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Brasil Leirinho : Tradutor inteligente Baixe Já na PlayStore: <https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.luisfred.brasilleirinho&hl=pt_BR> Teoria da Contabilidade: a questão da internacionalização dos padrões contábeis Escrito por: Thomás Freud de Morais Gonçalves GENERALIDADES Muito se discute atualmente a respeito das mudanças na teoria da contabilidade e se ela de fato está acompanhando as evoluções atuais da ciência contábil. De fato, considerando que a prática contábil jamais poder fugir à teoria, uma vez que sua função, métodos e procedimentos sejam regulados legalmente, não poderia, nessas circunstâncias, cogitar procedimentos contábeis diferentes das normas. No entanto, em verdade, por ser uma ciência social, a contabilidade, pelo menos na prática, incorpora novos procedimentos, evoluindo de acordo com as necessidades dos mercados; por sua vez, tais procedimentos precisam ser incorporados pela teoria contábil. Muito em evidência está também a questão das mudanças radicais que a contabilidade sofreu nos últimos anos, assim como no processo de internacionalização de procedimentos contábeis. Em verdade, no Brasil, a partir de 2007, com a entrada em vigor da lei nº 11.638/07 os procedimentos contábeis – tal como eram praticados – sofreram mudanças consideráveis. É claro que isso não significa que esses procedimentos incorporados em nossa contabilidade sejam de todo novos, pelo contrário, muitos deles há muito já eram praticados em outros países. Todavia pode-se afirmar que, em se tratando de técnicas de contabilidade, as que realmente sofreram radicais influências foram aquelas referentes aos procedimentos de auditoria externa. Tal se deu por conta, sobretudo, dos escândalos de corrupção protagonizados pela empresa americana do setor de energia: Enron. Essa empresa praticou fraudes contábeis, mascarando prejuízos enquanto publicava balanços com resultados positivos. Entretanto, a companhia não agiu só, pois teve ajuda da firma de auditoria Arthur Andersen na ocultação das fraudes. Quando a Enron faliu, milhões de pessoas perderam seus empregos e o mercado financeiro americano sofreu forte abalo, sobretudo em sua credibilidade e confiabilidade. Diante disso, o governo americano percebeu as fragilidades de suas normas de contabilidade pública (auditoria). Com isso, visando melhorar a confiabilidade das demonstrações contábeis auditadas – como tentativa de devolver a credibilidade às empresas do mercado de capitais e ao mercado como um todo – foi promulgada nos Estados Unidos a Lei Sarbanes-Oxley, no ano de 2002. Essa lei praticamente reescreveu os padrões de governança corporativa para as empresas americanas influenciando diretamente os mercados internacionais, criando também a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. Em decorrência disso, ocorreram profundas mudanças nos procedimentos de auditoria externas e em menor escala – pelo menos nos Estados Unidos – nos padrões de contabilidade de uma forma geral. Brasil Leirinho : Tradutor inteligente Baixe Já na PlayStore: <https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.luisfred.brasilleirinho&hl=pt_BR>

Teoria da Contabilidade: a questão da internacionalização dos padrões contábeis

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Teoria da Contabilidade: a questão da internacionalização dos padrões contábeis

Escrito por: Thomás Freud de Morais Gonçalves

GENERALIDADES

Muito se discute atualmente a respeito das mudanças na teoria da contabilidade e se ela de fato está acompanhando as evoluções atuais da ciência contábil. De fato, considerando que a prática contábil jamais poder fugir à teoria, uma vez que sua função, métodos e procedimentos sejam regulados legalmente, não poderia, nessas circunstâncias, cogitar procedimentos contábeis diferentes das normas.

No entanto, em verdade, por ser uma ciência social, a contabilidade, pelo menos na prática, incorpora novos procedimentos, evoluindo de acordo com as necessidades dos mercados; por sua vez, tais procedimentos precisam ser incorporados pela teoria contábil.

Muito em evidência está também a questão das mudanças radicais que a contabilidade sofreu nos últimos anos, assim como no processo de internacionalização de procedimentos contábeis. Em verdade, no Brasil, a partir de 2007, com a entrada em vigor da lei nº 11.638/07 os procedimentos contábeis – tal como eram praticados – sofreram mudanças consideráveis. É claro que isso não significa que esses procedimentos incorporados em nossa contabilidade sejam de todo novos, pelo contrário, muitos deles há muito já eram praticados em outros países.

Todavia pode-se afirmar que, em se tratando de técnicas de contabilidade, as que realmente sofreram radicais influências foram aquelas referentes aos procedimentos de auditoria externa. Tal se deu por conta, sobretudo, dos escândalos de corrupção protagonizados pela empresa americana do setor de energia: Enron. Essa empresa praticou fraudes contábeis, mascarando prejuízos enquanto publicava balanços com resultados positivos. Entretanto, a companhia não agiu só, pois teve ajuda da firma de auditoria Arthur Andersen na ocultação das fraudes.

Quando a Enron faliu, milhões de pessoas perderam seus empregos e o mercado financeiro americano sofreu forte abalo, sobretudo em sua credibilidade e confiabilidade. Diante disso, o governo americano percebeu as fragilidades de suas normas de contabilidade pública (auditoria). Com isso, visando melhorar a confiabilidade das demonstrações contábeis auditadas – como tentativa de devolver a credibilidade às empresas do mercado de capitais e ao mercado como um todo – foi promulgada nos Estados Unidos a Lei Sarbanes-Oxley, no ano de 2002.

Essa lei praticamente reescreveu os padrões de governança corporativa para as empresas americanas influenciando diretamente os mercados internacionais, criando também a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. Em decorrência disso, ocorreram profundas mudanças nos procedimentos de auditoria externas e em menor escala – pelo menos nos Estados Unidos – nos padrões de contabilidade de uma forma geral.

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CONTABILIDADE INTERNACIONAL E O BRASIL

Para o Brasil que sempre praticou uma contabilidade essencialmente fiscal, os benefícios decorrentes dessas mudanças contábeis são deveras inegáveis. Em verdade, os acadêmicos e profissionais de contabilidade brasileiros ainda não elaboraram uma abordagem contábil voltada essencialmente para a realidade do país, no que tange a tomada de decisão1. O fato é que o Estado brasileiro e sua sede insaciável de arrecadação inibe o desenvolvimento de técnicas contábeis que realmente auxiliem a tomada de decisão dentro de contextos específicos, até mesmo o processo de internacionalização das normas é comprometido, pois o Fisco não admite que se utilize critérios contábeis que possam afetar a arrecadação.

Um exemplo disso é o tratamento que a contabilidade fiscal aplica à depreciação. É sabido que aquelas taxas, a depender do contexto em que opera a organização, não refletem a realidade operacional da entidade. Ainda assim, o fisco não permite que seja feita a depreciação conforme o desgaste real dos equipamentos de modo que ele aceita apenas sua “receita de bolo”.

A teoria da contabilidade deveria fundar-se sobre um olhar crítico da realidade de cada economia, não com o objetivo de criar uma contabilidade exclusiva, mas sim uma contabilidade que possa de fato suportar a tomada de decisão com o máximo de eficiência e efetividade. É verdade que a adoção das normas internacionais – mesmo que custe ao empreendedor o trabalho de fazer duas contabilidades ( uma para o usuário e outra para o fisco) – representa um grade avanço no modo de fazer contabilidade.

Outro ponto que cabe reflexão é a questão da incorporação acrítica dos procedimentos contábeis sob a justificativa da internacionalização dos padrões contábeis. Talvez não seja de todo benéfico para o país simplesmente copiar o modelo internacional sem observar a realidade brasileira e suas peculiaridades. Apesar do trabalho que tem sido feito pelo CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis, fundado com o objetivo de “adaptar” as normas internacionais a realidade brasileira, quando fazemos uma comparação básica entre os pronunciamento do CPC e as IFRS – International Financial Reporting Standard, percebemos que o trabalho do CPC está mais para uma tradução e revisão técnica dessas IFRS do que uma adaptação de procedimentos.

1 Antonio Lopes de Sá ainda ensaiou isso com sua abordagem ao que ele denominou de neopatrimonialismo, entretanto, basta uma analise pouco mais detida em sua proposta e podemos observar que na verdade ela não traz nada de novo, a não ser uma outra roupagem à abordagem patrimonialista.

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