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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ARTETERAPIA NO ESPAÇO ESCOLAR: O USO DA
MÚSICA COMO FONTE PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
POR: ACI LORENA DA SILVA
ORIENTADORA: GENI LIMA
RIO DE JANEIRO
2009
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A ARTETERAPIA NO ESPAÇO ESCOLAR: O USO DA
MÚSICA COMO FONTE PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Apresentação de monografia à
Universidade Candido Mendes como
condição prévia para a conclusão do
curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” do
curso de Arteterapia na Saúde e na
Educação.
Por: Aci Lorena da Silva.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e Jesus Cristo por terem
me ajudado a vencer infinitas barreiras que tolhiam a ânsia e a
vontade que eu tinha de saber mais. Agradeço também aos
professores do curso e a orientadora Geni Lima pela colaboração
e incentivo que ofereceram. Agradeço aos colegas pela
convivência feliz e pela amizade.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha filha e mestra Ana
Cláudia, incentivadora maior desta monografia. Dedico
também ao meu filho Jampércio Neto, pai das minhas
netinhas Lorena e Lívia que eu amo tanto.
5
RESUMO
Este trabalho ratifica a importância da utilização da Arteterapia/música
no espaço escolar. Como a Arteterapia é recente nesse universo, buscou-se
evidenciar as etapas do trabalho com a música no processo que extrapole o
universo da sensibilização. Através de aprofundamento bibliográfico e artigos
publicados percebe-se que a associação de análises das letras musicais e os
conteúdos presentes nas aulas de História melhoram muito a qualidade do
ensino. A sala de aula passa a ser um espaço tomado de emoções e
sensibilidades onde os alunos aprendem de uma forma criativa. Professores e
alunos ao final do processo demonstram elevada auto estima, que é necessário
para fortalecer o bom nível da educação.
6
METODOLOGIA
Como a utilização da Arteterapia no ambiente escolar é muito recente, a
metodologia adotada consiste em realizar um aprofundamento bibliográfico e
discussão de artigos que defendam, através da Arteterapia, o uso da música
como importante fonte para o ensino de História. Artigos publicados na internet
também serão adotados para ratificar a importância dessa técnica na melhoria
do ensino.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8.
CAPÍTULO I: Concepção de aprendizagem segundo Paulo Freire. 9.
1.1 Breve consideração sobre a escola. 9.
1.2 Paulo Freire uma possibilidade de mudança. 12.
CAPÍTULO II: A Arteterapia na escola. 15.
2.1 O ensino de História. 16.
2.2 Em busca da criatividade. 19.
CAPÍTULO III: Trabalhando com música nas aulas de História. 22.
3.1 O uso da música para além da sensibilização. 23.
3.2 Aula –Show. 24.
3.3 Considerações sobre a Aula-Show. 27.
CONSIDERAÇÕES FINAIS. 29.
BIBLIOGRAFIA. 30.
8
INTRODUÇÃO
A idéia de desenvolver um projeto relacionado na área de Arteterapia,
surgiu de minha experiência acumulada como docente em História, atuando no
ensino fundamental. Tornar as aulas de História mais emocionante e criativa foi
o que me instigou na realização desse trabalho.
A Arteterapia possui várias técnicas e esta pesquisa vai defender que se
utilize a vertente extremamente criativa de nossas letras e músicas e interpretá-
las, associando aos conteúdos desenvolvidos nas aulas de História. Assim,
resgatam-se no âmbito escolar com essa construção coletiva, momentos de
prazer, emoção, criatividade e aprendizagem. Proporciona ao educando
enxergar a escola com novos olhares, sair do lugar comum dominado pela
visão fragmentária e cartesiana.
A escola é o espaço ideal para proporcionar aos alunos um
conhecimento menos restrito de nossa música e sua relação com o contexto
histórico da época. Sendo assim, defende-se a necessidade das aulas de
História incorporar essa metodologia. O que normalmente era concebido como
um complemento nas atividades presentes em alguns livros didáticos, dentro
desta perspectiva passa ser essencial. Compreender a letra de uma música
relacionando-a com suas condições de produção para poder melhor interpretá-
la ao cantar, acaba fazendo do processo aprendizagem algo prazeroso. A
viagem cultural através da “Aula-show” resgata e amplia a visão de mundo do
aluno.
O uso da música além de contribuir para estimular a aquisição do
conhecimento através do prazer, é concebido nesta proposta como um material
rico e criativo, presentes no conteúdo das canções brasileiras. Valoriza a auto
estima do aluno, na medida em que se sente motivado a cantar ou tocar um
instrumento. Permite a troca de informações, contribuindo para uma melhor
socialização entre aluno-aluno e aluno-professor.
9
CAPÍTULO I
Concepção de aprendizagem segundo Paulo Freire.
“Este é um pensar que percebe a realidade como
processo, que capta em constante devenir e não
como algo está,tico. Não se dicotomiza a si mesmo
na ação. Banha-se permanentemente de
temporalidade cujos riscos não teme”.
FREIRE (1987,p.47).
Num contexto de massificação, de exclusão, de desarticulação da escola
com a sociedade, Freire dá sua contribuição para a formação de uma
sociedade democrática ao construir um projeto educacional libertador. O que
existe de mais atual e inovador no Método Paulo Freire é a indissociação da
construção dos processos de aprendizagem da leitura e da escrita do processo
de politização.
Um dos axiomas do Método em questão é que não existe educação
neutra. A educação é uma construção e reconstrução contínua de significados
de uma dada realidade. Ela prevê a ação do homem sobre essa realidade.
Essa ação pode ser determinada pela crença fatalista da causalidade, ou pode
ser movida pela crença de que a causalidade está submetida a sua análise,
portanto sua ação e reflexão podem alterá-la, relativizá-la, transformá-la.
1.1 Breve consideração sobre a escola.
O mundo globalizado dominado pelo aumento e velocidade de
informações, também revela uma faceta marcada pela utilização de
“novidades” por algumas pessoas sem um devido preparo prévio. O que se
observa normalmente no âmbito escolar, é o domínio de atividades
pedagógicas que tentaram enquadrar algumas atividades relacionadas com a
10
Arteterapia/música apenas por ser algo que está atualmente em maior
evidência por parte de outros setores da sociedade.
Normalmente dominam atividades pontuais ligadas a datas e eventos,
desconectados da realidade do aluno e principalmente evidenciando uma
ausência de suporte técnico/metodológico para inserir essa temática de forma
apropriada. Nesse sentido, optou-se evidenciar nesse trabalho, alguns fatores
da concepção de aprendizagem desenvolvida por Paulo Freire que facilitam a
inserção da Arteterapia no ambiente escolar.
Segundo FREIRE (1996,p.21), “Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”
O domínio de uma escola burocrática, enfatizando apenas a transmissão de
conteúdo por parte do educador, tem gerado alunos receptores de informações
desconectadas e fragmentadas. Esse fato torna-se mais agravante quando se
trata de desenvolver conteúdos relacionados com a História. Normalmente as
aulas de História são descritivas e cansativas, onde o aluno não se sente
participante do processo de construção espacial e muito menos um ser político.
Geralmente os alunos se desinteressam, ficam desestimulados com o ensino.
Nesse sentido, a Arteterapia pode contribuir muito para enfraquecer no
ambiente escolar a forte herança cartesiana que reforça a dicotomia entre
razão e emoção.
Os pressupostos da ciência moderna contribuíram para mudar a
concepção de mundo, onde uma das mudanças é a forte crença na razão
científica. Aos poucos, vai aumentando a aceitação das pessoas por
explicações dos fatos que permitissem uma compreensão e demonstração pela
razão. O que se critica nesse momento, é que o extremo desse racionalismo
tem levado a uma forte ausência da emoção nas salas de aula.
A escola fica caracterizada por manter-se repetitiva, mecânica, sem
emoção e principalmente sem criatividade. Concorda-se com a descrição
11
realizada por DUARTE JÚNIOR (1994,p.34) sobre a concepção dominante na
escola, onde
(...) em nosso ambiente escolar, essa separação
razão- emoção é não só mantida como estimulada.
Dentro de seus muros o aluno deve penetrar
despindo-se de toda e qualquer emotividade (...) os
indivíduos devem produzir, num esquema
racionalista, sem deixar as emoções e valores
pessoais interferirem no processo.
Para Paulo Freire todo esse processo se caracteriza pelo domínio de
uma concepção bancária de educação. Educar passa a ser concebido como
um ato de depositar (como nos bancos), todo um “saber para o aluno”.
“ Falar da realidade como algo parado, estático,
compartimentado e bem comportado, quando não
falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à
experiência existencial dos educandos vem sendo, a
suprema inquietação desta educação. A sua
irrefreada ânsia. Nela o educador aparece como seu
indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja
tarefa inclinável é “encher” os educandos dos
conteúdos de sua narração. Conteúdos que são
retalhos da realidade desconectados da totalidade
em que se engendram e em cuja visão ganhariam
significação”. FREIRE (1987,p.33 ).
Sendo assim, é necessário defender que o espaço de sala de aula
precisa ser democrático, dialógico para poder fluir a criatividade; para tornar
uma escola viva. Afinal não é possível aprender a ser democrata com métodos
que reproduzam o autoritarismo. A educação precisa ser compreendida ao
12
mesmo tempo “como um ato político, como um ato de conhecimento e como
um ato criador” GADOTTI (1996,p.80). Este trabalho busca reforçar a idéia dos
que acreditam que o espaço escolar pode e deve utilizar-se da criatividade e
emoção. Além de se almejar um conhecimento democrático, é necessário
também que este seja mais eficaz.
1.2 Paulo Freire uma possibilidade de mudança.
Existem diversos e conhecidos trabalhos sobre o autor. Busca-se nesse
momento evidenciar somente alguns fatores desta teoria/prática que
possibilitam relaciona-los com a introdução da utilização da Arteterapia/ música
nas aulas de História.
Seu projeto educacional sempre contemplou a superação das
desigualdades sociais para desenvolver uma consciência crítica. A sua teoria
do conhecimento deve ser compreendida no contexto em que surgiu- o
Nordeste brasileiro- onde no início da década de 1960, metade de seus
habitantes vivia na “cultura do silêncio”; ou seja, eram analfabetos. Era preciso
“dar-lhes a palavra” para que pudessem superar essa situação.
A universalidade da obra de Freire decorre dessa aliança teoria –
prática. Daí ser um pensamento consistente, pois pensa a realidade e a ação
sobre ela. Trabalha teoricamente a partir dela. Metodologicamente é um
pensamento sempre atual. Por isso elegeu-se nesse trabalho, a proposta de
Freire como sendo a ideal para trabalhar temas históricos.
Sendo assim, cabe destacar a seguir quais os principais aspectos da
teoria de Freire que facilitam a introdução da Arteterapia na escola.
a- Mudança na relação professor aluno. O relacionamento professor-
aluno nessa proposta se estabelece na horizontalidade onde juntos se
posicionam. Sem essa mudança no perfil do professor o sucesso de todo um
13
trabalho pode ficar comprometido. O professor também tem que estar
preparado para aprender com os trabalhos desenvolvidos. A aprendizagem é
um processo contínuo.
b- Diálogo. Ênfase no diálogo entre educador e educando, para
capacitar o aluno a organizar sua própria aprendizagem. Elimina-se portanto
toda relação de autoridade uma vez que essa prática inviabiliza o trabalho de
criticidade e conscientização.
”O diálogo, como encontro dos homens para a tarefa
comum de saber agir, se rompe, se seus pólos (ou
um deles) perdem a humildade. Como posso
dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo
sempre no outro, nunca em mim?” FREIRE
(1987,p.46).
O diálogo não é espontaneismo, o educador não é uma sombra de
presença dos educandos, não se trata de negar a autoridade que o educador
tem e representa; é transformar a concepção bancária de educação em
problematizadora para poder fluir a dialogicidade.
c- Concepção problematizadora. A problematização busca a superação
da primeira visão ingênua por uma visão crítica, capaz de transformar o
contexto vivido. Ela surge da consciência que os homens adquirem de si
mesmos que sabem pouco a seu respeito. Esse pouco saber faz com que os
homens se transformem e se ponham a si mesmos como problemas.
d- O respeito ao aluno. É necessário para que este possa conquistar
sua autonomia. O importante não é transmitir conteúdos específicos, mas
despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida. Nesta
perspectiva o aluno é visto como um ser pensante onde a transmissão de
conteúdos estruturados fora de seu contexto social é considerada "invasão
14
cultural" ou "depósito de informações”. Antes de qualquer coisa, é preciso
conhecer a bagagem cultural do aluno, partir da realidade que o aluno
conhece.
Cabe lembrar que partir da realidade, não significa ficar apenas nessa
realidade. O objetivo é partir de uma visão local para uma global. É nesse
contexto social que deverá sair o "conteúdo" a ser trabalhado; os Temas
Geradores.
e- Interdisciplinaridade. A expressão tema gerador está ligada à idéia de
Interdisciplinaridade e está presente na metodologia concebida por Freire, pois
tem como princípio metodológico a promoção de uma aprendizagem global,
não fragmentada. Do tema gerador geral sairá o recorte para cada uma das
áreas do conhecimento ou, para as palavras geradoras. Portanto, um mesmo
tema gerador geral poderá dar origem à várias palavras geradoras que deverão
estar ligadas a ele em função da relação social e que os sustenta. Nesse
contexto, está subjacente a noção holística, de promover a integração do
conhecimento e a transformação social.
A interdisciplinaridade visa experimentar a vivência de uma realidade
global que se inscreve nas experiências diárias do aluno e do professor. Por
isso a prática coletiva e solidária se faz necessária nesse ambiente. Segundo
GADOTTI (1996,p.102), “Não há interdisciplinaridade sem descentralização do
poder, portanto, sem uma efetiva autonomia da escola.”
Esses pressupostos são o inicio de um processo que busca romper com
a herança cartesiana na escola. Assim, o uso da música como parte de uma
técnica da Arteterapia, pode ser inserida na escola de forma prazerosa e
harmoniosa.
15
CAPÍTULO II
Arteterapia no Universo escolar.
O termo Arteterapia teve origem no ano de 1940 na Inglaterra. Após a 2ª
Guerra Mundial alguns profissionais relacionados a área de saúde passaram a
utilizar recursos como desenho, música, pintura e dramatizações para tratar
de enfermos com traumas emocionais. Os ótimos resultados desse tipo de
tratamento repercutiu de forma muito positiva e contribuiu para solidificar as
bases da Arteterapia.
No Brasil, em meados da década de 1980, surge a Arteterapia com a
abertura do primeiro curso de extensão na PUC-RJ. Existem várias definições
de Arteterapia. O termo em si designa, de uma forma ampla, a utilização de
recursos artísticos com contextos terapêuticos. Concorda-se com PHILIPPINI
(1998), onde a Arteterapia é um processo terapêutico decorrente da utilização
de modalidades expressivas diversas que servem à materialização de
símbolos.
São muitos e variados os materiais e técnicas que podem ser utilizados
pela Arteterapia: Os primários que são a água, argila, areia, o corpo; e os
demais como desenho, pintura, colagem, sucata, escultura, teatro, dança,
música, enfim todas as formas de arte.
A Arteterapia resgata o potencial criativo do homem, buscando o psique
saudável e estimulando a autonomia e transformação interna para
reestruturação do ser. Resgata o simbólico, com as imagens que ordenam e
dão significado as nossas vidas. Pode ser trabalhada em grupo ou individual.
Criar abrange a habilidade em usar o cérebro para renovar, modificar,
reestruturar os aspectos da vida. Expressar nossas vivências e descobrir
outros sentidos na qual uma sociedade pode ser construída.
16
Ao despertar no ser humano suas potencialidades, a Arteterapia
proporciona um desenvolvimento holístico do ser. Nesse sentido, este trabalho
reforça a necessidade de seu uso no universo escolar. Concorda-se com
URRUTIGARAY (2004,p.38).
“A área educacional é um grande campo para a
aplicação da artetrapia, pois se a arte possibilita o
desabrochar do imaginário, a partir da idéia, cabe ao
sistema educativo expandir o desenvolvimento
deste sistema simbólico, através das práticas
expressivas que possibilitem a integração do
aprendizado emocional ao aprendizado de
conhecimentos e informações adquiridas da cultura
humana”
Dessa forma, a Arteterapia contribui muito no resgate de uma escola
criativa, capaz de valorizar as emoções dos indivíduos, melhorando a auto
estima dos alunos. As aulas incorporaram ao mesmo tempo o saber com o
prazer.
A Arteterapia também serve como importante elo de integração entre
vários campos do conhecimento, facilitando e dando suporte para a
comunicação entre ciências, agindo no sentido de facilitar a
interdisciplinaridade.
2.1 O ensino de História
O ensino, principalmente nas redes de escolas públicas tem sido
pautado na maioria das vezes em uma forma tradicional e conservadora. O
ensino de História não está fora dessa triste realidade. A herança cartesiana
tem ratificado uma História fragmentada, factual, “conteudista” e não sendo
capaz de formar alunos críticos e cidadãos. Os alunos não associam os
17
conhecimentos presentes nos livros didáticos ao seu cotidiano, absorvem o
mínimo do conteúdo trabalhado; desinteressando-se por esse tipo de aula.
Cabe lembrar que na escola pública brasileira existe um enorme grupo
de alunos com várias formas de carência... além de não gozarem de direitos
básicos que lhes permitem exercerem a plena cidadania; eles também
carecem de afeto. Nesse sentido, pode-se afirmar que a escola evidencia uma
realidade “doentia”, cujos sintomas são aflorados em alunos apáticos ou
extremamente revoltados/agressivos. Claro que essa questão não está restrita
as aulas de História; mas o fato, é que essa ciência não consegue articular a
questão teórica com o que é vivenciado por grande parte desses alunos.
Uma das preocupações atuais desenvolvidas com o ensino de História é
a formação de alunos capazes de compreender a sociedade a qual está
inserido, identificando seus elementos e as interações entre eles. A prática
docente deve sempre buscar o desenvolvimento do ser de uma forma integral,
trabalhando no sentido da transformação da consciência interior.
Professores com pouco tempo para refletir sobre sua própria prática,
encontram dificuldades para concretizar as renovações pedagógicas com os
interesses dos alunos. As aulas de História enfrentam exigências novas que
decorrem da necessidade de utilizar uma aprendizagem que envolva não só o
saber Histórico, mas capacitar os alunos à situações sociais concretas, que
tenham significado para a vida cotidiana.
A Arteterapia articulada com a História contribui muito para a melhora da
educação no espaço escolar. A prática terapêutica melhora o equilíbrio
emocional e afetivo do aluno. As aulas de História nessa perspectiva passam a
engendrar a relação sensível, estética e significativa que todo o aluno possui.
18
A Arteterapia estimula a desinibição, o auto conhecimento, a
criatividade, levando o aluno a sensação de estar integrado ao mundo
instigando-o à resolução de conflitos sociais e pessoais.
O uso da Arteterapia ao buscar as potencialidades e criatividade,
contribui para o desenvolvimento de um ensino que permite a troca de
relações democráticas, fluindo assim o diálogo. Relações de responsabilidade
e respeito vão acontecer na medida em que os trabalhos vão surgindo. Nesse
sentido,
“o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e
imaginação, tanto ao realizar formas artísticas
quanto na ação de apreciar e conhecer as formas
produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e
nas diferentes culturas”. BRASIL (1997,p.19).
A utilização de recursos didáticos artísticos para ajudar no
desenvolvimento de conteúdos escolares específicos vem gradativamente
aumentando. Os cursos de formação de professores procuram enfatizar
atividades didáticas que valorizem o aluno. O foco do trabalho pedagógico está
centrado atualmente no aluno. Nesse sentido é significativa a contribuição do
artigo da psicopedagoga JOANA SANTO (2009) onde ela afirma que
“...a arte é um elemento muito importante na vida
de cada pessoa e que o educador, de modo,
especial, pode munir-se, através da arte de uma
riqueza inestimável de recursos que auxiliem sua
tarefa educativa. (...) Assim, com lucidez,
compromisso e responsabilidade, práticas e
vivências são utilizadas para trabalhar os bloqueios
de aprendizagem e a construção dos conceitos.
19
Dessa forma, o docente não vai negar a inteligência
do outro, mas dispor-se a percebê-la, a identificar
qual canal prioritário é utilizado paras conhecer o
mundo, analisá-lo, aprender.”
Dentre as várias possibilidades de se trabalhar com arteterapia no
ambiente escolar, esse trabalho vai defender a utilização da música nas aulas
de História, associando as letras com o conteúdo programático. Concorda-se
com WISNIK (1989,p.12), a música “(...) ensaia e antecipa aquelas
transformações que estão se dando, que vão se dar, ou que deveriam se dar
na sociedade.” Segundo WECHLER (2002), o poder da analogia para a
criatividade é muito importante, devendo ser mais desenvolvida pelo professor
nas salas de aula.
2.2 Em busca da criatividade...
Segundo OSTROWER (2001) a natureza criativa do homem se elabora
no contexto cultural. Com isso associar Arteterapia ao ensino de história se faz
necessário para auxiliar o educador a construir com seus alunos um processo
de aprendizagem criativo, sensível e capaz de compreender a espacialidade e
organização da sociedade em que estamos inseridos.
O ato de criar é próprio do ser humano. Ele propicia ao indivíduo
agenciar sua própria existência, sua história que sempre está em
transformação. Sendo assim, cabe reforçar que a criatividade não é um dom
restrito aos artistas, pois o conceito não se detem a arte. O ato de criar está
relacionado à liberdade na medida em que o indivíduo possui uma abertura e
flexibilidade com relação aos seus próprios sentimentos e emoções.
Criatividade é um modo de viver, de ser, de pensar e agir. É olhar uma
coisa e ver diferente do que todos vêem, é o ato de criar algo novo ou de
transformar algo que existe em outra coisa. É o “coisionismo” aplicado de
20
modo intenso, ou seja; uma coisa é uma coisa podendo se transformar em
outra coisa dependendo de quem olha. Concorda-se com WECHLER (2002) o
processo criativo pode também ser descrito como uma nova construção de
associações, que atendem a requerimentos específicos, procurando
semelhanças em coisas que nunca foram percebidas como tal, é fazer
conexões.
Criar é a capacidade que os humanos têm de se adaptar a rotinas ou
situações extremamente diversas sem perder o auto controle. É a melhor
ferramenta para alcançar novas soluções. A pessoa criativa é inconformada e
resiste às pressões da sociedade para poder pensar e se comportar de uma
determinada maneira para realizar novas descobertas. Assim, se pretendemos
mudar o perfil da atual escola, devemos desenvolver muitas atividades que
estimulem a criatividade.
Concorda-se com URRUTIGARAY,
“Vincular o homem com seu meio traz a
possibilidade de poder entender, elucidar e
compreender os padrões de significação que
estariam ocultos no seu comportamento”.
(2004,p.16)
Como toda proposta que se pretende inovar, sabemos que não existe
receita; temos que ter a certeza que trabalhar buscando desenvolver a
criatividade é errar de vez em quando, afinal o que é o erro senão a tentativa
de um acerto.
As aulas engendradas de criatividade permitem desenvolver a
capacidade de criar algo novo a ser acrescentado em conhecimentos
“preexistentes”. Enfim, é a capacidade de pensar diferente, e realizar uma
ação a partir desse pensamento. É de fato produzir conhecimento; aprender.
21
Segundo OSTROWER (2001) a criatividade é um potencial inerente ao
homem, e a realização desse potencial uma de suas potencialidades. Assim, o
criar só pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver
humano. É urgente tentar buscar a mudança da escola atual, para que esta
possa desenvolver o imaginário possibilitando o aprendizado emocional, tão
ausente nesse universo.
22
CAPÍTULO III
Trabalhando com música nas aulas de História.
“Cantar é mover o dom do fundo de uma paixão
as pedras, catedrais, coração..” Seduzir/ DJAVAN.
Dentre as várias possibilidades de se trabalhar com Arteterapia, este
estudo priorizou a música porque é uma das formas mais fáceis de
comunicação. Ao estimular a sensibilidade e criatividade, esse tipo de trabalho
critica a idéia de que a educação caracteriza-se por uma série de coisas
relacionada apenas a objetividade.
A base didática para construção do conhecimento nas aulas de história
tem sido os livros didáticos, eles são escolhidos para facilitar as trocas
professor–aluno. Ao fazer uso da música na sala de aula, não se defende a
exclusão dos livros didáticos. Este trabalho defende o uso da música como
mais um recurso, que concomitante com os livros contribui para a melhoria do
ensino.
Um aspecto fundamental na relação entre História, música e o processo
de aprendizagem é a articulação entre texto e contexto para que a análise
histórica não seja reduzida e limitando assim a própria importância do objeto
analisado. O grande desafio do pesquisador é mapear os sentidos embutidos
numa obra musical,
A música com maior ou menor intensidade está na vida do ser humano,
ela desperta emoções e sentimentos de acordo com a capacidade de
percepção que ele possui para assimilar a mesma. Evidenciar que a música
não é somente uma associação de sons e palavras, mas sim, um rico
instrumento que pode fazer a diferença nas instituições de ensino, é
fundamental. A música desperta o aluno para um mundo prazeroso, o que
facilita a socialização do mesmo melhorando também a aprendizagem.
23
3.1 O uso da música para além da sensibilização.
A música é uma aliada para a educação porque faz a mediação para a
leitura, contribui para a absorção do conteúdo, fortalece a auto estima e
estimula a criatividade. Cabe lembrar que desde cedo a criança escuta
“cantiga de ninar”. A criança precisa ser sensibilizada para o mundo dos sons,
pois, é pelo órgão da audição que ela possui o contato com os fenômenos
sonoros e com o som. Quanto maior for a sensibilidade da criança para o som,
mais ela descobrirá as suas qualidades. Portanto é muito importante exercitá-
la desde muito pequena, pois esse treino irá desenvolver sua memória e
atenção.
A idéia não é inovadora. Desde a década de 1980, quando ocorreram
transformações importantes nas práticas e nos instrumentos pedagógicos o
uso de fontes diferenciadas, entre elas a música, tornou-se uma tendência
para assuntos ligados à história brasileira.
Na escola o uso da música tem geralmente sido restrito. Ela é utilizada
apenas na esfera da sensibilização. Além de servir para sensibilizar o aluno, é
preciso incorporar a análise das letras das canções como material didático. O
que normalmente era concebido como um complemento nas atividades
presentes em alguns livros didáticos, dentro desta perspectiva passa ser
essencial. Assim, no que tange a utilização da música como recurso didático,
concorda-se com VASCONCELOS e FREITAS (2002,p.16)
(...) entende-se que a música pode ser considerada
um excelente recurso didático- metodológico para
se trabalhar e desenvolver conteúdos urbanos. Uma
gama muito grande de músicas, particularmente no
Brasil contemporâneo, buscam apreender fatos e
situações do cotidiano urbano nos seus vários
momentos históricos.
24
Esse recurso didático pode ser trabalhado em diferentes conteúdos, e a
História deve utilizá-lo com mais freqüência. Concorda-se com GAINZA (1988),
a música é um elemento de fundamental importância, pois movimenta,
mobiliza e por isso contribui para a transformação e o desenvolvimento do
aluno.
O uso da música além de contribuir para estimular a aquisição do
conhecimento através do prazer, é concebido nesta proposta como um
material rico e criativo, presentes no conteúdo das canções brasileiras.
O Brasil sempre contou em sua música popular com verdadeiros
cronistas da sociedade. Esta tradição é uma rica fonte para as pesquisas e
estudos históricos. Esse fato deve ser mais explorado nas aulas de História.
Nos trabalhos desenvolvidos por DUARTE JÚNIOR (1994), VASCONCELOS
(2002) e SILVA (2005) todos reforçam a urgência de se trabalhar com música
na escola, mas que se extrapole a esfera da sensibilização.
A independência deve ser orientada e é nessa orientação que as
propostas para a realização de uma atividade envolvendo música podem ser
bastante convenientes para oferecer a chance ao aluno de organização e criar
sua obra, propagá-la junto aos colegas e reconhecer-se independente.
3.2 Aula-Show.
Concorda-se com HERMETO e LIMA (2008), a música é som e arte: ela
precisa ser ouvida e usufruída com deleite.
Sendo assim, para articular essas duas dimensões, a melhor forma é a
concretização da Aula-Show. Ela é explicativa e prazerosa, onde o ensino de
um tema se mistura com o recorte apresentado através da veia artística. Essa
aula é feita como um show, composta de canções relacionadas a algum tema
histórico.
25
Não se pretende com isso desenvolver uma espécie de “manual”, para
se trabalhar com música nas aulas, mas o que se defende é que uma
proposta nova deve ser implantada com a presença de uma elaboração lógica
e seqüencial do processo.
WECHLER (2002), reforça a necessidade do planejamento para que se
possa encaminhar com sucesso essa atividade. Para que se evite usar “a
música pela música”, sem extrair mais do processo. Sendo assim, serão
destacadas a seguir as etapas para associação do uso da música com
conteúdos de História.
a- Delimitar o problema histórico a ser desenvolvido.
O professor deve adotar a alma de artista, procurando deixar fluir o lado
lúdico da atividade. Sob a orientação do professor o aluno deve pesquisar o
tema em questão e apresentar o resultado final para a turma. É importante
reparar que os alunos ao apresentarem essa atividade tornam-se “professores
e artistas ao mesmo tempo.” O professor deve estimular os alunos a não só
explorarem as pesquisas nos livros como revistas, jornais e internet.
b- Utilizar uma música de fácil reconhecimento do aluno.
A música ao ser ouvida faz com que as pessoas sintam algo diferente,
se ela proporciona sentimentos, pode-se dizer que tais sentimentos de alegria,
melancolia, violência, sensualidade, calma e assim por diante, são
experiências da vida que constituem um fator importantíssimo na formação do
caráter do indivíduo.
Criar situações nas quais os alunos possam estar em relação com um
número variado de produções musicais, mas neste momento inicial, é
prudente associar o conteúdo trabalhado com músicas que o grupo conheça.
Segundo SILVA (2005,p.71)
26
“ A possibilidade de fácil reconhecimento da música
pelos alunos foi o critério utilizado para iniciar esse
tipo de trabalho. Após escutar e cantar a música,
foram desenvolvidas noções fundamentais para o
entendimento das características do lugar,
destacando sobretudo o trabalho com as categorias
espaço e tempo. “
c- Pesquisa apurada de repertório.
É importante conhecer o momento histórico de criação das músicas,
situando no tempo e no espaço, “afinal o tempo não para” cantava Cazuza!
Nesse momento o professor deve preocupar-se em trazer situações onde as
músicas sejam de realidades diferentes. Ampliar o repertório musical do aluno,
inserindo músicas que eles possivelmente não conheçam. Trabalhar as
diferentes culturas presentes nos diversos estilos musicais.
Conversar sobre a vida e obra dos compositores é fundamental.
Normalmente os alunos desconhecem a história da música e dos compositores
brasileiros. A música como qualquer outra arte acompanha historicamente o
desenvolvimento da humanidade e pode se observar ao analisar as épocas da
história, pois em cada uma, ela está sempre presente.
As interpretações das letras de várias músicas brasileiras em sala de
aula ganha grande contribuição do aluno a medida que ele possui uma
independência orientada para pesquisar, analisar e comparar os conteúdos
propostos na sua série. O entrosamento das letras de músicas pesquisadas
com alguns conteúdos históricos esclarece dúvidas que são ou foram
incógnitas hoje ou no passado.
d- Elaboração de um roteiro.
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Uma vez delimitado o problema e selecionado as canções que farão
parte do roteiro do show, seleciona-se textos pequenos que irão nortear a aula
deve-se explicar os sentidos sociais de cada música e sua inserção na
atividade proposta.
É preciso que os professores se reconheçam como sujeitos mediadores
de cultura dentro do processo e que levem em conta a importância dessa
atividade no desenvolvimento e formação de alunos como produtores e
multiplicadores de cultura.
A mediação acontece na medida em que a música vem recheada de
signos e símbolos que permitem diferentes leituras. O professor desenvolve
de forma paralela a aquisição do conteúdo programático que se pretende a
partir das canções trabalhadas.
O projeto da Aula- Show, segundo HERMETO e LIMA (2008), tem um
produto final estabelecido; meio aula, meio show com o objetivo de
compreender o tema. Muitos alunos se sentem empolgados com a aula e
criam paródias versificando músicas existentes ou criando letras e músicas
próprias como relatou SILVA (2005) em seu trabalho.
Alunos criando, tocando e cantando músicas aprendem o conteúdo
histórico. As aulas ficam dinâmicas, porque os alunos participam e se sentem
envolvidos. Concorda-se com SNYDERS (1997) onde a escola pode ensinar
as alegrias da música.
3.3 Considerações sobre a Aula-Show.
A Aula-show não objetiva formar artistas. Nem todos precisam ser
iniciados em música. Caso nenhum aluno da turma toque nenhum instrumento
pode utilizar o C.D. Mesmo aqueles que não participam diretamente “cantando
ou tocando”, existe muito trabalho a ser feito tais como; pesquisa, elaboração
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do roteiro, montagem de cenário e figurinos. Todos os alunos são envolvidos
nessa atividade.
HERMETO e LIMA (2008) ratificam que a Aula-Show ensina tanto a
quem produz quanto a quem assiste, contribuindo de forma eficaz para uma
maior reflexão sobre os sentidos do passado e mostrando seu caráter
dinâmico.
O aluno pode ser sentir encorajado para além de interpretar as letras
conhecidas, construir outras que se encaixe na problemática percebida no
momento. Eles se sentem participantes e mobilizados. Assim, a forma pela
qual a Arteterapia/ música foi inserida nas aulas de História proporcionou não
só o resgate de aulas mais criativas, mas também a aquisição do saber de
forma mais alegre e emotiva.
Esta técnica deu suporte para desenvolver uma ação diferente das
aulas embasadas apenas no livro didático. Assim buscou-se envolver o aluno
em situações concretas, a fim de que seja capaz de observar e experimentar
outros olhares. Sair do lugar comum para lançar, de um outro ponto de vista,
um novo olhar sobre o que vemos cotidianamente compreendendo a
sociedade como algo em constante construção, que resulta basicamente das
ações humanas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal desse trabalho de pesquisa era o de melhorar a
qualidade das aulas de História. Romper com a visão fragmentada e descritiva
dominante na escola.
O trabalho comprovou a hipótese levantada onde a inserção da
Arteterapia/música nas aulas de História melhora a qualidade do ensino. A
proposta da Aula-Show adotada por alguns autores, é nesse trabalho ratificada
como fator essencial para viabilizar aulas mais criativas, dinâmicas e
prazerosas. Evidenciou-se a necessidade de não inserir apenas a música para
sensibilizar o aluno, mas sim a necessidade de incorporar a análise de suas
letras como um importante material didático.
A prática metodológica da Aula-Show proporciona que os alunos
aprendam cantando. Ela desenvolve a relação sensível, criativa e estética que
todo aluno tem, melhorando assim sua auto estima. Essa prática coletiva
caminha no sentido da interdisciplinaridade e de uma autonomia da escola.
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