POLÍTICA INTERNACIONAL: GLOBALIZAÇÃO E AMÉRICA LATINA
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP
Prof. Suhayla Khalil e Leandro Consentino
A partir do texto “Xadrez Internacional e a Social democracia”
(Fernando Henrique Cardoso - 2009. Paz e Terra)
Desenvolver, “um ensaio crítico sobre o processo de globalização atual e suas nuances
com relação aos processos similares ocorridos anteriormente e também a posição
ocupada pela América Latina nesses momentos internacionais distintos da História”.
Welington Pedrosa
Nem sempre foi possível usar tênis da Nike, comer um lanche do Macdonald em
uma lanchonete local ou ver um filme feito na Inglaterra; tudo enquanto vivendo aqui
no Brasil. É à força do fenômeno globalização que permitiu que tais atividades se
tornassem comum em quase todo o mundo. Fernando Henrique e Alejandro Foxley
(2009), esclarecem que:
Vivemos em mundo globalizado pelas comunicações, transporte, comércio e
finanças internacionais, e pela grande presença de empresas e organizações que
não respeitam fronteiras. (Fernando Henrique, Alejandro Foxley. 2009, p. 10).
O processo de globalização mostra-se existente por pelo menos várias centenas
de anos. Fernando Henrique (2009) nos diz que não se deve pensar, entretanto que
globalização é algo novo. E uma prova para apoiar esta repousa sobre o conhecimento
de que no fim da idade média os países europeus como Espanha, Itália, Espanha e
Portugal começaram a expandir-se e colonizar os continentes da Austrália, África,
América do Norte e América do Sul. Antes de ter início a primeira fase da globalização
(expansionismo mercantilista), os continentes encontravam-se separados por
intransponíveis extensões acidentadas de terra e de águas, de oceanos e mares, que
faziam com que a maioria dos povos e das culturas soubesse da existência uma das
outras apenas por meio de lendas e imaginários relatos de viajantes. E sucessivo a estes
acontecimentos o que seria o fenômeno da globalização como hoje é conhecido têm
suas raízes no fortalecimento do capitalismo, e este processo tem sua elucidação por
Rosangela Vieira, (2012).
Arrighi reconstrói o processo histórico das economias-mundo e retrata o ciclo
norte-americano como produto dos ciclos precedentes; e assim reafirma a ideia
de longa duração do capitalismo – tão cara a F. Braudel. Suas pesquisas
apresentam os quatro Ciclos Sistêmicos de Acumulação (CSA) de Arrighi:
Gênova – do século XV ao início do XVII; Holanda – do fim do século XVI até
grande parte do XVIII; Inglaterra – segunda metade do século XVIII e início do
XX; e Estados Unidos – do fim do século XIX até hoje. (Rosangela Vieira
2012, p.268).
Giovanni Arrighi acima nos aponta que o capitalismo nasceu em Gênova na
Itália onde o mercado dos Burgueses se desenvolveu para além do Estado. E a Holanda
consolidou essa nova forma de negócio e ainda criando a bolsa de Amsterdã e que
também se fortaleceu belicamente. E a Inglaterra conseguiu centralizar manufaturas,
comércio, poder bélico e financeiro, todo num mesmo estado criando essa nova forma e
potência do capitalismo inventando de acordo com Hobsbawn1 o que chamamos
de globalização sendo modelo para as demais nações. Após a queda da bolsa de 29 e
termino da segunda guerra em 1945 os EUA assumem o papel antes do Reino Unido
como sendo o Hegemon do capitalismo.
E atualmente as principais características da globalização são o declínio do
Estado-Nação e a reestruturação do sistema interestatal para fazer frente à crise da
economia-mundo capitalista na era contemporânea. O declínio do Estado-Nação está
configurado na perda de sua capacidade de constituir uma economia nacional confinada
territorialmente e em tê-la sob seu controle. Desde a Segunda Guerra Mundial, mas
especialmente desde a década de 1960, o papel das economias nacionais tem sido
corroído ou mesmo colocado em questão pelas principais transformações na divisão
internacional do trabalho, cujas unidades básicas são organizações de todos os
tamanhos, multinacionais e transnacionais, e pelo desenvolvimento correspondente dos
centros internacionais e redes de transações econômicas que estão, para fins práticos,
fora do controle do governo do Estados. Onde o global tenta “engolir” o local.
1 Citado no livro do Prof. Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy Globalização, Neoliberalismo e Direito noBrasil, p. 35 sobre a obra Balanço do Neoliberalismo, in Emir Sader(org.), Pós-Neoliberalismo, As Políticas Sociais e o Estado Democrático.
E neste contexto globalizado os países da América Latina sempre viveram sob a
influência e o impacto da economia e política internacionais, primeiro, como parte dos
impérios coloniais ibéricos, depois, no século XIX, sob a influência britânica e,
finalmente, no século XX, sob a égide dos Estados Unidos. Tal égide Americana a qual
Oswaldo Aranha, um dos líderes brasileiros que mais havia se distinguido na
formulação da política de aliança com os EUA, critica a falta de cooperação norte-
americana ao desenvolvimento da América Latina.
O período de fim dos anos 80 e toda a década de 90 correspondem ao ponto alto
das privatizações das empresas estatais na América Latina. Ao que se pôde perceber,
com o esgotamento dos ativos do Estado latino-americano e a ocorrência de crises
financeiras, o ânimo do investidor estrangeiro para remeter divisas diminuiu
sensivelmente. Neste período há também o aprofundamento da dependência do
financiamento externo para o investimento interno bruto no Estado latino-americano.
Dá-se a transição de um modelo de "tutela capitalista", comum aos anos de Guerra Fria,
para a competitiva economia globalizada da década de 90. Esta década inaugura mostra
que apesar das melhorias na distribuição da riqueza na América Latina, ao longo dos
últimos anos, a desigualdade social continua elevada, com a maioria dos países a
ostentar baixos índices nestas áreas. A globalização sugeriria uma intensificação do
processo de integração da América Latina. Entretanto, embora a década de 90 tenha se
caracterizado por uma intensa atividade na área de negociações comerciais intra-
regionais; acordos de integração e processos de liberalização preferenciais preexistentes
adquiriram um renovado dinamismo; além disso, as uniões aduaneiras e os mercados
comuns adquirirem prioridade.
Ainda temos na América Latina as agendas de interesses comerciais não
convergentes, isto é, há uma clara segmentação das estratégias de inserção internacional
vigentes na América Latina. Percebe-se a inserção da América Latina no processo de
globalização, mas há a necessidade de uma nova política inovadora, que acompanhe
com maior dinamismo a evolução da globalização e busque seus resultados dentro de
todo esse processo, encontrando o caminho entre o que é social e politicamente
executável, em cada contexto dos países, para que a promoção das condições
econômicas, culturais e organizacionais seja em uma realidade para a América Latina.
Referências bibliográficas:
CARDOSO, Fernando H, FOXLEY, Alejandro. América Latina, desafios da
democracia e do desenvolvimento. CAMPUS. Rio de Janeiro. 2009. p. 10
CARDOSO, Fernando H. Xadrez Internacional e Social-Democracia. Ed. D.
Quixote. Lisboa. 2012. P. 36.
VIEIRA, Pedro A, FILOMENO, Felipe A. O Brasil e o Capitalismo Histórico.In:
VIEIRA, Rosangela, L (org.). A cadeia mercantil do café produzido no Brasil entre
1830 e 1929.. Ed. Cultura Acadêmica. São Paulo. 2012. p. 268.
GODOY. Arnaldo F. Globalização, neoliberalismo e Direito no Brasil. 2014.
Disponível em: http://www.arnaldogodoy.adv.br/publica/GND.htm