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Y51r Ym, Robert K. Estudo de caso: planejamemo e metodos / Robert K. Yin; trad. Daniel Grassi - 2.ed. - Porto Alegre: Bookman, 200l. 1. Estuda de caso - Ciencias sociais - Metoda - Planejamento. 1. Titulo. CDU 301.085 Cataloga<;ao na publica<;ao: Monica Ballejo Canto - CRB 10/1023 85-7307-852-9 ESTU ODE CASO Planeiamento e Metodos Robert K. Yin 2!! 0300093787 ,,/I '"' "' Consultoria, supervisao e revisao tecnica desta edicrao: CLAUDIO DAMACENA Doutor em Ciencias Economicas e Empresariais ela Un ivers ida de de Cordoba (Espanha) Professor e Pesquisador da Unisinos Reimpressao 2003 DANIEL GRASSI fu2krnan 2

[YIN, Robert K] Estudo de Caso

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Y51r Ym, Robert K. Estudo de caso: planejamemo e metodos / Robert K. Yin;

trad. Daniel Grassi - 2.ed. - Porto Alegre: Bookman, 200l.

1. Estuda de caso - Ciencias sociais - Metoda - Planejamento. 1. Titulo.

CDU 301.085

Cataloga<;ao na publica<;ao: Monica Ballejo Canto - CRB 10/1023

~N 85-7307-852-9

ESTU ODE CASO Planeiamento e Metodos

Robert K. Yin

2!! Edi~io

0300093787

,,/I '"' "' Consultoria, supervisao e revisao tecnica desta edicrao:

CLAUDIO DAMACENA Doutor em Ciencias Economicas e Empresariais

ela Universidade de Cordoba (Espanha) Professor e Pesquisador da Unisinos

Reimpressao 2003

~~~

Tradu~ao:

DANIEL GRASSI

fu2krnan

2

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Apresenta98.0

Eurn privih~gio escrever a Apresenta~ao deste bela livro. Ele apresenta, de forma resllmida, urn metodo de pesqllisa para a investigac;ao de inferencias v;ilidas a partir de eventos que se encontram fora dos limites do laboratorio] ao mesmo tempo em que mantem os objetivos do conhecimento compartilha­do com a ciencia laboratorial.

Cada vez mais estou chegando a conclusao de que a essencia do metodo cientifico nao e a experimentac;ao per se, e sim a estrategia conotada pela expressao hip6teses concorrentes plausiveis. Tal estrategia pode comec;ar a pro­curar suas soluc;oes com "evidencias" ou pode comec;ar com "hipoteses". Em vez de apresentar essa hip6tese ou evidencia da maneira da "confirmac;ao" positivista, independente do contexte (ou mesmo da "corroboraC;ao" pos­positivista), ela e apresentada em redes ampliadas de implicac;oes que (embo­ra nunca completas) sao cruciais a sua avaliaC;ao cientifica.

Essa estrategia compreende a explicitaC;ao de outras implica~oes da hi­p6tese para outros dados disponiveis e a exposi<;ao de como eles se correspon­demo Tambem inclui a procura par explicac;6es concorrentes das evidencias ern foco e a analise de sua plausibilidade. A plausibilidade dessas explica~6es e geralmente reduzida por uma "extinC;ao de ramificac;6es", ou seja, atraves da observac;ao de suas outras implicar;6es em conjuntos diferentes de dados e de quao bern elas se ajustam umas as outras. Ate onde essas duas tarefas potencialmente interminaveis serao conduzidas vai depender da comunidade cientifica existente na epoca da pesquisa e de quais implicar;6es e hip6teses concorrentes plausiveis foram explicitadas. :E com essa base de rrabalho que as comunidades cientfficas bem-sucedidas alcanc;aram urn consenso efetivo e progressos cumulativos, mesmo sem terem obtido evidencias concretas. Essas caracteristicas das ciencias bem-sucedidas, no entanto, foram grossciramente

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viii Apresenta():5.o

negligenciadas pelos positivistas 16gicos e sao pouco utilizadas pelas ciencias sociais, tanto quantitativa quanto qualitativameme.

A verificac;ao atraves de ourras implicac;6es e a extinc;ao de ramificac;oes em hip6teses concorrentes tambem caracterizam aquelas pesquisas que bus­cam validade nas ciencias humanas, incluindo a hermeneutic a de Schleiermacher, Dilthey, Hirst, Habermas e os estudos atuais sobre a interpre­tac;ao dos textos classicos. Da mesma forma, a estrategia e tao util para as conjecturas de urn historiador sobre urn acontecimento especifico quanto 0 e para a elaborac;ao de uma lei natural por urn cientista. EtfC:lgico que os prin­cipais movimentos nas ciencias sociais estejam utilizando 0 termo henneneutica para representar a desistencia do objetivo de validade e 0 abandono da dispu­ta sobre aqueles que, afinal de contas, estao com a razao. Assim, juntamente com a abordagem de estudo de caso quantitativa e quase-experimemal que Yin nos ensina, nosso arsenal metodol6gico das ciencias sociais tarn bern ne­cessita de uma metodologia humanfstica de estudo de caso que busque a va­lidade e que, ao nao fazer uso da quantificac;ao ou de testes de signifidincia, ainda trabalhe sobre as mesmas questoes e compartilhe os mesmos objetivos de conhecimento.

Como vers6es dessa estrategia de hip6teses concorrentes plausfveis, existem dois paradigmas do metodo experimental que os cientistas sociais talvez queirarn seguir. Por habito, estamos aptos a pensar primeiro no mo­delo da "atribuic;ao aleat6ria a tratamentos", oriundo das estac;6es agrkolas de experimentac;ao, dos laborat6rios de psicologia, de testes aleat6rios de pesquisa medica e farmaceutica e de alguns modelos matematicos criados pelos estatfsticos. A randomiza~ao tern por objetivo conrrolar urn nt'imero infinito de hip6teses concorrentes sem especijicar em que consistem. A atri­buic;ao aleat6ria nunca controla completameme essas hip6teses concorren­tes, mas as torna "implausfveis" em urn determinado grau estimado pelo modele estatistico.

I, o outro paradigma, mais antigo do que 0 primeiro, vern dos laborat6rios i Ii da fisica e pode ser resumido pelo "isolamento experimental" e pelo "controle I I

laboratorial". Aqui se encontram as paredes isoladas com chumbo, os contro­les de pressao, temperatura e umidade, a obtenc;ao de vacuos, e assim par diante. Essa rradic;ao mais antiga e responsavel por urn numero relativamente baixo mas explicitamente especificado de hip6teses concorrentes. Estas ja­mais sao perfeitamente controladas, mas sao controladas de uma maneira adequada 0 suficiente para toma-Ias implausiveis. Quais hip6teses concorren­tes sao conrroladas sera resultado das controversias em curso na comunidade cientifica nesse momento. Mais tarde, em retrospecto, poder-se-a perceber que outros controles eram necessarios.

A tecnica de estudo de caso como apresentada aqui, e a quase-experi­menta~ao de forma mais generica, sao mais parecidas corn 0 paradigma do isolamento experimental do que corn 0 modelo da "atribui~ao aleatoria a Lra­Lamemos", no qual cada hip6tese concorrente deve ser especificada e especi­

Apreseota():ao ix

ficamente comrolada. 0 grau de certeza ou consenso que a comunidade cien­tifica e capaz de alcanc;ar geralmente sera menor em ciencias sociais aplica­das, devido ao grau inferior de redur;ao da plausibilidade de hip6teses con­correntes que provavelmente seria alcanc;ado. A incapacidade de se reprodu­zir avontade (e com varia<;6es designadas para excluir hip6teses concorren­tes especificas) faz parte do problema. Deveriamos utilizar ao maximo aque­les estudos de caso unico (que jamais podem ser reproduzidos), mas deveria­mos ficar atentos as oportunidades de realizar estudos de caso intencional­mente reproduzidos.

Dada a experiencia de Roben Yin (Ph.D. em psicologia experimental, com varias publica<;6es na area), sua insistencia de que 0 metodo de estudo de caso seja feito em consonancia com os objetivos e os metodos das ciencias talvez nao seja uma surpresa. Mas esse treinamento e essa escolha de carreira sao geralmente acornpanhados pela intolerancia as arnbigtiidades provenien­tes de ambientes fora do laboratorio. Gosto de acreditar que essa mudanr;a foi facilitada pela sua pesquisa de laborat6rio sobre aquele estimulo diffcil de se especificar, 0 rosto do ser humano, e que essa experiencia forneceu-Ihe uma consciencia do imponantlssimo papel do padrao e do contexto na obtenc;ao de conhecimento.

Essa experiencia valiosa nao 0 impediu de mergulhar por inteiro nos classicos estudos de caso da ciencia social e de se transformar, durante 0 pro­cesso, em urn lfder da metodologia da ciencia social nao-Iaboratorial. Nao conhec;o nenhum texto que se compare a este. Ele atende a uma necessidade de longa data. Estou confiante de que se tornara 0 texto-padrao nos cursos que ensinam os metodos de pesquisa da ciencia social.

DONALD T. CAMPBELL BETHLEHEM, PENSILVANLA

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Prefacio

o estudo de caso ha muito foi estereotipado como 0 "parente pobre" entre os metodos de ciencia social. Os pesquisadores que realizam estudos de caso sao vistos como se tivessem sido desviados de suas disciplinas academicas, e suas investigac;oes como se tivessem precisao (ou seja) quantificac;ao), objetivida­de e rigor insuficientes.

Apesar desse estere6tipo, as estudos de caso continuam a ser utilizados de forma extensiva em pesquisa nas ciencias sociais - incluindo as disciplinas tradicionais (psicologia, sociologia, ciencia politica, amropologia, hist6ria e economia) e as areas voltadas apnitica, como planejamento urbano, adminis­trac;ao publica, politica publica, ciencia da administrac;ao, trabalho social e educac;ao.O metoda tambem e a modelo freqiiente para a pesquisa de teses e dissertac;oes em todas essas disciplinas e areas. Ah~m disso, os estudos de caso sao cada vez mais urn lugar-comum ate mesmo na pesquisa de avaliac;ao, supostamente a esfera de ac;ao de outros metodos, tais como levantamentos e pesquisa quase-experimental. Thdo isso sugere urn paradoxa surpreendente: se 0 metodo de estudos de caso apresenta serias fragilidades, por que as pes­quisadores continuam a utiliza-lo?

Uma explicac;ao possivel e que algumas pessoas simplesmeme nao sa­bern muito mais do que isso e nao estao treinados para urilizar metodos alter­nativos. Contudo, uma leitura cuidadosa dos esrudos de caso ilustrativos cita­dos como exernplos ao longo deste livro revelara urn grupo distinto de pesqui­sadores, inc1uindo alguns poucos que trabalharam como lideres ern suas res­pectivas profissoes (veja os QUADROS numerados ao lange do texto e a sec;ao de referencia, na qual sao fornecidas referencias bibliogrMkas completas). Urn segundo argumento apresemado, nao tao importante quanto 0 primeiro, e que as agencias federais dos Estados Unidos transformaram os levantamen­tos e questiomlrios de pesquisa em uma questao perigosa, devido aos procedi­

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xii Prefacio

mentos de libera~ao necessarios. Foi dessa forma que os estudos de caso tor­naram-se 0 metodo preferido. No entanto, as pesquisas patrocinadas pelo governo federal nao predominam nas ciencias sociais - e certamente nao pre­dominam na Europa e em outros paises - e a natureza das leis federais nao podem ser responsaveis pelo padrao mais ample das metodologias utilizadas nas ciencias sociais.

\111 Em contraste, este livro apresenta urn terceiro argumento - que 0 esterea­j, tipo do metodo de estudo de caso pode estar equivocado. De acordo com esse 1.11 argumento, a continua relevancia do metodo levanta a possibilidade de que

compreendemos mal seus pontos fortes e fracos e de que e necessaria uma '1' perspectiva diferente. Este livro tenta desenvolver essa perspectiva ao desven­r­ cUhar 0 estudo de caso, como ferramenta de pesquisa, do (a) estudo de caso

como ferramenta de ensino, (b) de etnografias e observa~ao participante e (c) dos metodos "qualitativos". A essencia do estudo de caso vai alem dessas tres areas, muito embora possa haver sobreposi~oes com as ultimas duas. Dessa forma, as caracteristicas verdadeiramente distinguiveis do metodo de estudo de caso, ao longo de todas as fases da pesquisa - defini~ao do problema, delineamento da pesquisa, coleta de dados, analise de dados e composi~ao e apresenta~ao dos resultados -, sao os assuntos tratados.

o objetivo do livro e orientar os pesquisadores e estudantes que estao tentando realizar estudos de caso como metodo rigoroso de pesquisa. Dife­rencia-se de outras publica~oes na medida em que 0 planejamento e a analise do estudo de caso recebem mais aten~ao do que os tapicos tradicionais da coleta de dados do esrudo de caso. Os dois primeiros receberam pouquissima aten~ao nos textos existentes das ciencias sociais, embora criem os maiores problemas aqueles que estao tentando realizar estudo de caso. Diferencia-se tambem na medida em que as referencias aos esrudos amplamente conhed­dos em areas diferentes sao descritas individualmente, ilustrando questoes levantadas no livro (veja os QUADROS ao longo do texto). Finalmente, 0 livro tambem mostra seu caniter diferenciado na medida em que esta come~ando a passar no teste do tempo: a primeira edi~ao (1984) teve oito reimpressoes e a edi~ao revista (1989) teve outras 16.

As ideias contidas neste livro baseiam-se em uma mescla das minhas praprias pesquisas realizadas nos illtimos 20 anos, em cursos de metodologia de estudo de caso ministrados no Massachusetts Institute of Technology (MIT) por cinco anos e na American University por tres, alem de se basearem em discussoes com muitos pesquisadores interessados na pesquisa de esrudo de caso, incluindo Herbert Kaufman (enquanto estava na Brookings Institution), Alexander George, da Stanford University, Lawrence Susskind, do MIT, Matthew Miles, do Center for Policy Research, Karen Seashore Louis (enquanto estava na University of Massachusetts), Elliot Liebow (enquanto estava no National Institute of Mental Health) e Carol Weiss, da Universidade Harvard. Mais re­centemente, tive 0 priviJegjo de ministrar semin.hios anuais sob a patrodnio da Aarhus School of Business, da Dinamarca (e compartilhar algumas impres-

Prefacio xiii

soes com os professores universitarios Erik Maaloe, Finn Borum e Erik Albaek). Esses colegas, juntamente com aqueles da RAND Corporation (de 1970 a 1978) e os da COSMOS Corporation (de 1980 ate hoje) forneceram-me esdmulo, discussoes e apoio constantes ao me ajudar na exposi<;ao dos varios aspectos da pesquisa de estudo de caso discutidos nesse livro.

Dois revisores anonimos fizeram suas valiosas observa<;oes no manuscri­to da primeira edi<;ao. Todas as rres versoes do Livro (1984, 1989 e a atual) receberam contribui~6es diretas da continua e cuidadosa aten~ao de Leonard Sickman e Debra Rog (editores desta serie), de C. Deborah Laughton e da bela equipe da Sage Publications. Sua aten~ao minuciosa, seu apoio carinho­so e seu estimulo constante fazem com que urn autor queira terminar logo urn texto e se lan~ar em urn novo desafio na vida. Nao obstante, da mesrna forma que nas edi~6es anteriores, assumo sozinho a responsabilidade por esta se­gunda edi~ao.

Naruralmente, as ideias de qualquer pessoa sobre os estudos de caso - e sobre os metodos das ciencias sociais de forma mais generica - devem ter raizes mais profundas, e as minhas retornam as duas disciplinas em que fui treinado: hist6ria, na gradua~ao, e psicologia experimental, na pas-gradua­<;ao. Hist6ria e historiografia primeiramente despertaram minha consciencia em relar;ao a imponancia da metodologia nas ciendas sociais. Essa marca incomparavel da psicologia experimental que adquiri no MIT ensinou-me de­pois que a pesquisa ernpirica avan~a somente quando vern acompanhada pelo pensamento lagico, e nao quando e tratada como esfor~o mecanicista. Essa lic;ao acabou se tornando uma questao basica do metodo de estudo de caso. Dediquei este livro, ponanto, a urna pessoa no MIT que me ensinou isso da melhor maneira imaginavel, e sob cuja orienta~ao completei uma disserta~ao sobre 0 reconhecimento de TOsto, embora ele mal poderia reconhecer as se­melhan~as entre passado e presente, se ainda estivesse vivo hoje.

NOTA A SEGUNDA EDI<;AO

A primeira edi~ao deste livro recebeu aten~ao progressiva daqueles que fa­zem investiga~oes sociais e psico16gicas, pesquisa de avalia~ao, esrudos de politica publica e estudos empresariais, administrativos e internacionais. Urn desenvolvimento inrrigante foi a guinada em dire~ao ao estudo de caso como ferramenta de pesquisa (e nao apenas de ensino) por parte das escolas de administrar;ao em todo 0 pais. Da mesma forma, pesquisadores de progra­mas internacionais ja tinham redescoberto a importancia do estudo de caso como uma seria ferramenta de pesquisa. Em geral, pode ter havido uma tendencia significante rumo a avaliar;ao da complexidade dos fen6menos organizacionais, para os quais a estudo de caso pode ser 0 mais adequado metoda de pesquisa.

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III

xiv Prefacio

Em resposta aos comentarios feitos a primeira edi~ao (1984), a edi~ao

revista (1989) tentou explicar melhor 0 importante papel da teoria, tanto ao se planejar estudos de caso quanto ao se generalizar a partir deles. Alem elis­so, foi apresentada uma orienta~ao mais elaborada acerca do problema de se deterrninar 0 numero de casos que devem ser usados em urn estudo de casos mUltiplos. Ambas as discuss6es podem ser encontradas no Capitulo 2. Ainda assim, outra resposta a esses comentarios anteriores foi urn livro de referen­\ cia, Applications of Case Study Research (1993), que fornece, na pratica, exem­plos extensivos do metodo de estudo de caso.

Esta segunda edi<;ao atualiza a versao original e a revista, sem copiar nenhum dos exemplos no Applications. Em primeiro lugar, 0 texto integra muitas publica~6es adicionais, algumas que foram lanc;adas apenas recentemente. Algumas delas sao importantes e tratam diretamente do metodo de estudo de caso (p.ex., Agranoff & Radin, 1991; Feagin, Orum & Sjoberg, 1991; Hamel, 1992; Platt, 1992a; Stake, 1994; U.S. General Accounting Office, 1990). De men<;ao especial e 0 artigo de Platt, que reconstitui 0 desenvolvimento hista­rico do estudo de caso como metodo de pesquisa.

Outras publica~6es importantes tratam de tapicos inrimamente relacio­nados, incluindo metodos qualitativos, adequa~ao aos padr6es e escrita e com­posi~ao (Becker, 1986; Lincoln, 1991; Marshall & Rossman, 1989; Merton, Fiske, & Kendall, 1990; Strauss & Corbin, 1990; Trochim, 1989; Van Maanen, 1988; Wolcott, 1990). Essas publica~6es ajudaram a elucidar as areas de con­traste e as sobreposi~6es entre 0 metodo de estudo de caso e outras estrate­gias de pesquisas.

Em segundo lugar, 0 texto da uma enfase maior aos exemplos que in­cluem 0 mercado mundial e a economia internacional - t6picos de alguma forma mais publicamente valiosos do que antes. Os exemplos aparecem no proprio texto e nas novas ilustra~6es (veja os QUADROS Sb, 6, 11 e 29). No geral' embora 0 mimero de QUADROS pare~a ter diminuido em relac;ao a primeira edi~ao, essa observac;ao e falaciosa, pois a primeira edi~ao contin­ha quatro QUADROS que eram na verdade figuras, e nao exemplos ilustra­tivos (as figuras ainda fazem parte do texto, mas agora sao figuras rotula­das, e nao QUADROS).

Em terceiro lugar, 0 texto tenta explicar diversas questoes de forma ain­da mais completa. lncluem-se nessas quest6es (a) a discussao expandida do debate acirrado sobre a avaliac;ao entre pesquisa qualitatiYa e quantitativa (Capitulo 1), (b) mais sobre 0 desenvolvimento da teoria (Capitulo 2), (c) clarificac;ao dos cinco niveis de quest6es (Capitulo 3), (d) uma nova distinc;ao entre unidades de coleta de dados e unidades de planejamenro (Capitulo 3), (e) uma comparac;ao rnais refinada dos seis pontos fortes e fracos das fontes de dados, (f) uma discussao mais extensiva sobre triangulac;ao como funda­memo 16gico para fontes mUltiplas de evidencias (Capitulo 4), (g) 0 usa de modelos 16gicos de programas como estrategia analftica, (h) orienra~ao adi­donal sabre a conduc;ao de amilises de alta qualidade (Capitulo 5) e um pou-

Prefacio xv

co mais sobre (i) as estruturas de escrita e U) escrita e reescrita (Capitulo 6). Em resumo, a atualiza~ao aringiu cada capitulo de uma maneira ou de outra, embora sob muitos outros aspectos a livro nao tenha sido alterado.

Uma alterac;ao final e imponante foi uma articula~ao mais detalhada da defini~ao geral de estudos de caso. Nas vers6es anteriores, considerava-se que os esrudos de caso possuiam treS caracteristicas, a presente edi~ao (Capitulo 1) identifica duas caracteristicas adicionais que estavam implicitas, mas nao c1aramente numeradas nas edic;6es precedentes. Essa defini~ao mais articula­da deve levar a uma melhor compreensao do metodo de estudo de caso como ferramenta de pesquisa.

Gostaria de encerrar esta nota expressando meus agradecimentos a to-dos os pesquisadores novatos e experientes que realizaram pesquisa de estu­do de caso nos ultimos 10 anos. Certamente existem mais pessoas como voces, e coletivamente espero que estejamos fazendo urn trabalho melhor do que realmente teriamos feito ha 10 anos. No entanto, 0 desafio de inovar e avan­~ar significarivamente nossa ciencia ainda continua. A presente atualiza~aa apenas reflete a1tera~6es incrementais. 0 avan~a desejado transformaria ain­da mais a pesquisa de estudo de casas em um lugar-camum e, ao mesmo tempo, elevaria sua qualidade a urn patamar inquestionavel.

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-

Sumario

ln 1. Introduc;ao 191 o estudo de caso como estrategia de pesquisa , 19 Cornparando estudos de caso corn outras estrategias,

de pesquisa , , 21

I" I Tipos diferentes de estudos de caso, mas uma defini<;ao comum 30

Resul11o , 35( 2, Projetando estudos de caso 39

Abordagem geral ao se projetar estudos de caso 39 Criterios para se julgar a qualidadc dos projetos de pesquisa 55 Projetos de estudo de caso 60

Ii: 3. Conduzindo esnldos de caso: preparaC;ao'1

para a coleta de dados , 79

o pesquisador do esrudo de caso: habilidades desejadas 80 Treinamento e prepara<;ao para urn estudo de caso especifico 85 o protocolo para 0 estudo de caso 89 o esrudo de caso pilato 100

Resumo , 103"[

4. Conduzilldo esnldos de caso: coleta de evidencias 105

Seis Fontes de evidencias 107 Tres principios para a coleta de clados , 119

Rcsumo , 129

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18 Surnario

)) 5. 1\,

!I!II1'"

6.

Analisando as evidencias do estudo de caso 131

Esrrategias analiticas gerais 131 Metodos principais de analise " 136 Metodos secundarios de analise 150 Exigindo-se uma analise de alta qualidade " 154 Resumo , 156

Compondo 0 "relat6rio" de urn estudo de caso 159

o publico para urn estudo de caso 161 Variedade de esrruturas de urn estudo de caso ." 165 Estruturas ilustrativas para a constituic;ao dos estudos de caso 170 Procedimentos ao se fazer urn relat6rio de estudo de caso 174 o que torna exemplar urn estudo de caso? 179

Referencias bibliogrMicas 189

Indice de nomes 197

Indice ,, 201

• ••• capitulo

Introdu9ao

o estudo de caso eapenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciencias sociais. Experimentos, levantamentos, pesquisas hist6ricas e ancilise de informa~6es em arquivos (como em estudos de economia) sao alguns exemplos de outras maneitas de se realizar pesquisa. Cada estrate­gia apresenta vantagens e desvantagens proprias, dependendo basicamen­te de rres condi~6es: a) 0 tipo de qllestao da pesquisa; b) 0 contrale que 0

pesqllisador possui sobre os eventos comportamentais efetivos; c) 0 foco em fenomenos historicos, em oposic;ao a fen6menos contemporaneos.

Em geral, os estudos de caso representam a estrategia preferida quando se colocam quest05es do tipo "como" e "por que", quando 0 pesquisador tern pouco controle sobre os eventos e quando 0 foeo se encontra em fen6menos contemporaneos inseridos em algum contexto da vida real. Pode-se comple­mentar esses estudos de casos "explanatorios" com dois ourros tipos - estu­dos "exploratorios" e "descritivos". Independentemente do tipo de estudo de caso, os pesquisadores devem ter muito cuidado ao projetar e realizar estu­dos de casos a fim de superar as rradlcionais criticas que se faz ao metodo.

o ESTUDO DE CASO COMO ESTRATEGIA DE PESQUISA

Este livro trata do planejamento e da conduc;ao de estudos de caso parafins de pesqui.sa. Como estrategia de pesquisa, utiliza-se 0 estudo de caso em muitas situa<;oes, nas quais se incluem:

• politica, dencia polftica e pesquisa em admjnistra<;ao publica; • sodologia e psicologia comunitaria; • esrudos organizacionais e gerenciais;

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ji

I,

20 Esrudo de Caso

• pesquisa de planejamento regional e municipal, como estudos de plan­tas, bairros ou institui~6es publicas;

• supervisao de disserta~6es e teses nas ciencias sociais - disciplinas academicas e areas profissionais como administra~ao empresarial, ciencia administrativa e trabalho social.

Este livro abrange as caracteristicas distintivas da estrategia de estudos de caso comparadas a outros tipos de pesquisa. Lida, de forma muito impor­tante, com 0 planejamento, a analise e a exposi~ao de ideias - e nao apenas com 0 foco mais tradicional da coleta de dados ou do trabalho de campo.

o objetivo geral do livro e ajudar os pesquisadores a lidar com algumas das quest6es mais dificeis que sao comumente negligenciadas pelos textos de pesquisa disponiveis. Com muita freqiiencia, por exemplo, 0 autor se viu fren­te a freme com urn estudante ou urn colega de profissao que lhe perguntou:

a) como definir urn caso que esta sendo estudado; b) como determinar os dados relevantes que devem ser coletados; c) 0 que deveria ser feito com os dados apos a coleta.

Espera-se que esse livro consiga responder a essas quest6es. o livro, no entanto, nao trata de todos os usos do estudo de caso. Nao

e seu objetivo, por exemplo, ajudar aqueles que procuram utilizar os estu­dos de caso como recursos de ensino, popularizados nos campos do direito, da administra~ao, da medicina ou da politica publica (vej a Llewellyn, 1948; Stein, 1952; Towl, 1969; Windsor & Greanias, 1983), mas agora predomi­nantes em todas as areas academicas, incluindo as ciencias naturais. Para fins de ensino, urn estudo de caso nao precisa conter uma interpreta~ao completa ou acurada; ern vez disso, seu prop6sito eestabelecer uma estru­tura de discussao e debate entre os estudantes. Os criterios para se desen­volver bons casos para ensino - cuja variedade, em geral, ede caso unico e nao de casos multiplos - sao bern diferentes dos criterios para se reaJizar pesquisa (p.ex., Caulley & Dowdy, 1987). Os estudos de caso que se desti­nam ao ensino nao precisam se preocupar com a apresenta~ao justa e rigo­rosa dos dados empiricos; os que se destinam a pesquisa precisam fazer exatameme isso.

De forma similar, nao e objetivo deste livro abranger aquelas situa~6es em que os casos sao utilizados como forma de se manter registros. Registros medicos, arquivos de trabalho social e outros registros de caso sao uliliza­dos para facilitar a pratica, na medicina, no direito ou no trabalho social. Novameme, os criterios para se desenvolver bons casos para a utilizac;ao pnhica sao diferentes dos criterios usados para se projetar estlldos de casos para a pesquisa.

Em contraste, 0 fllndamento 16gico para este livro e que os eSlucios de caso estao sendo cada vez mais utilizados como ferramenta de pesqllisClJp_.ex '/.

Inrroduc;ao 21

Hamel, 1992; Perry & Kraemer, 1986) e que voce - que pode ser urn cientista social experiente ou principiame - gostaria de saber como planejar e conduzir estudos de caso unico ou de casos mUltiplos para investigar urn objeto de pesqllisa. 0 livro concentra-se fortemente no problema de se projetar e anaJi­sar estLldos de caso e nao e merameme urn guia para a coleta de evidencias. Sob tal aspecto, a obra preenche uma lacuna na metodologia das ciencias sociais, dominada por textos sobre "metodos de campo", que oferecern poucas diretrizes de como se iniciar urn estudo de caso, como analisar os dados ou mesmo como minimizar os problemas de composi~ao do relatorio do estudo. Esse texto trabalha com todas as fases de p1anejamemo, coleta, analise e apre­senta~ao dos resultados.

Como esfore;o de pesquisa, 0 estudo de caso contriblli, de forma iniguala­vel, para a compreensao que temos dos fenomenos individuais, organizacio­nais, sociais e politicos. Nao surpreendenremenre, 0 estudo de caso vern sen­do uma estrategia comum de pesquisa na psicologia, na sociologia, na ciencia poJ(tica, na administra<;ao, no trabalho social e no planejamento (Yin, 1983). Pode-se encontrar estudos de caso ate mesmo na economia, em que a estrutu­ra de uma determinada industria, ou a economia de uma cidade au regiao, pode ser investigada atraves do uso de urn projero de estudo de caso. Em todas essas situa<;oes, a clara necessidade pelos estudos de caso surge do de­sejo de se compreender fenomenos sociais complexos. Em resumo, 0 estudo de caso permite uma investiga<;ao para se preservar as caracteristicas holisticas e significativas dos eventos da vida real- tais como ciclos de vida individuals, processos organizacionais e administrativos, mudanc;as ocorridas ern regi6es urbanas, relac;6es internacionais e a maturac;ao de alguns setores.

COMPARANDO ESTUDOS DE CASO COM OUTRAS ESTRATEGIAS DE PESQUISA

Quando e por que voce desejaria realizar estudos de caso sobre algum t6pico? Deveria pensar em fazer urn experimento no local? Urn levantamento? Uma pesquisa historica? Uma analise de arquivos feita por compurador, tais como hist6ricos escolares?

Essas e outras escolhas representam estrategias de pesquisa diferentes (a discussao seguinte enfoca somente cinco escolhas, mas nao tenta catalo­gar nenhllma delas). Cada uma dessas estrategias representa uma maneira diferente de se coletar e analisar provas empiricas, seguindo sua propria 10gica. E cada uma apresema suas pr6prias vamagens e desvantagens. Para obter 0 maximo de uma estrategia de estudo de caso, voce precisa conhecer essas diferen<;as.

Vma imerpretac;ao eqllivocada muito comum ea que as diversas estra­tegias de pesquisa devem ser dispostas hicrarquicamente. Ensinaram-nos a acreditar que os estlldos de caso eram apropriados it fase explorat6ria de uma

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--22 Estuda de (Casa

11

1" investigac;ao, qU€e os levantamentos de dados e as pesquisas hist6ricas eram apropriadas afasSe descritiva e que os experimentos eram a unica maneira de se fazer investigcil.l;oes explanat6rias ou causais. A visao hierarquica reforc;ava

...... aideia de que os: estudos de caso erarn apenas uma ferramenta explorat6ria e I' nao poderiam ser' utilizados para descrever ou testar proposic;oes (Platt, 1992a).

Esta incorr~ta, no entanto, essa visao hienhquica. Certamente sempre 11 1

1

houve experimen1tos motivados por razoes explorat6rias. Alem disso, 0 desen­volvimento de eX'planac;oes causais sempre representou uma seria preocupa­

_c;ao para os histOJriadores, refletida pelo subcampo conhecido como historio­grafia. Finalmemte, os estudos de caso estao muito longe de serern apenas uma estran~gia e;xplorat6ria. Alguns dos melhores e mais famosos estudos de casos foram desc:ritivos (por exernplo, Street Comer Society, de Whyte, 1943/ 1955; veja QumRO 1) e explanatorios (vejaEssence a/Decision: Explaining the Cuban Missi1& Crisis, de Allison, 1971 [grifo nosso]; veja QUADRO 2).

QUADR,O 1

Um fam,oso estudo de caso descritivo

o livro Str'eet Comer Society (1943/1955), de William F. 'Nhyte, foi reco'men­I

I

dado por (iecadas na comunidade sociol6gica. Eurn exemplo cJassico de urn estudo de caso descritivo. Trar;a a sequencia de eventos interpessoais ao lon­go do temPo, desereve uma subcultura que raramente foi topieo de estudos anteriores e descobre seus fenomenos-chave - como 0 avan<;o profissional ! dos jovens de baixa renda e sua habilidade (ou incapacidade) de romper os 1a<;os da vizinhanr;a.

Apesar de ser urn estudo de easo Unico, que estudava urn bairro (Cornerville) e urn periodo de tempo que ja tern mais de 50 anos, 0 estudo foi muito respei­tado. 0 valor do livro esta, paradoxalmente, em sua generalizar;ao de questoes que lidam corn 0 desempenho individual, a estrutura de grupo e a estrutura social dos pairros. Mais tarde, vanos pesquisadores encontrararn, de forma re­corrente, yestigios de Cornerville em seus trabalhos, embora tenham estudado bairros e periodos de tempo diferentes.

IntrodUl;ao 23

QUADR02

Um estudo de caso explanatorio

Mesmo urn estudo de caso unieo pode ser frequentemente utilizado para per­seguir urn proposito explanatorio e nao apenas exploratorio (ou descritivo). o objetivo do analista deveria ser propor explanar;oes concorrentes para 0

mesmo conjunto de eventos e indicar como essas explanar;oes podem ser apli­cadas a outras situal;oes.

Essa estrategia foi utilizada por Graham Allison em Essence of Decision: Explaining the Cuban Missile Crisis (1971). 0 caso Unico eurn eonfronto entre os Estados Unidos e a Ulliao Sovietiea devido ainstala<;ao de rnisseis de ataque em Cuba. Allison propoe tres rnodelos ou teorias coneorrentes para expliear 0

curso dos aconteeimentos, incluindo respostas a tres questoes-chave: par que a Uniao Sovietica instalou misseis de ataque (e nao apenas de defesa) em Cuba ern primeiro lugar, por que os Estados Unidos responderam a colocar;ao dos misseis com urn bloqueio (e nao com ataque aereo ou invasao) e por que a Uniao Sovietica aeabou retirando sellS rnisseis. Ao eomparar cada teoria com 0

curso real dos aeontecimemos, Allison desenvolve a melhor explanar;ao para esse tipo de crise.

Allison sugere que essa explana<;ao e aplicavel a outras siruar;oes, esten· dendo dessa forma a utilidade de seu estudo de caso linico. Com isso, ele cita a envolvimento dos Estados Unidos no Viema, a disputa nuclear de forma mais generica e 0 terrnmo das guerras entre na<;oes em outras sirua<;oes para as quais a teoria pode ofereeer uma explica<;ao utit.

Avisao mais apropriada dessas estrategias diferemes e pluralisrica. Pode- 1 se utilizar cada esrraregia par tres propositos - explorarorio, descritivo ou explanat6rio. Deve haver estudos de caso exploratorios, descritivos ou explanat6rios (Yin, 1981a, 1981b). Tambem deve haver experimemos exploratorios, descritivos e explanat6rios. 0 que diferencia as esrrategias nao eessa hierarquia, mas tres outras condic;oes, discutidas a seguir. Nao obstante, isso nao implica que os limites entre as esrrategias - ou as ocasi6es em que cada uma e usacla - sejam claros e bem-delimitados. Muito embora cada es­trategia tenha suas caracterisricas distintas, ha grandes areas de sobreposi~.6es entre elas (p.ex., Sieber, 1973). 0 objetivo e evitar desajustes exagerados - 1 isto e, quando voce estiver planejando utilizar urn ripo de estrategia e perce­ber que outro emais vantajoso em seu lugar.

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-----)

Ill:\: 24 Estudo de Caso

Quando utilizar cada estrategia

As tres condic;:6es consistem (a) no tipo de questao de pesquisa proposta, (b) na extensao de controle que 0 pesquisador tern sobre eventos comportamen­tais efetivos e (c) no grau de enfoque em acontecimentos hist6ricos em oposi­c;:ao a acontecimentos contemporaneos. A Figura 1.1 apresenta essas tres con· di<;6es e rnostra como cada uma se relaciona as cinco estrategias de pesquisa principais nas ciencias sociais: experimentos, levantamentos, ancilise de ar· quivos, pesquisas hist6ricas e estudos de caso. A importancia de cada condi· c;:ao, ao se fazer a distinc;:ao entre as cinco estrategias, e discutida a seguir.

Tipos de quest6es de pesquisa (Figura 1.1, coluna 1). A primeira condic;:ao trata da(s) questao(6es) da pesquisa (Hedrick, Bickman, & Rog, 1993). Urn esquema basico de categorizac;:ao para os tipos de questao pode ser represen­tado pela conhecida serie: "quem", "0 que" ", "onde", "como" e "por que".

./

esrrategia fonna

da questao de pesquisa

exige controle sobre eventos

componamentais?

focaliza acontecimemos

contemporaneos?

experimeoto como, por que sim sim

levantamenro quem, 0 que, oode, quantos. quanto nao sim

analise de arquivos quem, 0 que, oode, quantos, quanto nao simlnao

pesquisa hist6rica como, por que nao nao

estudo de caso como, por que nao sim

Figura 1.1 Situar;6es relevantes para diferentes estrategias de pesquisa. rONTE: COSMOS Corporation

'N. de T. "What", no original. 0 termo tambem pode ser traduzido por "qual" ou "quais".

Se as qllestoes da pesquisa salientam apenas quest6es do tipo "0 que", surgem dllas possibilidades. Primeiro, alguns tipos de questoes "0 que" sao explorat6rias, como esta: "0 que pode ser feito para tamar as escolas mais eficazes?" Esse tipo de questao e urn fundamento 16gico justificavel para se conduzir um estudo exploratorio, tendo como objetivo 0 desenvolvimento de hip6teses e proposi<;6es pertinentes a inquiric;:oes adicionais. Entretanto, como estudo exploratorio, qualquer uma das cinco estrategias de pesquisa pode ser utilizada - por exemplo, urn levantamento exploratorio, um experimento exploratorio ou urn estudo de caso exploratorio. 0 segundo tipo de quest6es "0 que" e, na verdade, uma forma de investigac;:ao na linha "quanta" ou "quantos" - por exemplo, "Quai~ foram os resultados de uma determinada reorganiZat;30 administrativa?" E mais provavel que a identificac;:ao de tais resultados favorecera as estrategias de levantamento de dados ou de analise de arquivos do que qualquer autra, Par exemplo, urn levantamento pode ser facilmente projetado para enumerar os "0 ques", ao passo que urn estudo de caso nao seria uma estrategia vantajosa nesse caso.

De forma similar, como esse segundo tipo de questao "0 que", e mais provavel que questoes do tipo "quem" ou "onde" (ou seus derivados - "quantos" e "quanto") favoreceram estrategias de levantamento de dados ou analise de 7 registros arquivais, como na pesquisa economica. Tais estrategias sao vantajo­sas quando 0 objerivo da pesquisa for descrever a incidencia ou a predomi­nancia de urn fenomeno ou quando ele for previs{vel sobre certos resultados. A investigac;iio de atitudes politicas predominantes (nas quais lim levamamento ou uma pesqllisa de opiniao pode ser a estrategia favorecida) au da dissemi­nac;:ao de lima doenc;:a como a AIDS (em que uma analise das estatisticas de saude pode ser a esrrategia favorecida) seriam os exempios tipicos.

Em COD traste" questoes do tipo "como" e "por que" sao mais explanatoriQv, \ e e prov3vel que levem ao uso de estudos de casos, pesquisas hist6ricas e ) experimentos como esn'ategias de pesquisa escolhidas. 1sso se deve ao faro de que tais questoes Iidam com ligac;:6es operacionais que necessitam ser trac;:adas ao longo do tempo, ern vez de serem encaradas como meras repetic;:6es ou incidencias. Assim, se voce deseja saber como urna comunidade conseguiu impedir com sucesso a construc;ao de uma auto-estrada (veja Lupo et al., 1971), seria pouco prov3.vel que voce confiasse em urn levantamento de dados ou em urn exarne de arquivos; seria melhor fazer uma pesquisa hist6rica ou urn estu­do de caso. Da mesma forma, se voce deseja saber por que os circundantes nao conseguiram relatar situac;oes perigosas sob certas condic;:6es, voce pode­ria projetar e conduzir uma serie de experimentos (veja Latane & Darley, 1969).

Vamos considerar outros dois exemplos. Se voce estivesse inveStigandOJ "quem" participou de urn determinado tumulto em uma regiao e "quanto" dano foi causado nesse tumulto, voce poderia fazer urn levantamento entre os residentes do local, examinar os registros do neg6cio (uma analise de arqui­vos) ou conduzir lim levanramento de campo na area em que ocorreu 0 tll~ - ) multo. Em contraste, se voce quisesse saber "por que" aconteceram os tumul­

Introdue;.ao 25

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26 Escudo de Caso

tos, teria que esquematizar uma serie mais abrangente de informar;6es documentarias, ao mesmo tempo em que realizasse algumas entrevistas; se voce focasse sua investigar;ao em quest6es do tipo "como" em mais de uma cidade, provavelmente estaria realizando urn estudo de casos mUltiplos.

Da mesma forma, se voce quisesse saber "0 que" 0 governo realmente fez apos anunciar urn novo programa, poderia responder a essa questao tao fre­quente realizando urn levantamento ou examinando dados economicos, depen­dendo do tipo de programa envolvido. Considere as seguintes quest6es: quantos clientes 0 programa beneficiou? Que tipos de beneffcios foram concedidos? Qual a freqiiencia com quem se produziram beneficios diferentes? Poder-se-ia res­ponder a todas essas perguntas sem se fazer urn estudo de caso. Mas se voce precisasse saber "como" ou "por que" 0 programa funcionou (ou nao), teria que dirigir-se ou para 0 estudo de caso ou para urn experimento de campo.

Algumas perguntas do tipo "como" ou "por que" sao ambivalentes e ne­jl cessitam de esclarecimentos. Pode-se explicar "como" e "por que" Bill Clinton foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1992 atraves de urn levantamen­to ou de urn estudo de caso. 0 levantamento poderia examinar os padr6es de votar;ao, mostrando que a grande maioria dos votos dada a Ross Perot veio de partidarios do entao presidente George Bush, e isso poderia responder satisfa­toriamente as quest6es como e pOl' que. POl' outro lado, 0 estudo de caso poderia examinar como Bill Clinton conduziu sua campanha a fim de alcan­r;ar a indicac;:ao necessaria para se candidatar e manipular a opiniao publica a seu favor. 0 estudo daria conta do papel potencialmente proveitoso da fraca economia americana no irucio da decada de 90 ao negar 0 apoio a chapa Bush-Quayle como candidatos. Essa abordagem tambem seria uma maneira aceitavel de responder as quest6es "como" e "por que", mas seria diferente do estudo realizado a partir de urn levantamento.

Para resumir, a prirneira e mais irnportante condir;ao para se diferenciar as varias estrategias de pesquisa e identificar nela 0 tipo de questao que esta sendo apresentada. Em geral, quest6es do tipo "0 que" podem ser tanto exploratorias (em que se poderia utilizar qualquer uma das estrategias) ou sobre predorni­nancia de algurn ripo de dado (em que se valorizaria levantamentos ou analises de registros em arquivo). Eprovavel que quest6es "como" e "por que" estimu­lassem 0 usa de estudos de caso, experimentos ou pesquisas historicas.

Definir as quest6es da pesquisa e provavelmente 0 passo mais importan­te a ser considerado em urn esrudo de pesquisa. Assim, deve-se reservar pa­ciencia e tempo suficiente para a realizar;ao dessa tarefa. A chave ecompreen­der que as quest6es de uma pesquisa possuem substancia - por exemplo, "so­bre 0 que e 0 meu esrudo?" - e forma - por exemplo, "estou fazendo uma pergunta do tipo 'quem', '0 que', 'por que' ou 'como'?". Outras quest6es detive­ramose em detalhes substancialmente imponantes (veja Campbell, Daft & Hulin, 1982); 0 ponto-chave da discussao anterior e que a forma de uma questao fomece uma chave importante para se trac;ar a estrategia de pesquisa que sera adotada. Lembre-se das grandes areas de sobreposic;ao entre as es­

Inrroduc;ao 27

rraregias, de forma que, para algumas quest6es, pode realmente existir uma escolha efetiva entre uma ou outra estrategia. Lembre-se, finalmente, de que pade haver uma predisposir;ao de sua parte para buscar uma estrategia em particular independentemente da questao do estudo. Se for assim, certifique­se de criar a forma de questao do estudo que melhor se enquadre na estrate­gia que voce esta pensando em adotar em primeiro lugar.

Abrangencia do eontrale sabre eventos campartamentais (Figura 1.1, eolu­na 2) e grau de enfoque em acantecimentos hist6ricos em aposi¢o a aconteci­mentos contemporaneos (Figura 1.1, coluna 3). Assumindo-se que quest6es do tipo "como" e "por que" devam ser 0 foco do esrudo, uma distinc;ao adicional entre pesquisa historica, estudo de caso e experimenro torna-se a abrangencia do contrale que 0 pesquisador tern sobre eventos comportamentais efetivos e o acesso a eles. As pesquisas historicas representam a estrategia escolhida quando realmente nao existe controle OU acesso. Assim, a contribuic;ao distin­tiva do metodo historico esta em !idar com 0 passado "morto" - isto e, quando nenhuma pessoa relevanre ainda esta viva para expor, mesmo em retrospecti­va, 0 que aconteceu, e quando 0 pesquisador deve confiar, como fonte princi­pal de evidencias, em documentos primarios, secundarios e artefatos ffsicos e culturais. Pode-se, naruralmenre, fazer pesquisas historicas sobre aconteci­mentos contemporaneos; nessa situar;ao, a estrategia comer;a a se sobrepor a estrategia do estudo de caso.

o estudo de caso e a estrategia escolhida ao se examinarem aconteci­mentos contemponlneos, mas quando nao se podem manipular compona­mentos relevantes. 0 estudo de caso conta com muitas das tecnicas utilizadas pelas pesquisas historicas, mas acrescenta duas fontes de evidencias que usual­mente nao sao inclufdas no repertorio de urn historiador: observar;ao direta e serie sistematica de entrevistas. Novamente, embora os estudos de casos e as pesquisas historicas possam se sobrepor, 0 poder diferenciador do estudo ea sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidencias - documen­tos, artefatos, entrevistas e observar;6es - alem do que pode estar disponfvel no estudo historico convencional. Alem disso, em algumas situac;:6es, como na observar;ao participante, pode ocorrer manipuIar;ao informal.

Finalmente, sao realizados experimentos quando 0 pesquisador pode ma­nipular 0 comportamento direta, precisa e sistematicamente. Isso pode ocorrer em urn laborat6rio, no qual 0 experimento pode focar uma ou duas variaveis isoladas (e presume que 0 ambiente de laborat6rio possa "controlar" todas as variaveis restantes alem do escopo de interesse), ou pode ocorrer em urn cam­po, onde surgiu 0 terma experimento social para se ocupar da pesquisa em que as pesquisadores "traram" grupos inteiros de pessoas de maneiras diferentes, como Ihes fornecer tipos diferentes de documentac;ao comprobatoria (Boruch a ser lan<;ado). Novamente os metodos se sobrep6em. A ampla variedade de cif~ncias experimenrais tambem inclui aquelas siruac;6es em que 0 experimentador nao pode manipular 0 comportamento (veja Blalock, 1961; Campbell & Stanley,

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28 Estudo de Caso

II

1966; Cook & Campbell, 1979), mas nas quais a logica do planejamento expe­rimental ainda pode ser aplicada. Essas situa~6es foram comumente denomina­das situac;6es quase-experimentais. Pode-se ate mesmo utilizar a abordagem quase-experimental em urn cenario hist6rico, no qual, por exemplo, 0 pesquisa­

1'1 dor pode se interessar pelo estudo de linchamentos ou manifestac;6es raciais I! (veja Spilerman, 1971) e pode utilizar urn planejamenro quase-experimental ,

porque nao e possivel se obter controle sobre eventos comportamentais.

I, Resumo. Podemos identificar algumas situa~6es em que todas as estrate­gias de pesquisa podem ser relevantes (tais como pesquisa exploratoria), e ou­tras situa~6es em que se pode considerar duas estrategias de fonna igualmente atraente (por exemplo, como e por que Bill Clinton foi eleito). Tambem pode­mos utilizar mais de uma estrategia em qualquer estudo dado (por exemplo, urn levantamento em urn estudo de caso ou urn estudo de caso em urn levanta­

I) memo). Ate esse ponto, as vanas estrategias nao sao mutuamente exclusivas. Mas podemos tambem identificar algumas situac;6es em que uma estrategia

IiI! espedfica possui uma vantagem distinta. Para 0 estudo de caso, isso ocorre quando "

• faz-se uma questao do tipo "como" au "par que" sobre urn conjullto con­temporaneo de acontecimemos sobre 0 qual 0 pesquisador rem pallco ou nenhum contiole.

Deterrninar as quest6es mais significantes para urn detenninado rcpico e obter algurna precisao na fonnulac;ao dessas quest6es exige muira prepara~ao.

Vma maneira erevisar a literaturaja escrita sobre aquele topieo (Cooper, 1984). Observe que essa revisao de literatura e, portanto, urn meio para se atingir uma finalidade, e nao - como pensam muitos estudantes - uma finalidade em si. Os pesquisadores iniciantes acrediram que 0 proposito de uma revisao de literatu­ra seja determinar as respostas sobre 0 que se sabe a respeito de urn topieo; nao obstante, os pesquisadores experientes analisam pesquisas anteriores para de­senvolver quest6es mais objetivas e perspicazes sobre 0 mesmo topico.

J Preconceitos tradicionais em rela-rao a I

estratt~gia de estudo de caso

Embora 0 estudo de caso seja uma forma distintiva de investigac;ao empirica, muitos pesquisadores demonstram urn cerro desprezo para com a estrategia. Em outras palavras, como esforc;o de pesquisa, os estudos de caso vern sendo encarados como uma forma menos desejavel de investigac;ao do que experi­

IIII mentos ou levantamentos. Por que? Talvez a maior preocupa<;:ao seja a falta de rigor da pesquisa de estudo de

caso. Por muitas e muitas vezes, 0 pesquisador de estudo de caso foi negligen-II

Introdu<;ao 29

te e permitiu que se aceitassem evidencias equivocadas ou vis6es tendencio­sas para influenciar 0 significado das descobertas e das conclusoes.

Tambem existe a possibilidade de que as pessoas tenbam confundido 0

ensino do escudo de caso com a pesquisa do eShldo de caso. No ensino, a materia-prima do estudo de caso pode ser deliberadamente alterada para ilus­irar uma determinada questao de forma mais efetiva. Na pesquisa, qualquer passo como esse pode ser terminantemente proibido. Cada pesquisador de estudo de caso deve trabalhar com afinco para expor todas as evidencias de forma justa, e este livro 0 ajudara a fazer isso. a que freqiientemente se es­quece e que 0 preconceiro tambem pode ser inserido no procedirnento dos experimentos (veja Rosenthal, 1966) e do uso de ounas estrategias de pesqui­sa, como a planejamento de questionarios de pesquisas CSudman & Bradburr, 1982) ou a conduc;ao de pesquisa historica (Gottschalk, 1968). Nao sao pro­blemas diferentes, mas, na pesquisa de estudo de caso, sao problemas fre­quentemente encontrados e pauco superados.

Uma segunda preocupat;ao muito comum em rela~ao aos estudos de caso eque eles fornecem pouca base para se fazer uma generalizac;ao cientifica. "Como voce pode generalizar a partir de urn caso Uoico" e llma questao muito ouvida. A resposta nao e muito simples (Kennedy, 1976). Entretanto, pense, no momento, que a mesma questao tenha sido feita em rela~ao a urn experi­menta: "Como voce pode generalizar a panir de urn unico experimento?" Na verdade, fatos cientfficos raramente se baseiam em experimentos lmicos; ba­seiam-se, em geral, em urn conjunto mUltiplo de experimentos, que repetiu 0

mesma fenomeno sob condi~oes diferentes. Pode-se utilizar a mesma tecnica com estudos de casos multiplos, mas exige-se urn conceito diferente dos pro­jetos de pesquisa apropriados; essa discussao eapresentada em detalhes no Capitulo 2. Vrna resposta muito breve e que os estudos de caso, da mesma forma que os experimentos, sao generaliz3veis a proposi~6es te6ricas, e nao a popula~6es Oll universos. Nesse sentido, 0 estudo de caso, como 0 experimen­to, nao representa uma "amostragem", eo objetivo do pesquisador eexpandir e generalizar teorias (generaliza~ao analftica) e nao enumerar freqi.i(~ncias (generahza~ao estatistica). au, como descrevem tres notaveis cientistas so­ciais em seu estudo de caso unico, 0 objetivo efazer uma anaIise "generalizante" e nao "particularizante" (Lipset, Trow, & Coleman, 1956, p. 419-420).

Vma terceira reclama~ao freqiLente que se faz ao estudo de caso e que eles demoram muito, e resultam em inumeros documentos ilegiveis. Essa queixa pode ate ser procedente, dada a maneira como se realizaram estudos de caso no passado (p.ex., Feagin, arum, & Sjoberg, 1991), mas nao representa, ne­cessariamente, a maneira como os esrudos de caso serao conduzidos no futu­ro. a Capitulo 6 discute altemativas para se escrever estudo de caso - induin­do aquelas em que se pode evitar totaLmente as mac;antes narrativas tradicio­nais. Nero os estudos de caso precisam demorar muiro tempo. Isso confunde incorretamente a estrategia de estudo de caso com urn metodo especifico de coleta de dados, como etnografia ou observa~ao participante. A etnografia em

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30 Estudo de Caso

geral exige longos periodos de tempo no "campo" e enfatiza evidencias obser­vacionais detalhadas. A observac;ao participante pode nao exigir a mesma quantidade de tempo, mas aiDda presume urn investimento pesado de esfor­<;os no campo. Em contraste, os estudos de caso sao uma forma de inquiri<;ao que nao depende exclusivamente dos dados etnognificos ou de observadores participantes. Poder-se-ia ate mesmo realizar urn estudo de caso valido e de alta qualidade sem se deixar a biblioteca e se largar 0 telefone, dependendo do topico que esta sendo utilizado.

Apesar do fato de que essas preocupac;6es comuns possam ser rranqilili­zadas, como foi feito acirna, uma li<;ao maior que se pode tirar aiDda e que bons estudos de caso sao muito dificeis de serem realizados. 0 problema e que temos poucas maneiras de filtrar ou testar a capacidade de urn pesquisa­dor de realiza-Ios. As pessoas sabem quando elas nao dominam a arte de fazer musica; tambem sabem quando nao se dao bern em matemcitica; e podem ser testadas em outras habilidades, como no "exame da Ordem'" no Direito. De alguma forma, as habilidades necessarias para se fazer bons estudos de caso ainda nao foram muito bern definidas, e, por conseguinte,

a maioria das pessoas tern a impressao de que podem preparar urn esrudo de caso, e quase todos n6s acreditamos que entendemos urn estudo. Como nenhuma das duas impressoes ebem-fundamentada, 0 estudo de caso rece­be uma boa parcela de aprovac;:ao que nao merece. (Hoaglin, Light, McPeek, Mosteller, & Stoto, 1982. p. 134)

Esta citac;ao vern de urn livro escrito por cinco estatlsticos de destaque. De forma surpreendente, eles reconhecem 0 desafio que ha por mis da reali­zaC;ao de urn estudo de caso, mesmo pertencendo a outra area.

TIPOS DIFERENTES DE ESTUDOS DE CASO, MAS UMA DEFINI<;AO COMUM

Avanr;amos ate aqui sem uma definiC;ao formal de estudos de caso. Alem dis­so, quest6es freqilentememe levantadas sobre 0 assunto permaneceram sem resposta. Por exemplo, ainda se caracteriza como estudo de caso quando mais de urn caso e inclufdo no mesmo esrudo? Os estudos de caso excluem 0 uso de provas quantitativas? Podem-se utilizar estudos de caso para se fazer avalia­c;oes? Eles podem milizar narrativas jornalisticas? Vamos temar agora definir a estrategia de estudo de caso e responder a essas perguntas.

'N. de T. Bar examination, no original. Nos Estados Unidos, e0 exame ao qual 0 recem·formado em Direiw precisa se submeter para come<;ar a exercer a advocacia. Equivaleria, no Brasil, ao exame rcalizado pela Ordcm dos Advogados do Brasil.

Introduc;:ao 31

Defini~ao do estudo de caso como estrategia de pesquisa

As defini<;6es encontradas com mais freqiiencia dos estudos de caso apenas repetiram as tipos de topicos aos quais os estudos foram aplicados. Por exem­pIo, nas palavras de urn observador, .

a essencia de urn estudo de caso, a principal tendencia em todos os tipos de estudO de caso, eque ela tenta esclarecer uma decisCio ou urn conjunto de decisoes: a motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados. (Schramm, 1971, grifo n05so)

Logo, essa definir;ao cita a t6pico das "decis6es" como foco principal dos estudos de caso. De forma similar, ioram listados outros topicos, a saber, "in­dividuos", "organiza<;6es", "processos", "programas", "bairros", "instituic;6es" e mesmo "eventos". No entanto, citar 0 topico e cenamente insuficiente para estabelecer a definir;ao necessaria.

Como alternativa, rnuitos livros-texto de ciencias sociais nao obtiveram exito na tentariva de encarar 0 estudo de caso como uma estrategia formal de pesquisa (a principal exce<;ao e urn livro de auroria de cinco estatisticos da Universidade Harvard - Hoaglin et al., 1982). Como discutido anteriormente, uma falha comum era considerar 0 estudo de casu como 0 estagio exploratorio de algum outro tipo de estrategia de pesquisa, e 0 estudo de caso em si era apenas mencionado em uma ou duas linhas do texto.

Outra faIha comurn era confundir os estudos de caso com os estudos etnogrMicos (Fetterman, 1989) ou com a observar;ao panicipante (Jorgensen, 1989), de forma que uma presumivel discussao dos estudos de caso promovi­da por urn livro-texto era, na realidade, uma descri<;ao tanto do metodo etnogrMico ou da observac;ao participante como da tecnica de coleta de da­dos. Os textos contemporaneos mais populares (p.ex., Kidder & Judd, 1986; Nachmias & Nachmias, 1992), na verdade, ainda tratam 0 "trabalho de cam· po" apenas como uma tecnica de coleta de dados e omitem qualquer discus· sao adicional acerca dos estudos de caso.

Em uma visao hist6rica do estudo de caso no pensamento merodologico americano, Jennifer Platt (1992a) explica as razoes para esses tratamentos. Ela encontra a origem das praticas de realizar;ao de estudos de caso na condu­c;ao de historias de vida, no trabalho da escola Chicago de sociologia enos estudos das circunstancias pessoais de familias e individuos no trabalho social. Dessa forma, Platt mostra como a observa<;ao participante surgiu como tecnica de coleta de dados, deixando em suspenso a defini<;ao adicional de qualquer estrategia distintiva de estudo de caso. Finalmente, ela explica como a primei­ra edir;ao deste livro (1984) dissociou em definitivo a estrategia do estudo de caso das perspectivas limitadas de se realizar observa<;ao participante (au qualquer tipo de trabalho de campo). A estrategia de estudo de caso, nas

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32 Estudo de Caso

palavras dela, come~a com "uma logica de planejamemo... uma estrategla que cleve ser priorizada quando as circunstancias e os problemas de pesquisa sao apropriados, em vez de urn comprometimento ideologico que deve ser seguido nao importando quais sejam as circunstfmcias" (Platt, 1992a, p. 46).

Equal e essa logica de planejamento? As caracteristicas tecnicamente importantes ja tinham apresentado resultado antes da primeira edi~ao des­te livro (Yin, 1981a, 1981b), mas agora podem ser expostas novamente de duas maneiras. Primeiro, a defini~ao tecnica come~a com 0 escopo de urn estudo de caso:

1. Urn estudo de caso euma investigaplo emp(rica que

t investiga urn fenomeno contemporaneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando

t os limites entre 0 fenomeno e 0 contexto nao estao claramente definidos.

Em outras palavras, voce poderia utilizar 0 metodo de estudo de caso quando deliberadamente quisesse lidar com condi~6es contextuais - acredi­tando que elas poderiam ser altameme pertinentes ao seu fenomeno de estu­do. Logo, essa primeira parte de nossa logica de planejamento nos ajuda a entender os estudos de caso sem deixar de diferencia-Ia de outras estrategias de pesquisa que ja foram discutidas.

Por exemplo, urn experimento deliberadamente separa urn fenomeno de seu contexto, de forma que se pode dedicar alguma atenc;ao apenas a algumas variaveis (em geral, 0 contexte e"controlado" pelo ambiente de laborat6rio). Em comparaC;ao, uma pesquisa hist6rica nao lida com situac;oes emaranhadas entre fenomeno e contexto, mas em geral com acontecirnentos nao-contem­poraneos. vinulmente, os levantamentos podem ate tentar dar conta de feno­meno e contexto, mas sua capacidade de investigar 0 contexto e extremamen­te limitada. 0 elaborador do levantamento, por exemplo, esfon;;a-se ao maxi­mo para limitar 0 nUmero de variaveis a serem analisadas (e, por conseguin­te, 0 numero de quest6es que pode ser feiro) a fim de se manter seguramente dentro do numero de respondentes participantes do levantamento.

Em segundo lugar, uma vez que fenomeno e contexto nao sao sempre discemiveis em situac;6es da vida real, urn conjunto de outras caracterfsticas tecnicas, como a coleta de dados e as estrategias de analise de dados, tomam­se, no momento, a segunda parte de nossa definiC;ao tecnica:

2. A investigayao de estudo de caso

t enfrenta uma situaC;ao tecnicamente (mica em que havenJ. muito mais variaveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado.

Introdw;ao 33

t baseia-se em varias fontes de evidencias, com os dados pred­sando convergir em urn formato de trHl.ngulo, e, como outro resultado,

t beneficia-se do desenvolvimento previo de proposi~oes teoricas para conduzir a coleta e a ancilise de dados.

Em outras palavras, 0 estudo de caso como estrategia de pesquisa com­preende urn metodo que abrange tudo - com a 16gica de planejamento incor­porando abordagens especificas acoleta de dados e a analise de dados. Nesse sentido, 0 estudo de caso nao enem uma tMica para a coleta de dados nem meramente uma caracteristica do planejamento em si (Stoecker, 1991), mas uma estrategia de pesquisa abrangente 1

. A maneira como a estrategia e defi­nida e implementada constitui, na verdade, 0 topico do livro inteiro.

Algumas outTas caracteristicas da estrategia do estudo de caso nao sao tao importantes para se planejaT a estrategia, mas podem ser consideradas variac;6es dentro da pesquisa do estudo de caso e tambem apresentam respos­tas a questoes comuns.

Variac;oes dentro dos estudos de caso como estrategia de pesquisa

Sim, a pesquisa de estudo de caso pode incluir tanto estudos de caso tinico quanta de casos multiplos, Embora algumas areas, como cil~ncia polftica e administra~ao publica, tentaram delinear uma linha bem-delirnitada entre essas duas abordagens (e utilizaram termos como metodo de caso comparativo como forma de distinC;ao de estudos de casos mUltiplos; veja Agranoff & Radin, 1991; George, 1979; Lijphart, 1975), estudos de caso unico e casos mUltiplos, na realidade, sao nada alem do que duas variantes dos projetos de estudo de caso (veja 0 Capitulo 2 para saber mais).

E sim, os estudos de caso podem incluir as, e mesmo ser limitados as, evidencias quantitativas. Na verdade, 0 contraste entre evidencias quantita­tivas e qualitativas nao diferencia as vadas estrategias de pesquisa. Observe que, como exemplos analogos, alguns experimentos (como estudos de per­cepc;oes psicol6gicas) e algumas questoes feitas em levantamentos (como aquelas que buscam respostas numericas em vez de respostas categoricas) tern como base evidencias qualitativas, e naa quantitativas. Da mesma rna­neira, a pesquisa hist6rica pode incluir enormes quantidades de evidencias quantitativas.

Dma observac;ao muito importante relacionada a isso e que a estrategia de estudo de caso nao deve ser confundida com "pesguisa qualitativa" (veja Schwartz & Jacobs, 1979; Strauss & Corbin, 1990; Van Maanen, 1988; Van Maanen, Dabbs, & r:aulknel~ 1982). Algumas pesguisas qualitativas seguem metodos etnograficos e buscam satisfazer duas condi<;:6es:

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34 Estudo de Caso

a) 0 uso que 0 pesquisador faz de observa~6es detalhadas e minuciosas do mundo natural;

b) a tentativa de se evitar comprometimentos anteriores a qualquer mo­delo te6rico (Jacob, 1987, 1989; Lincoln & Guba, 1986; Stake, 1983; Van Maanen et al., 1982, p. 16).

A pesquisa ernografica, no entanto, nem sempre produz estudos de caso (por exemplo, veja as breves notas ernograficas em G. Jacobs, 1970), nem os esrudos de caso estao limitados a essas duas condi~6es. Em vez disso, pode-se basear 0 estudo de caso em qualquer mescla de provas quantitativas e qualita­tivas. Ademais, nem sempre eles precisam incluir observa~6es diretas e deta­lhadas como fonte de provas.

Como observa~ao adicional, alguns pesquisadores fazem uma distin~ao

emre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa - nao com base no tipo de evidencia, mas com base em cren~as filosoficas totalmeme diferentes (p.ex., Guba & Lincoln, 1989; Lincoln, 1991, Sechrest, 1991; Smith & Heshusius, 1986). Essas distin~5es produziram urn debate acirrado no campo da pesqui­sa de avalia~ao. Embora algumas pessoas acreditem que tais cren~as filosofi­cas sejam incompativeis, ainda se pode apresentar urn contra-argumento ­que independentemente de se favorecer a pesquisa qualitativa ou quantitati­va, ha uma grande e importante area comum entre as duas (Yin, 1994).

E sim, os estudos de caso tern urn lugar de destaque na pesquisa de ava­lia~o (veja Cronbach et al., 1980, Guba & Lincoln, 1981; Patton, 1980; U.S. General Accounting Office, 1990; Yin, 1993, cap. 4). Ha, no minimo, cinco aplica~6es diferentes. A mais importante eexplicar os vfnculos causais em inter­venc;6es da vida real que sao complexas demais para as estrategias experimen­tais ou aquelas utilizadas em levantamentos. Na linguagem da avalia~ao, as explana<;6es uniriam a implementa<;ao do programa com os efeitos do progra­rna (U.S. General Accounting Office, 1990). Uma segunda aplica~o e descrever uma interven~ao e 0 contexto na vida real ern que ela ocorre. Em terceiro lugar, os estudos de caso podem ilustrar certos topicos dentro de uma avalia~ao, outra vez de urn modo descritivo - mesmo de uma perspectiva jomallstica. A quarta aplicac;ao eque a estrategia de estudo de caso pode ser utilizada para explorar aquelas situa~6es nas quais a interven~ao que esta sendo avaliada nao apresen­ta urn conjunto simples e claro de resultados. Ern quinto lugar, 0 estudo de caso pode ser uma "meta-avaliafao" - 0 estudo de urn estudo de avalia~ao (N. Smith, 1990; Stake, 1986). Qualquer que seja a aplica~ao, urn tema constante e que os patrocinadores do programa - no lugar apenas dos pesquisadores - podem re­presentar urn papel proeminente ao se definirem as quest6es da avaliar;ao e nas categorias de dados relevantes (U.S. General Accounting Office, 1990).

E, finalmente, sim, certos trabalhos da area jornalfstica podem ser quali­ficados como estudos de caso. Na verdade, urn dos estudos de casos mais imeressantes e mais bern escritos refere-se ao esdlndalo de Watergate, feito par dois reporteres do The Washington Post (veja QUADRO 3).

lnrrodw;ao 35

QUADR03

Urn estudo de caso jornalistico

Embora a lembran~a publica da renuncia do presidente americano Richard M. Nixon esteja enfraquecida, All the President's Men, de Bernstein e Woodward, ainda ewn relato fascinante do esdindalo de Watergate. 0 livro e dramatico e cheio de incenezas, baseia-se em metodos jomaHsticos s6lidos e represen­ta, quase que por acaso, urn projero comum para os esrudos de caso.

o "caso", nesse livro, nao e propriamente 0 roubo em Watergate, au mes­rno a administra~ao Nixon mais genericamente. Em vez disso, 0 caso e urn "encobrimemo", urn conjumo camplexo de acontecimentas que acorreram no rastro de urn raubo. Bernstein e Woodward confrontam continuamente 0

leitor com duas questoes do ripo "como" e "por que": como ocorreu 0 encobri­mento e por que ocorreu? Nao se responde nenhuma das duas perguntas facilmeme, e 0 que chama aten<;iio no livro e a sua temativa de momar as fatos, urn ap6s 0 outro, sendo cada pe~a curiosa e depois potencialmeme acrescemada a uma explicar;iio para esse encobrimemo.

stabelecer 0 como e 0 porque de uma complexa siruar;iio humana e urn exemplo c1assico do uso de esrudo de caso, realizado tanto por jomalistas como por cientistas sociais. Se 0 caso envolve urn acomecimemo publico significante e wna explica<;iio interessante, pode-se acrescentar os ingredien­tes a urn best-seller, como ocorre em All the President's Men.

RESUMO

Esse capitulo apresentou a importancia do esrudo de caso como estrategia de pesquisa. a esrudo de caso, como ourras estrategias de pesquisa, representa uma maneira de se investigar urn topieo empmco seguindo-se urn conjunto de procedimentos pre-especificados. Serao esses procedimentos que estudare­mos em detalhes no restante do livro.

a capitulo tarnbem tentou diferenciar 0 esrudo de caso de estrategias de pesquisa alternativas nas ciencias sociais, demonstrando as situa<;6es em que epreferivel se fazer urn esrudo de caso unico ou de casos multiplos a se fazer, par exemplo, urn levantamento. Algumas siruar;6es podem nao apre­semar uma esuategia preferivel, na medida ern que as pontos fortes e fracos das varias estrategias podem se sobrepor. A tecnica basica, no entanto, e considerar todas as estrategias de uma maneira pluralistica - como parte de urn repenorio para se realizar pesquisa em ciencias sociais a partir da qual 0

pesquisador pode estabelecer seu procedimento de acordo com uma deter­minada situac;ao.

Finalmeme, a capitulo discutiu algumas das maiores criticas que se faz a pesquisa de estudo de caso e sugeriu que algumas dessas crfticas possam cstar

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"I I

II

~ ~II

II.~ II,

36 Estudo de Caso

sendo mal direcionadas. No entanto, devemos todos trabalhar arduamente para superar os problemas que surgem ao se fazer pesquisa de estudo de caso, incluindo 0 reconhecimemo de que alguns de nos nao fomos feitos, por capa­cidade ou disposi~ao, para realizar esse tipo de pesquisa em primeiro lugar. Muito emboraja se tenha pensado bastante que os estudos de caso sejam uma pesquisa "facil", a pesquisa de estudo de caso enotavelmente complicada. Eo paradoxo e que quanto "mais facil" for uma estrategia de pesquisa, mais difi­cil sera para realiza-Ia.

EXERCICIOS

l. Definindo uma quest(io de estudo de caso. Desenvolva uma questa.o que seria 0 fundamemo logico para 0 estudo que voce poderia con­duzir. Em vez de fazer urn estudo de caso, imagine agora que voce so pudesse fazer uma pesquisa historica, ou urn levantamento, ou urn experimemo (mas nao urn estudo de caso), a fim de responder a essa questao. Quais aspectos da questao, se houver algum, nao po­deriam ser respondidos atraves dessas outras estrategias de pesqui­sa? Qual seria a vantagem decisiva de se realizar urn estudo de caso para responder a essa questao?

!llll H 2. Definindo quest6es "significantes" para 0 estudo de casa. Determine urn topico que voce acredite que valha a pena pesquisar em urn estudo de caso. Identifique as tres questoes principais a que 0 seu estudo de caso tentaria responder. Agora, assuma que voce pudes­se responder de fato a essas questoes com evidencias suficientes

~ (ou seja, que voce tivesse conduzido com sucesso seu estudo de caso). Como voce justificaria a urn colega a importancia de suas

! descobertas? Teria dado continuidade a alguma teoria especial? Teria descoberto alguma coisa rara? (se voce nao esta satisfeito com suas respostas, talvez devesse pensar em redefinir as questoes principais de seu caso)

3. Identificando quest6es "significantes" em outras estrategias de pesqui­sa. Localize urn estudo de pesquisa baseado unicamente no uso de metodos historicos, experimentais ou que utilizam levantamentos (mas nao metodos de estudo de caso). Descubra a maneira como as descobertas desse estudo sao significantes. Da seguimento a algu­rna teoria em especial? Descobriu alguma coisa rara? Examinando os estudas de casa utilizados para fins de ensina. Obte­nha uma copia de urn estudo de caso que tenha side usado para fins de ensino (p.ex.) urn caso em urn livro-texto utilizado em algum curso de administra<;ao). Identifique de que maneiras especfficas esse tipo de caso de "ensino" e diferente dos estudos de caso de pesquisa. 0 caso de eosine cita documentos primarios, contem evi­

Introduc;ao 37

dencias ou apresenta dados? Chega a alguma conclusao? Qual pa­reee ser 0 objetivo principal do easo de ensino?

5. Definindo tipas diferentes de estudas de casa utilizados para fins de pesquisa. Defina os tres tipos de estudos de caso usados para fins de pesquisa (mas nao de eosino);

a) estudos causais ou explanatorios; b) estudos descritivos; c) estudos exploratorios.

Compare as situac;oes em que esses tipos diferentes de esrudos de caso seriam mais aplicaveis e) entao, determine urn estudo de caso que voce gostaria de conduzir. Seria explanatorio, descritivo ou expJoratorio? Por que?

NOTA

1. Robert Stake (1984) ainda estabeleceu uma outra tecnica para definir os estudos de caso. Ele acredita que eles nao sejam "uma escolha metodo16gica, mas uma esco­Iha do objeto a ser estudado". Alem disso, 0 objeto deve ser alga "especifico funcio­nal" (como lima pessoa ou uma sala de aula), mas nao uma generalidade (como uma politica). Essa defini<;ao emuito ampla. Logo, cada estudo de entidades que se quali­ficam como objetos (p.ex., pessoas, organiza<;6es e paises) seria urn estudo de caso, independemememe da metodologia utilizada (p.ex., experimento psico16gico, levan­tamento empresarial, analise economica).

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p; I III

I •••• capitulo

~2 Projetando estudos

de caso

Urn projeto de pesquisa constitui a 16gica que une os dados a serem coletados (e as conc1us6es a serem tiradas) as quest6es iniciais de urn estudo. Cada estuclo empfrico possui urn projeto de pesquisa impHcito, se nao explicito.

Para os estudos de caso, sao importantes quarro tipos principais de pro­jews, seguindo uma matriz 2 x 2. 0 primeiro par de categorias consiste em projetos de caso unico e casos mUltiplos. 0 segundo par, que pode aconte­cer em combina<;ao com qualquer urn dos elementos do primeiro par, ba­seia-se na unidade ou nas unidades de analise que devem ser esrudadas - e faz urna distinc;ao entre projetos holfsticos e incorporados·.

o pesquisador de esrudo de caso tambem deve maximizar quarro aspec­tos da qualidade de qualquer projeto:

a) validade do constructo; b) validade interna (para esrudos causais ou explanat6rios); c) validade extema; d) confiabilidade.

A maneira como 0 pesquisador deve lidar com esses quarro aspectos do connole de qualidade eresumida no Capitulo 2, mas tambem e urn tema dominante ao 10ngo do livro.

ABORDAGEM GERAL AO PROJETAR ESTUDOS DE CASO

Para identificar a estrategia para 0 seu projeto de pesquisa, foi-lhe mostrado, no Capitulo 1, quando voce deveria selecionar a estrategia de eStudo de caso,

ON. de or. "Embedded", no original.

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40 Estudo de Caso

em oposic;ao a outras estrategias. A proxima tarefa eprojetar seu estudo de caso. Para atingir esse objetivo, assim como ao projetar qualquer outro tipo de investigac;ao que envolva pesquisa, e necessario urn plano ou urn projeto de pesquisa.

o desenvolvimento desse projeto de pesquisa constitui urna parte dificil quando se realiza estudos de caso. Diferentemente de outras estrateglas de pesquisa, ainda nao se desenvolveu urn "catalogo" abrangente de projetos de pesquisa para os estudos de caso. Nao existem livros-texto como aqueles utili­ados ern psicologia e biologia, que rratam dessas considerac;6es de planeja­

mento, como a atribuic;ao de objetos a "grupos" diferentes, a selec;ao de est1­mulos ou condic;6es experimentais distintas ou a identificac;ao de diversas medidas de resposta (veja Cochran & Cox, 1957; Fisher, 1935, citado em Cochran & Cox) 1957; Sidowski, 1966). Em urn experimento de laboratorio, cada uma dessas escolhas reflete uma conexao logica importante as quesr6es que estao sob estudo. Da mesma forma, nao existem nem mesmo livros-texto como os bem-conhecidos volumes de Campbell e Stanley (1966) ou de Cook e Campbell (1979), que resumem os diversos projetos de pesquisa para situa­c;6es quase-experimentais. Nem mesmo surgiram projetos comuns - por exem­plo, estudos "paineis" - como aqueles agora reconhecidos que fazem pesquisa de levantamentos de dados (veja Kidder & Judd, 1986, cap. 6).

Uma cilada que deve ser evitada e acreditar que os projetos de estudo de caso sejam urn subconjunto ou uma variante dos projetos de pesquisa utiliza­dos para outras estrategias, como os experimentos. Durante muitissimo tem­po, os academicos acreditaram, equivocadamente, que 0 estudo de caso era nada alem de urn tipo de projeto quase-experimental (urn projeto somente de pos-teste unico). Essa concepc;ao erronea finalmente foi corrigida, com a se­guinte afirrnac;ao surgindo ern urn artigo sobre os projetos quase-experimen­tais: "Certamente, 0 estudo de caso como vern sendo normalmente realizado nao deve ser rebaixado pela identificaC;ao com urn projeto apenas de pos-teste de urn tinico grupo" (Cook & Campbell, 1979, p. 96).

~ Ern outras palavras, 0 projeto somente de p6s-teste unico como projeto

quase-experimental alnda pode ser considerado imperfeito, mas agora ja se reconheceu que 0 estudo de caso e algo diferente. Na verdade, 0 estudo de caso e uma estrategia de pesquisa diferente que possui seus proprios projetos de pesquisa.

Infelizrnente, os projetos de pesquisa do estudo de caso ainda nao foram sistematizados. 0 capftulo seguinte aborda os novos fundamentos metodolo­gicos levantados pela primeira edic;ao deste livro e descreve urn conjunto basi­co de projetos de pesquisa para realizar estudos de caso u.nico e de casos mul­

II ~;[ tiplos. Embora tais projetos precisem ser continuamente modificados e rnelho­rados no futuro, no seu formato atual eles 0 ajudarao a projetar estudos de casos mais rigorosos e consistentes metodologicamente.

Projetando Escudos de Caso 41

vefinityao de projetos de pesquisa

Cada tipo de pesquisa empfrica possui urn projeto de pesquisa implicito, se nao explicito. No sentido mais elementar, 0 projero e a sequencia logica que conecta os dados empfricos as quest6es de pesquisa iniciais do estudo e, em ultima analise, as suas conc1us6es. Coloquialmente, urn projeto de pesquisa e urn plano de a~ao para se sair daqui e chegar la, onde aqui pode ser definido como 0 conjunto inicial de quest6es a serem respondidas, e za e urn conjunto de conclus6es (respostas) sobre essas quest6es. Entre "aqui" e "la" pode-se encontrar um grande numero de etapas principais, incluindo a coleta e a ami­lise de dados relevantes. Como definic;ao resumida, urn outro livro-texto des­creveu urn projeto de pesquisa como urn plano que

conduz 0 pesquisador arraves do processo de coletar, analisar e interpretar observar;6es. E urn modelo logico de provas que !he permite fazer inferencias relativas as relar;6es causais entre as variaveis sob investiga<;ao. 0 projeto de pesquisa tambem define a domfnio da generalizar;ao, ism e, se as inter­preta<;6es obtidas podem ser generalizadas a uma popular;ao maior ou a sirua<;:6es diferentes. (Nachmias & Nachmias, 1992, p. 77-78, grifo nosso)

Uma outra maneira de se pensar em urn projeto de pesquisa ecomo urn "esquema" de pesquisa, que trata de, pelo menos, quarro problemas: quais questoes esrudar, quais dados sao relevantes, quais dados coletar e como ana­lisar os resultados (veja F. Borum, comunica<;ao pessoal, Copenhagen Business School, Copenhagen, Dinamarca, 1991; Philliber, Schwab, & Samsloss, 1980).

Observe que urn projeto de pesquisa e muito mais do que urn plano de trabalho. 0 prop6sito principal de um projeto e ajudar a evitar a situac;ao em que as evidencias obtidas nao remetem as quest6es inicials da pesquisa. Nesse sentido, um projeto de pesquisa ocupa-se de um problema 16gicD e nao de urn problema log(stieD. Como exemplo simples, suponha que voce queira estudar uma (mica organizac;ao. Suas questoes de pesquisa, no entanto, tern a ver com o relacionamento da organizac;ao com outras organizac;6es - a natureza com­petitiva ou colaborativa delas, por exemplo. Pode-se responder a essas ques­toes apenas se voce coletar informac;oes diretamente das outras organizac;oes, e nao apenas daquela com que voce iniciou 0 estudo. Caso conclua seu estudo ao examinar apenas uma organizac;ao, voce nao podera retirar conclus6es acuradas acerca de parcerias imerorganizacionais. Aqui haveria uma falha em seu projeto de pesquisa, nao em seu plano de trabalho. 0 resultado pode­ria ter sido evitado se, em primeiro lugar, voce tivesse desenvolvido urn proje­to de pesquisa apropriado.

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42 Estudo de Caso

Componentes de projetos de pesquisa

Para os estudos de caso, sao especialmente importantes cinco componentes de urn projeto de pesquisa:

1. as quest6es de urn estudo; 2. suas proposi~6es, se houver; 3. sua(s) unidade(s) de analise; 4. a logica que une os dados as proposi~6es; e 5. os criterios para se interpretar as descobertas.

Questoes de estudo. Esse primeiro componente ja foi descrito no Capitulo 1. Embora a essencia de suas quest6es possa variar, no Capitulo 1 sugere-se que afonna da questao - em termos de "quem", "0 que", "onde", "como" e "por que" - forne~a urna chave importante para se estabelecer a estrategia de pesquisa mais relevante a ser utilizada. Emais provavel que a estrategia de estudo de caso seja apropriada a quest6es do tipo "como" e "por que"; assim, sua tarefa inicial e precisar, com clareza, a natureza das suas quest6es de estudo nesse sentido.

Proposir-oes de estudo. Como para 0 segundo componente, cada proposi­iYao destina atenc;ao a alguma coisa que deveria ser examinada dentro do escopo do estudo. Por exemplo, assuma que sua pesquisa sobre a parceira interorganizacional come<;ou com a questao: como e por que as organiza<;6es colaboram umas com as outras para prestar servic;os em associa~ao (por exem­plo, urn fabricante e urna loja de varejo decidem trabalhar juntas para vender certos produtos de informatica)? Essas quest6es "como" e "par que", pegando a essencia daquilo que voce realmente esta interessado em responder, levam­no ao estudo de caso como a estrategia apropriada em primeiro lugar. Nao obstante, tais quest6es nao apontam para aquilo que voce deveria estudar. Somente se for obrigado a estabelecer algumas proposi~6es, voce ira na dire­<;ao certa. Por exemplo, voce pode pensar que as organizac;6es colaboram en­tre si porque obtem beneficios mutuos. Essa proposiiYao, alem de refletir uma importante questao teorica (que nao existem outros incentivos para a colabo­ra~ao ou que eles nao sao importantes), tambem comeiYa a lhe mostrar onde voce deve procurar evidencias relevantes (definir e conferir a extensao de beneficios espedficos para cada organizaiYao).

Ao mesmo tempo, alguns estudos podem ter uma razao absolutamente legftima para nao possuir nenhuma proposic;ao. Essa ea condic;ao - que existe ern experimentos, levantamentos e outras estrategias de pesquisa semelhan­tes - na qual urn topico e0 tema da "explorac;ao". Cada explorac;ao, entre tan­to, ainda deveria ter algoma finalidade. Em vez de expor proposic;6es, 0 pro­jeto para urn estudo exploratorio deveria apresentar uma finalidade e os crite-

Projetando Estudos de Caso 43

os que SeIaO utilizados para julgar uma explora<;ao como bem-sucedida. Con­sidere como exemplo de estudos de caso exploratorios a analogia no QUADRO 4. Voce consegue imaginar como pediria apoio para a Rainha Isabela para realizar seu estudo exploratorio?

Unidade de analise. 0 terceiro componente relaciana-se com 0 problema fundamental de se definir 0 que e urn "caso" - urn problema que atormentou muitos pesquisadores no principio dos estudos de caso. Por exemplo, no estu­do de caso chlssico, urn "caso" pode ser urn individuo. Jennifer Platt (1992a, 1992b) observou que os primeiros estudos de caso da escola Chicago de socio­logia eram relatos de vida, tais como delinquentes juvenis e individuos em pessimas condi<;6es. Voce tamhem pode imaginar estudos de caso de pacien­tes clfnicos, de estudantes exemplares ou ate mesmo de certos tipos de lide­res. Em cada situa<;ao, uma (mica pessoa e 0 caso que esta sendo estudado, e o individuo e a unidade primaria de analise. Seriam coletadas as informa­c;oes sobre cada individuo relevante, e varios exemplos desses indivfduos, ou "casos", poderiam ser incluidos ern urn estudo de casas multiplos. As propo­si<;6es ainda seriam necessarias para ajudar na identificac;ao das informac;6es relevantes sobre esse(s) individua(s). Sem tais proposic;6es, urn pesquisador pode ficar tentaclo a coletar "rudo", alga absolutamente impassivel de fazer. Por exemplo, as proposi<;6es ao estudar os individuos podem envolver a il1­fluencia da primeira infancia ou 0 papel das relac;6es mais proximas. Esses topicosja represenram uma ampla reduc;ao dos dados relevantes. Quanta mais proposic;6es espediicas urn estuda cantiver, mais ele permanecera dentro de !imites exequiveis.

QUADR04

"Explora~ao"COJDO analogia a urn estudo de casu exploratorio

Quando Crist6vao Colombo foi conversar com a Rainha Isabel para pedir apoio ern sua "explora<;ao" do Novo Mundo, ele tinha que rer algumas razoes para conseguir tres navios (Por que nao urn? Por que nao cinco?) e tinha que ter algum fundamemo 16gico para ir mmo ao oeste (Por que nao para 0 sui? Por que nao para 0 sui e depois para 0 leste?). Colombo tambem tinha alguns criterios (equivocados) para reconhecer as indias quando as encontrasse. Em resumo, sua expIora<;ao come<;ou com algum fundamemo l6gico e algum direcionamemo, mesmo que suas suposi<;oes initiais tenham se mostrado er­radas depois (Wilford, 1992). Esse mesmo grau de fundamemo logico e direC-ionamenta deve sustentar ate meSilla urn esrudo de caso explorat6rio.

II!I

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44 Estudo de Caso

Naturalmente, 0 "caso" tambem pode ser algum evento ou entidade que emenos definido do que urn unico indivfduo. Ja se realizararn estudos de caso sobre decisoes, sobre prograrnas de varios tipos, sobre 0 processo de implan­ta~ao de alguma coisa ern alguma empresa ou entidade e sobre uma mUdanc;a organizacional. Feagin, Orum & Sjoberg (1991) contem alguns exemplos clas­sicos desses casos unicos em sociologia e em cil~ncia poHtica. Tome cuidado com esse tipo de t6pico - nenhum efacilmente definido ern termos dos pontos iniciais ou finais do "caso". Por exemplo, urn estudo de caso de urn programa espedfico pode revelar:

a) varia~6es na defmic;ao do programa, dependendo da perspectiva das diferentes pessoas envolvidas;

b) componentes do programa que existiam antes da designac;ao formal do mesmo. Logo, qualquer estudo de caso de urn programa como esse teria que confrontar essas condic;6es ao delinear a unidade de amilise.

Como orientac;ao geral, a definic;ao da unidade de analise (e, portanto, do caso) esta relacionada amaneira como as quest6es iniciais da pesquisa foram definidas. Suponha, por exemplo, que voce que ira estudar 0 papel dos Estados Unidos na economia mundial. Peter Drucker (1996) escreveu urn instigante ensaio sobre as alterac;6es fundamentais ocorTidas na econo­mia mundial, no qual inclufa a importancia dos "movimentos de capital" independentemente do fluxo de bens e servic;os. A unidade de analise para 0

seu estudo de caso pode ser a economia de urn pafs, uma industria no mer­cado global, uma polftica economica ou 0 comercio ou 0 fluxo de capital entre dois paises. Cada unidade de analise exigiria urn projeto de pesquisa sutilmente diferente e uma estrategia de coleta de dados. Especificar corre­tamente as quest6es primarias da pesquisa traria como conseqlH~ncia a sele­c;ao da unidade apropnada de analise. Se as suas quest6es nao derem prefe­rencia a uma unidade de analise em relac;ao a outra, significa que elas estao ou vagas demais ou em numero excessivo - e voce pode ter problemas ao conduzir 0 estudo de caso.

Algumas vezes, a unidade de analise pode ser defmida de uma maneira, mas 0 fenomeno que esta sendo estudado exige uma definic;ao diferente. Muito freqUentemente, os pesquisadores confundem estudos de caso de bairros, por exemplo, com esrudos de caso de pequenos grupos (outro exemplo e confun­dir uma inovac;ao com urn pequeno grupo nos estudos organizacionais; veja QUADRO 5a). A maneira como uma area em geral, como urn bairro, lida com transic;ao e evoluc;ao racial, e outros fenomenos podem seT bern diferemes da maneira como urn pequeno grupo !ida com esses mesmos fenomenos. Street Corner Society (Whyte, 1943/1955 - veja tambem 0 QUADRO 1 no Capitulo 1 deste livro) e Tally's Corner (Liebow, 1967 - veja tambem 0 QUADRO 9, neste capitulo), par exemplo, sempre foram confundidos com estudos de caso de

Projetando Estudos de Caso 45

QUADR05a

o que e uma unidade de amUise?

a best-seller The Soul of a New Machine (1981), escrito por Tracy Kidder, foi vencedor do premio Pulitzer', a livro trata do desenvolvimento de urn novo microcomputador produzido pela Data General Corporation, que foi projeta­do para competir direlamente com urn outro microcomputador desenvolvido pela Digital Equipment Corporation.

De faci! ]eitura, a livro descreve como a equipe de engenheiros cia Data Genera] inventou e desenvolveu 0 novo computador. Comec;a com a conceirualizac;ao inicial do computador e termina quando a equipe entrega 0

controle da ffiaquina aequipe de marketing da Data General. Eurn exemplo excelente de esrudo de caso. No entanto, 0 texto de Kidder

tambem i1ustra urn problema fundamental quando se realiza estudos de caso ­ode definir a unidade de amllise. a esrudo de caso esobre 0 microcomputa­dor, au esobre a dinamica de urn pequeno grupo - a equipe de engenheiros? A resposta e muito importame se pretendemos entender como 0 esrudo de caso se relaciona com urn corpo mais amplo de conhecimento - isto e, se devemos generalizar a questao atecnologia ou adinamica de grupo. Na me­dida em que 0 livro nao eurn estudo acade.mico, ele nao necessita, como de fata nao 0 faz, apresentar uma resposta,

bairros, quando, na verdade, sao estudos de caso de pequenos grupos (obser­ve que, em nenbum dos dois livros, e descrita a geografia do baino, muito embora os pequenos grupos vivessem em uma pequena area com claras impli­ca~6es de vizinhanc;a). 0 QUADRO 5b, no entanto, apresenta urn born exem­plo de como as unidades de analise podem ser definidas de uma maneira mUito mais discriminat6ria - na area do comercio mundial.

A maioria dos pesq uisadores vao se defrontar com esse tipo de confusao ao definirem a unidade de amUise. Para diminuir a confusao, uma boa pratica ediscutir 0 caso em potencial com urn colega. Teme explicar a ele quais ques­toes voce esta tentando responder e por que escolheu urn caso especifico ou urn grupo de casas como forma de responder a essas quest6es. Isso pode ajuda­10 a evitar a idemificac;ao incorreta da unidade de analise.

Vma vez que tenha sido estabelecida a definic;ao geral do caso, torna-se imponante fazer novas considerac;6es da unidade de analise. Se a unidade de aJl<Hise for urn pequeno grupo, por exemplo, as pessoas que devem ser inc1uf-,

.N. de T. Laurea inslltuida em 1917 pelo jomalista none-americano Joseph Pulitzer e oUlorga­da anualmente pela Universidade de Columbia. Divide-se em oito prl'milos de jomalismo, cinco de Hteratura, quatro bolsas de estudo e um premio de musica.

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46 Estudo de Caso

QUADR05b Uma escoJha mais clara entre unidades de analise

o livro de Ira Magaziner e Mark Patinkin, The Silent War: Inside the Global Business Battles Shaping America's Future (1989), apresenta nove estudos de caso. Cada urn deles auxilia 0 leitor a compreender a real situa~ao da compe­ti~ao economica internacional.

Dois casos parecem semelhantes, mas, na verdade, possuem unidades de analise principais diferentes. Um caso, sobre a empresa coreana Samsung, e urn estudo da polftica crucial que tornou a empresa competitiva. Perceber como se deu 0 desenvolvimcnto economico da Coreia do Sui faz parte do contexto, e 0 estudo de caso tambem contem uma unidade incorporada - 0

desenvolvimento pela Samsung dos fornos de microondas como produto ilustrativo. 0 outro caso, sobre a implantac;ao de uma fabrica de computado­res da Apple em Singapura, e, na verdade, urn esrudo de caso sobre a politica adotada por Singapura que tomou 0 pals competitivo. Aexperiencia da fabri­ca da Apple - uma unidade incorporada de analise - e, realmente, urn exem­plo claro de como as polfticas nacionais afetam os investimentos estrangeiros.

Esses dois casos demonstram como a defini<;ao das unidades de analises principais e incorporadas, e a definic;ao dos evenros contextuais em volta dessas unidades, dependem do nivel de investigac;ao. Eprovavel que a un i­dade principal de analise esteja no mesmo Divel abordado pelas quest6es de estudo principais.

daquelas que nao se encontram dentro dele (0 contexte para 0 estudo de caso). Similarmente, se 0 caso se referir a algum tipo de servi~o em uma area geogra­fica espedfica, devem ser tomadas decisoes sobre servi<;os publicos cujos limi­tes de baino nao coincidem com a area. Por ultimo, para quase todos os t6pi­cos escolhidos, sao necessarios limites de tempo especfficos para definir 0 co­me<;o e 0 fim do caso. Todas essas questoes precisam ser consideradas e res­pondidas para defmir a unidade de analise e, por conseguinte, detenninar os timites da coleta e da analise de dados.

Epreciso ainda fazer uma observa<;ao final sabre a defini~ao do caso e da unidade de analise, relativa ao papel da literatura existente sabre a pesquisa em si. A maioria dos investigadores van querer comparar suas descobertas com pesquisas anteriores; por essa razao, as defini<;oes-chave nao devem ser idiossincniticas. Em vez disso, cada estudo de caso ou unidade de analise de­vern ser semelhantes aqueles previamente estudados por outras pessoas ou devem divergir de forma clara e operacionalmeme definida. Dessa maneira, a literatura exisrente tambem pode se tamar uma referencia-guia para se definir o caso e a unidade de analise.

Projetando Estudos de Caso 47

Ligando os dados a proposi~oes, e os criterios para a interpreta~ao das desco­bertas. 0 quarto e 0 quinto componentes foram os menos desenvolvidos nos esrudos de caso. Representam as etapas da analise de dados na pesquisa do estudo de caso, e deve haver urn projeto de pesquisa dando base a essa analise.

£igor as dados a proposiroes pode ser feiro de varias maneiras, mas ne. nhuma foi tao bern definida quanto a atribui\30 de temas e condi<;oes de tratamento em experimentos psico16gicos (que e a maneira como as hip6reses e os clados sao associados em psicologia). Uma abordagem promissora para os eswclos de caso e a icleia da "adequa<;ao ao padrao" descrita por Donald Campbell (1975), por meio da qual varias partes da mesma informa<;ao do mesmo caso podem ser relacionadas amesma proposi<;ao re6rica. Em urn ar­rigo relacionado sobre urn ripo de padrao - urn padrao de series temporais _ Campbell (1969) ilustrou essa abordagem, mas sem rotula-la como tal.

Em seu arrigo, Campbell primeiro demonstrou como 0 numero anual de acidentes fatais de transiro em Connecticut pareceu dedinar apos a aprova­<;5.0 de uma nova lei estadual que limitava a velocidade para 90 quil6metros por hora. Entre tanto , uma anilise mais detalhada da taxa de mortalidade, com base em alguns anos antes e depois cla altera<;ao na lei, mostrou uma flutua<;ao nao-sistematica no numero de aciclentes, em vez de uma redu<;ao niridamenre marcada. Urn simples e rapido exame, sem muito aprofundamento, e suficieme para mosrrar que 0 padrao real parecia nao-sistematico em vez de seguir uma tendencia de diminui<;ao (veja a Figura 2.1); assim, Campbell concluiu que 0 limite de velocidade nao rivera nenhum efeito sobre 0 mimero de acidentes de transiro com vitirnas fatais.

o que Campbell fez foi descrever dais padroes em potencial e entao mos­rrar que os clados se enquadravam melhor em urn do que em outro. Se os dois padroes em potencial sao considerados proposi<;oes concorrentes (uma pro­posi<;ao "com efeito" e uma proposi<;ao "sem efeito", em rela<;ao ao impacto da nova lei de limite de velocidade), a tecnica de adequa<;ao ao padrao ea ma­neira de relacionar os dados as proposi<;oes, muito embora 0 esrudo inteiro consista apenas em urn caso unico (0 esrado de Connecticut).

Esse artigo tambem ilustra os problemas que surgem ao se lidar com 0

quinto componente, as criterios para a interpretarQo das descobertas do estudo. Os clados de Campbell se ajustam a urn padrao de uma forma muito melhor do que se ajustam a outro. Mas qual 0 grau de adequa<;ao necessaria para ser considerada uma adequayao? Observe que Campbell nao faz nenhurn teste esratistico para fazer uma compara<;ao. E nem reria sido possivel, pois cada POnto de dados no padrao era urn numero unieo - 0 nLlmero de aciclentes para cada ana - para 0 qual nao se poderia calcular uma variancia e nem se pode­ria conduzir qualquer teste estatisrico. Normalmente, nao hci uma maneira precisa de se estabelecer os criterios para a inrerpretayao dessas descobertas. o que se espera eque as cliferenres padr6es estejam conrrastando, de forma clara e suficiente, que (como no caso de Campbell) as descobertas podem ser

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~

48 Estudo de Caso

Proposic;5es a priori:

um padrao "com efeitos"

o oumero de ~ acidentes

I~ 1234567

ANOS

Observac;oes atuaiS: (Campbell,1969)

325

300

nu.mero de 275

acidentes 250

225

200

_!.~ .\f'J~ , J:l

urn padrao "sem efeitos"

Ie ''''§-/' ­b1g

, , , , I , I

1234567

ANOS

...urn padrao "sem efeitos"

515253 54 55 56 57 5859 ANOS

Figura 2.1 Urn exernplo de adequac;.ao ao padrao. FONTE: COSMOS Corporation

interpretadas em termos de compara~ao de, pelo menos, duas proposic;6es

concorrentes.

Resumo. Urn projeto de pesquisa deve conter cinco componentes. Embo­ra 0 estado atual da ciencia nao fornec;a orientac;ao detalbada sobre os ulti­mos dois, 0 projeto completo de pesquisa nao deve apenas indicar quais da­dos devem ser coletados - como indicado:

a) pelas quest6es do esrudo; b) por suas proposic;6es; c) por suas unidades de analise.

Projerando Estudos de Caso 49

o projeto tambem deveria lhe dizer 0 que deve ser feito apos os dados terem sido coletados - como indicado:

d) pela logica que une os dados as proposic;6es; e) pelos criterios para interpretac;ao das descobertas.

o papel da teoria no trabalho do projeto

Tratar desses cinco componentes precedentes de projetos de pesquisa 0 forc;a­ra efetivamente a iniciar a formulac;ao de uma teoria preliminar relacionada ao seu topico de estudo. Esse papel da elaborac;ao da teoria, anterior a realiza­<;.ao de qualquer coleta de dados, apresenta uma diferenc;a entre os esrudos de caso e as metodos relacionados, como a etnografia (Lincoln & Guba, 1985, 1986; Van Maanen, 1988; Van Maanen et al., 1982) e a "construc;ao de teoria" (Strauss & Corbin, 1990). Geralmente, esses metodos relacionados delibera­damente evitam que se especifiquem quaisquer proposic;5es teoricas no prin­cipia de uma investiga~ao. Par conseguinte, os estudantes pensam, equivoca­damente, que, ao urilizarem 0 metodo do estudo de caso, eles podem avanc;ar com rapidez na fase de coleta de dados, e sao incentivados a fazer seus "conta­tos de campo" tao rapidamente quanto posslvel. Nenhuma orjenta~ao pode ser mais falaciosa. Entre outras organizac;6es, os contatos de campo relevantes de­pendem da compreensao - ou da teoria - do que esta sendo estudado.

Desenvolvimento da teoria. Para os estudos de caso, a desenvolvimento da teoria como parte da fase de projeto e essencial, caso·o prop6sito decor­rente do estttdo de caso seja determinar ou testar a teoria. Utilizando como exemplo urn estudo de caso sobre a implanta~ao de urn novo sistema de gerenciamento de Informa~6es (MIS, management information system) (Markus, 1983), 0 ingrediente mais simples de uma teoria euma afirma~ao como esta:

o esrudo de caso mostranl por que a implamac;ao deu certo somente quan­do a organizar;ao foi capaz de se reestnlturar, e nao apenas revestiu a amiga estrutura organizacional com 0 novo MIS. (Markus, 1983)

A afirma~ao apresenta, em poucas palavras, a teoria de implamaC;ao do MIS - isto e, que e necessaria uma reestruturac;ao organizacional para fazer Com que a implantac;ao do MIS fundone.

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.........­

50 Fstudo de Caso

Utilizando 0 mesmo caso, podemos acrescentar outro ingrediente com a

seguinte afirma<;ao:

o estudo de caso mostrara par que a simples sUbstituit;ao de pessoas-chave nao foi suficiente para se obter uma implementat;iio bem-sucedida. (Markus,

1983)

Essa segunda afirmac;ao apresenta, reswnidamente, uma teoria concorren­te _ isto e, que a implantac;ao do MIS nao obtem exito devido a resistencia a mudanc;as por parte de algumas pessoas em especial, e que a substituic;ao de tais pessoas e a (mica exigencia para que a implantac;ao seja bem-sucedida.

Podemos observar que, uma vez que esses dois ingredientes iniciais fo­rem elaborados, as ideias expostas darao cada vez mais conta de questoes, proposic;oes, unidades de analise, ligac;oes logicas dos dados as proposi<;:6es e criterios de interpretac;ao das descobertas - ou seja, os cinco componentes necessarios do projero de pesquisa. Nesse sentido, 0 projeto complero incorpo­ra wna "teoria" do que esta seodo estudado. Nao se deve, de forma alguma, pensar a respeito dessa teoria com a formalidade das grandes teorlas em cien­das sociais, nem se esta pedindo que voce seja urn teorico magistral. Em vez disso, 0 objetivo elementar epossuir um esquema completo 0 suficiente de seu estudo, e isso exige proposi<;6es tearicas. Assim, 0 projeto completo de pesqui­sa fornecera uma dire<;:ao surpreendentemente forte ao detemunar quais da­dos devem ser coletados e as estrategias de analise desses dados. Por essa razao, eessendal que se desenvolva uma teoria antes que se fac;a a coleta de

dados para qualquer estudO de caso.No entanto, desenvolver uma teoria leva muiro tempo e pode ser mwto

dificil (Eisenhardt, 1989). Para alguns topicos, os crabalhos existentes podcm oferecer uma rica esrrutura tearica para projetar urn estudo de caso espedfico. Se estiver interessado no desenvolvimemo da economia mundial, por exem­plo, 0 livro The Changed World Economy, de Peter Drucker, e uma fonte excep­donal de teorias e hip6teses. Drucker sustenta que a economia mundial vern se alterando significantemente nos ultimos tempos. Ele chama aten<;:ao para 0

"desatrelamento" que ocorreu encre a econornia primaria (materias-primas) e a economia industrial, encre os baixos custos da mao-de-obra e a produc;ao manufatureira, e entre os mercados financeiros e a economia real de produtos e servic;os. Testar essas proposic;oes talvez exija estudos diferentes, alguns ten­do como foco os desacrelamemos diferentes, outros dando atenc;ao a indus­trias espedficas e outrOS ainda explicando unldades diferentes de analise. A estrutura te6rica de Drucker forneceria a direc;ao para se projetar estudos de caso e, mesmo, para se coletar dados relevantes.

Em outras situac;6es, a teoria apropriada pode ser descritiva (veja 0 QUA­DRO 6 e a QUADRO 1, para ver outrO exemplo), eo seu interesse deve se

val tar a quest6es do tipo:

Projetando Estudos de Caso 51

a) 0 prop6sito do trabalho descritivo; b) a ampla porem realista variedade de topicos que podem ser conside­

rados uma descri<;:ao "completa" do que esta sendo estudado; c) o(s) provavel(is) topico(s) que sera(ao) a essencia da descri<;:ao.

Boas respostas a essas questoes, incluindo 0 fundamemo logico subja­cente as respostas, 0 ajudarao a percorrer urn longo caminho mmo ao desenvolvimento da base teorica necessaria - e 0 projeto de pes­quisa - para seu est'udo.

Para alguns outros tapicos, a base de conhecimento existente pode ser deficiente, e a literatura dlsponivel nao fomece nenhuma estrutura ou hlp6tese conceptual digna de nota. Essa base de conhecimento nao se presta ao desen­volvimento de boas proposi<;oes teoricas, e eprovavel que qualquer novo estu­do empirico caracterize-se como sendo urn esrudo "explorar6rio". Wio obst.ante, como se percebeu anteriormente com 0 caso ilustrativo do QUADRO 4, mesmo urn estudo de caso exploratorio deve ser precedido par afirma<;:oes sobre:

a) 0 que sera explorado; b) 0 proposito da explora<;ao; c) os criterios atraves dos quais se julgara a explora<;:ao como bem-suce­

dida.

QUADR06

Usando uma metMora para desenvolver teoria descritiva

Quatro parses - as colonias americanas, a Rllssia, a Inglaterra e a Franc;a ­que passaram pOl' cursos semelhantes de acontecimentos durante suas princi­pais revoluc;oes politicas: esse e 0 ropico do famoso escudo historico de Crane Brinton - The Anatomy of a Revolution (1938). 0 autor trac;a e analisa esses acontecimentos de uma maneira descritiva, visto que SUa intenc;ao emenos explicar as revoluc;oes do que derenninar se elas seguem cursos semelhantes.

A "analise CPlzada de caso" reveta muitas similaridades: todas as socieda­des apresentavam urn considenivel crescimento econ8mico, existiam profun· dos antagonismos de classes, os inrelectuais desistiram de suas posi<;:6es de lideranc;a, a maquina governamental era ineficiente e a classe dorninante exi­bia urn comportarnento imoral, dissoluto ou inepro (ou os tres). No emanro, em vez de confiar unicamente nessa abordagem de "fatores" para a descric;ao, o autor tambem desenvolve a metafora de urn corpo humano que sorre de febre como uma maneira de descrever 0 padrao de eventos ao longo do tempo. Utili­za, com notavcl conhecimento de causa, 0 padriio cfdico de febres e calafrios, elevando-os a urn ponto enrico e seguidos por uma falsa tranqiiilidade, para descrever 0 fluxo e ref1uxo dos acontecimemos Das quaLIo revolu<,:6es.

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52 Estudo de Caso

Tipos ilustrativos de teorias. Em geral, para superar as barreiras do desen­volvimento da teoria, voce deveria tentar se preparar para seu estudo de caso atraves do seguinte: revisar a literatura relacionada ao que voce gostaria de estudar (veja tambem Cooper, 1984), dlscutir com colegas e professores seus topicos e ideias e perguntar a si mesmo questoes desafiadoras sobre 0 que esta estudando, por que esta se propondo a fazer 0 estudo e 0 que espera aprender com ele.

Como lembrete adlcional, voce deveria ter consciencia da ampla varie­dade de teorias que talvez sejam importantes ao seu estudo. Por exemplo, observe que 0 exemplo do MIS ilustra a teoria da "implantac;ao" do MIS e que esse eapenas urn tipo de teoria que pode ser objeto de estudo. Pode-se incluir outros tipos de teorias a serem consideradas:

• Teorias individuais - por exemplo, teorias de desenvolvimento indi­vidual, comportamento, personalidade, aprendizagem e incapacida­de cognitivos, percepc;ao individual e interac;oes interpessoais.

• Teorias de grupo - por exemplo, teorias de funcionamento familiar, grupos informais, equipes de trabalho, coordenac;ao de supervisao d funciomirios e redes interpessoais.

• Teorias organizacionais - por exemplo, teorias de burocracias, estIu­tura e func;oes organizacionais, excelencia em desempenho organiza­donal (p.ex., Harrison, 1987) e parcerias interorganizacionais.

~ Teorias sociais - por exemplo, teorias de desenvolvimento urbano, comportamento internacional, instituic;oes culturais, desenvolvimen­to tecnologico e func;oes de mercado.

Outros exemplos cortam caminho em alguns desses tipos ilustrativos. Teo­rias de ramada de decisao (Carroll & Johnson, 1992), por exemplo, podem incluir individuos, organizac;oes ou grupos sociais. Como outro exemplo, urn topico comum de estudos de caso ea avaliac;ao de programas que obtem apoio publico, como programas municipais, estaduais e federais. Nessa situac;ao, 0

desenvolvimento de uma teoria de como se supoe que urn programa possa funcionar e essencial ao projeto da avaliac;ao, mas recebeu relativamente pouca enfase no passado (Bickman, 1987). De acordo com Bickman, os analistas confundem, com freqliencia, a teoria do programa (p.ex., como tomar a edu­cac;ao mais eficaz) com a teoria de implementac;ao do programa (p.ex., como instalar urn programa eficaz). Para aqueles politicos que desejam conhecer os passos essenciais desejados (p.ex., descrever urn curriculo efetivo de uma nova maneira), os analistas recomendam, infelizrnente, passos administrativos (p.ex., ocultar urn diretor que faz bons projetos). Pode-se evitar essa incompa­tibilidade ao se dar urn enfoque mais atencioso a teoria essencial.

Projetando Estudos de Casa 53

teoria apropriadamente desenvolvida tambem e 0 nivel no qual ocorrera a generaIizac;ao dos resultados do estudo de caso. Esse papel da teoria vern sendo caracterizado ao longo desse livro como "generaliza<;ao analftica" e vern sendo confromado com uma outra maneira de se generalizar resultados, conhecida como "generaliza<;ao estatistica". Compreender a distinc;ao entre esses dois tipos de generaIizac;ao pode ser seu desafio mais importante ao realizar estudos de caso.

Vamos considerar primeiro 0 modo mais comumente reconhecido de se generalizar - "generaliza<;ao estatistica" -, embora seja 0 menDs relevante para se fazer estudos de caso. Na generaliza<;ao estatistica, faz-se uma inferencia sobre uma popula<;ao (au urn universo determinado) com base nos dados empiricos coletados sobre uma amostragem. Isso emostrado como Nivel Urn de in/erencia na Figura 2.2. 1 Esse metodo de generalizac;ao ecornumente reco­nhecido porque os pesquisadores do estudo possuem pronto acesso a formu­las para se determinar 0 grau de certeza com que as generaliza<;oes podem ser feitas, dependendo principalmente do tamanho e da varia<;ao interna dentro do universo e da amostragem. Alem disso} essa ea maneira mais comum de se generalizar ao se realizar levantamentos (p.ex., Fowler, 1998; Lavrakas, 1987), e e uma parte integrante (em bora nao seja a unica) de se generalizar a partir de experirnentos.

Urn erro fatal que se comete ao se reaIizar estudos de caso econceber a generaIizac;ao estatistica como 0 metodo de se generalizar os resultados do

teoriaI I I teoria concorrente INNEL i •

DOIS implica~ao I I

implicac;ao de de politica politica concorrente

it--t------,--------------j T L_, I r--------- I I II I I I

LEVANTAMENTo ESTIJDO DE CASO EXPERlMENTO caracterlsticas I I I . descobertas do i

descobertasda popular;3.o estudo de caso experimentais

NiVEL OM 11

I Iamosrragern I objetos de estudo I Generalizando de estudo de caso para teoria. 0 desenvolvimento de teoria Figura 2.2 Fazendo inferencias: dois nlveis.

",ii.l:b.£U:U:U:I.nr: f.:;Il:i1it.3.dJ~fasf"....rla..ml..etakQadQsdo esrudo de caso decorrente. A FONTE: COSMOS Corporarion

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54 j':st udo de Caso

caso. Isso ocorre porque os casos nao sao "unidades de amostragem" e nao devem ser escolhidos por essa razao. De preferencia, os estudos de caso indi­vidual devem ser selecionados da mesma forma que urn pesquisador de la­boratario seleciona 0 assunto de urn novo experimento. Casos multiplos, nesse sentido, devem ser vistos como experimentos multiplos (ou levanta­mentoS multiplos). Sob tais circunstancias, 0 metodo de generalizaC;ao e a "generalizaC;ao analltica", no qual se utiliza uma teoria previamente desen­volvida como modelo corn 0 qual se deve comparar os resultados empiricos do estudo de caso. Se dois ou mais casos sao utilizados para sustentar a mesma teoria, pode-se solicitar uma replicaC;ao. Os resultados empfricos po­dem ser considerados ainda mais fortes se dois ou mais casas sustentam a mesma teoria, mas nao sustentam uma teoria concarrente igualmente plausf­vel. Graficamente, esse tipo de generalizaC;ao e mostrado como 0 Nive! Dais de injerencia na Figura 2.2.

Pode-se utilizar a generalizac;ao anaHtica se 0 seu estudo de caso envol­ver urn ou varios casos, que mais tarde sera denominado estudos de casa uni­co ou de casos multiplos. Ademais, a l6gica da replicac;ao e a distinC;ao entre generalizac;ao estatfstica e anaHtica serao tratadas ern maiores deralhes du­rante a discussao de projetos de estudo de casos multiplos. 0 ponto principal nessa conjunc;ao e que voce deveria tental' se direcionar ageneralizac;ao ana\(­tica ao realizar estudos de caso e que deveria evitar pensar em rermos confu­sos como "a amostragem de casos", ou 0 "pequeno numero de amostragens de caso", como se urn estudo de caso unico correspondesse a urn unieo respon­denre em urn levantamento ou urn unico tema em urn experimento. Ern outras palavras, nos termos da Figura 2.2, voce deve ter ern vista 0 Nive! Dais de inferencias ao realizar estudos de caso.

Dada a importancia dessa diferenciac;ao entre as duas maneiras de se generalizar, voce encontrara outros exemplos e mais discussao ao lange desse capitulo e do Capitulo 5.

Resumo. Essa subseC;ao sugeriu que urn projero completo de pesquisa que abranja os cinco componentes descriros anteriormente exige, na verdade, 0

desenvolvimento de uma estrutura te6rica para 0 estudo de caso que sera conduzido. No lugar de resistir a essa exigencia, urn born pesquisador de estu­do de caso deve se esforc;ar para desenvolver essa estrutura te6rica, nao irn­portando se 0 estudo tenha de ser explanat6rio, descritivo ou explorarorio. A utilizac;ao da teoria, ao realizar estudos de caso, nao apenas representa uma ajuda imensa na definic;ao do projeto de pesquisa e na colera de dados adequa­dos, como tambem toma-se 0 veiculo principal para a generalizac;ao dos resul­tados do estudo de caso.

Projetando Estudos de Caso 55

CRITERIOS PARA JULGAR A QUALIDADE DOS PROJETOS DE PESQUISA

Como se sup6e que urn projeto de pesquisa represente urn conjunto logico de proposic;6es, voce tambem pode julgar a qualidade de qualquer projeto dado de acordo com cenos testes l6gicos. Os conceiros que ja foram oferecidos para esses testes incluem fidedignidade, credibilidade, confirmabilidade e fidelida­de dos dados (U.S. General Accounting Office, 1990).

Quatro testes, no entanto, vern sendo comumente utilizados para deter­minar a qualidade de qualquer pesquisa social empfrica. Uma vez que os estu­dos de caso representam uma especie desses esrudos empiricos, os quarro tes­tes tambem sao importantes para a pesquisa de estudo de caso. Dessa forma, uma inovac;ao importante deste livro ea identificac;ao de varias raricas para !idar com esses testes ao fazer estudos de caso. A Figura 2.3 apresema os quatre testes amplamente utilizados e as tMicas recomendadas de esrudo de caso, assim como uma referencia afase da pesquisa em que a tatica deve ser usada (cada tatica e descrita ern detalhes mais tarde, no capitulo apropriado deste livro).

fase da pesquisa na qual testes tatica do estudo de caso a ratica deve ser aplicada

validade do constructo

- udliza fontes multiplas de evidencias

- estabelece encadeamento de evidencias

- 0 rascunho do re!at6rio estudo de caso ~ revisado por informantes-chave

coleta de dados

coleta de dados

composisao

validade intema

- faz adequasao ao padrao - faz constru~ao da

explana~ao

- faz anaIise de series temporais

anAlise de dados analise de dados

anAlise de dados

validade extema - utiliza !6gica de

replical;iio em estudos de casos mUltiplos

projeto de pesquisa

confiabilidade - utiliza protocolo de

estudo de caso - desenvo!ve banco de dados

para 0 esrudo de caso

coleta de dados

coleta de dados

Figura 2.3 Taricas do estudo de caso para quatro testes de pl-ojeto. ______FO_N_TE: COSMOS Corporation

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--------------56 Estudo de Caso

Uma vez que OS quatro testes sao comuns a todos os metodos de ciencias sociais, eles ja foram resumidos em varios livros-texto (veja Kidder & Judd,

1986, p. 26-29):

• Validade do constructo: estabelecer medidas operacionais corretas para os conceitos que estao sob estudo.

• Validade intema (apenas para estudos explanatorios ou causals, e nao para estudoS descritivos ou exploratorios): estabelecer uma relac;ao causal, por meio da qual sao mostradas certas condic;oes que levem a outras condic;oes, como cUferenciada de relac;oes espurias.

• Validade extema: estabelecer 0 dominio ao qual as descobertas de urn estudo podem ser generalizadas.

• Confiabilidade: demonstrar que as operac;6es de urn estudo - como os procedimentos de coleta de dados - podem ser repetidas, apresentan­

do os mesmos resultados.

Essa lista e muito mals complexa do que as noc;6es-padrao de "validade" e "confiabilidade" as quais a maloria dos estudantes tern side exposta, e cada item merece uma atenc;ao integral. Para os estudoS de caso, uma revelac;ao importante eque as varias dticas a serem utilizadas ao lidar corn esses testes devem ser aplicadas ao lange da realizac;ao subseqiiente do estudo de caso, e nao apenas no comec;o. Nesse sentidoJ 0 "trabalho do projeto", na verdade, continua alem dos pIanos iniciais do projeto.

Validade do constructo

Este primeiro teste e especialmente problematico na pesquisa de estudo de caso. As pessoas que sempre criticaram os estudos de caso geralmente apon­tarn 0 fato de que urn pesquisador de estudo de caso nao consegue desenvolver urn conjunto suficientemente operacional de medidas, e de que sao utilizados julgamentos "subjetivos" para coletar os dados. Tome como exemplo 0 estudo das "mudanc;as que ocorrem em determinadas regi6es urbanas" - urn topico muito comum de estudo de caso.

Corn os anos, surgiram algumas preocupac;6es acerca de como certos nil­cleos urbanos modificaram sua natureza. Qualquer estudo de caso ja examinou os tipos de mudanc;a ocorrida e suas conseqiiencias. No entanto, sem qualquer especificac;ao previa dos eventos operacionais significantes que constituem uma "mudanc;a", 0 leiter nao sabe dizer se as alterac;6es registradas em urn estudo de caso refletem, genuinamente, os acontecimentos realmente decisivos no local ou se acontecerarn apenas com base nas impress6es do pesquisador.

As rnudan<;as em urn nilcleo urbano podem, de fato, dar conta de uma ampla variedade de fenomenos: rotatividade racial, deteriora<;ao ou abando­

.,. _ .• ..I __ ~_" ~~ ....<>.rlr~ ... rim: servicos urbanos, modificac;ao nas insti-

Projetando Estudos de Caso 57

tui<;6es economicas da regHio ou mudanc;a de residentes de baixa renda para residentes de media renda ern bairros "que estao melhorando sua qualidade de vida". Para realizar 0 teste de validade do constructo, 0 pesquisador deve tel' ceneza de cumprir duas etapas:

1. Selecionar os opos espedficos de mudan<;as que devern ser estuda­das (em relac;ao aos objetivos originais do estudo).

2. Demonstrar que as mecUdas selecionadas dessas mudan<;as realmente refletem os tipos espedficos de mudan<;as que foram selecionadas.

POl' exemplo, suponha que voce cumpra a prirneira etapa aFirmando que planeja estudar 0 crescimento do indice criminal no bairro. Logo, a se­gunda etapa exige que voce tambem apresente umajustificativa para utilizar os crimes registrados na polfcia (que vern a ser a medida-padrao utilizada no Uniform Crime Reports do FBI) como sua medida de crime. Talvez essa nao seja uma medida valida, uma vez que uma grande parcela de crimes nao e regisrrada na policia.

Como mostra a Figura 2.3, para realizar estudos de caso, encontram-se disponlveis tres taticas para aumenrar a validade do constructo. A primeira e a utilizac;ao de wirias jontes de evidencias, de tal forma que incentive linhas convergentes de investigac;ao, e essa ratica e relevante durante a coleta de dados (veja 0 Capitulo 4). Uma segunda tarica e estabelecer urn encadea­menta de evidencias, tambem relevante durante a coleta de dados (Capitulo 4). A terceira tatica e fazer com que 0 rascunho do relat6rio do estudo de caso seja revisado por informantes-chave (urn procedimento descrito em detalhes no Capitulo 6).

Validade interna

Esse segundo teste recebeu a maior atenc;ao na pesquisa experimental e qua­se-experimental (veja Campbell & Stanley, 1966; Cook & Campbell, 1979). Foram identificadas numerosas "ameac;as" avalidade interna, principalmen­te as que tratavam de efeitos espurios. No entanto, como tantos livros-texto ja deram atenc;ao a essa questao, apenas dois pontos precisam ser menciona­dos aqui.

Primeiro, a validade intema e uma preocupa<;ao apenas para estudos de caso causais (ou explanat6rios), nos quais 0 pesquisador condui, equivocada­mente, que hci uma relac;ao causal entre x e y sem saber que urn terceiro fator - z - pode, na verdade, tel' causado y, e 0 projeto de pesquisa nao foi bern­sucedido ao tratar com algurna ameac;a avalidade interna. Observe que essa 16gica nao eaplicavel aas esrudas descritivas au explorat6rios (se os estudos forem estudos de caso, levantamentos au experimenros), que nao estao preo­cupados em fazer proposi<;i5es causais.

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Projetando Estudos de Caso 59

58 Estudo de Caso

Segundo, a preocupa<;ao com a validade interna, para a pesquisa de estu­do de caso, pode ser estendida ao problema mais amplo de se fazer inferencias. Basieamente, urn estudO de caso inclui uma inferencia toda vez que urn evento nao pode ser diretamente observado. Assim, 0 pesquisador "inferira" que urn evento em particular foi 0 resultado de alguma ocorrencia anterior, com base em evidencias obtidas de entrevistas e documentarios coletados como parte do estudO de caso. Ea inferencia correta? Todas as explana<;oes e possibilida­des foram consideradas? As evidencias sao convergentes? Parecem ser eviden­cias hermeticas? Urn projeto de pesquisa que antecipou essas questoes ja co­me<;ou a lidar com 0 problema global de fazer inferencias e, por eonseguinte,

com 0 problema espedfico da validade intema. Entretanto, as taticas espedfieas para alcan<;ar esse resultado sao diffeeis

de serem identificadas. Isso se mostra espeeialmente verdadeiro ao se fazer estudos de caso. Como conjunto de sugestoes, a Figura 2.3 mostra que a tatica analltica de adequaplo ao padrcro, ja mencionada mas que sera explicada em maiores detalhes no Capitulo 5, e uma maneira de aplicar validade intema. Duas taticas anaHticas relacionadas, constru~cro da explana~ao e analise de seri­es temporais, tambem sao descritas no CapitulO 5.

Validade externa

o terceiro teste trata do problema de saber se as descobertas de urn estudO sao generalizelveis alem do estudo de caso imediato. No exemplo mais simples, se urn estudO sobre as altera<;oes ocorridas em urn bairro tiver como foco apenas urn bairro, os resultados sao aplidveis a outro bairro? 0 problema da validade externa constitui urn grande obstaculo ao realizar estudos de caso. Os crftieos geralmente afirmam que casos {micos oferecern uma base muito pobre para generalizar a partir deles. Esses enticos, no entanto, estao implicitamente eom­parando a situa<;ao a pesquisa feita atraves de levantamentos de dados, nas quais se generaliza facilmente a amostragem (se corretamente selecionada) a urn universo mais amplo. Essa analogia com amostragens e universos mostra-se incorreta quando se trata de estudos de caso. Isso ocorre porque a pesquisa com base em levantamentos baseia-se em generaliza<;5es estatfsticas, ao passo que os estudos de caso (da mesma forma com experimentos) baseiam-se em gene­raliza~oes anaUticas. Na generaliza<;ao analltica, 0 pesquisador esta tentando generalizar urn conjunto particular de resultados a alguma teoria mais

abrangente (veja 0 QUADRO 7).Por exemplo, a teoria sobre as mudan<;as ocorridas no bairro que levou a

urn estudO de casa em primeiro lugar ea mesma teoria que ajudara a identifi­car os outroS casos aos quais as resultados sao generalizaveis. Se urn estudo

____ tivesse como foco a "melhoria da qualidade de vida" do baino (veja Auger, • --....llio:Lan_tQ•.n.:u:~Ll~scoll~r urn baino Dara a estudo tambem teria

QUADR07

I Como os estudos de caso podem ser generalizados para uma teoria

Vma reclama<;ao muito comum que se faz sobre os estudos de caso eque e muito dilicil generalizar de um caso a outro. Os analistas, dessa forma, caem na armadilha de tentar selecionar urn caso ou urn conjunto "representativo" de casos. Ainda assim, emuito provavel que nenhum conjunlo de casos, por maior que seja, consiga dar conta, satisfatoriamente, dessa reclamaC;ao.

o problema reside na propria noc;ao de generalizac;ao a outros estudos de caso. De preferencia, 0 analista deveria tentar generalizar suas descoberras para uma "teoria", em analogia amaneira como 0 dentista generaliza de resultados experimentais para teorias (observe que 0 cientista nao tenta sele­donar experimentos "representativos").

Essa abordagern ebern ilusttada par Jane Jacobs em seu famoso livro, The Death and Life of Great American Cities (1961). 0 livro se baseia principal· mente em experiencias realizadas em Nova York. Os t6picos dos capftulos, no entanto, antes de refletirem as experiencias singulares de Nova York, tTatam de quest6es teoricas mais amplas sobre 0 planejamenro urbano, como a im­portancia das ca!l;adas, a funC;ao dos parques de bairro, a necessidade pelas condi<;6es basicas de sobrevivencia, por quadras pequenas e os processos de forma<;ao e dissolw;ao de favelas. No conjumo, essas quest6es representanl, na verdade, a formulac;ao de uma teoria sobre 0 planejamemo urbano.

o livro de Jacob acabou criando uma controversia acalorada na area do planejamemo urbano. Como resultado parcial, foram feitas novas investiga­<;6es empfricas em outros locais para se examinar uma ou outra faceta de suas ricas e instigantes ideias. A teoria dela, em essencia, tornou-se 0 instrumemo para se exarninar outros dados, e ainda e uma cODrribui<;ao significativa a arte do planejamemo urbano.

Em principio, as tearias sabre a mudanc;a em todas as regi6es sedam 0 alvo ao qual os resultados poderiam ser generalizados rnais tarde.

A generalizar;aa nao eautomatica, no entanto. Deve-se testar uma teoria atraves da repLicar;ao das descobenas em urn segundo ou mesmo em urn ter­ceiro local, nos quais a teoria sup6e que deveriam oeorrer os mesrnos resulta­dos. Uma vez que seja feita essa replicar;ao, os resultados poderiarn ser aceitas por urn numero muito mais amplo de bairros sernelhantes, mesmo que nao se realizem rna is replicar;6es. Essa 16gica de replicarQo e a mesma que subjaz a utilizac;ao de experimentos (e permite que as cientistas generalizem de urn experimenro a ourro); como mostrado na Figura 2.3, ela sera discudda em maiores detalhes neste capitulo, na sec;:ao sabre projetos de casos mt'iltiplos.

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60 Esrudo de Caso Projetando Estudos de Caso 61

Confiabilidade

A maloria das pessoas geralmente ja esta familiarizada com esse teste final. 0 intuito e certifiear-se de que, se urn pesquisador seguiu exatamente os mes­mos proeedimentos descritos por outro que veio antes dele e eonduziu 0

mesmissimo esrudo de easo novamente, 0 ultimo pesquisador deve chegar as mesmas deseobertas e eonclusoes (observe que a enfase esta em fazer 0 mes­mo estudo de easo novamente, e nao em "repliear" os resultados de urn caso ao fazer outro esrudo de caso). A confiabilidade serve para minimizar os erros e as visoes tendeneiosas de urn estudo.

Urn outro pre-requisito que permite a esse pesquisador repetir urn esrudo de caso anterior ea necessidade de documentar os procedimemos adotados nesse caso. Sem essa documentac;ao, voce nem mesmo poderia repetir 0 seu proprio trabalho (que eoutra maneira de se lidar com a eon.fiabilidade). No passado, os proeedimentos da pesquisa do esrudo de easo foram eseassamente documentados, fazendo com que os revisores extemos do estudo de easo SllS­

peitassem da eonfiabilidade do estudo. Para evitar isso, sera diseutido em de­talhes no Capirulo 3 0 usa de urn protocolo de estudo de caso para dar conta do problema da doeurnentac;ao, e no Capitulo 4 sera descrita outra tecnica, 0

desenvolvimento de urn banco de dados para 0 estudo de caso. A maneira geral de se aproximar do problema da confiabilidade etomar

as etapas do processo 0 mais operacionais possivel e conduzir a pesquisa como se alguem estivesse sempre olhando por cima do seu ombro. Na comabilidade, sempre se esta ciente de que qualquer coma podeni sofrer uma auditoria. Nesse sentido, 0 auditor esta rambem realizando uma verificac;ao de eonfiabi­lidade e deve ser capaz de produzir os mesmos resultados se forem seguidos os mesmos procedimentos. Dessa forma, uma boa diretriz para realizar estu­dos de caso econduzir a pesquisa de forma que urn auditor possa repetir os procedimentos e chegar aos mesmos resultados.

Resumo. Ha quatro testes que podem ser considerados relevantes ao jul­gar a qualidade de urn projeto de pesquisa. Ao projetar e realizar estudos de caso, vanas raticas encontrarn-se disponiveis quando se lida com esses testes, embora nem todas as tecnicas ocorram no estagio formal de planejar urn estudo de caso. Algumas delas oeorrem durante a coleta de dados, a analise de dados, ou durante as fases de constituir;ao da pesquisa e sao, por conseguinte, descri­tas em maiores detalhes nos eapitulos subseqiientes deste livro.

PROJETOS DE ESTUDO DE CASO

Essas caracteristicas gerais dos projetos de pesquisa servem como pano de fundo ao se considerar projeros especfficos para os estudos de caso. Serao

discutidos quatro tipos de projetos, baseados em urna matriz 2 x 2 (veja a Figura 2.4). A matriz presume que estudos de caso unieo e de casos mUltiplos refletem situar;oes de projeto diferentes e que, dentro desses dois tipos, tam­bern pode haver unidades unitarias ou mUltiplas de analise. Assim, pa.ra a estrategia de estudo de caso, os quatros tipos de projetos sao:

a) projetos de caso unico (hoHsticos); b) projetos de caso Unico (incorporados); c) projetos de easos multiplos (holfsticos); d) projetos de casos multiplos (ineorporados).

A seguir, 0 fundamemo logico para esses quatro tipos de projeto,

Quais sao os projetos de caso unico em potencial?

Fundamento l6gico para projetos de caso unico. Uma distinr;ao basica que deve ser feita ao projetar estudos de caso e entre projetos de caso unico e de casos mulliplos. Significa a necessidade de deeidir, antes da coleta de dados, se sera utiJizado urn estudo de caso unico ou de easos multiplos ao formular as ques­toes da pesquisa.

oestudo de easo unico eurn projeto apropriado em varias cireunstfmcias. Primeiro, recorde-se de que urn esrudo de easo unico eamilogo a urn experi­mento u.nico, e muitas das condic;6es que servem para justificar urn experimenro

projetos de projetos de caso Unico casos multiplos

holisticos (unidade Unica

de ancllise)

incorporados (unidades mUltipias

de anaIise)

TIPO 1 TIPO 3

TIPO 2 TIPO 4

Figura 2.4 Tipos basicos de projetos para os esrudos de caso. FONTE: COSMOS Corporation

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62 Estudo de Caso

tinieo tambem justificam urn estudo de caso unico. Enconrra-se urn funda­mento logico para urn caso linico quando ele representa 0 casa decisiva ao testar uma teoria bem-formulada (observe novamente a analogia a urn experi­mento decisivo). A teoria especificou urn conjunto claro de proposic;6es, assim como as circunstancias nas quais se acredita que as proposi<;6es sejam verda­deiras. Para confirmar, contestar ou estender a teoria, deve existir urn caso unieo, que satisfac;a todas as condi<;6es para testar a teoria. 0 caso Unico pode, entao, ser utilizado para se determinar se as proposic;6es de urna teoria sao corretas ou se algum ourro conjunto alternativo de explanac;6es possa ser mais relevante. Dessa maneira, como a compara<;ao de Graham Allison de tres teo­rias para 0 funcionamento burocnitico e a crise dos misseis em Cuba (descritas no Capitulo 1, QUADRO 2), 0 caso tinico pode significar uma importante con­tribui<;ao abase de conhecimento e aconstru<;iio da teoria. Tal estudo pode ate mesmo nos ajudar a redirecionar investiga<;6es futuras em uma area inteira (veja 0 QUADRO 8 para obter outro exemplo, na area da inovac;ao organizacional) .

QUADR08

o estudo de caso tinico como 0 caso decisivo

Urn fundamento 16gico para selecionar urn projeto de caso unieo, no lugar de urn projeto de casos mUitiplos, eque 0 caso unico representa 0 teste decisivo de uma teoria signifi-cativa. Neal Gross et al. utilizaram esse projeto ao darern atenc;ao a uma unica escola ern seu livro, Implementing Organizational Innovations (1971).

A escola foi selecionada porque ja apresentava urn historico de inovac;6es, de forma que nao se poderia afirrnar que sofresse de "obstaculos a inova­c;6es". Nas leorias em vigencia, esses obstaculos haviam side citados como os principais responsaveis pelo fracasso das inovac;6es. Gross et al. demonstra­ram que, nesta escola, as inovar;6es tarnbem foram malsucedidas, mas que a falta de exito nao poderia ser atribufda a qualquer tipo de obstaculo. Foram os processos de implantar;ao das inovar;6es os responsaveis pelos resultados.

Dessa maneira, 0 livro, ernbora fique lirnitado a urn caso unico, representa um divisor de aguas na teoria da inovac;ao. Antes do estudo, os especialistas tinham como foco a identificar;ao de obst<iculos; a partir deste estudo, a litera­tura deteve-se muito mals na questao dos estudos do processo de implantac;ao.

Projetando Estudos de Caso 63

Urn segundo fundamenro logico para urn caso (mico eaquele em que 0

caso represenra urn casa ram au extrema. Essa e, em geral, a sirua<;ao na psico­logia cliniea, na qual uma lesao ou urn ctisn'irbio espedfico pode ser tao raro que vale a pena documenrar e analisar qualquer caso tinieo. Por exemplo, uma sindrome elmica rara ea incapacidade que certos pacientes clInicos possuem de reconheeer seus enres queridos, amlgos, iotas de pessoas famosas ou (em alguns casas) sua propria imagem no espelho. Essa sindrome parece acometer esses pacientes devido a alguma lesiio ffsica no cerebro. A sindrome, entretan­to, ocorre tao raramente que os cientistas ainda nao foram capazes de estabe­Ieeer padr6es comuns (Yin, 1970, 1978). Em tais circunstancias, 0 estudo de caso unieo eurn projeto de pesquisa apropriado sempre que se encontrar uma nova pessoa com a sindrome - conhecida como prosopagnosia. 0 estudo de caso documentaria as capacidades e incapacldades da' pessoa para se determi­nar a natureza precisa do problema de se reconhecer rostos, mas tambern para se averiguar se existem disrurbios relacionados.

o terceiro fundamento para urn estudo de caso tinieo e 0 caso revelador. Essa sirua<;ao acorre quando 0 pesqulsador tern a oportunidade de observar e analisar urn fen6meno previamenre inacessfvel ainvestlga<;ao cientifica, como o Street Corner Society, de Whyte, descrito no Capitulo 1, QUADRO 1. Urn exemplo mais receme e 0 famoso estudo de caso de Elliot Liebow sobre os negros desempregados, Tally's Corner (veja 0 QUADRO 9). Liebow teve a opor­tunidade de conhecer alguns homens em urn bairro de Washington, DC, ever como era 0 dia-a-dia deles. Suas observa<;6es e suas impress6es sobre 0 proble­ma do desemprego rransformaram-se em urn importante estudo de caso, uma vez que poucos cientistas socials tinham tido anreriormenre a oportunidade de investigar esses problemas, mesmo sabendo que eram facilmente encontrados em todo 0 pais (distinro do caso raro ou unico). Quando outros pesquisadores tern oportunidades semelhanres e podem desvendar alguns fenomenos predo­minanres previamenre inacessiveis aos cientistas, as condi<;6es justificam a utiliza<;ao de urn estudo de casa unico, tendo como base sua natureza reveladora.

Esses rres fundamemos representam as razoes principais para conduzir urn estudo de caso unico. Ha outras situa<;6es em que 0 estudo de caso tinico pode ser conduzido como introdu<;ao a urn estuda mais apurado, como 0 usc de estudos de caso como mecanismos exploratorias ou a condu<;ao de urn casa-piloto que e0 primeiro de urn estudo de casos mUltiplos. Nesses ultimos easas ilustrativos, no entanro, a estudo de caso unico nao pode ser encarado como um estudo completo em si mesma.

Qualquer que seja 0 fundamemo logico ao realizar esrudos de caso (e pade haver autros fundamemos alem dos rres mencionados), a vulnerabilidade em potencial do projeto de caso Lmica eque 0 caso pode, mais tarde, acabar

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64 Estudo de Caso

QUADR09 o caso revelador como caso Unico

Outro fundamento 16gico para se selecionar urn projeto de caso unico, em vez de urn projeto de casos mUltiplos, e que 0 pesquisador rem acesso a uma situac;ao previamente inacessfvel aobservm;:ao cientifica. Vale a pena, portan­to, conduzir um estudo de caso porque a inforrna<;ao descririva por si s6 sera

reveladora. Esra era a siruac;ao no c1<1ssico estudo socio16gico de Elliot Liebow, Tally's

Corner (1967). 0 livro [ala sobre urn simples gropo de homens negros, que moram em urn bairro pobre no centrO da cidade. Ao ajuda-los, 0 autor conse­guiu aprender urn pouco sobre 0 estilo de vida deles, seu comportamento em siruac;oes dificeis e, em particular, a maneira como encaravam 0 desemprego e 0 fracasso. 0 livro apresenta impressoes de uma subcultura que durante muito tempo predominou em muiras cidades arnericadas, mas cuja compre­ensao nunca foi muito clara. 0 caso unico mostrou como poderiam ser feiras investigac;6es desses topicos, esrimulando novas pesquisas na area e 0 even­tual desenvolvimento de politicas de a<;ao.

nao sendo 0 caso que se pensava que fosse no principio. Projetos de caso tinico, portanto, exigem uma investigac;ao cuidadosa do easo em potencial para minimizar as chances de uma representac;ao equivocada e para maximizar o espac;o necessario para se coletar as evidencias do esrudo de caso. Uma advertencia consideravel e nao se comprometer com 0 caso tinieo ate que essas preocupac;5es maiores sejam neutralizadas.

Estudas de casas incorporados versus halisticos. 0 mesmo esrudo de caso pode envolver mais de urna unidade de analise. Isso ocorre quando, dentro de urn caso timeo, se da atenc;ao a uma subunidade ou a varias subunidades (veja 0 QUADRO 10). Por exemplo, embora urn estudo de caso possa natar de urn simples programa publico, devem constar na analise os resultados dos projetos individuais denrro do programa (e possivelmente ate mesmo algumas ancHises quantitativas de urn nUmero maior de projetos). Em urn estudo organizacionaJ, as umdades incorporadas tambem podem ser unida­des de "processo" - como reuni6es, func;5es ou locais determinados. Em to­das essas situac;oes, pode-se selecionar as unidades incorporadas atraves de amostragens ou tecnicas de grupo (McClintock, 1985). De qualquer manei­ra que as unidades sejam selecionadas, 0 projeto resultante seria denomina­do projeto de estudo de caso incorporado (veja a Figura 2.4, Tipo 2). Em contraste, se ° estudo de caso examinasse apenas a natureza global de um programa ou de uma organizar;ao, urn projeto hoUstico seria a denominac;ao utilizada (veja a Figura 2.4, Tipo 1).

Projetando Estudos de Caso 65

QUADROIO Urn projeto incorporado de caso linico

Union Democracy (1956) e urn estudo de caso muito respeirado [eito por tres eminentes academicos - Seymour Martin Lipset, Martin Trow e James Coleman. Eurn estudo sobre a politica interna da International Typographical Union e envolve varias unidades de analise (veja a tabela na pr6xima pagi­na). A unidade principal foi a organizac;ao como urn todo, a menor unidade [oi urn membro em particular da uniiio e varias unidades interrnediarias tam­bern foram importanres. A cada nfvel de analise, foram utilizadas recnicas diferentes de colera de dados, variando da analise hisr6rica ~ analise de le­vantamentos.

Ambas as variac;6es de esrudos de caso unico possuem pontos fortes e fracos distintos. 0 projeto hollstico evantajoso quando nao epossivel identifi­car nenhuma subunidade 16gica e quando a teoria em questao subjacente ao esrudo de caso e ela propria de natureza holistica. Surgem problemas em po­tencial, no entanto, quando a abordagem global permite que 0 pesquisador deixe de examinar qualquer fenomeno especffico em detalhes operacionais. Outro problema tipico com 0 projeto hollstico eque 0 estudo de caso por inteiro pode ser conduzido em urn myel abstrato, desprovido de dados ou medidas claras.

Urn problema extra com 0 projeto holistico e que toda a natureza do estudo de caso pode se alterar, sem 0 conhecimento do investigador, durante a realiza<;ao do estudo. As quesroes iniciais do esrudo podem apresentar urna orientac;ao, mas, a medida que 0 esrudo avan<;a, pode surgir uma oriemac;ao difereme, e as evidencias come<;am a.se voltar para questoes diferentes. Em­bora algumas pessoas afirmem que essa flexibilidade e 0 ponto forte da abor­dagem de esrudo de caso, na verdade a maior crftica aos estudos de caso se baseia nesse tipo de mudan<;a - no qual 0 projeto de pesquisa original nao e mais adequado as questoes da pesquisa que estao sendo feitas (veja Yin, Bateman, & Moore, 1983). Devido a esse problema, e precise se evitar esse deslize insuspeitado; se as quest6es relevantes da pesquisa reaJmente muda­rem, voce simplesmeme deveria recome<;ar todo 0 trabalho, com urn novo projeto de pesquisa. Uma maneira de aumentar a percep<;ao a esse tipo de deslize epossuir urn conjumo de subunidades. Com elas, urn projeto incorpo­rado pode servir como urn importante mecanisme para focalizar uma investi­gac;ao de estudo de caso.

Urn projero incorporado, no emanto, tambem apresenta algumas arma­dilhas. A maior delas ocone quando 0 estudo de caso concenrra-se somente no nivel de subunidades e nao consegue retomar a uma unidade maior de

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66 Esrudo de Caso Projetando Escudos de Caso 67

~ ... o analise. A avalia~ao de urn programa que inclui as caracteristicas do projeto ... t'<!... o..~ o~

<::l~ como subunidade de analise, por exemplo, toma-se urn estudo do projeto em .., ... '" o c.. 0 i:= 0"~ E "0 '" ~~-o ll.I .., VIo () si se nao se fizer nenhuma investiga~ao na unidade maior _ ou seja, 0 "progra­~ c:: ll.IlC''IJ"'O ~tl ... 'OJ'" t'tI '" Q) "'<.>'0... l>O .~~ 'fa 10 "0 10 '" I: :::l rna". Da mesma forma, 0 esrudo do clima organlzacional de uma empresa :::l ., :::l.~ g ~ .~ QJ .~ V) t "u .:::

E::; Vl ... ~ 'c ~ :::l - :::l 0 8..QJ~ pode apresentar os funciomirios em si como subunidade de estudo. No entan­.oC.obOVl b 9 E: .- QJ .- .- E .c: " o .E e=i; 1:;"0'-'1: c: VIs:: l:: 0 o 0 "::l to, se os dados puserem em evidencia somente os funcionarios, 0 estudo se t>:lo-t: Cl 0..5 <: 'v; ~ ~ u v ... ~

;>. rransformara, na verdade, em uma investiga~ao sobre 0 emprego e nao sobre :.a ~ a organiza~ao. 0 que aconteceu eque os fenomenos originais de interesse (0=' ~ :; o clima organizacional) tornaram-se 0 contexto e nao 0 objetivo do estudo. ~ vi"~ ~

QJ'- 'C"Q

eu'" ...'" ­Q.., c: OJ 'uIii ti li:l -g .~ 8 <: Resumo. Casos unicos representam urn projeto comum para realizar estu­.... ... "t:l.ot'<! ~

.~ :9 ., '" ... dos de caso, e foram descritas duas etapas: as que utilizam projetos holisticos 'C iil ~ c.. _ c.. .5"'-~

t; E: ... e as que utilizam unidades incorporadas de analise. No geral, 0 projero de casa 8 .; §~ 8 c.. ... v ~ unico e eminenremente justificavel sob certas condic;6es - nas quais 0 caso

representa urn teste crucial da teoria existente, nas quais 0 caso eurn evento... ~ U)o 0 ... OJ t'<!OJ c...c:",'

ll.I .Q ~ 5­ raro ou exclusivo ou nas quais a casa serve a urn proposito revelador. "0 I: c:o '" '-' 0 o CIl ~ ~ e]'.~ • 'os Uma etapa fundamental ao projetar e conduzir urn caso unica edefinir a

CIl u- ~~ 8I ... Vl-­ .- os ~ ~ OJ ..- .-u -" .g ~ 0 ... <.Iv""" ... unidade de analise (ou 0 proprio caso). Enecessaria uma defini~ao operacianalI .",~~ ~'2 co ] ~.. <~ vi' ~

'-' ::> ...000 "0 '2 ~ ~~ ~ e devem-se tomar algumas precau~6es - antes que se assurna urn compromis­ci~ b·o .... ~E:=! leu~ .~ C Q ~ :- ~ VI._ L..o >< 0...! .~ ::r E .5 8 E c.. OJ so tOtal com 0 estudo de caso como urn todo - para garantir que 0 caso, na ...Lov v ­_~ ... '::I o... .., '" .~8 ~( E verdade, seja relevante ao tema e as quest6es de interesse. 'J:;~:Z; Q., "0 '--' ~.9 & gOJ "" ...~ OJ Q.I Ainda podem ser acrescentadas subunidades de analises em urn caso uni­'" ~.. v 0,g ~ 8I ., '- _ lO ... "0 OJ....-~ '"E ... o co, de forma que se possa desenvolver urn projeto mais complexo _ au incor­

.5'" I' '" 0 v"t:l o V> u- o '" ...~ "§",;(j~ ." 0..... .- d'O.oI :::l 0 ll.I > _ 0 ooS - 0 '0 ­ ~ 0 __ 0" "0 OJ porado. As subunidades podem frequentemente acrescentar oportunidades sig­V>.~ - b .... '::I 'sI~ '" V> V>l:: (3.~::l:Z; li:l ~...

'" r:: .~ CIJ QJ Vl .~~~~'o:::l ~ .... OJ (J ""C Cf'l ~ CJ OJ u c: nificativas a uma analise extensiva, realc;ando 0 valor das impress6es em urn~ ~ ~&..:....';:: <:;.- co "0 E ~.ta~"'CJ ~~..2o

c..,1 o " 8 E ·OJ 3 ... .g ~ S caso unko. No entanto, se for dada atenc;ao demasiada a essas subunidades, e 0 t'(3'u c 0 ~ ~ 0 'u.~ 0 0 '­ EQ","t:lJ1 e ; .~ ::; ~II ,5 li:l '8..:: "§ ... c.. os ._ <OJ c: S ~ se os aspectos holisticos mais amplos do caso comec;arem a ser ignorados, 0.5 8 E :se~.tE.....,~tj4U~ c.. El El u t; ·S -;

t- H ~ ~; ~ § t,~ OJ o... ., '" OJ e 0 ca proprio estudo de caso tera. sua orienraC;ao alrerada e sua natureza modifica­N ..... _ ;:0. I:: "l:l O qO'"P."t:l~ c:.. <.I ... ..... -c ~ .£ .58'.5 C'l

vI da. Essa alrera~ao pode, de fato, ser justificavel, mas 0 pesquisador nao deve .;, 6 6 0.. se surpreender com ela. :, ll.I'" '" OJ'" '"V

'0 OJ ... ­ '4) ­III '§..~ ~ 'r: "'"""...... 10 o c:,... o V> u- IIIII e '" . c.. Q) .- - '" -- ::t -g 2i 'B 0­.", """ :::l 0 <.> '" _ E co -U') V)... - > '­<::l .- 0 .,.;;; f:! -- '" lei11 Co (3 '" ",' <:> li:l lS ~ co" 0-'0 OJ g ~ '" lU 0.._ '" 0 .... ~.::3 8 Cl: '0 '"... c: c:.... Q.J c: '(j ~ cill 'g ~ ~ ~ o O.'\!·C::" ~ -g .:. e QUais sao os projetos de casos mliltiplos em potencial?'" -g ~ .;:j Ul~QJ"O ~ ~ EE Q -~ '" ... "'Coo '" ... V> v'" .," 0 8 ;>. cu E t "'0 t::. ~ eu'~ ~.g ~ ~ .~ 0 <~ '0'1:: ~ 0 t'<! c ....:3 tl'a ~ 'r: g .E.ll.I c: .... c::L.._ ....::: "",,'- ..... .- ~ u~ o mesmo esrudo pode Conter mais de urn caso linieo. Quando isso ocorrer, 0U) E g .~l '8 u g..~ e­ o..E:::l v ~ 1:-; ... c:t: c<l,...._ <::l'~ '" 8 0 S 0'­o ,,"v,--,'"'"VlU.t::"l:l li:. e 8 0.5 .g ~ estudo precisa utilizar urn projeto de casos multiplos, e esses projeros aumen­"" OJ 'iU III o'-' Q o raram com muira frequencia nos ultimos anos. Urn exemp]o comum e0 esrudo"t:l E'==o 'Q o .", 8 ..,' de inova~6es feitas em uma escola (com salas de aula abenas, assistencia... III ~ 0 v~ 0El::~o 'Q <: ­.., 0 Q.::> "' extraclasse por parte dos professores ou novas tecno]ogias) na qual ocorrem .~ .~Vl .!;3 :.:;o V> ..Q"OVl .... inovailoes independemes em areas diferemes. Assim, cada area pode ser 0" 41 tii~~ 8 E OJ

~ e ~ o u .- E <:'" objeto de urn esrudo de caso individual, e 0 estudo como urn tado reria utiliza­~ ~ S OJ~ 0',II ~e ca 0;l Co '-c:: ... do urn projeto de casas multiplos. E 15 " '" :i '(] .c Et:: _~ u '" o 2~--.r= < :r:'" S o 0","0" :I:

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68 Esrudo de Caso

....,........

Projetos de caso unico versus de casos multiplos. Em algumas areas, os estudos de casos mUltiplos foram considerados uma "metodologia" diferente dos estudos de caso Unieo. Por exemplo, a antropologia e a ciencia politica desenvolveram urn conjunto de fundamentos logicos para se realizar estudOS de caso unico e urn segundo conjunto para se realizar 0 que se esta chamando de estudos "comparativos" (ou de casos multiplos) (veja Eckstein, 1975; George, 1979). A partir da perspectiva deste livro, entretanto, a escolha entre projetos de caso unieo ou de casos mUltiplos permanece dentro da mesma estrutura metodo16gica - e nenbuma distinc;.ao muito ampla efeita entre 0 assim cha­mado estudo de caso classico (isto e, unico) e estudos de casos multiplos. A escolha econsiderada wna escolha de projeto de pesquisa, corn as duas sendo incluidas no ambito da estrutura do estudo de caso.

Projetos de casos mUltiplos possuem vantagens e desvantagens distintas ern compara<;ao aos projetos de caso unico. As provas resultantes de casos multiplos sao consideradas mais convincentes, e 0 estudo global evista, por conseguinte, como sendo mais robusto (Herriott & Firestone, 1983). Ao mes­mo tempo, 0 fundamento logico para projetos de caso uDico, em geral, nao pode ser satisfeito por casos mUltiplos. E provavel que 0 caso raro ou incomum, o caso cdtieo e 0 caso revelador impliquem apenas ern casos unicos, por defi­ni<;ao. Tambem, a conduc;.ao de urn estudo de casos multiplos pode exigir tem­po e amplos recursos alem daqueles que urn estudante ou urn pesquisador de pesquisa independente possuem.

Dessa forma, a decisao de se comprometer com estudos de casos multi­plos nao pode ser tomada facilmente. Cada caso deve servir a urn proposito espedfico dentro do escopo global da investiga<;ao. Aqui, uma percepfiio im­portante que se deve ter econsiderar casos multiplos como se consideraria expe­rimentos multiplos - isto e, seguir a logica da replicac;.ao. Isso emuito diferen­te de uma analogia equivocada do passado, quando se considerava erronea­mente que os casas multiplos eram semelhantes aos respondentes mUltiplos em urn levantamento (au aos objetos mUltiplos dentro de urn experimento) ­isto e, seguir a logica da amostragem. As diferenc;.as metodologicas entre essas duas vis6es sao reveladas pelos diferentes fundamentos logicos que subjazem a replica<;ao, em oposic;.ao it logica da arnostragem.

ogica da replicafiio, e niio da amostragem, para estudos de casos multi­plos. A logica da replicac;ao eanaloga aquela utilizada em experirnentos mUl­tiplos (veja Hersen & Barlow, 1976). Assim, se urna pessoa tiver acesso a ape­nas tres casos de urna rara sfndrome clinica em psicologia au medieina, sera adequado 0 projeto de pesquisa que prever os mesmos resultados para cada urn dos casos, produzindo, dessa forma, evideocias que comprovem que os tres casas relacionam-se com a mesma sindrome. Se forem obtidos resultados semelhantes a partir dos tres casas, diz-se que ocorreu uma replicac;ao. Essa 16gica de replicac;ao sera a mesma se uma pessoa estiver repetindo certos experimentos importantes, ficara limitada a poucos casos, devido as despesas

Projetando Estudos de Caso 69

dificuIdades de realizar praticas cirurgieas em animais, ou sera limitada pela raridade de ocorrencias de uma sfndrome clfnica. Em cada uma dessas situa­c;oes, urn caso ou objeto individual sera considerado urn parente proximo de urn experirnenro Unico, e a analise deve seguir wn experimenro cruzado em vez de urn projeto ou de uma logica dentro de urn experimento.

A logica subjacenre ao uso de estudos de casos multiplos e iguaI. Cada caso deve ser cuidadosamente selecionado de fOlTI1a a:

a) preyer resultados semelhantes (uma replicafQO literal); ou b) produzir resultados contrastantes apenas por razoes previsiveis (uma

replicarQo teorica).

A capacidade de conduzir seis ou dez esrudos de caso, efetivamente orga­nizados dentro de urn projeto de casos mUltiplos, eanaloga acapacidade de conduzir seis ou dez experirnentos sobre topicos relacionados; poucos casas (dois au tres) seriam replica<;oes literais, ao passe que outros poucos casos (de quatro a seis) podem ser projetados para buscar padr6es diferentes de replicac;oes teoricas. Se todos os casos vierem a ser previsfveis, esses seis a dez casas, no conjunto, fornecerao uma base convincente para 0 conjunto inicial de proposic;.6es. Se os casos forem de alguma forma contradit6rios, as proposi­c;6es iniciais deverao ser revisadas e testadas novamente com outro conjunto de casas. Novamente, essa logica e semelhante it maneira como os cientistas lidam com descobertas experirnentais contraditorias.

Urn passe irnportante em todos esses procedimentos de replicac;.ao e 0

desenvolvimento de uma rica estrutura te6rica. A estrutura precisa expor as condic;oes sob as quais e provavel que se encontre urn fenomeno em particular (uma replicac;.ao literal), assim como as condic;6es em que nao e provavel que se encontre (uma replicac;.ao teorica). A estrutura teorica torna-se mais tarde 0

instrumento para generalizar a casos novos, novamente semelhantes ao papel desempenhado de projetos de experimenros cruzados. Ademais, da mesrna forma que na ciencia experimenral, se alguns dos casas empiricos nao funcio­narem como casos previsfveis, deve-se fazer alguma modificac;ao na teoria. Lembre-se tambem de que as teorias podem ser de ordem pratica, e nao ape­nas de ordem acadernica. 0 estudo no QUADRO 11 contem urn exernplo exce­lente de estudo de casos multiplos (dois casos), cujos casos e conclus6es estao unidos por uma teoria pratica, orientada por uma polftica clara.

Tomemos outro exemplo. Poder-se-ia considerar a proposic;ao inicial de que ocorreria urn aumento na utilizac;ao de microcomputadores em reparti­c;6es escolares quando essa tecnologia fosse usada tanto para aplicac;6es ad­ministrativas quanto instrucionais, mas nao para as duas. Para seguir essa proposic;ao em urn projeto de estudo de casos multiplos, podem ser sele­cionados tres ou quarro casos, nos quais ambos os tipos de aplicac;ao estao presentes, para se detenninar se, de fato, a utilizac;ao de microcomputadores aumentou em urn ceno perfodo de tempo (a investigac;ao estaria prevendo

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70 Estudo de Caso

QUADRO 11

Estudos de casos multiplos e uma teoria orientada por uma politica

o mercado intemacional da decada de 70 e 80 foi marcado pela supremacia do Japao. Boa pane de sua fo~a foi atribuida ao pape! do planejamento e do apoio centralizado de agencias govemamentais. Em contraste, acreditava-se que os Estados Unidos nao possuiarn estruturas de apoio complementares. 0 excelente esrudo de caso (1990) de Gregory Hook chama a atenc;ao para urn contra-exemplo, frequentemente ignorado pelos advogados: 0 papel do de­partamento de defesa dos Estados Unidos ao implanrar uma politica de pla­nejamento industrial nas industrias de defesa.

Hooks apresenta dados quantitativos sobre dois casos - a industria aero­nautica e a industria microeletroruca. Uma era muito mais dependente do govemo do que a outra. Nos dois casos, no entanto, as provas de Hook de­monstram como 0 departamento de defesa apoiou 0 desenvolvimento dessas industrias atraves de ajuda finance ira, garantia de demanda e apoio de P&D.

uma replica<;ao literal nesses tres ou quatro casos). Poderiam ser seleciona­dos tres ou quatro casos adicionais nos quais constassem apenas as aplica­<;oes administrativas, tendo como previsao pouco aumento na utiliza<;ao (pre­vendo uma replica<;ao te6rica). Finalmente, seriam selecionados tres ou quatro casos nos quais constassem apenas aplica<;oes instrucionais dos mi­crocomputadores, com a mesma previsao de pouco aumento no uso, mas por razoes diferentes daquelas dos casos apenas administrativos (outra replica<;ao teorica). Se for encontrado urn grande padrao de resultados em todos esses casas multiplos, os nove para vinte casos, no conjunto, fomece­riam uma base substancial para a proposi<;ao inicial (veja 0 QUADRO 12 para obter outro exemplo de urn projeto de replica<;ao de casos multiplos, na area dos estudos urbanisticos).

Essa logica de replica<;ao, se aplicada a experimentos ou a estudos de caso, deve ser diferenciada da logka de amostragem comumeme utilizada em levantamentos de dados. De acordo com a logica de amostragem, presume-se que urn numero de respondemes (ou objetos) "represente" urn grupo maior de respondentes (ou objetos), de forma que tambem se presume que os dados de urn numero menor de pessoas representem os dados que podem ser coletados do grupo inteiro.

A 16gica de amostragem exige 0 computo operacional do universo au do grupo inteiro de respondentes em potencial e, por conseguime, 0 procedi· menta estatistico para se selecionar 0 subconjunto especifico de respondentes que vaG parricipar do levantamento. Essa 16gica e aplicavel sempre que urn

Projetando Estudos de Caso 71

QUADRO 12

Urn projeto de replica~o, de casos multiplos

Urn problema muito cornurn nas decadas de 60 e 70 era como obter bons conselhos para os govemos rnunicipais. 0 livro de Peter Szanton, Not Well Advised (1981), reve as inumeras tentativas feitas por universidades e gropos de pesquisa de colaborar com os membros da prefeitura.

o livro e urn exceleme exemplo de urn projeto de replicaC;ao de casos multiplos. Szanton comec;a com oito esrudos de caso, demonstrando como diferentes gropos universitanos nao conseguiram auxiliar as suas cidades. Os oito casas sao "replicac;oes" suficientes para convencer 0 leiLOr de urn fenome­no gemL Szanton tambem fomece outros cinco estudos de caso, nos quais gropos nao ligados as universidades tambem falharam em suas tentativas de ajudar, concluindo que 0 fracasso nao era algo necessariamente inerente 11 instiruic;ao academica. Urn terceiro gropo de esrudos, nao obstante, demons­tra como alguns gropos universirarios conseguiram ajudar 0 comercio, firmas de engenharia e alguns setores que nada tinham a ver com 0 govemo munici­pal. Urn ultimo conjumo de tres casos revela que aqueles poucos grupos capa· zes de ajudar a prefeitura esravam preocupados com a implanta<;ao e nao apenas com a elaborac;ao de novas ideias, 0 que nos leva aimponante coneIu­sao de que os govemos municipais poclem ter necessidades pr6prias ao rece­berem aconselhamenro.

Dentro de cada urn dos quatro grupos de esrudos de caso, $zanton ilus­trou 0 principio da replica<;ao literal. No conjunto dos quatro gropos, ele exemplificou a replicac;ao te6rica. Esse forte projeto de esrudo de caso pode e cleve ser aplicado a muitos outros t6picos.

pesquisador estiver interessado em determinar a prevalencia ou a freqiH~ncia

de urn fenomeno em particular e quando far muito cam ou simplesrnente impraticavel se realizar 0 levantamento no grupo ou no universe inteiro. E presumivel que os dados resultantes de urna arnostragem feita atraves de urn levantamento sejam urn espelho do grupo ou desse universo, com a estatistica inferida sendo utilizada para esrabelecer os intervalos de confianc;a para os quais essa representac;ao ede fato acurada.

Qualquer aplicac;ao dessa 16gica de amostragern aos esrudos de casa estaria mal direcionada. Primeiro, os estudas de casa, em geral, nao devem ser utilizados para avaliar a incidencia dos fenomenos. Segundo, urn estudo de caso teria que tratar tanto do fenomeno de interesse quanta de seu con­texto, produzindo urn grande numero de variaveis potencialmente relevan­tes. Isso acabaria exigindo, sucessivamente, urn numero inconcebivelmente grande de casos - grande demais para permitir qualquer avalia~ao estatistica das variaveis relevantes.

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Imodifica a teoria

1I desenvolve im· plica~Oes poHticas

1 Icscreve urn rclat6ri01

de casos cruzados

72 Estudo de Caso Projetando Estudos de Caso 73

Terceiro, se uma 16gica de amostragem tivesse de ser aplicada a tOdos os tipos de pesquisa, muitos t6picos poderiam nao ser empiricamente investiga­dos, como no problema seguinte: sua investiga~ao trata da real fun~ao da presidencia dos Estados Unidos, e voce esta interessado em estudar 0 compor­tamento do presidente atual a partir de uma perspectiva de lideran~a. A pers­pectiva de lideran<;a, para se manter totalmente fiel a complexidade da reali­dade, deve incorporar dezenas, senao centenas, de variaveis relevantes. Qual­quer 16gica de amostragem simplesmente estaria mal direcionada nessas cir­cunstancias, ja que houve apenas 42 presidentes desde 0 come<;o da Republi­ca nos Estados Unidos. Alem disso, voce provavelmente nao teria os recursos necessarios para conduzir urn estudo completo de todos os 42 presidentes (e, mesmo se tivesse, ainda teria variaveis demais em rela~ao aos 42 pontos de dados disponiveis). Esse tipo de estudo simplesmente nao poderia ser feito seguindo-se a 16gica da amostragem; seguindo-se a l6gica da replica<;ao, no entanto, 0 estudo seria eminentemente exeqii(vel.

A abordagem da replica<;ao aos estudos de casos multiplos encontra-s ilustrada na Figura 2.5 (essa figura deriva-se da pesquisa sobre 0 metodo do estudo de caso; veja Yin, Bateman, & Moore, 1983). A figura indica que a etapa inicial ao se projetar 0 estudo consiste no desenvolvimento da teo ria e, ern seguida, demonstra que a sele<;ao do caso e a defini<;ao das medidas espedficas sao etapas importantes para 0 processo de planejamento e coleta de dados. Cada caso em particular consiste em urn estudo completo, no qual se procuram provas convergentes com respeito aos fatos e as conclus6es para 0 caso; acredita-se, assim, que as conclusoes de cada caso sejam as informa<;oes que necessitam de replica<;ao por outros casos individuais. Tan­to os casos individuais e os resultados de casos multiplos podem e devern ser o foco de urn epitome. Para cada caso individual, 0 relat6rio deve indicar como e por que se demonstrou (ou nao) uma proposi~ao ern especial. Ao tango dos casos, 0 parecer deve indicar a extensao da 16gica de replica<;ao e por que se previu que certos casos apresentavam certos resultados, ao passo que tambem se previu que outros casos - se houver - apresemavam resulta­dos contradit6rios.

Novarnente} na Figura 2.5 e descrita uma 16gica muito diferente daquela do projeto de amostragem. Essa e uma etapa cornplicada de ser apreendida e seria aconselhavel voce debater longamente com seus colegas antes de dar prosseguimento a qualquer projeto de estudo de caso.

Ao utilizar urn projeto de casos mUltiplos, voce vai se deparar com UJTI:>.

outra questao: 0 numero de casos supostamente necessarios ou suficiemes para 0 seu estudo. Entretanto, como nao deve ser utilizada uma 16gica de amostragem, os criterios tipicos adotados ern rela<;ao ao tarnanho da amos­tragem tambem se tornam irrelevantes. De preferencia, voce deveria pensar nessa decisao como urn reflexo do numero de replicac;:6es de caso - literais e teoricas - que gostaria de ter em seu estudo.

i\NAuSEE DEFINI<;AO E PLANEJAMENTO PREPARAGAO, COLETA E ANALISE CONCJ..USAO. ~ 4 •

~------------------------,

r+

desenvolve a teoria ~

l+

Figura 2.5 Metodo de estudo de caso. FONTE: COSMOS Corporation

Para 0 nUrnero de replica<;6es literais, uma analogia adequada a partir das estudos estaosticos e a sele<;ao do criterio para estabelecer os nfveis de signifidincia. Embora a escolha entre "p < 0,05" e "p < 0,01" nao derive de qualquer formula} mas seja uma escolha discriciollClria e judiciosa, a sele<;ao do numero de replica<;oes depende da certeza que voce quer ter sobre os resul­tados obtidos dos casos multiplos (da mesma forma que, quanto mais nobre for 0 criterio para estabelecer a signifidlncia estaostica, maior sera a certeza que se tera com urn numero maior de casos). POI' exemplo, voce pode desejar estabelecer duas ou tres replica<;oes literais quando as teorias concorrentes forem completamente diferentes e 0 terna ao alcance exigir urn grau excessive de certeza. Entretanto, se as suas teorias concorremes possuirem diferen<;as sutis au se voce deseja obter urn alto grau de certeza, voce pode solicitar com urgencia cinco, seis ou ate mais replicac;oes.

Para 0 numero de replicac;6es teoricas, uma considerac;ao importame a fazer diz respeito ao seu entendimemo da complexidade do dominio da vali­dade extema. Quando voce nao tiver certeza de que as condi<;6es externas produzirao resultados diferenres de estudo de caso, voce pode desejar artieu-

I II

conduz pri.....: escreve urn ... meiro esrudo ---t. relat6rio de

de caso I caso individual

I I I I I

escreve urn -+!conduz se­relat6rio de ...gundo estudo r--++~f+ caso individual de caso

escreve um conduz estu· -+ relat6rio de f-dos de caso .­ ---+

caso individual remancscentes

~ mega a conclusoes I

I

I

f+ de casos cruzados 1 scleciona os casos

projeta 0

protoco!o de coleta de dados

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74 Escudo de Caso

lar essas condi<;6es relevantes de uma forma mais explicita no principio de seu estudo e identificar urn numero maior de casos que devem ser incluldos nele. Por exemplo, no exemplo do estudo realizado em urn baino, apresen­tado anteriormente para discutir a validade externa (veja a se<;ao Validade externa), uma preocupa<;ao comum do ponto de vista da pesquisa politica (p.ex., Majchrzak, 1984) e que os bairros etnica e racialmente diferentes nao seguem, em geral, cursos similares de modifica<;6es. Assim, urn estudo da melhoria das condi<;6es de vida nos bairros incluiria, no minimo, alguns casas em que houvesse variac;6es ao longo das linhas etnicas ou raciais (e dentro de cada tipo de caso ainda se desejaria urn minima de duas ou tres replica<;6es literais). Em contraste, quando nao se acredita que as condi<;6es externas pro­duzam muita variac;ao no fenomeno que esta sendo estudado, e necessario urn numero menor de replicac;6es te6ricas.

Estudos de casas multiplos: holfsticos ou incorporados. 0 fato de que urn determinado projeto exige estudos de casas mUltiplos nao elimina a varia<;ao identificada anteriormente nos casas unicos: cada caso em particular ainda pode ser holistico ou incorporado. Em outras palavras, urn estudo de casos multiplos pode consistir em casos multiplos holisticos (veja a Figura 2.4, Tipo 3) ou de casos mUltiplos incorporados (veja a Figura 2.4, Tipo 4).

A diferenc;a entre esses dois projetos depende do tipo de fenomeno que esta sendo estudado. Em urn projeto incorporado, 0 estudo pode ate exigir a conduc;ao de urn levantamento no local que esta sendo realizado cada estudo de caso. Suponha, por exemplo, que urn estudo esteja interessado na presta­C;ao de servic;os de diferentes centros de saude mental comunitarios (veja Larsen, 1982). Cada centro pode muito bern ser 0 topico de urn estudo de caso; a estrutura te6rica pode prescrever que nove centros sejam incluidos como esrudos de caso, tres replicando urn resultado direto (replica<;ao literal) e outros seis lidando com condic;6es contradit6rias (replicac;:6es te6ricas).

Em todos, utiliza-se urn projeto incorporado porque serao conduzidos levantamentos entre os dientes dos centros. No entanto, os resultados de cada levantamento ndo serao reunidos para todos os centros. Em vez disso, os dados do levantarnento farao parte das descobertas para cada centro em separado, ou para cada caso. Esses dados podem ser altamente quantitati­vos, dando aten<;ao as atitudes e ao comportamento de cada diente, e as dados serao utilizados juntamente com as informac;6es de arquivo a fim de interpretar a sucesso e as operac;6es em urn centro deterrninado. Se, por outro lado, as dados do levantamento sao obtidos para todos as centros, nao se esta mais utilizando urn projeto de estudo de casos mUltiplos, e e prova­vel que a investigac;ao esteja usanda urn levantamenta no lugar de urn pro­jeto de esrudo de caso.

Projetando Estudos de Caso 75

Resumo. Essa se<;ao tratou das situa<;6es em que a mesma investiga<;ao pode exigir estudos de casos mUltiplos. Tais projetos estao se tornando predo­minantes, mas sao mais caros e consomem mais tempo para serem realizados.

Qualquer utilizac;ao de projetos de casos mUltiplos deve seguir uma l6gi­ca de replicaC;ao, e nao de amostragem, e a pesquisador deve escolher cada caso cuidadosamente. Os casos devem funcionar de uma maneira semelhante aos experimentos multiplos, com resultados similares (replica<;ao literal) ou contraditorios (replicac;ao teorica) previstos explicitamente no principio da investigac;ao.

o projeto de replicac;ao nao quer dizer necessariamente que cada estudo de casa necessita ser hoHstico ou incorporado. Os casas individuais, dentro de urn projeto de estudo de casos multiplos, podem ser qualquer urn dos dais. Quando se Lltiliza urn projeto incorporado, cada estudo de caso pode incluir, na verdade, a coleta e a analise de dados altarnente quantitativos, induindo a utilizac;ao de levantamentos em cada caso.

Como se pode manter os projetos de estudo de caso flexiveis

Uma advertencia final que se deve fazer e que urn projeto de estudo de caso nao ealgo que esteja completado apenas no principio de urn estudo. 0 projeto pode ser alterado e revisado apos os estagios iniciais do estudo, mas apenas sob rigorosas circunstancias.

Como exemplo, estudos de caso piloto podem revelar inadequac;6es no projeto inicial ou podem ajudar a adapta-lo. Em urn projeto de caso unico, 0

que se considerou ser urn caso exclusivo au revelador pode acabar nao sendo nenhum dos dois. Ja em urn projeto de casos mUltiplos, a selec;ao de casos pode precisar ser modificada porque surgirarn novas informac;6es sobre os casas. Em outras palavras, apos ja ter sido realizada uma parte da coleta e da analise de dados, 0 pesquisador tern todo a direito de conduir que a projeto inicial possuia muitas falhas e modifica-lo. Essa euma utiliza<;ao apropriada e desejavel dos estudos-piloto (veja tambem 0 Capitulo 3 para saber mais sabre os estudos de caso pilato).

Ao mesmo tempo, a pesquisador deve tamar cuidado para nao alterar, sem sabel~ as interesses ou as objetivos teoricos. Se eles forem alterados, no lugar dos pr6prios casos, 0 pesquisador pode ser corretamente acusado de apresentar uma visao tendenciosa durante a conduc;ao da pesquisa e da inter­preta<;ao das descobenas. A questao e que a flexibilidade dos projetos de estu­do de casa esta na selepio de casos diferentes daqueles inicialmente identificados (tendo a documentac;ao adequada dessa mudanc;a), mas nao na alterac;ao do

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76 Estudo de Caso

prop6sito ou dos objetivos do estudo para se adaptar ao(s) caso(s) que foi(ram) encontrado(s). A primeira situat;ao tern mais a ver com a alterat;ao dos expe­rimentos quando e6bvio que urn procedimemo experimental e irnpratic3vel; essa ultima euma modificat;ao mais sutil, mas ainda assim ilegftima.

EXERCICIOS

1. Deft-nindo as limites de um estudo de caso. Selecione urn topico para urn estudo de caso que voce gostaria de fazer. Identifique algumas quest6es basicas a serern respondidas pelo estudo. A identificat;ao dessas quest6es estabelece os lirnites do seu caso, em rela«;ao ao tempo necessario em que as evidencias devem ser coletadas? A or­ganiza«;ao pertinente ou a area geografica? 0 tipo de evidencia que deveria ser buscada? As prioridades ao se fazer a analise?

2. Definindo a unidade de analise para um estudo de caso. Examine ou leia 0 estudo de caso The Soul ofa New Machine. Qual ea principal unidade de analise nesse livro? Quais alternativas voce leva em coo­sidera<;ao, ou por que voce selecionou a sua unidade? Execute 0

mesmo exercicio para algum outro estudo de caso de sua escolha. 3. Definindo um projeto de pesquisa de estudo de caso. Selecione urn dos

estudos de caso descritos nos QUADROS desse livro. Descreva 0 pro­jeto de pesquisa desse estudo escolhido. Como justificar as provas pertinentes a serem buscadas, dadas as quest6es basicas de pesqui­sa que devern ser respondidas? Quais metodos foram utilizados para estabelecer conclus6es, com base oas provas obtidas? Eurn projeto de caso linico ou de casos multiplos? Sao unidades holisticas ou bel unidades incorporadas de analise?

4. Estabelecendo 0 fundamento l6gico para estudos de caso unico e de casas multiplos. Designe os fundamentos l6gicos para utiIizar urn projeto de estudo de caso t.imco e, depois, designe aqueles para uti· lizar urn projeto de casos multiplos. De exemplos de cada tipo de projeto, tanto dos estudos de caso descritos nos QUADROS deste livro ou de outros estudos de caso dos quais voce tamou conheci· mento.

S. Definindo os criterios para julgar a qualidade dos projetos de pesqui­sa. Defina os quatTo criterios parajulgar a qualidade dos projetos de pesquisa: (a) validade do constructo, (b) validade interna, (c) vali­dade externa e (d) confiabilidade. De urn exemplo de cada ripe de criterio em urn estudo de caso que voce possa querer realizar.

.......

NOTA

1. A Figura 2.2 enfoca apenas 0 processo formal do projeto de pesquisa, nao as atividades de coleta de dados. Para todos os tres tipos de pesquisa, as tecnicas de coleta de dados podem ser descritas como urn terceiro nivel e tambem podem con. ler inferencias - por exemplo, para estudos de caso isso pode incluir a busca por padroes entre os tipos convergentes de evidencias, como descrito em maiores deta­Ihes no Capftulo 5; as tecnicas sirnilares de coleta de dados podem ser descritas por levantamentos ou experimentos - por exemplo, planejamemo de questionanos para levantamentos ou estrategias de apresemac,:ao de incentivos para experimemos.

Projetando Estudos de Caso 77

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~

•••• capftulo

Conduzindo estudos de caso: prepara98.0

para a coleta de dados

A preparar;:ao para realizar urn estudo de caso envolve habilidades previas do pesquisador, treinamento e prepara<;ao para a esruda de casa especifica, desenvalvimento de urn protocalo de estudo de caso e candu<;ao de urn esrudo de caso piloto. Em rela~ao as habilidades previas, muitas pessoas acreditam, equivocadamente, ser suficientemente capacitadas a realizar esrudos de casos porque pensam que a metodo e facil de seT aplicado. Na verdade, a pesquisa de estudo de caso caraeteriza-se como urn dos tipos mais arduos de pesquisa.

Para ajudar a preparar 0 pesquisador a realizar urn esrudo de caso de alta qualidade, deve-se planejar sess6es intensivas de treinamento, desen­volver e aprimorar protQcolos de esrudo de casa e conduzir urn estudo­piloto. Esses procedimentos sao especificamente desejaveis se a pesquisa tiver como base urn projeto de casas mUltiplos au envolver vanos pesquisa­dares (ou ambas as COiS3S).

Nos Capftulos 1 e 2, mostrou-se que realizar urn estudo de caso come~a

com a defmic;ao dos problemas ou temas a serem estudados e 0 desenvolvi­memo de urn projeto de estudo de caso. No entanto, a maioria das pessoas associa a realizac;ao de urn estudo de caso com a coleta dos dados para 0

estudo, e este capitulo e 0 seguinte concentram-se nessa atividade. Este capi­tulo trata da prepara<;ao para a coleta de clados; a seguinte, das tecnicas de coleta propriamente ditas.

Preparar-se para a coleta de dados pode ser uma atividade complexa e diffcil. Se nao for realizada corretamente, todo a trabalho de investigac;ao do

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80 Estudo de Caso

estudo de caso podeni ser posta em risco, e tudo a que foi feito anteriormente ­ao definir a problema e projetar a estudo de caso - terei side ern vao.

Uma boa prepara<;ao come<;a corn as habilidades desejada.s par parte do pesquisador do estudo de caso. Essas habilidades rararnente receberam aten­<;ao dedicada no passado. Entretanto, algumas sao cruciais e podem ser apren­didas e postas em pratica. Tres tapicos extras tambem devem ser uma parte formal de qualquer prepara<;ao para urn estudo de caso: 0 treinamento para urn estudo de caso espedfico, a desenvolvirnento de urn protocolo para a in­vestiga<;ao e a condu<;ao de urn estudo de caso piloto. 0 protocolo e uma ma­neira especialmente eficaz de lidar com 0 problema de aumentar a confia­bilidade dos estudos de caso. Nao obstante, eprecise ter born exito no cumpri­mento desses quatro tapicos, a fim de garantir que os estudos de caso sejam conduzidos com alta qualidade e administrados uniformemente. Thdo exige urna certa dose de paciencia, que sempre foi muito esquecida no passado. Cada urn desses t6picos ediscutido no restante deste capitulo.

o PESQUISADOR DO ESTUDO DE CASO: HABIUDADES DESEJADAS

Muitas e muitas pessoas sao levadas a utilizar a estrategia do estudo de caso por acreditarem que seja facil. Como observado no Capitulo 1, muitos cien­tistas sociais - especialmente as principiantes - acreditam que a estrategia de estudo de caso pode ser dominada sem muita dificuldade. No seu enten­dimento, eles terao que aprender apenas urn conjunto minimo de procedi­mentos tecnicos, que quaisquer deficiencias nas habilidades formais e anali­ticas serao irrelevantes e que urn estudo de caso apenas permitira que eles "0

relatem como ele realmente en. Nenhuma outra visao poderia estar mais distante da verdade.

Na realidade, as exigencias que urn estudo de caso faz ern rela<;ao ao intelecto, ao ego e as emo~oes de uma pessoa sao muito maiores do que aque­les de qualquer outra estrategia de pesquisa. 1sso ocorre porque os procedi­mentos de coleta de dados nao sao procedimentos que seguem uma rotina. Em experimentos de laborat6rio ou ern levantamentos, por exemplo, a fase da coleta de dados de urn projeto de pesquisa pode ser conduzida em sua maio­ria, senao em sua totalidade, por urn assistente de pesquisa. Ele devera reali­zar as atividades de coleta de dados corn urn minima de comportamento dis­cricionario, e nesse sentido a atividade seguini uma rotina - e sera muito tedi­osa. Nao existe esse paralelo na realiza<;ao dos estudos de caso.

De fato, urn ponto que deve ser enfatizado ao lange deste capitulo eque as habilidades exigidas para coletar as dados para urn estudo de caso sao rnuito mais exigenres do que aquelas necessarias para realizar urn experi­menta ou urn levantamento. Nos estudos de caso, he\. pouco espa~o para

Conduzindo Estudos de Caso: Prepara~ao para a Coleta de Dados 81

assistente tradicional de pesquisa. De preferencia, e necessario urn pesquisa­dor bem-treinado e experiente para conduzir urn estudo de caso de alta qua­lidade devido acontinua intera<;ao entre as questoes te6ricas que estao sen­do estudadas e os dados que estao sendo coletados. Durante a fase de coleta de dados, somente urn pesquisador mais experiente sera capaz de tirar van­tagem de oportunidades inesperadas, ern vez de ser pego par elas - e tam­bern para tel' cuidado suficienre para se proteger de procedimenros potenci­alrnente tendenciosos.

Infelizmente, nao ha testes para se determinar quais pessoas podem vir a se tamar bons pesquisadores de estudo de caso e quais nao se tomarao. Com­pare essa situa<;ao, brevernente mencionada no Capitulo 1, com aquela da matematica ou mesmo de uma profissao, como 0 advogado. Na matematica, as pessoas podem ser classificadas gra<;as as suas habilidades e impedir seu avanc;o posterior porque sirnplesmente nao conseguem resolver certos nlveis de problemas matematicos. Da mesma forma, para exercer a advocacia, uma pessoa primeiro deve conseguir entrar em uma faculdade de direito e depois passar no "exame da Ordem" em urn determinado estado norte-americana. Novamente, muitas pessoas nao sao aprovadas em sua area de atuac;ao por nao conseguirem passar ern nenhum desses testes.

Nao existem mecanisrnos como esses para avaliar as habilidades necessa­rias a urn estudo de casa. No entanto, uma lista basica de habilidades co­ffiumente exigidas incluiria a seguinte:

• Uma pessoa deve ser capaz de !azer boas perguntCLS - e interpretar as respostas.

• Uma pessoa deve ser uma boa ouvinte e nao ser enganada por suas praprias ideologias e preconceitos.

• Dma pessoa deve ser capaz de ser adaptclvel e flex{vel, de forma que as situac;oes recentemente encontradas possarn ser vistas como oportu­nidades, nao amea<;as.

• Dma pessoa deve ter uma nOfdo clara das questoes que estao sendo estudadas, rnesmo que seja uma orienta~ao tearica ou politica, ou que seja de urn modo exploratario. Essa no~ao tern como foco os eventos e as informa<;oes relevantes que devem ser buscadas a propor<;oes administraveis.

• Dma pessoa deve ser imparcial em relafaO a nOfoes preconcebidCLS, in­c1uindo aquelas que se originam de urna teoria. Assim, uma pessoa deve ser senslvel e estar atenta a provas contradit6rias.

Cada urn desses atributos e descrito a seguir. Muitos deles podem ser corrigidos, e qualquer pessoa que naa possua uma au rnais dessas habilidades pode desenvolve-la(s). Mas, em primeiro lugar, todos devem ser honestos na hora de avaliar suas pr6prias capacidades.

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82 Estudo de Caso

Fazendo perguntas

Vma mente indagadora e urn importante pre-requisito durante a coleta de dados, nao apenas antes ou apos a atividade. A coleta de dados segue urn plano formal, mas as informa~oes especificas que podem se tomar relevan­tes a urn estudo de caso nao sao previslveis imediatamente. Amedida que voce realiza urn trabalho de campo, voce deve constantemente se perguntar por que os eventos ocorreram ou estao ocorrendo. Se for capaz de fazer boas perguntas, voce tambem fieara mental e emocionalmente exausto ao final de urn dia no campo. 1sso e completamente diferente da experiencia de cole­tar dados experimentais ou provenientes de levantamentos, em que a pessoa pode ate ficar fisieamente cansada, mas nao foi mentalmente testada apos urn dia de coleta.

Vma percep~ao que se deve ter ao fazer boas perguntas ecompreender que a pesquisa baseia-se em perguntas e nao necessariamente em respostas. Se voce e do tipo de pessoa para quem uma resposta tentadora ja leva a uma quantidade enorme de novas questoes, e se essas questoes eventualmente se juntam a algum esrudo significativo sobre como e por que 0 mundo funciona desta maneira, e provavel que voce seja urn born entrevistador.

"0uvindo"

o ato de ouvir envolve observar e perceber de uma maneira mais generica e nao se limita a uma modalidade meramente auricular. Ser urn born ouvinte significa ser capaz de assimilar urn numero enorme de novas informac;oes sem pontos de vista tendenciosos. Amedida que urn entrevistado relata urn incidente, 0 born ouvinte escuta as palavras exatas utilizadas (algumas ve­es, a terminologia reflete uma jmportame orientac;ao), captura 0 humor e

os componentes afetivos e compreende 0 contexto a partir do qual 0 entre­vistado esta percebendo 0 mundo.

Esse tipo de habilidade tambern precisa ser aplicado durante a verifica­<;5.0 de provas doeumentais, assim como durante a observaC;ao direta de si­tua<;6es da vida real. Ao revisar documentos, uma boa pergunta a fazer e se ha qualquer mensagem imponante nas entrelinhas; quaisquer inferencias, naturalmente, precisariam ser corroboradas com outras fontes de informa­<;ao, mas epossivel obter revelac;oes importantes dessa maneira. "Ouvimes" nao-atentos podem ate mesmo nao perceber que pode haver informa<;oes nas entrelinhas. Outras pessoas que apresentam deficiencias nesse atributo sao aquelas de mente fechada ou que tern memoria fraca.

Conduzindo Escudos de Caso: Prepara~ao para a Coleta de Dados 83

Adaptatividade e flexibilidade

pouquissimos estudos de caso terminarao exatamente como foram planeja­dos. lnevitavelmente, voce teni que fazer pequenas, quando nao grandes, alte­rac;6es, que variam da necessidade de tomar uma dire<;ao inesperada (uma alreraC;ao potencialmente pequena) anecessidade de identificar urn novo "caso" para urn estudo (altera<;ao potencialmente grande). 0 pesquisador habilidoso deve lembrar do proposito inicial da investigac;ao, mas ai, se ocorrerem even­toS imprevistos, ele provavelmente desejara alterar os procedimentos ou os pIanos (veja 0 QVADRO 13).

Quando se faz uma modificac;ao no estudo inicial, deve-se manter uma perspectiva equanime e reconhecer aquelas siruac;6es em que, na verdade, uma investigaC;ao totalmente nova deve estar em marcha. Quando isso oeorre, muitas etapas ja conclufdas - incluindo 0 projeto inicial do estudo de caso - devem ser repetidas e docl1mentadas novamente. Vma das piores queixas que se faz a condu~ao da pesquisa de estudo de caso eque os pesquisadores alteram os rumos da pesquisa sem saber que seu projeto original de pesquisa era inade­quado a investiga<;ao revista, permitindo, dessa forma, que varias lacunas e tendencias permanecessem desconhecidas. Assim, a necessidade de equilibrar a adaptatividade com rigor - mas nao com rigidez - nao pode receber uma enfase demasiada.

QUADR013 Mantendo a flexibilidade ao projetar urn estudo de caso

o estudo do comportamento em grandes agendas governamentais (The Dynam ics ofBureaucracy, 1955), realizado por Peter Blau, ainda e valorizado pelo seu cliscernimento ao enfocar a rela<;ao entre a organizac;ao formal e informal dos grupos de trabalho.

Embora 0 estudo cemralize-se em duas agendas govemamentais, nao foi o projeto inicial de Blau. Como 0 autor mesmo menciona, Blau primeiro tinha a intenc;ao de estudar uma organiza<;ao e depois acabou mudando de pianos para comparar duas organiza<;6es - uma publica e uma privada (p. 272-273). Contudo, suas temativas iniciais de obeer acesso a uma empresa privada nao foram bem-sucedidas, e, nesse meio tempo, ele desenvolveu urn funda­memo 16gico mais forte para comparar duas agendas governamentais, mas de tipos diferentes.

Essas alterac;6es nos pianos iniciais sao exemplos das especies de mudan­c;a que podem oeaner no projeto de urn estudo de caso, e a experiencia de Blau mostra como um pesquisador habilidoso pode tirar proveito de oporru­nidades inconstantes e de alterac;6es nas relac;6es te6ricas, a fim de produzir urn estudo de caso c1assico.

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_

84 Estudo de Caso

Compreensao das questoes que estao sendo estudadas

A principal maneira de manter a meta original e, evidemememe, emender desde 0 infcio 0 prop6sito da investigac;ao do estudo de caso. Cada pesquisa­dor de estudo de caso deve entender as questoes te6ricas e politicas, pois e precise fazer julgamentos (e demonstrar inteligencia) durante a fase de coleta de dados. Sem uma n09ao muito clara das quest6es ern discussao, voce pode­ria deixar passar pistas importantes e nao saberia identificar uma mudanc;a no curso do estudo quando ele Fosse aceiteivel ou mesmo desejeivel. 0 pomo-cha­ve eque a coleta de dados para urn estudo de caso nao se trata meramente de registrar os dados mecanicamente, como se faz ern alguns outros tipos de pes­quisa. Voce deve ser capaz de interpretar as informac;oes como estao sendo coletadas e saber imediatamente, por exemplo, se as diversas Fontes de infor­mac;ao se contradizem e levam anecessidade de evidencias adicionais - como faz urn born detetive.

De fato, 0 papel do detetive oferece algumas contribuic;6es positivas ao trabalho de campo do estudo de caso. Observe que 0 detetive chega na cena depois que 0 crime aconteceu e foi charnado basicamente para fazer inferencias sobre 0 que realmente pode ser apreendido do local. As inferencias, por sua vez, devem se basear ern evidencias convergentes provenientes das vitirnas e de anefatos fisicos, assim como de elementos indeterminados de senso co­mum. Finalmeme, 0 detetive pode ter que fazer inferencias sobre varios cri­mes, a fim de determinar se foi 0 mesmo criminoso que os corneteu. Essa ultima etapa esemelhante a l6gica de replicac;ao, subjacente aos estudos de casos mUltiplos.

Ausencia de vies

Todas as condic;oes precedentes serao invalidadas se 0 pesquisador procurar utilizar 0 estudo de caso apenas para comprovar uma posic;:ao preconcebida. Os pesquisadores de estudos de casos geralmente estao propensos a esse pro­blema porque eles devern compreender as questoes e agir com discric;ao (veja Becker, 1958, 1967). Ern contraste, emuito provclvel que 0 tradicional assis­tente de pesquisa, embora mecanicista e possivelmente ate mesmo descuida­do, introduza algurn tipo de vies na pesquisa.

Urn teste a essas ideias preconcebidas e ate que ponto voce esta aberto a descobertas contrarias ao que comumente se esperaria. Por exemplo, os pes­quisadores que estudam organizac;oes "sern fins lucrativos" podem se surpre­ender ao descobrir que muitas dessas organizac;oes sao motivadas por ideias empresariais e capitalistas. Se tais descobertas se baseiam em evidencias con­vincentes, as conclusoes do estudo de caso teriam que espelhar essas desco­benas comnlrias. Para testar sua propria tolerancia a descobertas conrnirias, x00.0 ba s.uas...dest:o.b~nas..~liminares - QaanQQ.llo.ssiyelrnem.e ainda estiYer

Conduzindo Estudos de Caso: Prepara<;ao para a Coleta de Dados 85

na fase de coleta de dados - a dois ou tres colegas criteriosos. Eles devem oferecer expIicac;oes e sugest6es altemativas para a coleta de dados. Se a bus­ca por descobenas contrarias puder produzir contestac;6es documentaveis, a probabilidade de haver ideias preconcebidas na pesquisa sera reduzida.

TREINAMENTO E PREPARA<;AO PARA UM ESTUDO DE CASO ESPECIFICO

A chave para compreender 0 treinamento necessario acoleta de dados para o estudo de caso e cornpreender que cada pesquisador deve ser capaz de trabalhar como urn pesquisador "senior". Uma vez no campo de pesquisa, rodo pesquisador de campo eurn pesquisador independente e nao pode con­fiar em f6rmulas rigidas para orientar seu comportamento. 0 pesquisador deve sempre ser capaz de tomar decisoes inteligentes sobre os dados que estao sendo coletados.

Nesse semido, 0 treinamento para uma investigac;:ao de estudo de caso comec;a, na verdade, com a definic;ao do problema sob estudo e 0 desenvol­vimento do projeto de estudo de caso. Se essas etapas forem satisfatoria­mente conduzidas, como descrito nos Capitulos 1 e 2, sera necessario urn esforc;o extra minimo, especialmente se houver apenas urn pesquisador no estudo de caso.

Acomece que uma investigac;ao de estudo de caso deve comar com varios pesquisadores) devido a qualquer uma das tres condic;6es abaixo:

1. urn caso unico exige uma coleta de dados intensiva no meSillO local, o que precisaria de urna (lequipe" de pesquisadores (veja 0 QUADRO 14);

2. urn estudo de caso envolve casos multiplos, necessitando-se de pes­soas diferemes para trabalhar em cada local ou para se revezar entre eles; au

3. existe a combinac;ao das duas primeiras condic;:6es.

Alem disso, alguns membros da equipe de pesquisa podem nao ter parti­cipado da definic;ao inicial do problema ou das fases de planejamento da pes­quisa de urn estudo. Sob tais condic;oes, 0 treinarnemo e a preparac;ao fonnal sao preludios essenciais areal coleta de dados.

Treinamento de estudos de caso como semimirios

Quando varios pesquisadores devem ser treinados, eles podem trabalhar para se tornarem pesquisadores "seniores", caso 0 treinamenro tome a forma de urn seminario em vez de uma mera instruc;ao de rotina. Como em urn seminJ­......_--­

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86 Estudo de Caso

QUADR014 A logistica da pesquisa de campo, entre 1924-1925

Agendar atividades e obter acesso a fontes relevantes de evidencias sao atos imponantes para a administraflio de urn estudo de caso. 0 pesquisador rno­demo pode achar que essas atividades surgiram apenas com 0 crescimento da "grande" ciencia social, durante as decadas de 60 e 70.

Em urn famoso estudo de campo realizado ha 70 anos, no entanto, muitas das rnesmas tecrucas de adrninistra~ao ja haviam sido postas em pratica. Os dois principais pesquisadores e suas equipes abriram urn escrit6rio local na cidade em que estavam esrudando, e esse cscrit6rio foi utilizado pela equipe de outro projeto por longos perfodos de tempo. Apartir dessa posic;.ao favora­vel, a equipe de pesquisa participou da vida local, examinou docurnentos, ompilou estatfsticas, realizou entrevistas e distribuiu e coletou questiomi·

rios. Cinco anos depois, esse extenso trabalho de campo rendeu a publica~ao

do agora dassico esrudo de uma pequena cidade da America, Middletown (1929), de Robert e Helen Lynd.

rio, deve-se reservar muito tempo para leitura, preparar;ao para as sess5es de treinamento e para as proprias sess5es. Na maioria dos casos, 0 semimirio exige pelo menos 0 esforr;o de uma sernana de preparar;ao e discuss6es (veja a Figura 3.1 para obter urn exemplo de agenda).

Geralmente, 0 seminario tratanl de todas as Eases da investigar;ao plane­jada de estudo de caso, incluindo leituras sabre a objeto de estudo, sobre as quest5es teoricas que levaram ao projeto do estudo de caso e os seus metodos e tMicas. 0 objetivo do treinamento e fazer com que todos os participantes compreendam os conceitos basicos, a terminologia e os pontos relevantes ao estudo. Cada pesquisador precisa saber:

• Por que 0 estudo esta sendo realizado. • Quais provas estao sendo procuradas. • Quais variar;5es podem ser antecipadas (e 0 que deve ser feito se

essas variar;5es ocorrerem). • 0 que constiruiria uma prova contraria ou corroborativa para qual­

quer proposir;ao dada.

Sao as discuss6es, e nao as conferendas, as panes-chave do treinamento, a fim de garantir que se alcanee 0 nivel desejada de compreensao do estudo.

Essa tecnica de enearar 0 treinamento para a estudo de easo como urn semimirio pode ser eontrastada com 0 treinamento para os entrevistadores que trabalham com Jevantamemos de dados. 0 treinamento para urn levanta-

Conduzindo Estudos de Caso: Prcparac;.ao para a Coleta de Dados 87

I. Prop6siro dos esrudos de caso

II. Escolha do campo

III. Tarefas para os estudos de caso A. Orientac;ao e preparac;ao B. Apontamentos de campo e organizac;ao de viagens C. Visira ao local D. Redac;ao do esrudo de caso E. Revisao e aprovac;ao da minuta F. Apontamentos de campo e organizac;ao de viagens para 0 proximo cstudo

de caso

IV Lembretes para 0 rreinamento A. Ler visao geral, guia de enrrevisras e insrruc;oes de procedimento B. Ler sobre a realizac;ao de trabalho de campo: observando e ouvindo

- fazer perguntas de forma indireta - tamar notas junto as principais sec;oes do guia de enrrevisrus

C. LeI' estltdo de caso modelo D. Manter lisra de todos os contatos redigida daramente (e com grajia correra):

nome, cargo, organizac;ao, numero de telefone E. Coletar documentos e regisrros no campo e enviar com 0 estudo de

caso; Iistar os documentos na forma de uma bibliograjia comentada

Figura 3.1 Agenda da sessiio de rreinamento.

mento envolve de faro discuss6es, mas enfatiza, principalmente} os itens ou a terminologia do questionario a ser utilizado e ocorre durante um periodo de tempo curto, porem intenso. Ademais, 0 treinamento nao toea nos pontos gerais ou conceptuais do esrudo, ja que 0 entrevistador e dissuadido a ter qualquer entendimento mais amplo do que os mecanismos da tecnica de le­vantamento. 0 treinamento que se faz para urn levantamento raramente en­volve qualquer ripo de leitura externa a respeito das quest5es essenciais, e 0

entrevistador do levantamento, em geral, nao tern nenhum conhecimento de como os dados da pesquisa de opiniao serao analisados e quais quest5es serao investigadas. Urn resultado como esse seria insuficiente para 0 treinamento de urn esrudo de caso.

Desenvolvimento e revisao do protocolo

A proxima subser;ao versara sabre 0 contetldo do protocolo para 0 esrudo de caso. Nao obstante, uma tarefa de treinamento legitima e desejavel efazer com que todos os pesquisadores do estudo de caso sejam co-autores do prorocolo.

Uma tarefa rnais imporrante do seminario de treinamento, ponamo, pade ser desenvolver uma min uta para 0 protocolo. Nessa situac;.ao, pode-se atri­

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88 Escudo de Caso

buir a cada pesquisador uma parte dos tcpicos substantivos que devem ser tratados no estudo de caso. Dessa forma, 0 pesquisador rorna-se responsavel pela revisao do material de leitura apropriado a esse topico, acrescentando qualquer informa<;ao que possa ser relevante e esbo<;ando urn conjunto inicial de quest5es para 0 protocolo sobre 0 mesmo tcpico. No seminario, todo 0

grupo de pesquisadores do estudo pode discutir e revisar as minutas de cada urn. Essa discussao nao apenas levara aconclusao do protocolo como tambem assegurani que cada pesquisador conheceni a fundo 0 conteudo do prorocolo ao participar ativamente da sua elabora<;ao.

Se a equipe do estudo de caso nao estiver dividindo a tarefa de desenvol­ver 0 protocolo, as sess5es de treinamento devem incluir urna revisao geral do protocolo. Todos os seus aspectos, tanto aqueles substantivos quanto os rela­tivos aos procedimentos que serae utilizados, precisam ser discutidos, e, com isso, epossivel se fazer rnodifica<;5es no protocele.

Problemas a serem abordados

o treinarnento tambern tern a func;ao de revelar problemas do plano do esru­do de caso ou das habilidades da equipe de pesquisa. Se realmente surgirem esses problemas, 0 consolo que se tern eque eles seriam mais inoportunes se so fossem reconhecidos mais tarde, depois que a coleta de dados ja tivesse come<;ado. Bons pesquisadores de estudo de case devem se empenhar para ter certeza, durante 0 perfodo de treinamento, de que os problemas em poten­cial serao trazidos arona.

o problema mais 6bvio e que 0 treinamento pode revelar falhas no pro­jeto do estudo de caso ou mesmo na defini<;ao inicial do problema do estudo. Se isso ocorrer, voce deve estar disposto a fazer as revis5es necessarias, mes­mo se forem necessarios mais tempo e empenho. Algumas vezes, as revis5es chegarao a contesrar 0 prop6sito basico da invesriga<;ao, como em urn caso em que 0 objetivo original possa rer sido investigar urn fenomeno recnolcgico (0 uso de microcompuraderes, por exemplo), mas em que 0 esrudo de caso acabou sendo sobre urn fenomeno organizacional. Qualquer revisao, natural­mente, rambem pode levar a necessidade de se revisar uma literarura sutil­mente diferente e ao conseqiiente remodelamento do estudo inteiro e de seu publico. Nao obstante, tais altera<;5es se justificarao se 0 treinamento deixou clara a natureza irrealista (ou desinteressante) do plano original.

Urn segundo problema a ser considerado eque as sess6es de rreinamento podem acabar revelando algumas incompatibilidades entre as equipes de in­vesriga<;ao - e, em particular, 0 fato de que alguns pesquisadores podem nao compartilhar a mesma ideologia do projeto au de seus patrocinadores. Em urn esnldo de casas multiplos feiro em organizac;6es comunirarias, par exem­pia, as pesquisadores de campo possuiarn crenc;as diferentes em relac;ao ~I

Conduzindo Estudos de Caso: Preparac;ao para a Coleta de Dados 89

dessas organizaC;5es (U.S. Narional Commission on Neighborhoods, 1979). Quando essas vis6es discrepanres vern atona, uma das maneiras de lidar com as ideologias contrarias esugerir ao pesquisador no campo que as provas con­trarias serao respeitadas se forem coletadas e se puderem ser verificadas. 0 pesquisador ainda pode escolher, eclaro, entre continuar a participar do estu­do ou se retirar.

Urn terceiro problema vern do faro de que 0 treinamento pode revelar alguns prazos ou expectativas simplesmente irreais em relac;ao as fontes dis­poniveis. Por exemplo, urn esrudo de caso pode requerer entrevistar 20 pes­soas, de uma maneira espontanea, como parte da coleta de clados. 0 treina­mento, no entanto, pode revelar que 0 rempo necessario para entrevistar essas pessoas devera ser muito maior do que 0 previsto. Sob tais drcunstancias, qualquer expecrativa de que 20 pessoas possam ser enrrevistas naquele tempo inicial tera de ser considerada irrealista.

Finalmente, a treinamento pode revelar algumas caracteristicas positi­vas, como 0 fato de que dois ou mais pesquisadores de campo sejam capazes de rrabalhar juntos de uma maneira muito produtiva. Essa harmonia e produ­tividade durante a sessao de rreinamento podem se estender de imediaro ao real periodo de colera de dados e pode, dessa forma, sugerir cenos companhei­risrnos nas equipes do esnldo de caso. Ern geral, 0 rreinamento deveria ter 0

efeito de criar normas de grupo para a consequenre atividade de coleta de clados. Esse processo de estabelecimento de normas emais do que uma mera deUcadeza entre as grupos; ajudara a garantir reac;5es de apoio caso surjam problemas inesperados durante a coleta de dados.

o PROTOCOLO PARA 0 ESTUDO DE CASO

Urn protocolo para 0 esrudo de caso ernais do que urn insrrumenro. 0 protoco­10 conrem 0 insrrumento, mas tambem contem os procedimentos e as regras gerais que deveriam ser seguidas ao utilizar 0 insrrumento. Edesejeivel possuir urn prorocolo para 0 estudo de caso em qualquer circunsta.ncia, mas eessendal se voce estiver utilizando urn projero de casos multiplos.

o prorocolo e uma das taticas principais para se aurnentar a confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e destina-se a orienrar 0 pesquisador ao condu­zir 0 estudo de caso (a Figura 3.2 apresenta urn sumario a partir de urn proto­colo ilustrativo, que foi utilizado para urn estudo que rrarava da instalac;ao de microcomputadores e seus efeitos organizacionais ern 12 repartic;6es de uma escola norte-americana). 0 protocolo cleve apresenrar as seguinres sec;oes:

~ Uma visao geral do projeto do estudo de caso (objetivos e parrodnios do projeto, quest6es do esrudo de caso e leituras importantes sabre a ropico que esta sendo investigado).

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,r­

90 Estudo de Caso

SUMAAro

Objetivo 1

Caracteristicas-chave do metodo de esmdo de caso 1

Organizat;ao desse protocolo , , 2

I. Procedimentos 3

A. Agendamemo inicial da visita de campo 4

Revisiio de informat;oes preHminares 4

Verificat;ao de procedimentos de acesso 4

Documentos especiais 5

B. Escolha das pessoas que serao entrevistadas e

ourras fontes de informat;ao 6

Funt;oes do microcomputador 6

Funt;oes do sistema central 7

Funt;oes executivas 7

Resumo 8

C. Trcinando a eQuipe do esrudo de caso 9

Objetivo do rreinamemo 9

T6picos para 0 treinamento 9

Banco de dados para 0 esmdo de caso 9

Figura 1 , , 12

Figura 2 , , 13

Figura 3 15

II. Protocolo c questoes para 0 estudo de caso 17

A. Definit;ao do "sistema" do microcomputador 18

T6picos ,., 18

Resumo das questoes para a Set;iio A 21

B. Centralizat;ao c descenrralizat;ao 23

T6picos , __ 23

Resumo das questoes para a Set;iio B __ 26

C. Aplicat;oes instrucionais e administrativas 28

T6picos 28

Resumo das questocs para a Set;ao C 32

D. Aplicat;oes relacionadas a P.L. 94-142 34

T6picos , 34

Resumo das questoes para a Set;iio 0 36

Figura 3.2 Protocolo para eondut;ao de estudos de caso sobre a utilizat;:ao de microcompuladores em educat;ao eSDecia1.

Conduzindo Estudos de Caso: Prepara~ao para a Coleta de Dados 91

E. Educat;ao especial e educal;ao regular 37

T6picos 37

Resumo das questoes para a Set;ao E 40

F. Planejamento para a implementat;ao 41

T6picos 41

Resumo das questoes para a Set;ao F .

III. Plano de analise e relat6rios do esmdo de caso 46

A. Esrudos de caso individuais 4

Informat;oes descritivas 47

Informat;oes explanat6rias ,., 47

Esbot;o dos relat6rios dos estudos de caso individuais 48

B. Analise cruzada de casos 50

Informat;oes descritivas , , 50

Informat;oes explanat6rias 50

Relat6rio de caso cruzado 51

Refer~ncias ao protOcolo de esrudo de caso

Figura 3.2 Continua<;ao

• Procedimentos de campo (credenciais e acesso aos locals do estudo de caso, fontes gerais de informa~6es e advertencias de procedimen­tos).

• Quest6es do estudo de caso (as quest6es especfficas que 0 pesquisa­dor do estudo de caso deve manter em mente ao coletar os dados, uma planilha para disposi~ao espedfica de dados e as fontes em po­tencial de informa<;6es ao se responder cada questao).

• Guia para 0 relat6rio do estudo de caso (resumo, formato de narrati­va e especifica<;ao de quaisquer informa<;6es bibliogrcificas e outras documenta~6es).

Uma nipida analise desses tapicos mosrrara por que 0 protocolo e tao importante. Primeiro, ele lembra ao pesquisador 0 terna do estudo de caso. Segundo, a elaborac;:ao do protocolo forc;a 0 pesquisador a antecipar varios problemas, incluindo 0 de como os relatarios do estudo de caso devem ser completados. Significa, por exempIo, que 0 publico para esses relatarios tera que ser identificado, mesmo antes de 0 estudo de caso ser conduzido. Essa premeditac;ao ajudara a se evitar resultados desastrosos com 0 decorrer do tempo. Cada sec;:ao do prorocolo sera discutida a seguir.

53

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92 Esrudo de Caso

Visao geral do projeto do estudo de caso

A visao geral deve incluir as informac;6es previas sobre 0 projeto, as quest6es imperarivas que estao sendo estudadas e as leituras relevantes a essas ques­toes.

No que diz respeito as informa<;6es previas, cada projeto possui seu pro­prio contexto e perspecriva. Alguns projetos, pOl' exemplo, sao financiados pOl' agencias govemamentais que tern uma missao geral e uma clientela que ne­cessitam ser lembradas ao conduzir a pesquisa. Outros projetos possuem inte­resses teoricos mais amplos ou pesquisas relacionadas - como urn levanta­mento - que, na verdade, levaram ao planejamento da investigac;ao do estudo de caso. Qualquer que seja a situac;ao, esse ripo de informac;ao previa tambem e apresentado, de forma resumida, na sec;ao de visao geral.

Urn elemento relativo ao procedimento desta sec;ao, que contem as infor­mac;6es previas do projeto, euma declarac;ao que voce pode apresentar a qual­quer pessoa que deseje conhecer 0 projeto, seu objetivo e as pessoas envolvi­das na sua realizac;ao e no seu patrodnio. Essa declarac;ao pode ate mesmo ser acompanhada pOl' uma carta de apresemac;ao, a ser enviada aos principais entrevistados e organizac;6es que podem ser 0 objeto do estudo (veja a Figura 3.3 para obter urn exemplo de carta). A questao principal da visao geral, no entanto, deve se dedicar as quest6es imperativas que estao sendo investigadas. Nesse pomo, estao incluidos 0 fundamento logico para seJecionar os locais onde sera realizado 0 estudo, as proposic;6es ou hipoteses que estao sendo examinadas e a relevancia polftica ou teorica mais ampla da investigac;ao. Para todos esses topicos, devem ser mencionadas leituras relevantes ao projeto, e cada membro da equipe do estudo de caso deve tel' acesso a todo 0 material bibIiografico fundamental.

Uma boa visao geral mostrara ao leitor inteligente (isto e, alguem que esteja famiIiarizado com 0 topico geral da investigac;ao) 0 objetivo do estudo de caso e 0 cenario no qual ele ocorrera. De qualquer maneira, boa parte do material bibliogrcifico (como a declarac;ao resumida do projeto) sera necessa­ria para outros objetivos, de forma que a redac;ao da visao geral deve ser vista como uma atividade extremameme util.

Procedimentos de campo

No Capitulo 1, definiram-se previamente os estudos de caso como sendo 0

estudo de eventos dentro de seus contextos na vida real. Isso tern implicac;6es irnportantes para a definic;ao do problema e para 0 projeto do estudo, que ja foram discutidos nos Capftulos 1 e 2.

Para a coleta de dados, no entanto, essa caracterfstica dos estudos de caso tambem traz a tona uma questao importante, para a qual sao essenciais ....nt"lndirnQnt~_ de..camno...r1deo.lJadame~QrQietados. Os dados devem ser

Conduzindo Esrudos de Caso: Prepara<;ao para a Coleta de Dados 93

NATIONAL COMMISSION ON NEIGHBORHOODS 2000 K Street, N.W, Suite 350 Washington, D.C. 2000 202-632-5200

30 de maio de 1978

A quem possa interessar:

Essa carta visa a apresentar , uma pessoa altamente quaJificada com ampla experiencia na area de revitalizac;:ao de bairros e organizac;:ao comunita­ria. foi convocado pela National Commission on Neighborhoods para se juntar a equipe de especiaJistas que esta realizando uma serie de 40-50 eSludos de caso escolhida pela nossa Forc;:a-Tarefa sobre Govemanc;:a.

Basicamente, atraves dessa abordagem de estudo de caso, a Comissao espera identificar e documentar respostas a quesr6es como: 0 que pcrmitc que alguns bair­ros sobrevivam, dadas as poHticas de controle, influencia e invesrimcntos (tanto pu­blica quanto privadas) que funcionam contra eles? Quais sao as prccondic;:6es neces­sarias para sc ampliar 0 numero de bairros nos locais onde epossivel uma rcviralizac;ao bem-sucedida, que beneficia os moradores da regiao? 0 que pode ser feito para pro­mover essas precondic;6es?

Esta carta C dirigida a lfderes de comunidade, a equipe administrativa e aos oficiais da cidade. Devemos lhe pedir que conceda alguns minutos de seu tempo, da sua experi~ncia e da sua paciencia aos nossos entrevistadores. Sua cooperac;:ao e es­sencial para que os estudos de caso oricntem e ap6iem com sucesso as recomenda­c;:6es finais da polftica a ser utiHzada, as quais nossa comissao devera encamjnhar ao Presidente e ao Congresso.

Em nome de todos os vinte membros da Comissao, desejo expressar nossa gra­tidao pela sua ajuda. Caso queira ser incJuido na nossa lista de correspondencias para receber a circular da Comissao e 0 relat6rio final, !lOSSO cntrevistador ficara feliz em reaJizar os procedimentos adequados.

Novamentc, agradec;o sua colaborac;ao.

Sinceramente,

assinatural Senador Joseph F. Timilry Presidentc

Figura 3.3 Carta ilustrativa de apresentac;:ao.

coletados de pessoas e instituic;6es existentes, e nao dentro dos Jimites contro­lados de urn laboratorio, da "santidade" de uma biblioteca ou das Jimitac;6es estruturadas de urn rfgido questionario. Assim, em urn estudo de caso, 0 pes­quisador deve aprender a integral' acontecimentos do mundo real as necessi­dades do plano trac;ado para a coleta de dados; nesse sentido, 0 pesquisador

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94 Estudo de Caso

nao controla 0 ambience da coleta de dados como se poderia controlar ao utilizar outras estrategias de pesquisa.

Observe que, em urn experimenco de laboratorio, "objetos" humanos sa convidados a entrar no laboratorio - isto e, urn ambiente controlado quase que inceiramente pelo pesquisador da pesquisa. 0 objeto, dentro de constran­gimencos eticos e fisicos, deve segulr as instru~oes do pesquisador, que pres­creve cuidadosamence 0 componamenco desejado. De forma similar, 0 "res­pondence" humane a urn questionario de levancamenco nao pode se desviar da agenda estabelecida pelas questoes. 0 componamenco do respondence e reprimido pelas regras de campo do pesqulsador. Eclaro que 0 individuo ou respondence que nao desejarem segulr 0 componamenco presenro podem aban­donar livremence 0 experimenco ou 0 levanramento. Finalmence, no arquiv historico, nem sempre os documencos peninences encontram-se disponiveis, mas 0 pesquisador pode, em geral, inspecionar 0 que existe no seu proprio ritrno e no momenco convenience a sua agenda. Em todas as tres situa~oes, a atividade formal de coleta de dados e controlada atencamence pelo investiga­dor da pesquisa.

Realizar esrudos de caso envolve uma situa~ao totalmence diferente. Ao entrevistar pessoas-chave, voce deve trabalhar em conformidade com 0 hora­rio e a disponibilidade do entrevistado, e nao com 0 seu honirio e disponibili­dade. A natureza da entrevista e muito mais abena, eo entrevistado pode nao cooperar integralmence ao responder as questoes. De forma similar, ao fazer observa~oes das atividades da vida real, voce esra entrando no mundo do indi­viduo que esta sendo estudado, e nao 0 contrario; nessas condi~oes, voce pode precisar fazer preparativos especiais para poder agir como urn ohservador (ou mesmo como urn observador panicipance), e 0 seu componamenco - e nao 0

do sujeito ou do respondente - eo unico que podera ser reprimido. Esse processo de repressao ao realizar a coleta de dados leva a necessidade

de rer procedimencos de campo expHcitos e bem-planejados ao "enfrentar" comportamentos e diretrizes. Imagine, por exemplo, enviar alguem para acam­par; como voce nao sabe 0 que esperar, a melhor prepara~ao e rer os recursos que devem ser preparados. Os procedimencos para 0 campo do estudo de caso devem ser os mesmos.

Com essa orientac;ao em mente, os procedimentos de campo do proroco 10 devem enfatizar as principais tarefas ao coletar os dados, incluindo:

• Obter acesso a organiza~6es ou a entrevisrados-chave. Possulr materiais suficienres enquanto estiver no campo - incluind urn computador pessoal, material para escrever, papel, c1ipes e urn local calmo e preestabelecido para tomar notas em panicular.

t Desenvolver urn procedimento para pedir ajuda e orientac;ao, se ne­cessario for, de pesquisadores ou colegas de outros estudos de caso.

t Estabelecer uma agenda clara clas atividades de coleta de dados que se espera que sejarn conclufdas em penodos especificados de tempo.

Conduzindo Estudos de Caso: Prepara<;ao para a Coleta de Dados 95

t Preparar-se para aconcecimencos inesperados, inclulndo mudanc;as na disponibilidade dos entrevisrados, assim como alterac;6es no humor e na motivaC;ao do pesquisador do estudo de caso.

Sao esses os topicos que podem ser incluidos na seC;ao de procedimencos de campo do protocolo. Dependendo do tipo de estudo que esta sendo realiza­do, os procedimencos poderao variar.

Quanco mais operacionais forem esses procedimentos, melhor. Para to­mar apenas uma questao menor como exemplo, a coleta de dados para 0

estudo de caso resulta, com freqiiencia, no acumulo de varios documentos no local da pesquisa. 0 fardo de carregar essa montanha de documentos pode ser aliviado atraves de duas maneiras. Primeiro, a equipe do estudo de caso pode ter tido a ideia de levar envelopes grandes (utilizados para cones­pondencia), permitindo que eles sejam enviados para 0 escritorio pelo cor­reio, em vez de precisar carrega-los. Segundo, pode-se reduzir 0 tempo no campo de pesquisa ao ler com atenc;ao os documentos; em seguida, pode-se ir ate uma maquina de fotocopia nas proximidades e copiar apenas as pagi­nas relevantes de cada documento. Sao esses os detalhes operacionais que podem elevar a qualidade e a eficiencia global da coleta de dados para 0

estudo de caso.

uestoes do estudo de caso

o ponto central do protocolo e urn conjunto de quest6es substantivas que refletem a investigaC;ao real. Duas caracterfsticas dlstinguem essas quest6es daquelas feitas em urn levantamento (veja a Figura 3.4 para obter urn exem­plo de questao utilizada em urn estudo de urn programa escolar; 0 protocolo completo era formado por dezenas dessas quesr6es).

Primeiro, as quest6es sao feitas a voce, 0 pesquisador, nao ao respondente. Sao, em essencia, os lembretes que voce devera utilizar para lembrar das in­forma~oes que precisam ser coletadas e 0 motivo para coleta-las. Em alguns exemplos, as perguntas especificas tambem podem servir como avisos ao fazer as questoes durante a encrevista para 0 estudo de caso; 0 objetivo principal dessas questoes, no entanto, emanter 0 pesquisador na pisra cena amedida que a coleta avanc;a.

Segundo, cada quesrao deve vir acompanhada de uma lista de fontes pro­vaveis de evidencias. Tais fomes podem incluir os nomes de cada encrevisrador, os documemos ou as observa<;6es. Esse caminho entre as questoes de interesse e as provaveis fomes de evidencias eextremameme util ao colerar os dados. Antes de iniciar uma dererminada entrevista, por exemplo, 0 pesquisador de urn estu­do de caso pode rapidameme rever as principais quest6es que a entrevista cleve abranger (novamenre, essas quest6es formam a estrutura de uma investiga<;§o e nao devem ser feitas literalmenre ao emrevistaclo).

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96 Estudo de Caso

Q. Como 0 programa e organizado, quem e empregado por ele, quando as dec.i­

soes slio tomadas e quem as toma?

Fontes de dados:

- Diretor do programa _ Supervisor imediato do diretor

- Diagrama organizacional - Descric;6es do trabalho

Exemplos de estrategias: _ Obter ou desenhar urn diagrama organizacional que mostre a localizac;ao d

escrit6rio do programa. _ Ustar 0 tipo e 0 nUmero de pronssionais instrucionais e mio-insoucionais

(incluindo especialistas, coordenadores, diretores _ A quem 0 diretor do programa apresenta 0 relat6rio? _ Quem apresenta relat6rios ao diretor do programa?

_ Quem 0 diretor do programa supervisiona? _ Que tipo de decis6es 0 diretor precisa formalmente aprovar e com quem? _ Criar urn diagrama organizacional do prograrna (se ja nao existir urn) que

mosua os diretores e quaisquer intennediarios (tanto em escolas ou no escrit6rio do programa) e a relac;lio que tern com os diretores da escola, pro­

fessores titulares e professores especiais. _ Preencher a tabela seguinte para estabelecer a ordem na qual ocorrem os se­

guintes acontecimentos e decis6es. (continua)

Figura 3.4 Exemplo de questao de proroco!o.

As quest5es no protocolo do estudo de caso devem retratar 0 conjunto inteiro de interesses a partir do projeto inicial - mas somente aqueles que serao tratados ern casos unicos, e nao ern outros casos. Na verdade, efunda­mental fazer a distin<;ao entre os n(veis de quest6es quando urn caso linico fizer parte de urn estudo de casos multiplos, ja que pode haver cinco n(veis de quest6es - sendo que somente as dais primeiros podem ser tratados pelo caso unico:

Nfvel 1: quest5es feitas sobre entrevistados especfficos.

Nivel2: questoes feitas sobre casos individuais (sao estas as quest6es em urn prorocolo de estudo de caso).

N(vel 3: questoes feitas sobre as descobertas ao lange de casos multi­plos.

onduzindo Escudos de Caso: Prepara<;ao para a Coleta de Dados 97

Ordem

Mes conclu(do no calendtirio de 1994

Mes concluldo no calenddrio de 1993

Cargo das pessoas

envolvidas nas decisoes

Detenninar 0 or<;amento

Contratar ou dispensar pessoal

Designar equipe as escolas

Comprar materiais e equipamentos

Decidir temas e notas

Testae estudantes

Selecionar estudantes

Selecionar escolas

Avaliar programas escolares

Prepara<;iio e submissiio da aplica<;ao

Figura 3.4 (Continua~ao)

Nivel4: questoes feitas sobre 0 estudo inteiro - por exemplo, recorrer a inforrna<;oes alem de casos multiplos e incluir outra literatura que possa vir a ser revista.

N{vel5: questoes normativas sobre recomenda<;6es politicas e conc1u­soes, indo alem do estrito escopo do estudo.

Pode ocorrer uma confusao considenlvel entre esses niveis; logo, e fun­amental que voce os compreenda bern.

Os primeiros dois niveis referem-se ao caso unico (mesmo se ele fizer parte de urn escudo de casos mUltiplos). Uma confusao muito comum que se

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Conduzindo Estudos de Caso: Preparac;ao para a Coleta de Dados 9998 Esrudo de Caso

faz entre esses dois niveis e que a fonte para a coleta de dados pode estar no N(vel I} ao passe que a unidade de analise do seu estudo de caso pode estar no Nivel 2 _ urn projeto frequentemente utilizado quando 0 caso for sobre uma organizalfao (Nivel 2). Muito embora a sua colera de dados possa contar intei­ramente com informa~6es provenientes do Nfvel 1, suas conclus6es nao po­dem se basear exclusivamente em entrevistas como fonte de informa~6es (nesse caso, voce reria colerado informa~6es sobre como os individuos percebiam a organiza~ao, mas nao sobre a organiza~ao em si).

No entanto} a situa~ao inversa tambem pode ser verdadeira. Seu estudo de caso pode ser sobre urn individuo, mas as fontes de informa~ao sobre ele podem incluir registros de arquivos (p.ex., arquivos pessoais ou hist6ricos es­colares) do nivel organizacional. Nessa situac;ao, voce tambem desejaria evitar ter como base para suas conclus6es sobre esse individuo apenas fontes organizacionais de informalf6es. A Figura 3.5 ilustra essas duas situa~6es, nas quais a unidade de analise para 0 estudo de caso ediferente da unidade de analise para a fonte de coleta de dados.

Os outros niveis tambem devem ser perfeitamente compreendidos. Vma questao de caso cruzado, par exemplo (Nfvel 3), pode ser se escolas maiores sao mais receptivas que escolas menores, ou se estruturas burocraticas com­plexas tornam as escolas maiores malS inc6modas e menos receptivas. 0 protocalo para 0 caso linko, no entanto, pode tratar apenas da receptividade de uma escola especifica. 0 que nao pode ser perguntado e se uma combi­nac;ao como essa parece ser mais receptiva do que aquela encontrada em outras escolas. Apenas uma analise cruzada de caso pode abranger esse t6pi­co. Da mesma forma, as quest6es nos Nfveis 4 e 5 tampouco podem ser respon­didas ao realizar urn estudo de caso individual, e voce deveria levar essa limita-

Fonte de coleta de dados Conclusoes

De wn individuo De uma organizac;:ao do estudo

Sobre wn individuo

Comporramento individual Atitudes individuais Percepc;:oes individuais

Registros de arqwvo • Se 0 estudo de caso for

wn individuo ~ "5' ~ Como funciona a Se 0 estudo de

Sobre uma organiZac;:iio

organiz.ac;:ao Por que funciona a

Politicas de equipe Resultados da organizac;:ao

caso for wna organiZac;ao

organizac;:iio

Figura 3.5 Projeto versus coleta de clados: unidades diferentes de analise. a()NTF.: COSMOS Corporation

siderac;ao ao incluir essas quest6es no protocolo do estudo de caso. Lembre-se: o protoco[o epara a coleta de dados a partir de um caso unico e ele nao tem par objetivo servir ao projeto inteiro.

As quest6es do protocolo tambem podem incluir "planilhas de coleta de dados" vazias (para obter mais detalhes, veja Miles & Huberman, 1984). Sao estes os esbo~os de uma tabela, ordenando urn conjunto espedfico de dados. o esbo~o apresenta os cabe~alhos exatos das linhas e das colunas, indicando as categorias de dados que devem ser tratadas. 0 trabalho do pesquisador do estudo de caso e coletar os dados suscitados pela tabela. A provisao dessas planilhas auxilia 0 pesquisador de varias formas. Primeiro, obriga-o a identifi­car exatamente quais dados estao sendo procurados. Segundo, garante que as infonna~oes paralelas serao coletadas em locais diferentes quando se estiver utilizando urn projeto de casos multiplos. Finalmente, auxilia na compreensao do que sera feito com os dados ap6s a coleta.

Guia para 0 relat6rio de um estudo de caso

Esse elemento geralmente nao se encontra presente na maioria dos projetos de estudo de caso. Os pesquisadores 56 costumam pensar no esboc;o, no for­mato ou no publico para 0 qual 0 relatorio do estudo de caso se destina apos os dados terem side coletados. Ainda assim, algum planejameDto nesse esra­gio preparatorio - admitidamente fora de ordem no planejamento tfpico da maloria das pesquisas realizadas - mostra que urn resumo experimental pode constar no protocolo do estudo de caso (no Capitulo 6 deste livro, encontra­se uma discussao detalhada dos possiveis topicos para 0 relat6rio do estudo de caso).

Novamente, uma razao para utilizar a sequencia linear tradicional tern a ver com as praticas utilizadas por outras estrategias de pesquisa. Em geral, os pesquisadores nao se preocupam com 0 relat6rio de urn experimento depois que ele tenha sido conclufdo, pois 0 formato do relat6rio e seu publico provci­vel serao impostos por uma publica~ao academica. Dessa forma} a maioria dos experimentos segue urn esquema semelhante: apresenta~ao das quest6es e das hip6reses; descri~ao do projeto da pesquisa} do aparato e dos procedimen­tos de coleta de dados; divulga~ao dos dados coletados; e discussao das desco­benas e conclus6es.

Infelizmente, os relat6rios de estudo de caso nao possuem esses esque­mas uniformememe aceitaveis. Nem acabam} em muitos exemplos, nas pagi­nas de publicac;6es academicas (Feagin, Orum, & Sjoberg, 1991, p. 269-273). Por essa razao, cada pesquisador deve se ater; durante a realizac;ao de urn estudo de caso, ao planejarnemo do relatorio final de urn estudo. Nao e urn problema muito facil de !idar.

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100 Estudo de Caso

Alem disso, 0 protocolo tambem pode indicar a quantidade de docu­mentac;ao utilizada no relat6rio do estudo. Eprovavel que 0 trabalho de campo leve a quantidades enormes de evidencias documentais, sob a forma de relat6rios publicados, memorandos, documentos coletados no local da pesquisa e outros tipos de publicac;oes. 0 que devera ser feito com essa do­cumentac;ao para divulgac;ao posterior? Na maioria dos estudos, os docu­mentos sao enviados para publicac;ao e raramente retornam. Ainda assirn, tal documentac;ao e uma parte importante do "banco de dados" para urn estudo de caso (veja 0 Capitulo 6) e nao deveria ser ignorada ate que todo 0

estudo de caso tenha sido conclufdo. Vma possibilidade e incluir no relat6­rio uma bibliografia comentada na qual cada urn dos documentos disponi­veis aparece discriminado. Os comentarios ajudariam 0 leitor (ou 0 pesqui­sador, algum tempo depois) a saber quais documentos poderiam ser rele­vantes em alguma investigac;ao adicional.

Em resumo, ate oude for possivel, a esquema basico do relatorio do estu­do de caso deveria fazer parte do protocolo. Isso facilitaria a coleta de dados relevantes, na forma apropriada, e reduziria a possibilidade de ocorrer outra visita ao local do estudo. Ao mesmo tempo, a existencia de urn esquema como esse nao deveria significar uma rigida obediencia a urn protocolo preconcebi­do. De fato, 0 planejamento do esrudo de caso pode se alterar como resultado da coleta inicial de dados, e voce e incentivado a pensar que essas flexibilida­des _ se utilizadas adequadarnente e sem qualquer visao tendenciosa - sejam uma vantagem da estrategia do esrudo de caso.

o ESTUDO DE CASO PILOTO

A preparac;ao final para se realizar a coleta de dados e a realizac;ao de urn esrudo-piloto. 0 caso-piloto pode ser escolhido par varias razoes que nada tern a ver corn os criterios usados para se selecionar os casos finais no projeto de esrudo de caso. Por exemplo, os informantes constantes ao local do estudo­piloto podem ser extraordinariamente compatfveis e acessiveis, ou 0 local pode ser geograficarnente conveniente, ou entao pode conter uma quantidade ex­traordinaria de dados e documentos. Vma outra possibilidade e que 0 local­piloto represente 0 mais complicado dos casos reais, de forma que aproxima­damente todas as questoes relevantes da fase de coleta de dados serao encon­

rradas neste local. o esrudo de caso piloto auxilia os pesquisadores na hora de aprimorar os pIanos para a coleta de dados tanto em relaC;ao ao conteudo dos dados quanta aos procedimentos que devern ser seguidos. Nesse sentido, e importante ob­servar que urn teste-piloto nao eurn pre-teste. 0 caso-piloto e utilizado de uma maneira mais formativa, ajudando a pesquisador a desenvolver a alinhamen­to relevante das quest6es - possivelmente ate providenciando algumas (.ll1rin;;lcOes conceptuais para 0 projeto de pesquisa. Em contrapartida, a pre­.

Conduzindo Estudos de Caso: Preparar;ao para a Coleta de Dados 101

teste e a ocasiao para uma "ensino geral" formal, na qual 0 plano pretendido para a coleta de dados eutilizado de uma forma tao fiel quanto possivel como rodada final de testes.

o estudo de caso piloto pode ser tao importante que se pode destinar mais recursos a essa fase da pesquisa do que a coleta de dados de qualquer caso verdadeiro. Por essa razao espedfica, varios subt6picos merecem ser dis­cutidos em maiores detalhes: a selec;ao dos casos-piloto, a natureza da inves­tigaC;ao para os casos-piloto e a natureza dos relat6rios feitos a panir deles.

Sele~ao dos casos-piloto

Em geral, a conveniencia, 0 acesso aos dados e a proximidade geografica po­dem ser os principais criterios na hora de se selecionar 0 caso ou os casos­piloto. Isso devera levar ern considera~ao uma relac;ao menos estruturada e mais duradoura que deve ser desenvolvida entre os entrevistadores e 0 pes­quisador do estudo de caso e que pode ocorrer nos locais "reais" do estudo de caso. 0 local usado pelo caso-piloto poderia, por conseguinte, assumir 0 papel de urn "laborat6rio" para os pesquisadores, permitindo-os observar fenome­nos diferentes de muitos angulos diferentes e testar abordagens diferentes ern uma base experimental.

Par exemplo, urn estudo das inovac;6es tecnol6gicas em servic;os locais (Yin, 1979, 1981c) 1982c) teve, na verdade, sete casos-piloto, cada urn deles tendo como foco urn tipo diferente de tecnologia. Quatro casos riveram como area de estudo a mesma regiao metropolitana a qual a equipe de pesquisa visitou primeiro. Os outros tres, no entanto, ocorreram em uma outra cidade e foram a base para urna segunda serie de visitas. Os casos nao foram escolhi­dos por causa de suas tecnologias distintas ou por qualquer outra razao impe­rativa. 0 principal criterio, juntamente com a proximidade, era 0 fato de que o acesso aos locais da pesquisa foi facilitado por algurn contato pessoal previa por pane da equipe de pesquisa. Finalmente) os entrevistadores nos locais tambem eram solidarios anoc;ao de que os pesquisadores encontravam-se em urn estagio prematuro da pesquisa e nao possuiam uma agenda fixa de ativi­dades.

Natureza da investigat;ao-piloto

A investigac;ao para 0 caso-piloto pode ser muito mais ampla e menos direcionada do que a plano final para a coleta de dados. Alem disso, a inves­tigac;ao pode incluir tanto quest6es imperativas quanta metodo16gicas.

No exemplo mencionado acima, a equipe de pesquisa utilizou os sete casas-pilato para aperfeic;oar sua conceituac;ao dos diferentes tipos de tecnologias e seus efeitos organizacionais relacionados. Os estudos-piloto fo­

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102 Estudo de Caso

ram feitos antes da sele~ao de tecnologias espedficas para a coleta final de dados - e antes da articula~ao final das proposi~6es te6ricas do estudo. Dessa forma, os dados do caso-piloto forneceram uma visao consideravel das ques­t6es basicas que estavam sendo estudadas. Essa informa~ao foi utilizada jun­tamente com a revisao que ocorria no momenta da revisao da literatura rele­vante ao caso, de forma que 0 projeto final de pesquisa foi orientado tanto pelas teorias predominantes quanto por urn conjunto recente de observa~6es empiricas. As duplas fontes de informa~ao ajudam a assegurar que 0 estudo a ser realizado reflita quest6es poHticas ou te6ricas importantes, assim como as pontos relevantes a casos contemporaneos.

Sob 0 ponto de vista metodol6gico, 0 trabalho realizado nos locais do caso-piloto podem fornecer algumas informa~6es sobre as quest6es de campo relevantes e sobre a logfstica da investiga~ao de campo. Nos locais onde foi realizado 0 estudo-piloto sobre tecnologia, urna duvida logfstica muito impor­tante era saber se primeiro se deveria observar a tecnologia em a~ao ou se, antes, se deveria coletar as informa~6es relativas as quest6es organizacionais predominantes. Essa escolba foi influenciada por urn debate extra sobre a disposi~ao da equipe de campo: se a equipe consistia em duas ou mais pesso­as, quais atribui~6es exigiarn que a equipe trabalhasse junta e quais atribui­~6es poderiam ser concluidas separadamente? Foram testadas algumas varia­~6es nesses procedimentos durante os estudos de caso piloto, os acordos fo­ram reconhecidos e, ao fim, foi desenvolvido urn procedimento satisfat6rio para 0 plano formal de coleta de dados.

Relat6rio de casos-piloto

Os relat6rios dos casos-piloto sao de grande valor principalmente aos pesqui­sadores e precisam ser redigidos de forma clara, mesmo no estilo de urn me­morando. Uma diferen~a entre os relat6rios-piloto e os relat6rios de estudos de caso verdadeiros e que os relat6rios-piloto devem ser objetivos em rela~ao as li~6es assimiladas tanto para 0 projeto de pesquisa quanto para os procedi­mentos de campo. Os relat6rios dos casos-piloto devem conter ate mesmo subse~6es sobre esses tapicos.

Se e planejado rnais do que urn simples caso-piloto, 0 relat6rio de urn caso-piloto tambern pode indicar as modifica~6es que devem ser testadas no pr6ximo caso-piloto. Em outras palavras, 0 relat6rio pode conter a agenda para 0 caso-piloto seguinte. Se for feito urn numero suficiente de casos-piloto dessa maneira, a agenda final pode se tomar, de fato, urn born prot6tipo para o protocolo final de estudo de caso.

Conduzindo Estudos de Caso: Preparac;ao para a Coleta de Dados 103

RESUMO

Este capitulo revisou as prepara~6es que se deve fazer para a coleta de dados. Dependendo do escopo do estudo de caso - se sera urn local ou varios locais de pesquisa ou se sera urn pesquisador ou varios - as tarefas de prepara~ao

serao igualmente f,keis ou complexas. Os topicos principais foram as habilidades desejadas do pesquisador do

estudo de caso, a prepara~ao e 0 treinamento dos pesquisadores para urn estudo de caso espedfico, a natureza do protocolo do estudo e 0 papel e 0

objetivo de urn caso-piloto. Todos os estudos de caso devem seguir essas eta­pas em maior ou menor grau, dependendo da averigua<;ao espedfica que se esta fazendo.

Da mesma forma que 0 controle de outros assuntos, a destreza com que essas atividades devem ser conduzidas melhorara com a pratica. Aconselha­se que voce complete urn estudo de caso relativamente simples antes de ten­tar realizar urn mais complexo, como algum envolvendo 0 ponto de vista empresarial. Com a conc1usao bem-sucedida de cada estudo de caso, essas tarefas preparat6rias podem ate se tornar de segunda natureza. Alem disso, se a mesma equipe de estudo ja realizou varios estudos junta, ela trabalhara com uma eficiencia e uma satisfa~ao profissional cada vez maiores nos casos que se seguirem.

EXERCICIOS

1. Identificando habiLidades para se realizar estudos de caso. Liste as varias habilidades que sao importantes que urn pesquisador de es­tudo de caso possua. Voce conhece alguma pessoa que ja teve exito ao realizar pesquisa de estudo de caso? Quais sao os pontos fortes e fracos que ela possui como investigadora de pesquisa? As habilida­des sao parecidas com aquelas que voce discriminou?

2. Desenvolvendo em retrospectiva umprotocolo ''velho''. Escolha urn dos estudos de caso citados nos QUADROS deste livro. Para apenas urn dos capftulos nesse estudo de caso, planeje 0 protocolo que teTia apresentado as descobenas agora encontradas no capitulo. Quais quest6es teriam sido feitas pelo protocolo? Quais os procedimentos adotados para se responder essas quest6es e se coletar os dados relevantes?

3. Desenvolvendo um protocolo "novo". Escolha algum fenomeno da sua vida universitaria que necessite de explana~ao. Como exemplo, voce poderia estudar por que a universidade mudou recentemente algu­rna politica interna, ou como 0 seu departamento toma as decis6es envolvendo exigencias curriculares.

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104 Estudo de Caso

Para esse fen6meno, elabore urn protocolo de estudo de caso para coletar as informa~6es necessarias para fomecer uma explana~ao adequada. Quem voce entrevistaria? Quais documentos buscaria? Que observa~6es, se houver alguma, voce faria? Como tudo isso se relacionaria com as quest6es-chave do seu estudo?

4. Conduzindo 0 treinamento para a pesquisa do estudo de caso. Descre­va as principais maneiras nas quais a prepara~ao e 0 treinamento para realizar urn projeto de esrudo de caso sao diferentes daquelas para realizar projetos que utilizem outrOS tipos de estrategias de pesquisa (p.ex., levantamentos, experimentos, pesquisas historicas e analise de arquivos). Desenvolva uma agenda de treinamento para se preparar para urn estudo de caso que voce possa estar pensando em fazer, no qual duas ou tres pessoas colaborarao.

5. Selecionando um caso para se Iazer um estudo-piloto. Defina as carac­terfsticas desejadas para urn caso-piloto como prepara<;ao para urn projeto de pesquisa de urn novo esrudo de caso. Como voce faria para entrar em cantata com esse caso e de que forma 0 utilizaria? Descreva por que voce pode querer apenas urn local-piloto, em opo­si~ao a dois ou rnais locais.

•••• capitulo

Conduzindo estudos de caso: coleta

de evidencias

As evidencias para urn estudo de caso podem vir de seis fontes distintas: dQ~umento.s...re.&istros em arQ1l.i.Yo, entrevistas, observa¢o direta, observa­<;ao partiqpaIlte e anefatos ffsicos. 0 usa dessas seis fontes requer habilida­dese procedimemos metodol6gicos sutilmente diferentes.

Alem da atenc;ao que se da a essas fames em particular, alguns princf­pios predominantes sao importames para 0 trabalho de coleta de dados na ealizac;ao dos estudos de caso. Inclui-se aqui 0 usa de:

a) vanas fontes de evidencias, ou seja, evidencias provernentes de duas au mais fomes, mas que convergem em rela<;ao ao mesmo conjunro de fatos au descobenas;

b) urn banco de dados para a estudo de caso, iSLO e, urna reurnao formal de evidencias distintas a partir do relat6rio final do eSlUdo de caso;

c) urn encadeamento de evidencias, isro e, ligac;oes explicitas entre as quest6es feitas, os dados coletados e as conclusoes a que se chegou.

A incorpora<;ao desses prindpios na investigac;ao de urn estudo de caso au­rnentara substancialmente sua qualidade.

Acoleta de dados para os esrudos de caso pode se basear em muitas fontes de evidencias. Discutern-se seis fontes importantes neste capitulo: documen­tac;ao, registros em arquivos, entrevistas, observac;ao direta, observac;ao parti­cipante e artefatos ffsicos. Urn dos objetivos deste capftulo e revisar, brevemen­te, as maneiras atravcs das quais e posslvel coletar dados a partir dessas fontes.

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106 Esrudo de Caso

segundo objetivo e apresentar tres princfpios imponantissimos da coleta de da­dos, independenremente da(s) fonte(s) de evidencias utilizada(s).

No que diz respeito ao primeiro propasito do capitulo, a revisao das seis fontes sera necessariamente breve porque varios livros-texto e artigos de pes­quisa - como a abrangente pesquisa sobre metodos de campo de Schatzman e Strauss (1973), Murphy (1980), e Webb, Campbell, Schwartz, Sechrest, e Grove (1981) - ja contem informac;6es semelhantes. Esses livros sao faceis de utilizar e discutir tecnicas de coleta de dados relevantes aos estudos de caso, incluindo a logistica de planejamento e conduC;ao do trabalho de campo (veja Fiedler, 1978). De forma similar, ha tambem muitos traball10s sobre tapicos relaciona­dos que abordam a questao de uma forma mais especializada. Sao exemplos desse tipo:

• Estudos organizacionais e gerenciais: Bouchard (1976) e Webb e Weick (1979).

• Observafuo participante: McCall e Simmons (1969), Lofland (1971) e Jorgenson (1989).

• Metodos antropol6gicos: Pelto e Pelto (1978), NaroII e Cohen (1973) e Wax (1971).

• Tecnicas observacionais: Douglas (1976), Johnson (1976) e Webb et al. (1981).

• Psicologia cUnica: Bolgar (1965) e Rothney (1968). • Avaliafuo de programa: King, Morris e Fitz-Gibbon (1987). • Tecnicas hist6ricas e a utilizafuo de dacumentos: Barzun e Graff (1985).

o leitor que necessitar de detalhes adicionais sobre a coleta de dados deve consultar urn desses trabalhos.

A maioria deles, no entanto, nao consegue trabalhar com 0 estudo de caso como uma estrategia de pesquisa separada, e todos tendem a tratar a coleta de dados isoladamente dos outros aspectos do processo de pesquisa. Pouco e dito, por exemplo, sobre como essas tecnicas podem ajudar no rrata­mento dos problemas com 0 projeto enumerados no Capitulo 2: validade do constructo, validade interna, validade externa e confiabilidade. Por essa ra­zao, esse capitulo da uma enfase especial ao seu segundo propasito, a discus­sao dos rres prindpios da coleta de dados.

Tres princfpios foram muito ignorados no passado e hoje, por fim, sao bastante discutidos:

a) a utilizac;ao de varias fontes de evidencias, e nao apenas uma; b) a cria<;ao de urn banco de dados para 0 estudo de caso; e c) a manuten<;ao de urn encadeamento de evidencias.

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 107

Os princfpios sao extremamente importames para realizar estudos de casos de alta qualidade, sao fundamentais para todas as seis fontes de evidencias e deveriam ser respeitados sernpre que passive!. Em particular, esses principios, como se observou no Capitulo 2 (veja a Figura 2.5), ajudarao 0 pesquisador a tratar dos problemas de validade do constructo e de confiabilidade.

SEIS FONTES DE EVIDENCIAS

As fontes de evidencias discutidas aqui sao a documenrac;ao, os registros em arquivos} as entrevistas, a observac;ao direta, a observac;ao participante e os arrefatos fisicos. Voce deve estar dente, entretanto, que uma lista completa de fontes possives pode ser bastante extensa - incJuindo filmes} fotografias e videoteipes; tecnicas projetivas e testes psicol6gicos; proxemica'; cinesica··; ernografia de "rna"; e hist6rias de vida (Marshall & Rossman, 1989).

Vma visao geral dessas seis fontes principais apresenta seus pontos fortes e fracos de forma comparativa (veja a Figura 4.1, a seguir). Voce deve obser­var, de imediato, que nenhuma das fontes possui uma vantagem indiscutivel sabre as outras. Na verdade, as vanas fontes sao altameme complememares} e urn born estudo de caso utilizara 0 maior numero possivel de fomes (veja a discussao nesse capiruJo sobre Varias fantes de evidencias).

Documenta~ao

Exceto para as estudos que investigam sociedades que nao dominavam a arte da escrita, e provavel que as informac;6es documentais sejam relevantes a to­dos os tapicos do estudo de caso. Esse tjpo de informa<;ao pode assumir muitas farmas e deve ser 0 objeto de planas explicitos da coleta de dados. Por exem­plo, considere os seguintes documentos:

• Canas, memorandos e outros tipos de correspondencias. • Agendas, avisos e minutas de reuni6es, e outros relatarios escritos de

eventos em gera!. • Documentos administrativos - propostas, relatarios de aperfeic;oamen­

tos e outros documentos internos. • Estudos au avalia<;6es formais do mesmo "local" sob estudo. • Recortes de jomais e outros artigos publicados na miilia.

. N. de T. Estudo dos aspectos culturais. comportamentais e socio16gicos do espac;o fisko entre os individuos.

··N. de T Estuclo do movimento Corporal nao verbal na comunicaC;a~.

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108 Estudo de Caso

FONTE DE EVID~ClAS PONTOS FORTES PONTOSFRACOS

Documenta~iio oestavel- pode ser revisada imimeras vezes

°discreta - nao foi criada como resultado do estudo de caso

°exata - contem nomes, referencias e detalhes exatos de urn evento

oampla cobmura ­ longo espac;o de tempo, muitos eventos e muitos ambientes distintos

ocapacidade de recuperac;ao­pode ser baixa

oseletividade tendenciosa, se a coleta nao estiver completa

°relato de visi:ies tendencio­sas - reflete as ideias precon­cebidas (desconhecidas) do autor

°acesso - pode ser delibera­damente negado

Registros em arquivos o[Os mesmos mencionados para documenta¢o]

opreclsos e quantitativos

o[Os mesmos mendonados para documenta¢o]

oacessibilidade aos locais gra~as a razi:ies particulaTes

Entrevistas odirecionadas - enfocam dire­tamente 0 topico do estudo de caso

'perceptivas - fomecem infe­rl!ncias causais percebidas

ovisiio tendenciosa devido a questi:ies mal-elaboradas

• Tespostas tendenciosas oocorrem imprecisi:ies devido amemoria fraca do entrevistado

oreflexibilidade - 0 entrevis­cado dol ao entrevistador 0

que ele quer ouvir

Observac;oes diretas orealidade - tratam de aeon­tecimentos em tempo real

°contextuais - tratam do contexto do evento

°consomem muito tempo oseletividade - salvo ampla cobertura

oreflexibilidade - 0 aconteci­mento pode ocorrer de fonna diferenciada porque esta sendo obselVado

• custo - horas necessarias peJos obse1Vadores humanos

Obse1Va~o participante o[Os mesmos mencionados para observafiio direta]

operceptiva em relac;iio a comportamentos e razoes interpessoais

o[Os mesmos mendonados para observafiio direta]

°visao tendenciosa devido a manipula~o dos eventos pOT parte do pesquisador

Anefatos fisicos ocapacidade de percepc;ao em relac;ao a aspectos culrurais

• capacidade de percepc;ao em Telac;ao a operac;oes tecnicas

oseletividade • disponibilidade

Conduzindo Escudos de Caso: Coleta de Evidencias 109

A utilidade desses e de outros tipos de documentos nao se baseia na sua acunicia necessaria ou na ausencia de interpreta~oes tendenciosas que se percebe neles. Na verdade, os documemos devem ser cuidadosamente utili­zados e nao se deve toma-Ios como registros literais de eventos que ocorre­ram. Poucas pessoas percebem, por exemplo, que ate mesmo a "transcri~ao" dos interrogatorios formais do congresso norte-americano e deliberadamen­te editada - pela equipe do congresso e por outras pessoas que os testemu­nharam - antes de serem impressas em sua versao final. Em autra area, os historiadores que trabalham com documentos primarios tambern devem fi­car atentos avalidade do documento.

Para os estudos de caso, 0 uso rnais importante de documentos ecorro­borar e valorizar as evidencias oriundas de outras fontes. Em primeiro lugar, os documentos sao Ilteis na hora de se verificar a grafia correta e os cargos ou nomes de organizac;oes que podem ter sido mencionados na entrevista. Segundo, os documentos podem fornecer outroS detalhes espedficos para corroborar as informa~6es obtidas atraves de outras fontes. Se uma prova documental contradizer algum dado previo, ao inves de corrobora-lo, 0 pes­quisador do estudo de caso possui razoes claras e espedficas para pesquisar o ropico de estudo com mais profundidade. Terceiro, e possivel se fazer inferencias a partir de documentos. Por exemplo, ao observar a lista de dis­tribui~ao de urn documento especifico, voce pode encontrar novas quest6es sobre comunicac;oes e redes de contato dentro de uma organizac;ao. Essas inferencias, no entanto, devem ser tratadas somente como indicios que va­lem a pena serem investigados mais a funda, em vez de serem tratadas como descobertas definitivas, ja que as inferencias podem se revelar mais tarde como sendo falsas indica~oes.

Devido ao seu valor global, os documentos desempenham urn papel 6bvio em qualquer coleta de dados, ao realizar esrudos de caso. Buscas siste­maticas por documentos relevantes sao importantes em qualquer planeja­mento para a coleta. Por exemplo, durantes as visitas de campo, voce deve dividir 0 tempo para fazer visitas as bibliotecas locais e a outros centros de referencias. Voce deve tambem obter permissao para examinar os arquivos de qualquer organiza~ao que esta sendo esrudada, inel uindo a revisao de documentos que talvez ja tenham side postos no deposito. 0 agendamento dessas atividades de recuperac;ao e uma questao geralrnente flexivel, inde­pendente de outras atividades de coleta de dados, e a busca, em geral, pode ser feita da maneira e na hora que voce achar melhor. Por essa razao, ha pouca desculpa para omitir uma revisao completa das evidencias documen­tais existemes (veja 0 QUADRO 15).

Figura 4.1 Seis fontes de evidencias: ponros fones e ponros fracas.

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110 studo de Caso

QUADR015 Utilizando dOCUDlentos na pesquisa de estudo de caso

Algumas vezes, um estudo de caso pode tratar de urn projeto exemplar ­como urn trabalho de pesquisa ou uma atividade financiada por entidades federais. Nesse tipo de estudo de caso, e provavel que muita dessa documen­tat;aO seja importante.

Esse tipo de estudo de caso foi conduzido por Moore e Yin (1983), que examinaram nove projetos distintos de P&D, a maioria deles em ambientes academicos. Para cada projeto, os pesquisadores coletaram docurnentos como propostas de projeto, relatorios provis6rios e artigos nao-publicados, manus­critos e reimpress6es completos, correspondencia entre a equipe de pesquisa e seus patrocinadores, e as agendas e resumos das reuni6es do comite consul­tivo. Deve-se prestar aten~ao a minutas diferentes do mesmo documento, uma vez que modifica~oes sutis, em geral, refletem aprirnorarnentos conside­r<iveis no projeto.

Esses documentos eram utilizados ern conjunto com outras fontes de informat;oes, como entrcvistas cia equipe de pesquisa e observa<;6es das ati­vidades e do trabalho do projeLo de pesquisa. Somente quando todas as evidencias produziram urn quadro consistente [oi que a equipe de pesquisa se convenceu de que um evento em particular tinha ocorrido de uma deter­minada maneira.

Ao mesmo tempo, muitas pessoas tem-se mostrado cdticas em relac;ao a suposta confianc;a em demasia que se coloca nos documentos na pesquisa do estudo de caso. Isso oeorre provavelmente porque a pesquisador ea usaI pode entender de forma equivoeada eertos tipos de documento - como as propos­tas para projetos au programas - em relac;ao aqueles que possuem a verdade absoluta. De fato, eimportante, ao se revisar os documentos, compreender­se que eles foram escritos com algum objetivo especifico e para algum publi­co especffico, diferentes daqueles do estudo de caso que esta sendo realiza­do. Nesse sentido, a pesquisador eurn observador vicario, e as provas docu­mentais refletem uma cerra comunicac;ao entre outras partes que estao ten­tando alcanc;ar outros objetivos. Ao tentar constantemente identificar essas condic;oes, e menos provavel que provas documentais a induzam ao eno e muito mais provavel que voce seja corretamente criterioso ao interpretar 0

conteudo dessas evidencias. 1

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 111

Registros em arquivo

Para muitos estudos de caso, as registros em arquivo - geralmente em sua forma computadorizada - tambem podem ser muito importantes. Podem ser encontrados como:

• Registros de servi~o, como aqueles que registram 0 mimero dos clien­tes atendidos em urn determinado periodo de tempo.

• Registros organizacionais, como as tabelas e as orc;amentos de organi­za<;6es em urn perfodo de tempo.

• Mapas e tabelas das caracterfsticas geograficas de urn lugar. • Listas de nomes e de outros itens importantes. • Dados oriundos de levantamentos, como 0 censo demografico ou os

dados previamente coletados sobre urn "local". • Registros pessoais, como diarios, anota<;6es e agendas de telefone.

Esses e outros registros em arquivo podem ser utilizados em conjunto com outras fontes de informaC;ao ao se produzir urn estudo de caso (veja 0

QUADRO 16). No entanto, ao contrario das evidencias documentais, a utili­dade desses registros ira variar de urn estudo de caso para outro. Para alguns esrudos, os registros podem ser tao importantes que acabam se transforman­

QUADR016 Uso de fontes em arquivo para evidencias quantitativas e qualitativas

Fontes em arquivo tarnbem apresentam infonnat;oes quantitativas e qualitati­vas. Dados numericos (infonna~6es quanticativas) em geral sao muito impor· tantes e encontrarn-se disponiveis para urn escudo de caso; os dados nao· numericos (infonnat;oes qualitativas) tambem sao importantes.

Dezessete estudos de casos, ern Case Studies of Medical Technologies, fo­ram supervisionados pelo Office of Technology Assessment, do governo ame­ricano, entre 1979 e 1981 e Uustram bern a integra~ao de informa<;oes quan­titativas e qualitativas, oriundas principalmente de evidencias arquivadas de urn unico tipo: relatorios de experimentos cientificos. Cada caso trata de uma tecnologia especifica, cUjo desenvolvimento e irnplantat;ao sao registrados de uma maneira qualitativa. Cada caso tambero apresenta infonna<;6es quanti­cativas, a partir de numerosos experimentos realizados previamente, sabre os custos e as beneficios aparentes dessas tecnologias. Dessa maneira, os estu­dos de caso chegam a uma uavalia~ao da tecnologia", que auxiliaria na roma­da de decisoes sobre as servic;os medicos disponiveis.

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112 Estudo de Caso

no objeto de uma ampla restaurac;ao e analise. Em outros, podem ser apenas de importincia superficial.

Quando julga que as provas de arquivos sejam importantes, 0 pesquisa­dor deve tomar cuidado ao averiguar sob quais condi<;oes elas foram produzi­das equal seu grau de precisao. Algumas vezes, os registros em arquivo po­dem ser numerosos, mas somente a quantidade nao deve ser considerada, de imediato, como urn indicio de precisao. Quase todos os cientistas sociais nor­te-arnericanos, por exemplo, estao cientes das armadilhas de se utilizar os Uniform Crime Reports do FBI - ou qualquer outro tipo de registro que tenha como base os crimes recolhidos pelas agendas que garantem 0 cumprimento da lei. A mesma palavra de cautela, dessa forma, aplica-se ainterpretac;ao de provas documentais: a maioria dos registros em arquivos foi produzida com urn objetivo espedfico e para urn publico espedfico (diferente da investigac;ao do estudo de caso), e essas condic;oes devem ser avaliadas por completo, a fim de interpretar a utilidade de quaisquer registros arquivados.

Entrevistas

Vma das mais importantes fontes de informac;oes para urn estudo de caso sao as entrevistas. Pode-se ficar surpreso com essa conclusao, por causa da asso­cia<;ao usual que se faz entre as entrevistas e 0 metodo de levantamento de dados. As entrevistas, nao obstante, tambem sao fontes essenciais de informa­c;ao para 0 estudo de caso.

As entrevistas podem assumir formas diversas. Emuito comum que as entrevistas, para 0 estudo de caso, sejam conduzidas de forma espontdnea. Essa natureza das entrevistas permite que voce tanto indague respondentes­chave sobre os fatos de uma maneira quanto pe<;a a opiniao deles sobre deter­minados eventos. Em algumas situac:;oes, voce pode ate mesmo pedir que 0

respondente apresente suas pr6prias interpretac;oes de certos acontecirnentos e pode usar essas proposic;oes como base para uma nova pesquisa.

Quanto mais 0 respondente auxiliar dessa ultima maneira, mais 0 pape dele se aproximani do papel de urn "informante" do que 0 de urn mero respon­dente. Inforrnantes-chave sao sempre fundamentais para 0 sucesso de urn estudo de caso. Essas pessoas nao apenas fornecem ao pesquisador do estu­do percepc;oes e interpreta<;oes sob urn assunto, como tambem podem suge­rir fontes nas quais pode-se buscar evidencias corroborativas - e pode-se iniciar a busca a essas evidencias. Poi uma pessoa corn esse estilo, charnada "Doutor", que desempenhou urn papel fundamental na realizac:;ao de urn fa­moso esrudo de caso apresentado em Street Comer Society (Whyte, 1943/ 1955), e foi posslve) identificar outros informantes parecidos em outros es­tudos de caso. Naturalmente, voce precisa se precaver para nao se tomar excessivamente dependente de urn informante-chave, em especial devido a influencias inrer~ssoais - fresuentemenre nao-definidas - que a informan-

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 113

te possa sorrer. Vma maneira razoavel de lidar com essa armadilha e nova­mente basear-se em outras fontes de evidencias para corroborar qualquer interpreta<;ao dada por esses informantes e buscar provas contrarias da for­ma mais cuidadosa possive!.

Urn segundo tipo de entrevista efocal (Merton et al., 1990), na qual 0

respondente eentrevistado por urn curto perfodo de tempo - uma hora, por exemplo. Nesses casos, as entrevistas ainda sao espontaneas e assumem 0

carater de urna conversa informal, mas voce, provavelmente, estara seguin­do urn cetto conjunto de perguntas que se originarn do protocolo de estudo de caso.

Por exemplo, urn dos propositos principais desse ripo de entrevista pode­ria ser simplesmente corroborar certos fatos que voce ja acredita terem side estabelecidos (e nao indagar sobre outros topicos de natureza mais ampla e espontanea). Nessa situac:;ao, as questoes devem ser cuidadosamente formula­das, a firn de que voce parec;a genuinamente ingenue acerca do topico e per­mita que 0 respondente fac:;a comentarios novos sobre ele; em contraste, se voce fizer perguntas direcionadas, 0 proposito corroborativo da entrevista aca­bara nao sendo atendido. Ainda assim, voce precisa ter muito cuidado quando as respostas dos entrevistados parecerem estar ecoando os mesmos pensa­memos - corroborando-os de fato, mas de uma maneira que soara conspiratoria. Serao necessarias pesquisas adicionais. Uma das maneiras de fazer isso ese­melhante aquela utilizada por bons jomalistas, que geralrnente estabelecem a ordem dos eventos deliberadamente verificando com pessoas que se sabe que possuem perspectivas diferemes. Se algum dos entrevistados nao comenta­las, muito embora os outros tenham a tendenda de corroborar as vers6es dos outros do que aconteceu, 0 born jornalista ate indicara esse resultado citando o fato sobre 0 qual uma pessoa foi indagada, mas acabou nao 0 comentando. 2

o terceiro ripo de entrevista exige quest6es mais estruturadas, sob a for­ma de urn levantamento formal. Esse levantamento pade ser considerado par­te de urn estudo de caso. Essa situac;ao pode ser importante, por exemplo, se voce estiver realizando urn estUdo sobre urn bairro e realizar 0 levantamento entre os moradores e os cornerciantes locais como parte do estudo de caso. Nesse ripo de levantamento estariam incluIdos tanto os procedimentos de amostragem quanto os instrumentos urilizados em levantamentos habituais, e, por conseguinte, seria analisado de nma maneira similar. A diferenc:;a residi­ria no papel do levantamento em rela<;ao a outras fontes de evidencias; por exemplo, a maneira como os moradores do bairro percebern 0 avanc;o ou 0

declinio de sua regUio nao seriam tomadas, necessariamente, como medida do avan<;o au do declfnio real, mas seriam considerados apenas urn componente a mais da avaliar;ao global do bairro (veja 0 QUADRO 17 para obter outro exemplo de como os levantamentos podem ser utilizados em conjunro com os estudos de caso, mais que como pane deles).

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114 Estudo de Caso

QUADRO 17

Integrando estudos de caso e evidencias de levantamentos de dados

Certos estudos podem se beneficiar do fato de as mesmas quest6es serem apresemadas a dois locais diferentes na "regiao" da pesquisa - uma regiao menor, que e0 objeto dos esrudos de caso, e uma outra maior, que eobjeto de urn levantamento de dados. As respostas podem ser comparadas para ver se apresentam consistencia, mas 0 local do estudo de caso pode oferecer algumas interpreta<;6es sabre os processos causais, enquanto 0 local onde se realizou a levantamento pode fornecer alguma indica<;ao da predomi­nanda do fenomeno.

Essa abordagem foi utilizada em urn estudo sobre as inova<;6es organi­zacionais conduzido por Roben K. Yin (Changing Urban Bureaucracies, 1979). Para algumas quest6es-chave, as evidencias reunidas de 19 locais de esrudo de caso foram classificadas em comparac;ao as evidencias obtidas de 90 enquetes realizadas por telefone. Acomparac;ao demonstrou que os resulta­dos nao diferiam e forneceu a certeza adicional de que os dois locais apon­tavam para urn padrao consistente de comportamento inovador. Jumamen­te com as classificac;6es paralelas, a analise comparou deliberadamente as descobertas feitas a partir dos esrudos de caso corn as obtidas de levanta­mentos, a [jm de determinar novamente 0 grau de convergencia das duas fontes de dados.

No geral, as entrevistas constituem uma fonte essencial de evidencias para os estudos de caso, ja que a maioria delas trata de questoes humanas. Essas questoes deveriam ser registradas e interpretadas atraves dos olhos de entrevistadores especificos, e respondentes bem-informados podem dar inter­pretac;oes importantes para uma determinada siruac;ao. Tambem podem apre­sentar aralhos para se chegar ahisroria anterior da siruac;ao, ajudando-o a identificar outras fontes relevantes de evidencias. As entrevisras, no entanto, devem sempre ser consideradas apenas como relat6rios verbais. Como tais, esrao sujeitas a velhos problemas, como preconceito, memoria fraca e articu­lac;ao pobre ou imprecisa. Novamente, uma abordagem razoavel a essa ques­tao e corroborar os dados obtidos em entrevisras com informac;6es obtidas atraves de outras fontes.

Uma quesdio comurn ao registrar entrevistas tern a ver com 0 usa de gravadores. Utilizar ou nao os aparelhos de gravaC;ao e, em pane, uma escolha pessoal. As fitas certamente fornecem uma expressao mais acurada de qual­quer entrevista do que qualquer outro metoda. Urn gravador, no entanto, nao deve ser utilizado quando:

Conduzindo Esrudos de Caso: Coleta de Evidencias 115

a) 0 entrevisrado nao permire 0 seu usa ou senre-se desconfortavel em sua presen\a;

b) nao ha urn planejamenro claro para transcrever ou se escutar siste­maticamenre 0 contelido das firas;

c) 0 pesquisador e basranre desajeitado com a aparelhagem medmiea, de modo que 0 gravador pode causar distrac;ao duranre a entrevis­ta; ou

d) 0 pesquisador acha que 0 gravador euma maneira de substituir 0 aro de "ouvir" atentamenre 0 entrevistado durante 0 curso da entrevista.

Observa~ao direta

Ao realizar uma visita de campo ao local escolhido para 0 estudo de caso, voce esta criando a oportunidade de fazer observac;oes direras. Assumindo-se que os fenomenos de interesse nao sejam puramenre de carater historico, encontrar-se-ao disponfveis para observac;ao alguns comportamenros au con­dic;oes ambientais relevantes. Essas observac;6es servem como outra fome de evidencias em urn estudo de caso.

As observac;6es podem variar de atividades formais a arividades infor­mais de coleta de dados. Mais formalmente, podem-se desenvolver prorocolos de observac;ao como parte do protocolo do estudo de caso, e pode-se pedir ao pesquisador de campo para avaliar a incidencia de certos tipos de comporta­menros durante cenos perfodos de tempo no campo. Incluem-se aqui obser­vac;6es de reuni6es, atividades de passeio, trabalho de fabrica, salas de aula e outras atividades semelhantes. De uma maneira mais informal, podem-se realizar observac;6es direras ao longo da visita de campo, incluindo aquelas ocasi6es durante as quais esrao sendo coletadas outras evidencias, como as evidencias provenientes de entrevisras. Por exemplo, as condi\oes fisicas de urn edificio ou de espac;os de trabalbo poderao revelar alguma coisa sobre 0

clima ou 0 empobrecimento de uma organiza\ao; da mesma forma, a locali­zac;ao ou os moveis do escritorio de urn respondenre pode ser urn born indica­dor da posic;ao do respondeme dentro da organizac;ao.

As provas observacionais sao, em geral, liteis para fornecer informa­\6es adicionais sobre 0 topieo que esra sendo esrudado. Se 0 estudo de caso for sobre uma nova tecnologia, por exempIo, observar essa tecnologia no ambiente de trabalho presrani uma ajuda inestimavel para se compreender os limites ou os problemas dessa nova tecnologia. Da mesma forma, as ob­serva\oes feitas em urn baliro ou em uma unidade organizacional trarao uma nova dimensao na hora de compreender tanto 0 contexto quanto 0

fen6meno que esta sob estudo. As observa<;6es podem ser tao valiosas que voce pode ate mesmo pensar em tirar fotografias do local do esrudo. No minima, essas forografias ajudarao a transmitir as caracterfsticas importan­

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116 Estudo de Caso

observadores extemos (veja Dabbs, 1982). Fique atento, no entanto, ao fato de que, em algumas situa~6es - por exemplo, ao fotografar estudantes em uma escola publica - voce precisani de uma permissao por escdto para rea­lizar 0 trabalho.

Para aumentar a confiabilidade das evidencias observacionais, urn proce­dimento comum a ser adotado e ter mais do que urn observador fazendo a observa<;ao - tanto de carcher formal quanto informal. Assim) quando os seus recursos permitirem, a investiga~ao de estudo de caso deve levar em conside­ra~ao a possibilidade de haver vados observadores.

Observac;ao participante

A observac;ao participante e uma modalidade especial de observa<;ao na qual voce nao e apenas urn observador passivo. Em vez disso, voce pode assumir uma variedade de fun<;6es dentro de urn estudo de caso e pode, de fato, parti­cipar dos eventos que estao sendo estudados. Em zonas urbanas, por exemplo, essas fun<;6es podem variar de interac,;6es sociais informais com os moradores da regiao a atividades funcionais espedficas dentro do bairro (veja Yrn, 1982a). Inclui-se nesses papeis para estudos ilustrativos em bairros e organlzac,;6es 0

seguinte:

• Ser morador em urn bairro que eobjeto de urn estudo de caso (veja Gans, 1962, eo QUADRO 18).

• Desempenhar algum outro papel funcional em urna regiao, como tra­balhar como assistente de loja.

• Trabalhar como membro de equipe em uma organiza~ao. • Ser a pessoa que toma as decis6es-chave em uma organizac;ao (veja

Mechling, 1974).

A tecnica da observac;ao participante foi rrequentemente utilizada em estudos antropologicos de grupos culturais e subculturais distintos. A tecnica tambem pode ser usada em ambientes mais ligados ao nosso dia-a-dia, como em uma organizac;ao ou outro grupo pequeno (veja 0 QUADRO 19).

Aobservac,;ao participante fomece certas oportunidades incomuns para a coleta de dados em urn estudo de caso, mas tambem apresenta alguns proble­mas. A oportunidade mais interessante relaciona-se com a sua habilidade de conseguir perrnissao para participar de eventos ou de grupos que sao, de outro modo, inacessiveis a investigaC;ao cientifica. Em outras palavras, para alguns topicos de pesquisa, pode nao haver outro modo de coletar evidencias a nao ser atraves da observac;ao participame. Outra oporrunidade multo interessan­te e a capacidade de perceber a realidade do ponto de vista de alguem de "dentro" do esrudo de caso, e nao de urn ponto de vista externo. Muitas pesso­as arswrnentam que essa perspectiva ede valor inestimavel quando se produz

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 117

QUADRO 18

Observa~ao participante em urn bairro proximo it "Street Corner Society"

A observa\ao participante foi 0 metodo utilizado corn mais freqiiencia para estu­dar zonas urbanas durante os anos 60. Urn estudo desse tipo que obteve fama consideravel foi conduzido por Herben Gans, que escreveu The Urban Villagers (1962), urn estudo sobre "grupos e classes na vida de (talo-americanos".

A merodologia urilizada por Gans e documentada em um capitulo sepa­rado do livro, intirulado Sobre os me-lOdos utilizados neste escudo. Ele obser­va que suas evidencias basearam-se em seis abordagens distintas: a utiliza­r;ao das instala\oes do bairro, a comparecimenro a reunioes, a visita infor­mal a vizinhos e amigos, entrevistas forrnais e informais, 0 usa de informan· tes e a observar;ao direta. De todos esses recursos, 0 "papel da participa\ao revelou-se 0 mais produrivo" (p. 339-340). Esse papel teve como base 0 fato de Gans ser urn morador verdadeiro, juntamente com sua esposa, do bairra que estava estudando. a resultado representa tanto urn balan\o c1<\.ssico da vida naquela regiao, qlle enfrentou muitas restaurar;oes e mudan\as na sua arquitetura, quanto urn contraste violenro corn a estabilidade encontrada nas proximidades - em Street Corner Society, de Whyte (1943/1955) - vinte anos antes.

QUADR019 Urn estudo de urn observador participante em uma situa~ao do "dia·a-dia"

Eric Redman fomece a visao de alguem que esta por dentro do Congresso ame­ricano e sabe como ele funciona em seu respeitado estudo de caso, The Dance of Legislation (1973). a estudo mostra a apresentar;ao e a aprovarrao pelo Con­gresso da legisla\ao que criou 0 National Health Service Corps, em 1970.

A narrativa de Redman, feita da posirrao privilegiada de urn auror que tambem estava na equipe de urn dos principais apoiadores do projew de lei, 0

Senador Warren G. Magnuson, nao e sirnplesmeme bem-escrito e faci! de let. a relato tambem oferece ao leiwr uma visao detalhada das operac;6es diarias do Congresso americano - da apresenrac;ao de urn projeto de lei asua eventual aprova\ao, incluindo a politicagem de uma sessao ern lima homenagem a urn parlamentar prestes a se aposenrar que nao conseguiu ser ree!eito, quando Richard Nixon era presidenre.

A narrativa e urn excelente exemplo de observa<;ao participante em urn cenano conremporaneo. Comem infomla<;5es sobre a func;ao dessas pessoas Iigadas aos bastidores do sistema, urn pomo de vista que poucas pessoas tive­ram 0 privi1egio de cornpartilhar. As sutis estrategias do Legislativo, 0 pape! inspecionado dos escritunlrios e lobistas do comite e a inrera<;ao entre a Legislativo e 0 Executivo no govemo sao todos recriados pelo estudo de caso, e tudo isso se acresccma ao entcndimemo geral do leiter do processo legislativo.

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118 Estudo de Caso

urn retrata "acurado" do fenomeno do estudo de caso. Finalmente, surgem outras oporrunidades porque voce pode ter a capacidade de manipular even-os menos importantes - como marcar uma reuniiio de urn grupo de pessoas

no esrudo de caso. Somente atraves da observa<;ao participante pode oconer essa manipula<;ao, pais 0 usa de documentos, arquivos e entrevistas, par exem­pIa, presumem rodos a existencia de urn pesquisador passivo. As manipula­<;6es nao serao tao precisas quanto aquelas executadas nos experirnentos, mas podem produzir uma variedade maior de situa<;6es tendo em vista os objetivos da coleta de dados.

Os maiores problemas relacionados aobserva<;ao participante tern aver com os poss(veis pontos de vista tendenciosos que possam vir a ser produzidos (veja Becker, 1958). Primeiro, 0 pesquisador possui menos habilidade para trabalhar como urn observador externo e pode, as vezes, ter de assumir posi­<;6es ou advogar fun<;6es contrarias aos interesses das boas praticas cientificas. Segundo, emuito prov3vel que 0 observador participante persiga urn fenome­no comumente conhecido e torne-se urn apoiador do gropo ou da organiza<;ao que esra sendo estudado, seja nao existir esse apoio desde 0 inicio. Terceiro, a func;ao de participante pode simplesmente exigir atenc;ao demais em relac;ao a func;ao de observador. 0 observador participante pode nao ter tempo suficien­te para fazer anotac;6es ou fazer perguntas sobre os eventos de perspectivas diferentes, como poderia fazer urn born observador.

Esse equilfbrio entre as oponunidades criadas e os problemas precisa ser seriamente considerado quando se parte para urn escudo de observa<;ao parti­cipante. Sob algumas circunstancias, essa abordagem para alcan<;ar as eviden­cias necessarias do escudo de caso pode ser apenas a abordagem correta; sob outras circunsrancias, a credibilidade de todo 0 projeto pode ser amea<;ada.

Artefatos fisicos

Uma ultima fonte de evidencias eurn artefato fisico ou cultural- urn aparelho de alta tecnologia, uma ferramenta ou instrumento, uma obra de arte ou algu­rna outra evidencia fisica. Podem-se coletar ou observar esses artefatos como parte de uma visita de campo e pode-se utiliza-Ios extensivamente na pesquisa antropolagica.

Os arrefatos fisicos tern urna imporrancia potencialmente menor na maioria dos exemplos tipicos de estudo de caso. Quando sao importantes, no entanta, podem constituir urn componente essencial do caso inteiro. Por exemplo, urn estudo de caso sobre a utiliza<;ao de microcomputadores na sala de aula pre­cisaria verificar a natureza da real utilizaC;ao dos aparelhos. Embora a utiliza­<;lio pudesse ser diretamente observada, urn artefato - 0 material impresso pelo computador - tambern se eneontraria disponfvel. Os esrudames apre­sentariarn esse material impressa como produto final de seus trabalhos e numtecri~m anntarne.s rlo_aut>-haYiui.dQjmIW~SSQ.Cada imEressao mostraria

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 119

tipo de trabalho escolar que havia side feiro como tambem a data e a quanti­dade de tempo despendido no cornputador para realizar 0 trabalho. Ao exami­narem as capias impressas. os pesquisadores do estudo de caso seriam capazes de desenvolver uma perspecriva mais ampla em rela<;ao a todas as possiveis aplica<;6es dentro de uma sala de aula, alem daquela que poderia ser direra­mente observada em urn curto perfodo de tempo.

Resumo

Essa sec;ao revisou seis Fontes comuns de evidencias para urn estudo de caso. Os procedimentos utilizados para coletar cada ripo de evidencia devem ser desenvolvidos e adrninistrados independentemente, a fim de garantir que cada fonte seja adequadamente utilizada. Nem todas as fontes serao imporrantes para todos os estudos de caso. 0 pesquisador experiente, no entanto, deve conhecer cada uma das abordagens - ou ter colegas que possuam a pericia necessaria e possam trabalhar como membros da equipe.

TltES PRINCIPIOS PARA A COLETA DE DADOS

Os beneficios que se pode obter a partir dessas seis fontes de evidencias po­dem ser maximizados se voce mantiver presente tres prindpios. Eles sao im­portantes para todas as seis fontes de evidencias vistas anteriormente e, se utilizadas adequadamente, podem ajudar 0 pesquisador a fazer frente ao pro­blema de estabelecer a validade do constructo e a confiabilidade de urn escudo de caso. Sao os seguintes:

Principio 1: utilizar varias fontes de evidencia

Qualquer uma das fontes precedemes de obtenc;ao de evidencias pode e tern sido a unica base para esrudos inteiros. Por exemplo, alguns estudos confia­ram apenas na observac;ao participante, mas nao examinaram urn tinico docu­memo; similarmente, ha inumeros escudos que contaram apenas com regis­tros em arquivos, mas nao realizaram entrevistas.

Esse uso isolado de fontes pode ocorrer em func;ao da forma independen­te que elas geralmeme sao concebidas - como se a pesquisador devesse esco­lher a fonte mais apropriada para 0 seu caso ou aquela com a qual ele estivesse mais familiarizado. Dessa forma, como oeorre muitas vezes, os pesquisadores anunciam 0 projeto de um novo esrudo ao identificarem tamo 0 problema que sera estudado quanto a selec;ao de fomes llnicas de evidencias - por exemplo, entrevistas - como foco do trabalho de coleta de dados.

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120 .studo de Caso

Triangulaplo: fundamento 16gico para se utilizar vdrias jontes de eviden­cias. Nao se recomenda, no entanto, durante a realiza~ao dos esrudos de caso, a aproximac;ao a fontes individuais de evidencias como aquela discurida ante­riormente. Pelo contnirio, urn ponto forte muito importante da coleta de da­dos para urn esrudo de caso e a oportunidade de urilizar muitas fontes diferen­tes para a obtenc;ao de evidencias (veja 0 QUADRO 20 para conhecer urn exem­plo desses esrudos). Alem disso, a necessidade de utilizar varias fontes de evidencias ultrapassa em muito a necessidade que se tern em outras estrate­gias de pesquisa, como em experimentos, levantamentos ou pesquisas bistori­cas. as experimentos, por exemplo, limitam-se enormemente adimensao e ao registro de comportamento real dentro do laboratorio e geralmente nao abar­cam 0 usa sistematico de informa~6es verbais e das infonnac;6es obtidas em levantamentos. Esses, por sua vez, tendem a ser 0 oposto, enfatizando as in­formac;6es verbais, mas nao a dimensao ou 0 registro do comportamento real. Finalmente, as pesquisas hist6ricas limitam-se a eventos ocorridos em urn pas­sado "morto" e, portanto, raramente apresentam qualquer fonte contempora­nea de provas, como observac;ao direta de urn fenomeno ou entrevistas com os principais envolvidos no esrudo.

QUADR020

Utllizando vadas fontes de evidenclas em urn estudo de caso

Os estudos de easo nao precisam fiear Iimitados a uma (mica fonte de eviden­eias. Na verdade, a maioria dos melhores estudos baseia-se em uma ampla variedade de fontes.

Urn exemplo de urn estudo de easo que urilizou essa variedade e0 livro de Gross et al., Implementing Organization Innovations (1971), que trata de al­guns eventos oeorridos em uma eseola. 0 escudo de easo incluiu urn levanta­mento estruturado realizado com urn grande mimero de professores, entre­vistas espontaneas com urn pequeno numero de pessoas-ehave, urn protoeolo de observac;ao para controlar 0 tempo que os escudantes levavam para exeeu­tar as varias tarefas e urna revisao dos doeumentos da instituic;ao. Tanto 0

levantamento quanto os procedimentos de observac;ao levaram a informa­c;6es quanritarivas sobre as atitudes e 0 eomportamento na cscola, ao passe que as entrevistas espontaneas e as provas doeumentais levaram a informa­c;6es qualitativas.

Todas as fontes de evidencias foram revisadas e analisadas em eonjumo, de forma que as descobertas do esrudo de easo basearam-se na convergencia de inforrnac;6es oriundas de fontes diferentes, e nao de dados quantitativos nem qualitativos em separado.

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 121

Naruralmente, cada uma dessas estrategias pode ser modificada, criando estrategias hibridas nas quais e mais provclvel que varias fontes de evidencias sejam relevantes. Urn exemplo disso e a evolw;ao dos esrudos sobre narrativas orais ha poucas decadas. Essa modificac;ao das estrategias tradicionais, nao obstante, nao altera 0 fato de que 0 esrudo de caso inerentemente !ida com uma ampla variedade de evidencias, ao passe que outtas esttategias nao.

a uso de varias fontes de evidencias nos estudos de caso permite que 0

pesquisador dedique-se a uma ampla diversidade de quest6es hist6ricas, com­portamentais e de atitudes. A vamagem mais importante, no entanto, e 0 de­senvolvimento de linhas convergentes de investiga~ao, urn processo de rriangulac;ao mencionado inumeras vezes na se~ao anterior deste capitulo. Assim, qualquer descoberta ou conclusao em urn esrudo de caso provavelmen­te sera muito mais convincente e acurada se se basear em varias fontes distin­tas de informa~ao, obedecendo a urn estilo corroborativo de pesquisa.

Patton (1987) discute quarro tipos de triangula~ao ao fazer a avaliac;ao­quer dizer, a triangula~ao

1. de fontes de dados (triangula~ao de dados); 2. entre avaliadores diferentes (triangula~ao de pesquisadores); 3. de perspectivas sobre 0 mesmo conjunto de dados (triangulac;ao da

teoria); 4. de metodos (triangulac;ao metodo16gica).

A presente discussao faz parte apenas do primeiro ripo de triangulac;ao, ineentivando-o a coletar informa~6es de varias fontes, mas tendo em vista a corroborac;ao do mesmo fato ou fenomeno. AFigura 4.2, a seguir, faz a distin­c;ao entre duas condi~6es - quando voce ja executou a triangulac;ao (parte superior) e quando voce possuir varias fontes que, nao obstante, se dedicam a fatos diferentes (parte inferior).

Com a triangula~ao, voce tambem pode se dedicar ao problema em po­tencial da validade do constructo, uma vez que varias fomes de evidencias for­necem essencialmente varias avalia~6es do mesmo fenomeno. Nao surpreen­dentemente, urna amllise dos metodos utiIizados pelo estudo de caso desco­briu que aqueles esrudos de caso que utilizam varias fontes de evidencias fo­ram mais bem-avaliados, em termos de sua qualidade total, do que aqueles que contaram apenas com uma unica fome de informa~6es (veja Yin, Bateman, & Moore, 1983).

Pn£-requisitos para a utiliza~ao de vdrias jontes de evidencias. Ao mesmo tempo, a utilizac;ao de varlas fontes de evidencias imp6e urn pesado fardo, insinuado anteriormente, sobre voce e sobre qualquer outro pesquisador de esrudo de caso. Em primeiro lugar, porque a coleta de dados a partir de varias fontes emuito mais eara do que aquela realizada a partir de uma fonte unica

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122 Estudo de Caso

CONVERGENCIA DE vARIAs FONTES DE EVlDENClAS

(estudo unieo)

Registros em arquivo

Documemos

" 1 /' Entrevistas

espomaneas

I mc I Observa<;oes

(direta e participante)

,/'

Emrevistas e

t " Entrevistas focais

levantamentos estruturados

tMQ-CONVERGENClA DE vARIAs FONTES DE EVIDENClAS

(subestudos separados)

entrevistas descobertas conclusoes

levantamento descobertas conc.lusoes

analise de descobertas conc.lusoes doeumentos

Figura 4.2 Converg~nciae nao-convergencia de varias fontes de evidencias. FONTE: COSMOS Corporation

(Denzin, 1978, p. 61). Mais imponante do que isso, cada pesquisador precisa saber como conduzir a ampla variedade de tecnicas utilizadas para a coleta de dados. Por exemplo, 0 pesquisador de estudo de caso pode precisar coletar

alisar as provas documentais como se faz na hist6ria, recuperar e analisar

Conduzindo Escudos de Caso: Coleta de Evid~ncias 123

registros em arquivo como na pesquisa economica e administrativa, e projetar e conduzir levantamentos como na pesquisa de opiniao publica. Se qualquer uma dessas tecnicas for utilizada incorretamente, a oponunidade de se dedi­car a uma serle mais ampla de quest6es, ou estabelecer linhas convergentes de investiga<;ao, pode acabar se diluindo. Essa exigencia de adrninistrar tecnicas rnultiplas de coleta de dados levanta, por conseguinte, quest6es importantes sobre 0 treinamento e a pericia do pesquisador de estudo de caso.

Infelizmente, muitos programas de treinamento da gradua<;ao priorizam apenas uma especie de atividade de coleta de dados, e 0 estudante bern-suce­dido provavelmente nao tera a chance de trabalhar com as outras. Para sobre­pujar essas condi<;6es, voce deve procurar outras maneiras de obter 0 treina­mento e a pratica necessaria. Vma dessas maneiras e trabalhar em uma orga­niza<;ao de pesquisa rnultidisciplinar, em vez de ficar limitado a urn departa­mento academico. Outra maneira eanallsar os artigos metodologicos de va­rios cientistas sociais (veja Hammond, 1968) e tomar conhecimento dos pon­tos fortes e fracos das diferentes tecnicas de coleta de dados da maneira como foram praticadas por varios profissionais experientes. Ainda, uma terceira ma­neira e projetar estudos-piloto distintos que apresentarao uma oportunidade para se praticar tecnicas diferentes.

Nao irnporta como se adquira experiencia, todo pesquisador de estudo de caso deve ser bem-versado em uma gama de tecnicas para a coleta de dados, a fim de que 0 estudo de caso possa se valer de varias fontes de evidencias. Sem essas fontes multiplas, estara se perdendo uma vantagem inestirnavel da es­trategia de esrudo de caso.

Principio 2: criar urn banco de dados para 0 estudo de caso

o segundo princfpio que deve ser respeitado durante a coleta de dados tern a ver com a maneira de organizar e documentar os dados coletados para os estudos de caso. Aqui, a estrategia de estudo de caso tern muito a aprender com as praricas utilizadas em outras estrategias, nas quais a documentaryao consiste, em geral, em duas coletas separadas:

1. os dados ou a base comprobat6ria; 2. 0 relatorio do pesquisador, sob a forma de arrigo, relatorio ou livro.

Com arquivos computadorizados, a distin<;ao entre essas duas coletas fi­cou ainda mais clara. Por exemplo, os investigadores que fazem pesquisa psicologica, econ6mica au com base em levanramentos podem trocar dis­quetes de dados e outros documenros que conrem somente 0 banco de dados real - por exernplo, pol1tua<;ao em testes au respostas comportamentais na psicologia, respostas discriminadas a varias quest6es do levanrarnento ou

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124 Estudo de Caso

dicadores economkos. 0 banco de dados pode, assim, ser 0 objeto de uma analise secundaria, em separado, independente de qualquer parecer feito pelo pesquisador original.

No entanto, com os estudos de caso, a distinc;ao entre urn banco de dados separado e 0 relatorio do estudo de caso ainda mio se tornou uma pnitica institucionalizada. Com muita freqiiencia, os dados do estudo de caso sao sinonimos das evidencias apresentadas no relat6rio do estudo, e urn lei­tor mais cduco nao possui nenhum recurso para investigar 0 banco de dados que levou as conclusoes daquele estudo. Vma grande excec;ao a isso foram os Human Relations Area Files, da Yale University, que armazena os dados de inumeros estudos etnognificos de diferentes gTUpos culturais, disponibili­zando-os aos investigadores de pesquisas novas. EntretaDto, independente­mente da necessidade de urn deposito central, a questao principal aqui eque todo projeto de estudo de caso deve empenbar-se para desenvolver urn ban­co de dados formal apresentavel, de forma que, em prindpio, outros pesqui­sadores possam revisar as evidencias diretamente, e nao ficar limitados a relatorios escritos. Dessa maneira, urn banco de dados para 0 estudo de caso aumenta, notadamente, a confiabilidade do estudo.

A falta de urn banco de dados formal para a maioria dos estudos de caso ea principal deficiencia da pesquisa de estudo de caso, e precisa ser corrigida no futuro. Ha inumeras maneiras de realizar essa tarefa, contanto que voce e os outros pesquisadores estejam conscientes dessa necessidade e desejem com­prometer-se em providenciar os recursos extras necessarios para a montagem de urn banco de dados. Ao mesmo tempo, a existencia de urn banco de dados adequado nao elimina a necessidade de apresentar provas suficientes no pro­prio relatorio do estudo de caso (que sera discutido no Capftulo 6). Cada rela­torio ainda deve conter dados suficientes para que 0 leitor do parecer possa tirar conclus6es independentes sobre 0 estudo.

Nao obstante, 0 problema inicial de montar urn banco de dados para urn esrudo de caso ainda nao foi reconhecido pela maioria dos livros que tratam de metodos de campo. As sUbsec;6es a seguir representam a continuac;ao do atual estado do trabalho. Descreve-se 0 problema de desenvolver 0 banco de dados em termos de quatro componentes: notas, documentos, tabelas e narra­tivas.

Notas para 0 estudo de caso. Sao, provavelmente, 0 componente mais co­mum de urn banco de dados. Elas assumem uma ampla variedade de fonnas. Podem ser 0 resultado de entrevistas, observac;6es ou documentos do pesquisa­dot: Podem ser escritas a mao, datilografadas, estar em fitas cassetes ou em disquetes de computador, e podem ser agrupadas sob a forma de um diano, de fichas catalograficas, ou de alguma outra maneira menos organizada.

Independentemente do seu formato e de seu conteudo, as notas para 0

estudo de caso devem ser armazenadas de uma maneira que outras pessoas,

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 125

incluindo 0 pesquisador, possam recupera-las integralmente em alguma data posterior. Mais comumente, podem ser divididas de acordo com os topicos prin­cipais - como salientado no protocolo do estudo de caso - tratados pelo estudo de caso; no entanto, qualquer criterio de classificac;ao bastara, desde que ele seja claro para as pessoas nao-envolvidas no projeto. Somente dessa maneira as notas poderiio fazer parte do banco de dados para 0 estudo de caso.

Essa identificac;ao das notas como parte do banco de dados para 0 estudo de caso nao quer dizer, contudo, que 0 pesquisador precise gastar tempo ex­cessivo para reescrever entrevistas au fazer longas alterac;6es na redaC;ao do texto para tamar as notas apresentaveis. Embora resulte em uma prioridade equivocada, recomenda-se que pelo menos urn autor (Patton, 1980, p. 303) fac;a a elaborac;ao do relatorio do caso, que inclui editar e reescrever as notas de entrevistas. Qualquer trabalho de edic;ao deve ser direcionado ao proprio relatorio do estudo, nao as notas. A unica caracterfstica essencial dessas notas eque elas devem ser organizadas, categorizadas, concJufdas e devem estar a disposic;ao para consultas posteriores.

Documentos para 0 estudo de caso. Muitos docurnentos importantes para urn estudo de caso serao coletados durante a realizac;ao do estudo. No Capitu­lo 3, mostrou-se que a disposic;ao desses documentos deve ser tratada no proto­colo do estudo de caso e sugeriu-se que uma maneira util de se fazer isso e possuir uma bibliografia comentada desses documentos. Esses comentarios facilitarao, outra vez, 0 armazenamento e a recuperac;ao das informac;6es, para que, mais tarde, os pesquisadores possam examinar ou compartilhar 0 banco de dados.

A unica caracteristica desses documentos eque eles provavelmente exi. jam urn grande espac;o fisko de armazenagem. AMm disso, sua importancia para 0 banco de dados pode variar, e 0 pesquisador pode desejar criar urn arquivo principal e urn arquivo secundario para os documentos. 0 objetivo principal ao fazer isso e, novamente, fazer com que os dados possam ser prontamente recuperaveis para inspec;ao ou nova leitura. Nesses exemplos em que os documentos sao importantes para detenninadas entrevistas, uma referenda cruzada adicional e fazer com que as notas da entrevisras discri­minem 0 documento.

Tabelas. 0 banco de dados pode consistjr em materiais que possam ser postos em tabelas, tanto coletados no local que estcl sendo estudado ou cria­dos a partir da equipe de pesquisa. Esse material rambem necessita ser organi­zado e armazenado de forma que possa ser recuperado posteriormente.

o material pode incluir levantamentos e outros dados quantitativos. Por exemplo, pode-se conduzir urn levantamento em urn ou mais locais do estudo de caso como pane do estudo inteiro. Nessas situac;6es, a tabela pode ate mesmo ser armazenada em computadores. Como outro exemplo, ao se

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126 Estudo de Caso

lidar com evidencias observacionais ou aquelas provenientes de arquivos, urn estudo de caso pode exigir avalia~5es de varios fen6menos (veja Miles, 1979). A documenta~ao dessas avalia~5es, feitas pela equipe do estudo de caso, tambem deve ser organizada e armazenada como parte do banco de dados. Resumidamente, qualquer material que possa ser organizado em tao belas, que tenha como base levantamentos, avalia~6es observacionais ou dados de arquivos, pode ser tratado da mesma forma como emanuseado em outras estrategias de pesquisa.

NaITauvas. Tambem pode-se considerar certas formas de narrativa como parte do banco de dados e nao como parte do relat6rio final do estudo de caso. Isso se reflete em uma pnltica especial que deveria ser utilizada com mais freqiiencia: fazer com que os pesquisadores do estudo elaborem respos­tas espontaneas as quest5es no protocolo do estudo de caso. Essa pnitica foi muito utilizada em varias ocasi6es de estudos de casos mUltiplos projetados pelo autor (veja 0 QUADRO 21). As quest6es e as respostas, de uma forma modificada, podem ate mesmo servir diretamente como base para 0 relat6rio definitivo do estudo de caso, como se descrevera em maiores detalhes no Capitulo 6.

QUADR021

Narrativas no banco de dados para 0 estudo de caso

Foi realizada uma serie de 12 estudos de caso sobre a utiliza"ao do microcom­putador em escolas norte-americanas (Yin & White, 1984). Cada estudo ba­seava-se em respostas espontaneas a cerca de 50 quest6es do protocolo, concementes ao nu.mero e alocaliza<;ao dos microcomputadores (uma ques­tao enumeradora que exigia a utilizac,;ao de respostas que apresentassem nar­rativas e dados tabulares), arelac;ao existente entre as unidades do computa­dor e outros sistemas computacionais dentro da administra~o da escola e ao treinamemo e coordena"a.o fomecidos pela dire"a.o.

A primeira responsabilidade do pesquisador do estudo de caso foi respon­der a essas 50 quest6es da forma mais completa possivel, cirando fomes espe­dficas de evidencias em notas de rodape. As resposras nao foram editadas, mas serviram como base tanto para os relar6rios do caso quanto para a anm­se cruzada de casO. A disponibilidade do banco de dados evidenciava que outros membros da equipe do estudo de caso poderiam determinar os even­ros em cada local, mesmo antes que os relat6rios do estudo fossem condui­dos. Os arqttivos ainda constituem uma fome riquissima de evidencias que poderiam ser utilizadas novamente, ate como parte de outro estudo.

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 127

Nessa situa~ao, cada resposta represenra urna tenrativa de inregrar as evidencias disponfveis e de convergir os fatas do assunto ou suas possfveis interpreta~6es. 0 processo e, na verdade, analftico e eurna parte inregral da analise do estudo de caso. 0 formato dessas respostas pode ser considerado analogo aquele utilizado em urn abrangeme exame "que pode ser feito em casa", utilizado em programas de gradua~ao. 0 pesquisador e0 respondeme, e seu objetivo ecitar Fontes irnportames - proveniemes de entrevistas, doeu­mentos, observa~6es ou de arquivos - ao elaborar uma resposta adequada. 0 principal objetivo de uma resposta esponranea edocurnenrar a liga~o exis­tente entre fragmenros especificos de evidencias e varias quest6es no estudo de caso, utilizando-se de urn grande numero de notas de rodape e cita~6es.

Pode-se considerar 0 conjunro inteiro de respostas urna parte do banco de dados para 0 estudo de caso. 0 pesquisador, juntameme com qualquer outra parte interessada, pode utilizar esse banco de dados para elaborar 0 relat6rio do estudo propriamenre dito. Ou entao, caso nao seja elaborado nenhum relat6rio sobre casos individuais (veja 0 Capitulo 6 para obter exemplos dessas situa­~6es), as respostas podem servir como banco de dados para uma subsequente analise cruzada de caso. Novamente, como as respostas fazem parte do banco de dados e nao do relat6rio final, os pesquisadores nao devem gastar muito tempo tentando tamar as respostas mais apresemaveis. Em outras palavras, nao precisam realizar os procedimenros-padrao de edic;ao e editora<;ao (deixando as respostas escritas a mao e sem datilografar). A qualidade mais importante das boas respostas eque elas, na verdade, unem provas espedficas - atraves de cita­<;6es apropriadas - as questoes perrinentes do estudo de caso.

Principio 3: manter 0 encadeamento de evidimcias

Urn outro principio que deve ser seguido, a fim de aumentar a confiabilidade das informac;6es em urn estudo de caso, e rnamer urn encadeamento de evi­dencias. Esse principio baseia-se em urna no~ao similar aquela utilizada em investigac;6es criminais.

o principio consiste em permitir que urn observador extemo - 0 leitor do estudo de caso, por exemplo - possa perceber que qualquer evidencia proveni­enre de quest6es iniciais da pesquisa leve as conclus6es finais do estudo de caso. Alem disso, 0 observador extemo deve ser capaz de seguir as etapas em qualquer direC;ao (das conclus6es para as quest6es iniciais da pesquisa ou das quest6es para as conclus6es). Como ocorre com provas criminais, 0 processo deve estar claro 0 suficiente para assegurar que as provas apresenradas no "tribunal" - 0 relat6rio do estudo - sejam, com certeza, as mesmas que foram coletadas na cena do "crime" durante 0 processo de coleta de dados; inver­samente, nenhuma evidencia original deve ser perdida, por descuido ou pela presen<;a de ideias tendenciosas por pane do pesquisador, e nao receber a atenc;ao devida ao considerar as "fatos" de urn caso. Se esses objetivos forem

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128 Estudo de Caso

atingidos, 0 estudo de caso tambem terci que se dedicar a questao do problema metodol6gico de determinar a validade do constructo, elevando, por conse­guinte, a qualidade geral do caso.

Imagine a seguinte cenano. Voce leu as conclusoes de urn relatorio de estudo de caso, quer saber mais sobre como se chegou a essa conclusao e agora esta remontando as origens do processo de pesquisa.

Primeiro, 0 proprio relatorio deve ter feito cita<;oes suficientes aos pontos relevantes do banco de dados do estudo de caso - por exemplo, citando docu­mentos, entrevistas ou observa<;oes espedficas (veja 0 QUADRO 22 para obte urn exemplo contrario). Segundo, 0 banco de dados) ao ser examinado, deve revelar as evidencias reais e indicar as circunstancias sob as quais as evidenci­as foram coletadas - por exemplo, a hora e 0 local onde ocorreu uma entrevis­tao Terceiro, essas circunstancias devem ser consistentes com os procedimen­tos especrncos e as questoes constantes no protocolo do estudo, a frm de de­monstrar que a coleta dos dados seguiu as procedimentos estabelecidos no protocolo. Finalmente, ao ler 0 protocolo, deve-se perceber uma liga<;ao entre o conteudo do protocolo e as questoes iniciais do estudo.

QUADR022 Casas descritivos que necessitam de evidencias

Urn estudo de caso descritivo e, em gera!, considerado menos exigente do que urn explanat6rio. Cosluma-se afmnar que nao e necessaria muita teoria, que liga<;6es causais nao precisam ser feitas e que a analise realizada emfnima. 0 pesquisador do esrudo de caso tern apenas a obriga<;ao de se sentir livre para "relata-Io como ele realmente en.

A serie de estudos realizados por Sara Lightfoot, "Portraits of Exemplary Secondary Schools", publicado no livroDaedalus (1981), eurn exemplo des­ses esrudos de caso descritivos. Cada urn deles trara de uma escola primaria distima, de seu quadro de professores c dos cursos que ofercce, alem de al­guns eventos e fragmentos importantes da vida estudantil. 0 retrato apresen­tado, como uma obra de arte, e idiossincnitico a cada escola e nao segue qualquer estrurura te6rica comum.

Mesmo sob tais circunstfulcias, no entanto, e precise dtar as evidencias relevantes ao estudo. Vma deficiencia desses escudos de caso eque nenhum deles possui uma (mica nota de rodape - quer citando entrevistas, documen­tos au observa<;6es. 0 leitor nao consegue apontar quais fontes 0 autor lan­<;ou mao para a realiza<;ao do estudo e, dessa forma, nao consegue julgar, de forma independente, a confiabilidade das informa<;6es apresentadas. Urn pro­blema como esse pode acabar comprometendo a confiabilidade de todo urn estudo de caso.

Conduzindo Estudos de Caso: Coleta de Evidencias 129

No conjunto, voce pode ir de uma parte do estudo de caso para outra, tendo uma clara referencia cruzada aos procedimentos metodologicos e as pro. vas resultantes. Este e, por fim, 0 Ultimo encadeamento de evidencias desejado.

RESUMO

Esse capitulo revisou seis ripos de evidencias utilizadas para 0 esrudo de caso, como elas podem ser coletadas e tres importantes principios concernentes ao processo de coleta de dados.

o processo de coleta de dados para os estudos de caso emais complexo do que os processos utilizados em ourras estrategias de pesquisa. 0 pesquisa­dor do estudo de caso deve possuir uma versatilidade metodologica que nao e necessariamente exigida em outras esrrategias e deve obedecer a cenos pro­cedimentos formais para garantir 0 controle de qualidade durante 0 processo de coleta. Os tres princfpios descritos anteriomente representam tres passas que conduzem a esse sentido. Nao foram projerados para aprisionar 0 pesqui­sador inventivo e perspicaz em uma carnisa-de-fore;a. Foram projetados para tornar 0 processo tao explicito quanto possivel, de forma que os resultados finais - os dados que foram coletados - reflitam uma preocupa<;ao pela vali­dade do constructo e pela confiabilidade, 0 que, dessa forma, validaria a rea­liza<;ao de anilises adicionais. Como tal analise pode ser realizada e 0 assunto do pr6ximo capitulo.

EXERCICIOS

1. Utilizando as evidencias. Escolha urn dos estudos de caso citados nos QUADROS deste livro. Leia a esrudo e identifique cinco "faros" im­portantes para 0 esrudo. Para cada fato, indique a fonte ou as fontes de evidencias, se houver, utilizada(s) para definir 0 fato. Em quantos exemplos houve mais do que uma unica fonte de evidencias?

2. Identificando tipos ilustrativos de evidencias. Escolha urn t6pico de estudo que voce gostaria de pesquisar. Para algum aspecto desse topieo, identifique 0 tipo especifico de evidencia que seria rele­vante - por exemplo, se for urn documemo, que tipo de documen­to? Se for uma entrevista) quem seriam as respondentes e quais seriam as quest6es? Se for urn arquivo, quais seriam os registros e as variaveis?

3. Procurando evidencias convergentes. Selecione urn deterrninado inci­dente que ocorreu recentemente em sua vida. Caso quisesse demons­trar a que realmente aconteceu, como voce faria para estabelecer as faros desse incidence? Voce entrevistaria alguma pessoa imporrante

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130 Estudo de Caso

(inc1uindo voce mesmo)? Haveria algum artefato ou algum tipo de documentac;ao nos quais voce pudesse se basear?

4. Desenvolvendo um banco de dados. Para 0 topico que voce tratou no exercicio anterior, escreva urn relat6rio curto (nao mais que duas paginas datilografadas). Comece seu relat6rio com a questao prin­cipal que voce esta tentando responder e, a seguir, apresente uma resposta a essa pergunta, citando as evidencias que voce utilizou (voce deve inc1uir notas de rodape). Pense como essa sequencia de pergunta-resposta pode ser apenas uma das muitas que voce podera utilizar no "banco de dados" do seu estudo de caso.

5. Estabelecendo um encadeamento de evidencias. Exponha uma conciu­sao hipotetica que possa surgir de urn estudo de caso que voce este­ja realizando. Em seguida, volte ao infcio de sua pesquisa e identifi­que os dados ou as evidencias especificas que sustentariam essa con­c1usao. Sirnilarrnente, volte ao inicio da pesquisa e defina a questao do protocolo que teria levado acoleta dessas evidencias e, por con­seguinte, aquestao do estudo que, por sua vez, teria levado ao pla­nejarnento da questao do protocol0. Voce consegue vislumbrar como

sse encadeamento de evidencias se formou e como alguem poderia avanc;ar ou retroceder ao longo dessa sequencia?

NOTAS

1. Barzun e Graff (1985, p. 109-133) dao sugestoes excelentes para se verificar evi­dencias docurnentais, incluindo 0 problema incomum de se determinar 0 verdadeiro

autor de urn docuroento. 2. Essa pnitica foi ilustIada com mais efica.cia no best-seller (1974) de Bernstein e woodward sobre 0 caso Watergate. 0 trabalho de campo dos autores, que se reflet na maneira como foram escritos varios artigos de apresemac;ao no The Washington Post, indula varias oportunidades para todos os participames expressarem seu pro· prio ponto de vista ou para rejeitarem as proposic;oes dos outros. Quando as pes­soas-chave ainvestigac:;ao nao queriam fazer nenhuro comentario, mencionava-se 0

fato nos artigos.

•••• capitulo

\

~~ Analisando as evidencias

do estudo de caso

A analise de dados consiste em examinar, categorizar, classificar em tabelas ou, do contrano, recombinar as evidencias tendo em vista pcoposic:;oes ini­ciais de urn estudo. Analisar as evidencias de urn. estudo de caso e uma atividade particularmente diffcil, pois as estrategias e as recnicas nao foram muito bern definidas no passado. Ainda assim, cada pesquisador deve co­me~ar seu trabalho com uma estrategia analitica geraI - estabelecendo prio­ridades do que deve sec analisado e por que.

Tendo-se essa estrategia em vista, quatro tecnicas analfticas dominantes devem ser utilizadas: adequac;ao ao padrao, constcu<;ao da explanac:;ao, ana­lise de series temporais e modelos 16gicos de programa. Cada urna delas pode ser aplicavel em projetos de estudo de caso Unico ou de casos multi­plos, e cada estudo deve levar essas tecnicas em considerac:;ao. Tambem e posslvel se utilizar outras tecnicas analiticas, mas elas lidam com situac:;6es especiais - a saber, naquelas situac:;6es em que 0 estudo de caso incorporou unidades de analise ou em que ha urn grande nllinero de estudos de caso que deve ser analisado. Essas tecnicas, por conseguinte, devem ser utiliza­das em conjunro com as quatro tecnicas dominantes mencionadas acima, e nao separadameme.

ESTRATEGIAS ANALi'rICAS GERAIS

A necessidade por uma estrategia analitica

A analise das evidencias de urn esrudo de caso e urn dos aspectos menos ex­plorados e mais complicados ao realizar estudos de caso. Muitas e muitas ve­es, os pesquisadores come<;am urn estudo de caso sem rer a mais remota

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132 Escudo de Caso

como uma evidencia deve ser analisada (apesar da recomendac;ao feita no Capitulo 3 de que as abordagens anaHticas devem ser desenvolvidas como parte do protocolo do estudo de caso). Essas investigac;oes acabam ficando facilmente estancadas na etapa anaHtica do estudo; 0 autor deste livro conhe­ceu varios colegas de profissao que simplesmenre ignoraram os dados do estu­do de caso por varios e varios meses, por nao saberem 0 que fazer com as evidencias coletadas.

Devido a esse problema, 0 pesquisador experienre de estudo de caso tera, provavelmente, grandes vantagens sobre 0 pesquisador novato nessa etapa anal!tica. Diferentemente da analise estatistica, ha poucas formulas ou recei­tas fixas para orientar 0 principiante (urn dos (micos textos que tenrou fazer isso foi Miles & Hubem1an, 1984). Em vez disso, depende muito do proprio estilo rigoroso de pensar que 0 pesquisador possui, juntamente com a apresen­tac;ao suficiente de evidencias e a analise cuidadosa de interpreta~oes altema­

tivas. Uma observa~ao como essa levou algumas pessoas a sugerir que uma das

maneiras bem-sucedidas para realizar a analise e tomar os dados do estudo de caso propicios a analise estatistica - atribuindo valores numericos aos eventos, por exemplo. Epossivel realizar esses estudos de caso quantitativos quando se possui uma unidade incorporada de analise dentro de urn estudo de caso, mas

ssa tecnica ainda se mostra falha ao atender as necessidades de fazer analise ao nivel do caso inteiro, no qual pode haver apenas urn caso ou poucos casos.

Uma segunda possibilidade sugerida tern sido a de utilizar varias tecnicas analiticas (veja Miles & Huberman, 1984), tais como:

Dispor as informac;6es em series diferenres. Criar uma matriz de categorias e dispor as evidencias dentro dessas

• categorias.Criar modos de apresenta~ao dos dados - fluxogramas e outros meto­dos - para exarninar os dados. Classificar em tabelas a freqilencia de eventos diferentes. Examinar a complexidade dessas classifica~oes e sua relac;ao calcu­lando nlimeros de segunda ordem, como medias e variancias.

• Dispor as informac;oes em ordem crono16gica ou utilizar alguma ou­tra disposi~ao temporal.

Ha, realmente, muitas tecnicas uteis e importantes, e elas devem ser uti­lizadas para dispor as evidencias em alguma ordem antes de realizar a analise, de fato. Ademais, manipulac;oes preliminares de dados como essas represen­tam uma maneira de superar 0 problema da investigac;iio ficar estancada, men­cionado acima. Ao mesmo tempo, as manipulac;6es devem ser realizadas com extremo cuidado para evitar resultados tendenciosos.

Analisando as Evidencias do Escudo de Caso 133

No entanto, mais importante do que essas duas abordagens e possuir uma esrrategia anaHtica geral em primeiro lugar. 0 objetivo final disso e tra­tar as evidencias de uma maneira justa, produzir conclusoes anaHticas irrefu­taveis e eliminar interprerac;oes alternativas. 0 papel da estrategia geral e ajudar 0 pesquisador a escolher entre as diferentes tecnicas e conduir, com sucesso, a fase analitica da pesquisa. Duas dessas estrategias sao descritas a seguir, e, ern seguida, sao revisadas algumas maneiras espedficas de se con­duzir a analise do estudo de caso.

Duas estrategias gerais

Baseando-se em proposi{:oes teoricas. A primeira e mais preferida estrategia e seguir as proposic;oes te6ricas que levaram ao estudo de caso. Os objetivos e o projeto originais do estudo baseiam-se, presumivelmente, em proposic;6es como essas, que, por sua vez, refletem 0 conjunro de questoes da pesquisa, as revis6es feitas na literatura sobre 0 assunto e as novas interprerac;oes que possaro surgir.

As proposic;oes dariam forma ao plano da coleta de dados e, por conse­guinte, estabeleceriam a prioridade as estrategias analiticas relevantes. Como exemplo, retirado de urn estudo das relac;6es intergovernamentais, pode-se mencionar 0 caso que se baseou na proposic;ao de que os recursos do governo federal norte-americano nao apenas rinha efeitos na redistribuic;ao de d6la­res, como tambem tinha criado novas mudanc;as organizacionais ern nivel local (Yin, 1980). A proposic;ao basica - a criac;ao de uma burocracia "de con­trapartida" sob a forma de organizac;6es de planejamento local, grupos de cidadania e outras repartic;6es novas dentro do proprio govemo local, mas rodos ern harmonia com determinados programas federais - foi pesquisada nos estudos de caso de diversas cidades. Para cada urna delas, 0 objetivo do estudo de caso era demonstrar como a formac;ao e a modificac;ao ern organi­zac;6es locais ocorriam apos as mudanc;as em programas federais relacionados e demonstrar como essas organizac;6es locais agiam em prol dos programas federais, muito embora pudessem ser elementos do governo local.

Essa proposic;ao e urn exemplo da orientac;ao te6rica que serve como guia da analise do estudo de caso. Evidentemente, a proposic;ao ajuda a par em foco certos dados e ignorar outros (urn born teste para isso seria decidir quais dados devem ser mencionados se voce tiver apenas cinco minutos para sustentar uma proposic;ao em seu estudo de caso). Ela tambem ajuda a orga­nizar todo 0 estudo de caso e a definir explanac;6es altemativas a serem exa­minadas. Proposic;oes te6ricas sabre relac;6es causais - respostas a questoes do tipo "como" e "por que" - podem ser muito uteis para orientar a analise do estudo de caso dessa maneira.

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134 Estudo de Caso

Desenvolvendo uma descrirlio de caso. Vma segunda estrategia analftica geral e desenvolver uma estrurura descritiva a fim de organizar 0 esrudo de caso. Epreferivel utilizar proposi~oes teoricas a utilizar essa estrategia, embo­ra ela possa ser uma alternativa afalta de proposi~oes teoricas.

Algumas vezes, 0 proposito inicial do estudo de caso pode ser urna descri­<;ao propriamenre dita. Era esse 0 objetivo do famoso esrudo sociologico Middletown (Lynd & Lynd, 1929), que esrudava urna pequena cidade no Meio­Oeste norte-americano. 0 que e realmente interessante em Middletown, apar­te de seu valor classico como urn caso rico e historico, e a sua estrutura, evi­denciada pela divisao de capirulos do livro:

• Capitulo 1: Ganhando a vida • Capitulo 2: Estabelecendo urn lar • Capitulo 3: Educando a juvenrude • Capftulo 4: Aproveitando 0 tempo disponivel • Capirulo 5: Engajando-se em praticas religiosas • Capitulo 6: Engajando-se em atividades comunitarias

Os capirulos abrangem uma variedade de topicos relevantes avida co­munitaria no infcio do seculo XX, durante 0 periodo que a cidade de Middletown foi estudada. A estrutura descritiva tambem organiza a analise do estudo de caso (como comentario aparte, urn exercfcio util que pode ser feito e observar a estrutura dos estudos de caso exemplares existentes no momento - alguns deles citados nos QUADROS ao longo do livro - exami­nando seus surnarios, 0 que constituiria uma pista impUcita das diferentes abordagens analiticas).

Em outras situa<;oes, 0 objetivo primeiro do estudo de caso pode nao ser uma descri<;ao, mas uma abordagem descritiva pode ajudar a identificar as liga<;oes causais apropriadas a serem analisadas - mesrno quantitativamente. o QUADRO 23 apresenta urn exernplo de urn estudo de caso relacionado a complexidade de implementar programas locais de desenvolvimento econo­mico. Essa complexidade, perceberam os pesquisadores, poderia ser descrita em termos da multiplicidade de decisoes que precisavam ser tomadas para que a implementa<;ao fosse bem-sucedida. Essa interpreta<;ao descritiva, mais tarde, levou a enumera<;ao, aclassifica<;ao e, daf, aquantifica<;ao das varias decis6es a serem tomadas. Nesse sentido, utilizou-se a abordagem descritiva para identificar:

a) 0 ripo de evento que poderia ser quantificado; e b) 0 padriio geral de complexidade que, por fim, foi utilizado em urn

sentido causal para "explicar" par que a implementat;ao falhara.

Resumo. A melbor prepara<;ao para conduzir uma analise de escudo de caso e ter uma esrrategia analitica geral. Duas estrategias foram descritas,

Analisando as Evidencias do Escudo de Caso 135

QUADR023 Quantificando os elementos descritivos de um estudo de caso

o livro de Pressman e Wildavsky, Implementation: How Great Expectations in Washington Are Dashed in Oakland (1973), evista como uma das primeiras contribui~6es ao estudo das implementa<;6es. E 0 processo atraves do qual algumas atividades programaticas - urn projeto de desenvolvimento econo­mico, urn novo curriculo em uma escola ou urn programa de preven<;ao ao crime - sao instaladas em urna organizac;ao especffica. 0 processo ecomplexo e eovolve inumeras pessoas, regras organizacionais, normas sociais e uma mistura de boas e mas intenc;6es.

Urn processo complexo como esse pode ser 0 objeto de investigac;ao e de analise quantitativa? Pressman e Wildavsky oferecern uma solu<;ao inovado­ra. Uma vez que uma implementa~ao bem-sucedida pode ser descrita como uma sequencia de decis6es, urn analista pode focar parte do estudo de raso no numero enos tipos de decis5es ou elementos.

Assirn, no capitulo intitulado ''The Complexity of Joint Action", os aurores analisam as dificuldades encontradas em Oakland: implementar urn programa publico de obras exigia urn total de 70 deds5es em sene - aprovac;ao do proje­to, negocia<;iio de prazos, assinatura de contratos, e assim por diante. A analise examinava 0 nivel de entendimento e 0 tempo necessario para alcanc;ar urn consenso em cada urn dos 70 pontos de decisao. Dada a diversidade normal de opiniao eo nao-cumprimento do prazo, a amHise ilustra - de uma forma quan­titativa - a baixa probabilidade do sucesso da implementa<;ao.

uma delas baseando-se em proposi<;oes teoricas e a outra comec;ando com uma abordagem descritiva ao caso. Essas duas estrategias gerais fundamen­tam os procedimentos analiticos que serao descritos a seguir. Sem essas estra­tegias (ou altemativas a etas), a analise de estudo de caso avanC;ara com muita dificuldade. Uma forma de superar essa dificuldade e "jogar" com os dados, utilizando algumas tecnicas que foram enumeradas. No entanto, se inexistirem estrategias gerais, e se uma delas DaO for habil em ''jogar'' com os dados, pro­vavelmente, todo 0 estudo estara comprometido.

o restante do capitulo trara de tecnicas analiticas especificas, que serao utilizadas como pane de uma estrategia gera!. As se~6es estao divididas em dois conjuntos. 0 primeiro, Me.todos principais de analise, apresenta quatro tecnicas importantes (adequac;iio ao paddio, constru<;ao da explanac;iio, amili­se de series temporais e rnodelos 16gicos de programa). Esse conjumo foi espe­cialmente elaborado para tratar de problemas previameme percebidos corn relac;ao ao desenvolvimento de validade intema e validade extema ao se reali­zar estudos de caso (veja 0 Capftulo 2)_ 0 segundo, Metodo$ secundarios de

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136 Estudo de Caso

analise, apresenta tecnicas que comumente necessitam ser utilizadas em con­junto com aquelas dos metodos principais.

METODOS PRINCIPAlS DE ANALISE

Adequa-;ao ao padrao

Para a analise do estudo de caso, uma das estrategias mais desejaveis e utili­zar a 16gica de adequac;ao ao padrao. Essa l6gica (Trochim, 1989) compara urn padrao fundamentalrnente empfrico com outro de base progn6stica (ou com varias outras previsoes alternativas). Se os padroes coincidirem, os resul­tados podem ajudar 0 estudo de caso a reforc;ar sua validade intema.

Se 0 estudo de caso for explanat6rio, os padroes podem se relacionar as variaveis dependentes ou independentes do estudo (ou a ambas). Se 0 estudo de caso for descritivo, a adequa<;ao ao padrao ainda e relevante, ja que 0

padrao previsto de variaveis espedficas edefinido antes da coleta de dados.

Variaveis dependentes nao-equivalentes tidas como padrao. 0 padrao de variaveis dependemes deriva-se de urn dos mais poderosos projetos de pes­quisa quase-experimemais, conhecido como "projeto de variaveis dependen­tes nao-equivalentes" (Cook & Campbell, 1979, p. 118). De acordo com esse projeto, urn experimento ou uma pesquisa quase-experimental pode possuir inumeras variaveis dependentes - ou seja, uma variedade de resultados. Se os valores inicialmente previstos para cada resultado forem encontrados e, ao mesmo tempo, nao se encontrarem padroes alternativos de valores previstos (incluindo aqueles que se derivam de anefatos metodol6gicos, ou ameac;as a validade), pode-se fazer fortes inferencias causais.

Por exemplo, pense em urn caso unico no qual voce esta estudando os efeitos de urn sistema de automa<;ao em escrit6rios recentemente instalado. Sua proposic;ao principal eque, uma vez que urn sistema como esse seja des­centralizado - ou seja, cada pe<;a automatizada do equipamento, como pro­cessadores de texto, pode funcionar independentemente do computador cen­tral -, sera produzido urn ceno padriio de mudanc;as e enfases organizacio­nais. Entre essas mudan<;as e enfases, voce especifica 0 seguime, com base em proposi<;oes derivadas de teorias previas de descentralizac;ao:

t os empregados criarao novas aplica~oes para 0 equipamemo do escri­t6rio, e elas sedi.o idiossincraticas a cada empregado;

t as ligar-oes tradicionais de supervisdo estarao ameac;adas, ja que 0 con­trale administrativo em rela<;ao as atividades de trabalho e 0 usa de fomes centrais de informa<;ao serao reduzidas;

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 137

t os conflitos organizacionais aumentarao, devido acompetic;ao por re­cursos entre 0 novo sistema e 0 sistema central de computadores que a organizac;ao possuia; contudo,

t a produtividade aurnentara em comparac;ao aos niveis anteriores a instalac;ao do novo sistema.

Nesse exemplo, cada urn desses quatro resultados representa variaveis dependentes diferentes, e voce avaliaria cada urn com valores e instrumentos diferentes. Ate esse ponto, voce tern urn estudo que especificou variaveis de­pendentes nao-equivalentes. Voce tambern previu urn padrao geral de resulta­dos que dao conta de cada uma dessas varhiveis. Se os resultados sairem como foram planejados, voce pode inferir uma s6lida conclusao sobre os efei­tos da descentraliza<;ao na informatizac;ao de escrit6rios. Por outro lado, se os resultados nao atingirem 0 padrao previamente estabelecido - isto e, mesmo se uma variavel nao se componar como previsto -, sua proposic;ao inicial tera de ser questionada.

Esse primeiro caso poderia ser enriquecido por urn segundo caso, no qual foi instalado outro sistema de informatizac;ao em escritorios, mas de na­tureza centralizada - isto e, todo 0 equipamento das estac;oes individuais de trabalho estava conectado a mesma rede, e toda a rede era controlada por uma unidade central de computac;ao (urn sistema "logico compartilhado"). Nesse momenta, voce prognosticaria urn padrao diferente de resultados, utili­zando as mesmas quatro variaveis dependentes enumeradas anteriormente. E nesse momenta, se as resultados mostrarem que 0 sistema descentralizado (Caso 1) realmente produziu 0 padrao previsto, e que esse primeiro padrao era diferente daquele previsto e produzido pelo sistema centralizado (Caso 2), voce seria capaz de inferir uma conclusao ainda mais fane sobre os efeitos da descentraliza<;ao. Nessa situac;ao, voce produziu urna replica~ao teorica dos casos (em outras situac;oes, voce talvez tivesse procurado uma replica~ao lite­ral, encontrando dois ou mais casos de sistemas descentralizados).

Finalmeme, voce deve estar consciente da existencia de certas ameac;as a validade dessa logica (veja Cook & Campbell, 1979, para obter uma lista com­pleta dessas ameac;as). Por exemplo, urn novo executivo pode ter assumido as func;oes no escritorio no Caso 1, deixando espac;o para urn contra-argumento: que as efeitos aparentes da descentralizac;ao poderiam ser atribuidos anomea­c;ao desse executivo, e nao ao novo sistema de informatizac;ao recentemente instalado no local. Para lidar com essa ameac;a, voce teria que identificar al­gum subconjunto de variaveis independentes iniciais e demonstrar que 0 pa­drao teria sido diferente (no Caso 1) se 0 executivo da corporac;ao tivesse sido a causa principal desses efeitos. Se voce s6 tivesse urn estudo de caso unico, esse ripo de procedimento seria fundamental; voce estaria utilizando os mes­mos dados para descanar argurnemos com base em uma possfvel ameac;a a

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138 Esrudo de Caso

validade. Dada a existencia de urn segundo caso, como no nosso exemplo hipotetico, voce tambern poderia demonstrar que 0 argumento sobre 0 exe­cutivo nao explicaria certas partes do padrao encontrado no Caso 2 (no qual a ausencia da figura do executivo deveria ter sido associada a certos resulta­dos contrarios). Em essencia, seu objetivo e identificar todas as ameac;as ra­zoaveis avalidade e conduzir comparac;6es repetidas, revelando como essas ameac;as nao podem ser responsabilizadas pelo padrao duplo encontrado nos dois casos hipoteticos.

Explana~6es concorrentes como padnio. 0 segundo tipo de adequac;ao ao padrao e 0 das variaveis independentes. Nessa situac;ao (como exemplo, veja o QUADRO 24), pode-se rer conhecimento que varios casos possuem urn certo tipo de resultado, e a investigac;ao pode enfatizar como e por que esse resulta­do ocorreu em cada caso.

Essa analise requer 0 desenvolvimento de proposic;6es te6ricas concor­rentes, articuladas em termos operacionais. A principal earacterfstica dessas explanac;6es eoncorrentes e que cada uma envolve urn padrao de variaveis independentes que e mutuarnente excludente: se uma explanac;ao for valida, as outras nao podem ser. Significa que a presenc;a de certas vari<iveis indepen­dentes (previstas por urna explanac;ao) impede a presenc;a de outras variaveis independentes (previstas por uma explanaC;ao coneorrente). As variaveis in­dependentes podem envolver varios ou muitos tipos diferentes de earacteris­tieas e eventos, cada urna delas avaliada por valores e instrumentos distintos. A preoeupac;ao da analise de estudo de caso, no entanto, e com 0 padrao geral de resultados e com 0 grau com que urn padrao se adapra aquele anterior­mente previsto.

Esse tipo de adequac;ao ao padrao de variaveis independentes tambern pode ser feito com urn caso tinico ou com casos mUltiplos. Com urn caso unieo, a adequaC;ao bem-sueedida do padrao a uma das explanac;6es eoncor­rentes representaria a evidencia para conduir que essa explanac;ao era a correta (e que as outras explicac;oes estavam ineorretas). Novamente, mes­rna em urn caso unico, deve-se identificar e eliminar as ameac;as avalidade - basicamente ao se formar outro grupo de explanac;6es concorrentes. Alem dis so, se esse resultado identico fosse obtido com base em easos multipIos, teria sido realizada uma replica~ao literal dos casas unicos, e os resultados de casas cruzados poderiarn ser expostos de uma maneira ainda mais pe­rempt6ria. Dessa forma, se esse mesmo resultado acabasse nao ocorrendo em urn segundo grupo de casas, devido a circunstancias previsivelmente diferentes, uma replicafQO te6rica teria sido realizada, e 0 resultado inicial se manteria de uma forma ainda mais robusta.

Analisando as Evidencias do Esrudo de Caso 139

QUADR024 Adequaerao ao padrao para explanaeroes concorrentes

Urn problema comurn de poHtica e entender as condi<;6es sob as quais P&D podem ser uteis asociedade. Com muita freqiH~ncia, as pessoas acreclilam que a pesquisa serve apenas a si mesma e nao atende a necessidades pnhicas.

Esse topieo foi 0 tema de varios estudos de caso nos quais se soube que os resultados do projeto de P&D tinham sido miJizados. Os estudos pesquisaram como e por que tinha ocorrido esse resultado, tomando em considera~ao va­rias explana«;6es concorrentes baseadas em rres modelas predominantes de uso da pesquisa:

a) a pesquisa, 0 desenvolvimento eo modelo de difusao; b) 0 modelo de solu<;ao de problemas; e c) 0 modelo de intera«;ao social (Yin & Moore, 1984).

Os eventos de cada caso foram comparados aqueles previstos para cada mo­delo, de acordo com a tecnica de adequa<;ao ao paddio. Par exemplo, 0 mode­10 de solu<;ao de problemas exige a existencia previa de um problema, como preludio ao come<;o de urn projeto de P&D, mas essa nao e uma condi<;ao reconhecida pelos outros dois modelos. Eurn exemplo, portanto, de como modelos te6ricos d1ferentes podem preyer eventos mutuamente excludentes, facilitando compara~6es efetivas.

Para todos os casos que Coram estudados (N = 9), as eventos acabaram unindo da melhor maneira a combina<;ao do segundo e do terceiro modelo. Os pesquisadores tinham, dessa forma, utilizado explana<;6es concorrentes para analisar os dados dentro de cada caso e a logica da replica<;ao para todos eles.

Padroes mais simples. Essa mesma 16gica poderia ser aplicada a padroes mais simples, que possuem uma variedade minima de variaveis dependentes ou independentes. No casa mais simples, no qual pode haver apenas duas varia­veis dependentes (ou independentes), a adequac;ao ao padrao e posslvel por­que se estipulou urn padrao diferente para essas duas varLiveis.

Quanta menor 0 numero de variaveis, naturalmente, mais dnisticas te­rao que ser as diferenc;as entre os padroes para que possam ser feitas campa­rac;6es entre as diferenc;as. Ha algumas situac;6es, nao obstante, nas quais os padroes mais simples sao importantes e irrefutaveis. A funC;ao da estrategia analitica geral seria determinar a melhor maneira de fazer 0 contraste entre as diferenc;as da forma mais precisa possivel, e tambem desenvolver explana­c;oes teoricamente significativas para as diferentes resultados.

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140 Estudo de Caso

Precisao da adequafao ao padn5.o. Nesse ponto do esrado-da-ane, 0 real procedimenro de adequa~ao ao padrao nao inclui nenhurna compara~ao pre­eisa. Nao importa se alguem esta prognosticando 0 paddio de variaveis de­pendentes nao-equivalenres, 0 padrao corn base ern explana~6es concorren­tes, ou mesmo urn padrao simples qualquer, a compara~ao essencial entre 0

padrao prognosticado e 0 real pode nao envolver criterios quantitativos ou esratIsticos (as tecnicas estatisticas disponiveis sao provavelmente irrelevantes porque nenhuma das variaveis no padrao apresentara urna "varia<;ao", repre­senrando cada uma delas basicamente urn unico ponro de dados).

Essa falta de preeisao pode revelar alguma prudencia interpretativa por parte do pesquisador, que pode possuir urna restri~ao excessiva em afirmar que urn determinado padrao foi violado, ou uma tolerfmeia demasiada para deeidir que urn padrao foi igualado. Podem-se fazer aperfei~oamenros impor­tanres ern pesquisas futuras do estudo de caso atraves do desenvolvimenro de tecnicas mais precisas. Ate que ocorram esses aperfei<;oamentos, os pesquisa­dores devem ser cuidadosos ern nao postular padr6es muito sutis. Geralmenre se deseja realizar estudos de caso nos quais os resultados, provavelmente, levam a paridades e disparidades grosseiras e nos quais ate mesmo uma tecni­ca de exame superficial e sufieienremente convincente para se inferir uma conclusao.

Construtrao da explanat;ao

Uma segunda estrategia analftica constitui, de fata, urn tipo especial de ade­qua~ao ao padrao, mas 0 procedimenro e mais dificil e, portanro, exige uma aten~ao especial. Aqui, 0 objerivo eanalisar os dados do estudo de caso cons­truindo uma explana<;ao sobre 0 caso (Yin, 1982b).

Como usado neste capitulo, 0 procedimenro e especialrnente irnporrante para os estudos de caso explanatorios. Urn procedimenro similar, para os esru­dos explorat6rios, vern sendo comumenre considerado parte de urn processo de gera~ao de hip6teses (veja Glaser & Strauss, 1967); no entanro, seu objeti­vo nao e concluir 0 estudo, mas desenvolver ideias para urn novo estudo.

Elementos da expZanafao. "Explicar" urn fenomeno significa estipular urn conjunto de elos causais em relac;ao a ele. Esses elos sao similares as variaveis independentes no usa previamente descrito de explanac;6es concorrentes. Na maioria dos estudos, os elos podem ser complexos e diffceis de se avaliar de uma maneira precisa.

Em grande parte dos estudos de caso existentes, a elaborac;ao de expla­nac;ao ocorreu sob a forma de narrativa. Uma vez que as narrativas nao podem ser precisas, os melhores estudos de caso sao aqueles em que as explanac;oes refletem algumas proposic;oes teoricamente significativas. Por exemplo, os elos causais podem refletir interpreta<;oes importantes do pro-

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 141

cesso de polftica publica ou da teoria da eiencia social. As proposic;6es de politica publica, se estiverem corretas, podem levar a recomenda~oes sobre as polfticas que serao utilizadas no futuro (veja urn exemplo no QUADRO 25, parte A); as proposic;6es de ciencia social, se estiverem corretas, podem levar a grandes contribui~6es aformulac;ao de teoria (veja urn exemplo no QUADRO 25, parte B).

Natureza iterativa da canstrufaa de explanafoes. 0 processo de constru­<;ao da explana<;ao, para os estudos de caso explanat6rios, nao foi bern docu­menrado em termos operacionais. No enranro, uma caracteristica importante e que a explana<;ao final representa 0 resultado de uma serie de itera~6es:

• Criar uma declarac;ao tearica inicial ou uma proposi~ao inieial sobre comportamento politico ou social.

• Comparar as descobertas de um caso inicial com a declarac;ao ou a proposi~ao.

~ Revisar a declara~ao ou a proposiC;ao. • Camparar outros detalhes do caso com a revisao. • Revisar novamente a declara~ao ou a proposi<;ao. • Comparar a revisao com os faros do segundo, terceiro au dos demais

casas. • Repetir esse processo tanras vezes quanras forem necessarias.

Nesse sentido, a explana~ao final pode nao rer side inreiramente estipu­lada no come<;o de urn estudo e, por conseguinte, pode diferir, nesse sentido, da abordagem de adequaC;ao ao padrao previamente descrita. Em vez disso, as evidencias do estudo de caso sao examinadas, os posicionamentos te6ricos sao revisados e as evidencias sao examinadas novamente de uma nova pers­pectiva, nesse modo iterativo.

A elaborac;ao gradual de uma explanac;ao assemelha-se ao processo de aprimorar urn conjunto de ideias, nas quais urn aspecto importante e, nova­mente, levar em considera~ao outras explanafoes pZausiveis au concorrentes. Como antes, 0 objetivo e mostrar como nao e possivel elaborar essas explana­<;6es, dado 0 conjunro real de evenros do estudo de caso. Se essa metodologia fosse aplicada a estudos de casos multiplos (como no QUADRO 25), 0 resulta­do do processo de constru<;ao da explanac;ao e, igualrnente, a cria<;ao de uma analise cruzada de caso, nao simplesmente a analise de cada caso lmico.

roblemas em potencial na construfGO da explanafGo. Qualquer pesqui­sador deveria ser advertido que esse tratamento da analise de estudo de aso esta replero de perigos. 0 elaborador da explana<;ao deve possuir uma

perspicacia acurada. A medida que 0 processo iterativo se desenvolve, por exemplo, 0 pesquisador pode acabar lentamente se desviando do t6pico ori­ginal de interesse. Rcferencias constantes ao objetivo original da investiga­

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142 Estudo de Caso

QUADR025 A. Constru~o da explana«;ao em estudos de casos mUitiplos

Em urn estudo de casos multiplos, urn dos objetivos que se rem em mente e elaborar uma explana<;ao geral que sirva a rodos os casos panicularmenre, embora possam variar em seus detalhes. 0 prop6sito e analogo aos experi­memos multiplos.

o livro New Towns In-Town: Why a Federal Program Failed (1972), de Martha Derthick, trata de urn programa de habita<;ao lanc;ado pelo presidenre none­americana Lyndon Johnson. 0 govemo federal deveria ceder suas terras ex­cedentes - localizadas em areas urbanas selecionadas - aos govemos locais para que eles implantassem os programas de habita<;ao. Ap6s quatro anos, no enranro, nao havia sido registrado muito progresso nas seres areas escolhidas - San Antonio, New Bedford (estado de Massachusetts), San Francisco, Wa­shington, D.C., Atlanta, Louisville e Clinton Township (em Michigan) - eo programa foi considerado urn fracasso.

o rexto de Derthick primeiramenre analisa os acontecimentos em cada uma das setes areas. Depois, a explanac;ao geral apresentada - que os programas nao conseguiram receber apoio local suficiente - mostrou-se insatisfatoria, por­que as condic;6es nao esravam presentes em todos os locais. De acordo com Derthick, embora existisse realmente 0 apoio das entidades locais, "os oficiais do govemo, nao obstante, tinham declarado objetivos tao ambiciosos que alguma especie de fracasso era certa" (p. 91). Em vez disso, Derthick elabora uma explanac;ao moctificada e conclui que "0 programa de cessao de terras excedenres falhou porque 0 govemo federallinha pouca influencia em nivel local e porque ambicionava atingir objetivos extremamente altos" (p. 93).

B. Construc;ao da explanac;ao em estudos de casos m1iltiplos: urn exemplo de outra area

Urn projeto seme1hante ao utilizado por Derthick eusado por Banington Moore em sua hisr6ria intitulada Social Origins ofDictatorship and Democracy (1966). o livro e outro exemplo da construc;ao de explanac;6es em estudos de casos multiplos, embora os casas sejam, na verdade, exemplos hisr6ricos.

o livro de Moore trata da transformac;ao de sociedades agrarias em socie­dades industriais em seis paises diferentes -lnglaterra, Franc;a, Estados Uni­dos, China, Japao e india -, e a explana<;ao geral da func;ao das classes supe­riores e camponesas e uma questao basica que acaba surgindo no texto. A explanao:;:ao constitui uma contribuic;ao imponantfssima aarea da hist6ria.

<;ao e a possiveis explana<;6es alternativas podem ajudar a diminuir esse problema. Nos Capitulos 3 e 4. foram apresentadas algumas olltras salva­guardas - ou seja, a utilizac;ao de urn protocolo de estudo de caso (indican-

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso, 143

do quais os dados deveriam ser coletados), a criac;ao de urn banco de dados para cada estudo de caso (armazenando formalmeme a serie inteira de da­dos que foram coletados) disponiveis para avaliac;ao par uma terceira parte) e a encadeamento de evidencias.

An3.lise de series temporais

Uma terceira estrategia analitica e conduzir uma analise de series tempo­rais, diretamente anaIoga aanalise de series temporais realizada em experi­memos e em pesquisas quase-experimentais. Uma analise como essa pode seguir muitos padr6es complicados, que sao 0 assunto de varios livros-texto famosos na psicologia clinica e experimental (veja Kratochwill, 1978); 0

leitor interessado pode consultar esses trabalhos, se desejar uma orientac;.ao mais detalhada. Quanto mais complicado e preciso for 0 padrao, mais a analise de series temporais estabelecera uma base firme para as conclus6es do estudo de caso.

De especial imponancia para 0 estudo de caso e uma intrigante analise metodol6gica da pesquisa qualitativa desenvolvida por Louise Kidder (1981), que demonstrou que cenos tipas de estudos que possufam observadores par­ticipantes seguiam projetos de series temporais) ignorados pelos primeiros pesquisadores. Por exemplo, urn estudo preocupava-se corn 0 curso dos acon­tecimentos que levaram ao consumo da maconha, tendo como hip6tese que era necessaria uma seqiiencia ou algumas series temporais de, pelo menos, tres condic;6es (Becker, 1963): inicialmente fumando-se a maconha) em se­guida sentindo-se seus efeitos e, depois, aproveitando-se esses efeitos. Se uma pessoa sentir apenas uma ou duas dessas etapas, mas nao as tres, a hip6tese era que 0 consumo regular de maconha nao procedia. Esse tipo de pas-analise interpretativa, na visao de Kidder, precisa ser repetido no futuro para ajudar a revelar essas tecnicas analiticas implfcitas.

Series temporais simples. Comparado com a analise de adequac;ao ao pa­draa mais geral, 0 projeto de series temporais pode ser muito mais simples em urn sentido: nas series temporais, pode haver uma unica variavel dependente ou independente. Nessas circunstancias, quando urn grande numero de dados pode ser relevante e viavel, podem-se utilizar ate mesmo testes estatisticos para analisar os dados (veja KratochwiU, 1978).

o paddio, no enranro, pode ser muito mais complicado em outro senti­do) porque as diversas altera<;6es nessa linica variavel, ocorridas corn 0 tem­po, podem nao possuir pontos de inicio au termino bem-definidos. Apesar desse problema, a capacidade de seguir 0 curso dessas altera<;6es com a tem­po e urn ponto forte importante dos estudos de caso - que nao se lirnitam a avaliac;6es esuiticas ou de cortes transversais de uma siruac;ao em particular. Se as eventos ao longo do tempo forem estabelecidos em detalhes e com pre­

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144 Estudo de Caso

cisao, pode ser possivel realizar algum tipo de analise de series temporais, mesmo se a analise de estudo de caso envolver igualmente outras tecnicas.

A l6gica fundamental subjacente ao projeto de series temporais e a pari­dade entre uma tendencia dos pontos de dados comparada com:

a) uma tendencia teoricamente importante especificada antes do prin­cipio da investigaC;ao, em contraste com;

b) alguma tendencia concorrente, tambem previamente determinada, m contraste com;

c) qualquer tendencia baseada em algum artefatO ou amea<;a avalida­de interna.

Dentro do mesmo estado de caso unieo, por exemplo, e possivel, com 0

tempo, elaborar-se a hip6tese de dois padr5es distintos de eventos. Eisso que Campbell fez em seu famoso estudo da lei de limite de velocidade em Connecticut (veja 0 QUADRO 26; veja tambem 0 Capitulo 2, Figura 2.2).0 padrao de series temporais baseou-se na proposi<;ao de que a nova lei (uma "interrup<;ao" na

QUADR026 Analise e adequa~ao ao padrao de series temporais simples

Urn exemplo de uma amilise de series temporais e0 c1assico artigo de Donald Campbell, "Reforms as Experiments" (1969). Embora 0 autor nao considere que 0 seu estudo seja urn estudo de caso, sua analise realmente ilustra 0 usa da tecnica de adequar;ao ao padrao com um conjunto simples de dados ao longo do tempo - tecnica que pode ser amplamente aplic8vel a todos os tipos de esrudos de caso.

Campbell estava tentando comparar duas proposir;6es te6ricas. Na pri­meira, sustentava-se que a redur;ao no limite de ve10cidade de Connecticut tinha reduzido 0 numero anual de mortes no transito. No segundo, defen­dia-se que 0 limite de velocidade nao uvera qualquer tipo de efeito. Os fatos desse caso indicaram que, embora 0 numero de mortes tivesse dec1inado no ana seguinte aaltera~ao do limite de velocidade, uma observa<;:ao adicional em urn perfodo de 10 anos demonstrava que esse dec1inio aparente ocorria exatamente no limite de f1utuar;ao normal para 0 perfodo inteiro. Dessa forma, Campbell concluiu que 0 limite de velocidade nao apresentou qual­quer resultado.

o que Campbell fizera foi coletar uma unica serie temporal (0 numero de acidentes fatais em urn periodo de tempo) e comparar os dados a duas expla­nar;6es altemativas - uma explanar;ao com "resultados" e uma explanaC;ao de "fluruar;ao aleat6ria" (veja a Figura 2.1, no Capitulo 2). Os resultados sao elaros a olho nu, e nenhuma comparaC;ao estatistica foi necessaria (ou conduzi­da) para confinnar os resultados.

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 145

serie temporal) tinha substancialmente reduzido 0 nu.mero de acidentes fatais, ao passo que outro padrao de series temporais baseou-se na proposi<;ao de que nao ocorrera esse efeito. 0 exame dos pontos de dados verdadeiros - isto e, 0

numero anual de acidentes fatais durante alguns anos - foi entao realizado para se determinar qual das duas series de tempo melhor se enquadravam nas provas empiricas. Essa compara<;ao da "serie temporal interrompida" dentro do mesmo caso pode ser aplicada a muitos contextos diferentes.

Em casos unieos, pode-se utilizar a mesma 16gica, com padr5es diferen­tes de series temporais, postulados para casos diferentes. Por exemplo, urn estudo de caso sobre 0 desenvolvimento economico em algumas cidades pode ter postulado que as cidades com base manufatureira tivessem tenden­cias mais negativas de gerac;ao de empregos do que aquelas cidades cuja economia e basicamente comercial. as dados finais pertinentes talvez con­sistissem em taxas anuais de emprego em urn periodo limitado de tempo, 10 anos por exemplo. Nas cidades manufatureiras, os dados talvez tivessem sido examinados por uma tendencia de emprego em declinio, ao passo que, nas cidades fundamentalmente comerciais, eles poderiam ter sido examina­dos com uma tendencia de emprego em ascensao. Epossivel se conceber analises semelhantes em rela<;ao ao exame de taxas criminais ao longo de urn periodo de tempo dentro de algumas cidades especificas, mudan<;as no processo de matricula em escolas e supostas mudan<;as em bairros, alem de muitos outros indieadores urbanos.

Senes temporais complexas. Os projetos que utilizam series temporais podem ficar mais complexos quando se estabelece que as tendencias dentro de urn determinado caso sao mais complexas. Pode-se postular, por exemplo, nao meras tendencias em ascensao ou em deelinio, mas urn determinado au­mento seguido por urn declinio dentro do mesmo caso. Esse tipo de padrao duplo, ao longo do tempo, representaria 0 princlpio de uma serie temporal mais complexa. Como sempre, 0 ponto forte de uma estrategia de estudo de caso nao estaria meramente na avalia<;ao desse tipo de series temporais, mas tambem em desenvolver uma explanac;ao rica em detalhes do complexo pa­drao de resultados e em comparar a explana<;ao com os resultados obtidos.

Surgem complexidades ainda maiores naqueles exemplos em que urn conjunto de multiplas variaveis - e nao apenas uma - sao importantes para urn estudo de caso e em que se previu que cada variavel tivesse urn padrao diferente com 0 tempo. Urn estudo sobre as mudanc;as de bairro em geral assume essa caracteristica. As teorias existentes sobre as mudanc;as sofridas por regioes urbanas, por exemplo, sugerem que existe urn atraso diferente de tempo nos Indices das alterac;6es ocorridas entre:

a) a populac;ao residencial; b) os vendedores e comerciantes;

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146 Estudo de Caso

c) as institui~6es locais, como a Igreja e as servi~os publicos; e d) a quantidade de residencias.

Quando urn determinado bairro esta passando por mudan~as raciais, aper­fei<;:oamento au outros tipos de transi~ao, todos esses indices devem ser estu­dados par urn periodo de 10 ou 20 anos. Os graficos resultantes, de acordo com as teorias existentes sabre essas altera~6es de bairro, irao variar de ma­neiras previsiveis. Par exemplo, afirma-se que certas altera<;6es populacionais (como a sutil mudan~a do crescimento de famflias pequenas) sao seguidas par mudan<;:as nos servi<;:os municipais (como a matdcula na escola au a au­menta da demanda de servic;os de rua), mas somente mais tarde par mudan· c;as ocorridas ern lojas comerciais; alem disso, as tipos de igrejas podem nao alterar, absolutamente, ao longo desse projeto.

Urn estudo como esse frequentemente exige a coleta de indicadores de bairro que, par sua propria natureza, sao dificeis de se obter (veja a QUADRO 27) e de se analisar. No entanto, se se dispensar tempo e trabalho adequados para realizar a coleta e a amilise de dados necessarias, a resultado podera ser uma analise convincente - como em urn estudo em que se utilizou urn projeto de serie temporal interrompida para examinar as efeitos a longo prazo de casualidades naturais na comunidade. Nesse ultimo estudo, foi realizado urn trabalbo intensivo de coleta de dados em quatro comunidades, apenas para se obter as dados necessarios da serie temporal; as resultados de casas multiplos sao descritos no QUADRO 28.

QUADR027 Altera~oes em indicadores de bairro ao longo do tempo

A preocupa~ao com transforma~oes urbanas e de bairro atingiu novos niveis durante a dEkada de 60 e 70, quando os espa~os urbanos pareciam estar sofrendo de uma decadencia e de urn declinio irregulares. Muitos observado­res especulavam que as cidades centrais dos Estados Unidos estavam, na ver­dade, abeira de desaparecer enquanto centros funcionais.

Esse tipo de preocupa~ao levou a inumeros esfor~os para se catalogar e pesquisar as alterac;oes em vanos indicadores em uma base de cidade para cidade. Urn esrudo (Yin, 1972, reimpresso em Ym, 1982a) chegou a dar enfase aocorrencia de alarmes contra incendio e aos fenomenos sociais potencialmen­te diferentes retratados pelos alarmes para incendios verdadeiros em oposic;ao aos alannes falsos. as padr6es de alarme eram comparados com inumeros ou­tros indicadores sociais, incluindo tendencias criminais, alterac;oes de enderec;o das familias que recebem auxQio da previdencia social e mudanc;as nos servic;os urbanos. Esse tipo de abordagem as transformac;6es urbanas e de bairro repre­senta urn exemplo de projeto e analise de varias series lemporais.

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 147

QUADR028 Estudos de caso utilizando ana.Iises de series temporais complexas

Pode-se dizer que uma catastrofe natural- como urn furadio, urn tornado ou uma enchente - e urn evento que arrasa uma comunidade. Dessa for­ma, pode-se imaginar que os padroes de venda e de neg6cios, os crimes e

utras tendencias populacionais mudem completamente depois de desas­tres como esses.

Paul Friesema e seus colegas (1979) esrudaram essas mudan~as cm qua­trO comunidades que foram atingidas por grandes catastrofes narurais: Yuba City, na Calif6rnia, 1955; Galveston, no Texas, 1961; Conway, em Arkansas, 1965; e Topeka, no Kansas, 1966. Em cada urn desses esrudos de caso, os pesquisadores coletaram numerosos dados de series temporais para os varios indicadores economicos e sociais. A amilise demonsrrou que a caclstrofc, cm­bora tivesse urn efeito a curro prazo - ou seja, em urn perfodo de 12 meses -, apresentava poucos efeitos a longo prazo, se realmente tivesse. Essa analise representa uma excelente aplica<;iio de uma tecnica de serie temporal com­plexa como base para urn estudo de casos mUltiplos.

Em geral, embora uma serie temporal mais complexa crie problemas maiores para a coleta de dados, ela tarnbern leva a uma tendencia rnais elabo­rada (au urn conjumo de cendencias), tOrnando a analise mais definitiva. Qualquer semelhan<;a de uma serie temporal prevista corn uma serie verda­deira, quando arnbas forem complexas, produzira provas consistentes para uma proposit;ao teorica inicial.

Cronologia. A analise de acontecimencos cronologicos e uma tecnica utili­zada com frequencia nos estudos de caso e pode ser considerada uma modali­dade especial de analise de series temporais. A sequencia cronologica enfatiza diretamente a principal ponto forte dos estudos de caso citado anteriormente ­que as escudos de caso permitem que a pesquisador pesquise as eventos ao longo do tempo.

A disposi~ao dos eventos em uma linha cronologica permite que a pes­quisador determine as eventos causais ao longo do tempo, uma vez que a sequencia basica de uma causa e seu efeito nao pode ser temporalmeme in­vertida. Comudo, diferentemente de abordagens de series temporais mais gerais, e provavel que a cronologia dos acontecimentos trabalhe com varias especies de variaveis e nao se limite a uma variavel dependente au indepen­dente. 0 objetivo, do ponto de vista analftico, ecomparar essa cronologia com aquela prevista por alguma teoria explanat6ria - na qual a teoria especificou uma ou mais das seguintes condic;6es:

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148 Estudo de Caso

t Alguns eventos devem sempre acontecer antes de outros, impossibili­tando a concep~ao de uma seqilencia reversa.

t Alguns eventos devem sempre acontecer depois de outros, em uma base de contingencia.

t Alguns eventos so podem seguir outros eventos apos uma passagem predeterminada de tempo.

t Certos perlodos de tempo em urn estudo de caso podem ser marcados por classes de eventos que diferem substancialmente daqueles de outros perfodos de tempo.

Se os eventos reais de urn estudo de caso, como cuidadosamente doCll­memados e determinados por urn pesquisador, obedecerem a uma sequencia predeterminada de eventos, e nao aquela estipulada por uma sequencia con­corrente convincente, a estudo de caso unieo pode novamente se transformar na base inicial para se fazer inferencias causais. A compara~ao com outros casas, alem da avalia~ao explfcita de ameac;as avalidade interna, sustentara essa inferencia.

Condifoes resumidas para a analise de senes temporais. Qualquer que seja a natureza da serie de tempo, 0 objetivo mais importante do estudo de caso e examinar algumas quest6es do tipo "como" e "por que" sobre a rela~ao dos eventos ao tonga do tempo, e nao apenas observar as tendencias que surgem com a tempo isoladamente. Sera durante urna interrupc;ao em uma serie tem­poral que se postularao relac;6es causais; da mesma forma, uma sequencia cronologiea deve conter postulados causais. Par outro lado, se urn estudo li­mita-se a analise de tendencias de tempo isoladamente, como em urn modo descritivo no qual as inferencias causais nao sao importantes, uma estrategia de estudo sem nenhum caso provavelmente sera mais relevame nessas cir­cunstancias - par exemplo, a analise econ6rnica das tendencias de pre~o ao consumidor ao longo do tempo.

Nessas ocasj6es, em que a utilizac;ao de uma analise de series temporais e relevante a urn estudo de caso, e fundamental se identificar o(s) indicador(es) especffico(s) que sera(ao) analisado(s) com 0 tempo, alem dos intervalos de tempo espedficos que serao tratados. Apenas como resultado dessa especifi­ca~ao previa e que, provavelmente, as dados relevantes serao coletados em primeiro lugar, e muito menos analisados de forma adequada.

Modelos 16gicos de programa

Essa quarta estrategia e, na verdade, uma combinac;ao das tecnicas de ade­quac;ao ao padrao e de analise de series temporais. 0 padrao que est3. sendo buscado e 0 padrao-chave de causa-efeiro entre variaveis independentes e

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 149

dependentes (Peterson & Bickman, 1992; Rog & Huebner, 1992). Contudo, a analise estabelece, deliberadamente, urn encadeamento complexo de even­(Os (-padrao) ao longo do tempo (serie temporal), dando conta dessas va­riaveis independentes e dependentes. A estrategia e rnais util para os estu­dos de caso, para as estudos explanatorios e exploratorios do que para os estudos de caso descritivos.

Joseph Wholey (1979), entao integrante do Urban Institute, primeiro fomentol! a ideia de urn "modelo logico de programa". Ele aplicou 0 conceiro para acompanhar os eventos quando se planejoll uma intervent;ao na politica publica a fun de produzir urn determinado resuIrado. A intervent;ao poderia, inicialmente, produzir atividades com seus proprios resultados imediatos; es­ses, por sua vez, poderiam produzir algum resuIrado imediato e sucessiva­mente ir produzindo resultados finais ou conclusivos.

Por exemplo, a interven<;ao em uma escola, em urn primeiro momento, poderia ter tida como base urn programa escolar recentemente organizado _ urn programa que tentasse trabalhar com os objetivos da reforma educacional intitulada 'i\merica 2000", atualmente em voga na area da educac;ao. Urn dos resultados do novo programa foi eriar uma nova serie de atividades em sala de aula durante uma hora extra do dia letivo. As atividades proporcionariam aos estudantes exerdcios conjuntos com os pais (resultado imediato). A con­seqiiencia desse resulrado imediato foi urn relatorio no qual se percebia 0

entendimento completo por parte dos estudantes, dos pais e dos professores do processo educacional e a sua satisfac;ao com a implantac;ao do mesmo (re­sultado intermediario). Finalmente, os exerdcios e a satisfat;ao par parte de todos levaram aassimilac;ao de certos conceitos pelos estudantes e pelos pais (resu!tado final).

Nesse exemplo, a analise de estudo de caso fomeceria as dados empiricos como base de sustenta~ao (ou de desafio) desse modelo logico. A analise en­globaria algumas sequencias concorrentes de evenros, alem da suposta im­portancia de eventos externos espurios. Se os dados comprovassem a encade­amento inicial, e nenhuma outra sequencia concorrente fosse constatada, a analise poderia afirmar que havia urn efeito causal entre a intervent;ao inidal da reforma educacional e a posterior melhoria na aprendizagem. Para urn estudo de caso exploratorio, pOder-se-ia chegar aconclusao de que uma serie especifieada de evenros era ilogica - por exemplo, que a intervenc;ao, desde 0

principia, nao tioha como objetivo urn resultado relevanre na aprendizagem. Essa estrategia do modele logico de programa pode ser utjlizada em uma

serie de circunstancias, nao apenas naquelas em que ocorreu uma interven­c;ao na politica publica. 0 ingrediente-chave e a suposta existencia de sequen­cias repetidas de eventos na ardem causa-efeito, todas encadeadas. Quanro mais complexa for a ligac;ao entre elas, mais definitiva sera a amilise dos da­dos do estudo de caso, a fim de se determinar se a adequac;ao ao padrao foi realizada com esses eventos ao 10ngo do tempo.

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150 Estuda de Casa

METODOS SECUNDARIOS DE ANALISE

Podem-se utilizar tambem nos estudos de caso tres metodos "secundarios" de analise:

a) analise de unidades incorporadas de analise; b) observa<;oes repetidas; e c) a abordagem de levantamento de dados do caso.

Esse segundo conjunto de abordagens consiste, entretanto, em tecnicas incompletas de analise. Devem ser usadas em combinaiJao com urn dos meto­dos principais de amilise a fim de produzirem uma amHise completa e confiavel do estudo de caso, cujas razoes sao apresentadas a seguir.

Analisando unidades incorporadas

Quando urn projeto de estudo de caso inclui uma unidade incorporada de analise - ou seja, uma unidade menor do que 0 caso em si, para 0 qual inume­ros pontos de dados foram coletados (veja 0 Capitulo 2) -, as abordagens anaHticas relevantes podem rratar de aproximadamente qualquer uma das tecnicas nas ciencias sociais.

Por exemplo, a unidade incorporada pode ter sido urn conjunto de res­postas dadas em urn levantamento - se foi conduzido urn levantamento entre funcionarios ou moradores como parte de urn estudo de caso tinico. Alterna­tivamente, a unidade incorporada pode ter sido algum indicador de arquivo se, por exemplo, foram coletados dados sobre habitaiJao ou sobre 0 comercio como parte de urn estudo de caso unico. Por fim, a unidade incorporada pode ter sido algum resultado de servi<;o, como 0 numero de clientes atendidos por uma unidade organizacional que fora 0 objeto de urn estudo de caso unico.

Em cada urn desses exemplos, a estrategia analitica pertinente refletiria as proposiiJoes que devem ser examinadas para a unidade incorporada. Essas pro­posiiJoes estariam relacionadas as proposi<;oes para 0 caso maior, mas seriam diferentes delas. As tecnicas analiticas reais poderiam incluir analises de levan­tamentos, analises economicas, analises hist6ricas ou ate mesmo pesquisa de operalJoes. 0 que diferenda esse tipo de analise, em cada situa<;ao, de uma pesquisa regular de levantamemos, de operalJoes e das pesquisas economicas ou hist6ricas e que a unidade de amilise e claramente incorporada dentro de urn caso mais amplo, eo caso rnais ample representa 0 interesse principal do estudo. Se as unidades incorporadas forem elas mesmas 0 foco de atenlJao (ou se se permitir que venham a se-lo), e se 0 caso mais ample for apenas urn aspecto contextual menor, 0 trabalho naa deve ser considerado urn estudo de caso. Se assim for, deve-se uLilizar alguma autra estrategia de pesquisa.

Analisanda as Evidencias do Estuda de Caso 151

Essa distinlJao aparece de forma mais clara em estudos incorporados de casos multiplos. Nessas circunstancias, a analise apropriada da unidade in­corporada de analise deve ser prirneiramente conduzida dentro de cada caso. Os resultados devem ser interpretados como caso unico e podem ser trata­dos como apenas urn dos varios fatores em uma analise de adequalJao ao padrao ou constru<;ao da explana<;ao de caso unico. Os padroes ou as expla­nalJoes para cada caso {mico podem, entaO, ser comparados a todos os ca­sos, seguindo 0 metodo de replicalJao para casos multiplos. Pinalmente, as conclus6es para casos multiplos podem acabar se tOrnando as conclusoes para 0 estudo total.

Em contrapartida, urn estudo que nao se caracteriza como urn estudo de caso seguiria uma seqiiencia analitica diferente, mesmo que os dados sejam diferentes. Nesses casos, a analise apropriada da unidade incorporada e primei­ro realizado ao Zanga das casos, com todos os dados reunidos ao lange dos ca­50S. OS resultados dessa analise podem ser aumentados por discuss6es dos ca­sos individuais como contexto desses dados reunidos, mas nao se faz nenhuma tentativa de relacionar os dados dentro do caso com 0 contextO individual de cada urn deles, e tampouco se aplica urna 16gica de replica<;ao atraves dos ca­sos. Nesse tipo de estudo (como em urn levantamento ou urn estudo economico da inflaiJao ao lange de varias cidades), as primeiras conclus6es tratam das unidades incorporadas reunidas, e os casos individuais sao de importancia ape­nas periferica. Esse tipo de estudo nao constitui urn estudo de caso.

Em resumo, quando se tratar de urn genuino estudo de caso, realiza-se qualquer analise das unidades incorporadas dentro de cada caso (e nao em casos reunidos). Alero disso, a analise nao pode ser Unica, mas deve ser refor­c;ada por alguma outra tecnica analitica do caso "inteiro", como as tecnicas de adequaiJao ao padrao, constrw;:ao da explanalJao, series temporais ou mode­los 16gicos de programa.

Fazendo observa~oes repetidas

As observaiJoes repetidas constituem outra modalidade secundaria de analise. Quando observaIJ6es como essas sao feitas ao lange do tempo, esse tipo de analise pode ser considerado uma especie toda especial de analise de series temporais. No entanto, as observaiJoes repetidas tambem podem ser feitas corn base em urn cone transversal - por exemplo, em "locais" repetidos ou para outras unidades incorporadas de analise dentro do mesmo caso. Por essa razao, considera-se a utiliza<;:ao de observalJoes repetidas uma abordagem analftica separada da analise de series temporais.

Por exemplo, a analise de urn sistema nacional de grande porte (urn es­tudo de caso unico) chamou a atenc;ao para 0 problema de que a sistema solicitava das escolas informac;6es sabre os estudantes no inkio do perfoda

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15 Estudo de Caso

letivo, ourono nos Estados Unidos, e depois de novo no fim, na primavera. A pressuposi~ao era de que esses dados iniciais e finais serviriam para real~ar as mudan~as, se houvesse, resultantes do trabalho educacional compensatorio realizado durante 0 ano letivo (Linn et al.) 1982). A ava1ia~ao descobriu, no entanto, que os grandes avan~os alcan~ados do infcio ao fim do ana letivo foram contaminados pelo fato de que os estudantes normalmente apresentam algum progresso justamente nesse pedodo; por conseguinte, a avalia~ao reco­mendou que urn sistema mais justo de medidas compararia 0 desempenho dos estudantes em uma base anual. 0 estudo mostrou que, para cada nota das escolas primarias durante urn ana ilustrativo - isto e, para julgamentos repe­tidos de todas as notas -, as compara~6es de infcio e fim do ana letivo eram, do ponto de vista dos anefatos, mais favoraveis do que as compara~6es anuais (veja a Figura 5.1).

Se urn estudo de caso pode perseguir esse tipo de analise, sera utilizand uma analise de observa~6es repetidas) nao importando se a repeti<;ao sera atraves de salas de aulas, escolas, estudantes ou unidades de analise diferen­tes. 0 que torna a utiliza~ao de observa<;6es repetidas uma modalidade secun­

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Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 53

daria de analise e que a anilise, provavelmente, nao reflete todas as preacu­pa~6es de urn estudo de caso. Como no exemplo ilustrativo, em que 0 foco principal do caso era 0 trabalho educacional compensatorio e nao ~imples­mente a sequencia de testes da primavera-outono, eprovclvel que as observa­~6es repetidas sejam refor~adas por outras ana!ises do caso inteiro.

Fazendo um levantamento de caso: anatise secundaria atraves dos casos

Uma alternativa final de metodo secundario de analise limita-se aquelas si­tua~6es em que lui varios estudos de caso disponiveis para analise. Por exem­pia, uma analise secundaria de cenos topieos - como a participa~ao do cida­dao em servi~os urbanos (Yin & Yates, 1975) au inova<;6es em servi<;os urba­nos (Yin, Heald, & Vogel, 1977) - pode ter como base mais de 200 ou 300 estudos de caso. Esses casos nao sao 0 resultado de urn tinieo estudo, mas representam tada uma literatura de intimeros estudos.

o levantamento de caso exige 0 desenvolvimento de urn instrumento de codifica~ao induzida, que emao e aplieada a cada estudo de caso. A pessoa que faz a codifica~ao, ou a analista-leitor, utiliza cada caso como base para responder ao instrumento, e os dados coletados sao classificados e analisados da mesma maneira que aqueles coletados em urn levantamento comum (Lucas, 1974; Yin, Bingham, & Heald, 1976; Yin & Heald, 1975). Da mesma forma que em lim levantamento usual, a codifiea~ao pode ser verificada de maneira CTU­

zada e sua confiabilidade avaliada, e os resultados do levantamento do caso serao essencialmeme quantitativos em natureza. Se 0 numero de casos for grande 0 bastanre, podem-se examinar satisfatoriamente proposi<;6es interativas diferentes; quando se utilizar codigos categoricos, devem ser utili­zadas tecnicas analiticas discretas de variciveis e ttknicas log-lineares inova­doras (veja Bishop, Fienberg, & Holland) 1975; Goodman, 1978).

Esse tratamento das analises de estudo de caso, no entanto, nao deve ser confundido com outras duas abordagens. Primeiro, 0 levantamento de caso euma tecnica para a anilise cruzada de casos e nao e a mesma utiliza­da em uma analise quantitativa que pode ser conduzida de uma unidade incorporada dentro do mesmo caso. Segundo, e mais imponante que a pri­meira, 0 levantamento realizado para urn caso, como em uma tecnica de caso cruzado, possui grandes limita<;6es em rela~ao a analise de casos mul­tiplos previamente descrita.

Isso ocorre porque e improvavel que 0 levantamemo de caso consiga atingir uma generaliza<;:ao teorica ou estatistica. A generaliza<;:ao te6rica nao e viavel porque a sele<;:ao de casos individuais, diferememente do que efeito em urn projeto real de casos multiplos, esta alem do controle do pesquisador (sendo uma analise secundaria) e, panamo, nao sc baseia em qualquer 16gica de

...J,______:r~Rlica<;ao (a excesao estaria em uma situacao raLa.-eJIUlue.-eentenas de casas

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154 Estudo de Caso

individuais sao projetados e conduzidos especialmente como parte da mesma investigac;ao, e em que 0 levantamento de caso e uma tecnica analftica funda­mental e nao seeundaria). Da mesma forma, a generalizac;ao estatistiea nao e viavel porque a seleC;ao dos casos individuais, novarnente alern do controle do pesquisador, nao se baseia ern qualquer logica de arnostragem.

Esse problema da generalizaC;ao, entretanto, nem sempre e importante ao realizar urn levantamento de easo. A func;ao do levantamento pode sim­pIesmente ser a de sintetizar os esrudos de easo existentes em urn topieo, e nessa situac;ao nem a generalizac;ao estatistiea nem a teorica despenaria in­teresse. Assim, 0 levantamento de caso e uma te:~cnica importante quando 0

objetivo da pesquisa for explieitamente a de uma analise seeundaria - por exemplo, determinar 0 que diz a literatura existente sobre urn detenninado topieo. Nessas situac;oes, e preferivel utilizar 0 levantamento de caso a utili­zar outroS modos de revisar a literatura sabre a questao, que em geral reflete julgamentos subjetivos na selec;ao dos escudos relevantes e a quantidade de atenc;ao dispensada a eada urn deles. A teenica do levantamento de caso pode minimizar essas tendencias e, se puder ser aplieada, representa a tecni­ca desejada. 0 levantamento de caso, nao obstante, nao deve ser visto como uma modalidade dominante de amilise ao projetar e realizar uma nova serie de estudos de caso.

EXIGINDO UMA ANALISE DE ALTA QUAUDADE

Nao importa qual estrategia analltica especifica seja escolhida, voce deve fazer de rudo para ter certeza de que a sua analise e de alta qualidade. No minimo, quatro princfpios pareeem fundamentar toda a boa ciencia social (ym, 1994) e exigem sua inteira atenc;ao.

Em primeiro lugar, sua analise deve deixar claro que ela se baseou em todas as evidencias relevantes. As estrategias analfticas par voee utilizadas, in­c1uindo 0 desenvolvimento de hipoteses concorrentes, devem ser exaustivas. Sua analise deve demonstrar como ela proeurou tantas evidencias quantas encontravam-se disponiveis, e suas interpretac;oes devem considerar todas as evidencias e nao deixar nenhurna indefinic;ao.

Em segundo lugar, sua analise deve abranger todas as principais interprt:­tw;:i5es concorrentes. Se urna outra pessoa tiver uma explicaC;ao altemativa para uma ou vanas de suas descobertas, fac;a dessa explicac;ao altemativa uma ex­plicac;ao coneorrente. Ha alguma evidencia que aponte para essa explieac;ao concorrente? Se houver, quais sao os resultados? Se nao hauver, como a expli­caC;ao concorrente pode ser reafinnada como uma indefinic;ao a ser investigada em escudos futuros?

Ern terceiro lugar, sua analise cleve se dedicar aos aspectos mais signifi­cativos do seu estudo de CQso. Nao importando que seja urn estudo de caso linkJ1 rJuJie....cas.a.ullIilIiQlos~ceteni demonstrado suas melhores habilida-

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 155

des analiticas se a analise aringir todos os seus maiores objetivos. Para que se embrenhar na realiza<;:ao de urn estudo de caso se voce nao se dedicar as quest6es mais importantes?

Em quarto lugar, voce deve utilizar seu conhecimento previa de especialis­ta em seu estudo de caso. De preferencia, voce deve analisar quest6es seme­lhantes no passado e estar conscieme das discuss6es e do debate arual sobre a topico do estudo de caso. Se voce conheeer 0 objeto de seu esrudo de investi­ga<;:6es e publica<;:6es anteriores, sera melhoT.

o eStudo de caso no QUADRO 29 foi realizado por urn consultor admi­nistrativo, e nao por urn cientista social acadernico. Como foram realizadas varias etapas nesse escudo, nao obstante, 0 autor demonsrrou urn grande cui­dado ao realizar a investiga<;:ao empirica cujo espirito vale a pena ser levado em considera<;:ao por todos os pesquisadores de estudo de caso. Extraordina­riamente, 0 cuidado se evidencia na apresemac;ao dos pr6prios casos, e nao apenas par causa da existencia de uma rigorosa sec;ao de "metodologia". Se voee puder emular essas e outras estrategias em sua analise, ela tarnbem de­vera receber respeito e reconhecimento apropriados.

QUADR029 Qualidade analitica em um estudo de casos mUltiplos sobre a competi~o internacional no comercio

A qualidade de uma amUise de escudo de caso nao depende unicamente das tecnicas utilizadas, embora elas sejam imponantes. De igual imponancia e que 0 pesquisador demonstre destreza sufidente para conduzir a analise. Essa destreza ficou evidendada no livro de Magaziner e Patinkin, The Silent War: Inside the Global Business Battles Shaping America's Future (1989).

Embora os autores fossem consultores administrativos e nao dentistas sociais academicos, seus nove estudos foram organizados de urna maneira excelente. Atraves de todos os casos, alguns temas principais concernentes as vantagens (e desvantagens) da competi<;ao nos Estados Unidos foram trata­dos ern urn projeto de replica<;ao. Dentro de cada caso, os auteres apresenta­ram longas entrevistas e documeDta<;6es, expondo as fontes utilizadas em suas descobertas (para manter a narrativa de urna fonna fluida, a maioria dos dados - em tabelas, notas de rodape e dados quantitativos - foi relegada a noras de rodape e apendices). Alero disso, os autores provaram que tinham urn amplo conhecimento pessoal das quest6es que estavam sendo estudadas, resultado de intuneras visitas dentro do pais e no exterior.

Tecnicamente, urna ''metodologia'' mais explicita teria side mais uti!. No entanto, na falta de uma metodologia assim, urn trabalho cuidadoso e deta­lhado ajuda a ilUStrar 0 que os pesquisadores com urna visao mais academica devem se eSfon;ar em alcan<;ar ao aplicarem metodologias mais forma is.

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56 Estudo de Caso

RESUMO

Esse capitulo apresentou vanas estrategias importantes para analisar os estu­dos de caso. Primeiro, podem-se reduzir as dificuldades analiticas potenciais se 0 pesquisador possuir uma estrategia geral para analisar os dados - mesmo que essa estrateg"ia baseie-se em proposi<;oes te6ricas ou em uma estrutura basica deseritiva. Na falta de urna estrategia assim, 0 pesquisador e incentiva­do a "jogar" com os dados de uma forma preliminar, como preludio para de­senvolver urn born senso sistematico do que vale a pena ser analisado e como deve ser analisado.

Segundo, estabelecida uma estrategia geral, podem ser utilizadas varias estrategias analiticas especfficas. Dessas, quatro estrategias (adequa<;ao ao paddo, constru<;ao da explana<;ao, analise de series temporais e modelos l6gi­cos de programa) constituem metodos efetivos de preparar 0 fundamento para a realiza<;ao de estudos de caso de alta qualidade. Para todas as quatro, deve­se aplicar uma 16gica de replica<;ao se 0 estudo envolver casos multiplos (ob­tendo, dai, validade externa), mas devem-se fazer compara<;oes importantes com as proposi<;6es concorrentes e amea<;as avalidade interna dentro de cada caso individual.

Outras tres estrategias (analise de unidades incorporadas, observa<;6es repetidas e levantamentos de caso) representam maneiras inconclusas de se realizar analise de estudo de caso. Em geral, esses Ultimos procedimentos de­vern ser utilizados em conjunto com uma das outras tecnicas mencionadas, a fim de se ter uma analise acurada.

Nenhuma das estrategias e facU de usar. Nenhuma pode ser aplicada de forma mecanica, seguindo-se uma receita de cozinha comurn. Nao surpreen­dentemente, a analise de estudo de caso representa 0 estagio mais dificil de ser atingido ao realizar estudos de caso, e os pesquisadores principiantes pro­vavelmente viverao uma experiencia embara<;osa. Mais uma vez, recomen­da-se aos novatos iniciar sua carreira na area dos estudos de caso com urn estudo simples e faeil de compreender, mesmo que as questoes da pesquis~

nao sejam tao sofisticadas ou inovadoras quanto se desejaria que fossem. A medida que obtem experiencia ao conduir estudos de caso mais simples como esses, 0 novato sera capaz de se embrenhar em pesquisas mais complicadas.

EXERCicIOS

1. Analisando a processo anal{tico. Selecione urn dos estudos de caso descritos nos QUADROS deste livro. Encontre urn capitulo (em geral no meio do Iivro) no qual as evidencias sao apresemadas, mas as conclus6es ainda estao sendo elaboradas. Descreva como ocorre essa uniao - das evidencias citadas as conclus6es. Os dados sao apresen­tados ern tabelas ou de olltras rnaneiras? Sao feitas comparac;6es?

Analisando as Evidencias do Estudo de Caso 157

2. Unindo dados quantitativos e qualitativos. Escolha algum t6pico den­tro de urn estudo de caso que voce possa estar realizando, para a qual sao relevantes tanto dados qualitativos quanto quantitativos. Identifique os dois tipos de dados, parta do principio que foram coletados com sucesso e discuta as maneiras como eles seriam com­binadas ou comparados. Qual e a vantagem de ter os dois tipos de dados em seu estudo?

3. Adequando padroes. Escolha urn estudo de caso que tenha utilizado uma tecnica de adequac;ao ao padrao em sua analise. Que vanta­gens e desvantagens especiais ele tern a oferecer? Como a tecnica pode produzir uma analise convincente mesma quando for aplicada apenas a urn unico caso?

4. Construindo uma explana{:-do. Identifique algumas mudan<;as per­ceptlveis que estaa ocorrendo em seu bairro (ou em algum outro local nos arredores). Elabore uma explanac;ao para essas mudan­<;as e indique urn conjunto importante de evidencias que voce co­letaria para sustentar ou contestar essa explica~ao. Se essas evi­dencias puderem ser encontradas, sua explanac;ao ficaria comple­ta? Ficaria convincente? Seria uti! para investigar mudan<;as se­melhantes em outro bairro?

5. Analisando tendencias de series temporais. Identifique uma serie tem­poral simples - por exemplo, 0 numero de estudantes matriculados na sua universidade em cada urn dos ultimos 20 anos. Como voce compararia urn perfodo de tempo com outro periodo nesses 20 anos? Se as politicas de admissao da universidade tivessem mudado du­rante esse tempo, como voce compararia os efeitos dessas politicas diferentes? Como essa analise poderia ser considerada parte de urn estudo de caso mais amplo da universidade em que voce esruda?

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•••• capitulo

~€5 Compondo 0 "relat6rio de um estudo de caso

A exposic;ao de um estudo de caso pode ser tanto escrita quanto oral. Inde­pendentemente da forma que assume, no entanto, etapas semelhantes de­vern ser obedecidas durante 0 processo de composic;ao: identificar 0 publi­co almejado para 0 relat6rio, desenvolver uma estrlltura de composic;ao e adotar cenos procedimentos (como pedir para pessoas infonnadas revisa­rem 0 estudo de caso do qual foram objeto do estudo).

A fase de exposic;ao do estudo euma das mais complicadas de se condu­zjr ao realizar estudos de caso. 0 melhor conselho que pode ser dado e compor partes do esmdo de caso mais cedo (p.ex., a bibliografia) e possuir minutas das vanas sec;6es do relat6rio (p.ex., a sec;ao metodol6gica), em vez de esperar ate 0 final do processo de analise dos dados para come<;ar a escrever. No que diz respeito as estruturas de composi<;ao, sugerem-se seis altemativas: analitica linear, comparativa, cronol6gica, de construc;ao da teoria, de "inceneza" e estruturas nao-seqiienciais.

Como regra geral, a fase de composi~ao exige 0 maior esforc;o de urn pesquisador de estudo de caso. 0 "relatorio" de um estudo de caso nao segue qualquer formula estereotipada, como urn artigo de revista na psicologia. AMm disso, 0 "relatorio" nao precisa vir apenas na forma escrita. Devido asua natu­reza incerta, os pesquisadores que nao gostam de escrever provavelmente nao deveriam realizar estudos de caso.

Naturalmente, a maioria dos pesquisadores pode, ao final, aprender a compor urn relat6rio muiro bern e de forma muito facH, e a inexperiencia em redigi-lo nao deve se tamar urn impedimento para a realizaC;ao dos estudos de caso. Sera necessaria muita pratica, no entanto. Alem disso, voce tern que querer se tamar born na arte de compor relat6rios - e nao apenas tolen~-la.

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160 Estudo de Caso

Vma maneira de descobrir se voce conseguira ter exito nessa fase do trabalho e verificar se voce conseguia escrever com facilidade as monografias do segun­do grau e da faculdade. Quanto mais dificeis eram, mais dificillhe sera com­por urn relatorio de estudo de caso. Vma outra maneira de descobrir ever se 0

ate de compor 0 relatorio evisto como uma oporrunidade ou como urn fardo a ser carregado. 0 pesquisador bem-sucedido, em geral, entende a fase de composic;ao como uma oporrunidade - par estar fazendo urna contribuiC;ao imponante ao conhecimento e apratica de pesquisa.

Infelizmente, poucas pessoas sao advertidas sobre esse problema, que so surge no final da Ease de planejamento e de realizac;ao de urn esrudo de caso. o pesquisador perspicaz, porem, comec;ara a redigir 0 relatorio do estudo mes­rno antes do termino da coleta e da amilise de dados. Em geral, nao importan­do se 0 "relatorio" sera escrito, oral ou pictorico (as aspas sao utilizadas para lembra-Io de que urn relatorio pode assumir todas essas formas, e nao apenas a forma escrita), a fase de composiC;ao e tao importante que deveria receber atenc;ao expllcita ao longo das fases anteriores do esrudo de caso.

Apesar desse conselho, a maioria dos pesquisadores ignora a fase de com­posic;ao ate 0 instante final de seus estudos. Sob tais circuostancias, podem surgir todos os tipos de "bloqueio de escritor" no pesquisador, e acaba se tor­nando praticamente impossivel redigir 0 relatorio. Assim, 0 primeiro passe que pode ser tornado em qualquer pesquisa de estudo de caso e coosultar urn livro-texto que trate da redaC;ao de relatarios de pesquisa de forma mais gene­rica (veja Barzuo & Graff, 1985). Esses textos oferecern dicas e conselhos vaH­osos sobre como fazer anotac;6es, elaborar minutas, utilizar palavras adequa­das, escrever frases claras, estabelecer etapas para 0 relaterio e combater 0

esumulo comum de nao escrever. o objetivo deste capitulo oao erepetir todas essas lic;6es gerais, embora

sejam aplicaveis aos estudos de caso. A maioria delas sao importantes a to­das as formas de composic;ao da pesquisa, e descreve-Ias aqui seria contra­producente ao objetivo de fornecer informac;6es espedficas aos estudos de caso. Em vez disso, 0 objetivo deste capitulo sera salientar aqueles aspectos da composiC;ao e da exposiC;ao que estao diretamente relacionados aos estu­dos de caso. lncluem-se aqui os seguintes tapicos, cada urn discutido em uma sec;ao separada:

• 0 publico a que os estudos de caso se destinam. • As variedades de composic;ao do estudo de caso. • As estruturas ilustrativas para as composic;6es do estudo de caso. • Os procedimentos a serem adotados ao realizar urn relaterio de estu­

do de caso. • E, como conclusao, as especulac;6es sobre as caracterfsticas de urn

estudo de caso exemplar (estendendo-se alE~m do relatorio em si e tratando do projeto e do conteudo do caso).

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 161

Vma coisa que deve ser lembrada do Capitulo 4 e que 0 relatorio do esrudo de caso nao deve ser a principal maneira de se registrar ou armazenar a base de sustentac;ao do estudo de caso. Em vez disso, no Capitulo 4 defende­se 0 usa de urn banco de dados para 0 estudo de caso visando a esse propasito (veja 0 Capitulo 4, principio 2), e os trabalhos de composic;ao descritos neste capftulo sao primordialmeote projetados para fins de relato, e nao de docu­rneotac;ao.

o PUBUCO PARA UM ESTUDO DE CASO

Relaf;ao de ptiblicos possiveis

Os estudos de caso possuem uma rela<;ao mais diversa de possiveis publicos­alvo do que a maioria dos outros tipos de pesquisa. Inclui-se nessa relac;ao 1:

a) colegas da mesma area; b) organizadores polfticos, profissionais em geral e tambem os profissio­

nais que nao se especializaram oa metodologia de estudo de caso; c) grupos especiais) como a banca de tese ou de dissertac;ao de wn estu­

dante; e d) a instituic;ao financiadora da pesquisa.

Com a maioria dos relatarios de pesquisa, como em experimentos, 0 se­gundo publico a que se destina urn esrudo de caso nao e geralmente importan­te, na medida em que poucas pessoas esperariam que os resultados de urn experimenro em laboratario fossem dirigidos a leigos no assunto. Em urn estu­do de caso, no entanto, esse segundo publico pode ser urn alvo freqiienre do relaterio de estudo de caso. Para mencionar outro contraste, 0 terceiro publico raramente seria relevante para alguns tipos de pesquisa - como em avaliac;6es - uma vez que as avaliac;6es geralmente nao funcionam adequadamente en­quanto teses ou dissenac;6es. Para os esrudos de caso, oao obstante, esse rer­ceiro publico tambem e urn usuario contumaz do relatorio dos esrudos de caso, devido ao grande numero de teses e dissertac;6es nas ciencias sociais que se baseiam em estudos de caso.

Como os estudos de caso possuem urn publico em potencial muito maior do que outros tipos de pesquisa, uma tarefa essencial ao projetar 0 relat6rio global do estudo e identificar cada urn dos publicos espedficos para 0 relate­rio. Cada urn deles possui necessidades diferentes, e nenhum relat6rio em especial ateneleni as demandas de toelos os publicos simultaneamente.

Para as seus colegas de profissao, 0 mais importante e, provavelmente, a rela<;ao entre 0 escudo de caso, suas descobertas e as teorias ou a pesquisa ja existentes. Se urn estudo de caso consegue transmitir todas essas rela<;6es, ele sera amplameme lido por urn bom perfodo de tempo (veja 0 QUADRO 30

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162 Esrudo de Caso

QUADR030 Reirnpressao de urn faDlOSO estudo de caso

Por muitos anos, !VA and the Grass Roots (1949), de Philip Selznick, foi 0

livro classico sobre as organiza,,6es pt'iblicas. a caso foi citado em muitos estudos subseqiienres de agencias federais none-americanas, componamen­to politico e descentraliza"ao organizacional.

Quase 30 anos depois de sua primeira pUblicac;ao, 0 caso foi reimpresso em 1980 como pane da Library Reprint Series, editada pela University of California Press, editora original do livro. Esse ripo de relan"amento permite que vanos outrOS investigadores tenham acesso a esse famoso estudo de caso e re£lete sua contribuic;ao substancial aarea.

para obter urn exemplo). Para aqueles que nao sao especialistas, 0 mais impor­tante sao os elementos descritivos quando se retrata alguma situa~ao da vida real, assim como as implica~oes para a ar;ao. Para uma banca de teses, especia­lista na metodologia e nas questoes teoricas de urn t6pico do estudo de caso, o importante sao as indicar;6es dos cuidados que estao sendo tornados duran­te a pesquisa e as evidencias que 0 estudante obteve com sucesso em todas as fases do processo de pesquisa. Por fim, para a institui~ao financiadora da pes­quisa,o significado das descobertas do estudo de caso, tanto em termos pnlti­cos quanto academicos, e tao importante quanto 0 rigor com que a pesquisa foi conduzida. Devido a essas diferenr;as entre os diversos publicos-alvo de urn estudo, estabelecer uma comunicac;ao bem-sucedida com mais de urn pu­blico pode significar a necessidade de mais de uma versao do relatorio do estudo de caso. Os pesquisadores devem pensar seriamente em atender a essa necessidade (veja 0 QUADRO 31).

Comunicando-se com os estudos de caso

Uma outra diferenr;a existente entre 0 estudo de caso e os outros tipos de pes­quisa eque 0 relat6rio do estudo de caso pode ser, ele mesmo, urn mecanismo importante de comunicac;ao. Para os leigos, a descric;ao e a analise de urn unico caso, em geral, transportam informac;6es sobre urn fenomeno mais geral.

Uma situac;ao relacionada a essa que egeralmente ignorada ocorre quando se da testemunho em relaC;ao a alguma coisa antes de uma comissao do Con­gresso americano. Se uma pessoa idosa, por exemplo, testemunha sobre 0 seu

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 163

QUADR031

Duas vel'soes sobre 0 rnesmo estudo de caso

Em 1982, 0 escritorio de planejamento municipal de Sroward County, no estado da Florida, implementou urn sistema de automa"ao ("The Politics of Automating a Planning Office", Standerfer & Rider, 1983). As estrategias de implementa"ao foram inovadoras e significativas - especialmente em rela­c;ao as tens6es que surgiram com 0 departamento de informatica do gover­no local. 0 resultado eurn estudo de caso interessante e informativo, cuja versao popular - publicada em um periodico profissional do local- ediver­rida e facil de ler.

Uma vez que esse ripo de implanta~o tambem trata de questoes tecnicas mais complexas, os autores apresentam informa"oes suplememares aos leito­res interessados. A versao popular continha nomes, endere"os e numeros de telefone, de forma que os leitores podiam obter as informac;6es adicionais que quisessem. Esse tipo de disponibilidade dupla dos relatorios do estudo de caso eapenas urn exemplo de como relat6rios diferentes sobre 0 mesmo estu­do de casq podem ser t'iteis para voce se cornunicar com publicos diferentes.

plano de saude antes da comissao, seus integrantes podem entender que eles possuem urn entendimenro mais geral sobre 0 tratamento de saude que 0

idoso deve receber - baseado nesse "caso". Somente entao, a comissao pode interpretar estatisticas mais amplas sobre 0 predomfnio de casos semelhan­res. Depois, a comissao pode investigar a natureza representativa do caso ini­cial, antes de propor uma nova legislar;ao. Contudo, ao longo de todo esse processo, 0 caso inicial - representado por urna testemunha - pode ser 0 in­grediente fundamental para se chamar a atenc;ao a essa questao do rratamen­to de sallde em primeiro lugar.

Desta e de muitas outras maneiras, os estudos de caso podem transmitir informal):oeS baseadas na pesquisa sobre urn detenninado fenomeno a uma gama de pessoas que nao possuem conhecimentos sobre eles. Dessa forma, a utilidade dos estudos de caso vai muiro alem da funr;ao do relat6rio tipico de pesquisa, que geralmente se dirige aos colegas do pesquisador, ern vez de se dirigir aos leigos no assunto (veja 0 QUADRO 32). E6bvio que tanto os estu­dos de caso descritivos quanto os explanatorios podem ser irnportantes nesse papel, e 0 pesquisador perspicaz nao deve desprezar 0 passlvel impacto des­critivo de urn estudo de caso bem-apresemado.2

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164 Estudo de Caso

QUADR032 Oferecendo um bom estudo de caso a urn publico maior

A excelente analise feita por Neustadt e Fineberg sobre uma campanha de imuniza~ao em massa apareceu originariamente como urn relat6rio do gover­no norte-americano em 1978, The Swine Flu Affair: Decision-Making on a Slippery Disease. 0 esrudo depois foi citado, em drculos politicos, como exernplo de urn esrudo de caso cuidadoso e de alta qualidade, e 0 caso tambem foi fre­qilentemente utilizado para fins de ensino.

A versao original do esrudo de caso, no entanto, era diffcil de ser obtida, tendo sido publicada pelo Government Printing Office do govemo, que, segun­do os autores, "tern muitas virtudes, ...mas... preencher pedidos que nao apre­sentam troco exato nero Dlimeros aciomirios precisos nao euma delas" (1983, p. xxiv). Por conseguime, a versao revisada do esrudo de caso original- que apresentou novas informac;6es ao caso original- foi publicada posteriormen­te como The Epidemic That Never Was: Policy-Making and [he Swine Flu Affair (1983). Essa ediC;ao comercial de urn esrudo de caso altamente respeitado e urn exemplo raro do que pode ser feito para melhorar a dissemina~ao dos esrudos de caso.

Orientando 0 relatorio do estudo de caso as necessidades de urn publico especifico

No geral, as supostas preferencias de urn publico em potencial devem impor 0

modelo de urn relat6rio de estudo de caso. Embora os procedimentos e a metodologia de pesquisa devam ter tido como base outras diretrizes, sugeridas nos Capitulos 1 a 5, 0 relat6rio em si deve refletir as enfases, os detalhes, 0

modelo de composic;:ao e ate mesmo a extensao conveniente as necessidades do suposto publico. Voce deve coletar formalmente as informac;:6es sobre 0

que 0 publico necessita e seus tipos preferidos de comunicac;:ao (Morris, Fitz­Gibbon, & Freeman, 1987, p. 13). Ao lange deste livro, 0 autor vern, freqilen· temente, chamando a atenc;ao dos estudantes que estao elaborando suas dis­sertac;6es e teses de mestrado e doutorado para 0 fato de que a banca exami­nadora podenl ser seu unico publico. 0 relat6rio final, sob tais circunstancias, deve tentar se comunicar diretamente com a banca. Uma tatica recomendada para se fazer isso e integrar a pesquisaja realizada pelos membros da banca a tese ou a dissertac;ao, aumentando, dessa forma, 0 seu potencial de comunicabilidade.

Qualquer que seja 0 publico, 0 maior erro que 0 pesquisador pode come­rer e elaborar 0 relat6rio de urna perspectiva egocentrica. 0 pesquisador co­metera urn erro como esse se 0 relat6rio for conciuido sem identificar um

Cornpondo 0 "Relatorio" de urn Estudo de Caso 165

publico espedfico au sem compreender as necessidades pr6prias desse publi­co. Para evitar esse tipo de equfvoco, sugere-se que 0 investigador identifique o publico de imediato, como ja foi anteriormente mencionado. Uma outra sugestao igualmente importante eexaminar os relat6rios de estudo de caso ja existentes que conseguiram se comunicar com sucesso com seu publico. Tais relatorios podem dar dicas muito uteis de como se elaborar urn novo relato­rio. Por exemplo, pense novamente no estudante que esta preparando sua dissertac;:ao ou sua tese de mestrado e doutorado. Ele deve consultar outras dissertac;:oes au teses que obtiveram a aprovac;:ao academica com sucesso - ou que se sabe que possuem documentos exemplares. A inspec;ao desses docu­mentos pode revelar 6timas informac;6es sobre a burocracia departamental (e as provaveis preferencias dos revisores) que voce podera utLlizar quando for planejar uma tese ou dissertac;ao nova.

VARIEDADE DE ESTRUTURAS DE UM ESTUDO DE CASO

"Relatorios" escritos em compara~ao a nao-escritos

Urn "relatorio" de estudo de caso nao precisa ser apenas escrito. As informa­c;6es e as dados obtidos em urn caso podem ser expostoS de outras maneiras ­como uma exposi~ao oral ou ate urn conjunto de fotos Oll gravac;6es de video. Muito embora a maioria dos estudos de caso realmente resulte em produtos escritos, uma tarefa deliberada do pesquisador deve ser a selec;ao da maneira mais eficaz e pertinente para apresentar qualquer "relatorio" determinado. A escolha influenciara reciprocamente a tarefa de identificar 0 publico para 0

estudo de caso. Urn produto escrito, entretanto, realmente oferece varias vantagens im­

portantes. Podem-se transmitir e comunicar informac;6es mais precisas atra­yeS da forma escrita do que atraves da forma oral ou pict6rica. Embora a maxima de que uma imagem vale mais do que mil palavras seja verdadeira, a maioria dos estudos de caso trata de conceitos abstratos - como estrutura organizacional, implementac;6es, programas publicos e interac;6es entre gru­pos sociais -, que nao podem ser prontamente convertidos em imagens. Fotos espedficas podem, em geral, realc;ar urn texto escrito (veja Dabbs, 1982), mas sera muito dificil substituir urn texto na sua totalidade. 0 autor deste livro tern conhecimento de uma situac;ao ern que as fotos realmente desempenha­ram urn papel fundamental, ao transmitir as informac;6es obtidas sobre orga­nizac;6es de bairro a formuladores de diretrizes que jamais visitaram essas organizac;6es. Nao obstante, embora as fotografias tenham melhorado a co­municac;ao das informac;:6es do estudo de caso, elas nao substitufram a neces­sidade de haver outros tipos de evidencias, que, par sua vez, deram mais credibilidade as descobertas e ~IS conclus6es.

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166 Estudo de Caso

Urn relatorio escrito tamMm apresenta a vantagem de ser familiar, tanto para 0 autor quanto para 0 leitor. Quase todos nos ja elaboramos ou revisamos relatorios escritos e estamos conscientes dos problemas gerais de expor - de uma maneira nao-tendenciosa, mas compacta - dados e ideias atraves de fra­ses, tabelas e capitulos de livro. Essas rela<;6es, por outro lado, nao sao tao bem compreendidas em outras formas de comunica<;ao. Por exemplo, em outra si­tua<;ao conhecida pelo autor, um estudante de doutorado selecionou uma gra­va<;ao de video como meio de comunica<;ao. No entanto, nem 0 estudante nem os revisores da tese puderam explicar como as regras utilizadas para editar 0 video - que refletiam 0 "talento artfstico" do autor - de fato afetavam as eviden­cias e a apresenta<;ao do caso. Conseqiientemente, 0 processo de edi<;ao foi permeado por alguma concep<;ao previa que permaneceu desconhecida.

Nao obstante, ainda se deve buscar formas inovadoras de apresenta­<;ao. E 0 material escrito deve ser complementado com grMicos e imagens atraentes (Morris, Fitz-Gibbon, & Freeman, 1987, p. 37). As inova<;6es mais desejaveis sao aquelas que tratan1 de uma grande desvantagem do estudo de caso escrito - 0 seu volume e a sua extensao. Dessa maneira, as informa­<;6es contidas em urn estudo de caso estao sendo armazenadas de uma for­ma incomoda e ineficiente. Pense ern uma compara<;ao entre a revisao de alguns dados coletados ern urn levantamento e a revisao dos dados obtidos em urn estudo de caso. No primeiro, urn disquete de computador conteria uma grande quantidade de informa<;6es do levantamento e estaria susceptf­vel a investiga<;6es intensas e precisas; no segundo caso, e provavel que uma quantidade semelhante de informa<;6es exija uma enorme quantidade de texto, urn procedimento de busca ineficiente e urn tempo consideravel para o processo de revisao.3

Tipos de relat6rios escritos

Entre as formas escritas de estudos de caso, ha, pelo menos, quano tipos imponantes. 0 primeiro e 0 classico estudo de caso Unico. Utiliza-se uma narrativa simples para descrever e analisar 0 caso. As informa<;6es da narrati­va podem ser real<;adas corn tabelas, gnificos ou imagens. Dependendo da profundidade do estudo, casos classicos como esses podem aparecer sob a forma de livro, ja que revistas e publica<;6es periodicas ern geral nao possuem o espa<;o necessario a publica<;ao (alguns soci610gos tambem alegam que as revistas discriminam a pesquisa de estudo de caso - Feagin, Orum, & Sjoberg, 1991 -, no entanto, os estudos de caso representam a segunda categoria que cresce mais rapidamente de esmdos empfricos nas principais publica<;oes de administrac;ao publica - Perry & Kraemer, 1986). Se voce souber de anremao que sell estudo de caso se enqlladrani em tal categoria e que seu manuscrito

Compondo 0 "Relatorio" de urn Estudo de Caso 167

cenamente tera a extensao de urn livro, sugere-se que fa<;a contato com uma editora com a maior antecedencia possive!.

Urn segundo tipo de material escrito euma versao de casos mUltiplos desse mesmo caso unico cl<lssico. Esse tipo de relatorio de casos multiplos devera conter varias narrativas, geralmente apresentadas em capirulos ou se­c;6es separadas, sobre cada urn dos casos individualmente. TarnMm constara no relatorio urn capitulo ou uma se<;ao que apresente a analise e os resultados de casos cruzados. Em algumas situac;6es, podera ate mesmo Ser necessaria a existencia de capftulos ou se<;6es inteiras de casos cruzados (veja 0 QUADRO 33), e essa parte do texto final pode ser a justificativa para urn volume separa­do das narrativas de casos individuais. Nessas situac;oes, uma forma muito freqiiente de apresemac;ao efazer com que a maior pane do relatorio princi­pal contenha a analise cruzada de casos, com os casos individuais sendo apre­sentados como parte de urn longo complemento aquele volume basko.

Urn terceiro ripe de relat6rio escrito e aquele que trata tanto de urn estudo de caso unico quanto de casos multiplos, mas que nao apresenta a narrativa tradicional em sua estrutura. Em vez disso, a elaborac;ao para cada caso segue uma serie de pergunras e respostas, baseada nas perguntas e respostas constantes no banco de dados para 0 esrudo de caso (veja 0 Capf­rulo 4). Para fins de exposiC;ao, 0 conteudo do banco de dados eresumido e editado para facilitar sua leitura, com 0 praduro final ainda assumindo a forma, em analogia, de urn exame abrangente (por Olltro lado, pode-se con­siderar a narrativa tradicional de urn esrudo de caso semelhanre aforma de

QUADR033 Urn relatorio de casos multiplos

Os esrudos de casos mUltiplos geralmente contem tanto eSludos de casos in­dividuais quanto alguns capftulos que apresentarn casos cruzados. A elabora­~ao de urn estudo de casos mUltiplos pode igualmente ser dividida entre varios autores diferentes.

Esse tipo de acordo foi utilizado em urn estudo sobre reparti~oes de esco­las rurais dos Estados Unidos por Herriott and Gross, The Dynamics ofPlanned Educational Change (1979). 0 relat6rio final, um livro, continha 10 capftulos. Cinco deles eram narrativas de casos individuais. Os outros cinco tratavam de quest6es importantes de casos cruzados. AMm disso, como conseqiH!ncia da real divisao de rrabalho ao se conduzir a pesquisa, cada urn dos capftulos foi escrito por uma pessoa diferente.

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urn trabalho de fim de semestre'). Esse estilo de pergunta-resposta pode nao demonstrar todo 0 talento criativo do pesquisador, mas ajuda a evitar 0

problema do bloqueio de escritor, pois, ao utilizar esse procedimento, 0 pes­quisador pode tratar imediatamente de responder aserie de perguntas exigida (novamente aqui, 0 exame abrangente tern uma vantagem parecida em re­lac;ao ao trabalho de fim de semestre).

Se esse estilo de pergunta-resposta for utilizado para estudos de casos multiplos, as vantagens serao potencialmente grandes: 0 leitor s6 precisa exa­minar as respostas dadas amesma pergunta ou as mesmas perguntas dentro de cada estudo de caso para comec;ar a fazer comparac;6es cruzadas. Como cada leitor pode se interessar em quest6es diferentes, 0 estilo inteiro facilita 0

desenvolvimemo de urna analise cruzada talhada para interesses especificos dos leitores (veja 0 QUADRO 34).

A quarta e ultima modalidade de relat6rio escrito aplica-se apenas a es­tudos de casos multiplos. Nessa situac;ao, nCio pode haver capftulos ou sec;6es separados destinados a casos individuais. Em seu lugar, 0 relatorio inteiro cansiste ern uma analise cruzada, mesma que seja puramente descritivo au

QUADR034 Formato pergunta-resposta: estudos de caso sem a narrativa tradicional

As evidencias de urn estudo de caso niio precisam ser apresentadas sob a forma de uma narrativa convencional. Uma maneira alternativa de apresenta­las e escrever a narrativa na forma de perguntas e respostas. Pode-se expor uma serie de perguntas, tendo as respostas a cada uma delas uma extensiio considenivel - por exemplo, rres ou quarro panigrafos. Cada resposta pode conter todas as evidencias relevantes e pode ate mesmo ser real~ada com 0

usc de tabelas. Segulu-se essa altemativa em 40 estudos de caso de organiza~6es comu­

nitarias produzidos pela National Comission on Neighborhoods, dos Estados Unidos, People, Building Neighborhoods (1979). 0 mesmo formato de pergun­ta-resposta foi utilizado em cada caso, de forma que 0 leitor interessado po­deria fazer sua propria analise cruzada de caso seguindo as mesmas pergun­tas ao longo dos 40 casos. Esse estilo de esrudo permitia que os leitores mais apressados encontrassem cxatamente a parte que lhes interessava em cada caso. Para as pessoas que se sentissem ofendidas peJa ausencia da narrativa tradicional, cada caso tambem apresentava urn resumo, de estilo livre (mas nao maior do que tres paginas), 0 que pennitia que 0 autor exercitasse seus talemos literarios.

·N. de T. Ternl paper, no original.

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 169

que lide cam t6picos explanatorios. Nesse tipo de relatorio, cada capitulo ou sec;ao deve se destinar a uma questao distinta de caso cruzado, e as informa­<;6es provenientes de casos individuais devem ser distribufdas ao longo de cada capitulo ou sec;ao. Com esse formato, podem-se apresentar informac;6es resumidas sobre os casos individuais, se nao forem totalmente ignoradas (veja o QUADRO 35), em pequenas notas abreviadas.

Como observac;ao final, e necessario se identificar 0 tipo especifico de constitui~ao do estudo de caso, envolvenda uma escolha entre pelo menos

QUADR035 A. Escrevendo urn relatorio de casos multiplos:

urn exemplo no qual nao se apresentam casos unicos

Em urn esrudo de casos multiplos, os estudos de casos individuais nao preci­sam constar, necessariamente, no manuscrito final. Os casos individuais, de ceno modo, servem apenas como base de sustenta~ao para 0 esrudo e podem ser utilizados unicamente na analise cruzada de caso.

Essa tecnica foi utiJizada em urn livro sobre seis chefes de departamemo do governo federal americano, de autoria de Herbert Kaufman, The Administrative Behavior of Federal Bureau Chiefs (1981). Kaufman despendeu longos penodos com cada chefe de departamento para compreender a rotina diaria deles. Entrevistou-os, escutou-os durante suas chamadas telefOmcas, compareceu a reunioes e esteve presente durante as discussoes da equipe de trabalho em seus escritOrios.

o objetivo do livro, no emanto, nao era retratar os habitos e compona­mentos de cada urn deles. 0 livro, em vez disso, sintetiza as Ii~oes aprendi­das com cada urn deles e esta organizado com base nesses topicos: como os chefes decidem as coisas, como recebem e analisam as informa~6es e como motivam suas equipes. Dentro de cada topieo, Kaufman apresenta exemplos apropriados dos seis casos, mas nenhum deles e apresentado como urn estu­do de caso tinieo.

B. Escrevendo urn relatorio de casos mUltiplos: urn exemplo (de outra area) no qual nao e apresentado nenhum caso unico

Um projeto semelhante ao de Kaufman eutilizado em outra area - hist6ria­em urn famoso livro de Crane Brinton, The Anacomy of a Revolution (1938). 0 livro de Brinton baseia-se em quatro revoJu~6es: a inglesa, a americana, a francesa e a russa. 0 livro oferece a analise e a teoria dos perfodos revolucio­narios, com exemplos peninentes extraidos de cada urn dos quatro "casos"; no entanto, como no livro de Kaufman, nao hii nenhuma tentativa de apre­sentar as revoluc;oes como estudos de casos individuais.

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170 Estudo de Caso

essas quatro altemativas, durante 0 projeto do estudo de caso. A escolha ini­cial pode sempre ser alterada, pois sempre podem surgir condic;oes adversas, e urn tipo difereme de constitltic;ao pode se mostrar mais relevante do que aque­Ie originalmente selecionado. No emanto, a escolha feita com antecedencia facilitanl tamo 0 planejamento quanto a condw;ao do estudo de caso. Essa selec;ao inicial deve fazer parte do protocolo do estudo de caso, alertando o(s) pesquisador(es) do estudo da provclvel natureza do formato fmal e de suas eXigencias.

ESTRUTURAS ILUSTRATIVAS PARA A CONSTITUI<;AO OS ESTUDOS DE CASO

Os capitulos, as sec;oes, os subtopicos e outras partes integrames de urn relatorio devem ser organizados de alguma maneira, e essa organizac;ao cons­titui a estrutura do relatorio. Respeitar essa estrutura e urn topico que vern recebendo cada vez mais atenc;ao em outras rnetodologias de pesquisa. Kidder e Judd (1986, p. 430-31), pOl' exemplo, fazem alguns comentarios sobre 0

formato de "ampulheta" de urn relatorio para estudos quantitativos. Da mes­ma forma, em etnografia, John Van Maanen (1988) desenvolveu 0 conceito de "contos" ao expor os resultados de urn trabalho de can1po. Ele identificou di­versos tipos de contos: realistas, confessionais, impressionistas, crfticos, for­mais, litenirios e contos narrados conjuntamente. Pode-se utilizar esses tipos diferentes em combinac;oes distintas no mesmo relatorio.

Tambem existem alternativas para estruturar os relatorios do estudo de caso. 0 objetivo dessa sec;ao esugerir algumas estruturas ilustrativas, que po­dem ser utilizadas com qualquer urn dos tipos de constituic;ao de estudo de caso recem-descritos. Sao sugeridas seis estruturas, e tem-se a esperanC;a de que elas reduzirao os problemas de estrutura que 0 pesquisador possa tel':

1. estruturas analfticas lineares; 2. estruturas comparativas; 3. estruturas cronologicas; 4. estruturas de construc;ao da teoria; 5. estruturas de "incerteza"; e 6. estruturas nao-sequenciais.

As ilustrac;oes sao descritas principalmente em relac;ao aconstituic;ao de urn estudo de caso unico, embora os principios sejam facilrnente rransferiveis aos relatorios de casos multiplos. Como observac;ao adicional, as tres primei­ras estruturas podem ser aplidveis a estudos de caso descritivos, exploratorios e explanat6rios. A quarta eaplicavel em especial a esrudos de caso exploratorios

Compondo 0 "Relatorio" de urn Estudo de Caso 171

e explanatorios; a quinta, a casos explanatorios; e a sexta, a casos descritivos (veja a Figura 6.1).

Estruturas analiticas lineares

Essa e a abordagem-padrao ao elaborar urn relatorio de pesquisas. A sequen­cia de subt6picos inclui 0 rema ou 0 problema que esta sendo estudado, uma revisao da lireratura imporrante ja existente, os metodos utilizados, as desco­bertas feitas a partir dos dados coletados e analisados e as conclusoes e impli­cac;oes feitas a partir das descobertas.

A maioria dos artigos de revistas e publicac;oes especializadas em ciencia experimental apresenta esse tipo de estrutura, da mesma forma que os estu­dos de caso. A estrutura esatisfatoria agrande parcela dos pesquisadores e provavelmente ea mais vantajosa quando os colegas de pesquisa ou uma ban­ca de rnestrado e doutorado constituern 0 publico principal para 0 estudo de caso. Observe que a estrutura e aplidvel a estudos explanatorios, descritivos ou exploratorios. Urn caso exploratorio, pOl' exernplo, pode tratar do tema ou do problema que esta sob investigac;ao, dos metodos da investigac;ao, das des­cobertas feitas a partir dela e das conclusoes (para pesquisa adicional).

Prop6sico do e.studo de caso (caso unico au casas multiplos)

Tipa de e.strutura Explanat6rio De.scricivo Explorac6rio

1. Analitica linear X X X

2. Comparativa

3. Crono16gica

X

X

X

X

X

X I

4. Constru~ao da teoria X X

S. De "inceneza" X

6. Nao-sequencial X

Figura 6.1. J\plica<;ao de scis esn'uturas para prop6sitos diferentes dos estu­dos de caso,

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17 Estudo de Caso

Estruturas comparativas

Uma esrrutura comparariva repere 0 mesmo estudo de caso duas ou rnais ve· zes, comparando as descri<;6es ou explana<;6es alternativas do mesmo caso. Essa estrurura e mais bem-exemplificada no celebre esrudo de caso de Graham Allison sobre a crise envolvendo os mfsseis cubanos (1971). Neste livro, 0

autor repete os faros do estudo de caso tres vezes, cada uma delas em conjun­to com urn modelo conceptual diferente de como funciona a burocracia (veja o Capitulo 1, QUADRO 2). 0 proposito da repetic;ao e mostrar ate que ponto os fatos adaptam-se a cada modelo, e as repeti<;6es, na verdade, ilustrarn a tecni­ca de adequa<;ao ao padrao em atividade.

Pode-se utilizar uma abordagem semelhante mesmo se 0 estudo de caso tiver a descriC;ao, e nao a explanac;ao, como objetivo. 0 mesmo caso pode ser repetido varias vezes, a partir de pontos de vista diferentes Oll com modelos descritivos diferentes, para compreender como 0 caso pode ser mais bem­categorizado para fins descritivos - como para chegar ao diagnostico correto de urn paciente de uma clfnica em psicologia. Evidentemente, sao possfveis outras variantes dessa abordagem comparativa, mas a caracterfstica princi­pal de todas e que todo 0 estudo de caso (ou os resultados de uma analise cruzada) erepetido duas ou mais vezes de uma maneira claramente compa­rativa.

Estruturas crono16gicas

Uma vez que os estudos de caso tratam, em geral, de eventos ao longo do tempo, uma terceira abordagem e apresentar as evidencias para 0 estudo de caso em ordem cronol6gica. Aqui, a seqiiencia dos capftulos ou das se<;6es deve obedecer as fases iniciais, intermediarias e finais da hist6ria de urn caso. Essa tatica pode servir a um objetivo muito importante ao realizar estudos de caso explanatorios, ja que podem ocorrer sequencias causais linearmente ao lange do tempo de pesquisa. Se a suposta causa de urn evento ocorre depois que 0 evento em si ocorreu, qualquer pessoa teria motivos suficientes para questionar a proposic;ao causal inicial.

Sendo para fins explanat6rios ou descritivos, ha uma armadilha nessa abordagem cronologica que deve ser evitada: da-se uma atenc;ao despropor­cional aos eventos iniciais e uma aten<;ao insuficiente aos eventos posteriores. HabitualmenteJ 0 pesquisador despendera urn empenho exagerado na hora de elaborar a introdu<;ao a urn caso, incluindo a historia e 0 contexto previa dele, e reservara tempo insuficiente para escrever sobre 0 status atual do caso. Para evirar essa situac;ao, uma recomendac;ao que se faz, ao utilizar a estrutura cronolagka, e!azer uma minuta ao contrario do estudo de caso. AqueJes ca­pfruJos ou sec;6es que apresentam 0 status atual do caso devem ser delineados ~,~mente d~ois ,gue essas minutas forem conc1ufdas e que se

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 173

deve fazer 0 rascunho do contexto do estudo de caso. Uma vez que todas as minutas tiverem side conciuidasJ voce pode retornar asequencia cronologica normal para compoI' a versao final do casa.

Estruturas de constru~ao da teoria

Nessa abordagemJ a seqliencia das capitulos ou das se<;6es seguin) alguma logica de constrw;ao da teoria. A l6gica dependera do t6pico ou da teoria especffica, mas cada capitulo au seC;ao deve desenredar uma nova parte do argumento te6rico que esta senda feito. Se estiver bem-estruturado, a se­quencia inteira produz uma afirmac;ao convincente que sera certamente im­pressionante .

A abordagem eimporrante tanto para eShldos de caso explanatorios quan­to exploratorios, e ambos podem ser atendidos pela constru<;ao da teoria. Os casas explanatorios examinarao as varias facetas de urn argumenta causal; as casas exploratorios debaterao 0 valor de se investigar mais a funda varias hipoteses ou proposic;6es.

Estruturas de "incerteza"

Essa estrutura inverte a abordagem analitica. A resposta au a resultado "dire­ta" de urn estudo de casa e paradaxalmente, apresemada no capitulo ou na J

se<;ao inicial. 0 restame do estudo de caso - e suas partes mais incertas - dedi­ca-se, entao, aa desenvolvimento de uma explanaC;ao a este resultado, com ex­planac;6es alternativas discutidas nos capitulos ou nas se<;6es subsequentes.

Esse tipo de abardagem e imporrante principalmente para estudos de caso explanatoriosJ na medida em que urn estudo de caso descritivo nao possui ne­nhum resultado especialmente impartante. Quando bem-utilizadas

J as estrutu­

ras de "incerteza" sao, em geral, uma atraente estrutura de composi<;ao.

Estruturas nao-seqiienciais

Uma estrutura nao-seqliencial eaquela em que a ordem de se<;6es ou capftu­las nao passui uma importancia ern especial. Essa estrutura, em geral, e sufi­ciente para os estudos de caso descritivos, como no exemplo da Middletown (Lynd & Lynd, 1929), citado no Capitula 5. Basicamente, poder-se-ia tracar a ardem dos capitulas do livro e nao alteraria seu valor descritivo.

Estudos de casa descritivos sobre organizac;6es frequememente apresen­tam essa mesma caracterfstica. Estudas como esse tratam da genese e da his­toria de uma organiza<;ao, seus proprietarios e funcionarios, sua linha de pro­dutos, seu perfil formal de organizac;ao c seu slatus financeiro, em capltulos

I

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174 Estudo de Caso

ou se<;6es separadas. A ordem em panicular que esses capftulos ou se<;6es sao apresentados nao eimportante e pode ser classificada como uma abordagem nao-sequencial (veja tambem 0 QUADRO 36 para obter outro exemplo).

Se for utilizada uma estrutura nao-seqtiencial, 0 pesquisador precisa prestar aten<;ao a urn ourro problema: 0 teste de completude. Assim, mesmo que a ordem dos capftulos ou das se<;6es possa nao importar, a rela<;ao total de dados importa. Se nao forem abordados determinados topicos-chave na pesquisa, a descri<;ao pode ficar incompleta. 0 pesquisador deve conhecer 0

topico bern 0 suficiente - ou possuir modelos relacionados de estudos de caso para referenda - para evitar esse atalho. Se 0 esrudo de caso nao obti­ver exito, sem qualquer desculpa, em apresentar uma descri<;ao completa, 0

pesquisador pode ser acusado de ser tendencioso - mesmo que 0 estudo de caso seja apenas descritivo.

PROCEDIMENTOS AO FAZER UM RELATORIO DE ESTUDO DE CASO

Toda pessoa deve possuir urn conjunto bem-deUmitado de procedimentos para analisar os dados obtidos nas cil~ncias sociais e para elaborar 0 relatario. 1nlline­ros textos dao bons conselhos de como voce deve desenvolver seus proprios procedimentos personalizados, induindo os beneffcios e as armadilhas de utili­zar processadores de texto - que nem sempre economizam tempo (Becker, 1986, p. 160). Uma advertencia muito comum que se faz eque escrever significa rees­crever - urn exercfcio que nao e muito praticado por estudantes e, por conse­guinte, esubestimado durante os primeiros anos da carreira de investigador (Becker, 1986, p. 43-47). Quanto mais se reescrever, especialmente em resposta aos comentarios dos outros, melhor 0 relatario ficani. Quanto a isso, 0 relatario do estudo de caso nao e mwto diferente dos outros relatorios.

QUADR036 Capitulos nao-sequenciais, mas em urn livro best-seller

Urn best-seller que agradou tanto ao publico em geral quanto ao meio acade­mico foi 0 livro de Peters e Waterman, In Search a/Excellence (1982). Embora tenha como base os mais de 60 estudos de caso dos mais bem-sucedidos ne­g6cios realizados nos Estados Unidos, 0 texto con tern apenas amHises cruza­das de casos, cada capitulo contendo urn conjunto revelador de caracterfsti­cas gerais associadas aexcelencia organizacional. Aseqiiencia exata dos capf­tulos, no emanto, pode ser alterada. 0 livro traria essa contribuic;ao impor­lante mesmo se os capftulos estivessem em alguma ourra ordem.

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Esrudo de Caso 175

Nao obstante, tres procedimentos muito importantes constituem carac­teristicas especificas dos estudos de caso e merecem menc;ao adicional. 0 pri­meiro trata de uma tatica geral para iniciar a elaborac;ao do estudo, 0 segun­do aborda 0 problema de deixar no anonimato as identidades do estudo e 0

terceiro descreve urn procedimento de revisao para aumentar a validade do constructo de urn esrudo de caso.

Quando e como iniciar a elabora~ao

o primeiro procedimento a ser adotado e comec;ar a redigir 0 relat6rio logo no inicio do processo analftico. Ha urn guia que adverte que "voce nao pode come<;ar a escrever cedo 0 suficiente" (Wolcott, 1990, p. 20). Praticamente desde 0 inicio da investiga<;ao, e possivel se fazer a minuta de certas se<;6es do relatario, e ela deve prosseguir mesmo antes de a coleta e de a analise dos dados terem sido concluidas.

Por exemplo, depois que a literatura existente ja tiver sido revisada e que o esrudo de caso esriver projerado, ja e possivel se fazer 0 rascunho de duas sec;6es do relatario do estudo de caso: a bibliografia e as sec;6es em que e apresentada a metodologia. A bibliograjia, se necessario, sempre podera ser melhorada posteriormente com novas citac;6es, mas, de urn modo geral, as principais citac;6es serao tratadas durante a revisao da literatura do caso. Essa e a hora, portamo, de formalizar as citac;oes, a fim de se certjficar que estejam completas, e de montar lim esboc;o da bibliografia. Se algumas cita<;6es estive­rem incompletas, os detalhes restantes podem ser obtidos a medida que 0

restante do estudo de caso continua. Isso evitani uma pnhica muito comum entre os pesquisadores, que fazem a bibliografia por ultimo e que, como con­sequencia, gastam urn tempo monastico nos momentos finais de suas pesqui­sas, em vez de se dedicarem as tarefas importantes Ce prazerosas!) de escre­ver, reescrever e editar.

Tambem epossivel se rascunhar a sefiio metodol6gica nesse estagio por­que os procedimentos principais para a coleta e a analise de dados devem ter feito parte do projeto do estudo de caso. Essa sec;ao pode ate nem se tamar uma parte formal da narrativa final, mas deve ser incluida como apendice. Seja como parte do texto, seja como apendice, no entanto, pode-se e deve-se fazer 0 rasclInho da sec;ao metodo16gica neste estagio inicial. Voce se lembra­ra dos procedimentos metodologicos que utilizou com maior precisao durante esse momenta critieo.

Depois da coleta de dados, mas antes do inicio da analise, uma outra seC;ao que pode ser elaborada eaquela que trata dos dados descritivos sobre os casas que estiio sendo estudados. Enquanto a sec;ao metodologica deve ter tra­tado dos temas concernentes fJ selec;ao doCs) caso(s), os dados descritivos devem trarar das informac;6es qualitativas e quantitativas sobre 0(5) caso(s). Nesse esragio do processo de pesquisa, voce ja deve ter determinado 0 ripo de

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composic;ao a ser utilizado e 0 tipo de estrutura a ser adotado. Caso isso se confirme, ainda e posslvel se fazer a minuta das sec;6es descritivas de forma resumida, e 0 proprio ate de preparar uma minuta pode estimular suas ideias sobre uma estrutura geral de composic;ao.

Se voce puder preparar 0 rascunho dessas tres sec;6es antes de a analise ser concluida, significara urn grande avanc;o. Essas sec;6es podem requerer uma documentac;ao substancial extra, e a melhor hora para reuni-Ia enesse estagio da pesquisa. Voce tambem estara em vantagem se todos os detalhes - cita<;6es, referencias, cargos nas organizac;6es e grafia correta dos nomes citados - forem anotados com precisao durante a coleta de dados e forem integrados ao texto neste momenta (Wolcott, 1990, p. 41).

Se 0 esboc;o dessas sec;6es for adequadamente preparado, pode-se entao dedicar mais atenc;ao a analise em si, as descobertas e as conclusoes. Come<;ar a compor 0 relatorio antes tambem ajuda em urn outro fator psicol6gico im­portante: voce pode se acostumar com 0 processo de elaborac;ao do relat6rio e ter a chance de pratica-Io antes que a tarefa se tome verdadeiramente apa­vorante. Assim, se estiver realizando urn estudo de caso e puder identificar outras sec;6es das quais ja se pode fazer a minuta nesses estagios iniciais, voce deve trac;ar urn esboc;o delas tambem.

A identidade dos casos: real ou anonima?

Quase todos os estudos de caso apresentarn ao pesquisador a oPC;ao do anoni­mato no caso. 0 estudo de caso e seus informantes devem ser adequadamente identificados, ou os nomes envolvidos no estudo e de seus participantes de­vern ser ficticios? Observe que a questao do anonimato pode surgir ern dois niveis: ou em relac;ao ao caso inteiro (ou casos inteiros) ou em relac;ao a urn nome em particular dentro do caso (ou dos casos).

A oPC;ao mais desejavel e revelar as identidades tanto do caso quanto dos indivfduos. A divulgac;ao dos nomes produz dois resultados uteis. Pri­meiro, 0 leitor pode recordar de qualquer outra informaC;ao anterior da qual pode ter tornado conhecimento sobre 0 mesmo caso - de pesquisas anterio­res ou de outras fontes - ao ler ou interpretar 0 relatorio do caso. Essa capa­cidade de unir urn novo esrudo de caso a pesquisas anteriores e inestimavel, semelhante a capacidade de rememorar resultados experimentais anterio­res ao se ler sobre urn novo conjunto de experimentos. Segundo, pode-se revisar 0 caso inteiro com muita facilidade, pois e posslvel se verificar, se necessario, notas de rodape e citac;oes e podem-se fazer criticas adequadas ao caso ja publicado.

No entanto, ha algumas ocasi6es em que 0 anonimato se faz necessario. o fundamento 16gico mais comum e que, quando 0 estudo de caso for sobre algum t6pico polemico, 0 anonimato serve para proteger 0 caso real e seus verdadeiros participantes. Vma segunda razao e que a divulga<;ao do relato-

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 177

final de urn caso pode interferir nas aC;oes subseqiientes das pessoas que foram estudadas. Esse prindpio foi urilizado no famoso estudo de caso de Whyte, Street Comer Society (que tratava de urn bairro anonirno, "Comerville").4 Como tercei­ra situa<;ao ilustrativa, 0 objetivo do estudo de caso pode ser retratar urn "ripo ideal", e pode nao haver razoes para revelar as identidades verdadeiras nesse caso. Esse fundamento foi utilizado pelos Lynds em seu estudo Middletown, no qual os nomes da pequena cidade, seus moradores e suas industrias pennane­ceram ocultos.

Nessas ocasi6es em que 0 anonimato pode parecer justificavel, nao obstante, ha ainda outros elementos a serern conciliados. Prirneiro, voce deve determinar se apenas 0 anonirnato das pessoas sera ou nao suficiente, permi­tindo que 0 caso em si seja identificado adequadamente.

Uma segunda escolha seria dar nome aos individuos, mas evitar atribuir qualquer ponto de vista ou comentario particular a lima unica pessoa em espe­cial, novarnente permitindo que 0 caso em si seja adequadamente identifica­do. Essa segunda altemativa toma-se mais imponante quando voce quiser pro­teger a intimidade de determinadas pessoas. No entanto, a falta de 3rribuic;6es nem sempre pode se rnostrar completamente eficaz nesse sentido - voce tarn­bern pode disfarC;ar os comentarios de forma que ninguem envolvido no caso possa inferir a provavel origem desses comentarios.

Para os estudos de casos multiplos, uma terceira escolha seria evitar elaborar qualquer relatorio de caso unico e compor somente analises cruza­das. Essa ultima situac;ao seria, grosse modo, para lela ao procedimemo ado­tado em levantamentos, nos quais as respostas individuais de cada urn nao sao reveladas e nos quais 0 unico relatorio publicado trata de evidencias em conjunto.

Somente se essas escolhas realmente nao puderem ser feitas eque 0 pes­quisador deve pensar em manter no anonimato todo 0 estudo de caso e seus informantes. 0 anonirnato, no entanto, nao deve ser considerado uma opc;ao desejavel. Ele nao apenas elimina algumas informa<;6es contexruais importan­tes sobre 0 caso, como tambem dificulta os mecanismos de composiC;ao do caso. 0 caso e seus componentes devem ser sistematicamente convenidos de suas identidades reais as identidades ficticias, e voce deve realizar urn esfon;o consideravel para nao perder de vista essas transformac;oes. Nao se deve su­bestirnar 0 custo de adotar urn procedimento como esse.

A revisao da minuta do estudo de caso: urn orocedimento de va1ida~ao

Urn terceiro procedirnento a ser adotado ao realizar 0 relatorio do estudo de caso tern a ver com a qualidade total do estudo. 0 procedimento que se deve adotar efazer com que a minuta do relat6rio seja revisada, nao apenas pelos colegas do pesquisador (como seria feito em qualquer ambiente acade­

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178 Estudo de Caso

mico), mas tambem pelos participantes e informantes do caso. Se os comenta­rios forem excepcionalmeme tlteis, 0 pesquisador pode ate desejar publica-los como parte de todo 0 estudo de caso (veja 0 QUADRO 37).

Essa revisao e muito mais do que uma mera cortesia profissional. 0 pro­cedimento foi corretamente identificado - mas apenas rarameme - como uma maneira de corroborar os fatos e as evidencias cruciais apresentados no rela­t6rio do caso (Schatzman & Strauss, 1973, p. 134). Os informantes e os paTti­cipantes podem ainda discordar das conclus6es e interpreta~6es do pesquisa­dor, mas esses revisores nao devem discordar em rela<;ao aos fatos verdadei­ros do caso. Se surgir essa discordancia durante 0 processo de revisao, 0 pes­quisador sabe que 0 relatorio do estudo de caso nao esta conclufdo e que essas divergencias devem ser resolvidas atraves de uma pesquisa para obter evi­dencias adicionais. Freqiientemente, a oportunidade de revisar a minuta ini­cial tambem produz evidencias adicionais, uma vez que os informantes e par­tidpantes podem se lembrar de elementos novos de que tinham esquecido durante 0 perfodo inicial da coleta de dados.

QUADR037

Revisando os estudos de caso - e publicando os comentarios

Uma 6tima maneira de aumentar a qualidade dos estudos de caso e garantir a validade do constructo efazer com que as minutas do caso sejam revisadas pelas pessoas que foram objeto do estudo. Adotou-se esse procedimento em urn grau exemplar em urn conjunto de cinco estudos de caso realizados por Marvin AIkin et al. (1979).

Cada estudo de caso tinha como terna uma reparti\ao escolar e a maneira pela qual a repartic;ao utilizava as inforrnac;6es de avaliac;ao sobre 0 desempe­nho de seus alunos. Como parte do procedimento analitico e do procedimen­to de exposi\ao, a minuta de cada caso foi revisada pelos informantes da reparti\80 em questao. as comentanos foram obtidos em parte como resulta­do de urn questionano espomaneo planejado pelos pesquisadores apenas para esse prop6sito. Em alguns exemplos, as respostas eram tao uteis e reveladoras que as pesquisadores nao apenas modificaram 0 material original como pu­blicararn as respostas como parte do trabalho.

Com essa apresentac;ao das evidencias e dos cornentanos suplementares, qualquer lei tor poderia !irar suas pr6prias conclus6es sobre a adequac;ao dos casos - uma oportunidade que ocorre, infelizmente, com pouquissima fre­qiiencia na pesquisa tradicional de estudos de caso

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 179

Esse tipo de revisao deve ser adotado mesmo se a estudo de caso au alguns de seus componentes devem permanecer no anonimato. Sob tal condi­~ao, alguma versao reconhedvel da minuta deve ser compartilhada com as informantes ou os participantes do estudo. Ap6s revisarem a minuta e ap6s ser estabelecida qualquer diferen~a nos fatos, 0 pesquisador pode ocultar as identidades de forma que somente os informantes e os participantes conhece­rao as identidades reais. Cerca de 40 anos arras, quando Whyte concluiu 0

estudo Street Comer Society, ele adotOu esse procedimento ao dividir os origi­nais do seu livro com 0 "Doutor", seu principal informante. Ele observa que:

Amedida que eu escrevia, mostrava os texros para 0 Douror e revisava-os com ele detalhadamente. Suas crfticas foram de valor inestimavel na minha revisao. (Whyte, 1943/1955, p. 341)

Do ponto de vista metodol6gico, as corre\oes feiras durante esse proces­so real~arao a acuracia do estudo de caso, aumentando, dessa forma, a valida­de do constructo do estudo. A probabilidade de se apresemar urn relatorio corn dados falsos deve ser reduzida. Alem disso, quando nao houver nenhuma verdade objetiva - par exemplo, quando participantes diferentes tiverem ver­s6es diferemes do mesmo acontecimento - 0 procedimemo deve ajudar a iden­tificar as varias perspectivas, que entao podem ser representadas no relatorio do estudo de caso.

A revisao que os informantes farao da minuta do estudo de caso ceTta­mente ampliara 0 tempo necessario para conduir 0 relatorio final. Os infor­mantes, ao contrario dos revisores academicos, podem utilizar os ciclos de revisao como uma oponunidade para iniciar urn dialogo proveitoso sobre as varias facetas do caso, 0 que, dessa maneira, estenderia 0 perfodo de revisao. Voce deve antecipar esses atrasos e nao utiliza-los como desculpa para evitar o processo inteiro de revisaa. Quando 0 processo receber uma aten~aa cuida­dosa, a que se vera como resultado e a produ<;ao de urn estudo de caso de alta qualidade (veja 0 QUADRO 38).

o QUE TORNA EXEMPLAR UM ESTUDO DE CASO?

Em todas as pesquisas de estudo de casa, uma das tarefas mais desafiadoras e definir urn estudo de caso exemplar. Embora nenhuma evidencia adicianal encontre-se dispon(vel, algumas especula~oes parecem ser uma maneira apro­priada de conduir este livra. s

o estudo de caso exemplar vai alem dos procedimentos merodo16gicas ja mencionados ao longo deste livra. Mesma se voce, como pesquisador de estu­do de caso, seguir a maioria das tecnicas basicas - utilizando urn prorocola de esrudo de caso, mantendo urn encadeamenro de evidencias, estabelecendo

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180 Estudo de Caso

QUADR038 Revisoes formais de estudos de caso

Como com qualquer outro produto de pesquisa, 0 processo de revisao desem~

penha urn papel muito importante ao se melhorar e garantir a qualidade dos resultados finais. Para os eStudos de caso, esse processo de revisao deve in~

duir, no minimo, uma revisao da minuta do estudo de caso. Vma serle de eStudos de caso que seguiu esse procedimento, em urn nivel

exemplar, foi patrocinada pelo Office ofTechnology Assessment (1980-1981), 6rgao do govemo norte~amerlcano. Cada urn dos 17 estudos de caso, que tinham como tema novas tecnologias na area da medicina, foi "examinado por, no minimo, 20, e alguns ate por 40 ou mais, revisores nao~ligados ao projeto". Alem disso, os revisores representavam perspectivas diferentes, in­duindo agencias govemamentais, grupos profissionais, grupos de interesse publico e privado, profissionais da area medica, professores universitarios de medicina e representantes da area economica.

m desses estudos, inclufa uma visao contrana do caso - mencionada por urn dos revisores - como parte da versao final, assim como a resposta que os autores do estudo deram a essa visao. Esse tipo de intera\ao impressa aberra acrescenta~se acapacidade do leitor de interpretar as condus6es do estudo de caso e, por conseguinte, 11 qualidade global das provas do estudo.

urn banco de dados para 0 estudo de caso, e assim por diante - ainda assim voce pode nao ter produzido urn estudo de caso exemplar. 0 dominic dessas tecnicas 0 tornara urn born tecnico, mas nao necessariamente urn cientista estimado. Fazendo uma analogia, pense na diferen~a entre urn cronista e urn historiador: aquele e tecnicamente correto, mas nao produz as percepc;6es sobre os processos humanos e sociais que este oferece.

Sao descritas a seguir cinco caracteristicas gerais de urn estudo de caso exemplar. Foram elaboradas para ajuda-lo a ser mais do que urn mero cronis­ta e assumir 0 papel de historiador.

o estudo de caso deve ser significativo

A primeira caracteristica geral de urn estudo de caso pode estar alem do con­tIole de muitos pesquisadores. Se 0 pesquisador tiver acesso a apenas alguns y JUCOS casos, ou se os recursos forem extremamente limitados, 0 estudo de caso resultante teni. de ser sobre urn t6pico de importAncia apenas mediana. Essa situa<;ao provavelmente nao resultara em urn estudo de caso exemplar.

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 181

No entanto, quando houver escolba, provavelmente 0 estudo de caso exem­plar sera aquele ern que:

• 0 caso ou os casos individuais nao forem usuais e de interesse publico geraL

• As questoes subjacentes forem de importancia nacional, tanto em ter­mos teoricos quanto em termos potfticos ou praticos.

• Ou as duas condic;oes anteriores.

Algumas vezes, por exemplo, urn estudo de caso unico pode ter side esco­lhido porque era urn caso revelador - au seja, urn estudo que analise alguma situac;ao da vida real que os cientistas sociais nao puderam estudar no passa­do. 0 caso sera visto em si mesmo, provavelmente, como uma descoberta e oferecera uma oportunidade para realizar urn estudo de caso exemplar. Alter­nativamente, urn caso importante pode ter sido escolhido devido ao desejo de se comparar duas proposic;6es concorrentes; se as proposic;6es estiverem no cerne de uma teoria bem-conhecida - ou reflitam algumas das principais correntes de pensamento em uma disciplina - provavelmente 0 estudo de caso sera significativo. Finalmente, imagine a situa~ao em que tanto a desco­berta quanto 0 desenvolvimento da teoria sao encontrados dentro do mesmo estudo de caso, como em urn estudo de caso em que cada caso individual revela uma nova descoberta, mas em que a replicaC;ao ao longo dos casos tambem combina com urn avan<;o tearico significativo. Essa situaC;ao presta-se com certeza aproduc;ao de urn estudo de caso exemplar.

Em contraste a essas situac;oes promissoras, muitos estudantes escolhem casos pouco relevantes Oll velhas questoes teoricas como topicos de seus estu­dos de caso. Pode-se evitar situa<;6es como essas, em parte realizando urn me­lhor tema de casa em rela<;ao ao corpo de pesquisa existente. Antes de selecio­nar urn estudo de caso, voce deve descrever, em detalhes, a contribuiC;ao que se fara com 0 estudo, assumindo que 0 estudo de caso pretendido foi concluido com Sllcesso. Se perceber que nenhuma resposta satisfatoria esta proxima de ser alcan~ada, voce deve reconsiderar a decisao de realizar 0 estudo.

o estudo de caso deve ser "completo"

Essa caractenstica eextremamente dificil de ser descrita em termos operacio­nais. No entanto, uma ideia de completude etao importante ao realizar urn estudo de caso quanto 0 eao definir um conjunto completo de experimentos de laboratorio (ou ao se terminar urna sinfonia ou se desenhar urn mural). Todos tem uma grande dificuldade para definir os limites do trabalho, mas poucas diretrizes encontram-se disponiveis.

Para os esrudos de caso, a compJerude pode ser caracterizada de pelo menos tres maneiras. Primeiro, 0 caso completo eaquele em que os lirnites do

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.........

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 183182 studo de Caso

caso - isto e, a distin<;ao entre 0 fen6meno que esui sendo estudado e seu con­texto - recebem urna aten<;ao explicita. Se se fizer isso de urna maneira mera­mente mecanica - por exemplo, declarando-se no principio que serao consi­derados apenas alguns intervalos de tempo ou alguns !imites espaciais -, 0

resultado provavelmente sera urn estudo de caso nao-exemplar. A melhor maneira de se fazer tal coisa edemonstrar, ou atraves de argumentos 16gicos ou da apresenta<;ao de evidencias, que, a medida que se alcan<;a a periferia analitica, as informa<;6es serao de relevancia cada vez menor para 0 estudo de caso. Essa verifica<;ao dos limites pode ocorrer durante as etapas analitica e de exposi<;ao dos estudos de caso.

Uma segunda forma envolve a coleta de evidencias. 0 esrudo de caso completo deve demonstrar, de maneira convincente, que 0 pesquisador despendeu esfor<;os exaustivos ao coletar as evidencias relevantes. A docu­menta<;ao dessas evidencias nao precisa ser incluida no texto do caso, 0 que 0

tornaria muito entediante. Para isso, voce pode utilizar notas de rodape, apen­dices e assim por diante. 0 objetivo geral, no entanto, econvencer 0 leiter de que pouquissimas evidencias relevantes permaneceram intocadas pelo pes­quisador, dados os limites do estudo de caso. Isso nao significa que 0 pesqui­sador deve coletar, literalmente, todas as evidencias disponiveis - uma tarefa impossivel -, mas que as partes importantes receberam total aten<;ao. Algu­mas partes importantes, por exemplo, seriam aquelas que representam propo­si<;6es concorrentes.

Uma terceira maneira diz respeito aausencia de certos artefatos. Prova­velmente, urn estudo de caso nao estara completo se 0 estudo simplesmente terminar porque os recursos se esgotaram, porque 0 pesquisador excedeu 0

tempo (quando 0 semestre terminasse) ou porque ele enfrentou outras limita­<;oes que nao tinham rela<;ao com a pesquisa. Quando surgir alguma limita<;ao de tempo ou de recursos no principio de urn estudo, 0 pesquisador responsi­vel deve projetar um estudo de caso que pode ser conclufdo dentro desses !imites, em vez de atingi-Ios ou possivelmente estende-los. Esse tipo de proje­to exige muita experH~ncia e muito boa sorte. Nao obstante, sao estas as con­di<;oes sob as quais provavelmente sera realizado urn estudo de caso exem­plar. Infelizmente, se, por outro lado, surgir de repente uma grande limita<;ao de tempo ou de recursos no meio de urn estudo de caso, e irnprovavel que 0

estudo de caso torne-se exemplar.

o estudo de caso deve considerar perspectivas alternativas

Para os estudos de caso explanat6rios, uma abordagem muito valiosa e0 exame de praposi<;6es concorrentes e a analise de evidencias nos termos dessas prapo­sic;6es (veja 0 Capitulo 5). Entretanto, mesmo ao se realizar urn estudo de caso

exploratorio ou descritivo, a considera<;ao das evidencias a partir de perspecti­vas diferentes aumentara as chances de 0 estudo de caso ser exemplar.

Par exemplo, urn estudo de caso descritivo que nao leva em considera<;ao perspectivas diferentes pode fazer com que 0 leitor mais cdtico levante varias duvidas. 0 pesquisador pode nao ter coletado todas as evidencias relevantes e pode ter se dedicado a essas evidencias utilizando apenas urn ponto de vista. Mesmo se 0 pesquisador nao for intencionalmente tendencloso, DaO serao discutidas interpreta<;oes descritivas distinras, 0 que faria com que ape­nas urn lado das questoes do caso fosse estudado. Na decada de 60, esse tipo de problema podia ser vista de maneira muito clara nos debates acerca da "cultura da pobreza", nos quais os pesquisadores da classe media eram acusa­dos de nao conseguir avaliar as verdadeiras dimens6es das culturas de classes inferiores (veja Valentine, 1968).

Para representar perspectivas diferenres de forma adequada, 0 pesquisa­dor deve procurar aquelas alternativas que desafiam mais seriamente 0 proje­to do estudo de caso. Podem-se encontrar essas alternativas em concep<;6es clllturais alternativas, teorias diferentes, varia<;oes entre as pessoas ou os toma­dores de decisao que fazem parte do estudo de caso, au alguns contrastes semelhantes. Urn pre-requisito fundamental a todos que ensinam a pnitica dos esrudos de caso, por exemplo, e que sejam capazes de apresentar 0 ponto de vista de wdos os participantes principais do caso (Stein, 1952).

Muitas vezes, se urn pesquisador descreve urn estudo de caso a urn ou­vinte muito cTitico, 0 ouvinte imediatamente dara urna interpretac;ao alterna­tiva dos faws do caso. Sob tais circunstancias, 0 pesquisadar provavelmente ficara na defensiva e argumentara. que a interpreta<;ao original era a unica importante au era a interpreta<;ao correta. Na verdade, 0 estudo de caso exem­plar antecipa essas alternativas 6bvias, ate defende seus posicionamentos da maneira mais veemente possivel e mostra - empiricamente - a base segundo a qual tais alternativas podem vir a ser rejeitadas.

o estudo de caso deve apresentar evidencias suficientes

Embora no Capitulo 4 os pesquisadores sejam incentivados a criar urn banco de dados para os estudos de caso, as partes criticas de evidencia para urn estudo de caso ainda devem estar inseridas dentro do relat6rio do estudo de caso. 0 estudo de caso exemplar e aquele que, judiciosa e efetivamente, apre­senta as evid€mcias mais convincentes, para que 0 leitor possa fazer urn julga­mento independente em rela<;ao ao merito da analise.

Essa seletividade nao quer dizer que as evidencias devam ser citadas de uma maneira tendenciosa - por exempla, incluindo somente as que susten­tam as conclus6es do pesquisador. Pelo contnirio, as evidencias devem ser apresentadas de forma neutra, tanto com dados de sustentac;ao quanta com

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1"'"

184 Estudo de Caso

dados de comestac;ao. 0 leitor, dessa forma, deve ser capaz de conduir, de forma independente, se uma determinada imerpretac;ao e valida. A seleti­vidade e importante ao limitar a relat6rio as provas rnais criticas e nao abarro­tar a apresenta<;ao com informa<;6es de apoio secundarias. Exige muita dis­ciplina por parte dos pesquisadores, que, em geral, querem expor toda a sua base de evidencias, na (falsa) esperan<;a de que simplesmente 0 volume e 0

peso influenciarao 0 leitor (na verdade, tamo volume e peso acabarao por chatear 0 leitor).

Urn outro objetivo e apresentar evidencias suficientes para obter a con­fianc;a do leitor de que 0 pesquisador conhece 0 assunto com 0 qual esta lidan­do. Ao realizar urn estudo de campo, por exemplo, as evidencias apresentadas devem convencer 0 leitor de que 0 pesquisador realmente esteve no campo, trabalhou com afinco enquamo esteve la e mergulhou por inteiro nas quest6es do caso. Existe urn objetivo paralelo nos estudos de casos multiplos; 0 pesquisa­dor deve mostrar ao leitor que todos os casas unicos foram tratados de forma justa e que todas as conclus6es cruzadas nao foram influenciadas por terem recebido atenc;ao indevida de uma au de algumas das series de casos.

Finalmente, a exposic;ao de evidencias adequadas deve vir acompanhada por alguma indica<;ao de que 0 pesqllisador esteve atento avalidade das evi­dencias - mantendo 0 seu encadeamento, par exemplo. Nao significa que todos os esrudos de caso precisam ser carregados com tratados metodol6gi­cos. Umas poucas notas de rodape sensatas bastam, algumas palavras no pre­facio do estudo de caso podern tratar das importantes etapas de valjda<;ao au notas em uma tabela au figura ajudarao. Como exemplo negativo, uma figura au tabela que apresenta as evidencias sem citar suas fontes e indicativo de lima pesquisa descllidada e avisa que 0 leitor deve ser mais critico ern rela<;ao a outros aspectos do estudo de caso. Essa nao e uma situac;ao que produz esrudos de caso exemplares.

o estudo de caso deve ser elaborado de uma maneira atraente

Uma ultima caracteristica global do estudo de caso tern a ver com a elaborar;ao do relatorio do estudo. lndependememente da rnodalidade utilizada (relat6rio escrito, apresema<;ao oral au outra forma), 0 relatorio deve ser atraente.

Para os relat6rios escritos, significa que 0 pesquisador deve escreve-los em urn estilo claro, e que incite 0 leitor a continuar lendo (veja 0 QUADRO 39). Urn born manuscrito e aquele que "seduz" os olhos do leitor. Ao ler urn texto como esse, seus olhos nao vao querer targar a pagina, mas continuar lendo paragrafo ap6s paragrafo, pagina ap6s pagina, ate 0 final. Esse tipo de sedUl;ao deve ser 0 objetivo do pesquisador ao elaborar qualquer reJatorio de esrudo de caso.

Compondo 0 "Relat6rio" de urn Estudo de Caso 185

QUADRO 39

Alta qualidade e c1areza podem caminhar juntas em urn estudo de caso

Vma queixa muito comum que se faz aos estudos de caso e que eles sao muito longos, complicados de ler e entediantes. Ja se percebeu que esse problema de comunicac;ao nao depende da passivel alta qualidade que 0

estuda de caso possui. The Forest Ranger: A Study in Administrative Behavior (1960), de Herbert

Kaufman, euma excelente excec;ao a essa observac;:ao. 0 texto de Kaufman e lucido e claro. Alem disso, nenhuma transigencia e feita na substancia do caso, que se mostra urn dos mais respeitados casos na area da adrninistrac;:ao publica. Nao surpreendemememe, ° Iivro ja fora reimpresso nove vezes ate 1981 - tres em capa dura e seis em brochura. Todo pesquisador de estudo de caso deve aspirar ver seu t:rabalho publicado dessa forma.

A produc;ao de urn texto assim exige talento e experiencia. Quallto maior a freqilencia que uma pessoa vern escrevendo para a mesmo publico, maior sera a probabilidade de que a comunicac;ao seja efetiva. A clareza da escrita, no entanto, tambem aumenta ao se reescrever partes do texto, a que ealta­meme recomendado. Com 0 advento dos computadores pessoais e dos pro­cessadores de texto, 0 pesquisador nao tem desculpa para "pular" °processo de reescrever.

'Engajamemo, insrigar;ao e seduC;ao - essas sao caracteristicas incomuns dos estudos de caso. Produzir urn estudo de caso como esse exige que 0 pes­quisador seja entusiastico em relac;ao a investigac;ao e deseje transmitir am­plameme os resultados obtidos. Na verdade, a born pesquisador deve ate mesmo imaginar que 0 estudo de caso comenha conclus6es que causarao uma tem­pestade na telTa. Urn entusiasmo como esse deve permear a investigac;ao in­teira e conduzir, de fato, a urn esrudo de caso exemplar.

EXERCICIOS

1. Definindo 0 publico-alva. Determine as tipos alternativos de publico para urn esrudo de caso que voce possa elaborar. Indique, para cada urn deles, as caracteristicas da constitui~ao do esrudo de caso que voce deveria enfatizar ou as quais voce nao deveria dar tanta im­portancia. A mesma constituic;:ao atenderia as necessidades de to­dos os Pllblicos? Por que?

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186 Esrudo de Caso

2. Reduzindo as barreiras para se constituir um estudo de caso. Todos tern dificuldades ern compor relatorios, sejam de estudos de casos ou nao. Para terem sucesso na hora de elaborar urn relat6rio, os pesquisadores devem seguir deterrninadas etapas durante a condu­<;13.0 de urn estudo, a fim de reduzir as barreiras de elabora<;ao. Esta­belec;a nove etapas que voce deveria cumprir - como iniciar em uma parte da elaborac;13.o em urn estagio inicial. Voce ja utilizou essas cinco etapas ern outras ocasi6es?

3. Antecipando as dificuldades do processo de revisCio. Emuito provavel que 0 relatorio de urn estudo de caso, seja na sua forma oral, seja na sua forma escrita, melhore apos passar pela revisao dos informan­tes - isto e, aquelas pessoas que foram objetos do estudo. Discuta os pros e os contras de ter seu trabalho revisado dessa forma. Falando em termos de controle de qualidade, que vantagens isso oferece? Quais sao as desvantagens? No geral, essas revis6es valem a pena?

4. Mantendo 0 anonimato em estudos de CillO. Identifique urn estudo de caso cujo "caso" tenha recebido urn nome fictfcio (dos QUADROS pode-se usar como exemplo os estudos de comunidades, como Middletown, de Lynd and Lynd, e os estudos sobre organizac;6es, como Implementing Organizational Innovations, de Gross et al.). Quais sao as vantagens e as desvantagens de se usar essa tecnica? Que tecnica voce utilizaria ao fazer 0 relat6rio do seu proprio estudo de caso? Por que?

5. Definindo um born estudo de caso. Selecione urn estudo de caso que voce acredite que seja 0 melbor que voce conhece (a selec;13.o pode ser feita a partir dos QUADROS deste livro). 0 que 0 toma urn born estudo de caso? Quais sao as caracterfsticas pouco encontradas em outros estudos de caso? Que outros esfon;os especfficos voce teria que fazer para emular urn born estudo de caso?

NOTAS

I. Ignora-se aqui urn publico muito freqilente para os estudos de caso: os estudantes que fazem urn curso que utiliza os esrudos de caso como material curricular. Essa utilizac;ao dos esrudos de caso, como foi mencionado no Capftulo I, tern 0 ensino, e nao a pesquisa, como objetivo, e coda a estrategia do esrudo de caso deve ser definida e buscada de forma distinta sob essas condic;6es. 2. Lois-Ellin Datta, que antes fazia parte do General Accounting Office, do governo norte-americano, tern outra maneira de descrever essa func;ao dos estudos de caso (U.S. General Accounting Office, 1990). De acordo com ela, 0 re1at6rio do caso deve ser encarado como urn substituto para uma visita real ao local onde 0 esrudo foi realizado; urn objetivo como esse pode orientar 0 pesquisador durante a elaborac;ao do relat6rio.

Compondo 0 "Relat6rio" de um Esrudo de Caso 187

3. 0 autor sentiu os efeitos diretos desse problema ao tentar fazer com que vanos revisores independentes examinassem e avaliassem urn grande nUmero de estudos de caso (veja Yin, Bateman, & Moore, 1983). A cada revisor foi enviada uma grande quantidade de estudos de caso para serem lidos com atenc;ao, e a cada urn deJes tinha de ser dedicado uma quantia de tempo consideravel para 0 processo de avalia¢o.

4. Naruralrnente, mesmo quando 0 pesquisador conserva no anonimato a identidade de urn caso au as pessoas nele envolvidas, alguns poucos colegas dele - em quem 0

pesquisador tern plena confianc;a - conhecerao as identidades reais. Tanto no caso do Street Corner Society quanto no de Middletown, outros soci610gos, especialmente aqueles que trabalhavam no mesmo departamento academico de Whyte e dos Lynds, tinham conhecimento do nome e das quest6es pertinemes ao estudo. S. As especulac;6es tarnbem se baseiarn em algumas descobertas empmcas. Como parte de uma investiga¢o anterior, pediu-se a 21 cientistas soaais de destaque que apontas­sem as melhores qualidades dos estudos de caso (veja Yin, Bateman, & Moore, 1983). Algumas dessas qualidades refletem-se na ctiscussao de esrudos de caso exemplares.

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,

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