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O FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO(FONAPER) E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO
Kleberson M. Rodrigues - PUCPR*
Léo Marcelo P. Machado - PUCPR**
Sérgio Rogério Azevedo Junqueira - PUCPR***
RESUMO
O Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER) foi criado em1995 e, ao longo de sua existência, vem buscando acompanhar, organizar esubsidiar o esforço de professores, associações e pesquisadores. Estapesquisa teve como objetivo descrever as principais ações do FONAPER nopercurso histórico de escolarização do Ensino Religioso. A metodologiaconstitui-se em um levantamento bibliográfico e uma análise documental do
material produzido. Os resultados apontam uma fase de transição depressupostos teológicos para pressupostos pedagógicos, que contempla oespaço em que a ação acontece, ou seja, é o espaço escolar que define ametodologia e aplicação, não sendo mais uma questão de fé. Não é possívelentender a história do FONAPER de forma estática, ou mesmo linear. Em umprimeiro momento, ocupou-se com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases,simultaneamente com a estrutura do Ensino Religioso por meio da produção doParâmetro Curricular Nacional do Ensino Religioso. A implementação dacompreensão do atual modelo para esta área do conhecimento foi expressapelos Cadernos Temáticos, assim como o Curso de Extensão em dozemódulos, o que exigiu a preocupação com a formação de professores. Foramrealizadas nove sessões ordinárias do FONAPER, sete congressos sobre acapacitação docente e dois congressos nacionais para professores do EnsinoReligioso. Assim, o cenário que se evidencia é a necessidade da formação doprofessor para atuar nesta área do conhecimento. O Ensino Religioso não podeser considerado um estranho dentro da escola, mas sim uma área doconhecimento que contribui na humanização e conhecimento do educando.Palavras-chave: Ensino Religioso, Educação Religiosa, Formação deProfessores.
* Graduado em Ciências Religiosas pela PUCPR, Graduado em Pedagogia da PUCPR, Agente de
Pastoral e Professor de Ensino Religioso do Colégio Marista Paranaense. Membro do Grupo de Pesquisa
Educação e Religião do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação PUCPR.** Mestrando em Educação pela PUCPR, Graduado em Pedagogia pela PUCPR. Membro do Grupo de
Pesquisa Educação e Religião do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação PUCPR.*** Doutor em Ciências da Educação – Programa de Ensino Religioso pela Universidade Pontifícia
Salesiana de Roma (Itália), Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCPR, Líder doGrupo de Pesquisa Educação e Religião
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O ENSINO RELIGIOSO E SEU PROCESSO HISTÓRICO
No período de 1500 a 1700 pouco se falou do Ensino Religioso, mas
muito foi praticado em nome da religião, pois ele estava embutido na educação,
a qual tinha como principal objetivo a evangelização. Os jesuítas, com o seu
modelo de educação, já realizavam a catequese, em especial para os
indígenas e os negros. Nesta fase, destaca-se a imposição como prática do
Ensino Religioso.
A escola estava inserida em um sistema chamado tradicional, no qual
os alunos eram vistos como seres depositários de tudo aquilo que fosse
julgado de importante e necessário por parte dos professores, os quais eram
considerados depositantes.
Esta educação tradicional, além de priorizar o intelecto e a
racionalidade, contribuía para que o ser humano, ao longo dos anos, fosse
mais individualista, sectário e fragmentado.
A relação Estado-Igreja se confundia, uma vez que o Estado
administrava a sociedade civil a Igreja administrava toda a concepção
educacional em prol de um sistema unitário que viesse a garantir o poder
relacionado a todas as dimensões do ser humano (sociais, morais,
econômicas...).
Concomitante a este sistema, o Ensino Religioso se fazia presente na
educação escolar, almejando a inculcação apenas da religião que vigorava na
época, haja vista os Jesuítas serem da congregação que primeiro se instalou
no Brasil colonial. Diz-se inculcação, pois o Ensino Religioso era visto, e em
muitas instâncias ainda é, como sendo o ensino da religião vigente e, no caso,
a cristã católica.
O Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (2000, p. 6)afirma:
Nessa relação Estado-Igreja, pode-se dizer que foramduas as modalidades de Ensino Religioso: a pr imeira,colonial regal ista, que se confundia e se fundia com aColônia e o Império; sob o regime do padroado e doregal ismo, a rel igião catól ica mantinha pr ivi légios edetinha o monopólio do ensino. Dessa forma, o EnsinoReligioso se fazia ensino da rel igião oficial , a rel igião
catól ica, como fruto do processo de evangelização ecr ist ianização. E a Segunda forma foi a l iberal e sedesenvolveu com a implantação do regime republ icano
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quando se deu a separação entre Estado e Igreja. Aprimeira Consti tuição da República (1891) estabeleceuque “ser ia laico o ensino ministrado nosestabelecimentos oficiais de ensino”. Esse disposit ivoacirrou o debate, mas a Igreja Catól ica continuouorientando o ensino da Religião nos estabelecimentos
oficiais.
Com o passar dos anos, além da cultura indígena, muitas foram as
tradições religiosas que formaram o Brasil, pois muitas etnias eram deixadas
no Brasil colônia, seja como refugiadas seja como escravizadas. Outras etnias
buscavam seu sustento que não em sua terra de origem. Assim, muitos povos
com suas respectivas culturas, e conseqüentemente com suas crenças, foram
constituindo o país fomentando a diversidade religiosa.
Com o passar dos anos, muitas culturas já habitavam o Brasil e nele
muitas tradições coabitavam no mesmo espaço. O espaço sociocultural
tornava-se cada vez mais pluralista, o que foi sentido também na esfera
religiosa, na qual crescia o número de religiões.
No período do Império, a religião católica era a oficial do estado
brasileiro e é neste período que surge a escola pública, com a inauguração do
Colégio D. Pedro, no Rio de Janeiro.
Na Primeira República, em 1891, há a separação entre o Estado e a
Igreja. A Constituição da República estabeleceu que as aulas dos
estabelecimentos oficiais seriam desenvolvidas por leigos, mas a Igreja
Católica continuou tendo o domínio no ensino da Religião.
Na Constituição Nacional Brasileira de 1934, art. 153, o Ensino
Religioso é pela primeira vez mencionado: “O Ensino Religioso é de matrícula
facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do
aluno [...] e continuará matéria dos horários nas escolas públicas primárias,secundárias, profissionais e normais”.
A partir deste momento, o Ensino Religioso era visto apenas como
apêndice na educação, o que gerava indefinição de continuar ou não fazendo
parte da grade curricular.
No Estado Novo, de 1937 a 1945, o Ensino Religioso passa a ser
caracterizado ônus para o estado e sem obrigatoriedade para os professores e
alunos.
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Em 1961, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei 4024/61), em seu artigo 97, descreve o Ensino Religioso como
. . .discipl ina dos horár ios normais das escolas oficiais, éde matrícula facultativa e será ministrado sem ônus paraos poderes públ icos, de acordo com a confissão doaluno, manifestada por ele, se for capaz ou pelo seurepresentante legal ou responsável. 1º - A formação declasse para o ensino independe de número mínimo dealunos. 2º - O registro de professores e EnsinoReligiosos será real izado perante a autor idade rel igiosa,respectiva.
No Estado autoritário, 1964 a 1985, é ofertado como qualquer outra
matéria.Em 1971 a Lei 5692/71, no artigo sete, destaca “o Ensino Religioso,
de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos
estabelecimentos de 1.º e 2.º graus”.
A CRIAÇÃO DO FONAPER
Junqueira (2001) descreve uma fase de transição do Ensino Religioso,
ocorrida na década de 90; a alteração da concepção de pressupostos
teológicos para pressupostos pedagógicos, colocando-o mais coerente com o
ambiente escolar. Desta forma, a discussão não seria mais de âmbito
teológico, mas pedagógico. O caráter da discussão seria a partir da escola.
Muitas foram as iniciativas para que esta concepção fosse
amadurecida e implementada. A mais expressiva ação deste período viria a
acontecer em Florianópolis, durante as festividades dos 25 anos do CIER, em
que ocorreu a fundação do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso
(FONAPER).
Quando o FONAPER foi instituído, elaborou-se uma carta de
intenções com os primeiros princípios norteadores.
1 - Garantia de que a Escola, seja qual for sua natureza,ofereça Ensino Religioso ao educando, em todos osníveis de escolar idade, respeitando as diversidades depensamento e opção rel igiosa e cultural do educando; 2 -Definição junto ao Estado do conteúdo programático do
Ensino Religioso, integrante e integrado às propostaspedagógicas; 3 - Contr ibuição para que o Ensino
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Religioso expresse sua vivência ética pautada peladignidade humana; 4 - Exigência de investimento real naquali f icação e capacitação de profissional para o EnsinoReligioso, preservando e ampliando as conquistas, detodo magistér io, bem como garantindo-lhes condições detrabalho e aperfeiçoamentos necessários.
AS SESSÕES DO FONAPER
O FONAPER, em seu percurso histórico, realizou 10 sessões. A 1.ª
Sessão aconteceu dos dias 24 a 26/3/96, em Brasília-DF, cuja finalidade foi: a)
Filiação/adesão; b) Estudo sobre currículo e c) Currículo Básico do Ensino
Religioso. Ficou claro que precisava haver insistência para que o Ensino
Religioso fosse disciplina - eixo essencial, e não um elemento de tematransversal. Decidiu-se por elaborar um texto preliminar para compor os
Parâmetros Curriculares Nacionais.
No período de 12 a 16/8/96, em Brasília-DF, ocorreu a 2.ª Sessão,
dos dias 17 a 19/8/96, e teve como finalidade os "Encaminhamentos dos
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso" e a organização
do Fórum com adesões, regimentos e indicação da Comissão. Foram eleitos os
membros da Comissão Provisória, como a Coordenação do Fórum. A 3.ª Sessão aconteceu em Piracicaba - SP, nos dias 12 a 14/3/97,
com as seguintes finalidades: Encaminhamentos: a) dos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso; b) de capacitação de
Professores de Ensino Religioso; c) Política do Ensino Religioso nas
Legislações. Essa Sessão aprovou os PCNs que já haviam sido editados pela
Editora Ave Maria, com algumas correções. Também encaminhou um texto
substitutivo ao Art. 33 da LDB. E nessa Sessão o Fórum recebeu o parecer do
Conselho Nacional de Educação sobre o Art. 33 da LDB, datado de 11/3/97.
Um grupo encaminhou os conteúdos curriculares que deveriam fazer parte da
capacitação de professores para o Ensino Religioso.
A 4.ª Sessão do fórum aconteceu simultaneamente com o 2º
Seminário, em Brasília-DF, nos dias 4 a 7 de agosto de 1997, com a seguinte
programação: a) Ensino Religioso na LDB: Histórico e encaminhamentos; b)
Ensino Religioso nos sistemas de Ensino (estaduais e municipais); c) Processo
de Habilitação dos Professores do Ensino Religioso; d) Política dos Parâmetros
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Curriculares Nacionais do Ensino Religioso; e) Política de Organização do
Ensino Religioso no Brasil. Essa sessão reuniu 19 Universidades e cerca de
109 pessoas. Foi lançado oficialmente o Parâmetro Curricular Nacional do
Ensino Religioso. Também foi feita a entrega da sugestão de currículo para o
Ensino Religioso.
Contando com a presença de 250 pessoas, aconteceu a 5.ª Sessão
do Fórum, em Curitiba - PR, de 10 a 12/06/98, tendo como atividades a
palestra "Fundamentos Epistemológicos do Ensino Religioso", 4 Mesas-
Redondas: fundamentos Epistemológicos do Ensino Religioso; O Ensino
Religioso nos Sistemas de Ensino; Entidade Civil para o Ensino Religioso;
Organizações dos Profissionais do Ensino Religioso; e como Workshops: 1) A
qualificação do professor e as instituições de Ensino Superior; 2) Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Religioso e os currículos; 3) Estruturação
para funcionamento do Ensino Religioso local; 4) O tratamento didático do
Ensino Religioso conforme política dos PCNs.
A 6.ª Sessão do Fórum aconteceu em Várzea Grande, Cuiabá, de 23
a 25/09/99. O objetivo foi tratar da habilitação do profissional para o Ensino
Religioso, a partir da Lei 9475/97, sob o tema geral "A Capacitação de
Professores para o Ensino Religioso". O trabalho foi realizado em quatro
Workshops: 1. Ensino Religioso na formação de profissionais no Curso Normal;
2. Ensino Religioso na Educação Infantil; 3. Ensino Religioso na Proposta
Político Pedagógica da Escola e 4. Ensino Religioso nos sistemas de ensino.
A sétima sessão aconteceu em Curitiba, na data de 08 de novembro
de 1999, e foi a assembléia que aprovou os Estatutos do Fórum. Desta forma,
o FONAPER tornou-se uma entidade jurídica.
A oitava Sessão do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religiosoocorreu no dia 21 de julho de 2000 no município da Serra (ES) durante o I
Congresso Brasileiro de Professores de Ensino Religioso, cujo tema foi "O
professor de Ensino Religioso aprendendo: a ver, a saber, a fazer e a ser".
Entre os dias 20 e 21 de agosto de 2001, em São Paulo, ocorreu a
nona Sessão do FONAPER com a participação de vinte e três pessoas, de
onze Unidades da Federação. A pauta desta foi a apresentação do relatório
das comissões de trabalho; - comunicações da situação do Ensino Religioso
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nos Estados; - alteração do artigo 2º do Estatuto do Fórum, que se refere à
sede e ao foro do Fórum.
No dia 25 de setembro de 2003, na cidade de Maceió, Alagoas,
ocorreu a X Sessão do FONAPER e teve como objetivo a avaliação do biênio
de 2002 a 2003, com destaque para a organização e atualização do site
www.fonaper.com.br . Esta sessão ocorreu durante o VIII Seminário Nacional
de Capacitação Profissional para o Ensino Religioso.
OS SEMINÁRIOS DE CAPACITAÇÃO DOCENTE
Muito além de ficar somente nos papéis, a alteração de uma nova
visão para o Ensino Religioso precisava ser viabilizada no cotidiano das
escolas e implementada nas práticas. Um grande instrumento para divulgação
desta nova concepção foram os Seminários de Capacitação Profissional para o
Ensino Religioso, organizados pelo FONAPER, que oportunizaram a
fundamentação e reflexão sobre a concepção do Ensino Religioso, como uma
disciplina integrante do currículo escolar.
O primeiro seminário foi na Universidade São Francisco, em parceria
com a Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas (ABESC) e
contou com a presença de 26 pessoas, de 22 Universidades, em 20/5/97, em
São Paulo-SP. O objetivo desse Seminário foi o de "discutir e encaminhar
sistematicamente a formação do Profissional de Ensino Religioso". Da agenda
constaram os momentos para discutir os cursos de graduação, de
especialização, de aperfeiçoamento e de extensão. Distribuiu-se, então, o
relatório do Padre Roque, que se fez presente, apresentado na Câmara dos
Deputados. O voto relator traz aspectos significativos na constituição dos
elementos para o Ensino Religioso.O 2º seminário aconteceu simultaneamente com a 4ª Sessão do
Fórum, em Brasília-DF, nos dias 4 a 7 de agosto de 1997.
O 3º Seminário de Capacitação Profissional para o Ensino Religioso
aconteceu nos dias 27 a 29 de outubro de 1997, em Curitiba-PR.
O 4º Seminário de Capacitação Profissional para o Ensino Religioso
foi realizado em Blumenau-SC, nas dependências da Pós-Graduação do
Campus da Universidade Regional de Blumenau (FURB), na data de 10 e 11de novembro de 1998. O objetivo desse seminário foi o de "discutir e
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encaminhar a implementação das áreas temáticas do Ensino Religioso", a
partir do tema "Área de Conhecimento na Capacitação profissional: a) Teologia
Comparada; b) Textos Orais e Escritos Sagrados; c) Fundamentos
Pedagógicos do Ensino Religioso (pedagogia, didática, metodologia)".
O 5º Seminário de Capacitação Profissional para o Ensino Religioso
aconteceu em Teresina-PI, de 16 a 18 de março de 1999. O objetivo desse
seminário foi o de "discutir e encaminhar a implementação das áreas temáticas
do Ensino Religioso", sob o tema "Área de Conhecimento na Capacitação de
Professores: Culturas e Tradições Religiosas".
Em 16 e 17 de maio de 2000 aconteceu o 6º Seminário de
Capacitação Profissional para o Ensino Religioso, na cidade de Santos,
realizado em parceria com a Universidade Católica de Santos.
O 7º Seminário Nacional de Capacitação Profissional para o Ensino
Religioso, organizado pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso /
Comissão de Capacitação docente, reuniu, nos dias 15 e 16 de maio, na
PUCPR, representantes de Ensino Superior, Sistemas de Ensino e de
diferentes grupos religiosos, totalizando uma representação de 15 regiões da
Unidade Federativa. O evento desencadeou a discussão das políticas de
formação docente para o Ensino Religioso na realidade brasileira.
O 8º Seminário Nacional de Capacitação Profissional para o Ensino
Religioso, organizado pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso,
ocorreu nos dias 24 a 26 de setembro no Colégio INEI, cidade de Maceió (AL),
com a presença de profissionais de 25 Estados da Federação, entre os quais:
Professores de Ensino Religioso, representantes de Ensino Superior, Sistemas
de Ensino e de diferentes grupos religiosos. A temática central foi "O Ensino
Religioso: uma área de conhecimento para a formação do cidadão", que foidesenvolvido mediante três aspectos: Epistemologia, Legislação e Estrutura de
Capacitação docente.
CONGRESSOS BRASILEIROS DE PROFESSORES DE ENSINO
RELIGIOSO
Outro importante meio de fundamentação teórica em relação ao
modelo fenomenológico foram os congressos a nível nacional. O primeiroCongresso Brasileiro de Professores de Ensino Religioso aconteceu entre os
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dias 18 a 21 de julho de 2000, no município de Serra - ES. Neste evento,
estiveram presentes 210 profissionais da educação, representando 20 estados
da Federação. O tema central estudado pelos educadores foi – professor de
Ensino Religioso aprendendo: A ver, a saber, a fazer e a ser.
Entre os dias 11 a 13 de setembro, em São Leopoldo - RS, na
Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS), ocorreu o II Congresso Brasileiro
de Professores do Ensino Religioso, com a temática: “Manifestações Religiosas
no mundo contemporâneo: interfaces com a Educação”. Entre os palestrantes,
mencionamos os Professores Doutores Antonio Flávio de Oliveira Pierucci
(USP); James Fowler (Univ. de Emory, Atlanta, EUA) e Hans-Jürger Fraas
(Univ. de Munique, Alemanha).
O NOVO MODELO DE ENSINO RELIGIOSO
Pode-se perceber que vários avanços ao longo do tempo foram sendo
conquistados para que o Ensino Religioso fosse visto como área de
conhecimento e não como espaço para evangelização de determinada religião.
Em 1997, o Ministério da Educação apresenta aos professores os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), salientando que eles são o
norteamento para a escola, porém, com a autonomia da escola assegurada
pela LDB (9394/96), leva à construção de uma proposta pedagógica própria.
Ao definir a proposta pedagógica, deve explicitar o reconhecimento da
identidade pessoal e social da escola, dos professores e dos alunos. A
identidade religiosa também necessita ser respeitada na escola, na medida em
que, ao definir a cara da escola, deve-se colocar na proposta pedagógica a
identidade religiosa a partir dos educandos. Não se deve usar o discurso de
obrigatoriedade de religião para todos, mas sim uma compreensão depluralidade de religiões.
Portanto, o Ensino Religioso deverá ser concebido a partir da escola,
com um objetivo de conhecimento próprio e com objetivos específicos, tendo
ênfase na formação cidadã a partir das contribuições que as Tradições
Religiosas oferecem para o processo de civilização e humanização do homem.
Nessa perspectiva, o Ensino Religioso deverá ser considerado
integrante e integrado na construção coletiva do projeto pedagógico da escola,tendo uma prática pedagógica mais interdisciplinar e menos fragmentada na
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organização curricular, pois a partir da Resolução nº 02/98 da Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, o Ensino Religioso
passa a fazer parte das áreas do conhecimento, sendo reconhecido como
integrante da formação básica do cidadão.
O Ensino Religioso, como um componente curricular, passa a ser
concebido em um terceiro modelo para a prática do Ensino Religioso em sala
de aula, o modelo fenomenológico. O novo modelo foi estruturado a partir das
orientações do Conselho Nacional de Educação para estruturação das
diretrizes curriculares: ter um objeto e objetivos. O Objeto do Ensino Religioso
é o fenômeno religioso, assumindo a conceituação de religião (lat.) “religio”
como (lat.) “relegere”, (port) “reler”, organizado por Cícero.
Para o novo paradigma do Ensino Religioso, os valores da vida
cidadã, conhecidos como temas transversais, não se constituem mais no
conhecimento do Ensino Religioso veiculado. Por isso, o Ensino Religioso: a)
estrutura-se a partir da escola, não mais ligado a uma comunidade de fé, mas a
várias comunidades de fé; b) desenvolve-se a partir do conhecimento religioso
e não do conhecimento da fé, o conhecimento teológico; c) alicerça-se nas
Tradições Religiosas como critério de segurança do cidadão.
O Ensino Religioso deve transpor a idéia de que seja somente um
meio de revelar informações e curiosidades sobre religiões; deve ser entendido
como uma ação transformadora, tendo o papel de ser o provocador de
questionamentos sobre a própria existência. E também compreendido como
sendo um favorecer dos conhecimentos das diversas tradições religiosas
responsáveis pela construção cultural do país.
O modelo fenomenológico exige uma metodologia diferenciada dos
modelos anteriores, pois como disciplina do currículo, precisa estarcompreendida a concepção de escola que estará desenvolvendo o conteúdo
tornando “clara a proposta de aluno que interagirá por meio do itinerário
metodológico”. O Ensino Religioso torna-se elemento de formação que
“favorece o desenvolvimento integral do educando, a educação de pessoas
capazes de fazer coisas novas, não apenas repetir o que outras gerações já
produziram e a formação do indivíduo crítico” (JUNQUEIRA, 2000, p. 89). O
tratamento didático proposto é a observação – reflexão – informação. Os
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conteúdos propostos nos PCNs organizados pelo FONAPER são: Culturas e
Tradições Religiosas, Textos Sagrados, Teologias, Ritos, Ethos.
CONSIDERAÇÕES
O trabalho do FONAPER muito veio a contribuir para o processo de
escolarização do Ensino Religioso. Entre suas principais ações, podemos
destacar: a) A elaboração de uma carta de intenções com os primeiros
princípios norteadores, na cidade de Florianópolis – SC, em 1995; b) Esboço
de currículo básico para o Ensino Religioso; c) Aprovação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Religioso; d) Currículo para formação de
professores, que foi encaminhado às universidades; e) Realização de 8
Seminários de Capacitação Docente; f) Divulgação da alteração do artigo 33 da
Lei de Diretrizes da Educação Básica brasileira concebendo o Ensino Religioso
como disciplina, respeitando a diversidade cultural e religiosa do Brasil.
Da experiência nestes nove anos, pode-se afirmar que o Ensino
Religioso estrutura-se a partir da escola, no local onde a ação acontece é que
são definidas metodologias, conteúdos e estruturação, não sendo uma questão
de comunidade de fé. A nova prática tem em vista o conhecimento e este a
partir do conhecimento religioso e não do conhecimento da fé, que é
aprofundada na comunidade de fé de cada indivíduo.
A proposta do FONAPER traz os seguintes princípios estruturais para
Ensino Religioso, que na escola deve ser concebido como: integrante na
formação básica do cidadão; conhecimento que subsidia o educando; disciplina
dos horários normais; aprendizagem processual, progressiva e permanente;
orientação para a sensibilidade ao mistério na alteridade; com avaliação que
permeia os objetivos, conteúdos e práticas didáticas; prática didáticacontextualizada e organizada.
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REFERÊNCIAS
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FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DE ENSINO RELIGIOSO. CadernoTemático 1. Referencial Curricular para a proposta pedagógica da escola,2000.
FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DE ENSINO RELIGIOSO. CadernoTemático 2. Culturas e Tradições Religiosas, 2001.
FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DE ENSINO RELIGIOSO. ParâmetrosCurriculares Nacionais: Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: Ave Maria, 1998.
JUNQUEIRA, S. R. A.O processo de Escolarização do Ensino Religioso noBrasil. Petrópolis: Vozes, 2002.
JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; MENEGHETI, Rosa Gitana Krob;WACHOWICZ, Lílian Anna. Ensino Religioso e sua relação pedagógica.Petrópolis: Vozes, 2002.
MACHADO, Léo Marcelo Plantes Machado. A escolarização do EnsinoReligioso no Brasil. Revista Educação em Movimento, Curitiba, v. 1, n. 3, p.79-82, 2002.
OLENIKI, Marilac Loraine R.; DALDEGAM, Viviane Mayer. Encantar : umaprática pedagógica no Ensino Religioso. Petrópolis: Vozes, 2003.