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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE OS FATORES QUE CAUSAM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM NA LEITURA E NA ESCRITA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Por: Marcelle Toledo Barbosa Bitarães Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS FATORES QUE CAUSAM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

NA LEITURA E NA ESCRITA NO PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO

Por: Marcelle Toledo Barbosa Bitarães

Orientador

Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS FATORES QUE CAUSAM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

NA LEITURA E NA ESCRITA NO PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Orientação

Educacional e Pedagógica.

Por: Marcelle Toledo Barbosa Bitarães.

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AGRADECIMENTOS

- A Deus por estar sempre comigo e permitir que eu

conquiste mais essa vitória;

- Aos meus pais e familiares que, de alguma

forma, me deram condições para conclusão de

mais uma etapa de minha vida;

- Ao meu orientador Vilson Sérgio por todo

tempo dedicado em me orientar na elaboração

deste trabalho;

- Aos meus professores do curso por serem tão

importantes para a minha formação;

- Aos meus colegas de curso;

- E aos meus amigos que sempre estão

presentes me apoiando nas minhas conquistas.

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DEDICATÓRIA

À minha mãe, Maria Elizabeth Toledo

Barbosa, por sempre se dedicar a minha

formação, apoiar minhas decisões e me

dar força quando desanimo.

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RESUMO

O estudo monográfico propõe analisar os fatores que causam, nas crianças, distúrbios de aprendizagem da leitura e da escrita no processo de alfabetização. O trabalho tem como problemática ressaltar e conceituar quais os fatores que causam, nas crianças, distúrbios de aprendizagem na leitura e na escrita no processo de alfabetização. Para isso o diálogo teórico é feito com Sara Paín, Lou Oliver, Ruth Caribe da Rocha Drouet, Elisabete de Assunção José, Maria Teresa Coelho e também com toda uma literatura sobre distúrbios da aprendizagem. O estudo é de cunho bibliográfico, o qual possibilita ao pesquisador realizar a solução do problema buscando referências sobre o tema abordado em documentos, livros, artigos, entre outros. Visto que o presente estudo traz enfoque em uma compreensão mais ampla sobre o processo ensino/aprendizagem e os distúrbios que envolvem o mesmo, destacando as causas dos distúrbios de aprendizagem da leitura e da escrita.

Palavras-chaves: Aprendizagem, Distúrbios, Leitura, Escrita, Processo.

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METODOLOGIA

A metodologia a ser usada para a realização deste trabalho será de

cunho bibliográfico, a qual possibilita ao pesquisador realizar a solução do

problema buscando referências sobre o tema abordado em documentos, livros,

artigos, entre outros, publicados anteriormente.

O presente estudo traz enfoque em uma compreensão mais ampla

sobre o processo ensino/aprendizagem e os distúrbios que envolvem o

mesmo, destacando as causas dos distúrbios de aprendizagem da leitura e da

escrita e os caminhos viáveis para uma atuação pedagógica apropriada. A

pesquisa também trará suportes teóricos de estudiosos no assunto para

colaborar com as questões aqui apresentadas. Deste modo espera-se que

este trabalho, que se baseará eminentemente em pesquisa bibliográfica, doe

uma contribuição valiosa neste processo de novos conhecimentos

esclarecendo alguns aspectos fundamentais. Acrescentando ainda a grandiosa

colaboração dos seguintes autores para fundamentar e esclarecer alguns

aspectos fundamentais a esse processo de aprendizagem. São eles Sara

Paín, Lou Oliver, Ruth Caribe da Rocha Drouet, Elisabete de Assunção José,

Maria Teresa Coelho e outros.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A LEITURA E A ESCRITA NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM 11

1.1 – O processo de aprendizagem 11 1.2 – A dimensão biológica do processo de aprendizagem 16 1.3 – A dimensão cognitiva do processo de aprendizagem 18 1.4 – A dimensão social do processo de aprendizagem 19 1.5 – Condições internas e externas da aprendizagem 21 1.6 – A aprendizagem da leitura e da escrita 22 CAPÍTULO II - DISTÚRBIOS QUE DIFICULTAM O

RECONHECIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA

COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO PARA O SER 27

2.1 – O normal e o patológico 29

2.2 – Dificuldades da aprendizagem da leitura (dislexia) 36

2.3 – Dislexia do desenvolvimento 36

2.4 – A dimensão cognitiva do processo de aprendizagem 37

2.5 – Disgrafia 38

2.6 – Disortografia 40

2.7 – Erros de formulação e sintaxe 41

2.8 – Déficit de atenção (com ou sem hiperatividade) 42

CONCLUSÃO 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46

ÍNDICE 48

FOLHA DE AVALIAÇÃO 49

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INTRODUÇÃO

Apresento esta pesquisa por se tratar de um assunto bastante

significante, pois o mesmo é dinâmico e aberto nos trazendo possibilidades de

processo e sucesso na carreira de professor. A criança com distúrbios na

aprendizagem, mesmo sendo esforçada, será rotulada como lenta, preguiçosa

e burra. Podendo levá-la ao total desestímulo.

A alfabetização é vital na formação escolar de uma criança. Escrever e

depois ser capaz de produzir um texto são consideradas condições

indispensáveis para que a criança possa desenvolver sua inteligência

cognitiva.

A escrita deve ser então, aprendida e desenvolvida, com o objetivo de

que cada um a domine, de forma a se apropriar dela utilizando-a não somente

como fonte de reprodução, pelos simples ato de escrever, mas também como

um ato criativo, onde lhe possibilite a transformação de seus pensamentos,

através de idéias e palavras escritas. Propiciando que suas habilidades de

escrita sejam ressaltadas e valorizada, tornando sua vida mais feliz e com boa

capacidade de comunicação. Porém, algumas crianças apresentam

dificuldades para adquirir e desenvolver as habilidades da escrita, tornando-se

fundamental uma ajuda terapeuta.

A aprendizagem humana é um processo interativo onde, portanto, vários

componentes se inter-relacionam geneticamente, neurologicamente,

psicologicamente, educacionalmente e socialmente. Não basta, pois encarar

variáveis genéticas, ignorando variáveis sociais e educacionais e vice e versa.

A criança com distúrbios de aprendizagem manifesta uma discrepância

no seu potencial de aprendizagem e exibe uma diversidade de

comportamentos que podem ou não ser provocado por situações

psiconeurológica. Manifesta freqüentemente dificuldades no processo de

informação quer ao nível receptivo quer ainda ao nível integrativo e expressivo.

As crianças com distúrbios de aprendizagem correm o risco de se

tornarem adultos desajeitados, desmotivados, rebeldes e apáticos. Na maioria

das vezes as que falham na escola tendem a serem isolados na sociedade e

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muitas das vezes escondem-se atrás do insucesso, das angústias, frustrações

e sofrimentos. A escola e todo o seu corpo docente devem, portanto,

transforma-se pedagógica e humanamente, até o ponto de permitirem as

crianças à identificação com valores culturais e humanos que lhes são

inequivocamente inerentes.

Através desta pesquisa, sobre os distúrbios de aprendizagem na leitura

e na escrita, destacam-se os fatores que causam os distúrbios e possibilidades

de atuação pedagógica para saná-las. Procura-se também analisar fatores

biológicos, orgânicos, psicológicos, pedagógicos, sócio-culturais e a dislexia

por ser uma das causas específica de distúrbio na aprendizagem: a da

identificação dos símbolos gráficos, provocando dificuldade na leitura e na

escrita.

O papel da escola, dos orientadores, do professor e dos pais, consiste

em auxiliar e estimular a criança com distúrbios da aprendizagem minimizando

conflitos, levando-as a distribuir, lidar e superar as falhas responsáveis pelos

obstáculos cognitivos, afetivos e comportamentais.

• Quais os fatores que causam, nas crianças, distúrbios de aprendizagem na

leitura e na escrita no processo de alfabetização?

• Como podemos identificar os fatores relevantes que dificultam, a criança, à

reconhecer a leitura e a escrita como meio de comunicação para o ser?

• Como identificar as causas dos distúrbios de aprendizagem da leitura e da

escrita no processo de alfabetização?

O motivo da escolha desse tema foi pelo fato de se tratar de um assunto

preocupante e vital para o profissional que leciona nas primeiras séries. Visto

que se trata de um problema que dia a dia vem se agravando, deixando os

profissionais apavorados, motivo pelo qual buscam novos métodos e maneiras

para gradativamente solucionar as dificuldades.

A criança com distúrbios na escrita, ao trocarem as letras embaralham-

nas sem perceber tal erro, tornando-se frustrante para ela e para o professor

que muitas vezes não sabe o que fazer para ajudá-la, levando-as ao

desestímulo e timidez podendo até se ausentar das aulas sem esperança de

conseguir sanar tal dificuldade.

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Distúrbios, constantes, na leitura e na escrita muitas das vezes acabam

desestimulando alguns educandos, pois vêem como castigo o fato de

repetirem e lerem as palavras as quais erram.

Porém é importante ressaltar que o hábito da leitura tem que ser

estimulado e incentivado logo no início da idade escolar, só assim

conseguiremos reverter esse quadro.

Neste contexto, objetiva-se trazer um referencial teórico em relação aos

distúrbios de aprendizagem. Erros ortográficos, na busca de conduzir a criança

a integração na vida escolar, segundo suas possibilidades e interesses,

procurando explicações das condições de aprendizagem e identificando as

áreas de competência e de dificuldade.

A partir do pressuposto que todo ser humano é capaz de aprender e

superar as dificuldades sabemos que existem busco analisar e explicar alguns

fatores que impedem e causam, nas crianças, distúrbios de aprendizagem na

leitura e na escrita são eles: dificuldades da aprendizagem da leitura (dislexia),

dislexia do desenvolvimento, tipos de dislexia, dislexia da linguagem interior,

dislexia auditiva, dislexia visual, disgrafia, disortografia, erros de formulação e

sintaxe e déficit de atenção (com ou sem hiperatividade).

Nos capítulos a seguir falaremos sobre o processo de alfabetização e os

distúrbios que dificultam esse processo.

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CAPÍTULO I

A LEITURA E A ESCRITA NO PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO

1.1 O processo de aprendizagem

Esse capítulo busca trazer contribuições significativas de alguns autores

sobre a aprendizagem e a significância da leitura e da escrita no processo de

alfabetização. Porém, antes de argumentar sobre o desenvolvimento da leitura

e da escrita dentro desse processo de alfabetização é importante ressaltar o

processo de aprendizagem dentro deste capítulo que tem como objetivo

explicar a leitura e a escrita no processo de alfabetização.

A aprendizagem já foi e tem sido o tema de constantes pesquisas por

grandes teóricos, entre eles Piaget, Vygotsky, Visca e Fernández.

Aprendizagem também é preocupação constante na ida de educadores,

em especial os professores. Para Falcão (1999) a função da escola pode ser

resumida, de certa forma, nos seguintes temos: espera-se que o aluno

aprenda e que o professor oriente a aprendizagem do aluno.

Mas afinal o que é aprendizagem?

Segundo Oliveira (1995) aprendizado ou aprendizagem é o processo

pelo qual o individuo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc., a

partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras pessoas.

Fernández, apud, Grossi e Bordin (1998) entende a aprendizagem

como a apropriação, a reconstrução do conhecimento do outro a partir do

conhecimento pessoal.

Aprendizagem é um processo constante de construção do

conhecimento a partir das vivencia, da interação com o outro, com a sociedade

com todo, com a realidade e com a natureza.

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Mas como se dá esse processo?

A revista Nova Escola (nº 95, ago. de 1996) publicou trecho de uma das

obras de Piaget em que ele escreveu:

“A educação tradicional sempre tratou a criança com um pequeno adulto, um ser que raciona e pensa como nós, desprovido simplesmente de conhecimento e de experiência. Sendo a criança, assim, apenas um adulto ignorante, a tarefa do educador não era tanto a de formar o pensamento, mas sim de equipá-lo.” (PIAGET apud NOVA ESCOLA, 1996)

Piaget, através de sua teoria, esclarece que a criança tem uma forma

própria de raciocinar e de aprender e que essa aprendizagem se evolui, por

estágios, até a maturidade intelectual. A criança não é um adulto em miniatura

que raciocina, mas ao mesmo tempo torna-se depósito de informações e

experiências. Sabe-se que o homem não nasce inteligente, mas também é

passivo sob a influencia do meio. Ele responde aos estímulos externos agindo

sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento. Ao mesmo

tempo aprende, ao mesmo tempo ensina, é uma troca constante.

Segundo Piaget, apud, Costa (1997) inteligência e adaptação e seu

desenvolvimento está voltado para o equilíbrio. Sendo assim, a ação humana

visa sempre a uma melhor adaptação ao ambiente.

É para manter um equilíbrio dinâmico, uma harmonia com o meio

ambiente, que o homem desenvolve a inteligência.

De acordo com Rappaport (1981), no início de sua vida o individuo

herda uma série de estruturas biológicas (sensoriais e neurológicas) que

predispõem ao surgimento de certas estruturas mentais. Portanto, a

inteligência não a herdamos. Herdamos um organismo que vai amadurecer em

contato com o meio ambiente. Desta interação organismo-ambiente resultarão

determinadas estruturas cognitivas que vão funcionar de modo semelhante

durante toda a vida do sujeito.

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Ao nascer, o comportamento da criança limita-se aos reflexos

hereditários (estruturas biológicas: sensórias e neurológicas ). Estes reflexos

correspondem às necessidades mais fundamentais da criança como a

nutrição, por exemplo, por isso suga tudo o que chega à sua boca. Ela

naturalmente procura o alimento que satisfaça a sua fome.

A utilização sistemática dos reflexos e a incorporação de novos

elementos à eles constituem hábitos organizados.

Rappaport ( 1981 ) ainda diz que a maturação da aprendizagem

contribui de forma decisiva para que surjam nova estruturas mentais que

proporcionem a possibilidade de adaptação cada vez melhor ao ambiente,

porém no seu desenvolvimento o homem se depara constantemente com

situações que rompem o seu estado de equilíbrio e o levam a agir sobre o que

o afetou buscando se equilibrar. Ainda para a referida autora, as novas

questões levam o organismo a movimentar-se no sentido de resolvê-las,

utilizando-se de estruturas mentais já existentes ou modificando estas

estruturas quando elas se mostram ineficientes, na busca de uma forma

adequada para se lida com a nova situação, ou seja, na busca de uma nova

adaptação. Este processo global implica dois processos complementares: a

assimilação e a acomodação.

Ainda Rappaport (1981) diz que assimilação se refere à tentativa, feita

pelo sujeito, de solucionar uma determinada situação, utilizando uma estrutura

mental já formada, isto é, a nova situação, ou novo elemento é incorporado e

assimilado a um sistema já pronto.

A mesma autora esclarece que, quando esse processo de assimilação

não é eficiente, pelo fato das estruturas serem inadequadas e insuficientes

para o novo elemento, o sujeito tenta então novas maneiras de agir,

considerando as características o objeto. Haverá então modificação de

estruturas antigas para poder dominar uma nova situação. Este processo é

chamado e acomodação.

Na busca de uma constante equilibração o homens articula os

processos de assimilação e acomodação com as estruturas já existentes,

reorganizando todo o conjunto. Desta forma vai construindo e reconstruindo

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continuadamente as estruturas que o tornam cada vez mais apto ao equilíbrio.

Essas construções acontecem a partir de um padrão em idade mais ou menos

determinadas, que são chamados de estágios ou períodos, que se divide em

vários substágios, de formas particulares de inteligência.

De acordo com a autora já citada, o desenvolvimento se inicia a parir do

equipamento inicial que vão gradualmente (no primeiro ano de vida) se

transformando em esquemas sensoriais motores rudimentares (período

sensóio-motor). A partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a

construir sistemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é

prática. O contato com o meio é direito e imediato, sem representação e

pensamento.

Rappaport (1981) ainda cita que na fase pré-operacional a criança irá

formar esquemas simbólicos que representam cópias internalizadas dos

esquemas sensório-motores. No período seguinte, o operacional concreto a

criança já forma esquemas conceituais já trabalha com eles de acordo com os

princípios da lógica, mas ainda depende da existência dos objetos no mundo

exterior. No período de operações formais (adolescência) é que a criança

atingirá os objetivos básicos do seu desenvolvimento mental, qual sejam

pensar abstratamente, pensar sobre situações hipotéticas de modo lógico e

organizar regras em estruturas mais complexas.

No período Pré-operacional a criança se torna capaz de representar

mentalmente pessoas e situações, desperta para a linguagem, é egocêntrica e

sua inteligência é simbólica.

No período Operatório – Concreto a criança torna-se capaz de pensar

logicamente, mas com o auxilio do mundo concreto. Ela precisa ver para crer.

No último período, que é o Lógico-formal, á pensa com abstrações

mentais que seguem o principio da lógica formal.

Percebe-se então que em sua teoria Piaget, muito bem colocado por

Rappaport, defende que o desenvolvimento progressivo das estruturas

intelectuais torna o ser capaz de aprender.

Oliveira (1995) relata que para Vygotsky desde o nascimento da criança,

o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é um aspecto

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necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções

psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. Existe um

percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação

do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é o aprendizado

que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não

fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam.

Um outro fator importante na teoria de Vygotsky, é o cultural. Para ele, o

meio é sempre revestido de significados culturais. O que Vygostky aponta

dentro deste processo de aprendizagem é que sem o outro o homem não se

constrói homem, e que a aprendizagem é que leva o ser a se desenvolver

intelectualmente.

Vygotsky, apud, Oliveira (1995), dedicou-se ao estudo das funções

psicológicas elementares, como os reflexos e a atenção involuntária, em

especial ao estudo das funções psicológicas superiores, como a consciência, o

planejamento e a deliberação. Ainda Oliveira (1995) esclarece que o ser

humano tem possibilidades de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos

nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores.

Esse tipo de atividade psicológica é considerada "superior" na medida em que

se diferencia de mecanismos mais elementares tais como ações reflexas,

reações automatizadas ou processos de associação simples.

Há um caminhar das funções elementares para as funções superiores, a

partir do aprendizado cultural. Esse caminhar é intermediado por pessoas que

rodeiam o ser, trazendo significados sociais e históricos. São os mediadores.

Oliveira (1995) comenta que mediação, em termos genéricos, é o processo de

intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa,

então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento.

Percebe-se que as informações trazidas através desta intermediação

são reelaboradas por uma espécie de linguagem interna. O processo utilizado

pelo individuo para internalizar as informações fornecidas pela cultua, através

de seus mediadores, não é um processo de observação passiva, mas de

transformações, de síntese.

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Segundo Vygotsky, apud, Oliveira (1995) a evolução intelectual é

marcada por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para outro. Para

esclarecer este processo desenvolveu o conceito de Zona de Desenvolvimento

Proximal que definiu como a distância entre o nível de desenvolvimento real,

que se costuma determinar através da solução de problemas sob a orientação

de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.

Visca (1991), aborda aprendizagem de acordo com a perspectiva que

ele domina Epistemologia Convergente, que tenta integra os aportes da escola

piagetiana, psicanalítica e da psicologia.

Para Visca (1991), a aprendizagem é concebida como uma construção,

que depende dos aspectos energéticos e estruturais, e que implica em uma

tematização. Ou seja, de acordo com sua teoria a aprendizagem sofre

influências de aspectos afetivos, cognitivos e do meio.

Visca considera que todo processo de aprendizagem transcende a

estruturação cognitiva porque requer afetização do objeto e transcende,

também a afetividade visto que implica na utilização de operações cognitivas;

sem esquecer o que se ode denominar de tematização, ou conteúdo adquirido

mediante os recursos cognitivo-afetivos postos em jogo.

Assim compreende-se que a aprendizagem se desenvolverá de acordo

com as estruturas intelectuais, interligadas a uma afetividade equilibrada e à

um meio que oferece diferentes crenças, conhecimentos, atitudes e

habilidades.

1.2 - A dimensão biológica do processo de aprendizagem

Com base em Pain (1985) vale ressaltar que mesmo para as

aprendizagens mais elementares, toda informação adquirida desde o exterior,

é sempre em função de um marco ou esquema interior, mais ou menos

estruturado. Isto explica o comportamento vital de exploração espontânea que

garante o ajustamento ótimo do indivíduo a cada situação, e garante também a

manutenção de seus esquemas de reação já existente. A mesma atividade

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assimiladora concilia as descrições feitas para demonstrar a formação de

reflexos condicionados e a dos condicionamentos instrumentais, os mesmos

são resultados de uma ação sobre a realidade, que é orientada pela

coordenação de esquemas nascidos por um processo de diferenciação dos

dados sobre os quais estes esquemas se aplicam e aos quais se acomodam.

Já no terreno das condutas sensório-motoras, Piaget insiste em que:

“As estruturas do conhecimento apresentam a característica específica de ser construídas, motivo pelo qual não podem ser consideradas inatas, apesar do caráter hereditário da inteligência como aptidão do ser humano.A herança se inscreve no cérebro, na disponibilidade morfológica de conexões possíveis e na maravilhosa síntese da molécula DNA e aparece programada em alguns reflexos instintivos que, como o da sucção, vão desdobrar-se como mecanismo assimilados das primeiras aprendizagens. A construção, embora prolongue a modalidade assimilativa de toda cognição, implica simultaneamente um aspecto de experiência ou de manipulação do meio, e um aspecto de funcionamento endógeno do sujeito, que tem relação com a progressiva estruturação da coordenação de suas ações.” (PIAGET apud PAIN, 1985,p.16)

Partindo dessas considerações teríamos então três tipos de

conhecimento: o das formas hereditárias, junto ao conteúdo informativo

relacionado ao meio no qual o indivíduo atuará, o das formas lógico-

matemáticas que se constroem progressivamente segundo estádios de

equilibração crescente e por coordenação progressiva das ações que se

cumprem com os objetos, dispensando os objetos como tais, e em terceiro

lugar o das formas adquiridas em função da experiência, que fornecem ao

sujeito informação sobre o objeto e suas propriedades. Observa-se que os dois

últimos aspectos prolongam o funcionamento do primeiro, que também

aparecem como mutuamente implicados, já que, toda ação é ação sobre um

objeto, por outro lado esta ação se desdobra com certa organização, impressa

no marco das estruturas lógicas que permitem uma correta leitura da

experiência.

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Portanto do ponto de vista biológico, e dentro do marco da

epistemologia genética, haveria uma aprendizagem em sentido amplo, a qual

consistiria no desdobramento funcional de uma atividade estruturante, que

resultaria na construção definitiva das estruturas operatórias esboçadas em tal

atividade. Por outro lado, haveria uma aprendizagem em sentido mais estrito

que permite o conhecimento das propriedades e das leis dos objetos

particulares, sempre por assimilação a essas estruturas que permitem uma

organização inteligível do real.

1.3 - A dimensão cognitiva do processo de aprendizagem

Com base em Pain (1985), Numa referencia estritamente psicológica à

aprendizagem, considera conveniente diferenciar três tipos de aprendizagem:

A) Em primeiro lugar, aquele na qual o sujeito adquire uma conduta nova,

adaptada a uma situação anteriormente desconhecida e sugerida dos

sancionamentos traduzidos pela experiência aos ensaios mais ou menos

arbitrários do sujeito. O ensaio e erro nunca são completamente aleatórios, e

para que a experiência seja proveitosa, o ensaio e erro deve ser dirigido e o

erro ou o êxito assumido em função da organização prévia, que como tal,

demonstra ser incompetente ou correta.

B) Em segundo lugar existe da regulação que rege as transformações dos

objetos e suas relações mútuas; nesta aprendizagem a experiência tem por

função confirmar ou corrigir as hipóteses ou antecipações que surgem da

manipulação interna dos objetos. Os procedimentos chamados de

realimentação, podem ser compreendidos, incluindo na própria definição dos

esquemas de assimilação, os mecanismos de antecipação e retro-ação

capazes de corrigir a aplicação do esquema e promover a acomodação

necessária.

C) Em ultimo lugar a aprendizagem estrutural, vinculada ao nascimento das

estruturas lógicas do pensamento, através das quais é possível organizar uma

realidade inteligível e cada vez mais equilibrada. Ainda que possamos

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considerar tais estruturas como aprendidas, pois elas próprias se constroem na

condição de rosa a aprendizagem, a experiência cumpre, no entanto, a função

relevante e necessária de pôr em cheque is esquemas anteriormente

constituídos e que demonstram em alguns momentos sua incompetência para

dar conta de certas transformações.

Portanto, a experiência nos períodos de transição, tem então um papel

negativo de acumular, aspecto quantitativo, contradições nos esquemas

usados, promovendo a necessidade de inaugurar outros esquemas mais

equilibrados, aspecto qualitativo, nos períodos de fixar-se ao esquema, o papel

da experiência é aplicar tal estrutura aos diferentes aspectos da realidade,

gerando assim múltiplos esquemas, cuja coordenação permite a compreensão

do real e suas possibilidades de transformação.

1.4 - A dimensão social do processo de aprendizagem

Com base em Pain (1985) no nível social podemos considerar a

aprendizagem como um dos polos do par ensino-aprendizagem, cuja síntese

constitui o processo educativo. Como se sabe tal processo compreende todos

os comportamentos dedicados à transmissão da cultura, inclusive os

objetivados como instituições que, específica, escola, ou secundariamente,

família, promovem a educação.

“Através dela o sujeito histórico exercita, assume e incorpora uma cultura particular, na medida em que fala, cumprimenta, usa utensílios, fabrica e reza segundo a modalidade própria de seu grupo de pertencimento.” (PAIN, 1985, p.18)

Levando-se em conta o conceito do autor, educar consiste então em

ensinar, no sentido de mostrar, de estabelecer sinais, de marca como se faz o

que pode ser feito. Desta forma, a partir de contato com o meio, a criança

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aprende a expressar-se, a vestir-se, a escrever, e também a não se sujar, a

não se atrasar, a não chorar. A maneira de fazer o que a educação prescreve,

tem por objetivo a constituição do ser que determinado grupo social precisa:

ser respeituoso, limpo, pontual, sem afetações, etc. Através da ação

desenvolvida e reprimida o sujeito incorpora uma representação do mundo, ao

qual por sua vez se incorpora e se sujeita.

É fato, porém que toda transmissão de cultura supõe uma amostra, uma

seleção de modalidades de ação cujo determinante é a situação do educando

na relação de produção, junto com outros fatores de nacionalidade, geração,

profissionalização, etc., de sua família e do seu grupo de pertencimento.

Partindo dessas considerações, a aprendizagem garante a continuidade do

processo histórico e a conservação da sociedade como tal, através de suas

transformações evolutivas e estruturais. Entretanto, também cumpre um papel

relevante na implementação dessas transformações, pois é evidente que se os

sistemas estabilizados precisam educar para conservar-se, os revolucionários

necessitam educar, com mais razão ainda, a fim de conscientizar e motivar a

militância.

Desta forma a transmissão da cultura é sempre ideológica, na medida

em que é seletiva e é própria da conservação de modos peculiares de operar,

e portanto serve à manutenção de estruturas definidas de poder. Métodos de

análise baseados no materialismo histórico e apoiados em outros recursos

particularmente inspirados na lingüística estrutural, permitem a denuncia das

representações implícitas nos conteúdos transmitidos, a análise das formas e

métodos de transmissão torna-se mais difícil, e encararemos sua crítica desde

o ponto de vista ideológico e epistêmico na ocasião da programação.

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1.5 - Condições internas e externas da aprendizagem

Com base em Pain (1985, p.21) “o sujeito e o objeto não são dados

como instância originariamente separadas, pelo contrário, eles se

discriminam justamente em virtude da aprendizagem e do exercício”.Por

isso a partir da idéia do autor à medida que o sujeito exerce sua atividade

sobre o mundo, o bebê pode construir, apesar das transformações, objetos

permanentes, entidades diferentes dele e idênticas a si mesma; por outro lado,

tal atividade o define como agente e o determina, em primeiro lugar, pelo seu

poder, como capacidade de ação. Portanto, podemos falar de condições

externas e internas da aprendizagem apenas no sentido descritivo, já que nem

sua genética na ação nem seu funcionamento dialético permitem a adoção do

esquema estímulo-resposta que tal dicotomia sugere.

Nesse sentido distinguimos então, por um lado, um mundo objetivo com

suas próprias leis e propriedades discrimináveis, que podem estudar-se em

termos de intensidade, freqüência, redundância, etc. Múltiplas experiências

realizadas permitem conhecer a influência da qualidade e da qualidade de

estímulo na aquisição de hábitos mecânicos, na possibilidade de

reconhecimento, na fadiga muscular e da atenção, e as mudanças produzidas

na aprendizagem pela interação do estímulo, os reforços, o incremento da

originalidade sobre a redundância, o ruído, a modificação do “fundo” acústico e

morfológico e até o timbre da voz do dissertante. Estes dados são

especialmente importantes a nível de programação, com o objetivo de adequar

os estímulos diretos e indiretos e obter uma progressiva discriminação de

relações.

Partindo dessas considerações, lembremos que existem dois tipos de

condições para a aprendizagem: as externas, que definem o campo do

estímulo, e as internas que definem o sujeito. Umas e outras podem estudar-se

em seu aspecto dinâmico, como processos, e em seu aspecto estrutural como

sistema. A combinatória de tais condições nos leva a uma definição

operacional da aprendizagem, pois determina as variações de sua ocorrência.

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1.6 - A aprendizagem da leitura e da escrita

Para estudiosos como Ferreiro (1999) e Teberosky (1999) no ano de

1962, começam a surgir mudanças sumamente importantes a respeito da

nossa maneira de compreender os processos de aquisição da língua oral na

criança. De fato, acontece neste campo uma verdadeira revolução, até então

dominado pelas concepções condutistas. Até esta época, a maior parte dos

estudos sobre a linguagem infantil ocupava-se, predominantemente, do léxico,

isto é, da quantidade e da variedade de palavras utilizadas pela criança. Essas

palavras eram classificadas segundo as categorias da linguagem adulta

(verbos, substantivos, adjetivos, etc), e estudava-se como variava a proporção

entre essas diferentes categorias de palavras, qual a relação existente entre o

incremento do vocabulário, a idade, o sexo, o rendimento escolar, etc.

Nenhum conjunto de palavras, porém, por mais vasto que seja, constitui

por si mesmo uma linguagem: enquanto não tivermos regras precisas para

combinar tais elementos, produzindo orações aceitáveis, não teremos uma

linguagem. Hoje em dia, está demonstrado que nem a imitação nem o reforço

seletivo – os dois elementos centrais da aprendizagem associativa – podem

explicar a aquisição das regras sintáticas.

O modelo tradicional associacionista da aquisição da linguagem é

simples: existe na criança uma tendência à imitação, e no meio social que a

cerca (os adultos que a cuidam) existe uma tendência a reforçar seletivamente

as emissões vocálicas da criança que correspondem a sons ou a pautas

sonoras complexas (palavras) da linguagem própria desse meio social.

Em termos elementares: quando a criança produz um som que se

assemelha a um som da fala dos pais, estes manifestam alegria, fazem gestos

de aprovação, demonstram carinho, etc. Desta maneira, o meio vai

“selecionando”, do vasto repertório de sons iniciais saídos da boca da criança,

somente aqueles que correspondem aos sons da fala adulta (o conjunto dos

fonemas do idioma em questão). A esses sons é preciso dar um significado

para que se convertam efetivamente em palavras. Neste modelo, o problema

resolve-se da seguinte maneira: os adultos apresentam um objeto,

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acompanham essa apresentação com uma emissão vocálica, isto é,

pronunciam uma palavra que é o nome desse objeto. Por reiteradas

associações entre a emissão sonora e a presença do objeto, aquela termina

por transformar-se em signo desta e, portanto, se faz “palavra”.

É interessante observar que a atual visão do processo é radicalmente

diferente: no lugar de uma criança que espera passivamente o reforço externo

de uma resposta produzida pouco menos que ao acaso, aparece uma criança

que procura ativamente compreender a natureza da linguagem que se fala à

sua volta, e que, tratando de compreendê-la, formula hipóteses, busca

regularidades, coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gramática,

que não é simples cópia deformada do modelo adulto, mas sim criação

original. No lugar de uma criança que recebe pouco a pouco uma linguagem

inteiramente fabricada por outros, aparece uma criança que reconstrói por si

mesma a linguagem, tomando seletivamente a informação que lhe provê o

meio.

Quando alguém se engana sempre da mesma maneira, quer dizer,

quando estamos frente a um erro sistemático, chamamos a isso simplesmente

de “erro”, o que nada mais é do que encobrir com uma palavra o vazio de

nossa ignorância. Uma criança não regulariza os verbos irregulares por

imitação, posto que os adultos não falam assim (uma criança filho único

também o faz); não se regularizam os verbos irregulares por reforçamento

seletivo. São regularizados porque a criança busca na língua uma regularidade

e uma coerência que faria dela um sistema mais lógico do que na verdade é.

Com base em Ferreiro (1999) e Teberosky (1999), o que antes aparecia

como um “erro por falta de conhecimento” surge agora como uma das provas

mais tangíveis do surpreendente grau de conhecimento que uma criança dessa

idade tem sobre seu idioma: para regularizar, os verbos irregulares, precisa ter

distinguido entre radical verbal e desinência e ter descoberto qual é o

paradigma “norma” da conjunção dos verbos.

Fatos como este, que ocorrem normalmente no desenvolvimento da

linguagem na criança, testemunham um processo de aprendizagem que não

passa pela aquisição de elementos isolados que logo irão progressivamente se

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juntando, mas sim pela constituição de sistemas nos quais o valor das partes

vai se redefinindo em função das mudanças no sistema total. Por outro lado,

fatos como este demonstram também que existe o que poderíamos chamar

erros construtivos, isto é, respostas que se separam das respostas corretas,

mas que, longe de impedir alcançar estas últimas, pareceriam permitir os

acertos posteriores.

Atualmente a situação está muito mais complexas; ainda que estejamos

distantes de poder dispor de um sistema interpretativo que dê uma explicação

integrada dos múltiplos aspectos envolvidos na aquisição da linguagem, há

uma série de passos irreversíveis que forma dados:

- a insuficiência dos modelos condutistas tem sido evidenciada num domínio

que, até então, era um dos seus baluartes mais sólidos;

- manifestou-se uma série de fatos novos, e abriu-se uma série de linhas de

investigação originais;

- a concepção da aprendizagem que se sustenta vai coincidir com as

concepções sobre a aprendizagem sustentadas anteriormente por Jean Piaget

.

Portanto, tudo isto tem a ver com a aprendizagem da leitura e da escrita.

Em primeiro lugar, porque, sendo a escrita uma maneira particular de

transcrever a linguagem, tudo muda se supomos que o sujeito que vai abordas

a escrita já possui um notável conhecimento de sua língua materna, ou se

supomos que não o possui.

Em segundo lugar, porque é fácil mostrar que muitas das práticas

habituais no ensino da língua escrita são tributárias do que se sabia sobre a

aquisição da língua oral; a progressão clássica que consiste em começar pelas

vogais, seguidas da combinação de consoantes labiais com vogais, e a partir

daí chegar à formação das primeiras palavras por duplicação dessas sílabas

(mamá, papá) e, quando se trata de orações, começar pelas orações

declarativas simples, é uma série que reproduz muito bem a série de aquisição

da língua oral, tal como ela se apresenta vista “do lado de fora”.

Implicitamente, julgava-se ser necessário passar por essas mesmas etapas

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quando se trata de aprender a língua escrita, como se essa aprendizagem

fosse uma aprendizagem da fala.

Na visão de Ferreiro (1999, p.26) e Teberosky (1999, p. 26):

“A aprendizagem da língua escrita como uma reaprendizagem da língua oral é ainda mais evidente quando pensamos em noções tão importantes para o ensino tradicional como são as de “falar bem” e possuir uma “boa articulação”.”

Levando-se em conta o conceito do autor muitas das dificuldades da

escrita forma atribuídas classicamente à fala. Normalmente, pensa-se que para

escrever de forma correta é preciso também saber pronunciar de forma correta

as palavras.

O ensino tradicional obrigou as crianças a reaprender a produzir os sons

da fala, pensando que, se eles não são adequadamente diferenciáveis, não é

possível escrever num sistema alfabético. Mas esta premissa baseia-se em

duas suposições, ambas falsas: que uma criança de seis anos não sabe

distinguir os fonemas do seu idioma, e que a escrita alfabética é uma transição

fonética do idioma. A primeira hipótese é falsa, porque, se a criança, no

decorrer da aprendizagem da língua oral, não tivesse sido capaz de distinguir

os fonemas entre si, tampouco seria capaz aos seis anos de distinguir

oralmente pares de palavras, tais como pau, mau; coisa que, obviamente, sabe

fazer. A segunda hipótese também é falsa, em vista do fato de que nenhuma

escrita constitui uma transição fonética da língua oral.

Não faremos pouco do problema de recorte da fala nos seus elementos

mínimos (fonemas); porém, o apresentaremos de maneira diferente: não se

trata de ensinar as crianças a fazer uma distinção, mas sim de levá-las a se

conscientizarem de uma diferença que já sabiam fazer. Não se trata de

transmitir um conhecimento que o sujeito não teria fora desse ato de

transmissão, mas sim de fazer-lhe cobrar a consciência de um conhecimento

que o mesmo possui, mas sem ser consciente de possuí-lo.

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Atualmente, sabemos que a criança que chega, à escola tem um notável

conhecimento de sua língua materna, um saber lingüístico que utiliza “sem

saber” (inconscientemente) nos seus atos de comunicação. Esta distinção

coloca-nos em guarda contra a tendência – marcadamente condutista – de

identificar o saber real de um sujeito sobre um domínio particular com se

desempenho efetivo numa situação particular.

Dificilmente a escola teria podido assumir esse “saber lingüístico” da

criança antes que a psicolingüística o tivesse colocado em evidencia.

Quando se analisa a literatura sobre a aprendizagem da língua escrita,

encontramos, basicamente, dois tipos de trabalhos: os dedicados a difundir tal

ou qual metodologia como sendo a solução para todos os problemas, e os

trabalhos dedicados a estabelecer a lista das capacidades ou das aptidões

necessárias envolvidas nessa aprendizagem.

Partindo dessas considerações a literatura psicológica dedicada a

estabelecer a lista das aptidões ou das habilidades necessárias para aprender

a ler e a escrever, vemos a aparecer, continuamente, as mesmas variáveis:

lateralização espacial, discriminação visual, discriminação auditiva,

coordenação biso - motora, boa articulação, etc. Dos trabalhos que tentam

sintetizar essas investigações parciais, surge uma visão bastante curiosa todos

esses fatores se correlacionam positivamente com uma boa aprendizagem da

língua escrita. Dizendo em termos banais: se uma criança está bem

lateralizada, se seu equilíbrio emocional é adequado, se ela tem uma boa

discriminação visual e auditiva, se seu quociente intelectual é normal, se sua

articulação é também adequada, então, também é provável que aprenda a ler

e a escrever sem dificuldades. Em suma: se tudo vai bem, também a

aprendizagem da lectoescrita vai bem.

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CAPÍTULO II

DISTÚRBIOS QUE DIFICULTAM O RECONHECIMENTO

DA LEITURA E DA ESCRITA COMO MEIO DE

COMUNICAÇÃO PARA O SER

A finalidade deste capítulo é nos mostrar os distúrbios que dificultam o

reconhecimento da leitura e da escrita como meio de comunicação para o ser,

buscando desta forma discutir subtítulos bastante relevantes.

Para estudiosos como José (1995) e Coelho (1995), as dificuldades de

aprendizagem mais reconhecidas, que a criança pode apresentar são aquelas

que dizem respeito ao desempenho escolar e principalmente as dificuldades

de compreensão entre leitura e escrita (dislexia e disortografia).

Vale ressaltar que podem ocorrer também dificuldades de aprendizagem

não verbal, aquelas que a criança apresenta para auto perceber-se, perceber o

seu mundo e relacionar-se com outras pessoas, embora o seu nível de

inteligência verbal, seja igual ou superior à media e não apresentem transtorno

emocional.

Segundo os autores acima citados a troca de alguns sons está dentro

da normalidade na faze de 2 a 4 anos e essa alteração costuma desaparecer

junto com o amadurecimento neurológico. A persistência por essa idade é

considerada patológica. Para identificar esses problemas não deve pressioná-

lo, pois a troca de fonemas pode virar uma questão de fala. É essencial

resolver os problemas de fala até o final da 2º série ou inicio da 3º série

quando se fala algo de forma errado não se deve repetir a palavra incorreta

para depois falar a certa; apenas apresentar a forma correta, para que a

criança não se confunda.

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“A fala, a leitura e a escrita não podem ser consideradas como funções autônomas e isoladas, mas sim como manifestações de um mesmo sistema, que é o sistema funcional de linguagem. A fala, a leitura e a escrita resultam do harmônico desenvolvimento e da integração das várias funções que servem de base ao sistema funcional da linguagem desde o início de sua organização.”(POPPOVIC apud JOSÉ e COELHO, 1995, p.76)

A partir da consideração acima podemos ver que a fala, a leitura e a

escrita são conseqüências uma das outras, por isso com base em José (1995)

e Coelho (1995) vale ressaltar a importância da linguagem oral e escrita.

Linguagem oral – Há crianças que não apresentam nenhum déficit

auditivo que impeça, mas a compreensão e a expressão estão prejudicadas,

inclusive no aspecto cognitivo. Da mesma forma, há aquelas que estão

aparentemente bem, mas revelam dificuldades gerais quanto à evolução.

Escolar (redação, ortografia, leitura e compreensão de textos exercícios

matemáticos...). Provavelmente elas sofrem desse distúrbio de aprendizagem

e precisam de atenção especial na classe.

Linguagem escrita – São casos nos quais apesar de habilidades orais

estarem resolvidas, as crianças têm dificuldades no aprendizado da escrita.

Língua Portuguesa, neste caso, é a disciplina mais prejudicada.

Ainda com base em José (1995) e Coelho (1995), o aluno que tem

algum tipo de alteração na linguagem é quase sempre prejudicado.

Normalmente, a escola estabelece um padrão mínimo que todos devem atingir

e, como ele não se enquadra, é deixado de lado. Muitas crianças sofrem com

dificuldade na aprendizagem.

Fica difícil traduzir os sons em símbolos (letras) e também para

compreender o que está escrito. As crianças com graves desordens de leitura

cometem equívoco, como inversões, omissões e /ou acréscimo de letras ou

palavras. Podem incluir problemas como orientação espacial, noção de tempo,

linguagem escrita, soletração, memória, percepção auditiva e visual e

habilidades motoras.

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Já na educação infantil a professora pode acompanhar atentamente o

desenvolvimento da fala da criança, anotando os sintomas e daí recorrer a um

plano de ajuda para aquece aluno que não esteja atingindo às expectativas de

eu desenvolvimento. Durante a pré-alfabetização alguns sintomas de

dificuldade aparecem através da compreensão do que a professora pede, na

lentidão para executar tarefas (de tal maneira que a criança dificilmente vai

contemplá-la). Distração além de alterações de comportamento, tal caso exige

intervenção imediata.

Partindo dessas considerações com o acúmulo dos sintomas, durante o

período escolar, a criança vai se mostrando complexada e as dificuldades que

se acentuam, pois acreditamos que os problemas psicológicos são agravantes

neste caso.

2.1 O normal e o patológico

Baseado nos autores José e Coelho (1995,p. 17) podemos afirmar que

“os problemas de aprendizagem apresentam-se de maneira diferente em

cada criança, surgindo assim à necessidade de investigação de como

eles se manifestam.” Sendo assim os professores que encontram em sala de

aula crianças com problemas de aprendizagem precisam em parceria com os

familiares das mesmas, para analisar situações e descobrir o que está

representando obstáculo para que a criança aprenda.

Porém e importante destacar a necessidade que o professor tem de

conhecer as manifestações próprias do pensamento infantil para as várias

faixas etárias, visando não cometer erros em sua avaliação. Utilizando

conhecimentos baseados na psicologia e na didática o professor poderá ter

uma noção bem clara do que é normal problemático e anormal (ou patológico)

no comportamento infantil.

Levando-se em conta o conceito de José e Coelho (1995), encontra-se

várias definições para o termo normal, contudo é necessário que o professor

busque um critério seguro e significativo para avaliar o problema. O professor

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que reconhece as características próprias de cada faixa etária do

comportamento infantil acompanhará adequadamente as crises dos mesmos.

Vejamos:

O egocentrismo é superado a medida em que a criança toma

consciência da realidade e começa a pensar no outro. A partir dos 7 anos,

quando se torna capaz de iniciar a descentralização de seu mundo. Se for

orientada aos 11 anos a criança supera- se do egocentrismo.

“Egocentrismo – é uma centração da criança sobre si mesma; registrado no inicio da vida, quando a criança é auxiliada em tudo. É inconsciente dos 2 aos 4 anos de idade. Torna-se visível de 4 aos 7 anos. Manifesta-se de seguinte maneira: A criança quer todos os brinquedos para si. Quer ser a primeira em tudo. Ela é o centro de seu mundo.” José e Coelho (1995,p.18)

A indiferenciação para estes autores é superada somente a partir dos 7

anos a criança torna-se capaz de iniciar o processo de libertação de seu

indiferentismo. Se for bem orientada, ela supera essas características à

medida que descobre a realidade.

“Indiferenciação – é a ausência de percepção para o valor de si próprio, dos outros e das coisas. Apresenta-se de forma primitiva e radical dos 2 aos 4 anos. Revela-se fortemente na fase de 4 a 5 anos. Atenua-se entre o 6 e 7 anos. Manifesta-se da seguinte maneira: A criança não percebe como pode agir sobre as coisas. Ela não tem uma idéia exata de como as coisas agem umas sobre as outras. A criança não consegue diferenciar as coisas de seu significado.” José e Coelho (1995,p.19)

O animismo é superado por volta dos 7 anos, à medida que vai

descobrindo a realidade.

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“Animismo – é a atribuição de vida e consciência a todas as coisas que rodeiam a criança. Ocorre, sobretudo pela não distinção entre o eu e o mundo exterior. Manifesta-se com a criança supondo que seus brinquedos são vivos, que seus animais entendem a sua fala, que as plantas choram etc.” José e Coelho (1995,p.19)

O artificialismo é superado e vai diminuindo a partir dos 7 anos, à

medida que a criança vai descobrindo a realidade.

“Artificialismo – é a colocação de um agente fabricador na origem das coisas. Manifesta-se da seguinte maneira: A criança considera os homens responsáveis pela existência de todos os objetos que ela observa ao mundo exterior. A criança tende a creditar que os homens fazem com que as coisas apareçam e que essas coisas são mais ou menos vivas e conscientes.” José e Coelho (1995,p.20)

O finalismo tende a desaparecer a partir dos 7 anos, quando a criança

começa a compreender como as coisas funcionam.

“Finalismo – em criança dos 4 aos 7 anos, é o interesse

acentuado que servem as pessoas e as coisas, em detrimento

de conto elas são ou funcionam. Manifesta-se da seguinte

maneira: A criança age com a finalidade de agradar ou

desagradar, obedecer ou desobedecer seus companheiros ou

rivais. Ela brinca, constrói, observa os adultos realizarem

operações técnicas, mas não capta o mecanismo utilizado.”

José e Coelho (1995,p.20)

A imitação é superada a partir dos 7 anos, fase em que o pensamento

da criança evolui e sua capacidade de imitação começa a se tornar consciente.

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“Imitação – é a forma natural com que a criança constrói seu pensamento e origina suas ações. A linguagem da imitação através de gestos é dominante até os 7 anos. Manifesta-se da seguinte maneira: A criança gosta de imitar mesmo o que não entende. Sua ação sempre em origem na ação do adulto. Através de imitação a criança revela seu meio familiar, os colegas e os adultos que a cercam.” José e Coelho (1995,p.20)

A afetividade autocentrada é superada a partir dos 7 anos, quando a

criança começa a descobrir o seu valor e o outro e a afetividade vai se

tornando menos egocêntrica.

“Afetividade autocentrada – é a capacidade de experimentar emoções e sentimento centrados em si. Manifesta-se da seguinte maneira: de 0 aos 2 anos a criança necessita de muito afeto embora quase não demonstre. Dos 2 aos 4 anos, precisa de bastante carinho especialmente dos pais. Por ser muito egocêntrico, quer todo carinho para si. Dos 4 aos 7 anos revela grande necessidade de ser amada. Através de gestos de carinho dos pais, a criança confia inteiramente que eles a amam. Caso semelhante se dá com os professores ao outras pessoas que se dedicam a ela.” José e Coelho (1995,p.21)

De acordo com José e Coelho (1995) quando a criança não se

desenvolve em um ambiente afetivamente equilibrado, onde possa lhe ser

dado amor, carinho, a mesma poderá ser levada a uma situação de

desequilíbrio, gerando comportamentos problemáticos difíceis entre a criança e

o meio onde a mesma encontra-se manifestando assim dificuldades

emocionais, supersensibilidade, sentimentos de rejeição, sensação de pânico

em determinadas circunstâncias, ansiedade, regressão ou infantilização.

Vale ressaltar que o comportamento anormal ou patológico pode ter

origem no fator genético ou social que serão destacados no próximo capítulo

da pesquisa. A identificação de tais fatores levará p professor a detectar

alguma anormalidade ou a percepção de que a criança possa estar

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vivenciando em uma fase difícil, que poderá ser provisória ou não, dependendo

das suas condições em superá-la.

A leitura é um processo de compreensão abrangente que envolve

aspectos sensoriais, emocionais, intelectuais, filosóficos, neurológicos, bem

como culturais, econômicos e políticos. E a correspondência entre os sons e

sinais gráficos, através de decifração do código e a compreensão do conceito

ou idéia.

Segundo José e Coelho (1995) tanto a fala, a leitura não é um

comportamento natural, mas um processo adquirido, a longo prazo, e em

certas circunstâncias de vida que determinam o sucesso ou fracasso na

aprendizagem:

• A identificação dos símbolos impressos (letras e palavras) através dos

órgãos de visão. Estes recebem os estímulos gráficos e os transmitem, através

do nervo óptico, aos centros visuais do cérebro.

• O relacionamento dos símbolos gráficos como sons que eles

representam – a – a criança tem de diferenciar visualmente. Cada letra

impressa e perceber que cada símbolo gráfico tem um correspondente sonoro.

• A compreensão e a análise crítica do que foi lido: o individuo percebe

os símbolos gráficos, compreendem seu significado, julga e assimila os fatos

de acordo com sua vivência (currículo oculto que ele traz do meio cultural e

social em que vive).

• No processo inicial da leitura ocorre o que chamamos de

decodificação, ou seja, o envolvimento da discriminação visual dos símbolos

impressos e a associação entre a palavra impressa e o som.

A partir das considerações de José e Coelho (1995)a visão, o tato, a

audição e o gosto são referenciais elementares na aquisição dos símbolos

gráficos, pois está leitura sensorial começa muito cedo em nossa vida.

Iniciamos a leitura do universo adulto que nos cerca quando ainda bebes, e

continuamos essa leitura por toda nossa vida. Destaca-se também a leitura

emocional, em que contam os sentimentos, as emoções com as quais o leitor

se vê envolvida, até inconscientemente trata-se de um processo de

identificação, no qual o leitor às vezes tende a justificar ou negar seu

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envolvimento com o que leu. Nesse sentido, a criança é capaz de se envolver

muito mais emocionalmente com um livro de que o adulto.

Na escola o tipo de leitura mais comum é a leitura intelectual,

caracterizada pela teoria dos fatos, pela rigidez de forma de apresentação e

pela tendência a isolar o leitor do contextual pessoal.

Com base em José e Coelho (1995) percebe-se que, para que a criança

adquira os símbolos gráficos, ela precisa ter perfeita integridade sensorial e

também a capacidade de interagir experiências não verbais, isto, de diferenciar

um símbolo do outro, atribuir-lhe significado e retê-lo ao adquiri a linguagem

auditiva à criança vai diferenciar, por exemplo, o símbolo casa de outros

símbolos quem ouve e vai associar essa unidade auditiva ao objeto. A seguir,

ela retém asse símbolo para uso futuro, dessa forma torna-se capaz de

recordá-lo ao falar com outras pessoas.

Hoje entende-se que precisa-se com urgência, resgatar em nossas

escolas, principalmente nas de ensino fundamental, a prática da leitura por

prazer, sem cobranças de entendimento dos textos através de provas

cansativas e acadêmicas. Toda a escola deveria, uma vez por semana,

propiciar às crianças o manuseio de livros em sala de aula para desenvolver os

aspectos sensoriais, emocionais e intelectuais da leitura, de uma forma

racional e dinâmica. A criança aprende a ler lendo, e não passivamente,

copiando inúmeras vezes uma palavra ou frase, e muito menos através de

cópias longas e exaustivas.

Estudando José e Coelho (1995) pode-se dizer que os distúrbios de

leitura são caracterizados através das formas descritas, podendo ser

encontrados em crianças que apresentam distúrbios de leitura, mas não é

necessário que todas sejam detectadas em uma única criança.

• Memória: a criança apresenta dificuldade auditiva e visual de reter

informações. Ela pode ser incapaz de recordar os sons das letras, de juntar os

sons para formar palavras ou ainda memorizar seqüências não conseguindo

lembrar a ordem das letras ou sons dentro das palavras. Esse distúrbio de

memória resulta de disfunções do sistema nervoso central e frequentemente

se manifesta só no aspecto visual ou no auditivo.

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• Orientação espaço-temporal: a criança não é capaz de reconhecer

direita e esquerda, não compreende as ordens que envolvem o uso dessas

palavras e fica confusa nas aulas de educação física, por não entender as

regras dos jogos. Quanto ao tempo, mostra-se incapaz para conhecer as

horas, os dias da semana...

• Esquema corporal: geralmente as crianças com distúrbios de leitura

têm um conhecimento deficiente de seu esquema corporal. Apresentam

dificuldades para identificar as partes do corpo e não revelam boa organização

da postura corporal no espaço m que vive.

• Motricidade: algumas crianças têm distúrbios secundários de

coordenação motora ampla e fina, o que atrapalha seu equilíbrio e sua

destreza manual. Elas caem com facilidade, são desajeitadas, não conseguem

andar de bicicleta, nem manipular peças pequenas de material pedagógico.

• Distúrbio topográfico: é a incapacidade que algumas crianças têm de

compreender legendas de mapas, gráficos, globos e maquete. Elas não

conseguem entender a escala simbólica que está sem usada para definir o

real.

Sendo assim devemos levar em conta o que dizem os autores José e

Coelho (1995, p.09):

“A partir do momento em que o professor ou especialista em educação passa a compreender os princípios do processo de aprendizagem e adquiri prática na aplicação dos mesmos em situações representativas, os problemas que podem ocorrer nessa área serão tratados e resolvidos sem tabus e sem traumas.”

2.2 Dificuldades da aprendizagem da leitura (dislexia)

Com base em Drouet (2006,137) “ o termo dislexia se refere a um

distúrbio de aprendizagem que atinge crianças com dificuldades

específicas de leitura e escrita”. Não é uma doença, mas um distúrbio com

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uma serie de características. Ela torna-se evidente na época da alfabetização,

embora alguns sintomas já estejam presentes em fases anteriores. Apesar de

instrução convencional, adequada inteligência, e oportunidades sócio-cultural e

sem distúrbios cognitivos fundamentais, a criança falha no processo da

aquisição da linguagem. Ela independe de causas intelectuais, emocionais ou

culturais. Ela é hereditária e a incidência é maior em meninos numa proporção

de 3/1. A ocorrência é de cerca de 10% da população mundial. Vale ressaltar que o portador de tal déficit caracteriza-se por ter uma

leitura oral lenta, com omissões, distorcendo e substituindo palavras

comparadas, correções e bloqueios, ocorrendo também um transtorno de

compreensão da leitura. De forma associada podem aparecer dificuldades de

discriminação da fala, da linguagem e da escrita. É importante, que se excluam

do diagnostico de dislexia aqueles referentes a retardo mental, escolarização

inadequada ou escassa e déficit auditivos ou visuais.

2.3 Dislexia do desenvolvimento

Com base em Olivier (2007) utiliza-se também essa dominação para se

referir a esta dificuldade que ocorre durante o desenvolvimento das habilidades

de leitura, o qual não é unicamente justificada por idade mental. Problemas de

acuidade visual ou, escolaridade inadequada. A habilidade de compreensão da

leitura, e o reconhecimento de palavras na leitura, a habilidade e leitura oral e

o desempenho das tarefas que requerem leitura podem estar todos afetado.

Os transtornos específicos do desenvolvimento de leitura são comumente

percebidos por uma história de transtornos no desenvolvimento de leitura são

comumente percebidos por uma história de transtornos no desenvolvimento da

fala e da linguagem.

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2.4 Tipos de dislexia

Segundo Olivier (2007) aprender a ler para muitas crianças é realmente

fascinante e não parece exigir muito esforço, pois fazem com rapidez

associações entre símbolo escrito, o símbolo auditivo e o significado. A criança

integra diretamente as experiências não verbais, depois adquire um sistema

auditivo e, posteriormente, um sistema visual.

Se uma criança apresenta dificuldade para integrar uma experiência

significativa ou aprender através das modalidades visual e auditiva, com

certeza ela tem dificuldade de leitura.

2.4.1 Dislexia da linguagem interior

De acordo com Olivier (2007) é a mais severa das formas de dislexia. A

criança percebe os grafemas e decodifica para os equivalentes auditivos, lendo

alto, simplesmente. Torna-se uma repetidora de palavras, pois a função de

significação não é atingida por ela.

2.4.2 Dislexia auditiva

Levando-se em conta as considerações de Olivier (2007) possui dislexia

auditiva o indivíduo que apresenta deficiência na percepção auditiva. Seus

sintomas são:

• Deficiente memória auditiva

• Deficiente discriminação auditiva (não visualiza cognitivamente o

fonema)

Portanto afeta o processo cognitivo que relaciona os fonemas com os

grafemas na formação das palavras. Ler é de certa forma “ver e ouvir”. A

visualização pressupõe a autorização dos grafemas, isto é, capacidade de

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simbolizar e codificar a informação. O que está afetado é a auditorização dos

grafemas, por isso as funções de silabação, (soletração) a fonologia e a função

auditiva, são um indicativo muito forte no êxito da leitura.

2.4.3 Dislexia visual

Levando-se em conta as considerações de Olivier (2007) possui dislexia

visual o indivíduo que apresenta deficiência na percepção visual, sintomas:

• Dificuldade na função viso – motora

• Dificuldade na habilidade visual (não visualiza cognitivamente o

fonema)

Desta forma observa-se quando as letras não são reconhecidas como

letras temos uma dislexia visual. Neste caso, não é, a função de compreensão

ou significação que está em pauta, o problema é o da discriminação que afeta

a codificação visual dos fonemas e a formação das palavras, prejudicando a

simbolização.

Devido à variedade de envolvimento não se pode usar uma abordagem

terapêutica unitária. Os procedimentos terapêuticos dependem da natureza da

dislexia. Um objetivo importante é o desenvolvimento da integração da

experiência da palavra falada e escrita.

2.5 Disgrafia

Com base em Drouet (2006) disgrafia é a dificuldade em passar para a

escrita o estímulo visual da palavra impressa. Caracteriza-se pelo lento traçado

das letras, que em geral são ilegíveis. A criança disgrafia não é portadora de

defeito visual, nem motor e tampouco de qualquer comprometimento

intelectual ou neurológico. No entanto, ela não consegue idealizar no plano

motor o que captou no plano visual.

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“Disgrafia é a dificuldade na utilização dos símbolos gráficos para exprimir idéias. Caracteriza-se pelo traçado irregular das letras e pela má distribuição das palavras no papel. A criança consegue copiar um texto, porém quando esse mesmo é ditado, ou então quando esse texto é uma dissertação, surgem sérios problemas de escrita.” Drouet (2006, p.131)

Existem vários níveis de disgrafia, desde a incapacidade de segurar um

lápis ou traçar uma linha, até a apresentada por crianças que são capazes de

fazer desenhos simples, mas não de copiar figuras ou palavras mais

complexas.

Com base em Drouet (2006) vale ressaltar que as crianças disgráficas

mais velhas conseguem reproduzir legivelmente uma palavra, mas distorcem a

seqüência dos movimentos quando escrevem. Os principais tipos de erros da

criança disgráficas são:

• Apresentação ordenada do texto;

• Margens malfeitas ou inexistentes, a criança ultrapassa ou para muito

antes da margem, não respeita limites, amostra letras na borda da folha;

• Espaço irregular entre as palavras, linhas e entrelinhas;

• Traçado de má qualidade: tamanho pequeno ou grande pressão leve

ou forte, letras irregulares e retocadas;

• Distorção da forma das letras o e a;

• Substituição de curvas por ângulos: c / c;

• Movimentação contraditórios aos da escrita convencional: s / 5;

• Separação inadequada das letras;

• Ligações defeituosas de letras na palavra;

• Irregularidade no espaçamento das letras na palavra;

• Direção da escrita oscilando para cima ou para baixo;

• Dificuldade na escrita e no alinhamento dos números na página;

Vale ressaltar que tanto as crianças canhotas como aquelas que ainda

não apresentam dominância lateral definida estão sujeitas à disgrafia, se não

forem devidamente orientadas sobre a postura do corpo, a posição do papel e

a preensão do lápis.

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2.6 Disortografia

Segundo Drouet (2006) disortografia caracteriza-se pela incapacidade

de transcrever corretamente a linguagem oral havendo traças ortográficas e

confusão de letras. Essa dificuldade não implica a diminuição da qualidade do

traçado das letras.

“Disortografia é a incapacidade de apresentar uma escrita correta, com o uso adequado dos símbolos gráficos. A criança não respeita a individualidade das palavras. Junta palavras, troca sílabas e omite sílabas ou palavras.” Drouet (2006, p.131)

Segundo a autora acima citada as trocas ortográficas são normais

durante a 1º e a 2º séries do ensino fundamental, porque a relação entre a

palavra impressa e os sons ainda não estão totalmente dominadas a partir daí

os professores devem avaliar as dificuldades ortográficas apresentadas por

seus alunos, principalmente por aqueles que trocam letras ou sílabas de

palavras já conhecidas e trabalhadas em sala de aula.

Com base em Drouet (2006) os principais tipos de erro que a criança

com disotorgrafia costuma apresentar são:

• Confusão de letras (trocas auditivas);

• Consoantes surdas por sonoras: f/v, p/b, ch/j;

• Vogais nasais por orais: na/a, en/e, in/i, um/u;

• Confusão de letras (trocas visuais) simétricas: b/d, p/q, semelhantes:

e/a, b/h, f/t;

• Confusão de palavras com configurações semelhantes: pato/pelo;

• Uso de palavras com o mesmo som para várias letras: casa/caza,

azar/asar, exame/ezame (com som de z);

Além desses traços podem surgir dificuldades em recordar a seqüência

dos sons das palavras, que são elaboradas mentalmente. Surgem então:

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omissões (caxa/caixa), adições (árvorie/árvore), inversões (picoca/pipoca),

fragmentações (encontraram/em contraram); (a parecer/aparecer), junções

(um dia o menino/umdia o menino), contaminação na palavra de uma letra por

outra próxima (brincadeira/brindadeira).

Vale ressaltar que a memória visual da criança que apresenta

disortografia deve ser estimulada constantemente. Isso pode ser feito através

de quadros onde constem as letras do alfabeto, as famílias silábicas e os

números para que ela possa utiliza-los, enquanto faz seu trabalho escrito.

2.7 Erros de formulação e sintaxe

Com base em Drouet (2006) erros de formulação e sintaxe é um

distúrbio da escrita que é relacionado a casos de criança que consegue ler

perfeitamente, compreendendo e copiando palavras, porém não conseguem

produzir textos e responder a perguntas relacionadas às provas escritas.

Cometem erros na forma escrita sem conseguir transmitir para a mesma os

conhecimentos adquiridos na linguagem oral.

Nos distúrbios de formulação escrita à criança tem boa compreensão do

que lê, mas tem dificuldade em colocar seu pensamento em símbolos gráficos

(textos).

Encontra-se nos distúrbios de sintaxe, que podem ou não ser

acompanhados aos de formulações, as seguintes características: omissão de

palavras, ordem errada das palavras, uso incorreto dos verbos e dos pronomes

terminações incorretas das palavras e falta de pontuação.

Portanto os distúrbios de formação e sintaxe escrita causam um efeito

de frustração nas crianças, pois as mesmas percebam que são capazes de

competirem, com as demais em relação aos conhecimentos orais, porém

sentem-se impotentes quando precisam transmitir tais conhecimentos para a

escrita. Considerando a complexidade do problema, pode se atingir algum

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progresso mediante tratamento adequado que pode ser indicado por

especialistas no assunto.

2.8 Déficit de atenção (com ou sem hiperatividade)

Com base em Olivier (2007) déficit de atenção é um conjunto em que os

impulsos a nível cerebral se dão numa velocidade muito acima do normal. As

seqüências podem ser diversas, como a falta de atenção, impulsividade e

agressividade a ser desorganizada, desleixada desastrada. Com isso recebe

repressões freqüentes, que prejudicam sua auto-imagem. É necessário tentar

inverter esse circulo vicioso, reforçando a criança em pequenas atitudes

positivas, para que perceba que é capaz de coisas boas e volte a acreditar em

si, melhorando sua produção.

O déficit de atenção pode estar associado ou não a hiperatividade.

Ocorre predominantemente em meninos com inicio antes dos 7 anos.

Muitas vezes há história de movimentos aos 3 e 4 anos de idade. Na pré-

escola e início do 1º ano há dificuldade de atenção para os conteúdos

ensinados. Não param na carteira, não se organizam nas tarefas etc.

Estas dificuldades devem ocorrer na escola, no lar, no clube ou em

qualquer outro ambiente. A intensidade é variável (leve, moderada, intensa)

sendo indicado tratamento nos casos mais preocupantes. A criança pode

apresentar dificuldade na aprendizagem escolar (algumas vezes associadas a

outras disfunções a outras disfunções) ou distúrbios de conduta.

Este quadro neurológico está relacionado às disfunções neuro –

químicas (neurotransmissores) que ocorrem principalmente à nível da

substancia reticular (no tronco cerebral) e gânglios da base. Assim, até 60%

dos casos podem se beneficiar com medicamentos estimulantes (metilfenilato)

ou antidepressivos.

O tratamento medicamento deve ser acompanhado de mudanças de

conduta da família, escola e de outras pessoas do ambiente da criança. Apoio

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psicopedagógico e outras terapias (psicoterapia, fonoaudiologia) devem ser

indicadas quando necessárias.

Não devemos considerar toda criança hiperativa como causa

neurológica. No diagnóstico diferencial devemos considerar: a crianças

normais “super ativas”, inteligentes sem dificuldades de aprendizagem e que

exigem atenção especial da escola e da família. O professor, a mãe ou irmãos,

devem aprender a lidar com estas crianças, dando atividades extras durante a

atividade escolar, ou familiar, psicoses da infância, onde a criança apresenta

pensamentos desestruturados.

Contudo as causas dos distúrbios da leitura e da escrita são

compreendidos em origens diversas, porém em sua maioria consiste em falhas

em relação a percepção visual e auditiva. E todos os envolvidos no processo

educacional devem procurar discernir, analisar e pesquisar os conflitos que a

criança sofre com os afetos destas disfunções de aprendizagem. Por isso

devemos fazer um esforço conjunto no sentido de tentar minimizar esses

problemas, se não conseguimos resolvê-los completamente.

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CONCLUSÃO

Após o estudo bibliográfico conclui-se que na educação o mais válido é

aquilo que se descobre e se transforma. Os distúrbios de aprendizagem

centram-se em dificuldades nos processos implicados na linguagem e nos

rendimentos acadêmicos independentemente da idade das pessoas e cuja

causa seria ou uma disfunção cerebral, ou uma alteração emocional.

Os problemas encontrados na aprendizagem são muitos, cabendo ao

professor tentar ajudar os alunos, fazendo o diagnóstico de tais distúrbios.

Ao trabalhar com crianças com tais déficits de aprendizagem, faz-se

necessário uma reflexão precisa para desenvolver um bom trabalho auxiliando

na solução dos problemas de aprendizagem.

A ação educativa e as aprendizagens devem ser organizadas de forma

a proporcionar ao educando oportunidades de êxito. O resultado obtido é

origem da auto-estima. As possibilidades de efeito ampliam-se quando são

ensinadas novas estratégias e motivações para situações de maior dificuldade.

Então compreendemos que um maior conhecimento do processo ensino

aprendizagem, e pesquisa em torno dos distúrbios ocasionados das disfunções

de leitura e de escrita, proporcionam uma reflexão em melhores propostas

para a aplicação das teorias nas práticas educativas em torno de tratamento

de problemas de aprendizagem, trazendo assim possibilidade mais amplas de

sucesso escolar para todas as crianças que enfrentam essa problemática.

Com isso o papel da escola, do professor e pais, consiste em auxiliar a

criança com distúrbios de aprendizagem minimizando conflitos e levando-a a

descobrir, lidar e superar as falhas responsáveis pelos obstáculos cognitivos,

afetivos e comportamentais que interferem no seu empenho escolar.

É importante salientar também a contribuição desse trabalho no sentido

de iluminar a área da psicopedagogia, permitindo um melhor delineamento da

prática dos profissionais que atuam nessa área.

Por todas essas considerações pode-se concluir que em grandes partes

as pretensas dificuldades de aprendizagem de alunos que fracassam nos

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processos de aquisição de código escrito se devem fundamentalmente, não

aos problemas pessoais, mas a um conjunto de condições sócios culturais e

sobre tudo escolares que dificultam ou até impossibilitam sua inserção nos

processos de aprendizagem escolar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PAÍN, Sara. In: MACHADO,Ana Maria Netto (trad.). Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. RAPPAPORT, Clara Regina. Psicóloga do desenvolvimento. Soa Paulo: EPU, 1981. VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A LEITURA E A ESCRITA NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM 11

1.1 – O processo de aprendizagem 11 1.2 – A dimensão biológica do processo de aprendizagem 16 1.3 – A dimensão cognitiva do processo de aprendizagem 18 1.4 – A dimensão social do processo de aprendizagem 19 1.5 – Condições internas e externas da aprendizagem 21 1.6 – A aprendizagem da leitura e da escrita 22 CAPÍTULO II - DISTÚRBIOS QUE DIFICULTAM O

RECONHECIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA

COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO PARA O SER 27

2.1 – O normal e o patológico 29

2.2 – Dificuldades da aprendizagem da leitura (dislexia) 36

2.3 – Dislexia do desenvolvimento 36

2.4 – A dimensão cognitiva do processo de aprendizagem 37

2.5 – Disgrafia 38

2.6 – Disortografia 40

2.7 – Erros de formulação e sintaxe 41

2.8 – Déficit de atenção (com ou sem hiperatividade) 42

CONCLUSÃO 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46

ÍNDICE 48

FOLHA DE AVALIAÇÃO 49

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Autor: MARCELLE TOLEDO BARBOSA BITARÃES

Data da entrega: 31/07/2010

Avaliado por: Conceito: