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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ SUÉLEN HUMPHREYS A LESÃO E O ESTADO DE PERIGO COMO VÍCIOS NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

SUÉLEN HUMPHREYS

A LESÃO E O ESTADO DE PERIGO COMO VÍCIOS NOS NEGÓCIOS

JURÍDICOS

CURITIBA

2013

SUÉLEN HUMPHREYS

A LESÃO E O ESTADO DE PERIGO COMO VÍCIOS NOS NEGÓCIOS

JURÍDICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Marcos Aurélio de Lima Jr.

CURITIBA

2013

TERMO DE APROVAÇÃO

SUÉLEN HUMPHREYS

A LESÃO E O ESTADO DE PERIGO COMO VÍCIOS NOS NEGÓCIOS

JURÍDICOS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito no Curso de

Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,___________ de___________ de 2013.

_______________________________________

Prof.º Doutor Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografia

Bacharelado em Direito Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: _________________________________________ Prof.º Marcos Aurélio de Lima Jr.

Curso de Direito – Universidade Tuiuti do Paraná

Banca Examinadora:

Prof.º __________________________________

Curso de Direito – Universidade Tuiuti do Paraná

Prof.º___________________________________

Curso de Direito – Universidade Tuiuti do Paraná

Primeiramente a Deus, pois sem ele nada seria possível!

Ao meu Orientador, Professor Marcos Aurélio, por ter

gentilmente cedido seu tempo, e orientado na

elaboração da minha monografia.

À minha mãe, Denise, por ter sempre estado ao meu

lado, me apoiando e me dando forças para seguir em

frente.

Ao meu companheiro, Valentim, por ter acreditado em

mim, e por ter ajudado a realizar meu sonho.

RESUMO

Trata-se do estudo dos vícios do negócio jurídico, que quando ocorrem acabam por tornar o negócio defeituoso, e que tem como consequência a anulabilidade ou nulidade. No mundo jurídico, é de grande importância que existam institutos que possam tutelar direitos que foram violados em razão de um negócio jurídico ter sido realizado de forma desvantajosa para uma das partes e vantajosa para a outra, como ocorre, por exemplo, na lesão e no estado de perigo. Os referidos institutos têm como objetivo coibir práticas desleais na celebração dos negócios jurídicos, pois se não houvesse a possibilidade de arguir tais defeitos, bem como se valer das sanções previstas em cada um deles, os contratantes não teriam o receio de entabular negócios injustos, e com isso as relações estabelecidas poderiam deixar de ser pautadas na boa-fé, dando lugar a relações desiguais e criando um comportamento que é totalmente contrário ao que dispõe a lei. Palavras-chave: Vícios do Negócio Jurídico. Lesão. Estado de Perigo.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................ 8

1 CAPÍTULO 1 - NEGÓCIO JURÍDICO............................................................ 9

1.1 CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO.......................................................... 9

1.2 PLANOS DA EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA.................................. 10

1.2.1 Plano da existência...................................................................................... 11

1.2.1.1 Manifestação de vontade............................................................................ 11

1.2.1.2 Finalidade negocial........................................................................................ 12

1.2.1.3 Idoneidade do objeto................................................................................... 12

1.3 Plano da validade......................................................................................... 12

1.3.1 Capacidade do agente.................................................................................. 13

1.3.1.1 Incapacidade absoluta................................................................................... 13

1.3.1.2 Incapacidade relativa..................................................................................... 14

1.3.1.3 Capacidade especial..................................................................................... 15

1.3.2 Objeto lícito, possível, determinável ou determinado.................................. 15

1.3.2.1 Objeto lícito.................................................................................................... 15

1.3.2.2 Objeto possível.............................................................................................. 16

1.3.2.3 Objeto determinável ou determinado............................................................ 16

1.3.3 Forma............................................................................................................ 17

1.4 Plano da eficácia........................................................................................... 18

1.4.1 Condição, termo e encargo ou modo............................................................ 18

1.4.2 Conceito de condição.................................................................................... 18

1.4.2.1 Classificação das condições......................................................................... 19

1.4.3 Termo............................................................................................................ 20

1.4.3.1 Espécies de termo....................................................................................... 20

1.4.4 Encargo ou modo.......................................................................................... 21

2 CAPÍTULO 2 - DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS.......................... 22

2.1 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO.................................................................... 22

2.1.1 Erro ou ignorância ........................................................................................ 23

2.1.2 Dolo.............................................................................................................. 24

2.1.3 Coação.......................................................................................................... 25

2.1.4 Estado de perigo........................................................................................... 26

2.1.5 Lesão............................................................................................................. 26

2.2 VÍCIOS SOCIAIS......................................................................................... 27

2.2.1 Fraude contra credores............................................................................... 27

2.2.2 Simulação.................................................................................................... 29

3 CAPÍTULO 3 - ESTADO DE PERIGO........................................................ 32

3.1 CONCEITO DO ESTADO DE PERIGO...................................................... 32

3.2 REQUISITOS E CARACTERÍSTICAS DO ESTADO DE PERIGO............. 32

3.3 EFEITOS DO ESTADO DE PERIGO.......................................................... 35

4 CAPÍTULO 4 - LESÃO................................................................................ 38

4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LESÃO......................................................... 38

4.2 CONCEITO DE LESÃO............................................................................... 40

4.3 REQUISITOS DA LESÃO........................................................................... 42

4.3.1 Requisito objetivo........................................................................................ 42

4.3.2 Requisito subjetivo...................................................................................... 43

4.4 EFEITOS DA LESÃO.................................................................................. 44

4.5 DIFERENÇAS ENTRE O ESTADO DE PERIGO E A LESÃO.................... 46

CONCLUSÃO............................................................................................. 47

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 49

8

INTRODUÇÃO

O ordenamento jurídico tem como finalidade estabelecer leis, que visam dar

segurança jurídica as pessoas e as relações que elas entabulam entre si.

Na esfera cível, existem várias leis que visam resguardar o direito das

pessoas numa relação negocial, bem como leis que servem para tutelar o direito das

pessoas, quando ocorre alguma violação.

O tema abordado nesta monografia é sobre os defeitos ou vícios do negócio

jurídico, especificamente sobre a lesão e o estado de perigo.

O Código Civil elenca sete tipos de defeitos ou vícios do negócio jurídico que

quando ocorrem acabam por torná-lo defeituoso, quais sejam, o erro ou a

ignorância, o dolo, a coação, a lesão, o estado de perigo, a fraude contra credores e

a simulação, e que acarretam como consequência a nulidade ou anulabilidade do

negócio jurídico, a depender do vício ocorrido.

Nesse trabalho, será abordado sobre como se forma um negócio jurídico, os

planos da existência, validade e eficácia do negócio, e posteriormente sobre os

vícios da lesão e do estado de perigo.

Primeiramente, para um negócio jurídico existir e ser considerado válido há de

se observar o que dispõe a lei e seguir todas as formalidades impostas, visto que a

inobservância dos ditames legais pode acarretar algum tipo de nulidade.

Além disso, deve-se observar também se o negócio foi celebrado sem a

ocorrência de nenhum dos vícios acima dispostos, pois caso contrário, o negócio

poderá tornar-se defeituoso, e pautando-se em um dos defeitos estabelecidos em

lei, pleitear as penalidades impostas pelo ordenamento jurídico para cada um deles.

Por outro lado, quando da celebração de um negócio jurídico, é de extrema

importância que as partes cumpram todas as disposições legais e que a

manifestação da vontade seja emanada de forma livre e consciente, pois assim o

negócio não padecerá de nenhum tipo de vício, e será considerado juridicamente

perfeito, produzindo todos os efeitos desejados pelos contratantes.

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CAPÍTULO 1 - NEGÓCIO JURÍDICO

1.1 CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO

Vejamos o conceito de negócio jurídico trazido por Roberto Senise Lisboa:

Negócio jurídico é o acordo de declarações de vontades que tem por finalidade a aquisição, a modificação, ou a extinção de direito, decorrente do poder de auto-regulamentação de interesses que é conferido às partes. (2009, p. 334) [grifo do autor]

O doutrinador Marcos Bernardes de Mello, faz considerações acerca do

negócio jurídico:

Diferentemente do ato jurídico stricto sensu, no negócio jurídico a vontade é manifestada para compor o suporte fáctico de certa categoria jurídica, à sua escolha, visando à obtenção de efeitos jurídicos que tanto podem ser predeterminados pelo sistema, como deixados, livremente, a cada um. Assim é que, por exemplo, nos contratos – que são a mais importante espécie do negócio jurídico – em geral os figurantes podem ter a liberdade de estruturar o conteúdo de eficácia da relação jurídica resultante, aumentando ou diminuindo-lhe a intensidade, criando condições e termos, pactuando estipulações diversas que dão, ao negócio, o sentido próprio que pretendem. (2012, p. 202) [grifo do autor]

O negócio jurídico é uma manifestação de vontades que se funda pelo

princípio da autonomia das partes, ou seja, as partes é que determinam como

querem regular a relação a ser entabulada, estabelecendo as normas, bem como

criando direitos e contraindo obrigações, como ocorre, por exemplo, em um contrato.

A vontade, que é o requisito essencial do negócio, deve ser manifestada, ou

seja, exteriorizada, pois caso contrário, não haverá negócio jurídico. Nesse sentido,

Sílvio de Salvo Venosa:

[...] uma vez fixado ser a vontade elemento, pressuposto do negócio jurídico, é fundamental que ela se exteriorize. Enquanto não externada ou exteriorizada não há que se falar em negócio jurídico. Para a vontade, no psiquismo do agente, há um estímulo interno que leva à prática de determinado ato jurídico, mas, enquanto esse agente não exterioriza tal impulso, não pode haver negócio jurídico. (2008, p. 354)

Ademais, a vontade a ser emanada pelas partes devem estar em

conformidade com o que determina a ordem jurídica, não atentando contra as

normas de ordem pública, por exemplo, a lei não permite que o pai realize uma

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venda a determinado filho, se não houver o consentimento dos demais filhos, bem

como de seu cônjuge.

Nesse contexto, tais imposições acabam por restringir a autonomia da

vontade, que deverão se adequar a lei, uma vez que a autonomia privada não pode

superar os ditames legais.

Nesse sentido, assevera Carlos Roberto Gonçalves:

Pelo tradicional princípio da autonomia da vontade as pessoas têm liberdade de, em conformidade com a lei, celebrar negócios jurídicos, criando direitos e contraindo obrigações. Esse princípio sofre algumas limitações pelo princípio da supremacia da ordem pública, pois muitas vezes, em nome da ordem pública, e do interesse social, o Estado interfere nas manifestações de vontade, especialmente para evitar a opressão dos economicamente mais fortes sobre os mais fracos. (2012, p. 350) [grifo do autor]

Quando o negócio jurídico for pactuado respeitando as imposições legais, a

relação jurídica se torna obrigatória, e em atenção ao princípio da pacta sunt

servanda, as partes devem cumprir com o que foi acordado, visto que se o negócio

não colidir com a lei, o ato praticado e válido, gerando consequentemente os efeitos

pretendidos pelas partes.

1.2 PLANOS DA EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA

Além da vontade, para o negócio jurídico existir ele deve constituir-se também

de certos elementos, e para ser considerado válido deve preencher os requisitos

determinados em lei, sob pena de ser considerado nulo ou anulável quando preterir

as formalidades legais.

As partes podem ainda incluir cláusulas acessórias que atuarão na eficácia do

negócio entabulado, e quando apostas, integrarão o ato, devendo necessariamente

ser cumpridas respeitando a forma estabelecida, desde que essa determinação não

infrinja preceitos legais.

Nesse sentido, Carlos Roberto Gonçalves:

A classificação tradicional dos elementos do negócio jurídico, que vem do direito romano, divide-os em: essentialia negotii, naturalia negotii e accidentalia negotti. Elementos essenciais (essentialia negotii) são os estruturais, indispensáveis à existência do ato e que lhe formam a substância: a declaração de vontade nos negócios em geral; a coisa, o preço e o consentimento (res, pretium et consensus), na compra e venda, por exemplo.

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Elementos naturais (naturalia negotii) são as consequências ou efeitos que decorrem da própria natureza do negócio, sem necessidade de expressa menção. Elementos acidentais (accidentalia negotti) consistem em estipulações acessórias, que as artes podem facultativamente adicionar ao negócio, para modificar alguma de suas consequências naturais, como a condição, o termo e o encargo ou modo. (CC, arts. 121, 131 e 136). (2012, p. 347) [grifos do autor]

1.2.1 Plano da Existência

O plano da existência leva em consideração se o ato existe, ou seja, se

existiu uma declaração de vontade. Nesse contexto, asseveram os doutrinadores

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:

É nesse plano que se estudam os elementos constitutivos do negócio jurídico, sem os quais estar-se-ia diante de um “não ato”, não havendo que se cogitar em validade ou eficácia. (2012, p. 367) [grifo dos autores]

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 350), no plano da existência,

não existe um consenso doutrinário sobre quais são os elementos que devem

compor este plano. O autor enumera os seguintes: a manifestação de vontade, a

finalidade de realizar um negócio e a idoneidade do objeto, sendo que, se o negócio

não contiver os elementos necessários é como se nunca tivesse existido.

1.2.1.1 Manifestação de Vontade

A declaração da vontade é imprescindível ao negócio jurídico, de forma que

tal declaração deve ser manifestada ou exteriorizada, pois somente com a

manifestação da vontade é que o negócio passa a ter relevância para o direito.

Nesse sentido, aduz Maria Helena Diniz (2011, p. 485): “Tal declaração

volitiva deverá ser livre e de boa-fé, não podendo conter vício de consentimento,

nem social, sob pena de invalidade negocial”.

Segundo José Jairo Gomes (2006, p. 370), a vontade pode ser manifestada

de forma expressa ou tácita. Dá-se de forma expressa quando é falada ou escrita,

porém não deixando dúvidas da intenção da pessoa. Ocorre de forma tácita quando

for manifestada por meio de comportamentos que sejam adotados pela parte, mas

que demonstrem a declaração de vontade da pessoa.

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No que tange ao silêncio como manifestação de vontade, aduz ainda José

Jairo Gomes (2006, p. 370): “Em certas circunstâncias, até mesmo o silêncio pode

dar forma a uma declaração de vontade”. [grifo do autor]

Nesse contexto, vejamos o que dispõe o artigo 111 do Código Civil, quando

trata sobre este assunto:

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. (BRASIL, 2012, p. 159)

Contudo, o silêncio por si só, não tem o condão de representar a

manifestação de vontade, não podendo, dessa forma, obrigar a pessoa pelo simples

fato de ter se mantido silente, vez que o silêncio somente terá efeito quando a lei lhe

conferir essa prerrogativa.

1.2.1.2 Finalidade Negocial

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 355): “A finalidade negocial ou

jurídica é o propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos”. [grifo do

autor]

Desse modo, para efetivamente existir o negócio jurídico, a manifestação de

vontade da pessoa deve ter um intuito negocial.

1.2.1.3 Idoneidade do Objeto

Acerca da idoneidade do objeto, Silvio Rodrigues:

Assim, só será idôneo para o negócio de hipoteca o bem imóvel, o navio ou o avião. Os demais bens são inidôneos, para serem objeto de um hipoteca; da mesma maneira só podem ser objeto do mútuo as coisas fungíveis, e do comodato, as infungíveis. (2003, p. 171)

Dessa forma, o objeto deve ser idôneo para se celebrar o negócio jurídico,

pois do contrário, o objeto não terá os elementos exigidos pela lei e não produzirá os

efeitos pretendidos pelo negócio.

1.3 Plano da validade

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Para que o negócio jurídico seja reconhecido pelo direito e possa produzir

todos os seus efeitos, é necessário que se revista de certos requisitos obrigatórios

dispostos na lei, quais sejam, o agente, o objeto e a forma, conforme dispõe o artigo

104 do Código Civil, vejamos:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei. (BRASIL, 2012, p. 159)

1.3.1 Capacidade do agente

Conforme determina o artigo legal, um dos requisitos é a capacidade civil da

pessoa, que é adquirida aos 18 anos de idade ou através da emancipação.

Acerca da capacidade da pessoa, assevera o doutrinador Roberto Senise

Lisboa:

Somente o sujeito dotado de plena capacidade pode administrar os seus bens e celebrar negócios jurídicos, ainda que por meio de representante legal ou contratual, como é o que sucede com o mandatário, que age em nome do mandante. (2009, p. 335)

Dessa forma, a pessoa deve ter a plena capacidade, pois senão seus atos

praticados não serão considerados juridicamente válidos.

1.3.1.1 Incapacidade Absoluta

A incapacidade absoluta diz respeito a idade do agente como também a

outras causas, conforme artigo 3º do Código Civil:

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir a sua vontade. (BRASIL, p. 149)

Segundo o doutrinador Marcos Bernardes de Mello (2011, p. 116), aos

menores de dezesseis anos, não é permitido praticar nenhum negócio jurídico, visto

que lhes falta uma experiência de vida, o que não lhes traz o discernimento

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necessário para tratar de seus interesses. Sendo assim, tais negócios somente

poderão ser realizados por seus pais, tutores ou curadores.

O artigo 166, inciso I do Código Civil dispõe sobre essa questão:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz. (...) (BRASIL, 2012, p. 162)

Em relação aquelas pessoa que não tem o necessário discernimento para

praticar determinados atos da vida civil, assevera José Jairo Gomes:

A incapacidade absoluta dos portadores de enfermidade ou deficiência mental funda-se na inaptidão para se conduzirem com independência, autonomia e eficiência na vida, regendo suas pessoas e seus bens. (2006, p. 153)

Ainda, para aqueles que encontram-se impossibilitados de manifestar a sua

vontade, também não é facultado entabular nenhum negócio jurídico, dado a sua

situação momentânea.

Dessa forma, se um negócio for entabulado com alguma pessoa que se

enquadre em uma das hipóteses previstas no artigo 3º do Código Civil, o ato

praticado não terá validade para o ordenamento jurídico, pois em conformidade com

a lei, o negócio é considerado nulo.

1.3.1.2 Incapacidade Relativa

No tocante a essa forma de incapacidade, vejamos a definição do artigo 4º do

Código Civil:

Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos. (BRASIL, 2012, p. 149)

O artigo legal elenca as formas de incapacidade relativa, de forma que,

quando o agente for relativamente incapaz, o ato deve ser praticado sob a

assistência das pessoas determinadas em lei, sob pena de não alcançarem os

efeitos desejados pelas partes.

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Porém, conforme o doutrinador Marcos Bernardes de Mello (2011, p. 185), o

ato deve ser realizado pessoalmente pelo relativamente incapaz, sendo que o seu

assistente deve apenas assentir quanto a prática do referido ato.

Vejamos o que estabelece o artigo171, inciso I do Código Civil:

Art. 171 – Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; (...) (BRASIL, 2012, p. 162)

Assim, as formalidades devem ser observadas, pois caso contrário terá como

consequência a anulabilidade, conforme estabelece a lei.

1.3.1.3 Capacidade Especial

Além da capacidade geral do agente, há de se falar ainda em uma

capacidade especial para realizar o negócio jurídico. Nesse contexto, assevera Caio

Mário da Silva Pereira:

O requisito subjetivo da validade dos negócios jurídicos envolve, pois, além da capacidade geral para a vida civil, a ausência de impedimento ou de restrição para o negócio em foco: é necessário, portanto, que o agente, além de capaz, não sofra ainda diminuição instituída especificamente para o caso. Quando a lei diz que o tutor não pode, mesmo em hasta pública, adquirir bens do pupilo, cria um impedimento que não importa em incapacidade geral, mas que atinge apenas o ato de aquisição ex ratione personarum. (2009, p. 416) [grifo do autor]

Dessa forma, para que o negócio jurídico seja válido, e necessário também

não haver nenhuma causa de impedimento, pois tal fato também poder acarretar a

invalidade do negócio jurídico.

1.3.2 Objeto lícito, possível, determinável ou determinado

Para o negócio jurídico ser válido, é necessário também que o objeto seja

lícito, possível, determinado ou determinável. Vejamos cada um desses requisitos.

1.3.2.1 Objeto Lícito

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A questão da licitude é que o objeto deve estar em conformidade com a lei,

além de não atentar contra à moral, os bens costumes e a ordem pública, pois do

contrário, gerará a nulidade do negócio.

1.3.2.2 Objeto possível

Ademais, além da licitude do objeto, o mesmo deve ser possível, vez que a

sua impossibilidade acarretará a invalidade. Ocorre a impossibilidade quando o

objeto encontra expressamente proibição legal, conforme ensina Carlos Roberto

Gonçalves:

A impossibilidade jurídica do objeto ocorre quando o ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de determinado bem, como a herança da pessoa viva (CC, art. 426), de alguns bens fora do comércio, como os gravados com a cláusula de inalienabilidade etc. (2012, p. 361) [grifo do autor]

Porém, para acarretar a invalidade, a impossibilidade tem que ser absoluta,

ou seja, não podendo ser realizada sob nenhuma circunstância, pois caso possa ser

realizada de outra forma, como ocorre na impossibilidade relativa, o negócio jurídico

não será invalidado, conforme preconiza o artigo 106 do Código Civil:

Art. 106 – A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. (BRASIL, p. 159)

1.3.2.3 Objeto determinável ou determinado

O objeto, ainda deve ser determinado ou determinável, o que significa que

deve ser descrito ou ser determinado no momento da execução do negócio.

Acerca da ilicitude, impossibilidade ou indeterminabilidade do objeto, dispõe o

artigo 166 do Código Civil:

Art. 166 – É nulo o negócio jurídico quando: (...) II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; (...) (BRASIL, 2012, p. 162)

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Assim, é de extrema importância que os requisitos em relação ao objeto

sejam observados, pois se não o forem, ocorrerá a nulidade, conforme dispõe a lei.

1.3.3 Forma

A forma é o meio pelo qual a lei determina como o negócio jurídico será

externado. O direito brasileiro adota a forma livre, sendo que não há necessidade da

declaração de vontade ser praticada com solenidade, ou seja, devendo seguir um

padrão estabelecido em lei, a não ser quando a lei expressamente assim determinar.

Assim, quando a lei não dispuser nada em contrário, as partes podem

entabular os negócios como desejarem, isto é, para o negócio ser válido não é

necessário seguir um padrão determinado na lei, conforme se conclui do artigo 107

do Código Civil:

Art. 107 – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. (BRASIL, 2012, p. 159)

Porém, o artigo 104 do Código Civil, determina que a forma a ser utilizada no

negócio jurídico seja prescrita, ou seja, determinada pela lei, ou que não exista

nenhuma proibição legal na forma de praticar o negócio, vejamos:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: (...) III – forma prescrita ou não defesa em lei. (BRASIL, 2012, p. 159)

Conforme assevera Silvio Rodrigues (2003, p. 176), há casos em que a lei

determina uma forma especial para o negócio jurídico, como por exemplo, a compra

e venda de imóveis de valor superior ao fixado em lei. Assim, os atos que devem ser

praticados de forma prescrita em lei são os atos formais ou solenes, isto é, atos que

devem obedecer as formalidades legais; já os atos que não dependem de uma

forma determinada em lei para ocorrer, ou seja, não se submetem a um rigor legal,

são os atos não formais ou não solenes.

Quando a lei determina uma solenidade para o aperfeiçoamento do ato, se tal

solenidade for preterida, ocorrerá a nulidade do negócio, vejamos:

Art. 166 – É nulo o negócio jurídico quando:

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(...) IV – não revestir a forma prescrita em lei; (...) (BRASIL, 2012, p. 162)

Assim, as formalidades dispostas em lei devem ser observadas e cumpridas,

vez que sua inobservância terá como consequência a nulidade do ato praticado, isto

é, o negócio entabulado que preterir ao rigor legal, não terá validade jurídica.

1.4 Plano da eficácia

1.4.1 Condição, termo e encargo ou modo

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 376), nosso Código Civil dispõe

sobre três modalidades de elementos acessórios nos negócios jurídicos, a saber,

condição, termo e encargo ou modo. Tais elementos acessórios representam uma

autolimitação na vontade das partes, sendo aceitos somente quando tratar-se de

negócios patrimoniais, com algumas exceções, como a aceitação e renúncia da

herança, e sofrendo restrições quando tratar-se de assuntos pessoais, como por

exemplo, os direitos de família puros e os direitos personalíssimos.

Nas palavras de Sílvio de Salvo Venosa:

[...] Por vários modos, pode ocorrer o fenômeno: ora é aposto obstáculo à aquisição do direito, ora subordina o efeito do negócio a sua ocorrência, sujeitando-se a evento futuro e incerto, estatuindo-se a condição. Por vezes, o sujeito fixa tempo para início e fim dos efeitos do negócio jurídico e especifica um termo dentro de lapso de tempo que se denomina prazo. Por outro lado, pode o agente instituir uma imposição ao titular de um direito, não impedindo, contudo, sua aquisição, o que se denomina modo, ônus ou encargo. (2008, p. 449 e 450) [grifo do autor]

Contudo, a condição, o termo e o encargo, não são necessários para que o

negócio exista, porém, quando convencionados passam a integrar o negócio

acordado, tornando-se essenciais, bem como passam a integrar o plano da eficácia.

1.4.2 Conceito de condição

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A condição trata-se de um evento futuro e incerto, que é aposta pelas partes e

que subordinará os efeitos do negócio jurídico ao que foi determinado, sendo que

enquanto não ocorrer a condição, o negócio não produzirá seus efeitos.

Vejamos o conceito de condição trazido no artigo 121 do Código Civil:

Art. 121 – Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. (BRASIL, 2012, p. 159)

Acerca da condição, Maria Helena Diniz (2011, p. 563): “Assim um ato

negocial é condicional quando seu efeito, total ou parcial, depende de um

acontecimento futuro e incerto”.

1.4.2.1 Classificação das condições

São várias as classificações das condições, porém neste trabalho

apontaremos duas, a condição suspensiva e a resolutiva.

Vejamos o disposto no artigo 125 do Código Civil sobre a condição

suspensiva:

Art. 125 – Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta não se verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. (BRASIL, 2012, p. 159)

Segundo Paulo Nader (2009, p. 354): “Condição suspensiva é o

acontecimento futuro e incerto que, se realizado, provoca a aquisição do direito”.

[grifo do autor]

Na condição suspensiva, o negócio somente produzirá os efeitos pretendidos

quando se verificar a ocorrência do evento futuro e incerto, quando então,

efetivamente o direito será adquirido.

Assim, enquanto não ocorrer a condição, o direito fica suspenso, e a

obrigação não pode ser exigida pelo titular desta expectativa de direito.

Sobre a condição resolutiva, assevera Silvio Rodrigues:

O negócio sujeito à condição resolutiva se aperfeiçoa desde logo, todavia fica sujeito a se desfazer, e de fato se desfaz, se ocorrer aquele evento futuro e incerto referido na avença. (2003, p. 251)

20

Na condição resolutiva, a aquisição do direito se dá imediatamente, porém

com o a ocorrência do evento futuro e incerto, extingue-se o direito havido pelo

negócio jurídico. Estabelece o artigo 127 do Código Civil:

Art. 127 – Se for resolutiva a condição, enquanto esta não se realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. (BRASIL, 2012, p. 160)

Carlos Roberto Gonçalves traz um exemplo de condição resolutiva:

[...] o beneficiário da doação, depois de recebido o bem, casa-se com a pessoa que o doador proibirá, tendo este conferido ao eventual casamento o caráter de condição resolutiva; ou alguém constituiu uma renda em favor de outrem, enquanto este estudar. (2012, p. 388)

Nesse contexto, com o implemento da condição, o direito que fora concedido

anteriormente extingue-se.

1.4.3 Termo

No termo, as partes podem determinar quando que a eficácia do negócio

jurídico começará a ocorrer, bem como quando terminará, sendo que o termo é um

evento futuro e certo.

Assevera Paulo Nader (2009, p. 362): “Do ponto de vista legal, termo é o

marco temporal que define o começo ou o fim dos efeitos de um negócio jurídico”.

1.4.3.1 Espécies de termo:

Várias são as espécies de termo, sendo que abordaremos sobre termo inicial

e termo final.

Termo inicial (dies a quo) ou suspensivo: momento em que se iniciam os

efeitos do negócio, porém sem poder exercer o direito.

Vejamos o que dispõe o art. 131 do Código Civil:

Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. (BRASIL, 2012, p. 160)

21

Dessa forma, como o termo não suspende o direito, ou seja, o direito é certo e

poderá ser exercido quando da ocorrência do termo, o titular pode exercer atos de

conservação, conforme preconiza o artigo legal.

Termo final (dies ad quem ou ad diem) ou resolutivo: momento em que

encerra os efeitos do negócio, até então vigentes.

Conforme Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 394), o termo e a condição

suspensiva assemelham-se, vez que suspendem o exercício do direito. Suas

diferenças é que na condição suspensiva além do direito estar suspenso, suspende-

se também a sua aquisição. Já no termo somente suspende o exercício do direito,

contudo a sua aquisição já é certa.

1.4.4 Encargo ou modo

Segundo Roberto Senise Lisboa (2009, p. 355), o encargo é uma cláusula

acessória do negócio jurídico, que traz uma obrigação de fazer ao favorecido de

uma liberalidade.

Vejamos o conceito de encargo ou modo nas palavras de Inacio de Carvalho

Neto:

Encargo é a limitação trazida a uma liberalidade, diminuindo a sua extensão. É o caso, v.g., do testamento em que se deixa uma casa a Fulano, com o encargo de que ele cuide do cachorro que lá está. O encargo é também chamado de modo; daí chamar-se o negócio sujeito a encargo de negócio modal. (2008, p. 394)

O encargo obriga ao beneficiário, porém não suspende o seu direito, salvo se

constar expressamente tal disposição, conforme artigo 136 do Código Civil:

Art. 136 – O encargo não suspende a aquisição, nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. (BRASIL, 2012, p. 160)

Ademais, o encargo deve ser somente para a realização de coisas lícitas e

que sejam possíveis de serem executas, pois do contrário, o encargo será tido como

sendo um encargo inexistente, de forma que o beneficiário não precisará cumpri-lo.

22

CAPÍTULO 2 - DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Conforme Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 399), a manifestação de

vontade é indispensável para a existência do negócio jurídico, e para o negócio ser

considerado válido, é necessário que a vontade seja manifestada livremente, pois se

ocorrer um vício na sua declaração, que traga como consequência algum prejuízo

ao próprio agente, a um terceiro ou mesmo a ordem pública, pode-se dizer que o

negócio é defeituoso.

Roberto Senise Lisboa traz um conceito sobre os defeitos do negócio jurídico:

Defeito do ato ou do negócio jurídico é todo vício que torna imperfeita a manifestação de vontade do sujeito de direito. É a desconformidade ou irregularidade da exteriorização da vontade humana que torna o ato ou o negócio defeituoso, sujeito à declaração judicial de nulidade ou anulabilidade. (2009, p. 367) [grifo do autor]

Nesse contexto, existem os vícios do negócio jurídico dispostos no Código

Civil, quais sejam, o erro ou a ignorância, o dolo, a coação, o estado de perigo, a

lesão, a fraude contra credores e a simulação.

Quando um desses vícios integra um negócio jurídico, a lei possibilita que a

parte lesada pleiteie a anulação ou nulidade, a depender do defeito ocorrido.

2.1 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO

Assevera Paulo Nader sobre os vícios de consentimento e vícios sociais:

Os negócios jurídicos, especialmente os contratos, são recursos técnicos que a ordem jurídica disponibiliza visando à composição dos interesses. Quando a vontade declarada não corresponde à intenção ou ao querer espontâneo do agente não se pode afirmar que os interesses foram satisfeitos, ao contrário, instaura-se o conflito na relação. Uma das funções do direito é justamente a de propiciar o equilíbrio social, afastando qualquer fator de desarmonia na sociedade, daí a razão porque os atos negociais que nascem em desconformidade com a vontade dos agentes são considerados defeituosos, padecendo de vícios comprometedores de sua validade. A Lei Civil declara tais negócios nulos ou anuláveis. No primeiro caso, a invalidade não depende da vontade do agente, enquanto no segundo é indispensável a sua iniciativa para o desfazimento do ato. Nesta última hipótese, a permanência do ato às vezes consulta mais ao interesse do agente do que a sua anulação. (2009, p. 371) [grifo do autor]

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São vícios de consentimento o erro ou a ignorância, o dolo, a coação, o

estado de perigo, a lesão e a fraude contra credores.

Assevera José Jairo Gomes:

Os vícios do consentimento provocam uma declaração de vontade divergente do verdadeiro querer do declarante. Estabelece-se um conflito entre a vontade exteriorizada e a íntima e verdadeira intenção da parte. Aqui, há um desvio da vontade, que se forma ou se manifesta de maneira deturpada, poluída, corrompida, adulterada, enfim, viciada. (2006, p. 412) [grifo do autor]

Esses vícios afetam diretamente a manifestação da vontade do agente, não

correspondendo a sua real vontade de forma que, a pessoa somente entabula o

negócio jurídico em razão de certas circunstâncias. Vejamos cada um deles.

2.1.1 Erro ou ignorância

O doutrinador Sílvio de Salvo Venosa traz o conceito do referido vício:

O primeiro vício de consentimento é o erro, com as mesmas consequências da ignorância. Trata-se de manifestação de vontade em desacordo com a realidade, quer porque o declarante a desconhece (ignorância), quer porque tem representação errônea dessa realidade (erro). (2008, p. 374) [grifo do autor]

Vejamos agora o que dispõe o Código Civil sobre o erro:

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias de negócio. (BRASIL, 2012, p. 160) [grifo meu]

No caso de um negócio praticado sob a ocorrência do erro ou ignorância,

somente se poderá anular tal negócio, se a pessoa ao manifestar sua vontade, agiu

com cautela, de forma que, nesse caso receberá a proteção do ordenamento

jurídico.

Nesse sentido, Marcos Bernardes de Mello:

O que a norma exige é que as pessoas usem de diligência no tráfico negocial, punindo aquele que age negligentemente. A norma não se dirige ao outro figurante do negócio, mas àquele que alega o erro. Se a pessoa vítima de erro atuou, em face das circunstâncias do negócio, com diligência normal, o seu erro é escusável e, portanto, é o negócio anulável. Se, ao contrário, a sua

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análise das circunstâncias do negócio foi negligente, estulta, grosseira, o erro é inescusável e, portanto, não constitui causa de anulabilidade. (2011, p. 196)

Ainda, a lei se refere a ocorrência de um erro substancial, conforme dispõe o

artigo 139 do Código Civil:

Art. 139. O erro é substancial quando:

I – interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II – concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III – sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. (BRASIL, 2012, p. 160)

Nesse contexto, a lei se refere a um tipo de erro que efetivamente traga

um grave prejuízo a pessoa, de forma que não é qualquer erro que torna o negócio

jurídico anulável.

2.1.2 Dolo

O Código Civil não estabelece um conceito de dolo. Dessa forma, vejamos a

definição deste defeito do negócio jurídico trazido pelo doutrinador Paulo Nader:

Consiste o dolo em artifícios ou manobras de uma pessoa visando a induzir outra em erro a fim de tirar proveito para si ou para terceiro. É prática desonesta de que se vale maliciosamente alguém pretendendo a realização de um ato negocial vantajoso. (2009, p. 382)

A ocorrência desse vício tem o condão de fazer com que a pessoa que

manifesta a sua vontade, a manifeste pautada no erro, todavia um erro que se dá

através da falsa percepção da realidade, induzido pela outra parte que tem a

intenção de prejudicar a vítima.

Existem várias espécies de dolo, dentre as quais duas serão apontadas,

quais sejam, dolo principal e dolo acidental.

O artigo 145 do Código Civil dispõe sobre o dolo principal, vejamos:

Art. 145 – São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. (BRASIL, 2012, p. 160)

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Segundo Roberto Senise Lisboa (2009, p. 387): “O dolo essencial, também

chamado de dolus causam, substancial ou principal, anula o ato ou o negócio

quando for causa determinante da sua realização”. [grifo do autor]

Acerca do dolo acidental, dispõe o artigo 146 do Código Civil:

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. (BRASIL, 2012, p. 160)

Conforme José Jairo Gomes (2006, p. 419), o dolo acidental não tem o

condão de tornar o negócio jurídico anulável, pelo fato de que não afeta de forma

grave a vontade da pessoa, obrigando somente a ressarcir as perdas e danos à

parte lesada, uma vez que o referido negócio seria realizado de qualquer forma,

independentemente de estar ocorrendo um induzimento malicioso ou não.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 415), a diferença entre o erro e

o dolo é que no dolo o desacordo da realidade é provocado intencionalmente por

outra pessoa. Já no erro, a pessoa comete o engano sozinha, ou seja, ninguém a

induz ao equívoco.

2.1.3 Coação

Fábio Ulhoa Coelho traz o conceito de coação:

Coação é o constrangimento da vontade da parte declarante, através da ameaça de violência física ou moral, feita pelo próprio destinatário da declaração ou por terceiro. (2003, p. 337)

Vejamos o que o Código Civil dispõe acerca dos pressupostos para configurar

a coação:

Art.151. A coação, para viciar a declaração de vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou a seus bens. (BRASIL, 2012, p. 161)

Dessa forma, a coação deve ser o motivo fundamental do consentimento, de

forma que, traga a pessoa, a algum parente seu ou a seus bens, um grave receio de

prejuízo iminente.

São várias as espécies de coação, sendo que será feito considerações sobre

a coação absoluta (vis absoluta) e a coação relativa (vis compulsiva).

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Na coação absoluta não ocorre uma manifestação de vontade, sendo que a

vantagem é alcançada através da violência física. Nesse sentido, assevera José

Jairo Gomes:

Na coação absoluta, há constrangimento físico, corporal. O coato fica privado de manifestar sua vontade, figurando como títere do coator. Não há espaço para que ele se manifeste, não lhe restando alternativa. Na verdade, a única vontade expressada é a do coator. A violência física exclui a possibilidade de haver declaração de vontade por parte da vítima, de modo que o negócio jurídico resultante é inexistente. Não se trata de nulidade, pois o negócio não chega a adentrar ao mundo jurídico, porquanto sequer pode-se considerar que tenha havido declaração de vontade. (2006, p. 422)

Segundo, Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 425), na coação relativa, o

negócio se torna anulável, vez que a pessoa faz alguma escolha, ou seja, existirá

uma vontade, mesmo que essa manifestação de vontade lhe traga um prejuízo.

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, diferenciam o estado de

perigo da coação:

No estado de perigo, diferentemente do que ocorre na coação, o beneficiário não empregou violência psicológica ou ameaça para que o declarante assumisse obrigação excessivamente onerosa. O perigo de não salvar-se, não causado pelo favorecido, embora de seu conhecimento, é que determinou a celebração do negócio prejudicial. (2012, p. 415) [grifo dos autores]

2.1.4 Estado de perigo

Roberto Senise Lisboa conceitua esse vício:

Estado de perigo (stato di pericolo) é a situação na qual a vítima se encontra que a obriga realizar negócio jurídico contendo prestação que lhe é onerosa, para se livrar de risco iminente à sua vida ou à sua saúde. (2009, p. 404) [grifo do autor]

O referido tema será tratado detalhadamente no capítulo 3 do presente

trabalho.

2.1.5 Lesão

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 442), quando um negócio é

pactuado em razão de uma das partes encontrar-se em necessidade ou mesmo pela

sua inexperiência, que lhe traga um prejuízo decorrente de uma manifesta

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desproporção no tocante a prestação e a contraprestação, caracteriza-se a lesão,

tema esse que será aprofundado no capítulo 4 deste trabalho.

A ocorrência dos vícios sociais traz como consequência a anulabilidade do

negócio jurídico. Nesse contexto, dispõe o artigo 171 do Código Civil:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:

(...) II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. (BRASIL, 2012, p. 162) [grifo meu]

Todavia, apesar da fraude contra credores ser considerado pela doutrina um

vício social, a sua ocorrência trará a possibilidade de anulação, conforme disposição

legal.

2.2 VÍCIOS SOCIAIS

Conforme Sílvio de Salvo Venosa (2008, p. 375), os vícios sociais tem como

objetivo enganar terceiros. A manifestação da vontade corresponde a vontade

querida pela pessoa, contudo, é manifestada com a intenção de prejudicar terceiros.

A fraude contra credores e a simulação apresentam-se como vícios sociais.

Vejamos cada um deles.

2.2.1 Fraude contra credores

De acordo com Roberto Senise Lisboa (2009, p. 416), neste vício o que se

objetiva é frustrar a percepção do direito dos credores, através da dilapidação do

patrimônio do devedor.

Se o devedor agir de má-fé, de forma a dilapidar seu patrimônio ou reduzir-se

a insolvência, seus credores tem a possibilidade de alegar a ocorrência desse vício,

e com isso restabelecer novamente o antigo patrimônio do devedor.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 452), a fraude contra credores

possuem dois elementos: o objetivo que se caracteriza pela insolvência do devedor,

trazendo um prejuízo ao credor, e o subjetivo caracterizando-se pela malícia do

devedor, ou seja, a intenção de frustrar direitos de terceiros.

O artigo 159 do Código Civil estabelece sobre a má-fé do adquirente:

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Art. 159 – Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. (BRASIL, 2012, p. 161)

Se o adquirente estiver de boa-fé, o negócio jurídico não será anulado, porém

se o adquirente tiver conhecimento de que a conclusão do negócio deixará o

devedor insolvente, estará caracterizado o elemento objetivo da fraude contra

credores, não necessitando que adquirente e devedor estejam necessariamente de

conluio.

A ocorrência desse vício pode se configurar em quatro situações:

1.Transmissões de bens onerosas, conforme artigo 159 do Código Civil:

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. (BRASIL, 2012, p. 161)

2. Atos de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, conforme

estabelece o artigo 158 do Código Civil:

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. (...) (BRASIL, 2012, p. 161)

3. Pagamento antecipado de dívidas, conforme artigo 162 do Código Civil:

O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu. (BRASIL, 2012, p. 161)

4. Concessão fraudulenta de garantias, conforme estabelece o artigo 163 do

Código Civil:

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. (BRASIL, 2012, p. 161)

Acerca da anulação, os credores possuem o prazo decadencial de quatro

anos, à contar do dia em que se celebrou o negócio para anular os atos praticados,

através da ação revocatória ou pauliana.

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2.2.2 Simulação

O doutrinador Sílvio de Salvo Venosa traz o conceito de simulação:

Simular é fingir, mascarar, camuflar, esconder a realidade. Juridicamente, é a prática de ato ou negócio que esconde a real intenção. A intenção dos simuladores é encoberta mediante disfarce, parecendo externamente negócio que não é espelhado pela vontade dos contraentes. (2008, p. 493)

Na simulação, o negócio jurídico é concretizado mediante uma declaração

que não corresponde a real intenção das partes, sendo que existe um conluio para

praticarem tal ato, com o objetivo de iludir terceiros.

Vejamos o que dispõe o artigo 167 do Código Civil quando trata sobre as

hipóteses de simulação:

Art.167 – É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

§1º. Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. §2º. Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. (BRASIL, 2012, p. 162)

Dessa forma, quando ocorrer uma dessas situações previstas em lei, o

negócio jurídico estará eivado com o vício da simulação.

A simulação pode ser absoluta ou relativa. Acerca da simulação absoluta,

Carlos Roberto Gonçalves:

Na simulação absoluta as partes na realidade não realizam nenhum negócio. Apenas fingem, para criar uma aparência, uma ilusão externa, sem que na verdade desejem o ato (colorem habens, substantiam vero nullam). Diz-se absoluta porque a declaração de vontade se destina a não produzir resultado, ou seja, deveria ela produzir um resultado, mas o agente não pretende resultado nenhum. (2012, p. 485) [grifo do autor]

Acerca da simulação relativa, assevera Paulo Nader:

A simulação se diz relativa quando visa a esconder o verdadeiro nexo existente, como na hipótese de se firmar contrato de mútuo, para encobrir a dívida de jogo. Assim há dois negócios, um fictício e outro real. (2009, p. 405) [grifo do autor]

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As duas espécies de simulação conduzem a nulidade do negócio, mas em

relação a simulação relativa, o negócio jurídico subsistirá ao que foi dissimulado,

desde que seja válido em relação a substância e a forma. Ainda, a lei resguarda os

direitos de terceiros de boa-fé. Nesse diapasão, dispõe a segunda parte do artigo

167 do Código Civil, e seu parágrafo segundo:

Art.167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. (...) §2º. Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. (BRASIL, 2012, p. 162) [grifo meu]

Em relação a simulação e aos demais vícios dos negócios jurídicos, assevera

José Jairo Gomes:

Diferentemente dos defeitos já analisados (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão) – que são vícios do consentimento -, não há, na simulação divergência entre a vontade interna e a declarada, pois o que as partes declaram corresponde ao que realmente querem. As partes têm conhecimento e plena consciência do que declaram e da finalidade para a qual o fazem. O problema é que o negócio é meramente aparente, ilusório. Seu defeito está em voltar-se para lesar outrem ou o sistema jurídico. Daí caracterizar-se a simulação como vício social e não do consentimento. (2006, p. 441)

No tocante a simulação, por se tratar de um vício mais grave, trará como

consequência a nulidade do negócio.

Dispõe o artigo 166 do Código Civil sobre as causas de nulidade:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III – o motivo determinante, comum a ambas as partes for ilícito; IV – não revestir a forma prescrita em lei;

V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. (BRASIL, 2012, p. 162)

Dessa forma, se um negócio for celebrado com a ocorrência de algumas

dessas causas, o negócio será tido como nulo pelo ordenamento jurídico.

Nesse sentido, a doutrinadora Maria Helena Diniz:

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Com a declaração da nulidade absoluta do negócio jurídico, este não produz qualquer efeito por ofender, gravemente, princípios de ordem pública. É nulo o ato negocial inquinado por vício essencial, não podendo ter, obviamente, qualquer eficácia jurídica. (2011, p. 577) [grifo da autora]

Dessa forma, o negócio considerado nulo não produzirá os efeitos

pretendidos pelas partes.

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CAPÍTULO 3 - ESTADO DE PERIGO

3.1 CONCEITO DE ESTADO DE PERIGO

Antes do advento do Código Civil de 2002, o estado de perigo era tratado pela

doutrina juntamente com o instituto da coação, visto que não encontrava previsão

legal no Código Civil de 1916, porém tal defeito, hoje encontra previsão no atual

Código.

Aduz Arnaldo Rizzardo:

Uma situação comum, mas não prevista no Código anterior, passou a integrar as causas que podem anular o negócio. Envolve o ambiente em que se encontra uma pessoa, quando celebra um negócio, que tolhe a sua vontade, agindo basicamente pela pressão que vive. Corresponde a uma situação de fato, pela qual uma pessoa, para se livrar de um perigo desencadeado e que a pressiona, assente em um negócio, celebrando-o, não medindo os excessivos efeitos nocivos que lhe causa. Defronta-se o contratante com um perigo iminente e grave, levando-a a celebrar o negócio para livrar a si ou a pessoa de sua família de um grave dano que a parte que com ela contrata conhece e dele se beneficia. (2008, p. 493)

Vejamos o conceito desse instituto trazido pelo Código Civil:

Art. 156 – Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente a família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. (BRASIL, 2012, p. 161) [grifo meu]

Segundo Caio Mário da Silva Pereira (2009, p. 469), acerca do conceito de

estado de perigo, a vontade da pessoa se torna viciada, quando em razão da

necessidade de salvar-se a si própria, um parente, ou mesmo um amigo, o

declarante se obriga a pagar uma quantia desproporcional. Contudo, para restar

configurado o estado de perigo, é essencial que a outra pessoa tenha consciência

acerca situação de perigo que conduz o declarante a entabular tal negócio.

3.2 REQUISITOS E CARACTERÍSTICAS DO ESTADO DE PERIGO

Sílvio de Salvo Venosa aponta os requisitos do estado de perigo contidos no

artigo 156 do Código Civil:

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Desse dispositivo conclui-se que o estado de perigo possui os seguintes requisitos: uma situação de necessidade; a iminência de dano atual e grave; nexo de causalidade entre a manifestação e o perigo de grave dano; ameaça de dano à pessoa do próprio declarante ou de sua família; conhecimento do perigo pela outra parte e a assunção de obrigação excessivamente onerosa. (2008, p. 415)

Todavia, quando não se demonstrar os requisitos do estado de perigo, tal

defeito, mesmo que alegado, não trará a anulação do negócio entabulado. Nesse

sentido, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Paraná:

APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIÇOS HOSPITALARES NÃO COBERTOS PELO PLANO DE SAÚDE. TERMO DE RESPONSABILIDADE PELAS DESPESAS ASSINADO PELA APELADA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA, DIANTE DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. NÃO CONFIGURAÇÃO. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 130 E 131 DO CPC. ESTADO DE PERIGO NÃO EVIDENCIADO.AUSÊNCIA DE PROVA DA ONEROSIDADE EXCESSIVA, BEM COMO DE ABUSIVIDADE OU MÁ-FÉ. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 12ª C.Cível - AC - 947652-2 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Everton Luiz Penter Correa - Unânime - - J. 26.06.2013) [grifo meu] APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES - ATENDIMENTO PARTICULAR - ENTIDADE HOSPITALAR NÃO CREDENCIADA AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - VÍCIO DE CONSENTIMENTO - ESTADO DE PERIGO - ARTIGO 156 DO CÓDIGO CIVIL - NÃO CONFIGURAÇÃO - REQUISITOS NÃO COMPROVADOS - NEGÓCIO JURÍDICO VÁLIDO - DIREITO À SAÚDE E À LIVRE INICIATIVA PRIVADA - COBRANÇA DAS DESPESAS HOSPITALARES - PROCEDÊNCIA - REMUNERAÇÃO DEVIDA - DECISÃO REFORMADA. 1. A anulabilidade do negócio jurídico por vício de consentimento - estado de perigo, nos termos do artigo 156 do Código Civil, depende da comprovação dos elementos objetivo (obrigação excessivamente onerosa) e subjetivo (necessidade de salvar a si ou a pessoa da família de grave dano e dolo de aproveitamento da pessoa que se beneficia). A não comprovação do alegado vício por ocasião da contratação dos serviços hospitalares conduz à validade do negócio jurídico firmado e à obrigação de pagar. 2. O estado de emergência não tem o condão de, por si só, macular o negócio jurídico. 3. O direito à saúde é direito de todos e dever do Estado, conforme prevê o artigo 196 da Constituição Federal, não sendo possível imputar-se tal ônus à entidade hospitalar privada sem credenciamento ao Sistema Único de Saúde (SUS). 4.A contrapartida dos serviços prestados é o direito de obter a sua remuneração, razão pela qual, é possível a cobrança do débito por meio de pedido reconvencional. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 12ª C.Cível - AC - 983472-0 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Angela Maria Machado Costa - Unânime - - J. 20.03.2013) [grifo meu]

Nesse diapasão, para configurar tal vício, os requisitos determinantes devem

ser demonstrados, pois do contrário, a simples alegação do defeito em questão não

ensejará a anulação do negócio, devendo as partes cumprir com o contrato

entabulado.

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A ocorrência do estado de perigo pode ser visto nas várias situações

exemplificadas pelo doutrinador Silvio Rodrigues:

[...] aquele que, assaltado por bandidos, em lugar ermo, se dispõe a pagar alta cifra a quem venha livrá-lo da violência, ou o náufrago que oferece ao salvador recompensa excessiva; ou o comandante de embarcação, às portas do naufrágio, que propõe pagar qualquer preço a quem venha socorrê-lo; ou o doente que, no agudo da moléstia, concorda com os altos honorários exigidos pelo cirurgião; ou a mãe que promete toda a sua fortuna para quem lhe venha salvar o filho, ameaçado pelas ondas ou de ser devorado pelo fogo. (2003, p. 218)

Segundo o doutrinador Inacio de Carvalho Neto (2008, p. 420), quando ocorre

o estado de perigo, existe a possibilidade de se anular o negócio, porém para

ocorrer tal situação é necessário que aquele que prestou o serviço tivesse

conhecimento de que o declarante entabulou um negócio desvantajoso em razão da

situação de perigo vivenciada por ele ou por algum parente seu. Contudo, se o

prestador de serviço não se aproveitou da situação e não tinha o conhecimento de

tal fato, ou mesmo não tinha ciência acerca da gravidade da situação, o declarante

não poderá se valer do estado de perigo, e assim não será possível a anulação do

negócio.

Porém, tal situação traz um conflito de interesses, pois se o prestador de

serviços não tinha conhecimento da situação em que se encontrava o declarante,

este terá que cumprir com uma obrigação desproporcional, lhe trazendo um prejuízo.

Por outro lado, se ocorrer a anulação, aquele que prestou o serviço também estará

em desvantagem, pois, ainda que tivesse conhecimento da situação em que se

encontrava o declarante, não irá receber pelo serviço que prestou.

Nesse diapasão, Silvio Rodrigues:

[...] a mera anulação do negócio, alforriando o declarante de qualquer obrigação, conduz a resultado por igual injusto. Pois este obtém um enriquecimento indevido e sem causa, que corresponde a um empobrecimento por parte do outro contratante. Com efeito, o autor da promessa anulada enriqueceu indevidamente, pois deixou de pagar um serviço que lhe foi efetivamente prestado; e o outro contratante sofreu empobrecimento correspondente ao valor do serviço prestado e que não lhe foi pago. De forma que o juiz, invalidando o negócio jurídico inquinado de vício, deverá, não obstante, fixar uma prestação, a ser paga pelo autor da declaração anulada a seu co-contratante, que equivalha ao serviço efetivamente recebido. Se não o fizer, pode a parte prejudicada com a sentença anulatória pleitear, por meio da ação in rem verso, referido pagamento. (2003, p. 223) [grifo do autor]

35

Nessa situação, Sílvio de Salvo Venosa assevera sobre qual seria a

possibilidade mais harmoniosa para solucionar esse impasse:

Se, por um lado, a vigente lei merece elogios por ter trazido ao ordenamento a conceituação que faltava ao Código de 1916, por outro lado, o fato de permitir aparentemente a anulação do ato em estado de perigo merece críticas. Melhor seria a solução aceita pela doutrina de manter o ato, mas reduzir o valor do pagamento ao justo limite pelo serviço prestado. Na solução do atual Código, em tese, uma vez anulado o negócio, só restaria ao agente recorrer à ação de enriquecimento sem causa para haver o pagamento. Contudo, ao estampar o conhecimento do estado de perigo por parte do beneficiado (“grave dano conhecido pela outra parte”), entende o legislador que houve abuso de situação; o agente valeu-se do terror incutido a outra parte para realizar o negócio, tendo cessado a boa-fé. Nesse caso, o negócio não poderia subsistir. Nada impede, porém, e se harmoniza com o sistema, a solução de o juiz manter a validade do negócio, atendendo às circunstâncias do caso, determinando que a prestação seja reduzida ou reconduzida a seu justo valor, a exemplo do que a nova lei alvitra para o caso de lesão (art. 157,§2º). (2008, p. 416)

Dessa forma, ao invés de se pleitear a anulabilidade do negócio, por ter agido

o outro contratante sem observar a boa-fé, bastaria que este concordasse em

oferecer um suplemento apto a sanar a desproporção, ou mesmo que concordasse

em reduzir o proveito para manter-se o contrato, sem ter que recorrer à hipótese da

anulação.

3.3 EFEITOS DO ESTADO DE PERIGO

Acerca do negócio jurídico praticado sob estado de necessidade, aduz Carlos

Roberto Gonçalves:

A anulabilidade do negócio jurídico celebrado em estado de perigo encontra justificativa em diversos dispositivos do novo Código, principalmente naqueles que consagram os princípios da boa-fé e da probidade e condicionam o exercício da liberdade de contratar à função social do contrato (arts. 421 e 422) . (2012, p. 433)

Ainda, o doutrinador Arnaldo Rizzardo assevera sobre a anulação do negócio

quando praticado com a ocorrência de tal vício:

Aquele que exige essa contraprestação extremamente vantajosa está ciente do resultado que procura obter, e da situação de extrema necessidade ou de perigo em que se encontra aquele que precisa do serviço. Para que prevaleça o império da justiça, e com a finalidade de evitar o enriquecimento fácil ou indevido, a lei socorre o prejudicado, com a viabilidade da anulação do negócio. (2008, p. 493)

36

Quando as partes entabulam relações que se dão de forma desiguais, e sem

observar a boa fé, a lei traz sanções como forma de coibir tais relações, e assim

faculta ao declarante pleitear a anulabilidade. Nesse contexto, dispõe o artigo 171,

inciso II do Código Civil:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: (...) II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. (BRASIL, 2012, p. 162) [grifo meu]

Nesse sentido, vejamos a jurisprudência que demonstra a ocorrência do

estado de perigo e que em razão de tal vício possibilitou a anulação do negócio

jurídico:

APELAÇÃO - AÇÃO MONITÓRIA JULGADA IMPROCEDENTE - TERMO DE RESPONSABILIDADE ASSINADO POR TERCEIRO "CONDUTOR" - INTERNAMENTO FEITO MEDIANTE APRESENTAÇÃO DA CARTEIRINHA DO PLANO DE SAÚDE - AUSÊNCIA DE PLENO CONHECIMENTO DAS CLÁUSULAS DO TERMO DE RESPONSABILIDADE - VÍCIO DE CONSENTIMENTO - ESTADO DE PERIGO - CONFIGURAÇÃO - HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA - REQUERIMENTO PARA MINORAÇÃO - POSSIBILIDADE DESDE QUE RESPEITADO O MÍNIMO DA TABELA DA OAB. I - Tendo o Hospital aceitado internar o paciente ante seu convênio com plano de saúde, não pode pretender a cobrança de valores de terceira pessoa que apenas levou o paciente ao hospital e assinou termo de responsabilidade que lhe fora imposto para garantir o atendimento médico devido ao grave estado de saúde em que se encontrava o paciente. Estado de perigo evidenciado no presente caso, sendo motivo suficiente para anular a obrigação com relação à apelada. II - A redução de honorários advocatícios in casu é possível desde que observada a tabela da OAB que não estabelece nenhum valor inferior ao salário mínimo vigente, sob pena de tornar os honorários irrisórios. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO (TJPR - 11ª C.Cível - AC - 797762-4 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Gamaliel Seme Scaff - Unânime - - J. 18.04.2012) [grifo meu]

Dessa forma, quando o caso em análise demonstrar os requisitos que

configurem a ocorrência do estado de perigo, a anulação do negócio jurídico será

possível.

Todavia, a lei dispõe de um prazo determinado para se pleitear a anulação,

conforme preconiza o artigo 178, inciso II do Código Civil:

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: (...)

37

II – no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; (...)

(BRASIL, 2012, p. 162) [grifo meu]

Assim, o declarante possui o prazo decadencial de quatro anos para buscar a

anulação, a contar do dia em que entabulou o negócio jurídico sob estado de perigo,

de modo que, se no prazo legal não pleitear a anulabilidade, decairá do seu direito, e

então o negócio será tido como sendo juridicamente perfeito, não restando mais

possibilidade jurídica de seu desfazimento.

Nesse sentido, Caio Mário da Silva Pereira:

O negócio jurídico anulável convalesce por três razões, tornando-se eficaz. A primeira é o decurso do tempo que, extinguindo o direito de anulação, torna-o plenamente válido. O prazo de decadência é a curto tempo, em razão do interesse social em que não perdure a incerteza dos direitos e da conveniência de sua consolidação. Ocorre como que uma ratificação presumida: o interessado, que podia atacar o ato, deixa de fazê-lo sem declarar que o ratifica, e perde com o tempo a faculdade de invalidá-lo, em paridade de situação com aquele que a isto renuncia. (2009, p. 547) [grifo do autor]

Nesse diapasão, a jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO.ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO .COAÇÃO. DECADÊNCIA. PRAZO DECADENCIAL DE 04 (QUATRO) ANOS. INTELIGÊNCIA DO ART. 178, DO CCB VIGENTE. OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 16ª C.Cível - AC - 991419-8 - Londrina - Rel.: Francisco Eduardo Gonzaga de Oliveira - Unânime - - J. 29.05.2013) [grifo meu]

Dessa forma, se a decadência ocorrer o negócio jurídico será considerado

como válido, continuando a produzir todos os seus efeitos, sendo que não haverá

mais a possibilidade de sanar o defeito ocorrido.

38

CAPÍTULO 4 - LESÃO

4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LESÃO

Acerca do surgimento desse instituto, assevera Caio Mário da Silva Pereira:

Tendo surgido primitivamente na compra e venda, levava ao desfazimento do contrato quando o comprador pagava menos da metade do justo preço que a coisa valia no tempo da operação. Por um processo de elaboração a que esteve sempre presente a inspiração da equidade e da moralização dos negócios, ampliou-se e generalizou-se na Idade Média a outras figuras de negócios jurídicos. No direito português das Ordenações, a lesão enorme tinha cabida nos contratos comutativos, e importava na sua rescisão quando uma das partes era enganada em mais de metade do preço justo, tal como na fonte romana se falava da laesio ultra dimidium iusti pretti. Criou-se, também, no direito filipino, a chamada lesão enormíssima, quando a desproporção de preço ultrapassava a casa dos dois terços. Nosso direito pré-codificado concebeu, portanto, o instituto da lesão com estas duas figuras, caracterizando-se a lesão enorme como defeito objetivo do contrato: o seu fundamento não era nenhum vício presumido do consentimento, mas assentava na injustiça do contrato em si; já a lesão enormíssima fundava-se no dolo com que se conduzia aquele que do negócio tirava o proveito desarrazoado, porém dolo presumido ou dolo ex re ipsa, que não precisava de ser perquirido na intenção do agente. (2009, p. 465 e 466) [grifo do autor]

Ainda o doutrinador Arnaldo Rizzardo aduz sobre a história desse instituto:

Historicamente, equivalia à alienação da coisa por menos da metade de seu justo preço ou valor. Emanada a regra do direito romano, se estendeu posteriormente e alcançou o direito francês. Com o Código de Napoleão, o critério delimitador ateve-se basicamente no elemento objetivo para a caracterização do princípio: sempre quando o prejuízo fosse igual ou superior a sete doze avos do valor da coisa. Sendo inferior, inexistia a lesão. Mas, pelo direito romano, se ficasse abaixo da metade, era inválida a compra e venda. Predominava, também, um fundamento puramente objetivo, sem se cogitar da pureza das intenções, nem do conhecimento de qual era o justo preço, no momento do negócio. (2008, p. 495)

Segundo Caio Mário da Silva Pereira (2009, p. 466), o instituto da lesão foi

suprimido no Código Civil de 1916, apesar de permanecer nos Códigos ocidentais,

porém sendo reduzido à compra e venda e à partilha.

Contudo, o Decreto-lei nº 869, de 18/11/1938, modificado pela Lei nº 1.521

de 26/12/1951 (Lei da Economia Popular), tratou em seu artigo 4º, sobre o instituto

da lesão, vejamos:

39

Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando: (...) b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida. Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de cinco mil a vinte mil cruzeiros. (...) (BRASIL, 2012, p. 1134) [grifo meu]

De acordo com o referido artigo legal, para se configurar a lesão era

necessário demonstrar necessidade ou inexperiência da parte lesada, a leviandade

da outra parte, bem como a desproporção superior a um quinto do valor corrente.

Conforme asseveram Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2012,

p. 408), em que pese a referida lei tratar sobre matéria criminal, a doutrina acabou

tendo o entendimento de que a conduta antijurídica do agente também traria reflexos

na área cível, possibilitando dessa forma pleitear a invalidação do contrato.

Posteriormente, o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de

11/09/1990), passou a reprimir a lesão consumerista, vejamos:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...)

V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; (...) (BRASIL, 2012, p. 774) [grifo meu]

Ainda, no artigo 39, inciso V tratou acerca das práticas abusivas:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

(...) V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; (...) (BRASIL, 2012, p. 777) [grifo meu]

Ademais, no artigo 51, inciso IV, tratou sobre as nulidades das cláusulas

abusivas:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

40

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; (...) (BRASIL, 2012, p. 779) [grifo meu]

Vejamos ainda o que traz o artigo 51, §1º, inciso III, acerca da vantagem:

§1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

(...) III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. (BRASIL, 2012, p. 779) [grifo meu]

Nesse contexto, Caio Mário da Silva Pereira:

Na filosofia deste código, o “consumidor” é considerado, em confronto com o “fornecedor”, como a parte economicamente mais fraca, e de certo modo “necessitada”. Independentemente de suas condições econômicas e financeiras, o consumidor na maioria das vezes contrata em razão da “necessidade” do produto ou do serviço, ao mesmo tempo é de se presumir a sua “inexperiência” em comparação com o “fornecedor” que é um profissional conhecedor de sua especialidade. (2001, p. 210)

Para restar configurada a lesão consumerista, é necessário apenas a

desvantagem obrigacional do consumidor (elemento objetivo), de modo que, se as

cláusulas contratuais tidas como abusivas não forem modificadas, terão como

consequência a sua nulidade de pleno direito.

Nesse sentido, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:

Note-se que, na sistemática do CDC, a recusa de modificação dos termos do contrato determinará não a simples anulação, mas a nulidade absoluta e de pleno direito da cláusula contratual considerada abusiva, por se reconhecer violação a superiores princípios de ordem pública. (2012, p. 409) [grifo dos autores]

Com a vigência do novo Código Civil, o instituto da lesão foi disciplinado como

um dos defeitos do negócio jurídico.

4.2 CONCEITO DE LESÃO

Segundo Roberto Senise Lisboa (2009, p. 397): “Lesão é a obtenção de

vantagem indevida, em virtude da situação de inexperiência ou premência da vítima,

acarretando-lhe prejuízo patrimonial”.

41

A lesão, como um dos vícios do negócio jurídico, tem como objetivo proteger

o contratante que, na relação entabulada foi lesado, seja em razão da necessidade

em que se encontrava naquele momento ou mesmo pela sua inexperiência para

realizar o negócio.

Nesse diapasão, Caio Mário da Silva Pereira:

[...] o instituto da lesão visa à comutatividade, à equivalência das prestações, ao restabelecimento de uma equiparação de proveitos de uma e outra parte nos ajustes bilaterais. (2001, p. 159)

A lesão encontra previsão no atual Código Civil no artigo 157, vejamos:

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a manifestação desproporcional ao valor da prestação oposta. (...) (BRASIL, 2012, p. 161) [grifo meu]

Dessa forma, se verifica a lesão quando alguém entabula um negócio jurídico

em que a prestação é desproporcional em relação a contra prestação, sendo que

isso ocorre pela necessidade econômica ou mesmo pela falta de experiência do

contratante.

Fábio Ulhoa Coelho exemplifica uma situação em que ocorre a lesão:

[...] considere que Antonio, premido pela necessidade de levantar rapidamente dinheiro para pagar o tratamento médico do pai, põe á venda um imóvel por $ 100, que, suponha-se, já é inferior ao valor médio de mercado. O único interessado que se apresenta, Benedito, oferece $ 40, menos da metade do valor do imóvel. Antônio acaba concordando porque a quantia basta ao pagamento das despesas médicas e hospitalares do tratamento do pai. Esse negócio jurídico é anulável por lesão, visto que se encontram os dois elementos caracterizadores desse defeito de consentimento. Em consequência, a menos que Benedito concorde em pagar pelo menos mais $ 60 pelo imóvel, o negócio é anulado. Retornará o bem ao patrimônio de Antonio, que deve restituir os $ 40 a Benedito. (2003, p. 332) [grifo do autor]

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 444), embora a lesão seja um

instituto apto a tutelar o direito do vendedor, existe também a possibilidade da

aplicabilidade deste instituto para o adquirente, porém sendo mais difícil ocorrer

essa situação, uma vez que este não é obrigado a adquirir algo pelos mesmos

motivos em que o vendedor se obriga a realizar a venda. Contudo, tal situação pode

42

acontecer, e assim, a lesão terá o condão de resguardar o direito deste, que por

qualquer motivo, acabou sendo lesado quando da celebração do negócio jurídico.

4.3 REQUISITOS DA LESÃO

Como elementos da lesão podemos citar dois requisitos, quais sejam, o

elemento objetivo e o subjetivo, sendo que para se caracterizar a ocorrência da

lesão, os dois requisitos devem estar presentes.

4.3.1 Requisito objetivo

Acerca do elemento objetivo da lesão assevera José Jairo Gomes:

O requisito objetivo refere-se ao desequilíbrio manifesto das prestações, à evidente desproporção entre o preço e a coisa adquirida, o que enseja a percepção de lucro exagerado, iníquo, por uma das partes. Disso advém seu caráter lesivo. (2006, p. 431) [grifo do autor]

Acerca do elemento objetivo o que leva em consideração é se existe um

expressivo desequilíbrio na relação pactuada. Nesse diapasão, Roberto Senise

Lisboa assevera:

A desproporção entre as prestações deve ser considerável. É comum a desproporção mínima entre as prestações, dada a situação na qual as partes celebraram o negócio jurídico. Entretanto, a desproporcionalidade acentuada é algo fora da normalidade do comércio jurídico. (2009, p. 401).

Ainda, deverá o juiz, ao analisar o caso em deslinde, verificar a desproporção

ocorrida na relação, sendo que o momento que deve ser levado em conta para tal

verificação é quando se deu a celebração do negócio jurídico, conforme estabelece

o artigo 157, §1º do Código Civil:

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a manifestação desproporcional ao valor da prestação oposta. §1º. Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. (BRASIL, 2012, p. 161) [grifo meu]

Nesse diapasão, Sílvio de Salvo Venosa:

43

A desproporção das prestações deve ser aferida no momento de contratar. Quando surge posteriormente ao negócio, é irrelevante, pois, nessa hipótese, estaríamos no campo da cláusula rebus sic stantibus (teoria da imprevisão) (2008, p. 423)

4.3.2 Requisito subjetivo

Assevera Caio Mário da Silva Pereira:

O segundo requisito, subjetivo, é o que a doutrina denomina dolo de aproveitamento, e se configura na circunstância de uma das partes aproveitar-se das condições em que se encontre a outra, acentuadamente a sua inexperiência, a sua leviandade ou o estado de premente necessidade em que se acha, no momento de contratar. (2009, p. 468) [grifo do autor]

Conforme Sílvio de Salvo Venosa, (2008, p. 422 e 423), a necessidade a que

a lei se refere não assemelha-se com o estado de perigo ou estado de necessidade,

mas sim a necessidade contratual, ou seja, a necessidade de ter que contratar, não

podendo evitar o contrato, como ocorre por exemplo, na época de seca, quando a

pessoa se obriga a pagar um preço desproporcional em troca de lhe ser fornecida

água.

Sendo assim, resta clara a situação em que o lesado se encontrava, ou seja,

necessitava contratar, e a outra parte se aproveitou da situação de inferioridade

deste, auferindo assim uma vantagem indevida.

Acerca da inexperiência, Marcos Bernardes de Mello assevera:

Para caracterizar a inexperiência do lesado não se deve levar em conta o seu nível cultural, mas suas habilidades e conhecimento para lidar com a espécie do contrato. Assim, uma pessoa de larga experiência em medicina, por exemplo, pode não ter nenhuma no mundo dos negócios e, assim, estar exposta a ser lesada. (2011, p. 243)

Dessa forma, a inexperiência deve decorrer do contrato, isto é, uma

inexperiência relacionada a falta de conhecimentos para realizar determinados

negócios. Nessa situação, não se leva em consideração a cultura ou o

conhecimento da pessoa.

Nesse contexto, para se configurar a lesão, os requisitos desse vício devem

ser demonstrados, vez que a não configuração de tais requisitos, não conduzem a

anulação do negócio. Vejamos a jurisprudência:

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APELAÇÃO CÍVEL. AGRAVO RETIDO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. ALEGAÇÃO DE INCAPACIDADE DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL.AUSÊNCIA DE PROVAS DE QUE O COMPRADOR TINHA CIÊNCIA DA CONDIÇÃO DE SAÚDE DO AGENTE À ÉPOCA DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO. PEDIDO DE ANULAÇÃO EM RAZÃO DE LESÃO. INEXPERIÊNCIA E DESPROPORÇÃO ENTRE AS PRESTAÇÕES NÃO DEMONSTRADAS. PARTE QUE PACTUOU LIVREMENTE O CONTRATO. NEGÓCIO JURÍDICO VÁLIDO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ CONTRATUAL. NÃO CONFIGURADO. REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO. NÃO ACOLHIDA. ALUGUERES QUE VISAM INDENIZAR O COMPRADOR PELO TEMPO EM QUE OS VENDEDORES PERMANECERAM NA POSSE DO IMÓVEL. LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO. CABIMENTO. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA FIXADOS NA SENTENÇA.JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO OCORRÊNCIA.FIXAÇÃO QUE INDEPENDE DE PEDIDO EXPRESSO.ALEGAÇÃO DE INDISPONIBILIDADE DO VALOR INTEGRAL DEPOSITADO NA AÇÃO CONSIGNATÓRIA. DESCABIMENTO. PENHORA NO ROSTO DOS AUTOS.INCÓLUME O DIREITO DOS APELANTES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 6ª C.Cível - AC - 950778-6 - Londrina - Rel.: Ângela Khury - Unânime - - J. 26.02.2013) [grifo meu]

Dessa forma, a não demonstração dos requisitos da lesão, não enseja a

anulação do negócio, de modo que, o negócio será considerado como sendo válido,

devendo as partes cumprirem as suas obrigações contratuais.

4.4 EFEITOS DA LESÃO

A lesão é tida como um dos vícios do negócio jurídico, e quando tal vício é

alegado tem como consequência a anulação do negócio acordado.

Vejamos o conceito da anulabilidade trazida por Marcos Bernardes de Mello:

A anulabilidade é sanção que se atribui ao ato jurídico em consequência de certas circunstâncias que a lei considera causadoras de deficiência em elemento nuclear de seu suporte fático. Nos sistemas jurídicos, em geral, e no brasileiro, em particular, constitui o grau mais leve das sanções de invalidade imputável aos atos jurídicos. (2011, p. 179) [grifo do autor]

A lei dispõe de um prazo para se pleitear a anulação, vejamos:

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a

anulação do negócio jurídico, contado:

(...) II – no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; (...)

(BRASIL, 2012, p. 162) [grifo meu]

45

Dessa forma, a parte lesada poderá pleitear a anulação do negócio, desde

que exerça seu direito no prazo decadencial de quatro anos.

Contudo, se o lesado não objetivar a anulação, mas sim uma forma

alternativa de se restabelecer a relação, é possível que o negócio seja mantido,

desde que a parte beneficiada ofereça um suplemento que tenha como efeito sanar

o defeito ocorrido anteriormente ou se concordar em reduzir o proveito.

Nesse sentido, estabelece o artigo 157, §2º do Código Civil:

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a manifestação desproporcional ao valor da prestação oposta. (...) §2º. Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. (BRASIL, 2012, p. 161) [grifo meu]

Dessa forma, é possível, que ao invés da anulação, ocorra a suplementação

do negócio, visando o equilíbrio entre os contratantes, desde que, conforme dispõe a

lei, o beneficiado concorde em reduzir o proveito obtido, oferecendo um suplemento

ao preço recebido anteriormente.

Nesse contexto, assevera ainda Sílvio de Salvo Venosa:

A ação judicial contra lesão visa a restituição do bem vendido, se se tratar de compra e venda, ou restabelecimento da situação anterior, quando possível. Há faculdade de evitar tal deslinde com a complementação ou redução do preço, conforme a situação, o que não desnatura o caráter típico da ação. Fundamentalmente, seu objeto é o retorno ao estado anterior. A pretensão pode conter pedido subsidiário ou alternativo, portanto. (2008, p. 424 e 425)

Nesse diapasão, vejamos a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas

Gerais acerca da ocorrência da lesão e da possibilidade de manter o negócio

jurídico através de um suplemento suficiente apto a sanar a desproporção ou com a

redução do proveito da parte favorecida:

EMENTA: EMBARGOS À EXECUÇÃO - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS - HONORÁRIOS CONTRATUAIS - BENEFICIÁRIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA - POSSIBILIDADE - CDC - INAPLICABILIDADE - DEFEITO DO NEGÓCIO JURÍDICO - LESÃO - REQUISITOS - CONFIGURAÇÃO - REVISÃO DO PACTO PARA A REDUÇÃO DO PROVEITO OBTIDO. - Não se deve isentar a parte do pagamento de honorários contratuais ao seu patrono simplesmente pelo fato de ser beneficiária da assistência judiciária gratuita, vez que não há óbice a que o advogado e cliente efetivem um contrato de risco, com a previsão expressa de uma promessa futura de pagamento de honorários em caso de êxito na demanda.

46

- Aos contratos de prestação de serviços advocatícios, não se aplica a legislação consumeirista. - De acordo com o Código Civil, dois são os requisitos da lesão. Um de ordem objetiva, qual seja, a desproporcionalidade entre as prestações das partes, e outro de ordem subjetiva, extrema necessidade ou inexperiência da parte. - Configura-se a lesão quando o advogado, valendo-se do estado de premente necessidade e inexperiência da parte, fixa remuneração pelo êxito na demanda, no percentual de 50% do valor do imóvel usucapido. - Nos termos do disposto no § 2º do art. 157 do CC, não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Assim, não há que se falar em anulabilidade no caso em apreço, devendo-se proceder apenas à revisão do pacto. (Apelação Cível 1.0024.09.502313-1/001, Relator(a): Des.(a) Elpídio Donizetti , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/11/2011, publicação da súmula em 02/12/2011) [grifo meu]

Nesse contexto, quando ocorrer a lesão, ao invés da anulação, a parte

beneficiada pode reduzir o proveito obtido, ou oferecer um suplemento suficiente a

reequilibrar novamente a situação, de modo que, o negócio celebrado será mantido.

4.5 DIFERENÇAS ENTRE O ESTADO DE PERIGO E A LESÃO

Apesar da semelhança desses institutos, ambos possuem suas próprias

características, motivo pelo qual cada um dos vícios possui expressa previsão na lei.

O doutrinador Arnaldo Rizzardo assevera sobre a diferença de tais vícios:

Não se confunde a espécie, embora a perceptível proximidade, com a lesão. Em ambas as figuras, resulta a vantagem manifestamente desproporcional. Todavia, o elemento subjetivo é diferente na lesão e no estado de perigo. Na primeira, celebra-se o negócio sob o premente estado de necessidade, ou por inexperiência; na segunda, o fator subjetivo que debilita a vontade assenta-se no estado de perigo, que pode custar a própria vida, ou a perda e um bem, presente quando da celebração do negócio. (2008, p. 494)

Nesse contexto, somente se assemelha a lesão e o estado de perigo pelo fato

de em ambos os vícios existir uma vantagem desproporcional.

Todavia, na lesão o contratante somente efetua um negócio que lhe será

desfavorável baseado em uma premente necessidade pela qual esteja passando, ou

também pela sua inexperiência.

Já no estado de perigo, o declarante se obriga a entabular um negócio que

lhe será desvantajoso em troca de salvar a si mesmo, um parente, ou um amigo de

uma situação de perigo que está sendo vivenciada.

47

CONCLUSÃO

Conforme explicitado no presente trabalho, para o negócio jurídico existir, ser

considerado válido e produzir todos os efeitos pretendidos pelas partes, deve se

seguir todas as disposições do ordenamento jurídico, pois conforme visto, a sua

inobservância em qualquer dessas situações tem o condão de gerar a nulidade do

negócio pactuado.

Em relação ao estado de perigo, o negócio jurídico somente se concretiza

pelo fato de que a pessoa necessita salvar-se a si mesmo, um parente ou um amigo

íntimo, que correm algum tipo de perigo de vida. Sendo reconhecido o referido vício,

pode ocorrer a anulabilidade, que tem como objetivo desfazer um negócio que

somente foi realizado porque uma das partes encontrava-se em premente

necessidade de vida.

A lesão é um vício do negócio jurídico que acarreta uma desproporção entre a

prestação e a contra prestação, tornando-o defeituoso, e em desacordo com as

normas jurídicas. Tal vício ocorre pela necessidade ou inexperiência do lesado ou

mesmo pela leviandade do outro contratante.

O que se busca com a aplicação desse instituto é restabelecer o equilíbrio

entre as partes, que se dá através da anulação do negócio ou através de sua

convalidação, caso a parte que obteve a vantagem indevida, ofereça um suplemento

que restabeleça novamente relação, ou mesmo que o beneficiado concorde em

reduzir o proveito que alcançou anteriormente, reduzindo o valor das prestações, se

esse for o caso.

O ordenamento jurídico elenca os defeitos do negócio jurídico como forma de

reprovar a conduta daqueles que agem em desacordo com as disposições legais,

objetivando dessa forma com que as pessoas entabulem relações equilibradas, ou

seja, relações pautadas na boa-fé, na probidade, de acordo com a lei, e que tragam

benefícios a ambos contratantes, e não somente a um deles, em detrimento do

outro, pois caso contrário, poderá ocorrer o desfazimento do negócio, fundado em

um desses institutos.

Dessa forma, como a lei prevê sanções para quem não agir de acordo com os

ditames legais, é de extrema relevância que as leis sejam observadas desde a

formação do negócio jurídico, até o seu término, para que os vícios da lesão ou do

estado de perigo, bem como os outros defeitos do negócio jurídico não possam ser

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alegados futuramente, causando por consequência todas as penalidades impostas

pelo ordenamento jurídico.

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REFERÊNCIAS

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