A RELAÇÃO ENTRE O DIREITO INTERNO E O DIREITO INTERNACIONAL
Há duas teorias principais que buscam explicar a relação entre o direito
interno e o direito internacional. São elas: a teoria monista e a teoria dualista.
A teoria monista trabalha com a ideia de uma única esfera ou plano
jurídico. Assim, o ordenamento jurídico interno e o internacional se situariam no
mesmo plano. Por outro lado, há a teoria dualista, que, como o próprio nome
sugere, utiliza-se do conceito de dois planos ou esferas distintas. Assim, o
direito interno e o internacional estariam situados em planos distintos. Destarte,
essas teorias se desdobram em duas outras: a que prega a superioridade do
direito internacional em relação ao direito nacional e outra que prega a
superioridade do direito nacional em relação ao direito internacional.
A RECEPÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO INTERNO
Há quatro possibilidades de recepção dos tratados internacionais ao direito
interno. São as seguintes:
a) Legal: as normas dispostas nos tratados constitucionais se
situariam no mesmo nível das leis ordinárias
b) Supraconstitucional: as normas contidas nos tratados internacionais
estariam acima da própria Constituição nacional
c) Constitucional: as normas dos tratados e as normas constitucionais
estariam no topo do ordenamento jurídico
Universidade Federal do ParanáFaculdade de DireitoDireito Internacional PúblicoProfª. Drª. Danielle AnnoniPesquisa OrientadaJefferson Alex Pereira
d) Supralegal: as normas dos tratados constitucionais estariam abaixo
das normas constitucionais, entretanto acima das leis ordinárias
Quanto à recepção dos tratados internacionais, o Brasil assumiu
posições distintas ao longo do tempo. No período anterior à Constituição
Federal de 1988, os tratados eram recepcionados através dos decretos-lei,
adquirindo assim status de lei ordinária. Posteriormente, com a promulgação da
Constituição Federal de 1988, ela trouxe um rol de direitos e garantias
fundamentais. A própria Constituição definiu que os direitos e garantias
fundamentais não se limitavam aos descritos, podendo ser admitidos de outros
lugares, inclusive dos tratados internacionais. Assim, como os tratados de
Direitos Humanos versam, basicamente, sobre direitos e garantias
fundamentais, se fossem recepcionados pelo direito nacional brasileiro, eles
adquiririam status constitucional.
Com a aprovação Pacto de San José da Costa Rica, uma controvérsia
se instalou no Brasil. Tal tratado internacional proibia a prisão do depositário
infiel. Entretanto, a Constituição brasileira, em seu artigo quinto, inciso
sessenta e sete definiu o seguinte: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a
do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel”. Logo, havia um conflito entre a norma
internacional e a norma constitucional. Os tribunais brasileiros sentenciaram
das mais diversas formas.
Para solucionar tal problema, criou-se a Emenda Constitucional 45, de
2004. Esta Emenda Constitucional adiciona um terceiro parágrafo ao artigo 5º
da Constituição. Então, estabelece a Constituição federal que os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às Emendas Constitucionais.
Portanto, os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados de acordo com o rito estabelecido para a
aprovação das emendas à Constituição (três quintos dos membros das casas
do Congresso nacional, em dois turnos de votação) passarão a gozar de status
constitucional, situando-se no mesmo plano hierárquico das demais normas
constitucionais. Significa dizer que seus termos deverão ser respeitados por
toda a legislação infraconstitucional superveniente, sob pena de
inconstitucionalidade, além disso, somente poderão ser modificados segundo o
procedimento legislativo rígido antes mencionado.
É possível observar o tratamento diferenciado que é dispensado aos
tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos. Em 2008, uma
importante e histórica decisão do Supremo Tribunal Federal (tese vencedora do
Ministro Gilmar Mendes), atribuiu status supralegal para os tratados de Direitos
Humanos não aprovados com o quórum qualificado previsto no artigo 5º, no
parágrafo 3º da Constituição brasileira. Consoante, a doutrina majoritária
reconhece que os tratados de Direitos humanos têm um caráter supralegal.
Os demais tratados brasileiros, contudo, possuem a mesma hierarquia de
lei ordinária, com exceção dos tratados referentes ao Direito Tributário, que
também possuem um caráter supralegal, por força e disposição do próprio
CTN.
OS ESTADOS DO MERCOSUL E A RECEPÇÃO DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS
O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) constitui a etapa mais
importante dos esforços de integração da América Latina no decorrer dos
tempos, objetivando a união dos países da região.
O MERCOSUL tem demonstrado ser um elemento essencial para o
fortalecimento do projeto democrático em uma região historicamente fustigada
por regimes autoritários implantados através de golpes de Estado. O processo
de integração constitui um instrumento central para o desenvolvimento nacional
e regional e para uma maior e mais sólida inserção dos Estados membros no
cenário mundial.
Ainda no âmbito do MERCOSUL político se destaca, especialmente, a
importância da cláusula democrática, institucionalizada pelo Protocolo de
Ushuaia sobre o Compromisso Democrático no MERCOSUL (1998), cujo artigo
1º afirma: “A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial
para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados
Membros do presente Protocolo”.
O MERCOSUL se transformou desta forma, em garantia relevante da
consolidação dos regimes democráticos em nossa região.
O Paraguai Prevê a incorporação dos Tratados Internacionais no art.
141, sendo a hierarquia definida pelo artigo 137. Para a integração de um
tratado no ordenamento é preciso o quórum da maioria absoluta do Congresso
em cada câmara. Pela Constituição, entendese que ela está acima dos acordos
internacionais ratificados e aprovados, sendo que esses estão acima de leis
nacionais. Além disso, pelo artigo 145 outorga supranacionalidade ao
ordenamento jurídico internacional, ainda que condicione ao Congresso.
A legislação uruguaia mais confusa quanto a subordinação a uma
ordem jurídica internacionais e a hierarquia constitucionais dos tratados.
Apesar disso, no artigo 6 prevê a solução de conflitos sobre Tratados por
arbitragem ou outros meios pacíficos, e também o controle de
constitucionalidade pela Suprema Corte (art. 239, inciso I). Entretanto, pelo
artigo 6º compreendese o pouco espaço para a direta aplicação de tratados no
âmbito uruguaio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os tratados internacionais são recepcionados de diversas formas. No
ordenamento jurídico brasileiro destaca-se o tratamento especial conferido aos
tratados que versam sobre Direitos Humanos. Isso se deve muito ao período
ditatorial que o Brasil atravessou, no qual os direitos e garantias fundamentais
foram amplamente tolhidos. Destarte, a Constituição Federal visa garantir uma
série de direitos e garantias fundamentais próprios do regime democrático,
possibilitando ampliá-los sempre que possível.
O Mercosul, que iniciou-se como um bloco de cooperação econômica,
atualmente possui uma função mais ampla, que abrange os aspectos sociais e
políticos, como a cláusula democrática que prevê a defesa da democracia e
suas instituições. Entretanto, as diversas posições em relação a recepção das
normas internacionais e a falta de uma corte própria do bloco causam certa
insegurança jurídica nas relações comerciais efetuadas na região, pois os
tribunais dos Estados-membros possuem entendimento diverso acerca das
normas contidas nos tratados internacionais.