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ISSN: 1983-6791 v.7, n.1, 2014

v.7, n.1, 2014 - ADM 2020 ADMPG...Revista com o apoio do PPGEP – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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ISSN: 1983-6791

v.7, n.1, 2014

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Revista ADMpg - Gestão Estratégicav.7 n.1, 2014

EditoresDra. Marilisa do Rocio Oliveira (UEPG)Ms. Cesar Eduardo Abud Limas (UEPG)

Dr. Humberto Stadler (UEPG)Dr. Antonio Carlos de Francisco (UTFPR)

Dr. Luiz Alberto Pilatti (UTFPR)

Professores ColaboradoresDra. Cleise M. de A. Tupich Hilgemberg (UEPG)

Dr. Emerson Martins Hilgemberg (UEPG)Dr. Luiz Fernando de Souza (UEPG)Dr. Marcio Henrique Coelho (UEPG)

Dra. Maria Salete Waltrick (Faculdade União)Dra. Nilda Tanski (UNAM-Universidad Nacional de Misiones)

Corpo EditorialDr. Carlos Ubiratan da Costa Schier (UEPG)

Dr. Dálcio Roberto Dos Reis (UTFPR) Dr Luis Maurício de Rezende (UTFPR)

Dr. Kazuo Hatakeyama (UTFPR) Drª Nilcéia Aparecida Maciel Pinheiro (UTFPR)

Dra. Patrícia Guarnieri (UnB) Dr Rui Francisco Martins Marçal (UTFPR)

Revisores AD HOCDrª Ana Alice Vilas Boas (UFR-RJ) Dr. Álvaro José Periotto (UEM-PR)

Drª Ana Paula Mussi (UFPR) Dr. Antonio José Balloni (CENPRA-CAMPINAS-SP)

Dr. António Trigo Ribeiro (IPB - PORTUGAL) Dr. Armando Malheiros (UNIV. DO PORTO - PORTUGAL)

Dr. Cleverson Renan da Cunha (UFPR) Dr. Clodis Boscarioli (UNIOESTE)

Dra. Cristina Dai Prá Martens (UNIVATES-RS) Dr. Christophe Garonne (EUROMED MARSEILLE - FRANCE)

Dr. Darli Vieira (UFPR) Dra. Denise Maria Woranovicz Carvalho (UFPR)

Dra. Enise Barth Teixeira (UNIJUI-RS) Dr. Fernando Ferreira (UNIV. DA MADEIRA - PORTUGAL)

Dra. Helena Nunes (UFPR) Dr. Hildo Meirelles de Souza Filho (UFSCAR)

Dr. Homero Catão Maribondo da Trindade (UFP-PB) Dra. Janete Lara de Oliveira Bertucci (UFMG)

Dr. João Barroso (UTAD-PORTUGAL) Dr. João Carlos da Cunha (UFPR)

Dr. Luis Magalhães (UTAD-PORTUGAL) Dr. Luiz Tatto (UEM)

Dra. Lurdes Marlene Seide Froemming (UNIJUÍ-RS) Dr. Marcio Luiz Borinelli (USP/UEM)

Dra. Mirian Palmeira (UFPR) Dra. Olga Regina Cardoso (UFSC)

Dr. Paulo Roberto Chavarria Nogueira (UNIOESTE-PR) Dr. Pedro José Steiner Neto (UFPR)

Dr. Ramiro Gonçalves (UTAD-PORTUGAL) Dr. Rodrigo Ferreira Leitão Azevedo (UFRS) Dra. Rosana M. Grillo Gonçalves (FEA/USP) Dra. Sandra Maria Coltre (UNIOESTE-PR) Dr. Tito Lívio Gomes Osório (UNIFOA-RJ) Dr. Thalmo de Paiva Coelho Jr (CEFET-ES)

Dr. Theodoro A. Peters Filho (FEI-SP)

Revista com o apoio do PPGEP – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R454 Revista ADMpg: gestão estratégica Ano 7, n.1. Ponta Grossa (PR). Anual.

ISSN: 1983-6791

1. Administração (Brasil) - Periódicos. 2. Gestão estratégica (Brasil) - Periódicos. I. Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa, Faculdade Educacional de Ponta Grossa.

CDD 658 (22.ed.)

Contatos:

Departamento de Administração - DADMUniversidade Estadual de Ponta GrossaPraça Santos Andrade, s/n - 84010-919

Ponta Grossa - [email protected]

Universidade Tecnológica Federal do ParanáAv. Monteiro Lobato, s/n km 04 Jardim Pitangui – 84.016-210

Ponta Grossa – PR

Publicação on line

Acesse: www.admpg.com.br/revista

_________________________________________

Revisão de texto e diagramaçãoCláudia Fonseca

© ADM 2014 - Congresso Internacional de Administração - Todos os direitos reservados

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Editorial

Volume 7, Número 1, 2014

A Revista ADMpg Gestão Estratégica representa um espaço significativo para publicação de trabalhos científicos, constituindo um espaço apropriado para a difusão dos resultados das pesquisas acadêmicas desenvolvidas pelas Ins-tituições de Ensino do Brasil e do Exterior.

Nada de realmente bom se faz sozinho. O sucesso das grandes realizações depende diretamente do conhecimento e da habilidade que possuímos para tra-balhar em equipe, liderar e compartilhar experiências.

O trabalho sério desenvolvido pela equipe organizadora desta revista fez com que a mesma atingisse a Qualificação B3 Nacional no Sistema Capes. Isso só veio a dignificar a credibilidade que a publicação atingiu ao longo de sua existência, utilizando um método sério de avaliação, observando o sistema Double Blind Review, que possibilitou a seleção de trabalhos com elevado nível de contribuição acadêmica.

Fica aqui o convite para que continuem a nos honrar com sua amizade, com seu auxílio, enviando-nos suas opiniões, considerações, sugestões e críticas, de modo a manter esta obra sempre útil a você, caro leitor.

Sucesso a todos!

Os editores

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Editorial

The Strategic Management Journal ADMpg represents a significant space for publication of scientific papers, an appropriate space for the dissemination of results of academic research carried out by educational institutions in Brazil and abroad.

Nothing really good to do alone. The success of the great achievements di-rectly depends on the knowledge and skill we have to work as a team, lead and share experiences.

The serious work developed by the organizing team of this magazine meant that it reached the national qualification system B3 Capes. This only came to elevate the credibility that the publication has achieved through out its existence, using an evaluation system seriously, looking at the system Double Blind Review, which allowed the selection of jobs with high level of academic contribuition.

Here is the invitation to continue to honor us with his friendship, with his help, send us your thoughts, considerations, suggestions and criticisms, and so always keep this book useful to you, dear reader.

Success to all!

The Publishers

Volume 7, Número 1, 2014.

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Sumário

Ensino e Pesquisa em Administração e Áreas CorrelatasGeração y e processos de aprendizagem: um estudo exploratório em cursos profissionalizantes de Administração e Marketing do interior de Santa CatarinaEdina E. Z. Fietz Treml, Liandra Pereira e Sueli Maria Weiss Rank

Gestão da Informação e do ConhecimentoCultura Organizacional como impulsionadora para a inovação: um estudo de uma empresa de pesquisa e desenvolvimento Rosangela Costruba

Gestão AmbientalPrograma de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo programa? Adriana Vicente Lima, Vera Sirlene Leonardo, Katia Abbas e Marguit Neumann Gonçalves

Gestão da Produção e LogísticaTerceirização no Setor de Eventos: análise contextual, perspectivas e formas de usoFábio Luciano Violin, Renata Maria Ribeiro, Roberson da Rocha Buscioli, André Luís Violin e Patrícia Koerich Violin

Gestão de Negócios InternacionaisRelações comerciais do Brasil e da Argentina no MERCOSUL Nádia Jacqueline Coelho Tremea, Bruna Maria Rodrigues Consolmagno e Eduarda Machoski

Gestão de PessoasInfluência do ambiente de trabalho na saúde física e emocional do trabalhador: estudo ergonô-mico em uma fábrica de máquinas industriais Claudelir Clein, Renato Tonello e Sergio Luiz Ribas Pessa

Gestão de Processos, Sustentabilidade e Responsabilidade SocialUnidades de Conservação, ecoturismo e conflitos socioambientais na Ilha do Mel, PR, BrasilCarlos Alberto Marçal Gonzaga, Patrícia Denkewicz e Keyla Cristina Pereira Prado

Gestão Estratégica OrganizacionalEmpreendedorismo: a ótica das entidades de fomento no município de Itabuna-BAAntonio Oscar Santos Góes e Adriana dos Santos Reis Lemos

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Gestão MercadológicaAfrodescendentes em comerciais: análise do papel da mídia na difusão das representações sociais Rejane Alexandrina Domingues Pereira do Prado, Marli Auxiliadora da Silva e Claudia Rosa Acevedo

Gestão PúblicaLegitimação dos recursos humanos em cursos superiores a distância nas universidades federais mineirasMaria Cecília Teixeira Reis, Danielle Valente Duarte, Vagner Alves Arantes, Layon Carlos Cezar e Telma Regina da Costa Guimarães Barbosa

Pesquisa OperacionalIndicadores de sustentabilidade nas organizações: a aplicação do Método Gaia de gerenciamento de impactos ambientais em uma empresa metalúrgica do Sudoeste do ParanáAdriano Stadler, Sheila Schlickman Baccin, Marcos Rogério Maioli, Márcia Magalhães Wittée Paloschi e Gustavo Estanislau Silva

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Contents

Ensino e Pesquisa em Administração e Áreas CorrelatasGeneration y and learning processes: an exploratory study in professional courses of Administration and Marketing in the countryside of Santa Catarina StateEdina E. Z. Fietz Treml, Liandra Pereira e Sueli Maria Weiss Rank

Gestão da Informação e do ConhecimentoOrganizational Culture as a driving force for innovation: a study of a research and developmentRosangela Costruba

Gestão AmbientalManagement program waste of health services (PGRSS): practices in the implementation of the activities are consistent with the proposed program?Adriana Vicente Lima, Vera Sirlene Leonardo, Katia Abbas e Marguit Neumann Gonçalves

Gestão da Produção e LogísticaOutsourcing in industry of events: contextual analysis, perspectives and ways of useFábio Luciano Violin, Renata Maria Ribeiro, Roberson da Rocha Buscioli, André Luís Violin e Patrícia Koerich Violin

Gestão de Negócios InternacionaisTrade relations between Brazil and Argentina in MERCOSURNádia Jacqueline Coelho Tremea, Bruna Maria Rodrigues Consolmagno e Eduarda Machoski

Gestão de PessoasThe influence of working environment in physical health and emotional labor: an ergonomic study in an industrial machine factoryClaudelir Clein, Renato Tonello e Sergio Luiz Ribas Pessa

Gestão de Processos, Sustentabilidade e Responsabilidade SocialProtected area, ecotourism and social-environmental conflicts at Ilha do Mel, PR, BrazilCarlos Alberto Marçal Gonzaga, Patrícia Denkewicz e Keyla Cristina Pereira Prado

Gestão Estratégica OrganizacionalEntrepreneurship: the perspective of the development agencies in the city of Itabuna-BAAntonio Oscar Santos Góes e Adriana dos Santos Reis Lemos

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Gestão MercadológicaAfrodescendants in commercial: analysis of the role of media in the dissemination of social representationsRejane Alexandrina Domingues Pereira do Prado, Marli Auxiliadora da Silva e Claudia Rosa Acevedo

Gestão PúblicaHuman resources legitimation in distance college courses at federal universities from the state Minas Gerais – BrazilMaria Cecília Teixeira Reis, Danielle Valente Duarte, Vagner Alves Arantes, Layon Carlos Cezar e Telma Regina da Costa Guimarães Barbosa

Pesquisa OperacionalIndicators of sustainability in organizations: the application of the Method Gaia management environmental impacts in a metallurgical company of Southwest ParanáAdriano Stadler, Sheila Schlickman Baccin, Marcos Rogério Maioli, Márcia Magalhães Wittée Paloschi e Gustavo Estanislau Silva

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Geração y e processos de aprendizagem: um estudo exploratório em cursos profissionalizantes de

Administração e Marketing do interior de Santa Catarina

Edina E. Z. Fietz Treml (UNIVILLE campus São Bento do Sul) [email protected]

Liandra Pereira (UNIVILLE campus São Bento do Sul) [email protected]

Sueli Maria Weiss Rank (UNIVILLE campus São Bento do Sul) [email protected]

Resumo: As escolas profissionalizantes, suas equipes pedagógicas e seus professores cada vez mais sentem-se desafiados a traba-lhar de forma diferenciada e consonante às demandas de mercado, processo que se intensifica ainda mais ao se considerar as difi-culdades enfrentadas na convivência com diferentes gerações na atualidade, contexto que os conduz a repensar a forma de ensinar e aprender. Parte representativa dos alunos dos cursos profissionalizantes pertence à denominada Geração Y. Esses alunos têm como característica um perfil dinâmico e a necessidade de interagir constantemente com a tecnologia. Essa influência os torna extrema-mente conectados com as mídias e redes sociais, expressando muitas vezes resistência às aulas tradicionais, ao passo que valorizam o conhecimento, mas trabalham com ele sob um novo paradigma. Nessa direção, a presente pesquisa apresenta dados que expres-sam a visão de alunos matriculados em cursos profissionalizantes de administração e de marketing do SENAC do interior do Estado de Santa Catarina, Brasil, suas relações com o ensino e aprendizagem, assim como uma avaliação na percepção destes alunos do perfil de professores atuantes nos cursos. Os dados obtidos expressam a necessidade de adequações metodológicas, revertendo em aulas mais dinâmicas e que contemplem processos de maior interação entre alunos-professores. O estudo aponta ainda que o domínio do conteúdo e aspectos direcionados à gestão de classe, critérios claros e disciplina em sala de aula são valorizados pelos alunos pertencentes à Geração Y. As referidas informações podem auxiliar os profissionais atuantes nos cursos profissionalizantes, contribuindo para ressignificar práticas adotadas no relacionamento em sala de aula e melhor desempenho dos alunos.

Palavras-chave: Geração Y. Processo de Aprendizagem. Cursos Profissionalizantes.

Generation y and learning processes: an exploratory study in professional courses of Administration and Marketing in

the countryside of Santa Catarina State

Abstract: Vocational training schools, their teaching teams and teachers, increasingly, feel challenged to work differently and consonant with market demands; process that intensifies when considering the difficulties encountered in coexistence with different generations nowadays, context that leads to rethink how to teach and learn. Representative proportion of students of vocational training courses belongs to the denominated Generation Y. These students are characterized by a dynamic profile and the need to constantly interact with technology. This influence makes them extremely connected with the media and social networks, often expressing resistance to traditional classes; they value the knowledge, but work with it under a new paradigm. In this direction, the present study presents data that express the vision of students registered in vocational training courses in management and marketing by the SENAC (National Service of Commercial Training) in the countryside of Santa Catarina State (Southern of Brazil); their relationships with teaching and learning, as well as evaluating, in the perception of these students, about the profile of of teachers working in the courses. The data express the need for methodological adjustments, reversing classes more dynamic and processes that include greater interaction between student teachers. The study also shows that the mastery of content and aspects related to the class management, clear criteria and discipline in the classroom are valued by students belonging to Generation Y. Such information may help professionals working in vocational training courses, contributing to reframe practices adopted in the relationship in the classroom and improved student performance.

Keywords: Generation Y. Learning Process. Professional Courses.

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Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.9-15, 2014.

ENSINO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃOGeração y e processos de aprendizagem: um estudo exploratório em cursos profissionalizantes de Administração e Marketing do interior de Santa Catarina

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INTRODUÇÃO

As novas tendências produtivas e as diferentes inter-faces tecnológicas emergem de forma cada vez mais in-tensiva e trazem às relações laborais desafios diferenciados que se traduzem em mudanças significativas desafiando escolas a se adaptarem para conseguir inserir seus alunos no mercado em um ambiente altamente competitivo, pois o mesmo impõe aos profissionais que nele atuam competên-cias mais complexas. Dentre estas competências, recebem especial ênfase as atitudes e habilidades que se referem ao relacionamento interpessoal, à capacidade de lidar com a diferença e conviver com grupos de diferentes faixas etá-rias e características, estratificadas em diferentes gerações.

Redimensionam-se assim, atitudes e habilidades que se referem ao relacionamento interpessoal, à capacidade de lidar com a diferença e conviver com grupos de diferentes faixas etárias e características, estratificadas em diferentes gerações. O novo contexto de diversidade presente nas orga-nizações atuais, no que diz respeito à presença de quatro ge-rações, em virtude do prolongamento dos anos de trabalho, provoca uma convivência forçada de diferentes gerações de colaboradores (LOMBARDIA; STEIN; PIN, 2008).

Administrar essa convivência requer conhecimento acerca das motivações e valores de cada uma dessas ge-rações, em especial, àquela recém-chegada no mercado de trabalho e nas universidades: a geração Y. Lombardia, Stein e Pin (2008, p. 53) destacam que: “só compreendendo o contexto em que seus membros cresceram, as tendências culturais às quais estiveram expostos e as mudanças políti-cas e sociais por que passaram será possível compreender o que os motiva e o que são capazes de oferecer”.

As relações e processos de aprendizagem que ocorrem nas escolas profissionalizantes também são influenciados por esse processo, tendo inscrito como protagonistas desse quadro os professores e alunos, que se sentem desafiados a conviver com novas formas de ensinar e aprender. Nesse sentido, essa pesquisa tem por objetivo identificar e ana-lisar as relações que estabelecem o processo de aprendi-zagem da geração Y, a partir de um estudo realizado com alunos matriculados no curso profissionalizante de admi-nistração do SENAC de uma escola localizada no interior de Santa Catarina.

GERAÇÃO Y E APRENDIZAGEM NOS CURSOS PROFISSIONALI-ZANTES

A aquisição/manutenção de qualificações profissio-nais figuram na atualidade como diferenciais para inserção no mercado de trabalho, sendo ainda atreladas a estas qua-lificações o desenvolvimento de competências que envol-vem adaptações e superação de desafios por parte dos seus profissionais e principalmente lhes impõe formas diferen-

ciadas de gerir sua carreira, desdobrando em novas cultu-ras, sustentadas por valores e aprendizados que convergem para a formação de identidades profissionais conduzindo a compreensão e apropriação bem distinta da concepção de trabalho e por consequência da interação com ele.

Assim, o processo de aprendizagem promovido pelas agências formadoras também se norteia por estes elemen-tos, sendo que se pode constatar nos cursos profissionali-zantes embates entre professores e metodologias incompa-tíveis com as expectativas das gerações mais jovens, que pelo seu perfil diferenciado e inquieto anseia pelo apren-dizado mais vivencial, aplicado e prático balizado pelas pressões próprias do mundo atual.

A desconexão entre a forma como os estudantes apren-dem e a forma como os professores ensinam é fácil de compreender quando consideramos que o sistema educa-cional atual foi projetado para um mundo agrário e de ma-nufatura. Entretanto, o mundo mudou e continua a mudar rapidamente. Os alunos multitarefa de hoje estão melhor equipados para esta mudança do que muitos adultos [...] (JUKES; DOSAJ, 2003, p.83).

No ensino profissionalizante, segmento educacional que gradativamente vem assumindo maior importância e ganhando adesão de mais estudantes, esse movimento também se evidencia, pois de acordo com Giesteira (2013, p. 37) “a educação profissionalizante serve como degrau para a graduação. Além de permitir que o estudante finan-cie uma universidade com o salário recebido, a experiência aproxima os alunos dos conteúdos específicos e permite a escolha profissional mais segura”.

A argumentação apresentada confirma as reco-mendações expressas no PARECER CNE/CEB Nº 16/99, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-cação Profissional de Nível Técnico, ao afirmar que o en-sino profissionalizante “deve contextualizar competências, visando significativamente a ação profissional. Daí, que a prática se configura não como situações ou momentos distintos do curso, mas como uma metodologia de ensino que contextualiza e põe em ação o aprendizado” (BRASIL, 1999, p. 34).

Na atualidade são solicitadas mudanças nas práticas pedagógicas e metodológicas, considerando que “o conhe-cimento se renova, ou seja, ao invés de ser visto como algo a ser acumulado e armazenado, ele está mais para um fluxo constante, substituindo velhos saberes por novos com uma velocidade surpreendente”. (KARAWEJCZYK; ESTIVA-LETE, 2003, p.4)

Esses elementos convocam os gestores e os professores dos cursos profissionalizantes a rever seu papel em relação à formação profissional que oferecem e por meio de que estra-tégias/metodologias o desenvolvem, em convergência com o perfil dos seus alunos. Para isso, é necessário construir ins-trumentos capazes de medir os modos como os estudantes vivenciam o ambiente de aprendizagem e tomam suas de-cisões. “Essa tarefa diz respeito não apenas à identificação

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Edina E. Z. Fietz Treml, Liandra Pereira e Sueli Maria Weiss Rank

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.9-15, 2014. 11

das principais características dos estudantes ou do ambiente institucional, mas também ao estudo do processo de intera-ção desses dois elementos e das mudanças produzidas em ambos.” (VENDRAMINI et al., 2004, p. 260)

Atualmente, a geração Y vem sendo foco de diversas pesquisas. Isso ocorre, na maioria das vezes, pelo fato de ser a geração mais recente a entrar no mercado de trabalho e também nos cursos profissionalizantes, bem como por possuir características extremamente diferenciadas das ge-rações antecessoras. Sendo assim, tem sido um desafio a busca por entendê-la para obter-se subsídios e meios para atraí-la e retê-la nesses ambientes.

Lombardia, Stein e Pin (2008) explicam que para con-siderar um grupo parte de uma mesma geração, é necessá-rio que seja identificado um conjunto de vivências histó-ricas compartilhadas que determinam princípios de visão de vida, contexto e valores comuns. Desdobrando essas informações do conceito de geração e correlacionado-as às informações disponíveis na literatura, é possível apresentar um conjunto de características predominantes na geração Y. Em relação ao período de nascimento, Rugimbana (2007) afirma que os membros da geração Y são os nascidos entre 1982 e 2000.

Crumpacker e Crumpacker (2007) ressaltam o fato dessa geração possuir a capacidade de realizar várias ati-vidades ao mesmo tempo e de forma natural. Lombardia, Stein e Pin (2008) corroboram com essa característica quando afirmam que eles já se acostumaram ao bombardeio de imagens, à informação imediata e visual e à realidade em 3D. Porém, não desenvolveram a paciência, mas sim, o imediatismo. Não aprenderam a desfrutar um livro, é uma geração de resultados de curto prazo, e não de processos.

Compreender as características apresentadas e ade-quar a prática pedagógica à Geração Y para tornar as aulas mais atrativas é um processo que desafia os professores e as instituições. Para contemplar esta premissa compreende-se que o professor precisa ressignificar sua relação com o sa-ber, transformando sua forma de construir a aula, sua pró-pria identidade e duas competências profissionais – sendo seu propósito, antes, fazer aprender do que ensinar (PER-RENOUD, 1999). Muitos professores enfrentam a apatia e a falta de comprometimento dos alunos, gerando conflitos em função da inadequação de suas práticas pedagógicas, do modelo educativo tradicional e excessivamente centrado na exposição do professor.

Alunos com um perfil dinâmico em relação à cons-trução do conhecimento e autodidatas recorrem a diferen-tes fontes, acessam as informações e utilizam largamente recursos tecnológicos disponíveis a que necessitam estar constantemente conectados. Expressam muitas vezes im-paciência, e o imediatismo que permeia suas atividades questiona as estratégias pedagógicas adotadas por seus professores. Por outro lado, apesar deste perfil e das muitas competências que essa geração desenvolve, muitas vezes seu desempenho expressado no processo de aprendizagem

é pouco satisfatório, quando não insuficiente para os pa-drões esperados e solicitados pelas exigências do mundo do trabalho.

O distanciamento entre professor e aluno nas escolas se acentua ao se considerar que os professores que hoje atuam no ensino profissionalizante aprenderam tomando por referência um paradigma escolar conservador, menos questionador, que colocava o aluno numa posição submissa e com valores muito distintos, numa aula tradicional, extre-mamente organizada e regrada, enquadrada numa concep-ção tecnicista.

Esse movimento pode intensificar ou reduzir o des-compasso entre as expectativas dos alunos e a atuação do-cente, revelando a necessidade dos professores refletirem sobre suas práticas, inovando formas de ensinar e aprender, assim como relacionar-se com seus acadêmicos.

Em relação à aprendizagem, de acordo com Shih e Allen (2007), o método mais eficaz para a geração Y é o empírico/experimental, pois esse tipo de educação leva ao entretenimento e transmite entusiasmo ao processo de aprendizagem. Isso ocorre porque essa metodologia está relacionada à predisposição e ao compromisso com o que está acontecendo, o que é inerente à necessidade dessa geração de sentir-se parte do que está sendo realizado/es-tudado. Ou seja, por meio de atividades interativas, feitas em sala de aula e em equipes, os membros dessa geração conseguem aprender melhor.

MÉTODO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Considerando o objetivo da presente pesquisa, no que se refere à tipologia desse estudo foi adotada a pesquisa exploratória. Silva (2003, p. 65) afirma que esse tipo de pesquisa “é realizada em área na qual há pouco conheci-mento acumulado e sistematizado. Seu propósito é propor-cionar maior familiaridade com o problema, para torná-lo mais explícito ou para construir hipóteses”. Sendo assim, esse tipo de pesquisa é utilizado quando o assunto tema da pesquisa é ainda pouco explorado, esclarecido nesse campo do conhecimento.

No que diz respeito aos procedimentos, esses se re-ferem à forma pela qual o estudo é conduzido e os dados são obtidos. A esse respeito, Raupp e Beuren (2004, p. 53) afirmam que, nessas tipologias enquadram-se: “o estudo de caso, a pesquisa de levantamento, a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa participante e a pesquisa experimental”. Essas tipologias podem ser utilizadas, em uma pesquisa, de forma conjunta, observado o objetivo a ser alcançado. Nesse estudo, primeiramente, foi utilizada a pesquisa bibliográfica para elaboração do referencial te-órico, e em um segundo momento, a pesquisa de levanta-mento realizada com estudantes da geração Y regularmente matriculados em cursos profissionalizantes de duas institui-

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Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.9-15, 2014.

ENSINO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃOGeração y e processos de aprendizagem: um estudo exploratório em cursos profissionalizantes de Administração e Marketing do interior de Santa Catarina

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ções de ensino do interior de Santa Catarina. Para obtenção dos dados foi utilizado o procedimento

de levantamento. Este procedimento de coleta de dados é conceituado por Martins (2002, p.36) como sendo o levan-tamento feito junto “às fontes primárias, geralmente atra-vés de aplicação de questionários para grande quantidade de pessoas”. Para Gil (1999, p.70) as pesquisas de levanta-mento caracterizam-se:

[...] pela interrogação direta das pessoas cujo compor-tamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se a solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões cor-respondentes aos dados coletados.

O instrumento para efetivar a coleta de dados foi um questionário com perguntas abertas e fechadas, divididas em dois blocos, um com perguntas referentes ao processo de aprendizagem e outro direcionado para identificação do perfil dos respondentes. Para Gil (1999, p.128), questioná-rio é “a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por es-crito às pessoas, tendo como objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.”.

O questionário elaborado para a pesquisa, assim como a proposta de pesquisa, foram submetidos ao Comitê de Éti-ca em Pesquisa e após sua aprovação foram aplicados no ano letivo de 2012, constituindo um recorte parcial de dados obtidos por meio do Projeto de Pesquisa de demanda inter-na denominado MAPYP (Mapeamento do perfil, da atuação profissional e empregabilidade dos alunos da Geração Y ma-triculados no ensino profissionalizante). A amostra envolveu 139 alunos regularmente matriculados nos cursos profissio-nalizantes supracitados, os quais responderam a pesquisa em função de sua faixa etária corresponder à Geração Y.

Essa pesquisa possui, ainda, uma abordagem positi-vista que, segundo Martins (1994) pode ser entendida como um estudo que se fundamenta em dados empíricos, pro-cessados quantitativamente, coletados e trabalhados com

objetividade e neutralidade, em que, com base em um re-ferencial teórico o pesquisador levanta hipóteses e as testa. Quanto à abordagem do problema, foi utilizada a pesquisa quantitativa. Segundo Boudon (1989, p. 24), “as pesquisas quantitativas podem ser definidas como as que permitem recolher, num conjunto de elementos, informações compa-ráveis entre um elemento e outro”. Essa comparabilidade das informações é que permite a análise quantitativa dos dados. Portanto, para a aplicação desse método, é impres-cindível a existência de um conjunto de elementos mais ou menos comparáveis.

Para análise dos dados foi utilizada a abordagem quantitativa. Este método, segundo Raupp e Beuren (2004, p.92), “caracteriza-se pelo emprego de instrumentos esta-tísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados”. Toda pesquisa quantitativa baseia-se nos instrumentos es-tatísticos para transformar as respostas obtidas. Portanto, o propósito da pesquisa quantitativa é de medir os resultados de forma objetiva.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Inicialmente, as questões tinham por objetivo iden-tificar o perfil dos alunos quanto ao gênero, estado civil, ocupação profissional e setor de atuação. Em relação ao gênero, 22% são do sexo masculino e 78% do sexo femini-no. Em relação ao estado civil, a maioria é solteiro (82%). Quanto à ocupação profissional 18% dos estudantes pesqui-sados trabalham na iniciativa privada e 65% não trabalham e os demais se enquadram como autônomos, estagiários e funcionários públicos. Dos que trabalham, 43% atuam na indústria, 22% na prestação de serviços, 14% no comércio, 7% no setor público e 14% não informaram.

Os alunos foram questionados sobre quais alternati-vas, de uma lista elaborada com base na teoria de aprendi-zagem da geração Y, expressavam mais adequadamente o seu processo de aprendizagem, as quais são apresentados na Tabela 1.

Quanto ao processo de aprendizado Total %Se identifica com aulas que envolvam dinâmicas de grupos e atividades variadas 50 21,10%O aprendizado se amplia quando os conteúdos relacionam teoria e prática 46 19,41%Tem melhor aproveitamento quando trabalha em grupos 40 16,88%Obtém êxito quando sabe para que está aprendendo e onde vai usar o conhecimento 23 9,70%Quando há oportunidade de aprofundamento do conhecimento por meio da pesquisa 17 7,17%Obtém melhor desempenho quando pode estudar usando tecnologias 15 6,33%Obtém melhor aproveitamento quando as aulas são interativas e favorecem discussão 14 5,91%Quando compreendo a utilização futura dos conteúdos 14 5,91%Gosta de ler e é autodidata 8 3,38%As aulas expositivas ainda são as mais adequadas para compreender os conteúdos 7 2,95%Obtém melhor êxito quando realiza atividades complementares/trabalhos fora do horário de aula 2 0,84%Não responderam 1 0,42%Total 237 100%

Tabela 1 - Processo de aprendizagemFonte: Dados da pesquisa realizada com alunos de escolas profissionalizantes (2012)

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Como a primeira opção mais relevante surgem as au-las com dinâmicas de grupos e atividades variadas, o que é confirmado por Crumpacker e Crumpacker (2007), que ressaltam o fato de essa geração possuir a capacidade de realizar várias atividades ao mesmo tempo e de forma natu-ral. O perfil da Geração Y que não gosta de receber ordens, mas de ser convencida, também está refletido nessa res-posta, pois sem a devida significação, o aprendizado é para eles como uma obrigação, mas devidamente contextualiza-do assume uma importância muito maior, motivando-os a experimentá-lo.

Ser irrequieto é outra faceta dos indivíduos dessa ge-ração, por isso a movimentação e a atividade que as ativi-dades variadas e trabalhos em grupos se tornam interessan-tes, pois possibilitam o intercâmbio, o questionamento, a ação, o que é muito valorizado por eles.

Percebe-se, no dia a dia na sala de aula, que os indiví-duos dessa geração têm extrema dificuldade em se concen-trar e ouvir, por isso que aulas dinâmicas com atividades variadas despertam sua maior adesão. O que merece uma ressalva é que embora essas estratégias sejam atrativas, as metodologias para favorecer o processo ensino e aprendi-zagem não pode se restringir somente a elas, pois para o desenvolvimento das competências necessárias são reque-ridas vivências diferenciadas para a internalização de mui-tos conhecimentos e habilidades.

Os resultados evidenciados também demonstram a ne-cessidade dessa geração em relacionar a teoria e a prática, bem como saber onde e como pode aplicar os conhecimen-tos aprendidos. Nesse sentido Shih e Allen (2007), destacam que as metodologias apontadas pelos alunos privilegiam o método empírico/experimental, pois esse tipo de abordagem conduz ao maior envolvimento e favorece maior dinamismo ao processo de aprendizagem, portanto, verifica-se a neces-sidade de aplicar metodologias que contemplem atividades práticas, trabalhos em grupos, atividades variadas, ativida-des interativas que favorecem a discussão.

Considerando seu perfil, você aprende mais Total %Por meio de dinâmicas 38 16,03%Utilizando os conhecimentos aprendidos em algum caso prático 31 13,08%Anotando 23 9,70%Interagindo durante as aulas dando contribuições 22 9,28%Fazendo exercícios 21 8,86%Ouvindo 19 8,02%Aplicando conhecimentos 17 7,17%Estudando em grupos 16 6,75%Lendo 16 6,75%Vendo 12 5,06%Estudando fora dos horários de aula 11 4,64%Respondendo questões mais complexas que exijam reflexão 7 2,95%Não responderam 4 1,69%Total 237 100%

Tabela 2 – Estratégias didáticas que favorecem o aprendizadoFonte: Dados da pesquisa realizada com alunos de escolas profissionalizantes (2012)

Os respondentes também foram questionados sobre as estratégias didáticas que mais favorecem o seu aprendizado (Tabela 2).

Conforme já evidenciado pelos autores, verifica-se que essa geração tem um perfil dinâmico em relação à cons-trução do conhecimento e aprendem não somente ouvindo.

Conforme mencionado, como cabe à educação profis-sionalizante a contextualização de competências, visando a ação profissional, a prática se configura como uma metodo-logia de ensino favorecendo o processo de colocar em ação o aprendizado (BRASIL, 1999).

A pesquisa, no seu resultado, revela questões que evi-denciam essa ideia, pois 16% dos pesquisados afirmam, em primeira opção, que aprendem mais vivenciando a teo-ria, ou seja, participando de dinâmicas por meio das quais podem experimentar como a teoria se processa, e como segunda opção, apontam que aprendem mais utilizando e aplicando o conhecimento em algum caso prático o que reforça a característica dessa geração: agir. Nesse sentido, também se pode relacionar a resposta na qual eles destacam a sua necessidade de interação e contribuição durante as aulas.

Para Partridge e Hallam (2006), os Y’s possuem for-mas de socialização nunca vistas antes, sendo que para eles o foco na ação coletiva e o entendimento a respeito dos benefícios do trabalho em equipe são uma vantagem em re-lação às gerações anteriores, o que fica evidenciado quando os respondentes afirmam que aprendem por meio de dinâ-micas e estudos em grupo.

Tendo em vista as dificuldades encontradas no dia a dia no relacionamento entre alunos e professores haja vista “a desconexão entre a forma como os estudantes aprendem e a forma como os professores ensinam” (IAN JUKES AND ANITA DOSAJ, 2003), a pesquisa busca contribuir nesse sentido, sendo que os entrevistados foram inquiridos também a respeito do perfil dos professores que mais favo-recem o seu aprendizado (Tabela 3).

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ENSINO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃOGeração y e processos de aprendizagem: um estudo exploratório em cursos profissionalizantes de Administração e Marketing do interior de Santa Catarina

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Quanto ao perfil dos professores: Total %Não importa a idade, o mais importante é o domínio de conhecimento que revelam 38 24,05%Me identifico com os que falam nossa língua e são divertidos 27 17,09%Me identifico com os professores que oportunizam aulas dinâmicas e com metodologias variadas 23 14,56%Me identifico com os professores que gostam do que fazem e são motivados 20 12,66%Gosto daqueles que conseguem disciplinar a turma e estabelecer um bom clima de aprendizagem 18 11,39%Prefiro os professores mais experientes 14 8,86%Os melhores são os mais informais 10 6,33%Me identifico com os professores mais jovens 5 3,16%Gosto dos professores que revelam planejamento e cumprem os acordos didáticos 2 1,27%Não responderam 1 0,63%Total 158 100%

Tabela 3 – Perfil dos professoresFonte: Dados da pesquisa realizada com alunos de escolas profissionalizantes (2012)

Em se tratando de professores, percebem-se questões muito relevantes, sendo que o que realmente interessa é o conteúdo (conhecimento), mas o relacionamento e a pos-tura precisam ser muito bem trabalhados, pois além de dominar o conteúdo o professor deve diversificar as me-todologias utilizadas, manter um clima de camaradagem e utilizar uma linguagem acessível, pois o estabelecimento do vínculo entre professor e aluno é fundamental. A rela-ção professor aluno destacada pelos respondentes também é relatada por Dayrell e Paula (2013, p. 19) que explicam que “o tipo de interação que se estabelece com eles (alu-nos) é fator condicionante do tipo de relação pedagógica e de atividade que é possível realizar, repercutindo nos pro-cessos educativos”. Esse movimento pode intensificar ou reduzir o descompasso entre as expectativas dos alunos e a atuação docente, revelando a necessidade dos professores refletirem sobre a organização da gestão de sala de aula e suas práticas, inovando formas de ensinar e aprender, assim como relacionar-se com seus estudantes.

Tendo por referência os dados analisados sobre o perfil de aprendizagem dos alunos matriculados em cursos profissionalizantes pertencentes à Geração Y, e consideran-do-se a ênfase técnico-prática abarcada por essa formação, se constata a emergência de discutir sobre o perfil dos alu-nos que chegam as escolas na atualidade, as demandas pro-fissionais e exigências advindas do mercado de trabalho. Quanto mais atenta às características desse novo público as escolas estiverem, melhor fluirá o diálogo com essa diver-sidade tanto por parte dos professores, quanto dos alunos, minimizando desencontros e resistências, pois conforme Arroyo (2008, p. 14) é necessário os profissionais da edu-cação desenvolver “sensibilidade pedagógica para entender sua história nessa história e para levar esse entendimento [...] aos jovens e adultos com que trabalharem”.

Portanto, compreender as características apresen-tadas e adequar a prática pedagógica à Geração Y para tor-nar as aulas mais atrativas é um processo que desafia os professores e as instituições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dinâmica e constantes desafios trazidos pela socie-dade atual ditam novo compasso às relações e por conse-quência trazem novos ritmos para as relações pedagógicas. As gerações que chegam hoje às escolas trazem consigo expectativas, dificuldades e possibilidades com as quais ainda o professor não consegue trabalhar integralmente, justamente por desafiá-lo a ensinar e aprender num para-digma diferente do anterior, ao qual estavam vinculadas suas certezas.

Cabe, no entanto, às escolas, inseridos neste contexto os cursos profissionalizantes e suas propostas de formação, os quais contemplam em seu processo formativo demandas específicas relacionadas à aplicação do conhecimento, de-linear seus currículos, promover a gestão destas dificulda-des e possibilidades, aproveitando-as como oportunidade de revisão e transformação, fazendo de sua experiência um trampolim para superar as resistências muitas vezes insta-ladas, as quais rendem mais embates que evolução.

Os cursos profissionalizantes, em função de sua ên-fase de aplicação técnico-prática, detêm dentre os demais cursos um contingente expressivo de acadêmicos e repre-sentam uma contribuição significativa ao desenvolvimen-to profissional, tecnológico e social, sendo que reside nos seus núcleos de discussões docentes/discentes muitas das experiências embrionárias para contribuir com melhorias no processo de formação dos profissionais desse campo, de forma a agregar intensivamente para a formação de alunos mais aptos a intervir em prol do desenvolvimento indus-trial, tecnológico, econômico e social. Mais do que enten-der os alunos que acessam aos cursos, é necessário traba-lhar em parceria com eles, desenvolver suas competências por meio de estratégias inovadoras e aulas mais dinâmicas.

Os dados coletados expressam o valor que estes estu-dantes depositam no seu processo de formação, enfatizam a importância do vínculo que estabelecem com seus profes-

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sores, o significado do investimento nesta modalidade de ensino, evidenciando seu estilo de aprendizagem e as bus-cas que empenham em relação ao seu processo de aprender a aprender. Esses alunos também trabalham com certezas provisórias em relação às suas escolhas e formas de orga-nizar-se como estudante e como profissionais. Se revelam impaciência, desinteresse e imediatismo, estão mediados por elementos que os pressionam nessa direção, lhes tra-zem dilemas e precisam de desafios que os coloquem no movimento de participar mais, intervir, viver intensamente a experiência de formação técnica e lhes instrumentalizar suficientemente para a atuação profissional.

Cabe aos professores como pesquisadores da docência buscar meios de articular estas expectativas com as deman-das do campo profissional. Diversificar aulas, repensar cur-rículos, desfragmentar matrizes curriculares, investir em projetos integradores, promover trocas interdisciplinares, estreitar/intensificar a interação escola-empresa e buscar em conjunto com pares da profissão possibilidades para superar o atual quadro instalado. Os dados fornecidos pela presente pesquisa permitiram identificar características im-portantes, as quais precisam ser trabalhadas e desdobradas para mobilizar à tomada de decisão e as mudanças necessá-rias, partilhando esforços e conjugando competências.

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Cultura Organizacional como impulsionadora para a inovação: um estudo de uma empresa de pesquisa e

desenvolvimento

Rosangela Costruba (UFPR) [email protected]

Resumo: O novo cenário altamente competitivo e com clientes cada vez mais exigentes é fundamental para que as empresas levem a inovação como parte do seu dia a dia, a fim de adquirem diferenciais perante seus concorrentes. A concorrência, que antes se baseava em empresas locais, tomou dimensão mundial e procura novas fatias de mercado, fazendo com que as empresas que não satisfaçam novas e mais encorpadas necessidades sejam esmagadas pela massa de novos entrantes no mercado. Com clientes mais exigentes, é necessário que haja mudanças nas organizações no que se refere a seus valores, costumes, crenças e objetivos, o que leva impactos a todos os seus envolvidos, e, assim, a inovação começa a fazer parte destas mudanças. Foi realizada a análise de uma empresa com poucos anos de existência que atua na área de Pesquisa e desenvolvimento experimen-tal em ciências físicas e naturais na região metropolitana de Curitiba, estado do Paraná, Brasil, que consegue, a partir de sua cultura organizacional, levar inovação a seus colaboradores e fazer disso a sua essência. Ainda, com autonomia, conhecimento e motivação tornar estes profissionais peças fundamentais para o valor que a organização possui hoje no mercado onde atua.

Palavras-chave: Inovação. Cultura organizacional. Pesquisa e desenvolvimento.

Organizational Culture as a driving force for innovation: a study of a research and development

Abstract: The new scenario highly competitive and increasingly demanding clients is essential that companies take innovation as part of their day-to-day in order to acquire differential to its competitors. The competition that previously relied on local businesses took today are global dimension and seeking new market share making companies that do not meet their new needs are full-bodied and more overwhelmed by the mass of new entrants in the market. With customers demanding there must be changes in organizations when it comes to their values, customs, beliefs and goals that lead impacts to all its stakeholders and innovation becomes a part of these changes. An analysis of a company with few years of existence that operates in the area of Research and experimental development on natural sciences and engineering in the metropolitan region of Curitiba who manages from its organizational culture employees to take up the essence of the innovation company and autonomy, knowledge and motivation to make these professionals keystones to the value that the organization currently has on the market where it operates.

Key words: Innovation. Organizational culture. Research and development.

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GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTOCultura Organizacional como impulsionadora para a inovação: um estudo de uma empresa de pesquisa e desenvolvimento

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.17-22, 2014.

INTRODUÇÃO

Diante de um cenário altamente competitivo, faz-se necessário que as empresas inovem constantemente, a fim de não serem esmagadas pela concorrência e para que as empresas iniciantes se destaquem no mercado. Esta con-corrência torna-se cada dia maior, haja vista que hoje não se baseia apenas em concorrentes internos, mas externos, dos diversos países que podem trazer aos clientes soluções com um menor custo e qualidade superior do que as atu-antes.

Isso se deve, também, à maior facilidade no fluxo de bens, serviços, informações e conhecimentos, pois quase não há mais fronteiras formais e mercados reservados. (CARVALHO; REIS; CAVALCANTI, 2011). Para empre-sas que estão iniciando no mercado, há a necessidade de levar aos seus clientes novas soluções de maneira competi-tiva, tarefa nada fácil para estas novatas no mercado.

O consumidor deseja adquirir produtos e serviços com custo atraente, qualidade perceptível e indiscutível, atendi-mento adequado e diferenciação (Idem). Na última década, a inovação está se tornando sinônimo de continuidade no mercado, pois é considerado um tema estratégico nas orga-nizações, trazendo vantagens competitivas.

A cultura organizacional é a principal ferramenta para a inovação dentro das organizações, pois quando os envolvidos aspiram à inovação diariamente, torna-se evi-dente a necessidade de melhoramentos constantes. Situa-ção identificada na Solbravo S/A, que tem como princípios de atuação o conhecimento, a comunicação, a cooperação, transparência e integridade, cujo objetivo é realizar pesqui-sas e desenvolver soluções para o cotidiano da população baseadas no uso de energias inteligentes (smart energy).

Serão abordados os quatro tipos de inovação identi-ficados pelo Manual de Oslo, conforme citado pela Finep, e a maneira que a empresa escolhida vem aplicando cada um deles em seus projetos, além de identificar como a cul-tura organizacional criada pelos seus diretores executivos influencia nestes tipos de inovação.

Seus colaboradores sentem-se peças essenciais pela existência da empresa e acreditam nela e nas soluções que levam para seus clientes. São profissionais que hoje fazem da inovação a necessidade diária das suas atividades e acre-ditam que estão em uma empresa que lhes dá autonomia, conhecimento e, principalmente, motivação para criarem mudanças dentro da organização.

CULTURA ORGANIZACIONAL

Cultura organizacional trata-se de normas informais determinadas por uma empresa que interferem na manei-ra de pensar e agir de todos os membros da organização. Cada organização possui sua própria cultura, que pode ser resultante de vários fatores que são incluídos pela perso-

nalidade dos seus fundadores, os valores da organização, comportamentos de todos os envolvidos, o ambiente onde esta localizada e a atividade que esta empresa desenvolve, ou seja, fatores internos. Além destes, a cultura é criada com a junção dos fatores externos.

O conceito de cultura organizacional tomou força com o surgimento da Teoria Contingencial da Administração nos anos 80 (TOMEI; BRAUNSTEIN, 1993), que deter-mina que tudo é relativo e tudo depende, não havendo nada de absoluto nas organizações, pois há o deslocamento da visualização de dentro para fora da organização e, assim, não há uma única melhor maneira de se organizar. Tudo depende das características ambientais e internas em que a empresa está inserida.

A cultura organizacional de uma empresa é criada logo que ela se inicia, por quem está no topo da estrutura, e levada a todos os níveis da organização.

É necessário que todos os envolvidos aspirem às mes-mas regras, normas, metas, costumes, ideais, missão, den-tre outras particularidades da organização de que fazem parte. Assim, no momento de tomar decisões, a pessoa irá ao encontro da cultura da empresa e não se guiará por suas próprias concepções sobre determinado assunto. Desta for-ma, não há erros.

Uma estrutura erradamente projetada pode aleijar uma organização, assim como uma estrutura apropriada pode facilitar o empreendimento, produtividade e sucesso (BULGACOV, 2006).

Sabe-se que um indivíduo desenvolve sentimentos, valores, ideais ou objetivos em sua vida, os quais traz para qualquer ambiente organizado (LITTERER, 1965). A jun-ção de fatores internos e externos da organização faz com que esta adquira a sua cultura organizacional, a qual pode ser mutável ao longo da sua existência. Conforme os fatores vão alterando, a cultura organizacional vai acompanhando.

As mudanças são, muitas vezes, planejadas, ou não. Quando planejadas, trazem por traz disso metas organiza-cionais. Quando não são, podem ter sofrido interferência da tecnologia, economia, concorrência, tendências sociais, po-líticas ou até mesmo é o cliente que está se tornando mais exigente, fazendo com que a empresa tenha que se adaptar para atender essas novas exigências.

Quando se trata de novas exigências do cliente, é ne-cessário que a empresa identifique essas necessidades e inove para atendê-lo, de modo a não perder para a concor-rência. Inovar está relacionado ao fato de continuar compe-titivo no mercado em que se atua ou, então, resta fechar as portas, porque a concorrência a superou. Assim, a cultura organizacional tem como meta levar essa inovação para seus envolvidos da melhor maneira possível, porém, como observamos, não há formula pronta. É necessário identifi-car o perfil de cada organização e ver qual a melhor forma de levá-la como parte do dia a dia dos envolvidos.

Por sua vez, os gestores são peças-chave para dissemi-nar a inovação a seus subordinados, pois a estratégia corpo-

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Rosangela Costruba

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.17-22, 2014.

rativa deve vir do topo e, antes disso, haver elevado nível de comprometimento e competência dos gestores.

Quando a empresa está no mercado há algum tempo, é natural que os envolvidos estejam acostumados com suas normas, regras, costumes, ideais, objetivos, missão, den-tre outras particularidades de cada organização, e, por isso, toda mudança traz resistências que devem ser gerenciadas.

Em face disso, o melhor momento para se implantar a inovação nas raízes da organização é no início. Quando a empresa inicia com a inovação fazendo parte do seu dia a dia, os envolvidos sabem que devem diariamente ter olhos críticos quanto ao produto, à organização, aos processos e às estratégias de marketing, não havendo, assim, resistên-cias as mudanças e o constante aperfeiçoamento por parte de todos os envolvidos.

INOVAÇÃO

Os conceitos de inovação são desvendados desde o século XVIII, com estudiosos como Adam Smith, que es-tudava a relação entre acúmulo de capital e tecnologia de manufatura.

Contudo, a relação de desenvolvimento econômico e inovação se deram somente em 1942, a partir da proposta de Schumpeter, com o conceito de destruição criativa: um modo de fazer, um produto ou uma tecnologia substitui o anterior, tornado obsoleto (CBIC).

Para que haja a inovação, é necessário que seja incor-porado um novo ou melhor produto, serviço ou processo na sociedade ou organização. Para que isso seja possível, deve haver mudanças em processos ou sistemas, ou, como escreveu Schumpeter, uma substituição de processos e sis-temas.

Inovações acrescentam valor a produtos, ajudando as empresas a sobreviver num cenário crescentemente compe-titivo (BRANDÃO; GONÇALVES et al., 2006). Tal inova-ção deve trazer à empresa vantagens competitivas no que se refere a marca, lucro, mercado, conhecimento e desen-volvimento da sociedade.

Em seu livro Brasil Inovador, a Inep utiliza “O Ma-nual de Oslo”, uma das principais fontes de estudo sobre a Inovação, destacando quatro tipos: inovações de produto, de processo, organizacionais e de marketing.

A inovação de produto trata-se da criação ou mudan-ça de um produto já existente com o objetivo de atender uma necessidade não saciada pelos clientes ainda.

Inovação de marketing: trata-se das alterações signi-ficativas no que se refere a mudanças de embalagem, posi-cionamento do produto, promoção ou preço.

Inovação nos processos: representa as mudanças significativas nos métodos de produção e distribuição dos produtos existentes.

Inovação organizacional: representa a implantação

de novos métodos eficientes na organização, que vão desde a mudança de relações externas da empresa até as mudan-ças do local de trabalho.

Mais importante do que definir com exatidão o tipo de inovação é ter clareza de que se trata realmente de uma inovação (CARVALHO; REIS; CAVALCANTI, 2011).

Ambos os tipos falam de mudanças significativas na organização, que, juntas, trazem competitividade, pois bus-cam inovação e constantemente conhecimento para todos os envolvidos, criando uma visão abrangente sobre todos os processos da organização de que fazem parte.

Assim como Schumpeter ressaltou, é necessário que haja a troca das antigas atividades por novas, que venham a melhorar produtos e processos, porém, para que isso acon-teça, é essencial que os envolvidos tenham conhecimentos, autonomia e motivação suficientes para inovar a forma an-tiga de fazer algo.

SOLBRAVO

A organização analisada trata-se de uma empresa cuja atividade principal é a Pesquisa e desenvolvimento experi-mental em ciências físicas e naturais, localizada na região metropolitana de Curitiba, no município de Pinhais.

Solbravo S/A surgiu no ano de 2010, com a ideia de integrar energia solar na vida das pessoas a partir da rea-lização de pesquisas e desenvolvimento de soluções para o cotidiano da população, com base no uso de energias inteligentes (smart energy).

A empresa foi criada com estratégia de relacionamen-to com futuros investidores, detentora de patentes de sua marca e produtos que protegem seus conhecimentos na área de encapsulamento e produção de telhas fotovoltaicas.

Em 2011, após o atendimento aos requisitos do pro-cesso de seleção da Incubadora Tecnológica de Curitiba – INTEC, entidade vinculada do Instituto de Tecnologia do Paraná – TECPAR, a empresa passou a dispor de um espa-ço de cerca de 60 m² no Campus do TECPAR/CIC, local em que foi instalado o seu escritório central e estruturado o laboratório de pesquisa e prototipagem.

Em agosto de 2011, a Solbravo se torna uma indústria de pesquisa e desenvolvimento na área de energia solar. Isso significa ser uma empresa que busca, de forma ágil e dinâmica, transformar o resultado da geração de conheci-mento em produtos e soluções disponíveis para o mercado.

Ainda em 2011, obteve o reconhecimento do Conse-lho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico – CNPq. Com esse apoio, foi possível desenvolver tecnologia e pro-cesso para baratear o custo de instalação de energia solar residencial pelo uso de telhas especiais.

Em novembro de 2012, a empresa gradua-se da Incu-badora de empresa e passa a ocupar um imóvel de 4.000 m² no Município de Pinhais/PR, com 700m² de área construída

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GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTOCultura Organizacional como impulsionadora para a inovação: um estudo de uma empresa de pesquisa e desenvolvimento

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.17-22, 2014.

para seus laboratórios, área de engenharia, parte adminis-trativa e produção, garantindo espaço para o seu cresci-mento.

Ainda em 2012 é efetivada a primeira venda de 300 telhas para um projeto junto ao Instituto de Tecnologia do Paraná, onde a tecnologia será posta à prova e serão gera-das novas oportunidades de pesquisa e desenvolvimento.

O ano de 2013 inicia com a contratação do primeiro trabalhador para a produção, e com a efetivação da produ-ção e melhoria significativa nos processos de gestão, con-tabilidade e finanças da companhia.

A CULTURA ORGANIZACIONAL COMO IMPULSIONADORA PA-RA A INOVAÇÃO NA SOLBRAVO

Em sua curta existênciam, a empresa paranaense Sol-bravo S/A já foi citada em jornais como o Metrô, Bom Dia PR, da Rede Paranaense de Comunicação, Revista Gera-ção Sustentável, Revista Le Photon da Argentina, além de blogs e sites especializados em temas relativos à energia e sustentabilidade.

Os empreendedores da Solbravo S/A frequentemen-te são convidados para ministrar palestras e participar de pesquisas acadêmicas. O interesse das diferentes mídias e comunidade acadêmica está em conhecer mais sobre o de-senvolvimento pioneiro e inovador na integração de ener-gia solar no cotidiano das pessoas.

Isso se dá devido aos conhecimentos que os envolvi-dos possuem, haja vista seu quadro de colaboradores pos-suir profissionais que vão desde especialistas a Ph.D’s nas diversas áreas do conhecimento. A equipe é composta por bacharéis em Engenharia; especialistas nas áreas de Design e Finanças; mestres nas áreas de Meio Ambiente, Física, Engenharia de Materiais, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico; doutores nas áreas de Direito, e PhD em Proje-tos com culturas, costumes, valores e propósitos totalmente diferenciados um dos outros.

Enquanto profissionais, aspiram a cultura organizacio-nal da empresa, que faz com que todos tenham um único intuito: integrar energia solar na vida das pessoas.

A Solbravo possui patentes no que se refere ao encap-sulamento e produção de telhas fotovoltaicas. O processo de encapsulamento baseia-se na acoplagem em resina da célula fotovoltaica na telha, para geração de energia foto-voltaica. Esta patente foi possível a partir do desejo mútuo entre colaboradores e empresa.

A inovação faz parte do dia a dia de todos os envolvi-dos na organização. As pessoas são ensinadas, estimuladas e permitidas a inovar no que acreditam trazer bons resul-tados para a empresa. Isso só é possível devido à flexibi-lidade e confiança que os executivos depositam em cada membro da sua equipe.

No início de 2014, a empresa obteve resultados po-sitivos em relação a novos projetos que tratam do desen-volvimento de novos produtos para a geração de energia fotovoltaica. Resultados adquiridos devido aos esforços de toda a equipe envolvida, o que faz com que alguns fiquem instigados a descobrir como a empresa consegue ter pesso-as das diversas áreas do conhecimento e características pes-soais tão diferenciadas, porém com os mesmo propósitos.

Para a Solbravo, é relativamente fácil responder a estes questionamentos, em virtude de que a cultura orga-nizacional, quando é bem difundida pelo topo, traz resul-tados brilhantes. A inovação tem que estar na essência da organização e esta deve ser bem comunicada para seus en-volvidos, a fim de deter pessoas que possuam os mesmos objetivos da empresa onde colabora.

Como foi observado, os líderes têm papel fundamen-tal na disseminação da inovação, como o trabalho muito bem elaborado pelos diretores executivos Marcos Bhrem, Paulo Bastos e Rodrigo Silvestre. Estes são os responsáveis por tornar hoje a Solbravo uma referência no que se refe-re a energia fotovoltaica e, em pouco tempo de existência, seja bem citada pelos meios de comunicação formadores de opinião e convidada frequentemente a ministrar pales-tras e participar de pesquisas acadêmicas, por meio de seus diretores.

A seguir, algumas informações que criam a identidade organizacional da empresa.

- O negócio da empresa é Pesquisa e Desenvolvimen-to Industrial em Energia Solar.

- Sua missão é a de integrar a energia solar na vida das pessoas.

- Sua visão é a de tornar-se a primeira empresa brasi-leira na indústria, pesquisa e desenvolvimento em energia solar a pagar lucros e dividendos aos seus acionistas até 2019.

- Seus valores e crenças baseiam-se em: Sem Gerentes & Sem Reuniões, Diga Não ao Princípio de Peter, Diga Não a Lei de Gérson e que As pessoas se entendem melhor durante os churrascos.

Os diretores citados são os disseminadores da cultura organizacional da Solbravo, cujos interesses estão voltados a levar integração da energia na vida das pessoas, o paga-mento de dividendo aos seus acionistas, criar um ambiente propício para a inovação, pois acredita que Sem Gerentes & Sem Reuniões é possível a melhor comunicação com seus colaboradores, já que se torna mais constante e mais eficaz, otimizando o tempo e havendo o contato sempre que necessário.

A empresa também possui em sua cultura organi-zacional a crença de que as pessoas se entendem melhor durante os churrascos, pois é dai que insites surgem e as relações são mais fortalecidas entre os diversos níveis. Também durante os churrascos é possível a expansão dos seus stakeholders (todos os envolvidos no processo), pois

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Rosangela Costruba

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.17-22, 2014.

a comunicação mais descontraída pode levar a uma rede de assuntos com pessoas interligadas.

Outra crença identificada é a de Diga Não a Lei de Gérson, princípio que determina que a pessoa aja de forma a obter vantagem em tudo que faz, no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais.

A empresa acredita também que se deve dizer Não ao Princípio de Peter, que propõe que, num sistema hierárqui-co, todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência, ou seja, a empresa deve obter do funcionário aquilo que é seu melhor e não enfatizar seus pontos a desenvolver. Afinal, a empresa conta com vários profissionais com competências diferenciadas, e todos são essenciais.

Desta forma, a Solbravo possibilita que os colabora-dores criem diariamente inovações nos quatro tipos: ino-vações de produto, de processo, organizacionais e de ma-rketing.

A inovação de produtos foi identificada no surgimento da telha fotovoltaica, visto que esta substitui painéis so-lares por telhas com a mesma função. Uma tecnologia já existente em um novo produto que tem como objetivo a inclusão de energia renovável em moradias populares, ou seja, um novo produto com custo inferior aos demais do mesmo segmento.

Além deste, também foi possível identificar que a empresa possui resultados positivos em novos produtos de energia fotovoltaica, resultante de esforços acompanhados pela necessidade constante de melhoramentos e criação de novas soluções. Os profissionais envolvidos acreditam que são peças fundamentais para o sucesso deste novo projeto, devido aos feedbacks (medição do nível efetivo) constantes por parte da direção.

A inovação de processos é identificada no melhora-mento constante que a empresa teve que fazer para chegar ao ponto ideal, no que se refere ao encapsulamento e fabri-cação das telhas a partir da inclusão de novos equipamen-tos, e acompanhamento constante na manipulação dos pro-dutos. Os responsáveis por esses processos identificavam a necessidade de melhoramento deste produto e criavam novas formas de execução de suas atividades, identificando falhas e acertos e necessidades de instrumentos que leva-riam ao produto maior qualidade.

A cultura organizacional é determinante, pois quando o colaborador se sente parte da organização e nela acredita dedica-se ao máximo para que o desenvolvimento de sua atividade seja a melhor possível.

A inovação da organização é identificada quando hou-ve a inserção de melhoramentos para a governança cor-porativa e controles internos. A empresa possui hoje um conjunto de costumes, políticas, leis, regulamentos e insti-tuições que regulam a maneira como uma empresa é dirigi-da. Os principais envolvidos são os diretores executivos e conselhos de administração e fiscal, que são compostos por

acionistas e comunidade local. O intuito é o de aumentar a probabilidade dos fornecedores de recursos garantirem para si o retorno sobre seu investimento, alinhando o com-portamento dos executivos aos interesses dos acionistas e ao desenvolvimento da Solbravo.

As inserções e os melhoramentos nos controles inter-nos se deu devido ao desejo de se ter uma organização que leva aos seus acionistas transparência, sendo este um item bem importante e destacado na cultura organizacional. Os controles que foram melhorados são resumidamente identi-ficados como melhorias nos controles financeiros da orga-nização, além de melhorias nas atividades administrativas da empresa. Isto é possível, pois os profissionais envolvi-dos em tal atividade sentem a necessidade que a empresa tem de um melhor gerenciamento, ao passo que há domínio técnico e autonomia para execução das atividades.

A inovação em estratégias de marketing está sendo criada pelos responsáveis, a fim de levar até seus clientes divulgação dos produtos e serviços prestados, o que vem a fortalecer a marca Solbravo, com vistas a trazer também aumento de faturamento.

Portanto, ambas as inovações foram realizadas a partir da autonomia que os envolvidos têm de propor mudanças para a empresa, o que permite que grandes ideias sejam aplicadas e que, em pequenas ideias, sejam agregados va-lores.

Os conhecimentos adquiridos pela organização são disseminados para os envolvidos através dos churrascos e da comunicação diária, além de proliferada a sociedade através das diversas palestras que os profissionais já minis-traram nas diversas áreas do conhecimento. O futuro das organizações e nações dependerá cada vez mais de sua ca-pacidade de aprender coletivamente (SENGE).

A Solbravo possui programas de bolsas de pesquisa junto ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento e Tecnológico), que vão desde profissionais graduados até mestres. Em 2013, a empresa teve mais um novo projeto aprovado pelo Rhae (Programa de Capacitação de Recur-sos Humanos para o Desenvolvimento Tecnológico). São mais de cem mil reais aprovados, que serão utilizados para mobilização de equipes com o pagamento de recursos hu-manos. Os profissionais serão das áreas de Engenharia Me-cânica, Eletrônica, Química, Química Industrial, Física e Gestão da Produção.

Além deste, a empresa possui outros dois projetos aprovados anteriormente, que possibilitou o desenvolvi-mento de novos profissionais e uma nova patente.

Com este programa sob gestão do Ministério da Ci-ência e Tecnologia (MCT), e gestão feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é possível que bolsistas adquiram conhecimento e contribuam para o desenvolvimento das empresas.

O objetivo do programa é o eventual desenvolvimen-to, ou melhoria, de um produto ou processo, aliado à pos-sibilidade de inserção de pesquisadores em atividades de

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GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTOCultura Organizacional como impulsionadora para a inovação: um estudo de uma empresa de pesquisa e desenvolvimento

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pesquisa e desenvolvimento dentro das empresas que sinte-tizam a ideia do programa.

Enfim, os colaboradores sentem-se parte integrante da organização e buscam constantemente melhoramentos e criação de novos produtos, serviços e processos que ve-nham trazer mais soluções para seus clientes. Inovar faz parte da sua rotina e inspira os valores desta organização. Procuram estar junto com sua empresa, conforme determi-na sua visão, e compartilham a razão de existir desta orga-nização, afinal de contas inovar é preciso e estar fazendo o que se gosta na empresa que se gostasão fatores essenciais para a qualquer profissional.

Este é um exemplo de como uma nova e pequena em-presa consegue levar até seus profissionais a autonomia, o conhecimento e a motivação necessários para que estes abandonem processos e sistema antigos e os substituam por novos, conforme muito bem escreveu Schumpeter.

REFERÊNCIAS BALONA, Sara. Destruição criativa. Disponível em: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/destruicao-criativa-1590360. Acesso em: 01 jun. 2013.BRASIL. Sobrevivência e mortalidade. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/empreendedor/empreendedorismo-hoje/so-brevivencia-e-mortalidade/print>. Acesso em:15 abr.2013.BULGACOV, Sergio. Manual de Gestão Empresarial. São Paulo: Atlas, 2006.CARVALHO, Hélio G.; REIS, Dálcio R.; CAVALCANTE, Mar-cia B. Gestão inovação. Curitiba: Aymará, 2011.CNPQ. Apresentação. Disponivel em: http://www.cnpq.br/web/guest/rhae. Acesso em:15 jun. 2013.LITTERER, Joseph H. Análise das organizações. São Paulo: Atlas, 1977.SENGE, M. Peter. A Quinta Disciplina: Arte e prática da organi-zação que aprende. Rio de Janeiro: Best Seller, 2010.SOLBRAVO DESENOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS SUS-TENTÁVEIS S/A. Institucional. Disponível em: <http://www.solbravo.com/#!about_us/ciaa>. Acesso em: 10 abr. 2013.TOMEI, Patrícia A.; BRAUSTEIN Marcelo L. Cultura Organi-zacional e privatização: a dimensão humana. São Paulo: Makron Books, 1993.

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Programa de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo

programa?

Adriana Vicente Lima(UEM) [email protected]

Vera Sirlene Leonardo (UEM) [email protected]

Katia Abbas(UEM) [email protected]

Marguit Neumann Gonçalves (UEM) [email protected]

Resumo: Diante da importância de um adequado processo de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, o objetivo deste trabalho é verificar se a gestão de resíduos de uma instituição prestadora de serviços de saúde está de acordo com o proposto pelo seu programa de gerenciamento de resíduos de serviço de saúde (PGRSS). Considerando que os requisitos que compõem o PGRSS e o seu gerenciamento na sua fonte geradora podem reduzir ainda mais a quantidade de resíduos que necessitam de tratamento especial, a problemática que orienta a pesquisa é: as ações internas da empresa estão em conformidade com o pro-posto pelo programa PGRSS? Para tanto, este trabalho utilizou a pesquisa aplicada quanto à finalidade; exploratória e descritiva quanto aos objetivos; estudo de caso quanto aos procedimentos; e qualitativa quanto à abordagem do problema. Os resultados mostram que a instituição de saúde apresenta um PGRSS em conformidade com as normas previstas nas resoluções CONAMA 358/2005 e ANVISA 306/2004, assim como as leis municipais de meio-ambiente, e busca garantir que a execução de suas atividades operacionais estejam de acordo com o programa proposto pela instituição. O estabelecimento de saúde analisado é responsável tanto pela geração quanto pelo tratamento e destinação final dos resíduos dos grupos A (infectantes), B (químicos), D (comuns recicláveis e não recicláveis) e E (perfurocortantes).

Palavras-chave: Resíduos de Serviços de Saúde. Hospital. Programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde.

Management program waste of health services (PGRSS): practices in the implementation of the activities are

consistent with the proposed program?

Abstract: Before the importance of a proper process management waste of health services, the purpose of this work is to check if the waste management of an institution of health services provider is in compliance with the program proposed by waste management service health (PGRSS). Considering the requirements composing the PGRSS and its management in your power generating more still can reduce the amount of wastes requiring special treatment, the problem that guides the search is: inside the shares of the company are in accordance with the proposed program PGRSS ? To much, this work applied research used as to purpose, regarding the exploratory and descriptive purposes, as a case study procedures, and as qualitative approach to the problem. the results show that the establishment of a health presents PGRSS in accordance with the standards in the resolutions CONAMA 358/2005 and ANVISA 306/2004, and municipal laws of environment and search warrant that the implementation of its activities are operational for under the program proposed by the institution. The establishment of health considered by both are responsible for generation for processing waste and final disposition of a group A (infective), B (chemicals), D (common recyclable and non recyclable) e E (sharps).

Keywords: Waste of Health Services. Hospital. Management Program Waste of Health Services.

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24 Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.23-35, 2014.

GESTÃO AMBIENTALPrograma de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo programa?

INTRODUÇÃO

O gerenciamento inadequado dos resíduos de servi-ços de saúde, desde o manejo interno até a disposição final, pode provocar risco à saúde das pessoas e a contaminação do meio ambiente. Os resíduos de serviços de saúde são considerados perigosos pela normatização brasileira, sendo a periculosidade atribuída à patogenicidade, além de à toxi-cidade, à radioatividade e a outras características inerentes às substâncias químicas utilizadas em diferentes procedi-mentos em estabelecimentos que geram resíduos de servi-ços de saúde. A patogenicidade é a característica inerente aos resíduos de saúde pela potencialidade em apresentar em sua composição agentes infectantes, como microrganismos ou toxinas por estes produzidos, que possam afetar prin-cipalmente a saúde humana e/ou animal (SCHNEIDER et al., 2004).

Pinheiro concorda com Schneider et al ao dizer que:

Os resíduos provenientes dos estabelecimentos de saú-de apresentam-se como um grande problema para a so-ciedade, pois o seu mau gerenciamento, desde o manejo interno até a disposição final, pode provocar diversos im-pactos ambientais e de saúde pública. Qualquer falha que ocorra durante o GRSS, pode resultar em risco a saúde do trabalhador ou para qualquer pessoa que participe deste processo (PINHEIRO, 2005, p. 20).

Assim, segundo o referido autor, um “adequado pro-cesso de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde (RSS) resulta na conservação da saúde dos funcionários do hospital, dos pacientes ou visitantes, dos processos que são realizados neles e também da preservação do meio ambien-te” (PINHEIRO, 2005, p. 6).

Desta forma pode-se considerar que o gerenciamento de resíduos sólidos pelas empresas prestadoras de serviços de saúde não deve ser visto apenas como um programa para atender às exigências legais, mas também como um meio de conscientização dos indivíduos, que podem ser afeta-dos direta ou indiretamente, de que a correta segregação, acondicionamento, manejo, transporte e tratamento dos re-síduos, desde sua origem até a destinação final é necessária para a segurança da saúde de todos e do meio ambiente. E ainda, pode ser utilizado como uma importante ferramenta de gestão, considerando que a redução dos resíduos gerados e a segregação correta podem afetar diretamente nos custos de coleta e tratamento, o correto manuseio pode reduzir o número de acidentes de trabalho relacionados, os treina-mentos podem contribuir para conscientização ambiental dos colaboradores, além de, em alguns casos, a empresa pode adquirir benefícios fiscais, evitar multas por tratamen-to e destinação incorretos e ainda avançar uma etapa rumo à obtenção de certificações diversas como: certificação am-biental, de qualidade ou de segurança e saúde ocupacional.

Porém, conforme dados apresentados no Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde – ANVI-

SA (BRASIL, 2006), apenas uma fração inferior a 2% dos resíduos em geral é composta por resíduos de serviços de saúde, e desta fração, apenas uma margem de 10 a 25% necessitam de cuidados especiais. Entretanto, se não forem gerenciados de forma adequada, constituem fontes poten-ciais de impacto negativo no ambiente e de disseminação de doenças, podendo oferecer perigo para os trabalhadores dos estabelecimentos de saúde, bem como para os pacien-tes e para a comunidade em geral (BERTIUSSI FILHO, 1994).

Considerando os requisitos que compõem o Progra-ma de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS) e que o gerenciamento de resíduos na sua fonte geradora pode reduzir ainda mais a quantidade de resíduos que necessitam de tratamento especial, a problemática que orienta essa pesquisa é: as ações internas da empresa estão em conformidade com o proposto pelo programa PGRSS? Assim, diante da importância de um adequado processo de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, o objeti-vo deste trabalho é verificar se a gestão de resíduos de uma instituição prestadora de serviços de saúde está de acordo com o proposto pelo seu PGRSS.

Para tanto, este trabalho utilizará a pesquisa aplica-da quanto à finalidade; a pesquisa exploratória e descritiva quanto aos objetivos; estudo de caso quanto aos procedi-mentos; e a pesquisa qualitativa quanto à abordagem do problema.

Este artigo está dividido, além desta introdução, em mais três seções. A segunda seção apresenta a revisão lite-ratura que explica como deve ser feito o manejo de resídu-os de serviços de saúde desde a sua geração até o destino final e discorre sobre tipos de resíduos de saúde conforme a legislação. Na terceira seção, após uma breve contextu-alização do hospital objeto de estudo, apresenta as etapas do Programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde elaborado pelo hospital e verifica se a gestão de resíduos está de acordo com o proposto. Por fim, a quarta e última seção apresenta as considerações finais do estudo e as possíveis sugestões de implantação ou melhoria de al-guns processos para contribuírem com o desempenho da instituição.

PROGRAMA DE GERENCIAMEN-TO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (PGRSS)

O Programa de Gerenciamento de Resíduos é um do-cumento que deve ser elaborado por cada empresa de acor-do com as características de resíduos gerados pela mesma. Deve seguir uma estrutura pré-determinada pelos órgãos regulamentadores - Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) - os quais determinam quais informações de-vem constar no programa. Portanto, segundo as Resoluções

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25Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.23-35, 2014.

Adriana Vicente Lima, Vera Sirlene Leonardo, Katia Abbas e Marguit Neumann Gonçalves

CONAMA 358/2005 e ANVISA 306/2004, todo Programa de Gerenciamento de Resíduos deve conter: (a) informa-ções gerais do estabelecimento; (b) identificação dos tipos de resíduos gerados pelo estabelecimento; (c) descrição de todas as etapas do gerenciamento de resíduos, desde o ma-nejo até a disposição final, de acordo com as características dos resíduos gerados pelo estabelecimento de modo que garanta uma manipulação segura destes durante todo o pro-cesso de gerenciamento; (d) procedimentos de segurança e saúde ocupacional; (e) plano de contingência e; (f) plano de monitoramento.

Segundo Wada (2007):

O PGRSS é um conjunto de procedimentos de gestão que visam o correto gerenciamento dos resíduos produzidos no estabelecimento. Esses procedimentos devem ser, plane-jados e implementados a partir de bases científicas e téc-nicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde públi-ca, dos recursos naturais e do meio ambiente. O PGRSS é um plano para gerenciar os resíduos provenientes dos serviços de saúde, seguindo, rigorosamente as legislações ANVISA RDC 306 e CONAMA 358. O PGRSS deve abranger todas as etapas de planejamento dos recursos fí-sicos, dos recursos materiais e da capacitação dos recursos humanos envolvidos no manejo dos RSS.

A Resolução CONAMA 358/05 (BRASIL, 2005, p. 3) determina que “cabe aos geradores de resíduos de ser-viço de saúde e ao responsável legal, [...] o gerenciamento

dos resíduos desde a geração até a disposição final”. Por-tanto, os estabelecimentos geradores de resíduos de saúde devem elaborar e implantar o PGRSS, conforme a legis-lação vigente e ser submetido à aprovação pelos órgãos de meio ambiente e de saúde, dentro de suas respectivas esferas e competências. De acordo com a Resolução citada, “o PGRSS deverá ser elaborado por profissional de nível superior, habilitado pelo seu conselho de classe, com apre-sentação de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART” ou outro documento similar e deve conter “os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, co-leta, armazenamento, transporte, reciclagem, tratamento e disposição final” dos resíduos sólidos do referido estabe-lecimento de saúde e, anualmente, deverá ser apresentada uma declaração aos órgãos competentes relatando o cum-primento das exigências previstas, devidamente assinadas pelo administrador principal da empresa e pelo responsável técnico habilitado.

Para Tomaselli et al. (2007), a Resolução da Direto-ria Colegiada RDC 306/2004 da ANVISA estabelece que o responsável pelo estabelecimento gerador deve implemen-tar o PGRSS e compete às Secretarias de Saúde e de Meio Ambiente a principal responsabilidade em orientar, avaliar e fiscalizar o processo do PGRSS, desde a sua elaboração até a manutenção. Contudo, cabe ao representante legal do estabelecimento de saúde a responsabilidade pelo geren-ciamento interno dos resíduos até a sua disposição final (GOVERNO DO PARANÁ, 2005). Além disso, existem diferentes níveis de responsabilidade, conforme demonstra o Quadro 1.

Níveis Responsabilidades

Comitê de higiene e segurança do hospital

Presidido pelo diretor do estabelecimento e formado pelos chefes dos serviços especializados. É a instância máxima, responsável pela aprovação das atividades que formarão o plano anual de higiene e segurança e também o principal responsável pelo manuseio interno dos resíduos sólidos hospitalares.

Chefes dos serviços especializados

Conduzem o bom desempenho de seus respectivos serviços. São responsáveis pela geração, segregação ou separação, acondicionamento ou tratamento dos resíduos sólidos enquanto permaneçam nas instalações onde são prestados os serviços.

Chefe do serviço de limpeza

Responsável pela coleta dos resíduos sólidos e sua transferência ao ponto de armazenamento externo, tratamento ou estação de reciclagem.

Chefe de engenharia ou manutenção

Responsável por armazenar os resíduos no exterior do estabelecimento para proceder ao seu tratamento, comercialização e entrega ao serviço de coleta externa municipal ou particular.

Quadro 1 – Níveis de responsabilidade pelo manuseio dos resíduosFonte: Adaptado de Oliveira (2002, p. 36)

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26 Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.23-35, 2014.

GESTÃO AMBIENTALPrograma de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo programa?

O gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde pode ser subdividido em gerenciamento interno (intra-uni-dade) e gerenciamento externo (extra-unidade), este último envolvendo a coleta, transporte, tratamento e disposição fi-nal. A abordagem do gerenciamento dos resíduos em etapas distintas facilita a visualização dos problemas e as ações que devem ser empreendidas. Estas etapas são sequenciais e interdependentes, de tal forma que ao se atuar em uma delas para se obter a redução dos riscos inerentes, por con-sequência as demais etapas serão atingidas (SALOMÃO; TREVIZAN; GÜNTHER, 2004). A Figura 1 apresenta o fluxograma que ilustra como deve ser feito o manejo de resíduos de serviços de saúde desde a sua geração até o destino final.

Como mencionado, o gerenciamento de resíduos é o conjunto de ações planejadas que são aplicadas em etapas sucessivas. Para tanto, um programa de gerenciamento de resíduos deve conter as seguintes rotinas: segregação, acondicionamento e identificação, coleta, armazenamen-to, tratamento prévio, transporte e destinação final, além de rotinas para emergências e acidentes, monitoramento dos processos de tratamento externo e medidas preventi-vas e corretivas. Ademais, dever ser lembrada a conside-ração feita no CONAMA 358/05 (BRASIL, 2005), a qual afirma que as ações preventivas além de menos onerosas

Aterro de segurança

Aterro sanitário

Radioativos

Seguir as recomendações do órgão encarregado

Diluir, pré-tratar e dispor no esgoto

Seputamento ou incineração

Aterro sanitário

Infectantes e especiais

Anátomo-patológico

Líquidos

Comuns

Estabelecimento de saúde

Segrega resíduo?

Sim

Implantar segregação

Não

Tratamento? Segrega resíduo?

Não

Implantar acondicionamento e

coleta seletiva

Não

Incineração

Tratamento no hospital

Tratamento por terceiros (resíduos perigosos)

Sim Sim

Figura 1 – Modelo de manejo de resíduos em estabelecimento prestador de serviço de saúdeFonte: Monge (1997) apud Cussiol (2000, p.32)

que as ações corretivas, são mais eficazes quanto à mini-mização dos danos causados à saúde pública e ao meio ambiente.

RESÍDUOS GERADOS NA PRES-TAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) são defini-dos como:

[...] os elementos e materiais rejeitados ou descartados dos processos, operações e procedimentos relacionados aos ramos de medicina, farmácia e enfermagem e áreas de atuação congêneres, realizados em hospitais, clínicas

veterinárias e similares, incluindo as atividades de prevenção, diagnósti-co, controle e tratamento de doenças (AKUTSU apud MACHADO; MO-RAES, 2001, p. 3).

Segundo a Resolução n° 358, de 29 de abril de 2005 (BRASIL, 2005), os resíduos de saúde são os rejeitos resultantes de todas as ati-vidades de serviços relacionadas ao atendimento à saúde humana ou animal, inclusive serviços de ne-crotérios, funerárias, medicina le-gal, drogarias e farmácias (também inclusas as de manipulação), esta-belecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde, centro de controle de zoonoses, unidades móveis de atendimento a saúde, e ainda, ser-viços de acupuntura, tatuagens e similares.

Quando os resíduos sólidos são descartados de forma inadequada no ambiente podem contribuir para a poluição biológica, física e química do solo, da água subterrânea e su-

perficial e do ar, submetendo as pessoas às várias formas de exposição ambiental, além do contato direto ou indireto com vetores biológicos e mecânicos.

Os resíduos de serviços de saúde são considerados perigosos pela normatização brasileira, sendo a periculo-sidade atribuída à patogenicidade, além da toxicidade, da radioatividade e de outras características inerentes às subs-tâncias químicas utilizadas em diferentes procedimentos realizados nos procedimentos dos serviços de saúde. A nor-ma NBR 10.004:2004 (ABNT, 2004) classifica os resíduos em:

a) classe I (perigosos) – aqueles que apresentam periculosidade com risco a saúde pública ou riscos ao

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27Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.23-35, 2014.

Adriana Vicente Lima, Vera Sirlene Leonardo, Katia Abbas e Marguit Neumann Gonçalves

meio-ambiente, que apresentem características de infla-mabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, pato-genicidade, nas condições em que estão estabelecidas na norma ou que estão relacionadas em Tabelas contendo a relação de resíduos perigosos de fontes não específicas e a relação de resíduos perigosos de fontes específicas;

b) classe II (não perigosos) – estes podem ser: i) Classe II A (não-inertes) – aqueles que não se enquadram nas classificações Classe I ou Classe II B. Podem ter pro-priedades como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água; ii) Classe II B (inertes) – aqueles que quando tiverem uma amostra representativa, segundo a norma NBR 10.006, não tiverem nenhum de seus cons-tituintes solubilizados a concentrações superiores aos pa-drões de sustentabilidade da água, excetuando-se padrões de aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

PROGRAMA DE GERENCIAMEN-TO RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

BREVE DESCRIÇÃO DO HOSPITAL PES-QUISADO

Este estudo foi realizado num estabelecimento mé-dico/hospitalar de localizado na região de Maringá no Estado do Paraná. O estabelecimento presta serviços de atendimento médico ambulatorial, de internação, SADT (Serviços Auxiliares de Diagnose e Terapia), urgência e emergência, além de contar com os serviços especia-lizados próprios e/ou terceirizados e ainda, conta com serviços de apoio interno de farmácia, necrotério, SND (Serviço de Nutrição e Dietética), lavanderia, higieniza-ção, SPP (Serviço de Prontuário de Paciente), serviços de manutenção e de central de esterilização de materiais que são realizados internamente e também por empresas ter-ceirizadas.

O hospital atende pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), de diversos convênios particulares e também do SAS (Sistema de Assistência a Saúde) e possui 248 colabo-radores registrados em seu quadro de funcionários.

PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE (PGRSS)

O hospital não possui nenhum tipo de certificação ambiental ou sistema de gestão ambiental implementados até a data da pesquisa. Entretanto, diante das exigências legais e do rigor das legislações ambientais que estão cada vez mais inflexíveis devido à consciência sustentável que

vem ganhando força na sociedade, o hospital possui um PGRSS devidamente aprovado pelos órgãos estaduais IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e SESA (Secretaria de Estado da Saúde do Paraná) desde 2006, e também possui licença ambiental, que foi aprovada em 2006. O PGRSS da empresa encontra-se estruturalmente organiza-do como mostra o Quadro 2, e, na sequência, os próximos cinco itens descrevem as principais etapas deste quadro.

• identificações gerais do estabelecimento;• classificação dos resíduos gerados pelo estabelecimento;• formas de segregação/acondicionamento dos resíduos;• procedimentos de coleta interna;• formas de armazenamento temporário e externo;• responsáveis pelo transporte externo dos resíduos;• responsáveis pelo tratamento e destinação final dos

resíduos;• procedimentos de segurança ocupacional;• apresentação do cronograma de treinamento anual;• prestadoras de serviços internos terceirizados e suas

responsabilidades, quanto à geração de resíduos;• apresentação do plano de contingência;• apresentação do plano de monitoramento.

Quadro 2 – PGRSSFonte: A pesquisa

Segregação e acondicionamento dos resíduos

Antes de descrever qualquer etapa do PGRSS, é ne-cessário identificar qual o tipo de resíduo é gerado pelo estabelecimento. Segundo o PGRSS (2009) o estabeleci-mento analisado gera os seguintes resíduos: Grupo A – Po-tencialmente Infectantes (A1, A3 e A4) - nas formas sólida, líquida e peças anatômicas; Grupo B - Químicos - nas for-mas sólida e líquida; Grupo D - Comuns - recicláveis e não recicláveis; Grupo E - Perfurocortantes.

A segregação dos resíduos no estabelecimento é dada de acordo com as cores dos sacos plásticos de lixo, sendo estes distribuídos em quatro cores: preto (Grupo D – co-mum), azul (Grupo D – reciclável), branco (Grupos A1 e A4) e vermelho (Grupo A3). Ainda os resíduos do Grupo B são destinados a bombonas plásticas (identificadas como resíduos químicos) e os do Grupo E à caixas de papelão devidamente identificadas (com simbologia de resíduo in-fectante).

Segundo levantamento de dados no local, a geração de resíduos por setores é distribuída conforme o Quadro 3 a seguir.

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GESTÃO AMBIENTALPrograma de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo programa?

UTI Unidade de Terapia

Intensiva

- Infectante (saco branco) - Perfurocortante (caixa de papelão) - Químico (bombonas)

- Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Centro Cirúrgico

- Infectante (saco branco) - Infectante: peças anatômicas ou outros resíduos de procedência humana (saco vermelho)

- Perfurocortante (caixa de papelão) - Químico (bombonas) - Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Pronto Socorro

- Infectante (saco branco) - Infectante: peças anatômicas ou outros resíduos de procedência humana (saco vermelho)

- Perfurocortante (caixa de papelão) - Químico (bombonas) - Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Maternidade

- Infectante (saco branco) - Infectante: peças anatômicas ou outros resíduos de procedência humana - (saco vermelho)

- Perfurocortante (caixa de papelão) - Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Pediatria

- Infectante (saco branco) - Perfurocortante (caixa de papelão)

- Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Postos 2 e 3 (leitos)

- Infectante (saco branco) - Perfurocortante (caixa de papelão) - Químico (bombonas)

- Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Administração - Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Farmácia - Perfurocortante (caixa de papelão) - Químico (bombonas)

- Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Cozinha - Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

Lavanderia - Reciclável (saco azul) - Comum (saco preto)

- Efluentes líquidos

Quadro 3 – Tipos de resíduos gerados na empresa, por setores

Fonte: A pesquisa

O acondicionamento dos resíduos do estabelecimento, como mostra o Quadro 4, segue as Resoluções RDC AN-VISA n° 306/2004 e CONAMA n° 358/2005, assim como as normas da ABNT e do município pertinentes ao assunto (PGRSS, 2009).

Contudo, vale lembrar que a segregação e acondicio-namento adequados dos resíduos de saúde contribuem para

minimizar a geração de resíduos potencialmente infectantes e químicos, uma vez que quando acondicionados incorreta-mente, os resíduos que apresentam risco acabam contami-nando os demais resíduos, tornando necessário o tratamento de todos eles, enfim, aumentando o volume de resíduos con-taminados gerados pelo estabelecimento e consequentemen-te, os custos com o tratamento e disposição final.

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29Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.23-35, 2014.

Adriana Vicente Lima, Vera Sirlene Leonardo, Katia Abbas e Marguit Neumann Gonçalves

GRUPO A

Infectantes Sólidos

Devem ser acondicionados em sacos plásticos de cor branca leitosa, impermeáveis e resistentes, identificados com o símbolo de resíduo infectante, não podendo ultrapassar a capacidade de 2/3 da embalagem.

Infectantes Líquidos

Devem ser acondicionados em recipientes estanques plásticos, com tampa, posteriormente envoltos por saco plástico vermelho, identificados e encaminhados para um freezer até a coleta pela empresa de tratamento.

Peças Anatômicas

Devem ser acondicionados em sacos plásticos de cor vermelha, com simbologia de resíduo infectante e então deve ser encaminhados para um freezer específico até o momento da coleta pela empresa responsável pelo tratamento.

GRUPO B

Sólidos

Devem ser acondicionados em bombonas plásticas com tampa, identificado como resíduo químico e seus riscos, assim como, deve conter relatório identificando o nome do(s) produto(s), suas principais características e o setor gerador.

Líquidos Idem ao acondicionamento dos resíduos sólidos deste grupo.

GRUPO D

Resíduos Comuns

Devem ser acondicionados em sacos plásticos de cor preta, resistentes, de modo que evite a ruptura ou vazamento durante o manuseio. Não deve ultrapassar a capacidade de 2/3 da embalagem.

Resíduos Comuns

Recicláveis Devem ser acondicionados em sacos plásticos de cor azul.

GRUPO E Perfurocortantes

Devem ser acondicionados em recipientes rígidos (caixa de papelão), resistentes à pucuntura, rompimento e vazamento, com tampa e devidamente identificado com a simbologia de resíduo infectante e perfurocortante.

Quadro 4 - Acondicionamento dos resíduosFonte: Adaptado do PGRSS (2009)

Contudo, vale lembrar que a segregação e acondi-cionamento adequados dos resíduos de saúde contribuem para minimizar a geração de resíduos potencialmente in-fectantes e químicos, uma vez que quando acondicionados incorretamente, os resíduos que apresentam risco acabam contaminando os demais resíduos, tornando necessário o tratamento de todos eles, enfim, aumentando o volume de resíduos contaminados gerados pelo estabelecimento e consequentemente, os custos com o tratamento e disposi-ção final.

Serviço de coleta e armazenamento

O serviço de coleta interna conta com dois carrinhos coletores e a empresa fornece aos funcionários responsá-veis pela coleta os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários. A coleta é realizada diariamente com uma frequência de três vezes ao dia, nos períodos da manhã, tarde e noite às 11h, 17h e 7h, respectivamente. Obedece a uma sequência pré-determinada iniciando-se pela coleta dos resíduos do Grupo D do tipo recicláveis,

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GESTÃO AMBIENTALPrograma de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo programa?

seguidos pelos resíduos do mesmo grupo não-recicláveis e finalmente pelos resíduos dos Grupos A e E. Os resíduos do Grupo B são coletados conforme a necessidade. Ao final da coleta, os carros coletores devem ser lavados para que haja a descontaminação dos mesmos.

Após a coleta interna, os resíduos são levados para os abrigos externos, os quais, segundo o PGRSS (2009) trata-se de um local fechado com tranca, exclusivo para guarda de resíduos de saúde, com dimensões suficientes para armazenar a produção de resíduos de até três dias, com pisos, paredes tetos e portas, feitos de materiais lisos, impermeáveis, laváveis e de cor branca. Além disso, pos-sui armário interno exclusivo para guarda de resíduos do Grupo B bem como recipientes plásticos para acondicio-namento dos resíduos fornecidos pela empresa coletora, os quais não devem ser empilhados a uma altura superior a 1,20m.

Quanto ao serviço de coleta externa, o mesmo é efe-tuado obedecendo ao seguinte cronograma: Resíduos do Grupo D (recicláveis) devem ser coletados diariamente e separados pela Associação das Zeladoras e posterior-mente vendidos para empresas que reciclam estes tipos resíduos; Resíduos do Grupo D (não-recicláveis) devem ser coletados diariamente pelo serviço de coleta munici-pal e encaminhados para o “aterro municipal”; Resíduos dos Grupos A, B e E devem ser coletados três vezes por semana por uma empresa terceirizada responsável pelo transporte, tratamento e destinação final dos resíduos des-tes grupos.

Transporte, tratamento e disposição final

Após a coleta interna e armazenamento externo, os resíduos ficam à disposição das empresas coletoras, que, por sua vez, também são responsáveis pelo tratamento e disposição final desses resíduos. Os resíduos dos Grupos A (infectantes), B (químicos) e E (perfurocortantes) são coletados, transportados e tratados por empresa tercei-rizada, devidamente contratada para efetuar estas ativi-dades. A destinação final desses resíduos fica, a partir de então, sob a responsabilidade da referida empresa. Os resíduos dos Grupos D, do tipo não recicláveis, ou seja, lixo comum, são coletados pelo serviço de coleta municipal e sua destinação final fica sob a responsabili-dade da Prefeitura Municipal. Estes resíduos não reque-rem tratamento prévio. Os resíduos do Grupo D, do tipo recicláveis, entretanto, após a coleta interna, passam por uma etapa de triagem pela Associação de Zelado-ras, onde são separados os resíduos que serão vendidos posteriormente para uma empresa terceirizada que irá reutilizá-los por reciclagem.

Há ainda os efluentes líquidos, não químicos e sem risco para o meio ambiente. Estes são encaminhados para a rede coletora de esgoto pública, de onde devem ser en-

caminhados para lagoas de tratamento de responsabilida-de da Prefeitura Municipal.

Procedimentos de segurança ocupacional

O PGRSS (2009) prevê que durante o manuseio e coleta dos resíduos o funcionário deverá usar os seguintes equipamentos de proteção individual - EPI’s:

• luvas de PVC ou borracha de cano longo;• botas de PVC;• avental impermeável;• máscara; e• óculos. Após a coleta, o funcionário deverá fazer a higieni-

zação das mãos (ainda enluvadas e após retirar as luvas). Os EPI’s devem ser lavados e desinfetados diariamente e sempre que houver contaminação com material infec-tante (neste caso, deve ser substituído imediatamente por outro). Já as luvas, devem ser descartadas imediatamente caso haja ruptura, para que não corra o risco de serem reutilizadas.

Com relação à saúde ocupacional, os funcionários que trabalham com o manuseio de resíduos devem ser submetidos a avaliações e exames admissionais, perió-dicos, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissionais, conforme a necessidade, e ainda, é exigido que apresentem carteira de vacinação em dia, com o intui-to de prevenir possíveis doenças caso haja a exposição do trabalhador a agentes biológicos.

Ainda no que tange à prevenção quanto ao contato com agentes biológicos, o PGRSS (2009) propõe que o funcionário realize a anti-sepsia das mãos e da pele sem-pre que houver o contato com sangue e secreções; que use luvas sempre, e que após retirá-las faça a higienização das mãos; que retire as luvas e que lave as mãos sempre que for exercer outra atividade; que não fume nem consuma alimentos enquanto estiver manuseando os resíduos; e que mantenha o ambiente sempre limpo. No caso de aci-dente com perfurocortantes, pede-se que lave bem o local com água e sabão neutro, aplique solução anti-séptica e notifique imediatamente a chefia do setor para tomar as medidas cabíveis.

Outras informações complementares do PGRSS

Após concluir todas as etapas necessárias para a im-plantação e execução do PGRSS, é necessário apresentar um cronograma de treinamento anual. Este treinamento deve ser direcionado a todos os colaboradores da empre-sa em todos os níveis hierárquicos, para que tenham co-nhecimento de como funciona o PGRSS e assim, possam segui-lo. Ainda, como existem empresas terceirizadas que

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Adriana Vicente Lima, Vera Sirlene Leonardo, Katia Abbas e Marguit Neumann Gonçalves

prestam serviços extra e intra-estabelecimento, é neces-sário que conste no PGRSS quem são responsáveis pela geração de resíduos dessas empresas. No caso, todas as prestadoras de serviço são responsáveis pelos resíduos gerados, uma vez que todas possuem CNPJ próprios.

Além disso, é necessário que conste um plano de contingência, para o caso de qualquer imprevisto com os responsáveis pela coleta dos resíduos de qualquer grupo. Portanto, é feito um contrato com outra empresa tercei-rizada, licenciada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), para que esta possa fazer a coleta dos resíduos do estabelecimento até que se solucione o problema da em-presa coletora principal.

Por fim, o PGRSS apresenta um plano de monitora-mento, o qual prevê uma equipe formada por profissionais responsáveis pelos setores, aos quais cabe a função de fis-calizar os procedimentos desde a segregação, transporte, armazenamento dos resíduos, de modo que seja possível detectar falhas, encontrar novas maneiras de orientar e es-clarecer dúvidas de funcionários para que o PGRSS possa ser executado por todos da melhor forma possível. Este mesmo plano de monitoramento prevê que uma única pessoa seja responsável pela supervisão geral, à qual fica responsável por tomar as medidas cabíveis aos não cum-pridores do PGRSS.

Após discriminadas todas as etapas do PGRSS, de-vem ser anexados todos os documentos que comprovem a autenticidade de cada contrato, licença, certificação e responsabilidade técnica citados ao longo do programa.

Avaliação do PGRSS - na prática

Apresentados os requisitos que compõe o PGRSS verificou-se a conformidade das ações internas da empre-sa em relação ao proposto pelo programa. Para isso, foi aplicado um questionário estruturado a uma amostra de aproximadamente 40% do quadro de funcionários sele-cionados de forma aleatória, com representes de todas as funções desde o nível operacional até o administrativo. Esta porcentagem corresponde a 99 funcionários de um total de 248 que pertencem ao quadro da empresa.

Os resultados da pesquisa evidenciar am que prati-camente todos os funcionários entrevistados já ouviram falar do PGRSS da empresa, atingindo uma média de 94,36%, sobre o nível de conhecimento do PGRSS por setor. Contudo, no que se refere a conhecer o que está previsto no programa, este índice já é um pouco menor, chegando a uma média de 81,74% do total de entrevis-tados. Quanto à participação nos treinamentos sobre re-síduos que são oferecidos pelo hospital, observou-se um índice menor de pessoas que afirmam já terem participado de algum treinamento, ou seja, 79,67% do total de entre-vistados já participaram. Destaca-se que estes treinamen-

tos ocorrem bimestralmente e são direcionados a todos os funcionários da empresa.

Apesar de saber da obrigatoriedade da participação nas palestras, muitos funcionários não comparecem aos treinamentos, e este fato reflete nas falhas encontradas quanto à execução do PGRSS. Entretanto, nota-se que 20,33% afirmaram nunca ter participado de nenhum tipo de treinamento, destes 81% trabalham a menos de um ano na instituição e alguns foram contratados após a realiza-ção da última palestra. Vale destacar que neste índice há também funcionários com mais de um ano na instituição e que, apesar de saber da obrigatoriedade, não participaram dos treinamentos.

Quanto ao manejo, segregação e acondicio-namento

A pesquisa revelou que há um grande índice de co-nhecimento sobre o PGRSS no que diz respeito aos gru-pos de resíduos gerados pelo estabelecimento. Contudo, para que o programa funcione plenamente, é preciso que todos tenham conhecimento de como executá-lo. Cerca de 85% dos colaboradores entrevistados sabem identificar quais tipos de resíduos são gerados pela empresa, sendo estes os Grupos A (infectantes), B (químicos), D (comuns e recicláveis) e E (perfurocortantes).

Os setores com maior índice de assertividade sobre a segregação dos resíduos foram a enfermagem, farmácia e higienização, os quais estão mais familiarizados com todos os grupos de resíduos devido ao exercício de suas atividades. No caso dos setores como a lavanderia, cozi-nha e administração, que normalmente geram resíduos do Grupo D (comuns e recicláveis), houve bastante confusão quanto à segregação dos resíduos gerados apenas pelo se-tor de enfermagem, que são os pertencentes aos Grupos A, B e E.

No geral, como mostra o Gráfico 1, nota-se que a maioria dos colaboradores sabem como efetuar a segrega-ção correta dos resíduos, contudo, os resíduos do Grupo A são os que mais geram confusão quanto à segregação cor-reta, pois alguns desses resíduos têm a segregação e acon-dicionamento diferenciado, devido às suas características.

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GESTÃO AMBIENTALPrograma de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo programa?

Gráfico 1 – Dados referentes à segregação dos resíduos do estabelecimento

Fonte: A pesquisa

Quanto aos procedimentos de coleta interna

Após o processo de manejo, segregação e acondicio-namento interno dos resíduos, que são feitos em cada se-tor, inicia-se o processo de coleta interna, o qual é realiza-do em duas etapas. Na primeira, as zeladoras responsáveis pela higienização de cada setor devem fazer a coleta dos resíduos de todas as áreas do seu setor e encaminhar para o expurgo (abrigo interno) para serem identificados com data, horário, setor e assinatura do responsável pela coleta daquele setor/turno. A segunda etapa corresponde à coleta dos resíduos de todos os setores que serão encaminhados para o abrigo externo e aguardarão a coleta externa.

A identificação dos resíduos é feita através de eti-quetas coloridas e cada cor corresponde a um respectivo grupo de resíduos. As vermelhas identificam os resíduos infectantes colocados nos sacos de lixo brancos, verme-lhos e nas caixas de perfurocortantes. As azuis identificam os resíduos comuns recicláveis colocados nos sacos de lixo azuis e as pretas identificam os resíduos comuns não recicláveis que são colocados nos sacos de lixo pretos.

Este procedimento tem por objetivo identificar e rastrear possíveis falhas no processo de segregação dos resíduos e permitir saber qual foi o setor e o horário responsável pela irregularidade, de modo que possa ser chamada a atenção tanto do chefe do setor quanto dos funcionários, uma vez que não é possível identificar qual foi o funcionário, ou outro profissional, que descumpriu as normas de segrega-ção dos resíduos.

Contudo, apesar de ser uma forma válida de controle, ainda poderia ser melhor aproveitada, visto que, ocorrem falhas, tanto no momento da segregação, quanto no mo-mento da identificação, sendo que algumas vezes a iden-tificação encontra-se incompleta, outras é recolhido o lixo sem a referida identificação. Deste modo, torna-se difí-cil o rastreamento e inviável a aplicação de uma punição mais severa nos responsáveis pelas irregularidades.

Segundo consta no PGRSS e de acordo com a Nor-ma ABNT - NBR 12810 no que diz respeito à coleta de resíduos de serviço de saúde, a empresa conta com os car-rinhos coletores adequados e exige-se que os funcionários executem suas tarefas de acordo com a norma, utilizando

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os EPI’s obrigatórios para a coleta dos resíduos de saúde. Entretanto, observa-se que a regra não é seguida por to-dos, e estas irregularidades acabam colocando em risco a própria segurança dos funcionários (ABNT, 1993).

A coleta é realizada três vezes ao dia, como consta no PGRSS, porém os horários foram alterados por moti-vos funcionais, passando para 12h, 18h e 6h. O objetivo dessa alteração é recolher os resíduos dos setores o mais próximo possível do horário de troca de plantão, para que seja mais fácil identificar quais setores e turnos são res-ponsáveis pelas irregularidades encontradas.

A sequencia de coleta acompanha a prevista no PGRSS, ou seja, reciclável, comum e infectantes em geral (inclusive os perfurocortantes), pelo motivo de que se os resíduos infectantes forem coletados primeiro contami-nam o carro coletor o que consequentemente ocasiona a contaminação do resíduo comum e reciclável. As “bom-bonas” são coletadas ocasionalmente, apenas quando são lacradas, ou seja, atingem a capacidade máxima de 2/3. Após a coleta, os carros coletores são lavados e deixados ao sol para que sequem até a próxima coleta no turno se-guinte.

Quanto ao armazenamento externo de resí-duos

Os resíduos dos Grupos A, B e E, são encaminhados para um abrigo externo devidamente identificados como resíduos perigosos. Neste local encontra-se um freezer para o armazenamento dos resíduos do Grupo A3 (peças anatômicas, placentas, fetos e similares), caixas plásticas (fornecidas pela empresa coletora) para o armazenamen-to dos resíduos dos Grupos A1 e A4, duas prateleiras in-ternas para o armazenamento dos resíduos do Grupo B (bombonas plásticas) e porta de tela branca, identificada com o símbolo de resíduos infectantes.

Os resíduos do Grupo D não recicláveis são desti-nados para um abrigo assim como os resíduos que deve-riam ser reciclados, porém que não são aproveitados por este processo. Tanto o abrigo para os resíduos infectantes quanto os comuns, ficam num mesmo local que é fechado por um portão e identificado com uma placa de: Perigo – risco biológico. Os resíduos do Grupo D recicláveis são encaminhados para um abrigo no qual serão separados e armazenados até que sejam vendidos para empresas que utilizam os materiais para reciclagem. Já, os resíduos que não são aproveitados para reciclagem são encaminha-dos para o abrigo de resíduos comuns. Este abrigo que está sendo utilizado é provisório, visto que, a empresa encontra-se em fase de expansão e o abrigo de resíduos recicláveis teve que ser demolido para ampliação de um setor de atendimento. Contudo, observa-se que este local improvisado não se encaixa nas normas do PGRSS nem da legislação.

Quanto à destinação final dos resíduos de saúde

No que tange à empresa responsável pelo transporte, coleta e destinação final dos resíduos de saúde do estabe-lecimento em estudo, conclui-se que os resíduos dos gru-pos A, B e E são tratados pela própria empresa coletora que esta localizada no município de Maringá – Paraná (a qual possui as licenças necessárias), através dos processos de autoclavagem e incineração. Após o tratamento, estes resíduos são encaminhados para um aterro sanitário de-vidamente licenciado, localizado na região de Chapecó – Santa Catarina, para disposição final.

Os resíduos comuns, coletados pelo serviço de coleta urbana municipal, são encaminhados ao aterro municipal. Por não possuírem características de risco são equipara-dos aos resíduos sólidos urbanos e dispensam tratamento prévio.

Por fim os resíduos recicláveis, após a separação, são vendidos às empresas de reciclagem que reutilizam estes materiais.

Quanto aos procedimentos de saúde e segu-rança ocupacional

No que diz respeito à saúde e segurança ocupacional, a pesquisa revelou que o hospital está em conformidade com às normas vigentes. Quanto aos exames admissio-nais, 99,98% dos funcionários confirmam que passaram por esse procedimento. Com relação aos exames perió-dicos, 98,36% dos funcionários com mais de um ano de empresa passaram por exames periódicos. Estes exames são realizados anualmente de modo que, na ocasião, todos os colaboradores após vencer o período de um ano do úl-timo exame efetuado, são convocados a realizarem novos exames laboratoriais e passar por uma nova consulta com o médico do trabalho, sendo que a empresa mantém arqui-vados os prontuários de cada colaborador pelo tempo que este permanecer no seu quadro de funcionários para fins de acompanhamento e controle, caso ocorra algum aci-dente de trabalho com material biológico ou se a pessoa venha adquirir alguma doença ocupacional.

Quanto aos equipamentos de proteção individu-al (EPI’s), 90,91% dos entrevistados afirmam que rece-bem os equipamentos de proteção condizentes com suas funções. Entretanto, ao fazer uma visita pelos postos de trabalho, independente do setor, pode-se observar que, apesar de terem os EPIs à disposição, alguns profissio-nais insistem em realizar algumas de suas atividades sem a proteção necessária, fato este desfavorável à empresa e ao próprio funcionário. Este por estar colocando em risco a própria saúde, principalmente por se tratar de um esta-belecimento que gera resíduos de alta periculosidade. E a empresa, por ter que arcar com tratamentos ou indeni-zações advindas de acidentes de trabalho, além de em al-guns casos ter que manter no seu quadro de funcionários,

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GESTÃO AMBIENTALPrograma de gerenciamentos de resíduos de serviços de saúde (PGRSS): as práticas na execução das atividades estão de acordo com o proposto pelo programa?

colaboradores afastados por doenças ocupacionais que ao invés de retorno, geram despesa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em atendimento ao objetivo de verificar se a gestão de resíduos da empresa está de acordo com o proposto pelo seu PGRSS, a pesquisa mostra que a referida instituição de saúde apresenta um PGRSS em conformidade com as normas previstas nas Resoluções CONAMA 358/2005 e ANVISA 306/2004, assim como as leis municipais de meio-ambiente e busca garantir que a execução de suas ati-vidades operacionais estejam de acordo com o programa proposto pela instituição. Além disso, o estudo identificou quais são os resíduos gerados pela instituição e conclui que o estabelecimento de saúde analisado é responsável tanto pela geração quanto pelo tratamento e destinação final dos resíduos dos grupos A (infectantes), B (químicos), D (co-muns recicláveis e não recicláveis) e E (perfurocortantes).

Contudo, conclui-se que estes resíduos são considera-dos perigosos pela legislação brasileira devido às suas ca-racterísticas patogênicas, tóxicas, químicas e radioativas e que, apesar de representarem uma pequena parcela do total de resíduos sólidos gerados, se não forem gerenciados de maneira correta corre-se o risco de contaminar os demais e também causar impactos negativos ao meio ambiente, in-clusive pondo em risco a vida das pessoas. Por esse motivo e em cumprimento à legislação, o estabelecimento analisa-do possui e faz cumprir o PGRSS, o qual discrimina cada uma das etapas para a execução do programa, a saber: ma-nejo, segregação, coleta, acondicionamento interno e exter-no, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos, além de procedimentos de segurança e saúde ocupacional, cronograma de treinamentos anuais, plano de contingência e plano de monitoramento.

Recomenda-se para a entidade, um melhor acompa-nhamento das atividades e como plano de monitoramento, sugere-se a formação de uma comissão interna aos quais devem ser oferecidos treinamentos extras para torná-los responsáveis pelo monitoramento das atividades de gera-ção, manejo, segregação, acondicionamento e coleta in-terna dos resíduos de saúde. Este plano de monitoramento poder funcionar com base em relatórios periódicos elabo-rados pelos responsáveis pela execução e implantação do PGRSS.

Sugere-se ainda a elaboração de relatórios específicos para controle de geração de resíduos totais e por grupos, controle de custos com gerenciamento de resíduos, contro-le de custos com tratamento e disposição final de resíduos, controle de acidentes de trabalho relacionados às ativida-des de gerenciamento de resíduos e controle de receitas com venda de recicláveis.

Quanto à segregação, sugere-se que se padronizem as etiquetas informativas, sendo estas confeccionadas de preferência em material plástico ou metal, para não se per-

derem facilmente, e então se efetue uma identificação pa-dronizada das lixeiras em todos os setores. E ainda, que seja afixado nos murais de cada posto de trabalho de forma bem chamativa, uma relação descrevendo quais materiais devem ser descartados em cada tipo de recipiente, confor-me o tipo de resíduo gerado por aquele setor.

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Terceirização no Setor de Eventos: análise contextual, perspectivas e formas de uso

Fábio Luciano Violin (Universidade Estadual Paulista) [email protected]

Renata Maria Ribeiro (Universidade Estadual Paulista) [email protected]

Roberson da Rocha Buscioli (Universidade Estadual Paulista) [email protected]

André Luís Violin (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) [email protected]

Patrícia Koerich Violin (Faculdade Anhanguera) [email protected]

Resumo: O presente artigo analisa a relação entre o setor de eventos e os benefícios que a terceirização de materiais, mão de obra, processos e procedimentos pode trazer ao segmento, seja de natureza operacional ou estratégica. Discute, assim, as vanta-gens e pontos negativos decorrentes da contratação de serviços terceirizados por empresas promotoras de eventos. Dessa forma, objetivou-se analisar a percepção das empresas promotoras de eventos em relação as suas experiências com serviços advindos de empresas terceirizadas. A metodologia contou com pesquisa de cunho bibliográfico para levantamento dos dados. O universo de interesse versou sobre organizações privadas relacionadas na base do CADASTUR, tendo como público-alvo as empresas de eventos. Foram selecionadas cinco empresas por estado, mais o Distrito Federal, de forma aleatória, as quais receberam acesso a um documento virtual que continha questões de natureza fechada e semiaberta. Emergiram da pesquisa - entre diversos outros pontos - dados que apontam que 94% das empresas de eventos que já contrataram serviços terceirizados tendem a contratar no-vamente, e que, ao contrário do senso comum, a qualidade se tornou vital no momento de escolha de uma empresa terceirizadora em detrimento da decisão pautada exclusivamente em custo.

Palavras-chave: Terceirização. Eventos. Estratégias. Serviços. Mercadologia.

Outsourcing in industry of events: contextual analysis, perspectives and ways of use

Abstract: This article analyzes the relationship among the events sector and the outsourcing benefits (materials, labor, processes and procedures) can bring to the segment, be it operational or strategic. Discusses the advantages and thus negatives resulting from the hiring of outsourced services for companies promoting events. Thus, the objective was to analyze the perception of companies promoting events regarding their experiences with services arising from outsourcing companies. The research methodology had to die bibliographic data survey. The universe of interest was about related private organizations based on Cadastur having as target firm’s events. We selected five companies per state plus the Distrito Federal, which randomly received access to online questionnaire that contained questions of nature closed and semi-open. Emerged from the research - among many other things - data that show that 94% of companies that have hired events outsourcing tend to hire again and that contrary to common sense quality became vital when choosing a company to the detriment outsourcer guided the decision solely on cost.

Keywords: Outsourcing. Events. Strategies. Services. Marketing.

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Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.37-44, 2014.

INTRODUÇÃO

Os serviços terceirizados têm crescido no Brasil em número e nível de especialização particularmente a partir da década de 90 nas áreas de varejo, indústria e em espe-cial no setor de serviços, cuja alavancagem tem se dado tanto de forma quantitativa (referente ao número de orga-nizações e de opções de serviços ofertados entre outros as-pectos) quanto qualitativamente (através de mão de obra, materiais, tecnologia e processos especializados), se com-parados a outras épocas (BRASIL, 2011).

O contexto da evolução do segmento de eventos é apontado como um dos mais significativos na área de ser-viços e sua capacidade de geração de visibilidade tem a potencialidade de alterar a realidade de uma determinada região ou mesmo da sociedade dentro de determinados contextos (BARRETTO, 2003).

Diversos autores apontam os benefícios do setor de eventos para as localidades ou organizações entre eles res-saltam-se sua capacidade de gerar fluxos econômicos, de ex-pansão de ideias e negócios além de servir em diversas situ-ações como uma espécie de "vitrine" segundo as pretensões, proporções e/ou natureza do evento. No setor turístico os reflexos são sentidos nos meios de hospedagem, gastrono-mia e transportes além dos corredores turísticos entre outros agentes direta ou indiretamente relacionados com a ativida-de. Em alguns casos, possuem até mesmo uma continuidade em suas exibições, seja anual, semestral ou com outros inter-valos, gerando maior quantidade de empregos ou atividades temporárias o que evidencia a potencialidade de resultados satisfatórios para os elementos da cadeia de valor (ARAÚ-JO, 2007; STOKES, 2008; AMORIM e BRANDÃO, 2011).

Considerando a importância mundial do setor de ser-viços bem como o refinamento dos meios de comunicação, dos materiais, processos, procedimentos e qualificação pro-fissional bem como preferências, gostos e percepções dos consumidores alterando-se a uma velocidade nunca antes vista considera-se que uma pesquisa em âmbito nacional apontando as correspondente dinâmica existente entre as empresas de eventos e as que trabalham com terceirização de serviços possa trazer a tona importantes discussões.

TERCERIZAÇÃO

A terceirização é considerada por muitos como um fe-nômeno de proporção mundial surgida no bojo das socieda-des capitalistas e que se desenvolveu como parte do rearranjo produtivo mais fortemente a partir da década de 70 inspira-da no toyotismo, trazendo consigo relevantes alterações no escopo das organizações no que concerne a produção e ao modo de trabalho.

Segundo Giosa (2003) o termo vem da expressão in-glesa outsourcing a qual foi traduzida no Brasil como tercei-rização, referenciada sempre pela concepção estratégica de

implementação de atividades. Contudo, sua origem ocorreu nos anos quarenta, após o início da segunda Guerra Mundial, através das indústrias bélicas que delegaram a outras organi-zações algumas de suas atividades produtivas.

Leiria et al. (1993) afirmam que sua consolidação como prática na gestão ocorreu nos Estados Unidos a partir da dé-cada de 50 com o acelerado desenvolvimento da indústria, sendo utilizada segundo Girardi (1999) inicialmente para a redução dos custos associados a mão de obra, não estando - como hoje - associada necessariamente a um modo para ob-tenção de maior qualidade, especialização e menores custos.

Deimling e Gehno (2007) apontam que a terceirização chegou ao Brasil através das fábricas de automóveis que ad-quiriam as peças de outras empresas, guardando para si a ati-vidade fundamental de montagem dos veículos e nas déca-das de 80 e 90 a terceirização foi utilizada para impulsionar a reestruturação produtiva para garantir a competitividade dos produtos brasileiros frente às novas condições impostas pelo mercado interno e externo causados pelo longo período de recessão econômica no país. (DIEESE, 2003).

A terceirização tem como uma de suas características mais marcantes a temporalidade através tanto da "locação" de materiais e equipamentos, mas, em especial, a substitui-ção de colaboradores fixos por um grupo de trabalho exter-no e temporário. Sobre o efeito da temporalidade Robbins (2009) afirma que:

As equipes de trabalho também estão cada vez mais mu-tantes. No passado, os funcionários eram indicados para um grupo específico de trabalho, e essa colocação era relativamente contínua. Havia uma sensação de segu-rança em trabalhar sempre com as mesmas pessoas. Esta previsibilidade foi substituída por grupos temporários de trabalho – equipes formadas por pessoas de diferentes departamentos, cujos membros mudam o tempo todo – e o uso cada vez maior do rodízio dos funcionários para atender às necessidades sempre mutantes do trabalho (ROBBINS, 2009, p. 13).

Diante desse contexto, pode-se apontar que os profis-sionais da área de eventos, em especial os executivos ou responsáveis, precisam compreender e agir frente aos ele-mentos ligados à temporalidade, bem como conviver com a flexibilidade, a espontaneidade e a imprevisibilidade do mer-cado, considerando que o cotidiano organizacional apresenta sérias e profundas alterações nos processos e procedimentos em períodos de tempo relativamente curtos sendo então per-tinente o estímulo ao desenvolvimento de elementos da cul-tura organizacional que sejam voltados para esta temporali-dade e para as rupturas. (STOKES, 2008; ROBBINS, 2009).

O Diesse (2003, p. 05) aponta que terceirizar representa o processo pelo qual uma empresa deixa de executar uma ou mais atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados e as transfere para outra empresa, e ainda que a empresa que terceiriza é chamada empresa-mãe ou contra-tante; já a organização que executa as atividades terceiriza-das é chamada de empresa terceira ou contratada.

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O processo da terceirização acontece basicamente de dois modos. No primeiro, a organização deixa de produzir bens ou serviços utilizados em sua produção e passa a adqui-ri-los de outra empresa, o que provoca a desativação (parcial ou total) de setores que anteriormente funcionavam na pró-pria empresa. O segundo modo é a contratação de uma ou mais empresas para executar, junto à “empresa-mãe”, tarefas anteriormente realizadas por trabalhadores contratados dire-tamente. Esse segundo modo de terceirização pode referir--se tanto a atividades-fim como a atividade-meio (DIEESE, 2003).

As atividades relacionadas à terceirização consideradas "meio" podem ser conceituadas como:

[...] aquelas funções e tarefas empresariais e laborais que não se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do toma-dor dos serviços, nem compõem a essência dessa dinâmica ou contribuem para a definição de seu posicionamento no contexto empresarial e econômico mais amplo. São, portan-to, atividades periféricas à essência da dinâmica empresarial do tomador dos serviços. (DELGADO, 2008, p. 440).

Já as atividades "fim" podem ser definidas como:

[...] todas as funções e tarefas empresariais e laborais que se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, compondo a essência dessa dinâmica e con-tribuindo inclusive para a definição de seu posicionamen-to e classificação no contexto empresarial e econômico. (DELGADO, 2008, p. 440)

Greaver (1999) define seis razões pelas quais empresas podem adotar a terceirização, sendo elas as: “[...] questões organizacionais; para melhorar o desempenho; questões fi-nanceiras; questões de receita; questões de custo e questões relativas a empregados”. Martins (2010) complementa sa-lientando que:

[...] Seja em qualquer das diferentes razões, o que se bus-ca são benefícios como: aumento de flexibilidade de ne-gócios; transformações organizacionais; melhoria de de-sempenho operacional; melhoria de gerência e controle; redução de nível de investimentos; aumento de mercado; aceleração de expansão de mercado; redução de custos; melhorar as possibilidades de carreira na empresa; entre outros tantos (MARTINS, 2010, p. 28).

Oliveira (2005) destaca que a utilização dos serviços terceirizados deve levar em conta as peculiaridades locais, bem como as necessidades específicas da empresas contra-tantes. Dessa forma, observa-se que os processos envolven-do os serviços de terceirização estão intimamente ligados às organizações vinculadas a eventos, sendo a expansão dessa prática um fenômeno de proporção mundial.

EVENTOS

O ser humano sempre foi ávido por viver situações de descobertas e de grandes acontecimentos. Isso pode ser evi-

denciado através dos relatos das experiências de civilizações antigas, nas quais foram encontrados registros de desloca-mentos de pessoas de uma localidade a outra que se reuniam para tratar de assuntos de interesse de grupos ou da coletivi-dade (MATIAS, 2007)

De acordo com Ignarra (2003), era também econômica a motivação por viagens exploratórias dos povos antigos, os quais buscavam conhecer novas terras para sua ocupação e posterior exploração. Com isso, pode-se perceber que o há-bito por viajar e conhecer novos lugares se deu por numero-sos motivos, constituindo-se como um fenômeno ao longo da história da humanidade.

Segundo Giacaglia (2006), a cada ano os eventos cres-cem em número, proporção e grau de sofisticação, assumin-do em diversas situações o papel de propagador da imagem de empresas, locais, ideias, produtos e serviços, constituin-do-se ainda como importante elemento para a realização de negócios.

Segundo diversos autores, os eventos podem configu-rar-se como poderosa ferramenta de comunicação estratégi-ca com os mais diversos públicos - alvos desejados; além de um importante difusor da marca de uma empresa com poder para - se bem realizado - promover produtos, serviços e ideias, além de potencializar vendas e contribuir para a ex-pansão e a conquista de novos mercados (MIDDLETON;e CLARKE, 2002; OLIVEIRA, 2005).

Os eventos têm o poder de mobilizar a opinião pública, polemizar, gerar dados e informações, e o poder de despertar ações e reações nas pessoas, podendo figurar como agentes transformadores no bojo da sociedade (MARTINS, 2010).

Assim, a contextualização do panorama do setor tu-rístico aponta que os retornos gerados pelos eventos trans-cendem a realização dos objetivos diretos, ampliando-se em sua base para atender, de forma dinâmica, elementos como a infraestrutura de equipamentos (salões, hotéis, entre diver-sos outros), além de serviços receptivos. Configura-se como uma atividade que vai além das festividades e das comemo-rações, tendo a função de gerar lucros - ou não - para seus idealizadores ou participantes, ganhos em termos de imagem ou ainda fixação do senso de pertencimento, tendo a capaci-dade de promover de ideias, produtos, serviços, pessoas ou locais através dos mais diversos canais de comunicação.

TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE EVENTOS

A palavra de ordem atualmente no segmento de eventos é a terceirização, considerando que uma empresa de eventos dificilmente possui todos os produtos, tecnologias, serviços ou profissionais para um casamento, congresso ou forma-tura, por exemplo, especialmente se for levado em conta que dependendo da natureza, complexidade e número de partici-pantes do evento pode ser necessário até 50 tipos diferentes de serviços (SEBRAE, 2010).

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A realização de um evento pode configurar-se - depen-dendo de suas peculiaridades ou especificidades - como uma atividade tanto de natureza continuada quanto de não continuada, não se apresentando tais condições como exclu-dentes.

No caso da contratação para um único evento se tra-ta de um serviço de terceirização não continuada que tem a temporalidade como fator preponderante, enquanto a con-tratação para a realização, sob demanda, dos eventos da empresa contratante em um determinado período, pode ser considerada uma atividade de execução continuada e cuja interrupção pode acarretar problemas em relação ao objetivo final (MACIEL, 2008).

De acordo com Araújo (2007), quanto maior for o cres-cimento do setor de eventos, maior será a tendência de ele-vação do nível de cobrança por serviços e produtos de qua-lidade, apresentando assim a necessidade de se potencializar as equipes, produtos e serviços, com o intuito de atender de forma adequada as demandas do mercado além de permitir a busca por diferencial competitivo. O mesmo autor ainda afirma que as empresas fornecedoras dos serviços terceiri-zados devem “[...] capacitar profissionalmente sua empresa e se enquadrar no perfil de parceiro qualitativo e confiável”.

O crescimento traz consigo maiores índices de com-petitividade e, por isso, “[...] sua produção exige alta espe-cialização técnica, experiência e particularização no tipo de evento a ser promovido (ZANELLA, 2003 apud AMORIM E BRANDÃO, 2011, p. 03)”.

Assim, a relação entre os dois segmentos traz mais do que um simples contrato de prestação de serviços ao passo que vincula de modo substancial os resultados, ou seja, uma organização passa a estar atrelada a outra em termos de re-sultados, percepção dos usuários ou consumidores finais do que foi ofertado além da potencialidade de recompra ou não dependendo dos índices de satisfação do tripé empresa mãe, empresa de terceirização e consumidor final.

METODOLOGIA

O universo de interesse deste estudo versou sobre or-ganizações privadas vinculadas ao CADASTUR (sistema de cadastro do Ministério do Turismo que tem como objetivo promover o ordenamento, a formalização e a legalização dos prestadores de serviços turísticos no Brasil, por meio do ca-dastro de empresas e profissionais do setor), tendo como público-alvo empresas essencialmente do ramo de eventos contudo, considerando-se a dificuldade de acesso as organi-zações selecionou-se cinco empresas da área - por estado mais o Distrito Federal - de forma aleatória configurando assim a amostragem como sistemática. Tais organizações fo-ram contatadas e as que sinalizaram de forma positiva para a pesquisa receberam acesso a um questionário online que continha questões de natureza fechada e semiaberta.

Amaro et al. (2005, p.6) afirmam que o "questionário

do tipo fechado tem na sua construção questões de resposta fechada, permitindo obter respostas que possibilitam a com-paração com outros instrumentos de recolha de dados".

Já as perguntas semiabertas ou mistas são definidas pe-las autoras como questionários que apresentam questões de diferentes tipos, ou seja tanto podem ser perguntas abertas quanto fechadas ou ainda mistas.

Um primeiro contato foi realizado com 135 empresas - cinco de cada estado mais o Distrito Federal - havendo si-nalização positiva de 73 delas. Um segundo contato foi reali-zado com mais 93 empresas e dessas 42 se dispuseram a par-ticipar. Um terceiro contato foi realizado junto a 37 empresas das quais 21 aceitaram participar da pesquisa. Um quarto e último contato foi realizado para se atingir o objetivo de ter cinco representantes de cada estado.

A pesquisa assumiu, então, natureza quantitativa, a qual é conceituada por Rodrigues (2007) como aquela que traduz em números as opiniões e informações que serão clas-sificadas e analisadas, utilizando-se de técnicas estatísticas.

Apesar de todos os estados brasileiros terem empresas participantes, não é possível afirmar que as informações ad-vindas dessa pesquisa se apliquem a todo país. É possível apenas inferir a respeito dos resultados obtidos dentro da amostra pesquisada, pois, apesar de sua natureza quantitati-va o estudo não possuiu número suficiente de entrevistados que permita a possibilidade de afirmar de modo conclusivo que essa realizada se estenda a lógica de funcionamento do mercado no segmento de eventos como um todo.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados aqui apresentados são provenientes das respostas dadas por 135 organizações do setor de eventos distribuídas de forma não simétrica por todo território na-cional.

O primeiro ponto de inferência diz respeito ao uso por parte das empresas de eventos de organizações terceirizadas. A resposta a esse primeiro questionamento 126 organizações (90,37%) aponta que utilizam ou já utilizaram serviços ter-ceirizados, sendo essa atividade - a de terceirizar serviços - considerada como uma forte tendência de uso por 128 delas o que representa 94,81% (128 organizações). Esse público--alvo - 126 organizações - servirá de base para a apresenta-ção dos dados subsequentes.

Considera-se então que a tendência - pautada nessas duas primeiras respostas - é a de que a utilização de serviços terceirizados tende a ser cada vez mais presente o que traz um apontamento implícito que versa sobre a importância da profissionalização dessas organizações em todas as portes da cadeia de processos e procedimentos.

Um terceiro questionamento se referiu aos serviços mais contratados pelas empresas de serviços. A pergunta per-mitia múltiplas respostas e os resultados seguem em ordem decrescente:

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Serviços Nº de respostas % Limpeza e manutenção 102 80,95% Controle de atividades 93 73,80% Recepção e exposição 92 73,01% Segurança e Vigilância 88 69,84% Serviços de Alimentos e Bebidas 83 65,87% Organização Geral 77 61,11% Planejamento e montagem de equipamentos e máquinas

72 57,14%

Transporte e deslocamentos 70 55,55% Cerimonial 66 52,38% Serviços ligados a informática e softwares 58 46,03% Serviços contábeis e advocatícios 51 40,47% Demonstração e degustação 49 38,88% Suporte administrativo 38 30,16% Prestação de socorro 32 25,40% Outros 4 3,17%

Tabela 1- Serviços Terceirizados Contratados

Observa-se que a gama de itens pertencentes à Tabela difere em sua essência de estudos anteriormente apresentados por outros autores que apontavam os serviços vinculados as áreas operacionais como os frequentemente mais contratadas. Serviços de cunho estratégico tais como suporte administra-tivo, controle de atividades, organização geral, planejamento entre outros são evidenciados pela Tabela e representam de forma sintomática alterações importantes nos padrões de exi-gência por parte dos contratantes e por consequência ganho de vantagem competitiva por parte das empresas prestadoras de serviços terceirizados que ampliam seu leque de atuação dentro dos patamares exigidos pelo mercado.

Outro questionamento tratou da natureza dos serviços

Natureza dos Serviços

34,92%

7,94%

57,14%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Meio Fim Meio e Fim

Porc

enta

gem

Gráfico 1 - Natureza dos serviços utilizados por empresas de eventos

mais frequentemente utilizados pelas empresas contratantes como segue o gráfico:

Os dados apontam para a utilização em maior es-cala de atividades de natureza "meio", o que demonstra o uso de serviços considerados pe-riféricos, contudo, quase 35% dos serviços contratados têm ligação com serviços "fim", o que, por sua concepção, são considerados de maior relevân-cia ou impacto nos resultados.

Um dado curioso é que quase 8% da amostra faz uso de serviços tanto "meio" quan-to "fim", o que demonstra pos-sivelmente que as empresas terceirizadas estão assumindo funções e papéis mais amplos dentro da empresa contratante,

e que tal ação pode indicar uma lógica futura de gestão na qual os gestores se concentrarão em campos estratégicos ao invés dos campos tático e operacional, a exemplo de como ocorre em alguns ramo de atividade em que empresas ge-renciam apenas contatos, marca, entre outros aspectos, dei-xando a parte funcional a cargo de empresas terceirizadas.

Quando questionados a respeito de sua satisfação com as empresas terceirizadas, os dados apresentaram patama-res que inspiram atenção, ao se constatar que 61,11% (77 dos contratantes) consideraram os serviços contratados excelentes, ao passo que 13,49% (17 dos contratantes) qualificaram como ótimos; contudo, 25,39% (32 contratan-tes) consideraram os serviços ruins (11,11%) ou péssimos

(14,28%).Os indicadores de insatisfação

atingiram o preocupante patamar de 25%, ou seja, de cada 4 contrata-ções, em média uma figurou como insatisfatória, o que ressalta um crescimento quantitativo da oferta de serviços terceirizados, que não necessariamente traz consigo o ní-vel de qualidade exigido pelos con-tratantes.

Quando questionados a respei-to da forma pela qual a contratação se deu, os seguintes dados emergi-ram:

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Gráfico 2 - Forma de contratação

Os dados sugerem que ao contrário do que o senso comum apregoa a contratação pautada em custos não é o elemento chave em uma transação. Considera-se que a qua-lidade seja fator primordial ao se constatar que 69% das contratações (indicação de terceiros e experiência anterior positiva) indicam que os resultados finais foram satisfató-rios e que existe a tendência de "recompra" do serviço.

De modo sintético a diferença entre uma contratação pautada em custo ou baseada em qualidade é gritante, porém não se pode afir-mar o elemento custo não fala parte do contex-to de decisão de contratação de uma empresa terceirizada, o que se apontam é existem outros elementos com maior peso quando da escolha de uma empresa terceirizada. Vale ressaltar que 15% das contratações - sites ou outras formas de mídia - não foram realizadas baseadas em nenhuma das duas alternativas explicitadas anteriormente - custo e qualidade - o que possivelmente indica a escolha baseada na expectativa dos possíveis be-nefícios ou resolução de problemas/demandas específicas apresentadas.

Para corroborar com o que foi exposto, levantou-se a relação entre a contratação pautada em custo e a baseada em qualidade e as respostas foram as seguintes:

8%14%

26%

52%

0

10

20

30

40

50

60

Qualidade ComoPonto Central

Custo Como PontoCentral

QualidadeAssociado Ao Custo

Custo Associado ÀQualidade

Gráfico 3 - Custo versus qualidade

No que concerne a relação entre custo e qualidade os indica-dores apontam para a preferência pautada na percepção da quali-dade, mesmo quando se realiza a associação de itens, ou seja, 14% optam pela qualidade como pri-meiro plano porém vinculada ao custo contra 8% que apontam em primeiro plano o custo dentro da perspectiva de qualidade.

Dos dados emergem a infe-rência de que o setor de eventos é fortemente relacionado à percep-ção de adequação do ponto de vis-ta do seu público-alvo de interesse

e obviamente associado ao tipo de expectativa vinculado os consumidores desse evento.

Quando questionados a respeito das vantagens de se contratar serviços terceirizados para os eventos a amostra apresentou os seguintes dados:

Gráfico 4 - Vantagens de se contratar serviços terceirizados

A pergunta permitia múltiplas respostas e o conjunto que apresentou maior frequência foi o relacionado aos qua-tro indicadores mais votados - manutenção do foco, serviço especializado, elevação da qualidade dos serviços prestados e redução de custos. Esses itens conjugados como opção somaram 90% das respostas. O segundo conjunto de vanta-gens foi composto pela redução de custo, flexibilidade nas ações e outros itens - entre os citados destaca-se liberdade

de tempo, concentração de energia em atividades específicas e incapacidade de gerar os resultados necessários para o sucesso do evento, juntos esse conjunto somou 59%.

Observa-se que isoladamente cada item po-deria ser considerado motivo suficiente para a contratação, porém nenhum dos respondentes apontou por apenas um fator. Considera-se ainda como informação relevante o fato de que nova-mente aparece a indicação de que a "padronização personalizada” é indicador vital dentro do grupo pesquisado.

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Fábio Luciano Violin, Renata Maria Ribeiro, Roberson da Rocha Buscioli, André Luís Violin e Patrícia Koerich Violin

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.37-44, 2014.

Por fim, os principais pontos negativos que emergiram do uso de serviços terceirizado versaram sobre os seguintes itens (a pergunta permitia múltiplas respostas):

Item Nº de respondentes % Dificuldade em encontrar empresa especializada 112 88,88% Padrão de qualidade 108 85, 71% Custos elevados 98 77,77% Falhas na execução 92 73,01% Incapacidade de atender a todas as solicitações 86 68,25% Problema com prazos e/ou parâmetros acordados 84 66,66% Outros 4 3,17%

Tabela 2 - Principais pontos negativos

Os dados ainda apontaram que, das 126 empresas pes-quisadas, 121 já tiveram algum tipo de problema em maior ou menor grau em relação a empresas terceirizadas, mas foram praticamente unânimes (98%) ao afirmarem que o nível de profissionalização tem crescimento de forma ro-busta e constante.

Emerge desse conjunto de dados apresentados a per-cepção de ampliação do leque de serviços terceirizados, mas, sobretudo, pontua-se que a terceirização alcança ati-vidades de cunho vital para a realização de eventos e não somente em atividades "secundárias" ou que exijam menos qualificação, ou, ainda, responsabilidade em grau menor, é possível perceber que campos estratégicos das organiza-ções já contam com atividades consideradas estratégicas.

Tais indicadores lançam para o futuro o olhar da pa-dronização de forma personalizada, ou seja, as empresas terceirizadas tendem a ser solicitadas a atender demandas específicas para os eventos, obedecendo padrões de qua-lidade, preço, disponibilidade e tempo, sob a pena de não conseguirem se estabelecer no mercado caso apresentem falhas, pois os contratantes carregam de forma ampla ex-pectativas a respeito do estão "comprando", já que sua imagem, saúde financeira, entre outros aspectos, estão di-retamente condicionados à qualidade do serviço recebido e repassado ao consumidor final.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os dados apresentados, aponta-se que existe dentro do público-alvo analisado a ampla utilização de serviços terceirizados e que aspectos como planejamen-to, qualidade, padronização, entre outros elementos, são manifestos na contratação de empresas terceirizadas.

Um dos pontos centrais de destaque está relacionado com os indicadores apresentados, os quais, se comparados a pesquisas anteriores, mostram crescimento em termos de proficiência tanto por parte das empresas usuárias quanto profissionalização das empresas prestadoras de serviços; contudo, os dados apontados como negativos demonstram que, de um lado, existe grande demanda por essa modali-dade de serviços, o que pode acarretar falhas na sua execu-ção pela precipitação em se aceitar determinado contrato,

baseando-se exclusivamente na potencialidade de ganho financeiro em detrimento da capacidade de se atender às demandas da empresa de eventos contratante.

Outro dado importante refere-se ao elevado nível de exigência por parte dos realizadores de eventos junto às empresas terceirizadas, isso ocorre considerando que as empresas promotoras de eventos estão condicionadas aos parâmetros de exigência de seu público-alvo, e que, em se tratando de eventos, não se tem uma segunda chance de se causar um boa im-

pressão, pois a situação é tão complexa que os contratos preveem multas para a parte que deixar de cumprir com o acordado.

Considera-se, ainda, a importância da estruturação e profissionalização tanto dos que se valem dos serviços terceirizados - nesse caso específico as organizações pro-motoras de eventos - quanto das empresas que fornecem produtos e serviços de forma terceirizada, considerando especialmente os elevados níveis de exigência dos clientes ou usuários, além dos riscos associados à imagem em caso de falhas.

Como destaque final, ressalta-se que das empresas que contrataram serviços terceirizados, 94% pretendem se valer desse mecanismo em oportunidades futuras, o que demonstra a potencialidade do setor, bem como as respon-sabilidades e níveis de exigências inerentes às atividades a serem desenvolvidas, o que reforça a ideia de que o nível de profissionalização é elemento central na dinâmica de re-alização de eventos, independente de sua natureza, porte ou localização.

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GESTÃO DA PRODUÇÃO E LOGÍSTICATerceirização no Setor de Eventos: análise contextual, perspectivas e formas de uso

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.37-44, 2014.

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Relações comerciais do Brasil e da Argentina no MERCOSUL

Nádia Jacqueline Coelho Tremea (UEPG) [email protected]

Bruna Maria Rodrigues Consolmagno (UEPG) [email protected]

Eduarda Machoski (UEPG) [email protected]

Resumo: O artigo busca analisar as relações comerciais entre o Brasil e a Argentina no âmbito do MERCOSUL, examinando as dificuldades encontradas pelos dois países e as barreiras comerciais existentes. Descreve a formação do MERCOSUL e mostra que, apesar do fluxo comercial entre os países ter aumentado significativamente com a criação do bloco econômico, há uma tendência de reversão do superávit comercial brasileiro com a Argentina e da expansão de investimentos brasileiros diretos no parceiro do MERCOSUL.

Palavras-chave: Balança Comercial. Barreiras Comerciais. Investimento Brasileiro Direto.

Trade relations between Brazil and Argentina in MERCOSUR

Abstract: This paper analyzes the trade relations between Brazil and Argentina in MERCOSUR, examining the difficulties encountered by the two countries and trade barriers. Describes the formation of MERCOSUR and shows that despite the trade flow between countries have increased significantly with the creation of the union, there is a reversal of the trend of trade surplus with the Brazilian and Argentina expansion of Brazilian direct investment partner of the MERCOSUR.

Keywords: Balance of trade. Brazil. Argentina. MERCOSUR.

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GESTÃO DE NEGÓCIOS INTERNACIONAISRelações comerciais do Brasil e da Argentina no MERCOSUL

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.45-51, 2014.

INTRODUÇÃO

Através do Tratado de Assunção, no ano 1991, ocor-reu a criação do bloco econômico, denominado de MER-COSUL (Mercado Comum do Sul), que visava facilitar a circulação de produtos, bens e serviços entre os países membros, adotando como medidas a redução ou até mesmo a eliminação das taxas de importação e exportação entre eles. O bloco econômico pode se enquadrar na condição de União Aduaneira, pois além de buscar eliminar tarifas alfandegárias entre os países membros, também é regula-mentado comércio com as demais nações, através da apli-cação uma Tarifa Externa Comum (TEC) às importações.

No entanto, desde o ano de 2011, as relações comer-ciais entre o Brasil e a Argentina vêm sofrendo percalços. A Argentina tem adotado medidas protecionistas, exigindo licenças de importações de seus parceiros, inclusive os do MERCOSUL, ferindo seriamente os objetivos iniciais do acordo comercial.

O objetivo do artigo é apresentar a configuração do MERCOSUL e discutir as dificuldades nas relações econô-micas entre o Brasil e a Argentina, seus maiores membros, considerando o tamanho de suas economias.

Assim, na seção dois será apresentada a formação his-tórica do bloco, bem como seus países membros e as nor-mas estabelecidas para que haja uma relação harmoniosa e de cooperação mútua entre eles. Além disso, na mesma seção, serão apresentadas as consequências da formação do bloco e como a criação do mesmo afetou o comércio entre os países membros, com ênfase na relação comercial entre o Brasil e a Argentina.

A seção seguinte apresenta os dados sobre as relações comerciais entre o Brasil e MECOSUL e entre o país a Ar-gentina, nos anos de 1995, 2000, 2005, 2010 e 2012. Os períodos foram assim divididos como forma de facilitar a análise.

As conclusões finais sobre o tema são encontradas na seção quatro, identificando a importância do comércio en-tre Brasil e Argentina e as possíveis tendências das suas relações econômicas.

O MERCOSUL

Criado em março de 1991, o MERCOSUL – Mercado Comum do Sul – é um bloco econômico regional entre Bra-sil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A formação original incluía apenas os quatro primeiros países.

O Paraguai foi suspenso do bloco após a remoção do Presidente Fernando Lugo, em 2012, mas, com as eleições democráticas realizadas em abril de 2013, foi convidado a se reintegrar. A adesão da Venezuela ao MERCOSUL, em julho de 2012, ocorreu durante a suspensão do Paraguai, fato que seria de difícil concretização, pois o governo para-guaio sempre se mostrou contrário à inclusão venezuelana.

O MERCOSUL é resultado de diversas tentativas de integração regional na forma de zona de livre comércio, caso da ALALC (Associação Latino Americana de Livre Comércio), criada na década de 1960 e que posteriormente, em 1980, se tornou a ALADI (Associação Latino Ameri-cana de Integração), e que continua existindo como bloco econômico. O marco jurídico fundamental do MERCO-SUL é o Tratado de Assunção e tem sua concepção baseada no “Regionalismo Aberto” apregoado pela Comissão Eco-nômica para a América Latina – CEPAL, com princípios econômicos integradores assentados no aproveitamento de economias de escala, estímulo ao investimento e nas vanta-gens da especialização de produção. (BALBÉ e MACHA-DO, 2008).

Conforme o artigo 1º do Tratado de Assunção (1991), consolidado no Tratado de Ouro Preto, de dezembro de 1994, o MERCOSUL implica na eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias no comércio entre os países mem-bros, na adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC), na coordenação de políticas macroeconômicas, no livre co-mércio de serviços, na livre circulação de mão-de-obra e na livre circulação de capitais.

Apenas após o quarto ano de sua existência o MER-COSUL, em janeiro de 1995, alcançou a condição de União Aduaneira, pois além de eliminar internamente as barrei-ras tarifárias e restrições não tarifárias, adotou uma Tarifa Externa Comum (TEC) o que significa que, quando uma mercadoria for importada de países não membros, os países membros devem cobrar a mesma tarifa para o produto.

Para isto, os países membros estabeleceram uma tarifa zero para o comércio interno e tarifas iguais para o inter-câmbio comercial com terceiros países – condição necessá-ria para uma união aduaneira ser estabelecida.

Cabe lembrar que não são todos os produtos de ori-gem no MERCOSUL que circulam com alíquota zero ou todos importados de países terceiros que façam parte da TEC, há as listas de adequações (ou exceções), que permi-tem que cada membro adote temporariamente, de acordo com os seus interesses de política comercial e econômica, tarifas diferentes dos demais para produtos selecionados.

De acordo Balbé e Machado (2008), o MERCOSUL surgiu como “opção à marginalização crescente da Améri-ca Latina no sistema econômico mundial”, pois, antes da sua criação, a América Latina encontrava-se impregnada de proteções comerciais e já nos primeiros anos após a sua concretização, o bloco incrementou significativamente o comércio entre seus membros.

As duas maiores consequências advindas de uma in-tegração econômica são a criação e o desvio de comércio. Esses conceitos foram enunciados primeiramente por Viner (1950), sendo que ele defende a criação de comércio como um fator positivo e o desvio de comércio como um fator negativo. A partir de então, vários estudiosos procuram me-dir os dois conceitos, a fim de afirmar se a criação de uma integração econômica é favorável ou não.

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Nádia Jacqueline Coelho Tremea, Bruna Maria Rodrigues Consolmagno e Eduarda Machoski

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A criação de comércio ocorre quando parte da produ-ção interna de um dos países membros da união aduaneira é substituída por importações de custo inferior, já que as tarifas de importações intraregionais são zeradas, de outro país membro. Já o desvio de comércio ocorre quando as importações de custo inferior dos países não membros da união aduaneira são substituídas por importações de um custo mais elevado, porém de um país membro da união. Segundo Nonnenberg e Medonça (1999, p. 1):

No primeiro caso, há aumento de bem-estar na medida em que é trocado um produtor menos eficiente — do-méstico — por um mais eficiente. No segundo caso, há perda de bem-estar pois a troca foi de um produtor mais eficiente por um menos eficiente.

Porém, conforme Balbé e Machado (2008), a mesma integração econômica que causa o desvio de comércio pode ser benéfica, uma vez que causa uma melhora nos termos de troca ao reduzir sua demanda de importações e sua oferta de exportações. Ao mesmo tempo, com a criação de comércio surgem efeitos benéficos aos países membros da união aduaneira, tais como o estímulo aos investimentos e à melhor utilização dos recursos econômicos, as economias de escala e, principalmente, o aumento da concorrência.

Durante os quinze anos primeiros anos de construção do MERCOSUL, os fluxos comerciais dos quatro países membros entre si e com o restante do mundo aumentaram de maneira expressiva. Entre os anos de 1990 e 1998, por exemplo, as exportações entre os membros aumentaram cinco vezes. Porém, no Uruguai e no Paraguai esses resul-tados acabaram se neutralizando pelo também aumento das importações. Portanto, pode-se perceber que, mesmo com o aumento dos fluxos comerciais entre os países membros do MERCOSUL, a integração entre suas economias ainda é baixa (BALBÉ; MACHADO, 2008).

O Brasil e a Argentina são considerados os maiores sócios do MERCOSUL. No ano de 2005, por exemplo, aproximadamente 8% a 16% das importações desses paí-ses foram absorvidas no comércio entre as regiões, ou seja, um mercado mais amplo. No entanto, quando se estuda o caso do Paraguai e do Uruguai, nota-se que o mercado do MERCOSUL absorve entre 16% a 26% do total exportado (BALBÉ; MACHADO, 2008).

Isto ocorreu porque o Brasil e a Argentina são as maio-res economias, as mais diversificadas e com maiores pos-sibilidades de integração industrial. Diferentemente do que se verificou na experiência do Mercado Comum Europeu, atual União Europeia, quando os países menores e mais abertos economicamente foram os mais se beneficiaram em termos da expansão do comércio com a união aduaneira. Tal situação fornece uma dimensão da dificuldade para se impulsionar o desenvolvimento por meio do comércio em países pouco industrializados, nos quais as exportações são bastante concentradas em commodities agrícolas (PINTO, 2001).

O autor Pinto (2001, p.86) ressalta ainda:

Esse fato vai ao encontro da teoria da integração econô-mica, segundo a qual o "país pequeno" tende a se benefi-ciar mais do que o "país grande". No caso em questão, o impacto dos multiplicadores de renda da Argentina, e do Uruguai sobre a renda brasileira são obviamente muito menores do que no caso inverso, em que as importações brasileiras produzem uma expansão na renda daqueles países. A exceção à regra está, justamente, no desempe-nho do Paraguai. Aqui, não há dúvida de que se apresenta um daqueles casos típicos das economias mais pobres e atrasadas, cuja renda não consegue convergir para a eco-nomia mundial ou, pior do que isso, para a taxa de cres-cimento de seus "parceiros naturais”.

Os autores Carvalho e Lima (2010) também eviden-ciam a grande importância do Brasil e da Argentina. De acordo com Plá (1992) apud Carvalho e Lima (2010), o comércio entre essas duas regiões passou por uma impor-tante expansão nos anos de 1970. No início da década os dois países possuíam um fluxo comercial total de US$334 milhões alcançando, na década de 1980, o montante de US$1,84 bilhões. O autor ressalta ainda o fato dos países terem adotado, nos primeiros anos da década de 1980, me-didas conhecidas como “Programas de Ajustamento” de-vido à crise financeira internacional. A consequência da adoção desses programas foi uma significativa redução no comércio bilateral. Para reverter esse quadro, o Brasil e a Argentina, no ano de 1986, celebraram acordos de integra-ção para fortalecer o comércio entre os dois países. No ano de 1989, ocorreu a volta ao nível comercial do início da década e a expansão comercial.

Para Hildalgo e Feistel (2007 apud CARVALHO; LIMA, 2010), o processo de liberalização no Brasil, junta-mente com a integração econômica ocorrida na participa-ção no MERCOSUL redefiniram a questão regional brasi-leira. Devido a grande extensão do território brasileiro e a enorme diversidade existente no país, cada região ou esta-do possui suas próprias relações comerciais com os países membro do MERCOSUL e isso acarreta efeitos distintos nos setores produtivos de cada região.

Para exemplificar numericamente a situação, Carva-lho e Lima (2010) analisaram as relações comerciais do nordeste brasileiro com a Argentina. Entre os anos 2000 e 2008, as exportações nordestinas que eram destinadas a Argentina tiveram um aumento de 226% acompanhado de uma melhora nas importações de 69%. O fluxo comercial total entre essas duas regiões aumentou em 119%, atingin-do aproximadamente US$ 3 bilhões.

A desvalorização do Real, em 1999, com a alteração no regime cambial brasileiro e a recessão econômica ocor-rida no Brasil e na Argentina fez com que aquele ano fosse crítico para a união do MERCOSUL, devido à divergência de políticas dos países membros. A desvalorização da mo-eda brasileira propiciou desequilíbrios comerciais entre o Brasil e os demais países membros do bloco econômico. Muitos desses países acreditaram que os produtos brasi-leiros invadiriam completamente seus mercados, adotando

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GESTÃO DE NEGÓCIOS INTERNACIONAISRelações comerciais do Brasil e da Argentina no MERCOSUL

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.45-51, 2014.

assim medidas salvaguardas ao comércio in-trazona (SILVA et al., 2006).

Entre 1990 e 1994, constata-se uma evolução entre o comércio inter e intra-in-dustrial entre a Argentina e o Brasil. Tanto o comércio inter-indústria quanto o comércio intra-indústria apresentaram tendência de crescimento, com o comércio inter-indústria registrando uma tendência de crescimento maior que a apresentada pelo comércio intra--indústria. Porém, no ano de 1995, esse pa-drão foi invertido, o comércio intra-indústria apresentou valores maiores aos do comércio inter-indústria. Esses resultados demonstram que o intercâmbio bilateral entre a Argentina e o Brasil foi favorecido com a formação do bloco e a eliminação de bar-reiras comerciais (SILVA et al., 2006).

ANÁLISE DOS DADOS DO CO-MÉRCIO ENTRE O BRASIL E A ARGENTINA

Nos anos posteriores à implementação do MERCO-SUL aumentaram significativamente os fluxos comerciais entre os países membros e o resto do mundo. Este fato pode ser percebido, por exemplo, ao se analisar a balança comercial brasileira das últimas duas décadas.

Em relação às exportações brasileiras, estas passaram de US$ 31 bilhões no começo da década de 1990 para mais de US$ 240 bilhões no final de 2012. No caso das importa-ções, pode-se notar a mesma evolução: de US$ 20 bilhões no começo dos anos 1990 para mais de US$ 220 bilhões no ano de 2012.

Analisando a relação comercial brasileira com o MERCOSUL, pode-se perceber que a balança comercial entre o país e o bloco econômico acompanhou o mesmo desempenho citado anteriormente. A Tabela 1 mostra os dados coletados, pode-se notar que, a partir da criação do MERCOSUL, no começo dos anos 1990, as exportações entre o Brasil e o bloco econômico ultrapassaram de US$1 bilhão e atingiram mais de US$22 bilhões no ano de 2012. Através dos dados contidos na Tabela, observa-se que o crescimento das exportações foi contínuo, havendo um grande salto no ano de 2005, quando passou de US$11 bi-lhões para US$22 bilhões em 2010, pode-se constatar que as exportações dobraram em cinco anos.

A importação entre o Brasil e os países membros tam-bém registrou um grande aumento entre os anos de 1990 a 2012. Em 1990 o saldo de importação apresentado foi de aproximadamente US$2 bilhões, já no ano de 2012 o resulta-do registrado foi de US$19 bilhões. Um fato importante a se destacar é o saldo da balança comercial, os anos de 1990, 1995 e 2000 apresentaram um déficit na balança comercial, já nos anos 2005, 2010 e 2012 houve um superávit comercial.

TOTAIS GERAIS MERCOSUL Ano Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo

1990 31.413.756 20.661.362 10.752.394 1.320.245 2.311.827 -991.582

1995 46.506.282 49.971.896 -3.465.614 6.153.768 6.843.924 -690.156

2000 55.118.920 55.850.663 -731.743 7.739.599 7.796.209 -56.610

2005 118.529.185 73.600.376 44.928.809 11.746.012 7.053.699 4.692.313

2010 201.915.285 181.768.427 20.146.858 22.601.501 16.620.152 5.981.349

2012 242.579.776 223.158.455 19.421.321 22.801.529 19.250.632 3.550.897

Tabela 1- Exportações e Importações totais do Brasil e do Brasil com o MERCOSUL - em milhares de dólares

Fonte: Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Através dos dados coletados referentes à balança co-mercial entre Brasil e MERCOSUL, fez-se possível calcu-lar a participação do bloco nas exportações e importações brasileiras. A Figura1 mostra os resultados obtidos.

As exportações brasileiras que foram destinadas ao MERCOSUL passaram de 4,20% no ano de 1995 para 9,40% no ano de 2012.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1990 1995 2000 2005 2010 2012

Exportação

Importação

Figura 1 - Participação do MERCOSUL nas exportações e importações brasileiras (%)

Fonte: dados originais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, trabalhados pelos pesquisadores

Durante o período estudado, foi no ano de 2000, que as exportações para os países membros do bloco apresenta-ram o maior resultado, de 14,04%. Também as importações do MERCOSUL para o país apresentaram seu auge no ano de 2000, finalizando com um total de 13,96% do total das importações do bloco. No ano de ano de 2012 as impor-tações apresentaram uma queda, finalizando o ano que o percentual de 8,63% do total vendido.

A Tabela 2 mostra um menor valor das exportações brasileiras para a Argentina no ano de 2012, com a conse-quente diminuição do saldo comercial, devido à diminui-ção das exportações brasileiras e do aumento das impor-tações originárias da Argentina. Isto ocorreu porque foram colocadas fortes barreiras comerciais por parte da Argenti-na, como a necessidade de licença prévia para importações, que são demoradas e travam o livre comércio.

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Nádia Jacqueline Coelho Tremea, Bruna Maria Rodrigues Consolmagno e Eduarda Machoski

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.45-51, 2014.

Ano Exportação Importação Saldo

1990 645.140 1.399.720 -754.580

1995 4.041.136 5.591.393 -1.550.257

2000 6.237.684 6.843.232 -605.548

2005 9.930.153 6.241.110 3.689.043

2010 18.522.521 14.434.594 4.087.927

2012 17.997.706 16.444.142 1.553.564

Tabela 2 - Exportações do Brasil com destino para a Argentina e Importações do Brasil com origem na Argentina – em milhares de

dólaresFonte: dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior.

A Tabela 2 mostra um menor valor das exportações brasileiras para a Argentina no ano de 2012, com a conse-quente diminuição do saldo comercial, devido à diminui-ção das exportações brasileiras e do aumento das impor-tações originárias da Argentina. Isto ocorreu porque foram colocadas fortes barreiras comerciais por parte da Argenti-na, como a necessidade de licença prévia para importações, que são demoradas e travam o livre comércio.

O fato que é preocupante porque, desta forma, a Ar-gentina deixa de ser um importante contribuinte para o su-perávit comercial brasileiro.

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1990 1995 2000 2005 2010 2012

Exportação

Importação

Figura 2 - Participação da Argentina nas exportações e importações brasileiras (%)

Fonte: dados originais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, trabalhados pelos pesquisadores

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2013) nos três primeiros meses de 2013, o déficit comercial brasileiro com a Argentina atingiu o patamar de US$82 milhões, no mesmo período de 2012 havia um superávit de US$968 milhões.

O vice-presidente da Associação do Comércio Exte-rior do Brasil, Mauro Laviola, apud Comexblog.com.br (2013), afirma que China teve suas importações aumenta-das para a Argentina, em detrimento do Brasil, que mesmo se beneficiando das isenções tarifárias, não consegue con-correr em preços com o gigante asiático.

Com a queda nos valores exportados houve uma di-minuição na participação da Argentina como destino das

exportações brasileiras. As relações comerciais entre o Bra-sil e a Argentina estão cada vez mais conflitantes devido a limitações de importações impostas pela Argentina. Muitos acontecimentos retrataram esse fato, como por exemplo, entraves burocráticos e as barreiras comerciais impostas para a importação de calçado brasileiro.

Na cidade de Franca, que é conhecida mundialmente como uma grande produtora de calçados, José Carlos Bri-gagão, presidente do Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca), revela que em alguns tratados co-merciais, como ocorre na Argentina, os acordos comerciais existentes não são respeitados. Em algumas situações a li-beração dos lotes de produtos que serão exportados para a Argentina leva até 300 dias (SASTRE, 2012).

O gerente de exportação da Democrata Calçado, An-derson Melo, confirma que as barreiras comerciais estão se tornando frequentes, e a cada dia elas tendem a aumentar. Segundo o gerente, as empresas brasileiras estão encon-trando grandes dificuldades para introduzir seus produtos. Melo diz ainda que é necessário o governo atue mais for-temente no MERCOSUL, para que de fato ele favoreça os países membros (SASTRE, 2012).

No entanto, para Pimentel (2013), mesmo com a exis-tência de dificuldades administrativas para exportadores brasileiros, é importante notar que a maior parte da queda das vendas brasileiras para a Argentina está associada à ins-tabilidade econômica que o país vizinho está enfrentando e pelo efeito do preço de alguns produtos que o Brasil expor-ta e que apresentaram quedas significativas no nível de pre-ços, trazendo menor nível de divisas, assim, são motivos que estão ligados à situação econômica do próprio país, a Argentina, e do mundo.

Outro problema comercial com a Argentina são as po-líticas econômicas adotadas no país. Para Freitas (2013), não obstante os exportadores terem que enfrentar barreiras para exportar seus produtos ao país vizinho, as empresas brasileiras, que se estabeleceram ali, sofrem com as medi-das adotadas pela presidente Cristina Kirchner.

Entre os problemas enfrentados pelos mais diversos setores de atividade econômica de multinacionais brasi-leiras (que vai desde a mineração até alimentos), pode-se destacar a alta inflação, a elevação dos custos de produção, a defasagem cambial, redução no comércio exterior e tam-bém o desaquecimento da economia do país agravado pela crise internacional, que diminui assim o consumo interno (FREITAS, 2013).

No caso do comércio bilateral de carnes, leite e pes-cados, Zafalon (2013) usando dados do governo argentino, afirma que as exportações brasileiras para a Argentina, nos três primeiros meses de 2013, foram 22% menores em re-lação a igual período de 2012. Dados do governo brasilei-ro, segundo o autor, indicam que nos casos específicos do frango, houve 78% de queda de exportações e de 32% na carne suína, dois setores que abrigam milhares de pequenos produtores rurais no Brasil.

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GESTÃO DE NEGÓCIOS INTERNACIONAISRelações comerciais do Brasil e da Argentina no MERCOSUL

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.45-51, 2014.

Há, ainda, situações que envolvem o setor automobi-lístico e que tendem a se agravar com o fim do Acordo Au-tomotivo com a Argentina em 2014, segundo o Sindipeças, citado por Frias (2013), em 2012 houve uma queda de 12% nas exportações brasileiras do setor de autopeças para a Argentina, o que é bastante significativo tendo em vista que o País responde por 36% do seu mercado de exportação.

Os problemas com a Argentina ultrapassam o comér-cio exterior e envolvem também os investimentos diretos brasileiros no parceiro do MERCOSUL. Em março de 2013, a Vale decidiu cancelar um projeto de exploração de Potássio na Argentina, que além de causar um maior des-conforto entre o governo brasileiro e argentino, colocou um fim ao maior atalho do Brasil para conseguir acesso a gran-des reservas do mineral, que é usado na produção de fertili-zantes. Na importação do potássio o Brasil é dependente do Canadá, Rússia e Belarus, já que 80% do total de potássio importado tem origem nesses países. O Brasil compra do exterior 90% do potássio que necessita. Com o projeto da Vale na Argentina, a partir de 2015, o país conseguiria faci-litar o acesso de sua produção em 4,3 milhões de toneladas por ano (AGOSTINI, 2013).

O projeto estava orçado em US$6 bilhões, e seria o maior empreendimento privado da Argentina, mesmo já havendo gasto aproximadamente US$1 bilhão. A imprensa internacional divulgou que para a Vale continuasse no país ela pedia isenção de tributos e ajuste cambial. A decisão afetou também outras empresas brasileiras que estavam en-volvidas nas obras, como a Camargo Corrêa e a Odebrecht (FREITAS, 2013).

Na Argentina há também, em 2013, um grande contro-le de preços, a BRF (Brasil Foods), por exemplo, teve seus custos de produção aumentados, porém, só pode repassar parte desse aumento aos consumidores. Outras indústrias de alimentos tem sofrido com tal medida, a JBS Friboi, a maior processadora de carne bovina no mundo, que possuía cinco frigoríficos no país, em 2013 manteve apenas um, a empresa está produzindo somente alimentos processados voltados para o mercado interno, quando a intenção ao pro-curar a Argentina era de construir uma plataforma exporta-dora (FREITAS, 2013).

As margens de lucro da Petrobras também são peque-nas no país, devido ao controle do preço dos combustíveis. Em 2012, uma refinaria foi vendida, e já está sendo nego-ciada, em 2013, metade dos ativos que sustentam o país (FREITAS, 2013).

Novas medidas foram adotadas no setor do câmbio argentino pela presidenta Cristina Kirchner, tais como ele-vação das taxas de juros para gastos com cartão de crédito no exterior e outros elementos do setor de turismo, como pacotes de viagem. No final de 2011, quando o governo argentino implantou o controle da taxa de câmbio, o dólar recebeu diversas denominações e cotações no país. O dólar comercializado no mercado paralelo ficou conhecido como “dólar blue”, para os que viajam é o “dólar turista”, o dólar

comercializado na bolsa de comércio é o dólar bolsa e por fim, o dólar oficial. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013).

A moeda americana é bastante utilizada na compra e venda de imóveis – setor que apresentou grande queda desde o início do controle cambial. O real, moeda brasilei-ra, também possui duas cotações na Argentina. A cotação oficial está em aproximadamente dois pesos, enquanto a paralela, dependendo do dia, pode até superar quatro pesos (FOLHA DE SÃO PAULO, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação do MERCOSUL é resultado de antigas as-pirações de integração dos países latino americanos, no entanto, a diversidade de tamanhos e de características eco-nômicas entre os seus membros tornou mais relevante o comércio entre o Brasil e a Argentina.

Com a eliminação das barreiras tarifárias a Argentina passou a ser, ao longo do Século XXI, uma importante fon-te de superávit comercial para o Brasil, situação que tende a se reverter a partir das imposições de barreiras comerciais, por parte da Argentina, em relação aos seus parceiros.

Algumas multinacionais brasileiras também encon-traram no país vizinho a possibilidade de ampliação de produção e de lucros, no entanto, a exagerada intervenção governamental na economia é fator de desestímulo a novos investimentos.

Interessa ao Brasil a continuidade de existência do MERCOSUL, um grande mercado para os seus produtos, e que está abalado pelo protecionismo argentino.

Assim, o retorno do crescimento econômico argenti-no, a solução de seus problemas de restrição cambial no balanço de pagamentos e a correta condução da sua políti-ca econômica, tende a acabar com as barreiras comerciais impostas e a voltarem os princípios básicos de liberdade comercial que devem existir em um bloco comercial.

Por fim, cabe salientar que se houver disputa comer-cial do Brasil com países que oferecem menores preços, mesmo com o fim das barreiras comerciais argentinas, o superávit comercial brasileiro com o parceiro do MERCO-SUL será difícil alcance.

REFERÊNCIAS

AGOSTINI, Renata. Projetos de potássio avançam no país. Dis-ponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1245970--projetos-de-potassio-no-pais-nao-avancam.shtml>. Acesso em: março de 2013BALBÉ, Fabiane F.; MACHADO, Taize A. O MERCOSUL como experiência de integração econômica: avaliações e pers-pectivas. . 11 f. In: Encontro de Economia Catarinense, II., Cha-pecó, 2008.

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Nádia Jacqueline Coelho Tremea, Bruna Maria Rodrigues Consolmagno e Eduarda Machoski

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.45-51, 2014.

CARVALHO, D. B.; LIMA, J. P. R. Evolução do comércio bila-teral entre o nordeste do Brasil e Argentina entre 2000 e 2008. In: ENCONTRO REGIONAL DE ECONOMIA, 15., 2010, Fortale-za. Anais... Fortaleza, 2010.COMÉRCIO com a Argentina acumula déficit de R$ 82 mi no ano. Disponível em: <http://www.comexblog.com.br/ clipping--comex/ comercio-com-a-argentina-acumula-deficit-de-r-82-mi--no-ano>. Acesso em: maio 2013.FREITAS, Tatiana. Argentina “estrangula” e afasta empre-sas brasileiras. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1243386-argentina-estrangula-e-afasta-empresas-brasi-leiras.shtml>. Acesso em: março de 2013.FRIAS, Maria C. Governo precisa fortalecer setor de auto-peças, diz Abeiva. São Paulo: Folha de São Paulo. 03/03/2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/1239654-governo-precisa-fortalecer-setor-de--autopecas-diz-abeiva.shtml.> Acesso em: mai. 2013.MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-cio Exterior. Intercâmbio Comercial Brasileiro. Disponível em: < http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/index.php?area=5>. Acesso em: ago. 2013.MORAIS, Adriano G. Criação e desvio de comércio no MER-COSUL e no NAFTA. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pro-grama de Pós-Graduação em Economia, Departamento de Econo-mia, Administração e Contabilidade, USP, São Paulo, 2005.NONNENBERG, Marcelo J. B.; MENDONÇA, Mário J. C. Criação e desvio de comércio no MERCOSUL: o caso dos produtos agrícolas. Rio de Janeiro, 1999. Texto para discussão n. 631 – IPEA.NOVAS restrições intensificam crise cambial na Argentina. Dis-ponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1250577-no-vas-restricoes-intensificam-crise-cambial-na-argentina.shtml>. Acesso em: mar. 2013.PIMENTEL, Fernando. Tendência/debates: o que a balança co-mercial revela. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1214355-tendenciasdebates-o-que-a-balanca-comercial--revela.shtml>. Acesso em: 26 mar. 2013.SASTRE, Angelo. Exportações de calçados em Franca (SP) caem 36,8% em cincos anos. Disponível em: <http://www1.fo-lha.uol.com.br/cotidiano/ribeiraopreto/1208718-exportacoes-de--calcados-em-franca-sp-caem-368-em-cinco-anos.shtml>. Aces-so: mar. 2013.VINER, J. The customs union issue. New York: Carnegie Endo-wment for International Peace, 1950.ZAFALON, Mauro. Menos carne entre Brasil e Argentina. São Paulo: Folha de São Paulo. ed. 01/05/2013. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vaivem/1271410-menos-carne--entre-brasil-e-argentina.shtml. Acesso em: mai. 2013.

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Influência do ambiente de trabalho na saúde física e emocional do trabalhador: estudo ergonômico em uma

fábrica de máquinas industriais

Claudelir Clein (UTFPR) [email protected]

Renato Tonello (UTFPR) [email protected]

Sergio Luiz Ribas Pessa (UTFPR) [email protected]

Resumo: O ambiente de trabalho é o local no qual o trabalhador passa grande parte da sua vida, cerca de um terço do dia vive--se em função do trabalho. A busca por qualidade de vida dentro das organizações torna-se cada vez mais constante, pois existe o entendimento de que não é possível trabalho satisfatório e produtivo sem contar com um ambiente de trabalho saudável. Este estudo tem o objetivo de verificar as condições de trabalho de uma empresa que trabalha na fabricação de máquinas para indústrias que fabricam panelas, visando levantar informações que possibilitem a análise dos aspectos ergonômicos envolvidos durante a realização das atividades. Busca-se ainda, através dos dados coletados, contribuir para com a empresa no alcance de um ambiente de trabalho agradável, que proporcione bem-estar e qualidade de vida, e evite transtornos físicos e psicológicos a seus colaboradores.

Palavras-chave: Ergonomia. Ambiente de trabalho. Qualidade de vida.

The influence of working environment in physical health and emotional labor: an ergonomic study in an industrial

machine factory

Abstract: The desktop is the place where the worker spends most of his life, about a third of the day if you live in function of the work. The search for quality of life within organizations becomes increasingly more frequent, as there is understanding that you can not work satisfying and productive addition to a healthy working environment. This study aims to verify the working conditions of a company dealing in manufacturing of machinery for industries that manufacture pots, in order to gather information to enable the analysis of ergonomic aspects involved in carrying out activities. Search is also, through the data collected, contributing to the company in achieving a positive work environment that provides wellness and quality of life, and avoid physical and psychological disorders to their employees.

Keywords: Ergonomics. Work environment. Quality of life.

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GESTÃO DE PESSOASInfluência do ambiente de trabalho na saúde física e emocional do trabalhador: estudo ergonômico em uma fábrica de máquinas industriais

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.53-59, 2014.

INTRODUÇÃO

As organizações desde a década de 80 passaram a res-gatar a consciência do valor do capital humano existente em cada trabalhador presente em seu quadro funcional. Longe de se precificar o valor de cada indivíduo, este des-pertar vem trazendo consciência sobre a importância da capacidade produtiva, habilidade e talento inerentes e pre-sentes nos trabalhadores inseridos no processo produtivo.

Por maior e melhor que seja o parque de máquinas instalado, os resultados e perfil final dos produtos estão di-retamente ligados à presença de profissionais qualificados e motivados.

Os investimentos na busca de condições adequadas de trabalho, buscando manter a qualidade de vida no ambiente laboral, proporcionado treinamentos e habilitação de forma continuada, com análises e padronizações que contemplam soluções ergonômicas positivas, tem resultado em ganhos de qualidade e produtividade (HAUCAP, 2000).

METODOLOGIA

Este estudo de caso foi realizado através da análise de dados de uma única organização, em profundidade na busca do amplo e detalhado conhecimento (GIL, 1991). Os dados da pesquisa foram coletados por meio de uma ferra-menta estruturada em formulário, tendo caráter quantita-tivo, apresentado aos colaboradores que responderam de forma anônima e entregaram na mesma ocasião.

Entretanto, também foi feito um estudo bibliográfico, pois foi desenvolvida a partir de material já elaborado, cujo os autores estão citados no referencial teórico. O universo para a coleta dos dados foi uma indústria de fabricação de máquinas para indústrias de manufatura de panelas, loca-lizada na região sudoeste do estado do Paraná, que conta com 19 colaboradores em seu quadro de pessoal.

As informações foram coletadas no dia 25 de julho de 2011, na própria empresa em horário de trabalho. O per-centual de pessoas que responderam o questionário foi de 74% do total de colaboradores, sendo 14 funcionários que se encontravam na empresa no momento de aplicação da pesquisa.

ERGONOMIA

Com as constantes transformações no mundo do tra-balho, as organizações procuram cada vez mais disponibi-lizar um ambiente de trabalho saudável para seus colabora-dores. Possibilitando assim, que as atividades do cotidiano sejam desenvolvidas de forma satisfatória no que se refere a aspectos ergonômicos.

Segundo Saliba (2010, p. 23) “a ergonomia cuida da adaptação das condições de trabalho às características psi-

cofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e eficiência no desempe-nho”. Quando existem meios que proporcionem o bem-es-tar do indivíduo no decorrer da realização das atividades de trabalho, o retorno é pessoas com alto nível de motivação, sendo fator vital para maior produtividade, que resultarão em vantagem competitiva.

Barbosa Filho (2008) indica o foco da ergonomia e bem estar:

Ergonomia: a ciência do conforto humano, a busca do bem-estar, a promoção da satisfação no trabalho, a ma-ximização da capacidade produtiva, a segurança plena etc. São muitas as definições empregadas para expressar o conceito de ergonomia. Todavia, é consenso que seu objetivo é proporcionar ao homem condições de trabalho que lhe sejam favoráveis, com intuito de torná-lo mais produtivo por meio de um ambiente de trabalho mais saudável e mais seguro, que solicite desde menores exi-gências e, por consequência, concorra para um menor desgaste, resultando, portanto, em menores oportunida-des à integridade de sua saúde.

Os trabalhadores têm diferentes características e limi-tações individuais, que precisam ser estudadas e analisadas para atingir os objetivos de proporcionar um ambiente de trabalho que satisfaça seus anseios e expectativas. Os des-gastes, esforços físicos exagerados, e os possíveis danos à integridade da saúde humana, provenientes de condições inadequadas de trabalho, podem ser evitados quando é in-vestido em qualidade vida, que é alcançada através da dis-ponibilização de melhores condições de trabalho.

A visão dos profissionais que elaboram projetos de no-vos locais de trabalho, de ampliação ou adaptação dos que já estão em andamento, precisa levar em conta as particu-laridades inerentes de cada tarefa a ser realizada, e qual o perfil do colaborador a ser contratado para realizá-las. Para atingir resultados positivos na adaptação das condições de trabalho ao homem, é necessário realizar um estudo ergo-nômico, levantando dados e informações que direcionarão e darão suporte para tomada de decisão, com base em aná-lises que transcendam o impacto do aspecto relacionado ao esforço físico do indivíduo, abordando todos os fatores que podem influenciar em seu desempenho e comportamento.

PROJETO ERGONÔMICO DO LOCAL DE TRABALHO

O avanço constante das inovações tecnológicas, e demandas laborais, faz com que as organizações desen-volvam novos métodos de trabalho, exigindo atenção e comprometimento com as pessoas que utilizam máquinas e equipamentos entregues aos seus cuidados. O treinamento, qualificação, e adaptação dos colaboradores de uma deter-minada organização, possibilitam a utilização eficiente dos recursos de produção, que fazem parte de sua estrutura.

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Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.53-59, 2014.

O surgimento de novas tecnologias exige que as em-presas projetem seu espaço físico da forma que possa ade-quá-lo aos seres humanos, que ali produzirão e buscarão alcançar as metas e objetivos estabelecidos.

Em muitas operações produtivas, novas demandas, tec-nologias e métodos de trabalho reconcentraram a atenção em como as pessoas ligam-se às partes físicas de seus trabalhos. Isso é especialmente verificado nos trabalhos de escritórios e relacionados com informação, devido à predominância de “interfaces” com computador, tecla-do e tela. Entender como os locais de trabalho afetam o desempenho, a fadiga, o desgaste e os danos físicos, é parte da abordagem ergonômica do projeto do trabalho (SLACK, 2008).

Quando o trabalho é desgastante, com número de re-petições além do que se pode suportar, provoca reações e danos na saúde física e psicológica. Isso porque, a exaustão constante leva o corpo ao limite, e ao passar por tais si-tuações sofre consequências negativas, e as complicações advindas do desgaste físico agride também o fator psicoló-gico, levando ao desequilíbrio emocional.

Ao desenvolver o projeto de trabalho deve-se planejar visando um local seguro, que viabilize ao colaborador qua-lidade de vida, que atenda aos interesses coletivos, e que não deixe de atender os objetivos organizacionais como, qualidade, rapidez, confiabilidade, flexibilidade e custo. Os profissionais responsáveis pelo desenvolvimento do proje-to, precisam conciliar os objetivos organizacionais com os objetivos das pessoas que realizam as atividades necessá-rias para a produção e prestação de serviços. A busca pelo entendimento e atendimento das expectativas de ambas as partes, tanto dos colaboradores, como da organização, deve estar presente sempre que se pretende projetar, adaptar ou melhorar um ambiente de trabalho (SLACK, 2008).

Segundo Martins (2005), “o trabalho e o local de tra-balho devem-se adequar ao homem, e não o contrário”. Em relação aos trabalhos que são realizados manualmente torna-se necessário abordar alguns aspectos considerados fundamentais, entre os quais, os movimentos que serão re-alizados pelos colaboradores, e quais as características e condições do ambiente e posto de trabalho em que se de-senvolverão as atividades.

Como surgem frequentemente novas de-mandas, tecnologias e métodos de trabalho, reações são desencadeadas no trabalhador, e dependendo da forma como são organizados e utilizados, podem afetar seu desempenho, pro-vocar a fadiga e danos a sua saúde. No projeto do trabalho a ser realizado é preciso avaliação e análise de todos os aspectos envolvidos, visan-do evitar que por falta dos devidos cuidados, sejam gerados problemas que afetem negativa-mente o trabalhador (SLACK, 2008).

ASPECTOS ANTROPOMÉTRICOS ENEUROLÓGICOS

As melhorias pretendidas para um determinado am-biente de trabalho precisam ser objeto de estudo e compro-metimento, pois a análise, entendimento e envolvimento são fundamentais para melhor direcionar medidas que pro-porcionem uma transformação segura e confiável.

Tais melhorias ergonômicas preocupam-se inicial-mente nos chamados aspectos antropométricos do trabalho, que são os relacionados com tamanho, forma e habilidades físicas das pessoas, podendo, assim, ter condições de mu-danças e adaptações viáveis e significativas. É preciso con-tratar e direcionar pessoas certas para o local e equipamen-to certo, evitando criar problemas tanto para a organização como para o colaborador, apenas pela iniciativa de análise e compreensão do contexto que se pretende atuar.

Outro fator que precisa ser compreendido e analisado pelos profissionais do campo ergonômico, é o que se chama de aspectos neurológicos, que são as capacidades sensoriais das pessoas, em que a preocupação está na forma como são usadas em seus trabalhos. É através da compreensão dos aspectos neurológicos do projeto do trabalho, que incluem visão, tato, som e talvez mesmo cheiro que o local de tra-balho apresenta, que se torna possível informar ao operador sobre o local a ser trabalhado, e receber dele informações como retorno, que permitem adaptar e melhorar o ambiente de organizacional (SLACK, 2008).

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Com a realização do presente estudo foi possível co-letar dados que foram tabulados e analisados, e que podem contribuir significativamente para com a empresa e seus colaboradores.

Perguntado ao colaborador se o ambiente de trabalho em que desenvolve suas atividades é agradável e seguro, 34% responderam que sim, e que concordam plenamente, 66% que concordam em partes, e não houve quem não concordas-se. A maioria dos colaboradores não percebe o ambiente de trabalho como sendo totalmente agradável e seguro.

Figura 1 – Ambiente agradável e seguroFonte: dados da pesquisa.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Sim, concordo plenamente

Concordo em partes

Não concordo

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GESTÃO DE PESSOASInfluência do ambiente de trabalho na saúde física e emocional do trabalhador: estudo ergonômico em uma fábrica de máquinas industriais

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.53-59, 2014.

A percepção de bem-estar e segurança por parte do in-divíduo precisa estar presente em seu dia a dia de trabalho, pois quando o ambiente proporciona a sensação positiva da maioria dos colaboradores, o resultado é maior motivação para o desempenho das atividades. Problemas relacionados à falta de segurança precisam ser encarados pelos gestores da empresa com seriedade, pois são fatores que impedem que os trabalhadores tenham confiança e motivação para com o trabalho.

Todas as decisões do projeto de trabalho deveriam tentar planejar trabalhos que possam envolver o interesse dos funcionários, sejam inerentemente seguros e ofereçam razoável qualidade de vida de trabalho, assim como aten-dam aos objetivos mais convencionais da administração de operações – qualidade, rapidez, confiabilidade, flexi-bilidade e custo. (SLACK, 2008).

A insegurança impede que seja possível trabalhar com liberdade e auto-estima, o indivíduo fica tenso quando se sente pressionado por fatores externos que estão fora de controle, com maior probabilidade de desenvolver o estres-se excessivo, e mais vulnerável a sofrer problemas em sua saúde, (ROBBINS, 2005).

Questionado ao colaborador se são disponibilizados pela empresa equipamentos de proteção individual, 83% disseram que sim, todos os que necessitam, 17% que sim, mas não todos os que necessitam, e que não são disponibi-lizados, não pontuou.

Figura 2 – Equipamentos de proteção individualFonte: dados da pesquisa

Identifica-se que todos os colaboradores re-cebem por parte da empresa, equipamentos de proteção individual, se não todos os que neces-sitam pelo menos parte deles. Mesmo que não haja trabalhadores sem equipamentos de prote-ção individual, percebe-se que uns não contam com todos os equipamentos que precisam o que deve ser estudado e analisado pelos gestores, para que não aconteça de surgirem problemas de saúde ou acidentes por falta de cuidados necessários.

Ao disponibilizar equipamentos de proteção individu-al, a empresa mostra que procura fazer com que não acon-teçam acidentes de trabalho, e surjam problemas de saúde pelo motivo de inobservância de normas de segurança. O

alcance de qualidade de vida e melhores condições de tra-balho dependem do cuidado com a saúde das pessoas, que tendo maior segurança para a realização de suas atividades, terão menos propensão a sofrer complicações com relação ao trabalho que realizam.

No entanto, por mais que a empresa tome todos os cuidados necessários com máquinas e equipamentos, os colaboradores também necessitam de atenção durante a re-alização de suas atividades. E por mais que haja cuidado de ambas as partes, podem acontecer imprevistos que es-tão fora de controle, como quando o ser humano passa por momentos de distração provocada por noites de sono sem dormir, que prejudicam seu desempenho.

As consequências da falta de sono são graves, pois o organismo, e funções vitais do ser humano ficam com-prometidos quando o indivíduo não repousa e não repõe as energias, que são adquiridos através do sono. Uma boa noite de sono é imprescindível para se obter rendimento no trabalho, ser mais produtivo e bem humorado, ter maior concentração e equilíbrio emocional.

Dormir bem é fundamental, pois não é possível ter bom desempenho profissional com noites sem sono, ou com algumas noites com poucas horas de sono. A falta de sono é prejudicial para a saúde de qualquer pessoa, cau-sando distúrbios e complicações capazes de inibir sua ca-pacidade produtiva, aumentar as incidências de erros no desenvolvimento das atividades de trabalho, comprometer

sua segurança, impedindo que se possa adquirir qualidade de vida (CRONFLI, 2002).

Perguntado se o colaborador dispõe de es-paço adequado para o desenvolvimento de suas atividades, 66% responderam que sim, e que concordam plenamente, 34% que concordam em partes, e que não concordam não obteve pontuação.

Figura 3 – Espaço adequadoFonte: dados da pesquisa.

Verifica-se na análise dos dados, que quase a totalida-de dos colaboradores dispõe de espaço para o desenvolvi-mento de suas atividades. Ao administrar empresas é ne-cessário planejar com cuidado o layout para ter melhores condições de trabalho, como os produtos e materiais em

0%

10%20%30%40%50%60%70%80%90%

Sim, todos os que necessito

Sim, mas não todos os quenecessito

Não são disponibilizados

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Sim, concordo plenamente

Concordo em partes

Não concordo

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Claudelir Clein, Renato Tonello e Sergio Luiz Ribas Pessa

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.53-59, 2014.

circulação, ou estocados na empresa. A circulação existente de pessoas também é motivo de planejamento no que se refere ao espaço disponível, pois todos os trabalhos reali-zados dependem dos colaboradores.

Da mesma forma, para cargas e descargas de pro-dutos e materiais, os veículos precisam dispor de espa-çamento mínimo que permita deslocamento e transporte seguro, e que possa reduzir o esforço dos colaboradores, evitando que percorram caminhos mais distantes, por fal-ta de planejamento. Outro fator a ser considerado, é em relação aos espaços em torno de máquinas, podendo o in-dividuo movimentar-se com liberdade que proporcione a realização de todos os movimentos necessários, sem exigir esforços desnecessários e prejudi-ciais à sua saúde (SALIBA, 2010).

Visando saber se o colaborador sente dores no corpo relacionadas ao trabalho que realiza, 24% disseram que sentem dores nas costas, 12% nas pernas, 12% nos pés, 14% nas mãos, 14% nos ombros, e 24% que não sente dores relacionadas ao trabalho que realizam.

Figura 4 – Dores relacionadas ao trabalho Fonte: dados da pesquisa

Conforme as informações no que diz respeito à dores no corpo relacionadas ao trabalho que o colaborador reali-za, constata-se que a maioria sentem algum tipo de dor com relação ao desenvolvimento de suas atividades laborais. Ao trabalhar com dores, o indivíduo perde boa parte de sua con-centração, pois é desconfortável e desgastante, e sua capaci-dade produtiva fica prejudicada diante das limitações provo-cadas pelas dores que sente.

Ao identificar que as pessoas que trabalham na empresa, estão enfrentando problemas que afetam o desenvolvimento do trabalho, é preciso buscar formas para minimizá-los, para que não passe de problemas físicos para psicológicos. Quan-do a pressão física é maior do que pode ser suportado pelo indivíduo, pode resultar em desgaste e abalo emocional, que podem sobrecarregar e causar estresse excessivo, prejudi-cando e inibindo seu potencial de trabalho.

Diante disso, torna-se necessário por parte da empresa, evitar pressões exageradas que inibam a capacidade produti-va do trabalhador, pois exigir além do que é possível supor-tar, pode sufocar e incapacitar a criatividade e rendimento

profissional. Mas não é somente a empresa que pode solu-cionar a situação de estresse vivenciada pelo colaborador, o mesmo, também pode assumir a responsabilidade de buscar reduzi-la. Talvez o estresse sentido referente ao trabalho, esta ligado à mal administração do tempo, falta de exercícios físicos, ou até técnicas de relaxamento, que se levado a sério e dedicação contribuem para aliviar pressões, e estimular a capacidade de lidar com situações difíceis com maior flexi-bilidade e equilíbrio emocional (ROBBINS, 2005).

Perguntado se o colaborador sente-se estressado no am-biente de trabalho, 16% responderam que sim e frequente-mente, 50% que raramente, e 34% que não.

Figura 5 – Estressado no ambiente de trabalho Fonte: dados da pesquisa

Verifica-se na análise dos dados, que o número de pessoas que sente-se estressado no ambiente de trabalho é relativamente pequeno, sendo que 50% raramente, e trinta e quatro por cento respondeu que não apresenta sintomas de estresse.

Segundo Robbins (2005, p. 440) “não são poucos os fatores que podem ser fontes de es-

tresse dentro de uma organização. Alguns exemplos são as pressões para evitar erros ou cumprir prazos, a excessiva carga de tarefas, um chefe exigente e insensível, e colegas desagradáveis”. Para mudar e cenário vivenciado pelo co-laborador, de estresse excessivo, deve-se buscar criar um ambiente de trabalho que permita o desempenho das ativi-dades atribuídas aos colaboradores, de forma satisfatória, motivadora e harmoniosa.

Os sintomas apresentados por alguém que passa por uma situação de estresse, desgaste provocado pelo estresse excessivo, se manifesta de formas diferentes em cada pes-soa, podendo ser físico, em que limita funções vitais; psi-cológico, desestabilizando o equilíbrio emocional, podendo desencadear ansiedade, medo, depressão, e outros problemas relacionados a fatores psicológicos do indivíduo; e compor-tamental, mudando o comportamento diante de situações impostas e expostas, deixando a pessoa de agir de acordo com seus princípios e valores, passando a forjar um compor-tamento, que irá lhe causar desconforto e mal-estar, o que provocará prejuízos a sua saúde (ROBBINS, 2005).

Questionado ao colaborador se a empresa realiza gi-nástica laboral durante a jornada de trabalho, todos respon-deram que não é realizado.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Dores nas costas

Dores nas pernas

Dores nos pés

Dores nas mãos

Dores nos ombros

Não sente dores

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Sim, frequentemente

Raramente

Não

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GESTÃO DE PESSOASInfluência do ambiente de trabalho na saúde física e emocional do trabalhador: estudo ergonômico em uma fábrica de máquinas industriais

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0%

20%

40%

60%

80%

100%

Sim, diariamente

Sim, em dias intercalados

Não realiza

Figura 6 – Ginástica laboralFonte: dados da pesquisa

Os dados coletados permitem identificar que não é realizada pela empresa, a prática de ginástica laboral para seus colaboradores. E, como a empresa trabalha com má-quinas que exigem do trabalhador esforços e movimentos repetitivos, torna-se necessário que seja providenciada a contratação de profissional, ou prestadores de serviços, que trabalhem com seus colaboradores, visando evitar proble-mas de saúde relacionados com o trabalho que realizam.

Como já constatado pela pesquisa, grande maioria dos colaboradores sente alguma dor relacionada ao trabalho. Diante disso, proporcionar horário de parada no trabalho, jun-tamente com a prática de ginástica laboral, e ainda disponibi-lizar um lanche para repor às energias dos trabalhadores, pode contribuir significativamente para com a saúde e qualidade de vida dos que ali empregam sua força de trabalho. A prática de ginástica laboral contribui para ali-viar as tensões da rotina diária, o que permite ao colaborador melhorar seu desempenho, uma vez que possibilita renovar e recuperar suas forças, o que garante maior produtividade.

Em qualquer ramo de negócios existem cobranças e desafios das mais diferentes for-mas, o que muitas vezes causa exaustão do indivíduo, podendo provocar doenças relacio-nadas ao trabalho. Para evitar transtornos tanto para a empresa, como para o trabalhador, torna-se preciso o comprometimento e investimento de medidas de prevenção de doenças e acidentes, e correção de formas errôneas de postura durante a realização de cada atividade.

Perguntado se a empresa realiza pesquisas sobre sa-tisfação de seus colaboradores em relação às condições ergonômicas de trabalho, 66% disseram que sim e frequen-temente, 17% que sim, mas raramente, e 17% disseram que não realiza.

Figura 7 – Satisfação dos colaboradoresFonte: dados da pesquisa

Com os dados coletados, verifica-se que a empresa procura saber o nível de satisfação de seus colaboradores, sendo ponto forte que con-tribui para maior comprometimento de todos. Ao perceberem que existe a preocupação em conhecer o que sentem em relação ao ambiente de trabalho, a sensação é de valorização, o que faz com que o envolvimento e busca por resul-tados seja objetivo não só da organização, mas de cada colaborador.

Pesquisar sobre a satisfação das pessoas que realizam as atividades necessárias ao alcance dos objetivos organi-zacionais, permite tomar decisões e direcionar esforços de forma eficiente, podendo adequar o ambiente de trabalho às necessidades individuais e coletivas dos colaboradores. Ini-ciativas que visem entender e compreender as expectativas das pessoas, ao passo que atendem aos seus anseios, também faz com que a empresa tenha em seu quadro de pessoal mais motivação, e assim, torne-se mais competitiva.

Também foi questionado ao colaborador, se a empresa busca adequar o ambiente de trabalho de forma à propor-cionar bem-estar e qualidade de vida de seus colaboradores, 83% responderam que sim, e que concordam plenamente, 17% que concordam em partes, e que não concordam não pontuou.

Figura 8 – Adequação do ambiente de trabalhoFonte: dados da pesquisa

O ambiente de trabalho, além de ser o local em que se desenvolvem as atividades inerentes às funções do colabora-dor, deve proporcionar a sensação de bem-estar e qualidade de vida. Segundo Barbosa Filho (2008, p. 166) “qualidade de vida pode ser definida como o posicionamento do indivíduo, em resposta física ou mental, diante dos estímulos constru-

ídos a partir de suas percepções em confronto com as expectativas elaboradas para determina-das condições reais ou aparentes”. A busca por qualidade de vida dentro das organizações torna--se potencial que traz resultados positivos, pois quando as pessoas percebem o ambiente como agradável, os estímulos desencadeados são de bem-estar, o que se traduz em qualidade de vida, com menos riscos nocivos à saúde.

Enquanto as organizações preocupam--se em ser mais competitivas, produzindo mais e melhor

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Sim, frequentemente

Sim, raramente

Não realiza

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Sim, concordo plenamente

Concordo em partes

Não concordo

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Claudelir Clein, Renato Tonello e Sergio Luiz Ribas Pessa

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.53-59, 2014.

a custos menores, os empregados buscam no interior das empresas onde trabalham a compensação do estresse cau-sado pela busca frenética de resultados. A conscientização do desejo de ´viver qualitativamente melhor´ é algo patente e palpável para a grande massa dos trabalhadores (MAR-RAS, 2000).

A percepção de cada pessoa em relação ao ambiente no qual esta inserido, conforme sua capacidade e limitação, e análise que faz de determinado local, reflete o entendi-mento de que pode ou não proporcionar qualidade de vida no trabalho. A visão do conjunto das condições de trabalho, mesmo tendo as pessoas muitas similaridades, pode ser vista de formas diferentes, de várias maneiras, o que de-monstra a complexidade em determinar um ambiente como gerador de qualidade de vida (BARBOSA FILHO, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização do presente trabalho, percebe-se através dos dados coletados que 76% dos trabalhadores sentem dor em alguma parte do corpo, indicativo forte de que as condições ergonômicas e de carga física do trabalho estão inadequadas. Identifica-se também, que a maioria dos colaboradores não percebe o ambiente de trabalho como seguro e agradável (66% dos pesquisados), o que corrobora que o ambiente não está adequado, e explica o índice de desconforto e dores sentidas pela maioria.

Em relação à busca por parte da empresa em adequar o ambiente de trabalho de forma a proporcionar bem-estar e qualidade de vida de seus colaboradores, verifica-se que 17%, ou seja, quase 1/5 da capacidade produtiva não sente o ambiente como adequado, e não enxerga a busca pelo bem-estar e qualidade de vida. Se considerar a situação dos 76% que sentem dores relacionadas ao trabalho que reali-zam, indica uma situação grave e percebida apenas por uma parcela menor de colaboradores.

Observa-se ainda, no que se refere com a disponibi-lização de equipamentos de proteção individual, que 17% dos pesquisados não conta com todos os que necessitam, colaborando assim, para o surgimento de problemas de saúde, e os relacionados à insatisfação com o ambiente de trabalho. No que diz respeito a pesquisas realizadas pela empresa, visando levantar dados sobre satisfação de cola-boradores em relação às condições ergonômicas de traba-lho, contatou-se que 1/3 da capacidade laboral fica à mar-gem de ações corretivas, pois 34% indicam que a empresa não atinge seu objetivo de que todos participem expressan-do sua opinião.

Referente ao sentimento de estresse no ambiente de trabalho, 66% dos trabalhadores relataram que sofrem com estresse percebido, mesmo que a maioria destes diz ser raramente. Isso se deve à sobrecarga física ou ao esforço mental, provocados pelas condições desfavoráveis do am-biente, conforme constatado pela pesquisa. Sugere-se en-tão, a necessidade de proporcionar aos colaboradores inter-

valos entre turnos de trabalho, aliados a prática de ginástica laboral e lanches, visando aliviar a tensão percebida pelos trabalhadores.

Conclui-se, assim, com o desenvolvimento deste es-tudo, que o ambiente de trabalho é fator de estudo e aná-lise, pois quanto mais bem planejados forem os aspectos inerentes, melhores serão as condições proporcionadas ao colaborador. Para tanto, deve-se levantar as particularida-des e elaborar o projeto do local de trabalho, levando em consideração os aspectos ergonômicos envolvidos.

Diante do contexto em que o trabalhador se encontra dentro das organizações, verifica-se a importância de bus-car formas de melhorar a sua qualidade de vida. É preciso criar alternativas no ambiente de trabalho para não sobre-carregá-lo, fazendo com que suas atividades sejam praze-rosas e satisfatórias, e não apenas obrigações e orientações que precisam ser observadas e cumpridas.

REFERÊNCIAS

BARBOSA FILHO, Antonio Nunes. Segurança do Trabalho & Gestão Ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.CRONFLI, Regeane T. A importância do sono. Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n16/opiniao/dormir-bem1.html>. Acesso em:23 mai. 2011.GIL, Antonio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.HAUCAP,J.; WEY,C. Social capital and economic development..In: ADJIBOLOSOO,S. Shaping the course of history and development. Lanhan: University Press Of America, 2000. p. 21-42.MARRAS, Jean Pierre. Administração de Recursos Humanos: do operacional ao estratégico. 3. ed. São Paulo: Futura, 2000.MARTINS, Petrônio G.; LAUGENI, Fernando P. Administração da Produção. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. SALIBA, Tuffi Messias. Curso Básico de Segurança e Higiene Ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2010. SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart e JOHNSTON, Robert. Ad-ministração da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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Unidades de Conservação, ecoturismo e conflitos socioambientais na Ilha do Mel, PR, Brasil

Carlos Alberto Marçal Gonzaga (Unicentro) [email protected]

Patrícia Denkewicz (Unicentro) [email protected].

Keyla Cristina Pereira Prado (Unicentro) [email protected].

Resumo: Este artigo tem como tema o turismo e os conflitos socioambientais na Ilha do Mel, PR, Brasil. A implantação de duas Unidades de Conservação de proteção integral, na Ilha, promoveu forte impacto sobre as atividades econômicas tradicionais, pesca e agricultura, das comunidades caiçaras nativas, ajudou a consolidar o turismo como principal atividade econômica do local e deu origem a conflitos socioambientais persistentes. A pesquisa foi realizada por meio de observação a campo e levanta-mento bibliográfico, com o objetivo de desenvolver uma análise quantitativa da infraestrutura turística e uma análise qualitativa dos conflitos socioambientais relacionados às Unidades de Conservação e às atividades turísticas. Concluiu-se que as Unidades de Conservação da Ilha do Mel potencializaram, concomitantemente, o desenvolvimento do turismo e a ocorrência de confli-tos socioambientais A infraestrutura existente é suficiente para atendimento básico da demanda por turismo de massa, mas o potencial de ecoturismo, que deveria ser priorizado, não é adequadamente gerido. Os conflitos socioambientais poderiam ser amenizados com a prática de gestão e políticas públicas condizentes com os princípios do direito das comunidades de cultura tradicional, pois nos costumes dos caiçaras reside a identidade cultural da Ilha do Mel.

Palavras-chave: Unidade de conservação. Conflitos socioambientais. Infraestrutura turística. Ecoturismo. Ilha do Mel.

Protected area, ecotourism and social-environmental conflicts at Ilha do Mel, PR, Brazil

Abstract: This essay is about tourism and social-environmental conflicts at Ilha do Mel, PR, Brazil. There were created two environmental protected areas, where human presence is supposed to be devoid. Such fact impacted on the way of life of the native traditional communities of caicaras population, dependent on fishery and agriculture, which drives the origin of social-environmental conflicts. Meanwhile, the tourism services became the main economic activity on the Island. The research was accomplished by field observation and bibliographic review, aiming a quantitative analysis on the touristic infrastructure and a qualitative analysis on the related to the Protected Areas and the touristic activities. The conclusion is that the creation of the Protected Areas at the Ilha do Mel accentuated both the tourism development and the social-environmental conflicts. The infrastructure is sufficient for the basic demand for mass tourism while there should be priority for ecotourism. The social-environmental conflicts could be tamed with public policies and management aligned with the rights principles of the traditional culture communities, because the caicaras customs set the cultural identity of the Ilha do Mel.

Keywords: Environmental protected area. Touristic infrastructure. Ecotourism. Social-environmental conflicts. Ilha do Mel.

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GESTÃO DE PROCESSOS, SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIALUnidades de Conservação, ecoturismo e conflitos socioambientais na Ilha do Mel, PR, Brasil

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.61-67, 2014.

INTRODUÇÃO

A Ilha do Mel, localizada na entrada da Baía de Para-naguá, com 35 km de praias, é um dos principais atrativos turísticos do Paraná, por isso recebe anualmente um nú-mero significativo de turistas. Se, por um lado, a visitação turística promove impacto positivo na economia local, com a geração de renda proveniente de serviços, por outro lado, o turismo origina significativos impactos ambientais nega-tivos decorrentes da geração de resíduos e da depleção de recursos naturais. Além disso, devido à presença de uma população nativa de cultura tradicional, o desenvolvimento do turismo na Ilha promove conflitos sociais devido à con-corrência pelo uso de recursos naturais e pela desnaturali-zação globalizante da cultura nativa.

Os atrativos da Ilha do Mel, PR, não se restringem às belezas cênicas naturais, mas se devem também à sua importância histórica e ecológica. Em 1975, quando ain-da era administrada pela Marinha do Brasil, o Governo do Estado do Paraná determinou seu tombamento como Pa-trimônio Histórico e Cultural (inscrição n.º 11-I do Livro Tombo estadual), com o objetivo de coibir as visitações e ocupações predatórias, que ameaçavam os hábitos culturais e a vegetação natural local (PARANÁ, 1975). Em 1982, a administração da Ilha do Mel foi transferida, por meio de aforamento, ao Governo Estado do Paraná, que designou como gestora da Fundação Instituto de Terras e Cartografia (ITC, renomeado, em 1985, para ITCF - Instituto de Terras, Cartografia e Florestas – e, em 1992, para IAP - Instituto Ambiental do Paraná). No Termo de Aforamento constava uma cláusula que condicionava a cessão da Ilha à criação de uma Unidade de Conservação para proteger os ecossis-temas naturais presentes. (IAP, 1996)

Ainda em 1982, foi criada a Estação Ecológica da Ilha do Mel (Decreto Estadual 5.454/1982), com 2.240,69 ha de área, na qual são priorizadas a preservação dos ecossis-temas (manguezais, restingas, brejos litorâneos e caxetais) e a pesquisa científica. Na Estação Ecológica a visitação pública é aberta apenas com a finalidade de educação am-biental. Os interessados em visitação à Estação Ecológica necessitam obter pré-autorização expressa do IAP. (IAP, 1996)

Em 2002, foi criado o Parque Estadual da Ilha do Mel (Decreto Estadual n. 5.506/2002), com 337,84 ha de área, cujo objetivo é proteger uma área de fragilidade ambiental na região sul da Ilha, onde se localizam os mananciais de abastecimento local, os sítios históricos e arqueológicos, e um bosque remanescente de Floresta Atlântica à beira mar. (PARANÁ, 2002)

A pesquisa aqui apresentada teve como objetivo ge-ral analisar a sustentabilidade das atividades turísticas em relação às Unidades de Conservação instituídas na Ilha do Mel, PR, bem como em relação ao convívio com as comu-nidades nativas de cultura tradicional caiçara. Dentre os ob-jetivos específicos estão à análise da infraestrutura turística

existente, assim como o estudo do potencial de conflitos socioambientais em função da implantação das Unidades de Conservação e da expansão do turismo.

O empreendimento dessa pesquisa se justifica pela ne-cessidade de se entender a relação entre a oferta de serviços turísticos, cuja demanda é crescente, e as limitações natu-rais, sociais e legais existentes, a fim de que se esclareçam os potenciais de conflitos socioambientais na Ilha do Mel, PR.

Como resultado se alcançou maior entendimento dos desafios relacionados ao turismo em áreas naturais protegi-das, o que permite auxiliar a repensar as políticas de gestão praticadas na Ilha e a istalação da infraestrutura necessária para a sua prática com sustentabilidade.

METODOLOGIA

A pesquisa foi conduzida por meio de revisão biblio-gráfica e análise documental, completada com pesquisa de campo, na qual se adotou o sistema de contagem, entrevis-tas semiestruturadas, questionário e observação participan-te. A contagem realizada seguiu o formulário de Inventário Turístico, categoria C, do Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), adaptado pelos autores, o qual foi aplicado contando os equipamentos e serviços turísticos. As entrevistas foram realizadas com perguntas narrativas sobre o funcionamento da infraestrutura básica (água, energia, comunicação e resí-duos sólidos) aos seus respectivos responsáveis (funcioná-rios ou proprietários).

A abordagem qualitativa foi utilizada na análise das conversas com turistas e observações na comunidade local. A abordagem quantitativa serviu de base para análise dos serviços e equipamentos turísticos existentes na localidade.

O questionário foi elaborado com questões estrutura-das e direcionado aos turistas e moradores sendo distribuí-do a 90 (noventa) pessoas. As perguntas indicavam respos-tas descritivas sobre o turismo, a infraestrutura turística e as Unidades de Conservação.

A pesquisa de campo abrangeu como amostragem duas comunidades da Ilha do Mel, Brasília e Farol, que estão localizadas próximo do ponto de desembarque/em-barque mais utilizado e que alojam a maior parte da infra-estrutura de serviços turísticos existente.

CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO ESTUDADA

A Ilha do Mel está localizada no litoral do Estado do Paraná, na desembocadura da Baía de Paranaguá. Ao norte, localiza-se a Ilha das Peças e o Parque Nacional de Superagui, separados pelos canais Norte e Sudeste; ao sul, localiza-se o Balneário de Pontal do Sul, em Pontal do Pa-raná, separado pelo Canal da Galheta (SEMA/IAP, 1996).

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Carlos Alberto Marçal Gonzaga, Patrícia Denkewicz e Keyla Cristina Pereira Prado

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.61-67, 2014.

A área total da Ilha do Mel é de 2.762 hectares, mas 93,4% do seu território, 2.578,53 ha, não está liberado para construção de moradias nem de instalações comerciais, por força da instituição das duas Unidades de Conservação (PARANÁ, 1996 e 2002). Devido à fragilidade ambiental dos recursos existentes na Ilha, o IAP estabeleceu quotas diárias de visitantes, tomando por base o cálculo da capaci-dade de carga dos ecossistemas locais.

A Ilha do Mel é uma formação geológica constituída por sedimentos arenosos reunidos pelo movimento do mar nos últimos 120.000 anos. Está sujeita à erosão marinha e deposição de sedimentos, com intensidade variável, em vários pontos da costa (MINEROPAR, 2009). Tal processo promove grande impacto sobre a vida das comunidades re-sidentes e suas atividades econômicas.

Residem na Ilha do Mel aproximadamente 3.000 ha-bitantes, entre nativos caiçaras e empreendedores em ne-gócios relacionados ao turismo. A população está distri-buída em seis comunidades, das quais as mais populosas são Brasília e Encantadas. No início da década de 1970 a pesca consistia a principal fonte de renda das comunidades locais, utilizada para consumo e escambo, aos moldes das práticas das comunidades de cultura tradicional. Além da pesca, praticava-se agricultura de subsistência. As habita-ções eram construídas em madeira retirada da floresta da Ilha e, em sua maioria, possuíam apenas um cômodo. Os telhados eram construídos com folhas de palmeira ou sapê. Os relacionamentos matrimoniais se estabeleciam dentro das próprias comunidades, e tendiam a ser incestuosos porque quase todas as pessoas mantinham algum grau de parentesco entre si. (IAP, 1996)

COMUNIDADES DA ILHA DO MEL

A população nativa da Ilha do Mel é formada por vá-rias comunidades caiçaras. O termo caiçara vem do Tupi Guarani caá-içara (SAMPAIO, 1987). Segundo Adams (1999), os povos caiçaras se originaram da mistura entre europeus e indígenas que habitam o litoral do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Geralmente vivem da pesca artesa-nal e da agricultura de subsistência.

Essas comunidades de cultura tradicional, atualmen-te, vivem em comunidades mistas, em que compartilham o território com empreendedores do turismo. Pessoas inte-ressadas na atividade turística têm ocupado a Ilha com seus empreendimentos locais, dando emprego à indivíduos das comunidades caiçaras, que vem sendo influenciados por um processo de aculturação globalizada. Afirma Hanazaki (2001, p 63) que “as atividades tradicionalmente praticadas pelos caiçaras, como a pesca e a agricultura, passam a ter importância secundária conforme as atividades ligadas ao turismo tendem a crescer”.

Segundo Serrano e Bruhns (1997), devido às restri-

ções impostas pela Legislação das Unidades de Conser-vação, houve desapropriação de moradias de membros da população nativa que habitava as áreas que passaram a ser protegidas. Em adição, isto ocasionou a perda de áreas uti-lizadas para a agricultura, restrição dos locais de pesca e de extração de madeiras. Ainda houve a chegada de imi-grantes que trouxeram outro modo de vida, enfim, diante desses impasses os caiçaras passaram a adotar o turismo como principal fonte de renda.

Ao norte está a Comunidade de Brasília que é onde também acontece embarque e desembarque de turistas. É o local onde se encontra infraestrutura urbana com mercado, igreja, escola, pousadas, restaurantes e campo de futebol. Nessa área verifica-se, de tempos em tempos, o avanço do mar sobre a terra, provocando perda de território e, com isso, fatidicamente alguns moradores têm perdido suas ca-sas e terrenos.

Na Comunidade do Farol a praia é a mais frequentada, inclusive para a prática de surf. Não por acaso, é onde se encontra a maior concentração de bares, pousadas e res-taurantes. Grande parte desses estabelecimentos pertence a empreendedores que não são nativos da Ilha. EssaComuni-dade se caracteriza pela concentração de infraestrutura da administração pública, como o IAP, a Força Verde da Polí-cia Militar do Estado do Paraná, a Companhia Paranaense de Energia Elétrica, o correio e o posto de saúde.

Na vizinhança da Fortaleza de Nossa Senhora dos Pra-zeres localiza-se a Comunidade de Fortaleza, que é a menor comunidade da Ilha. Sua infraestrutura turística se resume á algumas pousadas e um empreendimento hoteleiro. Nesse local se encontra a maior parte das casas de veraneio de uso temporário. Tais casas pertencem a proprietários ori-ginários, majoritariamente, de Curitiba, capital do Estado do Paraná. O movimento de visitantes nessa parte da Ilha é grande, pois a Fortaleza se destaca como um dos principais atrativos históricos da Ilha do Mel.

A Comunidade de Ponta Oeste foi a mais afetada pelas limitações legais impostas desde a implantação da Estação Ecológica. Até a década de 1990 era a maior comunidade da Ilha. Atualmente sua população encontra-se reduzida e pelas implicações da vigência do Plano de Uso da Ilha, mas mantém a resistência pelo direito à ocupação e ao uso da terra ancestral, porém hoje sua população é de apenas doze famílias. Contudo, nessa comunidade algumas limitações estão sendo impostas como a proibição de novas constru-ções para moradias, principalmente se for para pessoas que não são nativas da Ilha, medida que visa à proteção da Es-tação Ecológica.

E por fim, a Comunidade de Encantadas ou Prainhas, que é a que tem a maior concentração de nativos. Nessa co-munidade também acontece o embarque e desembarque de turistas. Fica na parte Sul e é o menor lado da Ilha. Essa co-munidade vem apresentando vários problemas, pois áreas de preservação vêm sendo indevidamente ocupadas. Essa comunidade também conta com uma boa infraestrutura e

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possui bares, pousadas, campings, restaurantes, mercado, escola, campo de futebol, telefones públicos e um posto policial da Força Verde.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA ILHA DO MEL

A importância das Unidades de Conservação (UCs) cresce à medida que se agravam os descompassos entre as necessidades de crescimento econômico e as de sustentabi-lidade no uso dos recursos ambientais no planeta. No en-tanto, isso não impede que a implantação de UCs enfrente a oposição de parcela significativa das comunidades por elas afetadas. Sendo assim, a gestão de Unidades de Conserva-ção é tarefa mais política do que técnica, embora seja mais fácil fazer proteção e conservação ambiental do ponto de vista técnico do que do ponto de vista social e político. Por isso, as soluções aos problemas envolvendo múltiplos inte-resses sociais requerem uma abordagem sensível à diversi-dade cultural e ambiental em questão. (GONZAGA, 2006)

De acordo com Serrano e Bruhns (1997), a desapro-priação de imóveis residenciais de alguns moradores, em prol do cumprimento das Leis que estabeleceram as Unida-des de Conservação locais, impôs aos habitantes a perda de áreas agrícolas utilizadas para a produção de alimento. As restrições também atingiram as zonas e estações de pesca, bem como o extrativismo de madeira para lenha, constru-ção e confecção de embarcações. Isso, além de obrigar vá-rios moradores a transferir-se de sua comunidade, limitou as alternativas para obtenção de renda.

O processo de transformação da Ilha do Mel ganhou maior complexidade com a chegada de imigrantes e em-preendedores turísticos, que apresentaram aos nativos ou-tro modo de vida. Constrangidos pelas normas do Estado e influenciados por novos vizinhos, não sobraram muitas alternativas de renda aos caiçaras, exceto pela integração ao mercado do turismo, raramente como principais prota-gonistas, geralmente como serviçais dos empreendedores recém-chegados. Corroborando esta constatação, Hanazaki (2001) afirma que as atividades tradicionais dos caiçaras, pesca e agricultura, passaram a um nível de importância secundária frente ao crescimento da demanda por serviços turísticos na Ilha.

Há duas importantes Unidades de Conservação im-plantadas na Ilha do Mel e, conforme tendência mundial, sua existência não ocorre sem conflitos. São elas:

• Estação Ecológica da Ilha do Mel.Criada em 1982 (Decreto Estadual 5.454/1982), com

área de 2.240,69 ha. O texto do ato legal de criação da Es-tação Ecológica afirma que toda a área deve destinar-se, permanentemente, à preservação da biota existente e seu ecossistema. Na estação ecológica é priorizada a preserva-ção e a pesquisa científica, sem autorização para visitação

pública, exceto em casos de visita técnica para educação ambiental, para a qual há o pré-requisito de autorização expressa do Instituto Ambiental do Paraná. Em 1996 foi aprovado o seu Plano de Manejo. (IAP, 1996)

A Estação Ecológica da Ilha do Mel ocupa a maior parte do território da Ilha. Limita-se, a Oeste, com a área do povoado de cultura tradicional da Ponta Oeste; ao Leste, limita-se com o Morro da Baleia, onde está a pequena co-munidade de Fortaleza e o Forte de Nossa Senhora dos Pra-zeres, construído no período colonial; ao Sul, limita-se com a área urbanizada de Nova Brasília e Farol, que concentram a maior oferta dos serviços turísticos de alimentação e hos-pedagem local (DENKEWICZ, 2012).

A criação da Estação Ecológica da Ilha do Mel origi-nou uma série de conflitos socioambientais. À época de sua criação, a comunidade mais populosa da Ilha era a de Ponta Oeste, 211 moradores, que representava um terço da popu-lação da Ilha do Mel, dos quais 40% eram crianças até 14 anos, conforme levantamento da Comissão Especial para Estudos das Ilhas do Litoral Paranaense, realizado em 1980 (PARANÁ, 2012). Embora o Decreto de criação da Esta-ção Ecológica, exarado em 1982, determinasse restrição ao tamanho do povoado a apenas 31,77 ha e determinasse a proibição de novas construções, em 1985 foi instalada a primeira escola no local, devido ao grande número de crianças no povoado. Até a década de 1990 localizava-se no povoado a única Zona Eleitoral de toda a Ilha do Mel.

A partir da década de 1990 a comunidade da Ponta Oeste entrou em declínio, como consequência tardia das restrições impostas pela criação da Unidade de Conserva-ção. A Escola e a Zona Eleitoral foram desativadas, e para piorar as condições de vida, houve redução da quantidade e qualidade dos pescados no local por causa da transferência da entrada do Porto de Paranaguá para o Canal da Galheta (PARANÁ, 2012). Atualmente sua população é menor do que 50 moradores caiçaras, vivendo em situação de preca-riedade.

No ano de 2009, pela Lei Estadual 16037/2009, foi estabelecido um novo Plano de Uso da Ilha do Mel, cujo rigor restritivo reduziu para apenas 1,6 ha o território do povoado da Ponta Oeste. Diante de tal legislação a comu-nidade local está sujeita ao constrangimento da indesejabi-lidade de sua presença, por parte do Estado. A Lei Estadual 16037/2009 transformou, do ponto de vista legal, a região em mero ponto de apoio à pesca e, pelo art. 7, IV, o po-voado de Ponta Oeste passou a ser designado como Área de Ocupação de População Tradicional Local (AOPT). A finalidade dos legisladores é a de coibir qualquer tentativa de avanço da ocupação antrópica no local, pela vedação dos direitos individuais de uso, com a justificativa de pre-servar a biodiversidade e manter a beleza cênica da Ilha. (PARANÁ, 2009)

Em reação ao rigor da nova Lei e em defesa dos di-reito individuais e comunitários, a Associação dos Nati-vos e Pescadores da Ponta Oeste protocolou solicitação

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de análise do valor histórico da comunidade e revisão do atual Plano de Uso da Ilha do Mel, por meio de proposta de alteração da Lei Estadual 16037/2009. A comunidade demanda que se permita modernização da infraestrutura do povoado e se reestabeleçam os limites territoriais de 31,77 ha., conforme estabelecia legislação anterior. O relator do processo propôs a transformação do povoado em Reserva de Desenvolvimento Sustentável, com base na Lei Federal 9985/2000 (PARANÁ, 2012). Enquanto isto, o Ministério Público do Paraná, por meio do Conselho Permanente de Direitos Humanos do Estado do Paraná (COPED) e do Centro de Apoio dos Direitos Constitucionais, está inves-tigando denúncia de violações de Direitos Humanos na comunidade, perpetradas por ações do Estado. (PARANÁ, 2012a)

• Parque Estadual da Ilha do MelO Parque Estadual da Ilha do Mel foi criado em 2002

(Decreto Estadual nº. 5.506/2002), com área de 337,84 ha, abrangendo a porção sul da Ilha, cujo objetivo é ampliar a preservação ambiental de área não abrangida pela Estação Ecológica, principalmente a proteção dos mananciais de abastecimento, e dos sítios históricos e arqueológicos, além de proteger porção remanescente de Floresta Atlântica. Seu Plano de Manejo ainda está em processo de elaboração e acredita-se que poderá interpor novas limitações à ocupa-ção antrópica e uso dos recursos locais. (PARANÁ, 2002)

De acordo com Costa (2002), os Parques Nacionais são as Unidades de Conservação mais atrativas para o eco-turismo, distintamente das Estações Ecológicas, onde a visitação pública poderia comprometer o andamento das pesquisas científicas para as quais se destinam.No entan-to, de acordo com Costa (2002), o turismo em Unidades de Conservação necessita de infraestrutura administrativa adequada, como trilhas, sinalização, planejamento e aten-dimento profissional, para que sejam observadas as diretri-zes do Plano de Manejo, ao mesmo tempo que a visitação seja satisfatória aos visitantes.

O TURISMO NA ILHA DO MEL

O turismo na Ilha do Mel, segundo Pierre e Kim (2008), começou aproximadamente em 1960. Nessa época a Ilha começou a ser buscada por sua beleza natural. Os admiradores do local eram basicamente jovens que acam-pavam nas praias ou no quintal das casas dos moradores. A partir da década de 80, após a notoriedade pelo tombamen-to ecológico-cultural e pela criação da Estação Ecológica, as visitações turísticas tiveram um considerável aumento.

O turismo, nas últimas décadas, acarretou várias trans-formações no estilo de vida dos caiçaras nativos da Ilha do Mel, cuja alta temporada de visitação ocorre entre os meses de novembro e fevereiro. Com a expansão dessa atividade, a Ilha recebe vários estilos de turistas, mas possui apenas

infraestrutura limitada para recebê-los. Devido às altas ta-xas de ocupação das pousadas, alguns moradores até orga-nizam campings em seus quintais.

Encontra-se na literatura sobre turismo e sustentabili-dade a referência a uma proposição de evitar os impactos negativos da atividade turística, bem como gerar um equilí-brio entre os impactos econômicos, sociais, culturais e am-bientais do turismo, por meio da prática de novas formas de turismo, como o ecoturismo, o turismo ecológico res-ponsável e o turismo sustentável (RUSCHMANN, 2003). Ele considera desejável que o turismo seja realizado sem incorrer no desrespeito às peculiaridades das sociedades visitadas. Defende, também, que em áreas ecologicamen-te sensíveis, as atividades turísticas precisam ser realizada com observância às limitações do uso dos recursos naturais e ao direito de manifestação e permanência das culturas tra-dicionais locais, sem preconceitos nem subordinação. Com o auxílio de estudos sobre os conceitos de sustentabilidade, Ruschmann (2003)defende a ideia de harmonizar os inte-resses do turismo com o do desenvolvimento sustentável, a fim de preservar o meio ambiente e a cultura das comu-nidades locais.

Em busca de diminuir os impactos negativos das ati-vidades turísticas sobre o meio ambiente, foi imposto pelos gestores públicos um limite de 5 mil turistas simultâneos na Ilha do Mel, PR, os quais devem pagar uma taxa de visi-tação de R$25,00 (ida e volta, valor em julho de 2012). Os recursos desta taxa são arrecadados pelo IAP, responsável pela administração da Ilha do Mel, e são destinados para melhorias na infraestrutura (PARANAGUÁ, 2012). Um dos problemas verificados é o controle do limite da quan-tidade de visitantes que entram na Ilha simultaneamente, pois não há controle de quantos saem diariamente. Na tem-porada entre outubro/2011 e fevereiro/2012, a Ilha foi visi-tada, oficialmente, por 112 mil turistas, que pagaram a taxa (PARANAGUÁ, 2012). No entanto, não são computados nestes números os turistas que acessam as praias locais com seus próprios barcos. Tal volume de visitação mostra o quanto o turismo na Ilha do Mel alcançou a massificação.

Para receber tantos visitantes, a infraestrutura de hos-pedagem e alimentação é composta por 45 pousadas, 7 campings, 6 restaurantes e 6 lanchonetes. Não há carros ou estradas, mas é possível alugar bicicletas em três locais, e barcos para passeio em um local. Há dois trapiches de desembarque/embarque que precisam de manutenção. Há telefonia e luz elétrica. Há um posto de informações e cin-co lojas de artesanato. As placas e sinais de informação/orientação estão em estado lamentável de deterioração. (DENKEWICZ, 2012)

Em pesquisa realizada sobre o Parque Estadual da Ilha do Mel, Santos Jr. e Pires (2008) observaram que o tipo de atividades praticadas pelos turistas, de forma geral, não oferecem riscos acentuados ao meio físico, porque consis-tem principalmente em usufruto das praias do entorno do Parque. O impacto negativo, no entanto, é decorrência do volume exacerbado dessas atividades em relação à fragili-

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dade do ambiente natural. Dentre os problemas destacados, estão o acúmulo de lixo em trilhas e praias durante a tem-porada e feriados, a depredação de placas de sinalização, o desgaste da vegetação em trilhas alternativas e os sinais de erosão nas encostas. Tal observação também é corroborada por pesquisa conduzida por Denkewicz (2012).

Outra constatação de Santos Jr. e Pires (2008), é que a maioria dos visitantes não conhece os verdadeiros objeti-vos das Unidades de Conservação, nem tampouco percebe que a utilização dos seus recursos naturais está sendo feita de forma inadequada. Para o turista de massa, as Unidades de Conservação, em si, não se constituem em elementos motivadores da visitação ao local, porque o foco, conven-cionalmente, são as praias, similarmente a qualquer outra parte litorânea do continente. Como não se importam com as Unidades de Conservação, o comportamento convencio-nal do turista de massa é o de não comprometimento pes-soal com a realidade socioambiental local. Tal padrão com-portamental resulta em atitudes irresponsáveis de agressão ao meio ambiente, além de isolamento e tratamento des-denhoso à comunidade local com suas tradições culturais, considerando os residentes nativos como meros serviçais. Por isso, eventualmente, verificam-se conflitos explícitos de ordem social entre turistas e habitantes nativos da ilha. (SANTOS JR. e PIRES, 2008)

Numa pesquisa sobre o perfil e a renda dos pescadores da Ilha do Mel, PR, Fuzetti e Corrêa (2009) constataram que o desenvolvimento do turismo, somado à introdução de no-vas tecnologias na pesca e à criação das Unidades de Conser-vação, desencadeou alterações irreversíveis nas atividades econômicas dos pescadores. As mudanças interferiram nos costumes, nos apetrechos e nas embarcações, estimulando um cenário local de conflitos socioambientais. As mudanças afetam sobremaneira as novas gerações, conforme consta-tação de Fuzetti e Corrêa (2009), de que os filhos da maio-ria dos pescadores em atividade na Ilha não optaram pela mesma atividade dos pais e não tem interesse em trabalhar na pesca. Sua pesquisa revelou também que 65% dos pes-cadores complementava a renda com alguma atividade de turismo, mas que isto era pouco significativo para diferenciar a renda em relação aos que exclusivamente pescavam.

Ao pesquisar o desenvolvimento do turismo na Ilha, Denkewicz (2012) observou que os empreendedores imi-grantes, insensíveis às condições históricas e ambientais dos nativos caiçaras, reclamam da qualificação da mão de obra local disponível, considerando-a despreparada para os empregos oferecidos e responsabilizando os indivíduos por sua situação de baixa renda e pelas limitações da economia local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa teve como objetivo analisar a infraes-trutura turística e os conflitos socioambientais na Ilha do Mel, Paraná, Brasil. Há diversos problemas na infraestrutu-

ra, que atende apenas às necessidades básicas dos turistas. Também há diversos conflitos socioambientais, que reque-rem soluções políticas e técnicas.

Embora as análises de cunho econômico avaliem prin-cipalmente os fatores relacionados à geração de renda lo-cal, ela constitui-se uma análise unidimensional e parcial, que não considera a complexidade das relações entre o tu-rismo e o modo de vida tradicional da população nativa. O comportamento do turista urbano que visita a Ilha, em sua maior parte, exerce influência cultural homogeneizante, em sintonia com as tendências de massificação global das so-ciedades contemporâneas. Sendo assim, o desenvolvimen-to das atividades turísticas na Ilha do Mel, PR, promove uma descaracterização da cultura típica das comunidades locais, diretamente proporcional ao aumento do número de visitantes. Tal descaracterização ocorre em paralelo, embo-ra independentemente, às restrições de uso dos recursos na-turais disponíveis e à urbanização dos quase seis porcento de território onde o Plano de Uso permite fixação antrópica. Devido à verificação dessa tendência, considera-se neces-sária uma revisão do modelo de políticas públicas implan-tadas, sejam elas de cunho social, ambiental ou econômico, para se evitar irreversibilidades ambientais e fortalecer a valorização da cultura local. Percebe-se a necessidade de reorientação da gestão pública tal qual é atualmente pra-ticada na Ilha do Mel, para que se estimulem as práticas de turismo que sejam respeitosas tanto com os valores ambientais quanto com os valores da cultural tradicional caiçara. Também se faz necessário repensar as limitações legais para que a qualidade de vida dos habitantes nativos seja priorizada perante os ganhos econômicos com o turis-mo.

Para que ocorram melhorias infraestruturais na Ilha do Mel, as instituições estaduais, municipais e locais precisam de uma agenda comum. A infraestrutura pode melhorar bastante, mas sempre coexistirão as limitações legais, am-bientais e culturais. As limitações legais estão sintetizadas na Lei Estadual16037/2009, que rege o Plano de Uso da Ilha do Mel. As limitações naturais provêm da fragilidade do meio ambiente, cuja utilização predatória, somada aos desgastes naturais, exige medidas para sua recuperação. As limitações culturais provêm dos conflitos entre a visão de mundo das comunidades locais de cultura tradicional e a visão econômica dos empreendedores turísticos, para quem o tradicionalismo representa falta de empenho na capacita-ção profissional para os serviços turísticos.

A ação administrativa do Governo do Paraná na Ilha do Mel baseia-se, predominantemente, no mecanismo de comando e controle, mas percebe-se que há mais coman-do do que controle. Um exemplo disto é o descaso com relação à implantação de ações efetivas para a prática do ecoturismo na localidade. O aparato estatal para implantar o controle do Plano de Uso da Ilha do Mel ignora a neces-sidade de se aplicar os princípios do ecoturismo, conforme definido pela The International Ecotourism Society (TIES).

A Ilha do Mel possui belezas naturais, históricas e

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culturais que a tornam um local ideal para contato com a natureza, no entanto, a beleza do cenário não impede a ocorrência de conflitos socioambientais, nem sempre trans-parentes.

REFERÊNCIAS

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Empreendedorismo: a ótica das entidades de fomento no município de Itabuna-BA

Antonio Oscar Santos Góes(Universidade Estadual de Santa Cruz) [email protected]

Adriana dos Santos Reis Lemos (Universidade Estadual de Santa Cruz) [email protected]

Resumo: Este trabalho discute o empreendedorismo sob a ótica de entidades de apoio aos empresários da cidade de Itabuna – Bahia – Brasil. O referencial teórico aborda a problemática do empreendedor, as ações estratégicas e os apoios desenvolvidos por entidades de fomento. As micro e as pequenas empresas como empreendem? A investigação básica teve caráter exploratório e uma abordagem qualitativa. Utilizaram-se, ainda, a pesquisa bibliográfica, as entrevistas e a observação. A análise do conte-údo sistematizou as declarações dos inquiridos. As potencialidades e as fragilidades do modelo de Porter foram revelados nesta pesquisa. Pelos resultados encontrados, as micro e pequenas empresas vivem numa instabilidade constante, oportunidades e ameaças são recorrentes. A prática empresarial está envolvida em ações adquiridas na experiência diária. O fomento às ativi-dades de pequeno porte ainda são incipientes. Pede-se, então, que o empreendedor fortaleça o lado teórico sistemático para a sobrevivência à longo prazo dos empreendimentos.

Palavras-chave: Processo empresarial. Estratégias. Negócios. Entidades.

Entrepreneurship: the perspective of the development agencies in the city of Itabuna-BA

Abstract: This paperwork discusses entrepreneurship under the perspective of agencies which support entrepreneurs in the city of Itabuna – Bahia – Brasil. The theoretical references approach the problem of the entrepreneur, strategic actions and the support developed by development agencies. How do micro and small enterprises work? The basic investigation was of an exploratory character and had a qualitative approach. Also, bibliographic research, interviews and observation were used. The analysis of the content organized declarations made by those interviewed. The potential and fragility of the Porter model were revealed in this research. Through the results that were found, micro and small enterprises exist in constant instability, opportunities and threats are recurring. Business practice is involved in actions acquired through daily experience. The encouragement of minor activities is still insipient. It is asked, therefore, of the entrepreneur, that the theoretical side be strengthened for the long-term survival of enterprises.

Keywords: Entrepreneurship. Strategies. Business. Entities.

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GESTÃO ESTRATÉGICA ORGANIZACIONALEmpreendedorismo: a ótica das entidades de fomento no município de Itabuna-BA

INTRODUÇÃO

O empreendedorismo fortalece o desempenho das economias em todo o mundo. Diversas instituições, sejam públicas ou privadas, estudam o processo empreendedor. Em sendo assim, diretrizes institucionais promovem a cul-tura empreendedora. De um lado, é através dos negócios que o crescimento econômico pode ser estimulado; por ou-tro, a geração de emprego e de renda é possibilitada. A cria-ção de novas empresas e a manutenção dessas dinamizam e inovam a economia e, evidentemente, geram riqueza.

A cultura empreendedora, em tese, deve estar presente e “impressa”nas ME (microempresas) e nas EPP (empresas de pequeno porte). O ambiente empreendedor fortalece as organizações, e o proprietário de empresas deve que ter uma visão estratégica, tão necessária no mundo contemporâneo.

Os donos de estabelecimentos econômicos têm um papel de suma importância neste cometimento, uma vez que sua contribuição para a sociedade é, precisamente, gerenciar, empreender, administrar empresas. As organi-zações estruturadas pelo modelo empreendedor devem, em princípio, garantir um processo administrativo melhor (planejar, organizar, liderar e controlar) que proporcione aos negócios longevidade, sobrevivência. Deve apresentar condições mais bem elaboradas e planejadas no arranque das novas iniciativas empresariais ou das empresas já esta-belecidas, de forma organizada.

Os procedimentos gerenciais devem estabelecer uma cultura e um clima fundados no processo de empreender. As ferramentas para conduzir as organizações precisam ser desenvolvidas e praticadas através da metodologia em-preendedora que oferecem: plano de negócio, visão, con-corrência, espírito empreendedor, oportunidades, solução criativa dos problemas, análise de mercado, plano financei-ro, planejamento legal e tributário, foco no cliente, novos produtos, inovação dos aspectos administrativos, expansão dos negócios etc. Um bom gerenciamento de empresa uti-lizando esses procedimentos administrativos facilita a cria-ção de uma empresa ou continuidade dos negócios.

Diante do exposto acima descrito, questiona-se: será que o empresário utiliza no seu dia a dia essas técnicas? Se sim, como são utilizadas as ferramentas do processo empreendedor? Se não, como acontece o gerenciamento? Para refletir esse prisma, este trabalho objetiva averiguar, sob o olhar de algumas entidades de fomento da cidade de Itabuna, como é percebido o empresário nas suas ativida-des negociais (estratégia e empreendedorismo).

De início, sabe-se que a literatura econômica estabe-lece que o empreendedorismo é um processo dinâmico e revitalizador de uma economia e vê no empresário o maxi-mizador de resultados (LEIBENSTEIN, 1968).

Diante dessas reflexões, esta investigação propõe explorar o tema empreendedorismo. O processo teórico abrange o modelo empreendedor tradicional, nas dimen-

sões: econômicas e comportamental. O paper teve como objetivo geral investigar a formação e a continuidade dos negócios no espaço geográfico da localidade de Itabuna, Bahia. Os objetivos específicos avaliaram as entidades públicas e privadas no apoio à abertura de empresas e as orientações quanto à sobrevvência dos negócios.

Por fim, espera-se debater o empreendedorismo sob a análise externa de entidades de apoio a formação em-presarial. As especificidades, as singularidades produzem outros olhares, outras interpretações. O empreendedorismo multifacetado, em princípio, proporciona trabalhar com a interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, multidiscipli-naridade, pluridisciplinaridade do mundo dos negócios. Em sendo assim, como é o modus operandi dos homens que empreendem? Este ensaio tenta debater esse questiona-mento, além de procurar entender melhor a vida econômica dos action men, segundo Shumpeter (1985).

EMPREENDER É PRECISO

Swedberg (2000) informa que o vocábulo francês en-treprendre significa fazer algo ou empreender. Este legado vem dos trabalhos originais dos economistas franceses, Ri-chard Cantilion e Jean-Baptiste Say. Estes dois pensadores dedicaram especial atenção à criação de novas empresas e aos procedimentos gerenciais (DE PAULA; CERQUEI-RA E ALBUQUERQUE, 2004). Para além disso, Cantillon (1680-1734) e Say (1767-1832) dedicaram seus estudos na abordagem do empresário. Cantillon pela vivência empre-sarial (ROLL, 1972), já Say foi o pensador mais perspicaz da ciência econômica, via o empresário como alguém que busca oportunidades (FILION, 1998 ; FILION, 1999).

Para além das ideias econômicas, Say afirmava que o empresário detem um perfil e características empreende-doras. Nesse sentido, os perfis desejáveis a um empresário, agente ou “mestre-agente”, deveriam ser a capacidade de compreender os desafios do mundo empresarial: planeja-mento, avaliação de projetos e processo de correr riscos. Say, no lado comportamental expôs qualidades morais que deveriam fazer parte dos valores do empresário, como: conhecimento de mundo, perseverança, julgamento, bom senso, além de expertise de negócios (SAY, 1972). Como se vê os economistas deixaram legado tanto dos aspectos econômicos quanto dos aspectos comportamentais.

Outro pensador econômico que contribuiu com o aprofundamento das reflexões do fenômeno empreendedor foi Alfred Marshall (1842-1924). Este autor contribuiu para a discussão sobre empreendedorismo, no seu livro “Princí-pios de Economia” de 1980. Ele reconheceu a necessidade de incorporar nos três fatores clásicos de produção (terra, capital e trabalho) o termo “organização”. Segundo Mar-shall (1985), a organização seria um fator que coordenaria os outros, e via no empreendedorismo a força motriz dos empreendimentos.

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Sabe-se que empreender está envolvido em riscos e incertezas. Quem estudou estes aspectos visíveis na econo-mia foi Frank Knight. Percebe-se, pois, que no mundo das empresas o risco e a incerteza estão relacionados em todas as situações vividas pelos empresários. Comprar, vender, investir, aumentar a estrutura da empresa, criar novos pro-dutos são procedimentos que acontecem nas organizações. Tudo isso é decidido sem a certeza de produzir resultados favorávies. Em sendo assim, o empreendedor deve estimar risco (situação já ocorrida) e evitar incerteza (situação des-conhecida), nas palavras de Knight (1972).

Diversos são os autores que contribuíram para o for-talecimento do processo empreendedor, dentre eles, desta-cam-se: Knight (1972), Salazar (2006), Schumpeter (1985) Casson (1982). Dentre estes, o maior expoente chama-se Schumpeter. Este autor chama a atenção a questão da ino-vação, e quem inova é o empreendedor. Seu contributo pode ser resumido em: a) introdução de um novo bem, b) introdução de um novo método de produção, c) abertura de um novo mercado, d) conquista de uma nova fonte de ofer-ta de matérias-primas e e) estabelecimento de uma nova organização (SCHUMPETER, 1985, p. 48-49).

Outros aspectos trabalhados referem-se a dimensão do empreendedorismo¸na questão psicológica. Principais autores: Filion (1999), McClelland (1961), Gibson et al. (2006). Todos eles descreveram, estudaram e interpretaram o lado subjetivo do empresário: consquistas, iniciativas, criatividade, autonomia, liderança, decisor, julgador, “jo-gador”. Timmons (1989) disse que o empreendedor tem a capacidade de compreender mercados.

Diante do exposto, o empreendedorismo para este es-tudo trabalha com duas vertentes a econônimca e a com-portamental. Agora, passa-se-á a explicitar o processo es-tratégico dos empresários.

ESTRATÉGIAS COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO PARA AS EMPRESAS

As estratégias empreendedoras, dependendo de cada paradigma teórico, são fontes de ações que proporcionam uma gestão competente. O processo de estratégia estabele-ce plano, observa o fluxo do mercado, analisa o ciclo das operações, mensura resultados, reorganiza as rotinas, cor-relaciona as melhoras práticas administrativas, descobre fatores que determinam o sucesso (lucro e sobrevivência) das empresas (Sarkar, 2010). O tema estratégia é atual e já foi muito discutido e trabalhado. Estratégia é “um conjunto de decisões tomadas por uma empresa, definidas a partir de objectivos hierarquizados, articulados entre si e coor-denadas ao longo do tempo, num período médio ou longo prazo”, sublinha Echaudemaison (2001: 147).

As microempresas e as empresas de pequeno porte precisam, urgentemente, incorporar nas suas atividades ad-ministrativas os pressupostos que as estratégias oferecem. Não precisa ser de tal forma burocratizada, sistematizada como as grandes corporações, mas necessitam de uma es-trutura que permita o empresário de pequeno porte visua-lizar como a empresa está sendo desempenhada, quais os resultados alcançados, como pode inovar sempre nas ativi-dades desenvolvidas, ter uma visão do ambiente interno e externo à empresa.

Em suma, a estratégia formal e escrita, de certo modo, proporciona um gerenciamento mais eficiente e eficaz das empresas. As estratégias, ao fazerem parte das diretrizes das organizações, possibilitam que os empreendimentos sejam bem-sucedidos – lucro e sobrevivência. A Tabela 1 a seguir, retirada dos trabalhos de Santos (2008) e Kreisig, Springer e Petry (2000), identifica alguns autores e seus conceitos de estratégia.

Vasconcelos e Sá (1996)

A estratégia tem a ver com “onde” combater o inimigo (que no caso das organizações é a concorrência) enquanto a táctica tem a ver com “como” combatê-lo.

Adriano Freire (1997) A disposição das tropas como vistas a alcançar a vitória sobre o inimigo, disposiçãoessa que se traduz na “formulação de um plano [qual plano de campanha militar] que reúne, de forma integrada, os objectivos, políticas e acções da organização, tendentes a criação de uma vantagem competitiva sustentada.

Abreu (2002) A estratégia é a necessidade impiedosa de se obter uma vantagem sobre o Outro e de que a medida derradeira do sucesso estratégico deve ser o lucro.

William Glueck (1988)

Estratégia pode ser definida como o plano destinado a assegurar que os objectivos centrais da organização sejam alcançados.

Rumelt, Schendel e Teece (1994)

Estratégia consiste em criar as condições susceptíveis de assegurar uma renda económica, bem como a descoberta de formas de garantir a sua sustentabilidade.

Wit e Meyer (1998) Estratégia é a linha de actuação de uma organização, destinada a atingir os seus propósitos.

Johnson e Scholes (2002)

Estratégia é entendida como a direcção e o âmbito de actuação de uma organização no longo prazo.

Kenichi Ohmae (1982)

Estratégia é uma via para alcançar, de forma tão eficiente quanto possível, uma vantagem sustentável sobre a competição.

Kenneth Andrews (1980)

Estratégia é o padrão de objectivos e das principais políticas para os alcançar, expressos de maneira a definir em que negócio a empresa está ou deverá estar, e o tipo de empresas que é ou deverá ser.

James Brian Quinn (1980)

Estratégia é essencialmente como um padrão de decisões, relativas aos principais objectivos, políticas e sequência de acções, altamente potenciadoras de efeitos sobre a viabilidade e orientação da empresa como um todo, ou que determinam o seu posicionamento competitivo por um período dilatado de tempo.

Henry Mintzberg (1978)

Distingue a estratégia intencionada ou desejada da estratégia efectivamente realizada, definindo a primeira como um plano, um caminho, uma direcção, um guia ou uma linha de acção para o futuro; e a segunda como o padrão num conjunto de decisões e acções.

Michael Porter (1985) Porter (1999)

A estratégia (competitiva) consiste na busca, por uma organização, de uma posição competitiva favorável numa indústria (…) contra as forças que deteminam a competição e rentabilidade nessa indústria. Estratégia é a criação de compatibilidade entre atividades da empresa.

Hiroyuki Itami (1987)

Estratégia é aquilo que determina a estrutura de actividades da organização, bem como as linhas orientadoras da coordenação daquelas, em ordem a assegurar a adaptação da organização ao seu meio envolvente em constante mutação.

Ansoff e McDonnel (1993)

Estratégia é um conjunto de regras de tomada de decisão para orientação do comportamento de uma organização.

Certo e Peter (1993) Estratégia como curso de ação com vistas a garantir que a organização alcance seus objetivos.

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Vasconcelos e Sá (1996)

A estratégia tem a ver com “onde” combater o inimigo (que no caso das organizações é a concorrência) enquanto a táctica tem a ver com “como” combatê-lo.

Adriano Freire (1997) A disposição das tropas como vistas a alcançar a vitória sobre o inimigo, disposiçãoessa que se traduz na “formulação de um plano [qual plano de campanha militar] que reúne, de forma integrada, os objectivos, políticas e acções da organização, tendentes a criação de uma vantagem competitiva sustentada.

Abreu (2002) A estratégia é a necessidade impiedosa de se obter uma vantagem sobre o Outro e de que a medida derradeira do sucesso estratégico deve ser o lucro.

William Glueck (1988)

Estratégia pode ser definida como o plano destinado a assegurar que os objectivos centrais da organização sejam alcançados.

Rumelt, Schendel e Teece (1994)

Estratégia consiste em criar as condições susceptíveis de assegurar uma renda económica, bem como a descoberta de formas de garantir a sua sustentabilidade.

Wit e Meyer (1998) Estratégia é a linha de actuação de uma organização, destinada a atingir os seus propósitos.

Johnson e Scholes (2002)

Estratégia é entendida como a direcção e o âmbito de actuação de uma organização no longo prazo.

Kenichi Ohmae (1982)

Estratégia é uma via para alcançar, de forma tão eficiente quanto possível, uma vantagem sustentável sobre a competição.

Kenneth Andrews (1980)

Estratégia é o padrão de objectivos e das principais políticas para os alcançar, expressos de maneira a definir em que negócio a empresa está ou deverá estar, e o tipo de empresas que é ou deverá ser.

James Brian Quinn (1980)

Estratégia é essencialmente como um padrão de decisões, relativas aos principais objectivos, políticas e sequência de acções, altamente potenciadoras de efeitos sobre a viabilidade e orientação da empresa como um todo, ou que determinam o seu posicionamento competitivo por um período dilatado de tempo.

Henry Mintzberg (1978)

Distingue a estratégia intencionada ou desejada da estratégia efectivamente realizada, definindo a primeira como um plano, um caminho, uma direcção, um guia ou uma linha de acção para o futuro; e a segunda como o padrão num conjunto de decisões e acções.

Michael Porter (1985) Porter (1999)

A estratégia (competitiva) consiste na busca, por uma organização, de uma posição competitiva favorável numa indústria (…) contra as forças que deteminam a competição e rentabilidade nessa indústria. Estratégia é a criação de compatibilidade entre atividades da empresa.

Hiroyuki Itami (1987)

Estratégia é aquilo que determina a estrutura de actividades da organização, bem como as linhas orientadoras da coordenação daquelas, em ordem a assegurar a adaptação da organização ao seu meio envolvente em constante mutação.

Ansoff e McDonnel (1993)

Estratégia é um conjunto de regras de tomada de decisão para orientação do comportamento de uma organização.

Certo e Peter (1993) Estratégia como curso de ação com vistas a garantir que a organização alcance seus objetivos.

Tabela 1 - Conceitos de EstratégiaFonte: Ipsis litteris do trabalho de Santos (2008: 112-119); Ipsis litteris do trabalho de Kreisig, Springer e Petry, (2000).

BREVE NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa de caráter quali-quantitativo trabalhou com às seguintes ferramentas: estudo exploratório, pes-quisa bibliográfica. A revisão da literatura teve como finalidade construir um quadro teórico-conceitual das estratégias e do processo empreendedor. Quanto ao tra-balho de campo, utilizaram-se as entrevistas com qua-tro responsáveis que diretamente fomentam o ambiente empresarial. Dois de agência de fomento e dois da área financeira. Utilizaram-se, ainda, observações, pesquisa documental (atas, relatórios e documentos). A análise do conteúdo interpretou as informações qualitativas. Por fim, os resultados revelaram um olhar do mundo empresarial da cidade de Itabuna (Ba). Abaixo uma Tabela (2) com as ideias principais das vertentes estudas neste trabalho.

Conceito Central Dimensões Indicadores Fenômeno Empreendedor

1 - Estratégia Fontes de informações, concorrência, planejamento, mercado fornecedores, vendas, investimentos, metas, negociação, cliente, financiamento, avaliação do ambiente externo

Fenômeno Empreendedor

3 – Determinantes institucionais

Nível de relacionamento com as entidades de fomento, avaliação dos serviços prestados pelos órgãos de fomento ao empreendedorismo.

Tabela 2 – Conceito central do Fenômeno EmpreendedorFonte: Elaborada pelo autor

ÓRGÃOS DE APOIO AOS NE-GÓCIOS: UM OLHAR SOBRE OS EMPREENDEDORES

As entrevistas foram realizadas com os representantes da AMPESBA (Associação das Micro e Pequenas Empresas do Estado Bahia), da ACI Associação Comercial e Empre-sarial de Itabuna), do Banco do Nordeste do Brasil e Caixa Econômica Federal. O questionário foi composto de dois tópicos principais; o primeiro, perguntou-se sobre o tema estratégia, bem abrangente; e o segundo, perguntaram--se as ações realizadas por cada instituição pesquisada. Logo de início, a pergunta estabelecida foi: como é visto pelas entidades de fomento o que é empreendedorismo? As palavras convertentes foram: investimento, risco, ino-vação, estratégia, iniciativa, mercado, responsabiliadade,

planejamento, agi-lidade, perspicácia, dedicação, deter-minaçao, habilida-es, competencias, visã, trabaho, cre-cimentos, credibili-dade, fé, progresso, emprego, renda,

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sustentabilidade, abnegação, curiosidade. Tudo mostar com é amplo o processo empreendedor. Para além dis-so, também, é complexo estabelecer parâmetros do ter-mo empreendedorismo. Este achado confirma os estudos dos pesquisadores (FILION, 1999A; SWEDBERG, 2000; GARTNER, 2001; AUSDRESTSCH, 2002; FALCONE E OSBORNE, 2005; BOAVA, 2006).

Como se comporta o ambiente externo? Os represen-tantes de entidades de fomento e dos bancos estudados disseram que Itabuna é favorável às atividades empresa-riais, mas apresenta alguma ambiguidade. Por que? De um lado, a cidade mostra oportunidades, como: pólo re-gional de serviços e de comércio em plena expansão, a localização geográfica, os outros municípios em seu en-torno; por outro lado, tem-se uma infraestrutura precária.

Um série de oportunidades serão abertas para os mi-cro e os pequenos empresários. Esse momento “único” (investimentos dos governos federal e estadual) possibi-litará inciar uma atividade ou fortalecer a já existente. O papel do empresário é descobrir as possibilidades que o mercado está a oferecer, e tentar tirar o melhor provei-to (CONEXÃO, 2010). Para ratificar esse entendimento, registraram-se algumas falas dos entrevistados, conforme demonstra o Quadro 1, a seguir.

Quadro 1 – Ambiente empreendedor de Itabuna: ambiguidades

As respostas dos representantes da entidades financei-ras tendem para as mesmas interpretações, como: a cidade é convergente, é um pólo de serviços, educação, saúde, o con-sumidor busca a cidade de Itabuna; isso favorece a atividade empresarial. Um dos entrevistados assegurou que existe uma ambiência favorável para os empreendedores na cidade, e o diretor, Omar Santos Costa, na sua exposição, declarou: “uma cidade que tem no seu ‘DNA’ o empreendedorismo, forjada no comércio varejista como principal entreposto co-mercial da região sul da Bahia” (Dados da pesquisa, 2010).

Com relação ao processo estratégico, os responsáveis das entidades de fomento e dos bancos revelaram que os empresários têm dificulade em trabalhar com as estratégias. As respostas apontaram que o empreendedor estabelece-se por uma necessidade de sobrevivência, os planos de negó-cios são negligenciados, eles conseguem sobreviver com muita dificuldade.

Nas suas reflexões, ficaram expostos que há uma ne-cessidade de prepar melhor os indivíduos para atuarem nos negócios; existe uma falta de planejamento generalizado.

O Quadro 2 expressa essa análise, através dos regis-tros dos respondentes:

Quadro 2 – Estratégias utilizadas pelos empreendedores de Itabuna

O mundo empresarial é cercado por desafios de to-das às ordens. O micro e pequeno empreendedor, nas suas atividades, vivenciam diversos obstáculos a serem ultra-passados, interno e externamento. Seja falta de capigal de giro, seja falta de apoio governamental. Seja mão de obra desqualificada, seja os impostos altos. Para tratar desse as-sunto, os representantes das entidades de fomento respon-deram a segunte inquirição: que desafios são encontrados pelos empresários?

O Quadro 3 apresenta as respostas:

AMPESBA Favorável: “Itabuna é sem dúvida que oferece um ambiente favorável aos empreendedores pela localização, clima”

Desfavorável: “falta políticas públicas para melhorar a sua infra-estrutura, (…) nossa mão de obra não está ainda preparada”

ACI Favorável: “o empresariado local tem investido em melhorias (…) Itabuna se destacou pelo eu comércio dinâmico e bem sucedido”

Desfavorável: “Se a cidade tivesse bons admininstradores, como prefeitos, teríamos certamente um ambiente muito melhor”

AMPESBA “geralmente [os empresários] não fazem plano de negócios e estudo de mercado, ainda usam de suas habilidades adquiridas na convivência prática, (…) tenho certeza que para continuar com os negócios funcionando terão que se adaptarem a nova cultura”

ACI “os empresários que se destacam e que são os verdadeiros empreendedores criaram suas próprias estratégias, mas com certeza, a geração mais jovem já está buscando, em sua grande maioria as universidades, e estará trabalhando mais tecnicamente e ampliando sua visão para aproveitar as oportunidades que virão”

Caixa Econômica Federal

“o micro, o pequeno, pequeníssimo, não tem como fazer uma pesquisa de mercado,identificar nicho para trabalhar. Ele olha-me, Marcus tem uma loja de calçados e está ganhando dinheiro, vai abrir outra loja, não é assim? João tem uma lanchonete, comprou um carrinho novo, vou abrir uma para mim também, geralmente é assim. Poderia seguir outros caminhos, começar pelo SEBRAE (…) é uma fonte de capacitação técnica. (…) eles começam um negócio sem saber onde está pisando, por isso que estatisticamente você sabe que a maioria das empresas sucumbe no segundo ano”.

Banco do Nordeste

“Infelizmente, a maioria [dos empesários] preocupa-se apenas com a implantação do empreendimento e não com a sustentabilidade do mesmo”.

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AMPESBA “Falta de políticas públicas para o fortatelecimento dos pequenos negócios. (…) A falta de crédito (…) Eu acho que é um dos grandes entraves para o surgimento de novos empreendedores, eu acho que é o sistema financeiro”

ACI “conhecer o mercado”

Banco do Nordeste “a competitividade, para se manter no mercado, é necessário um conjunto de fatores, que vai do atendimento à qualidade do serviço ou produto vendido”.

Quadro 3 – Desafios enfrentados pelos empreendedores de Itabuna

O respondente, responsável da Caixa Econômica Federal, relatou que o grande obstáculo, de início, é a questão do capital de giro. Nas suas declara-ções, o empresário, no arraque da empresa, em sua maioria, co-meça a atividade, sem dinheiro.

Pelo caminho percorrido através das análises, perce-be-se a complexidade do mundo empresarial de Itabuna. As atividades econômicas abrangem uma infinidade de contextos que foram atestados nas exposições verbais dos entrevistados quando conceituam ou pensam nos empre-endimentos.

Nesse momento, segundo ponto deste trabalho, far--se-á um relato das principais diretrizes desenvolvidas pelos órgãos de fomento para a melhoria do tecido em-presarial de Itabuna - Brasil. O grande desafio foi perce-ber como as práticas desses organismos proporcionam um melhor ambiente empresarial.

ÓRGÃOS DE APOIO A ATIVIDADE EM-PRESARIAL: PAPÉIS INSTITUCIONAIS DA AMPESBA, ACI, BANCO DO NORDES-TE E CAIXA ECOÔMICA

A primeira reflexão está relacionada com o papel ins-titucional dos órgãos de fomento. Perguntaram-se aos seus líderes, quais os auxílios na criação e na continuidade de uma atividade econômica. O representante da AMPESBA diz que sua meta é representar o segmento das micro e pe-quenas empresas junto aos poderes constituídos, lutar por melhores condições perante o sistema financeiro e criar

condições favoráveis na questão tributária. O responden-te afirmou que as suas realizações estão muito longe das suas necessidades, mas acrescentou que precisa fazer muito mais.

O representante da ACI disse que oferece: cursos, congressos, fórum de lideranças, apoio jurídico e contábil, articulações políticas, busca de investimentos externos, campanhas promocionais de vendas acontecem em Itabu-na. Esses eventos são visíveis, e estão registrados nos docu-mentos internos dos órgaõs de fomento (ACI), nas agências de publicidade, nos jornais, na mídia. Os própositos são válidos, mas essas atividades da AMPESBA E ACI devem ser aperfeiçoadas, pois poucos dos empresários dos ME E EPP participam. Muitas vezes nem ficam sabendo. O Qua-dro 4, em forma de resumo, informa as contribuições das duas entidades pesquisas.

AMPESBA Gerenciais Consultoria em gestão, projeto participativo com os empresários. Financeiros Consultoria em crédito. Tecnológicos Suporte técnico – site: ampesba.webnode.com.br. Comportamentais Parcerias com as universidades, empresas juniores, faculdades.

ACI Financeiros Instalação da JUCEB. Tecnológicos www.acei.org.br. Comportamentais Fórum de Líderes Empresariais; parceria com o SEBRAE e Empresa Junior

da UESC - Movimentos em prol do empreendedorismo. Quadro 4 – Ações das entidades de fomento.

Os papéis instituicionais dessas entidades, suas ações, estão muito distantes da realidade empresarial, existe um gap entre as propostas, diretrizes e os fatos que favoreçam e fortaleçam o espírito empresarial da cidade, esses orga-nismos precisam dar um salto qualitativo de melhorias adi-cionais para os empresários de Itabuna - Brasil.

Nas observações e nas análises desenvolvidas, consi-dera-se que esses órgãos precisam avançar muito nas suas proposições. As práticas apresentam-se pontuais, isoladas e incipientes. Um ou outro acontecimento sem impacto significante para o fenômeno empresarial. Na convivência com o empresário, percebe-se que as articulações entre es-sas entidades são apenas cordiais, não se visualiza nenhum contrato consistente, nem tão pouco programas efetivos em favor do tecido empresarial.

A última parte do roteiro das entrevistas realizadas com as entidades financeiras abordou o papel institucional dos agentes de crédito na criação e nas orientações quanto à continuidade dos negócios. Perguntou-se, ainda, sobre as linhas de crédito, tipos, taxas, juros, carência, exigências e garantias, motivos de indeferimento da solicitação credití-cia, e quais as diferenciadas linhas de créditopara os micro e pequenos empreendimentos.

Observou-se que os créditos existem em abundância. Os bancos disponibilizam para os empresários financia-

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mentos com linhas diferenciadas, com juros bem menores do que os praticados no mercado. Há uma variedade de em-préstimos; depende do ramo e do setor em que a empresa atua. Assim, os recursos financeiros vão para todos os se-tores: turístico, comercial, indústrial, enfim, uma infinidade de propostas creditícias.

Salienta-se, pois, que os empréstimos propostos pelos bancos existem, entretanto o crédito com juros baixos não chegam aos empresários por diversos motivos. Os motivos apresentados por esses representantes são: falta de docu-mentação, desorganização da parte contábel, falta de plano de negócio, estratégias em desacordo com o objeto do em-préstimo etc.

Os respondentes sinalizaram, ainda, algumas práticas pertinentes para o fortalecer da economia local, através dos micro e dos pequenos empreendimentos. Dentre elas, algu-mas ações foram relevantes: criação de um plano de médio e longo prazo articulado entre as entidades, desenvolvi-mento de políticas públicas que beneficie os empreendedo-res, divulgação das atividades do comércio, identificação das condições oportunas para os ideais dos empresários.

Diante do exposto, fica evidente que se tem um lon-go caminho a ser percorrido para que se possa robuste-cer a classe empresarial da cidade estudada. Os desafios são imensos, as demandas intensas. Acredita-se que os stakeholders dessas entidades, em articulação, possam transformar o tecido empresarial muito mais sólido, com-petitivo e coeso, quiçá uma cidade empreendedora, já pen-sado por Drucker (1986).

As estretégias devem ser praticadas pelos empre-sários. Profissonalizar as ações é um bom caminho a ser desenvolvido pelas empresas. O conceito de empreendedo-rismo é muito vasto e alargado. As entidades de fomentos e as instituições creditícias potencializam o crescimentos das ME e das EPP, mas podem ser bem mais ampliadas. Mesmo assim, ações mais concretas devem ser feias pelos empreendedores. Já as entidades, precisam estar mais perto dos homens de negócios com práticas (fomentos) que real-mente façam a diferença.

5 Considerações Finais: por uma maior integraçãoEste estudo abordou três aspecos do processo empre-

endedor: a) a questão ambiente externo, as estratégias e as diretrizes de fomentos das entidade que fomentam o tecido empresarial. Os órgãos de apoio ao empreendedorismo, em tese, é importante para dinamizar a economia, uma vez que, o empresariado fortalecido gera uma cidade mais próspe-ra. A cidade estudada apresenta-se favorável às atividades econômicas por ser um centro convergente. Os organismos de apoio incentivam , em parte, a abertura de empresas, especialmente, as de pequeno porte. Nesse sentido, o Bra-sil tem boas perspectivas para o crescimento econômico e social nos próximos dez anos (2011-2021), e o município em análise pode aproveitar esse momento.

Observa-se, pois, que a cidade estudada, no ambien-te externo, tem muitas oportunidades para o empresariado.

Construir uma cidade empreendedora é preciso. A entida-des de fomento precisam estar articuladas para movimentar a economia local com o intuito de promover o fenômeno empreendedor. Sabe-se, pelos resultados desta pesquisa, que muitas fragilidades são visíveis, mas novos procedi-mentos são necessários para tornar Itabuna uma cidade mais próspera e em preparada para as ativiadades econô-micas. As entidades (AMPESBA, ACI, BANCO SO NOR-DESTE, CAIXA ECONÕMICA) devem atuar de maneira mais efetiva nos seus propósitos; as atividades realizadas por esses órgãos são desarticuladas. Itabuna, Bahia, Brasil tem que “viver” o modelo empreendedor.

Pode-se inferir que as entidades de fomento trabalham de maneira individual, não são integradas. O ambiente ex-terno é contraditório, de um lado, oportunidades; e do ou-tro, muitas ameaças. As entidades pesquisadas operam bem distantes uma das outras, apenas com relacionamentos cor-diais. Os diretores dessas entidades precisam pensar num plano alargado que contemple a solução às objeções iden-tificadas no cenário empresarial de Itabuna. As situações críticas devem ser enfrentadas, não só pelos empresários individuais, como também pelos seus representantes. A ci-dade precisa melhorar sua infraestrutura, facilitar o acesso ao crédito com menores juros para as atividades produtivas.

Na questão de estratégias, ficou patente que o empre-endedor trabalha com a estrutura vivencial, aprende nas experiências do dia a dia. Procedimentos mais bem estrutu-rados são bem vindos no gerenciamento de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. Utilizar princípios básicos da gestão já é um bom começo. A profissionalização dos empreendedores melhora o gerenciamento das empresas. Assim, acredita-se que o empresariado atuará com ideias bem mais sistematizadas por imperativos exigidos do mer-cado competitivo. Ou o empresário organiza as empresas ou a vida das organizações serão muito efêmeras.

Por fim, acredita-se na possibilidade de avanço do empreededorismo. Conforme já destacado, o contexto do país e da região é favorável. Entretanto, o planejamen-to articulado dos órgãos de fomento ainda se mostra como principal viés para a construção de um empreendedorismo consistente e sustentável em longo prazo no município. Já o empreendedor melhor qualificado com estratégias mais apuradas, em tese, pode ter continuidade nos negócios.

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Afrodescendentes em comerciais: análise do papel da mídia na difusão das representações sociais

Rejane Alexandrina Domingues Pereira do Prado (Universidade Federal de Uberlândia - UFU, Universidade Nove de Julho - UNINOVE) [email protected]

Marli Auxiliadora da Silva(Universidade Federal de Uberlândia - UFU) [email protected]

Claudia Rosa Acevedo (Universidade de São Paulo - USP; PPGA – FMU) [email protected]

Resumo: Comerciais temáticos veiculados pela televisão, maior mídia de massa, são muito usados especialmente em eventos como a Copa do Mundo de Futebol, para divulgação e envolvimento de consumidores. Considerando a representatividade po-pulacional e econômica dos afrodescendentes e a penetração dessa mídia, este estudo exploratório com abordagem qualitativa, por meio de análise documental de 40 vídeos televisivos temáticos, investigou o conteúdo de peças publicitárias, a participação dos afrodescendentes e exposição do produto em campanhas publicitárias relacionadas às copas do mundo. Com participação em 60% dos vídeos analisados, verificou-se que os personagens afrodescendentes aparecem como figurantes em 21% deles e, na maioria, não manuseavam o produto divulgado, constatando-se que, mesmo em comerciais ligados ao futebol, a sua repre-sentação na mídia não é marcante ou expressiva sendo a participação de afrodescendentes mais efetiva em peças publicitárias com produtos baratos.

Palavras-chave: Afrodescendentes. Comerciais televisivos. Copa do Mundo. Representação Social. Mídia.

Afrodescendants in commercial: analysis of the role of media in the dissemination of social representations

Abstract: Themes commercials aired on television, most mass media, are widely used especially in events like the FIFA World Cup, for publicity and involvement of consumers. Considering the economic and population representation of african descent and penetration of this media, this exploratory study with a qualitative approach, through documentary analysis of 40 thematic television videos, investigated the content of advertising, the participation of african descent and product display advertising campaigns related to world Cups. With 60% participation in the videos analyzed, it was found that the characters african descent appear as extras in 21% of them and mostly non-handled the product released, noting that, even in commercials related to football, its representation in the media is not being marked or significant participation of african descent more effective in advertising with cheap goods.

Keywords: African descente. Televisions commercials. World Cup. Social representation. Media.

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INTRODUÇÃO

A copa do mundo de futebol, evento de repercussão mundial, foi criada em 1928 pelo francês Jules Rimet, após assumir a presidência da Federation International Football Association (FIFA), e é realizada periodicamente, de quatro em quatro anos. O primeiro campeonato data de 1930, tendo sido suspenso de 1942 a 1946, devido à Segunda Guerra Mundial. Até hoje foram realizadas dezenove copas mun-diais de futebol e a próxima, em 2014, ocorrerá no Brasil (FIFA, 2010). Dentro do cenário esportivo internacional, os Jogos Olímpicos Modernos e as Copas do Mundo de futebol são os eventos que mobilizam o maior número de pessoas no mundo, fato este atribuído, sobretudo à cobertura dos meios de comunicação (CABO, 2008).

Assim como no restante do mundo, no Brasil, a copa é um evento de grandes proporções e gera envolvimento to-tal da população. Todas as raças, sexos e classes sociais se voltam para o campeonato quando de sua ocorrência. Nesse período, as organizações desenvolvem comerciais temáticos para promoção de seus produtos e serviços e, por isso, veri-fica-se incremento na quantidade, diversidade e criativida-de de comerciais, especialmente naqueles alusivos à copa e muitos grupos étnicos são representados nesses comerciais.

Estudos realizados sobre a representação social dos afrodescendentes na mídia de massa têm demonstrado que esse grupo étnico tem presença secundária na comunicação e, muitas vezes, simplesmente não está presente (ACEVE-DO e outros, 2006). Essa constatação leva a várias indaga-ções sobre os comerciais exibidos em período de realização da Copa do Mundo: esses comerciais são voltados para o público em geral ou privilegiam determinadas etnias? Os afrodescendentes estão presentes nestes comerciais? Os afrodescendentes são representados nesses comerciais? Os afrodescendentes estão presentes em comerciais de produ-tos mais caros, ou seja, com maior preço de venda ou apenas naqueles que divulgam produtos mais baratos?

Dadas essas questões objetivou-se, nesse estudo, analisar a presença dos afrodescendentes em comerciais da mídia televisiva brasileira, em campanhas relacionadas às copas do mundo desde seu início até os dias atuais, avalian-do peças publicitárias de empresas de vários segmentos para identificar o índice de presença desse grupo nos comerciais; verificar se a presença dos afrodescendentes ocorre tanto em comerciais de produtos mais caros quanto naqueles de produtos mais baratos ou se há distinção entre eles, espe-cialmente com relação às falas e exposição do produto, e comparar, ainda, as informações levantadas nesta pesquisa com outras que estudaram a representação social dos afro-descendentes na mídia de massa.

Estudos realizados por Acevedo e outros (2006) revelaram que os afrodescendentes compreendem que o seu retrato na mídia de massa está associado apenas ao futebol, ao carnaval, ao samba, ao pagode ou ao funk de periferia e que este grupo étnico não é valorizado enquanto consumidor

de produtos caros. Observa-se, todavia, que os afrodescen-dentes constituem a maior parcela da população brasileira e dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2009, evidenciam que 6,9% da população se considera negra e 44,2% pardos (mulatos, caboclos e cafu-zos) (IBGE, 2009).

Representando 51,1% da população e com 5,5 mi-lhões de pessoas pertencentes com renda superior a 20 sa-lários mínimos, esse grupo étnico despertou a atenção do empresariado brasileiro, que visa conquistá-lo (SODRÉ, 2000) e de estudiosos que investigam sua representação so-cial. Robertson e Kassarjian (1991) afirmam que, desde a década de 60, existe uma linha de pesquisa dentro da área de comportamento do consumidor que analisa a equidade das práticas de marketing em relação a minorias, tais como os grupos étnicos, mulheres e crianças.

Pesquisas sobre a temática representações sociais dos afrodescendentes, no Brasil, são incipientes. Acevedo e ou-tros (2006) citam que em análise cronológica de publica-ções, de 1998 a 2005, nos Anais dos Encontros Nacionais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD), não se constatou nenhum es-tudo sobre o tema, enquanto que os Anais de 2006 a 2010 trazem apenas duas publicações, uma de Acevedo e outros (2006) e outra de Acevedo, Campanário e Nohara (2008). Tão pouco, anais do Simpósio de Administração da Pro-dução, Logística e Operações Internacionais (SIMPOI) publicou-se pesquisas sobre o tema entre os anos de 2002 a 2010.

Apesar da importância desse grupo étnico na eco-nomia brasileira, há poucos estudos sobre a temática re-presentação social dos afrodescendentes e, em função da representatividade populacional desse grupo justifica-se desenvolver estudos que busquem analisar e entender o comportamento desses consumidores e sua representação social nas mídias de massa.

REVISÃO DA LITERATURA

Nesta seção discute-se, inicialmente a literatura sobre a propaganda televisiva em períodos de Copa do Mundo e na sequência apresenta-se a revisão sobre os afrodescen-dentes, a mídia e o seu papel na difusão das representações sociais.

PROPAGANDAS TELEVISIVAS NAS CAM-PANHAS DE COPAS DO MUNDO

A propaganda deve ser estudada como um campo de problemas e a preocupação não deve ser com o que é co-municado, mas sim com a maneira com que se comunica e com o significado que a comunicação tem para o ser hu-mano (ALEXANDRE, 2001). Apesar dos vários veículos existentes para divulgar a propaganda, a televisão é consi-

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derada a mídia de massa com maior penetração em todas as camadas sociais e grupos étnicos, sendo que o comercial de 30 segundos na televisão continua sendo um dos mais usados (KOTLER e KELLER, 2006).

Em épocas de Copa do Mundo de Futebol os comer-ciais temáticos são muito usados para envolver os consu-midores, pois a audiência desse veículo, nesse período, é extremamente superior aos períodos normais. No Brasil, em copas do mundo a audiência média de jogos da seleção brasileira supera os 100 milhões de espectadores. Em 2002, mesmo em jogo ocorrido às 3 horas da madrugada, como Brasil versus Inglaterra, a audiência alcançou picos inco-muns para o horário. Gastaldo e outros (2005, p. 4) afir-mam que “o interesse social pelo futebol no Brasil durante a Copa é apropriado pela mídia, que, em princípio, atende a uma demanda social pré-existente, produzindo peças de comunicação e criando um circuito de produção e consumo motivado pelo evento em curso”.

Na sequência discute-se a relação do grupo étnico afrodescendentes com a mídia, especialmente a televisiva e o papel desta nas representações sociais.

OS AFRODESCENDENTES, A MÍDIA E O SEU PAPEL NA DIFUSÃO DAS REPRE-SENTAÇÕES SOCIAIS

Os afrodescendentes inserem-se no grupo étnico for-mado por negros e pardos (mulatos, caboclos e cafuzos) (IBGE, 2009). Representa mais da metade da população brasileira e, no entanto é considerado um grupo de exclu-ídos por não usufruírem de muitos recursos, benefícios e reconhecimento que outros grupos étnicos usufruem.

Hasenbalg (1982) cita que a propaganda brasileira é marcada pela ausência de afrodescendentes. Em suas pes-quisas constatou que em apenas 3% dos comerciais de te-levisão havia a presença de modelos afros. Subervi-Velez e Oliveira (1991) por meio da análise de 1500 comerciais de três grandes redes de TV, nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, apresentados em horário nobre, identifica-ram que os afrodescendentes só apareciam em 39 deles. Em apenas nove eles possuíam papel com fala, pois geralmente seus papeis eram secundários.

Araújo (2000) e Acevedo e outros (2006) relatam que a representação social dos afrodescendentes na mídia de massa tem ocorrido de forma deturpada, na percepção desses e, muitas vezes, esse grupo não é representado pela mídia de massa. Observaram, também, que mesmo quando este grupo está presente na mídia de massa, essa presença ficou aquém do que se espera em função da representativi-dade populacional desse grupo étnico.

Entende-se por representações sociais a maneira pela qual uma coletividade representa a si própria e suas rela-ções com os objetos que a cercam (DURKHEIM, 1978). Na psicologia social as representações sociais refletem, por um lado, a forma como os indivíduos, grupos ou sujeitos

sociais, constrói seu conhecimento a partir da sua inscrição social, cultural etc., e por outro, a forma como a socieda-de se dá a conhecer e constrói esse conhecimento com os indivíduos (ARRUDA, 2002). A influência da mídia nos hábitos de consumo e a indiscutível e expressiva participa-ção dos afrodescendentes na composição da população bra-sileira reafirma a importância do papel da mídia na difusão das representações sociais deste grupo.

Alexandre (2001) afirma que os meios de comunica-ção de massa são instrumentos essenciais na produção da nova coesão social, porque lidam com a fabricação, repro-dução e disseminação de representações sociais que fun-damentam a própria compreensão que os grupos sociais têm de si mesmos e dos outros. Todavia, essa liberdade de representações encontrada nos meios de massa coloca questões de peso sobre os efeitos da globalização e da tec-nologia para os grupos sociais minoritários ou excluídos que são muitas vezes deixados de lado ou representados de formas negativas (GUARESHI, 1998).

Partindo do princípio de que a comunicação se destina a influenciar o comportamento, é preciso compreender as variáveis e os processos que determinam o comportamento e suas mudanças, para que haja efetividade na comunica-ção. A comunicação, sob a perspectiva da representação social, é um fenômeno pelo qual uma pessoa influencia ou esclarece outra que, por sua vez, pode fazer o mesmo em relação à primeira (ALEXANDRE, 2001).

PROCEDIMENTOS METODOLÓ-GICOS

Este estudo utilizou-se do método de pesquisa quali-tativo. Godoy (1995) cita que a pesquisa qualitativa ocupa, atualmente, amplo reconhecimento entre as várias possibi-lidades de se estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relações sociais, estabelecidas em diversos ambientes. A utilização desse método de pes-quisa apresenta crescimento no campo da administração, pois em virtude das mudanças por quais as organizações têm passado há uma necessidade de não apenas entender, mas de compreender os fenômenos sociais vivenciados. Flick (2004), afirma que na Europa isso já é uma realidade muito forte.

A técnica de pesquisa utilizada consistiu de análise documental de vídeos televisivos. A importância dessa téc-nica na pesquisa qualitativa deve-se ao fato de que permite complementar informações obtidas por meio de outras téc-nicas, como apresentar aspectos novos de um tema ou pro-blema (LUDKE; ANDRÉ, 1986). Foram analisados comer-ciais de diversas empresas dos setores alimentício, bebidas, combustíveis, bancos, automobilístico, eletroeletrônico e calçadista em campanhas de copas do mundo.

Iniciou-se a busca por comerciais a partir da copa de 1970, realizada no México, uma vez que a TV no Brasil

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teve sua introdução em 1950, mas só a partir da década de 70 é que os anunciantes começaram a comprar espaços entre os programas para divulgar seus produtos em comer-ciais (HISTÓRIA DA TV, 2010), todavia, na fonte pesqui-sada só foram encontrados comerciais a partir da copa de 1982. A análise foi feita, individualmente, por cada uma das pesquisadoras para que uma não influenciasse a outra em suas percepções. Os comerciais televisivos analisados estão disponíveis na internet, no site do youtube - http://www.youtube.com - e foram analisados pelas pesquisa-doras nos meses de dezembro de 2010 e janeiro de 2011. Nesse período analisou-se 40 (quarenta) vídeos. A fonte de pesquisa e os comerciais analisados foram selecionados por conveniência.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Apresenta-se a análise geral dos vídeos, onde se ve-rificou aqueles em que há ou não a presença de afrodes-cendentes e a discussão relativa às particularidades de cada peça, conforme percepção das pesquisadoras.

ANÁLISE GERAL DOS COMERCIAIS

Somente a partir da copa de 1990 verifica-se presença de afrodescendentes nas peças pu-blicitárias. Embora tenham sido analisados quatro comerciais de copas disputadas em períodos anteriores, não foi encontrado nenhum vídeo com a presen-ça de representante desse grupo étnico, nesses comerciais temáticos. Na Tabela 1 evidencia-se que dentre os quarenta comerciais televisivos analisados apenas em vinte e quatro deles há presença de afrodescendentes.

A partir de 1990 verifica-se presença significativa de afrodescendentes nos comerciais televisivos temáticos. De acordo com as análises individuais dos vídeos observa--se que em muitos deles essa presença constitui-se de um aglomerado de pessoas e as personagens negras e/ou pardas aparecem entre a multidão não figurando como os protago-nistas dos comerciais. Estudos de Dominisck e Greenberg (1970) e Bush, Solomon e Hair (1977) afirmam que apesar de ter havido aumento no uso de modelos afrodescenden-tes, quando indivíduos deste grupo apareciam havia um maior número de pessoas na propaganda.

Nos comerciais analisados por setor, Tabela 2, perce-be-se presença significativa de afrodescendentes em todos eles, mesmo como coadjuvantes, exceto naqueles vídeos do setor automobilístico, cujos produtos são mais caros, onde não se observou presença de pessoas desse grupo étnico. Identificou-se, ainda, que em vários comerciais temáticos o afrodescendente não era uma pessoa comum à população, mas sim um afrodescendente de destaque no meio, como é o caso dos jogadores da Seleção Brasileira de Futebol.

Copa/Ano Presença de afrodescendentes

Não presença de afrodescendentes

Total de vídeos analisados

1982/Espanha 00 03 03 1986/México 00 01 01 1990/Itália 02 02 04 1994/Estados Unidos 02 03 05 1998/França 02 00 02 2002/Japão e Coréia do Sul 02 02 04 2006/Alemanha 06 03 09 2010/África do Sul 10 02 12 TOTAL 24 16 40

Tabela 1 - Relação dos comerciais televisivos analisados

Fonte: Os autores

Setor Presença de

afrodescendentes Presença de

afrodescendentes (Seleção Brasileira)

Não presença de afrodescendentes

Total de vídeos

analisados Alimentício 05 01 02 07 Bebidas 10 02 07 17 Bancário 05 - 01 06 Automobilístico 00 - 04 04 Calçadista 02 02 01 03 Combustível 01 - 01 02 Eletroeletrônicos 01 - 00 01 TOTAL 24 05 16 40

Tabela 2 - Relação dos comerciais por setor e por participação de jogadores da SeleçãoFonte: Os autores

Dentre os vários segmentos relacionados nesse es-tudo, o produto divulgado, de maior preço de venda no mercado, foi o automóvel e dentre os quatro comerciais

analisados do setor automobilístico (Peugeot, Fiat, Volkswagen e Pneus Continental) em nenhum deles ob-servou-se afrodescendentes na peça publicitária. Ocorrência essa susten-tada em pesquisa de Acevedo e ou-tros (2006) onde se constatou que os afrodescendentes compreendem que o seu retrato na mídia não é valori-zado enquanto consumidor de pro-dutos mais caros ou de maior valor de venda.

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ANÁLISES DO CONTEÚDO DAS PEÇAS PUBLICITÁRIAS, PARTICIPAÇÃO DOS AFRODESCENDENTES E EXPOSIÇÃO DO PRODUTO

Naqueles comerciais temáticos onde se observou a presença de afrodescendentes investigou-se se a mesma ocorria tanto em comerciais de produtos mais caros quanto naqueles de produtos mais baratos, especialmente com re-lação às falas e exposição do produto conforme exposto no Quadro 1, em apêndice.

No Quadro 2, em apêndice, tem-se a percepção das pesquisadoras com relação à participação desse grupo étni-co, inferindo-se que as informações levantadas nessa pes-quisa são similares à outras que estudaram a representação social dos afrodescendentes na mídia de massa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Confirmando os pressupostos das pesquisadoras ve-rificou-se que a Copa do Mundo de Futebol, por ser um evento que mobiliza número expressivo de público, espe-cialmente naqueles países que disputam o campeonato, re-produz um momento em que empresas de setores diversos usam mídias de massa para divulgação de seus produtos por meio de comerciais temáticos. Os resultados do estudo permitem conclusões interessantes. Devido à cobertura dos meios de comunicação e ao fomento da veiculação de co-merciais em função dos recordes de audiência nesta época, a mídia produz peças de comunicação criando um circuito de produção e consumo motivado pelo evento. Sendo as-sim, presumiu-se que todas as etnias estariam representa-das nessas peças publicitárias considerando a globalização do evento. Especialmente no Brasil, onde a maioria popula-cional é composta por afrodescendentes inferiu-se que es-ses estariam presentes nos comerciais temáticos, com parti-cipação expressiva, e que a presença dos afrodescendentes seria a mesma em comerciais de produtos caros e baratos o que não se confirmou.

Após a análise de 40 (quarenta) vídeos, desde a copa de 1982, constatou-se que a presença de afrodescendentes deu-se somente a partir de 1990. Do total de comerciais analisados eles estão presentes em 24 (vinte e quatro). Con-siderando que a participação dos afrodescendentes ocorre em 60% dos vídeos analisados, constata-se que as empre-sas brasileiras, de certa forma, se preocupam em represen-tar esse grupo étnico na divulgação de seus produtos.

Verificou-se que naqueles 24 (vinte e quatro) em que os afrodescendentes estão presentes, em 05 (cinco) pos-suem papeis secundários atuando simplesmente como co-adjuvantes. Tais resultados são corroborados em pesquisas de Hasenbalg (1982) que cita que a propaganda brasilei-ra é marcada pela ausência de afrodescendentes e Araújo (2000) que concluiu que, muitas vezes, os afrodescenden-tes não são representados pela mídia.

O estudo revela, ainda, que dentre os 24 (vinte e qua-tro) vídeos em que figuram afrodescendentes, em 05 (cin-co) peças os afrodescendentes são exibidos simplesmente como coadjuvantes. Em 06 (seis) comerciais eles possuem fala, ou seja, em apenas 25% dos comerciais e em doze eles seguram e/ou ingerem o produto, perfazendo 50% dos vídeos analisados com presença de afrodescendentes. Esta confirmação é similar e encontra sustentação nas pesqui-sas de Subervi-Velez e Oliveira (1991) onde, por meio da análise de 1500 comerciais de três grandes redes de TV, nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte identificou--se que os afrodescendentes só apareciam em 39 deles. Em apenas nove eles possuíam papel com fala, pois geralmente seus papeis eram secundários.

A pesquisa mostrou, também, que a participação dos afrodescendentes é mais efetiva em peças publicitárias de produtos baratos, uma vez que nos comerciais do produto mais caro dentre os setores analisados, o veículo, os afro-descendentes não estiveram presentes em nenhum. Naque-les comerciais de cartão de crédito verificou-se que os afro-descendentes são apenas figurantes e aparecem sambando e/ou tocando instrumentos musicais, mas nunca usando e/ou exibindo o produto divulgado. Confirmou-se a consta-tação feita pela pesquisa de Acevedo e outros (2006) que revelou que os afrodescendentes compreendem que o seu retrato na mídia de massa não é valorizado enquanto con-sumidor de produtos caros.

Os afrodescendentes possuíram presença significativa nas peças exibidas em 2010, todavia, é imperioso ressaltar que a copa de 2010 foi realizada na África do Sul país de quase totalidade da população negra.

Conclui-se que a representação social dos afrodescen-dentes em comerciais temáticos, em campanhas de Copa do Mundo de Futebol, está aquém do que deveria em função da representatividade desse grupo étnico na economia bra-sileira. As agências publicitárias, organizações e empresá-rios devem se atentar para o fato e se prepararem para me-lhor atender e representar esse grupo de consumidores na copa de 2014, visto que muitos empresários já reconhecem sua representatividade para a economia brasileira. Além de representarem mais de 50% da população brasileira, pes-quisa de Sodré (2000) revela que o empresariado brasileiro visa conquistar esse mercado, visto que entendem que 5,5 milhões de pessoas pertencentes a este grupo étnico pos-suem renda superior a 20 salários mínimos.

Apesar dos próprios afrodescendentes julgarem que o seu retrato na mídia de massa está associado ao futebol, ao samba e ao funk, conforme conclusões de Acevedo e outros (2006) constatou-se, nessa pesquisa, que mesmo em comerciais ligados ao futebol a sua representação na mídia não é marcante e nem expressiva neste setor.

Dadas as conclusões iniciais e a contribuição com a ciência, visto que pesquisas sobre a temática são incipien-tes, pretende-se em pesquisa futura realizar o estudo com grupo de foco e apresentar os vídeos analisados para um

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grupo de afrodescendentes para análise da percepção deles em relação aos vídeos analisados nesta pesquisa.

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APÊNDICES

Ano Peça Publicitária

Análise do comercial

Descrição do Conteúdo da Peça Publicitária Fala dos

personagens afrodescendentes

Exposição do produto

Copa de

1990

Sadia S/A

Comercial de empresa do setor alimentício com duração de 30 segundos. Visualizam-se nove crianças chutando uma bola, sendo duas delas afrodescendentes. Observa-se que somente uma criança aparece nos quatro segundos iniciais, quando estão todas juntas. No decorrer da peça, a primeira e segunda criança aparecem chutando a bola. As crianças afrodescendentes são focalizadas em média por 8 segundos, ou seja, em 22,8% do comercial.

Não há fala dos afrodescendentes.

O produto não é manuseado pelos afrodescendentes.

Sharp S/A

Comercial de empresa do setor eletroeletrônico com duração de 30 segundos. São exibidas cenas diferenciadas, onde vários jogadores estilizados, alguns deles afrodescendentes, em campo, jogam futebol, enquanto outros personagens, em forma de estátuas, ao “vestirem” a camisa da seleção brasileira, dançam e se agitam.

Não há fala durante a exibição do vídeo, visto tratar-se de narração.

O produto temático – camisa da seleção – é vestido por todos.

Copa de

1994

Cerveja Antarctica

Comercial de empresa do setor de bebidas com duração de 60 segundos cujos protagonistas são a cantora brasileira Daniela Mercury (branca) e o cantor e pianista americano Ray Charles (afrodescendente). Enquanto a cantora canta música, cuja temática pretende ligar a paixão pelo futebol ao merecimento por uma cerveja, o pianista americano toca e pronuncia algumas palavras. Coadjuvantes dançam e entre eles são exibidos alguns afrodescendentes.

O afrodescendente possui fala, se expressando em inglês, durante a exibição do vídeo.

O produto não é manuseado pelo afrodescendente.

Cerveja Brahma

Comercial de empresa do setor de bebidas com duração de 60 segundos, agradecendo a seleção pela conquista do Tetra Campeonato. Nele a Seleção Brasileira de Futebol disputa uma partida de futebol sob fundo musical que inclui na música o slogan da marca divulgada. Alternadas às imagens da partida são mescladas imagens do público no estádio e, em ambas, aparecem vários afrodescendentes.

Não há fala dos afrodescendentes.

O produto não é manuseado expondo-se apenas o símbolo da marca.

Copa de

1998

Rider e Parmalat

Os vídeos resultam da junção de duas peças publicitárias, sendo um comercial de empresa do setor calçadista onde o jogador da Seleção Brasileira, o afrodescendente Roberto Carlos é o garoto-propaganda. No segundo vídeo, de uma empresa do setor alimentício são mostradas várias crianças vestidas de animais jogando bola com outro jogador da seleção. Além do jogador verifica-se a presença de uma criança afrodescendente.

Em ambas as peças os atores possuem fala durante a exibição do vídeo.

No primeiro vídeo o produto é calçado. No segundo vídeo o produto é ingerido.

Nike

Comercial de empresa do setor calçadista com duração de 60 segundos. Na peça publicitária jogadores afrodescendentes, da Seleção Brasileira que aguardam, no aeroporto, o vôo que está atrasado reproduzem lances de uma partida de futebol. Expectadores, no aeroporto, são focalizados, e percebe-se, muito rapidamente, a presença de um único afrodescendente.

Não há fala dos afrodescendentes.

Os jogadores estão todos vestidos com camisa com o símbolo da Nike.

Quadro 1 – Análise do conteúdo das peças publicitárias, participação dos afrodescendentes e exposição do produto

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Ano Peça Publicitária

Análise do comercial

Descrição do Conteúdo da Peça Publicitária Fala dos

personagens afrodescendentes

Exposição do produto

Copa de

2002 Coca Cola

Comercial do setor de bebidas com duração de 30 segundos. Música alusiva à felicidade de usar o produto com destaque ao futebol e copa do mundo é usada como fundo enquanto a torcida brasileira, formada por pessoas de várias etnias, dança e ingere o produto. A peça é estrelada pelo garoto propaganda Pelé (ex-jogador da Seleção Brasileira e afrodescendente)

Não há fala durante a exibição do vídeo.

Afrodescendentes, confraternizam, dançam, seguram e ingerem o produto.

Elma Chips

Comercial de empresa do setor alimentício com duração de 30 segundos. Um narrador enumera as características da promoção de Tazos da Copa, enquanto são focalizadas várias crianças, em sua maioria, brancas que brincam entre si, enquanto os afrodescendentes aparecem de relance, e não brincam ou manuseiam o produto apresentado no comercial.

Não há fala dos afrodescendentes.

O produto não é manuseado pelos afrodescendentes.

Copa de

2006

Pepsi Cola

Comercial de empresa do setor de bebidas com duração de 2 minutos. Retrata uma festa alemã típica com a participação de alguns jogadores da Seleção Brasileira de Futebol. Os únicos afrodescendentes presentes no comercial são os próprios jogadores da Seleção Brasileira. Há música e as pessoas dançam.

Não há fala dos afrodescendentes.

O produto é segurado e exibido por um único afrodescendente.

Banco Itaú

Comercial de empresa do setor bancário com duração de 1 minuto. Exibe a torcida brasileira nos estádios de futebol e nas ruas intercalando imagens do banco. Há um narrador que cita texto sobre o banco enquanto as imagens são exibidas. Há presença de afrodescendentes no comercial.

Não há fala durante a exibição do vídeo, visto tratar-se de narração.

Os produtos ou serviços não são expostos pelos afrodescendentes.

Copa de

2006

Petrobrás

Comercial do setor de combustíveis com duração de 60 segundos. Evidencia artistas, atletas e personalidades representantes da cultura, esportes e organizações sociais e ambientais junto com funcionários da Petrobrás, de várias etnias, incentivando a Seleção Brasileira. Em off, um narrador discorre sobre a Petrobrás enquanto as imagens são exibidas.

Não há fala durante a exibição do vídeo, visto tratar-se de narração.

Não há fala ou exposição do produto/serviço por afrodescendentes.

Guaraná Antarctica

Comercial do setor de bebidas com duração de 30 segundos. Exibe a Seleção Brasileira entrando em campo em caminhão com a logomarca do produto ao mesmo tempo em que evidencia imagens da torcida no estádio. O foco está numa criança branca, mas várias vezes são exibidas imagens de afrodescendentes entre a torcida e jogadores da Seleção Brasileira.

Não há fala dos afrodescendentes.

Afrodescendentes seguram uma lata do produto como os outros atores.

McDonald’s

Comercial do setor alimentício com duração de 1 minuto e 30 segundos. Evidenciam-se sete chefes de culinária preparando pratos típicos de alguns países, dentre os sete, um dos garotos-propaganda é afrodescendente, sendo este pardo.

O afrodescendente possui fala durante a exibição da peça.

Afrodescendentes seguram/explicam o produto.

continuação

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Ano Peça Publicitária

Análise do comercial

Descrição do Conteúdo da Peça Publicitária Fala dos

personagens afrodescendentes

Exposição do produto

Cartão Ourocard / Banco do

Brasil

Comercial do setor bancário com duração de 60 segundos. Exibe a torcida brasileira organizando-se enquanto um narrador discorre sobre o produto e imagens são exibidas. O personagem central – empresário e branco sai do trabalho, passa pela rua, compra alguma coisa e paga com o cartão da marca antes de chegar a casa para assistir o jogo com a família.

Não há fala dos afrodescendentes.

Afrodescendentes não manuseiam o produto.

Copa de

2010

Coca Cola Vídeo 1

Comercial do setor de bebidas com duração de 30 segundos. Evidencia uma partida de futebol e a torcida no estádio. Um texto é narrado, tendo como música de fundo uma canção do grupo musical Skank. Imagens exibem vários afrodescendentes, tanto entre os jogadores quanto entre a torcida, alguns deles vestindo camisa da Seleção da África do Sul e ingerindo o produto.

Não há fala dos afrodescendentes.

Afrodescendentes seguram e ingerem o produto.

Coca Cola Vídeo 2

Comercial do setor de bebidas com duração de 30 segundos. Destaca promoção alusiva a sorteio das bolas usadas durante os jogos do Brasil e outras bolas exclusivas, enquanto crianças negras, estilizadas, jogam descalças em campo de terra, após a ingestão do produto. Ao se marcar um gol o campo se transforma em um belo estádio repleto de torcedores.

Não há fala durante a exibição do vídeo, apenas narração.

O produto é segurado/ingerido pelos personagens afrodescendentes

Copa de

2010

Cerveja Brahma Vídeo 1

Comercial do setor de bebidas com duração de 60 segundos. Exibe pessoas enumerando uma lista de pedidos e intenções para a copa do mundo. Inicia-se com um personagem branco fazendo a abertura da peça e, durante o comercial aparecem vários afrodescendentes. Um deles veste camisa social e gravata dando a impressão de que seja um empresário.

O afrodescendente presente possui fala durante a exibição da peça.

O produto não é exposto ou ingerido durante a peça publicitária.

Cerveja Brahma Vídeo 2

Comercial do setor de bebidas com duração de 30 segundos. Exibe partida de futebol com destaque à superioridade do Brasil. Alterna imagens dos jogadores de várias seleções mundiais e um único jogador da Seleção Brasileira de Futebol, além da torcida no estádio. A presença de afrodescendentes restringe-se a jogadores da seleção brasileira e africana.

Não há fala dos afrodescendentes.

Afrodescendentes não expõem ou ingerido o produto.

Banco Itaú

Comercial do setor bancário com duração de 30 segundos. Texto sobre produtos e serviços da empresa é narrado sob fundo musical que chama o cliente. Verificam-se várias pessoas e entre elas alguns afrodescendentes. Aquelas bem vestidas, principalmente com terno ou camisa social e gravata, são pessoas brancas.

Não há fala durante a exibição do vídeo, visto tratar-se de narração.

Afrodescendentes não manuseiam ou exibem produtos ou serviços da marca.

continuação continuação

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Ano Peça Publicitária

Análise do comercial

Descrição do Conteúdo da Peça Publicitária Fala dos

personagens afrodescendentes

Exposição do produto

Pepsi Cola

Comercial do setor de bebidas com duração de 2 minutos e 30 segundos. Exibe povoado da África do Sul, na zona rural onde jogadores, brancos e negros conversam e ingerem produto da marca. Há muitas pessoas presentes e quase todos são afrodescendentes. Jogadores de destaque, de várias seleções, formam times que, sob fundo musical, iniciam partida em meio às savanas africanas. Os jogadores confraternizam e ingerem o produto.

Não há fala dos afrodescendentes.

Afrodescendentes seguram e ingerem o produto da marca.

McDonald’s

Comercial do setor alimentício com duração de 60 segundos. Exibe chefes de culinária preparando pratos típicos de alguns países, dentre os sete, um dos garotos-propaganda é afrodescendente de cor negra.

O afrodescendente possui falas durante a exibição da peça.

O produto é oferecido pelo afrodescendente.

Copa de

2010

Banco do Brasil /

Ourocard Vídeo 1

Comercial do setor bancário com duração de 30 segundos. Três atletas profissionais, representantes de esportes diferentes, explicam campanha promocional do produto cartão de crédito que pretende patrocinar a ida de torcedores da Seleção Brasileira à Copa do Mundo. Percebe-se, dentre o público coadjuvante da peça, vários participantes afrodescendentes, porém nenhum deles recebe destaque especial.

Não há fala dos afrodescendentes.

O produto não é exibido por afrodescendentes.

Banco do Brasil /

Ourocard Vídeo 2

Comercial do setor bancário com duração de 30 segundos. Sob a narração de texto que explicita as vantagens de um cartão temático, personagens com o rosto pintado e tocando instrumentos de percussão, vestem a camisa verde-amarela. Imagens de pessoas comprando e utilizando o cartão temático para pagamento são alternadas àquelas inicialmente mostradas. Ressalta-se que os usuários do cartão são compradores de cor branca.

Não há fala dos afrodescendentes

Os afrodescendentes não seguram ou usam o produto.

Seara

Comercial do setor alimentício com duração de 30 segundos. Durante sua exibição não há falas, apenas três jogadores da Seleção Brasileira de Futebol, usando camisas amarelas com a logomarca do produto fazem malabarismos com uma bola, sob fundo musical. Ressalta-se que dentre os garotos-propaganda, um é negro, outro é pardo e o terceiro é de cor branca. Ao final da peça um narrador associa o uso do produto à paixão pelo futebol.

Não há fala dos afrodescendentes

O produto não é exposto.

continuação

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Rejane Alexandrina Domingues Pereira do Prado, Marli Auxiliadora da Silva e Claudia Rosa Acevedo

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.77-88, 2014.

Ano Peça Publicitária

Análise da participação dos afrodescendentes (pardos e negros) nas peças publicitárias

Copa de

1990

Sadia S/A

Os atores representam etnias diferenciadas, e a presença dos afrodescendentes é pequena (apenas dois) quando relacionada ao total de protagonistas, 9 (nove). Os afrodescendentes participam como coadjuvantes e não são o centro das atenções. Acredita-se que sua inserção no comercial deva-se ao fato do campeonato mundial contar com seleções de vários países e, por conseguinte de várias etnias.

Sharp S/A

Os personagens estilizados do comercial exibem a diversidade de etnias brasileiras. Por tratar-se de um jogo de futebol as jogadas retratadas privilegiam a participação dos afrodescendentes, especialmente nos dribles e passes importantes, verificando-se sua função de “coadjuvantes apoiadores”, uma vez que o gol não foi marcado por um afrodescendente. Infere-se que os afrodescendentes participam de forma ativa no comercial, pois suas figuras estilizadas aparecem várias vezes, além de ser indispensável a presença dos mesmos visto que sua imagem, no Brasil, está ligada entre outras ao futebol.

Copa de

1994

Cerveja Antarctica

Os afrodescendentes participam de forma ativa no comercial, sendo focalizados várias vezes, porém, o centro das atenções é a cantora brasileira (branca). O tempo de exposição dos dois protagonistas durante a exibição é similar, porém verifica-se que a presença dos afrodescendentes é reforçada como componentes da bateria que faz a percussão, composta totalmente por negros. O comercial não privilegia, ainda, a participação do afrodescendente em momentos importantes como aqueles em que se mostra ou ingere-se o produto.

Cerveja Brahma

Nota-se expressiva presença de afrodescendentes, tanto de jogadores que compõem o time brasileiro assim como na plateia que assiste à partida de futebol, participando de forma ativa no comercial, ficando evidente a participação desse grupo no comercial, bem característico da imagem do futebol brasileiro. Na peça verifica-se a presença de afrodescendente como sambista.

Copa de

1998

Rider e Parmalat

Os afrodescendentes Ronaldo Nazário e Roberto Carlos participam de forma ativa nos comerciais. Infere-se que o destaque à presença de ambos os jogadores, decorra do fato de que esses são os garotos-propaganda das marcas veiculadas. Observa-se, ainda, no segundo comercial, do leite Parmalat, a participação ativa da criança afrodescendente.

Nike

Devido ao fato dos garotos-propaganda serem jogadores da Seleção Brasileira de Futebol, vários deles afrodescendentes, todos participam de forma ativa no comercial. No entanto, dentre os que assistem aos passes, presentes no saguão do aeroporto apenas um é afrodescendente.

Copa de

2002

Coca Cola Os afrodescendentes participam ativamente da peça publicitária tendo como garoto propaganda Pelé, que aparece sozinho e em destaque.

Elma Chips A visualização de afrodescendentes durante a exibição da peça publicitária é praticamente nula, participação pouco expressiva no comercial, haja vista estão espalhados entre uma plateia que assiste à brincadeira de duas crianças com o produto da marca.

Copa de

2006

Pepsi Cola

Os afrodescendentes participam de forma expressiva no comercial, porém a percepção que se tem é que só estão ali porque são os jogadores da seleção. Provavelmente, devido ao fato da peça representar uma festa típica alemã e este povo ser de etnia branca não houve a preocupação com a presença de afrodescendentes no comercial. A mensagem subliminar presente na peça publicitária instrui a “ousar para obter mais” e exibe jogadores afrodescendentes “um tanto confusos” sobre o que deveriam fazer para terem acesso ao produto, o qual em momento nenhum é ingerido por estes. Infere-se que há forte apelo à “malandragem e malícia” presentes na peça publicitária.

Banco Itaú

Percebe-se expressiva participação de afrodescendentes, porém como coadjuvantes no meio do público em geral. Estes estão misturados à plateia em um estádio de futebol, sendo que em vários momentos (quatro vezes) são objetos de zoom, em duas retratando famílias, em outra, próximo à logomarca envolvido na bandeira brasileira e finalmente em zoom isolado no centro da arquibancada.

Petrobrás

Os afrodescendentes participam de forma expressiva no comercial, mas como coadjuvantes no meio do público em geral. Percebe-se a inclusão de afrodescendentes em toda a peça publicitária, especialmente quando a empresa evidencia seu quadro de funcionários. Observa-se, ainda, que o samba/frevo e a percussão, são representados na peça, com predominância de afrodescendentes nesses momentos.

Quadro 2 - Percepção das pesquisadoras com relação aos vídeos analisados

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GESTÃO MERCADOLÓGICAAfrodescendentes em comerciais: análise do papel da mídia na difusão das representações sociais

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.77-88, 2014.

Ano Peça Publicitária

Análise da participação dos afrodescendentes (pardos e negros) nas peças publicitárias

Copa de

1990

Sadia S/A

Os atores representam etnias diferenciadas, e a presença dos afrodescendentes é pequena (apenas dois) quando relacionada ao total de protagonistas, 9 (nove). Os afrodescendentes participam como coadjuvantes e não são o centro das atenções. Acredita-se que sua inserção no comercial deva-se ao fato do campeonato mundial contar com seleções de vários países e, por conseguinte de várias etnias.

Sharp S/A

Os personagens estilizados do comercial exibem a diversidade de etnias brasileiras. Por tratar-se de um jogo de futebol as jogadas retratadas privilegiam a participação dos afrodescendentes, especialmente nos dribles e passes importantes, verificando-se sua função de “coadjuvantes apoiadores”, uma vez que o gol não foi marcado por um afrodescendente. Infere-se que os afrodescendentes participam de forma ativa no comercial, pois suas figuras estilizadas aparecem várias vezes, além de ser indispensável a presença dos mesmos visto que sua imagem, no Brasil, está ligada entre outras ao futebol.

Copa de

1994

Cerveja Antarctica

Os afrodescendentes participam de forma ativa no comercial, sendo focalizados várias vezes, porém, o centro das atenções é a cantora brasileira (branca). O tempo de exposição dos dois protagonistas durante a exibição é similar, porém verifica-se que a presença dos afrodescendentes é reforçada como componentes da bateria que faz a percussão, composta totalmente por negros. O comercial não privilegia, ainda, a participação do afrodescendente em momentos importantes como aqueles em que se mostra ou ingere-se o produto.

Cerveja Brahma

Nota-se expressiva presença de afrodescendentes, tanto de jogadores que compõem o time brasileiro assim como na plateia que assiste à partida de futebol, participando de forma ativa no comercial, ficando evidente a participação desse grupo no comercial, bem característico da imagem do futebol brasileiro. Na peça verifica-se a presença de afrodescendente como sambista.

Copa de

1998

Rider e Parmalat

Os afrodescendentes Ronaldo Nazário e Roberto Carlos participam de forma ativa nos comerciais. Infere-se que o destaque à presença de ambos os jogadores, decorra do fato de que esses são os garotos-propaganda das marcas veiculadas. Observa-se, ainda, no segundo comercial, do leite Parmalat, a participação ativa da criança afrodescendente.

Nike

Devido ao fato dos garotos-propaganda serem jogadores da Seleção Brasileira de Futebol, vários deles afrodescendentes, todos participam de forma ativa no comercial. No entanto, dentre os que assistem aos passes, presentes no saguão do aeroporto apenas um é afrodescendente.

Copa de

2002

Coca Cola Os afrodescendentes participam ativamente da peça publicitária tendo como garoto propaganda Pelé, que aparece sozinho e em destaque.

Elma Chips A visualização de afrodescendentes durante a exibição da peça publicitária é praticamente nula, participação pouco expressiva no comercial, haja vista estão espalhados entre uma plateia que assiste à brincadeira de duas crianças com o produto da marca.

Copa de

2006

Pepsi Cola

Os afrodescendentes participam de forma expressiva no comercial, porém a percepção que se tem é que só estão ali porque são os jogadores da seleção. Provavelmente, devido ao fato da peça representar uma festa típica alemã e este povo ser de etnia branca não houve a preocupação com a presença de afrodescendentes no comercial. A mensagem subliminar presente na peça publicitária instrui a “ousar para obter mais” e exibe jogadores afrodescendentes “um tanto confusos” sobre o que deveriam fazer para terem acesso ao produto, o qual em momento nenhum é ingerido por estes. Infere-se que há forte apelo à “malandragem e malícia” presentes na peça publicitária.

Banco Itaú

Percebe-se expressiva participação de afrodescendentes, porém como coadjuvantes no meio do público em geral. Estes estão misturados à plateia em um estádio de futebol, sendo que em vários momentos (quatro vezes) são objetos de zoom, em duas retratando famílias, em outra, próximo à logomarca envolvido na bandeira brasileira e finalmente em zoom isolado no centro da arquibancada.

Petrobrás

Os afrodescendentes participam de forma expressiva no comercial, mas como coadjuvantes no meio do público em geral. Percebe-se a inclusão de afrodescendentes em toda a peça publicitária, especialmente quando a empresa evidencia seu quadro de funcionários. Observa-se, ainda, que o samba/frevo e a percussão, são representados na peça, com predominância de afrodescendentes nesses momentos.

continuação

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Legitimação dos recursos humanos em cursos superiores a distância nas universidades federais mineiras

Maria Cecília Teixeira Reis (Universidade Federal de Viçosa) [email protected]

Danielle Valente Duarte (Universidade Federal de Viçosa) [email protected]

Vagner Alves Arantes (Universidade Federal de Viçosa) [email protected]

Layon Carlos Cezar (Universidade Federal de Viçosa) [email protected]

Telma Regina da Costa Guimarães Barbosa (Universidade Federal de Viçosa) [email protected]

Resumo: A pesquisa propõe identificar como as Universidades Federais Mineiras estão legitimando a variável equipe multidisci-plinar presente no documento “Referenciais de Qualidade para Educação a Distância”, em seus cursos superiores. Considerando que as questões de qualidade atribuídas às metodologias de ensino não vigoram atribuídas somente às ferramentas didáticas, optou-se por delinear e valorizar a preocupação com as pessoas envolvidas com a difusão do ensino EaD, no caso a equipe mul-tidisciplinar, composta por docentes, tutores e pessoal técnico-administrativo. Esta pesquisa, quanto à natureza, adota abordagem predominantemente qualitativa. Quanto aos meios, classifica-se como documental e de campo, e quanto aos fins, é descritiva. Os dados primários, considerando as onze Universidades Federais de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais, foram coletados por meio de entrevistas aplicadas aos sujeitos estratégicos, todos dirigentes das unidades de educação a distância dessas universidades. Identificou-se, segundo a percepção dos entrevistados, o excesso de trabalho para o docente, a impossibilidade de acúmulo de bolsas, a carência de docentes, a carência de tutores em área especifica, a falta de envolvimento e a carência de pessoal de apoio, fatores que mais têm comprometido as boas condições de atendimento da equipe multidisciplinar. Estes resultados apontam para a necessidade de a universidade investir em procedimentos capazes de revestir a equipe multidisciplinar dos requisitos necessários à oferta de um ensino a distância de qualidade, conforme preceituada nos “Referenciais de Qualidade”.

Palavras-chave: Referenciais de Qualidade. Educação a Distância. Políticas Públicas.

Human resources legitimation in distance college courses at federal universities from the state Minas Gerais – Brazil

Abstract:The main objective of this article is to analyze how the federal universities from the state of Minas Gerais have being legitimating the variable called “multidisciplinar variable” which is present at the “Quality Benchmarks for Distance Education” document in their courses. Taking account that the questions related to quality attributed to the teaching methodologies do not prevail attributed only to the teaching tools, this article made a delineation in order to promote the valorization of the people involved at the distance teaching (EaD), referring in this case to the multidisciplinary team which is composed for the professors, tutors and the technical-administrative staff. In methodological terms this research presents as a qualitative approach, in this sense the documental and bibliographical research and the research in loco with interviews were done. The interviews were focused on the strategic people, which ones are directors from the eleven Federal Universities from the state of Minas Gerais – Brazil surveyed. As result, according to the respondents perceptions it was found that the professor’s overwok, the inability to earn scholarships, the deficiency of professors, the lackness of tutors in specific areas, the need of commitment and the shortage of a staff team were the critical factors which have committed most the good conditions. This results points that the universities need to invest in procedures capable enough to endue the multidisciplinary team about the requirements needs to offer a quality distance education.

Keywords: Quality of References. Distance Education. Public Policy.

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INTRODUÇÃO

A Educação a Distância (EaD) no Brasil tem demons-trado importante capacidade de expansão e difusão e vem permitindo, por meio do acesso à educação superior, maior integração dos cidadãos em uma sociedade plural. Dados da então Secretaria de Educação a Distância (SEED), atual Se-cretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversida-de e Inclusão (SECADI), ligada ao Ministério da Educação (MEC), indicam que a EaD obteve crescimento de 6,32% de 2010 a 2011, chegando, em dezembro de 2011, à marca de um milhão de alunos matriculados em cursos superiores e de pós-graduação autorizados e credenciados pelo MEC (MEC/INEP, 2011).

A política de educação no Brasil trata a modalidade a distância com base legal estabelecida no art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), sendo regulamentada pelo Decreto nº 5.622/2005 e caracterizada pela mediação didático-pedagógica através do uso de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudan-tes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares diversos.

A regulamentação da EaD, especificamente para o nível superior, ocorreu com a publicação do Decreto nº 5.800/2006, que dispõe sobre o Sistema Universidade Aber-ta do Brasil (UAB) e trata do credenciamento de instituições que ministram cursos a distância com direito a certificação. Este Decreto no cumprimento de seu papel social possibili-tou que a educação superior aumentasse seu leque de oferta de cursos, além de ter contribuído para a expansão e inte-riorização da oferta de programas de educação superior no País.

No intuito de garantir à EaD a qualidade e as condi-ções básicas para o desenvolvimento dos cursos, o MEC elaborou o documento “Referenciais de Qualidade para a EaD”, que constitui um norteador para subsidiar atos legais do poder público no que se refere aos processos específicos de regulação, de supervisão e de avaliação da modalidade.

Com base no conteúdo do documento citado, entende--se que, para garantir o cumprimento dos objetivos do MEC em relação à qualidade da EaD e proporcionar a essa mo-dalidade a efetividade de uma política pública de expansão do ensino superior de qualidade, é preciso que as dimensões estabelecidas nos “Referenciais de Qualidade” sejam plena-mente adotadas e implantadas pelas Instituições de Ensino Superior (IES).

Acredita-se que, ao imprimir ações condizentes com os “Referenciais de Qualidade”, as IES possam proporcionar à educação superior a distância a legitimidade requerida pela sociedade e pelo Governo, adequando suas práticas e suas estruturas para o desenvolvimento dos cursos às normas es-tabelecidas. Ou seja, os “Referenciais de Qualidade” devem ser legitimados e institucionalizados nas IES.

Assim, a presente pesquisa propõe buscar respostas para a seguinte questão: Como as Universidades Federais

Mineiras estão legitimando a variável equipe multidiscipli-nar presente nos Referenciais de Qualidade para Educação a Distância em seus cursos superiores?

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As sociedades contemporâneas permitiram a emer-gência de iniciativas em EaD no intuito de atender a dina-micidade das mudanças sociais e educacionais (BELLONI, 2003). A EaD corresponde a uma estratégia desenvolvida através de sistemas educativos que se encarregam de ofe-recer educação a setores ou grupos da população que, por razões diversas, têm dificuldades de acesso a serviços de educação regulares (GONZALEZ, 2005). O autor comple-menta que nesta modalidade, professor e aluno estão se-parados no espaço e/ou tempo, o controle do aprendizado é realizado de forma mais intensa por parte do aluno e a comunicação é mediada por documentos impressos ou em-prego de tecnologia.

O crescimento, a expansão e o barateamento do acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) no Brasil e no mundo, de acordo Blois (2004, p. 102) fizeram com que “organizações até então afastadas da EaD passas-sem a encará-la como desafio a ser vencido, prevendo, em curto prazo incorporá-la às suas ações”. A EaD tem se nu-trido deste desenvolvimento tecnológico, incorporando às suas práticas diversas tecnologias.

Incentivados pelas oportunidades advindas do uso das TIC’s, cada vez mais cidadãos, instituições e o próprio Governo Federal vêem na forma de educar a distância um meio para democratizar o acesso ao conhecimento, bem como expandir oportunidades de trabalho e de aprendiza-gem ao longo da vida (ROSINI, 2007). Entre as exigên-cias do mercado de trabalho está a busca por maior nível de qualificação do trabalhador. Fato que podem vir a ser dirimido com o auxílio de avanços tecnológicos otimiza-dos em prol do âmbito educacional, de modo a qualificar, capacitar e desenvolver conhecimentos e habilidades nos trabalhadores, e fomentar a competitividade entre organi-zações, suprindo as necessidades do mercado de trabalho (MARTINEZ; PERIC, 2009). O crescimento da EaD atre-lado ao uso de novas tecnologias educacionais nas IES do Brasil, advêm da tendência de sedimentar políticas públi-cas do Estado à esta modalidade de ensino (TACHIZAWA; ANDRADE, 2003).

Para Franco (2005) a ampliação qualificada da EaD emerge como determinação política para intensificar a ofer-ta de educação em todos os níveis, atendendo maior nú-mero de indivíduos. Para o autor, a dimensão territorial do Brasil, a diversidade regional e social e a demanda crescen-te pela educação superior tornam a EaD uma prioridade a ser efetivamente concretizada e institucionalizada no País.

A atuação do poder público no sentido de exigir a con-solidação de práticas de ensino com um padrão de qualida-

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de que atenda aos princípios de uma educação democrática e transformadora garantirá ao aluno a oportunidade de es-tar se desenvolvendo como ser humano crítico, criterioso e consciente, que busque resolver os problemas atuais da sociedade onde vive (BACHA FILHO, 2003).

O documento “Referenciais de Qualidade para a EaD”, emitido pela então SEED, atual SECADI, constitui--se norteador para subsidiar atos legais do poder público no que se refere aos processos específicos de regulação, supervisão e avaliação da modalidade em questão. O docu-mento estabelece variáveis que contemplam: a concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendi-zagem; os sistemas de comunicação; o material didático; a avaliação; a equipe multidisciplinar; a infraestrutura de apoio; a gestão acadêmico-administrativa; e a sustentabili-dade financeira. Apresentaremos considerações específicas sobre a equipe multidisciplinar.

O estudo de Versuti (2004) concluiu que ao discutir a qualidade em EaD, as questões fundamentais não resi-dem apenas no nível das ferramentas didáticas, é preciso incluir e valorizar a preocupação com as pessoas, com os usuários que estão fazendo o curso, suas especificidades e interesses, e se possível otimizar o potencial das ferramen-tas disponíveis para atingir estes objetivos. Além da preo-cupação com os alunos usuários do curso é preponderan-te a configuração da equipe multidisciplinar com funções de planejamento, de implementação e gestão dos cursos a distância, onde as categorias profissionais de docentes, de tutores e de pessoal técnico-administrativo devem estar em constante qualificação.

A presença do professor/tutor que interage com seus alunos no sentido de reforçar comportamentos e ações mo-tivadoras em seu aprendizado é fundamental, pois ações motivacionais podem contribuir para redução do nível de evasão (GONZALEZ, 2005). Entretanto, a responsabili-dade de permanência no curso a distância é considerada decisão do aluno: depende dele, da sua força de vontade, da sua capacidade de organização e de concentração para manter-se no curso e finalizá-lo (LAPA; PRETTO, 2010).

O docente que ministra disciplinas a distância enfrenta novos desafios além dos que estaria sujeito nos moldes do ensino presencial. No ambiente de sala de aula, o profes-sor já se encontra em situação relativamente confortável e apresenta maior desenvoltura. O novo estilo educacio-nal permeia a intermediação expressiva do uso das TIC’s (LAPA; PRETTO, 2010).

O papel que o professor absorve na modalidade EaD reflete em responsabilidade e compromisso de “[...] ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contex-tualizá-los” (MORAN et al, 2006, p. 30). Entre as funções do instrutor consiste, ajudar os alunos a aprender o conte-údo do curso. Porém cabe ao instrutor descobrir quais for-mas de apoio se enquadram as necessidades de seus alunos, fato subjetivo e dependente da empatia e da capacidade do instrutor de entender as personalidades de seus alunos,

mesmo quando filtradas por comunicações transmitidas tecnologicamente (MOORE; KEARSLEY, 2008).

Em princípio, o afastamento físico entre professor e aluno pode ser dirimido por recursos tecnológicos, conco-mitantemente ao afastamento temporal entre o planejamen-to e a execução do processo de ensino e aprendizagem, isto é, do pensar e fazer da prática docente (SARAIVA, 1995). Como os materiais precisam ser preparados com antece-dência, geralmente os professores convidados a produzi--los – chamados professores conteudistas – nem sempre são aqueles que atuarão na oferta do curso ou da discipli-na – que são os denominados professores ministrantes. O professor conteudista deve elaborar o conteúdo a ser apre-sentado considerando o tempo de instrução disponível por parte do aluno, não agregando quantidades elevadas de ma-terial complementar para leitura (MOORE; KEARSLEY, 2008).

Quanto às atribuições dos tutores, a tutoria pode ser alocada em atividades a distância e presencialmente. A tutoria a distância media o processo pedagógico junto a estudantes geograficamente distantes dos pólos descentra-lizados de apoio presencial, priorizando o esclarecimento de dúvidas através fóruns de discussão, participação em videoconferências etc.

A tutoria é determinante para ação de aprendizagem, visando orientação acadêmica, acompanhamento pedagógi-co e avaliação dos alunos a distância. É necessário trabalhar criando condições para que a oferta de cursos a distância não seja prejudicada mediante deficiências de atendimento e dificuldades ao sanar dúvidas que naturalmente surgem à medida que os cursos são realizados (MOORE; KEARS-LEY, 2008). Espera-se do tutor, além do domínio da polí-tica educativa da instituição e do conhecimento atualizado das disciplinas sob sua responsabilidade, o devido domínio das ferramentas de trabalho (GONZALEZ, 2005).

Quanto ao pessoal técnico-administrativo o MEC (2007) arbitrai a função de oferecer apoio necessário para a realização dos cursos, atuando na sede da instituição junto à equipe docente responsável pela gestão do curso e nos pólos de apoio presencial. As atividades envolvem as di-mensões administrativas - funções de secretaria acadêmi-ca, registro e acompanhamento de matrícula, avaliação e certificação dos estudantes, no cumprimento de prazos e exigências legais; bem como no apoio ao corpo docente e de tutores nas atividades presenciais e a distância, distri-buição e recebimento de material didático, atendimento a estudantes; e tecnológicas - funções de suporte técnico para laboratórios e bibliotecas, como também nos serviços de manutenção e zeladoria de materiais e equipamentos.

METODOLOGIA

Esta pesquisa, quanto à natureza, adota abordagem predominantemente qualitativa.

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Quanto aos meios, esta pesquisa classifica-se como documental e de campo (VERGARA, 2006). Documental porque acessou documentos das universidades federais mi-neiras quanto aos procedimentos a respeito da adoção da modalidade EaD e das legislações pertinentes. E de campo por ter sido desenvolvida junto às universidades federais mineiras.

Quanto aos fins, é descritiva, uma vez que buscou des-crever e estudar determinada característica de uma popu-lação ou fenômeno (Gil, 2004), ou seja, visou identificar como as universidades federais mineiras estão legitimando a variável de qualidade, equipe multidisciplinar, que induz à consolidação da adoção da modalidade de educação a dis-tância em seus cursos superiores na percepção de sujeitos estratégicos da EaD.

Para esta pesquisa foram utilizados dados primários e secundários. Os dados secundários foram extraídos dos endereços eletrônicos e documentos disponibilizados pelas universidades federais mineiras, AbraEAD, INEP e MEC.

Os dados primários, considerando as onze Universida-des Federais de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (Universidade Federal de: Alfenas, Itajubá, Juiz de Fora, Lavras, de Minas Gerais, Ouro Preto, São João Del-Rei, Triângulo Mineiro, Uberlândia, dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e Viçosa), foram coletados por meio de entrevis-tas aplicadas aos sujeitos estratégicos, todos dirigentes das unidades de educação a distância dessas universidades.

A coleta dos dados primários foi realizada priorita-riamente com sete dos entrevistados, através do software Skype®; com três dos entrevistados através de e-mail; e com um entrevistado pessoalmente.

Os entrevistados foram nomeados aleatoriamente para análise e discussão dos dados, em prol de respeitar o sigilo das devidas identidades dos respondentes, por: E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, E8, E9, E10, e E11.

O tratamento de dados exige um método que permi-ta ao pesquisador ir além da aparência, compreender con-tradições e confrontar informações na busca por explicar acordos e desacordos entre os elementos apresentados (VERGARA, 2006). Para tanto, na análise das entrevistas, utilizou-se da Análise de Conteúdo que, de acordo com Bardin (2009) abrange técnicas das comunicações tanto verbais ou não-verbais, quanto linguísticas, que visam ob-ter, mediante procedimentos, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de re-cepção dessas mensagens. Os elementos do conteúdo vão sendo arquitetados em prol de esclarecer e de extrair seu significado (LAVILLE; DIONNE, 1999).

ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RE-SULTADOS

A equipe multidisciplinar no âmbito da EaD engloba uma diversidade de profissionais responsáveis por sua es-

truturação e funcionamento e sua constituição requer pro-cesso de recrutamento e seleção dos tutores e dos profes-sores para suprir as atividades decorrentes das disciplinas ministradas (MEC, 2007). Este processo deve contemplar a escolha de profissionais capacitados para a função, com vistas à qualidade do ensino.

Fazendo um agrupamento das percepções dos entre-vistados foram identificadas três unidades de registro: re-crutamento e seleção, qualificação e suficiência do pessoal, que, em seu conjunto, possibilitam indicar as condições de atendimento da equipe multidisciplinar nas universidades federais mineiras.

Analisando a unidade de registro Recrutamento e Se-leção, observou-se que cada instituição apresenta suas di-retrizes bem estabelecidas em editais para o recrutamento da equipe, em especial para tutores, visto que o professor, na maioria das vezes, pertence ao quadro de pessoal da uni-versidade.

No caso dos tutores, de acordo com o entrevistado E7 o processo de recrutamento e seleção “é feito via edital, analisado pela procuradoria jurídica, no qual constam as competências e habilidades que o tutor ou técnico precisa para realizar as atividades da educação a distância”.

Na instituição de E6 o processo segue “orientações específicas de cada curso e participam de um processo de seleção específico para tutor/bolsista”. Segundo E2 em sua instituição “os tutores foram e são selecionados através de editais específicos e passam por capacitação antes de começarem a atuar”. Acredita-se que ao estabelecer pro-cedimentos para recrutamento e seleção as universidades formalizam o processo e contribuem para concretização dos padrões organizações em condição satisfatória e trans-parente.

O processo de recrutamento e seleção dos tutores, uma vez deliberadas às vagas, caracteriza-se como bem consoli-dado na instituição de E1 que relata: “o perfil, constitui-se um edital, um edital público de seleção, que é divulgado nos sites, divulgado no diário oficial” e, após a seleção, “junto com o coordenador de tutoria são definidas as áreas que esses tutores vão atuar” (E1).

Entretanto, algumas dificuldades foram apontadas durante o processo de recrutamento e seleção de pessoal. Dentre elas destaca-se a falta de pessoal qualificado, a im-possibilidade de duplicação de pagamento de bolsas e a ca-rência de docentes em algumas áreas específicas.

No processo de recrutamento de tutores, segundo a percepção dos entrevistados E3 e E4 a maior dificuldade está relacionada ao valor pago da bolsa/auxílio financeiro e a qualificação desejada. Para E3 “a bolsa já foi boa, não está mais boa, mas a gente sempre, toda vez, que abre um processo de editais públicos, sempre tem grande concor-rência, evidente que a gente tem que dar um processo de capacitação para essas pessoas”.

E6 relata que: “em alguns pólos/municípios tivemos mais dificuldade para selecionar tutores, em função do va-

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lor da bolsa e da demanda real de pessoas capacitadas”. E4 também compartilha desta perspectiva e relata a “di-ficuldade de encontrar tutores com o perfil de bolsa para determinadas áreas do conhecimento”. O pagamento das bolsas, assim como o valor estabelecido para as mesmas, estão subordinados as diretrizes da unidade financiadora.

Não apenas para os tutores, as dificuldades também ocorrem no recrutamento de professores. Atribui-se que “parte da resistência não é por não acreditar no EaD, é por a pessoa saber que vai dar trabalho” (E1). De acordo com E11 “a preocupação com o tempo, então se ele conhece, ele sabe que para ter um curso bom, exige tempo, exige trabalho, exige dedicação para produzir o material com qualidade”.

A adaptação do conteúdo didático à modalidade EaD requer dedicação e envolvimento para com a qualidade da difusão do processo de ensino aprendizado. A resistência em atribuir o tempo requerido para elaboração do material, enquadra-se em condição insatisfatória, tendo em vista que a administração do tempo do docente é subjetiva e a prática didática a distância ainda não está incorporada na cultura.

No tocante ao recrutamento de professores, constatou--se que são, em sua maioria, pertencentes ao quadro efetivo da instituição e raramente se recorre ao recrutamento por edital externo. Neste sentido, o entrevistado E2 afirma que os mesmos podem ser: “recrutados dentro do quadro do-cente da própria universidade”. Para E3 “primeiro são as pessoas da casa, os professores efetivos e substitutos, quan-do não tem, convidamos algumas pessoas”. Na instituição de E6, assim como de E4: “os professores são convidados pelos coordenadores, quando são docentes da instituição, ou selecionados por edital externo”.

Quanto aos critérios de contratação, para E9 “os re-quisitos necessários para a contratação e também para a impossibilidade de acúmulo de bolsas, por vezes se apre-sentam como obstáculos no momento destas contratações”. E4 também relata que há “carência de professores em de-terminadas áreas do conhecimento”.

Após a contratação é importante preocupar-se com o processo de capacitação, assim, procedeu-se à análise da unidade de registro sobre Qualificação de pessoal. Consta-tou-se que, para a maioria dos entrevistados, a capacitação da equipe, tutores, professores e pessoal de apoio técnico--didático, é fundamental para a qualidade dos trabalhos de-senvolvidos.

A importância dada à capacitação é destacada por E5 ao afirmar que: “as pessoas envolvidas têm que receber um treinamento por parte da CEAD. No caso dos tutores, “eles fazem um curso e depois uma oficina sobre esse material, e, além disso, eles têm um acompanhamento por um perío-do de tempo por parte da CEAD, isso tanto tutores quanto professores” (E11).

Associado à questão da capacitação a interação do professor e do tutor com o aluno figura como fator de des-taque capaz de levá-los à condição de qualificados para a

função.Sendo assim, na busca por manter o foco no aprendi-

zado, a presença do professor e do tutor que interagem com seus alunos reforçando comportamentos e ações motivado-ras ao longo do processo de ensino e aprendizado é funda-mental para eficácia das atividades acadêmicas (GONZA-LEZ, 2005).

No que tange o desenvolvimento das atividades aca-dêmicas algumas universidades, como se pode observar na percepção dos entrevistados E11, E7 e E10 compartilham o fato do professor conteudista ser, na maioria das vezes, o professor ministrante da disciplina. Para E11 “na grande maioria das disciplinas, o professor conteudista tem sido o mesmo o professor que ministra ou é responsável pela dis-ciplina”. Para E7 “todo conteudista é um professor forma-dor, são raríssimos casos, acaba facilitando o trabalho dos tutores e o contato com os alunos”. Para E10 “nas discipli-nas mesmo, o próprio professor, costuma ser o professor conteudista”. Para Moore e Kearsley (2008) é importante que o professor conteudista elabore o conteúdo a ser apre-sentado considerando o tempo de instrução disponível por parte do aluno, não agregando quantidades elevadas de ma-terial complementar para leitura.

Desta maneira, o docente deve apresentar formação e estudo atualizado para as práticas didáticas da EaD ao conduzir o processo de aprendizagem, além de incentivar e desenvolvimento de novas metodologias que integre o alu-no (REZEK NETO, 2008). De acordo com E6 em sua uni-versidade: “os cursos oferecem suporte teórico articulado as atividades práticas, pois os professores da universidade são os responsáveis pela elaboração, e oferta das discipli-nas recebendo auxílio dos tutores para acompanhar o de-senvolvimento das atividades acadêmicas”.

Como professores e tutores realizam atividades com-plementares para difusão do ensino e aprendizado a inte-ração entre os mesmos torna-se necessária. Neste intuito reuniões e encontros entre professores e tutores estão agen-dados, como pode observar-se na fala de E10: “tem-se pro-curado, as coordenações tanto de tutoria, quanto de curso elas estão montando, organizando esses encontros com regularidade, então já estão solicitando que os professores façam esses encontros pelo menos a cada 15 dias com seus tutores”. E9 complementa que em sua universidade “cada curso tem sua dinâmica de trabalho, mas geralmente há um momento em que os tutores têm reuniões com os profes-sores para que os mesmos possam dar esclarecimentos em relação à disciplina e o material didático”. O professor deve fornecer acompanhamento e esclarecimento aos questiona-mentos dos tutores, de modo que os mesmo possam atender com qualidade e eficiência as dúvidas dos alunos.

Dificuldades foram apresentadas em virtude da falta de comprometimento na relação professor-tutor e aluno. Na percepção de E4 “existem professores e tutores que se atrasam para entregar as atividades e o conteúdo; que não dão feedback e ou não participam da etapa de exploração e

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testagem. Isso prejudica a qualidade final”. Esta percepção é compartilhada por E5 ao complementar que: “se o coor-denador nunca entrou na plataforma, ele não sabe como é que processa o ensino a distância, ele vai ter dificuldade de perceber como melhorar o seu material, como levar e adequar seu material”. Porém cabe ao instrutor descobrir quais formas de apoio e de comunicação se enquadram as necessidades de seus alunos.

E3 fez destaque sobre a tutoria e no que tange “como processo de mediação do tutor é central, o professor ele vai monta as coisas, mas pelo volume de atividades extras, às vezes, em determinado momento ele desaparece”. Acredi-ta-se que o comprometimento dos agentes reflete em um padrão de qualidade e estabelece uma relação de confiança para com o aluno que recebe o devido retorno de suas in-dagações.

O comprometimento também deve ocorrer por parte das unidades de origem presencial dos cursos de gradua-ção, ao apoiarem sua oferta na modalidade a distância. E muitos entrevistados, como E8, se apresentaram otimistas quanto ao apoio recebido: “teve muito entusiasmo, na aula inaugural colocaram os professores considerados os bans--bam-bans na área de matemática, fizeram uma vídeo con-ferência, para todos os alunos no Brasil” (E8).

Segundo E9, “como cabe à unidade a decisão de parti-cipar das chamadas e editais para oferta de cursos na moda-lidade a distância, podemos considerar que contamos com o apoio das mesmas para a oferta de cursos”.

Já na instituição de E10 “não é o departamento que assume o curso, o curso é assumido pela DEAD mesmo”. A escolha da administração do curso EaD ser delegada a unidade de educação a distância pode ser justificada por E10 pelo fato de: “como era uma proposta, uma decisão da reitoria, os cursos presenciais não apoiaram integralmente, então pra que o curso não sofresse retaliação, e não sofresse perda, vingasse na verdade, então eu acho que a própria reitoria optou por mantê-los na DEAD”.

Além do apoio advindo das unidades de ensino de ori-gem dos cursos, de acordo com os entrevistados há, tam-bém, o incentivo e o apoio fundamental por parte do MEC, que de acordo com E11:

[...] o MEC dá total apoio a todos os cursos de licencia-tura e a universidade tem vontade sim de ter todos os cursos de licenciatura para esse público especial a dis-tância, de professores, de formação de professores que é a proposta do MEC nas diferentes licenciaturas sejam cumpridos, mas a gente não consegue fazer com que os departamentos diminuam a resistência.

A questão da resistência quanto à modalidade EaD é atribuída por E11 ao:

[...] desconhecimento. A grande maioria dos professores desconhece o potencial que tem as novas tecnologias em termos de eficiência do processo educacional. Então eles acreditam, que um curso a distância não pode ser tão efi-

ciente do que um curso presencial.

[...] se eu convido você pra oferecer um curso de oito horas na modalidade a distância, exige muito tempo e exige muito tempo seu com os outros. Porque você não é capaz de produzir um material de qualidade sozinha. Então exige o seu tempo pra produzir, resumir o material que você desejaria fornecer para os alunos e exige o seu tempo com as outras pessoas pra preparar aquele mate-rial, então quando a pessoa conhece, ele fica preocupado com o tempo, quando não conhece, ele diz que não é efi-ciente. Então existe sim, a resistência dos departamentos com relação aos cursos, acho que a forma mais eficiente de quebrar isso, é aumentando o número de disciplinas semi-presenciais ou a distância nos cursos presenciais.

Na percepção de E1 “a medida que vai sendo cons-truído, a medida que você vai mudando a visão sobre o ensino online, as pessoas vão também mudando a percep-ção e apoio que se dá aos cursos”. Acredita-se que o tempo contribuiu favoravelmente para a aceitabilidade da moda-lidade EaD.

Em relação à Suficiência e disponibilidade de pessoal, observou-se, entre os entrevistados, a percepção predomi-nante sobre a necessidade de definição de quadro próprio de pessoal de apoio técnico-didático que garanta a conti-nuidade e a eficiência das atividades.

Entre as consequências da aceitabilidade da modalida-de EaD está o incentivo e o investimento no quadro técni-co-administrativo específico para as necessidades da área. Questionados sobre como se encontra o quadro adminis-trativo destinado à EaD na universidade, E11 argumenta que “é preciso um quadro, não um quadro especial, mas um quadro geral, para que quando uma pessoa saísse não sofresse descontinuidade. Pelo menos um grupo de pessoas que apoiasse a parte pedagógica”. Entretanto, como relata E7 apresentam-se empecilhos quanto à “disponibilidade de recursos humanos, de preparar uma equipe que possa atuar no ensino a distância”.

Na percepção de muitos entrevistados o quadro de funcionários se encontra reduzido e deficitário para o cum-primento das atividades. Pode-se observar esta visão na fala de E3: “equipamento tem, mas falta gente, o que é funda-mental, falta um diretor que vai fazer o filme, falta dar uma capacitada no professor”. Na percepção de E9 sua unidade EaD conta com o “mínimo de profissionais que trabalham no Centro de Educação a Distância. O número de alunos e de cursos está aumentando e até o momento o quadro administrativo não tem acompanhado esta demanda”. O entrevistado complementa que além da “falta de estrutura física para alocar as coordenações dos cursos nas referidas unidades, consideramos necessário que as unidades dispo-nibilizem servidores que possam apoiar a equipe dos cursos nos procedimentos administrativos e financeiros (E9)”.

Segundo E1 “é uma discussão que a gente junto com o reitor na ANDIFES, para que a CAPES mande servidores, porque se eles querem ampliar a EaD, eles têm que ampliar

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Maria Cecília Teixeira Reis, Danielle Valente Duarte, Vagner Alves Arantes, Layon Carlos Cezar e Telma Regina da Costa Guimarães Barbosa

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.89-96, 2014.

o quadro de servidores”. E5 compartilha esta percepção e apresenta que: “não tem pessoas em número suficiente e como elas não são suficientes, como trabalhar dentro da universidade [...] é importante que você tenha concursos pra trazer esses profissionais”.

Para E10 a equipe multidisciplinar também pode ser composta por: “técnicos administrativos, que tem experi-ência na docência do ensino superior e tem experiência na área da multidisciplinaridade”. Na percepção de E7 “todos que trabalham conosco, tem habilitação para aquela área especifica e tem capacitação contínua”.

Cada universidade apresenta um quadro de funcioná-rios com pontos positivos e negativos. Como observa-se na percepção de E9 ao relatar que, ao contrário das demais que possuem quadro de funcionários reduzido, em sua uni-versidade a equipe se destacou pela gama de profissionais envolvidos:

[...] coordenador de curso, coordenador de tutoria, tutor, professor conteudista, professor formador, professor re-visor e os estagiários. Além disso, o CEAD conta com a equipe multidisciplinar composta por financeiro, webde-signer, profissional que acompanha as vídeo-aulas. Além dos técnico-administrativos e de tecnologia do setor que apóiam todos os cursos. A maioria destes profissionais recebe bolsa benefício e devem atender aos requisitos mínimos para tal, os demais são servidores da institui-ção. Julgamos que os aspectos mais relevantes para esta equipe são: autonomia, compromisso, capacitação e res-ponsabilidade.

O MEC proporcionou a contratação de vagas para professores que se dedicariam as atividades de EaD en-tretanto na percepção de E11: “esse professor foi pra tal departamento, agora departamento, você deve se compro-mete a atuar de alguma forma na área a distância”. Segundo E11 “eu não posso ter uma unidade na universidade, que é diferente da estrutura, do regimento, ou seja, se eu tivesse aqui na CEAD professor de administração, professor de matemática, professor de história, eles não vão ser capazes de tocar os cursos, então eu vou precisar da ajuda deles e vice-versa”.

Na percepção de alguns entrevistados, embora algu-mas unidades de educação a distância não disponham de pessoal do quadro efetivo da instituição, podem lançar mão da terceirização de pessoal, o que traz agilidade no proces-so de escolha e contratação.

Na universidade de E3 o “quadro administrativo é tudo contratado”, assim como na universidade E4 “a maio-ria das pessoas que atuam são do quadro de terceirizados”. Sendo todos terceirizados, para E2 “o quadro de servido-res, nesse momento é suficiente para a demanda atual”. E5 considera que a partir do momento que a instituição está “criando o ensino a distância, você está criando essa moda-lidade, dentro das instituições com a força e com o respaldo que ela precisa ter, então você tem os seus centros de apoio, eles têm a liberdade de contratar as pessoas e podem atuar”.

Entretanto, E5 pondera que “as contratações não de-vam ser num ritmo muito desesperado, mesmo a gente es-tando precisando das coisas, da legislação permitir, o MEC, a SESU, tem que regulamentar de forma que as instituições possam atuar e contratar esses profissionais para o traba-lho”.

Segundo E11 a justificativa para tais reclamações pode estar atrelada ao fato:

[...] dos cursos de graduação tem um financiamento pró-prio, os cursos lato sensu proposto pelo MEC tem um financiamento próprio e os cursos lato sensu na maio-ria deles oferecidos pela universidade são pagos. Então todas as atividades têm financiamento próprio, portanto diminui um pouco vamos dizer a preocupação pela uni-versidade em suprir a unidade de um corpo técnico com-petente. Como tem tantas deficiências em vários lugares, então eu vou tentar cumprir esse porque essa unidade aqui já tem recursos próprios existentes. Mas essa é uma grande preocupação que as universidades têm que enca-rar, reconhecer e resolver, porque as áreas de novas tec-nologias até pelo nome, por serem novas, existem poucas pessoas competentes fazendo, não são muitas pessoas, então são poucas pessoas. Então, se uma pessoa que está fazendo sair, não é fácil a reposição dessa pessoa, então essas áreas que a universidade entende que são prioritá-rias elas tem que ter um quadro efetivo.

Trabalhar com funcionários terceirizados também acarreta em dificuldades, E11 exemplifica que:

Uma das coisas pra mim que mais motiva um aluno são as animações e as divulgações em flash [...] mas isso exi-ge um grupo de pessoas que sabe programar, que tem criatividade, que sabe interagir com o aluno e hoje a gen-te não tem nenhuma pessoa na universidade que faz isso. Todas as nossas pessoas, são estudantes ou pessoas que formaram, faziam estágio aqui e conseguimos segurá-lo. Mas segurar de forma muito provisória, muito fraca mes-mo, alguns deles, eu tenho certeza, ficam aqui mais por entusiasmo do que estão fazendo. A mesma coisa, de áu-dio e vídeo, nos temos uma pessoa aqui ou mais de uma pessoa, duas pessoas super competentes no que fazem, todos dois são terceirizados, se amanhã ou depois eles receberem uma proposta, claro que ele vai sair e ninguém vai querer segurar.

Alguns entrevistaram apresentaram comparações ao quadro administrativo de instituições privadas, entretanto para E5 “numa instituição pública é muito diferente, é o ritmo de criação das coisas é diferente, os objetivos muitas vezes tendem a ser diferentes”.

Em síntese, observa-se que, segundo a percepção dos entrevistados, o excesso de trabalho para o docente, im-possibilidade de acúmulo de bolsas, carência de docentes, a carência de tutores em área específica, a falta de envolvi-mento e a carência de pessoal de apoio são os fatores que mais têm comprometido as boas condições de atendimento da equipe multidisciplinar.

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GESTÃO PÚBLICALegitimação dos recursos humanos em cursos superiores a distância nas universidades federais mineiras

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.89-96, 2014.

Estes resultados apontam para a necessidade da uni-versidade investir em procedimentos capazes de revestir a equipe multidisciplinar dos requisitos necessários à oferta da educação a distância de qualidade, conforme preceitua-da nos “Referenciais de Qualidade”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mais importante que o crescimento quantitativo da Educação a Distância é seu desenvolvimento qualitativo. Esse estudo visou identificar a legitimação da equipe mul-tidisciplinar presente nos referenciais de qualidade nas uni-versidades federais mineiras.

Na análise da equipe multidisciplinar destacaram-se os fatores relacionados ao recrutamento e seleção dos pro-fessores e tutores por meio de editais que se enquadram em adequabilidade às normas; a capacitação da equipe multi-disciplinar se mostrou em boas condições de atendimento, enquadrando-se em padrões organizacionais que atendem à qualidade do ensino, e a insuficiência de pessoal foi con-senso entre os entrevistados que questionam quanto o in-vestimento público em pessoal capacitado para realidade EaD.

Acredita-se que o comprometimento da equipe mul-tidisciplinar para com a realidade EaD impulsiona o cres-cimento com qualidade da modalidade e contribui para a legitimação da mesma no cenário brasileiro, onde a predo-minância ainda é a metodologia de ensino presencial.

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Indicadores de sustentabilidade nas organizações: a aplicação do Método Gaia de gerenciamento de impactos ambientais em uma empresa metalúrgica do Sudoeste do

Paraná

Adriano Stadler (Instituto Federal do Paraná - IFPR) [email protected]

Sheila Schlickman Baccin (CESREAL- Centro de Ensino Superior de Realeza) [email protected]

Marcos Rogério Maioli (Instituto Federal do Paraná - IFPR) [email protected]

Márcia Magalhães Wittée Paloschi (Unoesc) [email protected]

Gustavo Estanislau Silva (Universidade do Vale do Itajaí - Univali) [email protected]

Resumo: O estudo tem por objetivo aplicar um método de gerenciamento de impactos ambientais, elaborado para medir o grau de sustentabilidade das organizações. Nesse intuito, foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca do tema sustentabilidade empresarial, a qual abordou os principais teóricos da área, de forma que o arcabouço teórico pudesse sustentar a pesquisa de campo, efetivada em empresa do setor metalúrgico de uma cidade do sudoeste do Estado do Paraná, Brasil, que fabrica pias, tanques e demais artefatos metálicos de utilidade doméstica. Por meio da aplicação do questionário na empresa, percebeu-se que ela possui sustentabilidade adequada, perfazendo 56,75, e , portanto, apresenta os caminhos que deve seguir para a melhoria em sua gestão ambiental. Futuros estudos devem ampliar o foco desse método, tratando mais profundamente dos indicadores econômicos e sociais.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Indicadores. Meio ambiente.

Indicators of sustainability in organizations: the application of the Method Gaia management environmental impacts in

a metallurgical company of Southwest Paraná

Abstract: This study aims to apply an environment impact management method, elaborated to measure the organizations sustainability degree. In this intention, it was made a bibliographic research about companies’ sustainability, which approached the main theorists in this area, so that the theoretical framework could support the field research, done in a metallurgic section in a company located in the southwest of the Brazilian state, Paraná, a company that produces sinks, water tanks and the other metal objects for household utilities. Throughout a questionnaire applying in this company, it was possible to conclude that it has an appropriate sustainability (reaching 56,75), therefore, it shows the paths it must follow to improve its environmental management. Future studies may expand this method focus, dealing more deeply with the social and economic indexes.

Keywords: Sustainability. Indexes. Environment.

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PESQUISA OPERACIONALIndicadores de sustentabilidade nas organizações: a aplicação do Método Gaia de gerenciamento de impactos ambientais em uma empresa metalúrgica do Sudoeste do Paraná

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.97-105, 2014.

INTRODUÇÃO

O aceleramento do processo industrial brasileiro sur-ge sob a égide de governos militares que buscavam atrair grandes investimentos estrangeiros ao país. O ambiente globalizado aflorado a partir da década de 1980, espe-cialmente após a abertura econômica ocorrida no Brasil no período do Governo Collor, promoveu no Brasil um desenvolvimento econômico expressivo, gerando grandes avanços em toda a sociedade.

Nesse contexto desenvolvimentista, entre as orga-nizações não havia apenas uma necessidade de mão de obra barata, mercado protegido e expansão mundial. As empresas buscavam também mercados em países cuja le-gislação ambiental fosse inexistente ou deficiente.

No caso brasileiro, o governo incentivava a vinda de empresas multinacionais como forma de buscar o cresci-mento, um indicativo de que, primeiro, o país iria crescer bastante e depois, dividir-se-ia o “bolo”, o que de fato não ocorreu devido ao histórico excludente, que privilegiaria apenas alguns segmentos da sociedade.

Resultantes dessa busca desenfreada pelo crescimen-to surgiram inúmeros problemas ambientais, transfor-mando várias cidades em lixões, com péssima qualidade de vida, a exemplo de Cubatão (SP) e Araucária (PR).

Esse cenário foi delineado como forma de demons-trar que o ambiente empresarial do século XXI já não to-lera o desenvolvimento com prejuízo ao ambiente natural e social em detrimento do enriquecimento de empresários. Consequentemente percebe-se que houve um avanço sig-nificativo no que tange ao desenvolvimento sustentável das organizações, de modo especial pela promulgação de leis que preconizam a conservação ambiental, proteção de reservas naturais, normatizações referentes às emissões de resíduos no meio ambiente natural.

Assim, o presente estudo apresenta uma metodologia para aferir os riscos e as benesses advindas da necessida-de de busca pelo desenvolvimento sustentável das organi-zações. O método Gaia (LERÍPIO, 2001) apresenta uma série de indicadores que mensuram a sustentabilidade da organização e oferece planos de ação para que o tomador de decisões possa pensar em toda a cadeia produtiva, des-de a escolha do fornecedor até o reuso do produto, bus-cando resultados positivos aos stakeholders envolvidos.

Esta pesquisa levanta os índices de sustentabilidade empresarial, diagnosticando os processos de gestão de fornecedores, processos produtivos, logística interna e distribuição, e finalmente logística reversa dos produtos da empresa. O objeto de estudo é uma empresa metalúr-gica que fabrica pias, tanques, fogões, trituradores de ali-mentos e demais produtos à base de inox.

Com base no estudo de caso, foi possível verificar que é possível conhecer os índices de sustentabilidade de

uma empresa, seus métodos de gestão de indicadores e planos de ação para operacionalizar melhorias. Espera-se que, com esses resultados, seja possível buscar soluções criativas e viáveis ao desenvolvimento econômico, social e ambiental.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DA SUS-TENTABILIDADE

O desenvolvimento sustentável surgiu a partir da busca de um modelo de desenvolvimento que contemplas-se outros parâmetros de desenvolvimento. Para Ultramari e Duarte (2009), imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, num mundo até então bipolar, tanto do lado co-munista como do capitalista, imaginou-se a possibilidade de desenvolvimento generalizado para todos os países. O modelo de desenvolvimento a ser alcançado seria aquele das nações com altos índices de produção industrial.

Conforme Silva (2006), a dimensão econômica da sustentabilidade pode ser a dimensão que causa maior im-pacto nas demais, pois é ela que gera renda e, por conse-guinte, melhora a saúde, educação, condições adequadas de moradia, lazer e qualidade ambiental. Seguindo esse padrão de desenvolvimento, Ultramari e Duarte (2009) asseveram que, uma vez que essa tentativa de generalizar o desenvolvimento para todos os países falhou, surgiu a desconfiança de que esse desenvolvimento não se preocu-pava com a equidade (em um primeiro momento) e tam-pouco com o meio ambiente (em um segundo momento).

Contemporaneamente se aceita que Desenvolvimen-to Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades (Co-missão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-to, 1991).

Esse conceito é corroborado por Buainain at al (2005) que explica, complementando: a noção de susten-tabilidade incorpora com clareza uma definição social e implica atender necessidades daqueles considerados mais pobres na sociedade atual, uma outra dimensão ambiental abrangente, visto que busca satisfazer as necessidades de hoje sem comprometer o meio ambiente e criar dificulda-des para gerações futuras.

De forma mais detalhada, Smeraldi (2009 p.172) ex-plica o conceito “[...] trata-se de uma caracterização do desenvolvimento para atender as necessidades da gera-ção atual, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras fazerem o mesmo. Introduz assim uma noção de equidade entre gerações." Trata-se de um conceito am-plamente utilizado em campanhas empresariais que visam

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Adriano Stadler, Sheila Schlickman Baccin, Marcos Rogério Maioli, Márcia Magalhães Wittée Paloschi e Gustavo Estanislau Silva

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a disseminar as ideias e sensibilizar públicos internos e externos quanto à sustentabilidade. Nessa mesma linha argumentam Miller e Spoolman (2012), os quais afirmam que objetivo final é alcançar uma sociedade ambiental-mente sustentável – que atenda às atuais e futuras neces-sidades básicas do seu povo, de maneira justa e equitativa, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas necessidades básicas.

As necessidades básicas a serem usufruídas pelas gerações futuras podem ser catalogadas em três tipos de recursos e são usados para produzir mercadorias e servi-ços.

Recursos Naturais, ou capital natural, incluem as mer-cadorias e serviços produzidos pelos processos naturais da Terra, os quais sustentam todas as economias e toda a vida. Os Recursos Humanos, ou capital Humano, incluem o talento físico e mental das pessoas que for-necem trabalhos, inovação, cultura e organização. Os recursos manufaturados, ou capital manufaturado, incluem itens como maquinário, equipamentos e produ-tos, cujas feituras envolvem recursos naturais e huma-nos. (MILLER JR., 2008, p. 475).

O uso indevido ou indiscriminado dos recursos pro-porcionou um descompasso inadequado entre o desenvol-vimento de diferentes países ou mesmo regiões dentro de um mesmo país. O equilíbrio nas condições de qualidade de vida é indicado como parâmetro de desenvolvimento responsável por parte de organizações com visões de lon-go prazo, buscando, de modo planejado, equidade entre o econômico, o social e o ambiental.

Barbieri (2007) enfatiza que o desenvolvimento sus-tentável resultaria, portanto, de um pacto duplo: um pacto intergeracional, que se traduz na preocupação constante com o gerenciamento e a preservação dos recursos para as gerações futuras, e um pacto intrageracional, que se expressa nas preocupações quanto ao atendimento às necessidades básicas de todos os humanos. Após várias conferências das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano, foram debatidas e aprovadas diversas ações que fundamentam o desenvolvimento sustentável no mundo. No caso específico do Brasil, foi criada a Lei de Sustenta-bilidade (03/02/2004), por meio de decreto presidencial, a qual:

Cria, no âmbito da Câmara de Políticas dos Recursos Naturais, do Conselho de Governo, a Comissão de Po-líticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Brasileira, e dá outras providências.

Art. 1º Fica criada, no âmbito da Câmara de Políticas dos Recursos Naturais, do Conselho de Governo, a Co-missão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Brasileira, com a finalidade de propor estratégias de desenvolvimento sustentável. (BRASIL, 2004).

A referida Lei traz consigo a Agenda 21 Brasileira, que é um processo e instrumento de planejamento parti-cipativo ao desenvolvimento sustentável e que tem como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a con-servação ambiental, a justiça social e o crescimento eco-nômico.

Berté (2009) esclarece que a gestão socioambiental busca instaurar-se como modus operandi para incluir e implantar as novas formas de pensar a ecologia, o meio ambiente, o homem, a sociedade e as múltiplas interliga-ções advindas justamente da compreensão da condição de interdependência entre todos os seres.

Para Tinoco e Kraemer (2008 p. 29) devemos le-var em consideração que a responsabilidade social surge como fator de minimização desse dívida com a sociedade e o meio ambiente e como instrumento para o alcance do desenvolvimento sustentável pelas instituições.

Assim, delineia-se um cenário em que o foco empre-sarial considera a sustentabilidade não apenas como mais uma demanda a atender, mas como estratégia empresarial alinhada aos preceitos de desenvolvimento sustentado em questões econômicas, sociais e ambientais na operação de seus negócios.

SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL

O reconhecimento internacional do conceito de sus-tentabilidade surgiu a partir do relatório da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Na-ções Unidas, conhecido como Comissão de Brundtland, denominado “Nosso futuro comum”, publicado em 1987. Essa comissão foi presidida pela primeira ministra da No-ruega, Gro Harlem Brundtland, responsável pelo desen-volvimento e definição do conceito de sustentabilidade hoje universalmente aceita. Segundo esse conceito, de-senvolvimento sustentável é aquele que atende necessi-dades do presente sem comprometer as possibilidades de gerações futuras, como já mencionado anteriormente.

Estudos sobre sustentabilidade vem despertando o interesse de estudiosos de diversas áreas no meio acadê-mico como da área socioambiental, de estratégia e gestão, entre outros. Entre os anos de 2003 e 2010 foram publi-cados 1376 trabalhos em Anais de dissertações e teses e de congressos no Brasil (BACHA, SANTOS e SCHAUN, 2010). Segundo as autoras, antes do ano de 2002 apenas 6 trabalhos sobre o tema foram identificados. Entretanto, a partir de 2003 houve um crescimento que pode ser atri-buído à repercussão da Conferência Mundial sobre o tema Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável Rio + 10, quando foi instituída a iniciativa Business Action For Sustainable Development 1.

Nesse contexto, o meio empresarial vem vislumbran-do oportunidades de mercado e posicionando-se em rela-

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PESQUISA OPERACIONALIndicadores de sustentabilidade nas organizações: a aplicação do Método Gaia de gerenciamento de impactos ambientais em uma empresa metalúrgica do Sudoeste do Paraná

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ção às questões socioambientais, hoje percebidas como fundamentais na agregação de valor às empresas e pro-dutos. Saíram definitivamente da resistência a mudanças e dos conflitos com movimentos da sociedade civil para considerar as questões socioambientais como parte de sua estratégia de negócios e tentar parcerias com atores no se-tor governamental e sociedade civil (OLIVEIRA, 2008).

Entretanto, se faz necessário complementar as con-siderações de Silva, Reis e Amâncio (2011), que afirmam que a sustentabilidade nas organizações só seria possível a partir da definição de ações de maneira que a degrada-ção do meio ambiente causada pelas suas atividades fosse amenizada de maneira a dar continuidade às formas de vida no planeta, e não apenas a própria existência.

A perspectiva tem base nas ideias de John Elkignton (1994), que criou o conceito triple bottom line, traduzido para o ambiente organizacional como os três pilares da sustentabilidade. Esse novo cenário sugere a expansão da visão das empresas tradicionais, que focam unicamente a perspectiva financeira. De acordo com esse conceito, o efetivo desempenho organizacional é resultante dos três pilares, fazendo com que as empresas considerem tam-bém o desempenho ambiental e social em paralelo ao de-sempenho financeiro.

No âmbito da esfera pública e da sociedade civil, o chamado Protocolo Verde, as instituições signatárias e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estabeleceram, em 1996, quatro prioridades. A primeira é a definição de cri-térios para análise da dimensão ambiental na alocação de créditos e financiamentos; a segunda é priorizar projetos identificados com maior sustentabilidade ambiental; a ter-ceira é estimular a criação de facilidades creditícias para aquelas empresas que implementarem sistemas de gestão ambiental e processos de certificação, como a ISO 14.000; e a quarta, identificar novos mecanismos para incrementar a disponibilidade de fundos financeiros para projetos de investimentos de desenvolvimento sustentável.

A partir dessas iniciativas públicas e privadas, sur-giram diversos instrumentos para aferir adequadamente a sustentabilidade de uma organização, cada qual a ser usa-do em diferentes realidades, objetivos corporativos. Esses instrumentos são conjuntos de indicadores que estão re-lacionados com a busca de qualidade ou de desempenho.

Em relação aos critérios de sustentabilidade, Sach (2002) indica alguns, os quais podem ser usados pelas organizações, sendo eles: critérios sociais, culturais, eco-lógicos, ambientais, territoriais, econômicos, políticos na-cionais e internacionais. Já Tachizawa e Andrade (2008) revelam que um indicador de desenvolvimento socioam-biental está relacionado com alguns parâmetros: Susten-tabilidade (ISO 14000, ISO 16000 e SA8000); Transpa-

rência (Balanço Social, Relacionamento Socioambiental e Código de Ética); Governança Corporativa (divulgação de boas práticas e novos mercados – ISE: Índice de Sus-tentabilidade Empresarial e DJSI – Dow Jones) e Capital Humano (clima organizacional, organização e processos).

Ressalta-se que Lerípio (2001) desenvolveu o mode-lo Gaia com a finalidade de auxiliar no desempenho orga-nizacional para um efetivo desenvolvimento sustentável empresarial, de acordo com modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, consoante ao ex-posto.

De acordo com o autor, o método é construído por três fases: sensibilização, conscientização e capacitação ou qualificação, considerando-se os seguintes princípios:

Proporcionar às organizações o atendimento à legis-lação, a melhoria contínua, a prevenção da poluição a partir de atividades focalizadas no desempenho am-biental e na sustentabilidade, tomando como elementos fundamentais do processo a organização e as pessoas através de suas relações com o meio ambiente. (LERÍ-PIO, 2001, p. 66).

No atual cenário econômico e social identifica-se a necessidade das organizações ampliarem o foco de sua estratégia para o desenvolvimento sustentável do pla-neta, harmonizando suas operações. O uso consciente de recursos naturais promove o crescimento econômico condizente com as funções sociais, proporcionando aos seus públicos-alvo produtos e serviços de qualidade, com preços competitivos, contemplando os anseios dos seus principais stakeholders.

MÉTODO GAIA

Segundo Lerípio (2001), o método Gaia é um con-junto de ferramentas gerenciais, com foco no desempenho ambiental aplicável aos processos de uma organização. Procura integrar, através das etapas sequenciais padroni-zadas, abordagens à sensibilização das pessoas e à melho-ria dos processos.

A proposta básica desse método é oferecer às orga-nizações produtivas um instrumento de gestão à melhoria do seu desempenho ambiental. O foco está no desenvol-vimento de consciência crítica nas pessoas que compõem a organização sobre os níveis de desperdício de matérias--primas e insumos do processo produtivo e acerca dos efeitos no ambiente (LERÍPIO, 2001).

O método Gaia é constituído por três fases funda-mentais: sensibilização, conscientização e capacitação, de acordo com o quadro abaixo:

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Adriano Stadler, Sheila Schlickman Baccin, Marcos Rogério Maioli, Márcia Magalhães Wittée Paloschi e Gustavo Estanislau Silva

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FASES OBJETIVO ATIVIDADES RESULTADOS ESPERADOS 1. SENSIBILIZAÇÃO

Proporcionar a adesão e o comprometimento da alta administração com a melhoria contínua do desempenho ambiental

1.1. Avaliação da Sustentabilidade do Negócio

Conhecimento do nível atual do desempenho ambiental da organização pela alta administração.

1.2. Análise estratégica ambiental

Comparação do desempenho atual com aquele apresentado por filosofias defensivas, reativas, indiferentes e inovativas de gerenciamento.

1.3 Comprometimento da Alta Administração

Definição da Missão, Visão, Política e Objetivos Organizacionais.

1.4. Programa de Sensibilização de partes interessadas

Sensibilização dos colaboradores, fornecedores, comunidade, órgãos ambientais, clientes.

2. CONSCIENTIZAÇÃO Identificar a cadeia de produção e consumo e os principais aspectos ambientais, especialmente o processo produtivo da organização- alvo

2.1 Mapeamento da cadeia de produção e consumo

Identificação da cadeia de ciclo de vida do produto, desde a extração de matérias-primas até a destinação final do produto pós-consumido.

2.2 Mapeamento do fluxo do processo.

Identificação das etapas do processo produtivo da organização-alvo.

2.3 Estudo de Entradas e Saídas dos Processos

Identificação qualitativa das matérias-primas, insumos utilizados, produtos, resíduos, efluentes e emissões de cada etapa do processo.

2.4 Inventário de Aspectos e Impactos Ambientais.

Identificação dos principais aspectos e impactos ambientais do processo produtivo.

3. CAPACITAÇÃO Capacitar os colaboradores a definir e implementar as melhorias no desempenho ambiental

3.1. Identificação criativa de soluções

Propostas de soluções para os Principais aspectos e impactos, Utilizando brainstorming e teoria do Alpinista.

3.2 Estudos de Viabilidade Técnica-Econômica e Ambiental

Definir qual a solução mais viável sob Pontos de vista técnicos, econômicos e ambientais.

3.3. Planejamento Definição de Objetivos e Metas, Planos de Ação e Indicadores de Desempenho (5W2H).

Quadro 1 - Fases e Atividades do Método GaiaFonte: Lerípio (2001, p. 68)

Percebe-se que os pressupostos do método GAIA são similares aos da NBR ISO 14001 que indica em seus prin-cípios a melhoria contínua, a prevenção da poluição e o atendimento a legislação. Lerípio (2001) indica que seu método busca proporcionar às organizações informações claras para que consiga atender a legislação, a busca conti-nua da melhoria e prevenir a poluição quando do desenvol-vimento de suas atividades.

METODOLOGIA

Este trabalho tem por objetivo compreender os mode-los de indicadores de sustentabilidade, de modo especial, aqueles decorrentes de métodos de mapeamento de impac-tos ambientais, como o método Gaia (LERÍPIO, 2001). Caracteriza-se como estudo de caso, de acordo com Yin (2001), o estudo de caso possibilita a investigação profun-da de uma organização, com o objetivo de testar a validade

das hipóteses ou questões de pesquisa construídas a partir de um referencial teórico. Além disso, enquadra-se como sendo pesquisa empírica que investiga fenômenos contem-porâneos em seu contexto real, quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos, em que são utilizadas diversas fontes de evidência.

O estudo utilizou como um dos métodos de pesquisa a bibliográfica, a qual se baseou em autores renomados no assunto, fornecendo, assim, embasamento teórico à elabo-ração das análises. Realizou-se uma entrevista semiestru-turada com o administrador da indústria metalúrgica a fim de mapear o objeto de estudo, e a posteriori, foi aplicado o questionário (método Gaia), que, após ser tabulado, gerou o diagnóstico e as conclusões.

Por fim, os dados coletados foram tabulados e anali-sados à luz da literatura acerca da sustentabilidade empre-sarial, e os resultados foram apresentados, concluindo-se o objetivo geral do estudo.

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PESQUISA OPERACIONALIndicadores de sustentabilidade nas organizações: a aplicação do Método Gaia de gerenciamento de impactos ambientais em uma empresa metalúrgica do Sudoeste do Paraná

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.97-105, 2014.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA PESQUI-SADA

A empresa pesquisada pertence ao setor metalúrgico e produz artefatos de aço inox. Suas atividades tiveram início somente com a produção de pias, mas, hoje, a empresa conta com vários produtos, como: válvulas, tanques, fogões, pias, etc.

Iniciou suas atividades na década de 1990, numa cidade do Sudoeste do Paraná. Já em 2002, investiu em uma nova unidade fabril no Estado de Pernambuco, na cidade de Es-cada, para atender ao mercado do Nordeste e exportar para a América Central, Europa e África. Em 2006, investiu em uma base de atendimento, em Bento Gonçalves (RS), con-tando também com um centro de distribuição localizado na cidade de Atibaia (SP).

A empresa é referência tecnológica na região, seu parque fabril conta com modernas máquinas importadas, com prensas de alta potência e máquinas de corte a laser, investe constan-temente na busca de novos produtos, com traços modernos e linhas atualizadas. Sua visão está direcionada a ajustes das demandas, como exigência dos clientes, sendo agente motiva-dor o compromisso com o respeito e a satisfação dos clientes.

Busca ser vista como uma organização que evolui con-tinuamente através de seus produtos e serviços, valorizando as pessoas, além de respeitar a natureza e trabalhar de forma sustentável e honesta.

MÉTODO GAIA NA EMPRESA METALÚR-GICA

As informações do diagnóstico dessa organização foram obtidas por meio da lista de verificação de sustentabilidade da organização, conforme modelo proposto por Lerípio (2001), e o cálculo da sustentabilidade do negócio, que resulta no in-dicador de sustentabilidade, foi obtido com base no seguinte cálculo:

SUSTENTABILIDADE DO NEGÓCIO = 21 * 100/40-3 = 56,75%

De acordo com o cálculo acima, pode-se verificar que o índice de sustentabilidade do negócio é de 56,75%, o que significa que a sustentabilidade do negócio é ADEQUADA.

Esse indicador ressalta uma média percepção em rela-ção à sustentabilidade, indica que a empresa apenas cumpre as legislações ambientais, podendo avançar em muitos pontos

para a melhoria de seus processos de gestão em busca de um desenvolvimento sustentável.

Mapear a cadeia de produção e consumo

Com base no levantamento realizado na empresa pesqui-sada, verifica-se o seguinte fluxo da cadeia de suprimentos. A cadeia de produção e consumo começa com a compra de materiais: aço, inox, areia, cimento, embalagens, etc. Utiliza como principal insumo de produção: o aço. Apresenta-se, na sequência, o mapeamento da cadeia de produção.

Mapear o macroprocesso de produção

O sistema de produção da Metalúrgica pode ser compre-endido se observado o produto final na linha de produção (pias). O sistema de mapeamento do macroprocesso foi realizado por meio do sistema "puxado" de produção, ou seja, partindo do produto finalizado na linha de produção e retomando todos os seus passos até a entrada de ma-térias-primas. O beneficiamento se dá nas instalações da empresa pesquisada, através do processo produtivo, que compreende as seguintes etapas:

a) Expedição: é a última etapa do processo produtivo, em que se realiza o carregamento e entrega dos produtos para a distribuição por meio do transporte terrestre até os clientes (atacado e varejo);

b) Estoque: as pias produzidas são armazenadas, de forma que esses produtos fiquem à espera do carregamento, antes da expedição;

c) Embalagens: o processo de embalagem do produto é realizado por meio da colocação de proteção de papelão ao redor das pias produzidas, sendo que, após, é selado um plástico para maior durabilidade do produto;

d) Limpeza: é a etapa em que é realizada a limpeza das pias produzidas e a inspeção de sua qualidade. Elas podem sofrer retrabalho, se necessário for, para sua recuperação e serem colocadas à disposição para embalagem;

e) Concretagem: nesse processo, o concreto é colo-cado, ainda, em estado pastoso, na parte inferior da peça em aço inox, permanecendo no processo produtivo até a secagem (cura);

f) Rebarbação: é o acabamento na região de solda da cuba e do tampo, nos cantos e arrestas cortantes. Funciona como um sistema de polimento, garantindo a segurança ao usuário do produto final;

g) Solda: é o processo responsável pela junção das partes de inox da pia, que são o tampo e a cuba, processo que se dá pela soldagem;

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Adriano Stadler, Sheila Schlickman Baccin, Marcos Rogério Maioli, Márcia Magalhães Wittée Paloschi e Gustavo Estanislau Silva

Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.97-105, 2014.

h) Dobra: processo realizado por maquinário específi-co para a dobra das bordas e laterais;

i) Cortes: recortes das bordas, ou sobras de materiais ocasionados pela estampagem e do recorte (ou furo) para colocação da válvula;

j) Estampagens: é o processo de estampar o blank (dar o formato na cha-pa de inox), dando origem à cuba ou ao tampo da pia;

l) Corte da bobina: processo de corte das chapas de inox, denominadas de blank, que é caracterizado pelo corte da chapa de aço em sua forma plana;

m) Estoque de bobinas de aço (ma-téria-prima): a partir do recebimento da principal matéria-prima desse processo produtivo (inox), dá-se início ao proces-so de produção, chegando até o início da linha.

A cadeia produtiva inicia-se com o recebimento do aço inox oriundo da usina (fornecedor). No Brasil, o único fornecedor de aço inox é a Acesita, lo-calizada na cidade de Timóteo, Estado de Minas Gerais. O aço é fornecido em bobinas (rolos), acondicionados sobre estrados (bases) de madeira, sendo que cada bobina pode ter o peso de 2 a 4 toneladas.

Podem ser encontrados distribuidores de aço em vá-rios pontos do país, os quais fornecem o aço em chapas pré-cortadas, inclusive, mas esta alternativa raramente é utilizada pela empresa em função de seu custo ser eleva-do.

Identificar entradas e saídas, aspectos e im-pactos sobre a sustentabilidade

Observa-se, abaixo, a figura que representa o macro-processo de produção das pias, com seus inputs e outputs.

Os inputs (entradas) de produtos na empresa meta-lúrgica são as matérias-primas necessárias à produção, como água, cimento, inox, papel, energia elétrica, etc. O processamento é a fabricação, transformação das maté-rias-primas em produtos acabados. Os outputs (saídas) são os produtos acabados à disposição para a distribuição e vendas.

Acerca dos processos de produção das pias, descritos anteriormente, apresentam-se, na sequência, os inputs e outputs detalhados de cada microprocesso.

Produto Quantidade mês Água Indicador Água 70.000 1.775.26 litros 0,025 litros por peça

Energia Elétrica

70.000 R$ 22.312,00 R$ 0,31 por peça produzida

Cimento 70.000 99.000 1,41kg de cimento por peça produzida

Areia 70.000 201 m cúbicos 0,00 28m cúbico por peça produzida

Plástico 70.000 7250 kg 0,10 kg cúbico por peça produzida

Papelão 70.000 27.000 0,38 testeiras por peça produzida

Isopor 70.000 18.000 0,25 cantoneiras de isopor por peça produzida

Quadro 2: Indicadores de Ecoeficiência

Fonte: pesquisa de campo

Considerando-se esses indicadores de ecoeficiên-cia, cabe à empresa buscar metas a fim de diminuí-los. Assim, poderá tornar-se mais sustentável pela maximi-zação de seus recursos.

Priorizar indicadores, impactos e processos críticos para a sustentabilidade

Dentre os impactos mais críticos para a sustentabi-lidade, está a água, fator de grande consumo. Por meio da lista de verificação, é possível perceber que não há reservas comunitárias, a água não é reutilizada após a produção e não há uso de cisternas. Dessa forma, trata-se de um recurso que precisa ser priorizado.

Outro recurso é a energia elétrica, que pode ser oti-mizada, com a utilização da energia solar iluminando ambientes internos da indústria. A areia utilizada na pro-dução das pias pode ser substituída por caliça de resto de construção preparada especialmente para essa fina-lidade.

Dentre os refugos de matérias-primas, o inox é o de maior valor, e seus retalhos podem ser vendidos para outras empresas produzirem produtos como talheres, pratinhos de sobremesa e outros utensílios de cozinha.

Propor e Calcular Indicadores de Ecoeficiência

Com base no levantamento dos quantitativos de ma-térias-primas e insumos de produção, chegou-se aos indi-cadores de Ecoeficiência da empresa pesquisada.

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Oportunidade identificada

Matérias-primas, processos e

resíduos Solução proposta Vantagens, benefícios e

riscos/custos

1 - Reuso da água Água Utilização de sistema de captação de águas pluviais para a utilização em sanitários, mangueiras para lavagem de pisos e jardinagem.

Menor custo com água, criação de consciência ambiental nos funcionários e utilização como divulgação das ações ambientais.

2 - Aproveitamento da luz solar

Energia Elétrica Troca de telhas convencionais por telhas de vidro ou transparente, para maior aproveitamento da luz solar em ambientes de produção e em ambientes comuns.

Menor uso de energia elétrica durante o dia em ambientes que possam aproveitar a luz solar.

3- Substituição de areia por restos de obra

Areia Substituição de areia por resto de construção preparado para reuso.

Menor consumo de areia oriunda de leitos de rios da região.

4 - Uso dos resíduos sólidos por outras empresas

Aço inox Venda de retalhos de aço inox para empresas que produzem talheres e pratinhos).

Ganho financeiro por meio da venda de restos de produção.

Identificar oportunidades de melhoria em cada impacto priorizado usando criatividade e base multidisciplinar de conhecimento

Quadro 3: Oportunidades de MelhoriaFonte: pesquisa de campo

Identificar elos faltantes ou tecnologias inova-doras para a concretização das oportunidades de melhoria

Os elos faltantes se referem à substituição de algumas matérias-primas, a exemplo da areia no processo de pro-dução das pias por caliças de reuso de obras. Percebe-se a dificuldade de criação de tecnolo-gias inovadoras para a fabricação de produtos à base de aço inox. Por isso, sugerem-se ações vol-tadas à melhoria da consciência ambiental entre os funcionários e clientes da empresa. Da mesma forma, deve-se internalizar a ideia de fornecedores confiáveis e de procedência idônea, certificados pela ISO 14000.

Elaborar os planos de ação, objetivos e metas para atingir as oportunidades e melhorias

Com base nos objetivos levantados ao longo do traba-lho e utilizando a metodologia do 5W2H, que, em portu-guês, significa o quê, por quê, quando, onde, quem, como e quanto, chegou-se à conclusão que:

• O reuso da água deverá ser implementada num prazo de três meses, com mão de obra própria de funcio-nários de manutenção com base na instalação de calhas, cisternas e bomba d'água, a baixo custo.

• O aproveitamento de luz solar, que visa a economi-

zar energia elétrica de iluminação de espaços internos, tam-bém possui prazo de três meses para a implantação e deverá ser instalada em todos os locais onde haja a possibilidade de substituir telhas convencionais por telhas de vidro e transpa-

rentes, com mão de obra pró-pria, por meio da instalação de telhas transparentes em locais que facilitem a ilumi-nação e substituam a energia elétrica durante o dia.

• A substituição de areia caliça de restos de obra servi-rá para evitar retirada de areia do leito de rios da região com aplicação imediata em toda a linha de produção de pias, sendo implementada pelo ge-rente de produção, substituin-do matéria-prima por insumo ecologicamente correto. O valor de tal insumo deve ser analisado financeiramente,

pois, por mais que possua preço acima do da matéria-prima básica, pode representar um diferencial à empresa.

• A venda de resíduos de aço visa a gerar lucro econômi-co, de forma que aquilo que não possui mais interesse para a organização possa servir à produção de peças, como talheres, pratinhos e demais artefatos de cozinha, com reais possibilida-des de rentabilidade em outros processos produtivos.

Elaborar plano de controle e monitoramento de processos críticos

Processo Crítico Item de controle/ monitoramento

Procedimento Responsável Registro Frequência

1 – Reuso da água Volume de água consumida

Diminuição de consumo em metros cúbicos.

Gerente de Produção e Qualidade

Planilha Mensal

2 - Aproveitamento da luz solar

Consumo de energia elétrica

Diminuição de consumo em KW

Gerente de Produção e Qualidade

Planilha Mensal

3- Substituição de areia caliça de restos de obra

Areia comprada de portos de areia

Quantidade de caliça comprada em substituição à areia

Gerente de Produção e Qualidade

Planilha Mensal

4- Venda de resíduos de aço

Retalhos de aço Quantidade em KG de retalhos

Gerente de Produção e Qualidade

Planilha Mensal

Quadro 4: Plano de Controle e Processos

Fonte: pesquisa de campo

A principal constatação da aplicação do método Gaia na empresa é que as intervenções socioambientais se dão de maneira simples, com poucos impactos financeiros e de maneira clara ao público interno e externo da organização.

A utilização da ferramenta 5W2H é um exercício sim-ples, mas que torna claro aos gestores da organização a

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aplicabilidade do método em curto prazo. Já a planilha de controle e monitoramento deixa claro ao público interno as responsabilidades e de que forma realizar as verificações periódicas no processo. Pode-se perceber que o método possui grande eficácia por ser bastante didático à utilização no cotidiano organizacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa propiciou um levantamento da sustentabilidade através de um diagnóstico pelo método Gaia, em que foi possível identificar as principais limita-ções da empresa pesquisada. Como resultado, a empresa obteve um índice de sustentabilidade de 56,75%, conside-rado adequado de acordo com o método utilizado, embora alguns dos itens tenham sido considerados de médio im-pacto ambiental.

No planejamento do processo produtivo, visualizou--se pouca possibilidade de alteração nos fluxos, ou substi-tuição de tecnologias empregadas por outras mais limpas, menos impactantes. Apesar dessa empresa metalúrgica não gerar grande impacto, por meio de resíduos, os indicadores mostraram a realidade por meio do indicador.

As sugestões oferecidas incluem: a substituição de uma matéria-prima do processo de produção, a redução de iluminação elétrica por meio da substituição de telhas con-vencionais por outras transparentes, a instalação de calhas e cisternas para a coleta de água da chuva para utilização em determinados fins.

Além disso, sugere-se escolher fornecedores idône-os, sensibilização ambiental dos funcionários e demais stakeholders e também a utilização dessas ações, a fim de que sejam divulgadas na mídia visando à melhoria da ima-gem da empresa no mercado.

Como limitações deste estudo identificaram-se a di-ficuldade de acesso aos dados financeiros da empresa pes-quisada, bem como a fidedignidade nos resultados de pro-dutividade e indicadores de eficiência. Em função desses aspectos, é possível que as análises possam ter sido prejudi-cadas, fragilizando os resultados do presente estudo.

Para futuros estudos, sugerem-se novas pesquisas em empresas de outros setores produtivos de cidades de diver-sas regiões, utilizando o mesmo método. Recomenda-se, também, que os métodos de indicadores de sustentabilida-de tenham enfoque ampliado nos aspectos econômico e social, conforme preconiza o tripé da sustentabilidade de Elkignton (1994), possibilitando, dessa forma, o entendi-mento da sustentabilidade como uma amálgama dessas três relevantes questões do cotidiano empresarial.

Outras sugestões direcionam-se aos colaboradores, que os ensinamentos relativos aos princípios de sustenta-bilidade possam extrapolar os limites da empresa e serem aplicados em suas vidas pessoais. Por último, cabe lem-

brar que uma empresa preocupada com o desenvolvimento sustentável é uma organização preparada para os desafios do futuro, por compreender que não é possível existir sem levar em conta o interesse de todos os atores sociais envol-vidos em seus negócios.

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POLÍTICA EDITORIAL E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

POLÍTICA EDITORIAL: REVISTA ADMPG GESTÃO ESTRATÉGICA

A Revista ADMpg Gestão Estratégica, criada em 2008, tem como objetivo fomentar a geração e a disseminação de conhecimentos em Administração, como um veículo de divulgação dos trabalhos acadêmicos nesta área e em áreas afins, tais como Engenharia de Produção, Contabilidade e Economia, buscando atender a um espectro amplo de domínios, setores industriais e de serviços. Destaca-se, contudo, que as áreas temáticas centrais são:

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Volume 7, Número 1, 2014.

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108 Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.107-112, 2014.

POLÍTICA EDITORIAL E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

2 - DA APRESENTAÇÃO DO ORIGINAL

Os originais destinados à Revista ADMpg Gestão Estratégica deverão ser redigidos de acordo com as seguintes normas:

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Nome do(s) autor(es) - Com indicação da afiliação institucional, cidade e país.

b) ResumoConsiste na apresentação concisa do texto, destacando seus aspectos de maior relevância, em 250 palavras, no máximo.

c) Palavras-chaveCorrespondem às palavras ou expressões que identificam o conteúdo do artigo. No mínimo 3 e no máximo 5.

d) TextoConforme a metodologia adotada ou finalidade a que se destina, o texto é estruturado de maneira distinta, mas geralmente consiste em introdução, desenvolvimento e conclusão, não necessariamente com esta divisão e denominação, mas nesta sequência.

e) AbstractConsiste na apresentação concisa do texto, em inglês, destacando seus aspectos de maior relevância, em 250 palavras, no máximo.

f) Key wordsCorrespondem às palavras ou expressões, em inglês, que identificam o conteúdo do artigo. No mínimo 3 e no máximo 5.

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Obs. A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade dos autores. Comunicações pessoais, trabalhos em andamento e os não publicados não devem ser incluídos na lista de referências bibliográficas, mas citados em notas de rodapé.

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Revista ADMpg Gestão Estratégica Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG - Campus CentralA/C Marilisa do Rocio Oliveira - Departamento de AdministraçãoPraça Santos Andrade, s/n., Centro84010-919 – Ponta Grossa – Paraná

Outros esclarecimentos poderão ser obtidos através do e-mail [email protected] ou [email protected] ou, ainda, pelos telefones (42) 9972-5054 e no site da Revista ADMpg Gestão Estratégica on-line http://www.admpg.com.br/revista

A Revista ADMpg Gestão Estratégica reserva o direito de submeter todos os originais preliminarmente ao Corpo Editorial, que examina a adequação do trabalho à linha editorial. Posteriormente, os artigos são encaminhados para a apreciação sigilosa por pares (double blind peer-review). O Corpo Editorial e os Revisores Ad Hoc dispõem de plena autoridade para decidir sobre a conveniência ou não da publicação, podendo, inclusive, reapresentá--los aos autores, com sugestões para que sejam feitas alterações necessárias no texto e/ou para que os adaptem às normas editoriais da Revista.

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109Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.107-112, 2014.

POLÍTICA EDITORIAL E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

PUBLISHING POLITICS: REVISTA ADMPG GESTÃO ESTRATÉGICA

The Journal of Strategical Management ADMpg, created in 2008, has as objective to foment the generation and the dissemination of knowledge in Administration, as a vehicle of academic works spreading in this area and similar areas, such as Production Engineering, Accountancy and Economy, searching to cover an ample command of fields, industrial sectors and services. It is distinguished however that the central thematic areas are:

1. Ensino e Pesquisa em Administração e Áreas Correlatas2. Direito Empresarial3. Gestão Ambiental4. Gestão da Informação e do Conhecimento5. Gestão Estratégica Organizacional6. Gestão Financeira e Governança Corporativa7. Gestão Mercadológica8. Gestão de Negócios Internacionais9. Gestão de Pessoas10. Gestão de Processos, Sustentabilidade e Responsabilidade Social11. Gestão da Produção e Logística12. Gestão Pública13. Pesquisa Operacional14. Ética e Transparência nas Organizações15. Empreendedorismo e Educação Empreendedora

Nevertheless, other subjects could be evaluated for publication, if the subject are considered of interest for the public of the Journal of Strategical Management ADMpg.

The target public of the Journal of Strategical Management ADMpg is composed for professors, post-graduation students, beyond entrepreneurs and professionals.

The Journal of Strategical Management ADMpg has interest in the unknown papers publication which represents an effective contribution, being under the empirical form research as well theoretical development. The papers can also be submitted in the languages English and Spanish.

The articles are of exclusive responsibility of author(s), which must observe copyrights and ethical principles. The publication rights, by conventional mean or electronic, are reserved to the Journal of Strategical Management ADMpg.

CLARIFICATIONS AND NORMS FOR SUBMISSION OF SCIENTIFICAL PAPERS TO JOURNAL OF STRATEGICAL MANAGEMENT ADMPG

1 - GENERAL NORMS

The Journal of Strategical Management ADMpg (ISSN 1983-6791) (Printed) prioritizes to publish papers resultant from original works from scientific researches and/or papers related to Administration area and correlate areas as Production Engineering, Accountancy, Economy, among others. Other kinds of contributions, as review papers, communications, summaries and case studies are accepted, but not prioritized.

The papers sent to publication must be unknown, it is not allowed its simultaneous submission in another Journal at the same time. The Journal of Strategical Management ADMpg reserves all the copyrights of the published work, including its translation, however, also allowing its posterior reproduction with source quotation.

The Journal of Strategical Management ADMpg will receive for publication papers written in Portuguese, Spanish and/or English, considering that the texts are under total responsibility of the authors,it is important to point out that these papers do not reflect obligatorily the opinion of the Publishing Committee and of the Scientific Council.

The papers must be sent in electronic media CD or DVD, identified and followed of two printed copies (without identification), typed in Word program for Windows 6,0 or more recent. The papers could also be sent for the email [email protected] or, in occasion of call of papers from ADM-International Congress of Administration, http://www.admpg.com.br, the papers could be submitted, in two versions, one with name of the authors and another one occulting the name of authors.

Volume 7, Número 1, 2014.

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110 Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.107-112, 2014.

POLÍTICA EDITORIAL E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

The papers must contain, at the end, complete address, telephone number and e-mail of at least one of the authors, for the correspondence forwarding. The Journal of Strategical Management ADMpg reserves the right to submit all the originals, preliminarily, to the Publishing Committee that examines the adequacy of the paper to the publishing areas. Later, the papers are directed for appreciation for pairs of referees (double blind peer-review). The Publishing Committee and the Scientific Council make use of full authority to decide on the convenience or not of the publication, besides that they can also request to authors some necessary alterations including the adaptation to the publishing norms of the Journal. In this case, the paper will be reevaluated by the referees.

2 - SUBMISSION OF THE ORIGINAL

The originals destined to the Journal of Strategical Management ADMpg must be elaborated according to the following norms: The originals must be written in the official orthography and to be typed in sheets of A4 paper (with space 1,5 line and margin of 2 cm of each one of the sides);

The papers must contain between 4.000 and 8.000 words, including the bibliographical references. The authors must use source Times New Roman, size 12, except for baseboard notes and title. The baseboard notes must use size 9 and the title size 14. Illustrations, diagrams, tables, charts and pictures must be numbered sequentially in Arabian numbers, also must present title in the superior part and source in the inferior part, as well as to have references in the body of the text. In case that photos or figures exist that demand high resolution, these must be sent in separate file in jpg format and with the indication of the position in the text;

The notes must be reduced to the minimum and be typed in baseboard, numbered from 1. If the text present notes in the title, it must receive asterisk and not numeration. The notes do not should be used for bibliographical reference. The bibliographical reference must be put in the body of the work;

The bibliographical references in the body of the text must obey the author-date system.

In the elaboration of the paper, the following structure must be observed:a)Title and subtitle: when papers are in PORTUGUESE, it is required include title and subtitle in Portuguese and English, when papers are in ENGLISH, it is required title and subtitle in English and Portuguese; when the papers are in SPANISH, it is required title and subtitle in Spanish and English).

Name of (s) the author(s) – It must present the indication of institutional affiliation, city and country.

b) Abstract: It consists of the concise presentation of the text, detaching its aspects of greater relevance, in the maximum of 250 words (when papers are in PORTUGUESE, it is required include abstract in Portuguese and English, when papers are in ENGLISH, it is required abstract in English and Portuguese; when the papers are in SPANISH, it is required abstract in Spanish and English).

c) Key words: It corresponds to the words or expressions that identify the content of the article. At least 3 and in maximum 5 (when papers are in PORTUGUESE, it is required include key-words in Portuguese and English, when papers are in ENGLISH, it is required key-words in English and Portuguese; when the papers are in SPANISH, it is required key-words in Spanish and English).

c) Text: According the methodology adopted or its purpose, the text imust be structuralized in distinct way, but generally it consists of introduction, development and conclusion, not necessarily this division and denomination will be required, but in this sequence.

d) Bibliographical references: It must be organized in alphabetical order, for the last name of the author, according norms of ABNT (NBR-6023). The abbreviations of titles of Journals quoted must be according with the international norms.

PS: The exactness of bibliographical references is under responsibility of the authors. Personal communications, researches in progress and not published papers must be cited in baseboard notes and not included in bibliographical references.

3 - FORWARDING OF ORIGINALS

The Journal of Strategical Management ADMpg State University of Ponta Grossa - UEPG - Central Campus A/C Marilisa do Rocio Oliveira – Administration Department Praça Santos Andrade, s/n., CentroZip code 84010-919 - Ponta Grossa - Paraná

Other clarifications could be gotten through the email [email protected] or [email protected], or still, through telephones (42) 9972-5054 and in the site of Journal of Strategical Management ADMpg, on-line: http://www.admpg.com.br/revistaadmpg

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111Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.107-112, 2014.

POLÍTICA EDITORIAL E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

POLÍTICA EDITORIAL: REVISTA ADMPG GESTIÓN ESTRATÉGICA

La Revista ADMpg Gestão Estratégica, creada en 2008, tiene como objetivo fomentar la generación y la diseminación de conocimientos en Administración, como un vehículo de divulgación de los trabajos académicos en esta área y en áreas afines, tales como Ingeniería de Producción, Contabilidad y Economía, buscando atender a uno espectro amplio de dominios, sectores industriales y de servicios. Destacase todavía que las áreas temáticas centrales son:

1. Ensino e Pesquisa em Administração e Áreas Correlatas2. Direito Empresarial3. Gestão Ambiental4. Gestão da Informação e do Conhecimento5. Gestão Estratégica Organizacional6. Gestão Financeira e Governança Corporativa7. Gestão Mercadológica8. Gestão de Negócios Internacionais9. Gestão de Pessoas10. Gestão de Processos, Sustentabilidade e Responsabilidade Social11. Gestão da Produção e Logística12. Gestão Pública13. Pesquisa Operacional14. Ética e Transparência nas Organizações15. Empreendedorismo e Educação Empreendedora

No obstante, otros temas podrán ser evaluados para la publicación, caso el asunto sea considerado de interés para el público de la Revista ADMpg Gestão Estratégica.

El público albo de la Revista ADMpg Gestão Estratégica es compuesto por profesores, alumnos de pos-graduación, allende empresarios e profesionales.

La Revista ADMpg Gestão Estratégica tiene interese em la publicación de artículos inéditos que representen una contribución efectiva, tanto Sob la forma de pesquisas empíricas como de desarrollamiento teórico. Los artículos pueden ser submetidos también en los idiomas inglés y español.

Los artículos son de responsabilidad exclusiva de lo(s) autor(es), que debem observar derechos autorales y princípios éticos. Los derechos de publicación, por medio convencional o electrónico, son reservados a la Revista ADMpg Gestão Estratégica.

ESCLARECIMIENTOS Y NORMAS PARA SUBMISIÓN DE LOS ARTÍCULOS CIENTÍFICOS

1 - NORMAS GENERALES

La Revista ADMpg Gestão Estratégica (ISSN 1983-6791) para la publicación (Impreso) prioriza la divulgación de los trabajos originales resultantes de pesquisa científica y/o significativa para el área de Administración y áreas correlatas como Ingeniería de Producción, Contabilidad, Economía, entre otras. Otros tipos de contribuciones, como artículos de revisión, comunicaciones, reseñas y estudos de caso son aceptas, mas no priorizadas.

Los trabajos enviados para publicación deben ser inéditos, no siendo permitida su presentación simultánea en otro periódico. La Revista ADMpg Gestão Estratégica reserva todos los derechos autorales del trabajo publicado, incluso de traducción, permitiendo, mientras, a su posterior reproducción con debida citación de fuente.

La Revista ADMpg Gestão Estratégica recibirá para publicación trabajos redigidos en portugués, español y/o inglés, quedando los textos de los mismos sob intera responsabilidad de los autores, no reflejando obligatoriamente la opinión del Cuerpo Editorial y del Consejo Científico.

Los trabajos deberán ser enviados en medía electrónica CD o DVD debidamente identificado y acompañados de dos copias impresas (sin identificación), digitadas en programa Word for Windows 6.0 o mas reciente. Podrán también ser enviados por ocasión de la llamada de trabajos del ADM - Congresso Internacional de Administração, http://www.admpg.com.br. Los artículos deberán ser sometidos, en dos versiones, una con el nombre de los autores y otra ocultando el nombre de los autores.

Volume 7, Número 1, 2014.

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112 Revista ADMpg Gestão Estratégica, Ponta Grossa, v. 7, n. 1, p.107-112, 2014.

POLÍTICA EDITORIAL E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

Deberán contener, en el final de los trabajos, enderezamiento completo, teléfono y e-mail de por lo menos uno de los autores, para el envío de la correspondencia.

La Revista ADMpg Gestão Estratégica reserva lo derecho de someter todos los originales preliminarmente a Cuerpo Editorial, que examina la adecuación del trabajo a la raya editorial. Posteriormente, los artículos son encaminados para la apreciación sigilosa por pares (double blind peer-review). El Cuerpo Editorial y los Revisores Ad Hoc disponen de plena autoridad para decidir sobre la conveniencia o no de la publicación, podendo, incluso representarlos a los autores, con sugerencias para que sean hechas alteraciones necesarias en el texto y/o para que los adapten a las normas editoriales de la Revista.

2 - DE LA PRESENTAÇÃO DEL ORIGINAL

Los originales destinados al a Revista ADMpg Gestão Estratégica deberán ser redigidos de acordo con as seguientes normas:

Los originales deberán ser redigidos en la ortografía oficial y digitados en hojas de papel tamaño A4 (con espacio 1,5 raya y margen de 2 cm. por cada un de los lados). Los trabajos deberán contener entre 4.000 y 8.000 palabras, incluyendo las referencias bibliográficas. Utilizar fuente Times New Roman, tamanho 12, excepto para las notas de rodapié e título que deberán presentar cuerpo 9 y 14 respectivamente.

Ilustraciones, diagramas, Tabelas y cuadros.

- deben ser numeradas en algarismos arábicos secuencialmente, presentar título en la parte superior y fuente en la parte inferior, bien como ser referenciados en el cuerpo del texto. Caso existan fotos o figuras que demanden alta resolución, estas deben ser enviadas en archivo separado en formato jpg y con a indicación de la posición en el texto;

Las notas deben ser reducidas al mínimo y digitadas a lo pié de la página, numeradas a partir de 1. Se hubier nota em el título, ella recibirá asterisco e no numeración. Las notas no deben ser utilizadas para referencia bibliográfica. Estas deben ser hechas em el cuerpo del trabajo.

Las referencias bibliográficas en el cuerpo del texto devem obedecer lo sistema autor-data.

En el preparo del original, deberá ser observada la siguiente estructura:

a) Cabecedura: Título del artículo e subtítulo (cuando los artículos fueren en PORTUGUÉS, colocar título y subtítulo en portugués e inglés; cuando los artículos fueren en INGLÉS, colocar título e subtítulo en inglés y portugués; cuando los artículos fueren en ESPAÑOL, colocar título e subtítulo en español e inglés).

Nombre de lo(s) autor(es) - Con indicación de la filiación institucional, ciudad y país.

b) Resumen: Consiste en la presentación concisa del texto, destacando sus aspectos de mayor relevancia, en en el máximo 250 palabras.

c) Palabras-llave: Corresponden a las palabras o expresiones que identifican el contenido del artículo. En el mínimo 3 y en el máximo 5.

d) Texto: Conforme la metodología adoptada o finalidad que se destina, el texto es estructurado de manera distinta, mas generalmente consiste en introducción, desarrollo y conclusión, no necesariamente con esta división y denominaciones, mas en esta secuencia.

e) Abstract: Consiste en la presentación concisa del texto, en inglés, destacando sus aspectos de mayor relevancia, en lo máximo 250 palabras.

f) Key words: Corresponden a las palabras o expresiones, en inglés, que identifican el contenido del artículo. En lo mínimo 3 y en lo máximo 5.

g) Referencias bibliográficas: Ordenada alfabéticamente por el apellido del autor, de acuerdo con las normas de la ABNT (NBR-6023). Las abreviaturas de los títulos de los periódicos citados deberán estar de acuerdo con las normas internacionales.

Obs. La exatidón de las referencias bibliográficas es de responsabilidad de los autores. Comunicaciones personales, trabajos en andamiento y los no aún publicados no deben ser inclusos en la lista de referencias bibliográficas, mas citados en notas de rodapié.

3 - DEL ENCAMIÑAMENTO DE LOS ORIGINALESRevista ADMpg Gestão Estratégica Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG - Campus CentralA/C Marilisa do Rocio Oliveira - Departamento de AdministraçãoPraça Santos Andrade, s/n., Centro84010-919 – Ponta Grossa – Paraná

Otros esclarecimIentos podrán ser obtenidos través del e-mail [email protected] ou [email protected], o aún, por los teléfonos (42) 9972-5054 en site de la Revista ADMpg Gestão Estratégica, on-line http://www.admpg.com.br/revista