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O JORNALISTA NOS QUADRINHOS Uma visão crítica sobre as práticas midiáticas Seminário apresentado para a disciplina Sociologia das Mídias, do professor Osvaldo Meira Trigueiro Aluno: Alexandro Carlos de Borges Souza

Jornalismo e quadrinhos

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Seminário apresentado na disciplina 'Sociologia das Mídias', do professor Osvaldo Meira Trigueiro.

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O JORNALISTA NOS QUADRINHOSUma visão crítica sobre as práticas

midiáticas

Seminário apresentado para a disciplina Sociologia das Mídias, do professor Osvaldo Meira Trigueiro

Aluno: Alexandro Carlos de Borges Souza

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SUMÁRIO

1. Jornalistas1.1 – Surgimento1.2 – Traços sociais

1.2.1 – Modo de agir1.2.2 – Modo de falar1.2.3 – Modo de ver

1.3 – Cultura profissional2. Os jornalistas nas HQs

2.1 – Origens comuns2.2 – Personagens e mitologia2.3. O jornalista em Transmetropolitan

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1. JORNALISTAS1.1 - Surgimento

- Surgem com o estabelecimento da imprensa como 'mass media' (séc. XIX)- Consequência da urbanização e da industrialização- Novo paradigma: informação, no lugar de propaganda- Fatores para evolução da atividade:

► Comercialização da notícia ► Profissionalização dos trabalhadores

- Constituição de um grupo social: jornalistas- Reivindicação de um monopólio do saber: o que é notícia

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1. JORNALISTAS1.2 – Traços sociais

- Objetivos do processo de profissionalização: ► Liberdade e autonomia► Estatuto social da profissão

- Cultura profissional identificada com valores nobres- Área de atuação indefinida x forte identidade profissional- Imediatismo: tempo como definição do jornalismo

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1. JORNALISTAS1.2 – Traços sociais

Nelson TRAQUINA (2008, p. 37) nos fala sobre imediatismo: Enquanto o valor da objetividade continua a provocar imensa polêmica (mas não a noção do profissional equidistante em relação aos diversos agentes sociais), o valor do imediatismo reina incontestável, ainda mais com a emergência do “cibermedia”. O imediatismo é definido como um conceito temporal que se refere ao espaço de tempo (dias, horas, segundos) que decorre entre o acontecimento e o momento em que a notícia é transmitida, dando existência a esse acontecimento.

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1. JORNALISTAS1.2 – Traços sociais

- Competência profissional determinada pela capacidade de dominar o tempo;- Ênfase na ação está no centro da profissão;- Desempenho voltada para saberes práticos:

► Saber de reconhecimento: capacidade de reconhecer o que possui valor como notícia

► Saber de procedimento: conhecimentos necessários para recolher dados da notícia

► Saber de narração: capacidade de mobilizar a linguagem jornalística

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1. JORNALISTAS1.2 – Traços sociais

1.2.1 – Modo de agir

- 'Ação' no lugar de 'reflexão': pragmatismo;- Conhecimento depende de contato concreto e instintivo com os acontecimentos;- Proximidade com o 'empírico primitivo' de Lévi-Strauss;- Importância da reportagem na cultura profissional;- Papel do instinto e da perspicácia na identificação da notícia.

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1. JORNALISTAS1.2 – Traços sociais

1.2.1 – Modo de falar

- Jornalismo enquanto prática discursiva;- Necessidade de comunicar para diferentes camadas sociais;- Traços linguísticos:

► frases e parágrafos curtos;► palavras simples;► sintaxe direta e econômica;► concisão;► utilização de metáforas;

- Discurso deve provocar desejo no espectador.

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1. JORNALISTAS1.2 – Traços sociais

1.2.1 – Modo de ver

- Visão bipolar do mundo (bem&mal; pró&contra)- Acontecimento como unidade de análise da realidade;- Dificuldade em estabelecer relações entre acontecimentos;- Visão temporal limitada (notícia em oposição à história);- Tendência a estruturar acontecimentos em torno de indivíduos;- Gosto pelo drama

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1. JORNALISTAS1.3 – Cultura profissional

- Rica em mitos, símbolos e representações sociais;- Ideologia indissociável da democracia e criadora de mitos:

► servidor público /protetor do cidadão contra abusos / herói do sistema democrático;

► Cultura dos sacrifícios pessoais;► Identificação com o imprevisto;► Compromisso total com a profissão; ► Valorização do “furo”, da “grande

história”;► Jornalismo como “aventura” (figura do

repórter);► Jornalista como “detetive”

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1. JORNALISTAS1.3 – Cultura profissional

► Jornalista como “caçador” em contraponto à rotina;

► Jornalista como “herói”, em oposição à tirania, à opressão e à injustiça.- Tem como vilões: o empresário ganancioso, o burocrata insensível e o político corrupto.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.1 – Origens comuns

- Os quadrinhos nascem como um gênero jornalístico: as tiras (comic strips).- As tiras ganham autonomia em relação ao jornal com o surgimento dos suplementos dominicais e, depois, das revistas periódicas. - O gênero passa a abarcar uma multiplicidade de subgêneros, ampliando a temática e desenvolvendo linguagem autônoma.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

- Por que estudar os mitos?

- Sobre mito, nos diz Erick FELINTO (2005, p. 88):Como a teoria e a tecnologia, o mito está submetido a um processo que testa suas capacidades de responder às exigências da cultura. A pregnância de um mito é o conjunto de fatores que permitem sua resistência à dispersão no tempo. […] O que interessa realmente é a ideia do mito como realidade que possui um núcleo resistente ao tempo, mas que se transforma com o passar do tempo, em face do importante fenômeno de sua recepção em dado ambiente cultural.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

TINTINCriado em 1929 pelo belga Hergé, é um típico exemplo de de jornalista “aventureiro”. Foi publicada até 1976.

- Em mais de 100 anos de histórias em quadrinhos, vários personagens surgem, personificando diferentes aspectos da mitologia relacionada à cultura profissional dos jornalistas.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

BRENDA STARR, REPÓRTERPersonagem de tiras criada em 1940 e publicada até 2011, reunia os lados aventureiro e detetivesco da profissão.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

SUPERMANCriado em 1938, o super-herói, que nas horas vagas se disfarça como o repórter Clark Kent, reúne todos os atributos mitológicos da profissão, como a defesa da democracia e o combate à opressão, sempre disposto aos maiores sacrifícios.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

Outros personagens seguem a mesma trilha heroica de Superman, como o radialista Billy Batson (identidade secreta do Capitão Marvel, criado em 1939) e o repórter fotográfico Peter Parker (o Homem-Aranha nas horas vagas, criado em 1962).

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

Por sua vez, o âncora de tevê Vic Sage encarna o mito do repórter detetive ao assumir a identidade do herói O Questão, criado em 1967. Tanto que, ao ser reformulado nos anos 2000, foi substituído por uma ex-policial.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

O repórter Ben Urich (1978), personagem secundário das histórias do Demolidor, ajudou a problematizar a mitologia do jornalista nos anos 80, principalmente a partir da série 'A Queda de Murdock', da dupla Miller e Mazzuchelli.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

J. Jonah Jameson, Lex Luthor e Wilson Fisk, o Rei do Crime, personificaram os vilões típicos da mitologia jornalística.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.2 – Personagens e mitologia

O repórter Matthew Roth, protagonista da série cyberpunk ZDM, criado em 2005, reformula e trabalha o mito do jornalista correspondente de guerra.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.3 – O jornalista em Transmetropolitan

Spider Jerusalem é o protagonista da série cyberpunk Transmetropolitan, iniciada em 1997 pela dupla Warren Ellis e Darick Robertson. Ele é um jornalista vivendo no século 23 que, após um auto-exílio de 5 anos, precisa voltar à Cidade para trabalhar.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.3 – O jornalista em Transmetropolitan

- Transmetropolitan é uma série cyberpunk, em que “o tema da tecnologia e sua relação estreita com o quotidiano é recorrente” (André LEMOS, 2002, p. 203).

- Cyberpunk caracteriza-se por uma visão distópica do futuro. Continua LEMOS (2002, p. 204): “Embora seja ficção-científica, o estilo cyberpunk faz uma sátira do presente, diferenciando-se, assim, das outras correntes do gênero por ser presenteísta (Maffesolli), urbana, anárquica e micropolítica.”

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.3 – O jornalista em Transmetropolitan

- Transmet promove o encontro entre o imaginário da cultura profissional do jornalista com o imaginário tecnológico da cibercultura.

- Sobre imaginário, nos diz FELINTO (2005, p. 89):[O crítico literário] Wolfgang Iser parte da tradicional oposição entre ficcional e real, para então desmontá-la com o apelo a um terceiro termo, o imaginário. O imaginário aparece, assim, como um tertium datum situado entre os domínios do real e do ficcional e atuando como seu mediador. […] O problema da definição de imaginário é que este nunca se revela senão em suas produções. […] Dessa forma, entenderemos imaginário como um “jogo” (play) posto em ação através de atos de ficcionalização.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.3 – O jornalista em Transmetropolitan

- FELINTO (2005, p. 90) também comenta o imaginário tecnológico:Isso significa dizer que um imaginário tecnológico ou um imaginário da cibercultura apenas pode ser identificado a partir de seus produtos concretos: os “textos” produzidos naquele ambiente cultural. […]O imaginário tecnológico é uma atividade (não uma coisa) desencadeada por alguma espécie de ativador externo […] e realizada em diferentes instâncias: textos, imagens mentais, imagens “reais”, etc. […] Seus produtos – textuais ou imagéticos – é que devem estar no centro de nossa investigação. […] O imaginário tecnológico também pode ser entendido como aquilo que permite investigar os modos como as tecnologias são assimiladas e pensadas no interior de uma cultura.

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2. OS JORNALISTAS NAS HQs2.3 – O jornalista em Transmetropolitan

- Semelhante ao tratamento dado à ciência (DANTON, 2005), representação do jornalismo (técnica) nas HQs saiu do maravilhamento à reflexão com o tempo.

- Transmetropolitan permite enxergar como o cyberpunk subverte a prática jornalística por meio de seu imaginário;

- E ainda, como esses dois imaginários se articulam para oferecer uma leitura crítica da sociedade contemporânea.

- Análise partiria da identificação desses mitos na narrativa e como se dão suas relações.

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BibliografiaAMARAL, Adriana. Visões Perigosas: Uma arque-genealogia do cyberpunk – comunicação e cultura. Porto Alegre: Sulina, 2006. DANTON, Gian, pseud. De Ivan Carlo Andrade de Oliveira. Ciência e Quadrinhos. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2005. FELINTO, Erick. A religião das Máquinas: ensaios sobre o imaginário da cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2005.GUSMAN, Sidney. Esses heróicos jornalistas sem ética. Matéria publicada na revista Imprensa, n. 44, abril de 1991, disponível em http://universohq.blogspot.com/2007/06/esses-hericos-jornalistas-sem-tica-um.html Acesso em 24/10/2011. LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida cultural na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.NICOLAU, Marcos. Tirinhas – a síntese criativa de um gênero jornalístico. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2007. RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Editora Contexto, 2009. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2008.HQsTransmetropolitan: de volta às ruas (Warren Ellis, roteiro / Darick Robertson, arte). Barueri, SP: Panini Books, 2010.

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