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[email protected] Juscelino Polonial Educação Educação FOLHA Anápolis, 12 a 18 de abril de 2013 670 Darlan Campos A educação pode ser definida como sendo o processo de socialização dos indivíduos. Ao receber educação, a pes- soa assimila e adquire conhecimentos. A educação também envolve uma sensibili- zação cultural e de comportamento, onde as novas gerações adquirem as formas de se estar na vida das gerações anteriores. Tudo começa nos primeiros anos de vida. Através de nossos pais recebemos a pri- meira educação. Com ela, aprendemos intera- gir com o meio em que estamos acostumados a viver e essa educação irá contribuir com parte de nossos valores por toda a vida. Nesse sentido, os tempos pós-modernos são cruéis. A escola vive uma profunda crise de legiti- midade. O mundo mudou, ficou complexo, novas demandas surgiram. Os estudantes na escola tam- bém são outros, diversos na origem e nos interesses. Os professores carecem de condições para um traba- lho digno. A sociedade alterou suas expectativas refe- rentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas. O discurso pela educação aparenta unanimidade. Paradoxalmente, a mesma sociedade que vê na edu- cação algo essencial para que os indivíduos disputem no mercado, aceita passivamente a mercantilização da educação. Mesmo nas universidades públicas, os critérios produtivistas, próprios da lógica do mercado, são aceitos com naturalidade. Dentro de uma cultura capitalista e altamente volta- da ao individualismo, em um sentido mais amplo, a educação pode ser vista não apenas como uma forma de conseguir bons empregos e salários elevados, mas também como um meio para compreender o mundo e entender nossa posição na sociedade, transformando- nos em sujeitos históricos, atuantes e determinantes dentro do tecido social. Por isso, constitui uma ferra- menta de mobilidade social. A educação deve conec- tar-se à inteligência, visto que seu papel, no século XXI, deve ser o de produzir pessoas inteligentes e não indivíduos com muito conhecimento. O Estado tem o dever primordial de oferecer educação de qualidade a todas as crianças e jovens, mas também que a ação do poder público, sozinha, é insuficiente para resolver um pro- blema de tal envergadura e com um passivo histórico de tão grandes proporções. Só com o envolvimento e a participação de diver- sos segmentos da sociedade, engajados na constru- ção de uma educação de qualidade e alinhado as di- retrizes das políticas públicas educacionais, poderão encontrar as melhores soluções e as condições efeti- vas para que elas sejam implementadas. O envolvimento e o compromisso de toda a socie- dade são condições fundamentais para que possamos promover o salto de qualidade de que a Educa- ção Básica brasileira necessita. 22 EDUCAÇÃO: por um novo engajamento Breve histórico do tecnicismo na educação A ideia de uma educação que prepare o homem para o mercado de trabalho ganhou importância após a Revolu- ção Industrial. Era fundamental preparar o trabalhador para as novas tecnologias nascentes, isso porque, em geral, ele era oriundo do campo. Pensando nisso, Napoleão Bonaparte, que governou na Fran- ça entre 1799 e 1815, implantou as primeiras escolas técnicas no seu país com esse objetivo. Um século depois o Brasil implanta- va as suas primeiras escolas técnicas, quando o Presidente da República, Nilo Peçanha, pelo Decreto n 7.566, de setembro de 1909, criou as Escolas de Aprendizes Artífices. Pelo Decreto, ca- da Estado deveria ter uma Escola na capital, no entanto, apenas 10 unidades da federação cumpriram a determinação legal. No Brasil o capitalismo dava os primeiros passos, para ter um grande impulso entre as duas guerras mundiais (1914-1945), no modelo conhecido como Industrialização por Substituição de Im- portações. No entanto, foi na Era Vargas (1930-45) que o proces- so se consolidou, sendo decisivo para isso o apoio do Governo à indústria de base. Daí a necessidade de escolas técnicas, tanto que até a iniciativa privada passou a criar as suas escolas para formar mão de obra para a indústria (SENAI) e para o comercio (SENAC). No período militar (1964-85), o tecnicismo consolidou- se, muito influenciado pelo acordo MEC-USAID, com as reformas educacionais de 1968 e 1971, que a rigor só deixaram de valer com a nova LDB de 1994, apesar de alguns remendos legais em todo o período. Embora a Constituição de 1988 não faça nenhuma referência sobre a educação profissional, o tecnicismo já estava consolida- do na prática educacional brasileira. A Lei 9.394 de 1996, que de- finiu as diretrizes e base da educação nacional, apenas ratificou o dualismo na educação brasileira, ou seja, de um lado a escola técnica, e do outro, o ensino propedêutico, como seria confirma- do posteriormente no Decreto Lei 2.208, de 1997. Esse quadro só mudou em 2004, quando o Decreto Lei 5.154 revogou o de número 2.208, determinando a integração entre en- sino médio e técnico. Na atualidade eles fazem parte do mesmo sistema educacional, com o aluno tendo a opção de fazer o ensi- no técnico em conjunto com o ensino médio clássico, isso em um prazo de três anos. Ao término ele pode entrar na disputa por uma das vagas nas universidades brasileiras. O breve histórico aqui apresentado nos diz da importância que a educação tem para o desenvolvimento da sociedade co- mo um todo e, particularmente, para o setor produtivo. Apesar disso, muitos agentes públicos, responsáveis pelas políticas educacionais, têm dificuldades de entender essa realidade. Tanto é verdade que, infelizmente, a educação ainda não é tra- tada com a devida prioridade na maioria das cidades brasilei- ras. Quem estiver duvidando, é só falar com os milhares de pro- fessores espalhados pelo Brasil. Darlan Campos é graduado em História pela UFES e profes- sor dessa disciplina Os tempos pós-modernos são cruéis, a escola, sociedade e alunos estão vivendo uma grande crise de legitimidade

A Educação no mundo pós-moderno - Artigo - Jornal GO

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FFOOLLHHAA Anápolis, 12 a 18 de abril de 2013670

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A educação pode ser definida comosendo o processo de socialização dos

indivíduos. Ao receber educação, a pes-soa assimila e adquire conhecimentos. Aeducação também envolve uma sensibili-zação cultural e de comportamento, ondeas novas gerações adquirem as formas dese estar na vida das gerações anteriores.Tudo começa nos primeiros anos de vida.Através de nossos pais recebemos a pri-meira educação. Com ela, aprendemos intera-gir com o meio em que estamos acostumadosa viver e essa educação irá contribuir comparte de nossos valores por toda a vida.

Nesse sentido, os tempos pós-modernos sãocruéis. A escola vive uma profunda crise de legiti-midade. O mundo mudou, ficou complexo, novasdemandas surgiram. Os estudantes na escola tam-bém são outros, diversos na origem e nos interesses.Os professores carecem de condições para um traba-lho digno. A sociedade alterou suas expectativas refe-rentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogode múltiplas contradições e, para essa complexidade,não cabem respostas e políticas simplistas.

O discurso pela educação aparenta unanimidade.Paradoxalmente, a mesma sociedade que vê na edu-cação algo essencial para que os indivíduos disputemno mercado, aceita passivamente a mercantilizaçãoda educação. Mesmo nas universidades públicas, oscritérios produtivistas, próprios da lógica do mercado,são aceitos com naturalidade.

Dentro de uma cultura capitalista e altamente volta-da ao individualismo, em um sentido mais amplo, aeducação pode ser vista não apenas como uma formade conseguir bons empregos e salários elevados, mastambém como um meio para compreender o mundo eentender nossa posição na sociedade, transformando-nos em sujeitos históricos, atuantes e determinantesdentro do tecido social. Por isso, constitui uma ferra-menta de mobilidade social. A educação deve conec-tar-se à inteligência, visto que seu papel, no séculoXXI, deve ser o de produzir pessoas inteligentes e nãoindivíduos com muito conhecimento.

O Estado temo dever primordial

de oferecer educaçãode qualidade a todas as

crianças e jovens, mas também que a ação do poderpúblico, sozinha, é insuficiente para resolver um pro-blema de tal envergadura e com um passivo históricode tão grandes proporções.

Só com o envolvimento e a participação de diver-sos segmentos da sociedade, engajados na constru-ção de uma educação de qualidade e alinhado as di-retrizes das políticas públicas educacionais, poderãoencontrar as melhores soluções e as condições efeti-vas para que elas sejam implementadas.

O envolvimento e o compromisso de toda a socie-dade são condições fundamentaispara que possamos promover osalto de qualidade de que a Educa-ção Básica brasileira necessita.

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Breve histórico dotecnicismo na educação

A ideia de uma educação que prepare o homem para omercado de trabalho ganhou importância após a Revolu-

ção Industrial. Era fundamental preparar o trabalhador para asnovas tecnologias nascentes, isso porque, em geral, ele eraoriundo do campo.

Pensando nisso, Napoleão Bonaparte, que governou na Fran-ça entre 1799 e 1815, implantou as primeiras escolas técnicas noseu país com esse objetivo. Um século depois o Brasil implanta-va as suas primeiras escolas técnicas, quando o Presidente daRepública, Nilo Peçanha, pelo Decreto n 7.566, de setembro de1909, criou as Escolas de Aprendizes Artífices. Pelo Decreto, ca-da Estado deveria ter uma Escola na capital, no entanto, apenas10 unidades da federação cumpriram a determinação legal.

No Brasil o capitalismo dava os primeiros passos, para ter umgrande impulso entre as duas guerras mundiais (1914-1945), nomodelo conhecido como Industrialização por Substituição de Im-portações. No entanto, foi na Era Vargas (1930-45) que o proces-so se consolidou, sendo decisivo para isso o apoio do Governo àindústria de base. Daí a necessidade de escolas técnicas, tantoque até a iniciativa privada passou a criar as suas escolas paraformar mão de obra para a indústria (SENAI) e para o comercio(SENAC). No período militar (1964-85), o tecnicismo consolidou-se, muito influenciado pelo acordo MEC-USAID, com as reformaseducacionais de 1968 e 1971, que a rigor só deixaram de valercom a nova LDB de 1994, apesar de alguns remendos legais emtodo o período.

Embora a Constituição de 1988 não faça nenhuma referênciasobre a educação profissional, o tecnicismo já estava consolida-do na prática educacional brasileira. A Lei 9.394 de 1996, que de-finiu as diretrizes e base da educação nacional, apenas ratificouo dualismo na educação brasileira, ou seja, de um lado a escolatécnica, e do outro, o ensino propedêutico, como seria confirma-do posteriormente no Decreto Lei 2.208, de 1997.

Esse quadro só mudou em 2004, quando o Decreto Lei 5.154revogou o de número 2.208, determinando a integração entre en-sino médio e técnico. Na atualidade eles fazem parte do mesmosistema educacional, com o aluno tendo a opção de fazer o ensi-no técnico em conjunto com o ensino médio clássico, isso em umprazo de três anos. Ao término ele pode entrar na disputa poruma das vagas nas universidades brasileiras.

O breve histórico aqui apresentado nos diz da importânciaque a educação tem para o desenvolvimento da sociedade co-mo um todo e, particularmente, para o setor produtivo. Apesardisso, muitos agentes públicos, responsáveis pelas políticaseducacionais, têm dificuldades de entender essa realidade.Tanto é verdade que, infelizmente, a educação ainda não é tra-tada com a devida prioridade na maioria das cidades brasilei-ras. Quem estiver duvidando, é só falar com os milhares de pro-fessores espalhados pelo Brasil.

Darlan Campos é graduadoem História pela UFES e profes-

sor dessa disciplina

Os tempos pós-modernos são cruéis, a escola, sociedadee alunos estão vivendo uma grande crise de legitimidade