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INTRODUÇÃO O Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na metade do século XIX e se desenvolveu na literatura européia, chegando ao Brasil na segunda metade do século XIX e teve força até o movimento modernista (Semana de Arte Moderna de 1922). Esta escola literária foi uma oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do positivismo. O nome parnasianismo surgiu na França e deriva do termo "Parnaso", que na mitologia grega era o monte do deus Apolo e das musas da poesia. Na França, os poetas parnasianos que mais se destacaram foram: Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de Banville e José Maria de Heredia. Nasceu com a publicação de uma série de poesias, precedendo de algumas décadas o simbolismo uma vez que os seus autores procuravam recuperar os valores estéticos da antiguidade clássica. O seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega era consagrada a Apolo e às musas. DESENVOLVIMENTO Em Portugal, o movimento não foi muito importante, tendo como autores Gonçalves Crespo (nascido no Brasil mas

Parnasianismo

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Page 1: Parnasianismo

INTRODUÇÃO

O Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na

metade do século XIX e se desenvolveu na literatura européia, chegando ao

Brasil na segunda metade do século XIX e teve força até o movimento

modernista (Semana de Arte Moderna de 1922). Esta escola literária foi uma

oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do

positivismo.

O nome parnasianismo surgiu na França e deriva do termo "Parnaso",

que na mitologia grega era o monte do deus Apolo e das musas da poesia. Na

França, os poetas parnasianos que mais se destacaram foram: Théophile

Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de Banville e José Maria de Heredia.

Nasceu com a publicação de uma série de poesias, precedendo de

algumas décadas o simbolismo uma vez que os seus autores procuravam

recuperar os valores estéticos da antiguidade clássica. O seu nome vem do

Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega era consagrada a Apolo e

às musas.

DESENVOLVIMENTO

Em Portugal, o movimento não foi muito importante, tendo como autores

Gonçalves Crespo (nascido no Brasil mas criado em Portugal desde os 10

anos de idade), João Penha, António Feijó e Cesário Verde.

No Brasil, o parnasianismo dominou a poesia até a chegada do

Modernismo brasileiro. A importância deste movimento no país deve-se não só

ao elevado número de poetas, mas também à extensão de sua influência, uma

vez que seus princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do

país, praticamente até o advento do Modernismo em 1922.

Na década de 1870, a poesia romântica deu mostras de cansaço, e

mesmo em Castro Alves é possível apontar elementos precursores de uma

poesia realista. Assim, entre 1870 e 1880 assistiu-se no Brasil à liquidação do

Romantismo, submetido a uma crítica severa por parte das gerações

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emergentes, insatisfeitas com sua estética e em busca de novas formas de

arte, inspiradas nos ideais positivistas e realistas do momento.

Dessa maneira, a década de 1880 abriu-se para a poesia científica, a

socialista e a realista, primeiras manifestações da reforma que acabou por se

canalizar para o Parnasianismo. As influências iniciais foram Gonçalves Crespo

e Artur de Oliveira, este o principal propagandista do movimento a partir de

1877, quando chegou de uma estada em Paris. Alberto de Oliveira publicou

"Canções Românticas" em 1878 e Teófilo Dias, "Cantos Tropicais", dois dos

marcos iniciais da nova Escola 1 . De um começo tímido nos versos de Luís

Guimarães Júnior (Sonetos e rimas. 1880) e Teófilo Dias (Fanfarras. 1882),

firmou-se definitivamente com Raimundo Correia (Sinfonias. 1883), novamente

Alberto de Oliveira (Meridionais. 1884) e Olavo Bilac (Relicário. 1888).

O Parnasianismo brasileiro, a despeito da grande influência que recebeu

do Parnasianismo francês, não é uma exata reprodução dele, pois não

obedece à mesma preocupação de objetividade, de cientificismo e de

descrições realistas. Foge do sentimentalismo romântico, mas não exclui o

subjetivismo. Sua preferência dominante é pelo verso alexandrino de tipo

francês, com rimas ricas, e pelas formas fixas, em especial o soneto. Quanto

ao assunto, caracteriza-se pela objetividade, o universalismo e o esteticismo.

Este último exige uma forma perfeita (formalismo) quanto à construção e à

sintaxe. Os poetas parnasianos vêem o homem preso à matéria, sem

possibilidade de libertar-se do determinismo, e tendem então para o

pessimismo ou para o sensualismo.

Além de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, que

configuraram a chamada tríade parnasiana, o movimento teve outros grandes

poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho, Machado de Assis, Luís Delfino,

Bernardino Lopes, Francisca Júlia, Guimarães Passos, Carlos Magalhães de

Azeredo, Goulart de Andrade, Artur Azevedo, Adelino Fontoura, Emílio de

Meneses, Antônio Augusto de Lima, Luís Murat e Mário de Lima.

A partir de 1890, o Simbolismo começou a superar o Parnasianismo. O

realismo do Parnasianismo teve grande aceitação no Brasil, graças certamente

à facilidade oferecida por sua poética, mais de técnica e forma que de

inspiração e essência. Assim, ele foi muito além de seus limites cronológicos e

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se manteve paralelo ao Simbolismo e mesmo ao Modernismo em sua primeira

fase.

O prestígio dos poetas parnasianos, ao final do século XIX, fez de seu

movimento a escola oficial das letras no país durante muito tempo. Os próprios

poetas simbolistas foram excluídos da Academia Brasileira de Letras, quando

esta se constituiu, em 1896. Em contato com o Simbolismo, o Parnasianismo

deu lugar, nas duas primeiras décadas do século XX, a uma poesia sincretista

e de transição.

Características Gerais:

Preciosismo: focaliza-se o detalhe; cada objeto deve singularizar-se, daí as

palavras raras e rimas ricas.

Objetividade e impessoalidade: O poeta apresenta o fato, a personagem, as

coisas como são e acontecem na realidade, sem deformá-los pela sua maneira

pessoal de ver, sentir e pensar. Esta posição combate o exagerado

subjetivismo romântico.

Arte Pela Arte: A poesia vale por si mesma, não tem nenhum tipo de

compromisso, e se justifica por sua beleza. Faz referências ao prosaico, e o

texto mostra interesse a coisas pertinentes a todos.

Estética/Culto à forma: Como os poemas não assumem nenhum tipo de

compromisso, a estética é muito valorizada. O poeta parnasiano busca a

perfeição formal a todo custo, e por vezes, se mostra incapaz para tal.

Aspectos importantes para essa estética perfeita são:

Rimas Ricas: São evitadas palavras da mesma classe gramatical. Há

uma ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofes de quatro versos, porém

também muito usada as rimas interpoladas.

Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os sonetos,

composição dividida em duas estrofes de quatro versos, e duas estrofes de três

versos. Revelando, no entanto, a "chave" do texto no último verso.

Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo

em cada verso, preferencialmente com dez (decassílabos) ou doze sílabas

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(versos alexandrinos), os mais utilizados no período. Ou apresentar uma

simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas, segundo de seis

sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis sílabas, etc.

Descritivíssimo: Grande parte da poesia parnasiana é baseada em

objetos inertes, sempre optando pelos que exigem uma descrição bem

detalhada como "A Estátua", "Vaso Chinês" e "Vaso Grego" de Alberto de

Oliveira.

Temática Greco-Romana - A estética é muito valorizada no

Parnasianismo, mas mesmo assim, o texto precisa de um conteúdo. A temática

abordada pelos parnasianos recupera temas da antiguidade clássica,

características de sua história e sua mitologia. É bem comum os textos

descreverem deuses, heróis, fatos lendários, personagens marcados na

história e até mesmo objetos.

Cavalgamento ou encadeamento sintático (enjambement) - Ocorre

quando o verso termina quanto à métrica (pois chegou na décima sílaba), mas

não terminou quanto à ideia, quanto ao conteúdo, que se encerra no verso de

baixo. O verso depende do contexto para ser entendido. Tática para priorizar a

métrica e o conjunto de rimas.

Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac – a tríade brasileira

do Parnasianismo.

O Parnasianismo tem seu marco inicial com a publicação de “Fanfarras”

de Teófilo Dias, em 1882. Contudo, Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e

Raimundo Correia também auxiliaram a implantação do Parnasianismo no

Brasil.

A estética parnasiana, originada na França, valorizava a perfeição

formal, o rigor das regras clássicas na criação dos poemas, a preferência pelas

formas fixas (sonetos), a apreciação da rima e métrica, a descrição minuciosa,

a sensualidade, a mitologia greco-romana. Além disso, a doutrina da “arte pela

arte” esteve presente nos poemas parnasianos: alienação e descompromisso

quanto à realidade.

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Contudo, os parnasianos brasileiros não seguiram todos os acordos

propostos pelos franceses, pois muitos poemas apresentam subjetividade e

preferência por temas voltados à realidade brasileira, contrariando outra

característica do parnasianismo francês: o universalismo.

Os temas universais, vangloriados pelos franceses, se opunham ao

individualismo romântico, que revelava aspectos pessoais, desejos, aflições e

sentimentos do autor.

Outra característica que o Parnasianismo brasileiro não seguiu à risca foi

a visão mais carnal do amor em relação à espiritual. Olavo Bilac,

principalmente, enfatizou o amor sensual, entretanto, sem vulgarizá-lo.

No Brasil, os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac e

Raimundo Correia.

O poema “Profissão de fé” de Olavo Bilac é uma representação da

estética parnasiana no Brasil:

Veja um trecho:

(...)

E horas sem conta passo, mudo,

O olhar atento,

A trabalhar, longe de tudo

O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia

Tanta requer,

Que ofício tal... nem há notícia

De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena

Segue esta norma,

Por servir-te, Deusa serena,

Serena Forma!

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Vemos nas estrofes acima aspectos parnasianos, como “a arte pela

arte”: o poeta deixa claro que a arte poética exige do autor o afastamento

quanto ao que acontece no mundo.

Ainda vemos a exaltação e procura por um rigor técnico, purismo na

forma: o poeta diz que escrever requer muita perícia, cuidado e engrandece a

estética formal “Serena Forma”.

Além disso, observamos no poema a forma fixa dos sonetos, a rima rica

e a perfeita ou rara em contraposição aos versos livres e brancos dos poetas

românticos.

Os principais representantes do parnasianismo brasileiro:

Olavo Bilac - Obras principais: Poesias (1888), Crônicas e novelas

(1894), Crítica e fantasia (1904), Conferências literárias (1906),

Dicionário de rimas (1913), Tratado de versificação (1910), Ironia e

piedade, crônicas (1916), Tarde (1919).

Alberto de Oliveira. Obras principais: Meridionais (1884), Versos e

Rimas (1895), Poesias (1900), Céu, Terra e Mar (1914), O Culto da

Forma na Poesia Brasileira (1916).

Raimundo Correia. Obras principais: Primeiros Sonhos (1879),

Sinfonias(1883), Versos e Versões(1887), Aleluias(1891),

Poesias(1898).

Francisca Júlia. Obras principais: Mármores (1895), Livro da Infância

(1899), Esfínges (1903), Alma Infantil (1912).

Vicente de Carvalho. Obras principais: Ardentias (1885), Relicário

(1888), Rosa, rosa de amor (1902), Poemas e canções, (1908), Versos

da mocidade (1909), Páginas soltas (1911), A voz dos sinos, (1916).

Estética Parnasiana.

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O Parnasianismo surgiu na França em oposição às escolas literárias

Realismo e Naturalismo, opondo-se à prosa, já que foi um movimento

essencialmente poético.

A escola teve influência da doutrina “arte pela arte” apresentada por

Théophile Gautier, poeta e crítico literário francês, ainda no período do

Romantismo.

A teoria da “arte pela arte” ressalta o belo e o refinamento através da

autonomia da arte alheia à realidade.

O nome da escola vem do termo grego “Parnassus”, o qual indica o

lugar mitológico onde as musas moravam.

A denominação da escola literária se deve também à primeira

publicação parnasiana, intitulada “Le parnasse contemporain”, a qual apresenta

as seguintes características: linguagem descritiva, formas clássicas (rima,

métrica), indiferença. Os fundamentos parnasianos retomaram a perfeição

formal almejada pela Antiguidade clássica.

CONCLUSÃO

O poeta deve ser neutro diante da realidade, esconder seus

sentimentos, sua vida pessoal. A confissão íntima e o extravasamento

subjetivo, tão caros aos românticos, são vistos como inimigos da poesia. O Eu

precisa se apagar frente do mundo objetivo, eclipsar-se. O espetáculo humano,

cenas da natureza ou simples objetos são registrados, sem que haja

interferências da interioridade do artista. A exemplo do que ocorrera no

Realismo e no Naturalismo, o escritor é aquele que observa e reproduz as

coisas concretas. Tal postura iria se tornar muito complicada num gênero

literário que, desde a sua fundação, centrara-se na revelação da alma.

Os parnasianos ressuscitam o preceito latino de que a arte é gratuita,

que só vale por si própria. Ela não tem nenhum sentido utilitário, nenhum tipo

de compromisso. É auto-suficiente e justifica-se apenas por sua beleza formal.

Qualquer tipo de investigação do social, referência ao prosaico, interesse pelas

coisas comuns a todos os homens seria "matéria impura" a comprometer o

texto. Restabelecem, portanto, um esteticismo de fundo conservador que já

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vigora na arte da decadência romana. A literatura passa a ser apenas um jogo

frívolo de espíritos elegantes.