ZANELLA, Maria Nilvane. As bases teóricas da socioeducação (UCB)

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    137Revista Dialogos: pesquisa em extenso universitria. IV Congresso Internacional dePedagogia Social: domnio epistemolgico. Braslia, v.18, n.1, dez, 2012

    As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas*

    MARIA NILVANE ZANELLA1

    * Esse o primeiro de quatro artigos que se pretende publicar sobre o

    tema e decorrente da dissertao de Mestrado Prossional em Polticas

    e Prticas em Adolescente em conito com a lei, defendida sob o ttulo

    Bases tericas da Socioeducao: anlise das prticas de interveno e

    metodologias de atendimento do adolescente em situao de conito com

    a lei, no ano de 2011 na Universidade Bandeirantes de So Paulo, sob a

    orientao da professora Dra. Isa Maria Ferreira da Rosa Guar.

    1 Pedagoga, Especialista em Gesto em Centro de Socioeducao, Mestre

    em Polticas e Prticas em Adolescente em Conito com a Lei e Mestranda

    em Educao (UEM). E-mail: [email protected]

    RESUMOO referido artigo sistematiza a anlise, concluda

    em 2011, no Mestrado Stricto Senso em Polticas e Prticas

    em Adolescente em conito com a Lei, da Universidade

    Bandeirantes de So Paulo. A pesquisa bibliogrca

    objetiva desvelar as bases tericas da educao socialliberal, estruturadas a partir da anlise de 27 estudos que

    sistematizaram prticas e metodologias de atendimento

    do adolescente em situao de conito com a lei no Brasil.

    O problema de pesquisa buscou identicar, como as bases

    tericas da educao social liberal se apresentam nas

    metodologias de atendimento e prticas socioeducativas

    desenvolvidas com adolescentes em conito com a lei?

    Para denir o objeto selecionaram-se estudos realizados

    entre os anos de 1990 a 2008, disponveis no banco de

    teses e dissertaes da Coordenao de aperfeioamento

    de pessoal de nvel superior (CAPES). Nesse estudo, ser

    traado um paralelo entre os fundamentos da educao

    escolar e da educao social, concebendo-se que para a

    educao escolar o espao institucional a escola, enquanto

    que para a educao social, quando se trata de adolescente

    em situao de conito com a lei, o lugar institucional o

    espao da socioeducao que se fundamenta em duas

    teorias, uma de carter liberal e outra de cunho progressista.

    O artigo apresentado segue o caminho terico percorrido

    por Dermeval Saviani ao analisar as Teorias da educao e

    objetiva identicar a presena de Teorias no-crticas, no

    mbito da socioeducao e o estudo justica-se por ser uma

    pesquisa de relevncia para os diferentes prossionais queatuam na rea.

    PALAVRAS-CHAVE: Socioeducao, Adolescente emsituao de conito com a lei, Bases tericas, Pedagogia

    social, Teorias da Educao social liberal e progressista.

    ABSTRACTThis Article systematises the analysis, of the Masters

    Degree Stricto Sense Policies and Practices in Adolescents

    in conict with the Law research, of the Bandeirantes

    University in So Paulo, completed in 2011. The literature

    review aims to uncover the theoretical basis of social liberaleducation, that was structured from the analysis of 27

    systematized practices and methodologies to adolescents in

    conict with the law studies, in Brazil. The research problem

    was to identify, how the theoretical basis of social liberal

    education are present in the methodologies of care and

    socio-educational practices developed with adolescents in

    conict with the law. To set the object of this study it was

    selected studies conducted between 1990 to 2008, available

    in a database of thesis and dissertations of the Coordination

    of development of senior sta (CAPES). In this study, a

    parallel between the school education and social education

    foundation, conceiving that the school education space is

    the institutional school, while for social education, when

    it comes to adolescents in conict with the law, the place

    is the institutional socioeducation space which is based on

    two theories, the liberal social one and the progressive one.

    The presented paper follows the path traveled by Dermeval

    Saviani theory that analyses the theories of education and

    aims to identify the presence of non-critical theories within

    the socioeducation. This study is justied because it has

    relevance for the professionals who are working in this area.

    KEYWORDS: Socioeducation, Adolescents in conictwith the law, Theoretical basis, Social pedagogy, Theories of

    social liberal and progressive education.

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    INTRODUO

    Ao apresentar as teorias que reetem sobre

    as relaes entre educao e sociedade, Saviani

    classicou essas teorias em no-crticas, teorias

    crtico-reprodutivistas e teorias crticas. A classicao

    pautou-se no modo como essas teorias pressupem a

    educao e consequentemente a escola. Nesse sentido,

    esse estudo procura identicar pressupostos da teoria

    no-crtica nas pesquisas que propem ou descrevem

    intervenes de atendimentos socioeducativos.

    A escolha da bibliograa de referncia justica-se

    por ser esse um dos primeiros estudos que compila

    as bases tericas da educao escolar brasileira e

    mesmo sendo o texto produzido no sculo passado,

    so reexes que [...] procuram aproximar o leitor

    do signicado daquela concepo educacional que,

    desde 1984, venho denominando pedagogia histrico-

    crtica. Para o autor, embora datado de 1983, esse

    texto, mantm-se atual, sendo oportuno, ainda, para

    recolocar em novo patamar a questo da unidade das

    foras progressistas no campo educacional (SAVIANI,

    2008b, p. 1).

    O embasamento terico-metodolgico da

    pesquisa discutir inicialmente o processo histrico

    que fundamenta a teoria da educao no-crtica e

    posterior apresentar a aproximao com objeto da

    pesquisa, relacionando essa teoria educacional com a

    prtica socioeducativa.

    EDUCAO SOCIAL LIBERAL: DESVELANDO

    O CONTEXTO HISTRICO

    Para Saviani (1984) as teorias no-crticas de

    educao, reguladas em uma concepo de mundo

    liberal so constitudas pela pedagogia tradicional,

    pedagogia nova e tecnicista. No sistema capitalista,

    os conitos sociais e a pobreza colocam em risco

    uma pretensa estabilidade. Nesse sentido torna-se

    necessrio diagnosticar os problemas sociais e buscar

    formas alternativas de controle, o que justica uma

    proposta de Pedagogia Social que possibilite pacicar

    a populao desassistida socialmente.

    O conceito de educao social mais difundido

    atualmente possui origens relacionadas com a crise

    blica da Europa na primeira metade do sculo XX,

    conforme descreve Daz:

    Nesta poca, procurava-se na educaouma soluo para os problemas humanose sociais (fortes movimentos migratrios,proletarizao do campesinato, desemprego,

    pobreza, excluso econmica e cultural,abandono de menores, delinquncia, entreoutros) que se produziram a partir da novarealidade ento criada. Toda esta situao ircriando o espao e a necessidade para umapedagogia que d resposta s necessidadesindividuais e sociais e estabelecendo o ideal decomunidade, face ao excessivo individualismoque se propugnava na educao anterior.Esta nova pedagogia ser designada comoPedagogia Social (2006, p. 93).

    Caliman apresenta Pestalozzi e Froebel comoprecursores da Pedagogia Social que, nesse artigo,

    adjetivamos de no-crtica e segundo ele

    O termo de origem alem e foi utilizadoinicialmente por K. F. Magwer em 1844, naPadagogische Revue, e mais adiante por A.Diesterweg (1850) e Natorp (1898), que aanalisa como disciplina pedaggica. Foramas problemticas sociais que emergiramda industrializao, a partir da metade dosculo XIX, especialmente na Alemanha, quemotivaram tal sistematizao da pedagogia

    social como cincia e como disciplina (2008, p.17).

    Segundo Niskier, no Brasil a Pedagogia Social

    serviu aos interesses do Governo, quando aps a I

    Guerra Mundial a educao popular passou a ser vista

    por agncias internacionais como [...] a caixa de

    ressonncia dos problemas que agridem os pases em

    desenvolvimento para os quais se buscam solues

    alternativas (2001, p. 251). Nesse contexto, em

    1968, Philip H. Coombs ento Diretor do InstitutoInternacional de Planejamento da Educao, da

    Organizao das Naes Unidas para a Educao, a

    Cincia e a Cultura (UNESCO), ao analisar o sistema

    de ensino, inserido em seu ambiente poltico, social

    e econmico apreendeu uma possvel crise mundial

    e sinalizou que a pedagogia moderna seria incapaz

    de descrever o mundo da educao atual, como

    tambm de resolver sozinha a crise que se instaurou

    mundialmente no sistema de ensino e segundo

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

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    ele ainda haveria tempo de colocar em ao uma

    estratgia que impedisse o desajustamento [...] da

    prpria sociedade (COOMBS, 1986, Prefcio).Para intencionalmente resolver o problema

    gerado pelo sistema capitalista, o autor publicou ainda

    o estudo A crise mundial da educao: uma anlise

    de sistemas, no qual sugeriu o desmembramento do

    sistema educacional em elementos formais (cursos

    ociais) e informais (atualizao prossional, tcnica

    e rural, alfabetizao de adultos, etc.), destacando

    especialmente a escassez dos recursos destinados aos

    programas educacionais (COOMBS, 1986).

    Em consonncia com o interesse dosorganismos internacionais, a educao popular

    passou a ser considerada um modelo de educao

    social e uma possvel resposta ausncia do papel do

    Estado enquanto poltica pblica. Em 1972, a Unesco,

    apresentou o Relatrio Aprender a Ser, denominado

    Relatrio Faure, que orientava ser a Educao de

    Jovens e Adultos (EJA) uma educao permanente,

    sendo assim, esta deixaria de fazer parte da Educao

    Bsica (VENTURA, 2008).

    Na dcada de 90 do sculo XX, o Banco Mundial,

    na mesma linha terica elaborou o relatrioA pobreza

    (1990) anunciando que a educao bsica um fator

    preponderante para o crescimento econmico,

    desenvolvimento social e reduo da pobreza, o que

    explica o interesse dos Organizamos Internacionais emretirar a modalidade EJA da educao bsica (BANCO

    MUNDIAL, 1990).

    No entanto, o documento preponderante para a

    educao social liberal foi publicado, melhor dizendo,

    republicado mais de 20 anos depois do Relatrio Faure,

    sendo ento denominado, Relatrio para a Unesco da

    Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo

    XXI elaborado entre os anos de 1993 a 1996 cou

    amplamente conhecido sob o ttulo Educao: um

    tesouro a descobrirde Jacques Delors.Atravs de uma proposta humanista, osestudos do Relatrio Faure pretendiamgarantir ao Estado nacional o papel decoordenador das relaes capitalistas atravsdas ideias de educao permanente e desociedade educativa. E o Relatrio Delors,nos anos 1990, em linhas gerais, cumpriu omesmo objetivo, ou seja, o de construir umaproposta educacional capaz de dar respostas atual fase de acumulao exvel do sistemacapitalista (Grifo do autor, VENTURA, 2008, p.7).

    Segundo Niskier (2001), a possibilidade de

    contradio, fez com que a educao popular, em

    desacordo com os pressupostos desses organismos

    passasse a ser utilizada, como estratgia crtica de

    transformao da realidade em iniciativas pedaggicas

    como a do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem

    Terra (MST), o que fez com que a Unesco publicasse

    em 2005 o caderno intitulado Educao popular na

    Amrica Latina: dilogos e perspectivas enfatizando que

    seria necessria [...] uma reviso crtica das prticas e

    concepes at ento vigentes na Educao Popular

    luz das grandes transformaes em curso no mundo e

    de modo particular, nas sociedades latino-americanas

    (UNESCO, 2005, p. 96).

    A proposta do Organismo foi denominada

    refundamentao da Educao Popular e objetiva

    redenir seu papel, suas tarefas, sua concepo

    metodolgica e criar novos instrumentos para sua

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

    No sistema capitalista,os conitos sociais e a

    pobreza colocam em

    risco uma pretensaestabilidade. Nessesentido torna-se

    necessrio diagnosticaros problemas sociais

    e buscar formasalternativas de controle,

    o que justifca uma

    proposta de PedagogiaSocial que possibilitepacifcar a populao

    desassistida socialmente.

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    interveno (Ibdem). A refundamentao, segundo

    os pressupostos da Unesco busca eliminar o modelo

    de Educao Social crtica que ainda resiste no Brasil e

    Amrica Latina.

    PRESSUPOSTOS DE UMA PRTICA

    SOCIOEDUCATIVA NO-CRTICA

    A partir desse ponto, o artigo buscar relacionar

    a teoria no-crtica sistematizada por Saviani, com as

    prticas descritas nas dissertaes e teses analisadas.

    Na organizao do texto Saviani (1984) nomeou as

    trs concepes de educao que possuem uma

    concepo de sociedade harmoniosa e que concebem

    a marginalidade como um fenmeno que deve ser

    corrigido pela educao, sendo elas a PedagogiaTradicional, a Pedagogia Nova e a Pedagogia Tecnicista.

    A PEDAGOGIA TRADICIONAL E OS SEUS

    PRESSUPOSTOS NA SOCIOEDUCAO

    Na tendncia tradicional, marginalizado

    quem no esclarecido e a educao um antdoto

    ignorncia, logo, um instrumento para equacionar

    o problema da marginalidade (SAVIANI, 1984, p. 10)

    e conforme Libneo nessa tendncia pedaggica oaluno educado pra atingir, pelo prprio esforo, sua

    plena realizao como pessoa (Grifo meu, 1990, p. 22).

    Aproximando a reexo para o sistema

    socioeducativo possvel observar que essa concepo

    encontra-se presente na exclusiva culpabilizao do

    adolescente, pela reincidncia ou cometimento de

    atos infracionais, desconsiderando os condicionantes

    sociais e a ausncia de polticas pblicas.

    Nessa perspectiva, a pesquisa de Lima (2007)

    relata que a Febem de So Paulo dene o lcus documprimento da medida socioeducativa, tendo como

    principal critrio a gravidade da infrao, sendo os atos

    infracionais mais gravosos determinantes para denir

    o local de cumprimento da medida. Aun descreve uma

    dessas unidades que atende adolescentes reincidentes

    no Estado

    A unidade de internao, a qual vou mereferir nesta narrativa, era uma das ditasmais problemticas do complexo. Abrigava

    internos com infraes graves e a maioria dosadolescentes j tinha alcanado a maioridadepenal e, se no eram reincidentes na Febem,j tinham circulado por vrias unidades e/ou complexos. Sua estrutura fsica pareciabonita; lembrava o ptio de colgio, espaosde educao talvez, mas um clima sombrio

    denunciava relaes tortas, evidenciandoproibies, ameaas, medo e descrena (AUN,

    2005, p. 14).

    O relato da pesquisadora demonstra que

    os adolescentes recebem do coletivo um estigma

    que aparentemente inofensivo, os transforma

    em irrecuperveis. Esses adolescentes ao serem

    transferidos chegam nova unidade com status de

    lder, [...] um certicado de que a unidade no deu

    conta de mim, ou seja, um certicado de considerao,

    liderana e poder; ainda mais valorizado se emitido porunidades palco de grandes rebelies e periculosidade

    (AUN, 2005, p. 105).

    A anlise demonstra que a categoria reincidncia

    segue a orientao terica de uma tendncia

    pedaggica tradicional, de cunho liberal, que

    acompanha a trajetria do adolescente. Essa teoria

    do conhecimento comunga da idia de uma sociedade

    planejada, organizada, prevista e controlada em

    todos os seus nveis, sendo que o sujeito inadaptado

    socialmente deve ser retirado do organismo social.A concepo terica do ajustamento aparece

    na reproduo de um documento tcnico de 1976 da

    Fundao Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM).

    Segundo Violante (1989, p. 68-69), no documento, a

    instituio explicita que a equipe tcnica objetiva tratar

    o menor, auxiliando-o em sua reintegrao, sendo que,

    o mesmo dever ser reeducado, prossionalizado,

    tratado de acordo com suas caractersticas prprias,

    e posteriormente mudar o seu comportamento,

    adquirindo aquelas condies mnimas indispensveispara que ele retorne comunidade como cidado til

    (VIOLANTE, 1989, p. 68-69).

    Lima na dissertao analisada evidencia que

    competia Fundao Pro-menor, elaborare executar programas de atendimento aomenor carenciado, abandonado e ou infrator,promover a sua reintegrao social, adotarprovidncias para prevenir a marginalizaoe corrigir as causas de desajustes dessesmenores (Grifo meu, 2007, p. 34).

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

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    Para Aun o poder avaliador dos tcnicos, muitas

    vezes, reete a perspectiva do ajustamento social

    como parmetro para correo de conduta do sujeito

    e da sua violncia (Grifo meu, 2005, p. 121). Oliveira

    tambm encontrou na funo dos prossionais

    resqucios de ajustamento e segundo elaA Unidade de Tratamento recebia os menoresque haviam passado pela Triagem e queapresentavam, conforme levantamento,alguma diculdade signicativa em suaconduta, sendo esse o motivo alegadopara denir o tempo de permanncia maisprolongado e necessrio para sua recuperaopsquica e social, at encontrarem-se aptospara a reintegrao social (Grifo do autor,2005, p. 58).

    As pesquisas analisadas acima identicarampressupostos da pedagogia tradicional na prtica

    realizada nas Instituies Socioeducativas. Entretanto,

    alguns pesquisadores utilizaram essa concepo terica

    ao proporem intervenes em suas pesquisas. Hasse

    (2004, p. 29), por exemplo, deniu que a Biblioterapia,

    objeto de sua pesquisa pode ser denida como um

    processo de interao dinmica [...] que pode ser

    utilizada para avaliao, ajustamento e crescimento

    pessoal, sendo que a tcnica tambm objetiva

    enfocar aspectos das doenas mentais,distrbios de comportamento, ajustamentoe desenvolvimento pessoal, fornecendoliteratura sobre o assunto, resultando numfavorecimento mudana de atitudes ecomportamento nos pacientes, com a soluoou melhora do problema de comportamentoapresentado (HASSE, 2004, p. 40).

    Nilsson, seguindo o mesmo pressuposto terico

    defende que a internao muitas vezes o tempo

    necessrio para comear um processo de renovao,

    ou seja, o adolescente deve se desprender de

    lembranas, costumes e outras tradies, pois

    livres do peso do passado e cumprido o processo de

    reeducao, 60% dos infratores internos, comeam

    nova vida ou o processo de renovao (2007, p. 52).

    Os conceitos utilizados pelas instituies

    de atendimento aos adolescentes em situao de

    conito com a lei, pelos prossionais que l atuam e

    pelos pesquisadores das dissertaes analisadas, nos

    permitem observar que nesses casos especcos, o

    atendimento a esse grupo de adolescentes entendido

    como pressuposto para a superao da marginalidade.

    O MOVIMENTO ESCOLANOVISTA E A

    INFLUNCIA NA PRTICA SOCIOEDUCATIVA

    Na educao escolar, o entendimento de que

    a escola tradicional era inadequada para realizar a

    funo de equalizao social, inuenciou o movimento

    da teoria da escola nova que se propunha a corrigir as

    distores sociais que a escola tradicional no o fazia

    (SAVIANI, 1984; LIBNEO, 1990).

    Na perspectiva de Saviani (1984, p. 14) essa

    nova concepo terica, encantou os prossionais

    da educao escolar e foi entendida como uma

    justicativa para o afrouxamento da disciplina e

    motivo de despreocupao com a transmisso de

    conhecimento para as classes mais pobres, o que

    agravou o problema da marginalidade.

    O movimento da escola nova tinha em Carl

    Rogers, Piaget, Decroly e Montessori seus precursores,

    em consonncia com o momento histrico, de ampla

    inuncia da cincia experimental. evidente nessa

    teoria, a inuncia dos modelos e procedimentos

    educacionais especcos para as crianas especiais, que

    posterior foram generalizados para todas as instituies

    escolares, que passou a olhar o marginalizado social

    como um rejeitado que necessitava ser reintegrado. Ou

    seja, se o marginalizado aceito pelo grupo, ele deixa de

    ser marginalizado, tendo em vista que a anormalidade

    apenas uma diferena, sendo a educao um fator

    de correo da marginalidade, ajustando e adaptando

    os indivduos que se sentiro aceitos (SAVIANI, 1984).

    Assim, o marginalizado j no , propriamente, o

    ignorante, mas o rejeitado. Algum est integrado no

    quando ilustrado, mas quando se sente aceito pelogrupo e, atravs dele, pela sociedade em seu conjunto

    (Idem, p 11).

    Nessa perspectiva, os diagnsticos eram

    utilizados para rotular os sujeitos que no se ajustavam

    s normas sociais e institucionais, como relata Violante

    Em Moji-Mirim, o psiclogo diz que a maioria psicopata: [...] crtica rebaixada, inafetividade,imediatismo, baixo limiar para frustrao,baixa emotividade [...], apesar de psicopatas,

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

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    tratamento a ser realizado pela instituioque o acolheria. Diagnstico este que acabavapor enquadr-lo dentro da normalidade eda anormalidade, sendo que estes ltimospodem ser extremamente discriminatrios edenitivos (RIZZINI, 1993, p. 85).

    Conforme Oliveira (2005) os antecedentes

    hereditrios dos adolescentes, bem como as anlises

    sociais, o meio familiar, escolar e tambm as possveis

    perverses recebiam uma apreciao mdica que

    englobavam os aspectos emocionais, intelectuais ecomportamentais determinando uma pr-sentena.

    Gomide (1990, p. 4) denuncia que em 1980,

    os maus tratos iam desde a violncia fsica, o uso

    de psicotrpicos e o adestramento at realizaes

    de cirurgias indevidas, passando por toda sorte

    de aes que visavam fazer o menor perder a sua

    individualidade e sua capacidade de pensar. Segundo

    Rizzini (1993) a anlise cientca da poca investigava

    a existncia de distrbios psquicos baseando-se em

    alguns so rebaixados, no sentido de carnciacultural [...] so espertos, mas carentes [...].Deste modo diagnosticada a maioria dosmenores internos em Moji-Mirim, pelos maisdiferentes motivos. Uma vez que o Menor considerado completamente desacreditado,a psiquiatria d o respaldo pseudocientco

    necessrio para a prtica institucional, qualseja, a punio e a conteno (1989, p. 112).

    Segundo a autora em todos os casos, o discurso

    psicolgico e psiquitrico se caracteriza de modo

    a culpar a vtima por sua condio e pelo modo de a

    ela responder (Idem, p. 113). Para Rizzini (1993) as

    avaliaes buscavam denir se a personalidade do

    adolescente era normal ou patolgica, procedimento

    que pretendia dar ao diagnstico um carter cientco,

    rotulando as caractersticas morais, fsicas, sociais,afetivas e intelectuais por meio da aplicao de

    exames pedaggicos, mdico-pedaggico, mdico-

    psicolgico, de discernimento e de qualicao do

    adolescente.

    A prtica data de um momento histrico em

    que a utilizao de tcnicas cientcas na assistncia

    criana e ao adolescente era aceita e encontrava-se

    em pleno desenvolvimento, tendo em vista que as

    penas deveriam ser baseadas na responsabilidade do

    criminoso e em sua periculosidade para a sociedade,comprovada ou no, provavelmente inuenciada pelos

    estudos de Cesare Lombroso (1835-1909), fundador

    da escola positiva do direito penal. Para a concepo

    positiva, o delinqente no tinha conscincia das

    foras que o levavam a praticar o ato criminoso, pois

    ele j nascia com essa predisposio.

    O autor comungava das idias inatistas, de que

    o homem no livre, mas determinado por fatores que

    no pode controlar. A sociedade, do sculo XVIII e XIX

    crescia desordenadamente, movida pelas mudanascientcas, tecnolgicas e industriais e caberia ao

    Estado, combater o delito, sobretudo, atravs da

    disciplina do trabalho. Oliveira (2005, p. 25) evidencia

    que a leitura cientca da criana no Brasil ganhou fora

    em meados dos anos 30, com a criao do Laboratrio

    de Biologia Infantil pelo Juzo de Menores.

    O recurso destas cincias tinha por nalidadeauxiliar no enquadramento do menor dentrode um diagnstico que permitia indicar o

    evidente nessateoria, a inuncia

    dos modelos eprocedimentos

    educacionais especfcos

    para as crianasespeciais, que posterior

    foram generalizadospara todas as

    instituies escolares,

    que passou a olhar omarginalizado socialcomo um rejeitado

    que necessitavaser reintegrado.

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

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    reaes anti-sociais, impulsividades, emotividade

    excessiva, sentimentalidade e reaes hostis ao meio,

    pautando-se os diagnsticos no comportamento

    institucional dos adolescentes.

    Por outro lado, a busca pela mudana no

    comportamento do adolescente repetidamentemencionada nas dissertaes e teses que quase

    sempre objetivam aumentar a auto-estima, diminuir a

    agressividade, reduzir a evaso escolar e a delinquncia

    juvenil (MARQUES, 2006), ou ainda, proporcionar

    mudanas comportamentais esperadas nas atividades

    cooperativas com vistas a promover a integrao ou

    a reintegrao social (SANIOTO, 2005, p. 29).

    Da mesma maneira, a pesquisa de Andretta

    (2008, p. 45) explicita que a entrevista motivacional

    uma interveno breve, que visa estimular a mudanade comportamento e em sua pesquisa concentrou-se

    no diagnstico de 50 adolescentes que cumpriam

    medidas socioeducativas em meio aberto, deferindo

    que

    As comorbidades mais freqentes foramo Transtorno de Dcit de Ateno eHiperatividade (TDAH), com 13 casos (26,0%);Transtorno de Conduta (TC), com umaprevalncia de 11 casos (22,0%); e TranstornoOpositivo Desaador (TOD), com dois casos

    (4,0%). Em relao intensidade de sintomasde ansiedade e depresso, a mdia dosescores foi leve, e no houve nenhum caso dediagnstico de transtorno depressivo ou deansiedade (2008, p. 47).

    Nessa pesquisa, chama ateno o fato de que

    aps a metodologia de interveno o adolescente

    deveria se submeter a um exame denominado

    Screening toxicolgico para deteco do uso de

    maconha, para comparar os resultados obtidos no

    exame com os relatos dos sujeitos (Idem, p. 48) e

    segundo a autora

    Todos os adolescentes desta amostrarealizaram o Screening toxicolgico paramaconha, e houve 100,0% de conabilidadeentre os auto-relatos e os resultados dosexames. A idia inicial foi de que, por seremadolescentes, por terem cometido atoinfracional, e devido a alguns deles terem sidodiagnosticados com transtorno de conduta, ondice de no conformidade positivo entre oexame e o auto-relato seria alto (Idem, p. 51).

    Ou seja, os diagnsticos e as anlises

    experimentais da atualidade se sustentam no avano

    tecnolgico para descobrir se os sujeitos da pesquisa,

    no caso os adolescentes, mentiram ao responder ao

    questionamento.

    O MOVIMENTO TECNICISTA NO

    ESPAO SOCIOEDUCATIVO

    Segundo Violante, ressocializar implica a crena

    de que o Menor ajustado ser um bom trabalhador e

    mesmo quando os agentes institucionais reconhecem

    as condies sociais adversas, culpabilizam o indivduo

    e a sua famlia imunizando a sociedade (1989, p. 116).

    Para Demo (1987) a metodologia sistmica se

    alimenta das concepes funcionalistas de sociedadeque concebem esta como consensual e harmoniosa

    numa perspectiva de funcionamento racional e mais

    produtivo possvel. Nesse sentido, o funcionalismo ou a

    teoria sistmica possuem a habilidade fundamental de

    controlar conitos e para Demo2apudDemo signica

    no mais o controle duro, maquiavlico,no sentido das imposies extremamenteexcludentes; signica muito mais emborajamais se elimine o anterior a cooptaodos adversrios, o convencimento atravs

    da propaganda, o fazer a cabea atravs daindstria cultural, a oposio domesticada, eassim por diante (Grifo do autor, 1987, p. 111).

    A concepo funcionalista v a sociedade

    constituda por partes (polcia, hospitais, escolas),

    sendo que, cada parte, possui funes que promovem a

    estabilidade social. Nesse sentido, o homem educado

    o que mais se adapta ao esquema social, assumindo de

    maneira natural o comportamento padro, tendo em

    vista que comportamentos rebeldes e transgressoresso inaceitveis, em uma concepo de homem,

    fundamentada em um ser humano ideal, moral,

    virtuoso e racional.

    Segundo Saviani (1984), quando os estudiosos

    perceberam que a subjetividade da escola nova no

    resolveria o problema da marginalidade, os mesmos

    se detiveram em planejar um modelo de educao

    2 DEMO, Pedro. Da burocracia administrao total. In: Documentao e

    atualidade poltica. UNB, n. 10, maio de 1980, p. 3.

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

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    racional. Assim, enquanto a pedagogia nova tinha na

    relao interpessoal e subjetiva do aluno, o centro do

    processo, a pedagogia tecnicista, coloca o professor

    e o aluno como secundrios no processo e racionaliza

    os meios, burocratizando o espao escolar. Para

    a pedagogia tecnicista a marginalidade no ser

    identicada com a ignorncia nem ser detectada a

    partir do sentimento de rejeio. Marginalizado ser o

    incompetente (no sentido tcnico da palavra), isto , o

    ineciente e improdutivo (SAVIANI, 1984, p. 17).

    A pedagogia tecnicista busca superar a

    marginalidade formando indivduos ecientes para

    a produtividade e equilbrio da sociedade. O mtodo

    de ensino ou de atendimento passa pela perspectiva

    do aprender fazendo. A transformao desse modelo

    escolar pressupunha novas teorias educacionais

    prximas do empirismo que possui em comum com

    o positivismo a desconana contra o conhecimento

    sem base emprica.

    Do ponto de vista pedaggico conclui-se,

    pois, que se para a pedagogia tradicional a questo

    central aprender e para a pedagogia nova aprender a

    aprender, para a pedagogia tecnicista o que importa

    aprender a fazer (Idem, p. 18), assim como descrito no

    Relatrio Delors de 1999, amplamente utilizado como

    base terica dos Centros de Socioeducao do Brasil.

    Aprender a viver junto, aprender a viver com osoutros (DELORS,1999), um dos quatro pilaresda educao, representa hoje um grandedesao de (re) aprendizagem de convivnciana perspectiva da sociedade democrtica [...].Aprender a conviver implica conhecer, aceitare respeitar as regras da organizao social emque se est inserido [...]. Aprender a viver econviver com cidadania, com responsabilidadesobre a prpria conduta e com participaoprodutiva na sociedade [...] (LIMA, 2007, p.54).

    Libneo evidencia que

    Num sistema social harmnico, orgnico efuncional, a escola funciona como modeladorado comportamento humano, atravs detcnicas especcas. educao escolarcompete organizar o processo de aquisiode habilidades, atitudes e conhecimentosespeccos teis e necessrios para queos indivduos se integrem na mquina dosistema social global [...]. A escola atua,

    assim, no aperfeioamento da ordem socialvigente (o sistema capitalista) articulando-sediretamente com o sistema produtivo (1990,p. 28-29).

    Na educao social, o tecnicismo busca produzir

    e reeducaros indivduos competentes para o mercadode trabalho. O treinamento aparece nas dissertaes

    e teses, relacionado s atividades desenvolvidas pelos

    adolescentes, como uma tcnica adquirida pelos jovens

    no relacionamento com os seus pares, de base emprica,

    envolvendo inclusive a aquisio de habilidades para a

    realizao das atividades ilegais.

    Para Gallo, por exemplo, existe um treinamento

    para o envolvimento com a conduta delituosa.

    Segundo o pesquisador, fazer parte de um grupo

    social desviante um fator de risco para a prtica deatos infracionais [...] e que isso seria um treino bsico

    para a criminalidade (2006, p. 17). Aun, por outro lado,

    evidencia que os adolescentes utilizam um discurso

    para amedrontar o outro e que estes so experientes

    no assunto: treinados pela prpria experincia do

    mundo do crime ou pela convivncia entre si na Febem

    (2005, p. 104).

    Em relao ao fazer prossional o termo

    treinamento aparece relacionado formao

    prossional. Nilsson (2007, p. 49) sentencia A artede ouvir mais difcil que a arte de falar. Ouvir requer

    disciplina. E esta, s pode ser adquirida por meio de um

    treino constante. Marques (2006, p. 25) dene que o

    mentor deve desenvolver no mentorado competncias

    especcas e para tanto dever prover treinamento

    tcnico capacitando-o a superar desaos, sendo

    que, cabe tambm ao mentor fornecer feedback ao

    mentorado sobre seu desempenho.

    Segundo Hasse (2007, p. 60) na tcnica de

    biblioterapia, caber ao terapeuta treinar e expor osadolescentes a um repertrio de textos adequados

    para o uso da tcnica, haja vistas que a mesma

    mais eciente na reduo do medo, dores de

    cabea, depresso, e treinamento de habilidades, e

    menos eciente para dieta e exerccios e hbitos de

    comportamento (Idem, p. 61).

    O uso das terminologias ligadas rea

    empresarial, assim como os pressupostos tericos do

    Relatrio Delors, comum nas dissertaes que tratam

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

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    da educao escolar no espao da Educao Social e

    reetem o contexto tecnicista

    Para poderem fazer um bom trabalho osprofessores devem no s ser prossionaisqualicados, mas tambm beneciar-se deapoios sucientes. O que supe, alm dos

    meios de trabalho e dos meios de ensinoadequados, a existncia de um sistemade avaliao e de controle que permitadiagnosticar e remediar as diculdades, eem que a inspeo sirva de instrumento paradistinguir e encorajar o ensino de qualidade.(Grifo meu, DELORS3, apudLIMA, 2007, p. 69).

    Marlene Guirado (1980) com base em pesquisa

    realizada no nal dos anos 70 do sculo passado ao

    falar das contradies do espao socioeducativo

    descreve a organizao do trabalho realizado e permiteuma anlise da inuncia do tecnicismo na instituio

    Febem na dcada de 80 do sculo XX:

    [...] por um lado, a tentativa de organizaro trabalho leva a previses detalhadas dasatribuies de cada funcionrio, chegandoa delimitar o tempo mdio a ser gasto emseu contato com a criana e, como se podeobservar no processo de internao, todosos esforos so feitos no sentido de mantereste horrio e esta previso; por outro ladopela descrio das atribuies de cada caso,observa-se que a criana tratada, muito maisacentuadamente, como um sujeito jurdico-penal (consultas e despachos, entrevistas commenores, relatrio social, encaminhamentoadequado do caso, exame de corpo delito,elaborao de parecer, confeco deparecer, confeco de chas onomsticase datiloscpicas, anlise e classicao dasimpresses, registro no livro, revista demenores acolhidos, conduo de menores asetores competentes, efetuao de entregasdomiciliares). Na verdade, essa descrio

    revela a maneira como, na prtica, se concebea criana-menor e, mais propriamente, comose concebe a criana-menor. E, esta concepoparece muito mais vinculada s deniesdo Documento de 1976 e conceituao domenor como desviante de uma norma, de umaordem, do que como vtima (Grifo do autor,GUIRADO, 1980, p. 162-163).

    3 DELORS, Jacques. Educao: um tesouro a descobrir. Relatrio para a

    UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI. 2.

    ed. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: MEC: UNESCO,1999, p.165.

    A anlise demonstra que a Pedagogia Tradicional,

    a Pedagogia Nova e a Pedagogia Tecnicista so reexes

    tericas presentes em documentos institucionais, no

    fazer dirios dos prossionais que atuam no Sistema

    Socioeducativo, assim como, nas concepes tericas

    e metodolgicas das pesquisas analisadas.

    CONSIDERAES FINAIS

    O captulo intitulado As teorias da educao e o

    problema da marginalidade do livro clssico de Saviani

    Escola e Democracia (1984)orienta metodologicamente

    a dissertao que deu origem a esse artigo. Assim,

    a pesquisadora buscou nas dissertaes e teses as

    teorias descritas pelo autor (teorias crticas, teoriasno-crticas e teorias crtico-reprodutivistas), seguindo

    tambm, a mesma organizao racional do texto.

    O estudo de cunho bibliogrco analisa as

    produes acadmicas sobre o tema da socioeducao

    e toma como ponto de partida o banco de dados do

    projeto docente intitulado O estado do conhecimento

    sobre a interveno socioeducativa em programas para

    adolescentes envolvidos em delitos. Das pesquisas

    selecionadas realizou-se uma leitura completa de 16

    trabalhos e leitura parcial de duas pesquisas, ao restante

    (nove pesquisa) acessou-se apenas o resumo dos

    estudos. A anlise das bases tericas fundamenta-se

    especialmente, em estudos j realizados no mbito da

    educao escolar por autores como Saviani (1984) e

    Libneo (1990).

    A anlise mapeou as Bases tericas da

    socioeducao, a partir do estudo das prticas

    de interveno e metodologias de atendimento

    do adolescente em situao de conito com a lei,

    apresentando a anlise de trs teses de doutorado e

    vinte quatro dissertaes de mestrado, totalizando

    27 pesquisas no recorte temporal de 1990 a 2008,

    selecionadas a partir do banco de teses e dissertaes

    da Coordenao de aperfeioamento de pessoal de

    nvel superior (CAPES). No estudo identicaram-se a

    presena de bases tericas ditas no-crticas, seguindo

    o referencial terico utilizado.

    ZANELLA, M. N. As bases tericas da Socioeducao nas teorias no-crticas, p. 137-146

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