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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS SILVIA REGINA STUCHI CRUZ INOVAÇÃO EM SERVIÇOS PÚBLICOS E PROJETOS DO MERCADO DE CARBONO EM ATERROS SANITÁRIOS: PERSPECTIVAS PARA O SETOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOSCAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

SILVIA REGINA STUCHI CRUZ

“INOVAÇÃO EM SERVIÇOS PÚBLICOS E PROJETOS DO MERCADO DE

CARBONO EM ATERROS SANITÁRIOS: PERSPECTIVAS PARA O SETOR DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS”

CAMPINAS

2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

SILVIA REGINA STUCHI CRUZ

“INOVAÇÃO EM SERVIÇOS PÚBLICOS E PROJETOS DO MERCADO DE

CARBONO EM ATERROS SANITÁRIOS: PERSPECTIVAS PARA O SETOR DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS”

TESE APRESENTADA AO INSTITUTO DE

GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP PARA OBTENÇÃO DO

TÍTULO DE DOUTORA EM POLÍTICA CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA

ORIENTADOR(A): PROFA. DRA. SÔNIA REGINA PAULINO

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL

DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA A SILVIA REGINA

STUCHI CRUZ E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. SÔNIA

REGINA PAULINO.

CAMPINAS

2016

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Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CAPES

Ficha catalográficaUniversidade Estadual de CampinasBiblioteca do Instituto de GeociênciasCássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Cruz, Silvia Regina Stuchi, 1984- C889i CruInovação em serviços públicos e projetos do mercado de carbono em

aterros sanitários : perspectivas para o setor de resíduos sólidos urbanos /Silvia Regina Stuchi Cruz. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

CruOrientador: Sônia Regina Paulino. CruTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Geociências.

Cru1. Indústria de serviços - Inovações tecnológicas. 2. Mecanismo de

desenvolvimento limpo. 3. Aterro sanitário. I. Paulino, Sônia Regina,1967-. II.Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Public service innovation and carbon market on landfills :prospects for the urban solid wastePalavras-chave em inglês:Service industry - Technical innovationClean development mechanismLandfillÁrea de concentração: Política Científica e TecnológicaTitulação: Doutora em Política Científica e TecnológicaBanca examinadora:Sônia Regina PaulinoMaria Beatriz Machado BonacelliFlávia Luciane Consoni de MelloGina Rizpah BesenGiovano CandianiData de defesa: 22-02-2016Programa de Pós-Graduação: Política Científica e Tecnológica

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM

POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AUTORA: Silvia Regina Stuchi Cruz

“Inovação em Serviços Públicos e Projetos do Mercado de Carbono em Aterros

Sanitários: Perspectivas para o Setor de Resíduos Sólidos Urbanos”.

ORIENTADORA: Profa. Dra. Sônia Regina Paulino

Aprovada em: 22 / 02 / 2016

EXAMINADORES:

Profa. Dra. Sônia Regina Paulino - Presidente

Profa. Dra. Maria Beatriz Machado Bonacelli

Profa. Dra. Flávia Luciane Consoni de Mello

Profa. Dra. Gina Rizpah Besen

Prof. Dr. Giovano Candiani

A Ata de Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no

processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 22 de fevereiro de 2016.

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Vó Aurora (in memorian)

Aquela que pela manhã

fazia o pãozinho mais saboroso e

o café com leite mais doce do mundo!

Aquela que faz muita falta,

desde o dia que se foi.

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AGRADECIMENTOS

As Teses deveriam ter um Capítulo inteiro voltado aos agradecimentos, uma vez que, muito

dos resultados apresentados é fruto do apoio e presença das pessoas que nos cercam. A

satisfação não está apenas em chegar ao alto da montanha, mas a cada passo dado na escalada.

Farei grande esforço de síntese para que a minha sincera gratidão se ajuste nesse espaço...

Toda aprendizagem começa com um sonho. É preciso ouvir os nossos sonhos. E, para que

possamos voar cada vez mais longe e alto, é essencial encontrar pessoas ao longo da nossa

jornada que estejam dispostas a partilhar desse ideal, nos inspirando e incentivando. Profa

Sônia Paulino (EACH/USP), querida orientadora, da Graduação ao Doutorado. Quantos

anos! Quantos desafios e conquistas. Profa, me espelho muito em ti ao ministrar cada aula, ao

orientar e corrigir cada trabalho dos meus alunos e alunas. Lhe agradeço muito pela confiança

em meu trabalho e, especialmente, por partilhar, acreditar e sonhar junto comigo.

Prof Faïz Gallouj (Université Lille1), o agradeço por me receber e por me orientar durante o

período do estágio Sanduíche na Universidade de Lille1, na França. Quando o prof Gallouj

aprovou o meu projeto para realização do estágio, confesso que levei um bom tempo para

acreditar. Sabe aquela sensação do “encontro” com a referência bibliográfica que você vem

citando há anos? Pois é! E ao encontrá-lo pessoalmente, entendi um pouco os motivos de seu

trabalho ser tão reconhecido: além de supercompetente, é gentil e incentiva todos que estão ao

seu redor a progredir.

Profa Marja Toivonen (VTT), sempre atenciosa e carismática, e Jouko Myllyoja, pelo apoio e

ajuda com as técnicas de validação e foresight, os agradeço pelo período de muito

aprendizado durante o estágio realizado no VTT Technical Research Centre, em Helsinque,

Finlândia. Kirsi Hyytinen, agradeço a ti por sua amizade, carinho e gentileza, e toda sua

família por me receberem tão calorosamente em Helsinque.

Profa Beatriz Bonacelli (DPCT/Unicamp), por todos os anos de DPCT, sempre disposta a

ajudar, participando das bancas de qualificação e defesa, com ricos comentários que me

auxiliaram muito a desenvolver o trabalho.

Prof Giovano Candiani (Unifesp), por sua amizade e valiosas contribuições e por aceitar estar

presente nas bancas de qualificação e defesa.

Profa Gina Rizpah (PROCAM/USP), pela contribuição na validação dos indicadores, pela

participação no seminário do nosso projeto de Pesquisa e pelo aceite do convite para

participar da banca.

Profa Flávia Consoni (DPCT/Unicamp), pelas conversas, dicas e direcionamentos. Sempre

muito gentil e transmitindo alegria e carinho aos alunos. Agradeço por aceitar estar presente

na banca de defesa.

Aos profs Sylmara Gonçalves Dias (EACH/USP), Rosangela Calado (Unifesp), Leda Gitahy

(DPCT/Unicamp) e André Furtado ( DPCT/Unicamp).

Profa Delhi Paiva (EACH/ USP) pela importante participação na fase de análise estatística

dos dados das rodadas de validação do método Delphi.

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Agradeço a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP pelo apoio

financeiro concedido, por meio do processo: 11/00081-5 e a Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES pela bolsa de doutorado no Brasil e

no estágio Sanduíche. O DPCT e o Clersé (Centre lillois d’études et de recherches

sociologiques et économiques) pelos recursos desembolsados para participação em eventos

nacionais e internacionais.

Aos entrevistados, representantes do setor público, privado e comunidades do entorno dos seis

aterros selecionados para a pesquisa. Sem vocês, o trabalho não seria possível. Agradeço-os

enormemente por dedicarem seu tempo e atenção.

Aos especialistas participantes das duas rodadas da aplicação da Técnica Delphi. Suas

contribuições foram primordiais para refinar e calibrar os indicadores de avaliação de

cobenefícios.

Aos funcionários do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) e do setor de

Pós- Graduação, em especial a Adriana, Val, Gorete e Valdir, sempre muito atenciosos e

dispostos a ajudar.

Marie Pierre Coquard, do setor de relações internacionais da Université de Lille1, pela

recepção, carinho e amizade.

Aos alunos de iniciação científica: Camila Camolesi, Renan da Costa, Thais Camolesi,

Fernanda Coletti e Paulini Fernandes. Aprendi demais com vocês! E estejam certos de que a

dedicação de vocês ao projeto Fapesp 11/00081-5 contribuiu muito também para o resultado

final da Tese.

Agradeço aos amigos e amigas do DPCT. Pelos momentos tão agradáveis que vivenciamos

juntos. Luquinhas; Mi; Moniquinha; Jana; Alexis; Fer; Alê; Renan, Gabi e Gi: hoje, de modo

brilhante, cada um seguindo seu caminho.

Aos amigos do estágio em Lille: Clement, Nat, Miguel, Charlotte, Abdel, Aimad, Fran, Thais,

Evelyse.

Agradeço o prof Célio Andrade e Grupo de Pesquisa de MDL da UFBA pela troca de

informações e frutíferas parcerias.

Tiago Silva, Anderson Silva e Francisco Santo por contribuírem com a pesquisa desde seu

estágio inicial.

João Wagner, pela amizade, carinho, atenção e contribuições com seus comentários

valiosíssimos.

Amigos da vida Mario Poggio, Flavinha, Glob, Nath, Juzona, Pérola, Ana Eliza, Lelê, que

bom ter vocês por perto!

E a pós-graduação foi além da Tese... A partir das minhas vivências no exterior

proporcionadas pelo Doutorado conheci, além de cidades acessíveis e construídas pensando

nas pessoas, a prática do run commuting. Voltando ao Brasil, iniciei a Rede Corrida Amiga,

hoje já espalhada por mais de 15 cidades brasileiras, auxiliando as pessoas a trocarem o carro

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e a vida sedentária pelos pés e pernas. Agradeço também meus amigos microrrevolucionários,

ativistas da mobilidade a pé e acessibilidade, representantes dos grupos e coletivos que lutam

por cidades mais humanas: ANTP; Pé de Igualdade; CidadeaPé; Sampapé; Desbravadores de

Sampa; Cidade ativa; Bike anjo; Mobilize; Achilles International, The Run Commuter,

Corridaamiga.au; Instituto Mara Gabrilli; Milalá; Movimento Caminha Rio; BioMob; e,

especialmente, aos voluntários da Corridaamiga espalhados pelo Brasil.

Finalmente, agradeço minha família...

As minhas tias: Dalva, uma das minhas referências e inspiração na carreira acadêmica; Vanda,

Inês e Cida, pelo apoio e carinho; Tiquinha, pelo companheirismo, trilhas e cumes da vida.

A minha querida prima Samanta CV, com muito carinho!

Pai e mãe – se eu arrisco na vida é porque sei que sempre terei um ninho para pousar. Vocês

são meu alicerce maior e me ensinaram valores que levarei por toda a minha vida. Amo

vocês!

Tu, Eva e Enzo – quer coisa mais gostosa que sentir o aconchego e proteção dessa família?

Vocês são incríveis... E de um jeito que é só de vocês, e isso me faz sorrir. Amo infinito!

Clau, minha gêmea que, decidiu desbravar esse mundão. Te admiro incondicionalmente.

Partir é ir, sair... É também dividir, repartir... Você parte para o parto de si. De fato, não há

partidas, pois não há parte de mim que parti sem ti. Seguimos juntas, maninha! Tenho muito

orgulho de você... Te amo!

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

“INOVAÇÃO EM SERVIÇOS PÚBLICOS E PROJETOS DO MERCADO DE

CARBONO EM ATERROS SANITÁRIOS: PERSPECTIVAS PARA O SETOR DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS”

RESUMO

Tese de Doutorado

Silvia Regina Stuchi Cruz

Resumo

O objetivo principal desta tese é analisar, à luz de teorias da economia de serviços, as oportunidades de

inovação no serviço de disposição final de resíduos sólidos em aterros com projetos de Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL) alinhadas à geração de cobenefícios sociais e ambientais locais. A

responsabilidade pelo fornecimento do serviço em questão é dos municípios. Como é incipiente a

avaliação de cobenefícios nos projetos de MDL, a construção e validação de indicadores de avaliação

foram primordiais para realizar a coleta e, em seguida, análise de dados com base no modelo de

representação do produto e da inovação em termos de características do serviço e no conceito de

Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço (RIPPS). Seis projetos de MDL localizados na

Região Metropolitana de São Paulo são considerados: Bandeirantes, São João, Caieiras, Itapevi,

Pedreira e Lara. São propostos 23 indicadores de avaliação de cobenefícios construídos com a

participação das partes interessadas e com posterior validação por especialistas (técnica Delphi). Os

indicadores foram aplicados nas partes interessadas (população do entorno do aterro, empresas

concessionárias, prefeituras municipais e órgão ambiental estadual) para identificar as alterações no

serviço decorrentes do MDL. Foram evidenciadas inovações tecnológicas e não tecnológicas que

incidem sobre a modificação das características do serviço de disposição final de resíduos em aterros,

relacionadas fundamentalmente ao interesse dos prestadores, focalizando a eficiência operacional do

sistema de captação de biogás: a cobertura final dos aterros e o modelo de estimativa de produção de

biogás, ou seja, inovações de melhoria que consistem em aumentar a qualidade de certas

características do serviço sem modificar a estrutura geral do sistema de vetores representando o

produto. Destaca-se o papel das regulamentações (controle da emissão de odores e monitoramento de

gás) que podem influenciar no uso e escolha das técnicas dos prestadores diretos e indiretos. Não

foram efetivadas alterações que contemplam o interesse das comunidades do entorno promovendo, de

modo mais amplo, inovações convergentes com a melhoria da qualidade do serviço: canais de

comunicação e espaços de interação online e offline; métodos e procedimentos de accountability;

incentivo a programas de educação ambiental e cooperativas de reciclagem; competências e técnicas

para o monitoramento e redução de odores. No contexto pesquisado, as possibilidades de contribuição

do MDL para a gestão de resíduos sólidos urbanos destacam a relevância da consideração das

características técnicas setoriais dos serviços, com ênfase na disposição final de resíduos em aterros, e

da participação de prestadores e usuários diretos. Tal aspecto é central para orientar a revisão ou a

reforma do MDL no sentido de potencializar a inovação e a geração de cobenefícios.

Palavras-chave: inovação em serviços públicos; mecanismo de desenvolvimento limpo; aterro

sanitário; indicador de cobenefícios.

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UNIVERSITY OF CAMPINAS

INSTITUTE OF GEOSCIENCE

POST-GRADUATE PROGRAM IN SCIENTIFIC AND TECHNOLOGICAL

POLICIES

“PUBLIC SERVICE INNOVATION AND CARBON MARKET ON LANDFILLS:

PROSPECTS FOR THE URBAN SOLID WASTE”

ABSTRACT

PhD Thesis

Silvia Regina Stuchi Cruz

Abstract

The aim of this thesis is to analyze, under the service economic theories, opportunities for service

innovations in the urban solid waste service through Clean Development Mechanisms (CDM) projects

converging with the local social and environmental co-benefits. It is incipient the co-benefits

evaluation in CDM projects, then, the construction and validation of evaluation indicators were

fundamental to perform the data collection. The data were organized and analyzed based on two

complementary theoretical frameworks: The characteristics-based model and the public-private

innovation networks in services (ServPPIN) concept. The empirical context is based on six landfill

CDM projects located in the São Paulo Metropolitan Area: Bandeirantes, São João, Caieiras, Itapevi,

Pedreira, and Lara. In order to address changes in landfills as a result of CDM implementation, 23

indicators are proposed to evaluate the social and environmental outcomes that may be generated from

CDM landfills. The indicators were constructed using participatory methods with stakeholders and

also contemplated expert validation using the Delphi technique. Technological and non-technological

innovations were highlighted, focused on changes in service characteristics of solid waste final

disposal in landfills, related primarily to the interest of service providers, and focused on the

operational efficiency of the landfills’ biogas capture systems: the final cover layer in the landfill post-

closure phase and the biogas generation prediction model, that is, incremental innovations to increase

the quality of certain service features without modifying the general structure of the vector

representing the product system. In this context, the need to develop regulations to control odor

emission and gas monitoring is highlighted. Regulations can influence directly and indirectly service

providers in terms of selection and use of techniques. No changes were made to include interests of

surrounding communities in order to promote, more broadly, innovations to improve the quality of

service, i.e.: communication channels and online and offline interaction areas; methods and

accountability procedures; encouraging environmental education programs and recycling cooperatives;

competences and techniques to control odor emissions. The elements highlighted, based on the service

characteristics-based model, encompass the changes in service characteristics in relation to the

competences and techniques among the stakeholders involved in the projects and in the service

provision. Considering the context studied, opportunities for CDM contribution to the municipal solid

waste sector highlights the relevance to consider the technical characteristics of sectoral services with

emphasis on the final disposal of waste in landfills, and participation of service providers and direct

users. This aspect is central to guide the CDM revision in order to enhance innovation and generate

co-benefits.

Keywords: public service innovation; clean development mechanism; landfill; co-benefit indicator.

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Lista de Figuras

Figura 1: Triângulo do serviço ....................................................................................... 65

Figura 2: O produto (bem ou serviço) como um conjunto de características e competências

(characteristics-based approach)..................................................................................... 81

Figura 3: Tipos de RIPPS relacionados a abordagens de inovação em serviço ............. 91

Figura 4: Modelo multiagentes aplicado aos aterros sanitários ..................................... 94

Figura 5: Governança participativa - vias de fluxo de informação ................................ 97

Figura 6: mapeamento dos representantes das associações das comunidades do entorno dos

aterros ........................................................................................................................... 104

Figura 7: Sistematização do Delphi no contexto estudado ........................................... 110

Figura 8: Diagrama de seleção da ferramenta de survey online ................................... 115

Figura 9: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema participação

...................................................................................................................................... 118

Figura 10: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema Articulação

...................................................................................................................................... 119

Figura 11: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema benefícios

...................................................................................................................................... 120

Figura 12:Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema

monitoramento da qualidade ambiental ........................................................................ 121

Figura 13: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema

monitoramento de gases ............................................................................................... 122

Figura 14: O serviço de destinação de resíduos em aterros sanitários com MDL como um

conjunto de características. ........................................................................................... 137

Figura 15: Relações entre os agentes – aterros públicos e privados ............................. 154

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Lista de Quadros

Quadro 1: Temas para avaliação do serviço de disposição final de resíduos após a implantação

do MDL .......................................................................................................................... 26

Quadro 2: Padrões de Avaliação .................................................................................... 42

Quadro 3: Etapas de desenvolvimento do projeto de MDL e de MVC .......................... 45

Quadro 4: Descrição geral da ACM0001 ....................................................................... 47

Quadro 5: Descrição dos modelos de geração de metano .............................................. 47

Quadro 6: Projetos dos mercados de carbono em aterros sanitários no Brasil – Jan de 2016

........................................................................................................................................ 50

Quadro 7: Dimensões de sustentabilidade no âmbito dos projetos de redução de emissão de

GEE ................................................................................................................................ 53

Quadro 8: Etapas para declaração de desenvolvimento sustentável – UNFCCC CDM

Sustainable Development Tool ....................................................................................... 54

Quadro 9: Participação da sociedade civil no desenvolvimento dos projetos de MDL . 57

Quadro 10: Propostas para melhorar a participação dos stakeholders em projetos de MDL

........................................................................................................................................ 58

Quadro 11: Contribuições de estudos especializados no tema às Regras do Comitê Executivo

do MDL referentes ao processo de Participação ............................................................ 60

Quadro 12: Abordagens para inovação em serviços ...................................................... 66

Quadro 13:Tipologias de inovações para o setor público............................................... 74

Quadro 14: Interesses dos agentes – objetivos e preferências ........................................ 84

Quadro 15: Preferências dos agentes .............................................................................. 85

Quadro 16: Plataformas Monitoradas no MVC .............................................................. 99

Quadro 17: Recursos da Metodologia do SOCIALCARBON Standard ...................... 106

Quadro 18: Adaptações da Metodologia do SOCIALCARBON Standard para a análise

proposta ........................................................................................................................ 107

Quadro 19: Definição dos temas para a elaboração de indicadores ............................. 108

Quadro 20: Elementos selecionados em relação à participação ................................... 109

Quadro 21: Indicadores propostos após pré-teste e rodadas do Delphi ........................ 123

Quadro 22: Categorização dos agentes – prestadores e usuários do serviço ................ 128

Quadro 23: Técnicas e competências para projetos de MDL em aterros a partir da

representação do serviço baseada em características ................................................... 139

Quadro 24: Lacunas de competências e técnicas nos projetos de MDL estudados ...... 156

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Abreviaturas e Siglas

AMLURB - Autoridade Municipal de Limpeza Urbana

AND – Autoridade Nacional Designada

CER - Certified Emission Reduction

CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CF – Constituição Federal

CIMGC - Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima

CQNUMC - Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança Do Clima

Confema - Conselho do Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

COP - Conferência das Partes

DCP – Documento de Concepção do Projeto

DECONT - Departamento de Controle da Qualidade Ambiental

EOD – Entidade Operacional Designada

FEMA - Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

GEE – Gases de Efeito Estufa

GRS - Gestão de Resíduos Sólidos

GRSU – Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos

Limpurb - Departamento de Limpeza Urbana

Loa – Letter of approval

LOGA - Logística Ambiental de São Paulo S.A

MCS – Metodologia do Carbono Social

MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MDL - Mecanismos de Desenvolvimento Limpo

MRC – Mercado Regulado de Carbono

MVC – Mercado Voluntário de Carbono

MOP - Meeting Of The Parties

MP – Ministério Público

MR – Monitoring Report

MtCO2e – Megatonelada de CO2 Equivalente

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PAG – Potencial de Aquecimento Global

PDD – Project Design Document

PEAD - Polietileno de Alta Densidade

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PMSP – Prefeitura Municipal de São Paulo

PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos

PNUMA - Programa Das Nações Unidas Para O Meio Ambiente

PQ – Protocolo De Quioto

RCE – Redução Certificada de Emissão

RIPPS - Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço

RM – Relatório de Monitoramento

RMSP - Região Metropolitana de São Paulo

RSU – Resíduos Sólidos Urbanos

ServPPIN - Public-Private Innovation Networks In Service Sectors

SES - Secretaria Municipal de Serviços

SVMA – Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente

tCO2e - Tonelada de CO2 Equivalente

UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change

UTE - Usina Termelétrica

VER – Verified Emission Reduction

VCS - Verified Carbon Standard

VCM – Voluntary Carbon Market

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 17

CAPÍTULO 1. ESTABELECIMENTO E PERSPECTIVAS DOS

MERCADOS DE CARBONO: PROJETOS DE REDUÇÃO DE EMISSÃO

DE GASES DE EFEITO ESTUFA (GEE) EM ATERROS SANITÁRIOS 34

1.1 Mercados Regulados ......................................................................................................................... 34 1.2 Mercados Voluntários ....................................................................................................................... 41 1.3 Projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em Aterros Sanitários: geração de

cobenefícios e participação de grupos de interesse ................................................................................. 45 1.3.1 Avaliação da Redução de Emissão de GEE ............................................................................. 46 1.3.2 Avaliação da Promoção de Cobenefícios Locais ..................................................................... 51 1.3.3 Participação dos Stakeholders ................................................................................................. 55

CAPÍTULO 2. INOVAÇÃO EM SERVIÇOS PÚBLICOS 63

2.1 Conceito de Inovação e Especificidades dos Serviços ...................................................................... 63

2.2 Particularidades da Inovação: Setor Público e os Serviços Públicos ................................................ 69

2.2.1 O Setor Público ....................................................................................................................... 69

2.2.2 Privado e Público: diferenças entre os setores? ..................................................................... 71

2.2.3 Tipologias de inovação para o setor público .......................................................................... 73

2.3 Os Serviços Públicos ........................................................................................................................ 75

2.4 Os Usuários dos Serviços Públicos ................................................................................................. 77

2.5 Definição e multiplicidade de arranjos organizacionais para a produção dos serviços públicos ...... 77

CAPÍTULO 3. PERSPECTIVAS TEÓRICAS UTILIZADAS PARA

ABORDAR INOVAÇÃO EM SERVIÇO 80

3.1 Modelo de Representação do Produto e da Inovação em termos de Características do Serviço ...... 80

3.2 Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço (RIPPS) ............................................................... 86

3.2.1 O Surgimento e o Conceito de Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço RIPPS........ 87

3.2.2 Constituição das RIPPS .......................................................................................................... 89

3.2.3. Tipos de RIPPS ..................................................................................................................... .. 90

CAPÍTULO 4. METODOLOGIA 98

4.1 Seleção dos aterros sanitários com MDL e mapeamento das partes interessadas ............................ 98

4.2 Indicadores de Cobenefícios do MDL em Aterros Sanitários .......................................................... 104

4.3 Coleta de dados ..................................................................................................... ........................... 122

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CAPÍTULO 5. OPORTUNIDADES DE INOVAÇÃO IDENTIFICADAS

E POTENCIAIS 127

5.1. Categorização dos agentes do serviço de destinação final de resíduos em aterros sanitários

com projetos de MDL .................................................................................................................... 128

5.2. Descrição dos vetores do serviço: técnicas e competências ......................................................... 135

5.3 RIPPS e o aspecto relacional na análise da inovação ..................................................................... 153

CONCLUSÃO 169

REFERÊNCIAS 175

ANEXO I APRESENTAÇÃO DO QUESTIONÁRIO 194

ANEXO II QUESTIONÁRIO DE VALIDAÇÃO 200

ANEXO III ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS DUAS RODADAS

DO DELPHI POR TEMA 213

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Introdução

“A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as

guerras e provoca mais tumulto do que todos os carnavais [...] O direito ao

desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos. Diz-me

quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as

flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são

submetidas à luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de

ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão

condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar

[...] Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama,

mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse

animal prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas

fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis

do último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juros

que este ou aquele banco oferece [...] A cultura do consumo, cultura do

efêmero, condena tudo ao desuso. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda,

posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar

de olhos, para serem trocadas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única

coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não

durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que

as gera [...] Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do

tamanho do planeta” (tradução livre de GALEANO, 2005).

Os provocadores trechos do texto “El império del consumo” de Galeano1 (2005)

mostram que para muito além das questões técnicas e econômicas, o problema dos resíduos

possui natureza fundamentalmente política, cultural e social.

Os padrões de consumo da sociedade, pautados no imediatismo, desperdício e

descartabilidade, requerem o uso extrapolado dos recursos naturais, acarretando impactos

negativos ao meio ambiente.

Em decorrência desses fatores, a sociedade vem enfrentando graves problemas

ambientais globais e no que tange especificamente aos resíduos sólidos, os entraves incluem

1 O escritor uruguaio Eduardo Galeano, faleceu em 2015 deixando um riquíssimo legado à sociedade, em

especial, à América Latina, com destaque para a obra “As Veias Abertas da América Latina” (1971). O autor

dialoga sobre as mazelas do mundo de modo crítico, emocionado e, por muitas vezes, pessimista. No entanto,

destaca-se a visão esperançosa de Galeano mesmo diante de suas inquietudes e constatações. Nas palavras do

autor: “En la pared de una fonda de Madrid, hay un cartel que dice: Prohibido el cante. En la pared del

aeropuerto de Río de Janeiro, hay un cartel que dice: Prohibido jugar con los carritos portavalijas. O sea:

todavía hay gente que canta, todavía hay gente que juega”. “Na parede de um botequim de Madri, um cartaz

diz: proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um cartaz diz: proibido brincar com os carrinhos

de bagagem. Ou seja: ainda há gente que canta, ainda há gente que brinca.” (tradução livre de GALEANO, 1993

p. 61).

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desde a geração excessiva até a disposição final ambientalmente adequada, tornando-se um

grande desafio para os municípios proverem soluções que resolvam de modo global a questão

e não somente reparem os problemas já concretizados.

Os serviços públicos podem ser produzidos por meio de diferentes arranjos

organizacionais e o setor público, como responsável pelo fornecimento do serviço, deve

assegurar que esta produção seja realizada de modo adequado, assumindo o papel de

regulador, fiscalizador, coordenador e planejador.

No Brasil, os serviços públicos relacionados aos resíduos sólidos, são

majoritariamente executados de modo indireto, por concessionárias. Destacam-se também as

parcerias público-privadas a partir da Lei nº 11.079/2004, que estabelece todo o arcabouço

legal para a licitação e contratação destas parcerias, apontando a essencial participação do

setor privado.

Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS (Lei nº 12.305/10),

define-se gestão integrada de resíduos sólidos como o conjunto de ações voltadas para a busca

de soluções para os resíduos sólidos, levando-se em conta as dimensões política, econômica,

ambiental, cultural e social. Sendo assim, a gestão dos RSU compreende atividades relativas à

tomada de decisões estratégicas e à organização do segmento de resíduos para essa finalidade,

abarcando instituições, políticas e instrumentos.

Calcados nos princípios e objetivos da PNRS, o trabalho destaca principalmente: a

cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais

segmentos da sociedade; a visão sistêmica na GRSU, levando-se em conta as vertentes

ambiental, social, cultural, econômica e tecnológica; o direito à informação, participação e

controle social; e a articulação entre as diferentes esferas do poder público, e do poder público

com o setor privado, sobretudo no que tange à cooperação técnica e financeira para a GRSU.

Um modelo de GRS possui como elementos indispensáveis o reconhecimento dos

diversos agentes sociais envolvidos, identificando os papéis a serem cumpridos, bem como a

articulação entre estes agentes.

As etapas que a GRS deve contemplar podem ser classificadas em: geração,

acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos.

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19

A PNRS (BRASIL, 2010) diferencia destinação final de disposição final, sendo a

primeira relacionada aos resíduos sólidos e a segunda aos rejeitos2. O enfoque do trabalho

incide na etapa de disposição final em aterros sanitários.

A região metropolitana de São Paulo (RMSP) é responsável por quase 19% do

Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (IBGE, 2010). E, como é realidade corriqueira dos

grandes centros urbanos, não foge à regra e também apresenta elevados níveis de

heterogeneidade socioeconômica, que podem ser exemplificados pelas assimetrias nos níveis

educacionais, de renda, ou ainda, podem ser expressas pelo modo como ocorre a

fragmentação do espaço urbano.

A questão territorial, particularmente no que tange às áreas designadas para

implantar aterros sanitários, pode ser analisada tanto pela desvalorização do local que recebe

esse tipo de empreendimento, quanto pela falta de áreas disponíveis para o desenvolvimento

dessa atividade, sobretudo, em uma região com contínuo avanço da urbanização, como a

grande São Paulo.

Dez municípios da RMSP têm mais de 75% do seu território em área de proteção

de mananciais, e seis com mais de 50% do território nessas mesmas condições (BRASIL,

2010, p. 42), logo, limitando-se as áreas para disposição final dos resíduos e dificultando o

transporte desses materiais, uma vez que são levados para áreas cada vez mais distantes dos

pontos de geração, acarretando, além de problemas ambientais (emissão de GEE) e

infraestruturais (aumento do tráfego), em maiores custos para os municípios (CETESB,

2012).

Portanto, as áreas suscetíveis de serem aproveitadas para esta finalidade enfrentam

crescentes limitações de caráter físico, econômico e ambiental, resultantes da disputa por

espaço. Consequentemente, as áreas periféricas da RMSP - e das cidades que a compõem- são

os locais selecionados para o desenvolvimento dessas atividades. O cenário é elucidado por

meio dos estudos empíricos selecionados por este trabalho.

2 PNRS, artigo 3º, XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento

e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra

possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada; XVI - resíduos sólidos: material, substância,

objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se

propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em

recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em

corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia

disponível.

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20

Se por um lado, há restrições de espaço, por outro, é crescente o aumento da

geração de resíduos. De acordo com o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos – ano

de referência 2012 (CETESB, 2013), a RMSP, com seus 39 municípios, gera cerca de 16 mil

t/dia de resíduos sólidos urbanos.

Assim, além da falta de disponibilidade de áreas para disposição de resíduos, há

necessidade do desenvolvimento de atividades visando alternativas de redução da geração de

resíduos na fonte, fomentando ações de reutilização, reciclagem, tratamento, ou seja,

enfocando outras etapas precedentes à disposição final, que também possuem papel

importante no alcance de melhores práticas na gestão de resíduos sólidos urbanos (GRSU)

(BRASIL, 2010).

A partir das constatações científicas em relação ao aumento das emissões de GEE

provenientes de ações antrópicas, emergiram as conferências internacionais para discussão do

tema, denominadas Conferências das Partes (COP)3. Destaca-se a 3ª COP, realizada em 1997,

em Quioto no Japão, que tem como um dos seus principais desdobramentos, a concretização

do Protocolo de Quioto, possibilitando o surgimento de um mercado mundial de carbono,

visando o cumprimento das metas de redução de emissão estabelecidas para os países (Partes)

constantes no Anexo I4.

O Protocolo de Quioto estabelece mecanismos de flexibilização para auxiliar o

atendimento das metas de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Um deles é o

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que consiste na implantação de atividades de

projeto que reduzam GEE em países emergentes5 e em desenvolvimento, tendo como

resultado as reduções certificadas de emissão (RCE), que poderão ser compradas pelos países

do Anexo I, auxiliando no cumprimento de parte de suas metas acordadas na ratificação do

Protocolo de Quioto. O MDL engloba atividades em diferentes escopos setoriais, sendo que o

enfoque do presente trabalho são os projetos implantados em aterros sanitários.

3 Do inglês: Conference of the Parties COP é o órgão supremo da CQNUMC que objetiva supervisionar e tomar

decisões para promover a efetiva implementação da Convenção. 4Compreendido pelos países industrializados que em 1992 eram membros da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os países com economias em transição. 5Após a COP 18, que ocorreu em Doha, Catar, no segundo período de comprometimento, os países emergentes

não poderão mais desenvolver projetos de MDL (UNFCCC, 2013).

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21

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em aterros sanitários

Em consonância com o artigo 12 do Protocolo de Quioto projetos de MDL

também devem contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável nos países

hospedeiros dos projetos, por meio do estabelecimento de cobenefícios sociais e ambientais

locais.

Embora os projetos tenham essa dupla finalidade, segundo o Acordo de

Marrakesh (Decisão 17/CP.7), a responsabilidade de determinar se uma atividade de projeto

de MDL contribui para o desenvolvimento sustentável é atribuída ao país anfitrião por meio

de sua Autoridade Nacional Designada (AND) (UNFCCC, 2001).

Ao repassar essa responsabilidade para os países hospedeiros dos projetos, a

Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC) não define o

que é considerado como “desenvolvimento sustentável local ou cobenefícios” a partir da

implantação do projeto de MDL. E somente recentemente apresentou indicadores para avaliar

cobenefícios (UNFCCC, 2014), mas que são genéricos e que não apontam meios efetivos de

avaliação, validação e verificação dos cobenefícios ao longo do ciclo de vida dos projetos.

Nesse sentido, avaliar a contribuição do MDL para a promoção do

desenvolvimento sustentável local torna-se um desafio, ou seja: como não há definição clara

do que seriam os cobenefícios, como operacionalizar essa promoção?

No Brasil, a AND é representada pela Comissão Interministerial de Mudanças

Globais do Clima (CIMGC6). No Anexo III da Resolução nº 1 de 2003 da CIMGC apontam-

se os aspectos relacionados aos cobenefícios, que são: contribuição para a sustentabilidade

ambiental; desenvolvimento de condições de trabalho e geração líquida de emprego;

contribuição para a distribuição de renda; para a capacitação e desenvolvimento tecnológico;

e para a integração regional e articulação com outros setores (BRASIL, 2003).

A Carta de Aprovação (LoA), documento que confirma que o projeto proposto

contribui para o desenvolvimento sustentável de um país em particular, é emitida pela AND

exclusivamente com base nos resultados esperados mencionados pelos proponentes nos

documentos de concepção dos projetos (DCP), e não com base na verificação de resultados

obtidos. Conselho Executivo do MDL7 trata explicitamente da participação dos stakeholders,

6A Comissão Interministerial sobre Mudança Global do Clima (CIMGC): é um colegiado composto por 11

ministérios, presidido pelo ministro da Ciência e Tecnologia e vice-presidido pelo ministro do Meio Ambiente. 7 O Conselho Executivo do MDL (CDM EB) supervisiona o MDL orientado pelas Conferências das Partes.

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devendo ocorrer em todo o processo de desenvolvimento dos projetos. No entanto, assim

como ocorre na avaliação de cobenefícios, o processo de participação também é considerado

deficitário, tanto em termos de contemplação dos atores, quanto em termos de mensuração

dessa participação no decorrer do ciclo do projeto.

É importante ressaltar que esse não é um problema particular ao contexto

brasileiro. Uma análise de sete países não anexo-I (Brasil, China, Índia, Filipinas, Egito,

Cazaquistão e Uganda) e suas respectivas Autoridades Nacionais Designadas mostrou que

somente os três primeiros possuíam AND e critérios de avaliação do desenvolvimento

sustentável claramente estabelecidos, os outros quatro países estavam em processo de

implantação da AND, mas já possuíam projetos propostos no MDL (GALLARDO;

ANDERSON, 2004). Uma vez que o estudo mencionado é de 2004, estas ANDs ainda não

haviam sido constituídas. No entanto, atualmente, já é possível visualizar no site da UNFCCC

os representantes das ANDs do Egito (Egyptian Environmental Affairs Agency - EEAA) e

Uganda (Ministry of Water and Environment).

Segundo informações da Autoridade Nacional Designada chinesa, representada

pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, esta requer apenas que o

desenvolvedor do projeto submeta a carta de aprovação da Avaliação de Impacto Ambiental

(AIA), que é necessária para qualquer projeto de engenharia na China e emitida pela

Administração Local de Proteção Ambiental. Na Índia, a AND é presidida pela Secretaria do

Ministério do Meio Ambiente e Florestas e coordenada por outros seis ministérios,

encabeçada pelo ministério de Relações Internacionais, Poder, Ciência e Tecnologia

(GALLARDO et al., 2004).

A AND indiana foi estabelecida em 2003 e possui 1.592 projetos registrados

representando cerca de 30% do número de projetos desenvolvidos nos países asiáticos, sendo

49 deles no setor de resíduos sólidos (MINISTRY OF ENVIRONMENT AND FORESTS,

2013; UNEPRISOE, 2016).

Desse modo, percebe-se que não são definidos aspectos específicos para avaliação

dos cobenefícios sociais e ambientais locais pela AND para os projetos desenvolvidos na

China e Índia, que contemplam grande parcela dos projetos registrados no mundo todo.

Assim, reforça-se a necessidade e importância do desenvolvimento de indicadores de

avaliação de cobenefícios.

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23

Muitos trabalhos internacionais dedicados à análise dos resultados do MDL sobre

a promoção do desenvolvimento sustentável local e participação mostram as dificuldades ou

mesmo a falha em atender ao objetivo de contribuir para a geração de cobenefícios locais por

meio de ações de mitigação de emissões de gases de efeito estufa (OLSEN; FENHANN,

2008; BOYD et al, 2009; PESKETT et al., 2007; KOLMUSS, 2008; NUSSBAUMER, 2009;

SUBBARAO; LLOYD, 2011; SUTTER; PARREÑO, 2007; SIEBEL ET AL., 2013; WOOD,

2011; OLSEN et al., 2015).

Os principais questionamentos em relação à efetividade do objetivo de promoção

do desenvolvimento sustentável local são: carência de metodologia e indicadores de

avaliação; falta de clareza e definição do que são cobenefícios gerados pelos projetos (ÜRGE-

VORSATZ et al., 2014); e fraca participação das partes interessadas (ARENS et al., 2014;

OLSEN et al., 2015).

Paralelamente ao Mercado Regulado de Carbono (MRC), regido pelo Protocolo

de Quioto, surgiu o Mercado Voluntário de Carbono (MVC), caracterizado por não apresentar

metas obrigatórias de redução de emissão, permitindo a compra de certificados de redução de

emissões gerados por uma base voluntária. No mercado voluntário não é mandatório que os

projetos, além de reduzirem emissão de GHG, gerem cobenefícios locais. No entanto, é

identificada a importância de se mensurar os cobenefícios gerados por esses projetos devido à

demanda dos próprios compradores, no intuito de atribuir maior credibilidade dos créditos de

carbono gerados.

No mercado voluntário os cobenefícios são mensurados através de padrões, que

possuem critérios mais específicos do que os propostos pelo mercado regulado para avaliar a

contribuição dos projetos ao desenvolvimento sustentável local. Os sistemas de certificação

(CDM Gold Standard, SOCIALCARBON, CCB, entre outros) exigem avaliação dos

cobenefícios para todos os projetos que visem obter certificação (ARENS et al., 2014.;

OLSEN et al., 2015). Esses Standards exigem a avaliação dos cobenefícios ao longo do

período creditício dos projetos, por meio de planos de monitoramento abrangendo indicadores

com resultados positivos ou negativos e/ ou apresentando relatórios de acompanhamento que

precisam ser verificados por uma terceira parte, aumentando a credibilidade desses

documentos.

Até dezembro de 2015, 7.689 projetos de MDL foram registrados mundialmente,

dos quais 2.866 já emitiram cerca de 1,6 bilhões de RCEs. A distribuição dos projetos pelo

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mundo ocorre da seguinte forma: 49% localizam-se na China, 20,6% na Índia e 4,4% no

Brasil8. Dos 339 projetos brasileiros de MDL registrados, 51 são atividades desenvolvidas em

aterros sanitários. Os projetos em aterros sanitários concentram-se na região sudeste do país,

sobretudo, no Estado de São Paulo, com 23 projetos (UNEPRisoe, Janeiro de 2016).

Das emissões totais brasileiras de GEE, considerando o período de 1970 a 2014,

460,5 MtCO2e são provenientes do setor de resíduos, o que representa 1,9% das emissões

totais brasileiras acumuladas nesse período. Outro dado importante (e preocupante) é que

nesse mesmo período, as emissões derivadas do setor de resíduos saltou de 12 milhões tCO2e

para 68,3 milhões tCO2e, ou seja, um aumento de aproximadamente 450% no período de 44

anos (SEEG, 2015).

Além do potencial de redução de emissão no setor de RS, que pode ser atingido

por meio dos projetos de MDL em aterros (coleta e uso de biogás), conforme proposto pelo

Protocolo de Quioto e UNFCCC, é preciso ter mais clareza sobre os objetivos desse

mecanismo também em termos de geração de cobenefícios.

E projetos de MDL em aterros sanitários são uma importante fonte em potencial

para: a promoção de melhores práticas na gestão de resíduos sólidos; a promoção do

desenvolvimento sustentável local; a produção de energia através do aproveitamento do

biogás (metano) e; consequentemente, para mitigação das mudanças climáticas.

Coloca-se a seguinte hipótese da pesquisa: O MDL em aterros sanitários, ao

restringir o foco da inovação ao aumento da eficiência operacional na captação de biogás,

estabelece limitações na contribuição do referido mecanismo para gerar melhorias da

qualidade do serviço público municipal de resíduos sólidos urbanos por meio da promoção de

inovações que contemplem cobenefícios para as diversas partes interessadas, e que estejam

em convergência com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010).

Isso posto, o objetivo desta tese de doutorado é analisar, à luz de teorias da

economia de serviços, as oportunidades de inovação identificadas no contexto do serviço de

disposição final de resíduos sólidos em aterros com projetos de Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL) alinhadas à geração de cobenefícios sociais e ambientais

locais. Busca-se contribuir para as políticas de gestão de resíduos sólidos urbanos enfatizando

o papel da participação social.

8 Informação disponível e atualizada periodicamente no site da UNFCCC

<https://cdm.unfccc.int/Statistics/Public/CDMinsights/index.html>.

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Constituem-se como objetivos específicos:

- Análise de teorias da economia de serviços voltadas à análise da inovação;

- Mapeamento dos projetos do mercado de carbono em aterros sanitários no Brasil;

- Identificação das inovações (concretizadas e potenciais) em serviços no setor de

resíduos sólidos urbanos.

A promoção da inovação orientada para a geração de cobeneficios

Sob a perspectiva das oportunidades de inovação no serviço de resíduos sólidos

alinhada à geração de cobenefícios locais, foram construídos indicadores de avaliação de

cobenefícios sociais e ambientais em projetos de MDL em aterros sanitários, considerando as

especificidades setoriais e partes interessadas envolvidas.

A construção dos indicadores considerou as referências da UNFCCC (2011,

2012a, 2012b) para avaliar a contribuição dos projetos de MDL na geração de cobenefícios,

os aspectos de geração de cobenefícios do MDL definidos pela Autoridade Nacional

Designada (AND) brasileira (BRASIL, 2003) e foi ainda embasado no SOCIALCARBON

Standard, padrão que possui maior número de projetos certificados no mercado voluntário de

carbono no Brasil.

Os elementos específicos aos temas participação e acesso aos projetos de MDL

embasaram-se nos trabalhos desenvolvidos por Monzoni (2004); CDM Watch (2010);

Subbarao e Lloyd (2011) e UNFCCC (2011).

Os indicadores propostos são contemplados em cinco temas, apresentados a

seguir:

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Quadro 1: Temas para avaliação do serviço de disposição final de resíduos após a

implantação do MDL

Tema Descrição

Tema 1:

Participação

Refere-se à qualidade e abrangência da participação das diferentes partes

interessadas em todas as fases de desenvolvimento dos projetos de MDL

Tema 2: Articulação

Refere-se à articulação entre as partes interessadas dos projetos de MDL

em aterros sanitários, abarcando setores público e privado e usuários

(associações e representantes da sociedade civil, cooperativas de

catadores);

Tema 3: Benefícios Refere-se aos benefícios gerados para a gestão de resíduos sólidos urbanos

(GRSU) a partir dos projetos de MDL

Tema 4:

Monitoramento da

qualidade ambiental

Refere-se à identificação de possibilidades de redução de impactos

ambientais negativos relacionados aos aterros estudados;

Tema 5:

monitoramento dos

gases

Refere-se à eficiência do sistema de captação do biogás

Fonte: elaboração própria.

A elaboração dos temas e indicadores iniciou-se em pesquisa anterior, na

dissertação de mestrado (CRUZ, 2012), conforme detalhado a seguir.

Na dissertação

O objetivo geral do trabalho consistiu em analisar de que forma os projetos de

mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) em aterros sanitários podem originar inovações

em serviços contribuindo para melhorar a gestão de resíduos sólidos urbanos (GRSU).

Foram realizadas adaptações na metodologia do carbono social (MCS), propondo

indicadores para avaliar resultados sociais e ambientais dos projetos do MDL nos aterros

sanitários, de modo a subsidiar a identificação de oportunidades para a inovação na prestação

de serviços relacionados aos resíduos sólidos urbanos.

A partir disso, os indicadores propostos - enfocando a inovação em serviços

públicos e os projetos de MDL em aterros sanitários – foram aplicados nas partes interessadas

referentes aos aterros sanitários públicos Bandeirantes e São João.

A sistematização dos agentes identificados como partes interessadas envolvidas

com a GRSU no município de São Paulo e os projetos de MDL dos aterros Bandeirantes e

São João ocorreu por meio da aplicação do modelo multiagentes, adaptado de Windrum e

García-Goñi (2008), para o setor de resíduos sólidos urbanos.

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A identificação das oportunidades de inovação foi baseada em dados primários

obtidos por meio da apresentação e discussão de indicadores de sustentabilidade

socioambiental com as partes interessadas ou com os quatro tipos de agentes identificados:

comunidades do entorno dos aterros; empresas concessionárias responsáveis pela operação

dos aterros; empresas concessionárias responsáveis pela captação e queima de biogás; órgãos

públicos municipais. Os resultados foram discutidos para os indicadores do Recurso Natural e

do Recurso Social, por tipo de agente.

Na Tese

Na Tese de doutorado, a análise das oportunidades de inovação foi realizada

partindo-se dos indicadores que foram construídos na dissertação de Mestrado (CRUZ, 2012).

No entanto, a proposta do doutorado vai além, ampliando o contexto empírico ao incorporar

outros quatro aterros sanitários (privados, enquanto os dois aterros estudados no mestrado são

públicos).

Ou seja, antes restrito a dois aterros (Bandeirantes e São João), o recorte

geográfico abarcava o município de São Paulo, e agora, incide na Região Metropolitana de

São Paulo (RMSP). Ademais, realizou-se o refinamento dos indicadores, em duas frentes

principais: 1) incorporou e aprofundou elementos, a partir dos indicadores propostos pela

UNFCCC (2012a) e ferramenta de declaração de cobenefícios UNFCCC (2012b)9,

Indicadores Gold Standard, estudos focados em indicadores de sustentabilidade para resíduos

sólidos e literatura sobre participação em projetos do mercado de carbono; e 2) validou os

indicadores junto à especialistas aplicando a técnica Delphi.

Resumem-se os avanços obtidos na tese, em relação à dissertação, nas seguintes

perspectivas: teórica e analítica; e metodológica.

Teórica e analítica:

a) Avanço no entendimento das oportunidades de inovação por meio do modelo

de representação do produto e da inovação em termos de características do serviço

(GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997; GALLOUJ; SAVONA, 2010), que permitiu o

detalhamento de técnicas e competências internas ou externas (tangíveis ou intangíveis) para

9 A definição e avaliação de cobenefícios estão delegadas a cada país, no entanto, a UNFCCC, a partir de 2012,

aponta algumas diretrizes gerais, tais como apontadas no relatório benefits of the clean development mechanism

(2012) e na ferramenta tool for highlighting sustainable development co-benefits of cdm project activities and

programmes of activities (2012).

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produzir as características finais do serviço estudado. No mestrado não foi possível

compreender e transpor o referido Modelo para o contexto estudado. Atividade esta que foi

possibilitada e viabilizada por meio do amadurecimento da pesquisa ao longo do doutorado,

especialmente no estágio de doutorado sanduíche realizado na Université Lille 1; e

b) O trabalho passou a se embasar no conceito Redes Público-Privadas de

Inovação em Serviço (RIPPS), que permitiu analisar as interações, as competências

relacionais e organizacionais, bem como as preferências (inclinações) dos diversos agentes

(tanto privado como público), considerados elementos importantes da inovação em serviços.

Ou seja, os resultados que antes – no mestrado – foram analisados por categoria de agente,

agora, no doutorado, são analisados a partir dos gargalos identificados no mestrado enfocando

as interações entre os agentes.

A inovação é discutida, principalmente, a partir das interações entre os atores.

Destaca-se a inclusão da CETESB – considerada como ator para os seis aterros estudados -

com um importante papel na interação dos aterros com o setor público, com troca de

informações e dados de monitoramento. Conclui-se que, embora os municípios sejam

responsáveis pelo serviço, o enfoque maior no contexto estudado para o prestador indireto do

serviço é na CETESB.

Metodológica:

a) Recorte geográfico adotado é a Região Metropolitana de São Paulo com a

inclusão de mais quatro aterros (privados);

b) Ampliação do mapeamento dos atores, agora considerando um total de seis

aterros e incluindo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB); e

c) Refinamento e validação dos indicadores por meio de uma rodada de pré-teste e

duas rodadas de Delphi. Nesta pesquisa de doutorado a validação dos temas, e respectivos

indicadores, foi realizada por meio da aplicação da técnica Delphi junto a especialistas. De

acordo com Wright e Giovinazzo (2000), o Delphi é definido como um método de consulta a

um grupo de especialistas por meio de um questionário, retransmitido e respondido em

algumas rodadas até que se obtenha uma convergência das respostas que seja representativa

desse grupo de especialistas.

Tendo como referência os temas supracitados, os dados sobre as contribuições do

MDL (cobenefícios locais) para o serviço de disposição final de resíduos em aterros foram

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coletados junto às partes interessadas por meio de aplicação de questionário semiestruturado.

A análise dos dados buscou identificar as características do serviço e as oportunidades de

inovações no serviço a partir da implantação dos projetos de MDL.

O recorte geográfico adotado é a Região Metropolitana de São Paulo, constituída

por 39 municípios e possui cerca de 20 milhões de habitantes, sendo 55,4% na cidade de São

Paulo (IBGE, 2010). A RMSP está entre as cinco maiores aglomerações urbanas mundiais, é a

maior metrópole brasileira, com a cidade de São Paulo como núcleo principal.

A seleção dos aterros sanitários na RMSP decorre dos seguintes critérios:

Critério Condição

Escopo de projetos no

mercado de carbono Aterros sanitários

Localização Região Metropolitana de São Paulo Metodologia UNFCCC ACM0001 (Flaring or use of landfill gas)

Período de monitoramento

verificado

Com, pelo menos, um período de monitoramento verificado até

o início da pesquisa empírica (março de 2014)

Fonte: elaboração própria.

Seguindo tais critérios, foram selecionados os aterros sanitários: Bandeirantes,

São João, Caieiras, Itapevi, Pedreira e Lara. Os aterros Bandeirantes e São João estão

desativados e os demais estão em operação.

Sobre as partes interessadas, salienta-se a importância das entidades públicas,

privadas e parcerias público-privadas nas atividades de projeto de MDL, especialmente para

projetos em aterros sanitários com recuperação e aproveitamento de biogás. Além disso,

como em projetos de MDL exige-se a publicidade das ações e participação da sociedade civil,

no contexto analisado os usuários do serviço também possuem um papel importante no

desenvolvimento de competências, sobretudo no que tange a avaliação dos resultados, ou seja,

os resultados sociais e ambientais provenientes dos projetos do mercado de carbono em

aterros sanitários.

Então, para o setor público, são consideradas como partes interessadas as

prefeituras e subprefeituras municipais, bem como as secretarias relacionadas, e a agência

ambiental Estadual. Para o setor privado, consideram-se as empresas concessionárias

responsáveis pela prestação do serviço de destinação final do resíduo e captação do biogás.

Para os usuários, representações das comunidades do entorno dos aterros e sociedade de modo

geral. Os indicadores foram construídos com a participação das partes interessadas e

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submetidos à validação de especialistas aplicando a técnica Delphi, a partir de um grupo de

especialistas consultados com a aplicação de questionário com a finalidade de se obter

consenso sobre o assunto abordado (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

O Delphi embasa-se no pressuposto de que o consenso coletivo é mais robusto do

que a opinião individual. Para que o resultado do método seja satisfatório é primordial que se

mantenha o anonimato dos especialistas, sobretudo nas rodadas de reavaliação das respostas e

feedbacks (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

Referenciais teóricos da economia de serviços

Conforme destacado por Gadrey (1992), o produto de serviços é claramente uma

construção social que envolve pontos de vista de diferentes atores. A descrição do produto

final dos serviços, indo além das especificações técnicas, não é necessariamente percebida da

mesma forma pelos atores (DJELLAL; GALLOUJ, 2009). A descrição do serviço é subjetiva,

depende dos critérios de julgamento dos atores (ZARIFIAN, 2007). Segundo este autor, não é

tanto o uso do serviço que conta, mas o confronto entre a expectativa do cliente antes da

prestação do serviço e o serviço efetivamente fornecido.

Os resultados (ganhos e limitações de desempenho do serviço após o MDL) que

podem ser identificados a partir dessa perspectiva focada em serviço, considerando os pontos

de vista das partes interessadas, são a base para, a seguir, analisar as oportunidades de

inovação amparando-se no modelo de representação do produto e da inovação em termos de

características do serviço e no conceito de Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço10

(RIPPS) (DJELLAL; GALLOUJ, 2013; GALLOUJ et al., 2013; LABARTHE et al., 2013,

WINDRUM, 2013). Nessa representação, inovação é identificada a partir de alterações nas

técnicas e/ou competências dos agentes envolvidos no serviço (GALLOUJ et al., 2013;

LABARTHE et al., 2013, WINDRUM, 2013).

Após a aplicação dos indicadores junto às partes interessadas, a análise dos

resultados embasada nos dois referenciais teóricos – o modelo de representação do produto e

da inovação em termos de características do serviço e no conceito de RIPPS – buscou

compreender as características do serviço estudado, fundamentando-se na mobilização de

competências internas ou externas e técnicas internas ou externas (tangíveis ou intangíveis)

para produzir as características finais do produto ou serviço.

10

Do inglês public-private innovation networks in service sectors (ServPPIN).

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Em seguida, o conceito RIPPS permitiu analisar as interações, as competências

relacionais e organizacionais, bem como as preferências (inclinações) dos diversos agentes

(tanto privado como público), considerados elementos importantes da inovação em serviços

(DJELLAL; GALLOUJ, 2013; WEBER; HELLER-SCHUH, 2013; WINDRUM, 2013).

Portanto, a identificação das competências e técnicas das diferentes partes

interessadas e a compreensão das características do serviço de disposição final de resíduos em

aterros são fundamentais para que se abram novas perspectivas de verificação dos resultados

sociais e ambientais provenientes dos projetos de MDL em aterros sanitários, com enfoque

nas oportunidades de inovação identificadas (concretizadas e potenciais) em serviços públicos

relacionados aos resíduos sólidos urbanos.

A fim de atingir os objetivos propostos, após essa introdução, a pesquisa está

estruturada em cinco capítulos organizados em:

Capítulo 1:

No Capítulo 1, aborda-se primeiramente a constituição dos mercados de carbono

(origem, evolução e perspectivas). Os mercados de carbono regulados consistem no

cumprimento de metas de redução de GEE estabelecidas por meio de regulamentações, que

podem ir do âmbito internacional ao regional/local. Já os mercados voluntários se diferenciam

por seus participantes não possuírem, mandatoriamente, metas de redução de emissão. Após,

realizou-se a análise histórica e atualização de dados sobre os projetos do mercado de carbono

mundialmente, embasando-se, especialmente, em trabalhos do Banco Mundial e da própria

UNFCCC. Nesse sentido, buscou-se identificar perspectivas para o mercado de marcobo a

partir das Conferências das Partes de Lima e Paris (COP 20 e 21).

Em seguida, apresenta-se o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), o

ciclo de projeto e seu duplo objetivo: reduzir emissão de GEE e promover cobenefícios locais.

Com enfoque na geração de cobenefícios, destacam-se as oportunidades e relevância desses

projetos como possíveis instrumentos de promoção de melhorias na gestão de resíduos sólidos

urbanos (GRSU) e a importância da participação social nas atividades de projeto de MDL,

especialmente para projetos em aterros sanitários com recuperação e aproveitamento de

biogás.

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Capítulo 2:

No Capítulo 2, apresentam-se contribuições teóricas da economia de serviços para

o entendimento da inovação em serviços públicos. Sobre as particularidades de inovação em

serviços públicos, aponta-se a multiplicidade de arranjos organizacionais para a produção dos

serviços públicos, caracterizando-o como uma atividade multiagente, o que justifica para o

presente estudo a adoção da abordagem integradora de inovação em serviços, abordando

inovações tecnológicas e não tecnológicas, bem como os diversos atores que participam dos

serviços relacionados aos resíduos sólidos urbanos.

Capítulo 3:

No Capítulo 3, para abordar as oportunidades de inovação no serviço de

disposição final de resíduos em aterros com MDL, recorre-se ao Modelo de Representação do

Produto e da Inovação baseado em características do serviço de Gallouj e Weinstein (1997)

atualizado em Gallouj e Savona (2010), acrescentando - para além das técnicas dos

prestadores - as técnicas do cliente/usuário, levando em conta também as contribuições de

Gallouj (2002) e Windrum e Garcia-Goni (2008) ao modelo; e ao conceito de Redes Público-

Privadas de Inovação em Serviço (RIPPS) (GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997; BUČAR et al.,

2013; DJELLAL; GALLOUJ, 2013; GALLOUJ et al., 2013; LABARTHE et al., 2013). O

referido conceito enfatiza, além do aspecto relacional (interfaces e feedbacks) entre os vários

atores públicos e privados, a participação das organizações do terceiro setor (associações,

ONG etc.) em diferentes maneiras.

Capítulo 4:

No Capítulo 4, apresentam-se os procedimentos metodológicos adotados, que

podem ser categorizados em três maiores etapas: a descrição do recorte geográfico adotado,

seleção dos aterros sanitários e mapeamento das partes interessadas relacionadas a esses

projetos; a proposição dos indicadores de avaliação de cobenefícios sociais e ambientais

provenientes dos projetos do mercado de carbono em aterros sanitários e, por meio da técnica

Delphi, validação dos 23 indicadores organizados nas dimensões Social e Ambiental e nos 5

(cinco) temas – participação; articulação; benefícios; monitoramento da qualidade ambiental;

e monitoramento dos gases; por fim, são apresentados os procedimentos utilizados na coleta

de dados.

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33

Capítulo 5:

No Capítulo 5, apresentam-se os resultados da pesquisa decorrentes da aplicação

dos indicadores nos aterros Bandeirantes, São João, Caieiras, Itapevi, Pedreira e Lara

embasando-se nos referenciais teóricos descritos no Capítulo 3. Adaptando o Modelo de

Representação do Produto e da Inovação baseado em características do serviço ao contexto

dos projetos de MDL em aterros sanitários, o enfoque da representação do produto e da

inovação em termos de características do serviço contribui para a análise das possibilidades de

mitigação dos impactos ambientais decorrentes dessa atividade. Já o enfoque de articulação

entre os setores público e privado e os usuários, bem como formuladores de políticas cujo

objetivo é a inovação de serviços, embasado na perspectiva teórica da Redes Público-Privadas

de Inovação em Serviço (RIPPS), destaca a importância das técnicas e competências

organizacionais e relacionais.

Portanto, este trabalho busca contribuir orientando as partes interessadas na gestão

de resíduos sólidos urbanos e no mercado de carbono a partir da elucidação das oportunidades

(identificadas e potenciais) para inovação em serviço no contexto estudado. No cenário

apresentado, o setor público pode se apoderar das reflexões realizadas, em especial no que

tange ao seu papel de tomador de decisão, coordenador e fiscalizador, bem como de

articulador, buscando meios de melhorar a participação da população, estreitar a comunicação

e assim, identificar programas, projetos e atividades que contemplem efetivamente as

preferências das partes interessadas envolvidas, embasando-se ainda na PNRS. O setor

privado tem a possibilidade de identificar os principais gargalos de técnicas e competências

para inovação em serviço no referido cenário. Por fim, para a sociedade civil, representada

pelas comunidades do entorno dos aterros, encontra-se no trabalho um panorama das

principais lacunas identificadas para que ocorra uma efetiva participação e contemplação

desses atores.

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Capítulo 1. Estabelecimento e Perspectivas dos Mercados de

Carbono: Projetos de Redução de Emissão de Gases de Efeito

Estufa (GEE) em Aterros Sanitários

No Capítulo 1, abordam-se primeiramente os mercados de carbono (regulados e

voluntários). Os mercados de carbono regulados consistem no cumprimento de metas de

redução de GEE estabelecidas por meio de regulamentações, que podem ir do âmbito

internacional ao regional/local. Já os mercados voluntários se diferenciam por seus

participantes não possuírem, mandatoriamente, metas de redução de emissão.

Após, apresenta-se os projetos de redução de emissão de GEE em aterros

sanitários no Brasil, evidenciando a relevância desses projetos como possíveis instrumentos

de promoção de melhorias na gestão de resíduos sólidos urbanos (GRSU) e a importância das

entidades públicas, privadas e parcerias público-privadas nas atividades de projeto de MDL,

especialmente para projetos em aterros sanitários com recuperação e aproveitamento de

biogás.

1.1 Mercados Regulados

A partir das constatações científicas em relação ao aumento das emissões de GEE

provenientes de ações antrópicas, foram realizadas as conferências internacionais para

discussão do tema, denominadas Conferências das Partes (COP)11

. Nesse âmbito, destaca-se

a 3ª COP de 1997, em Quioto no Japão, na qual se concretizou o Protocolo de Quioto (PQ)

que possibilitou o surgimento de um mercado mundial de carbono, visando o cumprimento

das metas de redução de emissão estabelecidas para os países (Partes) constantes no Anexo

I12

. Em relação às regras determinadas pelos artigos 2 e 3 do Protocolo de Quioto, os países

compreendidos no Anexo I13

se comprometem a reduzir as emissões de GEE, minimizando os

impactos ambientais e sociais adversos, a fim de promover o desenvolvimento sustentável.

11

Do inglês: Conference of the Parties. A Conferência das Partes - COP é o órgão supremo da CQNUMC que

objetiva supervisionar e tomar decisões para promover a efetiva implementação da Convenção. Anualmente, os

países signatários do Protocolo de Quioto, se reúnem na COP para discutir asuntos relacionados às mudanças

climáticas, bem como o progresso de implementação da CQNUMC. 12

Compreendido pelos países industrializados que em 1992 eram membros da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os países com economias em transição 13

Países membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 1992,

considerados países com economias em transição ou desenvolvidos, como Alemanha, Bélgica, Croácia, Rússia,

França, Espanha, Suécia e Grécia, entre outros.

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O Protocolo de Quioto estabelece nos artigos 6º, 12 e 17 mecanismos de

flexibilização para auxiliar o atendimento das metas, que são: 1) Implementação Conjunta; 2)

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e, 3) Comércio de Emissões. Os mecanismos

denominados “Implementação Conjunta14

” e “Comércio de Emissões” restringem-se aos

países Anexo I. Observa-se que estes mecanismos devem simplesmente auxiliar as Partes do

Anexo I a atenderem suas metas e, portanto, devem ser suplementares às ações adotadas

domesticamente com a finalidade de atingir-se o objetivo de redução de emissão de GEE.

No contexto dos mercados regulados, destaca-se o Sistema de Comércio de

Emissões da União Europeia (EU ETS) que visa auxiliar os países do Anexo I a cumprirem

suas metas de redução de emissão de GEE, possibilitando a transação de reduções de

emissões de GEE provenientes de projetos estabelecidos em países que não possuem metas de

redução (conhecidos como países não Anexo I).

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) consiste na implantação de

atividades de projeto que reduzam GEE em países emergentes e em desenvolvimento, tendo

como resultado as reduções certificadas de emissão (RCE), que poderão ser compradas pelos

países do Anexo I, auxiliando no cumprimento de parte de suas metas acordadas na

ratificação do Protocolo de Quioto. A RCE corresponde à redução, ou não emissão, de uma

tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) e pode ser comercializada,

principalmente, no âmbito do mercado de carbono regulado pelo Protocolo de Quioto.

O Protocolo apontou os seguintes GEE como os principais responsáveis pelas

mudanças climáticas: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O),

perfluorcarbonos (PFCs), hidrofluorcarbonos (HFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6).

A partir do potencial de aquecimento global (PAG)15

de cada um desses gases, que

avalia justamente a potencialidade de cada gás ao aquecimento global, é possível mensurar as

RCE devido a conversão para a unidade padrão definida em tCO2e. O primeiro período de

comprometimento do Protocolo de Quioto terminou em 2012 e na COP 18, realizada em

Doha, Qatar, aprovou-se o segundo período de compromisso, de janeiro de 2013 a dezembro

de 2020.

O segundo período de comprometimento vem acompanhado de incertezas em

relação ao futuro do mercado de carbono e de como serão realizadas as atividades de

14

Implementação conjunta: é o estabelecimento de projetos de redução de emissões nos países pertencentes ao

Anexo I. 15

Do inglês: Global Warming Potential (GWP).

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mitigação e adaptação16

. Para o segundo período de comprometimento os países/ Partes se

organizam do seguinte modo (STELLA et al., 2011; UNFCCC, 2013):

– Partes não Anexo I – com exceção dos países emergentes podem continuar a

participar em projetos de MDL já existentes e também podem participar de novos projetos de

MDL registrados no segundo período de comprometimento;

– Partes do Anexo I – incluindo os países sem metas de emissões no segundo

período de compromisso (como o Japão, por exemplo) podem continuar participando de

projetos novos e já existentes de MDL, recebendo RCEs para as reduções e remoções de

emissões alcançadas por projetos de MDL no segundo período de compromisso;

– Partes do Anexo I – com metas de emissões no segundo período de

compromisso (como a Noruega, a Suíça e a União Europeia) podem continuar desenvolvendo

projetos já existentes e também receber novos, sendo que as reduções de emissões alcançadas

por esses projetos no segundo período de compromisso serão validadas para o segundo período

de compromisso. Destacam-se três principais mudanças após a conferência de Doha:

1) Reduções Certificadas de Emissões (RCEs): apenas 2,5% das RCEs das Partes Anexo I

que foram validadas para o primeiro período de comprometimento poderão ser

transferidas para o segundo período de compromisso. O restante das RCEs validadas

para projetos registrados no primeiro período de comprometimento não podem ser

negociadas após 2012, ou seja, cada Parte do Anexo I pode levar do primeiro período

de compromisso apenas 2,5%17

das RCEs.

2) Países do Anexo I: no segundo período de comprometimento, não compõe a lista o

Canadá, a Rússia, o Japão e a Nova Zelândia18

(TALBERG ; SWOBODA, 2013).

Dessa forma, os países do Anexo I do segundo período de comprometimento são

responsáveis por apenas 15% das emissões globais de GEE e a meta agregada do

segundo período de comprometimento é de 18% abaixo dos níveis de 1990 (OSÓRIO,

2012), sendo que no primeiro período os países do Anexo I eram responsáveis por 61%

16

De acordo com a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC (Lei nº 12.187/ 2009) define-se

adaptação como: iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos

efeitos atuais e esperados da mudança do clima; e mitigação: mudanças e substituições tecnológicas que reduzam

o uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam

as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros. 17

No site da UNFCCC não há informações sobre a atribuição do valor de 2,5% e o porquê deste status diferente,

nem a que tipo de projeto se refere. Somente é citado o dado. 18

Ressalta-se que embora esses países não estejam na lista, estes possuem mercados de carbono regionais.

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das emissões globais. Nota-se, portanto, um enfraquecimento do mercado regulado no

segundo período de comprometimento do Protocolo de Quioto.

3) Partes não-Anexo I: países emergentes não poderão participar desenvolvendo projetos

de MDL.

De acordo com Cormier e Belsassen (2012) e Alexeew et al (2010), os principais

obstáculos encontrados relacionados à estrutura do MDL são: baixa taxa de sucesso (boa parte

dos projetos de MDL não alcançou as reduções certificadas de emissões (RCE) estimadas no

DCP); demora na aprovação dos projetos (atraso na emissão das RCEs ou no processo de

validação/ verificação); indefinição de critérios para adicionalidade (inexistência de

uniformidade para comprovar a adicionalidade dos projetos); e indefinição de critérios para

avaliação de cobenefícios sociais e ambientais.

Há ainda a barreira acerca da dificuldade de se transacionar os créditos devido à

baixa no valor das RCE. A redução da demanda, acompanhado da oferta no mercado de

carbono que permanece inalterada, gerou um excedente de créditos e licenças no mercado,

levando a uma forte redução do preço a partir de 2011 (KOSSOY et al., 2013; ICCG, 2015).

Exemplo tangível são os leilões realizados pela prefeitura de São Paulo: em 2012

foram leiolados 530 mil RCE provenientes dos aterros Bandeirantes e São João, pelo valor

unitário de € 3,3, adquiridas pela empresa suíça Mercuria Energy Trading S.A. Esse valor é

bem inferior ao que foi registrado no primeiro leilão, em 2007, em que o preço mínimo de cada

RCE foi de € 12,7, obtendo valor final de € 16,2.

Dado esse contexto permeado de incertezas, apontam-se algumas iniciativas

visando sustentar o MDL:

Estabelecimento de um preço mínimo CER: sugerido, ainda não

está em prática;

Cancelamento/ anulação voluntário de RCEs pelas Partes19

:

medida vigente (UNFCCC, 2014; WORLD BANK, 2014);

Pilot Auction Facility20

: o PAF é um mecanismo desenvolvido

pelo Banco Mundial que usa leilões para atrair investimentos do setor privado

19

UNFCCC, List of Attestations of Voluntary Cancellations, accessed April 30, 2014,

http://cdm.unfccc.int/Registry/vc_attest/index.html 20

http://www.pilotauctionfacility.org/content/auctions

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para projetos que reduzam as emissões de GEE, especificamente metano,

aproveitando a infraestrutura já em vigor do Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo (MDL). O PAF é apoiado pela Alemanha, Suécia, Suíça e Estados

Unidos;

Atividades de compra de RCE: medida vigente (exemplo,

chamada NEFCO Nordic Environment Finance Corporation, Norwegian

Carbon Procurement21

);

Mecanismo mais amplo e flexível: ampliação da incidência

regional dos projetos e fexibilização dos procedimentos adotados em Quioto

(CARBON MARKET WATCH, 2015).

Ainda na linha de iniciativas visando sustentar projetos de redução de emissão de

GEE, para o caso dos aterros sanitários no Brasil, não se pode deixar de mencionar a chamada

nº 014/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), no intuito de fomentar

projetos de geração de energia elétrica por meio do biogás, de título: “Arranjos técnicos e

comerciais para inserção da geração de energia elétrica a partir de biogás oriundo de resíduos

e efluentes líquidos na matriz energética brasileira”.

Na COP 20 que ocorreu no início de dezembro 2014 em Lima, Peru, foi elaborado

um documento chamado “Lima para a Ação Climática”, no intuito de organizar e definir

como seriam feitas as negociações até a COP 21.

Uma importante decisão em Lima foi o esclarecimento em relação aos “países

desenvolvidos e em desenvolvimento” (UNFCCC, 2014), pois todas as partes foram

obrigadas a manifestarem suas “Intenções de Contribuição Nacionalmente Determinadas” (do

inglês Intended Nationally Determined Contributions - INDCs) para reduzir gases de efeito

estufa. De acordo com Sirkis (2016):

“[...] a decisão amadurecida anteriormente de que o conjunto de

países apresentasse suas metas voluntárias, os INDC até dois meses

antes da Conferência e que essas metas de mitigação não fossem

discutidas na dita cuja. Isso fez com que pomo da discórdia maior de

todas as COP virasse um não-assunto, em Paris” (SIRKIS, 2016

p.2).

21

A chamada NEFCO é pertinente à pesquisa, dado que foi a alternativa encontrada por um dos aterros estudados

para a venda das RCE.

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39

Essa medida enfatizou a necessidade de criar um quadro que permitiu maximizar

o nível de participação das Partes, o que foi significativo para os efetivos resultados obtidos

na COP de Paris, em dezembro de 2015.

Até o momento (janeiro de 2016), 160 países apresentaram suas INDCs22

. O

Acordo de Paris propõe que, a partir de 2023, as INDCs sejam revistas e ajustadas com a

periodicidade de 5 anos, calibrando-se assim as atividades e as metas de redução pretendidas

pelas Partes.

As pretensões do Brasil já foram apresentadas: reduzir as emissões, em termos

absolutos: até 2025 em 37% e até 2030 em 45%, comparados com o ano de 2005 (BRASIL,

2015).

Não há menção explícita23

na INDC brasileira de ações específicas para redução

de emissão no setor de resíduos. No entanto, durante a cobertura da COP 21 pelo Ministério

do Meio Ambiente, no portal online do MMA há uma matéria de título “Brasil debate gestão

de resíduos na COP 21” 24

, apontando os acordos setoriais, previsto na PNRS, como uma das

medidas para reduzir emissões e garantir a destinação ambientalmente adequada dos resíduos.

Projetos de redução de emissão de GEE em aterros sanitários não são citados.

O relatório que sintetiza as INDCs submetidas pelas partes aponta que mais da

metade dos documentos comunicados indicam que as Partes planejam utilizar-se de

instrumentos de mercado (créditos de carbono) a partir de esquemas internacionais, regionais

ou nacionais, tais como o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), para atingir parte de

suas metas de redução de emissão (KOSSOY et al., 2015; UNFCCC, 2015).

Não há menção clara de como será o formato do mecanismo a substituir e/ou

avançar no MDL. Sirkis (2016) interpreta que o trecho mais próximo do Acordo de Paris que

aborda essa questão é verificado no Art. 6 com destaque para os seguintes pontos:

“[...] some Parties choose to pursue voluntary cooperation in the

implementation of their nationally determined contributions to allow

for higher ambition in their mitigation and adaptation actions and to

promote sustainable development and environmental integrity”;

“The use of internationally transferred mitigation outcomes to

achieve nationally determined contributions under this Agreement

22

As Intenções de Contribuição Nacionalmente Determinadas estão disponíveis na plataforma online da

UNFCCC: http://www4.unfccc.int/submissions/INDC/. 23

Estariam as potencialidades de redução de emissão de GEE por meio do uso do biogás subentendidas na ênfase

dada às energias limpas? 24

Matéria disponível em: http://www.mma.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-

informma?view=blog&id=1358 Acesso em: jan. 2016.

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40

shall be voluntary and authorized by participating Parties”

(UNFCCC, 2015 p. 24 grifos próprios).

Ou seja, com uma abordagem de cooperação voluntária e que se utilize de

resultados de mitigação transferidos internacionalmente, vislumbra-se a nova “roupagem” do

mecanismo de mercado que visa contribuir para a mitigação de GEE bem como para o

desenvolvimento sustentável local (SIRKIS, 2016 p. 13).

Algumas das Partes destacaram ainda a necessidade de princípios e / ou regras que

regulem a utilização de tais mecanismos, objetivando evitar a dupla contagem das emissões,

garantindo a credibilidade dos créditos de carbono gerados e promovendo cobenefícios

ambientais e sociais locais (ICCG, 2015). No Acordo de Paris não fica claro como isso se

materializará, ficando para a próxima reunião (COP a ser realizada em 2016) a consolidação

desse possível instrumento. Segundo Sirkis (2016) a COP 21 pode ser considerada como

“bem sucedida”, muito mais pela perspectiva política do que pelas decisões que foram

adotadas nesse encontro. Nas palavras do autor:

“A COP 21 obteve sucesso não por ter tomado um conjunto de

decisões transcendentais - pode se dizer até que, na prática, ficou

aquém da missão a ela atribuída na COP 17 em Durban- mas pelo

seu tônus político: foi a primeira vez numa COP em que

praticamente todos os países apresentarem e se comprometerem

politicamente com algum meta de redução de gases-estufa, absoluta

ou relativa, os respectivos INDC apresentados.” (SIRKIS, 2016 p.

3).

Se por um lado, a aprovação do Acordo de Paris25

continua a considerar os

créditos de carbono como uma opção para auxiliar no cumprimento das metas das Partes, por

outro, requerem-se ajustes críticos do sistema atual, especialmente no que tange à geração de

benefícios locais (ICCG, 2015).

Por fim, o Acordo firmado em Paris, aponta desdobramentos positivos a serem

destacados, tais como o Fundo de 100 bilhões de dólares a ser destinado à minimização dos

impactos vigentes em decorrência das mudanças climáticas e as próprias 160 INDCs

submetidas e a serem revisadas e ajustadas a cada 5 anos a partir de 2023.

No entanto, ainda é grande a lacuna entre o conteúdo do Acordo e o que realmente

é necessário para que a temperatura global não se eleve mais do que 1,50C. Em outras

palavras, o Acordo de Paris carece de precisão tanto em termos de ações quanto em termos de

25

O Acordo de Paris encontra-se no processo de ratificação pelas Partes, a ser iniciado em abril de 2016. O

documento pasará a vigorar tão logo for ratificado por, pelo menos, 55 países representativos de 55% das

emissões globais.

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41

prazos e mecanismos para que se cumpram as metas apontadas pelas Partes. O que deixa

muitas expectativas e incertezas para as futuras negociações no âmbito das mudanças

climáticas, em termos políticos, econômicos, sociais e ambientais.

1.2 Mercados Voluntários

Paralelamente ao mercado regulado, emergem os denominados Mercados

Voluntários de Carbono (MVC), (ou Non Kyoto Compliance), como iniciativa voluntária de

governo, empresas, ONGs e instituições que não necessariamente possuem metas de redução

de emissão de GEE.

Os participantes do MVC objetivam, em sua maior parte, a compensação de suas

emissões de GEE por meio das transações de reduções voluntárias/ verificadas de emissões

(Verified Emissions Reductions ou Voluntary Emission Reduction – VERs). Assim como o

RCE para o MDL, cada VER corresponde a 1 (uma) tonelada de CO2e, ou 1 (um) crédito de

carbono (HAMILTON, 2013).

O mercado voluntário, além de auxiliar no desenvolvimento de novas tecnologias e

dar suporte a novas metodologias e tipos de projetos, também apoia o fortalecimento de

mercados locais e regionais.

Dessa forma, constitui-se como um mecanismo importante para a expansão do

mercado de carbono, tendo se mostrado uma tendência para o período pós-2012 (HAMILTON

et al., 2012; HAMRICK e GOLDSTEIN, 2015; KOSSOY et al., 2015; WORLD BANK,

2015).

Os padrões do MVC originaram-se com o objetivo de atestar qualidade e

transparência aos VER, comprovando aos compradores que estes créditos atendem a padrões

mínimos que evidenciam a solidez das ações de redução de emissão, e atestam sua eficiência

do ponto de vista social e ambiental. Em sua maioria, os padrões exigem auditoria de terceira

parte. Geralmente, são as mesmas entidades que validam e verificam os projetos no âmbito do

MDL, porém, outras entidades, que não necessariamente estejam credenciadas para certificar

projetos no MDL, podem exercer esta atividade no MVC.

Os standards ou padrões para avaliação de resultados do projetos do mercado de

carbono podem ser classificados, conforme Quadro 2, em: padrões de contabilidade de

carbono, ou carbon offset standards, que possuem critérios específicos para redução das

emissões, como adicionalidade e metodologias de linha de base; co-benefit standards,

também chamados de complementares ou add-on standards, que agregam maior valor ao

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crédito de carbono emitido, uma vez que objetivam mensurar e avaliar especificamente a

promoção de cobenefícios a partir da implantação dos projetos de redução de emissão de

GEE; standards completos, avaliam tanto a redução de emissão quanto a promoção de

cobenefícios.

Quadro 2: Padrões de Avaliação

Categoria Descrição Standard

(exemplo) Carbon

offset

Standards

Visam à contabilidade de carbono VCS Verified

Carbon Standard

Add-on

Standards

Visam agregar valor ao crédito de carbono, por

evidenciar os cobenefícios sociais e ambientais

dos projetos, geralmente utilizando indicadores

para desempenhar esta finalidade

SOCIALCARBON

Standard

Standards

completos

Visam à contabilidade de carbono e avaliação de

cobenefícios Gold Standard

Fonte: elaboração própria.

Ao longo dos últimos anos, a comercialização dos offsets foram superiores aos da

RCE (PETERS-STANLEY; GONZALEZ, 2014; WORLD BANK, 2014; HAMRICK e

GOLDSTEIN, 2015) constata-se um declínio das RCE tanto em tamanho de mercado quanto

de preço médio. Ainda assim, desde 2011, observa-se uma queda também nos preços no

mercado voluntário.

Ao mesmo tempo em que a avaliação de cobenefícios sociais e ambientais está

entre os aspectos mais valorizados pelos compradores de créditos no MVC, ainda é

preponderante a comercialização de créditos de carbono de projetos que não possuem

nenhuma abordagem específica relacionada aos benefícios sociais e ambientais, sendo que os

projetos que aplicam unicamente Carbon offset Standards (sobretudo, o VCS standard)

possuem cerca de 50% da parcela do mercado (PETERS-STANLEY; GONZALEZ, 2014;

HAMRICK e GOLDSTEIN, 2015).

O futuro do MVC é incerto, e, até o momento, é largamente reconhecido o

importante papel que os standards tiveram no reconhecimento e aferição dos cobenefícios

sociais e ambientais dos projetos de redução de emissão de GEE. Iniciativas regionais, como

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da Califórnia, Regional Greenhouse Gas Initiative (RGGI) entre outros, estão utilizando

metodologias do MVC. As iniciativas regionais são apresentadas no próximo tópico26

.

Iniciativas Regionais

Ao longo dos últimos anos, iniciativas regionais de redução de emissões de gases

de efeito estufa ganharam destaque, o que inclui a criação de políticas nacionais de redução de

GEE e o surgimento de mercados regionais de créditos de carbono (KOSSOY et al., 2013;

KOSSOY et al., 2015; WORLD BANK, 2015). Essas iniciativas, de regulação “Cap-and-

Trade” estabelecem um limite rígido de emissões em um determinado período de

cumprimento. Uma permissão (allowance) é equivalente a uma tonelada métrica de GEE.

Kossoy et al. (2013; 2015) identificaram cerca de 40 países e 20 jurisdições

subnacionais que já possuem ou estão avaliando mecanismos de precificação do carbono27

. Os

autores destacam ainda a necessidade de flexibilidade dessas iniciativas, bem como que sua

implantação seja gradual, se amoldando às prioridades nacionais/ locais.

Das iniciativas regionais, podemos destacar aquelas praticadas nos Estados

Unidos, país notoriamente reconhecido pela não ratificação do Protocolo de Quioto, tais

como: Regional Greenhouse Gas Initiative – RGGI; a Western Climate Initiative – WCI; e o

sistema cap-and-trade da California.

Kossoy destaca também as iniciativas regionais da Austrália (Carbon Price

Mechanism CPM) e Japão (sistema cap- and- trade de Tóquio) (KOSSOY et al., 2013;

KOSSOY et al., 2015). Outra iniciativa são os projetos piloto das cidades chinesas Xangai e

Pequim, conectando-se ao mercado de Shenzhen. Na primeira fase piloto (2014 e 2015) 24,7

milhões de licenças foram negociadas. Através desse projeto-piloto que está sendo bem-

sucedido, a China pretende lançar seu esquema nacional de comercialização de licenças em

2016. O mecanismo será um dos meios para que o país consiga, por volta de 2030, atingir

suas metas de redução de emissões. Além do comércio nacional, a China também ter

possibilidades de explorar as cooperações com outras regiões (KOSSOY et al., 2015).

Nesse sentido, observa-se a importância de conexão entre os esquemas de

comércio de emissões nacionalmente, mas também globalmente, visando o ganho de

eficiência em termos de redução de emissão e para evitar-se fraude e dupla contagem de

créditos. Diversos acordos já estão evoluindo nesse sentido, tais como: conexão dos

26

De acordo com VCS Project Database (2012), o VCS é o standard com maior número de projetos com tCO2e

emitidas no âmbito do RGGI. 27

Do inglês: carbon pricing mechanisms

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44

mecanismos UE-Austrália, UE-Suíça e Califórnia-Quebec (KOSSOY et al., 2013; KOSSOY

et al., 2015; WORLD BANK, 2015).

Há também iniciativas regionais objetivando a promoção de mercados voluntários

de carbono, tais como:

Os programas governamentais asiáticos na Coréia e Japão; os

norte-americanos, Oregon’s Climate Trust e Climate Action Reserve

(Califórnia);

O australiano Australia National Carbon Offset Standard; e

Os europeus Netherlands’ Bosklimaatfonds, e o programa

CARBOMARK, que envolve duas regiões no nordeste da Itália – Veneto e

Friuli-Veneza Giulia – visando à promoção do mercado voluntário de carbono

e fortalecimento das políticas da União Europeia em relação às mudanças

climáticas (PETERS-STANLEY, 2012; CANU et al, 2015).

No Brasil, algumas iniciativas corroboram para o desenvolvimento destes

mercados de carbono, com destaque para a Política Nacional de Mudanças Climáticas

(PNMC), Lei nº 12.187/09, e as leis estaduais: Lei nº 13.798/09 que estabelece a Política

Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), no caso de São Paulo, e a Lei 5.690 de 14 de abril

de 2010 que estabelece a Política Estadual sobre Mudança Global do Clima e

Desenvolvimento Sustentável, no caso do Rio de Janeiro.

A PNMC foi aprovada em 29 de dezembro de 2009, e em seu Artigo 12

estabelece o compromisso nacional voluntário de redução de emissão de 36,1% a 38,9% das

emissões projetadas até 2020.

A PEMC do Estado de São Paulo, no artigo 32 institui a meta de redução global

de 20% das emissões de CO2, relativas a 2005, em 2020. E a Lei do Estado do Rio de Janeiro

aponta diretrizes gerais para que se incorporem estratégias, medidas e ações que favoreçam a

economia de baixo carbono.

Ainda que os mercados voluntários de carbono no Brasil estejam em um estágio

embrionário, o país ocupa a segunda posição em relação ao fornecimento de offsets: 1º

Estados Unidos (136 MtCO2e ), 2º Brasil (39,5 MtCO2e ), e 3º Turquia (31,7 MtCO2e)

(KOSSOY et al, 2015).

Outro dado interessante é que embora os compradores de offsets gerados nos

países emergentes/ em desenvolvimento estejam nos países desenvolvidos, as empresas

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45

localizadas em economias emergentes como o Brasil e a África do Sul estão cada vez mais

optando por adquirir compensações de projetos domésticos (KOSSOY et al, 2015).

A expectativa é de que o mercado de carbono seja cada vez mais regionalizado e

fragmentado (PETERS-STANLEY; GONZALEZ, 2014) e o MVC possuiu uma função

fundamental ao mostrar alternativas menos engessadas e mais adaptadas às características de

cada local.

1.3 Projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em Aterros Sanitários:

geração de cobenefícios e participação de grupos de interesse

As seções seguintes abordarão, na esfera do mercado regulado de carbono ligado

ao MDL, os projetos de redução de emissão de GEE com foco no escopo setorial de resíduos

sólidos, especificamente, nos projetos desenvolvidos em aterros sanitários. Para que um

projeto do mercado de carbono resulte em créditos de carbono (RCE e/ou RVE), cumprem-se

as seguintes etapas de desenvolvimento do projeto (Quadro 3).

Quadro 3: Etapas de desenvolvimento do projeto de MDL e de MVC

Etapas de desenvolvimento do

projeto de MDL

Etapas de desenvolvimento do projeto de

MVC

1.Estudo de viabilidade do projeto

2. Elaboração do Documento de

Concepção de Projeto (DCP)

3.Validação por uma Entidade

Operacional Designada (EOD)

4.Aprovação pela Autoridade Nacional

Designada (AND)

5.Submissão ao Conselho Executivo do

MDL para registro do projeto

6.Monitoramento da redução de

emissão de GEE

7.Verificação do(s) relatório(s) de

monitoramento por uma EOD

8.Emissão das RCE pelo Conselho

Executivo do MDL

1.Estudo de viabilidade do projeto

2.Elaboração do Documento de Concepção

de Projeto (DCP)

3.Validação por uma Entidade Operacional

Designada (EOD)

4.Monitoramento da redução de emissão de

GEE

5.Verificação do(s) relatório(s) de

monitoramento por uma EOD

6. Certificação/ registro pelo Standard ou

plataforma designada pelo Standard

7.Emissão das RVE

Fonte: Cruz (2012).

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46

Destaca-se que está presente na concepção do MDL a consideração de problemas

globais ligados à mudança climática aliada à promoção do desenvolvimento no âmbito local

(BRASIL, 1997).

Assim, além do objetivo de auxiliar os países do Anexo I a cumprirem suas metas

de redução de emissão de GEE, o artigo 12 do Protocolo de Quioto estabelece que os projetos

de MDL também devem auxiliar na promoção do desenvolvimento sustentável nos países

hospedeiros das atividades de projeto.

Levando-se em conta o duplo objetivo para o MDL, proposto pelo Protocolo de

Quioto, serão analisadas as avaliações: da redução de emissão de GEE e da promoção de

cobenefícios locais.

1.3.1 Avaliação da Redução de Emissão de GEE

Nos DCPs são aplicadas as metodologias de redução de emissão de GEE da

UNFCCC, que se dividem em grande e pequena escala, dependendo da quantidade de tCO2e

gerada pelo projeto: até 60.000 tCO2e/ano aplicam-se as metodologias de pequena escala e

projetos que gerem reduções superiores a este valor, aplicam-se as metodologias de grande

escala. De acordo com Anexo A do Protocolo de Quioto (UNFCCC, 1998) são apontados

cinco escopos setoriais para o desenvolvimento de projetos de MDL: energia, processos

industriais, utilização de solventes e outros produtos, agricultura e, por fim, resíduos,

categoria em que se enquadram os projetos em aterros sanitários.

O Brasil possui 339 projetos registrados em diversos escopos setoriais sendo: 48

de biomassa; 1 uso de CO2 (reciclagem de CO2); 3 geração própria de energia elétrica; 1

energia distribuída; 6 troca de combustível (óleo para gás natural); 3 Mitigação de Emissões

de Metano na produção de carvão; 94 usinas hidrelétrica; 51 aterro sanitário; 65 metano

evitado; 5 N2O; 2 PFC e SF6; 3 reflorestamento;1 solar; 56 eólica (UNEPRisoe, janeiro de

2016). Os projetos em aterros correspondem a 15% do total em número de projetos e quando

se trata do potencial de reduzir emissões de CO2 passam a ser ainda mais expressivos, com

quase 40% do total de CER gerados dos projetos brasileiros (UNEPRisoe, janeiro de 2016).

No Brasil, a metodologia mais utilizada para projetos em aterros é a ACM0001

Flaring or use of landfill gas, de grande escala (Quadro 4). Desde a sua concepção, em

setembro de 2004, a metodologia ACM0001 passou por modificações e atualmente encontra-

se em sua 15ª versão (UNFCCC, 2013).

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47

Quadro 4: Descrição geral da ACM0001

Metodologia ACM 0001 flaring or use of landfill gas Categoria Grande escala: mais de 60.000 tco2e/ano

Tipo de ação de

mitigação das

Emissões de GEE

Destruição dos GEE (destruição de emissões de metano)

Condições de

aplicação da

metodologia

Gás de aterro capturado: queimado, e/ou; usado para produzir

energia, e/ou; usado para atender consumidores através da rede

de distribuição de gás natural

Principais parâmetros

Quantidade de biogás capturado; fração de metano no biogás;

caso o projeto contemple a geração de energia, monitorar a

geração de eletricidade

Cenário da linha de

base

O biogás do aterro é liberado diretamente na

Atmosfera

Cenário de projeto

O biogás do aterro é: capturado e queimado; e/ou utilizado para

produzir energia (elétrica/ térmica); e/ou canalizado através da

rede de distribuição de gás natural

Fonte: baseado em UNFCCC (2013).

Para cada metodologia a UNFCCC disponibiliza também uma ferramenta (tool)

que descreve os procedimentos e parâmetros contemplados para os cálculos. No caso da

ACM0001, utiliza-se a Methodological tool: Emissions from solid waste disposal sites. A

redução de emissão é estimada ex-ante, utilizando-se modelos de geração de metano, e

monitorada ao longo do desenvolvimento dos projetos. Há diversos modelos, dentre os quais

se destacam os de ordem zero, de primeira ordem, multifásicos e de segunda ordem (Quadro

5).

Quadro 5: Descrição dos modelos de geração de metano

Modelo Descrição

Ordem zero

Considera que a formação do biogás de aterro, a partir de uma

determinada quantidade de resíduos, torna-se constante ao longo do

tempo

Primeira

ordem

Inclui também a influencia da idade do resíduo sobre a geração de

metano. Considera que a formação do biogás de aterro, a partir de uma

determinada quantidade de resíduos, diminua exponencialmente ao

longo do tempo (ex: LandGEM da EPA)

Multifásicos Combina diversos modelos de primeira ordem para determinar a geração

de metano a partir de distintas frações de rejeitos Segunda

ordem

Inclui também aspectos químicos e microbiológicos para a previsão de

emissões de metano

Fonte: baseado em Abrelpe (2013)

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48

Em suma, para os modelos de geração de metano são fatores importantes: dados

relativos à composição e quantidade de resíduo, ao clima (média anual de temperatura e

precipitação), entre outros.

A literatura e os próprios documentos de concepção dos projetos (DCP) quando

comparados aos relatórios de monitoramento (RM) mostram que há discrepâncias entre os

valores estimados pelos modelos e os dados reais.

Segundo Castro e Michaelowa (2008) a lacuna entre as reduções de emissões

estimadas e geradas para projetos em aterros alcança uma média de 30%. Estas discrepâncias

podem ser relativas aos modelos utilizados, uma vez que é difícil prever com convicção as

reações cinéticas que ocorrem em um aterro (SANTOS et al., 2015). No entanto, como o

próprio nome já expõe, ‘modelos de previsão’ servem para descrever e prever um dado

fenômeno do mundo real. Logo, não há como um modelo ser 100% exato, sobretudo, nos

casos analisados, em que a falta de disponibilidade de dados empíricos locais, que são

importantes para os cálculos de geração de metano, acaba por aumentar a imprecisão do

modelo aplicado.

Nesse sentido, destaca-se a importância do desenvolvimento de inventários de

resíduos sólidos, envolvendo dados operacionais e de caracterização dos resíduos. Os dados

operacionais são de grande dimensão e devem conter informações básicas sobre aspectos que

influem na produção de biogás, como os dados de manejo do aterro sanitário com relação ao

tempo de cobertura dos resíduos, tipo de solo e grau de compactação.

Os dados de caracterização, por sua vez, descrevem a tipologia e a quantidade dos

resíduos gerados localmente, definindo a quantidade de resíduos orgânicos produzidos e

permitindo uma estimativa mais realista da quantidade biogás a ser gerado (SOUZA et al,

2015). O fornecimento desses dados, pode também fomentar outras ações relativas à gestão de

resíduos sólidos urbanos (GRSU), melhorando a taxas de reciclagem e as taxas de utilização

de resíduos orgânicos (KORONEOS et al., 2012; KURNIAWAN et al., 2013).

Os dados de caracterização podem ainda influenciar o desenvolvimento de

projetos de redução de GEE que levem em conta as outras etapas da GRSU (LEE; VAN DE

MEENE, 2013; PUPPIM DE OLIVEIRA, 2013, SOUZA et al, 2015), uma vez que as

iniciativas de MDL concretizadas no setor de RSU estão restritas aos projetos de grande

escala e na etapa de disposição final de resíduos (aterros).

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49

Nesse contexto, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) brasileira

estabeleceu a obrigatoriedade de elaboração do plano de gestão dos resíduos sólidos

municipais, que inclui a realização do inventário municipal de resíduos sólidos, exigência

para acesso aos recursos da União.

O prazo para a elaboração do plano pelas prefeituras finalizou em 04 de agosto de

2012 e boa parte dos municípios ainda não possui tal documento. A pesquisa da Confederação

Nacional de Municípios – CNM aponta que até maio de 2015, 43,8% dos municípios

brasileiros ainda estavam elaborando os planos.

De acordo com os municípios que participaram dessa pesquisa, as principais

dificuldades enfrentadas para a elaboração do Plano são: falta de quadro técnico; falta de

recursos; dificuldades relacionadas à participação da comunidade; e dificuldades na relação/

convênio com órgãos de saneamento (CNM, 2015).

Por meio dos projetos de redução de GEE no escopo setorial de resíduos, a

captação de biogás e a implantação de sistema de geração de energia elétrica em aterros

sanitários podem ser viabilizadas economicamente pela venda dos créditos de carbono

(KURNIAWAN et al., 2013).

Dos 339 registros de projetos de MDL no Brasil, 51 são atividades desenvolvidas

em aterros sanitários. Os projetos em aterros sanitários concentram-se na região sudeste do

país, sobretudo, no Estado de São Paulo, com 23 projetos (Quadro 6, UNEP Risoe, Janeiro de

2016; VCS registry database).

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50

Quadro 6: Projetos dos mercados de carbono em aterros sanitários no Brasil – Janeiro

de 2016

Nome do Projeto Localização Nome do Projeto Localização

Nova Gerar landfill

gás Rio de Janeiro Terrestre Ambiental landfill gás São Paulo

Salvador, Bahia -

landfill gás Bahia CTRVV landfill gás Espírito Santo

Onyx landfill gas -

Tremembé, Brazil São Paulo Alto-Tietê landfill gás São Paulo

MARCA landfill gás Espírito Santo Feira de Santana landfill gás Bahia

Bandeirantes landfill

gás São Paulo Proactiva Tijuquinhas landfill gás

Santa

Catarina ESTRE Paulínia

landfill gás São Paulo Central-CTRS/BR.040 landfill gas Minas Gerais

Caieiras landfill gás São Paulo SANTECH – Saneamento & Tecnologia

Ambiental Ltda. – SANTEC landfill gás

Santa

Catarina

Lara landfill São Paulo Organoeste Dourados & Andradina

Mato Grosso

do Sul e São

Paulo

São João landfill gás São Paulo Manaus landfill gás Amazonas

Anaconda Project São Paulo Itaoca landfill gás Rio de

Janeiro Central de Resíduos

do Recreio - landfill

gás Project

Rio Grande do Sul CTR Candeias landfill gás Pernambuco

Canabrava landfill gás Bahia Central de Tratamento de Resíduos Leste

(CTL) landfill gás São Paulo

Aurá landfill gás Pará Uberlândia landfills I and II Minas Gerais

ESTRE Itapevi landfill

gás São Paulo CGR Guatapara Landfill Project São Paulo

Quitaúna landfill gás São Paulo Natal Landfill Gas to Energy Project Rio Grande

do Norte Estre Pedreira landfill

gás São Paulo

Projeto de Gás de Aterro TECIPAR –

PROGAT São Paulo

URBAM/ARAUNA

landfill gás São Paulo

ENGEP & BEGREEN CDM Project at

UTGR – Jambeiro Landfill São Paulo

Embralixo/Araúna -

Bragança landfill gás São Paulo Barueri Energy CDM Project Activity São Paulo

Probiogas - João

Pessoa landfill gás Paraíba Constroeste Landfill Gas to Energy Project São Paulo

Gramacho Landfill

Gas Project Rio de Janeiro

Proactiva CGA Iperó Landfill Gas to

Energy Project São Paulo

ITVR Sao Leopoldo

landfill gas Project Rio Grande do Sul ESTRE Piratininga Landfill Gas Project São Paulo

CTR Rosario Landfill

Gas Project Maranhão CGR Catanduva Landfill Gas Project São Paulo

CTDR Bob Ambiental

landfill gas Project Rio de Janeiro CTR Maceio Landfill Gas Project Alagoas

CPTR Marituba

landfill gas project Pará Rio Grande landfill gas Project

Rio Grande

do Sul CTR da Caturrita

landfill gas Project Rio Grande do Sul Macaúbas Landfill Gas Project Minas Gerais

Fonte: Cruz (2012) baseado em UnepRisoe CDMPipeline (Janeiro, 2016) e VCS registry database.

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51

O modelo de gestão brasileiro foi construído culturalmente ao longo dos anos com

base na solução mais econômica para os resíduos quando comparado a outros processos. Os

baixos investimentos na área, a falta de incentivos e um elevado nível de complexidade

institucional e de descentralização acabam por dificultar o acesso aos recursos financeiros em

quantidade necessária (CETESB, 2010).

De todos os resíduos sólidos domiciliares gerados no Brasil, aproximadamente

60% são resíduos orgânicos (WORLD BANK, 2012) e desta quantidade gerada, por volta de

apenas 0,6% são encaminhados para unidades de compostagem (IBGE, 2010). Assim, o

cenário indica que os aterros sanitários se tornam uma importante fonte em potencial para: a

promoção de melhores práticas na GRSU; a promoção do desenvolvimento sustentável local;

a produção de energia através do aproveitamento do biogás (metano) e; consequentemente,

para mitigação das mudanças climáticas, por meio da redução de emissão de GEE (IBGE,

2010; NARUC, 2012; WORLD BANK, 2012).

1.3.2 Avaliação da Promoção de Cobenefícios Locais

A UNFCCC aponta algumas diretrizes gerais, na tentativa de definir o que seriam

os cobenefícios locais, tais como apontadas no relatório benefits of the clean development

mechanism (2012b), embasando-se nas dimensões de sustentabilidade adotadas no relatório

Brundtland, reiterada na conferência Rio+20: desenvolvimento econômico, desenvolvimento

social e proteção ambiental (UNFCCC, 2011; UNFCCC, 2012)28

. No entanto, não define

claramente o significado de desenvolvimento sustentável para o contexto dos projetos de

MDL.

Deste modo, podem ser verificados questionamentos à efetividade do objetivo de

promoção do desenvolvimento sustentável local a partir da implantação dos projetos de MDL

(SUTTER; PARREÑO, 2007; BUMPUS; COLE, 2010; OLSEN; FENHANN, 2008; BOYD

et al., 2009; NUSSBAUMER, 2009; DRUPP, 2011; SIEBEL et al., 2013), uma vez que,

inversamente às reduções de emissão, que são monitoradas e verificadas periodicamente pelas

entidades certificadoras, os aspectos relacionados à promoção do desenvolvimento sustentável

local necessitam de aspectos regulatórios que definam os procedimentos para monitorar e

avaliar os resultados dos projetos.

28

“sustainable development comprises three mutually reinforcing dimensions, namely economic development,

social development, and environmental protection” (UNFCCC, 2012b, p.13).

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52

Embora a UNFCCC não estabeleça uma definição nem padrões de mensuração de

cobenefícios social e ambiental local, deixa claro que é responsabilidade de cada país o

estabelecimento de seus critérios de avaliação da contribuição de um projeto de MDL para o

desenvolvimento sustentável (UNFCCC, 2012a).

Ou seja, cabe às Autoridades Nacionais Designadas (AND) a aprovação do

projeto, após a análise com base nas regras e normas do Conselho Executivo do MDL,

considerando os cobenefícios locais do projeto.

No Brasil, os aspectos relacionados aos cobenefícios são descritos no Anexo III da

Resolução nº 1 da Comissão Interministerial de Mudanças Globais do Clima (CIMGC29

), que

são: contribuição para a sustentabilidade ambiental; desenvolvimento de condições de

trabalho e geração líquida de emprego; contribuição para a distribuição de renda; para a

capacitação e desenvolvimento tecnológico; e para a integração regional e articulação com

outros setores (BRASIL, 2003).

Embora as descrições relacionadas ao desenvolvimento sustentável local que o

projeto do MDL deve promover estejam apresentadas conforme o Anexo III, esses aspectos

ainda não são muito significativos nos projetos brasileiros (AMERICANO, 2008; COLE;

LIVERMAN, 2011), ou seja, a Carta de Aprovação (letter of approval - LoA) é emitida pela

AND baseada somente nas “promessas” de contribuições para o desenvolvimento sustentável

apontadas nos documentos dos projetos elaborados com base nos aspetos do Anexo III.

Ainda que sejam necessárias e genuínas as críticas acerca da avaliação de

cobenefícios a partir dos projetos de redução de emissão de GEE, devem ser ressaltados os

esforços visando minimizar essas lacunas, tais como os estudos de: Cruz et al. (2014); Cruz e

Paulino (2015); Olsen e Fenhann (2008), Nussbaumer (2009), Rindefjäll et al, 2011, Subbarao

e Lloyd (2011), e os próprios estudos da UNFCCC (2011; 2012a; 2012b; 2014a; 2014b;

2015) buscando formas de avaliar como os projetos podem contribuir para o desenvolvimento

sustentável local.

Analisando os trabalhos anteriormente citados e considerando as dimensões de

sustentabilidade no âmbito dos projetos de redução de emissão de GEE, em geral, temos:

29

A Comissão Interministerial sobre Mudança Global do Clima (CIMGC): é um colegiado composto por 11

ministérios, presidido pelo ministro da Ciência e Tecnologia e vice presidido pelo ministro do Meio Ambiente.

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53

Quadro 7: dimensões de sustentabilidade no âmbito dos projetos de redução de emissão

de GEE

Dimensão de

sustentabilidade

Menções mais recorrentes para projetos de redução de

emissão de GEE

Econômica Transferência de tecnologia, geração de empregos, eficiência

energética

Social Redução da pobreza, benefícios à saúde por meio da redução

da poluição, e desenvolvimento local

Ambiental Redução da poluição do solo, água e ar, prevenção da

degradação ambiental, e manutenção da flora e fauna

Fonte: baseado em Olsen e Fenhann (2008), Nussbaumer (2009), Rindefjäll et al. (2011),

Subbarao e Lloyd (2011); UNFCCC (2011; 2012a; 2012b; 2014a; 2014b; 2015).

Também, destaca-se a contribuição recente da UNFCCC (2014) para enfrentar

lacunas do mercado global de carbono, a denominada “ferramenta voluntária de avaliação do

desenvolvimento sustentável” para projetos de MDL (ARENS et al., 2014; OLSEN et al.,

2015).

A metodologia utilizada para a construção dessa ferramenta consiste: na revisão

da literatura de práticas da AND para aprovação do desenvolvimento sustentável dos projetos

de MDL: no levantamento de projetos, experiências e necessidades de cada localidade que

possui projetos, visando avaliar como a ferramenta de desenvolvimento sustentável (DS) pode

auxiliar as ANDs, e proponentes do projeto e compradores ao considerarem o

desenvolvimento sustentável (representado pelos cobenefícios locais) no processo de

aprovação dos projetos (UNFCCC, 201530

).

Ao preencher o questionário online, no site da UNFCCC, os participantes do

MDL declaram os cobenefícios e impactos decorrentes dos projetos, a partir de (doze)

critérios gerais: ar, água, terra, recursos naturais, emprego, saúde e segurança, educação, bem-

estar, energia, tecnologia. A declaração é realizada em 5 etapas (Quadro 8).

30

Na 82ª reunião do Conselho Executivo do MDL (UNFCCC, 2015) foi discutida novas oportunidades

considerando a possibilidade de usar a ferramenta de desenvolvimento sustentável como base para o

monitoramento, validação e verificação dos cobenefícios, de maneira padronizada, apoiando as atividades das

AND.

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54

Quadro 8: Etapas para declaração de desenvolvimento sustentável – UNFCCC CDM

Sustainable Development Tool

Etapa Descrição 1. Introdução Seleção do idioma, nome e tipo da atividade de MDL

2. Desenvolvimento

sustentável

(cobenefícios)

Declaração do nível de

sustentabilidade de acordo

com os 12 critérios

estabelecidos para as

dimensões ambiental, social e

econômica

12 critérios

Ambiental: ar, terra, água e recursos

naturais;

Social: emprego, saúde e segurança,

educação e bem estar;

Econômica: desenvolvimento,

energia, tecnologia e balanço de

pagamento

3. Prevenção “do no

harm”

Declaração do nível de risco

de impacto negativo da

atividade de acordo com os 6

princípios “do no harm”

Princípios “do no harm: direitos

humanos; boas práticas de trabalho;

proteção ambiental; anticorrupção;

direitos fundiários; outras atividades

impactantes relacionadas com o

projeto 4. Engajamento das

partes interessadas

Declaração de como as partes interessadas e/ou afetadas foram

consultadas 5. Apresentação e

informações de

contato

Informações de contato do responsável pelos dados do projeto (serão

disponibilizados no site do MDL/ UNFCCC)

Fonte: baseado em UNFCCC (2014).

Apesar de destacar-se que o uso do instrumento é inteiramente voluntário, a

ferramenta pode ser uma boa iniciativa para nortear os participantes dos projetos na

declaração dos cobenefícios, sobretudo, no que tange à participação da população local, sendo

levada em consideração como um fator essencial, conforme ressalta a etapa 4: “Engajamento

das partes interessadas”.

Considerando o uso dessa ferramenta, ressaltam-se alguns pontos a serem

aprimorados:

– questões generalistas: as questões são muito gerais e não abordam com

profundidade as particularidades de cada projeto. Ao mesmo tempo em que a crítica é válida,

se partirmos na direção de especificar demasiadamente o questionário, será difícil contemplar

projetos desenvolvidos em escopos tão diferenciados. É um trade-off: questões gerais

contemplando (ainda que de modo superficial) a maior parte dos escopos versus questões

muito específicas que não se amoldam aos diferentes contextos dos diversos escopos de

projetos. Uma solução nesse sentido seria a possibilidade de adaptação ou criação de novas

questões de acordo com o tipo de projeto e sua localização.

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55

- Aspectos vagos: o que se apresenta, são aspectos meramente qualitativos,

abrangentes e genéricos. E não faz uso de todo o potencial que uma abordagem integrada e

multicritério oferece.

- avaliação/ monitoramento: a ferramenta não deixa claro se haverá um

monitoramento contínuo da avaliação de sustentabilidade durante todo o desenvolvimento do

projeto.

- definição de “desenvolvimento sustentável”: observa-se que, embora a

ferramenta esteja embasada na definição de “desenvolvimento sustentável31

” proposta no

relatório “Nosso futuro comum” (1987) - relatório Bruntland, falta objetividade do significado

de DS para o contexto abordado. Ressalta-se que o problema da falta de definição do termo

não é exclusivo para o caso dos projetos do mercado de carbono. A hesitação persiste em todo

o campo que aborda a questão ambiental, mas, nem por isso, esse aspecto deve ser

negligenciado ao longo do desenvolvimento dos projetos uma vez que é tão fundamental

quanto à geração de créditos de carbono. E quando o Protocolo de Quioto estabelece os

objetivos do MDL (reduzir emissão de GEE e promover desenvolvimento sustentável local),

não estabelece uma hierarquia entre eles.

Dada a inexistência de uma definição clara de desenvolvimento sustentável em

projetos de MDL pela UNFCCC, Olsen et al. (2015) sugerem que a contribuição do MDL

para o desenvolvimento sustentável pode ser verificada por meio de uma abordagem projeto a

projeto, baseando-se em diversas definições de DS32

.

1.3.3 Participação dos Stakeholders

No Acordo de Marrakesh (Decision 3/CMP.1) stakeholders são definidos como:

“o público, incluindo os indivíduos, os grupos ou as comunidades afetadas, ou com

possibilidade de serem afetados, pela atividade de projeto do mecanismo de desenvolvimento

limpo” (BRASIL, 2003, p. 4).

Assegurar a participação dos grupos de interesse durante processo decisório é um

tema largamente difundido nas discussões sobre mudanças climáticas, que vem sendo

31

“Believing that sustainable development, which implies meeting the needs of the present without compromising

the ability of future generations to meet their own needs” (United Nations, 1987, p. 1) 32

“In the absence of a common definition of sustainable development, the most common approach to answer the

question ‘how does the CDM contribute to SD’ is a project-by-project approach based on various definitions of

SD” (OLSEN et al, 2015 p.11).

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56

abordado em diversas Conferências das Partes33

(COPs), na Declaração do Rio, na Agenda 21

e na Convenção de Aarhus34

. Contudo, garantir a participação da sociedade civil é um

processo complexo (FORONDA et al., 2010; CDM WATCH35

, 2010) dado que abarca

diversas questões peculiares de cada localidade, tais como: falta de informação/ instrução da

população; a possibilidade do sentimento de censura/ constrangimento em emitirem sua

contribuição/ opinião; linguagem (técnica) dos termos e documentos utilizados (CAN, 2011;

KOLMUSS, 2012).

Embora a participação dos stakeholders seja considerada explicitamente pelo

Conselho Executivo do MDL, as diretrizes sobre como deve ser realizada e verificada a

participação da sociedade civil não é determinada pela CQNUMC. Apenas são propostas

menções de atividades que podem levar à informação e consulta às partes interessadas. No

Brasil, novamente, cabe à CIMGC determinar o que será considerado nessa etapa.

Novamente, na resolução Nº1 de 2003 aponta-se que as seguintes entidades

devem ser consideradas no processo de consulta aos stakeholders: Prefeitura de cada

Município envolvido; Câmara dos vereadores de cada Município envolvido; Órgãos

Ambientais Estaduais e Municipais; Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o

Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS); Associações Comunitárias com finalidades

relacionadas direta ou indiretamente com a atividade do projeto; Ministério Público estadual

do estado envolvido e Ministério Público Federal.

A participação dos stakeholders é tratada explicitamente pelo Comitê Executivo

do MDL, para além do envio das cartas convite. Desta forma, ao longo das etapas do ciclo de

desenvolvimento do projeto, é mandatório que exista espaço para os stakeholders se

manifestarem, como ocorre nas audiências públicas e outras reuniões específicas que intentam

a participação da sociedade civil para tratar do tema.

No entanto, o processo ainda é considerado deficitário, tanto em termos de

contemplação dos atores, quanto em termos mensuração dessa participação no decorrer do

ciclo do projeto.

33

Reuniões periódicas (geralmente anuais) dos países signatários do Protocolo de Quioto. 34

Convenção de 1998 para o Acesso à Informação, Participação pública na Tomada de decisão e Acesso à justiça

em Questões Ambientais realizada pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (United Nations

Economic Commission for Europe). 35

O CDM Watch é uma organização criada em 2009 com o intuito de fiscalizar as ações realizadas no âmbito do

MDL visando fortalecer os processos participativos da sociedade civil.

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57

Assim, a Entidade Operacional Designada (EOD), auditoria independente,

responsável pela validação e verificação dos projetos, deve revisar o DCP e outros

documentos pertinentes à validação e verificação do projeto, com o intuito de avaliar, além

das questões técnicas, se as exigências apontadas pelo comitê executivo do MDL, em relação

à participação36

dos stakeholders, estão sendo cumpridas.

O relatório CDM Watch37

(2010) objetiva de modo simples e prático explicar de

que modo funciona o MDL e suas ferramentas, o que inclui o processo de participação. Para

tanto, de acordo com o Quadro 9, explicita-se de que modo deveria ocorre a participação da

sociedade civil em todo o ciclo de desenvolvimento dos projetos de MDL:

Quadro 9: Participação da sociedade civil no desenvolvimento dos projetos de MDL

Etapas de desenvolvimento

do Projeto Processo de Participação

Elaboração do Documento de

Concepção do Projeto (DCP)

A população deve ser consultada pelo desenvolvedor do

projeto, que deverá fornecer uma avaliação dos impactos

ambientais da atividade

Obtenção da aprovação de cada

país envolvido

No país sede, a AND é responsável por aprovar e confirmar a

contribuição do projeto ao desenvolvimento sustentável. E a

população local deve contribuir para essa decisão Validação e período de consulta

pública

Antes de validar o projeto o DCP fica disponível para

consulta pública por um período de trinta dias

Obtenção do registro

Caso a população/indivíduo se contraporem à aprovação de

um projeto, devem dirigir-se ao governo local ou requerer

uma revisão e informar o CDM Watch. Verificação, certificação e

emissão de redução certificada

de emissões

Caso o projeto não esteja sendo desempenhado de modo a

cumprir a proposta inicial, a população/indivíduo deve

contatar o governo local, o auditor e o CDM Watch.

Renovação do período

creditício

Caso a população/indivíduo acredite que um projeto não deva

ser renovado, deverá demandar ao governo local a revisão do

projeto e informar o CDM Watch. Fonte: CDM Watch (2010, p. 15).

Já o trabalho de Subbarao e Lloyd (2011) objetivou a análise de 500 documentos

de concepção de projeto (DCP) com foco na participação dos stakeholders e promoção de

cobenefícios. Especificamente, os indicadores empregados para analisar os comentários e a

percepção dos stakeholders acerca do projeto são: variedade de stakeholders consultados para

36

As exigencias são: envio de convite para a participação dos stakeholders; resumo das informações apresentadas

pelos stakeholders; confirmação pelo país sede de que o projeto auxilia no alcance do desenvolvimento

sustentável; relatório da AND justificando como os comentários fornecidos foram levados em conta. 37

O CDM Watch é uma organização criada em 2009 com o intuito de fiscalizar as ações realizadas no âmbito do

MDL, sobretudo, visando fortalecer os processos participativos da sociedade civil.

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58

a discussão dos cobenefícios do projeto; percepção dos stakeholders acerca da contribuição da

atividade do projeto para o desenvolvimento sustentável; propostas de mitigação sugeridas

pelo(s) proponente(s) do projeto.

Com o intuito de agregar as contribuições acerca da participação dos stakeholders,

em 2011, por meio de consulta pública a UNFCCC realizou um estudo objetivando contribuir

para que sejam incluídos de fato os diferentes atores relacionados aos projetos, conforme

exposto no Quadro 10:

Quadro 10: Propostas para melhorar a participação dos stakeholders em projetos de

MDL

Propostas Justificativas

Os comentários dos stakeholders

deveriam ser considerados na fase

de concepção do projeto

Com a participação na fase de elaboração dos projetos, haveria um aumento

da participação dos stakeholders no projeto. Na fase de concepção do

projeto, o proponente está mais acessível a incluir alterações e pode, assim,

incluir as alterações propostas pelos stakeholders

Participação significativa dos

stakeholders

A primeira reunião com os stakeholders deveria ser feita antes da submissão

do DCP ao processo de validação e deveria incluir os seguintes pontos:

apresentação do projeto incluindo seus impactos, avaliação sem danos38

, a

matriz do desenvolvimento sustentável deve estar disponível para acesso dos

stakeholders, conectado ao plano de monitoramento e cumprimento das

ações propostas. A primeira reunião deve ser presencial e ministrada no

idioma local e deve ser enviado aos stakeholders (além do convite) um

sumário com informações não técnicas do projeto e com os indicadores de

sustentabilidade utilizados para o monitoramento.

Na segunda consulta, os stakeholders poderão apresentar suas considerações

sobre como os seus comentários sobre o projeto foram incorporados. O

encontro deve ser preferencialmente presencial.

O período para comentários deve ser ampliado para 60 dias e os documentos

oficiais devem ser traduzidos para a língua local (que estejam entre as

línguas oficiais da ONU)

Validação e Verificação da

submissão do projeto com as

garantias e os benefícios

requeridos

A garantia de participação dos stakeholders deve ser monitorada pela EOD,

mas a determinação se o projeto contribui (ou não) para o desenvolvimento

sustentável deve ser determinada pela AND

Estabelecer um mecanismo para

que os stakeholders afetados

manifestem suas reivindicações

O stakeholder poderá contatar a EOD responsável, com a possibilidade de

suspensão da emissão de certificados até que as reivindicações sejam

analisadas e sanadas. Caso a EOD não tome as providências o stakeholder

poderá destinar suas reclamações a AND, bem como informar o Comitê

Executivo Fonte: tradução livre de UNFCCC (2011, p.4).

38

Com base no “do no harm” proposta pela certificação Gold Standard.

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59

Lembrando que o Comitê Executivo do MDL exige a participação dos

stakeholders em todo o processo de desenvolvimento da atividade, devendo-se cumprir:

Envio de convite para a participação dos stakeholders;

Resumo das informações apresentadas pelos stakeholders;

Confirmação pelo país sede de que o projeto auxilia no alcance do

desenvolvimento sustentável;

Relatório da AND justificando como os comentários fornecidos foram

levados em conta.

Assim, o Quadro 11 aponta as contribuições dos trabalhos anteriormente

mencionados às Regras do Comitê Executivo do MDL concernentes ao processo de

participação e que serão elementos utilizados no capítulo metodológico na elaboração dos

indicadores para avaliação da participação dos stakeholders.

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60

Quadro 11: Contribuições de estudos especializados no tema às Regras do Comitê Executivo do MDL referentes ao processo de

Participação

Processo de

Participação

Referenciais

Envio de convite

para a participação

dos stakeholders

Antes de validar o

projeto o DCP fica

disponível 30 dias

para consulta

pública

Resumo das

informações

apresentadas pelos

stakeholders

Confirmação pelo país sede de que

o projeto auxilia no alcance do

desenvolvimento sustentável

Relatório da AND justificando como

os comentários fornecidos foram

levados em conta

Monzoni

(2004)

Qualidade e

abrangência da

publicidade

necessária para

alcançar todos os

públicos

Prazo de Consulta

Local e Horário escolhidos

Antecedência da divulgação

Disponibilidade de meios para

compreensão de aspectos relevantes do

projeto

Acessibilidade da linguagem e idioma

utilizado

Nada consta Meios de divulgação

CDM WATCH

(2010)

A população deve ser

consultada em todo o

ciclo do projeto

Processo reservado para os comentários

dos stakeholders é muito curto e não

proporciona oportunidade de

contribuições importantes

AND é responsável por aprovar e

confirmar a contribuição do projeto

ao desenvolvimento sustentável. E

a população local deve contribuir

para essa decisão

Caso a população/indivíduo se

contraporem à aprovação de um

projeto, devem dirigir-se ao governo

local ou requerer uma revisão e

informar o CDM Watch

Subbarao e

Lloyd (2011)

Variedade de

stakeholders

consultados

Percepção dos stakeholders acerca da

contribuição da atividade do projeto para

o desenvolvimento sustentável

Nada consta

Inclusão de propostas de mitigação

sugeridas pelo(s) proponente(s) do

projeto

UNFCCC

(2011) Nada consta

Os comentários dos stakeholders

deveriam ser considerados na fase de

concepção do projeto

Participação significativa dos

stakeholders

Validação e Verificação da

submissão com as garantias e os

benefícios requeridos

Estabelecer um mecanismo de

reclamação para os stakeholders

afetados

Fonte: elaboração própria.

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61

Os elementos expostos em Monzoni (2004), Subbarao e Lloyd (2011), CDM

Watch (2010) e UNFCCC (2011) podem contribuir em direção ao cumprimento dos requisitos

relacionados ao envolvimento pleno e efetivo das comunidades e demais stakeholders no

projeto por meio do acesso à informação participação na tomada de decisões e

implementação.

Conforme mencionado anteriormente, a ferramenta de desenvolvimento

sustentável desenvolvida pela UNFCCC (2014) busca meios de superar as lacunas de

participação, na “etapa 4” da ferramenta estabelece os seguintes critérios: reuniões prévias à

implantação do projeto; relatório produzido em uma linguagem não técnica; documentos

disponíveis nas línguas locais; reuniões e / ou feedbacks de comunicações; acompanhamento/

relatos das medidas que foram apresentadas e acordadas; e outros meios de viabilizar a

participação (por exemplo, com base em standards do Mercado voluntário).

Nos casos dos aterros sanitários estudados nesse trabalho, a identificação desses

limites envolvendo a participação das comunidades do entorno dos aterros é feita sob a

perspectiva das lacunas a serem preenchidas para a promoção da inovação na prestação de

serviços de resíduos sólidos.

Para abordar as possibilidades de desenvolvimento dos serviços de resíduos

sólidos a partir dos resultados do MDL em aterros, recorre-se ao conceito de redes público-

privadas de inovação em serviços RIPPS (GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997; BUČAR et al.,

2013; DJELLAL; GALLOUJ, 2013; GALLOUJ et al., 2013; LABARTHE et al., 2013). O

referido conceito enfatiza, além do aspecto relacional (interfaces e feedbacks) entre os vários

atores públicos e privados, a participação das organizações do terceiro setor (associações,

ONG etc.) de diferentes maneiras.

Entidades públicas, privadas e parcerias público-privadas das Partes no Anexo I e

das Partes não-Anexo I podem participar de uma atividade de projeto de MDL, desde que

autorizadas pelos respectivos países. Especialmente para projetos em aterros sanitários com

recuperação e aproveitamento de biogás, observa-se ser prática comum haver diversas partes

envolvidas atuando na área: empresas responsáveis pelo gerenciamento da área do aterro,

empresas responsáveis pela captação do biogás, secretarias municipais de meio ambiente e de

gestão de resíduos, concessionária local responsável pela geração de energia elétrica.

Salienta-se que o serviço público de RSU no Brasil é majoritariamente executado

de modo indireto, ou seja, o Poder Público delega o serviço para terceiros, que pode ocorrer

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62

por meio de diversas modalidades, tais como: contrato para o particular, permitindo a

formalização da concessão, parceria público-privada, permissão ou terceirização.

Para projetos de MDL em aterros sanitários, a partir da captação do biogás para

queima em flare e/ou posterior geração de energia, tem sido comum a presença do setor

privado nessas atividades. No caso dos aterros privados, geralmente, é a própria empresa

gestora da área do aterro que também executa as atividades relacionadas ao biogás.

Já no caso dos aterros públicos, as atividades de captação do biogás, geralmente,

estão sendo executada por empresas concessionárias, conforme ilustrado pelos projetos de

MDL nos aterros Jardim Gramacho, no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro e nos

aterros Bandeirantes e São João, no município de São Paulo, São Paulo.

No aterro de Gramacho, a concessão é entre a Companhia Municipal de Limpeza

Urbana (CONLURB), proprietária do aterro e responsável pela limpeza urbana da cidade do

Rio de Janeiro, e a empresa Novo Gramacho Energia Ambiental. Nos aterros Bandeirantes e

São João, as concessões são entre a Prefeitura Municipal de São Paulo e o Grupo Biogás. As

concessões foram concedidas através de licitação municipal realizadas pelas prefeituras

municipais.

A partir dessa contextualização, propõe-se que a implantação de projetos de MDL

pode contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos de resíduos sólidos ao

promover oportunidades de inovação alinhadas com a geração de cobenefícios também para

os usuários do serviço, ou seja, não restritas ao aumento da eficiência na captação de biogás.

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63

Capítulo 2. Inovação em Serviços Públicos

O Capítulo 2 tem como objetivo apresentar as contribuições da teoria de inovação

para o entendimento da inovação em serviços públicos. Com base em revisão da literatura

mostra-se como surgiu a necessidade dos estudos sobre inovação em serviços, as principais

abordagens, bem como seus principais desafios. Logo após, destacando as particularidades de

inovação em serviços públicos, aponta-se a multiplicidade de arranjos organizacionais para a

produção dos serviços públicos, caracterizando-os como uma atividade multiagente, o que

justifica para o presente estudo a adoção da abordagem integradora de inovação em serviços,

perspectiva mais abrangente para explicar inovação em serviços, abordando inovações

tecnológicas e não tecnológicas, bem como os diversos atores que participam dos serviços

relacionados aos resíduos sólidos urbanos.

2.1 Conceito de Inovação e Especificidades dos Serviços

Em 1977, Peter Hill estabeleceu a seguinte definição de serviços, que desde então

tem sido amplamente adotada na literatura internacional:

Um serviço pode ser definido como uma mudança na condição

de um indivíduo, ou em um bem pertencente a alguma unidade

econômica, que é originado como resultado da atividade de

alguma outra unidade econômica, com o acordo prévio do

indivíduo ou unidade econômica (tradução livre de HILL, 1977,

p. 318).

Gallouj e Savona (2009) analisaram o debate sobre a inovação em serviços nos

últimos 20 anos apontando que as inapropriadas definições e mensurações, baseados nos

estudos sobre inovação na indústria centrados nas inovações tecnológicas (tangíveis), teriam

influenciado fortemente a conceituação e a análise da inovação em serviços realizada

atualmente.

De acordo com o que vem sendo desenvolvido na literatura sobre inovação em

serviços, é inadequado persistir na hipótese de que o nível de produtividade nos serviços é

menor do que na manufatura. O que está sucedendo efetivamente são erros de mensuração da

inovação, em que as ferramentas utilizadas (indicadores basicamente herdados da

manufatura), não dão conta de captar fielmente a inovação em serviços.

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Algumas formas de inovação são visíveis e previsíveis (programadas). Isto é

verdade para a maioria das inovações tecnológicas. Ainda, as inovações tecnológicas,

geralmente, são mais fáceis de gerenciar e o deslocamento de recursos públicos para seu

desenvolvimento também é considerado facilitado (GALLOUJ et al, 2013a).

Indo além dos fatores puramente tecnológicos, na terceira edição do Manual de

Oslo (2005) a definição de inovação é extendida para incluir inovações: organizacionais e de

marketing. As inovações de marketing estão orientadas aos consumidores e ao mercado com o

objetivo de melhorar resultados de vendas e fatias do mercado. As inovações organizacionais

estão ligadas a mudanças técnicas no ambiente da empresa e tem impacto sobre o seu

desempenho.

As inovações não tecnológicas – organizacionais, relacionais, sociais, entre outras

(DJELLAL e GALLOUJ, 2013; LABARTHE et al, 2013; WINDRUM, 2013) – possuem

papel relevante para análise da inovação em serviços públicos. E é importante ressaltar que a

eficácia e eficiência das atividades de serviços também dependem da competência dos

diversos atores que se relacionam em torno desta atividade.

Neste sentido, propondo-se uma definição sociotécnica das atividades de serviço,

introduz-se o modelo de lógicas de serviço, de Gadrey (2000), a partir da seguinte definição

das atividades de serviços:

[…] uma atividade de serviço é uma operação destinada a

provocar uma mudança no estado da realidade de C que é de

propriedade ou utilizada pelo consumidor B, a alteração efetuada

pelo prestador de serviços A a pedido de B e, em muitos casos,

em colaboração com ele ou ela, mas não induzindo à produção

de um bem que circula na economia independentemente de C

(tradução livre de GADREY, 2000, p. 375).

A definição anteriormente citada é denominada ‘triângulo do serviço'. Nesta

perspectiva, são mantidas as relações compreendidas por meio da definição de Hill (1977),

somadas às de Gadrey (2000), que salienta uma das características essenciais da prestação de

serviços: a indivisibilidade entre o processo produtivo e seus resultados, dado que o resultado

de um serviço não pode desassociar-se de seu processo (Figura 1).

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Fonte: Gadrey (1992)

Embora a determinação dessas características também não seja muito clara

(DJELLAL et al, 2013), observa-se que a tentativa de distinguir estas particularidades pode

contribuir para o melhor entendimento das formas de inovações de produtos intangíveis que

não são incorporadas a componentes técnicos.

Existem três principais abordagens sobre inovação em serviços: abordagem

tecnicista (assimilation), abordagem orientada a serviços (demarcation) e abordagem

integradora (integration) (Quadro 12).

Figura 1: Triângulo do serviço

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Quadro 12: Abordagens para inovação em serviços

Abordagem Descrição Exemplos

Tecnicista

(Assimilation)

O enfoque tecnicista mostrou-se apropriado para analisar a

difusão de inovações tecnológicas nas empresas de

serviços, especialmente nos processos de informatização,

porém não o bastante para a análise da introdução de novos

serviços ou modificações no modo de ofertar serviços

existentes que não sejam relacionadas com a introdução de

novos equipamentos e embora esta abordagem esteja em

uma fase de relativo declínio, ainda é a predominante nos

estudos sobre inovação em serviços. A perspectiva de

assimilação é dominante na literatura sobre inovação em

serviços, fato refletido também nos indicadores de

inovação sugeridos pelo Manual de Oslo da OCDE

(DJELLAL et al, 2013)

Barras (1986) “ciclo

reverso do produto”

/

“European

Community

Innovation Surveys”

(CIS II, 1997; CIS

III, 2001)

Orientada a

serviços

(Demarcation)

Surge como uma reação ao enfoque tecnicista e busca

analisar inovações particulares ao setor de serviços

Gallouj (2002)/

Innovation in

Services and

Services in

Innovation (SI4S)

Integradora

(Integration)

Propõe agregar bens e serviços em uma única teoria da

inovação. Ou seja, ainda que esta abordagem destaque as

particularidades dos serviços, pondera que a inovação

abarca características genéricas, em que a ênfase (na

manufatura ou nos serviços) incidirá de acordo com o

elemento que está sendo contemplado pela análise. Assim,

a abordagem integradora é a perspectiva mais abrangente

para explicar inovação em serviços, fornecendo uma

estrutura ampla que inclui tanto inovação tecnológica

quanto não tecnológica.

De Vries (2006);

Windrum e García-

Goñi (2008); Djellal

et al, 2013; Gallouj et

al 2013

Fonte: Cruz (2012).

É constantemente apontado na literatura que inovação em serviços não pode ser

restrita à inovação tecnológica (DJELLAL; GALLOUJ, 2013). Ao mesmo tempo, pode haver

sim um importante componente tangível associado a estas inovações “invisíveis”

(DESMARCHELIER; GALLOUJ, 2013; DJELLAL et al, 2013; FOURCROY et al, 2012).

Embora sejam categorizadas de inovações em serviços não tecnológicas, estas podem se

basear em tecnologias tangíveis, tais como as tecnologias de informação e comunicação

(TIC), mas aqui, a tecnologia é um meio para se atingir a inovação e não um fim.

Cabe destacar que o componente tecnológico da inovação compõe os critérios de

sustentabilidade dos projetos de mitigação de GEE, corroborado pelo artigo 10 do Protocolo

de Quioto, que aponta o papel da cooperação para aplicação e difusão de tecnologias limpas,

bem como a formulação de políticas e programas para a transferência efetiva de tecnologias

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ambientalmente seguras. De acordo com Djellal e Gallouj (2013), as inovações tecnológicas

em serviços “denotam artefatos materiais no sentido estrito do termo (inovações de produto

ou processo) ou serviços que dependem em grande medida de tecnologias (tecnologia

mediada por serviços)” (tradução livre, p. 32).

De acordo com a autoridade nacional designada (AND) brasileira, define-se o

critério de contribuição para capacitação e desenvolvimento tecnológico como sendo a

avaliação do grau de inovação tecnológica do projeto em questão em comparação ao cenário

de referência (baseline scenery) e as tecnologias utilizadas em atividades desenvolvidas no

mesmo setor passíveis de comparação com as previstas no projeto (BRASIL, 2003). Além disso,

avaliam-se outros elementos relacionados à tecnologia como: a possibilidade de reprodução

da tecnologia utilizada; a procedência dos equipamentos; a existência de royalties e licenças

tecnológicas; e a demanda de assistência técnica internacional (MONZONI, 2004).

Em dezembro de 2010, na 16ª Conferência das partes, realizada em Cancun, foi

estabelecido um Comitê Executivo de Tecnologia para facilitar a implantação de ações de

desenvolvimento e de transferência de tecnologia por meio das atividades de MDL

(UNFCCC, 2011). Ou seja, apontam-se como benefícios locais que podem advir de projetos

de MDL o desenvolvimento ou a difusão de tecnologia nos países receptores (UNFCCC,

2012), que constituem aspectos relevantes do processo de inovação.

Bozmoski, Lemos e Boyd (2008) ressaltam que a centralização regional e setorial

verificada na implantação de projetos de MDL dificulta a disseminação das tecnologias. E

Schneider et al. (2008) apontam para a necessidade de uma análise mais detalhada das

características e variáveis específicas dos países hospedeiros dos projetos, uma vez que este

diagnóstico pode auxiliar no entendimento das diferenças do nível de transferência

tecnológica por meio do MDL em diferentes regiões.

Dechezleprêtre et al. (2009) fazem um estudo acerca da transferência de

tecnologia por meio dos projetos de MDL, apontando que a compra de equipamentos – um

frequente indicador empregado para avaliar este aspecto no âmbito do MDL – nem sempre

pode ser considerada como transferência de tecnologia.

Este fato ocorreu largamente na análise dos documentos de concepção dos

projetos (DCP) em aterros sanitários analisados pelos autores, em que 80% destes projetos

afirmam promover a transferência de tecnologia e, igualmente, 80% afirmam ter realizado

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importação de equipamentos. Nos DCP existe a informação da importação de equipamentos,

mas não há, por exemplo, informação sobre o envolvimento do fornecedor de equipamentos

posteriormente à venda.

Sob outra perspectiva, Haites et al (2006) e Seres et al (2009) apontam que, a

longo prazo, os países com um maior número de projetos de MDL em um determinado setor

estão mais propensos a ampliar sua própria capacidade tecnológica doméstica neste setor

específico. Este fato pode ser evidenciado pela tendência de declínio da transferência de

tecnologia através do MDL no Brasil (UNFCCC, 2012a).

Esta situação está por muitas vezes, na literatura, interpretada de um modo

negativo. No entanto, pode-se entender que, a partir do aumento do número de projetos

desenvolvidos em um mesmo setor, a tecnologia se torna disponível localmente, diminuindo-

se o benefício marginal de tecnologia importada. Sendo assim, esta evidência não indicaria

uma falha do MDL para a transferência de tecnologia, e sim seria um sinal de sucesso

(SERES et al, 2009). Nos casos dos aterros estudados, todos mencionam em seus DCPs e

relatórios de validação o desenvolvimento e difusão de tecnologias a partir da implantação

dos projetos.

Sobre as inovações não tecnológicas, a abordagem integradora amplia a percepção

das atividades de inovação para englobar diferentes agrupamentos de inovações, tais como:

em serviços e na manufatura, visíveis e invisíveis, tecnológicos e não tecnológicos, modos de

inovação simples e complexos, previsíveis e imprevisíveis. Além disso, há o entendimento de

que diferentes tipos de inovações podem ocorrer concomitantemente e que, não

necessariamente, há uma hierarquia estabelecida entre elas.

Esta abordagem pode ser apropriada ao contexto de inovações em serviços

públicos, especialmente por conta da dificuldade em delimitar fronteiras entre os serviços

públicos e privados e os diversos atores que estas atividades contemplam.

Assim, sob esta abordagem, os agentes públicos e privados são capazes de se

relacionar no sentido de mobilizar recursos e competências complementares, direcionadas

para produzir, além das inovações tecnológicas, inovações intangíveis ou não tecnológicas,

bem como partilhar os riscos relacionados. Neste sentido, a cooperação, interação e

networking entre o setores público e privado são cruciais para explorar as

complementaridades e sinergias que podem emergir deste contexto.

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Isto é especialmente importante para os serviços públicos tradicionais como os

relacionados aos resíduos sólidos, necessitando de uma nova estrutura de análise – em relação

a abordagens, soluções, estratégias – para enfrentar mudanças rápidas e complexas que, por

exemplo, as novas políticas ambientais apontam (Política Nacional de Resíduos Sólidos –

PNRS– Lei nº 12.305/2010; Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC – Lei Nº

12.187/ 2009; entre outras).

O que nos parece é que cada vez mais há uma tendência de convergência de

abordagens, tanto entre a manufatura e os serviços (DJELLAL et al, 2013), quanto entre

inovações tecnológicas e não tecnológicas. O que sustenta esta argumentação é a dificuldade

em estabelecer limites entre estas definições.

Por fim, o campo de estudos de inovação em serviços está sendo

progressivamente ampliado. A ênfase na inovação tecnológica tem sido mais moderada, pelo

reconhecimento da importância dos elementos não tecnológicos das inovações em serviços.

Os próximos tópicos visam apontar as particularidades da inovação para o setor público e

serviços públicos.

2.2 Particularidades da Inovação: Setor Público e os Serviços Públicos

Ainda que por muito tempo tenha permanecido a ideia de que serviços públicos

são prestados, predominantemente, pelo setor público, mais recentemente há maior clareza da

diversificação da prestação destes serviços que podem ser fornecidos tanto pelo setor público,

quanto pelo setor privado, ou por ambos (DI MEGLIO, 2013).

Em meio a estes novos arranjos organizacionais, torna-se também uma tarefa

ainda mais complexa fornecer uma definição universal e imutável dos serviços públicos, uma

vez que a divisão entre serviços públicos e privados mudou progressivamente ao longo do

tempo. Então, também é importante fazer a distinção do setor público e dos serviços públicos.

2.2.1 O Setor Público

Os estudos de inovação concentram-se no setor privado uma vez que referido

setor, de um modo geral, vem sendo estudado por mais tempo do que o setor público sob a

perspectiva da literatura acerca da inovação. Enquanto a inovação no setor privado tem sido

objeto de estudo para mais de cem anos, é principalmente dentro das últimas duas décadas

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que o setor público foi colocado em foco (JÆGER, 2013; DJELLAL et al, 2013; OSBORNE;

BROWN, 2013).

Entretanto, também é raso continuar com a argumentação relacionada à escassez

de estudos envolvendo o setor público e as inovações neste setor, dado os consistentes

esforços que a comunidade científica tem destinado aos estudos neste campo (OSBORNE;

BROWN, 2013; MAZZUCATO, 2014).

Ainda que existam todos estes esforços, a literatura geralmente negligencia ou

subestima o papel do setor público no processo de inovação (DJELLAL et al, 2013,

WINDRUM; GARCÍA-GOÑI, 2008; OSBORNE; BROWN, 2013; MAZZUCATO, 2014).

O setor público é colocado na posição de mero instituidor de arcabouço legal,

facilitador de atividades de inovação, dentre outras ações, que não incluem o papel de

protagonista do processo de inovação (GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997; MULGAN;

ALBURY, 2003; HARTLEY, 2005; HALVORSEN et al. 2005; KOCH; HAUKNES, 2005;

WINDRUM; GARCÍA-GOÑI, 2008; POTTS; KASTELLE, 2010; SUNDBO, 2011;

DJELLAL; GALLOUJ, 2013; DJELLAL et al. 2013; OSBORNE; BROWN, 2013;

MAZZUCATO, 2014).

As dificuldades de entender e mensurar atividades inovativas no setor público

pode ser decorrência de que por muito tempo os estudos trabalharam no sentido de transpor

simplesmente os conceitos de inovação, desenvolvidos para entender as mudanças em

empresas privadas, para o setor público, o que não é factível sem que se entendam as

características particulares e diferenças entre os setores.

Contudo, mesmo neste impreciso contexto, a inovação no setor público está se

destacando como um fator central para sustentar um adequado nível de serviços públicos

especialmente, no sentido de prestar melhores serviços aos cidadãos. Assim, pesquisas neste

campo demonstram que o setor público é (e pode ser) inovador em muitos aspectos

(GALLOUJ et al, 2013a; OSBORNE; BROWN, 2013; MAZZUCATO, 2014; SUNDBO,

2013).

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2.2.2 Privado e Público: diferenças entre os setores?

Há diversas tipologias para diferenciar inovação nos setores público e privado, no

entanto, elementos essenciais da inovação, como as inovações devem ser mudanças

significativas e que elas devem ser implementadas/introduzidas no seu contexto de aplicação

ou utilização, são as mesmas para ambos os setores. Primeiro, observa-se a necessidade de

ampliar o debate que simplesmente opõe o setor público versus privado para um discurso

mais frutífero, uma vez que os dois setores podem contribuir positivamente para o objetivo de

prestação de serviços de um modo mais eficaz (MILES, 2013).

Buscando compreender os fundamentos teóricos de inovação no setor público

apontam-se as principais áreas a serem abrangidas: a natureza dos serviços públicos; o

contexto em que as organizações do setor público operam e objetivos, as interfaces com

outros atores, internas e externas ao setor público, e as barreiras para a inovação (BUGGE et

al, 2010; BLOCH; BUGGE, 2013; KINDER, 2013).

a) Natureza

Uma característica importante da natureza do setor público refere-se à sua

heterogeneidade. Apesar da heterogeneidade ser também aplicável ao setor privado, de acordo

com a literatura, esta diversidade é potencialmente maior para organizações do setor público,

sobretudo, em relação aos diferentes níveis de governo e diferentes tipos de outputs

(individuais e coletivos) presentes neste setor (BUGGE et al, 2010; BLOCH; BUGGE 2013).

É importante ressaltar que essa diversidade ser maior no setor público é questionável. Em

muitas atividades é difícil delimitar a atuação pública ou privada, especialmente naquelas em

que o setor público é o responsável, porém, quem executa é o setor privado.

b) Contexto e objetivos

Na literatura, alega-se que as organizações do setor público em princípio não

operam em uma estrutura de mercado e, portanto, não são conduzidas por ensejos que visem

lucro (BUGGE et al, 2010; BLOCH; BUGGE, 2013). No entanto, por outro lado, pode-se

argumentar que tal afirmação reflete uma visão muito simplista dos “negócios públicos”, em

que suas estruturas de incentivo são moldadas por muito mais do que a maximização do lucro

(KOCH; HAUKNES, 2005; HARTLEY, 2013).

Quando os objetivos do setor público não são alcançados, assim como ocorre no

setor privado, há consequências negativas. Fazer a análise da distinção de objetivos para o

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setor privado e o setor público de modo pouco aprofundado alimenta a representação do setor

privado 'competitivo' e das organizações públicas 'burocráticas' (HARTLEY, 2013). Ou ainda,

conforme denominado por Mazzucato (2014) de “ecossistema de inovação parasitário”, o

ambiente em que o Estado apenas provê e o setor privado suga os recursos.

Como um domínio organizacional, o setor público também é guiado por

princípios de eficiência econômica (POTTS, 2009). Então, é necessário pensar o setor público

de um modo diferente, desmistificando determinados estereótipos que, de certo modo,

limitam as análises deste setor (DJELLAL et al, 2013; GALLOUJ et al, 2013;

MAZZUCATO, 2014).

Uma característica que pode distinguir o setor público do setor privado se

relaciona com os horizontes de tempo considerados pelos gestores. No setor público,

geralmente, os gestores tendem a pensar em termos de horizontes temporais mais compactos,

de curto prazo (DI MEGLIO, 2013). E obviamente que os períodos eleitorais exercem

influência sobre isso.

Especialmente para o setor de resíduos, no Brasil, as atividades de serviços são

marcadas pela falta de planejamento de longo prazo. Cabe ressaltar ainda que a diversidade de

horizonte temporal também não é homogênea para o setor privado, estando acoplado, do

mesmo modo, ao tipo de atividade exercida.

c) Interfaces

Parte da natureza multifacetada e heterogênea do setor público é resultante de suas

várias interfaces, tais como: 1) a sua interface com o setor privado; 2) a interface entre o setor

público e os cidadãos, e 3) interfaces internas no setor público (níveis governamentais e entre

as áreas de atividade) (BUGGE et al, 2010; CRUZ, 2012). Essas várias interfaces indicam

algumas das heterogeneidades do setor público, que podem ser úteis ao tentar decifrar a lógica

da inovação em serviços no setor público.

d) Barreiras para a inovação

Gestores e organizações do setor público estão sujeitos às regras políticas rígidas

que acabam por influenciar seus objetivos, motivações e comportamento (RADNOR et al,

2013). E, uma vez que os objetivos do setor público dependem de metas políticas e

priorização de recursos, se há mudanças na liderança política, como resultado, os objetivos

também são passíveis de mudanças.

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Sobre as barreiras para inovar no setor público, alguns autores ressaltam a

“aversão ao risco” (BHATTA, 2003; BUGGE et al, 2010; MULGAN; ALBURY, 2003;

KOCH; HAUKNES, 2005; BLOCH; BUGGE 2013; STEPHEN et al, 2013). No entanto, a

aversão ao risco não é uma barreira exclusiva do setor público. O setor privado também a

possui (BUČAR et al, 2013; MAZZUCATO, 2014).

O contraponto da aversão ao risco pelo setor público pode ser verificado em

Mazzucato (2014) exemplificando os casos de tecnologías limpas (energia eólica e solar) em

que o Estado (Alemanha, Estados Unidos da América, Austrália, China, entre outros) assumiu

os primeiros riscos e estimulou a efetivação de tais inovações. Nas palavras da autora: “Um

Estado empreendedor não apenas ‘reduz os riscos’ do setor privado, como antevê o espaço

de risco e opera corajosa e eficientemente dentro desse espaço para fazer as coisas

acontecerem” (MAZZUCATO, 2014). Ainda, lembram Djellal et al (2013) que não há como

alcançar aprendizagem sem alguma falha.

2.2.3 Tipologias de inovação para o setor público

O manual de Oslo (OCDE/ Eurostat, 2005) define inovação como: “Uma

inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente

melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método

organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações

externas” (p. 55).

Os principais elementos da definição de inovação, que deve ser novidade ou

melhora significativa e que deve também ser implementada, podem ser encontrados nas

definições de inovação do setor público. Assim como o Manual de Oslo define tipologias de

inovação para o setor privado, diversos autores apontam as seguintes tipologias de inovações

para o setor público (Quadro 13).

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Quadro 13:Tipologias de inovações para o setor público

Tipologia Descrição Autores

Inovações de produto/

serviço

A introdução de um novo serviço, ou a melhoria na

qualidade de um produto de serviço existente. Isso

inclui o desenvolvimento, utilização e adoção de

tecnologias relevantes.

Windrum, 2008;

Koch e Hauknes,

2005; Hartley, 2005)

Djellal et al, 2013

Inovação de entrega de

serviço

Envolvendo novas ou alteradas maneiras de resolver

tarefas, de prestar os serviços, de interagir com os

clientes para fins de prestação de serviços

Koch e Hauknes,

2005

Inovações

administrativas e

organizacionais

Altera as estruturas organizacionais e rotinas internas e

externas (com fornecedores, por exemplo) Windrum, 2008

Inovação sistêmica Novas ou melhoradas formas de interação com outras

organizações e bases de conhecimento Halvorson et al, 2005

Inovação conceitual

Novas linguagens e conceitos, novos pontos de vista

sobre os serviços, produtos, processos e formas

organizacionais existentes

Windrum, 2008,

Hartley, 2005

Inovação de

governança

Novas formas de engajamento cidadão e as instituições

democráticas

Hartley, 2005

Inovações políticas Mudança de pensamento ou intenções associadas a

uma política Windrum, 2008,

Inovações estratégicas Novas metas ou finalidades da organização Hartley, 2005 Fonte: elaboração própria.

Por inovações sistêmicas entende-se o envolvimento de novas ou melhores

maneiras de interagir com outras organizações e bases de conhecimento (BLOCH; BUGGE

2013). Partindo da definição de inovação organizacional utilizada pelo Manual de Oslo para

empresas, as inovações sistêmicas podem estar relacionadas também com mudanças

organizacionais.

A partir de uma visão sistêmica e não linear da inovação, entende-se que esta não

ocorre isoladamente, ou seja, depende da interação entre diversos atores que participam e

desempenham várias funções no processo de inovação, enxergando as relações entre os atores

e suas respectivas bases de conhecimento como potencial para a inovação ocorrer, por meio

das recombinações de conhecimento existentes. Ou seja, destaca-se a importância do

componente relacional, e a significância de arranjos colaborativos, especialmente, entre o

setor público e privado.

Neste sentido, exige-se certa flexibilidade das organizações do setor público para

transitar em meio a diferentes atores internos e externos, e levando-se ainda em consideração,

autonomia potencialmente limitada no processo decisório global, em um ambiente onde as

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estruturas de incentivo podem variar muito entre as organizações (BUGGE et al, 2010;

BLOCH; BUGGE 2013).

Devido à crescente consideração da necessidade de inovar no setor público,

somado às características deste setor - sobretudo, em relação à multiplicidade de agentes

envolvidos - existe um potencial para expandir as funções do setor público em meio a estas

abordagens sistêmicas, o que pode incluir as RIPPS. O próximo tópico apresenta as

especificidades dos serviços públicos.

2.3 Os Serviços Públicos

Em primeiro lugar, definir e medir outputs é ainda mais difícil quando se

considera os serviços públicos, especialmente aqueles que são não rivais ou parcialmente não

rivais em consumo39

.

Outro ponto importante a ser destacado relaciona-se à intangibilidade dos

serviços, característica que ao longo de muito tempo foi atrelada aos serviços, classificados,

em geral, como produtos/atividades de baixo impacto ambiental.

No entanto, estudos recentes (DESMARCHELIER; GALLOUJ, 2013; DJELLAL

et al, 2013; FOURCROY et al, 2012), apontam que não se pode descartar o lado tangível da

prestação de serviços, especialmente, em relação à sustentabilidade ambiental dos serviços, no

sentido de que a estrutura física/tangível exigida para a prestação de vários serviços pode

levar a impactos ambientais consideráveis.

A partir das características de coprodução e interatividade dos serviços (presença

física e simultânea do prestador de serviços e cliente), Desmarchelier e Gallouj (2013)

evidenciam que a atividade requer sim a mobilização de muitos elementos tangíveis, tais

como espaços físicos e ferramentas técnicas, apontando ainda que a economia dos serviços é

baseada em mobilidade, ou seja, muitas vezes, demandando logísticas de viagens que podem

sim ter um grande impacto ambiental, sobretudo, relacionados à poluição, pegada ecológica,

entre outros.

No caso dos serviços atrelados aos resíduos sólidos urbanos, o lado tangível da

prestação pode ser exemplificado a partir dos lixões, aterros controlados, aterros sanitários

etc. Já sobre o preço dos serviços públicos esse elemento não está diretamente conectado à

39

Compreende o consumo simultâneo ou em conjunto por muitos indivíduos sem diminuição de quantidade e

qualidade e, ainda, ninguém pode ser excluído de desfrutar desse consumo (HARDIN, 1968).

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demanda ou consumo e varia de acordo com os resultados de processos políticos. Estes

serviços podem ser prestados gratuitamente, ou a preços que não cobrem totalmente os custos

de produção. Assim, não há um preço de mercado que pode ser usado para medir volumes de

produção (outputs) ou para levar em conta as alterações na qualidade de produção (outputs).

Djellal e Gallouj (2008) ressaltam ainda outra característica importante dos

serviços públicos, que sua prestação geralmente envolve uma gama mais complexa e ampla

de agentes e instituições. A relação de serviços entre produtor e usuário amplia-se, incluindo a

organização responsável pela prestação do serviço e todo o sistema de regulação e instituições

envolvidas. No caso dos serviços públicos:

- O produtor do serviço é: o agente que diretamente executa o trabalho e/ou

oferece o serviço para o usuário. Atividade que pode ser desempenhada por uma unidade

governamental (local, regional ou nacional), uma empresa privada, uma organização sem fins

lucrativos, entre outras.

- A organização provedora é: o agente que seleciona, atribui e autoriza o produtor

que irá servir os usuários. Comumente o provedor é uma unidade de governo, mas também

pode ser representado por outra instituição.

Outro aspecto da prestação de serviços públicos - especialmente para o caso dos

serviços relacionados aos resíduos sólidos urbanos em que, geralmente, as atividades são

realizadas por meio de concessões a empresas privadas - é a dificuldade para identificar e

delimitar as atividades que constituem sua atribuição em face ao privado, uma vez que muitos

serviços e atividades no setor público encontram-se integrados com as atividades do setor

privado e vice-versa (BUGGE et al, 2010; POTTS; KASTELLE, 2010; SUNDBO, 2010).

É essencial estabelecer a distinção entre o 'fornecimento' e a 'produção' de um

serviço público, pois assim é possível situar o papel desempenhado pelos setores público e

privado nas perspectivas presumidas para a entrega de serviços.

Na maioria dos serviços públicos, o governo é fundamentalmente o fornecedor,

executando o importante papel de tomada de decisões sobre o fornecimento dos serviços. E,

no que tange à produção, os serviços públicos não têm necessariamente de ser produzidos por

meio de funcionários e equipamentos do governo.

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2.4 Os Usuários dos Serviços Públicos

Os usuários ou consumidores são aqueles indivíduos ou grupo de indivíduos que,

diretamente, recebem o serviço. Os usuários dos serviços públicos têm papéis diferentes e

dessa forma eles têm diferentes oportunidades para propor novas ideias e para combinar os

recursos existentes de novas maneiras.

O cliente no setor privado é um ator que possui certo grau de autonomia, que pode

decidir ou não se quer fazer negócios com a empresa e, normalmente, há mais de uma opção

para escolher entre os diferentes produtos e serviços (LEHTONEN; TUOMINEN, 2013). Para

os usuários dos serviços públicos, na maioria dos casos, não há possibilidade de substituir o

provedor do serviço por outros provedores.

Assim, Lehtonen e Tuominen (2013) enfatizam as preferências coletivas de

cidadania, com a visão mais ampla do cidadão, não só como receptor do serviço público, mas

também como atuante na produção, controle e planejamento destas atividades.

2.5 Definição e multiplicidade de arranjos organizacionais para a produção dos serviços

públicos

Os serviços públicos podem ser produzidos por meio de diferentes arranjos

organizacionais, onde o setor público pode servir como o provedor e/ou produtor, ou então, o

serviço pode ser produzido pelo setor privado. No entanto, é importante ressaltar que a

responsabilidade pela prestação dos serviços públicos continua sendo do próprio setor

público, mesmo nos casos que delegue a atividade para outros.

Como fonte base do sistema jurídico brasileiro, a Constituição Federal de 1988,

também conhecida como Carta Magna, não trouxe uma definição expressa de serviços

públicos, mencionando-os em artigos esparsos, dos quais se destaca para fins desta pesquisa o

artigo 175:

Art. 175 CF. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,

diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,

sempre através de licitação, a prestação de serviços

públicos.

Por esta razão, a conceituação de serviços públicos ficou a cargo dos

doutrinadores. Di Pietro (2001) define serviço público como “toda atividade material que a lei

atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o

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objetivo de satisfazer concretamente as necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou

parcialmente público” (p. 102).

Observa-se que embora existam as modalidades de transferência da produção do

serviço público para o setor privado, autarquias, organizações não governamentais (ONGs),

organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs), entre outros, o setor público,

como responsável pela provisão do serviço, deve assegurar que esta produção seja realizada

de modo adequado, cabendo ao Estado assumir o papel regulador, de fiscalização, incentivo e

planejamento.

Para os serviços públicos relacionados aos resíduos sólidos, destacam-se também

as parcerias público-privadas a partir da Lei nº 11.079/2004, que estabelece todo o arcabouço

legal para a realização destas parcerias, apontando a essencial participação do setor privado.

Nos últimos anos, desenvolveu-se uma grande variedade de arranjos

organizacionais para a entrega de serviços públicos, que procuram combinar as características

do público e o setor privado em sua estrutura e operação, assim, as parcerias público-privadas

vêm sendo contempladas pelas gestões públicas como sendo uma alternativa para se atingirem

os objetivos previstos na prestação do serviço público.

As atividades colaborativas para além dos limites organizacionais estão se

tornando importante inovação nos serviços. No entanto, coordenar estas atividades é um

desafio, tendo em vista que os atores têm diferentes rotinas de trabalho, práticas, horários,

valores, quadros de referência, especializações, culturas e hábitos.

As organizações estão cada vez mais interdependentes e cada vez mais devem

colaborar e coordenar as atividades além dos limites organizacionais, tendo em vista que não

podem depender apenas de seus próprios recursos, mas mutuamente devem adaptar e

coordenar as suas atividades (FUGLSANG; SCHEUER, 2012).

Neste contexto, a cooperação entre organizações públicas e privadas geralmente

refere-se a parcerias, onde as organizações privadas planejam, financiam, constroem, operam

e mantêm uma infraestrutura pública com base em um contrato de longo prazo.

A abordagem de inovação em serviços adotada no presente trabalho é a

integradora, perspectiva mais abrangente para explicar inovação em serviços, fornecendo uma

estrutura ampla abordando inovações tecnológicas e não tecnológicas, bem como os diversos

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atores que participam do serviço em questão. Para tanto, a análise é embasada no Modelo de

representação do produto e da inovação em termos de características do serviço, proposto por

Gallouj e Weinstein (1997) e Gallouj (2002), e no conceito de Redes Público-Privadas de

Inovação em Serviço (RIPPS) proposto por Gallouj et al (2013) , adaptando-os para o

contexto estudado.

Grande parte do conhecimento que existe em uma organização pertence aos

indivíduos, que são parte da organização, que aprendem e acumulam conhecimento por meio

de suas experiências de trabalho.

Assim, quando tratamos de inovação, é um grande desafio gerenciar o

conhecimento tácito individual40

que existe na organização e transformá-lo em uma forma

mais explícita e coletiva (SCHILLING, 2011).

Habilidades e procedimentos para a gestão do conhecimento tácito são relevantes

para a criação de valor da colaboração entre os diferentes atores internos e externos da rede de

inovação de serviço (DJELLAL; GALLOUJ, 2013). O conhecimento codificado também é

parte do processo. Rotinas de codificação (por exemplo, padronização de processos) facilitam

a partilha de conhecimento em um nível coletivo.

Ao olharmos para as competências que sustentam à inovação em serviços, não

basta procurarmos somente as habilidades específicas dos indivíduos, mas também, quais

procedimentos que coordenariam estes indivíduos para executarem suas tarefas

coletivamente.

No Capítulo 3 serão apresentadas as perspectivas teóricas utilizadas no presente

trabalho para abordar inovações no serviço de disposição final de resíduos em aterros com

MDL com enfoque nas técnicas e competências em um contexto multiagente.

40

Nonaka e Takeuchi (1997) embasam-se na ideia de que o conhecimento é criado a partir da interação entre o

conhecimento tácito e o explícito, e propõem o modelo “a espiral do conhecimento”, baseado em 4 pilares:

socialização; externalização; combinação; e internalização.

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80

Capítulo 3. Perspectivas Teóricas Utilizadas Para Abordar

Inovação em Serviço

O Capítulo 3 apresenta as perspectivas teóricas utilizadas no presente trabalho

para abordar a inovação no serviço (concretizada e potencial) de disposição final de resíduos

em aterros com MDL. Assim, recorre-se, ao Modelo de Representação do Produto e da

Inovação baseado em características do serviço e às Redes Público-Privadas de Inovação em

Serviço (RIPPS). Por meio das técnicas e competências dos agentes envolvidos na produção e

na entrega do serviço, busca-se identificar inovações tecnológicas e não tecnológicas que

incidem sobre a modificação das características do serviço de disposição final de resíduos em

aterros. Por meio do conceito de RIPPS, busca-se identificar e sistematizar os aspectos

relacionados à interação dos agentes, enfatizando a participação de associações e cooperativas

de catadores de materiais recicláveis do entorno dos aterros.

3.1 Modelo de Representação do Produto e da Inovação em termos de

Características do Serviço

De acordo com Gadrey (2000), o produto de serviços é uma construção social que

envolve pontos de vista de diferentes atores e o contexto que esses atores estão inseridos

(cultural, social, institucional, econômico, entre outros). Assim, a descrição do produto final

dos serviços, indo além das especificações técnicas, não é necessariamente percebida da

mesma forma pelos atores (DJELLAL e GALLOUJ, 2009). A descrição do serviço é

subjetiva, depende dos critérios de julgamento dos atores (ZARIFIAN, 2007).

Nestes relacionamentos, caracterizados pela interação entre cliente/usuário e

prestador do serviço, ressalta-se novamente o componente da relação do serviço, bem como

as competências (técnicas e/ou humanas) necessárias para a prestação do serviço (LENHARI,

2010). Permeado ainda nas lógicas de serviços propostas por Gadrey (2000) e trazendo-as

para o contexto estudado, ou seja, os serviços no setor de resíduos sólidos, este pode envolver

desde a geração, até a disposição final (ambientalmente adequada ou não).

De acordo com Gallouj e Weinstein (1997), o produto (seja bem ou serviço) é

entendido a partir de um conjunto de vetores de características e competências, representadas

no modelo “characteristics-based approach” (GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997).

O modelo é atualizado em Gallouj e Savona (2010), acrescentando - para além das

técnicas dos prestadores - as técnicas do cliente. Como demonstrado pela Figura 2, [Y]

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corresponde às características do serviço, [T] às características técnicas internas; [T'] às

características técnicas externas; [C] às competências internas; e [C'] às competências

externas.

Fonte: Gallouj e Weinstein (1997) e Gallouj e Savona (2010)

Assim, um serviço pode ser definido como a mobilização de competências

internas ou externas e técnicas internas ou externas (tangíveis ou intangíveis) para produzir as

características finais do produto ou serviço. E nessa representação, inovação é reflexo de

alterações nas técnicas e/ou competências dos agentes envolvidos no serviço (Gallouj, 2002),

com os seguintes tipos de inovação:

- A inovação radical: apresenta a concepção de um novo conjunto de

características;

- Inovação incremental: apresenta a adição e, provavelmente, a eliminação ou

substituição de características;

- Inovação de melhoria: reflete a melhoria ou qualidade de algumas

características, sem transformar a estrutura do sistema de competências;

- Formalização da inovação: apresenta a formatação e padronização de

características;

Figura 2: O produto (bem ou serviço) como um conjunto de

características e competências (characteristics-based approach)

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82

- Inovação de recombinação: apresenta a dissociação e associação das

características finais e técnicas.

- Ad hoc: apresenta alto grau de interação entre o cliente e o prestador de serviço

para a busca de soluções a um problema específico.

Uma contribuição recente ao modelo foi feita pelos autores Windrum e García-

Goñi (2008) sugerindo a inclusão do governo no modelo de Gallouj e Weinstein (1997).

Windrum e Garcia-Goni (2008) apontam que a qualidade de um bem ou serviço é resultado de

um conjunto de competências detidas por provedores/ produtores e pelos usuários. Destacam-

se as competências dos provedores de serviços que são classificadas em back office

competences e user facing competences, ou competências que são necessárias na interação

com os usuários.

As user facing competences incluem todas as competências tangíveis e

intangíveis, que são usadas para produzir as características do serviço. Estas competências são

mobilizadas pelos prestadores do serviço ao interagirem com seus usuários para definir,

produzir e entregar o serviço final. Já a back office competences são as habilidades e

atividades administrativas que dão suporte a user facing competences.

Quando tratamos da inovação em serviços prestados pelo setor público,

especificamente no setor de resíduos sólidos, devemos fazer um esforço para o entendimento

da relação de serviço entre prestador e usuário, uma vez que a concepção de Gadrey (2000) e

outros autores que abordam a inovação em serviços tratam dos serviços marcados pelo

relacionamento próximo entre cliente e prestador de serviço.

Deste modo, destaca-se que cada tipo de serviço relaciona-se inteiramente com as

competências necessárias para a sua execução. Sendo que nos serviços que possuem pouco

contato entre prestador e usuário do serviço as competências exigidas são, basicamente,

competências da organização. Enfocando a implantação de projetos de MDL, que exigem

publicidade das ações e participação da sociedade civil, os usuários do serviço também

possuem um papel importante no desenvolvimento de competências, no contexto analisado.

Assim, no caso estudado, a coprodução dos serviços pode ser abordada a partir da

demanda dos usuários com participação na (re) configuração dos serviços relacionados aos

RSU, contudo, de modo mais acentuado, abrangeremos o papel do usuário na avaliação dos

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resultados, ou seja, os cobenefícios sociais e ambientais provenientes dos projetos do

mercado de carbono em aterros sanitários.

E a abrangência da prestação deste serviço, bem como a perspectiva (e exigência)

do usuário variará largamente de acordo com o contexto a que o serviço se circunscreve

(LENHARI, 2010). Assim, podemos inserir o conceito (subjetivo) de valor sobre o que se

entende pelo produto de um serviço. O presente trabalho pretende elucidar este conceito de

valor a partir do que autores, como Windrum e García-Goñi (2008), denominam como

“preferências”, que são determinadas, em grande parte, pelo contexto a que os indivíduos

estão inseridos.

Destaca-se na literatura sobre inovação em serviços uma atenção especial voltada

para a questão dos anseios e inclinações dos (multi) agentes participantes do processo de

inovação. Sobretudo, nos trabalhos de Gallouj et al quando é abordada a questão das

“inclinações” dos agentes, em geral, a denominação empregada é “objetivo (goal)”.

No modelo multiagentes de Windrum e García-Goñi (2008) além das

competências, incorporam-se as preferências dos agentes participantes da inovação em

serviços, referentes às motivações, inclinações e desejos para o processo de inovação. No

entanto, os autores observam que não há ainda uma definição clara para as preferências e

competências, sendo ainda um campo a ser desenvolvido pelos estudiosos do tema.

De acordo com esses autores, as preferências dos agentes podem mudar ao longo

do tempo, podem ser conflitantes, e sua determinação é influenciada tanto pela esfera privada

(indivíduo) como pela esfera coletiva (grupo social de inserção do indivíduo), e podem ser

influenciadas também por valores religiosos e morais.

Verificando os trabalhos de Gallouj et al (2013) Djellal e Gallouj (2013), Labarthe

et al (2013), DiMeglio (2013), Weber e Heller-Schuh (2013); e Windrum (WINDRUM, 2005;

WINDRUM e GARCÍA-GOÑI 2008; WINDRUM et al, 2008; WINDRUM et al 2009;

WINDRUM 2013) podemos averiguar uma sensível diferença no que tange ao emprego dos

termos: objetivos e preferências.

As abordagens estão relacionadas, mas não possuem o mesmo significado.

Enquanto o uso de “objetivos” pressupõe contextos mais evoluídos com redes já constituídas

e os diferentes agentes em consenso quanto ao objetivo perseguido, a abordagem focada em

preferências permite descrever e analisar contextos onde o referido consenso ainda não foi

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84

estabelecido, podendo ser identificados conflitos. Os interesses dos agentes podem ser

diferentes e até conflitantes, o que pode dificultar a definição de objetivos em comum e a

consequente constituição de redes de agentes. O Quadro 14 sintetiza esta análise:

Quadro 14: Interesses dos agentes – objetivos e preferências

Termo

utilizado

Sinônimos/ termos

relacionados Contexto das redes Consenso entre os agentes

Objetivos Objetivo; alvo principal

Pressupõe contexto mais

evoluído, com redes já

estão constituídas

Pressupõe que os diferentes

agentes estão em consenso

quanto ao objetivo

perseguido

Preferências

Desejos; escolhas;

conveniências; motivações;

interesses; necessidades

Pressupõe contexto

menos evoluído da rede

Permite descrever e analisar

contextos onde o consenso

ainda não foi concebido

Fonte: elaboração própria.

As abordagens no que tange ao emprego dos termos (objetivos e preferências)

podem contribuir para a descrição e análise do que ocorre nos projetos de MDL em aterros,

objeto de estudo do presente trabalho, proporcionando suporte analítico à identificação e

análise da atuação dos agentes (setor público, concessionárias privadas e população do

entorno).

Na tentativa de decifrar o que seriam estas preferências dos agentes (na

perspectiva de Windrum e García-Goñi (2008) e Windrum (2013)) buscamos nos trabalhos

mais recentes destes autores – estudos de caso em saúde e transporte - o que são considerados

como sinônimos de preferências e/ou termos relacionados. São: desejos; necessidades;

interesses; escolhas; conveniências; motivações (Quadro 15).

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85

Quadro 15: Preferências dos agentes

Referência Windrum e García-Goñi (2008)

Estudo de caso Inovação em serviços de saúde: cirurgia ambulatorial

Preferências

Setor Público Provedor do Serviço Consumidor/ usuário

Sinônimos/

termos

relacionados

- Ser eleito e

posteriormente

reeleito no futuro

- Maximizar o

bem-estar social

- redução de

custos

- o desejo de reduzir listas

de espera para

procedimentos cirúrgicos

- redução de custos

- Redução de internação

hospitalar

- o desejo de reduzir o tempo de

espera para realizar

procedimentos cirúrgicos

Desejos;

necessidades;

interesses;

Observações

- Quanto maior o nível educacional dos pacientes é mais rápido o entendimento

dos benefícios da inovação; preferências são socialmente influenciadas pelo

ambiente em que vive o paciente; a demanda é determinada em parte pelo grupo

social/ familiar ao qual pertencem os pacientes

Referência Windrum (2013)

Estudo de caso Inovação em Serviços de Transporte Executivo: Greater Manchester

Passenger Transport Executive

Preferências

Setor Público Provedor do Serviço Consumidor/ usuário

Sinônimos/

termos

relacionados

- Ser eleito e

posteriormente

reeleito no futuro

- Maximizar o

bem-estar social

Desejo de identificar: a

função de produção ideal;

associada com o design

ideal; com a combinação

de preço característico

ideal para o seu

consumidor alvo

- deseja um serviço menos

impactante ao meio ambiente;

opções de transporte público

coletivo (trens e ônibus); Menos

congestionamento; Menos

poluição; Melhorar as condições

ambientais; Redução de riscos

Desejos;

escolhas;

conveniências;

motivações

Fonte: elaboração própria, baseado em Windrum e García-Goñi (2008) e Windrum (2013).

Tem-se em conta que o escopo e a trajetória de inovações em serviço não são

apenas regidos pelas competências dos provedores, mas também pela necessidade de mediar

as preferências (possivelmente conflitantes) dos tomadores de decisão, prestadores dos

serviços e usuários (WINDRUM; GARCÍA-GOÑI, 2008). Quando as preferências divergem

fortemente, o poder relativo dos diferentes agentes pode ser um fator decisivo (DI MEGLIO,

2013; WINDRUM, 2013).

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Por fim, aponta-se que mesmo com as lacunas, o modelo apresentado pode

contribuir na busca do melhor entendimento da evolução dos processos de inovação em

serviço. No caso, focando a análise das oportunidades para inovar na prestação de serviços de

resíduos sólidos no contexto dos projetos de MDL em aterros sanitários.

O modelo multiagentes auxilia na indicação da diversidade de preferências dos

agentes participantes, bem como, corrobora que a eficácia na inovação em serviço passa por

constituição de redes. Contudo, para que isso ocorra de fato, exige-se a construção de

concordância em torno de objetivos consensuados. Cada agente colaborando a partir de suas

competências.

3.2 Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço (RIPPS)

Um elemento essencial do fornecimento do serviço relaciona-se a indivisibilidade

entre o processo produtivo e seus resultados, uma vez que o resultado de um serviço não pode

desassociar-se de seu processo. Portanto, nestes relacionamentos, caracterizados pela

interação entre os diferentes atores participantes (cliente/usuário e prestador do serviço),

ressalta-se o componente da relação do serviço, bem como as competências (técnicas ou

humanas) necessárias para a prestação do serviço.

Destaca-se também a importância dos processos organizacionais e de gestão da

inovação, dado que os processos de inovação em serviços raramente são realizados em um

determinado departamento de P&D ou inovação. Ou seja, as competências e estrutura

organizacional desempenham um papel importante nos processos de inovação em serviços

(HERTOG et al., 2010; DJELLAL et al., 2013, GALLOUJ et al., 2013).

Assim, os agentes públicos e privados devem ser capazes de cooperar no sentido

de mobilizar recursos e competências complementares, direcionadas para produzir (além das

inovações tecnológicas) inovações intangíveis e não tecnológicas, bem como partilhar os

riscos relacionados. Logo, observa-se que mecanismos interorganizacionais devem ser

construídos para que se alcancem os objetivos comuns.

Isto é especialmente importante para os serviços públicos tradicionais como os

relacionados aos resíduos sólidos, necessitando, no contexto estudado, de uma nova estrutura

– em relação a abordagens, soluções, estratégias – para enfrentar mudanças rápidas e

complexas apontadas, por exemplo, pelas políticas ambientais.

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87

Ainda que por muito tempo tenha permanecido a ideia de que serviços públicos

são prestados, em número maior pelo setor público, mais recentemente há clareza da

diversificação da prestação destes serviços que podem ser fornecidos tanto pelo setor público

quanto pelo setor privado, ou até mesmo por ambos (DI MEGLIO, 2013). Djellal e Gallouj

(2008) ressaltam uma característica importante dos serviços públicos, apontando que sua

prestação geralmente envolve uma gama mais complexa e ampla de agentes e instituições.

Em meio a este contexto, para a sustentação deste trabalho, o conceito de redes

público-privadas de inovação em serviço – do inglês public-private innovation networks in

service sectors (RIPPS) - é pertinente uma vez que permite analisar as interações, as

competências relacionais e organizacionais, bem como as preferências (inclinações) dos

diversos agentes (tanto privado como público), considerados elementos importantes da

inovação em serviços (DJELLAL; GALLOUJ, 2013; WEBER; HELLER-SCHUH, 2013;

WINDRUM, 2013).

Deste modo, esta seção tem como objetivo abordar o conceito de RIPPS

salientando o papel dos atores (setor público e privado) e os processos de interação entre eles,

visando a promoção da inovação (nas dimensões tecnológica e não tecnológica).

3.2.1 O Surgimento e o Conceito de Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço

RIPPS

As redes público privadas de inovação em serviços (RIPPSs) são redes de

parcerias colaborativas entre organizações públicas e privadas, focadas na inovação em

serviços e que salienta o importante papel desempenhado pelo setor público (coordenação,

fiscalização etc) bem como a participação dos usuários finais (cidadãos) dos serviços.

Destacam-se alguns pontos que diferenciam o conceito de RIPPS das parcerias público-

privadas (PPP) e Rede de inovação (RI) tradicional.

RIPPS e PPP

RIPPS e PPP possuem em comum o fato essencial da articulação entre os atores

públicos e privados. Já, algumas características as distinguem (GALLOUJ et al., 2013;

DJELLAL; GALLOUJ, 2015):

Em RIPPS propõe-se uma estrutura mais aberta e flexível do que as

parcerias público-privadas PPP, que tendem a constituir relações mais fechadas entre

os atores e com funções e regras pré-definidas, somadas aos procedimentos formais

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(sobretudo, contratos) que podem burocratizar o processo e limitar o potencial de

inovação;

As relações entre os setores público e privado nas RIPPS estão mais

focadas em sua complexidade do que em termos de relações econômicas. Em RIPPs,

os enfoques não são apenas em recursos financeiros, redução dos riscos, mas destacam

também os aspectos cognitivos, sobretudo, em termos de complementaridade de

competências; e

Nas PPPs, inovação não é o objetivo principal41

.

RIPPS e RI

De acordo com diversos autores (FUGLSANG; 2013; DJELLAL; GALLOUJ,

2013; GALLOUJ et al., 2013; LABARTHE et al., 2013; SUNDBO, 2013; DJELLAL;

GALLOUJ, 2015) o conceito de rede de inovação (RI) tradicional tem certo número de

lacunas, que são: foco demasiado em tecnologia; focados no setor manufatureiro (deficiência

decorrente justamente do foco em tecnologia); e viés de mercado (centralidade nos atores

privados).

Nesse sentido, as RIPPS contribuem para abertura do conceito de rede de

inovação (RI) tradicional, dado que na RIPPS a interação entre os setores público e privado

ocupa uma posição central, com o reconhecimento do importante papel desempenhado por

organizações do setor público no processo de inovação e colocam-se como fatores-chave as

inovações não tecnológicas e a participação dos usuários do serviço.

A RIPPS enfatiza a incorporação dos aspectos não tecnológicos da inovação, tais

como: inovação organizacional, inovação ad hoc, inovação social, e os processos de inovação

do tipo bricolage, definido por Fuglsang (2010) como sendo inovação por meio de atividades

não programadas, processos de tentativa e erro e adaptação a eventos aleatórios.

Muitos dos aspectos supracitados não são negligenciados nas RI tradicionais, no

entanto, nas RIPPS esses pontos são considerados fundamentais e destacados explicitamente.

41

Embora exista um tipo específico de PPP voltada à inovação (innovation-oriented PPPs), esas podem ser

consideradas como exemplos específicos de RIPPS, isto é, se abarcarem também as outras características que

diferenciam RIPPS de PPPs tradicionais (DJELLAL; GALLOUJ, 2015).

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89

3.2.2 Constituição das RIPPS

As RIPPS não são homogêneas, podem ser diferenciadas/ categorizadas por:

tecnológicas ou não tecnológicas; adotadas ou produzidas; e planejadas ou não planejadas

(espontâneas). No caso da rede espontânea, ressalta-se o papel da existência de pressões

ambientais, oportunidades econômicas, tecnológicas, questões legais, como sendo fatores

externos que influenciam a criação das redes (DI MEGLIO, 2013, GREEN et al, 2013,

LABARTHE et al, 2013).

Pressões externas (regulamentações, mercado, meio ambiente) conduzem a um

alinhamento de interesses entre os atores de diferentes setores, facilitando também a relação

de confiança entre os possíveis parceiros da rede.

Ainda, quanto mais intensa as consequências e efeitos dessas mudanças externas,

menor é a necessidade de um ator em específico desencadear a formação de rede. Ou seja, na

presença de pressão ambiental (resultando no alinhamento de interesses) redes podem surgir

espontaneamente e de forma auto-organizada.

Em uma rede espontânea, há grande probabilidade dos atores participantes já

conheçam uns aos outros e o interesse comum destes atores, de certo modo, facilita a

obtenção de um consenso operacional sobre a composição, a estrutura e a vida útil da rede de

inovação. Membros complementares podem ser associados por meio de um processo de

atração e recomendação interna da rede.

Redes espontâneas podem também serem ameaçadas por algum tipo de inércia,

caso as similaridades dos atores, em relação aos recursos e bases de conhecimento, restrinjam

o reconhecimento de abordagens alternativas para responder às mudanças no ambiente em

que estão inseridos. Isto sugere algumas implicações importantes para a mudança do papel de

atores, bem como para a gestão de redes de inovação público-privadas em serviços. Neste

sentido, Sundbo (2010; 2013) ao apresentar as RIPPS ressalta também a importância da

redefinição dos papéis dos atores ao longo do tempo.

Di Meglio (2013) aponta que em uma rede planejada, a saída de um ator forte,

como por exemplo, um agente público, constitui-se em um evento crítico com importantes

consequências para o funcionamento e a estabilidade da rede, uma vez que o ator central de

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90

uma RIPPS planejada serve como conector entre os demais membros, sendo essenciais para a

manutenção dos fluxos de conhecimento e para a estabilidade global da rede.

Conforme demonstrado por alguns dos estudos de caso abordados no RIPPS

research project42

, muitos deles não foram orientados, explicitamente, objetivando a

inovação. Por exemplo, no caso de hospitais em que muitas vezes o objetivo principal era a

redução de custos no uso de tecnologias.

Nesta mesma linha, seguem os projetos de MDL em aterros, nos quais, embora

não estejam claramente orientados à busca de serviços públicos novos ou melhorados, a

questão da tecnologia e da inovação aparece como um dos aspectos da geração de

cobenefícios locais, que é também um dos objetivos do MDL, junto com a redução de

emissão de GEE.

Mudanças e inovações interessantes podem surgir dessas novas conformações -

que podem ser rotuladas como redes de inovação. (DJELLAL; GALLOUJ, 2013; GALLOUJ

et al, 2013b). Levando em conta também as inovações não tecnológicas, incrementais e

programadas (ad hoc, bricolage, aplicação rápida, etc.). Assim, também é possível considerar

estas redes que não são explicitamente (ou imediatamente) orientadas para a inovação como

sendo RIPPS.

3.2.3. Tipos de RIPPS

Djellal e Gallouj (2013) propõem uma tipologia de RIPPS baseada nas

especificidades da inovação implementada. Os critérios utilizados para esta tipologia são: a

natureza da inovação (visível/ invisível); seu grau de simplicidade; sua origem (adoção/

produção) e a natureza planejada ou não planejada da inovação.

Quatro tipos de RIPPS são identificadas, elencadas de acordo com sua

complexidade: 1) RIPPS simples para adotar uma tecnologia; 2) RIPPS simples para produzir

inovação tecnológica; 3) RIPPS simples para produzir inovação não tecnológica; e 4) RIPPS

complexa ou arquitetural.

42

RIPPS Research Project é um projeto de pesquisa que incide sobre o papel dos serviços públicos e privados

sobre o crescimento e o bem estar e a função específica de redes de inovação público-privada em serviços. Para

maiores informações: http://www.RIPPS.com/

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91

Os tipos de RIPPS podem ainda serem relacionados às abordagens dos estudos de

inovação em serviços: tecnicista, baseada em serviços e integradora, conforme exposto pela

figura 3:

Complexidade

Abordagens dos

estudos de inovação em

serviços

Tipo de RIPPS

Objetivos

Tecnicista

(Assimilation)

1) RIPPS simples para

adotar uma tecnologia

Agentes públicos e privados cooperarem para

adotar a inovação tecnológica planejada e

simples desenvolvida no setor manufatureiro

2) RIPPS simples para

produzir inovação

tecnológica

A produção planejada e simples de inovação

tecnológica em serviços é o principal objetivo

para a cooperação entre agentes públicos e

privados

Baseada em serviços

(Demarcation)

3) RIPPS simples para

produzir inovação não

tecnológica

Agentes públicos e privados cooperam,

sobretudo, para produzir inovação simples e

não planejada

Integradora

(Integration)

4) RIPPS complexa ou

arquitetural É considerada o tipo de RIPPS mais complexo,

pois pode abranger vários modos de inovação

Figura 3: Tipos de RIPPS relacionados a abordagens de inovação em serviço

Fonte: baseado em Djellal e Gallouj (2013)

A produção de inovação na RIPPS arquitetural é resultado de processos

complexos e não complexos de interações entre diversos atores com competências e objetivos

heterogêneos (DJELLAL; GALLOUJ, 2013), considerando que os vários objetivos dos

stakeholders influenciam a produção e adoção das inovações. A complexidade deste tipo de

RIPPS descreve as várias formas de inovação que inclui, consequentemente, as diversas

técnicas, competências e objetivos a serem considerados.

Do ponto de vista teórico, a abordagem de inovação em serviços que melhor se

encaixa nesta perspectiva é a integradora, abordagem que leva em conta inovações em

serviços e na manufatura, visíveis e invisíveis, tecnológicos e não tecnológicos, modos de

inovação simples e complexos, previsíveis e imprevisíveis.

a) Tipos de inovações em RIPPS

Ao compilarem os dados dos casos de RIPPS estudados, Djellal e Gallouj

(2013) identificaram 5 tipos de inovações: 1) inovações tecnológicas; 2) inovações em

serviços cognitivas; 3) inovações conceituais; 4) inovações organizacionais e de processos; 5)

inovações baseadas em rede.

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92

De acordo com os autores, as inovações tecnológicas são aquelas que

apresentam elementos materiais, inovações de produto ou processo, ou serviços que

dependem em grande medida de tecnologias (serviços mediados por tecnologia).

As inovações em serviços cognitivas são aquelas que apresentam inovações

intangíveis que envolvem a prestação de novos serviços com componentes cognitivos (por

exemplo, novas áreas de especialização em consultoria).

As inovações conceituais consistem na introdução de novos "produtos"

intangíveis (novos formatos de serviço), que surgem frequentemente em alguns serviços de

consumo, tais como: hotelaria, restaurantes, varejo e turismo.

As inovações organizacionais e de processos envolvem o desenvolvimento de

novas estruturas organizacionais, novos processos ou a melhoria das estruturas, práticas ou

processos existentes.

As inovações baseadas em rede são uma configuração particular de inovação

organizacional, refletindo a ideia de que a constituição da RIPPS por si só já pode ser

considerada como a principal finalidade da inovação.

A abordagem integradora em RIPPS, por meio da complementaridade entre as

habilidades, competências, conhecimentos e tecnologias dos agentes participantes, pode vir a

ser uma estratégia de mudança do modelo linear para o modelo complexo de inovação,

entendendo a inovação como sendo um resultado do esforço coletivo de vários atores.

b) Múltiplos agentes

Diferentes tipos de atores estão envolvidos no processo de inovação, assim, a

prestação de serviços em uma configuração multiagentes permite o desenvolvimento de

complementaridades e sinergias em meio aos diferentes agentes, cada uma com seus próprios

objetivos e competências específicas (WINDRUM; GARCÍA-GOÑI, 2008; WEBER;

HELLER-SCHUH, 2013; WINDRUM, 2013).

Através do conceito RIPPS, Gallouj et al (2013) enfatizam a importância de vários

links e feedbacks (interfaces) entre o setor público e privado, e também com os usuários (no

nosso caso, os representantes das associações das comunidades do entorno dos aterros) para

inovação de serviços.

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93

Conforme apontado por Djellal e Gallouj (2013):

ServPPINS are multi-agent service relationship systems. The actors

involved in interaction have to deal with the ill-defined nature of

their respective products, their non-stockability, a diversity of

systems of interaction, the multiplicity of possibly competing value

systems and the fact that their products are located in different

spatial and temporal scales. ServPPINS introduce the traditional

research questions of service economics into network-based analyses

of innovation. (Djellal and Gallouj, 2013 p. 30. highlighted by the

authors).

Deste modo, as conformações multiagentes, tornam-se particularmente favoráveis

aos estudos baseados no conceito de redes público-privadas de inovação.

Especificamente, o modelo multiagentes proposto por Windrum e García-Goñi

(2008) (inspirado em Gallouj e Weinstein, 1997) apresenta uma estrutura analítica que

abrange as interações entre os diversos agentes das esferas política, econômica e social. O

diferencial deste modelo, em suma, consiste na inclusão do governo como sendo um agente

relevante no processo de inovação, e também, o modelo destaca a relevância da consideração

das preferências dos diversos atores.

O modelo destaca ainda a importância das competências organizacionais e

relacionais, sobretudo, a interação entre provedores e usuários finais, na determinação da

trajetória das características do serviço. E também, não ignora o papel do conhecimento

técnico, que também é parte da prestação do serviço (Figura 4).

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94

Fonte: Cruz (2012)

Este modelo permite um foco sobre perspectivas das partes interessadas no

processo de inovação e também incentiva a identificação de oportunidades para a promoção

da inovação no fornecimento de serviços públicos (no caso, o setor de resíduos sólidos

municipal).

Nos estudos de caso analisados pelo RIPPS research Project, além da importância

dos arranjos flexíveis entre os atores anteriormente citada, frequentemente é salientada a

presença de uma liderança forte na rede, a nível operacional e estratégico, destacando-se a

importância do perfil “empreendedor” nas gestões das organizações públicas e privadas

(RADNOR et al, 2013).

As instituições públicas são decisivas para o sucesso e sustentabilidade das

RIPPSs, sobretudo, pelo importante papel institucional e regulamentador que exercem

(GALLOUJ et al, 2013a; WEBER; HELLER-SCHUH, 2013; WINDRUM, 2013).

Também, não há como entender a dinâmica da inovação em serviços do setor

público sem considerar explicitamente o papel desempenhado por este ator (WINDRUM;

GARCÍA-GOÑI, 2008). Apontando-se os atores e iniciadores da formação das RIPPS dos

Figura 4: Modelo multiagentes aplicado aos aterros sanitários

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95

estudos de caso analisados por Djellal e Gallouj (2013), mais uma vez ressalta-se o papel do

setor público como sendo crucial para impulsionar a formação da rede (Gráfico 1).

Gráfico 1: Atores e iniciadores da formação das RIPPS

Fonte: baseado em Djellal e Gallouj (2013)

O papel desempenhado pelo setor público difere entre as diferentes RIPPS, mas,

em regra, nas RIPPS, organizações públicas podem assumir um papel de liderança como

iniciadores, organizadores e propagadores de novas ideias.

Este papel proativo do ator público é particularmente relevante para abordar os

principais desafios sociais (por exemplo, demográfico, ambiental etc.) em que o setor privado,

em geral, não possui incentivos suficientes para responder (DI MEGLIO, 2013).

No entanto, para atuar nesta nova conformação, exige-se também o

desenvolvimento de competências no setor público visando ampliar seus limites

organizacionais, adotando também algumas das práticas e características culturais dos seus

parceiros de colaboração. Estas mudanças implicam na necessidade de desenvolver uma

composição diferente de comunicação, coordenação e governança.

No contexto dos projetos de MDL, ressalta-se a importância da participação dos

stakeholders ao longo das etapas de desenvolvimento dos projetos. De acordo com o

Protocolo de Quioto, define-se stakeholder como: público, incluindo indivíduos, grupos e

comunidades afetadas ou prováveis de serem afetadas pela atividade proposta pelo MDL.

A Autoridade Nacional Designada (AND), além da validação da elaboração do

documento de concepção do projeto (DCP), também responsável por verificar se as

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96

exigências concernentes à participação dos stakeholders estão sendo cumpridas, levando em

consideração: o envio das cartas convite para a participação dos stakeholders; resumo das

informações apresentadas pelos stakeholders e; por fim, a AND deve elaborar um relatório

evidenciando o modo que os comentários fornecidos foram levados em consideração.

c) Os usuários do serviço

É notável nos últimos anos a crescente promoção da participação dos cidadãos,

sobretudo, nos países em desenvolvimento, a partir da adoção de mecanismos de governança

participativa (SPEER, 2012).

Estes mecanismos buscam envolver os cidadãos nas tomadas de decisão sobre a

distribuição de fundos públicos entre comunidades, conformação de políticas públicas, bem

como no acompanhamento e avaliação das despesas governamentais.

Segundo Speer (2012) um dos principais motivos citados para que se

implementem mecanismos de governança participativa, relaciona-se à melhoria dos serviços

públicos.

O argumento utilizado é que ao empoderar os cidadãos e fortalecer a democracia,

há uma tendência em aumentar a capacidade de resposta do governo local, bem como o

accountability. O que melhora a eficiência e a sustentabilidade da oferta de serviços públicos,

uma vez que pode ter a capacidade de nivelar os serviços públicos às preferências dos

usuários.

Mecanismos de governança participativa podem melhorar os fluxos de informação

nas duas vias: dos cidadãos para os governos, ao exporem suas demandas e preferências; e

dos governos para os cidadãos sobre as decisões e ações de governo, bem como sobre os

resultados da prestação dos serviços (Figura 5).

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97

Fonte: elaboração própria, baseado em Speer (2012).

Assim como considerado em Labarthe et al (2013), os usuários do serviço não

são usuários individuais que estão integrados à rede. São organizações coletivas que os

representam que são membros da RIPPS, no caso, representantes das associações das

comunidades do entorno dos aterros estudados.

Ao mesmo tempo em que é notada a relevância de integrar os usuários no

processo de inovação em serviços, por outro lado os resultados do RIPPS research Project

indicam que ainda é limitada a participação das organizações do terceiro setor e que é

marginal o envolvimento dos usuários finais (cidadãos) dos serviços.

Portanto, sobretudo no que concerne ao papel que a sociedade civil tem a

desempenhar no contexto das RIPPS – que auxiliam na tradução das preferências sociais não

refletidas (apenas) pelos preços de mercado - necessita-se capacitar o setor público, privado e

terceiro setor para que exista uma cooperação bem sucedida.

Figura 5: Governança participativa - vias de fluxo de informação

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98

Capítulo 4. Metodologia

Esse capítulo apresenta, na seção 4.1, o recorte geográfico adotado pela pesquisa,

que incide na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP e os critérios de seleção dos

estudos de caso e mapeamento das partes interessadas. Após isso, a seção 4.2 aborda a

proposição dos indicadores de avaliação de cobenefícios sociais e ambientais provenientes

dos projetos do mercado de carbono em aterros sanitários. Por fim, na seção 4.3 são

apresentados os procedimentos utilizados na coleta de dados.

Em relação ao desenvolvimento dos indicadores, apresenta-se os referenciais

nos quais essa construção está fundamentada e a posterior validação dos indicadores,

utilizando a técnica Delphi, largamente empregada para apoiar temas que envolvem múltiplos

atores, como ocorre com a construção dos indicadores propostos pela pesquisa.

4.1 Seleção dos aterros sanitários com MDL e mapeamento das partes interessadas

Para mapear os projetos de redução de GEE implantados em aterros sanitários,

primeiramente partiu-se de um universo maior, considerando tanto os projetos no âmbito do

mercado voluntário, quanto do mercado regulado de carbono (projetos de mecanismo de

desenvolvimento limpo MDL). Os projetos do mercado voluntário de carbono (MVC), foram

pesquisados nas plataformas de registro público dos principais padrões (standards) adotados

no MVC, e que possuem metodologias para o desenvolvimento de projetos no escopo setorial

aterros sanitários.

Dentre os padrões (standards) que utilizam a plataforma Markit Environmental

Registry mapeou-se o SOCIALCARBON Standard, Gold Standard e Verified Carbon

Standard (VCS). Para o VCS a plataforma CDC Climat (Caisse des Dépôts) também foi

presumida para monitoramento, no entanto, a plataforma não disponibiliza dados ao público

em geral.

Os padrões Gold Standard e VCS também têm seus projetos registrados na

plataforma APX, onde, do mesmo modo, foram verificados e mapeados projetos

desenvolvidos em aterros sanitários no Brasil.

Os projetos foram mapeados ainda nas plataformas de registro público dos

Standards (VCS e Gold Standard). O Quadro 16 resume as plataformas monitoradas com a

finalidade de mapear projetos desenvolvidos em aterros sanitários no MVC:

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99

Quadro 16: Plataformas Monitoradas no MVC

Plataforma Endereço

eletrônico Standards Transparência

Markit

Environmental

Registry

<http://www.

markit.com>

SOCIALCARBON

Standard, Gold Standard e

Verified Carbon Standard

(VCS)

Maior parte dos documentos

relativos aos projetos

disponíveis ao público em

geral

CDC Climat

(Caisse des

Dépôts)

<http://www.v

csregistry.cais

sedesdepots.co

m>

Verified Carbon Standard

(VCS)

Documentos não são

disponibilizados ao público

em geral

APX

<http://www.v

csregistry.com

>

Gold Standard e Verified

Carbon Standard (VCS)

Maior parte dos documentos

relativos aos projetos

disponíveis ao público em

geral

VCS Registry <http://www.v

csprojectdatab

ase.org>

Verified Carbon Standard

(VCS)

Toda a documentação relativa

aos projetos atualizada e

disponibilizada ao público em

geral

Gold Standard

registry

<http://www.c

dmgoldstandar

d.org/our-

activities/proje

ct-registry>

Gold Standard

Para ter acesso aos

documentos dos projetos é

necessário, previamente, se

cadastrar e abrir uma conta de

usuário (login) para acessar o

banco de dados Fonte: elaboração própria.

A partir do mapeamento realizado nas bases de dados (Quadro 16), verificou-se

somente dois projetos VCS em aterros sanitários no Brasil (até novembro de 2013), no

mercado voluntário de carbono, o projeto de gás de aterro Manaus43

, no Estado do Amazonas,

e o projeto Central de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTRS) BR.04044

em Belo Horizonte,

no Estado de Minas Gerais.

Ressalta-se que esses projetos transacionaram apenas um período de seus créditos

no MVC: o Manaus 251.635 tCO2e (Período de verificação: 07/07/2009-07/07/2011); e o

CTRS BR.040 305.302 tCO2e (Período de verificação: 29/10/2009 - 03/06/2011).

43

Manaus Landfill Gas Project:

<https://vcsprojectdatabase2.apx.com/myModule/Interactive.asp?Tab=Projects&a=2&i=1076&lat=-

2.958311&lon=-60.015205&bp=1> 44

Exploitation of the biogas from Controlled Landfill in Solid Waste Management Central – CTRS /

BR.040:<https://vcsprojectdatabase2.apx.com/myModule/Interactive.asp?Tab=Projects&a=2&i=897&lat=-

19.915832&lon=-44.018053&bp=1>

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100

Observa-se a dificuldade do mapeamento preciso dos projetos brasileiros

desenvolvidos no MVC, uma vez que não há uma única base de dados que compile as

informações dos projetos implantados no Brasil e no mundo para este mercado e, ainda, não

há como ter conhecimento exato dos projetos que estão em outras etapas da fase de validação.

Sugere-se assim que se desenvolva uma plataforma online agregando os diferentes Standards

para facilitar a busca de informações dos projetos.

Já em relação aos projetos do mercado regulado - projetos de Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL) – esses foram mapeados através das seguintes bases de

dados:

United Nations Environment Programme UNEPRisoe45

, que disponibiliza

mensalmente os status, geração de redução certificada de emissão (RCE), compradores,

entidade operacional designada (EOD) responsável pela validação, dentre outras

características, dos projetos de MDL desenvolvidos em diversos setores, inclusive em aterros

sanitários;

CDM registry da UNFCCC46

, plataforma online de registro dos projetos de

MDL, é outra fonte de dados utilizada pela pesquisa; e

Website do Ministério da Ciência Tecnologia & Inovação (MCT&I), que

disponibiliza os DCP dos projetos brasileiros e também os documentos relativos aos projetos

com base no Anexo III da resolução nº1 da CIMGC (2003).

O recorte geográfico adotado pela pesquisa incide na Região Metropolitana de

São Paulo – RMSP. A seleção dos aterros sanitários decorre dos seguintes critérios: projetos

em aterros sanitários, localizados na RMSP, que utilizem a metodologia ACM0001 (Flaring

or use of landfill gas) e com, pelo menos, um período de monitoramento verificado até o

início da pesquisa empírica (março de 2014). Seguindo tais critérios, foram selecionados os

aterros sanitários: Bandeirantes, São João, Caieiras, Itapevi, Pedreira e Lara47

.

45

UNEP Risoe Pipeline Analysis and Database: <http://www.cdmpipeline.org/ 46

O registro do MDL é uma base de dados eletrônica que disponibiliza as informações relativas aos projetos de

MDL. O registro visa, essencialmente, garantir o rigor das transações e contabilidades de RCE. Disponível no

site da UNFCCC < <http://cdm.unfccc.int/Registry/index.html>. 47

O projeto de Gás de aterro em energia no Aterro da Lara validado com a metodologia AM0003: Análise

financeira simplificada para projetos de captação de gás de aterro (Simplified financial analysis for landfill gas

capture projects) também foi selecionado para análise. Pois, o status encontrado no site da UNFCCC para esta

metodologia é: não ativa - substituída por ACM0001.

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101

As informações dos projetos de MDL nos aterros selecionados foram obtidas por

meio de pesquisa documental em relatórios de monitoramento, documentos de concepção dos

projetos (DCP), relatórios de validação e verificação e documentos dos projetos baseado no

Anexo III, relativos ao período de 2003 a 2014, utilizando-se as bases de dados do

UNEPRisoe, do CDM registry e do MCT&I.

O mapeamento das partes interessadas está embasado na definição de stakeholders

adotada pela UNFCCC na Decisão 3/CMP.1 (acordo de Marraqueche) como sendo: “o

público, incluindo os indivíduos, os grupos ou as comunidades afetados, ou com possibilidade

de serem afetados, pela atividade de projeto do mecanismo de desenvolvimento limpo”

(BRASIL, 2003, p. 4). Para a aceitação de um projeto no MDL, o Comitê Executivo exige a

participação dos stakeholders em todo o processo de desenvolvimento da atividade.

O processo de validação do projeto de MDL inicia-se com a disponibilização do

Documento de Concepção do Projeto (DCP) no site da UNFCCC para poderem ser

visualizados pelos stakeholders nacionais e internacionais.

O DCP é um documento que descreve o projeto, contemplando, além das

informações técnicas (localização, cálculos de redução de emissão, metodologias empregadas

etc), também informações sobre a consulta às partes interessadas e os comentários

apresentados por esses atores.

A Entidade Operacional Designada (EOD), auditoria independente, é responsável

pela validação e verificação dos projetos. Assim, a EOD deve revisar o DCP e outros

documentos pertinentes à validação e verificação do projeto, com o intuito de verificar, além

das questões técnicas, se as exigências apontadas pelo comitê executivo do MDL, em relação

à participação48

dos stakeholders, estão sendo cumpridas.

Segundo a Resolução nº1 da CIMGC (2003) devem ser considerados

obrigatoriamente os seguintes stakeholders no processo de consulta:

Prefeitura de cada Município envolvido;

Câmara dos vereadores de cada Município envolvido;

48

Conforme salientado anteriormente, as exigencias são: envio de convite para a participação dos stakeholders;

resumo das informações apresentadas pelos stakeholders; confirmação pelo país sede de que o projeto auxilia no

alcance do desenvolvimento sustentável; relatório da AND justificando como os comentários fornecidos foram

levados em conta.

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102

Órgãos Ambientais Estaduais e Municipais;

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS);

Associações Comunitárias cujas finalidades estejam

relacionadas direta ou indiretamente com a atividade do projeto;

Ministério Público estadual do estado envolvido; e

Ministério Público Federal.

Com base nesses elementos, durante o ano de 2013 realizou-se o levantamento de

dados sobre as partes interessadas aos projetos de MDL selecionados para estudo. A seção dos

DCP “Consulta às partes interessadas com os comentários apresentados que foram levados em

consideração”, foi investigada para cada um dos aterros selecionados, com o intuito de

mapear possíveis stakeholders. Após a pesquisa documental, foi realizado o mapeamento das

partes interessadas baseadas em uma abordagem multiagentes da inovação.

Para o setor público, consideram-se como stakeholders as prefeituras e

subprefeituras municipais e as secretarias relacionadas, e a Companhia Ambiental do Estado

de São Paulo (CETESB) que realiza visitas periódicas aos aterros para coletar dados para

elaboração do Inventário (IQR) e também para monitoramento de rotina. A fiscalização é

descentralizada, executada por 46 agências da Cetesb distribuídas pelo Estado de São Paulo.

Para o setor privado, consideram-se: para os aterros públicos, as empresas

concessionárias responsáveis pelo gerenciamento do aterro e as empresas responsáveis

somente pelo gerenciamento do biogás; no caso dos aterros privados, as próprias empresas

proprietárias do empreendimento.

As informações específicas para representantes das associações das comunidades

do entorno dos aterros diretamente afetadas pelas atividades dos empreendimentos foram

buscadas além dos documentos de concepção dos projetos e no site da UNFCCC, utilizando-

se também de busca direta no google, ferramenta de busca de informação na web, utilizando

como palavras-chave: nome do aterro sanitário; cooperativas de catadores de material

reciclável; associações de moradores do entorno dos aterros.

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103

Além disso, as seguintes bases de dados foram verificadas:

- listas de Cooperativas de material reciclável, disponível no site da Secretaria do

Meio Ambiente do Estado de São Paulo – SMA49

;

- lista de Cadastramento da Sociedade Civil Organizada – base de dados de 2009

– 2011, disponível no site do sistema de informações para gerenciamento de Recursos

Hídricos do Estado de São Paulo (SIGRH)50

, levando-se em conta, sobretudo, os dados

referentes ao comitê de bacia hidrográfica do Alto Tietê, que contempla a área geográfica

selecionada para estudo;

- atas de audiências públicas relacionadas aos créditos de carbono; resoluções

FEMA e Confema relacionadas aos projetos de MDL (no caso, somente para os projetos

Bandeirantes e São João).

A Figura 6 esquematiza especificamente o procedimento adotado para o

mapeamento dos stakeholders representantes das associações das comunidades do entorno dos

aterros diretamente afetados pelas atividades dos empreendimentos:

49

<www.ambiente.sp.gov.br> 50

<www.sigrh.sp.gov.br>

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104

Fonte: elaboração própria.

4.2 Indicadores de Cobenefícios do MDL em Aterros Sanitários

Indicadores são usados para medir a extensão com que um objetivo específico tem

sido atingido, podendo ser quantitativo e/ou qualitativo e permitindo uma variada comparação

de resultados. O uso dos indicadores um importante instrumento de gestão, uma vez que

permitem mensurar o progresso atingido. No caso específico dos indicadores de

sustentabilidade, estes são essenciais para a avaliação do progresso em relação a um

desenvolvimento sustentável (GALLOPIN, 2003), uma vez que a característica mais

importante de um indicador é o seu uso para a tomada de decisão.

Gallopín (2003) e Bellen (2006) apontam duas características basais relacionadas

à construção de indicadores: que sejam compreensíveis e a participação social em sua

formulação. Dado que os indicadores são meios de comunicação, devem ser, portanto, de fácil

entendimento para todos os participantes do processo. E a participação das partes interessadas

Figura 6: mapeamento dos representantes das associações das comunidades do entorno dos aterros

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105

constitui-se um elemento fundamental na utilização de sistemas de indicadores, reforçando

sua legitimidade, construção do conhecimento e tomada de consciência sobre o cenário local.

Para a construção dos indicadores de resultados sociais e ambientais provenientes

dos projetos do mercado de carbono em aterros sanitários, primeiramente, necessitou-se

determinar o referencial considerado: o padrão SOCIALCARBON.

Cumprida esta etapa, é realizado o desenvolvimento e posterior validação dos

indicadores por meio da técnica Delphi, largamente empregada para apoiar temas que

envolvem múltiplos atores, como ocorre com a construção dos indicadores propostos pela

pesquisa. Na etapa de desenvolvimento dos indicadores, primeiramente, foi necessário

realizar um vasto levantamento de documentos, sobre avaliação de cobenefícios, da

UNFCCC, da AND brasileira e do mercado voluntário de carbono no mercado de carbono e

também na literatura nacional e internacional sobre projetos de redução de GEE, conforme

mostrado no Capítulo 1 (o capítulo sobre Mercado de carbono).

A seleção do padrão do mercado voluntário de carbono considerado como

referencial para a elaboração dos indicadores na pesquisa dos seguintes critérios: padrão

desenvolvido no Brasil; a classificação como padrão de avaliação de cobenefícios; e

a existência de uma base de dados pública. Assim, com base nesses critérios é considerado

como referencial SOCIALCARBON (co-benefit/ add-on standard).

O SOCIALCARBON Standard define recursos a partir dos parâmetros de

desenvolvimento sustentável considerados por Scoones (1998), originalmente apontado como

“meio de vida sustentável”, que consiste no acesso à capacidade, a bens (materiais e sociais) e

atividades requeridos para a sobrevivência de um indivíduo. O autor argumenta que a

habilidade de possuir diferentes meios de vida depende dos bens materiais e sociais que as

pessoas possuem, definindo assim cinco diferentes tipologias de bens, que foram

denominados como “recursos”: o capital natural, o econômico ou financeiro, o humano, o

social e o físico.

O standard considera os cinco recursos definidos por Scoones, incorporando dois

novos: biodiversidade e carbono (Quadro 17).

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106

Quadro 17: Recursos da Metodologia do SOCIALCARBON Standard

Recurso Descrição

Recurso Tecnológico

Avalia as condições de acesso a bens tecnológicos, incluindo inovação de equipamentos e

processos com foco na sua contribuição para o desenvolvimento econômico, social e

ambiental Recurso

Biodiversidade51

Representa o conjunto das espécies, ecossistemas e genes que formam a diversidade

biológica. É o equilíbrio do meio físico natural

Recurso Natural Relação existente entre o empreendimento e o estoque de recursos naturais e serviços

ambientais de onde derivam os recursos para gerar um meio de vida

Recurso Financeiro É o capital básico e outros bens econômicos disponíveis ou potenciais para as pessoas.

Também são as estruturas físicas e tecnológicas que possibilitam o giro financeiro.

Recurso Humano

São as habilidades, conhecimentos e a capacidade para o trabalho e para a vida que as

pessoas possuem, além de boa saúde. São itens fundamentais para garantir a

operacionalização do empreendimento.

Recurso Social

Abrangem ações de responsabilidade social, além de rede de trabalho, reivindicações

sociais, relações sociais, relacionamentos com a comunidade, associações e organizações

sociais.

Recurso Carbono Referente ao tipo de projeto de carbono desenvolvido, abrangendo as metodologias

utilizadas, o desempenho do projeto e o envolvimento das partes interessadas.

Fonte: Cruz (2012)

O SOCIALCARBON Standard possui indicadores para Aterros Sanitários

voltados a diagnosticar as condições socioambientais das comunidades do entorno de projetos

em aterros sanitários (SOCIALCARBON, 2007a; SOCIALCARBON, 2007b). Ressalta-se

que esta versão de indicadores não será a utilizada pela presente pesquisa, devido ao foco

desta incidir na questão da inovação em serviços públicos por meio dos projetos de MDL e

não somente nas comunidades afetadas pela implantação e operação de aterros sanitários

envolvidos em projetos de redução de emissões de gases de efeito estufa (CRUZ, 2012).

A adaptação da Metodologia do SOCIALCARBON Standard para a análise

proposta, os recursos social e natural passam a ser mais amplos em relação à concepção

proposta pelo standard, passando a representar a agregação de dois ou mais recursos,

conforme ilustrado no Quadro 18:

51

O recurso Biodiversidade é substituído pelo Tecnológico quando este é considerado um fator essencial para a

sustentabilidade do projeto.

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107

Quadro 18: Adaptações da Metodologia do SOCIALCARBON Standard para a análise

proposta

Recurso

Social

Recurso Social: Recurso adotado, porém, de modo mais amplo, integrando-o ao recurso

humano. Recurso Humano: optou-se por integrá-lo ao recurso social, visto que os aspectos analisados

estão intrinsecamente atrelados

Recurso

Ambiental

Recurso Natural: Recurso adotado, porém, de modo mais amplo, integrando-o a outros

recursos (tecnológico, biodiversidade e carbono) Recurso Tecnológico/ Biodiversidade: São analisados com base no monitoramento dos

parâmetros técnicos dos aterros e cumprimento de metas e normas ambientais.

Recurso Carbono: As questões referentes à geração de RCE são tratadas sob a vertente da

eficiência de captação de biogás dos projetos analisados, com base na análise dos

parâmetros gerenciais dos aterros e comparação entre as RCE dos documentos de concepção

dos projetos e relatórios de monitoramento.

Recurso Financeiro: Optou-se por não utilizar o recurso financeiro, visto que o foco de análise incide

nas transformações socioambientais que podem ser provocadas pelos projetos de MDL em aterros

sanitários no setor de RSU

Fonte: Cruz (2012).

Após análise e levantamento de documentos52

relacionados aos cobenefícios no

mercado de carbono e também na literatura nacional e internacional sobre projetos de redução

de GEE, cada Recurso (Social e Ambiental) foi detalhado em seis temas mais específicos:

monitoramento da qualidade ambiental; monitoramento dos gases; uso futuro/ ocupação

futura da área do aterro; acesso aos projetos de MDL e participação; articulação; e

contribuição dos recursos dos projetos de MDL para a GRSU.

52

Referenciais sobre cobenefícios em projetos de MDL: aspectos do Anexo III da resolução nº1 da CIMGC;

Critérios UNFCCC (ar, água, terra, recursos naturais, emprego, saúde e segurança, educação, bem-estar, energía

e tecnología); indicadores Gold Standard (qualidade de emprego, acesso a energia renovável, capacitação

humana e institucional, geração de renda, ganhos financeiros e investimentos, transferência de tecnologia,

qualidade do ar, qualidade e disponibilidade de água, condições do solo, outros poluentes e biodiversidade).

Referenciais sobre Participação dos stakeholders no mercado de carbono, baseado em: Monzoni (2004); CDM

Watch (2010); Subbarao e Lloyd (2011) e UNFCCC (2011). Requisitos da PNRS: educação ambiental; logística

reversa; inclusão de cooperativas; redução; reutilização; reciclagem; disposição adequada dos rejeitos; difusão de

tecnologias limpas; recuperação energética; responsabilidade compartilhada. E referenciais baseados em estudos

sobre indicadores de sustentabilidade para RSU, baseado em Polaz e Teixeira (2009); Besen (2011); Santiago e

Dias (2012).

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108

Quadro 19: Definição dos temas para a elaboração de indicadores

Recurso Descrição Temas

Ambiental

Refere-se a questões relacionadas ao cumprimento do

monitoramento dos parâmetros dos aterros, emissões de

gases, bem como o cumprimento de metas e normas

ambientais. Entendendo que a implantação de um projeto

de MDL pode vir a potencializar o cumprimento destes

requisitos

Monitoramento da

qualidade ambiental

Monitoramento dos

gases

Uso futuro/ Ocupação

futura da área do

aterro

Social

Refere-se a questões relacionadas à capacitação, atividades

de educação ambiental, bem como à analise da articulação

e integração entre as partes interessadas vinculadas aos

projetos

Participação e Acesso

aos projetos de MDL

Articulação

Contribuição dos

recursos dos projetos

de MDL para a GRSU Fonte: elaboração própria.

Os temas dos Recursos Ambiental e Social deram origem a 23 indicadores. Tais

indicadores foram elaborados de modo participativo, uma vez que o processo de construção

contou com uma consulta a atores-chave (empresas, prefeitura, associações do entorno dos

aterros).

Esta etapa de construção dos indicadores, com a consulta aos agentes, foi iniciada

no trabalho de mestrado (CRUZ, 2012)53

, considerando somente os aterros Bandeirantes e

São João, aterros que possuem projeto de MDL há mais tempo na região metropolitana de São

Paulo e que apresentam um conjunto de atores-chave completo e que englobam o setor

público de um modo particular: são aterros públicos e 50% da receita dos créditos de carbono

são destinados à prefeitura de São Paulo. E, na presente tese de doutorado, os indicadores

foram reestruturados, refinados e calibrados por meio da validação junto aos especialistas.

Em suma, o Recurso Ambiental, de acordo com o recorte da pesquisa, visa

fornecer dados sobre a contribuição dos projetos de MDL para a redução de impactos

negativos relacionados aos aterros sanitários ou para a redução de impactos ambientais no

ambiente físico ocupado pelos aterros sanitários.

Já no Recurso Social os dados gerados a partir da aplicação dos indicadores

propostos visam, fundamentalmente, evidenciar o acesso aos projetos de MDL e a

53

CRUZ, S. R; Mercado de carbono em aterros sanitários como instrumento para a inovação em serviços

públicos, dissertação de mestrado, Programa de Pós-graduação em Política Científica e Tecnológica, Instituto de

Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, 192p. 2012.

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109

participação das partes interessadas, em particular, das comunidades do entorno e catadores

de material reciclável a benefícios relacionados ao desenvolvimento dos projetos de MDL.

Conforme ressaltado no Capítulo 1, a participação dos stakeholders deve ocorrer

em todo o processo de desenvolvimento dos projetos. No entanto, o processo ainda é

considerado deficitário, no que tange à contemplação dos atores e à mensuração dessa

participação no decorrer do ciclo do projeto.

Assim, com o intuito de contribuir para sanar estas lacunas, o delineamento dos

indicadores do tema Participação e Acesso aos projetos de MDL teve como referencial

adicional trabalhos desenvolvidos em torno da questão da participação dos stakeholders no

mercado de carbono, que são: Monzoni (2004); CDM Watch (2010); Subbarao e Lloyd

(2011) e UNFCCC (2011).

Em Monzoni (2004) os seguintes elementos relacionados à consulta pública e

abertura e transparência de informação são selecionados para embasar a elaboração dos

indicadores com foco na participação dos stakeholders:

Quadro 20: Elementos selecionados em relação à participação

Tópicos Consulta pública Abertura e transparência de

informação

Elementos

Qualidade e abrangência das ferramentas de

comunicação entre o proponente do projeto e os

stakeholders (audiências públicas, pesquisas,

questionários, workshops, visitas, paineis, entre

outras); Qualidade e abrangência da publicidade

necessária para alcançar todos os públicos;

Frequência e periodicidade; Prazo de Consulta;

Local e Horário escolhidos

Antecedência da divulgação;

Meios de divulgação;

Acessibilidade da linguagem e

idioma utilizado

Fonte: baseado em Monzoni (2004) e CDM Watch54

(2010).

Apresentados os elementos que embasaram a concepção dos temas e respectivos

indicadores, a seguir, é exposto o procedimento de validação.

No intuito de validar os indicadores de avaliação de cobenefícios sociais e

ambientais propostos para projetos do mercado de carbono em aterros sanitários, o método

54

O CDM Watch é uma organização criada em 2009 com o intuito de fiscalizar as ações realizadas no âmbito do

MDL, sobretudo, visando fortalecer os processos participativos da sociedade civil.

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110

Delphi foi escolhido devido à sua reputação como um método amplamente adotado para gerar

previsões/ validações por meio de consulta a especialistas (BESEN, 2011; RISTOLA, 2012;

SANTIAGO; DIAS, 2012; VARHO; TAPIO, 2013; TUOMINEN et al, 2014; WRIGHT;

GIOVINAZZO, 2000). A Figura 7 sistematiza o passo a passo dessa etapa dos procedimentos

metodológicos:

Fonte: elaboração própria

A partir de um processo interativo e repetido algumas vezes, a técnica Delphi

objetiva alcançar o consenso em meio a diversidade de opiniões dos especialistas, refinando

os indicadores e minimizando possíveis vieses individuais, ou até mesmo, minimizando

possíveis vieses de indicadores que abordem assuntos que fogem ao conhecimento do

especialista.

Por meio de visões complementares e/ ou diferenciadas, busca-se somar e agregar

qualidade nos indicadores propostos, levando-se em conta as diferentes áreas do

conhecimento de cada um dos participantes do Delphi, colocando-se também em prática a

Figura 7: Sistematização do Delphi no contexto estudado

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111

questão da interdisciplinaridade, inerente ao tema tratado (BESEN, 2011; RISTOLA, 2012;

SANTIAGO; DIAS, 2012; VARHO; TAPIO, 2013; TUOMINEN et al, 2014; WRIGHT;

GIOVINAZZO, 2000).

Assim, em meio a gama de métodos de prospecção/ validação que explora a

experiência coletiva de especialistas em um processo interativo e estruturado

(reuniões/painéis, focus group, avaliação individual, entre outros), o “webdelphi” é adotado;

ou seja, a ferramenta para a validação em grupo, por meio da internet (CGEE, 2004).

Os primeiros trabalhos que aplicaram essa técnica, no início dos anos 60

(LINSTONE; TUROFF, 1975; LINSTONE; GRUPP, 1999), objetivaram aprimorar o

emprego da opinião de especialistas na prospecção tecnológica (LINSTONE; TUROFF, 1975;

WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

O método Delphi é também considerado “simples”, uma vez que se trata de um

formulário interativo, que transita pelo grupo de especialistas. A sua aplicação possibilita e

facilita a promoção do debate em meio aos especialistas considerados relevantes para abordar

o tema tratado, possibilitando a geração de novas informações e elementos acerca do objeto

estudado a partir de um conjunto de questões previamente semiestruturadas. O formulário, no

entanto, é considerado bastante elaborado, abordando com profundidade o tema que se

pretende tratar. A técnica pode ser utilizada por meio de reuniões/painéis ou por meio de

survey com os especialistas (CGEE, 2004; RISTOLA, 2012).

De acordo com Wright e Giovinazzo (2000) quando não há interação entre os

indivíduos reduz-se a influência de fatores psicológicos, tais como: “... os efeitos da

capacidade de persuasão, a relutância em abandonar posições assumidas e a dominância de

grupos majoritários em relação a opiniões minoritárias” (p.55).

Na literatura sobre o Delphi é apontado claramente que são somente os

especialistas (técnicos) que participam do processo, podendo incluir também tomadores de

decisão e outros atores que sejam relevantes para obter informações a respeito do que será

abordado no Delphi. Ainda, a heterogeneidade dos participantes deve ser preservada de modo

a assegurar a validade dos resultados (LINSTONE; TUROFF, 1975; RISTOLA, 2012,

VARHO; TAPIO, 2013; TUOMINEN et al, 2014).

A heterogeneidade dos especialistas também possui relação direta ao tema que

será abordado. No caso, estudos que envolvem questões complexas, como, por exemplo, as

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112

questões ambientais, necessita-se de uma compreensão mais abrangente do termo

“especialista” (VARHO; TAPIO, 2013; TUOMINEN et al, 2014).

Para a seleção dos especialistas convidados foram consultadas: Plataforma Lattes

(CNPq) (utilizando as palavras-chave: resíduos sólidos urbanos, mercado de carbono, aterro,

biogás, metano); Lista de participantes do evento “Waste to Energy Brazil 201255

”;

Documentos de concepção dos projetos de MDL; Minutas de audiências públicas; e

Relatórios anuais municipais de fiscalização. Buscou-se identificar, em particular,

especialistas relacionados aos temas pesquisados (mercado de carbono e resíduos sólidos) e

ao contexto considerado (Região Metropolitana de São Paulo).

De modo a contemplar os especialistas no contexto pesquisado para além do

aspecto quantitativo, a seleção incidiu sobre o aspecto de conhecimentos sobre o cenário

pesquisado. Dos 10 especialistas: a) Considerando o campo de trabalho: 4 são pesquisadores

acadêmicos, 1 servidor de órgão ambiental público, 5 especialistas de empresas

concessionárias e/ou de empresas de consultoria no desenvolvimento de projetos de MDL. B)

Considerando a formação acadêmica: 5 especialistas são da área de engenharia, 2 de ciências

biológicas, 3 da área de conhecimento das ciências sociais aplicadas. C) Considerando a área

de especialização do conhecimento: 4 estão relacionados à área resíduos sólidos urbanos, e 4

ao campo de conhecimento do mercado de carbono, 2 tem experiência em ambos os campos.

A participação da Autoridade Nacional Designada (AND) é considerada de modo

indireto, a partir da análise de dados secundários (documentos de concepção dos projetos e

documentos desenvolvidos com base nos aspectos definidos no Anexo III da Resolução nº1

de 2003) que devem passar pelo crivo da AND para serem aprovados.

Embora o número de especialistas selecionados seja relativamente restrito

(considerando painéis no contexto dos estudos de Delphi), não foram considerados mais

participantes porque todas as expectativas foram contempladas a partir dos membros

selecionados na análise, considerando a experiência e o conhecimento dos mesmos sobre o

tema e o contexto pesquisado.

55

O evento reuniu nos dias 05 e 06 de novembro de 2012, mais de 115 especialistas no tema aproveitamento

energético dos resíduos no contexto brasileiro. O relatório do evento foi elaborado por Silvia Stuchi Cruz. Para

mais informações: http://www.hiria.com.br/agenda-de-eventos/energy-waste/agenda/default.aspx

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113

O questionário Delphi para validação dos indicadores foi preparado para aplicação

por meio de interface eletrônica, pela internet (Webdelphi). Cada respondente (especialistas

selecionados) recebeu o hiperlink de acesso ao questionário na Internet. E o período

estipulado para resposta foi de 30 dias.

Na presente pesquisa, participaram 10 especialistas na 1ª rodada (Novembro de

2014) e 9 especialistas na 2ª rodada (Janeiro de 2015) de diversas áreas e setores, atuantes nos

temas:

Pesquisadores acadêmicos;

Funcionários de órgãos ambientais municipais e das

subprefeituras;

Funcionários de órgãos municipais e das subprefeituras

responsáveis pelo setor de resíduos sólidos urbanos;

Engenheiros e especialistas das empresas proprietárias e

concessionárias dos aterros; e

Funcionários das empresas de consultoria especializadas no

desenvolvimento de projetos de mercado de carbono.

Formulação do questionário

Foram elaborados 2 Blocos de perguntas para compor o questionário online:

Bloco 1: Informações sobre os especialistas

O Bloco 1 contempla: nome, e-mail para contato, nível de formação e instituição/

empresa que atua. Caso o especialista seja da área acadêmica, deve-se especificar a linha de

pesquisa atual.

Bloco 2: Validação dos indicadores

O Bloco 2 contempla à validação dos indicadores formulados das Dimensões

Social e Ambiental, respectivamente. Os 23 indicadores se apoiam em seis temas:

participação e acesso aos projetos de MDL; articulação; contribuição dos recursos dos

projetos de MDL para a GRSU monitoramento da qualidade ambiental; monitoramento dos

gases; e uso futuro/ ocupação futura da área do aterro.

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114

As instruções para a avaliação dos indicadores foram descritas nas próprias

questões, que são, basicamente: a) analisar a descrição do indicador; e b) avaliar o grau de

importância do indicador.

A escala de importância baseia-se na escala Likert (DeVELLIS, 2003), que

permite obter os níveis de opinião a partir de respostas que variam de um extremo a outro.

Geralmente, nas escalas do tipo Likert, utilizam-se números ímpares nas alternativas (5 ou 7

opções) (DeVELLIS, 2003). A escala Likert é uma relevante ferramenta para auxiliar a tornar

mais objetivas opiniões acerca de questões complexas como as relacionadas ao contexto

estudado. E vem sendo utilizada para definir e mensurar a “sustentabilidade” nos projetos de

MDL (HUGÉ et al, 2010; PARNPHUMEESUP; KERR, 2011).

No caso estudado, a escala adotada possui 5 opções: muito baixa; baixa; regular;

alta; e muito alta. Para atingir esses objetivos (a) analisar a descrição e (b) avaliar o grau de

importância dos indicadores, utilizou- se o seguinte formato de questão:

a) "Analise a descrição do indicador <nome do indicador> e avalie seu

grau de importância, conforme indicado a seguir: Descrição: <descrição do indicador>.

Deseja incluir comentários sobre a descrição do indicador? ( ) Não / ( ) Sim {Se sim:abrir

janela para comentários sobre a descrição do indicador}”

Assim, quando os especialistas tiverem algo a comentar em relação à descrição do

indicador, acrescentou-se um espaço destinado a esses comentários para cada questão. As

contribuições qualitativas (opiniões) acerca da descrição do indicador serão analisadas

visando o refinamento da descrição dos indicadores.

b) Avalie o grau de importância do indicador <indicador>

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

As respostas obtidas na avaliação do grau de importância dos indicadores têm

como principal objetivo refletir sobre a pertinência dos indicadores propostos. Os indicadores

avaliados por mais de 50% dos especialistas como “muito baixa”, significa que aquele

indicador deve ser descartado.

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Em meio à ampla gama de opções de ferramentas de pesquisa online, para a

finalidade da pesquisa, levaram-se em consideração, sobretudo, os seguintes requisitos:

1) software livre e gratuito para coleta online de dados para pesquisas

(questionários);

2) com coleta ilimitada de respostas;

3) com a opção salvar e continuar o preenchimento da pesquisa em outro

momento; e

4) que permita a importação e exportação dos dados (Figura 8).

Figura 8: Diagrama de seleção da ferramenta de survey online

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116

Um dos grandes entraves encontrados foi que as versões gratuitas de ferramentas

de pesquisa online são geralmente limitadas em relação à opção de salvar o questionário e

responder ao longo do tempo estabelecido (30 dias).

Esse recurso é essencial para a presente pesquisa, uma vez que, por se tratar de um

assunto complexo, demanda tempo e o respondente precisar justificar cada resposta.

Levando-se em consideração todos esses aspectos, a ferramenta online

selecionada para o desenvolvimento do questionário foi o Limesurvey®56

, que contempla os

requisitos supracitados. Após a obtenção das respostas dos especialistas, os dados foram

exportados para o Microsoft Excel®, e, em seguida, analisados.

Previamente ao envio do hiperlink de acesso ao questionário aos especialistas,

realizou-se um pré-teste no intuito de garantir que as questões fossem colocadas de modo

coerente e utilizando uma linguagem clara. Considera-se importante a realização do pré-teste

uma vez que diagnosticar possíveis problemas e/ou dúvidas antes da aplicação concreta do

formulário, pode ser crucial para o resultado e dados obtidos por meio dessa ferramenta

(FORSYTH et al, 2004; PRESSER et al, 2004). Em meio às diversas metodologias para

realizar o pré-teste, utilizamos a “análise de peritos”, aplicada de modo individual, na segunda

quinzena de outubro de 2014, considerando dois especialistas na área de resíduos sólidos

urbanos.

Os especialistas selecionados, responderam às questões do formulário apontando

as possíveis modificações a serem realizadas e/ou, por exemplo, problemas de acesso ao

hiperlink, visão geral sobre o formato e conteúdo das questões. Os resultados foram tabulados

com a finalidade de averiguar as limitações do instrumento e analisar os comentários

realizados pelos especialistas visando o aprimoramento do questionário.

As principais alterações realizadas no questionário a partir do pré-teste foram

relacionadas ao layout e apresentação do questionário, trazendo um template mais nítido para

facilitar o entendimento dos especialistas.

Ainda em relação à apresentação, a ordem das questões foi invertida: primeiro

questionar o grau de importância e depois as considerações sobre a descrição dos indicadores.

Alguns títulos dos temas também foram alterados no pré-teste, tornando-os mais sucintos: o

56

<http://www.limesurvey.org>

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117

Tema I, inicialmente denominado de Participação e Acesso aos projetos de MDL, foi alterado

para “participação”; O Tema III, inicialmente denominado de “contribuição dos recursos dos

projetos de MDL para a GRSU”, foi alterado para “benefícios”.

No que tange ao conteúdo dos indicadores, o indicador “líquidos percolados” foi

reescrito e o indicador “monitoramento geotécnico: comportamento do maciço de lixo” foi

excluído, pois havia sobreposição de informações com o indicador “monitoramento

geotécnico: estabilidade dos solos”.

Já a etapa de aplicação do Delphi, na 1ª rodada, dos 13 questionários enviados, 10

especialistas participaram da pesquisa sendo a taxa de retorno de 77%. Para os dados

qualitativos da descrição dos indicadores foram registrados 121 comentários, sendo estes

examinados utilizando-se a técnica de análise de conteúdo, com o objetivo de descrever

convergências e/ou divergências observadas nas respostas.

Apesar de não terem sido propostos novos indicadores, o Tema IV,

“monitoramento da qualidade ambiental”, agora inclui o indicador “cumprimento do plano de

encerramento dos aterros” (inicialmente abordado no Tema “uso futuro da área do aterro” que

foi excluído) e também o indicador “odores” (anteriormente abordado no Tema

“monitoramento de gases”).

Dos 10 questionários enviados na 2ª rodada, 09 especialistas se dispuseram a

responder, sendo a taxa de retorno 90%. Foram apresentados a cada especialista os resultados

obtidos na primeira rodada para que, caso julgasse necessário realizasse alterações à sua

resposta inicial. Foram registrados 67 comentários. Os resultados qualitativos da validação

ratificaram a pertinência dos temas propostos: participação, articulação, benefícios,

monitoramento da qualidade ambiental, e monitoramento dos gases.

Com relação aos resultados quantitativos, as respostas fornecidas na primeira e na

segunda rodada para a escala likert57

foram tabuladas utilizando o software Minitab® 17 e são

representadas graficamente em boxplots58

.

57

<1) Muito baixa; (2) Baixa; (3) Regular; (4) Alta; e (5) Muito alta> 58

Gráficos que nos ajudam a visualizar algumas médias de posição como a mediana, primeiro e terceiro quartis e

a presença dos outliers.

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118

Optou-se pela representação gráfica em boxplot, por permitir a comparação

visual, da diferença entre os quartis, nas duas rodadas do Delphi:

O primeiro quartil (Q1) é a haste inferior da caixa do boxplot,

definido como o valor aos 25% dos dados ordenados.

O terceiro quartil (Q3) é a haste superior da caixa do boxplot

definido como aos 75% dos dados ordenados, e

A mediana (Q2) é definida como o valor que divide os dados

ordenados ao meio, ou seja, 50% dos valores observados. Os pontos fora

desses limites são os denominados outliers, que são as observações atípicas,

representados nas figuras por um asterisco (*).

De modo geral, a maioria dos indicadores avaliados no Delphi apresentou uma

distribuição estatística dos resultados muito conexa, uma vez que as justificativas apontadas

na análise de conteúdo confirmaram as estimativas numéricas. Além disso, na 2ª rodada não

houve alteração na mediana, sendo 20 para os 23 indicadores e a diferença interquartil da 2ª

rodada diminuiu para 20 indicadores, consolidando o teor da validação. As Figuras 9, 10, 11,

12 e 13 apresentam os boxplots das rodadas do Delphi separadas por Temas.

Rodada

7654321

2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra

5

4

3

2

1

Esc

ala

Boxplot dos indicadores (Tema I) da primeira e segunda rodada

Figura 9: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema participação

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119

Em suma, no Tema I Participação, a Figura 9 mostra que:

Indicador 2.“Existência de canais para a formalização de reclamação”:

outliers para o indicador nas duas rodadas foram justificadas por considerarem que

não é necessário existir um canal específico ao projeto de MDL.

Indicador 3. “Aceitação dos projetos por parte da população e de

entidades ambientais não governamentais”: outilier para o indicador houve uma

oscilação de que avaliar a aceitação é algo complexo. Além disso, a maioria dos

especialistas concordou que é um ponto importante a ser analisado.

Indicador 5. “Idioma e clareza dos documentos”: da primeira para a

segunda rodada a amplitude interquartil aumentou. De acordo com a análise de

conteúdo dos comentários, tal feito ocorreu pela falta de "clareza" no contexto. E

ainda, argumenta-se que o mais importante não é a clareza do documento técnico, mas

sim a disponibilização para a população de material de fácil compreensão contendo os

pontos principais do projeto. Conforme respostas dos outros especialistas, mesmo com

essas divergências, considerou-se pertinente manter esse indicador.

Em suma, no Tema II Articulação, a Figura 10 mostra que:

Indicador 9.”Articulação entre secretarias envolvidas e empresas

proprietárias e/ou gestoras dos aterro”: o outlier para o indicador foi justificado por

Rodada

1312111098

2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra

5

4

3

2

1

Esc

ala

Boxplot dos indicadores (Tema II) da primeira e segunda rodada

Figura 10: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema Articulação

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120

considerar que essa articulação é importante somente para projeto em aterros públicos,

pertencentes aos municípios. No entanto, a maioria dos especialistas avaliou o

indicador como muito importante, pois é comum nos projetos de MDL aparecer

inúmeros conflitos de interesse, principalmente em projetos que envolvem concessões,

ou entre grupos privados, que administram ou operam os aterros, que em muitos casos

não é a mesma empresa.

Indicador 12. “Articulação entre empresa gestora do aterro e empresa

responsável pela coleta do biogás em relação ao plano de encerramento dos aterros”: o

outlier para o indicador foi justificado por o cumprimento do plano de encerramento

ser parte do projeto do aterro independente do MDL. No entanto, os demais

especialistas apontaram que melhorar a articulação entre as empresas potencializaria

também as atividades desempenhadas em relação ao plano de encerramento.

Em suma, no Tema III Benefícios, a Figura 11 mostra que:

Indicadores do Tema Benefícios: como não é clara a definição da

promoção de benefícios por meio da implantação dos projetos, nesse Tema, cada

especialista observou um aspecto diferente. Um ponto em comum observado por todos

foi que este é um tema relevante a ser tratado nos projetos de MDL em aterros, mas

que ainda carece de aperfeiçoamentos, visto que os benefícios são, geralmente, ligados

Figura 11: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema benefícios

R o d a d a 1 6 1 5 1 4

2 d a 1 r a 2 d a 1 r a 2 d a 1 r a

5

4

3

2

1

E s c a l a

B o x p l o t d o s i n d i c a d o r e s ( T e m a I I I ) d a p r i m e i r a e s e g u n d a r o d a d a

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121

a obrigações nos editais de chamamento para os aterros públicos (Bandeirantes e São

João) e para os aterros privados, vinculados às exigências de licenciamento do aterro e

não do projeto de MDL de biogás.

Em suma, no Tema IV Monitoramento da qualidade ambiental, a Figura 12

mostra que: Indicador 17. “Monitoramento das águas superficiais e subterrâneas”: o outilier

para esse indicador é justificado por esse aspecto ser um atendimento básico aos requisitos,

normas, legislações, etc. pertinentes as suas atividades. No entanto, os demais especialistas

corroboraram com a ideia de que projeto de MDL potencializa essa atividade no aterro, sendo

realizada com maior acurácia.

Rodada

2120191817

2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra2da1ra

5

4

3

2

1

Esc

ala

Boxplot dos indicadores (Tema IV) da primeira e segunda rodada

Figura 12:Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema monitoramento da qualidade ambiental

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122

Em suma, no Tema V Monitoramento de gases, a Figura 13 mostra que: para o

Tema “monitoramento de gases”: as amplitudes interquartis diminuíram para os dois

indicadores, considerados pelos especialistas como itens essenciais a serem avaliados e que

influenciam diretamente o projeto.

4.3 Coleta de dados

A coleta de dados para a identificação de oportunidades de inovação, alinhadas à

promoção do desenvolvimento sustentável local, embasou-se na aplicação dos indicadores de

avaliação de cobenefícios sociais e ambientais - construídos e validados conforme

apresentado nas seções 4.1 e 4.2 desse Capítulo. Buscou-se identificar, para cada tema, se

houve alterações no serviço em decorrência da implantação do MDL no aterro sanitário.

O Quadro 21 mostra os indicadores, após o pré-teste (outubro de 2014) e duas

rodadas de Delphi (novembro de 2014 e janeiro de 2015), organizados nas dimensões Social e

Ambiental e nos 5 (cinco) temas – participação; articulação; benefícios; monitoramento da

qualidade ambiental; e monitoramento dos gases.

Rodada

2322

2da1ra2da1ra

5

4

3

2

1

Esc

ala

Boxplot dos indicadores (Tema V) da primeira e segunda rodada

Figura 13: Boxplot das rodadas do Delphi – avaliação dos indicadores do Tema monitoramento de gases

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123

Quadro 21: Indicadores propostos após pré-teste e rodadas do Delphi

Dimensão Social

Tema I: Participação

Indicadores Descrição Variáveis

1) Número de participantes e

consideração das partes

interessadas

Identifica o número de

participantes nas reuniões; número

de participantes nas audiências

relativas aos projetos de MDL; e a

abrangência das diferentes partes

interessadas envolvidas nos

projetos de MDL

Número de participantes nas

reuniões; número de

participantes nas audiências

relativas aos projetos de

MDL

2) Existência de canais para

a formalização de

reclamação

Identifica o número de registros/

ano; % registros esclarecidos no

intuito de avaliar, primeiramente,

se há algum canal de formalização

de possíveis reclamações e/ou

sugestões e posterior

esclarecimento destas

Número de registros/ ano; %

registros esclarecidos

3) Aceitação dos projetos por

parte da população e de

entidades ambientais não

governamentais

Identifica o número de

reclamações e/ou sugestões

formais/ ano realizadas pelas

partes interessadas aos projetos de

MDL

Número de reclamações

e/ou sugestões formais/ ano

4) Divulgação das ações

propostas no DCP baseadas

nos aspetos do Anexo III

para as partes interessadas

Identifica o número de

documentos publicados (inclusive

meio digital) divulgando as ações

propostas no documento de

concepção do projeto, baseadas

nos aspetos do Anexo III, no

intuito de avaliar se essas

atividades estão sendo divulgadas

às partes interessadas bem como o

meio de comunicação utilizado

Número de documentos

publicados

5) Idioma e clareza dos

documentos

Identifica se é Adequado ou Não

adequado o idioma e a clareza

documentos-chave relacionados ao

projeto

Adequado; Não adequado

6) Prazo de Consulta

Identifica se é Adequado ou não

adequado o prazo de 30 dias (após

a validação pela Autoridade

Nacional Designada) para

comentários públicos estabelecido

pela ONU/UNFCCC para o

usuário realizar sua contribuição

ao projeto

Adequado; Não adequado

7) Consulta antes da

implantação e durante a

Identifica o Número de encontros

realizados no intuito de avaliar se

Número de encontros

realizados; satisfatório ou

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124

execução do projeto o usuário foi consultado antes da

implantação e durante a execução

do projeto; o grau de satisfação

das partes interessadas com a

consulta realizada; e se no plano

de encerramento do aterro houve

participação das comunidades do

entorno

não satisfatório

Tema II: Articulação

Indicadores Descrição Variáveis

8) Articulação entre

secretarias municipais

envolvidas

Identifica o número de reuniões ;

número de iniciativas e de

atividades realizadas em conjunto

focando os projetos de MDL no

intuito de verificar se ocorre

articulação entre as secretarias

municipais envolvidas com os

projetos de MDL nos aterros

sanitários

Número de reuniões;

número de iniciativas e de

atividades realizadas

9) Articulação entre

secretarias envolvidas e

empresas proprietárias e/ou

gestoras dos aterros

Identifica o número de reuniões;

número de documentos de

comunicação e/ou divulgação

publicados no intuito de verificar

se ocorre articulação entre as

secretarias municipais envolvidas

e concessionárias gestoras dos

aterros

Número de reuniões;

número de documentos de

comunicação e/ou

divulgação publicados

10) Articulação entre

secretarias municipais

envolvidas e comunidade do

entorno

Identifica o número de reuniões;

número de documentos de

comunicação e/ou divulgação

publicados no intuito de verificar

se ocorre a articulação entre

secretarias municipais envolvidas

e comunidade do entorno do

aterro; e o grau de satisfação das

partes interessadas com a

divulgação e os contatos

realizados

Número de reuniões;

número de documentos de

comunicação e/ou

divulgação publicados;

satisfatório ou não

satisfatório

11) Articulação entre

secretarias envolvidas e

concessionárias responsáveis

pela coleta do biogás dos

aterros

Identifica o número de reuniões;

Número de documentos de

comunicação e/ou divulgação

publicados no intuito de verificar

se ocorre articulação entre

secretarias municipais envolvidas

e concessionárias responsáveis

pela coleta do biogás dos aterros

Número de reuniões;

Número de documentos de

comunicação e/ou

divulgação publicados

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125

12)Articulação entre empresa

gestora do aterro e empresa

responsável pela coleta do

biogás em relação ao plano

de encerramento dos aterros

Identifica o número de reuniões;

número de documentos de

comunicação e/ou divulgação

publicados no intuito de verificar

se ocorre articulação entre

empresa gestora do aterro e

empresa responsável pela coleta

do biogás em relação ao plano de

encerramento do aterro.

Número de reuniões;

número de documentos de

comunicação e/ou

divulgação publicados

13) Articulação entre

empresa gestora do biogás e

comunidade do entorno

Identifica o número de reuniões;

número de documentos de

comunicação e/ou divulgação dos

documentos publicados no intuito

de verificar se ocorre articulação

entre empresa gestora do biogás e

comunidade do entorno do aterro

Identifica o número de

reuniões; número de

documentos de

comunicação e/ou

divulgação dos documentos

publicados

Tema III: Benefícios

Indicadores Descrição Variáveis

14) Cooperativas

beneficiadas com os recursos

do MDL

Identifica o número de

cooperativas beneficiadas; número

de pessoas beneficiadas no intuito

de verificar se houve contribuição

dos projetos de MDL para

cooperativas do entorno dos

aterros estudados

Número de cooperativas

beneficiadas; número de

pessoas beneficiadas

15) Contribuição dos

projetos de MDL para

iniciativas sobre educação

ambiental

Identifica o número de iniciativas

sobre educação ambiental

apoiadas; número de pessoas

beneficiadas; horas de capacitação

no intuito de verificar se houve

contribuição dos projetos de MDL

nos aterros para iniciativas sobre

educação ambiental voltadas para

a temática da GRSU; e o grau de

satisfação das partes envolvidas

Número de iniciativas sobre

educação ambiental

apoiadas; número de

pessoas beneficiadas; horas

de capacitação; satisfatório

ou não satisfatório

16) Contribuição para o

desenvolvimento de

tecnologias/metodologias

Identifica o número de tecnologias

e metodologias desenvolvidas a

partir dos projetos de MDL em

aterros

Número de tecnologias e

metodologias

Dimensão Ambiental

Tema IV: Monitoramento da qualidade ambiental

Indicadores Descrição Variáveis

17) Monitoramento das

águas superficiais e

subterrâneas

Identifica o número de

amostragens/semestre e o número

de não conformidades/semestre

obtidos no monitoramento das

águas superficiais e subterrâneas

Número de

amostragens/semestre;

número de não

conformidades/semestre

18) Volume de líquido Identifica se houve alteração no Número de amostragens em

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126

percolado volume de líquidos percolados (em

litros/ hora) ao longo do período

de desenvolvimento do projeto

não conformidade ao longo

do projeto

19) Monitoramento

geotécnico: Estabilidade dos

taludes

Identifica o número de

amostragem/semestre e o número

de não conformidades/semestre

obtidos no monitoramento

geotécnico relativo à estabilidade

dos taludes

Número de

amostragem/semestre e o

número de não

conformidades/semestre

20) Cumprimento do plano

de encerramento dos aterros

Identifica se é Adequado ou Não

adequado o cumprimento do

cronograma do plano de

encerramento do aterro

Adequado ou Não adequado

21) Odores

Identifica se é realizado

monitoramento da qualidade do ar

(odor); a qualidade dos dados

obtidos; e o número de

reclamações/ano realizadas pelas

partes interessadas em relação à

emissão de odores desagradáveis

Sim ou não; Adequado ou

Não adequado; número de

reclamações/ano

Tema V: Monitoramento de gases

Indicadores Descrição Variáveis

22) Emissão de gás fugitivo

Identifica o Volume de gás

fugitivo/trimestre obtido no

monitoramento da emissão de gás

fugitivo

Volume de gás

fugitivo/trimestre

23) Captação de biogás

Identifica o volume total de biogás

captado, Nm3 /ano captado,

permitindo ajustes e correções no

sistema de drenagem de gás do

aterro, para eliminação de odores

característicos deste gás

Nm3 /ano captado

As 18 entrevistas com as partes interessadas aos aterros estudados, norteadas

pelos indicadores supracitados, ocorreram de modo presencial durante o ano de 2015:

Bandeirantes e Caieiras em abril de 2015; Pedreira, São João, Itapevi e Lara em outubro de

2015. Somente para o agente representante do setor privado do aterro Lara, a LARA Central

de Tratamento de Resíduos Ltda, os dados foram coletados de modo secundário, em outubro

de 2015, nos documentos relacionados aos projetos disponíveis no site da UNFCCC e

também em sites especializados.

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127

Capítulo 5. Oportunidades de inovação Identificadas e Potenciais

O Capítulo 5 apresenta a análise dos dados da aplicação dos indicadores de

geração de cobenefícios nas partes interessadas dos projetos de MDL nos aterros

Bandeirantes, Caieiras, Lara, Pedreira, São João e Itapevi embasando-se: no modelo de

representação do produto e da inovação em termos de características do serviço59

; e no

conceito de Redes Público-Privadas de Inovação em Serviço (RIPPS). Busca-se identificar

oportunidades de inovação alinhadas com a geração de cobenefícios sociais e ambientais,

enfatizando a participação dos stakeholders.

Adaptando o modelo supracitado ao contexto dos projetos de MDL em aterros

sanitários, o enfoque da representação do produto e da inovação em termos de características

do serviço contribui para a análise das possibilidades de mitigação dos impactos ambientais

decorrentes dessa atividade. Já o enfoque de articulação entre os setores público e privado e

os usuários, bem como formuladores de políticas cujo objetivo é a inovação de serviços,

embasado na perspectiva teórica da RIPPS, destaca a importância das técnicas e competências

organizacionais e relacionais.

O Capítulo está estruturado em três seções. As seções 5.1 e 5.2 referem-se à

aplicação do modelo baseado em características do serviço, para o serviço de destinação final

de resíduos nos aterros com MDL, e tratam da categorização dos agentes – prestadores

(prefeitura, órgão ambiental Estadual; e concessionárias) e usuários do serviço; e da descrição

dos vetores do serviço, respectivamente. A seção 5.3 é dedicada à análise e discussão das

características do serviço destacando as interações entre as partes interessadas, com base no

conceito de RIPPS.

59

Modelo inicialmente proposto por Gallouj e Weinstein (1997) atualizado em Gallouj e Savona (2010),

acrescentando - para além das técnicas dos prestadores - as técnicas do cliente, levando em conta também as

contribuições de Gallouj (2002) e Windrum e Garcia-Goni (2008) ao modelo.

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128

5.1. Categorização dos agentes do serviço de destinação final de resíduos em aterros

sanitários com projetos de MDL

Foram identificados dois grandes blocos de agentes. Os prestadores de serviços

diretos (as concessionárias) e indiretos (o setor público – prefeituras e órgão ambiental

Estadual) e usuários diretos (comunidades do entorno dos aterros) e indiretos (a população do

município de modo geral), conforme mostrado no Quadro 22.

Quadro 22: Categorização dos agentes – prestadores e usuários do serviço

Aterro Partes interessadas

Prestador Indireto Prestador Direto Usuários

Bandeirantes SES (Amlurb) e SVMA

(Decont e FEMA); CETESB

Loga

Biogás Energia

Ambiental S.A

Fórum de Desenvolvimento

Local Perus – Anhanguera

São João SES (Amlurb) e SVMA

(Decont e FEMA); CETESB

Ecourbis;

São João Energia

Ambiental S.A

Cooperativa Chico

Mendes;

Campanha Mais Vida

Menos Lixo

Caieiras

Prefeitura municipal de

Caieiras - Secretaria de

Gestão Ambiental e SES

(Amlurb); CETESB

Essencis Soluções

Ambientais S.A.

Conselho consultivo da

comunidade de Caieiras

Lara

Prefeitura municipal de

Mauá - Secretaria de

serviços urbanos; CETESB

LARA Central de

Tratamento de

Resíduos Ltda

Coopercata Capuava

Pedreira CETESB Estre Ambiental

S.A Núcleo Cabuçu

Itapevi

Prefeitura municipal de

Itapevi - Secretaria

municipal do meio ambiente;

CETESB

Estre Ambiental

S.A

Cooperativa de Materiais

Recicláveis de Itapevi

(CMR Itapevi)

Fonte: elaboração própria.

Com relação à população do entorno dos aterros, constatou-se uma fragilidade nos

DCP, sobretudo, em relação aos atores considerados como “populações possivelmente

afetadas”, ou seja, comunidades do entorno dos aterros.

Dado que a parte interessada mais apontada para esta esfera nos DCP foi o Fórum

Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

(FBOMS), ou seja, ainda que o Fórum seja largamente reconhecido por suas ações e

atividades voltadas para proteção do meio ambiente e desenvolvimento sustentável, torna-se

generalista para fins dessa pesquisa considerá-lo como stakeholder.

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129

A seguir, é realizada a descrição detalhada dos agentes de acordo com sua

categorização em relação ao serviço de resíduos sólidos urbanos.

a) Prestadores diretos e indiretos do serviço

Os prestadores diretos do serviço são as concessionárias (empresas privadas)

responsáveis pela gestão da área dos aterros e pela captação de biogás. Consideram-se os

órgãos públicos ligados às prefeituras e ao órgão ambiental estadual como prestadores

indiretos, pois, embora seja realizado por concessionárias, o serviço de RSU é um serviço

público que deve ser assegurado pelos municípios.

i) Prestadores diretos do serviço

Logística Ambiental de São Paulo S. A. - Loga

A LOGA – Logística Ambiental de São Paulo S.A. é uma das empresas

concessionárias responsáveis pelos serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação

final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde gerados no agrupamento noroeste da

cidade de São Paulo. O contrato de concessão incorpora os custos de operação e os

investimentos necessários para desempenhar as atividades relacionadas ao transbordo,

destinação final, estações de triagem, aquisição e manutenção de novos equipamentos. Em

relação ao aterro Bandeirantes, que encerrou as atividades de recebimento de resíduos em 20

de março de 2007, cabe a LOGA a manutenção e monitoramento do aterro até 2024. Estas

atividades incluem vigilância, destinação do chorume gerado, entre outras.

Biogás Energia Ambiental S.A.

O biogás do aterro Bandeirantes é gerido pela empresa Biogás Energia Ambiental

S.A que, por meio de contrato de concessão com a Prefeitura de São Paulo, comercializa as

reduções certificadas de emissão (RCE) e a energia elétrica proveniente da usina

termoelétrica. A empresa foi estabelecida em 2004, após a assinatura do contrato de

concessão com a Prefeitura Municipal de São Paulo para exploração de gás do aterro sanitário

Bandeirantes. As atividades da empresa abrangem basicamente a captação e encaminhamento

do biogás a motogeradores.

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130

EcoUrbis Ambiental S.A

A EcoUrbis Ambiental S.A, desde outubro de 2004, é uma das empresas

concessionárias responsável pelos serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final

dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde gerados no agrupamento sudoeste da cidade

de São Paulo. Buscando atender aos aspectos relacionados à responsabilidade social e

ambiental, mantém os seguintes programas: Ver de Perto; Espaço do Saber; e Ações Sociais.

A EcoUrbis é responsável pela coleta de 6.000 toneladas/dia, compreendendo resíduos sólidos

residenciais orgânicos e não orgânicos, resíduos sólidos comerciais e industriais, entulhos,

entre outros materiais. Esse prestador está ligado ao aterro São João.

São João Energia Ambiental S.A.

A São João Energia Ambiental S.A. inaugurou em junho de 2007, a usina de

coleta e queima do metano designada à extração e destruição do biogás originado a partir da

decomposição orgânica do resíduo alojado no Aterro Sanitário São João. No aterro São João

foram instalados 126 poços de coleta de biogás onde originalmente existiam drenos verticais.

Também utilizam a tecnologia dos tubos de polietileno de alta densidade (PEAD). Esses

poços cobrem toda a área do aterro que produz biogás. A planta termelétrica contempla 16

grupos de geradores, de 1,54MW de potência cada, totalizando 24,64MW de capacidade

instalada.

Essencis Soluções Ambientais S.A.

A Essencis Soluções Ambientais S.A. é proprietária e responsável pelo

gerenciamento do aterro sanitário Caieiras. As atividades no aterro iniciaram em setembro de

2002, com vida útil de operação até 2029. O projeto de redução de emissões de gás do aterro

obteve o registro na UNFCCC em 2006.

Estre Itapevi e Estre Pedreira

ESTRE Ambiental S/A – Empresa de Saneamento e Tratamento de Resíduos – é

uma empresa nacional, presente nas regiões metropolitanas do Estado de São Paulo, que atua

em saneamento, tratamento e destinação final de resíduos desde 1999. No presente trabalho,

os aterros Itapevi e Pedreira, pertencentes ao grupo ESTRE, foram selecionados para estudo.

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Lara Co-Geração e Comércio de Energia Ltda

O aterro de Mauá está em operação pela empresa Lara desde 1991, e o sistema de

extração e queima de biogás opera desde 2006. A partir do MDL, a Lara Co-Geração e

Comércio de Energia Ltda foi estabelecida objetivando operar o sistema de gás de aterro e

geração de créditos de carbono.

ii) Prestadores indiretos do serviço

Prefeituras Municipais

Para os aterros Caieiras, Lara e Itapevi foram consideradas as prefeituras

municipais, por meio das secretarias de gestão ambiental, de serviços urbanos e de meio

ambiente, respectivamente. Para o Caieiras e Lara os dados foram coletados através de

entrevista e para o Itapevi por meio de dados secundários, buscados diretamente no plano

municipal de gestão integrada de resíduos sólidos de 2013. Nos aterros Caieiras e Pedreira,

também há a participação da Amlurb: Caieiras, pois parte dos resíduos da cidade de São Paulo

são destinados ao aterro; Pedreira por estar localizado na cidade de São Paulo (região

noroeste).

Nos aterros Bandeirantes e São João, por serem aterros públicos e por terem a

prefeitura como uma participante explícita nos projetos de MDL, no município de São Paulo

são consideradas na análise de prestadores indiretos a Autoridade Municipal de Limpeza

Urbana (AMLURB) e a Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA), conforme:

Autoridade Municipal de Limpeza Urbana – AMLURB

A Autoridade Municipal de Limpeza Urbana – AMLURB é responsável pelo

gerenciamento dos serviços de limpeza urbana prestados na cidade de São Paulo. A

AMLURB vistoria periodicamente os aterros Bandeirantes e Caieiras (pois parte dos resíduos

do município são encaminhados para esse aterro). As visitas contemplam os procedimentos

para avaliação do Índice de Qualidade Global – IQG dos serviços de coleta, tratamento e

destinação final dos resíduos sólidos domiciliares (RSD) e dos resíduos de serviços de saúde

(RSS). O IQG não tem relação direta com gás do aterro, mas seu monitoramento pode

interferir na qualidade ambiental da disposição final dos resíduos.

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Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA)

Embora a Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) não esteja diretamente

ligada à gestão de resíduos sólidos do município, a partir da implantação dos projetos de

MDL nos aterros Bandeirantes e São João, o órgão se torna uma parte interessada, por meio

da atuação do DECONT e do FEMA, conforme exposto a seguir.

Departamento de Controle de Qualidade Ambiental – DECONT: é

responsável pelo controle, monitoramento e gestão da qualidade ambiental e da

biodiversidade do município de São Paulo. Tem como uma de suas responsabilidades

a produção dos Relatórios da Qualidade do Meio Ambiente (RQMA) anualmente.

Desde 2010, há um capítulo específico mencionando a biogás e o contrato de

concessão de área dos aterros Bandeirantes e São João. No entanto, não há nenhum

tipo de análise dos referidos dados, apenas são reproduzidos para fins de formalização

e arquivamento.

Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável –

FEMA: estão vinculados a SVMA, o Conselho do Fundo Especial do Meio Ambiente

e Desenvolvimento Sustentável – CONFEMA e o Fundo Especial do Meio Ambiente

e Desenvolvimento Sustentável – FEMA. O intuito deste Fundo é de prover suporte

financeiro a planos, programas e projetos que tendam ao uso racional e sustentável de

recursos naturais, ao controle, à fiscalização, defesa e recuperação do meio ambiente e

a ações de educação ambiental. Convencionou-se a partir de contrato firmado entre a

prefeitura e o Grupo Biogás60

, a partilha das Reduções Certificadas de Emissão

(créditos de carbono) provenientes dos projetos de MDL dos aterros Bandeirantes e

São João na proporção de 50% para cada uma das partes. A parcela pertencente à

prefeitura é destinada ao FEMA. Por receber 50% das referidas RCE, a presente

pesquisa considerou o FEMA/ SVMA como parte interessada.

CETESB

A interação mais aprofundada dos aterros com o setor público, com troca de

informações e dados de monitoramento, ocorre com a companhia de tecnologia de

saneamento ambiental (CETESB). Desse modo, ainda que os municípios sejam responsáveis

60

De acordo com o Relatório Anual de fiscalização da Cidade de São Paulo (2007), não ficaram evidenciados

esclarecimentos que fundamentem o repartimento das RCE na quantia de 50% / 50% entre prefeitura e Biogás.

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pelo serviço de manejo de resíduos sólidos, o enfoque maior no contexto estudado para o

prestador indireto do serviço é na CETESB, órgão ambiental Estadual. A CETESB é

contemplada como agente para os seis aterros estudados.

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) visa contribuir para

a melhoria da qualidade ambiental dos aterros sanitários, provendo orientações técnicas aos

municípios e fornecendo Normas técnicas e Resoluções, bem como contribuindo na

elaboração de legislação ambiental. Além disso, a CETESB realiza visitas periódicas aos

aterros para coletar dados para elaboração do Inventário (IQR) e também para monitoramento

de rotina. A fiscalização é descentralizada, executada por 46 agências da Cetesb distribuídas

pelo Estado de São Paulo.

b) Usuários diretos e indiretos do serviço

Considera-se como usuários indiretos a população dos municípios de modo geral,

usuária do serviço de RSU prestado pelas prefeituras. Como usuários diretos, consideram-se

as populações do entorno dos aterros estudados, essas últimas constituem o foco da pesquisa.

Para a coleta de dados não foram considerados os usuários indiretos, uma vez que o trabalho

possui o recorte na geração de cobenefícios locais, levando em conta a população do entorno

como a beneficiária direta dos resultados do MDL. Os usuários diretos, apresentados a seguir,

foram contemplados considerando seus organismos de representação.

Fórum Local Perus Anhanguera

O Distrito de Perus tem um histórico de movimentos sociais e lutas pelos direitos

dos cidadãos e em 2003 foi criado o Fórum de Desenvolvimento Local Perus – Anhanguera,

representado pelas lideranças locais, com o objetivo de mobilizar e organizar a participação

da população para o exercício democrático de cidadania junto aos diferentes níveis de

governo. Uma dessas ações relaciona-se com o projeto de MDL do aterro sanitário

Bandeirantes.

O Fórum participou das audiências públicas, representando a comunidade local,

bem como realizou várias plenárias com o intuito de levar informações e esclarecer aos

moradores assuntos que vão desde mudanças climáticas aos projetos de MDL.

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Conselho consultivo da Comunidade de Caieiras

O Conselho consultivo da Comunidade de Caieiras foi criado em 2002 a partir de

uma exigência da CETESB à Essencis. O Conselho é responsável por fiscalizar ações, propor

modificações, investigar diversas irregularidades, entre outras funções. Participam das

reuniões trimestrais promovidas pela Essencis e atuam ativamente nos órgãos públicos locais

demandando melhores condições no que tange ao bem-estar social e ambiental da

comunidade. Durante a fase de construção do aterro Caieiras, houve abaixo-assinado na

população do entorno (cerca de 4000 pessoas) para que o aterro não fosse implantado.

Campanha Mais Vida Menos Lixo

A Campanha Mais Vida Menos Lixo possui a finalidade de organizar a resistência

da população ao uso de aterros sanitários, por entender que eles não são mais soluções

adequadas aos problemas do lixo, especialmente nas grandes cidades como São Paulo. O

surgimento da Campanha ocorre a partir de uma iniciativa dos moradores da região de São

Mateus, Zona Leste do município de São Paulo. Moradores que convivem há anos com a

insalubridade local acarretada pelas atividades do aterro, e também com possibilidade de

acidentes devido ao desmoronamento de toneladas de lixo do aterro São João. A partir de

2007 iniciaram as seguintes atividades: pesquisar sobre a GRSU, reunir pessoas e entidades

populares, questionar a política de aterros e apresentar alternativas. Esta Campanha participou

de manifestações para que o aterro São João fosse fechado muito antes do que efetivamente

fechou, entendendo que o local não tinha mais condições de ser sede do lixo da RMSP e que

tinha atingido sua capacidade limite. Esse usuário direto está ligado ao aterro São João.

Cooperativa de reciclagem: Cooperativa Chico Mendes

A Cooperativa Chico Mendes, fundada em 1999, tem como proposta a geração de

empregos para pessoas de baixa renda na Zona Leste e atualmente possui cerca de 45

cooperados. Para garantir sua sustentabilidade, a cooperativa mantém parceria com o SESC

Itaquera, Centro Educacional Unificado (CEU) e outras escolas, além de empresas e

residências da região que encaminham seus materiais para a reciclagem. A Cooperativa está

cadastrada na Prefeitura e por conta disso, recebe parte dos resíduos recicláveis coletados pela

Ecourbis em São Paulo. Esse usuário direto também está vinculado ao aterro São João.

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Núcleo Cabuçu

Com estruturas instaladas desde 2003 e abertura para visitação em 2008, o Núcleo

Cabuçu compõe o Parque Estadual da Cantareira e realiza atividades de educação ambiental

no próprio parque e para a comunidade do entorno. Os funcionários do Núcleo residem nos

bairros mais próximos ao aterro Pedreira (Recreio São Jorge; Novo Recreio; Jardim Monte

Alto; Jardim Siqueira Bueno; Chácara Cabuçu; Jardim São Luís; e Jardim dos Cardosos).

CMR Itapevi

A Cooperativa de Materiais Reciclados de Itapevi (CMR Itapevi) foi fundada em

2003, e atualmente conta com cerca de 20 cooperados. Para seu funcionamento, a cooperativa

recebe apoio da administração municipal de Itapevi, por meio da Secretaria de Meio

Ambiente, o que garante o pagamento do aluguel do galpão além de contribuir para o

pagamento de outras despesas. Esse usuário direto está vinculado ao aterro Itapevi.

Coopercata Capuava

A cooperativa foi fundada em 2003, inicialmente localizada na Vila Carlina com o

nome de Cooperativa Autônoma de Mauá (Cooperma). Em 2014, a cooperativa mudou de

nome e local: Coopercata Capuava (Cooperativa de Catadores de Papel, Papelão e Material

Reciclável do Município de Mauá), no bairro de Capuava. A Coopercata atua em parceria

com a Prefeitura de Mauá, que concedeu o terreno cede da cooperativa. São triadas por ano

cerca de 340 toneladas de resíduos por 30 cooperados. Os materiais recicláveis são coletados

em vários pontos da cidade pela empresa Lara e direcionado à cooperativa. Esse usuário

direto está vinculado ao aterro Lara.

5.2. Descrição dos vetores do serviço: técnicas e competências

A coleta de dados visou: determinar as características do serviço; identificar as

principais inovações no serviço a partir da implantação dos projetos de MDL, com base nas

técnicas (T) e competências(C) necessárias para desenvolvê-las. O recorte da coleta de dados

nesta pesquisa, no que diz respeito ao detalhamento de T e C, é sobre o serviço de disposição

final. Aspectos relacionados à geração de energia por meio do biogás fogem ao recorte e são

abordados de modo indireto.

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Adaptando o modelo de Gallouj e Weinstein (1997) e as contribuições de Gallouj

(2002), Gallouj e Savona (2010) e Windrum e Garcia-Goni (2008) ao contexto dos projetos de

MDL em aterros sanitários, o enfoque das competências e técnicas, incide na possibilidade de

mitigação dos impactos ambientais decorrentes dessa atividade, levando-se em conta a

contaminação do solo, atmosfera e águas superficiais e subterrâneas.

Observou-se também a pertinência de destacar regulamentações (especialmente

voltadas ao controle da emissão de odores e monitoramento de gás) que podem influenciar no

uso e escolha das técnicas dos prestadores diretos e indiretos.

O referido modelo, adaptado ao contexto do serviço de disposição final de

resíduos em aterros com MDL, contribui para a análise das oportunidades de inovação

alinhadas à geração de cobenefícios. Assim sendo, temos a seguinte representação do produto,

ou seja, do serviço de destinação de resíduos em aterros sanitários com MDL (Figura 14).

Conforme tratado anteriormente, o serviço público de gestão de resíduos sólidos

urbanos no Brasil é majoritariamente executado de modo indireto. Ou seja, o Poder Público

concede a execução do serviço para terceiros. Então, no modelo teórico aqui aplicado, as

prefeituras são consideradas como prestadores indiretos, bem como o órgão ambiental

estadual, dado a influência desse agente como entidade fiscalizadora e provedora de normas e

regulamentações específicas para aterros sanitários, e as concessionárias como prestadores

diretos do serviço. As populações do entorno dos aterros são os usuários diretos e a população

do município de modo geral, os usuários indiretos do serviço, uma vez que a ênfase é dada à

geração de cobenefícios locais por meio dos projetos de MDL em aterros.

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Os vetores caraterísticas do Serviço (Y) de disposição final de resíduos em

aterros, técnicas (T) e competências (C) dos agentes envolvidos na produção e na entrega do

serviço e Regulamentações são detalhados nos tópicos seguintes.

a) Vetor características do serviço

O vetor “características do Serviço” (Y) aponta as características principais que justificam o

recurso a este serviço. Para o serviço de destinação final de resíduos em aterros sanitários com

MDL, as características do serviço são: quantidade de biogás produzida, quantidade de resíduos

tratados e a qualidade ambiental da disposição final dos resíduos.

Figura 14: O serviço de destinação de resíduos em aterros sanitários com MDL como um conjunto de

características Fonte: Baseado em Paulino (2015) adaptado de Gallouj e Savona (2010).

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Para a finalidade desta tese, a análise das oportunidades de inovação, os resultados

da aplicação dos indicadores da Dimensão Social e da Dimensão Ambiental foram

sistematizados e analisados em termos das modificações das características do serviço

(técnicas e competências) considerando os diferentes agentes que nelas interferem.

Tais modificações estão sintetizadas no Quadro 23 e detalhadas nesta seção. Cabe

lembrar que a Dimensão Social refere-se aos temas Participação, Articulação, Benefícios; e

seus respectivos indicadores (1 ao 16) foram descritos no capítulo 4.

A Dimensão Ambiental refere-se aos temas Monitoramento da qualidade

ambiental e Monitoramento de gases; e seus respectivos indicadores (17 ao 23) foram

igualmente descritos no Capítulo 4. No contexto geral, as competências e técnicas a partir da

representação do serviço baseada em características para cada um dos agentes envolvidos são

(Quadro 23).

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Quadro 23: Técnicas e competências para projetos de MDL em aterros a partir da

representação do serviço baseada em características

Técnicas

Tipo de técnica Prestadores diretos

(T)

Prestadores indiretos

(T’)

Tangível

Equipamentos, máquinas e materiais para operação da

usina térmica e a modificação da cobertura final dos

resíduos; técnica de termofusão para vedação dos

drenos; sistema duplo de drenagem, rede wi-fi.

Equipamentos para realizar a

vistoria nos aterros

Intangível

Adaptação de modelo de estimação da produção de

biogás; ajustes e correções no sistema de drenagem de

gás (eliminação de odores e condução eficiente do

gás)

Métodos de inspeção visual

(problemas geotécnicos);

métodos de monitoramento do

biogás produzido; inspeção de

rupturas secas.

Usuários diretos

(C’’) e

Indiretos

(C’’’)

Não há técnicas que interfiram nas características do serviço

Competências

Tipo de

competência

Prestadores diretos

(C)

Prestadores indiretos

(C’)

Conhecimento

prático

Manusear sistemas, equipamentos e recursos

tecnológicos para a captação de biogás; inserir input

de formações nos sistemas conforme os padrões

exigidos pelo MDL/ EOD / CETESB; identificar

soluções para problemas; identificar possíveis erros

de funcionamento de sistemas, equipamentos e

recursos tecnológicos; plano emergencial;

procedimento para identificação de risco ou

deslizamento do maciço do aterro; diminuição da

distância entre os poços verticais (de 50m para 25m)

Detectar possíveis trincas/

vazamentos

Conhecimento

teórico

Adaptação e aplicação do modelo de estimativa de

produção de biogás

Estudos sobre sistema de

captação de biogás

Rotina Visitas das entidades operacionais designadas (EOD) Inspeções visuais mais atentas

(geotécnicas)

Usuários diretos

(C’’) e

Indiretos

(C’’’)

Não há competências que interfiram nas características do serviço

Regulamentações: monitoramento da qualidade do ar ligada ao controle da emissão de odores e

monitoramento de gás

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b) Vetor das características técnicas

O vetor de características técnicas dos prestadores diretos (T) e indiretos (T) e usuários diretos

(T) e indiretos (T) é o conjunto de técnicas utilizadas para realizar o produto (bem ou

serviço). Técnicas tangíveis (material de informática, máquinas, equipamentos, e outros itens de

infraestrutura) ou intangíveis (métodos matemáticos, métodos de trabalho). As técnicas são

codificadas, transmissíveis e independentes dos indivíduos.

i) Técnicas dos prestadores diretos

As técnicas dos prestadores diretos (T) são relacionadas ao: sistema de

impermeabilização / drenagem de lixiviados; sistema de tratamento de chorume; sistema de

coleta e armazenamento de água da chuva; sistema de coleta de biogas; métodos e

equipamentos de monitoramento de emissão de gás fugitivo. Por conta da pressão exercida

pela captação de biogás, identificam-se inspeções visuais detalhadas para perceber possíveis

problemas geotécnicos.

As técnicas tangíveis são predominantemente relacionadas a equipamentos,

máquinas e materiais para operação e manutenção, no caso dos aterros Caieiras, Itapevi, Lara

e Pedreira, e de manutenção, no caso dos aterros Bandeirantes e São João. As técnicas

intangíveis são relacionadas aos métodos de análise e monitoramento (odores, gás,

acompanhamento dos registros pluviométricos e de produção de biogás, chorume etc).

O sistema de captação do biogás compreende a adaptação dos drenos verticais

existentes e pertencentes ao sistema de drenagem de gás e chorume, o encaminhamento do

biogás por tubulação em PEAD (polietileno de alta densidade) ao agrupamento de ramais, o

manifold, e por fim para a usina de biogás, para retirar a umidade, realizar a pré-filtragem, e

encaminhamento aos motogeradores para a geração de energia (além da queima do gás

excedente).

A tecnologia empregada no aterro Bandeirantes é composta pelos seguintes

componentes: camada de membrana impermeável de polietileno de alta densidade (PEAD);

sistema de drenagem de vazamentos usando tubos de PEAD; sistema de drenagem de água da

chuva; exaustor de gás de aterro, incluindo uma rede de tubos de PEAD conectada aos

coletores para controlar a concentração de metano; tratamento do gás de aterro através de

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esfriamento e condensamento; 24 geradores Cartepilar com capacidade de 925 kW cada. Os

equipamentos foram todos importados.

Empresas nacionais foram capacitadas para instalação e manutenção dos

equipamentos, tais como: Iastech – realiza a instalação de manutenção do software de

operação da usina de gás; Aflon –produz as tubulações de PEAD utilizadas no aterro para a

captação do gás; Incontrol –realiza a manutenção dos medidores de vazão; IPT –realiza a

calibração dos medidores de vazão e de outros equipamentos de aferição da usina de gás;

Mitsuba –realiza a manutenção no gerador de emergência.

De acordo com a concessionária do aterro Bandeirantes, as tecnologias de

extração de gás em campo são provenientes da Europa, local de temperaturas mais baixas se

comparado ao Brasil. Assim, foi necessário realizar algumas adaptações. Por exemplo,

redução na extremidade do dreno de aço-carbono não era necessária levando em conta as

características do clima brasileiro. Isso ocorre por conta das baixas temperaturas enfrentadas

em países europeus, como medida impeditiva de congelamento do gás nos drenos. No clima

tropical, não há necessidade do material ser de aço-carbono, o PEAD é suficiente, mais

flexível e requer menor investimento.

Então, os drenos verticais de concreto foram adaptados e trocados por drenos de

PEAD, pois esse material acompanha o recalque do aterro, não trinca e não obstrui a

passagem do gás. Essa técnica do aterro Bandeirantes foi colocada em prática em outros

aterros, tais como Itapevi, Pedreira e São João.

Para o aterro São João, em relação à capacitação tecnológica, houve o

desenvolvimento de empresas nacionais para instalação e manutenção dos equipamentos

(similar ao caso do aterro Bandeirantes). E a maior parte dos equipamentos foi importada –

motores para geração de eletricidade, medidores de corrente, analisador de gás e queimadores.

Assim como no aterro Bandeirantes, no São João, todo o processo de captação de

biogás é controlado por um sistema de controle elétrico o “Controlador Lógico Programável”

(CLP). Há ainda o sistema SCADA (processo de visualização por um computador). Com esse

sistema é possível controlar e monitorar a captação de biogás remotamente (online).

Em 2015, a São João Energia Ambiental passou a receber biogás do aterro CTL,

para isso, foram requeridas algumas adequações na usina do São João, por exemplo, na lógica

do sistema de controle elétrico, e maior atenção para que as válvulas não sejam obstruídas.

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Desta forma, aumentou-se a complexidade de trabalho em relação à captação de biogás e à

comunicação entre os aterros CTL e São João. Soma-se ainda o fator das tecnologias

(modelos e fabricantes) utilizadas serem de origens distintas (Norte-americana e Holandesa).

Nos aterros Bandeirantes e São João além das concessionárias responsáveis pela

captação do biogás, há concessionárias responsáveis pelo gerenciamento da área dos aterros, a

Loga e a Ecourbis. E, dado que os aterros Bandeirantes e São João estão desativados, o plano

de encerramento da área requer atenção à manutenção das áreas verdes para detectar possíveis

trincas/ vazamentos, sobretudo com as atividades de captação de biogás.

Para o aterro Caieiras, o sistema de coleta de gases inclui: poços distribuídos no

aterro para extrair biogás por exaustão forçada (pressão negativa) com sopradores; uma rede

de tubos conectados ao topo dos poços transportando o biogás até a unidade de tratamento;

um equipamento para tratar o biogás retirando toda umidade antes de passar pelos sopradores

e então ser enviado para queima.

Eventualmente, utilizam uma cobertura integral de material impermeável, como

PVC ou similar, sobre a massa de resíduos. Também, após a implantação do MDL, passaram

a utilizar técnica de termofusão para vedação dos drenos (antes da implantação do projeto,

eram vedados com arame e borracha). Ao adotar esse procedimento, a empresa economizou

em 2 (dois) anos, cerca de R$800.000,00.

Atualmente, o aterro Caieiras apenas queima o biogás em flares para a geração de

créditos de carbono. Os equipamentos utilizados pelo aterro são selecionados pela eficiência e

confiabilidade, e são: 5 sopradores nacionais61; 4 flares nacionais; 170 poços de captação e

monitoramento (a serem instalados); 21 motogeradores de 1,4 Mwh cada62

.

Há previsão de que a operação da usina térmica se inicie no final de 2015. Para

isso, importarão dos Estados Unidos da América sopradores63

. Consideram que a tecnologia

dos Motores Caterpillar (utilizadas no Bandeirantes) não reflete o benchmarking, então,

optarão pelos equipamentos de uma empresa alemã64

.

61

Para a nova planta, serão três sopradores importados e aproveitarão um nacional já existente na planta. 62

O medidor de vazão será termal, um para cada equipamento. 63

Empresa HSI, representada pela Atlas Copco no Brasil. 64

GE Jenbacher modelo JGC 420 GS-L.L, com potencia de 1407 kW cada um, somando uma potencia instalada

da UTE de 29.547 kW

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Para o aterro Pedreira, em relação às técnicas, a partir do projeto de MDL, para

captar o biogás foi necessário trocar os drenos de concreto por poços de PEAD. Nesse

procedimento, muitos drenos foram desentupidos, além de passarem a ter uma vedação maior

por conta do PEAD, que permite controlar melhor a emissão de gás fugitivo.

Sobre a aquisição de tecnologias, a informatização foi essencial para melhorar o

monitoramento e registro de informações em campo, que antes era realizado de modo

manuscrito em pranchetas sob intempéries a que atividades de campo estão sujeitas (sol,

chuva, vento etc.). Com a informatização, as informações são registradas e, em tempo real,

enviadas por correio eletrônico (e-mail), melhorando significativamente a qualidade e

precisão dos dados.

O aterro Pedreira também implantou rede wi-fi por toda a área do aterro,

possibilitando, além do envio de dados em tempo real, a comunicação via softwares de

videoconferência. Assim, quando há problemas e /ou questões a serem resolvidas com

urgência, é possível comunicar toda a equipe imediatamente para buscar soluções.

Para o aterro de Itapevi, novos procedimentos e materiais são usados em campo,

por exemplo, tubos de concreto foram trocados por PEAD, procedimento proveniente do

aprendizado obtido no aterro Bandeirantes.

Ainda, após o projeto de MDL a distância entre os poços verticais diminuiu de

50m para 25m. A diminuição da distância entre os poços faz com que o aterro seja melhor

drenado tanto em relação ao chorume quanto ao biogás.

A tecnologia empregada no aterro Itapevi para captação e queima de biogás

ocorre por meio da instalação de um sistema de recuperação ativa. Todo o processo é

composto por: um sistema de coleta e transporte formado por uma rede de tubulações e por

um sistema de flares; e instalação de cabeçotes de drenos nos poços de concreto existentes

para evitar emissões de biogás para a atmosfera. Os cabeçotes são conectados a uma linha de

coleta e essa linha conduz o biogás até os manifolds. A tecnologia é importada dos Estados

Unidos da América e Europa.

A principal alteração verificada no sistema de drenagem no aterro Itapevi após o

MDL é o sistema duplo para isolar a parte antiga da parte mais recente do aterro. Essa medida

visa melhorar a captação de biogás e a drenagem de chorume, pois no início da operação do

aterro, não se tinha tanto cuidado ao realizar a drenagem desses dois parâmetros. Com o

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MDL, passou-se a observar com mais atenção o sistema de drenagem de modo geral. Até o

momento, o resultado da implantação do sistema duplo está sendo satisfatório.

Para o aterro Lara, a atividade de projeto envolve melhorias na drenagem de

percolado e sistema de cobertura do aterro e a instalação de plantas de geração de eletricidade

e de queima de gás. Como nos outros aterros, grande parte dos equipamentos do projeto foram

importados.

Assim, no aterro Lara, as principais melhorias alcançadas por meio do projeto de

MDL, além da redução de emissão de GEE, são: melhoria na cobertura do aterro a, reduzindo

a quantidade de percolado/ derramamentos; melhoria no bombeamento de percolado,

reduzindo o risco de poluição de água e água subterrânea; redução significativa de maus

odores; redução de risco de incêndio.

ii) Técnicas dos prestadores indiretos

As técnicas dos prestadores indiretos (T) são relacionadas à fiscalização das

atividades desenvolvidas pelas concessionárias, e compreendem métodos de acompanhamento

dos registros pluviométricos, por meio da verificação da funcionalidade dos equipamentos de

drenagem superficial implantados, acompanhamento e leituras dos níveis piezométricos e

análises físico-químicas e microbiológicas em amostras de águas superficiais e subterrâneas e

amostras de chorume, para verificar possíveis variações ao longo do período que está sendo

monitorado. Foram incorporados métodos de monitoramento do biogás produzido.

A principal diferença na definição das técnicas do serviço entre prestadores

diretos (concessionárias) e prestadores indiretos (setor público) é que os primeiros são

responsáveis pela produção, elaboração e análise das amostragens e, os segundos,

responsáveis pela fiscalização dos procedimentos realizados.

Em termos de equipamentos, os instrumentos básicos utilizados pelos prestadores

indiretos para realizar a vistoria nos aterros são os marcos superficiais de deslocamentos, os

medidores de nível d’água, os piezômetros e os manômetros de gás. Em termos de técnica

intangível, destacam-se os métodos de inspeção visual para identificação de problemas

geotécnicos no aterro que sejam percebidos visualmente.

O acompanhamento do monitoramento de gases tem por objetivo detectar as

eventuais migrações e os riscos de ocorrência de explosões. Os resultados das análises do

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145

monitoramento permitem ajustes e correções no sistema de drenagem de gás do aterro, no que

tange à eliminação de odores e na condução eficiente e segura do gás.

Para os prestadores indiretos detectar possíveis trincas/ vazamentos é um tópico

de atenção nessa fase encerramento do aterro, sobretudo com captação de biogás. Assim,

técnicos treinados percorrem o aterro para realizar inspeções visuais mais atentas com a

finalidade de identificar quaisquer manifestações de problemas geotécnicos, sobretudo, por

conta da pressão exercida pela captação de biogás. Caso constatem-se anomalias, essas são

registradas e analisadas para que se tomem as medidas cabíveis de intervenção e/ou

reparação.

Embora o serviço de resíduos sólidos urbanos seja um serviço público, de

responsabilidade dos municípios, é geralmente prestado por empresa concessionária, e cabe

ao órgão ambiental Estadual auxiliar na fiscalização e acompanhamento técnico. Nos casos

estudados, as prefeituras, especialmente dos aterros privados, têm conhecimento das

atividades desempenhadas pelos aterros com base nas informações dos relatórios da Cetesb -

Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares (CETESB) - por meio do Índice de

Qualidade de Resíduos- IQR.

A partir dos projetos de MDL, o órgão ambiental estadual incorporou alguns

novos métodos de trabalho. Um deles é o cruzamento dos dados geotécnicos com a geração e

monitoramento de biogás. O procedimento melhora o monitoramento geotécnico e previne

possíveis deslizamentos. No monitoramento dos drenos, são observados possíveis

entupimentos - poços eficientes, ineficientes, desligados, conectados - que não seriam vistos e

corrigidos caso não houvesse o projeto de MDL.

Ao monitorar o sistema de impermeabilização, pós-MDL, há maior preocupação

com redução de emissão de gás fugitivo, assim, incorporaram-se métodos de monitoramento

do biogás produzido e métodos de inspeção visual mais acurada. Além disso, durante a

fiscalização dos aterros, no monitoramento geotécnico leva-se em conta também inspeção de

rupturas secas65

relacionadas à captação de gases.

65

Exemplo da ocorrência de ruptura no aterro são João (em 2007) – antes disso, as rupturas eram decorrentes

quase sempre por conta do chorume (rupturas líquidas, dos percolados) a partir desse episódio no São João,

considera-se agora a possibilidade de rupturas secas relacionadas à captação de gases. Nesse momento, houve

maior preocupação com monitoramento geotécnico devido à captação de biogás por conta do MDL.

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146

Para a SES/ Amlurb o projeto de MDL melhora o monitoramento da qualidade

ambiental (monitoramento das águas superficiais e subterrâneas; drenagem de lixiviados) e,

por conta da captação de biogás, há uma preocupação maior com a estabilidade dos taludes,

melhorando o monitoramento geotécnico do aterro. Nesse sentido, destaca-se novamente o

método de inspeção visual para verificar trincas em taludes.

De acordo com a SES/ Amlurb o monitoramento das válvulas de biogás é

facilitado quando o sistema é centralizado. Por ora, somente o aterro Pedreira possui uma

central de válvulas de biogás. Salienta-se que, além do sistema centralizado, o ideal seria um

processo automatizado para abertura e fechamento das válvulas dos poços de captação de

biogás.

Para o DECONT, embora desde 2010 incluam um capítulo no RQMA sobre os

projetos de MDL nos aterros, contemplando dados dos Relatórios da Biogás Energia

Ambiental S/A e o contrato de concessão de área dos aterros sanitários Bandeirantes e São

João, não foram identificadas técnicas que tenham influenciado as características do serviço

após a implantação do MDL.

Não foram identificadas técnicas dos usuários diretos (T) e indiretos (T) que

tenham influenciado as características do serviço após a implantação do MDL.

c) Vetor das características de competências

O vetor competências dos prestadores diretos (C) e indiretos (C) e usuários diretos (C) e

indiretos (C) é o conjunto de competências mobilizadas para realizar o serviço, que podem ser

científicas, técnicas, operacionais e relacionais. São mobilizadas para tornar acessível a

utilização das técnicas ou a realização do serviço. As competências são incorporadas aos

indivíduos, a um grupo de indivíduos ou a uma organização. As competências decorrem da

formação, experiência, interações etc. São tácitas e dificilmente transmissíveis. No caso

estudado, destacam-se as competências dos provedores de serviços (back office competences) e

competências que são necessárias para a interação dos provedores com os usuários (user facing

competences).

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147

A qualidade de um bem ou serviço é resultado de um conjunto de competências

detidas por provedores/ produtores e pelos usuários (GALLOUJ e WEINSTEIN, 1997;

WINDRUM e GARCIA-GONI, 2008) o que inclui as competências dos provedores de

serviços (back office competences) e competências que são necessárias na interação com os

usuários (user facing competences). Ou seja, competências que são mobilizadas pelos atores

envolvidos no triângulo de serviço para definir, produzir e entregar o serviço final.

i) Competências dos prestadores diretos

As competências dos prestadores diretos (C) referem-se a conhecimentos (teóricos

e práticos) e rotinas. Destacam-se os conhecimentos necessários à adaptação e aplicação do

modelo de estimativa de produção de biogás, considerando parâmetros mais condizentes com

a realidade brasileira.

O primeiro passo para a captação do biogás e aproveitamento para geração de

energia contempla estudos iniciais teóricos, que devem levar em conta parâmetros adequados,

ensaios e experimentos para cada caso analisado (KAIMOTO et al, 2006). Ao longo do

desenvolvimento dos projetos, buscou-se atender a necessidade de fornecer estimativas e

parâmetros, referentes à produção de biogás, mais conservadores e adaptados ao contexto

brasileiro, tendo em vista que muitos projetos de MDL em aterros extrapolaram as previsões

de geração de redução certificada de emissão (RCE) no primeiro período creditício.

Para sanar essa deficiência, foram necessários novos conhecimentos teóricos para

adaptar a metodologia de estimação da produção de biogás (inicialmente, os projetos usavam

a metodologia da US EPA) ao contexto de aplicação. Nos projetos que renovaram o segundo

período creditício, foram encontradas outras metodologias66

com parâmetros mais

conservadores e adaptados ao contexto brasileiro.

Os conhecimentos práticos básicos requeridos pelas atividades nos aterros

relativas à captação do biogás são: manusear sistemas, equipamentos e recursos tecnológicos

indicados para a captação de biogás; inserir informações nos sistemas de forma correta e

completa conforme os padrões exigidos pelo MDL/ entidades operacionais designadas (EOD)

/ Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB); identificar soluções para

problemas causados pelo uso inadequado dos sistemas e equipamentos de trabalho;

66

Tais como: relatório técnico “Measuring landfill gas collection efficiency using surface methane

concentration” (Raymond L. Huitric and Dung Kong, from the Solid Waste Management Department of the Los

Angeles County Sanitation Districts).

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148

demonstrar atenção no uso de sistemas e equipamentos; tomar decisões rápidas diante de

problemas na execução das atividades; compartilhar informações importantes; identificar

possíveis erros de funcionamento de sistemas, equipamentos e recursos tecnológicos.

Quanto aos conhecimentos práticos dos prestadores diretos, a implantação do

MDL requer treinamento inicial intenso para assegurar a manutenção do aterro conforme

presumido durante o ciclo do projeto. O projeto precisa de expertise para a operação do

sistema de coleta e tratamento de gás. Destacam-se também competências práticas de

regulagem dos drenos de captação do biogás, operação e registros do sistema supervisório de

captação do biogás.

Sobre as rotinas dos prestadores diretos, as entidades operacionais designadas

(EOD) são entidades nacionais ou internacionais credenciadas pelo Conselho Executivo do

MDL que executam o processo de avaliação independente de uma atividade de projeto do

MDL. A atuação da EOD ocorre na fase inicial do projeto, na validação e solicitação do

registro para os projetos, mas também ao longo de todo o período creditício, em que

periodicamente realiza-se o monitoramento do projeto e solicitação da emissão de RCE ao

Conselho Executivo, com verificação mandatória pela EOD.

A cada monitoramento realizado, é solicitada pela EOD uma série de dados e

informações obtidos por meio de diferentes fontes, tais como relatórios e documentos, que

sejam capazes de afiançar os cálculos relativos à redução de emissão de GEE, bem como,

garantir que a atividade realizada se desenvolve de acordo com as normas estabelecidas pela

legislação vigente. Esse processo de verificação pode introduzir novos procedimentos e

processos dentro dos aterros, afetando suas rotinas e operações.

Nos aterros Bandeirantes e São João, há também a visita mensal da SVMA,

cumprindo o procedimento de vistoriar a área e as condições dos empreendimentos e coletar

dados relacionados à geração de biogás. As empresas emitem um relatório mensal com dados

da produção de biogás.

No aterro Bandeirantes, para iniciar a captação do biogás e aproveitamento para

geração de energia, foram contemplados estudos iniciais teóricos e práticos (ensaios e

experimentos)67

.

67

Os estudos iniciais teóricos e práticos realizados no aterro Bandeirantes são divididos em duas etapas: 1)

avaliação de viabilidade: foram adaptados 30 poços (25 já existentes e 05 novos). Para 05 poços foi conferida a

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149

Essas capacitações de operação foram transferidas para os operadores do aterro

através de uma empresa holandesa, acionista da Biogás, e especialista na recuperação de gás

de aterro.

No aterro São João identificaram-se conhecimentos teóricos e práticos

principalmente no monitoramento geotécnico. Devido a um acidente ocorrido no aterro em

2007, o monitoramento geotécnico agora também inclui inspeção de rupturas secas

relacionadas à captação de gases. Anteriormente, as rupturas eram decorrentes quase sempre

por conta do chorume (denominadas de rupturas líquidas, dos percolados).

No aterro Caieiras em relação às competências adquiridas, destaca-se o

treinamento específico da equipe que atua na parte operacional do aterro para conectar e

desconectar drenos e evitar assim, perda de gás. Também, é salientado o aprendizado e

desenvolvimento de conhecimento para vedação dos drenos (termofusão).

No aterro Pedreira, a implantação do projeto exigiu uma ampliação do perfil dos

profissionais. Atualmente, no quadro de colaboradores a empresa possui, além de

engenheiros, técnicos ambientais e eletroeletrônicos. Esses profissionais possuem um

conhecimento técnico avançado, que pôde complementar e aprofundar os trabalhos já

realizados em campo.

O permanente cruzamento de dados técnicos sobre as duas atividades é visto

como um ponto bastante relevante para a boa implantação do projeto de MDL no aterro

Pedreira. Os dados obtidos no monitoramento geotécnico são cruzados com as informações

referentes ao biogás, no intuito de minimizar os riscos de deslizamentos.

Desta forma, o nível de conhecimento aumentou significativamente,

principalmente por meio do complemento de informações e conhecimentos, a partir de uma

maior integração entre as equipes (a de gerenciamento do aterro e a do biogás), que passaram

a ter uma percepção mais abrangente das atividades desempenhadas no aterro.

Sobre a capacitação, por conta do projeto foram realizados os seguintes

treinamentos: calibração do equipamento de monitoramento; manutenção dos equipamentos

de monitoramento e instalações; manuseio de dados diários; ajustes e incertezas dos dados

monitorados; revisão dos dados / resultados relatados.

condição de sucção forçada, para 15 poços a condição de captação espontânea e para 10 as duas condições,

forçada e espontânea; 2) foram adaptados 03 poços do AS-5, sob condição de captação com sucção forçada,

compondo uma pequena rede interligada (KAIMOTO et al, 2006).

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150

Em relação às rotinas, com a vedação dos drenos passou-se a realizar uma

verificação dos poços de forma bem mais aprofundada, obtendo dados mais detalhados sobre

aspectos que interferem diretamente na operação do empreendimento.

O aterro Pedreira realiza também auditorias internas voltadas aos procedimentos

operacionais do projeto de redução de GEE e os dados do projeto são revisados internamente

antes de serem submetidos à verificação externa. Essas ações têm como finalidade melhoria

dos monitoramentos e a produção de relatórios mais precisos.

No aterro Itapevi os conhecimentos adquiridos por conta do projeto de MDL são

repassados entre os próprios colaboradores do aterro, como operadores e técnicos

responsáveis pela operação e manutenção do sistema de captação de biogás, e também entre o

grupo Estre. Não há um procedimento formal.

Após o MDL, foram introduzidos no aterro Itapevi alguns procedimentos: o

“plano emergencial” e o “procedimento para identificação de risco ou deslizamento do

maciço do aterro”. O primeiro estabelece que caso as atividades da planta sejam

interrompidas por um período maior do que 1 hora, abrem-se os flares para diminuir o risco

de deslizamento do maciço do aterro. O procedimento ainda não foi formalizado, mas os

funcionários são treinados para cumprirem o protocolo, caso necessário. Já o segundo

procedimento, formalizado em 2008, estabelece mecanismos para o gerenciamento do

deslizamento do maciço do aterro.

Em relação ao sistema duplo de drenagem, para isolar a parte antiga da parte mais

recente do aterro, a alteração no desenho do sistema foi realizada por um projetista e a equipe

do aterro somente faz a execução.

No aterro Lara foram realizados treinamentos aos colaboradores responsáveis pela

operação e manutenção do sistema de captação de biogás. Verifica-se que, após o MDL, as

práticas operacionais no aterro são melhoradas, assegurando que percolados e biogás sejam

controlados e gerenciados de modo mais seguro, reduzindo-se riscos de acidentes e

contaminação da água subterrânea e superficial.

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151

ii) Competências dos prestadores indiretos

As competências dos prestadores indiretos (C) referem-se a conhecimentos

(teóricos e práticos) e rotinas relativos ao sistema de captação de biogás. Para os prestadores

indiretos (C), por conta da pressão exercida pela captação de biogás, deve-se ter maior

atenção ao comportamento do maciço do aterro sanitário, do ponto de vista geotécnico.

Para os aterros Bandeirantes e São João, que estão na fase pós-encerramento,

intensificaram-se os métodos para detectar possíveis trincas e vazamentos, sobretudo com a

ênfase dada à captação de biogás após a implantação do MDL. Técnicos treinados percorrem

o aterro para realizar inspeções visuais mais atentas com a finalidade de identificar quaisquer

manifestações de problemas geotécnicos. Caso constatem-se anomalias, essas são registradas

e analisadas para que se tomem as medidas cabíveis de intervenção e/ou reparação.

O órgão ambiental estadual, após os projetos de MDL, realiza vistoria de campo

intensificada para: frente de trabalho (compactação dos resíduos; recobrimento dos resíduos);

taludes e bermas (dimensões e inclinações; cobertura de terra; proteção vegetal; afloramento

de chorume); superfície superior (nivelamento da superfície; homogeneidade da cobertura);

estrutura de proteção ambiental (impermebialização do solo; drenagem do chorume;

tratamento de chorume; drenagem de águas pluviais; drenagem de gases; monitoramento de

águas subterrâneas; monitoramento geotécnico); outras informações (ocorrência de odores).

Conhecimentos teóricos e práticos foram adquiridos devido ao risco relacionado

ao projeto, uma vez que os aterros não foram concebidos visando à captação forçada de

biogás e essas atividades pode levar a perda de alinhamento dos drenos, gerando instabilidade.

Nesse sentido, a CETESB fornece cursos68

para aprimorar os conhecimentos dos

colaboradores e da comunidade de modo geral. Além disso, os técnicos trocam informações,

procuram compartilhar os aprendizados obtidos em campo.

Para o órgão ambiental estadual há ainda conhecimentos práticos e teóricos para

licenciamento e fiscalização de usina termelétrica (UTE) em aterro, cumprindo-se o disposto

na legislação ambiental, pois diferentemente de outras UTEs que usam combustíveis fósseis,

as instaladas nos aterros, utilizam biogás.

68

Exemplo: Curso de Recuperação energética do Biogás em aterros sanitários e estações de efluentes, ministrado

em 2009 pelo PROCLIMA / CETESB com o objetivo de fomentar o uso energético do biogás, apoiando a

avaliação de viabilidade de projetos de MDL em aterros.

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152

Por fim, o processo de verificação dos créditos de carbono, que requer

fornecimento de informações solicitadas pela EOD a cada verificação dos créditos de

carbono, pode provocar alterações ou introduções de novos procedimentos e processos

também nos prestadores indiretos, afetando suas rotinas e processos, sobretudo para os aterros

Bandeirantes e São João, que também há interação com FEMA/SVMA, detentora de 50% dos

créditos de carbono gerados pelos projetos.

Não foram identificadas competências dos usuários diretos (C) e indiretos (C)

que tenham interferido nas características do serviço de disposição final de resíduos em

aterros após a implantação do MDL.

d) Regulamentações

Estabelecimento de normas, que podem afetar o uso e escolha das técnicas dos

prestadores diretos e indiretos, para o monitoramento da qualidade do ar ligada ao controle da

emissão de odores e monitoramento de gás.

No contexto estudado, destaca-se a questão da necessidade de se estabalecerem

normas técnicas para o monitoramento da qualidade do ar ligada ao controle da emissão de

odores e monitoramento de gás. Atualmente, essa avaliação é realizada caso a caso, de acordo

com os critérios do executor da vistoria no aterro.

Cabe ressaltar que o sistema de captação, drenagem e queima em poços isolados,

e a cobertura contínua dos resíduos realizada de modo ambientalmente adequado, faz com que

o dióxido de enxofre (SO2) e outros gases, sejam eliminados antes de emitidos à atmosfera,

mitigando esse efeito adverso dos aterros.

No entanto, a questão do monitoramento da qualidade do ar ligada ao controle da

emissão de odores foi considerada prioritária pela população do entorno dos aterros. Logo, o

desenvolvimento de técnicas e competências dos prestadores para controlar a emissão de

odores é considerado uma lacuna na entrega do serviço, ou seja, é crucial o papel do setor

público inovando em regulamentações.

Enfim, a representação do serviço em termos de características é uma construção

teórica que permite passar da problemática do produto (bem ou serviço) à da inovação, com

base nas modificações das características do serviço considerando os diferentes agentes que

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153

nelas interferem. As inovações identificadas são analisadas na seção seguinte situando-as na

discussão sobre as interações entre as partes interessadas.

5.3 RIPPS e o aspecto relacional na análise da inovação

Esta seção tem o intuito de analisar a inovação no contexto estudado, representada

por modificações nas características do serviço, embasadas na incorporação de técnicas e

competências, com ênfase na discussão da literatura sobre RIPPS. Assim, os resultados da

aplicação dos indicadores da Dimensão Social e da Dimensão Ambiental foram

sistematizados e analisados em termos das alterações potenciais nas técnicas e/ou

competências dos agentes envolvidos no serviço. Busca-se ressaltar o aspecto relacional da

inovação em serviços enfocando as partes interessadas e suas diferentes preferências.

Ou seja, são identificadas lacunas de técnicas e competências a ser desenvolvidas.

São considerados cinco tipos principais de interação: a) entre concessionárias e usuários

diretos; b) entre concessionárias (entre empresas privadas); c) entre órgãos públicos; d) entre

secretarias/ órgãos públicos e usuários diretos; e e) entre secretarias/órgão ambiental estadual.

Cabe lembrar que a Dimensão Social refere-se aos temas Participação,

Articulação, Benefícios; e seus respectivos indicadores (1 ao 16) foram descritos no capítulo

4. A Dimensão Ambiental refere-se aos temas Monitoramento da qualidade ambiental e

Monitoramento de gases; e seus respectivos indicadores (17 ao 23) foram igualmente

descritos no capítulo 4.

A definição das técnicas e competências a serem desenvolvidas aponta amplas

oportunidades para a inovação em serviços a partir da atuação e interação das partes

interessadas (GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997) nas atividades realizadas nos aterros sanitários

estudados nos quais há projetos de MDL.

As relações estabelecidas a partir dos projetos de MDL não diferem muito para

aterros privados e públicos. As observações mais significativas são:

- Aterros privados: nos aterros privados a relação direta com as prefeituras

dos municípios com os empreendimentos é praticamente inexistente. Embora o serviço

de resíduos sólidos urbanos seja um serviço público, as secretarias municipais têm

conhecimento das atividades desempenhadas pelos aterros com base nas informações

dos relatórios da CETESB;

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154

- Aterros públicos: os representantes das comunidades do entorno dos

aterros públicos estão mais engajadas nas questões que envolvem os projetos de MDL

e, consequentemente, obtêm e fornecem mais informações sobre os aterros; e a

presença de duas concessionárias nos aterros, eleva a complexidade das relações, mas

que até o momento, são rasas e não se constituíram efetivamente.

Nos casos estudados, as interações entre os agentes - quando há -

restringem-se às visitas de inspeção e licenciamento e às audiências públicas e/ou

encontros e programas específicos (Figura 15).

Fonte: elaboração própria.

Figura 15: relações entre os agentes – aterros públicos e privados

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155

Nos projetos de MDL em aterros o preenchimento da lacuna referente ao aspecto

relacional é basal para a promoção da inovação na prestação de serviços de resíduos sólidos

amparada na participação de stakeholders.

Devem-se considerar as interfaces do setor público com sociedade civil e

organizações privadas, com o estabelecimento e/ ou aperfeiçoamento dos canais de interação

entre secretarias municipais e entre estas e as demais partes interessadas. O desenvolvimento

de técnicas e competências tendo em vista ações voltadas para educação ambiental e inclusão

de catadores vinculadas aos projetos de MDL nos aterros também constituem-se

oportunidades de melhoria nos serviços atrelados à operação dos aterros sanitários, conforme

ressaltado também nos instrumentos (art 8º) da Política Nacional de Resíduos Sólidos: IV - o

incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação

de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; e VIII - a educação ambiental.

Enquanto o Quadro 23 aponta as técnicas e competências concretizadas a partir da

implantação dos projetos de MDL, o Quadro 24 aponta as técnicas e competências a serem

desenvolvidas, identificadas a partir das categorias de interação entre os strakeholders,

objetivando apresentar os aspectos reivindicados pelas partes interessadas, mas que não foram

concretizados e, portanto, não resultaram em inovação e respectiva geração de cobenefícios

de interesse dos usuários diretos.

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156

Quadro 24: Lacunas de competências e técnicas nos projetos de MDL estudados

Agentes em interação

Competências Técnicas

Prestadores diretos

(C)

Prestadores

indiretos

(C’)

Usuários

diretos (C’’)

Prestadores

diretos

(T)

Prestadores

indiretos

(T’)

Usuários

diretos

(T’’)

a) Concessionárias e

usuários diretos

Linguagem técnica para comunicação

externa; relacionais (espaços de interação

online e offline); divulgação do Anexo III;

rotinas para o monitoramento de odores

Insuficiência de

informação

adequada e

acessível para

entendimento

dos projetos

Técnicas de

redução da

emissão de

odores

Técnicas de

redução da

emissão de

odores; Métodos

de acesso aos

dados dos

projetos de MDL

b) Concessionárias

Organizacionais

(estabelecimento de

rotinas e canais de

comunicação;

coordenação);

relacionais

(interação;

capacidade de

trabalhar em rede)

Organizacionais

(Rotinas);

relacionais

(interação;

capacidade de

trabalhar em rede)

c) Órgãos públicos

Organizacionais

(estabelecimento de

rotinas e canais de

comunicação;

coordenação);

relacionais

(interação)

d) Secretarias/ órgãos

públicos e usuários

Linguagem técnica

utilizada;

comunicação;

relacionais

(espaços de

Linguagem técnica

utilizada;

comunicação;

relacionais (espaços

de interação online e

Capacitação

para

desenvolver

projetos para

concorrer aos

Técnicas de

redução da

emissão de

odores

Métodos de

acesso aos dados

dos projetos de

MDL; métodos e

procedimentos

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157

interação online e

offline); divulgação

do Anexo III;

rotinas para o

monitoramento de

odores

offline); divulgação

do Anexo III; rotinas

de monitoramento de

odores;

acompanhamento do

cumprimento

orçamentário

municipal

recursos

provenientes

das RCE;

promoção de

programas de

educação

ambiental e

cooperativas de

reciclagem

de accountability

e) Secretarias/órgão

ambiental estadual e

concessionárias

Organizacionais

(estabelecimento de

rotinas e canais de

comunicação;

coordenação);

relacionais

(interação;

capacidade de

trabalhar em rede)

Organizacionais

(estabelecimento de

rotinas e canais de

comunicação;

coordenação);

relacionais

(interação);

competências

práticas e teóricas

para licenciar UTE

de biogás

Procedimentos e

Métodos de

caracterização

dos resíduos

sólidos urbanos;

Procedimentos

de avaliação e

amostragem de

emissão de

odores e

monitoramento

de gás

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158

Os próximos tópicos detalharão as técnicas e competências a serem desenvolvidas

destacadas no Quadro 24. Ressalta-se que embora sejam apresentadas técnicas e competências

que foram concretizadas decorrentes da implantação dos projetos de MDL, essas já estão

mencionadas na seção 5.2, que aborda os resultados da aplicação do Modelo de

Representação do Produto e da Inovação em termos de Características do Serviço.

a) Entre concessionárias e usuários

Para os aterros encerrados, os prestadores diretos e indiretos indicam que não há

muitos pontos de interação com os usuários diretos com relação à gestão das atividades

relacionadas ao encerramento do aterro. No entanto, mesmo com os poucos pontos de

interação, os usuários diretos ressaltam o problema de articulação entre os atores, e de

comunicação, ou seja, não há canal efetivo para reclamações/ sugestões, somada a dificuldade

de compreender o conteúdo dos documentos sobre o projeto de MDL devido ao idioma e

linguagem técnica utilizada.

Além disso, o acesso ao conteúdo do documento de concepção do projeto (DCP) e

relatórios de monitoramento (RM) ocorreu de modo mais próximo somente em palestras

organizadas pelos prestadores diretos e também em encontros organizados pelos usuários

diretos. Por iniciativa dos usuários diretos foram realizadas plenárias/ palestras com

profissionais (advogados, engenheiros, especialistas) com conhecimento sobre MDL.

Até o momento, as reuniões com os prestadores diretos, ocorreram somente para

que fossem expostos os parâmetros técnicos de funcionamento do projeto e as melhorias na

qualidade de vida da população por meio da redução de emissão de GEE, redução de odor e

questões relacionadas às mudanças climáticas.

No entanto, os usuários diretos alegam que a linguagem utilizada é muito técnica.

Esse fator acaba por afastar esses atores das reuniões. É essencial o desenvolvimento de

material ilustrativo e de fácil compreensão com os pontos principais do projeto e ações a

serem realizadas com os recursos do MDL - (C) e (C).

Conforme observado por Besen (2011), deve-se ter atenção especial na linguagem

utilizada, bem como na maneira de expor os documentos e argumentos adotados. Para que

isso não limite a participação desses atores.

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Ressalta-se que a participação dos stakeholders em processos de avaliação é um

princípio orientador (Princípios de Bellagio) para se avançar em direção ao desenvolvimento

sustentável (PINTÉR et al, 2012).

Nesse sentido, também ressalta-se que o prazo de consulta determinado pela

UNFCCC (30 dias) não é suficiente. Assim, há oportunidade de desenvolver técnicas (T) e

(T) e competências (C) e (C) visando sanar essas lacunas de comunicação, buscando novas

interfaces com os usuários propiciando acesso adequado as informações relacionadas aos

objetivos dos projetos de MDL. Para isso, exigem-se conhecimentos/ qualificações - (C), (C)

e (C) - para compreensão e comunicação, atendendo às necessidades dos usuários.

Para os aterros públicos, Bandeirantes e São João, evidenciou-se que as

associações representantes da comunidade do entorno dos aterros públicos estão mais

engajadas e melhor informadas sobre as ações a serem realizadas com os recursos do MDL,

mas ainda estão longe de serem contempladas de modo efetivo, conforme estabelecido pelas

regras do Protocolo de Quioto.

Cabe nesse sentido, desenvolvimento de competências (C) e (C) visando à

divulgação das ações propostas no DCP baseadas nos aspectos do Anexo III nos relatórios de

comunicação ambiental, avaliando qualitativamente os meios e a forma como a informação é

apresentada e tornando os documentos mais acessíveis aos usuários diretos e indiretos.

Para os aterros em funcionamento (recebem resíduos), em relação à interação do

prestador direto com usuários diretos:

- Aterro Caieiras: os prestadores diretos, trimestralmente, realizam reuniões com

os usuários diretos, que apontam suas demandas e o prestador direto se compromete a saná-las

e resolvê-las de acordo com o que lhe é de competência. Os prestadores indiretos participaram

de algumas reuniões, visando potencializar os possíveis resultados provenientes das ações

discutidas nos encontros, por exemplo: ações para minimizar poeira69

e odores em certas

épocas do ano. Sobre os recursos provenientes da venda dos créditos, de acordo com o

prestador direto, 2% destinam-se aos usuários diretos.

69

A principal reclamação dos usuários diretos é referente à poeira levantada devido ao transporte de resíduos

pelos caminhões. No entanto, esse ponto não será abordado, pois extrapola o recorte adotado pela pesquisa, ou

seja, a etapa final do serviço, a disposição final de resíduos.

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No entanto, essa porcentagem não é divulgada de modo formal, nem as atividades

realizadas com esse recurso. O recurso foi investido em várias obras sociais, citam, por

exemplo, o hospital de Caieiras. Além disso, em 2013 houve 12 reclamações de odor

excessivo recebidas pela administração do aterro de Caieiras, e há também queixa sobre a

inexistência de um local onde se pudesse fazer a reclamação formalmente. Logo, o

desenvolvimento de técnicas dos prestadores diretos (T) para reduzir a emissão de odores em

termos de inovação foi explicitado pelos usuários diretos.

- Aterro CDR Pedreira: o aterro localiza-se em uma área isolada e mesmo estando

distante da população, o aterro possui um projeto de educação ambiental no Núcleo Cabuçu,

usuário direto. A equipe atuante no Núcleo tem suporte financeiro e de infraestrutura do

prestador direto. Observa-se que a interação do prestador direto e usuário direto é fruto do

cumprimento de condicionante da licença ambiental e não do projeto de redução de emissão

em si. No entanto, a geração de cobenefícios apontadas no MDL pode vir a fortalecer essa

interação.

- Aterro Itapevi: o usuário direto alega dificuldade de compreender o conteúdo

dos documentos relativos ao projeto de MDL. Não há conhecimento sobre o Anexo III, nem

sobre o objetivo do MDL de gerar cobenefícios locais, uma vez que não se sabe nenhuma

cooperativa e/ou programa de educação ambiental que foi beneficiado com os recursos do

projeto e/ou que a interação entre usuários e prestadores diretos e indiretos do serviço foi

favorecida pelo contexto propiciado pelo projeto. Os usuários ressaltam que não têm restrição

contra o projeto em si, o problema é a falta de acesso aos cobenefícios gerados pela

implantação do MDL, que não são divulgados à comunidade.

- Aterro Lara: no DCP do projeto do aterro Lara aponta-se que o prestador direto

em 2003 realizou dois workshops relativos ao MDL para as partes interessadas, incluindo

também os usuários diretos. Em atendimento à demanda dos participantes, sobre o primeiro

workshop ter sido muito técnico, no segundo, os prestadores diretos apontam que a linguagem

utilizada foi mais acessível. No entanto, os usuários diretos ainda pouco conhecem ou

desconhecem completamente a existência e o funcionamento dos projetos de MDL.

No geral, cabe o desenvolvimento de competências (C) visando à divulgação das

ações propostas no DCP baseadas nos aspetos do Anexo III aos usuários diretos. Mesmo com

as reuniões propostas, os usuários diretos apesar de reconhecerem a importante abertura

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fornecida pelos prestadores diretos, apontam que ainda há muito a se trabalhar para melhoria

da interação - (C) e (C) - entre os atores envolvidos. Somada a falta de conhecimento sobre

o Anexo III, os usuários diretos apontam a dificuldade de compreender - (C), (C) e (C) - o

conteúdo dos documentos relacionados ao projeto, por conta da linguagem técnica utilizada -

(C) e (C).

Conclui-se que os usuários diretos não se consideram beneficiários do MDL, uma

vez que não se têm conhecimento da contribuição dos projetos de MDL para programas de

educação ambiental e cooperativas nas localidades dos aterros e, de acordo com os usuários

diretos, ainda não existem ações para viabilizar a coleta seletiva, apoiar catadores, ou

viabilizar/ incentivar novas metodologias ou tecnologia por meio do projeto de MDL.

Destaca-se que ao beneficiar programas de educação ambiental e cooperativas, com os

recursos do MDL, refletem em melhoria do serviço de RSU.

Embora seja uma das exigências do comitê executivo do MDL, em muitos aterros

não foi constatada a realização de audiência pública, e também não há um retorno formal aos

usuários diretos sobre os recursos que foram aplicados ou qualquer outro tipo de informação

em relação ao andamento dos projetos.

A partir das preferências explicitadas, há oportunidades para promover inovação

requerendo dos prestadores indiretos competências (C) e rotinas para o monitoramento de

odores, dos prestadores indiretos e diretos competências relacionais - (C) e (C) - (criação de

canais de comunicação e espaços de interação online e offline).

b) Entre as concessionárias (entre empresas privadas)

Para os aterros públicos há empresas concessionárias distintas com atribuições

diferenciadas atuando nos aterros: uma concessionária é responsável por implantar o plano de

encerramento e realizar o monitoramento dos aterros, e uma segunda concessionária é

responsável pela captação de biogás e geração de energia.

Com essa situação se aumenta em complexidade diversos aspectos voltados à

gestão dos empreendimentos, sobretudo, relacional. A atuação descoordenada das duas

concessionárias gera problemas para o melhor desempenho na captação do biogás70

, sendo um

70

Alguns problemas identificados decorrentes da atuação descoordenada das duas concessionárias são: empresa

responsável pela cobertura final do aterro não necessariamente utilizar um material de cobertura que privilegie a

captação do biogás, atividade exercida por outra empresa; manutenção da cobertura vegetal - os danos causados

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162

fator que constitui limitação ao melhor desempenho no gerenciamento dos aterros com

projetos de MDL, necessitando o desenvolvimento de competências (C) dos prestadores

diretos.

Para o Bandeirantes e São João as interações mais evidentes entre os prestadores

diretos relacionam-se ao plano de encerramento. Embora o grupo Biogás não seja responsável

por realizá-los, o cumprimento dos planos pode interferir no trabalho de geração de biogás,

sobretudo, em relação à cobertura final do aterro. E, vice-versa, as atividades de captação,

podem interferir no aterro, nas palavras de Cepollina et al (2004, p.12) “a captação do

biogás, além de promover benefícios ambientais claros à atmosfera, converte-se em energia

limpa, afora os benefícios correlatos do ponto de vista de redução dos níveis de poro-pressão

no maciço sanitário”.

Especificamente para o aterro Bandeirantes, devido aos estudos e experimentos

realizados na área AS5 do aterro, os prestadores diretos tiveram suas rotinas alteradas

momentaneamente. Por conta da impermeabilização da área AS5, o monitoramento

geotécnico que era realizado mensalmente, passou a ser semanal. Os prestadores diretos

chegaram a ter reuniões periódicas com os prestadores indiretos a partir de 2009 devido à

implantação de 50.000m² de manta de PEAD no platô do aterro Bandeirantes.

Ao verificar a experiência de aterros que possuem uma única concessionária

(gestão do aterro e operação do biogás) a execução das tarefas e atividades tende a ter mais

êxito. Pela experiência dos aterros Bandeirantes e São João, afirma-se que muito tempo foi

despendido com divergências e outras questões burocráticas por existir duas empresas

atuando em um mesmo local.

Nesse sentido, uma atuação mais integrada das empresas concessionárias e do

setor público, engajados em solucionar os problemas provenientes das atividades exercidas

nos empreendimentos, poderia reduzir os impactos ambientais e contaminações, por meio da

melhoria na gestão e gerenciamento dos aterros, e ao mesmo tempo, otimizar a produção de

energia e redução da emissão de GEE a partir da captação do biogás.

aos drenos de biogás pela simples poda da vegetação, realizada pela concessionária responsável pela manutenção

do aterro, pode ocasionar a parada automática da usina de produção de energia elétrica; casos de avarias no

sistema de captação do biogás podem gerar um prejuízo ainda maior devido a morosidade no processo de

restabelecimento da atividade dos drenos - o restabelecimento dos drenos é uma tarefa a ser executada apenas

pela empresa encarregada da manutenção.

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Para todos os casos estudados são mencionados nos DCPs e relatórios de

validação o desenvolvimento e difusão de tecnologias a partir da implantação dos projetos. De

acordo com os dados analisados, destaca-se a inovação incremental, decorrente da

implantação do MDL, referente à melhoria do sistema de captação de biogás, drenagem e

queima (T) em poços isolados, com aumento da eficiência na captação ou redução da

quantidade de gás fugitivo no aterro. Trata-se de inovação tecnológica (tangível) propiciada

pela melhoria na cobertura do aterro, nos materiais utilizados e na própria concepção dos

drenos e pela importação de equipamentos. Essa importação demandou e propiciou que

empresas nacionais71

passassem a realizar atividades de instalação e manutenção (T) e (C).

Apesar das melhorias apontadas, de modo geral, os aterros não avançaram a

eficiência do sistema de captação para aproveitamento do biogás. Candiani e Torres (2015) e

Silva et al (2013) apontam que há perda significativa de biogás pela superfície dos aterros

com MDL.

Ainda com relação às técnicas dos prestadores diretos (T), verifica-se o

estabelecimento de parâmetros para estimar geração de LFG que foram calibrados a realidade

do aterro e avançaram muito ao longo do tempo em modelagens.

Essas inovações foram acompanhadas do estabelecimento/aperfeiçoamento de

competências dos prestadores diretos (C) relacionadas à aquisição de conhecimentos teóricos

e práticos (para desenvolver e aplicar métodos e tecnologias) e de rotinas para o

monitoramento do aterro.

As atividades exercidas através da implantação de um projeto de MDL favorecem

o monitoramento dos parâmetros técnicos, dado que um sistema de captação, drenagem e

queima em poços isolados eficazes, evitam a emissão de gases à atmosfera, mitigando esse

efeito adverso dos aterros, especialmente, para os usuários diretos. No entanto, por conta da

pressão exercida pela captação de biogás, os prestadores indiretos (C) e diretos (C) devem ter

maior atenção ao comportamento do maciço sanitário do ponto de vista geotécnico - (T) e

(T).

71 Exemplos: Iastech – empresa que realiza instalação de manutenção do software de operação da usina de gás;

Aflon – empresa que produz as tubulações de PEAD utilizadas no aterro para a captação do gás; Incontrol –

empresa que realiza manutenção dos medidores de vazão; Mitsuba – empresa que realiza manutenção no gerador

de emergência; IPT – empresa que realiza calibração dos medidores de vazão e de outros equipamentos de

aferição da usina de gás.

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Todos os fatores supracitados poderiam ser potencializados caso a interação entre

os agentes fosse mais efetiva - (C) e (C) – sobretudo, relacionados a rotinas. A proximidade

entre as empresas concessionárias tenderia a fomentar um processo de aprendizagem coletiva,

com a criação e desenvolvimento de conhecimentos a serem partilhados visando solucionar

problemas tecnológicos e organizacionais com que os agentes se deparam.

c) Entre órgãos públicos

Geralmente, é ínfima a participação dos órgãos públicos locais nos projetos de

MDL, principalmente nos projetos da iniciativa privada. Porém, o setor público, como

responsável pela provisão do serviço, deve assegurar que esta produção seja realizada de

modo adequado, cabendo ao Estado assumir o papel regulador, de fiscalização, incentivo e

planejamento.

Cabe nesse aspecto maior interação entre os setores privado-público e ações

conjuntas devem ser implementadas para se buscar maior aperfeiçoamento e benefícios

conjuntos em relação aos projetos de MDL.

Nos aterros públicos, os prestadores indiretos ligados à gestão de RSU não estão

envolvidos diretamente nos projetos de redução de GEE - especificamente em relação aos

recursos provenientes da venda dos créditos de carbono - e não há articulação entre as

secretarias no que tange ao projeto de MDL.

Ainda que exista um Capítulo nos Relatórios da Qualidade do Meio Ambiente

(RQMA)72

mencionando os projetos de MDL dos aterros Bandeirantes e São João, não há

nenhum tipo de análise dos referidos dados, apenas são reproduzidos para fins de

formalização e arquivamento.

Para os aterros privados, a interação entre as prefeituras dos municípios com o

órgão ambiental Estadual sobre as atividades desempenhadas pelos aterros ocorre com base

nas informações dos relatórios da Cetesb - Inventário Estadual de Resíduos Sólidos

Domiciliares (CETESB) - por meio do Índice de Qualidade de Resíduos- IQR.

Ou seja, guardadas as especificidades de cada caso, para todos os aterros

analisados, não há interação efetiva entre os prestadores indiretos em relação aos projetos de

72

Os RQMAs têm o objetivo de destacar as principais ações realizadas pelo Departamento de Controle de

Qualidade Ambiental (DECONT), da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA).

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MDL, carecendo o desenvolvimento de competências (C) visando melhorar a comunicação

nos diferentes níveis organizacionais e relacionais em que se apresentam.

d) Entre secretarias/órgãos públicos e usuários

Para a interação entre prestadores indiretos e usuários diretos não foram

identificadas competências - (C) e (C) – e técnicas - (T) e (T) - concretizadas e que

influenciaram na geração de cobenefícios. As técnicas e competências demandadas pelos

usuários, que ainda não foram concretizadas, assemelham-se às expostas anteriormente na

categoria de interação entre as concessionárias e usuários diretos, que são: linguagem técnica

utilizada; lacunas de comunicação e interfaces com os usuários; carência de divulgação das

ações propostas no DCP baseadas nos aspectos do Anexo III; e técnicas dos prestadores para

reduzir a emissão de odores.

Nas audiências públicas dos aterros Bandeirantes e São João, foram citadas pelos

prestadores indiretos algumas ações73,74 relacionados às questões socioambientais a serem

priorizadas com os recursos dos projetos. No entanto, nos relatórios anuais de fiscalização

municipal dos prestadores indiretos, não há monitoramento efetivo para averiguar o que foi

concretizado.

Nos relatórios anuais de fiscalização municipal são obtidos os orçamentos

provenientes dos créditos de carbono do projeto de MDL referentes aos lotes comercializados

nos leilões que foram realizados com o suporte da BM&F Bovespa, aplicados em programas e

projetos (PMSP, 2008; PMSP, 2009a, PMSP, 2010, PMSP, 2011).

Averiguou-se que a aplicação dos recursos oriundos dos leilões dos aterros

públicos evidenciou baixo índice de valor empenhado, valor reservado para efetuar um

pagamento planejado, quando em comparação ao orçamento atualizado (24,21% em 2008 e

12% em 2009).

73

Ações citadas para o Bandeirantes: Centro de Formação Sócio-Ambiental Parque Anhanguera R$

8.000.000,00; Coleta Seletiva e Instalação de Ecopontos R$ 2.400.000,00; Implantação de Ciclovias R$

3.000.000,00; Urbanização da Bacia Bamburral R$ 4.000.000,00; Parque Linear Perus R$ 27.000.000,00;

Intervenção Sócio-Urbanísticas Córrego do Fogo Pirituba R$ 3.700.000,00; Implantação de 8 Praças Públicas R$

10.000.000,00; total previsto R$ 51.100.000,00 (PMSP, 2009; PMSP, 2011). 74

Ações citadas para o São João: Contratação de Instalação Hidráulica sobre obras na área do futuro parque

Sapopemba (R$20.148,04); Contratação de Cercamento de Área sobre obras na área do futuro parque

Sapopemba (R$ 2.453.803,32); Contratação de Instalação Elétrica do Parque Sapopemba (R$ 19.367,66);

Implantação do Parque Nebulosas - São Mateus (R$5.321.062,39) (PMSP, 2011).

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Em relação aos dados de 2010, os recursos provenientes das RCE foram utilizados

basicamente para desapropriações de áreas para implantação e ampliação de parques. Para o

ano de 2010, houve um alto índice de valor empenhado quando em comparação ao orçamento

atualizado, de 96,53%.

O planejamento da aplicação dos recursos dos créditos de carbono parte de

diretrizes fundamentadas superficialmente, não apontando claramente quais seriam os

programas, projetos e atividades a serem realizados, bem como os prazos de cumprimento dos

compromissos assumidos. Nesse sentido, salienta-se a importância do desenvolvimento de

competências relacionais, rotinas e canais de comunicação, dos prestadores indiretos (C´) para

interagir com outras partes interessadas, especialmente com os usuários diretos do serviço.

De acordo com os usuários diretos, a implantação de parques não é atividade

prioritária para a população. Comparando-se, ao longo do tempo, os dados sobre os projetos

divulgados a serem realizados com os recursos do MDL, observam-se muitas disparidades em

relação ao que foi anunciado e efetivamente cumprido. Há menção de construção de áreas

para manejo dos resíduos, compras de equipamentos entre outras ações, no entanto, para os

usuários diretos as consultas às suas demandas foram realizadas superficialmente.

As lacunas de interação, da falta de disponibilidade / facilidade de acesso à

informação pelos prestadores indiretos aos usuários diretos prejudica o atendimento efetivo às

demandas locais. Assim, observa-se a pertinência de desenvolver competências (C) visando o

acompanhamento do cumprimento orçamentário municipal, métodos de acesso aos dados (T)

e métodos e procedimentos de accountability (T).

Outro ponto importante se refere à forma de concorrência aos recursos do crédito

de carbono, que é realizada por meio de editais de chamamento para apresentação de planos,

programas ou projetos com atendimento às diretrizes, prioridades e programas estabelecidos

anualmente pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

(CADES).

Ou seja, os usuários diretos e indiretos, devem primeiramente realizar algum

projeto (C) para concorrer aos recursos provenientes das RCE. De acordo com o prestador

indireto, os projetos/ planos / programas carecem de qualidade, requerendo capacitação para

serem bem elaborados, o que por muitas vezes pode ser fator limitante para os usuários

acessarem os recursos das RCE.

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Sobre os prestadores indiretos (Amlurb e Decont) não há envolvimento com os

usuários diretos bem como, não há conhecimento das ações realizadas com o recurso da venda

das RCE. Novamente, existe lacuna de competência a ser desenvolvida (C´) de conhecimento,

rotinas e canais de comunicação.

Para os aterros privados, de modo geral, não há conhecimento de cooperativas

beneficiadas, tampouco existem entidades nessa modalidade habilitadas, social ou legalmente

legitimadas a receberem tais recursos, que seja do conhecimento dos prestadores indiretos.

Também não há conhecimento de iniciativas sobre educação ambiental desenvolvidas

especificamente com os recursos do projeto do mercado de carbono.

Nos casos específicos dos aterros Caieiras e Pedreira, os projetos existentes que

envolvem a comunidade do entorno, são frutos de compromissos estabelecidos no EIA Rima

e condicionantes da licença ambiental, e não por conta da implantação dos projetos de MDL.

e) Entre secretarias/órgão ambiental estadual e concessionárias

Também constituem o contexto para as inovações mencionadas o estabelecimento

de técnicas do prestador indireto (T´) em relação aos métodos de acompanhamento e

averiguação das atividades desenvolvidas pelos prestadores diretos, como os métodos de

inspeção visual, voltados aos problemas geotécnicos no aterro que sejam percebidos

visualmente.

Ainda, destacam-se conhecimentos (C´) dos engenheiros e técnicos dos

prestadores indiretos que vistoriam os aterros para manusear sistemas, equipamentos, recursos

tecnológicos, bem como o entendimento do processo de captação de biogás (encaminhamento

do biogás dos drenos do sistema de captação e encaminhamento dos mesmos através de toda a

rede coletora até a unidade de tratamento).

Nos aterros públicos, segundo os prestadores diretos, em termos competências

(C´) que os prestadores indiretos devem desenvolver para promover inovação, essas passam

fundamentalmente pelo estabelecimento de rotinas e canais de comunicação mais efetivos.

Por ora, a comunicação ocorre sumariamente por meio do envio de relatórios e também com

as visitas periódicas dos prestadores indiretos aos aterros.

As vistorias aos aterros encerrados contemplam: equipamentos; lagoa de chorume;

manutenção drenagem horizontal, manutenção drenagem vertical, manutenção canaleta,

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descidas d´água nos taludes, vigilância, aspecto geral do local (erosão em taludes, bermas e

acessos), limpeza dos acessos, trincas em taludes, bermas e acessos; limpeza do canteiro;

manutenção de áreas gramadas; pistas de acesso; manutenção de cercas. Basicamente, na

vistoria verifica-se como está o comportamento do aterro.

As vistorias aos aterros privados e em funcionamento (Lara, Caieiras, Itapevi e

Pedreira) contemplam na parte de operação: compactação de lixo, cobertura de lixo, pátio de

descarga, condições dos acessos principais, equipamentos; lagoa de chorume; execução dos

drenos horizontais, execução dos drenos verticais, instalação de canaleta, execução descidas

d´águas transversais aos taludes, vigilância, aspecto geral do local, odor, vetores, erosão em

taludes, bermas e acessos, limpeza dos acessos, poeira. E na parte de manutenção: limpeza do

canteiro, balança, elevatórias, pistas de acesso, drenos verticais, descidas d´água nos taludes;

canaletas e drenagem horizontal, manutenção de cercas.

Reivindicam-se competências relacionais (C) e (C), dado que as vistorias não são

suficientes para sanar as lacunas de interação e articulação entre esses atores no que tange ao

projeto de MDL.

Outro ponto relaciona-se a carência de normas e métodos padronizados de

avaliação e amostragem de emissão de odores e monitoramento de gás. A atividade é

realizada caso a caso, de acordo com os critérios do próprio fiscal que vistoria o aterro. Diante

disso, há necessidade do desenvolvimento de técnicas (T) visando estabelecer procedimentos

de avaliação desse importante efeito adverso das atividades desenvolvidas em aterros

sanitários.

Por fim, como usina termelétrica (UTE) que utiliza biogás é prática recente no

Brasil, necessita-se desenvolver competências (C) práticas e teóricas para licenciar UTE de

biogás. Os prestadores diretos alegam demora por parte do órgão ambiental para aprovação da

licença.

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Conclusão

No contexto pesquisado, as possibilidades de contribuição do mecanismo de

desenvolvimento limpo (MDL) para a gestão de resíduos sólidos urbanos (GRSU) destacam a

relevância da consideração das características técnicas setoriais dos serviços, com ênfase na

disposição final de resíduos em aterros, e da participação de prestadores e usuários diretos.

Evidenciam-se as lacunas de participação da sociedade civil, benefícios sociais

locais e as deficiências para avançar na eficiência na captação do biogás. As políticas

públicas, em especial, os instrumentos, princípios e objetivos da Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei nº 12.305/2010) poderiam nortear e alavancar a promoção da

inovação no setor de RSU para as diversas partes interessadas. Isso converge com a hipótese

inicial do trabalho, ou seja, os projetos de MDL nos aterros sanitários estudados restringem o

foco da inovação ao aumento da eficiência operacional na captação de biogás. Isso ajuda a

explicar suas limitações em contribuir para a melhoria da qualidade do serviço público

municipal de resíduos sólidos urbanos calcada nos princípios da PNRS, de modo a promover

inovações que contemplem cobenefícios para as diversas partes interessadas.

Tendo em vista o duplo objetivo dos projetos de MDL de promover: a redução de

emissão de gases de efeito estufa GEE e o desenvolvimento sustentável no país hospedeiro do

projeto, por meio da geração de cobenefícios, o trabalho se propôs a analisar as oportunidades

de inovação no serviço de disposição final de resíduos sólidos em aterros com MDL alinhada

à geração de cobenefícios sociais e ambientais locais, e enfatizando as preferências das partes

interessadas.

Apesar de existir um número considerável de indicadores voltados a resíduos

sólidos, as abordagens adotadas são, geralmente, restritas aos aspectos técnicos do

gerenciamento de aterros. E no que tange a avaliação de cobenefícios no mercado de carbono

regulado, indicadores – e/ou outros instrumentos – para avaliar esses aspectos, encontram-se

em estágio embrionário.

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Somado a isso, de acordo com as preferências das partes interessadas e em

consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, as oportunidades de inovação

identificadas (concretizadas e potenciais) são mais amplas, não restritas à disposição final em

aterros, compreendendo: não geração, redução, reciclagem, contribuição dos projetos de MDL

para programas de educação ambiental e cooperativas de catadores de material reciclável nas

localidades dos aterros, elaboração de estudos de caracterização dos resíduos, diferentes

métodos de tratamento e a própria melhoria dos métodos e procedimentos realizados nas áreas

de disposição final.

Com a necessidade de uma visão mais global do tema, em especial quando se trata

de projetos de MDL, foram construídos indicadores com base em abordagens

interdisciplinares e multiagentes, levando em conta as diferentes partes interessadas para

avaliar os cobenefícios mencionados.

Neste sentido, este estudo demonstra também a aplicabilidade do método Delphi

como uma importante ferramenta para apoiar a construção e validação de indicadores que

avaliam os cobenefícios sociais e ambientais de projetos do mercado de carbono em aterros

sanitários, a fim de garantir que esses fatores são de fato incluídos ao longo do ciclo de vida

dos projetos. Os resultados das duas rodadas do Delphi mostram o refinamento dos

indicadores. Da primeira rodada para a segunda, os especialistas cujas opiniões se desviaram

muito da maioria - fora do interquartil - foram solicitados a explicar melhor e fornecer mais

argumentos para basear suas respostas divergentes e tiveram também a oportunidade para

reconsiderarem ou reverem suas respostas anteriores, desta forma, reduzindo possíveis vieses

em relação à descrição e conteúdo dos indicadores, avaliando a relevância deles.

Foram identificados cinco temas para a verificação de resultados do MDL:

participação das partes interessadas, com destaque para as populações do entorno dos aterros;

articulação entre os atores envolvidos, que apresentam interesses diferentes; benefícios,

incidindo sobre o contexto setorial de aplicação do MDL (com destaque para cooperativas de

catadores de material reciclável e transferência de tecnologia); monitoramento da qualidade

ambiental, com destaque para a questão da emissão de odores; e monitoramento dos gases,

destacando a eficiência do sistema de captação de biogás.

Por meio da aplicação dos indicadores de avaliação de cobenefícios, embasando-

se no arcabouço teórico sobre inovação em serviços, foi possível identificar oportunidades de

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inovação concretizadas por meio das técnicas e competências que foram incorporadas aos

agentes, bem como, as oportunidades de inovação não concretizadas, ou seja, lacunas de

competências e técnicas das diferentes partes interessadas.

Sobre as oportunidades de inovação concretizadas

Considerando as técnicas e competências dos agentes envolvidos na produção e na

entrega do serviço, foram evidenciadas inovações tecnológicas e não tecnológicas que

incidem sobre a modificação das características do serviço de disposição final de resíduos em

aterros. As inovações estão relacionadas fundamentalmente ao interesse dos prestadores,

focalizando a eficiência operacional do sistema de captação de biogás: a cobertura final dos

aterros e o modelo de estimativa de produção de biogás.

De acordo com Gallouj e Weinstein (1997) inovações de melhoria consistem em

aumentar a qualidade de certas características do serviço sem modificar a estrutura geral do

sistema de vetores representando o produto. Observou-se também a pertinência de destacar

regulamentações (controle da emissão de odores e monitoramento de gás) que podem

influenciar no uso e escolha das técnicas dos prestadores diretos e indiretos.

Sobre as oportunidades de inovação não concretizadas

Especificamente sobre a participação das comunidades do entorno (usuários

diretos), são apontadas algumas limitações no âmbito do MDL, com destaque para: os prazos

considerados inadequados para que os stakeholders se manifestem acerca do projeto; a falta

de disponibilização dos documentos na língua nativa e a linguagem técnica utilizada nos

documentos do projeto (gerando assimetrias de informação); a falta de canais de comunicação

para recebimento de reclamações, dúvidas e comentários dos stakeholders; a necessidade de

divulgação das atividades relacionadas aos projetos de MDL ao longo de todo o período

creditício. O direito da sociedade à informação e ao controle social é destacado ainda como

um dos princípios da PNRS (BRASIL, 2010).

Para os aterros Bandeirantes e São João, a interação limita-se às audiências

públicas e reuniões plenárias e para os outros aterros, considera-se apenas a interface a partir

da disponibilização dos documentos nas plataformas online da UNFCCC e do MCT&I. São

ainda observados problemas de acesso às receitas provenientes da venda de Reduções

Certificadas de Emissões, destinadas ao Fundo Especial de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável (FEMA), que ocorre por meio de editais de chamamento e a

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necessidade de desenvolver competências para produzir projetos de boa qualidade e, assim,

acessar as receitas provenientes da venda de créditos de carbono. Ainda, ressalta-se a

inexistência de meios para monitorar/ fiscalizar se as proposições descritas nos documentos

relacionados aos projetos são concretizadas.

A superação dessas lacunas de participação pode contribuir em direção ao

cumprimento dos requisitos relacionados ao envolvimento pleno e efetivo das comunidades

do entorno dos aterros no projeto por meio do acesso à informação e participação na tomada

de decisão.

Sendo a prestação de serviços configurada como multiagentes, conforme exposto

no conceito de RIPPS, o desenvolvimento de complementaridades e sinergias em meio aos

diferentes agentes envolvidos, cada um com seus próprios objetivos, técnicas e competências

específicas, é primordial.

Considerando as preferências das partes interessadas, constituem lacunas a serem

preenchidas na promoção da inovação pelo MDL: o desenvolvimento de competências

visando à divulgação das ações relativas aos projetos de MDL; tornar acessível o conteúdo

dos documentos relacionados aos projetos, sobretudo, devido à linguagem técnica empregada;

competências relacionais através da criação de canais de comunicação e espaços de interação

on-line e off-line; acompanhamento do cumprimento orçamentário municipal por meio de

métodos e procedimentos de accountability; capacitação para desenvolver projetos para

concorrer aos recursos provenientes das RCE; incentivo a programas de educação ambiental e

cooperativas de reciclagem; competências e rotinas para o monitoramento de odores e

técnicas de redução da emissão de odores.

Em termos de lacunas de inovação, destaca-se que não foram efetivadas alterações

que contemplem o interesse das comunidades do entorno referente à qualidade do ar, por meio

do controle da emissão de odores. Nesse sentido, há um problema para o qual métodos e

competências permanecem como lacunas no cenário estudado.

Sobre os princípios, objetivos e instrumentos da PNRS

Os projetos de MDL em aterros sanitários se tornam uma importante fonte em

potencial para a promoção de melhores práticas na GRSU e consequentemente, para

mitigação das mudanças climáticas, por meio da redução de emissão de GEE, embasando-se

na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

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Para que os objetivos da PNRS sejam alcançados são contemplados como

instrumentos o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas

de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis e a educação ambiental,

elementos apontados como lacunas a serem preenchidas no contexto estudado.

Os Planos de RSU devem contemplar os inventários e o sistema declaratório anual

de resíduos sólidos, sendo importante ferramenta para a melhoria da qualidade dos dados

disponibilizados acerca da caracterização dos resíduos, contribuindo também para que as

estimativas da geração de biogás sejam mais condizentes com a realidade dos aterros.

São instrumentos propostos na PNRS a cooperação técnica e financeira entre os

setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos,

processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e

disposição final ambientalmente adequada de rejeitos.

E destacam-se como elementos indispensáveis da GRSU o reconhecimento dos

diversos agentes sociais envolvidos, identificando os papéis a serem cumpridos, bem como a

articulação entre estes agentes (público, privado e sociedade civil). Neste âmbito, salienta-se

além da cooperação técnica e financeira para GRSU, a integração das cooperativas de

catadores de materiais recicláveis e o incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão

ambiental para a melhoria dos processos produtivos e reaproveitamento dos resíduos sólidos,

o que inclui o aproveitamento energético do biogás.

Neste sentido, a cooperação entre as diferentes esferas de agentes, sob a ótica

sistêmica e abrangente da GRSU proposta na PNRS, levando-se em conta as vertentes

ambiental, social, cultural, econômica e tecnológica, bem como o direito à informação,

participação e controle social, são aspectos essenciais para que sejam potencializadas e

concretizadas, não só as inovações relacionadas ao interesse dos prestadores, mas os

benefícios às demais partes interessadas atreladas aos projetos de MDL. Isso é central para

orientar a revisão ou a reforma do MDL no sentido de potencializar a inovação e a geração de

cobenefícios.

Limites e trabalhos futuros

É importante levar em conta os limites da pesquisa: a) uma vez estabelecido o

recorte da pesquisa, com foco em projetos de MDL em aterros sanitários, decidiu-se não focar

de modo aprofundado nos indicadores para coleta seletiva de lixo, reciclagem, áreas de

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transbordo, transporte etc. Embora existam elementos relevantes a serem considerados para

GRSU, estes vão além do escopo definido na pesquisa e a proposta de análise adotada

(projetos de MDL em aterros sanitários); b) as relações diretas de causa e efeito (o cenário é

avaliado antes e depois da implementação do projeto MDL).

Em relação ao futuro do MDL e à influência das políticas públicas relacionadas à

redução de GEE (tal como Política Nacional sobre Mudança do Clima e da Política Nacional

de Resíduos Sólidos), as Intenções de Contribuição Nacionalmente Determinadas” (do inglês

Intended Nationally Determined Contributions - INDCs) apresentadas pelo conjunto de

países na COP21 revelam que mais de metade dos documentos relatados indicam que as

Partes pretendem utilizar-se de instrumentos de mercado (créditos de carbono), mas não há

indicação clara de como será o formato do mecanismo para substituir e / ou melhorar o MDL

(UNFCCC, 2015).

Na INDC brasileira não há nenhuma menção de redução de emissões no setor dos

resíduos. Durante a COP 21, o portal on-line do Ministério do Meio Ambiente destacou a nota

"O Brasil discute a gestão de resíduos na COP 21", apontando os acordos setoriais apontados

na PNRS, como uma medida para reduzir as emissões e assegurar a eliminação

ambientalmente final de resíduos. Redução de emissões de GEE a partir de projetos de MDL

em aterros não foi mencionada.

Então, se por um lado, a aprovação do Acordo de Paris continua a considerar os

créditos de carbono como uma opção para auxiliar no cumprimento das metas das Partes, por

outro, requerem-se ajustes no sistema atual, especialmente no que diz respeito à geração de

benefícios locais e participação das partes interessadas.

Em resumo, para trabalhos futuros: a) os indicadores desenvolvidos precisam ser

testados em outros contextos geográfico e cultural; b) o recorte da coleta de dados nesta

pesquisa, no que diz respeito ao detalhamento de técnicas e competências, é sobre o serviço

de disposição final e não sobre a geração de energia nos aterros sanitários. Logo, para

trabalhos futuros, recomenda-se a ampliação do foco agregando também o serviço de geração

de energia nos aterros; c) análises futuras sobre os desdobramentos das políticas públicas

(PNRS, PNMC etc) e da COP-21 para o setor de RSU.

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Anexo I Apresentação do questionário

1. Apresentação do questionário de “Validação de indicadores para

avaliação de cobenefícios ambientais e sociais de projetos do MDL em

aterros sanitários”

Introdução

O questionário é referente ao desenvolvimento da tese de doutorado “Inovação em

serviços públicos e projetos do mercado de carbono em aterros sanitários: Perspectivas para o

setor de resíduos sólidos urbanos”, em elaboração por Silvia Regina Stuchi Cruz

(Departamento de Política Científica e Tecnológica/Unicamp), e relacionado ao projeto de

pesquisa (processo FAPESP 2011/00081-5) coordenado pela Profa. Sônia Regina Paulino

(EACH/USP).

Este questionário de Validação de Indicadores para Avaliação de Resultados de

Projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em Aterros Sanitários se dirige a

especialistas e pesquisadores com atuação nos temas mercado de carbono e/ou resíduos

sólidos urbanos. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) engloba atividades de

redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) por meio de projetos em uma ampla gama

de escopos setoriais, incluindo aterros sanitários. Em consonância com o artigo 12 do

Protocolo de Quioto, os projetos de MDL também devem promover a geração de cobenefícios

ambientais e sociais nos países em que são implantados.

A elaboração de formas de avaliação de cobenefícios para projetos do mercado de

carbono faz-se necessária. Para auxiliar no refinamento desta avaliação, a técnica Delphi é

adotada para a validação e aprimoramento dos indicadores propostos. O questionário Delphi

para validação dos indicadores foi preparado para aplicação por meio de interface eletrônica,

pela internet (Webdelphi). Cada respondente recebeu o hiperlink de acesso ao questionário na

Internet. E o período estipulado para resposta é de 30 dias.

Sua colaboração como respondente é fundamental para a consecução da pesquisa.

Os indicadores propostos para validação por especialistas foram elaborados de modo

participativo, uma vez que o processo de construção contou com uma consulta a atores-chave

em aterros com projetos de MDL (empresas concessionárias, prefeitura, associações do

entorno do aterro sanitário).

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Ressalta-se que a participação dos stakeholders em distintas etapas de processos

de avaliação é um princípio orientador (Princípios de Bellagio) para se avançar em direção ao

desenvolvimento sustentável (PINTÉR et al, 2012).

Os indicadores para validação, sintetizados no Quadro a seguir, se apoiam em seis

temas: monitoramento da qualidade ambiental; monitoramento dos gases; uso futuro/

ocupação futura da área do aterro; acesso aos projetos de MDL e participação; articulação; e

contribuição dos recursos dos projetos de MDL para a GRSU.

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196

Indicadores para a avaliação de cobenefícios Sociais e Ambientais em

projetos do mercado de carbono em aterros sanitários

Dimensão Social Temas Indicadores

Tema I:

Participação e

Acesso aos

projetos de

MDL

Participação das partes interessadas Existência de canais para a formalização de reclamação

Aceitação dos projetos por parte da população e de entidades ambientais não

governamentais

Divulgação das ações propostas no DCP baseadas nos aspetos do Anexo III para as

partes interessadas Linguagem e clareza dos documentos

Prazo de Consulta

Consulta antes da implantação e durante a execução do projeto

Tema II:

Articulação

Articulação entre secretarias municipais envolvidas Articulação entre secretarias envolvidas e empresas proprietárias e/ou gestoras dos aterros

Articulação entre secretarias municipais envolvidas e comunidade do entorno

Indicadores aplicáveis,

especificamente, aos aterros públicos

Articulação entre secretarias envolvidas e

concessionárias responsáveis pela coleta do biogás

dos aterros Articulação entre empresa gestora do aterro e

empresa responsável pela coleta do biogás em

relação ao plano de encerramento dos aterros Articulação entre empresa gestora do biogás e

comunidade do entorno Tema III:

Contribuição

dos recursos

dos projetos de

MDL para a

gestão de

resíduos

sólidos

urbanos

Cooperativas beneficiadas com os recursos do MDL Contribuição dos projetos de MDL para programas de Educação Ambiental

Contribuição para o desenvolvimento de tecnologias

Dimensão ambiental Temas Indicadores

Tema IV:

Monitoramento

da qualidade

ambiental

Monitoramento das águas superficiais e subterrâneas Monitoramento dos líquidos percolados

Monitoramento geotécnico: Estabilidade dos solos Monitoramento geotécnico: Comportamento do maciço de lixo

Tema V:

Monitoramento

dos gases

Emissão de gás fugitivo Captação de biogás

Odores Tema VI:

Ocupação

futura da área

do aterro

Cumprimento do plano de encerramento dos aterros

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197

Sobre o preenchimento do questionário:

1. Cada respondente receberá por email o hiperlink de acesso ao questionário de

validação dos indicadores.

2. Favor preencher o questionário na Internet em um período de 30 dias a contar do

recebimento do hiperlink por email.

3. As instruções para a avaliação dos 24 indicadores, categorizados em seis temas, estão

descritas nas próprias questões, que são basicamente:

3.1. Analisar a descrição do indicador;

3.2. Avaliar o grau de importância do indicador na escala: Muito baixa; Baixa;

Regular; Alta; e Muito alta.

4. Após a finalização do preenchimento do questionário, não há necessidade de nenhuma

ação adicional, as respostas serão recebidas automaticamente.

5. Caso o respondente tenha algum arquivo relacionado ao escopo da pesquisa e/ou aos

projetos de MDL estudados, favor enviar por email ([email protected]).

6. Para esclarecimento de dúvidas e/ ou informações adicionais, favor contatar Silvia

Regina Stuchi Cruz ([email protected]). Telefone: +55 (11) 9 4155 5993.

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198

2. Glossário dos termos utilizados no questionário

Glossário Definição

Acesso Alcance dos stakeholders ou partes interessadas aos benefícios resultantes

dos projetos de MDL nos aterros

Anexo III

Anexo III da resolução nº 01 de 11 de setembro de 2003, da Comissão

Interministerial de Mudanças Globais do Clima (CIMGC), Autoridade

Nacional Designada brasileira, que aponta os aspectos relacionados à

geração de cobenefícios locais que os projetos de MDL brasileiros devem

promover

Articulação Capacidade de atuar conjuntamente com outro(s) stakeholders

Autoridade Nacional

Designada (AND)

A AND tem por objetivo aprovar ou não os projetos de MDL,

averiguando se os projetos estão cumprindo com seu objetivo duplo:

redução das emissões de GEE e a promoção de cobenefícios socais e

ambientais locais. No Brasil é representada pela Comissão

Interministerial de Mudanças Globais do Clima (CIMGC)

Biogás

Gás produzido por meio da digestão anaeróbica da matéria orgânica

descartada nos aterros sanitários. Sua composição é caracterizada por

uma mistura de gases, sobretudo, o metano (CH4), o gás carbônico (CO2),

o hidrogênio (H2) e o ácido

sulfúrico (H2S)

Carta de aprovação A aprovação das atividades de projeto do MDL é conferida por meio de

uma Carta de Aprovação emitida pela AND

Cobenefícios

Benefícios sociais e ambientais, nos países com projetos de MDL, que

vão além dos benefícios de redução de gases de efeito estufa dos projetos

do mercado de carbono. De acordo com o Anexo IIII da resolução nº 01

de 11 de setembro de 2003, da Comissão Interministerial de Mudanças

Globais do Clima (CIMGC), os cobenefícios estão relacionados a cinco

aspectos: contribuição para a sustentabilidade ambiental;

desenvolvimento de condições de trabalho e geração líquida de emprego;

contribuição para a distribuição de renda; para a capacitação e

desenvolvimento tecnológico; e para a integração regional e articulação

com outros setores

Comunidade do

entorno

Representantes das organizações da sociedade civil e/ou cooperativas de

reciclagem do entorno dos aterros estudados

Delphi Técnica que objetiva alcançar o consenso em meio a diversidade de

opiniões dos especialistas

Dimensão Ambiental

Dimensão ambiental visa fornecer dados sobre a contribuição dos

projetos de MDL para a redução de impactos negativos relacionados aos

aterros sanitários ou para a redução de impactos ambientais no ambiente

físico ocupado pelos aterros sanitários

Dimensão Social

Dimensão visa evidenciar o acesso aos projetos de MDL e a Participação

das partes interessadas, sobretudo, das comunidades do entorno e

catadores de material reciclável a benefícios relacionados ao

desenvolvimento dos projetos de MDL

Gás fugitivo Emissões fugitivas de metano pela camada de

solo de cobertura do aterro

Geotécnico Relativo às propriedades do solo em função das atividades desenvolvidas

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199

nos aterros

Líquidos percolados Águas de precipitação direta e as de escoamento superficial que tendem a

percolar por entre a massa de lixo, conduzindo poluentes

Maciço de lixo Resíduo compactado

Mecanismo de

Desenvolvimento

Limpo

Mecanismo de flexibilização previsto no Protocolo de Quioto que propõe

a negociação de créditos de carbono entre países emergentes e em

desenvolvimento e os países com metas de redução de emissão

Mercado de carbono Mercado no qual são negociados certificados de redução de emissão de

gás de efeito estufa

Ocupação futura Atividades que serão realizadas na área do aterro após seu encerramento

Participação

A participação dos stakeholders é tratada explicitamente pelo Comitê

Executivo do MDL, devendo ocorrer em todo o processo de

desenvolvimento dos projetos, levando-se em conta: a variedade de

stakeholders consultados para a discussão dos cobenefícios do projeto; a

percepção dos stakeholders acerca da contribuição da atividade do

projeto para o desenvolvimento sustentável local; e se suas reivindicações

estão sendo consideradas nas atividades do projeto de MDL nos aterros

Plano de

encerramento

Plano que aponta a recuperação ambiental e o projeto de

reaproveitamento da área utilizada após encerramento das atividades de

recebimento de resíduos

Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto surgiu na 3° Conferência das partes da Convenção

Quadro das Nações Unidas sobre Mudaças Climáticas (UNFCCC -

United Nation Framework on Climate Change), realizada na cidade de

Quioto, Japão, em dezembro de 1997, visando a estabilização da

concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, apontando metas

redução da emissão desses gases

Stakeholders

A UNFCCC define stakeholders como: o público, incluindo os

indivíduos, os grupos ou as comunidades afetados, ou com possibilidade

de serem afetados, pela atividade de projeto do mecanismo de

desenvolvimento limpo

Webdelphi Ferramenta para a prospecção/ validação, em grupo, por meio da internet

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200

Anexo II Questionário de Validação

Questionário de Validação de indicadores de avaliação de Cobenefícios

Sociais e Ambientais de projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

em aterros sanitários

Tese de Doutorado: Inovação em Serviços Públicos e Projetos do Mercado de

Carbono em Aterros Sanitários: Perspectivas para o Setor de Resíduos Sólidos Urbanos

Doutoranda: Silvia Regina Stuchi Cruz

Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Sônia Regina Paulino

Dados do especialista

*Nome:

*E-mail:

*Nível de formação

Superior Completo

Mestrado

Doutorado

Outro (especifique)

*Instituição/empresa:

{Se acadêmico, especifique linha de pesquisa atual}

Dimensão Social

Tema I: Participação e Acesso aos projetos de MDL

Participação e Acesso aos projetos de MDL: refere-se à qualidade e abrangência

da participação das partes interessadas em todas as fases de desenvolvimento dos projetos de

MDL e ao alcance dos stakeholders ou partes interessadas aos benefícios resultantes dos

projetos de MDL nos aterros, respectivamente. Sendo o acesso constante as informações

relativas aos projetos de MDL, ponto chave para o efetivo controle social dos rebatimentos

positivos destas atividades.

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201

Q1. Analise a descrição do indicador “Participação das partes interessadas” e

avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1. Descrição: Identifica o número de participantes nas reuniões/ número de

participantes nas audiências públicas no intuito de avaliar se as partes interessadas estão

participando das reuniões/ audiências públicas relativas aos projetos de MDL. Deseja incluir

sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q2. Analise a descrição do indicador “Existência de canais para a formalização de

reclamação” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o número de registros/ ano; % registros esclarecidos no

intuito de avaliar, primeiramente, se há algum canal de formalização de possíveis reclamações

e posterior esclarecimento destas. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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202

Q3. Analise a descrição do indicador “Aceitação dos projetos por parte da

população e de entidades ambientais não governamentais” e avalie seu grau de importância,

conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o número de reclamações formais/ ano visando avaliar se a

adoção dos projetos gerou transtornos às partes interessadas. Deseja incluir sugestões sobre a

descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q4. Analise a descrição do indicador “Divulgação das ações propostas no DCP

baseadas nos aspetos do Anexo III para as partes interessadas” e avalie seu grau de

importância, conforme indicado a seguir.

1. Descrição: Identifica o número de documentos publicados (inclusive meio

digital) divulgando as ações propostas no DCP, baseadas nos aspetos do Anexo III, no intuito

de avaliar se essas atividades estão sendo divulgadas às partes interessadas bem como o meio

de comunicação utilizado. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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203

Q5. Analise a descrição do indicador “Linguagem e clareza dos documentos” e

avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica se é Adequada/ Não adequada a linguagem adotada nos

documentos do projeto. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q6. Analise a descrição do indicador “Prazo de Consulta” e avalie seu grau de

importância, conforme indicado a seguir.

1. Descrição: Identifica se é Adequado/ não adequado o prazo de consulta de 30

dias estabelecido pela UNFCCC para o usuário oferecer sua contribuição ao projeto. Deseja

incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q7. Analise a descrição do indicador “Consulta antes da implantação e durante a

execução do projeto” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

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204

1.Descrição: Identifica o Número de encontros realizados no intuito de avaliar se

o usuário foi consultado antes da implantação do projeto. Deseja incluir sugestões sobre a

descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Tema II: Articulação

Articulação: refere-se à articulação entre todos os atores envolvidos nos projetos

de MDL em aterros sanitários, abarcando setores público e privado e usuários (associações e

representantes da sociedade civil, cooperativas de catadores).

Q8. Analise a descrição do indicador “Articulação entre secretarias envolvidas” e

avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: identifica o número de reuniões / número de iniciativas e de

atividades realizadas em conjunto focando os projetos de MDL no intuito de verificar se

ocorre articulação entre as secretarias envolvidas com os projetos de MDL nos aterros

sanitários (geralmente, há mais de uma secretaria municipal envolvida nos projetos – de meio

ambiente e a secretaria responsável pela limpeza urbana municipal). Deseja incluir sugestões

sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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205

Q9. Analise a descrição do indicador “Articulação entre secretarias envolvidas e

empresas proprietárias e/ou gestoras dos aterros” e avalie seu grau de importância, conforme

indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o número de reuniões; número de documentos de

comunicação e/ou divulgação publicados no intuito de verificar se ocorre articulação entre as

secretarias envolvidas e concessionárias gestoras dos aterros. Deseja incluir sugestões sobre a

descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q10. Analise a descrição do indicador “Articulação entre secretarias municipais

envolvidas e comunidade do entorno” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a

seguir.

1. Descrição: Identifica o número de reuniões/número de documentos de

comunicação e/ou divulgação publicados no intuito de verificar se ocorre a articulação entre

secretarias municipais envolvidas e comunidade do entorno. Deseja incluir sugestões sobre a

descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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206

(Os indicadores 11, 12 e 13 são aplicáveis, especificamente, aos aterros

públicos).

Q11. Analise a descrição do indicador “Articulação entre secretarias envolvidas e

concessionárias responsáveis pela coleta do biogás dos aterros” e avalie seu grau de

importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o Número de reuniões/ Número de documentos de

comunicação e/ou divulgação publicados no intuito de verificar se ocorre articulação entre

secretarias envolvidas e concessionárias responsáveis pela coleta do biogás dos aterros.

Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q12. Analise a descrição do indicador “Articulação entre empresa gestora do

aterro e empresa responsável pela coleta do biogás em relação ao plano de encerramento dos

aterros” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o número de reuniões; número de documentos de

comunicação e/ou divulgação publicados no intuito de verificar se ocorre articulação entre

empresa gestora do aterro e empresa responsável pela coleta do biogás em relação ao plano de

encerramento dos aterros. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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207

Q13. Analise a descrição do indicador “Articulação entre empresa gestora do

biogás e comunidade do entorno” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a

seguir.

1.Descrição: Identifica o número de reuniões/ número de documentos de

comunicação e/ou divulgação publicados no intuito de verificar se ocorre articulação entre

empresa gestora do biogás e comunidade do entorno. Deseja incluir sugestões sobre a

descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Tema III: Contribuição dos recursos dos projetos de MDL para a GRSU

Contribuição dos recursos dos projetos de MDL para a GRSU: refere-se aos

benefícios gerados para a GRSU a partir dos recursos provenientes da venda dos créditos de

carbono, bem como, a partir das oportunidades de mudanças estruturais provocadas a partir

da implantação do projeto, de acordo com os aspectos do Anexo III e artigo 12 do Protocolo

de Quioto.

Q14. Analise a descrição do indicador “Cooperativas beneficiadas com os

recursos do MDL” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o número de cooperativas beneficiadas/ número de pessoas

beneficiadas no intuito de verificar se houve contribuição dos projetos de MDL nos aterros

para cooperativas do entorno dos aterros estudados. Deseja incluir sugestões sobre a descrição

do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

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208

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q15. Analise a descrição do indicador “Contribuição dos projetos de MDL para

programas de Educação Ambiental” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a

seguir.

1. Descrição: Identifica o número de programas beneficiados/ número de pessoas

beneficiadas/ horas de capacitação no intuito de verificar se houve contribuição dos projetos

de MDL nos aterros para programas de educação ambiental voltados para a temática da

GRSU. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q16. Analise a descrição do indicador “Contribuição para o desenvolvimento de

tecnologias” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1. Descrição: Identifica o número de tecnologias desenvolvidas a partir dos

projetos de MDL em aterros. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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209

Dimensão Ambiental

Tema IV: Monitoramento da qualidade ambiental

Avanço da qualidade ambiental: refere-se à identificação de possibilidades de

redução de impactos negativos relacionados aos aterros estudados, no que tange ao

cumprimento do monitoramento dos parâmetros dos aterros, bem como o cumprimento de

metas e normas ambientais.

Q17. Analise a descrição do indicador “Monitoramento das águas superficiais e

subterrâneas” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1. Descrição: Identifica o número de amostragens/semestre e o número de não

conformidades/semestre obtidos no monitoramento das águas superficiais e subterrâneas.

Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para comentários sobre a descrição do indicador

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q18. Analise a descrição do indicador “Monitoramento dos líquidos percolados” e

avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1. Descrição: Identifica o número de amostragem/semestre e o número de não

conformidades/semestre obtidos no monitoramento dos líquidos percolados, dado que o

processo de decomposição dos resíduos orgânicos origina a formação de substâncias líquidas

poluentes. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

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210

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q19: Analise a descrição do indicador “Monitoramento geotécnico: Estabilidade

dos solos” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1. Descrição: Identifica o número de amostragem/semestre e o número de não

conformidades/semestre obtidos no monitoramento geotécnico relativo à estabilidade dos

solos, visando à prevenção de acidentes decorrentes da movimentação dos taludes do aterro.

Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q20. Analise a descrição do indicador “Monitoramento geotécnico:

Comportamento do maciço de lixo” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a

seguir.

1. Descrição: Identifica o número de amostragem/semestre e o número de não

conformidades/semestre obtidos no monitoramento geotécnico relativo ao comportamento do

maciço de lixo, visando prevenir possíveis deslizamentos. Também, indica a evolução do

estágio de decomposição dos resíduos depositados. Deseja incluir sugestões sobre a descrição

do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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211

Tema V: Monitoramento dos gases

Monitoramento dos gases: refere-se à eficiência do sistema de captação do

biogás, tanto para otimizar a geração de créditos de carbono, quanto para minimizar os

impactos adversos nas comunidades do entorno.

Q21. Analise a descrição do indicador “Emissão de gás fugitivo” e avalie seu grau

de importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o Volume de gás fugitivo/trimestre obtidos no

monitoramento da emissão de gás fugitivo, compreendendo melhorar a eficiência de captação

de biogás, e consequente geração de créditos de carbono estimados na validação do projeto.

Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Q22. Analise a descrição do indicador “Captação de biogás” e avalie seu grau de

importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica o volume total de biogás captado Nm3 /ano captado

permitindo ajustes e correções no sistema de drenagem de gás do aterro, para eliminação de

odores característicos deste gás. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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212

Q23. Analise a descrição do indicador “Odores” e avalie seu grau de importância,

conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica amostragens fora dos padrões de gás sulfídrico no biogás

/semestre obtidos no monitoramento de odores nos aterros compreendendo possíveis ajustes e

correções no sistema de drenagem de gás do aterro visando a coleta e condução eficiente e

segura do gás gerado. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim: abrir janela para comentários sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

Tema VI: Uso futuro da área do aterro

Uso futuro da área do aterro: refere-se ao plano de uso futuro da área. Esse

plano deve fazer parte do projeto do aterro. Geralmente, após o encerramento, essas áreas

são transformadas em jardins, parques, áreas esportivas e de lazer.

Q24. Analise a descrição do indicador “Cumprimento do plano de encerramento

dos aterros” e avalie seu grau de importância, conforme indicado a seguir.

1.Descrição: Identifica se é Adequado/ Não adequado o cumprimento do

cronograma do plano de encerramento dos aterros visando a recuperação ambiental e o

projeto de reaproveitamento da área utilizada após encerramento das atividades de

recebimento de resíduos. Deseja incluir sugestões sobre a descrição do indicador?

( ) Não

( ) Sim {Se sim:abrir janela para sugestões sobre a descrição do indicador}

2. Avalie o grau de importância do indicador

( ) Muito baixa

( ) Baixa

( ) Regular

( ) Alta

( ) Muito alta

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213

Anexo III Estatísticas descritivas das duas rodadas do

Delphi por Tema

As Tabelas de 1 à 5 apresentam as estatísticas descritivas das rodadas do Delphi

separadas por Temas.

Tabela 1: Estatísticas descritivas das duas rodadas do Delphi para o Tema I Participação

Tema I Participação Indicador Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

1. Número de participantes 4,0 4,0 5,0 5,0 5,0 2. Existência de canais para a formalização de reclamação 1,0 4,0 5,0 5,0 5,0 3. Aceitação dos projetos por parte da população e de

entidades ambientais não governamentais

3,0 4,5 5,0 5,0 5,0

4. Divulgação das ações propostas no DCP baseadas nos

aspetos do Anexo III para as partes interessadas

3,0 4,0 5,0 5,0 5,0

5. Idioma e clareza dos documentos 2,0 3,0 4,0 5,0 5,0 6. Prazo de Consulta 1,0 2,5 3,0 5,0 5,0 7. Consulta antes da implantação e durante a execução do

projeto

1,0 3,5 5,0 5,0 5,0

Tabela 2: Estatísticas descritivas das duas rodadas do Delphi para o Tema II Articulação

Tema II Articulação Indicador Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

1. Articulação entre secretarias municipais envolvidas 1,0 3,0 4,0 5,0 5,0 2. Articulação entre secretarias envolvidas e empresas

proprietárias e/ou gestoras dos aterros

3,0 4,0 4,0 4,5 5,0

3. Articulação entre secretarias municipais envolvidas e

comunidade do entorno

3,0 4,0 4,0 5,0 5,0

4. Articulação entre secretarias envolvidas e concessionárias

responsáveis pela coleta do biogás dos aterros

3,0 3,5 4,0 5,0 5,0

5. Articulação entre empresa gestora do aterro e empresa

responsável pela coleta do biogás em relação ao plano de

encerramento dos aterros

1,0 3,5 5,0 5,0 5,0

6. Articulação entre empresa gestora do biogás e comunidade

do entorno

1,0 3,0 5,0 5,0 5,0

Tabela 3: Estatísticas descritivas das duas rodadas do Delphi para o Tema III Benefícios

Tema III Benefícios Indicador Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

1. Cooperativas beneficiadas com os recursos do MDL 2,0 4,0 5,0 5,0 5,0 2. Contribuição dos projetos de MDL para iniciativas sobre

educação ambiental

3,0 4,5 5,0 5,0 5,0

3. Contribuição para o desenvolvimento de

tecnologias/metodologias

2,0 4,0 5,0 5,0 5,0

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Tabela 4: Estatísticas descritivas das duas rodadas do Delphi para o Tema IV Monitoramento

da qualidade ambiental

Tema IV Monitoramento da qualidade ambiental Indicador Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

1. Monitoramento das águas superficiais e subterrâneas 4,0 5,0 5,0 5,0 5,0 2. Volume de líquido percolado 3,0 3,0 4,0 5,0 5,0 3. Monitoramento geotécnico: Estabilidade dos taludes 4,0 4,5 5,0 5,0 5,0 4. Cumprimento do plano de encerramento dos aterros 4,0 4,0 5,0 5,0 5,0 5. Odores 2,0 3,5 4,0 5,0 5,0

Tabela 5: Estatísticas descritivas das duas rodadas do Delphi para o Tema V Monitoramento

de Gases

Tema V Monitoramento de Gases Indicador Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

1. Emissão de gás fugitivo 4,0 4,0 5,0 5,0 5,0 2. Captação de biogás 3,0 4,5 5,0 5,0 5,0