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Centro de Competência de Ciências Exactas e da Engenharia
Disciplina: Combinatória – Fundamentos e Aplicações
Docente: Teresa Gouveia
Discente: Raquel Camacho; Número: 2030305
Os Números de Euler (ou
números Eulerianos)
Funchal
2011
1
Números de Euler ou Números Eulerianos
Os números de Euler (ou Eulerianos) permitem contar o número de permutações de n
elementos com k ascendentes.
Nota 1: Uma permutação é um rearranjo de uma lista ordenada de elementos.
Ao olharmos atentamente para a descrição feita anteriormente, pode surgir a dúvida
sobre o termo “ascendente”. Para melhor compreendermos este conceito, suponhamos
que ( )1 2 3, , ,..., nπ = π π π π é uma permutação de { }1,2,3,...,n . Dizemos que o índice i,
com 1 i n≤ < , é um ascendente da permutação π se 1i i+π < π .
Exemplo1:
Consideremos o conjunto { }1,2,3 .
a) Determine as permutações de { }1,2,3 .
Facilmente conseguimos descobrir as diferentes permutações deste conjunto,
combinando todos os elementos em todas as posições possíveis:
( )1,2,3
( )1,3,2
( )2,1,3
( )2,3,1
( )3,1,2
( )3,2,1
b) Das permutações encontradas, indique quantas têm apenas um ascendente.
Para determinarmos o número de ascendentes de cada uma das permutações, temos
de comparar os elementos dois a dois, tendo o cuidado de comparar um elemento
sempre com o seu sucessor. Para descobrir o número de ascendentes deveremos
sempre fazer a questão “Será que este elemento é menor do que este elemento?”. Se
a resposta for positiva, então estamos perante um ascendente.
Analisemos, pois, cada uma das permutações, assumindo cada uma das permutações
como ( )1 2 3, ,π = π π π :
� Para ( )1,2,3π =
1π 2π 3π
2
Vamos, então, comparar o 1 com o 2, fazendo a questão “Será que 1 é menor do que
2?” A resposta é obviamente positiva. Logo, temos que 1 2 1 2π < π ⇔ < →
Verdadeiro.
Vamos agora comparar o 2 com o 3, questionando “Será que 2 é menor do que 3?”.
A resposta é positiva, logo temos que 2 3 2 3π < π ⇔ < → Verdadeiro.
Logo, esta permutação tem dois ascendentes, pois obtivemos duas respostas
verdadeiras. Estes ascendentes são 1i = e 2i = .
� Para ( )1,3,2π =
Repetiremos o processo elaborado anteriormente, comparando os elementos dois a
dois:
1 2 1 3π < π ⇔ < → Verdadeiro
2 3 3 2π < π ⇔ < → Falso
Logo, esta permutação tem apenas um ascendente, pois só obtivemos uma condição
verdadeira. Este ascendente é 1i = .
� Para ( )2,1,3π = :
1 2 2 1π < π ⇔ < → Falso
2 3 1 3π < π ⇔ < → Verdadeiro
Logo, esta permutação tem um ascendente, pois só obtivemos uma condição
verdadeira. Este ascendente é 2i = .
� Para ( )2,3,1π = :
1 2 2 3π < π ⇔ < →Verdadeiro
2 3 3 1π < π ⇔ < → Falso
Logo, esta permutação tem um ascendente, pois só obtivemos uma condição
verdadeira. Este ascendente é 1i = .
� Para ( )3,1,2π = :
1 2 3 1π < π ⇔ < → Falso
2 3 1 2π < π ⇔ < →Verdadeiro
Logo, esta permutação tem um ascendente, pois só obtivemos uma condição
verdadeira. Este ascendente é 2i = .
3
� Para ( )3,2,1π = :
1 2 3 2π < π ⇔ < →Falso
2 3 2 1π < π ⇔ < →Falso
Logo, esta permutação não tem ascendentes, pois não obtivemos condições
verdadeiras.
Respondendo à questão, podemos concluir que quatro permutações de { }1,2,3 têm
apenas um ascendente.
No entanto, quando trabalhamos com permutações surge um outro termo quando
comparamos os elementos da permutação dois a dois. Já vimos o que é e como
identificar um ascendente, mas também podemos pensar no caso contrário. Se em vez
de perguntarmos “Será que este elemento é menor do que este?”, perguntarmos “Será
que este elemento é maior do que este?” estamos a falar de descendentes.
Ainda nesta linha das permutações surgem outros termos relacionados com a posição
que cada elemento da permutação ocupa: os excedentes e os excedentes fracos.
Podemos, portanto, definir cada um destes termos para o caso geral:
Suponhamos que ( )1 2 3, , ,..., nπ = π π π π é uma permutação de { }1,2,3,...,n .
Dizemos que o índice i, com 1 i n≤ < , é um ascendente da permutação π se
1.i i+π < π
Um descendente da permutação π é o índice i com 1 i n≤ < , tal que 1i i+π > π .
O índice i, com 1 i n≤ ≤ , é um excedente da permutação π se i iπ > . Enquanto o
índice i, com1 i n≤ ≤ , diz-se um excedente fraco da permutação π se i iπ ≥ .
Agora que sabemos como definir cada um destes conceitos, podemos completar uma
tabela com esses dados, referentes ao Exemplo 1:
4
Permutação Nº de
ascendentes Nº de
descendentes Nº de
excedentes
Nº de excedentes
fracos
( )1,2,3 2 0 0 3
( )1,3,2 1 1 1 2
( )2,1,3 1 1 1 2
( )2,3,1 1 1 2 2
( )3,1,2 1 1 1 1
( )3,2,1 0 2 1 2
Nota 2: No caso dos excedentes, pode surgir alguma dúvida sobre como foram obtidos
estes valores. Por isso, mostraremos como foi obtido o valor para a permutação
( )1,3,2π = , já que para as outras permutações o processo é o mesmo.
Para ser excedente da permutação tem de verificar i iπ > , com 1 3i≤ ≤ (porque
3n = ), portanto:
1 1 1 1π > ⇔ > → Falso
2 2 3 2π > ⇔ > →Verdadeiro
3 3 2 3π > ⇔ > →Falso
Então, esta permutação de { }1,2,3 tem apenas um excedente. Este excedente é 2i = .
Nota 3: No caso dos excedentes fracos, procedemos da mesma forma que no caso dos
excedentes, tendo apenas em atenção que para ser excedente fraco de uma permutação
tem de verificar i iπ ≥ , com 1 3i≤ ≤ (já que, no exemplo dado, 3n = ).
A partir da tabela podemos responder a perguntas simples como: Quantas
permutações de { }1,2,3 têm apenas um ascendente? Quantas permutações de { }1,2,3
têm um descendente? Quantas permutações de { }1,2,3 têm apenas um excedente? E, por
fim, quantas permutações de { }1,2,3 têm apenas dois excedente fracos?
A resposta a estas questões é quatro permutações.
A partir da análise da tabela, podemos facilmente chegar a uma conclusão: se
determinarmos o número de permutações com k ascendentes, saberemos
automaticamente o número de permutações com k descendentes, com k excedentes e
com 1k + excedentes fracos.
5
Por exemplo, analisando a tabela, podemos responder às questões:
Quantas permutações têm exactamente dois ascendentes? Uma.
Quantas permutações têm exactamente dois descendentes? Uma.
Quantas permutações têm exactamente dois excedentes? Uma.
Quantas permutações têm exactamente três excedentes fracos? Uma.
( )1 2 1k + = +
Nº de ascendentes
Assim, se tivermos um conjunto com n permutações com k ascendentes, sabemos
que esse conjunto terá n permutações com k descendentes, n permutações com k
excedentes e n permutações com 1k + excedentes fracos.
O exemplo que trabalhámos anteriormente é bastante simples e perfeitamente
exequível aplicando este método de análise directa de cada uma das permutações,
verificando o número de ascendentes, descendentes, excedentes e excedentes fracos de
cada uma delas. No entanto, existem casos em que se torna moroso determinar todas as
permutações do conjunto e, consequentemente, determinar os ascendentes,
descendentes, excedentes e excedentes fracos torna-se numa tarefa extremamente
ingrata.
Nestes casos (como veremos de seguida), será útil utilizarmos os Números de Euler
neste processo de encontrar o número de permutações com um determinado número de
ascendentes. E, como vimos anteriormente, a partir do cálculo do número de
permutações com k ascendentes, poderemos saber o número de permutações com k
descendentes, com k excedentes e com 1k + excedentes fracos.
Como já vimos anteriormente, o número de Euler é o número de permutações de
{ }1,2,3,...,n com exactamente k ascendentes. O número de Euler pode ser representado
por ( ),E n k ou
n
k,
Como determinar os números de Euler?
Podemos determinar os números de Euler, recorrendo à seguinte fórmula:
( ) ( ) ( )
0
1, 1 1 , 1
ki n
i
n nE n k k i n
k i=
+ = = − + − ≥
∑
6
Existem, ainda, algumas propriedades relativas aos números de Euler, que facilitam o
seu cálculo:
i)
1 , 10 1
n nn
n= = ≥
−
ii)
, 11
n nn
k n k= ≥
− −
iii) ( ) ( )1 11 + , 1
1
n n nk n k n
k k k
− −= + − ≥
−
Veremos, agora, um exemplo em que a utilização dos números de Euler é bastante
útil.
Exemplo 2:
Determine o número de permutações de { }1,2,3,4,5,6com:
a) um único ascendente;
Se utilizássemos o método utilizado no Exemplo 1, teríamos de determinar todas as
permutações de { }1,2,3,4,5,6 , o que é bastante moroso.
Utilizando os números de Euler, temos apenas de recorrer, por exemplo, à fórmula da
propriedade iii). Neste caso, sabemos que 6n = (número de elementos do conjunto)
e 1k = (número de ascendentes):
( ) ( )6 6 1 6 11 1 + 6 1
1 1 1 1
5 5 2 5
1 0
n
k
− −= = + −
−
= +
=1, pela propriedade i)
( ) ( )5 1 5 1 2 1 1 + 5 1 5
1 1 1
4 4 4 4 2 2 +4 5 4 8 5 4 13
1 0 1 1
− −= + − + −
= + = + + = +
=1, pela propriedade i)
Voltamos a utilizar a
propriedade iii)
7
( ) ( )4 1 4 1 4 1 1 + 4 1 13
1 1 1
3 3 3 3 4 2 +3 13 8 12 13 8 25
1 0 1 1
− −= + − + −
= + = + + = +
=1, pela propriedade i)
( ) ( )3 1 3 1 8 1 1 + 3 1 25
1 1 1
2 2 8 2 +2 25 16 16 25 57
1 0
− −= + − + −
= + = + + =
=1, pela propriedade i)
Existem 57 permutações de { }1,2,3,4,5,6com apenas um ascendente.
b) exactamente quatro ascendentes;
Pela propriedade ii) temos que:
, 1
1
n nn
k n k= ≥
− −
Então,
6 6 6.
4 6 1 4 1= =
− −
Quer isto dizer que o número de permutações de{ }1,2,3,4,5,6com um ascendente é
igual ao número de permutações de { }1,2,3,4,5,6 com quatro ascendentes.
Como calculámos na alínea anterior
657
1= e como
6 6
1 4= , então
657
4= .
Logo, existem 57 permutações de { }1,2,3,4,5,6 com, exactamente, quatro
ascendentes.
c) exactamente dois excedentes;
Voltamos a utilizar a
propriedade iii)
Voltamos a utilizar a
propriedade iii)
8
Como já vimos, os números de Euler também podem ser utilizados para calcular o
número de permutações com k excedentes.
Para resolver esta alínea vamos utilizar a fórmula
( ) ( ) ( )0
1, 1 1 , 1
ki n
i
n nE n k k i n
k i=
+ = = − + − ≥
∑
Nota 4: Poderíamos continuar a utilizar a fórmula da propriedade iii).
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
26
0
0 6 1 6 2 6
6 6 6
6 6 16,2 1 2 1
2
7 7 71 3 0 1 3 1 1 3 2
0 1 2
7! 7! 7!3 2 1
0!7! 1!6! 2!5!
729 448 21 302
i
i
E ii=
+ = = − + − =
= − − + − − + − − =
= − + =
= − + =
∑
Portanto, existem 302 permutações de { }1,2,3,4,5,6com, exactamente, dois
excedentes.
d) exactamente dois descendentes;
Reparemos que ( ),n
E n kk
= é o número de permutações com k ascendentes ou o
número de permutações com k descendentes ou o número de permutações com k
excedentes ou, ainda, o número de permutações com 1k + excedentes fracos. Assim,
para calcular o número de permutações com exactamente dois descendentes,
podemos calcular 6
.2
Na alínea anterior, vimos que 6
302.2
= Logo, existem 302 permutações de
{ }1,2,3,4,5,6 com, exactamente, dois descendentes.
e) seis excedentes fracos.
9
Como já vimos, ( ),
nE n k
k= é o número de permutações com 1k +
excedentes
fracos. Portanto, para determinar o número de permutações de { }1,2,3,4,5,6com seis
excedentes fracos, temos de pensar qual será o valor de k. Para isso basta reparar que
1k + terá de ser, necessariamente, igual a 6, já que este é o número de excedentes
fracos. Portanto, 1 6 5k k+ = ⇔ = .
Assim, para determinarmos o número de permutações de { }1,2,3,4,5,6 com seis
excedentes fracos, basta calcularmos
6 61
5 0
n
k= = =
pela propriedade i)
Portanto, existe apenas uma permutação de { }1,2,3,4,5,6 com seis excedentes
fracos. Também podemos reparar que só existe uma permutação de { }1,2,3,4,5,6
com apenas um excedente fraco, já que 6
10
= . Verificamos que neste caso k
(número de ascendentes) é 0, logo o número de excedentes fracos será
1 0 1 1k + = + = . Assim, existe apenas uma permutação de { }1,2,3,4,5,6 que não tem
ascendentes e uma permutação de { }1,2,3,4,5,6 que tem apenas um excedente fraco.
Deste modo, verificámos a importância da utilização dos números de Euler. Sem este
método, seria quase impossível determinar o número de permutações de um
determinado conjunto com um certo número de ascendentes, descendentes, excedentes e
excedentes fracos.
O método utilizado no Exemplo 1 é prático apenas para conjuntos pequenos, onde
podemos facilmente determinar todas as suas permutações. Quando passamos para
conjuntos maiores, este método torna-se quase impraticável, o que nos leva aos
Números de Euler, já que é um método muito mais prático e de fácil utilização.