividades extra-escolares, etc. Estes dados são
importantes aliados no início do atendimento, pois se na entrevista, por exemplo,
for sinalizado que o aluno não tem pai, o professor não dará ênfase sobre o fato,
além do que será na entrevista que o responsável pela criança irá escolher qual o
melhor horário para o atendimento, que inicia individualmente diariamente por
períodos de quarenta e cinco minutos no mínimo, e se possível, vai sendo
ampliado gradativamente.
Passado esse período, inicia-se então o atendimento, onde o professor
fará uma anamnese do aluno, onde aconselhamos que sejam utilizados jogos e
brincadeiras, já que estes estimulam a verbalização, tornando mais fácil o
conhecimento e proporcionam a criação de laços de confiança.
23
Através de diferentes tipos de jogos e brincadeiras o professor será
capaz de identificar as Necessidades Educativas Especiais (daqui para frente
N.E.E) desse aluno, para assim poder traçar os objetivos a serem alcançados,
bem como as adaptações curriculares e também as de acesso, pois
O brincar é uma atividade cotidiana na vida das crianças. É um meio
privilegiado de inserção na realidade: expressa a forma como a criança
reflete, ordena, desorganiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira,
e é também um espaço onde pode expressar, de modo simbólico, suas
fantasias, desejos, medos, sentimentos e os conhecimentos construídos
a partir da experiência vivida. (Winnicott, 1975, p.35)
3.1- Objetivos da CE/CT
O objetivo geral é a inserção dos alunos portadores de CT em escolas
regulares para assim poderem primeiramente alcançar este mais importante
objetivo que é a socialização.
Já o objetivo específico é atender essa clientela em sua especificidade
e construir competências e habilidades que correspondam ao primeiro segmento
do Ensino Fundamental.
A partir desses objetivos pode-se dizer que “... uma das alternativas da
educação inclusiva onde os portadores de N.E.E têm a possibilidade de partilhar,
com os demais alunos, de outras atividades proporcionadas pelas escolas”
(Multieducação, SME-RJ, 1996, p.190).
Veremos agora as competências e habilidades a serem trabalhadas
com estes alunos, segundo o IHA:
24
Língua Portuguesa:
• Comunicar-se de forma coerente e significativa, mesmo que não utilize a
linguagem oral;
• Compreensão e produção de textos orais;
• Leitura e interpretação de textos escritos;
• Reflexão sobre a língua, em situações de produção;
• Compreensão, produção, leitura e interpretação de textos elaborados
através de diferentes linguagens: visual, plástica, musical e tecnológica.
Matemática
• Construir o conceito de número a partir de seus diferentes usos no
contexto social;
• Resolver situações-problema desenvolvendo formas diferentes de
soluciona-los em sue cotidiano;
• Ler, interpretar e produzir tabelas e gráficos para obter e organizar
informações em diferentes contextos;
• Perceber e utilizar os recursos técnicos e tecnológicos como auxiliares nas
operações do cotidiano;
• Compreender o valor social do dinheiro no contexto contemporâneo;
• Desenvolver procedimentos de cálculo, reconhecendo as propriedades
das diferentes operações;
• Construir e estabelecer relações relativas aos conceitos fde tempo, espaço
e forma, reconhecendo a importância e fazendo a utilização de
instrumentos de medida.
Estudos Sociais e Ciências
• Conhecer e cuidar do próprio corpo adotando hábitos saudáveis de
higiene, alimentação, proteção e cuidados com a aparência;
• Contribuir para a preservação do meio ambiente, percebendo-se como
agente transformador da realidade que o cerca;
25
• Identificar acontecimentos cíclicos na vida do homem e na natureza (dia,
noite, fases da lua, fases da vida, estações do ano, etc);
• Perceber as transformações naturais ou intencionais ocorridas nos seus
grupos de convívio e na sua localidade;
• Compreender o ciclo da vida (do nascimento a morte) das diferentes
formas de vida que compõem o ecossistema, incluindo-se o próprio
homem;
• Sentir-se produtivo;
• Desenvolver atitudes de solidariedade, cooperação e respeito pelos outros
e por si, compreendendo e analisando os diferentes modos de ocupação
do espaço físico;
• Ampliar, progressivamente sua rede de relações – na família, na escola,
no entorno social – demonstrando assim suas necessidades, interesses e
desagrados, agindo com progressiva autonomia.
É importante ressaltar que devido ao fato de se estar falando de
crianças com distúrbios de organizações mentais, nem todas as competências
poderão ser trabalhadas, e nem todas serão compreendidas/apreendidas pelo
aluno. Com alguns, de acordo com o grau do distúrbio nem ao menos serão
capazes de trabalhar o pedagógico. O que fora enumerado acima serve apenas
àqueles que têm capacidade de aprender conteúdos sistematizados, pois
“... os alunos que no decorrer de três anos, ou ao final deste, demonstrarem grandes dificuldades em participar da proposta estabelecida (...) deverão passar a cursar um programa diversificado, que apresenta um caráter mais funcional” (IHA, 2000, p.1)
Ou seja, os alunos que após três anos de tentativas de alfabetização
não conseguirem alcançá-la, passarão a outro tipo de atendimento, que
continuará sendo realizado na mesma CE, só que não será mais trabalhado o
pedagógico e sim o que lhes poderá proporcionar uma melhora na qualidade da
26
sua vida cotidiana, tais como: utilizar a vassoura para varrer sua casa, lavar
roupa, cozinhar, etc.
3.2- Adaptações curriculares
São as
“modificações ou ajustes que realizamos na programação elaborada para o conjunto do grupo aula, para atender às N.E.E dos alunos. Estas modificações supõem mudanças em um ou vários dos elementos curriculares: objetivos, conteúdos, metodologias, critérios e procedimentos de avaliação” (IHA,2000, p.3)
Essas adaptações possibilitarão a individualização do ensino, fazendo
com que o aluno consiga se desenvolver plenamente respeitando assim suas
particularidades e necessidades.
De acordo com o grau de ajuste que será efetuado, as adaptações
curriculares poderão ser significativas ou não significativas.
As adaptações curriculares não significativas são aquelas “que não
afetam o currículo prescrito pela Administração Educacional” como, por exemplo:
“conseguir um objetivo em mais ou menos tempo; introduzir algum conteúdo;
ampliação de atividades para aprender determinados conteúdos...” (IHA, 2000,
p.3)
E as adaptações curriculares significativas “são modificações que
chegam a afetar o currículo prescrito pela Administração Educacional” como, por
exemplo: “a eliminação de algum objetivo, de etapa, área ou bloco de
conteúdos”. (IHA, 2000, p.4)
27
3.3- Adaptações de acesso ao currículo
As adaptações de acesso ao currículo são definidas como
“modificações ou provisão de recursos especiais, materiais ou de comunicação
que venham a facilitar que os alunos com N.E.E possam desenvolver o currículo
regular” (IHA, 2002, p.2), ou seja, elas proporcionarão que o aluno portador de
N.E.E tenha acesso ao currículo comum a todos os alunos.
São exemplos de adaptações de acesso:
• Criar condições físicas, ambientais e materiais para o aluno na sua U.E;
• Propiciar os melhores níveis de comunicação e interação com as pessoas
com as quase convive na comunidade escolar;
• Propiciar mobiliário especifico necessário: cadeiras, mesas adaptadas, etc;
• Adaptar matérias de uso comum em sala de aula: em relevo, ampliado,
Braille, etc;
• Adotar sistemas de comunicação alternativos para os alunos impedidos de
comunicação oral (no processo ensino-aprendizagem e avaliativo):
pranchas de comunicação, uso do computador, máquina de escrever, etc.
Então conclui-se que esses elementos explicitados acima constituem
os diferentes meios que o professor tem que lançar mão para que o aluno
consiga desenvolver o currículo sem prejuízo devido as suas limitações inerentes
a seus problemas. Dessa forma, eles representam caminhos alternativos para o
êxito do aluno.
3.4- A importância da diversidade de materiais na CE/CT
Como já fora dito acima para que o aluno consiga desenvolver o
currículo regular, o professor precisará para isso utilizar vários recursos, recursos
28
esses que em sua grande maioria são confeccionados pelos próprios professores
que, visando atender as N.E.E dos seus alunos, os utilizam atendendo assim a
individualidade de cada aluno e facilitando o aprendizado desses.
Quanto aos recursos, os mais utilizados são:
• Histórias das mais variadas;
• CD’s de músicas e histórias;
• Figuras de todos os tamanhos, formas e cores;
• Jogos de encaixe, de montar, de contar, da memória com figuras
significativas;
• Quebra-cabeças;
• Softwares educativos
• Brinquedos
• Cartazes
• Letras e números de varias formas, tamanhos e tipos em madeira ou
imantados;
Faz-se necessário ressaltar que através do trabalho diversificado, se
consegue superar algumas das dificuldades dos alunos, ou seja, o aluno
desenvolve algumas habilidades com maior facilidade. E quando isso acontece, o
professor tem que ficar atento porque “as adaptações irão sendo redefinidas, à
medida que cada aluno for superando dificuldades anteriores” (Multieducação,
1996, p.203), mas é importante salientar que as dificuldades poderão
permanecer, e portanto, será necessário “buscar, cada vez mais melhores
recursos para atendê-las” (IHA,2000, p.3).
29
CAPÍTULO IV
A SUPERVISÃO CONTÍNUA DOS ALUNOS E
PROFESSORES DA CE/CT
30
O acompanhamento dos alunos e professores da CE/CT
Como já foi dito, o trabalho com estes alunos é muito cansativo e por
muitas vezes os professores ficam desanimados após tentarem várias
alternativas para trabalhar o currículo devido aos problemas severos de alguns
deles.
Além disso, a maioria dos regentes de CE/CT são apenas possuidores
do antigo curso normal, e por nunca terem estudado sobre educação especial, o
IHA, realiza capacitações uma vez por ano, fora do horário de trabalho,
geralmente aos sábados, a fim de oferecer suportes teóricos para auxiliar a
prática desses professores, esclarecer dúvidas, ajudar a entender o porquê de
determinados alunos terem determinados tipos de condutas e apresentar
sugestões de trabalho que apenas os auxiliarão, já que sabe-se que não existe
receita para se tornar um parâmetro.
Além desta capacitação anual, de caráter mais teórico, existem os
encontros mensais que têm um caráter mais prático, onde são discutidos
assuntos mais funcionais/práticos, onde os professores têm a oportunidade de
trocar experiências.
Há também as consultorias que são realizadas por um elemento da
IHA, responsável pelo acompanhamento da turma, onde nessas, o professor
procura descrever como está trabalhando e se tem alcançado os objetivos, esse
momento é o mais específico onde o professor e a consultora tratarão caso por
caso em suas peculiaridades.
Essas consultorias também podem ser feitas de surpresa onde a
consultora vai à escola de surpresa para verificar se os alunos estão
freqüentando e também conhecer um pouco mais cada aluno que a princípio
31
conhecia por relatos, e assim tentar opinar, dar conselhos e sugestões para
melhorar o desenvolvimento dos alunos, bem como facilitar o trabalho do
professor.
Em suma, o professor da CE/CT não está sozinho, há toda uma equipe
para auxiliá-lo sempre que necessário.
32
CAPÍTULO V
O FAZER PEDAGÓGICO NAS CE/CTs
33
Como é realizado o trabalho nas CE/CTs
“Nenhum aluno, por maior comprometimento que apresente, deve ser considerado sem condições de se beneficiar do trabalho escolar. A educação é um bem a que todos têm direito e, mesmo nos casos mais difíceis deve-se ter como meta a construção de conhecimentos que levem à independência e autonomia que permitam a integração social”(Lerner, 1997, p.69).
O fazer pedagógico nas CE/CT é algo que requer muita atenção e
planejamento estruturado que vise contemplar as N.E.E do aluno, ou seja, o fazer
pedagógico varia de aluno para aluno em relação às atividades e aos recursos a
serem utilizados. Porém há cinco pontos que devem ser levados em
consideração, pois são aspectos fundamentais para a construção da organização
mental desses alunos. São eles:
• A rotina diária estruturada: esta é fundamental, primordial ao atendimento
desses alunos porque
“... oferece uma previsibilidade de acontecimentos, que permite situar a criança no espaço e no tempo, onde a organização de todo o contexto torna-se uma referencia para a sua segurança interna, diminuindo assim o nível de angústia, ansiedade, frustração e distúrbios de comportamento” (IHA, 2000, p.3)
Já é de se esperar, se o aluno sofre de distúrbio de comportamento, deve-se
começar a organizar a sua mente com atividades programadas que não o
desorganize tanto. Caso o professor tente realizar atividades muito diferentes,
vai causar desestabilização do pensamento desse aluno devido ao nível de
ansiedade ou descontrole. Portanto, é muito importante que logo no início do
atendimento, seja estabelecido um tipo de rotina para que o aluno sempre
tenha noção do que está acontecendo. As mudanças podem e deverão ser
realizadas sutilmente de forma gradativa, mas sem mudar a estrutura toda.
• Valorização de elementos da natureza: porque “estimula o aluno a perceber o
seu meio ambiente, através de observações e contatos com elementos como:
34
sol, chuva, árvore, animais, visando facilitar sua percepção e diferenciação do
mundo” (IHA, 2000, p.3)
• Respeito a condição humana: onde seja realizado um “programa adequado,
onde as possibilidades de sucesso sejam mais freqüentes do que as de
fracasso” (IHA,2000, p.3), uma vez que todas as pessoas e, principalmente,
as crianças adoram quando são elogiadas, pois assim além de estar
estimulando sua capacidade cognitiva, concomitantemente estará também
levantando a auto-estima desse aluno que em muitos momentos sofre com a
discriminação.
• Utilização de música: este é sem dúvida um “recurso importante na sala de
aula, podendo estar relacionada a momentos e atividades diversas” (IHA,
2000, p.3). Quase todas as crianças adoram trabalhar com música,
apresentando grande interesse e desenvolvimento com o uso desse
instrumento. Porém não se pode deixar de lembrar que dependendo do caso,
se o aluno tiver alguma neurose, ou qualquer outro distúrbio comportamental
que o deixe sensível aos sons, inclusive os naturais do próprio ambiente, esse
recurso não deverá ser usado com tanta freqüência.
• Utilização de múltiplas linguagens: esta, depois da rotina é a mais importante,
pois esta “prática pedagógica partindo da literatura infantil, passeios, pintura,
desenho, recorte, televisão, revistas, etc”; (IHA, 2000, p.3) permite que todos
os aspectos sejam trabalhados, tais como, percepção auditiva, visual,
temporal, viso-motora, motora, imaginária do aluno, que devido ao seu
distúrbio necessita ser estimulado, atuando assim na zona de
desenvolvimento proximal desse aluno. Segundo Vygotsky (1994) a zona de
desenvolvimento proximal é a distância entre o nível do desenvolvimento real,
que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e
o nível de desenvolvimento potencial determinado através da solução de
problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com parceiros
mais capazes.
35
Além desses cinco pontos, vale ressaltar que o diálogo entre professor
e aluno da CE/CT é um instrumento fundamental, mesmo que o aluno não se
comunique verbalmente, pois o quanto mais o professor interagir com esse
aluno, apresentando modelos, oferecendo pistas e explorando determinadas
funções que ainda não foram consolidadas, permitirá que o aluno amadureça e
consiga, mais tarde, trabalhar de maneira independente.
Outro ponto que merece destaque é o da utilização de jogos e
brincadeiras que proporcionem vivenciar situações de faz de conta, pois “o
brincar representa para a criança, sempre, ações reais e sociais, na ação do
brincar a criança tem uma forma particular de entrar em contato com a realidade
humana” (Oliveira, 1992, p.45).
Um traço que é comum aos professores de CE/CT é o caráter
provocador, pois geralmente os alunos devido ao seu problema são tratados por
todos de forma diferenciada e muitas vezes são mimados por seus pais. Devido à
preocupação exacerbada dos pais, esses tendem a não esperá-los a tomar
iniciativas como pedir água, ir ao banheiro, antecipando assim essas iniciativas
sempre que acham que “está na hora”. Então um dos grandes desafios dos
professores é mostrar para os pais que eles próprios estão tornando seus filhos
cada vez mais dependentes e que dessa forma estão colaborando para limitar o
desenvolvimento mental deles. Os professores da CE/CT quando se deparam
com esse tipo de situação procuram sempre não adivinhar os desejos,
colocando-os de propósito em situações que as obrigue a agir para assim
trabalhar a autonomia e independência dos alunos.
Sendo assim, é necessário dizer que o cerne da proposta educacional
da prefeitura da cidade do RJ é pautada na concepção sócio-histórica, onde todo
o fazer pedagógico gira em torno da teoria de Vygotsky que é pautada na
interação social, pois para ele “o desenvolvimento humano, se dá, portanto, de
fora para dentro...” (Vygotsky, 1994, p.18), ou seja, daí, que vem todo o trabalho
36
pautado no dialogismo entre professor e aluno, porque “a intervenção do
professor tem, pois, um papel central na trajetória dos indivíduos que passam
pela escola”.
“Vygotsky trabalha, explícita e constantemente com a idéia de
reconstrução, de reelaboração, por parte do indivíduo, dos significados que lhe
são transmitidos pelo grupo cultural” (Oliveira, 1993, p.73). Justificando assim
sua teoria que é, quando professor e aluno estão de frente a uma atividade,
ambos estarão nesse momento realizando uma série se redes de pensamentos
onde cada um de ante mão já possui arraigados alguns conceitos (que para
Vygotsky estão na zona de desenvolvimento real, ao entrarem em contato com
uma situação nova, através do diálogo, da troca de experiências, da ajuda do
professor, ou mesmo dos colegas, onde essa ajuda vai atuar na chamada zona
de desenvolvimento potencial) o aluno conseguirá realizar a tarefa. E outro dia
quando a mesma tarefa lhe for apresentada, esse já poderá realizá-la com
autonomia, pois “o que antes era desenvolvimento potencial passou a ser
desenvolvimento real” (Vygotsky, 1994, p.30).
37
CAPÍTULO VI
A AVALIAÇÃO DOS ALUNOS DA CE/CT
38
Como é realizada a avaliação?
A avaliação dos alunos da CE/CT deverá “fornecer as bases para um
processo de transformação e funcionar como instrumento de análise de dois
lados simultaneamente” (Multieducação, 1996, p.211). Ou seja, informar se os
processos adotados pelo professor foram oportunos, adequados,
contextualizados, etc e também que aquisições possibilitaram ao aluno, que
adequações, que desdobramentos precisam ser providenciados, que situações
foram vivenciadas de maneira independente, que outras necessitam ajuda mais
efetiva do professor, que progressos foram evidenciados em relação a momentos
anteriores, etc.
A avaliação dos alunos portadores de CT deve ser contínua, sem
caráter classificatório, visando simplesmente enquadrar o aluno num
grupamento, dando-lhe rótulos dessa ou daquela deficiência. Ela deve orientar
sempre uma tomada de decisões, do tipo, o que fazer com este aluno? Que
propostas necessitam que sejam encaminhadas? O que favorece sua
aprendizagem?
Teoricamente, o tipo de avaliação a ser utilizada com estes alunos é a
do tipo formativa, pois segundo Loch (1998) é a que investiga, diagnostica e se
dá no cotidiano. É nessa modalidade que se investigam os processos de
construção do conhecimento e neles se intervém. Durante essa modalidade se
organiza um dossiê – pasta individual – com os registros das aprendizagens e
dificuldades dos alunos. Esses registros são constituídos de relatórios
construídos pelo professor, pelos pais e por outros educadores.
Portanto, percebemos que esse tipo de avaliação apesar de ser
trabalhosa e exigir grande energia do professor (disponibilidade de tempo que vai
39
além do tempo das aulas, porque é necessário atualizar registros sobre cada
aluno), é essencial para que através dela se elabore estratégias adequadas e
individualizadas fundamentais para se planejar as atividades a serem realizadas.
40
CAPÍTULO VII
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO DO
ALUNO PORTADOR DE CT
41
A família e o desenvolvimento do aluno portador de CT
Com o passar do tempo tudo foi se modificando, o tratamento clínico, o
pedagógico, tudo foi melhorando a partir do momento em que começaram a
perceber que estas crianças não eram apenas meros doentes, ou seres
estranhos, não humanos... mas sim seres humanos como todos os outros e,
como tais, deveriam freqüentar as escolas, como já foi abordado no capítulo I.
Quando esse processo de “entendimento” foi se consolidando,
começaram a perceber que a família era muito importante no tratamento dessas
crianças, foi quando então “os pais passaram de “responsáveis” pela doença,
para o papel de principais parceiros dos técnicos na busca de alternativas e
soluções” (Fragelli, 1998, p.99).
É notório que a família tenha um papel fundamental, visto que é ela
que passa a maior parte do tempo com essa criança. Então se a família não
estiver de acordo com o tratamento, com o trabalho, a criança não dará a
resposta necessária, pois os pais podem após o tratamento ou trabalho realizar,
mesmo que inconscientemente, reforços negativos nessas crianças.
No que diz respeito à família, de acordo com Fragelli (1998) é
importante dar um apoio a ela, já que “a maioria dos familiares já chega às
instituições educacionais estressada e desiludida com os fracassos e as
dificuldades encontradas até ali”. Já em relação à escola, a autora diz que ela
deve “oferecer aos pais o apoio necessário para que eles sejam ouvidos e
esclarecidos quanto às suas angustias” já que muitos também costumam chegar
com expectativas altas, principalmente com relação à alfabetização, o que muitas
vezes, não acontece.
42
É muito importante que se promova à informação, a conscientização, o
intercambio de informações e os ajustes no relacionamento família/instituição,
porque somente um trabalho conjunto, transdisciplinar, harmonioso, poderá dar
resultados, sem contar que essa parceria promoverá a integração da criança na
sua família, pois muitas vezes essa criança tende a ser privada da filiação
familiar devido ao seu distúrbio.
Sendo assim, a escola deve fazer com que os pais “se sintam fazendo
parte de um processo, resgatando o papel de educadores de seus filhos” (Lerner,
1997, p.62), pois a parceria escola-familiares é um dos mais fortes elos para que
esse aluno consiga desenvolver todas as suas potencialidades.
43
CONCLUSÃO
Com o desenvolvimento da pesquisa sobre os alunos portadores de
CT, na área da psicopedagogia, pode-se a partir do histórico, mesmo que breve
do atendimento desse tipo de aluno, verificar como esses foram tratados de
modo inadequado ao longo tempo e qual é a atual situação deles. Através do
relato de como é realizado o atendimento, foram ressaltados o papel do
professor (sua capacitação, procedimento pedagógico, etc) e a importância da
família. Com base nessas questões, pode-se perceber que o aluno portador de
CT precisa ser exposto a situações provocadoras para assim desenvolver-se.
Ratificando-se então a seguinte hipótese: o aluno portador de CT quando
estimulado desenvolve habilidades.
44
ANEXOS
45
46
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WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
49
ÍNDICE INTRODUÇÃO....................................................................................................08
CAPÍTULO I .......................................................................................................10
HISTÓRICO DO ATENDIMENTO......................................................................10
O atendimento ao longo do tempo ....................................................................11
CAPÍTULO II ......................................................................................................18
O PONTO DE PARTIDA DO ATENDIMENTO DA CLASSE ESPECIAL DE CT
............................................................................................................................18
O início do atendimento da CE/CT ....................................................................19
CAPÍTULO III .....................................................................................................21
OS PROCEDIMENTOS DO ATENDIMENTO ...................................................21
O passo a passo do atendimento ......................................................................22
3.1- Objetivos da CE/CT .................................................................................23
3.2- Adaptações curriculares ..........................................................................26
3.3- Adaptações de acesso ao currículo ........................................................27
3.4- A importância da diversidade de materiais na CE/CT .............................27
CAPÍTULO IV ....................................................................................................29
A SUPERVISÃO CONTÍNUA DOS ALUNOS E PROFESSORES DA CE/CT...29
O acompanhamento dos alunos e professores da CE/CT ................................30
CAPÍTULO V......................................................................................................32
O FAZER PEDAGÓGICO NAS CE/CTs ............................................................32
Como é realizado o trabalho nas CE/CTs .........................................................33
CAPÍTULO VI ....................................................................................................37
A AVALIAÇÃO DOS ALUNOS DA CE/CT ........................................................37
Como é realizada a avaliação? .........................................................................38
CAPÍTULO VII ...................................................................................................40
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO DO ALUNO PORTADOR
DE CT ................................................................................................................40
A família e o desenvolvimento do aluno portador de CT ...................................41
CONCLUSÃO ....................................................................................................43
50
ANEXOS ............................................................................................................44
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................46
ÍNDICE ...............................................................................................................49
51
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia
Título da monografia: O atendimento ao aluno portador de condutas típicas de
síndromes (CT) na rede municipal de ensino da cidade do RJ
Autora: Fernanda da Silva de Barcellos
Professora-orientadora: Diva Nereida Maranhão
Data da entrega: 01 de outubro de 2003.
Avaliação da monografia:
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Avaliado por: __________________________________ Conceito__________.
_________________, ____de_______________de_______
52