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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
IVANDRA HELENA DOS SANTOS GONÇALVES
PREVALÊNCIA DE BUXISMO DO SONO NA INFÂNCIA –
REVISÃO SISTEMÁTICA
NATAL
2015
IVANDRA HELENA DOS SANTOS GONÇALVES
PREVALÊNCIA DE BUXISMO DO SONO NA INFÂNCIA –
REVISÃO SISTEMÁTICA
Trabalho de conclusão de curso apresentado na graduação em Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Cirurgião-Dentista.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Kathia Maria Fonseca de Britto
NATAL
2015
Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia
Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”.
Gonçalves, Ivandra Helena dos Santos.
Prevalência de buxismo do sono na infância – revisão sistemática / Ivandra
Helena dos Santos Gonçalves. – Natal, RN, 2015.
21 f. : il.
Orientador: Profª Drª Kathia Maria Fonseca de Britto.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de
Odontologia.
1. Bruxismo do sono – Monografia. 2. Bruxismo – Monografia. 3. Prevalência
– Monografia. 4. Criança – Monografia. I. Britto, Kathia Fonseca de. II. Título.
RN/UF/BSO Black D 27
IVANDRA HELENA DOS SANTOS GONÇALVES
PREVALÊNCIA DE BUXISMO DO SONO NA INFÂNCIA –
REVISÃO SISTEMÁTICA
Trabalho de conclusão de curso apresentado na
graduação em Odontologia da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Cirurgião-Dentista.
Aprovada em 10/06/2015
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Profª Drª Kathia Maria Fonseca de Britto
(Orientadora)
______________________________________________
Profª. Ms Renata Veiga Andersen Cavalcanti
(1ª examinadora)
________________________________________________
Profª. Drª Juliana Barreto Rosa de Sousa
(2ª examinadora)
DEDICATÓRIA
Com carinho, dedico esse trabalho aos meus
pais, que são os responsáveis por tornarem esse sonho em realidade.
AGRADECIMENTOS
À Prof. Dra. Kathia Maria Fonseca de Brito, por ter me acolhido durante
essa jornada e acreditado na minha capacidade em realizar esse
trabalho. Obrigada pela compreensão, pelos ensinamentos e por todo o
carinho.
À Prof. Dra Juliana Barreto Rosa de Sousa e à Prof. Ms. Renata Veiga
Andersen Cavalcanti por aceitarem compor a minha banca.
Aos meus amigos de graduação, por todo o apoio e por todo
aprendizado durante todos esses anos.
À minha família e ao meu namorado, por estarem presentes em todos os
momentos.
RESUMO
Este estudo é uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de
avaliar a prevalência do bruxismo do sono (BS) em crianças uma vez que, nos
últimos anos o mesmo tornou-se cada vez mais frequente, e a sua prevalência
está em discussão na literatura. Foram realizados levantamentos nas seguintes
bases de dados de pesquisa: MEDLINE, Pubmed, Lilacs e SciELO no período
de 2010 a 2014, onde quatro estudos preencheram os critérios de inclusão, e
entre eles as taxas de prevalência de BS variou de 5,9% para 49,6%, e essas
variações mostraram possíveis associações com os critérios diagnósticos
utilizados para BS. Chegamos a uma conclusão de que novos estudos devem
se realizados com critérios de diagnósticos padronizados e universais para
obtençâo de um diagnóstico correto e adequado.
Palavras-chave: Bruxismo do sono. Bruxismo. Prevalência. Criança.
ABSTRACT
This study is a systematic literature review in order to assess the
prevalence of sleep bruxism (SB) in children since, in recent years it has
become increasingly common, and its prevalence is under discussion in the
literature. Surveys were made in the following research databases: MEDLINE,
PubMed, Lilacs and SciELO in the 2010 to 2014 period, where four studies met
the inclusion criteria, and between the prevalence of BS rates ranged from 5.9%
to 49.6%, and these variations showed possible associations with the diagnostic
criteria for SB. We came to a conclusion that further studies should be carried
out with criteria of standardized and universal diagnostics for obtaining a correct
and proper diagnosis.
Key words: Sleep Bruxism. Bruxism. Prevalence. Child.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………….8
2 METODOLOGIA………………………………………………………………..10
3 RESULTADOS………………………………………………………………....11
3.1PESQUISAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………....11
3.2 ESTUDOS INCLUÍDOS……………………………………………………..11
4 DISCUSÃO……………………………………………………………………...15
5 CONCLUSÃO…………………………………………………………………...19
6 REFERÊNCIA…………………………………………………………………..20
8
1 INTRODUÇÃO
Segundo o Dicionário Médico Ilustrado de Dorland¨s (1999) o termo
bruxismo originou-se da palavra grega BRYCHEIN, que significa apertamento
ou ranger dos dentes, e do sufixo MANIA, que significa compulsão. Em 1907,
o termo BRUXOMANIA foi citado pela primeira vez na literatura odontológica
por dois pesquisadores franceses, Marie e Pietkiewicz. Mas somente a partir de
1931 a palavra foi adaptada e, atualmente, é conhecida como bruxismo, um
problema frequente e universal capaz de provocar alterações nas estruturas de
suporte do Sistema Estomatognático.
O bruxismo do sono é definido como distúrbio do sono e desordem de
movimento não sendo considerado como uma doença e sim como disfunção,
provocando o surgimento de sinais e sintomas clínicos (ANDRADE, 2014).
Segundo Miamoto et al., (2011) a origem é multifatorial, desencadeada por
fatores locais, sistêmicos, psicológicos e hereditários, porém, o mesmo está em
discussão, não somente entre os dentistas, mas também em outras áreas da
saúde devido às associações etiológicos potenciais. Como há poucos estudos
na literatura que avaliam a prevalência em crianças, existe uma dificuldade em
obter parâmetros científicos e sua associação com fatores etiológicos
(JUNQUEIRA et al., 2013).
Nos últimos anos, o bruxismo do sono em criança tornou-se cada vez
mais frequente, especialmente antes dos cinco anos (COSTA, 2013). Mas no
entanto, o tema apresenta contradições em relação a sua prevalência,
evolução e forma de tratamento uma vez que, uma corrente defende que o
bruxismo durante a dentição decídua não é patológico e, portanto, não
necessita de intervenção, mas apenas controlar sua evolução com técnicas
psicológicas de redução da ansiedade e de relaxamento muscular, enquanto
que outra corrente defende o tratamento precoce com intervenção oclusal e
uso de placas acrílicas para que o bruxismo não se perpetue na idade adulta
(ANDRADE, 2014).
Estudos epidemiológicos com metodologias e populações diferentes
mostram que o bruxismo do sono varia de acordo com a faixa etária. Em
adultos jovens, com idade entre 18 e 29 anos de idade, é de 13%, reduzindo
para 3% em indivíduos com mais de 60 anos de idade. Ainda assim, quando o
9
bruxismo do sono está relacionado com as crianças, as principais dúvidas
permanecem (MACHADO et al., 2014). Devido às divergências e as variações
na prevalência e por ser um problema cada vez mais comum na infância, uma
análise sistemática e crítica da literatura atual é necessária para obter dados
mais precisos. Assim, o presente trabalho,visa através de uma revisão
sistemática discutir com base em evidências científicas, a real prevalência de
bruxismo do sono (BS) em crianças.
10
2 METODOLOGIA
Foram selecionados artigos publicados no periodo de 2010 a 2014 nas
bases de dados de pesquisa MEDLINE, Pubmed, Lilacs e SciELO com enfoque
nos estudos que avaliam a prevalência do bruxismo em criança.Os descritores
de pesquisa utilizados foram: “sleep”, “bruxism”, “child” and “prevalence”, os
quais foram atravessados em motores de busca usando os operadores
booleanos AND, OR ou NOT. Os artigos foram selecionados com base em seu
título, e aqueles claramente não pertinentes ao objetivo desta revisão, foram
excluídos. Os artigos restantes foram selecionados para leitura do resumo, e
aqueles que eram de interesse potencial para esta revisão com base em seus
conteúdos abstratos foram recuperados em texto completo. Em seguida, os
documentos recuperados foram lidos para decidir sobre a sua inclusão/
exclusão na revisão.
Ao selecionar a amostra, os seguintes critérios de inclusão foram aplicados:
Estudos com o objetivo principal de avaliar a prevalência de bruxismo do
sono em crianças.
Estudos em indivíduos com idade entre 0 e 12 anos, aos quais são
considerados crianças.
Estudos usando qualquer um dos seguintes critérios de diagnóstico para
o bruxismo: história, questionário ou entrevista com os pais, avaliação
clínica ou polissonografia.
Estudos publicados entre 2010 a 2014, sem restrições de linguagem.
Em caso de várias publicações provenientes do mesmo estudo, apenas
a publicação principal e mais específica foi considerada.
Os seguintes critérios de exclusão também foram aplicados:
Estudos epidemiológicos com o objetivo de avaliar a prevalência de
outros distúrbios do sono, hábitos orais, fatores oclusais e disfunção
temporomandibular (DTM) em conjunto com a avaliação para bruxismo.
Estudos com o objetivo principal de avaliar o bruxismo do sono em
crianças com síndromes congênitas e cromossômicas, alterações
sistêmicas permanente, paralisia cerebral e distúrbios psiquiátricos.
11
3 RESULTADOS
3.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Um total de 378 publicações foram identificadas no decorrer da busca,
das quais 290 foram excluídas durante o inquérito de titulo. Depois da leitura do
resumo, 77 sitações foram excluídas de modo que 11 artigos restaram para a
recuperação de texto completo. A leitura do texto completo permitiu a exclusão
de sete trabalhos, uma vez que, os mesmo não abordaram a prevalência do
bruxismo do sono como objetivo principal. Portando assim, a amostra final foi
composta por quatro estudos. As Características e resultados dos estudos
incluídos estão apresentados na tabela 1 e 2.
3.2. ESTUDOS INCLUÍDOS
Serra-Negra et al., (2010) realizaram um estudo transversal com uma
amostra de 652 crianças com idades entre 7 e 10 anos, selecionadas
aleatoriamente em escolas públicas e privadas de Belo Horizonte- Brasil.
Através de um questionário validado baseado nos critérios da Academia
Americana de Distúrbios do Sono aplicado aos pais (auto-preenchido), foi
relatada a presença ou não do bruxismo do sono nos seus filhos. O estudo
classificou a condição socioeconômica das famílias através de um índice de
Vulnerabilidade Social.Foi diagnosticado bruxismo do sono em 230 crianças,
com uma prevalência de 35,3%. Um teste do qui-quadrado foi utilizado com um
nível de significância de 5%. Entre as 652 crianças, 340 (52%) eram do sexo
feminino e 312 (48%) do sexo masculino, com predominância de crianças com
8 anos de idade (84,2%). Foi diagnosticado BS em 56,5% das meninas e
43,5% dos meninos. A maioria das famílias eram de baixa vulnerabilidade
social (54,2%), enquanto 45,8% eram de alta vulnerabilidade social. Mais da
metade das crianças sem SB (55,2%) eram de baixo nível socioeconômico.
O estudo realizado por Insana et al., (2013) composto por duas
populações em Jefferson County, Kentucky / EUA. Apresentou amostra com
1953 crianças pré-escolares, uma com 2.888 alunos da primeira série, e uma
sub-amostra de crianças pré-escolares (n = 249). Crianças pré-escolares
12
apresentavam idades entre 2,5-6,9 anos, alunos da primeira série tinham idade
entre 3-8,6 anos e sub-amostra de crianças pré-escolares com idades entre
2,87-6,11 anos. Os pais destas crianças preencheram um relatório sobre o
comportamento de seus filhos (Child Behavior Checklist - CBCL), enquanto que
as crianças preenchiam avaliações neurocognitivas (Ability Diferencial Escalas
- DAS). No geral, 36,8% das crianças pré-escolares foram relatadas como
bruxômanas pelo menos uma noite por semana e 6,7% foram relatadas como
bruxômanas para mais do que quatro noites por semana. Por outro lado, 49,6%
dos alunos da primeira série foram relatados para ter BS pelo menos uma noite
por semana, e 10,7% foram relatados por mais de quatro noites por semana.
No que diz respeito ao comportamento de internalização ( ansiedade,
depressão e queixas somáticas) das crianças pré-escolares, não houve
associação com o BS, mas o mesmo foi associado a problemas de saúde e
problemas de saúde foram associados com o desempenho neurocognitivo. O
teste de Sobel para a mediação não identificou uma relação significativa entre
a BS e performance cognitiva (Sobel = -1,49, P = 0,14). Levando em conta o
resultado deste estudo, o bruxismo do sono infantil pode funcionar como sinal
de alerta para possíveis condições adversas de saúde.
Um estudo transversal realizado na área rural de Itanhandu, SP, Brasil
por Fonseca et al., (2011) com uma amostra de 170 ( 91,42%) crianças, com
idade média de 4,37 ± 1,69 anos, dos quais 88 (51,76%) do sexo feminino. Um
total de 15,29% (n = 26) foram considerados bruxômanos (15 meninos
(57,69%) e 11 meninas). A duração média do aleitamento materno foi de 4,4 ±
0,25 meses. Apenas 10% da população do estudo usava medicação e 46,47%
apresentaram comportamento inquieto. O comportamento das crianças foi
avaliado através de um questionário aplicado aos pais das crianças. BS e
comportamento foram positivamente correlacionados (P <0,001), 73,1% dos
bruxômanos exibiu comportamento inquieto. Sexo dos pacientes (p = 0,595)
não houve associação com BS. Não houve associação entre o comportamento
das crianças e medicação (p = 0,573) ou entre BS e medicação (p =
0,573). Não houve associação entre a duração do aleitamento materno e
comportamento inquieto (p = 0,102), SB (p = 0,565) ou medicação (p = 0,794).
Lam et al., (2011) realizou um estudo nos distritos de Shatin e Tai Po,
em Hong Kong, China. 6389 (69.7%) questionários foram preenchidos pelos
13
pais dos pacientes, onde continham informações sobre dados demográficos e
socioeconômicos, frequência de distúrbios do sono no último ano e da opinião
dos pais identificando se as crianças eram hiperativas ou tinham mau
temperamento, bem como o desempenho acadêmico das crianças. Em relação
ao nível socioeconômico, incluindo a educação parental, status ocupacional,
estado civil e ambiente residencial, não houve diferenças entre os que
apresentaram BS e os não-bruxômanos.Características
neurocomportamentais, incluindo hiperatividade, mau humor e baixo
rendimento escolar foram mais comuns em pacientes com BS. Eles também
foram mais propensos a ter doenças crônicas, rinite alérgica, asma e infecções
do trato respiratório superior. O BS ≥ 3 episódios por semana, mostrou uma
prevalência de 5,9% em crianças de Hong Kong.
Tabela 1 - Caraterísticas dos estudos incluídos na amostra final. Estudos Tamanho da
amostra Local do estudo
As carateristicas da amostra
Critérios de diagnóstico BS
Serra-Negra et al., 2010
652 crianças de escolas públicas e privadas selecionadas aleatoriamente
Estudo realizado em Belo Horizonte, MG, Brasil
Crianças com idade entre 7 e 10 anos (52% meninas)
Questionário dos pais utilizando critérios da Academia Americana de Distúrbios do Sono
Insana et al., 2013
1953 crianças pré-escolares, 2.888 alunos da primeira série, e sub-amostra de 249 crianças pré-escolares
Trabalho realizado no Condado de Jefferson, Kentucky, EUA
Pré-escolares (entre 2,5 - 6,9 anos), alunos da primeira série (entre 3-8,6 anos de idade); sub-amostra de crianças pré-escolares (com idades entre 2,87-6,11 anos)
Questionário dos pais e na sub-amostra avaliações comportamentais e cognitivas adicionais.
Fonseca et al., 2011
170 crianças que freqüentam creches municipais
Estudo realizado na área rural de Itanhandu, SP, Brasil
Idade de 4,37 ± 1,69 anos (51,76% de meninas)
Exame clínico de acordo com a Academia Americana de Medicina do Sono associado ao questionário dos pais
Lam et al., 2011
6.389 questionários preenchidos pelos pais do paciente
Estudo realizado nos distritos de Shatin e Tai Po, em Hong Kong, China
Idade média de 9,2 ± 1,8 anos de média (50,6% meninos)
Questionário validado Pais (HK-CSQ)
14
Tabela 2 - Os resultados dos estudos incluídos. Estudos Prevalência de
BS Achados importantes
As limitações do estudo
Sugestões de Estudo
Serra-Negra et al., 2010
Bruxismo foi prevalente em 35,3% (n = 230)
Mais da metade das crianças sem BS (55,2%) eram de baixo nível socioeconômico
O estudo não realizou avaliações clínicas ou de polissonografia em crianças. Viés de memória
A alta prevalência de 35,3%, revela a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto
Insana et al., 2013
36,8% das crianças pré-escolares e 49,6% dos alunos da primeira série relataram episódios de bruxismo, pelo menos, uma vez por semana
Bruxismo do sono pediátrico pode funcionar como um sinal de alerta para possíveis condições adversas de saúde
O estudo não realizou avaliações clínicas ou de polissonografia em crianças. Viés de memória
Pesquisas futuras podem se beneficiar da medida objetiva da BS
Fonseca et al., 2011
15,29% (n = 26) foram diagnosticados como bruxômanos
Houve correlação positiva entre o comportamento inquieto e a presença de BS
O desgaste do dente não pode revelar o nível real de BS. O estudo não realizou avaliação de polissonografia. Viés de memória
Associação entre o exame clínico e questionário dos pais para o diagnóstico BS
Lam et al., 2011
BS ≥ 3 episódios por semana, mostrou uma prevalência de 5,9% em crianças de Hong Kong
BS foi mais prevalente em meninos e diminuiu com a idade. Ele foi associado com várias condições médicas, seqüelas neuropsiquiátricas e distúrbios do sono
O estudo não realizou avaliações clínicas ou de polissonografia em crianças. Viés de memória
Outros estudos são necessários para avaliar a associação entre BS e outras condições médicas
15
4 DISCUSSÃO
A anamnese e o exame físico têm papel fundamental no diagnóstico de
qualquer alteração ou doença. O diagnóstico de bruxismo do sono é
basicamente clínico, dependo portanto desses dois fatores, anamnese (história
do paciente) e do exame físico,sendo complementado por polissonografia. A
história do paciente deve incluir o estudo dos sons produzidos, como resultado
de ranger ou apertar dos dentes, conforme relatado pelo parceiro do paciente
ou responsável; relato de dor ou desconforto facial pela manhã ao acordar; dor
de cabeça; sensibilidade dos dentes aos alimentos quentes ou frios; e a
presença de fratura dentária ou nas restaurações. O desgaste do dente,
recessão gengival, hipertrofia dos músculos mastigatórios, presença de ruídos
articulares na ATM pode estar presentes no exame físico, especialmente em
casos mais avançados (SANDER; PACHITO; VIANNA, 2006).
Segundo Kato, Dal-Fabbro e Lavigne, (2013) os estudos que avaliam a
prevalência de bruxismo do sono em crianças deve adotar histórico completo
do paciente e um exame físico rigoroso para o diagnóstico de BS. E os
mesmos sugeriam critérios diagnósticos para o reconhecimento de pacientes
com grave BS, que são: história recente de ruído dente durante o sono, que
ocorrem pelo menos 3 a 5 noites por semana por um período de 6
meses; presença de desgaste dentário; desconforto ou cansaço nos músculos
mastigatórios na parte da manhã; e hipertrofia do músculo masseter em
contração voluntária.
A polissonografia, do ponto de vista científico, é o exame de escolha
para o diagnóstico de bruxismo do sono. Mas devido à sua complexidade e à
necessidade de dormir num laboratório do sono, a mesma torna-se cara,
dificultando assim a sua utilização na prática clínica para muitos pacientes,
especialmente crianças. Assim, métodos diagnósticos alternativos, como
BiteStrip utilizados em adultos poderiam ser desenvolvidos e validados para as
crianças. BiteStrip é usado à noite para avaliar a atividade noturna dos
músculos mastigatórios dos pacientes. O método demonstrou sensibilidade
aceitável e valores preditivos, como meio de diagnóstico de bruxismo do sono
(SHOCHAT et al., 2007).
16
Cada estudo desta revisão apresentou resultados diferentes de
prevalência de bruxismo do sono em crianças: 35,3% (SERRA-NEGRA et al.,
2010), 36,8% (crianças em pré-escolar) e 49,6% ( primeira série) (INSANA et
al., 2013), 15,29% (FONSECA et al., 2011) e 5,9 ( LAM et al., 2011). A
diferença entre os resultados obtidos pode estar relacionada a vários fatores.
Uma delas é a ausência para a pesquisa de BS em crianças de um critério de
diagnóstico validados e universal. Teve estudos que utilizaram apenas
questionários preenchidos pelos pais das crianças como único recurso para
avaliar BS (SERRA-NEGRA et al., 2010; INSANA et al., 2013; LAM et al., 2011)
e um estudo que combina questionários com avaliação clínica dental
(FONSECA et al., 2011). É importante ressaltar que a avaliação de
polissonografia não foi realizada em nenhum dos estudos sitados.
Esses autores adotaram critérios de diagnósticos específicos, ou seja,
Lam et al., (2011) considera clinicamente relevante mais de três episódios de
BS por semana representado pela taxa de 5,9%. Por outro lado, as taxas de
Insana et al., (2013) encontraram 36,8% dos pré-escolares e 49,6% das
crianças de primeira série com episódios de bruxismo, pelo menos, uma vez
por semana. No entanto, quando se avalia 3-4 episódios por semana, a
incidência diminuiu para 6,9% e 9,8%, respectivamente. Serra-Negra et al.,
(2010) relataram uma prevalência de 35,3% e Fronseca et al., 2011
encontraram uma prêvalencia de15,29%.
No geral, apesar de diferentes critérios diagnósticos entre os estudos,
foram observadas diferenças de sexo e idade. Lam et al., (2011) encontraram
uma prevalência de BS de 5,9%, com maior predominância entre os
homens. Prevalência diminuiu com a idade para ambos os sexos masculino e
feminino. Por outro lado, Fonseca et al., (201) constatou que 15,29% (n = 26)
foram considerados bruxômanos, 15 meninos (57,69%) e 11 meninas, sem
correlação significativa entre BS e sexo. No estudo de Serra- Negra et al.,
(2010) a prevalência da BS foi de 35,3%, 56,5% nas meninas e 43,5% nos
meninos. Insana et al., (2013) constatou que 36,8% das crianças pré-escolares
foram relatados como bruxômanos pelo menos uma noite por semana, e 6,7%
foram relatados por mais de quatro noites por semana. Por outro lado, 49,6%
dos alunos da primeira série foram relatados com BS, pelo menos uma noite
por semana, e 9,8% foram relatados por mais de quatro noites por semana.
17
Além disso, as meninas apresentaram menor taxa de BS em comparação com
os meninos. Assim, três estudos selecionados ralataram que BS afeta mais
meninos do que meninas (INSANA et al., 2013; FONSECA et al., 2011; LAM et
al., 2011). E que, BS diminuiu com a idade (LAM et al., 2011) e com um estudo
demonstrou um aumento da prevalência de alunos pré-escolares em relação à
primeira série (SERRA-NEGRA et al., 2010).
Como podemos ver, encontramos diferentes prevalências de BS em
diferentes países: Brasil (São Paulo e Minas Gerais), China (Hong Kong) e
EUA (Kentucky), por isso é importante enfatizar e tentar comparar os estudos
selecionados em diferentes contextos. No entanto,que mais limita e dificulta a
nossa comparação são os critérios de diagnóstico utilizado em cada estudo,
pois não houve padronização. Assim, validada, os critérios diagnósticos
padronizados e universais se tornaram necessários para permitir a avaliação e
comparação da real diferença na prevalência de BS entre os diferentes países.
Apenas o estudo de Fonseca et al,. (2011) realizou avaliação clínica com
base na Academia Americana de Medicina do Sono para diagnosticar BS. Seus
critérios envolveram : (1) dentes anteriores com desgaste na borda incisal; (2)
os dentes posteriores com desgaste oclusal; (3) O relatório dos pais sobre a
frequência de ruídos de ranger os dentes durante o sono; e (4) da linha branca
na mucosa bucal e da língua. Além disso, foi aplicado um questionário aos pais
para avaliar não apenas os episódios de moagem, mas também o
comportamento da criança, o uso de medicamentos e duração da
amamentação. Por outro lado, outros estudos incluíram relatório dos pais com
base em diferentes questionários (SERRA-NEGRA et al., 2010; INSANA et al.,
2013; LAM et al., 2011), o que colabora em diferentes resultados de
prevalências.
Os estudos selecionados apresentaram limitações
metodológicas. Relatórios dos pais com base em questionários podem ser
influenciadas por limitações subjetivas e viés de memória (LAM et al., 2011).
Por outro lado, a avaliação clínica é mais objetiva, embora ela também tenha
limitações. O método de observação visual direta de desgaste dental na boca é
uma outra limitação, uma vez que é difícil de verificar se o desgaste do dente é
um resultado de um hábito funcional ou parafunção, especialmente em dentes
de leite em que as superfícies oclusães são fisiologicamente desgastado
18
(BERNAl; TSAMTSOURIS,1986). Apesar do atrito ser considerado como um
método objetivo de registrar a prevalência de bruxismo, ele não pode indicar o
nível real do bruxismo. Os indivíduos que estavam bruxômanos no passado
podem apresentar facetas de desgaste, mesmo que o hábito não existe mais,
enquanto os indivíduos com recente BS podem não mostrar sinais de desgaste
(CASTELO et al., 2005). Desta forma, novos estudos devem ser feitos
utilizando avaliação clínica, relatórios dos pais, mas acompanhado de outras
ferramentas ou exames complementares como a polissonografia pois, o
diagnóstico correto e adequado é muito importante.
O bruxismo do sono pode ser associado com outros problemas de
saúde. Os distúrbios emocionais, ansiedade, estresse, hábitos orais, má
oclusão depressão, agressividade, entre outras alterações, podem influenciar,
desencadear ou perpetuar a ocorrência de bruxismo ( SERRA-NEGRA et al.,
2009). Estudos mostram forte correlação entre bruxismo, DTM, alto nível de
ansiedade e traço de personalidade ( SERRA-NEGRA et al., 2009; RESTREPO
et al., 2008).
Por ser um problema existente em crianças, o diagnóstico correto e
adequado é de extrema importância. Pacientes com BS devem ser assistidos
por especialistas em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial,
Ortodontia, Odontopediatria, bem como um acompanhamento multidisciplinar é
necessário, pois o BS pode estar associado à transtornos psico-emocionais e
comportamentais, como ansiedade e emoção. Assim, podemos alcançar o
diagnóstico e tratamento correto e oferecer uma qualidade de vida a criança
afetada.
19
5 CONCLUSÃO
Esta revisão sistemática mostrou que há poucos estudos recentes na
literatura com o objetivo de avaliar a prevalência de bruxismo do sono na
infância, e revelou também diferentes taxas de prevalência de bruxismo do
sono na infância devido a falta de critérios de diagnóstico padronizados e
universais, uma vez que, cada estudo utilizou critérios de diagnóstico
diferentes. Desta forma novos estudos devem ser realizadas com critérios de
diagnóstico patronizados e universais, que contenham avalição clínica,
entrevista com os pais ou responsáveis associadas com exames
complementares como a polissonografia para poder chegar a um diagnóstico
mais preciso.
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REFERÊNCIAS
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