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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ANDRÉ LUCIANO BASTOS ASSÉDIO MORAL E A PERDA DA DIGNIDADE DO TRABALHADOR CURITIBA 2014

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ANDRÉ LUCIANO BASTOStcconline.utp.br/media/tcc/2015/04/ASSEDIO-MORAL-E-A-PERDA-DA... · RESUMO Apesar da discussão sobre o assédio moral ser relativamente

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ANDRÉ LUCIANO BASTOS

ASSÉDIO MORAL E A PERDA DA DIGNIDADE DO TRABALHADOR

CURITIBA

2014

ANDRÉ LUCIANO BASTOS

ASSÉDIO MORAL E A PERDA DA DIGNIDADE DO TRABALHADOR

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Clayton Reis.

CURITIBA

2014

TERMO DE APROVAÇÃO

ANDRÉ LUCIANO BASTOS

ASSÉDIO MORAL E A PERDA DA DIGNIDADE DO TRABALHADOR

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____de____________ de 2014.

_________________________________________________

Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite. Coordenador do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: ______________________________________________________ Professor Clayton Reis

Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________________________ Professor.

Universidade Tuiuti do Paraná

______________________________________________________

Professor Universidade Tuiuti do Paraná

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que sempre me auxiliaram e incentivaram para a conclusão

do curso de Direito.

Ao meu orientador Clayton Reis, notável mestre e exemplo profissional, pela

sua sabedoria e orientação na conclusão deste trabalho.

A minha namorada pelo incentivo, carinho e auxílio.

Aos amigos e amigas conquistados durante o curso que caminharam ao

meu lado nessa jornada.

Dedico esta obra aos meus pais Gelson Ferreira Bastos e Mara Sueli Bastos, pelos incentivos, seus ensinamentos e valores passados durante toda a minha vida.

RESUMO

Apesar da discussão sobre o assédio moral ser relativamente contemporânea a

agressão ao trabalhador ocorre desde os tempos mais antigos tendo inúmeros

registros históricos sobre humilhações repetidas e prolongadas dos trabalhadores.

Também conhecido como violência moral, o assédio moral vem sistematicamente

expondo o trabalhador a situações constrangedoras e humilhantes, sendo

caraterizado por relações hierárquicas onde aquele com maior poder cruelmente

hostiliza a vitima causando graves prejuízos mentais a dignidade do trabalhador.

Essas agressões também podem ocorrer por colegas de mesma hierarquia, sendo

denominado assédio moral horizontal. Apesar de ainda não possuir legislação

específica, o tema intimamente conecta o assédio moral a ofensa aos direitos da

personalidade do trabalhador. Com fundamento nos princípios constitucionais da

Dignidade da Pessoa Humana e Direitos da Personalidade, a jurisprudência vem

resguardando os direitos do trabalhador através da responsabilização dos

empregadores buscando, desta forma, não somente indenizar o dano, mas também

servir como uma punição pedagógica com o intuito de inibir este grave mal que

atinge diversos trabalhadores em nosso país.

Palavras – chaves: Assédio moral. Dano moral. Dignidade da pessoa humana.

Responsabilidade civil.

LISTA DE SIGLAS

CF Constituição Federal

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

STF Supremo Tribunal Federal

CC Código Civil

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8

CAPÍTULO 1 – BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO ................. 9

1.1 CONCEITO DE RELAÇÃO DE TRABALHO................................................... 9

1.2 O PODER DIRETIVO ................................................................................... 10

1.3 HISTÓRICO SOBRE A RELACAO DE TRABALHO ..................................... 10

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS ........................................... 12

2.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS ....................................................................... 12

2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ............................................................... 14

CAPITULO 3 - RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................................... 16

3.1 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................... 16

3.2 DANO ........................................................................................................... 16

3.2.1 Dano patrimonial e extrapatrimonial ............................................................. 17

3.2.2 Dano moral................................................................................................... 18

CAPÍTULO 4 - ASSÉDIO MORAL ........................................................................... 20

4.1 CONCEITO .................................................................................................. 20

4.2 ASSÉDIO MORAL HORIZONTAL E VERTICAL .......................................... 23

4.3 ASSÉDIO MORAL EM OUTROS PAÍSES ................................................... 23

4.4 ASSÉDIO MORAL NO BRASIL .................................................................... 25

4.4.1 Jurisprudência .............................................................................................. 27

4.5 CARACTERIZAÇÃO DA VÍTIMA E DO AGRESSOR ................................... 29

CAPÍTULO 5 - DANOS DECORRENTES DO ASSÉDIO MORAL .......................... 31

5.1 EFEITOS CARACTERIZADORES ............................................................... 31

CAPÍTULO 6 - RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR ......................... 33

6.1 A DIFICULDADE SOBRE AS PROVAS ....................................................... 34

6.2 INDENIZAÇÃO E REPARAÇÃO .................................................................. 36

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 41

8

INTRODUÇÃO

O tema proposto por esta monografia tem como objetivo discutir as relações

de trabalho e o fenômeno chamado de assédio moral. A importância desta análise

vem crescendo a cada instante em um mundo globalizado onde a produtividade,

competividade e preocupação pela saúde mental do trabalhador se torna foco de

várias discussões.

Em um mundo contemporâneo busca-se cada vez mais uma sociedade que

preza pelos direitos humanos, dentre eles o direito ao trabalho, as condições justas

e favoráveis ao trabalho, a dignidade humana, a honra e a reputação. Porém a luta

por estes direitos é antiga e ganhou maior força com a Declaração Universal dos

Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948.

O assédio moral e a perda da dignidade do trabalhador busca debater sobre

os danos causados em um ambiente de trabalho cada vez mais competitivo onde o

receio de perda do emprego, faz com que as vítimas do assédio se sujeitem as

humilhações constantes causando graves danos a saúde mental, a desestabilização

psíquica e até mesma a sequelas físicas que mesmo depois de cessado o assédio,

podem perdurar por anos ou até mesmo serem permanentes.

O combate a esta delito deve ser feito de forma a responsabilizar os

assediadores e as empresas visando sua total extinção tornando, desta forma, a

sociedade um lugar mais justo e digno para se viver e trabalhar.

9

CAPÍTULO 1 – BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO

1.1 CONCEITO DE RELAÇÃO DE TRABALHO

Antes de adentrar ao tema do assédio moral e a perda da dignidade do

trabalhador é fundamental conceituar alguns institutos para melhor entendimento

dos malefícios deste fenômeno social, possibilitando distinguir quais são os poderes

que o empregador possui, o que caracteriza a relação de trabalho e emprego e até

mesmo um breve histórico sobre o tema.

Inicialmente é necessário estabelecer o conceito sobre a relação de

trabalho. A doutrina considera a relação complexa havendo diversas conceituações

e entre elas, a que parecer ser mais abrangente é aquela estabelecida por Delgado:

Por relação de trabalho pode-se dizer qualquer liame jurídico que tenha por objeto a prestação de serviço a um determinado destinatário. A categoria é ampla e abrange inúmeras espécies, tais como a empreitada, o locador de serviço, o artífice, o trabalho prestado por profissional liberal, o trabalhador avulso, o serviço eventual e autônomo, o temporário, o representante comercial, o funcionário público e, também o trabalho do empregado subordinado, dentre outros. A relação de emprego é espécie do gênero relação de trabalho e corresponde a prestação de serviço subordinado por uma determinada pessoa física. (DELGADO, 2008, p. 231).

Da leitura deste conceito pode-se entender que a relação de trabalho é

ampla e abrange diversas modalidades, sendo que a relação de emprego é de maior

importância ao estudo do tema proposto por esta monografia, pois é ela que

estabelece os sujeitos e os vínculos obrigacionais geralmente pactuados através de

um contrato individual de trabalho. De acordo como artigo 442 da CLT este seria um

acordo tácito ou expresso correspondente a relação de emprego.

Entre os sujeitos existentes neste contrato individual de trabalho estão o

empregador e o empregado, sendo o primeiro credor de uma obrigação imposta ao

segundo para uma prestação de serviços contrapostos a uma obrigação de

remunerar esta prestação. A doutrina contemporânea estabelece cinco elementos

para caracterizar o vinculo empregatício. Para este existir o trabalho deve ser

efetuado por pessoa física, de forma pessoal, não eventual, sendo remunerado e

havendo subordinação entre o empregador e o empregado.

Com o vinculo empregatício surge os deveres do empregador, entre eles

aqueles previstos constitucionalmente que dizem ser dever deste: proteger a saúde

10

e integridade física de seus empregados, zelando por um ambiente de trabalho

digno e justo. Enquanto do lado do empregado espera-se da mesma forma que este

realize seu trabalho de forma correta, eficiente, com honestidade e respeito ao

empregador, a lei e aos colegas de trabalho.

1.2 O PODER DIRETIVO

Decorrente da subordinação que o vinculo empregatício estabelece, surge o

poder diretivo do empregador que lhe oportuniza decidir de que forma serão

conduzidas as atividades do empregado dentro de seu ramo de trabalho. Do poder

diretivo derivam o direito do empregador organizar, fiscalizar, orientar, distribuir, e

disciplinar os atos de seus empregados, dentro dos limites da lei sem impor um rigor

excessivo.

1.3 HISTÓRICO SOBRE A RELAÇAO DE TRABALHO

Nos tempos antigos o trabalho era efetuado por escravos, não havendo

remuneração e nenhuma espécie de proteção aos direitos do trabalhador. Com

condições geralmente desumanas, o escravo possuía apenas a contraprestação

precária de alimentos e moradia. O indivíduo escravo era considerado propriedade

de outra pessoa e as atividades desenvolvidas eram as mais diversas possíveis,

passando pela agricultura, pecuária, serviços caseiros e até o entretenimento

através de lutas sangrentas como no caso dos gladiadores da Roma antiga. Em

nosso país a mão de obra escrava foi muito utilizada até a abolição da escravatura

ocorrida através da Lei Aurea sancionada no ano de 1888.

O trabalho efetuado por escravos foi reduzido durante a idade média. Porém

o feudalismo foi outro regime que impunha um tratamento degradante aos

trabalhadores, embora os servos, diferente dos escravos, eram reconhecidos como

pessoas. O sistema era baseado na propriedade, onde o denominado senhor feudal

emprestava parte de suas terras a outras pessoas, para que estas pudessem plantar

e viver em troca de pagamento de impostos, entrega de parte da produção agrícola,

serviços realizados em suas casas, etc.

Com o surgimento das chamadas corporações de oficio, o trabalho começou

a se organizar, pois era através desta que pessoas com conhecimentos mais

11

técnicos se associavam como aprendizes, companheiros e mestres. O objetivo

dessas corporações era o aprendizado dos mais novos, produção e negociação de

seus produtos de forma mais lucrativa e eficiente. Com o fim de tal modelo de

trabalho é que foi instituída a liberdade de contratar trabalhadores.

Porém, verdadeiro marco nas relações de trabalho ocorreu com a Revolução

industrial que trouxe novas formas de produção e tecnologia. Os produtos eram

confeccionados por máquinas e produzidos em séries. As condições de trabalho

eram rigorosas e degradantes, quase em regime de escravidão com jornadas

extensas e baixos salários.

Com a união dos trabalhadores iniciou uma verdadeira luta contra o

capitalismo, onde estes pleiteavam melhores condições de trabalho. A revolução

francesa exaltou a liberdade individual consagrada na constituição deste país no ano

de 1791. (BARROS, 2009, p. 61)

A evolução de um ambiente de trabalho mais digno se espalhou mundo

afora e logo tratados internacionais e as constituições dos países passaram a criar

mecanismos de proteção aos trabalhadores. Exemplos destas mudanças estão na

Constituição do México de 1.917 e na Constituição alemã de 1.919. Em nosso país a

Constituição do Império de 1.824 iniciou a proteção do indivíduo trazendo alguns

direitos fundamentais. Outro marco para a conquista de condições de trabalhos mais

digna foi a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1.948, que fundamentou

o denominado princípio da dignidade da pessoa humana.

É com o estudo dos direitos fundamentais, verdadeiras ferramentas para

proteção do indivíduo, e princípios derivados destes, que vários países elaboraram

leis que protegem o trabalhador contra situações de trabalho degradantes, como a

prática do assédio moral, pleiteando um ambiente de trabalho sadio, digno e justo.

12

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS

O Assédio Moral ainda não está previsto explicitamente na legislação

brasileira federal, porém diversas decisões jurisprudenciais e até mesmo a doutrina

vem punindo os agressores utilizando princípios e direitos constitucionais, dentre

eles, é importante destacar o principio da dignidade da pessoa humana e os Direitos

Fundamentais.

2.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os Direitos Fundamentais consistem basicamente em instrumentos de

proteção aos indivíduos, porém uma definição mais exata encontra divergências na

doutrina, não se conseguindo extrair um conceito absoluto sobre o tema. Talvez até

devido às mudanças ocorridas ao longo da história, pois os Direitos Fundamentais

são relativos, evoluem e mostram que a sociedade preza cada vez mais pela criação

de mecanismos de proteção aos indivíduos.

Entre as divergências doutrinárias em definir os Direitos Fundamentais, está

a confusão em distingui-los dos denominados Direitos Humanos. Em síntese,

Direitos Fundamentais seriam aqueles previstos na legislação vigente, fornecendo

proteção constitucional aos indivíduos, enquanto os Direitos Humanos teriam

alcance internacional, provenientes de Leis e Tratados entre países com o objetivo

de estabelecer normas gerais de proteção.

No âmbito mundial um dos primeiros países a incluir os direitos

fundamentais em sua Constituição foram os Estados Unidos, porém a Declaração

dos Direitos do Homem e do Cidadão, emitida em decorrência da Revolução

Francesa, também teve grande importância ao incluir no seu artigo 16 que “a

sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida

a separação dos poderes não tem Constituição”. A Constituição Mexicana (1917) e

Alemã (1919) também estabeleceram os direitos fundamentais tratando da liberdade

e igualdade entre os indivíduos.

Em nosso país, a Constituição do Império de 1.824 trazia um de seus títulos

denominado “Das Garantias dos Direitos Civis e Políticos do Cidadão Brasileiro”

onde alguns direitos fundamentais eram protegidos, porém com um com um texto

mais contemporâneo e um titulo denominado “Dos Direitos e Garantias

13

Fundamentais” a Constituição de 1988 estabeleceu um marco na proteção de tais

direitos e nesta são garantidos direitos básicos e fundamentais como a liberdade, a

integridade física, a honra, a dignidade, entre outros.

Desta forma a Constituição Federal (CF) estabelece uma série de direitos

imprescindíveis a cada indivíduo, determinando também que o Estado deve

respeitar e proteger esses direitos, pois são eles que justificam a existência do

próprio Estado.

Com a evolução da sociedade ao longo da história, novos direitos

fundamentais foram surgindo, decorrendo a divisão destes em gerações.

Os direitos fundamentais de primeira geração se referem aos valores de

liberdade traduzidos como os direitos civis e políticos, ou seja, são os direitos de

resistência ou oposição ao Estado. São eles que permitem ao indivíduo uma relativa

liberdade em relação ao Estado, garantindo que este não interfira em todas as

esferas de suas vidas. São exemplos de direitos fundamentais de primeira geração,

e suas derivações, o direito a vida, o direito ao voto, a liberdade de manifestação e

associação.

Os direitos fundamentais de segunda geração tratam dos direitos de

igualdade relacionados aos direitos sociais, culturais, econômicos e os coletivos ou

de coletividade. Entende-se que estes direitos obrigam o Estado a determinadas

prestações. São previstos no capitulo intitulado “Dos Direitos Sociais” que garantem,

por exemplo, o direito a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o

lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade e a infância, a

assistência aos desamparados, (art. 6, caput, da CF/1988).

Os direitos fundamentais de terceira geração são inspirados nos

denominados direitos de solidariedade e fraternidade que tem o intuito de proteger o

ser humano como indivíduo sendo necessário o empenho de todos para a sua

efetivação. Entre os direitos fundamentais de terceira geração podemos citar o

direito a um meio ambiente equilibrado, ao desenvolvimento, a paz e a

comunicação.

A definição sobre a existência dos direitos fundamentais de quarta geração

gera uma multiplicidade de conceitos. Enquanto alguns dizem que estes se referem

aos direitos à democracia, informação e ao pluralismo, frutos de uma globalização

política (BONAVIDES, 2006, p.571), outros diz que os direitos de quarta geração se

relacionam aqueles ligados a biotecnologia, ao biodireito a manipulação genética

14

(RAMOS, 2013. p.28 apud BOBBIO, 1992). Ficando entendido que esta geração

versa sobre o futuro e liberdade da sociedade.

2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Os princípios constituem uma base para a interpretação, orientação e

criação das normas jurídicas. Adotados pela sociedade e inseridos no ordenamento

jurídico de tal forma, auxiliam os interpretadores do direito a extrair o significado de

determinadas disposições legais, servindo também, para inibir a prática desenfreada

de punir, constituindo verdadeira forma de proteção contra a arbitrariedade. De

maior relevância no ordenamento estão os princípios previstos explicita ou

implicitamente na Constituição Federal de 1.988.

Desta forma importante instituto utilizado como fundamento de toda a ordem

constitucional, o principio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1,

inciso III da Constituição Federal, funciona como uma orientação, um princípio

supremo, que dele derivam todas as regras jurídicas, incluso ai, aquelas

desenvolvidas nas relações de trabalho.

O princípio da dignidade da pessoa humana é Inspirado na Declaração

Universal dos Direitos do Homem de 1.948 que traz fundamentos como a liberdade,

a justiça e a paz. A busca destes direitos ao longo da história ganha mais forças com

a promulgação da Constituição Federal de 1988 afastando qualquer ação que venha

ameaçar a lesionar tais valores tão essenciais a vida humana.

O núcleo da sociedade é o ser humano e sua dignidade deve ser protegida

em todas as relações jurídicas, inclusive no ambiente de trabalho onde o indivíduo

obtém seu sustento e de sua família, garantindo desta forma uma existência digna.

A dignidade da pessoa humana está pautada na moral e na ética, valores

estes subjetivos, então para definir e auxiliar o estudo do tema, Alexandre de

Moraes conceitua a dignidade da pessoa humana como:

[...] um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (MORAES, 2009, p. 21)

15

Assim, entende-se que a dignidade da pessoa humana se refere a um valor

interior, espiritual, próprio do cidadão que não pode ser renunciado e nem inibido de

qualquer forma.

De tal modo o princípio da dignidade protege o ser humano garantindo sua

existência, sendo a base para toda a constituição e leis infraconstitucionais. É deste

princípio que os doutrinadores definiram sua derivação, o denominado princípio da

dignidade humana do trabalhador.

O principio da dignidade humana age nas relações de trabalho garantindo a

integridade do trabalhador e o protegendo de condições de trabalho degradantes,

casos de assédio moral e qualquer fator que lesione ou ameace a sua dignidade.

O trabalho fornece dignidade ao ser humano, pois ele é indispensável à

subsistência, realização pessoal e profissional do indivíduo, sendo essencial para o

desenvolvimento de uma sociedade. Desta forma os empregadores devem respeitar

os direitos fundamentais do empregado preservando a harmonia e estabilizando as

relações sociais. O assédio moral viola explicitamente este principio fundamental,

devendo assim, ser duramente reprimido das relações de trabalho.

Não distante do tema tratado, estão os direitos de personalidade do

trabalhador traduzidos como o respeito a vida, a integridade física e psíquica, a

honra, a privacidade, a imagem e a igualdade de tratamento. Tais direitos garantem

o respeito a dignidade e as condições mínimas de trabalho fornecendo um valor

irrenunciável, personalíssimo e inquantificável ao indivíduo.

Aprofundando mais o estudo sobre o que fundamenta a base da

responsabilidade sobre os danos causados pelo assédio moral no indivíduo torna-se

necessário discorrer brevemente sobre a responsabilidade civil, seus pressupostos e

os conceitos de dano patrimonial e extrapatrimonial que a doutrina e jurisprudência

costumam aplicar a estes institutos.

16

CAPITULO 3 - RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A ideia de responsabilizar civilmente aquele que sofreu um dano injusto,

resultantes da violação de um direito, possui o objetivo de restaurar o equilíbrio

violado. Tal entendimento está previsto nos artigos 186 e 935 do Código Civil

Brasileiro. O artigo 186 dispõe que aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito. Enquanto que o artigo 935 cita que aquele

que, por ato ilícito causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Diante da leitura do artigo 186 podemos entender que são pressupostos da

responsabilidade civil: o ato ilício, a culpa, o dano e o nexo causal.

O ato ilícito seria concretizado ao se realizar um comportamento de forma

contrária a uma ordem legal tendo como requisitos a conduta, que é concebida

através do comprimento intencional ou previsível de um resultado exterior, a

violação do ordenamento jurídico, por comportamento contrário a norma legal, a

imputabilidade, caracterizado pela atribuição do resultado antijurídico a consciência

do agente e a invasão da conduta na esfera jurídica alheia (PEREIRA, 2004, p. 654).

De forma sintética, a culpa seria a violação de uma norma sem a intenção de

produzir um dano, enquanto no dolo o agente teria a vontade consciente de se

querer um resultado.

Porém é através do nexo causal que irá se estabelecer uma relação ou

vínculo do dano com o seu causador. É ele que irá ligar o prejuízo causado a uma

conduta do agente, sendo desta forma, essencial à responsabilidade civil. Não

menos importante estará o denominado dano, pois a doutrina costuma afirmar que

sem dano não há responsabilidade civil.

3.2 DANO

A etimologia da palavra dano deriva do latim damnum, que significa causar

prejuízo, mal, ofensa, deterioração ou aniquilação que uma pessoa pode dirigir a

outra ou aos seus bens. O Dicionário da Língua Portuguesa da editora

17

melhoramentos ensina que dano (s.m.) 1. Mal que se faz a outrem. 2. Prejuízo

material causado a alguém (MELHORAMENTOS, 2006, p 142).

Para o Direito o dano é o efeito de um ato humano ilícito, comissivo ou

omissivo, decorrente de dolo ou culpa, que fere interesse alheio juridicamente

protegido (OLIVEIRA, 2002, p. 28). Desta forma é possível entender que para existir

o dano é necessário haver uma lesão a um bem de outrem, por vontade própria ou

por culpa. Com a ocorrência do dano, e prejuízo alheio, surge o dever de indenizar.

Agostinho Alvin aprofunda ainda mais a definição, conceituando o dano em

sentido estrito como:

“Dano é a lesão do patrimônio, assim considerado o conjunto das relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro, sendo apreciado sob a perspectiva da diminuição sofrida no patrimônio. Destarte, a matéria do dano prende-se a da indenização, de modo que só interessa o estudo do dano indenizável.” (PAROSKI, 2013, p.36).

Os conceitos comuns em todas as definições sobre o dano citam a ofensa

ao patrimônio do ofendido, na ótica de Maria Helena Diniz (DINIZ, 2003, p. 5-6) “o

dano é a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a certo evento, sofre uma

pessoa contra sua vontade em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou

moral”.

Carlos Roberto Gonçalves (GONÇALVES, 1995, p. 391) estabelece a

comparação feita por alguns autores que definem o conceito clássico de dano como

aquele que constitui uma redução do patrimônio do ofendido, enquanto outros o

definem como a diminuição ou subtração de um bem jurídico, que abrange não

apenas o patrimônio, mas a vida, a honra, a saúde, a vida, e todos os bens

suscetíveis de proteção.

Assim, entende-se que havendo uma lesão ao patrimônio alheio, é

necessário haver uma compensação pelo dano sofrido. A legislação pátria, através

do CC, artigo 186, cita ainda a questão do dano moral, nos fazendo entender que o

dano não diz respeito somente a lesões efetuadas apenas sobre bens materiais.

3.2.1 Dano patrimonial e extrapatrimonial

Para elucidar este questão a doutrina criou a classificação de danos

patrimoniais e danos extras patrimoniais. O dano patrimonial seria aquele que se

18

refere a algum bem com valor econômico, quase sempre quantificável em dinheiro.

Não sendo possível haver esta valoração o dano seria extrapatrimonial.

3.2.2 Dano moral

A doutrina ensina que quando o bem lesado não se refere ao patrimônio

material do indivíduo, mas sim aos sentimentos, afeições, honra, dignidade, a

intimidade, a imagem, produzindo dores íntimas, angústias, humilhações atingindo a

alma da pessoa ou a sua integridade psíquica, o dano seria não-patrimonial,

imaterial ou extrapatrimonial. Neste sentido Jose de Aguiar Dias estabelece:

Quando ao dano não correspondem as características do dano patrimonial, dizemos que estamos em presença do dano moral. A distinção, ao contrário do que aparece, não decorre da natureza do direito, bem ou interesse lesado, mas do efeito da lesão a um bem não patrimonial como dano moral em resultado de ofensa a bem material. Releva observar ainda que a inestimabilidade do bem lesado, se bem que, em regra, constitua a essência do dano moral não é critério definitivo para a distinção, convindo, pois, para caracterizá-lo, compreender o dano moral em relação ao seu conteúdo, que não é o dinheiro, nem coisa comercialmente reduzida a dinheiro, mas a dor, o espanto, a emoção, a vergonha, a injúria física ou moral em geral uma dolorosa sensação experimentada pela pessoa atribuída a palavra dor o mais largo significado. (PAROSKI, 2006, p. 38, apud MINOZZI).

Antônio Chaves define o dano moral como a dor resultante da violação de

um bem juridicamente tutelado sem repercussão patrimonial. Seja a dor física,

nascida de uma lesão material, seja a dor moral, de causa material (REIS apud

Chaves, 2010, pág. 8).

Para o dano moral existir é necessário que o íntimo de uma pessoa seja

atingido de alguma forma. Não apenas um mero aborrecimento, mas sim algo que

lhe atinja a alma, o centro de seu bem estar psíquico. Neste sentido Antônio Jeová

Santos estabelece:

“O que configura o dano moral é aquele alteração no bem-estar psicofísico do indivíduo. Se do ato de outra pessoa resultar alteração desfavorável, aquela dor profunda que causa modificações no estado anímico, ai está o inicio da busca do dano moral.” (OLIVEIRA, 2002, pág. 33)

O dano moral ofende o principio da dignidade da pessoa humana expresso

na Constituição Federal de 1.988 no seu capitulo “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais”, dando a este instituto uma maior profundidade, visto que a

19

dignidade da pessoa humana é o núcleo, o alicerce para os sentimentos mais

intrínsecos do ser humano.

O dano moral fere e traumatiza a autoestima, o estado psicológico de um

indivíduo é abalado trazendo uma dor mental, sofrimento e angústia as suas vítimas.

E são estas as consequências que deve ser indenizadas pelo direito.

Sobre os direitos da personalidade que são atingidos pelo dano moral

Américo Luíz Martins da Silva cita que:

“Dano moral consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação de um bem extrapatrimonial contidos nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, a intimidade, o decoro, a imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família)”. (SILVA,2012, p. 23)

O dano moral fere o próprio núcleo do ser humano e sua base, a sua matriz

que sustenta todo o patrimônio psicológico e moral do indivíduo. A complexidade

que este dano causa a uma pessoa é tão vasto e subjetivo que talvez, mesmo a

indenização proposta para compensar a vítima não seja suficiente para abrandar a

dor íntima que esta sente.

O dano moral lesa ainda a integridade física, psicológica afetiva, intelectual,

ética e social da pessoa humana. Atingindo todos os bens mais importantes ao ser

humano. Neste sentido Sergio Cavalieri Filho dispõe que

O dano moral não mais se restringe a dor, tristeza e sofrimento, estendendo sua tutela a todos os bens personalíssimos – os complexos da ordem ética -, razão pela qual se revela mais apropriado chamá-lo de dano não patrimonial, como ocorre no Direito português. Em razão dessa natureza imaterial, o dano moral é insusceptível de avaliação pecuniária, podendo apenas ser compensando com obrigação pecuniária imposta ao causador do dano, sendo esta mais uma satisfação do que uma indenização (CAVALIERI, 2005, p. 121).

Miguel Reale (REALE, 1992, p. 23) diz que é possível distinguir ainda o dano

moral em objetivo, que seria aquele que atinge a moral da pessoa onde ela vive,

lesando sua imagem perante seus semelhantes, e o dano moral subjetivo, que

atinge sua intimidade psíquica, sujeito a dor ou sofrimentos íntimos da pessoa.

20

CAPÍTULO 4 - ASSÉDIO MORAL 4.1 CONCEITO

Vivemos em um mundo globalizado onde as empresas visando o lucro e

sucesso em suas operações pressionam suas equipes em busca de resultados cada

vez maiores. Os empregadores cobram o aumento da produtividade de seus

gestores que repassam esta pressão aos seus subordinados. Neste ambiente, cada

vez mais competitivo, onde os indivíduos tem medo do desemprego e buscam o

crescimento profissional, surge um cenário favorável para a instalação do fenômeno

denominado assédio moral.

Os trabalhadores, receosos em perder a sua fonte de recursos, utilizada

para sustentar a si e a sua família, se sujeitam a vários tipos de agressões, duras

cobranças e humilhações reiteradas e prolongadas que acabam por trazer graves

danos a sua integridade psíquica degradando o ambiente de trabalho.

As agressões a psique do indivíduo ocorrem geralmente por parte dos

chefes em relação aos seus subordinados, mas também pode ocorrer entre seus

colegas. Os agressores podem impor o assédio moral sobre suas vítimas pelo

isolamento, através de horários de trabalho desumanos, duras cobranças de

resultados, indiretas, brincadeiras, piadas, gracejos, grosserias, menosprezo,

gestos, xingamentos e humilhações diante de todos. Entre os objetivos das

agressões mais comuns, estaria o afastamento da vítima do ambiente de trabalho

forçando-a a pedir demissão, se aposentar, se licenciar, pedir transferência, entre

outros.

Inicialmente o termo assédio moral foi utilizado pela psicologia e

posteriormente adotado pela área jurídica. Considera-se um ataque à dignidade da

pessoa, pois macula a alma causando graves sequelas no indivíduo. Neste sentido

Leymann, médico alemão e pesquisador de psicologia do trabalho, define o assédio

moral de forma rigorosa como:

“a situação em que uma pessoa ou um grupo de pessoas exercem uma violência psicológica extrema, de forma sistemática e frequente (em média uma vez por semana) e durante um tempo prolongado (em torno de uns seis meses) sobre outra pessoa, com quem mantem uma relação assimétrica de poder no local de trabalho, com o objetivo de destruir as redes de comunicação da vítima, destruir sua reputação, perturbar o exercício de seus trabalhos e conseguir, finalmente, que essa pessoa acabe deixando o emprego.” (BARROS, 2009, p. 928).

21

Na obra Dano Moral e sua Reparação no Direito de Trabalho Mauro Vasni

Paroski efetua uma coletânea de várias definições sobre assédio moral, entre elas

Marie-France Hirigoyen leciona que:

O assédio moral no trabalho é qualquer conduta abusiva (gesto, palavra comportamento, atitude, etc.) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho. (PAROSKI, 2006, p. 113 apud HIRIGOYEN).

Geralmente o assédio moral pode ocorrer como o abuso de poder proferido

pelos chefes, onde este comportamento é facilmente identificado pelos funcionários.

Chefias cruéis que operam verdadeiro terror psicológico em seus subordinados não

são novidades e provavelmente todos já ouviram falar de alguma situação entre

seus conhecidos. O assédio operado desta forma geralmente é proferido em público,

porém ele também pode ser velado no caso do trabalhador ser chamado para

conversar sem haver testemunhas.

Para definir o que é o assédio sofrido, Cláudio Armando Couce de Menezes

estabelece que:

Assediar é submeter alguém, sem trégua, a ataques repetidos. O assédio moral requer, portanto, a insistência, repetições, procedimentos, omissões, atos, palavras, comentários, criticas, piadas. Aquele que assedia busca desestabilizar a sua vítima. Por isso mesmo consiste um procedimento continuado, ou seja, um conjunto de atos e procedimentos destinados a expor a vítima a situações incômodas e humilhantes. De regra, é sutil, pois a agressão aberta permite um revide, desmascara a estratégia insidiosa do agente provocador. Dai a preferência pela comunicação não verbal (suspiros, erguer de ombros, olhares de desprezo, silêncio, ignorar a existência do agente passivo) ou pela fofoca, zombarias, ironias e sarcasmos, de mais fácil negação em caso de reação, pois o perverso e assediante não assume seus atos. Quando denunciado, frequentemente, se defende com frases do tipo: “Foi só uma brincadeira”, “não é nada disso, você entendeu mal”, “a (o) senhor (a) está vendo e/ou ouvindo coisas”, “isso é paranoia sua”, “ela é louca”, “não fiz nada demais, ela que era muito sensível”, “ela faz confusão com tudo”, “é muito encrenqueira, histérica”, etc. (PAROSKI, 2006, p. 113 apud MENEZES, 2003).

Tão destruidora quanto o assédio moral efetuado através do abuso de poder

é aquele praticado como uma espécie de manipulação psicológica do indivíduo, com

o intuito de desestabiliza-lo, através de brincadeiras agressivas, ofensas ditas em

tom zombeteiro, piadas, etc. São com estes ataques que a vítima vai sendo atingida

22

em sua dignidade, contrariando princípios tutelados constitucionalmente, e sofrendo

desse desequilibro psíquico que atinge a autoestima do trabalhador. O fato de estar

sendo maltratado sem trégua, de forma repetida causa uma espécie de dor que

adere a alma e que lesiona a própria personalidade do indivíduo.

O assédio moral intermitente poderá causar diversas espécies de dano a

sua vítima, sendo possível até gerar a rescisão indireta do contrato de trabalho,

solicitada pelo trabalhador, baseado no disposto das alíneas “a” “a”, ”b” e “c” do

artigo 483 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) e a demissão por justa

causa dos colegas e superiores hierárquicos responsáveis pelo ilícito em face o

artigo 482, alínea “b” da CLT.

O tema Assédio moral está preocupando cada vez mais a sociedade, sendo

que as autoridades públicas estão atuando em prol da conscientização deste mal

que atinge diversas pessoas no dia a dia nas relações laborais. Para isto o Ministério

Público do Trabalho e Emprego elaborou uma cartilha sobre o tema intitulada

“Assédio Moral e Sexual no Trabalho” onde conceitua o assédio moral da seguinte

forma:

São atos cruéis e desumanos que caracterizam uma atitude violenta e sem ética nas relações de trabalho, praticada por um ou mais chefes contra seus subordinados. Trata-se da exposição de trabalhadoras e trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes durante o exercício de sua função. É o que chamamos de violência moral. Esses atos visam humilhar, desqualificar e desestabilizar emocionalmente a relação da vítima com a organização e o ambiente de trabalho, o que põe em risco a saúde, a própria vida da vítima e seu emprego. (MTE, 2009.p.13)

Diante da leitura dos conceitos podemos entender que para existir o assédio

moral nas relações de emprego deve haver um comportamento reiterado no sentido

de constranger, humilhar e deixar o empregado envergonhado, usando para isso

brincadeiras, ameaças, xingamentos e qualquer tipo de barreira que o faça

desenvolver suas tarefas laborais com dificuldades.

Conhecido como um mal atual da sociedade o assédio moral nas relações

de emprego gera um verdadeiro terror psicológico em suas vítimas degradando o

ambiente de trabalho e levando geralmente a cessação da continuidade no trabalho.

Importante salientar que o assédio moral não se confunde com outros

problemas ocorridos nas relações laborais. Brincadeiras esporádicas, más

condições de trabalho, cobranças normais de desempenho, por exemplo, são meros

23

aborrecimentos que não caracterizam o assédio que tem que ocorrer por um período

prolongado de tempo e com o intuito de desestabilizar psicologicamente a vítima.

4.2 ASSÉDIO MORAL HORIZONTAL E VERTICAL

Com a evolução do estudo do tema, a doutrina definiu uma classificação do

assédio moral conforme o agente agressor. São elas o assédio moral efetuado de

forma horizontal e vertical. Em síntese o assédio moral horizontal seria aquele

praticado por colegas de trabalho, por competitividade, ciúmes, rivalidade, para

conseguir uma promoção ou qualquer vantagem em sua carreira profissional. Desta

forma o agente agressor seria um indivíduo hierarquicamente igual. No assédio

moral vertical, a prática é efetuada por alguém de hierárquica diferente, sendo de

chefe para subordinado, ou até mesmo o contrário.

O assédio moral, nas suas modalidades horizontal e vertical, não ocorre

somente em nosso país sendo um mal em todas as regiões do planeta. Atualmente

este comportamento vai de encontro ao objetivo das nações em se ter uma

sociedade mais digna e justa, ideia esta originada na Declaração dos Direitos

Humanos de 1948.

4.3 ASSÉDIO MORAL EM OUTROS PAÍSES

O assédio moral é um mal que ocorre em todas as partes do mundo, como o

Brasil não possui uma legislação federa específica sobre o assunto surge o

interesse em se verificar como alguns países tratam o tema com o intuito de nos

fazer absorver suas características e comparar com o ordenamento jurídico

brasileiro.

A agressão à psique dos trabalhadores intitulada assédio moral ocorre

desde os tempos mais antigos e, em um mundo globalizado, e competitivo, a

disseminação deste mal parece não fazer discriminação atingindo praticamente

todos os países desenvolvidos ou não.

A Suécia foi um dos primeiros países a legislar sobre o assunto tendo o

assédio moral como um risco das relações de trabalho e considerando que as

empresas devem enfrentar o problema de forma preventiva.

24

A França, onde o assédio moral é chamado de harcèlement moral, já

possuía dispositivos legais que permitiam a punição dos agressores, porém foi em

janeiro de 2002 que acresceu ao seu Código do Trabalho maior detalhamento sobre

o assunto. A legislação francesa estipula sobre o tema que:

[...] nenhum assalariado poderá ser punido, despedido ou discriminado, de forma direita ou indireta, especialmente em matéria de salario, formação profissional, reclassificação, transferência ou remoção, qualificação, promoção profissional, alteração de contrato, pelo fato de ter sofrido ou se insurgido contra o assédio moral, testemunhado ou relatado o acontecimento. (BARROS, 2009, p. 935)

Não satisfeita em alterar apenas o seu Código do Trabalho, os franceses

também tipificaram o assédio moral em seu Código Penal estabelecendo prisão e

multa aos agressores.

A Bélgica é outro país que já possui legislação sobre o assunto. Uma lei de

11 de junho de 2011 combate todas as formas de violência do trabalho, inclusive o

assédio moral, estabelecendo medidas preventivas a serem adotadas pelo

empregador.

Durante o ano de 2006 a Colômbia sancionou uma lei destinada a definir,

prevenir e punir agressões à dignidade da pessoa humana nas relações trabalhistas.

Em termos legais o país é referência no combate ao assédio moral tutelando tanto a

modalidade vertical, ocorrida entre chefes e subordinados, quanto a horizontal,

verificada entre colegas de trabalho com mesma hierarquia.

Na Itália o assédio moral é conhecido como mobbing e o Código Civil italiano

protege a personalidade moral do empregado, obrigando o empregador a garantir

um meio ambiente sadio e livre de humilhações.

Na Espanha o assédio moral tem maior atenção da legislação na

Administração pública, onde funcionários com baixa escolarização criam problemas

para o governo. O país é considerado modelo possuindo leis que previnem e

criminalizam o denominado psicoterror laboral com legislação específica dirigida a

Administração Pública.

Curiosamente os Estados Unidos não possuem uma legislação especifica

sobre o assédio moral nas relações trabalhistas, o que se utiliza geralmente para

punir e inibir este mal é o Ato dos Direitos Civis de 1964 que proíbe a discriminação

de emprego em virtude de raça, cor e sexo. Porém atualmente existem vários

25

projetos de lei a serem votados que possuem o objetivo de incluir o tema na

legislação federal.

O Reino Unido também não possui legislação especifica sobre o tema, o que

é utilizado por lá, é uma lei denominada Protection From Harasment Act, de 1997,

que descreve a responsabilidade civil e penal do assediador e prevê prisão de seis

meses e\ou multa de até cinco mil libras esterlinas. A Lei da Igualdade de 2010, que

protege os direitos do cidadão eliminando as discriminações e desigualdades,

conceitua o assédio moral em seu artigo 26 de forma genérica.

Em Portugal a prática do assédio moral no ambiente de trabalho é proibida

por leis genéricas destinadas a garantir e proteger os direitos fundamentais. Em uma

pesquisa realizada pela Fundação Européia para Melhoria das Condições de

Trabalho no ano de 2001, foi verificado que a modalidade de assédio moral mais

ocorrida no país seria aquela cometida entre colegas de mesma hierarquia (SILVA,

2012, p 145).

Em outros países como o Brasil, Chile, Costa Rica e Suíça existem projetos

de lei com o intuito de dar tratamento específico ao tema.

4.4 ASSÉDIO MORAL NO BRASIL

No Brasil o tema ganha cada vez mais evidência, sendo tratado em Leis

Federais, Estaduais e Municipais como foco principal ou apenas proibindo a sua

realização. Porém ainda não é tratado como crime existindo diversos projetos de lei

aguardando para serem votados pelo legislativo. Dentre eles a reforma do Código

Penal Brasileiro, tramitando sobre o projeto de lei 4.742 de 2.011, promete tipificar a

conduta em seu provisório artigo 146-A que dispõe:

“Assédio Moral no Trabalho Art. 146 A. Desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a autoestima, a segurança ou a imagem do servidor público ou empregado em razão de vínculo hierárquico funcional ou laboral. Pena: Detenção de 3 (três) meses a um ano e multa.”

Porém a versão final do Projeto de Lei apresentou um tipo penal mais

completo apresentando um aumento da pena, no ainda provisório artigo 136-A , que

variaria de um a dois anos.

No âmbito federal a Lei 11.948 de 16 de junho de 2.009 que dispõe sobre os

recursos para ampliação de limites operacionais do Banco Nacional de

26

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), trata em seu artigo 4 que é vedada

a concessão ou renovação de quaisquer empréstimos ou financiamentos pelo

BNDES a empresas da iniciativa privada cujos dirigentes sejam condenados por

outros ilícitos, dentre eles o assédio moral. Existem ainda diversos Projetos de Leis

que pretendem disciplinar o assédio moral nas relações trabalhistas no âmbito

federal.

No estado do Rio de Janeiro a Lei nº 3921, de 23 de agosto de 2002 veda o

assédio moral no trabalho, no âmbito dos órgãos, repartições ou entidades da

administração centralizada, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades

de economia mista, do poder legislativo, executivo ou judiciário do Estado do Rio de

Janeiro, inclusive concessionárias e permissionárias de serviços estaduais de

utilidade ou interesse público. Já a Lei 5.967 de 02 de Maio de 2011, do mesmo

estado, instituiu o “Dia estadual de luta contra o assédio moral”.

No Rio Grande do Sul a Lei Complementar 12.561 de 12 de julho de 2006

dispõe sobre o assédio moral na administração estadual conceituando o tema como:

"Art. 2º Considera-se assédio moral, para os fins do disposto nesta Lei Complementar, toda ação, gesto ou palavra que, praticados de forma repetitiva por servidor público, no exercício de suas funções, vise a atingir a autoestima e a integridade psicofisica de outro servidor, com prejuízo de sua competência funcional.”

Em São Paulo a Lei 12.250 de 09 de fevereiro de 2005 veda o assédio moral

no âmbito da administração pública estadual direta, indireta e fundações públicas.

O Mato Grosso do Sul foi um dos primeiros Estados a aprovar uma lei

específica sobre o assédio moral no âmbito da administração pública estadual. As

punições aplicadas vão de advertência até a demissão.

Além destes estados, o Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Goiás, Rondônia,

Minas Gerais, Ceará, Amazonas, Piauí, Tocantins, Mato Grosso, entre outros que

possuem Leis que vedam a prática do assédio moral, geralmente na esfera pública.

No âmbito municipal também há tratamento sobre o tema, citando a Lei

contra o assédio moral de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, que aprovou em

08 de novembro de 2006 a Lei 2.665/06 que dispõe sobre a aplicação de

penalidades à prática de "assédio moral" por parte de agentes públicos nas

dependências da administração direta, indireta, fundacional e autárquica do

27

Município de Balneário Camboriú. A referida lei também possui uma conceituação

em seu artigo 1º:

§ 1º - Para fins do disposto nesta Lei, considera-se assédio moral todo tipo de ação, gesto, determinação ou palavra que qualquer agente, servidor, funcionário, empregado ou qualquer pessoa que, abusando da autoridade que lhe confere suas funções, tenha por objetivo ou efeito atingir, pela repetição, a autoestima e a segurança de um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira profissional e à estabilidade física, emocional e funcional do servidor, incluindo, dentre outras: determinar o cumprimento de atribuições estranhas ou de atividades incompatíveis com o cargo que ocupa; marcar tarefas com prazos impossíveis; passar alguém de uma área de responsabilidade para funções triviais, não afetas as atribuições do cargo ocupado, em detrimento da função técnica, especializada ou aquelas para as quais, de qualquer forma exijam treinamento e conhecimentos específicos do servidor; tomar crédito de ideias de outros; ignorar ou excluir um servidor só se dirigindo a ele através de terceiros; sonegar informações necessárias à elaboração de trabalhos de forma insistente; espalhar rumores maliciosos; bem como na prática de críticas reiteradas ou na subestimação de esforços, que atinjam a dignidade do servidor; segregar fisicamente o servidor, confinando-o em local inadequado, isolado ou insalubre; subestimar esforços; restrição ao exercício do direito de livre opinião e manifestação das ideias; acusações infundadas; abuso.

Assim a definição efetuada pelo município de Balneário Camboriú é uma das

mais completas já encontradas, tratando dos efeitos que o assédio moral possa

causar na psique do indivíduo. Tal artigo estabelece ainda quais seriam os

comportamentos caracterizadores de tal mal, procurando ser o mais abrangente

possível.

Entre outras cidades que possuem legislação sobre o tema podemos citar

Gaspar-SC, Gravataí-RS, Fazenda Rio Grande-PR, Divinópolis-MG, Ilha Bela – SP,

Iracemápolis-SP, Jabotical-SP, Juiz de Fora - MG entre outras.

4.4.1Jurisprudência

Na Jurisprudência brasileira podemos verificar vários casos sobre o assédio

moral utilizado na rescisão indireta do contrato de trabalho e também em ações

indenizatórias. É fato que o Brasil possui uma base jurisprudencial sólida sobre o

assunto levando ao conhecimento de todos as consequências que tal

comportamento danoso pode acarretar aqueles que insistem em violar os direitos de

outrem quanto a sua dignidade, honra e intimidade. Entre os casos mais notórios

está um julgado do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 17º Região em Vitória

no Espírito Santo.

28

“ASSÉDIO MORAL – CONTRATO DE INAÇÃO.INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. A tortura psicológica, destinada a golpear a auto estima do empregado, visando a forçar sua demissão ou apressar sua dispensa através de métodos que resultem em sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o âmbito profissional,eis que minam a saúde física e mental da vítima e corrói a sua autoestima. A empresa transformou o contrato de atividade em contrato de inação, quebrando o caráter sinalagmático do contrato de trabalho e, por consequência, descumprindo a sua principal obrigação que é a de fornecer trabalho, fonte de dignidade do empregado. (TRT – 17ª Região- RO 1315.2000.00.17.00.1. Ac. 2276/2001 – Rel. Juíza Sônia das Dores Dionizio, Revista Ltr 66-10/1237).

A decisão em tela ilustra como o assédio moral age, agredindo o indivíduo e

lesando seus direitos mais fundamentais como a dignidade da pessoa humana.

Considerado o pioneiro em decisões sobre o tema, o acordão abriu caminho para

outros julgados no mesmo sentido.

O Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR) também possui

decisões favoráveis a inibição da prática do assédio moral nas relações de trabalho,

chegando a afastar um laudo pericial, pela prova oral, que evidenciou a agressão

sofrida pela reclamante no ambiente de trabalho.

TRT-PR-16-05-2014 DEPRESSÃO DECORRENTE DE ASSÉDIO MORAL. NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO. PRESUNÇÃO RELATIVA DE CAUSALIDADE. DOENÇA QUALIFICADA COMO OCUPACIONAL. DESCONSIDERAÇÃO DA CONCLUSÃO DO LAUDO PERICIAL. A Lista C do Anexo II do Decreto 3.048/1999 relaciona a classe referente à atividade econômica do Réu à doença acometida pela Autora, reconhecendo, assim, o nexo técnico epidemiológico, previsto na Lei 11.430/2006. Nessas hipóteses, perfilha a jurisprudência majoritária do TST ser imprescindível a inversão do ônus da prova em favor do trabalhador, em face da presunção relativa de causalidade entre a lesão e a atividade laboral, cabendo ao empregador apresentar prova cabal em sentido contrário. Apesar de a conclusão do laudo pericial negar a existência de nexo causal entre as atividades da Autora e a depressão grave que a acometeu, admitiu que fatores ambientais poderiam ser desencadeantes ou agravantes da doença em tela. A prova oral evidenciou o assédio moral sofrido pela Reclamante no ambiente de trabalho. Inevitável, assim, a desconsideração do termo pericial a afastar o nexo de causalidade, conforme disposto no art. 436 do CPC. Recurso ordinário da Autora a que se dá provimento, para reconhecer a natureza ocupacional da doença por ela denunciada. (TRT – 9º Região RO. 0001122-75.2012.5.09.0673 – Rel.Nair Maria Lunardelli Ramos).

Desta forma, a decisão reconheceu que a autora sofreu de grave quadro de

depressão surgida através do assédio moral sofrido no ambiente de trabalho, o qual

foi comprovado por testemunhas.

Não são somente apenas os Tribunais Regionais de Trabalho que vem

proferindo decisões favoráveis a inibição da prática do assédio moral nas relações

29

de trabalho. O Tribunal Superior de Trabalho (TST) já pacificou seu entendimento no

sentido de considerar o assédio moral um grande violador da dignidade da pessoa

humana, sendo, portanto, devido à indenização dos danos causados ao trabalhador.

Com o aumento de reclamações que vem chegando ao judiciário versando

sobre o assédio moral, é perfeitamente visível o entendimento que a Justiça nacional

vem tratando o tema com o intuito de coibi-lo, porém com certa precaução evitando

a banalização do instituto. Afinal, brincadeiras esporádicas entre colegas e

cobranças atinentes ao serviço do trabalhador não configuram a prática de tão

danoso mal. Desta forma é importante verificar se todos os elementos

caracterizadores do assédio moral se encontram presentes analisando

profundamente o conteúdo probatório presente nas ações.

4.5 CARACTERIZAÇÃO DA VÍTIMA E DO AGRESSOR

O assédio moral ocorrido nas relações de trabalho vem crescendo de acordo

com a demanda demonstrada nas ações que chegam até o judiciário. A sua

identificação, proibição e prevenção deve ocorrer pelos empregadores que possuem

a obrigação de eleger as pessoas que irão preencher os quadros de chefia, assim

como, manter um ambiente de trabalho saudável a todos, respeitando a dignidade

de cada indivíduo. Na esfera pública, muitos cargos que fornecem poder de mando

aos funcionários torna imprescindível, uma fiscalização atuante por parte das

autoridades públicas com o intuito de reprimir o assédio moral.

As empresas devem entender que a cultura de estimular a competição entre

seus empregados, impor o medo do desemprego aos seus colaboradores através de

ameaças e estabelecer objetivos de resultados a qualquer custo gera um cenário

favorável à manifestação do assédio moral em suas dependências.

A principal caracterização do assédio incorre na exploração econômica, no

sentido de retirar do trabalhador o seu meio de subsistência, pois somente o medo

de ficar desempregado é que mantém o trabalhador suportando o assédio moral

proferido sobre sua pessoa.

Porém, como dito anteriormente, é necessário efetuar uma distinção sobre o

que caracteriza o fenômeno do assédio moral, sendo que a autora Maria Aparecida

Alkimin (ALKIMIN, 2007, p. 41) dispõe em termos gerais, que para haver o assédio

moral são necessários quatro elementos:

30

a) Sujeitos: o assediador, que pode ser um superior hierárquico, colega de

serviço ou subordinado, o assediado (ou vítima) que é o empregado, colega de

trabalho ou superior hierárquico.

b) Conduta com comportamentos no sentido de atentar contra os direitos de

personalidade do indivíduo.

c) Prática reiterada e sistemática da agressão.

d) Consciência do agente.

A prática do assédio moral pode ocorrer de diversas formas, pois cada

agressor age de modo distinto, sendo que as mais comuns seriam: delegar tarefas

inúteis ou de pouca importância, exposição a situações humilhantes, cobranças

exageradas e com rigor excessivo, atribuir tarefas acima das forças do trabalhador,

estipular metas inalcançáveis, horários degradantes, suprimir informações

importantes para o cumprimento do serviço, isolamento da vítima, entre outras que

possuem o intuito de atingir a autoestima da vítima, atingindo sua dignidade e seus

direitos personalíssimos.

Os ataques costumam ser tão comuns que a própria equipe de trabalho

pode aceitar e auxiliar o assédio a vítima, por receio de ser tratados de forma

semelhante, por não identificar o mal que esta sendo afligido, por competitividade

com o intuito de eliminar um concorrente a ascensão profissional, etc.

O agressor geralmente é o empregador, seus prepostos, colegas de trabalho

ou até mesmo subordinados. Sua caracterização ocorre no sentido de querer

humilhar, denegrir a imagem, atingir a dignidade de suas vítimas através de ataques

reiterados, e sistemáticos.

A vítima do assédio moral é aquela que sofre agressões de forma

sistemática e reiterada, visando atingi-la em seu interior, comprometendo sua

dignidade pessoal e profissional. Com isto a vítima, com receio de perder o

emprego, se submete as humilhações, refletindo os ataques na sua produtividade,

na sua saúde física e mental, que posteriormente gera o seu afastamento do

trabalho por pedido de demissão, aposentadoria precoce e/ ou tratamento médico e

psicológico.

31

CAPÍTULO 5 – DANOS DECORRENTES DO ASSÉDIO MORAL

5.1 EFEITOS CARACTERIZADORES

Os efeitos caracterizadores do assédio moral no indivíduo são estudados por

psicólogos e médicos, sendo que seus danos à saúde estão equiparados, de acordo

com alguns doutrinadores, ao acidente de trabalho conforme o artigo 20 da Lei 8.213

de 1.991, que dispõe sobre os planos de benefícios da previdência Social, trazendo

grande gravidade ao intimo de suas vítimas.

Art. 20 Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. [...]

Assim é possível extrair da leitura do dispositivo mencionado que a doença

do trabalho é originada na atividade de trabalho desenvolvida, portanto, parece

cabível o entendimento que o assédio moral poderá ser equiparado ao acidente de

trabalho nos casos em que houver danos a saúde decorrentes deste malefício.

Os resultados do assédio moral são inúmeros, com consequências a

integridade física e psíquica de suas vitimas, impondo sentimentos de vergonha,

mágoa, aflição, desgosto, sofrimento, fraqueza, decepção, tristeza, revolta e

violência que geram estudos sobre esses efeitos.

Estes estudos tem revelado que o assédio moral além de provocar danos à

saúde física e psíquica se estende a área patrimonial e afetiva. Entre os danos

causados a saúde de suas vítimas o Hospital Universitário da Universidade Federal

do Rio de Janeiro (SILVA, 2012, p.67) cita os distúrbios psicossomáticos, cardíacos,

digestivos, respiratórios, etc. Em geral atribui-se ao assédio moral o aumento do

estresse de suas vítimas causando grande impacto nas doenças deste decorrente,

portanto é comum que, mesmo após a agressão ter sido cessada, os pacientes

continuarem a apresentar sintomas pela dificuldade de esquecer o sofrimento

afligido.

Neste sentido Jorge Luíz de Oliveira da Silva estabelece que:

32

[...] os mesmos motivos levam a vítima a se afastar de seu convívio social. A depressão, a Amargura, o sentimento de fracasso e de vergonha impulsionam o assediado, como regra, a um isolamento da sociedade, não vislumbrando mais qualquer interesse em eventos ou encontros com amigos ou conhecidos. Tudo isto passa a ser uma tortura para a maioria das vítimas do assédio moral, pois temem ser apontados como fracos ou covardes. Muitas vezes os amigos nem têm conhecimento dos fatos vividos pelo assediado, pois este prefere manter o isolamento, aniquilando sua convivência social e entregando-se à corrosão de seus vínculos afetivos. (SILVA, 2012, p. 55)

Assim, através do ponto de vista do autor é possível verificar como as

vítimas do assédio moral são penalizadas, adquirindo várias sequelas psíquicas,

trazendo a sua vida várias dificuldades de relacionamento.

Margarida Barreto, autora do livro Violência, saúde trabalho - uma jornada

de humilhações (SILVA, 2012, p. 72 apud BARRETO, 2003, p. 217) destaca entre os

sintomas sofridos a irritação, dores generalizadas, raiva, sentimento de vingança,

alterações de sono, medo exagerado, depressões, tremores, tristezas, revolta,

pensamentos de suicídio, cefaleia, enjoos e distúrbios depressivos, falta de apetite

entre outros.

Do ponto de vista econômico também há impacto, pois as vítimas do assédio

moral são induzidas a pedir demissão ou geram custos para as empresas e

Administração Pública através do absenteísmo, redução da produtividade e aumento

da carteira de reclamações trabalhistas na justiça.

As vítimas também sofrem prejuízo em suas relações pessoais. Na esfera

familiar o sentimento de fracasso e impotência diante da situação, geralmente

agravada com a perda de emprego e dificuldades no sustento de seus familiares

causa graves desestruturas, resultando até no rompimento de relações

matrimoniais. A vida profissional também é abalada gerando sensações de

insegurança, vergonha e baixa autoestima. É comum que as vítimas se isolem em

razão destes sentimentos.

Até mesmo a sociedade é atingida junto às vítimas, não somente pela

violação de direitos constitucionalmente segurados, mas também pelo impacto que

recebe na oneração da previdência, que fornece benefícios previdenciários

provenientes de auxílios-doença e aposentadorias precoces, do Ministério do

Trabalho que tem que arcar com o auxílio-desemprego, e com gastos com

medicamentos, tratamentos e internações na saúde pública.

33

CAPÍTULO 6 – RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR

A responsabilidade civil é a obrigação que se impõe de reparar o dano

causado a outrem. Ele pode ser subjetivo quando o agente causador do dano agir

com negligência e imprudência. Enquanto na responsabilidade civil objetiva não é

necessária à prova de culpa. O artigo 932, III do Código Civil (CC) dispõe que o

empregador responde pelos danos causados por seus empregados no exercício das

funções que lhes competem, sendo responsável pela reparação civil. Tal assertiva é

reforçada pela edição da Súmula nº 341 do Supremo Tribunal Federal (STF) que

dispõe ser presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do

empregado ou preposto.

Desta forma surge a responsabilidade objetiva do empregador em reparar o

dano praticado por seus funcionários no exercício da função que lhes foi confiada,

para isto bastando confirmar a lesão sofrida e o nexo de causalidade com a função

exercida. Para se eximir da responsabilidade de indenizar o empregador terá que

provar que o causador do dano não é o seu empregado ou, se for que o dano não foi

causado no exercício de seu trabalho ou em razão dele.

Outro fato que fundamenta a responsabilidade objetiva do empregador surge

em razão da teoria do risco adotada em razão da atividade econômica exercida,

onde o empresário deve assumir todos os riscos de seu negócio.

A culpa do empregador decorre ainda da denominada culpa in eligendo, por

ter escolhido mal os seus gestores, ou ainda da culpa in vigilando, por não fiscalizar

o que ocorre no ambiente de trabalho de forma eficaz.

No caso de assédio moral ocorrido na esfera da Administração Pública, o

Estado deverá ser responsabilizado arcando com as indenizações em prol do

ofendido. É a responsabilidade objetiva do Estado que deve suportar os danos

causados por seus agentes no exercício de seus deveres, sendo possível ação

regressiva contra os assediadores.

Ainda no âmbito da responsabilidade civil, surge a problemática sobre o

valor que as indenizações, decorrentes do assédio moral, devem ter. Devido a sua

subjetividade e complexidade a tarefa parece ser, num primeiro momento, um tanto

quanto difícil. Sobre esta questão será debatida no capítulo sobre a indenização e

reparação.

34

6.1 A DIFICULDADE SOBRE AS PROVAS

No processo as provas são importantes instrumentos para a formação do

convencimento do juiz, são elas que demonstram a verdade dos fatos fazendo com

que haja, por parte do juiz, o reconhecimento dos danos sofridos pelas vítimas do

assédio moral, portanto todas as ações devem ser instruídas no sentido de

comprovar o que está sendo alegado.

Para caracterizar o assédio moral nas relações do trabalho é necessário que

a vítima comprove a agressão sofrida, desta forma devido a sua complexidade e

subjetividade, este fardo pode parecer demasiadamente dificultoso, pois o assédio

moral atinge a personalidade e dignidade do indivíduo, geralmente, não deixando

marcas visíveis.

Sobre a prova do assédio moral Reginald Felker que:

"Não se trata de banalizar o instituto, nem confundir o assédio moral com o simples dano moral decorrente de ato isolado, mas o conjunto de circunstâncias que revestem o caso concreto podem levar o julgador a conclusão inafastável de que se trata do assédio e não de simples ato isolado, independente de ato psiquiátrico, ou realizado por técnico da área, diligencia, certamente muito apreciada e pretendida pelo ofensor, mas que somente serviria para retardar a solução do feito, dificultar a prestação jurisdicional ainda, mais, ao ofendido, sem mérito justificável. (RAMOS, 2013, p.120 apud FELKER, 2007, p.220).

Desta forma extrai – se o entendimento que o assédio moral possui maior

gravidade que um dano moral isolado, pois se trata de reiterados ataques a

personalidade do indivíduo, são como danos morais afligidos de forma contínua,

que, em um todo, causam mais danos que apenas um ato único. Assim, o autor cita

que exigir um laudo técnico para se comprovar o alegado, além de dificultar a

prestação jurisdicional do Estado, causaria atrasos e atingiria ainda mais o ofendido.

Por outro lado existe a dificuldade de haver uma banalização do instituto, se não

houvesse a necessidade de se provar o assédio moral sofrido, certamente pessoas

mal intencionadas poderiam se valeriam do instituto para tirar vantagens de seus

empregadores.

Portanto é fundamental que se prove os fatos que caracterizem o assédio

moral sofrido decorrente das relações trabalhistas, porém a dor sofrida prescinde de

prova conforme a teoria do danum in re ipsa, que dispõe que o dano moral se prova

35

por si mesmo. Provado a situação que enseja a reparação do dano moral, dispensa-

se a prova da dor sentida. (ALKIMIN, 2007, p 117)

A doutrina e CPC, em seu artigo 332, estabelecem todos os meios legais e

moralmente legítimos são hábeis para provar a verdade dos fatos alegados pelo

autor ou defesa. Nos meios de prova citados no CPC estão o depoimento pessoal

do réu e da vítima, a confissão, documentos que corroborem a verdade dos fatos

alegados, a prova testemunhal, a prova pericial e a inspeção judicial.

O depoimento pessoal, efetuado por preposto do empregador, torna difícil a

comprovação do alegado, pois geralmente este ainda empregado e receoso de

perder a fonte de seu sustento irá negar todos os fatos narrados pelo reclamante. O

mesmo poderá dizer sobre as testemunhas arroladas pela ré, que trabalhando na

empresa terão o mesmo receio e atitude. Porém atualmente, nos casos de assédio

moral, os tribunais tem se baseado, na maioria dos casos, em depoimentos de

testemunhas arroladas pela parte autora, visto a dificuldade em se obter outros tipos

de provas.

As provas documentais, quando existem, são de suma importância para

comprovar o assédio moral sofrido. Bilhetes, fotografias, filmagens, e-mails,

cartazes, receitas e prontuários médicos, somadas a outras evidências e a prova

testemunhal são eficazes no sentido de corroborar o alegado.

Quanto às provas originadas em gravações telefônicas, nas ações de

assédio moral, não são totalmente acolhidas pela justiça, pois a escuta clandestina é

considerada prova ilícita, porém a gravação telefônica efetuada pela vítima que

registra sua própria conversa telefônica tem sido aceita.

Se houverem danos físicos ou psíquicos decorrentes do assédio moral

sofrido, a prova pode ser intentada através de perícias.

Desta forma torna-se possível entender que meras alegações de ter sofrido

assédio moral em relações trabalhistas, não é suficiente para o convencimento do

juiz. É necessário que a vítima elabore consistente conjunto probatório que

demonstre a veracidade dos danos sofridos. Se por um lado exigir esta

comprovação das vítimas pode parecer desumano, a regra se fundamenta no fato

de ser o mais justa possível, eliminando causas de enriquecimento ilícito e

indivíduos que poderiam inventar histórias para prejudicar seus empregadores. Caso

o dano seja comprovado surge a responsabilidade civil do empregador e a obrigação

de reparar a lesão causada

36

6.2 INDENIZAÇÃO E REPARAÇÃO

A reparação dos danos extrapatrimoniais é tarefa difícil sendo necessária a

análise de alguns conceitos. Segundo o artigo 927 do CC/2002 a lei impõe a todos o

dever de não praticar atos ilícitos, sob pena de ter que repará-los. Nesta esteira

Paulo Nader (RAMOS, 2013, p. 159 apud NADER) esclarece que ato ilícito é fato

jurídico em sentindo amplo que cria ou modifica a relação jurídica entre o agente

causador da lesão e o titular a reparação. É através da reparação que se mantém a

harmonia e o equilíbrio entre os indivíduos de uma sociedade, pois cada lesão

sofrida por alguém atinge a ordem social e a própria coletividade. Desta forma a

reparação seria uma tentativa de consertar o que foi danificado.

Sobre o objetivo da indenização de um patrimônio tão subjetivo quanto é a

lesão aos direitos extrapatrimoniais, neste caso a dor causada pelo assédio moral,

existe uma discussão doutrinária se esta deve ou não ser efetuada, pois a dor

psíquica de um indivíduo não pode ser estimada, quantificada ou valorada. Porém a

rejeição em indenizar aquele que teve a sua dignidade ferida, aumentaria ainda mais

a dor da vítima gerando sentimentos de ódio, abandono por parte do Estado,

sentimento de vingança, entre outros. Além disso, deixaria o agressor impune, o

incentivando a cometer novas agressões.

Desta forma Agostinho Alvin, em citação na obra Dano Moral de Clayton

Reis, disserta de forma esclarecedora que:

[...] Ora, é certo que a indenização pelos danos morais, diversamente da material, que tem como pressuposto reconstituir o patrimônio violado da vítima de forma a restaurá-lo ao status quo ante, se opera no caso dos danos extrapatrimoniais de forma (compensatória) a preencher o vazio deixado pela ação ofensiva do agente. Mesmo porque esta modalidade de indenização não tem a função reparadora, e sim, exclusivamente compensatória ou satisfativa da vítima, em sua pretensão indenizatória. (REIS, 2010, p.160, apud ALVIN, 1949, p. 208).

Assim a indenização, nos casos de assédio moral frutos de reiterados danos

morais, não possui a função reparadora, como é efetuada na prática de danos

patrimoniais, e sim uma compensação a vítima que possui o objetivo de amenizar a

sua dor interna ou, utilizando as palavras de Clayton Reis (REIS, 2010, p. 170),

“acalmar o espirito de revolta da vítima”. Não bastasse esta intenção, a pena

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imposta através da indenização também tem o objetivo pedagógico de atingir o

patrimônio do agressor, no sentido de desestimular este tipo de comportamento.

A ideia de compensação ou satisfação dos danos causados pelo assédio

moral é aceita pela jurisprudência, porém nova problemática parece surgir quando

ocorre o momento de calcular qual o valor a ser pago a vítima capaz de satisfazer a

sua pretensão indenizatória. Para resolver este impasse o STJ decidiu

[...] ‘na fixação do valor da condenação do dano moral deve o julgador atender a certos critérios, tais como nível cultural do causador do dano; condição sócio- econômica do ofensor e do ofendido; intensidade do dolo ou grau de culpa do autor da ofensa; efeitos do dano no psiquismo, inclusive no que diz respeito às repercussões de fato” (STJ – Resp. 883.630/RS (2006/0192157-7) – Rel.ª Min.ª Nancy Andrighi, p. 189).

Neste sentido o STJ esclarece que a fixação dos danos morais deve ficar a

critério dos julgadores que irão arbitrar, conforme seu livre convencimento, o valor

que acharem mais justo e correto de acordo com o caso concreto, tendo o objetivo

de satisfazer a pretensão indenizatória da vítima, mas também desestimular o

ofensor e toda a sociedade a não cometer tais ilícitos, sob pena de reparação.

Deste modo é possível concluir que a reparação de danos extrapatrimoniais

é imprescindível a vítima e a manutenção da harmonia de uma sociedade. A

complexidade para encontrar os critérios dos valores a serem indenizados não deve

servir de óbice ao bom andamento da justiça (REIS, 2010, p 198). Os julgadores

devem arbitrar sentenças com valores razoáveis, sem haver indenizações ínfimas e

nem valores exorbitantes que causem enriquecimentos injustos.

É através da reparação dos danos causados pela prática do assédio moral

nas relações de emprego que se constrói a consciência jurídica de toda a

coletividade de modo instrutivo e pedagógico.

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CONCLUSÃO

Assédio moral é toda ação reiterada e prolongada que submete o

trabalhador a condições humilhantes e nocivas ao seu bem estar físico e psíquico

trazendo grandes danos a sua personalidade.

O assédio moral nas relações de trabalho é um mal que ocorre diariamente,

desestruturando e corroendo o interior de suas vítimas, afetando a vida familiar,

profissional e afetiva. É através do trabalho que o ser humano obtém o seu salário e

fonte de sustento para si e seus familiares, porém esta submissão, ante ao poder

econômico do empregador, não confere poderes especiais para que sejam lesados

os direitos fundamentais do trabalhador. O assédio moral viola explicitamente a

proteção conferida na Constituição Federal atingindo a honra, integridade física e

psíquica, moral e a dignidade do indivíduo, desrespeitando também as obrigações

contratuais estabelecidas no fechamento do contrato de trabalho. Com essa prática

o Principio basilar da Boa Fé não é respeitado, o ambiente de trabalho não é

saudável e o empregador se torna responsável de forma objetiva pelos danos

causados.

É através da norma disposta no artigo 927 do CC que o empregador se

torna responsável, seja pela culpa in eligendo em eleger de forma errônea seus

gestores ou pela culpa in vigilando, por não fiscalizar de forma eficaz o ambiente de

trabalho propiciado aos trabalhadores. Embora não haja legislação específica

federal sobre o tema utiliza-se o disposto em princípios na Constituição Federal e

leis infraconstitucionais para punir os assediadores.

Entre os princípios mais importantes no sentido de proteger o mal que o

assédio moral provoca sobre o indivíduo estão o princípio da dignidade da pessoa

humana e os direitos de personalidade tais como o respeito a vida, a integridade

física e psíquica, a honra , a privacidade, a imagem e a igualdade de tratamento.

São eles que fornecem valores personalíssimos e inquantificáveis a pessoa humana,

previstos na Constituição Federal e também em inúmeros tratados internacionais.

Após a conclusão da presente monografia é possível compreender que o

assédio moral ocorrido nas relações de trabalho é altamente nocivo e violador dos

direitos mais fundamentais do ser humano, pois o homem é atingido no seu intimo,

na sua dignidade, na sua própria alma. São os direitos mais primordiais do indivíduo

que são lesados afetando aquilo que é a sua base, a sua essência. Os danos

39

causados a saúde física e mental do trabalhador são imensos. Atingem a sua vida

pessoal e profissional, além de impactar a economia, as empresas, o Estado e toda

a sociedade.

O Estado deve coibir a prática do assédio moral nas relações trabalhistas

através de politicas públicas de prevenção e punição deste mal. Na esfera penal é

necessário tipificar o assédio moral como crime, estabelecendo punições severas

com pena de multa e prisão. Na seara civil, indenizações com o fim de compensar

os danos sofridos, devem ser efetuadas, responsabilizando empresas e todas as

espécies de empregadores, inclusive na esfera pública.

Quanto ao tema prevenção do assédio moral nas relações de trabalho, o

País caminha na direção correta, através dos projetos de Lei que aguardam serem

votados. Além disso, já existem diversos dispositivos legais no âmbito federal,

estadual e municipal que repudiam o assédio moral no ambiente de trabalho. Neste

sentido a doutrina também ganha espaço e maior visibilidade gerando debates,

teorias e conceitos sobre o assunto. A jurisprudência também está atenta a este mal,

pacificando o assunto nos tribunais, de forma a punir os agressores e indenizar as

vítimas, tendo o cuidado de não banalizar o assunto confundindo o assédio moral

com mero aborrecimento. É imprescindível a comprovação de todos os requisitos

para a caracterização do assédio moral, com o intuito de evitar decisões errôneas.

As empresas, através de seu departamento de recursos humanos, quadro

de diretores, gerentes e supervisores tem papel fundamental na inibição do assédio

moral entre os seus funcionários. Os empregadores devem criar mecanismos de

proteção contra tal mal, como a formação constante de seus gestores, a criação de

códigos de ética, setores de ouvidoria e o fornecimento de palestras informativas

sobre o assunto. É necessário que os empregadores entendam que o assédio moral

contamina e degrada o ambiente de trabalho, além de gerar custos operacionais

como o absenteísmo, indenizações decorrentes de reclamações trabalhistas e

despesas com tratamentos médicos e psicológicos. Não bastasse o aumento do

custo operacional, a própria imagem da empresa é lesada, seja por não escolher

bem os seus gestores e até mesmo por não respeitar os direitos fundamentais

constitucionalmente protegidos.

Mas tudo isso de nada adianta se a sociedade não se conscientizar deste

mal, é possível que propagandas de caráter informativo sejam necessárias levando

ao conhecimento de todos os danos que o assédio moral causa no indivíduo. É

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imperioso que cada vítima se rebele contra o tratamento nocivo sofrido, que não

tenha medo de buscar seus direitos através da comunicação aos gestores do local

onde trabalha ou, em última instância, por meio do sistema judiciário. A perda do

emprego não deve servir de óbice a busca da justiça e manutenção de sua

dignidade, devendo ter em mente que a impunidade encoraja o agressor a continuar

seus ataques perversos com maior intensidade, periodicidade e quem sabe até

estendendo a novas vítimas. O combate ao assédio moral não é uma briga

individual, é uma luta da sociedade contra um mal que corrói o ambiente de trabalho

e a própria vida em coletividade. É a manutenção do Estado de Direito e da base

fundamental da Constituição Federal: a dignidade da pessoa humana.

Porém o tratamento do assédio moral não pode ser apenas informativo,

repressivo e punitivo, é preciso que sejam implantados programas para a

recuperação das vítimas desse fenômeno, pois as sequelas físicas e psíquicas são

numerosas. É necessário o acompanhamento médico e psicológico dos assediados,

além de sua reinserção no ambiente de trabalho e na sociedade, pois apenas a

reparação do mal através de indenização pecuniária não é suficiente para

restabelecer a saúde, dignidade e bem estar psíquico daqueles que sofreram

assédio moral.

É por meio do combate ao assédio moral que a sua prática será reduzida,

pois é dever de todos, primordialmente do Estado e de quem detém maior poder

econômico, tornar o ambiente de trabalho e a própria sociedade um lugar mais

harmonioso, justo e digno de se viver e trabalhar.

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REFERÊNCIAS

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