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O meu excerto insere-se numa composição de Fernando Pessoa ortónimo, “Viajar! Perder países!”. E vou começar por abordar o poema na sua totalidade, para depois podermos compreender a parte que me foi denominada para apresentar. Em primeiro lugar, é visível que o centro do tema se apresenta na ideia de “Viagem” (passa, passa, passa), que não é uma viagem real, mas mais uma procura por parte do sujeito lírico, de um modo de conseguir viver livremente, sem sofrimentos. E esse meio de viver passa por “ser outro constantemente” ou seja, por dispersar o seu “eu” e adornar a vida de outras personalidades (tipo os heterónimos). Além disso, notemos também que a ideia aqui presente do “ver” pode ser interpretada como a ideia de ser um observador na vida (tipo Caeiro), ou seja, de estar isento de sofrimentos e dos males causados pelo pensamento, e poder no entanto viver a vida ao longe, protegido. Passando então para o excerto, podemos ver que o primeiro verso remete novamente para o verso “ser outro constantemente!”, pois prova que a viagem do sujeito lírico passa por um “não-ser”, ou seja, por sair dele mesmo e seguir em frente, como mero observador. Por sua vez, “a ausência de ter um fim” serve-se para “na ausência de ter um propósito, um destino”, não acredito que a palavra “fim” seja neste caso uma ideia de morte, mas mais uma falta de “destino”. E ao mesmo tempo, na procura de ter um destino, aqui encontramos uma ideia um pouco paradoxal, presente na “ânsia”, que se vê ao longo de todo poema, com a repetição do “ir”, por exemplo, e com as exclamações constantes. Ao inicio eu não consegui associar este poema a nenhuma das temáticas que demos, mas pareceu-me sim que este poema era mais uma das tentativas falhadas de Fernando Pessoa tentar solucionar a sua angustia da dor de pensar e da desilusão presente no poema, que sente por essa mesma angustia, tal como se vê em “É interior à minha mágoa”, onde o sujeito poético reflete sobre a dor que sente de tudo o que é real, seja a paisagem, a natureza, qualquer coisa, pois está constantemente a intelectualizar e a pensar acerca de tudo o que o rodeia. Finalmente, vale a pena referir que este “assim”, aqui presente, é prova dessa mesma tentativa de solucionar o seu modo como olha para o mundo, sendo um conector conclusivo.

Viajar! Perder Países! Fernando Pessoa

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análise e apresentação de um excerto do poema.

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Page 1: Viajar! Perder Países! Fernando Pessoa

O meu excerto insere-se numa composição de Fernando Pessoa ortónimo, “Viajar! Perder

países!”. E vou começar por abordar o poema na sua totalidade, para depois podermos

compreender a parte que me foi denominada para apresentar.

Em primeiro lugar, é visível que o centro do tema se apresenta na ideia de “Viagem” (passa,

passa, passa), que não é uma viagem real, mas mais uma procura por parte do sujeito lírico, de

um modo de conseguir viver livremente, sem sofrimentos. E esse meio de viver passa por “ser

outro constantemente” ou seja, por dispersar o seu “eu” e adornar a vida de outras

personalidades (tipo os heterónimos). Além disso, notemos também que a ideia aqui presente

do “ver” pode ser interpretada como a ideia de ser um observador na vida (tipo Caeiro), ou

seja, de estar isento de sofrimentos e dos males causados pelo pensamento, e poder no

entanto viver a vida ao longe, protegido.

Passando então para o excerto, podemos ver que o primeiro verso remete novamente para o

verso “ser outro constantemente!”, pois prova que a viagem do sujeito lírico passa por um

“não-ser”, ou seja, por sair dele mesmo e seguir em frente, como mero observador. Por sua

vez, “a ausência de ter um fim” serve-se para “na ausência de ter um propósito, um destino”,

não acredito que a palavra “fim” seja neste caso uma ideia de morte, mas mais uma falta de

“destino”. E ao mesmo tempo, na procura de ter um destino, aqui encontramos uma ideia um

pouco paradoxal, presente na “ânsia”, que se vê ao longo de todo poema, com a repetição do

“ir”, por exemplo, e com as exclamações constantes.

Ao inicio eu não consegui associar este poema a nenhuma das temáticas que demos, mas

pareceu-me sim que este poema era mais uma das tentativas falhadas de Fernando Pessoa

tentar solucionar a sua angustia da dor de pensar e da desilusão presente no poema, que

sente por essa mesma angustia, tal como se vê em “É interior à minha mágoa”, onde o sujeito

poético reflete sobre a dor que sente de tudo o que é real, seja a paisagem, a natureza,

qualquer coisa, pois está constantemente a intelectualizar e a pensar acerca de tudo o que o

rodeia.

Finalmente, vale a pena referir que este “assim”, aqui presente, é prova dessa mesma

tentativa de solucionar o seu modo como olha para o mundo, sendo um conector conclusivo.