20
Filosofia 11 Resumo RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA 1 ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA FORMAL LÓGICA: A lógica estuda condições de validade do pensamento, abstraindo-se do seu conteúdo, ou seja, procura explicitar os princípios que estão na base do pensamento coerente. Ciência que estuda os argumentos (encadeamentos de proposições) para estabelecer regras de pensamento válido. Os répteis são astronautas . Os astronautas são vegetais. Logo, os répteis são vegetais. LÓGICA ESPONTÂNEA: A lógica espontânea é inata e natural ao Homem. É comum a todos nós e é fruto de elementos culturais de cada povo. Brota do facto de o Homem seguir uma ordem incontrolável e impulsiva para chegar ao conhecimento das coisas como são. Diz respeito ao caminho que a razão humana segue para conhecer as coisas. Para pensarmos e comunicarmos com correção. UTILIDADE DA LÓGICA: Ajuda a estruturar o pensamento de forma precisa clara e coerente, tornando o discurso mais convincente e facilita no processo comunicativo; Ensina a detetar erros e ambiguidades, o que permite distinguir argumentos válidos de argumentos não válidos; Proporciona o desenvolvimento das capacidades argumentativas; Contribui para o desenvolvimento intelectual do indivíduo ao nível do pensamento abstrato e contribui para a formação da autoconsciência; Oferece-nos os recursos necessários para pensarmos a realidade e podermos conhecer; Disponibiliza processos úteis para a investigação científica além de poder ser aplicada a novos domínios como a informática, robótica, etc. PRINCÍPIOS LÓGICOS: 1. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE: Toda a coisa é idêntica a si mesma. Todo o ser é igual a si mesmo. Uma coisa é o que é. Por exemplo, uma rosa é uma rosa. Este princípio obriga a que se mantenha o significado dos termos e expressões. 2. PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: A mesma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e segundo a mesma perspetiva. É impossível que o mesmo atributo pertença a não pertença ao mesmo sujeito ao mesmo tempo e segundo a mesma relação. 3. PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: Uma coisa deve ser. Uma coisa é ou não é. Não há uma terceira possibilidade. (por exemplo, um proposição é verdadeira ou falsa, não há outra possibilidade). Estes princípios são pressupostos de todo o pensamento consistente. São princípios inatos da razão, por isso são indemonstráveis. Sem eles, nenhuma verdade pode ser pensada ou comunicada. Argumento

Resumos filosofia 11

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Este documento apresenta o resumo da matéria de 11º ano de filosofia até ao 2ºperíodo

Citation preview

Page 1: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

1

ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA FORMAL

LÓGICA:

A lógica estuda condições de validade do pensamento, abstraindo-se do seu conteúdo, ou seja, procura

explicitar os princípios que estão na base do pensamento coerente. Ciência que estuda os argumentos

(encadeamentos de proposições) para estabelecer regras de pensamento válido.

Os répteis são astronautas.

Os astronautas são vegetais.

Logo, os répteis são vegetais.

LÓGICA ESPONTÂNEA:

A lógica espontânea é inata e natural ao Homem. É comum a todos nós e é fruto de elementos

culturais de cada povo. Brota do facto de o Homem seguir uma ordem incontrolável e impulsiva para

chegar ao conhecimento das coisas como são. Diz respeito ao caminho que a razão humana segue para

conhecer as coisas. Para pensarmos e comunicarmos com correção.

UTILIDADE DA LÓGICA:

› Ajuda a estruturar o pensamento de forma precisa clara e coerente, tornando o discurso mais

convincente e facilita no processo comunicativo;

› Ensina a detetar erros e ambiguidades, o que permite distinguir argumentos válidos de

argumentos não válidos;

› Proporciona o desenvolvimento das capacidades argumentativas;

› Contribui para o desenvolvimento intelectual do indivíduo ao nível do pensamento abstrato e

contribui para a formação da autoconsciência;

› Oferece-nos os recursos necessários para pensarmos a realidade e podermos conhecer;

› Disponibiliza processos úteis para a investigação científica além de poder ser aplicada a novos

domínios como a informática, robótica, etc.

PRINCÍPIOS LÓGICOS:

1. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE:

Toda a coisa é idêntica a si mesma. Todo o ser é igual a si mesmo. Uma coisa é o que

é. Por exemplo, uma rosa é uma rosa. Este princípio obriga a que se mantenha o

significado dos termos e expressões.

2. PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO:

A mesma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e segundo a mesma

perspetiva. É impossível que o mesmo atributo pertença a não pertença ao mesmo

sujeito ao mesmo tempo e segundo a mesma relação.

3. PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO:

Uma coisa deve ser. Uma coisa é ou não é. Não há uma terceira possibilidade. (por

exemplo, um proposição é verdadeira ou falsa, não há outra possibilidade).

Estes princípios são pressupostos de todo o pensamento consistente. São princípios inatos da razão, por

isso são indemonstráveis. Sem eles, nenhuma verdade pode ser pensada ou comunicada.

Argumento

Page 2: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

2

CONCEITO:

Representação mental, abstrata e geral que reúne as características comuns, isto é, os traços invariantes

e fundamentais relativos a um conjunto de seres, coisas ou acontecimentos, traços estes, que os

distinguem de outros seres, coisas ou acontecimentos.

FORMAÇÃO DE CONCEITOS:

O conceito é resultado de determinadas interações, sendo, portanto, uma construção mental.

Construímos conceitos mediante operações como a abstração e a generalização.

Abstração: ato mediante o qual, dado um conjunto de objetos ou de indivíduos concretos,

isolamos e pomos de parte características particulares, próprias de cada um dos objetos, para retermos

apenas aspetos comuns a esses diversos indivíduos.

Exemplo: ‘Como se chega ao conceito ave?’

- Ter penas cinzentas?

- Ter penas?

- Alimentar-se de grãos?

- Ter bico adunco?

- Ter bico?

- Ter crista?

- Respirar através de pulmões?

- Reproduzir-se por ovos?

- Ser animal doméstico?

- Voar?

- Ter asas?

Generalização: surge como complemento da abstração, ou seja, torna extensivas a todos os

indivíduos da mesma classe as características essenciais reunidas no conceito.

Nota:

1. O conceito constitui o elemento básico do pensamento e, em si mesmo, nada afirma ou nega;

2. O conceito é um instrumento mental que serva para pensar e, através do qual, representamos

diferentes realidades, sejam materiais ou ideais.

3. É uma síntese que reúne as características comuns de uma classe de seres, coisas ou

acontecimentos.

4. Os conceitos singulares (Paulo, Torre do Clérigos, Rio Douro,…) são conceitos dos quais não

temos representações gerais, mas singulares. De qualquer modo, essas representações são

também conceitos.

REDES CONCETUAIS:

Exemplo:

Características fundamentais

Page 3: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

3

TERMO E CONCEITO:

O termo é a expressão verbal do conceito. O conceito corresponde a um conteúdo intelectual

que se expressa, na linguagem, através do termo, o termo é o significante e o conceito o significado.

Existem vários termos para o mesmo conceito: livro – libro – livre – book – buch.

O termo não se identifica só com uma palavra, podendo ser uma expressão.

COMPREENSÃO E EXTENSÃO DE UM CONCEITO:

A compreensão de um conceito representa o conjunto de características ou notas caracterizadoras que

definem esse conceito.

A extensão de um conceito representa o conjunto de seres, coisas ou acontecimentos que são

abrangidos por esse conceito, ou seja, são elementos da classe lógica definidos pelos conceitos.

A compreensão e a extensão de um conceito variam numa relação inversa:

Compreensão

Ser Ser vivo Animal

Vertebrado Mamífero

Cão Labrador

“Jolie”

Extensão

JUÍZOS – PROPOSIÇÕES:

Os juízos são operações mentais que permitem estabelecer uma relação de afirmação (conveniência) ou

de negação (inconveniência) entre conceitos, que se exprimem verbalmente por proposições. A verdade

ou a falsidade de uma proposição avalia-se confrontando essa proposição com a realidade.

A relva é verde sujeito cópula predicado

Verdade Juízo conveniente

O Luís Figo não foi futebolista

Falso Juízo inconveniente

CLASSIFICAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES QUANTO À RELAÇÃO (baseia-se na relação que se estabelece entre o

sujeito e o predicado):

Proposições categóricas:

Aquelas que afirmam ou negam sem restrições ou condições:

As folhas são verdes.

Proposições hipotéticas:

Aquelas que afirmam ou negam sob determinadas condições:

No outono, as folhas são amarelas.

Proposições disjuntivas:

Aquelas que afirmam ou negam sob a forma de alternativas que se excluem:

As folhas ou são verdes ou são amarelas.

Page 4: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

4

CLASSIFICAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES QUANTO À QUANTIDADE E À QUALIDADE:

Qualidade

- Afirmativo ex: Alguns homens são poetas. - Negativo ex: Nenhum camelo é ave.

Quantidade

- Universal ex: Todos os homens são poetas./ Nenhum homem é poeta - Particular ex: Alguns camelos são aves.

JUNTANDO QUALIDADE E QUANTIDADE:

Juntando qualidade e quantidade, as proposições podem ser classificadas da seguinte forma:

A – Universais afirmativas;

E – Universais negativas;

I - Particulares afirmativas;

O – Particulares negativas.

QUANTIFICAÇÃO DOS TERMOS DAS PROPOSIÇÕES.

Quando o termo é referenciado em toda a sua extensão (universal) ele torna-se distribuído.

Quando o termo é apenas tomado em parte da sua extensão (particular) este torna-se não

distribuído.

Proposições Distribuição do sujeito Distribuição do predicado

A Distribuído Não distribuído

I Não distribuído Não distribuído

E Distribuído Distribuído

O Não distribuído Distribuído

RACIOCÍNIO:

Operação mental através da qual o pensamento, de uma ou mais proposições dadas, conclui uma nova

proposição – a conclusão. Portanto, raciocinar é inferir.

A expressão verbal do raciocínio é o argumento.

ARGUMENTO:

Encadeamento de proposições de um modo tal que a conclusão é sempre resultado das premissas

anteriores, que funcionam como razões para tal conclusão. Nos argumentos estabelece-se um nexo de

implicação entre as premissas e a conclusão.

Page 5: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

5

Todos os Zemindanes são poderosos

Icabad é um Zemindane Válido

Logo, Icabad é poderoso.

A validade de um argumento diz respeito ao nexo lógico que se estabelece entre as premissa e a

conclusão, de forma a expressar um pensamento coerente. Portanto, a validade dos argumentos não

depende da veracidade das premissas, mas sim do nexo lógico entre elas e a conclusão.

Nota: nos raciocínios ou argumentos dedutivos, se o raciocínio for válido e as premissas verdadeiras, a

conclusão tem de ser verdadeira.

TIPOS DE ARGUMENTOS:

Raciocínio = Inferir

Mediatos (construídos a partir de duas ou mais proposições)

Imediatos (construídos a partir de uma só proposição)

Dedutivos

Indutivos

Por analogia

Oposição

Conversão

Argumentos dedutivos:

Num argumento dedutivo, as premissas impõem a conclusão, ou seja, há uma implicação lógica

necessária entre as premissas e a conclusão. Nestes argumentos, a conclusão está implícita nas

premissas e, por isso, não contém mais informação do que aquela que já está nas premissas.

Exemplo: Todos os corvos são pretos.

Este animal é um corvo.

Logo, este animal é preto.

A vantagem deste tipo de argumento é que ele é rigoroso e útil na defesa de uma tese ou para

descobrir algo que inicialmente se desconhecia, mas se poderia inferir. Não entanto, não permite

progredir muito no campo do desconhecido.

São só únicos dotados de validade lógica.

Argumentos indutivos:

A relação que se estabelece entre as premissas e a conclusão é apenas de apoio ou suporte.

Nestes argumentos, o facto de as premissas serem verdadeiras, não garante a veracidade da conclusão,

pois esta engloba mais informação do que a que está contida nas premissas. Pode-se afirmar que a

conclusão será provavelmente verdadeira.

Considera-se, ainda, que a indução não tem validade formal, porque se verifica um salto abusivo entre as

premissas e a conclusão, concluindo-se da parte para o geral.

A vantagem deste argumento é que ele permita avançar no desconhecido e, portanto, ampliar o

conhecimento. No entanto, ele não é totalmente rigoroso.

Page 6: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

6

Exemplo: Este corvo é preto.

Aquele corvo é preto.

Logo, todos os corvos são pretos.

Argumento por analogia:

O raciocínio por analogia consiste em partir de certas semelhanças ou relações existentes entre

dois objetos ou duas realidades e concluir novas semelhanças que podem não existir. Nos argumentos

por analogia nunca se pode garantir que de premissas verdadeiras se obtenha uma conclusão

verdadeira. A conclusão é provável, mas o grau de falibilidade é muito grande e, por isso, é necessário

não tirar conclusões de semelhanças superficiais e não desprezar as diferenças. A força deste raciocínio

aumenta com o aumento de semelhanças.

Exemplo: Marte possui atmosfera com a Terra.

A Terra tem seres vivos.

Logo, é suposto que existam seres vivos em Marte.

SILOGISMOS (RACIOCÍNIOS DEDUTIVOS):

Termos de um raciocínio: Exemplo:

› Termo Maior (T) Os insetos(M) são invertebrados(T).

› Termo Menor (t) As abelhas(t) são insetos(M).

› Termo Médio (M) Logo, as abelhas(t) são invertebradas(T).

Regras dos Silogismos:

1ª. Um silogismo só pode conter três termos diferentes;

2ª. O termo médio não pode entrar na conclusão;

3ª. O termo médio tem de estar, pelo menos numa das premissas, tomado em toda a sua extensão;

4ª. Nenhum termo pode ter mais extensão na conclusão do que tem nas premissas;

5ª. De duas premissas afirmativas, não se pode inferir uma conclusão negativa;

6ª. De duas premissas negativas nada se pode concluir;

7ª. De duas premissas particulares nada se pode concluir;

8ª. Se uma das premissas for particular (ou negativa), a conclusão tem de ser particular (ou

negativa).

Page 7: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

7

Modo e Figura dos Silogismos:

Modo Figura

A Todo A é B E Nenhum C é B E Logo, nenhum A é C

2ª Figura (o termo médio está nos predicados das premissas)

O Modo diz respeito ao tipo de premissa (A, I, E ou O) e a Figura à posição do termo médio nas

premissas.

Mnemónica das figuras:

SUPER 1ªFig. PEPE 2ªFig. SOUSA 3ªFig. PS 4ªFig.

INFERÊNCIAS IMEDIATAS: A OPOSIÇÃO E A CONVERSÃO:

Inferências por Oposição:

Inferir por oposição significa concluir novas

proposições a partir de uma, chamada

primitiva, fazendo transformações na

qualidade, na quantidade ou em ambas

simultaneamente.

Conclui-se, assim, que as preposições que

são:

a) Contrárias, ambas universais, diferem na

qualidade;

b) Subcontrárias, ambas particulares,

diferem na qualidade;

c) Subalternas, diferem na quantidade;

d) Contraditóras, diferem na qualidade e na

quantidade. (note-se que nas preposições

contraditórias, como são a negação uma

da outra, se uma for verdadeira a outra é

falsa.)

Inferências por Conversão:

As inferências por conversão resultam da inversão da posição dos termos, isto é, o termo que é

sujeito na preposição primitiva passa a predicado na proposição conversa e vice-versa.

A conversão tem que obedecer à lei, segundo a qual os termos da nova preposição não podem

ter maior extensão (corresponde à conclusão) do que na premissa primitiva. (conversão limitada)

contrárias

subal

terna

s

subal

terna

s

subcontrárias

contraditórias

contr

aditór

ias

A

O I

E

muda qualidade

muda

quant

idade

muda qual / quan

Quadrado das Oposições |

Page 8: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

8

E Nenhum mamífero é peixe

Conversão Simples E Nenhum peixe é mamífero I Alguns homens são desportistas I Alguns desportistas são homens

A Todos os médicos são estudiosos Conversão Limitada

I Alguns estudiosos são médicos

LÓGICA ARISTOTÉLICA VS. LÓGICA MODERNA:

Características da Lógica Aristotélica (Méritos e Limitações):

Limitações:

› A lógica aristotélica é completamente dependente da linguagem natural e da sua

gramática. Por isso não está isenta de equívocos e ambiguidades.

ex: este triângulo é desigual

este triângulo não é igual

› Por esta razão não atinge totalmente a formalização;

› Limita-se a silogismos categóricos.

Méritos:

› Tentativa de formalização e reconhecimento de que a linguagem natural é limitada

nesta tentativa.

Superação das limitações da Lógica Aristotélica pela Lógica Moderna:

› A lógica moderna usa símbolos assentes numa linguagem artificial que permite o cálculo e reduz

equívocos e a ambiguidade da linguagem natural.

ex: Ser ou não ser, eis a questão, passa a:

› Analisa as proposições como um todo, desvalorizando os termos;

› Permite a aplicação da lógica a novos domínios – científicos e tecnológicos.

ARGUMENTAÇÃO:

Diariamente somos emissores e recetores de discursos argumentativos.

A argumentação está relacionada com a vertente social do Homem, ela torna-se um processo

comunicativo.

Como ato de comunicação, a argumentação implica:

- Orador / Emissor;

- Auditório / Recetor;

- Mensagem.

Conteúdo idêntico, no entanto modos diferentes, A e

E, respetivamente.

(p V ~p) q p- ser

q- questão

Page 9: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

9

Argumentação e Demonstração:

A racionalidade humana não se esgota na validade formal, pois a maior parte dos problemas

com que nos deparamos não dependem de critérios formais rígidos, mas sim de critérios que se

prendem mais com a força persuasiva, a relevância e a pertinência dos argumentos e das premissas

desencadeadas a partir de opiniões geralmente aceites.

Entramos, assim, no domínio da argumentação ou “dedução dialética”, nas palavras de

Aristóteles, (ver exemplo 1) que é diferente da demonstração (ver exemplo 2).

A demonstração é constringente, não discutível, enquanto a argumentação pressupõe premissas

plausíveis e passiveis de serem discutíveis e até, refutadas.

Exemplo 1 Se o mar Y for água, é H2O.

Demonstração O mar Y é água. Logo, o mar Y é H2O.

Exemplo 2 Se os animais não têm deveres, não têm direitos.

Argumentação Os animais não têm deveres. Logo, os animais não têm direitos.

Demonstração: processo lógico-discursivo que, partindo de premissas consideradas verdadeiras, nos

leva a inferir uma conclusão verdadeira. As provas apresentadas são constringentes.

Argumentação: discurso que visa persuadir um auditório acerca do valor de uma tese que se está a

defender. Argumentar é fornecer razões a favor, ou contra, de uma tese provocando adesão do

auditório.

Page 10: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

10

Demonstração Argumentação

Ponto de partida: proposições indiscutíveis que são consideradas verdadeiras ou hipoteticamente verdadeiras.

Ponto de partida: proposições discutíveis. Ideias capazes de gerar controvérsia.

Tipo de lógica: regida sobre a lógica forma. Impera o rigor, não há lugar para a discussão. Interessa apenas o encadeamento do raciocínio.

Tipo de lógica: regida sobre a lógica informal. Os critérios desta lógica são a pertinência, a relevância e a força persuasiva dos argumentos.

Relação premissas-conclusão: relação de necessidade entre as premissas e a conclusão. Domínio do constringente.

Relação premissas-conclusão: as premissas são discutíveis e pode-se não chegar a nenhuma conclusão, pois esta depende da adesão do auditório. É do domínio do preferível e do plausível.

Relação com o contexto: é independente do contexto. A validade não depende nem do tempo, nem do sujeito que faz a demonstração. O discurso é impessoal.

Relação com o contexto: a argumentação tem de ser contextualizada, porque tem que haver uma proximidade entre o orador e o auditório. Por essa razão, torna-se pessoal., pois quem argumenta deve adaptar o seu discurso ao auditório.

Linguagem: reina a linguagem artificial, rigorosa, quase matemática e desprovida de ambiguidades; reduz-se a um cálculo lógico e permite uma única interpretação.

Linguagem: supõe diálogo, discussão usando a linguagem natural, com todas as suas ambiguidades. Apresenta razões pró ou contra uma tese. Permite uma pluralidade de interpretações.

Grau de certeza: há rigidez de soluções; a solução apresenta-se como evidente, independentemente da aceitação do auditório. Domina a autoridade da lógica.

Grau de certeza: a aceitação de uma tese depende da aprovação do auditório; uma tese pode ser contestada a qualquer momento; pode-se admitir mais que uma solução, onde domina a intersubjetividade.

Aplicação: ciências lógico-dedutivas

Aplicação: ciências sociais e humana (direito, política e filosofia) e em situações de vida corrente.

Vs.

Page 11: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

11

O que fazer para conseguir a adesão do auditório? (Que características deve ter a situação comunicativa

da argumentação?)

› O emissor deve mostrar abertura de pensamento, aceitando a discussão sobre o tema,

mostrando disponibilidade para ouvir.

› O orador deve dirigir-se ao homem total; um ser racional, que pensa pro si próprio, provido

de emoções, portador de uma cultura e que tem interesses e motivações. O auditório é

também livre de aceitar ou refutar a tese.

› O orador tem de adaptar a sua linguagem e estratégias ao auditório.

› O emissor deve estar atento às reações do auditório.

Em resumo, deve haver uma adaptação às características sociais, culturais e psicológicas do auditório.

Vertentes do discurso argumentativo:

Ethos: personalidade do orador com características (honestidade, humildade, calma,

amabilidade, …) que confiram credibilidade à mensagem.

Pathos: refere-se às emoções despertadas no auditório e consiste na recetividade com que

escutam o orador. Capacidade de suscitar emoções no auditório para que ele fique predisposto

a aceitar a tese apresentada.

Logos: diz respeito à mensagem em si. Deve ser cuidada e clara, recheada de argumentos e

conectores que confiram organização ao texto. Por vezes pode implicar o uso de falácias.

Page 12: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

12

Tipos de argumentos:

1. Dedutivos

2. Não dedutivos

Raciocínio por analogia:

Requisitos de credibilidade:

› Não extrair conclusões a partir de semelhanças raras.

› Não desprezar as diferenças significativas existentes.

Exemplo:

Consiste em citar com a oportunidade um exemplo, ou vários, para produzir no auditório a convicção

de que eles ilustram um princípio geral.

ex: Outrora as mulheres casavam muito cedo (tese)

Na Idade Média, 13 anos era a idade normal de casamento para uma rapariga judia.

(exemplo)

Contra-exemplo:

Caso que se presta a apoiar o contrário da tese que se defende.

ex: se se argumentar contra os malefícios do tabaco, o senhor Manuel que viveu até aos 90

anos e foi sempre fumador é um contra-exemplo.

Entimema:

Silogismo em que uma das premissas está omissa.

ex: Todas as estrelas têm luz própria.

Logo, a lua não é uma estrela.

Argumento de Autoridade:

Apoia-se na opinião ou testemunhos de uma pessoa ou instituição com autoridade na matéria para

sustentar a tese que se está a defender.

Requisitos de credibilidade:

› Fontes qualificadas, “especialistas” no assunto em discussão.

› Fontes devem ser imparciais.

› Dever haver consenso entre os especialistas da mesma área.

FALÁCIAS:

Falácias Formais: erros de raciocínio derivadas do incumprimento das regras lógicas. Dizem

respeito apenas à forma como o argumento está construído.

› Falácia do Termo Médio (M não está distribuído)

› Ilícita do Termo Maior (T tem mais extensão na conclusão que nas premissas)

› Ilícita do Termo Menor (t tem mais extensão na conclusão que nas premissas)

indutivos

por analogia

exemplos

contra-exemplos

entimema

argumento de autoridade

Falta a premissa: A lua não tem luz própria

Page 13: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

13

Falácias Informais: erros de raciocínio que resultam de lacunas no discurso.

› Falácia da Bola de Neve: um acontecimento leva a outro

› Falácia contra o Homem: não se ataca o argumento, mas sim a pessoa que faz

o argumento. Descredibilizar o produtor do argumento.

› Falácia do Apelo à Força: recorre-se a ameaças.

› Falácia da Misericórdia: “choradinho”, comove-se o outro levando-o a ter pena.

› Falácia Post Hoc Ergo Propta Hoc: falsa causa e acontece porque há uma

confusão entre a temporalidade e a causalidade (concomitância).

› Falácia do Apelo à Autoridade: quando se invoca a autoridade de um

especialista ou de uma personalidade credível que não é perito na matéria em

discussão. (ex: Dr. House recomenda-lhe que compre um carro híbrido.).

› Falácia do Falso Dilema: são apresentadas duas alternativas que se excluem

uma a outra e que escondem outras possíveis alternativas. (ex: ou está

comigo, ou estás contra mim.)

› Falácia da Petição de Princípio (ou ciclo vicioso): a conclusão repete a

premissa. Dá-se por provado o que se deve provar. (ex: O Sol gira em torno da

Terra, porque ela está parada no Universo.).

› Falácia do Espantalho: deturpam-se as palavras do adversário de modo a

terem outro significado.

› Falácia do Apelo à Ignorância: defende-se que o enunciado é falso porque não

foi provado. (Nunca se provou a existência dos ET’s, logo não existem.).

› Falácia da Pergunta Complexa (ou pergunta ardilosa): (‘Já deixaste de beber?’;

‘Continuas egoísta como eras?’). A resposta “sim” ou ”não” implica admitir um

comportamento que não é muito recomendável. A pergunta complexa dá-se

quando se introduz uma pergunta cuja resposta implica um comprometimento

com a posição que o autor da pergunta quer promover e constitui um

desconforto para o interlocutor.

A SABER: ESTRUTURA DO TEXTO ARGUMENTATIVO.

RETÓRICA:

Em que contexto surge a retórica?

A retórica surge no contexto de persuadir nas cidades-estado democráticas gregas do séc. VI a.C..

Aparece ligada à vivência democráticas nessas organizações políticas (cidades-estado) sobretudo pelas

exigências das assembleias políticas e ligada ao funcionamento dos tribunais. Nestas estruturas, os

cidadãos eram incentivados a intervir na vida pública e existia igualdade dos cidadãos perante a lei.

O que é a retórica?

É entendida com a arte de bem falar e convencer o auditório. Liga-se à capacidade de apresentar bons

argumentos.

Page 14: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

14

Democracia Regime que consagra a igualdade de direitos entre os cidadãos. (isonomia) - Sociedade de homens livres, onde há liberdade de eleger e de ser eleito. - Liberdade de discussão. - O poder assenta na força persuasiva da palavra. Raízes da Retórica Ligação às instituições políticas e judiciárias e à vida quotidiana dos

cidadãos:

a) assembleia de cidadãos (discussão dos problemas e decisões) b) tribunais (onde havia p direito da defesa e o júri escutava as partes em

litígio) c) praça pública / mercado (onde se discutia os mais diversos assuntos)

Ensino dos sofistas:

Quem são os sofistas?

Professores itinerantes que andavam de cidades democráticas em cidades democráticas a

venderem o seu conhecimento. Surgem quando se desenvolve a “democracia cara-a-cara” e é essencial,

para haver discussão conhecer a retórica e saber argumentar. Introduziram novos métodos (antologia:

apresentar uma tese, sabendo defendê-la e passa a poder desconstruí-la) e conhecimento enciclopédico

(de várias área).

Defendiam o relativismo tanto dos valores como do conhecimento e achavam as leis

convencionais, ou seja mutáveis.

Sofistas

Surgem para responder a uma necessidade sociopolítica nova: preparação dos jovens para as

disputas políticas e jurídicas.

Objetivo: formar cidadãos intervenientes na vida pública. O ensino centra-se no domínio da palavra

(gramática, retórica, antilogia) e num saber enciclopédico.

Conceções filosóficas marcadas pelo relativismo e ceticismo. (o seu ensino articula-se com as conceções

filosóficas)

Conflito entre sofistas e filósofos:

Sofistas (retores) Filósofos

Ideal de vida prático (visava a ação);

Era marcada pela intensão de preparar os jovens para a disputa política e jurídica (formação de cidadãos);

Preocupavam-se com as competências argumentativas;

Valorização da palavra e do discurso eloquente;

Valorização do poder e do sucesso;

A retórica visava a eficácia do discurso (não isento de manipulação);

Ideal de vida contemplativo;

A contemplação vista como um meio de busca da verdade e de aperfeiçoamento do ser humano (orientação da ação. A teoria precedia a prática);

Valorização de virtudes como a moderação e a temperança;

Desenvolveram e valorizaram a dialética como método de descoberta da verdade;

A filosofia visava o esclarecimento e a compreensão;

isto permite

Page 15: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

15

A retórica era uma arma de conquista do poder;

Defendiam o relativismo do conhecimento e dos valores e o convencionalismo das leis.

Defendiam que os valores e as verdades era absolutas.

Contexto histórico – declínio e reabilitação da retórica:

A partir dos fins do século IV a.C., a retórica entrou em declínio e só viria a ser reabilitada na atualidade.

Muitos fatores contribuíram para o declínio da retórica:

- O declínio das instituições democráticas, no Período Helenístico e no Período do Império Romano.

- A força e o prestígio da Igreja Católica na Idade Média, que impôs parâmetros de verdade não

compatíveis com a utilização credível de estratégias argumentativas.

- O ideal da racionalidade da Época Moderna moldado pelo paradigma científico.

Na Época Contemporânea, a crise do conceito clássico da racionalidade, por um lado, e, por outro, a

valorização das instituições democráticas, o reconhecimento da igualdade de todos os cidadãos perante

a lei, bem como o poder detido pelos meios de comunicação, vieram criar condições favoráveis à

reabilitação da retórica.

As Dimensões da Retórica: a Persuasão e a Manipulação:

Faça a vontade à sua mulher. Compre uma casa nova já! (a antiga pode ser vendida nos próximos três anos)

Manipulação

Beba leite. O leite enriquece os ossos!

Persuasão

Persuasão:

› Reclama-se a participação do outro na avaliação das ideias, ou seja, é um convite ao debate.

› O outro é encarado como um ser racional capaz de tomar as suas próprias decisões;

pressupões liberdade e respeito pelo outro.

› O centro da argumentação é colocado no Logos e nas boas razões.

› A persuasão comporta o bom uso da retórica, ou retórica branca, o que implica um discurso

persuasivo sensato.

Manipulação:

› Consiste em levar alguém a fazer algo, impedindo-o de avaliar a situação criticamente. Faz-se

um uso indevido da argumentação com vista em levar o interlocutor a aderir de forma acrítica às

propostas do emissor.

› Não valoriza a autonomia e a capacidade crítica do interlocutor, pois o orador impões as suas

ideias; não respeita o interesse, a inteligência ou a liberdade do outro; tende a suprimir os

problemas.

› A retórica é colocada no Pathos uma vez que se apela aos afetos, desperta-se o desejo,

sugestiona-se e faz-se promessas.

Page 16: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

16

› Mau uso da retórica (retórica negra) quando a argumentação procura enganar o auditório em

função dos interesses de quem produz a argumentação, o que implica um discurso persuasivo

sedutor.

Estratégias Manipuladoras:

Discurso publicitário comercial (recorre-se à estetização da mensagem);

Relação imaginária que se estabelece entre o consumidor e o produto (costuma-se fazer passar a

ideia que o produto é indispensável);

Uso da imposição (vendas agressivas).

Como enfrentar as estratégias manipuladoras?

Estar informado e fazer juízos críticos;

Avaliar a consistência dos argumentos e questionar as suas implicações;

Questionar as ideias feitas e as posições dogmáticas;

Desenvolver, através da educação, competências argumentativas e a capacidade de desmontar

falácias;

Deve haver, da parte dos cidadãos, empenho na vida sócio-política.

ARGUMENTAÇÃO, VERDADE E SER:

Modelo Clássico da Racionalidade:

O modelo da racionalidade é um modelo científico. Este modelo considera que as verdades são absolutas

e intemporais; a partir do momento em que são construídas não podem ser contestadas.

Novo Modelo da Racionalidade Clássica:

(ver livro)

Page 17: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

17

PERSPETIVA FENOMENOLÓGICA DO CONHECIMENTO:

Tipos de Conhecimento:

O conhecimento é sempre uma relação daquele que conhece (o sujeito) com o que é conhecido (o

objeto). Com base no tipo de objeto, encontramos três tipos de conhecimento:

› Conhecimento prático: diz respeito ao saber fazer (domínio da uma técnica, por ex.)

› Conhecimento de contacto: é do domínio do conhecimento de pessoas, objetos, locais, …

› Conhecimento proposicional: conhecimento apoiado em proposições (o que se aprende na

escola, por ex.)

Análise Fenomenológica do Conhecimento:

Elementos do ato de conhecer: sujeito (é geral e acontece em todas as consciências); objeto e relação

que se estabelece entre o sujeito e o objeto da qual resulta o conhecimento.

Sujeito

Objeto

Relação entre S/O – é uma correlação, ou seja, um só existe porque o outro também existe. Esta relação

é irreversível, isto é, não se pode permutar, num ato de pensamento, a função do objeto e a função do

sujeito. A função do sujeito é conhecer o objeto. A função do objeto é ser conhecido pelo sujeito (este

último é o elemento ativo).

Movimentos que a consciência tem de fazer para conhecer:

Com esta perspetiva, conhecer é representar na mente as características

fundamentais de um objeto.

O ato de apreender ocorre em três fases:

Duas entidades separadas uma da outra, conetadas pelo ato de conhecer.

O sujeito sai de si

O sujeito está fora de si

O sujeito regressa a si

O sujeito capta as

determinações/características

do objeto.

O sujeito deu conta que existe

um objeto novo a conhecer

Regressa a si para construir o

conhecimento. Formação da

imagem do conceito. (como o

conhecimento é subjetivo, a

representação pode ter erros.)

Page 18: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

18

O sujeito estabelece uma relação de oposição com o objeto;

O objeto e o sujeito estabelecem entre si uma correlação;

A relação entre eles é irreversível;

O objeto modifica o sujeito;

O sujeito representa o objeto.

O sujeito forma uma imagem do objeto que é manente (dentro dele), objetiva com alguns salpicos de

subjetividade, uma representação mental.

QUESTÕES GNOSIOLÓGICAS:

A questão da POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO:

Esta questão baseia-se no facto de o sujeito, ao apreender, experimentar o erro; daí: “sujeito apreende

realmente o objeto?”

Dogmatismo: (posição otimista) Sim, apreende; o conhecimento é possível.

› Dogmatismo ingénuo: crença do Homem comum que não é abalada pela

desconfiança. Conhece o Mundo como é. Há uma confiança absoluta no

conhecimento.

› Dogmatismo filosófico/crítico: é possível submeter o conhecimento à dúvida.

Desde que a razão siga o método certo é possível encontrar verdades

inabaláveis.

Ceticismo: duvida acerca do Homem poder conhecer.

› Ceticismo radical: nega a possibilidade de o Homem poder conhecer. Pode-se

chegar a duas verdades que se opõem sobre o mesmo assunto. É preciso

abster-se de fazer juízos. Não serve ao desenvolvimento humano e é inútil à

ciência. Crítica: ao afirmar-se que não se pode conhece e chegar a verdades,

já se está a afirmar uma verdade, logo contradiz-se.

› Ceticismo moderado: defende que é possível conhecer, mas de uma forma

aproximada, não absoluta. Há verdades aproximadas. É importante à ciência,

uma vez que a atitude crítica é benéfica para encontrar erros nas verdades

instaladas e chegar a verdades questionáveis.

SUJEITO OBJETO

1º sai de si

2º está fora de si

3º regressa a si

Page 19: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

19

Criticismo: (Kant) é possível conhecer e chegar a verdades sólidas e universais, mas o

conhecimento permanece limitado. Só se conhece algumas coisas que a nossa estrutura

cognitiva nos deixa apreender. É necessário fazer uma crítica ao conhecimento e detetar quais

as nossas possibilidades de conhecer.

A questão da ORIGEM DO CONHECIMENTO:

Como o Homem se apresenta tanto como um ser sensível e racional, deixa uma questão: “A origem do

conhecimento está nos sentidos ou na razão?”

Empirismo: A fonte do conhecimento é a experiência. Antes da experiência a nossa mente está

em branco e a experiência vem pincelá-la. Não há ideias inatas e razão trabalha sobre os

sentidos. Os empiristas tendem para o ceticismo, no que diz respeito à metafísica.

Racionalismo: a fonte do conhecimento é a razão, o que confere às verdades um caráter

universal e necessário (não é contraditório). Há conhecimento dos sentidos, mas está em

segundo plano; este não é a base do conhecimento científico, pois é ilusório. O sujeito estrutura

a realidade a partir das ideias. Descartes defende mesmo a existência de ideias inatas (figuras

matemáticas; Deus; a dimensionalidade das coisas; cógito) fundamentais para o conhecimento.

Os racionalistas caem no dogmatismo.

Apriorismo: (Kant) As fontes do conhecimento são duas: a sensibilidade e a razão; Kant defende

que o conhecimento surge com experiência, mas não se reduz a ela Considera que o sujeito é

dotado de estruturas A priori, que são um património da razão, estruturas, estas, que são

preenchidas pela experiência. Ou seja, as estruturas A priori têm a função de enquadrar e

organizar os dados da experiência. (exemplo do supermercado)

A questão da NATUREZA DO CONHECIMENTO:

Esta questão surge para se saber “Qual dos polos, sujeito ou objeto, é que tem o papel determinante

no ato de conhecer?”

Realismo: quem é determinante é o objeto.

› Realismo ingénuo: típico do senso comum. Não há diferença entre a

realidade e o conhecimento que nós temos do real.

› Realismo crítico: considera que é preciso distinguirmos objetos do real as

suas propriedades objetivas (o que pode ser medido: tamanho, …) das suas

propriedades subjetivas (cor, cheiro, …).

Idealismo: (Kant) o polo fundamental é o sujeito. É solidário do criticismo. Parte do princípio que

o nosso conhecimento é limitado, então, “eu só conheço o que se deixa apreender pela minha

estrutura cognitiva”; a realidade é muito mais densa que aquilo que posso apreender dela. Só

conhecemos facetas dessa realidade. Está relacionado com o conhecimento das ideias que se

faz acerca das coisas. O polo determinante é o sujeito porque o conhecimento é uma construção

sua, a partir do que ele conseguiu apreender, do que lhe foi permitido.

Page 20: Resumos filosofia 11

Filosofia 11 Resumo

RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA

20

O PROBLEMA DO CONHECIMENTO EM DESCARTES:

Descartes tinha influências matemáticas nas suas perspetivas filosóficas. O ceticismo foi importante no

percurso de Descartes, mas ele não se manteve cético até ao fim dos seus dias. Foi educado á sombra

da escolástica: era necessário reformar o conhecimento.

Descartes começa com uma atitude dubitativa (que se revela apenas como uma metodologia para chegar

a conhecimentos sólidos); duvida de todas as matérias, menos da Igreja.

Razões que levaram Descartes a duvidar:

› Duvida dos sentidos, porque estes nos enganam. Duvida do conhecimento sensorial.

› Há quem se engane no domínio matemático, logo passa a duvidar do conhecimento racional

matemático.

› Não há critério seguro que distinga o estado de vigília do estado de sono.

› Descartes alarga a dúvida e coloca a hipótese do génio maligno, entidade que induziria

propositadamente, o Homem em erro, pondo em causa o critério de evidencia racional.

Qual o papel da dúvida?

A dúvida é importante ao conhecimento, pois permita duvidar das verdades feitas, questionar o que já

está instalado e assim abrir portas para novas verdades e hipóteses.

Características da dúvida Cartesiana:

› É metódica, pois é uma estratégia de que Descartes se serva para pôr à prova a validade de

todo o conhecimento e, portanto, distinguir o verdadeiro do falso.

› É provisoria, porque parte da dúvida para chegar a certezas.

› É hiperbólica, porque, ao colocar a hipótese do génio maligno, Descartes radicaliza a dúvida,

pondo em causa o critério da evidência.

› É progressiva, porque se aplica a todos os campos do conhecimento, menos à Igreja.

Descartes seria cético?

Não, porque começa duvidoso para quebrar os erros que podem “sujar” o conhecimento. Utiliza a dúvida

para chegar a certezas, ou seja, é como que um ceticismo provisório, puramente metodológico.

A questão do cógito:

Regras de método: primeiro e fundamental: tornar o que é verdadeiro claro e evidente.

1ª verdade: a base da sua filosofia é atingida por via racional.

2ª verdade: temos a ideia do perfeito: mas donde virá isto? De seres imperfeitos, como

o Homem? Logo não podemos produzir a ideia do perfeito. Do Nada? Não. A ideia

inicial é inata e foi-nos posta por Deus, um ser perfeito que vai salvar o critério da

evidência.

Ideias Inatas