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Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte
Volume353
i LUIIlleBrasília, de 24 a 30 de agosto de 1987 - N9 13
ADIRP/Roberto Stuckert
Voz e vez para o povo
no voto
Negociar,de olho
ADIRPlWl1ham Prescott
Esta semana o relator Bernardo Cabral (PMDB- AM) submete ao Plenário o segundo projeto deConstituição, fruto de uma soma maior de etapas cumpridas. Além das idéias colhidas em subcomissões ecomissões temáticas e das emendas de constituintes,temos as propostas de origem popular e os trabalhosproduzidos pelos vários grupos suprapartidários quetrabalharam buscando o consenso ou, no mínimo, algum entendimento, sobre os temas mais polêmicos.Houve avanços significativos em torno de questõesdifíceis como a reforma agrária, a anistia para militarescassados e o conceito de empresa nacional, por exemplo. Nada do que se negociou, entretanto, é difinitivo.Temas que não pareciam controversos, como o sistema eleitoral, ganharam destaque. As contradições estão sendo amenizadas e o entendimento pode crescerainda mais nos próximos dias. O que não for objetode acordo, contudo, será inapelavelmente decididopelo voto a partir de 20 de setembro. O sistema degoverno e o tamanho do mandato presidencial são,aparentemente, temas inegociáveis.
A divulgação do conteúdo das emendas populares- que reuniram quase 15 milhões de assinaturas - é tarefaa que se dedica o Jornal da Constituinte, por entenderque esta foi uma das maiores contribuições para que tenhamosuma Carta construída com a participação da sociedade.As duas fotos mostram momentos importantes do povo chegandoà sua Casa: numa, as empregadas domésticas, essencialmentemarginalizadas até aqui, mas que não perdem a alegria ena outra, as crianças, o futuro do país, (páginas 5, 6 e 7).
rSAO'JosÉ,
o poetamorre semler a Carta
Carlos Drummond deAndrade é agora
"Gauche naEternidade" .
Estalou o coraçãodo maior poeta
brasileiro. Ou doséculo. Hoje,quando o Paístenta de novo
se encontrar coma decência, que o
exemplo de carátere de dignidade
sirva de espelho.(página 16).
Educação ejornada agitam
o plenário
o que fazercom algo
tão mínimo?
o debate organizado portemas prosseguiu no plenário, permitindo que opiniões de todos os matizesdessem a medida exata davisão que cada um tem a respeito dos problemas nacionais. Houve ênfase à necessidade de que o orçamentogaranta 18% para a educação. No plano das questõessociais, a discussão girou sobre as quarenta horas semanais. Outros assuntos em relevo: processo eleitoral, sistema de governo, papel datecnologia e a questão damedicina acessível (páginas10, 11, 12 e 13).
o salário teria um nomeapropriado: mínimo. Issoporque menor não poderiaser para atender ao que aConstituição, em seu artigo165, parágrafo 10, chama denecessidades básicas: moradia, vestuário, alimentação,transporte e saúde para todauma família. Atualmente,pretende-se que essa tarefaseja executada com poucomais de 2 mil cruzados, aíincluído o último abono deCz$ 250,00. A questão dosalário mínimo como fatorde dignidade da pessoa humana é abordada com detalhes nesta edição (páginas 8e 9).
o direito à propriedade ea função social da terra
Constituinte Paes de AndradePrimeiro Secretário da Câmara
No que se refere à reformaagrária, creio que, primeiro,temos que partír do conceitoe do direito à propriedade,vinculando-o à obrigação social. Aliás, é preciso acabarcom o conceito do direito àpropriedade de forma absoluta. Afinal, não vivemos isolados. Vivemos em sociedade. Daí por que o direito àpropriedade deve estar subjugado à uma obrigação social.
O conceito da obrigaçãosocial já se encontra inseridoem diversas constituições,como, por exemplo, a daAlemanha Ocidental, no seuartigo 14°, onde está dispostoque "a.proprieda~eobriga",o que imphca evrtar que seutilize a propriedade contrao interesse social.
E é assim que, ao disciplinar o uso da propriedade, aAlemanha possui uma dasmais perfeitas estruturas familiares do mundo e nem porisso os bons proprietáriossentem qualquer insegurançanessa limitação hoje aceitaem países capitalistas.
Daí por que não se vê fundamento na alegada contradição entre o conceito deobrigação social e a paz nocampo. Pelo contrário, nomundo moderno, mesmo nospaíses capitalistas, não se admite mais, constitucionalmente, o direito de propriedade de forma absoluta.
Não se pode colocar o direito de propriedade, no capítulo dos direitos e garantiasindividuais, no mesmo patamar do direito à vida. O conceito da propriedade absoluta está ultrapassado, não encontrando razões lógicas everdadeiras para ampará-lo.
É preciso entender que emqualquer sociedade deve haver uma instância de organização que ultrapasse o indivíduo e represente a coletividade. A essa instância chamamos de Estado. Estadodemocrático.
Aí, lembramos que "Emcertos países (Honduras,Equador, Costa Rica, Bolívia), as disposições legais emmatéria agrária estabelecema reversão de terras ao domínio do Estado, ou a extinçãodo domínio privado sobre asterras ociosas, com o obje-
tivo de redistribuí-las parafins de cultivo" (Pedro MoralLopez, Fao).
"A reversão de terras temseu principal fundamento jurídico na noção do domíniooriginário do Estado sobretodas as terras compreendidas no território nacional;noção que, segundo certadoutrina jurídica, constituitambém o fundamento da desapropriação de bens. Diz-setambém que o Estado possuium direito do "domínio iminente" sobre as terras, aopasso que o "domínio direto"pode pertencer aos particulares, possuindo o "domínioútil" aquele que efetivamente explora as terras." (Idem.)
Considerando que vivemos no Brasil situações de injustiça, com elevada concentração de renda: "uns têmmuito, muitos têm pouco"concluímos que é imprescindível produzir mudanças, eurgentes. Quanto à terra, suaconcentração é indubitável.Sabemos, por exemplo, que,dos imóveis cadastrados noIncra, apenas 6.880 possuemmais de 100 módulos fiscais,isto é, somam apenas 0,16%dos imóveis do País e concentram 136,6 milhões de hectares de terras, ou seja, o correspondente à área da regiãoSul (SC,PR,RS) e São Paulo,juntos.
Não bastasse este dado,veremos que 87,48% da produção de mandioca, 78,63%do feijão, 68,16% do milhoe 37,10% do arroz são produzidos em propriedades commenos de 100 hectares. Se tomarmos as propriedades commenos de 1.000 hectares, veremos que nelas se produzem98,60% da mandioca,97,32% do feijão, 93,89% domilho e 75,42% do arroz.
Ora, quando também sabemos que no Brasil os 162maiores proprietários, algunsirregulares, açambarcam36.754.689,20 ha de terra,enquanto 3.828.205 pequenos e miniproprietários (até3 módulos) somam área de116.778.000 ha, já não restamais dúvida de que é precisoimplementar a reforma agrária, estabelecendo um limitemáximo ao direito de propriedade.
Constituinte Vicente Bogo(PMDB-RS)
A votaçãose aproxima
A Assembléia Nacional Constituinte entra, está semana, em suafase mais importante, isto é, começa a exammar o substitutivo deConstituição do relator da Comissão de Sistematização, BernardoCabral.
Até o próximo domingo, osconstituintes vão apresentaremendas ao substitutivo. Em seguida, Bernardo Cabral vai estudar as emendas e, no dia 7 de setembro, "Dia da Independência",entregará a proposta definida daCarta Magna.
Assim, a partir do dia 20 de setembro, a Assembléia NacionalConstituinte inicia a votação danova Constituição, que deverá serpromulgada em 15 de novembro.
Esse o clima de intensa expectativa que estamos vivendo e e refletido em toda a sua extensão pelo Jornal da Constituinte. Nestenúmero, estamos apresentando asprincipais emendas populares foram oferecidas 122 pela sociedade. Dedicamos, também, váriaspáginas aos debates de alto nívelverificados no plenário da Assembléia, onde os constituintes discutiram temas os mais variados e importantes, que deverão mudarsubstancialmente a vida dos brasileiros a partir do ano que vem.Temos, como destaque, entrevistaexclusiva do Senador José Richa,sobre o trabalho gue um grupo deconstituintes realizou para oferecer um projeto de Constituição.
O Jornal da Constituinte homenageia, no presente número, omaior dos poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade, cujodesaparecimento, esta semana, foiprofundamente lamentado pelosconstituintes. Nas páginas centrais, publicamos ampla reportagem sobre o salário mínimo noBrasil, pondo a nu a gritante contradição entre o que determina aatual Constituição e o que estabelece a Consolidação das Leis doTrabalho ao regulamentar a matéria. A nova Constituição deverá,sem dúvida, alterar essa situação,dotando o país de um salário mínimo condizente com nossa posiçãode oitava economia do mundoOcidental.
Constituinte Marcelo CordeiroPrimeiro-Secretário daANC
Parlamentarismo: o rumoda conciliação dos poderes
A expectativa em torno da Consti- destacadoa oportunidadede reformastuinte éa mesmados períodosem que de profundidade a partir da adoçãoa História dividiu passado, presente do sistema parlamentarista de gover-e futuro. no.
Assim foi em 1824, quando Pedro Nossa posição parlamentarista nãoI outorgou a Constituição redigidape- advémde ummero raciocínio de atuala Assembléia Nacional Constituinte lidade- este também válido-, masde 1823. Era a fase da transição do de uma análisehistóricague nos comperíodo colonialpara o da monarquia pele a procurar um caminho em queparlamentarista,no qual a Nação bra- a conciliação dos Poderes não se façasileirase retratava por inteiro na espe- à custa da predominância de qualquerrança de fixar-se no conceitomundial deles.comoum Estado soberano. O regime parlamentarista que de-
Mal terminado o trabalho dos cons- fendemos é tão democrático que ostituintes de 1823, entre os quais se in- movimentos populares, os índices decluíam figuras da maior expressão da opiniãopública,a críticaconstantedosinteligência brasileira,comoosirmãos meios de comunicação de massa, poAndrada, e dissolvida a Assembléia, dem tornar-se instrumentosoperacioo importante - o texto constitucional nais de transformações sociais, poli- estava completo, ricas e administrativas com uma sim-
A transiçãoImpostapelo movímen- ples reforma de gabinete.to republicano que pôs fim à monar- De fato, os niinistros impopularesquiae fixou os alicerces da República, não se mantêm no sistema parlamencontou, igualmente) com expressões tarista, ao contrário do que ocorre noda culturae da inteligência de um Rui presidencialismo, poisnestea insistênBarbosa, e o texto de 1891 refletiu, ciado chefedo Governopode manter,exatamente, o espírito liberal da épo- por todo o tempo do seu mandato,ca, que tinha comomodeloo presiden- os auxiliares hostilizados pela opiniãocialismo norte-americano. É verdade públicae pela imprensa.que o próprioRuiBarbosa,emrnemo- Se partirmosde umaconclusão l6girável autocrítica,no Senadoda Repú- ca, segundo a qual a impopularidadeblica, penitenciou-se do erro, reco- de um mnustro e a contmuidade denhecendoque não era o sistemapresí- críticas ao seu comportamento admídencialista o ideal para o nossoPaís. nistrativopodem provocara queda do
De qualquer forma, os constituintes gabinete, essaefetivapartici1?ação pode 1891 se debruçaramsobre as novas pulare a influência democráticada nnidéiasque dominavam as expectativas prensa constituem uma co-participado novo milênio e souberam cumprir çãoda comunidade nos negócios e nasas tarefas que o momento histórico decisões de Estado.lhes destinara Algunsnos perguntam por que nos
As Cartas de 34 e 46 refletiram, no posicionamos no governo parlamenaspectosocial,as influências da comu- tarista por um mandato de 5 anos.nidade Já organizada em sindicatos e Pelasprópriascaracterísticas do sisassociações, verificando-se nas duas temaparlamentardo governo,no qualoportunidades a presença pluralista as atribuições são repartidas, as resdas variadas correntes de opinião e ponsabílidades e tarefasdivididas, podoutrinas filosóficas, de o chefe do Executivo contar com
A Constituição que estamos redi- umperíodomaior, semque issorepregindo vem de uma falha de origem, sente qualquer risco ou anormalidadeque foi a combinação das duas tarefas no processopolítico.- a legislativa ordinária e a excep- As democracias parlamentaristascional, que é a tarefa constituinte. concedem aos presidentes da Repu-
É evidente que a opmião pública blicaperíodosmaislongos e issoexatadesejava outra forma de processo menteporque, não existindo a concenconstituinte, separando as duas ativi- tração quase absolutados poderes, osdades. períodos mais longos não podem ser
Estamos, pois, procurando suprir considerados excessivos para o esforçoessa falha do processo, emendando o pessoal que o chefe da nação é obríprojeto de Constituição com propos- gado a desenvolver,t~s que chegamdasbasessociais ~ P91í- E, ainda, comuma vantagem de vatlcas; ~os smdicatos, das a~s?claçoes lorízação da comunidade, pois os parpro.fissIonals, ~os gruposrelIgIOSOS, da tícipes da administração, osparlamenSOCiedade, enfim, no seu conjunto. tares, são procuradores do eleitorado
As e~endas popularesenfrentaram de cada uma das unidadesfederativasu~a dificuldade altam~n.te onerosa, significando para aspopulaçõesdosdi:pOIS a coleta de, no munmo, 30.000 versos Estados e territ6rios uma preassinaturas, com.todas as eXIg~nci~s sençano poder.de da~os p~ssoals e de aut~ntIcaça~ O Nordeste, por exemplo, injustiP?r tres entidades rec~nhecIdas, e~- çado no exercício do poder central,giu.uma estrutura básica de orgam- com exceções que, por tão raras, sãozaçoes re~lOsas ou profissionais para citadasnominalmente, terá como parque essa I é18 pudesse resultar em al- lamentarismo duas vantagens concregumasI?~op0..stas, maso re~u1ta~? des- tas: a possibilidade maior de particísa mobilização p?P!1I~r foi POSItiva. _ pação nos altos escalões da República
Se uma Constlt?19ao, na expressao e a continuidade dessa participaçãode José do Patrocínio, deve nascer d~ atravésdos seus ministros compromepovo_como a fumaça nasce da fOgU:I- tidos com as questões da terra e dora, nao há tempo a perder na captação homemdos ideais da comunidade, expressos .tanto nas emendaspopulares que chegaram a esta Casa, respaldadas pormilhões e milhões de assinaturas,quanto na crônica política, que tem
Jornal da CODlltitulnte - Veículo semanaleditado sob a responsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalCons-tituinte. ,MESA DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE:
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Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 070160 - Brasília- DF - Fone: 224-1569- Distribuição gratuita
2 Jornal da Constituinte
Ajuste finalé função das
liderançaso surgimento de grupos de trabalho, por iniciativa de lide
ranças informais de vários partidos para aplainar as questõesmais polêmicas não isenta de responsabilidade os líderes formaise os dirigentes partidários na busca do entendimento em tornodo texto constitucional. Esta é a posição do senador José Richa(PMDB - PR), um dos coordenadores do chamado "grupodos 32" (que chegou a ter 80 parlamentares), para quem a cartadeve ser despida de qualquer conteúdo partídãrio ou ideológico.
"Precisamos pensar uma Constituição não para as próximaseleições mas para as próximas gerações", diz o senador paranaense, confiante de que mais de 80 por cento de matériastidas como polêmicas já podem ser consideradas tranqüilas parachegar ao plenário, sem a possibilidade de serem objeto deimpasse.
Otimista em relação à futura Constituição, Richa não negaque em determinado momento assustou-se com o clima emocional que cercou os debates e com a pressão dos problemas conjunturais. "Não era possível reunir mais de seis pessoas para conversar", afirma o senador para justificar o surgimento dos gruposde trabalho.
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal da Constituinte, o senador do PMDB aponta apenas dois pontos difíceis de entendimento prévio: sistema de governo e duração do mandato presidencial. Richa fala ainda dos ajustes que os partidos políticosterão de fazer após a constituinte.
ADIRP/Castro Júmor
Richa: Cheguei aqui nessa animação, como criançaque vê um brinquedo novo Depois me preocupei.
JC - Senador, para começar,uma avaliação de todo o processoconstituinte, sua sistemática, osresultados até aqui, as críticas ...
José Richa - A sistemática dotrabalho adotada pelo RegimentoInterno gerou uma série de questionamentos por parte da sociedade. A essa altura dos trabalhos,sete meses depois, tenho percebido que até os órgãos de comunicação fazem ecoar as preocupações da sociedade no sentido deque todo esse tempo ainda não nosdeu uma linha da constituintepronta.
Ocorre que a srstemática adotada foi a mais democrática e gerouum resultado muito mais consistente, denso, absorvente, já quetínhamos que partir da estaca zeropara elaborar o texto básico. E éo que temos exatamente agora ejá há fora da Constituinte a sensação de que realmente estamoscom alguma coisa cujo perfil estádesenhado. Que temos algumacoisa concreta, palpável.
Reconheço que para quem estáfora da Constituinte é ate um pouco difícil acompanhar o que estáacontecendo aqut dentro, mas éimportante .que se observe que e~sa sístematíca tornou muito maisdemocrático o trabalho e vai causar um grande benefício que é aConstituição ser elaborada semqualquer tipo de vício, não vir coma marca de nenhum partido ougrupo ideológico. Por essa razão,há a pré-condição para que o trabalho seja de muito melhor qualidade. Esta é a minha avaliação.
JC - Em que nível o senadormede hoje a legitimidade da futura Constituição?
José Richa - A nova Carta sóterá legitimidade se surgir do consenso.
JC - O senador acredita nessapossibilidade de consenso? Qualo caminho para o entendimento?
José Richa - Acredito. Acho
que a Constituição tem que ser umpacto social da atual geraçãopensando nas futuras gerações. E evidente que se ela tiver que representar esse pacto social- chamado de grande pacto social para oséculo XXI - tem, que ser frutode entendimento. E só com o entendimento que poderemos tirardela toda a conotação partidáriae ideológica e conferir-lhe durabi-·lidade desejada. Sem regras fixasque dêem ao país essa estabilidadee, conseqüentemente durabilidade, fica muito mais difícil termosna Constituição o instrumento depromoção do desenvolvimentoeconômico, da justiça social e tantas outras coisas que a nova Cartatem que ser, o caminho para sealcançar.
Costumo comparar Constituição com lei ordinária. Esta é, poressência, uma lei que expressa aferição numérica da maioria políticaeventual que a sociedade elegeu,destinada a interpretar a conjuntura naquele determinado momento. Como a atividade políticae a sociedade são dinâmicas, asleis têm que acompanhar o dmamísmo dessas mutações conjunturais. E natural, portanto, que umalei ordinária produzida agora possa ser mudada na próxima legislatura. A lei ordinária é para sermudada mesmo. A Constituição,não. Tem que ser fruto do entendimento porque tem que durar paraa próxima geração. Não pode serelaborada hoje pensando na próxima eleição.
JC - O senador participou dogrupo que elaborou inicialmenteo "Projeto Icaro" e depois o "Projeto Hércules". Na sua opinião,quais as principais contribuiçõesdesses trabalhos e quais as perspectivas de aproveitamento pelorelator Bernardo Cabral?
José Richa - A maior contribuição do grupo foi desmistificara impossibilidade de entendimento, porque a própria sociedadenão acreditava que os pontos mais
"Daqui 10 anospoderemos ter
partidospolíticos umpouco mais
homogêneos,com programas
claros, comperfil
ideológico.Mas nunca
serão defaixa
estreita,porquecaberá
pouca gente.Os partidos
estreitospoderão
existir, masserá umapráticapolítica
romântica"
polêmicos pudessem ser dirimi(los, incorporados à Constituiçãocomo fruto de entendimento. Essegrupo, que usou uma metodologiadiferente da adotada pela Constituinte, provou que é possível haver entendimento sobre qualquertipo de ponto polêmico.
Partimos de um texto básicoque foi o adotado pela Comissãode Sistematização, e começamospor analisar o que era e o que nãoera matéria constitucional. Fizemos um enxugamento. Com isso,desapareceram muitos pontos polêmicos. Os que sobraram, começamos por um exame pelo graucrescente de complexidade.
JC - Só para ilustrar: o queseria, nesse primeiro momento,um ponto polêmico de menorcomplexidade?
José Richa - Jornada de trabalho, por exemplo, que, no início,era um ponto extremamente polêmico. Havia uma série de propostas conflitantes. Na discussão, verificamos que estabilidade com 90dias prejudicava mais do que beneficiava o trabalhador. Quanto àjornada de trabalho, depois queouvimos especialistas no assunto,percebemos que essa não era umaquestão constitucional. Podíamosdefinir princípios a respeito da estabilidade, da jornada de trabalho, mas teríamos que remetê-Iapara a lei ordinária e assim mesmonão. de forma tão inflexível, porque definimos na Constituição quea lei ordinária dirá qual a jornadamínima e a máxima, deixandodentro da lei uma margem de negociação direta entre patrões eempregados de tal forma que pudéssemos ter uma discussão em cada momento conjuntural. Porexemplo: se estivermos numa conjuntura recessiva é desejável quehaja redução da jornada para quepossa haver mais vagas e se evitaruma crise social.
JC - Na medida em que ospontos foram crescendo em com-
plexidade, chegou a haver algummomento de impasse?
José Richa - A reforma agráriaé um ponto que quase ninguémacreditava que se pudesse chegarao entendimento. Diria que nessecaso conseguimos um grau de consenso em torno de 90% da questão. Diria que outros grupos detrabalho também contribuírammuito para isso.
Queria destacar o trabalho do"Grupo de Consenso", que resolveu começar pelos pontos mais polêmicos, 19 identificados preliminarmente pelo grupo.
Lamentavelmente, o Regimento nos obrigou a fazer uma paradanesse momento, porque senãonão teríamos condições de oferecer ao relator nenhum tipo de contribuição. Por isso, produzimosum texto que ainda não é o ideal,que não nos satisfaz, mas que járepresenta 80% de entendimentono total da Constituição.
Acho que com relação à reforma agrána vai ser possível haverentendimento total, a ponto de osgrupos ideológicos e partidáriosda Constituinte poderem aceitar otexto.
Empresa nacional é outro pontoque me parece chegarmos facilmente ao entendimento, porque partimos de definir, na Constituição, através de princípios. Ao invés de começarmos com empresanacional, iniciamos com empresabrasileira de capital estrangeiro eempresa brasileira de capital nacional.
JC - Que pontos o senadoracredita que irao obrigatoriamente para a votação em plenário?
José Richa - Pela minha avaliação' sistema de governo e duraçãode mandato são duas questões emque dificilmente haverá entendimento. Terão elas de ir a plenáriopara votação. Conscientes dessasdificuldades, deixamos essas duasquestões para o final. Depois denos entendermos sobre todos os
Jornal da Constituinte 3
demais pontos, tentaremos costurar um acordo em cima disso.
Acho que, para haver uma costura final de entendimento, daquipara frente as lideranças é que têmque comandar o processo. Atéagora, ocupadas, não puderamnem teriam condições de fazer otipo de trabalho braçal que fizemos. Mas, daqui por diante, paraque possa haver conseqüência noentendimeto, é imprescindívelque as lideranças e os presidentesdos partidos assumam o comando.Queremos ser, daqui para frente- e este também é o desejo do"Grupo de Consenso" - apenasum suporte, os colaboradores daslideranças, para que elas costuremo entendimento final.
JC - Mas, diante do surgimento de alguns blocos como o MUP(Movimento de Unidade Progressista), o Centro Democrático, serápossível às lideranças a retomadadesse processo?
José Richa - Com o MUP jáestamos sintonizados. É imprescindível que isso aconteça. Vocêpode ocupar o espaço de trabalho,de conversa, mas nunca podesubstituir os espaços políticos. Para isso é que há hierarquia.
JC - Esses grupos vão se tornar novos partidos após a constituinte?
José Richa - Não. No nossocaso, não. Não formamos um bloco. O Centro Democrático é umbloco, é coisa diferente. O que somos é um grupo de trabalho. Ebem diferente. quando você constitui um bloco - não sei qual aintenção do Centro Democrático- é porque você está meio deslocado. Daí constitui um bloco que,na imaginação deles, possa seruma coisa mais hemogênea dentrode um mesmo partido.
JC - Na visão dos partidos, acomeçar pelo próprio PMDB, como fOI a aceitação desse trabalho?
José Ricba - Pelo que estoupercebendo, a receptividade foiextraordinária. Quando começamos o trabaho, durante mais detrês semanas, ninguém soube, nãovazou nem para a imprensa.Quando vazou, assumimos a coisae combinamos, com toda lealdade, que divulgaríamos tudo o queacontecesse. Não queríamos é quehouvesse presença física da Imprensa durante os trabalhos, porque, no nosso entendimento, oque dificulta muito o entendimento em plenário é a presença constante da imprensa. E natural. Gostaria de deixar isso registrado.Muitas vezes, um líder emite umaopinião, isto fica registrado, é divulgado nos jornais e, depois, ficadifícil ele recuar Rara possibilitar° entendimento. Na medida emque você discute, não diria secretamente, mas onde todos ficamdescontraídos, todos expõem suasidéias, de repente você recua umpouco para avançar na direção doentendimento. E assim que se fazo entedimento: com concessoes.Agora, na medida em que vocêdivulga uma determinada posiçãoe a vai sustentando, a imprensatodos os dias registrando, fica difícil de recuar. E isso que impededepois o entendimento.
JC - O senador admite, então,que o plenário cna um clima emocionai?
José Richa - É natural isso. Felizmente acho que vamos chegarao plenário com 80 ou 90% dasquestões aplainadas. O plenáriodeve ser o lugar do entendimentofinal, da costura final, que tem que
"Vaiprevalecer ocapitalismo,
mas acho quea Constituição
poderáconsagrar
avanços quesejam freiospara que ocapitalismo
não sejaopressor.' ,
ser suportado pela conversa permanente das lideranças, para sepossibilitar chegar a um documento de boa qualidade.
JC - Vamos retomar a questãodos pontos polêmicos que terãodefinição apenas no plenário?
José Richa - Todos os pontospolêmicos vão ser amplamente debatidos. No caso daqueles que jáforam costurados previamente,que são alvo do diálogo, vão terum debate muito mais construtivoe sereno no plenário. Se não tivéssemos esse trabalho preliminarcorreríamos o risco de acontecerno plenário o que aconteceu nassubcomissões e nas comissões temáticas, onde, de certo modo, odebate foi emocional, porque aspessoas nem tiveram tempo deconversar um pouco mais.
Depois da fase das temáticashouve mais tempo, houve a constituição desses grupos de trabalho,então já se aplainou muito o terreno. Há muita coisa, por exemplogue eu tinha uma idéia, mas o debate me esclareceu que não erabem assim, porque nesta Casa você pode perceber que há especialistas de um modo geral em todasas matérias. Não há matéria quenão tenha, pelo menos, meia dúziade pessoas que a entendam profundamente. Nenhum de nós, políticos, pode ser uma verdadeiraenciclopédia. Cada um de nós entende, genericamente de tudo e,profundamente, de alguma coisa.Agora você soma isso e dá um entendimento perfeito. O que nãoestava acontecendo era que nãohavia tempo e nem condições paraesse tipo de conversa, que nao éno plenário que se faz.
JC - Há casos em que determinadas questões começam a ser polemizadas, como é o caso agorado voto distrital. No início haviaposições firmadas. mas agora começa a polêmica. Como o senadorvê essa ebulição?
José Richa - Isso é natural. Éda essência da prática política. Hádeterminados pontos que são polêmicos numa determinada fase edaqui a pouco já não são tão polêmICOS, surgem outros pontos queninguém estava imaginando quepudessem suscitar debates maisacalorados e dificuldades maiores
para o entendimento.O problema do voto distrital vai
depender muito, basicamente, dosistema de governo que se adotar.Como a tendência verificada atéagora é pelo parlamentarismo,evidentemente que não existe parlamentarismo sem voto distrital.Se o sistema for presidencialistapode ter o voto proporcional ouentão o sistema misto. Como nãohá, pela minha avaliação, aindanada muito firme a respeito do sistema de governo, então até agoraas subcomissões e comissões temáticas optaram pelo sistema misto,meio proporcional, meio distrital.
JC - Na sua opinião, afinal,que tipo de Constituição teremosmais capitalista, mais socialista,mais social-democracia? Que tipoe rumo nós teremos com essaconstituinte?
José Richa - Acho que vai seruma Constituição socialmentebem avançada. Não tenho dúvidasquanto a ISSO. Como é desejávelnum país como o Brasil vai serimpossível mudar o sistema econômico. Então vai prevalecer o capitalismo. Dentro disso eu achoque a Constituição pode consagraravanços Importantes, que sejamum freio para o capitalismo, paraque ele não seja um sistema 0l?ressor, selvagem. Acho que vai seruma coisa bem avançada. A essaaltura já temos condições até deincorporar experiências de outrospaíses, como a Espanha, porexemplo, e tantos outros. Achoque vamos ter uma Constituiçãoprogressista, relativamente avançada e com preocupações fortespelo aspecto social.
JC - Há uma questão que vemà tona constantemente que é a dese realizar um referendo em cimado texto final, antes da promulgação da Carta. Qual a sua posição?
José Richa - Acho que o referendo não tem eficácia. A sistemática de trabalho adotada pela Constitumte prescinde até da necessidade de referendo, porque se optou por um sistema aberto. A sociedade pode, através de todos osseus segmentos, participar muitointensamente da discussão, através dos debates nas subcomissões,através de sugestões, dos lobbies
"O referendonão tem
eficácia. Seo povo disser"sim", tudobem, mas se
disser "não",teremos de
convocar umanova
Constituinte.Cria-se um
vazio."
"Na medida emque você
discute - nãodiria
secretamente mas onde
todos ficamdescontraídos,
fica maisfácil pararecuar e
depois avançarno entendimento."
legítimos e através das emendaspopulares. Isso faz com que tecnicamente se prescinda do plebiscitoe politicamente é uma questão gueainda está suspensa. Só no finaldos trabalhos é que nós vamos decidir se vai haver ou não plebiscito.
Não acho que haja eficácia alguma em fazer plebiscito para dizersim ou não. Se é sim, tudo bem.E se disser não, aí tem que convocar uma nova Assembléia Nacional Constituinte e cria-se um vazio. E um risco muito grande.
Outra coisa, o povo não vai tercondições de julgar isso, tanto éque os pontos polêmicos têm sidoobjeto de muitos debates, nãosó aqui dentro como lá fora. Nestefinal de semana, lá no Paraná, fizquatro debates com federações deempregados, de patrões, com jornalistas e tudo isso com ampla divulgação.
JC - O senador acha que, apósa promulgação da Constituição, osprogramas dos yartidos, inclusivedo PMDB, terao de sofrer algunsajustes?
José Richa - É evidente. AConstituinte é um marco na História política do Brasil, pelo menosna sua História recente. E naturalque essa estrutura partidária, quevem dos tempos do arbítrio, temde sofrer ajustes. Será a primeiraconseqüência prática a partir daentrada em vigor da nova Carta.Trata-se de um processo lento.Não imagmo que da noite para odia, se vai ter uma estrutura partidária mais adequada à nova realidade. Não. Não se consegue or~anizar partidos e disputar eleiçoesao mesmo tempo, muito rapidamente. DaqUI a dez anos, mais oumenos, a gente poderá ter partidospolíticos um pouco mais liomogêneos, com programas mais claros,com perfil Ideológico, com ajustamentos mais amplos.
Nunca teremos partidos ideologicamente de faixa muito estreita,porque num país dessa extensãoé impossível trabalhar numa faixa;muito estreita, porque caberámuito pouca gente. Podem existirpartidos nessas condições, comoem muitos países existem, mas será uma prática política romântica,não conseqüente, já que o obje-
tivo principal de qualquer agrupamento é chegar ao poder e, umavez chegando lá, manter-se no poder. Um país com tamanha diversidade, como o Brasil, para ter umpartido realmente nacional, temde ter uma faixa Ideológica um'pouco mais larga. Tem de haverajustes, porque a maioria dos partidos teve uma característica maisde frente durante os 21 anos dearbítrio. Depois veio a transiçãoe não houve tempo para ajustarcoisa nenhuma. Então, é naturalque a Constituinte, sendo um marco, provoque, a partir dela, algumajuste.
JC - O senador acredita quea Constituição possa ser promulgada em torno do dia 15 de novembro?
José Richa - A rigor, poderánão ser dia 15 de novembro, poderá atrasar um pouquinho, masmais ou menos em torno disso épossível, até porque nessa fasemais difícil, mais tumultuada, conseguimos manter o calendário.Não vejo por que daqui para afrente não seja mantido.
JC - Numa visão pessoal, o senador está otimista?
José Richa - Estou bastanteotimista. Sempre fui um otimitacom relação à Constituinte. Vimcondicionado psicologicamente aencarar a Constituinte como aoportunidade inédita que tem aminha geração de participar daconstrução do futuro.
JC - Em nenhum momento osenador se sentiu assustado?
José Richa - Sim, senti. Cheguei nessa animação, como criança que vê um brinquedo novo.Mas houve momentos em que cheguei a me preocupar. Inclusive minha preocupação se exteriorizoucom uma conversa confidencialcom algumas lideranças, que acabou vazando para a imprensa eaté gerou má interpretação de quese estava preconizando a paradada Constituinte. Em nenhum momento propus a parada física, regimental sequer. Queria apenasuma parada política para reflexão.Porque estava impossível reunirseis pessoas para começar a conversar. Dentro de um ambientedaqueles e a conjuntura a cadadia se agravando mais, deteriorando-se, com mobilização popular,quebra-quebra, achei que a conJuntura estava gerando uma demanda excessiva e que isso ia colocar em risco a Constituinte. Realmente me preocupei. Já imaginava, tinha a intuição de que issopodia acontecer, tanto que sempredefendi a idéia da Constituinte exclusiva. Entendia que enquantoum grupo de políticos - deputados e senadores - ficaria CUIdando, como é de praxe, dos problemas político-conjunturais, um outro grupo, que não teria nada aver com o problema da conjuntura, teria tranquilidade e ambiente para trabalhar, só pensando naConstituição.
Infelizmente, a Constituinte foicongressual, o que fez com quetodo mundo prioritariamente fosse cuidar da Constituição, porquetínhamos prazo marcado. Com isso, a conjuntura ficou órfã da açãopolítica.
Minha proposta apesar de mácolocada ou deformada, gerouuma reação muito grande nas lideranças. Na teoria, acabou nãoacontecendo nada, mas, na prática, acho que deu uma sacudidelae pelo menos criou ambiente parase começar a conversar.
4 Jornal da Constituinte
Soberania sobre as riquezas
Elas desejam que o poder públicomunicipal tenha a competênciapara a prestação dos serviços detransporte coletivo, inclusive nãopodendo conceder a pessoas ouempresas esse direito, que terá"caráter eminentemente social".
Adverte a proposta que "asocorrências recentes no tocante aaumento de preços de passagensde ônibus urbanos, notadamentenas grandes regiões metropolitanas, não foram originadas exclusivamente por esse aumento, maspor um conjunto de outros fatoresnegativos decorrentes, é certo, dabusca desmedida de lucros porparte das empresas concessionárias". E conclui: "Colocar o transporte coletivo de massas sob a direção unificada da autoridade municipal seria o primeiro grandepasso para sanar tais problemas,a cada dia mais agudos, mais violentos".
Todo brasileiro que, não sendoproprietário rural ou urbano possuir imóvel como seu, po; trêsanos contínuos, como domicíliopermanente seu e de sua famíliasem oposição, adquirirá o domíni~mediante sentença que servirá detítulo p~ra!ran~criçãono Registrode Imóveis. E o que dispõe aemenda constitucional patrocinada pelo Mosteiro de São Bento-Setor Social e Jurídico, pela Associação de Pais e Mestres da Comunidade de Saramandaia e pelaAssociação Comunitária UniãoParaíso, como o apoio de 33 milassinaturas de eleitores.
A emenda diz ainda que aUnião poderá promover a desapropriação da propriedade ruralou urbana, mediante pagamentode Justa indenização fixada segundo os critérios que a lei estabelecer, em títulos especiais da dívida pública. Os imóveis rurais quenão ultrapassem a três módulos regi<:ma;s ficam isentos de desapropnaçao, mesmo que por interesses~cialpara fins de reforma agrária.FIca assegurado também apoio financeiro e técnico a propnetáriosde imóveis rurais de área não excedente a três módulos regionais.
Na sua justificativa a emendadiz que a função social da propriedade de que trata a atual Constituição Federal, já não acompanhaos anseios da sociedade, vez quenão define o direito de utilizaçãodo solo urbano de acordo com oseu p~pel_ social, não. garante aparticipação das organizações populares na execução da reformaurbana, não promove desapropriações objetivando a reformaurbana e não promove o direitoa moradia digna e adequada paratodos.
A presente proposta - explica-tenta garantir, também à popu)ação favelada, a posse dos terrenos que ocupam, cabendo ao poder público assegurar local com infra-estrutura básica, saneando, assim, os conflitos sociais emergentes em todo o território nacional.
"O direito à moradia precedee predomina sobre o direito depropriedade". Essa é a essênciade uma das emendas apresentadasà Constituinte e que, em sua justificativa, frisa que a ausência deum programa habitacional do governo voltado para satisfazer asnecessidades - sempre crescentes- de moradia para as populaçõesde baixo poder aquisitivo; os abusivos aumentos CIos aluguéis; obaixo salário da maioria dos trabalhadores e a especulação imobiliária desenfreada são fatores quealiados a um conceito superado dinjusto de propriedade, têm levado o povo pobre da periferia dasgrandes e médias cidades a ocuparárea de terras abandonadas e conjuntos habitacionais vazios, comoúnic~ alternativa possível para garantir aos trabalhadores e suas Iamílias um teto para morar.
TRANSPORTE COLETIVO
MORADIA POPULAR
Lembra o documento que nemtodos os cidadãos têm necessidadede ter uma propriedade, mas todos têm a necessidade de ter umteto onde possam morar: "Atualmente existe no Brasil um déficitestimado de 10 milhões de habitações" .
Com 23 artigos, dividida em cinco itens - Dos Direitos Urbanos,da Propriedade Imobiliária Urbana, da Política Habitacional, doTransporte e Serviços Públicos eda Gestão Democrática da Cidade-, foi apresentada emenda popular sobre a reforma urbana, com131 mil assinaturas, patrocinadapelas Federações Nacional dosEngenheiros e Nacional dos Arquitetos e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.
Entre outros pontos, a emendaobriga o Estado a assegurar o acesso à moradia, ao transporte público, ao saneamento, à energia elétrica, à iluminação pública, às comunicações, à educação, à saúde,ao lazer e à segurança, assim comopreservação do patrimônio ambiental e cultural, além da gestãodemocrática da cidade.
Determina também que a desapropriação dos imóveis necessários à regularização fundiária deáreas ocupadas por comunidadesconsolidadas será feita considerando o valor histórico de aquisição do imóvel através de ação judicial, sujeita ao procedimento ordinário, e cuja sentença, depois dotrãnsito em julgado valerá comotítulo para fins de registro imobiliário.
Na parte de política habitacional, estabelece que compete aopoder público garantir a destinação de recursos orçamentários afundo perdido para a implantaçãode habitação de interesse social.
Povo dizcomo
•quervlvernas cidades
Duas emendas dispõem sobre otransporte coletivo de massas.
Os autores da proposta estipulam ainda que as jazidas, minase demais recursos minerais, bemcomo os recursos potenciais deenergia hidráulica são objeto depropriedade da União e devem serexplorados e administrados diretaou indiretamente pela União. Depende de autorização do GovernoFederal e de seu controle, concedida, em função das diretrizes eprioridade do plano nacional dedesenvolvimento, a instalação dequalquer empresa sob controle direto ou indireto de pessoas físicasou jurídicas domiciliadas no exterior, bem como a alienação a essaspessoas, ou a pessoas jurídicas porelas controladas, de controle deempresas já instaladas no País.
lançamentos e operações de sistemas espaciais, coleta e difusão deinformações meteorológicas.
Uma das emendas, em sua justificação, diz que nenhum argumento subsidia tão intensamente aproposta de manutenção e atémesmo de ampliação do monopólio estatal do petróleo, seus derivados e do gás natural do que oque é a Petrobrás hoje. Afirmatambém seu posicionamento contráno aos contratos de risco, exigindo a anulação dos ainda em vigor, assim como a proibição constitucional de outros, "exigindotambém a plena democratizaçãoda ação do Estado na empresa".
"Petróleo é questão de Estado"
A estatização do sistema financeiro, das Jazidas, minas e demaisrecursos minerais foi proposta poremenda constitucional patrocinada pelo Instituto Nacional de Formação, figura jurídica que representa a Central Única dos Tralhadores, pela Associação Nacional de Cooperativa Agrícola, representando o Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra,e pela Comissão Pastoral da Terra. A emenda teve o apoio de 200mil assinaturas de eleitores.
É dever do Estado - diz aemenda - regular a atividade econômica em todos os setores, a fimde preservar o poder aquisitivo damoeda nacional, bem como proteger os interesses dos consumidores, a saúde, a segurança e a moralidade pública. Caberá ao Estadoexplorar diretamente todas as atividades relacionadas com o sistema financeiro. Aos órgãos de planejamento, caberá defmir as áreasde empresas de propriedade privada pública e mistas, para as distintas atividades econômicas.
Com textos quase idênticos, foram apresentadas duas emendaspopulares tratando do monopólioestatal do petróleo, dos minériosnucleares e dos materiais físseis.
Elas pretendem efetivamente oseguinte: constituem monopólioda União: pesquisa, lavra, refinação, processamento, transportemarítimo e em condutos do petróleo e seus derivados e do gás natural; pesquisa, lavra, enriquecimento, mdustrialização e o comérciodos mmérios nucleares e materiaisfísseis; pesquisa, lavra e o beneficiamento dos minerais estratégicos e os serviços de telecomunicações e transmissões de dados,
Comunicar, massem dominar
As concessões ou autorizaçõessó poderão ser suspensas por sentença fundada em infração definida em leI, que regulará o direitoà renovação.
A democratização dos meios decomunicação é o objetivo fundamental de emenda popular patrocinada pela Federação Nacionaldos Jornalistas Profissionais. Associação Nacional dos Docentesdo Ensino Superior e Central Unica dos Trabalhadores.
A emenda, apoiada por 32.379eleitores, trata do direito à comumeação, cuja garantia deve ser deresponsabilidade do Estado, e estabelece o monopólio estatal dosserviços de telecomunicações e decomunicação postal.
Para estabelecer, supervisionare fiscalizar políticas nacionais decomunicação, abrangendo asáreas de imprensa, rádio, televisão e serviços de transmissão deImagens, sons e dados por qualq~er_meio, a emenda propõe acnaçao do Conselho Nacional deComunicação. O Conselho serácomposto por 15 brasileiros, sendo dois representantes de entidades empresariais, cmco representantes de entidades representativas de profissionais da area de comunicação, sete representantes deentidades de categorias profissionais e de setores populares e umrepresentante de instituição universitária. Em cada Estado haveráseções do Conselho, também integradas por 15 representantes.
Prevê ainda a emenda, com opropósito de democratizar os veículos de comunicação que, em cada órgão de imprensa, rádio e televisão, seja constituído um conselho editorial, com membros eleitos pelos profissionais de comumcação, incumbido de definir a linha de atuação do veículo.
Quanto aos serviços de radiodifusão, estatui a emenda que a concessão ou autonzação da Umãoserão outorgadas, em caráter precário, pelo Conselho Nacional deComunicação, nos seguintes casos: uso de freqüência de rádio etelevisão; instalação e funcionamento de televisão direcional epor meio de cabo e de outros serviços de transmissão de imagens,sons e dados por qualquer meio;retransmissão pública no território nacional, de rádio, televisão edados via satélite
Finalmente, com a finalidade deimpedir a concentração da propriedade dos meios de comunicação, propõe a emenda que se estabeleça que cada concessionáriopoderá ser titular de apenas umaautorização Ou concessão paraexecução de serviço de rádio, televisão e serviços de transmissão deimagens, sons e dados por qualquer meio.
Jornal da Constituinte 5
o papel das Forças Armadas e das Polícias
U/YSIlt!6 recebe de Covasemendaque fixa eleições parapresidente no próximo ano
Eleições gerais no país para todos os cargos eletivos, inclusiveaqueles eleitos em 15 de novembro do ano passado, poderãoacontecer seis meses depois depromulgada a nova Constituição,caso venha a ser aprovada a emenda apresentada pelo constituinteStélio Dias (PFI: - ES). A proposta, que recebeu na Comissãode Sistematização o número 9805,encerra, realmente, um aspectooriginal, no que a torna diferentedas muitas emendas que foram encaminhadas nesta fase do processoconstituinte, uma vez que determina a dissolução do Parlamento.Diz o representante do EspíritoSanto que essa foi a forma maisracional por ele encontrada paraconsagrar definitivamente a etapaem que o Brasil se renova de modoprofundo e concreto. "Não adianta ficarmos discutindo o mandatodo Presidente Sarney, se queremos dar outra versão ao que rezaa Constituição em vigor, então vamos estender a medida a todos.Vamos realizar eleições em todosos níveis: desde prefeito e vereadores até o Presidente da República."
Para Stélio Dias, essa tambémserá uma maneira de o povo julgar, mesmo a posteriori, o trabalho feito pelos constituintes, Seaprovar reelegerá os escolhidosem 86; se não, fará suas novas escolhas. "Vamos fazer uma revolução mais do que legítima, que éa revolução pelo voto", conclamao parlamentar capixaba, e acrescenta: "a Constituinte é a etapaterminal de um processo de transição institucional. Ela rompe umafase, quebra uma barreira, eliminaum muro que separava a naçãode uma realidade, inaugurandonovos hábitos, novos costumes enova cultura. A Nação se reencontra. O reencontro tem sentido quesó as eleições gerais podem dar.As eleições gerais conclui um processo transformador realizadonum contexto de paz, mas não semesperança" .
Stélío Dias explica que a suaproposta prevê que, após a promulgação da Constituição e a dissolução do Assembléia, o Presidente da ANC convocará as eleições, em data que anunciará, naocasião.
Depois daConstituinte,as eleições
Direito por meio de concurso público de provas e títulos".
Finalmente, a preservação daPolícia Rodoviária Federal, organizada e mantida pela União, éo objetivo da emenda assinada por175.623 eleitores e encaminhadapela União do Policial Rodoviário00 DNER "Casa do Inspetor", dePetrópolis, pela Associação da Patrulha Federal do Paraná e pelaAssociasão Nacional da PolíciaRodoviaria Federal.
A Polícia Rodoviária - justificam - destina-se ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais,zelando pela segurança do tráfego, prevenindo e coibindo infrações e transgressões da legislaçãoe colaborando com as autoridadesadministrativas e judiciárias nocambate ao crime, ao tráfego dedrogas, à sonegação, ao contrabando e ao descaminho.
far-se-ã nova eleição 30 dias apósa promulgação do resultado, coma participação apenas dos doiscandidatos mais votados, considerando-se eleito o que obtivermaioria simples de votos. A eleição do presidente da RepúblicaImplicara a do candidato a vicepresidente com ele registrado.
O presidente e o vice-presidenteda República, bem como os eleitosdo Congresso Nacional, tomarãoposse 90 dias após a primeira votação da eleição presidencial. Entendem os autores da emenda quesó há uma forma de enfrentar asmanobras continuístas do Paláciodo Planalto. Só há uma saída paraa crise econômica, social e políticavivida pela Nação. O povo brasileiro precisa mobilizar, neste instante, para lutar por liberdades econquistar uma nova política econômicae social. Nova política quesó poderá ser formulada e aplicadapor um novo governo, eleito diretamente pelo povo, inteiramentecomprometido com a classe trabalhadora e disposto a enfrentar aexploração, a opressão e a repressão.
cato dos Jornalistas Profissionais- querem que as forças policiaise os corpos de bombeiros sejaminstituiçoes subordinadas à autoridade dos governadores dos estados, dos territórios e do DistritoFederal, podendo em caso de estado de sítio ou intervenção federal,ser submetidos ao comando supremo do presidente da República.
Prevê a emenda, assinada por23.370 eleitores, que lei estadualdisponha sobre a criação de Guarda Municipal, nos municípios commais de cem mil habitantes.
Há, ainda, uma proposta deemenda popular cuidando da polícia civil. Ela pretende que seja suprimido o parágrafo úmco do artigo 260 do projeto de Constituição,que diz que "lei especial disporásobre a carreira de delegado depolícia, aberta aos bacharéis em
Tancredo Neves, como o presidente José Sarney. E ambos comprometeram a sua palavra em favor de um mandato de quatroanos, o que significa dizer que apróxima eleição tem que ser realizada no dia 15 de novembro de1988.
Sobre o mesmo tema patrocinaram emenda o Partido dos Trabalhadores, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a Central Unica dos Trabalhadores, com o respaldo de49.178 assinaturas. Essa emendadetermina que "até seis meses dapromulgação da Constituição realizar-se-ão, por meio do sufrágiouniversal e voto direto e secreto,em todo o País, eleições simultâneas para presidente e vice-presidente da República, bem comopara o Congresso Nacional.
Será considerado eleito presidente da República, nos termosda proposta, o candidato que obtiver maioria absoluta de votos, nãocomputados os em branco e os nulos. Se nenhum candidato a presidente da República obtiver maioria absoluta em primeira votação,
INQUÉRITO POLICIALOutra emenda preocupa-se em
inserir no futuro texto constitucional a criação do juizado de instrução, a fim de eliminar a figura dotão criticado inquérito policial. Asugestão vem da Polícia Militar deGoiás, da Associação dos Militares Inativos de Goiás e da Clubexdos Oficiais da Polícia Militar doEstado de Goiás, e conta com quase 40 mil assinaturas. Propõem,ainda, essas entidades, que o tempo de serviço do policial militardeve ser reduzido para 30 anos,devido ao desgaste da sua atividade.
POLÍCIAS
Já entidades da Bahia - Associação dos Professores Licenciados, Associação Beneficente eCultural da Polícia Civil e Sindi-
Emendas pedemdiretas em 88
Patrocinada pela FederaçãoNacional dos Jornalistas, pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil epela Federaçao das Associaçõesde Engenheiros Agrônomos doBrasil a emenda constitucionalque convoca eleições diretas parapresidente da República para o dia15 de novembro de 1988 contoucom 96 mil, 863 assinaturas. Aposse do eleito fica marcada parao dia 15 de março de 1989, quandose encerra o mandato do atual titular do cargo.
A justificativa da proposta dizque, além do permanente, a Constituição em elaboração deve cuidar também do transitório. Aí éfundamental estabelecer-se claramente a eleição do próximo presidente da Repúblicapelo voto direto, secreto e universal, posto queo cumprimento desse compromisso é ansiosamente esperado pelanação, acrescenta.
Diz ainda a justificativa que aConstituinte tem competência para fixar a data das eleições paraa Presidência da República, comojá reconheceram em manifestações públicas tanto o presidente
Emenda patrocinada pelaUnião Nacional dos Estudantes,Confederação Nacional das Associações de Moradores e União daJuventude Socialista, subscritapor 31.885 eleitores, define constitucionalmente o papel das ForçasArmadas e das polícias civil e militar. Por ela, as Forças Armadasse destinam à defesa militar da Pátria contra a agressão externa ea assegurar a integridade do território nacional, mas não poderãointervir na vida política do País.
Entendem os signatários dessaproposta que as Forças Armadas(levem ser apartidárias e profissionais, não lhes cabendo praticarações tendentes a contestar,afrontar qu desestabilízar gove~
nos constitucionais nem intervirnas greves e movimentos de cunhodemocrático.
Por entender que, num regimedemocrático, o poder deve serexercido com o povo, através dagarantia de uma efetiva participação popular nas decisões do Estado e na elaboração de lei, três entidades (com o apoio de 35.000 assinaturas). Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estadode Minas Gerais, Sindicato dosTrabalhadores em Empresas deTelecomunicações e Operadoresde Mesas Telefônicas no Estadode Minas Gerais e Unibairros,apresentaram emenda populartratando dos direitos de participação popular,
De acordo com a proposta, ocidadão isolado não tem condiçãosequer de fiscalizar ou pressionaro representante eleito, nem decombater os desgovernos, a corrupção, as mordomias. Essa posição passiva o afasta da política eperpetua o CÍrculo vicioso. Por isso, "estamos propondo o direitode participação popular ativa,além da ampliação dos direitos doscidadãos na defesa de seus interesses",
E também dito que o reconhecimento jurídico do papel das organizações populares, juntamentecom partidos fortes, são fundamentais para se conquistar umademocracia verdadeiramente participativa, com a co-responsabilidade de toda a sociedade na elaboração de suas leis e na participaçãonas dicisões do Estado.
Umbanda querdireito de
dar auxílio
Participaçãodo povo deveser garantida
A garantia do exercício e daprática da assistência e tratamentoespiritual, desde que realizadosgratuitamente, é reivindicada naemenda popular encaminhada emnome de "brasileiros e brasileirasespiritualistas", pelo programa 3"Visão, da Rádio e TV Bandeirantes, Igreja Católica Carismática noBrasil e Associação Umbandistae Casa de Caridade Pai João daPorteira e Caboclo Pena Branca,de São Paulo, com 53 mil, 216 assinaturas.
Lembram os espiritualistas quea própria Organização Mundial deSaúde, da ONU, chegou à conclusão de que as práticas usadas pelosque curam por meios não ortodoxos devem ser incentivadas; esJ?Ccialmente nos países do TerceiroMundo.
6. ;
Jornal da Constituintet j i I ; 2 • • ~,_
A educação é direito de todos
Emenda popular defendendo o excepcional é entregue a Ulysses
Carta defenderá o excepcional
Negros contradiscriminação
Em defesa das populações negras, emenda apresentada peloCentro de Estudos Afro-Brasileiros, Associação Cultural Zumbi eAssociação José do Patrocínioquer que a lei puna como crimeinafiançável gualquer discriminação atentatóna aos direitos humanos fixados na Constituição. Como forma de discriminação deveser considerado subestimar, estereotipar ou degradar grupos étnicos raciais ou de cor, ou pessoasa eles pertencentes, por palavras,imagens e representações atravésde qualquer meio de comunicação.
Pretende que o poder públicoassuma o dever de promover aigualdade social, econômica eeducacional e declara que nãoconstitui privilégio a aplicação demedidas compensáveis visando àimplementação do princípio constitucional de plena igualdade apessoas ou grupos vítimas de comprovada discriminação. Entendese como medida compensatóriadar preferência a cidadãos ou grupos de cidadãos a fim de garantirsua participação igualitária noacesso ao mercado de trabalho, àeducação, à saúde e outros direitos sociais.
A emenda pretende que a educação condene as formas de discriminação, que não sejam firmadostratados com países que discriminam raça e cor e que seja garantidaa propriedade das terras ocupadaspelos remanescentes dos quilombos.
Como exportaros alimentos
As exportações de gêneros alimentícios básicos dependerão daaprovação do Congresso Nacional. As políticas de abastecimentodeverão considerar, prioritariamente, o comércio específico, garantindo-lhe condições de trabalho.
Esses dois dispositivos constamde emenda popular encaminhadapelos sindicatos do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Estado de São Paulo e do ComércioVarejistade CarnesFrescas ,Gêneros Alimentícios, Frutas, Verduras, Flores e Plantas de Brasília,além da União Nacional do Comércio Varejista de Carnes e Derivados, com 45 mil 546 assinaturas.
Quanto ao primeiro dispositivo,a proposta argumenta que há"gargalos" nos sistemas de armazenamento e financiamento, ausência de um planejamento de longo prazo e incertezas de toda ordern que desestimulam o crescimento da produção. O documentodiz também que a distribuição dosestoques reguladores governamentais tem privilegiado as grandes redes de supermercados, soba alegação de possuírem inúmerospontos de venda, o que tem penalizado dois segmentos: o consumidor final, de baixo poder aquisitivo e localizado na periferia dascidades, e o pequeno varejista,aquele que se instala nas periferias, como é o exemplo do açougue.
"Todo brasileiro portador deexcepcionalidade terá direito aatendimento médico e clínico voltado à sua habilitação e/ou reabilitação e ao seu desenvolvimentoe Jntegração social."
E o que estabelece emenda popular, apoiada por 20.000 assinaturas, apresentada à ConstituinteI'ClaAssociação de Pais e Mestresda Escola Municipal de EducaçãoEspecial "Marly Buissa Chiedde",Lions Clube de São Bernardo doCamyo - Rudge Ramos, e Associaçao Lar Menino Jesus.
Pela pror.0sta, todo brasileiroexcepciona , ao atingir 18 anos esendo comprovadamente inaptopara integrar-se no mercado competitivo, deverá receber do órgãopróprio da Previdência Social aImportância de meio salário mínimo mensal, desde que esteja freqüentando programas de treinamento para trabalho e/ou trabalhoabrigado ou protegido. Tal pagamento cessana a earhr do momento em que o brasileiro pudesse serintegrado no mercado de trabalho.
Uma outra emenda popular relativa aos excepcionais fixa o auxílio de um salario mínimo às pessoas portadoras de deficiência quenão tenham condições de se automanter:
Endossada por três entidades,Associação Canoense de Deficientes Físicos, Escola Especial deCanoas e Liga Feminina de Combate ao Câncer, a proposta salienta que um grande número de exceJ?cionaisfaz parte de famílias debaixa renda, muitas vezes não tendo sequer meios para suas maisprementes necessidades. A emenda é respaldada por 48.877 assinaturas.
"As pessoas portadoras de deficiência - física, mental, visual,auditiva e outras deficiências específicas -, gue representam 10%da populaçao brasileira, têm o direito à plena cidadania."
Com essa justificativa, a Organização Nacional de Entidades deDeficientes Físicos, o Movimentopelos Direitos das Pessoas Deficientes e a Associação Nacionaldos Ostomizados augumentamque o direito da pessoa portadorade deficiência à integração oureintegração à sociedade tem como condição essencial a reabilitação física, profissional e social."Para termos o direito de ir e viré necessário o acesso aos meiosde transporte, ao espaço urbanoe nas edificações",
E prosseguem: "Para termos direito à educação e à cu1tutra é necessário o acesso às instituiçõeseducacionais e culturais, bem como à educação especial para aqueles que dela necessitam, que através de classe especial, linguagempor sinal ou labial, ou Braille. Énecessário o acesso aos materiaise equipamentos para o desenvolvimento de sua condição motoraou para orientação de locomocão" ..
Nesse sentido, preconizam o direito ao trabalho l que tem que sergarantido, consioerando as particularidades e potencialidades decada indivíduo. Por isso - enfatizam - é obrigação do Estado assistir a pessoa portadora de deficiência quando a limitação físicaou mental dificulta ou impede suaindependência para o exercício desuas atividades cotidianas, pelotempo que se fizer necessário.
A Confederação Nacional deProfessores do Brasil, a Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior e a União Nacionaldos Estudantespatrocinam emenda constitucional, com 258.984 assinaturas, dispondo que a educação, baseada nos princípios da democracia, da liberdade de expressão, da soberania nacional e dorespeito aos direitos humanos, éum dos agentes de desenvolvimento da capacidade de elaboração ereflexão crítica da realidade, visando à preparação para o trabalho e à sustentação da vida. O ensino público, gratuito e laico, emtodos os níveis de escolaridade édireito de todos os cidadãos brasileiros, sem distinção de sexo, raça,idade, confissão religiosa, filiaçãopolítica ou classe social.
É dever do Estado - diz aemenda - o provimento em todoo território nacional de vagas emnúmero suficiente para atender ademanda. É livre a manifestaçãopública do pensamento e de informações. Sobre o ensino e a produção do saber não incidirão quaisquer imposições ou restrições denatureza filosófica, ídeolõgíca, religiosa ou política. E proibidaqualquer f<?rm~ de censura. O ~nsmo de pnmeiro grau, com OItOanos de duração, é obrigatório para todas as crianças a partir de seteanos de idade, visando propiciarformação básica comum índíspensável a todos.
Dispõe ainda a emenda que aUnião assegurará, supletivamente, aos estados, municípios e Distrito Federal os meios necessáriosao cumprimento da obrigatoriedade escolar. O ensino de segundograu constitui a segunda etapa doensino básico e é direito de todos.Visa assegurar formação humanística, científica e tecnológica voltada para o desenvolvimento deuma consciência crítica em todasas modalidades de ensino em quese apresentar.
PARTICULARA existência de escolas privadas
estará condicionada à garantia aosfuncionários e professores da estabilidade no emprego, de remuneração adequada, de carreira docente e técnico-funcional e da participação de alunos, professores efuncionários nos organismos dedeliberação da instituição. O estado autorizará a existência de escolas particulares, desde que não recebam verbas públicas, que estejam segundo padrões de qualidadee que sejam subordinadas às normas ordenadoras da educação nacional.
Patrocinada pelo DiretórioCentral dos Estudantes da Fundação Universidade de Caxias doSul, pela Associasão dos Funcionários da Fundaçao Universidadede Caxias do Sul e pelo Sindicatodos Professores de Caxias do Sul,emenda popular dispõe que a educação é um direito de todos e dever do Estado. O ensino será público e gratuito em todos os níveis.As instituições de ensino de nívelprimário e secundário serão totalmente públicas e gratuitas, administradas pelos estados e municípios, que destinarão as verbas necessánas a sua manutenção. Asinstituições de ensino superior serão federais e gratuitas.
A Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (FENEN), o Sindicato dos Estabele-
cimentos de Ensino de Minas Gerais (SINEPE-MG), e o Sindicatodos Estabelecimentos de Ensinode Duque de Caxias apresentaramemenda dispondo que "o ensinoserá gratuito em todos os níveis,em qualquer estabelecimento, para os que demonstrarem aproveitamento e insuficiência de recursos.
Entendem os autores da emenda que não basta garantir a gratuidade de ensino, mas é preCISO assegurá-la juntamente com o direito de escolher o curso, a escolae o tipo de educação de interessedo aluno e da família, segundosuas convicções. Garantir apenasa gratuidade de ensino público discrimina o pobre, que, sendo qualfor sua crença ou convicção, nãoterá meios de escolher uma escolaprimária, até mesmo nos locaisonde não houver escolas públicas.A emenda teve a assinatura de40.929 eleitores.
COMUNITÁRIA
Patrocinada pelo Movimentode Defesa dos Favelados, peloMovimento Negro Unificado e pela Comissão de Justiça e Paz foiapresentada emenda constitucional que cria a escola comunitária.A emenda define escola comunitária como uma escola pública alternativa, em interação com seucontexto sócio-cultural, autogerida, organizada com o apoio de entidades populares representativasde comunidades carentes e/ou minoritárias, de periferias urbanas ezonas rurais de difícil acesso,apoiadas pelo poder público a nível federal, estadual e municipalque visa a atender a todos os menores, jovens carentes, trabalhadores, meninos de rua, com dificuldades de acesso ou acompanhamento a outra forma de escola.
O Estado - diz a emenda garantirá o ensino público e gratuito das escolas- comunitáriasatravés de programas sociais a nível municipal, estadual e federal,tais como manutenção do corpodocente e serviçais, oriundos dopróprio contexto sócio-cultural eescolhido de forma democráticapela comunidade. Fornecimentode material permanente e materialescolar e de consumo; serviço médico-odontológico; alimentação;cursos de atualização pedagógicae de formação de magistério comcurrículos e programas organizados com a participação da comunidade.
Determina ainda que o estado,através de seus Conselhos de Educação, conhecerá o professor leigocom mais de cinco anos de exercício de magistério, cuja competência foi comprovada através dosresultados de seu trabalho peda-.gógico; o Estado legalizará e fiscalizará o funcionamento das escolascomunitárias.
As escolas comunitárias atenderão a crianças, jovens e adultosdo pré-escolar à quarta série doprimeiro grau, em classes normaisou especiais) em equivalência como ensino oficial, preparando-ospara o in,gresso na quinta série darede oficial do Estado, e preparando-os para a independência econômica através de cursos de profissionalização e organização decooperativas de trabalho. O Estado destinará vinte por cento daverba de educação as escolas comunitárias de educação popular.
Jornal da Constituinte 1
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Há 100 anos, numdia 19 de maio, trabalhadores de salário
~ . ~,rmmmo saiam as ruasde Chicago, nos Estados Unidos, empu-
nhando cartazes, levando faixas, numaluta conscientizada,para garantir a jornada de trabalho de 40hõras. Cinco deles fo-~
ram mortos. São oschamados "mártiresde Chicago". Mas aluta deles não morreu. Estendeu-se pelos quatro cantos do
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Quarenta e sete por cento da renda nacional provém do trabalho dagrande massa da população brasileira. Setenta e seis por cento dos quetrabalham ganham de um a 5 salánosmínimos, Enquanto isso, apenas 5%das famílias mais ricas do Brasil detêm 50,6% do total da renda nacional."No Brasil vivemoscom o maisaviltante de todos os salários mínimosdo mundo: 33 dólares mensais, ouseja, menos do que ganha, por diaum trabalhador de salário mínimonos Estados Unidos", observa oconstituinte Gasthone Righi (PTB-,SP).
"O salano mínimobrasileirodeveria estar em tomo de 12milcruzados,e, no entanto, está apenas por voltade 25% do que deveria ser", acrescenta o constituinteEdmiIson Valentim (PC do B - RJ). "É um saláriode sobreviventes", aponta o constituinte José Genoino (PT - SP), adicionando a informação de que "temos o menor salário mínimo e amaior concentração de rendas domundo".
"A dissociaçãodo salário mínimode outros valores da economia é ocaminho mais seguro para a reposição dos ganhos do trabalhador. Seissofor feito, podemos não só recuperar o que se perdeu ("há 14 anosera quase o dobro de hoje") comoir mais longe: chegar aos 100dólares,em 4 anos, sem maiores complicações", garante o constituinte Arnaldo Prieto (pFL - RS).
A questão salarial foi um dostemas que estiveram na primeiralinha dos debates esses últimosdias no plenário da Constituinte.Embora divergentes muitas vezese sob diferentes aspectos, sobretudo quanto ao tratamento que sedeve dar à reposição do valor realdos salários, os constituintes maisenvolvidos com a matéria e, demodo geral, a quase totalidade deles foi unânime num aspecto: osalário mínimo brasileiro não dápara satisfazer as exigências maiselementares que propiciem ao cidadão ter uma vida condigna, nempara ele sozinho, muito pior quan00 se trata de, com ele, fazer frente às necessidades de uma família."Nós temos um salário mínimo desobreviventes", diz José Genoino,"e não devemos continuar ostentando essa vergonha nacional".
Paraorepresentanre doPTde SãoPaulo, antes de tudo surge o imperativo de se alterar a política salarialdo país porque, sem isso,não se terádado um passo. A nova Constituição, no seu entendimento, deverá
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conter uma concepção correta doque é o trabalho, afim de compreender a obrigação de remunerá-lo comhonestidade e justiça. Ainda conforme o parlamentar petista, a Constituição deverá conter um outro princípio, muito importante: o da aplicação de medidas punitivas para quemnão cumprir os preceitos trabalhistas,uma lei constitucional incidindo sobre os descumprimentos de tais determinações, sem concessões e semrodeios.
Dos mais combativos constituintes, José Genoino acredita numa mudança do atual estado de coisas, desde que um amplo e profundo trabalho político seja feito e devidamenteacompanhado pela fiscalização dotrabalhador e com o fortalecimentodas liberdades sindicais e classistas."E um processo de conquista. Esseprocesso se inicia agora e a Constituinte é um momento privilegiadonara isso, para avançar neste sentido.E uma luta difícilmas exeqüível. OBrasil possui as classes dominantesmais truculentas do mundo e, embora já não seja um país colonizado,apresenta estranhos elementos noseu diagnóstico:é um paíscapitalista,dependente e associado. O que querdizer que ele se associa e arnda depende do capital estrangeiro", conclui José Genoino.
CONCORDES
Concorde com esse ponto de vistaestá o constituinte EdmiIson Valentim que defende, tal como José Genoino, um maior nívelde consciênciapolíticado povo. Isso é o que se devebuscar, em primeiro lugar, diz ele,porque daí derivam necessariamenteo fomento a uma cobrança maior dedireitos e a maior participação popular no processo político-social dopaís. A Constituição - explica tem como função primeira asseguraras condições jurídicas capazes de garantir maior liberdade democráticapara que aquele processo de conscientização política possa acontecer."Só acredito nas mudanças atravésda sociedade organizada", enfatizaEdmiIson Valentim quando mostraa essencialidade do setor produtivopara a própria sobrevivência do paíscomo um todo e quanto é fundamental gue esse setor (de um ladoOS operarios e de outro os camponeses) tomem consciência do seupróprio valor.
"Nunca tantos tiveram tão poucoe tão poucos tiveram tanto", dissealguém parodiando Churchil. A propósito Edmilson Valentim lembradados colhidos em 1980 que são de
uma terrível crueldade: nas famíliasonde o chefe ganha até um saláriomínimo, as cnanças provavelmentemorrerão antes de completar um anode idade. O pior de tudo é que estasalcançam a faixa dos 81%. E a esperança de vida do trabalhador brasi
.Ieiro melhor aquinhoado não ultrapassa a faixa dos 62 anos de idade."Esse quadro - aponta Valentim- significa um verdadeiro assassinato dos brasileiros."
Por seu lado, Gasthone Righi(PTB - SP) indaga: "E o que significam esses míseros 1.900 cruzados?Significam um terço do que é necessário para que um trabalhador possase alimentar. A ração estimada paraum trabalhador sobreviver, cerca de3.400 calorias, é obtida através deuma ração balanceada, onde se incluem carne, leite, ovos, arroz e feijão, o que custaria, na moeda de trabalho de hoje, cerca de 460 horasde trabalho de um único assalariadopercebendo o saláriomínimo. Imaginem, portanto, que um trabalhadorbrasileiro deve trabalhar três mesespara comer um único mês."
LIBERAÇÃO
A liberação do salário mínimo, ouseja, a sua desvinculação de outros
ArnaldoPrieto defende aliberaçãodo salário
minimo, com sua desvinculaçãode outros setores da economia.
CONSTITUIÇÃO
Art. 165.
I - salário mínimo capaz desatisfazer, conforme as condições de cada região, as suas necessidades normais e as de suafamília;
EdmilsonValentim conclanuja classetrabalhadoraa toman
consdência de seupróprio :valor, nocampo e nacidade,
Jorna
mundo. Cem anosdepois, o trabalhadorbrasileiro, através deseus legítimos representantes, num Conpresso Constituinte,,
vai à luta, conscientede que o Brasil nãoconseguirá transporos obstáculos ao seuprogresso e bem-estar social se o seu tra-
balhador, responsável pela geração detantas riquezas, continuar a ganhar apenas um
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Maria Valdira
mento de outros fatoreseconômicos,tanto na área econômico-financeira,como na tributária, na fiscal e também na própria área salarial."O Governo - declara Prieto - deve cuidar fundamentalmenteda fixação dosaláriomínimoo maiselevado possível. Quanto aos demais níveis salariais deverá haver uma prevalênciadas negociações entre empregadoseempregadores.Nada impede, entretanto que se estabeleçamregrasfundamentais para que as negociaçõesse processem no terreno da justiçae da justeza, dentro do bom sensoe das práticas essencialmente democráticas".Depois de lembrar que, há14anos, o saláriomínimo era quaseo dobro do de hoje, o representantedo PFL gaúcho assegura que a desvinculação do salárioé capazde promover a sua recuperação e ir muitomais longe ainda, segundo ele, dentro de 4 anos, a continuar com essaprática (o que para ele é um bomprazo) o salário mínimo brasileiropode chegar tranquilamente aos 100dólares.
SALÁRIO-FAMÍLIA
Mas, a propostade ArnaldoPrietonáo ficapor aí. Há uma segundaparte, a seu ver, bastante importante:os encargos que deverão ser confiados à Previdência Social. Ex-Ministro também da Previdência Social(até a data da desvinculação dos doisministérios) por 45 dias, ArnaldoPrieto analisa a complexidade daquestãosalarialreconhecendoasdificuldades que apresenta para quemquer que seja a fixação de um limiteque satisfaça às diferentes situaçõesdos trabalhadores. "Uma coisa afirma - é o trabalhador sozinhorecebero saláriomínimo;outra realidade é o trabalhador, sua mulher eum filho; e outra, bem distinta, éo trabalhador, a mulher e dez filhos.Então como vamos estabelecer umparâmetro verdadeiramente justo?Temos que partir para um reforçosubstancial, por exemplo,do saláriofamília. porque o saláriomínimopara o trabalhador e sua família deverecair sobre toda a sociedade. Alémdisso, deve-se reforçar também emultiplicar os benefícios indiretos,como assistência à maternidade e àinfância, assistência à nutriz, proliferação de creches,de escolascom horários integrais, e, em suma, um aumento e melhoria concreta das condiçõesem geralde que o trabalhadornecessita para criar e educar seus filhos."
valores da economia, é um aspectoda questão bastante interessante eque é defendidopeloconstituinteArnaldo Prieto (PFL- RS), um inegávelbatalhadordestecampotrabalhista e de cujo know-how e acuidadeadmmistrativa e política muitos outros constituintes dão testemunho.Aliás, essecaminhoespecial, por onde elepretende fluaa questãosalarialbrasilerra, foi apontado por ele hácerca de doze anos, quando titularda pasta do Trabalho.
Segundo Prieto, é fundamental adissociação do saláriomínimode outros valoresdentro da economia, para os quais servia de base à fixaçãoou reajustamento. Já naquela ocasião (1975), o então ministrodo Trabalho, em sua exposição de motivosao governo federal apontava a tendência, por ele observada, a que osalário mínimo se fosse defasandoem relação aos demais salários, emface da realidadede ser aquele o elemento de referência para aluguéis,prestações do sistema financeiro dehabitaçãoe muitosoutrosvaloresemdiferentescampos, inclusive com relação a contratos entre indivíduos.Textualmente, ele dizia: "Propõe-seagora a dissociação, a fim de queo Governo J?Ossa executar uma política de saláriomínimoem função defatores a ele diretamente relacionados, como os efeitos sobre o nívelde bem-estar dos trabalhadores, oemprego de mão-de-obra não qualificada, a capacidadede absorçãodasempresas,etc. Evidentemente, a correção da distorçãoapontada com referência à evolução do salário mínimo real, no passado, deverá verificar-se de forma progressiva. "A iniciativa do ministro Prieto originoua Lei n° 6.205n5. Esta lei, de 19 demarço de 75, ainda em vigor,proibiao uso do saláriomínimo como fatorde correção monetária, mas não foisuficiente para proibir que outros salários se "pendurassem" no saláriomínimo, como até muito recentemente, quando o governoSarneyteve a iniciativa de proibi-lopara o restante. Na realidade, o que tem acontecido é o seguinte: quando subia osalário mínimo subiam os preços detodos osprodutosdo mercado, todosos serviços, aluguéis, contratos, etc,e etc, e evidentemente, o valor detodos os outros salários. Então aquele aumentoficavana práticaanulado.O que pretendeu o ministroe o quepretende agora o constituinte Arnaldo Prieto? A continuidade daqueleseuprimeiropasso, istoé, que o salário mínimo fique inteiramente livre,desvinculado o seu aumento do au-
A Constituição vigente (1967) assimdefine o salário mínimo em seu artigo165, inciso I: "saláriomínimo capaz de -satisfazer, conforme ascondições de cada região, as suas necessidades (do trabalhador) normais e as desua família"
A Consolidaçãodas Leis de Trabalho(CLT), ao regulamentar a matéria, assim determinou: "salário mínimo é a contraprestação mínimadevida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador, sem distinção desexo, por dia normalde serviço, e capazde satisfazer, em determinada época, assuas necessidadesnormais de alimentação, habitação, vestuário, higiene etransporte. "
Onde ficou a família?
Gasthone Righiobserva que oatualsalário mínimo significa
apenas 113 daquilo que otrabalhador gasta com alimento
Para José Genoíno, o Brasilnão pode continuar ostentando
I um salário que é uma "vergonhanacional"
o papel datecnologia
Os constituintes estão com suaspreocupações também voltadaspara a area de saúde, com a idéiade que a medicina, especialmentea preventiva, deve ser acessível atodas as camadas da populaçãobrasileira. As manifestações deplenário dão conta de revolta contra a situação de comunidades atacadas de doenças endêmicas. Osparlamentares praticamente chegaram a conclusão de que a novaConstituição deve dar um amploespaço para a questão.
É o caso do constituinte Eduardo Jorge (PT - SP) que ap'resentou uma proposta de um SistemaÚnico de Saúde, com comandoadministrativo centralizado através dos estados e municípios. Segundo esclareceu, o projeto é dopróprio PT. O sistema deverá serfinanciado pelo Fundo Nacionalde Seguridade Social e recursosoriundos dos estados e municípios, aplicados mediante fiscalização das entidades CIVIS e comumtárias ligadas à questão da SaúdePública.
Eduardo Jorge acha que o nívelde saúde da população resulta deum conjunto de condições associadas ao trabalho, alimentação, habitação, transporte, educação,renda, meio ambiente, liberdade,lazer, posse da terra e acesso aosserviços de saúde.
O sistema de atendimento médico, implantado no Brasil estálonge de atender as exigências deuma sociedade moderna, é a opinião do Deputado Adylson Motta(PDS - RS), para quem a Constituinte deve, até o final dos trabalhos, debater exaustivamente amedicina brasileira. Para ele, asendemias e doenças de toda ordem que atingem grande parcelada população estão inviabilizandoo próprio desenvolvimento socialbrasileiro.
Medicina:preventivae acessível
"Ou se domina a indústria doconhecimento ou o País sucumbiráa um neocolonialismo como jamais houve na história", afirmouo constituinte Nelton Friedrich(PMDB - PR) ao discorrer sobreo desenvolvimento da tecnologiano Brasil. Lamentando que aConstituição de 1946 não tenhadefinido uma proposta de desenvolvimento tecnológico para oPaís, o representante paranaensedestacou o papel da CIência e datecnologia na construção da independência das Nações.
Nelton Friedrich defendeu aaplicação de um maior percentualdo PIB na ciência e tecnologia,como nos países desenvolvidos. Oparlamentar ainda propôs o consórcio entre as universidades e aempresa nacional; mecanismo para aprimorar a ciência e tecnologia; extensão da reserva de mercado para outras atividades tecnológicas, além da informática; naagricultura, busca de solução alternativa ao emprego de agrotóxicos; e limitação da atividade estrangeira no País, especialmentena indústria de medicamentos.
Maluly Neto
(PMDB - MG) afirmou, entretanto, temer que "os grupos organizados que estão enxugando otexto constitucional possam retirar do projeto avanços conseguidos nas subcomissões e comissõestemáticas através da participaçãopopular". O parlamentar 'frisouque é grande a expectativa da Nação em torno do que será mantidono projeto de Constituição, poiso povo não está muito satisfeitocom o PMDB, partido que foi odepositário das mudanças prometidas ao fim do período arbitrãrio.
- O constituinte Maluly Neto(PFL - SP), contudo, acreditaque existem problemas estruturaisdentro da própria confecção deconstituinte. O projeto, por exemplo, considerou extenso a tal ponto que invade em muitos aspectosa competência da legislação ordinária. Segundo o parlamentar.também a convocação da Constituinte deveria ter sido procedidade um amplo debate nacional edesvinculada das tarefas normaisdo Congresso Nacional. E, finalmente, Maluly Neto afirmou quea ausência de um anteprojeto anterior ao início das atividades daConstituinte acarretará em demoramaior dos trabalhos.
Florestan Fernandes (PT - SP)criticou o processo de elaboraçãoda nova Carta, asseverando queela está sendo fabricada pelos interesses conservadores da nova República. O parlamentar paulistamanifestou-se contrário ao quechamou de "grupos de negociaçãoou entendimento" que redigemprojetos para balizar o que deveou não ser aprovado na Cartaconstitucional.
Finalmente, o constituinte Edmilson Valentim (PC do B - RJ),salientou que seu partido defendeuma Constituição "democrática eprogressista, de cunho nacionalista, capaz de promover as profundas mudanças na estrutura política, econômica e social do Brasil,reclamadas pela ampla maioria donosso povo". A propósito, o parlamentar fnsou que o atual proJeto, apesar das falhas, contém pontos positivos, destacando artigossobre os direitos dos trabalhadores e a adoção do sistema parlamentarista.
1I
t, ~Doreto Campanari
iIi
EXPECTATIVA
O constituinte Otávio Elísio
RADICALISMO
A defesa do sistema presidencialista de governo foi feita peloconstituinte Theodoro Mendes,do PMDB de São Paulo. No seuentender os debates sobre o tematêm-se encaminhado para o radicalismo, e o presidencialismo, doqual é partidário, propugna eleições diretas para presidente, sendo o eleito responsável política ejuridicamente, "pois esta é a forma de governo que mais atendeaos anseios da ordem e da autoridade".
SÍNTESE"O Brasil tem o privilégio de
inaugurar um novo ciclo na históna da Terra, iniciado pela deliberação corajosa, e justa deste poder, quando decidiu que nossaConstituição seria síntese do pensamento de todos os constituintes,como também de milhões de brasileiros". Esta afirmação pertenceao constituinte José Guedes, doPMDB de Rondônia, ao analisaros trabalhos de elaboração da nova Carta Magna do País.
Já o constituinte Manoel Moreira, do PMDB de São Paulo, alertou para o perigo da frustração generalizada da opinião pública brasileira para com a nova Carta. "Ebom que não passemos aos brasileiros a impressão de que estamos,de uma vez por todas, resolvendoos problemas nacionais". É importante, entretanto, considerouo parlamentar, que os constituintes entendam os princípios da convergência, no sentido de dotar oBrasil de uma Carta política queabra as portas para a construçãode uma nação solidária, justa e pacífica.
Para o constituinte Roberto ROI-Ilemberg (PMDB - SP), o trabalho da Assembléia Nacional nãose esgota com a elaboração da nova Carta. A missão fundamentalda classe. política e, especialmente, do PNlDB, conforme salientou, é a restauração do Estado democrático, que será conseguidaapenas quando forem implantadasos mecanismos de democratizaçãoreal.
\Vivaldo Barbosa
rém, o mais grave-defeito, paraIsrael Pinheiro, é o de inibir o planejamento administrativo a medioe a longo prazos, uma vez que oprazo de mandato do chefe doExecutivo é restrito, e os projetosacabam interrompidos.
Outro parlamentar que defendeu a instituição do sistema parlamentarista de governo no País foio representante do PMDB da Paraíba, Agassiz de Almeida. Oconstituinte afirmou que o presidencialismo revelou-se fonte permanente em crises político-institucionais e o regime de gabinete,ao contrário, funciona comoamortizador de crises, dada a flexibilidade que lhe assegura a estabilidade política.
Citando palavras do falecidoPresidente da, República, Tancredo Neves, e, mais recentemente,do Senador Afonso Arinos, emdefesa do parlamentarismo, Agassiz de Almeida advertiu que aatual Constituinte é a ocasião parase instituir o novo sistema de governo no País.
SEIS ANOSMas mesmo entre aqueles que
defendem o sistema parlamentarista de governo, nem sempre existe um consenso. O constituinteDoreto Campanari, do PMDB deSão Paulo, por exemplo, afirmouhaver uma articulação entre alguns parlamentares, inclusive dopróprio PMD B, visando a impedirque o sistema parlamentarista sejaadotado no País. Segundo o parlamentar paulista, esses constituintes querem um parlamentarismocom seis anos de mandato parao Presidente da República, e sobretudo, tentam impedir que o povo eleja o chefe de governo.
Outra consideração foi do constituinte Vivaldo Barbosa (PDT RJ), que considerou o projetoconstitucional, no que se refere aosistema de governo, como sendo"um convite a crises", devido aogrande poder que ncara centranzado nas mãos do Primeiro-Ministro. No seuentendímento, o Presidente da República, apesar de seruma pessoa eleita por uma expressiva parcela do eleitorado, em doisturnos como determina o projeto,será apenas uma figura SImbólicae sem condições de realizar qualquer trabalho com eficiência. Vivaldo Barbosa acredita que aquestão do sistema de governo, damaneira como está sendo tratadano projeto, se constitui uma solução de conveniência.
Segue debatesobre sistemade governo~
Parlamentarismo 'JÜ Presidencialismo? Não está sendo fácil responder a esta rergunta na Assembléia Naciona Constituinte. Egídio Ferrreira Lima, do PMDB dePernambuco, por exemplo, voltouà Tribuna para Justificar emendade sua autoria que redesenha todoo sistema governamental do Brasil, muda a atribuição do chefe deEstado e cria o Conselho de Estado. Revendo a matéria por eleapresentada na Comissão de Organização dos Poderes, como relator, o representante do PMDB defendeu o parlamentarismo, noqual, disse, tem um papel fundamental o Conselho de Estado, que"é da tradição do Direito Constitucional brasileiro, existindo inclusive na Constituição de 1824,a mais duradoura do País" .
Do Conselho de Estado, esclareceu o parlamentar, participarãoo Primeiro-Ministro, o Presidenteda República, os presidentes daCâmara e do Senado, as liderançasdos partidos políticos e os ex-Presidentes da Rerública. Segundoele, é preferíve ter esses últimoscomo membros do Conselho doque nos quartéis a tramarem contra as instituições democráticas.
Outro parlamentar que apóia aintrodução do Parlamentarismocomo sistema de governo a partirda edição do novo texto constitucional é o constituinte Vilson Souza, do PMDB de Santa Catarina.Ele declarou que o melhor sistemade governo para a realidade brasileira é o parlamentarista, "por nãoser uma forma autoritária, monocrática, imyerial do exercício doPoder Polftíco".
Um parlamentarista convicto,Assim' se definiu o constituinteCha~as Rodrigues, do PMDB doPiam. O parlamentar se identificou, igualmente, como "um democrata autêntico e conseqüente"e, justamente por essa postura política, disse acreditar fielmente nosistema parlamentarista. ChagasRodrigues ressaltou que o regnnepresidencialista no país tem sidomarcado por uma sucessiva ondade golpes e atos ditatoriais "quesó envergonham o nosso povo etoda a Nação". O parlamentar disse estar convencido de que naotemos condições de continuar sobo regime presidencialista e que échegado o momento de se aprovaro restabelecimento do sistemaparlamentarista de governo, "queIrá garantir a estabilidade às nossas instituições e prosperidade àNação".
MELHOR SISTEMAO constituinte Israel Pinheiro
(PMDB - MG), também considerou o parlamentarismo comosendo o melhor sistema de governo para que o Brasil consiga fortalecer suas instituições, os partidospolíticos, e, principalmente, oCongresso Nacional, como poderefetivamente controlador e fiscalizador.
Para o parlamentar, o presidencialismo tem o defeito de provocaro enfraquecimento e o desgastedos partidos, devido ao fato de oPresidente da República governardesvinculado dos políticos. Po-
10 Jornal da Constítuínte
Israel Pinheiro Carlos Benevides Aécio Neves Mário Assad Haroldo Lima
PROPORCIONAL
O PMDB ainda foi representado por mais três constituintes,que, unanimemente, fizeram a defesa do voto proporcional, comosendo o sistema que mais legitimamente pode traduzir a representação popular no Legislativo. Oconstituinte Aécio Neves (MG)fez transcrever nos Anais um discurso de seu avó, ex-presidenteTancredo Neves, quando este sustenta ser a representação proporcional a única, no Brasil, capaz de"erigir representações a nívelnacional e intelectual elevado".
No discurso lido por Aécio Neves, o ex-presidente da Repúblicaobserva que o sistema proporcional, como instrumento de ação política, pode promover a rápida democratização das estruturas e instituições brasileiras. Segundo Aécio Neves, sua intenção, ao trazero discurso ao conhecimento daConstituinte, foi a de orientar deputados e senadores a não buscarem fórmulas estranhas à realidade brasileira.
Já o parlamentar Nelson Jobim(RS) concluiu que nada mais é racional e eqüitativo do que o princípio da proporcionalidade comobase do sistema eleitoral. O parlamentar, contudo, não deixou deenxergar vantagens no voto majoritário, ressalvando apenas que seja restrito ao Poder Executivo.
Ele disse achar ainda que a reformulação do sistema eleitoralnão pode se dar pela substituiçãopura e simples do atual sistemapelo sistema distrital misto (majoritário e proporcional). Isso porque, no seu entender, na prática,nenhum dos princípios eleitoraisconstituem garantias de um bomgoverno, por produzirem distorções relevantes.
O representante do Ceará, Carlos Benevides, considerou que aadoção do sistema distrital mistopode trazer um grande risco deas cúpulas partidárias exerceremuma influência antidemocrãtica,isolando determinados nomes para as incertezas da experiência local e reservando as vagas proporcionais para os candidatos de suaspreferências.
Carlos Benevides garantiu quesua posição favorável ao voto proporcional "tem raízes na própriatradição partidária e nos argumentos de ordem técnica, administrativa e política que recomendamnão regionalizar as escolhas, masvalorizá-las com uma participaçãomais ampla da comunidade.
PLEBISCITO
Haroldo Lima acentuou que oSIstemaproporcional é o único capaz, como instrumento de açãopolítica, de promover a rápida democratização das estruturas e dasinstituições brasileiras. Disse ainda o parlamentar do PC do B, quea representação proporcional é capaz de assegurar a eleição de vultos eminentes da vida pública nacional que não teriam condiçõesde estar no Parlamento se o cntério de escolha fosse pelo voto distrital.
Roberto Freire criticou severamente o sistema distrital como inviável para o País, em vista de proporcionar o condicionamento dobipartidarismo. Acredita o parlamentar que o voto proporcionalé a melhor alternativa para o Brasil, sendo preciso, na sua opinião,apenas realizar pequenas mudanças no que toca à representaçãona Câmara dos Deputados, cabendo uma distribuição mais justa emenos desproporcional, por unidades da Federação.
Crítica semelhante fez o constituinte Haroldo Lima (BA), emnome do PC do B, ao sublinharque a adoção do voto distrital significaria vigoroso golpe contra ademocracia no Brasil e estigmatizaria a nova Constituição, independente do que ela contivesse,como uma Carta reacionária queteria "corrompido a representação democrática".
O constituinte Lysâneas Maciel(PDT - RJ), preferiu defendera realização de um plebiscito paraque a Constituição seja julgadapela população. Apesar disso, disse reconhecer na legislação eleitoral brasileira uma estrutura já emdesuso e superada.
O parlamentar apresentou ospontos principais de um projetode legislação eleitoral propostopelo PDT. Nele está, além do plebiscito, a instituição do voto destituinte ou revogatório de mandatode parlamentar, desde que decaiada confiança do eleitor, ou porcorrupção; a correção de privilégios e injustiças cometidas pelaUnião, estados ou municípios durante o processo eleitoral; a eliminação de tratamento privilegiadode qualquer natureza, inclusivefiscal, jurisdicional e vencimentosdos membros das Forças Armadas, do Legislativo e Judiciário;
e voto de igual valor político paratodos os cidadãos. Por último oconstituinte sustentou o direito devoto aos 16 anos de idade.
. O atualsistema
representativobrasileiro
está cheio devícios que
tornam doispartidos muitobem votados eos outros com
bancadasreduzidas
No sistema proporcional, a cidadania participa de forma maisampla na sua diversidade e livrenas suas opções, através do exercício soberano do voto. Essa foia definição do constituinte Roberto Freire (PE) ao expressar o posicionamento do PCB, partido deque é líder, no mesmo instante emque qualificou de fundamental aconquista de uma estrutura partidária no Brasil que assegure o pluralismo da sociedade civil.
siderou o sistema eleitoral brasileiro dos mais avançados, apesarde toda a disposição do Estado embuscar diminuir a representatividade do voto através da Históna.As distorções havidas, na sua opinião, são perversões da políticadas elites, da inconsistência ou insuficiente operacionalidade do sistema proporcional.
O argumento do parlamentar éque a Constituinte deve buscaraperfeiçoar o sistema proporcional e as instituições democráticas,ao invés de se preocupar tantocom as estabilidades dos governoseventuais. Pela posição assumidapelo constituinte, a extensão doestado membro da federação é omínimo tolerável de magnitude dodistrito, para a correta expressãoda proporcionalidade.
VOTO SOBERANO
FORMA MITIGADA
mento dos partidos políticos,criando, no País, uma tradiçãopartidária. "O sistema eleitoralque defendo é o misto, sendo ovoto proporcional", afirmou Israel Pinheiro, ao explicar que ovoto continuaria sendo apuradoproporcionalmente, só que através de distritos: "uma circunscrição menor apenas".
CORRUPÇÃO
O constituinte Jamil Haddad(RJ), líder do PSB, garantiu queseu partido é radicalmente contrário ao voto distrital, seja ele mistoou simples. O primeiro argumentolevantado pelo parlamentar doRio de Janeiro é que o voto distrital facilita a corrupção eleitoral.O segundo ponto considerado porJamil Haddad foi que esse sistemade voto liquidará com os partidosideológicos, que não possuem currais eleitorais, mas que conseguemeleger seus candidatos através dasoma de votos em várias regiões.
Jamil Haddad lembrou o casode seu próprio partido e o de suaeleição. Afirmou que não possuicurral eleitoral, não sendo a suavotação regionalizada, mas frutode vários municípios do Rio de Janeiro. Por esse motivo, ele temepelo fim dos partidos que tenhamum caráter ideológico, e a eleiçãose transforme somente em uma luta fortemente vinculada ao podereconômico, que com a instalaçãodo voto distrital no país terá umasensível redução de custos paraeleger seus representantes.
Já o PT, nas palavras do constituinte Paulo Delgado (MG), con-
O constituinte Adylson Mottalembrou a índole do povo brasileiro para sugerir que os políticosbusquem somar os aspectos queo consenso indique serem positivos tanto do sistema proporcionalquanto do distrital, VIsando à adoção de uma forma mitigada dasduas modalidades de representação.
Entende o parlamentar que asistemática mista de representatividade poderá atingir o objetivode fortalecer o quadro partidário,pelo incentivo à maior participação dos filiados nas decisões internas e, ao mesmo tempo, dar umenfoque duplo na representaçãopopular, onde estariam presentestanto os particularistas, de quemse cobrará atenção aos assuntoslocais, como os generahstas, dosquais se esperará maior eficiêncianos temas de largo alcance.
Sem definição sistema eleitoral~
Mário Assad (PFL - MG) propôs a instituição do sistema distrital proporcional (nunca o majoritário, disse). Pela proposta, em cada distrito, cada partido teria apenas um candidato, ou dobradinhade candidato a deputado estaduale federal. O processo de verificação dos eleitos seria o mesmo dehoje, o proporcional, mas o candidato só poderia ser votado em seudistrito.
Sistema distrital ou proporcional? A sessão extraordinária daConstituinte destinada à discussãodo sistema eleitoral brasileirocomprovou que entre os constituintes o tema ainda vai merecermais discussões e negociações. Isso porque o único ponto de convergência é a constatação de queé necessário empreender mudanças na representação popular doLegislativo. Há, contudo, uma ligeira tendência para que prevaleça o sistema proporcional emuso, mas com modificações quepermitam primordialmente coibiro poder econômico.
Ao seu ver, as vantagens de talprocesso são muito grandes. Oeleitor, afirmou, faria conscientemente sua opção entre pouquíssimos candidatos, ao invés de milhares, como nos grandes estados.O constituinte argumentou aindaque a luta interna nos partidos acabaria com esses tornando-se verdadeiras instituições.
Já para o constituinte FranciscoRosSI (PTB - SP), o ideal parao Brasil seria a adoção de um sistema distrital misto que resguardea possibilidade de representaçãodas minorias no Legislativo. Noseu entendimento, esse sistemapossui a vantagem de reunir os benefícios do sistema proporcionale do majoritário.
O parlamentar é de opinião queo atual sistema representativo brasileiro está cheio de "vícios", queensejam que haja dois partidosmuito bem votados e os outros pequenos partidos com bancadas reduzidas no Congresso Nacional.
Israel Pinheiro (PMDB MG), compartilhando dessa mesma opinião, completou afirmandoque o sistema representativo proporcional em uso no Brasil foitransformado "na maior negociatada Nação". Esses termos, explicou, demonstram o ódio existenteentre parlamentares, "que seacham os donos de seus redutoseleitorais".
O objetivo da Constituinte, noseu entender, é buscar o fortaleci-
Jornal da Constituinte 11
Pedido 18%do Orçamento
•para ensinoo constituinte João Calmon é
um dos mais antigos defensores daeducação no Brasil, sendo responsável por dispositivo da atualConstituição que estabelece umpatamar mínimo de aplicação derecursos por parte da União nestesetor.
Para o representante do PMDBdo Espírito Santo, "um país podeperder a sua independência, nosdias de hoje, não por causa da invasão do seu território por tropasestrangeiras, mas através do colonialismo tecnológico, como o queameaça gravemente o Brasil. E estamos preocupados, às vezes, comquestões menores, em vez de todos nós nos unirmos na batalhapelos 18% do Orçamento daUnião para a educação. Nesse momento, o anuário da Unesco nosaponta à execração mundial, colocando-nos abaixo de 79países emdispêndios públicos com educação, em relação ao Produto Interno Bruto".
ATENÇÃO
O constituinte Fernando Gasparian, do PMDB de São Paulo,acredita, por sua vez, que, no momento de elaboração da nova Carta, é necessária uma atenção especial para o setor educacional. Estesetor, na opínião do parlamentar,é dos mais Importantes para o desenvolvimento sócio-cultural eeconômico do Brasil, na medidaem que permite que haja uma população instruída, bem formada ecapacitada para exercer plenamente a cidadania em uma sociedade moderna como a brasileira.
Para Fernando Gasparian, o desenvolvimento econômico do Paísnos últimos 40 anos não foi acompanhado pelo setor educacional,onde, ao contrário, a realidadebrasileira atesta a falência de todasas experiências feitas até agora.
CONJUNTURA
Para o constituinte Roberto Rollemberg, do PMDB de São Paulo, a realidade educacional brasileira está Intimamente ligada à situação conjuntural da economianacional. Segundo o parlamentar,o problema econômico é de infraestrutura, enquanto as demaisquestões são de superestrutura.
Roberto Rollemberg considerou que não se pode comparar asituação do ensino no Brasil comsoluções dadas em países desenvolvidos como Estados Umdos,União Soviética ou Japão. A clientela dos professores, sobretudo osde escolas públicas, na opinião dele, é de alunos que têm em suasvidas o reflexo direto do "miserável salário mínimo, do sistemafeudal fundiário e do alto índicede concentração de renda".
PRIORIDADE"Tenho criticado, em diversas
oportunidades, o projeto que foiaprovado na Comissão de Sistematização. Entretanto, com referência ao capítulo da Educação e
Cultura, faço uma ressalva. O texto atende, em linhas gerais, àqueles princípios básicos que defendemos para um texto constitucional, porque sua aplicação poderá,realmente, alavancar a educaçãobrasileira, colocando-a num patamar de prioridade que defendemos" . A opinião é do constituinteEraldo Tinoco, do PFL da Bahia.
Para ele, a educação deve ocupar um lugar de destaque entreas preocupações da Constituintepor dois motivos. Primeiramenteporque a educação é um elementofundamental para a aceleração dodesenvolvimento do País. E, emsegundo lugar, porque a educaçãoé o mais efetivo fator de ascensãosocial, na medida em que permitedesenvolver todas as potencialidades do indivíduo.
DESAFIOS
A educação, no Brasil, para oconstituinte Paes Landim, do PFLdo Piauí, vem enfrentando doisdesafios históricos até hoje não superados, quais sejam, a incapacidade de dar escolas a todos quea demandam e a crescente perdade qualidade do ensino, à medidaque a sociedade se massifica. Todas as demais questões, segundoPaes Landim, inclusive as de natureza ideológica, são, na verdade,falsos problemas.
As distorções que apresenta aeducação básica brasileira, porexemplo, de acordo com dados dopróprio MéC citados pelo parlamentar, são facilmente perceptíveis: "a pré-escola certamente deveria estar atendendo às regiõesmenos favorecidas do País, maso oposto é o que ocorre".
DIREITODireito inquestionável de todos
os brasileiros. Assim define VictorFaccioni, do PDS do Rio Grandedo Sul, a educação. Para o parlamentar, a falta de condição de saúde, a falta de condição de educação inviabiliza a própria liberdadedo indivíduo dentro da sociedade.
"É claro gue não basta construirescolas", afirmou Victor Faccioni."É preciso que ela seja instrumentalizada, seja dotada e baseada numa política educacional, onde haja possibilidades de o aluno teracesso a todas as alternativas efontes de saber. Só assim ele podeadquirir condições para a sua realização plena em termos de direitoe cidadania".
CIDADANIA"O exame e a reflexão do pro
blema educacional brasileiro terãoque se articular com outros temas,todos eles convergentes para estabelecer um só alvo, alvo este queconsiste em assegurar a cada cidadão o exercício da cidadania emsua plenitude, a fim de resgataruma imensa dívida social". Estaé a posição do constituinte CarlosAlberto Caó, do PDT do Rio deJaneiro.
Essa dívida social, de acordo
Dados do censode 1980 mostram
um País comíndice de
analfabetismode 34% em
relação à suapopulação.
E isso tende ase agravar, jáque 30% da
população entre10 e 14 anosainda nãosabe ler eescrever
Paes Landim
Florestan Fernandes
com o parlamentar, foi contraídacom mais de 13 milhões de famíliasbrasileiras, às quais tem sido negado sistematicamente pelo Governo o direito à vida, à educação,à saúde e à moradia. "A educaçãoque queremos é aquela que democraticamente possa fazer com quecada brasileiro seja mais que umconsumidor, um autor político".
PROBLEMA SOCIALPara o constituinte Florestan
Fernandes, do PT de São Paulo,é importante que a educação esteja ao alcance da maioria da população, o que quer dizer, para oparlamentar, daqueles que são osoprimidos, os excluídos e os explorados. A educação, segundo Florestan Fernandes, é um problemasocial de uma gravidade inacreditável.
O parlamentar lembrou dadosdo censo de 80, em que o Paíscontava com um índice de analfabetismo de 34% em relação a suapopulação total. E a situação, noentender de Florestan Fernandes,tende a se agravar, já que 30%da população entre 10 e 14 anosainda não sabe ler e escrever.
LIVROS"Se este País é a 8' economia
mundial e o 10°a editar livros, como é que esses livros não chegamàs mãos do povo? "Esta perguntafoi feita pelo constituinte SólonBorges dos Reis, do PTB de SãoPaulo, para o qual o CJ.ue falta éa formação política, pOIS as elitesd!~igent~s deste .País, em sua opímao, nao acreditam na formaçãopolítica e na educação do povo.
A Constituinte, de acordo como parlamentar paulista, compreende que a educação é a prioridade nacional, o que não acontececom as classes dirigentes do País.Esse fato fica evidente para SólonBorges dos Reis quando o Governo fecha questão em dois pontos:é contrário à fixação de percentuais orçamentários para a educação e é favorável à liberação deverbas públicas tanto para as escolas públicas quanto para as particulares.
DICOTOMIAO problema educacional brasi
leiro, segundo Álvaro Valle, doPL do Rio de Janeiro, não estána dicotomia que se procura estabelecer entre escola pública e privada. Para o parlamentar, a verdadeira dicotomia se coloca em termos de escola eficiente ou ineficiente, "pois democratizar umasociedade é dar a todos oportunidades iguais, e a escola ineficiente nega essa igualdade de oportunidade entre os indivíduos".
Álvaro Valle reconheceu que,em muitos setores, é fundamentala escola pública, para coibir a existência de comerciantes da educação e oferecer uma opção ao aluno. No entanto, segundo o constítuinte, os próprios professores sabem que a escola pública, em nos-
João Calmon
so País, está burocratizada, "custando cinco vezes mais do queuma escola privada" .
DEPENDÊNCIA
O investimento em ciência etecnologia a níveis que permitamao País reduzir sua dependênciado exterior foi defendido peloconstituinte Fernando santan~,do PCB da Bahia. O parlament rlembrou, por exemplo, que os pases desenvolvidos destinam algoem torno de 3% do PIR para Investimentos em pesquisa nesse setor, e que, se o Brasil não adotaruma linha semelhante, "marcharemos para sermos mais escravizados do que somos hoje".
"Nesse sentido - disse- aemergência de uma ampla e fecunda geração de pesquisadores aptosa enfrentar os desafios que a reali~dade nos propõe passa por uma sólida aquisição dos fundamentos dosaber, em nível da escola elementar, da escola média, com especialatenção ao estudo da Matemática;da Física, da Química e da Biologia." ,
ORÇAMENTOA constituinte Lídice da Mata, i
do PC do B da Bahia, afirmou que'o projeto da Comissão de Sistematização apresenta dispositivos considerados de fundamental importância para os educadores, comoo respeito ao princípio dos percen- ,tuais orçamentários fixados. Naopinião da parlamentar, essa é !uma prática salutar que se estabe- ,leceu desde a Constituinte de 34. :
Outro ponto positivo do proje- 'to, de acordo com Lídice da Mata, "é o que assegura uma conquistada sociedade civil em sua relaçãocom o poder público.
Por outro lado, segundo a constituinte, o projeto apresenta aspectos negativos como o do dispositivo CJ.ue abre possibilidades indiscriminadas para a concessão desubsídios às escolas particulares.
QUALIDADE
A constituinte Beth AZize, doPSB do Amazonas, abordou aquestão da qualidade do ensino ecolocou como ponto fundamentala valorização do magistério doPaís. "Discute-se, academicamente, o problema da qualidade de ensino. Sabemos, por exemplo, queOprimeiro passo reside na moralidade do recrutamento e seleçãodos agentes da educação. Tornouse praxe neste País recrutar profissionais incompetentes, deixandose de lado profissionais competentes que fazem do magistério umsacerd6cio" .
Beth Azize afirmou que admissões são feitas J?orinteresses políticos ou por privilégios de parentesco político. "Queremos a valorização do magistério para que oprofessor brasileiro sinta orgulhode ser um profissional da área",concluiu.
12 Jornal da Constítuínte
SALÁRIO MÍNIMO
Augusto Carvalho, do PCB(Distrito Federal) fez enfáticas críticas aos chefes militares e ao Presidente do Tribunal Superior doTrabalho por se manifestaremcontra a jornada de 40 horas e estabilidade dos trabalhadores.Condenou, igualmente, pronunciamento do Presidente da República que investiu contra a pretensão dos trabalhadores.
Para Augusto Carvalho a Constituição deve assegurar salário mínimo condizente; proibição dequalquer prestação salarial, inferior ao salário mínimo; criação daComissão Nacional do Salário Mínimo; participação nos ganhos deprodutrvidade e rentabilidade dasempresas urbanas e rurais; participação na gestão das empresas públicas, mistas e concessionárias deserviços públicos; jornada de 40horas; estabilidade.
NÃO PREJUDICA
Edmilson Valentim, do PC doB (Rio de Janeiro), sustenta quea redução da jornada de trabalhopara 40 horas semanais não prejudicaria a economia brasileira, pelocontrário, abriria mais vagas paraos trabalhadores, na margem decada 5 trabalhadores para uma vaga, contribumdo , assim, para oaquecimento do mercado mterno,ISSO além de a revolução tecnológica já permitir a jornada de 40horas.
Mendes BotelhoJosé Maria Eymael, do PDC deSão Paulo -, um primeiro pontodeve ser estabelecido: o primadodo valor do trabalho.
Tem-se afirmado, em corredores falsamente liberais, que bastao salário como paga do trabalho.Isto é uma falácia, porque todaa riqueza humana pressupõe necessariamente a participação dotrabalho.
ACIDENTES
Antôniocarlos Mendes Thame,constituinte pelo PFL de São Paulo, quer solução para os acidentesde trabalho, e fez ver que está najornada de trabalho uma das causas de acidentes.
Além disso, conforme MendesThame, é de vital importância quea Constituição mantenha o dispositivo que prevê a competência doMinistério Público para promoveração civil pública visando a medidas cautelares (ou reparatórias),quando se aventar que normas desegurança e saúde do trabalho nãoestejam sendo observadas.
Osvaldo Bender
Em termos anuais e mesmo descontando férias, domingos e feriados, o brasileiro trabalha 2.208 horas, enquanto o japonês trabalha2.066 horas, o espanhol e o italiano, 1.760 horas, o mexicano, 1.947horas.
Até hoje - diz ainda MendesBotelho - não se tem notícia depaíses, que ao optarem por umaJornada menor, tenham algumaqueda na produção. Pelo contrário. E quanto à garantia no emprego, acentua o parlamentar que oBrasil não será o primeiro a adotaresse princípio.
ESTADO
Afif Domingos, constituinte pelo PL de São Paulo, fez ver queo Brasil é hoje uma Nação madurae que a sociedade não necessitada tutela do Estado; ela exige liberdade para que possa encontraro seu próprio cammho.
O representante paulista querque seja permitido às empresasadministrarem os recursos que hoje pagam ao Estado.
O que penso sobre a estabilidade? Em primeiro lugar, estabilidade do sistema de emprego, sim,com a criação de um seguro-desemprego, cujos recursos sejam ficalizados muito de perto pela sociedade. Em segundo lugar, o problema de demissão imotivada. Aítrata-se de dar maiores garantiaspara o trabalhador no contrato detrabalho. Trata-se de criar umaforma de regulamentação, cujoprincípio deve estar inserido naConstituição, mas cuja regulamentação deve ser, por lei, apropriada, dando as formas das demissões.
PRIMADOPara a democracia cristã - con
forme exposição do constituinte
OUTROS PAÍSES
TRANSFORMAÇÕES
Vicente Bogo, constituinte peloPMDB do Rio Grande do Sul,anunciou gue não defende umaConstituição com mil artigos, masdeseja trabalhar no sentido de quetenhamos uma com artigos suficientes para promover as transformações econômico-sociais tão desejadas pela classe trabalhadora.
A estabilidade no emprego diz Vicente Bago é uma antigareivindicação dos trabalhadores.Todos sabem que o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço foro golpe fatal na segurança do trabalhador no emprego. O FGTS serevelou um engodo, a começar pela opção obrigatona a que ficousujeito o empregado. Quem nãoassinar a declaração de opção doFGTS não tem emprego no Brasil.
Mário Lima
a estabilidade no emprego. Ou seja: o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, que veio para construir casa e está construindo mansão para quem não contribui como Fundo de Garantia; o Fundo deGarantia, que veio para resolverproblemas insolúveis, como a incerteza da classe trabalhadora, está criando muito mais incerteza.A verdade nua e crua é que o Fundo de Garantia ajudou muito maisos empresários.
O constituinte Mendes Botelho, do PTB de São Paulo, mostraum levantamento do DIEESE sobre a jornada de trabalho em alguns países: Brasil, 48 horas; México, Argentina, Paraguai, Peru,40 horas; Estados Unidos e Japão,40 horas e 54 minutos; Espanha,39 horas e 12 minutos; França, 39horas; Alemanha Ocidental, 38horas e meia; Noruega, 33 horase 24 minutos.
,Juarez Antunes
FUNDO DE GARANTIA
Em seu pronunciamento o constituinte LUIZ Inácio Lula da Silva,do PT de São Paulo, recordouque, após 64, o Fundo de Garantiado Tempo de Serviço seria soluçãopara vários problemas da classetrabalhadora: não teria problemacom a velhice.
A verdade, que a história dospoderosos não contou, é que oFundo de Garantia foi criado exatamente no momento em que asindústrias automobilísticas atingiam 10 anos, aqui, no Brasil, eos seus trabalhadores, portanto,iriam alcançar, pela primeira vez,
mas não explica a compra de apartamentos para marajás doINAMPS, enquanto os aposentados vivem na miséria. Mentira noatraso do pagamento de 79 a 84,mentira para os trabalhadores aténo salário mínimo. Mentira deslavada de ponta a ponta. "Ele criticaa posição do ministro do Exércitosobre a questão, observando queos trabalhadores não opinam sobre assuntos militares. Tudo issose acumula contra os trabalhadores, mas os trabalhadores chegama acreditar, e vieram a Brasília trazer propostas.
AfifDomingos
Debatida a jornada de 40 horas
Ií"
Defender a jornada de trabalho de 40 horas é, também,não confundir produção com produtividade, segundo o constituinte Mário Lima (PMDB-BA). Luiz Inácio Lula da Silva (PTSP) assegura que o FGTS, "que veio para resolver problemasinsolúveis", ajudou muito mais os empresários do que a classetrabalhadora. Afif Domingos (PL-SP) diz o que pensa sobrea estabilidade e o seguro-desemprego. E Antôniocarlos MendesThame (PFL-SP) pede solução para os acidentes de trabalho.Esses temas foram postos em discussão em plenário, durantesessão noturna realizada especialmente para apreciar a questãodos direitos trabalhistas e da liberdade sindical. A par disso,falou-se também em salário mínimo, participação nos ganhosde produtividade das empresas, além de co-gestão dos trabalhadores em empresas públicas, mistas e concessionárias de serviçospúblicos.
Ao discutir no plenário daConstituinte os direitos trabalhistas e liberdade sindical o constituinte baiano Mário Lima, doPMDB, defendeu a jornada detrabalho de 40 horas, porque seconsidera das pessoas que nãoconfundem produção com produtividade.
São conceitos diversos - diz oorador. - Produção é a aferiçãoabsoluta do quantitativo produzido, enquanto que a produtividadeencerra a produção havida em determinado espaço de tempo, porisso mesmo um conceito relativo.Para que o trabalhador consi~amaior. produtivrdade , necessãriose torna que ele seja portador desaúde física e mental. E uma dasformas de consegui-la é a dosagemcorreta entre a carga horária detrabalho com o descanso e o lazer.
MárIO Lima recorda que aConstituinte de 1934 tivera a necessária sensibilidade de diminuira carga horária.
E em 1934 o Brasil fabricavaapenas alimentos e pequenas utilidades. Hoje, fabnca avião, automóvel, submarino, computador, eessa economia, dizem eles, nãocomporta uma jornada de 40 horas. Nós não aceitamos, porqueo que eles querem é continuar aexplorar o trabalhador.
TUDO CONTRA
O constituinte Osvaldo Bender,do PDS do Rio Grande do Sul,faz ver que o verdadeiro empresário não pode fazer retiradasconstantes da empresa, quer de lucro quer de capital.
O empresário autêntico - dizBender - não pode ser um aventureiro, e deve inspirar confiançaaos que o rodeiam, e aos que dependem dele. Mas o que gostariade ver, antes e acima de tudo, éum salário melhor, saláno maisjusto, que compense o trabalho,a fim de que o trabalhador tenhao mínimo necessário: moradia,educação para os filhos, automóvel, lazer, alimentação a contento,e comprar coisas bonitas que irmãos nossos fabricam.
O constituinte Juarez Antunes,do PDT do Rio de Janeiro, entende que "tudo está contra os trabalhadores", e nunca numa democracia se arrochou tanto e se garroteou tanto os trabalhadores, daativa ao aposentado.
Isto enquanto prepondera amentira do Governo, as falcatruasdo ministro da Previdência Social,que vai para a televisão chorar,
EMPRESÁRIO
Jornal da Constituinte 13
Presídiosafastados
Urbanizaçãode favelas
Srs. Constituintes,A nossa sugestão é a urbaniza
ção das favelas brasileiras, em defesa daquelas pobres pessoas quetêm um baixíssimo nível de vida,São nas favelas que todos os problemas sociais ocorrem. Por faltade condições de vida, que as crianças desnutridas vão crescendomarginalizadas pela sociedade(00')'
Sandra Angélica de JesusMauá-- SP
Trabalhopara todos
Srs. Constituintes,(... ) Assim como antigamente,
nós devemos pensar nos brasileiros aqui dentro do Brasil, não emdivisa do Brasil lá fora., Dandochances para todos trabalharem emorarem nas roças, diminuiria acriminalidade. O Brasil tem quedar prioridade às empresas nacionais e ser rigoroso com empresasestrangeiras, principalmente asdos Estados Unidos.
.: José de Souza AquinoIndaiatuba - SP
Incentivoao produtor
Srs. Constituintes,Espero que a nova Constituição
nos dê condições de melhores salários, assistência médica, educação, bolsas de estudo para que opobre tenha condição de concluirum curso superior. Criar maisoportunidades de trabalho, incentivar o produtor rural a produzirmais, levar adiante a reformaagrária.
Aquiles de Oliveira LimaItapetinga - BA
Srs. Constituintes,Reforma do Judiciário, com a
criação de presídios afastados dasgrandes cidades, onde o perigo éconstante. Os presidias teriam afinalidade de recuperar os detentos e utilizariam guardas armados,sem fazer uso de repressões dentrodos presídios (00')'
Extinção do FGTS e criação deum meio para que o trabalhadortenha uma melhor segurança (... ).Pagamento da nossa dívida, conforme as nossas possibilidades,mas pagamento mesmo, para quenosso país tenha crédito moral(...).
Valdir Arnaldo LehrRio Claro - SP
Educaçãode base
Educação" .precana
Srs. Constituintes,Sugiro que a educação no Brasil
mude, pois a cada dia se tomamais precária. O ensino vem decaindo a cada ano que passa e dentro das universidades podemos encontrar milhares de estudantes incapazes e que, futuramente, serãopéssimos profissionais (00')'
Liliana Bernardo de OliveiraCachoeira do Itapemirim - ES
Srs. Constituintes,Que as escolas sejam realmente
um centro educativo e social dacomunidade local. Pré-escolaridade, desde zero ano. Salas noturnascom cursos'supletivos para os jovens que trabalham e para os paisou adultos analfabetos. Que todomês, nas escolas haja um dia parauma atividade extraclasse, englobando toda a escola, por período.Oue ~ piso salarial dos professoresseja justo. Que a tradicional formação em trabalhos manuais eprendas domésticas volte a ser dada nas escolas (...).
W'anda GarneiroSão Paulo - SP
Fim dacorreção
Srs. Constituintes,A nova Constituição deve asse
gurar que as empresas .estatais sejam bem administradas e geradoras de lucros que, no âmbito dosgovernos federal, estadual e municipal, se elimine em definitivo o"câncer" do empreguismo; quehaja reformulação das entidadesdo sistema Embrater no sentido~e dissociá-Ias,da p?líti~a partidána; que se de o fim a correçãomonetária, geradora e realimentadora do processo de inflação(...).
Srs. Constituintes,A minha sugestâo é ligada à
área de educação; tomar práticaa lei que atribui ao Governo custear o ensino pré-escolar em todoo território nacional, pois o ensinopré-escolar neste pais é prioridadedas escolas particulares e de crianças ricas. Peço-lhes que lutem pelaeducação para que este país se torne uma nação educada.
Tânia Maria da SilvaSôo Sebastião do Passe - BA
Ensinopré-escolar
Mário SunaharaOlivença - AL
Interferênciado parlamentoSrs. Constituintes,A interferência do Parlamento
é necessária no Puder Executivo.O Congresso deve se postar comoo poder maior da República, poisé composto de representantes dopovo, que não aceita mais a imposição ditatorial. O Governo sófunciona se for ditatorial ou parlamentar, então que seja parlamentar. ..
José Pereira Guimarães JúniorGoiânia - GO
Poderjudiciário
Srs. Constituintes,Maior autonomia do Poder Ju
diciário. Reformá do sistema decriação e funcionamento dos partidos políticos. Medidas que acautelem a convergência do Congressopara o poder central (00')'
Newton Angelo de Sales e SilvaRecife -- PE
Missãoimportante
Srs. Constituintes,Lei severa que dê condições às
crianças de terem moradia; educação e saúde. Está em vossas mãoso destino de milhares de crianças,a esperança de um novo Brasil(00')'
Nelza Batista de AraújoTaperoá- BA
A idéia é participar sempre mais.
Esperança naconstituinte
Srs, Constituintes,O salário mínimo não dá nem
para se alimentar, quanto mais para sobreviver diante desses preçosaltíssimos que andam por aí. Esperamos que essa nova Constituintenão nos desaponte.
Neydson LimaAbaetetuba - PA
Esta página é destinada a você, leitor.
Srs. Constituintes,Para que manter preso um indi
víduo condenado a mais de cemanos de prisão? Por que não a pena de morte? Existe recuperaçãopara um marginal condenado amais de cem anos? Surgira que seacabe com os presídios "hotéis"e se crie somente colônias agrícolas, na qual o preso, para sobreviver, cultive, trabalhe, construaetc., ( ...).
José Luiz Nunes LopesRio de Ianeiro - RI
Escrevendo, você manda sugestões para os Constituintes.
Prisãoinútil
Regimeparlamentarista
Transtornosfuturos
Srs. Constituintes,Desarquivar urgente a reforma
agrária, antes que o nosso país sejavítima de transtornos futuros, comdesastre e grandes tempestades esecas que já começaram em decorrência da derrubada de milharesde árvores, milhares de alqueiresde mata (00')'
José Rodrigues do CarmoPalmeira D'Oeste - SP
Srs. Constituintes,Sugiro que a nova Constituição
adote o regime parlamentarista,de vez que o presidencialismo,sem responsabilidade, tem resultado em fracasso total.
Mário CunhaBagé- RS
Jornal da Constituinte
Srs. Constituintes,Nova Constituição, hora de co
ragem, trabalho, espírito coletivo,e, acima de tudo, patnotismo, fatores que podem fazer do Brasiluma das maiores potências domundo (... ). Em pouco tempo,nos moldes que seguem a nossaestrutura social, a fome atingiráparâmetros calamitosos. Urge, asSim, encontrar solução hábil à instituição do controle da natalidade.
Oswaldo Santa Cruz NeryBelo Horizonte - MG
Controle danatalidade
Reforma" .agrana
Maior,autonomia
Srs, Constituintes,Todos sabemos que a renda nas
ce no município, então por quea maior parte da arrecadação tributária fica retida pela União? Opovo vive nos municípios, logouma melhor distribuição das receitas urge ser feita, para que os municípios tenham uma maior autonomia, melhorando, assim, ascondições de vida da população(... ).
José Fernando Garcia BesoralSão Paulo - SP
Srs. Constituintes,O ensino superior em nosso país
constitui um sonho inatingívef para a grande maioria dos brasileiros, prmcipalmente para aquelesque dependem do trabalho paraseu sustento e de sua família. Asuniversidades federais abrem seusespaços muito mais para as classesprivilegiadas do que para a população de baixa rcnda. Sugere-seque a Constituinte discuta esseproblema, procurando soluçõesque viabilizem o acesso de todosos brasileiros às universidades, oque irá levar-nos a atingir objetIVOS de enorme alcance social.
Walter GuimarãesBelo Horizonte - MG
Acesso àsuniversidade
Srs. Constituintes,Sou engenheiro agrônomo e
mais um dos milhares de profissionais de nível superior que seencontram desempregados, masacho que a reforma agrária irá trazer grandes benefícios ao trabalhador rural brasileiro e confio naproposta de melhoria feita pelonosso Presidente (. ..).
Evaristo Liberato de SouzaPoção de Pedras - MA
14
ADIRPIW,lliam
o pacote popularTodo poder emana do povo. Esta sentença
será a grande verdade da nova Cartaque a Assembléia Nacional Constituinte
está escrevendo.O Brasil respondeu ao chamado. Índios,
negros, crianças, mulheres,trabalhadores, empresários,
artistas, enfim, todas as parcelasda vontade nacional estiveram
dentro e diante do PoderConstituinte, sugerindo,
pedindo, reclamando e cobrando,através das emendas populares,
que são, de fato, o "pacote do povo".
ADlRP/Castro JümorADlRP/StucUrl,
ADlRPlWdham
Jornal da Constituinte 15
Constituintes falam de Drummond
***
***
Mas, é preciso banhá-lasnas águas claras e fundasda sensibilidade poética,onde não se banham os númerosnem efêmeras estatísticasnem a quimera da puramaterialidade.
As leis têm que ter alma,como a natureza tem alma,como tem alma o poeta.
É hora de fazer leis,de pensar, criar, sentir e vivera mágica poesia que igualaa tudo e a todos
numa só e solidária existência.
Esse, o caminhoa solução.
Paulo Neves
Estamos, agora, forjando as leisque se desejam novas, modernase, tanto quanto possível,eternas.
"Que lembrança darei ao país que me deutudo que lembro e sei, tudo quanto senti?"
Carlos Drummond de Andrade
Mais que lembrança que é a coisa que passao poeta nos deu o objetoconcretoda sua sensibilidade,uma visão poética anti-herméticadas coisas, dos casos, de tudo.Sem essa visão, o que se vêé a mais pura ilusão de ótica.Ciência sem poesia?Sem poesia, política?De que valem a economiae as leis,principalmente, essencialmenteas leis,sem a visão poética que despe todos os seresda mesquinheze os veste com todas as cores e formase belezas e virtudes?
"Ou: Brejo das Almas,nto do Mundo,42; CmifwõtJ de
ROJa do Povo,1945; Poesia aLi
nigma, 1951;~ 1951; A Me,SQ,UJ Ilha, 1952; Fae Poesia all Agora.
da Buquinag~
1957; Fala, Amm·oemas, 1959; u.
2; A Boba t/ ra Completa,~ IÇO ícrôni-
JulrnJ, 1967;JoiLnnpo & aJ68; Discursotmas Sombras,
"Ele pintou e coloriu um quadro incomparável do povo brasileiro e, porisso, jamais será esquecido."
Farabulini Júnior (PTB - SP)***
"Plantou com sua poesia a utopia quepode ser conquistada pela sociedade, deum país em que todos os seus cidadãospossam viver melhor. "
José Genoíno (PT - SP)***
GaetanoRé (Jornal da Constituinte) ,\\~
-oo-l.
\ (;S'J
"Pela minha voz e pela minha presença está o povo brasileiro. Venho mesolidarizar com a perda do nosso maiorpoeta. "
Ulysses Guimarães, Presidente daAssembléia Nacional Constituinte.
"Retratou o cotidiano com a mesmaenergia e intensidade com que esquadrinhava temas sociais e psicológicos."
José Elias Murad (PDT - MG)
***
Também falaram do poeta os constituintes Adylson Motta (PDS - RS),Adrolado Streck (PDT - RS); GersonPeres (PDS - BA) e Paulo Delgado(PT-MG).
***
Oswaldo Macedo (PMDB - PR)
Valmir Campelo (PFL - DF)
***
"O Brasil amanheceu menor."
"Foi tradutor de anseios e esperanças, ao mesmo tempo em que foigrito de alerta."
"Sua poesia foi uma militância contra as injustiças sociais."
Roberto Freire (PCB - PE)
"Um poeta feito com a pedra de Itabira e com a ternura de um Charles Chaplin. "
Anna Maria Rattes (PMDB - RJ)***
1
"Ele se orgulhava de ser jornalista, oque considerava uma tribuna onde defendia as ansiedades do povo, marcadasem sua poesia. "
Miro Teixira (PMDB - RJ)";,,,.' ~,
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fi'· ." ,'.'. ' ;·;r~·~~ .' . ".' ... '". .
(I
IIque (Jornal do Brasil) (!bico (O Globo)
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