Barbara cartland a docura de um beijo

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Ttulo: A Doura de um beijo.Autora: Barbara Cartland.Dados da Edio: Nova Cultural, So Paulo, 1987.Ttulo Original: Wanted: a Wedding Ring.Gnero: romance.Digitalizao: Dores cunha.Correco: Edith Suli.Estado da Obra: Corrigida.Numerao de Pgina: Rodap.Esta obra foi digitalizada sem fins comerciais e destinada unicamente leitura de pessoas portadoras de deficincia visual. Por fora da lei dedireitos de autor, este ficheiro no pode ser distribudo para outrosfins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente.

BARBARA CARTLANDA mais famosa e perfeita autora de romances histricos, com 350 milhesde livros vendidos em todo o mundo

A Doura de um Beijo

Aterrorizada, Ina se debatia, lutando para se libertardos braos do repugnante gro-duque Ivor.com uma fora que ignorava possuir, livrou-se ecorreu para o convs do iate. Em seu desespero, sabiaque s o visconde poderia salv-la.Mas ser que um homem maravilhoso como ovisconde Colt iria se incomodar com a sobrinha deuma atriz de teatro?Ento, quando o gro-duque estava prestes a agarrla, Ina subiu naamurada e jogou-se no mar!

Nova CulturalA Doura de um Beijo

Todas as mulheres se apaixonavam pelo fascinante visconde Colt!

os navios espanhis em busca de glrias e tesouros.O capito Rodney, jovem corsrio a servio da rainha, fremente de orgulhoe emoo, escuta o rangido familiar das roldanas correndo cleres pelasgrossas amuradas. Madeiras chiam, velas comeam a enfonar-segalhardamente. O poderoso galeo vai a caminho da Amrica Central, terrade ndios, piratas, ouro e prata. No cais apinhado, milhares de gritos deadeus. Os marinheiros respondem: "Adeus, terra querida! Riquezas e aventuras vista! Viva o Gavio do Mar!"

BARBARA CARTLANDA Doura de um BeijoLeitura - a maneira mais econmica de cultura, lazer e diverso.

Ttulo original: Wanted: a Wedding RingCopyright: (c) Barbara Cartland 1986Traduo: Maria do Rosrio SobralCopyright para a lngua portuguesa: 1987EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.Av. Brigadeiro Faria Lima n. 2. O00 - 3. andarCEP 01452 - So Paulo - SP - BrasilCaixa Postal 2372

Esta obra foi composta na Fesan Editora Ltda. e impressa na Editora ParmaLtda.

NOTA DA AUTORA

Uma aliana o tesouro mais valioso que uma mulher pode possuir.Todas as artistas de variedades sonham em se casar, e algumas delasconseguiram entrar para a realeza. Rosie Boote tornou-se marquesa deHertford e Sylvia Lilian Story, a condessa de Poulett.Desde os tempos mais antigos, as mulheres do valor a uma aliana. Os antigos gregos e egpcios usavam anis de ouro, enquanto os egpcios pobres usavam anis de prata, bronze, vidro ou cermica. Durante o Imprio Romano, os homens livres usavam anis de ouro, os escravos alforriados, de prata, e os escravos, de ferro.No sculo II d. C. os cristos adotaram o costume de usar anis denoivado, e com o passar do tempo, esses anis se transformaram nas atuaisalianas.Como a aliana s de ouro que se usa atualmente fosse austera demais paraos nossos ancestrais, costumavam valoriz-la com pedras, mosentrelaadas ou inscries romnticas.Os anis de noivado com incrustaes de pedras preciosas foram introduzidos na Idade Mdia, e os anis de brilhantes tornaram-se populares por volta de 1800.Era crena geral que a aliana devia ser de ouro, porque o ouro possui mais magia do que qualquer outro metal, mas na verdade o essencial era o formato.As virtudes mgicas de um crculo perfeito so reconhecidas desde a Antiguidade. sabido que tirar a aliana do dedo d azar, e, para uma esposa, azar significa perder o amor do marido.Na Amrica, reviveram o hbito de oferecer a aliana ao homem. Na Inglaterra, os homens bem-nascidos consideram vulgar usar qualquer outro tipo de anel que no seja um pequeno anel de braso, no ltimo dedo.Houve um sacerdote egpcio que descobriu, ao dissecar cadveres humanos, que havia um pequeno nervo que partia do quarto dedo da mo esquerda e iaat ao coraoApesar de, na Anatomia do corpo humano, de Gray no aparecer nenhumareferncia a esse nervo, compreensvel que esse dedo fosse honrado,primeiro pelo anel de noivado e em seguida, pela aliana de casamento.

CAPITULO I

1898*daniRosie Rill abriu as cartas que o carteiro acabava de entregar.Havia dois cartes de parabns, enviados por mulheres da mesma idade que ela.Olhou para eles, horrorizada.Cinquenta e cinco anos! No era possvel que ela, Rosie Rill, fizesse naquele dia cinquenta e cinco anos.Da a dez teria sessenta e cinco, e, na previso mais otimista, estaria a um passo da sepultura!Irritada, jogou os cartes no cho e sentou-se, olhando distraidamente para a frente, como se tentasse que um milagre fizesse o tempo voltar para trs, devolvendo-lhe os seus dezoito anos.Lembrava-se to bem daquele aniversrio! Nunca poderia esquecer aquele dia, em que vira Vivian pela primeira vez.At hoje, podia v-lo encaminhar-se em sua direo, enquanto ela descia a cavalo, sob os velhos carvalhos da avenida, imaginando quem poderia ser ele.Como Rosie era muito ignorante no que dizia respeito aos homens, considerou-o o homem mais bonito que j vira, e no percebeu que estava bem-vestido demais para o campo, e que um verdadeiro cavalheiro no usaria aquele tipo de roupas.Tudo o que ela conseguia ver naquele momento eram seus olhos negros, fitando-a com admirao, fazendo-a sentir que estava vendo um homem pela primeira vez.Parou o cavalo ao chegar junto dele.- Bom-dia! - disse ele. - Perdoe se estou invadindo apropriedade, sem mais nem menos. Estas so as terras do conde de Ormond e Staverley, no so?- So - respondeu Rosie, na sua voz jovem e doce.- Bonita como , deve ser a filha do conde - continuou Vivian.O elogio fez com que ela corasse, tornando-a mais linda ainda. Encabulada, respondeu:- Sim. sou lady Rosamund Ormond.Ao recordar aquele momento, Rosie ainda podia sentir a mesma emoo percorrer-lhe o corpo. Vivian dissera:- Eu tenho que voltar a v-la, e no posso esperar muito tempo para que isso acontea!E houve encontros todos os dias, duas e at trs vezes por dia.No era difcil para Rosie escapar da manso. Agora que tinha crescido, no havia mais governanta para reparar em tudo o que ela fizesse.Alm disso, tanto sua me como seu pai eram pessoas muito ocupadas.Naquela altura do ano, tinham sempre muitos convidados para os eventos locais, e a condessa levava suas obrigaes de anfitri muito a srio.Sempre entretida organizando as empregadas e combinando pratos com a cozinheira, nunca reparou que a filha era mais bonita que a maioria das moas da idade dela.E que todos os dias ia andar a cavalo, longe da manso.- Onde que voc esteve? - resmungava s vezes o pai durante o jantar.- Exercitando os cavalos, papai. O senhor sabe que temos pouco pessoal nas cocheiras.- Boa menina! Confio em voc e espero que no os leve para muito longe.- Claro, papai. Tenho sempre muito cuidado,Na verdade, os cavalos passavam a maior parte do tempo amarrados a um porto ou a um tronco de rvore, no bosque.Os animais ficavam bem satisfeitos por no fazerem nada, enquanto Rosie conversava com Vivian.8Ficou sabendo muitas coisas sobre ele, ou melhor, o que ele queria que ela soubesse.Vivian Vaughan!Poderia algum homem ser mais romntico ou se parecer mais com o heri dos seus sonhos?S muitos anos mais tarde, ficou sabendo que o seu verdadeiro nome era Bill Barton, e que ele viera de uma pequena aldeia do centro da Inglaterra.Naquele momento, era um deus que tinha descido do Olimpo.Toda ela vibrava com a beleza dele e as coisas romnticas que lhe dizia.- Como voc pode ser to perfeita? - perguntava. - At v-la a cavalo, descendo a avenida, no fazia ideia de que uma mulher pudesse ser to maravilhosa!Tudo o que ele dizia parecia o texto de um romance onde ela era a herona e ele, o heri.- Nunca ouviu falar de mim? - perguntou, espantado. Bem, acho que compreensvel. Sou muito conhecido em Londres, mas talvez no no tipo de teatros que voc frequenta.Rosie sorriu para ele, fazendo surgir no rosto duas covinhas encantadoras.- S me permitem ver Shakespeare e assistir a concertos. Mas agora que estou mais velha, vou ser apresentada rainha. Espero que, quando estiver em Londres, v a mais teatros, e assim talvez possa ver voc.- Est indo para Londres?Reparou na alegria contida na voz dele, com o corao cantando.- Papai vai abrir a casa de Londres por minha causa. Vo me oferecer um baile e, evidentemente, uma recepo para todos os meus parentes mais velhos - explicou.Fez uma pausa, depois perguntou;- Voc acha que poder ir? Vivian Vaughan desatou a rir.- Minha cara, fico muito honrado com esse seu pensamento, mas voc deve saber que sua me no me consideraria o tipo de amigo que uma debutante deve ter.- Por que no?- Porque sou ator, e por mais que os atores divirtam os membros da alta-sociedade, estes no acham que sejamos boa companhia para as suas belas e jovens filhas, como voc.Vivian era bem-educado. Rosie ficou sabendo depois que o pai dele foraprofessor.Mais uma razo para ele saber, com certa amargura qual era o seu lugar.Continuaram se encontrando todos os dias, at que chegou o momento de ele voltar para Londres.Tinha vindo para o campo por causa de uma tosse forte que pegara no inverno e que estava afetando sua voz.- Se voc quiser tomar parte no novo espetculo tem que parar de tossir! Saia de Londres, v respirar o ar puro do campo e livre-se dessa voz de sapo! - haviam-lhe dito.Um outro ator, seu amigo, disse-lhe como era bonita a pai sagem no norte de Hertfordshire, recomendando-lhe uma pequena estalagem onde a comida era boa e as camas, macias.Vivian pretendia passar l apenas uma semana, mas por causa de Rosie, resolveu prolongar o repouso, como ele o chamava, por trs semanas.- Como poderei deix-la? - perguntou, em desespero quando faltavam apenas trs dias para sua volta a Londres.- Talvez eu possa v-lo s vezes, quando for para Londres- respondeu Rosie em voz baixa, sabendo de antemo que seria pouco provvel.Na cidade, nunca a deixariam sair sozinha de casa, e ela sabia que Vivian tinha razo quando dissera que no seria convidado para a casa de seu pai.Ento, ele a beijou.Antes, tivera medo que ela fugisse, assustada. Alm disso estava verdadeiramente apaixonado.Pensava, com sinceridade, que aquela moa linda, pura e inocente pertencia a um mundo diferente do seu.Foi quando a teve em seus braos, sentindo a doura e pureza daqueles lbios, que percebeu como a queria.No suportava a ideia de perd-la.10Pediu, implorou, suplicou, at que Rosie, tambm apaixonada, no conseguia mais negar nada do que ele queria.- Ns nos casaremos - dizia Vivian, insistentemente -, e ento, seu pai no poder fazer mais nada!- Mas... e se ele ficar to zangado que nunca venha a aceitar voc? - perguntou Rosie, aflita.- Se eu for seu marido, ele ter que me aceitar. Obteremos uma licena especial e casaremos a caminho de Londres. S contaremos a seu pai quando chegarmos l,"Como poderei fazer semelhante coisa? Como?", perguntava Rosie a si mesma, remexendo-se na cama, sem conseguir dormir.Por outro lado, como poderia desistir de Vivian e suportar que ele fosse embora, deixando-a?Nunca mais voltaria a ver seu rosto encantador, seus olhos eloquentes, nem ouvir as coisas bonitas que lhe dizia e que pareciam tirar-lhe o corao do peito, tornando-o dele."Eu o amo! Eu o amo!", pensava apaixonadamente, sabendo que nada mais importava no mundo, a no ser Vivian.Fugir de casa foi mais fcil do que pensava.No dia em que Vivian tinha que voltar para Londres, os pais de Rosie tiveram um compromisso do outro lado do condado, e saram de casa de manh bem cedo.Assim que eles foram embora, Rosie, que j tinha tudo planejado, disse s empregadas para fazerem as malas com o que ela j tinha separado.- Aonde est indo, milady? Sua Senhoria no nos avisou que a senhorita ia viajar.- Vm me buscar s onze horas - respondeu Rosie. Esperou at que Vivian chegasse numa carruagem que tinhaalugado na vizinhana.Quando subiu a escada da frente, os dois jovens criados ficaram pasmados, olhando para ele, e no tiveram outro remdio seno obedecer a lady Rosamund, que mandou que colocassem os bas na parte de trs da carruagem, e a bolsa de viagem, no cho, junto dos ps dela.- Adeus, Bates - disse para o mordomo.- O que devo dizer a Sua Senhoria, quando ele voltar logo11 tarde, milady? - perguntou Bates, com a preocupao estampada no rosto enrugado.O velho mordomo achava ultrajante o que estava acontecendo, to ultrajante que nem teve coragem de fazer nenhum comentrio.- Diga a papai que lhe escreverei de Londres. Ao entrar na carruagem, um dos criados colocou uma manta em seus joelhos, e em seguida Vivian chicoteou os cavalos, que os conduziram avenida abaixo.Reparou que ele no dirigia to bem quanto seu pai, e criticou-se por estar sendo desleal, achando defeitos numa pessoa to maravilhosa e que ela amava tanto."Como pude ser to louca?", perguntava-se Rosie, agora, apesar de ter sido feliz com Vivian. Talvez tivesse sido o perodo mais feliz da sua vida.S quando recebeu uma carta do pai, dizendo que no a considerava mais sua filha e que nunca mais queria ouvir falar nela, que percebeu o que tinha feito.A atitude de seu pai tambm foi uma surpresa para Vivian.Logo percebeu que ele no tinha dinheiro suficiente para mant-los nomesmo padro a que estava acostumada.- Voc tem que descobrir alguma coisa para fazer. Rosie olhou para ele, espantada.- Voc est falando em trabalho?- Estou dizendo que voc tem que ganhar algum dinheiro. Estamos com dvidas, e eu preciso de um terno novo.Rosie lamentava no ter trazido mais roupa, quando tinha fugido de casa, mas era tarde demais.Como estavam na primavera, s tinha mandado pr na mala os vestidos de vero, deixando em casa todas as roupas de inverno.No se atrevia a dizer a Vivian que o nico casaco que trouxera no era suficientemente quente para os meses de frio e neve que se aproximavam.Olhando para ela de modo estranho, ele disse, mas no em tom de elogio:- Voc muito bonita, Rosie, e tem um corpo esguio, perfeito, o que muito importante.12- Importante para qu?- Para o que eu quero que voc faa.- E o que ?- Teatro, claro. Se eu sou ator, naturalmente, voc deve ser atriz.Olhou para ele, estupefata.- No, no! Claro que no! Como poderei fazer algo que me assusta e me deixa envergonhada? E que deixaria mame chocada, horrorizada!- No creio que os sentimentos de sua me tenham alguma coisa a ver conosco, seja em que sentido for - respondeu Vivian, com frieza. - A no ser que ela esteja disposta a nos dar uma penso, claro. No nos lembramos desse pequeno pormenor, quando voc fugiu de casa.Rosie sentiu os olhos se encherem de lgrimas. Sabia muito bem como Vivian se ressentia do ostracismo no qual seu pai a deixara, por ter-se casado com ele.- Deus do cu! Pela maneira como eles se comportaram, ho de julgar que sou um escroque ou um criminoso - exclamou, furioso.- Est arrependido por eu ter fugido com voc? - perguntou Rosie, soluando.- No, claro que no! Voc sabe que eu a amo, querida, amo muito, mas difcil viver sem dinheiro - disse ele, abraando-a.- Sim, eu sei.- E depois de ter lutado tanto para chegar aonde cheguei no teatro, no posso desistir agora.- Eu... eu lamento, querido, lamento que minha famlia seja to intransigente.Esta frase foi repetida por ela vezes sem conta, quando comeou a ganhar dinheiro, s vezes mais do que Vivian.Sabia que no tinha sido somente por ela prpria que Vivian a tinha convencido a fugir com ele.Tambm estava fascinado pela posio social dela, e principalmente pelo fato de ser lady Rosamund Ormond, a filha de um conde.13Contudo, tinha tomado uma deciso e nada do que Vivian pudesse fazer a demoveria disso.Se tivesse que ir para o palco, permitiria que todos os Tom, Dick eHarry, como seu pai dizia, olhassem para ela.No poria seus irmos na lama, usando o seu prprio nome.- No entende que seu nome seria um chamariz? Vo querer contrat-la como lady Rosamund. Vai conseguir muito mais dinheiro e admiradores, se usar seu prprio nome - argumentava Vivian.- No preciso de admiradores. Tenho voc, e no usarei meu ttulo, nem o nome de meu pai.No percebia por que estava sendo to obstinada.Seu orgulho, a nobreza do bero, se rebelavam contra a ideia de o brilho do teatro macular sua famlia cujo nome fazia parte da histria da Inglaterra, atravs de muitos sculos.Quando ainda estava em casa, nunca dera muita importncia rvore genealgica que estava pendurada no estdio de seu pai, nem aos pavilhes que seus ancestrais haviam trazido de numerosas batalhas.Na verdade, sempre achara que a galeria de pintura, com todos aqueles retratos de tantos Ormonds, era acabrunhante e muito aborrecida.Mesmo assim, no poderia suportar a censura deles, se soubessem que uma Ormond subia a um palco.Vivian acabou por desistir de faz-la mudar de ideia, e escolheu-lhe um nome artstico.- Muito bem, mas, se quer ser atriz, ento melhor ter um apelido de que o pblico se lembre com facilidade: Rosie, em vez de Rosamund, e.Fez uma pausa, antes de finalizar:- Rill, em vez de Ormond. Rosie Rill, que tal?- Tudo bem - respondeu Rosie com enfado, quase chorando por ele estar sendo sarcstico.Ento, num daqueles rompantes de bom humor sbito, ele passou os braos volta dela e a beijou.- O que interessa como voc vai se chamar, desde que14continue to encantadora como agora? Voc vai fazer com que se ajoelhem a seus ps, minha querida, no tenha dvidas.Ironicamente, porque na vida no costuma acontecer como as pessoas prevem, foi exatamente o que Rosie fez.Primeiro, conseguiu uma pequena ponta na pea em que Vivian era o ator principal.Os jornais repararam nela e, apesar de dizer apenas umas poucas palavras em cena, os espectadores enchiam o teatro de palmas, mal ela entrava.Aumentaram-lhe o papel.- Voc um sucesso, minha querida - disse Vivian. Como ele parecia orgulhoso e contente, Rosie tambm estavafeliz.Era impossvel faz-lo entender como ficara apavorada quando tivera que enfrentar as luzes da ribalta pela primeira vez, sabendo que centenas de pessoas desconhecidas olhavam para ela.Estava to assustada que a voz sumiu da garganta e teve vontade de fugir correndo.Depois, disse para si mesma que toda aquela gente que olhava para ela no tinha nenhuma importncia.A nica coisa que interessava que Vivian ficasse contente e a amasse.- Eu amo voc! Eu amo voc! - costumava dizer, enquanto esperava nos bastidores.Era Vivian que lhe dava a fora necessria para ela fazer o seu papel.No incio, foi fcil.Ele era a estrela da pea. O pblico o aplaudia, no por ser especialmente bom ator, mas porque era muito bonito.At que, aps sete anos representando no West End e fazendo excurses que, por causa de Vivian, Rosie suportava, sem se queixar, o teatro de variedades foi construdo.Vivian vivia falando sobre o novo teatro, todo entusiasmado, mas Rosie nunca se havia interessado.Era muito difcil aguentar as noitadas de que Vivian gostava.15Tinha que acompanh-lo s ceias que havia depois do espetculo e que se prolongavam at altas horas, e, ao mesmo tempo, tentar manter um lar decente.Nas acomodaes baratas e desconfortveis onde moravam, isso significava ter que se levantar de manh bem cedo para conseguir ter tudo em ordem quando ele acordava.Passado muito tempo, ela comeou a prestar ateno na conversa do novo teatro.Mais esplendoroso, arejado, confortvel e higinico, era a melhor casa de espetculos que havia.- Eles estiveram em Paris, vendo um grande nmero de teatros - disse Vivian.Rosie ficou imaginando quem seria "eles", mas no teve curiosidade suficiente para perguntar.- Eles vo cham-lo de teatro de variedades, um nome que fala por si s. Ser no Strand, e dirigido por John Hollingshead - acrescentou Vivian.- Voc gostaria de um bife para o jantar? - perguntou Rosie, que queria que Vivian se alimentasse bem, para no ficar com m aparncia, como os outros atores, que no comiam direito e bebiam demais.- Sim, sim, claro - respondeu Vivian, absorto ainda com o teatro.Rosie comeou ento a pensar que tinha que encarar o tal teatro novo como o mais srio rival que j tivera que enfrentar.Evidentemente, havia muitas ocasies em que sentia cime, pois Vivian tinha sempre um monte de mulheres atrs dele.As fs escreviam-lhe cartas sem fim.Mas o que a preocupava mais eram as mulheres do teatro. Flertavam com ele descaradamente, quer Rosie estivesse presente ou no.Ele era um encanto para todas as pessoas, e a sua atuao atual no Olympic o tornava mais popular do que nunca.Rosie tentava no se importar quando ele recebia algum convite para cear sem ela.Ia sozinha para o apartamento que agora possuam em Covent Garden, onde ficava acordada, sem conseguir dormir enquanto Vivian no chegava.16s vezes, ele entrava sorrateiramente, muito tarde, ou de manh cedinho, e como sabia que ele no gostava de perguntas, Rosie fingia estar dormindo.Outras vezes, Vivian voltava todo contente, comeando a contar o sucesso mal abria a porta.Repetia os elogios que lhe tinham feito e enumerava as pessoas interessantes que tinha conhecido.Isso a tranquilizava bastante. Sabia que nenhuma lady do meio social de onde provinha seria vista com Vivian, apesar de o marido as divertir do mesmo modo como divertia as garotas bonitas do teatro.A principal preocupao de Vivian era fazer com que o sr. Hollingshead se decidisse a convid-lo e a Rosie para um espetculo de variedades.A essa altura, Rosie j se tinha habituado a desempenhar papis secundrios, para os quais fosse preciso uma atriz muito bonita e nonecessariamente talentosa.Na verdade, ela no sabia representar.Era doce, gentil e linda, mas nem um pouco teatral. Vivian, entretanto, longe de reclamar de sua falta de talento, preferia que ela continuasse assim.Enquanto sua mulher estivesse ganhando o suficiente para ambos viverem com algum luxo, ele no queria que ela rivalizasse com Nellie Farrer, a estrela que conquistava as plateias do Olympic.Nellie tornou-se a estrela principal do teatro de variedades.Pela primeira vez, a companhia incluiu no elenco garotas escolhidas pela beleza e no por dotes dramticos ou vocais, pois a maioria delas no precisava dizer nada em cena.Tinham apenas que ser bonitas, e isso Rosie podia fazer sem nenhuma dificuldade.- Sabe que sua mulher a pessoa mais bonita do teatro hoje em dia? - comentou algum a Vivian Vanghan.- Eu tambm acho - respondeu ele, com seu sorriso encantador.- Voc, sem dvida nenhuma, o astro mais atraente, e assim, vocs formam um par sem igual.17Esse comentrio deu a Vivian uma ideia.Foi ao encontro do sr. Hollingshead e sugeriu que ele e Rosie fossem contratados como "o par mais belo dos palcos de Londres, " ou do palco que interessasse, na altura.Hollingshead ficou um pouco surpreendido, mas acabou por concordar em que era uma ideia nova e bastante lucrativa.Contratou Vivian e Rosie, e a dupla fez um tremendo sucesso.A essa altura, Rosie tinha desabrochado e tornara-se muito mais bonita do que tinha sido quando garota.Perdera a timidez, e seus traos clssicos e de pessoa bemnascida a tornavam diferente das outras, que, apesar de muito bonitas tambm, no eram "madeira da mesma cepa", como Vivian costumava dizer, com propriedade.Msicas foram escritas especialmente para "o par mais bonito" e os aplausos que recebiam a cada noite foram aumentando e se prolongando maise mais.Pareciam um casal de deuses sados do Olimpo. Rosie s vezes surgia, belssima, num vestido grego bastante revelador. Em outras, Vivian com um uniforme impecvel, desempenhava o papel de um soldado que se despedia da mulher amada, antes de partir para a batalha onde seria morto.Ou ento Rosie, deitada sobre a sepultura, chorava o amor perdido, arrancando lgrimas de cada mulher que assistia ao espetculo.Apareciam em cena fazendo vrios quadros, mas o que realmente importava era sua beleza.Os jovens elegantes j tinham os binculos apontados para ela, mal entrava no palco.Rosie recebia muitos convites desses homens, mas recusava sempre que no incluam Vivian. Por outro lado, no podia impedir que a perseguissem e escrevessem cartas que ela, invariavelmente, jogava no fogo.- Por que no me deixam em paz? - perguntou a Vivian, furiosa.- Porque voc a mulher dos sonhos de qualquer homem, minha querida, e voc minha!18Ela queria acreditar nas palavras dele, mas comeava a ter certas desconfianas.O sucesso que Vivian obteve no teatro de variedades tornou o amor que tinha por ela menos intenso e apaixonado que no passado.Apesar de no querer admitir isso nem para si mesma, sabia muito bem que as noites em que ele dizia que ia para festas s de homens, nas quais ela voltava para casa sozinha, repetiam-se cada vez com mais frequncia.De manh, quando escovava a roupa dele, notava p-dearroz no ombro, ou umcheiro de perfume que no era o seu.Dizia a si mesma que esses indcios no eram importantes e que tudo continuava to maravilhoso como antes.Mas a verdade era que cada vez o via menos, s tendo um contato mais prximo com ele quando apareciam juntos, no palco.Ele chegava tarde em casa, dizendo-se cansado demais, e dormia logo a seguir.Rosie lembrava-se ainda da primeira vez em que ele dissera que tinha sido convidado para passar o fim de semana fora.- Eu sei que voc vai compreender, querida - afirmou, usando o charme que a fazia sentir que estava perante uma plateia. - Lorde Thurston convidou-me para ficar em casa dele, com alguns amigos. Vamos depois do espetculo de sbado e voltarei segunda tarde.- Vo. logo depois do espetculo? Mas como que vai conseguir chegar l, noite? - perguntou Rosie, estupidamente.- Lorde Thurston vai levar os convidados no seu trem particular, e como no levaremos mais de uma hora, cearemos quando chegarmos - respondeu Vivian, vontade.Foi a primeira vez que Rosie passou um domingo sozinha.Como no tinha nada para fazer, resolveu ir igreja.Durante todos aqueles anos, em que trabalhava com Vivian, quase esquecera como as cerimnias religiosas da pequena igreja normanda onde tinha sido batizada eram importantes para ela, quando criana.19Costumava rezar por tudo o que queria.Ento, depois de ter passado tanto tempo sem ir igreja, deu por si rezando desesperadamente para no perder Vivian.Passado algum tempo, achou que tinha tido uma premonio, pois aconteceu exatamente aquilo que mais temia.Um ms depois, ele lhe disse que estava indo para a Amrica.- Para a Amrica? - perguntou, incrdula.- H uma pessoa que me prometeu que, se eu quisesse, me daria um teatro, mas antes pretendo ter umas longas frias, conhecendo esse pas de que tanto ouvi falar e que nunca visitei.- Voc. vai sozinho?Vendo Vivian afastar o olhar, percebeu que tinha feito uma pergunta idiota. Claro que no ia sozinho.A rica viva que ele tinha conhecido em casa de lorde Thurston fora uma tentao forte demais para ele recusar.Mais uma vez o seu orgulho a impediu de gritar e lanar-se aos ps de Vivian, implorando-lhe que no a deixasse.- Deixarei algum dinheiro para voc no banco, apesar de hoje em dia voc estar ganhando mais do que eu."Essa a principal razo de ele querer ir embora", pensou Rosie.Nos ltimos meses, sua popularidade era muito superior de Vivian, apesar de ela no saber como tal tinha acontecido.Mas a verdade era que ela recebia mais cartas, mais flores e mais atenes.Na verdade, essa fora a mola detonadora da partida dele.Queria seguir seu prprio caminho, sem ter que carreg-la a seu lado como a mulher mais bonita do mundo.Foi tudo decidido com tanta rapidez que s quando ele foi embora que ela percebeu o que tinha acontecido; que ele a tinha deixado para sempre.O golpe final foi o mais difcil de engolir.Estava fazendo as malas dele, sentindo um peso no peito, to grandeque a impedia de ter qualquer espcie de emoo, quando resolveuperguntar a Vivian:20Voc... vai se casar com essa mulher? No posso, uma vez que j sou casado com voc respondeu ele.Depois, fez uma pausa embaraosa.Rosie estranhou e perguntou:O que foi? O que que voc tem?Tinham vivido tantos anos juntos que ela sabia que ele estava tendo algum problema de conscincia.- Acho que chegou o momento de ser honesto - disse ele.- Eu j era casado, quando conheci voc!- Casado? - repetiu Rosie, num fio de voz.- Casei-me muito jovem. Ela era mais velha do que eu e fugiu com um homem muito rico, o que no me surpreendeu.- Voc quer dizer. que ns no somos casados? balbuciou Rosie.- A verdade que sou bgamo! Quando conheci voc, no ouvia falar daminha mulher h cinco anos, e presumi que tinha morrido.- E tinha?- Por incrvel que parea, na semana passada li no jornal que o homem comquem ela viveu todos estes anos lhe tinha deixado uma enorme fortuna, queagora estava sendo contestada pelos filhos que ele teve com outra mulher.Rosie fechou os olhos, abatida.No podia ser verdade. Tudo aquilo parecia um pesadelo, ou um quadro igual a tantos que tinham representado juntos.Era tudo faz-de-conta.Quando Vivian foi embora, ela percebeu que a famlia estava certa ao achar que ela tinha escolhido uma vida degradada.Apesar de ter sido feliz, ele lhe tinha roubado o que tinha de mais precioso: o seu amor-prprio."Como que tudo isso pode ter acontecido comigo?", perguntou-se Rosie, repetindo a pergunta que as mulheres faziam a si mesmas desde o incio dos tempos.Mas tinha.Ela, lady Rosamund Ormqnd, durante esses anos todos fora a amante de um ator!21Ele a tinha carregado para um mundo desconhecido e que no compensava tudo o que ela tinha perdido.Mas agora era tarde demais, tarde demais para mudar, para voltar atrs e admitir que tinha errado. Era bonita e fazia sucesso.O nome de Rosie Rill estava escrito em letras enormes, em tudo quanto era publicidade do teatro de variedades."Vou mostrar que sou to boa quanto eles, seno melhor!", afirmou para simesma, desafiadora.E foi exatamente o que fez. Entretanto, no final das contas, o que ganhara com isso?Apenas dois postais de parabns, no dia em que fazia cinquenta e cinco anos, e um pequeno ramo de flores baratas, oferecido por Amy, sua camareira."Que dio! Odeio esta vida aborrecida, preferia estar morta!", murmurou, entre dentes. Nesse momento, Amy entrou.- Est a uma pessoa que lhe quer falar, miss Rosie!- Quem ?- Ela no disse o nome, apenas que sua sobrinha e que precisa muito falar com a senhora.- Minha sobrinha? - perguntou, olhando espantada para Amy.Tentava lembrar-se quem teria representado o papel de sua sobrinha, na ltima pea que tinha feito no teatro.Como o pblico queria ver a "nossa Rosie", como a chamavam, tinham escrito um quadro especial para ela, uma coisa ligeira, porque nunca tinha sido uma verdadeira atriz e no podia enfrentar um papel mais elaborado, mais forte, que precisasse de uma atriz mais velha.Algum devia ter feito o papel de sua sobrinha, mas quem?No podia estar to esclerosada a ponto de no se lembrar disso!- Bem, vai ou no vai receb-la? - perguntou Amy.- Oh, mande-a entrar. Qualquer coisa ser melhor que ficar aqui sentada, recordando o passado!Era melhor conversar com uma jovem atriz do que com ningum.22passado um pouco, Amy reapareceu.- Aqui est ela! Diz que se chama Ina Westcott. Rosie voltou a cabea, lentamente.Uma moa ainda muito jovem e nervosa entrava pela porta.- Obrigada - disse a moa a Amy, com voz doce. Rosie ficou olhando para ela, sem saber se estava louca outendo uma alucinao.A jovem que se aproximava parecia ser ela mesma, h quarenta anos atrs.23

CAPITULO II

Por alguns momentos, Rosie ficou olhando, boquiaberta, incapaz de qualquer outra reao. Depois, com uma voz estranha, perguntou:- Quem voc?- Sou sua sobrinha - respondeu a jovem, assustada. E pode ser uma impertinncia minha. mas vim pedir a sua ajuda.- Ajuda? - repetiu Rosie, com a sensao de que seu crebro tinha parado de funcionar.Ento, inesperadamente, a moa sorriu e seu rosto se iluminou, ao dizer:- Estou to emocionada por conhec-la! Ouvi falar tanto da senhora, que, para mim, foi sempre a pessoa mais excitante do mundo!- Como poderia eu ser? - perguntou Rosie, e, reparando que a moa que se parecia tanto com ela estava em p, disse:- Sente-se, meu bem, e conte-me o que se passa. Voc me pegou de surpresa, e estou um pouco confusa.- Eu estava com muito medo de que a senhora no quisesse me receber.- Vamos comear do princpio - sugeriu Rosie. - Diga-me exatamente quem .- Sou filha da sua irm mais nova, Averil.- Averil!Averil era apenas uma garotinha quando Rosie fugira de casa.Era uma criana linda, de olhos azuis, que ainda brincava com a bab, enquanto a outra irm, Muriel, comeava a aprender a ler.24Ento voc filha de Averil! - disse, depois de algunsinstantes. - Fale-me dela.Ina ficou olhando para Rosie e depois perguntou: No sabia que mamemorreu?- Lamento muito, no fazia ideia.- E agora papai tambm morreu, e no tenho para onde ir. Pensei que. quese no estivesse muito ocupada Talvez pudesse me ajudar a encontrar umtrabalho que desse para me manter.Rosie olhou para Ina como se no acreditasse no que estava ouvindo.- Est dizendo que sua me a deixou sem dinheiro? E seu av? Sei que ainda est vivo.Rosie sabia porque, nos dias interminveis em que no tinha nada que fazer, nem ningum com quem conversar, costumava ler as colunas sobre a corte nos jornais, e os artigos sociais das revistas femininas.Ocasionalmente referiam-se a seu pai. governador de Hertfordshire h muitos anos.- Acho que meu av ainda vive, mas creio que a senhora no sabe que mame foi renegada pela famlia por que fugiu de casa com o homem que amava - disse Ina.- Sua me fugiu de casa? - repetiu Rosie, incrdula. Ina sorriu, ficando igual a Rosie quando tinha a mesma idade e a mesma pureza.- Mame no fugiu com uma pessoa to bonita e famosa como a que a senhora escolheu, mas com o proco auxiliar da igreja do parque. Lembra-se da igreja?- Sim, claro que me lembro.- Papai no era to bonito como o sr. Vaughan, mas tinha uma boa aparncia. Eu costumava arreli-lo, dizendo que as mulheres da nossa parquia s vinham igreja para ficar olhando para ele, esperando que lhes desse alguma ateno.- Ento Averil casou-se com um vigrio!- Mame contou-me como vov ficou furioso, ao saber que ela estava apaixonada. Gritou com ela e disse que, se25casasse com papai, podia ir embora de casa para nunca mais voltar!Ina olhou para Rosie, apreensiva, antes de continuar- Ele acrescentou que j tinha tido uma filha que fizera um casamentodesastroso, e no admitiria que isso voltasse a acontecer.- Isso era bem de meu pai! - afirmou Rosie, num tom duro.- Ele foi muito cruel com mame, e proibiu-a de voltar a ver papai. Foi fazer queixa ao bispo, que transferiu papai para uma pequena aldeia, num lugar ermo de Gloucestershire.- E sua me foi com ele?- Eles fugiram da maneira mais romntica, e casaram-se a caminho da aldeia para onde ele tinha sido designado. Esperavam que vov os seguisse e tentasse levar mame de volta.- Mas ele no fez isso disse Rosie, adivinhando exatamente o que tinha acontecido.- Mame contou que no souberam mais nada dele, at chegar uma carta em que vov dizia que a tinha renegado como filha, que nunca mais queria ouvir falar nela e que a deserdava!Rosie cerrou os olhos, recordando o que havia sentido, ao receber uma carta semelhante.Como tinha pedido desculpas a Vivian, que obviamente esperava que pelo menos ela tivesse dinheiro suficiente para comprar suas prprias roupas.- Papai e mame eram muito pobres, mas to felizes que creio que nunca se importaram muito.- Felizes mesmo? - perguntou Rosie.- Creio que nunca houve casal mais feliz. S quando eu fiquei mais crescida que mame costumava dizer que lamentava no poder meproporcionar tudo o que ela tivera: cavalos, carruagens, vestidosbonitos, festas e bailes.- E, naturalmente, um grande nmero de amigos da nossa prpria classe social - murmurou Rosie, entre dentes.Ina deu uma risada jovem e alegre.- No acredito que mame se importasse por no ter mais26essas coisas, feliz como era com papai. O nosso pequeno vicariato era lindo e confortvel, e no me lembro de ter havido preocupao com dinheiro... S agora.Ergueu os olhos azuis cheios de medo para Rosie, dizendo baixinho:- Foi por isso que eu vim falar com a senhora.- E acha mesmo que posso ajud-la?- No tenho mais ningum. Papai no tinha dinheiro nenhum alm do que ganhava, e agora, que ele est morto pelo menos tenho que ganhar paracomer.Tentava falar despreocupadamente, mas percebia-se que estava apavoradacom o futuro.- Meu bem, acho que, se for ter com seu av, ele vai perdo-la pelo"pecado" de seus pais e receb-la de braos abertos.- No me parece provvel. Quando mame morreu, papai escreveu-lhe, dando-lhe a notcia por julgar que era sua obrigao.- E o que aconteceu?- A carta de papai foi devolvida, rasgada ao meio! Rosie susteve a respirao.- Que atitude desprezvel!- Papai ficou muito magoado. E sei que se mame soubesse, teria chorado muito.Ina fez o comentrio com toda a simplicidade e, aps um breve silncio, Rosie disse:- Ento voc veio ter comigo porque no tem ningum mais a quem recorrer.- Absolutamente ningum! De qualquer forma, eu sempre quis conhecer a senhora, porque achava que tinha tomado uma atitude corajosa e linda, fugindo como mame e tornando-se to famosa, juntamente com seu marido.Os lbios de Rosie se estreitaram, antes de dizer:- Como que pode saber? No acredito que seus pais falassem de mim.Olhando prolongadamente para a tia, Ina corou um pouco.- Apesar de me parecer estranho, penso que papai se chocava27com o fato de a senhora ser atriz. Mas mame costumava falar sobre asenhora, quando estava a ss comigo. Fez uma pausa e suspirou.- Contava-me como a senhora era bonita, como todos a admiravam e que vov esperava que fizesse um casamento muito importante, com algum to distinto como ele.Rosie no fez nenhum comentrio, e Ina juntou as mos ao continuar:- Para mim, era a histria mais romntica que eu podia imaginar, e passei a ler tudo quanto escreviam sobre a senhora, nos jornais e nas revistas.- Sua me conversava com voc sobre mim? - perguntou Rosie, finalmente.- Creio que o que a fez ter coragem de fugir de casa foi saber do seu sucesso e da sua felicidade.Rosie engoliu em seco e, para mudar de assunto, disse:- Voc tem que dizer exatamente o que acha que posso fazer por voc.- Pode parecer muita presuno da minha parte, mas, como to famosa, pensei que talvez pudesse me arranjar algum trabalho no teatro, se no como atriz, pelo menos nos bastidores, costurando ou ajudando.Vendo que Rosie no tinha entendido bem, acrescentou:- Sou nova demais para ser governanta, e no sei fazer nada que me possa render dinheiro.Houve uma pausa, enquanto Rosie pensava que no seria difcil conseguir que uma moa to bonita trabalhasse no teatro de variedades.Mas lembrava-se ainda da agonia por que tinha passado na idade de Ina, quando aparecera pelas primeiras vezes por trs dos refletores, por causa da insistncia de Vivian.Nos anos que se seguiram sua sada do teatro, passava os dias sozinha, sem se interessar por nada.Os amigos, e tivera alguns maravilhosos, apareciam cada vez menos para visit-la.Foi a partir da que se arrependeu amargamente do momento28de loucura em que tinha trocado a segurana do lar, a famlia e sua posio de filha de um conde por um ator bonito.No sabia como dizer a esta criana que tanto se parecia com ela da luta interminvel que era viver sob a mira do pblico, tentando conseguir sempre um papel melhor na prxima pea, no prximo espetclo e nos que estivessem por vir.Como poderia contar as inmeras tentaes a que fora submetida a esta garota pura e inocente, criada num vicariato?Enquanto pensava que era esposa de Vivian, resistira, porque o amava. E mesmo nesse tempo, no fora fcil.s vezes tinha medo no s da paixo que despertava nos homens, mas tambm que as suas recusas afetassem a sua posio junto diretoria do teatro.Eles queriam acima de tudo que seus benfeitores estivessem satisfeitos.Ento, quando Vivian a abandonou, sabendo que nem ao menos tinha sido casada com ele, achou que a vida tinha terminado e que quanto mais cedo morresse, melhor.Ele partira ao terminar um espetclo, e ainda faltava uma semana de ensaios para comear o prximo.Depois de chorar dois dias sem parar, Rosie chegou a ir at o rio Tamisa, e ali ficou, contemplando suas guas negras, que corriam em turbilho, com vontade de acabar com aquele sofrimento por um homem que no a queria mais.Mas um estranho orgulho, o orgulho demonstrado pelos primeiros Ormonds na batalha de Agincourt, devolveu-lhe a vida, o mesmo orgulho que os fezreceber uma condecorao real atrs da outra fazia agora que ela nopermitisse que Vivian ou qualquer outra pessoa a derrotasse.Foi para o teatro e convenceu o sr. Holingshead a escrever uma parte para ela, sem Vivian.E tomou uma firme deciso.Havia de mostrar ao homem que a abandonara que passaria muito bem sem ele.Encarava cada aplauso, cada elogio da crtica, cada cumprimento que recebia como um gesto de desafio ao homem que tanto tinha amado.29Ele a deixara por uma mulher mais rica. "Ultimamente, s o que conta:dinheiro!", afirmava para si mesma, com amargura.Nem amor, nem devoo, nem auto-sacrifcio. S moedas de ouro.Lenta, mas progressivamente, a doce, meiga e gentil Rosie Rill, que juntamente com Vivian fizera o par mais belo do mundo, foi-se transformando numa pessoa bem diferente. Bela, mas sem se ajoelhar maisaos ps do homem amado. Determinada, por mais dificuldades que tivesseque enfrentar, a levar a vida a seu modo.Mas o destino quis que Rosie sofresse novo golpe, novamente sob a forma de um homem.No incio, contra a sua prpria vontade, esforou-se por aceitar os convites para cear que sempre recusara se Vivian no estivesse presente. Agora, esses convites se multiplicavam. O seu camarim vivia repleto de flores. No princpio, quando ainda se sentia desesperadamente infeliz, tinha o cuidado de s aceitar convites que inclussem um grupo de pessoas do teatro.Depois conheceu o marqus de Colthaust. Ouvira e lera muito sobre ele, e via-o no mesmo camarote do teatro, noite aps noite.Apesar de no ligar para fofocas, ouvia as histrias dele com as mulheres mais belas do teatro de variedades.Dizia-se que era muito generoso. Tendo olhos apenas para Vivian, Rosie nunca se deu conta que as conquistas do marqus duravam sempre pouco tempo.Um dia, ele a convidou para cear, dizendo que haveria mais pessoas e que iria busc-la depois do espetculo.Para sua surpresa, ele no a levou para o Romano's, como ela esperava,mas para a casa dele, em Grosvenor Square.Nem se apercebeu de que era um privilgio que nenhuma outra atriz tivera, achando simplesmente que no era muito normal ele lev-la para cear em sua prpria casa.Ao chegar, estranhou que no houvesse mais ningum, e fitou-o, intrigada.30Quero falar com voc, Rosie, ou devo cham-la Rosamund? - disse o marqus.Rosie teve um sobressalto.Levei algum tempo para descobrir a verdade a seu respeito, mas agora vejo que parecida com outros membros da sua famlia.Rosie afastou-se dele, com petulncia.- No quero falar sobre a minha famlia, e estou certa de que no falariam com voc sobre mim.- Acho que foi muito corajosa ao fugir com Vaughan e que ele agiu muitomal, deixando-a.- No quero a sua piedade, nem a de ningum! - retorquiu Rosie.- Entendo seus sentimentos, mas como diferente de todas as outras mulheres do teatro, quero que me fale de voc.Parou de falar e ficou olhando para ela.- Tambm quero entender como conseguiu amar um homem como Vaughan, completamente estranho vida que voc levava, antes de conhec-lo.Rosie tinha jurado a si mesma que nunca falaria a ningum sobre aquele assunto, mas o marqus tinha alguma coisa que o tornava irresistvel.Pela primeira vez desde que Vivian a tinha deixado, contou o quanto tinha sofrido e as dificuldades que tinham passado, nos anos em que haviam estado juntos, como se adaptara maneira de viver de Vivian e aos seus interesses.- Apesar de no princpio no ter notado, ficou sabendo a diferena entre um homem bonito, mas vulgar, que viera de uma classe social diferente da sua, e um aristocrata como o marqus.Era uma diferena que no se podia traduzir em palavras.Tinha conscincia da forte presena dele, mas, como toda a sua vida fora dedicada a um s homem, no percebeu que ele a estava seduzindo de maneira sutil.E acabou se apaixonando por ele.Claro que se apaixonou! Como poderia resistir a um homem com quem podia falar de igual para igual, que a fazia sentir-se uma verdadeira deusa?31O marqus no era louco a ponto de mostrar o jogo imediatamente.Primeiro cearam juntos, com toda a tranquilidade, e depois levou-a para casa, beijando-lhe a mo.S depois de duas semanas encontrando-o diariamente que Rosie admitiu para si mesma que estava apaixonada.Era um amor convicto, no a paixo entusiasmada e inconsequente de uma escolar romntica.O marqus comprou-lhe uma casa em St. John's Wood, que ela mobiliou com instintivo bom gosto, que estava adormecido durante os anos e anos de mudanas de uma penso para outra, que culminaram no apartamento de Covent Garden, j mobiliado.Esta casa era dela, e ela a amava, tal como amava o marqus. Tinha esperanas de que ele lhe pedisse para abandonar o palco, mas logo percebeu que tudo aquilo representava um lado muito importante na vida dele.Gostava de ter o camarote esperando por ele, noite aps noite, depois das horas aborrecidas que passava na Casa dos Lordes, jantando com os homens de Estado, ou em Marlborough House, com o prncipe de Gales.Frequentemente, s conseguia chegar ao teatro no ltimo ato, mas precisava dessa distrao.Quando Rosie trocava a roupa de cena, colocando um vestido de noite, usando as zibelinas que ele lhe tinha oferecido, j a carruagem dele a esperava na porta.Ele parecia transformar tudo o que faziam em algo excitante e, de certa forma, mgico.Rosie, finalmente, admitiu para si mesma que o amava mais do que tinha amado Vivian, e comeou a rezar com toda a sua alma para que ele se casasse com ela.No podia imaginar nada mais maravilhoso do que ser esposa do marqus.Poderia deixar para sempre a frivolidade do teatro e ficar muito feliz, sendo a senhora da enorme casa ancestral que ele tinha no campo.Poderia receber nos sales maravilhosos de Grosvenor Squae e imaginava-se sentada no extremo da enorme mesa da sala de jantar, usando os brilhantes dos Colthaust, muito mais valiosos do que qualquer coisa que sua mepossusse.Imaginava o espanto de seu pai, quando soubesse que, apesar do seu ostracismo, o marido da filha era socialmente mais importante do que ele.Por favor, meu Deus, faa com que Lionel me pea em casamento. meu Deus, por favor!Todos os fins de semana, quando ele viajava, ela ia para a igreja pedir perdo por alguma coisa errada que tivesse feito na vida e que Deus olhasse por ela, agora.Passou mais de um ano imensamente feliz e to profundamente apaixonada que esse estado de esprito parecia irradiar dela, quando estava no palco.Sua popularidade aumentava sem parar.Todas as revistas publicavam fotografias suas de corpo inteiro, e sempre que escreviam sobre o teatro de variedades, os crticos a mencionavam.O sr. Hollingshead deu-lhe melhores papis e roupas ainda mais luxuosas para usar.- Voc a encarnao do prprio teatro de variedades, Rosie, de tudo aquilo que tento educar o pblico para apreciar- disse-lhe o sr. Hollingshead, sorrindo.Rosie procurou decorar aquele elogio, para mais tarde poder repeti-lo ao marqus.Foi ento que o sonho acabou.Depois do Natal, o marqus disse-lhe que em fevereiro pretendia ir para Monte Carlo.Sabia que ele tinha uma vila no principado. Ele costumava falar muitasvezes dos divertimentos e da alegria de Monte Carlo, e de como a cidade era o mximo da moda, frequentada at mesmo pelo prncipe e a princesa deGales.Esperou que ele a convidasse a ir, mas os dias foram se passando, e como ele no dizia nada, percebeu, chocada, que pretendia ir sozinho.- Voc no vai ficar longe muito tempo, vai?- Tudo depende do ambiente. No ano passado, estive apenas uma semana - respondeu ele.33Mais animada, disse a si mesma que no devia se intrometer na parte da vida dele que era distinta da que passava com ela.Antes de partir, ele parecia muito ocupado, apesar de passar a maioria das noites com ela, que se sentia mais feliz do que nunca.- Voc est muito bonita, Rosie - disse-lhe, quando estavam os dois deitados na cama grande e confortvel que parecia ocupar todo o espao do quarto da casa dela.- S a sua opinio me interessa - respondeu Rosie, com toda a sinceridade.Os aplausos que recebera nessa noite s tinham sido importantes porque o marqus estava no camarote, assistindo a tudo.Fora chamada ao palco seis vezes, e enormes cestos de orqudeas lhe haviam sido entregues em cena.Finalmente, acenou para aquele pblico carinhoso, levando apenas um ramo de rosas vermelhas que o marqus lhe tinha mandado.Quando chegou ao camarim, encontrou, uma pulseira de turquesas ebrilhantes escondida entre as hastes das flores.Emocionada, colocou-a no pulso e trocou de roupa depressa.Desceu correndo as escadas que iam dar na porta dos artistas e encontrou o marqus esperando por ela.Estava magnfico com sua capa e o alfinete de gravata, uma prola perfeita, impecavelmente colocado.Rosie teve a sensao de que uma onda de amor por aquele homem a envolvia.- Como pode ser to gentil, to maravilhoso para mim? perguntou enquanto subia na carruagem dele.- Achei que a pulseira lhe ficaria bem.Jantaram no Romano's, onde Rosie, de to apaixonada que estava, sentiu que todos os presentes a invejavam por estar acompanhada pelo homem mais elegante e distinto de Londres. Quando voltaram para St. John's Wood, teve o ligeiro pressentimento de que ele a olhava de uma maneira estranha. Fizeram amor com paixo. Rosie sentiu-se levada s estrelas.- Eu o amo! Eu o amo! - disse, pensando que, se ele a pedisse em casamento naquele momento, teria a sensao mais maravilhosa da sua vida.34Ele saiu um pouco mais cedo que o habitual, mas Rosie oensou que fossepor causa da longa viagem que iria fazer no dia seguinte.Beijou-a ternamente, mas sem paixo, ao dizer:Cuide bem de voc, minha cara Rosie.E foi para a carruagem que estava esperando por ele."No vai ficar longe muito tempo", pensou Rosie para se consolar,adormecendo a seguir.No dia seguinte, recebeu uma carta do marqus, dizendo-lhe que tudo entreos dois tinha terminado.No conseguia acreditar no que estava lendo, mas a sua intuio lhe disseque era o tipo de carta que ele j devia ter escrito dzias de vezesantes.Agradecia toda a felicidade que tinham desfrutado juntos, e supunha queela entendesse que mesmo as melhores coisas da vida no duram parasempre.Mas como Rosie podia entender que o tinha perdido, se o amavadesesperadamente?Sem derramar uma s lgrima, sentiu de repente que todo o seu corpoparecia ter-se transformado num bloco de pedra.No tinha mais sentimentos, e seu crebro, de certa forma, parara de funcionar.Foi para o teatro, entrando em cena automaticamente.Parecia uma marionete, movimentada por cordes invisveis.Nem se deu conta de que o resto do elenco parecia evit-la.Quando encontrava algum nos corredores, todos tinham pressa em se afastar.Foi Amy quem lhe contou tudo, Amy, a sua camareira, que estava com ela h trs anos.Amy nutria pela patroa uma afeio verdadeira, que nunca a deixava mentir.Ningum no teatro tinha tocado no nome do marqus, mas quando Rosie estava quase pronta para voltar para casa, sozinha, Amy falou:- Agora, no v despedaar o corao por causa desse homem que no a merece, nem a qualquer outra mulher que seja suficientemente estpida para se apaixonar por ele. Essa jovem Millie vai perceber isso num instante!35As ltimas palavras fizeram com que Rosie ficasse olhando espantada para Amy.- O que que voc quer dizer com isso?- Ela a nova garota que aparece como "primavera" no primeiro ato e no quadro de "Diana, a caadora".- E o que ela tem a ver com o marqus? - perguntou Rosie, com uma voz que parecia no lhe pertencer.- melhor perguntar a ela mesma, quando voltar de Monte Carlo! O homemconseguiu convencer o patro a dar-lhe uma semana de licena. H gente com sorte!- No acredito! - gritou Rosie, sabendo que a garota em questo era nova na companhia.Como Millie parecesse to jovem e inexperiente, Rosie sara dos seus cuidados para conversar com ela carinhosamente.Sabia que podia estar to assustada como ela prpria ficara na primeira vez que fora ao Olympic com Vivian.Mal o romance acabou, veio tona o lado comercial do relacionamento.O advogado do marqus deu-lhe o prazo de um ms para deixar a casa de St. John's Wood.Fora to tola que'nem perguntara se a casa estava mesmo em seu nome.Desconfiou que o marqus queria instalar nela uma nova ocupante.Foi quando Rosie jurou duas coisas para si mesma: primeiro, que nunca mais entregaria o corao a mais nenhum homem, segundo, que teria dinheiro suficiente para comprar tudo o que quisesse, o dinheiro que Vivian j lhe tinha dito que era mais importante do que o amor.O marqus tinha sido generoso, e ela recebera uma larga quantia em dinheiro.Mas tinha sido suficientemente tola para pagar com esse dinheiro vestidos, coisas para a casa, comida e bebida, quando queria lhe fazer um mimo."Nunca mais voltarei a fazer isso!", jurou Rosie.A partir de ento, nunca mais deixou que o corao comandasse a cabea, e passou a se vender conscientemente.Nos anos seguintes, a sua vida teve uma verdadeira procisso36de milionrios que imploravam seus favores e entre os quais ela escolhia criteriosamente.O homem que conseguisse que Rosie fosse sua amante era admirado pelos amigos e tinha sempre pontos a seu favor.Ela, por outro lado, garantia a veracidade do antigo ditado que dizia que quanto mais um homem paga, mais aprecia, fazendo-os pagar, e bem.Nunca mais voltou a comprar nada para si mesma.A casa em que morava, os vestidos, a comida, os criados, as jias, a costureira, tudo lhe era oferecido generosamente.Assim como o sr. Hollingshead a vestia para as cenas, seus amantes a vestiam para o mundo l fora.No havia ningum no teatro de variedades que possusse melhores jias, peles mais valiosas e roupas de melhor qualidade.Seus dedos eram cobertos de anis preciosos, e uma manta de zibelina cobria-lhe os joelhos na carruagem puxada por dois cavalos primorosos.Os seus empregados usavam librs que rivalizavam com as dos criados da realeza.Era o principal assunto de Londres, e se quisesse deixar o teatro, uma dzia de outros teatros se abririam para ela.Quando chegou aos quarenta anos, sabendo que nunca tinha sido uma verdadeira atriz e que seu sucesso era devido apenas sua aparncia, preparou a sua retirada.A maquilagem j no podia disfarar as rugas que comeavam a surgir. J no era mais a deusa primaveril dos contos de fada, como fora durante tantos anos.Orgulhosamente, aos quarenta e cinco e aparentando dez anos menos, Rosie abandonou o teatro.Sabia melhor que qualquer empresrio que no podia mais aceitar os papis que poderiam lhe oferecer.No era uma intrprete, apenas uma atriz de variedades, o que era muito diferente.Todo o seu desempenho teatral havia sido participando de pequenos quadrosmuito bem escritos, onde no precisava ter nenhum talento dramtico.Tinha simplesmente que aparecer linda e extremamente elegante,37nos vestidos que disfaravam o envelhecimento de seus braos emos e da linha do queixo, que comeava a cair.O orgulho que sempre estivera presente na sua maneira de ser avisou-lheque era hora de fechar a cortina, antes que a fechassem por ela.Despediu-se no fim de uma temporada, e no se surpreendeu quando GeorgeEdwardes, que ficara no lugar do sr. Hollings-, head, no fez pressopara ela participar do elenco do novo espetculo que comearia dentro detrs semanas.Tinha decidido recusar qualquer contrato, mas quando constatou que nenhum mais tinha aparecido, sentiu-se muito triste.Toda a amargura da sua vida passada a acompanhava, ao ficar sozinha noapartamento encantador que dava para o Regent's Park.Seu ltimo amante o tinha comprado, e ela tomara todas as providncias para garantir que no o perderia quando a ligao terminasse." meu! Meu!", exclamara para si mesma, sabendo que constitua uma pequena e pobre consolao por tudo o que tinha perdido.De incio, os colegas de trabalho vinham visit-la, mais por curiosidade que por carinho.- Quando voltar ao palco, Rosie?- Estou gostando muito de no fazer nada - respondia. Contudo, gradualmente, as visitas foram rareando, e os convites para almoar e jantar tambm.- Estou sozinha, completamente sozinha!A amargura tinha-se tornado parte predominante da sua maneira de ser.Num sobressalto, Rosie viu que Ina olhava para ela, esperando a resposta de como poderia ajud-la.Viu naqueles olhos azuis o mesmo medo que sentira h tantos anos atrs.Se falhasse, a garota no saberia o que fazer em seguida.Olhou para a sobrinha, to linda, to inocente, to parecida com ela, e teve a sensao de que algum lhe dizia que ali estava o seuinstrumento de vingana, um instrumento atravs do qual repararia todo omal que lhe tinham feito.38Seria louca se no o usasse.Poderia se vingar daqueles que a tinham ferido, daqueles que a tinham abandonado sem mais nada para consol-la, a no ser recordaes."Eu lhes mostrarei!", repetiu silenciosamente.E, em voz alta, com um sorriso que abrandou momentaneamente a habitual expresso dura de seus lbios e o cansao do olhar, disse:- Mas claro que voc vai ficar comigo, Ina querida, vou ficar muito feliz por t-la comigo!39

CAPITULO III

Quando comeara a ganhar dinheiro, Rosie fora suficientemente inteligentepara procurar um bom corretor.Um dos seus amantes, um banqueiro milionrio, comentara com ela que tinha um empregado que era o melhor e o mais esperto corretor de Londres.Fora consult-lo, e a partir da deixara tudo nas mos do homem, que em dez anos triplicou o seu dinheiro.Na poca em que abandonou a carreira artstica, ela j era uma mulher muito rica, porque tinha economizado tudo quanto recebia.Habituada a poupar, quando ficou sozinha continuou a ter cuidado com todo tosto que gastava.De qualquer forma, alm de roupas e comida, tinha pouca necessidade de despender dinheiro.Amy cuidava dela, e diariamente vinha uma cozinheira preparar as refeies, que nunca eram muito complicadas.Essa mulher tambm lavava o que Amy deixava para ela.Agora, porm, Rosie tinha um timo pretexto para gastar dinheiro.Durante todos os seus anos de teatro, mantivera deliberadamente o nome de famlia em segredo, obrigando Vivian a fazer o mesmo.Mais tarde, fizera o marqus dar a sua palavra de honra de que tambm no revelaria a ningum que tinha descoberto quem ela era, pois o orgulho a impedia de tirar a famlia do alto do pedestal onde se tinha colocado.O marqus chegou a dizer-lhe que a respeitava muito por essa atitude, que poucas mulheres tomariam.Mas ele a abandonara, e, menos de seis meses depois, casara-se.40Quando Rosie abriu o jornal e viu o anncio do seu noivado com a filha de um duque, julgou que ia desmaiar.Nunca tinha desejado tanto uma coisa na vida como tornarse esposa dele.Contudo, mais uma vez se provava que havia sempre interesses superioresao amor.Neste caso no fora dinheiro, mas sangue.Rosie levou bastante tempo para planejar como iria usar Ina para se vingar.A cada minuto que passavam juntas, via que a garota era exatamente como ela fora, aos dezoito anos.Habituada a morar no interior, tudo em Londres era motivo para Ina ficar cheia de excitao, maravilhada.Admirava o trfego das ruas, os elegantes cavalos e carruagens e os cavaleiros que passeavam em Rotten Row.Ficava encantada com as lojas, e quase perdeu a fala de tanta alegria quando Rosie a levou s costureiras.Primeiro, Rosie ficou em frente do espelho, analisando-se.No examinava Rosie Rill, a estrela do teatro de variedades, mas lady Rosamund Ormond, filha do conde de Ormond e Staverley.Seu pai, que a tinha condenado todos esses anos e que agora era um homem de quase oitenta anos, ainda ficaria perturbado e chocado com o que ela pretendia fazer.Queria feri-lo como ele a tinha ferido.Observando-se no espelho, viu que, debaixo da mscara de rouge e p, ainda conservava a beleza do seu nariz fino e clssico e do formato oval do rosto.Quando sorria, as rugas dos cantos da boca desapareciam.O encanto que tinha cativado tantos espectadores assduos continuava a existir.Lavou o rosto e voltou ao espelho, sentindo-se momentaneamente nua.Lady Rosamund Ormond tinha que ter a aparncia distinta, e, se ela quisesse, de uma verdadeira dama.O cabelo, de tanta tintura, parecia mais louro do que antes.Mandou que o cabeleireiro o pintasse de cinza, para que41crescesse todo na cor natural. O homem no queria acreditar no que estava ouvindo.- O que est pretendendo, miss Rill? - perguntou com impertinncia. - No vai ficar a mesma, se tentar parecer mais velha.- No estou tentando, estou velha, e quero aparentar a idade que tenho.Quando ele terminou, estava uma perfeita senhora de cinquenta e tantos anos, mas, de certa forma, muito mais atraente do que quando tentava desesperadamente recobrar a juventude perdida.Como no era de comer muito, continuava esbelta. Os vestidos que escolheu na costureira mais cara de Hanover Square realavam a sua figura, sem tentar torn-la vulgarmente prvocante.- um prazer vesti-la, miss Rill - disse a gerente, com toda a sinceridade.Rosie sabia que agora estava igual s outras clientes que compravam na mesma loja.A maioria delas eram aristocratas de vida social intensa, transitando volta do prncipe de Gales, em Marlborough House.Suas fotografias podiam ser vistas em todas as revistas de luxo.com Ina a coisa era mais fcil.Rosie comprou-lhe os mais belos e elaborados vestidos prprios para uma debutante.A maioria das moas que vinham a Londres para a temporada no podiam ter vestidos to caros.- Como pode me oferecer coisas to lindas? Sinto-me uma princesa de contos de fadas - disse Ina.- exatamente como eu quero que se sinta. A partir de agora, tem que se lembrar sempre de que uma princesa e comportar-se como tal.Ina sorriu para a tia.Era o mesmo sorriso com que Rosie tinha conquistado tantas plateias.42A senhora a minha fada madrinha, e eu lhe agradeo de todo o corao - disse ela docemente.Rosie ficou comovida, mas, sufocando a emoo, decidiu que a nica coisa que importava era ensinar Ina a desempenhar bem o papel que lhe cabia naquela trama.Seria um desempenho real, sem as luzes da ribalta.E, apesar de a garota no saber, seria altamente dramtico.Quando as roupas ficaram prontas, Rosie pagou a conta sem ao menos conferir o total, e anunciou que da a trs dias estariam partindo para Monte Carlo.Ina soltou um grito de alegria e excitao:- Monte Carlo! Que maravilha! o lugar que eu mais desejava conhecer! Mas papai dizia frequentemente que muita gente, incluindo os bispos, acha que um lugar de pecado por causa do jogo.- O jogo no vai afet-la, mas todas as pessoas importantes estaro no cassino depois do jantar, e ns vamos encontr-las.Reparou que Amy estava se coibindo de fazer uma dzia de perguntas, por causa da presena de Ina.Rosie j tinha avisado para segurar a lngua, sempre que Ina estivesse por perto.Assim que ficaram sozinhas, Amy perguntou:- Posso saber o que tem na cabea?- Estou lanando miss Ina na alta-sociedade!Amy olhou para ela de soslaio, e depois de alguns instantes, comentou:- A senhora no me engana!- Pois bem, ento espere para ver o que acontece - retorquiu Rosie, mas Amy no se deu por vencida.- A senhora est planejando alguma maldade, miss Rosie, e eu quero saber o que !- Se quer mesmo nos acompanhar a Monte Carlo, por favor, vista os uniformes pretos que comprei para voc e comporte-se como a camareira de uma dama - cortou Rosie, severamente.- Se a esta altura da vida no souber quais so as minhas obrigaes, nunca mais vou aprender!43- No estou preocupada com as suas obrigaes, mas com as coisas que voc diz. Como j lhe disse antes, as camareiras bem-educadas guardam os pensamentos para si mesmas, coisa que voc nunca foi capaz de fazer.- Estou velha demais para mudar! - respondeu Amy imediatamente.Rosie desatou a rir.- Ento mantenha seus pensamentos em silncio, at que ns duas estejamos sozinhas. Depois pode dizer o que quiser.- Obrigada pela generosidade! - retorquiu Amy, com azedume, batendo a porta ao sair do quarto.Apesar dos maus modos, Rosie sabia que no haveria nada que impedisse Amy de acompanh-las a Monte Carlo.Chegou o momento de entrar no trem que as levaria de Victoria Station, at Dover.Amy, de uniforme e chapeuzinho preto que ficava muito bem com seus cabelos grisalhos, levava a caixa brasonada, que continha as jias de lady Rosamund.Esta estava uma aristocrata to perfeita que poderia ter sado de um dos quadros que, porventura, pudessem ter escrito para ela desempenhar no teatro.- De agora em diante, vou usar meu verdadeiro nome, e vocs, por favor, esqueam-se de que alguma vez fui Rosie Rill, a grande estrela do teatro de variedades.- Eu nunca poderei esquecer, tia Rosamund, e estou certa de que aqueles que a virem tambm no vo esquecer como era linda. Li muitas vezes no jornal que a senhora era chamada ao palco inmeras vezes em cada espetculo, porque a audincia a amava.- Isso tudo faz parte do passado - disse Rosie, com firmeza. - Agora voltei a ser eu novamente, e vocs duas tratem de no se esquecer disso.No lhes contou, contudo, que tinha mandado uma nota annima para os dois jornais principais de Monte Carlo.Nela, informava que lady Rosamund Ormond, a antiga Rosie Rill do teatro de variedades, chegava ao Hotel de Paris, com sua sobrinha, miss InaWestcott, neta do nono conde de Ormond e Staverley.44Seguramente haveria jornalistas esperando por elas, quando desembarcassemda carruagem-leito.E no se enganou.Um fotgrafo pediu-lhe uma pose, mas ela se afastou, desdenhosamente.Quando estavam dentro da carruagem que as levaria ao Hotel de Paris, ignorou os reprteres que se amontoavam junto da porta, dizendo:- Por que veio para Monte Carlo, miss Rill? verdade que seu verdadeiro nome lady Rosamund Ormond?- Eu disse que eles nunca esqueceriam a senhora- comentou Amy, toda satisfeita, quando a carruagem comeou a andar.- Eles ficaram todos entusiasmados ao ver a senhora, tia Rosamund -exclamou Ina.Ficaram instaladas em uma das melhores sutes do hotel, com varandas que davam para o porto e para o mar.- to lindo, exatamente como eu imaginei - exclamou Ina, olhando maravilhada para os magnficos iates, ancorados naquelas guas azuis, e para as flores que enchiam de colorido as varandas.Podiam ver um pouco do palcio, numa colina atrs do porto.- Lindo, lindo, lindo! Oh, tia Rosamund, como poderei agradecer por ter me trazido para c?Rosie no respondeu.Estava lendo atentamente, no Journal de Mnaco, o pargrafo que ela mesma tinha redigido."Lady Rosamund Ormond, filha do nono conde de Ormond e Staverley, chegar ao Hotel de Paris com sua sobrinha miss Ina Westcott.Lady Rosamund Ormond era conhecida como Rosie Rill, a estrela do teatro de variedades, e muitos ho de se lembrar do sucesso que obteve nos seguintes espetculos: Ali Bab, A Garota Bomia, Ilha dos Solteiros, O Hipcrita, etc." Rosie sabia que aquela nota seria lida e relida por todos em Monte Carlo.45O interesse aumentaria durante o dia, enquanto um grande nmero de pessoas aguardava que aparecesse pela primeira vez.- Quando poderemos sair para dar um passeio, tia Rosamund? - perguntou Ina, assim que Amy comeou a tirar as coisas das malas.- Ns ficaremos aqui at a noite.- At a noite? - repetiu Ina, espantada.- Sim, querida, at a hora de descermos para jantar. Depois, iremos visitar o cassino.- Mas, tia Rosamund, est um sol lindo, e temos tantas coisas para ver!- Ter muito tempo para ver tudo, e como estou muito cansada, e Amy muito ocupada para a acompanhar, voc vai ficar aqui.- Claro... se assim que deseja - respondeu Ina docemente, mas desapontada. - vou ajudar Amy a arrumar as roupas.Havia muito o que fazer. Tinham trazido uma bagagem enorme.S os vestidos novos de Ina enchiam todo o seu guarda-roupa e mais umarmrio na passagem que ligava o seu quarto com a sala.Ela parecia viver um sonho. Passava o tempo indo janela para ver os iates saindo e entrando do porto. medida que o dia ia passando, as guas do mar tornavam-se cada vez mais azuis e a bandeira hasteada no alto do palcio tremulava ao vento.Era tudo maravilhoso, e ela no se conformava de ter que ficar ali trancada, com tudo o que havia para ver l fora.Mas sabia que seria uma ingratido questionar alguma ordem da tia, que estava sendo to boa para ela.Quando poderia ter imaginado, ou mesmo esperado, que a tia a recebesse debraos abertos, quando fora procur-la, e i ainda por cima que a cobrissede vestidos elegantes e a trouxesse para Monte Carlo?46Deitada na cama do outro quarto, Rosie lia cuidadosamente a lista das pessoas que estavam no principado.A grande maioria eram ingleses, incluindo o duque e a duquesa deMarlborough, lorde Victor Paget, lorde Farquhar.Havia tambm o barbado duque de Norfolk, o conde de Rosslyn e LilyLangtry.Entre os que estavam para chegar, liam-se os nomes do rei de Wurkemberg,os gro-duques Serge e Boris da Rssia, o gro-duque de Luxemburgo,prncipe Kotchoubey.Rosie lembrava-se de que ele andava sempre com um cachorrinho de estimao, um dachshund, enquanto o prncipe Mirza Riza Kahn, da Prsia, usava um fez.Lia os nomes em voz alta, e de repente parou e fitou atentamente o jornal, para se certificar de que no estava enganada."O marqus de Colthaust, acompanhado de seu filho, o visconde Colt."Estava com sorte. Era o que ela queria.Ele estava ali, em Monte Carlo, e ainda por cima com o visconde Colt, que era o que ela mais tinha desejado.Amy trouxe as novidades do teatro, que ela, orgulhosa demais, no queria obter por seus prprios meios.Vrias vezes ao longo desses anos, ela, afastada do mundo teatral porque no brilhava mais como estrela, foi assistir a espetculos disfarada, para que ningum soubesse quem era.Vestia roupas simples, e escondia-se atrs de culos escuros e um vu que cobria seu rosto. Sentava-se sempre na ltima fileira da plateia, de onde apreciava s atrizes, desfilando como ela tinha feito durante tantos anos.Vendo os quadros que lhe tinham dado tanto sucesso pela sua beleza, no pelo desempenho, sentia que no tinha perdido nada. Nem ao menos tinha saudade dos velhos tempos.No tinha inveja das flores que a nova estrela recebia.No tinha inveja dos aplausos que as novas garotas provocavam e de ouvir dizer que eram mais belas do que nunca.Amargura, era apenas o que sentia.Tinha perdido o lugar em ambos os mundos a que tinha pertencido.47Recordando nitidamente o seu lar - uma enorme manso rodeada pelos cinco mil acres de terra que pertenciam a seu pai -, o teatro de variedades, apesar de ter sido a sua vida por tantos e tantos anos, parecia cada vez mais irreal. Na verdade, sempre fora uma estranha naquele meio. Na sua vida, s dois homens haviam tido importncia. Primeiro, Vivian Vaughan, que tinha morrido. Tinha lido h trs anos atrs que tivera um ataque do corao.No sentiu nenhuma emoo ao saber da sua morte. Nada, alm da memria de um rosto bonito que, aos dezoito anos, a tinha privado de tudo o que lhe era querido e familiar.Em troca, tinha recebido uma felicidade estranha e ilusria, durante umcurto espao de tempo.Erradamente ele a convencera de que ele era a nica coisa que ela possua, e quando o perdeu, Rosie ficou absolutamente s.A realidade fora essa mesma.Depois, como um meteoro cruzando o cu, apareceu o marqus de Colthaust.O amor que sentira por ele fora bem diferente das romnticas emoes da Rosamund Ormond de dezoito anos.Mas ele a tinha deixado, e a agonia de perd-lo ainda a mantinha acordada de noite.Durante o dia, continuava sofrendo tanto que preferia morrer. E agora, ele estava ali! Ali! Devia estar um velho. Se ela tinha cinquenta e cinco, ele devia ter perto de setenta, e, segundo Amy, o filho seguia seus passos.- Dizem que Lilly Layman est to apaixonada pelo visconde que, quando entra em cena, esquece-se do texto.- Como que voc sabe? - perguntou Rosie.- Fofocas do teatro. a terceira garota que se apaixonou por ele este ano. So todas iguais, apaixonam-se pela aparncia dele, sua lngua de mel e seu dinheiro. Um galho do mesmo tronco, isso o que ele !Sabendo que Rosie morria de curiosidade, Amy ia ao teatro mais vezes do que de costume.48As novas camareiras ficavam sempre satisfeitas em ver Amy. Ficavamfofocando e bebendo cerveja, ou, se uma das atrizes era mais generosa,champanhe.Amy depois voltava para casa correndo, para contar as novidades aRosie.No acontecia nada no teatro que no se ficasse sabendo imediatamente.Cada garota competia com as outras para ter o maior nmero de admiradores.Concentravam a ateno naqueles que lhes proporcionavam os momentos mais agradveis, as jias mais caras e o maior nmero de festas.O visconde Colt, tal como o pai, tinha as suas prprias regras.Divertia-se muito mais em conquistar uma garota que lhe interessasse do que em frequentar festas.Ele as conquistava mais por ser atraente e irresistvel, do que por serrico e importante."Lngua-de-mel uma descrio perfeita", pensava Rosie, lembrando-se dascoisas que Lionel Colthaust costumava dizer-lhe.Como uma coelhinha idiota, hipnotizada por uma cobra, ela no conseguira resistir.Baseada em tudo o que Amy lhe contava, imaginou que o visconde, tal como o pai, sentiria atrao por garotas jovens e pouco sofisticadas.Rosie sabia que tinha sido o seu cabelo louro, seus olhos azuis e sua infantil crena no amor que a haviam tornado atraente para ele.Fora tudo muito natural, porque ela tinha encontrado o amor da sua vida.Ele a envolvia na beleza e na felicidade, e ela ignorava tudo o que pudesse ser desagradvel.S quando o marqus a deixou que percebeu tudo o que tinha perdido.A realidade que tinha que encarar era dura, cruel, e at mesmo brutal.49Aprendeu a pensar uma coisa e a dizer outra, a ter os olhos brilhandocomo estrelas, sem deixar transparecer seus sentimentos.Aprendeu a dizer aos homens aquilo que eles queriam ouvir e que, invariavelmente, era um elogio.A jovem Rosie nunca teria sido capaz de forjar um plano de vingana contra quem quer que fosse, muito menos contra a sua famlia ou contra o homem que tinha amado.Mas a Rosie que tivera que lutar por si prpria, repetindo milhares de vezes para si mesma que nada mais contava a no ser o dinheiro, era uma pessoa completamente diferente.Estava representando o seu prprio drama, e parecia que o destino estava do seu lado.Tudo o que queria haveria de acontecer.O visconde Colt estava jantando com amigos, no Hotel de Paris.O enorme salo de jantar estava repleto e, pelas nove horas, parecia no haver uma nica cadeira vazia.No entanto, a mesa mais bem situada da sala, junto a uma janela, continuava vazia.No dava muito na vista, porque em todas as outras mesas mulheres cobertas de jias e plumas ofuscavam todos os olhares.Os cavalheiros, elegantes com suas casacas e peitilhos engomados, completavam harmoniosamente o conjunto.Era um luxo que no podia ser suplantado, nessa poca do ano, em qualquer outra parte da Europa.- Devo dizer, Victor - comentou lorde Charles -, que raramente vi tantas mulheres bonitas num s lugar, a no ser, claro, no teatro de variedades.O visconde riu.- Sinto-me inclinado a concordar com voc, Charles, e no estou bem certo se as atrizes no sero mais divertidas individualmente, apesar de ter que admitir que esta coleo de mulheres , sem dvida, excepcional - retorquiu o visconde.Olhou para uma das mais famosas bailarinas clssicas da50Rssia, depois para uma conhecida beldade, membro do grupo iviarboroughHouse.Numa mesa mais distante estava a amante do gro-duque Alexis.Diziam que sua beleza fora a causa do suicdio de trs homens, quandodeixara de se interessar por eles.Seguindo o olhar dele, Lorde Charles riu veladamente. Depois, reparouna expresso do rosto do amigo, que deixava transparecer que o atualromance do visconde estava chegando ao fim.A mulher que tinha trazido para Monte Carlo e que estava hospedada comele na vila do pai era encantadora.Aos trinta e cinco anos, lady Constante Fane tinha enterrado um maridoe fugido do segundo, para ficar com o visconde.Era cinco anos mais velha do que ele; no entanto, seria impossvel havermulher mais bela e mais sofisticada na arte de atrair um homem.- O que Constance no sabe sobre a arte do amor poderia ser escrito numselo de correio! - comentara algum, recentemente.Como o homem a quem o comentrio fora dirigido sabia que o viscondeestava na sala, disse em voz baixa ao amigo que tinha falado:- Colt levou vantagem porque, tal como o pai, muito entendido emmulheres!Lorde Charles imaginava em quem os olhos errantes do visconde recairiamagora.O marqus, que estava na vila acamado, com gota numa perna, foraconhecido, durante anos, como "o marqus vicioso".No havia dvida de que seu filho Victor dava seguimento reputao dopai." busca da beleza", disse lorde Charles para si mesmo, sem saber se ladyConstance saberia que o seu reinado estava terminando.Observou-a colocar a mo no brao do visconde para despertar a suaateno.51- Em que est pensando, Victor? - perguntou ela com uma voz doce e sedutora, que fazia de cada palavra uma carcia.- Estava pensando que voc, sem dvida nenhuma, a mulher mais bonita que est aqui - respondeu ele.Era a resposta que ela esperava ouvir. Mas, para lorde Charles, a resposta soou automtica demais, sem sinceridade.Nesse momento, os presentes viraram a cabea para ver as retardatrias que atravessavam o salo, dirigindo-se para a mesa vazia, junto da janela. Essa mesa ficava ao lado da de lorde Charles e do visconde.Ambos olharam com interesse para a distinta senhora, que se aproximava com tanta graciosidade que parecia um navio deslizando ao vento.Ambos tiveram a sensao de j a ter visto.O rosto era familiar, mas no conseguiam identific-lo.Imediatamente atrs vinha uma moa.Parecia a personificao de Prosrpina, despontando das trevas de Hades.Era loura, a beldade tpica inglesa, mas de certa forma diferente desse tipo de beleza.Os olhos enormes, azuis como as guas do Mediterrneo, pareciam preencher todo o seu pequeno rosto.O cabelo, penteado com simplicidade, tinha o dourado do sol, e a enfeit-lo apenas um pequeno boto de rosa.Era a nica nota de cor, pois o vestido que usava era branco.Mas mesmo esse vestido branco era diferente dos vestidos das outras jovens.Entremeado de prata, brilhava como uma gota de orvalho cado de uma flor.Sentou-se mesa, e o visconde e lorde Charles no conseguiam afastar o olhar.- Quem ela? - perguntou lorde Charles, sem conseguir conter a curiosidade.- No fao a menor ideia! - respondeu o visconde. - Mas a criatura mais linda que meus olhos j viram!Reparou que o matre se afastava da mesa para onde as tinha encaminhado.Chamou-o.52Quem so as senhoras que acabam de chegar? - perguntou num francs perfeito.So lady Rosamund Ormond, milorde, de quem Sua Senhoria, seu pai, se lembrar como a estrela de teatro, madame Rosie Rill, e a sobrinha, mm Ina Westcott.- Rosie Rill? No posso acreditar! - balbuciou o visconde, entre dentes.Assim que o maitre se afastou, perguntou a lorde Charles:- Ser que o homem no est enganado? Ele disse mesmo Rosie Rill?- Agora que mencionou esse nome, acho que a estou reconhecendo. S a viuma vz, antes de partir para Eton, mas estou certo de que ela.- E sua sobrinha! - disse o visconde, como se quisesse se certificar de que ela era real.Nesse momento, lady Constance disse suavemente, para desviar a ateno dele:- Voc est me negligenciando, Victor querido!- Como pode pensar uma coisa dessas? - perguntou o visconde, no resistindo a olhar novamente para o rosto absurdamente bonito da jovem sentada na outra mesa.Comparando as duas, lorde Charles achou que lady Constance, de repente, parecia muito velha.Talvez fosse uma iluso de tica, ou talvez porque a recmchegada era muito jovem, jovem demais para estar em Monte Carlo.Tivesse a idade que tivesse, era de uma beleza mpar, e lorde Charles agora tinha a certeza absoluta de que, para o visconde, lady Constance era assunto encerrado.Apesar de t-la trazido para Monte Carlo, ela certamente teria quearranjar outra pessoa para lev-la para casa.com pena, lorde Charles comeou a conversar animadamente com ela.Falaram dos vrios amigos comuns que j tinham encontrado desde que haviam chegado e de outros que ele esperava at o final da semana.- Disseram-me que esta a melhor temporada que Monte Carlo j conheceu - disse ele.53Mas s ento reparou que lady Constance no o estava escutando.O visconde tinha deixado de lado o fingimento e no parava de olhar para Ina.Rosie deu-se conta da sensao que a entrada das duas provocara e do interesse que despertavam nos ocupantes da mesa ao lado.Mas Ina olhava sua volta como uma criana que tivesse acabado de entrar num pas encantado.- Nunca vi tantas jias, tia Rosamund! E no sabia que as senhoras usavam plumas de avestruz nos cabelos, noite.- Usam muito mais durante o dia. sinal de que ou so muito ricas ou que o cavalheiro que as acompanha pode proporcionar-lhes o que h de melhor!Falara irrefletidamente, e s depois reparou que no era o tipo de coisa que pudesse comentar com Ina. Felizmente, ela no estava prestando muita ateno.- Por que todo mundo vem aqui? A comida melhor que nos outros lugares?- No a comida que os motiva, mas as companhias explicou Rosie. - As mulheres que visitam Monte Carlo querem ver e ser vistas. Esta terra o cenrio perfeito para os ricos, as pessoas de sucesso e as beldades.Ina desatou a rir.- Oh, tia Rosamund, a senhora diz coisas de um jeito to engraado! De certa forma, tudo isto mais parece uma pea de teatro do que a realidade.- E exatamente o que - respondeu Rosie, olhando de soslaio para a mesa do lado."Fui muito esperta!", disse para si mesma, reparando na expresso do visconde ao olhar para Ina.Ela tinha dado uma generosa gratificao ao matre, para ficar na mesa aolado da que estava reservada em nome do visconde Colt. E tinha valido bema pena.Agora, a no ser que estivesse enganada, a cortina ia subir e o drama, oseu drama, ia comear.Suspirou, satisfeita, e pediu meia garrafa de champanhe e gua mineral para Ina.54Nem lhe perguntou o que queria beber, pediu o que achava prprio parauma jovem daquela idade.Da mesma maneira, tinha encomendado vestidos que, sabia, tornariam a sua protegida o alvo de todos os olhares, quando entrassem no salo de jantar."A juventude tem um brilho e um encanto todo peculiar", pensava.Lembrava-se claramente de ter provocado um murmrio geral nos homens da plateia, na primeira vez que subira ao palco.E no fora s por ser bonita, mas por personificar o ideal que todos continham no corao e que nunca esperavam ver."E com isso lucrei apenas uma breve alegria com dois homens, um que preferia dinheiro ao amor e o outro, sangue azul", pensou, cinicamente.Olhou novamente para o visconde, sentindo que o odiava por ser filho dequem era e por ser to parecido com o pai.H muito tempo lorde Colthaust tinha olhado para ela como seu filho olhava agora para Ina.H muito tempo ele lhe tinha falado com sua voz baixa e profunda, como se ela fosse a nica mulher no mundo, aprisionando seus olhos e seu corao com tanta beleza.Por instantes, voltou a sentir no peito a dor, a mesma agonia em que ficou quando ele a deixara, a misria que a invadira quando fora at o rio Tamisa, achando que a nica soluo para o seu sofrimento era jogar-se naquelas guas geladas.Mas no tinha morrido, continuara vivendo.E tinha jurado que um dia, de alguma forma, iria mostrar a Lionel Colthaust, a Vivian Vaughan e ao pai que no podiam venc-la.Por mais que tentassem, no tinham fora suficiente."Eu os odeio! Odeio tudo o que representam, tudo aquilo por que lutam, tudo aquilo em que acreditam e tudo o que eles acham importante!", pensou.Queria poder gritar alto aquele desafio, para que o visconde a pudesse ouvir e fosse contar ao seu pai que ele era o responsvel por aquelaexploso de raiva.Em vez disso, fez um comentrio leve, que provocou a risada de Ina, um som jovem e espontneo, que fez aparecer duas55covinhas de cada lado da boca e tornou seus olhos mais brilhantes doque j eram.O visconde observava tudo, e Rosie sabia disso.Lembrava-se do pai dele dizendo que, quando ela ria, era o riso mais bonito e alegre que ele j tinha ouvido."Eles no vo rir, quando eu levar o meu plano at o fim", jurou, vingativa.Bebeu um pouco de champanhe para pensar com mais clareza no que devia fazer quando o jantar terminasse.56

CAPITULO IV

Deliberadamente, Rosie prolongou o jantar, at que o salo estivesse praticamente vazio, para depois ir para o cassino.Atravessou a enorme sala de jogo com uma expresso de desdm estampada no rosto.Ina, seguindo atrs, olhava cheia de excitao para os crupis, sentados como sentinelas na extremidade de cada mesa.Os jogadores eram exatamente como ela esperava.As senhoras mais velhas, com grandes chapus de plumas, seguiam avidamente o rolar da pequena bola branca da roleta.Os velhos, com mos de garra, seguravam firmemente suas fichas.As mulheres de cabelo pintado, exuberantemente vestidas, bajulavam qualquer homem que ganhava.A entoao dos crupis, os gritos de alegria quando algum ganhava, era tal e qual o que Ina tinha imaginado, mas ainda mais dramtico.Sua tia dirigiu-se para a sala privativa e foi cumprimentada por empregados de libr.Ali, a atmosfera era bem diferente.Para comear, era muito mais tranquila.As mesas no estavam to cheias, havia flores, um carpete macio e janelas abertas para a noite.Sentia-se a mesma dramaticidade; no entanto, como Ina disse para si mesma, mais aristocrtica e controlada.Rosie foi andando devagar por entre as mesas, ignorando diversas cadeiras vazias onde poderia ter-se sentado.Parecia estar reparando apenas no jogo, mas a verdade que procurava uma certa pessoa.Quando a viu, parou e ficou olhando para o crupi, que tentava os jogadores:57- Senhoras e senhores, faam o jogo.O visconde Colt estava de p atrs da cadeira de lady Constance.Ela levantou o rosto adorvel para perguntar em que nmero ele queria que ela apostasse.- Sinto que estou com sorte esta noite, Victor! E no poderia ser de outra forma, uma vez que estou com voc! Qual o seu nmero favorito?O visconde pensou, sarcasticamente, que todas as mulheres confiavam mais em sinais e smbolos do que na prpria intuio.Havia pessoas no cassino que acreditavam que as coisas mais extraordinrias iriam influenciar as cartas ou a rodada da roleta.Um homem andava sempre com sal no bolso.Outro tinha uma aranha numa caixa, e a maneira como a aranha se movia era a indicao para que ele apostasse no preto ou no vermelho.Uma mulher acreditava piamente num pedao de corda que tinha servido para enforcar um criminoso.Outra consultava uma cigana todas as noites antes de ir para o cassino.Para o visconde, esse tipo de gente era to ridcula quanto as suas supersties, e to aborrecida como os prprios jogos.No gostava de jogar, e nessa noite mesmo tinha comentado com Charles:- Dez minutos no cassino parecem-me dez horas. No tenho intenes de me demorar.- Muito bem. Afinal de contas, voc tem seus divertimentos em casa - respondera lorde Charles, olhando para lady Constance enquanto falava e provocando a risada do visconde.Ia comear a se afastar para ver se encontrava alguma pessoa com quem conversar, deixando lady Constance perder vontade o dinheiro que lhe tinha dado, antes de ir ter com ele, quando uma senhora esbarrou nele.Todas as fichas que ela tinha na mo espalharam-se pelo cho.- Desculpe, lamento muito! - exclamou Rosie - Algum me empurrou.- o que inevitavelmente acontece neste lugar - respondeu58o visconde. - H sempre gente com pressa de perder dinheiro, ou,depois de perder, de correr para se suicidar!Rosie desatou a rir, enquanto Ina se abaixava para apanhar as fichas que tinham cado.O visconde fez o mesmo, e, ao tentar pegar a mesma ficha que Ina, tocou nos dedos dela. Seus olhares se encontraram.Era to linda que, por momento, ele esqueceu-se de onde estavam e do que estava fazendo.S conseguia olhar para ela, com a mesma sensao de irrealidade que tinha sentido no salo de jantar.Envergonhada, ela se levantou.Ele tambm se ergueu, segurando uma ficha com dois dedos.Continuava a olhar para Ina, e quase levou um susto quando ouviu Rosie dizer:- Creio que essa a ltima ficha que deixei cair. Muito obrigada.Antes que ela se afastasse, o visconde conseguiu recobrar a voz, dizendo:- Posso apresentar-me? Creio que conhecia meu pai, o marqus de Colthaust. Ouvi-o falar na senhora.- Mas claro! - exclamou Rosie, fingindo-se admirada.- Conheci seu pai, h muitos anos atrs. Ele ainda vive?- Perfeitamente, mas teve um ataque de gota e est confinado na vila.- Lamento saber disso. Gota uma doena que aflige muito.- verdade. Meu pai ficaria muito satisfeito em saber que a senhora est em Monte Carlo.Rosie inclinou a cabea graciosamente. Vendo que ela se preparava para se afastar, o visconde apressou-se em dizer:- Posso servi-la em alguma coisa?Falava com Rosie, mas seus olhos estavam em Ina. com relutncia, como se no achasse muito correto, Rosie respondeu:- Talvez deva apresentar minha sobrinha, Ina. Este o visconde Colt, cujo pai eu conheci h muito tempo atrs, quando era um pouco mais velha que voc.59na sorriu, e foi como se o cassino ficasse subitamente inundado de sol.Para ela, o visconde era o homem mais lindo que j tinha visto.Estendeu-lhe a mo, sentindo que os dedos dele transmitiam uma vibrao muito forte.Como no estava habituada a usar luvas, tinha-as tirado ao entrar na sala privativa.A tia no tinha reparado, e ela nem se dera conta de que mais nenhuma senhora presente estava sem luvas.O visconde segurava sua mo e, quando a fitou, teve a sensao de que seus olhos diziam coisas muito mais importantes do que seus lbios pudessem pronunciar.- Estou encantado em conhec-la - disse, com uma voz profunda. - Quando a vi durante o jantar no Hotel de Paris, no acreditei que fosse de carne e osso!Ina deu uma risada, respondendo:- o que estou achando, que nada disto real. Estou com medo de acordar de um sonho.Rosie soltou uma exclamao que soou como uma intromisso s duas pessoas que estavam a seu lado.- Estou com o palpite de que devo jogar - disse ela. Depois acrescentou, como se s naquele instante se tivesselembrado:- Ser que podia fazer o favor de tomar conta da minha sobrinha por uns minutos? Ela nunca esteve num cassino, e realmente no gostaria de deix-la sozinha.- Claro! Ser um prazer!Havia uma cadeira vazia na mesa perto de onde lady Constance estava sentada.Rosie encaminhou-se rapidamente para l e sentou-se.- Quer jogar? - perguntou o visconde a Ina.- No, claro que no e, alm do mais, no tenho dinheiro.Falou com toda a naturalidade, deixando transparecer que nem lhe passaria pela cabea que ele bancasse o jogo, como tinha feito com lady Constance.- Nesse ca