Upload
doankhanh
View
216
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
ESCOLA DE MÚSICA
THELMA NUNES TAETS
INICIAÇÃO À FLAUTA DOCE: Uma proposta de Educação Musical
RIO DE JANEIRO
2012
THELMA NUNES TAETS
INICIAÇÃO À FLAUTA DOCE: Uma proposta de Educação Musical
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Música da
Escola de Música da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como requisito necessário à
obtenção do título de Mestre.
Orientador: Dr.Sergio Luis de A. Álvares.
RIO DE JANEIRO
2012
T123
Taets, Thelma Nunes Iniciação à flauta doce: uma proposta de Educação Musical / Thelma Nunes Taets. - Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. 124 f. il.; 29 cm. Orientador: Sergio Luis de Almeida Álvares. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Música, 2012. 1. Flauta – Instrução e estudo. 2. Música – Instrução e estudo. 3. Teses – Música. I. Álvares, Sergio Luis de Almeida. II. Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Música. III. Título. CDD: 788.5107
À minha mãe, fruto de uma sociedade
patriarcal na qual a escola primária era o limite
para as meninas, e que teve, no piano, sua
grande fonte de conhecimento. Minha primeira
Professora de Música, minha sempre Mestra.
Em memória de meu pai, que viveu numa
época em que a música era privilégio de
poucos. Ele me proporcionou o acesso aos
estudos de piano e à Faculdade de Música.
Em memória de meu companheiro, que me
descortinou a cidade do Rio de Janeiro e
trilhou comigo um longo caminho de vida, de
crescimento pessoal e musical.
A eles, a minha eterna gratidão.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela sustentação da Vida;
Aos meus pais e familiares pelo convívio fraterno de amor e dedicação, de perseverança e
disciplina, de fé e esperança;
Aos professores Sergio Luis de Almeida Álvares, do Programa de Pós-graduação em Música
da Escola de Música da UFRJ, orientador da minha dissertação e Maria Judith Sucupira da
Costa Lins, do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da UFRJ, obrigada
pela oportunidade de aprendizado;
Aos professores Marcos Vinicius Nogueira, coordenador do PPGM da UFRJ e Vanda Freire,
Thelma Álvares, Ermelinda Paz e Regina Meirelles, que me proporcionaram momentos
enriquecedores de convívio e de conhecimento;
Às secretárias do PPGM Valéria Machado Penna, Bárbara Lucia Pereira, Elizabeth Villela e
Solange Rosa de Araújo do PPGE da UFRJ, pela atenção e paciência;
A todos os colegas de curso, em especial ao incentivo de Joevan Caitano, ao companheirismo
de Milena Tibúrcio, Elodie Bouny, Ana Lídia Guimarães, Felipe Guaraciara, Ana Celi
Pimentel e Nathália Borges, na alegria de compartilhar as aulas e experimentar o novo.
À profissional Rosana Tibúrcio, pelo importante trabalho de revisão e, sobretudo, pelo
carinho e atenção;
À professora Mestre em Música Ana Cristina Santos de Paula pelas primeiras aulas e
inspiração;
Ao professor Reinaldo Vargas, coordenador do Núcleo de Arte Silveira Sampaio, à direção da
Escola Municipal Silveira Sampaio e a todos os professores do Núcleo de Arte pela parceria e
apoio em todos os momentos, sem os quais não teria sido possível a realização desta pesquisa.
Pela presença constante de ensino e aprendizagem em nossas vidas;
Aos professores Nelson Christo, pela confecção das partituras na versão do programa Encore
e a Elói Braga, pela gravação dos arranjos em formato Midi. Esses materiais, de valor
inestimável, foram usados em sala de aula como suporte didático para o desenvolvimento
desta pesquisa. A eles agradeço pela dedicação profissional, mas, sobretudo de amizade;
À equipe de professores e amigos da Escola Garriga de Menezes, pela lição inestimável de
aprendizado e de vida;
Aos amigos do Lar de Frei Luiz, pelos exemplos de doação e bem querer;
Aos meus alunos do Coral Esperança, ao pianista e amigo Elói Braga e ao meu filho Gunnar
Taets que partilharam comigo de um resultado ímpar de emoção e beleza perante uma banca
de Mestrado na UNIRIO. Naquela ocasião, tivemos a certeza que outro caminhar de
esperança se iniciava e por isso buscamos o ingresso na Escola de Música da UFRJ;
Aos meus alunos, de antes e de agora, de hoje e de sempre, que me impulsionaram e me
impulsionam no desejo de compreender a simbologia musical, de aprender e de ensinar, de
buscar e partilhar novos caminhos na Educação Musical;
Aos alunos e responsáveis que participaram direta ou indiretamente desta pesquisa, pela
oportunidade de desvendar o novo e por acreditar no nosso trabalho;
Aos amigos e vizinhos, de perto e de longe, de hoje e de sempre; pela assessoria e suporte no
dia a dia, carinho e fidelidade;
Ao Dr. Sergio Dias e equipe pelo apoio e confiança em prol dos projetos do fazer musical
solidário;
Às amigas de infância, Dra. Heloisa Castello Branco e Dra. Magali Kleber, hoje atuantes
junto à Universidade Estadual de Londrina, pelo incentivo;
Às minhas irmãs, Thais e Thalita que me prestigiaram, me apoiaram e me impulsionaram em
todos os momentos;
À jovem Catarine Ribeiro, aluna querida da E.M. Ciep Compositor Donga pelo prazer do
convívio desde as séries iniciais do Ensino Fundamental e hoje pelo partilhar das canções,
gravadas para fins didáticos e que exemplificaram e embelezaram as nossas aulas de Flauta
Doce;
À jovem Beatriz Pessanha, filha do meu coração, pelo convívio amoroso desde os tempos
idos de Professora de Música das Aldeias Infantis SOS de Jacarepaguá, pela presença querida
e atenciosa em todos os nossos projetos profissionais e pessoais;
À jovem Gabrielle Areas, pela dedicação e parceria com que me ajudou na idealização dos
primeiros gráficos e nas primeiras consultas às normas da ABNT;
Aos meus filhos, Tarick Turidu e Gunnar Glauco, encontro diário de alegria, renovação,
inspiração, coragem e de muito aprender. Na presença constante e amiga a sustentação afetiva
e intelectual dos projetos pessoais e profissionais;
A todos, lembrados e esquecidos, de pouco tempo ou de muito tempo, que contribuíram e
contribuem para o aprendizado de cada dia, a minha gratidão.
RESUMO
TAETS, Thelma Nunes. Iniciação à Flauta Doce: Uma proposta de Educação Musical. Rio
de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de Música. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 2012.
Esta pesquisa trata de uma prática de ensino coletivo de Iniciação à Flauta Doce em um
núcleo de extensão escolar, situado em escola municipal de Jacarepaguá, na cidade do Rio de
Janeiro. O objeto de estudo aborda o processo de iniciação musical por meio da Flauta Doce
desenvolvido em nova metodologia didática. Os objetivos são avaliar as possibilidades de
aplicação de uma prática de ensino de musicalização por meio da Flauta Doce a partir da nota
Mi como condutora da aprendizagem motora na performance instrumental e facilitadora da
compreensão da leitura e escrita musical no ensino coletivo da Flauta Doce a partir das séries
iniciais do Ensino Fundamental. Esta pesquisa gerou conhecimentos para a Prática de Ensino
visando uma solução de problemas de compreensão da grafia musical e da execução
instrumental da Flauta Doce. Trata-se de pesquisa-ação que apresenta uma proposta
descritivo-explicativa qualitativa. Em relação à grafia, novas contribuições são desenvolvidas:
(a) o uso de partituras em diferentes níveis de conhecimento; (b) a visualização das notas em
estudo dentro de um contexto melódico, não de forma isolada; e (c) o uso de canetas
coloridas, tipo marca texto. Em relação à execução instrumental: (a) o uso das bases
instrumentais; (b) das notas guias; e (c) do posicionamento articulado da técnica do queixo.
As conclusões apontam para um desenvolvimento técnico específico do instrumento e uma
interação no contexto sócio histórico, ao considerar os vínculos pessoais, presente nas aulas,
que se estabelecem e qualificam a performance musical. Os objetivos propostos nesta
pesquisa, de aprendizagem da Flauta Doce por meio da nota Mi como condutora do processo
de iniciação foram alcançados por meio das atividades relatadas nesta pesquisa. A abordagem
inicial dos conceitos musicais a partir da nota Mi se traduziu em Prática de Ensino o qual
atendeu às necessidades do cotidiano da sala de aula e que, no futuro, poderá enriquecer as
práticas musicais.
Palavras-chaves: Ensino coletivo da Flauta Doce. Grafia e execução instrumental.
Aprendizagem motora
ABSTRACT
TAETS, Thelma Nunes. Iniciação à Flauta Doce: Uma proposta de Educação Musical. Rio
de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de Música. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 2012.
This research is a collective practice of teaching introduction to Flute in a nucleus extension
school, situated in the municipal school Jacarepaguá in the city of Rio de Janeiro. The object
of study addresses the process of initiation of Flute Music by developed new teaching
methods. The objectives are to assess the possibilities of implementing a practice of teaching
music to flute from the note Mi as a conductor of motor learning in instrumental performance
and facilitating reading comprehension and writing instruction in musical collective from
Flute the early grades of elementary school. This research has generated knowledge for
Teaching Practice seeking a solution to problems of understanding of musical writing and
instrumental performance of Flute. It is action research that proposes a qualitative descriptive-
explanatory. Regarding the spelling, further calls are carried out: (a) the music in use of
different levels of knowledge, (b) viewing the notes under study in a melodic context, not
isolated and (c) the use of colored pens, mark type text. Regarding the instrumental
performance: (a) the use of instrumental bases, (b) guides the notes, and (c) positioning the
articulated jaw technique. The findings point to a technical instrument and a specific
interaction in the social history, to consider the personal ties, present in class, they establish
themselves and qualify the musical performance. The objectives proposed in this research,
learning the flute by Note Mi as a conductor of the initiation process have been achieved
through the activities reported in this study. The initial approach to musical concepts from the
note Mi translated into Teaching Practice which meet the needs of daily life in the classroom
and in the future, can enrich the musical practices.
Keywords: Teaching colletictive. Spelling and enforcement instrumental. Motor learning.
RESUMEN
TAETS, Thelma Nunes. Iniciação à Flauta Doce: Uma proposta de Educação Musical. Rio
de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de Música. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 2012.
Esta investigación es una práctica colectiva de la enseñanza de introducción a la flauta dulce
en una escuela de extensión de núcleo, situado en el Jacarepaguá escuela municipal en la
ciudad de Río de Janeiro. El objeto de estudio aborda el proceso de iniciación de música de la
flauta dulce por los nuevos métodos de enseñanza desarrollados. Los objetivos son evaluar las
posibilidades de aplicación de una práctica de la enseñanza de la música de flauta dulce de la
nota Mi como conductor de aprendizaje motor en la interpretación instrumental y facilitar la
comprensión de la lectura y la escritura en el colectivo musical de la flauta dulce los primeros
grados de la escuela primaria. Esta investigación ha generado conocimiento para la Práctica
de la Enseñanza buscar una solución a los problemas de comprensión de la escritura musical y
la interpretación instrumental de la flauta dulce. Se trata de la investigación-acción que
propone una cualitativo, descriptivo-explicativa. En cuanto a la ortografía, pide, además, se
llevan a cabo: (a) el uso de la música en diferentes niveles de conocimiento, (b) de ver las
notas en estudio en un contexto melódico, no aislado y (c) el uso de lápices de colores, el
texto marca el tipo. En cuanto a la interpretación instrumental: (a) el uso de bases
instrumentales, (b) guía a las notas, y (c) el posicionamiento de la técnica de la mandíbula
articulada. Los resultados apuntan a un instrumento técnico y una interacción específica en la
historia social, para considerar los vínculos personales, presentes en la clase, que se
establezcan y calificar la actuación musical. Los objetivos propuestos en esta investigación, el
aprendizaje de la flauta de dulce Tenga en cuenta Mi como conductor del proceso de
iniciación se han logrado a través de las actividades reportadas en este estudio. La primera
aproximación a los conceptos musicales de la nota Mi traduce en la práctica docente que
respondan a las necesidades de la vida cotidiana en el aula y en el futuro, puede enriquecer las
prácticas musicales.
Palabras-clave: Enseñanza colectiva. La ortografía y la ejecución instrumental. Aprendizaje
motor.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Nota Si – ............................................................................. 19
Figura 2 Nota Lá – ............................................................................. 19
Figura 3 Nota Sol – ............................................................................ 20
Figura 4 Nota Mi – ......................................................................... 22
Figura 5 Notas Dó e Lá............................................................................................... 47
Figura 6 Nota Ré......................................................................................................... 47
Figura 7 Notas Lá, Dó e Ré ........................................................................................ 48
Figura 8 Notas Sol ...................................................................................................... 48
Figura 9 Notas Sol, Lá, Dó e Ré ................................................................................. 48
Figura 10 Nota Sol ....................................................................................................... 49
Figura 11 Nota Si ......................................................................................................... 49
Figura 12 Nota Ré ......................................................................................................... 49
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Desempenho semana 1.................................................................................. 58
Quadro 2 Desempenho semana 2.................................................................................. 58
Quadro 3 Desempenho semana 3.................................................................................. 59
Quadro 4 Desempenho semana 4................................................................................. 59
Quadro 5 Desempenho semana 5.................................................................................. 60
Quadro 6 Desempenho semana 6.................................................................................. 60
Quadro 7 Desempenho semana 7.................................................................................. 61
Quadro 8 Desempenho semana 8.................................................................................. 61
Quadro 9 Desempenho semana 9.................................................................................. 62
Quadro 10 Desempenho semana 10................................................................................ 62
Quadro 11 Desempenho semana 11................................................................................ 63
Quadro 12 Desempenho semana 12................................................................................ 63
LISTAS DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Semana 1 conceito Mi-Fá – Posição Fechada ......................................... 66
Gráfico 2 Semana 2 conceito Fá-Mi – Posição Fechada ......................................... 68
Gráfico 3 Semana 3 conceito Mi-Sol ....................................................................... 69
Gráfico 4 Semana 4 conceitos Mi-Fá, Mi-Sol ......................................................... 71
Gráfico 5 Semana 5 conceitos Mi-Fá, Sol-Mi ......................................................... 73
Gráfico 6 Semana 6 conceitos Fá-Lá,Mi-Ré............................................................. 74
Gráfico 7 Semana 7 conceito Ré-Fá sustenido........................................................ 77
Gráfico 8 Semana 8 conceitos Sol-Fá sustenido-Mi,Fá sustenido-Mi-Ré................ 80
Gráfico 9 Semana 9 conceitos Lá-Fá, Ré-Fá-Sol...................................................... 82
Gráfico 10 Semana 10 conceito Dó4-Si – Posições Abertas........................................ 84
Gráfico 11 Semana1 conceitos Si-Ré 4; Si-Dó4 – Posições Abertas........................ 87
Gráfico 12 Semana 12 conceitos Dó3-Dó4, Ré4-Mi4 – Posições Abertas................... 91
Gráfico 13 Execução: avaliação do desenvolvimento geral dos alunos ...................... 95
Gráfico 14 Leitura e grafia: avaliação do desenvolvimento geral dos alunos.............. 96
Gráfico 15 Participação: avaliação do desenvolvimento geral dos alunos .................. 96
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CD Compact Disc
ECIM Ensino Coletivo de Instrumento Musical
ENECIM Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais
LDB Lei de Diretrizes e Base
MIDI Musical Instrument Digital Interface
ONGs Organizações Não Governamentais
ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ................................................................................. 15
1.1 APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 16
1.2 OBJETO DE ESTUDO .................................................................................... 18
1.2.1 Característica do objeto de estudo ............................................................... 18
1.2.1.1 Posição Aberta: uma proposta de aprendizado inicial da Flauta Doce no
ensino tradicional..............................................................................................
18
1.2.1.2 Posição Fechada: nossa proposta para a inovação do aprendizado inicial da
Flauta Doce.......................................................................................................
20
1.2.1.3 Considerações acerca das duas propostas......................................................... 21
1.2.2 Enfoque do objeto de estudo.......................................................................... 21
1.2.3 Desdobramentos do objeto de estudo............................................................ 23
1.2.3.1 Grafia musical ............................................................................................ ...... 23
1.2.3.2 O timbre ........................................................................................................... 24
1.2.3.3 Aprendizagem motora ...................................................................................... 25
1.3 QUESTÃO DA PESQUISA ............................................................................ 25
1.4 OBJETIVO DA PESQUISA ........................................................................... 25
1.5 JUSTIFICATIVA............................................................................................. 26
CAPÍTULO II - REVISÃO DA LITERATURA ....................................................... 29
2.1 ENSINO E APRENDIZAGEM........................................................................ 29
2.1.1 Vygotsky e a linguagem musical.................................................................... 31
2.1.2 Ausubel e a linguagem musical ..................................................................... 32
2.1.3 Christopher Small e o ato de fazer música................................................... 35
2.2 ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NO
BRASIL............................................................................................................
37
2.3 ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS NA ESCOLA REGULAR
DE EDUCAÇÃO BÁSICA..............................................................................
38
2.3.1 Ensino coletivo de instrumentos no núcleo de arte de escola municipal.... 40
2.4 METODOLOGIAS DO ENSINO COLETIVO............................................... 42
2.5 O ENSINO COLETIVO DA FLAUTA DOCE E A ABORDAGEM DA
PROPRIOCEPTIVIDADE...............................................................................
43
2.6 O ENSINO COLETIVO DA FLAUTA DOCE E OS MÉTODOS
TRADICIONAIS .............................................................................................
46
CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................ 51
3.1 NATUREZA DO ESTUDO ............................................................................ 51
3.2 LOCAL DA PESQUISA ................................................................................. 52
3.3 POPULAÇÃO PESQUISADA ........................................................................ 52
3.4 COLETA DE DADOS ..................................................................................... 52
3.4.1 Procedimentos para coleta de dados ............................................................ 53
3.4.2 Procedimentos pedagógicos para coleta de dados........................................ 54
3.4.3 Repertório utilizado ....................................................................................... 55
CAPÍTULO IV – RESULTADOS ............................................................................. 57
4.1 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO SEMANAL DOS ALUNOS ............... 57
CAPÍTULO V – ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................... 65
5.1 ANÁLISE DA SEMANA 1 ............................................................................. 65
5.2 ANÁLISE DA SEMANA 2 ............................................................................. 67
5.3 ANÁLISE DA SEMANA 3 ............................................................................. 69
5.4 ANÁLISE DA SEMANA 4 ............................................................................. 70
5.5 ANÁLISE DA SEMANA 5 ............................................................................. 72
5.6 ANÁLISE DA SEMANA 6 ............................................................................. 74
5.7 ANÁLISE DA SEMANA 7 ............................................................................. 77
5.8 ANÁLISE DA SEMANA 8 ............................................................................. 79
5.9 ANÁLISE DA SEMANA 9 ............................................................................. 81
5.10 ANÁLISE DA SEMANA 10 ........................................................................... 83
5.11 ANÁLISE DA SEMANA 11 ........................................................................... 86
5.12 ANÁLISE DA SEMANA 12 ........................................................................... 91
5.13 AVALIAÇÃO GERAL DO DESENVOLVIMENTO DOS
ALUNOS.........................................................................................................
95
CAPÍTULO VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................ 97
6.1 EPÍLOGO ........................................................................................................ 100
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................
103
APÊNDICE A – MÚSICAS E PARTITURAS ......................................................... 108
ANEXO A – TABELA DE POSIÇÕES NA FLAUTA DOCE................................ 124
15
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa trata de uma Prática Pedagógica de ensino coletivo de Iniciação
à Flauta Doce em um núcleo de extensão escolar, situado em uma escola municipal de
Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro.
A partir da observação como professora e pesquisadora, surgiu o tema desta
dissertação que se refere à dificuldade dos alunos em compreender a linguagem musical, fato
observado diretamente no ensino e aprendizagem da Flauta Doce.
Buscamos, então, conhecer e analisar o material didático específico para a
Iniciação à Flauta Doce, editado por professores brasileiros que se dedicam ou se dedicaram
ao seu ensino e aprendizagem, desde a década de 60, e sua adequação para o ensino coletivo
de Flauta Doce no nível da Educação Básica, na escola regular de ensino, visando atender
essa realidade. Acredita-se que outros trabalhos de ensino e aprendizagem da Flauta Doce
existam, estejam em uso e não tenham sido incluídos nesta pesquisa pela dificuldade em
encontrá-los publicados em base de dados online ou nos acervos das universidades.
A partir da vivência em sala de aula de Educação Básica e fundamentados na
experiência de longa data em prol do conhecimento musical e no suporte teórico desta
dissertação, constatamos que a literatura específica para Flauta Doce, disponibilizada em
forma de material impresso e acessível aos professores de Educação Musical, não apresenta
um conteúdo significativo para atender aos objetivos e aos interesses dos alunos pesquisados
no citado núcleo de extensão escolar.
Nesse segmento escolar, o aluno do Ensino Fundamental vem direcionado para
o ensino e aprendizagem oferecido pela Oficina de Música pela curiosidade, pela
possibilidade do novo. Dentre tantas ofertas apresentadas pela mídia cultural, é preciso manter
o aluno motivado para o aprendizado da Flauta Doce, para o retorno às aulas, em horário
extraclasse e de caráter eletivo. Foi possível constatar essa motivação e interesse do aluno
com a metodologia experimentada e desenvolvida em classes de Iniciação à Flauta Doce
atendendo ao ensino coletivo proposto no nível da Educação Básica
O conteúdo repassado ao aluno, para ter significado, deve atender ao desejo de
compreender a simbologia, estimular o interesse e a motivação para aprender e, ainda,
16
fortalecer o sentido de continuidade e superação das dificuldades nas várias etapas da
aquisição e construção do conhecimento, o que foi observado em nossos resultados.
Esta dissertação, desenvolvida e aplicada junto a uma Oficina de Flauta Doce,
reflete respostas no contexto sócio histórico que evidenciaram contribuições capazes de
ultrapassar as condições particulares em que foram criadas e desenvolvidas. Essas
contribuições podem apontar um caminho que se inicia para a Flauta Doce, pautado nas
perspectivas e contribuições metodológicas e nos significados construídos nas relações de
todos os envolvidos mediante a interação social que ocorre no espaço da sala de aula da
escola de Educação Básica.
1.1 APRESENTAÇÃO
O exercício de professora de música, desde 1986, em escolas de educação
infantil, no ensino fundamental da rede pública e privada e em Organizações Não
Governamentais (ONGs) em Jacarepaguá nos levou a refletir sobre o espaço ocupado pela
educação musical e as diversas práticas ali testadas e desenvolvidas ao longo do tempo.
Uma metodologia diferenciada de ensino e aprendizagem para a Flauta Doce,
em especial para o processo de iniciação, tem sido uma busca constante em nossa vida de
magistério para que o aluno pudesse estabelecer uma relação significativa com a prática
musical. A partir desse sentido construído na interação sócio educacional e envolvendo um
processo pedagógico-musical visamos despertar e manter, no aluno, o interesse e a motivação
para tocar um instrumento, compreender a simbologia musical e compartilhar o ato de fazer
música.
Essa oportunidade de vivenciar a música em sala de aula na escola regular de
ensino é única para todos os envolvidos: alunos e professores. É uma experiência especial que
se renova a cada performance. E é essa consciência do valor da música, da importância dessa
relação no processo pedagógico-musical que tem impulsionado o cotidiano do nosso trabalho.
A não acomodação visando o aprimoramento sempre nos moveu, ao longo
desses anos de magistério, no sentido de adequar os modelos estabelecidos e o material que
temos à nossa disposição, de modo a criar e recriar uma realidade e uma identidade para e
com os alunos. Portanto, é preciso muita determinação para perceber e distinguir o que se
pode criar e inovar, improvisar e adequar para aquele momento em que temos o aluno em sala
de aula querendo aprender.
17
Quando os jovens e as crianças iniciam o estudo de um instrumento musical,
estão motivados pelo gostar de música e pela novidade. Será que é suficiente? Devemos nos
lembrar de que o desejo de saber e a decisão de aprender têm que ser estimulados e
realimentados dia a dia.
Alguns estudantes já participavam da vida musical nas igrejas do bairro e
chegavam para a aula de música com seu hinário. Outros, por sua vez, ansiosos e curiosos por
entender a partitura que encontravam, queriam decifrar a simbologia além de tocar um
instrumento musical.
Em sala de aula, pudemos observar que bons alunos em disciplinas como:
Matemática, Português, Ciências, são interessados na aprendizagem de música, no entanto
demonstraram dificuldades em perceber e compreender a relação de altura dos sons e sua
grafia.
Consideramos a importância dos professores se colocarem no lugar dos alunos
e entender que não é por falta de vontade ou dedicação que os discentes não compreendem.
Muitas vezes esses alunos não tiveram oportunidade de vivenciar anteriormente, os conteúdos
relacionados ao fazer música. Aqueles que já tiveram a oportunidade de vivenciar música, na
escola ou fora dela parecem se sentir mais à vontade nas aulas. É preciso, portanto,
reorganizar o conhecimento e encontrar um ponto de entrada no sistema cognitivo dos alunos.
É importante, também, viabilizar oportunidades de imersão no universo
musical tanto para os que já trazem alguma experiência externa, quanto para os que começam
a vivenciar a música dentro de sala de aula. Os alunos que constituíram o grupo de
participantes desta pesquisa vêm de contextos sócio-culturais diferentes, com universos
musicais variados e com capacidades específicas diversificadas.
Esta pesquisa focaliza, particularmente, a Oficina de Flauta Doce de um núcleo
de extensão escolar, Núcleo de Arte de uma escola municipal da cidade do Rio de Janeiro. O
Núcleo de Arte tem condições mais favoráveis para oferecer um trabalho de qualidade
diferenciada comparativamente ao trabalho da grade curricular oferecido nas escolas regulares
de ensino fundamental. A redução de alunos por turma, a ampliação da carga horária e a
disponibilidade maior de recursos e materiais específicos contribuem bastante para essas boas
condições.
Há, nas oficinas de instrumentos musicais, uma média de quinze alunos por
turma. As aulas de instrumento acontecem duas vezes por semana, com duração de uma hora
e vinte minutos cada aula. As aulas são realizadas em horário extraclasse e são optativas, o
que aumenta o grau de interesse no desenvolvimento das atividades e implica uma dinâmica
18
especial em sala de aula para atrair o aluno. Um dos grandes desafios do professor é despertar
no aluno o sentido de pertencimento e de coletividade e, assim, combater as faltas e a evasão.
É preciso criar, recriar e buscar estratégias de inovação. O aluno vai para a aula de música e
quer aprender Música!
Nesse contexto de interatividade com os alunos na busca do conhecimento
surge a questão deste trabalho: uma proposta de ensino coletivo da Flauta Doce, em sala de
aula com alunos da Educação Básica, oriundos na sua maioria, das séries iniciais do Ensino
Fundamental, dentro de uma Oficina de Música de um Núcleo de Arte da cidade do Rio de
Janeiro.
1.2 OBJETO DE ESTUDO
O objeto deste estudo concentra-se no processo de Iniciação Musical, de alunos
das séries iniciais do Ensino Fundamental, na sua maioria entre as idades de oito e onze anos
de idade, tendo a Flauta Doce como instrumento musicalizador.
1.2.1 Característica do objeto de estudo
Em processos de Iniciação Musical, a Flauta Doce é tradicionalmente
apresentada por meio de uma metodologia que utiliza pouco dedilhado e em uma só mão.
Foi investigada uma nova proposta de ensino e aprendizagem, a partir do uso das duas mãos
na dedilhação da Flauta Doce, desde o primeiro contato com o instrumento. Dessa forma,
utilizou-se um dedilhado, com mais equilíbrio, distribuído entre as duas mãos. Podemos
observar a seguir, a diferenciação entre as duas propostas.
1.2.1.1 Posição Aberta: uma proposta de aprendizado inicial da Flauta Doce no ensino
tradicional
No ensino tradicional de Flauta Doce a primeira lição é feita por meio da nota
Si e, na sequência, o Lá e o Sol são apresentados. Para obter o som da nota Si o aprendiz usa
apenas o polegar e o indicador da mão esquerda na posição de dedilhação para a produção do
som. Dos sete orifícios espalhados pelo corpo da flauta, fecha-se o orifício localizado atrás da
19
Flauta Doce e apenas um na frente: esta é a Posição Aberta da nota Si em que a maioria dos
orifícios permanece aberta, conforme se observa na Figura 1
Figura 1 – Nota Si – Posição Aberta
Fonte: acervo da pesquisadora
Para executar a Posição Aberta da nota Lá, acrescenta-se o dedo médio e, para
a Posição Aberta da nota Sol, os dedos: médio e anular. Nota-se que a mão direita permanece
aberta, sem posição definida, fato que proporciona um desequilíbrio na sustentação do
instrumento, conforme se observa nas Figuras 2 e 3.
Figura 2 – Nota Lá – Posição Aberta
Fonte – acervo da pesquisadora
20
Figura 3 - Nota Sol – Posição Aberta
Fonte – acervo da pesquisadora
Por meio da manipulação tátil-visual o aluno procura descobrir as posições das
notas na Flauta Doce, pela imitação e a partir dos modelos que ele tem em sala de aula:
professor e alunos mais adiantados. Pode-se observar a curiosidade, nesse contato inicial,
ligada ao contato físico do instrumento. Dessa maneira, é importante o uso das duas mãos
com posições definidas para ajudar no equilíbrio e sustentação do instrumento e favorecer o
uso correto dos movimentos das mãos e dedos.
1.2.1.2 Posição Fechada: nossa proposta para a inovação do aprendizado inicial da Flauta
Doce
Diferente da proposta de aprendizado inicial de Flauta Doce no ensino
tradicional, anteriormente exposto, a proposta desta dissertação apresenta uma nova
concepção para o ensino e aprendizagem no processo de Iniciação à Flauta Doce. Dessa
forma, propõe-se que as duas mãos se apresentem atuantes e participativas na dedilhação e o
equilíbrio tátil-cinestésico possa ser mais bem distribuído e sentido pelo iniciante.
Nessa proposta, a primeira lição começa com a nota Mi e, para se obter o som
da referida nota, é preciso colocar os dedos da mão esquerda da seguinte maneira: (a) polegar
no orifício da parte de trás; (b) indicador, médio e anelar fechando os orifícios da frente,
21
próximos à embocadura; e (c) a mão direita, na sequência, utilizando o dedo indicador e
médio.
1.2.1.3 Considerações acerca das duas propostas
Durante anos de trabalho no ensino e aprendizagem da Flauta Doce utilizando
o método tradicional, com a nota Si e Posição Aberta, verificamos as dificuldades
apresentadas pelos alunos iniciantes e passamos a buscar alternativas para saná-las.
Levar o instrumento aos lábios, buscar o equilíbrio e posicionar as mãos nos
orifícios da Flauta Doce é a primeira etapa de um processo complexo. Sentir o instrumento,
tátil e visualmente e emitir o som solicitado pelo professor, simultaneamente, é uma tarefa
que pode ser conduzida mais facilmente quando o peso da Flauta Doce é distribuído entre as
duas mãos, com o uso da Posição Fechada, como ocorre com a nota Mi.
É muito comum observar que o procedimento tradicional, Iniciação à Flauta
Doce por meio da Posição Aberta da nota Si, considerado padrão, pode trazer posturas
inadequadas na sustentação do instrumento musical, conforme se observa na Figura 1,
ilustrada no item 1.2.1.1. Os alunos colocam os dedos da mão direita na lateral da Flauta
Doce, apoiando-os, de forma equivocada e dificultando a sustentação do instrumento. Nesse
caso, os dedos da mão direita é que estão se apoiando na Flauta Doce, quando o correto seria
que os dedos da mão direita participassem da sustentação do instrumento em vez de se
apoiarem nele.
Nos primeiros contatos com o instrumento musical, o aluno não tem domínio
para distribuir o peso da Flauta Doce entre o queixo e o polegar esquerdo e, ao mesmo tempo,
deixar os dedos da mão direita em estado de espera acima dos orifícios.
1.2.2 Enfoque do objeto de estudo
O foco deste estudo recaiu sobre a aprendizagem de Flauta Doce na perspectiva
tátil-cinestésica do posicionamento das duas mãos na dedilhação, desde o primeiro contato do
aluno com o instrumento. Assim sendo, o ponto de partida é uma nota de Posição Fechada em
22
que a maioria dos orifícios da Flauta Doce é vedada para se obter o som. A nota Mi atende
esses requisitos: é nota de Posição Fechada, utilizando a mão esquerda e a mão direita na
dedilhação, com posições definidas conforme Figura 4.
Figura 4 - Nota Mi – Posição Fechada
Fonte – acervo da pesquisadora
Conforme se observa na Figura 4, é preciso colocar as duas mãos na dedilhação
e fechar a maioria dos orifícios e, dessa forma, obter a Posição Fechada. Ao todo são cinco
orifícios no corpo da Flauta Doce, na visão de cima para baixo que correspondem à nota Mi.
Os orifícios são fechados numa ação interativa das duas mãos na dedilhação que visa
possibilitar ao aluno sentir melhor o peso do instrumento, dividido entre a mão direita e
esquerda.
Além do fator tátil-cinestésico, favorecido e apontado pela Posição Fechada da
nota Mi, nessa abordagem inicial, outros argumentos relevantes chamam a atenção da autora:
(a) sua posição privilegiada na primeira linha do pentagrama; e (b) seu colorido sonoro, de
tessitura média e agradável, que conduz à concentração.
O estudo inicial da Flauta Doce por meio da nota Mi pretendeu destacar a
importância do sentido da sensação e percepção do movimento no desempenho inicial do
aluno junto ao instrumento. Desse modo, adveio a proposta inicial com a nota Mi.
23
1.2.3 Desdobramentos do objeto de estudo
Além da questão tátil-cinestésica, outros fatores contextualizaram o ambiente
dessa nova proposta de iniciação ao ensino da Flauta Doce: a grafia musical e o timbre, que
serão abordados a seguir.
1.2.3.1 Grafia musical
É importante e necessário destacar a percepção tátil-visual desde os primeiros
encontros do aluno com a Flauta Doce, para que a posição correta das mãos e o movimento de
dedos, na sustentação e aprendizado do instrumento, possam ser naturalmente apreendidos.
Em relação à leitura e escrita pode-se dizer que a nota Si – instituída como
primeiro som da Flauta Doce – traz uma complexidade maior para o aluno iniciante por estar
no meio da pauta, ou seja, na terceira linha da clave de sol. A posição da nota Si na terceira
linha, no meio do pentagrama pode gerar dúvidas, no aluno iniciante, relativas ao
sequenciamento das notas Lá e Dó. De baixo para cima encontra-se a nota Lá e de cima para
baixo, na mesma posição, encontra-se a nota Dó.
A mesma dificuldade é apresentada em relação à nota Sol: na 2ª linha de baixo
para cima é Sol e de cima para baixo, na mesma posição em relação às linhas da pauta, é a
nota Ré. É o começo de um processo, do sobe e desce que se inicia. Os alunos têm dificuldade
para compreender o raciocínio que envolve a simbologia que utiliza a terceira linha, nota Si,
como ponto de partida. A 3ª linha é meio e não início.
Os alunos não estão habituados a utilizar um conjunto de linhas para se
expressar, pois no caderno da sala de aula as linhas são independentes. Não há essa estreita
relação de interdependência que existe entre as linhas do pentagrama.
Destacamos três considerações que devem se observadas no início da
aprendizagem da grafia musical e do instrumento: (a) relação de interdependência das linhas e
espaços da pauta; (b) posição das notas na Flauta Doce e seu correspondente na notação; e (c)
manutenção do equilíbrio do instrumento e a emissão do sopro.
Considerando a leitura e escrita da nota Mi, a abordagem dessa aprendizagem
inicial pode contribuir para a melhoria do desempenho pela facilidade que apresenta na
identificação e a clareza da posição na primeira linha da pauta. Associa-se, então, o início da
24
execução instrumental por meio da nota Mi com o início da leitura/escrita musical na primeira
linha da pauta.
Com a nota Mi na primeira linha, a construção da simbologia será no sentido
de baixo para cima, em direção às outras linhas da pauta. A direção é num único sentido. Não
causa dúvidas.
1.2.3.2 O timbre
Tocar a Flauta Doce deve ser vista como uma habilidade que pode ser
favorecida pelo julgamento e aceitação das pessoas, que convivem e ouvem o aluno que inicia
os estudos desse instrumento. Assim, podemos observar a importância da atribuição de
significado e não simplesmente uma capacidade que poderá ser desenvolvida.
Percebemos uma associação preconceituosa entre a Flauta Doce e os sons
agudos e repetidos mediada pela lembrança de uma prática escolar anterior e antimusical.
Dessa forma, os alunos não passavam da fase de execução de um ostinato de sons agudos e
pequenas melodias usadas no repertório tradicional da Flauta Doce, diretamente traduzidas
pelos sons da Posição Aberta.
Nesse momento inicial, o aluno não tem controle da emissão do ar e sopra com
força excessiva, provocando sons apitados e distorcidos causando, muitas vezes,
estranhamento naqueles que ouvem e acompanham esses primeiros e importantes passos, o
que nos levou a refletir, também, sobre o timbre agudo da nota Si, nota de Posição Aberta.
Dessa forma, a nota Si pode não ser tão estimulante, pois o prazer que o aluno tem em tocar
está intimamente ligado ao prazer que ele proporciona a quem ouve.
O timbre da nota Mi pode ser mais agradável do que o da nota Si nesse
momento inicial. É um som da região central, confortável, que pede leveza para soar bem,
porque a coluna de ar é maior. Isso faz com que o aluno aprenda a soprar leve desde o início e
pode concorrer para que ele tenha mais atenção ao emitir o som e para articular os sons.
A sonoridade doce e suave das notas da região central da Flauta Doce traz
calma ao ambiente e facilidade para o aluno entoar as notas em aprendizado, uma vez que
estão situadas na tessitura próxima a da fala. Essas qualidades que nomeamos e evidenciamos
em relação a nota Mi, são importantes ferramentas na promoção das bases afetivas e
cognitivas, condutoras do processo de interação social e de ensino e aprendizagem da Flauta
Doce.
25
Portanto, os sons da região central podem favorecer a concentração por serem
mais suaves, mesmo nos processos comuns da repetição e experimentação do som solicitado.
1.2.3.3 Aprendizagem motora
Da experiência e vivência em sala de aula, em prol da aquisição do fazer
musical integral, optamos pelo ensino e aprendizagem da Flauta Doce a partir da nota Mi. Nos
estudos da neurociência, particularmente nos estudos da proprioceptividade, sensação e
percepção do movimento, encontram-se argumentos científicos indicativos para a observância
do movimento corporal em relação ao aprendizado de instrumentos musicais desde seus
primeiros contatos.
Este estudo considerou a importância do uso da Posição Fechada dentro dessa
abordagem música-corpo-instrumento e apontou esse movimento das mãos e dedos como
mais natural para iniciar o ensino e aprendizagem da Flauta Doce, pois, articulado na
interdependência e equilíbrio das mãos, favorece a aprendizagem motora por meio da relação
corpo-instrumento e da distribuição do peso do instrumento entre as duas mãos.
1.3 QUESTÃO DA PESQUISA
A partir da prática inicial com a nota Mi na condução do ensino e
aprendizagem da Flauta Doce chega-se à seguinte questão de pesquisa: a técnica da Posição
Fechada, usada com a nota Mi pode ser considerada facilitadora na abordagem inicial do
ensino e aprendizagem da Flauta Doce?
1.4 OBJETIVO DA PESQUISA
Avaliar a possibilidade de aplicação da abordagem pedagógica a partir da nota
Mi como condutora da aprendizagem motora no desempenho instrumental e facilitadora da
compreensão da grafia musical no ensino coletivo da Flauta Doce a partir das séries iniciais
do Ensino Fundamental.
Uma vez aplicada essa dinâmica, avaliar a permanência do aluno em ambiente
escolar e na aprendizagem musical.
26
1.5 JUSTIFICATIVA
A Flauta Doce é um instrumento tradicionalmente utilizado nas classes de
Educação Musical no Ensino Fundamental do ensino público e privado de Educação Básica,
nas séries iniciais e intermediárias.
Dos métodos tradicionais e popularizados dentro da literatura da Flauta Doce,
que trazem a nota Si como posição inicial podemos concluir que a referida nota não favorece
a aprendizagem motora e a grafia musical.
Quanto à aprendizagem motora, observamos que: (a) a nota Si é uma nota de
Posição Aberta; (b) uso somente da mão esquerda, polegar e dedo indicador; (c) mão direita
não tem posição definida; (d) não proporciona ao aluno iniciante o sentido real de peso e
equilíbrio do instrumento; e (e) o desconforto do aluno para segurar o instrumento.
Quanto à grafia, destacamos a dificuldade do aluno iniciante para a
compreensão do processo de leitura e escrita que começa a se estabelecer ao se deparar com o
símbolo colocado na terceira linha do pentagrama.
Nesse contato inicial o aluno fica desconfortável entre muitas novidades que se
seguem: (a) encontrar o equilíbrio para segurar o instrumento; (b) colocar os dedos e mãos na
posição correta; (c) emitir e ouvir o som que se produz; e (d) observar a relação linha-espaço
do pentagrama com o som que se produz.
Podemos observar o quão mais fácil é perceber o símbolo escrito na primeira
linha da pauta, a partir da nota Mi. A notação gráfica da nota Mi é favorecida visualmente
pela posição na 1ª linha da pauta e apresenta outras possibilidades para o processo de ensino e
aprendizagem da Flauta Doce, o que justifica o empenho em pesquisar e avaliar essa
contribuição. No estudo que se apresenta, optamos pela nota Mi seguida da nota Fá e da nota
Ré por meio da Posição Fechada para iniciar o ensino e aprendizagem da Flauta Doce e o
processo de aquisição da leitura e escrita musical.
Neste estudo procuramos apresentar os símbolos como um conhecimento em
construção e dentro de contextos enriquecidos pelo sentido musical, articulando sempre o
conhecimento de um som novo ao conhecimento que o aluno já sabe. Na sistematização e
construção do conhecimento musical integra-se corpo, movimento e som nas inúmeras
possibilidades para propiciar a interação com o universo sonoro e destacar que a
aprendizagem abrange o físico, o cognitivo e o afetivo. Desse modo, considerarmos a
27
importância da relação música-corpo-instrumento desde o inicio do processo de ensino e
aprendizagem.
É importante mencionar que o Método Suzuki de Flauta Doce1 apresenta o
ensino e aprendizagem da Flauta Doce por meio da Posição Fechada, a partir da nota Ré e
apoiada no equilíbrio das duas mãos, o que vem fortalecer o direcionamento apresentando
nesta pesquisa.
Reafirmamos a importância da conscientização do aperfeiçoamento da
proprioceptividade, princípio que norteou esta pesquisa no que se refere à mudança da
posição inicial do estudo da Flauta Doce. Como destaca Álvares (2005) a proprioceptividade
vem apoiar a capacidade de resposta sensório-motora pelo diálogo entre as duas mãos.
Esse processo, que esperamos venha a se constituir em norteador da grafia
musical a partir da nota Mi, traz uma especial atenção à aprendizagem motora pela
possibilidade de uma vivência real com a Flauta Doce. Uma melhor absorção de
conhecimentos pode ser concebida a partir da associação da vivência do aluno com aquilo que
se pretende ensinar.
Nesse contexto de inquietação de um professor, observador e estudioso na área
de Educação Musical, nasceu a questão para esta pesquisa. Pergunta-se: a abordagem inicial
por meio da nota Mi – Posição Fechada - pode ser considerada facilitadora da compreensão da
leitura e escrita musical e condutora do sentido sensório- motor, quando aplicada ao ensino
coletivo da Flauta Doce em alunos das séries iniciais e intermediárias da Educação
Fundamental, em experimentação, numa unidade escolar de extensão – Núcleo de Arte – da
cidade do Rio de Janeiro?
É importante lembrar que, inicialmente, este estudo enfocou a relação das notas
Mi-Fá e Mi-Ré. Dessa maneira pode-se estabelecer outro referencial para o início do estudo
da Flauta Doce: a nota Mi, situada na 1ª linha da pauta na clave de sol que, apoiada na relação
de percepção e sensação do movimento, proprioceptividade, vem favorecer a grafia musical
inicial.
Santos (2001) ao se reportar à Dalcroze, afirma que é indispensável à relação
do professor com o atual, com o futuro, com a renovação e com os novos materiais e
instrumentos de criação. Nessa perspectiva, reafirmamos a importância do estudo
1 O Método Suzuki de Flauta Doce foi elaborado pela professora norte-americana Katherine White, que esteve
no Japão, em 1974, a convite do próprio Suzuki para estudar no Instituto de Educação do Talento em
Matsumoto. Em 1976 recebeu o Certificado de Professora (ZUZUKI ASSOCIATION OF THE AMERICAS).
28
biofisiológico na relação corpo-mente observada na memória corporal, na interação afetivo-
cognitiva e nas formas diferentes de aprender e ensinar.
29
CAPÍTULO II
REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo destaca considerações sobre: (a) o ensino e a aprendizagem, sob a
perspectiva sócio-interativa de Vygotisky (1989), a aquisição da aprendizagem significativa
de Ausubel (2001) e o ato de fazer música - musicking de Small (1995); (b) o ensino coletivo
de instrumentos musicais no Brasil e as possibilidades: (b.1) de inclusão em sala de aula de
Educação Básica; (b.2) do estudo da proprioceptividade e aplicação à Iniciação à Flauta Doce;
e, (c) os livros didáticos de Flauta Doce utilizados no período de mais de cinquenta anos de
ensino e aprendizagem de música.
2.1 ENSINO E APRENDIZAGEM
Aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo
diferentes etapas: aquisição, construção, retenção e generalização na obtenção de um
determinado conhecimento (LINS, 2004).
Como referencial de ensino e aprendizagem, destacamos, neste tópico, o
princípio que o ato de aprender depende da interação entre dois indivíduos ou mais. Essa é a
interação entre professor e aluno ou entre alunos e alunos e depende da interação do professor
e do aluno com o meio ambiente em que vivem e trocam experiências. Tem-se, dessa forma, a
interação entre o individuo e o meio social, o que, segundo Vygotsky (1989), é fundamental
para que ocorra a aprendizagem. É essencial que o indivíduo esteja inserido em determinado
meio social para que aconteçam mudanças no seu desenvolvimento, reafirmando que todo
conhecimento vem da prática social. O referido autor considera que a aprendizagem depende
desse desenvolvimento social.
Vygotsky (1989) dá valor à aprendizagem escolar, pois ela produz algo
fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança que é a interação nesse meio
específico. Vygotsky (1989) se preocupa com a aquisição da aprendizagem, enfatizando a
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): nível mental do aluno não pode ser determinado
apenas pelo que consegue realizar de forma independente. O autor valoriza aquilo que o aluno
consegue realizar com a ajuda do professor e ou de colegas, visto que põem em movimento
30
vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.
Nessa ação interativa destacamos a importância da atuação e ou mediação do professor para o
desenvolvimento real do processo de aprendizagem.
Por outro lado, observamos a teoria de Ausubel (2001) que se preocupa com a
aprendizagem ocorrida na sala de aula por meio de exposição significativa e destaca que o
fator mais importante de aprendizagem é o que o aluno já sabe. É a partir do conhecimento
que o aluno carrega consigo para a sala de aula que se destacam os conteúdos específicos e a
organização lógica do material a ser aprendido, ganhando assim significado.
Segundo Ausubel (2001), a aprendizagem escolar se dá simultaneamente em
dois aspectos: na organização sequencial e no controle desse processo por parte do professor;
na execução, por parte do aluno. Cabe destacar a importância da organização sequencial que
estrutura e possibilita a aprendizagem de determinado conteúdo, que funciona como âncora na
ligação entre a informação nova e a informação existente na estrutura cognitiva do aluno e vai
explicitar a possibilidade de relações entre os novos conhecimentos e aqueles que o aluno já
tem, mas não percebe que são relacionáveis aos novos.
Small (1995) destaca que a música, a sociedade e a educação são elementos
inseparáveis e interdependentes e que, encorajando a criatividade, poderemos propor uma
nova realidade para os alunos a partir dessa vivência. Assim, podemos interpretar a
criatividade musical como possível de ser incorporada também na construção de novas
realidades dentro da sala de aula, a que pode acontecer à medida que a aula de música for
realizada num ambiente especifico.
Small (1995) é favorável ao ensino em que o acesso ao conhecimento é
apoiado e integrado pelas vivências musicais, o que encontra ressonância na importância que
Vygotsky (1989) aponta para a imersão do aluno em ambiente específico. Pode-se observar,
então, uma forte convergência de ideias entre Vygotsky (1989) e Small (1995). O homem é
um ser social, que aprende na relação com o outro e que aprende aquilo que tem oportunidade
de vivenciar. Podemos dizer que os alunos tocam, ouvem, veem, cantam, movimentam-se,
brincam e estão realizando o ato de musicking2. E é no ato de fazer música, no musicar, que
encontraremos os meios favoráveis ao ensino e aprendizagem musical.
Percebemos que Ausubel (2001), Vygotsky (1989) e Small (1995) destacam
como pontos importantes para a aquisição da aprendizagem escolar a hierarquização e
2 Termo criado por Small para dizer que a música, em sua essência não é um substantivo, mas um verbo.
Musicking é a ação de fazer música como fruto das relações interpessoais que acontecem em um determinado
espaço social como, na sala de aula de uma escola de Educação Básica
31
sistematização do aprendizado, a atuação e mediação do professor, a interação social e suas
relações de valor e significado onde ocorre a prática musical.
2.1.1 Vygotsky e a linguagem musical
Lev Semenovich Vygotsky (1896 – 1934) psicólogo e teórico do ensino como
processo social, nasceu em Orsah, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielo-Rússia,
região então dominada pela Rússia. Dois anos após sua morte suas obras foram proibidas
durante vinte anos pela ditadura de Stálin. Em 1980, tornaram-se públicas e ainda estão em
pleno processo de descoberta e debate em vários pontos do mundo, incluindo o Brasil.
Destacam-se, nas obras de Vygotsky (1989) diretrizes que nortearam este estudo em vários
aspectos importantes.
Para Vygotsky (1989; 2003) as principais estruturas cerebrais, aquelas
responsáveis pelas funções, psicológicas superiores, vão ser formadas a partir da imersão do
indivíduo num determinado meio social, movimentado por mediações/intervenções de outras
pessoas. Desse modo, dependendo do meio social no qual se desenvolve, o indivíduo forma
determinadas estruturas e desenvolve algumas capacidades específicas como as habilidades
musicais que dependem integralmente de um processo de aprendizagem. Esse é um exemplo
da aprendizagem como elemento que provoca desenvolvimento no indivíduo.
Infere-se daí que não existe um desenvolvimento psicológico único, ou apenas
a partir do tipo biológico do indivíduo, mas que todo desenvolvimento psicológico está
sempre determinado pelo contexto social.
A aprendizagem é considerada por Vygotsky (1989) a grande ativadora do
desenvolvimento de uma pessoa, como principal modo de transmissão de significados e,
consequentemente, de apropriação da cultura. Portanto, qualquer tipo de capacidade musical
depende integralmente de um processo de aprendizagem.
Vygotsky (1989) estabelece dois estágios nos processos de desenvolvimento da
ZDP: o processo real, medido pelo que o aluno pode realizar sozinho e o desenvolvimento
potencial ou proximal, que é a capacidade de realizar determinadas ações com o auxílio de
outras pessoas mais experientes. Esse conceito é de extrema importância na teoria
vygotskyana, pois evidencia a relevância da mediação do outro no desenvolvimento
cognitivo. Nesse sentido, a imitação é considerada particularmente importante nesse processo,
pois as ações que podem ser imitadas pressupõem estarem dentro da zona de desenvolvimento
32
proximal. Com a psicologia neste enfoque, Vygotsky (1989), preconiza que a percepção do
conjunto precede a de partes isoladas. Portanto, pouco sentido faz qualquer tipo de trabalho
educacional com sons isolados.
Não há como separar a percepção de um objeto do sentido atribuído a ele.
Segundo Vigotsky (1989), essa característica de significância da percepção é fruto do
desenvolvimento e, portanto, diferenciada na criança e no adulto sendo, inicialmente, uma
relação direta entre o indivíduo e o meio social. A percepção vai se tornando, cada vez mais,
uma relação mediada pelas significações culturais.
Uma vez que o aluno esteja imerso num ambiente onde há música, a percepção
sonora é vinculada a partir desse universo musical determinado e a iniciação musical se
estabelece dentro dessa prática sócio-interativa.
2.1.2 Ausubel e a linguagem musical
David Paul Ausubel (1918-2008), psicólogo educacional, nasceu nos Estados
Unidos, na cidade de Nova York, no ano de 1918 e teve sua Teoria da Aprendizagem
divulgada a partir da década de 60 do século XX.
A teoria da assimilação de David Paul Ausubel, ou teoria da aprendizagem
significativa, é uma teoria cognitivista e procura explicar os mecanismos internos que
ocorrem na mente humana com relação ao aprendizado e à estruturação do conhecimento,
apoiando-se na linguagem e na exposição significativa feita pelo professor.
Destacam-se na Teoria de Ausubel (2001) aspectos importantes que podem ser
observados no ensino coletivo de Flauta Doce, que reúne em sala de aula alunos originários
de diferentes contextos sócio-culturais, com níveis diversificados de conhecimento. A teoria
ausubeliana afirma que não se trata de simples ajuntamento de saberes, mas de um processo
de aprendizagem com significação.
Em particular, a busca do sentido do ensinar e aprender Flauta Doce remete às
questões de significação da simbologia musical, que é ensinada e aprendida no contexto
escolar a partir do conhecimento que o aluno já sabe. Desta forma, ensinar Flauta Doce em
grupo implica uma maneira de pensar e aferir atribuição de significado ao que vai ser
ensinado e na forma como vai ser ensinado.
O foco deste estudo recaiu sobre a aprendizagem da Flauta Doce a partir de
uma nota de Posição Fechada, a nota Mi. Na Posição Fechada as duas mãos se apresentam
33
atuantes e participativas e o equilíbrio tátil-cinestésico é observado desde os primeiros
contatos do aluno com a Flauta Doce.
Para tanto, a Iniciação à Flauta Doce a partir da nota Mi ao se utilizar de um
processo interativo entre as atividades do cotidiano infantil: cantar e mover-se e a ação de
tocar o instrumento, proporciona a vivência musical ao aluno, que é fundamental para o seu
desenvolvimento musical, pois “a formação de conceitos vem da experiência” (REQUIÃO
1998, p. 8). Isto estabelece a ligação entre a informação nova e a informação existente, o que
é fundamental na Teoria de Ausubel. Por meio de ações conhecidas, o aluno encontrará
sustentação para o novo conhecimento, construindo uma ponte para o processo de
conhecimento: dos sons da canção ao conceito novo, a ser identificado e aprendido.
O que leva o aluno à sala de aula é um dado muito importante a ser
considerado na hora da elaboração do planejamento da aula. Portanto, o aluno que vem para a
aula de Flauta Doce deve encontrar um material motivador, que corresponda à sua
expectativa, adequado ao conhecimento que ele traz consigo para a aula.
A exposição desse material deve ser organizada e hierarquizada, de forma que
possa manter o vínculo entre a pré-disposição em aprender e a motivação, elementos
fundamentais para traduzir a significação da aprendizagem. Sabe-se que a pré-disposição
representa o potencial para o aprendizado e a motivação alimenta a rotina do aprendizado.
A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel concentra-se no cotidiano
da sala de aula, valorizando a aula do tipo expositiva, que foi o grande foco da sua pesquisa.
A aula expositiva ao contrário do que se pensa, não é necessariamente mecânica implicando
na passividade do aluno. Ausubel (2001) explica que a exposição significativa produz
motivação e participação do aluno.
Para Ausubel, o material de aprendizagem não é inteiramente responsável pelo
agir do aluno, pois é apenas é “potencialmente significativo” (AUSUBEL, 2001, p. 1), porque
o mecanismo de aprendizagem é que dá sentido ao que vai ser aprendido.
Dessa forma, temos na canção em estudo, segundo Ausubel, o nosso material
de aprendizagem, Para que esse material seja potencialmente significativo, devemos observar
que a canção, além de apresentar um determinado conteúdo, deverá corresponder às
expectativas do aluno. O desejo de aprender deve ser constantemente renovado. O que é feito
por meio do material que selecionamos, de forma organizada e sequencial e pelo processo de
ensino e aprendizagem que optamos. Ao ouvir e cantar a canção que contém a informação
nova, essa informação nova se instala por intermédio do conhecimento prévio que o aluno
tem, responsável pela ligação do novo material de aprendizagem às ideias relevantes
34
existentes na estrutura cognitiva. Dessa maneira, constata-se que houve um sentido lógico do
conhecimento.
O conceito inicial3 é apresentado a partir da nota Mi, articulada com as notas
Fá e Ré, que é vivenciado pelo aluno por meio da inscrição corporal, traduzida por
movimentar, cantar, escutar e tocar. A grafia musical é o passo seguinte, de forma que o aluno
possa relacionar os significados apreendidos por meio da vivência sensório-motora à sua
estrutura cognitiva e, então, compreender a linguagem simbólica, escrita na pauta musical.
A aprendizagem significativa é aquela na qual o aluno é capaz de explicar
situações novas com suas próprias palavras a partir do seu conhecimento prévio (AUSUBEL,
2001), o que foi observado referente ao problema desta dissertação: quando o aluno
identificou nas novas partituras o conceito inicial apresentado a partir da nota Mi e
transformado, dessa forma, em conhecimento adquirido.
No processo de Iniciação à Flauta Doce, o professor precisa considerar o
processo de ligação entre a informação nova e a informação existente, como se aprende na
teoria ausubeliana. Esse processo possibilita explicitar a relação entre os novos
conhecimentos e aqueles que o aluno já tem, de modo que ele perceba que são relacionáveis
entre si.
Considerando a leitura e escrita da nota Mi, a abordagem dessa aprendizagem
inicial pode contribuir para a melhoria do desempenho pela facilidade que apresenta na
identificação e clareza da posição na primeira linha do pentagrama. Associa-se, então, o início
da execução instrumental por meio da nota Mi com o início da leitura e escrita musical na
primeira linha do pentagrama. A nota Mi é articulada desde o inicio dos estudos: Mi-Fá, Mi-
Ré, Mi-Sol a partir dos primeiros contatos do aluno com o instrumento.
Essa melhoria de desempenho, aqui explanada, correspondeu aos pressupostos
da Teoria de Ausubel: conceitos bem aprendidos e assimilados ajudam o aluno a estabelecer
conexões e a formar outros conceitos; aprender significativamente é então compreender a
organização lógica do material a ser aprendido (AUSUBEL, 2001). Deste modo, o novo
conhecimento será incorporado e vai se relacionar àqueles já existentes na estrutura cognitiva
do aluno.
3 A nota Mi é articulada com as notas Fá e Ré desde os primeiros contatos do aluno com o instrumento. Na
sequencia com a nota Sol, primeira nota de Posição Aberta, o que justifica a nossa referência ao termo Conceito
Inicial e não simplesmente à nota Mi.
35
2.1.3 Christopher Small e o ato de fazer música
Christopher Small (1927-2011), musicólogo, professor e compositor de trilhas
sonoras de filmes, nasceu em Palmerston North, na Nova Zelândia, onde estudou e viveu até
1961. A partir dessa data transferiu suas atividades profissionais para Londres, e em 1986
para Espanha, em Sitges, próximo à Barcelona.
Christopher Small, que morreu aos 84 anos, influenciou gerações sucessivas de
alunos, professores e musicólogos por meio de seus livros, Música, Sociedade, Educação
(1977), Music of the Tongue Comum (1987) e Musicking (1998).
Os fundamentos destacados por Small (1995) são: (a) a natureza da música
cuja essência primeira é a ação de fazer música, que ele intitula - musicking e (b) a função que
a música exerce na vida humana por meio das relações daqueles que estão envolvidos nas
ações que constituem o fazer musical. São princípios de relevância que vêm fortalecer o valor
da música e da nossa pesquisa, cujos fundamentos podem ser observados a partir dos
processos de iniciação de uma prática de ensino de Flauta Doce.
A prática musical descrita nesta pesquisa tem foco na aprendizagem
colaborativa e integra a criação de uma realidade musical, a apreciação e execução musical.
Segundo Small (1995), o fazer musical é construído desde que o aluno adentra a sala de aula,
em todas as situações e atividades que envolvem e propiciam o ensino e a aprendizagem, num
constante vai e vem do conteúdo, dos relacionamentos e do significado entre eles.
Imbuídos dessa proposta para a criação do contexto musical específico, usamos
um teclado com drive de disquete que trouxe para a nossa sala de aula um pouco da
tecnologia com a audição prévia do repertório que foi estudado pelos alunos. A música foi
pré-gravada e por meio de uma proposta interativa, o aluno pôde vivenciar anteriormente,
pelo canto, gestos e ou movimentos corporais, o sentido rítmico e melódico, que executou
posteriormente na Flauta Doce.
É importante contar com uma base instrumental para guiar os alunos porque no
início os alunos tocam apenas duas notas dentro de um contexto melódico, as notas Mi e Fá
ou Mi e Ré. As notas musicais em questão foram trabalhadas previamente pela escuta, com o
auxílio do canto e da observação dos entornos melódicos em atividades de interação social
conduzidas e em atividades posteriores, destacadas pelos próprios alunos em suas partituras.
Na continuidade do processo marcaram a nota Sol, em seguida Ré e Fá sustenido e assim por
diante.
36
A base instrumental garantiu, inicialmente, a unidade da música que foi
executada pelos alunos, para que eles pudessem se deter nos sons que progressivamente
estavam aprendendo e compreendendo. Nesse processo de Iniciação à Flauta Doce, todas as
melodias usadas foram criadas e recriadas em formato MIDI4 e posteriormente gravadas em
Compact Disc (CD), com a participação de alunos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem da Flauta Doce
Dessa forma destacamos uma ferramenta da nossa prática pedagógica que cria
uma nova realidade para os nossos alunos tal como Small (1995) argumenta, para se pensar
que na interação social se constrói o sentido de como aquele universo sonoro se organiza e se
incorpora na realidade do cotidiano dos nossos alunos. Em concordância com essas ideias
Vygotsky (1989) afirma que a aprendizagem se realiza, primeiro no social, e, só depois que é
internalizada pelo aluno. Assim, tudo converge para a importância de utilização de recursos
que ampliem as possibilidades daquela realidade social na qual se realiza a pratica
educacional.
Ao adotarmos o uso e criação das partituras para a execução instrumental,
contamos com a utilização do recurso visual das canetas coloridas, que denominamos marca-
textos Com esse recurso identificamos outras possibilidades para a performance dos nossos
alunos, permitindo o acesso a um repertório único que atendeu, individualmente, um trabalho
realizado coletivamente e, dessa forma, evidenciou os vários níveis de conhecimento que se
estabeleceram na evolução das aprendizagens.
A partitura executada, simultaneamente, de maneiras diferentes, com cada
aluno segundo as suas possibilidades; e, como numa orquestra, os alunos não tocaram o
tempo todo. Os alunos precisaram acompanhar auditivamente, visualmente, afetivamente e
cognitivamente, o processo que estava em desenvolvimento e, no momento certo, no
compasso ou compassos previstos, executaram as notas musicais já previamente
reconhecidas. Foi preciso, portanto, internalizar o todo primeiramente. Vygotsky (1989)
afirma que a apreensão do todo precede a das partes, o que pudemos constatar com a nossa
metodologia em questão.
Dessa forma, ao reconhecer as notas musicais na partitura, os alunos estão
agindo conscientemente na organização e seleção do conhecimento. Com este agir, estão
tomando decisões sobre o que são capazes de realizar e produzir, estão envolvidos no
exercício da performance e na ação de fazer música (SMALL, 1995).
4 Musical Instrumental Digital Interface (MIDI) ou Interface Digital para Instrumentos Musicais é uma
tecnologia padronizada de comunicação entre instrumentos musicais e equipamentos eletrônicos.
37
A performance musical é construída a partir dos e nos encontros com os
alunos, na mediação do professor e nas relações que se estabelecem afetivamente e
cognitivamente entre os conhecimentos e todas as pessoas envolvidas. Como em toda
realização, o espaço físico e social deve ser levado em conta e a partir dos significados
construídos em uma performance, segundo Small (1995), advém uma nova construção e
noção de valores pessoais e sociais, configurando-se uma identidade social para aquela ação.
Para Small (1995), a real natureza do ato de musicking não está no objeto que é
chamado de música, está no significado que ela produz na vida humana por meio dos
relacionamentos. Por meio de música, as pessoas podem celebrar essas relações. É importante
acreditar que a qualidade das relações entre os participantes os mantêm juntos no mesmo
universo e lhes confere um senso de identidade social e de pertencimento. A cada aula, a cada
novo encontro, um conjunto complexo de interações e relações humanas se estabelece criando
e recriando o significado para a ação de fazer música.
Musicking traduz a importância da performance musical para as relações
humanas e ao mesmo tempo, a importância das relações humanas para construção da
performance musical, num processo de ligação e interdependência. Para a educação e,
principalmente, para o ensino e aprendizagem na sala de aula da Educação Básica, um novo
significado pode ser evidenciado para o ensino coletivo da Flauta Doce. A essência da música
não está em obras musicais, mas em participar da performance, na ação social que se constrói
em torno da realidade de seus participantes e nos significados estabelecidos e revelados pelas
relações entre as pessoas que nela estão envolvidas (SMALL, 1995).
2.2 ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NO BRASIL
O ensino coletivo de instrumentos musicais de sopro teve início na década de
50, conforme relatos encontrados nos Anais do I Encontro Nacional de Ensino Coletivo de
Instrumentos Musicais 2004, com a formação de bandas. Destaca-se a formação da banda
musical da Fábrica de tecido São Martinho em Tatuí, SP, destinada aos operários e seus filhos
e que originou a Corporação Musical São Jorge de Tatuí, em junho de 1962.
O professor José Coelho de Almeida iniciava, naquela ocasião, todos os
instrumentos musicais da banda, fazendo prevalecer a experiência do fazer musical. No
primeiro contato com os instrumentos, sentados em frente às suas estantes de partituras,
tocavam todos juntos a sua primeira nota, procurando ouvir o seu som e o som dos outros
38
instrumentos. Aqueles jovens deram o seu primeiro concerto público no Cine Teatro São
Martinho de Tatuí, SP, em 20 de janeiro de 1963, para uma plateia lotada que os aplaudia
entusiasticamente (ALMEIDA, 2004).
Pode-se afirmar que o ensino coletivo de instrumentos musicais de sopro
passou a ser utilizado, na segunda metade do século XX, como estratégia de ensino em grupo,
ganhando assim mais espaços nas escolas especializadas em Música, tornando-se hoje uma
característica da Educação Musical Essas aulas podem ser ministradas de forma homogênea
ou heterogênea e efetuadas de maneira multidisciplinar, ou seja, além da prática com os
instrumentos, podem ser ministrados – no ensino coletivo musical – outros saberes intitulados
academicamente como: teoria musical, percepção musical, história da música, improvisação e
composição (CRUVINEL, 2003).
2.3 ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS NA ESCOLA REGULAR DE
EDUCAÇÃO BÁSICA
A Música entra na grade curricular, com todas as dificuldades de uma
disciplina prática e artística, correndo o risco de sucumbir e se tornar apenas mais um
conceito no boletim escolar.
A introdução do ensino coletivo de instrumentos é uma forma de disponibilizar
aulas de instrumentos musicais para um maior número de alunos e tentar contribuir para
transformação da realidade ainda tão estática da escola. Dessa forma, o ensino coletivo de
instrumentos musicais, pode constituir-se numa ferramenta importante no processo de
democratização do ensino musical, segundo Cruvinel (2003) o que pode atender à proposta de
formação integral do ser humano.
Montandom (2004) reafirma o pensamento ora exposto e trata as características
do ensino coletivo de modo amplo: atender a democratização do ensino musical por meio da
musicalização a partir das séries iniciais da educação básica.
A possibilidade de inclusão do ensino coletivo de instrumentos nas escolas de
ensino básico deve ter como ponto de referência o reconhecimento da música como uma
forma de se conhecer diversas culturas e interagir com elas por instrumentos e sonoridades
segundo Tourinho (2006).
Figueiredo (FOLHABLU, 2010) avalia que, com a inclusão da música no
ambiente escolar, de acordo com a Lei 11.769/08, o cenário musical brasileiro tende a mudar.
39
A referida lei determina, em seu artigo 1º, § 6º, que a música deverá ser conteúdo obrigatório,
mas não exclusivo, do componente curricular e estabelece, também, em seu artigo 3º que os
sistemas de ensino terão três anos letivos para se adaptarem às exigências legais, a contar da
data da publicação da referida Lei, no Diário da União, em 18 de agosto de 2008.
Nesse sentindo, o projeto 330/06 (BRASIL, 2008) foi apresentado ao Senado
Federal pela Senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e propôs a alteração do parágrafo 26 da
lei 9.394/96, a atual Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Em 19 de agosto de 2008, o projeto
passou a vigorar de acordo com a Lei 11.769/2008, nos seguintes termos
Art. 1o O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
acrescido do seguinte § 6o:
Art. 26. (...)
§ 6o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente
curricular de que trata o § 2o deste artigo.” (NR)
Art. 2o (VETADO)
Art. 3o Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às
exigências estabelecidas nos arts. 1o e 2o desta Lei.
Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 18 de agosto de 2008; 187o da Independência e 120o da República. (BRASIL, 2008).
Conforme se verifica, o artigo 2º da Lei 11.769/08 foi vetado pelo Presidente
da República, nos seguintes termos:
Senhor Presidente do Senado Federal, Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1o do art. 66 da Constituição,
decidi vetar parcialmente, por contrariedade ao interesse público, o Projeto de Lei
no 2.732, de 2008 (no 330/06 no Senado Federal), que “Altera a Lei no 9.394, de 20
de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a
obrigatoriedade do ensino da música na educação básica”. Ouvido, o Ministério da Educação manifestou-se pelo veto ao seguinte dispositivo: Art. 2o “Art. 2o O art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
acrescido do seguinte parágrafo único: „Art. 62.
Parágrafo único. O ensino da música será ministrado por professores com formação
específica na área.‟ (NR)” Razões do veto “No tocante ao parágrafo único do art. 62, é necessário que se tenha muita clareza
sobre o que significa „formação específica na área‟. Vale ressaltar que a música é
uma prática social e que no Brasil existem diversos profissionais atuantes nessa área
sem formação acadêmica ou oficial em música e que são reconhecidos
nacionalmente. Esses profissionais estariam impossibilitados de ministrar tal
conteúdo na maneira em que este dispositivo está proposto. Adicionalmente, esta exigência vai além da definição de uma diretriz curricular e
estabelece, sem precedentes, uma formação específica para a transferência de um
conteúdo. Note-se que não há qualquer exigência de formação específica para
Matemática, Física, Biologia etc. Nem mesmo quando a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional define conteúdos mais específicos como os relacionados a
diferentes culturas e etnias (art. 26, § 4o) e de língua estrangeira (art. 26, § 5o), ela
estabelece qual seria a formação mínima daqueles que passariam a ministrar esses
conteúdos.”
40
Essas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar o dispositivo acima
mencionado do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada apreciação dos
Senhores Membros do Congresso Nacional (BRASIL, 2008).
Observa-se que a Lei 11.769/08 não defende, a partir do veto presidencial, a
exclusividade do educador musical para ministrar o ensino da música, o que não sugere a
exclusão desse profissional, mas impõe aos profissionais dessa área, uma preocupação
pertinente, pois haverá sempre demanda para atuação especializada no ensino da música.
Há urgência em repensar os processos pedagógicos em música e suas
implicações políticas, sociais e culturais para mudar a concepção da música como atividade
periférica. Porém, essa urgência esbarra em diversas dificuldades, tais como a ausência de
profissionais habilitados para esse exercício, bem como de espaço físico e apropriado para as
aulas de música, como podemos conferir na citação abaixo:
(...) embora haja um considerável aumento de iniciativas e bons projetos, ainda não
há uma política nacional firmemente sedimentada que ampare o retorno da música
às escolas, e nem profissionais habilitados em número suficiente para levar adiante
esse projeto (FONTERRADA, 2008, p.29).
Como se verifica, não basta existir uma legislação sobre essas questões, é
preciso esforço dos educadores musicais no sentido de trabalhar junto à sociedade a fim de
garantir a todos a concretização do direito à Educação Musical.
2.3.1 Ensino coletivo de instrumentos no Núcleo de Arte5 de Escola Municipal
Observamos nove unidades de Programa de Extensão Núcleos de Arte da
Secretaria Municipal de Educação na cidade do Rio de Janeiro em 2010, que funcionam junto
a unidades escolares municipais em horários extracurriculares. Este programa vem favorecer e
estimular a produção artístico-cultural do aluno, bem como ampliar a convivência e as
experiências sócio-interativas e sócio-cognitivas.
Os Núcleos de Arte, segundo Cunha (2005) proporcionam aos alunos a
possibilidade de aprofundar conhecimentos e ampliar o convívio escolar em oficinas de arte,
bem como conhecer as práticas diferentes das linguagens oferecidas: música, teatro, artes
plásticas e artes visuais.
5 A Lei Municipal n. 2.619/98, estabelece, no Art. 2º, inciso II a criação de: “quatorze Núcleos de Arte, com a
finalidade de favorecer e estimular a produção artístico-cultural dos alunos.”.
41
Pode-se afirmar dessa maneira, que a Educação Musical faz parte do contexto
escolar de várias escolas municipais da Educação Básica por meio do trabalho oferecido pelas
Oficinas de Música nos Núcleos de Arte.
O trabalho artístico implementado no Núcleo de Arte Silveira Sampaio, em
Jacarepaguá, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, desde 1995 vem se solidificando com os
trabalhos e projetos desenvolvidos ao longo desses anos pelos profissionais que ali trabalham.
O citado núcleo de extensão escolar é um importante referencial de produção de cultura da
comunidade e faz de cada apresentação um momento de troca e crescimento estético, ético e
crítico.
As experiências desenvolvidas se tornam agentes multiplicadores do potencial
artístico, muitas vezes diluído pelas limitações da vida, de um número mais ampliado de
pessoas. O acesso da comunidade às produções artísticas vem possibilitando um maior
enriquecimento cultural, além do desenvolvimento e aprimoramento da sensibilidade, do
olhar diante do mundo e de si mesma.
Nas Oficinas de Música desse Núcleo de Arte, destaca-se o ensino coletivo de
Flauta Doce (objeto deste estudo), violão e voz. Pode-se considerar com os apontamentos de
Barbosa (1996) que o ensino coletivo de instrumentos musicais é uma ferramenta importante
na condução da Educação Musical:
O ensino coletivo gera um certo entusiasmo no aluno por fazê-lo sentir-se parte de
um grupo, facilita o aprendizado dos alunos menos talentosos, causa uma
competição saudável entre os alunos em busca de sua posição musical no grupo,
desenvolve as habilidades de se tocar em conjunto desde o início da aprendizado, e
proporciona um contato exemplar com as diferentes texturas e formas musicais
(BARBOSA, 1996, p. 40).
O Ensino Coletivo de Instrumento Musical (ECIM) na Educação Básica
depende de alguns fatores, dentre eles: dos educadores musicais; do apoio da administração
das escolas quanto à iniciativa e sistematização de metodologias pertinentes à realidade de
cada escola; e, também, do investimento na capacitação de docentes especializados para a sua
implementação (CRUVINEL, 2008).
42
2.4 METODOLOGIAS DO ENSINO COLETIVO
Na virada do século XXI cresceu o interesse pelos processos de ensino e
aprendizagem na área de educação musical, principalmente daqueles desenvolvidos dentro de
atividades de ensino coletivo de instrumentos musicais, como se pode conferir por meio dos
trabalhos divulgados a partir da realização do I Encontro Nacional de Ensino Coletivo de
Instrumento Musical (ENECIM), em 2004, em Goiânia.
As atividades propostas desenvolvidas nas aulas de ensino de instrumentos
musicais têm caráter eminentemente coletivo e interativo, produzindo no aluno “processos
pedagógico-musicais permeados pela noção de coletividade e pertencimento”, é o que observa
Kleber (2008, p. 6), e, ainda, por relações interpessoais e mediadas que podem fazer a
diferença junto às práticas pedagógicas tradicionais em uso na sala de aula.
Dentro dessa linha de ação, encontram-se as estratégias apresentadas por
Tourinho (2006), que são comuns a vários professores que se dedicam ao ensino coletivo, não
importa que instrumentos ensinem, conforme a seguir:
(a) Não há teste seletivo ou de aptidão. Todos os alunos interessados são
acolhidos desde que possam compartilhar os instrumentos disponíveis, e ou se organizem por
grupos de idade ou nível de conhecimento no instrumento.
(b) Todos os alunos compartilham o saber, pois o ensino coletivo é um ensino
mútuo e, dessa forma, é possível observar/comparar/avaliar a si mesmo e perceber o que deve
ser feito sem precisar esperar que o professor faça a correção.
(c) O ritmo da aula é planejado e direcionado para o grupo, exigindo do
estudante, disciplina, assiduidade e concentração. Observa-se que a maioria dos alunos não
tem instrumento próprio e estuda na escola em horários pré-determinados, sendo importante,
portanto, que se empenhem.
(d) Diz respeito ao grupo, mas levando em conta as habilidades individuais. O
repertório deve ser apresentado em vários níveis de dificuldade, com várias propostas mais
simples e mais bem elaboradas, para que os alunos participem de todo o repertório proposto:
cada um segundo as suas possibilidades.
(e) Autonomia e decisão devem estar presentes para que os estudantes possam
adquirir confiança e segurança para tocar, pois estão sendo avaliados pelos colegas o tempo
todo.
43
(f) Diz respeito ao tempo do professor e do curso. O ensino coletivo elimina os
horários vagos, pois quando o aluno não vem à aula, as aulas prosseguem. Torna-se fácil
perceber, pelos progressos alcançados, quem é o aluno assíduo e o aluno faltoso. Por isso é
importante fazer o remanejamento entre os grupos, para manter o interesse e respeitar as
diferenças de aprendizado.
Esses procedimentos evidenciam características importantes como: (a) a
democratização do ensino à medida que os alunos interessados são acolhidos; (b) o cuidado
com o desenvolvimento individual à medida que são formados grupos de alunos por idade ou
nível de conhecimento; (c) as habilidades individuais são estimuladas, pois o repertório
proposto é apresentado em vários níveis de dificuldade; e (d) na progressão das
aprendizagens, o aluno é motivado pelas conquistas próprias e dos colegas, que todos
compartilham.
Pode-se concluir que os procedimentos evidenciados por Tourinho (2004)
encontram ressonância em Cruvinel (2004) que afirma que o ensino coletivo de instrumento
musical pode funcionar em todos os espaços no sentido de defender uma escola crítica e
transformadora, ligada ao esforço coletivo de democratização da sociedade.
2.5 O ENSINO COLETIVO DA FLAUTA DOCE E A ABORDAGEM DA
PROPRIOCEPTIVIDADE
A proprioceptividade ou o sentido corporal de espaço e movimento são ainda
campos pouco explorados segundo Galvão e Kemp (1999, apud Pederiva, 2004), podendo ter
grandes implicações para o ensino-aprendizagem de instrumentistas.
É interessante destacar o que Santos (2001) relata sobre observações feitas pelo
educador musical Dalcroze há um século. O fato apontado, intuitivamente, por Dalcroze hoje
é comprovado pela ciência e não poderia ficar ausente neste estudo que versa sobre a
aprendizagem motora e a performance inicial de um instrumento musical. Dalcroze tinha
consciência que o movimento corporal decorre de um estado de mente e espírito, que evocado
pelo estímulo musical integra corpo e mente, razão que o levou a inserir o corpo na prática
escolar, dando início aos princípios dos métodos ativos.
As questões relativas à aprendizagem motora também foram contempladas em
pesquisa realizada por Lage et al (2002). Os autores afirmam que o estudo da aprendizagem
motora seria de particular interesse tanto para o intérprete quanto para o professor de música,
44
pois, a aplicação de conhecimentos que regem o movimento, pode buscar uma diminuição
significativa dos erros de performance, bem como o controle maior da variabilidade dos
movimentos corporais. Esses autores destacam a importância da aproximação entre
educadores musicais e os professores de instrumentos e propõem a observação de cunho
científico nas questões do cotidiano.
Por meio da “transversalidade entre as várias áreas do saber faz-se a integração
corpo e sistema sensório-motor e abrem-se as gavetas estanques dos compartimentos,
reconhecendo-se a multiplicidade das áreas do conhecimento”, afirma Gallo (1997, p.127) e,
dessa maneira, possibilita-se ao aluno um acesso diferente às áreas do saber de seu particular
interesse, o que pode exigir dos professores, muito mais empenho e esforço de pensamento
criativo.
Furman (1997), que se dedica às pesquisas neurocientíficas ligadas à música,
relata dois fatos, que são de suma importância sobre o estudo da música; (a) aprender a tocar
um instrumento musical exige distinções mais altamente refinadas a serem feitas
simultaneamente nos sistemas visual, auditivo, proprioceptivo, táctil e motor; e (b) revela a
importância da grafia musical aplicada ao instrumento: linhas de padrões de pontos, que são
lidas quase simultaneamente e convertidas em sons e ritmos pela estimulação dos sistemas
sensoriais. Os sistemas sensoriais processam a informação no córtex, o que vai resultar na
tarefa sinestésico-motor, realizada pela mão direita e esquerda respectivamente. Essas
justificativas são apontadas pela ciência respondendo aos complexos processos que envolvem
tocar um instrumento musical e a leitura e grafia musical, ferramentas que podem ser
estimuladas por meio do processo de Iniciação Musical aplicada ao ensino coletivo da Flauta
Doce.
Dessa forma, ao escolher a ação conjunta das mãos direita e esquerda para
iniciar o trabalho de dedilhação e levar o aluno a produzir os sons das notas Mi e Fá, elege-se:
(a) a primeira linha do pentagrama; e (b) a interação entre aprendizagem motora e processo de
aquisição da leitura e escrita musical.
Com esses três sons, Mi-Fá e Mi-Ré na interação do movimento das mãos
esquerda e direita podemos perceber melhores respostas em importantes requisitos: (a) no
peso e equilíbrio do instrumento: (b) no sentido tátil apoiado na relação de interação e
continuidade entre as duas mãos, (c) na ordenação e sequência dos movimentos dos dedos e
mãos; (d) na sonoridade; (e) na identificação visual dos sons Mi e Fá.
Lage (2002), ao se reportar a Schimidt, destaca a importância dos
conhecimentos científicos que regem os movimentos na aprendizagem de habilidades
45
motoras. Esses estudos apontam resultados que podem ser significativos para fortalecer a
proposta desta pesquisa na troca de posição para o processo inicial de ensino-aprendizagem da
Flauta Doce.
O equilíbrio do instrumento é dividido, então, entre as duas mãos, que
elaboram experiências sensoriais, e conduzem à proprioceptividade ou ao sentido de
percepção do movimento, que, nesta pesquisa, considera-se relevante.
Álvares (2005) apresenta uma revisão das teorias do desenvolvimento
cognitivo e destaca os dois enfoques distintos da escola cognitivista: a abordagem heurística e
o enfoque algorítmico e chega ao ciclo cibernético, adaptado por Wiener para a aprendizagem
musical. O autor afirma que a captação inicial do ensino e aprendizagem se dá pelo sistema
sensório-motor pela audição, visão e tato, o que vai fortalecer o enfoque desta pesquisa que se
apóia nos princípios da aprendizagem motora como entrada do conhecimento.
Álvares (2005) apresenta: (a) abordagem heurística, em que o conjunto de
regras e métodos conduz à descoberta, à invenção e à resolução de problema, conduzida por
Bruner; e (b) o enfoque algorítmico, no qual um conjunto pré-determinado e bem definido de
regras e processos específicos conduz à solução de um problema com um número finito de
etapas, conduzida por Ausubel; (c) a importância da motivação como aspecto propulsor da
aprendizagem, nos seus aspectos extrínsecos e intrínsecos, no que diz respeito à competência
e à realização de suas capacidades cognitivas; (d) a metacognição, que é a ciência do
autoconhecimento, a reflexão sobre o quê se sabe e como utilizar o conhecimento de modo
eficaz; e (f) o ciclo cibernético.
O ciclo cibernético é a proposta de um
modelo de processamento de informação e auto-monitoramento das funções da
mente humana denominada ciclo cibernético, processada da seguinte forma: (a)
captação de informação; (b) processamento de informação; (c) exteriorização de
informação; e (d) regeneração do processo (WIENER apud ÁLVARES, 2005, p.
66).
Álvares (2005), afirma que Labuta adaptou o modelo do ciclo cibernético para
a aprendizagem musical, demonstrando que a captação inicial do processo de ensino e
aprendizado se dá pelo sistema sensório-motor, por meio da audição, visão e tato, que
estabelece o sentido interior de movimento corporal. Álvares (2005) afirma que, no caso
específico da performance musical, fica evidenciado a importância da conscientização e
aperfeiçoamento da proprioceptividade, traduzida pela percepção e sentir do movimento.
Essa conscientização é muito importante para este estudo, em que o aluno, desde os primeiros
46
contatos com um instrumento de sopro, recebe orientação de destaque em relação à
aprendizagem motora.
Dessa forma, perceber o instrumento como um todo se torna mais natural, pois
o seu peso é dividido entre as duas mãos e o seu equilíbrio é norteado pela sensação e
percepção do movimento.
É interessante destacar, mais uma vez, que o movimento corporal decorre de
um estado de mente e espírito que, evocado pelo estímulo musical, integra corpo e mente. As
importantes constatações advindas de pesquisas recentes fundamentam esta pesquisa, uma vez
que, em fase inicial do processo ensino e aprendizagem, o aluno é estimulado a iniciar o
estudo da Flauta Doce com a Posição Fechada por meio da nota Mi e desta maneira, articular,
com as notas Fá e Ré nos primeiros contatos com o instrumento.
2.6 O ENSINO COLETIVO DA FLAUTA DOCE E OS MÉTODOS TRADICIONAIS
Apresenta-se a seguir uma relação de métodos de Flauta Doce editados no
Brasil desde 1959 aos tempos atuais e algumas considerações sobre essas abordagens. (a)
Mahle, (1959), com o “Primeiro caderno de Flauta Block”; (b) Tirler, (1970), com a obra,
“Vamos tocar Flauta Doce”, em três volumes; (c) Oliveira (1976), em a “Flauta, ritmo e
percussão”; (d) Mascarenhas (1977) com o livro, “Minha doce Flauta Doce”, em três
volumes; (e) Franck, (1980), em “Pedrinho toca flauta”, em três volumes; (f) Rocha, (1986)
autora de “Flauta Doce”; (g) Drummond, (1988), com “Iniciação à Flauta Doce”; (h) Rosa,
(1993) com “Flauta Doce: método de ensino para crianças”; e, (i) Mendonça (2007) com o
livro “Melodias para Flauta Doce soprano” e representando o século XXI.
Registra-se um período de mais de cinquenta anos de ensino-aprendizagem
ligado à Flauta Doce, a contar da 1ª edição do Primeiro Caderno de Flauta Block de Maria
Aparecida Mahle em 1959.
O livro de Mahle (1959), pioneiro no ensino e aprendizagem da Flauta Doce
foi praticamente exclusivo por uma década, tendo sido editado em São Paulo. Somente em
1970 encontrou-se a publicação de outro livro: “Vamos tocar Flauta Doce”, de Helle Tirler,
editado no Rio Grande do Sul e, a partir dessa data, outros livros foram publicados.
Observa-se que todos os livros listados, nesse período de cinco décadas,
mantiveram algumas características em comum e pode-se dizer que prevaleceu neles, uma
proposta tradicional de ensino.
47
No que se refere à notação musical e ao conteúdo apresentado de forma linear,
observam-se, nessas obras, os seguintes objetivos em relação ao ensino de Flauta Doce: (a)
iniciar a leitura e grafia musical por meio das notas de Posição Aberta: Si, Lá e Sol; (b)
apresentar as notas musicais por meio de um padrão de regularidade e repetição; (c) utilizar
desenhos miniaturizados com destaque para a posição dos dedos e a relação entre os orifícios
que devem ser utilizados; (d) destacar os exercícios dentro de um roteiro pré-fixado, de
maneira previsível; e, (e) selecionar canções do folclore brasileiro, a uma e a duas vozes.
Deve-se considerar que essas obras atenderam a uma prática da época: as
necessidades de escolas de música e conservatórios com ensino tutorial ou em pequenos
grupos. O ensino coletivo, a democratização do ensino da música e a inclusão da música nas
escolas regulares de educação básica são questões pertinentes à década de 90, na virada do
século XX para o século XXI, firmando-se, mais recentemente, no cenário da educação com a
aprovação da Lei 11.769/2008, descrita no tópico 2.3.
Dentre os livros listados, é interessante destacar a proposta alternativa de
notação musical na Iniciação à Flauta Doce apresentada por Drummond (1988). A autora
apresenta uma proposta de notação musical por meio da pauta reduzida, conforme este estudo
descreve a seguir.
(a) com uma linha a apresentação das notas Dó e Lá, conforme se observa.
Figura 5 – Notas Dó e Lá.
Fonte: Drummond (1988, p. 20).
(b) com duas linhas a apresentação da nota Ré, como se vê na Figura 6 e 7.
Figura 6 – Nota Ré.
Fonte: Drummond (1988, p. 27).
48
Figura 7 – Notas Lá, Dó e Ré
Fonte: Drummond (1988, p. 27 e 36).
(c) com três linhas, a inclusão da nota Sol, de acordo com a ilustração da
Figura 8.
Figura 8 – Nota Sol.
Fonte: Drummond (1988, p. 36).
(d) Com as notas, Dó, Lá, Ré e Sol, Drummond (1988) utiliza três linhas em
pequenas melodias, conforme Figura 9.
Figura 9 – Notas Sol, Lá, Dó e Ré.
Fonte: Drummond (1988, p. 36).
Ressalta-se que no final do livro de Drummond (1988), encontram-se as
partituras de acompanhamento ao piano, para uso do professor, o que pode poderá enriquecer
a dinâmica da aula.
A preocupação central da autora, ora citada, é apresentar uma proposta
facilitadora da compreensão da leitura e grafia musical. Para tanto, Drummond (1988) expõe
os conceitos de forma articulada e com melodias de sua autoria, especialmente criadas para o
uso do ensino e aprendizagem da Flauta Doce.
49
Da metodologia desenvolvida por Drummond (1988) pôde-se constatar uma
possível dificuldade na condução do aluno ao pentagrama tradicional, pois ao analisar a pauta
reduzida de três linhas observou-se: (a) a nota Sol ficou na 1ª linha; (b) a nota Si ficou na 2ª
linha; e (c) a nota Ré, de Posição Aberta e aguda, ficou na 3ª linha, conforme as figuras 10, 11
e 12 demonstram.
Figura 10 – Nota Sol
Fonte: Drummond (1988, p.54).
Figura 11 – Nota Si.
Fonte: Drummond (1988, p.56).
Figura 12 – Nota Ré.
Fonte: Drummond (1988, p.57).
Constata-se, do exposto, que a posição das notas Sol, Si e Ré não conferem
com a posição real que ocupam no pentagrama tradicional no uso da clave de sol, amplamente
adotada na literatura musical da Flauta Doce e na própria produção da autora ao dar
continuidade ao aprendizado.
Ficaram evidenciados por Drummond (1988): (a) o uso das notas da mão
esquerda na dedilhação e possível falha na sustentação e equilíbrio do instrumento; (b)
extensão limitada da escala musical em cinco notas musicais; (c) possível inconsistência na
50
metodologia, devido ao duplo significado encontrado nas posições das notas na pauta
reduzida de três linhas e no pentagrama tradicional, criando uma divergência de raciocínio.
Para atender às necessidades das aulas de Flauta Doce nas escolas regulares da
educação básica, que abrangem um quantitativo maior de alunos, torna-se imperiosa uma
revisão metodológica por parte dos professores quanto aos aspectos sócio-afetivos que
envolvem a linguagem simbólica da música.
Com o início do século XXI podemos perceber que pouco se fez na literatura
pedagógica para atender ao professor que está à frente de grande quantitativo de alunos e aos
alunos que querem compreender a simbologia musical, que querem tocar um instrumento.
Da produção pedagógica do século XXI, destacamos Mendonça (2007), com o
livro Melodias Para Flauta Doce Soprano. Percebemos uma preocupação maior com os
aspectos sócio-afetivos, traduzidos pela variedade de arranjos escritos para os
acompanhamentos ao piano. Dessa forma, observamos uma ambientação sonora para apoiar a
leitura e realização das notas consideradas de fácil execução, nos métodos de ensino e
aprendizagem tradicionais, Si, Lá e Sol, diminuindo a tensão dos sons agudos muitas vezes
apitados do início do aprendizado. A autora também incluiu nas partituras, as cifras para
violão e no livro, um cd com as gravações dos acompanhamentos, ampliando as
possibilidades do trabalho de sala de aula e enriquecendo com uma proposta interativa.
É pertinente destacar que Requião (1998) aponta para a necessidade de revisão
da maneira que o ensino da notação musical vem sendo abordado em sala de aula,
principalmente nas escolas regulares, nas classes de Educação Musical, fato esse que veio ao
encontro desta pesquisa. Da mesma forma, Duarte (2001, p. 75) chamou a nossa atenção ao
afirmar que os métodos tradicionais de ensino musical “apresentam ao aluno um sistema de
notação musical como um conjunto de signos que condicionam um fato físico (tocar o
instrumento), antes do fato musical”.
De modo geral, do material analisado, confirmam-se os enunciados de Requião
(1998) e Duarte (2001), isto é: da acomodação observada quanto aos processos e ao conteúdo
utilizados na Iniciação à Flauta Doce. O material disponível, encontrado e analisado, não
atendeu aos princípios que esta pesquisa elegeu como necessários para estabelecer o
desenvolvimento das habilidades motoras e da leitura e grafia musical por meio do ensino
coletivo da Flauta Doce na Educação Básica.
51
CAPÍTULO III
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 NATUREZA DO ESTUDO
Classifica-se este estudo como uma pesquisa aplicada, porque de acordo com
Barros e Lehfeld (2000, p.78), a pesquisa aplicada tem como motivação a necessidade de
produzir conhecimento para aplicação de seus resultados, com o objetivo de contribuir para
fins práticos, visando gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de
problemas específicos.
Quanto à forma de abordagem deste estudo, trata-se de uma pesquisa
qualitativa que considera a existência de uma relação dinâmica entre os professores e o objeto
de estudo e sujeito, ou seja, a população de alunos da classe de Iniciação à Flauta Doce.
Do ponto de vista dos seus objetivos, a pesquisa desenvolve uma proposta
descritiva-explicativa, buscando identificar e explicar possíveis estratégias que determinem ou
contribuam para um aprimoramento do ensino e aprendizagem da Flauta Doce como
instrumento de iniciação musical.
A pesquisa teve como objetivo principal avaliar a possibilidade de aplicação
da abordagem pedagógica a partir da nota Mi na condução e interação da aprendizagem
motora e compreensão da grafia musical por meio de uma proposta interativa. Destacaram-se,
dessa forma, atividades que envolveram ações de cantar e tocar, bem como movimentos e
gestos expressivos que ajudaram o aluno a exteriorizar a aprendizagem.
Foram abordados dois pontos que podem apresentar mudanças significativas na
compreensão da relação entre a técnica do instrumento e a leitura e escrita musical: (a)
desenvolvimento motor e (b) grafia6 a partir da nota Mi.
6 Nota Mi está na região média da Flauta Doce e na 1ª linha do pentagrama da Clave de Sol. Recebe a
numeração 3 devido a localização na escala geral dos sons musicais.
52
3.2 LOCAL DA PESQUISA
Trata-se de um núcleo de extensão escolar, um Núcleo de Arte de uma Escola
Municipal da cidade do Rio de Janeiro.
Este local foi escolhido pelo fato da professora mestranda já estar inserida na
rotina de trabalho, desde 2004, uma vez que possui vínculo como funcionária pública.
3.3 POPULAÇÃO PESQUISADA
A Oficina de Música do Núcleo de Arte onde se desenvolveu esta pesquisa foi
composta por quatorze alunos, na faixa etária de sete a quatorze anos, sendo nove meninos e
cinco meninas e a maioria dos alunos veio das séries iniciais do Ensino Fundamental da
Educação Básica. As aulas foram realizadas com duração de oitenta minutos, duas vezes na
semana, como atividade extracurricular.
3.4 COLETA DE DADOS
A técnica escolhida para a coleta dos dados foi a observação participante que,
segundo Gil (1999), é aquela em que o observador assume, pelo menos até certo ponto, o
papel de membro de um grupo. Então, pode-se definir observação participante como a técnica
pela qual se chega ao conhecimento das características de um grupo a partir de seu interior.
Tivemos a colaboração e participação de dois estagiários, alunos graduandos
em Licenciatura em Música, no desenvolvimento das aulas de Flauta Doce e no processo de
avaliação dos alunos, no período letivo de 2010. Além disso, contamos, ainda, com a
colaboração de um professor de música da rede pública de ensino que fez os arranjos e as
gravações do repertório proposto e trabalhado.
Em encontros semanais, a professora pesquisadora e estagiários avaliaram o
desenvolvimento, a evolução da aprendizagem e resultados obtidos, e, estabeleceram as
soluções necessárias para o melhor desempenho. Observamos, ainda, que as atividades
propostas foram relevantes para uma prática de ensino coletivo de instrumento musical
direcionada à compreensão da leitura e grafia e à performance musical, estabelecendo e
53
fortalecendo os vínculos pessoais pertinentes à ação sócio educativa do fazer música
apresentado por esta pesquisa.
Dessa forma, destacamos que os estagiários atuaram junto a esse processo de
ensino e aprendizagem e participaram das decisões e ações que apontaram os critérios
adotados e utilizados para avaliar os alunos. Os estagiários acompanharam, também, a
pontuação dos resultados obtidos e aqui transcritos.
A atuação desses profissionais nas atividades realizadas foi importante porque
possibilitou uma maior atenção ao desenvolvimento dos alunos e ao próprio processo de
Iniciação à Flauta Doce. Os estagiários contribuíram e fortaleceram os nossos pontos de vista,
principalmente no que se refere a não acomodação do professor, visando, sempre, a
excelência do desempenho do aluno.
Os materiais usados para a coleta de dados foram: (a) flautas doce soprano; (b)
teclado Yamaha PSR 540; (c) acompanhamento pré-gravado em MIDI (ver 2.1.3, p.35); (d)
estantes de partituras; (d) duas mesas para execução de atividades; (f) cadeiras para alunos;
(g) folhas pautadas; e (h) partituras manuscritas pela autora.
A proposta compreendeu aulas ministradas durante três meses consecutivos e
durante doze semanas, num total de 24 aulas, com duração de oitenta minutos cada uma. Foi
utilizado um repertório específico de doze músicas, uma música para cada semana.
O acompanhamento das aulas de Flauta Doce foi previamente gravado em
formato MIDI, planejado para enriquecer a vivência musical da sala de aula e dar significado
às notas e canções em estudo. Esse acompanhamento proporcionou uma disponibilidade
maior de ação para a professora e estagiários no atendimento aos alunos durantes as aulas.
Segundo Fonterrada (2008) os elementos sonoros da ambientação sonora se
apresentam em favor de uma construção musical, tecendo uma teia para a afetividade através
da memória auditiva, da imaginação e da audição interior, o que vem comprovar a
importância da inclusão e utilização de acompanhamento musical nas aulas coletivas de
ensino e aprendizagem de Flauta Doce.
3.4.1 Procedimentos para coleta de dados
Os dados foram coletados pela professora e estagiários durante as aulas, na
observação de atividades de execução musical, leitura e grafia e envolvimento afetivo. O
equilíbrio e dedilhação também foram estabelecidos como elementos fundamentais para a
54
aprendizagem motora e sustentação da Flauta Doce, sendo observados na condução da
performance instrumental inicial por meio da articulação entre as posições fechadas e abertas,
como exposto no Capítulo I.
Cada aluno foi identificado por uma letra, em ordem alfabética e avaliado de
acordo com o desenvolvimento observado em sala de aula. Os quadros e os gráficos dispostos
nos capítulos IV e V, respectivamente, contém apontamentos relativos às doze semanas de
estudo. A avaliação do desempenho do aluno para a realização da tarefa foi analisada por
meio de uma mensuração com três níveis: Muito Bom (MB); Bom (B); e Regular (R).
3.4.2 Procedimentos pedagógicos para coleta de dados
As estratégias de ação que consideramos como propostas interativas foram as
seguintes: (a) levar o aluno a sentir o ritmo da canção por meio de movimentos corporais, em
roda ou em dupla, como execução de passos, de bater palmas, de estalar os dedos; (b) levar o
aluno a cantar a letra da canção ao som do acompanhamento vivenciando o ritmo da melodia;
(b) levar o aluno a entoar as notas musicais da canção ao som do acompanhamento; e (c)
executar as notas musicais da canção, em estudo, na Flauta Doce ao som do acompanhamento
e depois, sem acompanhamento.
Das duas aulas semanais, com duração de oitenta minutos cada uma delas, uma
aula foi exclusivamente dedicada a atender os alunos iniciantes e a outra contou com a
presença dos alunos mais adiantados. Nessa última, os alunos demonstraram as habilidades
adquiridas e participaram ativamente do processo de ensino e aprendizagem como mediadores
do conhecimento por meio das trocas mútuas e da prática social do fazer música.
Em nossa proposta utilizamos atividades musicais do cotidiano infantil, de
forma interativa e fundamentada na importância destacada à afetividade como função
desencadeadora do agir e do pensar humanos, para motivar os alunos. Souza e Costa (2004)
identificaram na afetividade o seu caráter social, amplamente dinâmico e construtor da
personalidade humana e elo entre as interações sociais na busca do saber. Small (1995)
ampliou esse pensamento ao destacar que o significado encontrado pelo aluno no que faz, está
diretamente ligado às relações interpessoais e à qualidade dos relacionamentos daqueles que
estão envolvidos nessa prática musical promovendo, dessa forma, um sentido de
pertencimento e de identidade.
55
3.4.3 Repertório utilizado
No repertório específico utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa três
itens foram considerados: (a) execução instrumental, avaliada por meio do desempenho de
tocar o instrumento; (b) o processo cognitivo por meio da compreensão da grafia musical; e
(c) o aspecto afetivo, observado nas relações entre os integrantes do grupo e também na
relação do aluno com o repertório. As tarefas foram avaliadas pela pesquisadora e estagiários,
conforme já explanado, por meio de observações e anotações durante as aulas.
Nas aulas de Iniciação à Flauta Doce a escolha do repertório é significativa e
permite desenvolver uma metodologia de ensino, pois apresenta, por meio das partituras, os
vários níveis de conhecimento musical dos alunos, como foi observado no repertório que
utilizamos para esta pesquisa.
O nosso repertório traduziu, portanto, os vários níveis de conhecimento
musical e refletiu, não só o desenvolvimento do aluno como, também, do nosso trabalho junto
a eles. Pelos resultados apontados e apresentados no Capítulo V, podemos dizer que a escolha
do nosso repertório, para todos os envolvidos nesse processo de ensino e aprendizagem de
Flauta Doce, foi bastante significativa.
Foram utilizadas as seguintes músicas:
Musica 1 - Criança 2000, autor Pe. Zezinho, adaptada para Criança 2010
atendendo o ano em que ocorreu esta pesquisa;
Música 2 - Eu conto pra você, autora Jael Santana;
Música 3 - O trem de ferro, canção brasileira de tradição oral;
Música 4 - Pega no ganzê, canção brasileira de tradição oral, em Cânone;
Música 5 - Chorinho, autora Maria Meron;
Música 6 - Kamalondo, canção tradicional africana;
Música 7 - Sinos de Natal, do original Jingle Bells, autor James Pierpont;
Música 8 - É Natal, autor Marco Antonio Hailer;
Música 9 - Noite Feliz, autor Franz Gruber;
Música 10 - Aleluia, autor William Boyce;
Música 11 - Asa Branca, autor Luiz Gonzaga;
Música 12 - Tema da Vitória, autor Eduardo Souto Neto.
Todo o repertório foi pré-gravado e apresentado aos alunos por meio de um
acompanhamento instrumental durante as aulas da prática de ensino de Flauta Doce. Dessa
56
forma, foi possível que o aluno, segundo Vygotsky (1989), pudesse antecipar os passos
futuros do seu desenvolvimento, o que foi importante para a construção e fixação dos
conceitos.
Na grafia, que compreendeu a leitura e escrita a partir da 4ª semana de
atividades, o aluno escreveu a sua primeira partitura, anotando as notas iniciais Mi, Fá e Ré na
folha pautada. Para essa primeira atividade foi utilizada uma pauta de três linhas com as
linhas em espaçamento mais amplo para facilitar a compreensão do aluno e dar maior clareza
ao exercício de leitura e escrita musical. Dessa forma, deu-se o início ao uso e manuseio das
partituras correspondentes ao repertório em desenvolvimento.
Na execução instrumental, foi observada a facilidade com que o aluno
identificou as notas iniciais na partitura e as transferiu para o instrumento, bem como a
expressividade e domínio das habilidades motoras, que pouco a pouco se efetivaram.
A proposta envolveu o acompanhamento de doze semanas de estudo, num total
de 24 aulas. Em decorrência da Escola não possuir a quantidade de instrumentos necessários
para os alunos, as Flautas Doces utilizadas, em sua maioria, foram disponibilizadas pela
professora pesquisadora e, também, por amigos solidários, resultando em recursos
diversificados. Dessa forma, precisamos utilizar no desenvolvimento de nossos trabalhos,
os modelos do Sistema Germânico e do Sistema Barroco.
As canções trabalhadas estão dispostas no final desta pesquisa no Apêndice A
e a Tabela de Posições – encarte da Flauta Doce Soprano Yamaha e que foi aproveitada como
material de consulta nas atividades em sala de aula – está disponibilizada no Anexo A.
57
CAPÍTULO IV
RESULTADOS
4.1 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO SEMANAL DOS ALUNOS
Este capítulo apresenta os resultados, obtidos mediante as avaliações do
desempenho dos alunos, realizadas, semanalmente pela professora pesquisadora e por dois
estagiários graduandos em Música, de acordo com o conteúdo de ensino e aprendizagem,
aplicado e desenvolvido em sala de aula. Foram considerados três aspectos: (a) execução
musical; (b) leitura e grafia; e (c) participação, mensurados em três níveis: Muito Bom (MB);
Bom (B); e Regular (R).
O conteúdo de ensino e aprendizagem da Iniciação à Flauta Doce foi
apresentado em duas categorias: (a) notas de Posição Fechada: Mi-Fá; Mi-Ré; Mi-Fá
sustenido; (b) transição das notas de Posição Fechada para Posição Aberta: Mi-Sol.
Em cada aula foram desenvolvidos e pontuados os aspectos:
1) execução musical que compreendeu: (a) percepção auditiva; (b) inscrição
corporal; e (c) produção do som;
2) leitura e grafia, introduzida a partir da 4ª semana; e
3) participação como forma de envolvimento afetivo que compreendeu: (a)
frequência; e (b) cooperação.
Cada aspecto foi avaliado usando o seguinte critério:
(a) Regular (R) para o aluno que não atingiu os objetivos propostos pelo estudo
da semana, apresentando dificuldades e necessidade de repetição dos conteúdos. Essas
dificuldades foram observadas, principalmente, no aluno que faltou às aulas. As faltas
interrompem o fluxo da aprendizagem na construção da performance, por isso destacamos
esse aspecto uma vez que a participação do aluno envolveu frequência e cooperação;
(b) Bom (B) para o aluno que demonstrou compreensão e empenho na
realização das tarefas propostas na semana e teve uma frequência igual 90% das aulas. No
conceito bom (B), foi valorizado aquilo que o aluno conseguiu realizar com a ajuda do
professor e ou de colegas;
(c) na obtenção do conceito Muito Bom (MB), o aluno evidenciou
independência na realização das atividades propostas na semana e uma atuação espontânea de
58
mediador entre o conhecimento e a realização das tarefas, cooperando ativamente com o
grupo e obtendo 100% de frequência.
Os resultados apurados podem ser observados nos quadros de 1 a 12,
representando, cada um deles, uma semana de aula.
Quadro 1 – Desempenho semana 1
Semana 1 - Canção: Criança 2010
Conceito Mi-Fá – Posição Fechada
Atividades desenvolvidas nos
dias 24 e 26 de agosto de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia (N/A)
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 R N/A MB
B 7 B N/A MB
C 8 B N/A MB
D 10 B N/A MB
E 12 R N/A B
F 8 R N/A MB
G 13 B N/A MB
H 14 B N/A MB
I 13 B N/A MB
J 10 B N/A B
K 9 R N/A B
L 9 B N/A B
M 9 R N/A B
N 12 B N/A B
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
Quadro 2 – Desempenho semana 2
Semana 2 – canção: Eu conto para você.
Conceito Fá-Mi – Posição Fechada
Atividades desenvolvidas nos
dias 31 de agosto e 2 de setembro
de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia (N/A)
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 R N/A B
B 7 B N/A B
C 8 B N/A B
D 10 B N/A B
E 12 R N/A B
F 8 R N/A B
G 13 B N/A MB
H 14 B N/A MB
I 13 B N/A MB
J 10 B N/A B
K 9 R N/A B
L 9 B N/A B
M 9 R N/A B
N 12 B N/A B
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
59
Quadro 3 – Desempenho semana 3
Semana 3 – Canção: O trem de ferro
Conceito Mi-Sol
Atividades desenvolvidas nos
dias 14 e 16 de setembro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia (N/A)
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 R N/A MB
B 7 R N/A MB
C 8 B N/A MB
D 10 B N/A B
E 12 R N/A B
F 8 R N/A MB
G 13 B N/A B
H 14 B N/A B
I 13 B N/A B
J 10 B N/A B
K 9 R N/A MB
L 9 B N/A MB
M 9 R N/A MB
N 12 B N/A MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
Quadro 4 – Desempenho semana 4
Semana 4 – Canção: Pega no ganzê
Conceitos Mi-Fá, Mi-Sol
Atividades desenvolvidas nos
dias 21 e 23 de setembro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 R B B
B 7 B MB B
C 8 B MB B
D 10 B MB MB
E 12 B MB B
F 8 R B B
G 13 B B O
H 14 B B B
I 13 B B B
J 10 B MB MB
K 9 B MB MB
L 9 B MB B
M 9 B B B
N 12 B MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
60
Quadro 5 – Desempenho semana 5
Semana 5 – Canção: Chorinho
Conceitos Mi-Fá, Sol-Mi
Atividades desenvolvidas nos
dias 28 e 30 de setembro 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
b) cooperação
A 10 R R R
B 7 R B B
C 8 B B MB
D 10 B B B
E 12 B R R
F 8 R R B
G 13 B B MB
H 14 B B MB
I 13 B B MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 B B B
M 9 B B B
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
Quadro 6 – Desempenho semana 6
Semana 6 – Canção: Kamalondo
Conceitos Fá-Lá, Mi-Ré
Atividades desenvolvidas nos
dias 5 e 7 de outubro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
b) cooperação
A 10 B R B
B 7 B MB MB
C 8 B MB MB
D 10 B B MB
E 12 B B B
F 8 R B MB
G 13 B B MB
H 14 B MB MB
I 13 B B MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 MB B B
M 9 MB MB MB
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
61
Quadro 7 – Desempenho semana 7
Semana 7 – Canção: Sinos de Natal – Jingle Bells
Conceito Ré-Fá sustenido
Atividades desenvolvidas nos
dias 19 e 21 de outubro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
b) cooperação
A 10 B B B
B 7 MB MB MB
C 8 MB MB MB
D 10 MB MB MB
E 12 MB MB B
F 8 B B MB
G 13 MB MB MB
H 14 MB MB MB
I 13 MB MB MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 MB B MB
M 9 MB MB MB
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
Quadro 8 – Desempenho semana 8
Semana 8 – Canção: É Natal
Conceitos Sol-Fá sustenido-Mi, Fá sustenido-Mi-Ré
Atividades desenvolvidas nos
dias 26 e 28 de outubro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
b) cooperação
A 10 B B B
B 7 MB MB MB
C 8 MB MB MB
D 10 MB MB MB
E 12 MB MB MB
F 8 B B MB
G 13 MB MB MB
H 14 MB MB MB
I 13 MB MB MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 MB B B
M 9 MB MB MB
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
62
Quadro 9 – Desempenho semana 9
Semana 9 – Canção: Noite Feliz
Conceitos Lá-Fá, Ré-Fá-Sol
Atividades desenvolvidas nos
dias 9 e 11 de novembro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 MB B MB
B 7 MB MB MB
C 8 MB MB MB
D 10 MB MB MB
E 12 MB MB MB
F 8 B MB MB
G 13 MB MB MB
H 14 MB MB MB
I 13 MB MB MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 MB MB MB
M 9 MB MB MB
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
Quadro 10 – Desempenho semana 10
Semana 10 – Canção: Aleluia
Conceito Dó 4-Si. Posições Abertas
Atividades desenvolvidas nos
dias 16 a 18 de novembro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 MB MB MB
B 7 B MB MB
C 8 MB MB MB
D 10 MB MB MB
E 12 B MB MB
F 8 B B MB
G 13 B MB MB
H 14 MB MB MB
I 13 MB MB MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 MB MB MB
M 9 MB MB MB
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
63
Quadro 11 – Desempenho semana 11
Semana 11 – Asa Branca
Conceitos Si-Ré 4, Si- Dó4. Posições Abertas
Atividades desenvolvidas nos
dias 23 e 25 de novembro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 MB MB MB
B 7 MB MB MB
C 8 MB MB MB
D 10 MB MB MB
E 12 MB MB MB
F 8 MB MB MB
G 13 MB MB MB
H 14 MB MB MB
I 13 MB MB MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 MB MB MB
M 9 MB MB MB
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
Quadro 12 – desempenho semana 12
Semana 12 – Canção: Tema da Vitória
Conceitos Dó3-Dó4, Ré4-Mi4 Posições Abertas
Atividades desenvolvidas nos
dias 30 de novembro e 2 de
dezembro de 2010
Alunos Idade Execução Leitura
e grafia
Participação
1) Execução:
a) percepção auditiva;
b) inscrição corporal;
c) produção do som (cantar/ tocar).
2) Leitura e grafia
3) Envolvimento Afetivo:
a) frequência,
bi) cooperação
A 10 MB MB MB
B 7 MB MB MB
C 8 MB MB MB
D 10 MB MB MB
E 12 MB MB MB
F 8 MB MB MB
G 13 MB MB MB
H 14 MB MB MB
I 13 MB MB MB
J 10 MB MB MB
K 9 MB MB MB
L 9 MB MB MB
M 9 MB MB MB
N 12 MB MB MB
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
64
A avaliação dos alunos foi realizada a partir dos resultados apresentados nas
atividades desenvolvidas em sala de aula, quando consideramos as seguintes questões: (a)
aprendizagem motora, diretamente ligada à execução instrumental; (b) cognitiva, diretamente
ligada à leitura e grafia; e (c) envolvimento afetivo diretamente ligado à participação, pois a
frequência refletiu o prazer de voltar à aula, uma vez que o horário, dessas atividades, é
extraclasse.
Procuramos evidenciar um ensino que estimulasse a criança a atingir um nível
de compreensão e habilidade que ainda não dominava completamente no decorrer das doze
semanas, tendo como fundamental o papel do ensino e do professor.
65
CAPÍTULO V
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este estudo ilustra, por meio dos gráficos a seguir, e analisa os dados apurados
em relação às doze semanas de aulas observadas.
Diante destes gráficos e das análises feitas possibilitamos aos futuros
professores destacarem os pontos positivos, examinarem e eliminarem os aspectos negativos e
apontarem o que pode ser melhorado destes processos de aprendizagem musical realizados,
para suas próprias interpretações.
5.1 ANÁLISE DA SEMANA 1
Na primeira semana, com atividades desenvolvidas nos dias 24 e 26 de agosto
de 2010, trabalhamos junto aos alunos, os conceitos Mi-Fá – Posição Fechada e, para tanto,
utilizamos a canção Criança 2000, de Pe. Zezinho, adaptada para Criança 2010, ano em que
foi realizada a pesquisa.
A observação dessa primeira semana referiu-se, como já foi dito anteriormente,
à execução instrumental e à participação dos alunos desde a chegada em sala de aula e durante
o movimento inicial de organização dos materiais.
Em relação à execução verificou-se que 36% obtiveram o conceito regular (R)
e 64% dos alunos obtiveram o conceito bom (B). Por sua vez, no aspecto participação, os
alunos tiveram conceitos mais elevados, uma vez que todos se envolveram com as atividades
propostas. Portanto, a nenhum dos alunos foi atribuído o conceito regular (R), 43% dos alunos
tiverem o conceito bom (B) e, a maioria (57%), o conceito muito bom (MB). Os dados
apurados na primeira semana estão ilustrados no gráfico 1.
66
Gráfico 1 – Semana 1 - conceito Mi-Fá – Posição Fechada
Fonte: Dados apurados pela pesquisadora
Desde o primeiro contato do aluno com a Flauta Doce a proposta interativa se
fez presente por meio do cantar e tocar, do ouvir e tocar, dos gestos expressivos e dos
movimentos corporais tanto para sentir a música, como para adequar os materiais e móveis da
sala. Para Small (1995), a performance musical tem início na preparação dos espaços para a
realização das atividades relacionadas à natureza de uma performance.
É o que observamos com a arrumação inicial das cadeiras em círculo e a
distribuição das Flautas Doces, pois a maioria dos alunos utiliza o material fornecido pelo
professor. Podemos, portanto, destacar que o pensamento de Small (1995) condiz com o que
acontece nas nossas aulas: um ritual no espaço escolar.
Nesses primeiros momentos não houve preocupação com a grafia e sim com a
produção do som, com o equilíbrio do instrumento e com o movimento das mãos e dedos no
instrumento para estabelecer o uso da Posição Fechada na condução da nossa proposta.
Ao analisar os resultados obtidos nas duas primeiras aulas observamos que a
maioria dos alunos teve facilidade para a execução das notas Mi e Fá. É importante criar um
vínculo a um conhecimento prévio para ancorar a nova informação e “é a partir do que o
aluno já aprendeu que todas as experiências acontecerão e todas as aprendizagens propostas
pelo professor poderão ser adquiridas” (LINS, 2004, p. 632).
Fundamentados nessa afirmação utilizamos o recurso da numeração
relacionada às posições das notas Mi e Fá, o que pode ter contribuído para a fixação do
dedilhado e um bom índice na execução instrumental dos alunos.
67
E com Vygotsky (1989), Small (1995) e Ausubel (2001) podemos destacar os
fatos que se estabeleceram e se completaram durante essa primeira semana de atividades: (a)
o valor social e a identidade cultural, nos encontros e nas relações interpessoais em que o
sentido de pertencimento é experienciado, o que foi observado na arrumação da sala e dos
materiais para a aula de Flauta Doce; e (b) o conhecimento prévio e o novo no dia a dia da
evolução da aprendizagem, ao usarmos os números para relacionar o dedilhado às posições
das notas na Flauta Doce.
5.2 ANÁLISE DA SEMANA 2
Na segunda semana, cujas atividades foram desenvolvidas nos dias 31 de
agosto e 2 de setembro de 2010, o conteúdo que observamos foi o conceito Fá-Mi, Posição
Fechada e em processo inverso à primeira canção. A canção utilizada foi: Eu conto pra você,
de Jael Santana. Também nessa semana as atividades leitura e grafia não foram observadas.
No que se refere à execução da música utilizada para essa atividade, apuramos
que 36% dos alunos obtiveram o conceito regular (R) e 64% o conceito bom (B). Em relação
à participação, observamos não só a cooperação e envolvimento, mas a frequência que
apontamos como um fator de importância na condução e sucesso do processo de iniciação à
Flauta Doce. Desse modo o conceito muito bom (MB) foi atribuído a 21% dos alunos que
tiveram presença integral e o conceito bom (B) obteve um índice maior, conforme se verifica
no gráfico 2. Apesar de todas as respostas positivas, a perseverança não é uma virtude
encontrada prontamente e foi observada uma melhora acentuada no decorrer das aulas.
68
Gráfico 2 – Semana 2 – conceito Fá-Mi – Posição Fechada
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
Ao analisar os resultados obtidos nas duas primeiras semanas de aula
observamos que a maioria dos alunos teve facilidade para a execução das notas Fá e Mi e para
a internalização dos compassos em espera. Dessa forma, observamos a interação das ações de
cantar ou tocar realizadas com autonomia e integradas à ação de ouvir e perceber o momento
certo para tocar ou cantar. O aluno está integrado ao fazer música desde o início até o término
da canção.
Segundo Small (1995), a performance não está só no ato de tocar ou cantar,
mas também e, sobretudo, no envolvimento com o que está acontecendo. O aluno acompanha
atentamente a música, cantando ou esperando para tocar a Flauta Doce, em sentido de
prontidão, no momento solicitado. Assim, novas possibilidades podem ser consideradas e
apresentadas para o processo que se inicia à medida que o aluno se habitua a esperar pela sua
vez de tocar.
O acompanhamento instrumental tem dupla função: (a) manter a unidade da
música em estudo, pois o aluno iniciante não a executa de forma integral, realiza pequenas
inserções tocando as notas Mi e Fá; e (b) é a ferramenta para a imersão no ambiente sonoro.
Dessa forma vai possibilitar ao aluno, segundo Vygotsky, Luria e Leontiev (1988), a
antecipação dos passos futuros do seu desenvolvimento, o que foi importante para a
construção e fixação dos conceitos.
69
5.3 ANÁLISE DA SEMANA 3
A terceira semana, com atividades desenvolvidas nos dias 14 e 16 de setembro
de 2010, foi dedicada à canção O trem de ferro, do repertório brasileiro de tradição oral, em
que introduzimos o conceito Mi-Sol. Apurou-se que em relação à execução 43% dos alunos
observados tiveram conceito R e 57% o conceito B.
Podemos justificar esse percentual à dificuldade encontrada para execução da
Posição Aberta, requerida pela nota Sol. Na articulação entre a Posição Fechada, com a nota
Mi e a Posição Aberta com a nota Sol, observamos os movimentos ainda rígidos e com pouca
naturalidade, não atendendo ao equilíbrio e prontidão desejados.
Em relação à participação, 43% obtiveram o conceito B e 57% o conceito MB
conforme se observa no gráfico 3. Podemos apontar assim para o aumento de conceitos MB, a
evolução dos encontros e das relações entre os participantes e, portanto uma maior frequência
dos alunos nas aulas. Segundo Small (1995), isto é a constatação do fato social manifestando-
se como essência primeira a serviço do ato de musicar.
Gráfico 3 – Semana 3 – conceito Mi-Sol
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
A canção apresentada na 3ª semana deu início ao processo de articulação entre
a Posição Fechada e a Posição Aberta. Segundo Araújo (2004) a organização dos movimentos
corporais permitem ao aluno adquirir melhores condições de expressão. Sob essa premissa
consideramos importante a observação da aprendizagem motora no ensino-aprendizagem da
70
Flauta Doce, evidenciando que as necessidades são: (a) o domínio da articulação entre a mão
esquerda e a mão direita; (b) a observância da posição correta das mãos e dedos; e (c) o
equilíbrio e a sustentação do instrumento.
Ausubel (2001) destaca a importância de reapresentar os conceitos em estudo
em novos contextos. Concordamos e apontamos para a necessidade de tornar a apresentar o
conceito Mi-Sol que evidencia a articulação entre as Posições Aberta e Fechada em outras
atividades, para que os alunos pudessem adquirir o domínio e a desenvoltura esperados. E ao
mesmo tempo, recordamos a ideia de Zona de Desenvolvimento Proximal apresentada por
Vygotsky (1989) ao observarmos que o aluno estava em processo de aprendizagem
evidenciando o seu desenvolvimento potencial.
5.4 ANÁLISE DA SEMANA 4
Na quarta semana, quando as atividades foram desenvolvidas nos dias 21 e 23
de setembro de 2010, passamos a observar o aspecto relacionado à leitura e grafia.
Reavaliamos os conceitos Mi-Fá e Mi-Sol junto aos alunos por meio da canção Pega no
ganzê, canção brasileira de tradição oral em forma de Cânone.
O primeiro aspecto avaliado dessa semana foi a execução dos alunos e apurou-
se que 14% deles obtiveram o conceito R e 86% o conceito B. Observamos, nessa semana,
que um maior número de alunos obteve melhor resultado na execução instrumental.
Justificamos essa melhora pela atividade proposta que revisou a aprendizagem dos conceitos
anteriormente aprendidos e que, em outro contexto, foram melhores compreendidos, segundo
Ausubel (2001).
Quanto à leitura, 43% dos alunos obtiveram conceito B e 57% o conceito MB;
em relação à participação 64% desses alunos tiveram conceito B, 29% MB e 7% o conceito
regular (R), conforme ilustração do gráfico 4.
71
Gráfico 4 - Semana 4 – conceitos Mi-Fá, Mi-Sol
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
O desempenho constatado em relação à leitura demonstrou que o aluno
aprende com mais facilidade aquilo que vivencia e que pratica. O aluno já teve oportunidade
de vivenciar os sons por meio das ações de cantar ou tocar, sentir e realizar e nessa etapa,
houve a oportunidade de visualizá-los na partitura.
Dessa forma, distribuímos as folhas com as partituras manuscritas, utilizando
uma pauta de maior dimensão com as três primeiras linhas da pauta. As notas musicais que
foram trabalhadas na Iniciação à Flauta Doce, por meio das atividades interativas de cantar,
sentir, expressar-se com gestos expressivos e tocar, são as notas que envolvem as três
primeiras linhas da pauta, como expusemos anteriormente, a partir da nota Mi, da primeira
linha.
Nesse primeiro contato do aluno com a partitura, pudemos constatar que os
nossos alunos compreenderam a simbologia musical, principalmente pela nossa
fundamentação segundo a qual o aluno aprende significativamente se observamos os
conhecimentos com os quais vem para a sala de aula (AUSUBEL, 2001), o espaço físico-
social onde a aprendizagem é realizada (VYGOTSKY, 1989) e a qualidade das trocas
interpessoais entre os participantes (SMALL, 1995).
Estabelecidos esses princípios, constatamos que o aluno reconheceu as notas
iniciais, situadas na 1ª linha da pauta, na clave de sol, fortalecendo a nossa pesquisa.
72
Lembramos que as músicas foram adaptadas para os iniciantes, sendo comum apresentarmos
a mesma música em duas versões. A versão escrita em três linhas atendeu ao aluno iniciante e
a versão em cinco linhas, tradicional, atendeu aos alunos mais adiantados.
A performance pode ser entendida como um ritual, pois abrangem de acordo
com Kleber (2006, p. 288), referindo-se a Small: “formas de interação em sua construção, as
quais são entendidas como espaços de ensino e aprendizagem musical”, o que foi observado
no ensino e aprendizagem de Flauta Doce quando os alunos conviveram semanalmente no
universo musical, construído com partituras de três e ou cinco linhas, facilitadas, adaptadas e
originais. Nesse contexto em prol da performance, o desenvolvimento foi observado dentro
das particularidades, e capacidades de cada aluno, na mediação com o professor e nas relações
com os outros, como afirmam Vygotsky (1989) e Small (1995).
Ao observamos a importância do movimento corporal, no ensino e
aprendizagem da Flauta Doce, constatamos, nessa semana de atividades, que os alunos
obtiveram melhora significativa nos resultados relacionados ao equilíbrio e domínio de
movimentos. Em relação aos movimentos, podemos mencionar que foram: (a) ativos e
pensados; (b) expressaram a relação entre pensamento e ação, emoção e linguagem musical;
(c) conduziram a atenção do professor para a aprendizagem motora; e (d) favoreceram a
articulação entre as Posições Fechada e Aberta.
Os alunos apresentaram, ainda, um bom desempenho diante da evolução do
repertório e da leitura e grafia, em virtude da utilização dos conhecimentos prévios
(AUSUBEL, 2001).
Lembramos que no item participação foram observados os critérios frequência
e colaboração, que são pertinentes ao ato de musicar, pois fazem parte dessa construção de
valores pessoais e sociais (SMALL, 1995), manifestados na construção de uma performance,
para que a execução do instrumento possa acontecer.
5.5 ANÁLISE DA SEMANA 5
Na quinta semana, cujas atividades foram desenvolvidas nos dias 28 e 30 de
setembro de 2010, utilizamos a canção Chorinho, de Maria Meron, e, com ela, trabalhamos os
conceitos Mi-Fá, Sol-Mi, reapresentados em um novo contexto.
Em relação à execução dessa canção, observamos que 21,5% dos alunos
tiveram o conceito R, 57% o conceito B e 21,5% o conceito MB. Atribuímos o conceito R às
73
faltas observadas na semana, refletidas nas atividades de leitura e grafia, como veremos no
próximo parágrafo.
No que se refere à leitura e grafia da mesma canção, os alunos obtiveram os
mesmos conceitos: 21,5% MB, 57% B, 21,5% R. Por fim, os conceitos atribuídos à
participação foram: 50% MB, 36% bom (B) e 14%, regular (R), conforme ilustra o Gráfico 5.
Destacamos que a música trabalhada nessa semana apresentou uma partitura
mais complexa, em pauta tradicional de cinco linhas onde as notas em estudo foram
apresentadas de forma inclusiva. Os alunos da oficina de Iniciação à Flauta Doce tocaram
apenas o refrão, no qual se encontram os conceitos conhecidos Mi-Fá e Sol-Mi. A 1ª e a 3ª
parte foram vivenciadas, pelos alunos iniciantes, por meio do canto e do envolvimento com os
alunos mais adiantados que executaram essas partes, as quais exigiram um maior domínio
técnico do instrumento.
Gráfico 5 – Semana 5 – conceitos Mi-Fá, Sol-Mi.
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
A permanência do aluno na escola nos leva a refletir sobre a performance
musical e o espaço físico e social onde ela aconteceu, e “assim nós perguntamos quais
significados são construídos em uma performance” (SMALL, 1995, p. 2). Sabemos que esses
significados começam a ser construídos nas atividades que envolvem a performance, desde a
arrumação e preparação dos materiais até os relacionamentos interpessoais entre os
participantes, que transformam cada encontro em momentos únicos, culturalmente,
cognitivamente, socialmente e afetivamente.
74
5.6 ANÁLISE DA SEMANA 6
A sexta semana, com atividades desenvolvidas dias 5 e 7 de outubro de 2010,
enfocou os conceitos novos Fá-Lá e Mi-Ré e fizemos uso da canção Kamalondo, canção
tradicional africana, para essa análise junto aos alunos pesquisados.
Os dados apurados em relação à execução da canção demonstraram que 57%
obtiveram o conceito B, 36% o conceito MB e apenas 7% dos alunos obtiveram o conceito R.
Quanto à leitura e grafia, o maior quantitativo, 50% também teve conceito MB, 43% o
conceito B e apenas 7% o conceito R.
Em relação à participação dos alunos nessa atividade proposta na semana 6,
resultou a seguinte apuração: a grande maioria dos alunos obteve o conceito MB, 79% e o
restante 21% dos alunos, o conceito B conforme ilustra o Gráfico 6.
Gráfico 6 – Semana 6 – conceitos Fá-Lá, Mi-Ré
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
Ao iniciar a 6ª semana de aula, os alunos receberam algumas folhas pautadas
em branco com três e cinco linhas, folha com a partitura nova para o estudo da semana e as
partituras das canções já estudadas anteriormente. Os conceitos Mi-Fá e Sol-Mi já foram
trabalhados anteriormente e, nessa semana, foram apresentados em um novo contexto
melódico. A partitura apresentou os conceitos já conhecidos e os novos Fá-Lá e Mi-Ré
efetivando a aprendizagem, dessa forma, sempre a partir do conhecimento prévio do aluno,
segundo Ausubel (2001).
75
Em todas as partituras, principalmente naquelas em estudo, os alunos usaram o
recurso de canetas coloridas, tipo marca texto, para destacar as notas que conheciam e que
iriam tocar. Dessa forma, pudemos observar o vai e vem dos sons e seu significado para cada
aluno na aquisição do conhecimento, “na medida em que se dá por processos de
internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem” (RABELLO; PASSOS,
2008, p. 4), e segundo Vygotsky (1989), principalmente, na aprendizagem planejada no meio
escolar.
Foi realizada também uma nova atividade voltada para leitura e escrita com
base nos conceitos aprendidos, quando os alunos realizaram registros de memória de um
pequeno trecho escolhido por eles próprios, além de estudos comparativos entre as
semelhanças e diferenças observadas nas diferentes produções. Essa atividade favoreceu o
bom desempenho da leitura e escrita musical contida na 1ª e 2ª linhas do pentagrama.
Foi nesse contexto de integração e de compartilhamento de conhecimento que
os alunos de Iniciação à Flauta Doce tiveram oportunidade de participar e se desenvolver,
além de ver e ouvir os alunos mais adiantados. Semanalmente todos se integraram ao grupo
nas aulas ou aulas-ensaio previamente estabelecidas. Esse convívio renovou o entusiasmo de
todos os envolvidos e apontou para os iniciantes um resultado positivo e acessível.
Duarte (2001) destaca que o professor pode avaliar desempenho dos alunos
pelo tipo de ajuda que eles necessitam, se estão se apropriando da atividade, executando-a por
si mesmos. De acordo com essa observação pôde-se avaliar que o desempenho dos alunos
atingiu os objetivos de compreensão da leitura e grafia musical, desejados por nós.
Quanto à participação do aluno, podemos apontar que todos os alunos estavam
em processo de aprendizagem, observando que é nas relações com o outro, e mediante as
experiências a que o aluno está exposto, que a aprendizagem ocorre (SMALL, 1995;
VYGOTSKY, 1989).
Observamos, portanto, uma mudança em relação à permanência dos alunos nas
aulas de Flauta Doce, fato esse constatado por Small (1995): a essência da música encontra-se
na participação da performance, na ação do fazer música. Essa ação desenvolve o sentido de
estar incluído, de pertencer ao grupo. Esse sentimento é um laço afetivo, um fator decisivo
para fazer o aluno voltar na próxima aula. Encontramos suporte em Vygotsky (1989) que
muito antes, já afirmava que o meio social é a alavanca da aprendizagem.
A articulação entre a Posição Fechada e a Posição Aberta é um item
imprescindível na evolução do repertório. Observamos que a Posição Aberta da nota Lá foi de
76
difícil execução e em vários momentos vimos que alguns alunos precisaram de mais tempo
para vencer essa dificuldade apresentada.
Utilizamos para esses alunos, a técnica do queixo7, processo muito utilizado
por nós e que se expressa no apoio da Flauta Doce no queixo. Os alunos realizaram todos os
movimentos dos dedos e mãos acompanhando a base instrumental sem a emissão do sopro,
mas verbalizando o nome da nota.
Dessa foram mantiveram-se integrados ao grupo e realizaram a
correspondência entre o som que ouviram e a sua posição na Flauta Doce. Pudemos observar
a atenção voltada para as ações de perceber, sentir o trajeto, o espaço entre os dedos e a
posição das mãos para executar determinadas passagens no instrumento.
Nessa medida, estão em foco os apontamentos relativos à aprendizagem
motora e à proprioceptividade (FURMAN, 1997; LAGE, 2002; PEDERIVA, 2004;
ÁLVARES, 2005) que destacam a importância da aprendizagem motora e da
proprioceptividade desde o início do aprendizado do instrumento musical, uma vez que a
captação inicial desse processo se dá pelo sistema sensório-motor, por meio da audição, visão
e tato. Enquanto ouvem a música, estão trabalhando e construindo a performance.
Observamos também, nesse procedimento um processo de internalização dos
conceitos a partir dos sentidos e a atuação e mediação do professor (VYGOTSKY, 1989) na
apresentação e desenvolvimento de uma ferramenta nova, um novo sentir a música, para
minimizar a dificuldade técnica apresentada naquela passagem de dedilhado.
Apontamos a criatividade do professor como elemento de destaque na
construção de algo novo, principalmente no exercício de novas estratégias de ação para que o
aluno possa obter êxito em todas as etapas da aquisição do conhecimento.
Portanto, podemos afirmar que o nosso aluno vem se desenvolvendo com
facilidade, ampliando o repertório, articulando as Posições Fechadas e Abertas, bem como
fazendo uma junção natural dos conhecimentos mais antigos com os recém-adquiridos
(AUSUBEL, 2001).
7 A técnica citadafoi desenvolvida e usada na execução de passagens de difícil compreensão. O aluno com a
Flauta Doce no queixo executa mentalmente ao dedilhar o trecho em estudo sem se preocupar com a emissão do
sopro, atendo-se à obtenção dos resultados viso-tátil-espacial e motor.
77
5.7 ANÁLISE DA SEMANA 7
Na sétima semana de atividades, desenvolvidas dias 19 e 21 de outubro de
2010, a canção trabalhada foi Sinos de Natal, do original Jingle Bells, autor James Pierpont, e
os conceitos atribuídos aos docentes em relação à execução foram: 86% MB e 14% B. Nas
atividades de leitura e grafia os alunos tiveram conceitos MB e B, sendo que o primeiro
conceito foi atribuído a 79% dos discentes, e o segundo, a 21%. Quanto à participação a
apuramos o seguinte resultado: 86% o conceito MB e 14% dos alunos tiveram conceito B. É o
que se observa no gráfico 7.
Gráfico 7 – Semana 7 – conceito Ré-Fá sustenido
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
Foi possível constatar o crescimento do grupo nos resultados encontrados.
Percebeu-se a satisfação dos alunos em participar das aulas e poder compartilhar com os
integrantes do grupo o domínio de um novo conhecimento, agora compreendido. Novas
relações pessoais foram estabelecidas e a qualidade dos encontros reflete-se em uma realidade
capaz de exercer influência além dos muros da escola.
Para chegarmos à realização da execução da música Sinos de Natal foram
necessárias algumas etapas. A partir do momento em que as partituras foram entregues, os
alunos, primeiramente, usaram suas canetas coloridas, tipo marca texto, e envolveram as notas
78
que compreendiam. Lembramos que as notas em estudo estavam grafadas no final da partitura
sob o título de legenda para que os alunos tivessem à mão, uma fonte de consulta.
Na primeira parte da música, os alunos marcaram as notas Ré, Mi, Fá sustenido
e Sol e puderam perceber, entre um compasso e outro, outras notas que ali estavam e que
ainda não dominavam. Portanto, era preciso internalizar a espera, o sentido de quando tocar as
notas que tinham marcado em suas partituras.
Para isto contaram com o auxílio da base instrumental e vivenciaram a canção
por meio do canto e de gestos expressivos. Na Flauta Doce utilizaram, inicialmente, a técnica
do queixo, permitindo que cantassem as notas que tocariam depois; que sentissem os sons e
internalizassem os tempos de espera.
No segundo momento, tocaram a sequência de notas que destacaram em suas
partituras, sempre com o auxílio da base instrumental, pois os alunos iniciantes tocaram na
primeira parte da música, somente os sons iniciais de cada compasso, sentindo o apoio rítmico
do tempo forte inicial, o que facilitou a condução da aprendizagem.
Ouvindo e cantando a música, chegaram a dominar o contexto melódico e
rítmico da primeira parte da canção de Natal. Na segunda parte da música, que corresponde à
parte mais conhecida, observamos a predominância das notas agudas e de Posições Abertas, o
que tornou difícil a execução para os alunos iniciantes.
Essa questão foi resolvida com os alunos participando da atividade em
conjunto tocando toda a primeira parte e na segunda parte cantaram o refrão conhecido
enquanto esperavam para tocar nos dois últimos compassos, pois ali encontraram notas
conhecidas, que compreendiam e sabiam tocar. Evidenciou-se um processo integrado de ações
que favoreceu a internalização da escuta musical e a participação de todos os alunos na
atividade realizada.
Foi possível observar que o conhecimento do todo precedeu o das partes
(VYGOTSKY, 1989) e que embora não estivessem tocando a música toda, estavam
envolvidos na realização da performance (SMALL, 2010).
Observamos que os nossos alunos aprenderam mediante as experiências a que
estiveram expostos e no âmago das relações com o outro (AUSUBEL, 2001; SMALL, 1995;
VYGOTSKY, 1989).
O estudo se apresentou de maneira progressiva e contínua e os alunos tiveram a
curiosidade aguçada e vontade de ultrapassar os limites. Observamos que vários se lançaram
ao desafio de tocar a música toda. O que mais chamou a nossa atenção foi o crescente
79
entusiasmo dos alunos diante do progresso alcançado, bem como o domínio das habilidades
motoras.
É interessante destacar a lição repassada por Vygotsky (2003) sobre a
importância das emoções e sentimentos, na aquisição e apreensão de conhecimentos:
Não sei por que em nossa sociedade formou-se um critério unilateral sobre a
personalidade humana, nem por que todos relacionam dons e talento apenas ao intelecto. Além de ser possível pensar com talento, também se pode sentir
talentosamente. O aspecto emocional da personalidade não tem menos importância
que outros e constitui objeto e a preocupação da educação, na mesma medida que o
intelecto e a vontade. O amor pode conter tanto talento e inclusive genialidade
quanto a descoberta do cálculo diferencial. Em ambos os casos o comportamento
humano adota formas excepcionais e grandiosas (VYGOTSKY, 2003, p. 122).
Essas questões abordadas por Vygotsky (2003) foram observadas uma vez que
quanto mais os alunos se sentiram confiantes, mais eles se entusiasmaram e melhor se deu o
aprendizado. Essa constatação foi verificada e pôde ser observada, por meio dos gráficos
apresentados: a cada avaliação os alunos foram obtendo um desempenho melhor nas
atividades propostas em sala de aula.
5.8 ANÁLISE DA SEMANA 8
Na oitava semana de investigação, cujas atividades foram desenvolvidas nos
dias 26 e 28 de outubro de 2010, foi trabalhada com os alunos a canção É Natal, de Marco
Antonio Hailer e os conceitos: Fá sustenido-Sol, Ré-Mi.
Os resultados apurados em relação à execução da canção foram de 14% para o
conceito B e 86% para o conceito MB. Quanto à leitura e grafia da canção os resultados
foram: 21% para o conceito B e 79% para o conceito MB.
A participação dos alunos nessa canção também teve resultados positivos
predominantes como os das outras atividades, sendo que 14% dos alunos tiveram o conceito
B e 86% o conceito MB. Observa-se que os conceitos das três atividades foram similares ao
apurado na sétima semana de pesquisa, conforme ilustra gráfico 8.
80
Gráfico 8 – Semana 8 – conceitos Sol-Fá sustenido-Mi, Fá sustenido-Mi-Ré
Fonte – dados apurados pela pesquisadora.
No desenvolvimento da aprendizagem observamos o crescimento do grupo e a
identificação que demonstrou com o repertório proposto, principalmente pela forma de sua
apresentação. Os recursos materiais que tivemos à nossa disposição em sala de aula para
desenvolver a nova proposta para a Iniciação à Flauta Doce a partir da nota Mi foram os
habituais, como carteiras, quadro para anotações, algumas estantes de partituras e um teclado
com drive de disquete, que comprovadamente muito contribuiu para os resultados positivos
que obtivemos e apontamos.
A diferença existente quando da utilização de um acompanhamento em
formato MIDI em vez de um acompanhamento ou uma gravação realizada de maneira
tradicional em CD consiste no fato de termos uma ferramenta flexível, que permite ajustar o
andamento da música para os primeiros momentos do aluno com a música em estudo.
Inicialmente, optamos por um andamento mais lento e, em seguida,
gradualmente mais rápido, o que trouxe ao ambiente um requinte de novidade e desafio. As
gravações foram realizadas especialmente para o uso em sala de aula, para guiar o repertório
proposto e, desde o início, consideramos essa forma de apresentar o repertório como uma
importante estratégia de ação.
A partir da oitava semana, tivemos contribuições surpreendentes dos alunos.
Por iniciativa própria, pesquisavam e traziam para a sala de aula, em disquetes próprios,
músicas escolhidas por eles. Chegavam ansiosos para compartilhar com o grupo e mostrar que
81
tinham aprendido outra lição, que a criatividade havia fecundado. O desejo do novo, de inovar
a realidade da sala de aula de música era possível.
Small (1995), afirma que a música, a sociedade e a educação são elementos
inseparáveis e interdependentes e que a partir da criatividade poderemos propor uma nova
realidade para os alunos, o que pudemos comprovar.
Além disso, constatamos que a vivência realizada na sala de aula não ficou
restrita ao espaço físico e social em que ocorreu, mas criou significados (AUSUBEL, 2001 e
SMALL, 1995). Podemos observar com esse resultado, que cada um desses alunos, “no seu
contexto histórico e social específico, tem ajudado a renovar o ensino da música” (PENNA,
2011, p.17).
Aproveitando o momento de entusiasmo e progresso contínuo, realizamos uma
apresentação em sala de aula com a participação de pais e responsáveis. Dessa forma,
promovemos uma excelente oportunidade para o aluno apresentar as habilidades adquiridas e
para o congraçamento afetivo entre os alunos e familiares.
Como afirma Suzuki (1994) os pais têm grande responsabilidade: (a) no
desenvolvimento musical dos seus filhos; (b) na participação de um ambiente produtivo e
favorável ao talento potencial de cada criança; e (c) na transformação do aprendizado em
atividade lúdica.
Observou-se o empenho e a dedicação de todos os alunos e ainda o
fortalecimento dos laços afetivos entre os participantes do grupo e familiares destacando a
existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual uniram-se
na construção de uma performance (VYGOTSKY,1989; SMALL,1995; AUSUBEL, 2001).
5.9 ANÁLISE DA SEMANA 9
Na semana 9, as atividades foram desenvolvidas nos dias 9 e 11 de novembro
de 2010. Naquela ocasião foi trabalhada com os alunos a canção Noite Feliz, de Franz Gruber,
e constaram-se novos resultados positivos oriundos da apresentação realizada na semana
anterior, na conclusão do 2º mês de aulas consecutivas. Observou-se a motivação e o desejo
de aprender realimentados, o sentido e o significado da leitura e grafia musicais traduzidos em
explicações, dadas espontaneamente pelos alunos ao público que assistia a apresentação.
Com a realização dessa nova atividade, constatou-se a participação de todos os
alunos, traduzida em dados numéricos de 100%. Os resultados apurados em relação à
82
execução e a leitura e grafia da canção corresponderam à expectativa, pois 93% dos alunos
obtiveram conceito MB e apenas 7% obtiveram conceito B.
Gráfico 9 – Semana 9 – conceitos Lá-Fá, Ré-Fá-Sol
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
Dentre as atividades apresentadas e desenvolvidas pelos alunos e o público que
os prestigiou, em sua maioria, familiares, houve uma delas que se destacou: os alunos
escolheram a primeira música que aprenderam e que envolveu o conceito inicial Mi-Fá para
vivenciá-la com o publico presente. A música em questão foi a canção Criança 2000, que re -
intitulamos Criança 2010, com o título da canção adaptado para o ano da realização desse
estudo.
Os alunos distribuíram as letras e pudemos observar a autonomia com que
realizaram as várias etapas do ensino e aprendizagem; distribuíram as flautas doces fornecidas
pelos professores, cantaram e tocaram para demonstrar o processo de aquisição do
conhecimento.
Tivemos a nossa atenção voltada para a maneira com que se apropriaram da
técnica do queixo (p. 75) para sanar as pequenas dificuldades apresentadas. A partir dessa
observação, ficou evidenciada a importância da clareza do enunciado, a organização
sequencial na aprendizagem de determinado conteúdo e as formas de relacionar os novos
83
conhecimentos àqueles que o aluno já tem, mas não percebe que são relacionáveis aos novos
(AUSUBEL, 2001).
Portanto, podemos concluir que todos os alunos compreenderam a simbologia
estudada e mais uma vez, se apropriaram dos seus significados.
Destacamos que os alunos aprenderam a música Noite Feliz, canção tradicional
de Natal de Franz Gruber, com muito entusiasmo. O primeiro passo foi ouvir uma versão
cantada e depois cantar acompanhando a gravação. Em seguida os alunos ouviram uma versão
instrumental só do acompanhamento e perceberam a inserção da Flauta Doce e puderam
acompanhar tanto auditivamente quanto visualmente na partitura, os sons que ouviam.
Por meio da descrição e exposição oral os alunos relataram as diferenças
percebidas na representação simbólica das notas Mi-Sol, Ré-Fá e Fá-Lá que culminou com a
realização de uma atividade em folha pautada. Ao destacarem as diferenças das posições de
notas de linha e notas de espaço, percebeu-se a prática da reconciliação integradora e
interativa entre os conhecimentos adquiridos e os novos, conceito fundamentado na Teoria de
Ausubel (2001).
Vygotsky (1989) afirma a que a percepção do conjunto precede a de partes
isoladas, ou seja, o aprendizado de um conteúdo deve ser pelo sentido total. Este é um
importante fundamento que observamos ao apresentar a canção na íntegra aos alunos, por
meio do canto e das partituras em níveis diferentes de conhecimento. Procurou-se observar,
dessa maneira, o desenvolvimento potencial dos alunos, ZDP, valorizando aquilo que o aluno
pode realizar com a ajuda do professor e ou de colegas.
Todas essas possibilidades observadas em nosso cotidiano, na afirmativa de
Small (1995), concorreram para a caracterização de um ritual, envolvendo desde a integração
e organização do espaço físico às relações entre os participantes e desses com a execução
instrumental.
5.10 ANÁLISE DA SEMANA 10
Na 10ª semana de atividades, desenvolvidas nos dias 16 e 18 de novembro de
2010, foi trabalhado com os alunos a canção Aleluia, de William Boyce, quando se
84
desenvolveu a escala completa8, do Dó3 ao Dó4, apresentando as notas de Posição Aberta, Si
e o Dó 4.
Os resultados observados na execução das notas de Posição Aberta atestaram a
dificuldade na obtenção do equilíbrio necessário para o bom desempenho. Dessa forma 28%
dos alunos apresentaram dificuldades na execução da Posição Aberta, obtendo o conceito B e
72% dos alunos obtiveram o conceito MB.
Na leitura e grafia os resultados apresentados foram de 93% para o conceito
MB 7 % para o conceito B, evidenciando um processo constante de evolução e significação.
Por sua vez, a participação obteve resultado muito bom em sua totalidade.
Gráfico 10 – Semana 10 – conceito Dó4-Si – Posições Abertas
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
Desse resultado exposto observou-se a necessidade de ampliar o trabalho de
transição entre as Posições Fechadas e as Posições Abertas, agora introduzidas para completar
a escala musical de Dó a Dó.
8 A numeração ao lado da nota auxilia na identificação da escala a que pertence àquela nota. As notas de
numeração 3 estão contidas na primeira escala de Dó da Flauta Doce Soprano e as notas de numeração 4 na
segunda escala. Portanto, Dó3 é o Dó central, a nota mais grave da Flauta Doce Soprano. O Dó 4 é o Dó agudo
que dá início à segunda escala de Dó Na escala do Dó4 as notas são de Posição Aberta.
85
A aquisição musical pretendida foi articulada com a vivência musical do aluno
de forma a contemplar as necessidades apresentadas no momento (AUSUBEL, 2001;
NARITA, 2008). Nesse sentido, a escala musical, desde o Dó da região média, identificado
comumente como Dó3, ao Dó da região aguda, identificado como Dó4, foi praticada sem a
preocupação de partitura, com a música Minha Canção, de Chico Buarque, que apresentou as
notas musicais em forma de escala.
Os alunos trouxeram a canção para a sala de aula após assistir a propaganda de
um musical na televisão. Vimos então, que do cotidiano e da vivência musical do aluno a
prática deve nortear a busca para as necessidades da sala de aula (PENNA, 2010) e ainda, no
conhecimento com o qual o aluno vem para as aulas de Flauta Doce, devemos ancorar o
conhecimento novo (AUSUBEL, 2001), o que foi feito. Dessa forma, os conceitos da semana
foram reapresentados na nova canção, visando fortalecer e restabelecer os significados, que
envolveram a escala toda, do Dó 3 ao Dó 4.
Por meio do estudo inicial da canção Aleluia, foi trabalhada toda a escala de
Dó. A canção Aleluia é estruturada em forma de cânone e apresentou a escala de Dó, de
forma descendente, a começar pela nota Dó 4, nota de Posição Aberta. Como apresentamos
no parágrafo anterior, a música Minha Canção foi introduzida ainda nessa semana como apoio
ao desenvolvimento da escala de Dó, do Dó 3 ao Dó 4.
Os alunos ouviram a canção, apresentada pela base instrumental com voz e
Flauta Doce e em seguida, pontuaram as diferenças e semelhanças observadas nos registros da
voz e da Flauta Doce. Na gravação os alunos perceberam que o mesmo tema melódico foi
apresentado duas vezes, uma vez na voz de tenor e outra vez na Flauta Doce. Desse modo
tiveram a oportunidade de comparar as semelhanças e diferenças de timbre observadas entre a
voz de tenor e a Flauta Doce.
Destacamos que há uma diferença forte entre o registro vocal de tenor e o som
agudo de uma Flauta Doce soprano. A voz de tenor soa uma oitava abaixo do registro agudo
da Flauta Doce soprano.
Os alunos buscaram a integração dos conhecimentos, que embora,
apresentados de dois modos diferentes continham o mesmo significado. Dessa forma, ocorreu
o que Ausubel (2001) destacou como reconciliação integradora dos conhecimentos, uma
forma de identificar o mesmo conhecimento visto por ângulos diferentes. O mesmo
significado foi percebido e reconhecido pelos alunos por meio da escuta e depois com o
auxílio da partitura, quando perceberam modos diferentes de dizer a mesma coisa.
86
Observamos que os alunos acompanharam atentos às diferenças timbrísticas
entre a voz cantada e a execução da Flauta Doce, perceberam que a melodia foi apresentada
inicialmente pela voz e, depois, reapresentada no instrumento. Outro tema melódico, o de
maior dificuldade, foi percebido pelos alunos na segunda parte da canção.
Os alunos iniciantes permaneceram no tema inicial enquanto os alunos mais
adiantados prosseguiram e tocaram a segunda parte, obtendo o resultado sonoro da forma
cânone. Os alunos puderam sentir e vivenciar o entrelaçamento dos dois temas, vivenciando
um resultado de uma pequena polifonia. Os alunos na faixa etária de 8 anos tiveram uma
partitura adaptada com as notas Mi-Fá, Mi-Sol e Mi-Lá – com a predominância de notas de
Posição Fechada – e também foram inseridos no contexto sonoro da canção.
Constatamos que as possibilidades de experimentação musical resultante dessa
canção foram de grande valia para os alunos, que “compartilharam culturalmente e
socialmente um padrão de organização dos sons, pela vivência, pelo contato cotidiano e pela
familiarização” (PENNA, 2010, p. 31).
Segundo Vygotsky (1989), é essencial que o indivíduo esteja inserido em
determinado meio social para que aconteçam mudanças no seu desenvolvimento. Deste fato,
observamos que a percepção se torna, cada vez mais, uma relação mediada pelas significações
culturais, como afirmam Vygotsky (1989) e Small (1995).
5.11 ANÁLISE DA SEMANA 11
Na 11ª semana de atividades, desenvolvidas nos dias 23 e 25 de novembro de
2010, foi trabalhada com os alunos, a música Asa Branca, de Luiz Gonzaga, atendendo às
solicitações dos alunos. Os conceitos desenvolvidos foram as notas Si-Ré 4, e Si-Dó 4,
conceitos exclusivos de notas de Posição Aberta que, em nossa pesquisa, apontamos como
notas de difícil execução, ao contrário do que expressa a literatura tradicional usada no ensino
e aprendizagem da Flauta Doce.
Desde o início das aulas de Flauta Doce, os alunos externaram a vontade de
aprender a tocar a música Asa Branca de Luiz Gonzaga. Alguns alunos já sabiam tocar alguns
trechos, que aprenderam com algum amigo ou parente e vinham demonstrar, orgulhosos do
feito. Compartilhavam e ensinavam os colegas, numa demonstração de autonomia e
apropriação do saber.
87
A leitura e grafia da notação correspondente às notas de Posição Aberta foram
observadas na canção em estudo. Os resultados obtidos nessa semana, que antecedeu a
finalização do período de doze semanas, estabelecido para a observação e estudos, refletiram
um processo real de aprendizagem com o índice de 100% para o conceito MB, nas três
categorias observadas: execução, leitura e grafia e participação, conforme ilustra o gráfico 11.
Gráfico 11 – Semana11– conceitos Si-Ré 4;Si-Dó4 – Posições Abertas
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
Tivemos a oportunidade de perceber, em outras ocasiões, durante o curso de
Iniciação à Flauta Doce, que essa música se tornou um hino entre os estudantes e é
apresentada como um parâmetro ou referencial de conhecimento entre eles e no espaço social
que vivem. Dessa forma, foi com grande entusiasmo que receberam a novidade, o momento
de incluir a Asa Branca.
Não incluímos a música Asa Branca em nosso repertório inicial porque ela é
realizada na tonalidade de Sol Maior e apresenta uma grande sequencia de notas de Posição
Aberta, que requerem domínio e equilíbrio do instrumento para a execução. Dessa forma,
após vivenciar praticamente toda a escala musical a partir do conceito inicial Mi-Fá, notas de
Posição Fechada, os alunos estão atentos e familiarizados com a sensação do peso e equilíbrio
do instrumento e preparados para a execução da referida música Asa Branca.
88
Observamos a curiosidade nesse contato inicial das notas de Posição Aberta,
ligada ao contato físico do instrumento e, dessa maneira, Lage et al. (2002) e Pederiva, (2004)
apontam como importante, na relação corpo-instrumento, a distribuição do peso do
instrumento entre as duas mãos, o que é observado no processo de Iniciação à Flauta Doce a
partir da nota Mi, que apresentamos nesta dissertação.
Atendendo ao desejo de aprender dos alunos, iniciamos as atividades pelo
Improviso da Asa Branca, pequena parte criada por nós, em sala de aula, tocada entre a
segunda e a terça repetição do tema. Essa parte foi simplificada e feita para atender: (a) aos
alunos na faixa etária de oito anos; (b) àqueles alunos maiores, mas que participaram das
aulas a partir de setembro e outubro, período em que registramos a chegada de outros alunos;
e (c) para atender um importante fundamento de Ausubel (2001): o material de aprendizagem
não é inteiramente responsável pelo agir dos alunos, pois é apenas potencialmente
significativo, mas sim, que é o mecanismo de aprendizagem que dá sentido ao que vai ser
aprendido.
Observamos que esses alunos ainda não tinham os conhecimentos prévios
necessários para que a informação nova, Posição Aberta, pudesse se estabelecer e deste modo
os alunos viessem a criar relações entre conhecimentos adquiridos e os novos, principalmente
no que se referia ao domínio e evolução da aprendizagem motora (AUSUBEL, 2001).
A partir dessa observação criamos uma parte de fácil execução, na qual foram
inseridas duas possibilidades de execução.
Na primeira opção, o uso das de Posição Fechada, notas Fá, Mi e Ré,
prevaleceram. Estas notas estão dentro do contexto melódico e como são inclusivas, o aluno
seguiu o procedimento habitual: destacou as notas na partitura, ouviu atentamente o som da
base instrumental e internalizou as esperas. Em todos os passos contou com a mediação do
professor e dos alunos mais adiantados.
Na segunda opção e na continuidade do aprendizado, as notas Sol e Lá, de
Posição Aberta foram colocadas em figuras de longa duração, para que houvesse tempo para
sentir o peso do instrumento e obter o equilíbrio necessário, tocar e pensar na articulação e na
sustentação do movimento dos dedos e da Flauta Doce. Dessa forma todos puderam participar
do grupo, integrados por meio das adaptações de fácil execução.
Para obter êxito nas diferentes etapas de aquisição e construção do
conhecimento, a atividade de ensino coletivo que envolve alunos com faixas etárias diferentes
não pode prescindir da atuação do professor. Esta deve ser dinâmica e criativa na busca de
soluções. O professor deve conhecer as possibilidades e habilidades do aluno e adequar o
89
mecanismo de aprendizagem, por meio de estratégias, como as que mencionamos
anteriormente. Essas partituras diferenciadas em torno de uma música visam atender aos
diferentes níveis de compreensão musical e ou de habilidades específicas. Desse modo, o
professor vai atender a expectativa do aluno de maneira que a motivação e a predisposição
para aprender possam ser realimentadas constantemente.
Observamos que em nossas aulas de Flauta Doce tivemos alunos a partir de
oito anos até quatorze anos de idade e com conhecimentos diferentes e, para atender essa
diversidade, numa mesma sala de aula, desenvolvemos algumas estratégias que foram
utilizadas em todo o processo de ensino e aprendizagem e que relembramos:
(a) todas as músicas que foram trabalhadas com o grupo de alunos, foram
apresentadas em dois ou três níveis de dificuldade, de forma que puderam atender os
diferentes níveis de conhecimento;
(b) o uso das canetas coloridas, tipo marca texto, se configuraram numa
poderosa ferramenta, pois com elas os alunos destacaram as notas musicais que sabiam tocar.
Dessa forma, obtivemos uma solução econômica e eficaz, pois a mesma partitura atendeu aos
níveis diferentes de conhecimento. Com isso ganhamos tempo, pois não foi preciso fazer as
partituras diferenciadas previamente e com mais propriedade, elas foram feitas pelos próprios
alunos;
(c) ao receberem as partituras fizeram o reconhecimento das notas que
compreendiam e que sabiam tocar, identificando-as. Assim, pois, ao personalizar a sua
partitura, ficou evidenciado o conhecimento adquirido (AUSUBEL, 2001).
Ficou demonstrado que o uso prévio, das canetas coloridas, tipo marca texto,
promoveu uma oportunidade para que verificássemos quais alunos já haviam adquirido os
conhecimentos e tinham, portanto, autonomia para executar a ação (AUSUBEL, 2001) e os
alunos cujos conhecimentos ainda estavam em processo de aquisição (VYGOTSKY, 1989).
Observamos que essa aquisição se tornou possível pela interação do aluno com
a aula de Flauta Doce, a partir de relações pessoais e de trocas, da mediação dos professores e
ou dos colegas (RABELLO, 2008). Do exposto concluímos que o uso das canetas coloridas
tornou-se uma prática relevante em nosso cotidiano e facilitadora da aprendizagem.
Ausubel (2001) e Vygotsky (1989) destacam como pontos importantes na
aquisição da aprendizagem em sala de aula, o contexto histórico, a interação social, a
mediação e atuação do professor. O conteúdo deve ser apresentado de forma hierarquizada e
sistematizada, como foi possível verificar por meio da apresentação do conteúdo da música
Asa Branca aos alunos: partituras de vários níveis de conhecimento e com adaptações, sempre
90
dando preferência para o uso das Posições Fechadas. As Posições Abertas vieram bem depois,
a partir do domínio das principais Posições Fechadas.
Partindo do exposto e dando sequencia ao estudo da música Asa Branca os
alunos receberam a partitura com a introdução da música Asa Branca, acompanharam o
entorno melódico e puderam perceber o todo. Com o uso de canetas coloridas, mais uma vez,
os alunos envolveram, inicialmente, as notas Mi-Sol encontradas no final do tema
introdutório. Retomaram, dessa forma, o conhecimento aprendido na terceira e sexta semana
de estudo e que serviu de ligação para a nova aprendizagem.
Como já salientamos, Vygotsky (1989) preconiza que a percepção do conjunto
precede a de partes isoladas, o que conferiu sentido à apresentação das notas musicais
vinculadas a um contexto melódico ou a um entorno melódico.
Dentro da evolução da aprendizagem e a partir do conhecimento prévio
verificado, os alunos que evidenciaram controle e equilíbrio na sustentação da Flauta Doce e
venceram as etapas de aquisição dos conhecimentos necessários para receber as novas
informações (AUSUBEL, 2001), tiveram condições para o aprendizado das Posições Abertas,
Si3-Ré4, Si3-Dó4, que classificamos como uma segunda etapa no processo de iniciação à
Flauta Doce.
Ressaltamos que as notas de Posição Aberta, Si3-Dó4, Si3-Ré4 e Lá3 foram
consideradas pelos alunos como as notas de posições mais difíceis até o presente momento, o
que explica a dificuldade apresentada pelos alunos de oito anos, que necessitaram de outras
oportunidades e possibilidades, bem como de mais tempo para dominar essa habilidade.
Os resultados apurados em relação à música Asa Branca, quanto à execução,
leitura e grafia e participação dos alunos foram de 100% para o conceito MB. Os resultados se
justificaram pelo desejo de aprender dos alunos, pela utilização de estratégias de organização
seqüencial do conteúdo específico, bem como, pela mediação e atuação do professor no
exercício de atividades interativas em sala de aula.
Estudar a música Asa Branca nesse momento do aprendizado, nos
proporcionou uma oportunidade real para celebrar as relações entre os participantes, o que foi
possível observar no nosso cotidiano.
Observamos que em cada atividade realizada na Oficina de Flauta Doce, em
um núcleo de extensão de uma escola municipal, promoveu, a cada encontro, um novo
acontecimento, um novo evento, um ritual (SMALL, 1995). Foi possível dessa forma,
constatar a realização do que Small (1995) denomina musicking.
91
Com esse resultado ficou demonstrado a ação de fazer música como fruto das
relações interpessoais entre os participantes a partir dos significados construídos em conjunto,
nessa ação (SMALL, 1995; VYGOTSKY, 1989) e a importância do sentido e significado na
estruturação do conhecimento (AUSUBEL,2001).
5.12 ANÁLISE DA SEMANA 12
Na semana 12, as atividades foram desenvolvidas nos dias 30 de novembro e 2
de dezembro de 2010 e a música Tema da Vitória, de Eduardo Souto Neto, foi trabalhada
com os alunos. Para o fechamento das atividades foi introduzido um conceito novo, Ré4-Mi4,
notas de Posição Aberta e reapresentados os conceitos Si3-Ré4 e Si3-Dó4 trabalhados na
semana anterior, também notas de Posição Aberta, bem como toda a escala de Dó3 a Dó4. Os
alunos tiveram desse modo, oportunidade para aplicar os conhecimentos aprendidos em novo
contexto.
Em relação à música Tema da Vitória, os resultados apurados nas atividades da
semana 12, quanto à execução, leitura e grafia e participação dos alunos foram de 100% para
o conceito MB, conforme ilustra o Gráfico 12.
Gráfico 12 – Semana12– conceitos Ré4-Mi4 – Posições Abertas
Fonte – dados apurados pela pesquisadora
92
Verificamos, não só o que o aluno realizou de forma independente, mas tudo o
que o aluno realizou com a mediação do grupo e do próprio professor (VYGOTSKY, 1989),
como foi observado, principalmente nos alunos mais novos do grupo, os alunos de oito anos e
naqueles que começaram a fazer parte do grupo, posteriormente.
Segundo Ausubel (2001) houve a aplicação de uma diferenciação progressiva,
quando, passo a passo, os alunos foram destacando as semelhanças e as diferenças entre os
sons. Eles observaram as notas de Posição Aberta e Fechada, as notas de linha e de espaço e
foram estabelecendo novas relações entre os conceitos e obtendo uma melhor fixação dos
conhecimentos.
Os resultados da Iniciação à Flauta Doce, realizada em doze semanas e em
período correspondente a três meses de aulas, proposto no estudo, apresentaram um
desenvolvimento real e significativo.
A partir de uma prática musical escolar sócio interativa foi possível viabilizar
uma imersão no ambiente musical, trocas interpessoais (VYGOTSKY, 1989) e o
estabelecimento de um fazer musical na construção de uma performance (SMALL,1995).
Constatou-se, assim, um exemplo de aprendizagem que gerou o desenvolvimento das
habilidades musicais referentes ao aprendizado da Flauta Doce e que puderam ser
comprovadas pelos resultados obtidos.
Ausubel (2001) afirma que conceitos bem aprendidos e assimilados ajudam o
aluno a estabelecer novas conexões fazendo com que víssemos que, por meio desse conceito
inicial de Posição Fechada relativo às notas Mi e Fá, o aluno desenvolveu as outras posições
para o aprendizado da Flauta Doce, chegando ao domínio de toda a escala, do Dó3, de
Posição Fechada ao Dó4, nota aguda de Posição Aberta.
Vimos pelo exposto, que algumas estratégias se destacaram durante a evolução
da aprendizagem de Flauta Doce. Podemos citar, no tema grafia, o uso das canetas coloridas,
tipo marca texto e a forma como e porque foram utilizadas; no tema execução e aprendizagem
motora, o uso da técnica do queixo e quando foi aplicada. As notas destacadas são
relacionáveis à escuta, às notas guias ou guides notes.
Essas notas se destacam na harmonia da música em estudo e o professor as
utiliza, proporcionando, pouco a pouco, um melhor e atento desenvolvimento auditivo.
Apontamos essas estratégias pelo seu ineditismo e porque essas ferramentas poderão instigar
e fundamentar outras discussões sobre novas maneiras de proceder em prol do conhecimento.
Podemos nos reportar ao enunciado:
93
O professor deverá ser dinâmico e criativo, capaz de elaborar suas próprias
estratégias, materiais didáticos e atividades práticas, tendo em vista a integração de
todos os alunos numa mesma atividade, ao mesmo tempo adequando-se às reais
perspectivas e possibilidades (SANTOS, 2008, p.6).
Em toda nossa prática de sala de aula, nos questionamos de que forma ensinar
música para que ela encontrasse ressonância na vida dos alunos. Lembramos que “como ser
social, os alunos não são iguais, constroem-se nas vivências e nas experiências sociais”
(SOUZA, 2004, p. 10) e por meio das oficinas de instrumento musical, em específico, as aulas
de Flauta Doce realizadas em um espaço vivo, a escola, poderão “articular a inserção dos
alunos em seu meio sociocultural, contribuindo para tornar a relação com o ambiente mais
significativa e participante (PENNA, 2010, p. 44).
Observamos o envolvimento e o sentido de pertencimento evidenciado nas
relações entre os participantes do grupo durante o período de doze semanas, quando o
crescimento dos conhecimentos musicais foram comprovados nas aulas e na apresentação
ocorrida após a oitava semana.
Em relação à música Tema da Vitória, estudada nessa última semana de aula e
apresentada pelo grupo no encerramento das aulas, os procedimentos usados foram os
anteriormente apresentados e discutidos ao longo do processo de Iniciação à Flauta Doce, que
desenvolvemos e descrevemos nesta dissertação. Foram eles:
(a) partituras diversificadas em duas versões básicas: uma versão adaptada
para o uso da Flauta Doce em Mi para atender aos alunos iniciantes e aqueles que estavam em
processo de desenvolvimento, outra mais complexa, envolvendo mais conhecimentos e mais
habilidades.
Essa necessidade de partituras com níveis diferentes de conhecimento foi
observada no decorrer das aulas e teve como objetivo atender, de um lado, aqueles que
apresentaram uma evolução mais rápida em menor tempo e, de outro lado, aqueles que ainda
precisavam de mais tempo naquele conhecimento. Dessa forma, os diversos níveis de
partitura foram estabelecidos como imprescindíveis para o bom andamento das aulas.
Com o uso das canetas coloridas do tipo marca texto, os alunos fizeram o
reconhecimento das notas, tanto na partitura mais simples, como na mais complexa. Em
seguida tocaram cada um segundo as suas possibilidades, integrados ao grupo. Na segunda
opção, o aluno observou um contexto musical maior, envolvendo mais notas, conhecidas e
desconhecidas e abrindo perspectivas futuras de aprendizagem, tais como:
94
(b) audição da música, sentir, cantar e movimentar-se, uso de gestos
expressivos, apreensão sensório-motora;
(c) escuta com acompanhamento tátil e visual, uso da partitura;
(d) uso da técnica do queixo (p. 75) para vencer as dificuldades apresentadas,
onde posicionaram a Flauta Doce no queixo e guiados pela audição da base instrumental
acompanharam, no instrumento, todas as posições da música, enquanto falaram e entoaram o
nome das notas, numa atividade de reconhecimento dos sons, auditivo e viso-tato-espacial
para a compreensão integral da execução musical. Lembramos que esse procedimento foi
usado para sanar dificuldades de execução ou compreensão de algumas passagens.
Destacamos como uma importante ferramenta de apoio.
Nesta situação foi possível constatar e utilizar, em vários momentos, a sugestão
dos próprios alunos para sua aplicação. Essas se ações se constituíram em um ritual de
aprendizagem no cotidiano das nossas aulas de Flauta Doce, caracterizando o que Small
(1995), chama de musicking.
Observamos que música Tema da Vitória tão freqüente nos meios de
comunicação à época de Ayrton Senna (21/03/1960 a 01/05/1994) permaneceu na memória
dos admiradores de corridas de carros da Fórmula I. Esse fato ficou evidenciado na relação
dos alunos com a música e com o meio, demonstrando a interdependência das ações entre
sociedade, música e educação (SMALL, 1995).
A familiarização com eventos automobilísticos – a escola fica próxima ao
Autódromo – proporcionou o entrelaçamento cultural e facilitou significativamente a
aprendizagem. Constatamos esse fato por meio da receptividade manifestada pelo grupo e por
seus familiares, bem como por alunos da escola, externos ao grupo de Flauta Doce, ao
demonstrarem entusiasmo e apoio aos alunos participantes das aulas de Flauta Doce.
Observamos dessa forma, a importância de um repertório contextualizado sócio
historicamente na vivência e nas expectativas do aluno.
Lembramos que, durante o desenvolvimento do processo de Iniciação Musical
aplicado à Flauta Doce a partir da nota Mi, contamos com a colaboração de dois estagiários
graduandos em música, que participaram ativamente das atividades propostas em sala de aula,
bem como da avaliação dos alunos. Obtivemos, desse modo, uma ampliação maior no
direcionamento das aprendizagens e um engajamento dos alunos em uma atividade, que
consideramos socialmente relevante.
95
Em uma “oficina, a música não é tomada pronta, a ser aprendida e repetida,
mas a ser construída pela ação do aluno” (PENNA, 2010, p. 27), fato que pudemos observar
no cotidiano das nossas aulas, visto que trouxe em si, a possibilidade do novo.
5.13 AVALIAÇÃO GERAL DO DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS
Os estudos relatados e analisados foram iniciados em 24 de agosto de 2010 e
concluídos em 2 de dezembro do mesmo ano, perfazendo doze semanas de estudo. Os
gráficos 13, 14 e 15, a seguir, ilustram o desenvolvimento na sua íntegra, destacando evolução
das aprendizagens, a permanência do aluno na escola e a crescente participação dos alunos
nas aulas nos três aspectos propostos e avaliados: execução, leitura e grafia e participação, nas
doze semanas de pesquisa. Os resultados apresentaram o crescimento dos alunos observado
pelo aumento de conceitos MB.
O crescimento dos conhecimentos musicais foi comprovado nas aulas e
diagnosticado por meio das avaliações realizadas pelo professor pesquisador e acompanhadas
por dois estagiários graduandos em música que participaram do processo de Iniciação à Flauta
Doce.
Gráfico 13 – Execução: avaliação do desenvolvimento geral
R
0
20
40
60
80
100
Percentual
R
B
MB
Fonte: dados apurados pela pesquisadora
96
Gráfico 14 – Leitura e grafia: avaliação do desenvolvimento geral
R
0
20
40
60
80
100
Percentual
R
B
MB
Fonte: dados apurados pela pesquisadora
Gráfico 15 – Participação: avaliação do desenvolvimento geral
Fonte: dados apurados pela pesquisadora
De acordo com a evolução percebida verificou-se o envolvimento e o sentido
de pertencimento nas relações entre os participantes do grupo, bem como o estabelecimento
da aprendizagem significativa na aquisição e construção do conhecimento.
97
CAPÍTULO VI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos e experimentamos, nesta pesquisa, outro conjunto de ideias,
exemplos e sequências pedagógicas que trazem uma nova perspectiva para o ensino e
aprendizagem da Flauta Doce. Além de continuar a exercer a função de ferramenta nas aulas
de Musicalização, a Flauta Doce também pode assumir uma postura de instrumento autônomo
inserido num contexto dinâmico. Esperamos que, dessa forma esse instrumento venha
contribuir significativamente nos processos de aprendizagem musical e instrumental, bem
como nos de socialização e permanência escolar.
Nas atividades relatadas nesta pesquisa, a abordagem inicial dos conceitos
musicais a partir da nota Mi traduziu em respostas pedagógicas novas formas de solucionar as
necessidades que encontramos no cotidiano da nossa sala de aula e que, no futuro, poderá ser
a resposta para outras salas de aula.
Soluções são necessárias para atender situações imprevistas, principalmente
daquele que vive em constante atualização entre o antigo e o novo, o atual e o que deve ser
mudado. Por meio de questionamentos, cada músico-pedagogo pode ajudar a renovar o ensino
da música.
No processo de Iniciação à Flauta Doce desenvolvido neste estudo, ficou
evidenciado a atenção que é dada à articulação entre a mão esquerda e a mão direita, à
posição correta dos dedos e mãos e ao equilíbrio e sustentação do instrumento desde os
primeiros contatos do aluno com o instrumento musical. Esses elementos são muito
importantes na construção do suporte técnico para o desenvolvimento da execução
instrumental, pois têm estreita relação com os preceitos relativos à aprendizagem motora,
nesta nova perspectiva.
A ligação dos conhecimentos novos e antigos se deu por meio de estruturas
conhecidas como a ação de cantar e expressar-se ritmicamente com gestos corporais, que
forneceram elementos para a escuta e a percepção dos contextos melódicos propostos por nós
em bases estruturadas na observação, imitação e repetição, que são processos de
aprendizagem.
Dos estudos científicos realizados pelas neurociências e suas relações com a
música constatamos a importância da aprendizagem motora e da propriocpetividade na
98
aprendizagem inicial de instrumentos musicais. Ter acesso a esse conhecimento foi decisivo e
fortaleceu significativamente a adoção da Posição Fechada em vez da tradicional Posição
Aberta nessa importante fase do processo de Iniciação à Flauta Doce, tema e objeto de nossa
pesquisa.
A partir de uma prática musical e escolar sócio interacionista que viabilizou
uma imersão em ambiente musical, chegamos a um exemplo de aprendizagem que gerou o
desenvolvimento das habilidades musicais e que mostraram resultados significativos.
Como conseqüência das análises apresentadas no item 4.2 é possível observar
que os resultados obtidos são bastante significativos. Desde os primeiro contatos com a Flauta
Doce, os alunos fizeram uso da Posição Fechada, posição inicial, com as duas mãos atuantes
na dedilhação por meio da nota Mi. Em ambiente específico tiveram suas habilidades
desenvolvidas por meio de um processo sócio-interativo que envolveu corpo, cognição e
afeição conforme nos propusemos.
Lembramos que os objetivos propostos foram avaliar as possibilidades de
aplicação da abordagem pedagógica a partir da nota Mi como condutora da aprendizagem
motora na performance instrumental e facilitadora da compreensão da grafia musical no
ensino coletivo da Flauta Doce a partir das séries iniciais do Ensino Fundamental. Nesse
contexto, os objetivos propostos nesta pesquisa foram alcançados.
Uma vez aplicada essa dinâmica, foi avaliada a permanência do aluno em
ambiente escolar e na aprendizagem musical. Na mediação e atuação crítica do professor essa
transformação da linguagem musical em aprendizagem significativa foi alcançada com êxito
em uma sala de aula de escola de Educação Básica. Dessa forma, os estudos de Vygotsky
(1989) e de Ausubel (2001) trouxeram conhecimentos importantes para a condução e prática
da aprendizagem nos processos de Iniciação à Flauta Doce.
A aula de Flauta Doce foi realizada no contexto escolar e movimentada pelos
alunos que estavam envolvidos pelos conteúdos e repertórios que deram vida aos sons. Dessa
forma puseram em prática os saberes específicos da técnica do instrumento o que concorreu
para a criação da performance de cada um e ao mesmo tempo do grupo que se organizou e se
relacionou.
Desta forma foi possível identificar as concepções e significados trazidos por
Small (1995) em nossas aulas por meio do nosso fazer musical, diariamente construído como
num ritual. Musicking foi a ação observada a partir da chegada dos nossos alunos, da
arrumação da sala e da colocação das cadeiras em círculo como numa orquestra. Os
99
instrumentos, as partituras e as estantes são distribuídos. O teclado de drive de disquete é
aberto, os disquetes são colocados, o repertório é escolhido e a ação de musicar tem início.
A música pode ser entendida a partir do seu aspecto social, dos vínculos
pessoais que se estabelecem e qualificam a performance musical. Podemos entender a música,
como algo construído e viabilizado por meio de uma celebração de relações pessoais dentro
de um contexto sócio cultural e que se serve da performance para se relacionar e se
manifestar. E vice versa, a performance também conduz a essa construção de relações
humanas, numa relação de interdependência, envolvimento e pertencimento, conforme foi
encontrado nesta pesquisa.
Em se tratando dos alunos pesquisados destacamos as seguintes observações:
(a) a frequência: o aluno voltou às aulas, efetivando a continuidade, pois elas
atenderam às suas expectativas e interesses, do contrário o aluno teria desistido rapidamente.
Podemos afirmar que as faltas e a evasão foram atenuadas por meio da manutenção da
motivação para aprender a tocar um instrumento e do significado atribuído às relações
pessoais dos envolvidos, construindo na interação social um sentido de pertencimento e de
identidade social;
(b) o conteúdo metodológico foi um fator decisivo nessa relação da
continuidade motivacional para aprender, pois a partir do significado que teve para o aluno se
constituiu em um elemento facilitador e propulsor da aprendizagem; e
(c) a condução e avaliação da aprendizagem foram observadas diariamente na
obtenção dos resultados alcançados.
Podemos concluir que é por meio do musicking, termo criado por Small (1995)
que os nossos alunos chegaram à performance e ao significado que ela pode ter para eles, o
qual foi revelado pelas relações entre todos os envolvidos no ato de fazer música.
Com a nova perspectiva proposta e os resultados apresentados em decorrência
das doze semanas de trabalho junto aos alunos é possivel afirmar a importãncia de se
estabelecer esta nova metodologia de ensino e aprendizagem da Flauta Doce e as
possibilidades que advirão a partir desse ensino coletivo, dessa nova proposta de Educação
Musical, numa escola de Educação Básica.
Esta dissertação oferece perspectivas valiosas para estudos posteriores no
intuito de inspirar professores na realização de uma aula viva e significativa que produza
aprendizagem concreta e eficaz.
100
6.1 EPÍLOGO
Como foi indicado no início deste estudo, a Flauta Doce é um instrumento
amplamente difundido no Brasil devido à sua acessibilidade, ao seu baixo custo inicial e à
possibilidade de oferecer ao estudante um rápido resultado musical. Teve como objeto de
estudo uma nova proposta de apresentação das notas iniciais no processo de musicalização
por meio da Flauta Doce:
(a) a partir da maneira como as notas iniciais foram apresentadas, não pela
forma tradicional de iniciar o estudo de Flauta Doce pelas notas Si, Lá e Sol, todas em
Posição Aberta em que se utiliza apenas a mão esquerda na dedilhação, deixando a mão
direita sem posição definida, mas por meio da adoção das notas Mi e Fá, ambas em Posição
Fechada em que se utiliza as duas mãos na dedilhação;
(b) pela inserção das notas Mi e Fá dentro de um contexto melódico e de forma
inclusiva;
(c) pela relevância que aponta para o fazer musical, construído nas ações e
relações dos alunos, estagiários e professor – denominados como participantes –, desde a
organização dos materiais até a realização da performance; e
(d) pela observação do espaço sócio cultural em que se realizou.
Dessa forma, possibilidades inéditas foram trabalhadas e recursos originais
evidenciados, como as partituras diversificadas, o uso das canetas coloridas, tipo marca texto
e o emprego da técnica do queixo. Nesta pesquisa são introduzidas as bases instrumentais pré-
gravadas realizadas em um teclado com drive de disquete que enriqueceram o ambiente
sonoro e favoreceram a condução melódica das músicas em estudo.
Esta dissertação pretendeu – por meio da organização e distribuição dos
materiais, das trocas mediadas pelos participantes, da evolução da aprendizagem e dos
relacionamentos nesta prática pedagógica –, apresentar outra realidade para a aula de música
dentro do espaço cultural escolar. Conferiu dessa forma, uma nova perspectiva ao ensino
coletivo de instrumentos musicais na Educação Básica além dos conhecimentos específicos, a
amplitude sócio cultural do objeto de estudo deve ser levada em conta, pois impulsionou para
além do processo de iniciação musical, uma vez que os significados resultantes do ensino e
aprendizagem são interdependentes, reiterando a integração música, sociedade e educação.
Para melhor realização de nosso estudo esta dissertação foi dividida da
seguinte maneira: Capítulo I: Apresentação e introdução com as considerações sobre o tema;
101
objeto de estudo, suas características e seus desdobramentos; objetivo da pesquisa e a
justificativa deste estudo.
O Capítulo II, Revisão de Literatura, apresenta: (2.1) o ensino e a
aprendizagem, em que são abordadas as perspectivas sócio-histórico-interativa
(VYGOTSKY, 1989), a aprendizagem aquisitiva significativa (AUSUBEL, 2001) e o ato de
fazer música, musicking (SMALL, 1995); (2.2) o ensino coletivo de instrumentos musicais no
Brasil, que abrange possibilidades de inclusão em sala de aula de Educação Básica bem como
o estudo e a aplicação da proprioceptividade na Iniciação à Flauta Doce; (2.3) o ensino
coletivo da Flauta Doce e os métodos tradicionais; uma resenha de livros didáticos para Flauta
Doce é apresentada em uma lista bibliográfica com livros publicados a partir de 1959 e
utilizados até os dias de hoje; (2.4) as metodologias do ensino coletivo; (2.5) o ensino coletivo
da Flauta Doce e a abordagem da proprioceptividade; e (2.6) o ensino coletivo da Flauta Doce
e os métodos tradicionais.
O Capítulo III, Procedimentos Metodológicos, apresentou os aspectos
referentes à metodologia e sua classificação. Esta dissertação, quanto à metodologia,
correspondeu a uma pesquisa aplicada que busca gerar conhecimentos para aplicação prática
dirigidos à solução de problemas específicos. Por sua vez, o estudo classificou-se em: (a)
qualitativo, quanto à forma de abordagem; (b) descritivo-explicativo, do ponto de vista de
seus objetivos.
O processo de Iniciação à Flauta Doce foi o objeto investigado nesta pesquisa
por meio de um estudo de observação participante, realizado e descrito em vinte e quatro
oficinas de prática da Flauta Doce, correspondente a doze semanas de aula, na proporção de
duas oficinas por semana, com a participação desta professora pesquisadora e de dois
estagiários graduandos em Licenciatura em Música. As técnicas de aprendizagem de grupo e
individual estiveram presentes nessas oficinas, bem como a mediação dos participantes.
O sentido e o significado para a permanência no grupo em cada oficina foram
estabelecidos, pouco a pouco, por meio da qualidade dos relacionamentos, da escolha do
repertório e da própria aprendizagem, observadas por meio da pré-disposição para aprender e
do conhecimento prévio com que o aluno veio para a sala de aula de Flauta Doce.
O Capítulo IV, Resultados, apresentou a interpretação dos dados obtidos
durante as doze semanas de investigação traduzidos pelos conceitos Muito Bom, Bom e
Regular, aferidos aos alunos e mostrados em forma de quadro.
Os alunos foram avaliados pela professora pesquisadora e pelos dois
estagiários, graduandos em Licenciatura em Música, quando da realização das atividades de
102
Execução, Leitura e grafia. A participação do aluno foi um aspecto de relevância para a
obtenção do conceito máximo MB.
O capítulo V apresentou a Análise dos Resultados, apontando a evolução da
aprendizagem e as soluções dinâmicas e criativas que foram usadas pelo professor e que estão
destacadas nos resultados, aferidos nos quadros, gráficos e análises constantes desta
dissertação.
O Capítulo VI apresentou as Considerações Finais sobre o processo de
Iniciação à Flauta Doce realizado, para promover o ensino e aprendizagem da Flauta Doce, na
sala de aula, da escola de Educação Básica.
Este epílogo apresentou uma recapitulação da dissertação.
103
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, José Coelho. O ensino coletivo de instrumentos musicais: aspectos históricos,
políticos, didáticos, econômicos e sócio-culturais. Um relato. In: ENCONTRO NACIONAL
DE ENSINO COLETIVO DE UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS 9ENECIM, I, 2004.
Goiânia. Anais... Goiânia, 2004, p. 11-30.
ÁLVARES, Sergio Luis de Almeida. Teorias do desenvolvimento cognitivo e considerações
sobre o aprendizado da música. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE COGNIÇÃO E
ARTES MUSICAIS. 2005, Curitiba. Anais... 2005, p. 63-71.
AUSUBEL, David Paul. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva
cognitiva. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 2001.
ARAÚJO, Anachele do Nascimento. Psicomotricidade na educação infantil. 2004, 43f.
Monografia (Especialização em Psicomotricidade) – Universidade Cândido Mendes, Projeto
Vez do Mestre, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
<http://www.avm.edu.br/monopdf/7/ANACHELE%20DO%20NASCIMENTO%20ARAUJO
.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2011.
BARBOSA, Joel. Considerando a viabilidade de inserir música instrumental no ensino
de primeiro grau. ABEM, Salvador, n. 3, p.39-49, 1996.
BARROS, Aidil Jesus Silveira e LEHFELD, Neide A. Souza. Fundamentos de
metodologia: um guia para a Iniciação Científica. 2Ed. São Paulo: Makrom Books, 2000.
BRASIL. Lei n. 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino
da música na educação básica. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de agosto de 2008.
CRUVINEL, Flavia Maria. Efeitos do ensino coletivo na iniciação instrumental de cordas:
a Educação Musical como meio de transformação social. 2003. Dissertação (Mestrado em
Música) Universidade Federal de Goiás, Goiás, 2003.
CRUVINEL, Flavia Maria. Instrumento Musical: o início de uma trajetória de sucesso. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE UNIVERSIDADE FEDERAL DE
GOIÁS (ENECIM), I, 2004, Goiânia. Anais... Goiânia, 2004, p. 30-36.
CRUVINEL, Flávia Maria. O ensino coletivo de instrumentos musicais na educação
básica:compromisso com a escola a partir de propostas significativas de ensino musical. In:
104
VIII ENCONTRO REGIONAL DA ABEM CENTRO-OESTE. 1º Simpósio sobre o Ensino e
a Aprendizagem da Música Popular. III Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumento
Musical. Anais... Brasília, 2008.
CUNHA, Maria de Fátima Gonçalves. A importância da arte no currículo no ensino
fundamental das escolas municipais do município do Rio de Janeiro. In: CONGRESSO
NACIONAL DA FEDERAÇÃO DE ARTE-EDUCADORES DO BRASIL. XV
CONFAEB, 2005. Trajetória e políticas do ensino de artes no Brasil. Rio de Janeiro:
FUNARTE, Brasília: FAEB, 2005, p. 36-37. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154564por.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2011.
DUARTE, Mônica de A. A prática interacionista em Música: uma proposta pedagógica.
Debates, n.4. Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Letras e
Artes da UNIRIO. Rio de Janeiro: CLA/UNIRIO, 2001, p.75-94.
DRUMMOND, Elvira. Iniciação à Flauta Doce. Ceará: Softcraft Publicações Ltda. 1988.
FOLHABLU. Simpósio debate obrigatoriedade do ensino de música nas escolas. 2010.
Disponível em: <http://www.folhablu.com.br/ler.noticia.asp?noticia=8392&menu=12>.
Acesso em: 21 abr. 2011.
FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e
educação. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2008.
FRANCK, Isolde Mohr. Pedrinho toca flauta. São Leopoldo (RS): Sinodal, 1980. v. 1.
FURMAN, Mark E. Mente, música e milagres. Revista Anchor Point, Salt Lake City, Utah,
EUA, 1997.
GALLO, Sílvio. Conhecimento, transversalidade e educação. Revista de Ciências Sociais
Impulso, Piracicaba: UNIMEP, v. 10, p. 115-132, 1997.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
KLEBER, Magali. A prática de educação musical em ONGs: dois estudos de caso no
contexto urbano brasileiro. Porto Alegre, UFRS, 2006. Tese apresentada na obtenção do título
de Doutor em Música. Disponível em: < http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/9981>.
Acesso em: 5 de jan. 2012.
105
KLEBER, Magali. Práticas musicais em ONGs: possibilidade de inclusão social e o exercício
da cidadania. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. v. 5, ano V, n. 2, p. 1-24,
abr./maio/jun. 2008. Disponível em: <www.revistafenix.pro.br>. Acesso em: 30 abr. 2011.
KLEBER, Magali. Projetos sociais e educação musical. In: SOUZA, Jusamara. Aprender e
ensinar música no cotidiano. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008. cap. 7, p. 213-235.
LAGE, Guilherme Menezes, et al. Aprendizagem motora na performance musical:
reflexões sobre conceitos e aplicabilidade. Per Musi, Belo Horizonte, v.5/6, p.14-37, 2002.
Disponível em:
<http://www.musica.ufmg.br/permusi/port/numeros/05_06/num5_6_cap_02.pdf>. Acesso
em: 21 abr. 2011.
LINS, Maria Judith Sucupira da Costa. Avaliando o processo de aprendizagem. ENSAIO-
CESGRANRIO, RJ. n. 42, v. 12, p. 623-636, jan./mar. 2004.
MAHLE, Maria Aparecida. Primeiro caderno de flauta-block – músicas e exercícios. São
Paulo: Irmãos Vitale, 1959.
MASCARENHAS, Mário. Minha doce Flauta Doce. São Paulo: Irmãos Vitale, 1977.
MENDONÇA, Valéria. Melodias para o ensino da Flauta Doce soprano. Livro do aluno,
livro do professor e CD com os acompanhamentos ao piano. Rio de Janeiro: Conservatório
Brasileiro de Música. Centro Universitário. Unidade Tijuca. 2007.
MONTANDOM, Maria Isabel. Ensino coletivo, ensino em grupo: mapeando as questões da
área. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO
MUSICAL, 1, 2004, Goiânia. Anais... Goiânia, 2004, p. 44-48.
NARITA, Flávia. Criação musical e cultura infantil: possibilidades e limites no ensino e
aprendizagem da música. In: IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais, São Paulo, 2008.
Anais... São Paulo, 2008, p. 1-7.
OLIVEIRA, Olga Xavier. Flauta, ritmo e percussão. São Paulo: Musicália, 1976
PEDERIVA, Patrícia Lima Martins. A relação músico-corpo-instrumento: procedimentos
pedagógicos. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 11, p. 91-98, set. 2004.
PEDERIVA, Patrícia Lima Martins. A relação músico-corpo-instrumento: procedimentos
pedagógicos. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 11, p. 91-98, set. 2004.
106
PENNA, Maura. Música (s) e seu ensino. 2. ed. Porto Alegre: Editora Sulina, 2010.
PENNA, Maura. A função dos métodos e o papel do professor: em questão, “como” ensinar
música. In: MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz, (Org.). Pedagogias em Educação Musical,
Curitiba: Ibpex, 2011. Introdução, p. 13-24.
RABELLO, Elaine; PASSOS, José Silveira. Vygotsky e o desenvolvimento humano. 2008.
Disponível em: < http://www.josesilveira.com/artigos/vygotsky.pdf >. Acesso em: 6 de jan.
2012.
REQUIÃO, Luciana. Escrita: um tabu na educação musical. Revista Plural/Escola de
Música Villa-Lobos, Rio de Janeiro, 1998, v.1, p. 69-80. Disponível em:
<http://bibliotecadomusico.files.wordpress.com/2008/10/escrita-um-tabu-na-educacao-
musical.pdf>. Acesso em: 2 maio 2009.
REQUIÃO, Luciana. Música e seus significados. Trombeta Cafemusic. Educação. 16 jan.
2002. Disponível em: <www.trombeta.cafemusic.com.br> Acesso em: 20 abr. 2009.
ROCHA, Carmen. Iniciando a Flauta Doce. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1986.
ROSA, Nereide Schilaro Santa. Flauta Doce: método de ensino para crianças. São Paulo:
Scipione, 1993.
SANTOS, Regina Márcia Simão. Uma trajetória de pesquisa sobre rizoma e educação
musical. In: XIV SIMPÓSIO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO MUSICAL. 2005, Londrina.
Anais... Londrina, 2005.
SANTOS, Regina Márcia. Jaques Dalcroze, avaliador da instituição escolar: em que se pode
reconhecer Dalcroze, um século depois? Revista Debates, n. 4, p. 4-48, 2001.
SANTOS, Carla Pereira. Desafios e perspectivas para o ensino do instrumento na escola de
educação básica. In: XVII Encontro Nacional da ABEM. 2008, São Paulo. Anais... São
Paulo, 2008.
SMALL, Christopher. Musicking: a ritual in social space. Cielo, Texas, Apr.1995.
Disponível em: <http://www.musikids.org/musicking.html>. Acesso em: 2 jan. 2012.
SMALL, Christopher. Música. Sociedad. Educacion. 3. ed. 2010. Versão em espanhol:
Marta Guastavino. Madrid: Alianza Editorial, S.A.
107
SOUZA, Jusamara. Educação musical e práticas sociais. Revista da ABEM, Porto Alegre, v.
10, p.7-11, mar. 2004.
SOUZA, Rose Keila Melo; COSTA, Keyla Soares. Os aspectos sócio-afetivos no processo
ensino-aprendizagem na visão de Piaget, Vygotsky e Wallon. 31 jan. 2004.
Disponível em:
<http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&catid=4%
3Aeducacao&id=299%3Ao-aspecto-socio-afetivo-no-processo-ensino-aprendizagem-na-
visao-de-piaget-vygotsky-e-wallon&Itemid=15>. Acesso em: 18 jan. 2011.
SUZUKI ASSOCIATION OF THE AMERICAS. Zuzuki Twinkler. Cada criança pode
aprender. Disponível em: <http://suzukiassociation.org/teachers/twinkler>. Acesso em: 21
abr. 2011.
SUZUKI, Shiniki. Educação é amor. Santa Maria (RS): Pallotti, 2.ed.1994.
TIRLER, Helle. Vamos tocar Flauta Doce. São Leopoldo (RS): Sinodal, 1970.
TOURINHO, Cristina. O ensino coletivo violão na educação básica e em espaços
alternativos: utopia ou possibilidade? In: XX SEMINÁRIO NACIONAL DE ARTE E
EDUCAÇÃO, MONTENEGRO, 2006, Montenegro (RS). Anais... Montenegro.
FUNDARTE, 2006.
VYGOTSKY, Lev Semenovitch. A formação social da mente. Tradução coordenada pelo
Grupo de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos. Departamento de Ciências Biomédicas da
USP. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
VIGOTSKII, Lev Semenovich, LURIA, Alexander Romanovich; LEONTIEV, Alexis N.
Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Tradução de Maria da Penha Villalobos.
São Paulo: Ícone Editora, 1988.
VIGOTSKII, Lev Semenovich. Psicologia pedagógica. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2003.
108
APÊNDICE A
MÚSICAS E PARTITURAS
MÚSICA: CRIANÇA 2000 - PADRE ZEZINHO
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
Eu sou criança do Brasil gigante
E vou levar adiante o amor que a vida traz
Sou esperança do Brasil que cresce
E que se curava em prece pra fazer a paz
Sou amanhã, sou esperança
Eu sou criança e eu lhe quero bem
Eu amo a vida, eu amo tudo
E quero ver você amar também
Eu sou criança que sorri e estuda
E que sorrindo muda as coisas pra melhor
Eu sou o Brasil... 2010... futuro
Quem ninguém segura pois eu sou amor
Sou amanhã, sou esperança
Eu sou criança e eu lhe quero bem
Eu amo a vida, eu amo tudo
E quero ver você amar também
Eu sou criança do Brasil tão verde
Cor da esperança que sambando vem
Da gente grande aprendi um dia
a ter muita alegria e só fazer o bem.
Sou amanhã, sou esperança
Eu sou criança e eu lhe quero bem
Eu amo a vida, eu amo tudo
E quero ver você amar também
Eu sou criança e vou viver cantando
E assim vou amando a Deus e a meu país
Vou ser amigo dos meus pais e mestres
Vou fazer o mundo ser bem mais feliz.
Sou amanhã, sou esperança
Eu sou criança e eu lhe quero bem
Eu amo a vida, eu amo tudo
E quero ver você amar também
109
CRIANÇA 2000 – Pe. ZEZINHO – REFRÃO
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
CRIANÇA 2000 - VERSÃO COMPLETA
110
MÚSICA: EU CONTO PRA VOCÊ – JAEL SANTANA
Versão adaptada para Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
Agora eu conto pra você
O que é que eu vim fazer aqui.
Cantar, tocar flauta, bater palma,
Também pintar o sete com você,
Você quer ver?
EU CONTO PRA VOCÊ – VERSÃO COMPLETA
111
MÚSICA: O TREM DE FERRO – CANÇÃO DE TRADIÇÃO ORAL
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
Lá vai o trem de ferro
O trem de ferro pro sertão
Café com pão e manteiga, não!
MÚSICA: O TREM DE FERRO – VERSÃO COMPLETA
112
MÚSICA - PEGA NO GANZÊ – CANÇÃO DE TRADIÇÃO ORAL EM FORMA DE
CÂNONE
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
Olelê, olalá
Pega no ganzê, pega no ganzá
MÚSICA - PEGA NO GANZÊ – VERSÃO COMPLETA E EM CÂNONE
113
MÚSICA – CHORINHO - MARIA MERON
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
Este chorinho, chorinho, tão miudinho
Fica muito engraçadinho se a gente solfejar:
Mi, Fá, Fá, Sol. Sol, Mi
Mi, Fá, Fá, Sol. Sol, Mi
Mi, Fá, Fá, Sol. Sol, Mi
Mi, Fá, Fá, Sol. Sol, Mi
Chorinho quente no compasso tão ardente
Chorinho pra toda gente
Faz a gente se alegrar.
Este chorinho não tem flauta e cavaquinho
Tem um toque de carinho para a gente solfejar
Mi, Fá, Fá, Sol, Sol, Mi
Mi, Fá, Fá, Sol, Sol, Mi
Mi, Fá, Fá, Sol, Sol, Mi
Mi, Fá, Fá, Sol, Sol, Mi
Se você gosta vou cantar mais uma vez
Canto quatro, cinco, seis
Canto até o sol raiar.
114
MÚSICA – KAMALONDO – CANÇÃO AFRICANA DE TRADIÇÃO ORAL
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
MÚSICA – KAMALONDO – VERSÃO COMPLETA
115
KAMALONDO - CONTINUAÇÃO
MÚSICA - SINOS DE NATAL – JINGLE BELLS – JAMES PIERPONT
116
MÚSICA – É NATAL - MARCO ANTONIO HAILER
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets
Lá no céu, esta noite vai brilhar
Uma estrela cintilante,
Refletindo o nosso olhar.
E essa luz vai iluminar
Um caminho pra seguir.
Todo feito de magia
Que nós vamos construir.
É matal! Vem cantar!
Dê uma chance
E o amor vai acontecer.
É NATAL – VERSÃO COMPLETA
117
MÚSICA – NOITE FELIZ – FRANZ GRUBER
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets.
Partitura com duas possibilidades de execução.
MÚSICA – NOITE FELIZ – VERSÃO COMPLETA E A DUAS VOZES
118
MÚSICA – ALELUIA - William Boyce
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets.
ALELUIA – VERSÃO COMPLETA
119
MÚSICA – ASA BRANCA - LUIZ GONZAGA
IMPROVISO
120
ASA BRANCA
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets.
MÚSICA – ASA BRANCA – INTRODUÇÃO
ASA BRANCA – VERSÃO COMPLETA
121
MÚSICA – TEMA DA VITÓRIA – EDUARDO SOUTO NETO
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets.
MÚSICA – TEMA DA VITÓRIA - VERSÃO ORIGINAL
122
MÚSICA – KINA KURINO – CANÇÃO JAPONESA DE TRADIÇÃO ORAL
Versão adaptada e utilizada na Iniciação à Flauta Doce em Mi: Thelma Taets.
Partitura com duas possibilidades de execução.
KINA KURINO – VERSÃO COMPLETA
123
MY HEART WILL GO ON - JAMES HORNER
124
ANEXO A
TABELA DE POSIÇÕES NA FLAUTA DOCE – ENCARTE DA FLAUTA DOCE
SOPRANO YAMAHA