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CICLOS DE LITERATURA E CINEMA IFSC / UFSC A ALQUIMIA DO VERBO Professora: Daniella Yano

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CICLOS DE LITERATURA E CINEMA IFSC / UFSC

A ALQUIMIA DO VERBO

Professora: Daniella Yano

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Muito prazer, Manoel de Barros!

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A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoais. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. (Retrato do artista quando coisa)

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LUGARES

Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT), em 1916;

Ainda novo, foi morar em Corumbá (MS);

Mais tarde foi para o Rio de Janeiro, fazer a faculdade de Direito.

Depois, viajou pela Bolívia e Peru;

Também morou em Nova York;

Na década de 1960 foi para Campo Grande (MS) e lá passou a viver como fazendeiro.

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No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos – O verbo tem que pegar delírio. (O livro das ignorãnças)

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INFÂNCIA

Quando tinha um ano de idade, o pai decidiu fundar fazenda com a família no Pantanal: construir rancho, cercar terras, amansar gado selvagem. Nequinho, como era chamado carinhosamente pelos familiares, cresceu brincando no terreiro em frente à casa, pé no chão, entre os currais e as coisas "desimportantes" que marcariam sua obra para sempre.

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Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno.

Eu queria aprender o idioma

das árvores. Saber as canções do

vento nas folhas da tarde.

Eu queria apalpar os perfumes

do sol. (Infantis)

Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças. (Infantis)

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Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal É maior do que o mundo... (Memórias inventadas)

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FAMÍLIA

Manoel de Barros conheceu a mineira Stella no Rio de Janeiro e se casaram em três meses.

Vivem (ela com 92 anos e ele com 97) muito apaixonados e têm três filhos, Pedro, João e Marta e sete netos.

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Havia um muro alto entre nossas casas. Difícil de mandar recado para ela. Não havia e-mail. O pai era uma onça. A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por um cordão E pinchava a pedra no quintal da casa dela. Se a namorada respondesse pela mesma pedra Era uma glória! Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira E então era agonia. No tempo do onça era assim. (Tratado geral das grandezas do ínfimo)

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OBRAS

Publicou seu primeiro livro de poesia, Poemas Concebidos Sem Pecado, em 1937. Depois vieram: Face Imóvel (1942), Poesias (1946), Compêndio para Uso dos Pássaros (1961), Gramática Expositiva do Chão (1969), Matéria de Poesia (1974), O Guardador de Águas (1989), Retrato do Artista Quando Coisa (1998), O Fazedor de Amanhecer (2001), entre outros. Ao longo das décadas de 1980 e 1990 veio sua consagração como poeta. Em 1990 recebeu o Grande Prêmio da Crítica/Literatura, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro O Guardador de Águas, concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

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Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina. (O guardião de águas)

Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.

(Livro sobre o nada

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PALAVRA

Há várias maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. (Livro sobre o nada)

Tenho uma confissão a fazer:

noventa por cento do que escrevo é invenção

só dez por cento é mentira. (Livro sobre o nada)

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. (Memórias inventadas)

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BERNARDO

Esse Bernardo eu conheço de léguas.

Ele é o único ser humano

que alcançou de ser árvore.

Por isso deve ser tombado

a Patrimônio da Humanidade. (Infantis)

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Ao ser indagado sobre como gostaria de ser lembrado, Manoel ri, coça o peito, diz que a pergunta é cruel e, já mais sério, fala que o único jeito é pela poesia. “A gente nasce, cresce, amadurece, envelhece, morre. Pra não morrer, tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste”. (Documentário: Só dez por cento é mentira)