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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Medicina Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Liliane de Souza Vieira ANÁLISE DE CUSTO E EFETIVIDADE DO TRATAMENTO DE HIPERTENSOS DE ALTO E MUITO ALTO RISCO CARDIOVASCULAR ATENDIDOS NO CENTRO HIPERDIA DE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, ENTRE 2010-2011. Juiz de Fora 2013

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Universidade Federal de Juiz de Fora

Faculdade de Medicina

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

Liliane de Souza Vieira

ANÁLISE DE CUSTO E EFETIVIDADE DO TRATAMENTO DE

HIPERTENSOS DE ALTO E MUITO ALTO RISCO CARDIOVASCULAR

ATENDIDOS NO CENTRO HIPERDIA DE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS,

ENTRE 2010-2011.

Juiz de Fora

2013

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Liliane de Souza Vieira

ANÁLISE DE CUSTO E EFETIVIDADE DO TRATAMENTO DE HIPERTENSOS DE

ALTO E MUITO ALTO RISCO CARDIOVASCULAR ATENDIDOS NO CENTRO

HIPERDIA DE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, ENTRE 2010-2011.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, área de concentração: Política, gestão e avaliação do Sistema Único de Saúde, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Alfredo Chaoubah

Juiz de Fora

2013

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Dedico este trabalho à minha família, que é

meu alicerce.

Chegar até aqui só foi possível porque vocês

sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e

aguentando meus momentos de tristeza, ansiedade,

aflição e, o mais importante: acreditando que eu

seria capaz.

Compartilho com vocês a felicidade de

concluir este trabalho e ter conquistado mais um

passo neste longo caminho que é a busca do

conhecimento.

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo e de todos, é preciso agradecer Àquele que é a razão da minha

vida: Deus, o meu Senhor, que acolheu todas as minhas preces e me trouxe

conforto e paz durante todos os momentos.

Ao meu esposo, que sempre esteve ao meu lado, que muito contribuiu com

seus conhecimentos de informática e, acima de tudo, por sua paciência e

compreensão.

À minha amada filha, que veio durante este trabalho e só me trouxe alegria.

Seu sorriso infantil, inocente e sincero foram as molas propulsoras desta conquista.

É por você que busco ser melhor a cada dia.

À minha mãe, que sempre me motivou e acreditou em mim, e que, juntamente

com minha irmã Elisângela, formou uma dupla inigualável, pronta para me ajudar em

todos os momentos.

À minha querida amiga Izabella, que sempre esteve disponível, e que

generosamente contribuiu para a conclusão deste trabalho fazendo as devidas

correções e sugestões e, acima de tudo, sendo meu ombro amigo durante todo o

mestrado.

Ao meu orientador, Alfredo Chaoubah, que aceitou este desafio. Que me

transmitiu conhecimento e tranquilidade durante a condução desta pesquisa, que

soube me compreender nos momentos que mais precisei.

Ao Prof. Luiz Cláudio e à Prof. Mariângela, que generosamente compartilharam

seus conhecimentos apresentando sugestões e críticas que enriqueceram esta

pesquisa.

Aos professores do mestrado, que me proporcionaram uma base de

conhecimento em Saúde Coletiva essencial a este trabalho.

À querida secretária do mestrado, Elisângela, que respondeu a todas as

minhas dúvidas em tempo recorde.

À Drª Arise, colaboradora deste trabalho, que sempre me atendeu prontamente

e muito contribuiu com seus conhecimentos médicos.

Ao Gil Castor, que se disponibilizou a me ajudar com o banco de dados,

tornando este trabalho possível.

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Ao Leandro, por ter se disponibilizado a me ajudar consultando o preço de

medicamentos.

Ao Dr. Rogério e Dr. Marcus, do Centro Hiperdia, que autorizaram a realização

desta pesquisa.

A todas as minhas amigas do Laboratório, em especial a Andréia, Cláudia e

Sarah, que suportaram minha ausência no trabalho e escutaram diariamente todas

as minhas lamúrias e me encorajaram a chegar até aqui.

À minha coordenadora, Lourdes, que me apoiou e permitiu que me dedicasse a

este estudo.

À Universidade Federal de Juiz de Fora e ao Programa de Pós-Graduação em

Saúde Coletiva (PPGSC) do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de

Medicina da UFJF, por ter cumprido mais uma vez o seu grande papel de formar,

mais que pesquisadores, cidadãos dispostos a contribuir com a saúde brasileira.

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"Quando a gente acha que tem todas as

respostas, vem a vida e muda todas a

perguntas."

Luís Fernando Veríssimo

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RESUMO

Introdução: A hipertensão arterial é uma doença crônica altamente prevalente em todo o mundo. É um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e apresenta elevado impacto econômico e social. Embora o impacto econômico da hipertensão arterial seja um tema de grande relevância no âmbito da saúde pública, ainda são escassos os estudos que analisam os custos do tratamento dessa doença, especialmente na Atenção Secundária. Este foi o primeiro estudo realizado em Minas Gerais com o objetivo de analisar os custos médicos diretos e a efetividade do tratamento da hipertensão na saúde pública. Método: O estudo envolveu usuários de alto e muito alto risco cardiovascular acima de 18 anos, exceto gestantes, atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora. Os custos médicos diretos foram mensurados ao longo de um ano de acompanhamento. Consideraram-se os custos com medicamentos anti-hipertensivos, exames laboratoriais e complementares e com consultas médicas e não médicas. A efetividade do tratamento foi avaliada por meio do percentual de usuários controlados (PA ≤ 130/80 mmHg) e a perspectiva adotada foi a do SUS como órgão comprador de serviços. Resultados: Dos 111 usuários avaliados, 60% eram do sexo feminino e 40% do sexo masculino. A média de idade foi de 59 anos (DP = 11,7; 27-84 anos). O custo direto total foi de R$ 91.487,53, e o custo médio direto total foi de R$ 824,21/usuário/ano, sendo os medicamentos os responsáveis pela maior parcela (R$ 539,51; 65%), seguidos pelos exames (R$ 194,56; 24%) e consultas (R$ 90,67; 11%). A taxa de usuários que alcançaram os níveis pressóricos recomendados para pacientes de alto e muito alto risco cardiovascular foi de 30,3%. Conclusão: Não houve diferença de custo em relação ao sexo, idade e escolaridade, porém, observou-se maior custo com exames entre os usuários brancos e naqueles com comorbidades. O custo com consultas foi mais elevado em usuários que não alcançaram o controle pressórico, e o custo com exames foi maior no grupo de usuários que permaneceram normotensos durante o acompanhamento. As taxas de controle encontradas foram maiores do que as observadas em outros estudos que avaliaram pacientes de alto risco cardiovascular. Usuários com IMC elevado obtiveram menor controle da pressão arterial. Embora a variabilidade metodológica dificulte a comparação entre os estudos analisados, o tratamento proposto pelo Centro Hiperdia de Juiz de Fora sugere viabilidade econômica e potencial para reduzir custos com doenças cardiovasculares. Descritores: Hipertensão arterial. Custo da doença. Atenção Secundária

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ABSTRACT

Introduction: Hypertension is a highly prevalent chronic disease worldwide. It is one of the main risk factors in the development of cardiovascular disease, and has high economic and social impacts. Although its economic impact is a topic of great relevance in the context of public health, studies that analyze the costs of treating this disease are still scarce, especially those at secondary level of care. This was the first research carried out in Minas Gerais State with the aim of analyzing direct medical costs and effectiveness of hypertension treatment in public health. Method: With the exception of pregnant women, this study involved patients above 18 years of age at high and very high cardiovascular risk, who were undergoing treatment at the Centro Hiperdia of Juiz de Fora. Direct medical costs were measured over one year follow-up, considering antihypertensive medications, laboratory and ancillary tests, and medical and non-medical appointments. The effectiveness of the treatment was assessed through the percentage of patients controlled (BP ≤ 130/80 mmHg). We adopted the perspective of the Brazilian Public Health System (SUS) as a purchaser of services. Results: Of the 111 patients evaluated, 60% were female and 40% were male. The average age was 59 years (SD = 11.7; 27-84 years). The total direct cost was R$ 91,487.53, and the average total direct cost was R$ 824.21/patient/year, with medications being responsible for the greater share of that cost (R$ 539.51; 65%), followed by exams (R$ 197.98; 24%) and consultations (R$ 90.67; 11%). The rate of patients who have achieved the recommended blood pressure levels for patients at high and very high risk of cardiovascular disease was 30.3%. Conclusion: There was no difference in cost with respect to the patient’s sex, age and school attendance. However, with regard to examinations, white patients and those with comorbidities demanded higher costs. The cost of medical consultations was higher for those patients who did not achieve blood pressure control, and the cost of examinations was higher in the group who remained normotensive during the follow-up period. The control rates we found were higher than those reported in other studies that evaluated patients at high risk of cardiovascular disease. Patients with high BMI presented lower blood pressure control. Although the methodological variability among the studies analyzed makes comparisons difficult, the multidisciplinary treatment program adopted by the Centro Hiperdia of Juiz de For a suggests economic viability and potential to reduce costs with cardiovascular disease. Keywords: Hypertension. Cost of the disease. Secondary care

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Quadro da classificação da pressão arterial de acordo com a medida

casual no consultório (pacientes ≥18 anos) .............................................................. 18

Figura 2: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos na Atenção Primária

à Saúde ..................................................................................................................... 26

Figura 3: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos de alto risco na

Atenção Secundária à Saúde .................................................................................... 27

Figura 4: Quadro das metas de PA de acordo com as características individuais .... 38

Figura 5: Equação farmacoeconômica básica........................................................... 46

Figura 6: Plano de custo-efetividade ......................................................................... 51

Figura 7: Equação da razão de custo-efetividade incremental .................................. 52

Figura 8: Tipos de custos em uma avaliação econômica .......................................... 53

Figura 9: Quadro das variáveis utilizadas no estudo ................................................. 62

Figura 10: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por faixa etária e sexo . 70

Figura 11: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por escolaridade ......... 71

Figura 12: Gráfico da quantidade de anti-hipertensivos prescritos ............................ 72

Figura 13: Gráfico do número de medicamentos por usuário ................................... 73

Figura 14: Gráfico das classes de anti-hipertensivos prescritas por quantidade de

comprimidos .............................................................................................................. 73

Figura 15: Gráfico do número de classes de anti-hipertensivos por usuário ............. 74

Figura 16: Gráfico da quantidade de comprimidos e custo por medicamento em um

ano. ........................................................................................................................... 77

Figura 17: Quadro com a distribuição dos usuários em grupos de ........................... 83

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 : Classificação e distribuição dos usuários de acordo com IMC, segundo a

OMS (2000) ............................................................................................................... 70

Tabela 2: Medicamentos Anti-hipertensivos por classe utilizados pelos usuários do

Centro Hiperdia no período de 2010 a 2011 ............................................................. 75

Tabela 3: Média e custo médio dos exames complementares realizados pelos

usuários do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011 .................. 78

Tabela 4: Média e custo médio dos exames laboratoriais realizados pelos usuários

do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011................................. 78

Tabela 5: Média e custo médio da consulta médica realizada por usuário/ano (2010-

2011) ......................................................................................................................... 79

Tabela 6: Média e custo médio da consulta não médica realizada por usuário/ano . 80

Tabela 7: Custo direto anual total e custo direto anual médio do tratamento da

hipertensão dos usuários atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período

de 2010 à 2011. ........................................................................................................ 81

Tabela 8: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com o sexo dos

usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. ........................................ 81

Tabela 9: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a presença de

comorbidades nos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. .......... 82

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Tabela 10: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a cor da pele dos

usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. ........................................ 82

Tabela 11: Associação entre as variáveis quantitativas (Idade , IMC, custos) e

controle da pressão arterial de acordo com a análise de variância ........................... 85

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14

2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 17

2.1 HIPERTENSÃO ARTERIAL ................................................................................ 17

2.1.1 Fatores de risco e estratificação ................................................................... 19 2.1.2 Epidemiologia da hipertensão ....................................................................... 21 2.1.3 Hipertensão arterial e suas complicações ................................................... 23 2.1.4 Avaliação clínica e laboratorial do usuário hipertenso ............................... 24 2.1.5 A rede de atenção ao usuário hipertenso no SUS ....................................... 27 2.1.6 Controle e Tratamento .................................................................................... 30 2.1.7 Tratamento não medicamentoso ................................................................... 32 2.1.8 Tratamento farmacológico ............................................................................. 33 2.1.8.1 Esquemas Terapêuticos ............................................................................... 35

2.1.9 Definição de metas ......................................................................................... 37 2.2 CUSTOS DA HIPERTENSÃO ............................................................................ 38

2.3 ECONOMIA DA SAÚDE ..................................................................................... 43

2.3.1 Avaliações Econômicas ................................................................................. 45 2.3.1.1 Análise de custo ............................................................................................ 46

2.3.1.2 Análise de custo-minimização ....................................................................... 47

2.3.1.3 Análise de custo-efetividade ......................................................................... 48

2.3.1.4 Análise de custo-utilidade ............................................................................. 49

2.3.1.5 Análise de custo-benefício ............................................................................ 50

2.3.2 Representação de Comparação de Custo- Efetividade ............................... 50 2.3.3 Categorização dos custos ............................................................................. 52 2.3.4 Desfechos ou consequências da intervenção ............................................. 54 2.3.5 Análise de sensibilidade ................................................................................ 55 2.3.6 Perspectiva ...................................................................................................... 56 2.3.7 Padronização de custos ................................................................................. 58 2.3.8 Fonte de dados ............................................................................................... 58 3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 59

4 OBJETIVOS .......................................................................................................... 60

4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 60

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 60

5 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 61

5.1 DESENHO DO ESTUDO .................................................................................... 61

5.2 FONTE DE DADOS ............................................................................................ 61

5.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO ................................................................................ 63

5.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ............................................................................... 63

5.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO .............................................................................. 63

5.6 ANÁLISE DOS CUSTOS .................................................................................... 64

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5.6.1 Medicamentos ................................................................................................. 64 5.6.2 Consultas médicas e não médicas ................................................................ 65 5.6.3 Exames ............................................................................................................ 66 5.7 MEDIDA DA EFETIVIDADE ................................................................................ 67

5.8 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ................................................................................ 67

5.9 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ............................................................................... 68

6 RESULTADOS ..................................................................................................... 69

6.1 PERFIL DA POPULAÇÃO .................................................................................. 69

6.2 PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO ................................................................... 71

6.3 CUSTOS ............................................................................................................. 75

6.3.1 Custos dos Medicamentos............................................................................. 75 6.3.2 Exames ............................................................................................................ 77 6.3.3 Consultas......................................................................................................... 79 6.3.3.1 Consultas médicas ........................................................................................ 79

6.3.3.2 Consultas não-médicas ................................................................................. 79

6.3.4 Custo Total por Usuário ................................................................................. 80 6.3.5 Custo com base no perfil dos usuários ........................................................ 81 6.4 EFETIVIDADE .................................................................................................... 83

6.4.1 Efetividade com base no perfil dos usuários ............................................... 84 7 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 86

8 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 98

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101

ANEXO A – TERMO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA

UFJF ....................................................................................................................... 114

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1 INTRODUÇÃO

O processo de transição demográfica que ocorre em todo o mundo,

caracterizado por baixas taxas de fecundidade e natalidade, e aumento da

expectativa de vida, está acarretando uma elevação na proporção da população

idosa. No Brasil, o número de idosos (≥ 60 anos de idade) saltou de 3 milhões, em

1960, para 7 milhões em 1975 e 14 milhões em 2002, aumento de aproximadamente

500% em quatro décadas (LIMA-COSTA; VERAS, 2003). Em 2010 esse número foi

de aproximadamente 21 milhões (11% da população total), e estima-se que em 2025

essa população atinja 32 milhões, o que colocará o país no sexto lugar em número

de idosos no mundo (IBGE – Sinopse do Censo Demográfico 2010).

O envelhecimento populacional está fortemente associado à transição

epidemiológica, responsável pela mudança no perfil de morbimortalidade da

população, com predomínio das doenças crônicas não transmissíveis sobre as

doenças transmissíveis (KALACHE; VERAS; RAMOS, 1987; SCHRAMM et al.,

2004), e vem provocando expressiva elevação dos recursos despendidos com a

saúde (KALACHE; VERAS; RAMOS, 1987). O avanço das doenças crônicas não

transmissíveis também se justifica pela transição nutricional experimentada, que, de

acordo com a Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN) (BRASIL,

2013), provocou muitas mudanças negativas nos padrões alimentares da população

brasileira, como o aumento do consumo de alimentos de origem animal e

industrializados, gorduras e açúcares refinados, além da redução do consumo de

carboidratos complexos e fibras. Isso contribuiu para o aumento não só de algumas

doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, diabetes mellitus,

doenças cardiovasculares e cânceres, mas também da taxa de obesidade e

sobrepeso na população brasileira (FILHO, RISSIN, 2003).

Doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer, são

responsáveis por considerável número de mortes prematuras, pela perda de

qualidade de vida, incapacidades e afastamento do trabalho, e têm forte impacto

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econômico para o sistema de saúde, para as famílias e para a sociedade como um

todo (BRASIL, 2009).

De acordo com o Anuário de Estatístico da Previdência Social (2011) do

Ministério da Previdência Social, as doenças cardiovasculares são as principais

causas de aposentadorias por invalidez, representando 14,8% de todas as causas

deste tipo de aposentadoria. E como principal fator de risco para o desenvolvimento

destas doenças destaca-se a hipertensão arterial (BRASIL, 2006b; EKMAN, et al.,

2008).

Estudo realizado em Recife (PE) revela que as principais doenças crônicas

não transmissíveis responsáveis pela concessão de auxílio-doença no período de

2000-2002 foram hipertensão arterial, diabetes mellitus, artroses, câncer de mama e

intestino, transtorno de humor e esquizofrenia (MOURA; CARVALHO; SILVA, 2007).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças

cardiovasculares são as principais causas de mortes em todo o mundo (OMS,

2011a). No Brasil, foram responsáveis por 28,6% de todos os óbitos ocorridos em

2010 (BRASIL, 2011). Esse cenário evidencia o grande desafio que o

envelhecimento populacional e consequente aumento das doenças crônicas e suas

complicações representam para o sistema público de saúde, por exigirem tratamento

contínuo e consumirem mais recursos e tecnologias.

Num país em que a saúde é considerada um direito de todos e um dever do

Estado (BRASIL, 1988), garantida por meio de um sistema universal, integral e

equitativo que, contraditoriamente, dispõe de recursos financeiros bastante limitados,

esse desafio se torna ainda maior.

No Brasil, em 2009, o gasto total em saúde foi de 270 bilhões de reais, o que

equivale a 8,5% do PIB no mesmo ano. Deste percentual, o setor público contribui

com apenas 4% (CARVALHO, 2009), valor aquém dos 6% que alguns países que

também possuem sistemas de saúde universais, como Reino Unido, Inglaterra,

Alemanha, Canadá e Espanha, aplicam no setor.

Para Ligia Bahia, diretora da Associação Brasileira de Saúde Coletiva

(ABRASCO), os recursos limitados em saúde são fruto não apenas da falta de

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16

dinheiro em si, mas também da pouca clareza na definição das prioridades nessa

área.

Embora seja ponto pacífico que utilizar-se apenas de critérios econômicos

para se fazerem escolhas em saúde não seja algo moralmente aceito, uma vez que

a vida humana não tem preço, esses critérios também precisam ser considerados ao

se formularem políticas públicas, estabelecerem protocolos de atendimento e propor

um tratamento novo. Mapear os custos e avaliar a efetividade e o impacto de uma

intervenção sobre o sistema público de saúde é condição essencial para se predizer

se será possível sustentá-la economicamente e, assim, buscar sempre maior

eficiência, efetividade e qualidade dos serviços prestados à população. Nesse

contexto, as análises econômicas se destacam como ferramentas úteis para a

avaliação de custos e benefícios das intervenções em saúde, auxiliando gestores,

clínicos e formuladores de políticas com vistas a uma alocação de recursos mais

efetiva.

Diante do exposto e da necessidade de se tornar a economia da saúde uma

aliada no processo de tomada de decisão, o presente estudo visa estimar os custos

envolvidos na prestação de um acompanhamento multidisciplinar ao hipertenso de

risco cardiovascular alto e muito alto fornecido pelo Centro Hiperdia de Juiz de Fora -

MG. Este centro, assim como os outros nove espalhados pelo estado de Minas

Gerais, é uma iniciativa do governo mineiro com o objetivo de melhorar a qualidade

do atendimento aos portadores de hipertensão e diabetes. Conhecer, portanto, seus

custos e estimar os benefícios associados a este serviço poderá contribuir para

orientar os gestores, clínicos e tomadores de decisão mineiros, e também aqueles

dos demais estados brasileiros que tenham a intenção de instituir um serviço

semelhante.

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17

2 REVISÃO DA LITERATURA

Esta seção se destina a apresentar o referencial teórico que fundamenta o

estudo realizado. Primeiramente, discutem-se a hipertensão e seus principais

aspectos, como conceito, estratificação da doença e dos fatores de risco,

epidemiologia, tratamento medicamentoso e não medicamentoso, metas

terapêuticas e custos da doença, dentre outros. Em seguida são abordados o

acompanhamento e o tratamento do hipertenso no SUS, especialmente no âmbito

da Atenção Secundária, onde se enquadram os Centros Hiperdia de Minas Gerais.

Na segunda parte do texto destacam-se tópicos relevantes em economia da saúde,

como avaliações econômicas e seus diferentes tipos, categorização dos custos,

perspectiva do estudo e análise de sensibilidade.

2.1 HIPERTENSÃO ARTERIAL

Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é definida pela OMS (2011b) como o

bombeamento constante de sangue pelos vasos sanguíneos com força excessiva.

Trata-se de uma condição clínica multifatorial, onde os níveis da pressão arterial

permanecem elevados, conforme definem as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão

(DBH) (2010), sendo considerada por muitos autores como o principal fator de risco

para as doenças cardiovasculares (EKMAN; BEUZON-BIENFAIT; JACKSON, 2008;

GROSSO et al., 2011).

A HAS está associada ao aumento do risco de eventos cardiovasculares

fatais e não fatais, como infarto, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, doença

vascular periférica (BROWN; HAYDOCK, 2000), doenças cerebrovasculares

(acidentes vasculares encefálicos - AVE), doença renal e retinopatia avançada (VI

DBH, 2010).

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Atualmente, no Brasil, a classificação da pressão arterial (PA) é feita de

acordo com as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010), conforme quadro a

seguir:

Classificação

Pressão

sistólica

(mmHg)

Pressão

diastólica

(mmHg)

Ótima <120 <80

Normal <130 <85

Limitrofe* 130-139 85-89

Hipertensão estágio 1 140-159 90-99

Hipertensão estágio 2 160-179 100-109

Hipertensão estágio 3 ≥180 ≥110

Hipertensão sistólica isolada ≥140 <90

Quando as pressões sistólica e diastólica situam-se em categorias

diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação da

pressão arterial

*Pressão normal-alta ou pré-hipertensão são termos que se equivalem na literatura

Figura 1: Quadro da classificação da pressão arterial de acordo com a medida

casual no consultório (pacientes ≥18 anos)

Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial - 2010

Essa classificação é semelhante à adotada na Europa, conforme publicado no

“2007 guidelines for the management of arterial hypertension” (MANCIA et al., 2007).

Diferentemente, nos Estados Unidos, de acordo com o VII Relatório do Joint National

Committee (JNC) sobre prevenção, detecção, avaliação e tratamento da

hipertensão, algumas modificações foram inseridas na classificação da hipertensão.

Uma delas é a inclusão de um novo estágio, denominado “pré-hipertensão”, definido

como uma pressão arterial sistólica (PAS) entre 120 e 139 mmHg e uma pressão

arterial diastólica (PAD) entre 80 e 89 mmHg. Essa nova classificação visa

identificar indivíduos anteriormente classificados como “normotensos” e sugerir

mudanças no estilo de vida, a fim de reduzir ou prevenir o aumento da pressão

arterial. A outra modificação realizada foi a junção dos estágios 2 e 3 em um único

estágio, designado como “estágio 2”. Desta forma, hipertensão é subdividida em

apenas dois estágios. No estágio 1, os níveis de pressão sistólica são de 140 a 159

mmHg, e a pressão diastólica de 90 a 99 mmHg. No estágio 2, a pressão sistólica

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19

está acima de 160 mmHg, e a diastólica acima de 100 mmHg. Portanto, segundo o

citado relatório, são considerados normais os indivíduos com a pressão arterial

menor que 120/80 mmHg, pré-hipertensos aqueles com níveis de pressão sistólica

entre 120 e 139 mmHg e pressão diastólica entre 80 e 89 mmHg, e hipertensos

aqueles com níveis de pressão sistólica/diastólica maiores ou iguais a 140/90 mmHg

(ESTADOS UNIDOS, 2004).

Globalmente, o valor limite que demarca a HAS é pressão arterial sistólica

maior ou igual a 140 mmHg e pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg. O

diagnóstico é feito com base em medidas repetidas em pelo menos três ocasiões

diferentes (VI DBH, 2010).

A HAS pode se manifestar como sistólica isolada, diastólica ou combinada. A

pressão diastólica aumenta até aproximadamente os 50 anos de idade, com

tendência a se estabilizar na sexta década, e a sistólica continua a aumentar. Desta

forma, a hipertensão diastólica isolada ou combinada (sistólica e diastólica)

predomina até cerca dos 50 anos de idade, e a hipertensão sistólica é a forma mais

comum entre idosos (ESTADOS UNIDOS, 2004).

A hipertensão arterial ainda pode ser classificada como essencial ou

secundária. A primeira é assim denominada por não apresentar causa aparente

identificável, e corresponde à maioria dos casos. Já a HAS secundária possui fator

etiológico bem estabelecido, como, por exemplo, doença parenquimatosa renal,

doença renovascular, coartação da aorta, doença endócrina ou neurológica,

hipertensão gestacional, dentre outros (BRASIL, 2006 b).

2.1.1 Fatores de risco e estratificação

São considerados fatores de risco para hipertensão: idade avançada, sexo e

etnia, excesso de peso e obesidade, ingestão excessiva de sal e de álcool,

sedentarismo e fatores genéticos que predispõem à doença (VI DBH, 2010),

tabagismo e hereditariedade (OMS, 2011b).

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20

Idade (homens > 55 e mulheres > 65 anos), tabagismo, dislipidemias

(triglicérides ≥ 150 mg/dl, LDL colesterol > 100 mg/dl e HDL < 40 mg/dl), diabetes

mellitus e história familiar prematura de doença cardiovascular (homens < 55 anos e

mulheres < 65 anos) são considerados fatores de risco cardiovasculares adicionais

(VI DBH,2010).

O risco cardiovascular pode ser estimado pelo escore de Framingham,

desenvolvido por pesquisadores norte-americanos por meio de um estudo

longitudinal de base populacional na cidade de mesmo nome. Esse modelo permite

classificar os usuários em baixo, moderado, alto ou muito alto risco de ocorrência de

evento cardiovascular (morte coronariana, infarto do miocárdio, insuficiência

coronariana, angina, acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico e hemorrágico,

ataque isquêmico transitório, doença arterial periférica e insuficiência cardíaca

(BRASIL, 2012).

Desta forma, os usuários nos estágios 1,2 ou 3 da hipertensão podem ser

estratificados em 4 grupos, de acordo com a presença de fatores de risco

cardiovascular, lesões em órgãos-alvo (rins, cérebro e coração) e condições clínicas

associadas, como doença cardíaca, renal, cerebrovascular ou arterial periférica, ou

retinopatia avançada (VI DBH, 2010):

Grupo de risco baixo: usuários com hipertensão estágio 1 sem fator de

risco cardiovascular adicional.

Grupo de risco moderado: usuários hipertensos estágio1 com um ou dois

fatores de risco adicionais, e hipertensos estágio 2 com ou sem fatores de risco

cardiovascular.

Grupo de risco alto: usuários hipertensos estágio 1, 2 ou 3 com três ou

mais fatores de risco, ou no estágio 3 sem fatores de risco.

Grupo de risco muito alto: usuários com hipertensão estágio 1 e 2 com

condições clínicas associadas; estágio 3 com mais de um fator de risco, lesão em

órgão-alvo, síndrome metabólica, diabetes mellitus ou condições clínicas

associadas.

Essa estratificação possui importante valor prognóstico, pois avalia o risco de

um evento cardiovascular grave para os 10 anos subsequentes. No grupo de baixo

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21

risco, essa probabilidade é menor que 15%, no grupo de risco moderado é de 15% a

20%, no grupo de alto risco é de 20% a 30% e, por último, no grupo de muito alto

risco a probabilidade é de 30% (MINAS GERAIS, 2007).

Esse modelo apresenta validade científica e é amplamente utilizado em todo

o mundo, inclusive no Brasil. Atualmente, a nova versão da linha guia que

estabelece as diretrizes para a atenção ao hipertenso e diabético adotada em Minas

Gerais, embora ainda não publicada, recomenda o uso do escore de Framingham

revisado para estimar o risco cardiovascular (MINAS GERAIS, 2011). Esse modelo

apresenta um algoritmo gênero-específico baseado em múltiplos fatores de risco,

tais como idade, HDL, colesterol total, PAS tratada e não tratada, tabagismo e

diabetes, que podem ser facilmente verificados em consultas médicas da Atenção

Primária, a fim de se identificarem os usuários de alto risco para qualquer evento

cardiovascular (D’AGOSTINO, 2008).

2.1.2 Epidemiologia da hipertensão

As doenças crônicas não transmissíveis são as principais causas de morte no

mundo. Em 2008, foram responsáveis por 36 milhões de óbitos. As doenças

cardiovasculares responderam por 48% das mortes, seguidas pelo câncer (21%),

doenças respiratórias crônicas (12%) e diabetes (3%). Dentre esses óbitos, 9

milhões ocorreram em indivíduos com menos de 60 anos de idade, e poderiam ter

sido evitados, uma vez que os principais fatores de risco envolvidos são comuns à

maioria das doenças crônicas e preveníveis, como hipertensão arterial, tabagismo,

aumento da glicose, inatividade física, sobrepeso ou obesidade (OMS, 2011a).

Nos EUA, Reino Unido e França, assim como na maioria dos países de alta

renda, mais de 80% das mortes são provocadas por doenças crônicas não

transmissíveis (OMS, 2011a).

O quadro brasileiro não é diferente. Em 2008, as doenças crônicas não

transmissíveis foram responsáveis por 74% de todas as mortes, com predomínio das

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doenças cardiovasculares (33%), seguidas pelo câncer (16%), doenças respiratórias

(6%) e diabetes (5%). Doenças maternas e infantis, infecto-parasitárias e condições

nutricionais responderam por 14% dos óbitos, e 12% foram atribuídos a causas

externas (OMS, 2011a). O aumento da mortalidade por doenças crônicas não

transmissíveis, portanto, evidencia a transição epidemiológica em curso e gera um

quadro bastante diferente daquele da década de 1930, quando as doenças

infecciosas respondiam por 46% de todas as mortes ocorridas no país (SCHMIDT,

2011).

Dentre as doenças crônicas não transmissíveis destaca-se a hipertensão,

considerada um grande desafio em saúde pública em todo o mundo, especialmente

por se tratar de um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares

(BRASIL, 2006b). Sua prevalência mundial foi de 26,4% na população adulta no ano

2000, e estima-se que em 2025 alcance o valor de 29,2% (KEARNEY et al., 2005).

Entre os idosos essa prevalência é ainda maior, alcançando 50% das pessoas na

faixa etária de 60-69 anos e 75% daquelas com idade acima de 70 anos (ESTADOS

UNIDOS, 2004).

Um estudo transversal de base populacional realizado com indivíduos acima

de 65 anos na China, Índia e em países da América Latina (Cuba, República

Dominicana, Porto Rico, Venezuela, Peru e México) demonstrou que a prevalência

em áreas urbanas variou entre 52,6% e 79,8%, no Peru e Porto Rico,

respectivamente (PRINCE et al., 2011).

No Brasil, considerando-se o valor de PA ≥ 140/90 mmHg, a prevalência da

hipertensão varia entre 22% e 44%, com média de 32,5%, sendo um pouco mais

elevada no gênero masculino (35,8%) do que no feminino (30%) (VI DBH, 2010).

Passos, Assis e Barreto (2006) apresentaram, como resultado de uma revisão de

treze estudos de base populacional, uma variação da prevalência de hipertensão em

adultos entre 19% e 44%, com evidente tendência de aumento com o acréscimo da

idade. Ainda de acordo com esses autores, a prevalência é semelhante à relatada

em países da América Latina, embora varie conforme a população estudada.

Raros são os estudos que descrevem a prevalência da hipertensão por

estágio da doença ou por grupo de risco cardiovascular. Neste sentido, podemos

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23

citar um estudo brasileiro que descreveu as seguintes taxas de prevalência da

hipertensão segundo os estágios da doença: 53,3% para o estágio 1, 35,7% para o

estágio 2 e 11% para o estágio 3 (OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2003).

Em Minas Gerais, estima-se que a prevalência da hipertensão na população

acima de 20 anos seja de 20%, e que, deste total, 40% sejam portadores de baixo

risco, 35% de risco moderado e 25% de alto e muito alto risco cardiovascular

(MINAS GERAIS, 2006). De acordo com esses parâmetros, a população estimada

de hipertensos em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 2011, foi de 74.760 indivíduos.

2.1.3 Hipertensão arterial e suas complicações

A elevação da pressão arterial (PA), quando não tratada, é responsável por

causar lesões em órgãos-alvo, como artérias, coração, rins e sistema nervoso

central, resultando no desenvolvimento ou agravamento de doenças

cardiovasculares e renais (BRASIL, 2006b). A HAS está fortemente associada com

cerca de 80% dos casos de AVE e 60% dos casos de doença isquêmica do coração

(BRASIL, 2006a). Em termos de mortalidade, é responsável por pelo menos 40%

das mortes por acidente vascular cerebral, 25% das mortes por doença arterial

coronariana e, se associada ao diabetes, por 50% dos casos de insuficiência renal

terminal (BRASIL, 2006b).

Está bem estabelecido que níveis elevados de pressão arterial aumentam a

incidência de doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e insuficiência

cardíaca congestiva, acidente vascular encefálico (AVE) e insuficiência renal

(FUCHS; ZEN; MELCHIOR, 2000).

Importante meta-análise, que avaliou 61 estudos de coorte contemplando 1

milhão de indivíduos sob risco, confirmou que a associação entre pressão arterial e

risco de eventos cardiovasculares é exponencial e contínua a partir da PAS de 115

mmHg e PAD de 75 mmHg. O estudo ainda mostrou que, na faixa etária de 40-69

anos, um aumento de 20 mmHg na PAS ou de 10 mmHg na PAD está associado

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24

com o dobro de chances de ocorrência de acidente vascular cerebral e mortalidade

por doença isquêmica do coração (LEWINGTON et al., 2002).

Em usuários em estágios iniciais da doença renal crônica foi observada uma

relação direta entre a PA e a mortalidade cardiovascular, independentemente de

outros fatores de risco (BORTOLLO, 2008), evidenciando que o controle da PA nos

estágios iniciais da doença renal crônica (DRC) possui grande potencial preventivo

da progressão da lesão renal (VI DBH, 2010).

A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) é considerada como resposta à

sobrecarga de pressão e aumento do “stress” da parede do ventrículo, a fim de

manter uma função cardíaca normal. E quando a hipertensão é acompanhada de

HVE, o risco de mortalidade e morbidade cardiovascular é ainda maior (NOGUEIRA,

J, 1999).

2.1.4 Avaliação clínica e laboratorial do usuário hipertenso

A avaliação do risco cardiovascular, cerebrovascular e renal é considerada

mais importante do que o diagnóstico isolado da hipertensão ou diabetes (BRASIL,

2006a). Sendo assim, os principais objetivos da avaliação inicial de um usuário

hipertenso são a confirmação da elevação persistente da pressão arterial, a

identificação dos fatores de risco, sinais sugestivos de hipertensão secundária,

lesões de órgão-alvo e doenças associadas (CORREA, 2005), além da obtenção de

informações sobre a condição socioeconômica, estilo de vida e medicamentos

utilizados (VI DBH, 2010). Para que todos esses aspectos sejam contemplados, o

tempo mínimo recomendado para a avaliação inicial é de 30 minutos (VI DBH,

2010).

Também são recomendados pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão

(2010) a medida da frequência cardíaca, cuja elevação está associada a maior risco

cardiovascular, a circunferência da cintura, para avaliação da obesidade visceral, e o

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25

exame de fundo de olho, principalmente em hipertensos estágio 3 com diabetes ou

lesão em órgão-alvo.

Na avaliação laboratorial inicial de todos os usuários hipertensos, os exames

recomendados são urinálise, dosagem de potássio plasmático, creatinina, glicemia

de jejum, colesterol total e HDL e triglicérides, ácido úrico plasmático e

eletrocardiograma convencional. Exames complementares, como radiografia de

tórax, ecocardiograma, microalbuminúria, ultrassom de carótida, teste ergométrico e

hemoglobina glicada, entre outros, devem ser solicitados para usuários com indícios

de doença cardiovascular ou outras doenças associadas, para aqueles com dois ou

mais fatores de risco e para usuários acima de 40 anos com diabetes (VI DBH,

2010).

De acordo com o VII Relatório do JNC (ESTADOS UNIDOS, 2004), usuários

no estágio 2 da doença ou com comorbidades, como insuficiência cardíaca ou

diabetes, necessitam de mais consultas e exames laboratoriais para controle da

pressão arterial do que os hipertensos controlados, os quais, por sua vez, podem

realizar consultas mais espaçadas, por exemplo, a cada 3 ou 6 meses.

A Secretaria Estadual de Minas Gerais recomenda os seguintes parâmetros

para acompanhamento dos hipertensos nas Unidades de Atenção Primária e

Secundária:

Procedimento Estratificação dos portadores por risco cardiovascular global

Baixo Risco Moderado Risco Alto Risco

Consulta médica 2 consultas / ano 3 consultas /ano 3 consultas /ano

Consulta de

enfermagem

2 consultas / ano 4 consultas / ano 2 consultas / ano

Atividade de Grupo 4 atividades / ano 4 atividades / ano 4 atividades / ano

Visita domiciliar pelo

ACS*

12 visitas / ano 12 visitas / ano 12 visitas / ano

ECG 1 a cada 3 anos 1 / ano 1 / ano

Fundoscopia 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano

Raio X de tórax 1 / ano

(continua)

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26

Exames Laboratoriais Baixo Risco Moderado Risco Alto Risco

Glicemia de jejum 1 a cada 3 anos 1 a cada 2 anos 1 / ano

Creatinina 1 / ano 1 / ano 1 / ano

Potássio 1 / ano 1 / ano 1 / ano

Colesterol Total 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano

Colesterol Frações 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano

Triglicérides 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano

Urina de rotina 1 / ano 1 / ano 1 / ano

Microalbuminúria 1 / ano

Hemoglobina ou

hematócrito

1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano

Figura 2: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos na Atenção

Primária à Saúde (conclusão)

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais - Coordenação Estadual de

Hipertensão e Diabetes, 2010.

*ACS= Agente comunitário de saúde

Consultas Quantidade Exames Quantidade

Consulta de Cardiologia 3 consultas / ano MAPA

(Monitoramento

Ambulatorial da

Pressão Arterial)

1 a cada 2 anos

Consulta de Oftalmologia 1 consulta a cada 2 anos HOLTER 1 a cada 4 anos

Consulta de Nefrologia 3 consultas / ano para

3,2% de todos os HAS

atendidos na APS

Eletrocardiograma 2 por ano

Consulta de Angiologia 1 consulta a cada 2 anos Teste de Esforço 1 a cada 2 anos

Consulta de Enfermagem 2 consultas / ano Retinografia sem

contraste

1 a cada 2 anos

Avaliação do pé-diabético 1 avaliação / ano Retinografia com

contraste Laserterapia

1 a cada 5 anos

Consulta de Nutrição 2 consultas / ano para

75% dos usuários

consultados pela

Cardiologia

(Continua)

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27

Consultas Quantidade Exames Quantidade

Atendimento de Psicologia 4 consultas / ano para

25% dos usuários

consultados pela

Cardiologia

Assistência Social 1 consulta / ano para 15%

dos usuários consultados

pela Cardiologia

Figura 3: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos de alto risco na

Atenção Secundária à Saúde (conclusão)

Fonte: Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais - Coordenação Estadual de

Hipertensão e Diabetes, 2010.

2.1.5 A rede de atenção ao usuário hipertenso no SUS

Em 2001, em parceria com as secretarias municipais e estaduais de saúde,

sociedades científicas e associações de portadores de hipertensão arterial (HAS) e

diabetes mellitus (DM), o Ministério da Saúde criou o Plano de Reorganização da

Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, com o intuito de reorganizar a

rede de saúde para proporcionar aos usuários melhor atendimento, contínuo e

sistemático, e reduzir a morbimortalidade por estas doenças, com foco na

prevenção, diagnóstico precoce e vinculação dos usuários à rede de assistência

(BRASIL, 2001).

O plano consistiu em quatro etapas: 1) Capacitação de profissionais de saúde

da Atenção Primária; 2) Campanha de informação e identificação de casos suspeitos

de HAS e DM e promoção de hábitos saudáveis; 3) Confirmação diagnóstica e início

da terapêutica; 4) Operacionalização geral do plano (BRASIL, 2001).

De acordo com esta nova organização, a porta de entrada dos usuários

portadores destas patologias é a Atenção Primária, e estes somente serão

encaminhados para o atendimento secundário e terciário quando necessário.

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28

São consideradas como critérios para encaminhamento de hipertensos para a

Atenção Secundária as seguintes condições clínicas: insuficiência cardíaca crônica,

insuficiência renal crônica, angina no peito, HAS e DM secundárias, HAS resistente

ou grave, HAS ou DM em gestantes, crianças ou adolescentes, AVE ou infarto

agudo do miocárdio (IAM) prévios, dislipidemia de difícil controle, edema agudo de

pulmão, complicações oculares, lesões vasculares de extremidades e doença

aneurismática da aorta (BRASIL, 2006a).

Em Minas Gerais, a estratégia adotada para a implementação do plano foi

definida pela Resolução SES Nº 2.606, de dezembro de 2010, com a instituição do

programa Hiperdia Minas, que visa estruturar a rede de atenção à saúde dos

portadores de hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e

doença renal crônica através do sistema regionalizado e integrado de serviços de

saúde. São objetivos do programa: estimular a prevenção, melhorar a qualidade de

vida dos usuários e reduzir a morbimortalidade pelas doenças referidas, além de

qualificar os profissionais de saúde da rede pública para que ofereçam atendimento

integral aos usuários portadores destas doenças (MINAS GERAIS, 2010).

Ainda de acordo com essa resolução, a rede de atenção será estruturada por

serviços de Atenção Primária, Secundária e Terciária à saúde, além de sistemas de

apoio e logísticos.

Na Atenção Secundária estão os serviços que demandam profissionais

especializados e tecnologias de diagnóstico e terapêutica para tratamento dos

usuários. Destacam-se aí os dez centros Hiperdia criados pelo governo de Minas

Gerais entre 2009 e 2012, localizados em municípios polos de microrregiões

(Brasília de Minas, Itabira, Itabirito, Janaúba, Jequitinhonha, Juiz de Fora, Patrocínio,

Santa Luzia, Santo Antônio do Monte e Viçosa).

Os centros Hiperdia oferecem uma assistência multidisciplinar aos usuários

hipertensos de alto ou muito alto risco cardiovascular e àqueles com HAS resistente

ou suspeita de HAS secundária, encaminhados pela Atenção Primária à saúde

(APS). Após avaliação do usuário hipertenso e realização de exames

complementares, o mesmo retorna à Atenção Primária com um plano de cuidado

individualizado, interdisciplinar e compartilhado com a APS (ALVES JÚNIOR,

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2011a). Desta forma, os centros Hiperdia colaboram para o desenvolvimento de uma

Atenção Primária mais eficaz e resolutiva, capaz de fornecer um atendimento de

qualidade para os portadores de diabetes e hipertensão.

De acordo com um estudo feito pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas

Gerais, esses centros, exceto o de Santa Luzia, inaugurado após o estudo, cobrem

12 das 76 microrregiões sanitárias, abrangendo uma população de 2,6 milhões de

mineiros (13,61% da população total). No período de abril de 2010 a junho de 2011,

o estudo avaliou o Centro Hiperdia da cidade de Santo Antônio do Monte e um

centro de especialidades médicas (CEM) tradicional que, ao contrário do primeiro,

não possui sistema de contrarreferência adequado nem equipe multidisciplinar. Os

resultados apontaram que, após 3 interconsultas programadas no Centro Hiperdia

de Santo Antônio do Monte, 87% dos usuários hipertensos tiveram redução na PA a

níveis ótimos, e 71% dos diabéticos apresentaram redução na hemoglobina glicada.

Outra importante conclusão foi que, através das internações e amputações evitadas

pelo Serviço de Diabetologia do Centro Hiperdia, gastos da ordem de R$178.406,68

foram evitados, gerando uma economia maior do que o recurso investido pela

Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais nesse serviço, da ordem de

R$145.570,36 (ALVES JÚNIOR, 2011a). Embora o objetivo do estudo fosse

comparar o CEM com os Centros Hiperdia, isso não foi possível devido à falta de

dados no CEM para avaliar a redução da PA e da hemoglobina glicada (ALVES

JUNIOR, 2011b).

Em Juiz de Fora, o Centro Hiperdia foi inaugurado em maio de 2010, por meio

de uma parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora e a Fundação Instituto

Mineiro de Estudos e Pesquisas em Nefrologia (IMEPEN). Diferentemente dos

demais centros, que atendem apenas o município-polo e sua microrregião, o Centro

Hiperdia de Juiz de Fora atende usuários das microrregiões de Juiz de Fora, Lima

Duarte e Bom Jardim de Minas, Santos Dumont, São João Nepomuceno e Bicas,

num total de 37 municípios. Dispõe de uma equipe multiprofissional composta por

angiologistas, endocrinologistas, cardiologistas, nefrologistas, enfermeiros,

nutricionistas, psicólogos, dentistas, farmacêutico, educadores físicos e assistentes

sociais. Também são oferecidos exames como ecocardiografia com dopller (ECO),

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MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), Holter de frequência, teste

de esforço, eletrocardiograma e ITB (Índice Tornozelo Braquial) (FUNDAÇÃO

IMEPEN, 2012).

No município de Juiz de Fora existe ainda outro serviço de Atenção

Secundária, denominado Serviço de Controle de Hipertensão, Diabetes e Obesidade

(SCHDO), que recebe usuários com os mesmos critérios do Centro Hiperdia.

2.1.6 Controle e Tratamento

O controle da hipertensão arterial é de extrema importância para a saúde

pública, visto que altos níveis pressóricos estão diretamente relacionados à

aterosclerose, doença isquêmica do coração, morte súbita e mortalidade geral

(JOFFRES et al.,1992).

A detecção precoce, tratamento e controle da HAS são, portanto, importantes

estratégias para a prevenção primária das doenças cardiovasculares. O tratamento

deve ser iniciado o mais rapidamente possível, especialmente em usuários de alto

ou muito alto risco cardiovascular, a fim de se obterem as maiores vantagens em

termos de expectativa de vida (MOREIRA, 2008).

Os principais objetivos do tratamento são: melhorar a qualidade de vida dos

hipertensos, prevenir as complicações relacionadas aos altos níveis de PA, tratar as

comorbidades (MINAS GERAIS, 2007) e reduzir a morbimortalidade associada à

doença (IRMAK; DUZOZ; BOZYER, 2011).

Segundo Jönsson, Hansson e Stalhammar (2003), a escolha do valor limite

para se iniciar a intervenção, a definição dos valores ótimos dos níveis pressóricos a

serem alcançados e a escolha do anti-hipertensivo a ser ministrado são as três

principais questões que devem ser consideradas no gerenciamento da hipertensão.

Apesar dos avanços ocorridos na terapia medicamentosa e de seu

reconhecido benefício, a taxa mundial de usuários controlados ainda é baixa. Nos

EUA, segundo o Center for Disease Control (CDC), dos 48 milhões de usuários que

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recebem tratamento farmacológico para hipertensão, apenas 46% têm sua condição

controlada (PA <140/90mmHg) (CDC, 2011).

Na Galícia, Espanha, Perez-Fernandez e colaboradores (2007) descrevem

que apenas 36% dos usuários em tratamento estão controlados. No Peru, a taxa de

usuários controlados subiu de 46,7% para 73,3% após um programa de educação

com foco nos fatores de risco, desenvolvido por enfermeiros (IRMAK; DUZOZ;

BOZYER, 2011).

Prince e colaboradores (2011) estudaram a prevalência, conhecimento,

tratamento e controle da pressão arterial em usuários acima de 65 anos de idade em

oito áreas urbanas e quatro áreas rurais na América Latina, Índia e China, e

encontraram diferentes taxas de controle (PA<140/90mmHg). Em Porto Rico, 58%

dos hipertensos estavam controlados. No Peru, em área urbana a taxa foi 71% e na

área rural 84%. Em outras cidades latino-americanas e em uma área urbana da

China, os níveis de controle variaram de 22% a 39%. Na índia, a taxa de controle foi

bastante baixa, apenas 12% na área urbana e 9% na área rural, assim como na área

rural da China, com apenas 2% de hipertensos controlados.

No Brasil, as taxas de controle descritas nos estudos sofrem grandes

variações. Por exemplo, um estudo realizado com funcionários da Universidade do

Rio de Janeiro apresentou taxa de controle de aproximadamente 60%, resultado

contrastante com a maioria dos estudos encontrados na literatura. Isso poderia ser

justificado por se tratar de uma população que também apresenta maiores taxas de

reconhecimento e tratamento da doença, 80% e 68% respectivamente (NOGUEIRA

D et al., 2010). Já um estudo realizado por Gus e colaboradores (2004), no Rio

Grande do Sul, apontou que apenas 10,4% do total de hipertensos apresentavam-se

controlados. Em São Paulo, na cidade de São José do Rio Preto, Moreira (2008)

encontrou uma taxa de controle equivalente a 52,9% entre os usuários tratados.

Outro estudo transversal realizado no município de Cianorte, Paraná, com

usuários entre 20-69 anos de idade, encontrou uma taxa de controle (PA<

140/90mmHg) de 20,9% entre os hipertensos sob tratamento (OLIVEIRA,

NOGUEIRA, 2003).

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32

Dentre os fatores que contribuem para a pequena taxa de controle, destacam-

se a baixa adesão ao tratamento e a escolha inadequada ou dose insuficiente dos

anti-hipertensivos (EKMAN; BEUZON-BIENFAIT; JACKSON, 2008).

A falta de adesão ao tratamento está ligada ao surgimento de complicações,

redução da qualidade de vida dos usuários e aumento da resistência aos fármacos,

além do desperdício de recursos financeiros públicos (OLIVEIRA et al., 2010).

Segundo estimativa da OMS (2003), a taxa de não adesão ao tratamento prescrito é

de 50 a 70%.

2.1.7 Tratamento não medicamentoso

O tratamento não medicamentoso consiste em mudanças no estilo de vida,

tais como perda de peso, incentivo à atividade física, alimentação saudável

(BRASIL, 2006b; ESTADOS UNIDOS, 2004), abandono do tabagismo, moderação

no consumo de álcool e de sal, controle do estresse e dieta própria para hipertensos

(frutas, verduras, alimentos integrais, leite desnatado e derivados, alimentos pobres

em gorduras saturadas e colesterol e rico em fibras, cálcio, potássio e magnésio)

(ESTADOS UNIDOS, 2004).

Portanto, o tratamento não medicamentoso é fundamental para a prevenção

da HAS e controle da PA dos usuários hipertensos, e a adoção de um estilo de vida

saudável é recomendada para todos os usuários hipertensos, seja para aqueles com

baixo risco cardiovascular ou para os que apresentam pressão arterial limítrofe.

Após os primeiros seis meses de tratamento não medicamentoso o usuário deve ser

reavaliado para monitorar o controle da PA. Em usuários com risco médio, alto ou

muito alto o tratamento precisa ser combinado (medicamentoso e não

medicamentoso), a fim de se alcançar a meta preconizada o mais precocemente

possível, com redução do impacto causado pela elevação da PA, proteção dos

órgãos-alvo e a diminuição da progressão do processo aterosclerótico (VI DBH,

2010).

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33

2.1.8 Tratamento farmacológico

Vários ensaios clínicos têm demonstrado os benefícios do tratamento

medicamentoso sobre a diminuição média de 35% a 40% na incidência de acidentes

vasculares cerebrais, redução média de 20% a 25% de infarto do miocárdio e

redução de mais de 50% na ocorrência de insuficiência cardíaca. Estes benefícios

parecem ser independentes da classe do fármaco utilizado (NEAL; MAC MAHON;

CHAPMAN, 2000).

As classes de anti-hipertensivos disponíveis para uso clínico no Brasil são:

diuréticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores diretos, bloqueadores dos canais

de cálcio, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), bloqueadores

dos receptores da angiotensina I e inibidores diretos da renina (VI DBH, 2010).

De acordo com as VI DBH (2010), a escolha do medicamento deve considerar

os seguintes fatores:

Eficácia via oral;

Posologia que permita o menor número de doses diárias e que possa ser

iniciada com as menores doses efetivas, permitindo aumento gradativo quando

necessário;

Não ser manipulado, por falta de evidências de eficácia, controle de

qualidade, bioequivalência e interação química entre os compostos;

Segurança e tolerabilidade;

Capacidade de ser administrado em associação, para usuários nos

estágios 2 e 3 da hipertensão e para aqueles com alto ou muito alto risco

cardiovascular;

Eficácia clínica comprovada por meio de ensaios clínicos, sendo capaz de

reduzir a morbimortalidade cardiovascular associada à HAS.

Atendendo aos requisitos listados, qualquer medicamento anti-hipertensivo

comercialmente disponível no Brasil, salvo as indicações e contraindicações

específicas, pode ser empregado no tratamento da hipertensão (VI DBH, 2010).

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34

Em relação à eficácia clínica, diversos ensaios clínicos foram encontrados na

literatura, dentre eles o VALUE que revelou significativa redução na incidência de

insuficiência cardíaca no grupo tratado com o anti-hipertensivo bloqueador do

receptor da angiotensina I (valsartana), quando comparado ao grupo tratado com

bloqueadores dos canais de cálcio (anlodipino) (JULIUS et al., 2006). Por outro lado,

o ASCOT (Ensaio Anglo-Escandinavo sobre Eventos Cardíacos), ensaio clínico

randomizado e multicêntrico realizado com usuários da Dinamarca, Finlândia,

Suécia, Reino Unido, Irlanda e Noruega, demonstrou que esquemas terapêuticos

baseados em bloqueadores dos canais de cálcio (anlodipino associado a perindopril)

são capazes de reduzir significativamente o número de acidentes vasculares fatais e

não fatais (23%), a mortalidade geral (11%) e o total de eventos cardiovasculares

(16%), quando comparados ao regime baseado em betabloqueadores (atenolol

associado à bendroflumetiazida). Ainda segundo este estudo, a associação de

atorvastatina, um hipocolesterolêmico, ao tratamento anti-hipertensivo baseado em

anlodipino provocou significativa redução (53%) na ocorrência de eventos

cardiovasculares ao ser comparado ao não uso da atorvastatina (DAHLÖF et al.,

2005). Porém, outro ensaio clínico sobre tratamento anti-hipertensivo e

hipolipemiante para prevenir o infarto do miocárdio, denominado ALLHAT, ao

comparar anlodipino ou lisinopril com clortalidona, não encontrou diferenças

significativas favoráveis ao primeiro esquema. Além disso, a clortalidona foi mais

efetiva na redução da incidência de insuficiência cardíaca (HEIDENREICH et al.,

2008). Ainda, de acordo com o ensaio LIFE, o medicamento losartana (bloqueador

do receptor de angiotensina I) possui efeito significativamente preventivo sobre a

morbimortalidade cardiovascular, quando comparado ao betabloqueador atenolol

(DAHLÖF et al., 2002).

Diante das diversidades entre os ensaios clínicos, percebemos que a escolha

do anti-hipertensivo se torna uma tarefa bastante complexa e diretamente

relacionada ao objetivo do tratamento, comorbidades, indicações e contraindicações

de cada usuário. A decisão terapêutica deve levar em consideração a presença de

fatores de risco, de lesão em órgão-alvo e de doença cardiovascular estabelecida, e

não somente os níveis de PA (VI DBH, 2010). Também é preciso avaliar os efeitos

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35

adversos, contraindicação e custo do medicamento (LINJER et al., 2005), uma vez

que o usuário pode abandonar o tratamento por diversos motivos, como, por

exemplo, problemas financeiros ou falta de informação sobre a importância da

continuidade do mesmo (BRASIL, 2006b).

Nesse contexto, estudos de custo-efetividade se revelam importantes

ferramentas para auxiliar na escolha terapêutica, pois muitas vezes a eficácia de

novos tratamentos descrita em ensaios clínicos pode não ser superior à dos

tratamentos já empregados e ter um custo mais elevado. Isto é o que aponta o

estudo de custo-efetividade sobre clortalidona, anlodipino e lisinopril como drogas de

primeira escolha para o tratamento da hipertensão realizado por Heindenreinch e

colaboradores (2008), ao demonstrar que, se 10% dos 30 milhões de hipertensos

dos Estados Unidos tivessem sido tratados inicialmente com clortalidona, ao invés

de anlodipino e lisinopril, como recomendam alguns ensaios clínicos, teriam sido

economizados 6,4 bilhões de dólares nos seis primeiros meses, sem causar prejuízo

na efetividade do tratamento.

Pesquisadores brasileiros também defendem o uso dos diuréticos,

particularmente a clortalidona, que, segundo eles, são tão eficazes quanto os novos

agentes anti-hipertensivos. Além de bem tolerados, apresentam baixo custo, e seu

principal efeito adverso, a hipocalemia, pode ser facilmente contornado com a

associação de diuréticos poupadores de potássio, como amilorida. Apesar disso,

observa-se baixa prescrição dos diuréticos, em relação aos bloqueadores dos

receptores de angiotensina (FUCHS et al., 2011).

2.1.8.1 Esquemas Terapêuticos

A abordagem terapêutica da HAS deve ser alvo de constantes reavaliações, a

fim de se garantir o alcance das metas preconizadas. Para o controle farmacológico

da hipertensão são consideradas a monoterapia ou a terapia combinada.

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Geralmente, a monoterapia é indicada como terapia inicial para hipertensos

no estágio 1 e com risco cardiovascular baixo ou moderado. Porém, se a redução da

pressão arterial para valores menores que 140/90 mmHg não for atingida, mesmo

com reajuste da dose, a associação de medicamentos deve ser considerada (VI

DBH, 2010).

Ensaios clínicos demonstraram que os diuréticos possuem efeito protetor

semelhante às demais classes de anti-hipertensivos com relação às doenças

cardiovasculares, além de apresentarem boa tolerabilidade. Por isso, o sétimo

relatório do JNC (2004) recomenda a terapia inicial com diuréticos tiazídicos para

todos os hipertensos, seja em monoterapia ou em combinação com outras classes

de anti-hipertensivos (bloqueadores dos receptores de angiotensina, inibidores da

enzima conversora de angiotensina, inibidores dos canais de cálcio) que também

possuem eficácia clínica comprovada por ensaios clínicos.

A terapia anti-hipertensiva combinada é indicada em aproximadamente 2/3

dos casos, pois, na maioria das vezes, a monoterapia não é suficiente para reduzir a

PA aos níveis desejados (VI DBH, 2010). Deste modo, a adição de uma segunda

droga, de classe diferente, deveria ser iniciada (ESTADOS UNIDOS, 2004).

Geralmente, a maioria dos usuários hipertensos, especialmente os de alto risco,

diabéticos ou com doença renal, necessitam de terapia anti-hipertensiva combinada

com pelo menos dois fármacos diferentes, para alcançar a meta de níveis

pressóricos desejada (FOGARI et al., 2011).

No caso dos usuários nos estágios 2 e 3, a terapia inicial poderá ser feita com

duas drogas anti-hipertensivas, seja em prescrições separadas ou em combinações

de dose fixa, pois a terapia combinada aumenta a probabilidade de se alcançarem

as metas mais rapidamente, ao provocar maiores reduções na PA em doses

menores, diminuir os efeitos adversos e proporcionar maior adesão ao tratamento

(LAW et al., 2003; SICA, 2002).

Apesar de não existir uma combinação ótima de anti-hipertensivos, as

diretrizes norte-americanas para hipertensão recomendam a inclusão de diuréticos

tiazídicos (ESTADOS UNIDOS, 2004). Em alguns casos, quando existem outras

comorbidades, algumas classes de anti-hipertensivos são indicadas, com base em

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dados científicos sobre sua eficácia em termos de redução da morbimortalidade para

determinado grupo de usuários. Por exemplo, para usuários com doença renal

crônica recomenda-se o uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina

(IECA) e antagonistas da aldosterona (VI DBH, 2010).

Um estudo que avaliou os principais ensaios clínicos envolvendo o efeito da

terapia medicamentosa em usuários hipertensos de alto risco cardiovascular global

demonstrou que os IECA, ou antagonistas dos receptores de angiotensina,

associados ou não a bloqueadores dos canais de cálcio, são boas alternativas de

tratamento, capazes de reduzir eventos cardiovasculares como infarto do miocárdio,

acidente vascular cerebral e mortes por doenças cardiovasculares (TSAI, 2011).

No Brasil, como medicação padrão para o tratamento da hipertensão arterial o

Ministério da Saúde adotou captopril 25mg, hidroclorotiazida 25mg e propanolol

40mg, medicamentos considerados essenciais pela OMS e com eficácia e

segurança comprovadas cientificamente. Esses medicamentos são disponibilizados

em toda a rede pública de saúde (BRASIL, 2011).

2.1.9 Definição de metas

As metas de PA preconizadas pelas VI DBH (2010) estão demonstradas na

Figura 4:

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38

Categoria Considerar

Hipertensos estágios 1 e 2 com risco

cardiovascular baixo e médio 140/90mmHg

Hipertensos e comportamento limítrofe

com risco cardiovascular alto e muito

alto, ou com 3 ou mais fatores de risco,

DM, SM ou LOA 130/80mmHg

Hipertensos com insuficiência renal com

proteinúria >1,0 g/l

DM- Diabetes melito;SM-Síndrome metabólica; LOA- lesões em órgão alvo

Figura 4: Quadro das metas de PA de acordo com as características individuais

Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010.

De acordo com Hansson e colaboradores (1998), a redução da PA para

valores menores que 140/90 mmHg está associada com a redução de eventos

cardiovasculares. Estudos demonstram que uma redução de 4 mmHg, em um ano, é

capaz de reduzir em 35% a 42% a incidência de AVE (BRASIL, 2001).

Em usuários hipertensos com alto e muito alto risco cardiovascular, ou com

três ou mais fatores de risco, em diabéticos ou naqueles com doença renal, a meta a

ser alcançada é de PA menor do que 130/80 mmHg, segundo a Associação

Americana de Diabetes (2010). Portanto, para o grupo com o qual se trabalhou

neste estudo, a meta a ser alcançada é de níveis pressóricos menores ou iguais a

130/80 mmHg.

2.2 CUSTOS DA HIPERTENSÃO

A HAS descontrolada provoca significativo ônus social e econômico ao setor

saúde, refletindo sobre a seguridade social e sobre a população (LESSA, 2006).

Esse impacto está ligado à sua alta prevalência, necessidade de tratamento

contínuo (AMBROSIONI, 2001) e suas complicações.

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A HAS é considerada uma doença cara de se tratar (BERNARD; TOWNSEN;

SYLVESTRI, 1998). É também uma das razões mais comuns de visitas médicas,

representando cerca de 20% a 40% de todas as consultas médicas (AMBROSIONI,

2001). Nos Estados Unidos, em 2003, foi estimado um gasto de 37,2 bilhões de

dólares com o tratamento da HAS e suas complicações, dos quais 47,8% foram

destinados aos medicamentos (ELLIOT, 2003).

Existem poucos estudos publicados sobre o custo da hipertensão (ESPOSTI,

2001). Segundo Perman e colaboradores (2011), a maioria das avaliações

econômicas relacionadas à hipertensão trata da comparação entre dois tratamentos

farmacológicos. Todavia, por considerarem apenas o aspecto farmacológico do

tratamento, esses tipos de avaliações oferecem pequena direção aos tomadores de

decisão com relação à escolha de qual serviço de saúde fornecer à população.

Estes últimos autores compararam dois tipos de programas de

acompanhamento de hipertensos. O primeiro, designado “assistência usual”, que

consiste no acompanhamento por médicos da Atenção Primária, realizado por meio

de consultas programadas ou não programadas, tratamento farmacológico e

consultas com especialistas quando referenciados pela Atenção Primária. O

segundo, denominado “Programa de Hipertensão”, é baseado no acompanhamento

multidisciplinar da hipertensão desenvolvido para usuários idosos (≥ 65 anos) em um

hospital na Argentina, que, além dos cuidados citados acima, realiza outros serviços,

como contato pessoal e por telefone com os usuários, dieta e atividade física,

educação continuada para estimular o autocuidado e prontuário eletrônico. De

acordo com os autores, o programa multidisciplinar foi a alternativa mais efetiva a

um custo incremental relativamente pequeno (RCEI=1,124 dólares internacionais

/anos de vida ganhos).

Esposti e colaboradores (2001), a fim de avaliar a carga econômica da

hipertensão, fizeram um estudo de custo da doença com base em dados

observacionais, sob a perspectiva do Sistema Nacional de Saúde Italiano. Os custos

do acompanhamento de mil usuários hipertensos com idade entre 20 e 89 anos por

general practitioners (GPs) em Ravena, Itália, foram estimados ao longo de 1 ano.

Foram considerados os custos dos medicamentos anti-hipertensivos, exames

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laboratoriais, eletrocardiogramas, consultas médicas programadas, consultas com

especialistas, consultas em hospitais sem internação e hospitalizações por eventos

cardiovasculares. Dentre os itens citados, os medicamentos representaram o custo

mais relevante (42,7%), seguidos das admissões hospitalares (28,4%), consultas

com os GPs (15,1%) e, por último, os exames (10,6%). O custo médio total em

usuários sem tratamento prévio foi significativamente menor que em usuários em

tratamento, 457.512 e 725.573 liras italianas, respectivamente. O custo médio total

também foi maior em usuários acima de 65 anos de idade, quando comparados aos

usuários mais jovens.

No Brasil, o custo direto anual estimado do tratamento da HAS para o sistema

público de saúde, em 2005, foi de aproximadamente 398 milhões de dólares, o que

equivale a 1,11% do custo total de saúde e 0,08% do PIB brasileiro no mesmo ano

(DIB, RIERA, FERRAZ, 2010).

A maior parte do custo direto associado à hipertensão se refere aos

medicamentos (COSTA et al., 2002; ESPOSTI et al., 2001). Alguns autores

destacam que a baixa adesão ao tratamento anti-hipertensivo está diretamente

relacionada ao aumento dos custos de atenção à saúde (MULLINS et al., 2002), e

apontam que a redução do custo do tratamento farmacológico anti-hipertensivo

poderia ser obtida com a inclusão de medicamentos genéricos e com a utilização

dos medicamentos mais caros, tais como os inibidores da enzima conversora de

angiotensina, somente em usuários de alto risco (MOREIRA et al., 2009).

Nesse contexto, torna-se evidente a importância dos estudos

farmacoeconômicos, ainda bastante raros no Brasil (AREDA; BONIZIO; FREITAS,

2011), especialmente porque as análises econômicas das diferentes terapias anti-

hipertensivas, além de escassas e desatualizadas, em sua grande parte foram

produzidas em outros países, que, pelas características dos seus sistemas de

saúde, dificultam a generalização dos resultados (POLANCZYK, 2002).

Todavia, alguns estudos brasileiros relevantes consideraram o custo e a

efetividade das medicações anti-hipertensivas. Entre 1999 e 2000 foi realizado em

Pelotas (RS) um estudo de base populacional, cujo principal objetivo foi descrever o

custo da assistência à saúde a usuários hipertensos ambulatoriais, comparando-o

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com o custo do tratamento do diabetes mellitus e da bronquite crônica, e avaliar o

custo-efetividade de diferentes classes de drogas anti-hipertensivas. O custo do

tratamento anti-hipertensivo, apurado via questionário aplicado a 259 pessoas

hipertensas, foi calculado somando-se o preço dos medicamentos, seguro de saúde,

consulta médica, exames laboratoriais, raios X, transporte e alimentação. O custo

médio mensal da assistência à hipertensão, diabetes e bronquite foi semelhante. Os

medicamentos representaram a maior parcela dos custos diretos do tratamento da

hipertensão e diabetes, sendo os betabloqueadores e diuréticos os medicamentos

que tiveram melhor razão custo-efetividade, quando comparados aos inibidores da

enzima conversora de angiotensina e bloqueadores dos canais de cálcio. Porém,

somente 55% dos usuários que fizeram uso de diuréticos mantiveram sua pressão

sobre controle (<160/95 mmHg) (COSTA et al., 2002).

Outro estudo de base populacional, realizado em adultos acima de 40 anos

no período de 2004 a 2005, em São José do Rio Preto (SP), objetivou avaliar o nível

de consciência e controle da doença e razão de custo-efetividade das principais

classes farmacológicas de anti-hipertensivos utilizadas. Os custos do tratamento

anti-hipertensivo foram estimados com base nos medicamentos utilizados e suas

respectivas posologias. A efetividade foi avaliada por meio da porcentagem de

usuários controlados (<140/90 mmHg). As três principais classes de medicamentos

utilizados foram IECA (43,3%), diuréticos (26,1%) e betabloqueadores (20%), e o

maior controle foi obtido através de betabloqueadores. Porém, em monoterapia, os

diuréticos apresentaram a melhor razão de custo-efetividade (MOREIRA et al.,

2009).

Um estudo realizado por Tsuji (2007), em São Paulo, buscou analisar o efeito

do tratamento “tradicional” e do tratamento “atual” no controle da PA. Os usuários

foram divididos em 2 grupos, de acordo com o seguinte esquema terapêutico:

associação de hidroclorotiazida e atenolol (tradicional) e a associação de losartan e

anlodipino (atual). Além disso, os usuários foram classificados como hipertensos

estágios 1 e 2 (HT 1-2), isto é, aqueles sem comorbidades e com 140 ≤ PAS <

180mmHg e 90 < PAD < 110mmHg, e hipertensos estágio 3 (HT 3), isto é, com

comorbidades e PA ≥ 180/110mmHg. Os custos incluídos nessa pesquisa foram

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somente os custos diretos relacionados ao consumo de medicamento anti-

hipertensivo, ao tratamento de efeitos adversos e a visitas médicas não

programadas. Não foram quantificadas visitas médicas programadas, nem exames

laboratoriais e complementares, por terem sido semelhantes nos dois grupos. A

efetividade do tratamento foi avaliada por meio da redução da PAS e PAD por

usuário em mmHg, embora a própria autora tenha reconhecido que outros

desfechos, como redução dos eventos cardiovasculares, seriam uma melhor medida

de efetividade. O estudo encontrou melhor razão custo-efetividade com o tratamento

tradicional iniciado com diurético e betabloqueador, do que com o atual, iniciado com

bloqueadores dos canais de cálcio e inibidor do receptor de angiotensina II, nos

hipertensos HT 1-2. Já nos hipertensos HT 3, não houve diferença da razão de

custo-efetividade entre os tratamentos.

O impacto econômico da hipertensão sobre o SUS é ainda maior quando a

consideramos um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento das

doenças cardiovasculares (DCV) e cerebrovasculares, que são responsáveis por alta

frequência de internações com elevados custos médicos e socioeconômicos. Por

exemplo, em 2010, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 1.128.101

internações de pessoas acima de 20 anos, resultando em um gasto de mais de dois

bilhões de reais para o sistema público de saúde brasileiro (DATASUS, 2013)

Pesquisadores brasileiros estimaram o custo anual da doença cardiovascular

grave no país em pelo menos R$ 30,8 bilhões, dois quais 36,4% foram destinados à

saúde, 8,4% ao seguro social e reembolso por empregadores e 55,2% relacionados

à perda de produtividade. Para usuários acima de 35 anos de idade, os custos

diretos em saúde representaram 8% do gasto total do país em saúde e 0,52% do

Produto Interno Bruto (PIB) em 2004. Os autores concluem que, embora a

prevalência de doenças cardiovasculares graves (5%) seja relativamente baixa, os

custos anuais totais por essa doença são bastante elevados e com tendência ao

crescimento, em virtude do aumento de casos de doenças cardiovasculares graves e

suas complicações decorrentes do processo de envelhecimento populacional

(AZAMBUJA et al., 2008).

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Os custos diretos hospitalares da hipertensão foram estimados em um estudo

bastante antigo realizado por Souza e Silva e colaboradores (1986) no Hospital

Universitário do Rio de Janeiro. O custo direto total por usuário foi de 102.48 dólares,

gastos da seguinte forma: 32,6% com consultas ambulatoriais, 29,2% com

internações, 25,7% com medicamentos, 10,2% com exames complementares e

2,3% com atendimentos de emergência. O estudo ainda demonstrou que apenas

32,9% dos usuários tiveram a PAD reduzida (< 90 mmHg) na última consulta. De

acordo com os autores, a redução dos custos hospitalares com a HAS poderia ser

proporcionada por uma Atenção Primária mais efetiva, evitando complicações e

internações.

2.3 ECONOMIA DA SAÚDE

O grande conflito entre a ética econômica e a ética individualista da saúde,

onde salvar uma vida não tem preço, é uma questão antiga e sem muitas soluções

(DEL NERO, 1995). Porém, considerando-se o crescente aumento dos custos das

tecnologias de saúde e a escassez de recursos orçamentários, é essencial trazer

para saúde os princípios da economia, a fim de se definir com maior racionalidade a

priorização da aplicação destes recursos. Afinal, Economia é a “ciência da

escassez”, e sua prática no campo da saúde objetiva obter o “máximo valor para o

dinheiro”, garantindo, além da efetividade clínica, o custo-efetividade do

fornecimento da assistência em saúde (HAYCOX, 2009).

A avaliação econômica de tecnologias e programas de saúde tem aumentado

significativamente nas últimas décadas em vários países (HERRERA; BALBÍN,

2001).

Diante da importância dessas análises na área da saúde, e visando orientar a

formulação de políticas públicas, foram criadas instituições que formulam diretrizes

para a execução de análises econômicas, para que seus resultados sejam

criteriosos e confiáveis (VANNI et al., 2009). No contexto internacional destaca-se a

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Austrália, que, em 1992, foi um dos primeiros países a exigir estudos econômicos

para avaliar a inclusão de novos medicamentos à lista de produtos oferecidos

gratuitamente à população (BRASIL, 2008). Na Inglaterra e País de Gales, é o

National Institute for Clinical Excellence (NICE), fundado em 1999, o responsável por

avaliar os benefícios clínicos e econômicos das tecnologias novas e existentes, além

de formular as recomendações e orientações sobre as tecnologias de assistência à

saúde (BRASIL, 2008; RASCATI, 2010). No Canadá, cabe à agência Canadian

Agency for Drugs and Technologies in Health (CADTH) formular as diretrizes para as

avaliações econômicas em saúde (VANNI et al., 2009).

No Brasil, compete ao Departamento de Economia da Saúde, da Secretaria

de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE), do Ministério da Saúde,

institucionalizar e fortalecer a economia da saúde no âmbito do SUS, bem como

monitorar os gastos em ações e serviços públicos em saúde, além de realizar

estudos econômicos que avaliem a incorporação de novas tecnologias,

proporcionando aumento da eficiência no uso dos recursos públicos e garantia de

equidade na sua distribuição (BRAIL, 2009b).

A economia da saúde brasileira ainda é uma especialidade recente (TSUJI,

2007). Em 2003, foi instituída a Lei nº 10.742/2003, que exige que os medicamentos,

insumos e correlatos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) apresentem informações financeiras relativas ao preço do produto, tais

como o valor com que é comercializado em outros países, o preço que será

praticado no Brasil, o custo do tratamento por usuário, o número de usuários

potenciais, os gastos a serem destinados à publicidade e propaganda, a relação e o

preço dos produtos substitutos no mercado (BRASIL, 2003), mas, na prática, o

cumprimento dessa lei ainda é bastante incipiente (BRASIL, 2008).

A integração e cooperação internacional entre as instituições de Avaliação de

Tecnologias em Saúde (ATS) são feitas pela International Network of Agencies for

Health Technology Assessment (INAHTA), da qual o Brasil é membro (VANNI et al.,

2009). A busca pela padronização e redução das discrepâncias entre os estudos

econômicos resultou na criação, em 1994, de um painel composto de especialistas

da área de Economia da Saúde (Panel on Cost-Effectiveness in Health and

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Medicine), para formular um guia com as recomendações para a realização de

estudos de custo-efetividade em saúde (GOLD et al., 1996).

A ATS é uma área multidisciplinar de estudos, baseada em critérios de

efetividade, custo, risco ou impacto do seu uso, segurança e, inclusive, critérios

éticos, que fornece subsídios para o processo de tomada de decisão no que se

refere ao impacto da inclusão de uma nova tecnologia ou mudança na tecnologia já

em uso e avaliação de sua necessidade (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009b).

No âmbito da saúde, é comum nos depararmos com mais de uma alternativa

possível para tratar uma doença ou condição, e a escolha da melhor alternativa nem

sempre é óbvia. É nesse contexto que se destacam as avaliações econômicas de

saúde como auxiliares no processo de tomada de decisão.

2.3.1 Avaliações Econômicas

Genericamente, avaliação econômica pode ser designada como um conjunto

de técnicas aplicadas para identificar, medir e valorar custos e resultados das

intervenções de saúde (LOURENÇO; SILVA, 2008). Também é definida como a

análise comparativa de alternativas segundo os custos e consequências

(DRUMMOND et al., 2005). Portanto, os elementos considerados nessas análises

são os custos e desfechos, impactos ou consequências das intervenções em saúde.

As avaliações econômicas estão diretamente ligadas ao processo de

planejamento, não podendo, portanto, ser uma atividade isolada. Neste sentido, são

instrumentos que permitem verificar se as metas e objetivos pré-estabelecidos no

planejamento foram atingidos (CASTRO, 2002).

O emprego dos princípios da economia aos estudos de medicamentos recebe

o nome de farmacoeconomia (GUIMARÃES, 2007), e constrói um elo entre as

necessidades da população e os recursos disponíveis (HERRERA, BALBÍN, 2001).

A farmacoeconomia surgiu nos países desenvolvidos no período pós-guerra,

por volta da década de 1980, com o objetivo de melhorar a eficiência dos gastos dos

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46

sistemas de saúde (DRUMMOND et al., 1997 apud SECOLI, et al., 2005). De acordo

com Rascati (2010), as análises farmacoeconômicas descrevem e analisam os

custos da terapia farmacológica para o sistema de saúde e para a sociedade.

Graficamente podem ser demonstradas pela seguinte equação (Figura 5):

Custos Rx Desfechos

Figura 5: Equação farmacoeconômica básica

Fonte: RASCATI, 2010

À esquerda estão representados os custos utilizados para se obter o produto

ou serviço farmacêutico; no centro (Rx), o produto ou serviço que está sendo

avaliado e, à direita, estão representados os desfechos associados ao seu uso.

A análise somente do lado esquerdo da equação representa uma análise de

custos, e, se apenas o lado direito da equação for avaliado, trata-se de um estudo

clínico ou de desfecho, e não uma análise farmacoeconômica, pois para tal os dois

lados da equação precisam ser avaliados e comparados (RASCATI, 2010).

Desta forma, podem-se citar quatro tipos de análises econômicas (ou

farmacoeconômicas) completas: minimização de custos, custo-benefício, custo-

efetividade e custo-utilidade, que diferem entre si em relação à forma de

mensuração dos desfechos (CASTRO, 2002; RASCATI, 2010. Como análises

incompletas, destacam-se as de custo do tipo “custo da doença” e “comparação de

custos” (MORAES et al, 2006).

2.3.1.1 Análise de custo

Quando a comparação entre duas alternativas não é realizada, mas os custos

e as consequências são avaliados, estamos diante de uma descrição de custos e

resultados. Por outro lado, quando é feita a comparação entre as alternativas, mas

somente os custos são analisados, chamamos de análise de custo (CASTRO, 2002).

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É uma etapa comum a todas as formas de avaliações econômicas (DRUMMOND et

al., 2005).

Na farmacoeconomia, esse tipo de análise envolve apenas a identificação dos

custos diretos relacionados à aquisição de medicamentos ou terapia (AMBROSIONI,

2001), não sendo, portanto, considerada uma análise econômica completa

(LOURENÇO; SILVA, 2008). Permite uma análise preliminar do problema, além de

complementar as análises econômicas completas (INFARMED, 1998).

Quando a análise de custo é do tipo “custo da doença”, todos os recursos

utilizados na intervenção proposta para determinada doença são estimados e

quantificados, em termos monetários, em um dado período de tempo, tornando

possível o conhecimento do padrão de consumo destes recursos (MORAES et al.,

2006). São importantes não só para fornecer informações necessárias à tomada de

decisão em termos de priorização dos recursos, mas também para verificar o

impacto da implantação de ações e programas de saúde (BALBINOTTO NETO;

SILVA, 2008).

2.3.1.2 Análise de custo-minimização

Trata-se da forma mais simples de avaliação econômica em saúde (SECOLI,

2005; GUIMARÃES, 2007), em que somente os custos são comparados, pois se

pressupõe que os desfechos das alternativas comparáveis sejam iguais

(GUIMARÃES, 2007; VANNI et al., 2009; RASCATI, 2010). Por este motivo, a

aplicação desse tipo de análise também é limitada (RASCATI, 2010) e rara (VANNI

et al., 2009), em que pese sua importância na comparação entre doses e vias de

administração diferentes para medicamentos genéricos, pois, nesse caso, os efeitos

são semelhantes, podendo-se optar pelo de menor custo (GUIMARÃES, 2007).

Possibilita valorar e comparar os recursos utilizados em duas intervenções

propostas para determinada doença ou condição (MORAES et al., 2006).

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48

Para alguns autores esta também é uma análise parcial, conhecida como

análise de custos, e não uma análise farmacoeconômica completa (RASCATI,

2010).

2.3.1.3 Análise de custo-efetividade

Na análise de custo-efetividade (ACE) os custos são medidos em termos

monetários, e os desfechos em unidades naturais, como curas, vidas salvas,

redução da pressão sanguínea. Neste caso, o principal objetivo é avaliar o impacto

de diferentes alternativas, buscando-se identificar a opção que traz melhores

benefícios ao menor custo possível (SECOLI, 2010).

É o tipo de análise farmacoeconômica mais encontrada na literatura

farmacêutica (HAYCOX, 2009; VANNI et al., 2009; RASCATI, 2010), e a preferida

pelos profissionais de saúde, por ser considerada a mais ética (GUIMARÃES et al.,

2007) e por utilizar-se de medidas de desfechos que esses profissionais dominam

melhor, por fazerem parte de sua prática profissional (SECOLI et al., 2010).

Os resultados da análise de custo-efetividade são expressos por uma razão,

onde o numerador é o custo e o denominador é a efetividade, ou seja, indicam o

custo por unidade clínica de sucesso (SECOLI, 2010).

A principal limitação deste tipo de análise é que os desfechos das alternativas

comparadas são medidos pelas mesmas unidades clínicas, não sendo possível,

portanto, comparar produtos farmacêuticos utilizados para diferentes doenças

(RASCATI, 2010). Outra desvantagem, apontada por Guimarães e colaboradores

(2007), é seu “aspecto pontual”, que considera apenas o desfecho final sem avaliar

seu impacto sobre a qualidade de vida.

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2.3.1.4 Análise de custo-utilidade

A análise de custo-utilidade (ACU) é similar à ACE. Alguns autores a

consideram como um subconjunto especial da análise de custo-efetividade

(RASCATI, 2010; SECOLI et al., 2005). A diferença está na forma de se medirem os

desfechos, que, nesse caso, são mensurados em termos de qualidade de vida,

geralmente anos de vida ajustados pela qualidade (AVAQ, no inglês QALYs –

quality-adjusted life years).

AVAQ é uma unidade bidimensional do bem-estar, que ajusta os anos de vida

de acordo com a utilidade considerada para determinada condição de saúde

(BRASIL, 2009 b). As utilidades podem ser determinadas pelo uso de métodos como

a escala de avaliação (EA), standard gamble (SG) e permuta com o tempo (time

tradeoff). Baseiam-se em uma escala de 0 a 1, pela qual o usuário poderá se

classificar diante de uma ou múltiplas condições de saúde ou estados da doença. De

acordo com essa escala, 0 significa morte e 1 significa saúde perfeita. Após

definidas as utilidades, elas são multiplicadas pela sobrevida permitida por cada

opção de tratamento em comparação (RASCATI, 2010).

É considerada o tipo de análise mais complexo, pois envolve o ponto de vista

do usuário em relação à sua satisfação considerando-se a intervenção adotada, o

que pode ser medido, conforme descrito acima, por meio da utilidade (índice

combina mortalidade e qualidade de vida) (SECOLI et al., 2005).

O resultado da ACU é apresentado pela razão entre custo e anos de vida

ajustados pela qualidade (SECOLI et al., 2005).

Embora a medida da qualidade de vida seja uma vantagem dessa análise,

visto que favorece a comparação de diferentes tipos de desfechos de interesse, a

utilidade não é considerada uma medida precisa, como é o caso das unidades

naturais de saúde, como redução da PA ou dos níveis de colesterol, dentre outras

(RASCATI, 2010). No entanto, possui grande importância no caso das doenças

crônicas, cujo tratamento contínuo e prolongado interfere diretamente no cotidiano

dos usuários.

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2.3.1.5 Análise de custo-benefício

A análise de custo-benefício (ACB) foi muito utilizada no setor público para

avaliar a viabilidade de projetos sociais, comparando-os em termos monetários

(UGÁ, 1995). Neste tipo de análise, um valor monetário é atribuído aos benefícios de

saúde ganhos (AMBROSIONI, 2001), e, portanto, os custos e os desfechos são

medidos em unidades monetárias (GUIMARÃES et al., 2007; HAYCOX, 2009,

RASCATI, 2010).

Seu objetivo é avaliar se uma opção é ou não vantajosa em termos

econômicos, de forma a determinar qual programa ou intervenção possui maior

benefício em termos sociais. Permite também estimar a relação entre os custos

associados ao tratamento e o benefício financeiro gerado por ele (AREDA; BONIZIO;

FREITAS, 2011).

A vantagem da ACB é possibilitar a comparação entre os resultados das

análises de uma série de programas, em diferentes áreas da assistência à saúde ou

até mesmo em outras áreas (HAYCOX, 2009). No entanto, essa análise pode

ignorar importantes benefícios, cujos valores em termos monetários são de difícil

mensuração, como, por exemplo, sofrimento, morte e ansiedade (HAYCOX, 2009).

Os resultados são expressos na forma de benefícios líquidos, que são os

benefícios da intervenção menos o seu custo (BRASIL, 2008).

2.3.2 Representação de Comparação de Custo- Efetividade

A representação da comparação de alternativas terapêuticas pode ser

graficamente representada por um plano de custo-efetividade (VANNI et al., 2009;

RASCATI, 2010) ou por uma matriz de custo-efetividade (RASCATI, 2010).

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No plano de custo-efetividade, o ponto de cruzamento dos eixos x

(efetividade) e y (custo) equivale ao ponto de origem dos custos e da efetividade

para fator-padrão de comparação, conforme mostra a Figura 6:

Figura 6: Plano de custo-efetividade

Fonte: RASCATI, 2010

Se a alternativa for mais cara e mais efetiva que o fator padrão, esse ponto

cairá no quadrante I, e a razão de custo-efetividade incremental (RCEI) deverá ser

calculada para analisar o aumento dos custos em relação ao aumento dos

benefícios. Esta é uma situação de escolha conflitante (trade-off), e deverá ser

analisada. Se uma alternativa for mais barata e mais efetiva, o ponto cairá no

quadrante II, e a alternativa será considerada dominante em comparação com o fator

padrão. Se a alternativa for mais barata e menos efetiva, o ponto cairá no quadrante

III, e novamente se deverá avaliar se a economia de custos justifica uma perda de

efetividade (trade-off). Por último, se a alternativa for mais cara e menos efetiva, o

ponto cairá no quadrante IV, e essa alternativa será considerada dominada pelo

fator padrão (RASCATI, 2010).

A escolha da nova intervenção está ligada ao valor que a sociedade se dispõe

a pagar por um ganho adicional de saúde (threshold) (DRUMMOND et al., 2005).

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Alguns países definiram limiares de custo-efetividade ou custo-utilidade que se

baseiam no custo de um ano de vida extra, ou um ano de vida ajustado por

qualidade de vida, a ser alcançado por uma intervenção de saúde. Os valores

encontrados nas ACE e ACU seriam, então, comparados com esses limiares, de

modo que, acima destes, a alternativa seria economicamente atrativa (GUIMARÃES

et al., 2007). No Brasil, ainda não existe um valor limite recomendado.

Outra forma de apresentação dos resultados é através do cálculo da RCEI

(Figura 7), que equivale à razão entre a diferença dos custos e a diferença entre os

desfechos, conforme equação 1 (RASCATI, 2010). A RCEI expressa o custo por

uma unidade de efetividade utilizada, podendo ser utilizada em análises de custo-

efetividade e nas de custo-utilidade (VANNI et al., 2009).

Fonte: VANNI et al., 2009

2.3.3 Categorização dos custos

Entende-se por “custos” o valor de todos os insumos ou recursos utilizados na

produção e distribuição de bens ou serviços, que, após o uso, não mais estarão

disponíveis para ser utilizados em outros bens ou serviços (oportunidades)

(RASCATI, 2010). Nesse sentido, o custo “efetivo” de um recurso não é

propriamente o dinheiro aplicado, mas sim seu “custo de oportunidade”, e equivale

ao valor do benefício que poderia ter sido alcançado pela alternativa abdicada

(DRUMMOND et al., 2005). Lourenço e Silva (2008) complementam dizendo que

custos não se restringem à medida monetária dos bens consumidos, ou

simplesmente à análise das despesas, mas sim aos sacrifícios financeiros que

decorrem do consumo de um recurso por um determinado serviço ou procedimento.

Figura 7: Equação da razão de custo-efetividade incremental

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Resumindo, os custos poderiam ser estimados a partir do que poderia ser ganho no

seu melhor uso alternativo.

Os custos são usualmente classificados em quatro categorias: custos diretos

médicos, custos diretos não médicos, custos indiretos e custo intangíveis (Figura 8)

(LOURENÇO; SILVA, 2008; RASCATI, 2010).

Figura 8: Tipos de custos em uma avaliação econômica

Fonte: LOURENÇO; SILVA, 2008

Os custos diretos médicos estão relacionados aos recursos médicos

utilizados diretamente para o cuidado em saúde. São, portanto, custos relacionados

a medicamentos, exames diagnósticos, atendimentos clínicos, atendimentos por

farmacêuticos, serviços de enfermagem, serviço de emergência e hospitalizações

(RASCATI, 2010). São custos relativamente fáceis de ser mensurados.

Os custos diretos ainda podem ser subdivididos em fixos e variáveis. São

considerados fixos aqueles custos que ocorrem independentemente de o usuário ser

ou não tratado, como, por exemplo, custo de capital, eletricidade e limpeza, dentre

outros. E custos variáveis são aqueles que ocorrem somente quando o serviço é

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prestado, como, por exemplo, medicamentos, exames, materiais descartáveis, etc.

(LOURENÇO; SILVA, 2008).

Custos com usuários e familiares decorrentes do processo de adoecimento e

tratamento, mas que não envolvem serviços médicos, como alimentação, transporte

e residência temporária (SECOLI et al., 2005), e serviços de cuidados infantis para

filhos dos usuários, são considerados custos diretos não médicos (RASCATI, 2010).

Custos indiretos são oriundos da perda de capacidade produtiva do indivíduo

frente ao processo de adoecimento ou mortalidade precoce (SECOLI et al., 2005,

RASCATI, 2010).

Por último, os custos intangíveis são custos relacionados à dor, sofrimento,

ansiedade, fadiga, provocados pela doença ou pelo seu tratamento. São custos de

difícil mensuração (RASCATI, 2010). Apesar de importantes para o usuário, ainda

são vazios de significado econômico (SECOLI et al., 2005). No entanto, Drummond

e colaboradores (2005) não concordam com o termo custos intangíveis, pois

consideram que não são custos e nem tampouco intangíveis, uma vez que, em

alguns momentos, são possíveis de ser medidos por meio da utilidade ou da

“disposição a pagar”.

2.3.4 Desfechos ou consequências da intervenção

Os desfechos, ou consequências, de uma intervenção podem ser expressos

em unidades clínicas, monetárias ou humanísticas. No tratamento farmacológico,

podem ser utilizados como desfechos: mortalidade, razão de cura, adesão do

usuário e qualidade de vida, como, por exemplo, anos de vida ajustados pela

qualidade (AVAQ) (SECOLI et al., 2005). Como unidades clínicas podemos citar

redução da pressão sanguínea em mmHg, níveis de colesterol, dias livres de

sintomas (DLSs), dentre outros (RASCATI, 2010).

Para avaliações econômicas, os resultados em medidas finalísticas, como

expectativa de vida, vidas salvas, condição funcional e eventos clínicos evitados,

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dentre outros, são preferíveis às medidas intermediárias, como, por exemplo, o nível

de PA em mmHg, pois, por avaliarem de forma mais abrangente a efetividade da

intervenção, possuem maior consistência para as tomadas de decisão. No entanto,

resultados finalísticos podem levar anos para se tornar evidentes, necessitando de

um estudo com um longo horizonte temporal. Nesses casos, os resultados

intermediários são frequentemente usados, e sua relação com os resultados

finalísticos deve ser posteriormente estimada (BRASIL, 2009).

É importante ressaltar que os significados dos termos eficácia e efetividade

apresentam diferenças significativas, embora algumas vezes sejam utilizados como

sinônimos. Entende-se por eficácia a medida do efeito de uma tecnologia ou

estratégia em condições ideais, como acontece nos ensaios clínicos, enquanto que

a efetividade é a medida desse efeito em um ambiente real, como, por exemplo, na

prática clínica ou em estudos observacionais (BRASIL, 2008; RASCATI, 2010).

Desta forma, em análises econômicas, é mais interessante medir-se a

efetividade, a fim de que os resultados reflitam a realidade da prática clínica. Na

ausência de dados de efetividade obtidos por ensaios clínicos controlados e

randomizados, que retratem a realidade nacional, podem ser utilizados dados de

eficácia obtidos a partir de ensaios clínicos adequados, corrigidos por modelagem,

ou podem-se extrair dados de efetividade de estudos epidemiológicos

observacionais ou até de um painel de especialistas, que é a opção menos robusta

(PORTUGAL, 1998).

2.3.5 Análise de sensibilidade

Considerando-se que toda avaliação econômica de saúde apresenta

incertezas quanto à estimativa da efetividade das intervenções, quanto à progressão

da doença, aos recursos de saúde utilizados e também aos seus custos, a

realização da análise de sensibilidade é uma etapa fundamental (BRASIL, 2009) e

amplamente recomendada especialmente no contexto brasileiro, onde os

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pesquisadores se deparam com a escassez de bancos de dados que permitam

realizar pesquisas na área da avaliação econômica de saúde, o que os estimula a

assumir pressupostos que aumentam a incerteza dos modelos (BALBINOTTO

NETO; SILVA, 2008).

A análise de sensibilidade realizada com resultados das ACE e ACU é

utilizada para avaliar se mudanças nas variáveis relevantes são capazes de alterar

as conclusões do estudo (SECOLI et al., 2005). Através dessa análise, as razões de

custo-efetividade são recalculadas com base na modificação de uma ou mais

variáveis do estudo, como, por exemplo, o curso natural da doença e custos

relacionados ao tratamento (AREDA; BONÍZIO; FREITAS, 2011). Esse recurso

possibilita avaliar a robustez do estudo frente à alteração de diversos parâmetros do

modelo. É considerado sensível aquele modelo que é instável à mudança dos

valores de alguns parâmetros, alterando, inclusive, as conclusões do estudo

(BRASIL, 2009).

Os três principais tipos de análise de sensibilidade são: univariada,

multivariada e análise de Monte Carlo. Como os próprios nomes sugerem, na

primeira, somente um parâmetro é alterado por vez, e, na segunda, vários

parâmetros são alterados simultaneamente. Quanto à análise de Monte Carlo, todos

os parâmetros são variados ao mesmo tempo, tornando-se um bom indicador para

demonstrar a robustez global do modelo (VANNI et al., 2009).

2.3.6 Perspectiva

O termo econômico “perspectiva” é utilizado para descrever quais custos são

relevantes para um determinado estudo econômico (RASCATI, 2010) e quais

desfechos deveriam ser avaliados (SECOLI et al., 2010). Equivale ao ponto de vista

de quem tem interesse no estudo (SECOLI et al., 2010). Sendo assim, a perspectiva

do SUS pode ser adotada sob duas óticas. Uma, referindo-se ao SUS como órgão

comprador de serviços de saúde, e a outra como órgão público prestador de

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serviços de saúde. No primeiro caso, são considerados todos os custos diretos

cobertos pelo sistema público, sendo, portanto, computados os custos relacionados

ao repasse de recursos para a compra de serviços prestados por hospitais e outros

serviços de saúde. Com base nos valores de reembolso pagos pelo SUS são

mensurados os itens e procedimentos descritos nas tabelas de autorização de

internação hospitalar (AIH/SUS), no sistema de informação ambulatorial (SIA/SUS) e

nos procedimentos de alta complexidade (APAC). Por outro lado, quando a

perspectiva adotada é a do SUS como prestador de serviços de saúde, os custos

advêm dos insumos efetivamente utilizados na produção dos serviços ou

procedimentos (BRASIL, 2009).

A perspectiva da sociedade é mais abrangente, pois leva em consideração os

custos para as empresas de plano de saúde, custos para o usuário, custos de outros

setores e custos indiretos relacionados à perda de produtividade. Esta perspectiva

apresenta, assim, o ponto de vista da sociedade como um todo (BRASIL, 2009).

Representa o interesse coletivo, e não o interesse específico de um grupo, sendo a

mais adequada para uma análise econômica. Todavia, a maioria das análises não a

utilizam, devido à dificuldade em se medirem todos os custos mencionados

(RASCATI, 2010).

Nos casos em que o principal interesse é estabelecer os custos gerais entre

duas alternativas terapêuticas onde existam diferenças apenas entre os custos

diretos médicos, seria desnecessário avaliar os demais custos. Nesses casos, o uso

de outras perspectivas poderia ser mais conveniente, como, por exemplo, a

perspectiva do pagador, onde os custos diretos médicos e os desfechos associados

à recuperação do usuário são medidos (SECOLI et al., 2010).

Para que estudos de custo-efetividade sejam comparáveis, a mesma

perspectiva deverá ser adotada (BRASIL, 2009).

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2.3.7 Padronização de custos

A padronização dos custos é necessária sempre que eles sejam estimados

com base em informações fornecidas há mais de um ano antes do estudo

(RASCATI, 2010). Os dados coletados retrospectivamente deverão ser ajustados em

determinado ponto do tempo. Isso pode ser feito, por exemplo, pela multiplicação de

todos os custos do ano pela taxa de inflação média do mesmo ano, que geralmente

fica em torno de 4% a 5% (RASCATI, 2010). Por outro lado, se os custos são

estimados em anos futuros, a correção deverá ser feita pela taxa de desconto. Desta

forma é possível calcular o valor presente de economias futuras (RASCATI, 2010).

O valor da taxa de desconto a ser adotado na análise é bastante controverso

na literatura, assim como sua aplicação, tanto nos custos quanto nos desfechos e

benefícios (SANCHO, 2008). Recomenda-se a adoção de uma taxa de desconto de

5% para a atualização dos custos e resultados em saúde, que é o valor mais

comumente adotado por países que possuem orientações metodológicas para

estudos econômicos (SILVA, 1998). No Brasil, o Ministério da Saúde também adota

a taxa de 5% ao ano, além de sugerir que sejam realizadas análises de sensibilidade

para diferentes taxas de desconto (0% e 10%), a fim de avaliar se a seleção

arbitrária da taxa reflete nos resultados obtidos (BRASIL, 2009).

2.3.8 Fonte de dados

A estimativa dos custos dos medicamentos distribuídos pelo SUS pode ser

feita através do Banco de Preços da Câmara de Medicamentos/CMED, do Banco de

Preços em Saúde do Ministério da Saúde, do Banco de Preços dos Núcleos

Estaduais do Ministério da Saúde e de outros sistemas de informações relativos a

compras das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Na ausência dessas

informações, pode-se utilizar o BRASÍNDICE como alternativa para se consultar o

preço de medicamentos de venda liberada ao comércio (BRASIL, 2009).

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3 JUSTIFICATIVA

Como exposto, a hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente em

todo o mundo, e está associada a altas taxas de mortalidade por doenças

cardiovasculares, o que demanda um alto custo econômico e social, representando

um grave problema de saúde pública.

Em países em desenvolvimento, incluindo-se o Brasil, avaliações das

tecnologias e, especialmente, avaliações econômicas em saúde ainda são muito

escassas (VIANNA, CAETANO; CAETANO, 2005; SANCHO; VARGENS, 2009).

Igualmente, avaliações econômicas completas de programas de tratamento da

hipertensão são escassas e apresentam limitações metodológicas, como curto

tempo de análise, falta de desfechos “duros”, uso exclusivo de banco de dados

secundários e análise de sensibilidade deficiente (PERMAN et al., 2011).

Estimar os custos médicos diretos do tratamento do hipertenso na Atenção

Secundária e conhecer em qual componente desses custos se gastam mais

recursos contribui para a definição de prioridades, reestruturação da atenção e uma

alocação de recursos mais racional, que permita a continuidade da assistência ao

usuário hipertenso. Isso é especialmente pertinente para Minas Gerais, que adotou

como uma das estratégias de reorientação da atenção ao hipertenso e diabético a

instituição dos Centros Hiperdia, hoje referência nacional, mas que, por ser ainda

recente, não possui estudos sobre o custo e efetividade.

Foi nesse contexto que o presente estudo calculou os custos diretos médicos

e avaliou a efetividade do programa para o tratamento da hipertensão prestado a

usuários de alto e muito alto risco cardiovascular, atendidos pela Atenção

Secundária do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, Minas Gerais.

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4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Estimar os custos médicos diretos e a efetividade do tratamento do usuário

hipertenso de alto e muito alto risco cardiovascular atendido pelo Centro Hiperdia de

Juiz de Fora, Minas Gerais.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Descrever os medicamentos mais frequentemente escolhidos como primeira

terapêutica e as associações medicamentosas mais prevalentes.

- Avaliar a distribuição dos custos e identificar qual o principal componente

dos custos diretos médicos.

- Avaliar a efetividade do tratamento através da redução da pressão arterial

após um ano de acompanhamento no Centro Hiperdia.

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5 MATERIAL E MÉTODOS

5.1 DESENHO DO ESTUDO

Foi realizado um estudo observacional retrospectivo de análise dos custos e

efetividade do tratamento da hipertensão arterial.

A perspectiva adotada foi a do Sistema Único de Saúde como órgão

comprador de serviços.

5.2 FONTE DE DADOS

Foi utilizado o banco de dados do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, localizado

na Fundação Instituto Mineiro de Estudos e Pesquisas em Nefrologia (IMEPEN), em

Juiz de Fora Minas Gerais.

O banco de dados em questão era composto por todos os usuários atendidos

no Centro: hipertensos, diabéticos e portadores de doença renal, totalizando 3.686

usuários. Porém, neste estudo, foram considerados apenas os usuários hipertensos

que fizeram acompanhamento no Centro por pelo menos um ano, ou seja, 130

usuários, dos quais 19 foram excluídos por falta de registros fundamentais para este

estudo, como: número de consultas, medicamentos, posologia e exames realizados.

Assim, foram considerados todos os usuários hipertensos que estavam no Centro

por um ano ou mais, totalizando 111 usuários.

Na Figura 9 estão descritas as variáveis consideradas neste estudo:

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Variáveis utilizadas

Nome Valores da PA na primeira consulta

Prontuário Valores da PA após 1 ano de acompanhamento

Sexo Número de consultas médicas

Cor Número de consultas de enfermagem

Idade Número de consultas com psicólogos

Cidade de Origem Número de consultas com nutricionistas

IMC Número de atendimentos com farmacêutico

Comorbidades Número de atendimentos com assistente social

Data de admissão Medicamentos prescritos

Data da última consulta Quantidade de comprimidos utilizados

Data de cada consulta Exames realizados

Tempo de acompanhamento

Escolaridade Quantidade de exames realizados

Figura 9: Quadro das variáveis utilizadas no estudo

Para valorar as consultas médicas e não médicas e os exames realizados, foi

utilizada a tabela do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos

Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP).

O SIGTAP é uma ferramenta de gestão para a consulta de todos os

procedimentos que podem ser realizados no âmbito ambulatorial e hospitalar e que

compõem a Tabela de Procedimentos do Sistema Único de Saúde, permitindo o

acompanhamento sistemático de cada procedimento (BRASIL, [20—c]).

Já para os medicamentos, os preços unitários foram consultados no Banco de

Preços de materiais adquiridos pelos diversos órgãos da Administração Pública

Estadual (MINAS GERAIS, [20--]), disponível no Portal de Compras de Minas

Gerais, através do qual é possível encontrar informações sobre todos os itens

adquiridos pelo estado, e no Banco de Preços em Saúde (BPS).

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O BPS é um sistema informatizado, disponível na Internet, que fornece

informações sobre os preços de medicamentos e produtos para a saúde que são

adquiridos por instituições públicas e privadas cadastradas no sistema.

5.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO

O presente estudo foi realizado com usuários hipertensos de alto e muito alto

risco cardiovascular, acima de 18 anos de idade, atendidos no Centro Hiperdia de

Juiz de Fora no período de junho de 2010 até dezembro de 2011.

Foram considerados apenas os custos médicos diretos ambulatoriais, e, por

isso, as hospitalizações ocorridas e seus custos não foram descritos neste estudo.

Não foi utilizado nesta pesquisa nenhum tipo de score de comorbidade. E não

foi possível relatar os eventos cardiovasculares e óbitos ocorridos, por falta de

registros no banco de dados utilizado.

5.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram incluídos no estudo todos os usuários acima de 18 anos de idade,

portadores de hipertensão, com alto ou muito alto risco cardiovascular, que estavam

sob acompanhamento no Centro por pelo menos 1 ano.

5.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Usuários menores de 18 anos, gestantes e aqueles com tempo de

acompanhamento inferior a um ano foram excluídos do estudo, assim como aqueles

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indivíduos que não possuíam registros completos dos itens pesquisados, como

medicamentos e sua posologia, exames e consultas realizadas.

5.6 ANÁLISE DOS CUSTOS

O presente estudo considerou apenas os custos médicos diretos, de acordo

com o conceito utilizado por Rascati (2010), que os considera como valores de bens

e serviços, e de outros recursos consumidos para a provisão de uma intervenção em

saúde. A perspectiva adotada foi a do SUS como comprador de serviços.

O cálculo dos custos de cada indivíduo foram mensurados com base nos

registros de consultas médicas e não médicas, exames laboratoriais, exames

complementares e medicamentos anti-hipertensivos utilizados pelos usuários ao

longo de um ano de acompanhamento no Centro Hiperdia de Juiz de Fora.

5.6.1 Medicamentos

Para mensurar os custos dos medicamentos foram considerados apenas

aqueles classificados como anti-hipertensivos. Para cada usuário foram calculadas

as quantidades diária e anual de cada medicamento, de acordo com a posologia

prescrita pelos médicos do Centro Hiperdia.

No Portal de Compras de Minas Gerais não foi encontrado o preço do

comprimido de cloridrato de diltiazem 120mg, que foi calculado através da

multiplicação do preço do comprimido de cloridrato de diltiazem de 60mg por 2.

Também não estava disponível o preço do nifedipino 20mg retard e do nitrendipino

10mg. Neste caso, consideramos o valor unitário disponível no Banco de Preços em

Saúde (BPS), do Ministério da Saúde.

O medicamento associado hidroclorotiazida 25mg + cloridrato de amilorida

2,5mg foi excluído do estudo por não ter sido encontrado no Portal de Compras e

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nem no BPS. Vale ressaltar que apenas um usuário utilizou esse medicamento

durante um período do tratamento e que, por não ter custo alto, a exclusão desse

medicamento não prejudicou significativamente a mensuração dos custos dos

medicamentos.

O custo unitário de cada comprimido foi multiplicado pelo total de

comprimidos utilizados pelo usuário em 1 ano, calculando-se assim o custo anual

por usuário.

5.6.2 Consultas médicas e não médicas

Para consulta médica no SIGTAP utilizou-se o código 03.01.01.007-2, que

equivale à consulta médica na atenção especializada, cujo valor pago pelo SUS é de

R$10,00. Para as consultas não médicas, utilizou-se o código 03.01.01.004-8,

referente à consulta com profissionais de nível superior na atenção especializada,

exceto médico, pela qual o SUS paga R$6,30.

Foram consideradas consultas não médicas as consultas com psicólogos,

nutricionistas, farmacêuticos e assistentes sociais, e como consultas médicas

aquelas realizadas com cardiologistas, endocrinologistas e nefrologistas. Além

desses profissionais, o Centro Hiperdia conta com dentistas e educadores físicos

para o tratamento multi e interdisciplinar da hipertensão. Todavia, não foi possível

valorar os custos com os atendimentos realizados por esses profissionais, por falta

de registros.

Não foi possível estimar os custos relativos às atividades educativas

realizadas no Centro Hiperdia, pois não há registros das mesmas no banco de dados

utilizado. Além disso, são realizadas por profissionais diferenciados, de acordo com

uma escala feita pela coordenadora da equipe não médica, e o número de usuários

que participam dessas atividades é bastante variável, prejudicado a mensuração dos

gastos com as mesmas.

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5.6.3 Exames

Neste estudo foram considerados os exames laboratoriais recomendados

pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, pela Coordenação Estadual de

Hipertensão e Diabetes da Secretaria Estadual de Minas Gerais e aqueles

realizados no Centro Hiperdia para avaliar e acompanhar o usuário hipertenso.

Foram contabilizados e valorados os seguintes exames laboratoriais:

dosagem de potássio e creatinina plasmáticos, glicemia de jejum, colesterol total e

frações, triglicérides, dosagem de ácido úrico, urina de rotina, clearence de

creatinina, microalbuminúria e hemoglobina glicada (VI DBH,2010). A Coordenação

Estadual de Hipertensão e Diabetes de Minas Gerais recomenda, além desses

exames, a dosagem da hemoglobina ou hematócrito, mas como, na prática clínica,

os médicos solicitam o hemograma completo para avaliar esses parâmetros,

contabilizamos este exame ao invés daqueles.

Os exames complementares mensurados também foram os preconizados

pelas VI DBH (2010): eletrocardiograma, ecocardiograma, radiografia de tórax, teste

de esforço, ultrassom de carótida e MAPA (monitorização ambulatorial da pressão

arterial), além dos oferecidos no Centro Hiperdia para avaliação do usuário

hipertenso, como Holter e ultrassonografia com Dopller. Além desses exames, a

Coordenação Estadual de Hipertensão e Diabetes recomenda a realização de

retinografia para avaliar possíveis lesões na retina dos usuários, que, todavia, ainda

não é realizada pelo Centro Hiperdia de Juiz de Fora, sendo a triagem dessas lesões

feita apenas pelo exame de fundoscopia. Sendo assim, contabilizamos a

fundoscopia, e não a retinografia, embora seja esta última o exame indicado.

Foram contabilizados todos os exames realizados pelo usuário em um ano de

acompanhamento no Centro Hiperdia, obtendo-se, assim, o custo médio anual total

com exames. Também foi calculado o custo médio anual por usuário, dividindo-se o

custo total anual pelo número total de usuários.

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5.7 MEDIDA DA EFETIVIDADE

A efetividade foi definida como sendo o percentual de usuários que atingiram

a meta do tratamento preconizada pelas VI DBH, isto é, aqueles que atingiram uma

pressão arterial menor ou igual a 130/80 mmHg ao final de um ano. Para tanto, foi

considerada a pressão arterial no momento da admissão ao Centro Hiperdia, que,

posteriormente, foi comparada com a pressão atual, para avaliar a redução da PA

obtida com o tratamento proposto.

A medida da PA foi feita de acordo com as VI DBH, ou seja: na primeira

avaliação as medidas foram realizadas em ambos os braços e, caso houvesse

diferença entre as medidas, o braço que apresentou o maior valor foi utilizado como

referência nas demais medidas. Nas demais consultas foram realizadas pelo menos

três medidas, com intervalo de um minuto entre elas. A PA real foi obtida por meio

da média das duas últimas medidas. A aferição da PA foi feita com o usuário na

posição sentada, pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na

cadeira e relaxado, braço apoiado e na altura do coração, sem roupa, com a palma

da mão voltada para cima e cotovelo levemente fletido (VI DBH, 2010).

5.8 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Para as variáveis cujos registros estavam completos (sexo, idade, presença de

comorbidade, cor da pele, escolaridade), foi realizada análise descritiva, incluindo-se

distribuições de frequência, média e medida de variabilidade. A associação entre a

taxa de controle pressórico e essas variáveis foi analisada pelo teste do Qui-

quadrado de Pearson.

As diferenças entre as médias de custo por características dos usuários foram

avaliadas pelo Teste t de Student. Para as variáveis não dicotômicas utilizou-se

análise de variância simples (Anova).

O nível de significância adotado foi de 5%. As análises estatísticas foram

realizadas com auxílio do software SPSS, versão 14.

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5.9 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Este projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Juiz de Fora, tendo sido aprovado com parecer nº 151.239

(Anexo A).

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6 RESULTADOS

6.1 PERFIL DA POPULAÇÃO

No presente estudo foram avaliados 111 usuários hipertensos adultos (≥18

anos) de alto e muito alto risco cardiovascular, atendidos no Centro Hiperdia de Juiz

de Fora.

A maioria dos usuários é residente no município de Juiz de Fora (n=97; 87%).

Os demais são oriundos de outras cidades, como: Andrelândia (n=1; 0,9%), Lima

Duarte (n=1; 0,9%), Mar de Espanha (n=3; 2,7%), Matias Barbosa (n=2; 1,8%), Rio

Novo (n=1; 0,9%), Santos Dumont (n=4; 3,6%) e São João Nepomuceno (n=2;

1,8%). Destes, 30 (27,1%) são brancos, 34 (30,6%) negros e 47 (42,3%) pardos. E

60% do sexo feminino (n=67) e 40% do sexo masculino (n=44).

A idade média dos usuários foi de 59 anos (DP=11,7; 27-84 anos), sendo a

faixa etária de 50 a 59 anos a mais prevalente (32,4%) em ambos os sexos,

conforme observado no gráfico abaixo (Figura 10). Observa-se também o

predomínio do sexo feminino em todas as faixas etárias. Na faixa etária de 60-69

anos, a diferença entre homens e mulheres foi mais acentuada, com maior

prevalência de hipertensão entre as mulheres.

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Figura 10: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por faixa etária e sexo

A média de IMC nos usuários foi 30,7 Kg/m2 (DP= 6,4; 18,6-51,9), sendo que

grande parcela (31,2%) apresenta sobrepeso e 51,4% são obesos (Tabela 1).

Tabela 1 - Classificação e distribuição dos usuários de acordo com IMC, segundo a OMS (2000)

Segundo a distribuição por escolaridade (Figura 11), e considerando-se três

estratos, observou-se que os usuários sem instrução até ensino fundamental

incompleto (0 a < 8 anos de estudo) foram a maioria (65%), seguidos daqueles com

ensino médio completo ou superior (≥ 11 anos de estudo) (21%) e, por último, os

usuários com ensino fundamental completo até nível médio incompleto (8 a < 11

IMC Classificação Nº usuários % de usuários

< 18.5 Abaixo do Peso 0 0,0

18.5 – 24.9 Peso normal 19 17,4

25.0 – 29.9 Sobrepeso 34 31,2

30.0 – 34.9 Obesidade grau I 29 26,6

35.0 – 39.9 Obesidade grau II 17 15,6

≥ 40.0 Obesidade grau III 10 9,2

Total

109 100,0

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anos de estudo) (12%).

Figura 11: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por escolaridade

Foram encontrados 97 registros sobre comorbidades. Destes, 15,5% são de

usuários hipertensos e diabéticos, 18,5% de hipertensos e doentes renais e 66% de

usuários apenas hipertensos.

A média de PA sistólica foi de 154 (DP= 30,02) e a de PA diastólica foi de 93

(DP=15,96).

6.2 PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO

Os medicamentos anti-hipertensivos mais prescritos foram losartana (18,9%),

captopril (17,51%), besilato de anlodipino (10,4%) como pode ser visto na Figura 12.

Destes, somente o nifedipino não consta na lista de anti-hipertensivos da Relação

Nacional de Medicamentos Essenciais (BRASIL, 2010). E losartana e captopril são

distribuídos gratuitamente para população por meio do programa do Ministério da

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Saúde, denominado “Saúde não tem preço”.

Figura 12: Gráfico da quantidade de anti-hipertensivos prescritos

Em média, os usuários utilizam 4,5 medicamentos anti-hipertensivos para o

tratamento da HAS (DP=1,74).

Em relação ao esquema terapêutico adotado, foi observado que cerca de

86% dos usuários utilizam três ou mais medicamentos para o controle da pressão

arterial, como apresentado na Figura 13.

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Figura 13: Gráfico do número de medicamentos por usuário

Figura 14: Gráfico das classes de anti-hipertensivos prescritas por quantidade

de comprimidos

As classes de anti-hipertensivos prescritas foram: diuréticos, inibidores

adrenérgicos (IA) de ação central e betabloqueadores, bloqueadores dos canais de

cálcio, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores dos

receptores de AT1 da angiotensina. Na Figura 14, observa-se que as classes mais

utilizadas foram bloqueadores dos canais de cálcio (24,1%) e inibidores da enzima

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conversora de angiotensina (IECA-23,7%).

O gráfico da Figura 15 demonstra o número de classes de anti-hipertensivos

que são utilizados pelos usuários. De acordo com este gráfico, a maioria dos

usuários (39,64%) utilizam três classes de anti-hipertensivos para controlar a

pressão arterial.

Figura 15: Gráfico do número de classes de anti-hipertensivos por usuário

Foram encontradas as mais variadas associações entre essas classes.

Quando associadas duas classes de anti-hipertensivos, a combinação mais utilizada

foi a de bloqueadores dos canais de cálcio e diuréticos (7 usuários - 6,3%); na

associação de três classes, bloqueadores dos canais de cálcio, IECA e diuréticos foi

a combinação mais prevalente (10 usuários - 9,0%); na associação de quatro

classes de anti-hipertensivos predominaram os betabloqueadores, bloqueadores dos

canais de cálcio, IECA e diuréticos (13 usuários - 11,7%) e, por último, quando cinco

classes de medicamentos foram associados, prevaleceu a combinação de

betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores adrenérgicos de

ação central, IECA e diuréticos (9 usuários - 8,1%).

Diante do exposto, observamos que a associação de bloqueadores dos

canais de cálcio, diuréticos e IECA foi a mais prescrita.

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6.3 CUSTOS

6.3.1 Custos dos Medicamentos

O custo total anual com medicamentos para os 111 usuários foi de R$

59.885,26, e o custo médio anual por usuário foi de R$ 539,51.

Na Tabela 2 estão descritos todos os medicamentos e suas respectivas

dosagens, quantidades de comprimidos utilizados em um ano, valor unitário e custo

por medicamento.

Tabela 2: Medicamentos Anti-hipertensivos por classe utilizados pelos usuários do Centro Hiperdia no período de 2010 a 2011

(continua) Anti-hipertensivos por

classe Valor

unitário Quantidade

utilizada Custo por

medicamento

beta bloqueadores

Atenolol 25mg 0,0191 9375 179,06

Atenolol 50mg 0,0147 15762,5 231,71

Carvedilol 3,125 0,08 992 79,36

Carvedilol 6,25 0,095 2480 235,60

Carvedilol 12,5 0,1002 5006 501,60

Carvedilol 25 mg 0,169 1382 233,56 Succinato de metoprolol 100mg 0,9348 365 341,20

Succinato de metoprolol 50mg 0,8541 1367 1167,55 Cloridrato de propranolol 40mg 0,0103 22959 236,48

Subtotal: 59.688,5 3.206,12 Inibidores adrenérgicos de ação central Cloridrato de clonidina 0,100mg 0,1169 12102 1414,72 Cloridrato de clonidina 0,150mg 0,148 2197 325,16

Metildopa 250mg 0,0577 1423 82,11

Metildopa 500mg 0,1179 12613 1487,07

Subtotal: 28.335 3.309,06 bloqueadores dos canais de cálcio

Besilato de anlodipino 5mg 0,0181 31341 567,27

Besilato de anlodipino 10mg 0,0841 3576 300,74

Nifedipino R 20mg 0,01 31728 317,28

Cloridrato de diltiazem 120mg 0,4992 2197 1096,74

Cloridrato de diltiazem 60mg 0,2496 9072 2264,37

Cloridrato de verapamil 80mg 1,2375 4510 5581,13

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(Conclusão)

Anti-hipertensivos por classe

Valor unitário

Quantidade utilizada

Custo por medicamento

Nitrendipino 10mg 0,129 1344 173,38

Subtotal: 83.768 10.300,91

Inibidores da ECA

Captopril 25mg 0,01 58468 584,68

Captopril 50mg 0,02 2445 48,90

Maleato de enalapril 10mg 0,0258 10084 260,17

Maleato de enalapril 5mg 1,6736 630 1054,37

Maleato de enalapril 20mg 0,4176 10779,5 4501,52

Subtotal: 82.406,5 6.449,63

Diuréticos tiazídicos

Clortalidona 25mg 0,23 694 159,62

Hidroclorotiazida 25 mg 0,0149 20869,5 310,96

Subtotal: 21.563,5 470,58

Diuréticos de alça

Furosemida 40mg 0,0138 18302 252,57

Subtotal: 18.302 252,57 Bloqueador do receptor de AT1

Losartana potassica 50mg 0,5703 62.943 35.896,39

Subtotal: 62.943 35.896,39

Total: 59.885,26

Em relação aos custos, o medicamento losartana potássica foi o que mais

contribuiu para o custo anual total (R$ 35.896,39), representando cerca de 59,94%

do custo total anual dos medicamentos.

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Figura 16: Gráfico da quantidade de comprimidos e custo por medicamento em um ano.

6.3.2 Exames

O custo total anual dos exames complementares e laboratoriais foi de R$

21.596,16. E o custo médio anual por usuário foi de R$ 194,56. As Tabelas 3 e 4

apresentam os exames realizados e o custo médio anual por usuário de cada

exame.

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Tabela 3: Média e custo médio dos exames complementares realizados pelos

usuários do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011

Exames Complementares

Exames

procedimento

SUS

Média

Exames/usuário/ano

Custo do

exame (R$)

Média custo do

exame

/usuário/ano (R$)

MAPA 02.11.02.005-2 1,14 10,07 11,48

Ecocardiografia transtorácica 02.05.01.003-2 0,52 39,94 20,77

Eletrocardiograma 02.11.02.003-6 0,16 5,15 0,82

Fundoscopia 02.11.06-010-0 0,46 3,37 1,55

Holter 02.11.02.004-4 0,28 30,00 8,40

Radiografia de Tórax (PA e Perfil) 02.04.03.015-3 0,02 9,30 0,19

Radiografia de Tórax (PA) 02.04.03.017-0 0,02 6,88 0,14

Teste de esforço 02.11.02.006-0 0,89 30,00 26,70

Ultrasonografia Doppler 02.05.01.004-0 0,05 39,60 1,98

Ultrasonografia Doppler Carótidas 02.04.03.017-0 0,05 39,60 1,98

Total estimado: 74,01

Tabela 4: Média e custo médio dos exames laboratoriais realizados pelos

usuários do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011

Exames Laboratoriais

Exames

procedimento

SUS

Média exame

usuário /ano

Custo do exame

(R$)

Média custo do

exame/usuário/ano

(R$)

Clearence de creatinina 02.02.05.002-5 0,22 3,51 0,76

Dosagem de ácido úrico 02.02.01.012-0 3,46 1,85 6,40

Dosagem de Colesterol HDL 02.02.01.027-9 4,13 3,51 14,48

Dosagem de Colesterol LDL 02.02.01.028-7 0,63 3,51 2,21

Dosagem de Colesterol Total 02.02.01.029-5 4,19 1,85 7,75

Dosagem de creatinina 02.02.01.031-7 4,77 1,85 8,82

Dosagem de glicose 02.02.01.047-3 7,35 1,85 13,60

Dosagem de hemoglobina glicosilada 02.02.01.050-3 2,77 7,86 21,74

Dosagem de microalbumina na urina 02.02.05.009-2 0,54 8,12 4,39

Dosagem de potássio 02.02.01.060-0 3,71 1,85 6,87

Dosagem de triglicerídeos 02.02.01.067-8 4,14 3,51 14,55

Hemograma Completo 02.02.02.038-0 3,14 3,7 11,63

Urianálise 02.02.05.001-7 1,31 4,11 5,37

Urina de 24 horas 02.02.05.011-4 0,97 2,04 1,98

Total estimado: 120,55

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79

6.3.3 Consultas

6.3.3.1 Consultas médicas

No centro Hiperdia o usuário hipertenso é atendido pelo cardiologista e

encaminhado para outras especialidades conforme suas necessidades. As

especialidades médicas encontradas foram clínica, cardiologia, nefrologia e

endocrinologia.

Foi observado um número médio de 4,49 consultas médicas/usuário/ano,

sendo o valor da consulta R$10,00. O custo médio por usuário/ano foi, portanto, de

R$ 44,90 (Tabela 5).

Tabela 5: Média e custo médio da consulta médica realizada por usuário/ano

(2010-2011)

Consulta médica

Especialidade

procedimento

SUS

Média

consulta/ano

Custo da

consulta (R$)

Média custo da

consulta/usuário/ano (R$)

Médico 03.01.01.007-2 4,49 10 44,90

6.3.3.2 Consultas não-médicas

O custo médio anual total por usuário com consultas com profissionais de

nível superior, exceto médico, foi de R$ 45,86. Em média, em um ano os usuários

realizaram 4,46 consultas de enfermagem, 0,85 consultas com psicólogos, 1,11

consultas com nutricionista, 0,29 atendimentos com farmacêutico e 0,57

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80

atendimentos com assistente social, como descrito na Tabela 6.

Não foi possível contabilizar os atendimentos com dentistas e educadores

físicos por falta de registros no banco de dados.

Tabela 6: Média e custo médio da consulta não médica realizada por

usuário/ano

Consultas não médicas

Especialidade

nº procedimento

SUS

Média

consulta/ano

Custo da

consulta (R$)

Média custo da

consulta/usuário/ano

(R$)

Enfermagem 03.01.01.004-8 4,46 6,3 28,10

Farmácia 03.01.01.004-8 0,29 6,3 1,83

Nutrição 03.01.01.004-8 1,11 6,3 6,99

Psicologia 03.01.01.004-8 0,85 6,3 5,35

Serviço Social 03.01.01.004-8 0,57 6,3 3,59

Total estimado: 45,86

O custo total anual das consultas médicas e não médicas foi de R$ 10.064,10 ,

e o custo médio por usuário por ano com consultas foi de R$ 90,67.

6.3.4 Custo Total por Usuário

De acordo com os resultados apresentados na Tabela 7, o custo médio total

anual para tratar um usuário hipertenso de alto e muito alto risco cardiovascular no

Centro Hiperdia foi de R$ 824,21, e o custo médico direto total anual para tratar os

111 usuários foi de R$ 91.487,53.

Deste total, os medicamentos representaram a maior parcela dos custos

(64,98 %), seguindo-se os exames (24,02%) e, por último, as consultas (11,00%).

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81

Tabela 7: Custo direto anual total e custo direto anual médio do tratamento da

hipertensão dos usuários atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de

2010 à 2011.

Item

Custo médio

anual Custo Total % dos

gastos

Consultas 90,67

10.064,10

11,00

Medicamentos 539,51

59.885,26

64,98

Exames 194,56

21.596,16

24,02

Total: 824,74 91.487,53

6.3.5 Custo com base no perfil dos usuários

A seguir apresentamos os custos segundo o perfil do paciente, com base nas

seguintes variáveis: sexo, cor, presença de comorbidades, idade e IMC.

Na Tabela 8 estão disponíveis os custos por sexo e o valor de p obtido pelo

Teste t. Observa-se que não houve diferença de custo médio entre os sexos.

Tabela 8: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com o sexo dos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011.

Sexo N Custo médio

Desvio padrão Valor de p

Custo medicamento M 44 489,3368 582,7852

0,424

F 67 565,9298 421,8502

Custo consulta M 44 86,8182 35,172

0,401

F 67 93,1955 41,29464

Custo exames M 44 205,7389 104,7472

0,523

F 67 192,8778 102,6955

Custo total M 44 781,8938 623,4537

0,500

F 67 852,0031 466,6457

Na Tabela 9 os custos são dispostos de acordo com a presença de

comorbidades. Nessa tabela observamos que o custo dos exames foi ligeiramente

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82

mais elevado no grupo de usuários com comorbidades, embora essa diferença não

tenha apresentado significado estatístico.

Tabela 9: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a presença de comorbidades nos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011.

Presença de comorbidades N

Custo médio

Desvio padrão

Valor de p

Custo medicamento

Não 72 574,2443 513,3412 0,261

Sim 39 464,1673 443,9381

Custo consulta

Não 72 94,3542 36,70471

0,177 Sim

39 83,8615 42,4207

Custo exames

Não 72 184,6128 100,0247

0,064 Sim

39 222,6462 105,7931

Custo total

Não 72 853,2113 556,8598

0,438 Sim

39 770,675 487,4079

Tabela 10: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a cor da pele dos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011.

Cor da pele N Custo médio

Desvio padrão

Valor de p

Custo medicamento

Br 30 492,7089 419,03

0,647 Par 47 586,481 610,315

Neg 34 503,0071 351,0246

Custo consulta

Br 30 81,4067 37,04351

0,289 Par 47 95,6234 42,17832

Neg 34 91,9882 35,42169

Custo exames

Br 30 232,362 120,569

0,048 Par 47 196,9996 102,3971

Neg 34 168,9847 78,67594

Custo total

Br 30 806,4776 481,1773

0,621 Par 47 879,1039 664,095

Neg 34 763,9801 345,5614

Cor: Br= branca ; Neg= negra ; Par= parda

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83

Com relação aos custos por cor do paciente (Tabela 10), não houve diferença

de custo do tratamento entre os brancos, negros e pardos, exceto quanto ao custo

dos exames, que foi ligeiramente mais elevado entre os brancos (p=0,048).

Em relação ao custo por controle pressórico, observou-se, por meio de análise

de variância (Tabela 11), diferença significativa no custo da consulta, ligeiramente

mais elevado no grupo dos usuários que iniciaram e permaneceram com a pressão

arterial descontrolada durante o acompanhamento (p =0,048). Quanto ao custo dos

exames, foi maior entre os usuários que iniciaram o acompanhamento como

normotensos e permaneceram nessa situação (p=0,042). O custo total também foi

mais elevado entre os usuários do grupo H-H (p=0,038).

6.4 EFETIVIDADE

Para avaliar a efetividade do tratamento, classificamos os usuários em quatro

grupos de controle de pressão arterial. Primeiro grupo, denominado Normotensos-

Normotensos (N-N): usuários que iniciaram o acompanhamento com PA controlada

e que ao final de um ano de acompanhamento permaneceram controlados. Segundo

grupo, denominado Hipertensos-Hipertensos (H-H): usuários que iniciaram o

acompanhamento no Centro Hiperdia com a pressão descontrolada e que

permaneceram descontrolados. Terceiro grupo, denominado Hipertensos-

Normotensos (H-N): hipertensos que alcançaram o controle. Quarto grupo,

denominado Normotensos-Hipertensos (N-H): normotensos que se tornaram

hipertensos após um ano de acompanhamento. A distribuição dos usuários nesses

grupos foi descrita no quadro a seguir:

Grupos*

N-N H-H H-N N-H

28 46 30 7

Figura 17: Quadro com a distribuição dos usuários em grupos de controle da pressão arterial (*N = normotensos; H = hipertensos)

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De acordo com a Figura 17, no início do acompanhamento a pressão arterial

estava acima de 140/90 mmHg (hipertensos) em 76 usuários (68,5%). Destes, 23

(30,3%) atingiram pressão arterial ≤ 130x80 mmHg após um ano de

acompanhamento, isto é, alcançaram a meta preconizada pelas VI DBH para

usuários de alto e muito alto risco cardiovascular. Mas, se considerarmos “controle”

uma pressão arterial < 140x90 mmHg, a taxa de usuários que alcançaram o controle

da PA aumenta para 39,4% (n=30) na população em estudo. Vale destacar que,

além dos 30 usuários que se tornaram normotensos, outros 28 que iniciaram o

acompanhamento como normotensos permaneceram nessa condição. Sendo assim,

observamos que, ao final de um ano, 58 usuários (52,2%) apresentaram a pressão

arterial sob controle (PA<140/90mmHg).

6.4.1 Efetividade com base no perfil dos usuários

Após estratificação, avaliamos a influência das variáveis qualitativas (sexo,

cor da pele, escolaridade e presença de comorbidades) no controle da hipertensão,

por meio do teste do Qui-quadrado. Os resultados demonstraram não haver

associação com relação ao sexo, cor da pele e escolaridade. Observamos maior

taxa de controle entre os que não apresentavam comorbidades, porém sem

significância estatística (p=0,443).

A relação entre o controle da pressão arterial e as variáveis quantitativas (IMC,

idade e custos) foi avaliada através de análise de variância, que mostrou não haver

diferença na média de idade entre os grupos estudados (p=0,68). Todavia, quanto

ao IMC, os resultados mostraram um índice maior entre os usuários com PA

descontrolada, com significância estatística (p=0,003).

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85

Tabela 11: Associação entre as variáveis quantitativas (Idade , IMC, custos) e controle da pressão arterial de acordo com a análise de variância

Variáveis Grupos* N Média Desvio

padrão

Idade

N-N 28 59,25 13,983

H-H 46 57,59 10,186

H-N 30 60,83 12,321

N-H 7 57,71 8,655

IMC

N-N 28 27,9326 6,01607

H-H 46 33,2144 6,37608

H-N 30 29,8926 5,92318

N-H 6 28,3998 5,37181

Custo medicamento

N-N 28 481,6775

611,27748

H-H 46 659,4462 479,44409

H-N 30 470,5801 368,56044

N-H 7 215,6026 289,48375

Custo consulta

N-N 28 88,8357 38,82315

H-H 46 98,8783 42,16476

H-N 30 87,8533 32,44453

N-H 7 56,1000 25,15684

Custo exames

N-N 28 228,5000 114,59356

H-H 46 196,7752 95,09042

H-N 30 192,7283 104,36934

N-H 7 106,2586 38,80042

Custo total

N-N 28 799,0132 624,54005

H-H 46 955,0997 525,42162

H-N 30 751,1617 429,38091

N-H 7 377,9612 304,26592

*N=normotensos;H:Hipertensos

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86

7 DISCUSSÃO

A hipertensão arterial provoca importante impacto financeiro sobre os

sistemas de saúde em virtude de sua alta prevalência e desfechos clínicos (AVC,

DAC e IC) (VIANNA, CAETANO, CAETANO, 2005), sendo, por isso, um grave

problema mundial de saúde pública. Em virtude da sua importância, encontramos

muitos estudos nacionais e internacionais sobre prevalência, conhecimento e

controle desta doença (MOREIRA et al., 2009; NOGUEIRA et al., 2010; PRINCE et

al., 2011; PEREZ-FERNANDEZ et al., 2007; JOFRES et al.,1992; GUS et al., 2004).

No entanto, poucos descrevem os custos relacionados ao seu tratamento e, aqueles

que o fazem, em sua maioria, consideram apenas o custo dos medicamentos, como

é o caso dos estudos realizados por Tsuji (2007), Gruezo (2007) e Moreira (2009).

Em Minas Gerais, este é o primeiro estudo realizado com o objetivo de

calcular os custos diretos médicos do tratamento na Atenção Secundária da

hipertensão. Além disso, e diferentemente dos tratamentos propostos nos estudos

acima mencionados, neste estudo o tratamento considerado é de caráter

multidisciplinar.

Os usuários estudados apresentaram idade média de 59 anos (DP=11,7; 27-

84 anos), resultado semelhante ao encontrado em um estudo realizado nas zonas

urbana (57,1 anos) e rural (59,1 anos) de Juiz de Fora, Minas Gerais (MONTEIRO;

FARIAS; ALVES, 2009) e no estudo realizado por Costa e colaboradores (2002), no

qual a idade média observada foi de 52,5 ± 10,5 anos entre os hipertensos. Este

achado demonstra que a população adulta também está susceptível ao

acometimento por doenças crônicas não transmissíveis, seja pelos hábitos

alimentares inadequados, que propiciam o desenvolvimento de fatores de risco para

doenças crônicas, como a obesidade, por exemplo (BRASIL,2013), ou pela

vulnerabilidade ao consumismo contemporâneo a que a população de adultos está

sujeita, influenciando de forma negativa nos comportamentos em saúde (MOREIRA,

GOMES; SANTOS, 2010). Vale ainda destacar que as doenças cardiovasculares

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87

são culturalmente consideradas, inclusive por alguns profissionais de saúde, como

doenças de idosos, contribuindo para uma atenção superficial à saúde da população

adulta jovem (MOREIRA, GOMES; SANTOS, 2010).

Houve prevalência do sexo feminino (60%) sobre o masculino (40%),

resultado semelhante ao dos estudos realizados por Gruezo (2007), em que 63%

dos hipertensos eram do sexo feminino e 37% do sexo masculino. Moreira, Gomes e

Santos (2010) também encontraram predominância do sexo feminino entre os

hipertensos (78%) e correlacionaram esse achado à maior procura das mulheres por

serviços de saúde, ao fato de os horários de atendimentos dos mesmos serem mais

adequados a elas e também à sobrecarga de atividades e rotina estressante, que

tornam as mulheres mais propensas a desenvolver hipertensão.

Porém, alguns estudos destacam que a hipertensão se torna mais prevalente

em mulheres após a quinta década de vida (HAEYS et al.,2006; AMY; YEN, 2011;

CESARINO et al., 2008).

Amy e Yen (2011) avaliaram a cinética de transição entre os estágios da

hipertensão e encontraram, em mulheres jovens, uma taxa de regressão do estágio

de pré-hipertensão ao estágio de normotensão maior do que em homens da mesma

faixa etária. Isso sustenta a explicação biológica para a diferença de prevalência da

hipertensão entre homens e mulheres, baseada no papel protetor dos hormônios

sexuais femininos, em que a redução dos níveis de estrogênio torna as mulheres

com idades mais avançadas mais susceptíveis a desenvolver hipertensão. Esse

achado contrasta com o encontrado na presente pesquisa, onde a prevalência de

mulheres foi maior em todas as faixas etárias.

Em relação à cor da pele, a maior prevalência foi observada entre os usuários

pardos (42,3%), seguida por usuários negros (30,6%) e, por último, por usuários

brancos (27,1%). Se considerarmos essa prevalência em apenas brancos e não

brancos, esses valores se tornam 30,6% e 72,9%, respectivamente, resultado

condizente com as VI DBH (2010), que descrevem a hipertensão arterial como

sendo duas vezes mais prevalente em indivíduos de cor não branca, e com o estudo

transversal realizado em Araraquara, São Paulo, por Lolio e colaboradores (1993),

no qual também foi encontrada uma maior prevalência entre os não brancos.

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88

A explicação da maior prevalência de hipertensão entre os negros é

contrastante na literatura, ora descrita como biológica, ora como fruto das condições

socioeconômicas menos favoráveis dessa população.

Barreto e colaboradores (2003) destacam um possível defeito hereditário na

captação celular e no transporte renal de sódio e cálcio, o que favorece o influxo

celular de sódio e o efluxo celular de cálcio, facilitando o desenvolvimento da

hipertensão arterial.

Para Krieger (2003), as desigualdades raciais em saúde estão relacionadas a

desvantagens socioeconômicas, que levam à maior exposição a substâncias tóxicas

em ambientes insalubres, assistência inadequada à saúde e discriminação racial.

Comstock e colaboradores (2004) destacam como causas prováveis das

disparidades raciais em saúde as condições socioeconômicas, educação, visões

culturais de saúde e doença, aculturação, posições de poder e racismo.

Para Cruz e Lima (1999), a história pregressa de escravidão, que marca a

etnia negra brasileira, está diretamente ligada ao processo de exclusão social.

De acordo com Josué (2005), raça é um conceito teórico não observável e

que não explica as diferenças raciais em saúde pública, visto que essas diferenças

não estão relacionadas ao nosso genoma, e sim à interação complexa entre fatores

biológicos e ambientais ligados ao contexto histórico e social, gerando agravos à

saúde dos indivíduos discriminados.

No presente estudo encontramos IMC médio de 30,7 Kg/m² (DP= 6,4; 18,6 -

51,9), sendo que 51,4% dos usuários eram obesos e 31,2% apresentaram

sobrepeso. Moreira, Gomes e Santos (2010) observaram uma taxa de sobrepeso de

55% entre os usuários cadastrados no programa Hiperdia de algumas unidades de

saúde de Fortaleza, Ceará. Monteiro, Farias e Alves (2009) encontraram uma taxa

de 54,2% de obesidade entre os hipertensos de uma zona urbana do município de

Juiz de Fora, Minas Gerais, mas, na população rural, esse índice foi menor (18,1%).

Em São José do Rio Preto (SP), as taxas de sobrepeso e obesidade foram de 38,5%

e 32,9%, respectivamente (MOREIRA et al., 2009).

A relação entre obesidade e hipertensão é frequentemente relatada na

literatura (BROWN; HAYDOCK, 2000; VI DBH, 2010). Sabe-se também que a

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89

redução do excesso de peso em pelo menos 5%, a restrição de sódio na

alimentação e a prática de atividade física regular são fundamentais para o

adequado controle dos níveis pressóricos (BRASIL, 2006b).

Nesse contexto, o relatório sobre as Estatísticas da Saúde Mundial, lançado

pela OMS em 2012, destaca que o aumento da obesidade traz um grande risco para

a saúde, uma vez que a obesidade eleva o risco para doenças cardiovasculares e

alguns cânceres. Segundo o diretor do Departamento de Estatística de Saúde e

Informática da OMS, Ties Boerma, a obesidade no mundo duplicou entre 1980 e

2008, e, atualmente, 12% da população mundial é considerada obesa.

Em termos de escolaridade, 65% dos usuários participantes desta pesquisa

têm de 0 a < 8 anos de estudo, 12% têm de 8 a <11 anos de estudo e 21% têm ≥ 11

anos de estudo. Estes resultados são comparáveis aos dados encontrados na

literatura, os quais descrevem maior prevalência de hipertensão em indivíduos com

menor escolaridade (de 0 a 8 anos de escolaridade) (LÓLIO et al., 1993; MOREIRA,

2009; CESARINO et al., 2008).

A hipertensão é, pelo menos, duas vezes mais prevalente em diabéticos

(BRASIL, 2006b). No presente estudo, cerca de 15% dos hipertensos eram

portadores de diabetes, resultado este comparável aos 12% e 18% encontrados por

Monteiro, Farias e Alves (2009) nas zonas rural e urbana do município de Juiz de

Fora, respectivamente.

O monitoramento e tratamento inadequados da hipertensão e diabetes

mellitus provocam, a longo prazo, lesões lentas e progressivas nos órgãos, dentre

eles os rins, podendo levar à insuficiência renal crônica (KUSUMOTA, RODRIGUES,

MARQUES, 2004).

Neste estudo, observou-se que 18,6% dos hipertensos também possuíam

doença renal crônica. Sabe-se que hipertensão arterial é considerada uma das

principais causas de doença renal crônica, e o risco cardiovascular aumenta

consideravelmente quando essas duas patologias estão associadas (LESSA, 1998;

BORTOLOTTO, 2008).

Segundo as VI DBH (2010), qualquer medicamento anti-hipertensivo pode ser

utilizado para o tratamento da hipertensão, desde que siga as devidas indicações e

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90

contraindicações. Todavia, diante de uma vasta gama de agentes anti-hipertensivos

e de ensaios clínicos que trazem evidências complexas e conflitantes de sua eficácia

clínica, a escolha da medicação se torna uma difícil tarefa para os médicos.

A análise do perfil farmacoterapêutico da população estudada demonstrou

que os medicamentos mais frequentemente prescritos foram losartana (18,9%),

captopril (17,51%), besilato de anlodipino (10,4%). Os dois primeiros são distribuídos

gratuitamente para população através do programa “Saúde não tem preço” do

Ministério da Saúde.

Em termos de classes de anti-hipertensivos, foram observados diferentes

tipos de associações entre os medicamentos, com maior prevalência da associação

de bloqueadores dos canais de cálcio, diuréticos e IECA.

O perfil farmacoterapêutico encontrado é respaldado na literatura, onde essas

associações são descritas como sendo, geralmente, bem toleradas e efetivas para

usuários de alto risco (MARTINS et al., 2008; TSAI, 2011). Além disso, artigos

apontam que diuréticos tiazídicos deveriam ser prescritos para a maioria dos

usuários, seja sozinho ou em combinação com outras classes de anti-hipertensivos,

pois, além de ser reconhecidamente eficazes, possuem baixo custo (EUA, 2004).

O tratamento com betabloqueadores e diuréticos, especialmente os de longa

ação, como a clortalidona, também são recomendados para usuários com HAS de

difícil controle, uma vez que são capazes de atuar nas causas deste tipo de HAS,

quais sejam: retenção persistente do volume intracelular e ação aumentada das

catecolaminas, o que pode manter os níveis pressóricos elevados (MARTINS et al.,

2008). Além disso, um estudo farmacoeconômico demonstrou que a associação de

betabloqueadores e diuréticos foi custo-efetiva em relação à terapia baseada em

antagonistas dos canais de cálcio e inibidores dos receptores de angiotensina II,

especialmente para usuários hipertensos sem comorbidades e com PAS entre 140 e

180 mmHg e PAD entre 90 e 110 mmHg (TSUJI, 2007).

No presente estudo, cerca de 86% dos usuários faziam uso de três ou mais

medicamentos (média de 4,5; DP=1,74) para o controle dos níveis pressóricos. Este

achado é semelhante ao encontrado na literatura, que aponta a necessidade da

maioria dos usuários hipertensos utilizar dois ou mais medicamentos para alcançar

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91

níveis ótimos de PA (EUA,2004; VIANNA, CAETANO, CAETANO 2005). No estudo

ALLHAT, 60% dos usuários que conseguiram alcançar a meta de PA <140/90mmHg

receberam dois ou mais medicamentos, e apenas 30% obtiveram controle com

esquema monoterapêutico (CUSHMAN et al., 2002).

Ensaio clínico controlado aponta que a monoterapia é insuficiente para

alcançar a rápida redução da pressão arterial, e que as associações

medicamentosas devem ser consideradas como primeira linha de tratamento para

usuários de alto e muito alto risco cardiovascular (JULIUS, 2004).

A associação de vários medicamentos traz benefícios como a redução de

AVC, de doença arterial coronariana e de insuficiência cardíaca, mas, por outro lado,

provoca aumento do custo do tratamento e piora na adesão à terapia (MARTINS et

al., 2008; VIANNA, CAETANO, CAETANO, 2005). Associações e combinações fixas

de fármacos, geralmente com dosagens mais baixas, trazem importantes benefícios,

como menor dificuldade posológica e redução dos efeitos colaterais com mesma

eficácia terapêutica, contribuindo para melhor adesão ao tratamento anti-

hipertensivo (MARTINS et al., 2008). No entanto, na maioria das vezes, essas

associações não estão disponíveis gratuitamente para os usuários, que acabam

utilizando as medicações oferecidas pelo SUS e não aquelas que são consideradas

melhores.

É importante destacar que o tratamento de uma doença multifatorial, como a

hipertensão, não deve ser baseado apenas em terapia farmacológica. É fundamental

a associação do tratamento não medicamentoso com o incentivo à mudança de

estilo de vida para todos os usuários (MARTINS et al., 2008). Uma equipe

multidisciplinar, composta por psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas

e treinadores físicos é capaz de melhorar os resultados do tratamento (GOESSENS,

et al., 2005).

Por outro lado, existe uma relação direta entre mortalidade por doenças

cardiovasculares e desigualdades sociais (BASSANESI, AZAMBUJA, ACHUTTI,

2008; NOGUEIRA, RIBEIRO, CRUZ, 2009). Assim, a prevenção ou o controle de

doenças, especialmente as cardiovasculares, não são apenas uma responsabilidade

individual, mas compete também ao Estado fornecer condições aos cidadãos para

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que o conceito ampliado de saúde prevaleça na prática. De acordo com a Lei nº

12.864, de 24/09/13, alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente,

trabalho, renda, educação, atividade física, transporte, lazer e acesso aos bens e

serviços são determinantes e condicionantes de saúde, e a ausência de algum

desses fatores torna o indivíduo mais vulnerável às doenças.

Foram encontrados poucos estudos sobre o custo do tratamento da

hipertensão. Em termos de custos médicos diretos da assistência à hipertensão e

diabetes, o estudo mais completo foi realizado em uma unidade de saúde pública de

média complexidade de Recife em 2007. Porém, a contabilização dos custos foi

realizada pela técnica de custeio por absorção (que consiste na apropriação integral

de todos os custos, diretos e indiretos, fixos e variáveis) e de rateio. Além disso,

foram considerados como custos diretos o pagamento de funcionários, suprimentos,

material de consumo, serviços de terceiros, instalações físicas, medicamentos,

exames e serviços ambulatoriais (MARINHO et al., 2011), diferentemente da técnica

empregada neste trabalho, dificultando as comparações.

Em Pelotas (RS), Costa e colaboradores (2002) calcularam os custos diretos

com base em medicamentos, exames, consultas, plano de saúde e gastos com

transporte, além de ter contabilizado os custos indiretos com o tratamento da

hipertensão, comparando-os com o custo para se tratar a diabetes e a bronquite

crônica. Neste estudo, os custos com plano de saúde e exames laboratoriais

considerados foram aqueles relatados pelos usuários, o que pode ser fonte de viés,

uma vez que depende da lembrança por parte dos mesmos. Dib e colaboradores

(2010) também realizaram um importante estudo que estimou o custo direto anual da

hipertensão no Brasil, por meio de um modelo econômico de árvore de decisão.

Todavia, o estudo apresenta a limitação de estar vinculado a várias suposições.

Diferentemente, no presente estudo os custos diretos do tratamento da hipertensão

foram calculados com base no tratamento “real” dos usuários hipertensos.

O custo médico direto total anual para o tratamento da hipertensão arterial

dos 111 usuários deste estudo foi de R$ 91.487,53, e o custo médio anual por

usuário foi de R$ 824,21.

A comparação desses valores com os encontrados em outros estudos fica

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prejudicada devido à variabilidade metodológica entre os mesmos. Por exemplo, o

custo direto médio mensal encontrado por Costa e colaboradores (2002) foi de R$

85,25. Transformado em custo médio anual, esse valor seria de R$1.023,00,

resultado maior do que o que encontramos. Isso porque, além dos custos com

medicação, consulta e exames, os autores consideraram os custos relacionados aos

meios de transporte e planos de saúde, não abordados no presente estudo.

No entanto, grosso modo, em termos de eventos cardiovasculares, é possível

comparar o custo médico direto para tratar a hipertensão com o impacto do não

tratamento sobre o sistema público de saúde, uma vez que, reconhecidamente, o

tratamento da hipertensão reduz significativamente a ocorrência desses eventos

(NEAL; MACMAHON e CHAPMAN, 2000).

De acordo Azambuja e colaboradores (2008), os custos diretos em saúde

para tratar a doença cardiovascular grave é de R$ 3.514,00 por usuário/ano. Esse

valor é quatro vezes maior do que o custo direto total encontrado no presente estudo

para tratar um usuário de alto e muito alto risco cardiovascular, o que sugere a

viabilidade econômica do tratamento proposto pelo Centro Hiperdia e seu potencial

em reduzir custos com internações por eventos cardiovasculares, uma vez que o

objetivo do tratamento oferecido é, justamente, reduzir a ocorrência desses eventos

em usuários hipertensos e diabéticos.

Os medicamentos representaram a maior parcela do custo médico direto total,

65%, dado que é frequentemente relatado na literatura.

Em Ravena, Itália, os medicamentos representaram 46% do custo total para

tratar a hipertensão (ESPOSTI et al.,2001)

No Brasil, uma estimativa do custo anual da hipertensão no Brasil descreve

que os medicamentos foram responsáveis por 52,3% do custo direto total anual do

tratamento da hipertensão pelo SUS (DIB, RIERA e FERRAZ, 2010). Outros estudos

brasileiros também apontam os medicamentos como responsáveis pela maior

parcela dos custos diretos da hipertensão (MARINHO et al., 2011; COSTA et al.,

2002).

Os exames representaram o segundo maior componente dos gastos, com

aproximadamente 24% do custo médico direto total. Por último, as consultas foram

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responsáveis por cerca de 11% do custo médico total. Este resultado é contrastante

com o de Costa e colaboradores (2002), no qual as consultas médicas, seguidas dos

testes laboratoriais, foram os custos mais caros depois dos medicamentos. No

presente estudo, além dos exames laboratoriais, consideramos os exames

complementares, que são mais caros, e representando, por isso, a segunda maior

parcela dos custos.

O custo com exames foi ligeiramente mais elevado nos usuários brancos (p=

0,048) e também naqueles com comorbidades, porém sem significância estatística.

É importante ressaltar que o custo do tratamento foi calculado com base na

tabela de procedimentos SUS, cujos valores são bastante defasados em relação aos

custos reais dos serviços (MARINHO et al., 2011).

Apesar do reconhecido benefício do tratamento da hipertensão e dos riscos

associados a essa doença, a taxa de usuários sob tratamento, que têm sua

condição controlada, ainda é pequena em todo o mundo (CHOBANIAN, 2003).

Uma das principais causas das baixas taxas de controle da hipertensão é a

não adesão ao tratamento (PRADO, KUPEK e MION, 2007).

Neste estudo, a taxa de usuários que alcançaram a meta preconizada para

usuários de alto e muito alto risco cardiovascular (PA ≤130/80 mmHg), ou seja, a

taxa de controlados, foi de 30,3%. No entanto, se considerarmos como controlados

os usuários que atingiram níveis pressóricos inferiores a 140/90 mmHg, para efeito

de comparação com outros estudos, essa taxa aumenta para 39,4% na população

em estudo. E 52,2% de todos os pacientes do estudo permaneceram ou alcançaram

uma PA menor ou igual a 140/90 mmHg.

Variáveis como sexo, raça, escolaridade e idade não influenciaram na taxa de

controle da pressão arterial. Estudo transversal randomizado que avaliou o nível de

conhecimento e controle da HAS em relação à idade, gênero, nível socioeconômico,

escolaridade e IMC, também não observou diferença significante na taxa de controle

pressórico entre os gêneros e nas diferentes faixas de IMC, porém encontrou maior

prevalência de controle na classe social AB e em pacientes com maior escolaridade

(MOREIRA, 2008).

Observou-se, no presente estudo, que variáveis como presença de

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comorbidades e IMC interferiram na taxa de controle. Houve menor taxa de controle

entre aqueles com comorbidades (p=0,443) e também entre os usuários com IMC

elevado (p= 0,003). É sabido que, para usuários que apresentam outras condições

clínicas associadas, como diabetes e insuficiência renal, o alcance das metas

pressóricas preconizadas é mais difícil de ser atingido, especialmente porque,

nesses grupos, os valores de PA desejáveis são mais baixos, visando reduzir as

lesões em órgão-alvo (LAZARUS, 1997; HOLMAN, 2008; BORTOLOTTO, 2008b).

Estudo longitudinal realizado pela Universidade de Insubria, Itália, que

objetivou avaliar a taxa de controle da hipertensão na Atenção Primária com base

nas diretrizes da OMS e da Sociedade Internacional de Hipertensão (ISH) de 1999,

observou que apenas 33,4% dos usuários obtiveram controle da PA (GRANDI, et al.,

2006).

No Brasil, as taxas de controle descritas nos estudos são bastante diferentes.

No Rio Grande do Sul, Gus e colaboradores (2004) encontrou 10,4% de controle

entre os hipertensos; em São José do Rio Preto (SP), essa taxa foi de 52,9%

(MOREIRA et al., 2009); em Cianorte (PR), pesquisadores observaram uma taxa de

controle de 20,9% entre hipertensos de 20-69 anos (OLIVEIRA e NOGUEIRA, 2003),

e no Rio de Janeiro (RJ), funcionários de uma universidade apresentaram uma taxa

de controle de aproximadamente 60%, resultado bastante elevado em relação aos

estudos encontrados, mas justificado por se tratar de uma população que também

apresentava maiores taxas de reconhecimento e tratamento da doença – 80% e

68%, respectivamente (NOGUEIRA D et al., 2010).

Outro estudo, realizado em âmbito nacional, que avaliou 2.810 hipertensos

sob tratamento, encontrou a seguinte distribuição de taxas de controle, de acordo

com os grupos específicos: grupo A (HAS estágios 1 e 2, risco adicional baixo e

médio) = 37,51%; grupo B (HAS e PA limítrofe, risco adicional alto) = 24,52%; grupo

C (HAS e PA limítrofe, risco adicional muito alto, incluindo diabéticos) = 26,98% e

grupo D (HAS com nefropatia e proteinúria > 1 g/l) = 11%. No total, a taxa de

controle observada nesse estudo foi de 53,3%. Os autores ainda destacaram que,

embora sejam taxas aparentemente elevadas, ainda estão muito aquém do

desejado (NOBRE, RIBEIRO e MION, 2010).

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Diante desses dados, observamos que a taxa de controle encontrada no

presente estudo é ligeiramente mais elevada do que as encontradas para usuários

de alto e muito alto risco cardiovascular. No entanto, esforços são necessários para

se alcançarem taxas mais elevadas de controle, haja vista os benefícios do controle

adequado da PA, especialmente para o grupo de usuários em questão.

É importante ressaltar que um achado deste estudo foi que, dos 35 usuários

(20%) que iniciaram o tratamento como normotensos, sete tornaram-se hipertensos

após um ano de acompanhamento (PA>140/90mmHg). Um estudo em Ravena,

Itália, denominado Projeto Pandora, também observou que cerca de 36% dos

normotensos tornaram-se hipertensos após um ano de tratamento (BERTO et al.,

2002).

Essa é uma questão que necessita de investigação mais completa, a fim de

se avaliarem as possíveis falhas no tratamento, adesão à terapia, comportamento e

estilo de vida dos usuários, uso concomitante de outros medicamentos com efeito

hipertensor ou presença de hipertensão resistente.

Além disso, sabe-se que o controle adequado da HAS vai além das terapias,

necessitando da participação ativa do hipertenso e coparticipação da família, dos

profissionais da saúde e do adequado desempenho dos programas de saúde

(LESSA, 2006).

Quanto às limitações deste estudo, é importante destacar que não

contabilizamos os custos com pessoal, com a aquisição, manutenção e depreciação

dos equipamentos e o custo dos insumos utilizados na realização dos exames, o

que gerou uma subestimação do verdadeiro custo para se tratar, sob a ótica

multidisciplinar, um usuário hipertenso. A implementação de um centro de custos na

unidade de saúde sob estudo seria essencial para novos estudos econômicos.

Outra limitação foi a utilização da taxa de usuários controlados para avaliar a

efetividade do tratamento, que seria mais bem medida se fosse considerada a

redução de eventos cardiovasculares (WORLD HYPERTENSION LEAGUE, 1995).

Mas, diante da ausência de dados para avaliar a ocorrência desses eventos na

população sob estudo, a taxa de usuários controlados encontra respaldo em outros

estudos (COSTA et al., 2002; MOREIRA et al., 2009). Além disso, a relação entre

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PA e o risco de eventos cardiovasculares é contínua, consistente e independente de

outros fatores de risco (JNC 7, 2004).

Este estudo foi inicialmente desenhado para se realizar uma análise

econômica completa de custo-efetividade, onde dois programas de tratamento

secundários da hipertensão seriam comparados. Deparamo-nos, porém, com a falta

de padronização dos dados (ausência de prontuários bem estruturados) e com a

inexistência de registros fundamentais para uma análise econômica no outro Centro

de Atenção ao Hipertenso que seria estudado. Sendo assim, só foi possível a

realização de uma análise incompleta de custos e resultados.

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8 CONCLUSÃO

Os princípios constitucionais do SUS – universalidade, integralidade e

equidade – são bastante abrangentes para um sistema de saúde que conta com

recursos limitados. Nesse contexto, as avaliações econômicas em saúde são

ferramentas importantes na gestão do SUS, e seus resultados podem embasar o

processo de tomada de decisão, apontando qual tecnologia, programa ou ação se

mostra mais custo-efetiva, permitindo uma alocação mais efetiva dos recursos

públicos.

A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente e diretamente

relacionada a eventos cardiovasculares e cerebrovasculares, e provoca forte

impacto financeiro sobre os sistemas de saúde e previdenciário.

No entanto, avaliações econômicas sobre o tratamento dessa patologia ainda

são escassas, embora haja muitos estudos que avaliam apenas os custos e a

efetividade das terapias medicamentosas e que comparam dois ou mais esquemas

terapêuticos.

Os estudos que consideram os custos médicos diretos do tratamento da

hipertensão ainda apresentam muitas diferenças metodológicas entre si,

especialmente os custos diretos considerados e suas fontes de consulta, dificultando

as comparações entre os mesmos. Há, todavia, reconhecidos esforços da área de

Economia da Saúde do Ministério da Saúde para padronizar as avaliações

econômicas em saúde, por meio da criação de diretrizes e manuais para as análises

econômicas.

Este foi o primeiro estudo que avaliou o custo médico direto e a efetividade de

um programa multidisciplinar de atenção ao hipertenso de alto risco em Minas

Gerais, observando a peculiaridade de considerar os custos reais do tratamento dos

hipertensos. Acima de tudo, o presente estudo visa contribuir para a discussão da

importância das análises de custo dos serviços de saúde, pois, através delas, torna-

se possível identificar quais serviços ou procedimentos consomem mais recursos

financeiros e se seu custo compensa os benefícios que trazem.

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O custo médio direto total por usuário encontrado neste estudo foi de R$

824,21 e custo total foi de R$ 91.487,53. Não houve diferença de custo em relação

ao sexo, idade e escolaridade. Porém, observou-se custo dos exames maior entre

os usuários brancos e naqueles com comorbidades. O custo das consultas foi mais

elevado em usuários que não alcançaram o controle pressórico, e o custo com

exames foi maior no grupo de usuários que permaneceram normotensos durante o

acompanhamento no Centro Hiperdia.

Os medicamentos representaram a maior parcela dos custos médicos diretos

do tratamento da hipertensão, o que é frequentemente relatado na literatura nacional

e internacional, seguidos dos exames e das consultas médicas e não médicas. A

redução dos custos com os medicamentos pode ser uma tarefa bastante difícil, pois,

para os usuários de alto e muito alto risco cardiovascular, são necessários vários

medicamentos para adequado controle da hipertensão, o que aumenta

consideravelmente o custo do tratamento medicamentoso.

É importante lembrar que os custos foram valorados com base na tabela de

procedimentos do SUS (SIGTAP), que apresenta valores bastante defasados, não

representando, portanto, o custo real das consultas e exames, aqui subestimados.

Se houvesse um centro de custo na unidade de saúde pesquisada, a

pesquisa poderia ter sido enriquecida com a comparação entre os custos

verdadeiros e aqueles reembolsados pelo SUS. Além disso, o centro de custo

poderia fornecer dados importantes para futuras pesquisas econômicas em saúde.

A taxa de controle encontrada (30,3% considerando PA < 130/80 mmHg; e

39,4%, considerando PA< 140/90mmHg), embora não seja a ideal, foi maior do que

as taxas usualmente encontradas para usuários de alto e muito alto risco

cardiovascular, o que pode estar associado ao tratamento de caráter multidisciplinar

oferecido no Centro Hiperdia de Juiz de Fora. O tratamento multidisciplinar da

hipertensão é o mais indicado, uma vez que se trata de uma condição clínica

multifatorial e que exige múltiplas abordagens. No entanto, esforços por parte dos

profissionais de saúde, usuários e gestores são necessários para se alcançarem

taxas de controle mais elevadas.

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O adequado controle da hipertensão arterial é condição ímpar para se

reduzirem os custos da doença tanto para o indivíduo, quanto para a família, a

sociedade e, principalmente, para os sistemas de saúde e previdenciário, além de

proporcionar a redução de eventos cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida

dos usuários.

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ANEXO A – TERMO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFJF

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