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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PSICOMOTOR DESENVOLVIDO EM AULAS DE NATAÇÃO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 6 MESES A 3 ANOS Por: Rebeca de Souza Orientador Prof. Ms. Fátima Alves Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PSICOMOTOR

DESENVOLVIDO EM AULAS DE NATAÇÃO NO PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA DE CRIANÇAS NA

FAIXA ETÁRIA DE 6 MESES A 3 ANOS

Por: Rebeca de Souza

Orientador

Prof. Ms. Fátima Alves

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PSICOMOTOR

DESENVOLVIDO EM AULAS DE NATAÇÃO NO PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA DE CRIANÇAS NA

FAIXA ETÁRIA DE 6 MESES A 3 ANOS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade

Por: Rebeca de Souza

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AGRADECIMENTOS

À minha querida mãe, Regina Vaz de Souza, com quem sei que sempre posso

contar.

Aos meus queridos amigos e colegas de trabalho Rosana Rodrigues e Márcio

Nascimento pela constante troca de conhecimento.

Aos meus pequeninos, meus alunos, razão da minha incansável busca por

conhecimento e melhora como profissional.

Ao meu namorado Jalmir Junior, pelos momentos ausênte e pelas constantes

críticas que me direcionam na busca de mais conhecimento e aprimoramento.

Muito obrigada à todos, que fazem parte desse momento tão importante.

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DEDICATÓRIA

Á Deus, verdadeiro amigo, que compartilha de toda minha aflição, angústia e

desespero, que está comigo sempre, em todos os meus momentos de loucura

e sanidade e que na vitória e na derrota está ao meu lado, me levantando e

comemorando comigo.

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RESUMO

A psicomotricidade inaugura uma nova fase de preocupações que vai

além dos limites biológicos e de rendimento corporal, passando a incluir e

valorizar o conhecimento de origem psicológica. Dentro dessa perspectiva o

presente estudo teve como objetivo verificar a importância do trabalho

psicomotor desenvolvido nas aulas de natação no processo de

desenvolvimento da autonomia de crianças na faixa etária de 6 meses a 3

anos. Justifica-se pelo fato de ser de grande importância a aplicação da

psicomotricidade no meio líquido, principalmente na faixa etária em questão.

Este trabalho aborda a adaptação da criança de 6 meses a 3 anos ao meio

aquático, desenvolvendo seu potencial motor através do desenvolvimento da

autonomia, visando como suporte a mediação simbólica, a zona de

desenvolvimento proximal e o lúdico. Concluindo-se que é possível

desenvolver uma proposta de trabalho dentro da natação infantil, estimulando

seu potencial integral, ou seja, nos aspectos motores, psicológicos e sócio-

emocionais.

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METODOLOGIA

A natureza da pesquisa aplicada neste estudo compreende uma

abordagem descritiva, caracterizada pela pesquisa literária. Segundo Thomas e

Nelson (2002, p.208), ''O método mais comum da pesquisa descritiva é o

estudo exploratório”.

O estudo acerca da psicomotricidade será abordado no primiero

capítulo, e será baseado em livros e autores de extrema relevância nessa

questão, como Piaget, Freud, Vigotsky, entre outros.

Já o segundo capítulo abordará as questões referentes ao

dsenvolvimento infantil, e contará com a contribuição bibliográfica de autores

de referência na área, como Jocian Machado Bueno e Cacilda Velasco.

No terceiro capítulo a autonomia dos movimentos básicos entrará em

pauta e autores como Coll, Palacios e Marchesi e Piaget serão citados.

.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Psicomotricidade 10

CAPÍTULO II - Desenvolvimento Infantil 19

CAPÍTULO III – A Autonomia dos Movimentos Básicos 36

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

ÍNDICE 45

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INTRODUÇÃO

A natação sempre foi considerada um esporte dito completo, por

trabalhar de forma ampla todos os grupamentos musculares além, é claro, de

trabalhar o condicionamento cardiovascular, sendo assim um grande

promovedor de saúde e qualidade de vida. Em busca dessa qualidade de vida

desde sempre o homem vem buscando adaptar-se o quanto antes ao meio

líquido, um meio que além da prática do esporte proporciona prazer e

satisfação.

A sua prática pode ter início desde os 6 meses de idade e não tem

idade para terminar, o indivíduo pode praticar natação em qualquer idade,

basta ter vontade e condições físicas mínimas para as mesmas

Partindo dessa premissa surge a importância de se trabalhar a natação

com o enfoque psicomotor no desenvolvimento de crianças no ato de aprender

com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores que buscam garantir a

formação integral da criança, ou seja, a sua autonomia.

Ao se falar em psicomotricidade torna-se fundamental relacioná-la a

motricidade do ser humano e as implicações com seu corpo.

A natação e a psicomotricidade estão inter-relacionadas e confundidas

como aspectos indissociáveis de uma mesma realidade (DAMASCENO, 1992,

apud BUENO 1998, p.125).

A psicomotricidade trabalhada no meio líquido propõe a utilização da

água e do movimento na estimulação do indivíduo no que diz respeito o seu

próprio conhecer e aceitar-se, ajustando seu comportamento e atitudes ao

meio social de forma lúdica e prazeroza, numa proposta de movimentos

criativos e espontêneos, livres e com significado para o indívíduo.

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Dessa forma, com todos esses aspectos supracitados, a

psicomotricidade no meio líquido promove o desdenvolvimento da autonomia.

Ao tornar-se autônoma a criança aprende a desenvolver seu senso crítico, sua

curiosidade de descobrir o mundo e a quantidade de saberes que pode possuir,

e então, qualquer descoberta vinda dessa curiosidade, será realmente um novo

aprendizado, uma soma ao conjunto de saberes que esta já possui.

Sendo assim, os professores de Educação Física devem procurar a

qualificação, tendo assim consciência e capacidade crítica e social de analisar

os pré-requisitos básicos que a profissão exige, percebendo as diferenças

individuais e as relações de gênero, para dessa forma poder realmente ajudar,

como mediador, no desenvolvimento dessa autonomia em seus alunos.

Desta forma será descrito no capítulo I as questões referentes a

Psicomotricidade e tudo que envolve a mesma. No capítulo II as questões

referentes ao Desenvolvimento Infantil, ou seja, tudo que for relevante para o

trabalho em relação a esse tópico, já o capítulo III abordará as questões

referentes a Autonomia dos Movimentos Básicos em relação as crianças de 6

meses a 3 anos e em que a psicomotricidade no meio líquido pode auxiliar

nesse desenvolvimento, que é de suma importância para a elaboração deste

trabalho.

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CAPÍTULO I

PSICOMOTRICIDADE

“O corpo não existe sem a mente e a mente não existe sem o corpo, sendo movimento e pensamento parte de um todo” (A AUTORA, 2011).

O termo psicomotricidade ainda se torna complexo de ser definido.

Muito se discute sobre o assunto nos dias de hoje: A psicomotricidade pode ser

entendida como o estudo do corpo e da mente de um indivíduo, ou seja, os

movimentos desse corpo, a motricidade, e todo o pisquê que esta relacionado

a esse corpo, ou seja, as emoções e as afetividades.

Está relacionada a diversas áreas, tais como a pedagogia, psicologia,

fonoaudialogia, fisioterapia e a educação física e em cada área a

psicomotricidade tem um enfoque específico. Desta forma o presente estudo

abordará a psicomotricidade relacionada a educação física mais

específicamente na área da natação, ou seja, na psicomotricidade aquática.

Muitos são os estudiosos que abordam o assunto e os mais

conhecidos são Piaget, Freud, Vigotsky, Henry Wallon, Le Boulch, outros como

A.de Meur e L. Staes, Jocian Machado Bueno e Cacilda Velasco também

discursam muito bem sobre o tema e esclarecem algumas dúvidas comuns

atráves de pesquisas e vivências. E cada um deles tem um olhar diferente

sobre a psicomotricidade.

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Para escrever sobre o assunto foi pesquisado cada um dos estudiosos

citados e dessa forma será descrito de que forma eles abordam o assunto.

Sendo assim :

• Piaget era biólogo e assim centrou seus estudos na inteligência dando

ênfase na importância do movimento para a formação da mesma,

dessa forma concluiu que a inteligência permite ao organismo lidar de

forma efetiva com seu meio ambiente. De acordo com ele a teoria do

desenvolviemento se dá pela observação que contribui para o processo

cognitivo relecionado ao movimento. Dessa forma determinou que o

desenvolvimento cognitivo se dá a partir de uma sequência de estágios

ou períodos de acordo com o desenvolvimento da criança, que definiu

como sensório motor (0 a 2 anos), pré- operacional (2 a 7 anos),

operatório concreto (7 a 11 anos).

• Freud era psicanalista e sua contribuição relacionada ao assunto deste

trabalho se refere ao processo evolutivo global da criança, que ele

chamou de estágios de personalidade e estabeceu as seguintes

nomenclaturas: Fase Oral (1 ano); Fase Anal (2 a 3 anos); Fase Fálica

(4 a 5 anos); Fase de Latência (6 a 12 anos) e Fase Genital (12 a 18

anos).

• Wallon é um estudioso da ára da psicologia, considerado o psicólogo

da emoção afirma que a emoção se traduz e se imprime no tônus

muscular estabelecendo uma comunicação constante entre a

tonicidade e a sensibilidade. Estabeleceu em seus estudos as

seguintes fases: Fase impulsiva (recém-nascido) - dependência total na

relação com o meio, reagindo por meio de uma grande impulsividade

motora; Fase tônico-emocinal (6 aos meses) - motilidade e

sensibilidade aprofundadas e o movimento já traduz significado; Fase

sensório-motora (12 aos 24 meses)- ocorre uma orientação para o

mundo exterior, motor e sensação integrados; Fase projetiva (3 a 4

anos) - Aquisição de linguagem, motilidade direcionada ao objeto,

autonomia postural, imitação entre a percepção e o movimento; Fase

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Personalítica (5 a 6 anos)- evolução do “eu”, afirmação da

personalidade e da imitação, os movimentos tornam-se ações dos

desejos.

• Vigotsky é um estudioso do social e sua teoria é que a realidade é

criada e que a teoria esta permanetemente em transformação, seu

estudo se basea na natureza social do ser humano, sendo asim pós-

piagetiano. Procurou construir a “nova psicologia” onde abordava as

relações entre os reflexos condicionados e o comportamento

consciente do homem, ou seja, sobre a psicologia como ciência natura

le ciência mental, integrando o homem como corpo e mente, enquanto

ser biológico e ser social. Considerou que as funções psicológicas tem

um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral, o

funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o

indivíduo e o mundo exterior, a relação homem/mundo é uma relação

medida por sistemas simbólicos.

• Le Boulch centrou seus estudos na educação do corpo e deu

prioridade as funções afetivas e considerava de extrema importância

que a educação psicomotora fosse trabalhada nas crianças desde as

faxas etárias iniciais.

“A educação psicomotora deve ser considerada como

uma educação de base na escola primária. Ela condiciona

todos os aprendizados pré-escolares e escolares; leva a

criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade,

a situar-se no espaço, a dominar o tempo, a adquirir

habilmente a coordenação de seu gestos e movimentos.

A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais

tenra idade; conduzida com perseverança, permite

prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já

estruturadas” (LE BOULCH, 1988, p.11).

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• A.de Meur e L. Staes contribuiram muito no estudo da

psicomotricidade, e essa contribuição se revela no livro

“Psicomotricidade Educação e Reeducação”, onde priorizaram o

estudo da formação do “eu”, ou seja o esquema corporal, onde a

criança toma consciencia do seu corpo e as possibilidades de

espressão através do mesmo, abordaram também a dominância

lateral, ou seja, a lateralidade, dessa forma seguiram explicando a

maneira como a criança situa-se no espaço que a cerca e com se situa

em relação ao objetos e a outras pessoas a sua volta, ou seja, a

estruturação espacial, seguiram informando a forma como a criança se

situa no tempo, ou seja, a orientação temporal e desta maneira como a

criança se expressa através do desenho e completa sua teória com o

estudo do grafismo. Dentro desses pontos importantes os autores

priorizam essa sequência e afirmam que:

“Os capítulos são apresentados simultêneamente e não

em sequência. Entretanto deve-se respeitar a ordem de

apresentaçãodos elementos do estudo; por exemplo, não

se pode trabalhar a estruturação espacial sem ter atingido

uma determinada fase do esquema corporal. O quadro

das aprendizagens, no fim desta primeira parte, permite

ao leitor deste livro seguir um programa de educação

coerente e eficaz” (MEUR e STAES, 1991, p.6)

• Jocian Machado Bueno é professora de educação física,

psicomotricista, especialista em saúde e educação especial e a

contribuição dos estudos dela é de suma importância para a

elaboração deste trabalho. Em seu livro “Psicomotricidade: Teoria &

Prática- Estimulação e Reeducação Psicomotora com Atividades

Aquáticas” abrange desde o recém-nascido até a terceira idade

portadores ou não de necessidades especiais. O livro aborda a

psicomotricidade e a prática da natação a partir dos movimentos e

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desenvolvimento, passando para os conceitos psicomotores e

chegando a aplicação prática das atividades aquáticas, visando a

promoção da saúde mental e corporal do ser humano, portador ou não

de deficiência. Dessa maneira Jocian afirma:

“A busca da autonomia do ser humano e validada, mas

acarreta cada vez mais competitividade e menos relação,

gerando a tendência ao isolamento e perda da integração.

Esse meio social que deveria contribuir para essa

autonomia nos mostra uma realidade muito diferente do

almejado... Nosso objetivo nesse livro é sugerir a

psicomotricidade nas atividades aquáticas como mais um

canal na educação desses individuais e dessa educação

para a vida, onde as relações com o meio são a alavanca

na busca da autonomia “ (BUENO, 1998, p.7).

• Cacilda Velasco é professora, pedagoga e psicomotricista e assim

como Bueno relaciona a psicomotricidade com a atividade aquática

sendo de extrema importância a contribuição de seus estudos para a

pesquisa bibliográfica do presente estudo.

1.1 – A psicomotricidade no meio líquido

Neste tópico do capítulo I será abordada a psicomotricidade na água e

de que forma podemos trabalhá-la.

Como já sabemos a psicomotricidade estuda o indivíduo em seu

campo motor e afetivo e dessa forma a natação contribui das duas formas.

Todos sabem os benefícios que a prática da natação traz em relação ao corpo,

beneficiando o sistema cardiovascular, o tônus muscular, a coordenação dos

movimentos, enfim a parte motora, mas muitos desconhecem os benefícios

que a natação pode oferecer em relação a afetividade, a interação, a

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cooperação, ao desenvolvimento da autonomia dos movimentos principalmente

nas faixas etárias iniciais, ou seja, a parte psique da psicomotricidade. E desta

forma sera descrito nesse capítulo os métodos utilizados para o

desenvolviemto de toda essa parte da psique que resultará no desenvolvimento

da autonomia que é o foco do presente estudo.

“Nadar não é somente realizar deslocamentos e movimementos com o

nosso corpo. É antes disso, organizar as sensações recebidas pelo meio

líquido, em nosso cérebro, transferindo-os psicomotoramente na água”

(VELASCO, 1994, p.54).

O meio líquido não é o meio natural do ser humano, e desta forma os

movimentos realizados na água são inatos ao ser humano. Sendo assim

alguns podem se sentir desconfortáveis e até inseguros quando inseridos neste

meio, por isso cabe ao profissional que atua nesta área trabalhar de acordo

com as necessidades de seus alunos. Muitos podem se sentir desconfortáveis,

como ja foi dito, pelo fato da água exercer uma pressão diferente do meio

terrestre, pelo fato também de todas as partes do seu corpo ser de forma

completa envolvido pela água e por não sermos capazes de realizar a

respiração nesse meio. Mas com o tempo, com a prática e com a vivência do

dia-a-dia nesse meio pode-se descobrir o prazer de estar envolvido por esse

meio tão diferente, se descobre além do prazer, o relaxamento, a descontração

e desta forma proporcionando o bem estar que a água revela ao ser humano.

Como estamos falando de crianças de 6 meses a 3 anos não podemos

deixar de lado a individualidade e particularidade de cada bebê, principalmente

dos bebês mais novos. Enquanto alguns se adaptam ao ambiente e ao meio

líquido de forma natuaral e rápida outros tem uma reação totalmente oposta.

Devemos respeitar esses comportamentos e trabalhar de acordo com a

resposta que a criança nos dá, até porque esse fator depende muito de criança

para criança, como já foi dito, e as vezes crianças mais novas se adaptam

melhor, o que não é muito comum, mas isso também não é regra.

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É claro que é muito mais fácil desenvolver um trabalho com bebês

desde o inicio e dar continuidade ao trabalho do que começar a desenvolver

um trabalho com uma criança com mais idade que já carregam com elas

algumas inseguranças e movimentos poprios que se tornam mais difíceis de

corrigir, mas cabe ao profissional receber essa criança com muita paciência,

amor e dedicação afim de desenvolver um trabalho eficaz que que trará a ela

bons resultados futuros.

Falaremos agora das atividades que podem ser trabalhadas na água,

ou seja, da psicomotricidade aquática, desenvolvidas em crianças de 6 meses

a 3 anos que conjugadas resultaram no desenvolvimento da autonomia dos

movimentos básicos dos mesmos.

“A partir dos 6 meses o objetivo é a adaptação e

socialização do bebê e os movimentos dos segmentos

básicos são trabalhados para aumentar a amplitude

articular e o fortalecimento muscular” (VELASCO, 1994,

p.94).

Nesta fase o profissional deve estimular o bebê movimentando suas

pernas e braços, sempre utilizando canções e com o tom de voz bem suave.

Deslocar com o bebê segurando-o com as duas mãos, na altura das axilas,

smantendo um contato visual com o bebê, para que o mesmo se sinta seguro e

confortável. Com o tempo, com a resposta positiva do bebê e com o ganho de

confiança no professor, o mesmo pode passar a segurar-lo com uma das

mãos. Pode também ser efetuado o mergulho com o bebê de acordo com a

resposta dos mesmo aos estímulos oferecidos ao longo do trabalho. Também

pode-se estimular a subida no “tapete flutuante”, o engatinhar em cima do

mesmo e o retorno do bebê para aguá.

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“De 1 a 2 anos, aproximadamente, aulas mais dinâmicas

são aplicadas, já que os movimentos são realizados de

acordo com o desenvolvimento psicomotor das crianças,

nesta fase respostas motoras mais elaboradas são

oferecidas” (VELASCO 1994, p.93).

A partir desse momento o profissional pode explorar mais as

capacidades de respostas a estímulos diversos com essas crianças. Neste

momento a criança já consegue se deslocar sozinha, com o auxílio de um

“macarrão”, já vai da borda ao colo do professor dentro da água, se desloca

livremente pela plataforma executando movimentos de giros e pulos e até

submerge sozinha de acordo com os comandos do professor através de

canções. Se movimenta pela barra fixa e se movimenta no “tapete flutuante”,

algumas conseguem subir sozinhos ou com um pequeno auxílio, se deslocam

pelo mesmo, pulam no tapete e até pulam do tapete para a água. Pode-se

estimular a criança a pegar objtos submersos e ajudá-la a pegá-los.

Para Velasco (1994, p.93), “De 2 a 3 anos, aproximadamente, a

estimulação motora geral é trabalhada com o objetivo de sobrevivência ao meio

líquido”.

Quando chegamos nessa fase tudo que foi citado anteriormente

continua a ser trabalhado, no entanto a criança realiza os movimentos de forma

mais autônoma e o profissional acrescenta mais materiais, moviemtos,

aumenta as distâncias, permite que a criança expresse sua expontaniedade

através de seus movimentos.

É entendido que tudo que foi citado acima é apenas uma referência,

não é padrão, pois muitas crianças não seguem esse ciclo de estágios, essa

progressão, por entrarem mais tarde na natação. O que foi citado se encaixa

em crianças que desde cedo praticam as atividades aquáticas e mesmo dessa

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forma cada uma delas apresentará uma resposta diferente podendo ou não o

profissional seguir a progressão.

Os movimentos e atividades que são trabalhadas desde os 6 meses

até os 3 anos de idade citados, promovem na criança a liberdade de

moviementos, as possibilidades de experimentações, a manipulação dos

gestos motores, o subir, descer, pular, girar, mergulhar, se deslocar sozinho, ir

de uma superficie fixa a outra, fixa ou móvel, acarreta na acomodação destes

gestos motores, aliados ao prazer e ludicidade da atividade, dessa forma é

desenvolvido na criança a autonomia desses movimentos básicos.

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento do ser humano se dá através de fases, ou seja:

nascimento, primeira infância, segunda infância, adolescência, maturidade e

velhice, mas são nos primeiros anos de vida da criança que ocorrem as

transformações mais importantes para o seu desenvolvimento cognitivo, motor

e afetivo.

Essas fases são marcadas de transformações e transições, mas são

nos primeiros anos que ocorrem as primeiras descobertas e aos poucos os

pequeninos vão aprendendo a lidar consigo mesmo e com os outros passando

a entender o mundo que os cercam.

”Os primeiros seis anos de vida são fundamentais para a

formação integral do indivíduo. A forma como as pessoas

resolvem as situações nas primeiras três fases servem de

base para seu caráter e desenvolvimento posterior na

relação com o mundo” (BUENO, 1988, p.25).

Desta forma fica eviedente que são nos primeiros anos de vida que

ocorrem as mudanças mais importantes na formação do indivíduo e de acordo

com o enfoque deste estudo falaremos a seguir deste desenvolvimento na

primeira infância.

2.1 – Desenvolvimento infantil de 6 meses a 3 anos

Abordaremos agora o desenvolvimento infantil centrado nessa faixa

etária seguindo a linha de raciocínio de alguns estudiosos no assunto.

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De acordo com Freud, apud Bueno (1998, p 26) até um ano de idade o

bebê se encontra na fase oral, onde toda sua energia encontra-se na região da

boca, língua e lábios. Sendo essas áreas a parte mais sensível do seu corpo

nesse estágio. De 2 a 3 anos encontra-se na fase anal, onde o orgão de

máximo prazer é o reto, o ânus e a posição distal do tubo digestivo e seus

anexos, acontecendo nessa fase a valorização do seu objeto exclusivo, é de

suma importência nessa fase o treinamento das funções esfincterianas,

principalmente pelos pais, as atividades são relacionadas a desmontar, quebrar

e montar jogos e objetos e observá-los.

”Dos 6 as 12 meses acorre a fase tônico-emocional onde

há uma simbiose afetiva com a mãe, onde a emoção é

desencadeadora da ação, nesta fase acontece o exagero

nas funções tônicas devido a base tônico-postural, em

que as situações são conhecidas por suas repercussões

nesse domínio. Dos 12 aos 24 meses acontece a fase

sensório-motora, onde ocorre a orientação da criança

para o mundo externo, o motor e a sensação são

integrados, seguindo o andar, há a organização das

emoções, percepção mais precisa e movimentos

repetidos, ocorrendo o gesto inteligente, os movimentos

são sempre voltados para o outro , com uma linguagem

emocional e não-verbal. Com 3 anos ocorre a aquisição

da linguagem, autonomia postural e imitação com o elo de

ligação entre percepção e movimento” (WALLON, apud

BUENO, 1998, p.27).

“De 0 a 2 anos a criança encontra-se na fase sensório-

motora onde as reações circulares são desenvolvidas pois

envolve o corpo da criança com as percepções e hábitos,

ocorre a criação de um universo objetivo de ação

intencional, a criança é egocêntrica não fazendo distinção

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entre ela e o ambiente da qual faz parte. Por volta dos 18

mesesjá diferencia o objeto do seu “eu”e já elabora as

produções a serem vividas logo em seguida , iniciando a

representação interna e usando imagens, palavras ou

ações para significar objetos. Dos 2 aos 7 anos ocorre a

fase pré-operacional com o início da linguagem

expressiva compreenssível de representação e função

simbólica de forma mais incisiva” (PIAGET, apud BUENO,

1998, p.28).

“Na criança com 1 ano ocorre o conhecimento do próprio

corpo, distingue figuras familiares de estranhas, inicia-se

o andar e o jogo manipulativo e ocorre o desabrochar da

mobilidade. De 2 a 3 anos a criança já tem noção de sua

identidade, nome, imagem no espelho, fotos, é a fase da

oposição, desenvolve-se a linguagem, o início da

socialização e a disciplina esfincteriana”(GESELL, apud

BUENO, 1998, p.29).

Mahler estudou o preocesso de separação e individualização da

criança e definiu as seguintes etapas: 1 mês- fase autística normal; 1 a 4

meses- fase simbiótica normal; 5 a 9 meses- 1ª sub-fase: diferenciação e

desenvolvimento da imagem corporal; 9 a 18 meses- 2ª sub-fase: treinamento;

18 meses a 3 anos- 3ª sub-fase: reaproximação e a partir dos 3 anos- 4ª sub-

fase: consolidação da individualidade e o início da constância do objeto

emocional.

Falaremos aqui mais detalhadamente dessas fases, direcionando o

nosso foco na faixa etária de 6 meses a 3 anos, ou seja, apenas a 1ª, 2ª e 3ª

sub-fase.

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Na 1ª sub-fase o bebê já começa a se expandir para além da órbita

simbiótica, tem atenção dirigida para fora e o sensório permanentemente

alerta, ocorrendo processo de Desabrochamento começa então a experiência

de tentativa de separação, a criança começa a explorar manual, tátil e

visualmente o rosto da mãe, do outro e detalhes do seu próprio corpo. Começa

a exploração comparativa, onde compara a mãe com o outro; o familiar do não-

familiar., ocorrendo o comportamento de Padrão de Confrontação. Com a

descoberta da existência do outro que não a mãe, surge a reação de

ansiedade frente ao estranho – 2º Organizador da Afetividade. Corresponde a

terceira fase do período sensório-motor de Piaget.

Na 2ª sub-fase acontece a habilidade infantil inicial de se afastar

fisicamente da mãe, sem no entanto se desligar dela, que só poderá ocorrer

após a criança adquirir a função cognitiva de objeto permanente. Com a função

de “intencionalidade” também já formada, a criança já pode determinar o

quanto afastada ou próxima quer estar do outro, ocorre então uma rápida

diferenciação corporal e um papel mais ativo na relação com a mãe. Começa a

se relacionar à uma distância maior – “contato à distância”. Neste momento, a

mãe servirá de base, onde a criança retornará para reabastecer-se.

Reabastecimento emocional. Sentindo-se mais segura, poderá concentrar-se

no exercício e domínio das suas habilidades. A necessidade de proximidade

mantém-se em estado de latência. Corresponde a 4ª/ 5ª fase do período

sensório-motor de Piaget.

A 3ª sub-fase marca o início da diferenciação interna do que é objeto e

do que é eu, neste momento já não tem mais medo de perder o objeto, mas

sim o amor do objeto. Sua autonomia é defendida pelo NÃO – 3º Organizador

da Afetividade. Aparece o que chama de “ Padrão de Busca e Fuga”, onde

poderá buscar ou evitar contato deliberadamente. Conflito de fidelidade, e por

conseqüência uma recorrência da reação ao estranho. Negação do

desligamento. Sentimento de ambivalência; desejo de ser separado, e por

outro lado não ser. A criança começa a perceber outras crianças; interação

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social, onde amplia-se a gama de afetos experimentados. Aumenta sua

capacidade de empatia. Ao final, ocorre uma diminuição do esforço em

reaproximar-se, e torna-se possível funcionar à uma distância maior.

Desenvolve a linguagem; nomeia e reconhece familiares; início da

internalização de regras; expressa-se por meio do jogo simbólico e começa a

perceber a diferença sexual anatômica. Corresponde a 6ª fase /simbólico

Piaget.

Velasco (1994, p.96-98) descreve as características do

desenvolvimento físico motor, sócio-cognitivo e sócio-emocional em crianças

dos 3 meses aos 3 anos, como o enfoque do estudo inicia-se aos 6 meses

começaremos desta etapa até os 3 anos e de acordo com a autora temos a

seguinte tabela abaixo:

Idade Físico-motor Mental-cognitivo Sócio-emocional 6 a 7 meses Sentado com auxílio,

mantem o corpo ereto Se o objeto cai de sua mão, tenta recuperá-lo

Imita o bater com as mãos na mesa. Estranha pessoas desconhecidas

7 a 8 meses Arrasta-se, segura um brinquedo e alcança outro

Consegue movimentar dois brinquedos

Gosta de brincar de “esconde-esconde”

8 a 9 meses Senta-se com auxílio e engatinha

Bate com o brinquedo de encontro a outro

Brinca de dar tchau as pessoas

9 a 10 meses Anda com o auxílio do adulto

Investiga o badalo de um sino

Obedece a ordens simples em situações habituais

10 a 11 meses Anda apoiado com uma das mãosenquanto segura um brinquedo na outra

Obedece várias ordens de dar alguma coisa

Brinca de jogar bola para o amiguinho

11 a 12 meses Anda livremente Consegue cantar ao menos as sílabas ou letras finais das músicas

Compreeende uma proibição realizada por uma mímica

12 a 18 meses Sobe a escada com o auxílio do adulto

Associa 2 palavras Gosta de músicas que envolvam partes do corpo

18 a 24 meses Anda em várias direções. Ainda possui dificuldades em coordenar mãos e pés

Demostra interesse por tudo que lhe é estimulado

Compreende um proibição pela palavra “não”

2 a 3 anos Sobe e desce a escada sozinho e corre livremente

Conhece seu próprio nome, compreeende ordens negativas e proibições

Gosta de brincar com amiguinhos. Reconhece as expressões fisionômicas. Necessita estar sempre ocupado

3 anos Gosta de exercícios de pular

Gosta de realizar exercícios através de estórias

Demonstra com mais clareza suas inseguranças e seus receios

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2.2 – Mediação simbólica

Ao falarmos em mediação simbólica não podemos deixar de citar

Vigotsky e dessa forma esse tópico do capítulo II será embasado nas susa

contribuições nesse campo do desenvolvimento infantil.

As funções psicológicas superiores as quais Vigotsky tanto se dedicou

a estudar, podem ter essa denominação por justamente o ser humano ter o

poder do pensamento, ser capaz de pensar em objetos ausentes, imaginar

situações, planejar, ou seja, mecanismos superiores dos mais simples aos

mais complexos. E esta relevência em relação a mediação é devido a

compreensão das funções psicológicas do ser humano.

A mediação pode ser entendida como um processo de intervenção de

um elemento intermediário numa relação, ou seja, ao invés do simples

processo estímulo-resposta a relação será representada por um processo

estímulo-elemento mediador- resposta. Este processo passa a predominar

sobre as relações diretas ao longo do desenvolvimento do indivíduo, já que nos

relacionamos através de símbolos (elementos mediadores) e pensamos

fazendo uso deles.

“Os símbolos nascem como resultado da necessidade de

comunicação, acerca de objetos-referentes (e ausentes)

com os demais. Pela via dos símbolos, a comunicação se

transformará em consciencia refexiva, a qual tem em si

mesma a natureza simbólica” (COLL, PALACIOS,

MARCHESI, 1995, p.98).

Vigotsky interpreta esse processo como função comunicativa, pois

rastreia sua origem não somente nas capacidades evolutivas, mas também no

desenvolvimento social da criança, ou seja, para desenvolver a função

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simbólica a criança tem que ter a noção de que os outros são agentes de

conduta intencional e possuidores de um mundo interno de experiência.

Os dois tipos de elementos mediadores identificados por Vigotsky

descritos para um melhor entendimento da mediação simbólica são os

instrumentos e os signos.

É no meio social e nas relações sociais que o homem se desenvolve

criando e utilizando de instrumentos, desta forma esses instrumentos e

criações servem de elementos de mediação para a concretização dos trabalhos

não só imediatos, mas também num processo histórico-social, ou seja,

instrumento de função prservada como conquista a ser transmitida a outros

desse grupo social.

A invenção e o uso de signos como meio auxiliar para solucionar um

dado problema psicológico (lembrar, comprar coisas, reletar, escolher, etc) são

analógicos a intervenção e uso de instrumentos, no campo psicológico. O signo

age como instrumento da atividade psicológica de maneira analógica ao papel

de instrumento de trabalho. Vigotsky (1989, p.59) explicou a função dos signos

e assim podemos entender que estes atuam similarmente aos instrumentos, só

que voltados para o controle próprio do indivíduo nas suas ações psicológicas.

Oliveira (1993, p.31) aponta como um exemplo de signo dar um nó em

um lenço para não esquecer de um compromisso.

“Em experimentos realizados por Vigotsky e seus colaboradores, o uso

de mediadores aumentou a capacidade de atenção e memória pemitindo maior

controle voluntário do sujeito sobre a sua atividade” (OLIVEIRA, 1993, p.33).

Percebe-se, por sua sofsticação e complexidade que os processos

mediadores são construidos no decorrer do desenvolvimento do indivíduo, não

sendo portanto presentes nas crianças pequenas, no entanto esse processo

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vai se desenvolvendo com outros mecanismos mais simples como será

descrito asseguir.

2.3 – Os sistemas simbólicos e os processos de internalização

O processo de internalização ocorre independentemente do elemento

mediador, ou seja, o ser humano ao longo do seu desenvolvimento passa a

não ter necessidade de sinais externos e se utiliza apenas de signos internos,

isto é, representações internas/mentais que tomam lugar dos objetos/sinais do

mundo real. Deixa de ser uma cópia da realidade e passa a ser uma

reconstrução interna de uma operação externa.

“Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas

vezes: primeiro no nível social e depois no nível individual; primeiro entre

pessoas (interpsicológica) e depois no interior da crinça (intrapsicológica)”

(VIGOTSKY, 1989, p.64)

“Os sistemas de representação da realidade e a

linguagem, são o sistema simbólico básico de todos os

grupos humanos, são portanto socialmente dados. É o

grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe

fornece formas de perceber e organizar o real, as quais

constituirão os instrumentos psicológicos que fazem a

mediação entre o indivíduo e o mundo” (OLIVEIRA, 1993,

p.36).

“O processo pelo qual o indivíduo internaliza a matéria-

prima fornecida pela cultura não é um processo de

absorção passiva, mas de transformação, de síntese.

Para Vigotsky esse processo é um dos principais

mecanismos a serem compreeendidos no estudo do ser

humano. É como se, ao longo do seu desenvolvimento o

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indivíduo “tomasse posse” das formas de comportamento

fornecidas pela cultura, num processo em que as

atividades externase as funções interpessoais

transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas”

(OLIVEIRA, 1993, p.38).

Por sua vez a criança capta e interioriza a informação interpretando-a,

usando diferentes estratégias cognitivas que atuam como mediadores internos.

Nesse processo construtivo a função do adulto é fundamental, já que é na

interação com ele que criança aprende o instrumento que permitirá o posterior

desenvolvimento: a linguagem.

2.4 – Desenvolvimento e Aprendizado

A relação entre desenvolvimento e aprendizado é uma das questões

mais complexas referente aos problemas básicos necessários á aplicação de

teorías de desenvolvimento da criança aos processos educacionais, na análise

psicológica de Vigotsky.

Todas as concepções decorrentes da relação entre desenvolvimento e

aprendizado em crianças podem ser resuzidas a três grandes posições

teóricas, das quais por mais que incorporassem soluções e premissas,

resultaram em uma série de erros. Aqui serão destacadas apenas sua idéia

central para que possamos entender o caminho que Vigotsky adotou como

concepção de ensino, sendo elas:

• Os processos de desenvolvimento da criança são independetes do

aprendizado;

• Aprendizado é desenvolvimento;

• As duas anteriores, combinadas.

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“O ponto de partida para chegar a solução dess problema

é o fato de que o aprendizado da criança se inicia muito

antes do ingresso delas na escola. Qualquer situação de

aprendizado com a qual a criança se defronta na escola

tem sempre uma história prévia, ou seja, desde o

nascimento de uma criança, aprendizado e

desenvolvimento estão inter-relacionados, sendo um

aspecto necessário e universal do processo de

desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente

organizadas e especificamente humanas” (VIGOTSKY,

1989, p.84).

“Existe um percurso de desenvolvimento, em parte

definido pelo processo de maturação do organismo

individual, mas é o aprendizado que possibilita o

despertar de processos internos de desenvolvimento que,

caso não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente

cultural, não ocorreriam” (OLIVEIRA, 1993, p.56).

De acordo com o que foi dito até o presente momento, podemos

entender que para Vigotsky o aprendizado é considerado um processo

puramente externo que não esta envolvido ativamente no desenvolvimento. Ele

simplesmente se utilizaria dos avanços do desenvolvimento ao invés de

fornecer um impulso para modificar o seu curso, ou seja, o aprendizado

seguiria a trilha do desenvolvimento e o desenvolvimento sempre se adiantaria

ao aprendizado.

Porém ao se comparar o aprendizado escolar com o pré-escolar,

Vigotsky consegue perceber que além da sistematização ser um fator que os

diferencia, o aprendizado escolar produz algo fundamentalmente novo no

desenvolvimento da criança, e daí, surge um novo conceito de extrema

importância.

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2.5 – Zona de desenvolvimento proximal

Para entendermos e descobrirmos as relações reais entre o processo

de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado da criança, já que

aprendizado deve ser combinado de alguma maneira com o nível de

desenvolvimento, é necessário esclarecer pelo menos os dois níveis de

desenvolvimento identificado por Vigotsky.

Entendemos como nível de desenvolvimento real a capacidade da

criançade realizar determinadas tarefas de forma independente. Esse nível de

desenvolvimento já completados e consolidados seriam as tarefas já

conquistadas pelas crianças.

Com esse entendimento podemos compreender porque Vigotsky

caracteriza esse nível de desenvolvimento como retrospctivo, pois este refere-

se a etapas já alcançadas pelas crianças, com certos ciclos de

desenvolvimento já completados.

“O nível de desenvolvimento potencial é muito mais

indicativo no desenvolvimento de uma criança, pois esse

avalia até onde a criança consegue realizar determinadas

terefas sozinhas, portanto esse nível compreende o

momento no qual a criança só consegue prosseguir e

resolver seus obstáculos com o auxílio de outra pessoa,

com uma outra referência” (VIGOTSKY, 1989, p.97).

“É considerável esclarecer a importância desse fato na

teoria de Vigotsky, já que em primeiro lugar ele nos

chama atenção para o que isto representa, um momento

do desenvolvimento. Já que não é qualquer indivíduo que

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pode, a partir da ajuda do outro, realizar quqlquer tarefa”

(OLIVEIRA, 1993, p.59).

Esta conclusão se torna mais clara quando imaginamos uma criança

de 5 anos de idadeaprendendo a escrever seu nome, ela provavelmente

conseguirá realizar tal tarefa com a ajuda de alguém já capaz, porém uma

criança de 2 anos de idade não realizará esta terefa mesmo com o auxílio de

outra pessoa, o que nos leva a pensar e entender que é preciso ocorrer num

primeiro momento o desenvolvimento maturacional, para depois tronar-se

capaz de realizar tarefas específicas.

“Este fato também nos faz perceber a interação social que

ocorre nesse momento, interação esta que Vigotsky

atribuiu ao processo de construção das funções

psicológicas superiores (exclusivas do ser humano), ou

seja, na interação social das crianças com o adulto.

Dessa forma ela estará desenvolvendo suas funções

superiores através de múltiplas “aprendizagens

internalizadas por ela” (OLIVEIRA, 1993, p.60).

A partir da postulação dos dois níveis de desenvolvimento abordados,

Vigotsky (1989, p.97) define:

“A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre

o nível de desenvolvimento real, que se costuam

determinar através da solução independente de

problemas, e o nível de desenvolvimento potencial é

determinado através da solução de problemas sob a

orientação de um adulto ou em colaboração com

companheiros mais capazes. A zona de desenvolvimento

proximal define aquelas funções que ainda não

amadureceram, mas que estão em processo de

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maturação, funções que amadurecerão, mas que estão

presentemente em estado embrionário. Essas funções

poderiam ser chamadas de brotos ou flores do

desenvolvimento, ao invés de frutos do desenvolvimento”.

Portanto, através desses conceitos podemos repensar o papel do

professor de natação infantil e propor novos planejamentos de ensino, dessa

forma é bom resaltar esse conceito de Vigotsky (1989, p 101) que diz:

“O bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao

desenvolvimento. O aprendizado adequadamente

organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em

movimento vários processos de desenvolvimento que, de

outra forma, seriam impossíveis de acontecer”.

É importante esclarecer nosso entendimento de que Vigotsky não

propõe como metodologia de ensino uma educação autoritária e diretiva, o

papel do professor seria de mediador. Os alunos são capazes de e

reconstrução e recriação dos significados, tendo liberdade e autonomia para

criar, experimentar e realizar propóstas que lhe são tranmitidas, a imitação

seria apenas um recurso para assimilação por parte das crianças,

representando a solução que a criança encontrou para realizar determinada

tarefa.

2.6 – O brinquedo, a imaginação e o lúdico

Observamos que a necessidade das crianças, no sentido amplo,

incluindo tudo que a faz entrar em ação, é ignorado em prol dos estudos acerca

do nível de desenvolvimento intelectual, despertamos para o interesse em se

beneficiar da satisfações buscadas pela criança numa alternativa em

diversificar nossas aulas de natação, tornando-as mais produtivas, prazerozas

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e fazendo com que a criança expresse sua expontaniedade através do

movimento.

Se ignorarmos as necessidadesda criança e os incentivos

que são eficazes para colocá-las em ação, o impulso

lúdico, nunca seremos capazes de entender seu avanço

de um estágio do desenvolvimento para o outro, porque

todo avanço esta conectado com uma mudança

acentuada nas motivações, tendência e incentivos

(VIGOTSKY, 1989, p.122).

“Vigotsky trabalha com um outro domínio da atividade

infantil que tem claras relações com o desenvolvimento: o

brinquedo. A situação de brincadeira parece pouco

estruturada e sem uma função explícita (racionalidade x

brinquedo) na promoção de processos de

desenvolvimento. No entanto, o brinquedo também cria

uma zona de desenvolvimento proximal na criança, tendo

enorme influência em seu desenvolvimento” (OLIVEIRA,

1993, p.65).

Sendo assim podemos entender não a brincadeira por si só, e sim tudo

o que leva a crinça a brincar, a ação. Já que as necessidades da criança vão

se transformando de acordo com seu desenvolvimento, concluímos que o

mesmo acontece com suas motivações, que a levam a agir. O que é novidade

e interessante para um bebê, não o será para uma criança um pouco maior.

Quando Vigotsky discute o papael do brinquedo refere-se

específicamente a brincadeira de “faz-de-conta”, como brincar de casinha,

escolinha e outros (OLIVEIRA, 1993, p.66).

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“A criança envolve-se num mundo ilusório e imaginário

onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e

esse mundo é o que chamamos de brinquedo (lúdico).

Percebemos então que esse tipo de jogo simbólico, não

existe sem regras, a situação imaginária de qualquer

forma de brinquedo já contém regras de comportamento,

embora possa não ser um jogo com regras formais

estabelecidas a priori, ou seja, o que na vida real passa

despercebido pela criança torna-se uma regra de

comportamento no brinquedo” (VIGOTSKY, 1989, p.122).

Vigotsky (1989, p 127) ainda acresenta:

“A ação numa situação imaginária ensina a criança a

dirigir seu comportamento não somente pela percepção

imediata dos objetos ou pela situação que a afeta de

imediato, mas também pelo significado dessa situação”.

Podemos compreeender então o que representa o significado e a ação

nas etapas de desenvolvimento: a criança peque na quando brinca, age

diretamente de acordo com o significado do objeto, ou seja, o comportamento

destas crianças é determinado pelas características das situações concretas

em que elas se situam. O que se torna inverso ao relacionar com a atitude da

criança maior é que estairá agir de acordo com suas próprias intenções e o

significado terá o valor que lhe for conveniente.

Segundo Vigotsky (1989, p.130):

“A criação de uma situação imaginária não é algo

eventual na vida da criança, pelo contrário, é a primeira

manifestação da emancipação da criança em relação as

situações situacionais. A situação do brinquedo exige que

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a criança aja contra o impulso imediato. A cada passo a

criança vê-se frente a um conflito entre as regras do jogo

e o que ela faria se pudesse, de repente, agir

espontaniamente. Dessa maneira, as maiores aquisições

de uma criança são conseguidas no brinquedo,

aquisições que, no futuro, irá tornar seu nível básico de

ação real e moralidade”.

O brinquedo para o autor é muito mais a lembrança de alguma coisa

que realmente aconteceu, diferente da imaginação. É mais a memória em ação

do que uma situação imaginária nova diferente do impulso lúdico.

Mas para o autor a diferença entre memória e imaginação consiste nos

motivos que levaram a essa atividade, e não na atividade em si. Isso significa

que imaginação, embora contenha elementos da experiência anterior do

sujeito, tem como fundamento básico o novo, que interfere no próprio

desenvolvimento de nossas impressões.

A medida em que o brinquedo se desenvolve, observamos um

movimento em direção à realização consciente de seu propósito. Assim

podemos perceber dois momentos na construção do brinquedo perante a

criança. O primeiro momento se caracteriza por jogos em que há uma situação

imaginária às claras e regras ocultas. O exemplo disso seria uma brincadeira

na qual por acaso a crinça brinca com sua boneca, onde é possível observar a

fantasia dela se colocando no papel de mãe e a boneca sendo a filha. O

segundo momento já é o inverso, jogoscom regras as claras e uma situação

imaginária oculta, seriam os jogos mais complexos, tais como o futebol, no qual

as regras comandam o jogo. Porém a criança consegue se imaginar sendo o

“Cacá” por exemplo.

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Percebemos então em que ambos os momentos a criança comoprta-se

de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e aprende a

separar objeto e significado (OLIVEIRA, 1993, p.67).

Vigotsky (1989, p.134) esclarece:

“O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal

da criança. No brinquedo a criança sempre se comporta

além do comportamento habitual de sua idade, além do

seu comportamento diário, no brinquedo é como se ela

fosse maior do que é na realidade (brinquedo de adultto)”.

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CAPÍTULO III

A AUTONOMIA DOS MOVIMENTOS BÁSICOS

Para falarmos da autonomia dos movimentos básicos antes é preciso

um entendimento maior em relação a autonomia em si e quando abordamos o

desenvolvimento da autonomia é necessário citar tópicos que são precedentes

ao esclarecimento do assunto.

Fica claro que o desenvolvimento moral só ocorre por meio do

conhecimento social (maneira pelo qual os seres humanos compreeendem e

interpretam as realidades sociais), torna-se de extrema importância discutirmos

sobre o conhecimento social nas crianças, para obtermos uma maior

compreensão de que maneira acontece o seu desenvovimento moral,

principalmente sua autonomia e que consequentemente acarretará no

desenvolvimento da autonomia dos movimentos básicos.

3.1 – Conhecimento social

O desenvolvimento do conhecimento social surge como um meio de

entendermos o porquê das crianças precisarem interagir com os objetos para

conhecê-los , entedê-los e transformá-los.

Sendo este assunto relevante por se tratar de diversos aspectos

abordaremos dois tópicosde mais importância para a compreeensão do

desenvolvimento moral citados por Coll, Palacios e Marchesi (1995, p.168).

• O conhecimento das características de si mesmo e dos outros:

constata-se que a partir dos 2 anos de idade a criança demostram não

estar mais no acentuado egocentrismo, pois já conseguem ter a

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percepção de certos pontos de vista de outras pessoas, ou seja, saber

como se sentem e o que desejam, apesar desta percepção ser bem

sutil e a crianla ter bases em características externas, aparentes e não

muito complexas.

É sabido que quanto mais familiar lhe for a situação vivida ou

observada, mais facilidade terão para concretizar uma conclusão a qual poderá

demostrar condições em seu raciocínio. Por exemplo, uma criança pode dizer

que sua ‘mãe é boa’ e a seguir que ‘não lhe deixa brincar na rua’.

As modificações de conduta que ocorrem ao longo do período pré-

escolar em diante, se efetuam de acordo as experiência vividas pela criança.

Entende-se então que nos anos escolares as crianças já serão capazes de

apresentar pensamentos bem mais coerentes e objetivos, consequências de

observações mais profundas e reflexivas e por todo seu acumulo de

experiências vividas em um outro meio social, como clubes e ecolas e através

do contato com outras pessoas.

• Conhecimento Interpessoal: a compreensão dos pequenos em relação

aos pensamentos, sentimentos e desejos dos outros acontece mas

somente nos anos escolares terão consciência que o inverso também

acontece, ou seja, as outras pessoas também interpretam e conhecem

os pensamentos delas.

As crianças passam de um estágio marcado pelo egocentrismo, no

qual as crianças só conseguem ter o ponto de vista próprio, para outro onde

conseguem se colocar como uma pessoa de fora da situação em que ela esta

implicada, não se restringindo a esta situação, conseguem também

compreender acontecimentos não ocorridos com ela, como exemplo, se

colocam no lugar de habitantes de outro estado ou país que sofrem uma

enchente e perdem suas casas.

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Suas relações com outras crianças também se modificam dos anos

pré-escolares , deixando de ver as relações como impostas e ‘ interpessoais’ (é

sua amiga não só porque lhe emprestou a boneca, mas porque ambas se

ajudam), baseando-se assim na compreensão mútua.

3.2 – Desenvolvimento moral

Existem dois enfoques teóricos citados por Coll, Palocios, Marchesi

(1995, p.173) aprofundados neste estudo que são as teorias da aprendizagem

social e as teorias cognitivo-evolutivas, as quais serão citadas neste trabalho.

As teorias cognitivo-evolutivas caracterizam o desenvolvimetno moral

através de estágios, que presupõem uma reorganização sequencial.

Relacionada a idade também pode-se citar outros aspectos bem significativos

de tais teorias:

• O desenvolvimento moral baseia-se no juízo moral, ou seja, está

baseado em características de aceitação, competência, amor próprio e

de realização pessoal.

• Considera-se universal culturalmente, pois em toda cultura existem

interações sociais, adoções de papéis e conflitos sociais, os quais

intervem na integração moral.

• A caracterização de cada estágio se estabelecerá nas experiências de

interação social, ou seja, no níve estrutural de raciocínio moral sugerido

na criança pela sua interação e não na interiorização de regras

impostas externamente.

• O desenvolvimento moral da crinça é estimulado cognitivamente e

socialmente, mais que por experiências específicas.

Visto estas características, passa-se para o estudo de como se

procura o desenvolvimento moral da criança e suas etapas de acordo com

Piaget (1932):

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“Toda moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade

deve ser procurada no respeito que o sugeito adquire por essas regras” (p.11).

Desta forma, o desenvolvimento moral das crianças está relacionado

com suas interpretações ou assimilações das regras existentes. A relação do

sujeito com as regras pode ser analisada em função de sua prática ou de sua

consciência sobre as mesmas.

Piaget (1932, p.23) aborda em relação à prática das regras quatro

estágios sucessivos nas crinças, são eles:

• 1º estágio: estabelecido como motor e individual, onde as crianças

criam apenas esquemas ritualizados, podendo assim falar apenas de

regras mootoras estabelecidas em função de seus desejos, o que não

os torna submissos a nada superior ao eu, e consequentemente a

nenhuma regra.

• 2º estágio: definido como egocêntrico pela imitação de exemplos

externos e a utilização desta individualmente. A criança acredita estar

compartilhando seus pensamentos pela presença de um interlocutor à

sua frente, mas permanece sozinha e isolada por estar fechada a

outros pontos de vista. Pode-se notar entre as conversas de crianças

desse estágio, um ‘monólogo coletivo’.

• 4º estágio: aos 11-12 anos surgirá a codificação de regras, ou seja, sua

interpretação. Cada minúcia será considerada importante a respeito

das regras.

Percebe-se agora uma progressão mais suave a respeito da

consciência de regras. A qual se apresenta sob forma de apenas três estágios:

• 1º estágio: diretamente relacionado ao 1º estágio da prática de regras,

ou seja, com aspectos puramente motores, mas sem implicaçõesde

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regra obrigatória. Os movimentos ritualizados são estabelecidos pela

criança para si própria através da repetição dos movimentos.

• 2º estágio: se inicia na fase egocêntrica até a cooperação nascente.

Nesse tópico percebe-se uma dificuladade por parte da criança para

diferenciar o que ela absorve do exterior e o que ela cria por ela

mesma, dando-a o sentimento de sempre ter conhecido algo que, na

verdade, acabou de aprender. Seu egocentrismo infantil a coloca em

posição de coação ( o qual implica respeito unilateralmente e de

autoridade) o que submete ao ‘abuso’ da situação do adulto (que lhe

impõe regras como ser superior e dono do saber) fazendo-a acreditar

na regra como sagrada e não passível de modificações, nem

transgressões.

• 3º estágio: a regra passa a ser considerada com criada pelo

consentimento mútuo, podendo assim ser modificada a autonomia

predominante sobre a heteronomia. A cooperação (respeito mútuo e

igualdade) se une a autonomia, formando uma realidade social,

racional e moralmente organizada.

Para um maior entendimento, estabelece-se uma relação entre a

prática das regras e a consciência das regras. Sendo assim Piaget (1932, p.25)

afirma:

“A regra coletiva é inicialmente algo exterior ao indivíduo

e, por consequência, sagrada. Depois, pouco a pouco vai-

se interiorizando e aparece, nessa mesma forma, como

livre resultado do consentimento mútuo e da consciência

autônoma”.

“Pode-se questionar como ocorre o aparecimento da

autonomia. Acontece pelo fato das crianças deixarem de

acreditar nos adultos ou se tornam autônomas e só então

deixam de acreditar nos adultos e nas regras que lhe são

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impostas? Foi constatado o fato de as crianças não

refletirem, quando lhe são impostas regras, sobre quem

as inventou, levando a concluir que pelo simples fato de

refletirem sobre o assunto é que as torna autônomas e

não pela descrença. Assim, as crianças, com base em

seus avanços cognitivos e em suas experiências de

interação social, vão adquirindo alguns princípios morais

próprios e uma maior compreensão das regras e valores

que regem, que vivem, possibilitando, com isso, uma

melhor convivência humana” (COLL, 1995, p.239).

Portanto, entende-se que não existem verdadeiramente, estágios

globais que definam a vida psicológica de um ser humano, como as crianças

não podem decifrar e compreeender todas as questões problemáticas em um

só momentoou uma só situação, vê-se que um indivíduo poderá estar numa

fase autônoma em relação à práticade determinadas regras e

simulateneamente, numa fase heterônoma em função da consciência destas.

Para que a autonomia se processe, deveríamos estimular a

cooperação e o respeito mútuo, libertando as crianças através de imposição de

opniões através de relações recíprocas ao invés de autoritárias. Por isso, serão

muito importantes dentro do meio social, as relações estabelecidas com os

adultos e com outras crianças, pois uma série de fatores em decorrência

destas relações poderá auxiliar e estimular o desenvolvimento moral e

autônomo das crianças, são elas:

• Estimulá-las a ‘se colocar no lugar dos outros’ para compreender seus

sentimentos, necessidades e perspectivas, percebendo assim, até

onde os seus atos podem influenciar eatingir outras pessoas.

• Expressar seus princípios morais para dar-les parâmetros quando

enfrentam situações problemáticas, e agir de acordo com seus

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princípios, enfatizando seu modo de pensar, o que será uma maior

influência para as crianças.

• Novamente, uma relação baseada na sua reciprocidade, onde não só

você, mas também as crianças sintam que podem expressar seus

sentimentos e emoções, e que estas são importantes para você.

• Demonstrar suas expectativas em relação às consultas morais das

crianças, as quais consequentemente serão efetivas em função disto.

• Dentro desta relação de respeito mútuo, deve-se mesmo assim,

estabelecer limites, para determinados comportamentos que possam

causar desconfortos e afetar pessoas.

Porém, deve-se ter muita cautela ao estabelecer estes limites, pois se

for observado um grupo de crianças com menos de 8 anos de idade, facilmente

se perceberá o resultado da coação do adulto, ou seja, cada gesto comandado

ou sugerido pelos mais velhos. Portanto, deve-se sempre enfatizar a

necessidade promordial das relações afetuosas e o respeito pelas suas idéias

e sentimentos, desenvolvendo assim individualidades autônomas.

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CONCLUSÃO

De acordo com todo o conteúdo abordado neste trabalho pode-se

concluir a imensa importância de um trabalho bem aplicado nas aulas de

natação com crianças na faixa etária de 6 meses a 3 anos. A psicomotricidade

aquática tem sua relevância no que diz respeito ao desenvolvimento da

autonomia dos movimentos básicos dessas crianças, ou seja, o

desenvolvimento da autonomia pode e deve ser desenvolvido com o trabalho

psicomotor no meio líquido.

Pode ser visto com a pesquisa feita que todos os autores que abordam

esse assunto tem o mesmo foco e a mesma preocupação em relação ao

desenvolvimento infantil. A criança deve ser estimulada a desenvolver a sua

autonomia com o auxílio de um mediador para que a mesma se torne

autônoma através de atividades lúdicas, prazeirozas e que priorizem a livre

expressão das mesmas, para que assim se tornem independentes em seus

movimentos e em suas atitudes perantes a desafios ou até mesmo em

ocasiões rotineiras.

Dessa forma o seu desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo será

desenvolvido, quando trabalhado com afeto, respeito e amor, respeitando

sempre os limites e a individualidade de cada criança.

Com isso, concluí-se então que é de extrema importância o

desenvolvimento de um trabalho psicomotor no meio líquido com crianças de 6

meses a 3 anos e que a qualidade desse trabalho, ou seja, a dedicação, o

amor, o afeto e a preocupação em dar sempre o melhor para aquele ser que se

mostra tão dependente de atenção, carinho e estímulos, auxília no bom

desenvolvimento da autonomia dessas crianças.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BOULCH, L. Educação Psicomotora. A Psicocinética na Idade Escolar. Porto

Alegre. Artmed editora, 1988

BUENO, M.J. Psicomotricidade. Teoria e Prática. Estimulação e Reeducação

Psicomotora em Atividades Aquáticas. São Paulo. Lorise, 1988.

COLL, C & PALACIOS, J & MARCHESI, A. Desenvolvimento Psicológico e

Educação. Psicologia Evolutiva. Porto Alegre. Artmed editora, 1995.

MEUR, A & STAES, L. Psicomotricidade. Educação e Reeducação. Manole,

1991.

OLIVEIRA, M.K. Vigotsky Aprendizado e Desenvolvimento um Processo Sócio-

Histórico. São Paulo. Scipione, 1993.

PIAGET, J. O Julgamento Moral na Criança. São Paulo. Sammus editora,

1932.

TOMAS, J & NELSON, J. Métodos de Pesquisa em Atividade Física. Porto

Alegre. Artmed editora, 2002.

VELASCO, G.C. Natação Segundo a Psicomotricidade. Rio de Janeiro. Sprint,

1997.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo. Martins Fontes, 1989.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 10

PSICOMOTRICIDADE 10

1.1 - A Psicomotricidade no meio Líquido 14

CAPÍTULO II 19

DESENVOLVIMENTO INFANTIL 19

2.1 – Desenvolvimento Infantil de 6 meses a 3 anos 19

2.2 – Mediação Simbólica 24

2.3 - Os sistemas Simbólicos e os Processos de Internalização 26

2.4 - Desenvolvimento e Aprendizado 27

2.5 - Zona de Desenvolvimento Proximal 29

2.6 - O brinquedo, a Imaginação e o Lúdico 31

CAPÍTULO III 36

A AUTONOMIA DOS MOVIMENTOS BÁSICOS 36

3.1 - Conhecimento Social 36

3.2 - Desenvolvimento Moral 38

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

ÍNDICE 45