FACULDADE DE TECNOLOGIA EM SAUDE – CIEPH
ELIANE FREIRE CURVELO
A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA
INSÔNIA
SÃO LUÍS-MA
2016
ELIANE FREIRE CURVELO
A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA
INSÔNIA
Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Acupuntura da Faculdade de Tecnologia em saúde – CIEPH. Orientador: Prof. Esp. José Diniz da Silva
SÃO LUÍS-MA
2016
FACULDADE DE TECNOLOGIA EM SAUDE – CIEPH
ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA
ELIANE FREIRE CURVELO
A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA
INSÔNIA
Florianópolis, 21 dezembro de 2016.
_____________________________________________
Prof. Marcelo Fabián Oliva, Esp.
Presidente da Banca
____________________________________________
Profª. Luisa Regina Pericolo Erwig, Mest.
Banca
____________________________________________
Profª. Thais Habkost Machado, Esp.
Banca
CURVELO, Eliane Freire. A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NO DIAGNÓTICO E TRATAMENTO DA INSÔNIA. 2016. p. 23. Revisão de Literatura – Curso de Especialização em Acupuntura, CIEPH. Florianópolis, 2016. RESUMO Este estudo tem como objetivo compreender, segundo a visão da Medicina Tradicional Chinesa, o diagnóstico e tratamento da insônia, caracterizado pelo estado do Sangue e do Yin do órgão, especialmente do Coração e do Fígado. Sabe-se que a insônia é uma das enfermidades com maiores índices de incidência no mundo contemporâneo, bem como os seus efeitos danosos na rotina de um ser humano. Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada a partir de artigos, periódicos e livros clássicos da literatura oriental, através do método de abordagem hipotético dedutivo. Com base no exposto, para produção deste trabalho, inicialmente foi realizado um breve relado sobre as características da Medicina Ocidental, seus métodos diagnósticos e tratamento de doenças, especialmente nos pacientes que sofrem de insônia; posteriormente, abordou-se a filosofia voltada ao aspecto energético do corpo humano e as técnicas empregadas pela Medicina Tradicional Chinesa, assim como: a acupuntura, auriculoterapia e ventosaterapia; em sequência apresentou-se as propostas terapêuticas das referidas técnicas consideradas eficazes por estudiosos da área. Desta forma, busca-se por meio deste estudo auxiliar na escolha do melhor tratamento para o paciente, de acordo com as suas singularidades e preferências, destacando-se as vantagens da Medicina Tradicional Chinesa, sem olvidar da possibilidade do emprego simultâneo de técnicas diferentes a fim de se alcançar melhores resultados.
Palavras-chave: Medicina Tradicional Chinesa. Insônia. Diagnóstico. Tratamento. ABSTRACT This study aims to understand, according to the view of Traditional Chinese Medicine, the diagnosis and treatment of insomnia, characterized by the state of the Blood and Yin of the organ, especially the Heart and Liver. It is known that insomnia is one of the diseases with higher incidence rates in the contemporary world, as well as its damaging effects on the routine of a human being. It is a bibliographical review made from articles, periodicals and classic books of Eastern literature, through the method of deductive hypothetical approach. Based on the above, for the production of this work, a brief report was initially made on the characteristics of Western Medicine, its diagnostic methods and treatment of diseases, especially in patients suffering from insomnia; Later on, the philosophy focused on the energetic aspect of the human body and the techniques employed by Traditional Chinese Medicine, as well as: acupuncture, auriculotherapy and winds therapy; In sequence the therapeutic proposals of those techniques considered effective by scholars of the area were presented. In this way, this study helps to choose the best treatment for the patient, according to their singularities and preferences, highlighting the advantages of Traditional Chinese Medicine, without forgetting the possibility of using different techniques simultaneously. To achieve better results. Keywords: Traditional Chinese medicine. Insomnia. Diagnosis. Treatment.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5
2. A INSÔNIA SEGUNDO A MEDICINA OCIDENTAL .............................................. 6
3. A FILOSOFIA DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA E A INSÔNIA ............... 7
4. PROPOSTAS TERAPEUTICAS ........................................................................... 12
4.1 Acupuntura ....................................................................................................... 12
4.2. Auriculoterapia ................................................................................................ 16
4.3. Ventosaterapia ................................................................................................ 19
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 23
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1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que o sono é fundamental na vida do ser humano, pois possui
função reparadora, de proteção e conservação da energia vital. A insônia se
caracteriza pela dificuldade de adormecer, incapacidade para dormir
adequadamente, noites com interrupções do sono, ou seja, um sono não
restaurador, o qual ocasiona indisposição para o indivíduo no dia seguinte.
A privação do sono pode acarretar em severos transtornos a curto e longo
prazo nas atividades cotidianas, causando problemas de índole social, psicológica,
intelectual e profissional. Sobretudo, é importante considerar que a incidência do
sono é variável e individual, desta forma, a insônia não deve ser medida apenas pelo
tempo de sono, pelo tempo que se gasta para adormecer ou ainda por quantas
vezes se acorda durante a noite.
A aferição do grau da insônia deve se pautar nos impactos causados
durante o dia do paciente, tais como: dificuldade de concentração, stress, cansaço,
falta de energia para atividades, irritação, entre outros. Neste sentido, destaca-se
que existem vários tipos de insônia, que podem ser causados por diversos fatores,
como, por exemplo, predisposição genética, razões biológicas, mentais, físicas,
psicológicas e emocionais.
No primeiro capítulo, inicialmente, serão destacadas as características da
Medicina Ocidental, notadamente a sua forma de atuação no diagnóstico e
tratamento de doenças e, posteriormente, os procedimentos médicos utilizados nos
pacientes de insônia.
No segundo capítulo será analisada a Medicina Tradicional Chinesa e a sua
filosofia. Em seguida, estudar-se-á especificamente algumas de suas técnicas
utilizadas no tratamento da insônia, quais sejam a acupuntura, auriculoterapia e a
ventosaterapia, apresentando suas respectivas propostas terapêuticas.
Para a realização deste trabalho, serão utilizados o método de abordagem
hipotético-dedutivo, valendo-se de leituras de livros e artigos de renomados autores,
bem como as técnicas de pesquisa bibliográfica e fichamento.
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2. A INSÔNIA SEGUNDO A MEDICINA OCIDENTAL
A Medicina do Ocidente baseia-se no estudo da anatomia humana, assim
como nas evidências e estatísticas obtidas após longas pesquisas científicas. Não
há, portanto, um tratamento individualizado do paciente. Ou seja, uma mesma
doença em qualquer lugar do mundo, será tratada da mesma forma, independente
do paciente e de suas subjetividades. Ademais, é evidente que os avanços da
Medicina Ocidental encontram limitações de ordem políticas e econômicas, dentre
outras, de modo a não possuir ampla autonomia, o que afeta diretamente a sua
evolução em consonância com os anseios e necessidades da população mundial.
Quanto à insônia, especificamente, em função dos graves transtornos
causados às atividades diárias dos pacientes, diminuindo, em consequência, a
própria qualidade de vida daqueles, a mesma é tratada na medicina ocidental com a
devida relevância, mormente em razão do ininterrupto aumento de sua incidência
diante do progresso do mundo moderno, o qual se encontra cada vez mais rigoroso
e competitivo.
No ocidente, classifica-se esse distúrbio do sono em primário e secundário.
Aquele é caracterizado pela ausência de causa definida ou aparente. Esse deriva de
outros problemas, como medicação, doença, trauma ou alimentação, sendo, em
verdade, um efeito colateral de algo nocivo ao organismo humano e o responsável
pela grande maioria das ocorrências.
A Medicina Ocidental distingue, ainda, a insônia em transiente, intermitente e
crônica. A primeira se configura quando a insônia é passageira, ou seja, ocorre
durante pouco tempo, variando de uma noite a algumas semanas. A segunda, por
sua vez, ocorre em períodos intercalados. A última, crônica, caracteriza-se quando
ocorre por período relativamente elástico, sendo, portanto, indubitavelmente, a mais
complexa, pois resulta da combinação de problemas de natureza física e mental,
como depressão, ansiedade, artrite, fibromialgia, asma, apneia do sono, má
alimentação, álcool, estresse, dor, medicamentos, menopausa, idade avançada
(acima de 60 anos).
Nos casos mais simples, ou seja, com exceção da insônia crônica, na qual
se exige um tratamento mais incisivo, o tratamento consiste na busca pela higiene
do sono, evitando-se determinadas práticas de modo a contribuir para o início do
sono no período adequado da noite, tais como a diminuição da ingestão de
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determinados alimentos e/ou bebidas, como o café; a prática de atividades físicas no
período noturno; dormir durante o dia ou tarde; esquiva-se de claridade no momento
do sono, dentre outras.
Os medicamentos com finalidades tranquilizadoras, sedativas ou
ansiolíticas, geralmente, são necessários nos casos mais graves no intuito de induzir
o sono, reduzindo-se estresse, ansiedade e tensão acumulada e, assim, contribuir
para uma noite de sono mais tranquila. Contudo, sabe-se que qualquer
medicamento pode apresentar efeitos colaterais, dependência e vício, de modo a
implicar no prejuízo à qualidade do sono quando se tenta cessar o uso dos mesmos,
aumentando o grau de insônia, provocando um verdadeiro efeito regressivo e
dificultando o restabelecimento da saúde do paciente. A propósito, torna-se
importante destacar o que diz Ross (2003, p.18/19):
Na Medicina Ocidental, um tratamento correto, seja ele medicamentoso, cirúrgico ou radiológico pode ser acompanhado de efeitos colaterais moderados a fatais. Os efeitos colaterais têm dois aspectos principais: primeiro, uma redução geral da resistência dos sistemas imunológico e psicológico segundo, os efeitos específicos.
Assim, não se pode olvidar que o tratamento com drogas deve ser utilizado
apenas em caso de extrema e comprovada necessidade e pelo menor espaço de
tempo possível, sob pena de se reverter em prejuízo do próprio paciente no futuro, o
que não raramente é ignorado nas prescrições médicas.
3. A FILOSOFIA DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA E A INSÔNIA
Enquanto a Medicina Ocidental possui um viés científico, cirúrgico e químico,
a medicina chinesa distingue-se por ser natural, filosófica, holística, individual e
subjetiva. (PAI E HSING, 2011, p.3).
A Medicina Tradicional Chinesa vai muito além de ser um simples
aglomerado de métodos terapêuticos. Trata-se de um processo de mudança de
estilo de vida e melhora do organismo como um todo indissociável.
O Ministério da Saúde expediu a Portaria nº 971/2006, na qual aprova a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema
Único de Saúde. Notadamente em relação à acupuntura, destacam-se os seguintes
trechos:
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A Medicina Tradicional Chinesa caracteriza-se por um sistema médico integral, originado há milhares de anos na China. Utiliza linguagem que retrata simbolicamente as leis da natureza e que valoriza a inter-relação harmônica entre as partes visando à integridade. Como fundamento, aponta a teoria do Yin-Yang, divisão do mundo em duas forças ou princípios fundamentais, interpretando todos os fenômenos em opostos complementares. O objetivo desse conhecimento é obter meios de equilibrar essa dualidade. Também inclui a teoria dos cinco movimentos que atribui a todas as coisas e fenômenos, na natureza, assim como no corpo, uma das cinco energias (madeira, fogo, terra, metal, água). Utiliza como elementos a anamnese, palpação do pulso, observação da face e da língua em suas várias modalidades de tratamento (acupuntura, plantas medicinais, dietoterapia, práticas corporais e mentais). A acupuntura é uma tecnologia de intervenção em saúde que aborda de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser humano, podendo ser usada isolada ou de forma integrada com outros recursos terapêuticos. Originária da medicina tradicional chinesa (MTC), a acupuntura compreende um conjunto de procedimentos que permitem o estímulo preciso de locais anatômicos definidos por meio da inserção de agulhas filiformes metálicas para promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como para prevenção de agravos e doenças. (BRASIL, 2006, p.13/14).
Portanto, ao invés de simplesmente tentar cessar a causa de determinada
enfermidade, busca-se as razões que ocasionaram a ruptura do equilíbrio das
energias interna dos sistemas e o seu reestabelecimento. A Medicina Tradicional
Chinesa acredita haver uma circulação energética responsável pelo relógio biológico
do organismo, que se situa com mais frequência em determinado canal de energia a
depender do horário.
Essa energia vital se inicia no meridiano do pulmão (03hrs as 05hrs),
posteriormente se dirige para o meridiano do intestino grosso (05hrs as 07hrs),
seguindo para estômago (07hrs as 09hrs), baço e pâncreas (09hrs as 11hrs),
coração (11hrs as 13hrs), intestino delgado (13hrs as 15hrs), bexiga (15hrs as
17hrs), rins (17hrs as 19hrs), circulação e sexualidade (19hrs as 21hrs), triplo
aquecedor (21hrs as 23hrs), vesícula biliar (24hrs a 01h) e, por último, no fígado
(01hr a 03hrs), retornado ao meridiano do pulmão.
Chris Jarmey e Ilaira Bouratinos (2010, p.34) explicam:
[...] cada canal tem um horário particular durante o qual está mais cheio de
Qi e seu canal oposto está mais esvaziado de Qi. Um sintoma que ocorre
diariamente no mesmo horário pode estar relacionado ao canal que está em
seu pico ou àquele que está em baixa. Um problema que ocorre às 05 horas
da manhã pode, portanto, estar relacionado tanto com o intestino grosso
quanto com o rim ou os dois. Os efeitos do tratamento podem ser
maximizados por meio da aplicação do tratamento em determinadas horas
do dia.
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Destarte, conhecendo-se o momento em que cada canal está sendo provido,
revela-se possível equilibrar todo o sistema energético, transferindo energia dos
canais com excesso para os canais com deficiência e vice-versa. Geralmente,
quando um órgão está com o Qi alterado (excesso, deficiência ou estagnação), no
horário correspondente ao mesmo, a pessoa acorda e, após as duas respectivas
horas, volta a dormir.
Assim, segundo a Medicina Chinesa, “os fatos que originam as doenças
podem ser Constituição, Fatores Patogênicos Externos ou fatores climáticos, Fatores
Patogênicos Internos ou fatores emocionais e Fatores que não são nem Externos,
nem Internos, os chamados fatores do Estilo de Vida”. (ROSS, 2003, p. 13).
O diagnóstico aqui é realizado de forma individual, o que contribui para uma
maior precisão, conforme esclarece Maciocia (2005, p. 32):
O diagnóstico que significa conhecer ou compreender um paciente é o âmago da medicina. Uma vez deduzido e compreendido o conhecimento sobre o paciente e sua doença, sua natureza e seu provável curso ficam desvendados. Os princípios de tratamento se tornam claros e a evolução da doença previsível. Mas sem uma clara compreensão do paciente e da condição sendo tratada, o médico fica tateando no escuro. O tratamento se torna ocidental e a cura incerta. A medicina chinesa, embora difícil de ser exercida, chega a um diagnóstico mais certo e mais completo, um diagnóstico que incorpora todos os aspectos da vida do paciente, de forma que chega a um tratamento mais seguro do que a medicina ocidental.
A Medicina Tradicional Chinesa, valendo-se de concepções inerentes à
filosofia local, adota um critério espiritual na condução de suas práticas. O Ying e
Yang, por exemplo, representam questões contrapostas, mas dependentes. O Yin e
o Yang estão em estado de mudança constante, quando um é consumido o outro
aumenta. O Yin oferece o descanso, sonolência, intuição, umidade, frescor e a
nutrição. O Yang proporciona o alerta, o movimento, calor e a hiperatividade.
De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, há relação entre o coração
e a mente (Shen), de modo que a deficiência do Yin e do sangue do primeiro afeta
diretamente a última, bem como os transtornos emocionais podem proporcionar a
desarmonia daquele e de outros os órgãos internos. Então, afirma-se que a mente
(SHEN) é enraizada no sangue e no Yin do coração. Assim, se o coração for
saudável e o sangue abundante, o sono será profundo. Por outro lado, se o coração
for deficiente ou estiver prejudicado por patógenos, como o fogo, o sono será
indubitavelmente afetado. Ademais, o Qi traduz a energia vital do universo,
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materializando-se no Xue (sangue). O sangue (Xue) é uma forma de Qi, mas denso
e material, sendo indissociável desse último, que é o responsável por movimentar e
dar vida àquele. (MACIOCIA, 2005).
Portanto, de acordo com a medicina tradicional chinesa, o Yin, o Yang, o Qi
e o Xue (sangue) são os alicerces do diagnóstico e tratamento de todos os sinais e
sintomas dos desequilíbrios do organismo humano.
Da mesma forma que a Medicina Ocidental, a Medicina Tradicional Chinesa
também reconhece que a ansiedade, depressão, preocupação, dores crônicas,
tosse, prurido, alimentação, estudo ou trabalho excessivo são fatores que originam a
insônia e que são circunstâncias causadas por desequilíbrios de órgãos internos.
Ross (2003) destaca as seguintes síndromes provocadoras da insônia:
Fogo: - Fogo no coração e Deficiência do Yin do coração e dos rins; - Fogo no
fígado e hiperatividade do Yang do fígado; - Fogo do estômago; - Estagnação; -
Estagnação do Qi do coração e fleuma no coração; - Estagnação do Qi do fígado; -
Estagnação do Qi do pulmão; Deficiência; - Deficiência do sangue e do coração e do
baço; - Deficiência do Qi do Rim e da Vesícula Biliar.
Ainda seguindo as lições do renomado autor supracitado (2003), as
deficiências de Yin do rim e do coração são causadas, principalmente, por
estimulantes como chá, café e cocaína. O fogo no estômago, por sua vez, é
consequência de hábitos alimentares irregulares, como consumo excessivo de
alimentos gordurosos e condimentados. Por sua vez, para estagnação do Qi no
coração, pulmões ou fígado, recomenda a prática de exercícios moderados ao
anoitecer a fim de dispersar a estagnação e o calor. Acrescenta, ainda, que o estudo
ou outro trabalho mental em excesso ou tarde da noite, sem intervalos adequados,
podem implicar em estagnação do Qi do baço e do estômago, além de deficiência
do sangue do coração e do baço. Portanto, de acordo com sua doutrina:
[...] cada órgão é responsável por gerar, transformar e guardar energia, sangue, líquidos orgânicos, essência adquirida e essência inata e espírito vital. O fator causal das patologias nada mais é do que o desequilíbrio da energia interna, ocasionado pelo meio ambiente, origem externa, ou pela alimentação desregrada, emoções retidas e fadigas de origem interna. As patologias decorrem do excesso, da estagnação, da deficiência e da irregularidade". (LISBOA E NASCIMENTO, 2014, p. 54).
Como se sabe, a insônia é o distúrbio de sono mais comum no mundo e o
seu diagnóstico encontra-se em forte crescente, tendo em vista que as pessoas
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ainda não entenderam que a solução não é exclusivamente bioquímica, através de
remédios, mas sim no alcance da paz e da harmonia interna da mente e dos órgãos.
Pode-se afirmar que a insônia é decorrente da deficiência do Yin, o que
acarreta na falta de sono durante a noite e inquietação durante o dia. Ross (2003,
p.460) explica:
O sono é vital para reestabelecer o Yin. Não se trata meramente do descanso pela cessão da atividade, mas uma forma diferente de estar. É um ingresso no mundo Yin, o mundo dos sentimentos e da intuição, que dizem ser governado pelo lado direito do cérebro. O dia é um mundo sob o domínio da atividade física e da mente analítica, que dizem ser governado pelo lado esquerdo do cérebro. No mundo moderno, existe uma enorme ênfase para o desenvolvimento da mente intelectual racional e uma pressão para manter a atividade estressante e incessante no mundo externo. É raro encontrar ambientes escuros sem iluminação artificial e é difícil para a maior parte das pessoas não levar para o mundo do sono a atividade mental diária. Tal comportamento cria um enorme desequilíbrio entre o Yin e o Yang, com o aspecto Yang normalmente aumentado e o aspecto Yin muito reduzido, com o mundo do dia invadindo com muita força o mundo da noite.
Cada tipo de insônia precisa de tratamento e cuidados exclusivos.
Comumente, nos casos em que há dificuldade em se iniciar o sono, o distúrbio
relaciona-se ao fígado e a vesícula biliar, órgãos relacionados a própria visão, o que
torna cogente a não utilização de aparelhos eletrônicos, iluminação excessiva e
leituras, de modo a evitar o esforço desnecessário da visão no período anterior ao
sono.
Nas hipóteses em que há frequentes interrupções do sono, verifica-se
relação direta com a energia do estômago, em função do excesso de preocupações
e pensamentos, que obstaculizam o retorno ao sono. Além do tratamento com
agulhas a fim de se restaurar o equilíbrio dos órgãos afetados, recomenda-se o
controle da alimentação antes de dormir.
Quando o sono é dificultado pelo excesso de sonhos, faz-se a relação com o
coração e o fígado, que são considerados os órgãos mais emocionais do organismo.
Usualmente, a patologia deriva de estados emocionais graves como estresse pós
trauma, depressão e ansiedade.
Em suma, verifica-se que as doenças decorem da estagnação, do excesso,
da deficiência e da variação da energia interna causada nos órgãos por múltiplos
fatores.
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4. PROPOSTAS TERAPEUTICAS
4.1 Acupuntura
A partir das lições de Jeremy Ross (2003), Chis Jarmey e Ilaira Bouratinos
(2010) e Giovanni Maciocia (2005), elaborou-se a seguinte tabela com os principais
acupontos utilizados no tratamento da insônia, bem como das síndromes para os
quais são usados e dos sintomas que curam:
ACUPONTOS SÍNDROMES SINTOMAS CURADOS RELACIONADOS AO SONO
E36 Estagnação do Qi e fogo no estômago e deficiência do sangue
- Insônia - Cansaço - Falta de vitalidade - Fraqueza - Flacidez de tecidos e músculos - Obstruçãoe agitação da mente - Dor epigástrica - Ansiedade - Depressão
E40 Estagnação do Qi do estômago e fleuma no coração
- Insônia - Obstrução e agitação da mente - Dor epigástrica - Ansiedade - Depressão
E45 Fogo no estômago - Insônia - Inquietude - Agitação mental - Epilepsia - Desmaio
BP1 Estagnação do Qi do estômago
- Insônia - Depressão - Perda de consciência - Obstrução do coração e agitação da mente.
BP2 Fogo no estômago - Insônia - Calafrios - Febre - Dor no tórax
BP4 Estagnação do Qi do coração e deficiência do sangue
- Insônia - Depressão - Desordens psicossomáticas
BP6 Calor no sangue e deficiência de sangue e de Yin
- Insônia - Depressão - Sudorese noturna - Palpitações - Hipertensão - Inquietude
C3 Fogo no coração e deficiência de Yin do coração
- Insônia - Agitação mental - Depressão
C5 Fogo e fleuma no coração. - Insônia - Cansaço mental - Depressão -Tontura - Tristeza
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- Medo
C6 Deficiência do yin do coração - Insônia - Sudorese noturna - Agitação - Inquietude mental
C7 Fogo e fleuma no coração, deficiência do Qi e do sangue no coração.
- Insônia - Agitação da mente - Ansiedade - Preocupação - Estresse - Depressão - Ataques de pânico
C8 Fogo no coração - Insônia - Convulsões - Agitação mental - Delírios
ID3 Fogo no coração e fleuma no coração. - Insônia - Dor e rigidez na coluna, principalmente áreas do pescoço. - Palpitações - Cansaço mental
BI Desequilíbrio de Yin e Yang. - Desobstruir e iluminar os olhos - Visão embaçada ou fraca
B13,42 Estagnação do Qi do pulmão e fogo no pulmão
- Desequilíbrio da alma corpórea - Mágoa e tristeza -Dores de cabeça e no pescoço
B15,43,44 Fogo e fleuma no coração, estagnação do Qi do coração, deficiência do sangue ou do yin do coração.
- Insônia - Depressão - Ansiedade - Distúrbios do sono - Pesadelos
B18,47 Fogo, estagnação ou deficiência do Qi e hiperatividade do yang do fígado.
- Insônia - Irritabilidade - Cansaço mental
B19,48 Fogo e deficiência na vesícula biliar - Desordens psicossomáticas como cansaço mental, ansiedade, medo, ataques de pânico, timidez, indecisão.
B62 Deficiência do yin do rim e do coração e fogo no coração
- Insônia - Depressão - Medo - Irritabilidade
R1 Fogo no rim, fígado ou coração. - Estresse do corpo e da mente
R2 Fogo por deficiência do rim. - Insônia - Agitação - Sudorese noturna
R3 Deficiência do Qi ou do Yin do rim - Insônia - Exaustão - Distúrbios do sono e dos sonhos - Sudorese Noturna
R6 Deficiência do rim - Insônia - Exaustão - Síndromes da menopausa - Ansiedade - Agitação
PC3,8 Fogo e fleuma e estagnação do Qi do coração
- Insônia - Palpitações - Dispnéia - Dor de cabeça.
VB12 Fogo no fígado, vesícula biliar ou coração. - Insônia
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- Dor de cabeça - Sensação de calor
VB20 Fogo no fígado ou vesícula biliar e hiperatividade do yang do fígado
- Cansaço - Exaustão mental - Irritabilidade
VB40 Deficiência do fígado e vesícula biliar - Desordens psicológicas - Depressão - Irritabilidade
VB 44 Fogo na vesícula biliar, hiperatividade do yang do fígado.
- Obstrução da cabeça e do cérebro
F2 Fogo do fígado - Insônia - Agitação mental - Irritabilidade - Dismenorreia
F3 Estagnação do Qi e hiperatividade do Yang do fígado
- Agitação e desconforto na mente - Medo - Irritação
F14 Estagnação do Qi do fígado - Depressão - Irritabilidade
VC4 Deficiência de Qi, sangue ou Yin - Insônia - Constipação - Ansiedade - Agitação - Exaustão
VC6 Estagnação do Qi - Cansaço crônico - Fraqueza - Debilidade - Exaustão - Imunidade baixa
VC 12 Fogo e estagnação do Qi do estômago. - Estresse e tensão - Agitação mental - Ansiedade
VC 17 Fleuma e estagnação do Qi do coração e do Qi do pulmão
- Problemas psicoemocionais, como depressão, propensão ao choro, tristeza, histeria e insônia.
VC 24 Deficiência do Yin do coração - Insônia com ansiedade
VG11 Fogo e fleuma e estagnação do Qi do coração
- Depressão - Tristeza - Palpitações decorrentes de medo
VG 16 Deficiência do Qi do rim - Insônia com medo e depressão, - Agitação
VG 20 Fogo no coração e fígado, hiperatividade do Yang do fígado, deficiência do Qi e do sangue
- Obstrução da cabeça e dos órgãos sensoriais - Tristeza - Agitação mental - Depressão
Há, ainda, os pontos extraordinários fora dos canais, dentre os quais se
destacam o EX-CP-3 YinTang e EX-CP-54 Anmiam. O primeiro situa-se na metade
do caminho entre as sobrancelhas, na linha mediana. É responsável por abrandar a
tensão e a hiperatividade da mente. Segundo Chris Jarmey e Ilaira Bouratinos
(2010, p. 324), o Yintang “é um ponto importante e amplamente usado para acalmar
a mente e dispersar o vento, dissipar o calor e aliviar dor da face. Ele trata com
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eficácia desordens dos olhos seios da face e nariz. É indicado para ansiedade,
insônia [...]”.
O segundo, qual seja o EX-CP-54 Anmiam, localiza-se entre o VB-20 e o
TA-17, ligeiramente posterior e superior ao VB-12, no músculo oblíquo da cabeça.
Dentre outras, possui a importante função de amaciar o Qi do fígado, promovendo o
relaxamento e o sono, desobstruindo os olhos, além de melhorar a própria visão,
sendo vastamente utilizado no tratamento da insônia. (JARMEY; BOURATINOS,
2010).
Chris Jarmey e Ilaira Bouratinos (2010, p. 35) ressaltam a importância da
prudência na seleção prévia dos pontos a serem explorados no tratamento mediante
a acupuntura. Confira-se:
A escolha de um grupo de pontos que trabalham harmoniosamente para tratar a pessoa por inteiro, mais a queixa específica, é realizada de acordo com os princípios estabelecidos por milhares de anos de experiência clínica de profissionais da medicina tradicional chinesa. Com o objetivo de fazer a escolha mais eficaz, todas as qualidades energéticas de um ponto devem ser estudadas em detalhes, além do histórico clínico do paciente, os sintomas atuais e os fatores ambientais, psicoemocionais e físicos que podem exercer alguma função no resultado do tratamento. É importante lembrar que a escolha eficaz dos pontos não pode ser alcançada sem um diagnóstico acurado. É, portanto, de grande importância garantir que o diagnóstico seja conciso e claro.
No mesmo sentido, Ross afirma:
O êxito de qualquer forma de curar baseia-se no domínio dos princípios teóricos e da prática, assim como em compaixão, dom da cura e compreensão das pessoas. Na acupuntura, a combinação de pontos é o maio ou a interface pela qual o médico pode iniciar a cura do paciente. O êxito clínico da acupuntura depende da escolha de uma combinação eficaz de pontos, escolha esta não fundamentada apenas na diferenciação precisa das síndromes, mas também no entendimento da personalidade e das necessidades do paciente. As combinações de pontos [...] são dadas como diretrizes passíveis de modificação de acordo com as necessidades individuais do paciente, com o estilo de tratamento do acupunturista e com os progressos ao longo do tratamento. (ROSS, 2003, Prefácio).
Hidetaro Mori, em obra traduzida pelo Dr. Takashi Jojima (1994, p. 123/124),
assevera:
A insônia consiste em querer, mas não ser incapaz de dormir. Quando causada, por exemplo, por esquizofrenia, não responde ao tratamento de acupuntura; contudo, outros tipos - geradas por neurose, hipertensão arterial, preocupação etc. - são facilmente tratadas. Todos os sintomas, como peso na cabeça, irritabilidade periescapular e fadiga visual desaparecerão após uma boa noite de sono.
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O tratamento é feito com o paciente sentado, nos pontos VG-20, B-10 e VB-21. A seguir, coloque o paciente em decúbito lateral e gentilmente efetue inserção intermitente no VB-12 e inserção deixando a agulha em E-36. O VB-12 é considerado ponto de efeito especial no tratamento da insônia, e o segredo é inserir e retirar a agulha seguindo o ritmo da respiração do paciente. Essa técnica causa irradiação muito agradável na cabeça e ás vezes gera sonolência espontânea durante a sessão.
De mais a mais, é importante ressaltar que:
Há inúmeras maneiras de se combinar os pontos de Acupuntura para um tratamento eficaz. [...] Torna-se relevante o domínio das orientações topográficas e anatômicas sobre os pontos, para que possam ser localizados e encontrados no corpo. As funções energéticas de cada ponto são guia para uma decisão adequada do tratamento da insônia. A medição com base nos dedos, ou seja, as polegadas ou mm do dedo permitem que haja precisão na localização do ponto e aplicação da Acupuntura. Os meridianos ou canais de energia fornecem os pontos na Acupuntura, permitindo-se conhecer a localização, a aplicação e as indicações. (LISBOA E NASCIMENTO, 2014, P. 54)
Assim, verifica-se que há enorme quantidade de acupontos que possuem
relação direta com o sono e seus distúrbios. A escolha do ponto a ser utilizado deve
ser feita de maneira individual e cautelosa, pois depende da síndrome apresentada
pelo paciente, de acordo com os seus sintomas e histórico pessoal.
4.2. Auriculoterapia
A Auriculoterapia, assim como a Acupuntura, originou-se na China. Trata-se
de uma das técnicas adotadas pela Medicina Tradicional Chinesa com maior
popularidade e aceitabilidade, pois possui caráter menos invasivo, sem prejuízo de
sua eficácia.
Essa técnica contribuiu para a integração da Medicina Tradicional Chinesa
com a Medicina Ocidental. A constatação de que o formato da orelha é similar a um
feto em posição pré-natal foi a motivação da Medicina Tradicional Chinesa para a
localização no mapa auricular de pontos representativos das mais diversas partes do
organismo humano. (GARCIA, 1999).
Em cada uma das orelhas há pontos relacionados aos órgãos do corpo
humano. No lado direito, localizam-se pontos referentes ao fígado, à vesícula biliar,
ao estômago, ao duodeno e ao apêndice, enquanto que, na orelha esquerda,
encontram-se pontos referentes ao baço, pâncreas, coração, intestino delgado e
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intestino grosso. O especialista realiza o diagnóstico por meio da verificação de
pontos dolorosos, coloração, irregularidades ou palpação, dentre outros aspectos.
A distribuição dos pontos de acupuntura auricular possui um padrão, de
modo que a localização de órgãos ou regiões corporais corresponde à de um feto
em posição invertida. Assim, por exemplo, os pontos na área do lóbulo da orelha
estão relacionados à cabeça e à face, os membros superiores são projetados na
área da fossa escafoide, os pontos na antélice e nos ramos da antélice estão
relacionados com o tronco e os membros inferiores, enquanto que os órgãos
internos estão projetados na concha. (HECKER ET AL, 2014, p.123).
O tratamento consiste na aplicação de pequenas esferas de ouro, prata,
cristal, sementes, imãs, stiper, laser, moxa, agulhas e agulhas semipermanentes,
estímulos elétricos e sangria nos pontos necessários para o tratamento a fim de
movimentar a energia necessária no sistema interno do paciente.
Alguns dos supracitados instrumentos podem permanecer no pavilhão
auricular por até uma semana, os quais devem ser massageados de três a cinco
vezes ao dia. Além disso, deve-se evitar molhar os adesivos.
A auriculoterapria proporciona a cura de sintomas/patologias/distúrbios, tal
como a insônia, bem como eventuais discrepâncias na atividade interna dos órgãos
do corpo humano, apenas por meio da ação em um ponto específico na orelha, que
apresente relação direta com a origem do problema.
A técnica é essencial quando se fizer necessário o tratamento por período
um pouco maior, pois o próprio paciente, no conforto de sua casa, pode estimular as
esferas ou sementes colocadas nos pontos pelo especialista, por meio de
massagem ou pressão, de modo a permitir a continuação dos efeitos do tratamento
por mais tempo.
Marco Romoli (2013, p.329/330) ressalta a importância da familiaridade do
especialista com o paciente, pois permite a adoção da melhor estratégia no
reestabelecimento da sua saúde, evitando-se a insuficiência de pontos ou o seu
excesso, o que também deve ser observado na acupuntura auricular:
O terapeuta precisará fazer uma seleção de pontos que será mais ou menos complicada, de acordo com seu objetivo e os problemas de saúde específicos apresentados por cada paciente. Por exemplo, para tratar dor no joelho, ele precisará selecionar um ou mais pontos na área em que o joelho é representado, seja a área francesa, seja a chinesa.
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Se, ao contrário, ele identificou um grande número de pontos e a síndrome é mais complicada, precisará selecionar aqueles que são mais eficientes e ao mesmo tempo mais adequados para um paciente específico. Qualquer que seja o procedimento que decidir adotar, há uma regra de ouro não escrita, que diz que a pessoa deveria obter o melhor resultado com o menor número de pontos. Esta regra deriva da acupuntura corporal que sustenta que um número maior de pontos não produz melhores resultados, mas, ao contrário, aumenta o risco de “síndrome de hiperestimulação”, como definida por Pontinen, a qual pode se manifestar pela dor exacerbada nas 24 a 48 horas após uma sessão de acupuntura. Este fenômeno é certamente observado com muito menos frequência em acupuntura auricular, que, provavelmente, depende da estimulação da orelha se basear em diferentes reflexos, do que em acupuntura corporal, ou de o diagnóstico auricular realizado corretamente identificar os pontos que são rigorosamente necessários para o paciente. Essa seleção, portanto, reduz o risco de estimular uma área auricular errada ou inapropriada.
Garcia (1999, p. 153) indica os seguintes pontos soníferos situados no
pavilhão auricular:
Sangria no ápice, Shen Men e occipital – A combinação destes pontos tem função sedante e sonífera. Coração e Rim – O coração armazena a mente e comanda toda a atividade espiritual do homem, através deste ponto, pacifica-se o coração e se acalma o espírito. O rim gera medula e o cérebro é o mar da medula por isso a seleção deste ponto tonifica o cérebro e acalma o espírito. Por outra parte, o coração guarda relação com o elemento fogo e o rim com o elemento água, mantendo uma estreita relação fisiológica de controle e geração mútua; logrando manter equilíbrio harmonioso entre o Ying e Yang no organismo. Neurastenia, área e ponto – Ambos são fundamentais no tratamento e diagnóstico da neurastenia, mas a área de neurastenia nos serve par ao diagnóstico e tratamento da dificuldade para começar a dormir e para sonhos excessivos; enquanto que o ponto de neurastenia nos ajuda no diagnóstico e tratamento do sono leve, de curto tempo de duração, com despertar fácil e dificuldade para voltar a conciliar o sono. Deve-se usar ambos os pontos reforças pela face posterior do pavilhão auricular com o objetivo de incrementar o resultado terapêutico. Subcórtex-Aneurastenia e os transtornos do sono são causados pela
excitação ou depressão anormal do córtex cerebral, através da área
nervosa do subcórtex, restabelece-se a normal atividade do córtex.
Além disso, o supracitado autor (1999, p.153/154) elenca as possíveis
síndromes causadoras da insônia e o respectivo tratamento:
Estagnação do Qi do fígado – Neste caso adiciona-se o ponto fígado para favorecer a drenagem do fígado, regular o Qi, nutir o Yin e dispersar o fogo. Deficiência do coração e vesícula biliar – Neste caso, adicionam-se os pontos vesícula e fígado, com o objetivo de drenar o fígado, a vesícula e acalmar o espírito. Deficiência do coração e baço – Adiciona-se o ponto baço para tonificar o coração e o baço, nutrir o sangue e acalmar o espírito.
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Desarmonia de estômago e perda de sua fundação de descendência – Neste caso, adicionam-se os pontos estômago e baço, com o objetivo de fortalecer o baço, nutrir o Qi, harmonizar o estômago e devolver sua função de descendência.
Em síntese, a tradição oriental afirma que o corpo humano possui diversos
pontos espalhados com funções terapêuticas interligadas pelo sistema nervoso e
pela energia interna de cada paciente também na orelha.
Assim, utilizando-se de cristais, agulhas e sementes, além de outros
utensílios, apenas nas zonas existentes no pavilhão auricular, a auriculoterapia
realiza o diagnóstico e tratamento de várias enfermidades, de forma rápida, fácil e
sem efeitos secundários.
4.3. Ventosaterapia
A ventosaterapia, apesar de não ser uma técnica exclusiva da Medicina
Tradicional Chinesa, vem sendo praticada há milhares de anos pelos chineses. A
técnica envolve o uso de pressão negativa com copos especiais em determinadas
áreas do corpo humano e, se for empregada em conjunto com a Acupuntura,
amplifica o benefício terapêutico.
A propósito, Cunha (2012, p. 15/16) elucida:
O sistema terapêutico usando ventosas atua no interior do corpo, incentivando o organismo, através de sua própria fisiologia, a separar do sangue os resíduos metabólicos e toxinas residuais. O recurso do uso de ventosas age diretamente sobrea pele na sua excreção, limpando-a de seus resíduos, enriquecendo a sua captação de oxigênio, facilitando o fluxo dos fluidos naturais. [...] A ventosaterapia usa a própria natureza e suas reações autônomas como recurso terapêutico ativando o natural poder de cura do organismo, sendo um tratamento natural sem agredir o meio ambiente. O seu uso constante mantém a saúde. O consumo abusivo de remédios alopáticos comuns, como analgésicos, calmantes, antiácidos, vitaminas, aminoácidos etc., ao serem assimilados pelo organismo deixam um resíduo tóxico que se deposita dias após dia de consumo enfraquecendo a nossa resistência às doenças.
Pode-se afirmar que as ventosas atuam efetivamente na desintoxicação do
corpo, tornando o sangue mais limpo, fortalecendo a resistência do organismo à
enfermidades das mais diversas espécies.
Jarmey e Bouratinos (2010, p.21) destacam as seguintes funções da
ventosa:
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Dissipar a estagnação local do Qi e do Sangue, tanto em condições de excesso quanto de deficiência; aliviar a dor; regular o fluxo do Qi e do Sangue; causar vasodilatação e melhorar a circulação sanguínea; dispersar o vento exterior, sobretudo no ataque inicial; dissipar o calor o frio e a umidade; descender o yang ascendente (aplicada em direção à parte inferior das costas); conduzir o Qi a uma área e tonificar (com ventosa vazia); colocada sobre órgãos internos, a ventosa intensa de curta duração pode ser benéfica (usar ventosa na coluna lombar para os rins, no abdome para os intestinos, no epigástrio para o estômago etc); dispersar a fleuma nos pulmões (aplicada no tórax); Aumentar a troca gasosa nos pulmões; relaxar o corpo; beneficiar o sistema nervoso (aplicada próxima à coluna); desintoxicar os tecidos; melhorar a elasticidade do tecido conjuntivo e da fáscia; reduzir a celulite e a retenção de líquidos. A ventosa leve ajuda a lubrificar e umedecer a pele, além de beneficiar o tecido cicatricial;
A técnica empregada pela ventosaterapia não demanda maiores
complicações, apenas a colocação da ventosa na superfície da pele do paciente
após a aplicação de óleo de massagem para lubrificá-la, para, então, ter início a
sucção e as consequentes reações e estímulos naturais.
As manchas, em formato de pequenas bolas de sangue de cor vermelha ou
roxa, que se formam na região em que é aplicada a ventosa, representam o
descarte de resíduos metabólicos, toxinas, substâncias ácidas ou alcalinas inúteis
ao organismo. A intensidade da cor da reação pigmentar tem relevante função no
diagnóstico e tratamento da enfermidade, pois traduz o estado de saúde do
paciente, de modo que, quanto mais escura, maior a gravidade da daquela.
Especificamente em relação à insônia, Cunha (2012, p. 106) destaca os
seguintes tratamentos:
1) Tratamento geral - Aplicar ventosas na área paravertebral [...], aplicando também na região abdominal. 2) Tratamento meridianos a) regular o meridiano da Vesícula Biliar, aplicando ventosas no ponto VB 30 até o VB 31. b) regular o meridiano do Rim aplicando ventosas do ponto R3 até o R9, incluindo o ponto R1. c) regular o meridiano do fígado, aplicando ventosas no ponto F14 e F13.
Através das reações homeostáticas e dos estímulos causados pelas
ventosas, busca-se o equilíbrio entre a energia vital (Qi) e o sangue (Xue), que
representa a sua materialidade. A técnica apresenta alto nível de segurança e
conforto, tendo em vista não ser invasiva ou dolorosa, sendo, inclusive, semelhante
à massagem tradicional.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O corpo humano precisa se manter em equilíbrio e harmonia para obter uma
noite agradável e regenerativa de sono, o que se demonstra cada vez mais difícil,
diante da agitação e dificuldade que o mundo moderno nos oferece. Porém,
enquanto a humanidade não se conscientizar acerca da importância da busca pela
paz e da harmonia interna, os distúrbios do sono, especialmente a insônia,
continuarão possuindo crescentes índices de ocorrência.
Constatou-se, por meio deste estudo, que a incidência da insônia é maior
em mulheres, em razão de questões hormonais, gravidez, menstruação e
menopausa. Outrossim, também se apresenta com maior frequência em pessoas
acima de 60 anos, com problemas de saúde física ou mental (depressão, ansiedade,
transtorno bipolar, estresse pós-traumático, AVC, doença de Parkison, doença de
Alzheimer, refluxo gástrico esofágico, artrite etc.) e com alterações nos padrões do
sono (pessoas que trabalham á noite ou que viajam a trabalho com confusões
frequentes de fuso horários).
Além disso, verificou-se a possibilidade de agravamento da enfermidade por
distúrbios do sono como SAHOS (Síndrome da Apnéia Hipopnéia Obstrutiva do
Sono, síndrome das pernas inquietas, parassonias, depressão, ansiedade
fibromialgia, dor crônica, distúrbios metabólicos hormonais (Tireóide),
medicamentos, bebidas estimulantes e alcoólicas.
Dentre as complicações mais comuns derivadas da insônia, pode-se citar o
menor desempenho no trabalho, diminuição do tempo de reação e lentidão nos
reflexos - o que eleva de sobremaneira o índice de acidentes, desordens
psiquiátricas - como depressão ou transtorno de ansiedade, obesidade, irritabilidade,
propensão a adquirir doenças a longo prazo como hipertensão diabetes e doenças
cardíacas, bem como o abuso de álcool e outras drogas.
Nesse cenário, a Medicina Tradicional Chinesa apresenta diversas técnicas
capazes de induzir o sono, através da restauração do equilíbrio interno do paciente,
ao invés do uso de bioquímica, tal como a Medicina Ocidental.
A Medicina Tradicional Chinesa possui o diferencial de considerar a
individualidade de cada paciente no tratamento a lhe ser destinado, ou seja, o seu
histórico de vida, sentimentos e outras subjetividades relevantes na busca pelo
tratamento específico para a sua necessidade. Em uma visão oposta, a Medicina
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Ocidental ignora a energia do espírito, em função na dificuldade em demonstrá-la
cientificamente. Assim, trata apenas os sintomas, mas ignora as suas origens.
Na Medicina Tradicional Chinesa, pessoas com as mesmas enfermidades
podem receber tratamentos completamente diferentes, enquanto que, na Medicina
Ocidental, o tratamento não é individualizado, fundamenta-se na coletividade, em
detrimento das peculiaridades de cada paciente.
O presente artigo demonstrou que a acuputuntura, a auriculoterapia e a
ventosaterapia apresentam variadas propostas terapêuticas no diagnóstico e
tratamento da insônia, de modo a permitir respostas satisfatórias as síndromes que
afetam o sono.
Sobretudo, no tratamento da insônia, recomenda-se os seguintes acupontos:
E36, E40, E45, BP1, BP2, BP4, BP6, ID3, B1, B13,42, B15,43,44, B18,47, B19,48,
B62, R1, R2, R3, R6, C3, C5, C6, C7, C8, F2, F3, F14, VC6, VC’1, VC17, VC24,
VG11, VG16, VG20, VB12, VB 20, VB40 e VB44. Além desses, há os pontos
extraordinários fora de canais EX-CP-3 YinTang e EX-CP-54 Anmiam.
Em relação à auriculoterapia, destacam-se a sangria no ápice, ShenMen e
occipital, os pontos do coração e rins, neurastenia, área e ponto, Subcórtex -
Aneurastenia, além de outros pontos específicos destinados a cessar a estagnação
do Qi do fígado, a deficiência do coração, da vesícula biliar e do baço, a desarmonia
de estômago e perda de sua fundação de descendência.
A ventosaterapia deve ser aplicada com mais intensidade na área
paravertebral, assim como na área abdominal. Outrossim, devem ser aplicadas nos
pontos VB 30 até o VB 31, R3 até o R9, incluindo o ponto R1, F14 e F3 a fim de
regularizar o meridiano da Vesícula Biliar, Rim e Fígado.
Decerto, a Medicina Ocidental e a Medicina Tradicional Chinesa não são
necessariamente excludentes. Em verdade, revela-se possível e, em muitos casos
recomendável, a utilização de ambas simultaneamente a fim de se atingir melhores
resultados.
De acordo com exposto, espera-se que a presente pesquisa contribua para
o universo acadêmico e profissional da área de terapias orientais com o propósito de
promover melhor qualidade de vida à pacientes que sofrem de insônia.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). Brasília: Ministério da Saúde, 2006. (Série B, Textos Básicos de Saúde). CUNHA, A. A. Cunha. Ventosaterapia: tratamento e prática. 2ª edição. São Paulo: Ícone, 2012. GARCIA, Ernesto G. Auriculoterapia: Escola Huang Li Chun. São Paulo: Roca, 1999. HECKER, Hans-Ulrich (Et al.). Prática de acupuntura: localização de pontos, técnicas, opções terapêuticas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. JARMEY, Chris; BOURATINOS, Ilaira. Pontos de Acupuntura: um guia prático. Barueri, São Paulo: Manole, 2010. LISBOA, A. R. Ferreira; NASCIMENTO, A. C. Demetrio. Acupuntura no Tratamento da Insônia: uma revisão bibliográfica. Firval, São José dos Campos, 2014. Disponível em: <http://www.firval.com.br/ftmateria/1411747923.pdf.> Acesso em: 08 de nov. 2016 MACIOCIA, Giovanni. Fundamentos da Medicina Chinês. São Paulo: Roca,2005. MORI, Hidetaro. Introdução à Acupuntura. Tradução Dr. Takashi Jojima. São Paulo: Ícone, 1994. PAI, HJ E HISSING, W.T. Uma comparação entre a medicina chinesa e a ocidental. Disponível em: www.ceimec.com.br. Acesso em: 08 de mar 2016. ROMOLI, M. Diagnóstico da Acupuntura Auricular. Roca Eugim. São Paulo 2013. ROSS, Jeremy. Combinações dos Pontos de Acupuntura. São Paulo: Roca, 2002.