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“A responsabilidade internacional do Estado brasileiro no Sistema Interamericano de Direitos Humanos pela omissão em exercer a persecução penal em relação aos crimes da ditadura militar (1964 a 1985)” AUTOR: ROBERTO LIMA SANTOS* *Juiz Federal. Graduado em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (1996). Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP (2009). Trabalha principalmente com os seguintes temas: violação de direitos humanos - responsabilidade internacional do Estado e direitos fundamentais.

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“A responsabilidade internacional do Estado brasileiro no Sistema

Interamericano de Direitos Humanos pela omissão em exercer a

persecução penal em relação aos crimes da ditadura militar (1964 a

1985)”AUTOR: ROBERTO LIMA SANTOS*

*Juiz Federal. Graduado em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (1996). Mestre em Ciência Jurídica pela

Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP (2009). Trabalha principalmente com os seguintes temas: violação de direitos humanos

- responsabilidade internacional do Estado e direitos fundamentais.

APRESENTAÇÃO: ROSIANI DOS ANJOS MELQUIADES

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TRANSFORMOU-SE EM LIVRO:

"Crimes da ditadura militar: responsabilidade internacional do estado brasileiro por violação aos direitos humanos", publicado pela Editora Nuria Fabris (Porto Alegre / RS) em 2010.

DESCRIÇÃO: O livro examina os crimes da ditadura militar (1964-1985) e a responsabilidade internacional do Estado brasileiro no Sistema Internacional de Direitos Humanos pela violação aos direitos das vítimas do regime de exceção. Inicia-se com o histórico da ditadura militar e da repressão política, avaliando as variadas formas de respostas as graves violações aos direitos humanos, dentre elas, o reconhecimento do direito à verdade e memória.

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DISCUSSÃO DO TEXTO:

• INTRODUÇÃO:

- O sigilo perpetua o sofrimento das vítimas e seus familiares desrespeita o direito coletivo da sociedade ao conhecimento público das violações aos direitos humanos e forjou o esquecimento da história para escapar à responsabilização; e

- Perpetua o sofrimento das vítimas e impede a construção de uma memória coletiva.

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DISCUSSÃO DO TEXTO:

• INTRODUÇÃO:- Incompatibilidade da interpretação de que a anistia impede a responsabilização dos agentes da repressão face aos preceitos do direito internacional, sobretudo, sob a ótica do Direito Internacional dos Direitos Humanos;- O trabalho se interessa pelas eventuais consequências de uma condenação do Estado Brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos.

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DISCUSSÃO• 1) Ditadura militar e a doutrina da segurança nacional

* “Essa influência sobre a nova concepção de “Defesa Nacional”, que visava à

contenção do comunismo, ficou conhecida como “doutrina da segurança nacional”, que

procurava fortalecer o “Poder Nacional” não contra um ataque externo, mas contra um

“inimigo interno” que teoricamente tentava solapar as instituições, num suposto

contexto de “guerra interna”. Dessa forma, o país não aceitaria mais divergências

internas e identificava a vontade da Nação e do Estado com a vontade do regime. O

sacrifício do Bem-Estar em proveito da Segurança corresponderia à supressão da

liberdade, das garantias constitucionais e dos direitos humanos” (pág. 02).

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DISCUSSÃO

• Regime totalitário x Regime Ditatorial“Segundo a autora, a diferença entre os regimes totalitários e os regimes ditatoriais é que nestes os crimes são cometidos contra inimigos declarados do regime no poder, enquanto nos regimes totalitários os crimes diziam respeito a pessoas que eram “inocentes” mesmo sob a ótica do partido no poder (ARENDT, 2004a, p. 95-96).

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DISCUSSÃO • Burocracia:[...] mando de cargos, [...] mando de ninguém [...] a forma menos humana e cruel de governo (ARENDT, 2004a, p. 93-94).

A execução da burocracia não retirava a responsabilidade do homem pelas praticas de atos de truculência, ainda que subsidiados pela própria organização estatal.

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DISCUSSÃO • Banalidade ou racionalidade do mal (AI-5)

O mal trazido pela ditadura militar era racional, pois fazia parte da rotina institucionalizada, sendo que a tortura, uma forma de mal absoluto, era pilar das ações da ditadura.A loucura era álibi para justificar algum caso que a oposição comprovasse a existência.A responsabilidade do sujeito não afasta a responsabilidade do sistema político.

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DISCUSSÃO • 2) Justiça de transição“[...] tem por objetivo investigar a maneira pela qual sociedades marcadas por passados de abusos dos direitos humanos, atrocidades maciças ou diferentes formas de traumas sociais, incluindo genocídio, crimes contra a humanidade e guerras civis, buscam trilhar um caminho de mais democracia ou apenas de mais paz.

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DISCUSSÃO• Não se pode confundir Justiça de Transição com

“ausência de medidas de justiça, verdade, reparação das vítimas ou punição dos responsáveis”, isso é impunidade.

• Todavia, nos países da América Latina tem ocorrido esse equívoco.

• Conflito da Justiça de Transição x Teoria do Mal Menor = Concessão de anistia que impeça a responsabilidade penal.

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DISCUSSÃO• Não se pode desconsiderar que a tortura

ultrapassa o âmbito material da anistia brasileira (Lei 6.683/79) e que atinge de forma capital a ordem social, os direitos humanos, a democracia e o próprio Estado de Direito.

• 3) A obrigatoriedade da persecução penal em face dos perpetradores de crimes contra a humanidade.

• Direito Penal Internacional: o indivíduo como sujeito de Direito Internacional

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DISCUSSÃO• Princípio da jurisdição penal universal: os Estados que não

reconheçam os efeitos internacionais da lei de anistia podem iniciar procedimentos contra esses criminosos.

• “Dessa forma, os crimes praticados pelos agentes do Estado brasileiro contra a dissidência política caracterizam-se juridicamente como crimes contra a humanidade. Sob a ótica do direito internacional dos direitos humanos, inúmeros tratados de proteção dos direitos humanos subscritos pelo Estado brasileiro impõem o dever de exercer a persecução penal contra os autores que forem identificados, e sua omissão configura um ilícito internacional.”

• Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e de Lesa-Humanidade. (jus cogens)

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DISCUSSÃO• 4) A responsabilidade internacional do Estado

brasileiro no Sistema Interamericano de DH• “[...] o Estado é internacionalmente responsável

por todo ato ou omissão que lhe seja imputável e do qual resulte a violação de uma norma jurídica internacional ou de suas obrigações internacionais, sendo a responsabilidade internacional do Estado por violação aos direitos humanos uma espécie do gênero responsabilidade internacional do Estado.”

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DISCUSSÃO• Consolidou-se, assim, a ideia de que a proteção de

direitos humanos não faz mais parte do domínio reservado dos Estados, pois diz respeito à comunidade internacional, e as pessoas ganharam o direito de se dirigir a organismos internacionais quase-judiciais, pautando suas ações, ou ainda o direito de se dirigir às Cortes internacionais.

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DISCUSSÃO• 5) Os direitos das vítimas violados pela ausência

de responsabilização penal• “[...] a ausência de responsabilização penal dos

autores desses delitos, a partir da adesão do Brasil à CADH, implica a violação dos seguintes dispositivos da Convenção: (i) o art. 1º, § 1º (obrigação de respeitar os direitos previstos); (ii) dever de adotar disposições de direito interno (art. 2º); (iii) o art. 8º, § 1º (direito a um julgamento justo); (iv) o art. 25 (direito à proteção judicial).

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DISCUSSÃO• A violação destes dispositivos implicam na violação

dos seguintes direitos: “(1) o direito de acesso à justiça, o direito à garantia judicial e o direito a um julgamento, (2) o direito à proteção judicial, também considerado como o direito a um remédio efetivo, (3) o direito à reparação e (4) o direito à verdade.”

• As ações judiciais interpostas por familiares das vítimas e pelo MPF são inviabilizadas pela lei de anistia brasileira.

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DISCUSSÃO• 5.1) Os órgãos brasileiros responsáveis pelas

violações

• “[...] todo o Estado é internacionalmente responsável por qualquer ato ou omissão, independentemente de qual Poder ou órgão tenha partido a violação dos direitos internacionalmente consagrados.”

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DISCUSSÃOResponsabilidade do Poder Legislativo: “a promulgação de uma lei manifestamente contrária às obrigações assumidas por um Estado ao ratificar ou aderir à Convenção constitui uma violação desta e, no caso dessa violação afetar direitos e liberdades protegidos a respeito de indivíduos determinados, gera responsabilidade internacional para o Estado.”

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DISCUSSÃO• “Por reparação entenda-se toda e qualquer

conduta do Estado infrator para eliminar as consequências do fato internacionalmente ilícito, o que compreende uma série de atos, inclusive as garantias de não repetição. [...]”

• Poder Judiciário: ausência de aplicação dos tratados internacionais ainda que a Convenção de Viena sobre Tratados diga que o Estado signatário não possa alegar direito interno para eximir de Tratado Internacional.

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DISCUSSÃO• Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período

compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares.

•         § 1º - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política.

•         § 2º - Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal.