Projeto Político Pedagógico como orientador do processo educativo: uma intervenção crítica sobre a prática cotidiana
Rozana Silveira1
Mary Sylvia Miguel Falcão2
Resumo: Este estudo teve por objetivo fazer uma reflexão crítica em relação à forma como os professores entendem e participam na elaboração do Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual Segismundo Falarz, da cidade de Curitiba- Paraná, indagando sobre o modo pelo qual esses professores participam no processo de elaboração do PPP. A análise desse trabalho contou com o apoio teórico de estudiosos do tema como: Freire (1996) que expressa que “a educação é uma forma de intervenção no mundo”, como Gadotti (1994) que adverte que ”todo projeto supõe ruptura com o presente e promessa para o futuro”, ainda Oliveira (2005) que considera que “o projeto é que confere consistência, amplitude e sentido à prática pedagógica”, e Vasconcellos ( 2008 ) que afirma que este é “um instrumento teórico- metodológica para a intervenção e mudança da realidade” e Veiga( 2005 ), que discute que “necessitamos de um referencial que fundamente a construção do projeto político pedagógico, dentre outros. Foi aplicado um questionário aos sujeitos da pesquisa a fim de compreender a concepção acerca do PPP. A intervenção se deu por meio da reflexão crítica sobre o Projeto, compreendendo-o como orientador de toda a organização do trabalho pedagógico na escola, bem como um processo de discussão permanente dos problemas cotidianos, mediados pela intencionalidade coletiva da escola, na idealização e elaboração de uma proposta pedagógica construída a partir das reais necessidades da escola, que visaram reforçar a importância da escola como local de conceber saberes necessários às transformações sociais. Os resultados demonstram que houve pouca participação dos professores na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola. O que se percebe de modo geral é um trabalho individualizado, onde cada professor o realiza individualmente, que não leva em consideração o projeto e sua intencionalidade no desenvolvimento das suas práticas docentes.
Palavras chave: Projeto Político Pedagógico, participação; educação; intervenção
Abstract: This study aimed to make a critical reflection regarding how teachers understand and participate in the preparation of Political Pedagogical Project of State College Segismundo Falarz, in the city of Curitiba, Paraná, inquiring about the way these teachers are involved in preparation of PPP. The analysis of this work was supported by theoretical students of the subject as Freire (1996) which states that "education is a form of intervention in the world," as Gadotti (1994) who warns that "every project supposed break with the present and promise for the future, "still Oliveira (2005) who believes that" the project is that it gives consistency, amplitude and direction of pedagogical practice, "and Vasconcellos (2008) which states that this is" a theoretical and methodological tool for intervention and changing reality "and Veiga (2005), who argues that" we need a reference justifying the construction of the political pedagogical project, among
1 Professora PDE, pedagoga da rede estadual de ensino do município de Curitiba desde 1994.2 Professora Dra no Departamento de Educação da Unespar – Campus de Paranaguá
others. A questionnaire was administered to the research subjects in order to understand the conceptions of the PPP. The intervention was through critical reflection on the Project, including it as supervisor of the entire organization of educational work in school as well as a process for ongoing discussion of everyday problems, mediated by collective intentionality of the school, the idealization and preparation a pedagogical proposal built upon the real needs of the school, which aimed to reinforce the importance of school and local knowledge needed to conceive of social change. The results show that there was little participation of teachers in the development of Political Pedagogical Project of the school. What we see in general is an individualized work, where each teacher performs individually, which takes no account of the project and its aims in developing their teaching practices.
INTRODUÇÃO
Este trabalho teve por objetivo propor um estudo sobre o Projeto Político
Pedagógico do Colégio Estadual Segismundo Falarz, localizado no município de
Curitiba, Estado do Paraná. A intenção foi discutir com os professores sobre o
conhecimento que eles possuem sobre o Projeto Político Pedagógico (PPP) da
escola, se de fato o conhecem se leva em consideração a intencionalidade da
escola no desenvolvimento das suas práticas pedagógicas. Para este entendimento
foi elaborado um Projeto de Intervenção Pedagógica na instituição com o tema: “O
Projeto Político Pedagógico: Uma intervenção crítica sobre a prática”. Como uma
proposta de trabalho que poderá favorecer aos professores sobre o entendimento
do projeto da escola e trazê-lo como elemento para o aprimoramento da prática
pedagógica desenvolvida no cotidiano escolar.
Nesse sentido o artigo visa apresentar a síntese da reflexão feita junto aos
professores sobre o projeto da escola, analisando, se de fato os sujeitos o
conhecem e se levam em consideração a intencionalidade coletiva da escola em
suas práticas pedagógicas, refletindo até que ponto consideram importante
participarem da sua elaboração, terem conhecimento do Projeto Político
Pedagógico, sobretudo, do seu significado na organização do trabalho pedagógico
desenvolvido pela escola e se isto faz diferença em sua atuação, enquanto
profissionais, que promovem em suas práticas o processo de ensino e
aprendizagem, ou seja, se são sujeitos nesse processo.
Observou-se como necessário uma reflexão acerca das práticas
educativas exercida pelos educadores e se estes conhecem o projeto da escola no
direcionamento das suas ações educativas.
As ações foram desenvolvidas com base no referencial teórico dos
autores, tais como Freire (1996); Gadotti (1994); Oliveira (2005); Libâneo (1991);
Vasconcellos (2008); Veiga (2005); Santiago (2005); que ressaltam que o PPP da
escola deve partir da vontade política de mudança, de assumir suas
responsabilidades e o compromisso frente à educação, cujo objetivo é a melhoria da
qualidade de ensino e da escola, que em sua função educativa deve utilizar-se de
todos os meios disponíveis para atingir os fins a que se destina o ato de educar.
Os caminhos percorridos para este estudo se pautaram na metodologia da
pesquisa – ação, possibilitando o envolvimento dos professores de forma a agirem
ativamente na construção do próprio conhecimento de modo a intervir como sujeitos
responsáveis na participação e construção do projeto da escola.
A metodologia inicialmente utilizada deu-se por meio da realização de um
trabalho em grupo por área de atuação dos professores, onde refletiram sobre o seu
posicionamento frente ao projeto da escola, discutindo sobre um tema comum a
todos. Esta metodologia possibilitou o entendimento, pelos sujeitos, da importância
do trabalho coletivo, do respeito à diversidade de opiniões sobre um mesmo
assunto, onde se buscou coletivamente um consenso sobre o tema em questão,
fortalecendo as relações entre os sujeitos e quebrando barreiras, que interpõem na
socialização de ideias em torno de objetivos comuns, que, neste caso, foi o
entendimento, participação e acompanhamento do Projeto Político Pedagógico
(PPP) e o que este representa na organização do trabalho pedagógico, que vem
sendo desenvolvido no cotidiano escolar.
No início da implementação foi feito o diagnóstico da escola, situando-a a
partir do Marco Situacional descrito no PPP, analisando se a realidade da escola e o
espaço na qual está inserida, correspondem às condições reais de trabalho ali
desenvolvidas e se estas condições atendem efetivamente a descrita no Projeto
Político Pedagógico da escola. A partir dessa análise, outro fator importante, foi
discutir com o grupo o entendimento deste sobre o projeto da escola, refletindo,
quais momentos de participação tiveram em sua elaboração e se esses momentos
foram relevantes para o desenvolvimento de suas práticas educativas, enquanto
sujeitos que atuam na escola, frente ao processo de ensino e aprendizado dos
educandos.
Tomando como referência a proposta inicial, o passo seguinte, foi
apresentar ao grupo um questionário com os seguintes questionamentos: Qual seu
entendimento sobre o Projeto Político Pedagógico? Qual foi sua participação no
Projeto da escola? Qual a concepção de educação defendida no projeto da escola?
Considera que sua prática esteja atrelada aos objetivos ali previstos? Quais limites
consideram relevantes destacar que impedem a efetiva implementação do Projeto
Político Pedagógico da escola? Quais ações já foram concretizadas pela escola em
termos de objetivos pretendidos pelo coletivo? Em quais momentos, o projeto é
colocado em pauta para avaliação dos avanços conquistados de acordo com as
ações planejadas?
As respostas obtidas por meio do questionário foram tabuladas em forma de
gráficos para melhor visualização dos resultados coletados, assim como, as
descrições das etapas percorridas para se chegar a uma análise final do artigo.
A intervenção foi realizada por meio da metodologia da pesquisa- ação teve
como foco a análise do Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual
Segismundo Falarz com a participação de 28 professores da escola.
No primeiro momento foi decisivo provocar nos professores a sensibilização
quanto à importância das suas participações e conhecimento do projeto da escola,
valorizando sua função e a necessidade de “se fazer” não pela imposição de “ter
que fazer”, pois a Lei exige, e sim, de se colocarem como principais participantes e
agentes que podem, a partir do trabalho desenvolvido, promover mudanças
significativas no cenário educacional.
Iniciando a implementação, foi levantado o diagnóstico da escola, situando-a
a partir do Marco Situacional descrito no PPP e respondido o questionário, como foi
apresentado as questões na introdução deste artigo.
A seguir as respostas foram tabuladas e apresentadas aos professores para
que fossem analisados os resultados do questionário e a partir desta análise foram
propostas ações, conforme desenvolvimento abaixo.
Conceituando o Projeto Político Pedagógico
Para a compreensão do termo Projeto Político Pedagógico e de sua
importância na escola, o ponto de partida é o seu entendimento no sentido
etimológico da palavra ”projeto”. Segundo Veiga (2005), na análise de Ferreira “O
termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que
significa lançar para diante. Plano, intento, desígnios”.
Nas palavras de Gadotti:
Todo projeto supõe ruptura com o presente e promessa para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas . As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores.( GADOTTI, 1994, p. 579 )..
Para Oliveira (2005, p. 42 ) “o projeto é que confere consistência, amplitude e
sentido à prática pedagógica, porque é através dele que se congregam as energias,
se trocam as expectativas e se organiza o processo de trabalho na escola”.
Essa mesma autora prossegue em suas ponderações, afirmando que:
A elaboração de um Projeto Político - pedagógico tem de partir, necessariamente, de uma concepção de educação, referencial teórico,que deve nortear os procedimentos, processos, atividades, organização administrativa e pedagógica, estruturação curricular, organização dos tempos e espaços na escola.( OLIVEIRA, 2005, p.42 ).
Segundo Oliveira (2005), o conceito de PPP em Dias Sobrinho aparece da
seguinte forma “Projeto é o que 'lança para adiante', é movimento. É 'ação'
organizada e prospectiva, que arranja o presente e o liga à visão do futuro”.
Nessa linha, Vasconcellos (2008) conceitua Projeto Político Pedagógico,
como:Plano global da instituição, entendido como a sistematização de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada. É um instrumento teórico- metodológico para a intervenção e mudança da realidade. (VASCONCELLOS, 2008, p.168 ).
E Na análise de Veiga (2005, p.168) “buscar uma nova organização para a
escola constitui uma ousadia para os educadores, pais, alunos e profissionais”.
A autora segue ponderando que:
Necessitamos de um referencial que fundamente a construção do projeto político - pedagógico. Saber a qual referência, temos que recorrer para a
compreensão de nossa prática pedagógica, nos alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica viável. Uma teoria que subsidie o projeto político - pedagógico e a prática pedagógica. (VEIGA,2005,p.14).
Neste sentido, a busca de uma identidade da escola, com fins definidos à
consecução de seus objetivos e finalidades, exige uma postura frente à concepção
de educação pretendida na formação do cidadão.
Nesses termos:
O projeto político pedagógico ao mesmo tempo em que exige dos educadores a definição clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. As ações específicas para a obtenção desses fins são meios distinções claras, essenciais para a construção do projeto político- pedagógico.(VEIGA,2005,p.17).
Enfatizando as finalidades da escola, Veiga, (2005), utiliza-se das palavras de
Alves que pondera que:
É importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza das finalidades de sua escola. Há necessidade de se refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com base nas finalidades e objetivos intencionalmente pretendidos e almejados ( ALVES, 1992, p. 19 ).
Veiga (2005) acrescenta que:
O projeto político - pedagógico deve ser entendido como a própria organização do trabalho pedagógico da escola, enfatizando que é necessário decidir coletivamente o que se quer reforçar dentro da escola e como trabalhar as finalidades para se atingir a almejada cidadania. (VEIGA, 2005, p.23).
Intervir sobre a prática pressupõe uma análise crítica da postura comumente
adotada pelos educadores em sala de aula no desenvolvimento de suas ações
cotidianas. Intervir significa “interpor sua autoridade, tornar-se mediador: intervir
numa discussão”.
Segundo Paulo Freire (1996. p. 98) “a educação é uma forma de intervenção
no mundo” intervir então toma o significado de participação, de discussão, de
exposição de ideias que possam contribuir para uma tomada de decisão frente aos
problemas levantados e que precisam de intervenções para sua superação.
Com base nestes conceitos, podemos interpor outro, conceituando
intervenção como ação direcionada, segundo a intencionalidade pretendida, com
objetivos pautados num fazer diferente, modificando o panorama atual da realidade,
buscando “um novo rumo, direção” (VEIGA, 2005, p.13).
Entende-se, neste caso, a busca de um novo rumo, como um meio de
repensar e reorganizar nossas práticas, que assegurem a efetiva aprendizagem dos
educandos no processo de ensino e aprendizagem, segundo a opção de educação
defendida pelo coletivo escolar. Isto implica, em revermos em qual concepção está
pautada o Projeto Político Pedagógico da escola, analisando qual direção aponta o
projeto construído, os planos, os ideais, os métodos, os enfrentamentos, a
intencionalidade educativa.
A tarefa, neste caso, é de rever nossas práticas educativas, analisando os
trabalhos desenvolvidos pela escola, em especial, pelos professores, que são
seguramente a ponte que liga o fazer pedagógico ao aprendizado do aluno.
Buscar uma nova orientação, rompendo com as estruturas já solidificadas,
supõe “rupturas com o presente e promessa para o futuro” (GADOTTI, 1994, p.12 ).
O Projeto Político Pedagógico da Escola: Uma Intervenção crítica sobre prática
O entendimento do projeto Político Pedagógico torna-se essencial para a
execução das tarefas da escola para que se possa promover uma educação
democrática, onde as relações se dão em prol de objetivos comuns, pretendidos
coletivamente, permitindo a participação dos sujeitos de intervir e transformar a
realidade. Nesta intenção está o Projeto Político Pedagógico, que permite a
participação dos sujeitos escolares, possibilidade de estabelecer ações e
intencionalidades próprias.
Nesta perspectiva, pode-se inferir que o Projeto Político Pedagógico se
concretiza por ser um documento que descreve toda a dinâmica da organização do
trabalho pedagógico desenvolvido pela escola, suas ações e intencionalidades,
enquanto projeto educativo. Para tanto se faz necessário uma análise da escola,
ponderando seu histórico passado, analisando e considerando a escola real, no
tempo presente, para que, com base no que temos, enquanto instituição educativa
planeja; “o que temos a intenção de fazer, de realizar.” (VEIGA, 2005, p. 12).
Dessa forma:
Projeto Político Pedagógico tem a ver com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como organização da escola como um todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social imediato, procurando
preservar a visão da totalidade. [...] projeto político pedagógico busca a organização da escola na sua globalidade. (VEIGA, 2005, p.14).
Nas palavras de Gandin e Gandin (1999):
Em muitos campos de ação, mas, sobretudo em educação, foram e são importantes as ideias. Mas ideias não são realizadas na prática, isto é, não são transformadas em ação, servem apenas para o prazer do debate e da compreensão. Por isso são igualmente necessárias ferramentas para transformar ideias em práticas. E se a educação, sobretudo escolar, não trabalhar com igualdade de importância nestas duas dimensões (a produção de ideias e a organização de ferramentas para toná-las realidade) não acontecerão às transformações necessárias. (Gandim & Gandim, 1999, p.16).
O trabalho pedagógico tem uma natureza coletiva, entende-se que, este
deve ser pensado e produzido pela coletividade escolar, segundo a função
desempenhada por cada integrante deste processo. Isto implica em acreditar que,
cada indivíduo, em suas tarefas específicas direciona para um mesmo alvo: o aluno.
O Projeto Político Pedagógico, quando assume a identidade da escola,
constituindo-se num processo permanente de reflexão e discussão dos problemas
da escola, na busca de estratégias viáveis à execução de sua intencionalidade,
passa concretamente a ser o organizador da vida escolar, o articulador de toda a
organização do trabalho pedagógico. É na prática exercida que se vivencia a escola,
que se faz real a intencionalidade, o comprometimento com a vida dos sujeitos,
objeto da nossa prática pedagógica.
Assim, através da prática, tomamos nossa posição e praticamos uma ação,
segundo a concepção de educação que defendemos, ou que, por não ter posição
nenhuma, simplesmente seguimos as diretrizes curriculares, sem conhecimento de
que , nossa ação enquanto educadores , produz uma ação imediata e concreta,
naqueles que acreditam na veracidade do que transmitimos. Em consequência, esta
prática possui resultados pedagógicos imediatos, repercutindo na capacidade de
agir de nossos educandos, enquanto sujeitos sociais e participativos. Se a escola
visa desenvolver um projeto vinculado à sua função educativa, este deve ser
amplamente discutido e descrito no PPP, garantindo o envolvimento do colegiado
nas tomadas de decisões, que garantam colaborativamente a participação de todos
na função social e política da educação escolar.
Neste sentido, pondero que devemos olhar o PPP como orientador de todo o
processo educativo, visando uma prática progressista, ensinando a construir uma
nova identidade social, justa e igualitária. Assim a prática pedagógica do educador
torna-se prática social na medida em que se estabelecem nos conteúdos que se
ensina a relação com o espaço histórico construído pelo conjunto da humanidade
por meio da apropriação da transmissão e socialização da herança cultural,
buscando relações com a sociedade atual e o contexto no qual está inserida nossa
escola, os alunos, compreendendo, agindo e transformando.
Na análise de Veiga (2005, p.14) ”buscar uma nova organização para a
escola constitui uma ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários". A
autora segue ponderando que:
Necessitamos de um referencial que fundamente a construção do projeto político- pedagógico saber a qual referência temos que recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógica, nos alicerçar no pressuposto de uma teoria pedagógica crítica viável. Uma teoria que subsidie o projeto político pedagógico e a prática pedagógica. (VEIGA, 2005, p.14).
Para a concretização deste propósito, é necessário definir um referencial
teórico que sustente e dê legitimidade às ações pontuadas como essenciais à
consecução do projeto, idealizado pela escola, indispensável para a efetivação de
uma prática pedagógica consciente e emancipatória. (Oliveira (2005, p. 42), entende
que “o Projeto Político Pedagógico é que confere consistência e amplitude ao
trabalho pedagógico desenvolvido. No projeto é que buscamos o referencial para
subsidiar nossa ação e toda a organização da escola.”
Outro aspecto destacado por Oliveira (2005, p.42) é que:
O ponto de partida para a elaboração de um projeto deve partir fundamentalmente de uma concepção de educação. É necessário o entendimento das diferentes concepções que permeiam o cenário educacional, buscando compreender as teorias que as sustentam, para que possamos analisar quais destas concepções, referencial teórico, irá embasar a construção do PPP da escola e orientar toda a organização do trabalho pedagógico. (Oliveira 2005 p.42)
Vê-se a grande responsabilidade social da escola em definir em seu Projeto
Político Pedagógico toda sua intencionalidade educativa em relação ao projeto de
sociedade que se almeja. A escola está situada num contexto, onde as relações de
poder, de classes distintas, tornam-se cada vez mais evidentes. Estas contradições
sociais, econômicas, culturais estão presentes no interior da escola, representadas
pelos nossos educandos, que trazem uma bagagem de conhecimentos adquiridos
em seu convívio social.
Neste sentido, qual deve ser a função da escola, perante estas diversidades
que buscam cada qual com suas ideologias, apropriarem-se do saber escolar, de
forma a conquistar uma posição social diferente da vivida em seu meio? Se a escola
tem uma função social, como fazer com que esta função seja igualmente vivenciada
por todos, de forma a assegurar os meios pretendidos? E, finalmente, como a
escola, no decorrer de sua história vem representando estes interesses e
necessidades sociais?
Essas e outras questões devem ser amplamente discutidas pelo coletivo da
escola, tomando uma posição frente ao processo educativo compreendendo-o
através dos condicionantes sociais, econômicos, políticos e culturais que
determinam sua ação. É preciso a compreensão desses fatores na construção do
projeto da escola, comprometendo-se em assegurar em seu interior, principalmente
pelos educadores, o acesso ao saber historicamente acumulado pela humanidade.
Neste processo de transmissão e assimilação de conhecimentos, Libâneo
(1991, p. 22), afirma que a "prática educativa' é indissociável dos determinantes
sociais e, estão presentes no trabalho docente e que estes interesses devem ser
compreendidos pelos professores”. Segundo Libâneo:
Para quem lida com a educação tendo em vista a formação humana dos indivíduos vivendo em contextos sociais determinados, é imprescindível que se desenvolva a capacidade de descobrir as relações sociais reais implicadas em cada acontecimento, em cada situação real da sua vida e da sua profissão, em cada matéria que ensina como também nos discursos, nos meios de comunicação de massa, nas relações cotidianas na família e no trabalho. ( LIBÂNEO, 1991, p. 22 )
A área de atuação do professor é a escola. Ele é o profissional da educação
que cumpre uma função social e política, no ensino e formação dos alunos, que lhes
assegurem o domínio de conhecimentos e capacidades necessários para interagir
em seu meio. Este é um desafio que está posto a quem tem como tarefa, ensinar.
Portanto, é necessário ter clareza do que se ensina, por que, para quem e com qual
finalidade e intencionalidade.
Todas essas questões devem ser amplamente discutidas, analisadas,
estudadas e legitimadas em um projeto de escola que lhe confira autenticidade,
autonomia e identidade reconhecida no Projeto Político Pedagógico.
Ao conceber o PPP como orientador de toda a organização do trabalho
pedagógico, para toda e qualquer intervenção sobre a prática, como possibilidade de
atingir a autonomia e identidade própria, não se pretende esgotar este assunto, nem
tampouco justificar as ações da escola, a partir da prática docente, pelo o que está
estabelecido no projeto. Concebido como direcionador, busca “um rumo, uma
direção” (VEIGA. 2005), que deve continuamente ser revisto e analisado a partir das
ações efetivadas, avaliando se os objetivos, as finalidades e intencionalidades ali
descritas, estão sendo colocadas em prática com resultados concretos.
O processo de elaboração do projeto político pedagógico passa,
essencialmente pela vontade política de ousar uma mudança na escola e, por
conseguinte, no ensino.
Atrelado a uma concepção de homem, sociedade, educação, a escola pontua
as metas a serem alcançadas pelo coletivo da comunidade escolar, numa ação
conjunta para a consecução de seus objetivos.
É importante que os profissionais da educação, vinculados a uma instituição
de ensino, tenham a percepção e a compreensão da relevância da escola construir
um projeto educativo, pautado nas suas necessidades, expectativas e, sobretudo no
ideal de escola pretendida, segundo a concepção de educação que defende.
Segundo Veiga (2005) “O projeto busca um rumo, uma direção”, por isso é
um projeto político articulado a um compromisso sociopolítico.
A mesma autora, ao se referir sobre a dimensão
pedagógica do Projeto, descreve que “nele reside à possibilidade da efetivação da
intencionalidade da escola. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas,
seus propósitos e sua intencionalidade.” (Veiga, 2005, p.13).
Desse modo, pode-se dizer que o projeto político pedagógico constitui-se em
uma ferramenta que direciona toda a organização do trabalho pedagógico da escola,
segundo sua intencionalidade.
Veiga (2005, p.130) ainda pondera que “político e pedagógico” têm uma
significação indissociável como um processo permanente de reflexão e discussão
dos problemas da escola.
Neste sentido, a construção do projeto político pedagógico vai muito além de
um cumprimento de tarefas burocráticas, como exigência legal de instâncias
superiores. O projeto é, e deve ser concebido como um documento oficial, que
retrata a vida da escola com base em propostas viáveis à sua consecução, segundo
suas intenções, objetivos e finalidades.
Portanto, almejar fins, é pensar a escola a partir de seus condicionantes e da
realidade na qual está inserida e dos sujeitos que as integram.
Buscando o entendimento da escola, tendo claros os fins que a direcionam,
Santiago (2005, p. 164), assim se reporta:
Pretenderam-se inscrever a escola na ordem das mudanças institucionais exigidas pelo atual momento histórico é preciso que o projeto político- pedagógico assumido pela comunidade escolar esteja estruturado em dois eixos básicos reciprocamente determinantes: a intencionalidade política que articula a ação educativa a um projeto histórico, definindo fins e objetivos para a educação escolar e ao paradigma epistêmico- conceitual que, ao definir a concepção de conhecimento e a teoria de aprendizagem que orientarão as práticas pedagógicas, confere coerência interna a proposta, articulando prática e teoria. (SANTIAGO, 2005, p.164).
Neste sentido, a busca de uma identidade da escola, com fins definidos à
consecução de seus objetivos e finalidades, exige uma postura frente à concepção
de educação pretendida na formação do cidadão.
Se, o Projeto Político Pedagógico, pode ser entendido como a própria
organização da escola (Veiga, 2005), este passa a ser a representação máxima da
escola, percebida através das ações desenvolvidas em seu cotidiano por meio de
um fazer pedagógico de forma coerente e comprometido com a prática educativa
exercida pelos sujeitos.
Considerando o disposto na Lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional (LDB) de 20 de dezembro de 1996, a instituição escolar tem a autonomia
para a elaboração se seu projeto educativo, assegurado no artigo 15, Título IV, que
descreve:
Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. ( LDB, 1996 ).
Com relação à autonomia, é importante perceber que esta se esbarra em
aspectos legais. É preciso o entendimento dos seus limites, visto que, a escola se
rege por determinantes sócio - políticos que a configuram. Portanto, considerar os
seus limites é o primeiro passo para que se delineie uma proposta de trabalho
consistente, com estratégias viáveis a sua consecução. Isto implica em
compromisso coletivo. Fazer da escola um espaço de aprendizagens, segundo a
concepção que defende, requer um posicionamento crítico e participativo de sua
intencionalidade enquanto projeto político. Quanto maior for à participação, o
envolvimento dos educadores, maior será a conquista. Não é um processo simples,
exige de todos os envolvidos uma postura frente aos desafios que a autonomia
representa. Segundo Veiga, 2005A principal possibilidade de construção do Projeto Político- Pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como um espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. (VEIGA, 2005, p. 14).
Se o sistema de ensino, com suas leis regulamentares é o impedimento
para a concretização do projeto, da autonomia da escola em planejar e executar seu
fazer pedagógico, é necessário assumir responsabilidades frente a escola,
compreendendo-a como agente que promove a transmissão dos saberes elaborados
num processo de construção do conhecimento com vistas a transformação social.
Nas palavras de Veiga (2005, p.11),
A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo. Nessa perspectiva, é fundamental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto é importante que se fortaleçam as relações entre escola e sistema de ensino ( VEIGA, 2005, p. 11 ).
Neste sentido é que se coloca a importância da participação. O grande
desafio está em fazer com que a escola conquiste sua autonomia, criando propostas
que resulte de fato na construção de uma escola democrática e com qualidade
social, fazendo com que os órgãos dirigentes do sistema educacional possam
reconhecê-la como prioritária, legítima e comprometida com o que faz, cumprindo
sua função primordial, investindo na qualidade de ensino.
Intervindo no cotidiano escolar: O PPP como ponto de reflexão
1ª AÇÃO: DIAGNÓSTICOO diagnóstico constitui-se em um instrumento que teve por objetivo o
processo de levantar com base em uma análise inicial, a temática a ser trabalhada
por meio de informações relativas ao tema abordado, promovendo a integração do
grupo na participação e no desenvolvimento do projeto apresentado.
Com base no questionário aplicado aos professores da instituição com
questionamentos pertinentes ao conhecimento sobre o Projeto Político Pedagógico
da instituição obteve-se o seguinte resultado:
No levantamento feito foi observado que o entendimento dos professores sobre o
Projeto Político Pedagógico demonstrou que somente 29% dos professores têm
conhecimento sobre o PPP da escola. 32% dos professores demonstraram pouca
clareza sobre o PPP e que 39% desconhecem o PPP da escola, conforme pode ser
observado no gráfico a seguir:
Gráfico 1- Percepção dos professores sobre o PPP da escola
Gráfico 2- participação dos professores na elaboração do PPP da escola
Neste levantamento feito foi observado que 70% dos professores não tiveram
participação na elaboração do projeto da escola e 30% tiveram participação mínima.
Gráfico 03- A Visão dos professores sobre a concepção de educação e os objetivos presentes no PPP da escola em relação ás suas práticas pedagógicas.
No levantamento feito foi observado que 43% dos professores
desconhecem e não levam em conta os objetivos da escola, 32% conhecem
parcialmente, não considerando seus objetivos em suas práticas pedagógicas e 25%
conhecem os objetivos do projeto e os consideram no desenvolvimento das suas
práticas pedagógicas.
Gráfico 04- A visão dos professores sobre os impedimentos da implementação efetiva PPP na escola.
No levantamento feito foi observado que 39% falam que o impedimento é o
desconhecimento do projeto, 36% consideram seus limites pela falta de coletividade
e 25% afirmam que foram poucas suas participações em sua elaboração.
Gráfico 05- A visão dos professores sobre a avaliação dos objetivos do PPP e as ações desenvolvidas.
Neste levantamento feito foi observado que 60% dos professores afirmam
que sabem sobre o projeto e tem conhecimento deste no início do ano letivo e 40%
dizem que este é colocado em pauta nas reuniões ocorridas no final de cada
semestre.
Com base no levantamento feito e nos dados obtidos, a primeira ação
discutida foi analisar qual o entendimento que os professores têm sobre o Projeto
Político Pedagógico da escola e de como se deram de fato suas participações em
seu processo de elaboração, buscando-se o entendimento sobre a concepção de
educação descrita no projeto e se esta está coerente com a prática pedagógica
desenvolvida.
A seguir foram discutidas as ações descritas no Marco Situacional que
descrevem o diagnóstico da realidade escolar, comparando todos os elementos que
aparecem no documento com a prática vivida no cotidiano da escola, analisando as
ações já desenvolvidas a partir da realidade, e quais ações ainda não foram
implementadas. Nesta etapa foram discutidos sobre o conhecimento dos
professores em relação ao PPP da escola, analisando suas participações, e se
conhecem a concepção ali delineada, considerando ou não esta concepção na
elaboração e encaminhamentos das suas aulas. Com base nestas considerações, o
passo seguinte foi o estudo dos marcos de referência e de como estes são
vivenciados no cotidiano da escola, na análise das ações previstas e quais de fato
foram implementadas, mudando a situação real da escola.
2ª ETAPA: AÇÃONesta etapa, foi proposta a realização de um fórum de debates em torno dos
marcos definidos pela escola: Marco conceitual, Marco Situacional e Marco
Operacional e se estes correspondem à realidade da escola, buscando a
compreensão dos fatores que interferem nas implementações ali previstas.
A partir do debate, promoveram-se reflexões sobre a prática de planejamento
e sua intencionalidade a partir da análise dos Marcos de Referências do PPP,
estabelecendo necessidades primordiais, sentidas pelos educadores, em suas
práticas, como meio de se chegar à intencionalidade do projeto, analisando cada um
e discutindo sobre os fatores que impediram sua realização e sugerido proposta
para viabilização das ações. Neste momento houve uma troca de experiências entre
os docentes, que relatavam suas práticas e as possíveis aproximações com o
projeto da escola.
3° ETAPA:Avaliando o trabalho de intervenção, os professores avaliaram quais de fato
foram suas participações na elaboração do projeto e analisando o PPP da escola,
discutiram sobre as ações ali previstas e quais foram realizadas e quais necessitam
serem revistas, atendendo a realidade escolar e os limites que interpõe sua
realização.
Os professores propuseram a elaboração de um documento, apontando a
situação real da escola, definindo uma proposta de ação a cada problema levantado
com novas metas a serem alcançadas com a participação do coletivo da escola;
Nesta etapa foram apresentadas as sínteses de todas as discussões
realizadas nas etapas anteriores contendo todas as alterações sugeridas. Os
professores analisaram o PPP, suas intencionalidades enquanto projeto da escola,
expuseram suas angústias frente ao trabalho pedagógico desenvolvido, seus limites
e possibilidades de avanço e concretização das ações previstas no PPP com o
envolvimento de toda a comunidade escolar. Algumas ações foram pontuadas como
emergenciais de serem realizadas favorecendo o bom funcionamento da escola na
organização do trabalho pedagógico.
Ao final dessa fase, os professores fizeram uma autoanalise avaliando suas
participações na construção do projeto, admitindo que precisam envolver-se mais
ativamente, assumido o compromisso com o projeto da escola, numa avaliação
permanente do trabalho pedagógico desenvolvido, revendo o cotidiano escolar,
propondo metas de como pretendem atuar no seu dia a dia, de modo que as ações
implementadas se articulem, promovendo uma educação de qualidade, pensada e
planejada pelo coletivo e descrita no Projeto Político Pedagógico da escola.
Através do projeto de intervenção realizado, constatou-se inicialmente uma
lacuna entre prática pedagógica cotidiana e o PPP da instituição. O que se percebeu
de fato foi um distanciamento entre teoria e prática, uma ausência de conhecimento
do projeto da escola, de sua intencionalidade, enquanto proposta educativa, fato
este dificultador de sua implementação.
Ao final das reflexões e análises feitas, percebeu-se que no início o
desinteresse dos professores pelo estudo, com ideias já pré-concebidas sobre o
projeto da escola, porém, com a proposta de estudar profundamente o documento,
aos poucos as manifestações de interesse surgiram e outros questionamentos
levaram a posicionamentos críticos sobre o descrito na proposta. A intencionalidade
de provocar uma discussão, desestabilizar, desconstruir uma concepção e discutir
um novo rumo para a escola começou a se formar.
Questionamentos sobre a autonomia da escola, os limites dessa autonomia e
justificativas do fracasso escolar atribuído a um sistema educacional que não
favorece a melhoria da qualidade de ensino foram o cerne das discussões.
Discussões estas que favoreceram destacar a importância da real participação
destes na elaboração do Projeto Político Pedagógico, elaborado segundo a
realidade inicial da escola ao mesmo tempo em que se almeja transformá-la.
Podem-se avaliar como principais resultados obtidos a proposta de ações
levantadas pelos professores, como: buscar referencial para suas práticas, reunindo-
se para estudo, nas datas indicadas no calendário escolar, denominado como
“reunião pedagógica”, para discutirem os marcos de referências que organizam e
definem a intencionalidade da escola com o objetivo de não se perder de vista o foco
da escola e seu projeto educativo; avaliação das ações desenvolvidas, como foram
planejadas e executadas, e no que favoreceu sua execução, ou quais fatores ainda
continuam sendo inibidores de sua realização; envolvimento de todos os
professores, sensibilizando-os quanto a importância do conhecimento, seriedade e
enfrentamento em fazer com que o Projeto Político Pedagógico da escola saia do
papel tornando-se prática vivenciada cotidianamente na escola; avaliação periódica
do PPP, comparando os Marcos de Referências: Situacional e Operacional,
analisando a escola real e suas limitações vivenciadas no cotidiano e quais ações
foram propostas para mudar o quadro inicial.
Finalizando, os professores concluíram, que para se colocar em prática as
ações levantadas e para que o projeto seja realmente analisado, discutido e
vivenciado, sejam garantidos encontros previstos no calendário escolar, haja vista,
que este é o direcionador de todo o processo educativo desenvolvido pela
instituição, torna-se essencial garantir o espaço para que este não se tornasse
apenas mais um documento oficial da escola.
Dentre as propostas apresentadas como essenciais a serem estabelecidas
pelo coletivo, será relevante um planejamento da escola por meio de um conjunto de
ações, definidos em termos de metas sobre o que a escola pretende alcançar e a
duração prevista em cada uma delas e a cada encontro proceder à análise e
avaliação dessas ações e seu replanejamento, se os objetivos não forem
alcançados, partindo de questionamentos norteadores, como: Como a escola se
apresenta no momento? Quais ações são prioritárias de serem concretizadas? Que
mudanças precisaram fazer? Como podemos gerenciar essas mudanças ao longo
do tempo? Questões estas estabelecidas em um cronograma com períodos
estabelecidos para cada ação proposta com vista a garantir maior envolvimento dos
sujeitos com os objetivos da escola e consequentemente com a melhoria da
qualidade do ensino ofertado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que mesmo havendo participação no processo de elaboração do
PPP, os educadores, por vezes participam pela obrigatoriedade, não pela vontade
política de discutir e promover mudanças na escola e consequentemente em sua
prática pedagógica. Ao que tudo indica, há uma lacuna entre teoria e prática, não
havendo articulação do projeto da escola com a organização prática do trabalho.
Percebeu-se que estes se preocupam em trabalhar os conteúdos relacionados nos
anos em que atuam. Há uma preocupação em “vencer” os conteúdos e o Projeto
Político Pedagógico é visto como uma mera formalidade.Por meio do trabalho realizado, considera-se que a construção do Projeto
Político Pedagógico não se constitui em uma ação simples. Esta envolve vontade
política em mudar, em construir, a partir da escola real, a escola que se idealiza, e
isto implica em diversos enfrentamentos, gerenciamento de conflitos pessoais e
coletivos, visto que a escola também é um espaço de contradições e a garantia de
seu sucesso só se dará mediante um trabalho articulado, onde todos os
interessados comprometem-se em assumir ativamente um projeto educativo
emancipatório, buscando o fortalecimento e autonomia da escola na organização do
seu trabalho pedagógico.
Partindo do pressuposto de que o Projeto Político Pedagógico pode ser
entendido como orientador da própria organização do trabalho pedagógico
desenvolvido na escola, na sua elaboração, ele se torna um processo de discussão
e reflexão permanente dos problemas cotidianos, das propostas, da organicidade,
dos desafios e sua intencionalidade.
O trabalho pedagógico tem uma natureza coletiva, entende-se que este deve
ser pensado e produzido pela coletividade escolar, segundo a função
desempenhada por cada integrante deste processo. Isto implica em acreditar, que,
cada indivíduo, em suas tarefas específicas, converge para um mesmo alvo: o
aluno.
Nesta proposta, de análise do PPP, o importante é manter presente os
objetivos da escola e sua especificidade enquanto espaço educativo, entendendo
que, nesta especificação e significado reside a possibilidade da sua função essencial
de promover uma educação democrática e igualitária.
O Projeto Político Pedagógico quando assume a identidade da escola,
constituindo-se num processo permanente de reflexão e discussão dos problemas
vivenciados, sempre pensando e buscando estratégias viáveis à execução de sua
intencionalidade, passa concretamente a ser o organizador da vida escolar, o
articulador de toda a organização do trabalho pedagógico. É na prática exercida que
se vivencia a escola, que se faz real a intencionalidade, o comprometimento com a
vida dos sujeitos, objeto da nossa prática pedagógica.
Assim, através da prática, tomamos nossa posição e praticamos uma ação,
segundo a concepção de educação que defendemos, ou que, por não ter posição
nenhuma, simplesmente seguimos as diretrizes curriculares, sem conhecimento de
que, nossa ação enquanto educadores produzem uma ação imediata e concreta
naqueles que acreditam na veracidade do que transmitimos. Em consequência, esta
prática possui resultados pedagógicos imediatos, repercutindo na capacidade de
agir de nossos educandos, enquanto sujeitos sociais e participativos. Se a escola
visa desenvolver um projeto vinculado à sua função educativa, este deve ser
amplamente discutido e descrito no PPP, garantindo o envolvimento do colegiado
nas tomadas de decisões que garantam colaborativamente, a participação de todos
na função social e política da educação escolar.
Neste sentido é que devemos olhar o PPP como orientador de todo o
processo educativo, visando uma prática progressista, ensinando a construir uma
nova identidade social, justa e igualitária. Assim a prática pedagógica do educador
torna-se prática social, na medida em que estabelecem nos conteúdos que ensinam
a relação com o espaço histórico construído pelo conjunto da humanidade através
da transmissão e socialização da herança cultural, buscando relações com a
sociedade atual e o contexto no qual está inserida nossa escola, os alunos,
compreendendo , agindo e transformando.
Após a finalização do projeto de intervenção, conclui-se que a falta de
clareza sobre a importância do PPP como plano coletivo a ser seguido na escola
leva a não estabelecer uma vinculação entre os meios e os fins educacionais em
relação aos objetivos que se quer alcançar, sendo este um dos dificultadores do
reconhecimento e da relevância do mesmo para a conquista da autonomia da
escola, acarretando em um obstáculo na busca da qualidade do ensino almejado
pela instituição. Porém as reflexões e análises realizadas durante o desenvolvimento
da implementação oportunizou um repensar, um olhar diferente sobre a escola e sua
função social, fato este relevante para uma nova postura diante do projeto e sua
intencionalidade.
A educação e o ensino não são estáticos, são dinâmicos, movem-se
segundo a dinâmica social, portanto, exige que o PPP também seja flexível, aberto,
realimentado, sempre objetivando a melhor forma de organização da escola e,
consequentemente de promover o processo de ensino e aprendizagem dos
educandos com qualidade e responsabilidade social, mas, para tanto, observa-se
como fundamental, o reconhecimento deste como direcionador de toda a
organização do trabalho pedagógico, que só se efetivará através da participação
ativa, critica e inovadora dos professores que são os principais agentes
educacionais, capazes de, através das suas práticas promoverem um ensino de
qualidade, comprometido com a transformação social.
Não é possível intervir no desconhecido, naquilo que não tomamos como
relevante para prosseguir com nosso trabalho, porém, o trabalho realizado fica
comprometido se não tivermos um direcionamento, um propósito em realizá-lo.
Em educação, e principalmente na prática da sala de aula, o processo de
ensino e aprendizagem não pode acontecer de forma aleatória. Este precisa de um
planejamento organizado, elaborado segundo a concepção de educação que
entende. Buscar este entendimento posicionar-se frente à responsabilidade de
educar, exige muito mais do que planejamento dos conteúdos. Exige sim, um
posicionamento crítico e reflexivo sobre sua atuação como profissional da educação
que tem como função ensinar.
Portanto, a relevância da escola construir seu projeto educativo, com a
participação ativa dos educadores, visto que estes é que estão à frente de todo o
processo de aprendizagem, e que por meio de suas práticas é que darão
consistência as ações desenvolvidas tornando-as legítimas e vivenciadas segundo
as especificidades e realidade na qual a escola está inserida.
A constante avaliação do Projeto Político Pedagógico é a garantia do seu
sucesso. É essa avaliação que vai identificar os rumos que a escola vem tomando e,
considerando as diversas funções da avaliação seria interessante responder as
seguintes indagações: Em que medidas os desafios propostos no Projeto Político
Pedagógico foram atendidas? Quais foram de fato nossas participações para a
concretização das ações previstas no projeto? Quais os novos desafios que estão
surgindo no percurso? Quais ações propostas foram desenvolvidas? Quais os
impedimentos para sua efetivação? Quais os feitos práticos podem avaliar como
programados e desenvolvidos?
As indagações aqui consideradas levam a sugerir que a escola oportunize
momentos de reflexões, para que o acompanhamento possa ser realizado
periodicamente, buscando o envolvimento e comprometimento dos professores com
o Projeto Político Pedagógico da escola.
A valorização do trabalho do professor, sentir-se respeitado em sua profissão,
é o primeiro passo para que estes se envolvam com o projeto da escola. Uma
atividade torna-se significativa para um sujeito quando corresponde as suas
necessidade e possibilidade de mudanças. Portanto para que o envolvimento com
Projeto Político Pedagógico faça sentido para o professor é necessário o diálogo,
ouvi-los em sua angústias, eventuais limites das práticas e de como seu trabalho
está repercutindo nas ações da escola.
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