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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MARIA LUAR MENDES DE SOUZA AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG ILHÉUS – BAHIA 2008

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MARIA LUAR … · sociológico. Ao tratar da cultura local, no entanto, sentimos a necessidade de compreensão do termo “cultura”, e tudo o

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

MARIA LUAR MENDES DE SOUZA

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG

ILHÉUS – BAHIA 2008

MARIA LUAR MENDES DE SOUZA

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DA VESPERATA EM DIAMANTINA – MG

Dissertação apresentada, para obtenção do título de Mestre em Cultura e Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Área de concentração: Ciências Sociais Aplicadas – Turismo Orientador: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim

ILHÉUS – BAHIA 2008

MARIA LUAR MENDES DE SOUZA

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DA VESPERATA EM DIAMANTINA – MG

Ilhéus – BA, / /2008.

____________________________________________ Natanael Reis Bomfim - DS

UESC (Orientador)

____________________________________________ Moema Maria Badaró Midlej - DS

UESC

_____________________________________________

Euler David Siqueira - DS UFJF

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha filha, Clara Lis, razão maior da realização deste sonho, aos

meus pais, irmãos e a todos que, de alguma forma, contribuíram e torceram por mim.

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por me permitir a realização deste sonho.

À minha filha, Clara Lis, por quem vivo e luto pelos meus objetivos. Aos meus pais, Georgino e Cléo, pelo amor, pela segurança e pela oportunidade de concretização deste e de todos os outros grandes projetos da minha vida. Aos meus irmãos-amigos, Gino, Gabi e Tiago e respectivos sobrinhos, João Vitor, Marina Morena, Ana Beatriz e Maria Luíza, pela força, pelo carinho e incentivo e pela existência. A Fátima, pelo carinho e amor que tem por minha Clara. Obrigada pela paciência e pelos incontáveis momentos de alegria. Ao meu orientador e “desorientador”, Natanael, pela força, amizade, aprendizado e apoio, no decorrer deste trabalho. À FAPESB, pela concessão da bolsa de estudos. Aos professores do programa do mestrado, Marco Ávila, Janete, Tomé, Sócrates, Sandra, Odilon, Ana Cláudia e Paulo pela aprendizagem recebida. Aos funcionários do programa do mestrado, em especial, Brenda, pela paciência, pelo carinho e comprometimento no atendimento às necessidades dos alunos. Aos meus amigos e colegas do mestrado, em especial, Mariana, Ed, Paula, Fernanda, Rodrigo, Lise, Angye e Bete, pelos momentos de estudos e também momentos de lazer. As minhas amigas, companheiras de casa, Mariana, Paula e Mayra, pela paciência, pelos conselhos, por estarem ao meu lado em todos os momentos desta caminhada. Aos escritores do livro: La Mezza Notte, Antônio Carlos Fernandes e Wander Conceição, pela atenção, ensinamento e aprendizado. Aos moradores e à cidade de Diamantina, motivos deste projeto.

Aos funcionários da SECTUR – Diamantina/MG.

v

RESUMO

Autora: Maria Luar Mendes de Souza

Orientador: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim

Este estudo tem como objeto central o espetáculo da Vesperata, que ocorre na cidade de Diamantina-MG, e suas representações sociais construídas pela comunidade local, sob o viés norteador dos elementos culturais e turísticos presentes nesta manifestação. Para tanto, realizamos um estudo qualitativo-interpretativo, utilizando uma multimetodologia, analisando o conteúdo da evocação livre de palavras e da entrevista semi-dirigida. Neste sentido, foi possível observar a construção de uma representação social, evidenciada pela percepção dos sujeitos quanto às práticas denotadas a partir do espetáculo. Valores, sentimentos, hábitos e estereótipos ganham sentidos e significados singulares para os habitantes da cidade, que legitimam e dão conformação a esta prática cultural do espetáculo da Vesperata. Assim, nota-se uma reordenação da manifestação, com vistas ao atendimento à demanda do turismo cultural, onde a lógica da mercantilização do espetáculo se fortalece. É importante ressaltar, porém, que o sentido original do evento, ligado à tradição cultural da comunidade, embora tenha sido alterado, permanece integrado à órbita que circunda o espetáculo.

Palavras-chave: vesperata, espetáculo, cultura, turismo, representação social.

vi

ABSTRACT

Author: Maria Luar Mendes de Souza

Adviser: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim

The present study focuses mainly on the Vesperata show which takes place in Diamantina, MG, and the social representations built by the local community based on this happening, under the guide of the touristic and cultural elements present in this popular manifestation. So far, I did a quality interpretative study using the related literature as reference as well as an analysis of the actors’ discourse who happened to be involved in that manifestation. In this sense, it was observed the construction of a social representation shown through the subjects’ perceptions concerning the practices in the Vesperata. Values, feelings, habits and stereotypes assume singular meanings for the town people, who legitimate and frame the cultural practice. Thus, it was observed a rearrangement of the manifestation in order to face the demands of cultural tourism where the logic of merchandise gets stronger. It is important to stress that despite the changes concerning the original meaning of the event it is still connected to the cultural traditions of the town, thus integrating the orbit that surrounds the Vesperata.

Keywords: : Vesperata, show, culture, tourism, social representation.

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LISTA DE FIGURAS

1 - Mapa do município de Diamantina.............................................................................. 16

2 - Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1967............................................ 25

3 - Banda do 3° Batalhão da PMMG/Diamantina-MG, 1934........................................... 28

4 - Músicos da Banda do 3° Batalhão, em noite de Vesperata, 2007............................... 30

5 - Adolescentes da Banda Mirim, em noite de Vesperata, 2007..................................... 30

6 - Informativo do Ministério da Cultura sobre a Vesperata, 1997................................... 32

7 - Noite de Vesperata, 2007............................................................................................. 33

8 - 1ª Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1966........................................ 110

9 - Partitura da melodia La Mezza Notte.......................................................................... 112

10 - Primeira Banda de Música do 3º Batalhão em Diamantina.

Quartel no sobrado do Largo da Cavalhada, por volta de 1891/1892............................... 113

11- Vista panorâmica da Praça onde eram realizadas as retretas dominicais, lateral à

Igreja de Santo Antônio, antiga Igreja da Sé, entre 1910 e 1932...................................... 114

12 - Visita do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e do Governador

do Estado de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, a Diamantina em 09 de fevereiro de

1995. Recepção no Colégio Estadual Gabriel Mandacaru pela Banda Mirim sob a

regência de José de Jesus Melo (Gaguinho)...................................................................... 114

13 - Noite de vesperata, 2007............................................................................................ 115

14 - Músicos da Banda do Batalhão, em noite de vesperata, 2007................................... 116

15 - Maestro da Banda Mirim, em noite de Vesperata, 2007............................................ 117

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LISTA DE QUADROS

1. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores mais antigos-N=49)............ 69 2. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores do bairro periférico - N=39) 72 3. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (prestadores de serviços turísticos - N=174)................................................................................................................................. 75 4. Elementos de caracterização e definição da Vesperata................................................... 78 5. Julgamento de Valor Sobre a Vesperata.......................................................................... 87

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SUMÁRIO Resumo................................................................................................................................ v Abstract............................................................................................................................... vi INTRODUÇÃO................................................................................................................... 10 CAPÍTULO I. A CULTURA DE DIAMANTINA NUMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA.......................................................................................... 14 1.1. Do Arraial do Tijuco a Diamantina: aspectos histórico-geográficos............................. 15 1.2. A cultura de Diamantina: um olhar sociológico sobre a religião e a música................ 21

CAPÍTULO II. O CONCEITO DE CULTURA E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO CULTURAL E O FENÔMENO DA ESPETACULARIZAÇÃO............. 36 CAPÍTULO III. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: DIMENSÕES TEÓRICAS DA PESQUISA.......................................................................................................................... 45 3.1. Origem e Conceitos Epistemológicos das Representações Sociais............................... 45 3.1.1. Estrutura das Representações Sociais......................................................................... 48 CAPÍTULO IV. ASPECTOS METODOLÓGICOS PARA APREENDER OS ELEMENTOS CULTURAIS E TURÍSTICOS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A VESPERATA EM DIAMANTINA – MG................................... 53 4.1. Estudos sobre a utilização das Representações Sociais: Tendências e Limites............. 53 4.2. Perspectiva de Orientação Epistemológica do estudo das Representações Sociais sobre a Vesperata.................................................................................................................. 56 4.3. Desenho metodológico do estudo.................................................................................. 57 4.3.1. Local de estudo........................................................................................................... 58 4.3.2. Constituição e característica dos participantes (amostra)........................................... 58 4.3.3. Instrumentos de coleta de dados................................................................................. 61 4.3.4. Métodos de análise e interpretação dos dados............................................................ 63 CAPÍTULO V. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VESPERATA SOB O OLHAR DOS ATORES SOCIAIS DE DIAMANTINA – MG...................................... 66 5.1. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras............................................................. 67 5.2. Imagem da Vesperata expressa pelo discurso.............................................................. 76 CAPÍTULO VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 94 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 96 APÊNDICES....................................................................................................................... 104 ANEXOS............................................................................................................................. 110

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INTRODUÇÃO

O presente estudo diz das representações sociais estabelecidas a partir das relações

construídas entre a prática cultural conhecida como “Vesperata”, e a população da cidade de

Diamantina. Para empreender esta pesquisa, foi necessário um envolvimento com a

comunidade local, bem como com suas manifestações culturais representativas. Na verdade,

este envolvimento precede ao estudo. Tendo a oportunidade de trabalhar como coordenadora

de turismo da Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio da Prefeitura Municipal de

Diamantina, no período de 2004 a 2006, pude perceber as nuances que circunscrevem o

turismo cultural do município. Assim, uma prática em particular me sensibilizou: a ocorrência

do espetáculo da Vesperata, onde bandas de músicas se apresentam das sacadas dos casarões

históricos, executando um vasto repertório. De fato, uma manifestação singular, fruto da

tradição musical do seu povo.

Porém, o movimento de transformação da manifestação cultural em espetáculo

ofertado como produto turístico despertou-nos o interesse em aprofundar o impacto que a

Vesperata causava na comunidade. Qual era a percepção dos próprios moradores sobre a

Vesperata? Como a população local se relacionava com o espetáculo? Quais eram as

expectativas sobre a ocorrência do fenômeno? Enfim, como se dava a apropriação da

manifestação, não pelos turistas, mas pelos que habitam a cidade de Diamantina?

Para tanto, nós recorremos à Representação Social, como teoria e método, que na

concepção de Moscovici (1976), a entende enquanto um conjunto de idéias, opiniões,

valores, preconceitos e estereótipos que os indivíduos têm sobre um objeto social. Estes

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elementos são fomentadores da construção da identidade entre o sujeito e o objeto. Nesse

conceito, a Vesperata é considerada como um objeto da Representação e reflete um saber

que os indivíduos de uma dada sociedade ou de um grupo social elaboram acerca de um

segmento de sua existência ou de toda a existência.

Neste sentido, no primeiro capítulo, nos apropriamos da cultura da cidade de

Diamantina, recorrendo a uma contextualização histórico-geográfica, que nos permitiram

ampliar a compreensão do lugar do qual estávamos falando. Assim, a noção dos elementos

que permeiam a cultura local, como a música e a religiosidade, foi incorporada ao estudo,

situada historicamente e analisada por meio de documentos, imagens, literatura e outras

fontes que possibilitaram o diálogo com o objeto, compreendido a partir de um viés

sociológico. Ao tratar da cultura local, no entanto, sentimos a necessidade de compreensão

do termo “cultura”, e tudo o que ele incorpora.

Assim, no segundo capítulo, nós discutimos sobre o conceito de cultura e sua relação

com o turismo cultural e com o fenômeno de espetacularização. Devido à sua enorme

complexidade e por ser um termo de difícil apropriação, pela sua multiplicidade e

pluralidade, nos atemos ao recorte do objeto a partir do desdobramento do conceito de

cultura atrelado à sua relação com o turismo, pois entendemos que o turismo cultural assume

aqui, neste trabalho, uma noção central. No debate que se estabelece com o turismo cultural,

trazemos também referências do espetáculo, enquanto fenômeno que se relaciona fortemente

com a cultura e também com o turismo. Sendo a Vesperata uma manifestação representativa

da cultura local, transmutada em espetáculo turístico, vemos a proposição dessas

considerações como elementos fundamentais para o desenvolvimento do estudo. Porém, o

discurso do espetáculo, enquanto manifestação cultural e turística, não deve se apresentar

isolado de uma categoria que lhe confira sentido. A necessidade de um diálogo com um

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sistema interpretativo nos levou então à busca de uma possibilidade de olhar que se

mostrasse adequado à pesquisa.

Nessa trajetória, dedicamos o terceiro capítulo deste estudo ao entendimento

epistemológico das “representações sociais”, na base de sua origem, bem como de sua

estrutura. Tendo elegido a representação social como o paradigma interpretativo vigente no

estudo, procuramos desenvolver os seus conceitos, de forma que a análise do fenômeno

cultural da Vesperata pudesse ser colocada sob a luz desta base conceitual apresentada. Em

tese, consideramos essencial para o desenvolvimento do estudo a inter-relação estabelecida

entre o turismo cultural (fenômeno da espetacularização) e a representação social. É esta

perspectiva que irá subsidiar e nortear todo o trabalho de campo, desde a coleta das

informações até a análise dos dados.

O quarto capítulo da dissertação aborda justamente a linha metodológica adotada,

para além da pesquisa bibliográfica. Nesse sentido, descrevemos os caminhos e intenções,

para se atingir as questões e objetivos propostos, procurando traçar o desenho metodológico

pertinente à proposta do estudo. Durante todo o momento, esse percurso esteve amarrado à

lógica da representação social como norte da compreensão da prática cultural formatada no

sentido de fenômeno espetacularizado para atendimento a uma demanda do campo turístico.

Essa abordagem favoreceu a discussão que estava por vir, qual seja, a leitura e a

interpretação das informações colhidas no campo.

É do que tratamos no quinto capítulo desta dissertação. Aqui, buscamos dar forma ao

conteúdo apreendido no espaço em que as representações de fato ocorriam. Para tanto, como

exposto anteriormente, lançamos mão das palavras (livre associação de idéias) e dos

discursos dos atores sociais envolvidos na órbita da ocorrência da Vesperata. Em conjunto

com o arcabouço teórico que referencia o debate, trouxemos à tona uma análise

contextualizada dos dados coletados, atentando-nos para o fato de que toda e qualquer

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análise interpretativa busca apreender uma parte da realidade, mas não a realidade em si.

Nesse sentido, tentamos uma abordagem dialógica à luz dos autores e apresentamos uma

compreensão baseada no entendimento de cultura, de turismo cultural e das construções

efetivadas a partir das representações sociais dos sujeitos.

Por fim, explicitamos, nas considerações finais, sem ter a pretensão de ser

conclusiva, as questões mais relevantes do trabalho, comparando os resultados à luz de

autores que tratam das representações sociais. Apresentamos também, a partir do

conhecimento construído, subsídios que poderão auxiliar no desenvolvimento do turismo

cultural da cidade de Diamantina, particularmente no tocante à Vesperata.

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CAPÍTULO I

A CULTURA DE DIAMANTINA NUMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-

GEOGRÁFICA

Para compreendermos a evolução histórica do Arraial do Tijuco à cidade de

Diamantina/MG, enfocaremos nesta parte, distintas etapas daquela sociedade, destacando os

aspectos sócio-geográficos e culturais, a partir de sua ocupação, sua base econômica e

principalmente a constituição de uma identidade cultural fortemente marcada pela influência

européia.

Entendendo que a atividade do turismo surgiu como uma alternativa econômica

para o município, a ponto de transformarem as manifestações culturais em atrativo

turístico, buscaremos aqui descrever como se criou e se consolidou, através dos séculos, a

singularidade cultural de Diamantina, a ponto de atrair, hoje, a atenção dos estudiosos em

turismo cultural.

Os reinos, que trouxeram vários aspectos culturais, marcaram profundamente a

cultura local. Percebe-se que muitos personagens construíram a história de Diamantina,

como índios, portugueses, bandeirantes, negros e comerciantes, e talvez seja por essa

razão que a cidade possui uma vida cultural tão diversificada e notória, onde

manifestações populares transformaram-se em imperdíveis atrativos turísticos do

município.

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1.1. Do Arraial do Tijuco a Diamantina: aspectos histórico-geográficos

O município de Diamantina (FIG. 1) está situado no norte do Vale do Jequitinhonha, na

Zona Central do estado de Minas Gerais, possuindo uma área territorial de 3.870 Km². Além

da sede municipal, conta com os Distritos de Conselheiro Mata, Desembargador Otoni,

Extração, Guinda, Inhaí, Mendanha, Planalto de Minas, São João da Chapada, Senador

Mourão e Sopa, além dos povoados de Baixadão, Maria Nunes, Macacos, Biribiri e Itaipava.

Entre eles, os mais populosos, depois da sede, são Senador Mourão, Desembargador Otoni e

São João da Chapada, cada qual com cerca de 6% da população total do município. Os

municípios cujos territórios têm limite com Diamantina são ao norte - Bocaiúva e Carbonita;

ao sul - Monjolos, Gouveia, Datas e Serro; a leste - Couto de Magalhães de Minas, São

Gonçalo do Rio Preto e Senador Modestino Gonçalves; a oeste - Buenópolis e Augusto de

Lima.

A cidade se situa a 292 km de Belo Horizonte e as principais rodovias que dão

acesso ao município são: BR-259, MG-2, MG-121, BR-367.

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FIGURA 1 - Mapa do município de Diamantina Fonte: Prefeitura Municipal de Diamantina

Diamantina possui um total de 44.229 habitantes, de acordo com os dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2006), dos quais cerca de 85% residentes na zona

urbana. Em uma trajetória que vai do século XVII até os dias de hoje, Diamantina foi sendo

construída a partir de interesses distintos que atraíram aventureiros, estrangeiros e instituições

de governo que movimentaram os atrativos sociais, econômicos e políticos oferecidos pela

região.

Desde as companhias armadas, também chamadas bandeiras, típicas do final do século

XVII passando pelo período áureo em que a cidade se consolida como o rico distrito

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Diamantino até chegar às explorações minerais com a tecnologia de ponta do século XXI,

homens e mulheres criaram riquezas e oportunidades, desbravando suas matas e as suas mais

de quinze cachoeiras, propícias não apenas à exploração de diamantes, como também a

atividades econômicas com a agricultura de subsistência e a criação de gado bovino para o

fornecimento de carnes.

Inserida em um espaço geográfico no estado de Minas Gerais, conhecido como Vale

do Jequitinhonha, onde a pobreza é secular e os períodos de secas constantes, Diamantina

surpreende pela fartura de seus recursos hídricos, destacando-se partes e afluentes dos Rios

Jequitinhonha e Ribeirão do Inferno, pertencentes à Bacia do Rio Jequitinhonha e do Rio São

Francisco. Muitas cachoeiras encantam e purificam moradores e turistas, destacando-se a

Sentinela, com poços de água cristalina e cercada por mata nativa, a dos Cristais e a do

Telésforo no distrito de Conselheiro Mata. Situada na área de abrangência da Cordilheira do

Espinhaço, única cadeia montanhosa do Brasil e reconhecida como Reserva da Biosfera pela

Unesco em 2005, a cidade é emoldurada pela Serra dos Cristais e guarda atrativos de grande

beleza, como quedas d’ águas, formações rochosas únicas, expressas por inusitadas grutas e

vegetações raras do Cerrado, como campos de sempre-vivas. Na tentativa de preservar estas e

outras riquezas, quatro unidades de conservação foram criadas pelo poder público na região

de Diamantina e municípios vizinhos: o Parque Nacional das Sempre-vivas e os estaduais do

Itambé, de Biribiri e do Rio Preto.

Joaquim Felício dos Santos, em seu livro Memórias do Distrito Diamantino, apresenta

a história do surgimento do que é hoje a cidade de Diamantina. Conforme o autor, sua origem

se dá quando, em busca de ouro e pedras preciosas, os bandeirantes criaram, no final do

século XVII, o Arraial do Tijuco. Mas foi com a descoberta dos diamantes, no início do

século XVIII, que o Arraial prosperou, criando as bases para uma história diferenciada da

colonização ibérica em outras partes do mundo.

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Santos (1978) relata que, com a descoberta do diamante, o Arraial tornou-se conhecido

internacionalmente, pois quando em Portugal chegou a notícia do “descoberto” diamantino do

Serro Frio, cujas riquezas foram excessivamente exageradas, bandos de aventureiros dali

partiram em demanda de fortuna, que julgavam certa e fácil: daí data a continuada arribação

dos portugueses ao solo diamantífero.

Nesse cenário econômico, buscou-se, cada vez mais, impedir a entrada de aventureiros

brasileiros no Distrito Diamantino. Núcleo de colonização portuguesa, a Coroa resolveu

impedir o livre acesso às terras diamantinas. Tal medida visava, de forma radical, evitar o

contrabando e tornar de fato monopólio régio o comércio de diamantes (FURTADO, 1996).

Dois pesquisadores naturalistas, Spix e Martius (1981, p. 29), ao relatarem suas

experiências pelo território de Santo Antônio do Tejuco1, dizem: “Deve Tejuco a sua origem e

o atual florescimento, só e só ao aparecimento dos diamantes”.

Diante da riqueza do Tijuco2, em 1734, a Coroa Portuguesa transformou o arraial em

centro administrativo, com a criação do Distrito Diamantino. Nessa época, a vida faustosa da

elite tem como expressão o casal de amantes mais famoso do Brasil: o contratador João

Fernandes de Oliveira e Chica da Silva; contrastando-se, no entanto, com a exploração dos

negros escravos.

Procurando dinamizar o fisco, em 1739, estabeleceu-se o “Contrato”. No sistema do

Contrato, apenas o Contratador ou um grupo de arrematantes explorariam as jazidas

diamantíferas. Surgiram os garimpeiros que furtivamente extraíam as preciosas gemas. Foram

seis “Contratos”, administrados quase que totalmente pelas famílias “Fernandes de Oliveira” e

“Caldeira Brant”. Foi um período de prosperidade para o Tijuco. A vida faustosa dos

contratadores e alguns privilegiados se contrastava com a existência da mão-de-obra negra

escrava.

1 Hoje Diamantina. 2 Alguns autores grafam “Tejuco” e outros “Tijuco”.

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Apesar da severidade das leis, da vigilância da milícia dos Dragões e do monopólio

exercido por sucessivos Contratadores era, naturalmente, impossível deter a mineração e o

comércio ilícito de diamantes. O terreno bravio e acidentado tornava os esconderijos fáceis,

em muitos lugares, e o contrabando de diamantes para fora do Distrito não apresentava

problema insuperável para os adeptos daquele tipo de comércio, tais como negociantes em

trânsito e tropeiros. Os escravos tinham que trabalhar curvados, de frente para seu capataz, de

forma a peneirar o cascalho nos alguidares3 e atirar para fora o referido cascalho enquanto

apanhavam os diamantes.

Fernandes e Conceição (2003) falam que a historiografia tradicional estabeleceu uma

interpretação em torno da crença de que o Distrito dos Diamantes, isolado geograficamente e

de tal forma submetido aos mandos das autoridades locais, havia se tornado uma estrutura de

poder independente do governo da Capitania de Minas Gerais.

O Distrito Diamantino era uma colônia dentro de outra colônia, desligado do resto do

Brasil por uma barreira legal e administrativa. Em 1771, a Coroa passou a ocupar-se da

mineração, criando a Real Extração dos Diamantes. Um código de leis específico, o

Regimento de Diamantina, regia as atividades no distrito, sendo conhecido como “Livro da

Capa Verde”. Mas nem a Lei e a repressão foram suficientes para impedir a luta entre as elites

tijucanas e o contrabando de diamantes pelos aristocratas, garimpeiros e “quilombolas”.

De todos os pontos da Capitania, o Tijuco era que entretinha relações mais imediatas,

não só com a metrópole, por meio dos correios diretos e enviados à Extração, como os outros

países da Europa, em razão do contrabando que, de contínuo, se fazia pela Bahia e Rio de

Janeiro, principalmente com a Holanda, Inglaterra, quase os únicos consumidores dos

diamantes brutos extraviados.

3 Vasos de barro utilizados no serviço de separação de diamantes e cascalhos.

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Somente em 1831, o arraial foi elevado à categoria de Vila e, em 6 de março de 1838,

à cidade de Diamantina. Entretanto, foi como centro de prestação de serviços e de comércio

regional do Alto Jequitinhonha que Diamantina se destacou, principalmente após sua elevação

à condição de cidade em 1838. A segunda metade do século XIX e a primeira metade do

século XX são marcadas pela dinamização do comércio, da indústria e da educação. Assim,

Diamantina passa a ser conhecida como a “Atenas do Norte”, alcunha que as elites deram à

sua cidade na passagem do século XIX para o século XX. Isso demonstra um indício

revelador da atenção devotada à alta cultura nessa porção do Vale do Jequitinhonha,

notabilizada pelas serestas, os arraiolos, os saraus e as trovas – essas manifestações tão

portuguesas na origem (FERNANDES E CONCEIÇÃO, 2003, p. 11). Percebe-se nas idéias

desses autores que a influência européia marcou profundamente a cultura local, reforçando a

identidade cultural na cidade.

Os arquivos musicais diamantinenses são testemunhos dessa afirmação e milhares de

músicas foram compostas pelos artistas locais. Destacaram-se as bandas de música, que

formaram várias gerações de artistas. As bandas “corinho” e “corão” são exemplos de suas

habilidades artísticas daquela época.

Entretanto, nos últimos anos, a escassez das minas produziu um declínio avassalador

em sua economia, que retirou do município a condição de gerar empregos à população de

mais de 40.000 habitantes. Entendemos, assim, que os diamantes do Arraial do Tijuco

entraram para a história do Brasil, das Minas Gerais e da Coroa Portuguesa. A história da

exploração dos diamantes é clássica. Mais de duzentos anos depois da descoberta do primeiro

diamante, as minas se esgotaram, o comércio de pedras decaiu e o insistente garimpo teve

seus dias contados. A atividade representa hoje apenas 10% da economia local, quando já

representou 70 a 80%. Mas o produto de toda uma era de riquezas é que tornou a cidade

patrimônio de todos os homens da humanidade.

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Nos últimos dois séculos, principalmente a partir do início do século XX, a decadência

econômica fez com que a cidade se voltasse novamente para suas raízes históricas e culturais.

Logo, com uma história de quase 300 anos, Diamantina, atualmente, resgata suas raízes

culturais, através de grupos folclóricos, festas religiosas, gastronomia, arquitetura,

musicalidade (vesperatas, concertos, serestas) e no modo de ser de seu povo. Hoje a cidade

faz parte da Estrada Real4 e Circuito dos Diamantes, além de ser uma das cidades históricas

mais singulares no Brasil.

Esse fortalecimento da identidade cultural contribuiu para que no dia 1º de Dezembro

de 1999, a cidade de Diamantina recebesse o título de Patrimônio Cultural da Humanidade,

sendo reconhecida além de suas fronteiras, pelas suas manifestações culturais expressadas na

arquitetura, na arte, na música, na poesia e no modo de vida da população da comunidade

local. Resumindo, a ocupação e o povoamento da cidade deram-se em conseqüência da

exploração do diamante, possibilitando, não apenas, o desenvolvimento econômico, mas

também o político e cultural, revelando, assim, pessoas como: Intendente Câmara, Padre

Rolim, João Fernandes, Chica da Silva, Lobo de Mesquita e Juscelino Kubitschek.

1.2. A cultura de Diamantina: um olhar sociológico sobre a religião e a música

Falar da cultura de Diamantina, ou mesmo de outro lugar, requer uma reflexão sobre

os aspectos histórico-geográficos abordados anteriormente, através de uma análise

aprofundada dos elementos da construção social dos sujeitos e suas práticas no tempo e no

4 A Estrada Real abrange 177 municípios em três estados: 162 em Minas Gerais, oito no Rio de Janeiro e sete em São Paulo. Desde sua fundação, em 1999, o Instituto Estrada Real, desenvolveu e executou muitos projetos para diagnosticar os potenciais de cada região, melhorando a infra-estrutura turística, sensibilizando e capacitando as comunidades, com o objetivo de atrair turistas, considerando oportunidades e investimentos nas mais diversas áreas, como o ecoturismo, turismo rural, turismo de saúde, turismo religioso, turismo esotérico, turismo de negócios, turismo gastronômico, turismo histórico e cultural.

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espaço. Alguns desses elementos, e nós insistimos aqui, frutos de uma construção social e

histórica dessa cidade mineira, se transformaram e foram transformados em potenciais

produtos turísticos que são ofertados atualmente no município.

De acordo com Santos (1978, p. 115), devido ao grande número de pessoas oriundas

de toda parte do mundo que se estabeleceram na região, “notável alteração sofreram os

costumes de um povo, isolados neste lugar”.

A religiosidade, desde os tempos do Arraial, era expressa com muito vigor e

assiduidade entre os moradores do Tijuco. Nesse sentido, para cada instituição religiosa

criada, promovia-se uma festa dedicada ao dia do seu Santo de devoção, oportunidade em que

se tornava patente a rivalidade entre as classes sociais. Além dessas festas e suas procissões, o

calendário litúrgico era vasto. Havia ainda as procissões maiores, como os cortejos da Semana

Santa, Corpus Christi e Santíssimo Sacramento (FERNANDES E CONCEIÇÃO, 2003).

O papel que as instituições religiosas, as Irmandades e Confrarias desempenhavam em

Minas Gerais e especificamente no Arraial do Tijuco, por excelência, não se constituíram em

instrumentos contestatórios, ao contrário, ofereceram estabilidade para a constituição da

ordem social e política da Minas setecentista (PAULA, 2000).

Ainda hoje, percebe-se que o calendário religioso da cidade preserva algumas

tradições do passado, como, as festas do Rosário e Divino, realizadas pela primeira vez em

1745. Anualmente, após a Páscoa, no entorno da Capela Imperial do Amparo, louva-se a

Deus, na Folia do Divino, onde caboclinhos se apresentam, numa manifestação cultural de

origem afro-indígena.

Um outro aspecto indissociável no que diz respeito à religiosidade e às instituições

religiosas foi a produção musical do Arraial do Tijuco. A música setecentista era estritamente

associada à vida religiosa das irmandades: eram festas, procissões, cortejos, nos quais a

23

contratação de músicos e o incentivo para sua produção estavam intimamente ligados ao

triunfo da fé (FERNANDES E CONCEIÇÃO, 2003).

Esse costume atravessou séculos, razão pela qual, até os dias atuais em Diamantina, a

música se faz presente, ano após ano, em inúmeros eventos musicais: Serenatas, Concertos

em Igrejas, Circuito de Corais, Encontro Musical Lobo de Mesquita, Vesperatas, entre outros.

Em cada bairro e em cada rua de Diamantina há um bom instrumentista que leva

adiante o gosto pela música que essa gente de minas cultiva desde o século XVIII, a tal ponto

que as apresentações das bandas de música diamantinenses tornaram-se fator de atração

turística na cidade.

A musicalidade natural que se incorpora no ethos não só de Diamantina, mas também

de outras cidades históricas de Minas Gerais, como Ouro Preto, Mariana, São João Del Rey e

Sabará representam um campo permanentemente aberto para novas investigações científicas.

É a partir da edificação secular de cidades históricas como Diamantina que se impõe o

poder da fé da Igreja Católica. A religiosidade exigia, em tempos tão inóspitos como os dos

séculos XVII e XVIII, o permanente louvor que religava os homens e Deus, fazendo com que

sacerdotes e devotos se encaminhassem para a música, como melhor forma de bendizer o

Senhor.

Assim também ocorre no Arraial do Tijuco, marcado por paragens, por igrejas, por

silêncios e recolhimentos, por montanhas severas, reverenciados pela música sacra e, quando

não, por festejos profanos. A musicalidade diamantinense acompanha gerações de músicos

que alegram suas ruas e becos, mas que também sabem da sua histórica missão de apostolado

e catequese.

Nesse cenário, as Irmandades utilizavam da música para festas, missas, festividades,

procissões, alvoradas, quermesses, novenas, marujadas, ladainhas, retiros, terços, tríduos e

trezenas. Dessa forma, segundo Fernandes e Conceição (2003), as Irmandades contribuíram,

24

sobremaneira, para o reconhecimento e a manutenção da música como um ofício consolidado

e seguro para o músico setecentista na Capitania das Minas Gerais. Esse mesmo processo foi

similar no Arraial do Tijuco.

Pode-se perceber, como foi exposto acima, que a musicalidade presente na cidade

perpassa 300 anos de história aproximadamente. Sustentado por uma vigorosa economia

mineradora, diamantífera e aurífera, um ambiente musical intenso e poderoso desenvolveu-se

no Arraial.

A tradição musical portuguesa, bem como a do próprio negro africano, e a nostalgia

provocada pelo isolamento nas montanhas do interior do país são algumas das explicações

que alguns historiadores estabelecem para a presença marcante da música, em todo e qualquer

acontecimento social, desde os primórdios da formação do Tijuco.

Entre os diversos lugares sociais ocupados pelos músicos, as bandas de música

criadas no século XIX em Diamantina exerceram papel fundamental para a preservação da

musicalidade tijuquense, principalmente porque assumiram a responsabilidade de funcionar

como uma escola para capacitação do músico aprendiz. Dessa forma, de acordo com a

(Figura 02), ocorriam, com freqüência, apresentações musicais dessas bandas na cidade, as

retretas, sinônimo de entretenimento e lazer para os diamantinenses.

25

FIGURA 2 - Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1967. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007, p. 138.

De acordo com os arquivos da BAT (Biblioteca Antônio Torres), a primeira banda

organizada de Diamantina, é a chamada Corinho5, fundada em 1852, tendo como regente o

maestro Antônio Efigênio de Souza, o maestro “Paraguay”. Ainda na segunda metade do

século XIX, foi criada a Banda Corão6, regida pelo maestro Cláudio Augusto Ribeiro de

Almeida. Essas duas bandas disputavam a supremacia musical da cidade e com o novo

Bispado, intensificou-se a “encomenda” de composições musicais para os cultos e ritos

principais.

Outras bandas menores surgiram no período, como a Banda Caramuru, que depois

passou a se chamar Banda Minoria. Esta rivalizava-se com a Banda Chimanga, regida por

5 BAT. Cadernetas de Anotações de José Teixeira Neves. Cx 2, caderneta 3, fl 1. 6 BAT. Jornal Voz de Diamantina, ano VII, n .44, p. 3. 03 de set. 1944.

26

João Batista de Macedo, conhecido como maestro “Piruruca” e por prestar serviços à

Irmandade maiorista do Amparo, passou a ser chamada Banda Maioria.

Entre os compositores e maestros dessas bandas, um deles foi reconhecido e destacou-

se por sua genialidade, o maestro Piruruca (pai). Seu filho, nascido em 1857, recebeu o

mesmo nome do pai, João Batista de Macedo e, por conseqüência, o mesmo apelido. Nascido

em um ambiente favorável e fecundo no que diz respeito à musicalidade, ele superou o dom

artístico do pai e, aos doze anos de idade, compôs suas primeiras peças musicais.

Mudou-se de Diamantina muito cedo, à procura de oportunidade profissional e logo se

estabeleceu em Ouro Preto, na época Capital de Minas Gerais. Seu primeiro contato com a

Polícia Militar ocorreu em Ouro Preto, quando ingressou no Corpo Policial da Capital, no

posto de Chefe da Banda de Música. Morou nas cidades de Sabará e Conselheiro Lafaiete,

sempre exercendo a profissão de músico. Seu retorno à Corporação Militar deveu-se a seu

relacionamento com o deputado eleito em 1881, o diamantinense João da Matta Machado que,

gozando de livre acesso no governo brasileiro, convidou o maestro para fazer uma

apresentação para Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Foi presenteado pelo Imperador com uma

clarineta de cristal e uma batuta de prata (COUTO, 1954).

Em aproximadamente 1890, alguns anos depois da apresentação no Rio, foi

convocado para formar a Banda Policial do Estado de Minas Gerais, sendo nomeado Alferes

Mestre da Música.

Segundo Fernandes e Conceição (2003, p. 58), em 1891, o maestro João Batista de

Macedo foi transferido para o 4º Corpo Militar de Polícia de Minas Gerais, sediado em

Diamantina. Nessa época as bandas da cidade já faziam parte do cenário cultural da cidade e

região, e “exerciam a função social de concorrer para a educação artística da população, por

meio de manifestações de caráter comunitário”. A Banda Militar também passou a cumprir

27

esse papel social, passando a oferecer, assim como as Bandas Corinho e Corão, as retretas que

eram apresentações musicais nos coretos, jardins ou praça pública da cidade.

Vale salientar que a participação do maestro da Banda do Corpo Militar favoreceu

uma inovação durante as retretas, que eram executadas no coreto que existia na praça em

frente ao atual prédio da prefeitura de Diamantina. Fernandes e Conceição (2003, p. 60)

relatam que ele:

...dividia a Banda Militar em três partes, colocando o corpo principal no coreto da praça, ao lado da Igreja da Sé, uma segunda turma na grade da Rua Direita e uma terceira em frente à entrada principal do prédio da Câmara. Passou a destacar os solistas, utilizando as sacadas das janelas dos sobrados estabelecidos nessa praça.

Devido a seu estado de saúde precário, faleceu em 1895, aos 38 anos de idade,

deixando muitas composições e uma idéia que muitos anos depois se transformaria na

Vesperata de Diamantina. Mesmo com a perda de um grande musicista, a tradição das retretas

não caíram no esquecimento. Muitos maestros que o sucederam como regente da Banda

Militar mantiveram sua inovação.

De acordo com relatos de residentes de Diamantina, que presenciaram essas

apresentações, uma música específica deu origem à idéia do maestro Piruruca em definir tal

disposição dos músicos: La Mezza Notte, autoria de M. D. Carline. A atitude do maestro, em

destacar os solistas nas sacadas, foi proporcionada pela melodia dessa música. Com a

tradução do nome da música para o português, Meia Noite, ao que tudo indica, a população

vinculou o fascínio exercido pela execução da música aos imperativos dos cânticos de louvor

ao Senhor, em seu sentido celestial e angelical. Por isso, o evento passou a se chamar “O anjo

da Meia Noite”.

A Banda do 3º BPMMG de Diamantina, ano após ano, foi ganhando destaque e

reconhecimento, (FIG. 03). E a disposição da Banda foi mudando, de acordo com a sucessão

dos maestros, como também pela reforma urbana daquela praça onde era realizado o evento.

28

Assim, ao longo do tempo, os maestros utilizaram, de diversas formas, as sacadas dos

sobrados para a interpretação das retretas.

FIGURA 3 - Banda do 3° Batalhão da PMMG/Diamantina-MG, 1934. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007, p.123.

Devido a um calendário extenso e de novas opções de lazer para a população, as

retretas continuaram acontecendo nas décadas seguintes à de 30, mas em uma freqüência bem

menor, pois o golpe militar de 64 coibia as aglomerações de pessoas nas ruas, alterando

conseqüentemente as apresentações da Banda da Polícia Militar de Diamantina.

Em 1997, criou-se a Comissão por Diamantina Patrimônio Cultural da Humanidade,

cujo objetivo era sugerir e realizar ações para que a cidade fosse elevada, pela UNESCO, a

Patrimônio da Humanidade. O trabalho dessa comissão era elaborar um dossiê e seus

membros foram escolhidos “dentre pessoas reconhecidas pelos seus laços de solidariedade,

cooperação, estudos e apoio às causas culturais e à preservação do patrimônio histórico e

natural de Diamantina” 7.

7 Decreto Municipal 2402, de 17 de março de 1997, Arquivo da Prefeitura Municipal de Diamantina.

29

Um dos membros escolhidos foi o historiador Monsenhor Walter de Almeida, que

contribui sobremaneira na elaboração do dossiê. Entre suas observações, destacou que o

Arraial do Tijuco possuía uma musicalidade que ultrapassou, em diversos momentos, a das

maiores expressões portuguesas e, mais, igualava-se à dos principais mestres europeus.

Revelou também que, em Diamantina, as famílias realizavam os chás vesperais,

originadas na tradição inglesa de se tomar chá aos finais da tarde. Não raramente, essas

reuniões se transformavam em saraus, que eram encontros sociais de característica lítero-

musical, realizado entre amigos, nas casas de famílias. O Monsenhor chegou a afirmar que as

tardes em Diamantina eram verdadeiras tardes vesperais. Esse termo, vesperal, segundo o

relator, retratava o sentido de espetáculo, de concerto, para adjetivar as tardes diamantinenses,

pela qualidade e requinte de sua musicalidade.

Como o Monsenhor Walter de Almeida era Major da Polícia Militar em Diamantina,

relatou também para os membros da comissão detalhes da vida do Maestro Piruruca e as

tradições da Banda de Música da Polícia Militar. Contou sobre as retretas e a divisão dos

músicos nas sacadas para praticar a provocação musical.

Foi a partir desse momento que o Monsenhor sugeriu a alguns membros da comissão a

volta da Banda para as sacadas, como atração cultural a ser recuperada e oferecida em

Diamantina.

Para comemorar o lançamento do Programa Nacional de Turismo Cultural do Ministério

da Cultura, em 1997, a tradição das retretas, idealizada pelo Maestro Piruruca, voltou a acontecer.

Agora, além da Banda do 3º Batalhão da Polícia Militar (FIG. 04), a Banda Mirim Prefeito

Antônio de Carvalho Cruz (FIG. 05) passou a compor esse novo cenário. A realização do evento

passou a ser realizado na Rua da Quitanda e com um novo nome: Vesperata.8

8 Como informam Fernandes e Conceição (2007): “O nome Vesperata é uma adaptação do termo vésperas, da mesma forma que das matinas eclesiásticas que antecediam habitualmente as missas das almas adaptou-se o termo matinada. Que das serenas – canção trovadoresca adaptou-se o termo serenata, que a partir da Itália, influenciou a Corte Portuguesa”.

30

FIGURA 4 - Músicos da Banda do 3° Batalhão, em noite de Vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza

FIGURA 5 - Adolescentes da Banda Mirim, em noite de Vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza

A Vesperata, nas suas atuais configurações, vem ocorrendo desde 1997, de acordo

com o informativo do Ministério da Cultura (FIG. 06). A partir de então, ela vem perpassando

um processo de várias modificações que tangem desde o repertório até a disposição do

público que assiste ao evento. No início, as pessoas se assentavam na rua, assistiam ao

31

espetáculo nos passeios, de pé. Aos poucos, o evento foi criando maiores proporções e não

somente os diamantinenses, mas um número considerável de turistas passou a visitar

Diamantina, principalmente após a elevação da cidade a Patrimônio Cultural da Humanidade,

pela UNESCO, em 1999, com o objetivo de conhecer e presenciar o espetáculo musical da

Vesperata.

Nesse sentido, muitos hotéis, pousadas, restaurantes, lojas comerciais foram

concretizados a fim de atender a essa demanda crescente de turistas que a cidade passou a

receber. Concomitantemente à vesperata, as tradições seculares, arquitetura e cultura de

Diamantina passaram também a despertar o interesse das pessoas.

32

FIGURA 6 - Informativo do Ministério da Cultura sobre a Vesperata, 1997. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007, p.177.

Esse processo foi aos poucos solicitando maior conforto, pois o número de turistas

foi aumentando e assistir à Vesperata assentado em um passeio, com várias pessoas

transitando foi-se tornando um incômodo às proporções que o evento estava tomando.

A partir dessa ótica de percepção, os bares das imediações concluíram que a

colocação de mesas na rua seria um facilitador, não só do conforto, mas também do

consumo. E assim, de um contingente baixíssimo de mesas, hoje a rua da Quitanda

encontra-se completamente tomada pelas mesas que não são mais pertencentes unicamente

aos bares percussores dessa iniciativa, mas dividem-se também entre as pousadas e agências

33

de viagens de localidades distintas, que fecham o pacote da estadia em parceria,

proporcionando ao turista o passaporte para que se assista ao espetáculo, ou seja, a compra

da mesa. Anteriormente a mesa não era paga, ao contrário do que ocorre atualmente, além

do valor pago pelo o que se consome, a mesa possui um valor fixo.

Ainda assim, a dimensão provocada pelo evento não se restringiu ao processo que

levou à cobrança pelas mesas. Foi necessário que se colocasse em torno do espaço destinado a

elas, um cordão de isolamento que garantisse aos pagantes maior conforto e segurança.

Hoje, é fato que a manifestação cultural Vesperata, diferentemente do que acontecia no

passado, se tornou um evento para o turista e não mais uma opção de lazer para a população.

Pode-se dizer que não há exclusão, já que todos podem ver e ouvir toda a Vesperata, mas não

há como negar que, simbolicamente, as pessoas de Diamantina, pelo menos aquelas que não

podem pagar, estejam fora, literalmente, do espetáculo.

FIGURA 7 - Noite de Vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza

34

Existe ainda uma particularidade, um calendário que rege as apresentações ao longo

do ano e caso haja algum grupo, pessoa física ou jurídica que queira assistir a uma

apresentação fora das datas previamente divulgadas, é possível comprar a apresentação da

manifestação por R$ 8.000,00. Esse valor representa a auto-suficiência do evento. Todas

essas definições foram sendo estipuladas ao longo do tempo e esse aperfeiçoamento vem

sendo adquirido, calcado nas decisões delegadas pela denominada Comissão da Vesperata.

Essa realiza reuniões nas quais são discutidos desde problemas mínimos referentes aos

“hippies”, por exemplo, que possam causar algum incômodo, até o aumento dos valores das

mesas que foram aumentando e passaram do valor inicial de R$ 3,00 até alcançarem o valor

atual de R$ 64,00. Essa comissão possui um representante de cada setor responsável pela

ocorrência do evento, ou seja, um representante dos hotéis e pousadas que faz parte do mapa

de venda de mesas, um representante dos bares, outro da sonorização, outro das bandas, um

representante da prefeitura, outro da secretaria de turismo e cultura, um outro da agência de

receptivo local e assim por diante. Dessa forma, as apresentações têm ocorrido de acordo

com o calendário que as rege e algumas outras a pedido de particulares. A Comissão está

atuando na solução das pendências e na busca de melhorias a fim de que o evento continue a

perdurar sempre com sucesso.

Mediante o cenário apresentado, percebeu-se a necessidade de verificar até que

ponto o turismo pode se apropriar da manifestação cultural Vesperata e transformá-la em

produto turístico descaracterizando-a e, ainda, avaliar o grau de envolvimento da

comunidade local com a Vesperata, detectando sua importância para o desenvolvimento

sócio-econômico e cultural do município de Diamantina e identificando o ponto de vista

dos autóctones em relação às mudanças ocorridas em relação à manifestação.

Nesse sentido, faz-se necessário investigar os elementos contidos nas RS construídas

acerca da Vesperata pelas diferentes categorias sociais da comunidade local de Diamantina

35

a fim de apreender aspectos que possam melhor orientar a prática do turismo cultural. Para

tal busca-se a Representação Social como teoria e método, definida por Moscovici (1976)

como um conjunto de idéias, opiniões, valores, preconceitos e estereótipos que os

indivíduos têm sobre um objeto social. Esses elementos são fomentadores da construção da

identidade entre o sujeito e o objeto. Nesse conceito, a Vesperata é considerada como um

objeto da Representação e reflete num saber que os indivíduos de uma dada sociedade ou

de um grupo social elaboram acerca de um segmento de sua existência ou de toda a

existência (LAPLANTINE, 2001).

36

CAPÍTULO II

O CONCEITO DE CULTURA E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO CULTURAL E

O FENÔMENO DA ESPETACULARIZAÇÃO

Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação (GUY DEBORD)

O presente capítulo visa aprofundar considerações em torno do conceito de cultura,

relacionando-o com o turismo cultural e o fenômeno da espetacularização da cultura,

principalmente quando se fala na apropriação de certas características culturais de

comunidades pela atividade do turismo. Vale salientar que o termo cultura apresenta muitas

acepções teóricas. Nesse sentido, faz-se necessário, à luz dos autores, uma análise conceitual

desse termo, que sirva de base para melhor compreender o conteúdo das representações

sociais sobre os elementos turísticos e culturais da Vesperata em Diamantina-MG.

Inserida nesse contexto, a Vesperata nos remete a todos esses termos citados acima,

uma vez que representa um valor cultural e histórico do povo de Diamantina, além de ser

reconhecida atualmente como um produto turístico-cultural que a cidade oferta aos visitantes.

Segundo Warnier (2000), cultura é entendida como uma totalidade complexa

constituída por normas, por hábitos, por repertórios de ação e de representação, adquiridos

pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Assim, para o autor, “as culturas são feitas

37

de práticas religiosas, educativas, alimentares, artísticas e lúdicas e dizem respeito também às

regras de organização do parentesco, da família e dos agrupamentos políticos” (p.16).

Corroborando com as idéias de Warnier (2000), Ortiz (1994) admite que cultura diz

respeito a um movimento de criação, transmissão e reformulação do ambiente artificial criado

pelo homem através de sistemas simbólicos. Destarte, a cultura seria um “produto da

atividade humana”, aludindo-se não só à toda produção material, monumentos, objetos, mas

também à produção simbólica, resultante de diversas manifestações. Destacam-se aqui os

usos, costumes, tradições, crenças populares, sistemas religiosos.

Para o antropólogo Geertz (1989, p. 56), a função da cultura seria a de controlar e

ordenar o comportamento do homem. Logo, como tem sido interpretada até agora, ela não

pode ser apenas complexos de padrões concretos de comportamento: costumes, usos,

tradições, feixe de hábitos, mas também se resume a um conjunto de mecanismos de controle,

tais como planos, receitas, regras e instruções, para governar o comportamento.

Nessa perspectiva, pode-se entender a cultura como uma condição essencial para a

existência humana, ou seja, sem ela os homens seriam ingovernáveis. Por isso precisamos de

sistemas simbólicos e padrões culturais para nos orientar. Aqui, buscamos ainda as idéias de

Laraia (2005), quando afirma que a cultura não pode ser explicada pelos determinismos

biológicos ou geográficos. Ela depende do aprendizado que explica a diversidade do

comportamento humano e, é explicada por Santos (2005) através de vários significados que

lhes são atribuídos. Nesse contexto, a cultura é traduzida como manifestações artísticas, festas

e as cerimônias tradicionais, as lendas e crenças de um povo, seu modo de vestir, sua comida

e seu idioma.

Observa-se que, em todos os conceitos supracitados, a cultura está intimamente associada

ao simbolismo, representação, transmissão, manifestação e aprendizado, orientando o homem,

38

enquanto membro de sociedades diversas, a agir e interagir nos diferentes grupos sociais em

que estão inseridos.

Em resumo, a maioria das idéias dos autores tem suas acepções nos pressupostos da teoria

dos sistemas, da fenomenologia e das representações sociais, pois a cultura é um conjunto de

elementos interligados e funcionais. Os elementos da cultura têm uma relação entre o todo e

as parte (BOMFIM, 2004; MERLEAU PONTY, 1982; MOSCOVICI, 1976). Entender a

cultura, nessa concepção, envolve o ato de sentir, perceber, representar e construir uma

imagem de mundo. Por sua vez, implica em reconstruir a manifestação cultural – Vesperata –

através do significado que lhe é atribuído pelos sujeitos.

O novo paradigma sobre o que seria cultura, a partir do século XX, reforça sua

dependência ao processo da globalização. No entender de Mcgrew apud Hall (2003), este

fenômeno refere-se aos processos atuantes em escala mundial, atravessando fronteiras

nacionais, integrando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo,

tornando o mundo, em realidade e em experiência, muito mais interconectado. Assim, a

cultura é concebida como mercadoria, passando por um processo de hibridização9,

“expandindo-se como nunca para as esferas políticas e econômicas, ao mesmo tempo que as

noções convencionais de cultura se esvaziam muito” (YÚDICE, 2004, p. 25). Dessa maneira,

segundo o autor, a cultura de nosso tempo é caracterizada como uma “cultura de globalização

acelerada”. (ibidem).

Com a aceleração e intensificação do processo de globalização surge, no século XX,

uma nova visão sobre cultura, que alguns autores consideram como cultura econômica ou

cultura mercadoria, na qual a noção de produção se generaliza e a cultura passa a ser vista

como instrumento de desenvolvimento econômico (VAZ e JACQUES, 2001).

9Hibridização: “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas” (CANCLINI, 2003).

39

Portanto, segundo Featherstone (1997, p. 21), no processo de globalização duas

imagens de cultura são reveladas:

A primeira imagem pressupõe a extensão de uma determinada cultura até seu limite, o globo. As culturas heterogêneas tornam-se incorporadas e integradas a uma cultura dominante, que acaba por cobrir o mundo inteiro. A segunda imagem aponta para a compressão das culturas. As culturas se acumulam umas sobre as outras, se empilham, sem princípios óbvios de organização.

Dentro dessa abordagem, a primeira imagem representaria uma cultura global, um

lugar onde todos se tornam assimilados a uma cultura comum, enquanto a segunda imagem

sugere maior movimento e complexidade cultural.

Para esse autor, o pós-modernismo e o pós-colonialismo têm apontado para o

problema da complexidade cultural, no qual ascende a cultura em esferas cada vez maiores na

vida social, principalmente através de maior produção, mistura e sincretismo das culturas que,

antigamente, eram mantidas separadas e firmemente ligadas a relacionamentos sociais. Enfim,

ele considera que, o “pós-modernismo, pode ser entendido como algo que aponta para o

processo de fragmentação cultural, para o colapso das hierarquias simbólicas e para

descentralização da cultura” (ibidem, p. 31).

Hall (2003), em conformidade com essas idéias, argumenta que uma mudança

estrutural, desde os fins do século XX, está transformando as sociedades modernas, sendo

perceptível nas fragmentações das paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia,

raça e nacionalidade que, no passado, nos forneciam sólidas localizações sociais.

Bhabha (1998, p. 245), no livro O local da Cultura, discursa sobre as transformações

ocorridas na pós-modernidade, referindo-se principalmente às diferenças e às diversidades

culturais e as identidades dos sujeitos plurais, afirmando que “a cultura se torna uma prática

desconfortável, perturbadora, de sobrevivência e suplementaridade entre a arte e a política, o

40

passado e o presente, o público e o privado, na mesma medida em que seu resplendor é um

momento de prazer, esclarecimento ou libertação”.

Por outro lado, Hall (2003) acrescenta que existem no mínimo três tendências

evidenciadas em relação à homogeneização cultural. O primeiro ponto de observação seria a

de que ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma fascinação

com a diferença e com a mercantilização da etnia e da alteridade10. Com o impacto do global,

há um novo interesse pelo local. Vale salientar que essa nova dinâmica, em que o global

funciona como ferramenta para dar visibilidade ao local, faz com que a cultura mundial seja

moldada através de um aumento mais intenso do entrelaçamento entre diversas culturas

locais.

Como segunda tendência, Hall, apud Massey (2003), chamou de “geometria do

poder” da globalização, ou seja, a globalização é desigualmente distribuída ao redor do

mundo, entre regiões e diferentes estratos da população. E como última, configura-se no

questionamento sobre o que, quem e onde será mais afetado pelo processo de globalização, já

que o fluxo é desequilibrado e impõe relações desiguais de poder entre o “Ocidente” e o

“Resto” do mundo.

Assim, através das idéias contidas nessa discussão teórica, pode-se inferir que a

curiosidade, o fascínio das pessoas pelas culturas locais, pode despertar um interesse maior

por uma atividade específica: o turismo cultural. Essa premissa pode ser associada ao objeto

social deste estudo, a Vesperata. Nesse raciocínio hipotético, o simbolismo, as manifestações

culturais, as identidades, o modo de vida das pessoas que gravitam ao redor da aldeia global

(aqui entendida como as grandes cidades, centros urbanos etc) passaram a ser ofertados,

através da atividade turística, como uma alternativa de conhecimento, sustentabilidade,

aumento da auto-estima, lazer e descanso entre outros, para as pessoas que querem perceber e

10 Tem sido comum que os estudos de antropologia cultural se concentrem em grupos humanos geográfica e etnicamente distantes do pesquisador – o índio, o caboclo afastado de núcleos urbanos, o caiçara arredio – enfim, o “outro”. PELLEGRINI, Filho. Ecologia, cultura e turismo. Campinas, SP: Papirus, 1993.

41

experenciar situações além do seu cotidiano. Nesse sentido, o turismo cultural emerge como

uma alternativa de interesses e valorização das culturas locais pelos turistas, os quais se

voltam para a vivência dos aspectos culturais mais relevantes, evidenciando as singularidades

e o exotismo dos lugares visitados. Logo, é possível que o turismo cultural veicule uma

imagem estereotipada de lugares turísticos, levando o turista a criar no seu imaginário um

lugar ideal, cujo cenário é espetacularizado para atender às suas necessidades.

Para fundamentar essa idéia, Ferrara (1999, p. 15) afirma que o “simbólico é um

produto cultural que cria tramas fictícias mais duradouras do que as urdidas pela frágil

realidade”. Toma-se, pois, como exemplo, os bens materiais que carregam consigo uma carga

simbólica significativa – artística, histórica, mítica, religiosa, política, social e econômica - e é

justamente essa riqueza de carga simbólica que vai caracterizar a singularidade dos produtos

privilegiados da cultura.

Entretanto, compreender a relação entre a cultura e o turismo como fenômeno social e

econômico recente implica na possibilidade de valorização das comunidades locais, bem

como na geração de renda, que promova a qualidade de vida e a preservação dessas culturas

locais. Esses elementos teóricos podem nos ajudar a perceber como se dá a expansão do

turismo cultural, bem como a existência de uma oferta considerável de produtos que evocam o

patrimônio histórico e cultural e buscam valorizar a memória coletiva e a identidade dos

grupos sociais em Diamantina – MG.

Nesse contexto, entende-se o turismo cultural como uma prática que necessita de um

deslocamento e que favorece a interação da cultura [local], com o conhecimento de outras

culturas, através da descoberta de um patrimônio e de seu território. Sendo assim, ele é o

acesso ao patrimônio cultural, ao modo de viver de uma comunidade, caracterizando-se,

também, pela motivação do turista em conhecer regiões onde seu alicerce está baseado na

história de um determinado povo, nas suas tradições e nas suas manifestações culturais,

42

históricas e religiosas. Portanto, o turismo cultural, além de seus efeitos sobre a economia

local, pode contribuir para a coesão social, a identidade local e regional e o desenvolvimento

comunitário. Esse tipo de turismo está diretamente relacionado ao esforço e trabalho de

preservação de valores culturais. Assim sendo, o turismo cultural se torna responsável e

comprometido com o fortalecimento da identidade, a preservação da memória e do patrimônio

cultural dos destinos turísticos (CLUZEAU apud SACRAMENTO, 2006; DIAS, 2003;

MOLETTA, 1998).

O turismo cultural só vem contribuir para o desenvolvimento local e auto-estima dos

autóctones, se for planejado de acordo com a realidade local, respeitando as peculiaridades e

autenticidade dos fatos culturais, mas verifica-se que isso não tem acontecido. Muitos são os

exemplos de lugares que hoje perderam sua identidade, através do turismo sem planejamento

e gestão eficazes, atendendo a interesses econômicos e mercadológicos. Segundo Carlos

(2002), cidades inteiras se transformam com o objetivo precípuo de atrair turistas, e esse

processo provoca, de um lado, o sentimento de “estranhamento”, para os que vivem nas áreas

que num determinado momento se voltam para a atividade turística e, de outro, transforma

tudo em espetáculo e o turista em espectador passivo.

Quando falamos em manifestações culturais populares (festas, danças, culinária,

artesanato), despertamos um interesse inequívoco nas empresas de turismo e entretenimento,

pois esse é meramente econômico, transformando essas manifestações em produtos de

consumo de escala global. De acordo com Trigueiro (2005), para os mega-grupos econômicos

a cultura tradicional não deve ser apenas popular, mas “popularesca”, consumida por maior

número de pessoas e espetacularmente exibida.

Atualmente, em diferentes regiões do Brasil, graças ao turismo, os festejos

(tradicionais, folclóricos e religiosos) evoluíram em direção a uma representação elaborada,

complexa, e alguns casos luxuosos. Gastal (2005, p. 26) corrobora que “a espetacularização

43

em termos de visualidade presente em praticamente todos os momentos da vida

contemporânea leva a que a nova sociedade de consumo assuma, cada vez mais, uma

dimensão estética”.

Por sua vez, o turismo cultural, enquanto atividade econômica, atendendo à lógica do

capitalismo, revela-se na atualidade em grande transformador da valorização dos espaços,

sendo que estes se tornam mercadoria para os turistas.

Surge, dessa forma, a necessidade de monitoramento científico do fenômeno, uma vez

que a atividade se justapõe às crenças, aos valores, às opiniões, às idéias, aos hábitos, aos

costumes , aos modos de vida e às identidades.

Destarte, considerando os impactos negativos causados pelo turismo sobre as culturas,

destacamos a mercantilização, autenticidade encenada ou espetacularização da cultura

(COOPER et al. 2001; OURIQUES, 2005). Assim, Carvalho (2007), ao discutir sobre a

construção simbólica do turismo, nos relata que o legado cultural, transformado em produto

para o consumo, perde seu significado. Para ele, a massificação dessa atividade contribui para

a divulgação de estereótipos que tentam representar a riqueza cultural de cada região e de

cada povo escolhido como destino turístico.

Para satisfazer à demanda turística, a comunidade se adapta paulatinamente à lógica

econômica, adaptando seu cotidiano às necessidades dos visitantes, a ponto de perder seus

referenciais. Assim, podemos destacar a valorização e as representações da cultura popular

como produto turístico.

Para esse autor,

Artesanato, pinturas, esculturas, utensílios de uso prático familiar e profissional são comercializados como souvenires dos locais, havendo ainda as apresentações de cantores e grupos de dança e teatrais que, mesmo com alguma originalidade, parecem perder sua autenticidade, a cor local, ao serem apresentados para os turistas (CARVALHO, 2007, p. 44).

44

Desse modo, percebe-se uma demanda crescente por produtos turísticos que ofereçam

uma autenticidade cultural. Os visitantes querem presenciar, “ver de perto”, os fatos “reais”

que cercam tais culturas. As destinações têm utilizado sua herança cultural, como forma de

marketing para atração de turistas numa escala cada vez maior.

Para exemplificar, Colonial Williamsburg, nos Estados Unidos, está associada às

idéias de autenticidade encenada e espetacularização. Na segunda metade do séc. XX, a

cidade foi redescoberta e totalmente reconstruída. Esse modelo de preservação foi bastante

criticado pela sua artificialidade ou “inautenticidade”. A recriação não atingiu apenas os

prédios, as ruas e os objetos, ela assumiu também um aspecto dramático na reencenação, por

uma grande equipe de atores, do cotidiano de Williamsburg do séc. XVIII. Esses atores

movimentam-se com naturalidade pelas ruas e prédios da cidade e fingem ignorar a presença

dos visitantes. (GONÇALVES, 1998).

Pérez (2004) nos evidencia outro exemplo: os “Torajas” das Célebres – Indonésia,

tiveram que adaptar suas cerimônias funerais para o gosto dos turistas. A rejeição local foi

grande. Em fins dos anos 80, os “Torajas” negaram o acesso dos turistas a tais cerimônias.

Esses exemplos nos permitem refletir sobre a sustentabilidade das identidades das

comunidades locais, organizadas em torno de práticas culturais muito antigas e frágeis que,

muitas vezes, se vêem bruscamente alteradas pelo turismo cultural.

Portanto, buscamos aqui identificar e analisar os elementos culturais e turísticos das

representações sociais construídas pelos atores sociais da comunidade local de Diamantina

sobre a Vesperata. Para tal, faz-se necessário abordar, nas próximas seções, as Representações

Sociais como teoria e método de apreensão do conteúdo desse objeto social, a fim de

compreender as dimensões das relações estabelecidas entre essa manifestação cultural e o

significado atribuído a ela pela comunidade local.

45

CAPÍTULO III

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: DIMENSÕES TEÓRICAS DA PESQUISA

3.1. Origem e conceitos epistemológicos das Representações Sociais

Para analisar o conteúdo das representações sociais sobre os elementos culturais e

turísticos da Vesperata, recorremos à teoria e método das Representações Sociais (RS)

definida por Moscovici (1976), como um conjunto de idéias, opiniões, valores, preconceitos e

estereótipos que os indivíduos têm sobre um objeto social. Entende-se que, nesse conceito, a

Vesperata se torna um objeto da representação, refletindo num saber que os indivíduos de

uma dada sociedade ou de um grupo social elaboram acerca de um segmento de sua existência

ou de toda a existência. (LAPLANTINE, 2001).

O estudo das RS se apresenta como um grande campo de investigação nos diferentes

setores das Ciências Sociais e Humanas (JODELET, 1989). O termo foi influenciado pelo

conceito de Representações Coletivas de Durkheim (1963). A Teoria das RS pode ser

caracterizada como um campo multidisciplinar ou interdisciplinar, a partir do momento em

que foi influenciada e recebeu contribuições de outras áreas das Ciências Sociais, como a

Antropologia, a Sociologia e Psicologia Social. Justamente, por apresentar esse caráter

multidisciplinar, muitos autores apresentam dificuldades em elaborar um único conceito para

as RS.

Segundo Bomfim (2005), nas Ciências Humanas e Sociais, os estudos sobre as RS

ocupam um lugar importante e buscam explicar a relação entre as produções mentais e as

46

dimensões materiais e funcionais da vida dos grupos. Este autor acrescenta ainda que a

representação social é parte do cotidiano e um produto da comunicação e da linguagem,

constituindo-se numa organização de imagens. Logo, a RS realça e simboliza atos e situações

cujo uso os torna comum. É, portanto, uma modalidade particular do conhecimento, que tem

por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos. Assim, a

representação social tanto fala quanto mostra, tanto comunica quanto exprime.

Nessa perspectiva, as RS se constituem como uma forma específica de conhecimento

qualificado e “espontâneo” do “pensamento natural” ou do conhecimento do senso comum

(JODELET, 1984) partilhado localmente e legitimado por um grupo social ou ancorado por

uma cultura (ABRIC, 1996; GUIMELLI, 1999; JODELET, 1984; RATEAU, 1999). Assim,

Jodelet (2001) compreende a RS como uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e

partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum

a um conjunto social. E completa definindo que a RS é entendida como um saber do senso

comum, cujos conteúdos manifestam a operação de processos generativos e funcionais socialmente

marcados pelo pensamento social.

Para a maior parte desses autores, esses conhecimentos contribuem para a construção

social da nossa realidade. Em conseqüência, as RS designam uma forma de pensamento

social, uma forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, permitindo a

construção e a circulação de um saber comum ao grupo social.

Segundo Moscovici (1976), as RS são do domínio de opiniões com relação aos objetos

do ambiente social. Ao propor uma articulação com a vida coletiva de uma sociedade,

podemos afirmar, segundo Jovchelovitch (1995), que as RS, enquanto fenômenos

psicossociais, estão necessariamente radicadas no espaço público e nos processos através dos

quais o ser humano desenvolve uma identidade, cria símbolos e se abre para a diversidade.

Assim, pode-se considerar que as RS têm um papel crucial como mediador entre as esferas do

individual e do objeto social. Elas são, portanto, um conjunto de conceitos e afirmações que

47

têm sua origem nas interações sociais. Entendemos assim que a expressão RS pode ser

utilizada para designar um conjunto de fenômenos permitindo definir o conceito, como um

conjunto teórico construído em torno da própria noção de RS.

Ao propor a teoria das RS, Moscovici (2003) oferece uma base teórico-metodológica,

capaz de lidar com o dinamismo e as diversidades das mudanças na sociedade

contemporânea. Para o autor, as RS interagem entre si em oposições, convergências,

distinções, desaparecimentos e recriações, o que exige considerar as RS originais ao

investigar outras, associadas a elas. Nessa perspectiva, esse autor define as RS como uma

modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos

e a comunicação entre indivíduos, e ainda como um corpus organizado de conhecimentos e

uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a realidade física e

social, inserem-se num grupo ou numa ligação cotidiana de trocas, e liberam os poderes de

sua imaginação. Vale ressaltar que, para Moscovici (2003), as RS são muito além de guias

comportamentais. Elas configuram o ambiente para torná-lo propício ao desenrolar das

atitudes e empresta sentido ao comportamento, integrando-o a uma rede de relações.

Observa-se, então, uma estreita relação entre as RS e o contexto de vida dos sujeitos.

O aspecto histórico, social, ideológico, as características individuais e todos os fatores que

influenciam o comportamento e o pensar dos grupos estão diretamente relacionados à

produção, circulação e estabilidade das RS. Essas têm como fundamento o indivíduo e os

grupos sociais e só podem ser construídas a partir dos mesmos, enquanto vivenciam a tensão

entre sua objetividade e a subjetividade, vivência esta contextualizada num determinado meio

histórico e social.

De sua parte, Herzich (1973) observa que as RS têm um duplo aspecto, quais sejam:

conteúdo e processo do conhecimento, isto quer dizer que elas são, às vezes, constituídas de

um conjunto de idéias, crenças, preconceitos, opiniões ou atitudes relativas a um objeto e, por

48

parte do processo, ela é uma reconstrução do objeto (ABRIC, 1996 ; GUIMELLI, 1994 ;

JODELET ; 1984 ; LASSARE, 1995 ; LEME, 1993 ; MORIN, 1984). Giordan e De Vecchi

(1987) insistiam sobre essa dupla característica das RS, produto e processo. Como produto

elas são organizadas em temas, em conteúdo e no discurso da realidade. Como processo, trata-

se de uma atividade mental, em movimento de apropriação do objeto. Vale lembrar que, neste

estudo, buscamos apenas identificar o conteúdo ou produto das RS, construído sobre a

Vesperata em Diamantina - MG.

Dentro dessa abordagem, na pesquisa sobre as RS da comunidade a respeito de

elementos turísticos e culturais da Vesperata, busca-se quais as RS são construídas em torno

de objetos precisos, reais ou imaginários, sejam eles idéias, teorias, e acontecimentos. Nessa

situação, ela não pode ser apreendida no isolamento ou na dicotomia entre o que se pretende

captar e analisar e o viver concreto dos sujeitos, pois não se trata de uma reprodução do real

no plano subjetivo, mas uma reorganização significativa, estruturada, no processo de

atribuição de sentido ao objeto (MOSCOVICI, 1978).

Na compreensão das RS, não se separam sujeito e objeto. Entende-se que novas

perspectivas surgem em relação ao tratamento dos fenômenos representativos, em particular,

sob o ângulo simbólico. Nesse sentido, as RS estabelecem uma síntese teórica entre

fenômenos que, em nível de realidade, estão interligados e a dimensão cognitiva, afetiva e

social estão presentes na própria noção de RS.

3.1.1. Estrutura das Representações Sociais

A teoria que se ergue para explicá-la diz respeito à construção de saberes sociais e,

nessa medida, conseqüentemente, envolve a cognição. O caráter simbólico e o imaginativo a

49

respeito desses saberes refletem a dimensão dos afetos, porque quando os sujeitos sociais

empenham - se em entender e dar sentido ao mundo, eles também o fazem com emoção e

sentimento (GUARESCHI; JOVCHELOVITCH, 1995).

Assim, existe uma perspectiva chamada estrutural nos estudos das RS. Esses trabalhos

(ABRIC, 1987 ; FLAMENT, 1987 ; ROUQUETTE, 1984 ; ARRUDA, 2002) consideram as

RS como um conjunto estruturado e hierarquizado de elementos, apresentando uma certa

coerência. Os pesquisadores supõem que as RS organizam-se em um núcleo central e em

torno dele gravitam outros elementos (periféricos). O núcleo central está ligado e determinado

por condições históricas, sociológicas e ideológicas, marcado pela memória coletiva e pelo

sistema de normas. Evolui de forma lenta. É ele quem atribui ou transforma a significação

(um sentido, um valor) ao objeto representado; assegura a permanência e a perenidade da

representação; permite compreender a realidade; dá homogeneidade ao grupo e define os

princípios fundamentais em torno dos quais se constituem as representações; é simples,

concreto, consensual, historicamente marcado, imagético e coerente; apresenta um valor

simbólico, poder associativo, saliência e forte conexidade na estrutura. Não pode ser refutável

(MOLINER, 1995).

Muitos são os elementos que podem explicar a gênese das RS, mas nem todos têm a

mesma acuidade. Alguns são essenciais e outros secundários. Estudando o conceito de núcleo

central das representações sociais, Abric (1997, p.62) identificou algumas características para

determinar o núcleo central: a natureza do objeto representado; o tipo de relação que o grupo

mantém com o objeto representado; o sistema de valores e normas sociais que constituem o

meio ambiente ideológico do grupo. Assim, ele constatou que seus elementos são

hierarquizados e organizam-se em torno de um núcleo central (ABRIC; 2000). Logo,

entendemos que para estudar uma RS, é preciso buscar os elementos constituintes de seu

núcleo central, considerando-se não só o conhecimento de um conteúdo, mas o que confere

50

consistência e relevância a esse conteúdo é a sua organização, sua significância lógico-

semântica e, primordialmente, seu sentido.

Para explicar os elementos que gravitam em torno do núcleo central, Flament (2001)

acrescenta a idéia do sistema periférico, essencial para o entendimento das RS. Uma vez que

esses, tomados como circunstanciais em referência aos elementos do núcleo, eram

provavelmente excluídos das preocupações dos pesquisadores. Segundo o autor, “em torno do

núcleo central e organizado por eles, encontram-se os elementos periféricos. Eles constituem

o essencial do conteúdo da representação: seus componentes mais acessíveis, mais vivos e

mais concretos. É no sistema periférico que poderão aparecer e ser toleradas contradições"

(FLAMENT, 2001, p. 177).

O sistema periférico, contrariamente ao sistema central, é determinado pelo núcleo

central ao qual está ligado e estabelece uma interface entre esse e a realidade concreta, na qual

funciona a representação. É a parte mais acessível, flexível, adaptativa, viva e concreta da

representação.

Não obstante, Abric apud Mazzotti (2002, p.22) destaca cinco funções do sistema

periférico, no funcionamento e na dinâmica das representações: 1) A concretização do núcleo

central em termos ancorados na realidade, imediatamente compreensíveis e transmissíveis; 2)

A regulação, que consiste na adaptação da representação às transformações do contexto,

integrando novos elementos ou modificando outros em função de situações concretas com as

quais o grupo é confrontado; 3) A prescrição de comportamentos: os elementos do sistema

periférico funcionam como esquemas organizados pelo núcleo central, garantindo o

funcionamento instantâneo da representação com grade de leitura de uma dada situação e,

conseqüentemente, orientando tomadas de posições; 4) A proteção do núcleo central: o

sistema periférico é um elemento essencial nos mecanismos de defesa que visam a proteger a

significação central da representação, absorvendo as informações novas suscetíveis de pôr em

51

questão o núcleo central e 5) As modulações individualizadas: é o sistema periférico que

permite a elaboração de representações à história e às experiências do sujeito.

Dessa forma, Abric (2000) nos esclarece a relação entre os dois elementos estudados,

ou seja, o núcleo central e o sistema periférico. No primeiro, a rigidez, a estabilidade e a

consensualidade do núcleo, no segundo, a flexibilidade, as adaptações, acessibilidade e as

contradições que configuram o sistema periférico.

Assim, segundo Abric (1997), toda realidade é representada, quer dizer, (re) apropriada

pelo indivíduo ou pelo grupo, reconstituída no seu sistema cognitivo, integrada no seu sistema

de valores, dependente de sua história e do contexto social e ideológico que o cerca (Ibidem,

p. 27). Isso porque entendemos que as RS são historicamente construídas e estão

estreitamente vinculadas aos diferentes grupos socioeconômicos, culturais e étnicos que as

expressam por meio de mensagens, e que se refletem nos diferentes atos e nas diversificadas

práticas sociais. Entendemos aqui, através das idéias de Jodelet, (1986), Moscovici (1976) que

as RS são uma forma de conhecimento do mundo, construídas a partir do agrupamento de

conjuntos de significados, que permitem dar sentido aos fatos novos ou desconhecidos,

formando um saber compartilhado, geral e funcional para as pessoas, chamado de senso

comum.

Concluindo este capítulo, podemos afirmar, segundo os autores, que uma representação

é formada de elementos constitutivos (informações, crenças, opiniões, valores, atitudes,

idéias, estereótipos e preconceitos), organizados e estruturados de acordo com a hipótese:

"toda representação é organizada em torno de um núcleo central, constituído de um ou de

alguns elementos que dão à representação o seu significado". Este, originado na conjuntura

global - sócio - histórica, política, ideológica - constitui uma base comum ao grupo, indicando

para a coletividade (ibidem). Em um “recorte” do imaginário de um grupo, portanto, as

representações sociais apresentam-se através da linguagem (documentos, práticas, falas,

52

imagens) e no estudo dos conteúdos, abarcando a totalidade de expressões, imagens, idéias e

valores, presentes no discurso sobre o objeto. Nesse sentido, Jodelet (1984) afirma que a

ancoragem das RS consiste no processo de integração cognitiva do objeto representado a um

sistema de pensamento social preexistente e para as transformações históricas e culturalmente

situadas, implícitas em tal processo.

Do ponto de vista operacional, levando-se em consideração a estrutura das RS, podemos

dizer que elas se apresentam como um conjunto de elementos cognitivos cuja natureza e

complexidade podem variar da simples opinião até aos estereótipos ou preconceitos,

organizando-se num sistema central e periférico. Uma RS se apresenta, também, como uma

figura metafórica do objeto, construída sobre imagens simbólicas, mitos (imaginário) e

crenças (concepções, opiniões, certezas), estereótipos e preconceitos. Esses são elementos

constitutivos do pensamento, apresentando-se como elaborações grupais que refletem, num

certo momento, o ponto de vista que prevalece de certos sujeitos nos grupos sociais. Eles

podem ser, também, fatos e situações que as pessoas têm por vocação de produzir certa

espécie de “imagem”.

Esses avanços nos levam a crer que se faz necessário identificar, através de métodos e

técnicas, as significações centrais da representação. Não esqueçamos que, aqui, o que nos

interessa é o estudo dos conteúdos das RS, dos elementos culturais e turísticos sobre a

Vesperata.

53

CAPÍTULO IV

ASPECTOS METODOLÓGICOS PARA APREENDER OS ELEMENTOS

CULTURAIS E TURÍSTICOS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A

VESPERATA EM DIAMANTINA - MG

Na seção anterior, discutimos sobre os fundamentos epistemológicos da Teoria das

representações sociais, abordando sua origem, seus conceitos e sua estrutura. Nesta seção,

buscamos especificar nossa metodologia de pesquisa sobre as representações sociais da

Vesperata e a maneira como vamos proceder para identificar e analisar seu conteúdo, através

dos dados coletados junto aos grupos sociais da Comunidade Local.

Em primeiro lugar, abordaremos alguns estudos que utilizaram as RS como teoria e

método. Em seguida, discutiremos sobre nossa perspectiva de orientação epistemológica. E,

finalmente, trataremos do nosso desenho metodológico, significa dizer: o local de pesquisa, a

constituição e características dos participantes, os instrumentos utilizados e os procedimentos

de coleta e análise dos dados.

4.1. Estudos sobre a utilização das Representações Sociais: Tendência e Limites

Os trabalhos que abordam a teoria das RS são muitos. Anadón (2002) identifica cinco

grandes linhas de pesquisa: 1) centrada nos conteúdos; 2) aquela interessada em apreender as

estruturas das RS; 3) centrada nos processos cognitivos que são base das RS; 4) centrada nas

relações entre práticas e representações sociais e, finalmente a 5) trabalhos que questionam a

54

origem das RS. Lembramos que nós nos inserimos na linha da apreensão dos conteúdos das

RS, mas utilizamos teoricamente os conceitos de núcleo central e elementos periféricos para

apreender metodologicamente os conteúdos das RS sobre a Vesperata.

Cada linha de pesquisa privilegia estratégias metodológicas particulares. Por exemplo,

as linhas centradas sobre o conteúdo utilizam-se, com mais freqüência de metodologias de

tradição hermenêutica/interpretativa (entrevistas, desenhos, questionários, observação

participante, trabalho de campo, e análise qualitativa). Aquelas que se interessam pela

estrutura, utilizam-se mais das estratégias estatísticas e análise multidimensional. Percebe-se,

aqui, que a pesquisa das RS tem se caracterizado, desde o início, por uma utilização bastante

criativa e diversificada de métodos e pelo desenvolvimento contínuo de novas técnicas

qualitativas e quantitativas, tanto no que se refere à coleta, quanto ao tratamento dos dados.

Além disso, sua problematização, que decorre naturalmente da complexidade e diversidade

das manifestações do fenômeno, tem conduzido o campo a uma intensa atividade de discussão

e critica metodológica (SÁ, 1996).

De acordo com Oliveira e Werba (1998), não existe uma metodologia exclusiva para a

investigação das RS, sendo que encontramos desde investigações realizadas em uma base

quantitativa, como as que trabalham com dados qualitativos e, ainda, alguns que fazem uso

complementar dessas duas abordagens.

Nesse sentido, uma das técnicas mais utilizadas nos estudos das RS, é a técnica da

associação ou evocação livre de palavras, considerada por Abric (1994) como “uma técnica

maior para coletar os elementos constitutivos do conteúdo de uma representação”. Consiste

em se pedir aos sujeitos que, a partir de um termo indutor apresentado pelo pesquisador,

digam as palavras ou expressões que lhes tenham vindo imediatamente à lembrança (SÁ,

1996, p. 115). O método da evocação ou associação livre propicia colocar em evidência o

universo semântico do objeto estudado, assim como sua dimensão imagética, de forma mais

55

rápida e dinâmica que outros métodos com igual objetivo, como a entrevista (BARDIN, 1977;

ABRIC, 2001).

Para Abric (1994), as vantagens desse método estariam no caráter espontâneo,

portanto, menos controlado e a dimensão projetiva dessa produção deveria, portanto, permitir

o acesso, muito mais facilmente e rapidamente do que em uma entrevista, aos elementos que

constituem o universo semântico do termo ou do objeto estudado. A associação livre permite

a atualização de elementos implícitos ou latentes que seriam perdidos ou massacrados nas

produções discursivas.

Outra contribuição apresentada quanto à utilização desse método foi a de Pierre

Vergès (1992, p.67). Ele apresentou uma proposta, em relação à técnica que, além de

combinar a freqüência de emissões das palavras e/ou expressões com a ordem em que estas

são evocadas, busca criar um conjunto de categorias, organizadas em torno desses termos,

para assim confirmar as indicações sobre seu papel organizador das representações. Para o

autor, na construção do objeto de pesquisa, sobre diferentes categorias, o que interessa

ressaltar é a originalidade de cruzar dois critérios de prototipicalidade: o da freqüência e o da

ordem de aparecimento da evocação. Esse cruzamento permite saber se a representação do

conjunto do domínio tem uma certa coerência sob a forma de linhas de força que a atravessam

e de hierarquia entre os elementos. Ele proporciona, enfim, o princípio de constituição das

diferentes categorias.

Na utilização de entrevista, Medeiros (1998) apropriou-se da fotografia para colher

dados junto aos meninos de rua da Cidade do Rio de Janeiro, a fim de identificar o conteúdo

das representações sociais do seu meio de vida. Assim, a fotografia foi utilizada após a

entrevista, como forma de corroborar o discurso dos atores sociais. Esse mesmo meio foi

utilizado por Percy (1995) no seu estudo sobre as representações sociais de adolescentes sem

teto nos Estados Unidos.

56

Bomfim (2005), com o objetivo de identificar e analisar os conteúdos das

representações sociais do espaço de favela junto aos alunos da rede municipal de ensino de

Ilhéus, lança mão da multimetodologia, quando aplica como instrumentos de coleta de dados

a fotografia, como detonador do discurso dos jovens e adolescentes; a associação livre de

palavras para apreender os elementos simbólicos do espaço favelar; e a entrevista semi-

dirigida como instrumento principal, analisando, por conseguinte, o seu discurso. Vale

salientar que, o elemento inovador nos procedimentos metodológicos, foi a superposição de

dados e não o cruzamento. Esse procedimento fez com que o pesquisador obtivesse várias

imagens do espaço de favela em suas diversas dimensões.

4.2. Perspectiva de orientação epistemológica do estudo das RS sobre a Vesperata

Após uma breve revisão de literatura sobre perspectiva metodológica dos estudos

sobre RS, podemos afirmar que aquelas metodologias buscam meios para responder, de

maneira sistemática, organizada, racional e credível, aos problemas de pesquisa sobre a

realidade empírica. Para tal, faz-se necessário que o pesquisador utilize-se de métodos

científicos, ou seja, um conjunto de técnicas que ordenam a forma de pensar e desenvolver o

saber, capazes de externar a essência dos fenômenos explicitados pelo objeto de estudo, a fim

de se construir o conhecimento (GIL, 2000). Logo, antes de apresentarmos nossa perspectiva

metodológica, é pertinente abordar nossa postura de pesquisador.

Assim, adotou-se nessa pesquisa, a perspectiva qualitativa/interpretativa, pois,

segundo Mynayo (1994), está relacionada com nosso objetivo geral de compreender as

Representações Sociais construídas acerca dos elementos culturais e turísticos sobre a

Vesperata pelos diferentes grupos sociais de Diamantina – MG. Esta abordagem tem como

57

pressuposto o fato de que a realidade não pode ser quantificada. Seu universo de significados,

motivos, aspirações, crenças, valores, atitudes, preconceitos, estereótipos, idéias e opiniões

deve ser analisado de forma a melhor compreender o fenômeno, logo não deve ser reduzido à

operacionalização de variáveis. Considerando a fonte de dados, “a pesquisa é de campo, uma

vez que é no lugar natural onde acontecem os fatos, fenômenos e processos” (MINAYO,

1994, p. 36).

Para os procedimentos de coleta de dados, escolhemos dois instrumentos: a técnica da

associação de idéias ou evocações livres de palavras (ABRIC, 1994) para três grupos:

moradores mais antigos da comunidade, bairro periférico e prestadores de serviços ligados ao

turismo (músicos, garçons, comerciantes, balconistas, recepcionistas, guias de turismo,

artesãos e taxistas). E aplicamos a entrevista semi-dirigida para os representantes dos Órgãos

Públicos, de Associações e intelectuais que mantêm alguma relação com o turismo cultural.

4.3. Desenho metodológico do estudo

Considerando os objetivos expostos na introdução deste trabalho, lembramos que este

estudo visa identificar e analisar as representações sociais dos elementos culturais e turísticos

sobre a Vesperata, que os atores sociais da Comunidade Local de Diamantina-MG elaboram a

fim de verificar a existência de uma identidade sobre essa manifestação cultural. Em seguida,

buscamos, nesta investigação, elaborar estratégias para orientar as práticas do turismo cultural

sustentável.

Abordar o estudo de uma representação sobre esse ângulo, permite, entre outros,

estabelecer uma ligação entre a Cultura e o Turismo. Assim, a análise sistemática do conteúdo

dessas representações, consideradas como um produto das interações entre o sujeito, o outro e

58

o objeto social, nos parece indispensável para avaliar as múltiplas imagens dessa manifestação

cultural, pois estas podem nos permitir explorar as várias formas de conhecimento dos atores

da comunidade local.

4.3.1. Local do estudo

A escolha de Diamantina-MG como espaço de análise e apreensão dos conteúdos das

RS se deve a diversos fatores. O primeiro pelo fato de o município possuir uma manifestação

cultural expressiva e única em todo o Brasil: a Vesperata. Esse evento acontece

quinzenalmente de março a outubro de cada ano e é, atualmente, um dos produtos turísticos

mais procurados que a cidade oferece. Nesse sentido, a Vesperata de Diamantina nos

possibilitou a realização de um estudo que contemplou a cultura e o turismo de modo

particular e específico. Essa manifestação acontece, particularmente, no centro histórico, na

Rua da Quitanda, um dos espaços que representam a montra da identidade arquitetônica de

Diamantina, com seus casarões, janelas e sacadas coloniais centenárias.

Outro fator relevante diz respeito à existência de inúmeros eventos musicais, dentre

eles, grupos de serestas, concertos, serenatas, encontros musicais, entre outros, contando com

a participação de muitas pessoas da comunidade.

4.3.2. Constituição e característica dos participantes (Amostra)

A constituição da amostra é uma das operações de base da pesquisa e repousa sobre a

noção de população, ou seja, um conjunto cujas partes são iguais, umas em relação às outras.

59

Para a realização deste estudo, utilizamos a amostra do tipo não probabilística que visa

recrutar os participantes em potencial, selecionados segundo critério de julgamento do

pesquisador. Segundo (BOMFIM, 2004), em Ciências Sociais e numa perspectiva

qualitativa/interpretativa, como a do presente estudo, é difícil utilizar critérios de

homogeneidade e igualdade propostos às amostragens estaticamente representativas, pois é

preciso considerar as singularidades que compõem o conjunto social composto de contextos

heterogêneos. Nesse tipo de amostragem, a quantidade não é importante e raramente

determinada por antecedência, dependendo da evolução da pesquisa e da saturação das

informações recolhidas. Pode-se dizer que a amostra é do tipo teórica (PIRES, 1997), o que

significa dizer que ela parte de uma população total e vão-se recrutando os participantes por

voluntariado, até chegar-se ao número espontâneo de participantes. Por outro lado, as

categorias de análise e as interpretações se constroem no decorrer da pesquisa até chegar à

saturação dos dados.

Buscamos estratificar a amostra com quatro grupos específicos: o dos moradores mais

antigos da comunidade, moradores de um bairro periférico, uma vez que as representações

estão associadas às experiências vividas no lugar pelos indivíduos; os prestadores de serviços

ligados ao turismo (músicos, garçons, comerciantes, balconistas, recepcionistas, guias de

turismo, artesãos e taxistas) e representantes dos Órgãos Públicos, Associações e intelectuais

que mantêm alguma relação com o turismo cultural.

De acordo com Dencker (2003), a estratificação conduz a estimativas mais confiáveis,

porque todas as partes do universo são incluídas na amostra, além disso, permite a obtenção

de informações sobre as partes do universo de maneira diferenciada.

Partindo do pressuposto de acúmulo de conhecimentos (idéias, opiniões, crenças,

preconceitos, atitudes, valores, estereótipos) que são transmitidos através das gerações, o

primeiro grupo de amostra foi formado por moradores mais antigos da cidade, segundo os

60

seguintes critérios: morar no município de Diamantina; idade entre 50 a 80 anos e participar

de algum grupo de seresta da cidade, catalogado pela Secretaria de Cultura e Turismo do

município, pois se verifica que parte da comunidade participa efetivamente das reuniões e

apresentações das serestas.

Para os moradores do bairro periférico, seguimos os critérios: morar no bairro Rio

Grande e trabalhar em algum estabelecimento comercial do próprio bairro.

Para os prestadores de serviços ligados ao turismo (músicos, garçons, comerciantes,

balconistas, recepcionistas, guias de turismo, artesãos e taxistas), utilizamos os seguintes

critérios de recrutamento: morar no município de Diamantina, e trabalhar diretamente na

concretização do evento Vesperata, ou seja, os músicos que realizam a Vesperata, a Banda do

Batalhão e a Banda Mirim, garçons dos bares que servem as mesas durante o evento, os

comerciantes, balconistas, artesãos e taxistas que se encontram na Rua da Quitanda e Beco da

Tecla, principais locais de movimentação durante o evento. Os recepcionistas e guias

turísticos foram escolhidos por estarem envolvidos diretamente no processo de venda do

produto – Vesperata.

Optamos pelo recrutamento de colaboradores que aceitaram participar

espontaneamente da pesquisa e que assinaram o termo de consentimento (apêndice A).

Para os representantes dos Órgãos Públicos e Instituições, Secretaria Municipal de

Cultura, Turismo e Patrimônio, ADELTUR (Associação Diamantinense de Empresas ligadas

ao Turismo), SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), SENAC

(Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), Agência de Desenvolvimento Regional de

Turismo do Circuito dos Diamantes, Central das Associações Comunitárias de Diamantina,

Banda Mirim, um jornalista e um autor de livro sobre as origens da Vesperata, adotamos os

seguintes critérios de seleção: ser moradores da cidade e capazes de se expressarem

61

oralmente, aceitando participar espontaneamente das entrevistas semi-estruturadas (apêndice

B).

Assim, por meio desses atores, poderemos investigar aspectos relacionados às

representações sociais, através das idéias, opiniões, crenças, valores, atitudes, preconceitos,

estereótipos sobre a Vesperata de Diamantina.

A amostra final, totalizando 262 participantes, para a aplicação do instrumento

associação livre de palavras (apêndice C), foi composta de três grupos com as seguintes

características: A primeira, dos moradores mais antigos, contou com 49 participantes de faixa

etária entre 50 a 80 anos. A segunda, dos prestadores de serviços turístico, composta de 174

participantes, lembrando: músicos, garçons, comerciantes, balconistas, recepcionistas, guias

de turismo, artesãos e taxistas, com média de idade entre 12 e 75 anos. E, finalmente, a

terceira, com 39 participantes, residentes no bairro periférico Rio Grande, cuja idade variou

entre 20 a 60 anos.

4.3.3. Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a técnica da associação de

idéias ou evocações livres de palavras e as entrevistas semi-dirigidas.

a) A associação ou evocação livre

Consiste numa técnica para coletar os elementos constitutivos do conteúdo de uma

representação. A associação livre permite a atualização de elementos implícitos ou latentes

que seriam perdidos ou mascarados nas produções discursivas. Assim, aplicamos esse

instrumento aos moradores mais antigos, moradores do bairro periférico Rio Grande e aos

62

prestadores de serviço turístico, solicitando que eles escrevessem cinco palavras que

representassem a Vesperata em sua opinião. Justificamos essa escolha, também, pela

possibilidade de maior apreensão dos conteúdos cognitivos das RS.

(b) A entrevista semi-dirigida

A entrevista semi-dirigida, outro instrumento de coleta de dados das representações

sociais da Vesperata aplicada aos representantes dos Órgãos Públicos, Associações e

intelectuais, computou uma amostra final de nove participantes, com faixa etária entre 25 e 66

anos. Assim, foram entrevistados um representante da Secretaria de Cultura, Turismo e

Patrimônio de Diamantina, um representante da ADELTUR (Associação Diamantinense de

Empresas ligadas ao Turismo); um representante do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas); um representante do SENAC (Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial); um representante da Agência de Desenvolvimento Regional de

Turismo do Circuito dos Diamantes, um representante da Central das Associações

Comunitárias de Diamantina, um representante da Banda Mirim, um jornalista e um autor do

livro sobre as origens da Vesperata.

Através do discurso, a entrevista semi-dirigida nos permitiu recolher dados de

interação entre os colaboradores e o objeto de pesquisa. Nós postulamos que o discurso é o

lugar e o suporte privilegiado de elaborações e de expressões das representações (ANADÓN;

GOHIER, 2001). Esse tipo de entrevista é pertinente à pesquisa qualitativa, pois ela permite

uma investigação aprofundada dos fenômenos (POURTOIS; DESMET, 1988; BOUTIN,

2000).

Esse procedimento é relevante para os entrevistados na medida em que permite clarear

suas posições sobre o tema abordado e explicar seu pensamento, pois, segundo Lüdke e André

(1986, p. 75), ela “se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado

63

rigidamente. Assim, ela nos permitiu abordar o grau de respostas, bem como fazer emergir do

entrevistado conhecimentos sobre o objeto de estudo, a partir das temáticas propostas: a)

elementos de caracterização e definição da Vesperata, com 2 (duas) perguntas. Buscava

determinar a aproximação que eles tinham sobre essa manifestação cultural e quais os

elementos que eles reconheciam sobre essa manifestação; b) o julgamento de valor sobre a

Vesperata, incluía 6 (seis) perguntas. Interrogava os interlocutores sobre os diferentes

valores(opinião, preconceito, estereótipo, idéia, crença, mito) associados à apreciação da

manifestação cultural e de compreender sua legitimidade.

Na entrevista semi-dirigida, as informações foram dispostas segundo sua significância

e encadeadas numa ordem lógica, de forma que se possam verificar as relações que mantêm

entre si, expressando uma realidade acerca da problemática e os objetivos em questão.

4.3.4. Método de Análise e Interpretação dos dados

A análise das palavras na associação livre foi feita pela freqüência delas, bem como

pela semelhança semântica. Assim, evidenciamos o conteúdo das RS sobre a Vesperata a

partir do maior número de palavras agrupadas semanticamente em quadros com a freqüência

de ocorrência dos grupos sociais. Identificaram-se os significados dessas representações

elaboradas por eles, para depois apreender os elementos do conteúdo das RS, definido pela

freqüência das evocações dos saberes partilhados por eles.

Já a entrevista semi estruturada foi cuidadosamente gravada, seguida da transcrição do

verbatim, intercalando a escuta do material gravado com a leitura do material transcrito,

deixando aflorar os elementos contidos nas RS da Vesperata e permitindo emergir os

investimentos afetivos.

64

Para investigar as diversas imagens da Vesperata em Diamantina-MG, as análises do

conteúdo da associação livre de palavras e do discurso foram feitas a partir das categorias de

análises e das temáticas que nortearam o guia de entrevista, apoiadas pelos elementos do

quadro teórico - conceitual. De acordo com Bardin (1977), o trabalho de análise do conteúdo

desses instrumentos de coleta de dados deve ser organizado em torno de três pólos

cronológicos:

1- Pré-análise: Leituras preliminares e estabelecimento de uma lista de enunciados de

acordo com os dois temas privilegiados. Para essa etapa, seguimos as recomendações de

Erickson (1986), quando ele propõe fazer uma leitura do conjunto a fim de ter uma visão

global do texto. Identificamos o tipo de unidades informacionais para a classificação e recorte

dos enunciados específicos, bem como apreendemos particularidades significativas que

alimentaram os temas e categorias. Essa etapa tem a finalidade de recortar os extratos de

textos das entrevistas em enunciados significativos ou unidades de senso. Alem disso,

classificamos uma lista de códigos dos temas (guia de entrevista) e colocamos em ação um

processo de reflexão teórica visando estruturar os dados.

2- A exploração do material: etapa de análise em que fizemos a escolha e definição das

unidades de classificação através da delimitação de categorias e suas propriedades, estas têm

coerência com os objetivos do estudo. Após o recorte dos extratos das entrevistas em seus

componentes elementares, estabelecemos um código, segundo: 1- os participantes e os dados

(idade, bairro e profissão); 2- os temas das entrevistas e suas dimensões – categorias. Fez-se

necessário reduzir a grande quantidade de dados em um pequeno número de unidades

analíticas para a próxima fase. Para o processo de codificação das unidades de análise,

utilizamos como suporte o quadro teórico conceitual.

65

3 - O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação: para o tratamento dos

resultados desta pesquisa, utilizamos operações estatísticas simples, análise e interpretação do

conteúdo do discurso. Aqui, utilizamos informações das associações evocação livre de

palavras, elaborando os quadros (1, 2 e 3), superposicionando-os aos dados da análise do

discurso das entrevistas semi-dirigidas, quadros (4 e 5), através de uma análise comparativa.

66

CAPÍTULO V

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VESPERATA SOB O OLHAR DOS ATORES

SOCIAIS DE DIAMANTINA – MG

Nesta seção trataremos da análise do conteúdo das representações sociais da Vesperata

suportada pelos principais elementos teóricos, cultura, turismo cultural, relacionando-o com o

fenômeno da espetacularização da cultura.

Lembramos que a representação social é concebida como uma forma de conhecimento

que permeia as relações do sujeito com o objeto e seu espaço de vida, através de imagem e

dos elementos das diversas representações de uma certa realidade social. Essas representações

designam uma forma de pensamento social e de conhecimento socialmente elaborado e

compartilhado. Assim, elas asseguram três principais papéis na vida dos grupos e dos

indivíduos: 1) interpretação e compreensão do ambiente social e cultural (ABRIC, 1987;

JODELET, 1989; MOSCOVICI, HEWTONE, 1984), 2) regulação das relações entre os

grupos (DOISE, 1990; DOISE, CLEMENCE ET LORENZI-CIOLDI, 1992), 3) atividades de

julgamento e de avaliação (ABRIC, 1994; DOISE, 1992; MOLINER, 1995). Para identificar e

analisar o conteúdo das RS sobre a Vesperata, consideramos como bases teóricas as

dimensões culturais, turísticas, seus impactos positivos e negativos e atribuição de valor dos

atores sociais sobre ela.

Procedemos da seguinte maneira: descrição, análise e interpretação dos dados

recolhidos em dois movimentos. O primeiro buscou revelar uma imagem da vesperata através

das palavras expressas pelos atores sociais e, o segundo revelou uma outra imagem através do

67

discurso. Finalmente, pela superposição dos resultados, elaboramos uma discussão acerca das

Representações Sociais dos elementos culturais e turísticos sobre a Vesperata em Diamantina-

MG.

5.1. Imagem da Vesperata expressa pelas palavras

Nessa etapa de estudo, pedimos aos moradores mais antigos da cidade, aos moradores

do bairro periférico do Rio Grande e aos prestadores de serviços turísticos, que escrevessem

cinco palavras que viessem em sua mente, quando pensassem na Vesperata, a fim de

representar suas idéias, opiniões, crenças, atitudes, valores, preconceitos, estereótipos e mitos

sobre esse objeto social. Recolhemos 1.310 palavras de um total de 272 participantes. De

início, agrupamos as palavras sinônimas e semanticamente próximas nas diversas categorias e

em ordem decrescente de freqüência.

Analisando o quadro 1, a leitura interpretativa dos dados nos permitiu apreender que,

nas idéias dos moradores mais antigos (49), das 245 palavras, a imagem que se sobressaiu

sobre a vesperata foi identificada pelos elementos culturais e turísticos (42, 0%), seguida dos

atributos de valor (36, 3%), e dos impactos positivos (13%) que prevaleceram sobre os

impactos negativos (8,6%).

Esses moradores consideram o evento como um produto turístico (21, 2%), um

espetáculo muito atrativo. Muitos desses participantes relembram que seus antepassados

diziam que esse acontecimento na cidade era uma forma de entretenimento para a população e

que hoje se tornou um espetáculo comercial. Observa-se que esse processo de modificação da

Vesperata não altera somente o suporte físico do evento, mas principalmente se fazem notar

alterações na tradição da cultura, transformada alegoricamente em espetáculo. De acordo

com Rodrigues (2007), comumente, o turismo se apropria dos valores patrimoniais num

68

processo social complexo que é o de assumir como bens comuns aqueles bens materiais e

simbólicos que de direito não lhe pertencem. Apesar do discurso em prol da busca da

identidade e reconhecimento das culturas locais, observa-se que as expressões culturais

deixam de ocorrer de maneira espontânea e livre, passando a ser planejadas, subordinadas às

políticas públicas, à iniciativa privada ou à parceria de ambas que buscam, cada vez mais,

atrair o turista.

Pelo fato desses moradores participarem de grupos de seresta da cidade, nos quais se

apresentam freqüentemente nas ruas e praças de Diamantina, a vesperata como um elemento

cultural (20,8) os remete à musicalidade, à tradição, ao saudosismo, à arte e ao lazer.

De acordo com (ABRIC, 1994), a proximidade ou distanciamento do grupo com

relação ao objeto tem influência nas RS por eles elaboradas. Essa consideração pode ser

justificada na medida em que grande parte do grupo participa do evento, como espectador,

possuindo um vínculo próximo e permanente com ele. Eles o percebem como gerador de

renda e vetor de interação social (32), revelando, conforme Wagner (1995), que a

representação e a prática são mutuamente dependentes, ou seja, toda a representação está

interligada a uma prática.

A atribuição de valor, no que diz respeito ao sentimento de alegria, descontração e

beleza, (71), indica o envolvimento desses atores com a Vesperata. Para eles, significa um

momento de encontrar-se com os “velhos amigos”, fazer novas amizades, dançar, cantar num

cenário ao ar livre animado aos sons das bandas.

69

Quadro 1 - Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores mais antigos-N=49)

n=245 palavras

Elementos turísticos Total Impactos negativos Total Elementos culturais Total Impactos positivos Total Atribuição de valor Total

Atividade Socioeconômico Patrimônio/Identidade

Econômico Sentimento

Turismo

31 Exclusão

Exploração social

13 Cultura Lazer Arte

Tradição Conhecimento

51 Trabalho Oportunidade

Dinheiro

29 Alegria Descontração

Beleza

71

Produto Ambiental Social Importância

Atrativo Espetacularização

21 Desorganização Barulho

1 Interação social

3 Interessante

Incomparável Seriedade

Comprometimento

18

Psicológico

Desgaste físico- mental 7

Total (freqüência) 21,2% 8, 6% 20,8% 13,0% 36,3%

70

No quadro 2, na idéia dos moradores do bairro Rio Grande (39), das 195 palavras, se

sobressaem aquelas que expressam uma imagem da vesperata como elemento turístico-

cultural (39,9%), seguida dos atributos de valor (32,3%) e dos impactos negativos (17,0%)

que prevalecem sobre os positivos (10,7%).

Percebemos, através da imagem revelada pela idéia desses moradores, que eles se

identificam com a vesperata como um elemento cultural (25,6%), ou seja a música, arte,

troca de conhecimentos, intercâmbio de culturas, foram palavras muito evocadas por esse

grupo. Apesar de a considerarem como elemento cultural, esses participantes a vêem,

também, como um acontecimento de exclusão e exploração social (17,0%). Pelo fato

desses atores não participarem do evento, como elemento turístico (14,3%), eles justificam

sua não participação pelos empecilhos à presença deles, tais como: o valor cobrado pelas

mesas, a dificuldade de reserva pela comunidade e, principalmente, o cordão de

isolamento. Esse cordão, para a comunidade local, é fator de distanciamento,

impossibilitando um contato maior entre a comunidade e o turista. Esses atores se sentem à

margem e não ficam à vontade para participar das apresentações.

A Vesperata fez um resgate temporal muito válido nos últimos anos, mas,

infelizmente, aos poucos, ela foi-se desprendendo e se desvinculando de suas principais

raízes. Passou por diversas mudanças, talvez com o intuito de ganhar a simpatia da

população, entretanto, vem ocorrendo o contrário.

Essas mudanças deveriam ter ocorrido para buscar-se um aliado para esse processo,

ou seja, ter a comunidade local como cúmplice, como agente facilitador e não como um

complicador do processo. Não há como se pensar uma manifestação cultural, sem a

presença e participação da comunidade local. Sob esse enfoque, Ruschmann (1997)

ressalta a necessidade de atentar-se para os riscos do comprometimento da autenticidade e

espontaneidade das manifestações culturais e ambientais, ou seja, o turismo, enquanto

71

atividade social, que visa às relações humanas, o intercâmbio cultural, muitas vezes

favorece apenas as relações econômicas, que permitem contatos superficiais e provocam

dependência extrema da atividade por parte das populações receptivas.

Nesse sentido, pode-se afirmar que cada grupo cria suas próprias versões e as

partilha com os outros. Essas são representações emancipadas, com certo grau de

autonomia, tendo uma função complementar, uma vez que resultam da partilha de um

conjunto de interpretações e de símbolos. E ainda existem as representações que são geradas

no decurso de um conflito ou controvérsia social e que não são partilhadas pela sociedade no

conjunto, daí a idéia de exclusão, como RS.

72

Quadro 2 - Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (moradores do bairro periférico - N=39)

n=195 palavras

Elementos turísticos Total Impactos negativos Total Elementos culturais Total

Impactos positivos Total Atribuição de valor Total

Atividade Socioeconômico Patrimônio/Identidade

Econômico Sentimento

Turismo 17

Exclusão Exploração social

21 Cultura Lazer Arte

Tradição Conhecimento

50 Trabalho Oportunidade

Dinheiro

16 Alegria Descontração

Beleza

53

Produto Ambiental Social Importância

Atrativo Espetacularização

11 Desorganização Barulho

6 Interação social

5 Interessante

Incomparável Seriedade

Comprometimento

10

Psicológico Desgaste físico-

mental

6

Freqüência 14,3% 17,0% 25,6% 10,7% 32,3%

73

Analisando o quadro 3, observamos que das 870 palavras recolhidas pelos 174

prestadores de serviços turísticos revelam uma imagem da vesperata através dos atributos de

valor (37,1%), os elementos culturais e turísticos (33,2%) e os impactos positivos (17,0%) e

negativos (12,6%). Essa imagem, expressada por esses atores sociais, é revestida de

sentimentos de alegria, descontração, beleza, atratividade, indescritibilidade, seriedade e

comprometimento (323).

Caracterizada culturalmente como arte, lazer, tradição e conhecimento (145), essas

palavras expressam a identidade cultural dos participantes da comunidade local associada ao

produto turístico: a vesperata, como espetáculo, (144). O elemento cultural assume importante

papel na composição do produto turístico, mas, ressalta-se aqui, um produto cuja

originalidade deve se manter sofrendo um mínimo de influência possível para não se

constituir banalizado. Assim, Beltrão (2001) afirma que não se deve analisar o turismo de

forma isolada e afastada do contexto social, pois se observa que a atividade sempre procurou

retratar a cultura com base na vivência humana e isso transcorre paulatinamente em

atratividade.

Como esses participantes atuam diretamente na concretização da vesperata e

dependem de sua realização, como meio de vida, na idéia deles a força desse evento turístico

pode ser percebida pelas palavras que mostram os impactos positivos na dimensão econômica

e social, como geração de renda (124), interação social (20) e fama (4). É importante frisar

que, ao se levantar uma discussão sobre a contribuição do turismo para o desenvolvimento de

localidades, muitos autores e pesquisadores apresentam os benefícios econômicos que a

atividade pode promover, em destaque, a geração de emprego e renda e a dinamização da

economia. Para que o turismo possa de fato contribuir para o desenvolvimento local, é

necessário que os processos resultantes da atividade turística tragam benefícios não apenas

econômicos, mas também promovam a justiça social, a conservação cultural e do meio

74

ambiente natural, além de permitirem que os atores sociais estejam incluídos nos processos de

decisão e gestão da atividade.

Já os impactos negativos foram inferidos pelas palavras que se inserem nas dimensões

psicológicas (desgaste, 57), socioeconômicas (exclusão social, 47) e ambientais (barulho e

desorganização, 6). Sobre o aspecto psicológico, palavras como cansaço, mesmice, repetitivo,

referem-se ao fato de essas pessoas trabalharem e acompanharem a vesperata durante todo o

ano, enquanto que os turistas assistem ao espetáculo uma ou duas vezes no mesmo período.

Eles dizem que, apesar de ser bonita e alegre, as músicas são sempre as mesmas, que os

diamantinenses estão cansados de escutar e ver sempre o mesmo acontecimento. A exclusão

e exploração social foram também palavras de destaque, pois muitos músicos que tocam

durante o evento acham que deveriam “ganhar mais” e, em relação aos meninos da Banda

Mirim, palavras como fome e sede foram também associadas ao evento.

Em síntese, percebemos que os prestadores de serviços turísticos, ao mesmo tempo em

que atribuem um significado de valor à vesperata como tradição cultural, reconhecem, através

de imagem mental, que ela, como produto turístico, é um espetáculo que produz impactos.

75

Quadro 3 - Imagem da Vesperata expressa pelas palavras (prestadores de serviços turísticos - N=174)

n=870 palavras

Elementos turísticos Total Impactos negativos Total Elementos culturais Total

Impactos positivos Total

Atribuição de valor Total

Atividade Psicológico Patrimônio/Identidade

Econômico Sentimento

Turismo 81 Ciúme

Ruim Desgaste físico-

mental

57 Cultura Lazer Arte

Tradição Conhecimento

145 Trabalho Oportunidade

Dinheiro

124 Alegria Descontração

Beleza

222

Produto Socioeconômico Social Importância

Atrativo Espetacularização

63 Exclusão Exploração social

47 Interação social

20 Interessante

Incomparável Seriedade

Comprometimento

101

Ambiental Individual Desorganização

Barulho

6 Fama

4

Freqüência 16,5% 12,6% 16,7% 17,0% 37,1%

76

5.2 . Imagem da Vesperata expressa pelo discurso

Com relação a esse tópico, utilizou-se o guia da entrevista semi-dirigida que comporta

dois blocos. Lembramos aqui que o primeiro bloco, Elemento de caracterização e definição

da Vesperata, buscava descobrir como intelectuais, representantes de órgãos e instituições

descrevem a vesperata para um turista, para uma pessoa vinda de fora, ou seja, quais são as

opiniões, as idéias, os conceitos que possuem sobre o evento, como também qual é a definição

da vesperata para eles. Objetivou-se determinar a aproximação que esses participantes têm

sobre esta manifestação cultural e quais os elementos que eles reconhecem sobre ela. Já o

segundo bloco, Julgamento de valor sobre a Vesperata, tinha por objetivo identificar os

diferentes valores associados à apreciação da manifestação cultural, como o significado,

identificação, importância, aspectos positivos e negativos. Enfim, verificar diferentes valores

associados à apreciação desses atores sociais a fim de compreender a legitimidade da

vesperata.

a) Elementos de caracterização e definição

Analisando o quadro 4, no que diz respeito à descrição da vesperata para um turista,

seis participantes (6) afirmam que a vesperata é um evento espetacularizado culturalmente,

seja na dimensão econômica ou estética (66,6%). Apenas três (3), o vêem como um elemento

cultural valorizado (33,4%). Os exemplos que se seguem ilustram a enunciação dos

entrevistados.

Eis as falas de seis dos entrevistados, representadas nas seqüências:

É um espetáculo musical com um efeito sonoro diferenciado, devido a cada instrumento estar numa posição da rua, realmente o efeito que isso traz para quem está assistindo, vamos dizer é o hors concours [...] um espetáculo musical que engloba, toda cultura musical brasileira, internacional também, eles vão fazendo

77

uma passagem pela história da música, contando alguns casos musicais, então é um evento cultural e musical [...] um produto turístico diferenciado [...] eu não conheço um evento parecido com esse (RSENAC 3).

Para esse representante, a Vesperata é um espetáculo musical (cultural) único.

Um espetáculo que reúne as bandas de música mais tradicionais de Diamantina [...] se reúnem e promovem o espetáculo em si, das sacadas dos casarões históricos para o público que o assiste da rua [...] Um evento comercial que a cidade tem (GADRTCD 5).

A Gestora descreve a vesperata como um espetáculo, um evento comercial que

apresenta como cenário a rua, os casarões históricos e suas sacadas.

Eu poderia até tentar descrever para ele a Vesperata, mas com a condição de que ele tivesse que assistir a ela para poder entendê-la com perfeição, que é muito difícil descrever a vesperata. [...] um espetáculo que ele nem imaginava que existisse e que dificilmente ele veria em qualquer outra parte do mundo, no cenário e no clima que acontece em Diamantina [...] As pessoas assistem assim mais à vontade, num ambiente de mais descontração num cenário assim totalmente diferente (J 9).

Já o jornalista da cidade tem dificuldade de descrever a Vesperata, mas em sua opinião

é preciso percebê-la e senti-la. Para ele, a Vesperata é um espetáculo que se apresenta num

cenário único.

É um evento de impacto porque o visual da cidade local onde ela ocorre, a acústica do local favorece muito pra que a vesperata tenha um porte (STCP 1).

Para o Secretário de Cultura, Turismo e Patrimônio, a vesperata é um evento cultural

de impacto por sua beleza estética e acústica.

[...] é a própria encarnação desse espírito musical de Diamantina, é a encarnação dessa musicalidade construída ao longo de 300 anos, que saiu desde as origens do Arraial do Tijuco no século XVIII [...] eu diria que a vesperata encarna parte destas representações musicais e culturais de Diamantina (PHALV 6).

78

O intelectual atribui um valor identitário culturalmente, reportando-se a ela como uma

tradição musical. Ele define a Vesperata como uma representação cultural de Diamantina-

MG.

É um evento bonito, é um evento que chama a atenção, é um evento que resgata as músicas mais antigas, resgata a cultura de um tempo atrás [...] eles tocam nas janelas das casas (PACD 8).

Para a participante, a Vesperata é um evento cultural de impacto por sua beleza

estética e acústica. Ela é um evento cultural da cidade que resgata as tradições musicais.

Quadro 4 (N=9) - Elementos de caracterização e definição da Vesperata

Dimensão Espetacularização da Cultura Total Elemento

Valorizado Total

Econômica Evento comercial 01 - Social - - -

Cultural - Valor identitário culturalmente 03

Estética Impacto por sua beleza estética e

acústica. 05

Total 06 03 Freqüência 66,6% 33,4%

Até aqui, percebe-se que a maioria dos participantes a define como um espetáculo

cultural, em que o cenário, a acústica, o local, a disposição das mesas, as sacadas, os casarões,

os músicos, as músicas, ao mesmo tempo em que se traduzem em algo belo, espetacular,

diferente, também são visto como evento comercial. Dessa forma, podemos dizer que,

transformados em cenários artificiais, os lugares turísticos encenam espetáculos devidamente

ensaiados para cativar o turista, dando continuidade a uma imagem derivada de processos

simbólicos. Surge um grande e difuso espaço que pode ser denominado “entretenimento”, ou

espetáculo, conforme o dizer de Guy Debord (1997), que aglutina as atividades,

transformando quase tudo em mercadoria para consumo, de diversos tipos e preços.

79

b) Julgamento de valor sobre a vesperata

O quadro 5 nos revela que, para (88,8%) dos participantes, a vesperata tem um

significado nas dimensões econômica (4), cultural (3) e estética (1). No que diz respeito ao

significado do evento em relação à dimensão econômica, a maioria dos atores sociais disse em

seus discursos que a vesperata é um produto turístico, comercial, único e diferenciado,

promovendo a cidade em termos da divulgação e veiculação de sua imagem para o mundo.

Seguem alguns exemplos ilustrativos:

A vesperata é um evento essencialmente turístico, ela virou um produto e o produto realmente vai ser vendido para o visitante, eu não tenho nada que eu posso dizer que ela represente pra mim. A vesperata é mesa vendida, ela acontece em função das pessoas de fora, então eles acham que a cidade tá sendo excluída, a praça é contornada por fita zebrada, então tem várias cenas da vesperata que por ser na rua é como se fosse num teatro aberto (STCP 1).

Na opinião do participante, ele não se identifica com a vesperata, ela é um espetáculo

que ocorre num teatro aberto.

Um produto turístico preparado para o mercado nacional e internacional (RSEBRAE 4).

O representante atribui um significado econômico, quando afirma que a Vesperata é

um produto turístico que visa o mercado.

Um espetáculo musical [...] ela perdeu aquele seu sentido de atrativo cultural, de ser algo que pertencia única e exclusivamente à comunidade de Diamantina e passou a ser um produto vendido junto com a imagem de Diamantina pro mundo inteiro (PHALV 6).

O intelectual atribui um sentimento de perda de identidade à Vesperata, quando ela se

torna um produto turístico que veicula a imagem de Diamantina.

80

Na dimensão cultural (3), o significado da vesperata para os participantes revela que

ela transmite um aprendizado, uma valorização da cultura musical. Apresentam-se abaixo as

falas dos atores sociais que melhor exemplificam essa idéia.

[...] como alguém que trabalha no turismo, e que vive do turismo e que trabalha para o turismo, a Vesperata significou um aprendizado, uma convivência difícil, são muitos interesses, com pessoas completamente diferentes (RADELTUR 2)

Percebe-se que, para o representante, o evento significa muito para ele como uma

pessoa que trabalha na atividade, mas ele mesmo ressalta que são muitos interesses

envolvidos.

“Um espetáculo de muita sensibilidade, muito emocionante, e de um nível muito bom, principalmente de música, musical” (J 9).

O intelectual atribui um significado de sentimento pela cultura musical.

Já na dimensão estética, o significado do evento transmite idéia de grandiosidade e

rara beleza, entre outros, sempre o relacionando como um espetáculo. O verbatim a seguir,

ilustra:

“É uma coisa única, de uma beleza esplêndida, pela singeleza e simplicidade dela [...] por causa dessa simplicidade, se torna uma coisa grandiosa” (MBM 7).

O participante atribui um significado estético, percebendo-a como um espetáculo

grandioso.

Em relação à identificação dos entrevistados com a vesperata, 100% a identificam

como o único produto formatado da cidade, que utiliza o marketing para atrair seu público-

alvo, visando atingir um mercado cada vez mais selecionado. Os participantes afirmam que a

vesperata é um produto formatado para agradar e atrair o turista, gerando renda para o

município. Nos seus discursos, fica clara a não participação da comunidade na Vesperata, pois

ela foi revitalizada para a atividade do turismo. Como fica explícito em seus discursos:

81

O formato que agrade o turista. Vale a pena ver a vesperata, o turista hoje quando vem à Diamantina tá vindo para assistir a vesperata, [...] fluxo grande de turista na cidade, todos os hotéis ficam lotados, então com isso vem alimentação, vem as feiras, o artesanato, o envolvimento é geral, desde posto de gasolina e tudo. Ela sem dúvida nenhuma é um produto turístico, porque na realidade você pode calcular o fluxo de dinheiro que entra na cidade nos dias de vesperata (SCTP 1). [...] é porque ele traz basicamente, vários turistas pra cá, muitos turistas vêm em função da Vesperata [...] os pacotes turísticos mais vendidos são os que têm a vesperata (RSENAC 3). [...] é um produto que está preparado para esse mercado, é um produto que já é uma realidade e que o turista hoje que vem e o conhece, ele sempre quer assistir uma próxima (...) produto muito legal que envolve toda parte cultural, histórica da cidade, turística e assim a geração de negócios nos empreendimentos turísticos da cidade vesperata é um produto, quando o turista vem, ele fica na região, ele dorme e a geração de renda acontece, porque ele participa de várias ações, desde um bar que ele senta pra tomar uma cerveja, pra comer um tira-gosto, um hotel que ele dorme, e um passeio no centro histórico (RSEBRAE 4). [...] eu diria que hoje a vesperata conseguiu fazer com que aquele antigo elemento da cultura local, que é a musicalidade de Diamantina, fosse transformado de fato em produto sustentável, ela é um produto sustentável (...) ela é um produto em função de que ela tem claramente um mercado que ela quer atingir, ela tem os atores que são diretamente interessados na venda, ela tem um marketing agregado a esse produto e ela hoje, mais do nunca, envolve um conjunto muito grande de atores econômicos que se organizam e organizam seus comércios, suas produções de serviços em torno do produto chamado Vesperata (PHALV 6). Praticamente como o único produto turístico que Diamantina tem. Eu só considero produto turístico, aquilo que pode ser vendido, e que gera emprego, que gera renda e que gera desenvolvimento, [...] a Vesperata ela não é só um produto turístico, ela cria vários outros produtos, várias outras oportunidades de emprego de tudo, na cidade [...] a Vesperata, ela que de fato ta sendo a locomotiva assim, vamos dizer mensal, bimensal do turismo em Diamantina [...] a Vesperata é um produto muito procurado, a demanda para Vesperata é grande (J 9).

A partir desse cenário, observa-se que a manifestação cultural foi transformada em

produto turístico em função do desenvolvimento da atividade turística. Todavia o turismo

não pode nem deve possuir como objetivo a apropriação de uma manifestação cultural para

transformá-la em produto turístico, descaracterizando-a. O turismo proposto na cidade e no

produto formatado, além de descaracterizar a manifestação, excluiu seus principais atores e

82

responsáveis por seu andamento. O turismo é um indutor de parcerias, um conciliador de

fatores discrepantes. Não que essa seja uma tarefa fácil, mas a atividade turística e seus

profissionais capacitados para tal existem em função da solução dessas lacunas.

Para (88,8%) dos entrevistados, a importância do espetáculo manifesta-se nas

dimensões econômica (6), a vesperata vista como um atrativo, fonte de renda e visibilidade

para Diamantina e na dimensão cultural (2), como um grande espetáculo e hibridização da

cultura. Seguem os exemplos.

[...] eu acho que hoje a Vesperata, turisticamente, é uma das maiores fontes de receita para Diamantina e tem o ano inteiro [...] um público com poder aquisitivo muito interessante, um público que a capacidade hoteleira da cidade recebe, que a capacidade de restaurante, de bar, tudo comporta (RADELTUR 2).

Para o representante, a vesperata é muito importante, pois ela é uma das maiores

fontes de receita para a cidade.

[...] eu considero muito importante, eu vejo, se você vendesse um pacote para uma agência de turismo sem a vesperata, eu acho que ele não teria o mesmo apelo de venda, quando você vende com a vesperata. Eu acho que é um grande aliado da cidade esse evento aqui (RSENAC 3).

Esse entrevistado deixa claro que a cidade depende da vesperata para atrair turistas,

sem a realização do evento, o fluxo turístico cairia, ocasionando perda de recursos financeiros

para os envolvidos na venda e comercialização.

[...] a vesperata é um atrativo transformado em produto, que tem gerado emprego e renda, produto com uma enorme capacidade concentradora de renda, [...] ela é uma atividade geradora de renda, isso é indiscutível, ela tem mantido emprego nos hotéis, nas pousadas, na área de serviços, na área gráfica, na área musical (PHALV 6).

O intelectual afirma que a Vesperata é importante, pois ela concentra renda para o

município, gerando empregos e mantendo mão-de-obra nos estabelecimentos.

83

[...] eu considero que é uma das coisas mais importantes que já aconteceu em Diamantina em todos os tempos. Ela hoje é fundamental em Diamantina, não só no aspecto econômico, no aspecto de elevar a auto-estima da população e de valorizar os músicos, a música também é claro (J 9).

A importância que o jornalista atribui à vesperata é visível, não só no aspecto

econômico, mas também no social e cultural.

[...] a cidade fica cheia, por esse lado aí, eu vejo que é uma coisa boa, porque a cidade enche, é gente de todo lugar, de todas as línguas, de todas as culturas, eu vejo por esse lado, a movimentação da cidade e o recurso que ela traz pra maioria das pessoas que é o centro, porque ela traz pro centro, ela é concentrada mesmo no centro da cidade (PACD 8).

Para a participante, a vesperata é importante, porque ela propicia a troca de cultura

(hibridização) e gera recursos para a área central da cidade.

Sobre a busca para descobrir em quais aspectos a vesperata chama a atenção da

comunidade local, apenas 1 participante (11,2%) apontou que ela gera impacto positivo, ou

seja, gera renda através da atividade turística. E quanto aos impactos negativos (88,8%), se

referiram à vesperata como repudiada e excludente (4) na dimensão econômica e rotineira e

cansativa (4), na dimensão cultural. Os extratos abaixo ilustram:

Eu acho que chama da comunidade local no aspecto financeiro, todos sabem que vesperata deixa dinheiro na cidade, por mais que eles digam que a vesperata deixa dinheiro em setores definidos, mais eles sabem que isso não é verdade, distribui dinheiro na cidade toda [...] a comunidade local vê a vesperata realmente como uma fonte de receita, de renda (RADELTUR 2).

Na opinião do representante, ela chama a atenção da comunidade no aspecto

financeiro, gerando renda e oportunidade.

[...] para as pessoas daqui, por mais que sempre é uma emoção você ver uma vesperata e tudo, se torna um pouco cansativo (RSENAC 3).

Na opinião do representante, ela chama a atenção da comunidade pela emoção que

transmite, mas é cansativa.

84

[...] a gente ouve falar até de questionamentos de representantes das comunidades que em muitas situações não conseguem participar da vesperata (RSEBRAE 4). Tem algumas pessoas aqui na cidade que inclusive chegaram a falar: hoje tem besterata, canserata (PHALV 6). [...] a população de Diamantina não tem acesso de entrar, ela é separada por uma faixa e ali ninguém pode entrar pro lado de dentro, é só o turista. A vesperata tá dentro da cidade, tá dentro da comunidade de Diamantina e a própria população não tem a liberdade, o direito de ir e vir, porque a vesperata tira o direito das pessoas de ir e vir. Eu acho isso uma falta de respeito, porque se o evento tá acontecendo dentro de Diamantina, eu acho que a comunidade tem direito, mas ela não tem, porque os turistas pagam essas mesas [...] não é uma coisa para todo mundo, eu acho que poderia tirar essa faixa (PACD 8).

85

Quadro 5 (N=09) - Julgamento de Valor Sobre a Vesperata

Dimensão Significado Total Identificação Total Importância Total Impacto Positivo Total

Impacto Negativo Total

Econômica Não se identifica, um

produto turístico, promove a cidade.

04

Produto turístico sustentável que visa,

através do marketing, o mercado, o comercio e os serviços, os atores

econômicos

08

Atrativo turístico, fonte

de renda, visibilidade

06 Gera renda atividade turística

01

Social - - - - Repudiada Excludente

04

Cultural

Ela traz um aprendizado.

Sentimento pela cultura musical

03 Produto cultural 01

Grande espetáculo,

hibridização de cultura

02 Rotineira e Cansativa

04

Estética Espetáculo grandioso.

01

Total 08 09 08 01 08 Freqüência 88,8% 100,0% 88,8% 11,2% 88,8%

86

Podemos concluir, através desses verbatins, que o turismo existe muito em função do

conhecimento de culturas distintas e grande parte da composição dessa cultura refere-se às

manifestações culturais, sendo assim, fica claro que, para o desenvolvimento da atividade

turística, se faz necessário a criação de uma infra-estrutura que sirva de suporte para que seja

vivenciada por ambas as partes. Dessa forma, acredita-se que seja importante, sim, conjugar a

manifestação a um sustentáculo que lhe permita ser compartilhada e vivenciada, sem excluir e

deixar à margem seus atores principais.

A atividade turística, como qualquer outra atividade, implica em um fator de suma

importância para seu andamento, ou seja, o planejamento. O contexto turístico brasileiro

raramente compatibiliza o planejamento com o início da atividade em uma localidade. Em

alguns municípios, ainda existem iniciativas significativas de planejamento que chegaram

depois e que conseguiram estabelecer um direcionamento ao processo. Realmente tem-se a

consciência de que, iniciar a atividade com um planejamento participativo capaz de unir o

poder público a iniciativa privada e ainda assim considerar os interesses da população local, é

tarefa árdua, entretanto, sabe-se que o declínio do turismo, sua massificação e

direcionamentos indevidos advêm dessa lacuna.

Diamantina se insere nessa realidade. O turismo na cidade iniciou-se e criou

dimensões não imaginadas. Assim, o planejamento foi uma medida inexistente por tempo

considerável, tanto que, hoje, são perceptíveis diversas falhas no município que possui

demanda, possui atrativos maravilhosos, mas não apresenta serviços turísticos suficientes para

atender à demanda que a procura. Houve muita divulgação do município, o título de

patrimônio foi um grande fomentador dessa evolução, entretanto não há sustentação capaz de

aportar tamanha procura com a qualidade que é requerente.

A mesma situação referente à falta de planejamento que confere à cidade um certo

amadorismo em suas iniciativas no âmbito turístico, reflete, também, na manifestação da

87

Vesperata, o mesmo despreparo. O evento foi tomando grandes proporções e as iniciativas de

adequação do produto à demanda foram sendo tomadas à medida que foram sendo requeridas.

Essa conjuntura trouxe algumas ameaças à realidade atual da Vesperata. Hoje, a população

não participa do processo, se sente à margem e também não contribui, pelos motivos citados,

para seu aperfeiçoamento. A vesperata criou uma dimensão tão inimaginável e ao mesmo

tempo tão exclusiva, que as outras manifestações do município, talvez até de maior

representatividade e ligação com as reais tradições locais, competem entre si para

conseguirem um espaço mínimo de visibilidade no cenário destinado à Vesperata. Têm

ocorrido com freqüência apresentações concomitantes nos dias em que acontece o evento em

Diamantina. Corais, grupos folclóricos e a simbólica serenata, típica da musicalidade

diamantinense, vêm se apresentando no mesmo horário, porém em lugares diferentes. São

várias apresentações distintas, em um mesmo horário, disputando a atenção do turista que

vem para assistir à Vesperata. A manifestação transformou-se no carro chefe da divulgação da

cidade e excluiu não só a comunidade, mas também não deixa espaço para as demais

tradições. Essas não possuem mais, aos olhos do turista, o mesmo encanto que a Vesperata e

também não representam para eles o mesmo poder de atração.

Toda essa realidade um tanto quanto complexa é fruto da ausência de planejamento, da

falta de um direcionamento e de profissionais capazes de adequar e equilibrar todos os

atrativos, principalmente sua divulgação que não pode se ater a um único produto, ainda mais

em um município dotado de tantos atrativos naturalmente surgidos de suas vivências na

história.

A concepção do turista a respeito de uma localidade e do conhecimento de todas as

esferas que compõem o turismo nela tem que ser determinada unicamente por ele. A

autonomia do turista não pode ser direcionada, suas escolhas devem ser livres e todos os

responsáveis pela movimentação da atividade turística possuem a liberdade de se inserirem no

88

mercado em condições igualitárias de concorrência, no intuito de que o turista visitante seja o

único responsável pelo seu discernimento e que o leque de beneficiados pelo turismo alcance

sempre, e cada vez mais, um número maior de colaboradores satisfeitos e empenhados no

crescimento comprometido do turismo na localidade em que esteja inserido.

Ao assumir uma concepção do estudo sob o viés da representação social, não

pretendemos aqui chegar à construção de uma verdade ou ao estabelecimento de um

conhecimento pronto e acabado. A noção que buscamos explicitar é a de um trabalho

interpretativo, em que os signos e os símbolos sociais se apresentam na perspectiva aberta de

compreensão de seus sentidos e significados.

Assim, ao tentarmos compreender o espaço de vivência da Vesperata – na cidade de

Diamantina – percebemos o forte vínculo que a mesma estabelece com seus costumes,

notadamente aqueles voltados para o interesse da música e da religiosidade. É marcante a

idéia de pertencimento a uma comunidade culturalmente atrelada a práticas de caráter

tradicionalistas, ainda que, ao longo dos anos, algumas dessas práticas tenham sido

ressignificadas, aparentemente objetivando o desenvolvimento turístico, que traz no seu bojo

a lógica do desenvolvimento econômico e social.

Um fato marcante nas relações estabelecidas entre a comunidade e algumas práticas

culturais locais foi a elevação da cidade de Diamantina a Patrimônio Cultural da Humanidade,

em 1999. A partir disso, o olhar das pessoas sobre a cidade é ampliado significativamente, e

ela passa, então, a ter que apresentar para o ‘mundo’ tudo aquilo que fosse representativo : a

arquitetura, os atrativos naturais, os usos e costumes, enfim, as vivências e os espaços que

conferem sentido e identidade aos sujeitos que habitam a cidade. Se, para Certeau (1994), “o

espaço é o lugar praticado”, era necessário explicitar a cultura local através de suas práticas

historicamente situadas e construídas.

89

Assim, foi possível identificar, nas falas dos atores sociais envolvidos nesse estudo,

que muitas dessas vivências tradicionais que compunham a cultura local foram alteradas

profundamente para atender à nova demanda turística que surgia. Ao utilizar a concepção de

cultura como fenômeno que envolve necessariamente o ato de sentir, perceber, representar e

construir uma imagem de mundo, evidenciamos a existência da reconstrução de uma

manifestação cultural – Vesperata – através do significado que lhe é atribuído pelos sujeitos.

A Vesperata se mostrou particularmente como uma dessas práticas ressignificadas. De

elemento constitutivo da cultura tradicional, ela passa gradativamente a ganhar contornos de

um fenômeno espetacularizado, voltado agora para ‘os outros’, para ‘os de fora’. É possível

também perceber que, atualmente, a Vesperata se mostra como uma manifestação em que a

noção de espetáculo passa a ser o viés norteador.

Ora, se a cultura é a representação social de um dado espaço, onde os símbolos são

permanentemente (re)construídos pelos atores que atuam naquele local, vemos a Vesperata

como um símbolo da cultura local de Diamantina, ressignificada a partir de determinados

interesses que passaram a ser socialmente vigentes, como, uma nova ordenação da dinâmica

social, com vistas ao atendimento de uma política que passa a privilegiar o turismo e,

particularmente, o turismo cultural. Aqui, comparando os resultados ao trabalho de Rosa

(2002), sobre a espetacularização, a Vesperata muito marcada por interesses comerciais, sofre

influências dos padrões de organização e administração ditadas pela indústria cultural. A

organização passou do poder popular ao público e depois ao privado, que instaura

abertamente os valores mercadológicos, com a certeza de que “festa é negócio”. Essa fala é

emblemática do que ocorreu com a Vesperata e, também, é recorrente nas palavras dos

entrevistados. O processo de mercantilização do espetáculo, sendo o turismo um dos seus

motivadores, é estudado por Canclini (1983), quando o autor ressalta que a mercantilização da

cultura deve ser investigada, abordando-se os aspectos econômicos e simbólicos dos produtos

90

populares, tanto a produção quanto a circulação e o consumo. No entanto, a situação deve ser

compreendida numa interação dinâmica, envolvendo produtores e consumidores. Há uma

lógica dominante, a do mercado, mas ela não é única. (Rosa, 2002).

Um outro aspecto a ser salientado, de acordo com a interpretação dos dados, é o

processo de identidade e pertencimento que envolve o fenômeno da Vesperata. Antes, uma

manifestação da comunidade local, prática de lazer dos moradores da cidade, é agora

percebida pelos habitantes como um espetáculo formatado para o consumo dos turistas, que

passaram a se apropriar do evento, parte integrante da cultura local. É possível notar, em

algumas falas, certo grau de ressentimento, denotando desagrado e até mesmo desprezo. O

que antes era uma produção cultural vivenciada pela própria comunidade, passa a ser produto

cultural ofertado para ‘os outros’. A consciência de algumas pessoas quanto a essa questão,

gera naturalmente um clima de tensão entre os moradores e os turistas, à medida que cria

sentimentos de conflito, alimentados por uma lógica passional de ‘posse’ da prática cultural

da Vesperata. Ao expor essa questão, os resultados corroboram as idéias de Bruhns (1992),

que entende as comunidades não como agrupamentos homogêneos de pessoas com

finalidades idênticas e convívio harmonioso; a autora leva em consideração as condições de

vida em comum, os interesses, as contradições e os conflitos, reproduzindo as relações e os

processos sociais.

Continuando, entendemos que a espetacularização da Vesperata despertou também um

sentimento, em parte da comunidade local, de exclusão e de marginalidade, ou da perda da

idéia de pertencimento e do caráter identitário que a manifestação possuía anteriormente. O

termo “exclusão” é recorrente nos discursos dos sujeitos e aponta para o entendimento que a

manifestação tornou-se uma prática cultural da qual eles já não fazem mais parte e que ela

vem sendo apropriada pelos turistas que, embora a consumam, não criam vínculos de

identidade ou laços de pertencimento. A divisão dos espaços é ilustrativa dessa situação.

91

Existe uma área reservada aos turistas (com mesas e um certo conforto) e uma outra área,

separada por uma fita, destinada aos ‘outros’ (na sua maior parte, a própria comunidade

local), sem nenhuma infra-estrutura e conforto para assistir-se ao espetáculo.

O fenômeno turismo – não tão expressivo nos primeiros anos do evento – no decorrer

dos anos, assumiu dimensões que alteraram o caráter tradicional da Vesperata, pois esta

ganhou contornos para além dos limites geográficos, gerando mudanças nas expressões

culturais e nas relações sociais, registrando, assim, novos fatos na vivência dessa prática, na

vida da cidade e de toda sua gente. O desenvolvimento do caráter turístico fez com que a

Vesperata fosse mercantilizada, trazendo benefícios de ordem econômica, mas também

conflitos e tensões entre a população. Na voz das pessoas entrevistadas, é evidente a

percepção da manifestação como um ‘evento comercial’ e essa constatação está fortemente

marcada pelo elemento turístico, que a transforma em produto de consumo. A cultura,

produtora e produto de bens simbólicos, acaba incorporando a lógica mercadológica, sob o

viés da ordem produção-consumo e do lucro, potencializado pelo desenvolvimento turístico.

Por esse entendimento, a Vesperata se mostrou um fenômeno cultural que mantém

estreitas relações com o todo da vida social, com apropriações próprias e singulares dos

sujeitos que circunscrevem a ocorrência do evento. Apesar da ótica subjetiva posta nessas

apropriações, percebe-se também um certo padrão comum concernente às normas, condutas,

posturas, valores e percepções dos atores sociais envolvidos na Vesperata. E esse padrão, via

de regra, está atrelado aos benefícios e sentimentos positivos que a Vesperata desperta.

Têm-se o entendimento de um rearranjo na sua estrutura que, apesar da transformação,

permitiu-lhe sobreviver e até desenvolver-se. Por esse motivo, supõe-se, a Vesperata ainda

mantém com a comunidade um estreito vínculo de afetividade, percebido na forma como as

pessoas, na sua maioria, se expressam quanto à sua ocorrência.

92

Embora tenham sido apontadas questões referentes aos aspectos negativos da Vesperata, a

consideração geral é a de que ela é fundamental para a cidade, tanto quanto fenômeno de

expressão da cultura local, quanto mesmo espetáculo que vise a aspectos econômicos e

comerciais. A referência à beleza estética e acústica, ao valor cultural que agrega identidade e,

ainda, como atrativo turístico que propicia o aumento da fonte de renda, e a associação de um

produto cultural gerador de publicidade e visibilidade ; tudo isso é apontado pelos sujeitos

como elementos que conferem ‘status’ de dignidade e legitimidade à Vesperata.

No tocante às falas dos sujeitos, ainda é possível depreender um outro entendimento,

quanto à representação social do espetáculo da Vesperata. Como discutido na literarura, a

representação se dá por meio das informações, crenças, opiniões, valores, atitudes, idéias,

estereótipos e preconceitos construídos coletivamente num dado grupo social, legitimando (ou

negando) práticas culturais instauradas em seu espaço. Nesse sentido, o discurso aponta para o

reforçamento da Vesperata, enquanto uma manifestação representativa dos usos e costumes

da comunidade (como sua história e ligação com a música e a religiosidade, por exemplo).

Percebe-se, através da análise das palavras, que as atitudes e os hábitos estão recobertos por

um forte sentimento de identidade cultural vinculado ao espetáculo. A consideração que

gostaríamos de enfatizar, então, é a de que a imagem evocada pela Vesperata se constitui em

um modelo típico de representação social, à medida em que os sentidos e significados

construídos a partir do espetáculo permitem a elaboração de uma estrutura simbólica e

imagética do fenômeno, apropriado e ressignificado pelo grupo social.

Assim, é fundamental mesmo a compreensão da Vesperata na perspectiva de um

« ritual de representação social », que busca resgatar e fortalecer traços de uma cultura

específica, no caso, a cultura do povo de Diamantina, essencialmente ligado à música, à festa

e ao espetáculo. A Vesperata se mostra como uma manifestação popular, em um cenário que

contribui para que a vivência do espetáculo seja, também, um espaço de lazer para a

93

comunidade local, tanto quanto para os turistas. Isso tudo demonstra que os interesses

norteadores do desenvolvimento dessa manifestação pela comunidade diamantinense se

caracterizaram pela valorização da cultura local, mas com objetivos turísticos e de natureza

comercial.

94

CAPÍTULO VI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, entendemos que, através dos resultados expostos, este estudo possibilita o

apontamento pragmático de subsídios que visem dar sustentabilidade a manifestações

culturais que se encontram nas mesmas condições da Vesperata. Podemos destacar e

explicitar os seguintes pontos como recomendações elaboradas a partir da pesquisa :

• O fortalecimento do turismo cultural, através do incremento do vínculo entre a

população local e os turistas, potencializando a interação com as práticas culturais da

cidade;

• A valorização de outros produtos turísticos que tenham identidade com a comunidade

local de Diamantina;

• A necessidade de formatação e preparação de novos produtos turísticos;

• A inserção da população local no processo produtivo dos bens culturais da região, bem

como sua apropriação dos sistemas de gestão e comercialização do produto turístico

final ;

• A dinamização dos processos de recuperação da memória e da identidade dos diversos

lugares, ação que permitiria às comunidades reconstruírem a importância do papel que

suas cidades têm para si;

• A necessidade de um trabalho de conscientização, preservação, conservação e

exploração dos produtos turísticos culturais;

95

• O estabelecimento de parcerias entre os setores público e privado, com vistas à

implantação de um projeto turístico que leve em consideração a valorização dos bens

culturais locais, e que gere benefício sócio-econômico ao município.

Finalmente, entendemos que essas sugestões devem estar atreladas a um planejamento

abrangente, com o envolvimento de todos os setores e segmentos sociais que atuem em

conjunto com a política do desenvolvimento turístico da região. Devido à carência de

pesquisas pertinentes ao objeto de estudo em questão, acreditamos, também, na necessidade

de novos estudos, que suscitem outros olhares e percepções sobre o fenômeno cultural e

turístico da Vesperata.

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104

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ/MESTRADO DE CULTURA E TURISMO AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS TURÍSTICOS E CULTURAIS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG

Caro (a) Colaborador,

Eu Maria Luar Mendes de Souza, estudante e pesquisadora do Programa de

Mestrado em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC),

Ilhéus-BA, desenvolvo um projeto de pesquisa intitulado As Representações Sociais da

Comunidade Sobre Elementos Turísticos e Culturais da Vesperata em Diamantina -

MG, que tem como objetivo geral, investigar os elementos contidos nas Representações

Sociais (RS) construídas acerca da Vesperata pelas diferentes categorias sociais da

comunidade local de Diamantina-MG, a fim de apreender aspectos que possam melhor

orientar a prática do turismo cultural. Para atendê-los, far-se-ão necessários à utilização da

técnica associação de idéias ou evocações livres, a um grupo de moradores e aos prestadores

de serviço turístico da cidade, visando uma maior apreensão dos conteúdos cognitivos das RS

e as entrevistas semi-dirigidas (gravadas), a um número menor de colaboradores que estão

envolvidos em Órgãos e Instituições ligados ao turismo na cidade. Portanto este procedimento

é relevante para os entrevistados na medida em que permite clarear suas posições sobre o

tema abordado, e explicar seu pensamento.

Finalmente após analisar o conteúdo dessas Representações Sociais da comunidade

sobre a Vesperata, através desses dois instrumentos de coleta de dados, buscaremos contribuir

na melhoria do turismo cultural local, possibilitando o aprimoramento e planejamento do setor

na cidade de Diamantina.

Além dos esclarecimentos acima citados, fica estabelecido que ao aceitar participar da

pesquisa, realizaremos uma reunião para quaisquer esclarecimentos sobre benefícios e riscos.

Assim, seu nome não será citado. Por outro lado, a qualquer momento, você pode deixar de

participar do estudo.

Após a leitura do termo, se você aceitar participar do estudo, queira, por favor, assinar o

documento.

105

Cordialmente

________________________________ _____________

Pesquisadora Data

________________________________ _____________

Colaborador Data

106

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA MINHA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO

DE PESQUISA DE MARIA LUAR MENDES DE SOUZA

Identificação do participante

Nome: _________________________________________________

Idade______

Bairro________________

Profissão ___________________________

Eu, abaixo assinado (a) __________________________________________, concordo em

participar de seguinte pesquisa, dentro das condições descritas abaixo:

Projeto: As Representações Sociais da comunidade sobre elementos turísticos e culturais da

Vesperata em Diamantina – MG.

Responsáveis: Maria Luar Mendes de Souza e Orientador: Prof. Dr. Natanael dos Reis Bonfim Objetivo do Projeto: Geral: Investigar os elementos contidos nas Representações Sociais construídas acerca da

Vesperata pelas diferentes categorias sociais da comunidade local de Diamantina a fim de

apreender aspectos que possam melhor orientar a prática do turismo cultural.

Específicos:

- Identificar e analisar as Representações Sociais construídas acerca da Vesperata, verificando

a existência de uma identidade nas diversas categorias sociais da comunidade em relação à

mesma;

- Elaborar estratégias, a partir das Representações Sociais construídas, para orientar as

práticas do turismo cultural local.

Riscos:

É entendido que minha participação neste projeto não apresenta nenhum risco

107

Retirada da minha participação: É entendido que minha participação no projeto de pesquisa

aqui descrito aqui é totalmente livre. A qualquer momento, ficou claro que poderei colocar

um termo à minha participação sem que isto afete meus direitos.

Informações referentes ao projeto: Deverá ser respondida, à minha satisfação toda questão

que eu colocar a propósito do projeto de pesquisa.

Utilização dos resultados: Eu autorizo que as informações cedidas possam ser utilizadas para

fins de comunicação cientifica e profissional. É entendido que o anonimato a meu respeito

será respeitado.

Eu declaro ter lido e/ou compreendido os termos do presente documento

Diamantina ______ de _________________ de 2007

______________________________________

Assinatura do colaborador

_____________________________________

Nome e assinatura do Responsável Legal, quando for o caso

A Pesquisadora Responsável por este Projeto de Pesquisa é Maria Luar Mendes de

Souza, se encontra no endereço: Rua João Alves Maurício, 536, Jardim Panorama, Montes

Claros-MG, 39400-000. Fone: (38) 8821-0454 e 3223-8250.

O presente documento foi assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o

colaborador da pesquisa ou seu representante legal e outra com o pesquisador responsável.

Data __ / __ / ____ ___________________________________

Nome e assinatura do responsável do projeto

____________________________________

108

APÊNDICE B – GUIA DE ENTREVISTA SEMI-DIRIGIDA- REPRESENTANTES

DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS, INSTITUIÇÕES E INTELECTUAIS.

PROJETO DE PESQUISA

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS TURÍSTICOS E CULTURAIS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG

NOME_______________________________________IDADE________________

GESTOR DA INSTITUIÇÃO___________________________________________

DATA_________/________/__________

Bloco 2 A imagem da Vesperata sobre a ótica do discurso

Tema 1 Os elementos de caracterização e definição da Vesperata (opinião, conceito, idéia)

1. Coloque-se na situação em que você deve descrever a Vesperata para um turista. O que você diria

para ele? (CDC)

2. Na sua opinião, como você define a Vesperata ? (CD)

Tema 2 O julgamento de valor sobre a Vesperata (opinião, preconceito, estereótipo, idéia,

crença, mito)

1. O que a Vesperata representa para você? (CP)

2. Você considera a Vesperata como um produto turístico?. Sim ou não e Por quê? (CP)

3. Até que ponto, você considera a Vesperata importante para a cidade? Por quê? (CP)

4. Em sua opinião, quais as conseqüências para a cidade com o desaparecimento da Vesperata? (CP)

5. É possível que a Vesperata mantenha-se ao longo do tempo? Por quê? (SPTV)

6. Em sua opinião, a Vesperata chama mais atenção da comunidade local ou dos visitantes? (CP)

109

APÊNDICE C – FORMULÁRIO DE ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS – PRESTADORES DE SERVIÇOS TURÍSTICOS.

PROJETO DE PESQUISA

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE SOBRE ELEMENTOS TURÍSTICOS E CULTURAIS DA VESPERATA EM DIAMANTINA - MG

NOME_______________________________________IDADE________________

BAIRRO____________________________________________________________

DATA_________/________/__________

Bloco 1 Imagem da Vesperata sobre a ótica das palavras

2. Feche os olhos e pense na Vesperata. Agora escreva cinco palavras que venham em sua

mente sobre ela.

1.

2.

3.

4.

5.

110

ANEXOS

FIGURA 08 - 1ª Chamada publicada no Jornal Voz de Diamantina, 1966.

Todos os músicos ainda vivos confirmam que o nome “Anjo da Meia Noite” se refere

à fantasia La Mezza Notte, executada nessa retreta de passagem do ano de 1966 para 1967.

Componentes da Banda de Música do 3º Batalhão em dezembro de 1966:

Maestro: Sub Tenente Jair Emídio Ferreira.

1º Sargentos: Antônio Raimundo Nonato, Francisco Santana, Ari Gonçalves, Júlio de Paula

Machado, Antônio Fabiano Mainart, José Raimundo Nonato Vieira. 2º Sargentos: Antônio

Caetano de Oliveira, João Manoel Pereira, João Bosco Pinto de Oliveira, Antônio Francisco

de Oliveira, Francisco Rodrigues de Paula, José Amável da Silva, José Jesus da Paixão. 3º

Sargentos: João da Silva Mendonça, Raimundo de Assis Duarte, Sideney Borges de Andrade,

Sebastião Alves (13º), Raimundo Constantino de Souza. Cabos: Raimundo Nonato da Cruz,

Luiz Gonzaga Siqueira, Luiz Mariano de Matos, Urias Estevam Ribeiro, Sebastião Barbosa,

José da Silva Macena, José de Araújo (3º), José de Araújo (4º), João Alves de Souza,

Expedito Lúcio, Geraldo Agostinho do Espírito Santo, Waldomiro Fradico de Araújo.

Soldados: Natalício Estevão de Oliveira, José Jorge da Costa, Jadir Viana, José Maria Leite,

João de Oliveira (6º), Manoel Natalício Barreto, Dirlei Bento Moreira, Milton Nonato da

Silva, Geraldo Avelino Santiago, Adão Gomes de Souza, Jonas Rodrigues de Souza, Vicente

111

Crisóstomo, Antônio Geraldo Ferreira, Ramires José Entreportes, Advaldo da Assunção

Cardoso.

Fonte: Cartão de Natal da Banda do 3º Batalhão para as famílias diamantinenses

Acervo: José da Silva Macena – 1966

112

FIGURA 09 – Partitura da melodia La Mezza Notte. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007.

113

FIGURA 10 - Primeira Banda de Música do 3º Batalhão em Diamantina. Quartel no sobrado do Largo da Cavalhada, por volta de 1891/1892. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007. Acervo: Laércio Lages.

114

FIGURA 11- Vista panorâmica da Praça onde eram realizadas as retretas dominicais, lateral à Igreja de Santo Antônio, antiga Igreja da Sé, entre 1910 e 1932. Fonte: Fernandes e Conceição, 2007. Acervo: Chichico Alkmin

FIGURA 12 – Visita do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e do Governador do Estado de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, a Diamantina em 09 de fevereiro de 1995. Recepção no Colégio Estadual Gabriel Mandacaru pela Banda Mirim sob a regência de José de Jesus Melo (Gaguinho).

Fonte: Fernandes e Conceição, 2007.Acervo: José de Jesus Melo

115

Figura 13 – noite de vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza

116

FIGURA 14 – Músicos da Banda do Batalhão, em noite de vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza

117

FIGURA 15 – Maestro da Banda Mirim, em noite de Vesperata, 2007. Fonte: Maria Luar Mendes de Souza