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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A DESCONCENTRAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO MEDIANTE A CRIAÇÃO DOS NÚCLEOS REGIONAIS <> <> <> Por: Jorge Ricardo de Souza Baptista <> <><> Orientador Prof. Marcelo Saldanha Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A DESCONCENTRAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DO PODER

JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO MEDIANTE A

CRIAÇÃO DOS NÚCLEOS REGIONAIS

<>

<>

<>

Por: Jorge Ricardo de Souza Baptista

<>

<><>

Orientador

Prof. Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

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A DESCONCENTRAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DO PODER

JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO MEDIANTE A

CRIAÇÃO DOS NÚCLEOS REGIONAIS

<>

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<>

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em.Gestão

Pública.

Por: . Jorge Ricardo de Souza Baptista

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela força que me tem dado

para seguir na vida com dignidade; Ao

corpo docente do Instituto A Vez do

Mestre.pelo valor agregado a minha

vida profissional com os ensinamentos

adquiridos ao longo do curso; Aos

amigos Maria Aparecida e César

Teixeira pela vasta cooperação na

execução do trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico à memória do meu pai, que

através dos exemplos de simplicidade e

retidão de princípios, preparou-me para a

vida, minha mãe, minha companheira e

meu filho a quem obstei do

compartilhamento de muitas convivências

familiares

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RESUMO

O presente trabalho tem como finalidade, ressaltar a importância da

mudança na gestão do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro através

da implementação da técnica de desconcentração administrativa mediante a

criação de Núcleos Regionais.

Inicialmente, disserta-se sobre a Administração Pública no Direito

Brasileiro, retratando sua estrutura e sua evolução ao longo do tempo, sendo,

após, conceituados os institutos da descentralização e desconcentração

administrativa, ressaltando-se as funções típicas e atípicas daquele Poder.

Por derradeiro, conclui-se que com o novo modelo de gestão

implementado com a criação dos Núcleos Regionais proporcionou grandes

benefícios ao Judiciário fluminense, bem com aos seus usuários de modo que

os serviços passaram a ser prestados de forma mais célere e eficiente.

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a realização do trabalho foram basicamente

por meio de levantamento bibliográfico. Para tanto foram usados recursos

como leitura de livros e artigos, sites da internet, entre outros.

Por ser um tema que inicialmente exigiu uma base jurídica, foram

consultados com mais intensidade a Constituição da República Federativa do

Brasil e site do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. cederam o

material ou que foram o objeto de observação e estudo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - A Administração Pública no Direito Brasileiro

1.1 – A Estrutura Administrativa 9 1.2 A Evolução do Estado Moderno 10 1.3 Os Princípios Norteadores da Administração Pública..............................14 CAPÍTULO II - A descentralização e a Desconcentração Administrativa 2.1- Aspectos Gerais 18 2.2- Conceitos 20 2.3- Tipos 24 2.4- A Hierarquia 27 CAPÍTULO III – O Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

3.1- Da Função Típica 33 3.2- Da Função Atípica 33 3.3- Da Estrutura Organizacional 34 CAPÍTULO IV – A Desconcentração Administrativa do Poder Judiciário do

Estado do Rio de Janeiro

4.1- A criação dos Núcleos Regionais 36 4.2- A Estrutura e as Atribuições dos Núcleos Regionais 37 4.3- As Vantagens da desconcentração administrativa com a criação dos Núcleos Regionais. 38 CONCLUSÃO

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REFERÊNCIAS 42

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INTRODUÇÃO

O objetivo precípuo desta monografia é apresentar o novo modelo de

gestão que é a desconcentração na administração do Poder Judiciário do

Estado do Rio de Janeiro com a criação dos Núcleos Regionais, como forma

de organização de suas unidades organizacionais.

A ocupação deste trabalho também consiste em demonstrar que a

implementação da desconcentração administrativa com criação dos Núcleos

Regionais, buscou-se um descongestionamento das atribuições que

competiam ao ente central, permitindo dessa forma , uma execução mais

adequada e raciona.

O interesse pela pesquisa se deu em razão de se tratar de assunto

ainda pouco explorado, e diante da relevância funcional, onde se destaca a

motivação do Judiciário fluminense para adoção de um novo modelo de

gestão, trazendo à tona a necessidade de adaptação da administração

organizacional à modernidade dos tempos.

Com este trabalho monográfico pretende-se demonstrar a real

finalidade e aplicação desse modelo, bem como, os efetivos benefícios

oriundos de tal mudança.

Através da desconcentração administrativa, o Judiciário Fluminense,

notadamente, com a criação dos Núcleos Regionais, encontra-se mais próximo

dos fatos, pessoas ou problemas a atender, buscando sempre a qualidade e

agilidade na respectiva prestação, sem esquecer os princípios basilares que

regem a Administração Pública.

È preciso ter em mente que o modelo de gestão adotado, estimula a

desconcentração administrativa assegurando maior rapidez e objetividade às

decisões.

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Não há pretensão do esgotamento da matéria aqui tratada, mas sim

propor uma reflexão sobre o modelo de gestão implementado. Nesse sentido,

segue-se analisando os tópicos, para então, alcançar a eficácia, à luz da ética

e dos princípios constitucionais,

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CAPÍTULO I

A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO DIREITO BRASILEIRO

. 1.1 A ESTRUTURA ADMINISTRATIVA

A forma de organização do Estado, se unitário, federado ou

confederado, reflete a repartição de competências, que leva em consideração

a composição geral do país, a estrutura do poder, sua unidade, distribuição e

competências no respectivo território.

No caso específico do federalismo, identificam-se dois tipos básicos. O

primeiro é o federalismo por agregação que tem por característica a maior

descentralização do Estado, no qual os entes regionais possuem

competências mais amplas, como ocorre nos Estados Unidos da América do

Norte (EUA). O segundo, é o federalismo por desagregação, onde a

centralização é maior. O ente central recebe a maior parcela de poderes, como

é o caso da federação brasileira.

O Brasil é uma Federação, cuja forma de Governo é republicana,

formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal,

sendo-lhe assegurada a autonomia político-administrativa aos Estados-

membros e aos Municípios. Cada órgão federado, por receber autonomia

político-administrativa, passou a ter personalidade jurídica própria. Este fato é

resultante na existência de vários níveis político-administrativos no Brasil e, em

conseqüência, vários níveis de Administração, por essa razão, decorrem duas

divisões, a saber: uma divisão vertical , onde cada Estado da Federação ( ente

político), corresponde uma estrutura administrativa própria, independente das

demais e, uma divisão horizontal, onde cada ente político corresponde uma

administração

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O princípio fundamental dessa estrutura é o princípio da

descentralização, que apresenta graus diferenciados, originando os 3 (três)

setores da Administração Pública..

A descentralização significa técnica de especialização de atividades

estatais. Essa descentralização tem 4 graus, conforme a intensidade que ela

tenha. Mas essa diferença de grau vai se dar em decorrência de uma distinção

entre órgão e entidade.

A entidade é sempre personalizada, ou seja, goza de personalidade

jurídica própria.; é Pessoa Jurídica, seja de Direito Público ou Privado. O

Estado do Rio de Janeiro é uma entidade, inclusive Federativa.

O órgão não é Pessoa Jurídica, e, consequentemente, não é

personalizado. É um centro de atribuições. O Poder Judiciário é um órgão que

integra a entidade Estado do Rio de Janeiro.

1.2 A EVOLUÇÃO DO ESTADO MODERNO

No Estado Moderno, temos como principal tarefa, a gerencia, a direção,

o exercício e a execução dos serviços públicos a serem desempenhados aos

administrados pela Administração Pública. Após o renascimento, iniciado na

Europa, foi através dele que se concebeu a idéia de submissão da

Administração à Lei, como garantia de liberdade dos cidadãos.

A Administração Pública já havia em épocas anteriores, em razão de

onde existir Estado, está implicitamente inserido o conceito de estrutura

administrativa, uma vez que na ausência de Estado, seria impossível se cogitar

Administração Pública, muito menos, estrutura administrativa, uma vez que,

encontra naquela, toda a concepção de organização e funcionamento dos

serviços públicos a serem prestados aos administrados.

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A primeira fase do Estado Moderno denomina-se Estado de Policia, onde

a forma de Governo estabelecida é a monarquia absoluta. A segunda diz

respeito ao Estado de Direito.

Traçando um comparativo dessas duas formas de Governo, segundo

Merkl ( apud DI PIETRO, 1991, p.11-12):

(...) a oposição, mais corrente, entre Estado de Policia e Estado de Direito representa, igualmente, dois tipos de administração, cuja diferença reside na relação que guarda a administração com o campo funcional.

O Estado de Policia foi um período marcado pela timidez do direito

público, pois encontrava-se restringido ao direito de administrar, estruturado

sobre principios absolutistas, tais como: “ regis voluntas suprema lex, do quod

principi placuit legis habet vigorem the king can do no wrong “ (DI PIETRO,

1991, p. 12).

Desta forma, a Administração Pública não estava vinculada a

limitações ditadas pela lei, mas tão somente, a limitações oriundas da vontade

do monarca.

Na segunda etapa do Estado Moderno surgiu o Estado de Direito.

Acerca do Estado de Direito, comenta Di Pietro ( 1991,p. 21):

A segunda fase do Estado Moderno teve seu surgimento fundamentado, em grande parte , pela Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e posteriormente ratificado pela Constituição Francesa de 1791, onde em seu art. 3º, afirma “ não há na França autoridade superior à Lei. O rei não reina mais senão por ela e só em nome da lei pode exigir obediência”, consagrando, dessa forma, o principio da legalidade.

Tendo surgido o Estado de Direito, ocorreu uma substituição da vontade

do rei ( anteriormente considerada como fonte do Direito), pela lei, que atribuiu

ao Direito o poder de garantir as liberdades individuais. Por essa razão,

denominou-se esta fase do Estado Moderno, de Estado de Direito. Segundo Di

Pietro ( 1991, p. 14) “ O Estado de Direito, no decorrer dos acontecimentos

passou por dois períodos: Estado Liberal de Direito e Estado Social de Direito”.

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A primeira fase do Estado de Direito, foi chamada de Estado Liberal de Direito. Brilhantemente , sobre o assunto demonstra Medauar ( 1992, p. 76 ):

O Estado do século XIX agrupa indivíduos autônomos,

independentes, livres dotados de igualdade política e jurídica. Como oposição ao Estado absoluto consagram-se liberdades e garantias de liberdades e direitos dos indivíduos: estes de súditos, deveriam ascender ao grau de cidadão.

Na segunda fase do Estado de Direito surgiu o Estado Social de

Direito, como foi chamado, sendo que, este último, fortaleceu muito o Poder

Executivo, nesse sentido, é o entendimento de Di Pietro (1991, p.22):

Enquanto o individualismo tomou conta da direito privado, o socialismo instalou-se no âmbito do direito público, em especial do direito administrativo, que deixou de ser um corpo de normas garantidores apenas das liberdades individuais, para transformar-se num corpo de normas disciplinadora de toda a atuação da Administração Pública.

Com o fortalecimento do Poder Executivo, provocou um

descontentamento da sociedade que viu-se totalmente afastada dos valores

almejados no Estado Liberal de Direito. Por essa razão, “acrescenta-se ao

conteúdo do Estado Social de Direito um elemento novo, que é a participação

popular no processo político, nas decisões de Governo, no controle da

Administração Pública” ( DI PIETRO, 1991p. 29).

A respeito da evolução do Estado, José Afonso da Silva, assim

discorre:

[...] a igualdade do Estado de Direito, na concepção clássica, se funda num elemento puramente formal e abstrato, qual seja a generalidade das leis. Não tem base material que se realize na vida concreta. A tentativa de corregir isso, no entanto, não foi capaz de assegurar a justiça social nem a autentica participação democrática do povo no processo político, de onde a concepção mais recente do Estado Democrático de Direito, como Estado de legitimidade justa ( ou Estado de Justiça material), fundante de uma sociedade democrática qual seja a que instaura um processo de efetiva incorporação de todo o povo nos mecanismos do controle das decisões , e de sua real participação nos rendimentos da produção.

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Desta forma, o Estado ao abranger as atividades econômicas e sociais,

antes realizadas por particulares, ampliou de forma absurda o leque de suas

atribuições provocando um rápido crescimento da máquina estatal, que diante

do surgimento de tantas atribuições passou a transferir serviços a terceiros por

meio de concessões e mais tarde a criação de empresas públicas e de

economia mista para suprir a demanda de atividades, agora sob sua

responsabilidade. (MEDAUAR, 2004, p.51).

A Constituição da Republica Federativa do Brasil, no seu Art. 1º declara

a sua posição e os fundamentos que caracterizam de forma incontroversa a

indissolubilidade dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, e a

constituição em Estado Democrático de Direito.( MEDAUAR,2004,p.26).

O Brasil, como um Estado Democrático de Direito, é obediente às suas

próprias leis, respeitando a soberania popular e garantindo a efetivação dos

direitos e liberdades fundamentais. (MEDAUAR,2004,p.27).

Podemos verificar de maneiras bem explicitadas, as intenções do

legislador brasileiro, já no preâmbulo da Carta Magna de 1988, como podemos

observar a seguir:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremo de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundados na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. ( CRFB/1988).

A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988,

resgata valores e princípios do Direito que há muito haviam se desvinculado da

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Administração Pública e, que passam a norteá-la, desde então, estabelecendo

entre outros, o principio da legalidade, moralidade, impessoalidade,

razoabilidade, supremacia do interesse público, elencados no Art. 37 da

Constituição.

Realizado o estudo sobre a evolução do Estado Moderno,

passamos a seguir, a abordar o conceito moderno de Estado, seus elementos

componentes e os poderes estatais.

1.3 OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Constituição da Republica, em seu art. 37, elencou os princípios da

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Alguns

doutrinadores, acrescenta que além dos cincos princípios mencionados no

texto constitucional, ainda são considerados como princípios básicos

decorrentes do nosso regime político, a razoabilidade e proporcionalidade,

ampla defesa e contraditório, segurança jurídica, motivação e supremacia do

interesse público, onde forma textualmente enumerados pelo art. 2º da Lei

9.784 de 29 de janeiro de 1999.

Os princípios concedidos a Administração podem ser entendidos, de um

lado, como instrumentos colocados a disposição da Administração Pública

para que, esta, possa desenvolver a atividade que lhe foram atribuídas, dentro

dos limites estabelecidos em lei, de outro, visando o interesse coletivo, como

forma de assegurar ao administrado, o seu direito a praticas administrativas

honestas .

Sem o objetivo de esgotar o tema, de maneira resumida, vamos discorrer

sobre princípios constitucionais, iniciemos pelo principio da legalidade.

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O Professor Hely Lopes Meirelhes, com sua sabedoria de sempre,

elucida o tema:

A legalidade, como principio de administração ( CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.( Direito Administrativo Brasileiro, pág. 87)

Através do principio da legalidade, toda a Administração Pública,

vincula-se aos ditames da lei.

O principio da impessoalidade, traduz a idéia que o agir administrativo

haverá sempre de ser de interesse público, desvinculado de qualquer

favoritismo, discriminações, privilégios. O principio da moralidade esta

relacionado com a ética na conduta do administrador público, com o dever de

probidade.

Discorre acerca do principio da publicidade, Maria Sylvia Zanella Di

Pietro:

A ampla divulgação dos atos praticados pela Administração Pública, ressalvadas as hipóteses de sigilos previstas em lei, é uma exigência inerente a este principio, que, vigora para todos os setores e todos os âmbitos da atividade administrativa. (Direito Administrativo, pág. 75).

Acrescentado ao texto constitucional a partir da Emenda Constitucional nº.

19, de 04 de junho de 1998, o principio da eficiência, determina que a atividade

administrativa seja realizada com presteza, perfeição e rendimento funcional,

dando aos serviços públicos, maior rapidez e agilidade.

Lembramos os dizeres de Hely Lopes Meirelles, sobre os princípios da

razoabilidade e proporcionalidade:

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Pode ser chamado com o principio da proibição de excesso, que em última análise, objetiva aferir a compatibilidade entre os meios e os fins, de modo a evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte da Administração Pública, com lesão aos direitos fundamentais. ( Direito Administrativo Brasileiro, pág. 92) .

O principio da ampla defesa e do contraditório, foi incluído no rol dos

princípios a serem expressamente observados, através da Lei nº 9.784/99,

regulando, dessa forma, infraconstitucionalmente, essa matéria já prevista pelo

art. 5º, LV da Constituição Federal.

Segundo Hely Lopes Meirelles :

É fenômeno da rocessual idade administrativa. ( Direito Administrativo Brasileiro, pág. 100).

O principio da segurança jurídica foi inserido pelo art. 2º da Lei nº 9.784/99, assim diz Maria Sylvia Zanella Di Pietro :

Com o objetivo de vedar a aplicação retroativa de nova interpretação de lei no âmbito da Administração Pública [...] a segurança jurídica tem muita relação com a idéia de boa fé. (Direito Administrativo, pág. 84-85 ).

Consagrado pela doutrina e pela jurisprudência, o principio da

motivação, não temos duvida quanto a sua aplicação, além de ser elencado

no art. 2º da Lei 9.784/99.

A mesma doutrinadora diz:

A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade necessária para permitir o controle de legalidade dos atos administrativos. (Direito Administrativo, pág. 82 ).

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Sobre o principio da supremacia do interesse público, discorre o

Professor Hely Lopes Meirelles:

A primazia do interesse público sobre o privado é inerente a atuação estatal e domina-a, na medida em que a existência do Estado justifica-se pela busca do interesse geral ( Direito Administrativo Brasileiro, pág. 101).

Desta forma, a Administração Pública, utiliza-se de seus princípios

norteadores, fundamentais ao bom funcionamento da estrutura administrativa,

a qual depende diretamente da organização estatal, ambas objeto do próximo

item.

CAPÍTULO II

DESCENTRALIZAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO

ADMINISTRATIVA

2.1 OS ASPECTOS GERAIS

O surgimento da Administração Pública, passa pela evolução do

Estado no decorrer das fases que remetem ao Estado Democrático de Direito.

A organização do Estado brasileiro é dada pela sua estrutura federativa,

da qual resultam três esferas de governo (federal, estadual e municipal) , todas

dotadas de capacidade política, sendo portanto, inegável que a estruturação

da Administração Pública decorra inteiramente da organização estatal.

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O primeiro passo no sentido da descentralização e desconcentração

administrativa no Brasil foi o Decreto – Lei nº 200 de 25 de fevereiro de 1967,

em que pese ter havido várias alterações em relação às pessoas integrantes

da Administração indireta, o referido Decreto foi recepcionado pela

Constituição Federal de 1988.

O Ilustre Professor Celso Ribeiro Bastos complementa esse raciocínio:

Administração direta é aquela que integra os próprios Poderes que compõe as pessoas jurídicas de direito público com capacidade política.

A característica fundamental dessa Administração centralizada, é funcionar como órgão, que exprime a vontade da pessoa juridica ao qual se atrela, sendo denominada de direta, justamente por não se desprender dos vínculos de hierarquia a que está ligada.

A Administração direta, cronologicamente, foi a primeira a surgir e, durante muito tempo se conheceu essa forma de prestar os serviços administrativos.

No entanto, o crescimento constante do Executivo frente ao alargamento de suas funções, face aos administrados, passou a demandar um descongestionamento da Administração, dando surgimento à forma mais descentralizadas de prestação da atividade administrativa, ou seja, Administração indireta. (Curso de Direito Administrativo, pág.15-16-17).

Cria-se uma pessoa jurídica cuja finalidade é a realização de uma

determinada atividade administrativa destacada da administração centralizada

por um processo de especialização.

Sobre o tema, Caetano 0 ( apud , BASTOS, 1992, pág.17):

Mas a necessidade de aliviar a carga que sobre elas pesa e

que é cada vez maior levou a que, por lei, fossem criadas, no seu âmbito, pessoas jurídicas com fins especiais, isto é, que existissem exclusivamente para se ocuparem da realização de um dos interesses extraído do feixe das atribuições da entidade territorial a que estão ligados. E essas pessoas jurídicas, quanto aos seu substrato, tanto podem ser do tipo institucional como do tipo associativo ou societário. Através delas se processa o que a doutrina chama administração indireta.

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A Administração indireta surge, com a finalidade de realizar determinada

atividade administrativa destacada da Administração centralizada, como que a

girar em torno do núcleo central, mas sem estar a ele subordinado por um

vínculo hierárquico.

Sobre o tema, com singular sabedoria, assim discorre Odete Medauar:

No Brasil a descentralização administrativa realiza-se com os entes da Administração indireta, ou seja, as autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas são produtos da descentralização administrativa. Por outro lado, a desconcentração administrativa existe quando atividades são distribuídas de um centro para setores periféricos ou de escalões superiores para escalões inferiores dentro de uma mesma pessoa jurídica, no caso, dentre os órgãos da Administração direta.(Direito Administrativo Moderno, pág. 52-62).

Para o doutrinador Edmir Netto de Araújo

Descentralização e desconcentração administrativa são conceitos claramente distintos, muito embora, não raras vezes, confusões são feitas acerca dos referidos conceitos. Enquanto a descentralização pressupõe pessoas jurídicas distintas, sem vinculo se subordinação de uma perante outra, a desconcentração refere-se sempre a mesma pessoa jurídica, unida pelo vínculo da hierarquia. ( Curso de Direito Administrativo, pág. 142).

2.2 CONCEITOS

Para Celso Antonio Bandeira de Mello:

O Estado tanto pode prestar por si mesmo as atividades administrativas, como pode desempenha-las por via de outros sujeitos, caso em que se estará perante a descentralização. ( Curso de Direito Administrativo, pág. 139).

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No estudo da organização administrativa brasileira, que é o modo como

se distribuem e exercitam as funções do poder administrativo do Estado, a

descentralização pode ser analisada sob dois enfoques: político e

administrativo. Porém, o objetivo do presente trabalho está focado na

descentralização administrativa e, dessa forma trataremos da descentralização

política apenas de forma superficial, a partir do conceito utilizado por Odete

Medauar :

A descentralização política ocorre quando o ente descentralizado exerce atribuições próprias que não decorrem do ente central, é a situação dos Estados-membros da federação e, no Brasil, também dos Municípios. Cada um desses entes locais detém competência legislativa própria que não decorre da União nem a ela se subordina , mas encontra seu fundamento na própria Constituição Federal. As atividades jurídicas que exercem não constituem delegação ou concessão do governo central, pois dela são titulares de maneira originaria. (Direito Administrativo Moderno, pág. 350).

Descentralização administrativa na visão de Odete Medauar:

A descentralização administrativa ocorre quando as atribuições realizadas pelos entes descentralizados somente possuem o valor jurídico de forma dependente do ente central, sendo que suas atribuições não decorrem, diretamente da Constituição, mas diretamente do poder central. Descentralização administrativa significa a transferência de poderes de decisão em matérias especificas a entes dotadas de personalidade jurídica própria. Tais entes realizam, em nome próprio, atividades que, em principio, têm as mesmas características e os mesmos efeitos das atividades administrativas estatais. A descentralização administrativa implica, assim, a transferência de atividade decisória e não meramente administrativa. i(Direito Administrativo Moderno, pág. 65).

Entendemos que descentralização administrativa é a capacidade que

tem os entes descentralizados de gerirem os próprios negócios, mas com

subordinação as leis postas pelo ente central.

Para Di Pietro descentralização:

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É a distribuição de competência de uma pessoa para outra pessoa física ou jurídica .( Direito Administrativo, pág. 349).

O Ilustre Professor Celso Bandeira de Mello leciona:

Que a atividade administrativa é descentralizada quando é exercida por pessoa ou pessoas distintas do Estado, ou seja, distinta do conjunto orgânico de que é composto na intimidade.( Curso de Direito Administrativo, pág. 139).

Para a doutrina dominante, no Brasil, a descentralização administrativa

somente pode ser observada na administração indireta e a desconcentração

na Administração direta.

Sobre o tema , Maria Sylvia Zanella Di Pietro, tem a seguinte opinião:

Na descentralização administrativa, a atuação do Estado se

dá de forma indireta, através de pessoas, sempre distintas de seu aparelhamento orgânico, ainda que criadas por este, de forma que, não se estabelece vínculos de hierarquia entre o poder central e o ente personalizado que desempenha as determinações a ele atribuídas. ( Direito Administrativo, pág. 349).

Na visão de Edmir Netto de Araújo :

A descentralização é um sistema técnico-administrativa, através do qual o desempenho das funções pertinentes à Administração se processa através de vários organismos que desfrutam de largo grau de independência. A Administração central não os tem presos ao seu domínio como organismos subordinados. Apenas os controla para que permaneçam ajustados aos objetivos da Administração. ( Curso de Direito Administrativo, pág. 152-153).

Segundo Celso Ribeiro Bastos:

A descentralização administrativa acarreta a especialização na prestação do serviço descentralizado, pelo ente que executará as atribuições recebidas do Estado, por essa razão, diz-se que é um

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sistema técnico-administrativa, ( Curso de Direito Administrativo, pág. 17).

Na hipótese de descentralização administrativa, o Estado, ora transfere o

exercício de atividades que lhe são pertinentes para particulares, ora cria

pessoas auxiliares para o desempenho das atribuições descentralizadas.

Na desconcentração ocorre uma distribuição de competências,

sistematizada de tal forma que as atribuições são distribuídas internamente

entre os entes de uma mesma pessoa jurídica. Na desconcentração está

sempre presente o vinculo de subordinação e hierarquia. Tal medida acontece,

para que haja um descongestionamento, resultante do grande volume de

atribuições que competem ao ente central, permitindo, dessa forma, que ocorra

um desempenho mais adequado e racional de tais atribuições.

Na visão de Marcelo Alexandrino e Paulo Vicente:

Ocorre a descentralização quando a entidade da Administração, encarregada de executar um ou mais serviços, distribui competências, no âmbito de sua própria estrutura, a fim de tornar mais ágil e eficiente a prestação de serviços. A desconcentração pressupõe, obrigatoriamente, a existência de uma só pessoa jurídica. (Direito Administrativo, pág. 18).

Ensina Helly Lopes Meirelles:

A desconcentração administrativa significa repartição de funções entre os vários órgãos (despersonalizados) de um mesma Administração, sem quebra de hierarquia . A desconcentração opera-se pela distinção entre os níveis de direção e execução . No nível de direção situam-se os serviços que, em cada órgão da Administração, integram sua estrutura central de direção, competindo-lhe primordialmente as atividades relacionadas com o planejamento, a supervisão, a coordenação e o controle, bem como o estabelecimento de normas, critérios, programas e princípios a serem observados pelos órgãos enquadrados no nível de execução. (Direito Administrativo Brasileiro, pág. 714-715).

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Entendemos que a desconcentração administrativa, além de

descongestionar os entes ligados à estrutura de direção, pra que possa

executar sua atividade precípua de planejamento e coordenação, prestigia os

entes ligados à esfera de execução, ou seja, os órgãos de periferia.

Nos ensinamentos de Odete Medauar:

Existe a desconcentração quando as atividades são distribuídas de um centro para setores periféricos ou de escalões superiores para escalões inferiores, dentro da mesma entidade ou da mesma pessoa jurídica. [...] A descentralização se verifica tanto entre órgãos situados num mesmo local como entre órgãos situados entre órgãos geograficamente distantes. A distribuição de atividades mediante desconcentração implica a permanência de vínculos de hierarquia entre os órgãos envolvidos. Não se pode afastar do conceito de desconcentração administrativa, ocorra ela no mesmo local ou em local geograficamente distante, a indissolubilidade do vinculo de hierarquia existente entre o órgão central e o órgão desconcentrado , por se tratar da mesma pessoa jurídica.

O Ilustre Professor Celso Ribeiro Bastos complementa esse raciocínio

, assim discorre:

A desconcentração vem a ser a passagem de competências de órgãos situados nas partes superiores da pirâmide administrativa para escalões mais subalternos, ou mesmo a transferência do exercício das funções do núcleo central para núcleos mais distantes e próximos da periferia. [...] A manifestação de vontade do órgão desconcentrado é tão válida quanto a do órgão concentrado. Todos expressam a manifestação da vontade estatal perante terceiros, sempre nos limites das competências legais e regulamentares. ( Curso de Direito Administrativo, pág. 66-67).

A desconcentração, por se tratar de um instrumento mais simplificado de que dispõe o Estado, para o cumprimento de suas atividades, não suscitou maiores aprofundamentos por parte dos doutrinadores brasileiros, porém, a exposição paralela dos conceitos acerca de descentralização e desconcentração administrativa, possibilitaram uma diferenciação bem clara a respeito desses dois institutos.

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2.3 TIPOS

A descentralização administrativa, pressupõe duas pessoas jurídicas

distintas: a entidade estatal e a entidade administrativa que executará o

serviço, por ter recebido do próprio Estado essa atribuição, através do Decreto-

lei nº 200/67, no seu art. 6º,III, ao eleger a descentralização administrativa

como um dos princípios fundamentais da Administração Pública Federal.

Sobre o tema, com singular sabedoria, assim discorrem Marcelo

Alexandrino e Paulo Vicente:

A descentralização administrativa, no entendimento de grande parte dos doutrinadores, pode ser efetivada através de outorga ou delegação. Ocorre a outorga quando o Estado cria uma entidade e a ela transfere, pó lei, determinado serviço público, geralmente por prazo indeterminado. A delegação da descentralização administrativa, por sua vez, será efetiva quando o Estado transferir, por contrato ou ato unilateral, unicamente a execução do serviço, para que o ente delegado o preste ao público em seu nome, sob a fiscalização do Estado, geralmente é estabelecido prazo determinado. ( Direito Administrativo, pág. 17).

.

Nesse sentido é o entendimento do Mestre Hely Lopes Meirelles:

A delegação é menos que outorga, porque esta traz uma presunção de definitividade e aquela de transitoriedade, razão pela qual os serviços outorgados o são, normalmente, por tempo indeterminado e os delegados por prazo certo, pra que ao seu término retornem ao delegante.( Direito Administrativo Brasileiro, pág. 332)

Em qualquer das hipóteses acima mencionadas, o serviço é somente

descentralizado, porém continua sendo público ou de utilidade pública, sujeito

a regulamentação e controle do poder público.

O Decreto-Lei nº 200/67, no seu art.10º, onde trata especificamente da

descentralização, prescreve:

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Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada.

Parágrafo 1º - A descentralização será posta em prática em três planos:

a) dentro dos quadros da Administração Federal, distinguindo-se claramente o nível de direção do de execução;

b) da Administração Federal para a das unidades federas, quando estejam devidamente aparelhadas e mediante convênio ;

c) da Administração Federal para a órbita privada, mediante contratos ou concessões.

Na doutrina, a alínea “a” corresponde à descentralização por serviços,

também chamada de fundacional ou técnica; a alínea “b”, à descentralização

territorial ou geográfica e a alínea “c”, por sua vez, corresponde à

descentralização por colaboração.

Nas palavras da ilustre doutrinadora Maria Zanella Di Pietro:

Afirma não haver uniformidade entre os doutrinadores na classificação acerca da descentralização administrativa no direito brasileiro, porém, optou por acompanhar o entendimento do Decreto-Lei nº 200/67, adotando, dessa forma, as seguintes modalidades: descentralização por serviços, funcional ou técnica, descentralização territorial ou geográfica; e , por último, descentralização por colaboração. Descentralização por serviços, funcional ou técnica é a que se verifica quando o Poder Público ( União, Estado ou Municípios) cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público.No caso brasileiro, a criação somente pode acontecer em virtude de lei, o que em tese, só ocorreria nas autarquias, porém, é utilizada uma interpretação extensiva, que possibilita a abrangência também das fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas, que exerçam serviços públicos.Descentralização territorial ou geográfica é a que se verifica quando uma entidade local, geograficamente delimitada, é dotada de personalidade jurídica própria, de direito público, com capacidade administrativa genérica. O ente descentralizado enquadrado na modalidade acima, encontrado freqüentemente nos Estados Unitários, possui as seguintes características: personalidade jurídica de direito público; capacidade de auto-administração; delimitação geográfica; capacidade genérica para exercer a maior parte dos encargos públicos de interesse da coletividade; sujeição a controle pelo poder central. .(Direito Administrativo, pág. 350-351).

Cada unidade federada será capaz de reger os próprios interesses nos

limites da extensão geográfica, já que numa federação, como é o caso do

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Brasil, existem as atribuições e competências, delimitadas pela própria

Constituição.

Descentralização por colaboração é a que se verifica quando por meio

de contrato ou ato unilateral, se transfere a execução de determinado serviço

público à pessoa jurídica de direito privado, previamente existente,

conservando o poder público a titularidade do serviço. Traçando um

comparativo entre essa modalidade de descentralização em análise, e a

descentralização por serviços, compreende-se que a primeira, se dá por

contrato ou ato unilateral, ao qual se atribui uma pessoa de direito privado para

execução do serviço público, muito embora, o Estado permaneça com a

titularidade do mesmo.

Quanto a segunda modalidade, a descentralização ocorre por lei,

criando uma pessoa jurídica pública, para que assuma a titularidade e

execução do serviço a ela atribuído. Na descentralização por colaboração,

deveriam enquadrar-se as demais figuras, quer sejam as pessoas jurídicas de

direito pública, como as de direito privado. No entanto o Legislador preferiu

optar somente pelas pessoas de direito privado, conferindo a essas, a

execução dos serviços públicos, porém a titularidade dos serviços permanece

com o Estado.

Segundo José Cretella Junior, a descentralização por colaboração:

É a que ocorre sempre que o Estado transfere a pessoas, físicas ou jurídicas, não importa de que natureza, uma série de atribuições especiais, que ele próprio poderia desempenhar, por lhe serem inerentes, mas que encontra dificuldades pela progressiva complexidade dos serviços e pela insuficiência da máquina administrativa, assoberbada de serviços públicos.Não importa se a pessoa seja física ou jurídica e, sendo jurídica, pode ser estatal ( empresa pública e sociedade de economia mista) ou privada através das concessões, permissões ou autorizações. ( Administração Indireta Brasileira, pág. 79).

2.4 A HIERARQUIA

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Os órgãos da administração direta são estruturados de maneira

sempre a existir uma relação de hierarquia, onde um órgão é submetido ao

que lhe vem acima, como submete o que vem imediatamente abaixo. Do

princípio da hierarquia resulta o poder disciplinar , que é um instrumento

necessário para tornar eficaz a relação de poder estabelecida através da

hierarquia.

Para Odete Medauar:

Existe hierarquia entre órgãos inseridos na mesma estrutura, ou seja, no âmbito da estrutura interna da mesma pessoa jurídica. No ordenamento brasileiro pode-se dizer que a hierarquia é vinculo que ocorre entre órgãos da administração direta ou no interior de cada entidade da administração indireta. A hierarquia ocorre quando há diferença de posição dos órgãos no escalonamento estrutural, de tal modo que o órgão superior nas relações com o subordinado exerce uma série de poderes aos quais o subordinado se sujeita. Trata-se de relações de supremacia – subordinação. ( Direito Administrativo Moderno, pág. 58-61)

A hierarquia estabelece uma relação de subordinação escalonada, com

o objetivo de ordenar as atividades administrativas, dando forma às relações

de coordenação e de subordinação entre os agentes públicos.

O Professor Celso Antonio Bandeira de Mello , assim discorre:

Hierarquia pode ser definida como o vínculo de autoridade que une órgãos e agentes, através de escalões sucessivos, numa relação de autoridade, de superior a inferior, de hierarca a subalterno. Os poderes do hierarca conferem-lhe uma contínua e permanente autoridade sobre toda a atividade administrativa dos subordinados.

Hierarquia é um princípio de organização, que requer, para seu melhor desempenho, sujeição dos órgãos a uma direção unificada, coordenação e subordinação.

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A característica da hierarquia é, fundamentalmente, o poder que atribui

ao órgão superior, de orientar a ação do subordinado, de determinar o seu

modo de agir, bem como exercer direta vigilância sobre a sua atividade.

Sobre o tema leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

Em consonância com o precipício da hierarquia, os órgãos da Administração Pública são estruturados de tal forma que se cria uma relação de coordenação e subordinação entre uns e outros, cada qual com atribuições definidas em lei. Desse principio, que só existe relativamente as funções administrativas, não em relação às legislativas e judiciais, decorre uma série de prerrogativas para a Administração: a de rever os atos subordinados, a de delegar e avocar atribuições, a de punir, para o subordinado surge o dever de obediência. ( Direito Administrativo, pág.74).

O poder de hierarquia sistematiza a organização, que se efetiva

mediante um vínculo interno de supremacia e subordinação, que além de

coordenar entre si os encargos públicos, subordina uns a outros em níveis de

escalonamentos de superior para inferior. A hierarquia atua como instrumento

de organização e aperfeiçoamento do serviço e age como meio de

responsabilização dos agentes administrativos, impondo-lhes o dever de

obediência. Os servidores públicos tem o dever de acatar e cumprir as ordens

de seus superiores hierárquicos, salvo quando manifestamente ilegais.

Para Celso Antonio Bandeira de Mello:

A relação hierárquica é um vínculo de autoridade que une, através de graus sucessivos, todos os órgãos da Administração central, subordinado escalonadamente os inferiores aos superiores. O órgão que se encontra na cúpula do sistema dirige os que se acham no grau imediato, estes, por sua vez, comandam sobre o grau sucessivo e assim por diante, até atingir os derradeiros inferiores. Esta relação unificadora – típica do sistema de centralização – significa, eu última análise, que o órgão supremo comanda toda a Administração, de tal forma que sua vontade se impõe deste os mais altos até os ínfimos escalões. ( Curso de Direito Administrativo, pág. 100).

Podemos analisar a hierarquia como uma relação de subordinação

quanto aos órgãos como aos agentes. Pode ser visualizada como um tipo de

vínculo entre órgãos e como um tipo de vínculo funcional entre os servidores.

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Nesse sentido, é o entendimento de Hely Lopes Meirelles:

O poder hierárquico tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e corrigir as atividades administrativas, no âmbito interno a Administração Pública. Ordena as atividades da Administração, repartindo e escalonando as funções entre os agentes do Poder, de modo que cada um possa exercer eficientemente seu encargo; coordena, entrosando as funções no sentido de obter o funcionamento harmônico de todos os serviços a cargo do mesmo órgão; controla, velando pelo cumprimento da lei e das instruções e acompanhando a conduta e o rendimento de cada servidor; corrige os erros administrativos, pela ação revisora dos supervisores sobre os atos dos inferiores. (Direito Administrativo Brasileiro, pág. 119).

O superior hierárquico detém a faculdade de emitir ordens funcionais

aos subordinados, inclusive fixando diretrizes de atuação. Compete ao superior

estar permanentemente atento aos atos praticados pelos subordinados, a fim

de corrigi-los sempre que se desviem da legalidade.

Delegar é conferir a outrem atribuições que originariamente competiam

ao delegante. As delegações dentro do mesmo Poder, são em principio,

admissíveis, desde que o delegado esteja em condições de bem exercê-las.

Rever os atos dos subordinados, significa apreciar tais atos em todos os

seus aspectos (competência, objeto, oportunidade, conveniência, justiça,

finalidade e forma) para mantê-los ou invalidá-los, de oficio ou mediante

provocação do interessado.

O poder ou principio hierárquico é inerente à organização administrativa

do Estado, dentro de uma mesma pessoa jurídica, relacionando-se mediante a

desconcentração administrativa. Por essa razão, a hierarquia não necessita de

previsão legal para que ocorra entre os órgãos da Administração direta, é

incondicionada, ao passo que, a Administração indireta, pressupõe a

existência de suas pessoas jurídicas não sujeitas ao escalonamento

hierárquico ou de subordinação.

Embora não haja vinculação hierárquica, a Administração indireta, por ser

uma forma de descentralização administrativa, é acompanhada pela idéia de

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um controle, sempre condicionado à previsão legal, para que o ente

descentralizado se mantenha fiel aos objetivos ao qual foi criado pelo ente

central.

Esse controle estatal existente sobre a Administração indireta também é

chamado por alguns doutrinadores de tutela.

A fiscalização do poder central sobre entidades descentralizadas, surgiu

primeiramente com o nome de tutela administrativa, em relação às

coletividades territoriais européias ( províncias, comunas) e em relação às

autarquias, todas dotadas de personalidades jurídicas públicas.

Hely Lopes Meirelles, observa:

Controle finalístico – é o que a norma legal estabelece para as entidades autônomas, indicando a autoridade controladora, as faculdades a serem exercitadas e as finalidades objetivadas. Por isso mesmo é sempre um controle limitado e externo.Não tem fundamento hierárquico, porque não há subordinação entre a entidade controlada e a autoridade ou o órgão controlador. É um controle teleológico, de verificação do enquadramento da instituição no programa geral do Governo e de seu acompanhamento dos atos e de seus dirigentes no desempenho de suas funções estatutárias, para o atingimento das finalidades da entidade controlada. (Direito Administrativo Brasileiro, pág. 641).

Na lição de Maria Sylvia Zamella Di pietro, tutela pode ser defenida da

seguinte forma:

Fiscalização que os órgãos centrais das pessoas públicas políticas ( União, Estados e Municípios) exercem sobre as pessoas administrativas descentralizadas, nos limites definidos em lei, para garantir a observância da legalidade e o cumprimento das suas finalidades e institucionais. ( Direito Administrativo, pág.410).

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A tutela corresponde a um controle administrativo, exercido pelos órgãos da Administração direta sobre os entes descentralizados da Administração indireta. Controle administrativo é o realizado pelo Poder Executivo sobre os atos emanados de seus próprios órgãos e entidades que compõe a chamada Administração Pública. Os entes descentralizados, integrantes da Administração indireta, ainda sujeitam-se ao controle externo, exercido pelo Poder Legislativo, com auxilio do Tribunal de Contas e o judicial, exercido, respectivamente, pelo Poder Judiciário.

Sobre o tema, Edmur Ferreira de Faria, tem a seguinte opinião:

O principio da tutela ou do controle legitima a Administração

a exercer controle sobre as entidades por ela criadas para atuarem na prestação de serviços públicos. Esse controle não interfere na autonomia, da empresa, fundação ou autarquia que são dotadas de personalidade jurídica própria, com autonomia administrativa e financeira. Mas pode a Administração, com esse poder tutelar, fiscalizar e controlar a aplicação dos recursos financeiros e técnicos destinados aos entes integrantes da Administração indireta e, ainda, quanto ao cumprimento de suas atribuições legais. Esse controle visa impedir a entidade de atuar em desacordo com os objetivos para os quais foi criada. (Curso de Direito Administrativo Positivo, pág. 76).

Controle administrativo exercido sobre os entes descentralizados, não é

incompatível com a autonomia de tais entes, pois os limites impostos a esta

autonomia, se referem apenas a conservação dos objetivos e metas do órgão

público central.

Sobre o tema, Celso Antonio Bandeira de Mello , define a palavra

controle, usada em sentido estrito em oposição à hierarquia:

[...]designa o poder que a Administração central tem de influir sobre a pessoa descentralizada. Assim, enquanto os poderes do hierarca são presumidos, os do controlador só existem quando previstos em lei e se manifestam apenas em relação aos atos nela indicados. Se a subordinação dos entes descentralizados fosse hierárquica, não haveria descentralização e sim desconcentração . Mas por outro lado, se não houvesse nenhuma forma de supervisão, quanto aos objetivos e diretrizes do órgão da Administração direta, não poderiam ser considerados entes descentralizados públicos, mas tão somente, entes comuns, sujeitos às normas gerais de regulação social e econômica aplicáveis à iniciativa privada. (Curso de Direito Administrativo Positivo, pág. 141).

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CAPÍTULO III

O PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO

3.1 DA FUNÇÃO TÍPICA

Em nosso texto constitucional precisamente em seu artigo segundo,

encontram-se de forma expressa os Poderes do Estado: São Poderes da

União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o

Judiciário.

Cada Poder tem uma função específica. Assim, ao Poder Executivo

cabe a função administrativa, ao Poder Legislativo as de ordem normativas e

ao Poder Judiciário a função jurisdicional.

Entretanto, o exercício destas funções não é dotado de exclusividade,

Além das funções descritas como específicas, os Poderes desempenham

atribuições atípicas, onde analisando na forma expressa deveriam pertencer a

outro Poder. A explicação se encontra no próprio texto da Carta Magna quando

se lê que os Poderes são independentes e harmônicos entre si.

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3.2 DA FUNÇÃO ATÍPICA

O preceito legal para a atribuição atípica do Poder Judiciário na

função normativa encontra-se explicitado no artigo 96, I, “a”, CF e na função

administrativa no artigo 96, I, “a”, “b”, “c”; II, “a”, “b”,CF :

“Art. 96. Compete privativamente:

I - aos tribunais:

a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;

b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;

c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva jurisdição;

II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:

a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;

b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003).

3.3 DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

O Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro exerce a função

administrativa. Dentre outras funções realiza licitações para aquisição de

materiais e serviços, organiza concursos públicos para provimento de seus

cargos efetivos, concede férias e licenças a seus servidores.

Podemos citar como exemplo dessas funções, a Corregedoria Geral

da Justiça, órgão que por meio de sua atribuição disciplinar, é responsável pela

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instauração de sindicância e processo administrativo disciplinar em face de

seus servidores, para apurar responsabilidade disciplinar daqueles que

violarem as normas internas. O Provimento Nº 82/2009 da Corregedoria

Geral de Justiça dispõe sobre o procedimento a ser seguido nos casos em

que à apuração da responsabilidade funcional de servidor do Poder Judiciário

do Estado do Rio de Janeiro.

A Resolução nº, 38/2010 do Egrégio Órgão alterou, recentemente,

a estrutura Organizacional do Poder Judiciário Fluminense, elencando as

atribuições administrativas de suas respectivas unidades organizacionais,

estabelecendo a lotação de seus cargos comissionados e funções gratificadas.

O artigo 2º da aludida Resolução lista as unidades organizacionais

do Judiciário Fluminense que são os seguintes:

I - Tribunal Pleno e o seu Órgão Especial; II - Conselho da Magistratura; III - Presidência do Tribunal de Justiça; IV - Corregedoria Geral da Justiça; V - Vice-Presidências do Tribunal de Justiça; VI - Seção Criminal; VII - Câmaras Julgadoras; VIII - Juízos de Primeiro Grau de Jurisdição; IX - Escola da Magistratura; X - Ouvidoria Geral do Poder Judiciário; XI - Centro de Estudos e Debates; XII - Órgãos Colegiados Não-Jurisdicionais; XIII - Gabinete da Presidência do Tribunal de Justiça; XIV - Gabinete dos Juízes Auxiliares da Presidência do Tribunal de Justiça; XV - Núcleos Regionais; XVI - Fundo Especial do Tribunal de Justiça; XVII - Diretoria Geral de Controle Interno; XVIII - Diretoria Geral de Apoio aos Órgãos Jurisdicionais; XIX - Diretoria Geral de Gestão do Conhecimento; XX - Diretoria Geral de Tecnologia da Informação; XXI - Diretoria Geral de Planejamento, Coordenação e Finanças; XXII - Diretoria Geral de Logística; XXIII - Diretoria Geral de Gestão de Pessoas. XXIV - Diretoria Geral de Segurança Institucional; XXV - Diretoria Geral de Desenvolvimento Institucional; XXVI - Diretoria Geral de Engenharia.

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Dentre outros comandos a Resolução 38/2010 aprovou a

implementação da estrutura, bem como o quantitativo final de cargos de

provimento em comissão e funções gratificadas de cada unidade

organizacional do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

CAPÍTULO IV

A DESCONCENTRAÇÃO DO PODER JUDICIARIO DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO COM A CRIAÇÃO DOS

NÚCLEOS REGIONAIS

4.1 A CRIAÇÃO DOS NÚCLEOS REGIONAIS

A desconcentração é uma técnica de delegação administrativa, no

qual é atribuída a outros órgãos integrantes da própria Administração a

prestação dos serviços, de modo que os mesmos sejam prestados de forma

mais eficiente, célere e adequado.

Criados inicialmente como Núcleos Regionais da Corregedoria Geral

de Justiça (NURCs), uma vez que funcionavam apenas como núcleos de

desconcentração deste Órgão. Os Núcleos Regionais (NURs), são unidades

desconcentradas do Poder Judiciário, que desempenham somente funções

administrativas, constituindo um órgão subordinado, que exercem atividades

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definidas em atos normativos pela Presidência do Egrégio Tribunal de Justiça

e pela Corregedoria Geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro.

Neste diapasão, os Núcleos Regionais executam as diretrizes

traçadas pela alta cúpula do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro:

Tribunal Justiça, através de suas Diretorias Gerais e Departamentos, e pela

Corregedoria Geral de Justiça.

A criação dos Núcleos Regionais programou uma política de

assegurar maior rapidez e objetividade às decisões, que devem ser tomadas,

estando o gestor mais próximo possível dos fatos, pessoas ou problemas a

atender, incrementando a qualidade e agilidade na respectiva prestação.

4.2 A ESTRUTURA E AS ATRIBUIÇÕES DOS NÚCLEOS REGIONAIS

Os Núcleos Regionais contam com uma estrutura básica, composta

por um Juiz Dirigente, um Assistente, um Setor de Serviço Social, um Setor de

Pessoal e um Setor de Fiscalização e Disciplina.

O Juiz Dirigente do NUR tem atribuição de dirigir e administrar as

atividades do Núcleo, assegurando a consecução dos objetivos propostos, com

vistas a maior eficiência da prestação dos serviços administrativos, bem como

decidir acerca dos procedimentos que tramitam no seu âmbito.

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O Assistente do NUR gerencia as atividades do NUR e implementa

as diretrizes traçadas pelo Juiz Dirigente.

O Setor de Serviço social atuará, de forma precípua, no âmbito

funcional identificando problemas de cunho social que prejudiquem o seu

desempenho, examinando casos identificados aprofundando o conhecimento

de suas causas e reflexões na atuação funcional dos servidores com

problemas e apresentando propostas com intuito de solução dos casos ou

adequação razoável aos interesses da Administração e do servidor.

O Setor de Pessoal tem atribuição de implementar a gestão de

pessoas, sendo responsável pelo gerenciamento do processamento referente

às matérias de lotação, movimentação, freqüência, designações, licenças,

férias, redução de carga horária, readaptação dos servidores, todas descritas

na RAD-NUR 005.

O Setor de Fiscalização e Disciplina atua nas áreas de fiscalização

das serventias judiciais e extrajudiciais, bem como na esfera disciplinar

referente ao controle de correições, procedimentos e instrução dos processos

disciplinares.

4.3 AS VANTAGENS DA DESCONCENTRAÇÃO ADMINISTRATIVA COM A

CRIAÇÃO DOS NÚCLEOS REGIONAIS

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O modelo de gestão de Núcleos Regionais estimula a

desconcentração administrativa, em face dos seus reconhecidos benefícios,

por conseqüência, a iniciativa de ações para o adequado atendimento das

necessidades dos usuários é de todos e de cada um dos servidores,

observado o respectivo nível de responsabilidade e autoridade.

A desconcentração administrativa implica a adoção pelos servidores,

de postura, de autocontrole, isto é, a necessidade de avaliar a tarefa

executada e somente passá-la à etapa seguinte após confirmar que o

resultado é adequado à consecução da próxima etapa do processo de

trabalho.

Adicionalmente, a descentralização administrativa também implica a

necessidade de:

a) assegurar a comunicação oportuna das informações

necessárias à execução de cada atividade ao

respectivo executor;

b) transmitir aos níveis superiores as informações

processadas e que sejam necessárias ao

conhecimento ou à tomada de decisão pior esses

superiores;

Tendo em vista que as atividades desenvolvidas nos Núcleos

Regionais necessariamente se revestem de características multidisciplinares e

com várias interfaces, torna-se essencial que haja, por parte de todos os

envolvidos, a compreensão de operação matricial, na qual os aspectos de

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atendimento às necessidades estabelecidas são prioritários às considerações

meramente formais e requerem ambiente de cooperação permanente.

Em face de sua expertise, cabe ao Núcleo Regional, observando os

limites de sua competência, promover, estimular, orientar e acompanhar o

desenvolvimento institucional das unidades organizacionais vinculadas.

O modelo de gestão de Núcleos Regionais estimula a

desconcentração administrativa, em face dos seus reconhecidos benefícios,

por conseqüência, a iniciativa de ações para o adequado atendimento das

necessidades dos usuários é de todos e de cada um dos servidores,

observado o respectivo nível de responsabilidade e autoridade.

A desconcentração trouxe grandes benefícios á função

administrativa no âmbito do Poder Judiciário, uma vez que esta se tornou mais

célere e eficiente. Ao longo do tempo, a Administração vem efetuando estudos

para alcançar maior eficácia com o emprego desta técnica.

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CONCLUSÃO

Os Núcleos Regionais são unidades organizacionais da Estrutura

Organizacional do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro com a

atribuição geral de promover e viabilizar a desconcentração administrativa,

com escopo de melhorar a comunicação e as ações gerenciais tendentes à

melhoria da eficácia e da eficiência no atendimento às necessidades dos

usuários.

Em síntese, os Núcleos Regionais são unidades desconcentradas do

Poder Judiciário, criados para otimizar os serviços administrativos prestados

pelo Judiciário, tornando-os mais céleres e eficazes, indo de encontro ao

disposto do inciso LXXVII, do Artigo 5º, da Constituição da República que

dispõe: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a

razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de

sua tramitação”, com a nova redação dada pela Emenda Constitucional nº.

45/2004

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Assim, o Judiciário Fluminense é considerado um dos melhores do

país, diante de sua organização e celeridade, no exercício da prestação

jurisdicional, bem como, no exercício da função administrativa, esta,

notadamente, após o implemento da desconcentração administrativa mediante

a criação dos Núcleos Regionais.

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