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109 Novas perspectivas na reconstituição do modo de vida dos sambaquieiros: uma abordagem multidisciplinar 1 R. Scheel-Ybert 2 ; S. Eggers 3 ; V. Wesolo- wski 4 ; C.C. Petronilho 3 ; C.H. Boyadjian 3 ; P.A.D. DeBlasis 5 ; M. Barbosa-Guimarães 2 ; M.D. Gaspar 2 Resumo A reunião de dados originais e de revi- sões da literatura, numa abordagem multidisciplinar praticamente inédita na arqueologia brasileira, forneceu subsídios para um melhor conhecimento da socie- dade sambaquieira. Análises antracoló- gicas permitiram a reconstrução paleo- ecológica do ambiente costeiro, além de prover informações sobre a economia do combustível nesta sociedade e sua die- ta. Análises paleopatológicas revelaram aspectos importantes do modo de vida dos sambaquieiros e de sua relação com o meio ambiente. A combinação dos re- sultados destas duas disciplinas, asso- ciadas a análises líticas, apontou para um espectro econômico e de subsistên- cia bem mais amplo do que se supunha anteriormente, confirmou a importância das plantas para esta sociedade e for- neceu bases mais sólidas para o debate a respeito de manejo e cultivo de vege- tais. Palavras-chave: subsistência, cultivo, an- tracologia, paleopatologia, sambaquis 1 Este artigo é fruto de uma intensa colaboração entre os autores, sendo que todos participaram com dados significativos; as primeiras três autoras contribuíram igualmente para sua realização. 2 Departamento de Antropologia, Museu Nacional, UFRJ. Quinta da Boa Vista. 20940-040, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Laboratório de Antropologia Biológica, Centro de Estudos do Genoma Humano, Departamento de Biologia, Instituto de Biociências, USP. 05508-900, São Paulo, Brasil 4 Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil 5 Museu de Arqueologia e Etnologia, USP. 05508-900, São Paulo, Brasil Artigo Revista Arqueologia, 16: 109-137, 2003

Novas perspectivas na reconstituição do modo de vida dos sambaquieiros: uma abordagem multidisciplinar

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A reunião de dados originais e de revi- sões da literatura, numa abordagem multidisciplinar praticamente inédita na arqueologia brasileira, forneceu subsídios para um melhor conhecimento da socie- dade sambaquieira. Análises antracoló- gicas permitiram a reconstrução paleo- ecológica do ambiente costeiro, além de prover informações sobre a economia do combustível nesta sociedade e sua die- ta. Análises paleopatológicas revelaram aspectos importantes do modo de vida dos sambaquieiros e de sua relação com o meio ambiente. A combinação dos re- sultados destas duas disciplinas, asso- ciadas a análises líticas, apontou para um espectro econômico e de subsistên- cia bem mais amplo do que se supunha anteriormente, confirmou a importância das plantas para esta sociedade e for- neceu bases mais sólidas para o debate a respeito de manejo e cultivo de vege- tais.

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Novas perspectivas na reconstituição domodo de vida dos sambaquieiros: umaabordagem multidisciplinar1

R. Scheel-Ybert 2; S. Eggers 3; V. Wesolo-wski 4; C.C. Petronilho 3; C.H. Boyadjian 3;

P.A.D. DeBlasis 5; M. Barbosa-Guimarães 2;M.D. Gaspar 2

ResumoA reunião de dados originais e de revi-sões da literatura, numa abordagemmultidisciplinar praticamente inédita naarqueologia brasileira, forneceu subsídiospara um melhor conhecimento da socie-dade sambaquieira. Análises antracoló-gicas permitiram a reconstrução paleo-ecológica do ambiente costeiro, além deprover informações sobre a economia docombustível nesta sociedade e sua die-ta. Análises paleopatológicas revelaramaspectos importantes do modo de vidados sambaquieiros e de sua relação como meio ambiente. A combinação dos re-sultados destas duas disciplinas, asso-ciadas a análises líticas, apontou paraum espectro econômico e de subsistên-cia bem mais amplo do que se supunhaanteriormente, confirmou a importânciadas plantas para esta sociedade e for-neceu bases mais sólidas para o debatea respeito de manejo e cultivo de vege-tais.

Palavras-chave: subsistência, cultivo, an-tracologia, paleopatologia, sambaquis

1 Este artigo é fruto de uma intensa colaboração entre os autores, sendo que todos participaram comdados significativos; as primeiras três autoras contribuíram igualmente para sua realização.2 Departamento de Antropologia, Museu Nacional, UFRJ. Quinta da Boa Vista. 20940-040, Rio deJaneiro, Brasil. E-mail: [email protected] Laboratório de Antropologia Biológica, Centro de Estudos do Genoma Humano, Departamento deBiologia, Instituto de Biociências, USP. 05508-900, São Paulo, Brasil4 Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil5 Museu de Arqueologia e Etnologia, USP. 05508-900, São Paulo, Brasil

Artigo

Revista Arqueologia, 16: 109-137, 2003

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AbstractOriginal and published data were as-

sembled in a multidisciplinary approachas yet uncommon in Brazilian archaeo-logy to provide a better understandingof the sambaqui society. Anthracologi-cal analysis allowed palaeoecological re-construction of the coastal environmentand provided information about firewoodeconomy and diet. Palaeopathologicalanalyses revealed important aspects ofthe lifestyle of sambaqui dwellers andtheir relationship with the environment.The combination of results of these twodisciplines, associated to lithic analyses,points to economic and subsistence spec-tra larger than considered so far. Resultsalso confirmed the importance of plantsto this society and supplied more solidbases to the debate concerning humanmanagement and plant cultivation.

Keywords: subsistence, cultivation, an-thracology, palaeopathology, shell-mounds

IntroduçãoUma revisão da literatura brasileira

sobre sambaquis, sobretudo aquela pro-duzida a partir dos anos 50, mostra queos construtores destas grandes estrutu-ras litorâneas sempre foram considera-dos como pertencendo a sociedades bas-tante simples, com uma economia ba-seada essencialmente na coleta de mo-luscos, complementada pela caça e pelapesca. Num período mais tardio da lon-ga ocupação do litoral pelos sambaqui-eiros, a base da economia ter-se-ia des-locado para a pesca (Emperaire & La-ming, 1956; Beck, 1972; Garcia & Uchoa,1981, entre outros; para uma revisão,ver Lima & Mazz, 1999/2000). De fato,a enorme quantidade de restos de con-chas nos sambaquis levou ao desenvol-vimento de uma visão “impressionista”destes sítios, na qual os grupos a elesassociados foram considerados coletoresde moluscos nômades. Essa interpreta-

ção fez com que a investigação de vári-os aspectos de seu sistema de subsis-tência fosse negligenciada. No entanto,essa visão está sendo gradualmentesubstituída. Os construtores de samba-qui são atualmente considerados comopescadores sedentários que apresenta-vam uma organização sociocultural re-lativamente complexa (Gaspar, 1991,2003; De Blasis et al., 1998; Lima &Mazz, 1999/2000), e várias pesquisasabordando padrão de subsistência e or-ganização social estão em andamento.

O desenvolvimento de estudos zoo-arqueológicos mostrou a importância dapesca no sistema de subsistência dossambaquieiros desde os primórdios daocupação das zonas costeiras (Bandei-ra, 1992; Figuti, 1993; Klökler, 2000).Análises de isótopos estáveis demons-traram uma grande variabilidade intra einter sítios dos recursos protéicos con-sumidos, mas consistentemente apon-taram peixes e mamíferos marinhoscomo a principal fonte desses recursos(De Masi, 2001). Os moluscos não sãomais vistos como a base da economia,mas sim como um elemento secundáriona dieta, que pode ter tido grande im-portância como material de construção(Afonso & DeBlasis, 1994; Gaspar,2003). O consumo de vegetais, no en-tanto, permaneceu subestimado, já queas evidências diretas do uso de plantasse restringem essencialmente a algumassementes e coquinhos queimados, e asindiretas a objetos líticos atribuídos àpreparação de vegetais (Kneip, 1977,1994; Tenório, 1991; Gaspar, 1995 etc.).

Ainda que importantes peculiarida-des regionais tenham existido, os sam-baquis distribuídos ao longo de todo olitoral brasileiro apresentam muitas ca-racterísticas semelhantes. Não existemdados disponíveis sobre integração polí-tica regional e supra-regional, mas ahomogeneidade tipológica das indústri-as lítica e óssea, assim como caracterís-ticas estruturais dos próprios sítios,apontam para uma grande estabilidade

Scheel-Ybert, R.; Eggers, S.; Wesolowski, V.; Petronilho, C.C.;Boyadjian, C.H.; DeBlasis, P.A.D.; Barbosa-Guimarães, M.;Gaspar, M.D.

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cultural no tempo e no espaço (Gaspar,1992, 1994/95; DeBlasis et al., 1998),sugerindo que todos os sambaquis per-tenciam a um mesmo sistema sociocul-tural.

Esculturas de pedra (zoólitos) ocor-rem exclusivamente nos sambaquis me-ridionais, a partir do Estado de São Pau-lo (Prous, 1992). Os sítios da região Sul(Estados do Paraná e Santa Catarina) sãomuito maiores, o que implica num gran-de número de pessoas envolvidas em suaconstrução (Fish et al., 2000). Além dis-so, enquanto nos sítios do Sudeste háindícios de uma gama de atividades se-melhantes sendo desenvolvidas em cadaum deles (habitação, preparação de ali-mentos, produção de artefatos, enter-ramentos), ou pelo menos em sua mai-or parte (Gaspar, 1998; Barbosa, 2001),os sítios do Sul provavelmente apresen-tavam funções distintas (Gaspar, 2000),parecendo claro que muitos eram exclu-sivamente funerários (Fish et al., 2000).

Nem todas as análises aqui apresen-tadas foram aplicadas a cada um dossítios, já que os dados foram obtidos noquadro de diferentes programas de pes-quisa6, abrangendo tanto estudos de ar-queologia propriamente dita, como aanálise de líticos, quanto resultados daschamadas “disciplinas associadas”, emespecial a antracologia e a paleopatolo-gia.

A antracologia, estudo dos carvõesconservados nos sedimentos arqueoló-gicos, permite reconstituições paleoam-bientais e estudos paleoetnológicos. Areconstituição do paleoambiente vege-tal e, em conseqüência, do paleoclima,oferece uma perspectiva paleoecológica,mas esta disciplina fornece também in-

formações paleoetnológicas, relaciona-das principalmente à utilização da ma-deira e à alimentação das populaçõespré-históricas, esta última em virtude daconservação de restos alimentares car-bonizados.

A paleopatologia é o estudo da do-ença e do processo de adoecer no pas-sado. Em uma perspectiva paleoepide-miológica, permite o estabelecimento derelações entre estilo de vida e modo desubsistência dos grupos humanos e osprocessos saúde-doença que lhes sãocaracterísticos. Sob essa perspectiva, écentral o conceito de patocenose. Defi-nido por Grmek (1983) e aplicado ao es-tudo de populações pré-históricas bra-sileiras por Mendonça de Souza (1995),patocenose é o conjunto de estados pa-tológicos presentes em uma populaçãodeterminada em um momento determi-nado, sendo a freqüência e distribuiçãode cada doença dependente de diversosfatores endógenos e ecológicos. A pale-opatologia óssea estuda a origem e a dis-persão de doenças, analisando etiologia,gravidade e distribuição das patologiasde acordo com gênero e idade, semprerelacionando os achados a fatores comomigração, características culturais, meiode subsistência, região geográfica e cli-ma, entre outros. Através da paleopato-logia podemos entender melhor comoatividades relacionadas à obtenção, pro-dução, preparação e consumo de alimen-tos podem afetar as condições de saúdedos indivíduos e marcar seus corpos comalterações anatômicas indicadoras deestresse mecânico ligado a atividadescotidianas.

O presente artigo reúne diferentesabordagens de estudo da sociedade sam-baquieira e apresenta resultados recen-

6 Projetos “Populações pré-históricas e o mundo vegetal: meio ambiente, utilização da madeira, ali-mentação e interações homem-vegetação no Brasil” (CNPq-PROFIX), coord. Scheel-Ybert; “Paleopato-logia de ameríndios pré-históricos” (FAPESP/CEPID), coord. Eggers; “Aproveitamento ambiental daspopulações pré-históricas do Estado do Rio de Janeiro” (MN/FINEP/FUJB) e “Soberanos da costa”(FAPERJ), coord. Gaspar; “Sambaquis e paisagem: modelando a inter-relação entre processos cultu-rais e naturais no litoral sul catarinense” (FAPESP), coord. DeBlasis; tese de doutorado de Scheel-Ybert; dissertação de mestrado de Wesolowski; iniciações científicas de Petronilho (FAPESP) e Boyad-jian (CNPq).

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tes de diferentes projetos e disciplinas,buscando apresentar novas informaçõessobre o sistema de subsistência, o modode vida dos sambaquieiros e sua rela-ção com o meio, a partir de indicadoresde paleoambiente, de cultivo e uso devegetais e das variações de saúde nosconstrutores de sambaqui. Nosso obje-tivo, além de fornecer novas perspecti-vas sobre a presença de recursos vege-tais na economia sambaquieira, é apre-sentar um panorama das novas inter-pretações sobre o modo de vida destaspopulações, em especial no que se refe-re à economia do combustível e a indi-cadores de saúde e de atividades.

Área de estudoOs resultados aqui apresentados se

referem essencialmente a cinco grandesáreas de estudo, todas no litoral: a Re-gião dos Lagos, no sudeste do Estado doRio de Janeiro, as regiões de Ubatuba eCubatão, respectivamente no Norte eCentro do Estado de São Paulo, e as re-giões de Joinville e Laguna, no Norte eno Sul do Estado de Santa Catarina. Cadauma dessas regiões apresenta particu-laridades de relevo, clima e sistemas eco-lógicos. No entanto, embora a Região dosLagos apresente clima tropical e as de-

mais áreas clima subtropical, a vegeta-ção é relativamente semelhante em to-das elas.

A planície costeira de uma grandeparte da costa brasileira é coberta pelarestinga, ecossistema característico doscordões arenosos litorâneos. A restingaé, na verdade, um mosaico de tipos devegetação apresentando um zoneamentoque vai da praia até o interior. Ela variade comunidades abertas, com formaçõesherbáceas e arbustivas (restinga aber-ta) até a mata de cordões arenosos(mata de restinga).

Mais para o interior, principalmentesobre as elevações montanhosas, o lito-ral brasileiro é caracterizado pela exis-tência da Mata Atlântica, uma florestatropical densa que se estende do Estadodo Rio Grande do Norte (5ºS) até o RioGrande do Sul (29ºS). Na região sul, ape-sar do clima subtropical, as temperatu-ras invernais amenas ao longo da costa eas chuvas abundantes, bem distribuídasao longo do ano, permitem o desenvolvi-mento de uma floresta perene com altabiodiversidade que é uma continuação daMata Atlântica de zonas tropicais.

Todos os sítios estudados estão loca-lizados na costa sul-sudeste do Brasil(Fig.01). Dados sobre localização geográ-

Figura 1: Localização geográfica dos sítios estudados.

Scheel-Ybert, R.; Eggers, S.; Wesolowski, V.; Petronilho, C.C.;Boyadjian, C.H.; DeBlasis, P.A.D.; Barbosa-Guimarães, M.;Gaspar, M.D.

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fica, datações e tipos de análise realiza-das em cada sítio são apresentados naTabela I. Informações detalhadas a res-peito dos contextos arqueológico e eco-

lógico de cada uma das áreas de estudoforam publicadas previamente (DeBlasiset al., 1998; Fish et al., 2000; Scheel-Ybert, 1998, 2000; Wesolowski, 2000).

Tabela I: Características gerais dos sítios analisados. As datas apresentadas se referem à idade maisantiga e à mais recente obtidas em cada sítio; quando somente uma data é apresentada, ela se refereà base do sítio, com exceção de MdO, que se refere ao ponto médio da estratigrafia. N corresponde aonúmero de fragmentos de carvão analisados em antracologia (A), ao número de peças líticas (L) e aonúmero de indivíduos/número de dentes analisados nos estudos de patologia dental (D) e esqueletal(E). *Análise lítica baseada em revisão de dados já publicados.

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Na Região dos Lagos encontra-seuma seqüência de ambientes lagunares,dos quais os principais envolvem as la-goas de Araruama, Saquarema e Mari-cá. Os dois primeiros apresentam altadensidade de sambaquis, em geral agru-pados em pontos de grande produtivi-dade. Vinte e nove sambaquis foramidentificados no complexo lagunar deAraruama (Gaspar, 1991). Destes, foramestudados os sambaquis do Forte, Sali-nas Peroano, Meio, Boca da Barra e Pon-ta da Cabeça. O primeiro se localiza en-tre o Canal de Itajuru e o Oceano Atlân-tico, na margem oeste do canal, que co-necta a Lagoa de Araruama ao mar, aonorte da praia do Forte. Apresenta 100m2

de área e uma estratigrafia composta poroito camadas distribuídas em duas ma-trizes distintas: quatro camadas compos-tas por matriz conchífera e duas cama-das arenosas (Kneip, 1980). Os samba-quis Salinas Peroano, Meio e Boca daBarra estão situados sobre colinas cris-talinas na margem leste do Canal de Ita-juru, a menos de 500m de distância unsdos outros. O primeiro apresenta 1200m2

de área e uma estratigrafia composta poruma matriz mineral que apresenta len-tes de concha distribuídas ao longo daocupação; o último tem área de 1500m2

e estratigrafia formada por uma matrizconchífera (Gaspar, 1991). O sítio doMeio, situado sobre uma elevação deaproximadamente 10m de altura, ocupauma área de 240m2 e apresenta umaocupação de 80cm de espessura com-posta por três camadas estratigráficasalternando sedimento arenoso e conchas(Gaspar e Scaramella, 1992).

O sambaqui Ponta da Cabeça, se si-tua na península de Arraial do Cabo, tam-bém na Região dos Lagos, sobre umacolina cristalina próxima à praia da Mas-sambaba. Encontra-se a uma altitude de40m e tem dimensão aproximada de4200m2. Apresenta uma matriz mineralde coloração marrom escuro contendofarto material faunístico (conchas e os-sos) (Tenório et al., 1992).

Vinte sambaquis foram identificadosno complexo lagunar de Saquarema(Kneip, 2001). Destes, os sambaquis daPontinha, da Beirada e Moa foram anali-sados. Os sambaquis da Beirada e daPontinha se situam no dorso do cordãoarenoso pleistocênico entre a lagoa deSaquarema e o mar, a cerca de 400m dedistância um do outro. O primeiro temárea de 2320m2 e uma estratigrafia com-posta por matriz conchífera com quatrocamadas arqueológicas. O segundo, com1000m2, tem quatro camadas arqueoló-gicas de sedimento arenoso com con-chas dispersas (Kneip, 2001). O samba-qui do Moa localiza-se entre a lagoa deSaquarema e as margens de um rio. Ocu-pa uma área de aproximadamente2800m2 e apresenta uma ocupação de80cm de espessura em duas camadasarqueológicas, com matriz conchífera(Kneip, 2001).

Na região da planície do rio São Joãoforam identificados 17 sambaquis agru-pados em dois conjuntos, dentre os quaiso sambaqui Ilha da Boa Vista-I foi obje-to de análise. Este sambaqui encontra-se assentado sobre um dos muitos cor-dões arenosos existentes. Apresentaárea de 660m2 e uma estratigrafia com-posta por uma matriz mineral de colora-ção marrom escura com vestígios fau-nísticos dispersos, lentes malacológicase argilosas (Barbosa et al., 1994).

A região de Ubatuba está situada nolitoral norte do Estado de São Paulo, ondea costa é muito recortada e apresentagrande proximidade com a Serra do Mar.O sambaqui do Tenório, localizado napraia de mesmo nome, apresentava ape-nas 250m2 após processo de destruição,que ocasionou a perda de aproximada-mente 60cm de camada arqueológica.Sua estratigrafia é composta por ape-nas uma camada arqueológica de ma-triz conchífera (Garcia, 1972).

A área de Cubatão está inserida naregião da Baixada Santista. Geografica-mente ela está localizada no litoral su-deste, embora climatologicamente se

Scheel-Ybert, R.; Eggers, S.; Wesolowski, V.; Petronilho, C.C.;Boyadjian, C.H.; DeBlasis, P.A.D.; Barbosa-Guimarães, M.;Gaspar, M.D.

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enquadre no litoral meridional. É forma-da por uma ampla planície de maréscomposta por alguns rios e uma amplarede de canais de drenagem. Na área daCOSIPA foram identificados cinco sam-baquis, entre os quais o Piaçaguera, queestá implantado em baixa encosta demorro e apresenta uma área de 820m2.Sua estratigrafia apresenta três cama-das arqueológicas compostas por matrizconchífera com lentes de carvão entre-meadas (Garcia, 1972).

Um grande número de sambaquisexiste também no litoral sul do Brasil,muitos dos quais de grandes dimensões.Duas importantes concentrações de sí-tios ocorrem no litoral norte e no litoralsul do Estado de Santa Catarina. Na pri-meira, na região da Baía de Babitonga,com foco no município de Joinville, fo-ram identificados 42 sambaquis, e nasegunda, na região do Camacho, com-preendendo os municípios de Tubarão,Laguna e Jaguaruna, cerca de 60 sam-baquis já foram localizados.

O sambaqui do Morro do Ouro locali-za-se no fundo de baía de Babitonga,próximo à margem esquerda do rio Ca-choeira e sobre a encosta de um morroresidual. Suas dimensões originais nãosão conhecidas, devido ao processo dedestruição. Três unidades estratigráficasforam identificadas (Beck, 1972). O sam-baqui Rio Comprido localiza-se próximoao rio Comprido, em área urbana domunicípio de Joinville. Sua área é deaproximadamente 2400m2 (Wesolowski,2000).

O sítio Jabuticabeira-II se localiza emJaguaruna, a cerca de 1km da margemsudoeste da lagoa Garopaba do Sul e acerca de 6km do mar. Este sambaqui estásituado no flanco de uma paleoduna ecobre uma área de 84000m2. Apresen-ta-se formado por duas matrizes: umaconchífera e outra mineral, de coloraçãomarrom escuro. A segunda, mais recen-te, tem 3m de espessura e cobre a ma-triz conchífera, que é formada por su-cessivas e intercaladas lentes de paleo-

superfícies associadas a covas funerári-as e buracos de estaca (Fish et al., 2000).

O sambaqui de Cabeçudas localiza-se sob o pontal que marca o limite entreas lagoas de Imaruí e de Santo Antônio.Praticamente destruído, sua área atualé de 900m2, evidenciando uma destrui-ção de quase 90% de sua área original.Informações iconográficas indicam umaaltura de mais de 20m (Mendonça deSouza, 1995). Sua estratigrafia é forma-da por uma matriz conchífera que apre-sentava, entremeadas, lentes de con-chas, de carvão e de ossos faunísticos.

Material e métodosAmostras de carvão foram coletadas

em perfis verticais por decapagem com-binada em níveis artificiais de 10 cm deespessura e em níveis naturais. O sedi-mento foi peneirado a seco no campo eentão submetido à flotação e/ou triagemmanual no laboratório para recuperaçãodos carvões.

Os fragmentos de carvão foram que-brados manualmente segundo os trêsplanos fundamentais da madeira e ana-lisados num microscópio metalográficode luz refletida com campo claro e cam-po escuro. A determinação sistemáticafoi feita por critérios de anatomia damadeira e por comparação da estruturaanatômica como aquela de amostras atu-ais carbonizadas de uma coleção de re-ferência e com descrições e fotografiaspublicadas na literatura especializada.Foi também utilizado um programa deidentificação antracológica associado aum banco de dados de anatomia damadeira. Para maiores detalhes sobre ametodologia adotada, consultar Scheel-Ybert (1999, 2004a, 2004b).

Os dados bioantropológicos foram co-letados em 231 indivíduos para patolo-gia oral e em 527 indivíduos para pato-logia óssea. Sexo e idade de óbito foramestimados de acordo com parâmetros in-ternacionais (Buikstra & Ubelaker, 1994).Cáries (de acordo com o conceito de Hil-

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son, 1996) foram diagnosticadas porinspeção visual com auxílio de uma son-da odontológica. A alta prevalência decáries sugere alto consumo de carboi-dratos, o que normalmente é associadoà prática de agricultura (Turner, 1979).O grau de desgaste dentário tambémpode ser utilizado como um proxy paraidentificar dieta (Brothwel, 1963; Mol-nar, 1971; Smith, 1984). A metodologiapara análise de desgaste dentário con-siderou a diferença observada entre ograu de desgaste dos incisivos (denti-ção anterior) e o grau de desgaste doprimeiro molar (dentição posterior) (Lar-sen, 1998). Em caso de ausência de to-dos os incisivos utilizou-se o canino (We-solowski, 2000). A maior prevalência dedesgaste posterior sugere dependênciade dieta vegetal, geralmente associadaà agricultura (Larsen, 1998).

O diagnóstico das lesões e das alte-rações ósseas foi feito macroscopicamen-te seguindo critérios internacionalmen-te aceitos (Ortner & Putschar, 1981;Aufderheide & Rodrigues-Martin, 1998).A estatura foi estimada de acordo comfórmulas de regressão (Sciulli & Giesen,1993).

Os diversos marcadores osteológicosutilizados são indicativos de diferentesatividades e/ou representam diferentesestados de saúde, decorrentes de diver-sos fatores bioculturais.

A “cribra orbitalia”, uma porosidadedo osso orbital atribuída à expansão dadiploe dos ossos do crânio, relacionadaao aumento da produção de hemácias(Buisktra & Ubelaker, 1994), foi inter-pretada como indicativo de anemia pordeficiência de ferro, mas é hoje consi-derada como indicativa de estresse fisi-ológico originário de diversas etiologias(Wapler et al., 2004). Uma alta freqüên-cia desta patologia sugere má nutrição,diarréia, infecções parasitárias, doençasgenéticas e/ou baixa absorção de ferrodurante a infância (Stuart-Macadam &Kent, 1992).

A periostite é uma reação inflamató-ria com neoformação óssea na corticalóssea em ossos longos (Buisktra & Ube-laker, 1994). Está associada principal-mente a infecções bacterianas, devidasa trauma local ou inflamação. Altas fre-qüências são interpretadas como suges-tivas de mudanças de coleta para culti-vo, aumento de densidade populacional,sedentarismo ou má nutrição (Larsen etal., 2002).

A osteoartrite implica em alteraçõesda superfície articular, incluindo porosi-dade, osteófitos, labiamento e eburna-ção (Buisktra & Ubelaker, 1994). Trata-se de um efeito cumulativo de stressmecânico, trauma, e raramente de fato-res genéticos. Altas prevalências indicamesforço intenso e/ou continuado ou ida-de avançada. Nos membros superioressugere nado, remo e lançamento de re-des (Bridges, 1991).

Exostoses são excrescências ósse-as no canal auditivo externo atribuí-das a um efeito cumulativo de contatofreqüente com águas frias durante mer-gulho, pesca, nado e surfe (Fabiani etal., 1984).

A estatura, finalmente, é o resultadolíquido da interação entre fatores her-dados, dieta, nutrição e doenças crôni-cas, podendo ser utilizada como proxypara status nutricional. Estatura maisbaixa que a média da população de re-ferência sugere desnutrição crônica e/ou doenças concomitantes associadas àintensificação da agricultura (Bogin,1999).

Os enterramentos dos sítios Morro doOuro e Rio Comprido foram divididos emdois conjuntos distintos corresponden-tes a níveis estratigráficos diferentes.Estes conjuntos foram analisados sepa-radamente e serão identificados como“série antiga” e “série recente” de cadasítio.

Uma análise preliminar de artefatoslíticos, baseada tanto em dados inéditos

Scheel-Ybert, R.; Eggers, S.; Wesolowski, V.; Petronilho, C.C.;Boyadjian, C.H.; DeBlasis, P.A.D.; Barbosa-Guimarães, M.;Gaspar, M.D.

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(Jabuticabeira-II) quanto em revisões daliteratura (demais sambaquis), procurouidentificar métodos de manufatura, ca-racterísticas morfológicas e padrões deuso. A análise foi restrita apenas aos ar-tefatos confeccionados sobre seixos, afim de buscar indicadores da existênciade atividades de processamento e ma-nejo de vegetais.

Cinco categorias tecno-morfológicasforam estabelecidas (cf. Prous & Lima,1990; Gaspar, 1991, 2003): (1) Moedo-res/trituradores (seixos com marcas depicoteamento no centro das faces, nasextremidades e nos lados); (2) Quebra-coquinhos (seixos com depressão no cen-tro das faces e nos lados, podendo apre-sentar picoteamento associado à depres-são); (3) Lâminas de machados (seixoscom superfícies polidas ou semi-polidasresultando na formação de um gume emuma das extremidades); (4) Almofari-zes (seixos apresentando uma amplaconcavidade no centro da face, produzi-da por cinzelamento); (5) Mãos de mó(seixos com superfícies polidas e total-mente planas na face, extremidade e/ou nas laterais).

ResultadosAntracologiaPaleoambiente

A análise antracológica mostrou queos construtores de sambaquis costuma-vam se instalar no ecossistema de res-tinga. Os sambaquieiros privilegiavam,para sua instalação, a proximidade demangues e de formações florestais(Scheel-Ybert, 2000, 2001a).

A grande diversidade florística do re-gistro antracológico suporta a hipótesede que os carvões arqueológicos corres-pondem a uma amostragem aleatória(coleta de lenha) numa área relativa-mente ampla em torno dos sítios, auto-rizando interpretações paleoecológicasconfiáveis (Chabal, 1992).

Dependendo da localização do sítio,a restinga aberta, a mata de restinga ouas formações florestais dominam a pai-sagem (Fig.02). As baixas porcentagensde elementos de floresta e de mangueem alguns sítios sugerem que estes ti-pos de vegetação ocorriam a alguma dis-tância dos sítios e que a exploração demadeira era menor.

Figura 2: Diagramas antracológicos sintéticos para os sambaquis do Forte, Salinas Peroano, Boca daBarra, Ponta da Cabeça, Beirada, Pontinha e Jabuticabeira-II (adaptado de Scheel-Ybert, 2000).

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Os espectros antracológicos de todosos sítios não apresentam nenhuma vari-ação importante entre 5500 e 1400 anosBP (Fig.02). As pequenas oscilações ve-rificadas nas porcentagens relativas dostipos vegetacionais em alguns níveis dossambaquis da Beirada, Pontinha, Sali-nas Peroano e Jabuticabeira-II não sãosignificativas, sendo devidas ao númeroexcessivamente baixo de fragmentos decarvão destas amostras. No entanto,oscilações climáticas efetivamente ocor-reram. Em Cabo Frio, uma redução davegetação do mangue foi associada aperíodos climáticos mais secos, quandouma diminuição da precipitação provo-cou um aumento da salinidade na lagoade Araruama. Pelo menos dois períodosmais úmidos (5500-4900/4500, e 2300-2000 anos BP) e dois períodos mais se-cos (4900/4500-2300, e 2000-1400anos BP) que o clima atual foram regis-trados (Scheel-Ybert, 2000).

Em Arraial do Cabo, o aumento doselementos de mangue a partir de ca.2100 BP pode estar relacionado tanto aum fenômeno climático quanto ao au-mento populacional identificado no sam-baqui Ponta da Cabeça neste período(Tenório et al., 1992), o qual provavel-mente levou a um aumento da área decaptação de lenha. Neste caso, a vege-tação de mangue pode ou não ter varia-do na área, mas sua presença não eraregistrada no sítio antes da extensão daárea de captação de recursos. Estas duashipóteses, evidentemente, não são mu-tuamente exclusivas. De todo modo, apresença de elementos de mangue nes-te sambaqui é muito importante, poisesta vegetação, que crescia provavel-mente nas margens da Lagoa de Araru-ama, não existe mais na região. Esseresultado vem corroborar a hipótese deTenório (1996) de que os sambaquieirosmantinham uma estreita relação com omeio de manguezal.

A vegetação costeira de terra firmeapresentou uma surpreendente estabili-dade durante toda a segunda metade do

Holoceno. Embora ela pareça contraditó-ria com as variações climáticas registra-das pelos elementos de mangue, ela é umaconseqüência do caráter edáfico deste tipode vegetação, o que torna as formaçõescosteiras muito menos sensíveis a mudan-ças climáticas (Scheel-Ybert, 2000).

Economia do combustível

A coleta aleatória de madeira mortaera a principal fonte de lenha para estaspopulações. Fragmentos de carvão apre-sentando traços de apodrecimento an-tes da carbonização atestam o seu uso,enquanto a grande diversidade taxonô-mica do espectro antracológico e a boacorrespondência entre este e a vegeta-ção atual indicam coleta não seletiva delenha (Scheel-Ybert, 2000, 2001a).

No entanto, foi sugerido que a ma-deira de uma planta específica, Condaliasp (família Rhamnaceae), era provavel-mente selecionada, seja por razões eco-nômicas, seja cerimoniais (Scheel-Ybert,2001a), o que traz informações impor-tantíssimas do ponto de vista paleoetno-lógico. Razões econômicas poderiam serassociadas a diversas características daplanta: a madeira, muito densa, é consi-derada como um excelente combustívele permitiria a extração de um pigmentoazul; o fruto, uma pequena drupa, é co-mestível; e a casca das raízes de algu-mas espécies deste gênero é medicinal epode ser utilizada como sabão (Record &Hess, 1943). A hipótese de uma possívelutilização ritual é baseada em indícios deque esta madeira tenha sido queimadasempre verde (Scheel-Ybert, 1999). Con-tudo, como a seleção de espécies emsambaquis concerne somente uma fra-ção limitada das associações vegetais elanão invalida a reconstituição paleoambi-ental baseada na análise de carvões. Ocaráter pouco seletivo da coleta de lenhapelos sambaquieiros já foi amplamentedemonstrado, justificando a utilização dosestudos antracológicos para a reconsti-tuição do paleoambiente vegetal (Sche-el-Ybert, 1999).

Scheel-Ybert, R.; Eggers, S.; Wesolowski, V.; Petronilho, C.C.;Boyadjian, C.H.; DeBlasis, P.A.D.; Barbosa-Guimarães, M.;Gaspar, M.D.

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DietaCoquinhos, sementes e fragmentos de

tubérculos são muito freqüentes em to-dos os sambaquis estudados no Sudes-te, os quais eram locais de habitação.Todos os resíduos de tubérculos são demonocotiledôneas. Alguns deles foramidentificados como Gramineae/Cyperace-ae e Dioscorea sp (carás) (Scheel-Ybert,2001a), mas uma grande diversidade deespécies era utilizada.

A conservação de restos vegetais émuito difícil em condições tropicais. Comexceção de alguns abrigos particular-mente secos, ou raros sítios em sedimen-to de mangue, macro-restos praticamen-te só se conservam através da carboni-zação. Micro-fósseis como fitólitos ougrãos de amido podem ser aprisionadosem moedores e mãos de pilão (Piperno& Pearsall, 1998; Iriarte, 2004), na ma-triz de cálculos dentários (Reinhard etal., no prelo), e algumas vezes no sedi-mento (Reinhard & Eggers, 2003), masa recuperação destes elementos depen-de de metodologia especializada e seuestudo ainda é raro. A carbonização de-pende do fato do material ser ou nãoexposto ao fogo. Coquinhos têm um for-te índice de conservação arqueológica,ao contrário de sementes, que só sãopreservadas acidentalmente. A conser-vação de tubérculos por carbonização éaltamente improvável (Miksicek, 1987),e eles são raramente identificados emsítios arqueológicos (Hather, 1993; Sche-el-Ybert, 2001a).

Embora os tubérculos nunca sejamabundantes nestes sítios, eles estão pre-sentes em praticamente todos os níveisarqueológicos (Scheel-Ybert, 2001a). Suaconservação sugere que eram largamen-te utilizados pelos sambaquieiros e queas plantas, de um modo geral, contribuí-am muito mais para a alimentação destesgrupos do que é usualmente admitido.

BioantropologiaPatologia oral

A maioria dos esqueletos aqui estu-dados apresentou baixa prevalência decáries, como usualmente acontece en-tre populações sambaquieiras (Mendon-ça de Souza, 1995), e como é o espera-do para populações coletoras (Turner,1979)7. No entanto, em ambas as sériesde Morro do Ouro e na série Rio Compri-do antiga as prevalências de cárie sãoanálogas às de horticultores (Fig.03),sendo comparáveis inclusive às verifica-das para grupos ameríndios pós-conta-to da região de Georgia Bight, Florida(Larsen et al., 2002) e para grupos Cui-cuilco pré-hispânicos que praticavamagricultura intensa (Marquez Morfin etal., 2002).

A fim de melhor interpretar o signifi-cado dos resultados encontrados parapatologia dentária em sambaquieiros, éimportante considerar que a cárie é umadoença infecciosa causada pela ação deuma flora bacteriana multicomponenci-al específica. Sua associação com a hor-ticultura é indireta, e baseada no fatode que o tipo de dieta é um fator queinfluencia na forma e na intensidade comque a doença se manifesta. Dietas ricasem carboidratos em geral ocasionam umaumento de prevalência de lesões cari-osas, embora haja evidências de baixasfreqüências de cáries em grupos do su-deste asiático com forte consumo de ar-roz (Tayles et al., 2000).

Por outro lado, a dependência de re-cursos marinhos pode provocar uma pro-teção contra a cárie (Steckel & Rose,2002). Nestes casos as quantidades re-lativamente altas de cálcio e flúor empeixes e mariscos e a característica abra-siva da dieta dos sambaquieiros, queprovocava um intenso desgaste dentá-rio, poderiam ser os mecanismos cari-

7 Em um levantamento extenso em grupos etnográficos e pré-históricos com subsistência bem estabe-lecida, Turner (1979) verificou freqüências de cáries entre 0 e 5,3% em populações de caçadores-coletores, enquanto grupos agricultores apresentaram freqüências entre 2,3 e 26,9%

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ostáticos envolvidos. Além disso, exis-tem ainda outros fatores que têm papelcariostático/cariogênico, como patogeni-cidade da flora bacteriana bucal, proce-

dimentos de higiene e composição quí-mica da água potável consumida. Ne-nhum desses fatores pode ser avaliadopara as séries estudadas.

Figura 3: Prevalência (%) de patologias orais e esqueletais em sambaquis brasileiros. Os sítios sãoapresentados por região (Rio de Janeiro, São Paulo, norte de Santa Catarina, sul de Santa Catarina) eem cada região por ordem cronológica aproximada.

O desgaste dentário, resultado deconsistência, textura e métodos de pre-paração dos alimentos ingeridos, é con-sideravelmente alto nas séries analisa-das (Fig.03). Estudos prévios atribuíramos graus de desgaste elevados entre po-pulações sambaquieiras à areia, a pe-

quenos fragmentos de conchas (Mendon-ça de Souza, 1995) ou ainda aos fitóli-tos (Reinhard et al., no prelo) mastiga-dos conjuntamente com os alimentos.Em geral, grupos coletores apresentamdesgaste anterior maior, ou igual, ao graude desgaste dos dentes posteriores, si-

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tuação que se inverte entre grupos hor-ticultores (Larsen, 1998). Apesar dasprevalências altas de cáries em algumasséries aqui estudadas, o desgaste ante-rior é quase sempre mais intenso que oposterior, sugerindo coleta em todos ossítios, exceto Rio Comprido antigo, cujodesgaste observado (desgaste anteriormenos intenso que posterior) é compa-tível com o que se espera de grupos hor-ticultores.

Patologia ÓsseaA prevalência de cribra orbitalia, ori-

ginalmente tida como indício de anemiapor deficiência de ferro e hoje conside-rada como sugestiva de diferentes for-mas de estresse fisiológico (Wapler etal., 2004), varia consideravelmente en-tre os sítios, sendo alta em todos, exce-to Rio Comprido antigo e Cabeçudas(Fig.03). As lesões crivosas observadasnos adultos estão, na maior parte doscasos, cicatrizadas, indicando que oseventos estressores ocorreram durantea fase juvenil.

As prevalências elevadas de cribra or-bitalia são surpreendentes quando com-paradas àquelas de outros grupos. Numestudo sobre grupos ameríndios pós-con-tato da região de Georgia Bight, porexemplo, verificou-se que mesmo popu-lações agricultoras que já mantinhamcontato com os europeus apresentavamprevalências menores que a maioria dosgrupos sambaquieros (Larsen et al.,2002). No entanto, as prevalências aquiapresentadas confirmam estudos prévi-os em sambaquis (Mello e Alvim & Go-mes, 1989; Neves & Wesolowski, 2002).É improvável que carências nutricionaisexpliquem este resultado, já que a dietaatribuída aos sambaquieros é abundan-te e diversificada. Infecções bacterianas(resultado do contato constante comanimais mortos usados como alimento epara a construção dos sambaquis e daproliferação de insetos atraídos pelos res-tos orgânicos), devem ter contribuído,entre outros fatores, para a alta preva-

lência de cribra, como aventado para osambaqui de Cabeçudas (Mendonça deSouza, 1995).

A periostite, inflamação e/ou infec-ção inespecífica do periósteo resultantede eventos traumáticos isolados ou dedoenças sistêmicas (Ortner & Putschar,1981), resulta no aparecimento de umaporosidade na camada superficial da cor-tical óssea. Entre os grupos aqui estu-dados a maior parte da periostite obser-vada é de natureza sistêmica. Além dis-so, a periostite apresenta prevalênciamais elevada nas pernas que nos braços(Fig.03), como esperado, já que as per-nas são fisiologicamente mais susceptí-veis a infecções (Ortner & Putschar,1981). Uma vez que eventos traumáti-cos parecem ser raros em sambaquiei-ros (Storto et al., 1999; Lessa & Medei-ros, 2001), a alta prevalência de perios-tite sistêmica encontrada, a exemplo doque foi visto para cribra, parece indicaruma circulação elevada de patógenos di-versificados entre estes grupos.

Além de periostites, há em Jabutica-beira-II lesões ósseas compatíveis comas que são encontradas em casos de in-fecção sistêmica causada por Trepone-ma sp (Okumura & Eggers, 2001, 2005).Admite-se que treponematoses ocorrem,preferencialmente, em situações de altadensidade demográfica (Armelagos,1990).

Jabuticabeira-II é um gigantesco ce-mitério que parece ter sido utilizado pordiferentes grupos sambaquieiros vizinhosque ali sepultavam seus mortos em con-junto. A dimensão do sítio e a distribui-ção das covas (Fish et al., 2000), associ-adas à ocorrência de treponematose, su-gerem uma grande densidade populacio-nal para a região. Estimativas prelimina-res indicaram que cerca de 60 pessoasforam enterradas neste sítio a cada ano,e isso sem considerar os enterramentos,às vezes ainda mais numerosos, de ou-tros sítios vizinhos e contemporâneos(Fish et al., 2000). Novos estudos estãoem curso, visando refinar estes cálculos.

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A osteoartrose é freqüentemente usa-da como marcador de intensidade de ati-vidade física (Goodman et al. 1984; Brid-ges, 1991; Davidson et al. 2002; Hig-gins et al. 2002; Sciulli & Oberly, 2002).Prevalências mais elevadas de osteoar-trose nos membros superiores que nosmembros inferiores têm sido relatadaspara grupos sambaquieiros (Neves,1984; Mendonça de Souza, 1995; Ro-drigues-Carvalho, 2004). Os resultadosaqui apresentados seguem esta mesmatendência (Fig.03), sugerindo que essesgrupos desempenhavam atividades maisintensas e/ou mais variadas com osmembros superiores do que com os in-feriores. A baixa prevalência de osteo-artrose nos membros inferiores pode serinterpretada como um indicador de ter-ritório de captação de recursos terres-tres menor do que aquele normalmenteobservado entre caçadores-coletorescontinentais (Neves, 1984). A varieda-de, perenidade e previsibilidade de re-cursos das áreas litorâneas onde se lo-calizam os sambaquis, associadas a ummodo de vida fortemente vinculado aosrecursos de origem aquática, podem ex-plicar o padrão de osteoartrose verifica-do recorrentemente entre os sambaqui-eiros em geral (maior nos braços, me-nor nas pernas). Isso se daria na medi-da em que atividades como remar, na-dar e arremessar redes fossem mais in-tensas ou freqüentes que atividades re-lacionadas a grandes deslocamentos ter-restres.

A exostose auditiva consiste no cres-cimento de massas ósseas no canal au-ditivo externo, podendo obstruí-lo e emcasos avançados levar à surdez. Altasfreqüências dessa anomalia foram regis-tradas em pessoas envolvidas em ativi-dades aquáticas intensas (Kroon et al.,2002), como surfistas, mergulhadores epessoas responsáveis pela obtenção derecursos aquáticos (Standen et al.,1997). Apesar de causas genéticas játerem sido consideradas como determi-nantes da exostose auditiva, atualmen-

te considera-se que sua etiologia estejaassociada a fatores ambientais, especi-almente ao contato dos canais auditivoscom água fria (Van Gilse, 1983; Kenne-dy, 1986; Deleyiannis et al., 1996; Stan-den et al., 1997; Chaplin & Stuart, 1998;Velasco-Vazquez et al., 2000).

No presente estudo observa-se quea freqüência de indivíduos afetados porexostose auditiva varia substancialmenteentre as diversas séries analisadas (va-riando de 0% a praticamente 100% nossítios localizados no norte de Santa Ca-tarina) (Fig.03). Embora não se possamexcluir efeitos estocásticos, decorrentesde amostras reduzidas (principalmentepara a freqüência mais alta), as freqüên-cias encontradas são contrastantes, mes-mo quando considerados indivíduos desítios localizados em uma mesma região.Estes indivíduos estando sujeitos àsmesmas condições ambientais e, portan-to, às mesmas temperaturas da água,isso sugere diferenças conspícuas nasatividades cotidianas dos grupos. Algunsdeles, ainda que habitando a mesmaregião, manteriam um maior contatocom a água do que outros. Estudos maisdetalhados estão sendo realizados a fimde se compreender melhor a origem dadiversidade das freqüências de exosto-se entre os sambaquieiros.

A estatura é o resultado da interaçãoentre a determinação genética e o esta-do nutricional e de saúde dos indivíduosdurante o período de desenvolvimento.Doenças crônicas ou recorrência de es-tados patológicos agudos, má-nutrição/desnutrição contínuas ou em eventosrecorrentes podem provocar uma desa-celeração do crescimento. O crescimen-to compensatório, que permite às crian-ças retomar sua curva de crescimentogeneticamente determinada, só ocorrese elas forem curadas e bem alimenta-das (Bogin, 1999). Se isso não ocorrerhá redução da estatura adulta.

Nas séries analisadas, a estaturaadulta varia entre 151-159cm para oshomens e entre 148-156cm para as mu-

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lheres (Fig.03), o que indica uma popu-lação baixa, na faixa inferior de estaturapara Ameríndios do passado e atuais(Storto et al., 1999; Steckel & Rose,2002). Sendo a má-nutrição improvávelem um ambiente tão rico, isso pode serdevido tanto a características genéticasquanto ao resultado de uma adaptaçãodos indivíduos a doenças infecciosas crô-nicas e/ou recorrentes durante a fase decrescimento.

Implementos líticosO material lítico dos sambaquis bra-

sileiros é bem conhecido e diferente da-quele de tradições arqueológicas arcai-cas vizinhas (Schmitz, 1987). Esquemasde análise baseados em tecnologia, uti-lizados para as tradições do interior, nãosão adequados aos evasivos artefatos desambaquis. No entanto, diversos auto-res sugeriram que muitos destes imple-mentos eram usados para processamen-to de alimentos vegetais (Tenório, 1991;DeBlasis et al., 1998).

A análise preliminar dos implemen-tos líticos do sambaqui Jabuticabeira-IIfornece algumas informações sobre a na-tureza da indústria lítica em sambaquis(Tab.II).

Tabela II: Implementos líticos do SambaquiJabuticabeira-II, Santa Catarina.

As peças mais comuns são lascassimples. Podem ser pequenas, ou gran-des o suficiente para serem utilizadas di-retamente, não raro apresentando bor-

dos utilizados. São obtidas a partir deseixos, mais de 90% deles de basalto,quartzo e quartzito. O trabalho sistemá-tico de núcleos é desprezível. Raspado-res expeditos e sem padrão morfológicobem estabelecido são comuns, a maiorparte deles feitos também de lascas oufragmentos de rochas básicas bastanteduras. Muitas vezes seixos, lascas egrandes fragmentos são usados direta-mente (os últimos essencialmente comoartefatos de bordo abrupto ou semi-abrupto), sem nenhum tipo de retoque.Embora estes raspadores exibam poucadefinição formal, o exame dos bordosúteis revela grandes semelhanças, indi-cando que certas funções envolvendo autilização articulada de um bordo abrup-to com reentrância e um bico, por exem-plo, são recorrentes na coleção deste sí-tio.

Além destes artefatos de uso diver-sificado, foi encontrada também umagrande variedade de almofarizes e so-cadores, a maior parte intensamente uti-lizada, fortemente queimados e freqüen-temente quebrados em peças menores,às vezes recicladas. Artefatos polidos,feitos geralmente em rocha basálticadura, incluem pequenos pendentes emachados de tamanhos variados. Esplên-didas esculturas líticas (zoólitos) sãoencontradas ocasionalmente nos samba-quis meridionais, ao que parece sempreem contexto funerário, como de restoocorre também com os almofarizes e lâ-minas de machado. Pequenos fragmen-tos de peças polidas com esmero apon-tam para a existência de outros tipos deartefatos mais sofisticados fabricadosatravés das técnicas de polimento, vári-os deles de pequenas dimensões, inclu-indo adornos.

A principal diferença entre as indús-trias líticas dos sambaquis da Região Su-deste e as observadas na Região Sul doBrasil é a ausência de zoólitos nos sítiossetentrionais, muito embora houvesse odomínio da arte de polir. Entre vários ou-tros artefatos, é digno de nota um ador-

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no de forma oval de 20cm de compri-mento, 10cm de largura e apenas 0,5cmde espessura, apresentando um orifícioem uma das extremidades e que inte-grava um colar recuperado junto ao pes-coço de um dos esqueletos do sambaquida Guaíba (Heredia et al., 1984).

A análise das indústrias provenientesde sítios da região compreendida entre aIlha Grande e o delta do Paraíba do Sul,em particular as provenientes dos sítiosSalinas Peroano, Boca da Barra, Forte,Ilha da Boa Vista-I e Ponta da Cabeça,destaca a abundância de lascas, núcleose fragmentos de quartzo que poderiam

ter sido utilizados no processamento depeixes e de vegetais. Almofarizes e soca-dores que parecem ter sido utilizados parapreparar alimentos que precisavam sertriturados através de pequenos golpes sãorecorrentes nestas coleções (Gaspar etal., 1994; Gaspar, 2003).

Uma revisão da literatura (Tabela III)revelou a importância de artefatos rela-cionados ao processamento de vegetaistambém nos outros sítios analisados.Quebra-coquinhos, por exemplo, tradi-cionalmente atribuídos ao processamen-to de frutos de palmeiras, são freqüen-tes na maioria deles.

Tabela III: Ocorrência de artefatos líticos sobre seixos em sambaquis do Sudeste e Sul do Brasil(dados retirados de Beck (1972); Garcia (1972); Uchoa (1973); Gaspar (1991) e Kneip (1994), excetopor JAB-II). BEI: Beirada; MO: Moa; PO: Pontinha; FO: Forte; BB: Boca da Barra; ME: Meio; SP:Salinas Peroano; PC: Ponta da Cabeça; IBV: Ilha da Boa Vista-I; TEN: Tenório; PIA: Piaçagüera; MdOr:Morro do Ouro; JAB: Jabuticabeira-II.

As lâminas de machado apresentam-se, na sua maioria, polidas, com exce-ção dos sítios Tenório e Piaçagüera. Apresença desses instrumentos indicaatividades relacionadas ao corte da ma-deira para diversos fins. Sua presençaentre grupos ceramistas/horticultoresestá relacionada, também, ao desbas-tamento de matas para a criação dasroças. No caso dos sambaquis, essesinstrumentos são recuperados, muitasvezes, em contexto funerário, não apre-sentando marcas de uso e indicando,possivelmente, uma função simbólica.Contudo, dois sambaquis (Moa e Tenó-rio) apresentam uma freqüência relati-vamente alta de lâminas de machadosrecuperadas fora de contextos rituais,indicando que desempenhavam, tam-bém, um importante papel nas ativida-des cotidianas relacionadas ao trabalhoda madeira. A grande incidência demachados lascados e semi-polidos nossambaquis Tenório e Piaçagüera tam-

bém é indicadora de uso em atividadescotidianas, e não rituais.

No caso do sambaqui Ilha da Boa Vis-ta-I, a presença de “machados” de di-mensões e pesos consideráveis pareceindicar atividades relacionadas ao tra-balho no solo (cavadeiras).

Almofarizes são considerados os me-lhores indicadores de atividades de pro-cessamento de vegetais. Consideramosque sua baixa freqüência nos sítios es-teja relacionada ao uso comunitário.Corrobora esta hipótese o fato de se-rem de dimensões e pesos considerá-veis, o que implica em grande dispên-dio de energia no transporte, para o sí-tio, para o desenvolvimento de ativida-de individual.

Da mesma forma, mãos de mó sãobons indicadores da existência de ativi-dades de processamento de vegetais.Esses instrumentos tiveram alta freqüên-cia nos sambaquis Beirada, Moa, Ilha da

Scheel-Ybert, R.; Eggers, S.; Wesolowski, V.; Petronilho, C.C.;Boyadjian, C.H.; DeBlasis, P.A.D.; Barbosa-Guimarães, M.;Gaspar, M.D.

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Boa Vista-I, Tenório e Jabuticabeira-II.Apresentam superfícies planas e polidasque, no caso do Ilha da Boa Vista-I, es-tão associadas a ranhuras paralelas emdireção longitudinal na superfície dos sei-xos. Esses artefatos possivelmente fo-ram utilizados como trituradores de se-mentes (Fig.04).

Figura 4: Artefatos líticos (moedores) proveni-entes do Sambaqui Ilha da Boa Vista-I, Rio deJaneiro.

As características morfológicas e fun-cionais dos raspadores e dos implemen-tos usados apontam especialmente parao processamento de madeira e osso, maslascas e artefatos como almofarizes e so-cadores indicam a preparação de alimen-tos. Os artefatos encontrados no sam-baqui Jabuticabeira-II mostram padrõessimilares aos que, no sambaqui Forte Ma-rechal Luz, foram atribuídos a um con-texto de processamento de alimentos(Bryan, 1993). No Panamá, almofarizescom morfologia e padrões de uso muitosimilares foram relacionados ao proces-samento de plantas ricas em amido, in-cluindo mandioca e milho, a partir de7000 anos BP (Piperno et al., 2000).

DiscussãoAlguns autores já haviam sugerido

que coleta de plantas, manejo e domes-ticação tivessem sido praticados pelossambaquieiros (Tenório, 1991), e tam-bém que estes grupos poderiam ter de-senvolvido uma agricultura incipiente(Dias & Carvalho, 1983). No entanto,vestígios diretos do consumo de plantasraramente são encontrados nos samba-quis, de modo que apenas a presençade coquinhos, raras sementes, e obje-

tos líticos que provavelmente serviram àsua preparação têm sido usados comoevidência indireta do uso de vegetais(e.g. Kneip, 1977, 1994; Gaspar, 1995;Tenório, 1991; Tenório et al., 1992).

Embora em si mesmos restos de tu-bérculos preservados não possam ser in-terpretados como indicando cultivo, es-tes vestígios, encontrados em todos ossambaquis do Sudeste do Brasil, suge-rem que o consumo de plantas era parti-cularmente importante na alimentaçãodos sambaquieiros. Associados à ocorrên-cia de cáries em algumas séries esquelé-ticas e às análises de desgaste dentário,eles comprovam que alimentos de origemvegetal constituíam uma contribuiçãosubstancial para a dieta dos sambaquiei-ros, levantando a questão da possibilida-de de existência de produção de alimen-tos, pelo menos em alguns dos sítios.

A intervenção humana teve conse-qüências significativas na estruturaçãoda vegetação atual, e estudos etnobo-tânicos mostraram que ainda existem,nas proximidades de sítios arqueológi-cos, espécies vegetais cuja presença estáligada às atividades passadas dos habi-tantes destes sítios (Crozat, 1999). Deacordo com esta linha de pesquisa, aassociação atual da Sapotaceae Sidero-xylon obtusifolium (sapotiaba) com ossambaquis pode ser interpretada comoum vestígio do manejo ou cultivo destaplanta (Scheel-Ybert, 2003). Espécimensde Sideroxylon são muito freqüentes nasproximidades dos sambaquis ou sobreos mesmos, ao passo que carvões destaespécie são abundantes na maioria dossítios estudados (cf. Scheel-Ybert, 2000).Os dados atuais não permitem saber seestas árvores eram plantadas, mas cer-tamente havia pelo menos manejo daespécie, seja devido a seus frutos co-mestíveis, seja pela utilidade do lenho.Esta madeira é muito valorizada pelospescadores atuais da região, que a utili-zam para reparos e na construção decertas peças de barcos e canoas (Fonse-ca-Kruel, 2002).

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Os dados arqueobotânicos, associa-dos às análises de patologia oral, nospermitem propor que as populaçõessambaquieiras tenham praticado mane-jo, ou algum tipo de cultivo, talvez sobforma de hortas contendo uma grandediversidade de plantas, incluindo tube-rosas e plantas úteis.

O ecossistema de restinga é extre-mamente rico em recursos alimentares.Além de uma grande diversidade de fru-tos e sementes, disponíveis ao longo detodo o ano (Maciel, 1984), apresentavárias espécies de plantas tuberosas.Tubérculos de Gramineae e Cyperaceae,assim como de taboa (Typha domingen-sis) e de carás (Dioscorea spp), podemter sido um importante complemento ali-mentar, e alguns deles poderiam inclu-sive ter sido cultivados pelos sambaqui-eiros. No entanto, a imensa falta de in-formação sobre consumo de plantas eprodução de alimentos em todo o terri-tório brasileiro deixa uma grande lacu-na no conhecimento disponível e tornaa questão da domesticação e cultivo nes-ta região um ponto a ser elucidado.

Cabe lembrar também que a alta fre-qüência de almofarizes, socadores e mo-edores nos sambaquis reforça a perspec-tiva de que o processamento de alimen-tos vegetais teve importância significa-tiva nas atividades cotidianas dos sam-baquieiros, por conseguinte em sua die-ta, e muito provavelmente também emsua medicina, o que também tem sidopouco considerado até o momento. Es-tudos mais específicos dos implementoslíticos, especialmente no que se refere àanálise do padrão de desgaste e dos re-síduos orgânicos na superfície e ranhu-ras de almofarizes e moedores, deverãotrazer muitas respostas a estas questões.

Apesar da relativa estabilidade dosaspectos ecológicos (Scheel-Ybert, 2000)e culturais (DeBlasis et al., 1998) de po-pulações sambaquieiras, a freqüência depatologias varia substancialmente. Algu-mas séries, especialmente nos samba-quis Rio Comprido e Morro do Ouro,

mostram freqüências de cáries compa-tíveis com aquelas observadas em gru-pos horticultores (Turner, 1979; Larsenet al., 2002). As freqüências de cáriesencontradas nestes sítios poderiam serexplicadas por uma preferência de con-sumo, e possivelmente pelo cultivo, dealgum alimento potencialmente cariogê-nico, como tubérculos. Infelizmente,dados paleopatológicos para os samba-quis do Sudeste, nos quais os dados ar-queobotânicos apontam para uma im-portante utilização de vegetais, aindanão estão disponíveis.

Ao mesmo tempo em que a série RioComprido antiga mostrou uma coerên-cia entre a maior severidade do desgas-te dental posterior e a prevalência ele-vada de cáries, ambos sugerindo horti-cultura, as séries de Morro do Ouro apre-sentaram resultados discrepantes, coma prevalência de cáries sugerindo horti-cultura e o padrão de desgaste apon-tando para coleta. Esta discrepância podeser explicada por vários fatores que nãosão mutuamente exclusivos, como o cul-tivo de espécies diferentes, métodos deprocessamento distintos e/ou dependên-cia desigual de plantas cultivadas. Bai-xas freqüências de cáries, sugerindo co-leta, caracterizam os outros sítios.

O padrão de ocorrência da exostoseauditiva foi inverso ao verificado para ascáries. As séries que apresentaram mai-ores prevalências de exostose registra-ram menor prevalência de cáries, e vice-versa. Isso sugere a existência de umfator que influenciaria concomitantemen-te os dois marcadores, e que pode estarrelacionado ao padrão de subsistência.Neste sentido, podemos propor que osgrupos que aumentaram seu consumode carboidratos mergulhavam com me-nos freqüência, e provavelmente explo-ravam fontes de recursos dependentesde mergulhos menos intensamente queos grupos com menor aporte de carboi-dratos.

A sobrevivência a eventos recorren-tes e/ou crônicos de doenças infeccio-

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sas na infância, refletidos pela alta fre-qüência de cribra orbitalia cicatrizada nosadultos e pela baixa estatura adulta, pa-recem indicar que as populações sam-baquieiras estivessem bem adaptadasaos agravos à saúde decorrentes do seumodo de vida e de seu ambiente (Men-donça de Souza, 1995). Essa interpre-tação é reforçada pela sobrevivência dosadultos a infecções freqüentes, inferidasa partir das altas prevalências de peri-ostite.

A ocorrência de infecções sistêmicasfreqüentes, indicadas pelas prevalênci-as de periostite e cribra orbitalia, asso-ciada à provável existência de doençastreponêmicas, à contemporaneidade dediversos sítios e ao longo período de ocu-pação dos mesmos, assim como às con-dições ambientais favoráveis à captaçãode recursos, sugerem sedentarismo. Es-tes fatores sugerem também que o con-tingente populacional tenha sido consi-deravelmente maior do que aquele nor-malmente associado a caçadores-cole-tores.

A prevalência de osteoatrose, alta emmembros superiores e baixa nos inferi-ores, é compatível com um maior em-penho em atividades relacionadas à ex-ploração de recursos aquáticos do queterrestres, interpretação essa apoiadapor dados zooarqueológicos (Figuti,1993, Klökler, 2000) e de isótopos está-veis (De Masi, 2001).

De Masi (2001) analisou os isótoposestáveis de d13C e d15N do colágeno deesqueletos humanos provenientes devários sambaquis do litoral de Santa Ca-tarina, tendo proposto para todos os sí-tios uma dieta predominantemente ma-rinha. Ele sugeriu que alguns grupos in-cluíam mais recursos terrestres em suasdietas que outros, mas considerou re-mota a possibilidade de que estivessemconsumindo plantas em quantidade sig-nificativa.

Um gráfico apresentando os resulta-dos deste autor (Fig.05) evidencia cla-ramente uma enorme variabilidade de

padrão de alimentação, tanto entre ossítios como dentro mesmo de cada sérieanalisada. Como o intervalo de renova-ção completa do colágeno é estimadoentre 7 e 30 anos (Drucker & Henri-Gam-bier, 2005), estas diferenças não podemser conseqüência de sazonalidade. Po-demos especular que elas estejam rela-cionadas a gênero, idade, existência desegmentos sociais diferenciados ou cro-nologia, mas como não conhecemos mai-ores detalhes dos indivíduos analisados,como sexo e idade, estas hipóteses nãopodem ser testadas. De qualquer forma,estes dados corroboram os resultadosapresentados no presente artigo, quesugerem modos de vida diferenciados eestratégias de subsistência diversas en-tre os construtores de sambaquis. Em-bora baseada em recursos de origemmarinha, principalmente peixes, a dietados sambaquieiros não parece ter sidohomogênea, mas apresentava um espec-tro de variação de recursos consumidosbastante grande.

De Masi (2001) propõe uma dietamais terrestre para o sítio Morro do Ouro(Fig.05), precisamente um dos sítiospara os quais encontramos indícios demaior consumo de vegetais, sugerindoa prática de horticultura. Além disso,diversas amostras analisadas por eleapresentam valores de nitrogênio ao re-dor de 10% (limite inferior de dietas ma-rinhas), sendo coerentes com um con-sumo relativamente importante de ele-mentos terrestres. Não há contradição,portanto, entre nossa argumentação deque as plantas poderiam representaruma parcela importante da dieta dossambaquieiros e os resultados obtidospela análise isotópica.

Apesar de inicialmente a análise deisótopos estáveis de carbono e nitrogê-nio ter parecido um acesso direto aoscomponentes da dieta dos grupos hu-manos pré-históricos, o desenvolvimentodas pesquisas durante a década de 80logo demonstrou que inúmeros fatoresbiogênicos e diagênicos interferem nas

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assinaturas isotópicas, que em conse-qüência refletem a composição originalda dieta mas não a representam fielmente

(Standford, 1993; Ambrose, 1993; Gru-pe et al., 2000; Schwarcz, 2000; Lee-Thorp, 2000; Klinken et al., 2000).

Figura 5: Dados de isótopos estáveis de d13C e d15N do colágeno de esqueletos humanos prove-nientes de vários sambaquis do litoral de Santa Catarina. O gráfico, gerado a partir de dadospublicados por De Masi (2001), mostra a dispersão dos indivíduos em relação às médias de 13/12C e 15/14N calculadas para alguns recursos potencialmente utilizados. Os recursos terrestresanalisados foram 4 espécies de mamíferos e 2 plantas C3 (todos pré-históricos), enquanto entreos recursos marinhos estão 7 espécies de peixes (modernos e pré-históricos) e 4 de mamíferos(pré-históricos), além de uma Anomalocardia, pinguin e tartaruga (modernos).

Freqüentemente, a análise isotópicaem esqueletos pré-históricos é feita apartir do colágeno, cuja estrutura é bemconhecida, em geral estável, e que podese preservar nos ossos por milhares deanos. No entanto, análises experimen-tais demonstraram que as taxas isotópi-cas do carbono no colágeno refletem pre-dominantemente a contribuição das fon-tes protéicas. Como o colágeno é umaproteína, ele é formado principalmentea partir das proteínas ingeridas. Se o

consumo de carne é adequado, o orga-nismo utiliza esta proteína para produ-ção de colágeno, e apenas quando oaporte de proteína animal é baixo a pro-teína vegetal será utilizada. Por outrolado, a massa carbonática dos ossos(apatita) é formada a partir dos carbo-natos que circulam no sangue, e em con-seqüência provém de todos os elemen-tos da dieta. Por isso, o consumo de plan-tas é mais facilmente detectável atra-vés da análise de isótopos da apatita do

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que do colágeno (Norr, 1995; Katzem-berg, 2001).

As análises de paleodietas a partirde isótopos estáveis do colágeno apre-sentam o viés de valorizar o conteúdoprotéico em detrimento do conteúdo ca-lórico, tornando virtualmente invisível aporção vegetal consumida, especialmen-te no caso de grupos com aporte impor-tante de proteína animal na dieta (Am-brose, 1993; Drucker & Henri-Gambier,2005; Bocherens et al., 2005), o queparece ser o caso em grupos construto-res de sambaquis. Atualmente, a maiorparte dos autores concorda que a análi-se isotópica do colágeno tende a supe-restimar a contribuição do consumo deanimais marinhos (Ambrose et al., 1997;Katzemberg, 2001), e que apenas aná-lises da apatita refletem acuradamentea dieta total (Ambrose, 1993; Ambrose& Norr, 1993; Tiezsen & Frage, 1993;Ambrose et al., 1997).

Embora exista possibilidade de con-taminação da apatita óssea por proces-sos diagênicos, atualmente é possívelanalisar o conteúdo isotópico deste ma-terial de maneira confiável. Isto é im-portante pois apenas a comparação en-tre a composição do colágeno e da apa-tita pode responder adequadamentequestões relacionadas à porção vegetalda dieta de grupos com consumo siste-mático de quantidades elevadas de car-ne (Lee-Thorp et al., 1989; Ambrose,1993; Lee-Thorp, 2000). Por isso, aindaque o trabalho de De Masi (2001) sejafundamental para o entendimento dasubsistência de grupos sambaquieiros,é muito provável que seus resultados su-bestimem a fração vegetal de sua dieta,já que apenas a assinatura isotópica for-necida pelo colágeno foi analisada.

Por outro lado, é importante consi-derar-se também o mecanismo de incre-mento trófico na cadeia alimentar, devi-do ao qual o predador tende a ter valo-res mais elevados de carbono e nitrogê-nio que suas presas. Vários estudos de-monstram que este incremento não é

constante, sendo influenciado por vári-os fatores, entre eles características fi-siológicas (Ambrose, 2000; Bocherens &Drucker, 2003). Valores médios de in-cremento de nitrogênio em colágenoentre 3 e 3,4% são aceitos pela maioriados autores (Ambrose, 2000; Bocherens& Drucker, 2003; Drucker & Bocherens,2004), embora alguns postulem a ne-cessidade de estabelecimento de valo-res médios adequados a cada estudo decaso particular (Bocherens & Drucker,2003; Drucker & Bocherens, 2004).

De Masi (2001) assumiu valores deenriquecimento trófico entre 2 e 4% parao nitrogênio e em torno de 2% para ocarbono, seguindo o proposto por De Niro(1987, apud De Masi, 2001). No entan-to, vários indivíduos analisados por elenão apresentam o incremento esperadona assinatura isotópica em relação aoscomponentes supostos para a dieta, prin-cipalmente quanto ao nitrogênio(Fig.05). Mesmo se forem consideradosos intervalos dos desvios padrão dasmédias, ainda assim há indivíduos comquantidades de nitrogênio abaixo do queseria esperado para uma dieta fortemen-te baseada em proteína animal.

As taxas de carbono relativas a die-tas baseadas em plantas de tipo C4 ouem recursos marinhos são parecidas, di-ferindo quanto ao nitrogênio, que tendea ser mais elevado nestas últimas. Estefato, associado ao mecanismo de incre-mento trófico e ao fato da análise tersido feita apenas a partir do colágeno,sem o controle da apatita, sugere queos indivíduos com valores mais baixosde nitrogênio possam estar consumindomenores quantidades de carne que osdemais, podendo também estar consu-mindo plantas, principalmente C4.

Embora nesta fase de nossas pesqui-sas ainda não seja possível saber exata-mente que plantas estavam sendo con-sumidas pelos sambaquieiros, e em queproporção, é importante observar quetanto tubérculos de tipo C3 (carás) quan-to C4 (gramíneas) foram identificados.

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Um maior investimento no estudo de ma-cro-restos carbonizados (restos alimen-tares), assim como de micro-restos (fi-tólitos e grãos de amido) será fundamen-tal para esclarecer esta questão.

Além disso, estudos mais específi-cos dos implementos líticos ainda de-vem ser feitos, especialmente no quese refere a análises do padrão de des-gaste e dos resíduos orgânicos na su-perfície de moedores. No entanto, o fatodo instrumental lítico característico desambaquis estar consideravelmente re-lacionado ao processamento de plantassugere para o alimento de origem ve-getal um papel muito mais importantena subsistência dos sambaquieiros doque o que era considerado até o mo-mento. Neste sentido, as característi-cas funcionais que se supõe estejam re-lacionadas a estas indústrias líticas desambaquis, assim como característicasmorfológicas (e.g. grande tamanho dealguns exemplares de almofariz, impli-cando em pouca mobilidade), reforçama perspectiva de um maior sedentaris-mo das sociedades sambaquieiras, tam-bém apontadas por outras abordagensconsideradas neste trabalho.

ConclusõesO objetivo deste artigo foi reunir re-

sultados de diferentes áreas de estudoa fim de apresentar um panorama do co-nhecimento sobre o modo de vida dossambaquieiros, com ênfase na busca denovas perspectivas sobre a presença derecursos vegetais na economia destasociedade. Uma abordagem multidisci-plinar permitiu novas interpretações so-bre estes aspectos, em especial no quese refere à economia do combustível, aindicadores de saúde e de atividades eao uso de vegetais. Apresentaremos aseguir uma síntese dos dados discutidosacima, juntamente com alguns dados daliteratura, visando fornecer um brevepanorama do conhecimento atual sobreo modo de vida destas sociedades.

Sambaquis eram locais de habitaçãoe de sepultamento, seja concomitante-mente, como é comum nos sítios do Su-deste (Gaspar, 1998; Barbosa, 2001), ounão, como foi sugerido para o Sul do Bra-sil, onde teria havido uma especializa-ção de alguns sítios em locais funerários(Fish et al., 2000). Eles também foramconstruções monumentais feitas com aintenção de serem marcos paisagísticos(DeBlasis et al., 1998).

Habitantes da restinga, os sambaqui-eiros geralmente se estabeleciam nasproximidades de outras formações ve-getais, principalmente o mangue e as flo-restas costeiras. A lenha utilizada porestas populações provinha essencial-mente da coleta aleatória de madeiramorta. É provável que houvesse seleçãode pelo menos uma espécie de planta,por razões econômicas ou rituais, o queé decorrente de escolhas culturais quesugerem um profundo conhecimento doambiente vegetal.

Os sítios eram localizados estrategi-camente para aproveitar áreas de inter-secção ecológica, ricas em pescado, mo-luscos e recursos vegetais. Sua organi-zação espacial, formando agrupamentosde sítios, indica estabilidade territorial(Gaspar, 1998). A ocupação contínua dossítios por um grande período de tempo(Gaspar, 1996; Scheel-Ybert, 1999) in-dica sedentarismo. Os sítios estudadosno Sudeste foram ocupados por 500 amais de 3000 anos, sem nenhum perío-do confirmado de abandono (Scheel-Ybert, 1999); o Jabuticabeira-II, no Sul,foi ocupado durante mais de 800 anos,período confirmado por uma bateria de39 datações. Os padrões identificadospara as infecções, tanto na infância comoentre os adultos igualmente sugerem ummodo de vida sedentário. O grande nú-mero de enterramentos (Fish et al.,2000) e a ocorrência de treponematoseapontam para uma densidade populaci-onal relativamente alta.

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A estabilidade ambiental pode ter sidoum fator decisivo para a expansão dossambaquis, sedentarismo, manutenção deseu sistema sociocultural e desenvolvi-mento da horticultura, pelo menos emalguns sítios.

A grande variação na prevalência dediversas patologias sugere modos devida diferenciados e estratégias de sub-sistência diversas. Uma complexidadesocial maior do que aquela admitida an-teriormente é sugerida pela dimensãomonumental dos sambaquis, pela exis-tência de sítios exclusivamente funerá-rios, festins fúnebres, tratamento dife-renciado dos mortos (Lima & Mazz, 1999/2000; Fish et al., 2000; Gaspar, 2000),e pela seleção cultural de algumas es-pécies de madeira, seja por razões eco-nômicas ou cerimoniais (Scheel-Ybert,1999).

A localização dos sítios, assim comoos estudos paleopatológicos, zooarque-ológicos e isotópicos, apontam para umaestratégia de subsistência essencialmen-te baseada em recursos aquáticos. A co-leta de moluscos, embora importante emseu sistema socioeconômico, é atual-mente vista como secundária na com-posição da dieta. Restos de fauna ter-restre são relativamente raros, confir-mando que os peixes eram o principalalimento de origem animal.

No entanto, as plantas tiveram umacontribuição mais importante para a di-eta dos sambaquieiros do que é usual-mente admitido. Além dos achados ar-queobotânicos, a abordagem bioantro-pológica e a análise lítica também for-neceram indicações neste sentido. Agrande importância das plantas na die-ta dos sambaquieiros é atestada pelaexcepcional preservação de restos detubérculos, pelas freqüências de cáriese o padrão de desgaste dentário obser-vados em alguns sítios, assim como pelaabundância de artefatos para moer etorrar. Os primeiros relatos sobre fitóli-tos e grãos de amido em cálculos dentá-

rios confirmam esta importância (Reinhard& Eggers, 2003; Reinhard et al., no pre-lo).

A dieta dos sambaquieiros era ampla,incorporando uma grande variedade deplantas selvagens, e provavelmente al-gumas cultivadas, incluindo algumas es-pécies com potencial cariogênico. A prá-tica de manejo ou de cultivo incipiente(horticultura) de espécies tuberosas eárvores úteis é sugerida em todos os síti-os do Sudeste brasileiro estudados, e pelomenos em alguns dos sítios do Sul.

Além de servir como comida e com-bustível, as plantas eram utilizadas tam-bém para a execução de trabalhos ma-nuais e para a construção de habitações,cercas e canoas. A existência das últi-mas é sugerida pela ocupação de ilhas epela captura de peixes de águas profun-das (Gaspar, 2000). Alguns dos traba-lhos de madeira com certeza foram pro-duzidos com os machados, goivas e ras-padores líticos freqüentemente encon-trados em sambaquis (DeBlasis et al.,1998).

As análises antracológicas de váriossambaquis permitiram a reconstruçãopaleoecológica do ambiente costeiro,além de prover informações sobre a eco-nomia do combustível desta sociedadee sua dieta. Por outro lado, as análisespaleopatológicas revelaram aspectosimportantes do modo de vida dos sam-baquieiros e de sua relação com o meioambiente. A combinação dos resultadosdestas duas disciplinas, associadas aanálises líticas, confirmou a importân-cia das plantas para esta sociedade, for-necendo bases mais sólidas para o de-bate a respeito de manejo e cultivo devegetais.

Estudos multidisciplinares como estetêm o potencial de enriquecer a discus-são sobre as populações pré-históricas,além de terem, também, o objetivo deestimular a comunidade científica a umdiálogo mais harmonioso entre as dife-rentes disciplinas.

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AgradecimentosOs autores agradecem o apoio fi-

nanceiro do CNPq-PROFIX (Scheel-Ybert), CNPq-PIBIC (Boyadjian), CNPq(Gaspar), FAPESP (Petronilho; DeBla-

sis), FAPESP-CEPID (Eggers), e FAPERJ(Gaspar, Scheel-Ybert). Nossos agra-decimentos também aos Museus quederam acesso às coleções osteológi-cas, especialmente MASJ, MNRJ eMAE-USP.

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