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    Fernando Pessoa

    RACIOCNIO Uma das regras fundamentais do raciocnio

    RACIOCNIO

    Uma das regras fundamentais do raciocnio distinguir o fundamental eo acidental em determinada teoria, distinguir a teoria essencial e a aplicaoparticular que um ou outro lhe d. Assim, se discutirmos o problema daexistncia de Deus, devemos comear por definir o que se entende por Deusnesse problema. Se se entende, como de presumir, um ente espiritual supremo,criador do mundo, ento, nesse sentido, examinaremos o problema, no omisturando com o problema acidental da existncia ou no existncia de umDeus omnipotente, ou bom, ou infinito. Este ltimo um conceito particular deDeus, no o conceito geral. concebvel um ente criador finito do mundo; concebvel um criador do mundo que no seja mau nem bom; concebvel umcriador do mundo que no seja omnipotente. Cumpre, em suma, distinguir aideia geral de Deus da ideia particular de Deus na Igreja Catlica ou qualqueroutra Igreja. Sem fazer esta distino, no estaremos examinando o problema,mas outro problema.

    Por isso o que h de fundamental em raciocnio definir os termos que sevo empregar, ou os que se vo analisar. Muitas discusses resultam frustese inteis porque, girando em torno de certo termo, cada contendor d a essetermo um sentido diferente; de modo que, julgando que esto discutindo amesma coisa, esto, ao contrrio, discutindo coisas diferentes. J tem sucedido,por este erro, estarem discordando contendores que esto de acordo, e que overificariam logo se comeassem por definir, limitar, compreender o que que,em suma, esto discutindo.

    s. d.

    Textos Filosficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por Antnio de PinaCoelho.) Lisboa: tica, 1968: 140.

    Obra Aberta 2011-02-09 05:25

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