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2. Formação e estrutura atual da Terra - eras geológicas A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA TERRA SEMPRE CONSTITUÍRAM UM ENIGMA PARA A CIÊNCIA. COM BASE NOS CONHECIMENTOS ADVINDOS DAS LEIS DE NEWTON, HIPÓTESES CADA VEZ MAIS PROVÁVEIS VÊM SENDO PROPOSTAS. QUANTO À ESTRUTURA INTERNA DO PLANETA, DADOS GEOFÍSICOS E GEOQUÍMICOS TÊM PERMITIDO AVANÇOS NOTÁVEIS. Uma biografia de 4,5 bilhões de anos A Terra não é um objeto inerte como se supunha no passado. Ela sofre contínuas modificações internas e externas, tal como um ser vivo. E, como qualquer ser vivo, ela tem também a sua biografia. Seu nascimento deu-se, aproximadamente, há 4,5 bilhões de anos. A teoria mais recente sobre sua formação é a chamada Teoria deAcre- ção. I Esta tem sido cada vez mais apoiada por inúmeros dados que estão sendo obtidos da exploração da Lua, assim como dos demais planetas e satélites visitados pelas sondas norte-americanas, russas e européias. I Acreção: crescimento, acréscimo por justaposição. 23

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2. Formação e estrutura atual daTerra - eras geológicas

A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA TERRA SEMPRE CONSTITUÍRAM UM ENIGMA

PARA A CIÊNCIA. COM BASE NOS CONHECIMENTOS ADVINDOS DAS LEIS DE

NEWTON, HIPÓTESES CADA VEZ MAIS PROVÁVEIS VÊM SENDO PROPOSTAS.

QUANTO À ESTRUTURA INTERNA DO PLANETA, DADOS GEOFÍSICOS E

GEOQUÍMICOS TÊM PERMITIDO AVANÇOS NOTÁVEIS.

Uma biografia de 4,5 bilhões de anos

A Terra não é um objeto inerte como se supunha no passado. Elasofre contínuas modificações internas e externas, tal como um ser vivo.E, como qualquer ser vivo, ela tem também a sua biografia.

Seu nascimento deu-se, aproximadamente, há 4,5 bilhões de anos.A teoria mais recente sobre sua formação é a chamada Teoria deAcre-

ção. I Esta tem sido cada vez mais apoiada por inúmeros dados que estãosendo obtidos da exploração da Lua, assim como dos demais planetas esatélites visitados pelas sondas norte-americanas, russas e européias.

I Acreção: crescimento, acréscimo por justaposição.

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Segundo essa hipótese, a formação de todos os corpos naturais que gi-ram em torno do Sol deu-se por um processo de aglomeração de partí-culas, numa espécie de nuvem de poeira e gás que circundava o Sol pri-mitivo, à maneira de um grande disco, como os que circundam Saturnoe outros planetas ainda hoje.

Na verdade, o próprio Sol teria sido formado "um pouco" antes, istoé, cerca de 100 milhões de anos antes (portanto há 4,6 bilhões de anos), apartir dessa mesma nuvem. Tratava-se de uma nuvem de gás semelhante amuitas que existem no espaço cósmico, algumas das quais podem ser ob-servadas mesmo a olho nu, na chamada Via-Láctea, que circunda nosso sis-tema solar. Essa denominação - Via-Láctea, ou "caminho leitoso" - foidada pelos antigos justamente pela sua aparência de poeira branca e bri-lhante. De acordo com a mitologia greco-romana, esse era o caminho quelevava júpiter e os demais deuses aos seus domínios no Olimpo.

Por uma razão qualquer - como a onda de choque provocada poruma das inúmeras explosões que continuamente ocorrem no universo,na formação de novas estrelas - teria ocorrido uma compressão nessa"pequena" nuvem original, provocando um adensamento no seu inte-rior, que veio a constituir o Sol. Este, possuindo uma grande massa e,portanto, dotado de uma força de atração gravitacional, passou a consti-tuir o centro em torno do qual girava o enorme disco de gás e poeira. Apartir daí, isto é, da presença de um centro de atração, inúmeros cho-ques começaram a ocorrer entre as partículas de poeira, motivados porforças muito pequenas, uma vez que suas partículas não apresentavamgrande massa. Ao se chocar, duas ou mais partículas aderiam umas àsoutras, formando corpúsculos maiores, como se fosse um processo decoagulação.

À medida que esses coágulos, formados pelo processo de acreçãode um número cada vez maior de partículas, foram crescendo, começa-ram a transformar-se em núcleos de atração, provocando choques cadavez maiores. Assim, rapidamente (os especialistas estimam em 10 milanos após o início da formação desses primeiros coágulos) se encontra-vam flutuando, no interior do enorme disco de poeira, blocos ou con-

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glomerados de rocha com um diâmetro médio da ordem de um quilô-metro. Esses blocos têm sido denominados planetésimos ou planetesimais

e constituíram os tijolos para a formação dos planetas.

Formação dos protoplanetas

Evidentemente, os choques agora se davam com muito maior ener-gia, visto que blocos com um quilômetro de tamanho possuem acentua-da força gravitacional, aumentando muito a velocidade do impacto. Des-se modo, inúmeros deviam ser os choques entre blocos grandes que sefragmentavam pelo impacto, voltando a formar pequenos corpos oupoeira. No entanto, o mais freqüente seria o planetésimo ir crescendoprogressivamente por acreção de pequenas partículas, as quais iam seaderindo com velocidade cada vez maior - como uma bola de neve que,ao rolar sobre uma superfície inclinada, vai crescendo rapidamente emvolume, pela aderência de novos flocos que encontra no caminho.

Cada uma das bolas assim acrescidas foi ocupando o seu espaço e"limpando" uma faixa da poeira em torno do Sol, formando a sua pró-pria órbita e transformando-se em um planeta. Calcula-se que cerca de250 milhões de anos fora o tempo necessário à constituição de grandescorpos planetários girando em torno do Sol segundo uma configuraçãomais ou menos semelhante à que existe hoje. Mas esses planetas iniciais- ou protoplanetas - continuaram, por muito tempo, a receber choquesde partículas e blocos de todo tamanho.

Os astronautas que desceram na Lua puderam observar as inumeráveiscrateras de todos os tamanhos (desde poucos centímetros até centenas dequilômetros de diâmetro) que literalmente cobrem a superfície lunar, dan-do-lhe quase o aspecto de uma esponja. Verificaram ainda que toda a suasuperfície é coberta de um verdadeiro manto de poeira e pedrinhas, queconstitui um velho depósito de lixo cósmico obtido por acreção ao satélite.O mesmo foi observado em outros planetas que não contêm água no estadolíquido, como Mercúrio e Marte. Isso faz supor que, logicamente, aTerratambém tenha passado por esse cerrado bombardeio de objetos cósmicos,

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mas que suasmarcas se apagaram em decorrência das deformações posteri-ores sofridas pela sua superfície, principalmente por ação das águas. Segun-do as teorias mais recentes a respeito da formação da Lua, acredita-se queela tenha sido formada também por acreção - a partir de partículas lançadasao espaço, na órbita da Terra, por efeito do choque desta com um outrocorpo do tamanho aproximado do planeta Marte.

Origem do calor terrestre

o impacto dessa multidão de objetos de todos os tamanhos de en-contro à Terra, no seu caminho ao redor do Sol, teria provocado gran-des elevações da sua temperatura, por causa da quantidade de energialiberada sempre que um corpo se choca com outro. Pode-se dizer, demaneira simplificada , que a energia gravitacional- a que atrai os corposentre si - é transformada, no choque, em energia térmica ou calorífica.

Esses choques - principalmente com os corpos de grande massa -liberavam energia suficiente para manter a Terra em um estado de fusãoparcial. Toda a sua superfície, até a profundidade de 200 ou 400 quilôme-tros, era composta por um imenso mar de ma8ma, isto é, rocha fundida. Àmedida que a superfície esfriava, formando áreas sólidas como uma finacrosta, esta se fragmentava novamente, não só por causa de novos impac-tos, mas também pelos violentos movimentos de convecção que o magmaem ebulição provocava, da mesma forma que a água aquecida em umapanela sofre movimentos internos de massa. Ao mesmo tempo, algunselementos mais pesados dessas rochas em estado líquido tendiam a afun-dar para o centro. Por essa razão, constituiu-se, aos poucos, o núcleo deferro no centro daTerra.

Há cerca de 4,3 bilhões de anos, o panorama terrestre era o se-guinte: o manto solidificava-se rapidamente em conseqüência das gran-des perdas de calor para o espaço através da superfície; movimentosenérgicos de convecção provocavam ainda freqüentes rupturas, explo-sões, formação de inúmeros vulcões, derrames de magma sobre gran-des áreas da superfície, por cima de rochas já solidificadas. Esses movi-

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mentos de convecção, como será visto nos próximos capítulos, aindasubsistem hoje, só que com velocidades centenas de vezes menores: na-quela época, as velocidades de revolvimento desse magma semilíquido,altamente viscoso, eram da ordem de alguns metros por ano. O núcleocentral, então, já estava constituído em 75%. Há cerca de 3,8 bilhões deanos, começavam a formar-se as primeiras placas continentais, consti-tuídas de rochas mais leves flutuando como uma espuma sobre as rochaspesadas do magma. Daí em diante, a Terra comporta-se como uma gi-gantesca "máquina térmica", liberando continuamente grandes quanti-dades de calor para o espaço externo. Essa liberação é, em geral, lenta euniforme, erguendo montanhas ou empurrando continentes e, às vezes,explosiva, provocando alterações catastróficas na superfície.

Aparecimento de água

É por essa época que entra em cena o elemento que veio a ser oprincipal deformador do relevo original bem como o principal plasma-dor da atual superfície: a água em estado líquido. Apesar das temperatu-ras de 500°C a 600°C que predominavam na superfície da Terra, aspressões atmosféricas eram cerca de trezentas vezes maiores que as dehoje, o que permitia a passagem do vapor para o estado líquido. For-mou-se assim o oceano.

As chuvas intensas e copiosas, além da ação física sobre as rochas,possuíam alta atividade química, mercê das grandes concentrações degás carbônico e de gases de enxofre ou de cloro, de procedência vulcâ-nica, os quais davam origem a ácidos carbônico, sulfúrico e clorídrico.Assim, a superfície da Terra assemelhava-se, nessa época, a um grandecaldeirão onde se processavam inúmeras reações químicas, aceleradaspelo calor reinante. As rochas recém-solidificadas eram dissolvidas edesgastadas pelas águas e transportadas para as depressões, à medida queos esforços internos das correntes conveccionais do magma formavam -e formam ainda - novas elevações e novos derrames vulcânicos. Antesque o planeta começasse a eliminar quantidades significativas de sua

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energia - principalmente na forma de calor -, o ambiente terrestre eracaracterizado por contínuas tempestades e cataclismos.

A presença da água ocupando uma imensa superfície e contendoum sem-número de elementos químicos em solução e em suspensão,auxiliada por uma temperatura ainda muito mais elevada que a de hoje,permitiu a realização de uma infinidade de tipos de reação química, ori-ginando cadeias moleculares cada vez mais complexas. A presença abun-dante do carbono permitiu, naquelas condições de alta disponibilidadede energia, a formação de certos compostos que se caracterizavam pelotamanho "gigantesco" das moléculas. Algumas delas passaram, mesmo, adesenvolver uma atividade própria: incorporar novos elementos domeio e, assim, crescer e fragmentar-se, dando origem a novas moléculasde composição semelhante. Iniciava-se o processo de autoproliferaçãode moléculas, que constituía a vida primordial.

As pegadas, rastros, resíduos e outros vestígios dos primeiros seresvivos começaram, nessa época, a imprimir-se nas rochas formadas pelasedimentação de areia, argila e lodo transportados e depositados poração das águas. Formaram-se, assim, os primeiros fósseis, testemunhasvaliosas não só das estruturas vivas primitivas, que então povoavam o

Estromotólito: estruturo colcória formoda pelos primeiros comunidades de orga'rusrnos que deixaram registros fósseis, os cianobactérios.

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fundo dos mares, há 3,3 bilhões ou 3,5 bilhões de anos (e mais tarde asuperfície dos continentes), mas também dos processos geológicos queentão ocorriam e que viriam plasmar a configuração terrestre que hojeconhecemos e exploramos.

Existem hoje testemunhos de quase todas essas etapas de formaçãodo globo terrestre. Os dados que faltavam, relativos aos períodos deacreção e crescimento do planeta, vêm sendo obtidos, em abundância,por meio da análise das rochas da Lua e das informações a respeito dossatélites de vários planetas do sistema solar. O estudo dos asteróidespor sondas espaciais trará, certamente, complementações importantes.Quanto ao conhecimento da estrutura interna da Terra, ele vem cres-cendo muito nos últimos anos, com o desenvolvimento de novas técni-cas, que serão descritas sumariamente, à medida que for necessário, aolongo deste livro.

As eras e os períodos da história daTerra

Comecemos pela crosta terrestre, isto é, a região mais superficial, ondenos situamos e com a qual mantemos contato permanente e direto. Suahistória, por meio dos estudos geológicos e paleontológicos (isto é, estu-do dos fósseis de animais e vegetais antigos - o prefixo paleo significa "an-tigo" e será muito usado neste livro formando palavras como: paleomaqne-

tismo, paleometeoroloqia etc.), divide-se em duas fases distintas.A primeira é constituída de um longo período em que são encontra-

dos poucos vestígios de vida, seja por ela não existir ainda, seja porque osfósseis, muito frágeis e raros, teriam sido destruídos em conseqüência dosfenômenos vulcânicos e químicos muito intensos. Nos últimos anos, po-rém, têm sido encontrados nos diferentes continentes - principalmentena Oceania e na África - fósseis de microrganismos semelhantes às atuaisbactérias fotossintetizantes, ou cianobactérias, denominados Estromatoli-

tos, com idade presumível de 3,3 bilhões a 3,5 bilhões de anos, dentro,portanto, do período que era conhecido como Azóico, por causa da escas-sez de fósseis que o caracterizava, o qual compreende cerca de quatro

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quintos da história da Terra. As rochas que restam desse período são prin-cipalmente cristalinas, isto é, formadas diretamente por resfriamento esolidificação do magma e por sedimentos consolidados, que foram sub-metidos a altas pressões e temperaturas, adquirindo consistência seme-lhante à das rochas cristalinas primitivas. Esse período, a que os geólogoscostumam dar o nome também de Pré-Cambriano ; estende-se da formaçãoda Terra até cerca de 570 milhões de anos.

A segunda fase, que vem até hoje, caracteriza-se pela presença devida em abundância e muito diversificada. Nela torna-se muito mais fá-cil reconhecer as diferentes eras, subdivididas em diferentes períodos,

graças aos inúmeros tipos de sedimento que se originaram nas váriaspartes do mundo, devido ao trabalho das águas, dos ventos, das geleirase dos próprios seres vivos sobre as rochas formadas no Pré-Cambriano,desgastando-as, transportando-as e redepositando-as em diferentes con-dições e locais do planeta. Os fósseis encontrados em cada um dessessedimentos não só permitem caracterizar sua formação como tambémestabelecer sua idade aproximada. O quadro a seguir apresenta uma re-lação dessas eras e períodos, com a duração aproximada de cada um,expressa em milhões de anos.

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As eros geológicas.

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Número Idade Evento(milhões de anos)

1 0,03 Homem moderno (Cro-Magnon)2 0,5 Homo sapiens

3 0,69 Última inversão magnética

4 1,5 Cenozóico (Quaternário)

5 5 Primeiros hominídeos

6 10,2 Abertura do Mar Vermelho

7 50 Colisão India-Eurásia

8 65 Cenozóico (Terciário)

9 100 Abertura do Oceano Atlântico10 135 Mesozóico (Cretáceo)

11 154 Abertura do OceanoAtlântico Sul

12 205 Mesozóico (J urássico)13 250 Mesozóico (Triássico)

14 290 Paleozóico Superior (Permiano)

15 310 Primeiros insetos alados16 355 Primeiros vertebrados

terrestres, Paleozóico

Superior (Carbonífero)17 410 Paleozóico Superior (Devoniano)

18 438 Paleozóico Inferior (Siluriano)19 510 Paleozóico Inferior (Ordoviciano)

20 570 Paleozóico Inferior (Cambriano)21 2.500 Proterozóico22 3.200 Primeiros microrganismos23 3.700 Rocha mais antiga24 4.500 Nascimento do planeta Terra

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POLEMICA

o interior da Terra

Quanto ao interior da Terra, há muito maior dificuldade de estudo.Os métodos têm de ser indiretos. Até hoje, o mais profundo poço per-furado foi o de Kola, na Rússia, que atinge apenas 12 quilômetros. Sa-bendo-se que o raio terrestre mede aproximadamente 6.370 quilôme-tros, pode-se concluir que tudo o que o homem conseguiu em matériade escavações não passa de pequenos arranhões na superfície da epider-me terrestre. A ciência, porém, não se intimida com essas dificuldades:não sendo possível conhecer diretamente o interior do globo, ela passaa utilizar métodos indiretos, de percussão, semelhantes ao que o clínicoemprega ao bater com os dedos sobre o nosso tórax e abdome ao mes-mo tempo que encosta o ouvido - ou o bocal do estetoscópio - paraidentificar os ruídos produzidos.

De fato, as vibrações sonoras - e também de outros tipos - sofremvariações em sua velocidade, dependendo da densidade do meio quepercorrem. No caso do médico, o som será diferente se, por exemplo,houver líquidos em vez de ar nos espaços pulmonares ou entre os ór-gãos do abdome. Aliás, todos nós sabemos distinguir se um objeto sóli-do é oco ou maciço simplesmente percutindo-o com o nó dos dedos eouvindo O som emitido. Com boa dose de sofisticação, isto é, utilizandoum aparelho que medisse os tipos e freqüências das vibrações refletidas,poderíamos obter informações mais precisas sobre a natureza da subs-tância que preenche os vários espaços de um corpo. Uma dessas sofisti-cações é a ultra-sonoqro[ia, de largo emprego para fins de diagnóstico nosdias de hoje, e que utiliza ultra-sons, de muito maior freqüência que ossons audíveis, em lugar das freqüências sonoras. As vibrações aí refleti-das são então captadas por chapas sensíveis, transformando-se em ima-gens visíveis, em vez de serem recebidas pelo ouvido. Pois é algo seme-lhante que se faz com aTerra a fim de conhecer a natureza das matériasque preenchem suas várias camadas interiores.

Claro que não podemos simplesmente bater com os dedos na su-perfície terrestre. Mesmo explosões de dinamite seguidas da análise das

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vibrações obtidas permitem o conhecimento apenas de camadas muitosuperficiais, às vezes o suficiente para a localização de jazidas petrolífe-ras, por exemplo.

Para o conhecimento das grandes profundidades, seriam necessá-rias percussões gigantescas. Felizmente, elas ocorrem espontaneamente,em virtude de movimentos tectônicos internos, gerando o que conhece-mos como "tremores de terra".

Os especialistas dispõem de aparelhos muito sensíveis, chamadossismógrcifos - os tremores são objeto de uma disciplina da geologia deno-minada sismoloqia -, capazes de registrar com grande precisão as vibra-ções decorrentes desses movimentos interiores, medindo sua intensida-de e localizando a origem.

A observação de um mesmo tremor por sismógrafos localizadosem diferentes pontos da Terra permite avaliações precisas sobre o tem-po despendido pelas ondas sísmicas ao atravessarem o globo de um pon-to ao outro. Aparelhos modernos muito sofisticados conseguem, assim,a partir dos tremores, traçar a tomoqrajia sísmica da Terra, da mesma for-ma que modernos aparelhos, com a utilização de ondas ultracurtas, con-seguem estudar detalhes do interior do corpo humano, realizando a to-

m08rcifia computadorizada. O registro gráfico das vibrações ou ondas sís-micas constitui um sismo8rama.

Que nos revelam, pois, essas "tomografias sísmicas"?O estudo detalhado de sismogramas, iniciado desde os primeiros

anos do século XX, demonstra que o globo se divide, da superfície parao interior, nas seguintes unidades principais: crosta, manto e núcleo.

A crosta é uma camada de rochas relativamente leves, como o gra-nito, contendo em sua composição predominantemente o silício e o alu-mínio. O manto é constituído de rochas bem mais pesadas, como osbasaltos, em que predominam elementos como o magnésio e o ferro,além do silício. O núcleo, muito mais pesado, é constituído quase ex-clusivamente de ferro.

Medindo-se a velocidade de propagação das ondas sísmicas atravésda crosta, chega-se a aproximadamente 6 quilômetros por segundo, pas-

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sando a 7 quilômetros na sua porção inferior, onde já se inicia o basalto.A cerca de 30 a 40 quilômetros de profundidade, embaixo dos conti-nentes, encontra-se uma camada de descontinuidade, também chamadacamada de Mohorovicic, ou simplesmente Moho, que marca o término dacrosta e o início do manto.

O manto pode ser dividido em duas partes. O manto superior tem670 quilômetros de profundidade, e a velocidade das ondas sísmicas éde 8,1 quilômetros por segundo. Ao final, há uma brusca elevação davelocidade dessas ondas, passando a 13,7 quilômetros por segundo, aqual se mantém até os 2.890 quilômetros, onde termina o chamadomanto inferior e se inicia o núcleo.

No núcleo, a velocidade cai, mas podem ser reconhecidas duas ca-madas sucessivas. A mais externa, que parece ser líquida, vai até os 5.100quilômetros, formando um grande oceano de ferro líquido, muito maiorem volume do que o oceano superficial de água. A outra camada, maisinterna, denominada grão, é sólida e constituída de ferro puro.

Crosta

As camadas interiores do Terra.

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