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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
MARIA LUAR MENDES DE SOUZA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG
ILHÉUS – BAHIA 2008
MARIA LUAR MENDES DE SOUZA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DA VESPERATA EM DIAMANTINA – MG
Dissertação apresentada, para obtenção do título de Mestre em Cultura e Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Área de concentração: Ciências Sociais Aplicadas – Turismo Orientador: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim
ILHÉUS – BAHIA 2008
MARIA LUAR MENDES DE SOUZA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DA VESPERATA EM DIAMANTINA – MG
Ilhéus – BA, / /2008.
____________________________________________ Natanael Reis Bomfim - DS
UESC (Orientador)
____________________________________________ Moema Maria Badaró Midlej - DS
UESC
_____________________________________________
Euler David Siqueira - DS UFJF
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha filha, Clara Lis, razão maior da realização deste sonho, aos
meus pais, irmãos e a todos que, de alguma forma, contribuíram e torceram por mim.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por me permitir a realização deste sonho.
À minha filha, Clara Lis, por quem vivo e luto pelos meus objetivos. Aos meus pais, Georgino e Cléo, pelo amor, pela segurança e pela oportunidade de concretização deste e de todos os outros grandes projetos da minha vida. Aos meus irmãos-amigos, Gino, Gabi e Tiago e respectivos sobrinhos, João Vitor, Marina Morena, Ana Beatriz e Maria Luíza, pela força, pelo carinho e incentivo e pela existência. A Fátima, pelo carinho e amor que tem por minha Clara. Obrigada pela paciência e pelos incontáveis momentos de alegria. Ao meu orientador e “desorientador”, Natanael, pela força, amizade, aprendizado e apoio, no decorrer deste trabalho. À FAPESB, pela concessão da bolsa de estudos. Aos professores do programa do mestrado, Marco Ávila, Janete, Tomé, Sócrates, Sandra, Odilon, Ana Cláudia e Paulo pela aprendizagem recebida. Aos funcionários do programa do mestrado, em especial, Brenda, pela paciência, pelo carinho e comprometimento no atendimento às necessidades dos alunos. Aos meus amigos e colegas do mestrado, em especial, Mariana, Ed, Paula, Fernanda, Rodrigo, Lise, Angye e Bete, pelos momentos de estudos e também momentos de lazer. As minhas amigas, companheiras de casa, Mariana, Paula e Mayra, pela paciência, pelos conselhos, por estarem ao meu lado em todos os momentos desta caminhada. Aos escritores do livro: La Mezza Notte, Antônio Carlos Fernandes e Wander Conceição, pela atenção, ensinamento e aprendizado. Aos moradores e à cidade de Diamantina, motivos deste projeto.
Aos funcionários da SECTUR – Diamantina/MG.
v
RESUMO
Autora: Maria Luar Mendes de Souza
Orientador: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim
Este estudo tem como objeto central o espetáculo da Vesperata, que ocorre na cidade de Diamantina-MG, e suas representações sociais construídas pela comunidade local, sob o viés norteador dos elementos culturais e turísticos presentes nesta manifestação. Para tanto, realizamos um estudo qualitativo-interpretativo, utilizando uma multimetodologia, analisando o conteúdo da evocação livre de palavras e da entrevista semi-dirigida. Neste sentido, foi possível observar a construção de uma representação social, evidenciada pela percepção dos sujeitos quanto às práticas denotadas a partir do espetáculo. Valores, sentimentos, hábitos e estereótipos ganham sentidos e significados singulares para os habitantes da cidade, que legitimam e dão conformação a esta prática cultural do espetáculo da Vesperata. Assim, nota-se uma reordenação da manifestação, com vistas ao atendimento à demanda do turismo cultural, onde a lógica da mercantilização do espetáculo se fortalece. É importante ressaltar, porém, que o sentido original do evento, ligado à tradição cultural da comunidade, embora tenha sido alterado, permanece integrado à órbita que circunda o espetáculo.
Palavras-chave: vesperata, espetáculo, cultura, turismo, representação social.
vi
ABSTRACT
Author: Maria Luar Mendes de Souza
Adviser: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim
The present study focuses mainly on the Vesperata show which takes place in Diamantina, MG, and the social representations built by the local community based on this happening, under the guide of the touristic and cultural elements present in this popular manifestation. So far, I did a quality interpretative study using the related literature as reference as well as an analysis of the actors’ discourse who happened to be involved in that manifestation. In this sense, it was observed the construction of a social representation shown through the subjects’ perceptions concerning the practices in the Vesperata. Values, feelings, habits and stereotypes assume singular meanings for the town people, who legitimate and frame the cultural practice. Thus, it was observed a rearrangement of the manifestation in order to face the demands of cultural tourism where the logic of merchandise gets stronger. It is important to stress that despite the changes concerning the original meaning of the event it is still connected to the cultural traditions of the town, thus integrating the orbit that surrounds the Vesperata.
Keywords: : Vesperata, show, culture, tourism, social representation.
vii
LISTA DE FIGURAS
1 - Mapa do município de Diamantina.............................................................................. 16
2 - Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1967............................................ 25
3 - Banda do 3° Batalhão da PMMG/Diamantina-MG, 1934........................................... 28
4 - Músicos da Banda do 3° Batalhão, em noite de Vesperata, 2007............................... 30
5 - Adolescentes da Banda Mirim, em noite de Vesperata, 2007..................................... 30
6 - Informativo do Ministério da Cultura sobre a Vesperata, 1997................................... 32
7 - Noite de Vesperata, 2007............................................................................................. 33
8 - 1ª Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1966........................................ 110
9 - Partitura da melodia La Mezza Notte.......................................................................... 112
10 - Primeira Banda de Música do 3º Batalhão em Diamantina.
Quartel no sobrado do Largo da Cavalhada, por volta de 1891/1892............................... 113
11- Vista panorâmica da Praça onde eram realizadas as retretas dominicais, lateral à
Igreja de Santo Antônio, antiga Igreja da Sé, entre 1910 e 1932...................................... 114
12 - Visita do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e do Governador
do Estado de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, a Diamantina em 09 de fevereiro de
1995. Recepção no Colégio Estadual Gabriel Mandacaru pela Banda Mirim sob a
regência de José de Jesus Melo (Gaguinho)...................................................................... 114
13 - Noite de vesperata, 2007............................................................................................ 115
14 - Músicos da Banda do Batalhão, em noite de vesperata, 2007................................... 116
15 - Maestro da Banda Mirim, em noite de Vesperata, 2007............................................ 117
viii
LISTA DE QUADROS
1. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores mais antigos-N=49)............ 69 2. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores do bairro periférico - N=39) 72 3. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (prestadores de serviços turísticos - N=174)................................................................................................................................. 75 4. Elementos de caracterização e definição da Vesperata................................................... 78 5. Julgamento de Valor Sobre a Vesperata.......................................................................... 87
ix
SUMÁRIO Resumo................................................................................................................................ v Abstract............................................................................................................................... vi INTRODUÇÃO................................................................................................................... 10 CAPÍTULO I. A CULTURA DE DIAMANTINA NUMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA.......................................................................................... 14 1.1. Do Arraial do Tijuco a Diamantina: aspectos histórico-geográficos............................. 15 1.2. A cultura de Diamantina: um olhar sociológico sobre a religião e a música................ 21
CAPÍTULO II. O CONCEITO DE CULTURA E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO CULTURAL E O FENÔMENO DA ESPETACULARIZAÇÃO............. 36 CAPÍTULO III. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: DIMENSÕES TEÓRICAS DA PESQUISA.......................................................................................................................... 45 3.1. Origem e Conceitos Epistemológicos das Representações Sociais............................... 45 3.1.1. Estrutura das Representações Sociais......................................................................... 48 CAPÍTULO IV. ASPECTOS METODOLÓGICOS PARA APREENDER OS ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A VESPERATA EM DIAMANTINA – MG................................... 53 4.1. Estudos sobre a utilização das Representações Sociais: Tendências e Limites............. 53 4.2. Perspectiva de Orientação Epistemológica do estudo das Representações Sociais sobre a Vesperata.................................................................................................................. 56 4.3. Desenho metodológico do estudo.................................................................................. 57 4.3.1. Local de estudo........................................................................................................... 58 4.3.2. Constituição e característica dos participantes (amostra)........................................... 58 4.3.3. Instrumentos de coleta de dados................................................................................. 61 4.3.4. Métodos de análise e interpretação dos dados............................................................ 63 CAPÍTULO V. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VESPERATA SOB O OLHAR DOS ATORES SOCIAIS DE DIAMANTINA – MG...................................... 66 5.1. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras............................................................. 67 5.2. Imagem da Vesperata expressa pelo discurso.............................................................. 76 CAPÍTULO VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 94 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 96 APÊNDICES....................................................................................................................... 104 ANEXOS............................................................................................................................. 110
10
INTRODUÇÃO
O presente estudo diz das representações sociais estabelecidas a partir das relações
construídas entre a prática cultural conhecida como “Vesperata”, e a população da cidade de
Diamantina. Para empreender esta pesquisa, foi necessário um envolvimento com a
comunidade local, bem como com suas manifestações culturais representativas. Na verdade,
este envolvimento precede ao estudo. Tendo a oportunidade de trabalhar como coordenadora
de turismo da Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio da Prefeitura Municipal de
Diamantina, no período de 2004 a 2006, pude perceber as nuances que circunscrevem o
turismo cultural do município. Assim, uma prática em particular me sensibilizou: a ocorrência
do espetáculo da Vesperata, onde bandas de músicas se apresentam das sacadas dos casarões
históricos, executando um vasto repertório. De fato, uma manifestação singular, fruto da
tradição musical do seu povo.
Porém, o movimento de transformação da manifestação cultural em espetáculo
ofertado como produto turístico despertou-nos o interesse em aprofundar o impacto que a
Vesperata causava na comunidade. Qual era a percepção dos próprios moradores sobre a
Vesperata? Como a população local se relacionava com o espetáculo? Quais eram as
expectativas sobre a ocorrência do fenômeno? Enfim, como se dava a apropriação da
manifestação, não pelos turistas, mas pelos que habitam a cidade de Diamantina?
Para tanto, nós recorremos à Representação Social, como teoria e método, que na
concepção de Moscovici (1976), a entende enquanto um conjunto de idéias, opiniões,
valores, preconceitos e estereótipos que os indivíduos têm sobre um objeto social. Estes
11
elementos são fomentadores da construção da identidade entre o sujeito e o objeto. Nesse
conceito, a Vesperata é considerada como um objeto da Representação e reflete um saber
que os indivíduos de uma dada sociedade ou de um grupo social elaboram acerca de um
segmento de sua existência ou de toda a existência.
Neste sentido, no primeiro capítulo, nos apropriamos da cultura da cidade de
Diamantina, recorrendo a uma contextualização histórico-geográfica, que nos permitiram
ampliar a compreensão do lugar do qual estávamos falando. Assim, a noção dos elementos
que permeiam a cultura local, como a música e a religiosidade, foi incorporada ao estudo,
situada historicamente e analisada por meio de documentos, imagens, literatura e outras
fontes que possibilitaram o diálogo com o objeto, compreendido a partir de um viés
sociológico. Ao tratar da cultura local, no entanto, sentimos a necessidade de compreensão
do termo “cultura”, e tudo o que ele incorpora.
Assim, no segundo capítulo, nós discutimos sobre o conceito de cultura e sua relação
com o turismo cultural e com o fenômeno de espetacularização. Devido à sua enorme
complexidade e por ser um termo de difícil apropriação, pela sua multiplicidade e
pluralidade, nos atemos ao recorte do objeto a partir do desdobramento do conceito de
cultura atrelado à sua relação com o turismo, pois entendemos que o turismo cultural assume
aqui, neste trabalho, uma noção central. No debate que se estabelece com o turismo cultural,
trazemos também referências do espetáculo, enquanto fenômeno que se relaciona fortemente
com a cultura e também com o turismo. Sendo a Vesperata uma manifestação representativa
da cultura local, transmutada em espetáculo turístico, vemos a proposição dessas
considerações como elementos fundamentais para o desenvolvimento do estudo. Porém, o
discurso do espetáculo, enquanto manifestação cultural e turística, não deve se apresentar
isolado de uma categoria que lhe confira sentido. A necessidade de um diálogo com um
12
sistema interpretativo nos levou então à busca de uma possibilidade de olhar que se
mostrasse adequado à pesquisa.
Nessa trajetória, dedicamos o terceiro capítulo deste estudo ao entendimento
epistemológico das “representações sociais”, na base de sua origem, bem como de sua
estrutura. Tendo elegido a representação social como o paradigma interpretativo vigente no
estudo, procuramos desenvolver os seus conceitos, de forma que a análise do fenômeno
cultural da Vesperata pudesse ser colocada sob a luz desta base conceitual apresentada. Em
tese, consideramos essencial para o desenvolvimento do estudo a inter-relação estabelecida
entre o turismo cultural (fenômeno da espetacularização) e a representação social. É esta
perspectiva que irá subsidiar e nortear todo o trabalho de campo, desde a coleta das
informações até a análise dos dados.
O quarto capítulo da dissertação aborda justamente a linha metodológica adotada,
para além da pesquisa bibliográfica. Nesse sentido, descrevemos os caminhos e intenções,
para se atingir as questões e objetivos propostos, procurando traçar o desenho metodológico
pertinente à proposta do estudo. Durante todo o momento, esse percurso esteve amarrado à
lógica da representação social como norte da compreensão da prática cultural formatada no
sentido de fenômeno espetacularizado para atendimento a uma demanda do campo turístico.
Essa abordagem favoreceu a discussão que estava por vir, qual seja, a leitura e a
interpretação das informações colhidas no campo.
É do que tratamos no quinto capítulo desta dissertação. Aqui, buscamos dar forma ao
conteúdo apreendido no espaço em que as representações de fato ocorriam. Para tanto, como
exposto anteriormente, lançamos mão das palavras (livre associação de idéias) e dos
discursos dos atores sociais envolvidos na órbita da ocorrência da Vesperata. Em conjunto
com o arcabouço teórico que referencia o debate, trouxemos à tona uma análise
contextualizada dos dados coletados, atentando-nos para o fato de que toda e qualquer
13
análise interpretativa busca apreender uma parte da realidade, mas não a realidade em si.
Nesse sentido, tentamos uma abordagem dialógica à luz dos autores e apresentamos uma
compreensão baseada no entendimento de cultura, de turismo cultural e das construções
efetivadas a partir das representações sociais dos sujeitos.
Por fim, explicitamos, nas considerações finais, sem ter a pretensão de ser
conclusiva, as questões mais relevantes do trabalho, comparando os resultados à luz de
autores que tratam das representações sociais. Apresentamos também, a partir do
conhecimento construído, subsídios que poderão auxiliar no desenvolvimento do turismo
cultural da cidade de Diamantina, particularmente no tocante à Vesperata.
14
CAPÍTULO I
A CULTURA DE DIAMANTINA NUMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-
GEOGRÁFICA
Para compreendermos a evolução histórica do Arraial do Tijuco à cidade de
Diamantina/MG, enfocaremos nesta parte, distintas etapas daquela sociedade, destacando os
aspectos sócio-geográficos e culturais, a partir de sua ocupação, sua base econômica e
principalmente a constituição de uma identidade cultural fortemente marcada pela influência
européia.
Entendendo que a atividade do turismo surgiu como uma alternativa econômica
para o município, a ponto de transformarem as manifestações culturais em atrativo
turístico, buscaremos aqui descrever como se criou e se consolidou, através dos séculos, a
singularidade cultural de Diamantina, a ponto de atrair, hoje, a atenção dos estudiosos em
turismo cultural.
Os reinos, que trouxeram vários aspectos culturais, marcaram profundamente a
cultura local. Percebe-se que muitos personagens construíram a história de Diamantina,
como índios, portugueses, bandeirantes, negros e comerciantes, e talvez seja por essa
razão que a cidade possui uma vida cultural tão diversificada e notória, onde
manifestações populares transformaram-se em imperdíveis atrativos turísticos do
município.
15
1.1. Do Arraial do Tijuco a Diamantina: aspectos histórico-geográficos
O município de Diamantina (FIG. 1) está situado no norte do Vale do Jequitinhonha, na
Zona Central do estado de Minas Gerais, possuindo uma área territorial de 3.870 Km². Além
da sede municipal, conta com os Distritos de Conselheiro Mata, Desembargador Otoni,
Extração, Guinda, Inhaí, Mendanha, Planalto de Minas, São João da Chapada, Senador
Mourão e Sopa, além dos povoados de Baixadão, Maria Nunes, Macacos, Biribiri e Itaipava.
Entre eles, os mais populosos, depois da sede, são Senador Mourão, Desembargador Otoni e
São João da Chapada, cada qual com cerca de 6% da população total do município. Os
municípios cujos territórios têm limite com Diamantina são ao norte - Bocaiúva e Carbonita;
ao sul - Monjolos, Gouveia, Datas e Serro; a leste - Couto de Magalhães de Minas, São
Gonçalo do Rio Preto e Senador Modestino Gonçalves; a oeste - Buenópolis e Augusto de
Lima.
A cidade se situa a 292 km de Belo Horizonte e as principais rodovias que dão
acesso ao município são: BR-259, MG-2, MG-121, BR-367.
16
FIGURA 1 - Mapa do município de Diamantina Fonte: Prefeitura Municipal de Diamantina
Diamantina possui um total de 44.229 habitantes, de acordo com os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2006), dos quais cerca de 85% residentes na zona
urbana. Em uma trajetória que vai do século XVII até os dias de hoje, Diamantina foi sendo
construída a partir de interesses distintos que atraíram aventureiros, estrangeiros e instituições
de governo que movimentaram os atrativos sociais, econômicos e políticos oferecidos pela
região.
Desde as companhias armadas, também chamadas bandeiras, típicas do final do século
XVII passando pelo período áureo em que a cidade se consolida como o rico distrito
17
Diamantino até chegar às explorações minerais com a tecnologia de ponta do século XXI,
homens e mulheres criaram riquezas e oportunidades, desbravando suas matas e as suas mais
de quinze cachoeiras, propícias não apenas à exploração de diamantes, como também a
atividades econômicas com a agricultura de subsistência e a criação de gado bovino para o
fornecimento de carnes.
Inserida em um espaço geográfico no estado de Minas Gerais, conhecido como Vale
do Jequitinhonha, onde a pobreza é secular e os períodos de secas constantes, Diamantina
surpreende pela fartura de seus recursos hídricos, destacando-se partes e afluentes dos Rios
Jequitinhonha e Ribeirão do Inferno, pertencentes à Bacia do Rio Jequitinhonha e do Rio São
Francisco. Muitas cachoeiras encantam e purificam moradores e turistas, destacando-se a
Sentinela, com poços de água cristalina e cercada por mata nativa, a dos Cristais e a do
Telésforo no distrito de Conselheiro Mata. Situada na área de abrangência da Cordilheira do
Espinhaço, única cadeia montanhosa do Brasil e reconhecida como Reserva da Biosfera pela
Unesco em 2005, a cidade é emoldurada pela Serra dos Cristais e guarda atrativos de grande
beleza, como quedas d’ águas, formações rochosas únicas, expressas por inusitadas grutas e
vegetações raras do Cerrado, como campos de sempre-vivas. Na tentativa de preservar estas e
outras riquezas, quatro unidades de conservação foram criadas pelo poder público na região
de Diamantina e municípios vizinhos: o Parque Nacional das Sempre-vivas e os estaduais do
Itambé, de Biribiri e do Rio Preto.
Joaquim Felício dos Santos, em seu livro Memórias do Distrito Diamantino, apresenta
a história do surgimento do que é hoje a cidade de Diamantina. Conforme o autor, sua origem
se dá quando, em busca de ouro e pedras preciosas, os bandeirantes criaram, no final do
século XVII, o Arraial do Tijuco. Mas foi com a descoberta dos diamantes, no início do
século XVIII, que o Arraial prosperou, criando as bases para uma história diferenciada da
colonização ibérica em outras partes do mundo.
18
Santos (1978) relata que, com a descoberta do diamante, o Arraial tornou-se conhecido
internacionalmente, pois quando em Portugal chegou a notícia do “descoberto” diamantino do
Serro Frio, cujas riquezas foram excessivamente exageradas, bandos de aventureiros dali
partiram em demanda de fortuna, que julgavam certa e fácil: daí data a continuada arribação
dos portugueses ao solo diamantífero.
Nesse cenário econômico, buscou-se, cada vez mais, impedir a entrada de aventureiros
brasileiros no Distrito Diamantino. Núcleo de colonização portuguesa, a Coroa resolveu
impedir o livre acesso às terras diamantinas. Tal medida visava, de forma radical, evitar o
contrabando e tornar de fato monopólio régio o comércio de diamantes (FURTADO, 1996).
Dois pesquisadores naturalistas, Spix e Martius (1981, p. 29), ao relatarem suas
experiências pelo território de Santo Antônio do Tejuco1, dizem: “Deve Tejuco a sua origem e
o atual florescimento, só e só ao aparecimento dos diamantes”.
Diante da riqueza do Tijuco2, em 1734, a Coroa Portuguesa transformou o arraial em
centro administrativo, com a criação do Distrito Diamantino. Nessa época, a vida faustosa da
elite tem como expressão o casal de amantes mais famoso do Brasil: o contratador João
Fernandes de Oliveira e Chica da Silva; contrastando-se, no entanto, com a exploração dos
negros escravos.
Procurando dinamizar o fisco, em 1739, estabeleceu-se o “Contrato”. No sistema do
Contrato, apenas o Contratador ou um grupo de arrematantes explorariam as jazidas
diamantíferas. Surgiram os garimpeiros que furtivamente extraíam as preciosas gemas. Foram
seis “Contratos”, administrados quase que totalmente pelas famílias “Fernandes de Oliveira” e
“Caldeira Brant”. Foi um período de prosperidade para o Tijuco. A vida faustosa dos
contratadores e alguns privilegiados se contrastava com a existência da mão-de-obra negra
escrava.
1 Hoje Diamantina. 2 Alguns autores grafam “Tejuco” e outros “Tijuco”.
19
Apesar da severidade das leis, da vigilância da milícia dos Dragões e do monopólio
exercido por sucessivos Contratadores era, naturalmente, impossível deter a mineração e o
comércio ilícito de diamantes. O terreno bravio e acidentado tornava os esconderijos fáceis,
em muitos lugares, e o contrabando de diamantes para fora do Distrito não apresentava
problema insuperável para os adeptos daquele tipo de comércio, tais como negociantes em
trânsito e tropeiros. Os escravos tinham que trabalhar curvados, de frente para seu capataz, de
forma a peneirar o cascalho nos alguidares3 e atirar para fora o referido cascalho enquanto
apanhavam os diamantes.
Fernandes e Conceição (2003) falam que a historiografia tradicional estabeleceu uma
interpretação em torno da crença de que o Distrito dos Diamantes, isolado geograficamente e
de tal forma submetido aos mandos das autoridades locais, havia se tornado uma estrutura de
poder independente do governo da Capitania de Minas Gerais.
O Distrito Diamantino era uma colônia dentro de outra colônia, desligado do resto do
Brasil por uma barreira legal e administrativa. Em 1771, a Coroa passou a ocupar-se da
mineração, criando a Real Extração dos Diamantes. Um código de leis específico, o
Regimento de Diamantina, regia as atividades no distrito, sendo conhecido como “Livro da
Capa Verde”. Mas nem a Lei e a repressão foram suficientes para impedir a luta entre as elites
tijucanas e o contrabando de diamantes pelos aristocratas, garimpeiros e “quilombolas”.
De todos os pontos da Capitania, o Tijuco era que entretinha relações mais imediatas,
não só com a metrópole, por meio dos correios diretos e enviados à Extração, como os outros
países da Europa, em razão do contrabando que, de contínuo, se fazia pela Bahia e Rio de
Janeiro, principalmente com a Holanda, Inglaterra, quase os únicos consumidores dos
diamantes brutos extraviados.
3 Vasos de barro utilizados no serviço de separação de diamantes e cascalhos.
20
Somente em 1831, o arraial foi elevado à categoria de Vila e, em 6 de março de 1838,
à cidade de Diamantina. Entretanto, foi como centro de prestação de serviços e de comércio
regional do Alto Jequitinhonha que Diamantina se destacou, principalmente após sua elevação
à condição de cidade em 1838. A segunda metade do século XIX e a primeira metade do
século XX são marcadas pela dinamização do comércio, da indústria e da educação. Assim,
Diamantina passa a ser conhecida como a “Atenas do Norte”, alcunha que as elites deram à
sua cidade na passagem do século XIX para o século XX. Isso demonstra um indício
revelador da atenção devotada à alta cultura nessa porção do Vale do Jequitinhonha,
notabilizada pelas serestas, os arraiolos, os saraus e as trovas – essas manifestações tão
portuguesas na origem (FERNANDES E CONCEIÇÃO, 2003, p. 11). Percebe-se nas idéias
desses autores que a influência européia marcou profundamente a cultura local, reforçando a
identidade cultural na cidade.
Os arquivos musicais diamantinenses são testemunhos dessa afirmação e milhares de
músicas foram compostas pelos artistas locais. Destacaram-se as bandas de música, que
formaram várias gerações de artistas. As bandas “corinho” e “corão” são exemplos de suas
habilidades artísticas daquela época.
Entretanto, nos últimos anos, a escassez das minas produziu um declínio avassalador
em sua economia, que retirou do município a condição de gerar empregos à população de
mais de 40.000 habitantes. Entendemos, assim, que os diamantes do Arraial do Tijuco
entraram para a história do Brasil, das Minas Gerais e da Coroa Portuguesa. A história da
exploração dos diamantes é clássica. Mais de duzentos anos depois da descoberta do primeiro
diamante, as minas se esgotaram, o comércio de pedras decaiu e o insistente garimpo teve
seus dias contados. A atividade representa hoje apenas 10% da economia local, quando já
representou 70 a 80%. Mas o produto de toda uma era de riquezas é que tornou a cidade
patrimônio de todos os homens da humanidade.
21
Nos últimos dois séculos, principalmente a partir do início do século XX, a decadência
econômica fez com que a cidade se voltasse novamente para suas raízes históricas e culturais.
Logo, com uma história de quase 300 anos, Diamantina, atualmente, resgata suas raízes
culturais, através de grupos folclóricos, festas religiosas, gastronomia, arquitetura,
musicalidade (vesperatas, concertos, serestas) e no modo de ser de seu povo. Hoje a cidade
faz parte da Estrada Real4 e Circuito dos Diamantes, além de ser uma das cidades históricas
mais singulares no Brasil.
Esse fortalecimento da identidade cultural contribuiu para que no dia 1º de Dezembro
de 1999, a cidade de Diamantina recebesse o título de Patrimônio Cultural da Humanidade,
sendo reconhecida além de suas fronteiras, pelas suas manifestações culturais expressadas na
arquitetura, na arte, na música, na poesia e no modo de vida da população da comunidade
local. Resumindo, a ocupação e o povoamento da cidade deram-se em conseqüência da
exploração do diamante, possibilitando, não apenas, o desenvolvimento econômico, mas
também o político e cultural, revelando, assim, pessoas como: Intendente Câmara, Padre
Rolim, João Fernandes, Chica da Silva, Lobo de Mesquita e Juscelino Kubitschek.
1.2. A cultura de Diamantina: um olhar sociológico sobre a religião e a música
Falar da cultura de Diamantina, ou mesmo de outro lugar, requer uma reflexão sobre
os aspectos histórico-geográficos abordados anteriormente, através de uma análise
aprofundada dos elementos da construção social dos sujeitos e suas práticas no tempo e no
4 A Estrada Real abrange 177 municípios em três estados: 162 em Minas Gerais, oito no Rio de Janeiro e sete em São Paulo. Desde sua fundação, em 1999, o Instituto Estrada Real, desenvolveu e executou muitos projetos para diagnosticar os potenciais de cada região, melhorando a infra-estrutura turística, sensibilizando e capacitando as comunidades, com o objetivo de atrair turistas, considerando oportunidades e investimentos nas mais diversas áreas, como o ecoturismo, turismo rural, turismo de saúde, turismo religioso, turismo esotérico, turismo de negócios, turismo gastronômico, turismo histórico e cultural.
22
espaço. Alguns desses elementos, e nós insistimos aqui, frutos de uma construção social e
histórica dessa cidade mineira, se transformaram e foram transformados em potenciais
produtos turísticos que são ofertados atualmente no município.
De acordo com Santos (1978, p. 115), devido ao grande número de pessoas oriundas
de toda parte do mundo que se estabeleceram na região, “notável alteração sofreram os
costumes de um povo, isolados neste lugar”.
A religiosidade, desde os tempos do Arraial, era expressa com muito vigor e
assiduidade entre os moradores do Tijuco. Nesse sentido, para cada instituição religiosa
criada, promovia-se uma festa dedicada ao dia do seu Santo de devoção, oportunidade em que
se tornava patente a rivalidade entre as classes sociais. Além dessas festas e suas procissões, o
calendário litúrgico era vasto. Havia ainda as procissões maiores, como os cortejos da Semana
Santa, Corpus Christi e Santíssimo Sacramento (FERNANDES E CONCEIÇÃO, 2003).
O papel que as instituições religiosas, as Irmandades e Confrarias desempenhavam em
Minas Gerais e especificamente no Arraial do Tijuco, por excelência, não se constituíram em
instrumentos contestatórios, ao contrário, ofereceram estabilidade para a constituição da
ordem social e política da Minas setecentista (PAULA, 2000).
Ainda hoje, percebe-se que o calendário religioso da cidade preserva algumas
tradições do passado, como, as festas do Rosário e Divino, realizadas pela primeira vez em
1745. Anualmente, após a Páscoa, no entorno da Capela Imperial do Amparo, louva-se a
Deus, na Folia do Divino, onde caboclinhos se apresentam, numa manifestação cultural de
origem afro-indígena.
Um outro aspecto indissociável no que diz respeito à religiosidade e às instituições
religiosas foi a produção musical do Arraial do Tijuco. A música setecentista era estritamente
associada à vida religiosa das irmandades: eram festas, procissões, cortejos, nos quais a
23
contratação de músicos e o incentivo para sua produção estavam intimamente ligados ao
triunfo da fé (FERNANDES E CONCEIÇÃO, 2003).
Esse costume atravessou séculos, razão pela qual, até os dias atuais em Diamantina, a
música se faz presente, ano após ano, em inúmeros eventos musicais: Serenatas, Concertos
em Igrejas, Circuito de Corais, Encontro Musical Lobo de Mesquita, Vesperatas, entre outros.
Em cada bairro e em cada rua de Diamantina há um bom instrumentista que leva
adiante o gosto pela música que essa gente de minas cultiva desde o século XVIII, a tal ponto
que as apresentações das bandas de música diamantinenses tornaram-se fator de atração
turística na cidade.
A musicalidade natural que se incorpora no ethos não só de Diamantina, mas também
de outras cidades históricas de Minas Gerais, como Ouro Preto, Mariana, São João Del Rey e
Sabará representam um campo permanentemente aberto para novas investigações científicas.
É a partir da edificação secular de cidades históricas como Diamantina que se impõe o
poder da fé da Igreja Católica. A religiosidade exigia, em tempos tão inóspitos como os dos
séculos XVII e XVIII, o permanente louvor que religava os homens e Deus, fazendo com que
sacerdotes e devotos se encaminhassem para a música, como melhor forma de bendizer o
Senhor.
Assim também ocorre no Arraial do Tijuco, marcado por paragens, por igrejas, por
silêncios e recolhimentos, por montanhas severas, reverenciados pela música sacra e, quando
não, por festejos profanos. A musicalidade diamantinense acompanha gerações de músicos
que alegram suas ruas e becos, mas que também sabem da sua histórica missão de apostolado
e catequese.
Nesse cenário, as Irmandades utilizavam da música para festas, missas, festividades,
procissões, alvoradas, quermesses, novenas, marujadas, ladainhas, retiros, terços, tríduos e
trezenas. Dessa forma, segundo Fernandes e Conceição (2003), as Irmandades contribuíram,
24
sobremaneira, para o reconhecimento e a manutenção da música como um ofício consolidado
e seguro para o músico setecentista na Capitania das Minas Gerais. Esse mesmo processo foi
similar no Arraial do Tijuco.
Pode-se perceber, como foi exposto acima, que a musicalidade presente na cidade
perpassa 300 anos de história aproximadamente. Sustentado por uma vigorosa economia
mineradora, diamantífera e aurífera, um ambiente musical intenso e poderoso desenvolveu-se
no Arraial.
A tradição musical portuguesa, bem como a do próprio negro africano, e a nostalgia
provocada pelo isolamento nas montanhas do interior do país são algumas das explicações
que alguns historiadores estabelecem para a presença marcante da música, em todo e qualquer
acontecimento social, desde os primórdios da formação do Tijuco.
Entre os diversos lugares sociais ocupados pelos músicos, as bandas de música
criadas no século XIX em Diamantina exerceram papel fundamental para a preservação da
musicalidade tijuquense, principalmente porque assumiram a responsabilidade de funcionar
como uma escola para capacitação do músico aprendiz. Dessa forma, de acordo com a
(Figura 02), ocorriam, com freqüência, apresentações musicais dessas bandas na cidade, as
retretas, sinônimo de entretenimento e lazer para os diamantinenses.
25
FIGURA 2 - Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1967. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007, p. 138.
De acordo com os arquivos da BAT (Biblioteca Antônio Torres), a primeira banda
organizada de Diamantina, é a chamada Corinho5, fundada em 1852, tendo como regente o
maestro Antônio Efigênio de Souza, o maestro “Paraguay”. Ainda na segunda metade do
século XIX, foi criada a Banda Corão6, regida pelo maestro Cláudio Augusto Ribeiro de
Almeida. Essas duas bandas disputavam a supremacia musical da cidade e com o novo
Bispado, intensificou-se a “encomenda” de composições musicais para os cultos e ritos
principais.
Outras bandas menores surgiram no período, como a Banda Caramuru, que depois
passou a se chamar Banda Minoria. Esta rivalizava-se com a Banda Chimanga, regida por
5 BAT. Cadernetas de Anotações de José Teixeira Neves. Cx 2, caderneta 3, fl 1. 6 BAT. Jornal Voz de Diamantina, ano VII, n .44, p. 3. 03 de set. 1944.
26
João Batista de Macedo, conhecido como maestro “Piruruca” e por prestar serviços à
Irmandade maiorista do Amparo, passou a ser chamada Banda Maioria.
Entre os compositores e maestros dessas bandas, um deles foi reconhecido e destacou-
se por sua genialidade, o maestro Piruruca (pai). Seu filho, nascido em 1857, recebeu o
mesmo nome do pai, João Batista de Macedo e, por conseqüência, o mesmo apelido. Nascido
em um ambiente favorável e fecundo no que diz respeito à musicalidade, ele superou o dom
artístico do pai e, aos doze anos de idade, compôs suas primeiras peças musicais.
Mudou-se de Diamantina muito cedo, à procura de oportunidade profissional e logo se
estabeleceu em Ouro Preto, na época Capital de Minas Gerais. Seu primeiro contato com a
Polícia Militar ocorreu em Ouro Preto, quando ingressou no Corpo Policial da Capital, no
posto de Chefe da Banda de Música. Morou nas cidades de Sabará e Conselheiro Lafaiete,
sempre exercendo a profissão de músico. Seu retorno à Corporação Militar deveu-se a seu
relacionamento com o deputado eleito em 1881, o diamantinense João da Matta Machado que,
gozando de livre acesso no governo brasileiro, convidou o maestro para fazer uma
apresentação para Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Foi presenteado pelo Imperador com uma
clarineta de cristal e uma batuta de prata (COUTO, 1954).
Em aproximadamente 1890, alguns anos depois da apresentação no Rio, foi
convocado para formar a Banda Policial do Estado de Minas Gerais, sendo nomeado Alferes
Mestre da Música.
Segundo Fernandes e Conceição (2003, p. 58), em 1891, o maestro João Batista de
Macedo foi transferido para o 4º Corpo Militar de Polícia de Minas Gerais, sediado em
Diamantina. Nessa época as bandas da cidade já faziam parte do cenário cultural da cidade e
região, e “exerciam a função social de concorrer para a educação artística da população, por
meio de manifestações de caráter comunitário”. A Banda Militar também passou a cumprir
27
esse papel social, passando a oferecer, assim como as Bandas Corinho e Corão, as retretas que
eram apresentações musicais nos coretos, jardins ou praça pública da cidade.
Vale salientar que a participação do maestro da Banda do Corpo Militar favoreceu
uma inovação durante as retretas, que eram executadas no coreto que existia na praça em
frente ao atual prédio da prefeitura de Diamantina. Fernandes e Conceição (2003, p. 60)
relatam que ele:
...dividia a Banda Militar em três partes, colocando o corpo principal no coreto da praça, ao lado da Igreja da Sé, uma segunda turma na grade da Rua Direita e uma terceira em frente à entrada principal do prédio da Câmara. Passou a destacar os solistas, utilizando as sacadas das janelas dos sobrados estabelecidos nessa praça.
Devido a seu estado de saúde precário, faleceu em 1895, aos 38 anos de idade,
deixando muitas composições e uma idéia que muitos anos depois se transformaria na
Vesperata de Diamantina. Mesmo com a perda de um grande musicista, a tradição das retretas
não caíram no esquecimento. Muitos maestros que o sucederam como regente da Banda
Militar mantiveram sua inovação.
De acordo com relatos de residentes de Diamantina, que presenciaram essas
apresentações, uma música específica deu origem à idéia do maestro Piruruca em definir tal
disposição dos músicos: La Mezza Notte, autoria de M. D. Carline. A atitude do maestro, em
destacar os solistas nas sacadas, foi proporcionada pela melodia dessa música. Com a
tradução do nome da música para o português, Meia Noite, ao que tudo indica, a população
vinculou o fascínio exercido pela execução da música aos imperativos dos cânticos de louvor
ao Senhor, em seu sentido celestial e angelical. Por isso, o evento passou a se chamar “O anjo
da Meia Noite”.
A Banda do 3º BPMMG de Diamantina, ano após ano, foi ganhando destaque e
reconhecimento, (FIG. 03). E a disposição da Banda foi mudando, de acordo com a sucessão
dos maestros, como também pela reforma urbana daquela praça onde era realizado o evento.
28
Assim, ao longo do tempo, os maestros utilizaram, de diversas formas, as sacadas dos
sobrados para a interpretação das retretas.
FIGURA 3 - Banda do 3° Batalhão da PMMG/Diamantina-MG, 1934. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007, p.123.
Devido a um calendário extenso e de novas opções de lazer para a população, as
retretas continuaram acontecendo nas décadas seguintes à de 30, mas em uma freqüência bem
menor, pois o golpe militar de 64 coibia as aglomerações de pessoas nas ruas, alterando
conseqüentemente as apresentações da Banda da Polícia Militar de Diamantina.
Em 1997, criou-se a Comissão por Diamantina Patrimônio Cultural da Humanidade,
cujo objetivo era sugerir e realizar ações para que a cidade fosse elevada, pela UNESCO, a
Patrimônio da Humanidade. O trabalho dessa comissão era elaborar um dossiê e seus
membros foram escolhidos “dentre pessoas reconhecidas pelos seus laços de solidariedade,
cooperação, estudos e apoio às causas culturais e à preservação do patrimônio histórico e
natural de Diamantina” 7.
7 Decreto Municipal 2402, de 17 de março de 1997, Arquivo da Prefeitura Municipal de Diamantina.
29
Um dos membros escolhidos foi o historiador Monsenhor Walter de Almeida, que
contribui sobremaneira na elaboração do dossiê. Entre suas observações, destacou que o
Arraial do Tijuco possuía uma musicalidade que ultrapassou, em diversos momentos, a das
maiores expressões portuguesas e, mais, igualava-se à dos principais mestres europeus.
Revelou também que, em Diamantina, as famílias realizavam os chás vesperais,
originadas na tradição inglesa de se tomar chá aos finais da tarde. Não raramente, essas
reuniões se transformavam em saraus, que eram encontros sociais de característica lítero-
musical, realizado entre amigos, nas casas de famílias. O Monsenhor chegou a afirmar que as
tardes em Diamantina eram verdadeiras tardes vesperais. Esse termo, vesperal, segundo o
relator, retratava o sentido de espetáculo, de concerto, para adjetivar as tardes diamantinenses,
pela qualidade e requinte de sua musicalidade.
Como o Monsenhor Walter de Almeida era Major da Polícia Militar em Diamantina,
relatou também para os membros da comissão detalhes da vida do Maestro Piruruca e as
tradições da Banda de Música da Polícia Militar. Contou sobre as retretas e a divisão dos
músicos nas sacadas para praticar a provocação musical.
Foi a partir desse momento que o Monsenhor sugeriu a alguns membros da comissão a
volta da Banda para as sacadas, como atração cultural a ser recuperada e oferecida em
Diamantina.
Para comemorar o lançamento do Programa Nacional de Turismo Cultural do Ministério
da Cultura, em 1997, a tradição das retretas, idealizada pelo Maestro Piruruca, voltou a acontecer.
Agora, além da Banda do 3º Batalhão da Polícia Militar (FIG. 04), a Banda Mirim Prefeito
Antônio de Carvalho Cruz (FIG. 05) passou a compor esse novo cenário. A realização do evento
passou a ser realizado na Rua da Quitanda e com um novo nome: Vesperata.8
8 Como informam Fernandes e Conceição (2007): “O nome Vesperata é uma adaptação do termo vésperas, da mesma forma que das matinas eclesiásticas que antecediam habitualmente as missas das almas adaptou-se o termo matinada. Que das serenas – canção trovadoresca adaptou-se o termo serenata, que a partir da Itália, influenciou a Corte Portuguesa”.
30
FIGURA 4 - Músicos da Banda do 3° Batalhão, em noite de Vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza
FIGURA 5 - Adolescentes da Banda Mirim, em noite de Vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza
A Vesperata, nas suas atuais configurações, vem ocorrendo desde 1997, de acordo
com o informativo do Ministério da Cultura (FIG. 06). A partir de então, ela vem perpassando
um processo de várias modificações que tangem desde o repertório até a disposição do
público que assiste ao evento. No início, as pessoas se assentavam na rua, assistiam ao
31
espetáculo nos passeios, de pé. Aos poucos, o evento foi criando maiores proporções e não
somente os diamantinenses, mas um número considerável de turistas passou a visitar
Diamantina, principalmente após a elevação da cidade a Patrimônio Cultural da Humanidade,
pela UNESCO, em 1999, com o objetivo de conhecer e presenciar o espetáculo musical da
Vesperata.
Nesse sentido, muitos hotéis, pousadas, restaurantes, lojas comerciais foram
concretizados a fim de atender a essa demanda crescente de turistas que a cidade passou a
receber. Concomitantemente à vesperata, as tradições seculares, arquitetura e cultura de
Diamantina passaram também a despertar o interesse das pessoas.
32
FIGURA 6 - Informativo do Ministério da Cultura sobre a Vesperata, 1997. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007, p.177.
Esse processo foi aos poucos solicitando maior conforto, pois o número de turistas
foi aumentando e assistir à Vesperata assentado em um passeio, com várias pessoas
transitando foi-se tornando um incômodo às proporções que o evento estava tomando.
A partir dessa ótica de percepção, os bares das imediações concluíram que a
colocação de mesas na rua seria um facilitador, não só do conforto, mas também do
consumo. E assim, de um contingente baixíssimo de mesas, hoje a rua da Quitanda
encontra-se completamente tomada pelas mesas que não são mais pertencentes unicamente
aos bares percussores dessa iniciativa, mas dividem-se também entre as pousadas e agências
33
de viagens de localidades distintas, que fecham o pacote da estadia em parceria,
proporcionando ao turista o passaporte para que se assista ao espetáculo, ou seja, a compra
da mesa. Anteriormente a mesa não era paga, ao contrário do que ocorre atualmente, além
do valor pago pelo o que se consome, a mesa possui um valor fixo.
Ainda assim, a dimensão provocada pelo evento não se restringiu ao processo que
levou à cobrança pelas mesas. Foi necessário que se colocasse em torno do espaço destinado a
elas, um cordão de isolamento que garantisse aos pagantes maior conforto e segurança.
Hoje, é fato que a manifestação cultural Vesperata, diferentemente do que acontecia no
passado, se tornou um evento para o turista e não mais uma opção de lazer para a população.
Pode-se dizer que não há exclusão, já que todos podem ver e ouvir toda a Vesperata, mas não
há como negar que, simbolicamente, as pessoas de Diamantina, pelo menos aquelas que não
podem pagar, estejam fora, literalmente, do espetáculo.
FIGURA 7 - Noite de Vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza
34
Existe ainda uma particularidade, um calendário que rege as apresentações ao longo
do ano e caso haja algum grupo, pessoa física ou jurídica que queira assistir a uma
apresentação fora das datas previamente divulgadas, é possível comprar a apresentação da
manifestação por R$ 8.000,00. Esse valor representa a auto-suficiência do evento. Todas
essas definições foram sendo estipuladas ao longo do tempo e esse aperfeiçoamento vem
sendo adquirido, calcado nas decisões delegadas pela denominada Comissão da Vesperata.
Essa realiza reuniões nas quais são discutidos desde problemas mínimos referentes aos
“hippies”, por exemplo, que possam causar algum incômodo, até o aumento dos valores das
mesas que foram aumentando e passaram do valor inicial de R$ 3,00 até alcançarem o valor
atual de R$ 64,00. Essa comissão possui um representante de cada setor responsável pela
ocorrência do evento, ou seja, um representante dos hotéis e pousadas que faz parte do mapa
de venda de mesas, um representante dos bares, outro da sonorização, outro das bandas, um
representante da prefeitura, outro da secretaria de turismo e cultura, um outro da agência de
receptivo local e assim por diante. Dessa forma, as apresentações têm ocorrido de acordo
com o calendário que as rege e algumas outras a pedido de particulares. A Comissão está
atuando na solução das pendências e na busca de melhorias a fim de que o evento continue a
perdurar sempre com sucesso.
Mediante o cenário apresentado, percebeu-se a necessidade de verificar até que
ponto o turismo pode se apropriar da manifestação cultural Vesperata e transformá-la em
produto turístico descaracterizando-a e, ainda, avaliar o grau de envolvimento da
comunidade local com a Vesperata, detectando sua importância para o desenvolvimento
sócio-econômico e cultural do município de Diamantina e identificando o ponto de vista
dos autóctones em relação às mudanças ocorridas em relação à manifestação.
Nesse sentido, faz-se necessário investigar os elementos contidos nas RS construídas
acerca da Vesperata pelas diferentes categorias sociais da comunidade local de Diamantina
35
a fim de apreender aspectos que possam melhor orientar a prática do turismo cultural. Para
tal busca-se a Representação Social como teoria e método, definida por Moscovici (1976)
como um conjunto de idéias, opiniões, valores, preconceitos e estereótipos que os
indivíduos têm sobre um objeto social. Esses elementos são fomentadores da construção da
identidade entre o sujeito e o objeto. Nesse conceito, a Vesperata é considerada como um
objeto da Representação e reflete num saber que os indivíduos de uma dada sociedade ou
de um grupo social elaboram acerca de um segmento de sua existência ou de toda a
existência (LAPLANTINE, 2001).
36
CAPÍTULO II
O CONCEITO DE CULTURA E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO CULTURAL E
O FENÔMENO DA ESPETACULARIZAÇÃO
Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação (GUY DEBORD)
O presente capítulo visa aprofundar considerações em torno do conceito de cultura,
relacionando-o com o turismo cultural e o fenômeno da espetacularização da cultura,
principalmente quando se fala na apropriação de certas características culturais de
comunidades pela atividade do turismo. Vale salientar que o termo cultura apresenta muitas
acepções teóricas. Nesse sentido, faz-se necessário, à luz dos autores, uma análise conceitual
desse termo, que sirva de base para melhor compreender o conteúdo das representações
sociais sobre os elementos turísticos e culturais da Vesperata em Diamantina-MG.
Inserida nesse contexto, a Vesperata nos remete a todos esses termos citados acima,
uma vez que representa um valor cultural e histórico do povo de Diamantina, além de ser
reconhecida atualmente como um produto turístico-cultural que a cidade oferta aos visitantes.
Segundo Warnier (2000), cultura é entendida como uma totalidade complexa
constituída por normas, por hábitos, por repertórios de ação e de representação, adquiridos
pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Assim, para o autor, “as culturas são feitas
37
de práticas religiosas, educativas, alimentares, artísticas e lúdicas e dizem respeito também às
regras de organização do parentesco, da família e dos agrupamentos políticos” (p.16).
Corroborando com as idéias de Warnier (2000), Ortiz (1994) admite que cultura diz
respeito a um movimento de criação, transmissão e reformulação do ambiente artificial criado
pelo homem através de sistemas simbólicos. Destarte, a cultura seria um “produto da
atividade humana”, aludindo-se não só à toda produção material, monumentos, objetos, mas
também à produção simbólica, resultante de diversas manifestações. Destacam-se aqui os
usos, costumes, tradições, crenças populares, sistemas religiosos.
Para o antropólogo Geertz (1989, p. 56), a função da cultura seria a de controlar e
ordenar o comportamento do homem. Logo, como tem sido interpretada até agora, ela não
pode ser apenas complexos de padrões concretos de comportamento: costumes, usos,
tradições, feixe de hábitos, mas também se resume a um conjunto de mecanismos de controle,
tais como planos, receitas, regras e instruções, para governar o comportamento.
Nessa perspectiva, pode-se entender a cultura como uma condição essencial para a
existência humana, ou seja, sem ela os homens seriam ingovernáveis. Por isso precisamos de
sistemas simbólicos e padrões culturais para nos orientar. Aqui, buscamos ainda as idéias de
Laraia (2005), quando afirma que a cultura não pode ser explicada pelos determinismos
biológicos ou geográficos. Ela depende do aprendizado que explica a diversidade do
comportamento humano e, é explicada por Santos (2005) através de vários significados que
lhes são atribuídos. Nesse contexto, a cultura é traduzida como manifestações artísticas, festas
e as cerimônias tradicionais, as lendas e crenças de um povo, seu modo de vestir, sua comida
e seu idioma.
Observa-se que, em todos os conceitos supracitados, a cultura está intimamente associada
ao simbolismo, representação, transmissão, manifestação e aprendizado, orientando o homem,
38
enquanto membro de sociedades diversas, a agir e interagir nos diferentes grupos sociais em
que estão inseridos.
Em resumo, a maioria das idéias dos autores tem suas acepções nos pressupostos da teoria
dos sistemas, da fenomenologia e das representações sociais, pois a cultura é um conjunto de
elementos interligados e funcionais. Os elementos da cultura têm uma relação entre o todo e
as parte (BOMFIM, 2004; MERLEAU PONTY, 1982; MOSCOVICI, 1976). Entender a
cultura, nessa concepção, envolve o ato de sentir, perceber, representar e construir uma
imagem de mundo. Por sua vez, implica em reconstruir a manifestação cultural – Vesperata –
através do significado que lhe é atribuído pelos sujeitos.
O novo paradigma sobre o que seria cultura, a partir do século XX, reforça sua
dependência ao processo da globalização. No entender de Mcgrew apud Hall (2003), este
fenômeno refere-se aos processos atuantes em escala mundial, atravessando fronteiras
nacionais, integrando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo,
tornando o mundo, em realidade e em experiência, muito mais interconectado. Assim, a
cultura é concebida como mercadoria, passando por um processo de hibridização9,
“expandindo-se como nunca para as esferas políticas e econômicas, ao mesmo tempo que as
noções convencionais de cultura se esvaziam muito” (YÚDICE, 2004, p. 25). Dessa maneira,
segundo o autor, a cultura de nosso tempo é caracterizada como uma “cultura de globalização
acelerada”. (ibidem).
Com a aceleração e intensificação do processo de globalização surge, no século XX,
uma nova visão sobre cultura, que alguns autores consideram como cultura econômica ou
cultura mercadoria, na qual a noção de produção se generaliza e a cultura passa a ser vista
como instrumento de desenvolvimento econômico (VAZ e JACQUES, 2001).
9Hibridização: “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas” (CANCLINI, 2003).
39
Portanto, segundo Featherstone (1997, p. 21), no processo de globalização duas
imagens de cultura são reveladas:
A primeira imagem pressupõe a extensão de uma determinada cultura até seu limite, o globo. As culturas heterogêneas tornam-se incorporadas e integradas a uma cultura dominante, que acaba por cobrir o mundo inteiro. A segunda imagem aponta para a compressão das culturas. As culturas se acumulam umas sobre as outras, se empilham, sem princípios óbvios de organização.
Dentro dessa abordagem, a primeira imagem representaria uma cultura global, um
lugar onde todos se tornam assimilados a uma cultura comum, enquanto a segunda imagem
sugere maior movimento e complexidade cultural.
Para esse autor, o pós-modernismo e o pós-colonialismo têm apontado para o
problema da complexidade cultural, no qual ascende a cultura em esferas cada vez maiores na
vida social, principalmente através de maior produção, mistura e sincretismo das culturas que,
antigamente, eram mantidas separadas e firmemente ligadas a relacionamentos sociais. Enfim,
ele considera que, o “pós-modernismo, pode ser entendido como algo que aponta para o
processo de fragmentação cultural, para o colapso das hierarquias simbólicas e para
descentralização da cultura” (ibidem, p. 31).
Hall (2003), em conformidade com essas idéias, argumenta que uma mudança
estrutural, desde os fins do século XX, está transformando as sociedades modernas, sendo
perceptível nas fragmentações das paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia,
raça e nacionalidade que, no passado, nos forneciam sólidas localizações sociais.
Bhabha (1998, p. 245), no livro O local da Cultura, discursa sobre as transformações
ocorridas na pós-modernidade, referindo-se principalmente às diferenças e às diversidades
culturais e as identidades dos sujeitos plurais, afirmando que “a cultura se torna uma prática
desconfortável, perturbadora, de sobrevivência e suplementaridade entre a arte e a política, o
40
passado e o presente, o público e o privado, na mesma medida em que seu resplendor é um
momento de prazer, esclarecimento ou libertação”.
Por outro lado, Hall (2003) acrescenta que existem no mínimo três tendências
evidenciadas em relação à homogeneização cultural. O primeiro ponto de observação seria a
de que ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma fascinação
com a diferença e com a mercantilização da etnia e da alteridade10. Com o impacto do global,
há um novo interesse pelo local. Vale salientar que essa nova dinâmica, em que o global
funciona como ferramenta para dar visibilidade ao local, faz com que a cultura mundial seja
moldada através de um aumento mais intenso do entrelaçamento entre diversas culturas
locais.
Como segunda tendência, Hall, apud Massey (2003), chamou de “geometria do
poder” da globalização, ou seja, a globalização é desigualmente distribuída ao redor do
mundo, entre regiões e diferentes estratos da população. E como última, configura-se no
questionamento sobre o que, quem e onde será mais afetado pelo processo de globalização, já
que o fluxo é desequilibrado e impõe relações desiguais de poder entre o “Ocidente” e o
“Resto” do mundo.
Assim, através das idéias contidas nessa discussão teórica, pode-se inferir que a
curiosidade, o fascínio das pessoas pelas culturas locais, pode despertar um interesse maior
por uma atividade específica: o turismo cultural. Essa premissa pode ser associada ao objeto
social deste estudo, a Vesperata. Nesse raciocínio hipotético, o simbolismo, as manifestações
culturais, as identidades, o modo de vida das pessoas que gravitam ao redor da aldeia global
(aqui entendida como as grandes cidades, centros urbanos etc) passaram a ser ofertados,
através da atividade turística, como uma alternativa de conhecimento, sustentabilidade,
aumento da auto-estima, lazer e descanso entre outros, para as pessoas que querem perceber e
10 Tem sido comum que os estudos de antropologia cultural se concentrem em grupos humanos geográfica e etnicamente distantes do pesquisador – o índio, o caboclo afastado de núcleos urbanos, o caiçara arredio – enfim, o “outro”. PELLEGRINI, Filho. Ecologia, cultura e turismo. Campinas, SP: Papirus, 1993.
41
experenciar situações além do seu cotidiano. Nesse sentido, o turismo cultural emerge como
uma alternativa de interesses e valorização das culturas locais pelos turistas, os quais se
voltam para a vivência dos aspectos culturais mais relevantes, evidenciando as singularidades
e o exotismo dos lugares visitados. Logo, é possível que o turismo cultural veicule uma
imagem estereotipada de lugares turísticos, levando o turista a criar no seu imaginário um
lugar ideal, cujo cenário é espetacularizado para atender às suas necessidades.
Para fundamentar essa idéia, Ferrara (1999, p. 15) afirma que o “simbólico é um
produto cultural que cria tramas fictícias mais duradouras do que as urdidas pela frágil
realidade”. Toma-se, pois, como exemplo, os bens materiais que carregam consigo uma carga
simbólica significativa – artística, histórica, mítica, religiosa, política, social e econômica - e é
justamente essa riqueza de carga simbólica que vai caracterizar a singularidade dos produtos
privilegiados da cultura.
Entretanto, compreender a relação entre a cultura e o turismo como fenômeno social e
econômico recente implica na possibilidade de valorização das comunidades locais, bem
como na geração de renda, que promova a qualidade de vida e a preservação dessas culturas
locais. Esses elementos teóricos podem nos ajudar a perceber como se dá a expansão do
turismo cultural, bem como a existência de uma oferta considerável de produtos que evocam o
patrimônio histórico e cultural e buscam valorizar a memória coletiva e a identidade dos
grupos sociais em Diamantina – MG.
Nesse contexto, entende-se o turismo cultural como uma prática que necessita de um
deslocamento e que favorece a interação da cultura [local], com o conhecimento de outras
culturas, através da descoberta de um patrimônio e de seu território. Sendo assim, ele é o
acesso ao patrimônio cultural, ao modo de viver de uma comunidade, caracterizando-se,
também, pela motivação do turista em conhecer regiões onde seu alicerce está baseado na
história de um determinado povo, nas suas tradições e nas suas manifestações culturais,
42
históricas e religiosas. Portanto, o turismo cultural, além de seus efeitos sobre a economia
local, pode contribuir para a coesão social, a identidade local e regional e o desenvolvimento
comunitário. Esse tipo de turismo está diretamente relacionado ao esforço e trabalho de
preservação de valores culturais. Assim sendo, o turismo cultural se torna responsável e
comprometido com o fortalecimento da identidade, a preservação da memória e do patrimônio
cultural dos destinos turísticos (CLUZEAU apud SACRAMENTO, 2006; DIAS, 2003;
MOLETTA, 1998).
O turismo cultural só vem contribuir para o desenvolvimento local e auto-estima dos
autóctones, se for planejado de acordo com a realidade local, respeitando as peculiaridades e
autenticidade dos fatos culturais, mas verifica-se que isso não tem acontecido. Muitos são os
exemplos de lugares que hoje perderam sua identidade, através do turismo sem planejamento
e gestão eficazes, atendendo a interesses econômicos e mercadológicos. Segundo Carlos
(2002), cidades inteiras se transformam com o objetivo precípuo de atrair turistas, e esse
processo provoca, de um lado, o sentimento de “estranhamento”, para os que vivem nas áreas
que num determinado momento se voltam para a atividade turística e, de outro, transforma
tudo em espetáculo e o turista em espectador passivo.
Quando falamos em manifestações culturais populares (festas, danças, culinária,
artesanato), despertamos um interesse inequívoco nas empresas de turismo e entretenimento,
pois esse é meramente econômico, transformando essas manifestações em produtos de
consumo de escala global. De acordo com Trigueiro (2005), para os mega-grupos econômicos
a cultura tradicional não deve ser apenas popular, mas “popularesca”, consumida por maior
número de pessoas e espetacularmente exibida.
Atualmente, em diferentes regiões do Brasil, graças ao turismo, os festejos
(tradicionais, folclóricos e religiosos) evoluíram em direção a uma representação elaborada,
complexa, e alguns casos luxuosos. Gastal (2005, p. 26) corrobora que “a espetacularização
43
em termos de visualidade presente em praticamente todos os momentos da vida
contemporânea leva a que a nova sociedade de consumo assuma, cada vez mais, uma
dimensão estética”.
Por sua vez, o turismo cultural, enquanto atividade econômica, atendendo à lógica do
capitalismo, revela-se na atualidade em grande transformador da valorização dos espaços,
sendo que estes se tornam mercadoria para os turistas.
Surge, dessa forma, a necessidade de monitoramento científico do fenômeno, uma vez
que a atividade se justapõe às crenças, aos valores, às opiniões, às idéias, aos hábitos, aos
costumes , aos modos de vida e às identidades.
Destarte, considerando os impactos negativos causados pelo turismo sobre as culturas,
destacamos a mercantilização, autenticidade encenada ou espetacularização da cultura
(COOPER et al. 2001; OURIQUES, 2005). Assim, Carvalho (2007), ao discutir sobre a
construção simbólica do turismo, nos relata que o legado cultural, transformado em produto
para o consumo, perde seu significado. Para ele, a massificação dessa atividade contribui para
a divulgação de estereótipos que tentam representar a riqueza cultural de cada região e de
cada povo escolhido como destino turístico.
Para satisfazer à demanda turística, a comunidade se adapta paulatinamente à lógica
econômica, adaptando seu cotidiano às necessidades dos visitantes, a ponto de perder seus
referenciais. Assim, podemos destacar a valorização e as representações da cultura popular
como produto turístico.
Para esse autor,
Artesanato, pinturas, esculturas, utensílios de uso prático familiar e profissional são comercializados como souvenires dos locais, havendo ainda as apresentações de cantores e grupos de dança e teatrais que, mesmo com alguma originalidade, parecem perder sua autenticidade, a cor local, ao serem apresentados para os turistas (CARVALHO, 2007, p. 44).
44
Desse modo, percebe-se uma demanda crescente por produtos turísticos que ofereçam
uma autenticidade cultural. Os visitantes querem presenciar, “ver de perto”, os fatos “reais”
que cercam tais culturas. As destinações têm utilizado sua herança cultural, como forma de
marketing para atração de turistas numa escala cada vez maior.
Para exemplificar, Colonial Williamsburg, nos Estados Unidos, está associada às
idéias de autenticidade encenada e espetacularização. Na segunda metade do séc. XX, a
cidade foi redescoberta e totalmente reconstruída. Esse modelo de preservação foi bastante
criticado pela sua artificialidade ou “inautenticidade”. A recriação não atingiu apenas os
prédios, as ruas e os objetos, ela assumiu também um aspecto dramático na reencenação, por
uma grande equipe de atores, do cotidiano de Williamsburg do séc. XVIII. Esses atores
movimentam-se com naturalidade pelas ruas e prédios da cidade e fingem ignorar a presença
dos visitantes. (GONÇALVES, 1998).
Pérez (2004) nos evidencia outro exemplo: os “Torajas” das Célebres – Indonésia,
tiveram que adaptar suas cerimônias funerais para o gosto dos turistas. A rejeição local foi
grande. Em fins dos anos 80, os “Torajas” negaram o acesso dos turistas a tais cerimônias.
Esses exemplos nos permitem refletir sobre a sustentabilidade das identidades das
comunidades locais, organizadas em torno de práticas culturais muito antigas e frágeis que,
muitas vezes, se vêem bruscamente alteradas pelo turismo cultural.
Portanto, buscamos aqui identificar e analisar os elementos culturais e turísticos das
representações sociais construídas pelos atores sociais da comunidade local de Diamantina
sobre a Vesperata. Para tal, faz-se necessário abordar, nas próximas seções, as Representações
Sociais como teoria e método de apreensão do conteúdo desse objeto social, a fim de
compreender as dimensões das relações estabelecidas entre essa manifestação cultural e o
significado atribuído a ela pela comunidade local.
45
CAPÍTULO III
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: DIMENSÕES TEÓRICAS DA PESQUISA
3.1. Origem e conceitos epistemológicos das Representações Sociais
Para analisar o conteúdo das representações sociais sobre os elementos culturais e
turísticos da Vesperata, recorremos à teoria e método das Representações Sociais (RS)
definida por Moscovici (1976), como um conjunto de idéias, opiniões, valores, preconceitos e
estereótipos que os indivíduos têm sobre um objeto social. Entende-se que, nesse conceito, a
Vesperata se torna um objeto da representação, refletindo num saber que os indivíduos de
uma dada sociedade ou de um grupo social elaboram acerca de um segmento de sua existência
ou de toda a existência. (LAPLANTINE, 2001).
O estudo das RS se apresenta como um grande campo de investigação nos diferentes
setores das Ciências Sociais e Humanas (JODELET, 1989). O termo foi influenciado pelo
conceito de Representações Coletivas de Durkheim (1963). A Teoria das RS pode ser
caracterizada como um campo multidisciplinar ou interdisciplinar, a partir do momento em
que foi influenciada e recebeu contribuições de outras áreas das Ciências Sociais, como a
Antropologia, a Sociologia e Psicologia Social. Justamente, por apresentar esse caráter
multidisciplinar, muitos autores apresentam dificuldades em elaborar um único conceito para
as RS.
Segundo Bomfim (2005), nas Ciências Humanas e Sociais, os estudos sobre as RS
ocupam um lugar importante e buscam explicar a relação entre as produções mentais e as
46
dimensões materiais e funcionais da vida dos grupos. Este autor acrescenta ainda que a
representação social é parte do cotidiano e um produto da comunicação e da linguagem,
constituindo-se numa organização de imagens. Logo, a RS realça e simboliza atos e situações
cujo uso os torna comum. É, portanto, uma modalidade particular do conhecimento, que tem
por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos. Assim, a
representação social tanto fala quanto mostra, tanto comunica quanto exprime.
Nessa perspectiva, as RS se constituem como uma forma específica de conhecimento
qualificado e “espontâneo” do “pensamento natural” ou do conhecimento do senso comum
(JODELET, 1984) partilhado localmente e legitimado por um grupo social ou ancorado por
uma cultura (ABRIC, 1996; GUIMELLI, 1999; JODELET, 1984; RATEAU, 1999). Assim,
Jodelet (2001) compreende a RS como uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e
partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum
a um conjunto social. E completa definindo que a RS é entendida como um saber do senso
comum, cujos conteúdos manifestam a operação de processos generativos e funcionais socialmente
marcados pelo pensamento social.
Para a maior parte desses autores, esses conhecimentos contribuem para a construção
social da nossa realidade. Em conseqüência, as RS designam uma forma de pensamento
social, uma forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, permitindo a
construção e a circulação de um saber comum ao grupo social.
Segundo Moscovici (1976), as RS são do domínio de opiniões com relação aos objetos
do ambiente social. Ao propor uma articulação com a vida coletiva de uma sociedade,
podemos afirmar, segundo Jovchelovitch (1995), que as RS, enquanto fenômenos
psicossociais, estão necessariamente radicadas no espaço público e nos processos através dos
quais o ser humano desenvolve uma identidade, cria símbolos e se abre para a diversidade.
Assim, pode-se considerar que as RS têm um papel crucial como mediador entre as esferas do
individual e do objeto social. Elas são, portanto, um conjunto de conceitos e afirmações que
47
têm sua origem nas interações sociais. Entendemos assim que a expressão RS pode ser
utilizada para designar um conjunto de fenômenos permitindo definir o conceito, como um
conjunto teórico construído em torno da própria noção de RS.
Ao propor a teoria das RS, Moscovici (2003) oferece uma base teórico-metodológica,
capaz de lidar com o dinamismo e as diversidades das mudanças na sociedade
contemporânea. Para o autor, as RS interagem entre si em oposições, convergências,
distinções, desaparecimentos e recriações, o que exige considerar as RS originais ao
investigar outras, associadas a elas. Nessa perspectiva, esse autor define as RS como uma
modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos
e a comunicação entre indivíduos, e ainda como um corpus organizado de conhecimentos e
uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a realidade física e
social, inserem-se num grupo ou numa ligação cotidiana de trocas, e liberam os poderes de
sua imaginação. Vale ressaltar que, para Moscovici (2003), as RS são muito além de guias
comportamentais. Elas configuram o ambiente para torná-lo propício ao desenrolar das
atitudes e empresta sentido ao comportamento, integrando-o a uma rede de relações.
Observa-se, então, uma estreita relação entre as RS e o contexto de vida dos sujeitos.
O aspecto histórico, social, ideológico, as características individuais e todos os fatores que
influenciam o comportamento e o pensar dos grupos estão diretamente relacionados à
produção, circulação e estabilidade das RS. Essas têm como fundamento o indivíduo e os
grupos sociais e só podem ser construídas a partir dos mesmos, enquanto vivenciam a tensão
entre sua objetividade e a subjetividade, vivência esta contextualizada num determinado meio
histórico e social.
De sua parte, Herzich (1973) observa que as RS têm um duplo aspecto, quais sejam:
conteúdo e processo do conhecimento, isto quer dizer que elas são, às vezes, constituídas de
um conjunto de idéias, crenças, preconceitos, opiniões ou atitudes relativas a um objeto e, por
48
parte do processo, ela é uma reconstrução do objeto (ABRIC, 1996 ; GUIMELLI, 1994 ;
JODELET ; 1984 ; LASSARE, 1995 ; LEME, 1993 ; MORIN, 1984). Giordan e De Vecchi
(1987) insistiam sobre essa dupla característica das RS, produto e processo. Como produto
elas são organizadas em temas, em conteúdo e no discurso da realidade. Como processo, trata-
se de uma atividade mental, em movimento de apropriação do objeto. Vale lembrar que, neste
estudo, buscamos apenas identificar o conteúdo ou produto das RS, construído sobre a
Vesperata em Diamantina - MG.
Dentro dessa abordagem, na pesquisa sobre as RS da comunidade a respeito de
elementos turísticos e culturais da Vesperata, busca-se quais as RS são construídas em torno
de objetos precisos, reais ou imaginários, sejam eles idéias, teorias, e acontecimentos. Nessa
situação, ela não pode ser apreendida no isolamento ou na dicotomia entre o que se pretende
captar e analisar e o viver concreto dos sujeitos, pois não se trata de uma reprodução do real
no plano subjetivo, mas uma reorganização significativa, estruturada, no processo de
atribuição de sentido ao objeto (MOSCOVICI, 1978).
Na compreensão das RS, não se separam sujeito e objeto. Entende-se que novas
perspectivas surgem em relação ao tratamento dos fenômenos representativos, em particular,
sob o ângulo simbólico. Nesse sentido, as RS estabelecem uma síntese teórica entre
fenômenos que, em nível de realidade, estão interligados e a dimensão cognitiva, afetiva e
social estão presentes na própria noção de RS.
3.1.1. Estrutura das Representações Sociais
A teoria que se ergue para explicá-la diz respeito à construção de saberes sociais e,
nessa medida, conseqüentemente, envolve a cognição. O caráter simbólico e o imaginativo a
49
respeito desses saberes refletem a dimensão dos afetos, porque quando os sujeitos sociais
empenham - se em entender e dar sentido ao mundo, eles também o fazem com emoção e
sentimento (GUARESCHI; JOVCHELOVITCH, 1995).
Assim, existe uma perspectiva chamada estrutural nos estudos das RS. Esses trabalhos
(ABRIC, 1987 ; FLAMENT, 1987 ; ROUQUETTE, 1984 ; ARRUDA, 2002) consideram as
RS como um conjunto estruturado e hierarquizado de elementos, apresentando uma certa
coerência. Os pesquisadores supõem que as RS organizam-se em um núcleo central e em
torno dele gravitam outros elementos (periféricos). O núcleo central está ligado e determinado
por condições históricas, sociológicas e ideológicas, marcado pela memória coletiva e pelo
sistema de normas. Evolui de forma lenta. É ele quem atribui ou transforma a significação
(um sentido, um valor) ao objeto representado; assegura a permanência e a perenidade da
representação; permite compreender a realidade; dá homogeneidade ao grupo e define os
princípios fundamentais em torno dos quais se constituem as representações; é simples,
concreto, consensual, historicamente marcado, imagético e coerente; apresenta um valor
simbólico, poder associativo, saliência e forte conexidade na estrutura. Não pode ser refutável
(MOLINER, 1995).
Muitos são os elementos que podem explicar a gênese das RS, mas nem todos têm a
mesma acuidade. Alguns são essenciais e outros secundários. Estudando o conceito de núcleo
central das representações sociais, Abric (1997, p.62) identificou algumas características para
determinar o núcleo central: a natureza do objeto representado; o tipo de relação que o grupo
mantém com o objeto representado; o sistema de valores e normas sociais que constituem o
meio ambiente ideológico do grupo. Assim, ele constatou que seus elementos são
hierarquizados e organizam-se em torno de um núcleo central (ABRIC; 2000). Logo,
entendemos que para estudar uma RS, é preciso buscar os elementos constituintes de seu
núcleo central, considerando-se não só o conhecimento de um conteúdo, mas o que confere
50
consistência e relevância a esse conteúdo é a sua organização, sua significância lógico-
semântica e, primordialmente, seu sentido.
Para explicar os elementos que gravitam em torno do núcleo central, Flament (2001)
acrescenta a idéia do sistema periférico, essencial para o entendimento das RS. Uma vez que
esses, tomados como circunstanciais em referência aos elementos do núcleo, eram
provavelmente excluídos das preocupações dos pesquisadores. Segundo o autor, “em torno do
núcleo central e organizado por eles, encontram-se os elementos periféricos. Eles constituem
o essencial do conteúdo da representação: seus componentes mais acessíveis, mais vivos e
mais concretos. É no sistema periférico que poderão aparecer e ser toleradas contradições"
(FLAMENT, 2001, p. 177).
O sistema periférico, contrariamente ao sistema central, é determinado pelo núcleo
central ao qual está ligado e estabelece uma interface entre esse e a realidade concreta, na qual
funciona a representação. É a parte mais acessível, flexível, adaptativa, viva e concreta da
representação.
Não obstante, Abric apud Mazzotti (2002, p.22) destaca cinco funções do sistema
periférico, no funcionamento e na dinâmica das representações: 1) A concretização do núcleo
central em termos ancorados na realidade, imediatamente compreensíveis e transmissíveis; 2)
A regulação, que consiste na adaptação da representação às transformações do contexto,
integrando novos elementos ou modificando outros em função de situações concretas com as
quais o grupo é confrontado; 3) A prescrição de comportamentos: os elementos do sistema
periférico funcionam como esquemas organizados pelo núcleo central, garantindo o
funcionamento instantâneo da representação com grade de leitura de uma dada situação e,
conseqüentemente, orientando tomadas de posições; 4) A proteção do núcleo central: o
sistema periférico é um elemento essencial nos mecanismos de defesa que visam a proteger a
significação central da representação, absorvendo as informações novas suscetíveis de pôr em
51
questão o núcleo central e 5) As modulações individualizadas: é o sistema periférico que
permite a elaboração de representações à história e às experiências do sujeito.
Dessa forma, Abric (2000) nos esclarece a relação entre os dois elementos estudados,
ou seja, o núcleo central e o sistema periférico. No primeiro, a rigidez, a estabilidade e a
consensualidade do núcleo, no segundo, a flexibilidade, as adaptações, acessibilidade e as
contradições que configuram o sistema periférico.
Assim, segundo Abric (1997), toda realidade é representada, quer dizer, (re) apropriada
pelo indivíduo ou pelo grupo, reconstituída no seu sistema cognitivo, integrada no seu sistema
de valores, dependente de sua história e do contexto social e ideológico que o cerca (Ibidem,
p. 27). Isso porque entendemos que as RS são historicamente construídas e estão
estreitamente vinculadas aos diferentes grupos socioeconômicos, culturais e étnicos que as
expressam por meio de mensagens, e que se refletem nos diferentes atos e nas diversificadas
práticas sociais. Entendemos aqui, através das idéias de Jodelet, (1986), Moscovici (1976) que
as RS são uma forma de conhecimento do mundo, construídas a partir do agrupamento de
conjuntos de significados, que permitem dar sentido aos fatos novos ou desconhecidos,
formando um saber compartilhado, geral e funcional para as pessoas, chamado de senso
comum.
Concluindo este capítulo, podemos afirmar, segundo os autores, que uma representação
é formada de elementos constitutivos (informações, crenças, opiniões, valores, atitudes,
idéias, estereótipos e preconceitos), organizados e estruturados de acordo com a hipótese:
"toda representação é organizada em torno de um núcleo central, constituído de um ou de
alguns elementos que dão à representação o seu significado". Este, originado na conjuntura
global - sócio - histórica, política, ideológica - constitui uma base comum ao grupo, indicando
para a coletividade (ibidem). Em um “recorte” do imaginário de um grupo, portanto, as
representações sociais apresentam-se através da linguagem (documentos, práticas, falas,
52
imagens) e no estudo dos conteúdos, abarcando a totalidade de expressões, imagens, idéias e
valores, presentes no discurso sobre o objeto. Nesse sentido, Jodelet (1984) afirma que a
ancoragem das RS consiste no processo de integração cognitiva do objeto representado a um
sistema de pensamento social preexistente e para as transformações históricas e culturalmente
situadas, implícitas em tal processo.
Do ponto de vista operacional, levando-se em consideração a estrutura das RS, podemos
dizer que elas se apresentam como um conjunto de elementos cognitivos cuja natureza e
complexidade podem variar da simples opinião até aos estereótipos ou preconceitos,
organizando-se num sistema central e periférico. Uma RS se apresenta, também, como uma
figura metafórica do objeto, construída sobre imagens simbólicas, mitos (imaginário) e
crenças (concepções, opiniões, certezas), estereótipos e preconceitos. Esses são elementos
constitutivos do pensamento, apresentando-se como elaborações grupais que refletem, num
certo momento, o ponto de vista que prevalece de certos sujeitos nos grupos sociais. Eles
podem ser, também, fatos e situações que as pessoas têm por vocação de produzir certa
espécie de “imagem”.
Esses avanços nos levam a crer que se faz necessário identificar, através de métodos e
técnicas, as significações centrais da representação. Não esqueçamos que, aqui, o que nos
interessa é o estudo dos conteúdos das RS, dos elementos culturais e turísticos sobre a
Vesperata.
53
CAPÍTULO IV
ASPECTOS METODOLÓGICOS PARA APREENDER OS ELEMENTOS
CULTURAIS E TURÍSTICOS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A
VESPERATA EM DIAMANTINA - MG
Na seção anterior, discutimos sobre os fundamentos epistemológicos da Teoria das
representações sociais, abordando sua origem, seus conceitos e sua estrutura. Nesta seção,
buscamos especificar nossa metodologia de pesquisa sobre as representações sociais da
Vesperata e a maneira como vamos proceder para identificar e analisar seu conteúdo, através
dos dados coletados junto aos grupos sociais da Comunidade Local.
Em primeiro lugar, abordaremos alguns estudos que utilizaram as RS como teoria e
método. Em seguida, discutiremos sobre nossa perspectiva de orientação epistemológica. E,
finalmente, trataremos do nosso desenho metodológico, significa dizer: o local de pesquisa, a
constituição e características dos participantes, os instrumentos utilizados e os procedimentos
de coleta e análise dos dados.
4.1. Estudos sobre a utilização das Representações Sociais: Tendência e Limites
Os trabalhos que abordam a teoria das RS são muitos. Anadón (2002) identifica cinco
grandes linhas de pesquisa: 1) centrada nos conteúdos; 2) aquela interessada em apreender as
estruturas das RS; 3) centrada nos processos cognitivos que são base das RS; 4) centrada nas
relações entre práticas e representações sociais e, finalmente a 5) trabalhos que questionam a
54
origem das RS. Lembramos que nós nos inserimos na linha da apreensão dos conteúdos das
RS, mas utilizamos teoricamente os conceitos de núcleo central e elementos periféricos para
apreender metodologicamente os conteúdos das RS sobre a Vesperata.
Cada linha de pesquisa privilegia estratégias metodológicas particulares. Por exemplo,
as linhas centradas sobre o conteúdo utilizam-se, com mais freqüência de metodologias de
tradição hermenêutica/interpretativa (entrevistas, desenhos, questionários, observação
participante, trabalho de campo, e análise qualitativa). Aquelas que se interessam pela
estrutura, utilizam-se mais das estratégias estatísticas e análise multidimensional. Percebe-se,
aqui, que a pesquisa das RS tem se caracterizado, desde o início, por uma utilização bastante
criativa e diversificada de métodos e pelo desenvolvimento contínuo de novas técnicas
qualitativas e quantitativas, tanto no que se refere à coleta, quanto ao tratamento dos dados.
Além disso, sua problematização, que decorre naturalmente da complexidade e diversidade
das manifestações do fenômeno, tem conduzido o campo a uma intensa atividade de discussão
e critica metodológica (SÁ, 1996).
De acordo com Oliveira e Werba (1998), não existe uma metodologia exclusiva para a
investigação das RS, sendo que encontramos desde investigações realizadas em uma base
quantitativa, como as que trabalham com dados qualitativos e, ainda, alguns que fazem uso
complementar dessas duas abordagens.
Nesse sentido, uma das técnicas mais utilizadas nos estudos das RS, é a técnica da
associação ou evocação livre de palavras, considerada por Abric (1994) como “uma técnica
maior para coletar os elementos constitutivos do conteúdo de uma representação”. Consiste
em se pedir aos sujeitos que, a partir de um termo indutor apresentado pelo pesquisador,
digam as palavras ou expressões que lhes tenham vindo imediatamente à lembrança (SÁ,
1996, p. 115). O método da evocação ou associação livre propicia colocar em evidência o
universo semântico do objeto estudado, assim como sua dimensão imagética, de forma mais
55
rápida e dinâmica que outros métodos com igual objetivo, como a entrevista (BARDIN, 1977;
ABRIC, 2001).
Para Abric (1994), as vantagens desse método estariam no caráter espontâneo,
portanto, menos controlado e a dimensão projetiva dessa produção deveria, portanto, permitir
o acesso, muito mais facilmente e rapidamente do que em uma entrevista, aos elementos que
constituem o universo semântico do termo ou do objeto estudado. A associação livre permite
a atualização de elementos implícitos ou latentes que seriam perdidos ou massacrados nas
produções discursivas.
Outra contribuição apresentada quanto à utilização desse método foi a de Pierre
Vergès (1992, p.67). Ele apresentou uma proposta, em relação à técnica que, além de
combinar a freqüência de emissões das palavras e/ou expressões com a ordem em que estas
são evocadas, busca criar um conjunto de categorias, organizadas em torno desses termos,
para assim confirmar as indicações sobre seu papel organizador das representações. Para o
autor, na construção do objeto de pesquisa, sobre diferentes categorias, o que interessa
ressaltar é a originalidade de cruzar dois critérios de prototipicalidade: o da freqüência e o da
ordem de aparecimento da evocação. Esse cruzamento permite saber se a representação do
conjunto do domínio tem uma certa coerência sob a forma de linhas de força que a atravessam
e de hierarquia entre os elementos. Ele proporciona, enfim, o princípio de constituição das
diferentes categorias.
Na utilização de entrevista, Medeiros (1998) apropriou-se da fotografia para colher
dados junto aos meninos de rua da Cidade do Rio de Janeiro, a fim de identificar o conteúdo
das representações sociais do seu meio de vida. Assim, a fotografia foi utilizada após a
entrevista, como forma de corroborar o discurso dos atores sociais. Esse mesmo meio foi
utilizado por Percy (1995) no seu estudo sobre as representações sociais de adolescentes sem
teto nos Estados Unidos.
56
Bomfim (2005), com o objetivo de identificar e analisar os conteúdos das
representações sociais do espaço de favela junto aos alunos da rede municipal de ensino de
Ilhéus, lança mão da multimetodologia, quando aplica como instrumentos de coleta de dados
a fotografia, como detonador do discurso dos jovens e adolescentes; a associação livre de
palavras para apreender os elementos simbólicos do espaço favelar; e a entrevista semi-
dirigida como instrumento principal, analisando, por conseguinte, o seu discurso. Vale
salientar que, o elemento inovador nos procedimentos metodológicos, foi a superposição de
dados e não o cruzamento. Esse procedimento fez com que o pesquisador obtivesse várias
imagens do espaço de favela em suas diversas dimensões.
4.2. Perspectiva de orientação epistemológica do estudo das RS sobre a Vesperata
Após uma breve revisão de literatura sobre perspectiva metodológica dos estudos
sobre RS, podemos afirmar que aquelas metodologias buscam meios para responder, de
maneira sistemática, organizada, racional e credível, aos problemas de pesquisa sobre a
realidade empírica. Para tal, faz-se necessário que o pesquisador utilize-se de métodos
científicos, ou seja, um conjunto de técnicas que ordenam a forma de pensar e desenvolver o
saber, capazes de externar a essência dos fenômenos explicitados pelo objeto de estudo, a fim
de se construir o conhecimento (GIL, 2000). Logo, antes de apresentarmos nossa perspectiva
metodológica, é pertinente abordar nossa postura de pesquisador.
Assim, adotou-se nessa pesquisa, a perspectiva qualitativa/interpretativa, pois,
segundo Mynayo (1994), está relacionada com nosso objetivo geral de compreender as
Representações Sociais construídas acerca dos elementos culturais e turísticos sobre a
Vesperata pelos diferentes grupos sociais de Diamantina – MG. Esta abordagem tem como
57
pressuposto o fato de que a realidade não pode ser quantificada. Seu universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores, atitudes, preconceitos, estereótipos, idéias e opiniões
deve ser analisado de forma a melhor compreender o fenômeno, logo não deve ser reduzido à
operacionalização de variáveis. Considerando a fonte de dados, “a pesquisa é de campo, uma
vez que é no lugar natural onde acontecem os fatos, fenômenos e processos” (MINAYO,
1994, p. 36).
Para os procedimentos de coleta de dados, escolhemos dois instrumentos: a técnica da
associação de idéias ou evocações livres de palavras (ABRIC, 1994) para três grupos:
moradores mais antigos da comunidade, bairro periférico e prestadores de serviços ligados ao
turismo (músicos, garçons, comerciantes, balconistas, recepcionistas, guias de turismo,
artesãos e taxistas). E aplicamos a entrevista semi-dirigida para os representantes dos Órgãos
Públicos, de Associações e intelectuais que mantêm alguma relação com o turismo cultural.
4.3. Desenho metodológico do estudo
Considerando os objetivos expostos na introdução deste trabalho, lembramos que este
estudo visa identificar e analisar as representações sociais dos elementos culturais e turísticos
sobre a Vesperata, que os atores sociais da Comunidade Local de Diamantina-MG elaboram a
fim de verificar a existência de uma identidade sobre essa manifestação cultural. Em seguida,
buscamos, nesta investigação, elaborar estratégias para orientar as práticas do turismo cultural
sustentável.
Abordar o estudo de uma representação sobre esse ângulo, permite, entre outros,
estabelecer uma ligação entre a Cultura e o Turismo. Assim, a análise sistemática do conteúdo
dessas representações, consideradas como um produto das interações entre o sujeito, o outro e
58
o objeto social, nos parece indispensável para avaliar as múltiplas imagens dessa manifestação
cultural, pois estas podem nos permitir explorar as várias formas de conhecimento dos atores
da comunidade local.
4.3.1. Local do estudo
A escolha de Diamantina-MG como espaço de análise e apreensão dos conteúdos das
RS se deve a diversos fatores. O primeiro pelo fato de o município possuir uma manifestação
cultural expressiva e única em todo o Brasil: a Vesperata. Esse evento acontece
quinzenalmente de março a outubro de cada ano e é, atualmente, um dos produtos turísticos
mais procurados que a cidade oferece. Nesse sentido, a Vesperata de Diamantina nos
possibilitou a realização de um estudo que contemplou a cultura e o turismo de modo
particular e específico. Essa manifestação acontece, particularmente, no centro histórico, na
Rua da Quitanda, um dos espaços que representam a montra da identidade arquitetônica de
Diamantina, com seus casarões, janelas e sacadas coloniais centenárias.
Outro fator relevante diz respeito à existência de inúmeros eventos musicais, dentre
eles, grupos de serestas, concertos, serenatas, encontros musicais, entre outros, contando com
a participação de muitas pessoas da comunidade.
4.3.2. Constituição e característica dos participantes (Amostra)
A constituição da amostra é uma das operações de base da pesquisa e repousa sobre a
noção de população, ou seja, um conjunto cujas partes são iguais, umas em relação às outras.
59
Para a realização deste estudo, utilizamos a amostra do tipo não probabilística que visa
recrutar os participantes em potencial, selecionados segundo critério de julgamento do
pesquisador. Segundo (BOMFIM, 2004), em Ciências Sociais e numa perspectiva
qualitativa/interpretativa, como a do presente estudo, é difícil utilizar critérios de
homogeneidade e igualdade propostos às amostragens estaticamente representativas, pois é
preciso considerar as singularidades que compõem o conjunto social composto de contextos
heterogêneos. Nesse tipo de amostragem, a quantidade não é importante e raramente
determinada por antecedência, dependendo da evolução da pesquisa e da saturação das
informações recolhidas. Pode-se dizer que a amostra é do tipo teórica (PIRES, 1997), o que
significa dizer que ela parte de uma população total e vão-se recrutando os participantes por
voluntariado, até chegar-se ao número espontâneo de participantes. Por outro lado, as
categorias de análise e as interpretações se constroem no decorrer da pesquisa até chegar à
saturação dos dados.
Buscamos estratificar a amostra com quatro grupos específicos: o dos moradores mais
antigos da comunidade, moradores de um bairro periférico, uma vez que as representações
estão associadas às experiências vividas no lugar pelos indivíduos; os prestadores de serviços
ligados ao turismo (músicos, garçons, comerciantes, balconistas, recepcionistas, guias de
turismo, artesãos e taxistas) e representantes dos Órgãos Públicos, Associações e intelectuais
que mantêm alguma relação com o turismo cultural.
De acordo com Dencker (2003), a estratificação conduz a estimativas mais confiáveis,
porque todas as partes do universo são incluídas na amostra, além disso, permite a obtenção
de informações sobre as partes do universo de maneira diferenciada.
Partindo do pressuposto de acúmulo de conhecimentos (idéias, opiniões, crenças,
preconceitos, atitudes, valores, estereótipos) que são transmitidos através das gerações, o
primeiro grupo de amostra foi formado por moradores mais antigos da cidade, segundo os
60
seguintes critérios: morar no município de Diamantina; idade entre 50 a 80 anos e participar
de algum grupo de seresta da cidade, catalogado pela Secretaria de Cultura e Turismo do
município, pois se verifica que parte da comunidade participa efetivamente das reuniões e
apresentações das serestas.
Para os moradores do bairro periférico, seguimos os critérios: morar no bairro Rio
Grande e trabalhar em algum estabelecimento comercial do próprio bairro.
Para os prestadores de serviços ligados ao turismo (músicos, garçons, comerciantes,
balconistas, recepcionistas, guias de turismo, artesãos e taxistas), utilizamos os seguintes
critérios de recrutamento: morar no município de Diamantina, e trabalhar diretamente na
concretização do evento Vesperata, ou seja, os músicos que realizam a Vesperata, a Banda do
Batalhão e a Banda Mirim, garçons dos bares que servem as mesas durante o evento, os
comerciantes, balconistas, artesãos e taxistas que se encontram na Rua da Quitanda e Beco da
Tecla, principais locais de movimentação durante o evento. Os recepcionistas e guias
turísticos foram escolhidos por estarem envolvidos diretamente no processo de venda do
produto – Vesperata.
Optamos pelo recrutamento de colaboradores que aceitaram participar
espontaneamente da pesquisa e que assinaram o termo de consentimento (apêndice A).
Para os representantes dos Órgãos Públicos e Instituições, Secretaria Municipal de
Cultura, Turismo e Patrimônio, ADELTUR (Associação Diamantinense de Empresas ligadas
ao Turismo), SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), SENAC
(Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), Agência de Desenvolvimento Regional de
Turismo do Circuito dos Diamantes, Central das Associações Comunitárias de Diamantina,
Banda Mirim, um jornalista e um autor de livro sobre as origens da Vesperata, adotamos os
seguintes critérios de seleção: ser moradores da cidade e capazes de se expressarem
61
oralmente, aceitando participar espontaneamente das entrevistas semi-estruturadas (apêndice
B).
Assim, por meio desses atores, poderemos investigar aspectos relacionados às
representações sociais, através das idéias, opiniões, crenças, valores, atitudes, preconceitos,
estereótipos sobre a Vesperata de Diamantina.
A amostra final, totalizando 262 participantes, para a aplicação do instrumento
associação livre de palavras (apêndice C), foi composta de três grupos com as seguintes
características: A primeira, dos moradores mais antigos, contou com 49 participantes de faixa
etária entre 50 a 80 anos. A segunda, dos prestadores de serviços turístico, composta de 174
participantes, lembrando: músicos, garçons, comerciantes, balconistas, recepcionistas, guias
de turismo, artesãos e taxistas, com média de idade entre 12 e 75 anos. E, finalmente, a
terceira, com 39 participantes, residentes no bairro periférico Rio Grande, cuja idade variou
entre 20 a 60 anos.
4.3.3. Instrumentos de coleta de dados
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a técnica da associação de
idéias ou evocações livres de palavras e as entrevistas semi-dirigidas.
a) A associação ou evocação livre
Consiste numa técnica para coletar os elementos constitutivos do conteúdo de uma
representação. A associação livre permite a atualização de elementos implícitos ou latentes
que seriam perdidos ou mascarados nas produções discursivas. Assim, aplicamos esse
instrumento aos moradores mais antigos, moradores do bairro periférico Rio Grande e aos
62
prestadores de serviço turístico, solicitando que eles escrevessem cinco palavras que
representassem a Vesperata em sua opinião. Justificamos essa escolha, também, pela
possibilidade de maior apreensão dos conteúdos cognitivos das RS.
(b) A entrevista semi-dirigida
A entrevista semi-dirigida, outro instrumento de coleta de dados das representações
sociais da Vesperata aplicada aos representantes dos Órgãos Públicos, Associações e
intelectuais, computou uma amostra final de nove participantes, com faixa etária entre 25 e 66
anos. Assim, foram entrevistados um representante da Secretaria de Cultura, Turismo e
Patrimônio de Diamantina, um representante da ADELTUR (Associação Diamantinense de
Empresas ligadas ao Turismo); um representante do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas); um representante do SENAC (Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial); um representante da Agência de Desenvolvimento Regional de
Turismo do Circuito dos Diamantes, um representante da Central das Associações
Comunitárias de Diamantina, um representante da Banda Mirim, um jornalista e um autor do
livro sobre as origens da Vesperata.
Através do discurso, a entrevista semi-dirigida nos permitiu recolher dados de
interação entre os colaboradores e o objeto de pesquisa. Nós postulamos que o discurso é o
lugar e o suporte privilegiado de elaborações e de expressões das representações (ANADÓN;
GOHIER, 2001). Esse tipo de entrevista é pertinente à pesquisa qualitativa, pois ela permite
uma investigação aprofundada dos fenômenos (POURTOIS; DESMET, 1988; BOUTIN,
2000).
Esse procedimento é relevante para os entrevistados na medida em que permite clarear
suas posições sobre o tema abordado e explicar seu pensamento, pois, segundo Lüdke e André
(1986, p. 75), ela “se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado
63
rigidamente. Assim, ela nos permitiu abordar o grau de respostas, bem como fazer emergir do
entrevistado conhecimentos sobre o objeto de estudo, a partir das temáticas propostas: a)
elementos de caracterização e definição da Vesperata, com 2 (duas) perguntas. Buscava
determinar a aproximação que eles tinham sobre essa manifestação cultural e quais os
elementos que eles reconheciam sobre essa manifestação; b) o julgamento de valor sobre a
Vesperata, incluía 6 (seis) perguntas. Interrogava os interlocutores sobre os diferentes
valores(opinião, preconceito, estereótipo, idéia, crença, mito) associados à apreciação da
manifestação cultural e de compreender sua legitimidade.
Na entrevista semi-dirigida, as informações foram dispostas segundo sua significância
e encadeadas numa ordem lógica, de forma que se possam verificar as relações que mantêm
entre si, expressando uma realidade acerca da problemática e os objetivos em questão.
4.3.4. Método de Análise e Interpretação dos dados
A análise das palavras na associação livre foi feita pela freqüência delas, bem como
pela semelhança semântica. Assim, evidenciamos o conteúdo das RS sobre a Vesperata a
partir do maior número de palavras agrupadas semanticamente em quadros com a freqüência
de ocorrência dos grupos sociais. Identificaram-se os significados dessas representações
elaboradas por eles, para depois apreender os elementos do conteúdo das RS, definido pela
freqüência das evocações dos saberes partilhados por eles.
Já a entrevista semi estruturada foi cuidadosamente gravada, seguida da transcrição do
verbatim, intercalando a escuta do material gravado com a leitura do material transcrito,
deixando aflorar os elementos contidos nas RS da Vesperata e permitindo emergir os
investimentos afetivos.
64
Para investigar as diversas imagens da Vesperata em Diamantina-MG, as análises do
conteúdo da associação livre de palavras e do discurso foram feitas a partir das categorias de
análises e das temáticas que nortearam o guia de entrevista, apoiadas pelos elementos do
quadro teórico - conceitual. De acordo com Bardin (1977), o trabalho de análise do conteúdo
desses instrumentos de coleta de dados deve ser organizado em torno de três pólos
cronológicos:
1- Pré-análise: Leituras preliminares e estabelecimento de uma lista de enunciados de
acordo com os dois temas privilegiados. Para essa etapa, seguimos as recomendações de
Erickson (1986), quando ele propõe fazer uma leitura do conjunto a fim de ter uma visão
global do texto. Identificamos o tipo de unidades informacionais para a classificação e recorte
dos enunciados específicos, bem como apreendemos particularidades significativas que
alimentaram os temas e categorias. Essa etapa tem a finalidade de recortar os extratos de
textos das entrevistas em enunciados significativos ou unidades de senso. Alem disso,
classificamos uma lista de códigos dos temas (guia de entrevista) e colocamos em ação um
processo de reflexão teórica visando estruturar os dados.
2- A exploração do material: etapa de análise em que fizemos a escolha e definição das
unidades de classificação através da delimitação de categorias e suas propriedades, estas têm
coerência com os objetivos do estudo. Após o recorte dos extratos das entrevistas em seus
componentes elementares, estabelecemos um código, segundo: 1- os participantes e os dados
(idade, bairro e profissão); 2- os temas das entrevistas e suas dimensões – categorias. Fez-se
necessário reduzir a grande quantidade de dados em um pequeno número de unidades
analíticas para a próxima fase. Para o processo de codificação das unidades de análise,
utilizamos como suporte o quadro teórico conceitual.
65
3 - O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação: para o tratamento dos
resultados desta pesquisa, utilizamos operações estatísticas simples, análise e interpretação do
conteúdo do discurso. Aqui, utilizamos informações das associações evocação livre de
palavras, elaborando os quadros (1, 2 e 3), superposicionando-os aos dados da análise do
discurso das entrevistas semi-dirigidas, quadros (4 e 5), através de uma análise comparativa.
66
CAPÍTULO V
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VESPERATA SOB O OLHAR DOS ATORES
SOCIAIS DE DIAMANTINA – MG
Nesta seção trataremos da análise do conteúdo das representações sociais da Vesperata
suportada pelos principais elementos teóricos, cultura, turismo cultural, relacionando-o com o
fenômeno da espetacularização da cultura.
Lembramos que a representação social é concebida como uma forma de conhecimento
que permeia as relações do sujeito com o objeto e seu espaço de vida, através de imagem e
dos elementos das diversas representações de uma certa realidade social. Essas representações
designam uma forma de pensamento social e de conhecimento socialmente elaborado e
compartilhado. Assim, elas asseguram três principais papéis na vida dos grupos e dos
indivíduos: 1) interpretação e compreensão do ambiente social e cultural (ABRIC, 1987;
JODELET, 1989; MOSCOVICI, HEWTONE, 1984), 2) regulação das relações entre os
grupos (DOISE, 1990; DOISE, CLEMENCE ET LORENZI-CIOLDI, 1992), 3) atividades de
julgamento e de avaliação (ABRIC, 1994; DOISE, 1992; MOLINER, 1995). Para identificar e
analisar o conteúdo das RS sobre a Vesperata, consideramos como bases teóricas as
dimensões culturais, turísticas, seus impactos positivos e negativos e atribuição de valor dos
atores sociais sobre ela.
Procedemos da seguinte maneira: descrição, análise e interpretação dos dados
recolhidos em dois movimentos. O primeiro buscou revelar uma imagem da vesperata através
das palavras expressas pelos atores sociais e, o segundo revelou uma outra imagem através do
67
discurso. Finalmente, pela superposição dos resultados, elaboramos uma discussão acerca das
Representações Sociais dos elementos culturais e turísticos sobre a Vesperata em Diamantina-
MG.
5.1. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras
Nessa etapa de estudo, pedimos aos moradores mais antigos da cidade, aos moradores
do bairro periférico do Rio Grande e aos prestadores de serviços turísticos, que escrevessem
cinco palavras que viessem em sua mente, quando pensassem na Vesperata, a fim de
representar suas idéias, opiniões, crenças, atitudes, valores, preconceitos, estereótipos e mitos
sobre esse objeto social. Recolhemos 1.310 palavras de um total de 272 participantes. De
início, agrupamos as palavras sinônimas e semanticamente próximas nas diversas categorias e
em ordem decrescente de freqüência.
Analisando o quadro 1, a leitura interpretativa dos dados nos permitiu apreender que,
nas idéias dos moradores mais antigos (49), das 245 palavras, a imagem que se sobressaiu
sobre a vesperata foi identificada pelos elementos culturais e turísticos (42, 0%), seguida dos
atributos de valor (36, 3%), e dos impactos positivos (13%) que prevaleceram sobre os
impactos negativos (8,6%).
Esses moradores consideram o evento como um produto turístico (21, 2%), um
espetáculo muito atrativo. Muitos desses participantes relembram que seus antepassados
diziam que esse acontecimento na cidade era uma forma de entretenimento para a população e
que hoje se tornou um espetáculo comercial. Observa-se que esse processo de modificação da
Vesperata não altera somente o suporte físico do evento, mas principalmente se fazem notar
alterações na tradição da cultura, transformada alegoricamente em espetáculo. De acordo
com Rodrigues (2007), comumente, o turismo se apropria dos valores patrimoniais num
68
processo social complexo que é o de assumir como bens comuns aqueles bens materiais e
simbólicos que de direito não lhe pertencem. Apesar do discurso em prol da busca da
identidade e reconhecimento das culturas locais, observa-se que as expressões culturais
deixam de ocorrer de maneira espontânea e livre, passando a ser planejadas, subordinadas às
políticas públicas, à iniciativa privada ou à parceria de ambas que buscam, cada vez mais,
atrair o turista.
Pelo fato desses moradores participarem de grupos de seresta da cidade, nos quais se
apresentam freqüentemente nas ruas e praças de Diamantina, a vesperata como um elemento
cultural (20,8) os remete à musicalidade, à tradição, ao saudosismo, à arte e ao lazer.
De acordo com (ABRIC, 1994), a proximidade ou distanciamento do grupo com
relação ao objeto tem influência nas RS por eles elaboradas. Essa consideração pode ser
justificada na medida em que grande parte do grupo participa do evento, como espectador,
possuindo um vínculo próximo e permanente com ele. Eles o percebem como gerador de
renda e vetor de interação social (32), revelando, conforme Wagner (1995), que a
representação e a prática são mutuamente dependentes, ou seja, toda a representação está
interligada a uma prática.
A atribuição de valor, no que diz respeito ao sentimento de alegria, descontração e
beleza, (71), indica o envolvimento desses atores com a Vesperata. Para eles, significa um
momento de encontrar-se com os “velhos amigos”, fazer novas amizades, dançar, cantar num
cenário ao ar livre animado aos sons das bandas.
69
Quadro 1 - Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores mais antigos-N=49)
n=245 palavras
Elementos turísticos Total Impactos negativos Total Elementos culturais Total Impactos positivos Total Atribuição de valor Total
Atividade Socioeconômico Patrimônio/Identidade
Econômico Sentimento
Turismo
31 Exclusão
Exploração social
13 Cultura Lazer Arte
Tradição Conhecimento
51 Trabalho Oportunidade
Dinheiro
29 Alegria Descontração
Beleza
71
Produto Ambiental Social Importância
Atrativo Espetacularização
21 Desorganização Barulho
1 Interação social
3 Interessante
Incomparável Seriedade
Comprometimento
18
Psicológico
Desgaste físico- mental 7
Total (freqüência) 21,2% 8, 6% 20,8% 13,0% 36,3%
70
No quadro 2, na idéia dos moradores do bairro Rio Grande (39), das 195 palavras, se
sobressaem aquelas que expressam uma imagem da vesperata como elemento turístico-
cultural (39,9%), seguida dos atributos de valor (32,3%) e dos impactos negativos (17,0%)
que prevalecem sobre os positivos (10,7%).
Percebemos, através da imagem revelada pela idéia desses moradores, que eles se
identificam com a vesperata como um elemento cultural (25,6%), ou seja a música, arte,
troca de conhecimentos, intercâmbio de culturas, foram palavras muito evocadas por esse
grupo. Apesar de a considerarem como elemento cultural, esses participantes a vêem,
também, como um acontecimento de exclusão e exploração social (17,0%). Pelo fato
desses atores não participarem do evento, como elemento turístico (14,3%), eles justificam
sua não participação pelos empecilhos à presença deles, tais como: o valor cobrado pelas
mesas, a dificuldade de reserva pela comunidade e, principalmente, o cordão de
isolamento. Esse cordão, para a comunidade local, é fator de distanciamento,
impossibilitando um contato maior entre a comunidade e o turista. Esses atores se sentem à
margem e não ficam à vontade para participar das apresentações.
A Vesperata fez um resgate temporal muito válido nos últimos anos, mas,
infelizmente, aos poucos, ela foi-se desprendendo e se desvinculando de suas principais
raízes. Passou por diversas mudanças, talvez com o intuito de ganhar a simpatia da
população, entretanto, vem ocorrendo o contrário.
Essas mudanças deveriam ter ocorrido para buscar-se um aliado para esse processo,
ou seja, ter a comunidade local como cúmplice, como agente facilitador e não como um
complicador do processo. Não há como se pensar uma manifestação cultural, sem a
presença e participação da comunidade local. Sob esse enfoque, Ruschmann (1997)
ressalta a necessidade de atentar-se para os riscos do comprometimento da autenticidade e
espontaneidade das manifestações culturais e ambientais, ou seja, o turismo, enquanto
71
atividade social, que visa às relações humanas, o intercâmbio cultural, muitas vezes
favorece apenas as relações econômicas, que permitem contatos superficiais e provocam
dependência extrema da atividade por parte das populações receptivas.
Nesse sentido, pode-se afirmar que cada grupo cria suas próprias versões e as
partilha com os outros. Essas são representações emancipadas, com certo grau de
autonomia, tendo uma função complementar, uma vez que resultam da partilha de um
conjunto de interpretações e de símbolos. E ainda existem as representações que são geradas
no decurso de um conflito ou controvérsia social e que não são partilhadas pela sociedade no
conjunto, daí a idéia de exclusão, como RS.
72
Quadro 2 - Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores do bairro periférico - N=39)
n=195 palavras
Elementos turísticos Total Impactos negativos Total Elementos culturais Total
Impactos positivos Total Atribuição de valor Total
Atividade Socioeconômico Patrimônio/Identidade
Econômico Sentimento
Turismo 17
Exclusão Exploração social
21 Cultura Lazer Arte
Tradição Conhecimento
50 Trabalho Oportunidade
Dinheiro
16 Alegria Descontração
Beleza
53
Produto Ambiental Social Importância
Atrativo Espetacularização
11 Desorganização Barulho
6 Interação social
5 Interessante
Incomparável Seriedade
Comprometimento
10
Psicológico Desgaste físico-
mental
6
Freqüência 14,3% 17,0% 25,6% 10,7% 32,3%
73
Analisando o quadro 3, observamos que das 870 palavras recolhidas pelos 174
prestadores de serviços turísticos revelam uma imagem da vesperata através dos atributos de
valor (37,1%), os elementos culturais e turísticos (33,2%) e os impactos positivos (17,0%) e
negativos (12,6%). Essa imagem, expressada por esses atores sociais, é revestida de
sentimentos de alegria, descontração, beleza, atratividade, indescritibilidade, seriedade e
comprometimento (323).
Caracterizada culturalmente como arte, lazer, tradição e conhecimento (145), essas
palavras expressam a identidade cultural dos participantes da comunidade local associada ao
produto turístico: a vesperata, como espetáculo, (144). O elemento cultural assume importante
papel na composição do produto turístico, mas, ressalta-se aqui, um produto cuja
originalidade deve se manter sofrendo um mínimo de influência possível para não se
constituir banalizado. Assim, Beltrão (2001) afirma que não se deve analisar o turismo de
forma isolada e afastada do contexto social, pois se observa que a atividade sempre procurou
retratar a cultura com base na vivência humana e isso transcorre paulatinamente em
atratividade.
Como esses participantes atuam diretamente na concretização da vesperata e
dependem de sua realização, como meio de vida, na idéia deles a força desse evento turístico
pode ser percebida pelas palavras que mostram os impactos positivos na dimensão econômica
e social, como geração de renda (124), interação social (20) e fama (4). É importante frisar
que, ao se levantar uma discussão sobre a contribuição do turismo para o desenvolvimento de
localidades, muitos autores e pesquisadores apresentam os benefícios econômicos que a
atividade pode promover, em destaque, a geração de emprego e renda e a dinamização da
economia. Para que o turismo possa de fato contribuir para o desenvolvimento local, é
necessário que os processos resultantes da atividade turística tragam benefícios não apenas
econômicos, mas também promovam a justiça social, a conservação cultural e do meio
74
ambiente natural, além de permitirem que os atores sociais estejam incluídos nos processos de
decisão e gestão da atividade.
Já os impactos negativos foram inferidos pelas palavras que se inserem nas dimensões
psicológicas (desgaste, 57), socioeconômicas (exclusão social, 47) e ambientais (barulho e
desorganização, 6). Sobre o aspecto psicológico, palavras como cansaço, mesmice, repetitivo,
referem-se ao fato de essas pessoas trabalharem e acompanharem a vesperata durante todo o
ano, enquanto que os turistas assistem ao espetáculo uma ou duas vezes no mesmo período.
Eles dizem que, apesar de ser bonita e alegre, as músicas são sempre as mesmas, que os
diamantinenses estão cansados de escutar e ver sempre o mesmo acontecimento. A exclusão
e exploração social foram também palavras de destaque, pois muitos músicos que tocam
durante o evento acham que deveriam “ganhar mais” e, em relação aos meninos da Banda
Mirim, palavras como fome e sede foram também associadas ao evento.
Em síntese, percebemos que os prestadores de serviços turísticos, ao mesmo tempo em
que atribuem um significado de valor à vesperata como tradição cultural, reconhecem, através
de imagem mental, que ela, como produto turístico, é um espetáculo que produz impactos.
75
Quadro 3 - Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (prestadores de serviços turísticos - N=174)
n=870 palavras
Elementos turísticos Total Impactos negativos Total Elementos culturais Total
Impactos positivos Total
Atribuição de valor Total
Atividade Psicológico Patrimônio/Identidade
Econômico Sentimento
Turismo 81 Ciúme
Ruim Desgaste físico-
mental
57 Cultura Lazer Arte
Tradição Conhecimento
145 Trabalho Oportunidade
Dinheiro
124 Alegria Descontração
Beleza
222
Produto Socioeconômico Social Importância
Atrativo Espetacularização
63 Exclusão Exploração social
47 Interação social
20 Interessante
Incomparável Seriedade
Comprometimento
101
Ambiental Individual Desorganização
Barulho
6 Fama
4
Freqüência 16,5% 12,6% 16,7% 17,0% 37,1%
76
5.2 . Imagem da Vesperata expressa pelo discurso
Com relação a esse tópico, utilizou-se o guia da entrevista semi-dirigida que comporta
dois blocos. Lembramos aqui que o primeiro bloco, Elemento de caracterização e definição
da Vesperata, buscava descobrir como intelectuais, representantes de órgãos e instituições
descrevem a vesperata para um turista, para uma pessoa vinda de fora, ou seja, quais são as
opiniões, as idéias, os conceitos que possuem sobre o evento, como também qual é a definição
da vesperata para eles. Objetivou-se determinar a aproximação que esses participantes têm
sobre esta manifestação cultural e quais os elementos que eles reconhecem sobre ela. Já o
segundo bloco, Julgamento de valor sobre a Vesperata, tinha por objetivo identificar os
diferentes valores associados à apreciação da manifestação cultural, como o significado,
identificação, importância, aspectos positivos e negativos. Enfim, verificar diferentes valores
associados à apreciação desses atores sociais a fim de compreender a legitimidade da
vesperata.
a) Elementos de caracterização e definição
Analisando o quadro 4, no que diz respeito à descrição da vesperata para um turista,
seis participantes (6) afirmam que a vesperata é um evento espetacularizado culturalmente,
seja na dimensão econômica ou estética (66,6%). Apenas três (3), o vêem como um elemento
cultural valorizado (33,4%). Os exemplos que se seguem ilustram a enunciação dos
entrevistados.
Eis as falas de seis dos entrevistados, representadas nas seqüências:
É um espetáculo musical com um efeito sonoro diferenciado, devido a cada instrumento estar numa posição da rua, realmente o efeito que isso traz para quem está assistindo, vamos dizer é o hors concours [...] um espetáculo musical que engloba, toda cultura musical brasileira, internacional também, eles vão fazendo
77
uma passagem pela história da música, contando alguns casos musicais, então é um evento cultural e musical [...] um produto turístico diferenciado [...] eu não conheço um evento parecido com esse (RSENAC 3).
Para esse representante, a Vesperata é um espetáculo musical (cultural) único.
Um espetáculo que reúne as bandas de música mais tradicionais de Diamantina [...] se reúnem e promovem o espetáculo em si, das sacadas dos casarões históricos para o público que o assiste da rua [...] Um evento comercial que a cidade tem (GADRTCD 5).
A Gestora descreve a vesperata como um espetáculo, um evento comercial que
apresenta como cenário a rua, os casarões históricos e suas sacadas.
Eu poderia até tentar descrever para ele a Vesperata, mas com a condição de que ele tivesse que assistir a ela para poder entendê-la com perfeição, que é muito difícil descrever a vesperata. [...] um espetáculo que ele nem imaginava que existisse e que dificilmente ele veria em qualquer outra parte do mundo, no cenário e no clima que acontece em Diamantina [...] As pessoas assistem assim mais à vontade, num ambiente de mais descontração num cenário assim totalmente diferente (J 9).
Já o jornalista da cidade tem dificuldade de descrever a Vesperata, mas em sua opinião
é preciso percebê-la e senti-la. Para ele, a Vesperata é um espetáculo que se apresenta num
cenário único.
É um evento de impacto porque o visual da cidade local onde ela ocorre, a acústica do local favorece muito pra que a vesperata tenha um porte (STCP 1).
Para o Secretário de Cultura, Turismo e Patrimônio, a vesperata é um evento cultural
de impacto por sua beleza estética e acústica.
[...] é a própria encarnação desse espírito musical de Diamantina, é a encarnação dessa musicalidade construída ao longo de 300 anos, que saiu desde as origens do Arraial do Tijuco no século XVIII [...] eu diria que a vesperata encarna parte destas representações musicais e culturais de Diamantina (PHALV 6).
78
O intelectual atribui um valor identitário culturalmente, reportando-se a ela como uma
tradição musical. Ele define a Vesperata como uma representação cultural de Diamantina-
MG.
É um evento bonito, é um evento que chama a atenção, é um evento que resgata as músicas mais antigas, resgata a cultura de um tempo atrás [...] eles tocam nas janelas das casas (PACD 8).
Para a participante, a Vesperata é um evento cultural de impacto por sua beleza
estética e acústica. Ela é um evento cultural da cidade que resgata as tradições musicais.
Quadro 4 (N=9) - Elementos de caracterização e definição da Vesperata
Dimensão Espetacularização da Cultura Total Elemento
Valorizado Total
Econômica Evento comercial 01 - Social - - -
Cultural - Valor identitário culturalmente 03
Estética Impacto por sua beleza estética e
acústica. 05
Total 06 03 Freqüência 66,6% 33,4%
Até aqui, percebe-se que a maioria dos participantes a define como um espetáculo
cultural, em que o cenário, a acústica, o local, a disposição das mesas, as sacadas, os casarões,
os músicos, as músicas, ao mesmo tempo em que se traduzem em algo belo, espetacular,
diferente, também são visto como evento comercial. Dessa forma, podemos dizer que,
transformados em cenários artificiais, os lugares turísticos encenam espetáculos devidamente
ensaiados para cativar o turista, dando continuidade a uma imagem derivada de processos
simbólicos. Surge um grande e difuso espaço que pode ser denominado “entretenimento”, ou
espetáculo, conforme o dizer de Guy Debord (1997), que aglutina as atividades,
transformando quase tudo em mercadoria para consumo, de diversos tipos e preços.
79
b) Julgamento de valor sobre a vesperata
O quadro 5 nos revela que, para (88,8%) dos participantes, a vesperata tem um
significado nas dimensões econômica (4), cultural (3) e estética (1). No que diz respeito ao
significado do evento em relação à dimensão econômica, a maioria dos atores sociais disse em
seus discursos que a vesperata é um produto turístico, comercial, único e diferenciado,
promovendo a cidade em termos da divulgação e veiculação de sua imagem para o mundo.
Seguem alguns exemplos ilustrativos:
A vesperata é um evento essencialmente turístico, ela virou um produto e o produto realmente vai ser vendido para o visitante, eu não tenho nada que eu posso dizer que ela represente pra mim. A vesperata é mesa vendida, ela acontece em função das pessoas de fora, então eles acham que a cidade tá sendo excluída, a praça é contornada por fita zebrada, então tem várias cenas da vesperata que por ser na rua é como se fosse num teatro aberto (STCP 1).
Na opinião do participante, ele não se identifica com a vesperata, ela é um espetáculo
que ocorre num teatro aberto.
Um produto turístico preparado para o mercado nacional e internacional (RSEBRAE 4).
O representante atribui um significado econômico, quando afirma que a Vesperata é
um produto turístico que visa o mercado.
Um espetáculo musical [...] ela perdeu aquele seu sentido de atrativo cultural, de ser algo que pertencia única e exclusivamente à comunidade de Diamantina e passou a ser um produto vendido junto com a imagem de Diamantina pro mundo inteiro (PHALV 6).
O intelectual atribui um sentimento de perda de identidade à Vesperata, quando ela se
torna um produto turístico que veicula a imagem de Diamantina.
80
Na dimensão cultural (3), o significado da vesperata para os participantes revela que
ela transmite um aprendizado, uma valorização da cultura musical. Apresentam-se abaixo as
falas dos atores sociais que melhor exemplificam essa idéia.
[...] como alguém que trabalha no turismo, e que vive do turismo e que trabalha para o turismo, a Vesperata significou um aprendizado, uma convivência difícil, são muitos interesses, com pessoas completamente diferentes (RADELTUR 2)
Percebe-se que, para o representante, o evento significa muito para ele como uma
pessoa que trabalha na atividade, mas ele mesmo ressalta que são muitos interesses
envolvidos.
“Um espetáculo de muita sensibilidade, muito emocionante, e de um nível muito bom, principalmente de música, musical” (J 9).
O intelectual atribui um significado de sentimento pela cultura musical.
Já na dimensão estética, o significado do evento transmite idéia de grandiosidade e
rara beleza, entre outros, sempre o relacionando como um espetáculo. O verbatim a seguir,
ilustra:
“É uma coisa única, de uma beleza esplêndida, pela singeleza e simplicidade dela [...] por causa dessa simplicidade, se torna uma coisa grandiosa” (MBM 7).
O participante atribui um significado estético, percebendo-a como um espetáculo
grandioso.
Em relação à identificação dos entrevistados com a vesperata, 100% a identificam
como o único produto formatado da cidade, que utiliza o marketing para atrair seu público-
alvo, visando atingir um mercado cada vez mais selecionado. Os participantes afirmam que a
vesperata é um produto formatado para agradar e atrair o turista, gerando renda para o
município. Nos seus discursos, fica clara a não participação da comunidade na Vesperata, pois
ela foi revitalizada para a atividade do turismo. Como fica explícito em seus discursos:
81
O formato que agrade o turista. Vale a pena ver a vesperata, o turista hoje quando vem à Diamantina tá vindo para assistir a vesperata, [...] fluxo grande de turista na cidade, todos os hotéis ficam lotados, então com isso vem alimentação, vem as feiras, o artesanato, o envolvimento é geral, desde posto de gasolina e tudo. Ela sem dúvida nenhuma é um produto turístico, porque na realidade você pode calcular o fluxo de dinheiro que entra na cidade nos dias de vesperata (SCTP 1). [...] é porque ele traz basicamente, vários turistas pra cá, muitos turistas vêm em função da Vesperata [...] os pacotes turísticos mais vendidos são os que têm a vesperata (RSENAC 3). [...] é um produto que está preparado para esse mercado, é um produto que já é uma realidade e que o turista hoje que vem e o conhece, ele sempre quer assistir uma próxima (...) produto muito legal que envolve toda parte cultural, histórica da cidade, turística e assim a geração de negócios nos empreendimentos turísticos da cidade vesperata é um produto, quando o turista vem, ele fica na região, ele dorme e a geração de renda acontece, porque ele participa de várias ações, desde um bar que ele senta pra tomar uma cerveja, pra comer um tira-gosto, um hotel que ele dorme, e um passeio no centro histórico (RSEBRAE 4). [...] eu diria que hoje a vesperata conseguiu fazer com que aquele antigo elemento da cultura local, que é a musicalidade de Diamantina, fosse transformado de fato em produto sustentável, ela é um produto sustentável (...) ela é um produto em função de que ela tem claramente um mercado que ela quer atingir, ela tem os atores que são diretamente interessados na venda, ela tem um marketing agregado a esse produto e ela hoje, mais do nunca, envolve um conjunto muito grande de atores econômicos que se organizam e organizam seus comércios, suas produções de serviços em torno do produto chamado Vesperata (PHALV 6). Praticamente como o único produto turístico que Diamantina tem. Eu só considero produto turístico, aquilo que pode ser vendido, e que gera emprego, que gera renda e que gera desenvolvimento, [...] a Vesperata ela não é só um produto turístico, ela cria vários outros produtos, várias outras oportunidades de emprego de tudo, na cidade [...] a Vesperata, ela que de fato ta sendo a locomotiva assim, vamos dizer mensal, bimensal do turismo em Diamantina [...] a Vesperata é um produto muito procurado, a demanda para Vesperata é grande (J 9).
A partir desse cenário, observa-se que a manifestação cultural foi transformada em
produto turístico em função do desenvolvimento da atividade turística. Todavia o turismo
não pode nem deve possuir como objetivo a apropriação de uma manifestação cultural para
transformá-la em produto turístico, descaracterizando-a. O turismo proposto na cidade e no
produto formatado, além de descaracterizar a manifestação, excluiu seus principais atores e
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responsáveis por seu andamento. O turismo é um indutor de parcerias, um conciliador de
fatores discrepantes. Não que essa seja uma tarefa fácil, mas a atividade turística e seus
profissionais capacitados para tal existem em função da solução dessas lacunas.
Para (88,8%) dos entrevistados, a importância do espetáculo manifesta-se nas
dimensões econômica (6), a vesperata vista como um atrativo, fonte de renda e visibilidade
para Diamantina e na dimensão cultural (2), como um grande espetáculo e hibridização da
cultura. Seguem os exemplos.
[...] eu acho que hoje a Vesperata, turisticamente, é uma das maiores fontes de receita para Diamantina e tem o ano inteiro [...] um público com poder aquisitivo muito interessante, um público que a capacidade hoteleira da cidade recebe, que a capacidade de restaurante, de bar, tudo comporta (RADELTUR 2).
Para o representante, a vesperata é muito importante, pois ela é uma das maiores
fontes de receita para a cidade.
[...] eu considero muito importante, eu vejo, se você vendesse um pacote para uma agência de turismo sem a vesperata, eu acho que ele não teria o mesmo apelo de venda, quando você vende com a vesperata. Eu acho que é um grande aliado da cidade esse evento aqui (RSENAC 3).
Esse entrevistado deixa claro que a cidade depende da vesperata para atrair turistas,
sem a realização do evento, o fluxo turístico cairia, ocasionando perda de recursos financeiros
para os envolvidos na venda e comercialização.
[...] a vesperata é um atrativo transformado em produto, que tem gerado emprego e renda, produto com uma enorme capacidade concentradora de renda, [...] ela é uma atividade geradora de renda, isso é indiscutível, ela tem mantido emprego nos hotéis, nas pousadas, na área de serviços, na área gráfica, na área musical (PHALV 6).
O intelectual afirma que a Vesperata é importante, pois ela concentra renda para o
município, gerando empregos e mantendo mão-de-obra nos estabelecimentos.
83
[...] eu considero que é uma das coisas mais importantes que já aconteceu em Diamantina em todos os tempos. Ela hoje é fundamental em Diamantina, não só no aspecto econômico, no aspecto de elevar a auto-estima da população e de valorizar os músicos, a música também é claro (J 9).
A importância que o jornalista atribui à vesperata é visível, não só no aspecto
econômico, mas também no social e cultural.
[...] a cidade fica cheia, por esse lado aí, eu vejo que é uma coisa boa, porque a cidade enche, é gente de todo lugar, de todas as línguas, de todas as culturas, eu vejo por esse lado, a movimentação da cidade e o recurso que ela traz pra maioria das pessoas que é o centro, porque ela traz pro centro, ela é concentrada mesmo no centro da cidade (PACD 8).
Para a participante, a vesperata é importante, porque ela propicia a troca de cultura
(hibridização) e gera recursos para a área central da cidade.
Sobre a busca para descobrir em quais aspectos a vesperata chama a atenção da
comunidade local, apenas 1 participante (11,2%) apontou que ela gera impacto positivo, ou
seja, gera renda através da atividade turística. E quanto aos impactos negativos (88,8%), se
referiram à vesperata como repudiada e excludente (4) na dimensão econômica e rotineira e
cansativa (4), na dimensão cultural. Os extratos abaixo ilustram:
Eu acho que chama da comunidade local no aspecto financeiro, todos sabem que vesperata deixa dinheiro na cidade, por mais que eles digam que a vesperata deixa dinheiro em setores definidos, mais eles sabem que isso não é verdade, distribui dinheiro na cidade toda [...] a comunidade local vê a vesperata realmente como uma fonte de receita, de renda (RADELTUR 2).
Na opinião do representante, ela chama a atenção da comunidade no aspecto
financeiro, gerando renda e oportunidade.
[...] para as pessoas daqui, por mais que sempre é uma emoção você ver uma vesperata e tudo, se torna um pouco cansativo (RSENAC 3).
Na opinião do representante, ela chama a atenção da comunidade pela emoção que
transmite, mas é cansativa.
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[...] a gente ouve falar até de questionamentos de representantes das comunidades que em muitas situações não conseguem participar da vesperata (RSEBRAE 4). Tem algumas pessoas aqui na cidade que inclusive chegaram a falar: hoje tem besterata, canserata (PHALV 6). [...] a população de Diamantina não tem acesso de entrar, ela é separada por uma faixa e ali ninguém pode entrar pro lado de dentro, é só o turista. A vesperata tá dentro da cidade, tá dentro da comunidade de Diamantina e a própria população não tem a liberdade, o direito de ir e vir, porque a vesperata tira o direito das pessoas de ir e vir. Eu acho isso uma falta de respeito, porque se o evento tá acontecendo dentro de Diamantina, eu acho que a comunidade tem direito, mas ela não tem, porque os turistas pagam essas mesas [...] não é uma coisa para todo mundo, eu acho que poderia tirar essa faixa (PACD 8).
85
Quadro 5 (N=09) - Julgamento de Valor Sobre a Vesperata
Dimensão Significado Total Identificação Total Importância Total Impacto Positivo Total
Impacto Negativo Total
Econômica Não se identifica, um
produto turístico, promove a cidade.
04
Produto turístico sustentável que visa,
através do marketing, o mercado, o comercio e os serviços, os atores
econômicos
08
Atrativo turístico, fonte
de renda, visibilidade
06 Gera renda atividade turística
01
Social - - - - Repudiada Excludente
04
Cultural
Ela traz um aprendizado.
Sentimento pela cultura musical
03 Produto cultural 01
Grande espetáculo,
hibridização de cultura
02 Rotineira e Cansativa
04
Estética Espetáculo grandioso.
01
Total 08 09 08 01 08 Freqüência 88,8% 100,0% 88,8% 11,2% 88,8%
86
Podemos concluir, através desses verbatins, que o turismo existe muito em função do
conhecimento de culturas distintas e grande parte da composição dessa cultura refere-se às
manifestações culturais, sendo assim, fica claro que, para o desenvolvimento da atividade
turística, se faz necessário a criação de uma infra-estrutura que sirva de suporte para que seja
vivenciada por ambas as partes. Dessa forma, acredita-se que seja importante, sim, conjugar a
manifestação a um sustentáculo que lhe permita ser compartilhada e vivenciada, sem excluir e
deixar à margem seus atores principais.
A atividade turística, como qualquer outra atividade, implica em um fator de suma
importância para seu andamento, ou seja, o planejamento. O contexto turístico brasileiro
raramente compatibiliza o planejamento com o início da atividade em uma localidade. Em
alguns municípios, ainda existem iniciativas significativas de planejamento que chegaram
depois e que conseguiram estabelecer um direcionamento ao processo. Realmente tem-se a
consciência de que, iniciar a atividade com um planejamento participativo capaz de unir o
poder público a iniciativa privada e ainda assim considerar os interesses da população local, é
tarefa árdua, entretanto, sabe-se que o declínio do turismo, sua massificação e
direcionamentos indevidos advêm dessa lacuna.
Diamantina se insere nessa realidade. O turismo na cidade iniciou-se e criou
dimensões não imaginadas. Assim, o planejamento foi uma medida inexistente por tempo
considerável, tanto que, hoje, são perceptíveis diversas falhas no município que possui
demanda, possui atrativos maravilhosos, mas não apresenta serviços turísticos suficientes para
atender à demanda que a procura. Houve muita divulgação do município, o título de
patrimônio foi um grande fomentador dessa evolução, entretanto não há sustentação capaz de
aportar tamanha procura com a qualidade que é requerente.
A mesma situação referente à falta de planejamento que confere à cidade um certo
amadorismo em suas iniciativas no âmbito turístico, reflete, também, na manifestação da
87
Vesperata, o mesmo despreparo. O evento foi tomando grandes proporções e as iniciativas de
adequação do produto à demanda foram sendo tomadas à medida que foram sendo requeridas.
Essa conjuntura trouxe algumas ameaças à realidade atual da Vesperata. Hoje, a população
não participa do processo, se sente à margem e também não contribui, pelos motivos citados,
para seu aperfeiçoamento. A vesperata criou uma dimensão tão inimaginável e ao mesmo
tempo tão exclusiva, que as outras manifestações do município, talvez até de maior
representatividade e ligação com as reais tradições locais, competem entre si para
conseguirem um espaço mínimo de visibilidade no cenário destinado à Vesperata. Têm
ocorrido com freqüência apresentações concomitantes nos dias em que acontece o evento em
Diamantina. Corais, grupos folclóricos e a simbólica serenata, típica da musicalidade
diamantinense, vêm se apresentando no mesmo horário, porém em lugares diferentes. São
várias apresentações distintas, em um mesmo horário, disputando a atenção do turista que
vem para assistir à Vesperata. A manifestação transformou-se no carro chefe da divulgação da
cidade e excluiu não só a comunidade, mas também não deixa espaço para as demais
tradições. Essas não possuem mais, aos olhos do turista, o mesmo encanto que a Vesperata e
também não representam para eles o mesmo poder de atração.
Toda essa realidade um tanto quanto complexa é fruto da ausência de planejamento, da
falta de um direcionamento e de profissionais capazes de adequar e equilibrar todos os
atrativos, principalmente sua divulgação que não pode se ater a um único produto, ainda mais
em um município dotado de tantos atrativos naturalmente surgidos de suas vivências na
história.
A concepção do turista a respeito de uma localidade e do conhecimento de todas as
esferas que compõem o turismo nela tem que ser determinada unicamente por ele. A
autonomia do turista não pode ser direcionada, suas escolhas devem ser livres e todos os
responsáveis pela movimentação da atividade turística possuem a liberdade de se inserirem no
88
mercado em condições igualitárias de concorrência, no intuito de que o turista visitante seja o
único responsável pelo seu discernimento e que o leque de beneficiados pelo turismo alcance
sempre, e cada vez mais, um número maior de colaboradores satisfeitos e empenhados no
crescimento comprometido do turismo na localidade em que esteja inserido.
Ao assumir uma concepção do estudo sob o viés da representação social, não
pretendemos aqui chegar à construção de uma verdade ou ao estabelecimento de um
conhecimento pronto e acabado. A noção que buscamos explicitar é a de um trabalho
interpretativo, em que os signos e os símbolos sociais se apresentam na perspectiva aberta de
compreensão de seus sentidos e significados.
Assim, ao tentarmos compreender o espaço de vivência da Vesperata – na cidade de
Diamantina – percebemos o forte vínculo que a mesma estabelece com seus costumes,
notadamente aqueles voltados para o interesse da música e da religiosidade. É marcante a
idéia de pertencimento a uma comunidade culturalmente atrelada a práticas de caráter
tradicionalistas, ainda que, ao longo dos anos, algumas dessas práticas tenham sido
ressignificadas, aparentemente objetivando o desenvolvimento turístico, que traz no seu bojo
a lógica do desenvolvimento econômico e social.
Um fato marcante nas relações estabelecidas entre a comunidade e algumas práticas
culturais locais foi a elevação da cidade de Diamantina a Patrimônio Cultural da Humanidade,
em 1999. A partir disso, o olhar das pessoas sobre a cidade é ampliado significativamente, e
ela passa, então, a ter que apresentar para o ‘mundo’ tudo aquilo que fosse representativo : a
arquitetura, os atrativos naturais, os usos e costumes, enfim, as vivências e os espaços que
conferem sentido e identidade aos sujeitos que habitam a cidade. Se, para Certeau (1994), “o
espaço é o lugar praticado”, era necessário explicitar a cultura local através de suas práticas
historicamente situadas e construídas.
89
Assim, foi possível identificar, nas falas dos atores sociais envolvidos nesse estudo,
que muitas dessas vivências tradicionais que compunham a cultura local foram alteradas
profundamente para atender à nova demanda turística que surgia. Ao utilizar a concepção de
cultura como fenômeno que envolve necessariamente o ato de sentir, perceber, representar e
construir uma imagem de mundo, evidenciamos a existência da reconstrução de uma
manifestação cultural – Vesperata – através do significado que lhe é atribuído pelos sujeitos.
A Vesperata se mostrou particularmente como uma dessas práticas ressignificadas. De
elemento constitutivo da cultura tradicional, ela passa gradativamente a ganhar contornos de
um fenômeno espetacularizado, voltado agora para ‘os outros’, para ‘os de fora’. É possível
também perceber que, atualmente, a Vesperata se mostra como uma manifestação em que a
noção de espetáculo passa a ser o viés norteador.
Ora, se a cultura é a representação social de um dado espaço, onde os símbolos são
permanentemente (re)construídos pelos atores que atuam naquele local, vemos a Vesperata
como um símbolo da cultura local de Diamantina, ressignificada a partir de determinados
interesses que passaram a ser socialmente vigentes, como, uma nova ordenação da dinâmica
social, com vistas ao atendimento de uma política que passa a privilegiar o turismo e,
particularmente, o turismo cultural. Aqui, comparando os resultados ao trabalho de Rosa
(2002), sobre a espetacularização, a Vesperata muito marcada por interesses comerciais, sofre
influências dos padrões de organização e administração ditadas pela indústria cultural. A
organização passou do poder popular ao público e depois ao privado, que instaura
abertamente os valores mercadológicos, com a certeza de que “festa é negócio”. Essa fala é
emblemática do que ocorreu com a Vesperata e, também, é recorrente nas palavras dos
entrevistados. O processo de mercantilização do espetáculo, sendo o turismo um dos seus
motivadores, é estudado por Canclini (1983), quando o autor ressalta que a mercantilização da
cultura deve ser investigada, abordando-se os aspectos econômicos e simbólicos dos produtos
90
populares, tanto a produção quanto a circulação e o consumo. No entanto, a situação deve ser
compreendida numa interação dinâmica, envolvendo produtores e consumidores. Há uma
lógica dominante, a do mercado, mas ela não é única. (Rosa, 2002).
Um outro aspecto a ser salientado, de acordo com a interpretação dos dados, é o
processo de identidade e pertencimento que envolve o fenômeno da Vesperata. Antes, uma
manifestação da comunidade local, prática de lazer dos moradores da cidade, é agora
percebida pelos habitantes como um espetáculo formatado para o consumo dos turistas, que
passaram a se apropriar do evento, parte integrante da cultura local. É possível notar, em
algumas falas, certo grau de ressentimento, denotando desagrado e até mesmo desprezo. O
que antes era uma produção cultural vivenciada pela própria comunidade, passa a ser produto
cultural ofertado para ‘os outros’. A consciência de algumas pessoas quanto a essa questão,
gera naturalmente um clima de tensão entre os moradores e os turistas, à medida que cria
sentimentos de conflito, alimentados por uma lógica passional de ‘posse’ da prática cultural
da Vesperata. Ao expor essa questão, os resultados corroboram as idéias de Bruhns (1992),
que entende as comunidades não como agrupamentos homogêneos de pessoas com
finalidades idênticas e convívio harmonioso; a autora leva em consideração as condições de
vida em comum, os interesses, as contradições e os conflitos, reproduzindo as relações e os
processos sociais.
Continuando, entendemos que a espetacularização da Vesperata despertou também um
sentimento, em parte da comunidade local, de exclusão e de marginalidade, ou da perda da
idéia de pertencimento e do caráter identitário que a manifestação possuía anteriormente. O
termo “exclusão” é recorrente nos discursos dos sujeitos e aponta para o entendimento que a
manifestação tornou-se uma prática cultural da qual eles já não fazem mais parte e que ela
vem sendo apropriada pelos turistas que, embora a consumam, não criam vínculos de
identidade ou laços de pertencimento. A divisão dos espaços é ilustrativa dessa situação.
91
Existe uma área reservada aos turistas (com mesas e um certo conforto) e uma outra área,
separada por uma fita, destinada aos ‘outros’ (na sua maior parte, a própria comunidade
local), sem nenhuma infra-estrutura e conforto para assistir-se ao espetáculo.
O fenômeno turismo – não tão expressivo nos primeiros anos do evento – no decorrer
dos anos, assumiu dimensões que alteraram o caráter tradicional da Vesperata, pois esta
ganhou contornos para além dos limites geográficos, gerando mudanças nas expressões
culturais e nas relações sociais, registrando, assim, novos fatos na vivência dessa prática, na
vida da cidade e de toda sua gente. O desenvolvimento do caráter turístico fez com que a
Vesperata fosse mercantilizada, trazendo benefícios de ordem econômica, mas também
conflitos e tensões entre a população. Na voz das pessoas entrevistadas, é evidente a
percepção da manifestação como um ‘evento comercial’ e essa constatação está fortemente
marcada pelo elemento turístico, que a transforma em produto de consumo. A cultura,
produtora e produto de bens simbólicos, acaba incorporando a lógica mercadológica, sob o
viés da ordem produção-consumo e do lucro, potencializado pelo desenvolvimento turístico.
Por esse entendimento, a Vesperata se mostrou um fenômeno cultural que mantém
estreitas relações com o todo da vida social, com apropriações próprias e singulares dos
sujeitos que circunscrevem a ocorrência do evento. Apesar da ótica subjetiva posta nessas
apropriações, percebe-se também um certo padrão comum concernente às normas, condutas,
posturas, valores e percepções dos atores sociais envolvidos na Vesperata. E esse padrão, via
de regra, está atrelado aos benefícios e sentimentos positivos que a Vesperata desperta.
Têm-se o entendimento de um rearranjo na sua estrutura que, apesar da transformação,
permitiu-lhe sobreviver e até desenvolver-se. Por esse motivo, supõe-se, a Vesperata ainda
mantém com a comunidade um estreito vínculo de afetividade, percebido na forma como as
pessoas, na sua maioria, se expressam quanto à sua ocorrência.
92
Embora tenham sido apontadas questões referentes aos aspectos negativos da Vesperata, a
consideração geral é a de que ela é fundamental para a cidade, tanto quanto fenômeno de
expressão da cultura local, quanto mesmo espetáculo que vise a aspectos econômicos e
comerciais. A referência à beleza estética e acústica, ao valor cultural que agrega identidade e,
ainda, como atrativo turístico que propicia o aumento da fonte de renda, e a associação de um
produto cultural gerador de publicidade e visibilidade ; tudo isso é apontado pelos sujeitos
como elementos que conferem ‘status’ de dignidade e legitimidade à Vesperata.
No tocante às falas dos sujeitos, ainda é possível depreender um outro entendimento,
quanto à representação social do espetáculo da Vesperata. Como discutido na literarura, a
representação se dá por meio das informações, crenças, opiniões, valores, atitudes, idéias,
estereótipos e preconceitos construídos coletivamente num dado grupo social, legitimando (ou
negando) práticas culturais instauradas em seu espaço. Nesse sentido, o discurso aponta para o
reforçamento da Vesperata, enquanto uma manifestação representativa dos usos e costumes
da comunidade (como sua história e ligação com a música e a religiosidade, por exemplo).
Percebe-se, através da análise das palavras, que as atitudes e os hábitos estão recobertos por
um forte sentimento de identidade cultural vinculado ao espetáculo. A consideração que
gostaríamos de enfatizar, então, é a de que a imagem evocada pela Vesperata se constitui em
um modelo típico de representação social, à medida em que os sentidos e significados
construídos a partir do espetáculo permitem a elaboração de uma estrutura simbólica e
imagética do fenômeno, apropriado e ressignificado pelo grupo social.
Assim, é fundamental mesmo a compreensão da Vesperata na perspectiva de um
« ritual de representação social », que busca resgatar e fortalecer traços de uma cultura
específica, no caso, a cultura do povo de Diamantina, essencialmente ligado à música, à festa
e ao espetáculo. A Vesperata se mostra como uma manifestação popular, em um cenário que
contribui para que a vivência do espetáculo seja, também, um espaço de lazer para a
93
comunidade local, tanto quanto para os turistas. Isso tudo demonstra que os interesses
norteadores do desenvolvimento dessa manifestação pela comunidade diamantinense se
caracterizaram pela valorização da cultura local, mas com objetivos turísticos e de natureza
comercial.
94
CAPÍTULO VI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, entendemos que, através dos resultados expostos, este estudo possibilita o
apontamento pragmático de subsídios que visem dar sustentabilidade a manifestações
culturais que se encontram nas mesmas condições da Vesperata. Podemos destacar e
explicitar os seguintes pontos como recomendações elaboradas a partir da pesquisa :
• O fortalecimento do turismo cultural, através do incremento do vínculo entre a
população local e os turistas, potencializando a interação com as práticas culturais da
cidade;
• A valorização de outros produtos turísticos que tenham identidade com a comunidade
local de Diamantina;
• A necessidade de formatação e preparação de novos produtos turísticos;
• A inserção da população local no processo produtivo dos bens culturais da região, bem
como sua apropriação dos sistemas de gestão e comercialização do produto turístico
final ;
• A dinamização dos processos de recuperação da memória e da identidade dos diversos
lugares, ação que permitiria às comunidades reconstruírem a importância do papel que
suas cidades têm para si;
• A necessidade de um trabalho de conscientização, preservação, conservação e
exploração dos produtos turísticos culturais;
95
• O estabelecimento de parcerias entre os setores público e privado, com vistas à
implantação de um projeto turístico que leve em consideração a valorização dos bens
culturais locais, e que gere benefício sócio-econômico ao município.
Finalmente, entendemos que essas sugestões devem estar atreladas a um planejamento
abrangente, com o envolvimento de todos os setores e segmentos sociais que atuem em
conjunto com a política do desenvolvimento turístico da região. Devido à carência de
pesquisas pertinentes ao objeto de estudo em questão, acreditamos, também, na necessidade
de novos estudos, que suscitem outros olhares e percepções sobre o fenômeno cultural e
turístico da Vesperata.
96
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APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ/MESTRADO DE CULTURA E TURISMO AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS TURÍSTICOS E CULTURAIS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG
Caro (a) Colaborador,
Eu Maria Luar Mendes de Souza, estudante e pesquisadora do Programa de
Mestrado em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC),
Ilhéus-BA, desenvolvo um projeto de pesquisa intitulado As Representações Sociais da
Comunidade Sobre Elementos Turísticos e Culturais da Vesperata em Diamantina -
MG, que tem como objetivo geral, investigar os elementos contidos nas Representações
Sociais (RS) construídas acerca da Vesperata pelas diferentes categorias sociais da
comunidade local de Diamantina-MG, a fim de apreender aspectos que possam melhor
orientar a prática do turismo cultural. Para atendê-los, far-se-ão necessários à utilização da
técnica associação de idéias ou evocações livres, a um grupo de moradores e aos prestadores
de serviço turístico da cidade, visando uma maior apreensão dos conteúdos cognitivos das RS
e as entrevistas semi-dirigidas (gravadas), a um número menor de colaboradores que estão
envolvidos em Órgãos e Instituições ligados ao turismo na cidade. Portanto este procedimento
é relevante para os entrevistados na medida em que permite clarear suas posições sobre o
tema abordado, e explicar seu pensamento.
Finalmente após analisar o conteúdo dessas Representações Sociais da comunidade
sobre a Vesperata, através desses dois instrumentos de coleta de dados, buscaremos contribuir
na melhoria do turismo cultural local, possibilitando o aprimoramento e planejamento do setor
na cidade de Diamantina.
Além dos esclarecimentos acima citados, fica estabelecido que ao aceitar participar da
pesquisa, realizaremos uma reunião para quaisquer esclarecimentos sobre benefícios e riscos.
Assim, seu nome não será citado. Por outro lado, a qualquer momento, você pode deixar de
participar do estudo.
Após a leitura do termo, se você aceitar participar do estudo, queira, por favor, assinar o
documento.
105
Cordialmente
________________________________ _____________
Pesquisadora Data
________________________________ _____________
Colaborador Data
106
TERMO DE CONSENTIMENTO PARA MINHA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO
DE PESQUISA DE MARIA LUAR MENDES DE SOUZA
Identificação do participante
Nome: _________________________________________________
Idade______
Bairro________________
Profissão ___________________________
Eu, abaixo assinado (a) __________________________________________, concordo em
participar de seguinte pesquisa, dentro das condições descritas abaixo:
Projeto: As Representações Sociais da comunidade sobre elementos turísticos e culturais da
Vesperata em Diamantina – MG.
Responsáveis: Maria Luar Mendes de Souza e Orientador: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bonfim Objetivo do Projeto: Geral: Investigar os elementos contidos nas Representações Sociais construídas acerca da
Vesperata pelas diferentes categorias sociais da comunidade local de Diamantina a fim de
apreender aspectos que possam melhor orientar a prática do turismo cultural.
Específicos:
- Identificar e analisar as Representações Sociais construídas acerca da Vesperata, verificando
a existência de uma identidade nas diversas categorias sociais da comunidade em relação à
mesma;
- Elaborar estratégias, a partir das Representações Sociais construídas, para orientar as
práticas do turismo cultural local.
Riscos:
É entendido que minha participação neste projeto não apresenta nenhum risco
107
Retirada da minha participação: É entendido que minha participação no projeto de pesquisa
aqui descrito aqui é totalmente livre. A qualquer momento, ficou claro que poderei colocar
um termo à minha participação sem que isto afete meus direitos.
Informações referentes ao projeto: Deverá ser respondida, à minha satisfação toda questão
que eu colocar a propósito do projeto de pesquisa.
Utilização dos resultados: Eu autorizo que as informações cedidas possam ser utilizadas para
fins de comunicação cientifica e profissional. É entendido que o anonimato a meu respeito
será respeitado.
Eu declaro ter lido e/ou compreendido os termos do presente documento
Diamantina ______ de _________________ de 2007
______________________________________
Assinatura do colaborador
_____________________________________
Nome e assinatura do Responsável Legal, quando for o caso
A Pesquisadora Responsável por este Projeto de Pesquisa é Maria Luar Mendes de
Souza, se encontra no endereço: Rua João Alves Maurício, 536, Jardim Panorama, Montes
Claros-MG, 39400-000. Fone: (38) 8821-0454 e 3223-8250.
O presente documento foi assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o
colaborador da pesquisa ou seu representante legal e outra com o pesquisador responsável.
Data __ / __ / ____ ___________________________________
Nome e assinatura do responsável do projeto
____________________________________
108
APÊNDICE B – GUIA DE ENTREVISTA SEMI-DIRIGIDA- REPRESENTANTES
DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS, INSTITUIÇÕES E INTELECTUAIS.
PROJETO DE PESQUISA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS TURÍSTICOS E CULTURAIS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG
NOME_______________________________________IDADE________________
GESTOR DA INSTITUIÇÃO___________________________________________
DATA_________/________/__________
Bloco 2 A imagem da Vesperata sobre a ótica do discurso
Tema 1 Os elementos de caracterização e definição da Vesperata (opinião, conceito, idéia)
1. Coloque-se na situação em que você deve descrever a Vesperata para um turista. O que você diria
para ele? (CDC)
2. Na sua opinião, como você define a Vesperata ? (CD)
Tema 2 O julgamento de valor sobre a Vesperata (opinião, preconceito, estereótipo, idéia,
crença, mito)
1. O que a Vesperata representa para você? (CP)
2. Você considera a Vesperata como um produto turístico?. Sim ou não e Por quê? (CP)
3. Até que ponto, você considera a Vesperata importante para a cidade? Por quê? (CP)
4. Em sua opinião, quais as conseqüências para a cidade com o desaparecimento da Vesperata? (CP)
5. É possível que a Vesperata mantenha-se ao longo do tempo? Por quê? (SPTV)
6. Em sua opinião, a Vesperata chama mais atenção da comunidade local ou dos visitantes? (CP)
109
APÊNDICE C – FORMULÁRIO DE ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS – PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS.
PROJETO DE PESQUISA
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS TURÍSTICOS E CULTURAIS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG
NOME_______________________________________IDADE________________
BAIRRO____________________________________________________________
DATA_________/________/__________
Bloco 1 Imagem da Vesperata sobre a ótica das palavras
2. Feche os olhos e pense na Vesperata. Agora escreva cinco palavras que venham em sua
mente sobre ela.
1.
2.
3.
4.
5.
110
ANEXOS
FIGURA 08 - 1ª Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1966.
Todos os músicos ainda vivos confirmam que o nome “Anjo da Meia Noite” se refere
à fantasia La Mezza Notte, executada nessa retreta de passagem do ano de 1966 para 1967.
Componentes da Banda de Música do 3º Batalhão em dezembro de 1966:
Maestro: Sub Tenente Jair Emídio Ferreira.
1º Sargentos: Antônio Raimundo Nonato, Francisco Santana, Ari Gonçalves, Júlio de Paula
Machado, Antônio Fabiano Mainart, José Raimundo Nonato Vieira. 2º Sargentos: Antônio
Caetano de Oliveira, João Manoel Pereira, João Bosco Pinto de Oliveira, Antônio Francisco
de Oliveira, Francisco Rodrigues de Paula, José Amável da Silva, José Jesus da Paixão. 3º
Sargentos: João da Silva Mendonça, Raimundo de Assis Duarte, Sideney Borges de Andrade,
Sebastião Alves (13º), Raimundo Constantino de Souza. Cabos: Raimundo Nonato da Cruz,
Luiz Gonzaga Siqueira, Luiz Mariano de Matos, Urias Estevam Ribeiro, Sebastião Barbosa,
José da Silva Macena, José de Araújo (3º), José de Araújo (4º), João Alves de Souza,
Expedito Lúcio, Geraldo Agostinho do Espírito Santo, Waldomiro Fradico de Araújo.
Soldados: Natalício Estevão de Oliveira, José Jorge da Costa, Jadir Viana, José Maria Leite,
João de Oliveira (6º), Manoel Natalício Barreto, Dirlei Bento Moreira, Milton Nonato da
Silva, Geraldo Avelino Santiago, Adão Gomes de Souza, Jonas Rodrigues de Souza, Vicente
111
Crisóstomo, Antônio Geraldo Ferreira, Ramires José Entreportes, Advaldo da Assunção
Cardoso.
Fonte: Cartão de Natal da Banda do 3º Batalhão para as famílias diamantinenses
Acervo: José da Silva Macena – 1966
113
FIGURA 10 - Primeira Banda de Música do 3º Batalhão em Diamantina. Quartel no sobrado do Largo da Cavalhada, por volta de 1891/1892. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007. Acervo: Laércio Lages.
114
FIGURA 11- Vista panorâmica da Praça onde eram realizadas as retretas dominicais, lateral à Igreja de Santo Antônio, antiga Igreja da Sé, entre 1910 e 1932. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007. Acervo: Chichico Alkmin
FIGURA 12 – Visita do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e do Governador do Estado de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, a Diamantina em 09 de fevereiro de 1995. Recepção no Colégio Estadual Gabriel Mandacaru pela Banda Mirim sob a regência de José de Jesus Melo (Gaguinho).
Fonte: Fernandes e Conceição, 2007.Acervo: José de Jesus Melo
116
FIGURA 14 – Músicos da Banda do Batalhão, em noite de vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza