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ILUMINISMO,

NEOCLASSICISMO

E PRÉ--ROMANTISMO

ILUMINISMO

ILUMINISMO

Movimento cultural

surgiu na Inglaterra e Holanda

fins do século XVII

século XIII - através da mediação da França: Mundo Ocidental, excluindo a Rússia

ILUMINISMO

A consciência de que o Iluminismo tinha de si mesmo - imagem-símbolo mais corrente do século XVIII: a de um sol que trespassa com a sua coroa de raios luminosos uma massa de nuvens negras, dissipando-as progressivamente e derramando sobre a terra a sua luz benéfica. Dentro desse sol, um rosto humano sorri beatificamente.

ILUMINISMO

O Sol é a Razão humana que, no seu avanço, culminante no século, dissipa as trevas do erro e da ignorância, da estupidez e da má-fé, graças à radiação luminosa da ciência e da «filosofia»; o sorriso humano é a expressão da felicidade trazida ao homem pelo progresso dos conhecimentos e das técnicas, das artes e da moral»

(Manuel Antunes, «Iluminismo» in Verbo – ELBC, Lisboa, Editorial Verbo, s.d., vol. 10).

Encyclopédie - entre 1751 e 1765

• publicada em França

(complementada, entre 1765

e 1772, por 7 volumes de

índices)

• dirigida por Diderot e

D’Alembert

• colaboradores:

Buffon

Helvétius

Voltaire

Montesquieu

Jean Jacques Rousseau.

Revolução inglesa de 1688-1689

«[…] a revolução inglesa de 1688-1689 funciona, a um tempo, como exemplo e como detonador. Começado numa revolução, o Iluminismo acabará, como movimento significativo, noutra revolução: a Revolução Francesa de 1789»

(Manuel Antunes, «Iluminismo» in Verbo – ELBC, Lisboa, Editorial Verbo, s.d.,

vol. 10).

Neoclassicismo e Iluminismo «Convém notar que, se há evidentes pontos comuns entre o Neoclassicismo e o Iluminismo, ambos de cariz racionalista, também os separa uma diferença de atitudes fundamental […]: no domínio das ciências e técnicas caminha-se desbravando o desconhecido, de olhos postos no futuro […]; é o espírito do Iluminismo, com a fé no progresso indefinido; na esfera das «artes de gosto», da literatura, continua-se a procurar na Antiguidade modelos para «emulação»; é a postura retrospectiva dos neoclássicos; não se buscam novos rumos, os padrões estéticos afiguram-se encontrados para sempre»

(Jacinto do Prado Coelho, Poetas Pré-Românticos, Coimbra, Atlântida Editora, 1970, pp. 6-7, 2ª edição).

Neoclassicismo e Iluminismo

Teoria imitativa das artes - regresso aos clássicos como forma de combater os exageros da estética barroca.

Diderot olha com desconfiança a imposição de regras no campo das artes

Neoclassicismo e Iluminismo

Diderot:

«As regras e as leis do gosto seriam estorvos para o génio; este infringe-as para ir ao sublime, ao patético, ao grande […]. A força e a abundância, não sei que rudeza, a irregularidade, o sublime, o patético, eis o que nas artes caracteriza o génio»

(apud Jacinto do Prado Coelho, Poetas Pré-Românticos, Coimbra, Atlântida Editora, 1970, p. 8, 2ª edição).

Jean Jacques Rousseau

«A razão mata-me;

eu gostaria de ser louco para ser são»

Correspondência

PRÉ-ROMANTISMO

A Razão, que, na escala dos valores humanos, constituía a aspiração máxima e era em todos os campos o juiz supremo, é sentida nesta frase como um entrave à realização suprema do homem e «torna-se ré do Sentimento»

(idem, ibidem, p. 15).

BREVE PANORAMA POLÍTICO-CULTURAL DO

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

1. Predominância da estética barroca até meados do século, em plena vigência de uma feroz Inquisição (veja-se o reinado de D. João V)

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

Iluminismo e Neoclassicismo, marcas individualizadoras ou distintivas do século, mas representam apenas uma das suas faces.

Despotismo Esclarecido ou Iluminado - intimamente ligado ao Marquês de Pombal.

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

A literatura neoclássica tem como figuras os membros da Arcádia Lusitana ou Olisiponense (1756- 1774), empenhada em combater a literatura barroca, e os da Nova Arcádia (1790- 1794).

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

Despotismo Esclarecido - reinado de D. José, sobretudo a partir de 1755. O marquês de Pombal (criador), em parte, adotou princípios teóricos expostos por alguns filósofos e pedagogos portugueses que tinham vivido no estrangeiro (Verney, Ribeiro Sanches, Sarmento)ou por alguns dos seus predecessores no governo e na diplomacia (D. Luís da Cunha, Alexandre de Gusmão)

(A. H. de Oliveira Marques, Breve História de Portugal, Lisboa, Editorial Presença,

1995, pp. 374-375)]

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

Pré-Romantismo –

«a aurora duma literatura nova, sintomas impressionantes duma nova forma de sensibilidade, dum novo gosto literário» (idem, ibidem, pp. 5-6),

- período de severa repressão dos ideais revolucionários, que coincide com os reinados de D. Maria I e de D. João VI.

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

João Xavier de Matos (1730? – 1789)

Confluem as três estéticas literárias :

barroca,

neoclássica e

pré-romântica

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

Pré-Romantismo português :

- influências das literaturas estrangeiras,

sobretudo a inglesa e a alemã, mas também a francesa.

- Estas influências despertaram e reforçaram certas características muito nossas, como a melancolia, o pendor para o fatalismo, o comprazimento na tristeza, tão presentes já em Camões, modelo confessado de Xavier de Matos e de Bocage.

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

Escritores estrangeiros que influenciaram decisivamente os pré-românticos portugueses: Thomson (The Seasons),

Young (The Nights),

Thomas Warton (The Pleasures of Melancholy),

Thomas Gray (Elegy written in a country churchyard),

Gessner (Idílios)

Klopstock (Messias, epopeia religiosa)

SÉCULO XVIII EUROPEU

- época de profundas oscilações, convulsões, vertiginosas mudanças nas mais diversas áreas da vida.

SÉCULO XVIII PORTUGUÊS

Literatura:

NEOCLÁSSICOS - Correia Garção

PRÉ- ROMÂNTICOS - João Xavier de Matos, Filinto Elísio, Tomás António Gonzaga, José Anastácio da Cunha, Marquesa de Alorna, Bocage, etc.

PRÉ-ROMANTISMO

«Agrupamos sob o nome de pré-românticos escritores que […] se distinguem por traços que anunciam o Romantismo, embora continuem clássicos sob diversos pontos de vista. […] Inovam principalmente pelas tendências morais, pelos gostos literários, pelos modelos e fontes que utilizam. À razão preferem o sentimento e até a sentimentalidade melancólica, à cidade o campo e até a natureza selvagem […].

PRÉ-ROMANTISMO

Alguns sofrem do constrangimento social e aspiram à liberdade, à igualdade de condições. Julgam reencontrar o sentimento verdadeiro, a vida natural e livre, no homem primitivo, bárbaro ou selvagem […]. À poesia artística prefere-se agora uma poesia ingénua, primitiva ou popular, livre e sincera, uma poesia natural; coloca-se o génio acima de tudo o mais» (Paul Van Tieghem apud Jacinto do Prado Coelho, Poetas Pré-Românticos, ed.

cit., pp.8-9).

BOCAGE – BIOBIBLIOGRAFIA

1706

Dezembro

Início do reinado de

D. João V.

1750

Julho

D. José sobe ao trono

1750

dois dias depois, nomeia o futuro Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra.

1755 (1 de Novembro)

Intenso e devastador terramoto atinge sobretudo Lisboa e constitui uma grande catástrofe nacional, dando azo a que o marquês de Pombal, pelas rigorosas e sábias medidas tomadas, reforce o seu prestígio.

1756

Fundação da Arcádia Lusitana ou Olisiponense, na qual se destaca Correia Garção (1724-1772), cuja poesia Bocage muito admirará:

Encantador Garção, tu me arrebatas,

[..]

(Bocage, Obra Completa, 1º Volume – Sonetos, Porto,

Edições Caixotim, 2004, p. 252, edição de Daniel Pires)

Sebastião José de Carvalho e Melo assume a Secretaria dos Negócios do Reino, o que significa um reforço progressivo do seu poder, como se verá com a atribuição, pelo rei, dos títulos de conde de Oeiras e de marquês de Pombal, respetivamente em 1759 e 1769.

1765 – 15 de setembro

Bocage nasce em Setúbal

- segundo a tradição, na Rua de São Domingos, atualmente Rua de Edmond Bartissol;

- na opinião de outros, na Rua das Canas Verdes, hoje Rua de António Joaquim Granjo).

Apenas vi do dia a luz brilha Lá de Túbal no empório celebrado, Em sanguíneo carácter foi marcado Pelos Destinos meu primeiro instante. […] (Sonetos, ed. cit., p. 5)

[…] Incapaz de assistir num só terreno, Mais propenso ao furor do que à ternura, […]

(Sonetos, ed. cit., p. 3)

1768

O pai de Bocage, José Luís Soares de Barbosa, bacharel em Leis, é nomeado ouvidor em Beja e muda-se com a família para o Alentejo, onde permanece dois anos.

1770

O progenitor do futuro poeta é «acusado de não ter prestado contas da arrecadação da décima da comarca de Beja referente ao ano de 1769» (Adelto Gonçalves, Bocage – O Perfil Perdido, Lisboa, Caminho, 2003. p. 73),

acabando por ser encarcerado, em 1771, na prisão de Setúbal, donde é levado «para a cadeia da Corte, no Limoeiro, à ordem de Sua Majestade» (idem, ibidem, p. 74).

Só será libertado em Abril de 1777.

1774

Fim da Arcádia Lusitana. Morre a mãe de Bocage, D. Maria Joaquina Xavier Lustoff du Bocage, e, como o marido está na prisão, Manuel Maria e os cinco irmãos ficam sob a protecção de familiares. […] Aos dois lustros a morte devorante Me roubou, terna Mãe, teu doce agrado; […]

( Sonetos, ed. cit., p.5)

Na meninice e na adolescência, Bocage estudou, entre outras matérias, latim durante vários anos, como acontecia nessa época com as pessoas instruídas.

1777

D. Maria I ascende ao trono e exonera das suas funções o Marquês de Pombal, que é exilado da Corte.

1779

Fundação da Academia Real das Ciências de Lisboa.

1780

«Diogo Inácio de Pina Manique toma posse como superintendente da Intendência- Geral da[s] Polícia[s do Reino] (permanece à frente da instituição até 1805)» (António Simões Rodrigues

[coordenador], História de Portugal em Datas, Lisboa, Círculo de

Leitores, 1994, p.182).

Em consequência das suas diretivas, são ferozmente reprimidos os apologistas da ideologia de inspiração iluminista, contrária ao Antigo Regime.

1781

Bocage assenta praça voluntariamente no Regimento de Infantaria de Setúbal, tendo como comandante um sargento-mor entendido em literatura e autor de um prefácio às obras de Reis Quita, «um dos melhores poetas bucólicos e um dos primeiros admitidos na Arcádia Olisiponense em 1756»

(Adelto Gonçalves, Bocage – O Perfil Perdido, ed. cit., p. 93).

1783

Alista-se na Companhia de Guardas-Marinhas (Lisboa):

- aulas teóricas e práticas de náutica e artilharia,

- lições de geometria, aritmética e língua francesa.

Segundo a tradição, já nessa altura ganhara fama de grande improvisador satírico nos botequins lisboetas da Baixa Pombalina.

Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado, Mansa corrente, deleitosa, amena, Em cuja praia o nome de Filena Mil vezes tenho escrito, e mil beijado. […] ( Sonetos, ed. cit., p.183)

1784

- Deserção da Companhia de Guardas-Marinhas, por razões desconhecidas

- Após o perdão das autoridades - nomeado guarda-marinha da Armada do Estado da Índia.

1786

Parte para o Oriente na nau Nossa Senhora da Vida, Santo António e Madalena, com escalas no Rio de Janeiro e na ilha de Moçambique.

Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!

Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, Arrostar c’o sacrílego Gigante;

[…] ( Sonetos, ed. cit., p.199)

1787

Matricula-se na Aula Real da Marinha, em Pangim, onde permanece durante o ano seguinte, tendo estado gravemente doente.

1789

É nomeado «tenente de infantaria da 5ª companhia do regimento da guarnição da praça de Damão» (idem, ibidem, p.137) e embarca para lá na fragata Santa Ana, desertando depois, segundo alguns biógrafos, rumo a Macau.

[…] Como tu, junto ao Ganges sussurrante, Da penúria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante; Ludíbrio, como tu, da Sorte dura, Meu fim demando ao Céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura. Modelo meu tu és, mas… oh tristeza! Se te imito nos transes da Ventura, Não te imito nos dons da Natureza.

( Sonetos, ed. cit., p.199)

Das terras a pior tu és, ó Goa,

Tu pareces mais ermo que cidade,

Mas alojas em ti maior vaidade

Que Londres, que Paris ou que Lisboa.

[…]

( Sonetos, ed. cit., p.204)

1790

Regressa a Lisboa, graças a um perdão cujas causas constituem um mistério, e torna-se membro da Academia das Belas-Letras ou Nova Arcádia, fundada nesse ano, adotando o pseudónimo de Elmano Sadino.

O tempo alimentou a história, por nenhum documento comprovada, de que, ao ausentar-se da pátria, o poeta terá deixado, em Setúbal, a mulher amada, Gertrudes da Cunha d’Eça, precisamente aquela que ele vem encontrar casada com o seu irmão Gil Francisco. Seria ela a Gertrúria cuja beleza e traição são evocadas em alguns poemas.

Da pérfida Gertrúria o juramento

Parece-me que estou inda escutando,

E que inda ao som da voz suave e brando

Encolhe as asas, de encantado, o vento.

[…]

( Sonetos, ed. cit., p.22)

Outras figuras femininas surgem, porém, nas suas composições, inspirando-lhe os mais diversos sentimentos.

1791

Publica o tomo I das Rimas, consolidando a sua reputação poética.

1794

É expulso da Nova Arcádia, após frequentes e acesas desavenças com alguns confrades, nomeadamente com o padre José Agostinho de Macedo, seu arqui-inimigo.

Vós, ó Franças, Semedos, Quintanilhas, Macedos e outras pestes condenadas; Vós, de cujas buzinas penduradas Tremem de Jove as melindrosas filhas; Vós, néscios, que mamais das vis quadrilhas Do baixo vulgo insossas gargalhadas, Por versos maus, por trovas aleijadas, De que engenhais as vossas maravilhas, Deixai Elmano, que inocente e honrado Nunca de vós se lembra meditando Em coisas sérias, de mais alto estado; E se quereis, os olhos alongando, Ei-lo! Vede-o no Pindo recostado, De perna erguida sobre vós mijando!

( Sonetos, ed. cit., p.241)

1794

Publica:

- a 2ª edição do tomo I das Rimas, com um importante prólogo da sua autoria,

- o Elogio Poético à Admirável Intrepidez com que Domingo 24 de Agosto de 1794, Subiu o Capitão Lunardi no Balão Aerostático.

Entre 1795 e 1797

Filia-se na Maçonaria, severamente reprimida por Pina Manique, Intendente-Geral das Polícias do Reino, e entrega-se, cada vez com maior fervor, aos ideais da

Revolução Francesa.

Liberdade, onde estás? Quem te demora? […] Da santa redenção é vinda a hora A esta parte do mundo, que desmaia. Oh! Venha... Oh! Venha, e trémulo descaia Despotismo feroz, que nos devora! […] Movam nossos grilhões tua piedade; Nosso númen tu és, e glória, e tudo, Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!

( Sonetos, ed. cit., p.171)

1797

- Radicaliza «a sua opção em favor dos ideais iluministas, a ponto de se tornar uma das maiores, se não a maior figura do Iluminismo português» (idem, ibidem, p.219)

-- é preso por ordem de Pina Manique e dá entrada na prisão do Limoeiro, na companhia do amigo André da Ponte do Quental, sendo-lhe atribuída, como se lê na acusação, a autoria de «papéis ímpios, sediciosos e críticos». - Novembro - transferido do Limoeiro para o cárcere da Inquisição no Rossio.

Em sórdida masmorra aferrolhado, De cadeias aspérrimas cingido, Por ferozes contrários perseguido, Por línguas impostoras criminado; Os membros quase nus, o aspecto honrado Por vil boca e vil mão roto e cuspido, Sem ver um só mortal compadecido De seu funesto, rigoroso estado; […]

( Sonetos, ed. cit., p.298)

1798

• É levado, em Fevereiro, para o Convento de São Bento da Saúde

• Passa, em março, graças ao empenho de José de Seabra da Silva, ministro de Estado dos Negócios do Reino e seu admirador, para o Real Hospício de Nossa Senhora das Necessidades, da Congregação do Oratório

• Começa a traduzir As Metamorfoses, do poeta latino Ovídio (43 a. C.-18 d. C.), e outros textos importantes.

• É libertado no último dia do ano, mostrando-se, doravante, mais cauteloso na manifestação dos seus ideais revolucionários.

1799

Publica o tomo II das Rimas

Começa a trabalhar, como tradutor, revisor de provas e encarregado de aperfeiçoar textos alheios, na Oficina Tipográfica do Arco do Cego, na qual pontificavam o naturalista frei José Mariano da Conceição Veloso e o botânico Avelar Brotero.

1799

O príncipe D. João (futuro rei D. João VI) assume a regência do reino por impedimento de sua mãe, a rainha D. Maria I, que manifesta indícios de demência.

1800

Publica:

- a 3ª edição do tomo I das Rimas

- a tradução do poema didático Os Jardins ou a Arte de Aformosear as Paisagens, do francês Delille

1801

Participa numa sessão académica promovida pelo Intendente Manique, que, decerto, o julga “curado” do seu revolucionarismo e, por conseguinte, menos perigoso, a ponto de o convidar a estar presente na festa por si organizada para celebrar, no Teatro de São Carlos, a paz com a França.

1801

Publica as suas traduções de O Consórcio das Flores, de Lacroix, e de As Plantas, de Castel

1802

– Morre o pai de Bocage. - Escreve a famosa sátira «Pena de Talião», contra

o padre José Agostinho de Macedo. - Passa a viver no quarto andar de um prédio (nº 11, hoje nº 25) do então Beco de André Valente (mais tarde Travessa de André Valente), uma transversal da atual Rua do Século, no Bairro Alto, na companhia da irmã Maria Francisca.

1802

Publica

- a 2ª edição do tomo II das Rimas

- traduzido do francês, o livro Rogério e Victor de Sabran ou o Trágico Efeito do Ciúme.

1803

Consolida a sua amizade com Nuno Álvares Pereira de Pato Moniz, que vinha de 1801, e dá-lhe utilíssimos conselhos de natureza literária.

1804

• Apercebe-se de sintomas da doença - um aneurisma nas carótidas.

• Luta contra grandes dificuldades de ordem financeira.

• Publica: - o tomo III, e último, das Rimas, dedicado à

Marquesa de Alorna, poetisa pré-romântica e sua protetora;

- o drama para música A Virtude Laureada.

1805

O seu estado de saúde agrava-se progressivamente, para o que contribui a morte de uma sobrinha ainda pequena.

Publica: - Improvisos de Bocage na sua Mui Perigosa

Enfermidade, Dedicados a seus Bons Amigos ;

- Colecção de Novos Improvisos de Bocage na sua Moléstia, com as Obras que lhe Foram Dirigidas por Vários Poetas Nacionais.

A venda de tais livros e os abençoados réditos dela resultantes muito devem a José Pedro da Silva, íntimo amigo do poeta e proprietário do Botequim das Parras, por ele assiduamente frequentado.

21 Dezembro de 1805

Morre e é sepultado no dia seguinte, «domingo de muita chuva e frio, no cemitério da igreja paroquial das Mercês, que ficava na esquina da Rua dos Caetanos com a Travessa das Mercês, no Bairro Alto. […]. O cemitério […], desactivado desde 1834, desapareceu de todo em 1897, quando a área foi vendida ao proprietário de uma oficina de carruagens. As ossadas das últimas 69 lousas – inclusive da de nº 36, que seria a do poeta – teriam sido levadas para a vala comum do cemitério do Alto de São João ou dos Prazeres ou até servido como entulho para o aterro junto ao Tejo, no Cais do Sodré» (idem, ibidem, p. 377-378).

Meu ser evaporei na lida insana Do tropel de paixões, que me arrastava; Ah! Cego eu cria, ah! Mísero eu sonhava Em mim quase imortal a essência humana. […] Deus… Oh Deus! Quando a morte à luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.

( Sonetos, ed. cit., p. 9)

Já Bocage não sou!... À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura. Conheço agora já quão vã figura Em prosa e verso fez meu louco intento; Musa!... Tivera algum merecimento Se um raio da razão seguisse pura! Eu me arrependo; a língua quase fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria: Outro Aretino fui... A santidade Manchei!... Oh! Se me creste, gente impia, Rasga meus versos, crê na Eternidade!

( Sonetos, ed. cit., p. 10)

1871 21 de dezembro

Inauguração do monumento na Praça de Bocage, em Setúbal

MOMENTOS IMPORTANTES NA HISTÓRIA EDITORIAL DA OBRA

DE BOCAGE, APÓS A MORTE DO ESCRITOR

1813

Pato Moniz :

- Verdadeira Inéditas, Obras de Bocage,

tomo IV e 1º das suas Obras Póstumas

1814

Pato Moniz :

- Verdadeira Inéditas, Obras de Bocage, tomo V e 2º das suas Obras Póstumas

1853

Inocêncio Francisco da Silva - importantíssima edição da obra supostamente completa de Bocage, em seis volumes:

Poesias de Manuel Maria Barbosa du Bocage, Coligidas em Nova e Completa Edição, Disposta e Anotada por I. F. da Silva, e Precedidas de um Estudo Biográfico e Literário sobre o Poeta Escrito por L. A. Rebelo da Silva.

1854

«[…] Inocêncio, tendo consciência de que a obra do vate setubalense não estaria completa sem a publicação dos seus poemas eróticos, burlescos e satíricos, deu à estampa, clandestinamente, um volume que apresentava um local de edição fictício, Bruxelas, em vez de Lisboa […] – Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas»

(Daniel Pires, «Introdução» a Bocage, Obra Completa, 1º Volume – Sonetos, Porto, Edições Caixotim, 2004, p. XXII).

1875 e 1969-1973

Teófilo Braga e Hernâni Cidade, respetivamente, levaram a cabo edições, que «se limitaram a reproduzir as opções de Inocêncio, não apresentando qualquer trabalho de arquivo, fulcral para reconstituir uma biografia lendária, pontualmente obscura e frequentemente deturpada, por ser perspectivada de uma forma redutora, quando não mutiladora»

(idem, ibidem, p. VIII).

2004

Início da publicação da Obra Completa de Bocage, em 7 volumes - edição da autoria do Prof. Dr. Daniel Pires.

Fruto de um incansável, minucioso e honesto

trabalho realizado em diversos arquivos, já viram a luz do dia 5 volumes (I-IV e VII), o primeiro dos quais, dedicado aos sonetos, apresenta seis composições que nenhuma das anteriores edições inclui. Outro soneto inédito consta também do volume IV (p.249).

2004

O editor sublinha, muito justamente, na «Introdução» ao vol. VII (Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas, Porto, Edições Caixotim, 2004), que alguns estudiosos de Bocage [o] vincularam […] ao anedótico, ao chocarreiro, como se um escritor com a sua sensibilidade exacerbada, a sua inteligência inequívoca e a sua cultura pudesse subscrever propostas tão grosseiras» (p. LIV). Este facto levou-o, muito criteriosamente, a considerar de autoria duvidosa 27 poemas e de autoria alheia três composições, textos esses aceites até hoje como sendo de Elmano Sadino.

Bibliografia

Adelto Gonçalves, Bocage – O Perfil Perdido, Lisboa, Caminho, 2003 António Simões Rodrigues [coordenador], História de Portugal em

Datas, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994 Daniel Pires [Organização e introdução por], Exposição Bibliográfica

Comemorativa dos 230 e dos 190 Anos do Nascimento e da Morte de Bocage, Câmara Municipal de Setúbal – Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, 1995

Daniel Pires, «Introdução» a Bocage, Obra Completa, volumes I, II,

III, IV e VII, Porto, Edições Caixotim, 2004- 2007

Nota:

Revestiram-se de grande utilidade e importância as informações disponibilizadas e os esclarecimentos prestados, oralmente, pelo Prof. Dr. Daniel Pires.

António Mateus Vilhena

Maria Alexandra de Lemos Cabral