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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E SAÚDE Evidências do uso da Toxina Botulínica tipo A no Tratamento da Espasticidade Eduardo Cardoso Dissertação de Mestrado Salvador (Bahia), 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E SAÚDE Evidências do uso da Toxina Botulínica tipo A no Tratamento

da Espasticidade

Eduardo Cardoso

Dissertação de Mestrado

Salvador (Bahia), 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM MEDICINA E SAÚDE

Evidências do uso da Toxina Botulínica tipo A no Tratamento da Espasticidade

Autor: Eduardo Cardoso

Professor-orientador: Ailton Melo

Dissertação apresentada ao Colegiado do Curso de Pós-graduação em Medicina e Saúde, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, como pré-requisito obrigatório para a obtenção do grau de Mestre em Medicina, da área de concentação em Neurociências.

Salvador (Bahia), 2003

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I- EQUIPE:

• Eduardo Cardoso, Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Medicina e

Saúde (CPgMS) da FAMED/UFBA, área de concentração em Neurociências.

• Ailton Melo (Orientador), Professor Adjunto de Neurologia da FAMED/UFBA.

• Rita Lucena, Professora Adjunta de Neurologia da FAMED/UFBA

• Adroaldo Rossetti, Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Medicina e

Saúde (CPgMS) da FAMED/UFBA, área de concentração em Neurociências.

• Nildo Ribeiro

• Glícia Pedreira

• Marcelo Barroso, acadêmico de medicina, bolsista de iniciação científica do

CNPq, monitor de pesquisa da Divisão de Neurologia e Epidemiologia

• Alyson Souza, acadêmico de medicina, monitor de pesquisa da Divisão de

Neurologia e Epidemiologia.

• Carla Menezes,

• Natascha Cardoso,

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II- INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES:

• UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA)

• Faculdade de Medicina (FAMED)

• Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES)

• Divisão de Neurologia e Epidemiologia (DINEP-UFBA)

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III- FONTE DE FINANCIAMENTO:

1. FAPESB ( Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia ).

2. DINEP-UFBA (Divisão de Neurologia e Epidemiologia).

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IV- ÍNDICE:

1- Capa 2- Primeira página 1 3- Equipe 2 4- Instituições participantes 3 5- Fonte de Financiamento 4 6- Índice 5 7- Resumo 6 8- Introdução 7 9- Objetivo 8 10- Justificativa 9 11- Viabilidade 10 12- Revisão da Literatura 11 13- Casuística, Material e Métodos 14

Seleção de estudos 14

Critério de inclusão e exclusão 14

Avaliação da qualidade dos estudos 14

Análise estatística 15

14- 15- 16- 17- Referências Bibliográficas 18

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V- RESUMO:

Toxina Botulínica tipo A noTratamento da Espasticidade . Introdução: A espasticidade é definida como um aumento da tonicidade muscular,

velocidade dependente, devido a comprometimento do sistema nervoso central. Estima-se que

10% de qualquer população é portadora de deficiências físicas, e destas, aproximadamente

60% apresentam espasticidade. Apesar do grande número de publicações sugerindo o uso de

toxina botulínica do tipo A (BTX-A) em espasticidade, poucos são os estudos com metodologia

adequada desenhados para este fim.

Objetivo: Determinar se BTX-A é uma terapêutica segura e eficaz no tratamento da

espasticidade em membros superiores pós acidente vascular encefálico (AVE) e no pé eqüino

espástico em portadores de paralisia cerebral.

Desenho de estudo: Metanálise de ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos, placebo

controlados.

Material e Métodos: Através de uma revisão sistemática da literatura serão selecionados

ensaios clínicos, randomizados, duplo-cegos, placebo-controlados, avaliando a eficácia de BTX-

A no tratamento da espasticidade de membros superiores após AVE e no pé equino espástico

em portadores de paralisia cerebral. Serão utilizados dois métodos para a localização dos

artigos: inicialmente as bases de dados Medline, Cochrane, Bireme, Web of science, Scisearch

serão consultadas entre os anos de 1980 (ano da liberação pelo FDA da toxina botulínica para

testes em humanos) até 2002, usando-se os termos “botulinum toxin” e “spasticity”.

Posteriormente, as listas de referências de todos os estudos da revisão serão examinadas com

o propósito de identificar possíveis referências não encontradas na busca computadorizada. Os

artigos serão selecionados por três revisores independentes e será utilizado o método proposto

por Jadad et al. (1996) para avaliar a qualidade dos ensaios clínicos controlados. Utilizaremos

como desfecho para melhora clínica qualquer alteração na escala de Ashworth modificada ou

na escala de avaliação global para os estudos relacionados a AVC e melhora da marcha nas

escalas utilizadas nos estudos relativos a pé equino. Apenas os resultados fornecidos com

média e desvio padrão ou aqueles que discriminarem a mudança de escore dos casos serão

considerados para a meta-análise. Os resultados dos artigos que obedecerem os critérios

determinados serão analizados com a ajuda do softwere Revman 4.0. Palavras-chave: 1. Toxina Botulínica; 2. Espasticidade; 3. Acidente Vascular Encefálico; 4. Paralisia Cerebral

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VI- INTRODUÇÃO:

A espasticidade é definida como um aumento da tonicidade muscular, velocidade

dependente, devido a uma disfunção do sistema nervoso central. Essa situação clínica é

secundária a vários tipos de comprometimento do sistema nervoso central, atingindo

principalmente adultos com AVE (Acidente vascular encefálico) e crianças portadoras de

paralisia cerebral. Assim, o paciente com espasticidade apresenta uma condição que

interfere na função motora, provocando quadros dolorosos, perda da amplitude de

movimento e deformidades, interferindo assim nas atividades da vida diária e na qualidade

de vida do indivíduo.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 10% de qualquer população em

tempos de paz é portadora de deficiências físicas, e destas, aproximadamente 60%

apresentam espasticidade.

Até o final do século passado o tratamento da espasticidade era feito utilizando-se

cirurgias mutiladoras ou medicações como o baclofen, tizanidina e benzodiazepínicos. A

partir do final da década de 1970, com a disponibilização da toxina botulínica para diminuir

a contração muscular de indivíduos com movimentos involuntários, verificou-se uma nova

possibilidade terapêutica para os pacientes espásticos. A partir de 1990 muitas

publicações vieram demonstrar que a toxina botulínica pode vir a se tornar a principal arma

terapêutica para a espasticidade. No entanto, discute-se ainda se esta medicação poderia

substituir drogas mais baratas e com poucos efeitos colaterais.

Assim, a realização de um estudo que utilize a técnica de metanálise torna-se

necessária para a obtenção de resultados que permitam uma definição da melhor

conduta terapêutica no tratamento da espasticidade.

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VII- OBJETIVOS:

Estudo 1

Determinar se a toxina botulínica é uma terapêutica segura e eficaz no

tratamento da espasticidade em membros superiores pós acidente vascular

encefálico (AVE).

Estudo 2

Determinar se a toxina botulínica é uma terapêutica segura e eficaz no

tratamento do pé eqüino espástico na paralisia cerebral.

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VIII – JUSTIFICATIVA

Diversas enfermidades neurológicas podem levar a espasticidade. As mais

freqüentes na clínica diária em pacientes adultos são as seqüelas de acidente vascular

encefálico, isquêmico ou hemorrágico, principal causa de incapacitação no mundo.

Programas padronizados de reabilitação podem melhorar as capacidades de pessoas

comprometidas pela doença e fazer voltar ao convívio na comunidade cerca de 80% dos

pacientes( Stroke, 1997).

Existem diversas medicações que podem ser utilizados para o relaxamento

muscular. A escolha do mais indicado requer uma análise cuidadosa da relação custo

benefício, efeitos colaterais, praticidade de uso e principalmente a eficácia e segurança.

Com a recente introdução no mercado da toxina botulínica, passamos a dispor de

uma nova medicação para o alívio de pacientes. No entanto, apesar das várias

publicações mostrando a eficácia da toxina botulínica e de outras medicações quando

comparada ao placebo, ainda não existem dados suficientes que determine qual das

estratégias terapêutica é superior, havendo inclusive discordância entre os autores.

Assim, acreditamos que a utilização de uma revisão sistemática seguida de

metanálise pode determinar se existe evidências para utilização desta medicação.

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IX – VIABILIDADE

Trata-se de estudos nos quais os autores utilizaram uma estrutura já existente no

Núcleo de Neurociências do Departamento de Neuropsiquiatria. Contamos com uma sala

ampla, na qual contém cinco computadores disponibilizados em rede e assinatura das

principais revistas de neurologia. Os acessos ao sistema de busca bibliográficas foram

feitas por conexão direta, via internet, através de fibra ótica.

O orientador é doutor e livre docente em neurologia e tem formação em

neurofisiologia e farmacologia com várias publicações nesta área e tem estudado

sistematicamente metanálise, técnica utilizada em diversos projetos de pesquisa sob sua

orientação. É coordenador da unidade de movimentos involuntários e espasticidade (

UNIMOVE ) do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos- UFBA.

O pós graduando é neurologista, com treinamento em informática, metanálise e

aplicação de toxina botulínica na UNIMOVE, medicação que atualmente faz parte do

programa de medicações de alto custo da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.

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X- REVISÃO DA LITERATURA:

X.1 - Espasticidade: conceito, avaliação e tratamento.

A espasticidade é um comprometimento freqüente nas lesões congênitas e

adquiridas do Sistema Nervoso Central. Pode ser definida como o aumento, velocidade

dependente, do tônus muscular, com exacerbação dos reflexos profundos, decorrente de

hiperexcitabilidade do reflexo do estiramento. A espasticidade, como parte da síndrome

do neurônio motor superior, associa-se frequentemente à presença de fraqueza muscular,

hiperreflexia profunda e presença de reflexos cutâneo-musculares patológicos, como o

sinal de Babinski e Hoffman (Mayer, 1997).

Os mecanismos da espasticidade são originados em vários pontos da via do reflexo

de estiramento, envolvendo os motoneurônios alfa, gama, interneurônios da medula

espinhal e vias aferentes e eferentes. Apesar da dificuldade para o entendimento desse

processo, existe uma aceitação geral de que o aumento do tônus muscular é decorrente

da perda de influências inibitórias descendentes (tratos reticulo-espinhal, rubro-espinhal e

córtico-espinhal) sobre a medula espinhal, com consequente predomínio dos sistemas

vestibulo-espinhal e retículo-espinhal extensor, resultando no aumento da excitabilidade

dos neurônios fusimotores gama e dos moto-neurônios alfa (Brodal, 1984).

Nos primatas, a espasticidade nos membros superiores predomina nos músculos

flexores, com postura em adução e rotação interna do ombro, flexão do cotovelo, pronação

do punho e flexão dos dedos. Nos membros inferiores, a espasticidade é mais intensa nos

músculos extensores, com extensão e rotação interna do quadril, extensão do joelho,

flexão plantar e inversão do pé. Essa postura recebe a denominação de Wernicke-Mann

(Mayer, 1997). O exame físico demonstra aumento da resistência ao movimento passivo,

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que é mais acentuada com o aumento da amplitude e da velocidade imposta. A resistência

descrita é maior no início do movimento e diminui com a continuação dele, caracterizando

o "sinal do canivete" ( Brin, 1995).

Podemos afirmar que qualquer lesão que afete os tratos longos do sistema nervoso

central determina espasticidade. Na prática clínica, entretanto, alguns fatores de risco

como a esclerose múltipla, o trauma crânio-encefálico e raqui-medular, a paralisia cerebral

(PC) e o acidente vascular encefálico (AVE) têm sido mais implicados na gênese desse

conjunto de sinais que caracteriza a espasticidade (Brin, 1995).

O acidente vascular encefálico (AVE) é uma doença comum e cosmopolita, sendo

que seu risco aumenta após os 50 anos e cuja incidência anual, nos Estados Unidos, é

maior do que a união das incidências anuais da doença de Parkinson, epilepsia, esclerose

múltipla, demência e esclerose lateral amiotrófica ( Moore, 2002)

No Brasil, entre 1984 e 1997, o número absoluto de hospitalizações por doença

cerebrovasculares variou entre 198.705 e 295.596 por ano, de acordo com dados colhidos

nos hospitais do Sistema Único de Saúde e na rede contratada. Em estudos nacionais,

foram estimadas uma incidência de 180/100 mil adultos em Salvador, 1994, e 81,7/100 mil

habitantes em Joinville, 1995; dados suficientes para caracterizá-la como um dos maiores

problemas médico e social do nosso país (Lessa, 1999, Aras 2002a, b)

Como aproximadamente 70% dos pacientes sobrevivem bem ao quadro de AVE, a

prevalência de incapacidades relacionadas a essa enfermidade é também alta.

Sobreviventes do AVE se deparam com muitos impedimentos à recuperação funcional,

sendo os mais comuns fraqueza, incoordenação, desequilíbrio, déficits sensitivos, apraxia,

afasia e perdas perceptivas ou cognitivas. Por outro lado, deve-se salientar que

espasticidade pode limitar funcionalmente devido a dor, imobilização e evolução para

contraturas (Chambers, 1997).

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A paralisia cerebral é um transtorno persistente do movimento ou da postura

decorrente de lesão encefálica irreversível e não progressiva ocorrida nos períodos pré,

peri ou pós natal, até 24 meses de vida. Tem manifestações clínicas variáveis, com

prejuízo motor persistente, podendo ou não estar associada a transtornos cognitivos e

sensoriais. Nos países em desenvolvimento os fatores etiológicos estão relacionados

principalmente às más condições de assistência à gestação e ao parto. De acordo com um

estudo realizado por Rifai e cols., as causas peri e pré natais correspondem a

respectivamente 49,5% e 33,1%, desta forma, asfixia perinatal, infecção congênita e

encefalopatia bilirrubínica são causas freqüentes (Rafi, 1984). Por outro lado, nos países

desenvolvidos, tem sido verificado, nas últimas décadas, aumento da incidência de PC

devido à redução da letalidade de neonatos prematuros ou de baixo peso. Em uma estudo

realizado nos EUA, foi observado que um total de 4,8% de todos os sobreviventes com

idade gestacional abaixo de 36 semanas desenvolveram PC (Chambers, 1997).

Com base no modelo de classificação proposto pela OMS esta enfermidade pode

apresentar conseqüências variadas. No que se refere à função de órgãos e sistemas, a PC

interfere no funcionamento do sistema músculo-esquelético. As características associadas

incluem distúrbios de tônus muscular, da postura e presença de movimentos involuntários

(WHO, 1999).

De modo geral, a PC é classificada como espástica, ou piramidal, discinética, ou

extrapiramidal e atáxica ou cerebelar. A PC espástica é o tipo mais freqüente e, de acordo

com a distribuição da espasticidade, classifica-se em tetra, tri, di ou hemiplégica (Davis,

1997). Outro tipo de classificação é a baseada nas alterações clínicas do tônus muscular e

no tipo de desordem do movimento podendo produzir o tipo espástico, discinético ou

atetóide, atáxico, hipotônico e misto (Olney, 1995). Nas formas espásticas, encontram-se

hipertonia muscular extensora e adutora dos membros inferiores, hiperreflexia profunda,

sinal de Babinski e déficit de força localizado ou generalizado, dependendo da extensão do

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comprometimento. A gravidade do comprometimento neuromotor de uma criança com PC

pode ser caracterizada como leve, moderada ou severa, baseada no meio de locomoção

da criança. Estas classificações servem a um propósito de descrição e caracterização da

lesão, não fornecendo informação sobre as conseqüências desta enfermidade na rotina

diária da criança (Palisiano, 1997).

Além das deficiências neuromotoras, a PC pode também resultar em incapacidades

limitando o desempenho de atividades e tarefas habituais da criança. Estas dificuldades

funcionais geralmente constituem a queixa principal de crianças, pais e familiares sendo o

objetivo principal da terapêutica empregada, a melhoria no desempenho destas atividades

(O’ Brien, 1996).

Um dos aspectos que devem ser enfatizados na avaliação da espasticidade é a

utilização da goniometria e o uso de escalas. Dentre estas citamos a de Ashworth

Modificada (Tabela 1), a qual é a mais amplamente utilizada na avaliação da espasticidade

e sua aceitação deve-se ao alto grau de confiabilidade e reprodutibilidade inter-

observador. É realizada pela movimentação passiva da extremidade através do arco de

movimentos para estirar determinados grupos musculares, quantificando sua resistência

ao movimento de forma rápida nas diversas articulações (Ashworth, 1964; Pisano 2000).

Outras escalas de avaliação são: a escala de Barthel, a escala de avaliação do movimento

(EAM), a escala de medição da locomoção independente funcional (EMLIF), análise da

marcha por vídeo, medida da função motora, escala de avaliação física, índice de gasto

energético (Brin, 1995).

Tabela 1. Escala de Ashworth Modificada

0 Tônus muscular normal

1 Leve aumento de tônus muscular, manifestado por tensão momentânea ou mínima resistência no final da amplitude de movimento (ADM), quando a região afetada é movida em extensão ou flexão.

1+ Leve aumento de tônus muscular, manifestado por tensão abrupta, seguida de resistência mínima em menos da metade da ADM restante.

2 Aumento mais marcante do tônus muscular durante a maior parte da ADM,

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mas a região afetada é movida facilmente. 3 Considerável aumento do tônus muscular. O movimento passivo é difícil. 4 Parte afetada rígida em flexão ou extensão.

Dentre os tratamentos disponíveis incluem-se: a fisioterapia, os agentes

farmacológicos (por via oral ou intratecal), a quimiodesnervação dos músculos com o uso

de injeções de fenol, a utilização de injeções de toxina botulínica e os tratamentos

cirúrgicos como o alongamento ou transferência de tendões, liberação capsular,

neurotomia, cordotomia e a rizotomia (Jozefczyk, 1997).

A toxina botulínica é uma neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium

botulinum, como um polipeptídeo inativo, que é clivado por uma protease da bactéria,

formando uma forma da toxina composta por duas cadeias de polipeptídeos, a cadeia

pesada e a leve. Estas duas cadeias, unidas por uma ponte dissulfídica e forças não

covalentes, são dissociadas com o aquecimento e fervura; o que inativa a toxina, já que a

sua neurotoxicidade requer a união das duas cadeias.

Já foram descritos sete tipos antigênicos distintos de toxina botulínica (A, B, C, D, E,

F e G). Dentre estes, o sistema nervoso humano está susceptível a cinco (A, B, E, F e G) e

não é afetado por dois (C e D). A toxina do tipo A é o mais potente veneno biológico

conhecido e também a mais utilizada para fins terapêuticos.

Todos os tipos de toxina botulínica atuam no sistema nervoso periférico, onde

inibem a liberação da acetilcolina na junção neuromuscular, provocando paresia muscular.

Seu modo de ação é caracterizado por três etapas. O primeiro processo é a ligação

irreversível nos receptores pré-sinápticos colinérgicos pela cadeia pesada. O segundo

processo envolve a internalização da neurotoxina pela endocitose mediada pelo receptor.

Após internalização, a ligação dissulfídica é clivada. A cadeia pesada está associada com

a formação de um canal iônico e translocação da cadeia leve do endossoma para o

citoplasma neuronal. O último processo é o bloqueio neuromuscular. A cadeia leve da

toxina, que contém uma endopeptidade com ação proteolítica, cliva a proteína que

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participa do processo de exocitose das vesículas contendo acetilcolina, promovendo a

inibição da liberação deste neurotransmissor na fenda sináptica (Huang, 2000).

A toxina botulínica parece ser mais efetiva no bloqueio das junções sinápticas das

fibras musculares mais ativas. Isto poderia explicar porque as fibras musculares envolvidas

em movimentos involuntários, que tendem a ser as mais ativas, são preferencialmente

bloqueadas pela toxina, deixando as fibras relacionadas com o movimento voluntário com

sua força praticamente intacta (hallet, 2002).

Embora as pesquisas tenham focalizado preferencialmente nas ações periféricas da

toxina botulínica, vários estudos sugerem que além desta ação, ela também age no

sistema nervoso central, alterando transitoriamente a excitabilidade das áreas motoras

corticais e reorganizando circuitos excitatórios e inibitórios inta-corticais. Essas mudanças

corticais provavelmente se originam dos mecanismos periféricos. Assim, o papel clínico

exercido pela toxina botulínica depende não somente da sua ação na junção

neuromuscular, mas também dos seus efeitos no sistema nervoso central.

A partir dos estudos de Scott, publicados a partir de 1980, iniciou-se a utilização de

toxina botulínica para casos de estrabismo e, posterioremente, blefaroespasmo, espasmo

hemi-facial e distonia cervical (Pullman, 1996). Em 1990, a Academia Americana de

Neurologia aprovou a utilização de toxina botulínica do tipo A para os casos de distonia

(blefaroespasmo, distonia cervical, distonia laringéia, distonia oro-mandibular, outras

distonias focais e para o espasmo hemi-facial. Em 1994, a Academia Americana de

Neurologia estabeleceu as normas para o uso de toxina botulínica no tratamento de

doenças neurológicas, enfatizando os pré-requisitos básicos e os princípios do tratamento

( Brin, 1991).

Atualmente a toxina botulínica é o tratamento de eleição para distonias focais

(blefaroespasmo, distonias oromandibular, cervical, laringéia e de membros) bem como

para condições não distônicas, (espasmo hemi-facial, sincinesias, espasticidade, tremores,

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tiques, distúrbios do assoalho pélvico, distúrbios de motilidade gastrointestinal,como a

acalásia). Pode haver indicações cosméticas (tratamento de rugas de expressão) e para o

tratamento de hiperidrose(Brin, 1991).

Atualmente encontram-se disponíveis no mercado mundial três apresentações de

toxina botulínica do tipo A que são: botox (Allergan, EUA) e dysport (Beaufour, UK) e

BTXA (China), sendo esta última restrita a alguns países. O efeito da toxina botulínica tem

início entre 24-72 horas, com início da melhora clínica entre 4-10 dias da aplicação. A

duração do efeito é variável, entre 2 e 6 meses, em média 3 meses( Brin, 1991).

Os efeitos colaterais podem ser dor, formação de equimoses ou hematomas nos

locais de aplicação, acentuada fraqueza muscular transitória, astenia. Existe a

possibilidade da inducão de formação de anticorpos contra a toxina botulínica, impedindo a

sua ação terapêutica (Simpson, 1995). Não existem contra-indicações absolutas para a

utilização de toxina botulínica, contudo deve-se ter precauções em determinadas situações

como: uso concomitante com antibióticos aminoglicosídeos, pacientes com doenças do

neurônio motor e da junção neuromuscular, gravidez e lactação. Não há contra-indicação

quanto a associação a anticoagulantes ( Gracies, 1997). Existem relatos de raros casos de

falta de eficácia da utilização de toxina botulínica, provavelmente relacionados à formação

de anticorpos contra proteínas estranhas ao organismo (Brin, 1991).

X.2 –Toxina botulínica: fatos históricos, sorotipos, mecanismo de ação e uso

terapêutico.

X.2.1 Fatos históricos

É impossível descrever o histórico da toxina botilínica sem esbarrar com o

botulismo, forma grave de intoxicação alimentar que pode levar a morte o indivíduo

acometido se não diagnosticado e tratato de imediato.

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Desde épocas remotas, relatam-se casos de indivíduos que apresentavam sintomas

característicos do hoje denominado botulismo, após ingestão de alimentos mal

conservados. Pode-se supor, com base nos conhecimentos atuais, que alguns alimentos

devem realmente ter sido os responsáveis pelo surgimento da doença entre nossos

antepassados (Benenson,1983).

São poucos os conhecimentos referentes a essa doença anterior ao século XIX.

Tem-se conhecimento, mas sem bases realmente fundamentadas em relação ao

botulismo, que o imperador Leão VI, de Bizâncio (886-911) proibiu a elaboração de

embutidos de carne devido à disseminação de toxiinfecções alimentares. O que não se

sabe ao certo é se esta lei tinha algo a ver com tabus ou teologias ou realmente com a

disseminação de doenças de caráter grave. Qualquer que fosse a razão, é certo que a

proibição era séria. O "criminoso" tinha suas propriedades confiscadas após o açoite, em

desonra, e era exilado por toda a vida (Berkow,1995).

Em 1793, em Wurttemburg, Alemanha, treze pessoas adoeceram, das quais seis

morreram. Duas explicações foram dadas: o médico oficial da cidade atribuiu os casos à

intoxicação por beladona, enquanto outras pessoas acreditavam na hipótese da doença e

mortes terem sido causadas pela ingestão de salsichas, preparadas com sangue de cervo,

denominado de "Blunzen o Shweinsmagen". Foi o início do estudo de intoxicações

causadas por embutidos, cujo maior pesquisador foi Justino Kerner (1786 - 1862) (Board,

1999).

Justino Kerner era médico e poeta, tendo estudado Medicina e Literatura na

Universidade da Turíngia. Foi nomeado médico oficial do distrito de Wurttemburg, onde se

destacou como um grande mestre da poesia e pesquisador do botulismo, áreas pouco

correlatas, mas desenvolvidas com grande competência. Recolheu dados sobre 230 casos

do que denominou botulismo, uma vez que estavam geralmente associados à ingestão de

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salsichas ("botulus", em latim). A doença era também conhecida como "Doença de

Kerner", dado sua dedicação às pesquisas. Observou-se que as salsichas eram veículos

da doença apenas sob algumas situações. As que apresentavam pequenas bolsas de ar

sob o envoltório, constituído de tripa animal, e as maiores, nas quais o envoltório era de

intestino grosso, eram as que mais se tornavam venenosas. Isso sugeriu desde o início

que o agente seria um organismo vivo anaeróbio facultativo ou estrito, o que foi

comprovado posteriormente (Cardoso,1985).

Casos de infecção associados ao consumo de conservas de pescado foram

relatados na mesma época na Escandinávia e na Rússia, o que futuramente ampliou o

número de alimentos associados ao botulismo (Harrison, 1985).

Inicialmente, muitos compostos foram associados a essas intoxicações, como ácido

prússico, cobre, alcalóides vegetais e até a "aqua toffana ". Esta era supostamente uma

toxina segregada na saliva dos escravos torturados nas arenas romanas, antes de sua

morte. Um investigador alemão sugeriu que processo semelhante ocorreria com os cervos

em Wurttemburg. Quando de sua morte, uma substância similiar contaminaria a

musculatura desses animais e posteriormente os alimentos produzidos a partir de sua

carne (Board, 1999).

Muitos anos depois do trabalho de Kerner, em 1896, houve outro caso que marcou

o estudo do botulismo. Em Ellezeller, pequena cidade belga da província de Hainaut, 23

músicos, de um total de 35, ficaram doentes após uma refeição de presunto cru e cerveja

quando voltavam do enterro de um integrante do grupo. Dos doentes, três morreram e dez

ficaram em estado grave, todos com sinais progressivos de paralisia neuromuscular. O

caso chamou a atenção de Emile Pierre Marie de Ghent, graduado em Lovaine e pós-

graduado em Londres, Edimburgo, Paris, Viena e Berlim, onde trabalhou com Koch, um

dos grandes nomes da Bacteriologia. Estudou o caso dos músicos detalhadamente,

conseguindo reproduzir a doença em várias espécies animais. Desenvolvou meios de

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cultivo e adaptou-os às condições de crescimento do microorganismo, o qual denominou

Bacillus botulinum (Berkow,1995).

Percebeu a produção de toxinas a partir destes microorganismos, as quais

administradas via oral e perenteral a cobaias, mesmo em pequenas doses, causavam a

sua morte. Notou que algumas espécies animais eram imunes à toxina, como as galinhas,

e que este produto bacteriológico era inativado se submetido à ebulição por trinta minutos

a 80º C ou uma hora a 70º C (Board, 1999).

Van Ermengen em 1898, postulou então os detalhes básicos sobre o botulismo: (1)

trata-se de uma intoxicação e não de uma infecção; (2) a toxina é produzida por uma

bactéria específica; (3) ingerida a toxina com os alimentos ela não é inativada pelos

processos digestivos normais; (4) é relativamente resistente aos agentes químicos, porém

sensível ao calor;(5) não é produzida em alimentos cuja concentração de sal é

suficientemente alta;(6) nem todas as espécies animais são suscetíveis à doença

(Benenson,1983).

Como resultado dos trabalhos desses dois cientistas, foram sendo descobertas

outras fontes da doença botulínica, bem como toxinas sorologicamente distintas, mas

causadores de intoxicações semelhantes. Em 1904, um surto de botulismo em Darmstodt

(Alemanha), doze pessoas morreram após ingerirem uma salada em feijão em conserva.

Este surto foi estudado por Landmann, que isolou agente semelhante ao de Ermengen.

Em 1919, Burke, estudado os agentes isolados por ambos, descobriu que pertenciam a

grupos diferentes. Daí em diante, novas descobertas foram sendo feitas, chegando-se ao

que hoje conhecemos sobre o agente do botulismo, que passou a ser designado como

Clostridium botulinum (Cardoso,1985).

As neurotoxinas clostridiais são as substâncias mais tóxicas conhecidas pela

ciência. Por causa da extrema toxicidade da toxina botulínica, ela foi um dos primeiros

agentes a ser considerado como uma arma biológica. Antes da pesquisa ofensiva na área

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da guerra biológica, pesquisadores americanos trabalhavam na armamentação da toxina

botulínica por mais de duas décadas.

Os esforços foram precocemente iniciados na IIª Guerra Mundial. O serviço de

inteligência americana assinalou que a Alemanha estava tentando desenvolver a toxina

botulínica como uma arma a ser usada contra as forças invasoras. Nesta ocasião, a

composição do agente tóxico produzido pelo C. botulinum não estava clara, nem o

mecanismo de letalidade nos animais e no homem. A toxina botulínica era referida como

um “agente X”.

Um dos mais duradouros legados das primeiras pesquisas em armas biológicas

com a toxina botulínica foi o desenvolvimento da vacina botulínica, que ainda é utilizada

nos tempos atuais. Os cientistas que trabalhavam com grandes quantidades de da toxina

necessitavam ser protegidos da exposição laboratorial. Desta forma surge o toxóide, isto é,

uma toxina que tem sido tratada para destruir sua toxicidade mas que retêm sua

imunogenicidade. Muitos humanos têm sido vacinados com este e preparados similares de

vacinas e a experiência clínica tem indicado que elas são seguras e efetivas (Middlebrook,

1997).

As aplicações clínicas da toxina botulínica do tipo A foram primeiro identificada por

Scott (Huang 2000) no começo de 1980, onde utilizou injeções de pequenas doses para

inativar músculos específicos no estrabismo, edevido a este fato, o primeiro nome

comercial dado à toxina foi Oculinum(Singer, 1999).

Em 1984, Fruher (Singer, 1999), descr eveu o uso da desta toxina no

blefaroespasmo, tornando-se o tratamento mais avançado para esta enfermidade.

O primeiro trabalho randomizado, duplo-cego e placebo controlado foi realizado em

1986 e avaliava a eficácia e segurança deste agente terapêutico no tratamento da distonia

cervical e no ano seguinte, foi demostrada sua indicação em outras distonias

(Huang,2000).

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A toxina botulínica tipo A foi aprovada como agente terapêutico pelo FDA (Food and

Drug Administration) em 1989, e a partir de então um número crescente de estudos

científicos foram realizados (Huang, 2000).

O primeiro estudo randomizado, duplo-cego, controlado com placebo utilizando a

toxina botulínica no tratamento da espasticidade foi realizado em 1990 por Snow (Singer,

1999). Os pesquisadores trataram pacientes com esclerose múltipla que apresentavam

espasticidade em adutores do quadril, demostrando um melhora nas medidas clínicas de

avaliação da espasticiodade. Neste mesmo anos surgiram os primeiros estudos sobre a

aplicação da toxina botilínica na medicina estética para redução de linhas de expressão

facial, uso mais frequente atualmente (Singer, 2000).

Sorotipos

As neurotoxinas produzidas pelas diferentes cepas possuem efeitos farmacológicos

similares, tendo, entretanto, estruturas protéicas diferentes. São classificadas em oito

grupos diferentes, relacionando-se com as diferentes espécies de Clostridium botulinum.

As neurotoxinas produzidas pelas diversas cepas de Clostridium botulinum

possuem efeitos farmacológicos similares, sendo que, entretanto, a suscetibilidade dos

animais a esses efeitos varia consideravelmente, conforme a sua espécie e a da toxina

presente. Assim, o homem é mais sensível às toxinas do tipo A, B, E e F, o gado às dos

tipo C beta e D, os eqüinos ao tipo C beta e as aves ao tipo C alfa e C beta.

Apesar de algumas diferenças em seu processo de síntese e intensidade de ação,

as toxinas têm basicamente uma estrutura similar. Formam agregados ao associar-se com

uma hemoaglutinina (não tóxica) e outros polipeptídeos (não tóxicos) que podem protegê-

las quando de sua passagem pelo estômago.

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Purificadas, são polipeptídeos com peso molecular de 150 Kda sintetizadas a partir

de subunidades H e L, de peso molecular 100 a 50 Kda respectivamente. Estas,

isoladamente, são inativas biologicamente, permanecendo unidas por uma ponte S - S,

com exceção da Toxina C2.

As toxinas são produzidas durante o desenvolvimento bacteriano e são liberadas

quando o microorganismo sofre lise. Surgem a partir de precursores ligeiramente tóxicos,

sintetizados com base em prototoxinas. Algumas cepas alcançam seu poder tóxico total a

partir da ação de uma protease oriunda da própria bactéria, a qual atua sobre esse

precursor, como é o caso das cepas do tipo A e algumas dos tipos B e F. Outras,

entretanto, adquirem uma toxicidade parcial como conseqüência da ação de uma protease

bacteriana, atingindo o poder tóxico total somente após tratadas com tripsina ou alguma

outra enzima proteolítica exógena.

Algumas cepas do tipo E, ao contrário, sintetizam diretamente a toxina já

completamente ativa, não necessitando de ação endógena ou exógena de qualquer

espécie para seu poder total. É a ação desses metabólicos bacterianos a grande

responsável pela intoxicação botulínica. Sabe-se, entretanto, que certos procedimentos

básicos são capazes de inativar essas toxinas, como submissão ao calor de 80º C por dez

minutos, por ação de formaldeído ou tratamento por tripsina em pH 7,5 ou digestão péptica

a pH 1,8.

A toxina tipo A é a mais estudada, possivelmente por conservar bem sua

toxigenicidade, produzir caldos de cultivo muito potentes em uma variedade de meios e

por manter-se facilmente sob uma forma cristalizada estável. Sua síntese não está

associada à esporulação do microorganismo, ocorrendo independentemente desta e na

ausência de divisão celular. As condições de aerobiose ou anaerobiose também não

influem em sua produção, o que já não ocorre em relação ao suprimento de aminoácidos

essenciais, fosfatos e glicose.

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Mecanismo de ação

A ação da toxina foi estudada amplamente, passando-se anos até que seus efeitos

fossem totalmente identificados e seu foco de ação estabelecido.

Purkhaver, em 1877, definiu que a atuação paralítica da toxina se devia à ação

sobre os nervos periféricos, não havendo comprometimento do sistema nervoso central.

Van Ermengem (1897) afirmou que "a síndrome do botulismo consiste essencialmente em

um grupo de fenômenos neuroparalíticos, alterações da secreção do trato gastrointestinal

e paralisia motora simétrica, completa ou parcial, causada, provavelmente, por lesão da

medula oblonga, especialmente dos núcleos de vários nervos cerebrais e dos pontos

anteriores da corda espinhal".

Dickson e Shevky (1923) estudaram a ação da toxina sobre o sistema nervoso

autônomo e voluntário, concluindo que não existia nenhum efeito nas fibras nervosas

sensoriais e nem nas células musculares e sim, provavelmente, pelo efeito da toxina sobre

as terminações das fibras motoras. Edmunds e Long , em 1923, também afirmaram tratar-

se de uma "paralisia parcial das terminações dos nervos motores que vão aos músculos

voluntários".

Quando da purificação das toxinas tipo A e B, associada aos avanços no estudo da

fisiologia humana, Guyton e MacDonald, em 1947, já tiveram uma idéia mais clara sobre

seu mecanismos de ação. Determinaram que a toxina não atuava diretamente sobre o

músculo ou sobre o tronco nervoso e sim causava um retardo ou uma inibição na

condução do impulso nervoso.

Existem ainda algumas controvérsias, mas sabe-se que as toxinas botulínicas

bloqueiam a liberação dos neurotransmissores colinérgicos através do Ca++ intercelular,

particularmente nas funções neuromusculares, o que resulta em uma paralisia progressiva

das pernas, músculos respiratórios e nervos motores intracranianos. Não se sabe ao certo

se a toxina chega a inibir ou alterar a produção da acetilcolina ou apenas sua ação sobre

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as células nervosas. Torda e Wolff, em 1947, sugeriram que a toxina inibiria a

acetilcolinesterase, enzima participante da síntese da acetilcolina, o que, entretanto, não

foi comprovado.

As pesquisas mais recentes demonstraram que Guyton e MacDonald tinham razão.

O músculo envenenado pela toxina não responde à neostigmina, um inibidor da

colinesterase, porém contrai-se se exposto à ação da acetilcolina, comprovando que a

toxina inibe a ação da acetilcolina na placa motora terminal. Esta é a prova de que não há

ação direta da toxina sobre o músculo, uma vez que mesmo em presença da toxina

botulínica, há resposta se o músculo for estimulado diretamente por ação da acetilcolina.

Fisiologicamente, a acetilcolina é armazenada nas vesículas sinápticas em feixes

denominados "quanta", sendo esta liberada em ondas de 100 a 200 quando um impulso

elétrico percorre o axoplasma. A acetilcolina liberada se combina com um ponto receptor

da placa terminal do músculo, produzindo a contração. Seu excesso é inativado pela ação

da acetilcolinesterase.

Com base nos conhecimentos atuais, pode-se dizer que a toxina botulínica age em

três etapas: (1) fixação da toxina por meio do fragmento H aos receptores na membrana

pré-sináptica, processo este que não requer energia ou íons Ca++. Esta fase é reversível

se administrado um soro antibotulínico específico; (2) internalização da toxina nas

vesículas do neurônio pré-sináptico, com gasto de energia. Ocorre provavelmente por um

processo de reorganização da membrana celular neuronal. É uma etapa irreversível. (3)

etapa lítica caracterizada por paralisia. Produz-se danos à estrutura da membrana

citoplasmática e bloqueio da secreção da acetilcolina por agir nas proteínas SNAP 25.

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Aplicação clínica ( Evidências em AVC e Pé equino)

XI - CASUÍSTICA, MATERIAL E MÉTODOS Seleção de estudos

Serão utilizados dois métodos para a localização de artigos. Primeiramente, os

bancos de dados Medline, Cochrane, Bireme, Web of science, Scisearch serão consultado

entre os anos de 1980 (ano da liberação pelo FDA da toxina botulínica para testes em

humanos) até 2002, usando-se os termos “botulinum toxin” e “spasticity”, para obter

qualquer ensaio randomizado, duplo-cego, placebo controlado envolvendo o uso toxina

botulínica em membros superiores espásticos após AVE e no tratamento do pé eqüino

espástico em portadores de paralisia cerebral . Posteriormente, as listas de referências de

todos os artigos de revisão disponíveis serão examinadas com o propósito de identificar

possíveis referências não encontradas na busca computadorizada.

Critérios de inclusão e de exclusão

A população alvo consistirá de pacientes com diagnóstico de espasticidade em

membros superiores após AVE tratados com toxina botulínica e crianças com pé equino

espástico secundário a paralisia cerebral tratado com a mesma medicação. Ensaios

comparando a toxina botulínica com placebo ou outra terapêutica, desde que sejam duplo-

cegos, randomizados e controlados foram incluídos. A intenção foi obter estudos nos quais

os resultados primários estejam claramente definidos. Foram excluídos todos os ensaios

que não preencheram os critérios acima.

Avaliação da qualidade dos estudos

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Foi utilizado o método proposto por Jadad et al. (1996) para avaliar a qualidade dos

ensaios clínicos controlados. Este método é composto de 5 itens, abrangendo as

seguintes questões: (i) O estudo foi descrito como randomizado? (ii) O estudo foi descrito

como duplo-cego? (iii) Houve descrição adequada das pessoas que não completaram o

ensaio (exclusões e abandonos)? (iv) O método de randomização foi bem descrito e

adequado? (v) O método duplo-cego foi bem descrito e adequado? Cada item vale 1

ponto, sendo o escore máximo 5 pontos. Os questionários foram preenchidos

independentemente e de forma cega por dois examinadores, sendo as discordâncias

resolvidas por consenso.

Análise Estatística

Os parâmetros calculados foram (i) a proporção de eventos nos grupos

experimental e controle, (ii) o odds ratio e o intervalo de confiança de 95%, (iii) a redução

do risco relativo (estimado pela divisão da diferença entre a freqüência do evento nos

grupos experimental e controle pela freqüência do evento no grupo controle), (iv) a

redução do risco absoluto (diferença na freqüência entre os grupos experimental e

controle) e (v) o NNT (número de pacientes a serem tratados com o objetivo de prevenir

um evento, dado pelo complemento da redução do risco absoluto (Laupacis et al. 1988,

Cook & Sackett 1995)). Por “evento”, entende-se piora, falta de melhora ou reação adversa

clinicamente relevante, demonstradas por: (i) falha em melhorar pelo menos 1 ponto na

escala de Ashworth modificada; (ii) interrupção prematura do estudo devido a efeitos

adversos e (iii) necessidade de outros medicamentos em decorrência da piora do paciente

ou surgimento de outros sintomas.

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Para determinar a eficácia do tratamento, foi previamente decidido que os

parâmetros utilizados na síntese estatística seriam aqueles medidos de modo semelhante

nos estudos (Jaechke et al. 1990). Melhora clínica, definida como redução de pelo menos

1 pontos na escala de Ashworth modificada e melhora da marcha nas escalas utilizadas

nos estudos relativos a pé equino descrever o que foi considerado como melhora clínica

em pé equino.

Para a avaliação da segurança, as duas medidas, cujas informações foram obtidas

nos estudos, são a seguintes i) interrupção prematura devida a efeitos adversos e ii)

necessidade de uso de outros medicamentos em decorrência da piora do paciente.

Finalmente, foi determinado o fail-safe n, número de estudos com resultado não

significante necessário para anular as conclusões quando um resultado significante fosse

encontrado. O fail-safe n estima quantos estudos com resultados negativos não publicados

(ou “engavetados”) seriam necessários para reverter os resultados positivos encontrados

na análise global (Hedges & Olkin 1985). Os artigos incluídos serão analisados pelo

software Revman 4.0.

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XIV- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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