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Universidade de Brasília - UnB
Faculdade de Educação - FE
Relatos de experiências pedagógicas com as novas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC`s)
Creni Alves de Jesus
Brasília 2011
1
Creni Alves de Jesus
Relatos de experiências pedagógicas com as novas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC`s)
Trabalho Final de Curso apresentado como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciado em Pedagogia, à Comissão
Examinadora da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília, sob a orientação da
professora Dra. Sônia Marise Salles Carvalho.
Comissão examinadora:
Profª. Dra. Sônia Marise Salles Carvalho (orientadora)
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
Prof. Dr. José Luiz Villar Mella
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
Prof. José Zuchiwschi
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
2
HOMENAGEM
Aos meus pais que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade.
Aos meus irmãos pelo carinho e apoio.
Aos meus filhos que ao nascerem encheram a minha vida de alegria.
À minha esposa que foi e é amiga e companheira em todos os momentos da minha vida.
Agradeço por vocês existirem!
3
AGRADECIMENTOS
A trajetória da minha vida que possibilitou chegar ao momento de construção deste
trabalho final de curso não teve início na UnB. Os passos foram iniciados na pequena Cidade
de Caiapônia-GO, local em que obtive os primeiros: conselhos, incentivos e orientações sobre
como ser um cidadão e sempre continuar estudando.
Como é impossível relacionar, neste trabalho, todos que de alguma forma passaram
pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou hoje, aproveito este espaço
para agradecê-los.
No entanto, aproveito a oportunidade para agradecer algumas pessoas pela
contribuição direta na construção deste trabalho:
À professora Sônia Marise, pela acolhida na UnB e orientações que subsidiaram
minhas reflexões sobre como relacionar a teoria e a prática nas minhas práticas pedagógicas
nos ambientes escolares e não escolares.
À professora Edméa Santos, pela orientação durante o período que estudei na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e por ter me apresentado ao “mundo” das novas
Tecnologias da Informação e Comunicação.
À minha esposa Ana Maria, por ser a companheira, a amiga, a incentivadora nas
diversas fases da minha vida acadêmica, profissional e pessoal. Obrigado amor por tudo.
Aos meus filhos: Daiane, Daniele e Gabriel. Como sempre falo para vocês: “vocês são
os presentes que Deus me deu”. Amo vocês meu filhos! A presença de vocês me deram força
nos momentos difíceis dessa minha jornada.
Aos meus irmãos: Crenis, Leondeniz e Maria Luzia, pelo carinho e força que vocês me
dão e a confiança que tem em mim. Vocês são muitos especiais.
Ao meu pai Graciano e minha mãe Conceição que sempre foram e é a minha fonte de
inspiração. E foi graças a vocês que estou hoje concluindo este trabalho.
4
RESUMO
Este ensaio pretende mostrar as experiências pedagógicas, com o uso das novas Tecnologias
da Comunicação e Informação (TIC´s), que aconteceram em ambiente escolar e não escolar,
no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, com crianças, jovens, adultos e professores.
Experiências vivenciadas nos laboratórios de informática de escolas públicas, na internet e na
construção de um laboratório de informática em uma comunidade. Cabe ressaltar que a
construção do laboratório de informática aconteceu quando os alunos, professor e comunidade
viviam na prática a economia solidária. Assim, utilizou-se da metodologia pautada na
abordagem sócio-histórica. O método foi o da pesquisa-ação ou pesquisa-participante em que
houve a observação, entrevista, reuniões, oficinas pedagógicas, reflexão das oficinas
pedagógicas e análise dos dados.
O ensaio espera contribuir com as reflexões, experiências e resultados em estímulo e
referência para uma inclusão digital, através das TIC`s, que leve a uma inclusão social dos
sujeitos em processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chave: novas Tecnologias de Comunicação e Informação, softwares livres, Linux Educacional, inclusão digital, inclusão social, economia solidária. RESUMEN Este ensayo tiene como objetivo mostrar las experiencias pedagógicas con el uso de las
nuevas tecnologías de la comunicación (TIC), que tuvo lugar en una escuela y no la escuela
en Río de Janeiro y el Distrito Federal, con niños, jóvenes, adultos y profesores . Experiencias
en los laboratorios de computación en las escuelas públicas, la Internet y la construcción de
un laboratorio de computación en una comunidad. Cabe señalar que la construcción del
laboratorio de computación que ocurrió cuando estudiantes, profesores y la comunidad vivió
en la práctica la economía solidaria. Por lo tanto, se utilizó la metodología basada en el
enfoque socio-histórico. El método era el de investigación-acción o investigación en la que
hubo una observación participante, entrevistas, reuniones, talleres de enseñanza, la enseñanza
de talleres de reflexión y análisis.
El ensayo pretende contribuir a las reflexiones, experiencias y resultados en un estímulo y
referencia para la inclusión digital a través de las TIC s, lo que llevó a la inclusión de temas
en la enseñanza y el aprendizaje.
Palabras clave: Nueva Información y la Comunicación, Software Libre, Linux para la Educación, la inclusión digital, la inclusión social, la economía solidaria.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................1
1º CAPÍTULO: Reflexões sobre a importância das novas Tecnologias da Informação e
Comunicação na prática pedagógica ......................................................................................4
1.1. A WEB 1.0 E 2.0.............................................................................................................7
1.2. Softwares livres ..............................................................................................................8
1.3. Desafios com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação .........................12
1.4. Linux Educacional........................................................................................................16
2º CAPÍTULO: Relatos de experiências pedagógicas vivenciadas com as novas
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC`s) ..........................................................22
2.1. Experiências pedagógicas vivenciadas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) por meio da Pesquisa e Prática Pedagógica (PPP) ......................................................22
2.1.1. Primeiras experiências pedagógicas .....................................................................22
2.1.2. Segunda experiência pedagógica: movimento popular em Itaboraí-RJ ...............31
2.2. Novas experiências pedagógicas com as Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC´s) vivenciadas na Universidade de Brasília (UnB) .........................................................35
2.2.1. Experiências pedagógicas vivenciadas no Centro de Ensino Fundamental 08 de
Sobradinho II (CEF 08 de Sobradinho II) ................................................................................37
2.2.2. Experiências pedagógicas com educação popular vivenciadas em Santa Maria-DF
através da Economia Solidária .................................................................................................44
2.2.3. Experiências pedagógicas na alfabetização de jovens e adultos, em ambiente não
Escolar, vivenciada em Santa Maria-DF ..................................................................................47
Considerações Finais...............................................................................................................54
Anexos
1
INTRODUÇÃO
A minha vida acadêmica tem o seu início na cidade do Rio de Janeiro, mas a minha
trajetória de vida começa na cidade de Caiapônia, localizada no interior de Goiás, local em
que nasci. Mas, aos 16 anos fui obrigado a mudar para a cidade de Rio Verde-GO, a fim de
poder trabalhar e estudar, já que as condições sociais da época não permitiam estudar e
trabalhar ao mesmo tempo em Caiapônia.
Quando estava concluindo o Ensino Médio passei em um concurso que exigia morar por
um ano e realizar um curso (em regime de semi-internato) na cidade de Recife-PE. Ao
concluir o curso a vaga disponível para a minha ocupação estava na cidade do Rio de Janeiro.
A minha adaptação no Rio de Janeiro foi um pouco difícil, pois vinha de uma cidadezinha
do interior, era jovem, com 18 anos e longe dos parentes. O meu apoio foram os colegas do
curso realizado em Recife que também foram para o Rio de Janeiro e estavam em situação
semelhante a minha.
Com o passar dos anos conheci uma moça que se chama Ana Maria, oriunda da cidade de
Varjota, interior do Ceará, e que atualmente é a mãe dos meus três filhos (Daiane, Daniele e
Gabriel) e minha esposa, namorada e amiga.
Após morar alguns anos na cidade do Rio de Janeiro, vi a necessidade de adquirir a casa
própria para morar com a família. Fato que provocou a minha mudança para o bairro Nova
Cidade, na cidade de Itaboraí-RJ, localizada a 50 Km da Capital. Contudo o meu local de
trabalho continuava no centro do Rio de Janeiro.
Ao decidir prestar vestibular o mais viável, devido o trânsito, era cursar em uma
universidade pública que possibilitasse um fácil acesso. Nesse contexto, a UERJ além de
localizar-se próximo ao centro do Rio de Janeiro dispunha de acesso facilitado e possibilitava
a utilização de meios de transporte rodoviário, metroviário e ferroviário. Esses diferenciados
meios de transportes são fundamentais em uma cidade de engarrafamentos rotineiros.
Foi assim que saindo da pequena Caiapônia-GO fui iniciar a minha vida acadêmica na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Prestei vestibular para o curso de Pedagogia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) visando, em um primeiro momento, a uma ascensão profissional no trabalho.
Ascensão facultada aos possuidores de curso superior em algumas áreas do conhecimento.
Dentre essas áreas tinha a Pedagogia. Em um segundo momento, após conhecer a Pedagogia e
2
suas variadas áreas em que o pedagogo pode atuar, não tive dúvida em está no curso que
desejava e precisava. Esta certeza foi reforçada pela escolha, no primeiro semestre, da área em
que realizaria, por três anos, uma Pesquisa e Prática Pedagógica (PPP) com uso das novas
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC`s), orientado pela professora Doutora Edméa
Oliveira dos Santos.
Assim, o ingresso na faculdade foi muito positivo, pois proporcionou uma relação online
com universitários (estudantes de universidades públicas e particulares) que moram em
Itaboraí-RJ, cidade localizada a 50 km da capital do estado. E dessa relação online em que
discutíamos diversos assuntos que nos inquietavam surgiu um movimento popular que
interferiu diretamente na política local. Em um primeiro momento essa intervenção buscava a
conquista do ônibus universitário. Mas, a luta pelo ônibus universitário foi tão intensa que os
integrantes entenderam que a busca por uma sociedade melhor não podia parar apenas na
questão do ônibus universitário, pois diversas questões da localidade nos inquietavam. Um
detalhe dessa mobilização popular foi a utilização das novas TIC`s na potencializar da luta.
Também, em Itaboraí, na Escola Municipal do bairro que morava, tive contado, em
ambiente escolar, com ensino-aprendizagem facultado pela abertura do laboratório de
informática através de uma oficina com crianças e jovens. Logo produzi e executei uma
oficina, orientado pela professora Edméa, voltado para a formação continuada dos professores
da Escola para uso das novas TIC`s em suas práticas pedagógicas. E em seguida realizei na
escola Clara Municipal de Itaboraí um estágio de 120 horas na educação infantil, momento
em que foram utilizados os recursos do laboratório de informática para potencializar o que os
alunos estavam aprendendo em sala de aula.
Ao concluir três anos do curso de Pedagogia e de PPP, fui transferido, por necessidade do
serviço, para a cidade de Brasília-DF. Fato que me levou a pedir transferência para a
Universidade de Brasília (UnB). Chegando em Brasília deparei-me com um currículo um
pouco diferente, e similar as PPP tinha os projetos que integram o curso de Pedagogia. Como
os projetos na UnB são obrigatórios procurei um projeto que trouxesse algo que ainda não
conhecia, mas que fizesse uma conexão com o que já havia desenvolvido nas áreas das novas
TIC`s.
No projeto 1, cuja finalidade é orientar os alunos que estão ingressando na UnB, entrei em
contato com o conceito de Economia Solidária. Ao aprofundar um pouco mais sobre o que é
Economia Solidária não tive dúvida de que tinha encontrado uma área de pesquisa que
possibilitava continuar utilizando o que já tinha desenvolvido nas PPP além de poder utilizar
as experiências adquiridas na UERJ para desenvolver uma PPP na perspectiva da economia
3
solidária, com isso, passei a ser orientado pela professora Doutora Sônia Marise Salles
Carvalho. Com isso e com o objetivo de continuar a minha formação no curso de Pedagogia
realizei um estágio no Centro de Ensino Fundamental 08 de Sobradinho II (CEF08 de
Sobradinho II) com uso das novas TIC`s na Educação de Jovens e Adultos (EJA), também
realizava em Santa Maria-DF um trabalho de campo, junto com a professora Sônia Marise e
alunos dos projetos 3 fase A, B e C e Projeto 4 fase 1 e 2, momento em que vivi na prática a
Economia Solidária. E durante a realização desse trabalho de campo entramos em contato
com educadores de um programa, de um banco público, que promove a alfabetização de
jovens e adultos, ofertado pela fundação do banco público através de uma organização da
sociedade civil. Como um dos projetos da Economia Solidária inclui a Educação de Jovens e
Adultos resolvemos fazer um parceria em Santa Maria visando promover um programa de
alfabetização junto com a Economia Solidária.
Assim, irei relatar detalhadamente cada acontecimento dessas minhas experiências
pedagógicas que começou com as novas TIC`s e entrelaçou-se com a economia solidária.
Mas, antes irei fazer uma reflexão sobre a importância das TIC´s na prática pedagógica.
4
1º CAPÍTULO: Reflexões sobre a importância das novas Tecnologias da Informação e
Comunicação na prática pedagógica
Pretende-se aqui trazer o conceito de novas tecnologias da informação e comunicação e
refletir um pouco sobre a internet e os softwares livres o que leva a discutir o software que
está sendo instalado e usado nas escolas públicas e a importância desse conjunto de
tecnologias para a prática pedagógica nos diferentes ambientes de aprendizagem (escolar e
não escolar).
Assim, as novas tecnologias da informação e da comunicação não estão restritas somente
ao uso dos computadores e a internet, pois existem mais coisas que em conjunto formam seu
conceito, Segundo Petry (2006).
O conceito de novas tecnologias está associado à utilização do computador
pessoal e sua progressiva transformação em ferramenta de utilização nos
processos de expressão e comunicação da subjetividade. Pela primeira vez
na história, o homem dispõe dos suportes para registrar, armazenar e
recuperar, de uma só vez, um mix de informação que combina, numa espécie
de sincretismo digital, texto, imagem estática e dinâmica e sons dissolvidos
em um mesmo código comum: o código digital.
A Wikipédia por sua vez traz um conceito sobre novas Tecnlogias da Informação e
Cominicação, a saber:
Chamam-se de Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs)
as tecnologias e métodos para comunicar surgidas no contexto da Revolução
Informacional, "Revolução Telemática" ou Terceira Revolução Industrial,
desenvolvidas gradativamente desde a segunda metade da década de 1970 e,
principalmente, nos anos 1990. A imensa maioria delas se caracteriza por
agilizar, horizontalizar e tornar menos palpável (fisicamente manipulável) o
conteúdo da comunicação, por meio da digitalização e da comunicação em
redes (mediada ou não por computadores) para a captação, transmissão e
distribuição das informações (texto, imagem estática, vídeo e som).
Considera-se que o advento destas novas tecnologias (e a forma como foram
utilizadas por governos, empresas, indivíduos e setores sociais) possibilitou
o surgimento da "sociedade da informação". Alguns estudiosos já falam de
5
sociedade do conhecimento para destacar o valor do capital humano na
sociedade estruturada em redes telemáticas.
Diante dos conceitos apresentados pode-se citar como exemplo de novas TIC`s: o
computador, a internet, o celular, a câmara fotográfica digital, as tecnologias de acesso remoto
sem fio (wireless), as TV por assinatura, o mp3, mp4, as TV HD, o CD/DVD, dentre outros. E
é nesse contexto que as novas TIC´s são abordadas neste ensaio. Haja vista, ser possível
utilizar o celular para além do conversar, pois permite fazer gravações de conversas, tirar
fotos, fazer filmagens, dentre outros. A câmara fotográfica digital além de fotografar
possibilita a filmagem com excelente qualidade o que abre caminho para diversas produções.
Com isso, o baixo custo desses equipamentos eletrônicos aliados as suas múltiplas
funcionalidades permitem serem apropriados pelas populações de todas as classes sociais e
pela escola que podem utilizá-los em diversas produções com diferentes intenções. Intenções
que podem está voltadas para a recreação, denúncia, potencialização de lutas sociais,
potencialização de aprendizagem, divulgação de eventos da localidade.
Diante disso, as diversas comunidades não precisam esperar que os meios de
comunicações tradicionais noticiem os acontecimentos da sua região. A comunidade ou
escola podem ser autoras de suas produções. E sendo autoras podem divulgar seus anseios
sem recortes e de forma contextualizada com sua realidade. Fato que traz o respeito a
identidade local e abre caminhos para as comunidades conhecerem melhor sua localidade e
ver o que ela oferece e produz, além de poderem expressar-se sem a necessidade de
mediadores (como as mídias tradicionais) que, muitas vezes, distorcem os anseios locais.
Mas, os meios que possibilitam juntar/alterar o áudio, a foto, o filme para uma produção
significativa e que permitem disponibilizar essa produção no ciberespaço1 e ao mesmo tempo
provocar uma discussão interativa são os diferentes softwares que estão disponíveis no
computador e na internet. Os softwares permitem editar e reunir as fotos, gravações,
filmagens que resultarão em variadas produções que poderão ser disponibilizadas no
Ciberespaço visando as mais variadas intenções.
1 Lévy diz que “A palavra ciberespaço foi inventada em 1984 por William Bibson em seu romance de ficção científica Neuromante. No livro, esse termo designa o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural.” Mas, a utilização desse conceito neste ensaio é norteada por Lévy que define “o ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. ...Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação.” (LÉVY, 199, p. 92-93)
6
Foi assim que o movimento popular em Itaboraí2 conseguiu potencializar a sua luta pelo
ônibus universitário, pois em reuniões com os representantes ora do Poder Legislativa, ora do
Poder Executivo as conversas eram gravadas pelos celulares e disponibilizadas na internet,
além de fotos e filmagem dos encontros. As autoridades vendo suas palavras e fotos dos
encontros com os universitários expostos na internet não tiveram outra opção senão implantar
o transporte social universitário.
Importante destacar que os universitários de Itaboraí utilizaram como meio de pressão a
ocupação do espaço antes dominado pela imprensa tradicional que divulgava esporadicamente
e sem contextualizar com os diversos acontecimentos do cotidiano local relativo a busca pela
implantação do transporte universitário. Ao ocupar o espaço na internet, divulgando as
notícias locais, um ambiente antes dominado pela imprensa tradicional, os universitários
perceberam que poderiam, ainda, a baixo custo divulgar as notícias locais através de outra
mídia como uma revista e utilizando, para sua produção, as novas TIC´s. Fato que reforçou
ainda mais o relacionamento entre as ações no ciberespaço e ações presenciais, pois alcançou
às pessoas que não tem acesso a internet.
Também, utilizando celular e máquina fotográfica o CEF 08 de Sobradinho II3 está
divulgando os acontecimentos do cotidiano escolar para além das salas de aulas e dos muros
da escola. Essa estratégia de divulgação está promovendo uma interação/interatividade entre a
comunidade escolar do CEF 08 de Sobradinho II. Haja vista, além da divulgação dos
acontecimentos, está disponível espaço para qualquer pessoa comentar as notícias. E
buscando a exposição de idéias da comunidade escolar o BLOG criou espaço para
comentários dos alunos, professores e pais.
Nesse contexto fica claro que não basta utilizar os computadores conectados à internet
para que a inclusão digital aconteça. Para promover a inclusão digital e ao mesmo tempo a
inclusão social, as experiências vivenciadas no Rio de Janeiro e em Brasília, mostram a
necessidade de relacionar idéias, ações e diferentes equipamentos tecnológicos chamados
neste ensaio de novas TIC´s.
Assim, para mostrar a experiência da prática pedagógica acontecendo através da utilização
das novas TIC`s, que será abordado nos tópicos seguintes um pouco sobre internet, softwares
livres, Linux educacional e como isso é importante para potencializar a aprendizagem e
promover uma inclusão digital e social dos alunos.
2 o movimento popular em Itaboraí é um dos tópicos do próximo capítulo que relata a luta de universitários, professores e sociedade utilizando as TIC´s para potencializar o movimento. 3 o CEF 08 de Sobradinho II também é um dos tópicos do próximo capítulo que relata o uso das TIC´s na escola visando envolver a comunidade escolar e a sociedade que a cerca.
7
1.1. A WEB 1.0 E 2.0
A internet teve uma primeira fase chamada de web 1.0 onde era constituída basicamente
de páginas estáticas e cheias de conteúdos que não permitia a interação/interatividade dos
usuários. Ela estava disposta da seguinte forma: de um lado um web designer4 que construía
uma página na rede cheia de conteúdos e de outro lado os usuários que só podiam ler essas
páginas sem poderem alterar/construir/complementar seus conteúdos. Com isso, os conteúdos
disponíveis geravam muitas dúvidas e não eram atrativos, pois não trazia qualquer
significação para os usuários.
Nesse contexto, a web 1.0 pode ser comparada à educação bancária em que o aluno é
depositário das idéias do professor, ou seja, ver a educação como sendo de fora para dentro.
Isso mudou com o surgimento da web 2.0, segundo Valente (2007, p. 73) em 2003
O`Reilly Media usa, pela primeira vez, o termo web 2.0. Termo que inaugura uma nova fase
da internet a partir de 2004. Fase essa que diferencia em muito da web 1.0, pois permite uma
verdadeira interação/interatividade dos usuários que modifica, constrói ou complementa a
informação. Com isso, a construção das páginas web, antes restritas ao web designer, agora
permite a participação dos usuários.
Na web 2.0 de um lado estava o usuário e do outro estava também o web designer. Porém
o usuário estava do lado do web designer modificando, construindo ou complementando a
informação, pois nessa fase produzir conteúdos na internet não requeria mais conhecimentos
aprofundados. Haja vista, a criação de diversos softwares online que tornaram possíveis, a
qualquer usuário, a criação de páginas na internet e publicações com simples clics, antes essa
função requeria conhecimentos de um web designer. Nessa fase da internet o usuário passou a
poder produzir, alterar e consumir os conteúdos disponíveis no ciberespaço.
Com isso, o usuário sendo autor de suas produções e ao mesmo tempo sendo consumidor
dessas produções provocou a popularização da internet. Essa popularização da internet está
intimamente relacionada com o fato de os conteúdos terem tornados significativos para o
4 Web designer é o profissional competente para a elaboração do projeto estético e funcional de um web site. Para o desenvolvimento de websites esse profissional deve ter a compreensão da aplicação em mídia eletrônica de disciplinas como: Teoria das cores, Tipografia, Arquitetura de informação, Semiótica, Usabilidade, e Conhecimento de Linguagens de Estruturação e Formatação de Documentos hiper textuais como XHTML (Extensible Hypertext Markup Language) e CSS (Cascade Style Sheet). Para a aplicação desse conhecimento, de forma geral, o web designer recorre a softwares de tratamento e edição de imagens, desenho e codificadores. (fonte: <www.wikipedia.org.br>. Acesso em: 27 out. 2011)
8
usuário, pois o que agora estava na grande rede eram conhecimentos que vieram de dentro
para fora, ou seja, o usuário era autor de suas produções.
Nesse contexto, uma das formas de potencializar a aprendizagem na rede aponta para o
incentivo ao desenvolvimento da autoria. E foi nessa perspectiva que algumas produções das
oficinas, realizadas com uma turma de Educação de Jovens e Adultos no CEF 08 de
Sobradinho II, foram publicadas no BLOG da escola. O resultado foi o acesso não só dos
alunos para verem suas produções, mas também de seus familiares. Um das frases dos alunos
é que ao pedir para a filha acessar o BLOG da escola ela disse: “agora eu também escrevo na
internet” outra frase foi “não disse para vocês que eu tenho aula com computador e vocês não
acreditavam” disse outra aluna aos seus netos a ver uma foto publicada no BLOG relativo a
uma oficina.
As frases acima mostram que o conteúdo disponível no ciberespaço passou a ser
significativo para os alunos que antes não entendiam para que servia a internet. Mas, os
alunos passaram a ter outro olhar sobre a internet no momento em que produziam conteúdos
para a rede e depois estavam dividindo suas produções com os seus familiares, inclusive como
prova das atividades que realizava na escola. Com isso, a escola conseguiu incentivar o aluno
a procurá-la mesmo quando estava fora dela e ainda aproximou os familiares da mesma.
Assim, com o advento da web 2.0 houve a democratização da utilização da rede e uma
comunicação em que a interatividade estava presente. E o ciberespaço tornou-se um espaço
em que o professor pode encontrar-se com seus alunos e produzir/incentivar as suas autorias.
Autorias essas que potencializam a aprendizagem e aproximam o aluno e seus familiares da
escola, o que torna importante na construção da aproximação da escola com a sociedade que a
cerca.
Mas, as diversas produções no computador e na rede só são possíveis devido a
democratização do acesso à tecnologia pelos softwares livres, a qual será discutido no
próximo tópico.
1.2. Softwares livres
Os softwares livres vieram democratizar o acesso às novas tecnologias da informação
(TIC`s), pois além de serem gratuitos vem com o código fonte liberado. Isso quer dizer que o
programa pode ser alterado e adequado às necessidades de cada usuário de forma livre e sem
qualquer gasto financeiro.
9
Mas, um software gratuito não quer dizer que ele seja livre, pois existem muitos softwares
gratuitos que não são livres. E ao mesmo tempo existem muitos softwares livres que são
pagos.
Para um software ser considerado livre é necessário que ele garanta quatro liberdades, a
saber: o uso, a cópia, as modificações e a redistribuição. Na página da Free Software
Foundation (www.fsf.org) tem o trecho transcrito das quatros liberdades, de forma detalhada,
que definem as condições para um software ser considerado livre, cuja transcrição segue
abaixo:
- A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade n
0)
- A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo às suas
necessidades (liberdade n 1). Aceso ao código-fonte é um pré-requisito para
esta liberdade.
- A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu
próximo (liberdade n 2).
- A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos,
ao público, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade n 3).
Acesso ao código fonte é um pré requisito para esta.
Então só o fato de um software ser gratuito ou mesmo vir com o código fonte aberto não
reúnem as condições suficientes para ser livre. Para serem considerados livres os softwares
devem reunir as liberdades supracitadas.
Segundo Silveira, os softwares livres vão além de serem gratuitos, eles são a liberdade de
expressão. E para exemplificar faz uma comparação, entre software livre e proprietário,
utilizando a receita de bolo.
Uma receita é um conjunto de idéias ou informações. Um software também.
Quando falamos em software proprietário estamos falando de um modelo de
desenvolvimento e distribuição baseado em licenças restritivas de uso.
Estamos falando em autoria e propriedade do software. Em analogia,
estamos falando que a receita não é mais entregue junto com o bolo, pois as
pessoas estariam impedidas de modificar e redistribuir aquela receita.
(SILVEIRA, 2004, p. 9-10)
10
E depois cita o exemplo da compra de uma casa:
Quando alguém compra uma casa, tem o direito de reformá-la inteiramente,
de ampliá-la ou de demolir suas paredes. Pode até revendê-la. Um software
tipicamente proprietário não dá ao seu usuário nenhuma destas opções. Ele
continua a ser propriedade da empresa que o vendeu.
As pessoas que usam software proprietário na verdade são como locatárias
de um imóvel que nunca será seu. (SILVEIRA, 2004, p. 10)
Fica claro na sociedade da informação, em que estamos vivendo, que a informação
tornou-se algo precioso. E fazer com que as pessoas não tenham acesso a informação está
sendo a melhor forma de dominar e excluir. Ou seja, se quisermos uma sociedade justa,
igualitária e com melhor distribuição de rendas é primordial que o conhecimento circule
livremente. E é nesse contexto que os softwares livres entram, não apenas como algo gratuito,
mas livre. Pronto para fazer com que a informação circule e seja construída, modificada,
acessada de maneira colaborativa. Pois o conhecimento não foi criado por um grupo restrito
de pessoas e países, por isso, não deve ser propriedade de ninguém. O conhecimento pertence
à humanidade.
Nesse contexto de liberdade de expressão os softwares livres chegam às escolas. Antes os
gestores das unidades educacionais eram obrigados a abrirem licitações, cheias de
burocracias, para adquirirem um simples software, e que rapidamente ficavam obsoletos. O
que obrigava novas ações burocráticas para compra das atualizações ou de novos softwares.
Como certas atualizações ou compras eram muito caras o projeto de montagem de um simples
laboratório ficava engavetado, pois ao montar um laboratório deve-se levar em conta,
primordialmente, os softwares, suas atualizações e os hardwares.
Com os softwares livres a preocupação com a compra de softwares pela escola acabou, e
esses softwares ainda vieram com o código fonte aberto o que possibilita a um professor, que
tenha um pouco de conhecimento de programação, colocar os programas de acordo com as
suas necessidades. Além de possibilitar a distribuição de cópias de programas, entre
professores e alunos, sem se preocuparem com pirataria, como é o caso dos softwares
proprietários.
Assim, os softwares livres estão impulsionando a implantação de vários laboratórios de
informática nas escolas do Brasil. Pois o gasto com a compra de softwares e suas regulares
atualizações está sendo direcionada apenas para a compra de hardware.
11
Contudo o uso de softwares livres nas escolas encontram diversas dificuldades, pois o
novo assusta, e como defesa, é mais fácil dizer que o novo não presta do que sair das práticas
rotineiras. E se, além disso, o novo vier sem uma formação continuada séria qualquer trabalho
torna-se um desastre.
Nesse contexto, a dificuldade em usar um software livre por usuários de softwares
proprietários está relacionada, basicamente, com: a falta de conhecimento e a falta de uma
formação continuada. Depois de vencidos esses obstáculos é descoberto que as diferenças
entre softwares livres e proprietários são fáceis de serem superadas. E passar a usar um
software desconhecido, com facilidade, é apenas uma questão de adaptação. Fato comprovado
na prática quando foi feita a “oficina com os professores no Laboratório de informática” de
uma escola municipal na cidade de Itaboraí-RJ em que foi utilizada a desconstrução do
conhecimento de um software pelo seu nome fantasia e a reconstrução desse conhecimento
pelo nome das principais funcionalidades do software. O que permitiu aos professores,
participantes da oficina, a não só fazer perguntas ao Sistema Operacional instalado no
computador, sem se preocupar se é proprietário ou livre, como fazer essas perguntas também
na internet visando a utilização de softwares online. Perguntas como: que editor de texto ou
de planilha eletrônica, ou de slide esse Sistema Operacional ou a internet me oferece? Ao
invés de: Esse Sistema Operacional ou internet tem Word, Excel ou Power point? Como
exemplo de resposta a essa pergunta pode-se citar O Sistema Operacional Linux Educacional
que oferece como editor de texto o writer, como editor de slide o impress, dentre outros. Se
direcionar essa pergunta a internet, em relação aos softwares disponíveis online, teremos
como resposta milhares de softwares dentre eles pode-se citar o “Google Docs” que vem com
editores de texto, slide e planilha eletrônica.
Depois de feito o trabalho de desconstrução e reconstrução das idéias a oficina utilizando
os softwares livres disponíveis no computador da escola transcorreu sem maiores
dificuldades, pois a maioria já era usuária de computadores que utilizavam softwares
proprietários, ou seja, eles já tinham conhecimento da utilização da tecnologia. O trabalho na
oficina foi mediar para que os professores mudassem o olhar sobre as outras tecnologias que
funcionam de forma similar.
Com isso, o principal obstáculo, no uso de qualquer equipamento novo, de acordo com as
palavras do professor André Ueb, no III Encontro Nacional de BrOffice5, é “a falta de
5. No dia 03 de outubro de 2008, aconteceu o III Encontro Nacional do BrOffice.org, que apesar de nacional, foi
internacional desde a sua primeira edição. É considerado um dos mais importantes eventos de Software Livre do país. O evento possui abrangência nacional e promove a integração dos usuários, executivos, equipe de
12
capacitação dos professores”, pois o novo sempre assusta as pessoas. E o novo sem
capacitação atrapalha ou mesmo inviabiliza a implantação de qualquer sistema em uma
escola. E André Ueb ainda afirma que “o lugar ideal para o conhecimento, a discussão e o uso
dos softwares livres são as faculdades”, pois hoje não é difícil encontrar as faculdades usando
softwares proprietários e as escolas usando softwares livres.
Na época da fala do Professor André Ueb, no ano de 2008, o curso da Faculdade de
Educação da UERJ utilizava na formação de professores para interagir e ensinar com as TIC`s
os softwares proprietários enquanto nas escolas públicas os laboratórios montados tinha
instalado em seus computadores Softwares Livres, dentre eles, a terceira versão do Linux
Educacional do Ministério da Educação (o Linux Educacional 2.1). Também, na época da
abertura do laboratório na escola municipal em Itaboraí uma das reclamações das professoras
que tinham feito a formação continuada era a falta de sensibilidade dos cursos de formação
em fazer uma relação com os softwares que estavam sendo instalados nas escolas.
Diante do exposto, fica evidente que quem conhece um software terá poucas dificuldades
em utilizar o software livre. Mas a dificuldade para a utilização dos softwares livres com
sucesso nas escolas aponta para a falta de discussão e interação sobre o assunto e falta de uma
educação continuada que dialogo com a realidade da escola, pois a falta de conhecimento abre
espaço para dizer que o sistema que veio democratizar o uso dos softwares não funciona. E
essa falta de conhecimento no uso dos softwares prejudica muito a adaptação do professor
quando houver o contato com um software por ele desconhecido. Podendo, com isso, ter
reflexos negativos incalculáveis no desempenho das suas aulas no laboratório de informática e
na democratização no uso dos softwares.
1.3. Desafios com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação
Os desafios com uso das Tecnologias da Informação e Comunicação puderam ser
identificados a partir de um questionário com seis questões, aplicado na Faculdade de
Educação da UnB, a 34 alunos dos cursos de Antropologia, Física, Letras, Matemática,
Filosofia e Pedagogia, no período de 27 de outubro a 04 de novembro de 2011, cujos
resultados passo a relatar:
desenvolvimento, instituições de ensino e comunidade em geral, através de palestras técnicas que apresentam casos de sucesso, linhas de desenvolvimento, vantagens e desvantagens, além das inovações da suíte de escritório livre BrOffice. A participação aconteceu em um dos pontos de videoconferência espalhados pelo Brasil, Paraguai, Espanha ou Uruguai. (fonte: <http://www.broffice.org/3enbro>. Acesso em: 27 out. 2011)
13
Questão 1, “Você sabe o que é Linux Educacional? Caso sim explique.”
30 alunos que responderam o questionário disseram que não. 1 respondeu que já ouviu
falar que era um programa. 1 respondeu que era um programa desenvolvido pelo MEC para
professores da rede pública de ensino. 1 respondeu que é um sistema operacional grátis e 1
respondeu que é um programa do MEC para a EJA.
As respostas ora apresentadas mostram um total desconhecimento sobre o Sistema
Operacional que as escolas públicas de todo o País usam em seus laboratórios. E mesmo
aqueles que dizem conhecer o definem como grátis ou como voltado para a EJA. Fato que
mostra a falta de discussão nas universidades sobre o que é o software livre e que ser grátis
não atende as quatro condições básicas para um software ser considerado livre.
Questão 2, “Você sabe o que é software livre? Caso sim explique”.
23 responderam que não conhece. 7 responderam que são softwares livres que podem ser
modificados de acordo com a vontade do usuário. 1 respondeu que são softwares grátis e 1
que são softwares disponíveis na internet.
Nas respostas da questão 2 continua evidente a falta de discussão sobre o que são
softwares livres nos cursos de formação de professores. Porém, o conhecimento, mesmo que
tímido, na entrevista mostra que os alunos conhecem um pouco mais de softwares livres do
que o Linux Educacional que estão nas escolas públicas. Esse conhecimento diferenciado fica
evidente quando constatamos que a maioria que respondeu não conhecer o Linux Educacional
sabe definir o que é softwares livres. Porém, o conhecimento sobre softwares livres ainda é
tímido e há a confusão de definir como livre tudo o que é gratuito, pois um software
proprietário também é disponibilizado de forma gratuita, mas não reúne as condições para ser
livre.
Questão 3, “Você já usou informática na educação? Se sim, o que achou?”
22 responderam que sim. Porém, a maioria relacionou essa questão com pesquisa na
internet e confecção de trabalho escolar, sendo que uma das respostas disse ser fundamental
para a aprendizagem da criança. 12 responderam que não.
As respostas apresentadas na questão três mostra que relacionar as tecnologias com as
práticas pedagógicas do dia a dia do professor ainda não foi apropriada pelos estudantes em
formação na faculdade de educação. Dado que mostra a urgência em abrir um debate que
aborde não só a temática softwares livres, mas discuta a questão do uso das novas tecnologias
14
na escola. E para qualificar o debate é essencial trazer diversas experiências concretas do uso
das tecnologias.
Questão 4, “Você acha que é importante para a aprendizagem o computador e a internet na
escola?”
Essa questão apresentou um unânime sim. Com alunos dizendo que “sim, devido o
momento histórico e as necessidades atuais” e dizendo “sim, porque a escola não pode ser a
última a ser inserida nas novas tecnologias. Outros dizendo sim, mas pode virar bagunça se o
professor não souber conduzir.
As respostas a essa questão mostra que os estudantes entendem que a escola não pode
ficar alheia às novas tecnologias, pois elas estão inseridas no nosso cotidiano. Mas, alerta que
o professor precisa ser preparado para usar as tecnologias na educação para poder exercer
uma prática pedagógica com qualidade e que provoque a aprendizagem.
Questão 5, “Você sabe o que são novas Tecnologias da Informação e Comunicação? Se
sim, explique e cite exemplos?”
25 responderam que não. E 9 responderam que sim e relacionaram suas respostas com
softwares, mídias, produtos que podem ser utilizados na construção da informação.
As respostam mostra que a maioria desconhece o que são as novas tecnologias, mas a
minoria que respondeu conhecer mostrou que conhecem o conceito das TIC´s.
Questão 6, “Você já assistiu aula no laboratório de informática da UnB? Se sim, sabe qual
o Sistema Operacional que usou e quantas vezes assistiu aula?”
10 responderam que não. 19 responderam que sim. Dentre os que responderam sim 6
responderam que usaram mas não lembram o nome do Sistema operacional, 4 responderam
que usaram Linux, 3 responderam que usaram software proprietário windows, 5 responderam
que utilizaram um programa de pesquisa e 1 disse que o professor levou os alunos no
laboratório apenas para mostrar um programa. Uma resposta chamou a atenção ao dizer:
“Tive aula lá, mas com os computadores desligados”.
As respostas da maioria dos alunos que tiveram a oportunidade de utilizar o laboratório de
informática disseram que o uso só foi possível porque fizeram matérias específicas que usam
o laboratório, mas essas matérias não são obrigatórias nos currículos dos cursos de graduação
da pedagogia e da licenciatura.
15
Diante dos resultados do questionário aplicado no final de 2011 na UnB, fica demonstrada
a necessidade de abrir uma discussão que englobe softwares livres, o uso das novas
tecnologias na escola e os currículos dos cursos de graduação da pedagogia e da licenciatura.
Haja vista os dados da pesquisa apresentar que os cursos de formação de professores não
estão dialogando com a realidade escolar na preparação dos futuros profissionais da educação
para interagir com seus alunos na utilização das novas tecnologias. Isso pode ser um dos
indicadores da grande quantidade de laboratórios de informática que encontram-se em
perfeitas condições de uso, mas estão fechados. Fato que coaduna com o período de
experiência pedagógica no laboratório no CEF 08 de Sobradinho II que funciona devido um
professor, que é cursado em matemática e informática, ser o responsável pelo laboratório e
desenvolver um trabalho de parceria e oferta do laboratório para uso dos professores e alunos.
Mas, no período vespertino que o professor não ministra aula o laboratório fica fechado. Esse
fechamento não era para ocorrer se os demais professores fossem preparados para usar as
novas tecnologias durante o curso de formação nas faculdades ou encontrassem nas escolas
investimento dos governantes na formação continuada, segundo GOUVÊA (1999, p. 68, apud
Proposta Pedagógica – 2011 do CEF 08 Sobradinho II)
o papel do professor será imprescindível, sendo assim, ele terá que se
adequar a essa tecnologia, utilizado na sala de aula, no seu cotidiano, da
mesma forma que um professor um dia, introduziu o primeiro livro numa
escola e teve de começar a lidar de modo diferente com o conhecimento –
sem deixar as outras tecnologias de comunicação de lado.
Diante disso, fica a questão: No uso do livro da escola existe um especialista em livros
auxiliando o professor dentro da sala de aula? A essa questão associo a minha experiência
como aluno desde a educação infantil até a universidade em que os livros sempre estiveram
presentes em todas as disciplinas e sempre era usada pelos professores sem a necessidade de
intermediários. E é nesse contexto que os cursos de formação de professores precisam avançar
mostrando que o uso do laboratório de informática é um espaço que precisa ser apropriado
pelo professor. Haja vista, a virtualização com uso de softwares permitir potencializar a
aprendizagem dos alunos. Um exemplo dessa virtualização é a reprodução do raio, com uso
de softwares no laboratório de informática o professor pode reproduzir a concentração de
partículas positivas e negativas e sua consequente transformação em raio, o que enriquece a
aprendizagem dos seus alunos. Se o professor reproduzir um raio em sala de aula, sem ser
16
através de virtualização, todos correm risco de vida. E, segundo um aluno do 7º período de
Física da UnB6, o uso da informática na educação “...É muito útil primeiramente por ser um
recurso didático além de se aproximar da realidade da atual geração”.
Com isso, torna-se urgente acontecer nas universidades uma verdadeira discussão sobre os
softwares livres que abranja todas as áreas do conhecimento e mostre que o professor precisa
apropriar de conhecimentos sobre o uso não só de softwares mas do uso das novas Tecnologia
da Informação e da Comunicação nas suas práticas pedagógicas visando uma verdadeira
inclusão digital e social dos seus alunos. E com o intuito de provocar a inclusão digital e
social dos alunos que o governo vem desenvolvimento e implantando nas escolas públicas um
Sistema Operacional, voltado para a educação, chamado de Linux Educacional, cuja
discussão sobre esse software livre será desenvolvida no próximo tópico.
1.4. Linux Educacional
Aproveitando as liberdades dos softwares livres, o governo federal, através do Programa
Nacional de Informática na Educação (ProInfo7), lança o Linux Educacional8, programa que
está sendo instalados nos laboratórios de informática das escolas públicas no Brasil.
O Linux Educacional é um Sistema Operacional voltado para a educação e produzido para
atender professores e alunos da rede pública. Esse software livre é uma distribuição baseada
na distribuição comunitária do GNU/Linux o Debian, sendo o KDE a sua interface gráfica e
traz, na versão 2.1, os aplicativos de uso geral como a suíte de escritório BrOffice.org,
softwares educacionais, objetos de Aprendizagem (RIVED), vídeos da TV escola, domínio
público, dentre outros. Além de trazer uma interface gráfica que possibilita uma interação
similar a do Windows xp.
E desde o seu lançamento, o Linux Educacional vem colecionando várias versões (1.0
lançado em 2006, 2.0 lançado em 2007, 2.1 lançado em 2008, 3.0 e 4.0). A quantidade de
6 Resposta à questão três do questionário aplicado no período de 27 a 31 de outubro de 2011 na FE/UnB. 7 O Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) é um programa educacional criado pela Portaria nº 522, de 9 de abril de 1997, pelo Ministério da Educação, para promover o uso pedagógico da informática na rede pública de ensino fundamental e médio. Fonte: http://portal.mec.gov.br/seed/index.php?option=content&task=view&id=136&Itemid=273
8 Linux Educacional é uma distribuição Linux desenvolvida pelo Centro de Experimentação em Tecnologia Educacional (CETE) do Ministério da Educação e Cultura (MEC) brasileiro. Fonte:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Linux_Educacional>.
17
lançamentos de novas versões em “pouco tempo”9 é fruto das várias críticas feitas pelos
professores /alunos e programadores. As críticas são feitas principalmente através da internet
cobrando melhorias e indicando a adoção de sistema com repositórios e suporte mais sólidos.
Buscando atender as reivindicações dos professores e promover um acesso mais amigável que
o Ministério da Educação e Cultura (MEC) lança em fevereiro de 2009 o Linux Educacional
3.0. Uma versão Linux baseada no Kubuntu10 8.04 que tem uma base de suporte técnico mais
sólido em nosso País e no mundo. Para quem conhece as versões anteriores baseada no debian
fica fácil constatar que a decisão em usar como base o kubuntu no Linux Educacional 3.0
facilitou o acesso e abriu um leque incalculável de novas possibilidades. O detalhe a observar
foi que tudo teve uma forte influência dos internautas que testaram, criticaram, sugeriram
melhorias e sugeriram novas opções linux para o MEC disponibilizar um sistema operacional
mais amigável. E em 2010 foi lançada a versão 4.0 do Linux Educacional, que vem com mais
novidades para facilitar a utilização do professor junto com seus alunos. Para o
desenvolvimento dessa versão 4.0 do Linux Educacional foi feito um convênio entre o MEC e
o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) que é um Grupo de pesquisa do
Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Grupo de Pesquisa
que construiu e disponibilizou na internet, para cópia, três versões, a saber:
- Pessoal: disponível para ser instalado em máquinas de uso pessoal, ou seja, essa
versão pode ser baixada da internet e utilizada por qualquer pessoa.
- Desktop: disponível para computadores dos laboratórios de informática das escolas
que foram adquiridos através dos Pregões 38/2006 e 45/2007.
- Multiterminal: disponível para computadores multiterminal dos laboratórios de
informática das escolas adquiridos através dos Pregões 68/2009, 83/2008 e 71/2010. Cabe
dizer que os computadores multiterminal são encontrados nos laboratórios de informática das
escolas públicas com a seguinte característica principal: três monitores conectados a uma
mesma “torre” ou gabinete.
Quanto à decisão do governo brasileiro em implantar o uso do Linux nas escolas públicas
vem de encontro com as idéias de Silveira (2004, p. 35), que diz: “Apenas resistir ao
patenteamento de software não basta, é preciso avançar na utilização ampla do software
aberto e não-proprietário.”
9 Se levarmos em conta que o PROINFO foi criado em 1997 e a partir de 2006 começou lançar versões do Linux Educacional de ano em ano. 10 O nome Kubuntu é a junção do K de KDE mais a palavra Ubuntu que significa "humanidade para com os outros" num dialeto sul africano chamado Bemba. Fonte: <pt.wikipedia.org>.
18
Assim, a escolha na utilização do Linux Educacional demonstra que o povo brasileiro não
mais aceita o conhecimento sendo produzido por um pequeno grupo de Países dominantes
que disponibilizando-os à grande maioria de países às migalhas e como se fosse por graça ou
impondo suas condições de exploração. Nesse contexto, o uso de softwares livres é um não à
dependência tecnológica. É um não a submissão. É um dos caminhos para o crescimento do
nosso País. Além de imagináveis formas de aplicações em todas as áreas do conhecimento.
Diante disso, fica claro que quando a escola busca promover uma verdadeira inclusão digital e
social dos seus alunos ela só acontece em sua plenitude através do uso de softwares livres.
O Linux Educacional vem possibilitar uma educação diferenciada nas escolas, pois é um
Sistema Operacional desenvolvido para a educação. E por ser desenvolvido para a educação
diferencia-se dos diversos Sistemas Operacionais, como o Ubuntu e o Windows que foram
desenvolvidos para o trabalho nos escritórios. Com isso, os professores tem em mãos, não um
simples software que realiza determinada atividade voltada para o trabalho. Mas, um
programa que agrega vários outros softwares educativos. E ao agregar diversos softwares
voltados para a educação faz com que a utilização desse Sistema Operacional na escola tenha
uma capacidade de uso ilimitada, porque o que ele não traz para atender o currículo de uma
escola pode ser criado, buscado instalado.
Mas, o fato de possibilitar um uso diversificado para atender às várias necessidades da
escola não se limita a instalação de programas educativos, pois com o computador conectado
à internet as estratégias de virtualização no processo ensino-aprendizagem aumentam em
proporções infinitas, onde busco apoio em Libâneo, que afirma:
Essas tecnologias são, obviamente, um beneficio. A virtualidade, a
representação técnica do real, permite traduzir tudo em imagens. A imagem
virtual pode tornar visível um pensamento abstrato, um projeto, um conceito,
um modelo matemático ou física, como as formulas matemáticas,
demonstração de fenômenos. Tanto o que não existe na realidade quanto o
que ainda não existe, inclusive aquilo que não existirá jamais. Permite
desenvolver um raciocínio, compreender fenômenos complexos, difundir o
conhecimento. Em síntese, a virtualidade nos põe informados. (LIBÂNEO
2002, p. 29)
Com o Linux Educacional e seus vários aplicativos aliados a internet entrando nas escolas
para potencializar o desenvolvimento do aprendizado como a autoria, essa autoria não fica
19
mais presa em um pedaço de papel onde ninguém mais ler. Ela pode ser disponibilizada na
rede onde várias pessoas podem lê-las, criticá-las, complementá-las, referenciá-las, dentre
outras possibilidades.
Com isso, o que o Linux Educacional traz para educação de crianças, jovens e adultos é
outra linguagem que facilita melhorar a apreensão do conhecimento, pois se vale de recursos
que o professor não tem em sala de aula.
O professor, por sua vez, estar inserido no mundo digital tornou-se fundamental, pois
agregar em suas práticas pedagógicas as novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC`s) vem com a necessidade de conhecê-las antes. O conhecimento propiciará ao professor
tranqüilidade para reunir competências no desenvolvimento de novas estratégias pedagógicas.
O uso de novas estratégias aliada as TIC`s serão fundamentais para potencializar o
aprendizado dos alunos, o que vem de acordo com as idéias de Libâneo, transcritas abaixo:
Numa sociedade repleta das novas tecnologias da comunicação e da
informação, nenhum educador hoje pode ignorar a presença das mídias, seu
papel, sua utilização em sala de aula. Em função disso, os professores
precisam preparar-se para serem consumidores críticos das mídias, e para
ajudar os seus alunos a se relacionarem criticamente com elas. (LIBÂNEO
2002, p. 110)
Assim, é urgente proporcionar a inclusão digital dos professores, com foco no uso dos
computadores na escola, a fim de, possibilitar o conhecimento e uso da informação no mundo
da cibercultura. Para poder mediar, o seu aluno, a entrar em contato com diferentes
informações o que lhe permitirá aprender usando a ferramenta. Logo, exercitará o
conhecimento adquirido fazendo escolha, analisando, criando, etc, ou seja, terá a
possibilidade de ser capaz em por em dúvida, relacionar uma informação com a outra,
problematizar, assim, ser capaz de fazer o seu próprio julgamento. Então, no caso de textos,
não lerá qualquer coisa e aceitará como verdade sem antes relacioná-lo com outras
informações, fato que ajudará na construção de futuros cidadãos críticos sociais. E é no
contexto da necessidade da construção dos futuros cidadãos críticos que Libâneo chama a
atenção para a escola não mais ignorar as TIC´s, como transcrito abaixo:
A didática contemporânea não pode mais ignorar esse importante conteúdo
que são as tecnologias da comunicação e da informação, tanto como
conteúdo escolar quanto meios educativos. É na escola que se pode fazer,
20
professores e alunos juntos, a leitura crítica das informações e familiarizá-los
no uso das mídias e multimídias. A luta contra a exclusão social e por uma
sociedade justa, uma sociedade que inclua todos, passa fundamentalmente
pela escola, passa pelo nosso trabalho de professores. A escola é o mundo
do conhecimento, e é o conhecimento que possibilita leitura crítica da
informação. Ela continua sendo a principal oportunidade das crianças das
camadas populares usufruírem do conhecimento como condição de liberdade
intelectual e política. (LIBÂNEO 2002, p. 116)
O Linux Educacional vem facilitar a inclusão digital do professor, além de, propiciar a
liberdade de uso. Liberdade caracterizada na facilidade em encontrar outros softwares livres e
gratuitos, prontos para serem agregados ao Linux Educacional, disponíveis na internet. Com
isso, basta o professor pesquisar na grande rede para encontrar diferentes softwares que
atendam as suas necessidades e caso não encontre pode utilizar de um software livre,
modificá-lo (caso tenha conhecimento em programação) e agregar as funcionalidades que
desejar, bastando para isso disponibilizar o software com o código fonte aberto garantindo o
uso, a cópia, as modificações e a redistribuição.
Uma forma de agregar as novas TIC`s no ensino aprendizagem é envolver os alunos em
um projeto. Segue abaixo um exemplo de projeto envolvendo as novas TIC`s no processo
ensino aprendizagem:
Um professor quer desenvolver a leitura e a escrita de seus alunos. Primeiro divide os
alunos em grupos em seguida pede a leitura de um livro, após a leitura os grupos de alunos
deverão produzir um filme baseado no livro lido. Mas, para produzir o filme, antes, eles terão
que construir um roteiro. Para isso, terão que pesquisar na internet o que é roteiro e todas as
informações necessárias para produzirem um filme.
Assim, precisarão usar softwares de edição de imagem/foto e de outras tecnologias, como:
filmadora, máquina fotográfica digital, dentre outros. No final terão que disponibilizar suas
produções na rede.
O que poderá ser observado no exemplo acima é que a leitura e a escrita não ficam
restritas a ler um livro e escrever um resumo, pois o livro teve que ser lido, relido, resumido,
interpretado, pesquisado, contextualizado para ser apropriado pelas outras mídias e, assim,
possibilitar a produção do filme pelos alunos. Nesse contexto, além do ler e escrever, foi
trabalhado a pesquisa, interpretação, o trabalho em grupo, a autoria e a agregação de novas
mídias.
21
O Linux Educacional trouxe a possibilidade para que todos tenham acesso as novas TIC`s,
mas para que ocorra um verdadeiro acesso é necessário que os governantes estejam
comprometidos com a inclusão digital. Esse compromisso precisa ser materializado
observando que só colocar o computador nas escolas, dizendo com isso está fazendo inclusão
digital é apenas um engodo. É preciso que a tecnologia venha acompanhada de uma formação
continuada dos professores. Para facilitar a adoção das novas TIC`s em suas práticas
pedagógicas. E termos uma verdadeira interação e construção de conhecimento coletivo entre
professores e alunos.
Caso a tecnologia não venha acompanhada da formação continuada dos professores
continuaremos vendo laboratórios de informática fechados ou sendo utilizados com conteúdos
aplicados de forma tecnicista sem promover a potencializacão da aprendizagem dos alunos.
A partir das reflexões sobre as novas Tecnologias da Informação e Comunicação,
passamos a apresentar, no próximo capítulo, as experiências pedagógicas vivenciadas ao
longo da formação no curso de Pedagogia.
22
2º CAPÍTULO: Relatos de experiências pedagógicas vivenciadas com as novas
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC`s)
2.1. Experiências pedagógicas vivenciadas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) por meio da Pesquisa e Prática Pedagógica (PPP)
2.1.1. Primeiras experiências pedagógicas
Quando ingressei na UERJ os calouros do curso de Pedagogia eram reunidos em uma sala
para os professores apresentarem suas áreas de Pesquisa e Prática Pedagógica (PPP),
momento em que os alunos escolhiam a área em que iriam pesquisar e exercitar sua prática
pedagógica durante seis semestres. Mas, caso o aluno não se identificasse com a área de PPP
ele poderia mudar no semestre seguinte.
Quando foram apresentadas as PPP não tive dúvida em escolher a que trabalhava com as
novas TIC´s e acontecia no laboratório de informática da Faculdade de Educação, pois
ganhava o salário para o meu sustento em um escritório utilizando computadores. Assim,
entrei no mundo das novas TIC´s e através delas me apaixonei pelo curso de Pedagogia, pois
a proposta da PPP abria oportunidades de exercitar a minha Prática Pedagógica com crianças,
jovens, adultos e professores. Além, de abrir a oportunidade de exercitar essa Prática
Pedagógica nos ambientes não escolares como os movimentos populares.
Com isso, o meu primeiro ano de PPP foi de muito trabalho e descobertas que culminaram
na construção de um vídeo, em grupo, que está disponibilizado no youtube sob o título
“fronteiras digitais”. O video traz uma discussão sobre a questão das fronteiras, provocadas
pelas novas tecnologias, entre os pais e os filhos nascidos a partir do ano de 1994. E a escola
permanece a mesma sem agregar novas descobertas e tecnologias que vem surgindo e
provocando mudanças nas relações sociais das novas gerações. Esse vídeo foi coroado de
sucesso, pois serviu de estudo em diversos cursos oferecidos pelos Núcleos de Tecnologias
Educacionais (NTE) de diversas partes do País (NTEs surgiram de um convênio entre
MEC/SEC da educação e tem como uma de suas finalidades promover a formação continuada
de professores da rede pública para utilização da informática em suas práticas pedagógicas).
Além de ser utilizado por diversos palestrantes pelo País com conhecimento em novas TIC´s.
Como um dos focos da PPP realizada na UERJ estava voltado à formação de pedagogos
com conhecimentos para promoverem a formação continuada dos professores na utilização
23
das novas TIC´s tornou-se necessário utilizar um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Com isso, a nossa sala de aula online era o Ambiente Virtual de Aprendizagem moodle, local
em que acontecia a interação/interatividade entre professor e alunos. No moodle tivemos
diversas experiências em experimentar aulas online, produzir diversos conteúdos
educacionais, participar de debates/palestras/conferências11. O moodle possibilitou uma
vivência interessante da Prática Pedagógica acontecendo em ambiente online.
Assim, concluir os seis períodos de PPP em dezembro de 2009. A PPP foi um momento
de formação que possibilitou a pesquisa, a autoria, conhecer diversos softwares disponíveis na
internet e instalados nos computadores e utilizá-los na educação, vivenciar a prática
pedagógica em Ambiente Virtual de aprendizagem. Além de ser orientado nas minhas práticas
pedagógicas em ambiente escolar (em uma escola municipal na cidade de Itaboraí) e não
escolar (no acompanhamento de um movimento popular em Itaboraí).
As experiências pedagógicas vivenciadas na Escola Municipal de Itaborái-RJ, aconteceu
porque matriculei meus filhos nessa escola, esse fato fazia com que sempre participasse dos
eventos que lá acontecia. Até que a inauguração de um laboratório de informática chamou a
minha atenção e relatei na época no grupo de Pesquisa e Prática Pedagógica, pois era um dos
assuntos que estávamos estudando. Depois ao participar de uma integração entre escola e
comunidade fiz a abertura do laboratório, através de oficinas para crianças e adolescentes, ao
qual também relatei no grupo de PPP e voltei à escola novamente para realizar uma oficina
com os professores no Laboratório de informática.
Com isso, passo a relatar a inauguração do laboratório de informática publicado no grupo
de PPP:
Hoje 17/09/2008 tive o prazer de ver a inauguração de um laboratório de informática em
uma Escola Municipal de Itaboraí, foi um evento muito comemorado pela escola, onde
chamou a comunidade para participar da inauguração. Mas fui lá com olhar de pesquisador e
observei alguns detalhes que não poderia deixar de socializar.
O que chamou minha atenção foi o sistema operacional instalado nos computadores que é
o Linux educacional. Como desenvolvi no semestre passado, com orientação da professora
Edméa um projeto sobre software livre, não tive dificuldade em reconhecer e lidar com os
recursos ali apresentados. Mas como a maioria de nós está acostumada a usar o windows
resolvi convidar vocês para conhecerem o linux principalmente o Linux educacional, pois
11 As produções estão disponíveis em <http://deaduerj.pro.br/moodle>.
24
dificilmente encontraremos nas escolas públicas computadores com windows e utilizando os
aplicativos word, excel, power point, internet explorer.
Fiz uma pesquisa sobre o assunto no site do Programa Nacional de Informática na
Educação (PRO INFO), que foi quem instalou o laboratório na escola visitada e está
instalando em todas as escolas da rede pública, e constatei que o Linux educacional é o
sistema operacional adotado e desenvolvido pelo governo federal, ou seja, se a nossa meta é
preparar professores é necessário o pleno conhecimento e domínio desse sistema por nós. Pois
o que esse sistema traz como aplicativo são os pacotes do BrOffice, o qual fiz uma relação de
similaridade para conhecimento:
a) Processador de texto (BrOffice.org Writer similar do Word);
b) Planilhas eletrônicas (BrOffice.org Calc similar do Excel);
c) Editor de Apresentações (BrOffice.org Impress similar do PowerPoint);
d) Assistente de Bancos de Dados (BrOffice.org Base similar do Acess);
e) Editor de Imagens (BrOffice.org Draw similar do Corel Draw);
f) Editor de Imagens (Gimp similar do Photoshop);
g) Gravador de CD e DVD (BRASERO similar ao NERO); e
h) Navegador (Iceweasel 2.0.0.3 similar ao Internet Explorer).
Os programas acima tem uma aparência muito grande com os programas similares, ou
seja, quem trabalha com um trabalhará com o outro sem dificuldades. Necessitando apenas de
uma pequena familiarização e cuidados com a extensão.
Além do sistema operacional encontrei os professores maravilhados com o computador,
mas sem saber usar. Pessoal a nossa missão é grande, então, temos que nos apropriar dos
conhecimentos necessários para ministrarmos um excelente curso de extensão, pois não
adianta falar inglês se os nossos ouvintes só entendem português. Vamos apropriar de todas as
linguagens para termos uma troca de conhecimento proveitoso.
Esse relato, na época, referia-se ao recém lançado Linux Educacional 2.1 e a relação feita
entre o software proprietário e o software livre era uma inquietação que surgiu na
inauguração, pois na faculdade os professores estavam aprendendo a usar software
proprietário enquanto na escola o governo instalava software livre. A inquietação estava
voltada para a necessidade dos professores apropriarem de conhecimentos para usarem
softwares proprietários, livres e online.
25
O episódio da inauguração do laboratório de informática fez com que a minha relação com
a escola ficasse mais próxima e passo a relatar o acontecimento que chamei na época de
“Abrindo um laboratório de informática” no grupo de PPP.
Hoje, 29/10/2008, dirigi-me a uma Escola Municipal na cidade de Itaboraí para participar
de uma integração entre escola e comunidade. Onde havia várias oficinas educativas e
recreação. Fiquei por um momento andando pela escola e não vi o laboratório de informática,
que tinha sido inaugurado com festa a pouco tempo em funcionamento (foi o mesmo que
participei da inauguração no dia 17/09/2008). Procurei os responsáveis e comecei a perguntar
por que o laboratório não estava funcionando. Responderam que tinham duas professoras
sendo treinadas e que não abriram porque elas estavam arrumando o laboratório e o ar-
condicionado estava quebrado (eles tinham sido orientados a não ligar os computadores sem
ar-condicionado).
Então, aproveitei a oportunidade e me apresentei como aluno pesquisador da UERJ na
área de Informática da educação e caso houvesse interesse poderíamos fazer uma bela oficina,
como complemento das demais. Rapidamente chamaram uma das professoras que está em
treinamento para conversar comigo. Após uma rápida conversa onde falei que estava fazendo
uma pesquisa sobre softwares livres, em especial o Linux Educacional, e que caso fosse
interesse poderíamos realizar uma bela oficina juntos. Rapidamente abriram, pela primeira
vez naquela escola, o laboratório de informática. Quando as crianças perceberam que o
laboratório foi aberto uma imensa fila formou-se com diversos alunos ansiosos para usar os
computadores. Como a quantidade de alunos era imensa as professoras limitaram o uso dos
computadores à meia hora. Iniciamos às 10h da manhã para terminar às 11h30min. Uma
primeira deficiência que verifiquei foi que os computadores ainda não estavam conectados à
intenet. Diante disso, aproveitei os vários softwares que já vem instalado no Linux
Educacional para ministrar a oficina com alunos de diferentes idades, séries e conhecimento
de informática.
No contato com os alunos constatei que muitos queriam internet para acessar o Orkut e
páginas de jogos e outros queriam apenas jogar. Informei que não estava acessando a internet
e aproveitei para mostrar que podemos usar o computador para outras atividades, como: jogos
educativos, jogos educativos em grupo, autoria de história no editor de texto, músicas,
desenhos, dentre outros. Os alunos logo se adaptaram as várias atividades que lhes apresentei
no uso dos softwares. Os que queriam Orkut e jogos descobriram que podiam fazer belos
desenhos, além de outras descobertas que eles não exploravam antes com o uso do
26
computador nas lan hause, tais como: autoria de histórias e trabalho em grupo quando do uso
de jogos educativos, além de outras descobertas. Constatei que a maioria tinha dificuldades
em matemática quando do uso de um jogo educativo relacionado a essa área, fato que os
desestimulavam e faziam procurar atividades mais fáceis. Resolvi a situação propondo que
eles utilizassem o software em grupo. Aí veio outra dificuldade: informá-los que o tempo
acabou, pois em grupo a atividade tornou-se emocionante.
Quando as professoras me perguntaram se as crianças pequenas podiam usar os
computadores? Respondi que tinha atividades para todas as idades. Apareceram crianças
pequenas e logo apresentei um software que já vem no Linux Educacional para crianças a
partir de dois anos de idade. Quando as professores viram logo falaram admiradas: “nossa!
Quer dizer que posso usar com as crianças de 4 anos?” Ou seja, as professoras estavam sendo
preparadas para usar os computadores somente com as crianças a partir da primeira série do
Ensino Fundamental. As crianças da educação infantil iriam ficar excluídas.
O aprendizado aconteceu através de uma troca mútua entre eu, as professoras e os alunos.
As professoras mostrando a forma de se posicionar em uma sala de aula com um grande
número de crianças, eu apresentando as atividades e aprendendo outras novas com as
constantes pergunta dos alunos e dos professores. E os alunos explorando o computador e
descobrindo novas atividades, tais como: Objetos de aprendizagem produzidos pela Rede
Interativa Virtual de Educação (RIVED), domínio público e vídeos do Ministério da
Educação (MEC) que geralmente acessamos através da internet, só que todos estavam no
Linux Educacional disponível para acesso (uma descoberta dos alunos). Ao qual já conhecia e
comecei a explorar com eles tirando suas dúvidas.
Uma descoberta dos alunos e que abrilhantou a oficina foi a descoberta dos vídeos onde
aproveitei a área de ciências que tinha o tema “de onde vem”. Acessei a pasta e tinha vários
vídeos, como: de onde vem a onda, de onde vem o arco íris, de onde vem o ovo, de onde vem
o papel, de onde vem o fósforo e vários outros assuntos, que aguçaram a curiosidade dos
alunos. Os alunos não queriam deixar a gente almoçar, oferecendo até para trazer comida para
nós, então, algumas professoras pediram para eu voltar a tarde. O resultado foi: era para
encerrar as atividades às 11h30min encerramos às 12h e voltei às 13h e encerramos as
atividades às 16h30min, as professores tiveram no final que distribuir senhas, tamanha a
procura e o fato dos alunos que saiam retornarem ao final da fila, feliz dizendo que era muito
bom e queriam usar o computador novamente.
Ficou claro que a não abertura do laboratório era por falta de formação continuada dos
professores que se sentiam inseguros. Haja vista, entre uma conversa e outra as professoras,
27
que estavam em processo de formação continuada, confidenciaram que estavam acostumadas
com o windows e sentiam dificuldades com o linux. Que faziam um curso que usava software
proprietário e livre e outro em Niterói que só usava o software proprietário. Mas nenhum dos
cursos mostravam claramente como usar o Linux Educacional ou mesmo como trabalhar as
aulas no laboratório.
Além de promover à abertura do laboratório de informática a oficina foi, também,
fundamental para evitar que as crianças da educação infantil ficassem excluídas do laboratório
de informática, pois os professores viram que podem interagir com alunos de todas as idades.
O sucesso alcançado através da oficina realizada com os alunos abriu a oportunidade para
realizar uma oficina com os professores da escola que ministram aulas na educação infantil e
séries iniciais e finais do Ensino Fundamental.
Mas, para realizar essa oficina participei de uma reunião com a Coordenadora Pedagógica
e responsável pelo laboratório da Escola Municipal para discutir como seria o trabalho com os
professores.
Vou relatar o que encontrei:
Encontrei a Coordenadora Pedagógica que fez alguns cursos sobre informática educativa
em diferentes lugares (pelo que pude perceber os cursos foram ministrados de forma
compartimentada sem conexão com o todo), perdida sem saber como usar os computadores de
seu laboratório e sem ter como ensinar os professores a usarem (ela fez alguns cursos e tem a
missão de ensinar os professores). O mais curioso é que a prefeitura da cidade ainda mandou
uma pessoa para ajudá-la, só que apenas conhece o Sistema Operacional (SO) windows que é
um software proprietário, assim, a escola tem pessoal e vontade de fazer com que seu
laboratório funcione, porém está encontrando pela frente o “grande muro” da falta de
qualificação e quando busca as suas qualificações elas não correspondem com a realidade
vivida nas escolas.
A realidade da escola é resumidamente simples e ao mesmo tempo difícil, a saber;
- usar o Sistema Operacional Linux e como pode ser relacionado com o windows, em
especial o Linux Educacional.
Relacionar software proprietário e livre no contexto da escola é fundamental, pois a
maioria dos professores recebeu computadores doados pelo poder público com o software
proprietário instalado. E mesmo aquele que não tinham recebido a doação de computadores
possuía em sua residência o software proprietário. E quando digitavam algum arquivo na
escola e depois iam abrir em casa não conseguiam, pois desconheciam a possibilidade de
28
salvar o arquivo de acordo com a extensão do programa que possuía. Isso gerava comentários,
como: “o programa não presta”.
- usar os vários softwares do Linux Educacional pedagogicamente.
- explorar a internet pedagogicamente.
Resumido: A questão para a oficina com os professores era como promover as mudanças
no modo de ensinar usando as novas Tecnologias de informação e Comunicação (TIC´s) e
tendo como intermediário o Linux Educacional?
Um detalhe interessante é que alguns cursos feitos pela coordenadora pedagógica usaram
SO Linux, só que, ele tem diferentes partições.
Essas partições funcionam de maneira diferente. Segundo relato da Coordenadora nenhum
lugar onde ela fez curso de formação continuada usaram o SO Linux Educacional. O que
mostra uma falta de conexão com a realidade das escolas brasileiras.
Assim, fica demonstrado a urgência de ambientarmos com os diferentes SO. Mas, fica
uma lição que a professora Edméia sempre mencionava: "antes de iniciar um projeto conheça
a realidade do lugar". E foi aproveitando essa lição em sala de aula que tomei conhecimento
da necessidade da escola. Como não conhecia o Linux Educacional, tratei logo de emulá-lo,
através de uma máquina virtual construída com o virtualbox, em meu computador. Aí fiz
vários testes para poder tirar proveito das suas principais funcionalidades pedagogicamente.
Voltando à reunião, ainda não tinha o projeto da oficina pronto, apenas rascunhado, pois
queria ter mais alguns detalhes da situação da escola e visava construir o projeto junto com a
coordenadora. Mas, falei sobre o projeto e apresentei o rascunho. Para minha surpresa e
segundo o relato da Coordenadora Pedagógica, o discurso e o projeto atendiam toda a
expectativa da escola e ia além, pois trazia uma abordagem e proposta diferente dos cursos
que ela tinha realizado.
Com os detalhes acertados com a Coordenadora, o título da Oficina foi “Pesquisa e
formação continuada de professores em informática educativa com uso do Linux
Educacional”. E aconteceu no dia 06 de março de 2009, dividida em duas turmas nos
seguintes horários: Turma 1 – 09h30min às 11h30min e Turma 2 – 13h30min às 15h30min
Segue abaixo o relato sobre a oficina:
No dia 06 de março de 2009, foi iniciada a oficina com o tema “Pesquisa e formação
continuada de professores em informática educativa com uso do Linux Educacional” no
laboratório de informática da Escola Municipal da cidade de Itaboraí-RJ. Claro que antes
montei um plano de aula baseada na apresentação da oficina e discussão sobre software livre e
linux. A aula foi planejada para acontecer em dois momentos: Aula expositiva de trinta
29
minutos e o restante uma oficina. Oficina em que exploramos os diversos programas do Linux
Educacional, como: o editor de texto writer e o editor de imagens tuxpaint. Além da
exploração do DVD escola e domínio público e rived. A Turma 1 é composta por professores
da educação infantil ao 3º ano do ensino fundamental. Professores que estão todos os dias na
escola. No público da manhã encontrei professores com conhecimentos diferentes em
informática, uns entendiam bem outros tinham medo até de pegar no mouse.
Primeiro distribui folhas em branco e pedi para cada “professor aluno” escrever sobre suas
expectativas em relação à oficina. Constatei uma grande dificuldade dos professores em
escrever duas ou três linhas. Mas, aproveitei o que todos escreveram, respeitando o limite de
cada um, para ser usado posteriormente na utilização do editor de texto writer.
Depois falei um pouco sobre software livre e de sua importância para o nosso País, pois
esse programa é fundamental para o Brasil conquistar sua independência tecnológica na área
de softwares.
Em seguida apresentei os principais softwares encontrados no linux educacional.
Constatei que todos só conheciam o Sistema Operacional windows e ao olharem o linux a
primeira reação era dizerem que não sabiam nada sobre esse sistema, principalmente o linux
educacional. Então, apoiado em Paulo Freire que diz “aprender pra nós é construir,
reconstruir, constatar para mudar...”(FREIRE, 1996, p. 69) mediei, através de uma reflexão,
para os professores desconstruírem o conhecimento de um software baseado no nome fantasia
(word, ecxel, power point) e construírem um conhecimento do software baseado no nome de
suas principais funcionalidades (editor de texto, editor de planilhas eletrônicas, editor de
slide).
Diante disso, pedi para todos fazerem a seguinte pergunta: “Qual editor de textos esse SO
operacional me oferece?” E eles chegaram à seguinte resposta: o editor de texto writer similar
ao editor de texto word. Então, pedi que digitassem o texto escrito na folha. Mostrei outras
funcionalidades do writer, criamos pastas através do writer, e salvamos o que tinham escrito
normalmente na pasta. Depois fui a um a um pedindo para salvarem novamente, mas
atentando para a mobilidade de suas produções, ou seja, chamei a atenção para a extensão dos
textos na hora de salvar, pois se salvar da forma tradicional o texto só poderá ser aberto no
editor de texto write, como todos tinham o windws xp em suas residências mostrei que
poderiam salvar com a extensão .doc. Informação essa que deixou todos surpresos, pois
descobriram que poderiam abri o texto no linux e no windows, essa simples informação lhes
deu mobilidade e os aproximou do linux. Assim, ao constatar que os professores tinham
30
intimidade com o editor de texto word, e após mudarem a forma de olharem os diversos
editores de textos, sentiram poucas dificuldades na utilização do writer.
Em seguida, dialogamos sobre o fato das novas TIC´s não terem vindo para excluir os
professores, mas ao contrário, ela estar carente de professores, pois inclusão digital vai além
de ensinar alguém a operar uma máquina e acessar a internet ficando diante de milhões de
informações. Porque, segundo Libâneo, a informação por si só não é saber ela leva ao saber e
quem vai trabalhar a informação para que os alunos sejam futuros críticos sociais de sua
realidade é o professor. Essa reflexão foi outro momento fundamental para incentivar e
trabalhar o uso dos computadores na escola.
Logo, falei que o computador, também, veio para potencializar o ensino, pois o que o
professor não consegue demonstrar em sala de aula ele pode demonstrar usando o
computador. E para ilustrar usei o DVD escola que vem com vários vídeos instalados no linux
educacional e mostrei o vídeo de onde vem o raio, vídeo que mostra em detalhes a atração das
partículas positivas e negativas, até gerarem o raio. Assim, eles fizeram outras relações de
como poderiam usar o computador para potencializar o ensino. Claro que explorei o fato de a
escola está recebendo crianças com necessidades especiais para mostrar que o dvd escola
trazia vários vídeos abordando esse tema. O que gerou a seguinte frase: “nossa! E estamos
sendo apresentados a essas ferramentas agora!”. Observei que levar os alunos a fazerem
diferentes descobertas durante a oficina é fundamental para evitar que ela se torne monótona,
por isso, preparei a oficina para ter vários momentos de descoberta.
Todo o trabalho deve ser levado a mostrar aos professores como agregar os diferentes
softwares às suas práticas pedagógicas, detalhe que trabalhei durante toda a oficina. E para
deixar aquele gosto de “quero mais” apresentei o software tuxpaint com suas várias
funcionalidades. O resultado foi: a aula foi encerrada e vários professores ficaram no
laboratório explorando os softwares. Bom à tarde o trabalho foi desenvolvido na mesma
sistemática, mas como a maioria dos professores sabiam trabalhar com computador, alguns
conheciam muito bem o linux, a direção resolveu liberar apenas 1h para a oficina e não as 2h
que tinha programado. Mas, a direção da escola não tinha entendido a proposta da oficina, que
é agregar o uso dos computadores na prática pedagógica dos professores. Quando os
professores tomaram ciência da proposta da oficina e do tempo escasso, a bronca dos
professores na direção foi inevitável. E o resultado foi mais tempo para a oficina.
A oficina contribuiu muito para o meu aprendizado, pois pude exercitar a minha prática
pedagógica com um público formado por professores, pude ver na prática como funciona a
aplicação das várias teorias aprendidas na faculdade. Além de entender na prática o valor de
31
um planejamento centrado na estratégia. Além de mostrar aos professores a importância das
novas TIC´s nas suas práticas pedagógicas.
A minha ligação com a escola não encerrou nessa oficina, pois realizei um estágio
supervisionado de 80 horas na Educação Infantil. Momento que trabalhei com as crianças
algumas atividades no laboratório de informática.
E após o encerramento do estágio continuei realizando encontro um vez por mês com a
responsável pelo laboratório a fim de acompanhar os trabalhos realizado pelos professores.
Esses encontros era o momento em que discutia com alguns professores a realização de
atividades no laboratório de informática.
Assim, a escola foi o ambiente que me proporcionou exercitar a minha prática pedagógica
com diversos público, como: os alunos da educação infantil, alunos das series iniciais e finais
do Ensino Fundamental e professores.
2.1.2. Segunda experiência pedagógica: movimento popular em Itaboraí-RJ
Os estudantes universitários/secundaristas e amigos12 do município de Itaboraí, a muito
tentavam conseguir que o poder público oferecesse o transporte social universitário. Essa
tentativa, em 2009, já acontecia em torno de seis anos, através de diferentes frentes de lutas.
Tendo a implantação do projeto ônibus universitário sido negado por duas vezes pelos
governantes locais.
Esse Transporte já era uma realidade nos municípios vizinhos há vários anos e é
fundamental para garantir o acesso e a permanência dos estudantes nas universidades
localizadas nos municípios de São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro.
O município de Itaboraí, localizado no estado do Rio de Janeiro, vive um contexto
histórico de total abandono e descaso dos governantes. E qualquer manifestação social
encontra dificuldade em consegui divulgação e diálogo através dos meios de comunicações
controlados pela imprensa (televisão, rádio, jornal, revista, etc). Diante disso, surgiram as
questões: É possível através das diferentes interfaces disponíveis na internet aliada a um
trabalho presencial junto à população possibilitar uma divulgação dos anseios dos
estudantes/amigos e consequentemente provocarem um diálogo com os governantes
12 A palavra “amigos” segundo a Comunidade dos Estudantes e amigos de Itaboraí (CEAI) foi acrescentada para poder agregar em sua luta os estudantes e todos da sociedade que não sejam estudantes, mas que estejam implicados com a causa.
32
municipais, com os próprios estudantes e com a sociedade local? E como esse diálogo pode
ser transformado em ações que atendam os anseios da sociedade de Itaboraí? Como a internet
poderia potencializar uma possível luta dos estudantes e amigos?
Assim, motivado pelas questões surgiu o seguinte problema: Como as novas tecnologias
podiam influenciar e potencializar a luta dos estudantes e amigos em sociedade? Ao mesmo
tempo em que acontecia essa inquietação, começava uma relação online com universitários de
Itaboraí na comunidade do orkut “universitários de Itaboraí” que mais tarde tornaria a
conhecida “Comunidade dos Estudantes e Amigos de Itaboraí (CEAI)”, local em que
discutíamos diversos assuntos que nos inquietavam, dentre eles a necessidade do transporte
para os estudantes. A discussão sobre o transporte universitário começava a ganhar força no
tópico “ÔNIBUS UNIVERSITÁRIO”. Principalmente depois que chegou ao conhecimento
dos estudantes que a Câmara Municipal havia promulgado a Lei nº 2.088 de 02 de março de
2009 que “Dispõe sobre a criação do Programa de Transporte Social Universitário e dá outras
providências. Parecia, então, que o problema havia sido resolvido.
No dia 05 de março de 2009 os estudantes universitários marcaram, pela internet, de
encontrarem-se para participarem da sessão na Câmara Municipal a fim de discutir diversos
pontos problemáticos na Lei, além de verificar quando o transporte seria implantado. O
encontro foi frustrante, pois os políticos locais colocavam empecilhos para discutir a questão
com um grupo não organizado e com poucos integrantes, pois compareceu a reunião apenas
cinco universitários.
Após o encontro houve uma reunião e ficou acertada a necessidade de uma mobilização e
organização para que o grupo fosse ouvido. Nascia assim um grupo organizado que tinha
como característica o uso das novas TIC`s na potencialização de sua luta na cidade de
Itaboraí. Esse grupo popular teve sua primeira assembléia em 28 de março de 2009 com a
leitura e discussão em praça pública de uma Lei, a Lei do transporte social universitário.
Voltando a questão da Lei promulgada pela Câmara Municipal, que em um primeiro
momento resolvia a questão da implantação do ônibus aconteceu o seguinte: primeiro para
uma Lei entrar em vigor é necessária que seja publicada pelo poder que a promulgou e depois
regulamentada pelo poder Executivo, esses trâmites legais estão presentes, inclusive, nos
Artigos 6º e 8º da própria Lei do transporte social universitário. A Lei não foi publicada, os
políticos locais resolveram simplesmente engavetá-la. Mas, como os estudantes estavam
mobilizados começaram uma grande manifestação nas redes sociais que culminou em uma
grande manifestação, no dia 23 de maio de 2009, aniversário de Itaboraí, exigindo a rápida
publicação da Lei e a sua regulamentação pelo poder executivo.
33
Mas, outra surpresa aguardava os universitários. O Poder Executivo municipal convocou-
os para uma reunião e informou que a Lei não seria regulamentada, pois era inconstitucional.
Mais uma vez o grupo popular organizou manifestações nas diversas interfaces
disponíveis na internet (Orkut, blog, fotolog, youtube, e-mails, dentre outros) aliado a
reuniões na praça principal da cidade em frente à Câmara Municipal, panfletos e uma revista.
Com essa organização o poder público local não teve outra opção e disponibilizou o ônibus
para o transporte dos estudantes.
Com a conquista do transporte social universitário, no ano de 2010, o objetivo para a
mobilização havia sido alcançado. E nesse período de mais de um ano de luta, os moradores
da cidade tinham vivido um momento de intensa discussão política (em ambiente online e
presencial), vale ressaltar, que não trata da política partidária, mas sim da política em seu
contexto geral, centrada no fato de ao decidirmos viver em sociedade passamos a ser um ser
político. Segundo Aristóteles (2004, p. 11) o homem é um “animal político por natureza”,
pois o homem vivendo em sociedade não é possível isolar-se totalmente.
Com isso, outro fato também inquietava os moradores de Itaboraí a instalação de um
aterro sanitário que recebe o lixo de todos os municípios do Rio de Janeiro, e por isso foi
apelidado de lixão. Como estavam vivendo a intensa história do ônibus universitário foi
aberta outra frente de luta contra o chamado lixão. A luta contra o lixão teve intenso debate
presencial e mais uma vez as novas TIC`s foram utilizadas.
Após esse breve histórico de como as novas TIC`s entraram na potencialização da luta do
movimento popular em Itaboraí, cabe agora fazer uma análise do que mudou na cidade. E
como foi trabalhada essa relação entre presencial e online.
Desenvolver qualquer diálogo entre os cidadãos e o poder público em Itaboraí, sem ficar
refém de um clientelismo, era uma tarefa quase impossível, pois não há qualquer interesse por
parte dos governantes em desenvolver um diálogo sem interesses partidários. E tentar buscar
diálogo utilizando os meios de comunicações controlados pela imprensa mostrou-se uma
tarefa impossível, pois a imprensa: ora publica o que lhe interessa, ora sofre influência dos
governantes para não publicar fatos de interesse da população. Nesse contexto, a solução
encontrada foi à utilização das novas Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC`s) para
buscar um verdadeiro diálogo com os governantes, com a sociedade e com/entre os
estudantes. Segundo LEAL:
Os novos espaços que permeiam a criação possibilitam que o indivíduo seja
capaz de autocriar-se e dar sentidos à existência do coletivo. Assim, as TIC
34
podem auxiliar na busca de novos sentidos para estabelecer práticas
coletivas potencializadoras das redes de relações, sendo que estas
comportam as vivências e multiplicidade de linguagens. (LEAL et al in :
SANTOS e ALVES, 2006, p. 18).
Assim, a internet possibilitou que o movimento popular de Itaboraí desenvolvesse um
diálogo online, antes das assembléias/reuniões, com a abertura de proposta de pauta online
disponível a toda população, além de concluir/alterar a pauta no início dos encontros
presenciais com os participantes presentes. Além disso, os assuntos discutidos em assembléia
continuavam abertos para discussões online.
Outra característica foi à definição de que não haveria um líder e que qualquer participante
tinha direito de voz e voto. Mas, para que isso acontecesse de forma harmoniosa foi essencial
a valorização da transparência. Com isso, a construção de um blog foi essencial para
promover a transparência, já que a rede social Orkut, exige que o usuário faça uma inscrição
para conhecer os conteúdos postados. O blog além de ser um ambiente que permite
publicação de conteúdos possibilita juntar as postagens de várias interfaces disponíveis
online, sem contar que funciona como um verdadeiro arquivo online e não exige qualquer
inscrição para conhecer os assuntos postados. Então, definido o blog para concentrar todas as
informações do movimento popular a transparência deu-se através da publicação de relatorias
de todas as assembléias, reuniões, encontros, lançamentos, acontecimentos e ações. E a
funcionalidade do blog foi conseguida graças às diversas críticas de quem estava acessando a
página, pois foi ouvindo os internautas, online e presencialmente, que a página procurou
atender a realidade em que encontram inserida a população de Itaboraí.
Se junta a isso as discussões online, por diversas vezes, provocaram dúvidas,
interpretações confusas e discussões exaltadas, a solução sempre foi encontrada na marcação
de encontros presenciais. Fato que mostrou a importância dos encontros na internet estarem
aliados a encontros presenciais.
Assim, a utilização das novas TIC´s, além de ter potencializado a luta do movimento
popular de Itaboraí, provocou uma mudança na comunicação do poder público local. Essa
mudança aconteceu porque antes a Prefeitura tinha apenas uma página estática na internet que
possibilitava enviar uma reclamação com caracteres limitados. Mas, com a utilização da
internet pelo movimento popular forçou a Prefeitura a aderir à rede, de forma mais interativa,
através de página no Orkut, facebook, youtube e blog. Com isso, o movimento popular
conseguiu ir além do seu objetivo que era a conquista do ônibus universitário.
35
2.2. Novas experiências pedagógicas com as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC´s) vivenciadas na Universidade de Brasília (UnB)
Após concluir os seis semestres do curso de Pedagogia e ao mesmo tempo terminar todas
as etapas da PPP chegou a hora de fazer a monografia de final de curso. Mas, por necessidade
do serviço fui transferido no início do ano de 2010 para a cidade de Brasília.
Ao chegar em Brasília com a minha família houve uma fase de instalação e adaptação,
mas, essa fase aconteceu bem rápida e sem problemas.
Com a família instalada fui dar continuidade a minha vida acadêmica. Momento em que
fiz a transferência obrigatória para a faculdade de Educação (FE) da UnB. Na UnB fui
acolhido e orientado no Projeto 1 sobre como deveria ser a minha trajetória como aluno da
UnB transferido de outra Universidade. Essa orientação foi muito importante, pois pude
conhecer a faculdade além de encontrar o projeto que interessava.
Através da orientação recebida no projeto 1 conheci a área de projeto que possibilita o
aluno a:
PROJETO 1 - A transição ensino médio e universitário. A universidade
pública. O caráter do público e do privado. Conhecimento das dependências
físicas, da organização administrativa e dos projetos pedagógicos e
acadêmicos da Faculdade de Educação. Introdução às concepções de
educação e suas implicações na história do curso de Pedagogia
O Projeto 1 foi o momento de conhecer a universidade e ser orientado sobre os diversos
“caminhos” que o estudante de pedagogia tem para seguir no processo de formação. É uma
disciplina que orienta tanto os alunos que estão ingressando na universidade pela primeira vez
quanto os oriundos, através de diversas transferências, de outras universidades.
PROJETO 2 - O campo do educativo e do pedagógico. Formação e Carreira
dos profissionais da Educação. A identidade e as diferentes funções do
pedagogo. Projeto acadêmico da Faculdade de Educação.
36
O Projeto 2 mostra para o aluno os diversos campos em que o pedagogo pode atuar. É o
momento de conhecer a carreira do pedagogo, conhecimento que vem ajudar, aliado as
informações do Projeto 1, a nortear a trajetória do aluno durante o curso de Pedagogia.
PROJETO 3 - Vivência prática do fazer pedagógico em diferentes contextos
institucionais, articulando, no processo formativo, as atividades de extensão,
pesquisa e ensino. Primeiro momento de contato com o fazer concreto do
profissional em Pedagogia, vivendo-o em toda sua riqueza e em todos os
seus desafios.
O Projeto 3, que é dividido em Etapas A, B e C, chama o aluno para a prática pedagógica
em ambiente escolar e não escolar. É a oportunidade de o aluno vivenciar na prática
atividades em que acontecem o ensino, a pesquisa e a extensão. Essa fase do projeto foi
fundamental para a minha formação, pois possibilitou preparar para o Projeto 4 e ao mesmo
tempo foi a oportunidade de conhecer a área que me identificava para complementação a
minha formação pedagógica.
PROJETO 4 - Momento de cumprimento do "estágio" em sua formulação
legal. Compreendendo ao todo 240 horas vivenciadas em "instituições de
ensino formal escolar" (independentes da idade dos formados e dos
educandos). Aqui o fundamental é a vivência concreta das "situações
educativas", entendidas como espaço/tempo da atuação interativa com
alunos, inclusive em sala de aula. É o momento do planejamento, da
execução e da avaliação do trabalho formativo didaticamente experienciado
num "grupo-classe", em sintonia com o "projeto político pedagógico" de
cada estabelecimento ou instituição onde venha a exercer sua prática.
(Ementas projetos 1, 2, 3 e 4) 13.
O Projeto 4, que é dividido em fase 1 e 2, é o momento do aluno observar, intervir e
refletir a sua intervenção na escola, pois é o momento do estágio. Estágio em que a prática
pedagógica precisa ser exercida sob a orientação de um professor.
13 Disponível em <http://www.serverweb.unb.br/matriculaweb/graduacao/curriculo.aspx?cod=9245>. Acesso em 18 out. 2011.
37
Através dos conhecimentos proporcionados pela área de projetos entrei em contato com a
área de Economia Solidária e em conversa com a professora pude verificar que podia
trabalhar a economia solidária sem perder os conhecimentos adquiridos na realização das
Pesquisa e Prática Pedagógica (PPP) na UERJ. Mas o desafio era descobrir qual o elo de
ligação entre PPP e Economia Solidária. Diante do desafio procurei no Projeto 3 etapa A
conhecer os princípios da Economia Solidária e atuar com a Educação de Jovens e Adultos
em ambiente não escolar. A partir dessa atuação percebi que poderia fazer uma inclusão
digital, através das novas Tecnologias da Informação e Comunicação, que levasse a inclusão
social dos alunos da EJA e posteriormente a comunidade.
Com o intuito de preparar para o desafio da inclusão digital com a Economia Solidária
realizei o projeto 4 fase 1 em uma escola pública onde tive a oportunidade de realizar uma
prática pedagógica usando as novas tecnologias na EJA no Centro de Ensino Fundamental 08
de Sobradinho II e ao mesmo tempo vivia na prática a Economia Solidária, através do projeto
3 fase A, na Cidade de Santa Maria-DF. Experiências que relatarei nos tópicos seguintes.
2.2.1. Experiências pedagógicas vivenciadas no Centro de Ensino Fundamental 08 de
Sobradinho II (CEF 08 de Sobradinho II)
O projeto 4 fase 1 exige que o aluno exerça regência em um ambiente escolar. Haja vista,
ser esse o momento em que o graduando em Pedagogia vivencia a sua experiência na prática
docente. Momento em que aplica a maioria dos conhecimentos teóricos aprendidos na
Faculdade de Educação. É o momento em que relaciona a teoria com a prática para planejar,
desenvolver e avaliar a prática pedagógica.
Diante disso, o local escolhido para fazer o exercício da prática docente foi uma escola
localizada em Sobradinho II e que oferta a Educação de Jovens e Adultos (EJA), e tem como
característica o uso do laboratório de informática na potencialização da aprendizagem de seus
educandos.
Após conhecer a escola e as diferentes etapas do 1º Segmento ofertado pela escola foi
escolhido como sujeitos do campo de estágio os alunos da 1ª etapa do 1º Segmento da EJA,
que corresponde ao 1º ano do Ensino Fundamental.
Com o campo/sujeitos de estágio definidos chegou a hora de observar, propor atividades e
avaliar as atividades propostas. Cabe ressaltar que essa prática docente acontece dentro de um
laboratório de informática da escola cujo objetivo é conhecer: Como o uso das novas
38
Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC`s) podem potencializar a aprendizagem na
Educação de Jovens e Adultos (EJA)?
O Laboratório de Informática do CEF 08 de Sobradinho II está bem estruturado em uma
sala ampla com 52 computadores prontos para uso. Esses computadores tem o Sistema
Operacional Linux Educacional 3.0 instalado e alguns estão conectados á internet. Os
computadores estão divididos em 22 mais antigos e 30 mais novos. Os computadores mais
novos funcionam com o sistema multitarefa, ou seja, três monitores ligados em uma única
torre. O professor Edilson, licenciado em informática e matemática, é o responsável pelo
laboratório de informática, local em que exerce sua prática docente, e relatou que as máquinas
em multitarefa entravam em conflito no início e a solução foi criar um usuário diferente para
cada monitor. Como são três monitores, conectados a um mesmo gabinete, foram criados os
usuários: aluno1, aluno2 e aluno3 e esses usuários foram marcado em cada monitor. Fato que
resolveu os problemas de conflito.
Assim, com uma boa estrutura e equipamentos necessários disponíveis a escola procura
potencializar a aprendizagem dos alunos com uso das novas tecnologias. Além de
proporcionar o contato desses alunos, oriundos em sua maioria de famílias de baixa renda,
com as novas tecnologias.
Como o objetivo em está na escola era vivenciar a prática pedagógica foi adotado como
estratégia para interagir com a escola as observações, a saber:
No dia 04/04/2011, foi iniciado o estágio na Educação de Jovens e Adultos. Devido a falta
de luz os poucos alunos presentes foram dispensados e os professores fizeram uma reunião
com o Diretor para acertar alguns pontos necessários ao funcionamento da escola.
Durante a reunião a coordenadora disponibilizou a proposta pedagógico da escola relativo
ao ano de 2010, pois o de 2011 estava em fase final de sua confecção. Nessa proposta
pedagógica estão todas as informações relativa à escola inclusive sua história. Ao ler a
proposta pedagógica pude verificar que o laboratório de informática está no currículo da
escola como um dos diversos projetos que a escola desenvolve. Depois conversando com o
professor Edilson chegamos a idéia de concomitante com a prática pedagógica construir um
BLOG da escola. E nossa idéia é ousada, pois partindo da EJA pretende-se fazer um BLOG
que envolva toda a escola entre alunos, professores e funcionários. E em seguida pretendemos
envolver a comunidade que circunda a escola.
No dia 11/04/2011, foi iniciada a prática docente no laboratório de informática e pude
sentir na prática o que é uma aula com alunos da EJA no laboratório de informática. A
experiência foi gratificante. Primeiro pela oportunidade de conhecer na prática o uso do
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computador em multitarefa. Depois por poder está presente e mostrar aos alunos que estava
ali para ajudá-los (claro que sob a supervisão e orientação do professor Edilson que tem uma
grande experiência com os alunos no laboratório). Como o Professor Edilson me orientou e
deixou a vontade para auxiliá-lo nas aulas pude participar como observador e como auxiliar
do professor em sala de aula. Como os alunos estão em processo de alfabetização as aulas
estão sendo ministradas com a utilização do editor de texto Whiter do pacote BrOffice.
No dia 14/04/2011, pude ajudar os alunos a ler e a digitar no computador. No início eles
estavam tímidos e alguns davam desculpas para não usar o computador. Pedir licença ao
Professor e chamei a turma e fiz a seguinte pergunta: "Pessoal por que as crianças aprendem
as coisas rápido?" Ouve um silêncio. Aí respondi: "porque elas não tem medo de errar". Não
imaginava, mas a frase teve um efeito marcante sobre os alunos. A partir daí eles começaram
a fazer suas atividade com uma dedicação surpreendente e sem aquele medo de errar.
Pedir que tirassem os livros da mochila e usassem, pois o livro não era para ficar guardado.
Com a digitação e leitura começaram a vir as dúvidas sobre acento, sobre porque apertava a
tecla e saia várias vezes a mesma letra. Junto com o professor Edilson fomos a cada aluno
tirando as suas dúvidas e incentivando a prática e mostrando que eles eram capazes. Eles
diziam: "professor vou apagar o que digitei porque está errado". Disse para não apagar e
orientamos sobre espaço e sobre observar as letras e que estavam no livro, no teclado e a que
estava saindo no computador. Quando eles notavam que estavam conseguindo ficaram super
alegres e motivados. Aí os alunos foram se revelando: uns com dificuldade de leitura, mas
com uma vontade imensa de aprender. Outros que liam, mas tinham dificuldade para escrever.
E uma aluna que surpreendeu ao mostrar que já estava alfabetizada, claro que apresentava
dificuldades de construir algumas palavras e faltava pontuação. Mas, escreveu uma página
inteira sem olhar para nenhum escrito e com uma coerência muito boa.
No final da aula veio os agradecimentos dos alunos pela frase de incentivo, pois os
despertou. Alguns ficaram tão contentes com o seu desempenho que vieram abraças o
professor e com auxilio deixaram recados de agradecimentos pela aula. Posso dizer que essa
aula foi muito gratificante. E na realidade sou eu que tem que agradecer por eles me
proporcionarem a oportunidade de está ali com eles em aula. Depois da aula conversei com o
Professor Edilson sobre o BLOG. E ele apresentou algumas idéias e eu fiquei com o
compromisso de nessa semana colocar em prática a construção do BLOG.
Assim, no mês de abril de 2011 procurei observar a interação/interatividade entre
professor e alunos, com algumas intervenções pontuais com a finalidade de auxiliar o
professor em sua regência.
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Passado esse período de observação e sentindo integrado à escola percebi que era o
momento de fazer intervenção no campo de estágio. E essa intervenção aconteceu através de
oficinas.
A primeira oficina foi de produção escrita dos alunos da EJA no laboratório de Informática,
que aconteceu nos dias 02 e 09 de maio de 2011. Essa oficina foi planejada com base nas
observações no laboratório de informática do Centro de Ensino Fundamental 08 de
Sobradinho II (CEF 08 de Sobradinho II), em que foi constatado que a aula nesse ambiente
provoca uma grande expectativa nos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A
expectativa é tanta que alguns alunos disseram que “essa era a única razão de ir a escola”,
outros “que era o momento de perder o medo em usar o computador”, e outros viam a
oportunidade de aprender a usar as novas tecnologias, pois o mercado de trabalho, hoje, exige
conhecimento nessa área, além da possibilidade de comunicação com parentes distantes.
Nesse contexto, e com as possibilidades do uso das novas tecnologias na potencialização
da aprendizagem na alfabetização de adultos que esta oficina propôs uma produção escrita dos
alunos da EJA na perspectiva do método de Paulo Freire. Cujo objetivo estava voltado para
construir junto com os alunos uma produção escrita através do uso de palavras geradoras
coletadas no período de observação de três aulas. Com isso, tinha como Objetivo específico
construir frases, com autoria dos alunos, através das palavras geradores, problematizar as
frases e levar a novas produções escritas que identifiquem o cotidiano em que vivem, fazer
soletração, Identificar as vogais presentes nas frases e Identificar as consoantes presentes nas
frases.
E a oficina aconteceu com o uso dos computadores no laboratório de informática onde foi
incentivado os alunos a lerem, escreverem e problematizarem suas escritas na perspectiva do
método Paulo Freire. Tendo como palavras geradoras: Trabalhar e Estudar.
A oficina transcorreu com os alunos interessados e participativos na construção de diversas
frases tendo como base as palavras geradoras. E ao separar as palavras geradoras em sílabas
possibilitou os alunos a construírem novas palavras, utilizando, inclusive, outras sílabas que
era do conhecimento individual.
Ao término da oficina todo o conteúdo da produção escrita foi publicado no BLOG da
escola. Estratégia utilizada para mostrar aos alunos que eles podem ser autores de conteúdos
disponíveis no ciberespaço. A estratégia mostrou-se interessante, pois os alunos junto com
seus familiares passaram a acessar o BLOG da escola para ver as produções.
Outro fator que reforçou a idéia de toda produção das oficinas serem publicadas no BLOG
foi durante as observações ter sido constatado que os alunos ficam bastante emocionados e
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valorizam quando produzem algo no laboratório de informática e essa produção lhes é
conferida a autoria.
A avaliação dessa oficina foi feita observando a participação dos alunos, a conclusão dos
exercícios propostos e a cooperação com os colegas.
Continuando com a intervenção no campo de estágio, e buscando potencializar o trabalho
dos professores que estavam trabalhando na época a letra H, que aconteceu no dia 16 de maio
de 2011 a oficina “Antes de trabalhar a letra H, vamos conhecer o mundo?”. A oficina estava
voltada para potencializar a aprendizagem dos alunos, a partir do que eles estão estudando em
sala de aula. Essa oficina surgiu de uma conversa com o professor que trabalha com esses
alunos e informou que estava trabalhando a letra “H”, tendo como uma das palavras geradoras
a palavra “habitação”.
Com isso, e buscando elevar o conhecimento dos alunos sobre o local que os cerca, surgiu
a idéia de mostrar o mundo através do programa Google Earth utilizando um data show.
Na realização da oficina, primeiro, foi solicitado aos alunos que desenhassem o mundo do
jeito que imaginavam. Muitos estavam preocupados em construir desenhos certos. Mas, para
tranquilizá-los foi informado que a idéia era ver como eles imaginavam o mundo, por isso não
deveriam preocupar-se com certo ou errado. Sentido-se livres para desenhar os alunos
produziram desenhos variados de como imaginavam o planeta terra. As produções foram
desenhos em forma de circulo, porém alguns estavam divididos em quatro partes e segundo os
alunos era como imaginavam que o planeta terra estava dividido. Outros desenhos
apresentavam duas circunferências em intersecção ao questionar o aluno sobre o significado
ele respondeu que imaginava o Brasil em cima e o Japão em baixo. Outro desenho
apresentava o planeta dividido em duas partes que significava segundo o aluno a divisão do
planeta em duas partes. E outros desenhos eram círculos com várias divisões ou com vários
riscos. E outros desenhos eram um circulo com outro circulo menor dentro segundo os alunos
era o Japão.
Após os alunos concluírem os desenhos foi pedido para cada um mostrar e falar sobre suas
produções. Em seguida foi projetado o Planeta Terra em um telão a partir do programa
Google Earth. A partir daí teve início a uma viagem pelos continentes, indo para o continente
americano, depois para o Brasil, passamos pelos estados brasileiros. Cabe ressaltar que esse
passeio pelos diversos continentes foi para mostrar que o espaço em que estão inseridos é bem
mais amplo do que eles imaginavam.
Como uma das características dos habitantes do Distrito Federal é a origem em diversos
estados brasileiros e buscando uma aprendizagem significativa, visitamos a partir do Google
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Earth as cidades de origens dos alunos. Após verem a cidade de nascimento alguns contaram
as suas lembranças do local e mostraram os espaços que costumavam frequentar e ajudou-nos
a identificar a praça da cidade, a igreja e alguns locais turísticos da cidade.
Após visitar os locais de origem fomos para o Distrito Federal, depois Brasília,
Sobradinho I e II, até chegar à escola. Nesse momento foi necessário deixar livre, pois os
alunos ficaram inquietos ao verem os locais que viviam. Diante disso, deixei-os explorarem as
redondezas que cercam a escola. E uma das curiosidades era localizar a residência em que
viviam. Ao localizar a residência alguns alunos procuraram mostrar as redondezas. Nesse
momento alguns alunos levantaram com bastante alegria em ver a sua residência, a padaria, a
farmácia, os locais de encontros com amigos, o posto de saúde a escola dos filhos, dentre
outros lugares. Diante disso, surgiram expressões dos alunos como: “É! O mundo é bem
maior do que eu imaginava”, “A gente tem que ver as coisas para estudar e conhecer mais”,
“Eu moro a vinte anos aqui e nunca tinha ido em Brasília”, “Tem que ver as coisas, senão a
gente pensa que o mundo é só o lugar que a gente conhece”.
A avaliação nessa oficina deu-se pela participação na construção do desenho proposto no
início e participação na localização/identificação dos espaços projetados na tela.
Após o período de aplicação das oficinas, houve uma reunião com o Professor Edilson e
um técnico que presta apoio no Laboratório de informática, seguida de conversas com os
professores dos alunos.
Dessa reunião e conversas foi exposta a dificuldade que a escola tinha em encontrar
softwares para utilizar na educação dos alunos, pois a escola até então utilizava os aplicativos
do BrOffice e acesso à internet para pesquisa. Como conhecia o Linux Educacional apresentei
diversos softwares que estão ali prontos para serem usados, como:
a) Ktouch ut – software muito interessante para potencializar a escrita na EJA, pois
possibilita o professor construir diversos exercícios que vão mudando de acordo com a
conclusão das atividades. E mostra-se excelente para ser utilizado em uma turma heterogenia
em que alguns alunos já conhecem as letras e um pouco da leitura, por isso terminam suas
atividades rapidamente, enquanto outros ainda não conhecem as letras/leitura; e
b) Gcompris – software muito interessante para aulas de matemáticas, pois apresenta uma
interface com muitas opções. Dentre elas o uso de moeda/dinheiro na compra de objetos. Com
isso, o professor pode, por exemplo, trabalhar a matemática relacionando com compras no
mercado, similar ao que o aluno faz no dia a dia ao ir no mercado realizar suas compras para a
família.
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A experiência de prática pedagógica vivida no laboratório de informática foi muito
interessante, pois possibilitou o exercício da prática docente. Além disso, foi um momento em
que houve a troca de conhecimentos entre estagiário e a escola. A escola contribuiu com sua
estrutura, possibilitando o contato com os alunos e com o conhecimento prático e teórico dos
professores. Também, a escola estava de braços abertos para receber sugestões. Fato que
possibilitou a construção das oficinas e aulas com a utilização de softwares
educativos/internet.
Com isso, a abertura das portas da escola para o estágio possibilitou comprovar através da
interação/interatividade com os alunos que as novas Tecnologias de Comunicação e
Informação são meios importantes para potencializar a aprendizagem dos alunos da EJA,
além de promover uma relação mais próxima entre escola, a comunidade escolar e a
sociedade.
Com essa visão outra atividade desenvolvida durante o período de estágio foi a construção
do BLOG do CEF 08 de Sobradinho II. A idéia de construir o BLOG partiu voltada para
iniciar sua atividade e popularização na escola a partir da EJA.
A escola já possuía um BLOG que tinha sido criado no ano de 2009, mas só fizeram uma
postagem contando um pouco da história da escola. No início tentei recuperar o BLOG, não
sendo possível devido o esquecimento da senha. Então junto com o Professor Edilson e com
incentivo do Diretor o Professor Lauriney planejamos criar outro BLOG com objetivo
ousado, ou seja, a partir da divulgação das atividades da EJA buscar envolver a escola e a
comunidade que a cerca.
Com o objetivo definido começamos a parte de divulgar a necessidade de todos que
trabalham na escola registrarem e disponibilizarem os seus registros para serem postados na
página da escola, pois o BLOG precisa de uma fonte de notícias e as atividades cotidianas da
escola é essa fonte. Com isso, foi deixado claro que as produções para publicação seria o
resultado das práticas pedagógicas que levam interação/interatividade e com isso promovem a
aprendizagem, como: visita a espaços fora da escola, festividades, jogos interclasses, filmes
com debate, palestras, divulgação de horários das aulas e atividades e espaços para
comentários dos alunos, professores, pais e comunidade. A primeira divulgação e que mostra
o comprometimento da escola para utilizar as novas TIC´s, neste caso o BLOG, foi a abertura
da palavra na reunião dos professores para falarmos sobre esse recurso da internet que
promove a interação/interatividade. Durante a reunião foi apresentado a idéia do BLOG e
esclarecidas diversas dúvidas dos professores sobre a forma de colaboração para a publicação
das produções e notícias.
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Assim, o comprometimento da escola e a sua vontade de trocar idéias culminou com a
criação de um BLOG, no primeiro semestre de 2011, em que os números de postagens
superaram as expectativas. Com isso, o envolvimento que teve início na EJA abrangeu toda a
escola mais rápido do que imaginávamos.
Hoje, estão disponíveis no blog informações administrativas como: regimento interno,
proposta pedagógica, horário escolar e materiais para serem usados em sala de aula. Além das
diversas atividades que acontecem na escola, a saber: formatura, festividades, jogos,
vencedores de concursos, dentre outras.
Diante disso, o espaço online da escola não poderia ficar sem promover uma
interação/interatividade entre pais, alunos, professores e comunidade. Foi pensando nisso que
foi disponibilizado o “espaço dos pais”, “espaço do aluno” e “espaço do professor”. Nesses
espaços acontecem desde comunicação entre professores/professores e alunos, elogios à
escola, reclamações variadas, sugestões e idéias, como: reclamação de um aluno “...através
deste recado venho pedir que tire o arroz doce porque é muito ruim e coloque um lanche
melhor que todos os alunos fiquem satisfeitos...Agradeço se puder tomar medidas cabivéis.” e
comunicado de uma professora “olá professores de informática, passei pra lembrar de nosso
filme para quarta(17/08) - auto da compadecida. os alunos da 4ª eja estão muito
entusiasmados com as aulas e as atividades!ps: se puderem levar o filme, fico grata!”.
Assim, a escola abriu um canal muito eficiente de comunicação com a comunidade escolar
e disponibilizou mais uma oportunidade de os alunos/pais/professores/comunidade estarem
buscando a escola mesmo quando estão fora dela.
2.2.2. Experiências pedagógicas com educação popular vivenciadas em Santa Maria-DF
através da Economia Solidária
Na UnB comecei a fazer o Projeto 3 fase A em Economia Solidária. Com isso, junto com
outros estudantes da UnB, em sua maioria graduandos em Pedagogia, realizamos projeto 3
(etapas A, B e C) e projeto 4 (fase 1, 2) pela Faculdade de Educação (FE). Como parte
complementar, das diferentes etapa e fases dos projetos, participamos de um curso de
extensão de Economia Solidária, coordenado pela Professora Sônia Marise Salles da FE/UnB.
Curso em que participam os estudantes da UnB e a sociedade de Santa Maria na construção
da melhoria das atividades a partir dos trabalhos que Santa Maria já desenvolve.
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Nesse contexto, buscamos construir juntos, através de trocas de conhecimentos, uma
proposta em que estejam presentes os quatros princípios de Economia Solidária, a saber:
cooperação, solidariedade, viabilidade econômica e autogestão. Mas, para isso torna-se
essencial sair do estado de só receber ou de só dar nas relações sociais. Diante disso, é
essencial sair da perspectiva do voluntariado e trabalhar ações para que a roda das relações
sociais “girem” com o dar, o receber e o retribuir acontecendo. Além disso, é essencial
desenvolver conhecimentos em que tire o foco de somente o dinheiro como referência de
troca, pois existem diversas formas de troca, como: produtos por produtos, serviços por
produtos, serviços por serviços.
Assim, torna essencial um breve histórico da nossa trajetória em Santa Maria no primeiro
semestre de 2011.
No início do semestre a professora Sônia Marise discutiu em sala de aula os princípios de
Economia Solidária e em seguida nos convidou a vivenciar na prática a construção de um
projeto de extensão junto à comunidade. Assim, iniciou nossas atividades práticas em Santa
Maria. Primeiro em uma escola, momento em que encontramos os movimentos sociais de
Santa Maria interessados em trabalhar junto conosco. E foi nesse momento que aconteceu na
prática a “Investigação temática” e “a tematização” do método Paulo Freire.
Depois saímos da escola e fomos para a Associação Atlética Santa Maria (AASM),
momento em que vivenciamos a problematização.
Nesse contexto, os membros da sociedade local e os estudantes foram divididos em
diferentes grupos de estudos, correspondentes a cada atividade que a AASM desenvolve, com
a finalidade de construir juntos uma proposta voltada a melhorar o trabalho já desenvolvido,
norteados pela troca de experiência e na perspectiva da economia solidária. Mas, era
necessário desenvolver estratégias que envolvessem a sociedade local na construção do fazer
solidário. E como uma das formas de envolvimento da sociedade com a AASM e alunos da
UnB, após uma reflexão com os membros da sociedade presente, foi iniciado um mutirão com
a finalidade de revitalizar o espaço em que são desenvolvidos os diversos projetos da AASM,
a partir da utilização de materiais recicláveis e de baixo custo. Após o mutirão foi feita uma
reflexão sobre a prática desenvolvida, momento em que ficou clara a necessidade de
desenvolver estratégias para que os quatro princípios da economia solidária aconteça. Haja
vista, termos verificados no mutirão a ausência da comunidade, inclusive da diretoria, ficando
toda a carga de direção sobre o arbítrio da presidente. Fato que impossibilita o acontecimento
da autogestão.
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Além dessa fase de revitalização do espaço, aconteceram encontros com os grupos que
realizam diversos projetos na AASM. Um dos grupos formados para pensar junto com a
comunidade local uma proposta de melhoria/sustentabilidade da atividade que é desenvolvida
na AASM foi o grupo da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na alfabetização. A EJA como
os diversos projetos que acontecem na associação passam por fases ora caracterizada por um
período de dificuldades (quando não é acolhida por nenhum projeto que garanta a sua
sustentabilidade), ora um período de tranqüilidade (quando tem garantida a sustentabilidade
por algum projeto). Nesse contexto, tornou-se urgente buscar mecanismo para que a
viabilidade econômica esteja presente nos projetos. Como a conversa para a comunidade
assumir a sustentabilidade da EJA mostrou-se inviável devido o baixo poder aquisitivo das
famílias combinado com a condição de só receber muito interiorizada, fizemos a seguinte
pergunta: O que atrai a comunidade a vir no espaço da OnG? O que encontramos como uma
resposta foi a oferta de projetos por um parceiro que o sustenta. Assim, a opção foi buscar
estreitar laços com parceiros para que durante a fase de acolhida dos projetos sejam
fortalecidos os conhecimentos e laços com a economia solidária. Diante disso, o parceiro que
apareceu para trabalhar com a EJA na AASM foi uma OnG que trouxe um programa de
alfabetização da Fundação de um Banco público.
Assim, o grupo da EJA do curso de extensão em economia solidária visa construir junto
com esse outro parceiro da AASM, no programa de alfabetização ali ofertado, uma EJA que
melhore a interação/interatividade entre alunos e professores e com isso garantir uma melhor
aprendizagem e também estratégias econômicas que garanta a sustentabilidade do curso
ofertado na associação quando não estiver sendo acolhido por nenhum projeto e que, também,
possibilite uma transformação na economia das famílias. Além disso, é um espaço que abre
oportunidade para que sejam trabalhados os quatros princípios da economia solidária, e
provoque na comunidade a necessidade de participarem efetivamente dos diversos trabalhos
desenvolvidos na Associação.
Mas, para que os parceiros tenham uma harmonia nas suas práticas pedagógicas fiz junto
com outro aluno da UnB um Curso de Formação de Educadores, com duração de 40 horas, na
Fundação do banco público (esse banco público é do governo federal), que prepara os
educadores do programa de alfabetização para atuar na alfabetização de adultos nas
comunidades. Em seguida foi aberto, no mês de setembro de 2011, um curso de extensão na
UnB com o objetivo de harmonizar ações e aprofundar teorias, com duração de 20 horas, para
os alunos da UnB e educadores do banco público envolvidos com a Educação de Jovens e
Adultos em Santa Maria.
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Os dois cursos foram fundamentais para o trabalho em parceria acontecer, pois foi um
momento dos parceiros conhecerem-se e criarem uma relação de confiança para harmonizar
as ações de atuação na alfabetização de jovens e adultos em Santa Maria. Com isso, o
próximo tópico trará um pouco dessa experiência pedagógica em Santa Maria e o trabalho em
montar um laboratório de informática para ser usado na EJA em uma comunidade.
2.2.3. Experiências pedagógicas na alfabetização de jovens e adultos, em ambiente não
Escolar, vivenciada em Santa Maria-DF
A cidade de Santa Maria é uma das Regiões Administrativas (RA) do Distrito Federal,
sendo a RA XIII, localizada a 26 km da cidade de Brasília. E de acordo com o censo de 2010
possui uma população de 123.956 habitantes. Já os alunos do curso de alfabetização de Jovens
e Adultos que estudam na Associação Atlética de Santa Maria são constituídos de dona de
casa, aposentados e em sua maioria de trabalhadores que trabalham na cidade de Brasília em
atividades como diarista, pedreiros, dentre outras.
Mas, ao iniciar as atividades, nas segundas e quartas-feiras, era necessário conhecer e lidar
com algumas peculiaridades dos alunos que podem interferir na prática pedagógica. Uma
dessas peculiaridades é o fato dos alunos já terem aulas de alfabetização nas terças e quintas-
feiras com outro professor, além disso, é um grupo que não aceita bem novidades. Nesse
contexto, surgiram as questões: como trabalhar a aceitação do grupo de novas pessoas que
vinham ensinar? Como apresentar novas atividades nas aulas sem causar atritos?
A necessidade de trabalhar a aceitação do grupo ficou evidente quando vieram às
primeiras reclamações sobre a forma como as primeiras aulas estavam sendo ministrada,
segundo eles estava tendo muito “blá, blá, blá” e pouco conteúdo, pois eles estavam ali para
ler e escrever e a comparação com a aula da professora que era focada no conteúdo eles
fizeram dizendo que as aulas dela era melhor. O “blá, blá, blá” que eles reclamaram eram
aulas planejadas com foco na oralidade com o objetivo de conhecê-los melhor. Com as
reclamações ouve a necessidade de repensar a estratégia de interação com o grupo.
Então, para lidar com esses desafios voltamos a repensar a forma de aplicar a investigação
temática com base em Paulo Freire. Com isso, chegamos a conclusão que a investigação
temática não acontece só na roda da conversar, pois descobrimos no decorrer das aulas, que
ela é processual, ou seja, os alunos vão se permitindo conhecer e com isso apresentam suas
necessidades e vontades no decorrer de diversas aulas em que vai estabelecendo a relação de
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confiança com os educadores. Assim, a investigação temática está ocorrendo com foco em
dois princípios: ouvir os alunos e questioná-los sobre suas vontades. O ouvir os alunos está
focado em escutar não só os elogios as aulas, mas o que eles não gostaram, através de
questionamentos no decorrer das aulas, conversas individuais entre professor e alunos, e
alunos e alunos. O questionamento está focado em perguntar o porquê de algum interesse que
apresentem.
Diante disso, as aulas começaram a ficar significativas, pois um dos interesses dos alunos
era aprender a escrever utilizando letra cursiva. Ao serem questionados sobre qual o motivo
desse interesse? Eles apresentaram como fato motivador o local de trabalho em que os patrões
lhes entregam bilhetes para eles lerem, só que não conseguem, pois as aulas que assistiram os
ensinam utilizando letra de forma. Diante dessa demanda dos alunos as aulas foram ajustadas
tendo como foco de escrita as letras na forma cursiva, mas as outras formas de escrever não
foram abandonadas. O resultado foi a grande atenção dos alunos durante a aula e o relato de
alguns como: “... hoje fico até meia noite assistindo aula”.
Esse dado da letra cursiva mostra que a escola precisa desenvolver um ensino que
contemple a realidade do aluno, pois para o aluno em processo de alfabetização fica difícil
entender a escola ensinando com a utilização de letra de forma e o trabalho exigindo que ele
conheça a letra cursiva. Fato que coaduna com as idéias de Vygotsky que diz que o trânsito na
Zona de Desenvolvimento Potencial precisa está relacionado com conhecimentos que o
indivíduo já domina, ou seja, os conhecimentos da Zona Real. É nessa hora que entra o
chamado “método Paulo Freire” que em um primeiro momento permite conhecer os anseios
dos alunos através da investigação temática. Esse conhecimento do que o aluno já domina
permite, segundo Gadotti (no documentário Coleção Grandes Educadores - Paulo Freire,
2006), a partir do que ele já sabe conhecer melhor o que sabe. E conhecendo melhor o que
sabe podendo conhecer mais do que já sabe, fato que acontece de forma natural e é nessa
“hora” que o professor entra como um incentivador.
Esse primeiro momento de investigação temática permitiu ir para o segundo momento que
é a tematização, ou seja, em conversa com os alunos com o objetivo de desenvolver surgiram
variadas palavras que levaram a construção de temas que foram trabalhados utilizando a letra
cursiva. O terceiro momento do “método Paulo Freire”, a problematização, que é o aluno
descobrir o sentido daquele conhecimento para sua vida e para a vida de todos está
acontecendo na medida em que os temas vão sendo trabalhados. Cabe ressaltar que as
temáticas trabalhadas são sempre trazidas pelos alunos que relacionam com sua realidade
local. Um exemplo é o tema “surgimento de novos estados com a divisão do Pará” que os
49
alunos relacionaram com o surgimento de Tocantins com a divisão do Estado de Goiás.
Segundo eles essa divisão permitiu que diversos municípios prosperassem em Tocantins. E
isso seria interessante se a região do entorno tornassem parte do Distrito Federal, pois os
moradores do entorno trabalham e usam hospitais no Distrito Federal.
Com isso, Vygotsky nos mostra através das zonas de desenvolvimentos que o novo
conhecimento precisa ser mediado, mas essa mediação não pode ser descolada da realidade do
educando. E Paulo Freire através de seu “método” nos mostra como fazer o trânsito na Zona
de Desenvolvimento Proximal para que o aluno aproprie-se de novos conhecimentos.
Diante disso, percebemos que as aulas estavam tornando significativas e os alunos
reconhecendo os educadores como seus professores. Com isso, ficou claro que trabalhar com
esse grupo era necessário planejar aulas com diversas atividades, pois é necessário trabalhar: a
escrita, a leitura, a oralidade e a matematização. Para atender essa demanda as aulas foram
iniciadas sempre com conteúdos e outras atividades com leitura, oralidade e matematização
aconteciam posteriormente. Assim, as aulas planejadas nesse modelo renderam elogios da
turma e as reclamações que aconteceram nas primeiras aulas desapareceram.
Esse resultado mostra que o planejamento das aulas precisa levar em consideração as
especificidades de cada grupo. Diante disso, o planejamento acontece com o grupo e no
decorrer do estabelecimento e fortalecimento dos laços de confiança. A lição que o contato
com esse grupo de Santa Maria trouxe foi que ministrar conteúdos precisa relacionar com a
realidade da turma. Um relato que reforça essa lição é que em outro local do Distrito Federal
está ocorrendo o curso de alfabetização de adultos, ofertado pelo banco público, e em uma das
aulas a professora resolveu levar um poema, na avaliação dela muito fácil. A aula aconteceu
com a professora declamando o poema e saindo realizada com essa aula. Na aula seguinte a
turma reclamou com outra professora dizendo “essa professora é doida”.
Essa atitude da professora e a reação da turma nos convida a observar a teoria de
Vygotsky que discute as zonas de desenvolvimento e Paulo Freire que mostra os momentos
de seu método. Com apoio desses teoricos, constata-se que a aula com poema não foi
exagerada ou precipitada sua aplicação. O que aconteceu nesse caso, e as duas teorias
supracitadas nos ajuda a pensar, foi a forma de ministrar a aula utilizando poema que não
relacionou com a realidade local e, portanto a aula não foi significativa. A experiência desse
relato nos dar uma lição e ao mesmo tempo reforça a necessidade da prática pedagógica
construir aulas significativas que valorize a realidade do aluno e da sociedade que o cerca.
Nesse contexto, e observando os alunos em processo de alfabetização em Santa Maria
identificamos que alguns alunos gostam de declamar poesias/poemas de suas autorias. Diante
50
disso, e com a lição da aula com poema supramencionada, planeja-se construir uma aula em
que relacione as poesias/poema dos alunos com poesias/poemas de autores consagrados, ou
seja, pedir para o aluno declamar as suas produções e em seguida mostrar que existem
autores, livros, encontros de pessoas que utilizam a poesia/poema.
Outra peculiaridade dos alunos e que exigia atenção era que eles estão em variados
estágios de alfabetização, a saber: alguns já sabem ler, mas tem dificuldade de escrever,
outros sabem ler, mas com dificuldade e outros não sabem ler. Contudo todos saber escrever
copiando e conhecem as letras sabendo diferenciar vogais de consoantes e reconhecem
algumas sílabas. Nesse contexto, a questão que se apresentou foi: como trabalhar com os
alunos que não sabem ler? Haja vista, os alunos que sabem ler serem os únicos participantes
da leitura? Além disso, os alunos que não sabem ler ficam constrangidos quando pedem para
fazerem a leitura individualmente. A estratégia utilizada foi incentivar uma leitura com todos
participando e depois elogiando os que dominam um pouco a leitura e pedindo para eles
ficarem calados para os outros participarem, esclarecendo que os demais alunos precisam
exercitar a leitura. Como pedir para ler individualmente causava constrangimento foi
solicitado que grupos de alunos com dificuldade na leitura lessem. O resultado foi a
participação de todos durante a leitura, participação essa que resultou em momento de
descobertas, como a palavra problema que o aluno não conseguia ler, pois no dia a dia
conhecia a palavra “poblema”, quando descobriu que era problema veio a falar “há é
problema e não poblema agora sei falar direito”.
Assim, a experiência pedagógica com a alfabetização de adultos em Santa Maria mostrou
que os alunos precisam reconhecer o educador como professor para estabelecer uma relação
de confiança, pois através dessa confiança é que o professor consegue conhecer o aluno e a
investigação temática torna-se possível e ela acontece de forma processual, ou seja, a toda
aula surge elementos para novos temas. E uma estratégia que mostrou eficiente foi ouvir as
reclamações dos alunos desde o primeiro dia de aula e através delas ajustar as aulas de forma
que atenda os anseios dos educandos e permita trabalhar todas as atividades que levem à
aprendizagem de forma contextualizada e significativa. E buscando contextualizar com mais
qualidade as aulas de alfabetização de adultos que está sendo revitalizado o laboratório de
informática da AASM através de uma campanha pedindo doação de computadores.
Isso se deu porque, antes de iniciar as aulas de alfabetização de jovens e adultos na
Associação Atlética Santa Maria participamos com as alfabetizadoras do banco público de
uma entrevista com os futuros alunos para o preenchimento da ficha de inscrição. E durante o
nosso primeiro contato foi verificado que a maioria não possuía computador em casa e os que
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possuíam não usavam por não saber utilizá-lo, mas uma de suas curiosidades e necessidades
era aprender a usar os computadores, pois se sentiam excluídos da sociedade por não terem
acesso a conhecimentos através do computador. Além disso, oportunidades de empregos são
perdidas por não possuírem conhecimentos na utilização de computadores. Essa observação
sobre a perda de importunidades de empregos é fácil constatar observando os diversos prédios
no Plano Piloto, local de emprego da maioria dos alunos de Santa Maria, em que o controle de
acesso é feito através da utilização da informática. Com isso, os alunos percebem que
oportunidades de emprego como porteiros, seguranças dentre outros estão a cada dia mais
difíceis devido a tecnologia. E uma alfabetização de jovens e adultos precisa focar a educação
com a leitura, a escrita, a oralidade e a matematização, mas não pode ficar alheia a inserção
do sujeito ao mundo do trabalho, pois uma das respostas de um marceneiro sobre o porquê de
estar fazendo o curso da EJA era que cada dia estava difícil colocar as novas fechaduras nas
portas por não saber ler o manual. Respostas similares a outras profissões também
aconteceram, como o uso da letra cursiva, o pedido de patrões para desligar os computadores.
O que percebe-se que a procura pela educação não está focado pelos alunos na busca de novos
empregos, mas na manutenção dos atuais. Com isso, torna-se essencial a prática pedagógica
trabalhar o que está acontecendo no dia a dia da sociedade para que barreiras como as
fronteiras digitais não impeça o sujeito de incluir-se socialmente.
No vídeo fronteiras digitais (2007), disponível no youtube, mostra que essa exclusão
social é chamada por Marc Presky de “fronteiras digitais” ao dizer “... das fronteiras físicas
que dividem os países e as pessoas, passamos para as fronteiras digitais”. Com isso, torna-se
necessário que todo o processo educativo, hoje, inclua nas suas atividades práticas
pedagógicas em que a inclusão digital esteja presente. Claro que a novas Tecnologias
precisam ser utilizadas como atividade meio do processo educativo. A atividade fim precisa
estar voltada à provocação da aprendizagem através de diversos métodos e tecnologias que
possibilitam uma interação mais qualificada entre professor e aluno. Diante disso, o uso do
computador na educação não pode estar voltado para uma aula de informática. O computador
é um dos recursos tecnológicos como o livro que facilita a interação ente professor e aluno.
Nesse contexto, os conceitos técnicos no uso do computador, como cortar, colar, copiar,
digitar, navegar acontecem de forma natural durante a realização das atividades voltadas a
potencializar a aprendizagem.
Voltando à demanda dos alunos, pensamos como intervenção para potencializar a
alfabetização de jovens e adultos em Santa Maria uma inclusão digital, através do uso de
novas Tecnologias da Informação e Comunicação, que leve a inclusão social.
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A inclusão social que é o objetivo da inclusão digital é o elo que encontramos entre
Economia Solidária e novas Tecnologias da Informação e Comunicação. E esse elo começou
com o trabalho dos alunos de projetos 3 e 4 com a comunidade, no segundo semestre de 2011,
nas busca de doações de computadores usados para revitalizar o laboratório de informática da
AASM que encontrava-se apenas com entulhos de computadores.
As doações vieram de doadores individuais a escolas particulares. Porém, uma das
dificuldades encontradas foi que nem todos os computadores estavam funcionando e os que
funcionavam precisavam de ajustes ou as memórias eram insuficientes para instalar o Sistema
Operacional voltado para a educação.
Por falar em Sistema Operacional optamos em utilizar o Linux Educacional 3.0, pois ele
permite utilizar diversos softwares que potencializam a aprendizagem. Além disso, atende o
objetivo de fazer uma inclusão digital. Haja vista, uma verdadeira inclusão digital acontecer
através do uso de softwares livres, pois eles permitem o aluno a usar, a copiar, a modificar e a
redistribuir os softwares sem se preocuparem em pagar por licença. Liberdade essa que os
softwares proprietários não permitem, pois não vem com as liberdades dos softwares livres e
ainda cobram licença para o uso o que inviabiliza sua instalação em comunidade, pois além de
preocupar-se em pedir doações de computadores teria que fazer uma campanha solicitando a
doação de licenças de softwares, o que tornaria algo rotineiro, pois de tempos em tempos as
tecnologias mudam e softwares simplesmente ficam sem as suas atualizações forçando os
usuários a migrar de Sistema Operacional que exige novos gastos com essa migração. Outro
fator que pesa e direciona para o uso do Linux Educacional é o fato de ser desenvolvido pelo
Ministério da Educação e por isso é disponibilizado de forma gratuita para baixar na internet
para uso livre e com constantes atualizações dos softwares.
Com o Sistema Operacional definido e a revitalização do laboratório em andamento
chegou a hora de iniciar as aulas no laboratório de informática. Inicialmente as aulas em
formas de oficinas irão ocorrer no sábado pela manhã voltada para fazer uma ambientação dos
alunos com os computadores. E antes de adentrar o laboratório de informática será mostrada e
feita uma breve explanação para os alunos sobre as partes básicas dos computadores. O
objetivo é mediar um contado com a tecnologia de forma processual com a eliminação de um
contato brusco e ao mesmo tempo aguçar a curiosidade dos alunos.
Nesse primeiro momento de contato com os computadores as novas Tecnologias a serem
utilizadas ficarão restritas ao uso de softwares e no decorrer das atividades novas outras
tecnologias serão agregadas na prática pedagógica. Como os alunos já se colocaram que estão
frequentando as aulas para ler e escrever, o primeiro contato será feito através do uso de editor
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de texto. O objetivo é não fazer uma mudança brusca entre o que eles querem e conhecem e as
novidades que os softwares podem apresentar. Com isso, a inclusão digital voltada a
promover uma inclusão social está voltada para acontecer de forma processual e a longo
prazo. Então, para não perder a continuidade das práticas pedagógicas com uso das novas
TIC`s pelo abandono das atividades que acontecem com a formação dos alunos da UnB nos
seus cursos de graduação e visando a autonomia da AASM em relação as suas atividades,
duas ações estão sendo desenvolvidas.
A primeira ação é a formação, através dos projetos 3 e 4, neste semestre, de alunos que
estão no início do curso de formação para a utilização dos novas TIC´s voltada a promover
uma inclusão digital e social na comunidade de Santa Maria. A segunda ação é a formação de
multiplicadores dentro da própria comunidade para utilizar as novas TIC´s e garantir a
continuidade dos trabalhos de forma autônoma sem haver mais a necessidade da presença da
universidade.
Assim, utilizar as novas TIC´s na inclusão digital que leve a uma inclusão social mostrou
ser um elo de ligação com a Economia Solidária. Haja vista, os mesmo sujeitos que estão na
EJA hoje por não terem a oportunidade de estudar nas épocas da infância e adolescência, são
os mesmos sujeitos da Economia solidária que estão excluídos pelo capitalismo. Com isso, é
fundamental, como uma das estratégias, envolver os alunos da alfabetização de jovens e
adultos nas atividades da OnG, pois buscar estratégias para envolver os diversos alunos que
realizam cursos na AASM é um dos objetivos do projeto de Economia Solidária que está
acontecendo na OnG. Já que antes de iniciar o projeto os alunos encontravam-se em um
relacionamento com o espaço de aprendizagem comunitário de forma utilitária, ou seja, só
estavam na condição de receber. Os conceitos da dativa: dar, receber e retribuir estão aos
poucos sendo internalizados através das diversas estratégias interativas desenvolvidas em
Santa Maria, como: oficina com pintura em tecidos, oficina de revitalização da brinquedoteca
com materiais recicláveis, oficina com garrafa pet para produzir enfeites natalinos, construção
com garrafas pet de assentos tipo “puf”, dentre outras.
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Considerações finais
As experiências com as novas TIC´s possibilitaram a realização de práticas pedagógicas
em ambiente formal de aprendizagem (escola), com crianças, jovens, adultos e professores. E
em ambiente não formal de aprendizagem ao vivenciar a luta social no contexto da política
com o movimento popular de Itaboraí-RJ e no contexto da economia ao viver a experiência de
trabalhar junto com a comunidade de Santa Maria-DF na busca da implantação da Economia
Solidária.
As experiências pedagógicas vivenciadas nas escolas possibilitaram uma prática
pedagógica com a utilização das novas Tecnologias da Informação e Comunicações na
potencialização da aprendizagem através de momentos de observação, planejamento,
intervenção (utilização de oficinas) e reflexão das intervenções para nortear as próximas
ações. Ações essas que provocaram mudanças no uso das novas TIC´s pelas escolas que ao
mesmo tempo oportunizaram vivenciar a prática pedagógica e a troca de experiências com
professores sobre suas experiências de vida em sala de aula.
Já as experiências vivenciadas em ambiente não formal de aprendizagem permitiram ver
com clareza que política e economia, que busque integrar as populações de baixa renda, são
indissociáveis, pois em Itaboraí uma das grandes dificuldades em interagir com as
comunidades de baixo poder aquisitivo foi a questão econômica. Haja vista, as pessoas
estarem com urgência em ter suas primeiras necessidades básicas atendidas. Fato que
inviabilizava qualquer envolvimento com as lutas populares, pois as famílias encontravam
com o “receber” muito internalizado, o que era e é um caminho aberto para políticas
paliativas centradas no assistencialismo. Nesse contexto, o uso das novas TIC´s conseguiu
chegar às famílias de baixa renda. Porém um maior avanço para trazer essas famílias para o
engajamento em uma luta popular em que pressionasse os governantes locais a atender as
variadas demandas da população local teve como grande entrave a questão econômica.
Diante disso, fica a questão: Caso os estudantes de Itaboraí tivesse agregado além das
novas TIC´s a questão econômica através de economia solidária o envolvimento com as lutas
populares em Itaboraí tomaria outros rumos? Essa é uma questão difícil de responder, pois ao
agregar a questão econômica outras demandas operacionais surgiriam. Mas, como o
econômico era e é uma demanda de primeira necessidade presente nas camadas populares, o
trabalho de luta popular pode tomar rumos bastante expressivos em uma comunidade. A
exemplo do que ocorreu no bairro Palmas na cidade de Fortaleza-CE cuja mobilização
popular culminou na criação do Banco Palmas e na moeda social Palmas.
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Assim, o movimento popular em Itaboraí aliando tecnologia e encontros presenciais
conseguiram dar uma mexida na cidade. Já em Santa Maria-DF está em fase de construção a
promoção de uma inclusão digital através das novas TIC´s que provoque uma inclusão social
aliada à economia solidária. Também, as escolas viveram essa mexida proporcionada pelo uso
das novas TIC´s no ensino. E o CEF 08 de Sobradinho II está vivenciando as suas práticas
pedagógicas para além dos muros da escola através do uso do BLOG em que a escola está
presente na realidade do aluno/professor/pais/comunidade mesmo quando eles estão distantes
da escola.
Com isso, usar as novas TIC´s aliada à educação mostrou que agrega em muito as práticas
pedagógicas do professor. Agora juntar novas TIC´s, práticas pedagógicas e Economia
solidária apontam para um ensino com mais qualidade, pois além de promover uma inclusão
digital promove a inclusão social do sujeito.
Assim, como perspectivas após a conclusão do Curso de Pedagogia apresento algumas
considerações, a saber:
Quando iniciei o curso de Pedagogia não imaginava o quanto essa área do conhecimento é
fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, pois ela mostra a
importância da educação e como interagir com o outro visando à aprendizagem e a formação
crítica e social do sujeito para transformar a realidade que o cerca. E com o conhecimento
aprofundado sobre o curso e as experiências pedagógicas em ambiente escolar e não escolar
me ajudou a construir minha visão sobre o futuro que está direcionado sob as seguintes
perspectivas: realizar um curso de especialização e mestrado na área de educação e atuar com
a inclusão digital e social em ambiente escolar e não escolar.
O interesse em continuar estudando após a conclusão da graduação não estava presente no
início do curso de Pedagogia. O “despertar” desse interesse ocorreu de forma processual, pois
foi provocado a cada contato com as disciplinas e com as pesquisas de campo. Esse momento
de contato com novos conhecimentos provocava sempre uma reavaliação dos meus conceitos
sobre as diversas áreas do conhecimento. Fato que mostrou a necessidade de continuar
estudando, pois existem vários conhecimentos a serem apropriados, através de aulas e
pesquisa, e essa apropriação de forma qualificada se dará com a continuidade dos estudos em
que esteja aliado o ensino, pesquisa e extensão.
Com isso, o contato com as disciplinas e as experiências de práticas pedagógicas em
variados ambientes e público mostrou que é possível e necessário trabalhar agregando as
novas tecnologias na Educação, seja ela em ambiente escolar ou não escolar.
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Diante disso, pretendo desenvolver um curso de especialização e mestrado em que as
novas tecnologias estejam presentes nos diversos momentos de reflexão-ação-reflexão. Haja
vista, as novas Tecnologias da Informação e Comunicação estarem hoje presente no dia a dia
da sociedade, fato que mostra a necessidade do professor agregá-las em sua prática
pedagógica.
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Referências: LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34. 1999. Tradução de: Carlos Irineu da Costa.
BLOG DA COMUNIDADE DOS ESTUDANTES E AMIGOS DE ITABORAÍ (CEAI). Itaboraí, 2011. Disponível em: <http://www.comunidadeestudantildeitaborai.blogspot.com>. Acesso em: 15 ago. 2011.
ARISTÓTELES. Política. Libros en red, 2004. Disponível em: <http://www.librosenred.com>. Acesso em: 10 jul. 2011. SANTOS, Edméa e ALVES, Lynn. Práticas pedagógicas e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: E-papers. 2006. ÔNIBUS UNIVERSITÁRIO. Disponível em: <http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=27923949&tid=2516028001328449284&kw=caixa+econ%C3%B4mica&na=1&nst=1>. Acesso em: 29 ago. 2011. ITABORAÍ-RJ. Lei nº 2.088, de 02 de março de 2009. Disponível em: <http://camara.itaborai.rj.gov.br>. Acesso em 30 ago. 2011. FREIRE, Paulo Reglus Neves. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção Leitura). LIBÂNEO, J. Carlos. Didática: velhos e novos temas. Edição do Autor, 2002. VALENTE, Carlos e MATTAR, João. Second Life e Web 2.0 na educação: o potencial revolucionário das novas Tecnologias. São Paulo: Novatec, 2007. Coleção Grandes Educadores - Paulo Freire. Gênero: Documentário. Atores: Moacir Gadotti, Ângela Antunes. Duração: 60 min. Atta mídia e educação, Brasil, 2006. VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004. SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Software livre: A luta pela liberdade do conhecimento. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004. PETRY, Luis Carlos. (2006). O conceito de novas tecnologias e a hipermídia como uma nova forma de pesamento. In: Cibertextualidades, 1(1), pp. 110-125. Disponível em: <http://cetic.ufp.pt/cibertextualidades/ensaio04.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. Wikipédia, a enciclopédia livre. Novas tecnologias de informação e comunicação. Disponível em: <pt.wikipedia.org>. Acesso em: 09 out. 2011. Centro de Ensino Fundamental 08 de Sobradinho II (CEF08). Proposta Pedagógica – 2011. Sobradinho II-DF. Disponível em: <http://cef08sobradinhodois.blogspot.com>. Acesso em: 09 out. 2011.
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ANEXO 2 Fases do BLOG do CEF 08 de Sobradinho II
ANEXO 3
1. BLOG feito em 2009 pela escola 2. BLOG construído em 2011
3. BLOG atual