1
124 v27 DE NOVEMBRO DE 2008 ESTUÁRIOS SOCIEDADE Água (salobra) é vida Porque são os estuários ecossistemas tão importantes? POR PEDRO MIGUEL SANTOS FOTOS: MARCOS BORGA S e o seu jantar esta noite for peixe, muito provavelmente ele viveu ou reproduziu-se numa zona sa- lobra. Estima-se que cerca de 70% das espécies com interesse piscatório pas- sam uma parte do ciclo de vida neste tipo de sistemas, o que demonstra a sua impor- tância em termos económicos. Mas não só. As características únicas da mistura entre água doce e salgada proporcionam habitat a muitos tipos diferentes de pequenos in- vertebrados e algas, e, consequentemente, a diversas espécies de aves que deles se ali- mentam. A vegetação é também um elemento fun- damental. Os sapais, comunidades de plan- tas que crescem nas margens, entre marés, são as áreas mais produtivas do planeta, em termos de biomassa, extremamente ricas em alimentos. Desempenham um papel es- sencial, porque têm uma função depurativa, capaz de precipitar metais pesados e anular a sua toxicidade – são chamados «rins da ter- ra». Além disso, resistem a grandes teores de salinidade e contribuem para a estabilização das margens dos rios e controlo de cheias. Por seu lado, o homem viu, desde há sé- culos, condições muito propícias para se fixar junto à foz dos rios. Nos estuários, situam-se os principais portos, e a eles se ligaram inúmeras actividades económicas que levaram as populações a estabelece- rem-se à sua volta. Segundo o Plano Nacio- nal da Água (PNA), metade da população de Portugal continental vive em torno das sete principais zonas salobras do País – estuá- rios do Tejo, Douro, Minho, Sado, Guadia- na e rias de Aveiro e Formosa. Mas o que se sabe realmente sobre estas áreas? ESTUDOS PRECISAM-SE Até aos anos 80, não se efectuaram em Portugal investigações relevantes sobre REFÚGIO O estuário do Tejo é ponto de encontro de aves migratórias em trânsito entre a Europa e paragens mais meridionais - cerca de 75 mil todos os anos

VVerde_estuários_1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

SOCIEDADE ESTUDOS PRECISAM-SE Até aos anos 80, não se efectuaram em Portugal investigações relevantes sobre 124 v 27 DE NOVEMBRO DE 2008 POR PEDRO MIGUEL SANTOS REFÚGIO O estuário do Tejo é ponto de encontro de aves migratórias em trânsito entre a Europa e paragens mais meridionais - cerca de 75 mil todos os anos FOTOS: MARCOS BORGA

Citation preview

Page 1: VVerde_estuários_1

124 v 27 DE NOVEMBRO DE 2008

ESTUÁRIOS SOCIEDADE

Água (salobra) é vidaPorque são os estuários ecossistemas tão importantes?

POR PEDRO MIGUEL SANTOSFO

TOS

: MA

RC

OS

BO

RG

A

Se o seu jantar esta noite for peixe, muito provavelmente ele viveu ou reproduziu-se numa zona sa-lobra. Estima-se que cerca de 70%

das espécies com interesse piscatório pas-sam uma parte do ciclo de vida neste tipo de sistemas, o que demonstra a sua impor-tância em termos económicos. Mas não só. As características únicas da mistura entre água doce e salgada proporcionam habitat a muitos tipos diferentes de pequenos in-vertebrados e algas, e, consequentemente,

a diversas espécies de aves que deles se ali-mentam.

A vegetação é também um elemento fun-damental. Os sapais, comunidades de plan-tas que crescem nas margens, entre marés, são as áreas mais produtivas do planeta, em termos de biomassa, extremamente ricas em alimentos. Desempenham um papel es-sencial, porque têm uma função depurativa, capaz de precipitar metais pesados e anular a sua toxicidade – são chamados «rins da ter-ra». Além disso, resistem a grandes teores de

salinidade e contribuem para a estabilização das margens dos rios e controlo de cheias.

Por seu lado, o homem viu, desde há sé-culos, condições muito propícias para se fixar junto à foz dos rios. Nos estuários, situam-se os principais portos, e a eles se ligaram inúmeras actividades económicas que levaram as populações a estabelece-rem-se à sua volta. Segundo o Plano Nacio-nal da Água (PNA), metade da população de Portugal continental vive em torno das sete principais zonas salobras do País – estuá-rios do Tejo, Douro, Minho, Sado, Guadia-na e rias de Aveiro e Formosa. Mas o que se sabe realmente sobre estas áreas?

ESTUDOS PRECISAM-SEAté aos anos 80, não se efectuaram em Portugal investigações relevantes sobre

REFÚGIO O estuário do Tejo é ponto de encontro de aves migratórias em trânsito entre a Europa e paragens mais meridionais - cerca de 75 mil todos os anos