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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás
PÓS-GRADUAÇÃO (LATO-SENSU) EM GERENCIAMENTO DE
SEGURANÇA PÚBLICA
Bruno Dias Prudente
O MERGULHO DE RESGATE NO 5º CRBM: GERENCIAMENTO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA APÓS IMERSÃO EM MEIO LÍQUIDO
Goiânia (GO)
2016
Bruno Dias Prudente
O MERGULHO DE RESGATE NO 5º CRBM: GERENCIAMENTO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA APÓS IMERSÃO EM MEIO LÍQUIDO
Artigo apresentado em cumprimento as exigências para a obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gerenciamento em Segurança Pública sob orientação da Profª. Drª. Cristhyan Martins Castro Milazzo.
Goiânia (GO)
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
Bruno Dias Prudente
O MERGULHO DE RESGATE NO 5º CRBM: GERENCIAMENTO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA APÓS IMERSÃO EM MEIO LÍQUIDO
Artigo apresentado em cumprimento as exigências para a obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gerenciamento em Segurança Pública sob orientação da Profª. Drª. Cristhyan Martins Castro Milazzo.
Avaliado em / /
Nota Final: ( )
Professora - Orientadora Cristhyan Martins Castro Milazzo, Drª.
Coronel – Sebastião Nolasco Ribeiro, Esp.
Goiânia (GO)
2016
RESUMO Esse artigo objetivou analisar se o atual gerenciamento das condições de segurança nos mergulhos de resgate do 5º CRBM após a imersão em meio líquido confere aos militares que realizam tais atividades autossuficiência e capacidade de resolução de problemas em possíveis contratempos. São descritas as ações minimizadoras dos aspectos, cenários e riscos, com base no conceito de redundância dos principais sistemas de suporte de vida dos mergulhadores: controle do suprimento de gás, ligação e apoio com a superfície, comunicação e instrumentos de corte. A preocupação da Corporação em zelar pela saúde e integridade dos bombeiros militares é constante e compreende que prejuízos de eficiência se conectam aos fatores causadores de acidentes podendo gerar altos custos institucionais e sociais, logo abordagens amplas devem ser assumidas para sanar qualquer adversidade. Baseado nisso, foram aplicados questionários aos componentes dos times de mergulho para a identificação de possíveis imperfeições e demandas nas atividades dos agentes de segurança pública quando submersos. Verificou-se, então, que após a elaboração da ferramenta de gestão de riscos foram disponibilizados os requisitos mínimos de equipamentos que aliados a simples treinamento de habilidades favorecem de maneira positiva e incisiva as ações de prevenção, controle e gestão da segurança inerente à função exercida.
Palavras-chave: Mergulho de resgate, 5º Comando Regional Bombeiro Militar, Redundância.
ABSTRACT
This article aims to analyze whether the current management of security conditions in the dips of rescue of The 5TH CRBM after immersion in a liquid medium gives the military who perform such activities Self-reliance and ability to solve problems in possible setbacks. We describe the actions of reduce aspects, scenes and risks, based on the concept of redundancy of the main life support systems of the divers: control of the gas supply, connection and support with the surface, communication and tools for cutting. The concern of the Corporation in ensuring the health and integrity of the militarized firemen is constant and understands that losses of efficiency are connected to the factors that cause accidents which can generate high institucional and social costs, thus large approaches should be undertaken to remedy any adversity. Based on this, questionnaires were applied to the components of the times of diving for the identification of potential imperfections and demands in the activities of the public security agents when submerged. It was then that after the preparation of the tool for risk management have been provided the minimum requirements for equipment which allies the simple skills training in favor of a positive and effective actions of prevention, control and management of safety inherent to the function performed. Keywords: Diving rescue, 5th Regional Command Military Fireman, Redundancy.
5
INTRODUÇÃO
O ser humano é um animal de raciocínio diferencial e ao longo do tempo
desenvolveu inúmeros elementos para suplementar sua escassa capacidade de
mergulhar e sua total inépcia de respirar debaixo d’água (COUSTEAU,1979).
As atividades do mergulhador de resgate1 exercidas pelos agentes de
segurança pública, no Estado de Goiás, são ações singulares e fora dos limites do
mergulho recreativo, incluindo respostas a acidentes ou crimes através da busca e
recuperação subaquática de evidências, bens e vítimas de afogamento, resgate,
investigação e outras atividades de segurança.
O mergulho profissional2 apresenta várias adversidades em detrimento do
ambiente hiperbárico, exigindo técnicas, conhecimento e cuidados específicos. De
acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) compõe o rol das
atividades profissionais mais perigosas do mundo, sendo de relevância extrema o
entendimento dos riscos a que os trabalhadores estão expostos e a regulamentação
da profissão (MARANHÃO, 2015).
As regras de segurança para o expediente em condição hiperbárica3 estão
elencadas nos termos do anexo VI da Consolidação das Leis de Trabalho - CLT
(CAMPANHOLE,1987). Os componentes das equipes de mergulho em sua
totalidade, em especial os supervisores, possuem a responsabilidade na tomada de
de decisão das devidas precauções quanto à segurança das operações, no que
tange a preparação, planejamento e execução dos procedimentos de emergência
(NORMA REGULAMENTADORA -15, 1983).
Um importante fator nas operações de mergulho é a segurança, abordando de
forma ampla o controle geral e gerenciamento de todos os procedimentos de
mergulho em seus vários pontos (FREITAS, 2004). A segurança eficaz contempla o
uso de equipamentos com proteção a riscos (MONTEIRO, LIMA & SOUZA, 2005).
1 Mergulhador de resgate – profissional membro da equipe de mergulho, qualificado e legalmente habilitado para
o exercício da atividade de mergulho – Fonte: Norma Operacional 02 CBMGO; 2 Mergulho profissional - atividades subaquáticas em ambiente hiperbárico, com fins de apoio à extração de
recursos naturais, à pesca profissional, à prestação de socorro, ao resgate de objetos e pessoas, à construção e manutenção de unidades e estruturas submersas e à instrução de mergulho profissional – Fonte: Projeto de lei 6133/13; 3 Condição hiperbárica – condição onde a pressão ambiente é maior do que a atmosférica – Fonte: NORMAM –
15 DPC Rev 2, 2016.
6
A identificação das áreas de risco através do mapeamento de localização dos
pontos, inspeções periódicas e providências para eliminação de acidentes, faz parte
da observação que se exige da administração. Havendo a precaução através do
mapeamento, as áreas de risco tornam minimizadas juntamente com as
possibilidades de acidentes e condições adversas à saúde (TACHIZAWA, 2001).
De fato vários fatores de risco rodeiam os mergulhadores de resgate do
CBMGO, e a experiência obtida através de inúmeros atendimentos ao longo dos
anos demonstra que grande parte desses trabalhos se desenvolve em locais pouco
desejáveis para a imersão, onde a visibilidade limitada4 incapacita o contato visual
com o alvo da busca, e os perigos adicionais ameaçam a integridade física dos
militares.
O artigo possui como objetivo principal a análise das condições de segurança
dos mergulhadores de resgate no âmbito do 5º Comando Regional Bombeiro Militar
do Estado de Goiás após a submersão em meio líquido, e como objetivos
específicos observar a previsão e o emprego de redundância dos equipamentos
considerados vitais ao suporte de vida do mergulhador: suprimento de gás, ligação e
apoio com a superfície, comunicação e ferramenta de corte.
REVISÃO DA LITERATURA
1. Histórico e Formação do Mergulhador no CBMGO
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás descreve que em meados
de 1979 ocorreu a maior inovação nas atividades de busca e resgate subaquáticas.
Após retorno do curso de mergulho autônomo5 no Rio de Janeiro, o então Tenente
Franquel Bastos Tavares foi o principal responsável pela introdução do equipamento
autônomo nas ações de mergulho da Corporação.
O sucesso da operação nos mergulhos de resgate e a execução com
segurança requer o enfrentamento de condições inóspitas, sendo fundamental o
desenvolvimento das características físicas e psicológicas dos indivíduos
4 Visibilidade Limitada – água turva onde o mergulho apresente uma visibilidade menor do que 3 metros (10 pés)
– Fonte: Manual Mergulho Noturno e Visibilidade Limitada – SSI Secão I, Edição 2006. 5 Mergulho Autônomo – Tipo de mergulho onde o mergulhador de resgate transporta o equipamento que lhe
fornece a mistura respiratória – Fonte: Norma Operacional 02 CBMGO.
7
(TRINDADE, 2014). O mergulhador de resgate precisa carregar muitos
equipamentos para a execução da atividade como barcos, motores e cilindros, assim
o treinamento de força é bastante exigido (NOSSA, 1998).
O infeliz episódio, em 1974, que ceifou a vida do Cabo Edevaldo durante a
busca submersa de um armamento no Rio dos Bois utilizando o escafrandro6
demonstrou a ignorância e descuido aos dispositivos de segurança passivos e
ativos. O fato ocorrido aliado ao alto índice de ocorrências náuticas, impulsionou a
adesão do equipamento autônomo, levando à realização do primeiro curso de
mergulho autônomo, em agosto de 1983, com inscrição de aproximadamente 45
bombeiros e baixíssimo índice de aprovação, apenas 05 militares (GOIÁS, Manual
de Mergulho Autônomo, 2012).
Características como liderança, resistência mental, meticulosidade, liderança,
habilidades manuais, perseverança, arrojo e espírito de equipe são buscadas.
Testes psicológicos antes de iniciar a formação para a atuação subaquática são
aplicados aos alunos, independente da patente, com o objetivo de verificar a
compatibilidade com a atividade (CAMARGO, 2003).
De maneira geral a formação dos times de mergulho nos Corpos de
Bombeiros seguem pressupostos de conteúdo e metodologia trazidos por
profissionais que concluiram o curso na Marinha do Brasil (OKUMA, 2002). A
informação se confirma pelos moldes aplicados nos cursos realizados, com doutrina
rígida e extrema exigência física e psicológica, tornando a missão muito penosa pelo
pequeno número de concluintes, ocasionando o déficit contínuo de profissionais
mergulhadores (GOIÁS, Manual de Mergulho Autônomo, 2012). Hoje não há um
padrão curricular nas formações de mergulhadores de resgate no Brasil, e se
apresenta bastante variável no meio militar, onde cada Estado acrescenta ao curso
matérias pertinentes aos acidentes mais comuns a sua região (TRINDADE, 2014).
Em Goiás, a Norma Operac iona l nº02/2010, referência decreto n. 6.161
de 03 de junho de 2005, e atualizada em 30 de novembro de 2010, visa regular e
padronizar a formação, a qualificação e os procedimentos nos serviços náuticos
realizados pela Corporação, no intuito de estabelecer as condutas e as atividades 6 Escafandro - Equipamento hermeticamente fechado, mas onde se faz penetrar ar por meio de uma bomba, e
que os mergulhadores vestem para trabalharem debaixo de água – Fonte: Novo Dicionário Aurélio, 4ª Edição, 2015.
8
pertinentes. Na atualidade o CBMGO capacita na própria Instituição seus
mergulhadores vivenciando um significativo aprimoramento nas atividades de
mergulho autônomo.
2. Mergulhando no 5º CRBM
Efetivado através da portaria n. 119/2015 em 02 de julho de 2015, o 5º
Comando Regional Bombeiro Militar é o mais novo comando criado na Instituição em
Goiás. Composto por nove (09) unidades de bombeiros militares exerce atividades
de segurança pública em área de ocupação operacional contendo quarenta e seis
(46) municípios, abarcando uma extensão territorial de 45.569 Km² e população de
1.754.414 (Fonte BM-37).
No quadro de distribuição de mergulhadores ocupa a quarta posição em
relação aos outros Comandos Regionais com o quantitativo de vinte e sete (27)
militares (Fonte BM-3).
Comandos OBM’s Municípios Mergulhadores
1° CRBM 6 19 41
2° CRBM 8 65 19
3° CRBM 13 86 34
4° CRBM 6 30 34
5° CRBM 9 46 27
Outros 16 27
Total 41 246 182
Tabela 1 - Quantitativo de mergulhadores por CRBM
Fonte: BM-3.
Porém em relação aos números de atendimentos náuticos prestados, alcança
o segundo lugar executando trezentos e cinquenta e seis (356) ocorrências com
7 BM3 – Seção de Planejamento Estratégico.
9
natureza de localização, busca e recuperação subaquática até o momento no ano de
2016, totalizando 24% destas ações em Goiás (Fonte BM-18).
Gráfico 1 - Número de atendimentos por CRBM
Fonte: BM-1.
3. Condições de Segurança no Mergulho de Resgate
O homem não carece temer adversidades em relação a sua zona de conforto
como: ventanias, tempestades ou incêndios, porém precisa melhorar o
conhecimento evitando complicações futuras e situações desfaváveis (PEREGRINO,
2007). Os trabalhos submersos são possíveis de se tornar mais seguros desde que
o mergulhador tenha uma cultura fortalecida com conhecimento adequado e
aplicação de procedimentos seguros, visando o bom cumprimento das missões
(FREITAS, 2004).
Profundidades com patamares próximos a 50 metros cuja característica
principal é o fato dos mergulhadores respirarem ar comprimido, deve ser seguido um
padrão de segurança deve ser respeitado, desde a entrada na embarcação ao fim
do mergulho e retorno para a base (FERREIRA, GOMES, NASCIMENTO, &
PEREIRA, 2013). Mergulhadores que executam respostas a emergências
geralmente realizam as atividades com equipes, em locais e condições escolhidas 8 BM1 – Seção de Estatística.
10
pelas circunstâncias, tendo como ambiente de atuação correntezas, águas sujas e
profundas, e outros lugares onde um mergulhador recreativo normal não gostaria de
se aventurar (ITI - Manual de Mergulho de Resgate, 2005).
O mergulho desenvolvido por bombeiros militares são ações de risco
constante, e o cuidado com a segurança não se restringe apenas a operações
diárias, cuidados com equipamentos, técnicas que permitem o trabalho dentro de
níveis aceitáveis e revisão de plano de ação pelo responsável. Em detrimento do
trabalho se realizar fora do ambiente natural, qualquer deslize ou descuido com
procedimentos corretos ou material operacional possibilita graves acidentes ou
fatalidades (CBMDF, Manual Técnico Profissional de Salvamento, 2012).
A proteção dos riscos de acidentes oferecidos num processo de trabalho ou
realização de uma tarefa passa pelo serviço de segurança na realização das tarefas
sendo um conjunto de recursos e técnicas aplicadas, corretiva ou preventivamente
(BRACONY,1986). A rotina enfrentada por bombeiro militares nas constantes
situações de perigo possibilitam a idéia de que a segurança é maximizada quando
lançamos mão de procedimentos, materiais e ou equipamentos específicos para
cada realidade (ALBERT, 1998).
As regras para o mergulho seguro são apresentadas e discutidas seguindo os
seguintes parâmetros: não mergulhe sem suporte de pessoal, mantenha bom
condicionamento físico, treine regularmente para a atividade, os trabalhos
submersos se estendem desde os procedimentos iniciais de preparação até o final
do período de observação, adquira bons equipamentos, conheça o local do
mergulho, planeje e sinalize a área de mergulho, confira o equipamento e obtenha
assistência médica (NIETO, 2003). A segurança depende diretamente de um
gerenciamento eficaz, logo é de fundamental importância à compreensão e o
entendimento dos problemas apresentados (FREITAS, 2004).
4. Riscos do Mergulho de Resgate após a Imersão
O afogamento é um dos riscos mais comums experimentados a qualquer
atividade subaquática, mas não o único. As várias situações estressoras capazes de
prejudocar os profissionais que trabalham submersos, informa David Szpilman,
11
diretor-médico da SOBRASA9, referência nacional e internacional na área,
expressando ainda sobre o bombeiro mergulhador: “Embora ele possa estar
preparado, cada emergência é diferente. Isto gera mais estresse e, gerando maior
estresse, o submete a maiores riscos”.
A falta de visibilidade condicionada ou não ao tempo de submersão
ultrapassando os limites estipulados possibilitam graves consequências ao
mergulhador de resgate como: acúmulo excessivo de nitrogênio e o esgotamento do
suprimento de gás. Condições estas que devem ser consideradas na preparação da
missão e adicionadas aos principais riscos da atividade (ÁLVARES, 2014). Diversos
riscos ao ser humano e acidentes no mergulho podem ser provocados por pressões
exercidas pela água (JÚNIOR & SOUZA, 1998).
Em 2008, um sargento do CBMDF morreu durante uma prova de instrução em
curso de mergulho. Além do Distrito Federal, segundo divulgado na mídia ao longo
dos anos, os Estados de Pernambuco, Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso,
Paraná e Goiás já experimentaram mortes de mergulhadores de resgate no exercício
da função. De acordo com o subtenente Mendes, chefe da equipe náutica da
Diretoria de Operações do Espírito Santo, falhas na avaliação da cena,
gerenciamento de risco, planejamento, e a criação de normas impondo necessidade
de fonia, mergulhador de emergência na superfície e ligação com a superfície são
fatos determinantes para a ocorrência de graves acidentes com mergulhadores de
resgate.
Os riscos de ferimentos em objetos contundentes, cortantes e perfurantes
provenientes da poluição, a facilidade de enrosco, falta de visibilidade e correnteza,
possibilidade de contaminação, desorientação, esgotamento do suprimento de gás,
afogamento e perigos potenciais específicos do local de mergulho devem ser
avaliados e tratados com atenção e cuidado já que são uma constante durante o
serviço (NORMA DE MERGULHO DO CBMES, nº 01/2016).
A previsão de redundância ou segunda opção quantos aos equipamentos que
são vitais ao suporte de vida do mergulhador são premissas imperativas,
principalmente para suprimento de gás, ligação e apoio com a superfície,
comunicação e ferramenta de corte, permitindo dessa forma a resposta adequada a 9 SOBRASA – Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático.
12
eventuais inconvenientes no sistema principal. A utilização de materiais operacionais
inadequados ou mal manutenidos podem contribuir bastante na ocorrência de
acidentes durante os mergulhos de resgate de busca e recuperação subaquática
(MENDES, 2016).
METODOLOGIA
A fim de obter suporte para pesquisa de campo, o trabalho se baseou
primeiramente na revisão de literatura, optando-se pela aplicação de uma
metodologia qualitativa de caráter descritivo com a finalidade de fornecer os
subsídios através da participação no estágio de requalificação de mergulhadores de
segurança pública, realizado nos dias 24, 25 e 26 de agosto de 2016, em parceria
com o CBMES10, regulado pela nota de instrução nº 019/2016 DOp11 que objetivou a
revisão de habilidades práticas de mergulho autônomo, aferição da TCS12, e
treinamento com os equipamentos de redundância ao suporte de vida dos
mergulhadores de resgate: cilindro de Bail Out13, mosquetão de segurança14 e faca
corta cabos tipo “T”15.
Em um segundo momento, verificou-se a necessidade de uma metodologia
quantitativa através de questionário (Apêndice 1), disponibilizado pelo entrevistador
no aplicativo “WhatsApp” em grupo de trabalho virtual denominado “Náutica 5º
CRBM”, canal fechado de repasse de informações e conteúdos técnicos, que
contempla atualmente 27 (vinte e sete) especialistas em mergulho de resgate, que
desempenham atividades de localização, busca e recuperação subaquática na
Corporação.
O questionário, contendo 11 (onze) questões objetivas, foi elaborado baseado
nas principais regras de segurança descritas nos manuais técnicos de operações de
10
CBMES – Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santo. 11
Dop – Diretoria de Operações/ES. 12
TCS (Taxa de Consumo na Superfície) - cálculo realizado para estimar o volume de gás que um mergulhador consome no cilindro de mergulho principal na superfície (ao nível do mar - 01 ATM) - Fonte: Norma de Mergulho nº 01 CBMES; 13
Bail Out - cilindro de gás comprimido com 30 pés cúbicos, permitindo que o mergulhador possua uma determinada autonomia de gás extra em caso de emergências - Fonte: Norma de Mergulho nº 01 CBMES; 14
Mosquetão de Segurança – confeccionado em aço inox, de 08 cm de comprimento, corpo giratório, mecanismo de desengate rápido e olhal de fixação - Fonte: Norma de Mergulho nº 01 CBMES Art 2º; 15
Corta cabos tipo “T” - instrumento de corte rápido e eficiente, possibilitando um corte mais estável – Fonte: Dop/2015 – Requisição de Material nº02.
13
mergulho dos Corpos de Bombeiros Militares, normas da Marinha Brasileira, escolas
e operadoras de mergulho autônomo. A coleta de dados foi realizada entre os dias
26 de setembro e 04 de outubro de 2016, alcançando todos os componentes das
náuticas do 5º CRBM.
Com as informações obtidas e os resultados tabulados realizou-se o
levantamento dos aspectos, cenários e riscos, com a aplicação do método semi -
quantitativo da “Matriz de Gestão de Riscos16” adaptada às atividades de mergulho
de segurança pública, permitindo a elaboração do diagnóstico das condições de
segurança dos mergulhadores de resgate, no âmbito do 5º Comando Regional
Bombeiro Militar, e recomendações para melhoria da gestão de riscos dos militares
após a imersão em meio líquido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
a) Apresentação dos Resultados
A pesquisa dos dados foi quantificada através dos resultados levantados pelo
questionário aplicado. Neste item apresentam-se as respostas encontradas
redigindo análises com abordagens a partir do referencial teórico apresentado
anteriormente. Prossegue posteriormente a avaliação de aspecto, cenário e
significância para definir o grau do risco, estabelecendo os procedimentos de
prevenção.
O gráfico 2 demonstra um dado preocupante, onde esclarece que
aproximadamente 26% dos militares entrevistados não utilizam método algum para
controle do consumo do suprimento de gás no cilindro principal. A maioria dos
arguidos, ou seja, 67% expõe que monitoram a quantidade de ar respirável
comprimido recorrendo a regra do 1/3 ou 50 bar. Apenas 7% aplicam a taxa de
consumo na superfície atrelada a autonomia, e nenhum mergulhador de resgate do
5° CRBM usa cilindro reserva acoplado ou não ao principal.
16
Matriz de Gestão de Risco – ferramenta que envolve levantamento de riscos associados às atividades, com a mensuração dos possíveis danos, a fim de apontar sua significância - Fonte: OHSAS 2007.
14
Gráfico 2 – Métodos de controle do suprimento de gás no cilindro Fonte: Autor
Percebe-se no gráfico 3 que 96,3% dos mergulhadores de resgate do 5º
CRBM em algum momento na execução dos trabalhos submersos terminaram a
atividade e chegaram a superfície abaixo da pressão de segurança recomendada de
50 Bar no cilindro principal. E dentre os entrevistados, 88,9% mostraram que não
fazem uso de uma segunda opção quanto a instrumentos de corte nas funções de
mergulho de segurança pública (Gráfico 4).
Gráfico 3: Uso da reserva do cilindro principal Gráfico 4: Redundância de instrumento de corte Fonte: Autor Fonte: Autor
No gráfico 5, verifica-se que 41% dos mergulhadores entrevistados exerceram
imersões sem auxiliar ou apoio de superfície. E que aproximadamente 60% contam
com o dispositivo de segurança mencionado.
0%
67%7%
26%
Controle do sistema de Suprimento de Gás
Cilindro Reserva (S30)
Regra do 1/3 ou 50 Bar
TCS + Autonomia
Nenhum
15
Gráfico 5: Uso do auxiliar ou apoio de superfície
Fonte: Autor
Em relação ao sistema de comunicação, o gráfico 6 mostra que 85,2% dos
entrevistados consideram que a comunicação atual (superfície/fundo; fundo/fundo) é
ineficiente e não confere a segurança adequada em possíveis situações de
emergência com o mergulhador no fundo. E de acordo com o gráfico 7, 75% não
usam mosquetão de segurança.
Gráfico 6: Segurança da comunicação Gráfico 7: Formas de ligação com a superfície Fonte: Autor Fonte: Autor
Quanto à frequência do uso de colete equilibrador na configuração dos
equipamentos, o gráfico 8 expõe que 48,1% utilizam regularmente e 18,5% quase
nunca empregam o dispositivo.
41%
59%
Mergulho de Resgate sem auxiliar ou apoio de superfície
Sim
Não
75%
25%
Formas de ligação
Linha da vida sem mosquetão de segurança
Linha da vida com mosquetão de segurança
16
Gráfico 8: Uso do compensador de flutuabilidade.
Fonte: Autor
Dentre os entrevistados, 100% depararam com algum tipo de risco adicional
(estressor) durante trabalhos submersos em mergulho de resgate (Gráfico 9). Em
relação às condições que aumentam consideravelmente o nível dos riscos, de
acordo com a Norma de Mergulho 01/2015 – CBMES, os entrevistados enfrentaram
as seguintes condições adversas: teto físico 8%, profundidades superiores a 42
metros 34%, mergulhos fora dos limites não descompressivos 30%, água
contaminada 63%, e apenas 25% nunca realizaram mergulhos de resgate com
essas características (Gráfico 10).
Gráfico 9: Riscos estressores enfrentados Gráfico 10: Condições de realização do mergulho Fonte: Autor Fonte: Autor
40% 63%
11%
82%
Riscos Adicionais
Série1
8%
63%
34%30%
25%
Condições Adversas
Série1
17
No gráfico 11 se verifica que somente 22,2% dos entrevistados sempre
obedeceram ao previsto na Norma Operacional 02-CBMGO quanto ao número
mínimo da equipe (três componentes) de mergulho de resgate para trabalhos
submersos.
Gráfico 9: Atendimentos com equipe inferior a 03 especialistas.
Fonte: Autor
Por fim o gráfico 12 esclarece que 80% dos entrevistados não consideram
que atual configuração de equipamentos confere a segurança ideal ao às atividades
de mergulho de segurança pública após a imersão em meio líquido.
Gráfico 12 – Segurança dos mergulhadores com a atual configuração de equipamentos
Fonte: Autor b) Discussão dos Resultados
A implantação de um mecanismo de prevenção e eliminação dos riscos
faz com que a matriz de risco se torne uma ferramenta importante, pois nela há
informações que permitem a identificação dos riscos, a frequência de ocorrência e os
cenários mais comumente enfrentados. É um instrumento significativo de controle
interno e gerenciamento dos riscos. (CABRAL, RODRIGUES 2015).
20%
80%
Segurança da atual configuração
Sim Não
18
A “Matriz de Gestão de Riscos” aplicada foi adaptada às atividades de
mergulho de segurança pública considerando as respostas de todos os 27 (vinte e
sete) mergulhadores de resgate ativos que compõe as náuticas do 5º CRBM. Para
tanto a seguinte sistemática foi seguida:
a) Severidade:
CAT DENOMINAÇÃO ASPECTOS CENÁRIOS
1
BAIXA
Busca e recuperação
subaquática de bens,
evidências de crimes e vítimas
submersas.
� Peso inferior a 100 kg
� Profundidades não
superiores a 10 metros
� AUSENCIA de condição
perigosa*
2
MODERADA
Busca e recuperação
subaquática de bens,
evidências de crimes e vítimas
submersas.
� Peso entre 100 e 150 kg
� Profundidades entre 10 e
22 metros
� Presença de apenas UMA
condição perigosa*
3
GRAVE
Busca e recuperação
subaquática de bens,
evidências de crimes e vítimas
submersas.
� Peso superior a 150 kg
� Qualquer profundidade
� Presença de DUAS OU
MAIS condições perigosas*
-
INTOLERÁVEL
NÃO REALIZAR A ATIVIDADE
DE MERGULHO DE RESGATE.
� Ambientes com altos níveis
de produtos químicos ou
biológicos, contaminados
com substâncias tóxicas e
organismos patogênicos
capazes de causar graves
doenças ou morte
� Cavernas com necessidade
de penetração
� Profundidades superiores a
42 metros
� Misturas de gases
Legenda: CAT – Categoria
19
*Condição perigosa: Segundo normas e manuais de mergulho de resposta às emergências são
situações que envolvam riscos adicionais ou condições adversas durante a operação de mergulho de
resgate.
Algumas adaptações em detrimento da realidade da atividade no Estado de
Goiás devido à altitude e inexistência de oceanos foram feitas, considerando como
condição perigosa:
� Correntezas superiores a 1,5 nós (2,7 km/h);
� Reflutuações de objetos com peso superior a 150 kg e manobras ou
trabalhos com ferramentas que impossibilitem o controle da flutuabilidade do
mergulhador;
� Trabalhos submersos em ambientes confinados e/ou com teto físico;
� Trabalhos submersos em profundidades superiores a 22 metros.
b) Frequência e Probabilidade
CAT DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO
1 Baixa Nunca ocorreu ou esperado ocorrer raras
vezes.
2 Moderada Já ocorreu ou esperado ocorrer várias
vezes.
3 Frequente Ocorre sempre ou quase sempre.
Legenda: CAT - Categoria
c) Matriz de Significância: O grau do risco da atividade ocorre depois de
identificada a probabilidade e a severidade do aspecto e cenário, cruzando na
matriz abaixo o resultado da probabilidade versus severidade.
Gráfico 13: matriz de significância
Fonte: Da Costa, Noronha, Merçon, Reis 2009.
20
Com os produtos dos índices de probabilidade e severidade apresentados na
matriz acima se obtém o grau de significância (GS), que por sua vez estabelece a
extensão do risco da ocorrência e determina os requisitos da redundância, conforme
referencial teórico, dos principais equipamentos de segurança ao suporte de vida do
mergulhador para os seguintes sistemas: ligação e apoio com a superfície,
fornecimento de gás, instrumentos de corte e comunicação.
Segue abaixo a tabela desenvolvida através da obtenção e discussão dos
resultados do estudo, com o emprego e a compilação das respostas do questionário
aplicado, definição dos cenários e graus de riscos, e redundância dos equipamentos
de segurança que conferem aos mergulhadores de resgate do 5º CRBM maior
capacidade de resolução de problemas e gestão de possíveis adversidades nos
trabalhos submersos, com simples treinamentos de técnicas e habilidades, e a
recapacitação adequada.
GS RISCO COMUNICAÇÃO LIGAÇÃO E APOIO COM SUPERFÍCIE
MFF17 SISTEMA DE FONIA SUBAQUÁTICA18
CABO GUIA19 MOSQUETÃO DE SEGURANÇA
1 ou 2 BAIXO Facultado Facultado Obrigatório Obrigatório
3 ou 4 MÉDIO Fortemente recomendável
Fortemente recomendável
Obrigatório Obrigatório
6 ou 9 ALTO Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório
GS RISCO FORNECIMENTO DE GÁS INSTRUMENTO DE CORTE
BAIL OUT TAXA DE CONSUMO NA SUPERFÍCIE
CORTA CABOS
1 ou 2 BAIXO Facultado Obrigatório Obrigatório
3 ou 4 MÉDIO Obrigatório Obrigatório Obrigatório
6 ou 9 ALTO Obrigatório Obrigatório Obrigatório
Tabela 2: Grau de risco da ocorrência x requisitos de redundância dos equipamentos de segurança
Fonte: Autor 17
MFF (Máscara Full Face) - máscara que envolve toda a face do mergulhador permitindo respiração tanto oral quanto nasal, mesmo em casos de acidente onde o mergulhador fique inconsciente - Fonte: Manual Ocean Technology System – Full Face Mask, 2011. 18
Sistema de fonia subaquática - sistema composto por máscara full face, fonia subaquática sem fio através de microfone instalado na máscara e mesa estacionária de superfície para transmissão e recepção - Fonte: Manual Ocean Technology System – Surface Communications, 2011. 19
Cabo guia – tem por finalidade servir de guia para os mergulhadores durante os padrões de busca e recuperação subaquática - Fonte: Normerg nº 01 CBMES.
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CONCLUSÃO
O presente estudo objetivou investigar o gerenciamento das condições de
segurança dos mergulhadores de resgate após imersão em meio líquido no âmbito
do 5º Comando Regional Bombeiro Militar do Estado de Goiás. Pode-se afirmar que
foi possível a identificação de vários fatores de riscos inerentes às funções
desempenhadas e a visualização de estratégias de segurança a serem adotadas no
sentido de que seja minimizada a ocorrência de acidentes ao militar no cumprimento
das atividades de mergulho de segurança pública.
O mergulho de resgate exige uma série requisitos específicos, onde se
pressupõe que o especialista para se manter ativo no quadro deve estar
devidamente habilitado, e constantemente treinado e qualificado, além de manter um
ótimo condicionamento físico, e diferenciada capacidade de autossuficiência e
resolução de problemas. Nessa linha de pensamento fica evidenciado que para
haver melhor desempenho do profissional é de suma importância que a Instituição
busque que o militar possa desenvolver suas tarefas a partir das melhores condições
possíveis de trabalho.
A propositura da inclusão de graus de riscos nas ocorrências de mergulho
autônomo de resgate com a consequente recomendação e/ou obrigação de
requisitos mínimos de equipamentos maximiza o gradiente de segurança. No
entanto, há que se considerar que outras ferramentas ou materiais podem ser
agregados, aliados ao incremento de requalificações periódicas, treinamento de
habilidades e investimento em novas tecnologias de equipamentos de segurança
individual e coletiva. A efetivação da matriz de gestão de riscos além de favorecer a
prevenção dos acidentes, estabelece os cenários de atuação e traz eficiência nos
trabalhos.
Ademais, é preciso dizer que urge a necessidade da aprovação e aplicação
de legislação específica aos militares que exercem atividades em mergulhos de
segurança pública, assim como revisão e atualização da Norma Operacional nº02-
CBMGO para que se implante um sistema de critérios de segurança permitindo a
identificação e o tratamento das não conformidades da gestão dos riscos desta
atividade.
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Finalmente, precisa-se deixar claro que o desenvolvimento deste trabalho
identificou e sugeriu vários benefícios para as náuticas do 5ºCRBM, com projeção
para aplicação em nível Estadual, além de esclarecer que o emprego da
redundância nos principais sistemas de suporte de vida dos mergulhadores de
resgate promove um significante e contundente benefício no gerenciamento dos
aspectos, cenários e riscos dos militares após imersão em meio líquido.
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substitutivo aprovado em abril de 2015 e assinado pelo relator Deputado Benjamin
Maranhão.