9
1 www.raizeditora.pt História nove Doc. 1 O crash da Bolsa de Nova Iorque Nesta fotografia, obtida no dia 24 de outubro de 1929, uma quinta-feira (que ficou conhecida como Quinta-Feira Negra), uma grande multidão ansiosa acumulava-se no exterior da Bolsa de Nova Iorque (New York Stock Exchange), o icónico edifício de Wall Street. A multidão, que pretendia entrar na Bolsa, fora-se juntando desde as primeiras horas desse dia e, à medida que o tempo passava, foi-se instalando o pânico entre os milhares de acionistas que tinham acorrido a Wall Street à procura de informação. Realmente já na véspera o valor das ações tinha começado a cair e as ordens de venda eram muito superiores às de compra. Na quinta-feira, dia 24, mais pessoas (tanto pequenos como grandes acionistas) voltaram a tentar vender, enquanto era tempo, as suas ações e o resultado não se fez esperar, com uma descida rápida do respetivo valor. Foi o crash (quebra, queda, colapso) da bolsa de Nova Iorque. Tratava-se do culminar de um processo que tinha muito de especulativo. À I Guerra Mundial tinha-se seguido nos EUA um período de prosperidade que nada parecia deter. O valor das ações das empresas em bolsa cresceu rapidamente (quadruplicou em poucos anos) e o negócio bolsista, até aí quase exclusivo de financeiros e industriais, começou a interessar também a pequenos acionistas que viam uma oportunidade de lucro rápido. Milhões de americanos passaram, assim, a investir na Bolsa, recorrendo, por vezes, a empréstimos bancários. A queda brusca do valor das ações era, para todos eles, uma notícia dramática. Para a exploração da fotografia na sala de aula, os alunos podem não só ser convidados a descrever o que observam na imagem como a responder a questões como estas: 1. Como se explica que, em 1929, tanta gente se interessasse pelo que se passava na Bolsa de Valores? 2. Essas pessoas tinham razão para se sentirem preocupadas a 24 de outubro de 1929? A GRANDE DEPRESSÃO DOS ANOS 30 Documentos iconográficos comentados

14outanexo2historianove

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 14outanexo2historianove

1

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 1 O crash da Bolsa de Nova Iorque

Nesta fotografia, obtida no dia 24 de outubro de 1929, uma quinta-feira (que ficou conhecida como Quinta-Feira Negra), uma grande multidão ansiosa acumulava-se no exterior da Bolsa de Nova Iorque (New York Stock Exchange), o icónico edifício de Wall Street.

A multidão, que pretendia entrar na Bolsa, fora-se juntando desde as primeiras horas desse dia e, à medida que o tempo passava, foi-se instalando o pânico entre os milhares de acionistas que tinham acorrido a Wall Street à procura de informação. Realmente já na véspera o valor das ações tinha começado a cair e as ordens de venda eram muito superiores às de compra. Na quinta-feira, dia 24, mais pessoas (tanto pequenos como grandes

acionistas) voltaram a tentar vender, enquanto era tempo, as suas ações e o resultado não se fez esperar, com uma descida rápida do respetivo valor. Foi o crash (quebra, queda, colapso) da bolsa de Nova Iorque.

Tratava-se do culminar de um processo que tinha muito de especulativo. À I Guerra Mundial tinha-se seguido nos EUA um período de prosperidade que nada parecia deter. O valor das ações das empresas em bolsa cresceu rapidamente (quadruplicou em poucos anos) e o negócio bolsista, até aí quase exclusivo de financeiros e industriais, começou a interessar também a pequenos acionistas que viam uma oportunidade de lucro rápido. Milhões de americanos passaram, assim, a investir na Bolsa, recorrendo, por vezes, a empréstimos bancários. A queda brusca do valor das ações era, para todos eles, uma notícia dramática.

Para a exploração da fotografia na sala de aula, os alunos podem não só ser convidados a

descrever o que observam na imagem como a responder a questões como estas:

1. Como se explica que, em 1929, tanta gente se interessasse pelo que se passava na Bolsa de Valores?

2. Essas pessoas tinham razão para se sentirem preocupadas a 24 de outubro de 1929?

A GRANDE DEPRESSÃO DOS ANOS 30

Documentos iconográficos comentados

Page 2: 14outanexo2historianove

2

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 2 A corrida aos bancos nos EUA (1929-1930)

Esta fotografia de 1930 documenta uma das

mais graves consequências do crash da

Bolsa de Nova Iorque, em 1929: a «corrida

aos bancos». Milhares ou mesmo milhões de

americanos, arruinados com os negócios da

Bolsa, dirigiram-se aos bancos para tentarem

levantar aquilo que lá tinham depositado. As

primeiras vítimas foram os bancos mais

pequenos que, sem os depósitos dos

clientes, acabaram por ir à falência, o que

aconteceu com centenas deles no final do

ano de 1929 e início de 1930.

Os bancos maiores pareciam estar a salvo

dessa catástrofe. Mas ver-se-ia que não era

assim. No final do ano de 1930, começou a correr o boato de que um grande banco de Nova Iorque, o

Bank of United States (apesar do nome era apenas um banco comercial como os outros) deixara de

satisfazer os seus compromissos. Milhares de clientes assustados, como a fotografia testemunha,

dirigiram-se para a sede do banco, para tentarem levantar os seus depósitos. Segundo os jornais, só na

manhã de 10 de dezembro de 1930, 20 a 25 mil pessoas, que tiveram de ser controladas pela polícia,

procuraram ser atendidas para levantarem o seu dinheiro. Poucos dias depois o Bank of United States

foi à falência.

Perguntas possíveis:

1. Será normal que um tão grande número de pessoas acorra a uma agência bancária? Em que

circunstâncias poderá isso acontecer?

2. Será que em 1930 os clientes dos bancos (como os que a fotografia documenta) tinham motivos para

estar receosos com o que podia acontecer?

Page 3: 14outanexo2historianove

3

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 3 O desemprego incontrolado

Fotografia mostrando uma fila de desempregados que procuram ser atendidos no centro de emprego de

uma cidade americana.

A depressão iniciada com o crash de 1929 provocou um enorme desemprego nos Estados Unidos e

mais tarde também na Europa. De facto, a falência de bancos e de muitas empresas agrícolas e

industriais, que não conseguiam vender os seus produtos, lançou no desemprego um número sempre

crescente de trabalhadores. Nos EUA a taxa de desemprego chegou a atingir os 25% (um em cada

quatro trabalhadores estava no desemprego).

Perguntas possíveis:

1. Como explicas a existência de tantos desempregados nos EUA, como a imagem testemunha na data

a que diz respeito?

2. As pessoas que, na fotografia, procuram emprego pertencem todas ao mesmo grupo social? Como é

possível sabê-lo? Qual é o significado dessa situação?

3. O letreiro afixado na janela do edifício de esquina pode ser considerado também um sinal da crise?

Page 4: 14outanexo2historianove

4

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 4 Família de migrantes em busca de trabalho

A câmara de Dorothea Lange

(1895-1965) registou um número

impressionante de testemunhos

fotográficos da Grande Depressão

nos Estados Unidos. Logo a partir

de 1929, ela fotografa os grandes

movimentos sociais – as

manifestações, as greves, a corrida

aos bancos, as longas filas de

desempregados em busca de

trabalho ou de uma sopa.

A crise financeira «contagiou» a

economia, incluindo a agricultura: a

procura de produtos agrícolas

diminuiu, os preços baixavam

continuamente, os excedentes

acumulavam-se e apodreciam,

muitos agricultores ficavam na ruína. No apogeu da crise, entre 1936 e 1939, ao serviço da Farm Security

Administration, um organismo do Governo Federal que procurava resolver os graves problemas da

agricultura, Dorothea Lange percorreu boa parte dos Estados americanos. A sua extraordinária

sensibilidade para os dramas humanos revela-se em centenas de imagens que mostram um povo

desesperado, que vagueia em velhos automóveis em busca de trabalho, como é o caso desta família,

fotografada no Novo México e que lembra a família de Tom Joad, o principal personagem do romance

As vinhas da ira, de John Steinbeck, publicado em 1939.

Perguntas possíveis:

1. O que teria levado esta família a viajar pelas estradas dos Estados Unidos e a tornar-se «migrante»?

2. Que aspetos da imagem revelam a pobreza desta família?

3. A fotografia consegue também exprimir desolação e tristeza. Porquê?

Page 5: 14outanexo2historianove

5

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 5 Migrant mother: o rosto da crise

Esta é, seguramente, uma das mais reproduzidas e das mais célebres imagens da história da fotografia.

É um trabalho dos anos 30 do século XX da grande fotógrafa norte-americana Dorothea Lange (ver texto

a propósito no documento 4), que o intitulou Migrant mother (Mãe migrante). Mais do que falarmos de

uma fotografia, deveríamos, aliás, falar de uma série de fotografias, uma vez que Dorothea Lange fez

várias imagens, todas notáveis, umas mais conhecidas do que outras, desta mesma «mãe migrante» e

a que deu o mesmo título.

Como no caso do documento 4, a fotógrafa retrata aqui o drama dos agricultores americanos que,

arruinados pela Grande Depressão, marcham para a costa oeste dos EUA em busca de melhor vida.

Nesta imagem, a artista conseguiu resumir esse quotidiano dramático através do retrato de uma mulher

ainda jovem (mas com o rosto marcado pelas dificuldades) que ampara firmemente os seus filhos. Mas,

apesar do ambiente de miséria, o que talvez mais impressione na fotografia é o olhar triste mas

desafiador da mulher (que sabemos chamar-se Florence Owens Thompson), numa demonstração de

coragem e de força capaz de ultrapassar um momento de grande adversidade.

Perguntas possíveis:

1. Concordas com o título «o rosto da crise»? Porquê?

2. O que te impressiona mais nesta fotografia?

Page 6: 14outanexo2historianove

6

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 6 O alastramento da crise

Cartaz francês dos anos 30. Nos Estados Unidos a crise instalara-se e, progressivamente, alastrara ao

resto do mundo. Com exceção da URSS, cujo isolamento internacional a «protegeu» do contágio, quase

nenhum país escapou. Na Europa, as grandes potências industriais e financeiras, como a Inglaterra, a

França e, sobretudo, a Alemanha, seriam severamente afetadas, com o desemprego a atingir

percentagens assustadoras.

Perguntas possíveis:

1. Por que razão, neste cartaz, a crise é comparada a um polvo?

2. De que modo a crise financeira dos EUA afetou a maior parte dos países europeus?

Page 7: 14outanexo2historianove

7

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 7 Uma «marcha da fome»

A década de 1930, na Grã-Bretanha, foi um tempo de recessão e instabilidade social. Em 1932, uma

«marcha da fome» composta por cerca de 100 000 manifestantes dirigiu-se para o Parlamento com uma

petição de um milhão de subscritores. A violenta repressão policial dessa manifestação originou muitos

protestos e outras marchas se seguiram, como a que é testemunhada nesta fotografia, captada em

Londres, em 1934.

Perguntas possíveis:

1. Descreve o que te mostra esta imagem.

2. Porque é que se chama a estas manifestações «marchas da fome»?

Page 8: 14outanexo2historianove

8

www.raizeditora.pt

História nove

Doc. 8 Procurando um remédio para a crise

Esta caricatura, intitulada Democratic Recovery Broth («Caldo de Recuperação Democrática»), da

autoria de Clifford Berryman, foi publicada no jornal Washington Star em 1933, numa altura em que o

presidente Franklin Delano Roosevelt, acabado de eleger, procurava soluções para relançar a economia

americana. Mostra Roosevelt misturando várias soluções económicas («remédios») numa grande

«sopa». Durante o auge da Grande Depressão, boa parte dos americanos confiavam em Roosevelt mas

existiam muitos críticos, sobretudo entre os Republicanos, que olhavam a sua política com ceticismo. E

até mesmo dentro do Partido Democrata o presidente Roosevelt encontrava alguns opositores do New

Deal, como era o caso do senador Carter Glass, que já tinha sido anteriormente Secretary of the

Treasure (Ministro das Finanças). Roosevelt segura nas mãos um ketchup Carter Glass, mas parece

duvidar da sua eficácia.

Perguntas possíveis:

1. Como se chamou à política económica do presidente Roosevelt para enfrentar a grande crise dos

anos 30?

2. Depois de traduzires aquilo que diz o indivíduo sentado à direita, explica o sentido da sua pergunta.

Será um apoiante ou um crítico da política de Roosevelt?

3. Qual foi o resultado da política do presidente Roosevelt?

Page 9: 14outanexo2historianove

9

www.raizeditora.pt

História nove

Sugestões de correção:

Doc. 1

1. Muitos americanos tinham começado a investir na Bolsa,

como pequenos acionistas.

2. Sim. Nesse dia deu-se uma grande descida do valor das

ações. Foi o crash da Bolsa de Nova Iorque.

Doc. 2

1. Em circunstâncias normais isso não acontece. Poderá

acontecer se os clientes do banco recearem perder o seu

dinheiro ou virem hipóteses de um negócio ser muito lucrativo.

2. Sim, os negócios da Bolsa de Valores tinham arruinado

muitos deles e tinham notícia de que um grande número de

bancos estava a ir à falência.

Doc. 3

1. É resultado da falência dos bancos e de muitas empresas

agrícolas e industriais.

2. Não. Há gente de vários grupos sociais, incluindo da

burguesia, como é possível ver pela forma de vestir. Isso mostra

que o desemprego afetava não só os operários e outros

trabalhadores braçais mas também trabalhadores qualificados

da banca e dos serviços.

3. É provável que sim. Todo o edifício está para arrendar ou

porque houve empresas que aí tinham a sua sede que faliram

ou porque houve inquilinos que aí habitavam que,

impossibilitados de pagar a renda, tiveram de abandoná-lo.

Doc. 4

1. Muito provavelmente são pequenos agricultores que, como

centenas de milhares nos EUA, para explorarem as suas terras

contraíram empréstimos junto de bancos, hipotecando-as. Ao

não conseguirem pagar a hipoteca perdiam a propriedade e

deslocavam-se em busca de trabalho.

2. O vestuário, o facto de uma das crianças estar descalça, o

mau estado da pequena camioneta.

3. Devido ao céu carregado de nuvens, à paisagem sem

árvores, à estrada deserta e, sobretudo, aos rostos fechados

das pessoas.

Doc. 5

1. A fotografia mostra uma mulher com os seus filhos num

ambiente em que são evidentes as dificuldades económicas:

vivem numa tenda improvisada e sem condições de higiene,

iluminam-se com um candeeiro a petróleo, usam roupas em

mau estado. E no próprio rosto sofrido da mulher estão

presentes essas dificuldades

2. Não existe, obviamente, uma resposta padronizada, pois

depende da sensibilidade de cada um.

Doc. 6

1. Os tentáculos envolvem o mundo e vão-no «asfixiando»

progressivamente, como o polvo faz com as suas presas.

2. Durante os anos da I Guerra Mundial e a seguir à guerra, os

Estados Unidos investiram grandes capitais na Europa e

concederam vultosos empréstimos a muitos bancos europeus.

Quando as dificuldades começaram naquele país, os bancos

americanos exigiram a devolução desses capitais, provocando

a falência de muitas instituições de crédito na Europa.

Doc. 7

1. Mostra uma manifestação de mulheres, enquadradas por

numerosos polícias. Ao fundo vê-se um cartaz onde podemos

ler «Movimento Nacional de Mulheres – Marcha da Fome». A

presença da polícia devia-se ao facto de este tipo de

manifestações de gente desesperada poder acabar em

violência.

2. Tratava-se, verdadeiramente, de marchas de protesto contra

a degradação das condições de vida, sobretudo dos

desempregados e suas famílias, que se viam obrigados a

passar longas horas em filas para comerem uma sopa.

Doc. 8

1. New Deal, cujos objetivos eram os de fomentar o emprego e,

em consequência, o poder de compra da população, com vista

ao relançamento do consumo e, portanto, da produção.

2. Ele pergunta «Frank, tens a certeza de que isso não vai

explodir?», revelando com isso o seu ceticismo relativamente à

política económica de Roosevelt. Trata-se, muito

provavelmente, de um crítico do New Deal.

3. Na verdade, a «sopa» de Franklin D. Roosevelt acabaria por

não explodir. Pelo contrário, no final da década, a economia

americana tinha recuperado, ainda que apenas durante a II

Guerra Mundial os Estados Unidos voltassem a ter um

crescimento económico acentuado.