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Universidade Federal do Paraná Faculdade de Direito Direito Internacional Público Profª. Drª. Danielle Annoni Pesquisa Orientada Jefferson Alex Pereira A RELAÇÃO ENTRE O DIREITO INTERNO E O DIREITO INTERNACIONAL Há duas teorias principais que buscam explicar a relação entre o direito interno e o direito internacional. São elas: a teoria monista e a teoria dualista. A teoria monista trabalha com a ideia de uma única esfera ou plano jurídico. Assim, o ordenamento jurídico interno e o internacional se situariam no mesmo plano. Por outro lado, há a teoria dualista, que, como o próprio nome sugere, utiliza-se do conceito de dois planos ou esferas distintas. Assim, o direito interno e o internacional estariam situados em planos distintos. Destarte, essas teorias se desdobram em duas outras: a que prega a superioridade do direito internacional em relação ao direito nacional e outra que prega a superioridade do direito nacional em relação ao direito internacional.

Trabalho DIP

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Direito Internacional.

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A RELAÇÃO ENTRE O DIREITO INTERNO E O DIREITO INTERNACIONAL

Há duas teorias principais que buscam explicar a relação entre o direito

interno e o direito internacional. São elas: a teoria monista e a teoria dualista.

A teoria monista trabalha com a ideia de uma única esfera ou plano

jurídico. Assim, o ordenamento jurídico interno e o internacional se situariam no

mesmo plano. Por outro lado, há a teoria dualista, que, como o próprio nome

sugere, utiliza-se do conceito de dois planos ou esferas distintas. Assim, o

direito interno e o internacional estariam situados em planos distintos. Destarte,

essas teorias se desdobram em duas outras: a que prega a superioridade do

direito internacional em relação ao direito nacional e outra que prega a

superioridade do direito nacional em relação ao direito internacional.

A RECEPÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO ORDENAMENTO

JURÍDICO INTERNO

Há quatro possibilidades de recepção dos tratados internacionais ao direito

interno. São as seguintes:

a) Legal: as normas dispostas nos tratados constitucionais se

situariam no mesmo nível das leis ordinárias

b) Supraconstitucional: as normas contidas nos tratados internacionais

estariam acima da própria Constituição nacional

c) Constitucional: as normas dos tratados e as normas constitucionais

estariam no topo do ordenamento jurídico

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d) Supralegal: as normas dos tratados constitucionais estariam abaixo

das normas constitucionais, entretanto acima das leis ordinárias

Quanto à recepção dos tratados internacionais, o Brasil assumiu

posições distintas ao longo do tempo. No período anterior à Constituição

Federal de 1988, os tratados eram recepcionados através dos decretos-lei,

adquirindo assim status de lei ordinária. Posteriormente, com a promulgação da

Constituição Federal de 1988, ela trouxe um rol de direitos e garantias

fundamentais. A própria Constituição definiu que os direitos e garantias

fundamentais não se limitavam aos descritos, podendo ser admitidos de outros

lugares, inclusive dos tratados internacionais. Assim, como os tratados de

Direitos Humanos versam, basicamente, sobre direitos e garantias

fundamentais, se fossem recepcionados pelo direito nacional brasileiro, eles

adquiririam status constitucional.

Com a aprovação Pacto de San José da Costa Rica, uma controvérsia

se instalou no Brasil. Tal tratado internacional proibia a prisão do depositário

infiel. Entretanto, a Constituição brasileira, em seu artigo quinto, inciso

sessenta e sete definiu o seguinte: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a

do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação

alimentícia e a do depositário infiel”. Logo, havia um conflito entre a norma

internacional e a norma constitucional. Os tribunais brasileiros sentenciaram

das mais diversas formas.

Para solucionar tal problema, criou-se a Emenda Constitucional 45, de

2004. Esta Emenda Constitucional adiciona um terceiro parágrafo ao artigo 5º

da Constituição. Então, estabelece a Constituição federal que os tratados e

convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em

cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos

dos respectivos membros, serão equivalentes às Emendas Constitucionais.

Portanto, os tratados e convenções internacionais sobre direitos

humanos que forem aprovados de acordo com o rito estabelecido para a

aprovação das emendas à Constituição (três quintos dos membros das casas

do Congresso nacional, em dois turnos de votação) passarão a gozar de status

constitucional, situando-se no mesmo plano hierárquico das demais normas

constitucionais. Significa dizer que seus termos deverão ser respeitados por

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toda a legislação infraconstitucional superveniente, sob pena de

inconstitucionalidade, além disso, somente poderão ser modificados segundo o

procedimento legislativo rígido antes mencionado.

É possível observar o tratamento diferenciado que é dispensado aos

tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos. Em 2008, uma

importante e histórica decisão do Supremo Tribunal Federal (tese vencedora do

Ministro Gilmar Mendes), atribuiu status supralegal para os tratados de Direitos

Humanos não aprovados com o quórum qualificado previsto no artigo 5º, no

parágrafo 3º da Constituição brasileira. Consoante, a doutrina majoritária

reconhece que os tratados de Direitos humanos têm um caráter supralegal.

Os demais tratados brasileiros, contudo, possuem a mesma hierarquia de

lei ordinária, com exceção dos tratados referentes ao Direito Tributário, que

também possuem um caráter supralegal, por força e disposição do próprio

CTN.

OS ESTADOS DO MERCOSUL E A RECEPÇÃO DOS TRATADOS

INTERNACIONAIS

O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) constitui a etapa mais

importante dos esforços de integração da América Latina no decorrer dos

tempos, objetivando a união dos países da região.

O MERCOSUL tem demonstrado ser um elemento essencial para o

fortalecimento do projeto democrático em uma região historicamente fustigada

por regimes autoritários implantados através de golpes de Estado. O processo

de integração constitui um instrumento central para o desenvolvimento nacional

e regional e para uma maior e mais sólida inserção dos Estados membros no

cenário mundial.

Ainda no âmbito do MERCOSUL político se destaca, especialmente, a

importância da cláusula democrática, institucionalizada pelo Protocolo de

Ushuaia sobre o Compromisso Democrático no MERCOSUL (1998), cujo artigo

1º afirma: “A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial

para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados

Membros do presente Protocolo”.

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O MERCOSUL se transformou desta forma, em garantia relevante da

consolidação dos regimes democráticos em nossa região.

O Paraguai Prevê a incorporação dos Tratados Internacionais no art.

141, sendo a hierarquia definida pelo artigo 137. Para a integração de um

tratado no ordenamento é preciso o quórum da maioria absoluta do Congresso

em cada câmara. Pela Constituição, entendese que ela está acima dos acordos

internacionais ratificados e aprovados, sendo que esses estão acima de leis

nacionais. Além disso, pelo artigo 145 outorga supranacionalidade ao

ordenamento jurídico internacional, ainda que condicione ao Congresso.

A legislação uruguaia mais confusa quanto a subordinação a uma

ordem jurídica internacionais e a hierarquia constitucionais dos tratados.

Apesar disso, no artigo 6 prevê a solução de conflitos sobre Tratados por

arbitragem ou outros meios pacíficos, e também o controle de

constitucionalidade pela Suprema Corte (art. 239, inciso I). Entretanto, pelo

artigo 6º compreendese o pouco espaço para a direta aplicação de tratados no

âmbito uruguaio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os tratados internacionais são recepcionados de diversas formas. No

ordenamento jurídico brasileiro destaca-se o tratamento especial conferido aos

tratados que versam sobre Direitos Humanos. Isso se deve muito ao período

ditatorial que o Brasil atravessou, no qual os direitos e garantias fundamentais

foram amplamente tolhidos. Destarte, a Constituição Federal visa garantir uma

série de direitos e garantias fundamentais próprios do regime democrático,

possibilitando ampliá-los sempre que possível.

O Mercosul, que iniciou-se como um bloco de cooperação econômica,

atualmente possui uma função mais ampla, que abrange os aspectos sociais e

políticos, como a cláusula democrática que prevê a defesa da democracia e

suas instituições. Entretanto, as diversas posições em relação a recepção das

normas internacionais e a falta de uma corte própria do bloco causam certa

insegurança jurídica nas relações comerciais efetuadas na região, pois os

tribunais dos Estados-membros possuem entendimento diverso acerca das

normas contidas nos tratados internacionais.