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Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte Volume 353 i LUIIlle Brasília, de 24 a 30 de agosto de 1987 - N9 13 ADIRP/Roberto Stuckert Voz e vez para o povo no voto Negociar, de olho ADIRPlWl1ham Prescott Esta semana o relator Bernardo Cabral (PMDB - AM) submete ao Plenário o segundo projeto de Constituição, fruto de uma soma maior de etapas cum- pridas. Além das idéias colhidas em subcomissões e comissões temáticas e das emendas de constituintes, temos as propostas de origem popular e os trabalhos produzidos pelos vários grupos suprapartidários que trabalharam buscando o consenso ou, no mínimo, al- gum entendimento, sobre os temas mais polêmicos. Houve avanços significativos em torno de questões difíceis como a reforma agrária, a anistia para militares cassados e o conceito de empresa nacional, por exem- plo. Nada do que se negociou, entretanto, é difinitivo. Temas que não pareciam controversos, como o siste- ma eleitoral, ganharam destaque. As contradições es- tão sendo amenizadas e o entendimento pode crescer ainda mais nos próximos dias. O que não for objeto de acordo, contudo, será inapelavelmente decidido pelo voto a partir de 20 de setembro. O sistema de governo e o tamanho do mandato presidencial são, aparentemente, temas inegociáveis. A divulgação do conteúdo das emendas populares - que reuniram quase 15 milhões de assinaturas - é tarefa a que se dedica o Jornal da Constituinte, por entender que esta foi uma das maiores contribuições para que tenhamos uma Carta construída com a participação da sociedade. As duas fotos mostram momentos importantes do povo chegando à sua Casa: numa, as empregadas domésticas, essencialmente marginalizadas até aqui, mas que não perdem a alegria e na outra, as crianças, o futuro do país, (páginas 5, 6 e 7). r SAO'JosÉ , o poeta morre sem ler a Carta Carlos Drummond de Andrade é agora "Gauche na Eternidade" . Estalou o coração do maior poeta brasileiro. Ou do século. Hoje, quando o País tenta de novo se encontrar com a decência, que o exemplo de caráter e de dignidade sirva de espelho. (página 16). Educação e jornada agitam o plenário o que fazer com algo tão mínimo? o debate organizado por temas prosseguiu no plená- rio, permitindo que opi- niões de todos os matizes dessem a medida exata da visão que cada um tem a res- peito dos problemas nacio- nais. Houve ênfase à neces- sidade de que o orçamento garanta 18% para a educa- ção. No plano das questões sociais, a discussão girou so- bre as quarenta horas sema- nais. Outros assuntos em re- levo: processo eleitoral, sis- tema de governo, papel da tecnologia e a questão da medicina acessível (páginas 10, 11, 12 e 13). o salário teria um nome apropriado: mínimo. Isso porque menor não poderia ser para atender ao que a Constituição, em seu artigo 165, parágrafo 10, chama de necessidades básicas: mora- dia, vestuário, alimentação, transporte e saúde para toda uma família. Atualmente, pretende-se que essa tarefa seja executada com pouco mais de 2 mil cruzados, aí incluído o último abono de Cz$ 250,00. A questão do salário mínimo como fator de dignidade da pessoa hu- mana é abordada com deta- lhes nesta edição (páginas 8 e 9).

Volume 353 iLUIIlle - · PDF fileÓrgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte Volume 353 iLUIIlle Brasília, de 24 a 30 de agosto de 1987 - N9 13 ADIRP/Roberto

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Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte

Volume353

i LUIIlleBrasília, de 24 a 30 de agosto de 1987 - N9 13

ADIRP/Roberto Stuckert

Voz e vez para o povo

no voto

Negociar,de olho

ADIRPlWl1ham Prescott

Esta semana o relator Bernardo Cabral (PMDB- AM) submete ao Plenário o segundo projeto deConstituição, fruto de uma soma maior de etapas cum­pridas. Além das idéias colhidas em subcomissões ecomissões temáticas e das emendas de constituintes,temos as propostas de origem popular e os trabalhosproduzidos pelos vários grupos suprapartidários quetrabalharam buscando o consenso ou, no mínimo, al­gum entendimento, sobre os temas mais polêmicos.Houve avanços significativos em torno de questõesdifíceis como a reforma agrária, a anistia para militarescassados e o conceito de empresa nacional, por exem­plo. Nada do que se negociou, entretanto, é difinitivo.Temas que não pareciam controversos, como o siste­ma eleitoral, ganharam destaque. As contradições es­tão sendo amenizadas e o entendimento pode crescerainda mais nos próximos dias. O que não for objetode acordo, contudo, será inapelavelmente decididopelo voto a partir de 20 de setembro. O sistema degoverno e o tamanho do mandato presidencial são,aparentemente, temas inegociáveis.

A divulgação do conteúdo das emendas populares- que reuniram quase 15 milhões de assinaturas - é tarefaa que se dedica o Jornal da Constituinte, por entenderque esta foi uma das maiores contribuições para que tenhamosuma Carta construída com a participação da sociedade.As duas fotos mostram momentos importantes do povo chegandoà sua Casa: numa, as empregadas domésticas, essencialmentemarginalizadas até aqui, mas que não perdem a alegria ena outra, as crianças, o futuro do país, (páginas 5, 6 e 7).

rSAO'JosÉ,

o poetamorre semler a Carta

Carlos Drummond deAndrade é agora

"Gauche naEternidade" .

Estalou o coraçãodo maior poeta

brasileiro. Ou doséculo. Hoje,quando o Paístenta de novo

se encontrar coma decência, que o

exemplo de carátere de dignidade

sirva de espelho.(página 16).

Educação ejornada agitam

o plenário

o que fazercom algo

tão mínimo?

o debate organizado portemas prosseguiu no plená­rio, permitindo que opi­niões de todos os matizesdessem a medida exata davisão que cada um tem a res­peito dos problemas nacio­nais. Houve ênfase à neces­sidade de que o orçamentogaranta 18% para a educa­ção. No plano das questõessociais, a discussão girou so­bre as quarenta horas sema­nais. Outros assuntos em re­levo: processo eleitoral, sis­tema de governo, papel datecnologia e a questão damedicina acessível (páginas10, 11, 12 e 13).

o salário teria um nomeapropriado: mínimo. Issoporque menor não poderiaser para atender ao que aConstituição, em seu artigo165, parágrafo 10, chama denecessidades básicas: mora­dia, vestuário, alimentação,transporte e saúde para todauma família. Atualmente,pretende-se que essa tarefaseja executada com poucomais de 2 mil cruzados, aíincluído o último abono deCz$ 250,00. A questão dosalário mínimo como fatorde dignidade da pessoa hu­mana é abordada com deta­lhes nesta edição (páginas 8e 9).

o direito à propriedade ea função social da terra

Constituinte Paes de AndradePrimeiro Secretário da Câmara

No que se refere à reformaagrária, creio que, primeiro,temos que partír do conceitoe do direito à propriedade,vinculando-o à obrigação so­cial. Aliás, é preciso acabarcom o conceito do direito àpropriedade de forma abso­luta. Afinal, não vivemos iso­lados. Vivemos em socieda­de. Daí por que o direito àpropriedade deve estar sub­jugado à uma obrigação so­cial.

O conceito da obrigaçãosocial já se encontra inseridoem diversas constituições,como, por exemplo, a daAlemanha Ocidental, no seuartigo 14°, onde está dispostoque "a.proprieda~eobriga",o que imphca evrtar que seutilize a propriedade contrao interesse social.

E é assim que, ao discipli­nar o uso da propriedade, aAlemanha possui uma dasmais perfeitas estruturas fa­miliares do mundo e nem porisso os bons proprietáriossentem qualquer insegurançanessa limitação hoje aceitaem países capitalistas.

Daí por que não se vê fun­damento na alegada contra­dição entre o conceito deobrigação social e a paz nocampo. Pelo contrário, nomundo moderno, mesmo nospaíses capitalistas, não se ad­mite mais, constitucio­nalmente, o direito de pro­priedade de forma absoluta.

Não se pode colocar o di­reito de propriedade, no ca­pítulo dos direitos e garantiasindividuais, no mesmo pata­mar do direito à vida. O con­ceito da propriedade absolu­ta está ultrapassado, não en­contrando razões lógicas everdadeiras para ampará-lo.

É preciso entender que emqualquer sociedade deve ha­ver uma instância de organi­zação que ultrapasse o indiví­duo e represente a coletivi­dade. A essa instância cha­mamos de Estado. Estadodemocrático.

Aí, lembramos que "Emcertos países (Honduras,Equador, Costa Rica, Bolí­via), as disposições legais emmatéria agrária estabelecema reversão de terras ao domí­nio do Estado, ou a extinçãodo domínio privado sobre asterras ociosas, com o obje-

tivo de redistribuí-las parafins de cultivo" (Pedro MoralLopez, Fao).

"A reversão de terras temseu principal fundamento ju­rídico na noção do domíniooriginário do Estado sobretodas as terras compreendi­das no território nacional;noção que, segundo certadoutrina jurídica, constituitambém o fundamento da de­sapropriação de bens. Diz-setambém que o Estado possuium direito do "domínio imi­nente" sobre as terras, aopasso que o "domínio direto"pode pertencer aos particu­lares, possuindo o "domínioútil" aquele que efetivamen­te explora as terras." (Idem.)

Considerando que vive­mos no Brasil situações de in­justiça, com elevada concen­tração de renda: "uns têmmuito, muitos têm pouco"concluímos que é imprescin­dível produzir mudanças, eurgentes. Quanto à terra, suaconcentração é indubitável.Sabemos, por exemplo, que,dos imóveis cadastrados noIncra, apenas 6.880 possuemmais de 100 módulos fiscais,isto é, somam apenas 0,16%dos imóveis do País e concen­tram 136,6 milhões de hecta­res de terras, ou seja, o cor­respondente à área da regiãoSul (SC,PR,RS) e São Paulo,juntos.

Não bastasse este dado,veremos que 87,48% da pro­dução de mandioca, 78,63%do feijão, 68,16% do milhoe 37,10% do arroz são produ­zidos em propriedades commenos de 100 hectares. Se to­marmos as propriedades commenos de 1.000 hectares, ve­remos que nelas se produzem98,60% da mandioca,97,32% do feijão, 93,89% domilho e 75,42% do arroz.

Ora, quando também sa­bemos que no Brasil os 162maiores proprietários, algunsirregulares, açambarcam36.754.689,20 ha de terra,enquanto 3.828.205 peque­nos e miniproprietários (até3 módulos) somam área de116.778.000 ha, já não restamais dúvida de que é precisoimplementar a reforma agrá­ria, estabelecendo um limitemáximo ao direito de pro­priedade.

Constituinte Vicente Bogo(PMDB-RS)

A votaçãose aproxima

A Assembléia Nacional Consti­tuinte entra, está semana, em suafase mais importante, isto é, co­meça a exammar o substitutivo deConstituição do relator da Comis­são de Sistematização, BernardoCabral.

Até o próximo domingo, osconstituintes vão apresentaremendas ao substitutivo. Em se­guida, Bernardo Cabral vai estu­dar as emendas e, no dia 7 de se­tembro, "Dia da Independência",entregará a proposta definida daCarta Magna.

Assim, a partir do dia 20 de se­tembro, a Assembléia NacionalConstituinte inicia a votação danova Constituição, que deverá serpromulgada em 15 de novembro.

Esse o clima de intensa expec­tativa que estamos vivendo e e re­fletido em toda a sua extensão pe­lo Jornal da Constituinte. Nestenúmero, estamos apresentando asprincipais emendas populares ­foram oferecidas 122 pela socie­dade. Dedicamos, também, váriaspáginas aos debates de alto nívelverificados no plenário da Assem­bléia, onde os constituintes discu­tiram temas os mais variados e im­portantes, que deverão mudarsubstancialmente a vida dos brasi­leiros a partir do ano que vem.Temos, como destaque, entrevistaexclusiva do Senador José Richa,sobre o trabalho gue um grupo deconstituintes realizou para ofere­cer um projeto de Constituição.

O Jornal da Constituinte home­nageia, no presente número, omaior dos poetas brasileiros, Car­los Drummond de Andrade, cujodesaparecimento, esta semana, foiprofundamente lamentado pelosconstituintes. Nas páginas cen­trais, publicamos ampla reporta­gem sobre o salário mínimo noBrasil, pondo a nu a gritante con­tradição entre o que determina aatual Constituição e o que estabe­lece a Consolidação das Leis doTrabalho ao regulamentar a maté­ria. A nova Constituição deverá,sem dúvida, alterar essa situação,dotando o país de um salário míni­mo condizente com nossa posiçãode oitava economia do mundoOcidental.

Constituinte Marcelo CordeiroPrimeiro-Secretário daANC

Parlamentarismo: o rumoda conciliação dos poderes

A expectativa em torno da Consti- destacadoa oportunidadede reformastuinte éa mesmados períodosem que de profundidade a partir da adoçãoa História dividiu passado, presente do sistema parlamentarista de gover-e futuro. no.

Assim foi em 1824, quando Pedro Nossa posição parlamentarista nãoI outorgou a Constituição redigidape- advémde ummero raciocínio de atua­la Assembléia Nacional Constituinte lidade- este também válido-, masde 1823. Era a fase da transição do de uma análisehistóricague nos com­período colonialpara o da monarquia pele a procurar um caminho em queparlamentarista,no qual a Nação bra- a conciliação dos Poderes não se façasileirase retratava por inteiro na espe- à custa da predominância de qualquerrança de fixar-se no conceitomundial deles.comoum Estado soberano. O regime parlamentarista que de-

Mal terminado o trabalho dos cons- fendemos é tão democrático que ostituintes de 1823, entre os quais se in- movimentos populares, os índices decluíam figuras da maior expressão da opiniãopública,a críticaconstantedosinteligência brasileira,comoosirmãos meios de comunicação de massa, po­Andrada, e dissolvida a Assembléia, dem tornar-se instrumentosoperacio­o importante - o texto constitucional nais de transformações sociais, poli­- estava completo, ricas e administrativas com uma sim-

A transiçãoImpostapelo movímen- ples reforma de gabinete.to republicano que pôs fim à monar- De fato, os niinistros impopularesquiae fixou os alicerces da República, não se mantêm no sistema parlamen­contou, igualmente) com expressões tarista, ao contrário do que ocorre noda culturae da inteligência de um Rui presidencialismo, poisnestea insistên­Barbosa, e o texto de 1891 refletiu, ciado chefedo Governopode manter,exatamente, o espírito liberal da épo- por todo o tempo do seu mandato,ca, que tinha comomodeloo presiden- os auxiliares hostilizados pela opiniãocialismo norte-americano. É verdade públicae pela imprensa.que o próprioRuiBarbosa,emrnemo- Se partirmosde umaconclusão l6gi­rável autocrítica,no Senadoda Repú- ca, segundo a qual a impopularidadeblica, penitenciou-se do erro, reco- de um mnustro e a contmuidade denhecendoque não era o sistemapresí- críticas ao seu comportamento admí­dencialista o ideal para o nossoPaís. nistrativopodem provocara queda do

De qualquer forma, os constituintes gabinete, essaefetivapartici1?ação po­de 1891 se debruçaramsobre as novas pulare a influência democráticada nn­idéiasque dominavam as expectativas prensa constituem uma co-participa­do novo milênio e souberam cumprir çãoda comunidade nos negócios e nasas tarefas que o momento histórico decisões de Estado.lhes destinara Algunsnos perguntam por que nos

As Cartas de 34 e 46 refletiram, no posicionamos no governo parlamen­aspectosocial,as influências da comu- tarista por um mandato de 5 anos.nidade Já organizada em sindicatos e Pelasprópriascaracterísticas do sis­associações, verificando-se nas duas temaparlamentardo governo,no qualoportunidades a presença pluralista as atribuições são repartidas, as res­das variadas correntes de opinião e ponsabílidades e tarefasdivididas, po­doutrinas filosóficas, de o chefe do Executivo contar com

A Constituição que estamos redi- umperíodomaior, semque issorepre­gindo vem de uma falha de origem, sente qualquer risco ou anormalidadeque foi a combinação das duas tarefas no processopolítico.- a legislativa ordinária e a excep- As democracias parlamentaristascional, que é a tarefa constituinte. concedem aos presidentes da Repu-

É evidente que a opmião pública blicaperíodosmaislongos e issoexata­desejava outra forma de processo menteporque, não existindo a concen­constituinte, separando as duas ativi- tração quase absolutados poderes, osdades. períodos mais longos não podem ser

Estamos, pois, procurando suprir considerados excessivos para o esforçoessa falha do processo, emendando o pessoal que o chefe da nação é obrí­projeto de Constituição com propos- gado a desenvolver,t~s que chegamdasbasessociais ~ P91í- E, ainda, comuma vantagem de va­tlcas; ~os smdicatos, das a~s?claçoes lorízação da comunidade, pois os par­pro.fissIonals, ~os gruposrelIgIOSOS, da tícipes da administração, osparlamen­SOCiedade, enfim, no seu conjunto. tares, são procuradores do eleitorado

As e~endas popularesenfrentaram de cada uma das unidadesfederativasu~a dificuldade altam~n.te onerosa, significando para aspopulaçõesdosdi:pOIS a coleta de, no munmo, 30.000 versos Estados e territ6rios uma pre­assinaturas, com.todas as eXIg~nci~s sençano poder.de da~os p~ssoals e de aut~ntIcaça~ O Nordeste, por exemplo, injusti­P?r tres entidades rec~nhecIdas, e~- çado no exercício do poder central,giu.uma estrutura básica de orgam- com exceções que, por tão raras, sãozaçoes re~lOsas ou profissionais para citadasnominalmente, terá como par­que essa I é18 pudesse resultar em al- lamentarismo duas vantagens concre­gumasI?~op0..stas, maso re~u1ta~? des- tas: a possibilidade maior de particí­sa mobilização p?P!1I~r foi POSItiva. _ pação nos altos escalões da República

Se uma Constlt?19ao, na expressao e a continuidade dessa participaçãode José do Patrocínio, deve nascer d~ atravésdos seus ministros comprome­povo_como a fumaça nasce da fOgU:I- tidos com as questões da terra e dora, nao há tempo a perder na captação homemdos ideais da comunidade, expressos .tanto nas emendaspopulares que che­garam a esta Casa, respaldadas pormilhões e milhões de assinaturas,quanto na crônica política, que tem

Jornal da CODlltitulnte - Veículo semanaleditado sob a res­ponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalCons-tituinte. ,MESA DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE:

Presidente - Ulysses Guimarães; Primeiro-Vice-Presidente- MauroBenevides; Segundo-Vlce-Presldente - JorgeArbage;Primeiro-Secretário - Marcelo Cordeiro; Segundo·Secretário- Mário Maia; Terceiro-Secretário - Arnaldo Faria de Sá.SUjllenteS: Benedita da Silva,Luiz Soyer e Sotero Cunha.APOIO ADMINISTRATIVO:

Secretário-Geral da Mesa- Paulo AffonsoM. de OliveiraSubsecretário-Geral da Mesa- Nerione Nunes CardosoDiretor-Geral da Climara- Adelmar Silveira SabinoDíretor-Geral do Senado- José PassosPôrtoProduzido pelo Serviço de Divulgação da Assembléia Nacio­

nal Constituinte.

Diretor RespollÚvel - ConstituinteMarceloCordeiroEditores- Alfredo Obliziner e Manoel V. de MagalhãesCoordenador- Daniel Machadoda Costa e SilvaSecretáriode Redação- Ronaldo Paixão RibeiroSecretáriode RedaçãoAdjunto- Paulo Domingos R. NevesChefede Redação - Osvaldo Vaz MorgadoChefede Reportagem - VictorEduardo Barríe KnappChefede Fotografia - Dalton Eduardo Dalla CostaDiqramllÇão- Leônidas GonçalvesHustração~ Gaetano RéSecretárioGótico - Eduardo AugustoLopes

EQUIPE DE REDAÇÃOMariaValdiraBezerra, Henry Binder, CarmemVergara, Re­

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rneida,Maria Aparecida C. Versiani, MarcoAntônio Caetano,MariaRomildaVieraBomfim,EuricoSchwinder, ItelvinaAlvesda Costa, Luiz Carlos R. Linhares, Humberto Moreira da S.M. Pereira, MiguelCaldas Ferreira, Clovis Senna e Paulo Ro­berto Cardoso Miranda. .

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Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 070160 - Brasília- DF - Fone: 224-1569- Distribuição gratuita

2 Jornal da Constituinte

Ajuste finalé função das

liderançaso surgimento de grupos de trabalho, por iniciativa de lide­

ranças informais de vários partidos para aplainar as questõesmais polêmicas não isenta de responsabilidade os líderes formaise os dirigentes partidários na busca do entendimento em tornodo texto constitucional. Esta é a posição do senador José Richa(PMDB - PR), um dos coordenadores do chamado "grupodos 32" (que chegou a ter 80 parlamentares), para quem a cartadeve ser despida de qualquer conteúdo partídãrio ou ideológico.

"Precisamos pensar uma Constituição não para as próximaseleições mas para as próximas gerações", diz o senador para­naense, confiante de que mais de 80 por cento de matériastidas como polêmicas já podem ser consideradas tranqüilas parachegar ao plenário, sem a possibilidade de serem objeto deimpasse.

Otimista em relação à futura Constituição, Richa não negaque em determinado momento assustou-se com o clima emocio­nal que cercou os debates e com a pressão dos problemas conjun­turais. "Não era possível reunir mais de seis pessoas para conver­sar", afirma o senador para justificar o surgimento dos gruposde trabalho.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal da Constituinte, o sena­dor do PMDB aponta apenas dois pontos difíceis de entendi­mento prévio: sistema de governo e duração do mandato presi­dencial. Richa fala ainda dos ajustes que os partidos políticosterão de fazer após a constituinte.

ADIRP/Castro Júmor

Richa: Cheguei aqui nessa animação, como criançaque vê um brinquedo novo Depois me preocupei.

JC - Senador, para começar,uma avaliação de todo o processoconstituinte, sua sistemática, osresultados até aqui, as críticas ...

José Richa - A sistemática dotrabalho adotada pelo RegimentoInterno gerou uma série de ques­tionamentos por parte da socieda­de. A essa altura dos trabalhos,sete meses depois, tenho perce­bido que até os órgãos de comuni­cação fazem ecoar as preocupa­ções da sociedade no sentido deque todo esse tempo ainda não nosdeu uma linha da constituintepronta.

Ocorre que a srstemática adota­da foi a mais democrática e gerouum resultado muito mais consis­tente, denso, absorvente, já quetínhamos que partir da estaca zeropara elaborar o texto básico. E éo que temos exatamente agora ejá há fora da Constituinte a sensa­ção de que realmente estamoscom alguma coisa cujo perfil estádesenhado. Que temos algumacoisa concreta, palpável.

Reconheço que para quem estáfora da Constituinte é ate um pou­co difícil acompanhar o que estáacontecendo aqut dentro, mas éimportante .que se observe que e~­sa sístematíca tornou muito maisdemocrático o trabalho e vai cau­sar um grande benefício que é aConstituição ser elaborada semqualquer tipo de vício, não vir coma marca de nenhum partido ougrupo ideológico. Por essa razão,há a pré-condição para que o tra­balho seja de muito melhor quali­dade. Esta é a minha avaliação.

JC - Em que nível o senadormede hoje a legitimidade da futu­ra Constituição?

José Richa - A nova Carta sóterá legitimidade se surgir do con­senso.

JC - O senador acredita nessapossibilidade de consenso? Qualo caminho para o entendimento?

José Richa - Acredito. Acho

que a Constituição tem que ser umpacto social da atual geraçãopen­sando nas futuras gerações. E evi­dente que se ela tiver que repre­sentar esse pacto social- chama­do de grande pacto social para oséculo XXI - tem, que ser frutode entendimento. E só com o en­tendimento que poderemos tirardela toda a conotação partidáriae ideológica e conferir-lhe durabi-·lidade desejada. Sem regras fixasque dêem ao país essa estabilidadee, conseqüentemente durabilida­de, fica muito mais difícil termosna Constituição o instrumento depromoção do desenvolvimentoeconômico, da justiça social e tan­tas outras coisas que a nova Cartatem que ser, o caminho para sealcançar.

Costumo comparar Constitui­ção com lei ordinária. Esta é, poressência, uma lei que expressa afe­rição numérica da maioria políticaeventual que a sociedade elegeu,destinada a interpretar a conjun­tura naquele determinado mo­mento. Como a atividade políticae a sociedade são dinâmicas, asleis têm que acompanhar o dma­mísmo dessas mutações conjuntu­rais. E natural, portanto, que umalei ordinária produzida agora pos­sa ser mudada na próxima legisla­tura. A lei ordinária é para sermudada mesmo. A Constituição,não. Tem que ser fruto do entendi­mento porque tem que durar paraa próxima geração. Não pode serelaborada hoje pensando na pró­xima eleição.

JC - O senador participou dogrupo que elaborou inicialmenteo "Projeto Icaro" e depois o "Pro­jeto Hércules". Na sua opinião,quais as principais contribuiçõesdesses trabalhos e quais as pers­pectivas de aproveitamento pelorelator Bernardo Cabral?

José Richa - A maior contri­buição do grupo foi desmistificara impossibilidade de entendimen­to, porque a própria sociedadenão acreditava que os pontos mais

"Daqui 10 anospoderemos ter

partidospolíticos umpouco mais

homogêneos,com programas

claros, comperfil

ideológico.Mas nunca

serão defaixa

estreita,porquecaberá

pouca gente.Os partidos

estreitospoderão

existir, masserá umapráticapolítica

romântica"

polêmicos pudessem ser dirimi­(los, incorporados à Constituiçãocomo fruto de entendimento. Essegrupo, que usou uma metodologiadiferente da adotada pela Consti­tuinte, provou que é possível ha­ver entendimento sobre qualquertipo de ponto polêmico.

Partimos de um texto básicoque foi o adotado pela Comissãode Sistematização, e começamospor analisar o que era e o que nãoera matéria constitucional. Fize­mos um enxugamento. Com isso,desapareceram muitos pontos po­lêmicos. Os que sobraram, come­çamos por um exame pelo graucrescente de complexidade.

JC - Só para ilustrar: o queseria, nesse primeiro momento,um ponto polêmico de menorcomplexidade?

José Richa - Jornada de traba­lho, por exemplo, que, no início,era um ponto extremamente polê­mico. Havia uma série de propos­tas conflitantes. Na discussão, ve­rificamos que estabilidade com 90dias prejudicava mais do que be­neficiava o trabalhador. Quanto àjornada de trabalho, depois queouvimos especialistas no assunto,percebemos que essa não era umaquestão constitucional. Podíamosdefinir princípios a respeito da es­tabilidade, da jornada de traba­lho, mas teríamos que remetê-Iapara a lei ordinária e assim mesmonão. de forma tão inflexível, por­que definimos na Constituição quea lei ordinária dirá qual a jornadamínima e a máxima, deixandodentro da lei uma margem de ne­gociação direta entre patrões eempregados de tal forma que pu­déssemos ter uma discussão em ca­da momento conjuntural. Porexemplo: se estivermos numa con­juntura recessiva é desejável quehaja redução da jornada para quepossa haver mais vagas e se evitaruma crise social.

JC - Na medida em que ospontos foram crescendo em com-

plexidade, chegou a haver algummomento de impasse?

José Richa - A reforma agráriaé um ponto que quase ninguémacreditava que se pudesse chegarao entendimento. Diria que nessecaso conseguimos um grau de con­senso em torno de 90% da ques­tão. Diria que outros grupos detrabalho também contribuírammuito para isso.

Queria destacar o trabalho do"Grupo de Consenso", que resol­veu começar pelos pontos mais po­lêmicos, 19 identificados prelimi­narmente pelo grupo.

Lamentavelmente, o Regimen­to nos obrigou a fazer uma paradanesse momento, porque senãonão teríamos condições de ofere­cer ao relator nenhum tipo de con­tribuição. Por isso, produzimosum texto que ainda não é o ideal,que não nos satisfaz, mas que járepresenta 80% de entendimentono total da Constituição.

Acho que com relação à refor­ma agrána vai ser possível haverentendimento total, a ponto de osgrupos ideológicos e partidáriosda Constituinte poderem aceitar otexto.

Empresa nacional é outro pontoque me parece chegarmos facilmen­te ao entendimento, porque parti­mos de definir, na Constitui­ção, através de princípios. Ao in­vés de começarmos com empresanacional, iniciamos com empresabrasileira de capital estrangeiro eempresa brasileira de capital na­cional.

JC - Que pontos o senadoracredita que irao obrigatoriamen­te para a votação em plenário?

José Richa - Pela minha avalia­ção' sistema de governo e duraçãode mandato são duas questões emque dificilmente haverá entendi­mento. Terão elas de ir a plenáriopara votação. Conscientes dessasdificuldades, deixamos essas duasquestões para o final. Depois denos entendermos sobre todos os

Jornal da Constituinte 3

demais pontos, tentaremos costu­rar um acordo em cima disso.

Acho que, para haver uma cos­tura final de entendimento, daquipara frente as lideranças é que têmque comandar o processo. Atéagora, ocupadas, não puderamnem teriam condições de fazer otipo de trabalho braçal que fize­mos. Mas, daqui por diante, paraque possa haver conseqüência noentendimeto, é imprescindívelque as lideranças e os presidentesdos partidos assumam o comando.Queremos ser, daqui para frente- e este também é o desejo do"Grupo de Consenso" - apenasum suporte, os colaboradores daslideranças, para que elas costuremo entendimento final.

JC - Mas, diante do surgimen­to de alguns blocos como o MUP(Movimento de Unidade Progres­sista), o Centro Democrático, serápossível às lideranças a retomadadesse processo?

José Richa - Com o MUP jáestamos sintonizados. É impres­cindível que isso aconteça. Vocêpode ocupar o espaço de trabalho,de conversa, mas nunca podesubstituir os espaços políticos. Pa­ra isso é que há hierarquia.

JC - Esses grupos vão se tor­nar novos partidos após a consti­tuinte?

José Richa - Não. No nossocaso, não. Não formamos um blo­co. O Centro Democrático é umbloco, é coisa diferente. O que so­mos é um grupo de trabalho. Ebem diferente. quando você cons­titui um bloco - não sei qual aintenção do Centro Democrático- é porque você está meio deslo­cado. Daí constitui um bloco que,na imaginação deles, possa seruma coisa mais hemogênea dentrode um mesmo partido.

JC - Na visão dos partidos, acomeçar pelo próprio PMDB, co­mo fOI a aceitação desse trabalho?

José Ricba - Pelo que estoupercebendo, a receptividade foiextraordinária. Quando começa­mos o trabaho, durante mais detrês semanas, ninguém soube, nãovazou nem para a imprensa.Quando vazou, assumimos a coisae combinamos, com toda lealda­de, que divulgaríamos tudo o queacontecesse. Não queríamos é quehouvesse presença física da Im­prensa durante os trabalhos, por­que, no nosso entendimento, oque dificulta muito o entendimen­to em plenário é a presença cons­tante da imprensa. E natural. Gos­taria de deixar isso registrado.Muitas vezes, um líder emite umaopinião, isto fica registrado, é di­vulgado nos jornais e, depois, ficadifícil ele recuar Rara possibilitar° entendimento. Na medida emque você discute, não diria secre­tamente, mas onde todos ficamdescontraídos, todos expõem suasidéias, de repente você recua umpouco para avançar na direção doentendimento. E assim que se fazo entedimento: com concessoes.Agora, na medida em que vocêdivulga uma determinada posiçãoe a vai sustentando, a imprensatodos os dias registrando, fica difí­cil de recuar. E isso que impededepois o entendimento.

JC - O senador admite, então,que o plenário cna um clima emo­cionai?

José Richa - É natural isso. Fe­lizmente acho que vamos chegarao plenário com 80 ou 90% dasquestões aplainadas. O plenáriodeve ser o lugar do entendimentofinal, da costura final, que tem que

"Vaiprevalecer ocapitalismo,

mas acho quea Constituição

poderáconsagrar

avanços quesejam freiospara que ocapitalismo

não sejaopressor.' ,

ser suportado pela conversa per­manente das lideranças, para sepossibilitar chegar a um documen­to de boa qualidade.

JC - Vamos retomar a questãodos pontos polêmicos que terãodefinição apenas no plenário?

José Richa - Todos os pontospolêmicos vão ser amplamente de­batidos. No caso daqueles que jáforam costurados previamente,que são alvo do diálogo, vão terum debate muito mais construtivoe sereno no plenário. Se não tivés­semos esse trabalho preliminarcorreríamos o risco de acontecerno plenário o que aconteceu nassubcomissões e nas comissões te­máticas, onde, de certo modo, odebate foi emocional, porque aspessoas nem tiveram tempo deconversar um pouco mais.

Depois da fase das temáticashouve mais tempo, houve a consti­tuição desses grupos de trabalho,então já se aplainou muito o terre­no. Há muita coisa, por exemplogue eu tinha uma idéia, mas o de­bate me esclareceu que não erabem assim, porque nesta Casa vo­cê pode perceber que há especia­listas de um modo geral em todasas matérias. Não há matéria quenão tenha, pelo menos, meia dúziade pessoas que a entendam pro­fundamente. Nenhum de nós, po­líticos, pode ser uma verdadeiraenciclopédia. Cada um de nós en­tende, genericamente de tudo e,profundamente, de alguma coisa.Agora você soma isso e dá um en­tendimento perfeito. O que nãoestava acontecendo era que nãohavia tempo e nem condições paraesse tipo de conversa, que nao éno plenário que se faz.

JC - Há casos em que determi­nadas questões começam a ser po­lemizadas, como é o caso agorado voto distrital. No início haviaposições firmadas. mas agora co­meça a polêmica. Como o senadorvê essa ebulição?

José Richa - Isso é natural. Éda essência da prática política. Hádeterminados pontos que são po­lêmicos numa determinada fase edaqui a pouco já não são tão polê­mICOS, surgem outros pontos queninguém estava imaginando quepudessem suscitar debates maisacalorados e dificuldades maiores

para o entendimento.O problema do voto distrital vai

depender muito, basicamente, dosistema de governo que se adotar.Como a tendência verificada atéagora é pelo parlamentarismo,evidentemente que não existe par­lamentarismo sem voto distrital.Se o sistema for presidencialistapode ter o voto proporcional ouentão o sistema misto. Como nãohá, pela minha avaliação, aindanada muito firme a respeito do sis­tema de governo, então até agoraas subcomissões e comissões temá­ticas optaram pelo sistema misto,meio proporcional, meio distrital.

JC - Na sua opinião, afinal,que tipo de Constituição teremosmais capitalista, mais socialista,mais social-democracia? Que tipoe rumo nós teremos com essaconstituinte?

José Richa - Acho que vai seruma Constituição socialmentebem avançada. Não tenho dúvidasquanto a ISSO. Como é desejávelnum país como o Brasil vai serimpossível mudar o sistema eco­nômico. Então vai prevalecer o ca­pitalismo. Dentro disso eu achoque a Constituição pode consagraravanços Importantes, que sejamum freio para o capitalismo, paraque ele não seja um sistema 0l?res­sor, selvagem. Acho que vai seruma coisa bem avançada. A essaaltura já temos condições até deincorporar experiências de outrospaíses, como a Espanha, porexemplo, e tantos outros. Achoque vamos ter uma Constituiçãoprogressista, relativamente avan­çada e com preocupações fortespelo aspecto social.

JC - Há uma questão que vemà tona constantemente que é a dese realizar um referendo em cimado texto final, antes da promul­gação da Carta. Qual a sua posi­ção?

José Richa - Acho que o refe­rendo não tem eficácia. A sistemá­tica de trabalho adotada pela Cons­titumte prescinde até da necessi­dade de referendo, porque se op­tou por um sistema aberto. A so­ciedade pode, através de todos osseus segmentos, participar muitointensamente da discussão, atra­vés dos debates nas subcomissões,através de sugestões, dos lobbies

"O referendonão tem

eficácia. Seo povo disser"sim", tudobem, mas se

disser "não",teremos de

convocar umanova

Constituinte.Cria-se um

vazio."

"Na medida emque você

discute - nãodiria

secretamente ­mas onde

todos ficamdescontraídos,

fica maisfácil pararecuar e

depois avançarno entendimento."

legítimos e através das emendaspopulares. Isso faz com que tecni­camente se prescinda do plebiscitoe politicamente é uma questão gueainda está suspensa. Só no finaldos trabalhos é que nós vamos de­cidir se vai haver ou não plebis­cito.

Não acho que haja eficácia algu­ma em fazer plebiscito para dizersim ou não. Se é sim, tudo bem.E se disser não, aí tem que convo­car uma nova Assembléia Nacio­nal Constituinte e cria-se um va­zio. E um risco muito grande.

Outra coisa, o povo não vai tercondições de julgar isso, tanto éque os pontos polêmicos têm sidoobjeto de muitos debates, nãosó aqui dentro como lá fora. Nestefinal de semana, lá no Paraná, fizquatro debates com federações deempregados, de patrões, com jor­nalistas e tudo isso com ampla di­vulgação.

JC - O senador acha que, apósa promulgação da Constituição, osprogramas dos yartidos, inclusivedo PMDB, terao de sofrer algunsajustes?

José Richa - É evidente. AConstituinte é um marco na Histó­ria política do Brasil, pelo menosna sua História recente. E naturalque essa estrutura partidária, quevem dos tempos do arbítrio, temde sofrer ajustes. Será a primeiraconseqüência prática a partir daentrada em vigor da nova Carta.Trata-se de um processo lento.Não imagmo que da noite para odia, se vai ter uma estrutura parti­dária mais adequada à nova reali­dade. Não. Não se consegue or~a­nizar partidos e disputar eleiçoesao mesmo tempo, muito rapida­mente. DaqUI a dez anos, mais oumenos, a gente poderá ter partidospolíticos um pouco mais liomogê­neos, com programas mais claros,com perfil Ideológico, com ajusta­mentos mais amplos.

Nunca teremos partidos ideolo­gicamente de faixa muito estreita,porque num país dessa extensãoé impossível trabalhar numa faixa;muito estreita, porque caberámuito pouca gente. Podem existirpartidos nessas condições, comoem muitos países existem, mas se­rá uma prática política romântica,não conseqüente, já que o obje-

tivo principal de qualquer agrupa­mento é chegar ao poder e, umavez chegando lá, manter-se no po­der. Um país com tamanha diver­sidade, como o Brasil, para ter umpartido realmente nacional, temde ter uma faixa Ideológica um'pouco mais larga. Tem de haverajustes, porque a maioria dos par­tidos teve uma característica maisde frente durante os 21 anos dearbítrio. Depois veio a transiçãoe não houve tempo para ajustarcoisa nenhuma. Então, é naturalque a Constituinte, sendo um mar­co, provoque, a partir dela, algumajuste.

JC - O senador acredita quea Constituição possa ser promul­gada em torno do dia 15 de no­vembro?

José Richa - A rigor, poderánão ser dia 15 de novembro, pode­rá atrasar um pouquinho, masmais ou menos em torno disso épossível, até porque nessa fasemais difícil, mais tumultuada, con­seguimos manter o calendário.Não vejo por que daqui para afrente não seja mantido.

JC - Numa visão pessoal, o se­nador está otimista?

José Richa - Estou bastanteotimista. Sempre fui um otimitacom relação à Constituinte. Vimcondicionado psicologicamente aencarar a Constituinte como aoportunidade inédita que tem aminha geração de participar daconstrução do futuro.

JC - Em nenhum momento osenador se sentiu assustado?

José Richa - Sim, senti. Che­guei nessa animação, como crian­ça que vê um brinquedo novo.Mas houve momentos em que che­guei a me preocupar. Inclusive mi­nha preocupação se exteriorizoucom uma conversa confidencialcom algumas lideranças, que aca­bou vazando para a imprensa eaté gerou má interpretação de quese estava preconizando a paradada Constituinte. Em nenhum mo­mento propus a parada física, regi­mental sequer. Queria apenasuma parada política para reflexão.Porque estava impossível reunirseis pessoas para começar a con­versar. Dentro de um ambientedaqueles e a conjuntura a cadadia se agravando mais, deterioran­do-se, com mobilização popular,quebra-quebra, achei que a con­Juntura estava gerando uma de­manda excessiva e que isso ia colo­car em risco a Constituinte. Real­mente me preocupei. Já imagina­va, tinha a intuição de que issopodia acontecer, tanto que sempredefendi a idéia da Constituinte ex­clusiva. Entendia que enquantoum grupo de políticos - deputa­dos e senadores - ficaria CUIdan­do, como é de praxe, dos proble­mas político-conjunturais, um ou­tro grupo, que não teria nada aver com o problema da conjun­tura, teria tranquilidade e ambien­te para trabalhar, só pensando naConstituição.

Infelizmente, a Constituinte foicongressual, o que fez com quetodo mundo prioritariamente fos­se cuidar da Constituição, porquetínhamos prazo marcado. Com is­so, a conjuntura ficou órfã da açãopolítica.

Minha proposta apesar de mácolocada ou deformada, gerouuma reação muito grande nas lide­ranças. Na teoria, acabou nãoacontecendo nada, mas, na práti­ca, acho que deu uma sacudidelae pelo menos criou ambiente parase começar a conversar.

4 Jornal da Constituinte

Soberania sobre as riquezas

Elas desejam que o poder públicomunicipal tenha a competênciapara a prestação dos serviços detransporte coletivo, inclusive nãopodendo conceder a pessoas ouempresas esse direito, que terá"caráter eminentemente social".

Adverte a proposta que "asocorrências recentes no tocante aaumento de preços de passagensde ônibus urbanos, notadamentenas grandes regiões metropolita­nas, não foram originadas exclusi­vamente por esse aumento, maspor um conjunto de outros fatoresnegativos decorrentes, é certo, dabusca desmedida de lucros porparte das empresas concessioná­rias". E conclui: "Colocar o trans­porte coletivo de massas sob a di­reção unificada da autoridade mu­nicipal seria o primeiro grandepasso para sanar tais problemas,a cada dia mais agudos, mais vio­lentos".

Todo brasileiro que, não sendoproprietário rural ou urbano pos­suir imóvel como seu, po; trêsanos contínuos, como domicíliopermanente seu e de sua famíliasem oposição, adquirirá o domíni~mediante sentença que servirá detítulo p~ra!ran~criçãono Registrode Imóveis. E o que dispõe aemenda constitucional patrocina­da pelo Mosteiro de São Bento-Setor Social e Jurídico, pela As­sociação de Pais e Mestres da Co­munidade de Saramandaia e pelaAssociação Comunitária UniãoParaíso, como o apoio de 33 milassinaturas de eleitores.

A emenda diz ainda que aUnião poderá promover a desa­propriação da propriedade ruralou urbana, mediante pagamentode Justa indenização fixada segun­do os critérios que a lei estabe­lecer, em títulos especiais da dívi­da pública. Os imóveis rurais quenão ultrapassem a três módulos re­gi<:ma;s ficam isentos de desapro­pnaçao, mesmo que por interesses~cialpara fins de reforma agrária.FIca assegurado também apoio fi­nanceiro e técnico a propnetáriosde imóveis rurais de área não exce­dente a três módulos regionais.

Na sua justificativa a emendadiz que a função social da proprie­dade de que trata a atual Consti­tuição Federal, já não acompanhaos anseios da sociedade, vez quenão define o direito de utilizaçãodo solo urbano de acordo com oseu p~pel_ social, não. garante aparticipação das organizações po­pulares na execução da reformaurbana, não promove desapro­priações objetivando a reformaurbana e não promove o direitoa moradia digna e adequada paratodos.

A presente proposta - explica-tenta garantir, também à popu­)ação favelada, a posse dos terre­nos que ocupam, cabendo ao po­der público assegurar local com in­fra-estrutura básica, saneando, as­sim, os conflitos sociais emergen­tes em todo o território nacional.

"O direito à moradia precedee predomina sobre o direito depropriedade". Essa é a essênciade uma das emendas apresentadasà Constituinte e que, em sua justi­ficativa, frisa que a ausência deum programa habitacional do go­verno voltado para satisfazer asnecessidades - sempre crescentes- de moradia para as populaçõesde baixo poder aquisitivo; os abu­sivos aumentos CIos aluguéis; obaixo salário da maioria dos traba­lhadores e a especulação imobi­liária desenfreada são fatores quealiados a um conceito superado dinjusto de propriedade, têm leva­do o povo pobre da periferia dasgrandes e médias cidades a ocuparárea de terras abandonadas e con­juntos habitacionais vazios, comoúnic~ alternativa possível para ga­rantir aos trabalhadores e suas Ia­mílias um teto para morar.

TRANSPORTE COLETIVO

MORADIA POPULAR

Lembra o documento que nemtodos os cidadãos têm necessidadede ter uma propriedade, mas to­dos têm a necessidade de ter umteto onde possam morar: "Atual­mente existe no Brasil um déficitestimado de 10 milhões de habita­ções" .

Com 23 artigos, dividida em cin­co itens - Dos Direitos Urbanos,da Propriedade Imobiliária Urba­na, da Política Habitacional, doTransporte e Serviços Públicos eda Gestão Democrática da Cidade-, foi apresentada emenda popu­lar sobre a reforma urbana, com131 mil assinaturas, patrocinadapelas Federações Nacional dosEngenheiros e Nacional dos Ar­quitetos e pelo Instituto de Arqui­tetos do Brasil.

Entre outros pontos, a emendaobriga o Estado a assegurar o aces­so à moradia, ao transporte públi­co, ao saneamento, à energia elé­trica, à iluminação pública, às co­municações, à educação, à saúde,ao lazer e à segurança, assim comopreservação do patrimônio am­biental e cultural, além da gestãodemocrática da cidade.

Determina também que a desa­propriação dos imóveis necessá­rios à regularização fundiária deáreas ocupadas por comunidadesconsolidadas será feita conside­rando o valor histórico de aquisi­ção do imóvel através de ação ju­dicial, sujeita ao procedimento or­dinário, e cuja sentença, depois dotrãnsito em julgado valerá comotítulo para fins de registro imobi­liário.

Na parte de política habitacio­nal, estabelece que compete aopoder público garantir a destina­ção de recursos orçamentários afundo perdido para a implantaçãode habitação de interesse social.

Povo dizcomo

•quervlvernas cidades

Duas emendas dispõem sobre otransporte coletivo de massas.

Os autores da proposta estipu­lam ainda que as jazidas, minase demais recursos minerais, bemcomo os recursos potenciais deenergia hidráulica são objeto depropriedade da União e devem serexplorados e administrados diretaou indiretamente pela União. De­pende de autorização do GovernoFederal e de seu controle, conce­dida, em função das diretrizes eprioridade do plano nacional dedesenvolvimento, a instalação dequalquer empresa sob controle di­reto ou indireto de pessoas físicasou jurídicas domiciliadas no exte­rior, bem como a alienação a essaspessoas, ou a pessoas jurídicas porelas controladas, de controle deempresas já instaladas no País.

lançamentos e operações de siste­mas espaciais, coleta e difusão deinformações meteorológicas.

Uma das emendas, em sua justi­ficação, diz que nenhum argumen­to subsidia tão intensamente aproposta de manutenção e atémesmo de ampliação do monopó­lio estatal do petróleo, seus deri­vados e do gás natural do que oque é a Petrobrás hoje. Afirmatambém seu posicionamento con­tráno aos contratos de risco, exi­gindo a anulação dos ainda em vi­gor, assim como a proibição cons­titucional de outros, "exigindotambém a plena democratizaçãoda ação do Estado na empresa".

"Petróleo é questão de Estado"

A estatização do sistema finan­ceiro, das Jazidas, minas e demaisrecursos minerais foi proposta poremenda constitucional patrocina­da pelo Instituto Nacional de For­mação, figura jurídica que repre­senta a Central Única dos Tra­lhadores, pela Associação Nacio­nal de Cooperativa Agrícola, re­presentando o Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra,e pela Comissão Pastoral da Ter­ra. A emenda teve o apoio de 200mil assinaturas de eleitores.

É dever do Estado - diz aemenda - regular a atividade eco­nômica em todos os setores, a fimde preservar o poder aquisitivo damoeda nacional, bem como prote­ger os interesses dos consumido­res, a saúde, a segurança e a mora­lidade pública. Caberá ao Estadoexplorar diretamente todas as ati­vidades relacionadas com o siste­ma financeiro. Aos órgãos de pla­nejamento, caberá defmir as áreasde empresas de propriedade priva­da pública e mistas, para as distin­tas atividades econômicas.

Com textos quase idênticos, fo­ram apresentadas duas emendaspopulares tratando do monopólioestatal do petróleo, dos minériosnucleares e dos materiais físseis.

Elas pretendem efetivamente oseguinte: constituem monopólioda União: pesquisa, lavra, refina­ção, processamento, transportemarítimo e em condutos do petró­leo e seus derivados e do gás natu­ral; pesquisa, lavra, enriquecimen­to, mdustrialização e o comérciodos mmérios nucleares e materiaisfísseis; pesquisa, lavra e o benefi­ciamento dos minerais estratégi­cos e os serviços de telecomuni­cações e transmissões de dados,

Comunicar, massem dominar

As concessões ou autorizaçõessó poderão ser suspensas por sen­tença fundada em infração defi­nida em leI, que regulará o direitoà renovação.

A democratização dos meios decomunicação é o objetivo funda­mental de emenda popular patro­cinada pela Federação Nacionaldos Jornalistas Profissionais. As­sociação Nacional dos Docentesdo Ensino Superior e Central Uni­ca dos Trabalhadores.

A emenda, apoiada por 32.379eleitores, trata do direito à comu­meação, cuja garantia deve ser deresponsabilidade do Estado, e es­tabelece o monopólio estatal dosserviços de telecomunicações e decomunicação postal.

Para estabelecer, supervisionare fiscalizar políticas nacionais decomunicação, abrangendo asáreas de imprensa, rádio, televi­são e serviços de transmissão deImagens, sons e dados por qual­q~er_meio, a emenda propõe acnaçao do Conselho Nacional deComunicação. O Conselho serácomposto por 15 brasileiros, sen­do dois representantes de entida­des empresariais, cmco represen­tantes de entidades representati­vas de profissionais da area de co­municação, sete representantes deentidades de categorias profissio­nais e de setores populares e umrepresentante de instituição uni­versitária. Em cada Estado haveráseções do Conselho, também inte­gradas por 15 representantes.

Prevê ainda a emenda, com opropósito de democratizar os veí­culos de comunicação que, em ca­da órgão de imprensa, rádio e tele­visão, seja constituído um conse­lho editorial, com membros elei­tos pelos profissionais de comum­cação, incumbido de definir a li­nha de atuação do veículo.

Quanto aos serviços de radiodi­fusão, estatui a emenda que a con­cessão ou autonzação da Umãoserão outorgadas, em caráter pre­cário, pelo Conselho Nacional deComunicação, nos seguintes ca­sos: uso de freqüência de rádio etelevisão; instalação e funciona­mento de televisão direcional epor meio de cabo e de outros servi­ços de transmissão de imagens,sons e dados por qualquer meio;retransmissão pública no territó­rio nacional, de rádio, televisão edados via satélite

Finalmente, com a finalidade deimpedir a concentração da pro­priedade dos meios de comunica­ção, propõe a emenda que se esta­beleça que cada concessionáriopoderá ser titular de apenas umaautorização Ou concessão paraexecução de serviço de rádio, tele­visão e serviços de transmissão deimagens, sons e dados por qual­quer meio.

Jornal da Constituinte 5

o papel das Forças Armadas e das Polícias

U/YSIlt!6 recebe de Covasemendaque fixa eleições parapresidente no próximo ano

Eleições gerais no país para to­dos os cargos eletivos, inclusiveaqueles eleitos em 15 de novem­bro do ano passado, poderãoacontecer seis meses depois depromulgada a nova Constituição,caso venha a ser aprovada a emen­da apresentada pelo constituinteStélio Dias (PFI: - ES). A pro­posta, que recebeu na Comissãode Sistematização o número 9805,encerra, realmente, um aspectooriginal, no que a torna diferentedas muitas emendas que foram en­caminhadas nesta fase do processoconstituinte, uma vez que deter­mina a dissolução do Parlamento.Diz o representante do EspíritoSanto que essa foi a forma maisracional por ele encontrada paraconsagrar definitivamente a etapaem que o Brasil se renova de modoprofundo e concreto. "Não adian­ta ficarmos discutindo o mandatodo Presidente Sarney, se quere­mos dar outra versão ao que rezaa Constituição em vigor, então va­mos estender a medida a todos.Vamos realizar eleições em todosos níveis: desde prefeito e verea­dores até o Presidente da Repú­blica."

Para Stélio Dias, essa tambémserá uma maneira de o povo jul­gar, mesmo a posteriori, o traba­lho feito pelos constituintes, Seaprovar reelegerá os escolhidosem 86; se não, fará suas novas es­colhas. "Vamos fazer uma revolu­ção mais do que legítima, que éa revolução pelo voto", conclamao parlamentar capixaba, e acres­centa: "a Constituinte é a etapaterminal de um processo de transi­ção institucional. Ela rompe umafase, quebra uma barreira, eliminaum muro que separava a naçãode uma realidade, inaugurandonovos hábitos, novos costumes enova cultura. A Nação se reencon­tra. O reencontro tem sentido quesó as eleições gerais podem dar.As eleições gerais conclui um pro­cesso transformador realizadonum contexto de paz, mas não semesperança" .

Stélío Dias explica que a suaproposta prevê que, após a pro­mulgação da Constituição e a dis­solução do Assembléia, o Presi­dente da ANC convocará as elei­ções, em data que anunciará, naocasião.

Depois daConstituinte,as eleições

Direito por meio de concurso pú­blico de provas e títulos".

Finalmente, a preservação daPolícia Rodoviária Federal, orga­nizada e mantida pela União, éo objetivo da emenda assinada por175.623 eleitores e encaminhadapela União do Policial Rodoviário00 DNER "Casa do Inspetor", dePetrópolis, pela Associação da Pa­trulha Federal do Paraná e pelaAssociasão Nacional da PolíciaRodoviaria Federal.

A Polícia Rodoviária - justifi­cam - destina-se ao patrulhamen­to ostensivo das rodovias federais,zelando pela segurança do tráfe­go, prevenindo e coibindo infra­ções e transgressões da legislaçãoe colaborando com as autoridadesadministrativas e judiciárias nocambate ao crime, ao tráfego dedrogas, à sonegação, ao contra­bando e ao descaminho.

far-se-ã nova eleição 30 dias apósa promulgação do resultado, coma participação apenas dos doiscandidatos mais votados, conside­rando-se eleito o que obtivermaioria simples de votos. A elei­ção do presidente da RepúblicaImplicara a do candidato a vice­presidente com ele registrado.

O presidente e o vice-presidenteda República, bem como os eleitosdo Congresso Nacional, tomarãoposse 90 dias após a primeira vota­ção da eleição presidencial. En­tendem os autores da emenda quesó há uma forma de enfrentar asmanobras continuístas do Paláciodo Planalto. Só há uma saída paraa crise econômica, social e políticavivida pela Nação. O povo brasi­leiro precisa mobilizar, neste ins­tante, para lutar por liberdades econquistar uma nova política eco­nômicae social. Nova política quesó poderá ser formulada e aplicadapor um novo governo, eleito dire­tamente pelo povo, inteiramentecomprometido com a classe traba­lhadora e disposto a enfrentar aexploração, a opressão e a repres­são.

cato dos Jornalistas Profissionais- querem que as forças policiaise os corpos de bombeiros sejaminstituiçoes subordinadas à autori­dade dos governadores dos esta­dos, dos territórios e do DistritoFederal, podendo em caso de esta­do de sítio ou intervenção federal,ser submetidos ao comando supre­mo do presidente da República.

Prevê a emenda, assinada por23.370 eleitores, que lei estadualdisponha sobre a criação de Guar­da Municipal, nos municípios commais de cem mil habitantes.

Há, ainda, uma proposta deemenda popular cuidando da polí­cia civil. Ela pretende que seja su­primido o parágrafo úmco do arti­go 260 do projeto de Constituição,que diz que "lei especial disporásobre a carreira de delegado depolícia, aberta aos bacharéis em

Tancredo Neves, como o presi­dente José Sarney. E ambos com­prometeram a sua palavra em fa­vor de um mandato de quatroanos, o que significa dizer que apróxima eleição tem que ser reali­zada no dia 15 de novembro de1988.

Sobre o mesmo tema patroci­naram emenda o Partido dos Tra­balhadores, o Sindicato dos Meta­lúrgicos de São Bernardo do Cam­po e a Central Unica dos Traba­lhadores, com o respaldo de49.178 assinaturas. Essa emendadetermina que "até seis meses dapromulgação da Constituição rea­lizar-se-ão, por meio do sufrágiouniversal e voto direto e secreto,em todo o País, eleições simultâ­neas para presidente e vice-pre­sidente da República, bem comopara o Congresso Nacional.

Será considerado eleito presi­dente da República, nos termosda proposta, o candidato que obti­ver maioria absoluta de votos, nãocomputados os em branco e os nu­los. Se nenhum candidato a presi­dente da República obtiver maio­ria absoluta em primeira votação,

INQUÉRITO POLICIALOutra emenda preocupa-se em

inserir no futuro texto constitucio­nal a criação do juizado de instru­ção, a fim de eliminar a figura dotão criticado inquérito policial. Asugestão vem da Polícia Militar deGoiás, da Associação dos Milita­res Inativos de Goiás e da Clubexdos Oficiais da Polícia Militar doEstado de Goiás, e conta com qua­se 40 mil assinaturas. Propõem,ainda, essas entidades, que o tem­po de serviço do policial militardeve ser reduzido para 30 anos,devido ao desgaste da sua ativi­dade.

POLÍCIAS

Já entidades da Bahia - Asso­ciação dos Professores Licencia­dos, Associação Beneficente eCultural da Polícia Civil e Sindi-

Emendas pedemdiretas em 88

Patrocinada pela FederaçãoNacional dos Jornalistas, pelo Ins­tituto dos Arquitetos do Brasil epela Federaçao das Associaçõesde Engenheiros Agrônomos doBrasil a emenda constitucionalque convoca eleições diretas parapresidente da República para o dia15 de novembro de 1988 contoucom 96 mil, 863 assinaturas. Aposse do eleito fica marcada parao dia 15 de março de 1989, quandose encerra o mandato do atual titu­lar do cargo.

A justificativa da proposta dizque, além do permanente, a Cons­tituição em elaboração deve cui­dar também do transitório. Aí éfundamental estabelecer-se clara­mente a eleição do próximo presi­dente da Repúblicapelo voto dire­to, secreto e universal, posto queo cumprimento desse compromis­so é ansiosamente esperado pelanação, acrescenta.

Diz ainda a justificativa que aConstituinte tem competência pa­ra fixar a data das eleições paraa Presidência da República, comojá reconheceram em manifesta­ções públicas tanto o presidente

Emenda patrocinada pelaUnião Nacional dos Estudantes,Confederação Nacional das Asso­ciações de Moradores e União daJuventude Socialista, subscritapor 31.885 eleitores, define consti­tucionalmente o papel das ForçasArmadas e das polícias civil e mili­tar. Por ela, as Forças Armadasse destinam à defesa militar da Pá­tria contra a agressão externa ea assegurar a integridade do terri­tório nacional, mas não poderãointervir na vida política do País.

Entendem os signatários dessaproposta que as Forças Armadas(levem ser apartidárias e profissio­nais, não lhes cabendo praticarações tendentes a contestar,afrontar qu desestabilízar gove~­

nos constitucionais nem intervirnas greves e movimentos de cunhodemocrático.

Por entender que, num regimedemocrático, o poder deve serexercido com o povo, através dagarantia de uma efetiva participa­ção popular nas decisões do Esta­do e na elaboração de lei, três enti­dades (com o apoio de 35.000 assi­naturas). Federação dos Traba­lhadores na Agricultura do Estadode Minas Gerais, Sindicato dosTrabalhadores em Empresas deTelecomunicações e Operadoresde Mesas Telefônicas no Estadode Minas Gerais e Unibairros,apresentaram emenda populartratando dos direitos de participa­ção popular,

De acordo com a proposta, ocidadão isolado não tem condiçãosequer de fiscalizar ou pressionaro representante eleito, nem decombater os desgovernos, a cor­rupção, as mordomias. Essa posi­ção passiva o afasta da política eperpetua o CÍrculo vicioso. Por is­so, "estamos propondo o direitode participação popular ativa,além da ampliação dos direitos doscidadãos na defesa de seus inte­resses",

E também dito que o reconhe­cimento jurídico do papel das or­ganizações populares, juntamentecom partidos fortes, são funda­mentais para se conquistar umademocracia verdadeiramente par­ticipativa, com a co-responsabili­dade de toda a sociedade na elabo­ração de suas leis e na participaçãonas dicisões do Estado.

Umbanda querdireito de

dar auxílio

Participaçãodo povo deveser garantida

A garantia do exercício e daprática da assistência e tratamentoespiritual, desde que realizadosgratuitamente, é reivindicada naemenda popular encaminhada emnome de "brasileiros e brasileirasespiritualistas", pelo programa 3"Visão, da Rádio e TV Bandeiran­tes, Igreja Católica Carismática noBrasil e Associação Umbandistae Casa de Caridade Pai João daPorteira e Caboclo Pena Branca,de São Paulo, com 53 mil, 216 assi­naturas.

Lembram os espiritualistas quea própria Organização Mundial deSaúde, da ONU, chegou à conclu­são de que as práticas usadas pelosque curam por meios não ortodo­xos devem ser incentivadas; esJ?C­cialmente nos países do TerceiroMundo.

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Jornal da Constituintet j i I ; 2 • • ~,_

A educação é direito de todos

Emenda popular defendendo o excepcional é entregue a Ulysses

Carta defenderá o excepcional

Negros contradiscriminação

Em defesa das populações ne­gras, emenda apresentada peloCentro de Estudos Afro-Brasilei­ros, Associação Cultural Zumbi eAssociação José do Patrocínioquer que a lei puna como crimeinafiançável gualquer discrimina­ção atentatóna aos direitos huma­nos fixados na Constituição. Co­mo forma de discriminação deveser considerado subestimar, este­reotipar ou degradar grupos étni­cos raciais ou de cor, ou pessoasa eles pertencentes, por palavras,imagens e representações atravésde qualquer meio de comunica­ção.

Pretende que o poder públicoassuma o dever de promover aigualdade social, econômica eeducacional e declara que nãoconstitui privilégio a aplicação demedidas compensáveis visando àimplementação do princípio cons­titucional de plena igualdade apessoas ou grupos vítimas de com­provada discriminação. Entende­se como medida compensatóriadar preferência a cidadãos ou gru­pos de cidadãos a fim de garantirsua participação igualitária noacesso ao mercado de trabalho, àeducação, à saúde e outros direi­tos sociais.

A emenda pretende que a edu­cação condene as formas de discri­minação, que não sejam firmadostratados com países que discrimi­nam raça e cor e que seja garantidaa propriedade das terras ocupadaspelos remanescentes dos quilom­bos.

Como exportaros alimentos

As exportações de gêneros ali­mentícios básicos dependerão daaprovação do Congresso Nacio­nal. As políticas de abastecimentodeverão considerar, prioritaria­mente, o comércio específico, ga­rantindo-lhe condições de traba­lho.

Esses dois dispositivos constamde emenda popular encaminhadapelos sindicatos do Comércio Va­rejista de Carnes Frescas do Esta­do de São Paulo e do ComércioVarejistade CarnesFrescas ,Gêne­ros Alimentícios, Frutas, Verdu­ras, Flores e Plantas de Brasília,além da União Nacional do Co­mércio Varejista de Carnes e De­rivados, com 45 mil 546 assinatu­ras.

Quanto ao primeiro dispositivo,a proposta argumenta que há"gargalos" nos sistemas de arma­zenamento e financiamento, au­sência de um planejamento de lon­go prazo e incertezas de toda or­dern que desestimulam o cresci­mento da produção. O documentodiz também que a distribuição dosestoques reguladores governa­mentais tem privilegiado as gran­des redes de supermercados, soba alegação de possuírem inúmerospontos de venda, o que tem pena­lizado dois segmentos: o consumi­dor final, de baixo poder aquisi­tivo e localizado na periferia dascidades, e o pequeno varejista,aquele que se instala nas perife­rias, como é o exemplo do açou­gue.

"Todo brasileiro portador deexcepcionalidade terá direito aatendimento médico e clínico vol­tado à sua habilitação e/ou reabili­tação e ao seu desenvolvimentoe Jntegração social."

E o que estabelece emenda po­pular, apoiada por 20.000 assina­turas, apresentada à ConstituinteI'ClaAssociação de Pais e Mestresda Escola Municipal de EducaçãoEspecial "Marly Buissa Chiedde",Lions Clube de São Bernardo doCamyo - Rudge Ramos, e Asso­ciaçao Lar Menino Jesus.

Pela pror.0sta, todo brasileiroexcepciona , ao atingir 18 anos esendo comprovadamente inaptopara integrar-se no mercado com­petitivo, deverá receber do órgãopróprio da Previdência Social aImportância de meio salário míni­mo mensal, desde que esteja fre­qüentando programas de treina­mento para trabalho e/ou trabalhoabrigado ou protegido. Tal paga­mento cessana a earhr do momen­to em que o brasileiro pudesse serintegrado no mercado de traba­lho.

Uma outra emenda popular re­lativa aos excepcionais fixa o auxí­lio de um salario mínimo às pes­soas portadoras de deficiência quenão tenham condições de se auto­manter:

Endossada por três entidades,Associação Canoense de Defi­cientes Físicos, Escola Especial deCanoas e Liga Feminina de Com­bate ao Câncer, a proposta salien­ta que um grande número de ex­ceJ?cionaisfaz parte de famílias debaixa renda, muitas vezes não ten­do sequer meios para suas maisprementes necessidades. A emen­da é respaldada por 48.877 assina­turas.

"As pessoas portadoras de defi­ciência - física, mental, visual,auditiva e outras deficiências espe­cíficas -, gue representam 10%da populaçao brasileira, têm o di­reito à plena cidadania."

Com essa justificativa, a Orga­nização Nacional de Entidades deDeficientes Físicos, o Movimentopelos Direitos das Pessoas Defi­cientes e a Associação Nacionaldos Ostomizados augumentamque o direito da pessoa portadorade deficiência à integração oureintegração à sociedade tem co­mo condição essencial a reabilita­ção física, profissional e social."Para termos o direito de ir e viré necessário o acesso aos meiosde transporte, ao espaço urbanoe nas edificações",

E prosseguem: "Para termos di­reito à educação e à cu1tutra é ne­cessário o acesso às instituiçõeseducacionais e culturais, bem co­mo à educação especial para aque­les que dela necessitam, que atra­vés de classe especial, linguagempor sinal ou labial, ou Braille. Énecessário o acesso aos materiaise equipamentos para o desenvol­vimento de sua condição motoraou para orientação de locomo­cão" ..

Nesse sentido, preconizam o di­reito ao trabalho l que tem que sergarantido, consioerando as parti­cularidades e potencialidades decada indivíduo. Por isso - enfati­zam - é obrigação do Estado as­sistir a pessoa portadora de defi­ciência quando a limitação físicaou mental dificulta ou impede suaindependência para o exercício desuas atividades cotidianas, pelotempo que se fizer necessário.

A Confederação Nacional deProfessores do Brasil, a Associa­ção Nacional de Docentes do En­sino Superior e a União Nacionaldos Estudantespatrocinam emen­da constitucional, com 258.984 as­sinaturas, dispondo que a educa­ção, baseada nos princípios da de­mocracia, da liberdade de expres­são, da soberania nacional e dorespeito aos direitos humanos, éum dos agentes de desenvolvimen­to da capacidade de elaboração ereflexão crítica da realidade, vi­sando à preparação para o traba­lho e à sustentação da vida. O ensi­no público, gratuito e laico, emtodos os níveis de escolaridade édireito de todos os cidadãos brasi­leiros, sem distinção de sexo, raça,idade, confissão religiosa, filiaçãopolítica ou classe social.

É dever do Estado - diz aemenda - o provimento em todoo território nacional de vagas emnúmero suficiente para atender ademanda. É livre a manifestaçãopública do pensamento e de infor­mações. Sobre o ensino e a produ­ção do saber não incidirão quais­quer imposições ou restrições denatureza filosófica, ídeolõgíca, re­ligiosa ou política. E proibidaqualquer f<?rm~ de censura. O ~n­smo de pnmeiro grau, com OItOanos de duração, é obrigatório pa­ra todas as crianças a partir de seteanos de idade, visando propiciarformação básica comum índíspen­sável a todos.

Dispõe ainda a emenda que aUnião assegurará, supletivamen­te, aos estados, municípios e Dis­trito Federal os meios necessáriosao cumprimento da obrigatorieda­de escolar. O ensino de segundograu constitui a segunda etapa doensino básico e é direito de todos.Visa assegurar formação humanís­tica, científica e tecnológica volta­da para o desenvolvimento deuma consciência crítica em todasas modalidades de ensino em quese apresentar.

PARTICULARA existência de escolas privadas

estará condicionada à garantia aosfuncionários e professores da esta­bilidade no emprego, de remune­ração adequada, de carreira do­cente e técnico-funcional e da par­ticipação de alunos, professores efuncionários nos organismos dedeliberação da instituição. O esta­do autorizará a existência de esco­las particulares, desde que não re­cebam verbas públicas, que este­jam segundo padrões de qualidadee que sejam subordinadas às nor­mas ordenadoras da educação na­cional.

Patrocinada pelo DiretórioCentral dos Estudantes da Funda­ção Universidade de Caxias doSul, pela Associasão dos Funcio­nários da Fundaçao Universidadede Caxias do Sul e pelo Sindicatodos Professores de Caxias do Sul,emenda popular dispõe que a edu­cação é um direito de todos e de­ver do Estado. O ensino será pú­blico e gratuito em todos os níveis.As instituições de ensino de nívelprimário e secundário serão total­mente públicas e gratuitas, admi­nistradas pelos estados e municí­pios, que destinarão as verbas ne­cessánas a sua manutenção. Asinstituições de ensino superior se­rão federais e gratuitas.

A Federação Nacional dos Es­tabelecimentos de Ensino (FE­NEN), o Sindicato dos Estabele-

cimentos de Ensino de Minas Ge­rais (SINEPE-MG), e o Sindicatodos Estabelecimentos de Ensinode Duque de Caxias apresentaramemenda dispondo que "o ensinoserá gratuito em todos os níveis,em qualquer estabelecimento, pa­ra os que demonstrarem aprovei­tamento e insuficiência de recur­sos.

Entendem os autores da emen­da que não basta garantir a gratui­dade de ensino, mas é preCISO as­segurá-la juntamente com o direi­to de escolher o curso, a escolae o tipo de educação de interessedo aluno e da família, segundosuas convicções. Garantir apenasa gratuidade de ensino público dis­crimina o pobre, que, sendo qualfor sua crença ou convicção, nãoterá meios de escolher uma escolaprimária, até mesmo nos locaisonde não houver escolas públicas.A emenda teve a assinatura de40.929 eleitores.

COMUNITÁRIA

Patrocinada pelo Movimentode Defesa dos Favelados, peloMovimento Negro Unificado e pe­la Comissão de Justiça e Paz foiapresentada emenda constitucio­nal que cria a escola comunitária.A emenda define escola comuni­tária como uma escola pública al­ternativa, em interação com seucontexto sócio-cultural, autogeri­da, organizada com o apoio de en­tidades populares representativasde comunidades carentes e/ou mi­noritárias, de periferias urbanas ezonas rurais de difícil acesso,apoiadas pelo poder público a ní­vel federal, estadual e municipalque visa a atender a todos os me­nores, jovens carentes, trabalha­dores, meninos de rua, com difi­culdades de acesso ou acompanha­mento a outra forma de escola.

O Estado - diz a emenda ­garantirá o ensino público e gra­tuito das escolas- comunitáriasatravés de programas sociais a ní­vel municipal, estadual e federal,tais como manutenção do corpodocente e serviçais, oriundos dopróprio contexto sócio-cultural eescolhido de forma democráticapela comunidade. Fornecimentode material permanente e materialescolar e de consumo; serviço mé­dico-odontológico; alimentação;cursos de atualização pedagógicae de formação de magistério comcurrículos e programas organiza­dos com a participação da comu­nidade.

Determina ainda que o estado,através de seus Conselhos de Edu­cação, conhecerá o professor leigocom mais de cinco anos de exer­cício de magistério, cuja compe­tência foi comprovada através dosresultados de seu trabalho peda-.gógico; o Estado legalizará e fisca­lizará o funcionamento das escolascomunitárias.

As escolas comunitárias atende­rão a crianças, jovens e adultosdo pré-escolar à quarta série doprimeiro grau, em classes normaisou especiais) em equivalência como ensino oficial, preparando-ospara o in,gresso na quinta série darede oficial do Estado, e preparan­do-os para a independência eco­nômica através de cursos de pro­fissionalização e organização decooperativas de trabalho. O Esta­do destinará vinte por cento daverba de educação as escolas co­munitárias de educação popular.

Jornal da Constituinte 1

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Há 100 anos, numdia 19 de maio, traba­lhadores de salário

~ . ~,rmmmo saiam as ruasde Chicago, nos Es­tados Unidos, empu-

nhando cartazes, le­vando faixas, numaluta conscientizada,para garantir a jorna­da de trabalho de 40hõras. Cinco deles fo-~

ram mortos. São oschamados "mártiresde Chicago". Mas aluta deles não mor­reu. Estendeu-se pe­los quatro cantos do

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Quarenta e sete por cento da ren­da nacional provém do trabalho dagrande massa da população brasilei­ra. Setenta e seis por cento dos quetrabalham ganham de um a 5 salánosmínimos, Enquanto isso, apenas 5%das famílias mais ricas do Brasil de­têm 50,6% do total da renda nacio­nal."No Brasil vivemoscom o maisavil­tante de todos os salários mínimosdo mundo: 33 dólares mensais, ouseja, menos do que ganha, por diaum trabalhador de salário mínimonos Estados Unidos", observa oconstituinte Gasthone Righi (PTB-,SP).

"O salano mínimobrasileirodeve­ria estar em tomo de 12milcruzados,e, no entanto, está apenas por voltade 25% do que deveria ser", acres­centa o constituinteEdmiIson Valen­tim (PC do B - RJ). "É um saláriode sobreviventes", aponta o consti­tuinte José Genoino (PT - SP), adi­cionando a informação de que "te­mos o menor salário mínimo e amaior concentração de rendas domundo".

"A dissociaçãodo salário mínimode outros valores da economia é ocaminho mais seguro para a repo­sição dos ganhos do trabalhador. Seissofor feito, podemos não só recu­perar o que se perdeu ("há 14 anosera quase o dobro de hoje") comoir mais longe: chegar aos 100dólares,em 4 anos, sem maiores complica­ções", garante o constituinte Arnal­do Prieto (pFL - RS).

A questão salarial foi um dostemas que estiveram na primeiralinha dos debates esses últimosdias no plenário da Constituinte.Embora divergentes muitas vezese sob diferentes aspectos, sobre­tudo quanto ao tratamento que sedeve dar à reposição do valor realdos salários, os constituintes maisenvolvidos com a matéria e, demodo geral, a quase totalidade de­les foi unânime num aspecto: osalário mínimo brasileiro não dápara satisfazer as exigências maiselementares que propiciem ao ci­dadão ter uma vida condigna, nempara ele sozinho, muito pior quan­00 se trata de, com ele, fazer fren­te às necessidades de uma família."Nós temos um salário mínimo desobreviventes", diz José Genoino,"e não devemos continuar osten­tando essa vergonha nacional".

Paraorepresentanre doPTde SãoPaulo, antes de tudo surge o impe­rativo de se alterar a política salarialdo país porque, sem isso,não se terádado um passo. A nova Constitui­ção, no seu entendimento, deverá

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conter uma concepção correta doque é o trabalho, afim de compreen­der a obrigação de remunerá-lo comhonestidade e justiça. Ainda confor­me o parlamentar petista, a Consti­tuição deverá conter um outro princí­pio, muito importante: o da aplica­ção de medidas punitivas para quemnão cumprir os preceitos trabalhistas,uma lei constitucional incidindo so­bre os descumprimentos de tais de­terminações, sem concessões e semrodeios.

Dos mais combativos constituin­tes, José Genoino acredita numa mu­dança do atual estado de coisas, des­de que um amplo e profundo traba­lho político seja feito e devidamenteacompanhado pela fiscalização dotrabalhador e com o fortalecimentodas liberdades sindicais e classistas."E um processo de conquista. Esseprocesso se inicia agora e a Consti­tuinte é um momento privilegiadonara isso, para avançar neste sentido.E uma luta difícilmas exeqüível. OBrasil possui as classes dominantesmais truculentas do mundo e, embo­ra já não seja um país colonizado,apresenta estranhos elementos noseu diagnóstico:é um paíscapitalista,dependente e associado. O que querdizer que ele se associa e arnda de­pende do capital estrangeiro", con­clui José Genoino.

CONCORDES

Concorde com esse ponto de vistaestá o constituinte EdmiIson Valen­tim que defende, tal como José Ge­noino, um maior nívelde consciênciapolíticado povo. Isso é o que se devebuscar, em primeiro lugar, diz ele,porque daí derivam necessariamenteo fomento a uma cobrança maior dedireitos e a maior participação popu­lar no processo político-social dopaís. A Constituição - explica ­tem como função primeira asseguraras condições jurídicas capazes de ga­rantir maior liberdade democráticapara que aquele processo de cons­cientização política possa acontecer."Só acredito nas mudanças atravésda sociedade organizada", enfatizaEdmiIson Valentim quando mostraa essencialidade do setor produtivopara a própria sobrevivência do paíscomo um todo e quanto é funda­mental gue esse setor (de um ladoOS operarios e de outro os campo­neses) tomem consciência do seupróprio valor.

"Nunca tantos tiveram tão poucoe tão poucos tiveram tanto", dissealguém parodiando Churchil. A pro­pósito Edmilson Valentim lembradados colhidos em 1980 que são de

uma terrível crueldade: nas famíliasonde o chefe ganha até um saláriomínimo, as cnanças provavelmentemorrerão antes de completar um anode idade. O pior de tudo é que estasalcançam a faixa dos 81%. E a espe­rança de vida do trabalhador brasi­

.Ieiro melhor aquinhoado não ultra­passa a faixa dos 62 anos de idade."Esse quadro - aponta Valentim- significa um verdadeiro assassina­to dos brasileiros."

Por seu lado, Gasthone Righi(PTB - SP) indaga: "E o que signi­ficam esses míseros 1.900 cruzados?Significam um terço do que é neces­sário para que um trabalhador possase alimentar. A ração estimada paraum trabalhador sobreviver, cerca de3.400 calorias, é obtida através deuma ração balanceada, onde se in­cluem carne, leite, ovos, arroz e fei­jão, o que custaria, na moeda de tra­balho de hoje, cerca de 460 horasde trabalho de um único assalariadopercebendo o saláriomínimo. Imagi­nem, portanto, que um trabalhadorbrasileiro deve trabalhar três mesespara comer um único mês."

LIBERAÇÃO

A liberação do salário mínimo, ouseja, a sua desvinculação de outros

ArnaldoPrieto defende aliberaçãodo salário

minimo, com sua desvinculaçãode outros setores da economia.

CONSTITUIÇÃO

Art. 165.

I - salário mínimo capaz desatisfazer, conforme as condi­ções de cada região, as suas ne­cessidades normais e as de suafamília;

EdmilsonValentim conclanuja classetrabalhadoraa toman

consdência de seupróprio :valor, nocampo e nacidade,

Jorna

mundo. Cem anosdepois, o trabalhadorbrasileiro, através deseus legítimos repre­sentantes, num Con­presso Constituinte,,

vai à luta, conscientede que o Brasil nãoconseguirá transporos obstáculos ao seuprogresso e bem-es­tar social se o seu tra-

balhador, responsá­vel pela geração detantas riquezas, con­tinuar a ganhar ape­nas um

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Maria Valdira

mento de outros fatoreseconômicos,tanto na área econômico-financeira,como na tributária, na fiscal e tam­bém na própria área salarial."O Go­verno - declara Prieto - deve cui­dar fundamentalmenteda fixação dosaláriomínimoo maiselevado possí­vel. Quanto aos demais níveis sala­riais deverá haver uma prevalênciadas negociações entre empregadoseempregadores.Nada impede, entre­tanto que se estabeleçamregrasfun­damentais para que as negociaçõesse processem no terreno da justiçae da justeza, dentro do bom sensoe das práticas essencialmente demo­cráticas".Depois de lembrar que, há14anos, o saláriomínimo era quaseo dobro do de hoje, o representantedo PFL gaúcho assegura que a des­vinculação do salárioé capazde pro­mover a sua recuperação e ir muitomais longe ainda, segundo ele, den­tro de 4 anos, a continuar com essaprática (o que para ele é um bomprazo) o salário mínimo brasileiropode chegar tranquilamente aos 100dólares.

SALÁRIO-FAMÍLIA

Mas, a propostade ArnaldoPrietonáo ficapor aí. Há uma segundapar­te, a seu ver, bastante importante:os encargos que deverão ser confia­dos à Previdência Social. Ex-Minis­tro também da Previdência Social(até a data da desvinculação dos doisministérios) por 45 dias, ArnaldoPrieto analisa a complexidade daquestãosalarialreconhecendoasdifi­culdades que apresenta para quemquer que seja a fixação de um limiteque satisfaça às diferentes situaçõesdos trabalhadores. "Uma coisa ­afirma - é o trabalhador sozinhorecebero saláriomínimo;outra reali­dade é o trabalhador, sua mulher eum filho; e outra, bem distinta, éo trabalhador, a mulher e dez filhos.Então como vamos estabelecer umparâmetro verdadeiramente justo?Temos que partir para um reforçosubstancial, por exemplo,do salário­família. porque o saláriomínimopa­ra o trabalhador e sua família deverecair sobre toda a sociedade. Alémdisso, deve-se reforçar também emultiplicar os benefícios indiretos,como assistência à maternidade e àinfância, assistência à nutriz, prolife­ração de creches,de escolascom ho­rários integrais, e, em suma, um au­mento e melhoria concreta das con­diçõesem geralde que o trabalhadornecessita para criar e educar seus fi­lhos."

valores da economia, é um aspectoda questão bastante interessante eque é defendidopeloconstituinteAr­naldo Prieto (PFL- RS), um inegá­velbatalhadordestecampotrabalhis­ta e de cujo know-how e acuidadeadmmistrativa e política muitos ou­tros constituintes dão testemunho.Aliás, essecaminhoespecial, por on­de elepretende fluaa questãosalarialbrasilerra, foi apontado por ele hácerca de doze anos, quando titularda pasta do Trabalho.

Segundo Prieto, é fundamental adissociação do saláriomínimode ou­tros valoresdentro da economia, pa­ra os quais servia de base à fixaçãoou reajustamento. Já naquela oca­sião (1975), o então ministrodo Tra­balho, em sua exposição de motivosao governo federal apontava a ten­dência, por ele observada, a que osalário mínimo se fosse defasandoem relação aos demais salários, emface da realidadede ser aquele o ele­mento de referência para aluguéis,prestações do sistema financeiro dehabitaçãoe muitosoutrosvaloresemdiferentescampos, inclusive com re­lação a contratos entre indivíduos.Textualmente, ele dizia: "Propõe-seagora a dissociação, a fim de queo Governo J?Ossa executar uma polí­tica de saláriomínimoem função defatores a ele diretamente relaciona­dos, como os efeitos sobre o nívelde bem-estar dos trabalhadores, oemprego de mão-de-obra não quali­ficada, a capacidadede absorçãodasempresas,etc. Evidentemente, a cor­reção da distorçãoapontada com re­ferência à evolução do salário míni­mo real, no passado, deverá verifi­car-se de forma progressiva. "A ini­ciativa do ministro Prieto originoua Lei n° 6.205n5. Esta lei, de 19 demarço de 75, ainda em vigor,proibiao uso do saláriomínimo como fatorde correção monetária, mas não foisuficiente para proibir que outros sa­lários se "pendurassem" no saláriomínimo, como até muito recente­mente, quando o governoSarneyte­ve a iniciativa de proibi-lopara o res­tante. Na realidade, o que tem acon­tecido é o seguinte: quando subia osalário mínimo subiam os preços detodos osprodutosdo mercado, todosos serviços, aluguéis, contratos, etc,e etc, e evidentemente, o valor detodos os outros salários. Então aque­le aumentoficavana práticaanulado.O que pretendeu o ministroe o quepretende agora o constituinte Arnal­do Prieto? A continuidade daqueleseuprimeiropasso, istoé, que o salá­rio mínimo fique inteiramente livre,desvinculado o seu aumento do au-

A Constituição vi­gente (1967) assimdefine o salário míni­mo em seu artigo165, inciso I: "saláriomínimo capaz de -sa­tisfazer, conforme ascondições de cada re­gião, as suas necessi­dades (do trabalha­dor) normais e as desua família"

A Consolidaçãodas Leis de Trabalho(CLT), ao regula­mentar a matéria, as­sim determinou: "sa­lário mínimo é a con­traprestação mínimadevida e paga direta­mente pelo emprega­dor a todo trabalha­dor, sem distinção desexo, por dia normalde serviço, e capazde satisfazer, em de­terminada época, assuas necessidadesnormais de alimenta­ção, habitação, ves­tuário, higiene etransporte. "

Onde ficou a fa­mília?

Gasthone Righiobserva que oatualsalário mínimo significa

apenas 113 daquilo que otrabalhador gasta com alimento

Para José Genoíno, o Brasilnão pode continuar ostentando

I um salário que é uma "vergonhanacional"

o papel datecnologia

Os constituintes estão com suaspreocupações também voltadaspara a area de saúde, com a idéiade que a medicina, especialmentea preventiva, deve ser acessível atodas as camadas da populaçãobrasileira. As manifestações deplenário dão conta de revolta con­tra a situação de comunidades ata­cadas de doenças endêmicas. Osparlamentares praticamente che­garam a conclusão de que a novaConstituição deve dar um amploespaço para a questão.

É o caso do constituinte Eduar­do Jorge (PT - SP) que ap'resen­tou uma proposta de um SistemaÚnico de Saúde, com comandoadministrativo centralizado atra­vés dos estados e municípios. Se­gundo esclareceu, o projeto é dopróprio PT. O sistema deverá serfinanciado pelo Fundo Nacionalde Seguridade Social e recursosoriundos dos estados e municí­pios, aplicados mediante fiscaliza­ção das entidades CIVIS e comum­tárias ligadas à questão da SaúdePública.

Eduardo Jorge acha que o nívelde saúde da população resulta deum conjunto de condições associa­das ao trabalho, alimentação, ha­bitação, transporte, educação,renda, meio ambiente, liberdade,lazer, posse da terra e acesso aosserviços de saúde.

O sistema de atendimento mé­dico, implantado no Brasil estálonge de atender as exigências deuma sociedade moderna, é a opi­nião do Deputado Adylson Motta(PDS - RS), para quem a Consti­tuinte deve, até o final dos traba­lhos, debater exaustivamente amedicina brasileira. Para ele, asendemias e doenças de toda or­dem que atingem grande parcelada população estão inviabilizandoo próprio desenvolvimento socialbrasileiro.

Medicina:preventivae acessível

"Ou se domina a indústria doconhecimento ou o País sucumbiráa um neocolonialismo como ja­mais houve na história", afirmouo constituinte Nelton Friedrich(PMDB - PR) ao discorrer sobreo desenvolvimento da tecnologiano Brasil. Lamentando que aConstituição de 1946 não tenhadefinido uma proposta de desen­volvimento tecnológico para oPaís, o representante paranaensedestacou o papel da CIência e datecnologia na construção da inde­pendência das Nações.

Nelton Friedrich defendeu aaplicação de um maior percentualdo PIB na ciência e tecnologia,como nos países desenvolvidos. Oparlamentar ainda propôs o con­sórcio entre as universidades e aempresa nacional; mecanismo pa­ra aprimorar a ciência e tecnolo­gia; extensão da reserva de mer­cado para outras atividades tecno­lógicas, além da informática; naagricultura, busca de solução al­ternativa ao emprego de agrotó­xicos; e limitação da atividade es­trangeira no País, especialmentena indústria de medicamentos.

Maluly Neto

(PMDB - MG) afirmou, entre­tanto, temer que "os grupos orga­nizados que estão enxugando otexto constitucional possam reti­rar do projeto avanços consegui­dos nas subcomissões e comissõestemáticas através da participaçãopopular". O parlamentar 'frisouque é grande a expectativa da Na­ção em torno do que será mantidono projeto de Constituição, poiso povo não está muito satisfeitocom o PMDB, partido que foi odepositário das mudanças prome­tidas ao fim do período arbitrãrio.

- O constituinte Maluly Neto(PFL - SP), contudo, acreditaque existem problemas estruturaisdentro da própria confecção deconstituinte. O projeto, por exem­plo, considerou extenso a tal pon­to que invade em muitos aspectosa competência da legislação ordi­nária. Segundo o parlamentar.também a convocação da Consti­tuinte deveria ter sido procedidade um amplo debate nacional edesvinculada das tarefas normaisdo Congresso Nacional. E, final­mente, Maluly Neto afirmou quea ausência de um anteprojeto an­terior ao início das atividades daConstituinte acarretará em demoramaior dos trabalhos.

Florestan Fernandes (PT - SP)criticou o processo de elaboraçãoda nova Carta, asseverando queela está sendo fabricada pelos inte­resses conservadores da nova Re­pública. O parlamentar paulistamanifestou-se contrário ao quechamou de "grupos de negociaçãoou entendimento" que redigemprojetos para balizar o que deveou não ser aprovado na Cartaconstitucional.

Finalmente, o constituinte Ed­milson Valentim (PC do B - RJ),salientou que seu partido defendeuma Constituição "democrática eprogressista, de cunho nacionalis­ta, capaz de promover as profun­das mudanças na estrutura políti­ca, econômica e social do Brasil,reclamadas pela ampla maioria donosso povo". A propósito, o par­lamentar fnsou que o atual proJe­to, apesar das falhas, contém pon­tos positivos, destacando artigossobre os direitos dos trabalhado­res e a adoção do sistema parla­mentarista.

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t, ~Doreto Campanari

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EXPECTATIVA

O constituinte Otávio Elísio

RADICALISMO

A defesa do sistema presiden­cialista de governo foi feita peloconstituinte Theodoro Mendes,do PMDB de São Paulo. No seuentender os debates sobre o tematêm-se encaminhado para o radi­calismo, e o presidencialismo, doqual é partidário, propugna elei­ções diretas para presidente, sen­do o eleito responsável política ejuridicamente, "pois esta é a for­ma de governo que mais atendeaos anseios da ordem e da autori­dade".

SÍNTESE"O Brasil tem o privilégio de

inaugurar um novo ciclo na histó­na da Terra, iniciado pela delibe­ração corajosa, e justa deste po­der, quando decidiu que nossaConstituição seria síntese do pen­samento de todos os constituintes,como também de milhões de bra­sileiros". Esta afirmação pertenceao constituinte José Guedes, doPMDB de Rondônia, ao analisaros trabalhos de elaboração da no­va Carta Magna do País.

Já o constituinte Manoel Morei­ra, do PMDB de São Paulo, aler­tou para o perigo da frustração ge­neralizada da opinião pública bra­sileira para com a nova Carta. "Ebom que não passemos aos brasi­leiros a impressão de que estamos,de uma vez por todas, resolvendoos problemas nacionais". É im­portante, entretanto, considerouo parlamentar, que os constituin­tes entendam os princípios da con­vergência, no sentido de dotar oBrasil de uma Carta política queabra as portas para a construçãode uma nação solidária, justa e pa­cífica.

Para o constituinte Roberto ROI-Ilemberg (PMDB - SP), o traba­lho da Assembléia Nacional nãose esgota com a elaboração da no­va Carta. A missão fundamentalda classe. política e, especialmen­te, do PNlDB, conforme salien­tou, é a restauração do Estado de­mocrático, que será conseguidaapenas quando forem implantadasos mecanismos de democratizaçãoreal.

\Vivaldo Barbosa

rém, o mais grave-defeito, paraIsrael Pinheiro, é o de inibir o pla­nejamento administrativo a medioe a longo prazos, uma vez que oprazo de mandato do chefe doExecutivo é restrito, e os projetosacabam interrompidos.

Outro parlamentar que defen­deu a instituição do sistema parla­mentarista de governo no País foio representante do PMDB da Pa­raíba, Agassiz de Almeida. Oconstituinte afirmou que o presi­dencialismo revelou-se fonte per­manente em crises político-insti­tucionais e o regime de gabinete,ao contrário, funciona comoamortizador de crises, dada a fle­xibilidade que lhe assegura a esta­bilidade política.

Citando palavras do falecidoPresidente da, República, Tancre­do Neves, e, mais recentemente,do Senador Afonso Arinos, emdefesa do parlamentarismo, Agas­siz de Almeida advertiu que aatual Constituinte é a ocasião parase instituir o novo sistema de go­verno no País.

SEIS ANOSMas mesmo entre aqueles que

defendem o sistema parlamenta­rista de governo, nem sempre exis­te um consenso. O constituinteDoreto Campanari, do PMDB deSão Paulo, por exemplo, afirmouhaver uma articulação entre al­guns parlamentares, inclusive dopróprio PMD B, visando a impedirque o sistema parlamentarista sejaadotado no País. Segundo o parla­mentar paulista, esses constituin­tes querem um parlamentarismocom seis anos de mandato parao Presidente da República, e so­bretudo, tentam impedir que o po­vo eleja o chefe de governo.

Outra consideração foi do cons­tituinte Vivaldo Barbosa (PDT ­RJ), que considerou o projetoconstitucional, no que se refere aosistema de governo, como sendo"um convite a crises", devido aogrande poder que ncara centran­zado nas mãos do Primeiro-Minis­tro. No seuentendímento, o Presi­dente da República, apesar de seruma pessoa eleita por uma expres­siva parcela do eleitorado, em doisturnos como determina o projeto,será apenas uma figura SImbólicae sem condições de realizar qual­quer trabalho com eficiência. Vi­valdo Barbosa acredita que aquestão do sistema de governo, damaneira como está sendo tratadano projeto, se constitui uma solu­ção de conveniência.

Segue debatesobre sistemade governo~

Parlamentarismo 'JÜ Presiden­cialismo? Não está sendo fácil res­ponder a esta rergunta na Assem­bléia Naciona Constituinte. Egí­dio Ferrreira Lima, do PMDB dePernambuco, por exemplo, voltouà Tribuna para Justificar emendade sua autoria que redesenha todoo sistema governamental do Bra­sil, muda a atribuição do chefe deEstado e cria o Conselho de Esta­do. Revendo a matéria por eleapresentada na Comissão de Or­ganização dos Poderes, como rela­tor, o representante do PMDB de­fendeu o parlamentarismo, noqual, disse, tem um papel funda­mental o Conselho de Estado, que"é da tradição do Direito Consti­tucional brasileiro, existindo in­clusive na Constituição de 1824,a mais duradoura do País" .

Do Conselho de Estado, escla­receu o parlamentar, participarãoo Primeiro-Ministro, o Presidenteda República, os presidentes daCâmara e do Senado, as liderançasdos partidos políticos e os ex-Pre­sidentes da Rerública. Segundoele, é preferíve ter esses últimoscomo membros do Conselho doque nos quartéis a tramarem con­tra as instituições democráticas.

Outro parlamentar que apóia aintrodução do Parlamentarismocomo sistema de governo a partirda edição do novo texto constitu­cional é o constituinte Vilson Sou­za, do PMDB de Santa Catarina.Ele declarou que o melhor sistemade governo para a realidade brasi­leira é o parlamentarista, "por nãoser uma forma autoritária, mono­crática, imyerial do exercício doPoder Polftíco".

Um parlamentarista convicto,Assim' se definiu o constituinteCha~as Rodrigues, do PMDB doPiam. O parlamentar se identifi­cou, igualmente, como "um de­mocrata autêntico e conseqüente"e, justamente por essa postura po­lítica, disse acreditar fielmente nosistema parlamentarista. ChagasRodrigues ressaltou que o regnnepresidencialista no país tem sidomarcado por uma sucessiva ondade golpes e atos ditatoriais "quesó envergonham o nosso povo etoda a Nação". O parlamentar dis­se estar convencido de que naotemos condições de continuar sobo regime presidencialista e que échegado o momento de se aprovaro restabelecimento do sistemaparlamentarista de governo, "queIrá garantir a estabilidade às nos­sas instituições e prosperidade àNação".

MELHOR SISTEMAO constituinte Israel Pinheiro

(PMDB - MG), também consi­derou o parlamentarismo comosendo o melhor sistema de gover­no para que o Brasil consiga forta­lecer suas instituições, os partidospolíticos, e, principalmente, oCongresso Nacional, como poderefetivamente controlador e fiscali­zador.

Para o parlamentar, o presiden­cialismo tem o defeito de provocaro enfraquecimento e o desgastedos partidos, devido ao fato de oPresidente da República governardesvinculado dos políticos. Po-

10 Jornal da Constítuínte

Israel Pinheiro Carlos Benevides Aécio Neves Mário Assad Haroldo Lima

PROPORCIONAL

O PMDB ainda foi representa­do por mais três constituintes,que, unanimemente, fizeram a de­fesa do voto proporcional, comosendo o sistema que mais legitima­mente pode traduzir a represen­tação popular no Legislativo. Oconstituinte Aécio Neves (MG)fez transcrever nos Anais um dis­curso de seu avó, ex-presidenteTancredo Neves, quando este sus­tenta ser a representação propor­cional a única, no Brasil, capaz de"erigir representações a nívelnacio­nal e intelectual elevado".

No discurso lido por Aécio Ne­ves, o ex-presidente da Repúblicaobserva que o sistema proporcio­nal, como instrumento de ação po­lítica, pode promover a rápida de­mocratização das estruturas e ins­tituições brasileiras. Segundo Aé­cio Neves, sua intenção, ao trazero discurso ao conhecimento daConstituinte, foi a de orientar de­putados e senadores a não busca­rem fórmulas estranhas à realida­de brasileira.

Já o parlamentar Nelson Jobim(RS) concluiu que nada mais é ra­cional e eqüitativo do que o prin­cípio da proporcionalidade comobase do sistema eleitoral. O parla­mentar, contudo, não deixou deenxergar vantagens no voto majo­ritário, ressalvando apenas que se­ja restrito ao Poder Executivo.

Ele disse achar ainda que a re­formulação do sistema eleitoralnão pode se dar pela substituiçãopura e simples do atual sistemapelo sistema distrital misto (majo­ritário e proporcional). Isso por­que, no seu entender, na prática,nenhum dos princípios eleitoraisconstituem garantias de um bomgoverno, por produzirem distor­ções relevantes.

O representante do Ceará, Car­los Benevides, considerou que aadoção do sistema distrital mistopode trazer um grande risco deas cúpulas partidárias exerceremuma influência antidemocrãtica,isolando determinados nomes pa­ra as incertezas da experiência lo­cal e reservando as vagas propor­cionais para os candidatos de suaspreferências.

Carlos Benevides garantiu quesua posição favorável ao voto pro­porcional "tem raízes na própriatradição partidária e nos argumen­tos de ordem técnica, administra­tiva e política que recomendamnão regionalizar as escolhas, masvalorizá-las com uma participaçãomais ampla da comunidade.

PLEBISCITO

Haroldo Lima acentuou que oSIstemaproporcional é o único ca­paz, como instrumento de açãopolítica, de promover a rápida de­mocratização das estruturas e dasinstituições brasileiras. Disse ain­da o parlamentar do PC do B, quea representação proporcional é ca­paz de assegurar a eleição de vul­tos eminentes da vida pública na­cional que não teriam condiçõesde estar no Parlamento se o cnté­rio de escolha fosse pelo voto dis­trital.

Roberto Freire criticou severa­mente o sistema distrital como in­viável para o País, em vista de pro­porcionar o condicionamento dobipartidarismo. Acredita o parla­mentar que o voto proporcionalé a melhor alternativa para o Bra­sil, sendo preciso, na sua opinião,apenas realizar pequenas mudan­ças no que toca à representaçãona Câmara dos Deputados, caben­do uma distribuição mais justa emenos desproporcional, por uni­dades da Federação.

Crítica semelhante fez o consti­tuinte Haroldo Lima (BA), emnome do PC do B, ao sublinharque a adoção do voto distrital sig­nificaria vigoroso golpe contra ademocracia no Brasil e estigma­tizaria a nova Constituição, inde­pendente do que ela contivesse,como uma Carta reacionária queteria "corrompido a representa­ção democrática".

O constituinte Lysâneas Maciel(PDT - RJ), preferiu defendera realização de um plebiscito paraque a Constituição seja julgadapela população. Apesar disso, dis­se reconhecer na legislação eleito­ral brasileira uma estrutura já emdesuso e superada.

O parlamentar apresentou ospontos principais de um projetode legislação eleitoral propostopelo PDT. Nele está, além do ple­biscito, a instituição do voto desti­tuinte ou revogatório de mandatode parlamentar, desde que decaiada confiança do eleitor, ou porcorrupção; a correção de privilé­gios e injustiças cometidas pelaUnião, estados ou municípios du­rante o processo eleitoral; a elimi­nação de tratamento privilegiadode qualquer natureza, inclusivefiscal, jurisdicional e vencimentosdos membros das Forças Arma­das, do Legislativo e Judiciário;

e voto de igual valor político paratodos os cidadãos. Por último oconstituinte sustentou o direito devoto aos 16 anos de idade.

. O atualsistema

representativobrasileiro

está cheio devícios que

tornam doispartidos muitobem votados eos outros com

bancadasreduzidas

No sistema proporcional, a ci­dadania participa de forma maisampla na sua diversidade e livrenas suas opções, através do exer­cício soberano do voto. Essa foia definição do constituinte Rober­to Freire (PE) ao expressar o posi­cionamento do PCB, partido deque é líder, no mesmo instante emque qualificou de fundamental aconquista de uma estrutura parti­dária no Brasil que assegure o plu­ralismo da sociedade civil.

siderou o sistema eleitoral brasi­leiro dos mais avançados, apesarde toda a disposição do Estado embuscar diminuir a representativi­dade do voto através da Históna.As distorções havidas, na sua opi­nião, são perversões da políticadas elites, da inconsistência ou in­suficiente operacionalidade do sis­tema proporcional.

O argumento do parlamentar éque a Constituinte deve buscaraperfeiçoar o sistema proporcio­nal e as instituições democráticas,ao invés de se preocupar tantocom as estabilidades dos governoseventuais. Pela posição assumida­pelo constituinte, a extensão doestado membro da federação é omínimo tolerável de magnitude dodistrito, para a correta expressãoda proporcionalidade.

VOTO SOBERANO

FORMA MITIGADA

mento dos partidos políticos,criando, no País, uma tradiçãopartidária. "O sistema eleitoralque defendo é o misto, sendo ovoto proporcional", afirmou Is­rael Pinheiro, ao explicar que ovoto continuaria sendo apuradoproporcionalmente, só que atra­vés de distritos: "uma circunscri­ção menor apenas".

CORRUPÇÃO

O constituinte Jamil Haddad(RJ), líder do PSB, garantiu queseu partido é radicalmente contrá­rio ao voto distrital, seja ele mistoou simples. O primeiro argumentolevantado pelo parlamentar doRio de Janeiro é que o voto distri­tal facilita a corrupção eleitoral.O segundo ponto considerado porJamil Haddad foi que esse sistemade voto liquidará com os partidosideológicos, que não possuem cur­rais eleitorais, mas que conseguemeleger seus candidatos através dasoma de votos em várias regiões.

Jamil Haddad lembrou o casode seu próprio partido e o de suaeleição. Afirmou que não possuicurral eleitoral, não sendo a suavotação regionalizada, mas frutode vários municípios do Rio de Ja­neiro. Por esse motivo, ele temepelo fim dos partidos que tenhamum caráter ideológico, e a eleiçãose transforme somente em uma lu­ta fortemente vinculada ao podereconômico, que com a instalaçãodo voto distrital no país terá umasensível redução de custos paraeleger seus representantes.

Já o PT, nas palavras do consti­tuinte Paulo Delgado (MG), con-

O constituinte Adylson Mottalembrou a índole do povo brasi­leiro para sugerir que os políticosbusquem somar os aspectos queo consenso indique serem positi­vos tanto do sistema proporcionalquanto do distrital, VIsando à ado­ção de uma forma mitigada dasduas modalidades de representa­ção.

Entende o parlamentar que asistemática mista de representati­vidade poderá atingir o objetivode fortalecer o quadro partidário,pelo incentivo à maior participa­ção dos filiados nas decisões inter­nas e, ao mesmo tempo, dar umenfoque duplo na representaçãopopular, onde estariam presentestanto os particularistas, de quemse cobrará atenção aos assuntoslocais, como os generahstas, dosquais se esperará maior eficiêncianos temas de largo alcance.

Sem definição sistema eleitoral~

Mário Assad (PFL - MG) pro­pôs a instituição do sistema distri­tal proporcional (nunca o majori­tário, disse). Pela proposta, em ca­da distrito, cada partido teria ape­nas um candidato, ou dobradinhade candidato a deputado estaduale federal. O processo de verifica­ção dos eleitos seria o mesmo dehoje, o proporcional, mas o candi­dato só poderia ser votado em seudistrito.

Sistema distrital ou proporcio­nal? A sessão extraordinária daConstituinte destinada à discussãodo sistema eleitoral brasileirocomprovou que entre os consti­tuintes o tema ainda vai merecermais discussões e negociações. Is­so porque o único ponto de con­vergência é a constatação de queé necessário empreender mudan­ças na representação popular doLegislativo. Há, contudo, uma li­geira tendência para que preva­leça o sistema proporcional emuso, mas com modificações quepermitam primordialmente coibiro poder econômico.

Ao seu ver, as vantagens de talprocesso são muito grandes. Oeleitor, afirmou, faria consciente­mente sua opção entre pouquís­simos candidatos, ao invés de mi­lhares, como nos grandes estados.O constituinte argumentou aindaque a luta interna nos partidos aca­baria com esses tornando-se ver­dadeiras instituições.

Já para o constituinte FranciscoRosSI (PTB - SP), o ideal parao Brasil seria a adoção de um siste­ma distrital misto que resguardea possibilidade de representaçãodas minorias no Legislativo. Noseu entendimento, esse sistemapossui a vantagem de reunir os be­nefícios do sistema proporcionale do majoritário.

O parlamentar é de opinião queo atual sistema representativo bra­sileiro está cheio de "vícios", queensejam que haja dois partidosmuito bem votados e os outros pe­quenos partidos com bancadas re­duzidas no Congresso Nacional.

Israel Pinheiro (PMDB ­MG), compartilhando dessa mes­ma opinião, completou afirmandoque o sistema representativo pro­porcional em uso no Brasil foitransformado "na maior negociatada Nação". Esses termos, expli­cou, demonstram o ódio existenteentre parlamentares, "que seacham os donos de seus redutoseleitorais".

O objetivo da Constituinte, noseu entender, é buscar o fortaleci-

Jornal da Constituinte 11

Pedido 18%do Orçamento

•para ensinoo constituinte João Calmon é

um dos mais antigos defensores daeducação no Brasil, sendo respon­sável por dispositivo da atualConstituição que estabelece umpatamar mínimo de aplicação derecursos por parte da União nestesetor.

Para o representante do PMDBdo Espírito Santo, "um país podeperder a sua independência, nosdias de hoje, não por causa da in­vasão do seu território por tropasestrangeiras, mas através do colo­nialismo tecnológico, como o queameaça gravemente o Brasil. E es­tamos preocupados, às vezes, comquestões menores, em vez de to­dos nós nos unirmos na batalhapelos 18% do Orçamento daUnião para a educação. Nesse mo­mento, o anuário da Unesco nosaponta à execração mundial, colo­cando-nos abaixo de 79países emdispêndios públicos com educa­ção, em relação ao Produto Inter­no Bruto".

ATENÇÃO

O constituinte Fernando Gas­parian, do PMDB de São Paulo,acredita, por sua vez, que, no mo­mento de elaboração da nova Car­ta, é necessária uma atenção espe­cial para o setor educacional. Estesetor, na opínião do parlamentar,é dos mais Importantes para o de­senvolvimento sócio-cultural eeconômico do Brasil, na medidaem que permite que haja uma po­pulação instruída, bem formada ecapacitada para exercer plena­mente a cidadania em uma socie­dade moderna como a brasileira.

Para Fernando Gasparian, o de­senvolvimento econômico do Paísnos últimos 40 anos não foi acom­panhado pelo setor educacional,onde, ao contrário, a realidadebrasileira atesta a falência de todasas experiências feitas até agora.

CONJUNTURA

Para o constituinte Roberto Ro­llemberg, do PMDB de São Pau­lo, a realidade educacional brasi­leira está Intimamente ligada à si­tuação conjuntural da economianacional. Segundo o parlamentar,o problema econômico é de infra­estrutura, enquanto as demaisquestões são de superestrutura.

Roberto Rollemberg conside­rou que não se pode comparar asituação do ensino no Brasil comsoluções dadas em países desen­volvidos como Estados Umdos,União Soviética ou Japão. A clien­tela dos professores, sobretudo osde escolas públicas, na opinião de­le, é de alunos que têm em suasvidas o reflexo direto do "mise­rável salário mínimo, do sistemafeudal fundiário e do alto índicede concentração de renda".

PRIORIDADE"Tenho criticado, em diversas

oportunidades, o projeto que foiaprovado na Comissão de Siste­matização. Entretanto, com refe­rência ao capítulo da Educação e

Cultura, faço uma ressalva. O tex­to atende, em linhas gerais, àque­les princípios básicos que defen­demos para um texto constitucio­nal, porque sua aplicação poderá,realmente, alavancar a educaçãobrasileira, colocando-a num pata­mar de prioridade que defende­mos" . A opinião é do constituinteEraldo Tinoco, do PFL da Bahia.

Para ele, a educação deve ocu­par um lugar de destaque entreas preocupações da Constituintepor dois motivos. Primeiramenteporque a educação é um elementofundamental para a aceleração dodesenvolvimento do País. E, emsegundo lugar, porque a educaçãoé o mais efetivo fator de ascensãosocial, na medida em que permitedesenvolver todas as potencialida­des do indivíduo.

DESAFIOS

A educação, no Brasil, para oconstituinte Paes Landim, do PFLdo Piauí, vem enfrentando doisdesafios históricos até hoje não su­perados, quais sejam, a incapaci­dade de dar escolas a todos quea demandam e a crescente perdade qualidade do ensino, à medidaque a sociedade se massifica. To­das as demais questões, segundoPaes Landim, inclusive as de natu­reza ideológica, são, na verdade,falsos problemas.

As distorções que apresenta aeducação básica brasileira, porexemplo, de acordo com dados dopróprio MéC citados pelo parla­mentar, são facilmente perceptí­veis: "a pré-escola certamente de­veria estar atendendo às regiõesmenos favorecidas do País, maso oposto é o que ocorre".

DIREITODireito inquestionável de todos

os brasileiros. Assim define VictorFaccioni, do PDS do Rio Grandedo Sul, a educação. Para o parla­mentar, a falta de condição de saú­de, a falta de condição de educa­ção inviabiliza a própria liberdadedo indivíduo dentro da sociedade.

"É claro gue não basta construirescolas", afirmou Victor Faccioni."É preciso que ela seja instrumen­talizada, seja dotada e baseada nu­ma política educacional, onde ha­ja possibilidades de o aluno teracesso a todas as alternativas efontes de saber. Só assim ele podeadquirir condições para a sua rea­lização plena em termos de direitoe cidadania".

CIDADANIA"O exame e a reflexão do pro­

blema educacional brasileiro terãoque se articular com outros temas,todos eles convergentes para esta­belecer um só alvo, alvo este queconsiste em assegurar a cada cida­dão o exercício da cidadania emsua plenitude, a fim de resgataruma imensa dívida social". Estaé a posição do constituinte CarlosAlberto Caó, do PDT do Rio deJaneiro.

Essa dívida social, de acordo

Dados do censode 1980 mostram

um País comíndice de

analfabetismode 34% em

relação à suapopulação.

E isso tende ase agravar, jáque 30% da

população entre10 e 14 anosainda nãosabe ler eescrever

Paes Landim

Florestan Fernandes

com o parlamentar, foi contraídacom mais de 13 milhões de famíliasbrasileiras, às quais tem sido nega­do sistematicamente pelo Gover­no o direito à vida, à educação,à saúde e à moradia. "A educaçãoque queremos é aquela que demo­craticamente possa fazer com quecada brasileiro seja mais que umconsumidor, um autor político".

PROBLEMA SOCIALPara o constituinte Florestan

Fernandes, do PT de São Paulo,é importante que a educação este­ja ao alcance da maioria da popu­lação, o que quer dizer, para oparlamentar, daqueles que são osoprimidos, os excluídos e os explo­rados. A educação, segundo Flo­restan Fernandes, é um problemasocial de uma gravidade inacredi­tável.

O parlamentar lembrou dadosdo censo de 80, em que o Paíscontava com um índice de analfa­betismo de 34% em relação a suapopulação total. E a situação, noentender de Florestan Fernandes,tende a se agravar, já que 30%da população entre 10 e 14 anosainda não sabe ler e escrever.

LIVROS"Se este País é a 8' economia

mundial e o 10°a editar livros, co­mo é que esses livros não chegamàs mãos do povo? "Esta perguntafoi feita pelo constituinte SólonBorges dos Reis, do PTB de SãoPaulo, para o qual o CJ.ue falta éa formação política, pOIS as elitesd!~igent~s deste .País, em sua opí­mao, nao acreditam na formaçãopolítica e na educação do povo.

A Constituinte, de acordo como parlamentar paulista, com­preende que a educação é a priori­dade nacional, o que não acontececom as classes dirigentes do País.Esse fato fica evidente para SólonBorges dos Reis quando o Gover­no fecha questão em dois pontos:é contrário à fixação de percen­tuais orçamentários para a educa­ção e é favorável à liberação deverbas públicas tanto para as esco­las públicas quanto para as parti­culares.

DICOTOMIAO problema educacional brasi­

leiro, segundo Álvaro Valle, doPL do Rio de Janeiro, não estána dicotomia que se procura esta­belecer entre escola pública e pri­vada. Para o parlamentar, a verda­deira dicotomia se coloca em ter­mos de escola eficiente ou inefi­ciente, "pois democratizar umasociedade é dar a todos oportu­nidades iguais, e a escola ineficien­te nega essa igualdade de oportu­nidade entre os indivíduos".

Álvaro Valle reconheceu que,em muitos setores, é fundamentala escola pública, para coibir a exis­tência de comerciantes da educa­ção e oferecer uma opção ao alu­no. No entanto, segundo o constí­tuinte, os próprios professores sa­bem que a escola pública, em nos-

João Calmon

so País, está burocratizada, "cus­tando cinco vezes mais do queuma escola privada" .

DEPENDÊNCIA

O investimento em ciência etecnologia a níveis que permitamao País reduzir sua dependênciado exterior foi defendido peloconstituinte Fernando santan~,do PCB da Bahia. O parlament rlembrou, por exemplo, que os pa­ses desenvolvidos destinam algoem torno de 3% do PIR para In­vestimentos em pesquisa nesse se­tor, e que, se o Brasil não adotaruma linha semelhante, "marcha­remos para sermos mais escravi­zados do que somos hoje".

"Nesse sentido - disse- aemergência de uma ampla e fecun­da geração de pesquisadores aptosa enfrentar os desafios que a reali~dade nos propõe passa por uma só­lida aquisição dos fundamentos dosaber, em nível da escola elemen­tar, da escola média, com especialatenção ao estudo da Matemática;da Física, da Química e da Biolo­gia." ,

ORÇAMENTOA constituinte Lídice da Mata, i

do PC do B da Bahia, afirmou que'o projeto da Comissão de Sistema­tização apresenta dispositivos con­siderados de fundamental impor­tância para os educadores, comoo respeito ao princípio dos percen- ,tuais orçamentários fixados. Naopinião da parlamentar, essa é !uma prática salutar que se estabe- ,leceu desde a Constituinte de 34. :

Outro ponto positivo do proje- 'to, de acordo com Lídice da Mata, "é o que assegura uma conquistada sociedade civil em sua relaçãocom o poder público.

Por outro lado, segundo a cons­tituinte, o projeto apresenta as­pectos negativos como o do dispo­sitivo CJ.ue abre possibilidades in­discriminadas para a concessão desubsídios às escolas particulares.

QUALIDADE

A constituinte Beth AZize, doPSB do Amazonas, abordou aquestão da qualidade do ensino ecolocou como ponto fundamentala valorização do magistério doPaís. "Discute-se, academicamen­te, o problema da qualidade de en­sino. Sabemos, por exemplo, queOprimeiro passo reside na morali­dade do recrutamento e seleçãodos agentes da educação. Tornou­se praxe neste País recrutar profis­sionais incompetentes, deixando­se de lado profissionais competen­tes que fazem do magistério umsacerd6cio" .

Beth Azize afirmou que admis­sões são feitas J?orinteresses polí­ticos ou por privilégios de paren­tesco político. "Queremos a valo­rização do magistério para que oprofessor brasileiro sinta orgulhode ser um profissional da área",concluiu.

12 Jornal da Constítuínte

SALÁRIO MÍNIMO

Augusto Carvalho, do PCB(Distrito Federal) fez enfáticas crí­ticas aos chefes militares e ao Pre­sidente do Tribunal Superior doTrabalho por se manifestaremcontra a jornada de 40 horas e es­tabilidade dos trabalhadores.Condenou, igualmente, pronun­ciamento do Presidente da Repú­blica que investiu contra a preten­são dos trabalhadores.

Para Augusto Carvalho a Cons­tituição deve assegurar salário mí­nimo condizente; proibição dequalquer prestação salarial, infe­rior ao salário mínimo; criação daComissão Nacional do Salário Mí­nimo; participação nos ganhos deprodutrvidade e rentabilidade dasempresas urbanas e rurais; partici­pação na gestão das empresas pú­blicas, mistas e concessionárias deserviços públicos; jornada de 40horas; estabilidade.

NÃO PREJUDICA

Edmilson Valentim, do PC doB (Rio de Janeiro), sustenta quea redução da jornada de trabalhopara 40 horas semanais não preju­dicaria a economia brasileira, pelocontrário, abriria mais vagas paraos trabalhadores, na margem decada 5 trabalhadores para uma va­ga, contribumdo , assim, para oaquecimento do mercado mterno,ISSO além de a revolução tecno­lógica já permitir a jornada de 40horas.

Mendes BotelhoJosé Maria Eymael, do PDC deSão Paulo -, um primeiro pontodeve ser estabelecido: o primadodo valor do trabalho.

Tem-se afirmado, em corredo­res falsamente liberais, que bastao salário como paga do trabalho.Isto é uma falácia, porque todaa riqueza humana pressupõe ne­cessariamente a participação dotrabalho.

ACIDENTES

Antôniocarlos Mendes Thame,constituinte pelo PFL de São Pau­lo, quer solução para os acidentesde trabalho, e fez ver que está najornada de trabalho uma das cau­sas de acidentes.

Além disso, conforme MendesThame, é de vital importância quea Constituição mantenha o dispo­sitivo que prevê a competência doMinistério Público para promoveração civil pública visando a medi­das cautelares (ou reparatórias),quando se aventar que normas desegurança e saúde do trabalho nãoestejam sendo observadas.

Osvaldo Bender

Em termos anuais e mesmo des­contando férias, domingos e feria­dos, o brasileiro trabalha 2.208 ho­ras, enquanto o japonês trabalha2.066 horas, o espanhol e o italia­no, 1.760 horas, o mexicano, 1.947horas.

Até hoje - diz ainda MendesBotelho - não se tem notícia depaíses, que ao optarem por umaJornada menor, tenham algumaqueda na produção. Pelo contrá­rio. E quanto à garantia no empre­go, acentua o parlamentar que oBrasil não será o primeiro a adotaresse princípio.

ESTADO

Afif Domingos, constituinte pe­lo PL de São Paulo, fez ver queo Brasil é hoje uma Nação madurae que a sociedade não necessitada tutela do Estado; ela exige li­berdade para que possa encontraro seu próprio cammho.

O representante paulista querque seja permitido às empresasadministrarem os recursos que ho­je pagam ao Estado.

O que penso sobre a estabili­dade? Em primeiro lugar, estabili­dade do sistema de emprego, sim,com a criação de um seguro-de­semprego, cujos recursos sejam fi­calizados muito de perto pela so­ciedade. Em segundo lugar, o pro­blema de demissão imotivada. Aítrata-se de dar maiores garantiaspara o trabalhador no contrato detrabalho. Trata-se de criar umaforma de regulamentação, cujoprincípio deve estar inserido naConstituição, mas cuja regula­mentação deve ser, por lei, apro­priada, dando as formas das de­missões.

PRIMADOPara a democracia cristã - con­

forme exposição do constituinte

OUTROS PAÍSES

TRANSFORMAÇÕES

Vicente Bogo, constituinte peloPMDB do Rio Grande do Sul,anunciou gue não defende umaConstituição com mil artigos, masdeseja trabalhar no sentido de quetenhamos uma com artigos sufi­cientes para promover as transfor­mações econômico-sociais tão de­sejadas pela classe trabalhadora.

A estabilidade no emprego ­diz Vicente Bago é uma antigareivindicação dos trabalhadores.Todos sabem que o Fundo de Ga­rantia do Tempo de Serviço foro golpe fatal na segurança do tra­balhador no emprego. O FGTS serevelou um engodo, a começar pe­la opção obrigatona a que ficousujeito o empregado. Quem nãoassinar a declaração de opção doFGTS não tem emprego no Brasil.

Mário Lima

a estabilidade no emprego. Ou se­ja: o Fundo de Garantia por Tem­po de Serviço, que veio para cons­truir casa e está construindo man­são para quem não contribui como Fundo de Garantia; o Fundo deGarantia, que veio para resolverproblemas insolúveis, como a in­certeza da classe trabalhadora, es­tá criando muito mais incerteza.A verdade nua e crua é que o Fun­do de Garantia ajudou muito maisos empresários.

O constituinte Mendes Bote­lho, do PTB de São Paulo, mostraum levantamento do DIEESE so­bre a jornada de trabalho em al­guns países: Brasil, 48 horas; Mé­xico, Argentina, Paraguai, Peru,40 horas; Estados Unidos e Japão,40 horas e 54 minutos; Espanha,39 horas e 12 minutos; França, 39horas; Alemanha Ocidental, 38horas e meia; Noruega, 33 horase 24 minutos.

,­Juarez Antunes

FUNDO DE GARANTIA

Em seu pronunciamento o cons­tituinte LUIZ Inácio Lula da Silva,do PT de São Paulo, recordouque, após 64, o Fundo de Garantiado Tempo de Serviço seria soluçãopara vários problemas da classetrabalhadora: não teria problemacom a velhice.

A verdade, que a história dospoderosos não contou, é que oFundo de Garantia foi criado exa­tamente no momento em que asindústrias automobilísticas atin­giam 10 anos, aqui, no Brasil, eos seus trabalhadores, portanto,iriam alcançar, pela primeira vez,

mas não explica a compra de apar­tamentos para marajás doINAMPS, enquanto os aposenta­dos vivem na miséria. Mentira noatraso do pagamento de 79 a 84,mentira para os trabalhadores aténo salário mínimo. Mentira desla­vada de ponta a ponta. "Ele criticaa posição do ministro do Exércitosobre a questão, observando queos trabalhadores não opinam so­bre assuntos militares. Tudo issose acumula contra os trabalhado­res, mas os trabalhadores chegama acreditar, e vieram a Brasília tra­zer propostas.

AfifDomingos

Debatida a jornada de 40 horas

Ií"

Defender a jornada de trabalho de 40 horas é, também,não confundir produção com produtividade, segundo o consti­tuinte Mário Lima (PMDB-BA). Luiz Inácio Lula da Silva (PT­SP) assegura que o FGTS, "que veio para resolver problemasinsolúveis", ajudou muito mais os empresários do que a classetrabalhadora. Afif Domingos (PL-SP) diz o que pensa sobrea estabilidade e o seguro-desemprego. E Antôniocarlos MendesThame (PFL-SP) pede solução para os acidentes de trabalho.Esses temas foram postos em discussão em plenário, durantesessão noturna realizada especialmente para apreciar a questãodos direitos trabalhistas e da liberdade sindical. A par disso,falou-se também em salário mínimo, participação nos ganhosde produtividade das empresas, além de co-gestão dos trabalha­dores em empresas públicas, mistas e concessionárias de serviçospúblicos.

Ao discutir no plenário daConstituinte os direitos trabalhis­tas e liberdade sindical o consti­tuinte baiano Mário Lima, doPMDB, defendeu a jornada detrabalho de 40 horas, porque seconsidera das pessoas que nãoconfundem produção com produ­tividade.

São conceitos diversos - diz oorador. - Produção é a aferiçãoabsoluta do quantitativo produzi­do, enquanto que a produtividadeencerra a produção havida em de­terminado espaço de tempo, porisso mesmo um conceito relativo.Para que o trabalhador consi~amaior. produtivrdade , necessãriose torna que ele seja portador desaúde física e mental. E uma dasformas de consegui-la é a dosagemcorreta entre a carga horária detrabalho com o descanso e o lazer.

MárIO Lima recorda que aConstituinte de 1934 tivera a ne­cessária sensibilidade de diminuira carga horária.

E em 1934 o Brasil fabricavaapenas alimentos e pequenas utili­dades. Hoje, fabnca avião, auto­móvel, submarino, computador, eessa economia, dizem eles, nãocomporta uma jornada de 40 ho­ras. Nós não aceitamos, porqueo que eles querem é continuar aexplorar o trabalhador.

TUDO CONTRA

O constituinte Osvaldo Bender,do PDS do Rio Grande do Sul,faz ver que o verdadeiro empre­sário não pode fazer retiradasconstantes da empresa, quer de lu­cro quer de capital.

O empresário autêntico - dizBender - não pode ser um aven­tureiro, e deve inspirar confiançaaos que o rodeiam, e aos que de­pendem dele. Mas o que gostariade ver, antes e acima de tudo, éum salário melhor, saláno maisjusto, que compense o trabalho,a fim de que o trabalhador tenhao mínimo necessário: moradia,educação para os filhos, automó­vel, lazer, alimentação a contento,e comprar coisas bonitas que ir­mãos nossos fabricam.

O constituinte Juarez Antunes,do PDT do Rio de Janeiro, enten­de que "tudo está contra os traba­lhadores", e nunca numa demo­cracia se arrochou tanto e se garro­teou tanto os trabalhadores, daativa ao aposentado.

Isto enquanto prepondera amentira do Governo, as falcatruasdo ministro da Previdência Social,que vai para a televisão chorar,

EMPRESÁRIO

Jornal da Constituinte 13

Presídiosafastados

Urbanizaçãode favelas

Srs. Constituintes,A nossa sugestão é a urbaniza­

ção das favelas brasileiras, em de­fesa daquelas pobres pessoas quetêm um baixíssimo nível de vida,São nas favelas que todos os pro­blemas sociais ocorrem. Por faltade condições de vida, que as crian­ças desnutridas vão crescendomarginalizadas pela sociedade(00')'

Sandra Angélica de JesusMauá-- SP

Trabalhopara todos

Srs. Constituintes,(... ) Assim como antigamente,

nós devemos pensar nos brasilei­ros aqui dentro do Brasil, não emdivisa do Brasil lá fora., Dandochances para todos trabalharem emorarem nas roças, diminuiria acriminalidade. O Brasil tem quedar prioridade às empresas nacio­nais e ser rigoroso com empresasestrangeiras, principalmente asdos Estados Unidos.

.: José de Souza AquinoIndaiatuba - SP

Incentivoao produtor

Srs. Constituintes,Espero que a nova Constituição

nos dê condições de melhores salá­rios, assistência médica, educa­ção, bolsas de estudo para que opobre tenha condição de concluirum curso superior. Criar maisoportunidades de trabalho, incen­tivar o produtor rural a produzirmais, levar adiante a reformaagrária.

Aquiles de Oliveira LimaItapetinga - BA

Srs. Constituintes,Reforma do Judiciário, com a

criação de presídios afastados dasgrandes cidades, onde o perigo éconstante. Os presidias teriam afinalidade de recuperar os deten­tos e utilizariam guardas armados,sem fazer uso de repressões dentrodos presídios (00')'

Extinção do FGTS e criação deum meio para que o trabalhadortenha uma melhor segurança (... ).Pagamento da nossa dívida, con­forme as nossas possibilidades,mas pagamento mesmo, para quenosso país tenha crédito moral(...).

Valdir Arnaldo LehrRio Claro - SP

Educaçãode base

Educação" .precana

Srs. Constituintes,Sugiro que a educação no Brasil

mude, pois a cada dia se tomamais precária. O ensino vem de­caindo a cada ano que passa e den­tro das universidades podemos en­contrar milhares de estudantes in­capazes e que, futuramente, serãopéssimos profissionais (00')'

Liliana Bernardo de OliveiraCachoeira do Itapemirim - ES

Srs. Constituintes,Que as escolas sejam realmente

um centro educativo e social dacomunidade local. Pré-escolarida­de, desde zero ano. Salas noturnascom cursos'supletivos para os jo­vens que trabalham e para os paisou adultos analfabetos. Que todomês, nas escolas haja um dia parauma atividade extraclasse, englo­bando toda a escola, por período.Oue ~ piso salarial dos professoresseja justo. Que a tradicional for­mação em trabalhos manuais eprendas domésticas volte a ser da­da nas escolas (...).

W'anda GarneiroSão Paulo - SP

Fim dacorreção

Srs. Constituintes,A nova Constituição deve asse­

gurar que as empresas .estatais se­jam bem administradas e gerado­ras de lucros que, no âmbito dosgovernos federal, estadual e muni­cipal, se elimine em definitivo o"câncer" do empreguismo; quehaja reformulação das entidadesdo sistema Embrater no sentido~e dissociá-Ias,da p?líti~a partidá­na; que se de o fim a correçãomonetária, geradora e realimen­tadora do processo de inflação(...).

Srs. Constituintes,A minha sugestâo é ligada à

área de educação; tomar práticaa lei que atribui ao Governo cus­tear o ensino pré-escolar em todoo território nacional, pois o ensinopré-escolar neste pais é prioridadedas escolas particulares e de crian­ças ricas. Peço-lhes que lutem pelaeducação para que este país se tor­ne uma nação educada.

Tânia Maria da SilvaSôo Sebastião do Passe - BA

Ensinopré-escolar

Mário SunaharaOlivença - AL

Interferênciado parlamentoSrs. Constituintes,A interferência do Parlamento

é necessária no Puder Executivo.O Congresso deve se postar comoo poder maior da República, poisé composto de representantes dopovo, que não aceita mais a impo­sição ditatorial. O Governo sófunciona se for ditatorial ou parla­mentar, então que seja parlamen­tar. ..

José Pereira Guimarães JúniorGoiânia - GO

Poderjudiciário

Srs. Constituintes,Maior autonomia do Poder Ju­

diciário. Reformá do sistema decriação e funcionamento dos parti­dos políticos. Medidas que acaute­lem a convergência do Congressopara o poder central (00')'

Newton Angelo de Sales e SilvaRecife -- PE

Missãoimportante

Srs. Constituintes,Lei severa que dê condições às

crianças de terem moradia; educa­ção e saúde. Está em vossas mãoso destino de milhares de crianças,a esperança de um novo Brasil(00')'

Nelza Batista de AraújoTaperoá- BA

A idéia é participar sempre mais.

Esperança naconstituinte

Srs, Constituintes,O salário mínimo não dá nem

para se alimentar, quanto mais pa­ra sobreviver diante desses preçosaltíssimos que andam por aí. Espe­ramos que essa nova Constituintenão nos desaponte.

Neydson LimaAbaetetuba - PA

Esta página é destinada a você, leitor.

Srs. Constituintes,Para que manter preso um indi­

víduo condenado a mais de cemanos de prisão? Por que não a pe­na de morte? Existe recuperaçãopara um marginal condenado amais de cem anos? Surgira que seacabe com os presídios "hotéis"e se crie somente colônias agríco­las, na qual o preso, para sobre­viver, cultive, trabalhe, construaetc., ( ...).

José Luiz Nunes LopesRio de Ianeiro - RI

Escrevendo, você manda sugestões para os Constituintes.

Prisãoinútil

Regimeparlamentarista

Transtornosfuturos

Srs. Constituintes,Desarquivar urgente a reforma

agrária, antes que o nosso país sejavítima de transtornos futuros, comdesastre e grandes tempestades esecas que já começaram em decor­rência da derrubada de milharesde árvores, milhares de alqueiresde mata (00')'

José Rodrigues do CarmoPalmeira D'Oeste - SP

Srs. Constituintes,Sugiro que a nova Constituição

adote o regime parlamentarista,de vez que o presidencialismo,sem responsabilidade, tem resul­tado em fracasso total.

Mário CunhaBagé- RS

Jornal da Constituinte

Srs. Constituintes,Nova Constituição, hora de co­

ragem, trabalho, espírito coletivo,e, acima de tudo, patnotismo, fa­tores que podem fazer do Brasiluma das maiores potências domundo (... ). Em pouco tempo,nos moldes que seguem a nossaestrutura social, a fome atingiráparâmetros calamitosos. Urge, as­Sim, encontrar solução hábil à ins­tituição do controle da natalidade.

Oswaldo Santa Cruz NeryBelo Horizonte - MG

Controle danatalidade

Reforma" .agrana

Maior,autonomia

Srs, Constituintes,Todos sabemos que a renda nas­

ce no município, então por quea maior parte da arrecadação tri­butária fica retida pela União? Opovo vive nos municípios, logouma melhor distribuição das recei­tas urge ser feita, para que os mu­nicípios tenham uma maior auto­nomia, melhorando, assim, ascondições de vida da população(... ).

José Fernando Garcia BesoralSão Paulo - SP

Srs. Constituintes,O ensino superior em nosso país

constitui um sonho inatingívef pa­ra a grande maioria dos brasilei­ros, prmcipalmente para aquelesque dependem do trabalho paraseu sustento e de sua família. Asuniversidades federais abrem seusespaços muito mais para as classesprivilegiadas do que para a popu­lação de baixa rcnda. Sugere-seque a Constituinte discuta esseproblema, procurando soluçõesque viabilizem o acesso de todosos brasileiros às universidades, oque irá levar-nos a atingir obje­tIVOS de enorme alcance social.

Walter GuimarãesBelo Horizonte - MG

Acesso àsuniversidade

Srs. Constituintes,Sou engenheiro agrônomo e

mais um dos milhares de profis­sionais de nível superior que seencontram desempregados, masacho que a reforma agrária irá tra­zer grandes benefícios ao traba­lhador rural brasileiro e confio naproposta de melhoria feita pelonosso Presidente (. ..).

Evaristo Liberato de SouzaPoção de Pedras - MA

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ADIRPIW,lliam

o pacote popularTodo poder emana do povo. Esta sentença

será a grande verdade da nova Cartaque a Assembléia Nacional Constituinte

está escrevendo.O Brasil respondeu ao chamado. Índios,

negros, crianças, mulheres,trabalhadores, empresários,

artistas, enfim, todas as parcelasda vontade nacional estiveram

dentro e diante do PoderConstituinte, sugerindo,

pedindo, reclamando e cobrando,através das emendas populares,

que são, de fato, o "pacote do povo".

ADlRP/Castro JümorADlRP/StucUrl,

ADlRPlWdham

Jornal da Constituinte 15

Constituintes falam de Drummond

***

***

Mas, é preciso banhá-lasnas águas claras e fundasda sensibilidade poética,onde não se banham os númerosnem efêmeras estatísticasnem a quimera da puramaterialidade.

As leis têm que ter alma,como a natureza tem alma,como tem alma o poeta.

É hora de fazer leis,de pensar, criar, sentir e vivera mágica poesia que igualaa tudo e a todos

numa só e solidária existência.

Esse, o caminhoa solução.

Paulo Neves

Estamos, agora, forjando as leisque se desejam novas, modernase, tanto quanto possível,eternas.

"Que lembrança darei ao país que me deutudo que lembro e sei, tudo quanto senti?"

Carlos Drummond de Andrade

Mais que lembrança que é a coisa que passao poeta nos deu o objetoconcretoda sua sensibilidade,uma visão poética anti-herméticadas coisas, dos casos, de tudo.Sem essa visão, o que se vêé a mais pura ilusão de ótica.Ciência sem poesia?Sem poesia, política?De que valem a economiae as leis,principalmente, essencialmenteas leis,sem a visão poética que despe todos os seresda mesquinheze os veste com todas as cores e formase belezas e virtudes?

"Ou: Brejo das Almas,nto do Mundo,42; CmifwõtJ de

ROJa do Povo,1945; Poesia aLi

nigma, 1951;~ 1951; A Me,SQ,UJ Ilha, 1952; Fa­e Poesia all Agora.

da Buquinag~

1957; Fala, Amm·oemas, 1959; u.

2; A Boba t/ ra Completa,~ IÇO ícrôni-

JulrnJ, 1967;JoiLnnpo & aJ68; Discursotmas Sombras,

"Ele pintou e coloriu um quadro in­comparável do povo brasileiro e, porisso, jamais será esquecido."

Farabulini Júnior (PTB - SP)***

"Plantou com sua poesia a utopia quepode ser conquistada pela sociedade, deum país em que todos os seus cidadãospossam viver melhor. "

José Genoíno (PT - SP)***

GaetanoRé (Jornal da Constituinte) ,\\~

-oo-­l.

\ (;S'J

"Pela minha voz e pela minha pre­sença está o povo brasileiro. Venho mesolidarizar com a perda do nosso maiorpoeta. "

Ulysses Guimarães, Presidente daAssembléia Nacional Constituinte.

"Retratou o cotidiano com a mesmaenergia e intensidade com que esquadri­nhava temas sociais e psicológicos."

José Elias Murad (PDT - MG)

***

Também falaram do poeta os consti­tuintes Adylson Motta (PDS - RS),Adrolado Streck (PDT - RS); GersonPeres (PDS - BA) e Paulo Delgado(PT-MG).

***

Oswaldo Macedo (PMDB - PR)

Valmir Campelo (PFL - DF)

***

"O Brasil amanheceu menor."

"Foi tradutor de anseios e esperanças, ao mesmo tempo em que foigrito de alerta."

"Sua poesia foi uma militância contra as injustiças sociais."

Roberto Freire (PCB - PE)

"Um poeta feito com a pedra de Itabi­ra e com a ternura de um Charles Cha­plin. "

Anna Maria Rattes (PMDB - RJ)***

1

"Ele se orgulhava de ser jornalista, oque considerava uma tribuna onde de­fendia as ansiedades do povo, marcadasem sua poesia. "

Miro Teixira (PMDB - RJ)";,,,.' ~,

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IIque (Jornal do Brasil) (!bico (O Globo)

16 Jornal da Constituinte