47
Volatilidade de Taxas de Retorno e Adequação de Capital no Setor Bancário Brasileiro: uma Análise do Período 1993/97 Orlando Carneiro de Matos 1 1. Introdução O sistema bancário brasileiro até 1988 era constituído por conglomerados e instituições isoladas ou independentes. Os conglomerados, por sua vez, eram formados por um conjunto de empresas juridicamente distintas e geralmente lideradas por um banco comercial, as quais, em sua totalidade ou em sua maioria, eram bancos de investimento, sociedades financeiras, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades seguradoras, sociedades corretoras, sociedades de investimento, empresas de capitalização, empresas de previdência privada e sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários. Cada empresa do conglomerado possuía administração e serviços próprios, embora suas estratégias de atuação fossem definidas por um comando único, o que se tornava possível em face das inter-relações existentes em termos de propriedade do capital volante. Ademais, muitas diretorias dentro do conglomerado eram exercidas por uma mesma pessoa. Por outro lado, as agências do banco comercial funcionavam, na prática, como pontos de vendas dos produtos e serviços do conglomerado. O fato de muitos serviços da mesma natureza estarem pulverizados dentro do conglomerado, em face da independência meramente jurídica de seus componentes, não possibilitava ou, pelo menos, dificultava, uma centralização de modo que fossem utilizados mais racionalmente os recursos disponíveis. Isso implicava ineficiência alocativa. A formação desses conglomerados teve início nos anos 50 como opção dos bancos comerciais como forma de reconquistar posições de mercado, em face do impedimento legal de remunerar convenientemente as aplicações e as captações de recursos. Com o agravamento do processo inflacionário, as taxas de juros sobre os depósitos tornaram-se negativas e os investidores 1 Economista e Consultor no Departamento Econômico (DEPEC) do BACEN. O autor agradece os comentários dos economistas Gustavo Alberto Bussinger, José Régis Azevedo Varão e Luiz Sampaio Malan (BACEN/DEPEC), mas exime-os de quaisquer incorreções que porventura permaneçam. Ademais, as idéias e posições aqui registradas não coincidem necessariamente com aquelas defendidas pelo BACEN.

Volatilidade de Taxas de Retorno e Adequação de … em termos de magnitude e de comportamento entre diferentes categorias de bancos. No quarto capítulo, formula-se ... A implicação

Embed Size (px)

Citation preview

Volatilidade de Taxas de Retorno e Adequação de Capital no Setor Bancário Brasileiro: uma Análise do Período 1993/97

Orlando Carneiro de Matos1

1. Introdução

O sistema bancário brasileiro até 1988 era constituído por conglomerados e instituições

isoladas ou independentes. Os conglomerados, por sua vez, eram formados por um conjunto de

empresas juridicamente distintas e geralmente lideradas por um banco comercial, as quais, em sua

totalidade ou em sua maioria, eram bancos de investimento, sociedades financeiras, sociedades de

arrendamento mercantil, sociedades seguradoras, sociedades corretoras, sociedades de investimento,

empresas de capitalização, empresas de previdência privada e sociedades distribuidoras de títulos e

valores mobiliários.

Cada empresa do conglomerado possuía administração e serviços próprios, embora suas

estratégias de atuação fossem definidas por um comando único, o que se tornava possível em face das

inter-relações existentes em termos de propriedade do capital volante. Ademais, muitas diretorias

dentro do conglomerado eram exercidas por uma mesma pessoa. Por outro lado, as agências do

banco comercial funcionavam, na prática, como pontos de vendas dos produtos e serviços do

conglomerado.

O fato de muitos serviços da mesma natureza estarem pulverizados dentro do conglomerado,

em face da independência meramente jurídica de seus componentes, não possibilitava ou, pelo menos,

dificultava, uma centralização de modo que fossem utilizados mais racionalmente os recursos

disponíveis. Isso implicava ineficiência alocativa.

A formação desses conglomerados teve início nos anos 50 como opção dos bancos

comerciais como forma de reconquistar posições de mercado, em face do impedimento legal de

remunerar convenientemente as aplicações e as captações de recursos. Com o agravamento do

processo inflacionário, as taxas de juros sobre os depósitos tornaram-se negativas e os investidores

1 Economista e Consultor no Departamento Econômico (DEPEC) do BACEN. O autor agradece os comentários dos

economistas Gustavo Alberto Bussinger, José Régis Azevedo Varão e Luiz Sampaio Malan (BACEN/DEPEC), mas exime-os de quaisquer incorreções que porventura permaneçam. Ademais, as idéias e posições aqui registradas não coincidem necessariamente com aquelas defendidas pelo BACEN.

2

buscavam obter taxas de remuneração positivas através de operações nos mercados mobiliário e

imobiliário (Perdigão, 1983:193).

Com o propósito de dar forma legal ao que já existia de fato, o Conselho Monetário Nacional

(CMN) passou a estimular a formação de bancos múltiplos (Resolução n.1.524, de 22.09.88), os

quais seriam formados por carteiras comerciais, de investimento, de crédito ao consumidor e de

crédito imobiliário, com a condição de que incluísse, pelo menos, uma carteira comercial ou de

investimento, não podendo, no entanto, fazer parte do banco múltiplo as sociedades corretoras e as

distribuidoras.

Além de estimular a obtenção de eficiência de escopo, o objetivo central desse novo modelo

de organização do sistema bancário brasileiro, semelhante ao sistema alemão de bancos universais,

era tornar flexível a atuação de um banco, na medida que poderia atuar numa multiplicidade de

mercados financeiros, usando a mesma estrutura jurídico-administrativa.

Assim, a possibilidade de diversificação de um banco múltiplo passou a ser mais ampla do

que a de um banco comercial. Todavia, ressalte-se que, mesmo sendo uma instituição financeira de

carteira única segundo a conceituação adotada pelo CMN, a diversificação sempre é possível, pois as

inovações financeiras permitem que os serviços de uma instituição financeira sejam continuamente

diferenciados. Para ilustrar, observe-se um banco comercial, que, de acordo com a nova definição,

tem carteira única, mas não existem impedimentos quanto a possibilidade de esse banco diversificar a

natureza de suas operações ativas em termos de aplicações interfinanceiras de liquidez, títulos e

valores mobiliários, empréstimos, títulos descontados, financiamentos rurais e habitacionais, crédito ao

consumidor, ao comércio, à indústria, à infra-estrutura, ao desenvolvimento, etc.. Cada uma dessas

operações tem características próprias quanto à geração de receitas, risco, prazo, localização

geográfica do cliente, setor econômico, etc. Do lado das operações passivas, há espaço igualmente

para a captação em variados segmentos de mercado.

Portanto, as possibilidades de diversificação são várias. A diferença em relação aos bancos

múltiplos é que este está autorizado a atuar em outros segmentos de mercado, além daqueles em que

atuam os bancos comerciais. Desse modo, amplia-se a capacidade de diversificação daquelas

instituições, com conseqüente redução de custos.

Passados dez anos do início da experiência, há evidências de que os bancos múltiplos têm

apresentado, em geral, taxas de retorno mais elevadas do que seus congêneres de carteira única

(Matos, 1998). No entanto, avançando sobre a avaliação do modelo implantado a partir de 1988,

cumpre indagar até que ponto as taxas de retorno dos bancos com múltiplas carteiras são mais

3

estáveis ou menos voláteis do que as dos bancos comerciais. Num plano mais geral, indaga-se quais

os determinantes das diferenças de volatilidade das taxas de retorno entre os bancos brasileiros.

Nessa mesma linha, pergunta-se quais os condicionantes dos diferentes níveis de adequação de capital

(capital próprio/passivo) entre instituições bancárias no Brasil, ou seja, quais seriam as características

dessas instituições que propiciam graus de vulnerabilidade que podem indicar risco de falência.

O foco na volatilidade justifica-se na atualidade em face de esta indicar instabilidade ou risco,

um tema em foco hodiernamente. Isso ocorre em virtude de o lucro de um banco depender de um

grande número de fatores que escapam ao controle direto de sua administração, tais como

desempenho da economia, taxas de juros, taxas de câmbio, preço de ações, etc. Quaisquer

movimentos adversos nessas variáveis, por certo, refletirão desfavoravelmente sobre o resultado

financeiro do banco individualmente e da indústria bancária como um todo. Em decorrência da

exposição a esses movimentos adversos, Jorion (1997:4) assinala que o gerenciamento do risco tem-

se tornado um instrumento fundamental para a sobrevivência de empresas de qualquer espécie.

Para a consecução dos objetivos propostos, foram identificados os fatores que condicionam a

volatilidade das taxas de retorno, procurando-se as hipóteses teóricas discutidas na literatura

pertinente. Em seguida, apresenta-se uma análise da evolução do setor bancário nacional, assim como

uma caracterização da volatilidade ao longo do período 1993.1/97.2, destacando-se a magnitude de

seus indicadores segundo algumas categorias comuns dos bancos brasileiros, além do impacto do

Plano Real sobre o comportamento do risco. Em terceiro lugar, formula-se um modelo analítico-

explicativo com base nas hipóteses teóricas discutidas e em características específicas do setor

bancário brasileiro.

Além desta introdução, este trabalho compõe-se de quatro tópicos. No segundo, discutem-se

as hipóteses teóricas levantadas na literatura. No terceiro, apresenta-se uma caracterização da

volatilidade em termos de magnitude e de comportamento entre diferentes categorias de bancos. No

quarto capítulo, formula-se um modelo analítico-explicativo e analisam-se os resultados de sua

estimação. Por fim, são apresentadas as conclusões obtidas no desenvolvimento da análise.

4

2. Determinantes Teóricos do Risco

Na definição de Jorion (1997:3-4), risco, em termos genéricos, pode ser definido como a volatilidade

dos resultados não esperados, geralmente o valor de ativos ou passivos. Mais especificamente, risco

financeiro refere-se a possíveis perdas em mercados financeiros. O risco financeiro, por sua vez, pode

ser classificado em risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez e risco operacional.

O risco de mercado refere-se a variações no valor de posições ativas e passivas abertas ou

em resultados empresariais, motivadas por mudanças nos preços de variáveis de mercado, tais como

taxas de juros, taxas de câmbio, preço de ações, preços de commodities, etc. O risco de crédito

surge quando tomadores de crédito não desejam ou são incapazes de honrar suas obrigações

contratuais, implicando custo de reposição do fluxo de caixa interrompido para o emprestador. Mais

genericamente, o risco de crédito pode implicar perdas quando os devedores são rebaixados pelas

agências de classificação de risco, dada a redução do valor de mercado de suas obrigações. O risco

de liquidez refere-se principalmente às perdas que decorrem da falta ou redução de funding para

pagamentos imediatos. Por fim, o risco operacional corresponde ao potencial de perdas resultante de

sistemas operacionais inadequados, falhas administrativas, controles imperfeitos, fraudes ou erros

humanos (Jorion, 1997:14).

Desse modo, o fenômeno que se focaliza aqui refere-se, em síntese, à instabilidade dos resultados

obtidos por uma instituição bancária em função de mudanças não previstas em elementos que os

condicionam, como níveis de desempenho da economia, taxas de desemprego, taxas de juros, taxas

de câmbio, preços de commodities, ações regulatórias, etc. Se essas mudanças ocorrem, refletem-se

sobre as taxas de retorno de algum modo. Se essas mudanças são adversas, ocorrem perdas, ou seja,

observam-se resultados aquém do esperado. Em contraste, se esses movimentos são favoráveis, os

resultados obtidos situam-se acima da expectativa. A medida da dispersão desses movimentos nos

resultados de uma empresa ou qualquer investimento denomina-se volatilidade, ou seja, a

contrapartida empírica do risco. Como todos esses movimentos têm reflexos sobre as taxas de

retorno, a volatilidade destas incorpora todos os tipos de risco, inclusive daqueles porventura não

incluídos na classificação de Jorion.

O risco ou volatilidade a que uma empresa está exposta tem sido medido pela variância ou,

mais comumente, pelo desvio-padrão de suas taxas de retorno do ativo ou capital investido. (Leite,

1994: 257). Nesse caso, quanto mais elevado o desvio-padrão (ou a variância) das taxas de retorno

maior será a possibilidade de dispersão dos valores esperados no futuro e consequentemente maior

5

será o risco (Fabozzi e Modigliani, 1996:170). Portanto, risco e volatilidade de taxas de retorno são

conceitos próximos, embora um seja teórico e o outro, empírico.

Tendo em mente essa conceituação, a questão agora diz respeito à identificação dos

determinantes que são subjacentes aos diferenciais de risco ou volatilidade entre bancos. Em outras

palavras, cabe indagar quais as características associadas aos bancos ou a seu ambiente de atuação

que afetam a volatilidade de suas taxas de retorno, assim como a capacidade de seu capital próprio

absorver perdas advindas de condições adversas.

2.1 Diversificação, Tamanho e Risco

A literatura especializada, a partir do estudo pioneiro de Harry Markowitz, publicado em

1952, aponta a diversificação de portfolios como fator de redução do risco. No caso do mercado

acionário, se as cotações de duas ações tiverem correlação absolutamente negativa, movimentam-se

de maneira oposta, tornando-se possível a formação de uma carteira ótima com essas duas ações, de

modo que se consiga taxa de retorno superior à taxa de juros pura (com ausência de risco) e

simultaneamente não se verifique nenhum risco (apud Leite, 1994: 257). Num plano mais amplo,

pode-se argüir que um resultado adverso, em um mercado, setor ou tipo de clientela, pode ser

compensado por resultado mais favorável em outro mercado, setor ou clientela. De outra forma, um

banco, ao atuar em vários mercados, dependerá em menor grau das variações da demanda de

determinado produto, reduzindo, assim, sua exposição ao risco (Perdigão, 1983:201). É evidente que

as situações extremas de ausência de correlação ou de correlação absoluta são pouco realísticas.

Todavia, é plausível a existência de algum grau de correlação negativa, o que é consistente com a

hipótese original de Markowitz. A propósito, Fabozzi e Modigliani (1996:172) observam que o risco

de um portfolio pode ser reduzido substancialmente com a diversificação, mas não completamente

eliminado.

Recentemente, Clifton (1977:137-151), analisando a competitividade dos grandes

conglomerados, observa a intensa mobilidade de capital que ocorre nesse tido de empresa em

decorrência da variedade de estratégias que adotam com o objetivo de assegurar vantagens

competitivas. Em conseqüência, há um movimento de capitais de setores com baixas taxas de

lucratividade para áreas em que estas são mais favoráveis. A implicação disso é o lançamento de

novos produtos ou serviços, com a conseqüente retirada daqueles mais antigos. Há, portanto, a busca

de novos mercados para absorver essa nova produção. Logo, a previsão é que os grandes

6

conglomerados, com a estratégia de diversificação, consigam aproximar-se de uma taxa de retorno

uniforme.

Uma terceira abordagem que apresenta argumentos a favor de uma relação inversa entre

diversificação e risco é denominada moderna teoria da intermediação. Segundo seus formuladores

[Diamond (1984), Ramakrishnan e Thakor (1984), Boyd e Prescott (1986), Williamson (1986) e

Allen (1990)], a base de sustentação dessa abordagem teórica é a assimetria de informações entre

tomadores e emprestadores. Nesse ambiente, os intermediários financeiros obtêm economias de

escala e de escopo na coleta, processamento e análise de informações, apropriando-se,

consequentemente, de vantagens ao fazer contratos operacionais com grande número de tomadores e

emprestadores. Assim, à medida que aumenta o número de tomadores e emprestadores ampliam-se

as possibilidades de diversificação, motivadas pela redução de custos de contratação entre os agentes

assimetricamente informados. Por outro lado, se um grande número de investimentos é feito por um

mesmo intermediário financeiro, o risco resultante dessa combinação é reduzido ou eliminado,

comparando-se com a situação em que o contrato se realizasse diretamente entre cada tomador

(agente deficitário) e emprestador (agente superavitário). Adicionalmente, a diversificação reduz o

custo esperado de manutenção da assimetria de informações acumuladas nos intermediários

financeiros (Boyd e Runkle, 1993:50-51).

Além das vantagens que obtêm em termos de informações (características do tomador ou

emprestador, escolha de projetos e monitoramento de operações, etc.), os intermediários financeiros

podem deter “... preferências bem definidas por parte de poupadores e detentores de riqueza com

respeito à combinação risco e retorno para os recursos poupados” (Bender, 1997:665). Configura-se,

assim, uma assimetria de informações em favor dos intermediários financeiros. A propósito, Diamond

(1984) assinala que os poupadores, desde que obtenham vantagens através da competição, delegam a

coleta de informações aos intermediários financeiros (apud Bender, 1997:665). Assim, a atividade de

intermediação financeira através da aplicação de recursos com o objetivo de adquirir mais e melhores

informações e, dessa forma, reduzir a assimetria de informação e minimizar custos de transações

financeiras, permite “...alterar riscos e retornos associados aos diferentes ativos da economia”

(Bender, 1997:666).

Da argumentação anterior, emerge também a previsão de uma relação inversa entre tamanho e

risco. Ressalte-se, no entanto, que Boyd e Runkle referem-se a risco de falência, isto é, à perda de

capacidade de um banco absorver prejuízos em decorrência da volatilidade de suas taxas de retorno e

de sua adequação de capital (capital próprio/ativo).

7

O poder de barganha exercido pelos bancos de grande porte é também um fator de

estabilidade das taxas de retorno, independentemente de sua maior capacidade no gerenciamento nas

adversidades. A propósito, Myers (1977:52) afirma que a teoria prevê níveis de risco mais baixos

para as grandes empresas, porque o porte reflete diversificação de atividades, não obstante o autor

reconheça que não se trata de uma previsão rigorosa.

Portanto, tendo em vista todas essas considerações, é forçoso concluir que os bancos

maiores e mais diversificados2 tendem a obter taxas de retorno mais estáveis ou menos voláteis,

porque têm possibilidades mais amplas de compensar resultados adversos em relação aos seus

congêneres especializados e/ou obter economias de escala e de escopo ao reunir e utilizar as

informações que coletam.

2.2 Propriedade do Capital, Forma de Organização, Nacionalidade e Risco

Independentemente da diversificação e numa perspectiva intertemporal, condições

conjunturais - taxas de variação do produto interno bruto (PIB), taxas de juros, taxas de câmbio, etc.

- podem gerar oscilações nas taxas de retorno dos intermediários financeiros. Isso significa que,

mesmo se todos os bancos fossem igualmente diversificados, num determinado período de tempo,

suas taxas de retorno podem variar positivamente, se as condições conjunturais forem favoráveis, ou

negativamente, se estas se comportarem de modo adverso.

Desse modo, a volatilidade das taxas de retorno, em função dessas condições conjunturais,

pode diferir entre categorias de bancos em função das características organizacionais de cada um

deles. No caso dos bancos públicos, é plausível a hipótese de que suas taxas de retorno sejam mais

instáveis relativamente aos seus congêneres privados, porque sua capacidade de ajuste - fechamento

de agências deficitárias, demissão de funcionários, cobrança de operações inadimplentes, etc. é

relativamente mais difícil, quer em face de compromissos sociais, quer em virtude de favorecimentos

políticos. O ajuste, no caso de bancos privados, é mais rápido, pois são mais livres de

condicionamentos dessa espécie ou até mesmo legais.

Desse modo, os esforços no sentido de evitar reduções das taxas de retornos logram mais

êxitos no caso dos bancos privados. Em caso de condições favoráveis, poder-se-ia argumentar que as

variações positivas das taxas de retorno são mais difíceis de ocorrer nos bancos públicos, pois estes

seriam pressionados a efetuar pagamento de gratificações extras a funcionários e diretores, de

2 A respeito da diversificação na indústria bancária, ver também Ferrier, et al. (1993)

8

dividendos a acionistas, principalmente ao controlador, entre outras reivindicações. Ademais, como os

bancos públicos dispõem, em geral, de fontes de recursos mais estáveis em face de sua condição de

agente financeiro de seu controlador, é plausível a expectativa de que isso contribua, de alguma forma,

para reduzir a volatilidade de seus resultados. Portanto, não fica clara a priori se a relação entre

propriedade do capital acionário (pública x privada) e volatilidade é direta ou inversa.

Quanto à forma de organização (bancos comerciais x múltiplos), dado que os bancos múltiplos

detêm possibilidades de diversificação mais amplas do que os comerciais, conclui-se que a volatilidade

destes últimos seja mais alta do que a dos primeiros.

Com relação à nacionalidade, é plausível que os bancos estrangeiros apresentem taxas de

retorno mais estáveis do que os nacionais, porque, em geral, adotam práticas de gerenciamento de

risco com mais freqüência e com instrumentos mais eficazes. Naturalmente, incluem-se nessa categoria

somente os bancos estrangeiros e com controle externo, originários de países desenvolvidos.

2.3 Alavancagem e Risco

Myers (1977:52) postula uma relação direta entre alavancagem e risco, sem que tenha, no

entanto, apresentado argumentos claros em favor dessa hipótese. De qualquer modo, a exposição de

uma empresa endividada ante as flutuações de variáveis de mercado como taxas de juros, taxas de

câmbio, etc. é relativamente mais elevada em comparação com aquelas que possuem grau de

endividamento menor. Adicionalmente, assinale-se, no caso de intermediários financeiros, que,

existindo uma elevada proporção de ativos sob a forma de créditos, aumenta a probabilidade de

perdas (risco de crédito), assim como decresce a capacidade de o capital próprio absorvê-las, se este

não é mantido em níveis compatíveis com a estrutura dos ativos sujeitos a risco.

Portanto, a expectativa é que o grau de alavancagem (passivo/capital próprio) condicione

diretamente a volatilidade das taxas de retorno dos bancos.

2.4 Operações de Hedge e Controle de Risco

Hedge pode ser entendido como uma operação que permite a redução ou a eliminação do

risco de perdas ou de retornos abaixo do esperado. Assim, além das estratégias de diversificação que

permitem reduzir os níveis de volatilidade das taxas de retorno, os bancos, assim como as demais

empresas, podem proteger-se, pelo menos parcialmente, contra riscos financeiros através de

9

operações de hedge. Tal forma de proteção é semelhante à compra de um seguro contra os efeitos

adversos de variáveis sobre as quais as empresas não têm controle (Jorion, 1997:7-8).

Ressalte-se, como afirma Gilbert (1990:3), que os bancos são estimulados a assumir riscos

mais elevados, quando existe seguro de depósito, dado que este pode funcionar como hedge. O

seguro de depósito é uma instituição recente no Brasil e, portanto, seu efeito protetor de operações

passivas dos bancos não é ainda significativo. Na verdade, as formas de hedge são inúmeras, visto

que qualquer operação que tenha por objetivo reduzir risco pode ser considerada como tal. Por

exemplo, se um banco capta recursos de curto prazo, ao procurar realizar aplicações com prazos de

vencimento menores ou iguais aos de seu passivo, está fazendo hedge, na medida que reduz o risco

de liquidez. A proteção dos recursos será ainda maior se o banco realiza operações ativas sob o

amparo de garantias. Todavia, tratar-se-á aqui somente do hedge realizado sob a forma de

operações de derivativos.

Desse modo, os bancos, independentemente da prática tradicional de procurar proteger suas

operações da exposição ao risco através de diversificação ou de adequação de prazos de maturidade

entre fontes e aplicações de recursos, poderão fazê-lo mediante participação em mercados de

derivativos. No entanto, tal participação nesses mercados pode ocorrer tanto com o propósito de

controlar seu próprio risco quanto para fins de especulação ou de arbitragem. O uso mais difundido

de derivativos, entretanto, tem sido destinado ao gerenciamento de risco.

Os bancos, ao utilizarem operações de derivativos como hedge, podem isolar e/ou transferir

riscos específicos para terceiros. Na verdade, empresas, notadamente instituições financeiras, com

exposições próprias a fatores de mercado como preços de commodities, taxas de juros, taxas de

câmbio, etc. podem reduzir sua exposição líquida a esses fatores mediante a aquisição de exposições

compensatórias, o que pode ser feito através de derivativos.

Para fins de ilustração, considere-se que a exposição de um banco às flutuações da taxa de

juros de longo prazo indique que seu valor de mercado pode reduzir-se com o aumento da taxa de

juros. Tal situação poderia advir da política de empréstimos de longo prazo, quando a obtenção de

fundos se faz através da captação de depósitos de curto prazo. Nessa caso, o banco tornar-se-ia

insolvente, se a taxa de juros aumentasse, digamos, 200 pontos-base. No entanto, se o banco

compensar sua exposição ao risco com uma operação de swap de taxa de juros, sua exposição

líquida à taxa de juros de longo prazo reduzir-se-ia consequentemente. Nesse caso, o hedge feito pelo

banco transferiu o risco para a contraparte do swap. Isso, entretanto, não implica que a contraparte é

obrigada a especular com taxa de juros. Ela pode ter uma exposição própria oposta à do banco. Tal

10

situação configura-se quando a contraparte é, por exemplo, uma companhia de seguros que possui

ativos de curto prazo para fins de liquidez, mas tem compromissos de longo prazo, como indenizações

de seguro de vida e/ou de imóveis. Note-se que, nesse caso, se a taxa de juros de curto prazo

aumentar, o banco terá perdas porque terá que pagar mais aos seus depositantes, mas a companhia

de seguros ganhará, pois terá uma remuneração mais elevada para seus ativos de curto prazo

(Hentschel & Smith Jr., 1997:314-315).

Esses autores concluem que o risco de inadimplência que pode advir de operações de

derivativos tem três implicações básicas para os bancos. Primeiro, um banco enfrentará risco de

inadimplência mais baixo, se suas contrapartes estão também usando derivativos como hedge em vez

de usá-lo simplesmente para especular. Segundo, os bancos, quando usam derivativos para reduzir

sua exposição ao risco, reduzem igualmente a probabilidade de inadimplência de todas suas

obrigações, inclusive depósitos. Terceiro, mesmo quando o banco usa derivativos para especular e,

portanto, pode aumentar seu risco (por exemplo, por causa dos pagamentos assimétricos), a

inadimplência advinda de derivativos é sempre menor que a probabilidade de inadimplência de

passivos fixos como depósitos não segurados (Hentschel & Smith Jr., 1997:320).

Em síntese, a expectativa é que os bancos que utilizam operações de derivativos como forma

de hedge tendem a obter taxas de retorno mais estáveis ou menos voláteis em relação àqueles que não

as utilizam com esse propósito ou o fazem em menor escala.

11

3. Evolução Estrutural e Análise do Risco no Sistema Bancário Brasileiro

3.1 Evolução do Sistema Bancário Brasileiro

Com a autorização do CMN para a formação de bancos múltiplos, dois movimentos foram

observados a partir de 1988. Em primeiro lugar, a maioria dos bancos comerciais transformou-se em

bancos múltiplos, incorporando, numa única unidade jurídica, as instituições financeiras que já faziam

parte do conglomerado não formal, à exceção de sociedades corretoras e distribuidoras, não

permitidas pelas novas regras (Resolução 1.524/88). A outra reação à nova norma de organização foi

a constituição de novos bancos com multiplicidade de carteiras, a partir da transformação de

sociedades distribuidoras.

Tabela 3.1

Sistema Bancário Brasileiro – Evolução do Número de Bancos Segundo a Forma de Organização e a

Propriedade do Capital, 1990.1/97.2

Ano/ Bancos Múltiplos Bancos Comerciais Sistema

Semestre Privados Públicos Soma Var.(%) Privados Públicos1 Soma Var.(%) T.Geral Var.(%)

1990.1 140 9 149 - 34 24 58 - 207 -

1990.2 155 10 165 10,7 33 19 52 -10,3 217 4,8

1991.1 161 11 172 4,2 32 17 49 -5,8 221 1,8

1991.2 166 13 179 4,1 32 16 48 -2,0 227 2,7

1992.1 169 17 186 3,9 32 12 44 -8,3 230 1,3

1992.2 176 22 198 6,5 32 8 40 -9,1 238 3,5

1993.1 179 23 202 2,0 31 7 38 -5,0 240 0,8

1993.2 182 23 205 1,5 32 7 39 2,6 244 1,7

1994.1 187 26 213 3,9 30 6 36 -7,7 249 2,0

1994.2 184 26 210 -1,4 30 6 36 0,0 246 -1,2

1995.1 183 26 209 -0,5 31 6 37 2,8 246 0,0

1995.2 179 26 205 -1,9 31 6 37 0,0 242 -1,6

1996.1 173 26 199 -2,9 34 6 40 8,1 239 -1,2

1996.2 166 27 193 -3,0 33 6 39 -2,5 232 -2,9

1997.1 161 26 187 -3,1 32 6 38 -2,6 225 -3,0

1997.2 159 21 180 -3,7 30 6 36 -5,3 216 -4,01Incluem o Banco do Brasil e as Caixas Econômicas Fonte dos Dados Brutos: BACEN

A evolução do sistema bancário brasileiro a partir do primeiro semestre de 1990 é mostrada

na Tabela 3.1 e no Gráfico 3.1. Assinale-se que a reação do sistema bancário às novas regras de

12

organização foi expressiva. Com efeito, em 30.06.90, 72% dos bancos brasileiros já eram múltiplos.

Ao final de 1997, essa participação já chegava a 83%. Ressalte-se adicionalmente a redução do

número de bancos em função do processo de ajustamento estrutural após o Plano Real (junho/94) em

virtude de fusões, incorporações e aquisições.

Gráfico 3.1 - Evolução do Sistema Bancário Brasileiro, 1990/97

0

50

100

150

200

250

1990

.1

1990

.2

1991

.1

1991

.2

1992

.1

1992

.2

1993

.1

1993

.2

1994

.1

1994

.2

1995

.1

1995

.2

1996

.1

1996

.2

1997

.1

1997

.2

No.

de

Ban

cos

Múltiplos Comerciais Sistema

3.2 Análise da Volatilidade de Taxas de Retorno e de Adequação de Capital

Antes que sejam analisadas a volatilidade das taxas de retorno e a adequação de capital,

segundo diferentes agrupamentos de bancos e/ou por períodos de tempo, é importante que apresente

uma definição mais precisa das medidas de risco, que se adotou aqui, pois, na verdade, não existe

uma forma única de fazê-lo.

3.2.1 Observações Metodológicas

A literatura especializada aponta quatro formas principais para a mensuração do risco em nível

de empresa, cada uma com suas vantagens e desvantagens, a saber: a) coeficiente beta, b) variância

(desvio-padrão) de taxas de retorno, c) adequação de capital, e d) risco de falência.

Com relação ao coeficiente beta como medida de risco, considere-se inicialmente o modelo

que relaciona o retorno de um ativo específico ao retorno do portfolio do mercado, proposto por

Sharpe (1964) e aperfeiçoado posteriormente por outros autores [apud Sanvicente e Mellagi Filho

13

(1988) e Leite (1994)]. Assim, tem-se R = α + β Rm + u, onde R é a taxa de retorno do ativo e Rm é

a taxa de retorno do portfolio do mercado e o parâmetro associado a Rm é o coeficiente beta.

Note-se, com base nesse modelo, que Var (R) = β2 Var (Rm) + Var (u), onde o primeiro

termo se refere ao risco sistêmico e o segundo, ao risco não-sistêmico ou diversificável. Enquanto o

risco sistêmico é inevitável e nunca é nulo, o risco diversificável pode ser nulo, dado que, através da

diversificação, o investidor ou a empresa podem combinar ativos ou passivos de modo que “...os

efeitos de eventos específicos se cancelam mutuamente” (Sanvicente e Mellagi, 1988:47).

Dessa forma, uma vez obtidos os dados dos retornos do ativo e do portfolio do mercado,

torna-se possível a identificação do risco sistêmico, do risco diversificável e do risco total. Este

correspondente à variância das taxas de retorno.

Em vista dessa propriedade de abrangência de riscos, a variância das taxas de retorno do

ativo é utilizada como medida de risco ou volatilidade e pode ser interpretada como o desvio das

taxas de retorno em relação ao resultado esperado, o qual ocorre em face da incapacidade de a

empresa prever acontecimentos futuros (Campello e Moreno, 1996).

No caso de resultados empresariais, a medida de risco ou volatilidade mais comum tem sido,

na verdade, o desvio-padrão de taxas de retorno, pois, além de incorporar, tal como a variância, o

risco sistêmico e o diversificável, expressa a volatilidade na mesma unidade da taxa de retorno, o que

não ocorre com a variância.

Uma crítica à utilização de medidas de dispersão como indicador de risco vem de Leahy e

Whited (1996:68). Esses autores argumentam que, podendo a incerteza com que se deparam as

empresas assumir várias formas em termos de variações de preços e de mudanças de tecnologia e

sendo difícil mensurá-las em face da indisponibilidade de dados de qualidade no caso dos primeiros e

da ampla inobservância da última, a variância (ou o desvio-padrão), como medida de risco,

conquanto possa captar movimentos relativos aos múltiplos aspectos do ambiente em que as

empresas operam, tem a desvantagem de incorporar variações nas taxas de retorno, que não refletem

somente mudanças que significam incerteza, mas simplesmente traduzem “bolhas” contingenciais,

novidades e manipulações.

Uma terceira medida do risco é a adequação de capital, definida pela relação capital próprio

sobre ativo (Boyd e Runkle, 1993; Campello e Moreno, 1996). Trata-se de um indicador de risco de

falência, dado que a capacidade de a empresa absorver perdas em virtude de risco dependerá

diretamente do nível de capital próprio. Se a adequação do capital é baixa, essa capacidade fica

14

comprometida e a empresa torna-se relativamente mais vulnerável. Em caso contrário, a empresa

fortalece-se, ficando mais distante da falência.

Por fim, pode-se utilizar, como medida de risco, uma combinação entre adequação do capital

e o desvio-padrão de taxas de retorno. Tal combinação, como é definida por Boyd e Runkle,

corresponde à relação [(L + K)/A]/S, onde L é o resultado financeiro (lucro ou prejuízo), K é o

capital próprio, A é o ativo e S refere-se ao desvio-padrão das taxas de retorno do ativo. Nesse

caso, a medida de risco pode ser interpretada como o número de desvios-padrão requeridos para

que um prejuízo absorva todo capital próprio da empresa. Assim, um valor elevado desse escore

indica menor probabilidade de falência. Tal medida define o que é denominado na literatura de risco

de falência. Observe-se, a propósito, que baixa volatilidade (S) é condição favorável para inibir a

probabilidade de falência, mas seu efeito pode ser reduzido ou neutralizado por uma adequação de

capital [(L + K)/A] mais baixa, ou seja, elevado grau de alavancagem.

O risco de falência pode também ser aproximado pela relação da variância das taxas de

retorno sobre a adequação do capital (capital próprio/ativo) [Gilbert (1990)]. Assim, valores

elevados da medida do risco de falência indicariam forte erosão do capital próprio em virtude das

perdas motivadas pelo risco.

Foram adotadas neste estudo como indicador de risco, com as adaptações requeridas pela

realidade brasileira, a volatilidade mensurada em termos do desvio-padrão das taxas de retorno e o

risco de falência3, que resulta da combinação entre adequação do capital e volatilidade, conforme

sugerido por Boyd e Runkle (1993). No caso da volatilidade, foi usado o desvio-padrão de três

indicadores de taxas de retorno: a) Resultado operacional sobre o ativo rentável (RO) b) Resultado

operacional ajustado ao custo de oportunidade do capital próprio, e c) Resultado líquido do

semestre sobre o ativo rentável (RS).

Definiu-se Ativo Rentável (ou Ativo Total Ajustado) pelo Circulante e Realizável a Longo

Prazo, deduzidas as Disponibilidades, as Relações Interfinanceiras e as Relações Interdependências,

de acordo com o Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif). Já o

Resultado Operacional Ajustado refere-se ao item contábil Resultado Operacional menos o custo de

oportunidade do capital próprio (Patrimônio líquido + Resultados de exercícios futuros). Essa

medida de resultado teve por objetivo aproximar o resultado contábil do conceito de lucro

econômico. O custo de oportunidade corresponde a uma remuneração do capital próprio, cuja taxa

3Como o risco de falência corresponde à relação adequação de capital/volatilidade, usar-se-á, doravante, para

facilitar a interpretação, o conceito de adequação de capital em vez de risco de falência.

15

aplicada foi definida pela média das dez menores razões entre Rendas de aplicações interfinanceiras

de liquidez e Aplicações financeiras de liquidez nos 10 semestres do período analisado: 0,3083

(1993.1), 0,1728 (93.2), 0,2408 (94.1), 0,0849 (94.2), 0,0404 (95.1), 0,0274 (95.2), 0,0174

(96.1), 0,0129 (96.2), 0,0184 (97.1) e 0,0126 (97.2). Ressalte-se que foram feitas estimativas

usando taxas médias do over-Selic. No entanto, os números obtidos não permitiram interpretações

com sentido4.

Quanto à adequação de capital, como componente da definição do risco de falência, utilizou-

se a relação capital próprio/passivo, onde capital próprio corresponde ao Patrimônio Liquido,

enquanto passivo se refere ao Ativo Total Ajustado. Assim, há indicação de elevado risco de falência,

se a volatilidade é elevada e a adequação de capital é baixa. No caso de volatilidade elevada, poder-

se-ia interpretar que há forte erosão do capital próprio em face das perdas advindas do risco. Desse

modo, assinale-se que tal definição de risco de falência pode ser entendida como uma medida refinada

de adequação de capital.

Ressalte-se que, em alguma extensão, variações nas taxas de retorno de empresas possam ser

reflexos de movimentos meramente contingenciais ou mesmo decorram de novidades ou

manipulações, como observam Leahy e Whited. Isso não é diferente na realidade brasileira. No

entanto, como se utiliza aqui o desvio-padrão de taxas de retorno observadas ao longo do tempo em

vez de em datas distintas para vários bancos, a expectativa é que esse problema seja atenuado ou

mesmo eliminado. Quanto às possíveis manipulações de dados, é plausível acreditar que sejam

sistemáticas e provenham de motivações idênticas. Portanto, se os erros ocorrem na mesma direção,

comparações entre bancos ou mesmo ao longo do tempo, como será observado aqui, não são

afetadas de modo significativo. De qualquer modo, o conteúdo informativo desses dados pode ser

avaliado no confronto com o arcabouço teórico utilizado, dado que a lógica deste não guarda relação

com possíveis erros de informações e a consistência obtida nesse confronto não pode, certamente, ser

atribuída à mera coincidência. De resto, qualquer indicador que se utilize está sujeito a erros de

mensuração.

Assinale-se, a propósito, que os desvios-padrão foram calculados para cada banco ao longo

do período 1993.1/97.2. No entanto, com o propósito de verificar se existem diferenças de

volatilidade em virtude das mudanças introduzidas com o Plano Real em termos do nível de inflação,

subdividiu-se o período 1993.1/97.2 em três subperíodos, a saber: a) fase de inflação alta

4Uma forma mais elaborada de exp licitar os custos de oportunidade de uma empresa, denominada valor econômico

adicionado, pode ser encontrada em Grant (1997).

16

(1993.1/94.1), b) fase imediata ao Plano Real (1994.2/95.2, e c) fase de inflação baixa

(1996.1/97.2).

O número de observações consideradas para o período 1993.1/97.2 foi de 247 bancos. No

entanto, cumpre salientar que, visando eliminar problemas de interpretação das medidas utilizadas e

viés nos resultados, foram eliminadas aquelas unidades de observação que, após o cálculo da média

dos valores semestrais, continuaram apresentando patrimônio líquido negativo ou discrepâncias de

outros tipos. Todavia, esse problema ocorreu somente com a alavancagem, definida pela razão Ativo

Total Ajustado/Patrimônio Líquido, em virtude de média negativa ou excessivamente baixa do

patrimônio líquido, fazendo com que tal relação fosse menor do que zero ou muito elevada. Em

conseqüência, decidiu-se que seis bancos fossem eliminados da amostra porque apresentaram

alavancagem negativa ou maior do que 50, resultando em 241 unidades de observações. Isso, no

entanto, não foi considerado na análise tabular que se segue porque não envolveu considerações

diretas sobre essa variável.

3.2.2 Análise da Volatilidade

Usou-se, entre as medidas discutidas anteriormente, o desvio-padrão das taxas de retorno

para analisar o comportamento da volatilidade segundo grupamentos selecionados de bancos.

Destacou-se a análise segundo a forma de organização do banco (múltiplos x comerciais) e classes de

tamanho, controlando-se, nesse último caso, as variáveis origem de capital, forma de organização e

nacionalidade dos proprietários do controle acionário.

Verificou-se, também, até que ponto as variabilidades das taxas de retorno se modificaram em

virtude de hedge na forma de operações de derivativos, assim como foram evidenciadas as diferenças

de volatilidade em função das mudanças consubstanciadas no Plano Real.

3.2.2.1 Forma de Organização e Volatilidade

A volatilidade média segundo a forma de organização do banco e por períodos selecionados é

mostrada na Tabela 3.2. Observe-se que os bancos comerciais apresentaram escores de volatilidade

mais elevados do que aqueles registrados para os bancos múltiplos, qualquer que seja a definição de

taxa de retorno adotada e em qualquer período considerado.

17

Quanto à volatilidade ao longo do período 1993.1/97.2, foram registrados em geral valores

mais elevados nos três semestres que se seguiram ao Plano Real (1994.2/95.2). Isso sugere que as

mudanças que se verificaram no ambiente econômico-financeiro do país com a implementação do

plano de estabilização, na medida que não foram adequadamente antecipadas, traduziram-se em

elementos de incertezas, implicando, em conseqüência, aumentos da volatilidade das taxas de retorno

das instituições bancárias.

Esse resultado dá suporte empírico à hipótese de que a diversificação reduz a volatilidade das

taxas de retorno. Todavia, mudanças no ambiente econômico contribuem para aumentar a

volatilidade, tornando as instituições financeiras mais vulneráveis.

Tabela 3.2

Sistema Bancário Brasileiro - Volatilidade Média das Taxas de Retorno do Ativo segundo a Forma de Organi-zação do Banco e em Períodos Selecionados, 1993.1/97.2

Indicador da Período Bancos Bancos SistemaTaxa de Retorno Amostral Comerciais Múltiplos Bancário

Resultado operacional/Ativo rentável 1993.1/94.1 0,1251 0,0494 0,0622

1994.2/95.2 0,1769 0,0639 0,0829

1996.1/97.2 0,0685 0,0562 0,0582

1993.1/97.2 0,2095 0,0997 0,1193

Resultado operacional ajustado/Ativo rentável 1993.1/94.1 0,1242 0,0682 0,0777

1994.2/95.2 0,1782 0,0596 0,0796

1996.1/97.2 0,0688 0,0496 0,0527

1993.1/97.2 0,1856 0,0973 0,1130

Resultado do semestre/Ativo rentável 1993.1/94.1 0,0727 0,0242 0,0324

1994.2/95.2 0,1815 0,0555 0,0767

1996.1/97.2 0,0667 0,0493 0,0521

1993.1/97.2 0,1493 0,0654 0,0803

Fonte dos Dados Brutos: BACEN

3.2.2.2 Tamanho e Volatilidade

A volatilidade média das taxas de retorno para o período 1993.1/97.2 por classes de tamanho

é apresentada na Tabela 3.3. Note-se inicialmente que as classes de tamanho foram definidas com

base no ativo total médio (em logaritmo). Isso significa que a volatilidade decresce com o aumento do

tamanho do banco, enquanto as taxas de variação são decrescentes. O importante a assinalar é a clara

relação inversa entre a volatilidade e o tamanho. Com efeito, observe-se, no caso do resultado

operacional sobre o ativo, que a volatilidade passou de uma média de 0,3801 para os 18 bancos

18

menores para apenas 0,0267 para os sete maiores. Nos demais indicadores da taxa de retorno, o

resultado observado seguiu padrão semelhante.

Esse resultado indica relação inversa significativa entre volatilidade e tamanho. Cumpre

verificar agora se tal relação se mantém, quando outras variáveis são controladas. Assim, a

volatilidade média para o período 1993.1/97.2 por categorias selecionadas de bancos e tamanho é

mostrada na Tabela 3.4. Assim, verificou-se o comportamento da volatilidade segundo a propriedade

do capital acionário (bancos estatais x privados), segundo a forma de organização (bancos múltiplos x

comerciais) e segundo a nacionalidade (bancos nacionais x estrangeiros).

O resultado mais importante que se pode inferir é a manutenção de relação inversa entre

volatilidade e tamanho em todas as classes de bancos e qualquer que seja o indicador da taxa de

retorno utilizado. Isso reforça a indicação da forte influência do porte da instituição no sentido de

estabilizar suas taxas de retorno.

Tabela 3.3

S i s t e m a B a n c á r i o N a c i o n a l - V o l a t i l i d a d e s M é d i a s d a s T a x a s d e R e t o r n o p o r C l a s s e sd e T a m a n h o , 1 9 9 3 . 1 / 9 7 . 2

C l a s s e s d e A t i v o s N o . d e R e s u l t a d o O p e - R e s . O p e r a c i o n a l R e s u l t a d o d o( e m L o g a r i t m o ) B a n c o s r a c i o n a l / A t i v o A j u s t a d o / A t i v o S e m e s t r e / A t i v o

0 , 0 0 - - - | 9 , 6 5 1 8 0 , 3 8 0 1 0 , 3 0 5 7 0 , 2 1 2 4

9 ,65 - - - | 11 ,76 9 0 0 , 1 6 3 3 0 , 1 6 1 9 0 , 1 1 8 0

1 1 , 7 6 - - - | 1 3 , 8 8 7 8 0 , 0 7 5 2 0 , 0 7 4 8 0 , 0 5 4 9

1 3 , 8 8 - - - | 1 5 , 9 9 5 4 0 , 0 3 4 6 0 , 0 3 2 9 0 , 0 1 9 2

1 5 , 9 9 - - - | 1 8 , 1 0 7 0 , 0 2 6 7 0 , 0 3 2 1 0 , 0 1 1 2

S i s t e m a B a n c á r i o 2 4 7 0 , 1 1 9 3 0 , 1 1 3 0 0 , 0 8 0 3

F o n t e d o s D a d o s B r u t o s : B A C E N

Analisando a volatilidade segundo a propriedade do capital, observou-se que diferenças

registradas entre os bancos estatais e os privados não seguiram um padrão nítido de comportamento.

Na verdade, os bancos privados somente apresentam índices de volatilidade menores do que os

estatais, quando o retorno é medido em termos do resultado operacional e do resultado líquido do

semestre (Tabela 3.4).

Quanto à diferenciação entre bancos comerciais e múltiplos, verificou-se, como já assinalado

(Tabela 3.2), que os últimos possuem volatilidade substancialmente menor. Ressalte-se, no entanto,

que, ao se controlar o tamanho, os bancos comerciais médios e grandes, ao contrário do esperado,

19

apresentaram volatilidades médias mais baixas do que seus similares múltiplos situados nas mesmas

classes de tamanho. Assim, volatilidades menores dos bancos múltiplos ocorreram somente no caso

dos pequenos bancos (Tabela 3.4). Isso leva a conclusão de que os pequenos bancos comerciais são

os mais vulneráveis em termos de risco.

Com relação à nacionalidade, os resultados obtidos indicaram significativos diferenciais de

volatilidade entre bancos nacionais e estrangeiros, registrando-se magnitudes mais elevadas nos

últimos. No entanto, tal diferença ocorre em virtude da elevada instabilidade das taxas de retorno de

seis pequenos bancos estrangeiros. No caso dos médios e grandes bancos estrangeiros os níveis de

volatilidade média são bem menores do que aqueles registrados nas mesmas classes de bancos

provados nacionais.

Tabela 3.4

20

S i s t e m a B a n c á r i o N a c i o n a l - V o l a t i l i d a d e s M é d i a s d a s T a x a s d e R e t o r n o d o A t i v o p o r

C a t e g o r i a s S e l e c i o n a d a s e T a m a n h o d o B a n c o 1 , 1 9 9 3 . 1 / 9 7 . 2

C a t e g o r i a / N o . d e R e s u l t a d o O p e - R e s . O p e r a c i o - R e s u l t a d o d oT a m a n h o B a n c o s r a c i o n a l / A t i v o n a l A j u s t a d o / A t i v o S e m e s t r e / A t i v oO r i g e m d o C a p i t a l

E s t a t a i s 3 3 0 , 1 2 9 9 0 , 1 1 3 0 0 , 0 9 9 1

P e q u e n o s 4 0 , 3 0 0 4 0 , 2 3 4 7 0 , 2 1 5 3

M é d i o s 1 7 0 , 1 5 3 0 0 , 1 3 5 6 0 , 1 3 1 2

G r a n d e s 1 2 0 , 0 4 0 2 0 , 0 4 0 3 0 , 0 1 4 7

P r i v a d o s 2 1 4 0 , 1 1 7 6 0 , 1 1 3 0 0 , 0 7 7 4

P e q u e n o s 7 3 0 , 2 2 6 0 0 , 1 9 2 7 0 , 1 3 9 7

M é d i o s 1 1 2 0 , 0 6 8 2 0 , 0 8 0 9 0 , 0 5 0 8

G r a n d e s 2 9 0 , 0 3 5 4 0 , 0 3 6 5 0 , 0 2 3 4

F o r m a d e O r g a n i z a ç ã o

C o m e r c i a i s 4 4 0 , 2 0 9 5 0 , 1 8 5 6 0 , 1 4 9 3

P e q u e n o s 1 9 0 , 4 2 1 1 0 , 3 7 1 0 0 , 2 9 9 1

M é d i o s 1 7 0 , 0 6 1 1 0 , 0 5 5 2 0 , 0 4 3 9

G r a n d e s 8 0 , 0 2 2 4 0 , 0 2 2 5 0 , 0 1 7 9

M ú l t i p l o s 2 0 3 0 , 0 9 9 7 0 , 0 9 7 3 0 , 0 6 5 4

P e q u e n o s 5 8 0 , 1 6 7 3 0 , 1 3 7 1 0 , 0 9 2 7

M é d i o s 1 1 2 0 , 0 8 2 2 0 , 0 9 3 1 0 , 0 6 4 1

G r a n d e s 3 3 0 , 0 4 0 3 0 , 0 4 1 3 0 , 0 2 1 6

N a c i o n a l i d a d e

N a c i o n a i s 2 1 0 0 , 1 1 4 7 0 , 1 1 0 4 0 , 0 7 8 1

P e q u e n o s 7 1 0 , 1 9 4 7 0 , 1 6 3 7 0 , 1 2 0 8

M é d i o s 1 0 8 0 , 0 8 3 0 0 , 0 9 4 7 0 , 0 6 5 5

G r a n d e s 3 1 0 , 0 4 2 3 0 , 0 4 3 3 0 , 0 2 4 3

E s t a n g e i r o s 3 7 0 , 1 4 4 9 0 , 1 2 7 8 0 , 0 9 2 7

P e q u e n o s 6 0 , 6 4 5 8 0 , 5 6 3 8 0 , 4 1 3 9

M é d i o s 2 1 0 , 0 6 1 2 0 , 0 5 4 5 0 , 0 4 0 2

G r a n d e s 1 0 0 , 0 2 0 0 0 , 0 2 0 1 0 , 0 1 0 4

S i s t e m a 2 4 7 0 , 1 1 9 3 0 , 1 1 3 0 0 , 0 8 0 31 F o r a m c o n s i d e r a d o s b a n c o s p e q u e n o s a q u e l e s c o m a t i v o t o t a l m é d i o i n f e r i o r a R $ 7 0 m i l h õ e s

O s m é d i o s s i t u a m - s e n o i n t e r v a l o d e R $ 7 0 | - - - | 2 . 0 0 0 m i l h õ e s , e n q u a n t o o s g r a n d e s t ê m a t i v o t o t a l m é d i o s u p e r i o r a R $ 2 . 0 0 0 m i l h õ e s .F o n t e d o s D a d o s B r u t o s : B A C E N

A razão dessa diferença reside certamente no fato de, entre os seis estrangeiros considerados

pequenos, existirem bancos originários de países latino-americanos, cuja capacidade de diversificação

de suas áreas de atuação ou de proteger suas exposições ativas e passivas é relativamente limitada,

21

ou instituições originárias de países desenvolvidos, que passaram por transformações em virtude de

fusões.

Esses resultados obtidos por meio de análise tabular são úteis para se verificar a magnitude

dos índices de volatilidade. No entanto, uma relação entre volatilidade e essas categorias de bancos

somente se manifesta com nitidez, quando é forte, como ocorreu no caso de volatilidade- tamanho e

volatilidade-forma de organização (bancos múltiplos x comerciais). Se a associação não é forte, a

relação não aparece com nitidez, mesmo que haja controle de outras variáveis. Assim, uma relação

mais nítida entre volatilidade e as características observadas em nível de banco somente aparecerá

quando se utilizam simultaneamente todas as variáveis explicativas de interesse. Isso se verificará no

próximo tópico, quando se usará modelo econométrico.

3.2.2.3 Operações de Hedge e Volatilidade

As operações de derivativos - contratos a termo, futuros, de opções e de swaps - têm

fundamentalmente o propósito de fazer hedge, ou seja, proteger, total ou parcialmente, as operações

ativas e passivas da instituição financeira contra perdas decorrentes de risco de qualquer natureza.

Nesse sentido, o hedge tem o objetivo de estabilizar as taxas de retorno. Como estas refletem todos

os tipos de perdas motivadas por condições adversas pelas quais os bancos se deparam no seu

cotidiano operacional, a expectativa é que aquelas instituições que mais utilizam operações de hedge

teriam volatilidades de taxas de retorno relativamente menores. No entanto, as operações de

derivativos têm sido, muitas vezes, utilizadas com o objetivo de especulação, visando a obtenção de

lucro, o que, ao contrário do esperado, se tornam um risco em vez de proteção.

No pressuposto de que essas operações de derivativos sejam primordialmente realizadas para

fins de hedge e como tal podem possibilitar a redução da volatilidade de taxas de retorno, dado que

estas sintetizam todas as possíveis perdas que decorrem do risco assumido por uma instituição

financeira, qualquer que seja esse risco, procurou-se verificar até que ponto aquelas operações

constituem efetivamente uma forma de hedge e, portanto, poderão contribuir para reduzir a

volatilidade das taxas de retorno.

O procedimento utilizado para a realização desse teste consistiu inicialmente na definição de

um índice de hedge ou proteção através de operações de derivativos (IH), o qual corresponde à

22

razão do valor referencial das operações próprias de derivativos5 sobre o ativo total ajustado, posto

que este, além de abranger todas as aplicações rentáveis primárias expostas ao risco, dá uma

dimensão aproximada do montante de operações passivas igualmente sujeitas à volatilidade de

variáveis de mercado. Assim, um banco que não possui operações de derivativos terá índice de hedge

ou de proteção nulo e, nessa hipótese, a expectativa é que a volatilidade de suas taxas de retorno

sejam mais elevadas em relação ao que ocorria no caso do banco que realiza operações de

derivativos visando hedge.

Os índices de hedge para cada banco foram calculados com base em dados semestrais,

obtendo-se, em seguida, uma média para o período 1993.1/97.2. Na seqüência, foram definidas

cinco categorias de bancos segundo a magnitude do índice de hedge calculado, obtendo-se, por fim,

a volatilidade média das taxas de retorno dentro de cada uma dessas categorias. Os resultados

obtidos são apresentados na Tabela 3.5.

O exame desses resultados, considerando-se o sistema bancário como um todo (247 bancos),

permite visualizar uma relação inversa entre o índice de hedge e a volatilidade, com uma diferença

expressiva entre os bancos que não utilizam derivativos (IH=0) em relação àqueles que os utilizam

(IH>0). Além disso, entre os bancos que usam derivativos, verificou-se que aqueles que ostentam

índices de hedge mais elevados, à exceção dos que possuem IH>5, são também os que apresentam

menores níveis de volatilidade de suas taxas de retorno, tanto quando estas são expressas em termos

de resultados operacionais quanto do resultado do semestre (que inclui o resultado não operacional e

abate imposto de renda, contribuição social, participações no lucro e contribuições a empregados). A

razão para que os bancos com elevada proporção de operações de derivativos em relação ao ativo

ajustado (IH>5) apresentem índices de volatilidade média mais altos está possivelmente na utilização

desse tipo de operação também com fins especulativos, situação em que a contratação de derivativos

podem redundar em aumento de risco em face das perdas que podem acarretar.

De qualquer modo, tal resultado é consistente com a hipótese de que as operações próprias

de derivativos, conquanto possam ser utilizadas com o propósito de especular ou fazer arbitragens,

têm efetivamente contribuído para que os bancos se protejam de perdas decorrentes de risco de

qualquer natureza, tendo como resultado final a estabilidade de suas taxas de retorno.

5O registro contábil do valor de face das operações próprias de derivativos em instituições financeiras no Brasil pode ser feito em contas patrimoniais, quando há a transferência física da mercadoria ou ativo financeiro (contas 1.3.3.30.00-4 Compras a Termo a Receber e 1.8.4.50.00-6 Vendas a Termo a Receber), ou em contas de compensação, quando não há a transferência da mercadoria ou ativo financeiro (conta 3.0.6.10.00-6 Contratos de Ações, Ativos Financeiros e Mercadorias, subtítulos 3.0.6.1040-8 Próprios, 3.0.6.10.60-4 Swap e 3.0.6.10.70-7 Swap com Garantia) (COSIF 1-4-2-1/16).

23

Sabe-se, no entanto, que as operações de derivativos dos bancos estatais são relativamente

inexpressivas (IH médio de 0,043 contra 1,385 dos bancos privados), verificou-se, também, a relação

índice de proteção-volatilidade somente para os bancos privados nacionais e os estrangeiros (214

instituições). Os resultados são mostrados também na Tabela 3.5. A constatação é que o padrão de

comportamento da volatilidade entre as classes do índice de proteção não se altera significativamente,

isto é, a volatilidade declina com o aumento relativo das operações de derivativos até o nível de IH=5.

Outra precaução diz respeito à possibilidade de o índice de hedge ser correlacionado com o

porte do banco. Como se verificou uma relação inversa significativa entre porte e volatilidade, a

influência do hedge realizado através de operações de derivativos sobre a volatilidade poderia ser

atribuída ao efeito comum do tamanho do banco, desde que este fosse também correlacionado com o

índice de proteção (IH). A correlação calculada, apesar de relativamente baixa (0,0336 para o

sistema bancário como um todo), indica certa dependência entre essas duas variáveis, principalmente

no caso do sistema bancário privado, (coeficiente de correlação de 0,0853). Isso pode significar que

a relação inversa entre volatilidade e o índice de hedge calculado seria atribuída à variável tamanho,

dada a correlação existente entre essas duas últimas variáveis.

Ressaltem-se as significativas variações entre os valores médios do índice IH e os da

volatilidade. Tomando-se o sistema bancário como um todo e considerando-se a volatilidade medida

com base no resultado operacional, note-se, por exemplo, que, enquanto o índice IH médio passa de

0,129 para 3,114, crescendo, portanto, 2.314,0%, a volatilidade decresceu somente 54,2%. No

caso da volatilidade em termos do resultado do semestre, a redução observada na mesma classe de

IH correspondeu a 56,8%. Na quarta classe, observa-se crescimento do índice médio da ordem de

189,4% - bem menor do que o registrado na classe anterior, mas significativamente mais elevado do

que as variações de 100,4% e 90,0% observadas nos níveis de volatilidade em termos de resultado

operacional e de resultado do semestre, respectivamente. Padrão semelhante, observou-se no sistema

bancário privado.

Diante desse resultado, cabe indagar quais as razões dessas diferenças acentuadas de

variações. Isso sugere que os bancos não necessitam aumentar tão significativamente seus níveis de

proteção via derivativos para fins de redução da volatilidade de suas taxas de retorno. Dessa forma,

os bancos com níveis de derivativos relativamente elevados estariam, na verdade, especulando, ou

seja, tentando obter retornos através dessas operações, o que pode neutralizar ou reduzir o efeito

daquela parcela de derivativos que serviria de hedge para exposições às variações adversas dos

fatores de mercado.

24

Com o objetivo de aprofundar a análise, calculou-se a volatilidade das taxas de retorno por

classe do índice de hedge e o porte do banco. Os resultados são apresentados na Tabela 3.6. A

constatação geral é que, nas duas classes de tamanho utilizadas, o padrão de comportamento da

volatilidade não se altera significativamente, isto é, os bancos que usaram operações de derivativos

obtiveram taxas de retorno mais estáveis (menor volatilidade) do que aqueles que não o fizeram. Por

outro lado, corroborando esse resultado, observou-se que, tendo utilizado derivativos, aqueles bancos

o fizeram com maior intensidade (valor mais elevado do índice de hedge, IH) conseguiram resultados

em geral mais expressivos, ou seja, suas taxas de retorno foram mais estáveis ou menos voláteis,

comparando-se com seus congêneres que não usaram hedge nenhum (IH=0) ou usaram-no em menor

grau.

Tabela 3.5

Sistema Bancário Nacional - Volatilidade Média por Classes de Índice de Hedge na Forma de Derivativos , 1993.1/97.2

Volatilidade Média (Desvio-Padrão de Taxas de Retorno)

Classes do Índice de Hedge (IH) IH Médio

Correlação entre IH e

LTNo. de Bancos

Resultado Operacional/Ativo

Resultado Operacional

Ajustado/AtivoResultado do

Semestre/Ativo

Sistema Bancário 1,206 0,0336 247 0,1193 0,1130 0,0803

0,0000 |----- 0,0001 0,000 0,0000 39 0,3040 0,2587 0,2021

0,0001 |----- 0,5000 0,129 -0,1059 121 0,0994 0,0999 0,0673

0,5000 |----- 2,0000 1,138 -0,0415 48 0,0622 0,0761 0,0460

2,0000 |----- 5,0000 3,114 -0,3257 21 0,0455 0,0480 0,0291

5,0000 |---- 26,5000 9,012 0,1404 18 0,0912 0,0759 0,0553

Sistema Bancário Privado 1,385 0,0853 214 0,1176 0,1130 0,0774

0,0000 |----- 0,0001 0,000 0,0000 29 0,3074 0,2603 0,1860

0,0001 |----- 0,5000 0,153 0,0888 100 0,1077 0,1099 0,0742

0,5000 |----- 2,0000 1,165 0,0619 46 0,0628 0,0711 0,0466

2,0000 |----- 5,0000 3,114 -0,3257 21 0,0455 0,0480 0,0291

5,0000 |---- 26,5000 9,012 0,1404 18 0,0912 0,0759 0,0553

Índice de Hedge = Valor Nocional de Operações Próprias de Derivativos/Ativo Ajustado

LT = Logaritmo do Ativo Ajustado

Fonte dos Dados Brutos: BACEN

É importante, todavia, que se realize um teste a fim de verificar-se a significância da variável

índice de hedge, ao se controlar o efeito do tamanho do banco, assim como de outras variáveis

explicativas. Isso será feito no próximo tópico. Essa análise tabular teve mais o objetivo de apresentar

a magnitude dos índices observados de volatilidade do que testar a significância estatística das

hipóteses formuladas sobre o comportamento dessa variável.

25

De qualquer modo, pode-se concluir, em resumo, que tal relação empírica inversa observada

é consistente com a hipótese de que as operações de hedge têm contribuído para reduzir os níveis de

volatilidade a que os bancos estão expostos. Ademais, pode-se inferir também que, além das

estratégias de diversificação de operações, mercado, clientes, região, etc., os bancos têm,

adicionalmente, usado as operações de derivativos como forma de enfrentar o risco. Ressalte-se,

entretanto, as limitações desse resultado em face de não ter sido possível identificar, entre as

operações de derivativos registradas, aquelas que se destinam somente a hedge e não à especulação

ou arbitragem.

Tabela 3.6

Sistema Bancário Nacional - Volatilidade Média de Taxas de Retorno segundo o Tamanho e a Condição de Operar ou Não com Derivativos, 1993.1/97.2

Volatilidade Média (Desvio-padrão de Taxas de Retorno)

Tipos de Bancos/ Classes do Ativo (AT)

No. de Bancos

Classes do Índice de

Hedge (IH)Resultado

Operacional/Ativo

Resultado Operacional

Ajustado/AtivoResultado do

Semestre/AtivoTodos os Bancos 39 0,0000|---0,0001 0,3040 0,2587 0,2021

208 0,0001|--26,5000 0,0846 0,0857 0,0575169 0,0001|---2,0000 0,0888 0,0914 0,0612

39 2,0000|--26,5000 0,0666 0,0609 0,0412AT<95 Milhões 31 0,0000|---0,0001 0,3063 0,2524 0,1809 62 0,0001|--26,5000 0,1673 0,1717 0,1200

51 0,0001|---2,0000 0,1794 0,1858 0,130711 2,0000|--26,5000 0,1112 0,1064 0,0704

AT>95 Milhões 8 0,0000|---0,0001 0,2948 0,2828 0,2843146 0,0001|--26,5000 0,0495 0,0492 0,0309118 0,0001|---2,0000 0,0497 0,0506 0,0312

28 2,0000|--26,5000 0,0490 0,0431 0,0297Bancos Privados 29 0,0000|---0,0001 0,3074 0,2603 0,1860

185 0,0001|--26,5000 0,0879 0,0899 0,0604146 0,0001|---2,0000 0,0936 0,0977 0,0655

39 2,0000|--26,5000 0,0666 0,0609 0,0412AT<95 Milhões 26 0,0000|---0,0001 0,3137 0,2616 0,1796 62 0,0001|--26,5000 0,1673 0,1717 0,1200

51 0,0001|---2,0000 0,1794 0,1858 0,130711 2,0000|--26,5000 0,1112 0,1064 0,0704

AT>95 Milhões 3 0,0000|---0,0001 0,2530 0,2487 0,2413123 0,0001|--26,5000 0,0478 0,0487 0,0304

95 0,0001|---2,0000 0,0475 0,0504 0,030628 2,0000|--26,50000 0,0490 0,0431 0,0297

Fonte dos Dados Brutos: BACEN

3.2.2.4 Impacto do Plano Real sobre a Volatilidade

26

As medidas de políticas econômicas consubstanciadas no Plano Real geraram mudanças

significativas nos preços de bens e serviços, nas taxas de juros, na taxa de câmbio, etc. Como o lucro

dos bancos dependem dessas variações, é previsível que, após o Plano Real, a partir de julho/94, a

volatilidade das taxas de retorno tenha experimentado alterações. A Tabela 3.7 apresenta os índices

de volatilidade para o subperíodo anterior ao Plano Real (1993.1/94.1), assim como para

subperíodos selecionados após junho/94, ou seja, na fase de inflação baixa.

Esses resultados mostram que, ao comparar-se os índices calculados para o período

1993.1/97.2 com aqueles observados para os subperíodos, se verificam valores mais elevados de

volatilidade após o Plano Real, como, aliás, era esperado. No entanto, a subdivisão da fase pós-

Plano Real em dois subperíodos mostra que os índices de volatilidade somente são mais altos nos três

semestrais imediatos posteriores a junho/94, principalmente no caso do Resultado Operacional e do

Resultado Líquido do Semestre.

A razão disso reside, certamente, no ambiente de incerteza dos intermediários financeiros,

diante da queda brusca da inflação. Note-se que, no subperíodo seguinte, quando as novas regras da

economia passaram a ser mais conhecidas e o sistema bancário começou a ajustar-se à nova situação,

as taxas de retornos ficaram mais estáveis, ou seja, os índices de volatilidade reduziram-se em relação

à face inicial do Plano Real. No caso das taxas de retorno medida em termos do Resultado Líquido do

Semestre (que incorpora o resultado não operacional e exclui tributos e participações estatutárias), os

índices de volatilidade, não obstante tenham menores relativamente ao subperíodo 1994.2/95.2,

continuaram mais elevados em relação aos números da fase de inflação alta (Tabela 3.7).

Tabela 3.7

Si s t ema Bancá r io Nac iona l - Vo la t i l i dade Méd ia em Pe r íodos Se l ec ionados , 1993 .1 /97 .2

N ú m e r o V o l a t i l i d a d e M é d i a ( D e s v i o - p a d r ã o d e T a x a s d e R e t o r n o )

P e r í o d od e B a n c o s

C o n s i d e r a d o sResu l t ado Ope -rac iona l /A t ivo

Resu l t ado Ope rac io -na l A jus t ado /At ivo

Resu l t ado do S e m e s t r e / A t i v o

1993 .1 /94 .1 2 1 8 0 , 0 6 2 2 0 , 0 7 7 7 0 , 0 3 2 4

1994 .2 /95 .2 2 2 0 0 , 0 8 2 9 0 , 0 7 9 6 0 , 0 7 6 7

1996 .1 /97 .2 2 1 0 0 , 0 5 8 2 0 , 0 5 2 7 0 , 0 5 2 1

1994 .2 /97 .2 2 3 2 0 , 0 9 3 9 0 , 0 8 6 3 0 , 0 8 4 4

1993 .1 /97 .2 2 4 7 0 , 1 1 9 3 0 , 1 1 3 0 0 , 0 8 0 3

Fon te dos Dados Bru tos : BACEN

27

3.2.3 Análise da Adequação de Capital A adequação de capital foi definida pela razão (patrimônio líquido/passivo)/volatilidade. É,

portanto, um indicador do risco de falência. No entanto, a adequação de capital, definida dessa forma,

expressa risco de falência quando seus valores são baixos, o que pode traduzir elevado grau de

alavancagem. A situação contrária de elevado nível de adequação de capital indica que a possibilidade

de erosão do capital próprio em decorrência de perdas advindas de riscos financeiros. Nesse caso,

alavancagem, ou seja, o grau de endividamento do banco, é relativamente menor.

Com o objetivo de verificar em que medida características organizacionais associadas aos

bancos, tais como tamanho, propriedade do capital, forma de organização e nacionalidade,

condicionam ou são condicionadas pela adequação de capital e, em conseqüência, pelo risco de

falência. Verificou-se igualmente como se comportaram os índices de adequação de capital em

distintos contextos inflacionários ao longo do período 1993/97.

3.2.3.1 Características Organizacionais dos Bancos e Adequação de Capital

Os níveis médios de adequação de capital, segundo as características organizacionais dos

bancos, são apresentados na Tabela 3.8, permitindo, assim, que sejam as possíveis diferenças entre

os agrupamentos utilizados nessa verificação se manifestem.

Como se pode observar, no que se refere à propriedade do capital, a adequação do capital é

sistematicamente mais elevada nos bancos privados do que em seus congêneres controlados pelo

poder público, indicando que o risco de falência é mais provável entre estas do que entre aquelas

instituições financeiras. Todavia, quando se controlam esses resultados por classes de tamanho,

verifica-se que somente no caso dos bancos estatais é que a adequação de capital, como esperado,

cresce com o porte. No caso de bancos privados, essa relação direta não ocorre claramente. Na

verdade, somente quando a volatilidade é medida em termos do Resultado Operacional é que se

observam níveis de adequação de capital crescendo com a tamanho do banco. Se a volatilidade é

expressa em termos do Resultado Operacional Ajustado, a relação adequação de capital-tamanho é

inversa, isto é, os bancos pequenos apresentaram níveis de adequação de capital mais elevados em

relação aos seus congêneres de porte médio ou grande. No caso da volatilidade em termos do

28

Resultado do Semestre (que incorpora o resultado não operacional), não se verifica um padrão nítido

de comportamento.

No que se refere à forma de organização, observou-se que, nos casos da volatilidade em

termos do Resultado Operacional Ajustado e do Resultado do Semestre, os bancos múltiplos, como

esperado, apresentaram média de adequação de capital mais elevada relativamente aos bancos

comerciais. Ao controlar-se os resultados por classes de tamanho, constatou-se que a adequação de

capital cresce com o aumento do porte, mas isso somente ocorre entre os bancos comerciais. Entre os

múltiplos, tal resultado somente se verifica quando a volatilidade que compõe a adequação do capital

é medida em termos do Resultado Operacional. Há uma relação contrária ao esperado no caso da

adequação de capital em termos do Resultado Operacional Ajustado, sugerindo que o risco de

falência aumentaria com o tamanho, se os banco múltiplos efetivamente desembolsassem os custos de

oportunidade de seu capital próprio. A relação não se manifesta de forma clara quando se utiliza a

volatilidade em termos do Resultado do Semestre. Note-se, em especial, que esse padrão observado

para bancos múltiplos é bastante semelhante ao que se verificou no caso dos bancos privados. Isso se

explica pelo fato de os bancos privados serem, em sua maioria, também múltiplos.

Tabela 3.8

29

S i s t ema Bancá r io Nac iona l - Adequação de Cap i t a l Méd ia po r Ca t ego r i a s Se l ec ionadas

S e l e c i o n a d a s e T a m a n h o d o B a n c o 1, 1993.1/97.2

A d e q u a ç ã o d e C a p i t a l e m T e r m o s d a V o l a t i l i d a d e d o :C a t e g o r i a / N o . d e Resu l t ado Ope- Resu l tado Operac io - Resul tado doT a m a n h o B a n c o s rac iona l /At ivo na l Ajus tado /At ivo Semes t re /At ivoO r i g e m d o C a p i t a lEstata i s 33 2 ,000 2 ,689 7 ,869P e q u e n o s 4 1 ,127 1 ,505 1 ,750

M é d i o s 17 1 ,756 2 ,597 5 ,555G r a n d e s 12 2 ,670 3 ,254 13 ,461Pr ivados 2 1 4 4 ,226 4 ,979 10 ,971P e q u e n o s 73 3 ,631 5 ,638 11 ,618

M é d i o s 1 1 2 4 ,108 4 ,599 9 ,563G r a n d e s 29 6 ,231 4 ,741 14 ,768F o r m a d e O r g a n i z a ç ã oComerc ia i s 44 3 ,986 4 ,272 9 ,968

P e q u e n o s 19 2 ,286 2 ,557 5 ,284M é d i o s 17 4 ,085 4 ,929 12 ,331G r a n d e s 8 7 ,811 6 ,950 16 ,073Múlt ip lo s 2 0 3 3 ,835 4 ,676 10 ,426

P e q u e n o s 58 3 ,900 6 ,362 13 ,012M é d i o s 1 1 2 3 ,663 4 ,167 8 ,287G r a n d e s 33 4 ,305 3 ,442 13 ,143N a c i o n a l i d a d e

Nac iona i s 2 1 0 3 ,734 4 ,541 10 ,026

P e q u e n o s 71 3 ,691 5 ,749 11 ,546M é d i o s 1 0 8 3 ,622 4 ,101 8 ,082G r a n d e s 31 4 ,224 3 ,305 13 ,322E s t a n g e i r o s 37 4 ,586 4 ,965 10 ,150

P e q u e n o s 6 1 ,256 1 ,567 5 ,895M é d i o s 21 4 ,218 5 ,122 12 ,613G r a n d e s 10 7 ,359 6 ,672 14 ,931S i s t e m a 2 4 7 3 ,862 4 ,604 10 ,3451 Foram cons iderados bancos pequenos aqueles com a t ivo to ta l médio infer ior a R$ 70 mi lhões . Os médios s i tuam-se no in tervalo de R$ 70 | - - - |2 .000 mi lhões , enquanto os grandes têm at ivo to ta l médio super ior a R$ 2 .000 mi lhões .Fonte dos Dados Bru tos : BACEN

Com relação à nacionalidade, verificou-se, em geral, que as diferenças de níveis de adequação

de capital são mais favoráveis aos bancos estrangeiros no que se refere à possibilidade de insucesso.

O controle por classes de tamanho permite que se evidencie uma relação direta, como se esperava,

entre adequação de capital e porte do banco. Todavia, isso ocorre somente no caso dos bancos

estrangeiros. Tratando-se de bancos nacionais, a exemplo do padrão observado para os bancos

privados e múltiplos, observou-se que os níveis de adequação de capital decrescem com o aumento

do tamanho, não se registrando relação nítida quando é usada a volatilidade em termos do Resultado

do Semestre.

30

Em resumo, observou-se que, não obstante alguma inconsistência entre o que se observou e o

que se esperava, é possível afirmar que, no geral, os bancos grandes possuem níveis de adequação de

capital mais elevados e, portanto, sua probabilidade de falência é menor em relação aos de menor

porte. Um teste mais rigoroso pode ser feito, ao se controlar outras variáveis, o que se efetuará

adiante (seção 4.2.2).

3.2.3.2 O Plano Real e Adequação de Capital no Sistema Bancário

Cumpre indagar em que medida as mudanças motivadas pelo Plano Real contribuíram para

provocar alterações significativas nos níveis de adequação de capital dos bancos brasileiros e, em

conseqüência, em seu risco de falência. Os índices de adequação de capital para as fases de inflação

alta (1993.1/94.1) e de inflação baixa (1994.2/97.2) são apresentados na Tabela 3.9.

Tabela 3.9

Sistema Bancário Nacional - Adequação de Capital Média em Períodos Selecionados, 1993.1/97.2

Número Adequação de Capital em termos da Volatilidade do:

Períodode Bancos

ConsideradosResultado Ope-racional/Ativo

Resultado Operacio-nal Ajustado/Ativo

Resultado do Semestre/Ativo

1993.1/94.1 218 9,528 7,225 37,450

1994.2/95.2 220 10,250 11,148 20,194

1996.1/97.2 210 12,542 12,850 20,661

Fonte dos Dados Brutos: BACEN

Note-se, na fase de inflação alta, nível de adequação de capital mais elevado. No entanto, isso

ocorre somente quando a volatilidade é medida em termos do Resultado do Semestre (que incorpora

os resultados não operacionais). No período posterior ao Plano Real, observou-se que os níveis de

adequação de capital foram mais elevados no subperíodo 1996.1/97.2, o que indica risco de falência

menor, comparando-se com a fase imediata à implementação do programa de estabilização

(1994.2/95.2). Isso era, aliás, esperado em face dos problemas então enfrentados pelos bancos

brasileiros com a queda brusca da inflação.

31

4. Modelo Analítico-Explicativo do Risco Bancário no Brasil

4.1 Formulação do Modelo Analítico

As hipóteses teóricas discutidas anteriormente, aliadas aos elementos caracterizadores da

volatilidade das taxas de retorno dos bancos brasileiros, permitem formular um modelo analítico-

explicativo, cuja expressão formalmente é a que se segue.

V = b0 + b1 L + b2 D + b3 F + b4 H + b5 N + b6 P + b7 T + u, (4.1)

onde:

V = Volatilidade, medida pelo desvio-padrão das taxas de retorno do ativo ao longo do tempo,

L = Alavancagem, medida pela razão ativo total ajustado/patrimônio líquido,

D = Diversificação de atividade, medido pelo índice de Herfindahl, isto é, D = (1 - Σp2), onde p é a

participação relativa de cada modalidade de aplicação ativa do banco6,

F = Variável dummy que indica a forma de organização do banco. Vale 1 se o banco for múltiplo

e 0, se comercial.

H = Índice de Hedge do banco, medido pela relação valor referencial das operações de derivati-

vos/ativo total ajustado.

N = Variável dummy que indica a nacionalidade do banco. Vale 1 se o banco for estrangeiro e 0,

se nacional.

P = Variável dummy que indica a propriedade do capital. Vale 1 se o banco for privado e 0, se

público.

T = Tamanho do banco, medido pelo logaritmo do valor real do ativo total ajustado

u = Termo aleatório.

Como de praxe, possivelmente nem todas essas variáveis explicativas serão incluídas nas

equações estimadas por não apresentarem coeficientes estatisticamente significativos.

Com relação aos sinais dos parâmetros, a expectativa é que a diversificação, a forma de

organização, o índice de hedge, a nacionalidade e o tamanho do banco atuem negativamente sobre a

volatilidade, ou seja, espera-se que b2, b3, b4, b5 e b7 sejam menores do que zero, enquanto o efeito

6 Ver a respeito Matos (1983), pp. 65-67 e Perdigão (1983), p. 199.

32

da variável alavancagem se espera que seja positivo (b1 > 0). No caso da variável propriedade do

capital não se definiu a priori seu impacto sobre a volatilidade, esperando-se simplesmente que b6

seja diferente de zero.

Com o objetivo de analisar o comportamento do risco de falência, utilizou-se a mesma

estrutura analítica do modelo 4.1. Quanto ao sinal dos parâmetros, a expectativa é que sejam

contrários em relação aqueles postulados para o modelo relativo à volatilidade, em virtude da forma

em que o risco de falência foi definido: adequação do capital/desvio-padrão das taxas de retorno.

Desse modo, o risco de falência é definido pela adequação do capital em termos de unidades do

indicador de volatilidade. Portanto, quanto mais elevado o capital próprio requerido para absorver

possíveis perdas motivadas por flutuações adversas das taxas de retorno (volatilidade), menos

provável será o risco de falência. O caso contrário de baixo valor da adequação do capital implica o

risco de falência mais provável. Portanto, a expectativa é que as variáveis condicionantes da

volatilidade atuem em sentido contrário a adequação de capital. A compreensão disso é importante

para a interpretação dos resultados da estimação do modelo analítico.

4.2 Análise dos Resultados da Estimação dos Modelos Formulados

Com os dados de 241 bancos7, correspondentes à média das variáveis para o período

1993.1/1997.2, estimou-se o modelo analítico-explicativo do comportamento da volatilidade das

taxas de retorno do ativo e da adequação de capital. As estimativas foram obtidas para cada um dos

três indicadores de risco adotados, utilizando-se, como variáveis explicativas, a alavancagem, a

diversificação, a forma de organização, o índice de hedge, a nacionalidade, a propriedade do capital,

o tamanho e uma variável especial denominada outlier.

Tal variável foi incorporada aos modelos originais de volatilidade e adequação de capital com

o objetivo de captar possíveis efeitos de características especiais de bancos, consubstanciadas em

valores discrepantes e relativamente mais elevados das variáveis dependentes (outliers), sugerindo a

presença de características relevantes nos bancos, não captadas pelas variáveis explicativas

teoricamente justificadas. Poder-se-ia afirmar que os bancos experimentaram, no período analisado,

situações que motivaram fortes flutuações em suas taxas de retorno, tais como descontroles financeiro

e administrativo, mudanças de propriedade de controles acionários, intervenções externas, etc. Desse

7Como se observou no item 3.2.1-Observações Metodológicas, seis bancos de um total de 247 foram eliminados porque apresentaram patrimônio líquido negativo (dois) ou excessivamente baixo, gerando índices de alavancagem sem sentido.

33

modo, optou-se pela inclusão dessa nova variável, que vale 1 quando o valor da variável dependente

(volatilidade ou adequação de capital) é superior à sua média mais três vezes seu desvio-padrão

(média + 3 x desvio-padrão), valendo 0, no caso contrário. Assim, espera-se que o parâmetro

estimado associado à variável outlier seja positivo no caso do modelo de volatilidade e negativo

quando se trate do modelo de adequação de capital.

Duas observações gerais devem ser feitas com relação à estimação desses modelos. Em

primeiro lugar, os coeficientes de determinação (R2) e as estatísticas F obtidos na estimação de

modelos com o uso de dados observados em nível de empresas são relativamente baixos em virtude

exatamente dos outliers , indicando a omissão de variáveis por dificuldade de identificação. Em

segundo lugar, não obstante os possíveis problemas de heterocedasticidade (variância não-constante

dos resíduos), não se adotou nenhum procedimento no sentido de corrigi-los. Isso pode ser justificado

na medida em que uma correção poderia, no máximo, elevar a magnitude das estatísticas t associadas

a cada regressor, não implicando o risco de rejeição da hipótese de efeito nulo quando se deveria

aceitá-la, principal problema quando os resíduos não são constantes ao longo da amostra.

4.2.1 Resultados da Estimação do Modelo Analítico da Volatilidade

Os resultados obtidos com a estimação do modelo formulado para a análise da volatilidade

com base em seus três indicadores são apresentados na Tabela 4.1. De modo geral, pode-se afirmar

que esses resultados foram satisfatórios, a julgar pelas estatísticas de avaliação, não obstante, como

esperado, nem todas as variáveis explicativas apresentaram coeficientes com o sinal esperado ou com

nível de significância estatística dentro do limite máximo geralmente aceito de 10% de probabilidade

de erro.

Apresentaram coeficientes consistentes com a expectativa teórica em todas as equações

estimadas as variáveis diversificação (D), forma de organização (F), índice de hedge (H), tamanho

(T) e propriedade do capital (P). No entanto, a hipótese de efeito estatisticamente nulo foi rejeitada,

ao nível de 10% ou menos, apenas para as variáveis diversificação para os indicadores de volatilidade

VO e VA, forma de organização, tamanho e propriedade do capital para os três indicadores (VO,

VA e VS). Destaca-se a elevada significância do efeito das variáveis tamanho e propriedade do

capital. No caso da variável tamanho, esse resultado dá suporte à hipótese de que os grandes bancos

obtêm taxas de retorno mais estáveis ou menos voláteis do que seus congêneres de menor porte.

Quanto à variável propriedade do capital, prevaleceu a hipótese de que os bancos privados

34

apresentam menores índices de volatilidade do que os bancos estatais em virtude das dificuldades de

ajuste em situações adversas devido a compromissos sociais e/ou favorecimentos políticos dessas

últimas instituições. Registre-se igualmente a relevância das variáveis diversificação e forma de

organização (bancos múltiplos x comerciais) como condicionantes inibidores da volatilidade. São

variáveis complementares que expressam as estratégias de diversificação dos bancos como forma de

redução de risco, as quais, juntamente com as variáveis tamanho e propriedade de capital, são

responsáveis pela explicação do comportamento da volatilidade, sobretudo quando esta é medida em

termos do Resultado Operacional (VO e VA).

A variável índice de hedge (H), não obstante seus coeficientes estimados sejam teoricamente

corretos, não apresentou efeito estatisticamente significativo quando aparece no modelo completo

(Equações 1, 4 e 7). Isso possivelmente decorre de problemas de multicolinearidade, ou seja, essa

variável tem correlação relativamente alta com outras variáveis (ver Tabela A .1 do Anexo). Com

efeito, verificou-se que a correlação relativamente alta (para os padrões de estudos da espécie) entre

o índice de hedge e as variáveis tamanho (4,2%), propriedade do capital (16,8%) e outlier (-6,8%),

o que pode ter dificultado o isolamento do efeito daquela sobre a volatilidade. Note-se, a propósito,

que, quando as variáveis propriedade de capital (Equações 6 e 9) e outlier (Equações 3, 6 e 9) são

excluídas, rejeita-se a hipótese de efeito nulo da variável índice de hedge com a probabilidade de erro

de 10%. Observe-se ainda que a contribuição dessa variável na explicação do comportamento dos

indicadores de volatilidade é mantida quanto são introduzidas as variáveis forma de organização e

tamanho (Equações 3, 6 e 9). Isso indica que, independentemente do porte e do fato de serem

múltiplos ou comerciais, os bancos têm obtido resultados favoráveis ao utilizar operações de

derivativos para fazer hedge, ainda que, entre essas operações, existam propósitos especulativos.

A variável alavancagem apresenta parâmetros com sinais contrários ao esperado. Quanto à

significância do efeito negativo, registre-se, porém, a rejeição da hipótese de efeito nulo na caso da

volatilidade em termos do Resultado Operacional (VO). Nos outros indicadores, a hipótese nula é

aceita com elevada probabilidade de acerto. Novamente, o problema reside na multicolinearidade,

pois a correlação entre as variáveis alavancagem e tamanho (45,9%) é muito elevada, mascarando o

efeito daquela variável. Como se considerou a variável tamanho mais relevante por encerrar várias

características do banco (diversificação, alavancagem, etc.), preferiu-se mantê-la em todas as

equações estimadas, em detrimento de outras que, em dadas circunstâncias, não se mostraram

estatisticamente independentes do porte.

35

A variável nacionalidade do banco (N) apresentou coeficientes estimados não consistentes

com a formulação teórica, ou seja, os resultados obtidos indicam que os bancos estrangeiros

apresentaram taxas de retorno mais voláteis do que seus congêneres nacionais. Além disso, esse efeito

não-consistente foi estatisticamente significativo, dentro do limite de probabilidade de erro máximo

geralmente aceita de 10%, no caso das equações que utilizam a volatilidade em termos do Resultado

Operacional (VO e VA). Duas razões podem ser alinhadas para explicar a inconsistência de tal

resultado. Em primeiro lugar, registre-se que, entre os bancos considerados estrangeiros neste estudo,

estão aqueles originários de países latino-americanos, que, além de não disporem de instrumentos

financeiros ou de outra ordem, de forma a inibir adequadamente a volatilidade de suas taxas de

retorno, suas matrizes estão inseridas em ambiente ainda instável econômica e institucionalmente. Em

segundo lugar, estão, entre os considerados estrangeiros, alguns bancos que experimentaram

transformações recentes resultando em fusões. Excluindo-se os seis estrangeiros considerados

pequenos na forma definida no item 3.2.2.1 (Tabela 3.4), os resultados melhoram no caso da

volatilidade em termos do Resultado Operacional. O coeficiente estimado para a variável

nacionalidade indicou o sentido de variação esperado e a hipótese de efeito nulo foi rejeitada ao nível

de significância de 10%. Isso significa que as taxas de retorno dos bancos estrangeiros são

significativamente mais estáveis.

36

Tabela 4.1

Sistema Bancário Brasileiro - Volatilidade1 de Taxas de Retorno do Ativo - Equações Estimadas para o Período 1993.1/97.2

Sím- Sinal Es- VO VA VS

Especificação bolo perado 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Regressores

Constante - 0,6118 0,6377 0,8486 0,4736 0,4767 0,6525 0,3553 0,3538 0,4992

(10,31) (10,87) (10,07) (7,35) (7,63) (7,50) (8,15) (8,54) (7,59)

Alavancagem L (+) -0,0024 - - -0,0003 - - -0,0006 - -

(-2,08) - - (-0,21) - - (-0,66) - -

Diversificação D (-) -0,1919 -0,1419 -0,1604 -0,1534 -0,1441 -0,1875 -0,0382 - -

(-3,26) (-2,58) (-2,14) (-2,38) (-2,45) (-2,02) (-0,89) - -

Forma de Organização F (-) -0,0295 -0,0283 -0,0867 -0,0054 - -0,0624 -0,0227 -0,0270 -0,0729

(-1,35) (-1,29) (-3,10) (-0,23) - (-1,77) (-1,42) (-1,95) (-2,87)

Índice de Hedge H (-) -0,0035 - -0,0055 -0,0028 - -0,0074 -0,0002 - -0,0047

(-1,30) - (-1,38) (-0,94) - (-1,50) (-0,09) - (-1,31)

Tamanho T (-) -0,0234 -0,0299 -0,0390 -0,0203 -0,0216 -0,0300 -0,0165 -0,0185 -0,0269

(-4,56) (-6,98) (-6,58) (-3,64) (-4,71) (-4,09) (-4,38) (-6,77) (-5,51)

Nacionalidade N (-) 0,0461 0,0496 - 0,0415 0,0455 - 0,0067 - -

(1,96) (2,10) - (1,62) (2,05) - (0,39) - -

Propriedade do Capital P (+/-) -0,0787 -0,0813 -0,0882 -0,0528 -0,0570 - -0,0574 -0,0533 -

(-3,36) (-3,49) (-2,67) (-2,07) (-2,28) - (-3,35) (-3,32) -

Outliers2

O (+) 0,8160 0,8123 - 1,0317 1,0351 - 0,7398 0,7392 -

(17,25) (17,11) - (21,63) (21,92) - (24,31) (24,76) -

Estatísticas de Avaliação - -

R2 Corrigido - - 0,6713 0,6663 0,2520 0,7131 0,7156 0,1343 0,7613 0,7643 0,1416

Estatística DW - - 1,5910 1,5871 1,7688 1,7182 1,7206 1,4890 1,8765 1,8798 1,6932

Estatística F - - 62,2706 80,8670 17,5774 75,5520 121,7622 10,5371 96,6838 195,5341 14,5285

Número de Observações - - 241 241 247 241 241 247 241 241 247

1Volatilidade foi medida pelo desvio-padrão das taxas de retorno do ativo. VO refere-se à volatilidade quando se utiliza a taxa de retorno do ativo rentável em termos do

Resultado Operacional. Usa-se VS, se o Resultado Operacional é ajustado ao custo de oportunidade do capital próprio. Já RS refere-se à volatilidade quando a taxa de

retorno é medida em termos do Resultado do Semestre (ver seção 3.2.1 para detalhes).2Considerou-se outlier aqueles valores da variável dependente superiores à sua média + 3 x desvio-padrão.

Registre-se ainda a elevada significância estatisticamente do efeito da variável outlier (O)

sobre as mudanças nos níveis de volatilidade. Na verdade, a hipótese de efeito nulo é rejeitada com

uma probabilidade de erro muito próxima de zero. Esse resultado tem duas implicações. Primeiro, há

evidências de que outras características determinantes de mudanças na volatilidade das taxas de

retorno não foram identificadas, podendo, supostamente, ser descontrole financeiro e/ou

administrativo, intervenções externas, erros de registro ou manipulações contábeis, etc. Pesquisas

complementares são, portanto, requeridas para que se compreenda melhor esse fenômeno que apenas

se manifesta indiretamente. A segunda implicação refere-se à melhoria das estimativas, ao dar

tratamento aos valores discrepantes das variáveis explicativas. Note-se que os coeficientes de

determinação e as estatísticas F são sensivelmente mais elevadas quanto a variável outlier é

introduzida no estimação do modelo (Equações 1,2, 4,5, 7 e 8), quando comparados com aqueles

estimados sem tratamento para os outliers (Equações 3, 6 e 9).

37

Por fim, assinale-se que, tomadas em conjunto, as variáveis explicativas exercem influência

estatisticamente significativa sobre os níveis de volatilidade. Tal hipótese foi aceita ao nível de

significância máximo de 1%, em todas as equações estimadas.

4.2.2 Resultados da Estimação do Modelo Analítico da Adequação de Capital

Os resultados obtidos com a estimação do modelo de adequação do capital/volatilidade são

mostrados na Tabela 4.2. Note-se que, em geral, esses resultados são também satisfatórios, pois os

coeficientes de determinação (R2) e as estatísticas F são relativamente elevados para estudos de

cross-section. Além disso, verifica-se que boa parte das variáveis explicativas apresentam parâmetros

consistentes com a expectativa teórica e são estatisticamente significativos dentro do limite de erro

máximo de 10%.

De modo específico, observe-se a relevância de variáveis como alavancagem (L),

diversificação (D), tamanho (T) e propriedade de capital (P). No caso da alavancagem, o resultado

consistente não é surpresa em face do caráter, de certo modo, tautológico entre essa variável e a

definição da variável adequação de capital (próximo do inverso da definição de alavancagem). De

qualquer forma, ressalte-se que uma elevação nos níveis de alavancagem implica necessariamente

redução da adequação do capital próprio, o que, em conseqüência, representa risco de falência mais

provável. Quanto às variáveis diversificação (Equações 1, 2 e 6) e tamanho (Equações 1, 2, 4, 5 e 6),

a relação empírica testada indica que os bancos maiores e mais diversificados têm adequação de

capital próprio mais elevada e, portanto, o risco de falência é menos provável8. No caso da variável

propriedade do capital, a relação direta estatisticamente relevante sugere que os bancos privados são

detentores de níveis de adequação de capital mais elevados do que os estatais, indicando, portanto, o

risco de falência mais improvável daquelas instituições. Assinale-se, no entanto, o fato de que, na

realidade brasileira, se ter observado falências (no sentido de fracasso econômico-financeiro) mais

freqüentes entre os bancos privados não invalida esse resultado, pois as quebras efetivas (mas não

formais) são mais comuns entre os bancos governamentais.

8Campello e Moreno (1996:221-22) testaram a hipótese adequação de capital-tamanho para 10 bancos nacionais. No entanto, a significância dessa relação foi rejeitada. Assinale-se que a definição de adequação de capital, a amostra e as variáveis de controle utilizadas neste estudo diferem substancialmente das que foram adotadas por aqueles autores.

38

Tabela 4.2

Sistema Bancário Brasileiro - Adequação de Capital1 - Equações Estimadas para o Período 1993.1/97.2 - Número de Observações: 241

Sím- Sinal Es- ACO ACA ACS

Especificação bolo perado 1 2 3 4 5 6

Regressores

Constante - -3,8683 -3,5432 -0,4647 0,5751 -8,9255 -6,7160

(-2,66) (-2,49) (-0,24) (0,30) (-2,11) (-1,61)

Alavancagem L (-) -0,1039 -0,1005 -0,1004 -0,1168 -0,2993 -

(-3,61) (-3,51) (-2,57) (-3,21) (-3,55) -

Diversificação D (+) 3,0301 3,1571 2,4368 - 1,5937 7,4225

(2,05) (2,18) (1,22) - (0,37) (1,82)

Forma de Organização F (+) -0,1241 - 0,5210 - 0,8234 -

(-0,23) - (0,70) - (0,52) -

Índice de Hedge H (+) -0,0511 - -0,0795 - -0,5655 -0,5119

(-0,75) - (-0,86) - (-2,84) (-2,52)

Tamanho T (+) 0,3701 0,3289 0,1570 0,2511 1,3471 0,6952

(2,89) (2,65) (0,91) (1,78) (3,61) (2,22)

Nacionalidade N (+) -0,7046 - -0,4873 - 1,8506 -

(-1,19) - (-0,61) - (1,07) -

Propriedade do Capital P (+/-) 2,7751 2,5547 2,2806 1,8404 4,0445 4,7843

(4,71) (4,52) (2,86) (2,45) (2,35) (2,79)

Outliers2

O (+) 16,6808 16,5867 37,3847 37,2352 41,7527 41,6417

(11,63) (11,70) (16,97) (16,92) (11,24) (11,00)

Estatísticas de Avaliação - -

R2 Corrigido - - 0,4457 0,4480 0,5579 0,5570 0,4051 0,3768

Estatística DW - - 1,8588 1,8649 2,1024 2,1036 1,9898 1,9425

Estatística F - - 25,1267 39,9490 38,8576 76,4284 21,4299 30,01921Adequação de capital refere-se à razão patrimônio líquido/passivo, dividida pela volatilidade. Esta, por sua vez, corresponde ao desvio-padrão de taxas de retorno do ativo rentável.

ACO refere-se à adequação de capital quando se utiliza a taxa de retorno em termos do Resultado Operacional. Usa-se ACA, se a taxa de retorno é definida pelo Resultado Operaci-

onal Ajustado e ACS, se é usado o Resultado do Semestre (ver Seção 3.2.1 para detalhes).2Considerou-se outlier aqueles valores da variável dependente superiores à sua média + 3 x desvio-padrão.

As variáveis forma de organização (F) e nacionalidade (N) não apresentaram efeitos

estatisticamente significativos em nenhuma das equações estimadas. Isso sugere ausência de diferenças

significativas de níveis de adequação de capital entre os bancos múltiplos e comerciais e entre os

bancos nacionais e os estrangeiros. Quando se utiliza adequação de capital em termos da volatilidade

do Resultado do Semestre e são excluídos as seis instituições estrangeiras consideradas pequenas

(item 3.2.2.1), há indicação de que os bancos estrangeiros apresentam probabilidade de falência

menor do que seus congêneres nacionais. No caso da variável índice de hedge, registraram-se

diferenças estatisticamente significativas somente nas equações em que a volatilidade é medida em

termo do Resultado do Semestre (que inclui o resultado não operacional mas excluem tributos e

participações estatutárias no lucro). No entanto, o coeficiente estimado não é consistente com a

39

formulação teórica, indicando que os bancos com índices de hedge mais elevados apresentaram

adequação de capital própria mais baixa e, portanto, teriam probabilidade de falência maior. Trata-se,

no entanto, de resultado isolado, não indicando sistematização.

Por fim, assinale-se a elevada significância estatística dos parâmetros associados à variável

outlier (O), sugerindo que eventos específicos ligados a alguns bancos lhes são favoráveis no que se

refere à adequação do capital próprio (controles financeiro e administrativa mais eficientes, lucros mais

elevados, baixa volatilidade de suas taxas de retorno, etc), implicando probabilidade de falência mais

baixa.

Ainda com relação à adequação de capital, é importante que se examine seu comportamento

após o Plano Real (junho/94) em face dos problemas enfrentados pelos bancos em decorrência da

queda brusca da inflação. Para isso, dividiu-se, como já assinalado, o período 1993.1/97.2 em três

fases: a) fase de inflação alta (1993.1/94.1), b) fase imediata ao Plano Real (1994.2/95/2), e c) fase

de inflação baixa (1996.1/97.2). Em seguida, foram combinados os dados desses três subperíodos,

de modo que fosse possível compará-los.

Desse modo, incorporou-se ao modelo básico (4.1) uma variável dummy (R), que assumiu o

valor 1 na fase imediata ao Plano Real e 0, nos demais subperíodos. Os resultados obtidos são

apresentados na Tabela 4.3.

Observe-se que, à exceção do índice de hedge (H) e nacionalidade (N) que apresentaram

parâmetros com sinais contrários ao esperado, as demais variáveis confirmam, em geral, os efeitos

observados na Tabela 4.2, onde são mostrada as equações estimadas de adequação de capital para

os dados médios do período geral (1993.1/97.2). Com relação a variável dummy (R), verificou-

se, quando é medida em termos de Resultado Operacional (ACO) e Resultado Líquido do Semestre

(ACS), que a adequação do capital experimentou declínio na fase imediata ao Plano Real

(1994.2/95.2), o que significa probabilidade de falência mais elevada nesse período, se comparado

com a situação anterior a junho/94 e após 1996, quando os bancos começavam a ajustar-se à nova

realidade econômica do país, ainda que com ajuda governamental.

40

Tabela 4.3

Sistema Bancário Brasileiro - Adequação de Capital 1 - Equações Estimadas para a Combinação dos Pe- ríodos 1993.1/94.1, 1994.2/95.2 e 1996.1/97.2 - Número de Observações Resultante: 626

Sím- Sinal Es- ACO ACA ACS

Especificação bolo perado 1 2 3

Regressores

Constante - -4,4288 -1,1523 -10,1034

(-1,52) (-0,41) (-1,20)

Alavancagem L (-) -0,3194 -0,2712 -0,8519

(-4,44) (-3,98) (-3,53)

Diversificação D (+) 5,0179 4,0698 -

(1,77) (1,50) -

Forma de Organização F (+) - 2,1135 -

- (1,95) -

Índice de Hedge H (+) -0,4286 -0,3476 -1,4937

(-2,96) (-2,53) (-3,04)

Tamanho T (+) 0,9671 0,4840 3,4284

(3,75) (1,97) (4,54)

Nacionalidade N (+) 1,7416 1,8126 -

(1,62) (1,58) -

Propriedade do Capital P (+/-) 3,1811 3,1393 -

(2,70) (2,78) -

Plano Real R (-) -1,7402 0,2948 -5,1897

(-2,18) (0,39) (-1,87)

Outliers 2 O (+) 62,3501 52,1057 351,3340

(22,84) (21,69) (32,23)

Estatísticas de Avaliação

R2 Corrigido - - 0,4904 0,4534 0,6399

Estatística DW - - 1,9304 1,8620 1,8108

Estatística F - - 76,1756 58,6132 223,1383

1Ver definição de adequação de capital na Tabela 4.22Considerou-se outlier aqueles valores da variável dependente superiores à sua média + 3 x desvio-padrão.

41

5. Conclusões

O objetivo principal deste estudo é identificar quais as características associadas aos bancos

brasileiros condicionam a volatilidade de suas taxas de retorno sobre o ativo, assim como a

adequação de capital/volatilidade. Para isso, foi utilizada uma amostra de 241 bancos, quase a

totalidade dos 249 que existiram no período 1993/979. A volatilidade foi medida pelo desvio-padrão

das taxas de retorno ao longo do tempo e estas, por sua vez, foram definidas de três formas, a saber:

a) Resultado operacional sobre o ativo total ajustado, b) Resultado operacional ajustado sobre o ativo

total ajustado, e c) Resultado do semestre sobre o ativo total ajustado. O ajuste na taxa de retorno em

termos do resultado operacional visou explicitar os custos de oportunidade do capital próprio dos

bancos, uma definição mais próxima do conceito econômico de lucratividade. A adequação de capital

foi definida pela relação (Patrimônio Líquido/Ativo Total Ajustado)/volatilidade, envolvendo também

três indicadores em função das três definições de volatilidade. Cada variável utilizada referiu-se ao

período 1993/97 ou subperíodos específicos, usando-se a média de seus valores em cada semestre.

Os dados originais foram extraídos dos balanços e balancetes semestrais das instituições bancárias.

Com relação à volatilidade das taxas de retorno, a análise desenvolvida para o período

1993/97 permitiu inferir os resultados que se seguem, consistentes, em geral, com a expectativa

teórica:

a) a diversificação de atividades contribuiu para reduzir a volatilidade das taxas de retorno,

quando estas foram medidas em termos do Resultado Operacional ou Resultado Operacional

Ajustado ao custo de oportunidade do capital próprio;

b) os bancos múltiplos obtiveram taxas de retorno mais estáveis do que seus congêneres

comerciais (carteira única), qualquer que seja o indicador utilizado, o que reforça o suporte empírico à

hipótese de que a diversificação é uma estratégia relevante no sentido de reduzir risco;

c) há evidências de que as operações de derivativos dos bancos têm funcionado como hedge,

contribuindo, dessa forma, para reduzir o risco medido em termos de volatilidade das taxas de

retorno;

d) há forte evidência de que a volatilidade das taxas de retorno reduz-se com o aumento do

tamanho do banco;

9Na verdade, nem todos os bancos existiram ao longo desse período, mas procurou-se utilizar os dados disponíveis

ainda que não cobrissem todos os semestres. Registrou-se número máximo de bancos (249) em 30.06.94.

42

e) verificou-se que os bancos privados obtiveram taxas de retorno com volatilidade mais

elevada do que seus congêneres estatais;

f) os índices de volatilidade foram, em geral, mais elevados no período após o Plano Real,

mas tal elevação ocorreu basicamente no período imediato ao plano (1994.2/95.2) devido às

turbulências pelas quais passaram os bancos diante do ambiente de incerteza motivado pela queda

brusca da inflação crônica, que lhes permitia ganhos substanciais.

Contrariando a expectativa teórica, verificou-se que:

a) não há evidência de que o grau de alavancagem do banco condicione diretamente a

volatilidade das taxas de retorno do ativo;

b) os bancos estrangeiros apresentaram taxas de retorno mais voláteis do que os nacionais,

quando considerados os bancos de pequenos porte originários de países latino-americanos ou que

experimentaram transformações que implicaram em fusões. Incluindo-se somente os médios e

grandes, observou-se que as taxas de retorno medidas em termos do Resultado Operacional dos

bancos estrangeiros foram mais estáveis em relação aos nacionais.

As razões para a ausência de relação significativa entre alavancagem e volatilidade de taxas de

retorno são mais de caráter empírico do que teórico. A elevação correlação entre alavancagem e

tamanho (coeficiente de 0,458) pode ter contribuído para isso.

Quanto aos resultados obtidos sobre o comportamento da adequação do capital, alinham-se

as seguintes observações conclusivas:

a) o aumento da alavancagem implica redução da adequação do capital próprio para efeito de

absorção de possíveis perdas (risco) advindas de mudanças adversas em variáveis de mercado, o

que, como esperado, permite ampliar as possibilidade de insucesso (falência ou dificuldades

financeiras) dos bancos;

b) a diversificação de atividades, no caso da volatilidade em termos do Resultado Operacional

e do Resultado Semestral (que inclui o resultado não operacional), implicou aumento de adequação do

capital próprio, contribuindo para inibir o insucesso financeiro do banco;

c) verificou-se que a adequação de capital se ampliou com o tamanho do banco, indicando,

como esperado, que as instituições de menor porte são mais vulneráveis do que as maiores no que se

refere à possibilidade de quebra;

d) os bancos privados apresentaram níveis de adequação de capital mais elevados do que os

estatais, situação menos provável quanto às dificuldades que os possam conduzir à falência ou quebra;

43

e) o risco de falência de instituições bancárias, em virtude de redução dos níveis de adequação

de capital, foi mais intenso na fase de inflação baixa imediata ao Plano Real (1994.2 /95.2).

Em contraste, verificou-se que:

a) não se existem diferenças significativas de adequação de capital entre bancos múltiplos e

comerciais, o que, na verdade, não constitui surpresa, dado que se verificou contribuição relevante da

diversificação de atividades no processo de inibição da possibilidade de quebra de bancos e as

instituições mais diversificadas são justamente aquelas que possuem múltiplas carteiras;

b) no caso do hedge na forma de operações de derivativos sobre a possibilidade de insucesso

do banco, observou-se relação contrária ao esperado, não obstante tenha sido significativa quando a

adequação do capital próprio foi ponderada pela volatilidade das taxas de retorno em termos do

Resultado do Semestre (que incorpora o resultado não operacional);

c) não foram registradas diferenças significativas dos indicadores de adequação de capital

entre bancos nacionais e estrangeiros, exceto quando se utilizou o Resultado do Semestre na definição

daquela variável.

Assinale-se que a análise desenvolvida permitiu evidenciar que indicadores de risco como

volatilidade de taxas de retorno e adequação de capital possibilitam uma avaliação criteriosa do

desempenho do sistema bancário brasileiro em termos de solidez, em nível de banco e por segmentos,

numa perspectiva que considera aspectos históricos das instituições financeiras, o que é pertinente,

dado que os eventos (positivos e negativos) que condicionam a trajetória de uma empresa têm fortes

elementos de caráter intertemporal.

Por fim, registre-se que as variáveis utilizadas neste estudo, tal qual um iceberg , revelaram

somente parcela do risco a que os bancos estiveram expostos no período analisado. Tal fato

manifestou-se a partir da constatação de que muitos valores dos indicadores de risco (volatilidade e

adequação de capital) se afastaram, de modo significativo, do padrão geral observado. Nesse sentido,

não obstante a obtenção de resultados satisfatórios em termos de consistência teórica e de

significância estatística dos coeficientes estimados, alguns fatores de risco não puderam ser plenamente

identificados, quer em virtude das dificuldades de mensurá-los, quer simplesmente por não se

conhecer adequadamente sua natureza.

44

ANEXO

45

Tabela A .1Estatísticas Descritivas das Variáveis Utilizadas na Estimação dos Modelos de Risco - Número Total de Observações: 247 - Número de Observações Utilizadas1: 241

Sím- Média Desvio- Valor Valor Variáveis Dependentes Variáveis Explicativas

Variáveis bolo Padrão Mínimo Máximo VO VA VS ACO ACA ACS AL DV FO IH LT NC OC DO DA DS DAO DAA DAS

Variáveis Dependentes

Volatilidade (RO) VO 0,120 0,194 0,002 1,803 1,000 0,828 0,886 -0,378 -0,259 -0,290 -0,177 -0,317 -0,225 -0,110 -0,437 0,054 -0,028 0,736 0,630 0,751 -0,077 -0,064 -0,047

Volatilidade (RA ) VA 0,114 0,226 0,002 2,106 - 1,000 0,857 -0,318 -0,260 -0,274 -0,105 -0,282 -0,155 -0,090 -0,333 0,026 -0,004 0,511 0,816 0,761 -0,060 -0,054 -0,047

Volatilidade (RS) VS 0,081 0,167 0,001 0,959 - - 1,000 -0,339 -0,253 -0,372 -0,064 -0,227 -0,200 -0,091 -0,342 0,031 -0,048 0,682 0,653 0,846 -0,059 -0,050 -0,068

Adequação de Capital (RO) ACO 3,939 3,744 0,061 25,585 - - - 1,000 0,614 0,563 -0,119 0,193 -0,017 -0,011 0,157 0,074 0,199 -0,159 -0,161 -0,187 0,594 0,472 0,189

Adequação de Capital (RA) ACA 4,685 5,684 0,039 70,828 - - - - 1,000 0,511 -0,121 0,048 0,026 -0,038 -0,013 0,021 0,135 -0,088 -0,136 -0,147 0,284 0,731 0,418

Adequação de Capital (RS) ACS 10,572 10,566 0,061 58,838 - - - - - 1,000 -0,121 0,137 0,017 -0,145 0,129 0,064 0,098 -0,156 -0,166 -0,182 0,243 0,228 0,575

Variáveis Explicativas

Alavancagem AL 9,059 7,560 1,007 45,948 - - - - - - 1,000 -0,050 -0,006 -0,017 0,458 0,032 -0,108 0,001 -0,040 0,047 0,061 0,008 -0,023

Diversificação DV 0,580 0,155 - 0,818 - - - - - - - 1,000 0,161 -0,103 0,484 0,032 -0,281 -0,134 -0,153 -0,152 0,055 -0,032 -0,011

Forma de Organização FO 0,822 0,384 - 1,000 - - - - - - - - 1,000 0,004 0,088 -0,463 -0,050 -0,134 -0,113 -0,156 -0,109 -0,045 -0,008

Índice de Hedge IH 1,236 2,724 - 26,057 - - - - - - - - - 1,000 0,042 0,000 0,168 -0,068 -0,061 -0,080 -0,026 -0,028 -0,059

Tamanho LT 12,348 1,999 7,565 18,048 - - - - - - - - - - 1,000 0,135 -0,244 -0,176 -0,163 -0,176 0,119 -0,042 -0,022

Nacionalidade NC 0,154 0,361 - 1,000 - - - - - - - - - - - 1,000 0,164 0,006 -0,005 0,050 0,125 0,056 -0,062

Propriedade do Capital OC 0,871 0,336 - 1,000 - - - - - - - - - - - - 1,000 -0,018 -0,007 0,002 0,050 0,043 0,056

Outliers relativos a VO DO 0,025 0,156 - 1,000 - - - - - - - - - - - - - 1,000 0,607 0,714 -0,021 -0,018 -0,023

Outliers relativos a VA DA 0,029 0,168 - 1,000 - - - - - - - - - - - - - - 1,000 0,658 -0,022 -0,019 -0,025

Outliers relativos a VS DS 0,033 0,180 - 1,000 - - - - - - - - - - - - - - - 1,000 -0,024 -0,021 -0,027

Outliers relativos a ACO DAO 0,017 0,128 - 1,000 - - - - - - - - - - - - - - - - 1,000 0,571 -0,019

Outliers relativos a ACA DAA 0,012 0,111 - 1,000 - - - - - - - - - - - - - - - - - 1,000 0,246

Outliers relativos a ACS DAS 0,021 0,143 - 1,000 - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1,000RO = Resultado Operacional/Ativo Total AjustadoRA = Resultado Operacional Ajustado/Ativo Total AjustadoRS = Resultado do Semestre/Ativo Total Ajustado1 Foram descartados seis bancos por ter apresentado patrimônio líquido negativo (dois) ou alavancagem (AL) superior a 50 (quatro).Fonte dos Dados Brutos: BACEN

46

Referências Bibliográficas

1. ALLEN, Franklin. The market for information and the origin of financial intermediation. Journal of Financial Intermediation, v.1, n.1, May.1990

2. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Plano Contábil das Instituições do Sistema Financei-ro

Nacional (COSIF), Brasília, 1998. 3. BENDER, Siegfried. Implicações da unificação européia sobre o sistema bancário na Ale-manha.

Economia Aplicada, São Paulo, v.1, n.4, Outubro/Dezembro.1997. 4. BOYD, Johon H. & PRESCOTT, Edward C. Financial intermediary-coallitions. Journal of

Economic Theory, v.38, 1986 5. _______ & RUNKLE, David E. Size and performance of banking firms: testing the prediction of

theory. Journal of Monetary Economics, North-Holland, v.31, 1993. 6. CAMPELLO, Murillo e MORENO, Roberto. Regulamentação, conglomeração, retorno e risco

na indústria bancária brasileira: uma perspectiva de longo prazo. Rio de Janeiro, Revista Brasileira de Economia, vol. 50, n.2, Abril/Junho.1996

7. CLIFTON, James. Competition and the evolution of the capitalist mode of production.

Cambridge Journal of Economics, n.1, 1977 8. DIAMOND, Douglas. W. Financial intermediation and delegated monitoring. Review of

Economic Studies, v.51, 1984. 9. FABOZZI, Frank J. e MODIGLIANI, Franco. Capital markets: institutions and instruments.

2.ed. New Jersey (USA): Printice-Hall, 1996. 10. FERRIER, Gary D. et alii. Economies of diversification in the banking industry. Journal of

Monetary Economics, North-Holland, v.31, 1993 11. GILBERT, R. Alton. Market discipline of bank risk: theory and evidence. Federal Reserve

Bank of St. Louis Review. January/February.1990 12. GRANT, James L. Foundations of economic value added. New Hope (USA): Frank J.

Fabozzi Associates, 1997 13. HENTSCHEL, Ludger & SMITH JR., Clifford W. Derivatives regulation: implications for central

banks. Journal of Monetary Economics. v.40, 1997 14. JORION, Phelippe. Value at risk: the new benchmark for controlling market risk. Chicago

(USA): McGraw-Hill, 1997 15. LEAHY, John V. e WHITED, T. M. The effect of uncertainty on investment: some stylized facts.

Journal of Money, Credit and Banking, v. 28, n.1, February.1996.

47

16. LEITE, Hélio de Paula. Introdução à administração financeira, São Paulo: Atlas, 1994 17. MARKOWITZ, Harry M. Portfolio selection. Journal of Finance, v.VII, n.1, Março/1952 18. MATOS, Orlando C. de. Análise da taxa de lucro de empresas financeiras: a experiência

no quadriênio 1978/81, São Paulo: IPE/USP, 1983 (Dissertação de Mestrado) 19. ________. Eficiência bancária no Brasil: um estudo preliminar do período 1993/97,

Brasília: Banco Central do Brasil, 1998. Mimio. 20. MYERS, Stewart C. The relation between real and financial measures of risk and return. In:

FRIEND, Irwin e BICKSLER, James L. (Ed.). Risk and return in finance, Cambridge (USA): Ballinger Publishing Company, 1977, v.I

21. PERDIGÃO, Luis Antônio. Conglomerados financeiros: análise de seu desempenho no período

1978/1981. Revista Brasileira de Mercado de Capitais, Rio de Janeiro, v.9, n.27, Julho/Setembro.1983.

22. RAMAKRISHNAN, Ram & THAKOR, Anjan V. Information reliability and a theory of financial

intermediation. Review of Economic Studies, 1984. 23. SANVICENTE, Antonio Zoratto e MELLAGI FILHO, Armando. Mercado de capitais e

estratégias de investimento. São Paulo: Atlas, 1988. 24. WILLIAMSON, Stephen D. Costly monitoring, financial intermediation, and equilibrium credit

rationing. Journal of Monetary Economics, v.18, 1986.