AVALIAÇÃO MULTICRITÉRIO DE
TREINAMENTO EM SUPPLY CHAIN
MANAGEMENT
Claudemir Leif Tramarico (UNESP )
Ligia Maria Soto Urbina (ITA )
Newton Correa de Castilho Jr. (UFPR )
Valerio Antonio Pamplona Salomon (UNESP )
Marcus Arthur Perez Demenis (ITA )
Todos os anos organizações despendem relevantes investimentos
financeiros em treinamento e desenvolvimento de pessoas. Embora de
maneira macro a organização sinta efeitos positivos destes
investimentos, ainda há grande dificuldade na avaliaação do retorno e
eficácia destes investimentos. Este artigo descreve uma pesquisa que
teve como objetivo a avaliação multicritério de treinamento em supply
chain management através da definição do processo e apresentação do
modelo baseado no Supply Chain Operations Reference Model
(SCOR). Aplicou-se Analytic Hierarchy Process (AHP) na solução.
Consideraram-se como alternativas, os benefícios individuais e
organizacionais em uma indústria química. O resultado principal da
análise revelou que o treinamento contribui de forma fundamental
para a organização, o vetor prioridade apresentou 52% para
benefícios organizacionais, seguido de 48% para benefícios
individuais. Foi apresentado ao Especialista da empresa objeto de
estudo que o validou como consistente e aplicável na prática.
Palavras-chaves: Supply chain management, Avaliação de
treinamento, Analytic hierarchy process
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1. Introdução
Supply chain management (SCM) ou gerenciamento da cadeia de suprimentos é considerado
uma questão fundamental no atual cenário pautado por intensos relacionamentos econômicos
e comerciais no âmbito global. Em virtude da sua importância, muitos estudos foram
realizados por pesquisadores sobre SCM em diferentes disciplinas como: Lambert e Cooper
(2000), Mahmood et al.(2000), que mostraram os principais aspectos e os seus fundamentos.
Outras abordagens figuram na literatura, tais como a estratégia de integração de fornecedores
e clientes, apresentada por Frohlich e Westbrook (2001); a sustentabilidade apresentada por
Svensson (2007) em artigo conceitual no qual descreveu e ilustrou o tema; a maturidade,
destacada por (ESTAMPE et al., 2013), entre outras.
Nesse contexto, este artigo descreve uma pesquisa que teve como objetivo geral a avaliação
multicritério de treinamento em SCM, que foi desdobrado em objetivos específicos que
incluem a definição do processo, a criação do modelo de avaliação baseado no Supply Chain
Operations Reference Model (SCOR), e a sua aplicação apoiada pelo método Analytic
Hierarchy Process (AHP).
O AHP foi desenvolvido na década de 1970 por Thomas Saaty para resolver problemas
complexos que envolvem tomadas de decisão por múltiplos critérios. Ele tem sido empregado
em situações de definições de prioridade, avaliação de recurso, avaliação de custos e
benefícios entre outras. Subramanian e Ramanathan (2012) identificaram 291 artigos em
gestão de operações utilizando o método de uma maneira única ou combinada com aplicações
gerais.
Aqui, propõe-se adotar o AHP na modelagem, apontando que esta escolha se justifica pelo
fato permitir uma análise flexível, embora muitos dos aspectos que definem os fatores e suas
relações possam ser difíceis de especificar e quantificar (SAATY; OZDEMIR, 2005).
Quanto aos procedimentos metodológicos, utilizou-se um método de pesquisa de natureza
aplicada, com abordagem quantitativa, objetivos descritivo-explicativos e procedimentos
técnicos da modelagem matemática (BERTRAND; FRANSOO, 2002).
O artigo está estruturado como se segue. Na seção 2 está o referencial teórico, na seção
seguinte descreve-se o processo, a criação do modelo de avaliação e a aplicação do AHP em
uma indústria química. Na seção 4, são apresentadas as conclusões do trabalho, seguidas das
principais referências.
2 Referencial teórico
2.1 Conceitos sobre SCM
O termo SCM foi criado por consultores na década de 1980 e se expandiu na década seguinte
entre os pesquisadores (MAHMOOD et al., 2000). Muitas perguntas surgiram tais como: um
novo nome para a função logística? Um novo conceito de atendimento ao cliente? Um slogan
de uma nova literatura? É um novo conceito de compra? As respostas para essas questões
podem ser encontradas nas diversas definições de SCM, consideradas mais amplas do que o
termo logística ou transporte, e podem ser entendidas como a coordenação de atividades e
processos dentro e entre as organizações da cadeia de suprimentos que se estendem além da
logística (COOPER; LAMBERT; PAGH, 1997). Referem-se também ao fluxo de produtos e
informações além do âmbito da atividade que ocorre desde o fornecedor do fornecedor até o
consumidor final, como se pode observar na Figura 1, que ilustra o escopo. A cadeia de
suprimentos engloba as atividades associadas com a transformação e o fluxo de bens e
serviços, incluindo os fluxos de informação, a partir das fontes de matérias-primas para os
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usuários finais. Gestão refere-se à integração de todas essas atividades, internas e externas à
empresa (BALLOU; GILBERT; MUKHERJEE, 2000). Figura 1: Escopo do SCM
Empresa
Fornecedor Cliente
Fornecedor
do
Fornecedor
Cliente/
consumidor
final
Aquisição Transformação Distribuição
Fluxo de produto e informação
Fonte: Ballou, Gilbert e Mukherjee (2000).
Uma definição do SCM amplamente foi desenvolvida pelo Global Supply Chain Forum
(GSCF), que tem como participantes um grupo de empresas e uma equipe de pesquisadores
acadêmicos de notório saber em SCM. Tal definição declara que SCM, é a integração dos
principais processos de negócios a partir do usuário final, através de fornecedores originais
que entregam produtos, serviços e informações que agregam valor para os clientes e outras
partes interessadas (LAMBERT; COOPER, 2000).
2.2 Modelo de SCM
Um importante modelo de gerenciamento dos processos na cadeia de suprimentos é o modelo
SCOR foi desenvolvido pelo Supply Chain Council (SCC), uma organização independente,
sem fins lucrativos, aberta à participação de todas as empresas e organizações interessadas em
aplicação, no avanço do SCM e no seu desempenho. O SCOR foi desenvolvido para
descrever as atividades empresariais a fim de satisfazer a demanda de um cliente, melhorar o
desempenho da cadeia de suprimentos e foi concebido para ajudar a refinar a estratégia da
SCM. Os principais processos considerados no modelo são os processos centrais da empresa:
plan - planejar, source - comprar, make - fabricar, deliver – entregar e return - retornar. Os
limites do modelo foram claramente definidos "Desde o fornecedor do fornecedor até o
cliente do seu cliente" que pode ser interno ou externo, conforme observado na Figura 2
(MEDINI; BOUREY, 2012). Figura 2 - Modelo SCOR
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Fonte: SCOR 9.0 overview booklet (2013)
O detalhamento dos cinco processos distintos do modelo SCOR (SCOR 9.0 OVERVIEW
BOOKLET, 2013) é:
Plan: planejamento das necessidades de compra, produção e entrega de acordo com a
demanda;
Source: aquisição de produtos e serviços para atender à demanda prevista;
Make: processo que transforma a matéria-prima/produto em produto acabado para
atender a demanda planejada;
Deliver: processo que fornece produtos acabados e serviços para atender a demanda
planejada, geralmente inclui gestão de pedidos, gerenciamento de transporte e gestão
de distribuição;
Return: processo associado com o retorno ou recebimento de produtos devolvidos por
qualquer motivo.
2.3 Treinamento em SCM
Devido à importância da SCM para as empresas que estão integradas em cadeias globais de
valor tem crescido em importância o treinamento em SCM. Um dos mais relevantes baseia-se
na preparação para se tornar Certified in Production and Inventory Management (CPIM) -
certificado em gestão de produção e estoques da The Association for Operations Management
(APICS). Vale notar que a missão da APICS é construir e validar o conhecimento de
gerenciamento de cadeia de suprimentos e gestão de operações, oferecendo à comunidade, aos
membros associados e clientes, programas de certificação. A certificação é considerada como
vantagem estratégica necessária no mundo globalizado, no qual a taxa de mudança
tecnológica e organizacional acelera exponencialmente (LUMMUS, 2007).
O principal objetivo do programa CPIM é contribuir no campo da terminologia, conceitos e
estratégias relacionadas à gestão da demanda, compras, planejamento com o fornecedor,
planejamento de materiais, planejamento de capacidade, planejamento de vendas e operações,
planejamento mestre de produção, medidas de desempenho, relacionamento com
fornecedores, controle de qualidade e melhoria contínua (CPIM BROCHURE, 2011).
O primeiro passo do processo de certificação é o curso de preparatório, os principais
benefícios individuais esperados após treinamentos são (CPIM BROCHURE, 2011):
Aumento do conhecimento funcional de produção e gestão de estoques;
Melhoria da eficiência da cadeia de suprimentos da sua organização;
Simplificação as operações através de uma previsão acurada;
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Prevenção de resultados com mais precisão;
Maximização do retorno sobre o investimento em sistemas e tecnologias;
Aumento a lucratividade por meio da otimização de investimentos e da organização de
estoque;
Aumento a credibilidade entre os colegas, empregadores e clientes;
Compreensão das várias funções dentro de uma empresa (tais como compras,
planejamento, engenharia, finanças) que estão ligados pelo sistema ERP.
Os principais benefícios organizacionais esperados após o treinamento são (CPIM
BROCHURE, 2011):
Conhecimento comprovado e habilidades organizacionais estrategicamente para
agilizar operações;
Ferramentas para administrar eficazmente as atividades da cadeia de suprimentos,
onde fornecedores, fábricas, distribuidores e clientes estão em sintonia;
Capacidade de interagir com os recursos existentes e de seu sistema de ERP para
aumentar a eficiência do local de trabalho;
Habilidades para criar consistência e incentivar a colaboração através de melhores
práticas, terminologia comum, e comunicação em toda a empresa;
Conhecimento para aplicar os princípios de software ERP que cobrem várias funções
dentro de uma empresa, por exemplo: compras, planejamento, finanças e engenharia.
2.4 Método de avaliação multicritério
O treinamento em SCM pode ser avaliado utilizando-se de critérios qualitativos que permitam
avaliar quantitativamente a mudança atribuída ao treinamento nos vários processos da SCM,
que foram alvo do curso.
AHP é o método mais aplicado na solução de problemas multicritério (WALLENIUS, et al.,
2008). Também é um método bastante utilizado no ambiente corporativo, em parte, devido à
disponibilidade de empresas de consultoria (INCORPORATED EXPERT CHOICE, 2009) e
de software (CREATIVE DECISIONS FOUNDATION, 2009) que tem disseminado e
facilitado a sua aplicação. Contudo, este método tem sido alvo de críticas no meio acadêmico
(BANA E COSTA; VANSNICK, 2008). Boa parte dessas críticas é totalmente indevida e já
foi refutada (GARUTI; SALOMON; SPENCER, 2008).
Basicamente, uma aplicação do método AHP deve desenvolver uma hierarquia, construir a
matriz de julgamento par a par, calcular a prioridade de cada critério, verificar a consistência
dos julgamentos, e desenvolver o ranking de prioridades. A Figura 3 apresenta o fluxo de
aplicação do Método AHP (HO, 2008).
Figura 3 - Fluxo de aplicação do AHP
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Fonte: adaptado de Ho (2008)
A Figura 4 apresenta uma estrutura hierárquica genérica. Observa-se no primeiro nível
hierárquico, o objetivo da tomada de decisão. No segundo nível estão os critérios e no último
estão as alternativas (SALGADO; SALOMON; MELLO, 2012). Figura 4 - Estrutura hierárquica genérica
Fonte: Salgado, Salomon e Mello (2012)
Após o estabelecimento da estrutura hierárquica, o próximo passo é executado por
comparações entre os critérios, dois a dois, inseridas em uma matriz de comparações, A. O
vetor de pesos dos critérios é obtido pela normalização do autovetor direito, w, da matriz de
comparações. Nas aplicações do AHP, as comparações são baseadas na Escala Fundamental
de Números Absolutos (SAATY, 2010), uma escala linear de 1 a 9, apresentada na Tabela 1.
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Tabela 1 - Escala Fundamental de Números Absolutos
Intensidade de importância Definição
1 Igual
2 Fraca
3 Moderada
4 Um pouco mais do que moderada
5 Forte
6 Um pouco mais do que forte
7 Muito forte
8 Fortíssima
9 Extrema
1,1 a 1,9 Quando os elementos comparados forem próximos,
pode-se adicionar uma casa decimal
Fonte: Adaptado de Saaty (2010)
Além do uso da Escala Fundamental, nas aplicações do AHP, considera-se a reciprocidade
nas comparações, ou seja, aij = 1/aji. Mas como, geralmente, as matrizes de comparações são
preenchidas por completo, ainda assim há comparações redundantes, quando se tem mais de
dois critérios. Por exemplo, a comparação entre os Critérios 1 e 3 (a13) pode ser obtida com a
multiplicação da comparação entre os Critérios 1 e 2 (a12) pela comparação entre os Critérios
2 e 3 (a23). Essa multiplicação também é conhecida como Relação de Transitividade
(GOMES; GOMES; ALMEIDA, 2012).
Uma matriz de comparações que satisfaça todas as possíveis relações de transitividade é uma
matriz 100% consistente. O autovalor de uma matriz de comparações consistente será
λ max = n. . O índice de consistência, µ = (λ max – n )/(n – 1) , é uma “medida da consistência
ou da confiabilidade da informação fornecida para o preenchimento de uma matriz de
comparações” (SAATY, 1977). É desejável que o índice de consistência esteja próximo de
zero. Se não, os julgamentos podem ser revistos para melhorar a consistência. Após o
estabelecimento do vetor de pesos dos critérios, devem ser estabelecidos valores de
desempenho ou preferência para cada alternativa de acordo com cada critério. Caso existam
valores numéricos como, por exemplo, o preço, estes vetores podem ser utilizados. Entretanto,
os valores devem ser normalizados, sua soma deve ser igual a 1. Caso não se disponha de
valores numéricos, então o mesmo procedimento para a obtenção dos pesos dos critérios pode
ser adotado. Assim, novas matrizes de comparações podem ser necessárias.
O conjunto de vetores de desempenho das alternativas forma a Matriz de Decisão, D. Da
multiplicação da matriz de decisão pelo vetor de pesos dos critérios, obtém-se o vetor de
decisão, x. A alternativa que possuir o maior componente no vetor de decisão é a alternativa
que deve ser selecionada.
3. Avaliação de treinamento em supply chain management
3.1 Apresentação da empresa
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A empresa é uma multinacional presente em 170 países com produção em 40, cuja unidade
localizada em São Paulo conta com cerca de 4.000 colaboradores. Ela participa entre as 10
principais empresas do setor químico e petroquímico. Com um portfólio de 8.000 produtos, a
empresa tem oferecido importantes contribuições para os segmentos de produtos para
agricultura, químicos, produtos de performance, plásticos, petróleo e gás. A empresa está
presente em quatro continentes. Possui dez áreas de supply chain distintas, a área pesquisada
foi a supply chain corporativo que implantou há um ano o programa de treinamentos para a
certificação CPIM da APICS composto de 5 módulos com 32 horas cada, totalizando 160
horas. Mais de 100 colaboradores já participaram do programa. A empresa utiliza avaliação
de reação de treinamento composto pela escala likert na qual obtém a opinião dos
colaboradores sobre: o local e organização do treinamento; a carga horária adequada;
conteúdo programático; a condição de aplicar os conhecimentos adquiridos no dia-a-dia; o
estímulo à aprendizagem pelo instrutor; a clareza do instrutor ao expor o conteúdo. A empresa
não dispõe de modelo estruturado que avalie os benefícios individuais e organizacionais
advindos do treinamento no dia-a-dia.
3.2 Modelo de avaliação do treinamento em SCM para a empresa
As perguntas mais frequentes relativas aos ganhos decorrentes do treinamento feitas pelos
gestores são: O treinamento em SCM traz benefícios individuais? Traz benefícios
organizacionais?
Pra responder essas questões elaborou-se o processo de avaliação de treinamento em SCM,
cuja idéia central é avaliar o treinamento em termos do seu impacto em termos de benefícios
individuais e organizacionais. Ou seja, o modelo pretende revelar quão importante é o curso
para a obtenção de benefícios individuais em relação aos benefícios coletivos ou
organizacionais. As principais etapas do processo passam pela identificação do modelo,
formulação dos critérios, identificação das alternativas, aplicação do método para a solução e
a avaliação das alternativas, apresentadas na Figura 5. Figura 5 - Etapas do processo de avaliação de treinamento em SCM
Fonte: Autoria própria
Aqui, propõe-se adotar como critérios (plan, source, make e deliver) os benefícios individuais
e organizacionais do treinamento, conforme descritos na seção 2, mensurados nos processos
do SCOR, considerando-se como subcritérios os respectivos subprocessos. As alternativas
são os benefícios organizacionais e individuais esperados em função do treinamento. Assim, o
modelo proposto para avaliar o treinamento em SCM é apresentado na Figura 6. Vale notar
que esta proposta visa identificar se houve benefícios e se esses tiveram um impacto relevante
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na organização, ou seja, se houve uma incorporação dos conhecimentos e habilidades
adquiridos pelos funcionários no âmbito dos processos e subprocessos da empresa. Figura 6 - Modelo de avaliação de treinamento em SCM
Fonte: adaptado de Urbina e Lima (2009).
A formulação dos critérios, subcritérios e identificação das alternativas, foram efetuadas
seguindo os passos do processo de avaliação de treinamento em SCM, e o seu detalhamento
pode ser observado na Figura 7. Figura 7 - Detalhamento do objetivo, critérios, subcritérios e alternativas
Objetivo Critério Subcritério Alternativas
PD - Planejamento de demanda
PM - Planejamento de materiais
PP - Planejamento de produção
AM - Aquisição de matéria-prima Benefícios
AP - Aquisição de produto para revenda individuais
AS- Aquisição de serviços
PF - Programação fina da produção
EP - Execução da produção Benefícios
Enp -Envase/embalagem de produtos organizacionais
Pdi - Planejamento de distribuição
GP -Gerenciamento de pedidos
GT -Gerenciamento de transporte
Avaliação de
treinamento em
Supply chain
management
Plan
Source
Make
Deliver
Fonte: Autoria própria
Nesta etapa da pesquisa visou-se à aplicação do método AHP de acordo com o processo da
Figura 5. Para a validação do modelo de avaliação proposto utilizou-se a opinião de um
Especialista em SCM que participou dos treinamentos aplicados. A primeira atividade
desenvolvida na aplicação do AHP foi à criação da hierarquia, contendo o objetivo, critérios,
subcritérios e alternativas especificadas como benefícios individuais e organizacionais que
podem ser observadas na Figura 8. Figura 8 - Hierarquia avaliação de treinamento em supply chain management
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Fonte: Autoria própria
Posteriormente, a partir da experiência do Especialista, efetuaram-se os julgamentos par a par
para os subcritérios plan, source, make e deliver, e verificou-se a consistência na medida do
desenvolvimento. Na Tabela 2 pode ser observado que os julgamentos para os subcritérios de
plan, foram efetuados e considerados válidos com consistência de 0,033 < 0,1. Tabela 2 - Julgamentos para os subcritérios de plan
Matriz de julgamento PD PM PP
PD 1 1/5 1/3
PM 5 1 3
PP 3 1/3 1
Fonte: Autoria própria
Na Tabela 3 podem ser observados os julgamentos para os subcritérios de source, que foram
efetuados e considerados válidos com consistência de 0,056 < 0,1. Tabela 3 - Julgamentos para os subcritérios de source
Matriz de julgamento AM AP AS
AM 1 1/7 1/3
AP 7 1 5
AS 3 1/5 1
Fonte: Autoria própria
Na Tabela 4 podem ser observados os julgamentos para os subcritérios de make, que foram
efetuados e considerados válidos com consistência de 0,033 < 0,1. Tabela 4 - Julgamentos para os subcritérios de make
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Matriz de julgamento PF EP Enp
PF 1 1/3 1/5
EP 3 1 1/3
Enp 5 3 1
Fonte: Autoria própria
Na Tabela 5 podem ser observados os julgamentos para os subcritérios de deliver, que foram
efetuados e considerados válidos com consistência de 0,056 < 0,1. Tabela 5 - Julgamentos para os subcritérios de deliver
Matriz de julgamento Pdi GP GT
Pdi 1 1/5 1/7
GP 5 1 1/3
GT 7 3 1
Fonte: Autoria própria
A matriz de decisão Tabela 6, apresenta a avaliação dos critérios mostrando resultados
tangíveis para os benefícios organizacionais e representado pelo critério de make com 70%. Tabela 6 - Matriz de decisão
Benefícios Plan Source Make Deliver
Individuais 58% 65% 30% 41%
Organizacionais 42% 35% 70% 59%
Fonte: Autoria própria
Efetuando-se o cálculo da matriz de decisão da Tabela 6 obtêm-se o vetor prioridade.
Apresentou o resultado de 52% para benefícios organizacionais, seguido de 48% para
benefícios individuais. Assim, com base nesta, o treinamento em SCM apresentou 4 pontos
percentuais de vantagem nos benefícios organizacionais em comparação aos benefícios
individuais. O resultado foi apresentado ao Especialista da empresa objeto de estudo que
validou como consistente e aplicável na prática. Não foi utilizado nenhum método formal de
validação.
4. Considerações finais
A proposta deste artigo foi apresentar um procedimento utilizando método de tomada de
decisão multicritério na avaliação de treinamento em SCM numa indústria química. Em
respostas as perguntas; o treinamento em SCM traz benefícios individuais? Traz benefícios
organizacionais? Definiram-se as etapas do processo de avaliação de treinamento.
Posteriormente foi definido também o modelo de avaliação de treinamentos em SCM com o
uso dos processos e subprocessos do Modelo SCOR, plan, source, make e deliver, utilizando-
se o impacto do treinamento nestas estruturas organizacionais como critérios e subcritérios de
avaliação do curso. As alternativas foram modeladas em termos de benefícios individuais e
organizacionais esperados em decorrência do treinamento.
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Na etapa seguinte optou-se pelo Método AHP, amplamente utilizado em aplicações da cadeia
de suprimentos. Foi efetuada a modelagem da estrutura contendo os critérios, subcritérios e
alternativas. Nessa etapa utilizou-se a opinião de um especialista da empresa objeto de estudo
para efetuar os julgamentos par a par dos critérios, subcritérios e alternativas.
O resultado principal da análise revela que o treinamento contribui de forma fundamental para
a organização, uma vez que o vetor prioridade apresentou 52% para benefícios
organizacionais, seguido de 48% para benefícios individuais. Portanto, as lideranças da
empresa podem ficar tranqüilas, pois além dos ganhos de natureza individual, existe um
retorno comprovado dos investimentos realizados em treinamento em SCM, medido em
termos de benefícios organizacionais, que ficam incorporados nos principais processos e
subprocessos da organização.
Desta forma, em uma aplicação real evidenciou-se a importância de se adotar um
procedimento consistente, independente das características do ambiente. Como proposta para
novas pesquisas, pode-se ampliar o estudo considerando todos os colaboradores da empresa
objeto de estudo que participaram do treinamento em SCM.
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