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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
ERIVÂNIA MÁRCIA DA COSTA
PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO
BIODIESEL: uma análise e reflexão dos resultados
Natal (RN)
2014
ERIVÂNIA MÁRCIA DA COSTA
PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO
BIODIESEL: uma análise e reflexão dos resultados
Monografia de Graduação apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como exigência para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas.
Orientador: Profª. Dra. Maria do Socorro Gondim Teixeira.
Natal (RN)
2014
ERIVÂNIA MÁRCIA DA COSTA
PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO
BIODIESEL: uma analise e reflexão dos resultados.
Monografia de Graduação apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como exigência para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas.
Aprovada em: __/__/____
_____________________________
Profª Dra. Maria do Socorro Gondim Teixeira
Orientadora/DEPEC-UFRN
_____________________________
Profª Dra. Valeria Rodrigues Leite
Examinadora/UFRN
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial
Costa, Erivânia Márcia da.
Programa Nacional de Produção e uso do biodiesel: uma análise e reflexão
dos resultados/ Erivânia Márcia da Costa. - Natal, RN, 2014.
51 f.
Orientadora: Profª. Drª. Maria do Socorro Gondim Teixeira.
Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de
Economia. Curso de Graduação em Ciências Econômicas.
1. Economia - Monografia. 2. Agricultura familiar - Monografia. 3.
Crescimento econômico - Monografia. 4. Biodiesel – Monografia. 5.
Desenvolvimento sustentável – Monografia. I. Teixeira, Maria do Socorro
Gondim. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 338.43:631
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida, e por todas as oportunidades que Ele tem me dado e
não por não ter me deixado desistir nos momentos de dúvida.
A mulher mais importante e a razão do meu viver, minha mãe, Maria
José da Conceição da Costa, que sempre me incentivou a estudar e correr
atrás dos meus sonhos e por toda sua garra, amor e perseverança em educar
seus cinco filhos com muita dignidade.
A minha irmã Erica Janaina da Costa, por estar sempre presente na
minha vida.
Aos meus amigos Suerda Soares, Ricardo Christian, Elaine Karina,
Isabely Diniz, Emilia Karla e Caroline Araújo por me incentivarem e por sempre
torcerem pelo meu sucesso.
Aos professores e docentes do DEPEC/UFRN, pelos ensinamentos
durante esses anos de curso.
Ao minha orientadora Maria do Socorro Gondim Teixeira, agradeço pela,
pela paciência, dedicação, incentivo e orientação.
Dedico com muito carinho este trabalho, a todos que de alguma
forma tornaram este caminho mais fácil de ser percorrido.
RESUMO
O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) foi criado em 2004 com a finalidade de fomentar a produção de biodiesel, visando promover a inclusão social, através do fortalecimento da agricultura familiar, permitindo o desenvolvimento regional através da produção de diversas oleaginosas. O objetivo deste trabalho é realizar um estudo de caso sobre o PNPB, apresentando-o e analisando seus resultados no período de 2004 a 2013, verificando quais as limitações e problemas encontrados durante a execução do programa. O PNPB apresentou resultados diferenciados entre as regiões do Brasil, logo, indaga-se como questão desta pesquisa: Em que medida o PNPB tem viabilizado a redução das desigualdades regionais por meio da produção da matéria prima utilizada na fabricação do biodiesel? Para entender os objetivos pretendidos, foi examinada a participação dos estados que fazem parte do PNPB. Com o intuito de encontrar resposta para a questão desta pesquisa, foram utilizadas pesquisas bibliográficas e documentais, em torno de livros, documentos do governo, artigos e produções cientificas além da análise de dados estatísticos sobre o desempenho do programa. Durante os nove anos do programa, verificou-se que a maior parcela do biodiesel nacional é produzido pelas regiões produtoras de soja, sendo essas formadas por elites agrárias com fortes índices de concentração de terra e renda, enquanto os agricultores familiares de baixa renda permanecem excluídos. Sendo assim, constatou-se que as metas de inclusão social e de utilização das regiões semiaridas do país não foram alcançadas, visto que, não se obteve sucesso na produção de oleaginosas nestas regiões.
Palavras - chaves: Agricultura Familiar. Biodiesel. Inclusão Social. PNPB.
ABSTRACT
The National Program for Production and Use of Biodiesel (NPPB) was created in 2004 in order to promote the production of biodiesel, aiming to promote social inclusion by strengthening family farms, allowing regional development through the production of other crops. The objective of this work is a case study on the PNPB, analyzing and presenting the results in the period 2004-2013, checking what limitations and problems encountered during program execution. The PNPB had differentiated between regions of Brazil results soon, we look into how this research question: To what extent PNPB has succeeded in reducing regional disparities through the production of the raw material used in the manufacture of biodiesel? To understand the intended goals, we examined the involvement of states that are part of PNPB. In order to find answer to the question of this research, bibliographic and documentary research, about books, government documents, articles and scientific productions beyond the analysis of statistical data on the performance of the program were used. During the nine years of the program, it was found that the largest share of the national biodiesel is produced by soybean production areas, these being formed by agrarian elites with strong levels of land concentration and income, while low-income family farmers remain excluded. Thus, it was found that the goals of social inclusion and use of semi-arid regions of the country were not met, since they did not survive in oilseed production in these regions. Keywords: Family Farming. Biodiesel. Social inclusion. PNPB.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01: Elaboração Processo de Produção do Biodiesel a partir do
Óleo Vegetal ................................................................................................. 19
Gráfico 02: Matéria Prima Utilizada para Fabricação do Biodiesel.............. 33
Gráfico 03: Participação por Região na Produção de Soja 2006 – 2010..... 35
Gráfico 04: Produção de Biodiesel 2005 – 2013 ......................................... 37
Gráfico 05: Produção de Biodiesel por Estado (%) ..................................... 41
Gráfico 06: Agricultores Familiares Beneficiados pelo PNPB ..................... 43
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Produção de Soja no Brasil 2006 – 2010 ................................... 34
Tabela 02: Participação por Região na Produção de Soja .......................... 34
Tabela 03: Matéria Prima Utilizada na Produção do Biodiesel .................... 35
Tabela 04: Produção de Biodiesel 2005 – 2013 ......................................... 36
Tabela 05: Produção de Biodiesel por Estado 2005 – 2013 ........................ 40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AG Ácidos Graxos
AGL Ácidos Graxos Livres
ANP Agencia Nacional de Petróleo
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CEIB Comissão Executiva Interministerial
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
GTI Grupo de Trabalho Interministerial
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IUCN Union for the Conservation of Nature and Natural
Resources
MCT Ministério da Ciência e Tecnologia
Minagincom Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
MME Ministério de Minas e Energia
PD&I pesquisa, desenvolvimento e inovação
PNPB Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel
PROBIODIESEL Programa Brasileiro de Desenvolvimento do Biodiesel
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar
TCU
Tribunal de Contas da União
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................ 11
1. DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO ............. 15
1.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E A QUESTÃO
ENERGÉTICA ................................................................................ 17
2. BIODIESEL E O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E
USO DO BIODIESEL (PNPB) ........................................................ 19
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E O PNPB ................................................ 23
2.2 PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO
BIODIESEL (PNPB) E A INCLUSÃO DA AGRICULTURA
FAMILIAR ....................................................................................... 25
2.2.1 Agricultura Familiar Associada ao PNPB .................................. 28
3. RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES DO PNPB ........................... 33
3.1 AS LIMITAÇÕES DO PNPB ........................................................... 40
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 46
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 49
11
INTRODUÇÃO
Com o desenvolvimento da humanidade e conseqüente crescimento das
cidades, verifica-se uma sociedade consumista e progressista, onde são
evidentes as desigualdades socioeconômicas, o aumento da pobreza e a
degradação ambiental. A busca desenfreada pelo lucro muitas vezes causa
um desequilíbrio entre o uso dos recursos naturais e a reposição dos mesmos,
de maneira que a utilização desses recursos renováveis e não renováveis,
reflete em vários impactos ambientais, sociais e econômicos.
Há uma grande preocupação da economia mundial em relação a uma
possível crise energética, pesquisadores buscam alternativas de fontes
renováveis de energia que sejam capazes de suprir a demanda global. Este
mercado anseia por outras fontes de energia que não sejam derivadas de
recursos escassos, uma saída para esta tendência é o biodiesel, que é um
combustível renovável, biodegradável, com emissões tóxicas significativamente
menores que outras fontes de energia.
A substituição do diesel pelo biodiesel se mostra mais interessante em
situações comprovadas de benefícios econômicos e ecológicos. A meta de
uma possível indústria de biodiesel não é tampouco substituir o diesel, mas
estender sua utilidade. O papel do biodiesel é trazer benefícios nos campos
econômico, social, ambiental e político, contribuindo ainda para a longevidade
e eficiência dos motores Diesel usados em geradores, e atendendo a mercados
que requisitem um combustível mais limpo e seguro (PIÁ, 2002).
No Brasil, o biodiesel pode ser visto como uma alternativa econômica,
uma oportunidade de desenvolvimento social com a inclusão da agricultura
familiar no processo de produção de biodiesel, sendo estes produtores os
fornecedores de matéria prima.
O Brasil é um país de grande biodiversidade, muito rico em oleaginosas. Suas culturas, porém, são restritas a fins alimentícios na maioria dos casos. Há um grande potencial a ser explorado, tanto em relação ao aproveitamento energético de culturas temporárias e perenes, como em relação ao aproveitamento energético do óleo residual proveniente da alimentação (EMBRAPA, 2008).
12
A crise do petróleo, na década de setenta, forçou o país a reduzir sua
dependência do petróleo importado, desta forma, a matriz energética do Brasil
passou por várias transformações, a fim de estimular a pesquisa e a produção
de novas fontes de energia, principalmente aquelas capazes de substituir as
fontes não renováveis, como é o caso do petróleo.
Uma possível escassez energética e a necessidade de se reduzir os
índices de poluição após o Protocolo de Kyoto – 1997, fez com que a demanda
mundial por combustíveis de origem renovável crescesse e, nesse contexto, o
Brasil possui potencial para ser um grande exportador mundial.
A discussão sobre a introdução do biodiesel na matriz energética
brasileira teve, como pano de fundo, argumentos que abarcam as dimensões
da inclusão social, da organização dos agricultores, de manifestações
implícitas de interesses corporativistas setoriais e questões ambientais. Cabe
destacar que se trata de um combustível que pode compor, com o óleo diesel,
a oferta de energia para os transportes rodoviários pesados e o urbano,
responsáveis pelo deslocamento da produção nacional e dos setores de baixa
renda da sociedade (MCT, 2008).
Em 2002, foi criado o Programa Brasileiro de Desenvolvimento do
Biodiesel (PROBIODIESEL), sendo renomeado para Programa Nacional de
Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), em 2004.
Dentre suas metas, o Programa Nacional de Produção e Uso de
Biodiesel (PNPB) do Brasil, visa integrar a agricultura familiar à oferta de
biocombustível, permitindo o fortalecimento da renda destes produtores. A
introdução da agricultura familiar à produção de biodiesel permite fazer com
que áreas rurais de efetivo desenvolvimento econômico e social sejam
utilizadas, reduzindo problemas ligados a má distribuição populacional, como
também viabilizando a inclusão social.
A implementação de um programa energético com biodiesel abre
oportunidades para grandes benefícios sociais decorrentes de um alto índice
de geração de empregos por capital investido, valorização do campo e
promoção do trabalhador rural, além de demanda por mão de obra qualificada
para o processamento e beneficiamento dos óleos vegetais. O aproveitamento
do biodiesel traz também o efeito econômico benéfico de reversão no fluxo
internacional de capitais na medida em que permite a redução das importações
13
de diesel, além da comercialização internacional de certificados de redução de
emissões de gases de efeito estufa (PARENTE, 2003).
Essa pesquisa é justificada pelo estudo das vantagens geradas através
dos benefícios do biodiesel, ampliando o conhecimento sobre o tema,
apresentando o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, tendo em
vista a importância econômica e ambiental no uso do biodiesel como uma
alternativa energética de fontes biodegradáveis capaz de possibilitar maior
dinamismo nos diversos setores da economia brasileira. Capaz de inserir o
país como protagonista mundial de combustíveis alternativos.
O objetivo deste estudo é analisar o Programa Nacional de Produção e
Uso do Biodiesel e sua atuação no período compreendido entre 2004, quando
foi criado, até 2013, verificando se os casos de sucesso e as limitações do
programa. Quanto os objetivos específicos mostram-se a proposta e meta do
programa e verificam-se os resultados e limitações, destacando-se o fato de
que o mesmo tinha como pano de fundo diminuir as dificuldades regionais e
contribuir para a inclusão social frente à agricultura familiar.
Trata-se de um estudo de caso sobre Programa Nacional de Produção e
Uso do Biodiesel que, diante da necessidade da economia em se inserir em um
modelo de produção mais consciente, leva em consideração as questões
ambientais, econômicas e sociais, trazendo à tona á discussão sobre o
desenvolvimento do nordeste. O problema desta pesquisa é: em que medida o
PNPB tem viabilizado o cultivo de oleaginosas, para produção do Biodiesel e
até que ponto contribuiu para a inclusão social da agricultura familiar, já que os
resultados são diferenciados nas regiões?
Este estudo tem caráter exploratório, em que as pesquisas bibliográficas
estão em torno de livros e artigos científicos de autores que tratam ou trataram
sobre o PNPB, também serão utilizados documentos do governo, artigos e
produções cientificas que tratam deste assunto. Após coleta dessas
informações, serão feitas análises, observando suas limitações, e as
expectativas dentro do que já está sendo realizado e do que está sendo
projetado para o crescimento da produção de biodiesel no Brasil.
Além desta introdução, este o trabalho possui outros quatro capítulos. O
capítulo um apresenta algumas considerações sobre o desenvolvimento e
14
crescimento econômico, fazendo uma abordagem teórica sobre o
desenvolvimento sustentável e sobre a questão energética.
No segundo capítulo faz-se uma analise do PNPB, apresentando o
programa e tratando sobre as políticas publicas, evidenciando os conceitos e
sua importância. Será feita uma abordagem sobre a agricultura familiar,
conceituando-a e verificando se houve ou não inclusão social ou
beneficiamento.
O terceiro capítulo apresenta os resultados e as contribuições do
programa, mostrando a evolução do mesmo ao longo dos seus nove anos de
existência.
Por fim, são apresentadas as considerações finais deste estudo.
15
1. DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO
Desenvolvimento e crescimento econômico não se trata do mesmo
sentido, desenvolver reúne uma serie de fatores que contemplam desde a
questão econômica até fatores relacionados à questão social e ambiental. Já
no que se trata de exclusivamente o crescimento econômico, podem-se
restringir basicamente a capacidade de uma sociedade se organizar
economicamente e ser capaz de produzir e comercializar bens, fazendo com
que a economia se movimente, gerando riqueza e refletindo assim no aumento
do produto interno bruto da nação.
Segundo Ignacy Sachs (2001), o processo de crescimento de uma
economia ocorre mediante um aumento da desigualdade social, que causa
uma segregação de grupos sociais, onde a maior parte da riqueza concentra-
se em poder de uma minoria, enquanto isso há um aumento significativo da
pobreza, onde a maioria da população fica à margem desse processo de
crescimento. Já no que se trata de desenvolvimento, Sachs(2005) coloca como
sendo um “processo com duas vertentes que devem ser compatibilizadas:
econômico e social”
Celso Furtado descreveu em que se diferem os termos desenvolvimento
de crescimento econômico:
[...] o crescimento econômico, tal como o conhecemos, vem se fundando na preservação dos privilégios das elites que satisfazem sua ambição de modernização; já o desenvolvimento se caracteriza pelo seu projeto social subjacente. Dispor de recursos para investir está longe de ser condição suficiente para preparar um melhor futuro para a massa da população. Mas quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida dessa população, o crescimento se transforma em desenvolvimento (Furtado, 2004 in Veiga, 2005).
O crescimento e desenvolvimento econômico não são termos
antagônicos. Segundo Sachs (2001):
Por outro lado, o fato de que o desenvolvimento não está contido no crescimento econômico não deve ser interpretado em termos de uma oposição entre crescimento e desenvolvimento. O crescimento econômico, se repensado de
16
forma adequada, de modo a minimizar os impactos ambientais negativos, e colocado a serviço de objetivos socialmente desejáveis, continua sendo uma condição necessária para o desenvolvimento. [...] Precisamos de taxas mais altas de crescimento econômico para acelerar a reabilitação social, uma vez que é mais fácil operar nos acréscimos do PNB que distribuir bens e rendas numa economia estagnada.
No decorrer de séculos, a sociedade capitalista em seu constante
crescimento e processo de industrialização, focado no aumento da produção e
modernização dos seus meios, não ponderou alguns fatores relacionados à
própria subsistência da humanidade bem como a perpetuação desse
crescimento, alterando assim o meio ambiente e pouco preocupando-se com a
questão ambiental. Nesse caso, fica nítido a distinção que há entre
desenvolvimento e crescimento econômico, visto que o primeiro contempla
fatores sócio-ambientais que não devem ser desprezados por esse modelo
capitalista de crescimento.
Em 1980, através da Internacional Union for the Conservation of Nature
and Natural Resources (IUCN), surgiu o termo desenvolvimento sustentável
que contempla fatores sociais, ecológicos e econômicos. Já segundo Sachs
(1995), o desenvolvimento sustentável abrange cinco dimensões: a
sustentabilidade social, econômica, ecológica, geográfica e cultural.
De acordo com GUIMARÃES (2001):
O crescimento econômico não traz, por si só, o desenvolvimento, que o crescimento é condição necessária, porém insuficiente para resultar em efetivo desenvolvimento. Sendo que o efetivo desenvolvimento deve representar, a melhoria das condições de vida da população. Portanto, a partir do entendimento de que o homem está intrinsecamente ligado ao meio e dele não pode ser separado, e ainda, que os seres humanos constituem o centro e a razão do processo de desenvolvimento, significa advogar um novo estilo de desenvolvimento que seja ambientalmente sustentável no acesso e no uso dos recursos naturais e na preservação da biodiversidade; socialmente sustentável na redução da pobreza e das desigualdades sociais e promotor da justiça e da eqüidade; culturalmente sustentável na conservação do sistema de valores, práticas e símbolos de identidade; politicamente sustentável ao aprofundar a democracia e garantir o acesso e a participação de todos nas decisões de ordem pública.
17
1.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO ENERGÉTICA
O conceito contemporâneo de desenvolvimento sustentado, com base
no tripé da sustentabilidade (econômico, social e ambiental), privilegia o
desenvolvimento humano. Cabe à agricultura, principalmente a familiar, a
desconcentração de renda, geração de divisas, a criação de ocupações
produtivas, o aumento da produtividade e da qualidade e a diversificação e
verticalização da produção. O que pode contribuir para uma forma de produção
onde haja no campo um desenvolvimento, não somente um crescimento.
(BRAVO, 2002).
A questão energética passou a ser discutida mundialmente na década
de 70, mediante as crises do petróleo, e a um cenário de instabilidade política
no oriente. A partir de então, a reflexão sobre a plena disponibilidade de fontes
de energia trouxe à tona a discussão da possibilidade de se ter alternativas e
fontes de energia capaz de suportar a demanda mundial e manter os
patamares de produção e acumulação do capital.
De acordo com Mello (2007):
Os constantes conflitos políticos, envolvendo os países do Oriente Médio, onde estão localizadas quase 80% das reservas comprovadas de petróleo no mundo, conferem instabilidade ao suprimento e aos preços do combustível, incentivando várias nações a reduzirem a dependência em relação às importações do produto.
A escassez e o comprometimento da matriz energética mundial, que
está fundamentada na energia fóssil, trouxeram à tona o debate cientifico
desse tema em inúmeras conferências. De acordo com Costa (2006): “[...] para
o volume de combustíveis fósseis que consumimos ao longo de um ano a
natureza leva um milhão de anos para repor, ou seja, uma relação de 1 para 1
milhão”. O esgotamento das fontes de energia fóssil torna necessário buscar
fontes alternativas capaz de suprir a crescente demanda mundial.
De acordo com Sachs (2008), para evitar o aquecimento do clima,
devido às excessivas emissões de gases causadores do efeito estufa, deve-se
modificar drasticamente as pautas de uso da energia. Para se conseguir isso
são necessárias três coisas: redução do consumo de energia por meio de uma
18
mudança nos padrões de consumo e de estilos de vida; melhoria da eficiência
energética; substituição dos combustíveis fósseis pelas diferentes energias
renováveis (solar, eólica, hidráulica, marinha e biomassa). Ao mesmo tempo,
devemos reabrir a discussão sobre um novo ciclo de desenvolvimento rural
para evitar o beco sem saída da excessiva e prematura urbanização [...]
Segundo Holanda (2004), a problemática energética não se refere
apenas a uma possível escassez da energia fóssil, mas também à degradação
ambiental, em que é necessário criar alternativas capazes de reduzir a emissão
de gases tóxicos na atmosfera freando dessa forma o aquecimento global.
A crescente preocupação com o meio ambiente e, em particular, com as
mudanças climáticas globais coloca em xeque a própria sustentabilidade do
atual padrão de consumo energético. Todos esses fatores, cuja importância
variam de país para país, têm viabilizado economicamente novas fontes de
energia de biomassa em vários países do mundo. No caso do Brasil, a
iniciativa mais recente no sentido de buscar uma fonte alternativa de energia foi
a criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB)
(HOLANDA, 2004).
O PNPB, em suas diretrizes tem como base associar a criação de uma
fonte alternativa e renovável de energia, considerando a questão ambiental, e
tem como pilar central a questão social. O biodiesel atende as diretrizes
propostas no programa, visto que o mesmo é renovável e obedece ao ciclo de
carbono, ou seja, as emissões tóxicas de sua queima são proporcionalmente
absorvidas pelo seu cultivo.
19
2. BIODIESEL E O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO
BIODIESEL (PNPB)
O biodiesel é um combustível produzido a partir de óleos vegetais ou de
gorduras animais (ANP, 2012). Sua importância deve-se ao fato de ser
biodegradável e por ser uma fonte renovável, capaz de substituir totalmente ou
parcialmente o uso do óleo diesel de petróleo em motores automotivos (de
caminhões, tratores, camionetas, automóveis, etc) ou estacionários (geradores
de eletricidade, calor, etc). Ele também pode ser utilizado em caldeiras e na
geração de calor em processos industriais.
As matérias primas para sua produção varia de região para região, de
acordo com a disponibilidade local, as condições físicas, climáticas, e também
da viabilidade econômica. A opção pela matéria-prima pode ser bastante
evidente se as diferentes alternativas forem agrupadas de acordo com os seus
respectivos graus de pureza, especialmente em relação ao teor de ácidos
graxos livres (AGL).
De acordo com Holanda (2004), o biodiesel é obtido por meio da reação
com álcool e catalisadores (transesterificação) ou através da destilação com
catalisadores (craqueamento). Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em
diversas proporções. A mistura de biodiesel ao diesel de petróleo é chamada
de B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel puro, denominado B100.
Gráfico 01: Elaboração CEPLAC,2007
A esterificação ou a remoção de AGL é de suma importância, pois a
permanência destes componentes poderá comprometer os motores e sistemas
de combustível.
20
Os óleos vegetais refinados e gorduras animais de alta qualidade podem
ser transesterificados diretamente com alta eficiência química e bons
rendimentos em produto. No entanto, esforços empreendidos para obter e
garantir altos níveis de pureza na matéria-prima atribui a este produto um alto
valor de mercado. Destas duas opções, gorduras animais são geralmente mais
baratas que óleos vegetais refinados porque, ao invés de um produto primário,
representam um subproduto da agroindústria animal, e porque a demanda por
este produto é menor do que a maioria dos óleos vegetais mais comuns.
Gorduras animais também contem um teor de ácidos graxos (AG) saturados
superiores ao observado em óleos vegetais. Estes tem um ponto de fusão
relativamente alto, uma propriedade que, a baixas temperaturas, pode levar à
precipitação e a um baixo desempenho do motor (Manual de Biodiesel, 2008).
Na região Europeia são utilizados os óleos de colza e de girassol. Nos
Estados Unidos, as principais fontes de matéria prima provem da gordura
animal. Já em países tropicais, a fonte de matéria prima mais utilizada é o óleo
de palma.
De acordo com PARENTE (2008), no Brasil as matérias primas provem
dos óleos vegetais. Os principais são: soja, mamona, dendê, algodão, girassol,
amendoim, babaçu, e o côco da Bahia. Também podem ser cultivados o pinhão
manso, gergilim, linhaça, o nabo forrageiro, canola, cambre, tucumã, buriti,
pequi e jojoba. Ele ainda aponta o óleo bovino e do óleo de fritura reciclado
como potenciais matérias primas para a produção de biodiesel.
Sobre a opção de utilizar a mamona e o dendê como prioridades no
PNPB, GOLDEMBERG (2007, C.3) destaca que:
A produção de óleos vegetais no Norte e Nordeste, estimulando a agricultura familiar, sobretudo a do óleo de dendê e mamona, é uma boa idéia, mesmo porque eles têm outras aplicações industriais e elevado valor de mercado. Apesar de subsidiado, o programa poderá gerar empregos e fixará mão de obra no campo, o que vários países da Europa estão fazendo há muitos anos, por razões estratégicas, para reduzir as importações de petróleo.
Graziano (2008) afirma que:
21
Parece, porém, que a mamona vai repicar. Ela é a favorita do governo brasileiro para o programa do biodiesel. Com uma novidade. A fórmula petista mistura solução energética com equação agrária. Pretende fazer da mamona um trampolim de sucesso para os assentamentos de reforma agrária.
Conforme HOLANDA (2004), o processo de produção de biodiesel é
composto das seguintes etapas:
1) Matéria prima: A matéria prima deve ser submetida a um processo de
neutralização e de secagem. A acidez é reduzida por uma lavagem com
solução alcalina de hidróxido de sódio ou de potássio. A umidade da matéria
prima deve ser muito baixa.
2) Transesterificação: é a etapa da conversão, propriamente dita, do
óleo vegetal ou gordura animal em ésteres metílicos ou etílicos de ácidos
graxos, que constituem o biodiesel. Como sub produto deste processo, temos a
glicerina. Dois tipos de álcool são os mais utilizados. O metanol, derivado do
petróleo, sendo o mais utilizado em outros países, e o etanol, derivado da cana
de açúcar, que é produzido de uma fonte renovável e muito menos tóxico que o
metanol. Nesta fase também é utilizado um catalisador para acelerar a reação.
O mais usado é o hidróxido de sódio, mas também podemos usar o hidróxido
de potássio.
3) Separação de fases: é uma etapa muito importante da produção de
biodiesel. O processo de refino dos produtos resultantes da transesterificação
pode ser tecnicamente difícil e pode elevar bastante os custos de produção. A
pureza do biodiesel deve ser alta e de acordo com as especificações técnicas
determinadas em cada país.
4) Recuperação do álcool: o álcool envolvido no processo é recuperado
em 95% da sua quantidade inicial.
5) Destilação da glicerina: a glicerina bruta no processo contém
impurezas e sendo purificada terá um valor de mercado muito mais favorável. A
purificação da glicerina bruta pode ser feita por destilação a vácuo, gerando um
produto límpido e transparente. Desta destilação resulta ainda uma glicerina
residual, entre 10% e 15% do volume inicial, que ainda possui um mercado
comercial para este subproduto.
22
6) Purificação do biodiesel: nesta última fase é feito um controle de
qualidade do biodiesel produzido e se estiver fora das especificações de
pureza, é realizado mais um refino até se chegar ao nível de qualidade
estabelecido em lei.
Verifica-se que uma das vantagens da produção do biodiesel é o fato de
que qualquer lipídeo de origem animal ou vegetal deve ser considerado como
adequado. A determinação de qual oleaginosa é ideal a ser produzida deve
considerar uma série de fatores, os principais são: o custo, o desempenho
como combustível (dado o uso de determinada matéria prima), as propriedades
e condições de armazenamento, e as decisões governamentais.
A ação do governo é um fator importante no incentivo, organização e
planejamento da produção de matéria-prima. As vantagens econômicas,
ambientais e sociais esta relacionado à criação de oportunidades no campo.
No Brasil há um foco no sentido de promover a geração de trabalho e de renda
ao agricultor familiar.
Vantagens de acordo com BRASIL (2004):
Por substituir o óleo diesel que vem do petróleo, tem sido um
grande vetor de redução das emissões de diversos poluentes (monóxido de
carbono, enxofre, etc) e no combate ao efeito estufa.
Colabora para uma maior diversificação da matriz energética
brasileira, que já é exemplo mundial na utilização de energias renováveis.
Reforça o protagonismo do Brasil nos acordos e compromissos
internacionais de respeito ao meio ambiente e mudanças climáticas.
Contribui para que o Brasil compre menos óleo diesel de petróleo
de países estrangeiros e também deixe de exportar grãos in natura,
esmagando e produzindo óleo e farelo dentro do país.
A partir da noção e do conhecimento das vantagens sobre o biodiesel no
Brasil, é preciso fazer algumas considerações sobre políticas públicas, assim
como especificadamente as voltadas para a agricultura familiar e a sua
participação no PNPB.
23
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E O PNPB
De acordo com Teixeira (2002):
Políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos.
Segundo Souza (2006), há uma distinção entre o que o governo
pretende fazer do que realmente faz. As políticas públicas são uma ação
intencional, que estipula objetivos a serem atingidos e que não se limita a leis e
regras, tem metas a serem atingidas e provoca impactos no curto prazo,
apesar de seus resultados mais expressivos serem atingidos no longo prazo.
O processo de implantação e elaboração de políticas públicas envolve a
ação do Estado e dos demais atores sociais que estão envolvidos nos projetos
e interesses diferenciados e até contraditórios, há necessidade de mediações
sociais e institucionais, para que se possa obter um mínimo de consenso e,
assim, as políticas públicas possam ser legitimadas e obter eficácia. O
processo de elaboração de uma política publica deve considerar fatores como
o regime político em que a sociedade é regida, o grau de organização da
sociedade civil e a cultura política vigente. Outro ponto importante a ser
esclarecido é que políticas públicas se diferem de políticas governamentais,
estas ultimas, nem sempre são públicas, embora sejam estatais. Uma política
passa a ser considerada pública quando busca solucionar um problema público
relevante para a coletividade.
Para se estruturar a elaboração de políticas públicas, bem como
implementá-las e avaliá-las é preciso conhecer elementos fundamentais,
alguns dos principais são: democratização, sustentabilidade, eficácia,
transparência, participação, qualidade de vida.
24
De acordo com Carvalho (2001), o setor agrícola concorre com uma das
importantes falhas de mercado, devido os riscos e incertezas e a imprecisão
das informações disponíveis, isto faz com que os agentes possam cometer
erros na alocação dos recursos. A autora aponta que a ausência de
intervenção do Estado no setor pode implicar em crises, seja de excesso de
produção, ou de insuficiência de oferta, problemas que podem comprometer
todo o sistema econômico.
As Políticas públicas voltadas para a agricultura buscam atuar sobre os
fatores estruturais (infraestrutura, tecnologia), e conjunturais (curto prazo) dos
mercados agropecuários e sobre o comportamento dos agricultores. Estas
agem por meio de políticas e programas diferenciados de desenvolvimento
rural. O foco destas políticas são as populações do campo menos favorecidas,
auxiliar na produção das categorias mais empobrecidas das regiões
campesinas do país, caracterizando assim um projeto de desenvolvimento rural
do país.
De acordo com Teixeira (2002), a agenda da questão agrícola e agrária
do país, impõe, além da reivindicação pela posse da terra, as questões de
habitação, transporte e alimentação. Desta forma, as especificidades locais e
regionais, devem ser conduzidas políticas agrícolas de base municipal, que se
desenharia a partir de alguns eixos:
Apoio à reforma agrária – dotar os assentamentos de
infraestrutura social e produtiva, mediar o escoamento da produção;
Desenvolvimento da agricultura familiar;
Alimentação e abastecimento;
Meio ambiente;
Condições de melhoria de condições de vida da população rural;
Adequação do currículo escolar.
Um exemplo de política pública é o PRONAF (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar), que possibilita (Teixeira, 2002):
25
Maior democratização do crédito rural para parte dos agricultores
familiares;
Recursos para infraestrutura no município;
Capacitação de técnicos e agricultores familiares;
Recursos para assistência técnica e extensão rural de
infraestrutura.
Dentro do PRONAF o governo criou o PRONAF Biodiesel, onde o
agricultor pode tomar mais um crédito-custeio para o plantio de oleaginosas,
antes de pagar o anterior. Com isso o agricultor poderá cultivar tanto o feijão o
milho, como as oleaginosas para o Biodiesel. As diretrizes, as formas de
organização e de planejamento deste crédito estão previstas no Programa
Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, que será tratado e discutido no
próximo capitulo.
2.2 PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL
(PNPB) E A INCLUSÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR
Em 2003, um Decreto da Presidência da Republica criou o Grupo de
Trabalho Interministerial (GTI), que tinha por objetivo realizar estudos sobre a
viabilidade da utilização do biodiesel como fonte alternativa de energia limpa no
país. O grupo era formado por dez ministérios e coordenado pela Casa Civil.
A partir do estudo foram verificados os seguinte desafios, BRASIL
(2004):
Padrões de qualidade para o biodiesel;
Formas de aproveitamento dos subprodutos das oleaginosas;
Possibilidade de tributação diferenciada de acordo com as
necessidades de cada região;
Logística da origem da matéria prima e da distribuição do
biodiesel, entre outros.
26
Também foi possível verificar as potencialidades do programa, BRASIL
(2004):
A enorme capacidade produtiva de biomassa no país;
As experiências de pesquisa e produção de biodiesel;
A possibilidade de redução das importações de óleo diesel;
A disponibilidade de áreas agrícolas não utilizadas e
subutilizadas, e;
A ótima chance de se criar mecanismos de participação de
agricultores familiares na cadeia produtiva do biodiesel.
Como resultado deste estudo foi criado, em 2004, o Programa Nacional
de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), sendo colocado como ação
estratégica do país. O foco do programa era tornar o biodiesel em um produto
competitivo, ter qualidade do bicombustível produzido, garantir a segurança de
seu suprimento, na diversificação das matérias primas, no fortalecimento das
potencialidades regionais para produção, e, prioritariamente, na inclusão social
de agricultores familiares.
O diferencial do PNPB em relação aos programas desenvolvidos em
outros países é o fato dele ter como uma dos seus alicerces o aspecto social,
em que visa incluir mais de quatro milhões de famílias de agricultoras e de
assentados da reforma agrária na produção da matéria-prima necessária a
produção do biodiesel no Brasil.
O PNPB representa um mercado que começa a se formar a partir de um
projeto governamental que estimula a participação de agricultores familiares
em sua matriz produtiva e que pretende incentivar o uso de matérias-primas
até então pouco empregadas (ABRAMOVAY, 2007).
As missões do PNPB: BRASIL (2004)
Missão ambiental: A capacidade de reduzir em até 78% a
emissão de CO2 na atmosfera, isto ocorre pelo fato do biodiesel ter um ciclo
27
fechado de carbono, em que o CO2 é absorvido quando a planta cresce e é
liberado quando o biodiesel é queimado na combustão do motor.
Missão estratégica: No Brasil há um histórico de projeto de
combustíveis bem sucedidos, como é o caso do Proálcool, criado na década de
70, que é reconhecido mundialmente como uma alternativa sustentável de
substituição dos combustíveis derivados de petróleo, por fontes renováveis. O
biodiesel é mais uma alternativa econômica e sustentável, que permite
diversificar os combustíveis produzidos no país, reduzindo assim a importação
do diesel.
Missão social: promover inclusão social através da geração de
renda e emprego no campo, favorecendo principalmente a agricultura familiar.
Permitindo a produção do biodiesel a partir de diferentes fontes oleaginosas,
verificando as potencialidades regionais, e assegurando ao produtor preços
competitivos, qualidade e suprimento.
O programa é monitorado pela Comissão Executiva Interministerial
(CEIB), cuja sua função é elaborar, implementar, e propor atos normativos
necessários à sua implantação, assim como analisar, avaliar e propor outras
recomendações e ações, diretrizes e políticas públicas. Além da CEIB, há um
Grupo Gestor, que atua na gestão operacional e administrativa, para que sejam
cumpridas as estratégias e diretrizes estabelecidas pela CEIB. Este Grupo é
coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e integrado por alguns
ministérios membros da CEIB e órgãos como o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Petrobras e Embrapa.
A responsabilidade de projetar e operacionalizar a estratégia social do
PNPB, é do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), alem de promover a
inserção qualificada de agricultores familiares na cadeia de produção do
biodiesel.
O PNPB foi criado com o objetivo principal de fomentar a produção de
biodiesel, de forma sustentável. Secundariamente, o programa visa promover a
inclusão social, através do fortalecimento da agricultura familiar na região semi-
árida, por meio da sua integração à cadeia produtiva do biodiesel, assim como
visa o desenvolvimento regional através da produção de diversas matérias-
28
primas em diferentes regiões do país, possibilitando a geração de emprego e
renda, principalmente nas regiões mais atrasadas do país (CEIB, 2005).
Ao lançar o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB),
em 06.12.2004, o Governo Federal apoiou-se na crescente demanda por
combustíveis de fontes renováveis e no potencial brasileiro para atender parte
expressiva dessas necessidades, gerando empregos e renda na agricultura
familiar, reduzindo disparidades regionais e contribuindo para a economia de
divisas e melhorar as condições ambientais.
As diretrizes principais de acordo com a Comissão Executiva
Interministerial (CEIB) são: produzir biodiesel a partir de diferentes oleaginosas
em diferentes regiões do país; implantar um programa sustentável,
promovendo a inclusão social; e oferecer preço competitivo, garantir qualidade
e suprimento.
Segundo Rodrigues (2008), com o intuito de atender à mistura
obrigatória de biodiesel ao diesel mineral, desde 2005, a ANP realiza leilões de
biodiesel onde é determinado o volume de biodiesel necessário ao
cumprimento da exigência legal de adição de biodiesel ao diesel. Em seguida,
80% desse volume são comercializados no leilão para as empresas que são
detentoras do selo combustível social. Os 20% restantes são leiloados aos
demais produtores que não detêm o selo
A garantia de preços estabelecida pela ANP arremata determinada
quantidade de biodiesel, o produtor que oferecer o menor preço, assim como, o
preço da matéria-prima do biodiesel (soja) tem seu preço ajustado diariamente
no mercado internacional. Cada fornecedor se compromete a fazer entregas do
biodiesel ao preço fixado pela ANP. Caso o preço da soja tenha elevação, a
empresa tem perdas de receitas (RODRIGUES, 2008).
2.2.1 Agricultura Familiar Associada ao PNPB
A população que vive no campo sofre há muito tempo devido a
sucessivos problemas climáticos, falta de estrutura no campo e por ausência
de incentivos do governo no sentido de fortalecer o setor. Trata-se de políticas
públicas para o desenvolvimento de culturas no campo, tornando essa
29
população capaz de subsistir, bem como promover o desenvolvimento
econômico das regiões rurais.
De acordo com CASTELÕES (2005):
A agricultura familiar foi considerada, durante muito tempo, um segmento marginal e de pouca relevância para os interesses econômicos de uma sociedade capitalista, que vislumbra lucro em cima da chamada agricultura de grande porte ou de exportação, com plantios voltados à monocultura (cana-de-açúcar, café, trigo, soja, etc.). O agricultor familiar era considerado inábil à tomada de decisões comprometidas no desenvolvimento de seu meio de sobrevivência. Durante muito tempo, o poder público não demonstrava interesse voltado à promoção de políticas engajadas para o desenvolvimento desse segmento da sociedade.
No que diz respeito à agricultura familiar, Schneider (2006) coloca:
A expressão “agricultura familiar” vem ganhando legitimidade social e científica no Brasil, passando a ser utilizada com freqüência nos discursos dos movimentos sociais do meio rural, por instituições governamentais e por estudiosos das Ciências Sociais que se ocupam de análises do meio rural.
Sobre um ponto de vista social e econômico, há uma grande relevância
da agricultura familiar para a manutenção do homem no campo, dando a esses
condições de viver. Por este motivo desde a década de 90 que o governo
passou a criar alternativas e meios de investir no homem do campo. Com a
democratização e abertura econômica, houve um fortalecimento deste e de
outros segmentos sociais, considerados apenas de subsistência, a sociedade
passou a discernir e a valorizar a agricultura familiar, onde esta passou a ser
vista como a melhor e mais econômica opção para a geração de emprego e de
ocupações produtivas para o desenvolvimento de uma sociedade, essa visão
lhe proporciona um marketing peculiar, possivelmente, a forma social de
produção mais adequada a satisfazer as exigências de mercado no aspecto
social e ambiental.
Para o MDA (BRASIL, 2005a),
A Agricultura Familiar, enquanto sujeito do desenvolvimento, é ainda um processo em consolidação. Seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto de fatores econômicos,
30
sociais, políticos e culturais que necessitam serem implementados de uma forma articulada por uma diversidade de atores e instrumentos. Sem dúvida, os papéis do Estado e das políticas públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais estas políticas conseguirem se transformar em respostas à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade e, ao mesmo tempo, às demandas concretas e imediatas da realidade conjuntural, mais adequadamente cumprirão o seu papel.
Nesse contexto, e diante de uma demanda já pré existente de energias
renováveis, a produção de oleaginosas associado à questão social trouxe uma
alternativa para o desenvolvimento da agricultura familiar, inserindo-a no
mercado como fornecedora da matéria prima necessária a produção do
biodiesel.
Segundo Pereira (2004), quanto aos benefícios sociais, a produção e o
cultivo de matérias-primas para a fabricação de biodiesel podem ajudar a criar
milhares de novos empregos na agricultura familiar.
O mercado do biodiesel vem crescendo consideravelmente nos últimos
anos, em função das preocupações de vários países com o meio ambiente e a
intenção de reduzir a dependência do petróleo importado. Nos últimos anos,
vários países lançaram programas de incentivo à produção e ao consumo do
biocombustível.
Em todos os países onde o mercado organiza as mudanças, a produção
agrícola é sempre mais ou menos assegurada pelos produtores onde a família
ocupa um lugar importante nas relações sociais de produção. Presente um
pouco por todo o mundo, qualquer que seja o país, sua história, seu sistema
político, seja ele socialista ou capitalista, industrializado ou em via de
desenvolvimento, esta forma social de produção particular é a prova evidente
de uma grande capacidade de adaptação. (AGRICULTURA FAMILIAR NO
BRASIL, 1997).
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), criado em 1995 e gerido pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário -MDA, é um programa do governo federal com o objetivo de
fortalecimento e a valorização do agricultor familiar, visando integrá-lo à cadeia
de agronegócios e proporcionar-lhe aumento de renda e agregação de valor ao
produto e à propriedade, com sua profissionalização e com modernização do
31
seu sistema produtivo, além de apoiar o desenvolvimento rural sustentável e
garantir segurança alimentar, fortalecendo a agricultura familiar, por meio de
financiamentos, bem como as suas associações e cooperativas (BRASIL,
1996).
O MDA criou em 2008, o PRONAF Biodiesel, pelo qual o agricultor
familiar pode tomar mais um crédito custeio antes de pagar o anterior para o
plantio de oleaginosas. Com isto o agricultor pode continuar a plantar seu
milho, seu feijão e plantar também a oleaginosa para o biodiesel.
Como instrumento para inclusão da agricultura familiar, o PNPB criou o
Selo Combustível Social, que é um benefício de isenção fiscal concedido pelo
Ministério do Desenvolvimento Agrário aos produtores de biodiesel que
promovam a inclusão social e o desenvolvimento regional por meio de geração
de emprego e renda para os agricultores familiares enquadrados nos critérios
do PRONAF.
Com a concessão do selo de combustível social, o produtor de biodiesel
terá acesso a alíquotas de PIS/Pasep e Cofins com coeficientes de redução
diferenciados, acesso às melhores condições de financiamentos junto ao
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e suas
Instituições Financeiras Credenciadas, ao Banco da Amazônia S/A – BASA, ao
Banco do Nordeste do Brasil – BNB, ao Banco do Brasil S/A ou outras
instituições financeiras que possuam condições especiais de financiamento
para projetos com Selo Combustível Social (BRASIL, 2006).
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (BRASIL,
2006), a concessão do selo somente será concedido após os produtores de
biodiesel comprovarem os seguintes requisitos:
1) que adquiram matéria-prima da agricultura familiar em percentual
mínimo de:
50% da região Nordeste e Semi-Árido
30% da região Sudeste e Sul e
10% da região Norte e Centro Oeste
2) Estabeleçam contratos negociados com os agricultores familiares,
constando:
32
O prazo contratual;
O valor de compra e critérios de reajuste do preço contratado;
As condições de entrega da matéria prima
Estabelecer contratos com os agricultores familiares, negociados
com a participação de uma representação desse segmento,
especificando as condições comerciais que garantam renda e
prazos compatíveis com a atividade.
Identificação e concordância de uma representação dos
agricultores que participou das negociações.
Assegurem assistência e capacitação técnica aos agricultores
familiares.
Conforme Holanda (2004), a cada 1% de óleo diesel substituído por
biodiesel produzido com matéria prima fornecido pela agricultura familiar,
podem ser gerados 45 mil empregos no campo, com uma renda média anual
teórica estimada em R$ 4.900,00.
Dentre as missões do PNPB, a social pode ser considerada a mais
importante, visto que, os benefícios gerados na inclusão da agricultura familiar
permitem a minimização dos problemas existentes no setor, dando condições
do mesmo se fortalecer e melhorar as condições de vida do homem do campo.
33
3. RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES DO PNPB
O instrumento adotado para estimular a produção de biodiesel no país
foi a adição de biodiesel ao diesel mineral. De modo que no ano de 2005, foi
sancionada a Lei 11.097 que introduz o biodiesel na matriz energética nacional
e fixa em 5% a obrigatoriedade de adição de biodiesel ao diesel (B5), onde foi
estabelecido um prazo de oito anos para sua implementação, a contar da
publicação da referida Lei. A meta estabelecida estipulava uma adição de 2%
de biodiesel ao diesel comercializado em todo o país (B2), a ser cumprida em
um período de três anos. Sendo este o instrumento do PNPB que obteve maior
eficácia.
A agricultura familiar associada ao estimulo para produção das matérias-
primas foi um dos instrumentos fundamentais para o incentivo e produção das
oleaginosas no país, apesar das expectativas de que o biodiesel seria um
impulsor econômico da agricultura familiar no semiárido, à possibilidade de
inclusão social não se mostrou como a tendência principal, haja vista que
informações da ANP (2014bi) revelam que o biodiesel brasileiro está
fortemente concentrado na soja como matéria-prima.
MATÉRIA PRIMA UTILIZADA PARA FABRICAÇÃO DO BIODIESEL
Gráfico 02: Elaboração: ANP (2014Bi)
A produção de biodiesel se concentra na soja, de acordo com dados da
ANP, em dezembro de 2013, o óleo de soja é a principal matéria prima utilizada
34
para a produção do biodiesel, atingindo em dezembro de 2013 o percentual de
68,13%.
PRODUÇÃO DE SOJA BRASIL
ANO PRODUÇÃO
2006 52.464.640
2007 57.857.172
2008 59.689.855
2009 57.201.871
2010 68.549.283 Unidade: Tonelada.
Tabela 01: Elaboração Própria.
Fonte dos Dados: Ministério da Agricultura, Indústria e
Comércio(Minagincom)
Dados do Ministerio da Agricultura, Industria e Comércio apontam um
significativo aumento na produção de soja no país. Este aumento deve-se a
crescente demanda por exportação do produto, bem como à utilização da
mesma como matéria prima para o Biodiesel. Porém no que se trata do uso da
mesma para fabricação deste tipo de combustível, verifica-se conforme mostra
tabela abaixo, uma situação preocupante visto que a produção da soja
concentra-se nas regiões Sul e Centro Oeste.
PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO NA PRODUÇÃO DE SOJA
Região PERÍODO 2006 - 2010 Total PERCEN TUAL
2006 2007 2008 2009 2010 %
Região Centro-oeste
25.911.228 26.201.565 29.047.395 28.878.223 31.414.716 141.453.127 47,83%
Região Norte 1.252.818 1.161.177 1.413.680 1.419.666 1.595.165 6.842.506 2,31% Região Nordeste
3.467.918 3.909.240 4.831.654 4.421.442 5.307.202 21.937.456 7,42%
Região Sul 17.725.417 22.914.961 20.375.488 18.395.940 25.905.602 105.317.408 35,61% Região Sudeste 4.107.259 3.670.229 4.021.638 4.086.600 4.326.598 20.212.324 6,83%
Unidade: Tonelada.
Tabela 02: Elaboração Própria. Fonte dos Dados: Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (Minagincom)
Conforme os dados apresentados acima, no período de 2006 a 2010,
foram produzidos um montante superior a 20 milhões de toneladas de soja no
Brasil.
35
PARTICIPAÇÃO POR REGIÃO NA PRODUÇÃO DE SOJA 2006 - 2010
Gráfico 03: Elaboração Própria.
Pode-se observar no gráfico acima a distribuição da produção da soja no
Brasil, onde 47,83% do produto é produzido na região Centro Oeste e 35,61%
na região Sul. Enquanto isso somadas às regiões Norte, Nordeste e Sudeste,
detém juntas 16,56% da produção total nacional. É importante salientar que a
soja como principal matéria-prima na produção do biodiesel é um empecilho à
inclusão dos produtores agrícolas do semiárido nordestino, haja vista que o
Centro-Oeste e Sul concentram 83,44% da produção e apenas 6,83% da soja
do país é produzida no Nordeste. Neste quesito, dificulta ainda mais a inserção
da agricultura familiar no programa, visto que o biodiesel nacional está
fortemente concentrado na soja como matéria-prima (68,13%), que por sua vez
é produzido em grandes e médias propriedades.
Matéria Prima Utilizada na Produção do Biodiesel
Tabela 03: Elaboração: ANP (2014B)
36
Em relação às matérias-primas produzidas pela agricultura familiar,
verificou-se que apenas o algodão tem tido uma participação na produção do
biodiesel nacional, que corresponde apenas a uma média de 17,2% registrado
em dezembro de 2013.
O PNPB como uma política que visa assegurar aos produtores preços
competitivos, ao optar pelo biodiesel a partir do óleo de soja, passa a enfrentar
dificuldades relacionadas ao preço dessa matéria-prima no mercado
internacional.
Segundo informações do MDA, a produção do biodiesel no ano de 2006
foi de 69 milhões de litros, cinco anos depois, em 2011 já se tinha uma
produção em torno de 2,7 bilhões de litros. Tais resultados colocam o país
como em posição de destaque no ranking mundial dos maiores produtores de
biodiesel ao lado de países como a Alemanha e os Estados Unidos.
Entre os anos de 2007 a 2010, de acordo com dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o biodiesel atingiu uma posição de
destaque como um dos principais produtos de importância comercial do país,
saindo de uma colocação de 382ª em 2007 para uma colocação de 53ª no
ranking. O estado que mais obteve êxito foi o Rio Grande do Sul responsável
pelo maior número de contratos.
Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) o desempenho
da produção do biodiesel no Brasil ao longo destes 10 anos do PNPB, atingiu
patamares significativos.
PRODUÇÃO DE BIODIESEL
2005-2013 AUMENTO ANUAL
ANO PRODUÇÃO DIFERENÇA %
2005 4.670 - -
2006 437.749 433.078 9273%
2007 2.565.064 2.127.315 486%
2008 7.404.263 4.839.199 189%
2009 10.203.997 2.799.734 38%
2010 15.139.312 4.935.315 48%
2011 16.955.989 1.816.677 12%
2012 17.239.715 283.726 2%
2013 18.508.546 1.268.830 7%
Tabela 04: Elaboração Própria. Unidade: Bep – Equivalente a Barril de Petróleo
Fonte dos Dados: ANP,2014
37
PRODUÇÃO DE BIODIESEL 2005 - 2013
Gráfico 04: Elaboração Própria.
No primeiro ano do programa, em 2005, a produção de biodiesel foi
equivalente a 4.670 barris de petróleo. Após um ano de ser implantados houve
um aumento de 9.273%, embora seja um percentual significativo, o fato é que
somente em 2006 que os projetos de criação de usinas começaram a ser
implantadas. Nos anos subseqüentes o número de unidades permaneceu de
forma crescente até 2010, contudo após esse período o aumento na produção
foi mais modesto, devido a alguns problemas encontrados durante a execução
do programa, que fez com que o mesmo crescesse apenas 2% entre os anos
de 2011 e 2012.
No que se trata da participação de pequenos agricultores, cerca de 78%
(4,7 bilhões de litros/ano) são provenientes de usinas detentoras do Selo
Combustível Social, certificado este que é fornecido pelo governo às unidades
produtoras que atendem aos requisitos de inclusão da agricultura familiar na
cadeia produtiva do biodiesel. Com o crescimento da produção de biodiesel no
país houve uma redução nas importações de diesel em um volume de 5,3
bilhões de dólares, o que conseqüentemente favorece a Balança Comercial
brasileira.
Em relação aos avanços sociais e no desenvolvimento regional o
programa conta com suporte de recursos para pesquisa, desenvolvimento e
inovação (PD&I) em toda cadeia produtiva, atingindo desde a fase agrícola até
os processos de produção industrial, incluindo co-produtos e armazenamento.
O modelo tributário vigente confere ao biodiesel brasileiro a característica única
38
no mundo de um biocombustível apoiado por políticas públicas com orientação
social.
A comercialização do biodiesel, no Brasil, é realizada por meio de leilões
públicos, promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) a partir de diretrizes específicas estabelecidas pelo
Ministério de Minas e Energia (MME). Os Leilões de Biodiesel tem por objetivo
conferir suporte econômico à cadeia produtiva do biodiesel e contribuir para o
atendimento das diretrizes do PNPB, além de criar condições para a gradativa
consolidação do setor até que este possa se inserir em mercados mais livres,
competitivos e com menor risco de comprometer os objetivos estabelecidos,
sobretudo nos campos da inclusão social e da redução de disparidades
regionais.
Os Leilões de Biodiesel funcionam como um mecanismo transparente de
comercialização. Por ser um certame público, são conhecidos todos os
volumes transacionados e seus respectivos fornecedores, assim como a
condição de preço. Além disso, os leilões oferecem igualdade de acesso entre
fornecedores e não discriminam o porte do produtor de biodiesel. Os leilões
também asseguram a participação da agricultura familiar. Pelo menos 80% do
volume negociado nos leilões são oriundos de produtores detentores do Selo
Combustível Social.
Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), até o primeiro semestre
de 2013, a produção de biodiesel atingiu 236 milhões de litros. Nesse mesmo
período a da produção industrial teve um aumento que correspondeu a um total
de 1,15 bilhões de litros de biodiesel, representando um crescimento de 12,9%
comparativamente ao mesmo período do ano 2012. Após oito anos do PNPB,
em 2013, o programa conseguiu atender à demanda antecipada do B5, assim
como atingiu uma capacidade produtiva bem superior à demanda atual, não
havendo, desta forma, riscos de falta do bicombustível (RODRIGUES,2013c).
De acordo com Abramovay e Magalhães (2007), o que justifica esse
crescimento na produção de biodiesel é a uma formação de mercado para o
produto, bem como a dimensão da responsabilidade social, em que a junção
dos interesses tanto das empresas, quanto dos agricultores, sob a
coordenação do Governo Federal, foi o que possibilitou o amadurecimento do
programa. Neste sentido, o governo passou a intervir por meio de incentivos as
39
empresas interessadas no mercado de biodiesel a fazerem uso da agricultura
familiar como base da produção, por meio contratos, concedendo a estas o
selo social, como também pela formação dos pólos de Biodiesel. O incentivo do
governo consiste em subsídios fiscais diferenciados, como o acesso às
alíquotas do PIS/PASEP e COFINS, com coeficientes de redução, além da
participação assegurada de 80% do biodiesel negociado nos leilões públicos da
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
No primeiro ano do programa, havia quatro empresas credenciadas para
a produção de Biodiesel, as quais receberam o Selo Combustível Social.
Verificou-se um aumento no o número de empresas que se empenhou na
busca do Selo, passando de 16 em 2009 para 40 empresas em 2012, que são
responsáveis pela produção de mais de 95% do total do biodiesel produzido no
país. A maior parte destas empresas concentram-se nas regiões Centro-oeste
(48.7%) e Sul (23,1%). Segundo o Ministério de Minas e Energia, em 2013, 64
unidades estavam autorizadas a produzir e a comercializar o biocombustível,
com uma capacidade total autorizada de 21.957,79 m3/dia.
Embora se tenha uma produção que satisfaz o proposto inicialmente
pelo programa, há uma limitação no que se refere à produção de biodiesel no
Nordeste. Segundo dados da ANP, das 64 unidades funcionando até janeiro de
2014, apenas três destas encontram-se no Nordeste, sendo 02 na Bahia e 01
no Ceará.
Com o intuito de acelerar o desenvolvimento dos municípios produtores,
paralelo ao programa foi implantado em 2006 o Projeto Polos. No ano de 2012,
o Projeto Polos de Biodiesel já contava com 65 polos, com a participação de
1.091 municípios, promovendo importantes ações relacionadas à produção de
oleaginosas, estimulando a redução nos custos da cadeia produtiva e
promovendo políticas públicas que favorecem os agricultores familiares.
Em 2013, as usinas produziram pouco mais de 2,9 bilhões de litros de
biodiesel. A expectativa para 2014 é de um crescimento de cerca de 3%, que
deixaria a produção levemente acima de 3 bilhões de litros. Esse incremento
seria causado apenas pelo crescimento orgânico no consumo de diesel.
40
3.1 AS LIMITAÇÕES DO PNPB
O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel teve ao longo
desses nove anos vários entraves regionais e políticos, o que dificultou a
execução do projeto em algumas regiões, além de ter impossibilitado alcançar
algumas das metas pretendidas.
Diante de um cenário em que a soja é a principal oleaginosa utilizada
para a produção do biodiesel, e que a produção da mesma se concentra no
Centro-oeste e Sudeste do país, o programa não foi eficaz em expandir o
cultivo de oleaginosas nas regiões semiaridas do país.
Verifica-se uma ineficiência no proposto inicialmente pelo PNPB no que
se refere ao aproveitamento dos subprodutos das oleaginosas, pois
considerando que o cultivo destas não evoluiu ao longo do programa, esse
aproveitamento não existiu. Não houve diversificação das matérias primas,
vários casos isolados de tentativas de cultivos de matérias como a mamona, o
girassol e o algodão tiveram que ser interrompidos devido à falta de condições
de colheita, armazenamento e distribuição das mesmas. Deste modo, no que o
programa previa no quesito de fortalecimento das potencialidades regionais
para produção, na inclusão social de agricultores familiares, não ocorreu, visto
que vários estados, principalmente do Nordeste, não conseguiram se inserir no
Programa.
PRODUÇÃO DE BIODIESEL POR ESTADO
ESTADO PERÍODO 2005-2013 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Bahia -
26.887
450.056
418.591
507.145
583.341
836.727
1.466.760
1.231.928
Ceará -
12.410
299.920
121.853
311.830
420.840
282.461
395.668
534.109
Goiás -
64.125
701.888
1.531.214
1.704.643
2.805.909
3.207.438
3.813.671
3.652.334
Mato Grosso
-
85
96.239
1.807.550
2.328.302
3.604.543
3.171.681
3.030.612
2.654.838
Minas Gerais
278
1.970
877
-
255.480
461.167
486.069
508.155
558.397
Pará 3.238
15.358
23.579
16.655
22.168
14.880
-
-
-
Paraná 162
634
77
46.275
150.234
441.985
728.409
761.983
1.336.784
Piauí 992
181.461
193.325
28.850
22.939
-
-
-
-
SãoPaulo -
134.819
234.000
1.177.409
1.499.100
2.409.344
1.871.961
1.006.074
1.043.345
Tocantins -
-
144.470
83.326
212.825
549.203
641.897
445.650
308.868
Rio Grande do Sul
-
-
270.866
1.941.620
2.881.377
3.512.500
5.469.224
5.116.436
5.603.855
41
Rondônia -
-
629
1.444
30.320
39.271
14.365
53.329
85.979
Maranhão -
-
149.139
229.477
197.900
118.667
-
-
-
Mato Grosso do Sul
-
-
-
-
27.706
49.660
196.808
533.238
1.198.362
Rio de Janeiro
-
-
-
-
52.028
128.003
48.950
108.139
56.406
Santa Catarina
-
-
-
-
-
-
-
-
243.341
Total 4.670
437.749
2.565.064
7.404.263
10.203.997
15.139.312
16.955.989
17.239.715
18.508.546
Tabela 05: Elaboração Própria. Unidade: Bep – Equivalente a Barril de Petróleo
Fonte dos Dados: ANP,2014
De acordo com dados da ANP, a tabela 05 mostra que os principais
produtores de biodiesel são os estados do Rio Grande do Sul (28%), Goiás
(20%) e do Mato Grosso (19%). Somados os três, a produção corresponde a
67% do total da produção de biodiesel no país, isto se deve principalmente ao
fato desses estados serem também, os principais produtores de soja. A
participação do Nordeste corresponde a 9% do total produzido do biodiesel.
Esta participação pode ser melhor visualizada no gráfico 05.
PRODUÇÃO DE BIODIESEL POR ESTADO (%)
Gráfico 05: Elaboração Própria.
42
Um dos segredos do sucesso da produção da agricultura familiar na
região Sul do Brasil é o cooperativismo, que fortalece as relações comerciais
entre eles, a indústria e o acesso à tecnologia e ao crédito agrícola de forma
mais rápida.
Embora estudos comprovem o enorme potencial relacionado ao clima e
solo da região nordestina para a produção de oleaginosas, o que se percebe é
que durante a execução do PNPB, os estados não conseguiram se inserir no
programa, embora tenha havido distribuição de sementes de mamona e de
girassol aos produtores da agricultura familiar, principalmente nos estados do
Rio Grande do Norte, Pernambuco e do Ceará. A ineficácia da produção destas
culturas na região ocorreu devido a problemas na gestão do programa nessas
regiões, que por falta de controle não se cumpriam os prazos para se colher e
escoar a matéria prima produzida nesses estados, o que causou a frustração
desses produtores.
Ao longo destes nove anos de programa, alguns problemas se tornaram
mais presentes como a falta de infra estrutura para armazenamento dos grãos,
a questão do carregamento para as usinas, o aumentando no tempo de espera
dos distribuidores, a possível exclusão das montadoras de caminhões-tanques
do PNPB, a predominância do modal de transporte rodoviário para grãos e
para o biodiesel; a má-conservação e insegurança das rodovias nacionais; a
regionalização ainda incipiente da distribuição. Além dos problemas da
produção e distribuição do óleo e dos demais insumos, destaca-se, como
principal desafio para viabilizar a cadeia produtiva do biodiesel, a integração de
todos os elos em toda sua complexidade, o que exige uma eficiente e rápida
articulação entre todos os envolvidos nela.
De acordo com FLEXOR (2010),
Mesmo diante das medidas adotadas para ampliar a inserção da agricultura familiar, os resultados do PNPB, do ponto de vista distributivo e da justiça social estão longe de atingir as metas propostas pelo programa.
43
Gráfico 06: Elaboração ANP.
Os dados da ANP, divulgados em 2013, mostram que, embora os
números relacionados ao volume de produção e capacidade instalada, no que
se refere à questão social proposta no Programa como uma alternativa para a
geração de renda entre os agricultores familiares das regiões mais pobres do
país, não se teve avanços significativos. Dados do Tribunal de Contas da União
(TCU) apontam que em 2008, a meta era incluir 40 mil produtores, porém, o
programa só conseguiu abranger 69,64% do pretendido. Já no ano de 2012, a
meta era beneficiar 125 mil agricultores familiares, contudo a produção
correspondeu a 78% da meta esperada no inicio do PNPB. Além disto, vale
salientar que a inclusão desses agricultores restringe-se basicamente as
regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
Uma das grandes limitações, neste aspecto, consiste no fato de que a
inclusão da agricultura familiar está dependente de uma única empresa,
controlada pelo governo, a Petrobrás Biocombustível (PBio), Desta maneira, a
inclusão só voltou a crescer a partir de 2008, início da atuação mais ativa da
Petrobras no biodiesel, principalmente quando a PBio adquiriu boa parte de
sua matéria prima de agricultores familiares da região sul. Esta região, que
tradicionalmente possui uma agricultura familiar forte e que já conseguia escoar
sua produção antes do PNPB fornece mais da metade da matéria-prima no
âmbito do Selo Combustível Social, concentrada na soja (BIODIESLBR, 2011).
44
Penido (2011) e Beltrão (2011) também comentaram a respeito,
considerando que a mecanização e a produção do sistema produtivo da soja,
em grandes áreas de monocultura, impedem a inclusão social de pequenos
agricultores. O óleo de soja no mix de matérias primas da indústria brasileira
continua sendo a matéria-prima mais utilizada na produção do biodiesel
brasileiro (75,7%). Em sequência, aparece a gordura bovina, seguida por
outras matérias primas (RODRIGUES, 2013a).
No que se refere ao Rio Grande do Norte, foram implantadas duas
usinas experimentais de biodiesel no pólo petroquímico de Guamaré, com
investimentos de 20 milhões pela Petrobras. As duas unidades estão sendo
ampliadas para produzirem 20,4 milhões de litros/ano, tendo como insumos a
mamona (agricultura familiar) e soja (agronegócio).
O biodiesel no Rio Grande do Norte passa por varias limitações de
organização e estruturação. Há uma usina-piloto da Petrobrás em Guamaré,
com capacidade para 3 mil litros/dia, porém a matéria prima utilizada para a
fabricação do mesmo é produzida em outros estados. Em 2004, quase 2,8 mil
produtores familiares que foram incentivados pela estatal a plantar mamona,
ficaram sem a garantia de compra do produto, no momento da
comercialização, isso foi um dos fatores responsáveis pelo insucesso do
programa no Estado. Além disso, o pouco conhecimento do manejo da cultura,
identificada por muitos como “carrapateira” ou como a “mamona assassina”, foi
outro fator limitante.
Se não bastasse o insucesso inicial, nos anos subseqüentes a falta de
chuvas e a ausência de um canal de comercialização para a mamona ajudaram
no fracasso do programa, no âmbito da agricultura familiar. Hoje, a produção
de biodiesel no Estado anda a reboque de experiências com o plantio
localizado de girassol nas regiões do Apodi e Mato Grande, além da
perspectiva de um projeto em gestação, provavelmente em Mossoró, para o
aproveitamento do coco como matéria-prima para extração de óleo (o menor
teor de óleo do coco será compensado por uma planta de cultivo perene).
O Rio Grande do Norte dispõe de uma área zoneada para o plantio da
mamona, estimada em 32 mil hectares em 44 municípios. Contudo, o estado
mantém-se distante do sucesso obtido em outros estados, isso deve-se ao fato
de não haver nenhuma usina privada; não há unidades comunitárias de
45
produção de óleo para o esmagamento de mamona e/ou outras oleaginosas, a
exemplo do que ocorre no Ceará.
Diante do modelo inicial, gerido pelas empresas privadas, a execução
dos mesmos no Nordeste não atingiu os objetivos propostos, e a entrada da
Petrobras Biocombustíveis na cadeia do biodiesel é uma tentativa do governo
em melhorar as relações dos agricultores familiares com o mercado. O
exemplo do cooperativismo na região Sul significa que soluções existem, e que
cada região deve buscar sua vocação em desenvolver com sucesso os
projetos destinados ao biodiesel.
46
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo foi conhecer o PNPB, verificando seus
resultados e limitações, e em que medida o programa tem contribuído para a
inclusão social da agricultura familiar e reduzido as disparidades regionais no
Brasil.
O biodiesel embora seja uma alternativa econômica e sustentável para o
fortalecimento da cadeia produtiva do país, constatou-se que há uma forte
concentração da produção nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, que
respondem por cerca de 87% da produção nacional até 2013. Enquanto as
regiões Nordeste e Norte produzem apenas 13% do biodiesel nacional.
Sobre a questão inicial proposta por essa pesquisa, verificou-se que o
programa não tem viabilizado a redução das desigualdades regionais por meio
da produção da matéria prima utilizada na fabricação do biodiesel. As
disparidades entre as regiões, e dentro destas, dos estados entre si, não foram
solucionadas. O Nordeste e o Norte do país permanecem em uma condição
desigual em relação ao Sul e Sudeste. As metas de inclusão social e de
utilização das regiões semiaridas do país, não foi alcançada, visto que, não se
obteve sucesso na produção de oleaginosas na região.
Diante destas informações é possível concluir que a maior parcela do
biodiesel nacional é produzido pelas regiões produtoras de soja, o que as
mantém com fortes índices de concentração de terra e renda nas elites
agrárias do país, enquanto os agricultores familiares de baixa renda
permanecem excluídos, deixando a desejar em um dos objetivos do PNPB, que
é o princípio de inclusão social.
No que está relacionado à produção e o preço do biodiesel nacional,
estes não são determinados no mercado livre, através dos ajustes entre a
oferta e demanda, dado o atual sistema de leilões. Nesse sentido, a produção
de biodiesel tem apresentado um custo elevado dada as fortes oscilações do
preço da soja, o que, por sua vez, diminui a competitividade desse
biocombustível.
47
É possível concluir que um projeto de produção de biodiesel deve
obrigatoriamente ser baseado na origem de diversas matérias primas
oleaginosas e não com base apenas nos óleos vegetais já disponíveis em
grandes volumes no mercado como, por exemplo, o óleo de soja e o de dendê,
que possuem um mercado mundial consolidado, são fortemente estabelecidos
como commodities no mercado internacional, e dificilmente terão condições de
crescer no mesmo ritmo da demanda do mercado mundial de biodiesel,
estando sujeitos assim a fortes alterações de preços no vetor demanda x
produção, podendo gerar desequilíbrios de preços na cadeia produtiva do
biodiesel, de pressões baixistas ou altistas, desde o fornecimento da matéria
prima, quanto na produção e comercialização do biodiesel, inviabilizando à
inserção sustentável da agricultura familiar como fornecedora de matéria prima
para a produção de biodiesel.
O desenvolvimento do PNPB deve priorizar a produção de novas
culturas oleaginosas voltadas exclusivamente para a produção de biodiesel,
adaptadas para a agricultura familiar e de preferência adequadas para o
desenvolvimento sustentável do mercado de biodiesel.
Ocorreram falhas na conduta do programa no que se refere à cadeia
produtiva da mamona, desde a distribuição de sementes de baixa qualidade
até a falta de assistência técnica adequada aos produtores. Portanto uma
solução para a expansão do cultivo na região Nordeste, seria uma correção
estratégica na cadeia produtiva da mamona, o que seria vital para que ela
possa se configurar como sendo uma esperança para a agricultura familiar.
Devido à sua potencialidade de produtividade e adaptabilidade em regiões
onde existe grande percentual de agricultores familiares, principalmente na
região Nordeste e no Norte de Minas Gerais, além de ser uma das mais
promissoras matérias primas na produção de biodiesel.
O PNPB é um programa bem concebido, com objetivos bem definidos e
contínuos esforços públicos para seu êxito. Para atingir seus objetivos no
âmbito social, ainda há muito para se fazer, e que os erros ocorridos até agora
no que se refere à inserção da agricultura familiar na produção de oleaginosas
possam ser analisados dentro da realidade deste segmento e que o poder
público busque soluções para o problema.
48
Desta forma, esta análise do programa serve de alicerce para que seja
investigado mais a fundo, com o intuito de verificar a eficácia do mesmo no
sentido de atingir suas metas e se realmente tem cumprido seus princípios
estabelecidos e no sentido de aprimorar o desenvolvimento do PNPB nos
estados do Norte e Nordeste.
49
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