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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE SERVIÇO SOCIAL JANAINA DE LIMA GOMES CONFIGURAÇÕES DO “TERCEIRO SETOR” NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO: as contradições na sociedade do capital e a atuação profissional dos assistentes sociais em ONGs NATAL/RN 2015 JANAINA DE LIMA GOMES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · profissional dos assistentes sociais em ONGs NATAL/RN 2015 JANAINA DE LIMA GOMES . 2 Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

JANAINA DE LIMA GOMES

CONFIGURAÇÕES DO “TERCEIRO SETOR” NO CONTEXTO

CONTEMPORÂNEO: as contradições na sociedade do capital e a atuação

profissional dos assistentes sociais em ONGs

NATAL/RN

2015

JANAINA DE LIMA GOMES

2

Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA.

Gomes, Janaina de Lima.

“Configurações do “terceiro setor” no contexto contemporâneo: as

contradições da atuação dos assistentes sociais em Ongs” / Janaina de

Lima Gomes – Natal, RN, 2015. 70 folhas

Orientadora: Profª. M. Sc. Elizângela Cardoso de Araujo Silva

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do

Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas.

Departamento de Serviço social.

Maria. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA

3

JANAINA DE LIMA GOMES

CONFIGURAÇÕES DO “TERCEIRO SETOR” NO CONTEXTO

CONTEMPORÂNEO: as contradições na sociedade do capital e atuação dos

assistentes sociais em ONGs

Monografia apresentada ao Departamento de Serviço

Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito para obtenção do título de Bacharel em

Serviço Social.

Natal, 15 de junho de 2015.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profª Orientadora Elizângela Cardoso de Araujo Silva

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(Orientadora)

_____________________________________________

Profª Dra. Márcia Maria de Sá Rocha

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(Membro interno)

_____________________________________________

Profª Micaela Alves Rocha da Costa

Assistente Social – Mestranda do Programa de Pós - Graduação em Serviço

Social - UFRN

(Membro externo)

JANAINA DE LIMA GOMES

4

CONFIGURAÇÕES DO “TERCEIRO SETOR” NO CONTEXTO

CONTEMPORÂNEO: as contradições na sociedade do capital e atuação

profissional dos assistentes sociais em ONGs

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Departamento de Serviço Social da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito para obtenção do título de

Bacharel em Serviço Social, sob a orientação

da Profª. Elizângela Cardoso de Araújo Silva.

NATAL/RN

2015

5

“A consolidação do Projeto Ético-Político

Profissional que vem sendo construído requer

remar na contracorrente, andar no

contravento, alinhando forças que

impulsionem mudanças na rota dos ventos e

das marés na vida em sociedade”.

(IAMAMOTO, 1998)

6

RESUMO

O presente trabalho tem a finalidade de abordar a características e

contradições da sociedade capitalista que configuram a atuação do Serviço

Social em instituições do “Terceiro Setor”, a partir da análise dos espaços

sociocupacionais: Entidades e Organizações Não Governamentais - ONGs,

explanando suas atribuições e compromissos com as novas demandas nesses

espaços. A princípio desenvolvemos um breve levantamento bibliográfico sobre

o termo “Terceiro Setor”, apresentando elementos do seu desenvolvimento

histórico e da conjuntura atual inseridos nos espaços de contradições e modelo

de prestação de serviços na sociedade. Logo depois, faremos uma pequena

análise sobre sua estruturação e articulações a projetos societários que “visam”

à participação de construção e colaboração da “cidadania”. Por fim realizamos

uma análise crítica sobre os elementos gerais que configuram o Serviço Social.

Caracterizamos de forma geral alguns fatores contribuintes para o crescimento

profissional dos assistente sociais que trabalham nessas instituições,

retratando na sua atuação desafios e possibilidades inseridas no Terceiro

Setor, sendo mais específica em ONGs e Instituições sem fins lucrativos que

atuam na provisão de bens e serviços sócio assistenciais. Ressaltamos a

prática profissional, tratando a assistência como direito e não como favor,

visando à construção coletiva da cidadania por meio de projetos que trabalham

o indivíduo como um todo, dentro de seu contexto social.

Palavras Chave: Terceiro Setor. ONGs. Serviço Social.

7

ABSTRACT

The current study aims to deal with the characteristics and contradictions

of the social service institutions in the "third sector", and from the analysis of

socio-occupational areas: Institutions and NGOs - non-governmental

organizations, explaining their duties and commitments to new demands in

these spaces. At first it developed a brief literature review on the "Third

Sector", presenting elements of its historical development and current

situation inserted into the spaces of contradictions and model of service in

society. Soon after, we do a few analysis of its structure and joints to

corporate projects "aimed at" the participation of building and collaboration

of "citizenship" in society. And finally, we present a critical analysis of the

ethical-political project of Work Social and the challenges to its defense in

these socio-occupational spaces. We point these contributing factors for

professional growth while working in these institutions, portraying in his

performance challenges and inserted possibilities in the Third sector, and

more specifically in nonprofit institutions and NGOs working in the provision

of social assistance goods and services. Emphasizing the practice of

workers social, treating the assistance as a right and not as a favor, aimed

at collective construction of citizenship through projects that the individual

work as a whole within their social context.

Keyword: Third Sector. NGOs. Social Work.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1– Caracterização Fundações e Associações privadas sem fins

lucrativos – FASFIL no Brasil – 2010.

Gráfico 2 – Regiões de Concentração das FASFIL– Fundações e Associações

privadas sem fins lucrativos.

Tabela 1 – Entidades Sem Fins Lucrativos por áreas no território brasileiro.

9

LISTA DE SIGLAS

ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais

CAURN– Caixa de Assistência de Saúde

CNO – Cadastrado Nacional de Organizações Não Governamentais

CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

FASFIL – Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos

GIFE – Grupo de Instituto, Fundações e Empresas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

MEB – Movimento de Educação de Base

ONG – Organização Não Governamental

OSFL – Organizações não governamentais Sem Fins Lucrativos

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 14

2 TERCEIRO SETOR: UMA ANÁLISE HISTÓRICA E

CONFIGURAÇÕES CONTEMPORÂNEAS.......................................

19

2.1 Configurações e conceituações do “Terceiro Setor” na

contemporaneidade..............................................................................

19

2.2 Aproximações conceituais entre ONGs e o Terceiro Setor– o que

são?.......................................................................................................

30

2.3 A Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais –

(ABONG) e suas particularidades: a realidade das ONGs no território

brasileiro................................................................................................

33

3 ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM ONG’s.................................... 39

3.1 Contextualização Histórica do Serviço Social........................................ 39

3.2 O exercício profissional no âmbito das instituições do “Terceiro

Setor”.....................................................................................................

44

3.3 Desafios e possibilidades do assistente social inserido em

Organizações não governamentais.......................................................

55

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 58

ANEXO.................................................................................................. 64

REFERÊNCIAS..................................................................................... 66

11

Dedico

Aos meus pais, Adriana Verício de Lima

Gomes e José Gomes Filho, que me

incentivaram a não desistência desta

graduação.

A minha orientadora, Elizângela Cardoso

que acreditou em meus esforços, apesar

dos pesares.

Aos familiares e amigos que me

acompanharam nessa trajetória de forma

direta e indireta, que me deram força para

a conclusão deste trabalho.

12

AGRADECIMENTOS

Assim como toda caminhada, trilhada e vivenciada com dificuldades,

conquistas, alegrias não seria possível concretizá-la sem a colaboração e

contribuições de pessoas importantes e especiais que, cada um ao seu modo

particular e dentro de suas possibilidades, permitiu a concretização deste

projeto.

Primeiramente, agradeço a Deus por me encorajar e me dar forças

diante das dificuldades. Obrigada Senhor por me fazer respeitar meu próprio

tempo e acreditar que sacrifícios sempre valeram à pena, pois, os resultados

chegarão a seu tempo.

Quero agradecer á minha família pelo carinho, apoio e incentivo,

obrigada por estarem sempre se dispostos para me ajudar. Em especial, meus

pais, Adriana e José, meus irmãos Jefferson Anderson, Janielle Aline e Jonas

Antônio, aos sobrinhos Yuri e Gabriel. E minha tia- madrinha, Francisca

Cosme. Obrigada a todos.

Agradeço a Ana Paula Teixeira da Silva, amiga presente em muitos

momentos, companheira de estudos, trabalhos, seminários. Obrigada pela sua

amizade, companheirismo, espontaneidade, cumplicidade, e pela sua energia

cativante que faz bem para todos que estão ao teu lado. Espero que nossa

parceria em trabalhos se prolongue em novos projetos.

Quero agradecer, a dois grandes amigos, Rogério e Banzai. Obrigada

pelos encontros e desencontros, pelas palavras sinceras que sempre me

confortaram ao longo dessa caminhada, as palavras soava como respostas aos

meus pensamentos, e me direcionavam numa busca interior, de querer seguir

em frente.

Agradeço carinhosamente a Anielle, Sátva, Luciana, amigas de longas

datas, tão presente em minha vida. Obrigada pelo companheirismo,

descobertas e pela amizade tão preservada, porque nossos pequenos

momentos tornam-se grandiosos diante das dificuldades tão presentes em

nossas vidas, quando a verdade é que as coisas mais simples é o que nos traz

alegrias.

13

Aos amigos, conquistados durante minha graduação, Ana Paula, Ana

Alice, Tácylla, Laysa, Márcia e Quênia, obrigada pelos bons momentos juntas.

Agradeço também aos amigos, que sempre estiveram comigo distantes ou não.

Em especial a minha turma, Sátva, Anielle, Luciana, Danilo, Banzai, Rogério,

Genilson, Marcos. Obrigada pelo companheirismo, obrigada por se fazerem

presente em minha vida. Que os nossos pequenos momentos sejam únicos e

verdadeiros, pois o que é bom tem que ser vivido com pessoas quem nos

queira bem e nos faz bem, pois boas lembranças sempre ficaram guardadas

em nossos corações.

Agradeço também a Elizângela Cardoso de Araújo Silva, que com toda

sua calmaria, sempre estava prontificada para me ajudar, apesar das correrias,

dos encontros e desencontros, sempre me mostrou novas possibilidades para

não desistir da conclusão deste trabalho. Obrigada, pela disponibilidade, pelas

contribuições valiosas, obrigada por acreditar em mim.

Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da

UFRN, que colaboraram e me ajudaram de forma direta ou indiretamente para

a construção de um novo saber, um novo olhar frente aos impasses inseridos

em nossa sociedade, obrigada a cada um que colaborou para minha formação

acadêmica, que nos cativou a cada momento acadêmico. Agradeço a todos.

Por fim, concluo meus agradecimentos com uma breve observação

sobre essa experiência acadêmica, que com certeza, jamais seremos os

mesmo ao passamos por uma graduação. Somos diferentes, porém únicos,

precisamos um dos outros para que possamos construir coisas belas, que

ficaram guardadas e que servirão de exemplo e motivação para nossa trajetória

individual. Com um tempo a gente aprende que é preciso, se respeitar como

indivíduos, para que sejamos respeitados, e essa vivência com a diversidade

da faculdade nos proporciona momentos de transformações, experiências

únicas. É preciso estar aberto a novas experiências, sem reprimi-las de

imediato.

Obrigada a todos que me incentivaram nessa dura caminhada e que me

deram força para a conclusão deste projeto.

14

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como finalidade analisar as contradições

presentes na atuação de assistentes sociais nos espaços sócio-ocupacionais

que fazem parte do “terceiro setor”, de forma mais específica, em

Organizações Não Governamentais - ONGs, que desenvolvem trabalhos que

apoiam e de alguma forma propõem a valorização da cidadania. Para tanto,

apresentaremos os principais elementos que se configuram no debate atual e

apontam para as imprecisões sobre o tema “terceiro setor” na

contemporaneidade, implicando sua dicotomia ideológica inserida na

configuração das políticas sociais. Temos como objetivo, apresentar as

principais configurações no âmbito do “terceiro setor”, que se mostram como

possibilidade para a atuação do assistente social. Através da pesquisa

pretendemos apresentar as limitações e desafios desses profissionais com as

novas demandas presentes em seu cotidiano. E que para nossa manutenção e

reconhecimento enquanto categoria é necessário uma constante formação,

para que nossas contribuições/atribuições enquanto profissionais do Serviço

Social não sejam reprimidas em tempos neoliberais.

O trabalho elaborado é de natureza analítica, trata-se de uma pesquisa

crítica que tem como intuito a análise do “terceiro setor” e suas particularidades

e formações sociais dentro da sociedade capitalista, temos como

procedimentos metodológico recortes teórico, pesquisas feitas a partir de

levantamento de informações bibliográficas e análises documentais sobre

ONGs e o “terceiro setor”, onde são feitas a caracterização de suas

concepções e seu processo de desenvolvimento, dadas pelas determinações

históricas, partindo de discussões sobre suas contradições, que brotam das

relações sociais contemporâneas da sociedade. Trazemos como recorte para a

análise e desenvolvimento do trabalho, um levantamento documental sobre as

atribuições e impasse da atuação dos assistentes sociais em espaços sócio-

ocupacionais como ONGs. Desse modo, as análises partem do cenário atual

do “Terceiro Setor”, em particular as organizações não governamentais, no

intuito de exemplificar os traços do trabalho do assistente social nesses

15

espaços que correspondem a organizações em defesa ao acesso dos direitos

sociais.

Nossa problemática parte da tendência da gestão de políticas sociais

que se expande no cenário capitalista e que caracterizam a relação de trabalho

dos profissionais atuantes do Serviço Social. Temos como questões

norteadoras as seguintes indicações: quais as possíveis contribuições do

Serviço Social, para o processo de planejamento e execução das políticas

públicas? Conforme a base normativa, ético política que configura o projeto

ético político do serviço social; Como se dão as atribuições realizadas pelo

Serviço Social no âmbito do “terceiro setor” no que concerne a problematização

da gestão de políticas públicas na contemporaneidade?

Com essas questões em mente, temos como primeiro e grande desafio

a compreensão sobre o que vem a ser o “terceiro setor” e suas configurações.

Com isso, consequentemente poderemos analisar as atribuições e

competências profissionais do Serviço Social nesse espaço.

Partindo dessa compreensão, é de suma importância que haja um

entendimento claro sobre a realidade e mistificação desse fenômeno no

contexto neoliberal. Com isso, o Serviço Social tornará um grande contribuinte

social dentro deste contexto, através da sua prática profissional no campo em

que está inserido, dadas pela materialização e reconhecimento do seu trabalho

oferecido enquanto profissional, por meio de sua instrumentalidade utilizada na

construção de alternativas criativas, eficientes nos novos espaços que se

configuram historicamente. Por isso, é importante que o profissional desta área

compreenda a realidade e todo o seu contexto sócio-ocupacional de trabalho,

para o enfretamento de novas demandas configuradas nas relações sociais

entre sujeitos sociais, Estado e sociedade civil.

A escolha do tema em debate foi motivada por interesse na área em

projetos e ações Socioeducativas implantadas pelo “terceiro setor” e pelos

questionamentos frente à: contextualização e configurações do Terceiro Setor;

a atuação do Serviço Social inserida nesse contexto, caracterizando seus

desafios e limites para a conquista de espaço no âmbito dos direitos sociais, de

caráter não contributivo; a funcionalidade desses novos campos

sociocupacionais para os assistentes sociais enfatizando seus limites e

demandas nesses espaços, caracterizando suas principais atividades

16

Socioeducativas. É através deste trabalho, que pretendemos enfatizar a

funcionalidade de projetos que contribuem para a socialização dos direitos de

cidadania e direitos sociais, retratando contribuições e benefícios da atuação

dos assistentes sociais nesses espaços.

O trabalho exposto torna-se relevante tanto para informação dos

estudantes e profissionais do Serviço Social quanto para os trabalhadores que

atuam no “Terceiro Setor”, tal cenário que englobam inúmeras organizações e

instituições – organizações não governamentais sem fins lucrativos (OSFL),

instituições filantrópicas, empresas “cidadãs”, entre outras – trazendo assim um

entendimento das configurações e particularidades de Organizações sem fins

lucrativos – ONGs. Com isso, podemos nos deparar com um cenário propício

para a atuação do assistente social no processo da luta e valorização dos

direitos de cidadania por serviços e políticas sociais, trazendo assim, para a

reflexão dos avanços e limitações da atuação do assistente social em meio as

demandas presentes cotidianamente nesses espaços de enfretamento das

expressões da questão social.

Temos como objetivo geral, abordar a atuação e efetivação dos

assistentes sociais dentro do contexto do Terceiro Setor, caracterizando sua

atuação e legitimação nesses espaços ocupacionais, especificando seus

limites e desafios configurados nas políticas sociais.

Entre os objetivos específicos, destacamos a tentativa de contribuir com

a análise e entendimento da conjuntura atual, discutindo sobre a presente

conceituação e funcionalidade do chamado “terceiro setor”, a fim de

desmitificar sua função social diante das contradições do capital.

Pretendemos caracterizar os desafios dos assistentes sociais nesse

campo contraditório e ideológico, entre organizações e empresas estatais. No

intuito de ressaltar a luta pelos direitos profissionais do assistente social

inseridos em ONGs e Entidade Não Governamental, e ainda articulando seus

serviços prestados com as políticas sociais para a socialização dos direitos, por

meio de atividades Socioeducativas e colaboração profissional. Com isso,

esperamos fomentar uma análise crítica sobre o posicionamento e expansão

de empresas “cidadãs”, que buscam benefícios fiscais e necessitam de

“atividades voluntárias” para a sua autopromoção. Temos como finalidade,

planejar um breve levantamento sobre a precarização das relações de trabalho,

17

apresentar os principais condicionantes estruturais e limites para a efetivação

de atividades do assistente social inseridos em ONGs e Entidades Não

Governamentais.

No primeiro capítulo, abordaremos uma breve análise sobre o contexto

histórico referente ao “terceiro setor” na contemporaneidade. Para isso,

faremos uma breve pesquisa sobre a conceituação e configurações que

englobam a trajetória das organizações constituintes desse setor,

especificando ONGs e entidades não governamentais, ou seja, pretendemos

apresentar suas particularidades, seu desenvolvimento histórico e

funcionalidade social do cenário caracterizado como “terceiro setor”.

Caracterizando as novas tendências contemporâneas que estruturam e

configuram o cenário atual do “terceiro setor” e Organizações Não

Governamentais- ONGs, onde muitas organizações são encontradas como

formas de respostas e enfrentamento às expressões da “questão social”, que

se mostram interligadas e movidas por interesses capitalistas, a fim do usufruto

das políticas sociais a favor de benefícios empresariais.

No primeiro capítulo, serão pontuadas aproximações conceituais e

particularidades sobre o tema em análise, “terceiro setor” e as ONGs,

atribuindo suas conceituações e os principais fatores que configuram sua

organização nesse espaço socio-ocupacional, a fim de evidenciar as

organizações sem fins lucrativos no território brasileiro. Dessa maneira

buscaremos caracterizar suas demandas trabalhadas na contemporaneidade,

apresentando as principais expressões da “questão social” que se configuram

nesse contexto.

Discutiremos a partir de análises que consagram este tema, o “terceiro

setor”, na intenção de analisar a desarticulação do Estado e as contradições de

lutas sociais inseridos neste âmbito que partem de princípios e ideologias que

em sua grande parte atendem ao projeto neoliberal inseridos na

contemporaneidade. Que, segundo Montaño (2007), o terceiro setor é taxado

por um fenômeno “[...] promovido por setores ligados ao capital e/ou à

esquerda resignada e possibilita, se encaixa perfeitamente no projeto de

desmonte da atividade social estatal, de reformulação das responsabilidades

sociais no trato da “questão social”.” (MONTAÑO, 2007, 17).

18

Para tais fins, faremos uma breve apresentação de análises, que se

centralizam na discussão das múltiplas formas de organizações sem fins

lucrativos, partindo de suas particularidades, conceituações e frequentes

demandas no território brasileiro, possibilitando assim um levantamento geral

de dados para uma análise mais concreta. Com isso, faremos uma pequena

análise significativa ressaltando a importância da luta do Serviço Social nesses

espaços socio-ocupacionais inseridos em novas reorganizações capitalistas,

empresas estatais e instituições sem fins lucrativos, ressaltando os principais

instrumentos legais para a inserção de seu exercício profissional, posto nas

tensões sócio-histórica da sociabilidade capitalista.

Contudo, para o desenvolvimento do segundo capítulo e conclusão do

trabalho partiremos da análise sócio-histórica sobre o surgimento do Serviço

Social, analisaremos as principais contradições, demandas e críticas sobre as

práticas do Serviço Social frente ao processo de consolidação capitalista na

sociedade, considerando o reconhecimento de sua prática enquanto trabalho

profissional. Temos como conclusão do trabalho, análises que mostram os

desafios e limitações encontrados na atuação e prática do assistente social que

se encontra inserido no âmbito do “terceiro setor”. Este que vem se destacando

e está sendo bastante discutido em debates no meio acadêmico e profissional,

caracterizando-se como espaço socio-ocupacional para o exercício profissional

no âmbito do Serviço Social.

Por fim, pretendemos apresentar a busca dos assistentes sociais pela

sua reafirmação enquanto sujeito profissional, inseridos nos espaços que

englobam o chamado “terceiro setor”.

19

2 TERCEIRO SETOR: UMA ANÁLISE HISTÓRICA E CONFIGURAÇÕES

CONTEMPORÂNEAS

O propósito deste capítulo tem como base as configurações existentes

sobre as divergências e conceituações que englobam a função ideológica do

“terceiro setor”, considerado como espaço público não estatal, no intuito de

fomentar uma perspectiva sobre este cenário sócio-ocupacional para a atuação

e efetivação do Serviço Social.

Problematizando a questão a ser desenvolvida neste primeiro capítulo,

faremos uma breve contextualização da trajetória histórica do cenário que

engloba o “terceiro setor”. Ao decorrer do capítulo, abordaremos os principais

posicionamentos e particularidades dos agentes profissionais que constituem e

compõe o cenário do “terceiro setor”, evidenciado a troca de responsabilidades

estatais sobre o cumprimento de acesso aos direitos sociais, particularizando a

desresponsabilização do Estado com a classe trabalhadora. Evidenciaremos

uma breve discussão, sobre o termo “cidadania” vista em grandes debates

teórico. Para isso, partiremos dos pressupostos históricos que se inter-

relacionam com o surgimento dessas formas de organizações, e analisaremos

suas formas de enfretamento às determinadas demandas imposta pela

“questão social”.

2.1 Configurações e Conceituações do “Terceiro Setor” na

Contemporaneidade.

Primeiramente, partiremos das considerações de Gohn (1988), no intuito

de caracterizarmos o aparecimento e desenvolvimento do cenário que engloba

o “terceiro setor” que ocorreu a partir do final da década de 1970 e em parte

dos anos 80 com a reconstrução das relações entre sociedade e governo,

participação popular no controle social.

O surgimento do “terceiro setor” estava associado à mobilização

popular, tanto em partidos como em movimentos sociais, sua origem esteve

enraizada principalmente no processo de transformação e organização das

20

mobilizações sociais inserido numa conjuntura de efervescência social.

Processo este, caracterizado pelas modificações de formas de representação

popular, resistência às novas exigências política brasileira (novas

configurações capitalista em torno do descumprimento e troca de

responsabilização estatal em relação aos direitos sociais) e pelo decréscimo de

algumas mobilizações de massa devido às reformas constitucionais e as

privatizações de empresas estatais, onde suas ideologias eram corrompidas

pelo regime capitalista que se desenvolvia a partir do crescimento de novos

interesses fiscais através do surgimento de filantropias empresariais.

Inicialmente, o cenário organizativo popular era representado por

manifestações/mobilizações organizadas por movimentos populares,

movimentos rurais, sindicais e urbanos. Tais mobilizações foram importantes

fatores determinantes para a consolidação do processo democrático das

estruturas locais e garantidor da sua própria existência deste processo. A luta

social era expressa pelos movimentos sociais que enfatizavam a luta e

resistência no mercado de trabalho, por possibilidades para a classe de baixa

renda, pela apropriação e mudanças no âmbito dos direitos sociais. Pois, o

contexto que fomentava a organização dos trabalhadores apresentava grande

déficit nos serviços e infraestrutura urbana, o acesso aos bens e serviços

coletivos eram dados de forma desigual a classe trabalhadora.

Partindo dos estudos de Gohn (1988), a partir dos anos 90 ano vigente

do mandato de Fernando Henrique Cardoso, essas formas de organização da

sociedade civil ligadas aos movimentos sociais passaram a apresentar uma

nova configuração em seu modelo organizativo, decorrentes do processo das

modificações sociais que se interligavam as mudanças econômicas e

tecnológicas dos tempos neoliberais, a grande maioria desses movimentos

passaram a estruturar suas ações a partir de redes associativas, já a minoria

remanescente de alguns movimentos sociais dos anos 80 apoiavam os setores

populares. Pois o poder político vigente de FHC estimulava a participação

popular, por meio de propostas de governo democráticas, que utilizavam o

21

orçamento participativo como instrumentos de gestão pelos órgãos públicos

estatais.1

Ao longo da sua jornada histórica os movimentos sociais, se fragmentam

a partir de: contradições de interesses, consolidadas na sociedade capitalista; e

determinações sociais dadas pela luta de classe (dadas pelo aprimoramento a

tecnologia e relação com o poder público), se constituem nas contradições

entre capital e trabalho, por isso, poucos carregam consigo a essência pela

luta, devido a seus novos interesses e refrações da “questão social” sendo

necessário a estar interligados a democracia de gestão participativa deflagrada

pelos órgãos públicos estatais, poucos resistiram aos anos 90.

Dos poucos movimentos que resistiram aos anos 90, grande parte se

aliou a novas formas de redes associativas (ONGs, entidades, associações,

organizações filantrópicas.) movido pelo projeto neoliberal, persistindo em

algumas fontes de luta, se reestruturando em organizações propositivas

correspondendo a problemas sociais. Aliaram-se a essas redes associativas

devido a novas exigências constitucionais onde a vontade política dos

governantes usava o orçamento participativo como forma de gestão e modelo

de governo democrático. Dessas novas redes foram criados espaços de

articulação entre a sociedade e órgãos públicos.

Ao tratarmos das relações entre poder público e sociedade civil Montaño,

retrata que sociedade civil apresenta uma estrutura formada de,

[...] recortes sociais, por meio de esferas, num âmbito neopositivista, funcionalista e estruturalista que isola os, já citados, setores, em que a existência dos mesmos na sociedade se dá de uma forma fragmentada e dicotomizada “como se o 'político' pertencesse à esfera estatal, o 'econômico' ao âmbito do mercado e o 'social' remetesse apenas à sociedade civil, num conceito reducionista. (MONTAÑO, 2007, p.53).

Avaliando a caracterização do autor acima, podemos observar que, os

investimentos privados nas expressões da questão social, estão vinculados a

um modo político e econômico de organização das forças produtivas, que

1 Importante instrumento de complementação da democracia representativa. Nele a

população decide as prioridades de investimentos em obras e serviços a serem realizadas a cada ano, com os recursos do orçamento da prefeitura. E estimula o exercício da cidadania, o compromisso da população com o bem público e a co-responsabilização entre governo e sociedade sobre a gestão da cidade (Portal da

transparência, 2015).

22

obedecem e se interligam na lógica do processo capitalista, que tem como

propósito a lucratividade e benefícios empresariais.

Nesse sentido, os setores do empresariado voltam suas ações na área

pública, com recursos privados. Vinculados ao modelo político e econômico de

organização das forças produtivas, demarcam suas atividades no cumprimento

de sua funcionalidade econômica, trabalham conjugada com a exploração

capitalista para o desenvolvimento e contribuição social do país. Onde as

empresas exploram os trabalhadores com uma mão e com a outra lhes

oferecem benefícios sociais (que lhe são por direitos). Esta é uma forma do

empresariado valorizar o negócio da sua empresa por meio do fortalecimento

de sua imagem institucional da organização, frente aos impasses da questão

social, pois grande parte das empresas que englobam o “terceiro setor” utiliza

“ações sociais” como estratégias de positivisar a imagem da empresa.

Ou seja, há uma correlação de políticas sociais estatais de parcerias

entre o Estado e entidades da sociedade civil organizada, e que o capital se

sobressai com sua intenção interligada a apropriação privada de privilégios e

lucros. E ainda que, no mundo moderno, hegemonizado pela burguesia, os

direitos sociais são postos por lutas de poder, diante das expressões da

questão social. Implicando uma redefinição das relações entre Estado,

Mercado e Sociedade.

O “terceiro setor” envolve recursos públicos e depende da participação

da sociedade, os serviços sociais prestados pelo Estado se apresentam como

colaboração da participação da sociedade civil. Para a sua conceituação exata

não há consenso, devido a divisão de classes em vários segmentos ideológicos

e pragmáticos.

A discussão que envolve o “terceiro setor” vem se evidenciando em

grandes debates, primeiro porque este termo é amplo, diversificado e engloba

uma grande quantidade de organizações e instituições (ONGs, OSFL,

Instituições filantrópicas, empresas cidadãs, entre outras), e sujeitos individuais

voluntários ou não, atuantes em diferentes áreas. E segundo, porque ele

destaca o Estado como provedor deste setor, tanto no âmbito financeiro como

também na contrapartida da retirada paulatina das responsabilidades estatais

que tratam das expressões da questão social, onde a funcionalidade social da

maioria dessas formas de organizações e entidades que corresponde aos

23

interesses do capital visando benefícios e isenções tributárias, e por meio de

suas ações capitalistas colaboram com a reversão dos direitos de cidadania

por serviços e políticas sociais, ou seja, os direitos sociais garantidos por lei

são revertidos em práticas clientelista e corporativista oferecidas pela relação

entre governo e empresas).

Considerando a tese de Montaño (2007), defendida em seu livro

“Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente de intervenção

social”, ele apresenta o termo entre aspas, “terceiro setor”, para caracterizar

sua origem ligada a visões segmentadoras, “setorializadoras” da realidade

social, vista pelo seu papel ideológico, mistificador e encobridor dos efeitos das

“questões sociais”, o autor associa o termo a uma falsa consciência de lutas de

classes pela hegemonia na esfera da sociedade civil. Seu ponto de partida

para se dá a partir do processo de reestruturação capitalista, desconsiderando

a real função social do Estado, enquanto lócus da manutenção da ordem e

ampliação da acumulação capitalista e garantidor de “conquistas” sociais,

reformulando suas ações dentro de perspectivas neoliberais que correspondem

à lógica do capital.

Coutinho (2005) em sua análise que parte das concepções de Marx e

Engels, discute a relação da função social do Estado e asseguramento dos

direitos sociais. O autor fala que “o Estado existe como um poder que assegura

a propriedade e monopoliza a coerção, garantindo e protegendo a autonomia

da esfera privada.” (COUTINHO, 2005).

Nesta concepção, o Estado e seu aparato democratizam suas relações e

tornam mais propensos ao controle social, em que prevalecem mais os

interesses privados (benefícios fiscais) do que os interesses e bens coletivos.

Portanto, a expansão do “terceiro setor”, é posto como uma área de estratégias

na economia, em que Fundações e associações são criadas no intuito de “[...]

promover o desenvolvimento local, impedir a degradação ambiental, defender

os direitos civis e agir em áreas onde a atuação do Estado é incipiente, como

em relação aos idosos, problemática da mulher, dos índios, dos negros, etc.”

(GOHN, 1998, p.16)

O termo “terceiro setor” é bastante abrangente e tem como parte

significativa a relação entre cidadania e poder capitalista, mesmo estando

presente no discurso da atuação do “terceiro setor” o termo cidadania não é

24

restrito a práticas sócio assistenciais, ele é muito mais amplo. Partindo da

análise feita por Gohn (1998), o termo contempla a realização da socialização

da riqueza, ou seja, é caracterizado pela reabsorção dos bens sociais pela

sociedade, sendo expresso pela democracia e estratégias políticas. Dessa

forma é atribuída na sociedade uma nova concepção de cidadania,

correspondendo numa possibilidade dela trazer uma nova forma de articulação

das diferenças, capaz de criar condições de uma vida melhor aos excluídos.

A noção de cidadania é apropriada por inúmeros sujeitos sociais, com

sentidos e intenções diferenciadas em determinados momentos históricos.

Nessa expansão de apropriação, temos como ponto positivo, o termo cidadania

ganha espaço na sociedade, já o ponto negativo, com a velocidade da

apropriação dessa noção temos a banalização e esvaziamento do seu sentido

original do termo.

Sendo assim, Dagnino (1994), nos fala que a expressão Cidadania

emerge a partir da década de 80, apresentado um caráter de estratégia

política, “[...] ela expressa e responde hoje a um conjunto de interesses,

desejos e aspirações de uma parte sem dúvida significativa da sociedade, mas

que certamente não se confunde com toda a sociedade.

A autora procura caracterizar essa nova cidadania que surge a partir de

da experiência dos movimentos sociais e marca a cena política dos anos 90,

expressando uma estratégia para a construção da democracia. A cidadania

afirma um “nexo constitutivo” entre as dimensões de cultura e da política.

Incorporando características da sociedade contemporânea como o papel das

subjetividades, a emergência de sujeitos sociais de novo tipo, novos direitos,

ampliação do espaço da política e as características da sociedade brasileira,

marcada pelo autoritarismo social, esta é uma estratégia que reconhece e

enfatiza o caráter intrínseco da transformação cultural para a construção

democrática.

Dagnino (1994), caracteriza importantes dimensões que constituintes

essa noção de cidadania: na primeira dimensão, a autora fala que o termo

deriva e está inteiramente vinculada à experiência concreta dos movimentos

sociais, o qual emerge uma base fundamentalista para sua constituição; Já na

segunda dimensão, retrata que essa experiência se dá por uma ênfase mais

25

ampla na construção da democracia, sendo expressa num novo estatuto

teórico e político que assumiu a questão da democracia em todo o mundo,

principalmente a partir da crise do socialismo real; E como consequentemente,

há uma terceira dimensão fundamental para a noção de cidadania,a qual se

“[...] organiza numa estratégia de construção democrática, de

transformação social, que afirma um nexo constitutivo entre as

dimensões da cultura e da política (DAGNINO, 1994, p.104)”.

Apontando assim para a construção e difusão de uma cultura

democrática, pois na formulação de Dagnino, é necessário articular o direito à

igualdade com o diferencial incorporando dimensões da subjetividade,

aspirações e desejos, ou seja, interesses individuais que se tornam coletivos

(tornam-se direitos).

Já para Coutinho (2005) que também trabalha com o termo cidadania, o

autor fala que o termo é posto como,

(...) capacidade conquistada por alguns indivíduos, ou (no caso de uma democracia efetiva) por todos os indivíduos, de se apropriarem dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as potencialidades de realização humana abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado. Sublinho a expressão historicamente porque me parece fundamental ressaltar o fato de que soberania popular, democracia e cidadania (três expressões para, em última instância, dizer a mesma coisa) devem sempre ser pensadas como processos eminentemente históricos, como conceitos e realidades aos quais a história atribui permanentemente novas e mais ricas determinações. A cidadania não é dada aos indivíduos de uma vez para sempre, não é algo que vem de cima para baixo, mas é resultado de uma luta permanente, travada quase sempre a partir de baixo, das classes subalternas, implicando um processo histórico de longa duração. (COUTINHO, 2005).

Com isso, para um entendimento mais preciso do conceito de cidadania,

vale salientar as dimensões constituintes que se inter-relacionam e

fundamentam a construção do termo, considerando as análises de Dagnino

(1994), que fala que a noção de cidadania está vinculada a experiência dos

movimentos sociais, a construção democrática e seu aprofundamento, e o nexo

constitutivo entre cultura e política que, caracterizada como idéia de cidadania

enquanto estratégia política.

As particularidades e conceituação da cidadania sempre serão

determinadas pela luta política, pois não á uma essência única ao conceito de

26

cidadania, não estão definidos e delimitados previamente, mas correspondem a

dinâmica dos conflitos reais, se dará pelo contexto histórico vivenciado pela

sociedade.Considerando que anteriormente adotamos uma perspectiva

abrangente que define cidadania como um termo amplo e que a atuação do

terceiro setor não da conta de alcançar,a noção de cidadania abrange um

panorama amplo que se configura em determinados momentos históricos, pois

a própria expressão cidadania é interpretada a vários sentidos e intenções

diferentes, havendo assim, uma correlação de forças vinculadas a fatores

complexos da realidade social.

O cenário do “terceiro setor” é exposto para a sociedade de maneira

mistificada, pois a sociedade e parte de organizações não compreende seu

papel funcional, neste âmbito muitos os consideram como organizações

constituídas por grandes movimentos sociais considerados responsáveis pela

propaganda de uma “cultura democrata”, em que são postos em evidência a

prática social como forma de resposta para as demandas sociais enfrentadas

na sociedade, e ainda impulsiona as disputas de interesses coletivos no âmbito

público.

Ao tratarmos do “terceiro setor”, encontramos polêmicas em torno de

sua origem e da sua própria conceituação, pois este termo trata-se das lutas

sociais pela conquista da hegemonia na esfera da sociedade civil, e ainda

apresenta uma variada debilidade inseridas nas concepções teóricas da

expressão, pelo fato de encobrir vários modelos de entidades, sentidos, e ainda

por não ter um consenso sobre seu significado concreto. Por isso, a concepção

sobre sua conceituação se contradiz tanto pelo posicionamento do próprio

“setor”, se ele não pertenceria ao primeiro setor (o Estado), já que as ações

desenvolvidas pelo “terceiro setor” são precedentes aos conceitos de Estado e

mercado (segundo setor), como também, por encontramos uma dificuldade na

conceituação teórica do “terceiro setor”, já que o mesmo é composto por

diversos elementos.

Montaño (2007) ressalta que o “terceiro setor” parte do ideológico

pressuposto da realidade social setorializada, ou seja, se manifesta a partir da

luta de esferas autonomizadas, personificadas em três setores que englobam

relações entre Estado (primeiro setor, tido como burocrático), mercado

(segundo setor, objetivador de lucros) e sociedade civil (terceiro setor, esfera

27

pública não-estatal). Com essa “setorialização”, divisão das esferas da

sociedade, contribuiria para a hegemonia do capital na sociedade.

Para Duriguetto (2005), a organização da Sociedade Civil esta

associada à esfera pública não-estatal, numa tentativa de caracterizá-la como

uma terceira forma de propriedade (terceiro setor), em que suas ações e

organizações são regidas pela lógica filantrópica do voluntarismo, perpassam

uma noção de funcionalidade ao projeto e ideologia neoliberal. E mesmo com

esta divisão não dá conta da complexidade da dinâmica social e não pode ser

rígida uma vez que são interdependentes.

Assim, de forma geral o cenário do “terceiro setor” está organizado por

[...] instituições filantrópicas dedicadas à prestação de serviços nas áreas da saúde, educação, bem-estar social e de defesa dos direitos humanos, dos índios, negros e do meio ambiente, etc., criando horizontes de maior visibilidade para o exercício da participação cidadã. Constituindo um espaço para a realização de trabalhos em que indivíduos e empresas efetivam sua sensibilidade e compromissos sociais, mediante a doação de recursos financeiros, trabalho, tempo e talento às causas sociais. (MELO, 1999, 34)

Dessa maneira, dentro da perspectiva de Melo (1999), é notável que

essas “novas práticas” de cidadania que são apresentadas pelo o autor como

compromissos sociais são mistificadas por meio de “ações sociais” inseridas no

processo de desenvolvimento organizacional de uma determinada empresa ou

associação/entidade, onde as organizações tentam assumir uma postura ética

comprometida com as demandas sociais. Mas a verdade, as tais “ações

sociais” são puramente impulsionadas pelos interesses capitalistas, em que a

preocupação real esta mais vinculada à imagem institucional de organização

da empresa, no intuito de fortalecer sua imagem, por meio do impacto social

que tais projetos poderão causar na sociedade. Ou seja, essas “ações sociais”

são estratégias utilizadas para compensar as contradições do capital causados

pelas políticas neoliberais.

Com sua tendência contraditória, o termo “Terceiro setor” encobre um

fenômeno ideológico e complexo na contemporaneidade, em que sua função

social é dada pela resposta às refrações das expressões da “questão social”

inerente a reorganização do capital, sendo regularizados pelos princípios

neoliberais em organizações. Havendo assim, um mercantilização dos direitos

28

universais, dados pelo desrespeito estatal, privatização, descentralização de

investimentos sociais e ampliação de sistemas privados, direcionados à

assistência social no intuito da mercantilizar os direitos sociais.

Partindo de considerações feitas por Montaño (2007), em dias atuais,

percebemos que o “terceiro setor” apresenta um perfil romantizado pela massa,

prova disso se dá pelo “minimalismo” frequente em suas particularidades, em

que pequenas soluções são mostradas como bons exemplos de “ações

sociais”, perpassados pela mídia, com essa imagem positiva posta pelas forças

midiáticas contribui para os interesses capitalistas da classe dominante. Pois, s

nossa concepção é que o bem-estar pertence ao âmbito do privado, ou seja, o

Estado fomenta a idéia que todos os espaços devem responsabiliza-se por ele,

numa rede de solidariedade que possa proteger os mais pobres, ao invés de

conceituar e investir numa estratégia no sentido de contribuir uma rede de

direitos sociais.

No que tange às políticas sociais, para o pensamento neoliberal, estas

não são compreendidas como direitos, mas como forma de assistir aos mais

necessitados ou como ato de filantropia, daí que a ação do Estado deve ser

focalizada nos pobres, e a sociedade, na figura das organizações não-

governamentais e principalmente no voluntariado, devendo ser estimulada a

assumir responsabilidades pela resolução dos seus problemas, reduzindo a

carga imposta ao Estado ao longo do tempo.

Nesse aspecto, a ofensiva às políticas sociais foi linear, atinge tanto os

países que conseguiram construir um Estado de Bem-Estar-Social como os

países periféricos que só conseguiram realizar um esboço de proteção social

aos seus cidadãos. Contudo, a forma de assimilação e os resultados foram

distintos em um e noutro contexto, com maior desmonte dos sistemas de

proteção social nos países periféricos, tanto pela fragilidade desses sistemas

como pela pouca capacidade de resistência dos segmentos afetados.

Dentro de uma perspectiva ampla, o campo do “terceiro setor” é formado

por instituições (associações ou fundações privadas) não governamentais, que

expressam a “sociedade civil organizada”, com participação de atores

individuais voluntários ou não, para atendimentos de interesse público em

diferentes áreas e segmentos, o “terceiro setor” se desenvolve a partir de uma

29

perspectiva filantrópica e caritativa com uma atuação profissional e técnica, na

qual os usuários são sujeitos de direitos.

As transformações societárias que constituem este setor são

determinadas pela reestruturação produtiva do capital, que refere-se aos

processos de transformação nas empresas e industrias, caracterizados pela

desregulamentação e flexibilização do trabalho, e redefine os modos de

regulação social e estatal, e pelas modificações nos padrões de relação entre

Estado, mercado e Sociedade Civil.

Para que tais organizações funcionem é essencial que este cenário

esteja fundamentado e segmentado a partir de seu “Estatuto Social”, pois a

menção à promoção de práticas e finalidades de relevância pública e social

torna-se um requisito essencial que deverá está expresso em seu estatuto para

que tais entidades e organizações se firmem como colaboradoras sociais.

Sobre isso, Delgado (2005) fala que,

Toda ONG deve ter um Estatuto que trace as diretrizes de seus objetivos e organize sua estrutura interna. Referido Estatuto deve ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos Cíveis de Pessoa Jurídica da comarca onde a ONG tiver sua sede, sua matriz, ficando o mesmo à disposição de qualquer cidadão para que seja consultado, uma vez ser um documento público. (DELGADO, 2005, 27)

Considerando a afirmação acima é de suma importância que a

legislação pontue regras e normas, no intuito de manter os direitos sociais

preservados e reservados para os bens públicos. Portanto, todas e quaisquer

ONGs sem fins lucrativos devem exercer suas ações legalmente, pois, a

gestão de suas atividades deverá está associada e interligada aos termos e

princípios que correspondem a seu Estatuto Social, é importante que elas

atuem de maneira adequada para que seus poderes e deveres não sejam

vistos de forma ilícita, mesmo que suas funções venham a se contrapor com

seus princípios ideológicos capitalista.

E além de estarem regidas pelo seu estatuto, elas devem esta

devidamente cadastradas no Cadastrado Nacional de Organizações Não

Governamentais (CNO), para que anualmente possam prestar conta ao

Ministério da Justiça. Com isso, colaboraram para a sistematização de

prestação de informação, análises estáticas e avaliação dos objetivos da

entidade.

30

Essa prestação de contas é importante para a evolução do terceiro setor

no Brasil, servindo para a sistematização de informações para que as

organizações sejam condicionadas a isenções tributárias. Na esfera estadual,

são isentas do recolhimento do imposto de renda e Contribuição Social sobre o

Lucro Líquido– CSLL. A Lei nº. 9.532 de 10 de dezembro de 1997 considera

isenta as instituições consideradas,

[...] de caráter filantrópico, recreativo, cultural e cientifico e as associações civis que prestem os serviços para os quais houverem sido instituídas e os coloquem a disposição do grupo de pessoas a que se destinam, sem fins lucrativos. (GIFE, 2009,41)

Sendo assim, vale ressaltar que a implementação de reformas

administrativas e gerenciais permitiria a focalização da ação estatal no

atendimento das necessidades sociais básicas, reduzindo a área de atuação

do Estado. As ações sociais estão focalizadas dos interesses da empresa ou

em preocupações sociais em destaque.

2.2 Aproximações conceituais entre ONGs e o Terceiro Setor– o que são?

Assim como os movimentos sociais as ONGs - Organizações Não

Governamentais, também passaram pelo processo de transformações sociais

(novas medidas de relação entre o poder público e exigências para a gestão

participativa), tornaram-se grandes expressões a partir da década de 70,

passando a assumir um forte papel articulador a favor dos movimentos sociais,

pelas lutas sociais, abrangendo uma variedade de áreas, como saúde, cultura,

esporte e religião, se configuravam em diferentes espaços de atuação podendo

estar ou não regularizadas.

Segundo Gohn (1998), essas novas formas de organizações

contribuíram para a reconceituação de “sociedade civil”, suas práticas sociais

estavam menos centradas na questão do indivíduo e sendo, mais direcionado

para os direitos de grupos coletivos centrados em questões éticas e morais.

Mobilizações que “[...] partem de um chamamento à consciência individual das

pessoas e elas, usualmente, têm se apresentado mais com ‘campanhas’ do

que como movimentos sociais.” (GOHN, 1995)

31

Partindo das transformações de políticas sociais ao longo de seu

processo histórico, as ONGs e entidades sem fins lucrativos apresentaram uma

dicotonomia de interesses e formas de luta, ao decorrer de seu

desenvolvimento, mesmo estando aliado ao Estado. Primeiro que, nos anos

1970 a 1980, essas organizações se desenvolvem frente a lutas de trabalho,

por inúmeras formas de associativismo ao nível do poder local, contribuindo

para a ampliação de campos poucos politizados, dada pela relação/parceria

entre Estado e sociedade civil suas funções se direcionam para a luta dos

direitos de grupos coletivos. Nos anos 1990, as ONGs passam a ter um perfil

filantrópico empresarial, suas ações atuam nos problemas críticos da realidade

nacional, essas entidades buscam e querem parcerias com o Estado no intuito

de benefícios fiscais, ou seja, grande maioria das organizações que buscam

tais parcerias procuram de se auto-promover tanto em relação a sua imagem

como também em cortes fiscais que correspondem aos benefícios financeiros

da empresa.

Com o fortalecimento de ONGs, a partir dos anos 90, os movimentos

sociais e ONGs, foram coligados a novas formas de associativismo ao nível do

poder local, a qual suas ações foram subsidiadas sob práticas clientelistas e

cooperativas, estimuladas por grandes programas dos órgãos públicos.

Reformulando um sentido macro-econômico desativando áreas de

intervenções direta do Estado e deslocando os incentivos para programas e

governos estaduais, temos como exemplo ações Socioeducativas de empresas

em áreas de risco, de vulnerabilidade social como nas favelas.

As ONGs são vistas como formas de expressão organizativa, possui

aspecto ideológico-político, se estruturam como empresas que se

autodenominam como empresas cidadãs, pelo propósito de se auto-declarar

sem fins lucrativos/não governamental, atuam em áreas de problemas sociais.

Os novos “programas sociais” implantados pelas ONGs não são colocados

como direitos, mas como prestação de serviços, ocorrendo muitas vezes uma

despolitização do conteúdo político da questão, surgindo o processo de

seletividade e escassez dos direitos já consolidados, conquistados por meio de

lutas sociais.

Elas constituem um grupo diverso, suas perspectivas e suas áreas de

atuação podem ser locais, regionais ou globais. Segundo o Estatuto Social

32

(Capítulo I - DA DENOMINAÇÃO, SEDE E DURAÇÃO/Art.2º) da ABONG -

Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais,qualquer tipo de

associação de organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, atuantes em

diversas áreas temáticas,se especificam em:

ART. 2º- Para efeito do disposto neste estatuto, são consideradas Organizações Não Governamentais - ONGs, as entidades que, juridicamente constituídas sob a forma de fundação ou associação, todas sem fins lucrativos, notadamente autônomas e pluralistas, tenham compromisso com a construção de uma sociedade democrática, participativa e com o fortalecimento dos movimentos sociais de caráter democrático, condições estas, atestadas pelas suas trajetórias institucionais e pelos termos dos seus estatutos. (site ABONG, 2010).

Na contemporaneidade, suas particularidades e poder ideológico se

apresentam por meio das mídias sociais (televisão, rádio, internet), em

discursos e versões romantizadas do trabalho voluntário a serviço de “ações

sociais”, que perpassam para a sociedade uma mistificação da

responsabilização que seria do Estado. Considerando as análises feitas por

Montaño (2007), o autor retrata que tais “ações sociais” são expressas numa

situação agravada pela mundialização e pela financeirização ao capital,

flexionadas pelas forças produtivas e reformulação do Estado impulsionando

novos desafios tanto nas relações de esferas governantes, como também para

os profissionais atuantes neste cenário.

Atuante da esfera pública não estatal, o “terceiro setor”se apresenta em

dimensões caracterizadas como: social, econômica e política, que vem

alcançado uma grande relevância no cenário internacional e nacional.

Enquanto a rede de organizações privadas que integra este cenário, se

localizam na margem do aparelho formal do Estado. São atuantes em diversas

áreas, suas formas de gestão se dá tanto na área informal na gerência de

empregos, como também começam a se fazer presente na economia formal,

por meio de cooperativas que atuam em parceria com programas públicos e

demandas terceirizadas das próprias empresas.

Segundo Montaño (2007), o “terceiro setor” é resultante de um processo

histórico de longa duração, este cenário é taxado como uma área estratégica

na economia, tanto ao enfrentamento de uma crise econômico-financeira, por

volta dos anos 1990, como também “dificuldades” de investimento em

33

programas sociais de enfretamento às demandas sociais (educação, saúde,

etc.). Com isso, foram tomadas medidas emergênciais interligadas as

atividades produtivas, parcerias com o mercado e com a sociedade civil, no

intuito de gerar recursos próprios fomentando a luta pelo acesso aos fundos

públicos. De acordo com suas análises,

[...] “terceiro setor” refere-se na verdade a um fenômeno real inserido na e produto da reestruturação do capital, pautado nos (ou funcional) princípios neoliberais: um novo padrão (nova modalidade, fundamento e responsabilidades) para a função social de resposta às seqüelas da “questão social”, seguindo de valores da solidariedade de voluntária e local, da auto-ajuda e da ajuda - mútua. (MONTAÑO, 186, 2007)

Com tal afirmação, é visível que o “terceiro setor” se fundamenta dentro

de uma perspectiva de totalidade político-ideológica, que visam e buscam

medidas compensatórias para a demanda lucrativa do setor empresarial

(interesses que voltam para a ocupação de espaços na dinâmica do campo

institucional estatal), e não medidas que viabilizam aos enfrentamentos das

demandas sociais ocasionadas pelas expressões da “questão social”

(desemprego, baixos salários, desigualdades sociais).

2.3 A Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais -

ABONG e suas particularidades: realidade das ONGs no território

brasileiro.

O cenário que engloba o campo do “terceiro setor” é constituído por

inúmeros sujeitos (renumerados ou voluntários), que se mobilizam na resposta

a necessidades, interesses ou reivindicações em geral.

Particularizando e exemplificando como forma de organização não

governamental, temos a Associação Brasileira de Organizações Não

Governamentais – ABONG, que é caracterizada como:

(...) uma sociedade civil sem fins lucrativos, democrática, pluralista, antirracista e anti-sexista, que congrega organizações que lutam contra todas as formas de discriminação, de desigualdades, pela construção de modos sustentáveis de vida e pela radicalização da democracia. (ABONG, 2010)

Sua origem em organizações possui um perfil político caracterizado

pela resistência ao autoritarismo; consolidação de novos sujeitos políticos e

34

movimentos sociais; busca de alternativas de desenvolvimento ambientalmente

sustentáveis e socialmente justas; luta contra as desigualdades sociais,

econômicas, políticas e civis; a universalização e a consolidação de espaços

democráticos de poder.

De acordo com Montaño (2007), os sujeitos sociais e instituições que

formam o cenário do “terceiro setor” são caracterizados como organizações da

sociedade civil, sem fins lucrativos, que atuam em defesa do interesse público

com caráter social denominado como: a) organizações não lucrativas e não

governamentais (ONGs); Movimentos sociais, organizações e associações

comunitárias; b) instituições de caridade, religiosas; c) atividades filantrópicas e

não governamentais – fundações empresariais, filantropia empresarial,

empresa cidadã; d) ações solidárias – consciência solidária, de ajuda mútua e

de ajuda ao próximo; e) ações voluntárias; e f) atividades pontuais e informais

(Ver MONTAÑO, 2007, p.181). E tratam de

[...] atividades públicas desenvolvidas por particulares, para tratar de uma função social de resposta as necessidades sociais; são orientada por valores de solidariedade local, autorresponsabilização, voluntariado e individualização da ajuda. (MONTAÑO, DURIGUETTO, 2011, p. 305)

Partindo de sua dinâmica complexa e caracterização de agentes

constituintes deste cenário, a seguir, destacamos no quadro 1, a caracterização

do perfil das áreas que mais estão presentes neste cenário. A pesquisa foi feita

pela FASFIL - Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no ano

de 2010 e lançada em dezembro de 2012. A pesquisa refere-se a dados sobre

às Fundações e Associações sem fins lucrativos no Brasil.

35

QUADRO 1- Caracterização das Fundações e Associações privadas

sem fins lucrativos – FASFIL no Brasil /2010.

28,5%

15,5%

14,6%

18,6%Religião

Associações Patronais eProfissionais

Desenvolvimento e Defesa deDireitos

Saúde, Educação, Pesquisa eAssistência Social

Figura Fonte: FASFIL/ IBGE, 2010.

No quadro acima, temos como exemplo a caracterização de organização

sem fins lucrativos no Brasil e a porcentagem dos tipos de perfis que mais se

destacam no “terceiro setor”. Entre os modelos de perfil que mais se destacam

são fundações de natureza religiosa e na área da educação, os dados na

pesquisa apresentam um valor significativo em relação a outras.

Os dados também mostram que em 2010, “havia 290,7 mil Fundações

Privadas e Associações sem Fins Lucrativos- FASFIL no Brasil, voltadas,

à religião, associações patronais e profissionais e ao desenvolvimento e defesa

de direitos. As áreas totalizavam cerca de 54.1 mil entidades (18,6%)”.

(FASFIL, 2010)

Partindo da mesma pesquisa, no segundo quadro, veremos a

localização das regiões onde estão concentradas as FASFIL no Brasil,

demarcando a região de mais acesso as tais instituições. Segundo os dados,

dessas instituições, 72,2% (210,0 mil) não possuíam empregados formalizado,

pois se apoiavam em trabalho voluntário e prestação de serviços autônomos.

(FASFIL, 2010)

36

QUADRO 2 - Regiões de Concentração das FASFIL

Fonte: FASFIL, 2010

Posteriormente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

em 2013, lançou uma pesquisa com dados estatísticos sobre formas de

organização que constitui o cenário do “terceiro setor”, classificadas em

Fundações Privadas e Associações e Entidades Sem Fins Lucrativos no

território nacional.

Os dados revelam que o número das unidades locais das Fundações

privadas e Associações Sem Fins Lucrativos totalizam 4.153 em território

brasileiro. Já as unidades locais de Entidades Sem Fins Lucrativos no território

brasileiro, correspondem a 7. 210 unidades.

Na tabela abaixo, temos dados de unidades cadastradas e definidas por

área de atuação segundo os parâmetros que as rege. São definidas pelo

atendimento aos critérios e enquadramento aos padrões de serviços prestados

pela mesma e estão divididas em Entidades de: Habitação; Saúde; Cultura e

Recreação; Educação e Pesquisa; Assistência social; Religião; Partidos,

sindicatos, associações patronais e profissionais; Meio Ambiente e proteção

animal; Desenvolvimento e defesa de direitos; Outras instituições privadas sem

fins lucrativos estão divididas por área de atuação, os dados foram coletados

no ano de 2013 e correspondem as Entidades sem fins lucrativos. Na tabela

37

são apresentados dados de unidades cadastradas e que prestam serviços por

áreas.

TABELA 1

Entidades Sem Fins Lucrativos por áreas no território Brasileiro

01 Habitação

4 unidades

02 Saúde

86 unidades

03 Cultura e Recreação

316 unidades

04 Educação e Pesquisa

1428 unidades

05 Assistência Social

357 unidades

06 Religião

794 unidades

07 Partidos, sindicatos, associações patronais

e profissionais

1446 unidades

08 Meio Ambiente e Proteção animal

12 unidades

09 Desenvolvimento e Defesa de direito

940 unidades

10 Outras instituições sem fins lucrativos

1827 unidades

Fonte: IBGE, 2013.

38

Ao analisarmos os dados que caracterizam as particularidades, natureza

e o público com que cada organização atua, é visível que a grande maioria das

organizações/instituições não governamentais que mais se destacam estão

ligadas a educação, partidos, sindicatos, associações patronais e profissionais.

Considerando as áreas de atuação que mais se destacam nos dados

estatísticos, é notável que nesses espaços se configurem estratégias

fundamentadas na troca de responsabilização estatal e em interesses

capitalista, são “ações sociais” que partem de valores. Há uma correlação de

interesses capitalistas tanto no âmbito estatal como nas organizações, em que

suas ações partem de áreas estratégica em que o Estado repassa sua

responsabilidade social para “ações sociais” desenvolvidas por organizações. E

as organizações (associações, fundações, etc.) sem fins lucrativos se

configuram dentro da lógica neoliberal no intuito de fomentar interesses fiscais

e zelar pela sua imagem institucional.

39

3. ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM ONG’s

Neste capítulo partiremos de uma breve contextualização histórica do

surgimento do Serviço Social, caracterizando seus principais fatores e

condicionantes no processo de desenvolvimento visto na Sociedade Capitalista

e no crescimento significativo da desigualdade social. Ocasionado pelo

processo crescente da miserabilidade e exploração de homens, mulheres e

crianças no período da Revolução Industrial.

Ao decorrer do desenvolvimento deste capítulo, discutiremos os

principais limites agravantes em nossa categoria e evidenciaremos o exercício

profissional do Serviço Social, os desafios e possibilidades para sua

intervenção enquanto assistente social, temos como finalidade discutir sua

valorização enquanto trabalhador profissional no âmbito do “terceiro setor”.

Lembrando que, nossa categoria é resultante de um processo sócio- histórico

marcado pelas relações entre classe trabalhadora e processo capitalista,

marcados pela ideologia da classe dominante.

Ressaltando que os profissionais desta área, buscam em princípios

éticos e políticos que fundamentam o Serviço Social, um norte para a

efetivação do seu trabalho. Para isso, caracterizaremos ao decorrer deste

capítulo nossos principais instrumentos legais que norteiam as ações

profissionais do assistente social. Trataremos das particularidades do Serviço

Social como profissão, seu modo de intervenção em processos e mecanismo

ligado ao arrebatamento da questão social em suas variadas manifestações e

faces mistificadas de acordo com sua conjuntura analisada.

3.1. Contextualização Histórica do Serviço Social

Resgatando o contexto do surgimento do Serviço Social, conforme

Castro (2003), a profissão tem como base teórica, o contexto do

desenvolvimento da sociedade capitalista e, consequentemente, do

crescimento significativo da desigualdade social, a partir da Revolução

Industrial. Portanto, o Serviço Social surge como uma tentativa de resposta da

burguesia via Estado e Igreja, num processo crescente de tensão social gerado

pelas péssimas condições de vida, trabalho e miséria social, em que se

encontrava a classe trabalhadora. Surge do desenvolvimento do capitalismo,

40

quando se manifesta também um abismo social entre duas classes distintas: a

que detêm os meios de produção e a que detêm somente a sua força de

trabalho, ou seja, capitalistas e proletários. A classe trabalhadora cansada de

ser explorada se organiza em movimentos sociais para manifestar sua revolta.

Tal organização atinge e preocupa diretamente a burguesia, que teme uma

possível revolução comunista (sua preocupação iminente), e convoca a Igreja e

o Estado para enfrentar o problema.

É exatamente nesse contexto complexo de conflitos sociais que se dá a

origem do Serviço Social, com a intenção de minimizar consequências do

modo de produção capitalista e manter relações entre as classes sulbatermas e

Estado/ poder dominante.

A Igreja, junto à intervenção sistemática do Estado na questão social, a

princípio, mantinha-se calada frente ao processo de exploração, respondendo

apenas com ações isoladas e assistemáticas de caridade cristã, isto é, sua

contribuição era totalmente passiva dadas através de atitudes básicas e

conservadora. Só depois, a Igreja passa a convocar seus membros para uma

ação sistemática, global e intensa de envolvimento social.

Ainda de acordo com Castro (2003), o Serviço Social europeu teve

influência religiosa da igreja católica, enquanto o Serviço Social norte-

americano teve influência protestante. Mas, apesar desse contraste religioso

entre outros contrastes, não havia grandes diferenças entre eles. Ambos foram

influenciados pela religião, influência essa, que domina o trabalhador, pois

mantém intacto o princípio base do capitalismo, a propriedade privada. E

ambos viam a organização da classe trabalhadora como um perigo para a

Ordem social.

Segundo Iamamoto (1983), o prazer de servir, a seriedade, a modéstia

foram valores atribuídos às mulheres devido ao sistema denominado como

patriarcado, que é funcional ao capital e subordina as mulheres, por isso o

pensamento de que o Serviço Social é uma profissão “feminina”. Além disso, a

dominação a que foram submetidas às mulheres, é um fenômeno que torna

natural a transmissão desses valores éticos mais tradicionalistas na sociedade.

Assim eram as assistentes sociais dessa época, mulheres da classe dominante

(burguesia), em sua maioria solteiras, com um grande vínculo religioso, daí

criam-se um viés da assimilação do Serviço Social com a caridade. Elas se

41

sentiam e eram na verdade as porta-vozes dos patrões (aliadas morais e

sociais). Mas com o decorrer do tempo essa visão muda e então se pode falar

na institucionalização do Serviço Social, do seu reconhecimento como uma

profissão como qualquer outra, sem a necessidade de caridade e

assistencialismo, mas sim, com seriedade e profissionalismo necessários em

toda área profissional.

Segundo Lima (2006), quando nos voltamos para a conjuntura sócio-

histórica de nossa cidade na época em que surge o Serviço Social, pode-se

afirmar que os principais problemas que fomentaram a escola de serviço social

são advindos da seca de 1930 e 1942 – fator determinante para o aumento no

fluxo migratório para a cidade de Natal quando as famílias saíam do interior

fugindo da fome e das péssimas condições de vida, em busca de uma vida

melhor na capital. Com a tomada do poder pelos comunistas em 1935 gera

uma tensão no governo e na igreja, que por sua vez, tomaram uma série de

medidas de proteção social e legislação trabalhista para afastar a população do

comunismo e a Segunda Guerra Mundial – que já causava furor na Europa.

Nesse contexto, Natal passa a ser um ponto estratégico para situar a

base aérea de Parnamirim, forçando, a até então a pacata cidade a evolui, e se

moderniza trazendo várias consequências para a mesma como o processo

migratório e uma urbanização para a qual ela não estava preparada. Dessa

forma, caracterizando-se como uma fase na qual ocorreu o desenvolvimento do

comércio, bares, hotéis, cinemas e encarecimento de vida. A Escola de Serviço

Social de Natal pôs em prática o modelo curricular de São Paulo e Rio de

Janeiro, que por sua vez, seguiam o modelo tradicional visto que recebiam

influência direta das Escolas de Serviço Social da Europa. Além disso,

orientava-se pelos regimentos das Escolas de Serviço Social do Rio de Janeiro

e São Paulo, fazendo apenas algumas pequenas adaptações.

Contudo, a influência não vinha apenas do Serviço Social tradicional, já

que na década de 1950 a Escola de Serviço Social de Natal filiou-se ao UCISS

(União Católica Internacional de Serviço Social) e, ao mesmo tempo, filiou-se à

União Pan-americana de Serviço Social, mostrando que, ainda que

filosoficamente estivesse ligada ao catolicismo e ao neotomismo, estava sendo

influenciado também pela perspectiva norte-americana e suas preocupações

com a técnica.

42

Nessa análise é importante ressalvar o período do movimento de

Reconceituação que marcou o Serviço Social latino-americano, nesse contexto,

que para Iamamoto (1983), há pelo menos quatro conquistas que se

integraram na dinâmica profissional desses países, são elas:

A articulação de uma nova concepção da unidade latino-americana:

Intercâmbio e interação profissional diferente com a intenção de fundar uma

articulação profissional continental para responder às problemáticas comuns da

América Latina; A explicitação da dimensão política da ação profissional:

Apesar de ocultar a dimensão política da ação profissional num ato pretenso de

assepsia ideológica, o tradicionalismo do Serviço Social sempre foi

visceralmente político; A interlocução crítica com as ciências sociais: Enquanto

o “Serviço Social Tradicional” firmava sua base na passividade e na visão

acrítica do produto das ciências sociais acadêmicas (especialmente norte-

americanas), a Reconceituação incorporando a crítica ao tradicionalismo criou

as bases para uma nova interlocução do Serviço Social com as ciências

sociais; A inauguração do Pluralismo Profissional: O monolitismo próprio do

tradicionalismo foi submergido pela Reconceituação, rompendo a linha de

pensamento que acredita numa homogeneidade (identidade) de visões e

práticas próprias da profissionalidade.

Entretanto, a principal conquista da Reconceituação localiza-se,

aparentemente, num plano preciso: o da recusa do profissional de Serviço

Social de situar-se como um agente técnico puramente executivo (quase

sempre um executor terminal de Políticas Públicas).

Com isso, a categoria se questiona sobre o posicionamento da

profissão, já que a maioria dos profissionais atua na formulação, planejamento

e execução de políticas sociais, ‘terceiro setor’, organizações e instituição que

viabilizam uma “responsabilidade social”. Nesse posicionamento, há uma inter-

relação entre o projeto profissional e o estatuto assalariado, significando a

autonomia do assistente social na inserção no mercado de trabalho, já que seu

objeto profissional está enraizado no processo histórico apoiado de valores

humanos.

Ainda assim, como todo movimento produtivo e fundador, Iamamoto

(1983) portou equívocos e descaminhos em relação a historicidade do Serviço

Social. Dentre os quais, a autora salientou: A correta denúncia do

43

conservadorismo: Encoberto pelo “apoliticismo” estabeleceu a diferença entre

profissão e militantismo; A recusa às “teorias importadas”: Num determinado

momento, veio como uma resposta ao homogenismo das ciências sociais

acadêmicas norte-americanas.

Derivou numa relativização da universalidade teórica que, anulava

(limitadamente) a validade da teorização produtiva noutras extensões,

redundando na valorização da produção teórica presumidamente mais

“adequada” as nossas particularidades histórico-sociais interligadas a medidas

compensatórias, conservadoras e arcaica; O confusionismo ideológico:

“Sintetizar” as inquietudes da esquerda cristã e das novas gerações

revolucionárias “não-ortodoxas” e “não-tradicionais”, já que, geralmente a

esquerda “tradicional” e “ortodoxa” quase sempre influenciada pelos Partidos

Políticos Latino-americanos, pouco participou do processo e acabou por

produzir a eclética mistura de Camilo Torres, Guevara e Paulo Freire com Louis

Althusser e Mav Tse-Tung. Curiosa e paradoxalmente, a Reconceituação, que

abriu o diálogo do Serviço Social com a tradição marxista, recolheu desta,

quase sempre, o que nela havia de menos vivo e criativo.

Este movimento emergiu simultaneamente ao período do regime militar,

e, logo foi sufocado. Pois, a ditadura tentava a todo custo apagar, de forma

sistemática, todo movimento que possuísse marcas da democratização e

projetos societários avançados.

O contexto da crise do modelo desenvolvimentista - principalmente no

Brasil e em toda a América Latina - foi o que impulsionou a apresentação de

um novo perfil do assistente social, que organizava a classe subalterna e

defendia a cidadania e a participação popular.

O que se observa sobre esta conjuntura é um período de iniciação de

uma consciência nacional-popular, com a inclusão também das ligas

camponesas, sindicatos rurais, Movimento de Educação de Base - MEB,

Centros Populares de Cultura, Movimento de Cultura Popular, Ação Popular

entre outros. O modo de enfrentamento da questão social, foi através de

medidas de educação, ampliação da Previdência, extensão da legislação

trabalhista ao trabalhador do campo com o Estatuto do Trabalhador Rural,

barateamento de alimentos básicos, combate a doenças endêmicas,

44

programas de habitação popular e a saída do tratamento individual para o

tratamento coletivo.

Porém, tais tentativas de avanço exposto no documento de BH

(importante documento que tem como preocupação a questão teórica-prática, e

a cientificidade da prática do Serviço Social, trata-se de práticas sociais nas

classes oprimidas/populares, definidas em função da relação entre homem e

sociedade), não conseguiram de forma plena uma definição do papel

profissional do assistente social.

Podemos citar como um exemplo de “ajuda”, nos anos mais recentes, a

ofensiva neoliberal e a retórica pós-moderna, assim, nos deparamos com o

panorama pragmático, que impede a consideração da história e suas lições,

que tem a capacidade de fazer com que as novas gerações de profissionais

recaiam em equívocos próprios da conjuntura em que se manifestou o

movimento da Reconceituação (militantismo e messianismo).

Contudo, essa inconclusão foi transitória ou transitiva, já que, os efeitos

dessa significativa desmemória duraram até o fim do regime militar. Com sua

queda, o movimento de Reconceituação do Serviço Social volta à tona.

3.2 O exercício profissional do Serviço Social no “terceiro setor”.

Partindo do contexto histórico no século XX, o perfil do Serviço Social

era extremamente conservador, pois sua prática profissional estava ligada à

função reintegradora e reformadora de caráter, e sua efetivação assistencial

estava associada à noção caridade do que as relações sociais, ressaltando a

relação capital e trabalho.

O cenário vigente era preconizado pela grande depressão e expansão

do capitalismo, que trazia consigo efeitos de intensidade para todos, com

perspectiva de abalo econômico e as expressões da “questão social”

encontrava-se em efervescência. Sendo assim, a tarefa dos assistentes sociais

era trabalhar no contexto das relações sociais que peculiarizavam a

sociedades pós-guerra. Com isso, a classe dominante buscava através de

estratégias financeiras no intuito de se manter instáveis no âmbito econômico,

procuravam meios de recuperação da economia a fim de trazer expansão de

seu capital como retorno.

45

Nesse cenário, “[...] a assistência era encarada como forma de controlar

a pobreza e de ratificar a sujeição daqueles que não detinham posses ou bens

materiais” (MARTINELLI, 1989, Pg.97), ou seja, existiam outros valores, as

intenções iam além da prática de caridade, pois buscavam perpetuar a

servidão e sancionar a submissão caracterizando assim um processo de

alienação sobre os menos favorecidos. E a prática profissional era posta como

uma expressão do poder hegemônico da classe dominante, sua identidade era

aquela atribuída pela sociedade burguesa constituída, era uma forma de

controle social e de difusão do modo capitalista de pensar.

Compreendidas na conjuntura sócio-histórica presente no surgimento do

Serviço Social, há uma dificuldade na construção de identidade própria,

levando-nos até numa consciência alienada dessa realidade. Tendo como

função de alienar a população, caracteriza uma categoria alienada e alienante,

porque esta inserida no conjunto hegemônico de interesses da sociedade

capitalista que consequentemente desenvolve uma concepção da “ilusão de

servir” articuladas aos interesses capitalistas. Martinelli fala que a alienação

presente na sociedade “penetra a consciência dos agentes” erigindo-se como

“sério obstáculo” para que pudessem estruturar sua consciência social e

política (MARTINELLI,1989:115).

Segundo Martinelli, o valor atribuído a identidade da profissão se perde

nas origens e desenvolvimento do serviço social a partir do pacto político, entre

a burguesia, Estado e Igreja, onde se tornam agentes executores da prática da

assistência social, passando a operacionar, formular e executar as políticas

setoriais, perpassando na verdadeira identidade profissional uma identidade

atribuída pelo capitalismo. Ela fala que “a ausência de identidade profissional

fragiliza a consciência social da categoria profissional, determinando um

percurso alienado, alienante e alienador da prática profissional” (Martinelli,

1989), ou seja, essa falta de reconhecimento enquanto trabalho profissional

impede que a categoria possa assumir coletivamente o sentido histórico da

profissão.

Ressaltando a discussão da conceituação e particularidades do Serviço

Social enquanto trabalho Marilda Iamamoto em seu livro, Serviço Social em

Tempo de Capital Fetiche (2008), apresenta teses de grandes autores com

forte influência marxista no intuito de identificar através de críticas teóricas, um

46

conjunto de fatores que englobam a análise da profissão como resultado do

trabalho. A autora, ressalva que a explicação do Serviço Social como profissão,

se dá pelo processo de desenvolvimento de modernização da sociedade,

compreendida numa explicação endógena, que se materializa de formas

diferentes, inseridos na divisão social e técnica do trabalho, enraizados na

relação sócio-histórica do desenvolvimento capitalista.

Na concepção de Marilda, os autores discutiam o Serviço Social numa

perspectiva dentro da dimensão concreta, os argumentos debatiam o trabalho

dos assistentes sociais por aquilo que é útil pelo trabalho, eram discussões

voltadas pela utilidade para a sociedade, veiculadas com as políticas sociais.

As perspectivas das teses que analisam as particularidades do Serviço

Social trazem como centralidade o processo de trabalho da profissão. No

intuito de buscar na própria história sua constituição enquanto profissão,

transfigurando sua prática numa forma de engajamento do serviço social nos

movimentos sociais. Partem da intenção de ruptura, a qual surge no processo

de Reconceituação do Serviço Social, ou seja, nasce no processo de

rompimento com a perspectiva conservadora. Emerge no contexto da

ascensão, capitalismo monopolista, numa necessidade de enfretamento ao

Estado, estado que poderia intervir juntamente a classe trabalhadora.

Entre a caracterização das teses posta por Iamamotto (2008),

destacamos a Tese da Correlação de Forças, exposta por Vicente de Paula

Faleiros salienta a natureza da profissão e do exercício profissional, e diz que o

traço distintivo deste autor é sua preocupação com as relações de poder, e

acrescenta que esta contribui pioneiramente junto a temática da política social

de acordo com o campo em que a profissão se insere, “[...] o eixo central de

sua abordagem é a relação do Serviço Social com a política, introduzindo

noções gramscianas de ‘hegemonia’ no Serviço Social brasileiro.”

(IAMAMOTO, 37, 2010).

Segundo Faleiros, a correlação de forças parte da articulação de

atores/organizações-forças existentes no território para uma ação conjunta

multidimensional com responsabilidade compartilhada (parcerias) e negociada.

A existência de redes pressupõe uma visão relacional dos atores/forças numa

correlação de poder onde a perspectiva da totalidade predomina sobre a da

fragmentação. Com isso, devemos apreender com o campo de estágio o

47

significado real das categorias: cotidiano, historicidade, contradição, totalidade,

trabalho e mediações necessárias para o conhecimento e construção de

medidas de intervenção na realidade da vida em sociedade.

Focalizando as análises para as tensões das relações entre projeto

ético-político profissional e estatuto assalariado, Iamamotto (2008) evidencia as

transformações dos espaços ocupacionais de trabalho para a categoria

profissional na área do Serviço Social. É posto como dilemas para nossa

categoria, de um lado temos:

[...] a relativa autonomia do assistente social na condução de suas ações profissionais, socialmente legitimada pela formação acadêmica de nível universitário e pelo aparato legal e organizativo que regulam o exercício de uma “profissão liberal” na sociedade (expresso na legislação pertinente e nos Conselhos Profissionais). (IAMAMOTTO, 2008, 415)

Autonomia condicionada pelas lutas hegemônicas inseridas na

sociedade, retraindo ou alargando as bases sociais que fundamentam o

direcionamento social projetados pelo assistente social em seu exercício de

trabalho, que se interligam na relação de interesses de classes e grupos

sociais.

Por outro lado, temos como dilema:

[...] mediação do trabalho assalariado, que tem no Estado e nos organismo privados [...] mercantilização da força de trabalho do assistente social, pressuposto do estatuto assalariado, subordina esse trabalho de qualidade particular aos ditames do trabalho abstrato e o impregna dos dilemas da alienação, impondo condicionantes socialmente objetivos à autonomia do assistente social na condução do trabalho e a integral implementação do projeto profissional. (IAMAMOTTO, 2008, 416)

Repõe-se nas particularidades tensões entre a condição de trabalhador

assalariado e o seu projeto profissional, ou seja, tais particularidades abrem

espaço para o dilema entre causalidade e teleologia, que exige do profissional

articular na análise histórica, estrutura e ação do sujeito.

Com isso, é atribuída na discussão uma duplicidade ao trabalho

profissional como trabalho concreto e trabalho abstrato. Devido à

mercantilização da sua força de seu trabalho que correspondem aos trabalhos

abstratos e os contempla com os problemas da alienação, onde são atribuídos

condicionantes e determinantes sociais que levam à autonomia do assistente

48

social na condução do seu trabalho e a integralidade da implementação do

projeto profissional.

E para que o Projeto Ético Político – PEP se firme, é preciso está

politicamente organizado dentro da categoria, estando vinculado a um projeto

de transformação da sociedade.

Sabendo que, na contemporaneidade o trabalho, categoria ontológica

para o ser social, se direciona para a satisfação das necessidades e

lucratividade do capital, pois para o processo e desenvolvimento capitalista é

necessário que haja expansão e suas ações sejam movidas pela acumulação.

E como seqüelas ao meio social, as características gerais do capitalismo que

ganham especificidade hoje, por meio da flexibilização do trabalho temos:

exploração do trabalhador, desemprego, desigualdades sócias de categoria de

trabalho, vulnerabilidade de serviços, precariedade de instrumento de trabalho,

etc.

Discutindo a questão da instrumentalidade do Serviço Social, partindo da

historicidade da profissão, são observáveis variadas correntes, Guerra (2000)

através de leitura da obra de Marx, constrói um debate sobre a

instrumentalidade e compreende-a em três níveis que: parte da sua

funcionalidade ao projeto reformista da burguesia; refere-se à sua

peculidariedade operatória (aspecto instrumental-operativa); e

conseguintemente trata-a como uma mediação que permite a passagem de

análises universal às singularidades da intervenção profissional.

Ao decorrer de sua trajetória o Serviço Social, apresentou uma dicotomia

de trabalho, onde a concepção e planejamento de políticas sociais ficavam ao

cargo de outras categorias profissionais e agentes governamentais, e para o

Serviço Social competiam funções que mantivesse relação direta com

indivíduos atendidos pelos serviços sociais públicos. Com o Movimento de

Reconceituação, o Serviço Social rompeu com essa dicotomia de trabalho, com

o caráter executivo e conquistou novas funções e atribuições no mercado de

trabalho, tanto na forma de planejamento quanto no âmbito de administração

de políticas sociais.

Reconhecendo as expressões da “questão social” que perpassam a

realidade sócio-institucional e a cotidianidade dos sujeitos sociais, identificamos

em nosso objeto de trabalho no estágio I e II, realizado na instituição Caixa

49

Assistencial Universitária-CAURN (localizada na Avenida Sen. Salgado Filho n°

3.000, Centro de Convivência UFRN, Sala 20 Lagoa Nova, Natal/RN) um eixo

para a construção do projeto de intervenção, a partir do estudo e análise sócio-

institucional, apropriação de leis, estratégias de intervenção junto aos campos

de estágio numa busca de socialização dos direitos sociais, para à garantia ao

acesso aos direitos sociais dos usuários.

Diante dos conceitos, características, divergências e processos de

configurações do terceiro setor, o assistente social mesmo sendo reconhecido

como profissional liberal, não possui todos os meios necessários para a

efetivação de sua prática, pois, segundo Iamamoto (1998), ele ainda não detém

dos meios necessários para consolidação seu exercício profissional, pois o

mesmo:

Depende de recursos previstos nos programas e projetos da instituição que o requisita e o contrata, por meio dos quais é exercido o trabalho especializado. [...] Portanto, a condição de trabalhador assalariado não só enquadra o Assistente Social na relação de compra a venda da força de trabalho, mas molda a sua inserção socioinstitucional na sociedade brasileira. (IAMAMOTO, 1998, 63)

Reconhecidos como sujeito social, cidadão de direito e profissional, os

assistentes sociais comprometido com o Projeto Ético Político do Serviço

Social, apresentam sua totalidade de seus trabalhos no âmbito capitalista, de

forma tecnicista e pragmática, pois, sua instrumentalidade é por muitas vezes

condicionada pela forma de estruturação e organização política em seu espaço

sócio-ocupacional de trabalho.

As demandas sociais (desemprego, precariedade em instrumentos de

trabalho), que prefiguram os direitos efetivos desta categoria, estão vinculadas

a reestruturação produtiva, e ao processo de terceirização de seu exercício

profissional, processo este que desconfigura o significado e a amplitude do

trabalho técnico, deslocando as relações entre a população, e ocasionando a

precarização de condições de trabalho e péssima qualidade do serviço, devido

a uma sobrecarga do exercício profissional, havendo assim uma flexibilização

de sua prática. Cabe ao profissional sua capacidade criativa e autonomia no

manuseamento de instrumentos de trabalho, possibilita a produção de

mudanças na realidade social tanto em curto, quanto em médio e longo prazo.

50

Nesse contexto, a atuação profissional é limitada devido às condições da

realidade onde o seu trabalho se desenvolve associados por muitas vezes aos

processos burocráticos, dessa maneira a autonomia é relativa da atuação

profissional. E, sua prática nos direciona a uma crítica da instrumentalidade da

profissão inserida na reestruturação do capital, ressaltando que, seu exercício

profissional é impulsionado por determinantes resultantes do trabalho individual

e coletivo dos seus profissionais.

Para entendermos um pouco sobre o exercício profissional do assistente

social, a autora Raquel Raichelis (2007), em seus estudos analisa fatores

determinantes do Serviço Social enquanto profissão. No primeiro ponto

discutido, a autora fala que assim como outras profissões, a profissão de

assistente social se caracteriza pela construção histórica da própria profissão,

que a torna importante e mais visível a partir das análises feitas no interior de

seu movimento se encontra inserida. Para isso, é necessário que haja a

presença de deliberações sociopolíticas do Serviço Social em sua origem, e os

processos que levam a sua organização enquanto profissão, sendo

condicionadas pelas necessidades oriundas do processo de desenvolvimento

do capital.

No segundo ponto, trata da particularidade do Serviço Social como

profissão, seu modo de intervenção em processos e mecanismo ligado ao

arrebatamento da “questão social” em suas variadas manifestações e faces

mistificadas de acordo com sua conjuntura.

Raichelis (2007), nos leva ao terceiro ponto, sendo relativamente ao

fundamento da profissionalização do Serviço Social, a partir da estruturação de

um espaço sócio-ocupacional ocasionado pela dinâmica que emerge no

sistema estatal em suas relações com as classes sociais e suas distintas

frações, que transformam os vestígios da questão social em objeto de

intervenção continuada e sistemática por parte do Estado.

Em seu quarto ponto discutido, Raicheles (2007) afirma que com a

centralidade do Estado, na análise das políticas sociais, não significa que a

atuação do Serviço Social seja reduzi-las ao campo de intervenção estatal,

uma vez que para a sua realização participam organismos governamentais e

privados que estabelecem relações complementares e conflituosas, colocando

51

em confronto e em disputa necessidades, interesses e formas de

representação de classes e de seus segmentos sociais.

No quinto ponto Raichelis, fala que a reflexão sobre o trabalho do

assistente social na esfera estatal remete ao tema das relações, ao mesmo

tempo recíprocas e antagônicas, entre o Estado e a sociedade civil, uma vez

que o Estado não é algo separado da sociedade, sendo, ao contrário, produto

desta relação, que se transforma e se particularizam em diferentes formações

sociais e contextos históricos.

Finalizando, o último ponto abordado pela autora, ressalva que embora

seja frequente observar o tratamento das categorias Estado e governo como

sinônimos – considerando que é o governo que fala em nome do Estado –,

esse uso indiscriminado pode gerar confusões com graves implicações

políticas. As concepções de Raichelis tornam-se relevante para

compreendermos o processo de profissionalização que integra o cenário do

Serviço Social, particularizando suas relações sociais dentro da dimensão do

trabalho profissional do assistente social.

Partindo de uma dimensão propositiva e meramente interventista, o

Serviço Social atende as demandas que se modificam historicamente, e por

novas demandas é determinadas novas competências profissionais, contribui

segundo padrões e normas estabelecidas em seu código de Ética, buscando

novos meios de viabilizar políticas sociais na intervenção de projetos

alternativos dentro do contexto de crise do capitalismo. Atuando também nas

lacunas deixada pela relação capital-trabalho. E que lutam pelo seu

reconhecimento como profissional dentro nos espaço que constituem o

chamado “terceiro setor”, sendo eles de origem privados ou não.

A profissão do Serviço Social está regulamentada pela Lei n. 8.662/93,

nosso objeto profissional está enraizado num processo histórico apoiado de

valores humanos. Já o trabalho profissional, é resultante tanto do processo

histórico, quanto dos agentes que ele se dedica (determinantes), as forças

sociais criam novas conjunturas, novas possibilidades em seu campo de

trabalho.

Para o nosso exercício profissional, é importante o conhecimento dos

instrumentos legais fundamentais para nossa intervenção profissão, leis que

para nossa profissão ampara nosso exercício profissional e efetivam nossa

52

participação nos espaços sócio-ocupacionais. A seguir teremos, os principais

instrumentos legais para a atuação dos assistentes sociais em seu âmbito de

trabalho.

A Lei de regulamentação profissional (Lei 8662/93): além de definir o

que é o serviço social, determina quais são as nossas competências, nossas

atribuições privativas, nossos direitos e deveres, o que é vetado, e o que é

preciso fazer para ser considerado pra ser um serviço social. (determina a ação

serviço social). Temos o Código de Ética Profissional, código garante alguns

requisitos para nossa atuação enquanto profissionais do Serviço Social. E a

Legislação Social (Resoluções do CFESS).

Partindo das considerações feitas por Torres (2007), os Instrumentos

normativos que configuram as ações profissionais do assistente social tratam

de diretrizes, prioridades para a formação enquanto profissionais são

correspondente de: Diretrizes Curriculares da ABEPSS, com suas prioridades

para a formação; Política de Educação Continuada.

Além das leis de regulamentação, mais instrumentos ainda são

encontrados nas Resoluções do CFESS, que contribuiem para o

aprimoramento (outras questões de regulamentações) de nossos instrumentos

jurídicos, determinam e definem nossa intervenção.

Por isso, além de conhecer os instrumentos legais, é de suma

importância conhecer os conjuntos de outras questões e se apropriar da

legislação. Para que haja uma conexão de novos saberes, para darmos a

orientação correta para que as pessoas possam acessar seus direitos. Cabe ao

profissional do Serviço Social, ter uma noção de como funciona internamente

essas leis, é preciso uma apropriação contínua da legislação e políticas que

rege nosso espaço sócio-ocupacional, é importante mantermos atualizados,

porque nossa profissão depende disso.

E ainda nesse âmbito de instrumentos legais, além das resoluções

temos uma série de documentos oriundos do Conselho Federal, resultantes de

grandes debates coletivos aprovados pela categoria. São ações recomendadas

para atuação do assistente social (atividades que podemos desenvolver), de

acordo com o espaço sócio-ocupacional, apropriação específica daquela área,

denominados como parâmetros de atuação.

53

Vale ressaltar que, os espaços ocupacionais refratam as particularidades

e relações do trabalho na sociedade brasileira, através de inovações

tecnológicas e organizacionais, potencializando a produtividade e a

intensificação do trabalho. Com isso, são dadas ao mercado profissional de

trabalho dos assistentes sociais a necessidade de desenvolver novas medidas

(habilidades, estratégias, competências, atribuições) para o devido atendimento

e enfrentamento as demandas sociais frenquente em seu ambiente de

trabalho. Impondo ao profissional, uma visão mais crítica diante de suas

atribuições, permitindo-se um posicionamento ético-político e fortalecendo sua

luta contra-hegemônica inserida nos espaços sociocupacionais.

Com isso, é da competência dos profissionais do serviço social, a

elaboração de análises socioeconômica, para o entendimento das freqüentes e

novas demandas em seu meio de trabalho, considerando a mundialização do

capital que se impõe diretamente no universo do trabalho e dos direitos sociais,

e caracterizam um cenário de crise mundial.

Já as atribuições privativas do profissional desta categoria, na lei atual,

se referem à própria natureza do exercício profissional. Visto que, a

caracterização desse exercício era derivada da qualificação assistencial da

instituição, hoje, o fazer do assistente social são conceituados pelos atributos

técnicos e éticos do próprio profissional, tanto no âmbito privado como em

instituições de ordens sem fins lucrativos, ou seja, em qualquer instituição, em

sejam exercidos. Caberá, ao profissional e sua responsabilização profissional

associadas ao Projeto Ético Político da profissão, para o enfrentamento de

demandas posto em qualquer instituição.

Tomando como referência a Lei 8662 aprovada em 07 de junho de 1993,

que regulamenta e efetiva a profissão dos assistentes sociais nos espaços

sócio-ocupacionais, esta Lei traz consigo dois artigos fundamentais para nossa

intervenção enquanto profissionais do Serviço Social, que definem nossas:

Competências (significa dizer que temos a formação para fazer, temos o

preparo formativo, a graduação competente e consistente para poder

desenvolver nossas ações) e Atribuições Privativas (diferentemente de

competência, significa que essas atribuições caberão só para os profissionais

do Serviço Social podemos fazer.).

54

Tratando-se da assistência social no “terceiro setor” atua de forma

abrangente, pois reformula, busca socializar políticas sociais e atua segundo

padrões estabelecidos em seu Código de Ética e na Lei Orgânica de

Assistência Social.O profissional desta área deverá implantar uma Política de

Assistência Social de acordo com a área e o segmento atendido pela

instituição, pois o gerenciamento de políticas e ações sociais enfatizam uma

integração entre empresas e sociedade civil.

Considerando seu contexto histórico, a assistência social estava atrelada

ao tradicionalismo da prática do Serviço Social, esse tipo de característica é

posta na sua relação com a ausência de trabalho. Surge como política

desclassificadora do trabalho, ou seja, nasce na relação de lugar do não

trabalho, que embora seja funcional ao capitalismo. É o lugar em que as

pessoas estão porque não se esforçaram suficientes, não tiveram condições e

que não tiveram oportunidade.

A assistência social estava ligada não só ao lugar do “não trabalho”

(lugar desprivilegiado de atuação), mais também na manutenção de

determinadas relação de poder e de reprodução da política no Brasil, indo além

dessas desses determinantes pragmáticos em nossa categoria também

podemos encontrar outras características enraizadas no processo de

desenvolvimento do Serviço Social, como por exemplo: as relações de favor, o

clientelismo, a troca política, a assistência era exercida pela primeira dama

(mulher do prefeito) durante muito tempo, apresentava uma relação muito forte

com o personalismo da assistência com a figura feminina.

Com isso, temos uma marca cultural de nossa profissão, contendo uma

carga crítica a linha conservadora, onde ocorrerá a negação ao nosso trabalho

na assistência social. Essa negação tem o conservadorismo impregnado em

sua discussão, e na dificuldade de se reconhecer como classe trabalhadora,

trabalhador assalariado.

O assistencialismo na década de 1980 apresenta consigo uma

perspectiva de ajustamento das pessoas. As políticas públicas no contexto

sócio-histórico eram posta no âmbito doméstico a assistência. Nesse período,

temos como inflexões do Serviço Social: negações a discutir nosso trabalho na

Assistência Social, dificuldade de reconhecimento como classe trabalhadora.

55

Já nos anos 1990, essa linha conservadora que engloba o Serviço

Social nos trouxe conseqüências para fomentar discussões sobre: novas

exigências na Assistencial Social, a regulação de competências e atribuições

do assistente social, o que é nosso trabalho, Revalorização da política da

assistência social, o que temos como direito, o que é medida pública, o que

estamos fazendo na assistência, etc.

Com isso, teremos uma participação efetiva dos assistentes sociais, que

se dedica em grande parte com experiências, elaboração no que vai ser

aprovado enquanto política da Assistência Social, rediscutindo da nossa

relação de trabalho. Entre os projetos trabalhados, nos dedicaremos à

elaboração da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Política Nacional de

Assistência Social (PNAS).

Tratando da assistência num contexto amplo, a atuação dos assistentes

sociais nos espaços sociocupacionais, caracterizados como ONGs e

Entidades, visam à construção coletiva da cidadania por meio de projetos, que

trabalham o individuo como um todo, dentro de seu contexto social.

3.3 Desafios e possibilidades nos espaços organizacionais do “terceiro

setor”.

Ao longo do tempo e ao decorrer das transformações sócio-histórica,

vão surgindo novos elementos, demandas, novas contradições para nossa

atuação enquanto profissionais do Serviço Social. Com isso, novos

condicionantes surgem no processo de desenvolvimento capitalista, que

implicará ao trabalho do assistente social, novas configurações e uma dupla

determinação de seu trabalho, vista nas dimensões de trabalho.

Sendo, determinado pela conjunção entre projeto ético-político

profissional e o trabalho assalariado, que tem como pressuposto o cenário

mercantil, que corresponde à forma social da propriedade privada e a divisão

do trabalho. Pois, sua autonomia relativa é condicionada pelas lutas

hegemônicas na sociedade.

Inseridos num processo contínuo e dinâmico de reordenamento da ação

e produção do conhecimento, e renovação profissional a partir de um projeto

ético, temos como grande desafio nesses espaços organizacionais do “terceiro

56

setor” as questões sociais relativas à exclusão social, que correspondem às

complexidades da ação profissional do assistente social, ligada não apenas na

compreensão da realidade social, mas também na forma como se dá a sua

inserção nos contextos organizacionais.

Segundo Braz (2004), o desafio dos assistentes sociais consiste:

na manutenção da autonomia política das entidades, buscando apoiar propostas que signifiquem fortalecimento do projeto profissional e recusar outras que o contrariem, movendo esforços no sentido de preservá-lo e de criar condições para que avance. (BRAZ, 2004,p.63)

Ou seja, os assistentes sociais ao entrarem nas instituições

empregadoras são considerados como parte de um coletivo de trabalhadores

que implementam as ações institucionais condicionados pela política vigente,

cujo resultado será fruto de um trabalho cooperativo.

Considerando que nosso projeto profissional está ligado a um projeto

transformador da ordem social. “Suas acepções e valores o vinculam a

projeções sócio-históricas que vislumbram a ruptura com a ordem vigente.”

(BRAZ, 2004, 57)

Para isso, temos como desafio maior do assistente social nesses

espaços sócio-ocupacionais, organizações/entidades, esta vinculada a

manutenção da sua autonomia relativa condicionadas pelas lutas hegemônicas

de poder, tensionada entre as relações entre projeto ético-político profissional e

estatuto assalariado.

Segundo as análises de Iamamotto (2008),temos também como

condicionamento para nosso exercício profissional o dilema em nosso exercício

profissional a causalidade, que exige dos profissionais articulações na análise

histórica, estrutura e ação do sujeito (observados entre momentos de estrutura

e momentos de ação). E como principais condicionantes para nossa atividade

profissional, além de termos a burocracia que incide sobre o trabalho realizado

no âmbito do aparelho do Estado, que conseguintemente derivam a divisão do

trabalho, “separação entre os interesses particulares e o interesse geral”,

também temos o processo de

mercantilização da força de trabalho do assistente social, pressuposto do estatuto assalariado, subordina esse trabalho de qualidade particular aos ditames do trabalho abstrato e o

57

impregna dos dilemas da alienação, impondo condicionantes socialmente objetivos à autonomia do assistente social na condução do trabalho e à integral implementação do projeto profissional. (IAMAMOTTO, 2008, 416)

Para isso, é de suma importância o conhecimento e apropriação de leis

que nos dão amparo para nossas ações profissionais específica de nossa área.

É necessário mantermos uma educação em processo de atualização contínua,

responsabilidade e comprometimento, para que possamos efetivar nossa

colaboração profissional frente às demandas imposta pela sociedade e

espaços organizacionais.

E com a apropriação das leis, também é considerável identificarmos as

atividades privativas determinada aos assistentes sociais, pois, a

especificidade recai sobre o exercício profissional diferenciando dos demais

profissionais atuantes da área das ciências humanas e sociais. Ela conduz a

direção que o profissional irá imprimir sobre sua prática que irá realizar,

determinando o modo que o profissional estabelece objetivos, metas,

metodologia de ação.

Com a apropriação adequada das leis, contribuiremos para nosso

aprimoramento sobre o exercício profissional, e para que não nos tornemos

meros executores de programas/ gestores no desenvolvimento institucional e

organizacional na construção de uma lógica técnica e político-ideológica, pelo

fato de não usarmos a autonomia relativa interligada a profissão do Serviço

Social, correspondendo à ausência da postura crítica e ao comodismo

impregnando no surgimento do Serviço Social.

Possibilitaremos também, um aperfeiçoamento do assistente social no

campo profissional, no intuito de fomentar possibilidades concretas que

poderão transformar a realidade, mesmo inseridos no âmbito entre relações e

reprodução de práticas conservadora condicionada pela política vigente da

organização/entidades.

Mesmo sabendo que a conjuntura atual além de se encontrar numa

situação de enfrentamento de crise na saúde, educação, assistência, e de não

termos garantia da efetivação de nossos direitos garantidos por lei enquanto

profissionais atuantes na área do Serviço Social. Portanto, para o

aprimoramento da sua autonomia relativa nos espaços constituintes do

58

“terceiro setor”, poderíamos potencializarem nosso trabalho,aquilo que temos

maior autonomia funcional, nossos relatórios e atendimento.

Pois, nossa categoria trabalha com um víeis multidisciplinar, temos

análises da realidade social, para subsidiar as críticas da sociedade no capital,

caracterizados através de nossas vivências com a realidade da vida (violência,

abuso da descumprimento estatal governamental, temos os dados.), devido ao

grande tempo com a população, em contato com a população pobre e

expressões das “questões sociais”.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para concluirmos, temos como intuito fomentar questionamentos sobre

as principais tensões inseridos em sua prática/intervenção profissional. E

elucidar a busca de parte da categoria que procuram em conhecimentos

teórico-metodológicos, relações entre Estado e a sociedade de classes sua

auto-afirmação enquanto sujeito profissional. Caracterizando a prática do

assistente social e seu trabalho interdisciplinar inseridos nos espaços sócio-

ocupacionais de origem não governamental sem fins lucrativos.

Partindo de um contexto histórico enraizado numa dimensão

conservadora, nossa profissão foi regulamentada e reconhecida como

profissional de nível superior desde 1957. Na década de 1980, seu

desenvolvimento se dá pelo processo de reconstrução do que é o serviço

social, havendo assim uma sistematização de uma prática mais voltada na

discussão da emancipação humana, na defesa dos direitos. Já no ano de 1993,

a lei de regulamentação é aprovada depois de muita discussão pela categoria

profissional, e com ela veio a Aprovação do Código de Ética.

Interligados na historicidade da Assistência (direito a política pública) e a

relação do trabalho, o Serviço Social tem como objetivo a proteção a

indivíduos, grupos com dificuldades sociais e que precisam de proteção

adequada no intuito de garantir o acesso aos benefícios e direitos sociais

estabelecidos por lei.

As políticas de proteção social, que incluem a saúde, a previdência e a

assistência social, são consideradas produto histórico das lutas do trabalho, na

59

medida em que respondem pelo atendimento de necessidades inspiradas em

princípios e valores socializados pelos trabalhadores e reconhecidos pelo

Estado e pelo patronato.

Nossa categoria tem como pressuposto, interpretar a realidade, levando

em conta as mudanças ocorridas na estrutura das organizações. Partindo

desse breve conhecimento da realidade, para o exercício profissional há

exigências de conhecimentos da legislação social, princípios éticos, suporte

material para a efetivação da resposta/atendimento as demandase reafirmação

do Projeto Ético Político, pois seu trabalho é considerado uma força de trabalho

especializada e trabalho útil, que atende as necessidades sociais.

Considerando que nossa prática profissional se apresenta como

utilidade social marcada pela sua capacidade de dar respostas ao conjunto das

demandas sociais que lhe são postas, possui natureza interventiva, e tem

como instrumentalidade: conhecer, explicar, propor e implementar iniciativas

voltadas ao enfrentamento das desigualdades sociais.

Para isso, o assistente social imprime um direcionamento no que faz,

referindo-se ao trabalho profissional será capaz de materializar seu exercício

profissional na relação entre os sujeitos envolvidos em seu campo de trabalho,

através da interlocução as condições de vida do usuário e das atividades

realizadas, da metodologia construída e dos resultados concretos alcançados.

Os fundamentos primordiais para o exercício profissional no âmbito do

Serviço Social se darão a partir da consciência, sendo desenvolvida no

entendimento das condições da realidade, consciência da realidade, domínio

teórico e metodológico, analisar o ponto de vista histórico e contemporâneo.

Para isso, o Serviço Social requer do assistente social uma atuação

interdisciplinar para que possa dialogar entre diferentes categorias, fomentado

um processo coletivo de trabalho, com perspectivas diferentes decorrentes de

posturas éticas e políticas pautadas nos princípios e valores definidos nos

Códigos de Ética Profissionais.

Portanto, o assistente social tem que estar habituado ao contexto social

que se encontra inserido, é preciso que ele seja compreensivo, é preciso que o

profissional obtenha o “dom de ouvir”, mantendo uma visão ampla para

enxergar outros meios de soluções de intervenção apontando. Pois, a escuta

qualificada é um instrumento para o atendimento profissional..

60

Ao desenvolver o processo de realização do estágio obrigatório pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na instituição CAURN- Caixa de

Assistência de Saúde, localizada na Av. Sem. Salgado Filho nº 3000- Centro

de Convivência da UFRN, Sala 20 no bairro de Lagoa Nova em Natal- RN

durante a vivência do estágio e contato direto com usuários e as demandas da

instituição, pude compreender alguns aspectos de nossa categoria, para a sua

atuação é necessário que sejam ressaltados princípios que norteiam o Serviço

social, considerando um conjunto de habilidades, havendo assim uma

interligação entre os demais serviços prestados pela instituição, para o nosso

desenvolvimento enquanto profissional do Serviço Social é necessário que

articulemos as dimensões teóricas, como valores ético-profissionais, teórico-

político e técnico-operativa para que nossa intervenção seja de maneira

coerente e eficaz correspondendo aos valores do Projeto Ético- Político da

profissão, pois, devemos preservar essas dimensões durante nosso processo

formativo.

Considerando as particularidades durante a vivência do estágio, pude

perceber que o trabalho do Serviço Social, requer do profissional flexibilidade

para atender a inúmeras demandas inseridas no seu espaço ocupacional. Pois,

é necessário que o assistente social compreenda todo o contexto social do

usuário antes de intervir através da escuta qualificada, para poder atuar

corretamente. Lembrando que, a lei do mercado possibilita o enfrentamento de

novas demandas, ampliando novas competências na formação do profissional,

o processo capitalista nos impulsionar na busca de novas estratégias para o

enfrentamento de suas conseqüências.

O trabalho do assistente social, esta interligado com as ações da

instituição, há uma interligação entre todos os profissionais, ele atua

juntamente com todos os setores da instituição. O Setor do Serviço Social é

constituído como um elo de interação entre usuários e instituição. E sua

atuação se apresenta de uma maneira de grande significado de autonomia e

poder decisório determinando a realização de muitas atividades para o bom

funcionamento da CAURN.

A atividade de estágio supervisionado curricular possibilita e nos

capacita a trabalhar a questão do enfrentamento do (neo) conservadorismo

61

profissional que se apresenta no âmbito acadêmico, e em seu processo

formativo produz conhecimentos e formulações de respostas profissionais de

novas demandas sociais. Nesse processo de realização do estágio, é preciso

compreender e ressaltar os princípios que norteiam o Serviço social,

considerando um conjunto de habilidades que articulem as dimensões teóricas,

como valores ético-profissionais, teórico-político e técnico-operativa para

intervir de maneira necessária e coerente com o projeto de profissão, portanto

devemos preservar essas dimensões durante e depois do nosso processo

formativo.

Ressaltando, a reconfiguração dos movimentos sociais no cenário do

“terceiro setor”, essas novas formas de organizações avançaram com a

consolidação do projeto liberal, que visam desmontar os direitos já então

conquistados pela classe trabalhadora, visto que o terceiro setor não age na

perspectiva de universalidade dos serviços.

O “terceiro setor” age numa totalidade do capital, se contradizendo com

“ações sociais” reformulando políticas públicas a favor de seus interesses

capitalistas numa perspectiva de estratégia econômica, visando lucratividade,

fortalecimento de sua imagem institucional e valorização do impacto social que

tais projetos poderão causar na sociedade. Com isso, empresas e

organizações focalizam suas ações em medidas solidárias para ao

enfrentamento as demandas sociais.

A funcionalidade do “terceiro setor” está vinculada a estratégia

neoliberal, tem como pressuposto instrumentalizar a sociedade civil a partir de

projetos e programas sociais, atribuindo aos valores, práticas, sujeitos e

instâncias uma perspectiva de “solidariedade individual” e do “voluntarismo”.

Temos como grande determinante para o nosso exercício enquanto

profissionais do Serviço Social as questões burocráticas que englobam as

organizações do “terceiro setor”. Lembrando que, nosso desafio será posto de

acordo com os condicionantes/ políticas vigentes da própria organização , que

ocasionalmente implicará nas atividades e intervenções profissionais.

E que tais desafios, são reafirmados pelo poder de autoritarismo

predominado nas relações de poder, que por muita vezes são tensionados pelo

condicionamento patriarcal decorrentes do processo de desenvolvimento das

forças produtivas do trabalho e acirramento das questões sociais.

62

Diante de tudo que trabalhamos e o que foi analisado teoricamente,

notamos que para a luta pelo reconhecimento como profissional e efetivação

das ações profissionais do Serviço Social dentro nos espaço que constituem o

chamado “terceiro setor”, sendo eles de origem privados ou não, torne-se

efetivo é de suma importância que o mesmo se aproprie dos instrumentos

legais, definidos pelas leis específica de sua área, para que suas ações sejam

fundamentadas numa perspectiva colaboradora e transformadora em sua

inserção no âmbito das Organizações Não Governamentais – ONGs.

Ou seja, para a sua efetivação enquanto profissional é necessário a

apropriação da política, para que possamos politizar e publicizar nossos

direitos frente às demandas que condicionam nossa instrumentalidade

profissional, considerando que somos trabalhadores assalariados e que temos

uma autonomia relativa atribuída pelo setor que emprega os assistentes

sociais. Nosso desafio está no rompimento do viés tradicionalista impregnado

no Serviço Social, que nos impulsiona na busca de técnicas e aperfeiçoamento

contínuo em nossa instrumentalidade e ações profissionais.

Lembrando que, a prática profissional e instrumentalidade dos

assistentes sociais é dada através de modificações e alterações no cotidiano

profissional e no cotidiano das classes em que demandam a sua intervenção,

dão instrumentalidade em suas ações na medida em que os profissionais

utilizam, criam, adéquam às condições existentes, transformando-as em meios,

instrumentos para o acesso e alcance dos objetivos profissionais.

Com isso, temos como preocupação para a categoria, o debate sobre o

trabalho do assistente social na dimensão do trabalho abstrato. Pois,

acreditamos que deveremos abrir um debate maior no direcionamento do

exercício profissional do assistente social visto na dimensão abstrata,

consideramos que pouco se discutiu sobre nossas limitações, metas, nossa

dinâmica de rotatividade, precarização do trabalho, e que por muita vezes

temos que acatar a ordem/autoritarismo da política vigente inserida no âmbito

de trabalho, onde nossas ações são tensionadas entre o direcionamento que o

profissional quer imprimir e os constrangimentos inerentes ao trabalho

assalariado. Os principais dilemas visto no exercício profissional, são

decorrentes dos desafios atribuídos tanto pelo desenvolvimento capitalista em

determinadas organizações como pelos condicionantes burocráticos do

63

trabalho que interferem na atividade profissional do assistente social,

comprometendo a instrumentalidade do serviço social no âmbito do trabalho,

dilema condensado pela relativa autonomia na condução de suas ações

profissionais.

64

ANEXO

Artigo 4º Constituem Competências do Assistente Social:

I – elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a

órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e

organizações populares;

II – elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos

que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da

sociedade civil;

III – encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos,

grupos e a população;

IV – (Vetado);

V – orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no

sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e

na defesa de seus direitos;

VI – planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;

VII – planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para

análise da realidade social e para ações profissionais;

VIII – prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública

direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às

matérias relacionadas no inciso II deste artigo;

IX – prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria

relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis,

políticos e sociais da coletividade;

X – planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de

Unidade de Serviço Social;

XI – realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de

benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e

indireta, empresas privadas e outras entidades. (Lei Nº8.662, 93)

Vejamos algumas de nossas atribuições, segundo o artigo 5º da Lei

8662/93, que regulamenta a profissão e trata das ações próprias do assistente

social, que são:

65

I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos,

pesquisas, planos, programas e projetos na área de serviço social;

II- planejar, organizar e administrar programas e projetos na área na

unidade de serviço social;

III - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública

direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de

serviço social;

IV - realizar vistorias, perícias técnicas, lados periciais, informações e

pareceres sobre a matéria de serviço social;

V - Assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação

como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos

próprios e adquiridos em curso de formação regular;

VI - Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço

Social;

VII - dirigir e coordenar unidades de ensino e cursos de serviço social,

de graduação e pós-graduação;

VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de

pesquisa em serviço social;

IX - Elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões

julgadoras de concursos ou outras de seleção para assistentes sociais,

ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;

X - Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos

assemelhados sobre assuntos de Serviço Social;

XI - fiscalizar o exercício profissional por meio dos Conselhos Federal e

Regionais;

XII - dirigir serviços técnicos de serviço social, em entidades públicas ou

privadas;

XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão

financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

(TORRES, 2007,48)

66

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