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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ EDNEIA CAMATINI UMA ABORDAGEM SOBRE A APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL NA QUALIDADE DE SEGURADO ESPECIAL DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL Tijucas 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

EDNEIA CAMATINI

UMA ABORDAGEM SOBRE A APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL NA QUALIDADE DE SEGURADO ESPECIAL DO REGIME

GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Tijucas

2007

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EDNEIA CAMATINI

UMA ABORDAGEM SOBRE A APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL NA QUALIDADE DE SEGURADO ESPECIAL DO REGIME

GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas.

Orientador: Prof. Juliano Gomes Garcia

Tijucas

2007

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EDNEIA CAMATINI

UMA ABORDAGEM SOBRE A APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL NA QUALIDADE DE SEGURADO ESPECIAL DO REGIME

GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em

Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Educação Tijucas.

Área de Concentração: Direito Público

Tijucas (SC), 19 de junho de 2007.

Prof. Esp. Juliano Gomes Garcia

UNIVALI – CE Tijucas

Orientador

Prof. Esp. Daniela Felix Teixeira

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

Prof. Msc. Rodrigo de Carvalho

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

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ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale

do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas (SC), 19 de junho de 2007.

___________________________________

Edneia Camatini

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Dedico esta monografia,

A Deus fonte da vida e que oportuniza a superação;

Aos meus pais alicerces de toda a minha vida,

Aos meus irmãos e ao meu namorado, pelo apoio ao

longo deste caminho.

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AGRADECIMENTOS

Aos familiares e aos amigos que me apoiaram durante a graduação.

A todos os professores que contribuíram para a minha formação, em especial

ao professor Juliano Gomes Garcia, que me orientou no desenvolvimento deste

trabalho.

Também sou muito grata a Luiz Fernando e Ana Lúcia, com os quais tenho

aperfeiçoado meus conhecimentos jurídicos.

A todos os colegas de turma, que se tornaram grandes amigos, ao longo

desses cinco anos, bem como a todos que me motivaram com palavras de incentivo

para alcançar meus objetivos.

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Art. 194 [...] Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I – universalidade da cobertura e do atendimento; II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; [...]

Constituição da República Federativa do Brasil

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LISTA DE ABREVIATURAS

CAPs Caixas de Aposentadorias e Pensões

CEME Central de Medicamentos

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de

1988.

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social

DATAPREV Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social

EC Emenda Constitucional

ETR Estatuto do Trabalhador Rural

FUNAI Fundação Nacional do Índio

FUNABEM Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

FUNRURAL Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural

IAPI Instituto de aposentadorias e Pensões dos industriários

IAPs Institutos de Aposentadorias e Pensões

IAPAS Instituto da Administração Financeira da Previdência e Assistência

Social

IAPM Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

IPASE Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado

LBA Legião Brasileira de Assistência

LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

n. número

OIT Organização Internacional do trabalho

PRORURAL Programa de Assistência ao Trabalhador Rural

RBPS Regulamento de Benefícios da Previdência Social

RCPS Regulamento do Custeio da Previdência Social

RGPS Regime Geral da Previdência Social

SINPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social

TRF 4ª Tribunal Regional Federal da 4ª Região

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RESUMO

A presente monografia tem por objeto analisar as exigências legais e alguns

entendimentos jurisprudenciais acerca da aposentadoria por idade do trabalhador

rural na condição de segurado especial do Regime Geral de Previdência Social,

partindo de noções gerais sobre Previdência Social, aborda a evolução histórica da

mesma no mundo e no Brasil, bem como os regimes previdenciários existentes em

nosso País e os destinatários do Regime do Geral de Previdência Social. Em

seguida trata-se da evolução histórica da proteção previdenciária ao trabalhador

rural, desde o Estatuto do Trabalhador Rural até a Lei n. 8.213, de 24 de julho de

1991. Abordando ainda os requisitos para a concessão da aposentadoria por idade

ao trabalhador rural, definindo evento determinante, qualidade de segurado e

carência, delimitando sua aplicação em relação ao referido benefício. Também se

esclarece quais as regras específicas que estes requisitos devem seguir,

comentando sobre a aplicabilidade da regra provisória expressa no artigo 143, a

regra definitiva presente no artigo 39 e a regra transitória de carência estabelecida

pelo artigo 142, todos presentes na Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991.

Palavras-chave: Previdência Social. Aposentadoria por idade. Trabalhador

Rural.

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ABSTRACT

The present monograph has for object to analyze the legal requirements and

some jurisprudence agreements concerning the retirement for age of the agricultural

worker in the condition of special insured of the General Regimen of Social welfare,

leaving of general slight knowledge on Social welfare, approach the historical

evolution of the same one in the world and Brazil, as well as system providence

existing in our country and the addressees of the Regimen of the Generality of Social

welfare. After that one is about the historical evolution of the providence protection to

the agricultural worker, since the Statute of the Agricultural Worker until Law 8,213, of

24 of July of 1991. Approaching still the requirements for the concession of the

retirement for age to the agricultural worker, defining determinative event, quality of

insured and lack, delimiting its application in relation to the related benefit. Also

clarifying which the specific rules that these requirements must follow, commenting

on the applicability of the express provisory rule in the article 143, the present

definitive rule in 39 article and the transitory rule of lack established for article 142, all

gifts in Law 8,213, of 24 of July of 1991.

Word-key: Social welfare. Retirement for age. Agricultural worker.

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CATEGORIAS BÁSICAS E CONCEITOS OPERACIONAIS

Aposentadoria por Idade: “[...] a aposentadoria por idade é tradicional

benefício da previdência social, criada praticamente ao tempo de sua implantação.

Prestação universal, dos trabalhadores urbanos ou rurais, e dos servidores

públicos,” (MARTINEZ, 1998, p. 658)

Previdência Social: “A organização criada pelo Estado, destinada a prover

as necessidades vitais de todos os que exercem atividade remunerada e de seus

dependentes e, em alguns casos, de toda a população, nos eventos previsíveis de

suas vidas, por meio de um sistema de seguro obrigatório, de cuja administração e

custeio participam, em maior ou menor escala, o próprio Estado, os segurados e as

empresas”. (OLIVEIRA 1987 apud MARTINEZ, 1998, p. 98).

Regime de Economia Familiar: “Entende-se como regime de economia

familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à

própria subsistência e é exercido em condições de mútua dependência e

colaboração, sem a utilização de empregados”. (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR,

2004, p. 51).

Regime Geral de Previdência Social: “[...] descrição da relação jurídica de

filiação e de inscrição, além de estabelecer o regime contributivo dos diferentes

segurados obrigatórios ou facultativos e o das empresas sujeitas à exação

securitária, urbanas ou rurais. Abarca como atividade-fim, o plano de prestações, ou

seja, benefícios e serviços postos à disposição dos destinatários”. (MARTINEZ,

1998, p. 55).

Segurado: “[...] é denominação legal indicativa da condição jurídica de filiado,

inscrito ou genericamente atendido pela previdência social. Quer dizer o estado do

assegurado, cujos riscos estão previdenciariamente cobertos“. (MARTINEZ, 1998, p.

594).

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Segurado especial: “O trabalhador rural segurado especial é o produtor,

parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais. Entretanto, para serem considerados

segurados especiais estes deverão trabalhar individualmente ou em regime de

economia familiar”. (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 53).

Segurado obrigatório: “Os segurados obrigatórios são as pessoas, que se

filiam compulsoriamente ao Regime Geral de Previdência Social, em razão de

exercerem atividade remunerada”. (OLIVEIRA, 1995, p. 467).

Trabalhador Rural: “Trabalhador rural, em sentido amplo, alcança todos os

que trabalham na atividade rural. Trabalhador rural é gênero do qual o empregado

rural é a principal espécie”. (MARTINEZ, 1985, p. 595).

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................15

2 NOÇÕES GERAIS SOBRE PREVIDÊNCIA SOCIAL ...........................................17

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO MUNDO E NO BRASIL........................................17

2.2 CONCEITO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL ............................................................23

2.3 REGIMES DE PREVIDÊNCIA SOCIAL...............................................................27

2.3.1 O Regime Geral de Previdência Social – RGPS..............................................27

2.3.2 Regimes Próprios de Previdência ....................................................................28

2.3.2.1 Servidores públicos civis ...............................................................................28

2.3.2.2 Regime previdenciário dos militares .............................................................29

2.3.3 Regime de Previdência Complementar ............................................................30

2.4 OS DESTINATÁRIOS DA PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA NO ÂMBITO DO

REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL - RGPS ............................................30

2.4.1 Definição de Destinatário .................................................................................30

2.4.2 Segurados Obrigatórios ...................................................................................31

2.4.2.1 Empregado....................................................................................................31

2.4.2.2 Empregado doméstico...................................................................................32

2.4.2.3 Contribuinte individual ..................................................................................32

2.4.2.4 Trabalhador avulso .......................................................................................32

2.4.2.5 Segurado especial.........................................................................................33

2.4.3 Filiação e Inscrição de Segurado Obrigatório...................................................33

2.4.4 Segurado Facultativo........................................................................................34

2.4.5 Dependentes ....................................................................................................34

3 O TRABALHADOR RURAL COMO SEGURADO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ..36

3.1 ESTATUTO DO TRABALHADOR RURAL - ETR................................................36

3.2 O PRORURAL E A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA ATÉ A CRFB/1988 ..................39

3.2.1 A Lei Complementar n. 11, de 25 de maio de 1971 .........................................39

3.2.2 A Lei Complementar n. 16 de 30 de outubro de 1973......................................44

3.2.3 A Lei n. 5.889 de 08 de junho de 1973.............................................................45

3.2.4 O SINPAS: uma Nova Estrutura Administrativa ...............................................46

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3.3 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ........47

3.3.1 O Trabalhador Rural Empregado .....................................................................49

3.3.2 O Trabalhador Eventual ...................................................................................49

3.3.3 O Trabalhador Avulso.......................................................................................50

3.3.4 O Segurado Especial .......................................................................................50

3.3.4.1 Produtor.........................................................................................................51

3.3.4.2 Parceiro .........................................................................................................52

3.3.4.3 Meeiro ...........................................................................................................52

3.3.4.4 Arrendatário...................................................................................................52

3.3.4.5 Comodatário..................................................................................................52

3.3.4.6 Condômino ....................................................................................................53

3.3.4.7 Pescador artesanal........................................................................................53

3.3.4.8 Mariscador.....................................................................................................53

3.3.4.9 Índios.............................................................................................................53

3.3.5 Excluídos do Conceito de Segurado Especial..................................................54

4 AS REGRAS E OS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE

APOSENTADORIA POR IDADE AO TRABALHADOR RURAL SEGURADO

ESPECIAL DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL.................................55

4.1 REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA

POR IDADE...............................................................................................................56

4.1.1 Evento Determinante........................................................................................56

4.1.2 Qualidade de Segurado....................................................................................59

4.1.2.1 A qualidade de Segurado Especial - do trabalhador rural .............................61

4.1.3 Carência ...........................................................................................................64

4.1.3.1 Regra transitória de carência criada pelo artigo 142 da Lei n. 8.213, 24 de

julho de 1991.............................................................................................................65

4.2 A REGRA PROVISÓRIA PARA A CONCESSAO DE APOSENTADORIA POR

IDADE AO TRABALHADOR RURAL ........................................................................67

4.2.1 O Final do Prazo Previsto no Artigo 143 da Lei n. 8.213/91 e a Medida

Provisória n. 312/06 ..................................................................................................68

4.3 A REGRA PERMANENTE DE CONCESSÃO DA APOSENTADORIA POR

IDADE AO SEGURADO ESPECIAL .........................................................................69

4.3.1 A Descontinuidade da Atividade Rural .............................................................70

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4.3.2 A Comprovação do Exercício da Atividade Rural.............................................71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................74

REFERÊNCIAS........................................................................................................76

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1 INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como tema Uma Abordagem sobre a

Aposentadoria por Idade do Trabalhador Rural na qualidade de Segurado Especial

do regime Geral de Previdência Social, visando investigar as regras e requisitos para

a concessão do referido benefício previdenciário.

A motivação, para desenvolvimento da presente pesquisa, vai além da

curiosidade científica, despertada pela relevância deste tema no âmbito do Direito

Previdenciário; levando em consideração, principalmente, o caráter social do

benefício previdenciário em estudo, e por isso a necessidade de esclarecer os

requisitos para a sua concessão. Tendo em vista a dificuldade enfrentada por muitos

trabalhadores quando buscam sua aposentadoria, tornando-se também uma

necessidade regional, eis que, há um grande número de famílias da região do Vale

do Rio Tijucas, que exercem atividades rurais.

O desenvolvimento da presente monografia visa resolver os seguintes

problemas: a) O Segurado Especial é Segurado Obrigatório ou facultativo do Regime

Geral de Previdência Social? b) Qual a norma legal que foi o fundamento para a

unificação dos regimes previdenciários urbanos e rurais? c) Qual a regra para a

concessão de Aposentadoria por Idade é atualmente aplicável ao Segurado

Especial?

Em princípio, são indicadas as seguintes hipóteses: a) O Segurado Especial é

Segurado Obrigatório; b) A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

c) Para a concessão do benefício de Aposentadoria por Idade ao Segurado Especial

é aplicável a regra prevista no artigo 39 da lei de benefícios.

O objetivo geral da pesquisa consiste em verificar as regras e requisitos para

a concessão do benefício previdenciário de Aposentadoria por Idade ao Trabalhador

Rural Segurado Especial

Os objetivos específicos consistem em: pesquisar por meio de fonte

doutrinária a evolução histórica da Previdência Social no mundo e no Brasil, bem

como os destinatários de sua proteção social; analisar por meio de fonte doutrinária

a evolução legislativa de proteção ao Trabalhador Rural em geral e investigar por

meio de fonte doutrinária e jurisprudencial as exigências legais e alguns

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entendimentos de tribunais acerca da concessão do benefício de Aposentadoria por

Idade ao Trabalhador Rural Segurado Especial.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, adotou-se o método de abordagem

indutivo1. Pois para investigar a concessão da Aposentadoria por Idade ao

Trabalhador Rural Segurado Especial se faz necessário identificar os elementos que

a compõem, pesquisando a respeito do surgimento da Previdência Social, bem

como, quem são os destinatários desta. Além disso, pesquisar a evolução histórica

da legislação de proteção previdenciária ao Trabalhador Rural e as regras atuais

para a concessão do benefício de Aposentadoria por Idade. Visando reunir as

informações necessárias para entender as exigências legais para a concessão deste

benefício previdenciário ao Trabalhador Rural Segurado Especial

A técnica de pesquisa é a documentação indireta, utilizando pesquisa

documental e, principalmente, bibliográfica.

O presente trabalho de pesquisa será dividido em três capítulos, que

consistirão primeiramente em uma abordagem sobre as noções básicas de

Previdência Social, partindo de sua evolução histórica no mundo e no Brasil,

analisando seu conceito, os regimes previdenciários e os destinatários da proteção

previdenciária. O segundo capítulo consiste no estudo da evolução histórica da

legislação previdenciária referente ao Trabalhador Rural. No terceiro e último

capítulo, apresenta-se os requisitos, regra transitória e a permanente referente à

concessão do benefício de Aposentadoria por Idade ao Trabalhador Rural Segurado

Especial.

1 O método indutivo consiste em “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral”. (PASOLD, 2003, p. 104).

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2 NOÇÕES GERAIS SOBRE PREVIDÊNCIA SOCIAL

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO MUNDO E NO BRASIL

Para a efetiva compreensão da evolução histórica, o estudo desta matéria

remete-se ao período anterior ao nascimento da Previdência Social, partindo das

primeiras formas de proteção, ou seja, como nas palavras de Castro e Lazzari (2004,

p.35), interessa neste tópico reduzir a termo, sucintamente, “[...] a marcha evolutiva

do sistema de proteção, desde a assistência prestada por caridade até o estágio em

que se mostra como um direito subjetivo, garantido pelo Estado e pela sociedade a

seus membros,[...]”.

Evolução que Martinez (1998) classifica em duas fases principais: a fase da

pré-história da previdência e a fase da história propriamente dita. O autor estabelece

como marco divisório entre essas duas fases, em termos mundiais, o ano de 1883

com Otto Von Bismarck, na Alemanha.

Na denominada fase da pré-história da Previdência Social, ainda não há a

garantia de proteção social por parte do Estado. Castro e Lazzari (2004) afirmam ser

a proteção ao trabalhador, neste período, prestada por meio de caridade ou mútua

assistência.

Martinez (1998, p. 58) acrescenta que são modalidades com origem

marcadamente religiosa ou profissional, sendo elas: “[...] praticadas por associações,

corporações, grêmios, primórdios de sindicatos, irmandades, homens reunidos em

mútua cooperação, geralmente envolvendo certas ocupações organizadas”.

Mesmo com o advento da Revolução Francesa, ainda não se estava diante

da Previdência Social. Segundo Correia e Correia (2002), com a Revolução

Francesa, já se atribui ao Estado a responsabilidade em relação às pessoas doentes

e financeiramente carentes.

Entretanto, pelo próprio ideal de liberdade defendido pela Revolução, não se

permitia ao Estado uma efetiva intervenção, pois o mesmo não poderia intervir na

liberdade individual. Portanto, o Estado só poderia prestar assistência, não poderia

exigir a contribuição da sociedade.

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Nesse modelo estatal (Estado Liberal - não intervencionista) a proteção social

por parte do Estado era proporcionada, tão somente, aos pobres.

Andrade (2003, p. 18): afirma que: “[...] o primeiro tipo de proteção social que

se pode reconhecer no mundo é o tipo liberal, em que predomina a assistência aos

pobres enquanto uma preocupação do Estado. Então, o Estado dá assistência; e o

mercado, o resto”.

Já Rocha (2004, p. 28), referindo-se aos modelos de proteção social

reconhecidos no pensamento liberal da época, assevera que:

Como decorrência dos postulados liberais e individualistas, os quais desaconselhavam a atuação do Estado no sentido de combater as necessidades sociais, resultavam os limitados instrumentos de proteção social, tais como a assistência social privada e pública, a poupança individual, o mutualismo e o seguro privado.

Na história da Previdência Social propriamente dita, surge uma nova forma de

proteção social.

Primeiramente, utilizando como referência Leite (1978, p. 16), conceitua-se

proteção social como sendo: “[...] o conjunto de medidas de caráter social destinadas

a atender certas necessidades individuais que, não atendidas, repercutem sobre os

demais indivíduos e, em última análise, sobre a sociedade”.

No que pertine à proteção social, na forma de Previdência Social, com base

em Correia e Correia (2002), apreende-se que, em 1883, na Alemanha, Otto Von

Bismark é convidado a desenvolver um novo projeto para proteção ao trabalhador. O

estadista alemão, então, desenvolve um projeto denominado de “seguro operário”,

que é a união da idéia de mutualismo existente anteriormente com as noções de

seguro privado. Com base nesse projeto foi instituído o seguro-doença pela Lei

Imperial de 15 de julho de 1883.

Martinez (1998, p. 59) também contribui para a compreensão do surgimento

da Previdência Social: “[...] tecnicamente, a Previdência Social nasceu da

conjugação da presença do Estado (obrigatoriedade) com as idéias atuariais do

seguro privado e dos mecanismos do mutualismo profissional”.

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Para entender o surgimento da Previdência Social, torna-se necessário uma

noção de seguro, cuja definição verifica-se na lição de Martinez (1998, p. 46):

A idéia fundamental do seguro consiste em certa pessoa, por sua vontade livre, no privado – e forçada no público - privar-se momentaneamente de importância em dinheiro (forma de aporte, chamado de prêmio), socialmente reunida e responsável pela reparação de dano, previamente descrito (na apólice), sofrido (sinistrado) pelo contribuinte ou pessoa por ele designada.

De acordo com as proposições de Otto Von Bismarck, a proteção social

possuía uma conotação securitária.

Borges (2005, p. 32), revela que a corrente adotada por Bismarck

propugnava que:

[...] a proteção social ou previdenciária fosse destinada apenas aos trabalhadores que, de forma compulsória, deveriam verter contribuições para o sistema. Para esta corrente a responsabilidade do Estado deveria ser limitada a normatização e fiscalização do sistema, com pequeno aporte de recursos. O financiamento do sistema se dava com a contribuição dos trabalhadores e empregadores.

Já com o Plano Beveridge, tem-se mais um momento de suma importância

para a evolução da Previdência Social, pois de acordo com Castro e Lazzari (2004)

é este plano que traz a universalização, ou seja, a abrangência necessária para se

alcançar todas as classes com participação de forma compulsória.

Desta forma, surge a noção de solidariedade, com a criação de um fundo

único, obedecendo, então, a um regime previdenciário denominado de Repartição. A

Previdência Social assume a forma que se conhece hoje, eis que, segundo estes

autores, anteriormente os planos previdenciários obedeciam a um sistema chamado

de capitalização, isto é, havia apenas a contribuição dos trabalhadores, numa

poupança individual.

Consultando, novamente, Borges (2005, p. 32):

A partir do trabalho de Beveridge, [...], a proteção social se deve dar, não somente ao trabalhador, mas também de modo universal a todo cidadão, independente de qualquer contribuição para o sistema. Seu

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financiamento deveria se dar através de impostos gerais. Segundo esta corrente, a responsabilidade do Estado é maior, com o orçamento estatal financiando a proteção social dos cidadãos.

Sob esta noção é que surge a Seguridade Social, de onde se inclui a

Previdência como uma de suas vertentes.

O modelo de repartição e de solidariedade de gerações é o adotado hoje pela

maior parte dos Estados Soberanos. No entanto, alguns países privatizaram o seu

sistema previdenciário, que possui como fundamento a poupança individual, como

por exemplo, na América Latina, o Chile. (CASTRO; LAZZARI, 2004).

O marco inicial da Previdência Social no Brasil, conforme Correia e Correia

(2002), é a Lei Eloy Chaves, que foi instituída pelo Decreto Legislativo n. 4.682, de

24 de janeiro de 1923.

Castro e Lazzari (2004) lembram que esta norma criou as Caixas de

Aposentadorias e Pensões da categoria profissional dos ferroviários. Após este

marco, várias outras Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) foram criadas,

alcançando um grande número de categorias profissionais.

Na lição de Batich (2004, p. 33-34):

As CAPs expandiram-se para outras categorias funcionais assalariadas, chegando a serem instaladas cerca de 180 caixas de aposentadorias no Brasil. A ordem de criação deste tipo de instituição previdenciária sempre foi determinada pela capacidade de mobilização e reivindicação dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. Assim, o fato de os trabalhadores de ferrovias terem inaugurado o sistema deve-se menos à importância, para a economia nacional das atividades que desenvolviam, baseadas na exportação de produtos primários, do que à sua capacidade de mobilização para reivindicações de natureza trabalhista. Por este motivo, a previdência para o trabalhador rural não era cogitada, embora fosse elemento fundamental na produção do café, principal produto de exportação do país.

Conforme Martinez (1998, p.72), a Lei Eloy Chaves assegurava o acesso aos

seguintes benefícios:

O plano de benefícios previa: a) aposentadoria ordinária e por invalidez; b) Pensão por morte; c) assistência médica para os beneficiários; d) medicamentos a preço reduzido. Aposentadoria

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ordinária era concedida ao empregado com mais de trinta anos de serviço e um mínimo de cinqüenta anos de idade.

Todavia, como ressalta Batich (2004, p. 33) as Caixas de Aposentadorias e

Pensões “[...] eram sociedades civis em que a ingerência do setor público era

mínima, cabendo sua administração a um colegiado composto de empregados e

empregadores”.

Devido à falta de fiscalização, ocorre, como observam Castro e Lazzari

(2004), várias fraudes e denúncias de corrupção em relação à concessão de

benefícios. E também, há dificuldade financeira na manutenção das CAPs, pois

eram estabelecidas no âmbito de cada empresa, tendo número reduzido de

contribuintes.

A crise no sistema das CAP’s faz com que sejam, aos poucos, substituídas

por um novo sistema de Previdência Social, organizado a partir de institutos de

classe, os IAPs (Institutos de Aposentadorias e Pensões).

Estes institutos abrangiam a categoria profissional em âmbito nacional e não

mais por empresa. O primeiro foi o IAPM - Instituto de Aposentadorias e Pensões

dos Marítimos.

Conforme destaca Coimbra (1996 apud CORREIA, 2002, p. 14), após o

Decreto n. 19.433, “apareceram Institutos, amparando não mais os servidores de

uma só empresa, porém o pessoal assalariado de determinada categoria

profissional, em todo o território nacional”.

No tocante à forma de custeio, Castro e Lazzari (2004, p. 51) asseveram: “A

constituição de 1934 foi a primeira a estabelecer, em texto constitucional, a forma

tripartite de custeio: contribuição dos trabalhadores, dos empregadores e do Poder

Público”.

Não obstante, não havia, ainda, um sistema igualitário e único. Mesmo com a

promulgação da Lei Orgânica da Previdência Social: LOPS (Lei n. 3.807/60), não

houve a unificação dos institutos.

Observa-se que esta lei: “não unificou os organismos existentes, mas criou

normas uniformes para amparo de Segurados e dependentes dos vários institutos

existentes”. (CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 52)

Somente em 1967, com o Decreto-Lei n. 72, tem-se a unificação dos IAP’s,

com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social - INPS. (CORREIA, 2002)

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Conforme observa Batich (2004), a criação do INPS unificou o sistema

previdenciário brasileiro, englobando todos os IAP’s numa só instituição e eliminando

as diferenças entre beneficiários do setor privado. O INPS foi substituído pelo

SINPAS, com o advento da Lei n.6.439/77.

Para Castro e Lazzari (2004, p. 53) esta Lei trouxe modificações no aspecto

organizacional, de cunho administrativo, não alterando direitos e obrigações

previdenciários dos segurados, criando então o SINPAS – Sistema Nacional de

Previdência e Assistência Social, do qual faziam parte várias autarquias e cujas

atribuições eram divididas entre elas, como segue:

a) IAPAS – Instituto de administração Financeira da Previdência e Assistência Social, que ficava encarregado da arrecadação e fiscalização das contribuições;

b) INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, para atendimentos na área de saúde;

c) INPS – apenas para pagamento e manutenção dos benefícios; d) LBA, para atendimentos aos idosos e gestantes; e) FUNABEM, para atendimento dos menores carentes; f) CEME – Central de Medicamentos, para oferecer medicamentos

a preço reduzido; g) DATAPREV – banco de dados do sistema previdenciário.

Quanto à criação do SINPAS, Leite (1978 apud CASTRO; LAZZARI, 2004, p.

54), salienta que: “[...] houve uma ampliação do sentido de Previdência Social para

abarcar também a assistência social, entendendo-se àquela época Previdência

Social como sendo a soma das ações no campo do seguro social e das iniciativas

assistenciais”.

A Lei n. 8.029, de 12 de abril de 1990, extinguiu o Ministério da Previdência e

Assistência Social e restabeleceu o Ministério do Trabalho e da Previdência Social e

o Decreto n. 99.350, de 27 de junho de 1990, criou o Instituto Nacional do Seguro

Social - INSS, mediante a fusão do IAPAS com o INPS.

Os atendimentos na área da saúde ficaram ao encargo do SUS, não se

olvidando que a saúde é direito de todos e dever do Estado e que o acesso a ela

independe de qualquer contribuição ao sistema de Seguridade Social - artigo 196 da

CRFB.

Já quanto à assistência social – outro instrumento de Seguridade Social –

independe de contribuição ao sistema e tem por finalidade a proteção à família, à

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maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e

adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a

habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de

sua integração à vida comunitária; e a garantia de um salário mínimo de benefício

mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir

meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme

dispuser a Lei -artigo 203, inciso I a V da CRFB.

A partir da atual CRFB, como se interpreta do caput do artigo 201, ficou mais

nítido que dos subsistemas que compõem a Seguridade Social (Previdência Social,

Saúde e Assistência Social), a Previdência é o único que é de caráter contributivo,

para que o direito subjetivo ao benefício se realize, pois conforme Correia e Correia

(2002) a Previdência Social tem a atribuição de prestar o seguro social.

2.2 CONCEITO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Correia e Correia (2002) preocupa-se em diferenciar Seguridade Social de

Previdência Social, esclarecendo que a primeira é um instrumento mais amplo, que

abrange a saúde, a assistência social e a própria Previdência Social, sendo a última

destinada à prestação do seguro social, como já destacado.

Colhe-se da obra de Martinez (1998, p. 94), que a Previdência Social se

desdobra em várias formas, apresentando características de:

a) seguro comunitário; b) poupança coletiva; c) aplicação de capitais; d) geração de rendas; e) salário diferido; f) monopólio estatal; g) política permanente; h) indenização de danos; [...].

Então, utilizando como referência o autor já mencionado passa-se ao estudo

das características fundamentais, destacando-se que a Previdência Social pode ao

mesmo tempo ser:

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Seguro comunitário ou social: pois é obrigatório e nasceu da união das

características do seguro privado com as práticas do mutualismo profissional,

adequando os métodos do seguro privado. (MARTINEZ,1998).

Modalidade de reservas: por ser uma poupança coletiva obrigatória,

consistindo em investimento a longo prazo.

Já Castro e Lazzari (2004, p. 41-42) ressaltam que: “(...) o trabalhador nem

sempre está em condições de destinar, voluntariamente, uma parcela de seus

rendimentos para uma poupança”. Neste sentido, a compulsoriedade faz com que o

trabalhador de baixa renda, também tenha uma reserva.

Aplicação de capitais: em seu segmento privado como investidora

institucional, entretanto constitui uma atividade meio, pois não é sua finalidade.

(MARTINEZ,1998).

Geração de rendas: em virtude do regime de repartição, é instrumento de

distribuição de rendas. Não é seu objetivo principal esta distribuição, entretanto,

devido à solidariedade, todos contribuem para o mesmo fundo, tomando como

referência o Brasil, em que as desigualdades sociais são gritantes, a Previdência

Social, torna-se instrumento de justiça social. (MARTINEZ,1998).

Para Castro e Lazzari (2004, p. 42): “[...] cabe à Previdência Social também a

incumbência da redução das desigualdades sociais e econômicas, mediante uma

política de distribuição de renda [...]”.

Salário diferido: por apreender parte da remuneração do trabalhador e restituí-

las na forma de benefícios em momento futuro conforme a disposição legal.

(MARTINEZ,1998).

Monopólio estatal: pois é de controle público, sendo a vinculação de forma

obrigatória, não tem o indivíduo a faculdade de gerir sua proteção, já que não tem a

mesma liberdade contratual que é característica do seguro privado.

(MARTINEZ,1998).

Política contínua: devido à característica da Previdência Social em privilegiar

os interesses coletivos torna-se instrumento das políticas de busca contínua do bem

estar da coletividade. (MARTINEZ,1998).

Já Castro e Lazzari (2004), ratificam este conceito, afirmando que a função do

Estado é assegurar o bem comum. Portanto, sua intervenção visa garantir o acesso

universal aos benefícios previdenciários, garantia que o sistema privado não poderia

proporcionar.

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Indenização de danos: “Diante do sinistro, indeniza ou repara danos causados

a quem trabalha, fato ainda mais verdadeiro se sobrevém inaptidão decorrente de

acidente de trabalho”. (MARTINEZ, 1998, p.96).

Castro e Lazzari (2004, p. 43) acrescentam que a indenização promovida pela

Previdência Social baseia-se na teoria do risco social “[...] cabe à sociedade

assegurar seu sustento ao indivíduo vitimado por uma incapacidade laborativa, já

que toda a coletividade deve prestar solidariedade aos desafortunados [...]”

Discorrendo sobre Previdência Social, Oliveira (1997, p. 69 - 70) consigna

que:

A Previdência Social é um importante instrumento de segurança social para assegurar a renda ao trabalhador de natureza urbana ou rural que exerça ou não atividade remunerada, quando estiver desempregado, ou quando tiver diminuída ou extinta esta sua renda por motivo de riscos sociais. São os casos de doença, invalidez, morte, inclusive os resultantes de acidentes de trabalho, velhice ou reclusão ou desemprego [...]

Martinez (1998, p. 99) a conceitua citando a Convenção da OIT n. 102:

[...] a proteção que a sociedade proporciona a seus membros, mediante uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais que, de outra forma, deriva do desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência como conseqüência de enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional, desemprego, invalidez, velhice e também a proteção em forma de assistência médica e ajuda às famílias com filhos.

Martinez ([s.d.] apud PINTO, 1995, p. 512) assim conceitua Previdência

Social sob o prisma particular de sua finalidade:

Um instrumento cujo escopo é a obtenção dos meios indispensáveis à subsistência da pessoa humana – quando esta encontra dificuldades de obtê-los ou é socialmente indesejável auferi-los pessoalmente através de trabalho, por motivo de gravidez, maternidade, nascimento, educação, incapacidade, invalidez, desemprego, prisão, idade avançada, tempo de serviço ou morte – mediante contribuição obrigatória ou facultativa, proveniente genericamente da sociedade e diretamente de cada um dos segurados.

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No entendimento de Gonçalves (1989 apud MARTINS, 1997, p. 217): “o

evidente propósito de, antecipadamente, reunir recursos dos interessados e

organizar mecanismos que pudessem e possam atender a contingências sociais

prováveis e futuras. É isto a Previdência Social”.

Oliveira (1987 apud MARTINEZ, 1998, p. 98), traz conceito mais meticuloso,

onde se tem bem definida as características do sistema. Para este autor,

Previdência Social é:

A organização criada pelo Estado, destinada a prover as necessidades vitais de todos os que exercem atividade remunerada e de seus dependentes e, em alguns casos, de toda a população, nos eventos previsíveis de suas vidas, por meio de um sistema de seguro obrigatório, de cuja administração e custeio participam, em maior ou menor escala, o próprio Estado, os segurados e as empresas.

O entendimento de Martins (1997, p. 217) é de que:

[...] a Previdência Social é eficiente meio de que serve o Estado moderno na redistribuição da riqueza nacional, tendo em mira o bem-estar do indivíduo e da coletividade, prestado, por intermédio das aposentadorias, como forma de reciclagem da mão-de-obra e oferta de novos empregos.

Salienta-se mais um conceito doutrinário: “Por seguro social ou Previdência

Social, deve se entender um sistema de proteção mediante o qual as pessoas

amparadas adquirem certos direitos (prestações ou serviços) em troca de certos

deveres (pagamento de contribuição)”. (ASSIS [s.d.] apud MARTINEZ, 1998, p. 99)

Todos os conceitos levam a considerar que a Previdência Social é um

subsistema da Seguridade Social que, mediante contribuição, assegura a

manutenção da dignidade da pessoa quando atingida por algum evento previsto em

lei como gerador de proteção social, sendo, este evento, ensejador de perda

permanente ou temporária das condições psíquicas e/ou físicas do segurado para o

exercício de atividade remunerada; em caso de óbito, a Previdência Social assegura

meios de sobrevivência aos dependentes.

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2.3 REGIMES DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Em princípio, cumpre definir regime previdenciário em geral, para entender as

características comuns aos regimes de previdência, para então passar às

particularidades de cada regime.

Assim, regime previdenciário é o conjunto sistematizado de normas legais e praxes procedimentais, envolvendo clientela definida de pessoas, normalmente submetido à lei orgânica, onde estabelecidos regras gerais e especiais, como também às vezes, comandos pertinentes à comunicação entre si e, esparsamente, preceitos de superdireito. Prevê fontes de custeio e diferentes benefícios, o regime financeiro, o tipo de plano, além de algumas disposições de interpretação e princípios”. (MARTINEZ,1998, p. 54)

Já para Castro e Lazzari (2004, p. 98):

Entende-se por regime previdenciário aquele que abarca, mediante normas disciplinadoras da relação jurídica previdenciária, uma coletividade de indivíduos que tem vinculação entre si em virtude da relação de trabalho ou categoria profissional a que está submetida, garantindo a esta coletividade, no mínimo, os benefícios essencialmente observados em todo sistema de seguro social -aposentadoria e pensão por falecimento do segurado.

2.3.1 O Regime Geral de Previdência Social – RGPS

Em 1960, com a LOPS Lei Orgânica da Previdência Social e o Decreto

48.959-A/60, deu-se início à base para a estruturação do Regime Geral de

Previdência Social (RGPS), quando este ainda era denominado de Regulamento

Geral de Previdência Social. (MARTINEZ, 1998)

Para Martinez (1998) o Regime Geral de Previdência Social – RGPS,

compreende:

[...] descrição da relação jurídica de filiação e de inscrição, além de estabelecer o regime contributivo dos diferentes segurados obrigatórios ou facultativos e o das empresas sujeitas à exação

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securitária, urbanas ou rurais. Abarca como atividade-fim, o plano de prestações, ou seja, benefícios e serviços postos à disposição dos destinatários. (MARTINEZ, 1998, p. 55)

O RGPS é de filiação compulsória e automática para os Segurados

obrigatórios, entretanto, permite a filiação de Segurados facultativos, obedecendo ao

princípio da universalidade. Portanto, admite que a pessoa que não se enquadre

como obrigatório possa contribuir facultativamente para se tornar filiado. (CASTRO;

LAZZARI, 2004)

2.3.2 Regime Próprio de Previdência Social

2.3.2.1 Servidores públicos civis

A Constituição Federal, em seu artigo 149, parágrafo 1º e artigo 40, caput,

estabelecem a possibilidade de Estados, Distrito Federal, União e Municípios,

criarem regimes de previdência próprios para os servidores de cargo efetivo.

Martinez (1998) enfatiza que este regime não possui alcance geral como o

RGPS, pois seu objetivo é atender exclusivamente os servidores efetivos e seus

dependentes.

De acordo com o artigo 37, inciso II da CRFB, servidores efetivos são aqueles

que foram previamente aprovados em concurso público, observando a forma

prescrita em lei.

Para Castro e Lazzari (2004) a Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.98,

trouxe critérios mais definidos no tocante ao custeio do regime próprio, objetivando a

efetiva contribuição, por parte dos servidores públicos. Foi então, incluído o caráter

contributivo do regime. E, observam ainda os autores, quanto aos servidores

efetivos:

Para estes, a partir de então, as regras para aposentação passaram a ser mais rígidas, pois o tempo de contribuição (trinta e cinco anos para o homem, trinta para a mulher) somou-se a exigência de idade

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mínima (60 anos para o homem e 55 anos para a mulher), mais o cumprimento de tempo mínimo de dez anos de efetivo no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria. (CASTRO; LAZZARI, 2004, p.104)

Os cargos comissionados, conforme redação conferida pela Emenda

Constitucional n. 20/98 ao parágrafo 13 do artigo 40 da CRFB, aplica-se o RGPS.

2.3.2.2 Regime previdenciário dos militares

Castro e Lazzari (2004, p. 112) observam que:

Os militares não são mais considerados, pelo texto constitucional, servidores públicos, em face das alterações propostas pelo Poder Executivo e promulgadas pela Emenda Constitucional n. 18, de 5.2.98, criando tratamento diferenciado para os membros das Forças Armadas em vários aspectos, fundamentalmente acabando com o tratamento isonômico exigido pelo texto original da Constituição entre servidores civis e militares.

Stephanes (1993 apud CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 113) menciona os

problemas que norteiam este regime:

A atual discrepância entre os valores arrecadados pela União e o pagamento efetuado é um problema de difícil solução. Isto em função do crescimento do número de aposentadorias e pensões, dada a precocidade com que são obtidas e ao longo período o qual são usufruídas.

O inciso X, do artigo 142 da CRFB/1988 revela que: “[...] a lei disporá sobre o

ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições

de transferência do militar para a inatividade, [...]”. Hodiernamente, a lei que

regulamenta o direito à inatividade dos militares é a Lei n. 6.880, de 09 de dezembro

de 1980, conhecida no vernáculo como Estatuto dos Militares.

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2.3.3 Regime de Previdência Complementar

O regime de previdência complementar é, atualmente, disciplinado pela Lei

Complementar n. 109, de 29 de maio de 2001. Conforme estabelece o artigo 1º da

referida lei, “[...] o regime de previdência privada, de caráter complementar, e

organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de Previdência Social, é

facultativo, baseado na constituição de reservas de capitais, [...]”. (BRASIL, 2001)

As entidades de previdência complementar podem ser abertas ou fechadas.

As entidades fechadas “são acessíveis, exclusivamente, nos termos do art. 31, a

empregados de empresa, grupos de empresa ou servidores públicos. Tais empresas

são patrocinadoras”. (FELIPE, 2003, p. 168)

As entidades abertas são acessíveis a qualquer pessoa. Para Castro e

Lazzari (2004), estas entidades são constituídas na forma de sociedades anônimas.

Neste caso, as instituições financeiras (algumas que operam também o ramo de

seguro privado) instituem e operam os planos de benefícios previdenciários.

2.4 OS DESTINATÁRIOS DA PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA NO ÂMBITO DO

REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL - RGPS

2.4.1 Definição de Destinatário

Martinez (1998) frisa que, o destinatário da Previdência Social, é denominado

genericamente de beneficiário. Que, por sua vez, divide-se em Segurados

obrigatórios ou facultativos e dependentes destes.

2.4.2 Segurados Obrigatórios

Para Oliveira (1995, p. 467) os segurados obrigatórios “são as pessoas, que

se filiam compulsoriamente ao Regime Geral de Previdência Social, em razão de

exercerem atividade remunerada”.

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Obrigatórios são aqueles que contribuem compulsoriamente para a

Previdência Social. Devendo ser pessoa física, tendo ainda como requisito o

exercício de uma atividade laborativa remunerada e lícita. (CASTRO; LAZZARI,

2004).

Os autores, acima citados, ressaltam ainda que, se enquadrará como

obrigatório, aquele trabalhador que exercer atividade de caráter urbano, rural ou

doméstico, ou sob regime estatutário (quando não possuir regime próprio), podendo

ser classificado em categorias, quais sejam: empregado, empregado doméstico,

trabalhador avulso, contribuinte individual e Segurado Especial.

2.4.2.1 Empregado

Nos termos do artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,

empregado é: “[...] toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual

a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. (ACQUAVIVA, 2005, p.

557)

Entende-se por serviço prestado em caráter não eventual “[...] aquele

relacionado direta ou indiretamente com as atividades normais da empresa, não

sendo necessária prestação diária de serviços.” (CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 147).

Todavia, é salutar o registro de que a legislação previdenciária considera

como empregado não só a figura descrita no artigo 3º da CLT e, sim, outras

categorias, as quais são relacionadas nas alíneas “b” a “q” do inciso I, do artigo 9º do

Decreto 3.048, de 06 de maio de 1999. Como, por exemplo:

[...] aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, por prazo não superior a três meses, prorrogável, presta serviço para atender a necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviço de outras empresas, na forma da legislação própria; [...] o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado no exterior, em sucursal ou agência de empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sede e administração no País; (GARCIA, 2004).

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2.4.2.2 Empregado doméstico

A própria legislação fornece o conceito de empregado doméstico nos termos

do artigo 11, inciso II, da Lei n. 8.212/91, considerando que: “[...] empregado

doméstico é aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no

âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos”. (MARTINEZ, 2001, p.

63)

Importante observação é a anotada por Rocha e Baltazar Júnior (2006, p. 65

- 66): “Empregado doméstico será não apenas a pessoa encarregada da limpeza da

residência, mas também o caseiro, o motorista, o vigia, a babá, o cozinheiro e

também o empregado de condomínio de apartamentos”.

2.4.2.3 Contribuinte individual

A Lei n. 9.876, de 26 de novembro de 1999, trouxe inovações para a

legislação previdenciária criando a categoria de contribuinte individual, englobando

os segurados empresário, autônomo e equiparado a autônomo. Esta categoria está

regulamentada no artigo. 9º, inciso V, do Decreto 3.048/99. (CASTRO; LAZZARI,

2004)

2.4.2.4 Trabalhador avulso

Castro e Lazzari (2004, p. 165) entendem que o conceito, adotado pela atual

legislação previdenciária, para o trabalhador avulso é:

[...] pessoa que presta serviço, de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício com qualquer delas. Com intermediação obrigatória de intermediação de um órgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei n. 8.630, de 25.2.93, ou do sindicato da categoria.

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2.4.2.5 Segurado especial

A Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988, em seu artigo 195,

parágrafo 8º, já delimita quem as espécies de segurados especiais e sua forma de

contribuição, in verbis:

Art. 195. [...] §8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre a comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. (ACQUAVIVA, 2005, p. 85)

Rocha e Baltazar Júnior (2006, p. 73 - 74), asseveram que:

Atualmente, são segurados especiais os produtores, parceiros, meeiros e arrendatários rurais, pescadores artesanais e assemelhados, que exerçam a atividade individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de dezesseis anos – nos termos do inciso XXXIII do art. 7º modificado pela EC n. 20/98 -, ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo, residindo na área rural.

2.4.3 Filiação e Inscrição de Segurado Obrigatório

De acordo com Correia e Correia (2002), faz-se necessário, a devida

diferenciação entre filiação e inscrição, em relação ao segurado obrigatório, já que a

filiação se dá a partir do momento em que se inicia o exercício da atividade

remunerada e, será de forma automática, enquanto que a inscrição é realizada junto

ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), constituindo-se em ato administrativo.

Há casos em que a empresa não considera o colaborador como empregado seu e não cumpre as imposições legais, por ignorância

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ou má fé. Mas a vinculação com a Previdência Social se verifica de qualquer sorte, bastando a oficialização dessa situação”. (Oliveira, 1995, p. 469).

2.4.4 Segurado Facultativo

Para Correia e Correia (2002) o Segurado facultativo é aquele que não está

na condição de obrigatório, podendo filiar-se ao sistema por vontade própria, sendo

uma faculdade pessoal de ingressar no sistema, contribuindo, para obter os

benefícios legais.

Martinez (1998) ressalta que a facultatividade refere-se à admissão e a

permanência do facultativo na qualidade de Segurado.

Castro e Lazzari (2004) ressaltam ser um privilégio constitucional e legal que

o Segurado facultativo desfruta por não estar vinculado a nenhum regime

previdenciário. Mesmo assim, desejando obter os benefícios, pode usufruí-los, ao

passo que, contribui para a Previdência Social. Desde que seja maior de 16 anos,

(idade mínima necessária conforme o artigo 11, do Decreto 3.048/99).

No tocante à filiação do Segurado facultativo, afirmam Castro e Lazzari (2004,

p. 171):

Considera-se filiação, na qualidade de segurado facultativo, um ato volitivo, gerador de efeito somente a partir da inscrição e do primeiro recolhimento, não podendo retroagir e não permitindo o pagamento de contribuições relativas a competências anteriores à data da inscrição.

2.4.5 Dependentes

Martinez (1998) afirma que os dependentes são assim designados em virtude

da dependência econômico-financeira em relação ao Segurado da Previdência

Social. No entanto, o autor frisa que esta dependência pode ser parcial ou total, mas

sempre de natureza econômica.

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Castro e Lazzari (2004) ressaltam que os dependentes são as pessoas que,

apesar de não contribuírem diretamente para o custeio da Previdência Social, são

designados como possíveis beneficiários do Regime Geral de Previdência Social –

RGPS, fazendo jus às seguintes prestações elencadas pela Lei de Benefícios, tais

como: pensão por morte, auxílio reclusão, serviço social e reabilitação profissional.

As três classes de dependentes são: “I – o cônjuge, a companheira e o

companheiro, o filho de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido e

não emancipado; II – os pais; III – o irmão, de qualquer condição, menor de vinte e

um anos ou inválido e não emancipado”. (MARTINEZ, 1998, p.178)

Registra Oliveira (1995, p. 473) que: “A dependência econômica dos

dependentes da primeira classe é presumida e a dos das demais classes deve ser

comprovada”.

Martinez (1998) destaca que a legislação dá prioridade para o núcleo familiar,

sendo este composto pelos cônjuges, companheiros e filhos, cuja dependência é

presumida; já os pais e os irmãos necessitam comprovar dependência econômica

perante o INSS. Além do mais, a presença de algum dependente do núcleo familiar,

arrolado na classe primeira classe, exclui a concessão de benefícios aos pais e

irmãos.

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3 O TRABALHADOR RURAL COMO SEGURADO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

3.1 O ESTATUTO DO TRABALHADOR RURAL - ETR

O Trabalhador Rural foi incluído, na legislação previdenciária, através da Lei

n. 4.214, de 02 de março de 1963, que dispôs sobre o Estatuto do Trabalhador Rural

(ETR). Esta lei regulamentou o trabalho rural e criou o Fundo de Assistência e

Previdência do Trabalhador Rural – FUNRURAL.

Para fins de regulamentação da categoria, o ETR estabeleceu, em seu artigo

2º, a seguinte definição: “Trabalhador Rural para os efeitos desta lei é toda pessoa

física que presta serviços a empregador rural, em propriedade rural ou prédio

rústico, mediante salário pago em dinheiro ou in natura, ou parte em dinheiro e parte

in natura”. (BRASIL, 1963).

Ao comentar o artigo 2º do ETR, Russomano (1969 apud MARTINEZ, 1985,

p. 142), apontou seis aspectos relevantes para a definição de Trabalhador Rural:

1) ser o Trabalhador Rural pessoa física ou natural; 2) serem permanentes os serviços executados pelo trabalhador, afastando o trabalhador eventual da tutela do Estatuto; 3) haver dependência jurídica em relação ao empregador, o que, por seu turno, arredava o trabalhador autônomo; 4) ocorrer remuneração, com a conseqüente exclusão de serviços gratuitos; 5) poder o pagamento ser feito em dinheiro em dinheiro e in natura mas nunca apenas in natura e 6) além da natureza rural dos serviços prestados, estes deveriam situar-se na propriedade rural ou prédio rústico.

Todavia, cumpre destacar, neste início, a dificuldade em se chegar a um

conceito de Trabalhador Rural, tendo como ponto de partida as primeiras legislações

referentes à proteção desta categoria.

Martinez (1985, p. 139), já mencionava esta dificuldade, segundo o autor, as

primeiras legislações e os decretos regulamentadores foram “ora genéricos, ora

exemplificativos. Quando exemplificativos, confundiram e misturaram gênero com

espécie, profissão com situação e assim por diante”.

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Martinez (1985), visando esclarecer a dúvida suscitada, destacou que

Trabalhador Rural, em sentido amplo, alcança todos os que trabalham na atividade

rural. Trabalhador Rural é gênero do qual o empregado rural é a principal espécie.

Nota-se, que o ETR não menciona empregado e sim Trabalhador Rural. Não

há ainda uma definição própria para empregado rural. Entretanto, está contido no

conceito de Trabalhador Rural.

O primeiro elemento presente no conceito de Trabalhador Rural é a

destinação dos serviços ao empregador rural.

Sobre essa exigência, observa Martinez (1985, p. 31):

Se a tarefa executada pelo trabalhador é rural e se destina juridicamente a empresário ocupado em atividade rural, ainda que dirigida materialmente a pessoa não-rural, a relação é de trabalho rural e o empresário torna-se empregador rural. Ao contrário, se um trabalhador é contratado por uma empresa que exerce atividade urbana, presta serviços de natureza não-rural, destinados a propriedade rural, a atividade se inserirá num contrato de trabalho regido pela CLT.

Outra parte integrante e essencial para o conceito de Trabalhador Rural é a

sede da prestação de serviços que, segundo a legislação, é a propriedade rural ou

prédio rústico. Se o trabalhador prestar serviços fora deste âmbito mesmo

destinando-se a empregador rural, desconfigura-se a qualidade de rural.

Para Sampaio (1972), prédio rústico é a propriedade imóvel que se destina à

lavoura ou indústria rural. O referido autor não encontrou diferença entre

propriedade rural e prédio rústico.

Martinez (1985) acrescenta que, a esta sede da prestação de serviços, é

elemento nuclear do conceito de Trabalhador Rural, portanto, impossível imaginar-se

a exploração de atividade rural fora do estabelecimento rural ou prédio rústico.

Comparando com o conceito de trabalhador urbano, observa-se que na

definição de Trabalhador Rural, contida no ETR, não é reproduzida a exigência de

subordinação jurídica ou hierárquica, ao contrário da CLT, cujo conceito é o de

empregado, forma mais restrita de trabalhador.

Portanto, quanto a esta característica não se admite a aplicação subsidiária

da CLT, por não se tratar de simples omissão, mas de exclusão da mesma. Assim a

subordinação não é elemento essencial, caso contrário, a aplicação subsidiária da

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CLT daria interpretação restritiva ao disposto no ETR, possibilidade vedada pelo

artigo 179 do ETR2. (SAMPAIO, 1972).

Outro elemento importante a se considerar, que não foi reproduzido pela

legislação rural, é quanto ao conceito de empregador rural, a qual não foi exigido

que assumisse os riscos da atividade.

Enquanto que no regime urbano o empregador sempre assumia os riscos da

atividade, na atividade rural, tais riscos eram compartilhados pelo trabalhador, como,

a título de exemplo, na meação. Pois, mais uma vez, o Estatuto excluiu um elemento

da conceituação e não apenas foi omisso. (SAMPAIO, 1972)

Na regulamentação do trabalho rural, o ETR estabelece a normatização do

contrato de trabalho, repouso semanal e férias remuneradas, saúde, higiene e

segurança do trabalho, além da regulamentação dos sindicatos dos trabalhadores

rurais

Em seu Título IX “Dos Serviços Sociais”, o ETR estabelece a criação do

Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (FUNRURAL) e dispõe

sobre os beneficiários e benefícios assegurados.

Martinez (1985, p. 142), menciona que o ETR, em sua redação original, no

artigo 160, considerava beneficiários da Previdência Social rural: “Os trabalhadores

rurais e os colonos ou parceiros, bem como os pequenos proprietários rurais,

empreiteiros, tarefeiros e pessoas físicas que explorem as atividades previstas no

art. 3º desta lei, estas com menos de cinco empregados a seu serviço”.

Nota-se, que a categoria do empregador rural não aparecia como Segurado.

Entretanto, o art. 1613 do Estatuto permitiu a possibilidade de quem não estivesse na

cobertura do já mencionado art. 160, contribuir, facultativamente, para obter os

benefícios. O Estatuto do Trabalhador Rural concedeu ao Instituto de

Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI) “atribuições para gerir os

recursos do Fundo, que se originavam na incidência de 1% (um por cento), sobre o

valor dos produtos agropecuários, recolhido pelo produtor rural em favor do IAPI”.

(OLIVEIRA NETO, 2005, p. 01)

2 Art. 179. Estendem-se aos trabalhadores rurais os dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho que não contradigam ou restrinjam o disposto nesta Lei. (SAMPAIO, 1972, p. 326) 3 Art. 161. Os proprietários em geral, os arrendatários, demais empregados rurais não previstos no artigo anterior, bem como os titulares de firma individual, diretores, sócios, gerentes, sócios solidários, sócios quotistas, cuja idade seja, no ato da Inscrição até cinqüenta anos, poderão, se o requererem, tornar-se contribuinte facultativo do IAPI. (BRASIL, 1963)

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Observa-se, contudo, que os membros da família do pequeno proprietário

rural, que explorem a propriedade rural apenas com a família, estão excluídos de

toda a proteção da Lei n. 4.214, de 02 de março de 1963 (ETR) e também da CLT,

por força do artigo 180 do ETR4.

Portanto, estão fora do âmbito da proteção trabalhista e previdenciária rural, e

também da CLT.

Vale ressaltar, a crítica de Segadas Viana ([s.d] apud SAMPAIO, 1972),

quanto à exclusão dos familiares, anteriormente mencionados, afirmando haver

demasiada amplitude ao excluí-los também do seguro social, resultando em uma

grande injustiça, considerando, ainda, como um fator para desagregação da

economia familiar, visto que seria mais vantajoso para os filhos trabalharem para um

estranho, já que trabalhando para o próprio pai não estavam amparados por

nenhuma proteção social.

Apesar de apresentar uma gama razoável de benefícios, tais como:

aposentadoria por invalidez, aposentadoria por velhice, pensão por morte,

assistência à maternidade, auxílio-doença, auxílio-funeral e assistência médica, a

escassez de recursos financeiros fazia com que fosse limitada a aplicação prática do

Estatuto do Trabalhador Rural. (BELTRÃO; OLIVEIRA; PINHEIRO, 2000)

3.2 O PRORURAL E A EVOLUÇÃO LEGISLATIVA ATÉ A CRFB/1988

3.2.1 A Lei Complementar n. 11, de 25 de maio de 1971

Com a publicação da Lei Complementar n. 11, de 25 de maio de 1971, é

instituído o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (PRORURAL). Em

relação à administração e execução deste programa, ficou responsável o

FUNRURAL, pessoa jurídica de natureza autárquica, então criada para esse fim e

4 Art. 180 - Não se aplicam as disposições desta lei nem as da Consolidação das Leis do Trabalho às relações de trabalho rural do pequeno proprietário com membros de sua família, quando só com eles explore a propriedade. (SAMPAIO, 1972, p. 328).

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submetida ao antigo Ministério do Trabalho e Previdência Social. (CORREIA;

CORREIA, 2000).

O PRORURAL revogou, em seu artigo 37, expressamente, o título IX da Lei

n. 4.214, de 02 de março de 1963 (ETR), ou seja, revogou tão somente as

disposições referentes aos direitos previdenciários, passando a tratar inteiramente

da matéria previdenciária rural.

No entanto, continuaram plenamente em vigor os demais dispositivos do

ETR, cujo conteúdo versava sobre direitos trabalhistas.

Portanto, a partir de então, no âmbito rural, a legislação previdenciária

desvinculou-se da legislação trabalhista.

Para Beltrão; Oliveira e Pinheiro (2000), a Lei Complementar n. 11, de 25 de

maio de 1971, equiparou, para efeitos previdenciários, o produtor rural que exerce

sua atividade sem o auxílio de empregados, ao Trabalhador Rural, conforme

previsão contida no artigo 3º, parágrafo 1º, da referida Lei:

Art. 3º [...] Parágrafo 1º Considera-se trabalhador rural, para os efeitos desta Lei Complementar: a) a pessoa física que presta serviços de natureza rural a empregador, mediante remuneração de qualquer espécie; b) o produtor, proprietário ou não que, sem empregado, trabalhe na atividade rural individualmente ou em regime de economia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da família indispensável à própria subsistência e exercido em condições de mútua dependência e colaboração.

Nota-se que, mais uma vez, a legislação não define empregado rural e sim

Trabalhador Rural, alcançando um contingente maior de beneficiários.

A Lei Complementar n. 11 de 1971 (PRORURAL), em seu artigo 3º, alínea “a”

estabeleceu um conceito de Trabalhador Rural mais genérico. O regulamento desta,

aprovado pelo Decreto 69.919, de 11 de janeiro de 1972, estabeleceu, em seu artigo

2º, inciso I, letra “A”, uma definição mais precisa sobre a categoria dos trabalhadores

rurais:

Art. 2º [...] A) a pessoa física que presta serviços de natureza rural diretamente a empregador, em estabelecimento rural ou prédio rústico, mediante salário pago em dinheiro ou parte “in natura” e parte em dinheiro, ou por intermédio de empreiteiro ou organização que, embora não

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constituídos em empresa, utilizem mão-de-obra para produção e fornecimento de produto agrário ‘in natura’. (SAMPAIO, 1972, p. 366)

Diante do exposto, observa-se que o conceito expresso no regulamento

delimitou a conceituação de Trabalhador Rural, aproximando-a do conceito contido

no Estatuto já revogado.

No mesmo artigo 2º do Regulamento (Decreto 69.919, de 11 de janeiro de

1972) acha-se, também, esclarecido o conceito que produtor rural que trabalha

individualmente ou em Regime de Economia Familiar. Sobre esse tema, o

Regulamento, na verdade reproduziu a norma contida no art. 3º, “b” da Lei

Complementar n. 11.

Art. 2º. São beneficiários do PRORURAL: I – na qualidade de trabalhadores rurais a) [...] b) o produtor, proprietário ou não, que sem empregado, trabalhe na atividade rural, individualmente ou em regime de economia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da família indispensável à própria subsistência e exercido em condições de mútua dependência e colaboração. (SAMPAIO, 1972, p. 366).

Ressalte-se que em relação ao Regime de Economia Familiar, a já

mencionada Lei Complementar, não considerava como Trabalhador Rural os demais

membros da unidade familiar e sim, tão somente, o chefe ou arrimo, conforme

disposto no artigo 4º da Lei Complementar n. 11. (MARTINEZ, 1985).

Quanto à definição de unidade familiar, chefe e arrimo, estabelece o artigo 8º

do regulamento do PRORURAL (Decreto 69.919, de 11 de janeiro de 1972), em seu

parágrafo 1º, incisos I, II e III, a seguinte conceituação:

Parágrafo 1º. Para o efeito e na forma do disposto no artigo, considera-se: I – Unidade familiar, o conjunto de pessoas vivendo total ou parcialmente, sob a dependência econômica de um trabalhador rural, na forma do art. 2º, n. II, e seus §§ 1º, 2º, 3º, 4º; II – Chefe da unidade familiar: a) o cônjuge do sexo masculino, ainda que casado apenas segundo rito religioso e sobre o qual recaia a responsabilidade econômica a que se refere o n. I;

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b) o cônjuge do sexo feminino, nas mesmas condições da alínea anterior, quando ocorrer qualquer das hipóteses previstas no art. 251 do Código Civil5, desde que ao outro cônjuge não tenha sido concedida aposentadoria por velhice ou invalidez; c) o cônjuge sobrevivente ou aquele que, em razão de desquite ou anulação do casamento civil, ficar com filhos menores sob sua guarda; III – Arrimo da unidade familiar, na falta do respectivo chefe, o Trabalhador Rural que dela faça parte e sobre o qual recaia o encargo de mantê-la, entendendo-se igualmente, nessa condição, a companheira, se for o caso, quando à outra parte do casal não houver sido concedida aposentadoria por velhice ou invalidez”. (SAMPAIO, 1972, p. 370)

Nos termos do artigo 2º, da Lei Complementar n. 11/71, eram assegurados os

seguintes benefícios:

Art. 2º - O Programa de Assistência ao Trabalhador Rural consistirá na prestação dos seguintes benefícios: I – aposentadoria por velhice; II – aposentadoria por invalidez; III – pensão; IV – auxílio-funeral; V – serviço de saúde; VI – serviço social.

Observa-se que a lei estabelece a prestação de benefícios e serviços e que

são “fatos geradores dos benefícios a invalidez (aposentadoria), a idade

(aposentadoria) e a morte (pensão e auxílio-funeral)”. (FERNANDEZ, 1986, p. 227).

A aposentadoria por velhice, conforme disposto no artigo 4º,6 caput e

parágrafo único da referida lei complementar, era devida ao Trabalhador Rural que

completasse 65 anos de idade e correspondia a 50% (cinqüenta por cento) do maior

salário mínimo, cabendo, apenas, a um componente da unidade familiar, que era o

chefe ou arrimo. (MARTINEZ, 1985)

5 Art. 251. À mulher compete a direção e administração do casal, quando o marido: I – estiver em lugar remoto, ou não sabido; II – estiver em cárcere por mais de 2 (dois) anos; III – for judicialmente declarado interdito. (BRASIL, [código civil de 1916], 2003, p. 1211) 6 “Art. 4º. A aposentadoria por velhice corresponderá a uma prestação mensal equivalente a 50% do salário mínimo de maior valor no País, e será devida ao trabalhador rural que tiver completado 65 anos de idade”. “Parágrafo único. Não será devida a aposentadoria a mais de um componente da unidade familiar, cabendo apenas o benefício ao respectivo chefe ou arrimo”. (MARTINEZ, 1985, p. 314).

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Já a aposentadoria por invalidez, como informa o artigo 5º desta lei, é devida

ao trabalhador, total e definitivamente incapaz para o trabalho, correspondendo a

uma prestação igual à aposentadoria por velhice e não poderia ser acumulável com

esta.

Conforme ressalta Fernandez (1986, p. 229), o PRORURAL traz o conceito

de invalidez, apresentando duas características: “1-. é causada por enfermidade ou

lesão orgânica; 2-. determina que o obreiro fique total e definitivamente incapaz para

o trabalho.”

No tocante à pensão por morte do Trabalhador Rural, conforme previsão do

artigo 6º da Lei Complementar n. 11/71, nota-se que esta era equivalente à

prestação mensal de 30% (trinta por cento) do salário mínimo, obedecendo, quanto

a sua concessão, uma ordem preferencial de dependentes, ordem esta,

regulamentada pelo artigo 2º do Decreto 69.919, de 11 de janeiro de 1972.

Art. 2º. São beneficiários do PRORURAL: II – Na qualidade de dependentes do trabalhado rural: a) a esposa, o marido inválido, os filhos de qualquer condição menores de 18 anos ou inválidos, e as filhas solteiras de qualquer condição, menores de 21 anos ou inválidas; b) a pessoa designada, que, se do sexo masculino, só poderá ser menor de 18 anos; c) o pai inválido e a mãe; d) os irmãos de qualquer condição, menores de 18 anos ou inválidos, e as irmãs solteiras de qualquer condição, menores de 21 anos. (SAMPAIO, 1972, p. 366).

No artigo 9º, o PRORURAL concedia o benefício de auxílio-funeral, no valor e

um salário mínimo, à pessoa responsável pelas despesas do sepultamento do

Trabalhador Rural e do cônjuge dependente.

Quanto aos serviços de saúde, estabelecia o Programa de Assistência, em

seu artigo 12, que seriam prestados serviços de saúde aos beneficiários na

proporção orçamentária do FUNRURAL, estando sua gratuidade relacionada à

renda da unidade familiar. (MARTINEZ, 1985)

Nesse ambiente, porém, cumpre destacar a crítica de Fernandez (1986 p.

232) quanto à forma de serem prestados estes serviços de saúde:

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A assistência médica ao Trabalhador Rural é identificada pela lacônica expressão “serviços de saúde”, o que já a distancia da prestação do regime geral urbano. “Os serviços de saúde” obedecem a programas diferentes daqueles destinados aos beneficiários do regime urbano. Estão limitados às disponibilidades orçamentárias, constituindo, portanto, direito potestativo da instituição do PRORURAL, que os concederão se e como puderem A gratuidade da prestação será total ou parcial, ou seja, pode ser cobrada a assistência médica aos rurículas. Solução socialmente injusta, evidentemente. Contudo, legalmente possível.

Já no artigo 13, do mesmo diploma legal, havia previsão de serviço social

para melhorar a qualidade de vida dos beneficiários. Entretanto, sua aplicação ficou

condicionada à disponibilidade de recursos orçamentários do FUNRURAL e da

possibilidade local.

Portanto, também a prestação deste serviço, fica condicionada à teoria do

direito potestativo já relatada acima, conforme entendimento de Fernandez (1986).

Para o custeio do PRORURAL, a Lei Complementar n. 11, estabeleceu a

arrecadação de 2% (dois por cento) sobre o valor da comercialização dos produtos

rurais. Esta contribuição era devida pelo produtor rural. (MARTINEZ, 1985).

3.2.2 A Lei Complementar n. 16 de 30 de outubro de 1973

A Lei Complementar n. 16, de 30 de outubro de 1973, altera a redação de

dispositivos da Lei Complementar 11/71, dentre as alterações previa, para fins da

concessão das prestações pecuniárias, período mínimo para qualificação como

Trabalhador Rural, qual seja o exercício de atividades rurais no mínimo por 3 (três)

anos, ainda que de forma descontínua. (FERNANDEZ, 1986).

A nova lei altera, a redação do artigo 6º da Lei Complementar n. 11 de 71,

aumentando de 30% (trinta por cento) para 50% (cinqüenta por cento) do salário

mínimo, o valor da pensão por morte, estabelecendo ainda que não será diminuída

por ocasião da redução da quantidade de dependentes. (FERNANDEZ, 1986).

Outra alteração importante no PRORURAL foi que, a Lei Complementar n. 16,

fixou data para o início dos benefícios de aposentadoria por velhice, aposentadoria

por invalidez e pensão por morte, vindo expressa em seu artigo 8º, veja-se:

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Art. 8.º São fixadas como datas em que passam a ser devidas as mensalidades relativas aos benefícios de que tratam os arts. 4.º, 5.º e 6.º, da lei complementar n.º 11, de 25 de julho de 1971, a da entrada do requerimento para a aposentadoria por velhice, a do respectivo laudo médico no que respeita à aposentadoria por invalidez, e aquela da ocorrência do óbito, quanto à pensão. (FERNANDEZ, 1986, p. 240)

3.2.3 A Lei n. 5.889, de 08 de junho de 1973

A Lei n. 5.889, de 08 de junho de 1973, trouxe nova regulamentação ao

trabalho rural, dispondo exclusivamente sobre os direitos trabalhistas, já os direitos

previdenciários permaneceram sob a égide das Leis Complementares n. 11 e 16.

Destaca-se que a Lei n. 5.889 revogou expressamente o ETR. (SAMPAIO, 1974).

Com esta lei, foram estabelecidas normas de proteção ao empregado rural.

De acordo com o artigo 2º: “Empregado rural é toda pessoa física que, em

propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a

empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário”. (BRASIL, 1973).

Conforme ressalta Sampaio (1974), a definição de empregado rural

estabelecida por esta lei aproxima-se do conceito fundamental de empregado pela

CLT por constar também a exigência do caráter não eventual da prestação de

serviços e do vínculo de subordinação jurídica.

A Lei n. 5.889, segundo Martinez (1998), ficou conhecida como a ‘CLT do

Campo’.

Fonseca (1999, p. 02): “buscou simplificar a normatização, remetendo grande

parte da regulamentação à própria CLT, estabelecendo, no entanto, direitos

específicos aos rurais, como jornada noturna e o respectivo adicional, intervalo intra-

jornada, aviso prévio, prescrição e o salário-utilidade”.

Em síntese, pode-se afirmar que “é aplicável às relações de trabalho rural a

Consolidação das Leis do Trabalho, exceto naqueles dispositivos que colidam com

as normas específicas contidas na citada Lei n. 5.889”. (SAMPAIO, 1974, p. 08).

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3.2.4 O SINPAS: uma Nova Estrutura Administrativa

Com a criação do SINPAS, Lei n. 6.439, de 01 de setembro de 1977, houve

grande mudança na estrutura administrativa da Previdência Social, pois, até então,

cada regime previdenciário era administrado por um órgão próprio, sendo

responsável desde a administração financeira até a prestação de benefícios

previdenciários, assistência médica e social. (BELTRÃO, OLIVEIRA, PINHEIRO,

2000).

Os regimes de previdência dos trabalhadores urbanos, dos trabalhadores

rurais e dos funcionários públicos federais, que antes eram assistidos,

respectivamente, pelo INPS, FUNRURAL e IPASE, passam a serem administrados

pelo novo sistema, o SINPAS. Dentro desta nova ordem administrativa, deixam de

existir as autarquias FUNRURAL e IPASE, atribuindo-se nova competência

administrativa para o INPS. (MARTINEZ, 1985)

Ao INPS foi atribuída apenas a manutenção e concessão de benefícios, ao

passo que foram criadas novas autarquias para as outras funções, sendo elas:

IAPAS, INAMPS, LBA, FUNABEM, CEME e DATAPREV.

Apesar dos planos de benefícios permanecerem distintos e desiguais entre as

clientelas urbanas e rurais, a criação do SINPAS pode ser considerada um marco do

sistema previdenciário brasileiro, pois surge uma tendência de universalização do

sistema. (BELTRÃO , OLIVEIRA, PINHEIRO, 2000)

Com o advento do SINPAS, portanto, não ocorreu modificações no tocante a

direitos e obrigações. Permanecendo em vigor o PRORURAL, a previdência urbana

e rural era tratada nos mesmos decretos para facilitar a organização administrativa.

Assim todo o custeio era regulado no Decreto n. 83.081, de 24 de janeiro de 1979,

Regulamento do Custeio da Previdência Social (RCPS), enquanto os benefícios vêm

tratados no Decreto n. 83.080, de 24 de janeiro de 1979, Regulamento dos

Benefícios da Previdência Social (RBPS).

O Decreto 83.080/79, em sua parte II, tratava da Previdência Social Rural,

administrada pelo INPS, compreendendo o PRORURAL, instituído pela Lei

Complementar n. 11/71, com as alterações da Lei Complementar n. 16/73.

Regulamentando ainda as inovações legislativas ocorridas com o advento da Lei n.

6.195, de 19 de dezembro de 1974, (que estendeu aos trabalhadores rurais os

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benefícios por acidente do trabalho), o amparo previdenciário da Lei n. 6.179, de 11

de dezembro de 1974 e a Lei n. 6.260, de 6 de novembro de 1975 (que instituiu o

regime de Previdência Social para o empregador rural e seus dependentes.

(MARTINEZ, 1985, p. 349-350).

3.3 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

A CRFB estabeleceu novos parâmetros para a proteção social, visando um

novo sistema. Conforme afirmam Castro e Lazzari (2004, p. 55):

[...] o sistema de Seguridade Social, como objetivo a ser alcançado pelo estado brasileiro, atuando simultaneamente nas áreas de saúde, assistência social e previdência social, de modo que as contribuições sociais passaram a custear as ações do Estado nestas três áreas, e não mais somente no campo da Previdência Social. Porém, antes mesmo da promulgação da Constituição, já havia disposição legal que determinava a transferência de recursos da Previdência Social para o Sistema Único de Saúde – SUS.

Em seu artigo 194, a CRFB estabeleceu princípios para a organização da

Seguridade Social, in verbis:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único: Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I – universalidade da cobertura e do atendimento; II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV – irredutibilidade do valor dos benefícios; V – equidade na forma de participação no custeio; VI – diversidade da base de financiamento; VII caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados.

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O objetivo constitucional da universalidade da cobertura e do atendimento,

traz importante garantia constitucional, pois exterioriza “[...] o direito que todos têm à

cobertura e ao atendimento, isto é, não pode gerar exclusões indevidas, tratamentos

diferenciados para o mesmo tipo de acesso, não só para cobertura de suas

necessidades, sempre que subordinados à seguridade, como para o atendimento”.

(BASTOS; MARTINS, 1998, p. 19).

Nesse sentido, de acordo com a nova ordem constitucional a seguridade

social “não admitirá variação e diferenciação dos benefícios para as populações

urbanas e rurais. Antes da promulgação da Constituição, as diferenciações entre

providenciários urbanos e os beneficiários rurais do ‘FUNRURAL’ eram gritantes”.

(BASTOS; MARTINS, 1998, p. 22)

A regulamentação aos novos preceitos constitucionais é realizada pela

promulgação da Lei n. 8.212 e Lei n. 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, que

tratam respectivamente, do custeio e dos benefícios.

A Lei n. 8.213/91, estabelece em seu artigo 11, os Segurados do RGPS,

cumpre aqui destacar como se enquadra o Trabalhador Rural, neste dispositivo

legal, apresentando a seguir as várias espécies desta categoria.

Art. 11 São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: I – como empregado a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado; [...] V – como contribuinte individual: [...] g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; [...] VI – como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviços de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento; VII – como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individual ou em regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo”. ( o garimpeiro está excluído por força da Lei n. 8.398, de 07.01.92. (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 49 –51)

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3.3.1 O Trabalhador Rural Empregado

Como afirmam Castro e Lazzari (2004, p. 147) houve “uma ampliação do

conceito de empregado para fins de filiação ao RGPS, com a inclusão do

Trabalhador Rural por imposição constitucional; [...]”

Art. 11 [...]: I – como empregado a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado.

Observa-se que o dispositivo legal supracitado refere-se a empregado urbano

ou rural, confirmando o preceito constitucional da universalização.

3.3.2 O Trabalhador Eventual

A Lei 8.213/91, preceitua em seu art. 11, inciso V, alínea “g” sobre o

trabalhador eventual, esclarecendo que é:

Art. 11 [...] V – como contribuinte individual: [...] g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego;

Já o trabalhador eventual enquadra-se na categoria de contribuinte individual,

e conforme entendimento de Martinez (2001, p. 87) suas principais características

são:

[...] a pessoalidade, a eventualidade e, conseqüentemente, a não-habitualidade do labor e assinale-se, a dependência hierárquica. Exatamente como o empregado, é subordinado ao poder de

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comando da empresa. Tem seu trabalho conduzido pelo contratante e não é auto-suficiente como o autônomo.

3.3.3 Trabalhador Avulso

A Lei n. 8.213, assim define o trabalhador avulso:

Art. 11 [...]: [...] VI – como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviços de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento; (BRASIL, 1991)

O trabalhador avulso é prestador de serviço a várias empresas, vinculando-se

ou não a sindicato de intermediação de mão-de-obra “

[...] são suas principais características: a) liberdade laboral – inexiste vínculo empregatício entre eles e o sindicato ou com o armador (proprietário do veículo transportador); b) prestação de serviços para mais de uma empresa, bastante comum o caso do portuário, e dada a natureza do meio de transporte; c) execução de serviços não eventuais às empresas tomadoras de mão de obra, sem subordinação a elas; d) trabalho para terceiros com mediação de entidades representativas ou não; e e) exclusividade na execução de atividades portuárias. (MARTINEZ, 2001, p. 93)

3.3.4 O Segurado Especial

A categoria de Trabalhador Rural Segurado Especial, anteriormente citada no

artigo 11 da Lei n. 8213, tem tratamento diferenciado na CRFB/1988, que em seu

artigo 195, parágrafo 8º, determina uma regra diferenciada para a sua participação

no custeio, qual seja a contribuição à Seguridade Social ser baseada na

comercialização de sua produção. (CASTRO; LAZZARI, 2004).

A Lei n. 8.213/91 assim define o Segurado Especial;

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Art. 11 [...] [...] VII – como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individual ou em regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 147 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo”. ( o garimpeiro está excluído por força da Lei n. 8.398, de 07.01.92. Parágrafo 1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados. (ROCHA; BALTASAR JR, 2004, p. 51- 52)

Para Castro e Lazzari (2004, p. 168) a expressão ‘mútua dependência e

colaboração’ significa que “[...] todos trabalham em benefício do grupo familiar e o

resultado da produção é utilizado de forma conjunta, para a subsistência da família,

sem partilha ou quotas de participação individual.

O auxílio eventual de terceiros “[...] é aquele que é exercido ocasionalmente,

em condições de mútua colaboração, não existindo subordinação nem remuneração

(parágrafo 6º do art. 9º do Decreto n. 3.048/99)”. (CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 168)

A seguir serão conceituadas as várias espécies de Segurado Especial.

3.3.4.1 Produtor

Para Martinez (2001) o produtor rural Segurado Especial é aquele pequeno

produtor que exerce atividade rural, com o cultivo voltado para a subsistência.

Já Castro e Lazzari (2004, p. 168) afirma que produtor é “[...] aquele que,

proprietário ou não, desenvolve atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira, por

conta própria, individualmente ou em Regime de Economia Familiar.”

7 Alterado para 16 anos pela EC n. 20.

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3.3.4.2 Parceiro

Parceiro é aquele que de forma comprovada em contrato exerce atividade

rural em parceria com o detentor da posse ou proprietário das terras, dividindo com

este os lucros. (CATRO; LAZZARI, 2004)

Martinez (2001) lembra que a relação jurídica de parceria distingui-se da

relação de emprego, não obstante que em caso de reclamação trabalhista possa vir

a ser verificada a relação de emprego, deixando de ser parceiro e tornando-se

empregado.

3.3.4.3 Meeiro

A meação é variação do contrato de parceria, com a característica particular

de os lucros serem divididos na forma de meação. (MARTINEZ, 2001).

3.3.4.4 Arrendatário

Arrendatário é aquele que exerce atividade rural, utilizando a terra através do

pagamento de aluguel ao proprietário, pagamento este que pode ser em espécie ou

in natura. (CASTRO; LAZZARI, 2004)

Para a configuração como Segurado Especial deverá trabalhar

individualmente ou em Regime de Economia Familiar, sem utilização de mão-de-

obra assalariada. (CASTRO; LAZZARI, 2004)

Vale frisar a distinção deste trabalhador em relação ao parceiro e meeiro, pois

ao contrário dos últimos o arrendatário assume sozinho os riscos da atividade.

(MARTINEZ, 2001)

3.3.4.5 Comodatário

O comodatário é o trabalhador que explora a atividade rural mediante

empréstimo gratuito da terra de outra pessoa. (CASTRO; LAZZARI, 2004)

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3.3.4.6 Condômino

Para Castro e Lazzari (2004, p 167) condômino é “aquele que se qualifica

individualmente como explorador de áreas de propriedades definidas em

percentuais”.

3.3.4.7 Pescador artesanal

O pescador artesanal é aquele que utiliza meios precários para a atividade de

pesca, de forma voltada à economia de subsistência. (MARTINEZ, 2001)

Importante frisar que este Segurado é aquele pescador que tem a pesca

como seu principal meio de vida, que pesca habitualmente de forma profissional,

conforme entendimento de Castro e Lazzari (2004, p.168) desde que: “a) não utilize

embarcação; b) utilize embarcação de até seis toneladas de arqueação bruta, ainda

que com auxílio de parceiro; c) na condição, exclusiva, de parceiro outorgado, utilize

embarcação de até dez toneladas de arqueação bruta”.

3.3.4.8 Mariscador

Para Castro e Lazzari (2004, p. 168) mariscador é aquele “que sem utilizar

embarcação pesqueira, exerce atividade de captura ou de extração de elementos

animais ou vegetais que tenham na água seu meio normal ou mais freqüente de

vida, na beira do mar, no rio ou na lagoa”.

3.3.4.9 Índios

Também são considerados segurados especiais, como afirmam Castro e

Lazzari (2004, p. 168) os “índios em via de integração ou isolado: aqueles que, não

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podendo exercer diretamente seus direitos, são tutelados pelo órgão regional da

Fundação Nacional do Índio (FUNAI)”.

3.3.5 Excluídos do Conceito de Segurado Especial

Não são considerados segurados especiais conforme de acordo com o

Parágrafo 8º do art. 9º do Decreto n. 3.048, de 06 de maio de 1999:

Parágrafo 8º - Não se considera segurado especial: I – o membro do grupo familiar que possui outra fonte de rendimento, qualquer que seja a sua natureza, ressalvado o disposto no § 108, a pensão por morte deixada por segurado especial e os auxílios-acidente, auxílio reclusão e pensão por morte, cujo valor seja inferior ou igual ao menor benefício de prestação continuada; (Redação data pelo Decreto n. 4.729 de 09.06.2003) II – a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou pesqueira por intermédio de prepostos, sem o auxílio de empregados, observado o disposto no § 189 (Redação dada pelo Decreto 4.845, de 24.09.2003) (GARCIA, 2004, p. 15-16).

No tocante à exclusão do membro do grupo familiar que possui outra fonte de

rendimento, Rocha e Baltazar Júnior (2004) entendem que só ensejaria tal exclusão

se a outra renda tornasse dispensável a atividade agrícola. Além disso, a exclusão

se dá somente em relação a este e não aos demais membros da família.

8“Parágrafo 10. O dirigente sindical mantém, durante o exercício do mandato, o mesmo enquadramento no Regime Geral de Previdência Social de antes da investidura no cargo”. (GARCIA, 2004, p. 16) 9“Parágrafo 18. Não descaracteriza a condição de segurado especial a outorga de até cinqüenta por cento de imóvel, cuja área total seja de no máximo quatro módulos fiscais, por meio de contrato de parceria ou meação, desde que outorgante e outorgado continuem a exercer a respectiva atividade individualmente ou em regime de economia familiar. (Parágrafo incluído pelo Decreto 4.845, de 24.09.2003)”. (GARCIA, 2004, p. 19).

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4. AS REGRAS E OS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE

APOSENTADORIA POR IDADE AO TRABALHADOR RURAL SEGURADO

ESPECIAL DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

A Previdência Social tem por finalidade proporcionar meios de subsistência

aos Segurados e aos seus dependentes, por motivo de perda ou redução de

ganhos, ocasionada pela ocorrência de risco ou contingência social selecionada pela

lei. Para tanto, mantém relação jurídica com seus beneficiários por meio de

prestações, que podem ser de benefícios ou serviços. (MARTINEZ, 1997 apud

CASTRO; LAZZARI, 2004)

Benefícios previdenciários são prestações pagas em dinheiro aos Segurados

e dependentes (exemplo: aposentadorias); já os serviços são prestações de

natureza não pecuniária (exemplo: reabilitação profissional), colocadas à disposição

dos beneficiários. (ROCHA, BALTAZAR JÚNIOR, 2004)

Cumpre destacar, como objeto deste estudo, o benefício de Aposentadoria

por Idade, como benefício de duração continuada e devida apenas ao Segurado da

Previdência Social e não ao seu dependente. (CASTRO; LAZZARI, 2004).

A expressão “Aposentadoria por Idade” surgiu com a Lei n. 8.213/91.

Conforme observa Sérgio Pinto Martins ([s.d] apud CASTRO; LAZZARI, 2004), no

sistema anterior ao concebido em 1991, a terminologia utilizada para esse benefício

era aposentadoria por velhice. A mudança, segundo o autor, é mais correta,

considerando que o termo velhice aparece discriminatório no Estado

Contemporâneo.

A concessão de benefícios previdenciários em geral, e em particular o

benefício de Aposentadoria por Idade ao Trabalhador Rural, Segurado Especial, têm

como pressuposto o cumprimento de regras e requisitos. Neste capítulo serão

abordadas as características básicas da Aposentadoria por Idade, dissecando as

regras de concessão, provisória e permanente, previstas pela Lei 8.213/91 aos

trabalhadores rurais e, em especial, ao Segurado Especial.

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4.1 REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA

POR IDADE

Primeiramente, cumpre conceituar requisitos que, no entendimento de

Martinez (1998, p. 594), são “deveres materiais e formais e devem ser demonstrados

ao órgão gestor”.

Sendo fundamentais e pertinentes a todos os benefícios, devem ser

simultâneos, com exceção quanto ao direito adquirido.

A concessão das prestações, em particular dos benefícios, pressupõe o preenchimento de requisitos legais. O atendimento dessa determinação deve acontecer simultaneamente – de nada adiantando, por exemplo, reter alguns deles – salvo na hipótese de direito adquirido. Nesse caso, reunidas as exigências legais a seguir desenvolvidas, mesmo com a posterior perda de uma delas (qualidade de segurado e carência), não obsta ao benefício. (MARTINEZ, 1998, p. 595)

Muito embora Fortes e Paulsen (2005, p. 86-87) afirmem que os requisitos

“envolvem, em um primeiro momento, um dado geral, que é a denominada carência,

e, em um segundo momento, um dado específico, que se constitui no fato gerador

ou hipótese de incidência própria de cada uma das prestações”, são três os

requisitos fundamentais que permitem a concessão dos benefícios previdenciários:

evento determinante, qualidade de Segurado e carência, os quais serão a seguir

abordados.

4.1.1 Evento Determinante

A ocorrência de um evento coberto pelo regime previdenciário é que

determina a concessão dos benefícios, juntamente com os demais requisitos legais,

conforme a legislação vigente na época da ocorrência do evento deflagrador.

(CASTRO; LAZZARI, 2004).

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O evento determinante é a materialização de uma contingência da qual a

Previdência Social visa proteger o Segurado ou o dependente. Na linguagem de

seguros é a consumação do sinistro.

Martinez (1998, p. 604) assim define:

Evento determinante é acontecimento material, atingindo o segurado(a) física ou socialmente (ou o seu dependente). Trata-se de fato fisiológico, psicológico ou sociológico, a contingência protegível realizada, a consumação do sinistro. O risco coberto pela previdência social.

No tocante ao risco social Rocha e Baltazar Júnior (2004, p. 34), apresentam

uma definição, destacando a importância de cobertura dos riscos pelos regimes

previdenciários.

O termo risco social é empregado para designar os eventos, isto é, os fatos ou acontecimentos que ocorrem na vida de todos os homens, com certeza ou probabilidade significativa, provocando um desajuste nas condições normais de vida, em especial a obtenção dos rendimentos decorrentes do trabalho, gerando necessidades a serem atendidas, pois nestes momentos críticos, normalmente não podem ser satisfeitas pelo indivíduo. Na terminologia do seguro chamam-se tais eventos de “riscos” e por dizerem respeito ao próprio funcionamento da sociedade, denominam-se “riscos sociais”. Os regimes previdenciários são instituídos com a finalidade de garantir aos seus beneficiários a cobertura de determinadas contingências sociais. Em sua essência, as normas buscam amparar os trabalhadores e seus dependentes quando vitimados por eventos (reais ou presumidos) que venham a produzir uma perda integral ou parcial dos rendimentos familiares ou despertem outra necessidade considerada socialmente relevante.

Neste sentido observa Martinez (1998, p. 604):

Fatos da vida deflagram vários benefícios (v.g., nascimento, incapacidade etc), e a cada prestação corresponde um determinante, podendo vir combinados ou ser sucessivos, instantâneos ou produzir efeitos permanentes (v.g., incapacidade, acidente de trabalho etc). São programáveis e imprevisíveis.

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Os riscos sociais ou eventos determinantes cobertos pelo regime geral de

previdência social estão elencados no artigo 1º da Lei n. 8.213, de 24 de julho de

1991, excetuando-se o desemprego involuntário, in verbis:

Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

Observa-se que no caso específico do benefício de Aposentadoria por Idade,

o evento determinante é a idade avançada. (MARTINEZ, 1998)

Como ressalta Clementino (2006, p. 478), não é algo fácil precisar o momento

em que se inicia a idade avançada, pois depende de uma série de fatores,

principalmente em relação ao modo de vida da pessoa. Entretanto, as características

relativas à idade avançada são conhecidas por todos, “[...] especialmente o declínio

orgânico e, de modo geral, o mental”.

Nesse contexto é a lei que fixa uma idade mínima como evento determinante

para o benefício de Aposentadoria por Idade, tal previsão vem expressa no inciso I,

do art. 201 da CRFB, de 05 de outubro de 1988, sendo, os requisitos etários,

determinados no inciso II, do Parágrafo 7º, do artigo 201 do mesmo diploma:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; [...] Parágrafo 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: [...] II – sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta e cinco anos de idade se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. [...] (ACQUAVIVA, 2005, p. 86).

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Já no plano infra-constitucional, a Aposentadoria por Idade é regulada pelos

artigos 48 a 51 da Lei n. 8.213/91 e, no que tange a Aposentadoria por Idade do

Trabalhador Rural, assim dispõe o § 1º, do artigo 48 da Lei de Benefícios:

Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher. (Redação dada pela Lei n. 9.032, de 28.4.95) Parágrafo 1º Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cinco anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11. (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 188).

A previsão legal para a diminuição em cinco anos em relação à idade mínima

para Aposentadoria por Idade do trabalhador urbano, fundamenta-se no

entendimento de que o Trabalhador Rural “[...] por ter uma vida mais rústica,

perderia a sua capacidade laboral antes que o trabalhador citadino”. (CLEMENTINO,

2006, p. 478).

4.1.2 Qualidade de Segurado

O indivíduo tem a qualidade de Segurado enquanto exerce atividade que

determine a sua filiação obrigatória ou pela inscrição e recolhimento das

contribuições no caso de Segurado facultativo. (ROCHA, BALTAZAR JÚNIOR 2004).

Qualidade de Segurado é a: “[...] denominação legal indicativa da condição

jurídica de filiado, inscrito ou genericamente atendido pela previdência social. Quer

dizer o estado do assegurado, cujos riscos estão previdenciariamente cobertos“.

(MARTINEZ, 1998, p. 594).

Ainda conforme Martinez (1998) a qualidade de Segurado é adquirível e

perecível, apresentando-se em várias fases, sendo elas, a inexistência; a aquisição;

a posse, a manutenção; a perda e a reaquisição.

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A inexistência da qualidade de Segurado é explicada por Martinez (1998, p.

595-596):

Ausente vontade exteriorizada de se filiar, ao maior de quatorze anos ou se o indivíduo não pratica esforço promotor de filiação [...], enfim, de modo geral, se não exercer atividade profissional remunerada, inexiste qualidade de segurado por ausência de pressuposto fático eleito pelo legislador: vontade (para o facultativo) e exercício de atividade (para o obrigatório), podendo subsistir, respeitadas as regras legais, a qualidade de dependente.

Já quanto ao momento de aquisição da qualidade de Segurado, como

anteriormente mencionado, esta é a condição de filiado, que “decorre

automaticamente do exercício de atividade remunerada para os Segurados

obrigatórios e da inscrição formalizada com o pagamento da primeira contribuição

para o Segurado facultativo”. (CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 175).

O Segurado prossegue na posse desta condição enquanto existir a causa que

a determinou. Ao cessar a razão determinante mantém-se a qualidade por um

período, sem contribuição, variando conforme o tipo de Segurado. Trata-se do

instituto da manutenção da qualidade de Segurado ou, doutrinariamente, período de

graça.

Como regra geral, o período de manutenção da qualidade de Segurado

(período de graça), conforme o inciso II, do artigo 15 da Lei n. 8.213/91, é o

seguinte:

Artigo 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições: [...]; II – até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração. (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 49)

Para Castro e Lazzari (2004, p. 178):

O instituto da manutenção da qualidade de segurado trata do período em que o indivíduo continua filiado ao Regime Geral de Previdência Social – RGPS, por estar no chamado período de graça. Nesse

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período, continua amparado pelo Regime – bem como seus dependentes – em caso de infortúnios, mesmo não estando a exercer atividade que o enquadre como segurado obrigatório, nem contribuir mensalmente, como facultativo; trata-se de exceção em face do sistema do RGPS, de caráter eminentemente contributivo (Constituição, art. 201, caput).

Após esse prazo, conforme determina o § 4º, do artigo 15, da Lei n. 8.213/91,

ocorrerá a perda da qualidade de Segurado perante a Previdência Social.

Inobstante a isso, para Rocha e Baltazar Júnior (2004, p. 77), a perda da

qualidade de Segurado no atual regime geral não pressupõe a caducidade dos

direitos inerentes ao período em que se manteve nesta condição, uma vez que o

parágrafo único do artigo 24 da Lei n. 8.213/91, permite, após nova vinculação, o

reaproveitamento de todas as contribuições anteriores: “Logo, não há caducidade

dos direitos previdenciários auferidos, mas um impedimento condicional de sua

utilização, o qual é afastado pelo cumprimento de um terço do período de carência

exigido pelo benefício considerado”.

A qualidade de Segurado será readquirida quando da presença de novo fato

garantidor, qual seja a vontade exteriorizada pela contribuição no caso de facultativo

e exercício de atividade profissional remunerada para o obrigatório. (MARTINEZ,

1998)

4.1.2.1 A qualidade de Segurado Especial - do Trabalhador Rural.

O Trabalhador Rural, Segurado Especial, é aquele previsto no inciso VII, do

artigo 11 da Lei n. 8.213/91:

Art. 11 São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: [...] VII – como Segurado Especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individual ou em regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo. (o

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garimpeiro está excluído por força da Lei n. 8.398, de 07.01.92). (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 49 –51)

Desta forma, o Trabalhador Rural na condição de produtor, parceiro, meeiro e

arrendatário rurais, que trabalham individualmente ou em Regime de Economia

Familiar são Segurados Obrigatórios do RGPS, na categoria de Segurados

Especiais.

Vale lembrar que os Segurados Obrigatórios tem vinculação automática ao

RGPS, com o exercício de atividade remunerada que determine a sua filiação.

Portanto o Segurado Especial adquire a qualidade de Segurado com o

exercício das atividades, de conformidade com as exigências previstas na Lei n.

8.213, em seu artigo 11, inciso VII, já mencionadas no capítulo anterior.

Rocha e Baltazar Júnior (2004, p. 66), mencionam que a principal diferença

do Segurado Especial em relação ao produtor rural equiparado a autônomo é que: “o

primeiro é aquele que explora a atividade sem auxílio de empregados, admitindo-se

apenas o auxílio eventual de terceiros, em regime de mutirão”.

Questão polêmica reside na possibilidade de ser ou não descaracterizada a

condição de Segurado Especial do membro da família que possui outra fonte de

renda, por exemplo, como professora, pequeno comércio, táxi, etc; diante da

exigência legal de mútua dependência e colaboração entre os membros do grupo

familiar, bem como o trabalho destes deve ser indispensável à própria subsistência.

(ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004).

Nesse contexto, os mesmos autores (2004, p. 66) afirmam que o Regime de

Economia Familiar, neste caso, será descaracterizado somente se a atividade

agrícola tornar-se dispensável em virtude da renda da outra atividade ser suficiente

para manter a família. Destacam ainda que, eventualmente, se o entendimento fosse

diverso “apenas atingiria o membro do grupo familiar que percebe tal rendimento,

não prejudicando a condição de Segurado Especial dos demais trabalhadores

rurais”.

Da jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, colhe-se o

seguinte entendimento:

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PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. REQUISITOS. ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. BÓIA-FRIA. CARTEIRA DE IDENTIFICAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO - CIC. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE URBANA POR UM DOS MEMBROS DA FAMÍLIA. [...] 4. O fato de o marido da autora ser aposentado pela área urbana ou desempenhar atividade urbana não constitui óbice, por si só, ao enquadramento dela como segurada especial, na medida em que o art. 11, VII, da Lei n. 8.213/91, conferiu ao produtor rural que exerça a atividade agrícola individualmente o status de Segurado Especial. Precedentes desta Corte. 5. Implementado o requisito etário (55 anos de idade para mulher e 60 anos para homem) e comprovado o exercício da atividade agrícola no período correspondente à carência (art. 142 da Lei n. 8.213/91), é devido o benefício de aposentadoria por idade rural. -Apelação Cível 2006.70.99.002405-60 (BRASIL, TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, 2006). (sem grifo no original)

Importante observar a qualidade de Segurado Especial em face da

classificação sindical como empregador rural, pois a documentação relativa ao

Imposto Territorial Rural, pode levar a equívoco classificando um trabalhador como

empregador rural. Em tal circunstância, segundo lição de Rocha e Baltazar Júnior

(2004, p. 68), o caso deve ser analisado com extremo cuidado, arrematando que:

[...] a mera classificação sindical como empregador rural não poderá ser suficiente para a descaracterização do regime de economia familiar, pois poderá ser motivada exclusivamente no tamanho da propriedade, sem considerar a efetiva existência de empregados, que deverá ser apurada através de outros elementos de prova.

Por oportuno, registra-se o ensinamento de Rocha e Baltazar Júnior (2004, p.

64), sobre a necessidade da comercialização da produção rural:

[...] ser essencial que haja produção agrícola para fins de comercialização, não adquirindo a qualidade de Segurado Especial aquele que planta apenas para subsistência, pois a contribuição do Segurado Especial para a previdência social decorre da comercialização do excedente, nos termos do art. 25 da Lei de Custeio, que concretiza o disposto no § 8º do art. 195 da Lei Maior.

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4.1.3 Carência

No Direito Previdenciário a carência é uma exigência legal para a concessão

de grande parte dos benefícios previdenciários, variando de acordo com a espécie

de benefício, conforme previsão do artigo 24 da Lei n. 8.213/91, que estipula um

período mínimo de contribuição do segurado para a Previdência Social. (SOUZA,

2003)

O período de carência é:

[...]o decurso de lapso de tempo associado a contribuições periódicas, devidas ou vertidas, exigidas como condição para a definição do direito a determinado benefício. Para caracterizar este último, o evento deflagrador da prestação tem de sobrevir após, isto é, no mês ou meses seguintes ao da integralização do mencionado período”. (MARTINEZ, 1998, p. 599).

O artigo 24 da Lei n. 8.213/91, assim dispõe:

Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências. Parágrafo único. Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa data só serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, 1/3 (um terço) do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido. (SOUZA, 2003, p. 17)

O período de carência para o benefício de Aposentadoria por Idade é de 180

contribuições mensais, conforme previsão do artigo 2510 da Lei n. 8.213/91.

10 “Artigo 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social

depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no artigo 26: [...] II – aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições mensais. [...]”. (ROCHA, BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 102)

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Entretanto, quanto à concessão da Aposentadoria por Idade ao segurado

especial, deve ser observado o Parágrafo 1º do artigo 26 do Decreto 3.048, de 06 de

maio de 1999, in verbis:

Art. 26 Período de carência é o tempo correspondente ao número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências. Parágrafo 1º. Para o Segurado Especial, considera-se período de carência o tempo mínimo de efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, igual ao número de meses necessário à concessão do benefício requerido. [...].(GARCIA, 2004, p. 33).

Vale ressaltar, que os artigos 39 e 143 da Lei 8.213/91, que serão analisados

adiante, estabelecem a carência para a Aposentadoria por Idade do Trabalhador

Rural com base nos critérios do parágrafo primeiro do dispositivo acima transcrito.

4.1.3.1 Regra transitória de carência criada pelo artigo 142 da Lei n. 8.213, 24 de

julho de 1991.

A Lei n. 8.213/91 estabelece, em seu artigo 142, uma regra transitória de

carência, que beneficia apenas o “segurado inscrito na Previdência Social Urbana

até 24.07.1991, bem como para o trabalhador e o empregador rurais antes cobertos

pela Previdência Social Rural,” referindo-se à carência das aposentadorias por

idade, por tempo de serviço e especial, estabelecendo uma tabela, a qual leva em

conta o ano de implementação das condições necessárias à obtenção do benefício.

(CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 522).

Castro e Lazzari (2004, p. 522), destacam a referida tabela estabelecida no

artigo 142 da Lei n. 8.213/91, como se pode observar a seguir:

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Ano de Implementação

das condições

Meses de contribuições

exigidos

1991 60

1992 60

1993 66

1994 72

1995 78

1996 90 (Lei n. 9.032/95)

1997 96

1998 102

1999 108

2000 114

2001 120

2002 126

2003 132

2004 138

2005 144

2006 150

2007 156

2008 162

2009 168

2010 174

2011 180

Fonte: (SOUZA, 2003, p. 16)

O dispositivo mencionado tem como finalidade não causar frustração aos

segurados já filiados ao sistema, diante da majoração da carência, que passou para

180 (cento e oitenta) contribuições, com a Lei n. 8213, enquanto que no sistema

anterior era de sessenta contribuições mensais. (ROCHA; BALTAZAR JR, 2004).

Vale frisar que a referida tabela é aplicável, também, para a concessão de

Aposentadoria por Idade ao Segurado Especial, devendo ser observada o número

de carência exigida para o ano em que o Segurado ou a segurada implementou o

requisito etário para a concessão da Aposentadoria por Idade (60 anos, homem; 55

anos, mulher). (ROCHA; BALTAZAR JR, 2004).

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4.2 A REGRA PROVISÓRIA PARA A CONCESSAO DE APOSENTADORIA POR

IDADE AO TRABALHADOR RURAL

O artigo 143 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, estabelece uma regra

provisória para concessão do benefício de Aposentadoria por Idade ao Trabalhador

Rural, in verbis:

Art. 143. O trabalhador rural ora enquadrado como segurado obrigatório no Regime Geral de Previdência Social, na forma da alínea a do inciso I, ou do inciso IV ou VII do artigo 11 desta Lei, pode requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário mínimo, durante 15 (quinze) anos, contados a partir da data de vigência desta Lei, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idêntico à carência do referido benefício. (MARTINEZ, 2001, p. 632)

Consoante previsão do artigo supra citado, e sua remissão ao artigo 11,

percebe-se que ela beneficia não apenas o Segurado Especial, mas também o

empregado e o autônomo rural (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004)

Ressalta-se que esta regra se fundamenta na circunstância de que os

trabalhadores rurais estavam vinculados ao regime do PRORURAL, que não

impunha contribuição nos moldes urbanos. Desta forma o empregado rural até 1991,

estava desobrigado ao recolhimento de contribuições. Portanto “[...] se não eram

exigidas contribuições, não se poderia surpreender o segurado dele exigindo

carência para a concessão dos benefícios”. (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p.

398)

Castro e Lazzari (2004, p. 520) destacam que a redação original deste

dispositivo exigia a comprovação de cinco anos de exercício de atividade rural, ainda

que de forma descontínua. No entanto, houve alteração do período exigido:

[...] a Lei n. 9.063/95 deu nova redação ao dispositivo, exigindo a comprovação do exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento administrativo, em número de meses idêntico à carência do referido benefício. Citamos, como exemplo: se o requerimento tiver sido formulado no ano de 1995, cumpre ao requerente comprovar o exercício de atividade rural nos 78 meses anteriores. Se o requerimento tiver sido

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formulado em 1998, cumpre comprovar o exercício de atividade em 102 meses.

Deste modo, de acordo com os comentários dos autores acima referidos, uma

vez que a carência deixou de ser o prazo fixo de 5 (cinco) anos e passou a ser em

número de meses idênticos à carência do benefício na regra geral, passou também

a ser aplicada a tabela prevista do artigo 142 da Lei n. 8.213/91.

Cumpre destacar que a regra provisória do artigo 143 estabelece que a

atividade rural poderá ser exercida de forma descontínua, “[...] o que tem levado o

Tribunal Regional Federal da 4ª Região a admitir a aplicabilidade do dispositivo

mesmo quando o Segurado afastou-se, temporariamente, da atividade rural.”

(ROCHA, BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 399)

A regra em análise, exige apenas a comprovação da atividade rural. Destarte,

há entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no sentido de

dispensar a comprovação do registro em CTPS:

APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADORA RURAL. EMPREGADA RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. Tem direito à aposentadoria por idade a trabalhadora rural que, mesmo sem contrato ou registros em CTPS, comprova que exerceu labor rural na condição de empregada, durante o período aquisitivo do direito ao benefício. – Apelação Cível 2005.70.15.000741-3. (BRASIL, TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, 2007).

4.2.1 O Final do Prazo Previsto no Artigo 143 da Lei n. 8.213/91 e a Medida

Provisória n. 312/06

O artigo 143 prevê o prazo de 15 anos para o término desta regra provisória,

contados a partir da entrada em vigor da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991. Portanto,

tal prazo findou-se em 25 de julho de 2006.

Entretanto, através da Medida Provisória n. 312, de 2006, convertida em Lei

n. 11.368, de 09 de novembro de 2006, houve uma prorrogação deste prazo para

mais dois anos; contudo, esta prorrogação foi estabelecida apenas em relação ao

empregado rural. (BRASIL, 2006).

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A lei, supra citada, prorrogou o prazo apenas para o empregado,

conseqüentemente, os demais trabalhadores rurais não estão mais sob a proteção

desta lei. Entretanto, o Trabalhador Rural temporário, ou na terminologia mais

própria, o empregado temporário, por não conseguir comprovar o vínculo

empregatício está sendo considerado como trabalhadores autônomos pelo INSS.

Como é sabido, a Medida Provisória n.º 312 (convertida na Lei 11.368/2006), prorrogou até julho de 2008 o prazo para que os empregados rurais pudessem requerer a aposentadoria por idade mediante comprovação da atividade rural. Entretanto, os assalariados rurais, (principalmente aqueles que trabalham em atividades de curta duração) vêm enfrentando enormes dificuldades para o acesso a esse benefício. O problema está no entendimento do INSS quanto ao enquadramento dos assalariados rurais que trabalham em atividade de curta duração: se eles são empregados ou contribuintes individuais. No entendimento do INSS prevalece a regra de que esses segurados enquadram-se como contribuintes individuais (trabalhadores autônomos), na medida em que não conseguem comprovar o vínculo empregatício no ato do requerimento da aposentadoria. Consequentemente, o INSS não aplica a regra estabelecida na Lei 11.368/2006, e ainda passa a exigir dos assalariados/as a contribuição como se os mesmos fossem trabalhadores/as autônomos. (CONTAG, 2007)

Desta forma ainda há controvérsias quanto à forma de aplicação da Lei

11.368, de 09 de novembro de 2006.

4.3 A REGRA PERMANENTE PARA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA POR

IDADE AO SEGURADO ESPECIAL

O artigo 39 da Lei n. 8.213/91 estabelece regra permanente e restrita,

apenas, ao Segurado Especial e não a todos os trabalhadores rurais, conforme

redação do artigo 143, antes citado.

Após expirado o prazo do artigo 143 da Lei n. 8.213/91, o Segurado Especial

passa a ser amparado pela regra permanente contida no artigo 39 da mesma lei,

que será abordada a seguir.

Rocha e Baltazar Júnior (2004, p. 398) comentam o fundamento de tal

distinção para esta categoria:

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No caso do art. 39, porque o Segurado Especial não recolhe contribuições mensais, mas apenas sobre o resultado da comercialização de sua produção (CF, art. 195, § 8º, e LCSS, art. 25). Assim não possui contribuições mensais que permitam o cálculo dos benefícios nos moldes usuais, [...]”.

Apenas os trabalhadores rurais citados no inciso VII do artigo 11, da Lei n.

8213/91, ou seja, os Segurados especiais, são beneficiados pela regra permanente

estabelecida no artigo 39 da mesma lei. (BRASIL, PARECER N. 39, 2006)

Está disposto no art. 39 da referida Lei que:

Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, fica garantida a concessão: I – de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido; ou II – dos benefícios especificados nesta Lei, observados os critérios e a forma de cálculo estabelecidos, desde que contribuam facultativamente para a Previdência Social, na forma estipulada no Plano de Custeio da Seguridade Social”.(ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 160-161)

O dispositivo acima referido, prevê Aposentadoria por Idade ao Segurado

Especial, fixando-o em um salário mínimo, e elencando como exigência a

comprovação do exercício de atividade rural, mesmo que descontínua, em período

imediatamente anterior ao requerimento do benefício. (ROCHA; BALTAZAR

JÚNIOR, 2004).

4.3.1 A Descontinuidade da Atividade Rural

No tocante à descontinuidade do exercício da atividade rural, a lei não

estabelece parâmetros, mas há, todavia, entendimento jurisprudencial no sentido de

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que a atividade urbana intercalada, não é óbice para a obtenção do benefício, desde

que tenha exercido de forma preponderante a atividade rural:

APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADOR RURAL PREPONDERANTE. ATIVIDADE URBANA INTERCALADA. Tem direito à aposentadoria por idade aquele que, no período aquisitivo do direito, exerceu preponderantemente a atividade rural, com atividade urbana intercalada, dado que a lei admite a descontinuidade daquela. – Apelação Cível 2003.04.01.032886-6. (BRASIL, TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, 2007)

Vale frisar que a descontinuidade nos parâmetros mencionados acima, não

causará perda da qualidade de Segurado; deverá, entretanto, “estar o Segurado

exercendo a atividade rural na data de entrada do requerimento ou na data em que

implementou todas as condições exigidas para o benefício”. (BRASIL, MINISTÉRIO

DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2007)

4.3.2 A Comprovação do Exercício da Atividade Rural

Martinez (2001, p. 529) ressalta que no tocante à comprovação da atividade

rural, a Lei n. 8.213/91, em seu artigo 106, apresenta um rol de documentos

necessários:

Art. 106. Para comprovação do exercício de atividade rural será obrigatória, a partir 16 de abril de 1994, a apresentação da Carteira de Identificação e Contribuição–CIC referida no § 3º do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. (Redação dada pela Lei nº. 9.063, de 1995) Parágrafo único. A comprovação do exercício de atividade rural referente a período anterior a 16 de abril de 1994, observado o disposto no § 3º do art. 55 desta Lei, far-se-á alternativamente através de: (Redação dada pela Lei nº 9.063, de 1995) I - contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social; (Redação dada pela Lei nº 8.870, de 1994) II - contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural; (Redação dada pela Lei nº 8.870, de 1994) III - declaração do sindicato de trabalhadores rurais, desde que homologada pelo INSS; (Redação dada pela Lei nº. 9.063, de 1995)

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IV - comprovante de cadastro do INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar; (Redação dada pela Lei nº 9.063, de 1995) V - bloco de notas do produtor rural. (Redação dada pela Lei nº 9.063, de 1995)

O artigo acima citado ao tratar da comprovação de trabalho rural traz um rol

exemplificativo de documentos, isto é, não trata-se de rol taxativo, não exaurindo a

possibilidade de apresentação de outros documentos. (MARTINEZ, 2001)

A legislação previdenciária admite, ainda, a justificação administrativa,

conforme previsão do artigo 108 da Lei n. 8.213/91, segundo a qual pode ser suprida

a falta de documento ou comprovação de algum ato. Tal expediente é processado

no âmbito administrativo, ou seja, no órgão gestor da Previdência Social, que tem a

prerrogativa de decidir sobre a admissão desta justificação, bem como concluir pela

aceitação ou não do depoimento das testemunhas. (MARTINEZ, 2001).

Importante observar que o artigo 108 da Lei n. 8.213/91 faz remissão ao

parágrafo 3º do artigo 55, da mesma lei, que assim prescreve:

Art. 55. O tempo de serviço será comprovado na forma estabelecida no Regulamento, compreendendo, além do correspondente às atividades de qualquer das categorias de segurados de que trata o art. 11 desta Lei, mesmo que anterior à perda da qualidade de segurado: [...] § 3º A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclusive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o disposto no art. 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no Regulamento. (ROCHA; BALTAZAR JÚNIOR, 2004, p. 200–201)

Diante do exposto, observa-se que tanto administrativa quanto judicialmente

não terá efeito a prova exclusivamente testemunhal, fazendo-se necessário um início

de prova material, que será corroborada pela prova testemunhal.

Neste sentido há entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça,

através da Súmula 149 que: “A prova exclusivamente testemunhal não basta a

comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de benefício

previdenciário”.

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73

A jurisprudência, nesse assunto, admite como início de prova material os

documentos em nome de outro membro do grupo familiar, conforme Súmula 73 do

Tribunal Regional Federal da Quarta Região: “Admite-se como início de prova

material do efetivo exercício de atividade rural, em Regime de Economia Familiar,

documentos de terceiros, membros do grupo parental”.

Outra questão relevante é a apresentação de documentos contemporâneos

ao período de carência. Observa-se, nesse caso, o entendimento do Tribunal

Regional Federal da 4ª Região:

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. REQUISITOS. ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. DOCUMENTOS CONTEMPORÂNEOS. DESNECESSIDADE. LABOR URBANO FORA DO PERÍODO EQUIVALENTE À CARÊNCIA. RESIDÊNCIA NA CIDADE. PESQUISA ADMINISTRATIVA. PERCEPÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. 1. Remessa oficial tida por interposta. 2. O tempo de serviço rural pode ser comprovado mediante a produção de prova material suficiente, ainda que inicial, complementada por prova testemunhal idônea. 3. A contemporaneidade entre a prova documental e o período de labor rural equivalente à carência não é exigência legal, de forma que podem ser aceitos documentos que não correspondam precisamente ao intervalo necessário a comprovar. [...] – Apelação Cível 2005.04.01.046884-3. (BRASIL, TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, 2006)

De acordo com entendimento jurisprudencial acima exposto, quanto ao início

de prova material, não é necessário que os documentos sejam contemporâneos à

carência exigida para a concessão do benefício, mas que seja uma evidência

confirmada pela prova testemunhal.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Previdência Social no Brasil tem uma ampla influência no âmbito de

proteção, pois é um instrumento para a segurança social, notadamente, pelo

princípio da solidariedade, e em virtude do sistema de repartição, em que todos

contribuem para o mesmo fundo, ao realizar a prestação de benefícios e serviços,

faz também distribuição de renda.

A presente monografia faz uma abordagem sobre as regras e requisitos para

a concessão do benefício de Aposentadoria por Idade ao Trabalhador Rural na

condição de Segurado Especial, com este propósito procurou-se inicialmente,

investigar em qual momento o trabalhador rural adquire direitos previdenciários e

como se desenvolveram estes direitos em âmbito nacional.

Desta forma verificou-se que o Trabalhador Rural foi, primeiramente,

amparado pelo Estatuto do Trabalhador Rural, e em seguida pelo PRORURAL, leis

específicas para esta categoria de trabalhadores, que tratavam os demais membros

da unidade familiar apenas como dependentes, não sendo, portanto, a estes,

assegurado o benefício de aposentadoria.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, através do princípio da

universalização do atendimento e da uniformidade e equivalência entre os benefícios

urbanos e rurais, buscou eliminar as fortes distinções existentes entre o campo e a

cidade, visando a criação de um sistema único, unificou os regimes previdenciários

urbanos e rurais.

Os novos preceitos constitucionais foram regulamentados através das leis

8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991.

Na Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, qual seja, a lei de benefícios, consta

como Segurado Obrigatório o Trabalhador Rural na condição de Segurado Especial,

aquele que trabalha individualmente ou em regime de economia familiar. Além de

garantir ao Segurado Especial, a lei de benefícios, estendeu aos demais membros

da unidade familiar maiores de 14 anos (alterado para 16 pela EC n. 20, de 1998) e

que não tenham outra fonte de renda, a proteção previdenciária do Regime Geral de

Previdência Social, inclusive, em relação ao benefício de Aposentadoria por Idade.

A lei de benefícios, estabelece requisitos e regras específicas para os

trabalhadores rurais.

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Os requisitos para a concessão do benefício de Aposentadoria por Idade são:

o evento determinante, a qualidade de Segurado e a carência.

Dentre os requisitos específicos está a implementação do requisito etário, em

cinco anos a menos do que o trabalhador urbano.

Para a concessão do benefício de Aposentadoria por Idade, a qualidade de

Segurado Especial é demonstrada com a comprovação do exercício de atividade

rural, individualmente ou em Regime de Economia Familiar, de acordo com a

carência exigida na regra permanente do artigo 39 da Lei 8.213, de 24 de julho de

1991.

Deste modo, tendo em vista que a regra provisória contida no artigo 143, da

mesma Lei de Benefícios, teve seu prazo prorrogado até 2008, somente para os

empregados rurais. Portanto, a regra de carência vigente em relação ao Segurado

Especial é a permanente, devendo, ainda ser interpretada em consonância com a

tabela prevista no artigo 142, da lei 8.213, de 24 de julho de 1991, que leva em

consideração o ano de implementação das condições para a concessão do

benefício.

Portanto, confirma-se as hipóteses indicadas na introdução desta monografia,

com base no relatório desta pesquisa e com as considerações acima expostas.

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